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Fernanda Machado Regazzi Modificações pulmonares morfométricas e funcionais de neonatos da espécie canina em resposta à corticoterapia pré-natal São Paulo 2011

Modificações pulmonares morfométricas e funcionais de ... · pulmonar fetal e transição para a vida extra-uterina. Até o momento, não há estudos na espécie canina, com o

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Fernanda Machado Regazzi

Modificações pulmonares morfométricas e

funcionais de neonatos da espécie canina

em resposta à corticoterapia pré-natal

São Paulo

2011

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FERNANDA MACHADO REGAZZI

Modificações pulmonares morfométricas e

funcionais de neonatos da espécie canina em

resposta à corticoterapia pré-natal

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo para a obtenção do título de Mestre em Ciências.

Departamento:

Reprodução Animal

Área de concentração:

Reprodução Animal

Orientador:

Profa. Dra. Camila Infantosi Vannucchi

São Paulo

2011

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Autorizo a reprodução parcial ou total desta obra, para fins acadêmicos, desde que citada a fonte.

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO-NA-PUBLICAÇÃO

(Biblioteca Virginie Buff D’Ápice da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo)

T.2507 Regazzi, Fernanda Machado FMVZ Modificações pulmonares morfométricas e funcionais de neonatos da espécie canina em resposta à corticoterapia pré-natal / Fernanda Machado Regazzi.-- 2011. 104 f. : il. Dissertação (Mestrado) - Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia. Departamento de Reprodução Animal, São Paulo, 2011.

Programa de Pós-Graduação: Reprodução Animal. Área de concentração: Reprodução Animal. Orientador: Profa. Dra. Camila Infantosi Vannucchi. 1. Corticoterapia. 2. Neonatos. 3. Morfometria. 4. Surfactante. I. Título.

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome: Regazzi, Fernanda Machado

Título: Modificações pulmonares morfométricas e funcionais de neonatos da espécie

canina em resposta à corticoterapia pré-natal

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo para a obtenção do título de Mestre em Ciênias.

Data:____/____/____

Banca Examinadora

Celso Moura Rebello

FM/USP

Francisco Javier Hernandez Blazquez

FMVZ/USP

Camila Infantosi Vannucchi

FMVZ/USP

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Aos meus pais e irmãos, pelo amor e confiança.

A Deus, por sempre me guiar.

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Agradecimentos

Diferentes pessoas cruzaram nossos caminhos, algumas percorreram ao

nosso lado, vendo luas passarem, outras apenas vimos entre um passo e outro. Há

os que levaram muito, mas não há os que não deixaram nada, simplesmente por

que cada pessoa foi única e responsável pela construção do meu ser. Crescer e ver

o belo nas diferenças é um grande trunfo e responsabilidade. Para todos que

desempenharam, no anfiteatro desta caminhada, os mais diferentes papéis,

contribuindo, de alguma forma, na estruturação desta história, ofereço estas

páginas...

Agradeço...

...a minha mãe, Clea, por ter acreditado e investido tanto em mim e me

permitido sonhar e viver a Medicina Veterinária, bem como a ciência, mas

principalmente por ser exemplo intangível de mulher, doce e sábia, de determinação,

afrontando os mais diversos desafios, exemplo de caráter, bondade, humanidade e

por ter me ensinado a sempre enxergar com os olhos do coração. “Você supera

qualquer expectativa”.

Ao meu pai, Evanildo, amável e doce, que sem pesar e com sorriso nos olhos

fazia-se de paciente ouvinte de uma menininha, que com apenas 13 anos, viu seu

sonho de Veterinária borbulhar ao ganhar o seu eterno e muito amado Farofino.

Agradeço a Deus a honra de tê-los como mestres.

Aos meus mais que irmãos, amigos e companheiros Edilson, Kauê e Mayra.

Obrigada pelo amor, sorrisos e união, eu seria um quarto sem vocês.

Aos meus avós que, em histórias, fizeram-se sempre onipresentes. Obrigada

pela estruturação familiar.

Ao Jô, por estar sempre ao meu lado, presente, incentivando, apoiando, por

ter sido, em muitos momentos, refúgio, pelas alegrais, amor e conforto.

A toda minha família, tios, tias e primos, pelos tão aguardados encontros.

À minha orientadora, Camila, pelo acolhimento e capacidade de ensinar

possibilitando o granjeio de um sonho. Pela forma precisa e afetiva de captar minhas

necessidades, quando me deixar ou guiar, de proferir uma palavra de saber.

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Agradeço o incentivo, todo ensinamento, crescimento, oportunidade e compreensão

em momentos difíceis, também por ser exemplo de humanidade, liderança,

competência e amor à profissão.

Às minhas irmãs Lilica, Cris, Gi e irmãozinho Dani, sem os quais nada seria

possível. Cris, doce e amiga; Lilica, atenciosa e cúmplice; Gi, engraçada,

companheira; Dani, vulgo “Peter Pan ou SPP”, adorável e companheiro. Talvez um

maior domínio das palavras me permitisse expressar o tamanho da minha admiração

e gratidão por cada um de vocês. Obrigada por tudo!

A Jaque Aguiar, que esteve presente no início desta caminhada, pelas

palavras de incentivo e encorajamento. Muito obrigada!

Realmente somos mais do que uma equipe.

A Dani Kishi, pelas conversas, empenho, companhia, determinação. A Marília,

pela atenção, ajuda, compromisso e carinho. Vocês foram fundamentais ao meu

crescimento.

As minhas meninas Jurema, Lica (Winnie), Preta, Mega, Branca, Pretinha,

Bruna e Berenice, pelo carinho, apego, doçura, pelas noites juntas e mal dormidas

na Veterinária...por que era impossível dormir enquanto a Bruna não conseguisse

ocupar metade do meu colchão. Não nos encontramos ao acaso.

Ao Zequinha, pela disponibilidade em todos os momentos em que precisei de

sua colaboração. Obrigada pelos cães, dicas, e carinho.

A Carol, nossa anestesista, pela prontidão em aceitar nosso convite, obrigada

por nos presentear com sua competência e amizade.

As minhas amadas amigas, irmãs Campineiras, Daniela, Karina, Mariana e

Mau pelo companheirismo, dedicação, pela sinceridade de uma amizade a qual

vimos que a distância não foi e nunca será suficiente para apagar. Vocês são

fundamentais em minhas caminhadas.

A minha “ex roommate”, Fê, pela paciência em me ouvir antes de dormirmos,

pelas palavras de apoio e risadas; Fi, pela atenção, simpatia, trapalhadas; ao Bê,

pelas diversas ajudas com trabalhos e dúvidas, por ser um exímio ouvinte e me

fazer rir dos problemas, minhas noites de estudo não seriam as mesmas sem vocês.

Obrigada! A Mari, pelos conselhos, passeios, companhia. Todo sucesso Má! A

Stopitia, obrigada pelas conversas e previsões de tarô, você vai fazer falta!

Aos companheiros de VRA: Tha, Ju, Lindsay, Mari, pelos conselhos,

passeios, viagens, e muitas risadas; Marcílio, por alegrar nossos churrascos e

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colaborar com os dados de estatística; Fu, pela amizade e apoio nesta reta final; Rô,

nem sei por onde começar! Obrigada pelas conversas, amizade e alegra. A todos do

LDH, em especial a Priscila, pelas dosagens hormonais, a Lili, por todo carinho e

companheirismo; Patrícia, por compartilhar dúvidas e pesares. E também a Carina,

Bruna, Robertinha, Manuel, Samir, Pedro, Flávia, Rafa, Robinson, Camila, Everton e

todos os demais pós-graduandos, estagiários e ICs.

Ao Prof. Francisco, por abrir caminhos para o desenvolvimento deste estudo e

por sua disponibilidade. O empréstimo gentil de seu laboratório, e equipe, os quais

foram muito importantes para a conclusão deste trabalho. Em especial ao Di, pelas

boas gargalhadas, pelo empenho e colaboração no cumprimento dos processos de

histologia pulmonar, pela confiança e diponibilidade; ao Thi, por toda competência,

paciência, alegria, dedicação, ensinamentos e carinho; Valdir, pelo apoio e

companheirismo. Ao Ronaldo, pela gentileza em ceder seus micrótomos. Adorei

estar com vocês!

Aos Prof. Maiorka e Profa. Malu por também cederem seus laboratórios e

equipe; em especial ao Caio, pelo tempo, amizade e conhecimento disponibilizados,

ao Buga e Claudio, pela prontidão. Muito obrigada à todos!

Aos professores do Departamento, pelos ensinamentos, oportunidades e

estímulos. Em especial à Profa. Eneiva Carla, Profa. Claudia e Prof Marcelo.

Aos funcionários: Alice, Belau, Dona Sílvia, Harumi, Roberta, Iraílton, Jocimar,

Miguel, Maria Amélia, Luis, Thaís. Às secretárias da pós-graduação e aos

funcionários da biblioteca Virgine Buff D’Apice.

A Silvana. Sil, muito obrigada pelo entusiasmo, competência e fundamental

auxílio nas avaliações radiográficas.

As ONGS, canis e funcionários, em especial ao Anderson, pela prontidão e

carinho.

Aos nossos estagiários, em especial a Melissa e Thainá. Muito obrigada pelo

empenho!

Ao Departamento de Reprodução Animal, por me acolher e me fazer evoluir

profissionalmente! Sinto-me muito feliz e lisonjeada por fazer parte deste time!

Ao CNPq e FAPESP pelas bolsas de mestrado e auxílio pesquisa.

Muito Obrigada a todos!

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“Não há progresso sem mudança.

E, quem não consegue mudar a si, acaba por não mudar coisa alguma”

(George Bernard Shaw)

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RESUMO

REGAZZI, F. M. Modificações pulmonares morfométricas e funcionais de neonatos da espécie canina em resposta à corticoterapia pré-natal. [Lung

morphometric and functional changes in canine neonates after prenatal corticoterapy]. 2011.102f.Dissertação (Mestrado em Ciências) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.

O final do período gestacional é marcado por importantes processos que

caracterizam a maturação pulmonar fetal, dentre os quais destacam-se alterações

estruturais, como a expansão das áreas de troca gasosa; e funcionais, tais como o

aumento na produção de surfactante, cuja principal função é reduzir a tensão

superficial na interface ar-líquido alveolar, evitando o colapso dos alvéolos na fase

final da expiração. Estudos realizados em diferentes espécies animais indicam a

influência de fatores endócrinos, incluindo os glicocorticóides, no desenvolvimento

pulmonar fetal e transição para a vida extra-uterina. Até o momento, não há estudos

na espécie canina, com o objetivo primordial de avaliar a ação da corticoterapia

materna na melhora da função pulmonar. Desta forma, são objetivos deste estudo

identificar as alterações morfométricas e funcionais pulmonares de neonatos pré-

termos e termos submetidos à corticoterapia materna pré-natal e correlacioná-las à

melhora da função pulmonar no período neonatal. Para tanto, 25 neonatos da

espécie canina, nascidos por cesariana programada, foram alocados aleatoriamente

em 2 grupos: Grupo Controle (CONT) (sem corticoterapia materna; n=15) e Grupo

Betametasona (BETA) (corticoterapia materna aos 55 dias de gestação; n=10), por

aplicação de betametasona (Celestone Soluspan®) em dose única de 0,5 mg/Kg de

peso materno, por via de administração intra muscular (IM). No grupo Controle, os

neonatos foram avaliados aos 55, 57 e 63 dias de gestação, enquanto no Grupo

Betametasona, aos 57 e 58 dias de gestação. Perfez-se a avaliação clínica por

escore Apgar, hemogasometria e radiografia pulmonar. Ainda, as modificações

pulmonares estruturais e funcionais foram verificadas por análise morfométrica e

imunoistoquímica para detecção do número de pneumócitos tipo II produtores da

proteína B do surfactante (SP-B) no parênquima pulmonar. Houve melhor evolução

clínica nos neonatos pertencentes ao grupo BETA 57 já aos 60 minutos de vida. Os

valores de freqüência cardíaca foram estatisticamente maiores nos grupos tratados

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e controle termo, em comparação ao grupo CONT 57. O escore de freqüência e

padrão respiratórios foi estatisticamente superior nos grupos BETA 57 e CONT 63,

seguido pelo grupo BETA 58. Valores estatisticamente semelhantes de irritabilidade

reflexa foram observados entre os grupos tratados e termo. Do nascimento aos 60

minutos de vida não houve diferença estatística na avaliação do tônus muscular

entre os grupos, com valores significativamente superiores aos 240 minutos de vida

nos grupos tratados e controle termo. Os neonatos do grupo CONT 63 apresentaram

escore de mucosas aparentes da avaliação Apgar estatisticamente superior em

relação aos demais grupos ao nascimento, com valores estatisticamente iguais aos

grupos tradados e CONT 57 aos 60 minutos de vida. Ao nascimento e após 2 horas

de vida, todos os neonatos apresentaram acidemia, com melhor resposta

compensatória ao desequilíbrio ácido-básico no grupo BETA 58. Houve maior

septação nos grupos tratados e controle termo, em relação aos demais grupos. Um

percentual estatisticamente superior de alveolização foi observado no grupo CONT

63, seguido pelo grupo BETA 58. Um menor percentual de sáculos foi identificado no

grupo CONT 63 seguido pelos grupos BETA 57 e CONT 55. Não evidenciou-se

diferença estatística quanto ao número de pneumócitos tipo II marcados para a

proteína SP-B entre os grupos tratados e CONT 57. A avaliação radiográfica

mostrou menor percentual de broncograma aéreo, bem como áreas de atelectasia,

no grupo BETA 57, associado à melhor visualização do parênquima pulmonar. Em

conclusão, a administração de betametasona materna no período pré-natal induz

alterações estruturais do parênquima pulmonar, resultando em melhores valores de

escore Apgar. Houve melhor resposta compensatória nos grupos tratados, reflexa ao

aumento da capacidade de troca gasosa pulmonar. Não foi possível identificar

aumento na síntese de surfactante pulmonar entre os grupos, em resposta à

administração pré-natal de betametasona.

