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MODELO MULTICRITÉRIO DE APOIO A DECISÃO PARA SELEÇÃO DE FORNECEDORES André Luís Almeida Bastos (FURB/UFSC/UNIFEBE) Kleberson Evandro Matias (FURB) Henriette Damm (FURB) Monica Maria Mendes Luna (UFSC) Resumo Este trabalho apresenta uma discussão da aplicação de um método multicritério - o Método AHP (Processo de Análise Hieráquica) como recurso para auxiliar na visualização de diferentes cenários para seleção de fornecedores, no processo de aquuisição de um item para suprir o setor produtivo de uma organização. Para alcance dos objetivos, foi realizado um estudo de caso, por meio de uma pesquisa exploratória, na qual a coleta de dados foi realizada in loco na empresa em estudo, com interação direta com o decisor. Os resultados demonstram que o método AHP é eficiente no que tange à obtenção da definição dos critérios utilizados na seleção, à possibilidade de julgamento de importância relativa dos critérios definidos e, efetivamente, à obtenção de um ranking de fornecedores. Ressalta-se, entretanto, que apesar de eficiente recurso para tomada de decisão em múltiplos cenários de opções, o método é pouco difundido nas organizações. Palavras-chaves: Tomada de decisão. Seleção de fornecedores. Método AHP 12 e 13 de agosto de 2011 ISSN 1984-9354

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MODELO MULTICRITÉRIO DE APOIO

A DECISÃO PARA SELEÇÃO DE

FORNECEDORES

André Luís Almeida Bastos

(FURB/UFSC/UNIFEBE)

Kleberson Evandro Matias

(FURB)

Henriette Damm

(FURB)

Monica Maria Mendes Luna

(UFSC)

Resumo Este trabalho apresenta uma discussão da aplicação de um método

multicritério - o Método AHP (Processo de Análise Hieráquica) como

recurso para auxiliar na visualização de diferentes cenários para

seleção de fornecedores, no processo de aquuisição de um item para

suprir o setor produtivo de uma organização. Para alcance dos

objetivos, foi realizado um estudo de caso, por meio de uma pesquisa

exploratória, na qual a coleta de dados foi realizada in loco na

empresa em estudo, com interação direta com o decisor. Os resultados

demonstram que o método AHP é eficiente no que tange à obtenção da

definição dos critérios utilizados na seleção, à possibilidade de

julgamento de importância relativa dos critérios definidos e,

efetivamente, à obtenção de um ranking de fornecedores. Ressalta-se,

entretanto, que apesar de eficiente recurso para tomada de decisão em

múltiplos cenários de opções, o método é pouco difundido nas

organizações.

Palavras-chaves: Tomada de decisão. Seleção de fornecedores.

Método AHP

12 e 13 de agosto de 2011

ISSN 1984-9354

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1. Introdução

Os gestores das organizações convivem diariamente com a necessidade de gerenciar e

tomar decisões ante a uma diversidade de variáveis associadas ao seu negócio. Num sistema

produtivo, por exemplo, destacam-se alguns fatores que influenciam no desempenho da

empresa como um todo: variação dos estoques, deficiência em compras, demandas definidas

em curto prazo, variações sazonais, seleção de fornecedores, considerando a diversidade de

critérios em consonância aos objetivos estratégicos da empresa. Assim, cabe à gerência de

produção desenvolver um plano de metas e mecanismos estratégicos que busquem atingir os

objetivos traçado pela organização (RUFCA, 2004).

Para auxiliar os gestores no alcance dos resultados desejados, uma das opções é a

utilização de modelos matemáticos de planejamento. Eles auxiliam na visualização dos

problemas e fazem com que o responsável pela tomada de decisão possa se basear em

informações quantitativas que sirvam de base para a geração de ações e para a comparação

das conseqüências absolutas ou relativas destas ações (CORRÊA, 1996).

