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1 MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO DESIGUAL: A QUESTÃO REGIONAL EM GOIÁS Ana Carolina de Oliveira Marques i Universidade Federal de Goiás - UFG [email protected] Ronan Eustáquio Borges ii Universidade Federal de Goiás - UFG [email protected] Valdivino Borges de Lima iii Universidade Federal de Goiás - UFG [email protected] Silvio Braz de Souza Universidade Federal de Goiás - UFG [email protected] iv Resumo É comum nos trabalhos geográficos sobre Goiás, ao retratarem a história socioespacial goiana, atribuírem à modernização da agricultura, assistida em meados do século XX, um caráter integrador do território. Muitas vezes se vê a reprodução de um discurso inteiramente mercadológico, intencional e desarticulador, em trabalhos ditos de perspectivas críticas. É no intuito de desconstruir essa visão, mostrando o quanto desigual é a realidade regional em Goiás, que foi feito um levantamento de diversos aspectos da vida social, demonstrando pela tabulação de dados e análise dos mesmos a seletividade espacial feita em Goiás pelo capital. Seletividade esta que teve como apoio o poder estatal, com políticas incansavelmente chamadas de “públicas”. Palavras-chave: Desenvolvimento desigual. Desigualdade regional. Goiás. Introdução O estado de Goiás é um exemplo claro da desigualdade regional existente no Brasil. O território goiano concentra nas mesorregiões Sul e Centro grande parte dos investimentos, deixando à margem do desenvolvimento as regiões a norte. Em busca de melhores condições de vida, muitos goianos e migrantes de outros estados se dirigem aos polos de crescimento do estado, porém estes não conseguem usufruir do processo de desenvolvimento econômico, vivenciado por poucos nestas regiões ou, ainda, grande parte da riqueza é drenada por atores em outras regiões do estado ou do país. A maioria dos migrantes reforça a desigualdade social nos grandes centros urbanos e, ainda, favorece o quadro de pobreza e involução das regiões produtoras de força de trabalho. Nesse ciclo vicioso é que o espaço se reproduz na desigualdade, revela a

MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO … · Resumo É comum nos trabalhos geográficos sobre Goiás, ao retratarem a história socioespacial goiana, atribuírem à modernização

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MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO DESIGUAL: A QUESTÃO REGIONAL EM GOIÁS

Ana Carolina de Oliveira Marquesi

Universidade Federal de Goiás - UFG [email protected]

Ronan Eustáquio Borgesii

Universidade Federal de Goiás - UFG [email protected]

Valdivino Borges de Limaiii

Universidade Federal de Goiás - UFG [email protected]

Silvio Braz de Souza

Universidade Federal de Goiás - UFG [email protected]

Resumo É comum nos trabalhos geográficos sobre Goiás, ao retratarem a história socioespacial goiana, atribuírem à modernização da agricultura, assistida em meados do século XX, um caráter integrador do território. Muitas vezes se vê a reprodução de um discurso inteiramente mercadológico, intencional e desarticulador, em trabalhos ditos de perspectivas críticas. É no intuito de desconstruir essa visão, mostrando o quanto desigual é a realidade regional em Goiás, que foi feito um levantamento de diversos aspectos da vida social, demonstrando pela tabulação de dados e análise dos mesmos a seletividade espacial feita em Goiás pelo capital. Seletividade esta que teve como apoio o poder estatal, com políticas incansavelmente chamadas de “públicas”. Palavras-chave: Desenvolvimento desigual. Desigualdade regional. Goiás.

Introdução

O estado de Goiás é um exemplo claro da desigualdade regional existente no Brasil. O

território goiano concentra nas mesorregiões Sul e Centro grande parte dos

investimentos, deixando à margem do desenvolvimento as regiões a norte.

Em busca de melhores condições de vida, muitos goianos e migrantes de outros estados

se dirigem aos polos de crescimento do estado, porém estes não conseguem usufruir do

processo de desenvolvimento econômico, vivenciado por poucos nestas regiões ou,

ainda, grande parte da riqueza é drenada por atores em outras regiões do estado ou do

país. A maioria dos migrantes reforça a desigualdade social nos grandes centros urbanos

e, ainda, favorece o quadro de pobreza e involução das regiões produtoras de força de

trabalho. Nesse ciclo vicioso é que o espaço se reproduz na desigualdade, revela a

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ascensão dos poderosos e a pobreza da maioria, a estruturação de regiões ricas e a

carência daquelas esquecidas pelo poder público e econômico.