Palavras- chave: Corticoterapia. Neonatos. Morfometria. Surfactante

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ABSTRACT

REGAZZI, F. M. Lung morphometric and functional changes in canine neonates after prenatal corticoterapy [Modificações pulmonares morfométricas e funcionais

de neonatos da espécie canina em resposta à corticoterapia pré-natal]. 2011. 104f. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.

The final gestational period is marked by an important processes that characterize

the lung fetal maturation, like structural changes such as expansion of the areas of

gas exchange, and functional changes, such as increased production of surfactant,

whose main function is to reduce the surface tension in the air-liquid interface

alveolar, preventing the alveoli from collapsing during late expiration. Studies in

different species indicate the influence of endocrine factors, including glucocorticoids

in fetal lung development and transition to extrauterine life. Up till now, there is not

studies in dogs, with the primary objective to evaluate the action of maternal

corticosteroid therapy in improving lung function. Thus, the objectives of this study

was to identify morphological changes in lung function in preterm and terms

neonates submitted to prenatal maternal corticosteroids and correlate them to the

improvement in lung function during the neonatal period. For it 25 canine neonates,

born by scheduled cesarean section, were randomly divided into 2 groups: control

group (CONT) (no maternal corticosteroid therapy, n = 15) and Group

betamethasone (BETA) (maternal corticosteroid therapy at 55 days gestation; n =

10), by application of betamethasone (Celestone Chronodose Injection ®) in a single

dose of 0.5 mg / kg of maternal weight, route of administration by intra-muscular (IM).

Control group neonates were evaluated at 55, 57 and 63 days of gestation, and the

betamethasone group, at 58 and 57 days of gestation. The clinical assessment was

made by Apgar score, blood gas and pulmonary radiography. Still, the structural and

functional lung changes were verified by morphometric analysis and

immunohistochemistry to detect the number of type II pneumocytes producers

surfactant protein B (SP-B) in the lung parenchyma. There was better clinical

outcome in the groups BETA 57 at 60 minutes of life. The values of heart rate were

significantly higher in term treatment and control groups compared to the group

CONT 57. The score of respiratory frequency and pattern was statistically higher in

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groups BETA 57 e 63 followed by the group BETA 58. Statistically similar reflex

irritability were observed between the treated groups and term. From birth to 60

minutes of life there was not statistical difference in the assessment of muscle tone

between the groups, with significantly higher values at 240 minutes of life in term

treatment and control groups. Neonates of CONT 63 has mucous apparent

assessment of Apgar statistically superior to other groups at birth, with values

statistically equal to tratads and group CONT 57 at 60 minutes of life. At birth and

after 2 hours of life, all neonates had acidemia, with better compensatory response to

acid-base balance in the group BETA 58. There was an increased septation in

treated and control groups comparing other groups. A statistically higher percentage

of alveolarization was observed in group CONT 63, followed by the group BETA 58.

A lower percentage of saccules was identified in the group CONT 63 followed by

groups BETA 57 and CONT 55. There was not statistical differences in the number

of type II pneumocytes marked for protein SP-B between the treated groups and

CONT 57. The radiographic evaluation showed a lower percentage of air

bronchogram, and atelectasis in the group BETA 57, associated with better

visualization of the pulmonary parenchyma. In conclusion, maternal administration of

betamethasone in prenatally period induced structural changes of the lung

parenchyma, resulting in higher values of Apgar score. There was greater

compensatory response in the treated groups, the reflex of an increase capacity of

pulmonary gas exchange. It was not possible to indentify increases synthesis of

surfactant between the groups in response to prenatal administration of

betamethasone.

Keywords: Corticosteroid therapy. Neonates. Morphometry. Surfactant

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Interpretação da concentração sérica de progesterona, avaliada pela técnica de radioimunoensaio, durante o ciclo estral de cadelas.....................................................................

50

Quadro 2 - Condutas experimentais e os respectivos momentos de execução nos neonatos dos grupos CONT e BETA..............

50

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Escore médio do tônus muscular (0 a 2) dos neonatos pertencentes aos grupos controle (CONT) 55, 57 e 63 e grupos betametasona (BETA) 57 e 58 aos 0, 5, 60, 120 e 240 minutos do

nascimento. São Paulo, 2011.......................................................

64

Figura 2 – Escore médio de coloração de mucosas aparentes (0 a 2) dos neonatos pertencentes aos grupos controle (CONT) 55, 57 e 63 e grupos betametasona (BETA) 57 e 58 aos 0, 5, 60, 120 e 240

minutos do nascimento - São Paulo - 2011...................................

65

Figura 3 - Fotomicrografia de tecido pulmonar de neonatos caninos sob avaliação morfométrica. A) Neonato pré-termo do grupo BETA 58. B) Neonato pré-termo do grupo BETA 57. C) Neonato termo do grupo CONT 63. D) Neonato pré-termo do grupo CONT 57. E, F) Neonatos pré-termo do grupo CONT 55. Sáculos (SAC), subsáculos (SS), alvéolos (AL), septos (SEP), bronquíolo respiratório (BR), bronquíolo terminal (BT). Coloração:

Hematoxilina-eosina. Ampliação 400X...........................................

71

Figura 4 - Média e desvio padrão do número de pneumócitos do tipo II marcados para a proteína SP-B em cada 100µ2 de parênquima pulmonar nos neonatos pertencentes aos grupos CONT 57 e 63 e grupos BETA 57 e 58. A, B, C entre grupos indicam diferença

estatística (p≤0,05) - São Paulo - 2011..........................................

72

Figura 5 Fotomicrografia do tecido pulmonar de neonatos caninos com marcação citoplasmática positiva para a proteína SP-B (→) no citoplasma de pneumócitos tipo II. A) Neonatos do grupo BETA 57. B) Neonatos do grupo CONT 63. Técnica de Imuno-histoquímica.

Ampliação 400X - São Paulo - 2011..............................................

72

Figura 6 – Fotomicrografia do tecido pulmonar de neonatos caninos com marcação nuclear positiva para ciclinas (→) em células pulmonares. A) Neonato do grupo BETA 57. B) Neonato do grupo CONT 57. C) Neonato do grupo BETA 58. D) Neonato do CONT 63. E, F) Neonatos do grupo CONT 55. Técnica de Imuno-

histoquímica. Ampliação 400X......................................................

73

Figura 7 – Fotomicrografia do tecido pulmonar de neonatos caninos. A) Neonato do grupo BETA 57 com marcante distinção entre epitélio bronquiolar e sacular. B) Neonato do grupo CONT 57 com menor diferenciação epitelial. C) Neonato do grupo BETA 58 com marcante distinção entre epitélio bronquiolar e sacular. D) Neonato do CONT 63 com áreas saculares e bronquiolares bem definidas. E, F) Neonatos do grupo CONT 55 com menor diferenciação epitelial. Epitélio bronquiolar (→), saculos (S) Técnica de Imuno-

histoquímica. Ampliação 400X......................................................

74

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Figura 8 – Fotomicrografia do tecido pulmonar de neonatos caninos. Técnica de Vernhoeff para identificação de fibras elásticas. Ampliação 400X. A) Neonato do grupo BETA 57. B) Neonato do grupo CONT 57. C) Neonato do grupo BETA 58. D) Neonato do CONT 63. E, F)

Neonatos do grupo CONT 55 com menor diferenciação epitelial..

75

Figura 9 – Imagens radiográficas de neonatos caninos. A) Neonato pré-termo do grupo BETA 57. Projeção LLE. Leve opacificação de parênquima pulmonar, mais evidente em lobo cranial esquerdo compatível com o período pós-natal imediato. B) Neonato pré-termo do grupo CONT 57. Projeção LLE. Intensa opacificação observada em todo parênquima, compatível com menor volume de ar pulmonar. São Paulo, 2011..........................................................................................

76

Figura 10 – Imagens radiográficas de neonatos caninos. A) Neonato pré-termo do grupo CONT63. Projeção LLD. Intensa opacificação e bloqueio da função alveolar em lobos pulmonares cranial e médio direito, com pouca definição de silhueta cardíaca. B) Neonato pré-termo do grupo BETA 57. Projeção LLD. Leve opacificação observada em todo parênquima, com boa definição da silhueta cardíaca. São Paulo, 2011......................

77

Figura 11 – Imagens radiográficas de neonatos caninos com alteração em campos pulmonares. A) Neonato pré-termo do grupo CONT 55. Projeção VD. Não visualização da silhueta cardíaca com intensa opacificação de parênquima pulmonar, sugerindo função alveolar bloqueada (óbito nos primeiros minutos de vida). B) Neonato pré-termo do grupo CONT 55. Projeção VD. Pouca definição de silhueta cardíaca com moderado opacificação pulmonar difusa, evidenciando pouco volume de ar pulmonar. São Paulo, 2011.................................

78

Figura 12 - Valores percentuais de neonatos dos grupos controle (CONT) 55, 57 e termo e grupos betametasona (BETA) 57 e 58 com broncograma aéreo. São Paulo, 2011.........................

78

Figura 13 – Imagens radiográficas de neonatos caninos. A) Neonato pré-termo do grupo CONT 57. Projeção LLE. Visualização de broncograma em loco caudal esquerdo opacificado. B) Neonato pré-termo do grupo BETA 57. Projeção LLD. Pouca identificação de broncograma aéreo em lobos pulmonares. São Paulo, 2011........................................................................

79

Figura 14 - Valores percentuais de neonatos dos grupos controle (CONT) 55, 57 e termo e grupos betametasona (BETA) 57 e 58 com ausência ou graus leve, moderado ou intenso de atelectasia pulmonar. São Paulo, 2011....................................

80

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Figura 15 – Imagens radiográficas de neonatos caninos. A) Neonato pré-termo do grupo BETA 57. Projeção LLD. Moderada opacificação pulmonar em loco cranial direito, compatíveis com grau leve de atelectasia. B) Neonato termo do grupo CONT 63. Projeção LLD. Intensa opacificação difusa em parênquima pulmonar sugestivo de grau intenso de atelectasia por edema pulmonar. C, D) Fotomicrografia de tecido pulmonar de neonatos caninos do grupo CONT 63 evidenciando edema alveolar (ED). Coloração: Hematoxilina-eosina. Ampliação 600X. São Paulo, 2011...............................

80

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Estágios do desenvolvimento pulmonar (em dias) nas espécies animais domésticas. São Paulo, 2011..........................................

33

Tabela 2 - Parâmetros adotados para o escore APGAR de vitalidade neonatal. São Paulo, 2011............................................................

51

Tabela 3 - Valores de probabilidade (p) para os efeitos principais Grupos (CONT55 vs. CONT57 vs. CONT63 vs BETA 57 vs BETA 58) e Momentos de Avaliação (0 vs. 5 vs. 60 vs. 120 vs. 240 min) e sua interação para a avaliação neonatal. São Paulo, 2011..........

60

Tabela 4 - Intervalo entre a administração de betametasona materna e o início do trabalho de parto (minutos) para as gestantes 1 e 2 - São Paulo –

2011.................................................................................................

61

Tabela 5 - Média e desvio padrão do escore Apgar (0 a 10) dos neonatos pertencentes aos grupos controle (CONT) 55, 57 e 63 e grupos betametasona (BETA) 57 e 58, nos momentos 0, 5, 60, 120 e 240

minutos do nascimento - São Paulo - 2011........................................

62

Tabela 6 - Média e desvio padrão do escore (0 a 2) da freqüência cardíaca (FC), freqüência respiratória (FR) e irritabilidade reflexa (IR) dos neonatos pertencentes aos grupos controle (CONT) 55, 57 e 63 e grupos

betametasona (BETA) 57 e 58 - São Paulo – 2011.............................

63

Tabela 7 - Média e desvio padrão da temperatura corpórea (oC) nos grupos controle (CONT) 55, 57 e 63 e grupos betametasona (BETA) 57 e 58

aos 0, 5, 60, 120 e 240 minutos do nascimento. São Paulo, 2011........

66

Tabela 8 - Média e desvio padrão dos valores de HCO3-, BE, PvCO2 e pH em

neonatos dos grupos controle (CONT) 55, 57 e 63 e grupos betametasona (BETA) 57 e 58 nos momentos 0, 120 e 240 minutos

do nascimento - São Paulo – 2011.....................................................