Deve-se destacar a importância dos instrumentos internos comumente utilizados na

seleção dos fornecedores pela organização pois, é a partir destes instrumentos que a empresa

analisa e decide qual dos fornecedores possui melhores condições de atender aos requisitos

impostos para determinados produtos adquiridos. Em tais situações, um Processo de Análise

Hierárquica, conhecido como método AHP (Analytic Hierarchy Process), torna-se um

instrumento de grande relevância.

O presente estudo objetiva discutir a aplicação do método AHP, como um eficiente

método multicritério na seleção de fornecedores para a aquisição de um determinado item por

uma organização. Para tanto, considera-se, inicialmente, a identificação dos critérios

utilizados pela empresa para esta seleção bem como os julgamentos realizados por meio de

notas individuais atribuídas aos fornecedores. Para alcançar os objetivos propostos, recorreu-

se a um estudo de caso com a realização de entrevista estruturada para coleta de dados, com

auxílio de um questionário previamente elaborado e aplicado presencialmente na empresa em

estudo. Os dados obtidos foram analisados segundo a própria aplicação do método AHP.

Dessa forma, a pesquisa caracteriza-se como exploratória.

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Este artigo está dividido nas seguintes fases: uma breve consideração conceitual e o

histórico do método AHP, um estudo de caso contendo a aplicação de todas as etapas do

método até a obtenção do ranking dos fornecedores, de acordo com o grupo de critérios

envolvidos e, por fim, uma análise da comparação entre os critérios envolvidos, bem como as

considerações finais.

2. Referencial teórico

De acordo com Miranda (2008), as abordagens tradicionais de decisão surgiram com o

desenvolvimento da pesquisa operacional, após a Segunda Guerra Mundial. O autor destaca

que a modelagem matemática da pesquisa operacional trabalha com único critério ou com

múltiplos critérios, os quais devem representar perfeitamente as preferências do decisor. O

uso dos múltiplos critérios não é uma simples generalização das abordagens tradicionais, mas

sim, constitui-se em um novo paradigma para analisar contextos decisórios e auxiliar à

tomada de decisão.

Na prática, a análise de multicritério à decisão consiste em um conjunto de métodos e

técnicas para auxiliar ou apoiar pessoas e organizações a tomarem decisões, sob a influência

de uma multiplicidade de critérios. A aplicação de qualquer método de análise multicritério

pressupõe a necessidade de especificação anterior sobre qual objetivo o decisor pretende

alcançar, quando se propõe comparar entre si, várias alternativas de decisão, recorrendo ao

uso de múltiplos critérios (GOMES, 2002).

Segundo Santos (2009), o método AHP foi um dos primeiros métodos desenvolvidos

no ambiente das decisões multicritério discretas. Este método foi criado em 1980 pelo

professor Tomas L. Saaty sendo um dos mais usados no mundo. O tema vem evoluindo desde

então, com uma diversidade de contribuições em pesquisas.

O método AHP tem por definição uma função que busca agregar os valores de cada

alternativa sujeita em cada critério. Isso representa que a importância relativa de cada critério

advém do conceito de “taxa de substituição” (trade-off). A teoria da utilidade multiatributo

possibilita definir uma medida de mérito (valor) global para cada alternativa, indicadora de

sua posição relativa numa ordenação final e facilita o estabelecimento de hierarquias

(GOMES, 2002).

O processo básico de aplicação do AHP consiste em priorizar a importância relativa de

n elementos de tomada de decisão em relação a um objetivo, através de avaliações parciais

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destes elementos, dois a dois facilitando a análise pelos avaliadores. Além disso, através de

um índice de consistência de julgamento, verificam-se os valores atribuídos a cada par de

critérios estão coerentes (RAFAELI, 2007)

A seguir são apresentadas as principais etapas de anáise de decisão envolvendo

múltiplos critérios no desenvolvimento de uma função de valor multiatributo (GOMES,

2004):

- Identificar os tomadores de decisão;

- Definir as alternativas;

- Estruturar em níveis hierárquicos;

- Avaliar as alternativas em relação aos critérios (denominado pontuação, scoring),

quantificar o valor de cada alternativa;

- Verificar a consistência dos critérios;

- Determinar a avaliação Global de cada alternativa;

3. Resultados do estudo de caso

O presente estudo foi realizado numa empresa de pequeno porte do setor metal-

mecânico. Tal empresa possui cerca de 40 funcionários produzindo esquadrias e estruturas

metálicas na cidade de Guaramirim/SC. As informações foram obtidas por meio de entrevistas

estruturadas, mediadas por um questionário previamente elaborado e respondido pelo

responsável do setor de Suprimentos da empresa.