A Capitalização do Território Goiano

Dividiremos a história goiana em dois momentos: antes e depois do século XX. O

primeiro momento da história goiana (período anterior ao século XX), não muito

diferente de agora, a população e a riqueza do Brasil concentravam-se nas zonas

litorâneas e, principalmente, no Sul do país. Decorridos os ciclos do açúcar e do café,

essas regiões pioneiras na colonização brasileira continuaram por determinar os rumos

das pessoas e dos capitais econômico, político e social nacionais e estrangeiros para cá

direcionados.

Goiás e o restante dos territórios interiores do Brasil representavam espaços subalternos,

ora devido à especificidades das faunas e floras, da carência de infraestrutura, dos

atributos geológicos, pedológicos e geomorfológicos, ora das questões sociais, como a

pobreza e a desigualdade social e de qualificação da força de trabalho. Porém a verdade

se encontra na tendência reprodutivista espacial, responsável pela manutenção das

diferenças.

Os olhares para o interior começam a mudar a partir do século XX, pois fez-se

necessário expandir a produção nacional da agropecuária, inicialmente, e,

posteriormente, da indústria de transformação, e subsidiar mão de obra ao polo

industrial brasileiro, localizado na Região Sudeste. É, neste contexto, que cria-se um

novo discurso sobre Goiás, no qual as terras antes consideradas inadequadas para a

agricultura passam a ter serventia, graças ao avanço trazido pelo pacote tecnológico

agrícola que chega ao Brasil por volta de 1950.

As primeiras décadas do século XX foram marcadas por anseios de liberdade

administrativa e autonomia territorial, deram origem a novos cenários e modelos de

gestão social. Foi uma época seguida de políticas incentivadoras do crescimento

econômico interno, que tinham como objetivo maior a “integração” do território

nacional. Mas, as primeiras mudanças foram em relação à destinação da produção: Após 1930, com o rompimento do modelo primário exportador, delineia-se, então, uma divisão social do trabalho no Brasil, redefinindo as funções das regiões a partir da presença de um foco dinamizador urbano-industrial. [...] O capitalismo brasileiro, para se desenvolver, deveria necessariamente integrar o mercado nacional, pois o que se presenciava até então era uma justaposição de regiões econômicas distintas e desarticuladas.[...] O que se presenciará em Goiás, a partir desta redefinição de funções, é uma expansão da agricultura e pecuária [...] (BARREIRA, 1997, p. 20).

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Com o presença de Getúlio Vargas no poder, com o seu plano “Marcha para o Oeste”,

foram direcionadas inúmeras políticas para Goiás, em prol da formação de um exército

de reserva de mão de obra barata e do incentivo à produção agrícola primária para

abastecer principalmente o Sudeste brasileiro. Nas décadas de 1950 e 1960 fatos

determinantes alteraram a dinâmica do espaço goiano: Com a entrada massiva de capital estrangeiro a partir de 1950, a mecanização da agricultura mais visível nos anos 1960, a construção de Brasília em 1956 e a construção da Rodovia Belém-Brasília em 1959 o território estadual conheceu mudanças estruturais que o emergiu economicamente ao cenário nacional e mundial. Houve um aumento populacional principalmente nas médias e grandes cidades e o Estado de Goiás experimentou um produtivismo jamais visto em decorrência da abertura de estradas e do mercado. (PESSOA, 1999, p. 52).

O plano do governo de Vargas foi substituído pelo Plano de Metas de Juscelino

Kubitscheck, que segundo Ribeiro (2010, p. 186) atraiu “[...] numerosas empresas para

implantar subsidiárias no Brasil [...].” Objetivando o crescimento do país em cinco anos

o correspondente a cinqüenta anos, o plano foi “[...] subsidiado pelo capital externo de

empréstimo, centrado no desenvolvimento da infra-estrutura viária, energética e

industrial do território nacional, assim como da construção da nova capital geopolítica

do Brasil”, Brasília. (GOMES, 2008, p. 355). Todos esses projetos concretizados

acarretaram na transformação da estrutura social brasileira, desviando a elite dominante

das forças da colonização primária para os grandes proprietários de terras.