68

Tabela 9 – Média e desvio padrão dos valores de SvO2, PvO2 e oximetria venosa em neonatos dos grupos controle (CONT) 55, 57 e 63 e

grupos betametasona (BETA) 57 e 58 - São Paulo – 2011..................

69

Tabela 10 - Média e desvio padrão dos valores de SvO2, PvO2 e oximetria venosa neonatal nos momentos 0, 5, 60, 120 e 240 minutos do

nascimento - São Paulo - 2011.........................................................

69

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Tabela 11 - Média e desvio padrão do percentual de bronquíolos respiratórios (BR), sáculos (SAC), subsáculos (SUBSAC), alvéolos (AL) e septos (SEP), presentes no parênquima pulmonar dos neonatos pertencentes aos grupos controle (CONT) 55, 57 e 63 e grupos

betametasona (BETA) 57 e 58 - São Paulo – 2011.............................

70

Tabela 12 – Média e desvios padrão do escore de identificação do coração e parênquima pulmonar (1 a 3) dos neonatos pertencentes aos grupos controle (CONT) 55, 57 e 63 e grupos betametasona (BETA) 57 e 58. São Paulo, 2011.................................................

77

Tabela 13 – Coeficiente de correlação e de significância do HCO3, BE, SvO2, pH, PvCO2, FR, TM, IR, CM, Apgar, temperatura (Temp), Pneumócitos tipo II (P. II), bronquíolo terminal (BRQ.T), saculo (SAC), subsaculo (SUBSAC), septos, alvéolos, coração, broncograma, pulmão, atelectasia. São Paulo, 2011....................

82

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AL Alvéolo

Apgar Escore de vitalidade Apgar

BE Base excess

BETA Termo Grupo betametasona de neonatos nascidos termo (63 dias de

gestação

BETA 57 Grupo betametasona de neonatos nascidos com 57 dias de

gestação

BR Bronquíolo respiratório

°C Graus Celsius

CEUA Comissão de Ética no Uso de Animais

CM Coloração de mucosa

cm3 Centímetro cúbico

CO2 Dióxido de Carbono

CONT Termo Grupo controle de neonatos nascidos termo (63 dias de

gestação)

CONT 57 Grupo controle de neonatos nascidos com 57 dias de gestação

CONT 55 Grupo controle de neonatos nascidos com 55 dias de gestação

DP Desvio padrão

FC Frequência cardíaca

FR Frequência respiratória

H+ Hidrogênio

H2O Água

HCO3 Bicarbonato

HE Hematoxilina-eosina

IM Intra-muscular

IR Irritabilidade reflexa

Kg Quilograma

kV Kiliwatts

LDH Laboratório de Dosagens Hormonais

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LH Hormônio luteinizante

mEq/L Miliequivalente por litro

mg Miligrama

mL Mililitro

mmHg Milímetros de mercúrio

n Número

µg Micrograma

O2 Oxigênio

PaCO2 Pressão arterial de dióxido de carbono

PaO2 Pressão arterial de oxigênio

PCO2 Pressão de dióxido de carbono

PO2 Pressão de oxigênio

PvCO2 Pressão venosa de dióxido de carbono

PvO2 Pressão venosa de oxigênio

TCO2 Dióxido de carbono total

mRNA Ácido ribonucleico mensageiro

RX Raio X

SAC Saculo

SEP Septo

SNC Sistema nervoso central

SRD Síndrome do Desconforto Respiratório

SO2 Saturação de oxigênio

SP-A Proteína A do surfactante

SP-B Proteína B do surfactante

SP-C Proteína C do surfactante

SP-D Proteína D do surfactante

SUBSAC Subsaculo

PCNA Antígeno celular de proliferação nuclear

Temp Temperatura

TM Tônus muscular

UTIs Unidades de Terapia Intensiva

Vvbr Volume dos bronquíolos respiratórios

Vvs Volume de sáculos

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Vvst Volume de sáculos terminais

Vva Volume alveolar

Vv Densidade Volumétrica

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LISTA DE SÍMBOLOS

> Maior

< Menor

% Porcentagem

® Marca registrada

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................

28

1.1 HIPÓTESE..................................................................................................... 30

2 REVISÃODE LITERATURA.............................................................................

32

2.1 DESENVOLVIMENTO DO APARELHO RESPIRATÓRIO............................ 32

2.2 COMPOSIÇÃO, FUNÇÃO E METABOLISMO DO SURFACTANTE

PULMONAR........................................................................................................

35

2.3 DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS RELACIONADOS À PREMATURIDADE. 37

2.4 AVALIAÇÃO NEONATAL.............................................................................. 38

2.4.1 Exame clínico neonatal............................................................................ 38

2.4.1.1 Fisiologia neonatal................................................................................... 39

2.4.2 Exames complementares......................................................................... 40

2.4.2.1 Avaliação radiográfica pulmonar............................................................. 40

2.4.2.2. Avaliação hemogasométrica venosa...................................................... 41

2.5 CORTICOTERAPIA PRÉ-NATAL.................................................................. 43

3 MATERIAIS E MÉTODOS.............................................................................

48

3.1 ANIMAIS E GRUPOS EXPERIMENTAIS...................................................... 48

3.2 DELINEAMENTO EXPERIMENTAL.............................................................. 49

3.2.1 Avaliação da Vitalidade Neonatal ........................................................... 51

3.2.2 Colheita e Análise das Amostras Sangüíneas para Hemogasometria 52

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3.2.3 Avaliação Radiográfica Pulmonar........................................................... 52

3.2.4 Morfometria .............................................................................................. 53

3.2.4.1 Inclusões, fixação e coloração do material.............................................. 53

3.2.4.2 Morfometria pulmonar.............................................................................. 53

3.2.5 Imuno-histoquímica pulmonar................................................................ 54

3.2.5.1 Detecção da proteína SP-B .................................................................... 54

3.2.5.2 Detecção de proliferação celular (antígeno celular de proliferação

nuclear - PCNA) ..................................................................................................

56

3.2.5.3 Detecção de citoqueratina no epitélio respiratório pulmonar................... 56

3.2.6 Coloração para microscopia de luz....................................................... 56

3.3 VALORES DE REFERÊNCIA ADOTADOS.................................................. 56

3.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA............................................................................... 57

4 RESULTADOS.................................................................................................

61

4.1 EFEITOSDACORTICOTERAPIA PRÉ-NATAL COM BETAMETASONA 61

4.2 AVALIAÇÃO CLÍNICA NEONATAL............................................................... 61

4.3 HEMOGASOMETRIA VENOSA.................................................................... 66

4.4 MORFOMETRIA ........................................................................................... 70

4.5 IMUNO-HISTOQUÍMICA PULMONAR.......................................................... 71

4.6 COLORAÇÃO PARA MICROSCOPIA DE LUZ............................................. 75

4.7 AVALIAÇÃO RADIOGRÁFICA PULMONAR................................................. 76

4.6 TESTE DE CORRELAÇÃO........................................................................ 81

5 DISCUSSÃO....................................................................................................

86

5.1 AVALIAÇÃO CLÍNICA NEONATAL (ESCORE APGAR E TEMPERATURA

NEONATAL).......................................................................................................

86

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5.2 HEMOGASOMETRIA VENOSA.................................................................... 89

5.3 MORFOMETRIA PULMONAR...................................................................... 91

5.4 IMUNO-HISTOQUÍMICA PULMONAR.......................................................... 92

5.5 RADIOGRAFIA.............................................................................................. 93

6 CONCLUSÃO...................................................................................................

96

REFERÊNCIAS................................................................................................... 98

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Introdução

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28

Introdução __________________________________________________________________

1 INTRODUÇÂO

Em Medicina Veterinária, a neonatologia é definida como a ciência

responsável pelo estudo atinente às duas primeiras semanas de vida dos recém-

nascidos. Apresenta-se em gradual desenvolvimento, objetivando reduzir as taxas

de mortalidade neonatal. Neste período, são necessárias significativas adaptações

ao meio externo, acompanhadas pelo desenvolvimento de funções vitais não

cumpridas durante a vida intra-uterina, como a respiração pulmonar em substituição

à atividade placentária para efetiva troca gasosa. Portanto, o sucesso da adaptação

imediata à vida extra-uterina depende essencialmente da adequada função

pulmonar, incluindo a maturação morfológica, fisiológica e bioquímica do

parênquima pulmonar.

Os distúrbios respiratórios são os mais freqüentes em UTIs neonatais

humanas, presentes em recém-nascidos pré-termos, termos e pós-termos. Dentre os

problemas de origem pulmonar descritos em Medicina, a Síndrome do Desconforto

Respiratório do Recém-nascido (SRD) é a de maior importância clínica e

epidemiológica, sobrevindo em resposta à deficiência da produção de surfactante,

cuja prevalência está intimamente relacionada à prematuridade neonatal (AVERY;

FLECHER; MACDONALD, 1999). Dentre as funções do surfactante, destaca-se a

diminuição da tensão superficial na interface ar-líquido pulmonar. Sua deficiência

torna o recém-nascido inapto à vida extra-uterina (MIYOSHI; GUINSBURG;

KOPELMAN, 1998).

As primeiras descrições clínicas da Síndrome do Desconforto Respiratório

Neonatal (SRD) foram publicadas na Europa, ainda no século XIX (PARMIGIANI;

SOLARI, 2003). Porém, foi somente em 1959 que Avery e Mead relacionaram a

ocorrência da SRD, antes definida como Doença da Membrana Hialina, à deficiência

de uma substância tensoativa denominada “surfactante pulmonar”, capaz de diminuir

a tensão superficial alveolar (AVERY; MEAD, 1959; AVERY, 2000).

A maturação e crescimento do sistema respiratório fetal assinalam-se por

eventos complexos e contínuos, os quais iniciam-se na vida intra-uterina e

estendem-se ao período pós-natal (BOLT et al., 2001). Recentes observações

sugerem que diversos fatores endócrinos, incluindo os glicocorticóides, apresentam

importante papel na regulação do desenvolvimento pulmonar e transição para a vida

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29

Introdução __________________________________________________________________

extra-uterina, especialmente em ovinos, roedores, primatas e no homem. Com o

avanço do tempo gestacional, observa-se aumento da produção de cortisol fetal nas

referidas espécies, associado à maior expressão do receptor de glicocorticóide no

tecido pulmonar (BOLT et al., 2001). Em humanos, altas concentrações de cortisol

na circulação fetal coincidem com importantes eventos que caracterizam a

maturação estrutural e funcional pulmonar, tais como aumento na produção de

proteínas e fosfolipídios formadores do surfactante, redução do duplo sistema capilar

para uma única camada, diminuição de tecido intersticial e desbaste de septo

alveolar facultando as trocas gasosas após o nascimento (BOLT et al., 2001).

A utilização do corticosteróide pré-natal, objetivando induzir artificialmente a

maturação pulmonar fetal, iniciou-se em 1972, após pesquisa pioneira de Graham

Liggins e seu colaborador, o pediatra Ross Howie. Com tal conduta, evidenciaram

significativa redução na incidência da SDR em neonatos pré-termos (PELTONIEMI

et al., 2007). Estudos posteriores confirmaram tais achados e demonstraram

marcante redução da morbi-mortalidade com a utilização da betametasona em

neonatos pré-termos (BONNANO; WAPNER, 2009;). A corticoterapia antenatal é

utilizada rotineiramente em Medicina e considerada um dos raros exemplos de

terapia que permite diminuir custos e aumentar a sobrevivência neonatal (MURPHT,

2007).

Resultados positivos com a utilização da corticoterapia materna no período

pré-natal já foram descritos para mulheres com risco de parto prematuro (BOLT et

al., 2001). Por outro lado, faltos são os estudos sistemáticos para a espécie canina

ou as demais espécies animais, sendo tal abordagem terapêutica realizada de forma

empírica. A corticoterapia pré-natal com o intuito de promover maturação pulmonar

fetal é freqüentemente fundamentada em protocolos humanos.

Em face do exposto, os objetivos do presente estudo são:

1) Avaliar o efeito da administração da betametasona pré-natal na função

pulmonar de neonatos da espécie canina termos e pré-termos, tomando como base

o sistema Apgar de avaliação de vitalidade neonatal.

2) Verificar as principais alterações pulmonares estruturais e funcionais em

resposta à corticoterapia pré-natal por meio das avaliações histológicas e

imunoistoquímica e análise hemogasométrica neonatal, respectivamente.

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Introdução __________________________________________________________________

3) Identificar e correlacionar os achados histológicos, imunoistoquímicos,

radiográficos e do exame clínico do neonato submetido à corticoterapia pré-natal.

4) Propor um protocolo terapêutico objetivando maturação pulmonar e,

conseqüente, melhora da função respiratória em neonatos pré-termos, contribuindo

para a Perinatologia canina.

1.1 HIPÓTESE

A utilização pré-natal de betametasona (Celestone Soluspan®), na dose única

de 0,5 mg/kg de peso materno, exerce efeito na maturação estrutural e funcional do

tecido pulmonar de neonatos caninos prematuros, nascidos aos 57 e 58 dias de

gestação, com melhora na condição respiratória e clínica geral.