3.1 Identificação dos critérios

O passo inicial para identificação dos critérios comumente utilizados para a seleção de

fornecedores nas empresas, foi com base no trabalho de Bastos et al (2010). Este trabalho

sugere uma diversidade de critérios a serem utilizados para a seleção de fornecedores

recorrentes em grande parte das organizações. No presente trabalho, estes critérios foram

submetidos a uma avaliação com 11 empresas de médio e grande portes do setor metal-

mecânico do Vale do Itajaí/SC. A avaliação dos critérios de seleção junto às empresas

permitiu identificar o % de incidência com que tais critérios são utilizados. A Tabela 1 ilustra

os resultados.

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Tabela 1 – Critérios identificados pelos compradores

Critérios Porcentagem de critérios

selecionados

Preço 22

Qualidade 19

Pontualidade 22

Flexibilidade 11

Idoneidade 8

Inovação 6

Capacidade administrativa/financeira 3

Referência de terceiros 6

Sistema da qualidade 3

Fonte: Elaborado pelos autores.

Hickling (1981) apud Corrêa (1996) argumenta sobre os fatores que devem ser

administrados no processo de tomada de decisão. O autor reforça que, na prática, este

processo consiste em decisões relacionadas a muitas alternativas, variedade de efeitos,

mudança de foco, etc. Gomes (2004) ressalta sobre a importância de se fazer uma pré-

avaliação dos critérios envolvidos no processo de tomada de decisão. Em alguns casos, há a

necessidade de defini-los em outros e reduzir as alternativas em uma lista menor, visando

facilitar o processo de tomada de decisão.

Com base nestes argumentos, os autores fundamentaram a decisão de se trabalhar com

quatro critérios apenas neste trabalho, tendo em vista a necessidade de minimizar as

alternativas para o decisor mas, com base nos critérios de maior incidência no grupo de 11

empresas previamente entrevistadas. Assim os critérios de maior incidência nas empresas e

utilizados no trabalho são: Preço (A) Qualidade (B), Pontualidade (C) e Flexibilidade (D).

3.2 Estruturação dos níveis hierárquicos

Nesta etapa aplicou-se um segundo questionário na empresa em estudo, visando

comparar três de seus fornecedores de um item a ser adquirido, de acordo com os critérios A,

B, C e D, identificados na etapa anterior.

Com a estruturação em nível hierárquico, ilustrado na figura 1, pode-se visualizar os

critérios dos fornecedores em relação a um objetivo, que é o fornecedor ideal.

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Figura 1 – Estrutura hierárquica para a seleção do fornecedor ideal.

Fonte: Elaborado pelos autores.

3.3 Avaliação dos fornecedores pelos seus respectivos critérios

Para avaliar os critérios foi utilizada a escala fundamental de Saaty (1991). Segundo o

autor, o motivo para se trabalhar com a lógica ilustrada no Quadro 1 é a existência do

denominado limite psicológico, segundo o qual o ser humano pode, no máximo, julgar

corretamente 7 ± 2 pontos, ou seja, nove pontos para distinguir essas diferenças. E acrescenta,

um outro motivo da existência desta tabela ser de 1-9 é a habilidade para fazer distinções

qualitativas, muito bem representadas entre os cinco atributos: igual, fraco, grande, muito

grande e absoluta. Nesta situação, uma pessoa pode fazer a relação entre os atributos com

grande precisão (SAATY, 1991).

Em outro argumento para a consistência do julgamento, Saaty (2000) reforça que o ser

humano tem a habilidade de estabelecer relações entre objetos ou idéias de forma que elas

sejam coerentes, tal que estas se relacionem bem entre si e suas relações apresentem

consistência.