Barreira (1997, p. 25) diz: “O conjunto de medidas implementadas pelo Plano de metas,

além dos efeitos causados na estrutura econômica do país, alterou fundamentalmente a

organização territorial brasileira como um todo.” A abertura do mercado interno deu às

empresas internacionais e à elite agroexportadora maior poder de controle do território,

ocasionando aos espaços e aos povos marginais problemas como a escassez de

empregos, o falecimento das cidades, miseráveis condições de vida e intensa migração.

A vida rural tradicional, ou seja, baseada no compartilhamento dos bens pela família e

no tempo lento tornva-se insustentável para os mais pobres, pois de acordo com Gomes

(2008, p. 358): “A partir da anexação do campo à economia de mercado, implementada

de forma agressiva e acelerada, tem-se a destruição da unidade familiar campesina [...].”

Calaça (2010) afirma que até os anos 1960-70 predominava a agricultura de subsistência

e a pecuária extensiva, as quais não exigiam o emprego de tecnologias avançadas.

Porém, com a chamada “Revolução Verde”, a exportação do pacote tecnológico atribuiu

valor às áreas até então improdutivas com a utilização de tecnologia como a correção do

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solo. Desse modo, o manutenção de propriedades rurais passou a demandar capital

financeiro e político, raros à maioria dos homens do campo. Logo, a modernização

desigual das atividades agrícolas desembocou nas vendas pequenas propriedades e na

concentração de terra em poucas e ricas mãos. A desarticulação dos modos de vida

rurais é a última e mais prejudicial consequência dessa cadeia.

As ações desenvolvimentistas, que melhor devem ser chamadas de “produtivistas”, na

verdade, tinham a exclusiva meta de alçar o Brasil ao mercado internacional. Dessa

forma, ocorreu uma seletividade de espaços de produção, de investimentos e da

distribuição de renda. O Brasil conheceu então, um desenvolvimento desigual e

concentrador, como se perceberá adiante.

O discurso da integração nacional nada mais fez que reforçar as discrepâncias

socioespaciais. Nas políticas mencionadas, foram priorizadas aquelas regiões com maior

potencialidade econômica. Esta teve como parâmetros os atributos geográficos

favoráveis às atividades pretendidas (agropecuárias), a proximidade dos grandes centros

do poder (Sul e Sudeste brasileiros), etc. Dizia-se que o intuito era povoar o interior

brasileiro, entretanto, não houve a preocupação com a qualidade de vida dos que ali já

estavam.

Não está aqui generalizando as decisões administrativas ou políticas que realmente

tinham a intenção de defender o interesse público, mas é evidente a tendência espacial

reprodutivista, fruto de um longo processo de formação de uma sociedade com visíveis

discrepâncias, como diz Santos (1990, p. 132) As boas intenções, manifestadas nos planos e expressas nos orçamentos, não resistem à força dos fatos, comandados por uma estrutura econômica e social que procura reproduzir-se, reafirmando-se. No Brasil apesar dos esforços para fixar a população no interior do país, a tendência à reprodução dos modelos de distribuição é ainda muito grande. (1990, p. 132).

O fato é que migrantes de toda parte dirigiram-se à região Centro-Oeste em busca das

proclamadas melhores condições de vida. Terra barata, mão de obra desqualificada,

empréstimos facilitados, o início do século XX representou a abertura dessa região,

tanto em aspectos econômicos como naturais. Grilagem de terras, desmatamento

irregular, tudo isso auxiliou na reafirmação de espaços desiguais, onde principalmente o

homem rural viu seu sistema produtivo e de vida alterar-se.

É nesse contexto que Goiás, assim como vários estados brasileiros foi palco de uma

série de medidas políticas favoráveis ao crescimento econômico da porção sul. As

regiões de planejamento Norte, Nordeste e Noroeste de Goiás foram então excluídas do

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projeto da integração. Nessas regiões encontram os menores índices de

desenvolvimento social (saúde, educação) e econômico (participação na produção, na

exportação e na geração de empregos), apesar de contarem com uma considerável área

territorial.