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31

Revisão de Literatura

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32

Revisão de Literatura

__________________________________________________________________

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 DESENVOLVIMENTO DO APARELHO RESPIRATÓRIO

O desenvolvimento do sistema respiratório fetal é um fenômeno complexo e

contínuo, o qual inicia-se durante a gestação e perdura à vida extra-uterina. Tal

processo é, cronologicamente, dividido em três períodos: embrionário, fetal e pós-

natal (BOLT et al., 2001), apresentando singular progresso entre as espécies

animais.

Durante o estágio embrionário, os folhetos endoderma e mesoderma

organizam-se para originar a estrutura pulmonar. As células que revestem o trato

respiratório – vias aéreas condutoras e alvéolos – desenvolvem-se a partir do

endoderma, enquanto o mesoderma esplâncnico dá origem à musculatura lisa,

cartilagens, tecido conectivo e sistema vascular (MIYOSHI; GUINSBURG, 1998).

Neste período, o início do processo de crescimento e desenvolvimento

pulmonar dá-se pela formação do broto pulmonar na parede ventral do intestino

primitivo (primórdio da faringe). No decorrer do desenvolvimento, observa-se a

divisão do broto pulmonar em dois brotamentos brônquicos revestidos por epitélio

colunar alto (MIYOSHI; GUINSBURG, 1998). Na fase fetal, o pulmão sofre

mudanças constantes em sua forma, tamanho e composição, preparando-se para a

funcionalidade extra-uterina. Com base no aspecto histológico predominante na área

pulmonar, tal período subdivide-se em quatro estágios de desenvolvimento:

pseudoglandular, canalicular, sacular e alveolar. Em humanos, as diferentes fases

do desenvolvimento pulmonar estão bem caracterizadas (MIYOSHI; GUINSBURG,

1998). Em carnívoros, contudo, os dados são escassos, dispondo-se apenas de

estimativas do estágio de desenvolvimento, conforme demonstrado na tabela 1.

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33

Revisão de Literatura

__________________________________________________________________

Tabela 1 - Estágios do desenvolvimento pulmonar (em dias) nas espécies animais

domésticas - São Paulo – 2011

Estágio Ovinos Bovinos Suínos Eqüinos Carnívoros

Embrionário <40 <50 <55 <50 -

Pseudoglandular 40-90 50-120 50-80 50-190 >32

Canalicular 95-120 120-180 80-92 190-300 >47

Sacular 120-140 180-240 92-110 300+ >55

Alveolar >140 >240 >110 - Pós-natal

Fonte: LATSHAW (1987).

Na fase pseudoglandular do desenvolvimento pulmonar, há completa

formação da via aérea condutora, até a formação dos bronquíolos terminais

(AVERY; FLETCHER; MACDONALD, 1999). O interstício pulmonar torna-se

abundante e a rede capilar é formada, porém, com baixo fluxo sanguíneo e distante

do epitélio respiratório, inviabilizando a respiração (BANKS, 1992; MIYOSHI;

GUINSBURG, 1998; AVERY; FLETCHER; MACDONALD, 1999). Os brônquios

dividem-se em brônquios segmentares e, então, bronquíolos, os quais são

desprovidos de elementos de apoio cartilaginosos e glândulas, sendo revestidos por

células colunares ciliadas e musculatura lisa subepitelial, dispostas em espiral ou

obliquamente. Os bronquíolos são as últimas seções do sistema condutor gasoso,

não possuem alvéolos pulmonares em suas paredes, e dividem-se em bronquíolos

terminais. Estes últimos são revestidos proximalmente por células cubóides ciliadas

e distalmente por células não-ciliadas (BANKS, 1992).

O estágio canalicular caracteriza-se pela grande proliferação dos capilares no

interstício pulmonar e pelo início do desenvolvimento dos ácinos, unidade

respiratória composta pelos bronquíolos respiratórios, ductos alveolares, sacos

alveolares e alvéolos (AVERY; FLECHER; MACDONALD, 1999; MIYOSHI;

GUINSBURG, 1998). Os bronquíolos respiratórios são revestidos distalmente por

epitélio cubóide, achatado. São observados com pouca freqüência nos ruminantes e

nos suínos, pouco desenvolvidos nos eqüinos e no homem, bem desenvolvidos nos

carnívoros e ausentes no camundongo (BANKS, 1992). Ainda nesta fase, há

diferenciação das células cubóides do epitélio respiratório ricas em glicogênio,

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34

Revisão de Literatura

__________________________________________________________________

adquirindo características de pneumócitos tipo II, com corpúsculos lamelares

responsáveis pelo armazenamento do surfactante. Em seguida, ocorre o

achatamento do epitélio acinar à custa da transformação das células do tipo II em

pneumócitos tipo I. Durante este período, aumenta a atividade secretora das células

epiteliais, dando início à formação do líquido pulmonar, canalizando as vias aéreas

(MIYOSHI; GUINSBURG, 1998). Tais modificações estruturais transformam o

pulmão em um órgão potencialmente viável para a realização das trocas gasosas

(BONANNO; WAPNER, 2009).

O estágio sacular de desenvolvimento é caracterizado pela grande expansão

da área de troca gasosa ou respiratória do pulmão fetal (MIYOSHI; GUINSBURG,

1998). As vias aéreas terminais (bronquíolos respiratórios e ductos de transição)

ramificam-se para formar uma estrutura cilíndrica constituída por uma parede lisa

denominada sáculo (AVERY; FLECHER; MCDONALD, 1999). O sucessivo

remodelamento sacular pode ser observado com o aparecimento de projeções

laterais na sua parede (septos primários), transformando-os em septos secundários.

Estes últimos dividem os sáculos em espaços menores denominados subsáculos. O

surgimento de tais unidades amplia significativamente a superfície de trocas

gasosas. Ademais, ocorre um adelgaçamento progressivo do epitélio, redução

importante na quantidade de tecido intersticial e crescimento da rede capilar. Tais

modificações intensificam as áreas de contato íntimo entre os capilares e a camada

epitelial, aumentando a superfície de trocas gasosas (AVERY; FLECHER;

MACDONALD, 1999). À medida que ocorre a expansão da barreira hematogasosa,

aumenta a quantidade dos corpos lamelares no interior dos pneumócitos tipo II

(MIYOSHI; GUINSBURG, 1998).

No estágio alveolar de desenvolvimento, há grande aumento da superfície e

volume pulmonar. O período exato para o início da alveolização é controverso, em

virtude da dificuldade na distinção histológica entre sáculos e alvéolos (MIYOSHI;

GUINSBURG, 1998). Entretanto, a presença alveolar no período gestacional pôde

ser identificada em diferentes espécies, tais como o homem, bovinos, ovinos e

suínos (LATSHAW, 1987). Para a espécie canina, pesquisas inferem que o início do

desenvolvimento alveolar é pós-natal (LATSHAW, 1987; SIPRIANI et al., 2009).

O desenvolvimento alveolar inicia-se com o alongamento e afilamento dos

septos secundários em direção ao espaço aéreo. No início da alveolização, tanto o

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Revisão de Literatura

__________________________________________________________________

septo primário como secundário contêm em seu interior uma dupla rede de

capilares, de tal forma que os vasos sanguíneos entram em contato com o epitélio

respiratório somente em uma das suas paredes. À medida que a alveolização

progride, observa-se mudança na estrutura do septo secundário, com transformação

da dupla rede de capilares em uma única camada de vasos. Tal estruturação faz

com que as duas paredes dos capilares entrem em aposição com o epitélio

respiratório, viabilizando as efetivas trocas gasosas (MIYOSHI; GUINSBURG, 1998).

Embora o estágio do desenvolvimento pulmonar ao nascimento seja variável

entre as espécies animais, em mamíferos, o período pós-natal caracteriza-se pela

grande expansão da superfície de trocas gasosas (MIYOSHI; GUINSBURG, 1998).

No homem, ocorre às custas da alveolização, com 85% de sua formação sobrevindo

no período pós-natal (MIYOSHI; GUINSBURG, 1998). O adequado desempenho da

função respiratória ao nascimento provem, não apenas, do adequado

desenvolvimento estrutural pulmonar, mas de múltiplos fatores, tais como a

satisfatória síntese e secreção de surfactante (REBELLO, 1969).

2.2 COMPOSIÇÃO, FUNÇÃO E METABOLISMO DO SURFACTANTE PULMONAR

A interação físico-química entre as moléculas de ar e água presentes no

interior dos alvéolos resulta em força variável chamada de tensão superficial. Com a

redução do diâmetro alveolar na fase expiratória, esta força aumenta de grandeza e

tende a causar o colabamento alveolar (atelectasia) (REBELLO; DINIZ, 2000). Tanto

os componentes lipídicos como protéicos são essenciais para que o surfactante,

presente entre as camadas de ar e água no interior dos alvéolos, desempenhe sua

principal função: reduzir a tensão na superfície alveolar prevenindo seu colapso ao

final da expiração (CHAIWORAPONGSA et al., 2008).

Muitos estudos referem-se às propriedades estruturais e físico-químicas da

maior parte dos componentes do surfactante, o qual caracteriza-se por um complexo

predominantemente lipídico-protéico secretado pelos pneumócitos do tipo II,

semelhante entre várias espécies (PÉREZ-GIL, 2008). A porção lipídica representa

cerca de 90% do surfactante em massa (REBELLO; DINIZ, 2000), sendo a

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36

Revisão de Literatura

__________________________________________________________________

fosfatidilcolina (lecitina) seu principal componente (76,6%) e representante lipídico.

Dentre os demais lípides, o mais abundante é o fosfatidilglicerol (9,9%), seguido da

fosfatidiletanolamina (3%) e esfingomielina (2,3%). A massa total do surfactante

perfaz-se por cerca de 10% de proteínas denominadas de proteína A (SP-A),

proteína B (SP-B), proteína C (SP-C) e proteína D (SP-D) (MIYOSHI; GUINSBURG,

1998; REBELLO; DINIZ, 2000). Em cães, a composição do surfactante pode

apresentar variações significativas em razão da idade materna. Clercx et al. (1985)

demonstraram haver significativo aumento na concentração da fosfatidilcolina e

diminuição nas concentrações de fosfatidilserina e esfingomielina em cadelas

gestantes com idade mas avançada, quando comparadas às mais jovens da mesma

raça.

A proteína hidrofóbica SP-B é considerada o componente protéico crítico para

adequada formação e função do surfactante (SCHÜRCH, 2010). Além de sua

importância na organização e estabilidade do filme alveolar, favorecendo a redução

da tensão superficial intra-alveolar (SUZUKI; FUJITA; KOGISHI, 1989), atua

modulando a captação, pelo pneumócito tipo II, de vesículas de surfactante

presentes na luz alveolar (RICE, 1989). A combinação de SP-B com os fosfolípides

do surfactante mimetiza a maioria das propriedades biofísicas fisiológicas in vivo

(NOGEE, 1993). A deficiência da proteína SP-B, por ausência congênita ou

inativação por auto-anticorpos, resulta em falha respiratória letal ao nascimento

(NOGEE, 1993).

Os processos de síntese, reciclagem e catabolismo do surfactante são

realizados nos pneumócitos tipo II (REBELLO; DINIZ, 2000). Os fosfolípides e as

proteínas SP-B e SP-C são sintetizados no retículo endoplasmático rugoso e,

posteriormente, armazenados nos corpos lamelares (REBELLO, 2002). As proteínas

hidrofílicas SP-A e SP-D, também sintetizadas no reticulo endoplasmático rugoso,

são, provavelmente, adicionadas aos corpos lamelares após sua formação

(REBELLO; DINIZ, 2000). Por meio da exocitose dos corpos lamelares, o surfactante

é secretado para as vias aéreas, local de organização das moléculas de gordura

(com auxílio das proteínas), para formar a monocamada que reveste a superfície

alveolar, conhecida como mielina tubular (REBELLO, 2002). Com as sucessivas

compressões e descompressões do filme de surfactante, em decorrência do ciclo

respiratório normal, partes desta mielina desprendem-se na forma de pequenas

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37

Revisão de Literatura

__________________________________________________________________

vesículas e são reabsorvidas para o interior do pneumócito tipo II. Neste, uma

pequena parte é catabolizada, enquanto a maior parte é reabsorvida e misturada

aos corpos lamelares, reorganizando-se num processo de reciclagem, permitindo

uma meia-vida da fosfatidilcolina bastante longa (REBELLO; DINIZ, 2000).

2.3 DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS RELACIONADOS À PREMATURIDADE

Em Medicina, a prematuridade é a principal causa de morbi-mortalidade

neonatal, sendo responsável por 75% das mortes, ao passo que a morbidade está

diretamente relacionada aos distúrbios respiratórios, complicações infecciosas e

neurológicas (RADES et al., 2004). Entre as múltiplas complicações da

prematuridade, a Síndrome do Desconforto Respiratório (SRD), relacionada à

imaturidade estrutural e inadequada produção de surfactante, constitui a afecção de

maior gravidade em Medicina (HERMANSEN; LORAH, 2007).