Quadro 1 – Escala Fundamental de Saaty (1991)

INTENSIDADE PONTUAÇÃO FORMA DE AVALIAÇÃO

1 Igual importância As duas atividades contribuem

igualmente para o objetivo.

3 Importância pequena de uma

sobre a outra

A experiência e o juízo favorecem uma

atividade em relação à outra.

5 Importância grande ou

essencial

A experiência ou juízo favorece

fortemente em relação à outra.

FORNECEDOR IDEAL

Preço Qualidade Pontualidade Flexibilidade

Fornecedor 1

Fornecedor 2

Fornecedor 3

Fornecedor 1

Fornecedor 2

Fornecedor 3

Fornecedor 1

Fornecedor 2

Fornecedor 3

Fornecedor 1

Fornecedor 2

Fornecedor 3

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7 Importância muito grande ou

demonstrada

Uma atividade é muito fortemente

favorecida em relação à outra. Pode ser

demonstrada na prática.

9 Importância absoluta

A evidência favorece uma atividade em

relação à outra, com o mais alto grau de

segurança.

2, 4, 6, 8 Valores intermediários Quando se procura uma condição de

compromisso entre duas definições.

Fonte: SANTOS e VIAGI, 2009.

Na aplicação do método, são considerados também os valores inversos do Quadro 1.

Dessa forma, torna-se possível avaliar positiva e negativamente os critérios dos fornecedores.

Procedimentos semelhantes foram adotados por Sellitto e Mendes (2006). Os resultados da

avaliação dos critérios podem ser visto na figura 2.

Figura 2 – Matriz de comparação entre critérios

Fonte: Elaborado pelos autores.

A figura 3 ilustra a aplicação do questionário na empresa em estudo, de acordo com os

três fornecedores de um item a ser adquirido pela empresa. Observa-se a comparação entre os

fornecedores para cada um dos critérios.

Pre

ço

Qual

idad

e

Pontu

alid

ade

Fle

xib

ilid

ade

Preço 1 2 -3 2

Qualidade 1 3 2 Comparação das células

Pontualidade 1 3 Inverso (recíproco) do valor de

comparação

Flexibilidade 1

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Figura 3 – Matriz de comparação entre os fornecedores.

Fonte: Elaborado pelos autores.

3.4 Verificação de consistência

Nesta etapa da metodologia é determinada a Razão de Consistência (RC), ou seja

evidencia-se a consistência sobre as notas de julgamento propostas pelo decisor pois,

dependendo da nota proposta, o resultado indicará se os critérios estão consistentemente

relacionados.

Na primeira parte do cálculo é identificado o autovetor. O autovetor é o valor que

direciona o cálculo, e para isso deve-se ser normalizado para que o somatório de seus

elementos seja igual à unidade. Basta, para isto, calcular a proporção de cada elemento em

relação à soma, conforme a Equação 1.

Análise dos critérios A –

Preço F

orn

eced

or

1

Fo

rnec

edo

r 2

Fo

rnec

edo

r 3

Fornecedor 1 1 6 5

Fornecedor 2 1 -2

Fornecedor 3 1

Análise dos critérios B-

Qualidade

Fo

rnec

edo

r 1

Fo

rnec

edo

r 2

Fo

rnec

edo

r 3

Fornecedor 1 1 2 -3

Fornecedor 2 1 -2

Fornecedor 3 1

Análise dos critérios C-

Pontualidade

Fo

rnec

edo

r 1

Fo

rnec

edo

r 2

Fo

rnec

edo

r 3

Fornecedor 1 1 2 2

Fornecedor 2 1 2

Fornecedor 3 1

Análise dos critérios D -

Flexibilidade

Fo

rnec

edo

r 1

Fo

rnec

edo

r 2

Fo

rnec

edo

r 3

Fornecedor 1 1 -3 4

Fornecedor 2 1 -3

Fornecedor 3 1

1,...,1,/1

mjmCwCw j

m

j

ii

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Considerando que no presente caso tem-se 4 critérios então m=4 e o desenvolvimento

da equação é conforme a Tabela 2.