O Desenvolvimento Desigual: concentração de pessoas, instituições e capitais

Para dar sentido à análise e comparar áreas com dimensões espaciais extremamente

diferentes, começa-se a exposição dos dados pela distribuição da área do Estado de

Goiás pelas Regiões de Planejamento, como ilustra a figura 01:

Pela figura01, percebe-se que em quesitos de abrangência territorial, as maiores regiões

são o Norte Goiano, o Nordeste Goiano, o Oeste Goiano e o Sudoeste Goiano. Logo, se

esperaria que os dados referentes a essas regiões se mostrassem proporcionalmente

adequados à amplitude das áreas. Entretanto, veremos que isso não acontece. Em

determinados pontos, esse diferencial será perceptível, porém, ao final perceberemos o

quanto concentrado está o poder e a circulação de pessoas e capitais, contraditoriamente

nas menores regiões.

Outro dado nesse momento relevante para basear a análise é o contingente populacional

do estado de Goiás segundo as regiões, como se vê a seguir:

Fonte: SEGPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatística Socioeconômica - 2012. Elaboração: MARQUES, Ana C. de O.

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Curiosamente, a Região Metropolitana de Goiânia, aquela que ocupa apenas 2% da área

total do Estado responde, em 2011, por mais de 35% da população goiana. Isso mostra a

força de atração que essa região exerce sobre a população de Goiás e também sobre os

estrangeiros ou migrantes de outros estados. A queda populacional observada em sete

das dez regiões de planejamento e a ascendência principalmente da população do

Entorno do Distrito Federal e da Grande Goiânia indicam um fluxo migratório no

período analisado.

De início, já se pode notar a diferença no contingente populacional entre regiões com

dimensões semelhantes: o Norte e o Sudoeste goianos. O Norte de Goiás, com 18% da

área possui apenas 5% da população. A discrepância entre a porção sul e norte do estado

é visível em todas as questões tratadas, reforçando acreditamos

Ao se observar o percurso populacional entre os anos 1991 e 2011 verá que a

desigualdade se consolida ao longo do tempo. Diferente dos discursos midiáticos e

políticos, a integração não chegou ao território goiano, mas sim, a exarcebação das

diferenças.

Quando se fala em densidade demográfica, baseado em dados disponível no banco de

dados da Secretaria de Estado de Gestão e Planejamento referentes ao ano de 2005, é

surpreendente que no Nordeste Goiano, uma região consideravelmente extensa, o índice

Fonte: SEGPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatística Socioeconômica - 2012. Elaboração: MARQUES, Ana C. de O.

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de habitantes por quilômetros quadrados seja de apenas 4,03, enquanto a menor região

(Metropolitana de Goiânia), conte com o índice de 272,14 hab/km². A existência de

vazios demográficos representa muito bem a deficiência de investimentos em certas

áreas, fazendo com que as pessoas deixem as cidades pequenas e rumem à capital, que

por sua vez encontra-se concentrados os índices de habitantes, escolas, hospitais, etc.

Outro índice que expressa bem a discutida desigualdade regional em Goiás é o Produto

Interno Bruto (PIB), revelado na figura 03:

Novamente o que se vê é o destaque dos valores da Região Metropolitana de Goiânia,

agora com aproximadamente 36% da contribuição no PIB estadual. O Norte, o Nordeste

e o Noroeste participam com muito pouco do PIB, o que mostra a pouca relevância,

destas regiões.a bém reproduzem a quase irrelevância na dinâmica econômica de Goiás.

Mas, tem-se aqui um ponto interessante, que chama-nos atenção para a importância de

se desconfiar dos dados: a representatividade econômica do Sudeste Goiano.

A impressão que temos ao analisarmos a figura apresentada é que o Sudeste de Goiás se

enquadraria no grupo das regiões com infraestrutura precária e com pouca

movimentação de capital O fato de apresentar um PIB menor não confere a essa região

uma dificuldade de inserção no rendimento estatal, a diferença aqui está na distribuição

Fonte: SEGPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatística Socioeconômica - 2012. Elaboração: MARQUES, Ana C. de O.

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de renda, como será possível notar através da visualização do PIB per capita pela figura

04:

Como o maior PIB per capita, pode-se deduzir a grande questão do Sudeste Goiano: a

concentração da riqueza. É nesse momento que a análise dos dados, aparentemente

contraditórios, revela o que pode passar desapercebido em estudos puramente

estatísticos. Para esclarecer ainda mais essa questão, vejamos a figura 05:

Fonte: SEGPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatística Socioeconômica - 2012. Elaboração: MARQUES, Ana C. de O.