A produção insuficiente de surfactante pulmonar resulta em aumento da

tensão superficial e força de retração elástica, levando à instabilidade e formação de

áreas de atelectasia. À medida que tal processo evolui, observa-se diminuição da

complacência pulmonar, capacidade residual funcional (GRIESE, 1999) e da relação

ventilação/perfusão, acarretando em hipoxemia, hipercapnia e acidose (PARANKA,

1999). O quadro clínico da SRD caracteriza-se por insuficiência respiratória ao

nascimento, combinada à fase de taquipnéia, retração intercostal ou subcostal,

ruídos expiratórios e cianose (BITTAR, 2002).

Em Medicina Veterinária, os distúrbios respiratórios, dentre eles a SDR, são

freqüentes e responsáveis por altas taxas de mortalidade neonatal. Em potros, os

principais sinais clínicos reportados são: aumento da freqüência e esforço

respiratórios, hipoxemia, hipercapnia e acidose respiratória (LAMB; O’CALLAGHAN;

PARADIS, 1990). Em bezerros, os principais achados são dispnéia expiratória com

evidente retração dos dois últimos pares de costela e agravamento progressivo nas

60 horas seguintes, culminando em óbito (EIGENMANN et al., 1984). Para a espécie

canina, não há relatos desta afecção no período neonatal.

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Revisão de Literatura

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2.4 AVALIAÇÃO NEONATAL

Os cuidados intensivos em Neonatologia Veterinária continuam figurando

como expressivos desafios. Não há condutas de avaliação neonatal estabelecidas e

procedimentos médicos de eleição para a propedêutica dos neonatos das distintas

espécies animais. Em literatura especializada, constam procedimentos pontuais,

abordados a seguir.

2.4.1. Exame clínico neonatal

Em Medicina, a avaliação da vitalidade neonatal ao nascimento é,

rotineiramente, desempenhada por meio do escore Apgar, o qual avalia as principais

funções vitais do neonato já nos primeiros minutos de vida. Tal método é

considerado efetivo para o acesso das condições gerais neonatais e, em certo grau,

da viabilidade do recém-nascido imediatamente após o nascimento. Permite, ainda,

avaliar a eficácia de manobras de ressuscitação e a identificação de adequada

conduta preventiva e corretiva (FINSTER; WOOD, 2005). Entretanto, Yeomans et al.

(1985) afirmam que o escore Apgar pode auxiliar na diferenciação de neonatos

hígidos e severamente comprometidos, porém não apresenta sensibilidade

suficiente para diferenciação do comprometimento neonatal menos evidente.

Em Medicina, a avaliação Apgar é geralmente desempenhada entre 1 e 5

minutos após o nascimento e, posteriormente, repetida para neonatos de baixo

escore. Em humanos, o escore inferior a 3 é usualmente considerado critico, de 4 a

6, baixo e normal quando maior que 7 (VERONESI et al., 2009).

Por tratar-se de uma prática eficaz na identificação da condição clínica

neonatal, o escore Apgar foi adaptado à Medicina Veterinária de acordo com a

fisiologia de cada espécie, sendo utilizado para potros, bezerros, leitões (VERONESI

et al., 2009) e cães (SILVA et al., 2008; VERONESI et al., 2009). Para a espécie

canina, são avaliadas a freqüência cardíaca, freqüência respiratória, irritabilidade

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Revisão de Literatura

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reflexa, mobilidade ou tônus muscular e coloração de mucosas aparentes. Ainda,

considera-se valor ideal de escore Apgar ao nascimento entre 7 e 10 (SILVA et al.,

2008; VERONESI et al., 2009). Notas entre 6 e 4 são avaliadas como moderada

angústia e entre 3 e 0, angústia severa (VERONESI et al., 2009).

2.4.1.1 Fisiologia neonatal

Os mecanismos controladores da atividade respiratória neonatal mostram-se

desenvolvidos já antes do parto, entretanto, requerem maturação no período pós-

natal (GRUNDY, 2006). O neonato é suscetível à relativa hipoxemia por diferentes

fatores, tais como: imaturidade dos quimioreceptores carotídeos; discreta

capacidade de expansão pulmonar, podendo ser resultante da produção inadequada

de surfactante; obstrução de vias aéreas; constituição mais flexível da parede

torácica; menor diâmetro e rigidez das vias aéreas traqueobrônquicas e elevado

requerimento metabólico de O2 (GRUNDY, 2006; MEYER, 2007; RICKARD, 2010).

Os neonatos caninos apresentam depressão do centro respiratório frente à

elevação e queda dos níveis de CO2 e O2 sanguíneos, respectivamente (MEYER,

1987). A resposta à hipoxemia é caracterizada por taquipnéia transitória com padrão

ventilatório superficial, seguida de bradipnéia, inspiração entrecortada e apnéia

(MEYER, 2007). Em comparação aos adultos, os neonatos caninos apresentam

baixa pressão arterial sistólica, baixo volume sanguíneo e resistência vascular

periférica. Deste modo, para que a perfusão sanguínea periférica seja ideal é

necessário manter a freqüência e débito cardíacos elevados, assim como o volume

plasmático e a pressão venosa central (RICKARD, 2010).

A termorregulação é deficitária em neonatos caninos, em resposta a sua

inabilidade em promover reflexos de tremor e vasoconstrição em situação de baixa

temperatura (RICKARD, 2010). Ainda, possuem escasso tecido adiposo subcutâneo,

superfície corpórea relativamente extensa e imaturidade hipotalâmica. As respostas

fisiológicas à hipotermia incluem bradicardia, falência cardiovascular, injúria cerebral

e parada gastrointestinal (JOHNSTON; KUSTRITZ; OLSON, 2001). Após o

nascimento, os neonatos caninos apresentam gradual queda da temperatura

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Revisão de Literatura

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corpórea. Neste período, temperaturas inferiores a 34,4ºC são consideradas

hipotermia, com temperatura ideal variando de 34,4ºC a 36ºC na primeira semana

de vida (MOON, MASSAT, PASCOE, 2011).

2.4.2 Exames complementares

A expressão clínica das disfunções pulmonares são variáveis e muitas vezes

inespecíficas, dificultando o esclarecimento da possível etiologia. Deste modo, faz-

se necessário a solicitação de exames subsidiários para tal esclarecimento.

2.4.2.1 Avaliação radiográfica pulmonar

A avaliação radiográfica dos pulmões é fundamental para o diagnóstico

diferencial das diversas afecções pulmonares e, freqüentemente, utilizadas em UTIs

neonatais humanas (MIYOSHI; GUINSBURG, 1998). Em Medicina Veterinária, a

avaliação radiográfica dos pulmões de neonatos caninos, com o intuito de

estabelecer o diagnóstico diferencial das afecções pulmonares, não é

freqüentemente solicitada, o que limita a escolha da conduta terapêutica a ser

instituída.

As imagens radiográficas do tórax de filhotes caninos demonstram aumento

de opacidade intersticial generalizada, por haver baixo volume de ar alveolar. Por

este motivo, sugere-se que a imagem radiográfica torácica seja utilizada como

ferramenta diagnóstica adjuvante (SILVA et al., 2008). Já o aspecto radiológico da

SDR em humanos mostra infiltrado reticulogranular difuso, referente à representação

radiológica das vias aéreas distais atelectasiadas, broncogramas aéreos

superpostos e aumento de líquido pulmonar, em intensidades variáveis (MIYOSHI;

GUINSBURG, 1998; BITTAR, 2000).

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Revisão de Literatura

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2.4.2.2 Avaliação hemogasométrica venosa

Em Medicina, a determinação de valores hemogasométricos tornou-se

importante avaliação das condições cardiopulmonares, ácido-básicas e perfusão

tecidual, contribuindo para o diagnóstico diferencial de afecções neonatais com

origens distintas (DAY, 2002). A avaliação dos gases do sangue arterial fornece

importantes informações vinculadas às variáveis pulmonares. A avaliação da

pressão arterial de dióxido de carbono (PaCO2) repercute condições ventilatórias,

enquanto a oxigenação está relacionada à pressão arterial de oxigênio (PaO2).

Porém, quando a colheita do sangue arterial é inacessível, o sangue venoso pode

ser obtido da veia jugular e, ainda, oferecer importantes informações quanto ao

equilíbrio ácido-básico, oxigenação cerebral e perfusão tecidual (DAY, 2002),

tornando-se importante avaliação para pacientes sob tratamento intensivo em

Medicina Veterinária.

A interpretação de valores hemogasométricos consiste inicialmente na

avaliação do pH, seguida da análise dos valores da pressão de dióxido de carbono

(PCO2), pressão de oxigênio (PO2), base excess (BE), bicarbonato (HCO3-) e dióxido

de carbono total (TCO2), respectivamente, com o intuito de identificar alterações de

origem respiratória, metabólica ou mista (ROBERTSON, 1989).

Para a sustentação do pH sanguíneo e intra-celular em limites compatíveis

com os processos vitais, o organismo utiliza uma série de mecanismos bioquímicos,

tais como: sistema de tampão químico, alteração dos equilíbrios respiratórios e renal

(GUYTON; HALL, 2002). A primeira defesa contra alterações no pH é o sistema

tampão. A quantidade total de bases no sangue, incluindo bicarbonato e

hemoglobina, constitui o componente metabólico que determina o pH sanguíneo

(HOUPT, 1996). A ação do bicarbonato na acidose baseia-se na reação de

Henderson-Hassembalch, ou seja, quando há maiores concentrações de H+, este

liga-se ao HCO3- e desvia a reação para a formação de H2O e CO2, sendo este

último composto eliminado pela respiração (HARPER, 1977; LEHNINGER, 1986;

GUYTON; HALL, 2002). O mecanismo respiratório para compensação do

desequilíbrio ácido-básico baseia-se na eliminação de CO2 na mesma proporção de

sua produção tecidual, por meio do aumento da freqüência respiratória. A eliminação

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Revisão de Literatura

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de CO2 favorece a diminuição das concentrações de H+ sanguíneo (HARPER, 1977;

HOUPT, 1996).

Os valores aumentados de PCO2 (hipercapnia) resultam em aumento

compensatório na concentração do íon bicarbonato na maioria dos neonatos (DAY,

2002). O aumento ou diminuição anormal da PCO2, provocados por alterações

respiratórias, são denominados, respectivamente, por acidose e alcalose respiratória

(HOUMPT, 1996). As principais causas de acidose respiratória em Medicina

Veterinária incluem qualquer alteração respiratória crônica ou aguda, doenças

neurológicas, fármacos e doenças pleurais. O sistema nervoso simpático é sempre

estimulado pela hipercapnia, predispondo os pacientes às arritmias. O aumento da

PCO2 leva à vasodilatação, com sinais de mucosa congesta, e pode resultar em

hipotensão. A hipercapnia e hipoxemia concomitantemente devem ser

agressivamente tratadas com ventilação mecânica (DAY, 2002).

Tanto o sistema tampão quanto a alteração da freqüência respiratória são

mecanismos rápidos, que promovem alterações sanguíneas em minutos. O

mecanismo de compensação renal baseia-se na reabsorção de bicarbonato e

eliminação de íons de H+ com efeitos perceptíveis após 1 ou 2 horas (HOUMPT,

1996).

Quando em baixas concentrações, a pressão venosa de oxigênio (PvO2)

oferece evidência de máxima utilização tecidual, enquanto valores elevados podem

indicar baixa perfusão tecidual. Os valores de PvO2 abaixo de 27 mmHg indicam a

presença de metabolismo anaeróbico com produção de ácido lático. Em cães com

função pulmonar adequada e perfusão tecidual deficitária, é possível identificar

valores normais ou aumentados de PaO2 e comprometidos de PvO2 (DAY, 2002).

O base excess (BE) refere-se ao número de miliequivalentes de um ácido ou

base necessário para manter um litro de sangue com pH de 7,4 a 37°C e PCO2

constante em 40 mmHg (RUSSEL; HANSEN; STEVENS, 1996). Tanto no sangue

arterial como venoso, os valores de bicarbonato (HCO3-) e base excess (BE) são

semelhantes (DAY, 2002).

A saturação de oxigênio (SO2) é um valor derivado do estado de saturação

das hemácias pelo oxigênio, o qual depende de muitos fatores, tais como PaO2,

inabilidade das hemoglobinas em transportar O2 (metahemoglobina,

carboxihemoglobina, sulfahemoglobina) e pH sanguíneo (DAY, 2002).

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Revisão de Literatura

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Os neonatos caninos termo, nascidos por cesariana, apresentam hipóxia ao

nascimento, permanecendo com baixos valores de PvO2 e SvO2 aos 60 minutos de

vida. Infere-se que a causa para tal quadro seja o efeito depressor dos agentes

farmacológicos utilizados na anestesia materna (SILVA et al., 2008). Quando em

hipóxia, os neonatos da espécie canina desenvolvem rápida acidose metabólica,

inclusive do sistema nervoso central (SNC). Porém, após recuperação dos baixos

níveis de oxigênio, ocorre rápida correção do desbalanço, possivelmente por

atividade de bases tamponadas presentes nos fluídos extra e intracelular e pelo

metabolismo de ácidos orgânicos, como o lactato (NATTIE; EDWARDS, 1988).