Tabela 2 – Desenvolvimento da equação 1

C1 C2 C3 C4

1/5 12/23 1/14 1/4 1,043 0,260792

1/10 6/23 9/14 1/4 1,253 0,313432

3/5 2/23 3/14 3/8 1,276 0,319061

1/10 3/23 1/14 1/8 0,426 0,106716

Fonte: Elaborado pelos autores.

Para testar a consistência da resposta, o que indica se os dados estão logicamente

relacionados, Saaty (1991) propõe o seguinte procedimento:

Com os resultados da Tabela 2, são inseridas as informações na Equação 2.

Assim, obtem-se a multiplicação das matrizes de preferências dos 4 critérios,

conforme a Tabela 3.

Tabela 3 – Multiplicação das matrizes de preferências dos 4 critérios..

Aw =

Fonte: Elaborado pelos autores.

1 2 1/3 2 0,260792 1,207

1/2 1 3 2

x

0,313432

=

1,614

3 1/3 1 3 0,319061 1,526

1/2 1/2 1/3 1 0,106716 0,500

2,...,1,1

njAvCwAf jij

m

i

j

mCw ji /

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Utilizando a equação do autovetor:

Além disso, para verificar se existe consistência no desenvolvimento do método deve-

se calcular o índice de consistência (IC) para posterior cálculo da razão de consistência (RC).

O IC é dado pela Equação 3.

IC = ( λmax - n)/(n - 1) (3)

Substituindo os valores, tem-se:

IC = (4,813 - 4)/(4 - 1)

IC = 0,271

A Razão de Consistência (RC) é dada pela Equação 4.

RC = IC / IR (4)

Pela tabela 4 de índice aleatório, a quantidade de critérios no problema são 4 então RI

é 0,90.

Tabela 4 - Índice Aleatório (RI)

Valores de IR para matrizes quadradas de ordem n

n 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

RI 0 0 0,58 0,90 1,12 1,24 1,32 1,41 1,45 1,49

Fonte: Saaty (1991).

Dessa forma:

RC = 0,271/ 0,90, ou seja, RC = 0,301

Para Gomes (2004), quanto maior for RC, maior será a inconsistência. Quando n=2,

RC é nulo; quando n=3, RC deve ser menor que 0,05; quando n=4, RC deve ser menor que

813,4107,0

500,0

319,0

526,1

313,0

614,1

261,0

207,1

4

1][1

1

m

i i

máxw

Aw

n

813,4 máx

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0,09. Em geral, uma inconsistência aceitável para n > 4 é RC ≤ 0,10 (TREVIZANO &

FREITAS, 2005).

Para os 4 critérios avaliados, a razão de consistência resultou em 0,301, acima do valor

determinado. Para valores maiores que 0,10 a literatura recomenda que se faça uma revisão da

matriz de comparação.

Dessa forma, a revisão da matriz foi efetuada reorganizando-se os critérios em 4

grupos com 3 critérios cada e verificando a consistência de cada grupo. A Tabela 5 ilustra os

resultados obtidos nas matrizes de comparação:

Tabela 5 – Razão de consistência para 3 critérios

Critérios avaliados1 Q Pr Po F Pr Po F Q Po F Q Pr

RC 0,5780 0,0310 0,1500 0,0309

Onde: Q = qualidade; Pr = preço; Po = pontualidade; F = flexibilidade

Fonte: Elaborado pelos autores.

Na tabela 5, são ilustrados os resultados da razão de consistência dos grupos de

critérios avaliados. Nota-se que os cálculos efetuados são os mesmos da razão de consistência

(RC) para os de 4 critérios.

Observa-se que os grupos (Q, Pr, Po) e (F, Q, Po) resultou respectivamente em uma

razão de consistência RC = 0,578 e RC = 0,150, ou seja, inconsistente. Portanto, estes grupos

de critérios não devem ser considerados. Nas demais comparações a razão de consistência

resultou menor que 0,05, ou seja, os dados estarão logicamente relacionados, podendo ser

utilizado para determinar o fornecedor ideal.