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Assim como na anterior, o Sudoeste e o Sudeste goianos estão no ranking da

representação. Não é novidade o caráter agropecuário da economia goiana e a partir

desses dados, fica indiscutível a rentabilidade das atividades ligadas à agricultura e

pecuária.

O Sudeste Goiano, com menos de 5% da população goiano, com PIB per capita em

2009 de mais de 25.000 reais, foi em 2010 o segundo maior criador de aves e com uma

participação importante no rebanho bovino do Estado. A explicação para tal destaque

não pode estar desconectada da estrutura fundiária de Goiás. Os latifúndios são as

verdadeiras causas desses dados contraditórios.

Percebe-se o mesmo quando comparamos o Sudoeste e o Centro goianos. Com 18% da

área do Estado e menos de 10% da população, a Região de Planejamento Sudoeste

Goiano responde pelos maiores valores vindos da produção agropecuária. A baixa

quantidade de pessoas nessa região demonstra por outro lado o crescente emprego de

tecnologia agropecuária, reduzindo mão de obra por maquinário.

Fonte: SEGPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatística Socioeconômica - 2012. Elaboração: MARQUES, Ana C. de O.

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Conclusões

Relacionando variáveis, conseguimos entender um pouco da configuração regional de

Goiás, complexa e com forte tendência à reprodução.

Fixa-se a importância de uma análise relacional, cruzando dados e extrapolando a

representação em busca dos fatores reais dos fenômenos.

A desigualdade regional de Goiás é fruto de um longo processo de territorialização do

capital, desigual e concentrado. A seletividade espacial fez crescer as discrepâncias

entre as regiões goianas, deixando a porção norte do estado com o ônus de um

desenvolvimento excludente. A sul, em contrapartida, estão as regiões responsáveis pela

movimentação do capital econômico, político e social, com áreas estruturadas para a

prática agropecuária e industrial. Essas diferenças dividem a riqueza e a pobreza em

Goiás, formando subespaços com realidades extremamente distintas. Por um lado, os

grandes latifundiários, por outro, os camponeses a beira da destituição de suas unidades

e os trabalhadores informais nas médias e grandes cidades vivendo em situações de vida

precárias.

O primeiro passo para mudar essa situação é a desconstrução da visão da integração, tão

reproduzida nas falas e nos trabalhos sobre o Goiás moderno. O que foi disseminado no

imaginário social pelo discurso elitista, é muito diferente do que aconteceu na prática e

isso precisa ser compreendido para desconstruir o conformismo de que as coisas são

como são naturalmente. A conscientização será então, o ponto inicial da mudança

social.

Notas i Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia do Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás. ii Doutor em Geografia e Docente do Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás. iii Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Geografia do Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás. iv Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia do Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás.

Referências BARREIRA, Celene C. Monteiro Antunes. Região da estrada do boi: usos e abusos da natureza. Goiânia: Editora da UFG,1997.

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CALAÇA, Manoel. Territorialização do capital: biotecnologia, biodiversidade e seus impactos no Cerrado. Revista Ateliê Geográfico. Edição Especial, v. 1, n. 9 fev/2010 p. 06-23. Disponível em: www.revistas.ufg.br . Acesso em: 14 de maio de 2012.

GOMES, Horieste. A nova matriz espacial do território goiano. In: GOMES, Horieste (Org.) Universo do cerrado. Goiânia: Ed. Da UCG, 2008. 2 v.: il. PESSOA, Jadir de Morais. A revanche camponesa. Goiânia: Editora da UFG, 1999.

SANTOS, Milton. Por uma Geografia Nova – da crítica à Geografia à Geografia Crítica. 3. ed. 1 reimpressão. São Paulo: Ed. Hucitec, 1990. SEGPLAN-GO – Secretaria de Estado de Gestão e Planejamento - Goiás / SEPIN – Superintendência de Estatísticas, Pesquisa e Informações Socioeconômicas / Gerência de Estatística Socioeconômica – Goiânia, 2012. Disponível em http:/www.seplan.go.gov.br. Acesso em: 4 mar. 2012.