2.5 CORTICOTERAPIA PRÉ-NATAL

O principal objetivo da Medicina Perinatal é diminuir a morbidade e

mortalidade neonatal. Com tal esforço, atualmente, uma das mais importantes

intervenções refere-se à utilização pré-natal de corticosteróides para gestantes com

risco de parto prematuro (BONANNO; WAPNER, 2009). Em 1994, tal prática foi

aceita pelo Instituto Nacional de Saúde, o qual estabeleceu que o uso pré-natal de

corticosteróides, para gestantes entre a 24ª e 32ª semana de gestação, é efetivo na

redução da mortalidade relacionada à prematuridade, sem riscos neonatais a longo

e curto prazo, reverberando em aceitação por diferentes países (BONANNO;

WAPNER, 2009).

Nos dias que antecedem o parto, observa-se aumento fisiológico nas

concentrações plasmáticas de corticosteróides endógenos, importante para o

processo final de maturação pulmonar, refletindo em insatisfatório desenvolvimento

pulmonar em neonatos prematuros (BONANNO; WAPNER, 2009).

A betametasona é utilizada em Perinatologia como fármaco de eleição para

promover melhora da função pulmonar neonatal. Em conformidade com o trabalho

pioneiro de Liguins e Howie (1972), a preparação de betametasona (Celestone

Chronodose, Celestone Soluspan®) consiste em partes iguais de fosfato dissódico

de betametasona, o qual é solúvel e rapidamente absorvido pelos tecidos após a

administração, e acetato de betametasona, o qual atua como depósito a partir do

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Revisão de Literatura

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qual a betametasona é lentamente absorvida (MOSS et al., 2003). Após

administração, a circulação materna atua como reservatório a partir do qual a

passagem trans-placentária de betametasona é gradual, com pico de concentração

fetal após 1 a 4 horas da administração e meia vida de 12 horas em fetos humanos

(MOSS et al., 2003).

Os efeitos favoráveis do tratamento pré-natal com corticosteróides na redução

da SRD e hemorragia intraventricular, em neonatos pré-termos, são bem descritos.

Entretanto, resultados conflitantes quanto ao período de ação e efeitos deletérios

associados a múltiplas aplicações culminam em divergências quanto à melhor

dosagem e intervalo de administração (VERMILLION; SOPER; NEWMAN, 2001).

Em Medicina, recomenda-se a utilização de ciclo único, referente a duas aplicações

de 12 mg de betametasona com intervalo de 24 horas (MOSS et al., 2003). Em dose

única, também foi possível identificar maturação pulmonar em neonatos ovinos

(LOEHLE et al., 2010). Tornou-se evidente em ovinos, homem e coelhos que a

restrição no crescimento fetal está associada ao longo período (fetal ou materno) de

exposição a doses repetidas de betamentasona (WILLET et al., 2001; MOSS et al.,

2003).

Em estudo realizado por Polglase et al. (2007), comprovou-se a melhora na

função pulmonar com a betametasona antenatal na dose de 0,5 mg/Kg, via intra

amniótica, resultados semelhantes à via de administração intra muscular. Em ovinos

pré-termos, a corticoterapia materna em dose única promove efeitos benéficos

adicionais à maturação pulmonar. Porém, o tratamento repetido está associado ao

retardo de crescimento, perda de peso fetal ao nascimento (IKEGAMY et al., 1997;

WILLET et al., 2001) e prejuízo à septação pulmonar (WILLET et al., 2001). Estudos

remetem à melhora nas características estruturais pulmonares quando a intervenção

medicamentosa é cumprida com intervalo mínimo de 24 horas antes do nascimento

(LIGGINS; HOWIE, 1972; WILLET et al., 2001), com redução de complicações

relacionadas à prematuridade quando em intervalos inferiores (REBELLO et al.,

1997).

A melhora da função pulmonar reflexa ao uso pré-natal de glicocorticóides

resulta de alterações tanto estruturais como funcionais pulmonares. Durante a

gestação, receptores citoplasmáticos de glicocorticóide são expressos em diferentes

órgãos e sistemas. A ligação dos glicocorticóides às células do parênquima

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Revisão de Literatura

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pulmonar estimula a produção de proteínas e fosfolipídeos do surfactante, induz

maturação e diferenciação celular, mudanças nos componentes dos tecidos

intersticiais e regulação do metabolismo de fluídos pulmonares (BOLT et al., 2001).

Apesar de resultados conflitantes, estudos relatam aumento na síntese de

surfactante endógeno após tratamento com betametasona e dexametasona. Gilbert

et al. (2001) demonstraram, por avaliação imunoistoquímica de lobos pulmonares de

primatas submetidos a administração intra-amniótica de betametasona, aumento na

produção da proteína SP-A do surfactante. Após sua utilização em ovelhas,

observou-se aumento neonatal do mRNA para as proteínas SP-A, B, D e elastina

(LOEHLE et al., 2010).

O tratamento com corticosteróide também estimula o desenvolvimento

estrutural pulmonar, por diminuição da espessura da parede alveolar, aproximando

os vasos da luz alveolar (BONANNO; WAPNER, 2009), maior ramificação das vias

aéreas, aumento do número de glândulas e achatamento das células epiteliais, com

o conseqüente aumento de volume do espaço aéreo potencial (REBELLO, 1969).

Em ratos, a exposição pré-natal a corticosteróides favoreceu a transição da rede

dupla de capilares para uma única na parede alveolar (REBELLO et al., 1997). O

edema pulmonar neonatal, normalmente associado à prematuridade, sobrevém da

alterada permeabilidade da microvascularização às proteínas plasmáticas,

desencadeando graves quadros respiratórios e inativação do surfactante pelas

proteínas do edema pulmonar. O tratamento materno com corticosteróide diminui de

maneira significativa a alta permeabilidade endotelial, mesmo com intervalos entre o

tratamento materno e o nascimento inferiores a 8 horas (REBELLO; IKEGAMI,

1997). Também é possível observar, a partir de 14 horas de exposição aos

corticosteróides, aumento da relação entre as concentrações de colágeno e elastina

no parênquima pulmonar, favorecendo sua maior complacência (REBELLO, 1969).

Os corticosteróides antenatais possuem efeito em diferentes órgãos e

sistemas neonatais. No sistema nervoso central, atuam por meio de receptores

intracelulares, regulando a neurogênese e morte celular. Recentemente, estudos

relacionam múltiplos cursos de corticosteróides à diminuição da área de superfície

cerebral resultante da inabilidade de neurodesenvolvimento (SIZONENKO et al.,

2006). Em primatas gestantes, a administração de betametasona resultou em

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Revisão de Literatura

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aumento na pressão sanguínea e diminuição de importantes proteínas neuronais no

cérebro fetal (LOEHLE et al., 2010).

A corticoterapia antenatal é rotineiramente utilizada na clínica médica para

induzir a maturação pulmonar, reduzindo significativamente a incidência de

mortalidade entre os pré-termos (POLGLASE et al., 2007). Por outro lado, em

Medicina Veterinária, pesquisas relacionadas à influência desta conduta terapêutica

para indução da maturação pulmonar são escassas, porém fundamentais para o

emprego sistemático desta terapia como rotina médica.

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Materiais e Métodos

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Materiais e Métodos

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3 MATERIAIS E MÉTODOS

O presente projeto foi conduzido utilizando-se de 6 fêmeas da espécie canina,

com idade reprodutiva entre 1 e 6 anos, sem discriminação em relação à raça e

clinicamente saudáveis. As condições experimentais obedeceram às normas éticas

de utilização de animais em experimentos, adotadas pela Comissão de Ética no Uso

de Animais (CEUA) da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da

Universidade de São Paulo.

3.1 ANIMAIS E GRUPOS EXPERIMENTAIS

Ao longo do presente trabalho, 25 neonatos foram utilizados e alocados nos

respectivos grupos experimentais:

GRUPO CONTROLE (CONT): neonatos oriundos de fêmeas não submetidas

à corticoterapia pré-natal (n=15), porém às quais foi administrada solução fisiológica

a 0,9% em volume correspondente à posologia da betametasona. De acordo com a

idade gestacional no momento da cesariana, o grupo controle foi, ainda, subdividido

em:

- CONT Termo: neonatos nascidos aos 63 dias de gestação (n=5);

- CONT 57: neonatos pré-termos nascidos aos 57 dias de gestação (n=5);

- CONT 55: neonatos pré-termos nascidos aos 55 dias de gestação (n=5).

GRUPO BETAMETASONA (BETA): neonatos oriundos de fêmeas

submetidas à corticoterapia pré-natal aos 55 dias de gestação (n=10) com uso de

betametasona (Celestone Soluspan®, Mantecorp), em dose única de 0,5 mg/Kg de

peso materno, por via de aplicação intra muscular (IM). O grupo betametasona foi,

ainda, subdividido de acordo com a idade gestacional no momento da cesariana em:

- BETA Termo: neonatos nascidos aos 63 dias de gestação (n=5)

- BETA 57: neonatos pré-termos nascidos aos 57 dias de gestação (n=5)

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Materiais e Métodos

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3.2 DELINEAMENTO EXPERIMENTAL

Para acurada determinação da idade gestacional, as fêmeas foram

submetidas ao acompanhamento reprodutivo, seguido de protocolo de inseminação

artificial, para o qual um único macho foi utilizado. O acompanhamento reprodutivo

foi realizado por meio da observação dos sinais de cio, exame colpocitológico,

vaginoscopia e dosagem hormonal.

As fêmeas foram avaliadas semanalmente por meio de exame

colpocitológico, bem como por inspeção diária do edema vulvar e secreção vaginal

serosangüínea, indicando início do proestro. Após reconhecimento de tal período, as

cadelas foram monitoradas diariamente com a utilização de exame colpocitólogico

até a identificação do primeiro dia do diestro. A avaliação por vaginoscopia foi

desempenhada em dias alternados, do início do proestro até o início das

inseminações.

Para determinação da progesterona sérica, utilizada para identificar o pico

pré-ovulatório de LH e a ovulação (Quadro 1), amostras de sangue foram colhidas

por punção da veia jugular, cefálica ou safena com seringas descartáveis de 5 mL e

agulhas hipodérmicas 25x8, utilizando-se tubos com gel separador. Os tubos foram

centrifugados a 1500 xg por 15 minutos. O soro obtido foi acondicionado em

microtubos de 1,5 mL e armazenado em freezer a -20oC. As concentrações de

progesterona das amostras séricas foram determinadas pela técnica de

radioimunoensaio em fase sólida no Laboratório de Dosagens Hormonais (LDH), do

Departamento de Reprodução Animal da FMVZ-USP por meio de conjunto

diagnóstico comercial desenvolvido para a avaliação quantitativa de progesterona no

soro humano e já validado para a espécie canina.

A técnica de inseminação artificial foi realizada em dias alternados, iniciando-

se 3 dias após a identificação do pico de hormônio luteinizante (LH) até a

identificação do diestro citológico, cumprindo-se, em média, 3 inseminações por cio,

com a utilização de sêmen fresco.

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Materiais e Métodos

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Concentração sérica de

progesterona (ng/mL) Período do ciclo estral

< 1 Anestro/ Até fase intermediária do proestro

1-2 Pico pré-ovulatório de LH

4 a 10 Ovulação

Quadro 1 - Interpretação da concentração sérica de progesterona, avaliada pela técnica de radioimunoensaio, durante o ciclo estral de cadelas (JOHNSTON, 2001).

De acordo com o grupo experimental, cada fêmea foi submetida à cirurgia

cesariana com a utilização do seguinte protocolo anestésico: tranquilização com

acepromazina (0,02 mg/kg) associada ao tramadol (2 mg/kg) via intramuscular,

indução anestésica com propofol (1 mg/kg) via intravenosa lenta, bloqueio epidural

no espaço intervertebral lombosacro com associação de cloridrato de lidocaína

(2mg/kg) e morfina (0,1 mg/kg) e anestesia geral inalatória com isoflurano.

Imediatamente após a histerotomia e remoção dos fetos da cavidade uterina,

foi procedida remoção dos envoltórios fetais, limpeza do fluído amniótico presente

no orifício nasal e massagem torácica. Posteriormente, perfez-se ligadura do cordão

e descolamento placentário.

Para prover calor artificial, os neonatos foram mantidos em incubadora

(FANEM®) ou superfície aquecida durante a execução de todos os procedimentos

experimentais, descritos de forma sequencial no quadro 2.

Procedimentos Neonatais Momento

Radiografia Torácica Ao nascimento

Hemogasometria venosa Ao nascimento, 120 minutos e 4 horas

de vida

Temperatura corpórea

Avaliação da Vitalidade Neonatal (Escore

Apgar)

Ao nascimento, após 5, 60, 120 minutos

e 4horas de vida

Quadro 2. Condutas experimentais e os respectivos momentos de execução nos neonatos dos grupos CONT e BETA.