3.5 Ranking dos fornecedores

Nesta etapa foram utilizados os grupos de critérios descritos na tabela 5, que

apresentaram consistência (valor abaixo de 0,05), juntamente com a avaliação dos

fornecedores para criar o ranking dos fornecedores, resultando na Tabela 6.

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Tabela 6 – Ranking dos fornecedores para os dois grupos de critérios.

Grupo de critérios (F, Q, Pr) Grupo de critérios (F, Pr, Po)

Fornecedores Pontuação Fornecedores Pontuação

1 0,476 1 0,402

3 0,197 2 0,209

2 0,166 3 0,167

Fonte: Elaborado pelos autores.

Com o resultado do ranking ilustrado na Tabela 6, pelo método AHP e pelo grupo F, Q

e Pr, a ordem de prioridade das alternativas são, em primeiro F1, em segundo no ranking o F3,

sendo que F2 é o que apresentou a menor pontuação. Para o grupo F, Pr, Po, a ordem de

prioridade das alternativas são, em primeiro F1, em segundo F2 e F3 apresentou a menor

pontuação. Portanto, com estas análises é recomendada ao comprador que adquira a matéria-

prima do fornecedor F1.

3.6 Análise da comparação entre os critérios

A comparação entre os critérios é de extrema importância no modelo AHP pois, são

eles que direcionam o estudo e indicam qual é a opção ideal, de acordo com a preferência do

decisor.

Uma leitura do gráfico da Figura 4 aponta para a seguinte preferência do comprador:

- A pontualidade é 3 vezes mais importante que o preço;

- O preço é 2 vezes mais importante que a qualidade;

- A qualidade é 3 vezes mais importante que a pontualidade.

Pode-se perceber que os critérios qualidade e preço se destacam em relação ao critério

pontualidade. Dessa forma, não se apresenta uma preferência nestes critérios, ocasionando a

inconsistência nesta matriz.

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Figura 4 – Visualização da matriz de comparação entre os critérios preço, qualidade e

pontualidade.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Na Figura 5, pode-se destacar a preferência do decisor pelo critério pontualidade em

comparação aos critérios preço e flexibilidade, resultando em um RC 0,035, abaixo do 0,05, o

que demonstra consistência na comparação entre os critérios.

Figura 5– Visualização da matriz de comparação entre os critérios preço, flexibilidade e

pontualidade.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Na Figura 6, é evidenciado que o comprador possui duas preferências de dois critérios,

pontualidade em comparação a flexibilidade e qualidade em comparação a pontualidade.

Além disso, pode-se perceber que o RC está baixo pois o critério qualidade apresentou uma

maior preferência, mas não o suficiente para atingir um nível de consistência.

Pr Q Po

Pr 1 2 1/3

Q 1/2 1 3

Po 3 1/3 1

RC = 0,5780

Pr Q

Po

Po

Q

Pr

0

1

2

3

Po

Q

Pr

Pr Po F

Pr 1 1/3 2

Po 3 1 3

F 1/2 1/3 1

RC = 0,0310

Pr Po

F

F

Po

Pr

0

1

2

3

F

Po

Pr

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Figura 6– Visualização da matriz de comparação entre os critérios flexibilidade, qualidade e

pontualidade.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Na figura 7 está expressa a preferência do decisor pelos critérios preço e qualidade. No

entanto, pela comparação entre outros critérios, preço apresentou uma maior preferência,

resultando no direcionamento deste critério e tornando-o consistente.

Figura 7 – Visualização da matriz de comparação entre os critérios preço, qualidade e

flexibilidade.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Na figura 4 verificou-se que quando comparados os critérios qualidade e preço, o

decisor ficou em dúvida e quantificou de igual maneira para ambos os critérios. O mesmo

ocorreu na figura 6, pontualidade e qualidade apresentaram resulta semelhantes, no entanto

qualidade se sobre saiu diante do critério flexibilidade o que reduziu a razão de inconsistência

indicando a preferência do decisor pela opção qualidade.