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Materiais e Métodos

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3.2.1 Avaliação da Vitalidade Neonatal

Os neonatos foram avaliados e classificados com base no Escore Apgar,

adaptado à Medicina Veterinária por Silva (2008) (Tabela 2), o qual avalia a

vitalidade neonatal. Para tal propósito, foram analisadas as seguintes variáveis:

freqüência cardíaca (FC), freqüência, esforço respiratório e vocalização (FR), tônus

muscular (TM), irritabilidade reflexa (IR) e coloração de mucosas aparentes (CM), as

quais foram graduadas de 0 a 2 e, somadas, fornecendo escore Apgar de 0 a 10.

Tabela 2 - Parâmetros adotados para o escore Apgar de vitalidade neonatal - São Paulo,

2011

VARIÁVEIS ESCORE

0 1 2

Freqüência Cardíaca Ausente Presente, porém

bradicárdica

FC < 200bpm

Presente e normal

FC = 200-250 bpm

Esforço Respiratório Ausente Irregular

hipoventilação

FR < 15mpm

Regular e vocalização

FR = 15-40 mpm

Tônus muscular Flacidez Alguma flexão Flexão

Movimentos ativos

Irritabilidade Reflexa Nenhuma resposta Algum movimento Vocalização

Evidente retração dos

membros

Coloração de mucosas Cianose e palidez Cianose em

extremidades

Rósea

(SILVA, 2008)

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Materiais e Métodos

__________________________________________________________________

3.2.2 Colheita e Análise das Amostras Sangüíneas para Hemogasometria

As amostras sangüíneas dos neonatos foram colhidas por venopunção jugular

com a utilização de seringa (1 a 5 mL) e agulha (20X5,5) estéreis, previamente

heparinizadas.

A análise sangüínea foi realizada pelo analisador clínico portátil i-SAT®

(Abbott) quanto ao pH, PO2 (pressão de oxigênio – mmHg), PCO2 (pressão de

dióxido de carbono – mmHg), SO2 (saturação de oxigênio - %), HCO3- (bicarbonato –

mmol/L) e BE (base excess – mmol/L).

3.2.3 Avaliação Radiográfica Pulmonar

A avaliação pulmonar foi estabelecida aos neonatos logo após o nascimento,

a partir de 3 projeções radiográficas: latero-laterais esquerda e direita e ventro-

dorsal. Utilizou-se o aparelho portátil Poskom®, modelo PXP 20HS Plus de 20mA e

100 kV e filme radiográfico extra-oral oclusal Insight A4 (Kodak®). O intervalo de

radiação aplicada foi de 70 a 72 kV/ 0,4 mAs e 5 cm de distância entre o foco

emissor e o filme de RX. Para o processamento das radiografias foram utilizados

revelador e fixador Kodak®

em câmara escura. As imagens obtidas foram analisadas

e descritas segundo o grau de visualização do parênquima pulmonar e silhueta

cardíaca. Também foram pesquisados achados radiográficos compatíveis com

atelectasia (intensa opacidade alveolar em campos pulmonares), broncograma

aéreo (ramificações brônquicas contendo ar em pulmão opacificado) e

homogeneidade pulmonar (não visualização das diferentes estruturas pulmonares).

Os achados de atelectasia variaram de ausente a grau leve, moderado ou intenso.

As imagens radiográficas foram graduadas de 1 a 3, sendo que 3 refere-se à

completa identificação das estruturas de interesse.

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53

Materiais e Métodos

__________________________________________________________________

3.2.4 Morfometria

Os neonatos foram humanitariamente eutanasiados com a utilização do

fármaco T-61® (Intervet), o qual contém embutramina, poderoso anestésico que

paralisa o centro da respiração, cloridrato de tetracaína, anestésico local que reduz a

dor e Iodeto de mebenzônio, com ação curarizante, provocando paralisia da

musculatura esquelética estriada, incluindo os músculos respiratórios. Em seguida,

os animais foram submetidos à lobectomia por incisão torácica. Os lobos

pulmonares foram lavados com solução fisiológica para remoção da secreção

sangüínea. Em função de existir distintas velocidades de maturação entre as regiões

pulmonares, optou-se por realizar o processamento histopatológico somente no lobo

cranial direito de todos os animais, totalizando 25 fragmentos pulmonares.

3.2.4.1 Inclusões, fixação e coloração do material

Os lobos pulmonares foram seccionados em fragmentos de 2 cm3, fixados e

armazenados em formol a 10% à temperatura ambiente por, no máximo, 7 dias e,

posteriormente, incluídos em parafina (JUNQUEIRA, 1995). Cada lobo pulmonar foi

submetido a 3 cortes histológicos não seriados de 5μm e, posterior desparafinização

e reidratação seguindo o protocolo padrão. Seqüencialmente, os cortes histológicos

foram corados em corante Hematoxilina-Eosina (HE) para observação do aspecto

histomorfológico, possibilitando a diferenciação estrutural (WALLINGTON, 1972).

3.2.4.2 Morfometria pulmonar

A determinação da densidade volumétrica das diferentes estruturas

pulmonares foi realizada no Laboratório de Anatomia Microscópica e Imuno-

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Materiais e Métodos

__________________________________________________________________

histoquímica do Departamento de Cirurgia, Setor de Anatomia, da Faculdade de

Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, por meio da técnica

de morfometria.

Imagens digitalizadas de 3 campos não sobrepostos foram obtidas de cada

lâmina com a utilização de Microscópio Olimpus BX60 e software KS 400 (Axion

Vision 4.8 - ZEISS), perfazendo um total de 9 campos por lobo pulmonar. As

imagens foram avaliadas em objetiva de 40X e ocular de 10X. Em cada imagem, a

densidade volumétrica dos bronquíolos respiratórios (Vvbr), sáculos (Vvs), sáculos

terminais (Vvst) e alvéolos (Vva) foi estimada pela sobreposição de uma grade de

pontos sobre a imagem. Os pontos coincidentes à estrutura de interesse

(bronquíolos terminais, bronquíolos respiratórios, sáculos, sáculos terminais e

alvéolos) constituíram a porcentagem de pontos em relação ao número total destas

no tecido. A média das porcentagens obtidas para os nove campos de cada lobo

pulmonar constituiu a densidade volumétrica (Vv) da estrutura de estudo, em relação

ao restante do tecido para cada indivíduo (WEIBEL, 1989).

3.2.5 Imuno-histoquímica pulmonar

3.2.5.1 Detecção da proteína SP-B

Para a detecção da proteína SP-B, foram utilizados 5 animais dos grupos

BETA e CONT 57, 3 do grupo BETA 58 e 1 do grupo CONT 63.

A técnica de imuno-histoquímica foi desempenhada para a identificação da

proteína SP-B presente no citoplasma dos pneumócitos do tipo II. Para tal, os lobos

inclusos em parafina foram submetidos a cortes histológicos de 5 μm, coletados em

lâminas silanizadas, submetidos à desparafinização e reidratados seguindo o

protocolo padrão.

As lâminas foram submetidas ao procedimento de desmascaramento

antigênico utilizando tampão citrato (pH 6.0), em microondas (3 x 5 minutos). Em

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Materiais e Métodos

__________________________________________________________________

seguida, os cortes foram submetidos ao bloqueio da peroxidase em solução de H2O2

3% diluído em metanol (5 minutos).

As reações inespecíficas do tecido foram bloqueadas pelo uso do Protein

Block Serum-Free® (Dako) por 30 minutos. Posteriormente, os cortes foram

incubados com anticorpo primário policlonal anti-surfactante proteína B (Millipore®),

diluído 1:50 em câmera úmida, overnight a 4oC.

Realizou-se a incubação com anticorpo secundário biotinilado por 30 minutos,

seguido da incubação com o complexo estreptavidina-peroxidase (LSAB - Dako) por

30 minutos. A marcação da proteína SP-B foi evidenciada após a coloração com

DAB (Dako). Para melhor identificação das estruturas celulares, cumpriu-se a

coloração nuclear com Hematoxilina de Harris (JUNQUEIRA, 1983). As lâminas

foram lavadas em PBS entre todas as etapas.

As imagens digitalizadas de 4 campos não sobrepostos foram obtidas de

cada lâmina, com a utilização de Microscópio Olimpus BX60 e software KS 400

(Axion Vision 4.8 - ZEISS), perfazendo um total de 8 campos por lobo pulmonar. As

imagens foram avaliadas em objetiva de 60X e ocular de 10X. Em cada imagem, foi

avaliado o número de pneumócitos do tipo II marcados, considerando aqueles com

citoplasma de coloração marrom como positivos. Os resultados foram representados

como número de células marcadas por área de parênquima pulmonar (número de

células/ 100µm2). Foi determinada a média do número de células por área, obtidas

de oito campos de cada lobo, indicando o número de células produtoras de SP-B no

parênquima pulmonar de cada indivíduo.

3.2.5.2 Detecção de proliferação celular (antígeno celular de proliferação nuclear -

PCNA)

A reação imuno-histoqímica para identificação de proliferação foi cumprida em

2 animais de cada grupo.

A reação imuno-histoqímica para PCNA foi cumprida para a identificação de

proliferação celular. Para tal, foram utilizados anticorpos primários (PCNA - Dako)

diluídos 1:200 para identificação de ciclinas (proteína celular expressa na fase S do

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Materiais e Métodos

__________________________________________________________________

ciclo celular), detectadas pelo método da estreptavidina-biotina-peroxidase. As

células positivas foram evidenciadas após coloração com DAB. Os cortes foram

avaliados e descritos considerando as células com núcleo marrom como positivas.

3.2.5.3 Detecção de citoqueratina no epitélio respiratório pulmonar

A técnica de imuno-histoquímica para marcação de citoqueratina foi

desempenhada em 2 animais de cada grupo objetivando diferenciação epitelial do

tecido pulmonar, auxiliando na distinção de vias aéreas condutoras e parênquima

pulmonar. Para tal, anticorpos monoclonais foram utilizados. (JONES; BANCROFT;

GAMBLE, 2008).

5.5.1 Coloração para microscopia de luz

Para a identificação de fibras elásticas no parênquima pulmonar, os cortes

histológicos foram submetidos à desparafinização e técnica de Verhoeff (JONES;

BANCROFT; GAMBLE, 2008).

As técnicas de PCNA, Citoqueratina e Verhoeff foram realizadas no,

Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade

de São Paulo.

3.3 VALORES DE REFERÊNCIA ADOTADOS

Para a avaliação dos resultados neonatais do presente experimento, foram

adotados como referência os seguintes parâmetros:

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Materiais e Métodos

__________________________________________________________________

Frequência cardíaca (FC) neonatal de 200 a 250 bpm (SILVA et al.,

2008);

Frequência respiratória (FR) neonatal: 15 a 40 mpm (SILVA et al,

2008);

Temperatura corpórea neonatal de 34,4 a 36 ºC (MOON; MASSAT;

PASCOE, 2001);

Em sangue venoso: pH de 7,34 a 7,46, pCO2 de 32 a 49 mmHg, HCO3-

de 20 a 29 mmol/L, BE de -4 a +4 mmol/L (ROBERTSON, 1989), TCO2

de 20 a 27 mmol/L (BAILEY; PABLO; 1998) pO2 de 35 a 50 mmHg

(DAY, 2002);SO2 de 22,12 a 39% (SILVA et al., 2008).

3.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os dados foram analisados por meio do programa SAS System for Windows

(SAS, 2000). O efeito dos grupos experimentais, momentos de avaliação, bem como

a interação entre tais fatores, foi estimado pelo PROC GLM. De acordo com a

normalidade dos resíduos (distribuição Gaussiana) e homogeneidade das

variâncias, as diferenças entre tratamentos foram analisadas por meio de testes

paramétricos (PROC GLM para cada fator isoladamente ou LSD para fatores

combinados) e não-paramétricos (Wilcoxon). Sempre que necessário, os dados

foram transformados com o objetivo de obedecer a premissas estatísticas.

Para os casos de interações significativas, o efeito do tratamento (grupos

experimentais) foi analisado agrupando-se todos os momentos de avaliação.

Igualmente, a avaliação nos diferentes momentos foi comparada combinando-se

todos os grupos; caso contrário, as comparações estatísticas foram realizadas

levando-se em consideração ambos os efeitos (tratamento e tempo).

As diferenças entre tratamentos foram analisadas utilizando o PROC

NPAR1WAY para análise de variância não paramétrica. O tratamento foi verificado

pelo teste de Kruskal-Wallis e pelo teste Wilcoxon para múltiplas comparações. As

variáveis classificatórias foram: grupos (CONT55, CONT57, CONT63, BETA57 e

BETA 58) e tempos de avaliação (0, 5, 60, 120 e 240 minutos). As variáveis

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58

Materiais e Métodos

__________________________________________________________________

respostas foram: dados do Escore Apgar, temperatura corpórea, hemogasometria,

morfometria e imuno-histoquímica pulmonar e radiografia torácica. As variáveis

também foram submetidas à análise de correlação de Pearson.

Os resultados estão expressos como média desvio padrão. O nível de

significância adotado é de 5%, ou seja, as diferenças estatísticas entre as variáveis

classificatórias para as variáveis respostas foram consideradas quando p<0,05.