Pr Q F

Pr 1 2 2

Q 1/2 1 2

F 1/2 1/2 1

RC = 0,0309

Pr Q

F

F

Q

Pr

0

1/2

1

1 1/2

2

F

Q

Pr

Q Po F

Q 1 3 2

Po 1/3 1 3

F 1/2 1/3 1

RC = 0,1500

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Entre as quatro figuras analisadas, destacam-se as figuras 5 e 7, tendo em vista que os

os critérios pontualidade e preço apresentaram maior destaque em seus respectivos grupos.

Estes dois critérios serão decisivos para selecionar o fornecedor ideal.

4. Considerações finais

O Setor de Suprimentos possui um papel muito importante na organização, indo muito

além da simples generalização do conceito de movimentar bens e armazená-los, minimizando

custos. É uma concepção fundamentalmente estratégica voltada a operações de médio e

longo prazo, como geração e manutenção de alianças comerciais apropriadas à obtenção das

respostas rápidas exigidas pelo mercado, gerenciamento eficiente de informações, previsões,

promoções, prospecção de novos nichos de consumo e o desenvolvimento colaborativo de

novos produtos.

Com base nestes conceitos, este artigo buscou contribuiu para o desenvolvimento de

uma ferramenta que auxilie na escolha de fornecedores. Servindo de suporte para tomada de

decisão em situação de múltiplas escolhas com a utilização do método AHP, adequando à

realidade de uma empresa metal mecânico e servindo de suporte para tomada de decisão na

seleção de um fornecedor ideal.

O método demonstrou ser eficaz para o fim proposto, pois direcionou de uma maneira

objetiva para um fornecedor ideal, chegando ao seguinte ranking fornecedor 1 peso 0,474,

fornecedor 3 peso 0,197 e fornecedor 2 peso 0,166, portanto a recomendação ao decisor a

compra de matéria-prima do fornecedor 1.

No entanto, verificou-se durante o desenvolvimento do método que para os 4 critérios

adotados, a razão de consistência ficou em 0,301, acima do nível de consistência, que é de

0,10. Por isso, concluímos que para os critérios preço, qualidade e pontualidade não devem

ser comparadas juntas, pois segundo a literatura, quando o resultado for inconsistente é

porque os critérios não estão logicamente relacionados, ou seja, o decisor não está

demonstrando uma preferência por um critério. Após esta etapa, foi necessário reavaliar os

critérios e identificar os motivos pelo qual não foi atingida a consistência desejada. Para isso,

os critérios foram avaliados e reagrupados em grupos de 3 e verificado a consistência em cada

grupo. Verificou-se que os critérios preço, qualidade e pontualidade em uma razão de

consistência RC = 0,578, demonstrando a inconsistência na tomada de decisão, outro grupo de

critério pontualidade, qualidade e flexibilidade também apresentaram inconsistência, pois

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diferente do cálculo para 4 critérios os de 3 critérios o nível de consistência é de 0,031 e

mesmo assim continuam acima do nível de consistência, no entanto o grupo de critérios

flexibilidade, qualidade e preço apresentaram uma razão de consistência igual a 0,0309 e o

grupo que apresenta os critérios flexibilidade, qualidade e preço resultou na razão de

consistência de 0,034, ambos com nível de consistência abaixo de 0,05, que é aceitável para 3

critérios.

Com isto pode-se concluir que o diferencial na tomada de decisão para a escolha de

um fornecedor ideal são as preferências por pontualidade que obteve o RC = 0,031, e o preço

com RC = 0,0309. Sendo que diferença entre este dois critérios alterou somente a colocação

entre os segundo e terceiro lugar no ranking.

Por fim, é importante frisar que o modelo multicritério é muitas vezes desvalorizado e,

conseqüentemente pouco utilizado para processos de tomada de decisão, especialmente pela

sua complexidade numérica, e pela não obrigatoriedade da utilização do mesmo. Dessa forma,

normalmente as decisões são tomadas avaliando o cenário superficialmente, desconsiderando,

sistematicamente, fatores que interferem direta e indiretamente no processo, contribuindo para

diminuir a confiabilidade da decisão frente ao alcance dos objetivos estratégicos explícitos ou

implícitos da organização.

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