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Resultados

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Resultados

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4 RESULTADOS

Para as variáveis respostas escore Apgar, tônus muscular (TM), temperatura

corpórea, mucosas aparentes (MA), bicarbonato sangüíneo (HCO3-), BE, pCO2 e pH

sangüíneo, houve interação entre os grupos experimentais e os momentos de

avaliação (Tabela 3). Portanto, tais resultados estão demonstrados discriminando-se

os efeitos principais Grupo e Momento de avaliação.

Tabela 3 - Valores de probabilidade (p) para os efeitos principais Grupos (CONT55 vs. CONT57 vs. CONT63 vs BETA 57 vs BETA 58) e Momentos de Avaliação (0 vs. 5 vs. 60 vs. 120 vs. 240 min) e sua interação para a avaliação neonatal - São Paulo - 2011

GRUPOS MOMENTOS GRUPO X MOMENTO

Escore Apgar <0,0001 <0,0001 0,0288

Frequência Cardíaca 0,0043 <0,0001 0,7507

Frequência Respiratória <0,0001 <0,0001 0,3731

Irritabilidade Reflexa <0,0001 <0,0001 0,1903

Tônus muscular <0,0001 <0,0001 0,0208

Mucosas aparentes <0,0001 <0,0001 0,0034

Temperatura Corpórea <0,0001 <0,0001 0,0151

Oximetria 0,0068 <0,0001 0,1914

PO2 0,0227 0,7226 0,8422

sO2 0,0009 0,7818 0,8078

HCO3- 0,0008 0,0037 0,0331

BE 0,0023 0,0004 0,0148

PCO2 0,2841 0,4903 0,0049

pH 0,5368 0,5084 0,6567

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Resultados

__________________________________________________________________

4.1 EFEITOS DA CORTICOTERAPIA PRÉ-NATAL COM BETAMETASONA

Com o precípuo objetivo de avaliar os efeitos pulmonares neonatais com a

utilização da corticoterapia materna,, realizou-se administração de betametasona

(Celestone Soluspan®) aos 55 dias de gestação, prevendo cesariana aos 63 dias.

Entretanto, observou-se que a dose preconizada induziu o trabalho de parto após

período médio de 76 horas e 37 minutos da aplicação, diagnosticado pela

manutenção da temperatura corpórea das fêmeas a valores inferiores a 36,9ºC por

24 horas e início das contrações abdominais (Tabela 4). Tal efeito inesperado

determinou a constituição do grupo BETA 58, em substituição ao grupo BETA 63,

proposto no projeto original.

Tabela 4 - Intervalo entre a administração de betametasona materna e o início do trabalho de parto (minutos) para as gestantes 1 e 2 - São Paulo - 2011

Gestante Intervalo entre administração e

cesariana (minutos)

Gestante 1 4395

Gestante 2 4770

Média 4582,5

4.2 AVALIAÇÃO CLÍNICA NEONATAL

Os neonatos pertencentes ao grupo CONT 63 obtiveram valor

significativamente maior do escore Apgar ao nascimento em relação aos demais

grupos (Tabela 5). Entretanto, a melhor evolução clínica foi observada nos neonatos

pertencentes ao grupo BETA 57, com resultado de escore Apgar superior a 8 aos 60

minutos de vida. Já os neonatos do Grupo CONT 55 atingiram escore Apgar

superior a 7 somente aos 240 minutos de vida (Tabela 4). Ainda, os recém-nascidos

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62

Resultados

__________________________________________________________________

do grupo CONT 57 não atingiram valor de escore Apgar satisfatório mesmo aos 240

minutos após o nascimento.

Tabela 5 – Média e desvio padrão do escore Apgar (0 a 10) dos neonatos pertencentes aos grupos controle (CONT) 55, 57 e 63 e grupos betametasona (BETA) 57 e 58, nos momentos 0, 5, 60, 120 e 240 minutos do nascimento - São Paulo - 2011

Tempo pós-nascimento (minutos)

GRUPOS 0 5 60 120 240

CONT 55 2,2±0,2 Bb

1,6±0,4Cb

6±0 Aa

6±0 Ba

7±0 Ba

CONT 57 3±0,55A Bc

3,8±0,8 Bbc

5,4±0,51Aab

6±0,55 Ba

5,8±0,3 Ba

CONT 63 4,4±0,75Ac

6,2±1,2 Abc

6,4±1,5 Abc

8,4±0,68 Aab

9,6±0,4 Aa

BETA 57 2,8±0,2 Bd

4,4±0,51ABc

8,5±0,87Ab

9,25±0,48 Aab

10±0 Aa

BETA 58 3±0,32 Bc

4,2±0,37ABc

6,4±0,4 Ab

8,2±0,58ABa

9±0,32 Aa

A, B, C

na mesma coluna indicam diferença estatística entre grupos (p≤0,05)

a, b, c na mesma linha indicam diferença estatística entre momentos da avaliação (p≤0,05)

A tabela 6 expõe os escores da freqüência cardíaca (FC), freqüência

respiratória (FR) e irritabilidade reflexa (IR) para os grupos estudados. Em relação à

freqüência cardíaca, é possível notar que os grupos CONT 63, BETA 57 e BETA 58

apresentaram valores significativamente mais elevados em comparação ao grupo

CONT 57. O escore de freqüência e padrão respiratórios foi estatisticamente

superior nos grupos BETA 57 e CONT63, seguido pelo grupo BETA 58 (Tabela 6).

Valores inferiores foram observados nos neonatos dos grupos CONT 57 e CONT 55,

para os quais a auscultação pulmonar evidenciou irregularidade do padrão

respiratório e bradipnéia associada à presença de ruídos respiratórios de moderado

a intenso. Valores semelhantes de irritabilidade reflexa foram observados nos

grupos CONT 63, BETA 57 e BETA 55, sem diferença estatística entre eles.

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63

Resultados

__________________________________________________________________

Tabela 6 - Média e desvio padrão do escore (0 a 2) da freqüência cardíaca (FC), freqüência

respiratória (FR) e irritabilidade reflexa (IR) dos neonatos pertencentes aos grupos controle (CONT) 55, 57 e 63 e grupos betametasona (BETA) 57 e 58 - São Paulo - 2011

GRUPOS FC FR IR

CONT 55 1,15±0,15B 0,46±0,14

D 0,23±0,12

C

CONT 57 1,36±0,10

AB 1±0,08

C 0,56±0,12

BC

CONT 63 1,56±0,10 A

1,48±0,10 AB

1,12±0,18A

BETA 57 1,5±0,11 A

1,59±0,12 A

0,91±0,2AB

BETA 58 1,52±0,10 A

1,2±0,11B 0,88±0,13

AB

A, B, C na mesma coluna indicam diferença estatística entre grupos (p≤0,05)

A figura 1 demonstra a evolução do tônus muscular na avaliação do escore

Apgar ao longo das quatro primeiras horas de vida para os grupos estudados. Ao

nascimento e 5 minutos de vida, valores muito baixos de escore foram identificados

para todos os grupos, sem diferença estatística entre eles. A melhor evolução clínica

durante a primeira hora de vida foi identificada nos neonatos pertencentes ao grupo

BETA 57, porém sem diferença significativa com os demais grupos. Aos 120

minutos, o menor valor de tônus muscular foi observado no grupo CONT 57, o qual

manteve-se com menor escore até a última avaliação. Por fim, aos 240 minutos, os

grupos BETA 57, BETA58 e CONT 63 apresentaram os melhores valores de tônus

muscular, sem significativa diferença entre eles (Figura 1).

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Resultados

__________________________________________________________________

Figura 1 – Escore médio do tônus muscular (0 a 2) dos neonatos pertencentes aos grupos controle (CONT) 55, 57 e 63 e grupos betametasona (BETA) 57 e 58 aos 0, 5, 60, 120 e 240 minutos do nascimento. São Paulo, 2011

É possível observar que os neonatos do grupo CONT 63 apresentaram

escore de mucosas aparentes da avaliação Apgar estatisticamente superior em

relação aos demais grupos ao nascimento, com boa evolução já aos 5 minutos de

vida (Figura 2). A partir dos 5 aos 120 minutos de vida, o grupo CONT55 apresentou

valores de escore estatisticamente inferiores aos demais grupos. Apenas aos 240

minutos, o grupo CONT 55 atingiu valor máximo do escore de mucosas aparentes.

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Resultados

__________________________________________________________________

Figura 2 – Escore médio de coloração de mucosas aparentes (0 a 2) dos neonatos pertencentes aos grupos controle (CONT) 55, 57 e 63 e grupos betametasona (BETA) 57 e 58 aos 0, 5, 60, 120 e 240 minutos do nascimento - São Paulo -

2011

A tabela 7 contém os dados da evolução da temperatura corpórea nos grupos

e momentos estudados. É possível observar que os recém-nascidos dos grupos

CONT 55, CONT 57, CONT 63 e BETA 57 apresentaram hipotermia ao nascimento,

a qual manteve-se até os 5 minutos de vida, sem diferença estatística entre os

grupos (Tabela 6). Aos 60 minutos de vida, os grupos CONT 55, CONT 57 e BETA

58 apresentaram normotermia, com valor significativamente maior em comparação

ao observado no grupo CONT 55. Aos 120 e 240 minutos do nascimento, somente

os neonatos do grupo CONT 57 apresentaram valores reduzidos de temperatura

corpórea.

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Resultados

__________________________________________________________________

Tabela 7 - Média e desvio padrão da temperatura corpórea (oC) nos grupos controle (CONT)

55, 57 e 63 e grupos betametasona (BETA) 57 e 58 aos 0, 5, 60, 120 e 240 minutos do nascimento. São Paulo, 2011

Tempo pós-nascimento (minutos)

GRUPOS 0 5 60 120 240

CONT 55 33,18

±0,93 Aa

31,6

±0,66A Ba

35,1

±00Aa

35,1

±0 Aa

35,7

±00 Aa

CONT 57 34,38

±0,6 Aab

32,6

±0,54A Bb

34,52

±0,37ABa

35,16

±0,65 Aa

34,8

±0,82A Ba

CONT 63 32,88

±0,93Ab

30,98

±0,59 Bb

32,82

±0,78Bb

35,88

±0,84 Aa

36,39

±0,84 Aa

BETA 57 33,98

±0,5 Aa

30,74

±0,54Bbc

30,4

±0,22Cc

31,7

±0,42 Bbc

32,23

±0,9 Bb

BETA 58 34,94

±0,73 Aa

33

±0,94 Ab

34,08

±0,51ABab

35,6

±0,35 Aa

34,9

±0,39 ABa

A, B, C

na mesma coluna indicam diferença estatística entre grupos (p≤0,05)

a, b, c na mesma linha indicam diferença estatística entre momentos da avaliação (p≤0,05)

4.3 HEMOGASOMETRIA VENOSA

Os neonatos de todos os grupos experimentais apresentaram acidemia ao

nascimento e após duas horas de vida (Tabela 8). Baixos valores de pH foram

mantidos nos grupos CONT 57 e BETA 57 aos 240 minutos após o nascimento,

enquanto melhor evolução foi observada nos grupos BETA 58 e CONT 55. Ao

nascimento, os recém-nascidos dos grupos CONT 55, CONT 63 e BETA 58

apresentavam-se hipercapnéicos, sem diferença significativa entre estes (Tabela 8).

Porém, somente os neonatos do grupo CONT 63 apresentaram valores normais de

pressão de CO2 venoso aos 240 minutos de vida. É possível observar que o grupo

CONT 55 ultrapassou uma condição de hipercapnia ao nascimento para hipocapnia

aos 240 minutos de vida (Tabela 8), por possível mecanismo de tamponamento

químico e fisiológico compensatórios.

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Resultados

__________________________________________________________________

Os íons bicarbonato apresentaram-se em concentrações ideais ao

nascimento nos grupos CONT 55, CONT 63 e BETA 57, sem diferença significativa

entre eles (tabela 8). Os recém nascidos dos demais grupos apresentaram valores

de bicarbonato abaixo do fisiológico neste período de avaliação. Valores ideais

foram observados aos 120 e 240 minutos do nascimento para os grupos CONT 63,

BETA 58 e BETA 57, sem significativa diferença entre eles (Tabela 8).

Os valores de base excess (BE) estiveram abaixo dos valores limítrofes

referenciais em todos os momentos de avaliação para os grupos CONT 55 e CONT

57 (Tabela 8). Os grupos CONT 63, BETA 57 e BETA 58 apresentaram baixos

valores ao nascimento, com normalização aos 240 minutos de vida, sem significativa

diferença entre eles (Tabela 8).

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68

Resultados

__________________________________________________________________

Tabela 8 - Média e desvio padrão dos valores de HCO3

-, BE, PvCO2 e pH em neonatos dos grupos controle (CONT) 55, 57 e 63 e grupos betametasona (BETA) 57 e 58 nos momentos 0, 120 e 240 minutos do nascimento - São Paulo - 2011

GRUPOS TEMPO HCO3

-

(mml/L) BE

(mml/L) PvCO2

(mmHg) pH

CONT 55

0 21,65

±2,33Aa

-7,25

±3,20Aa

52,80

±6,39Aab

7,20

±0,07Aa

120 18,1 ±00

Ba

-10 ±00

Ba

40,7 ±00

Aa

7,25 ±00

Aa

240 14,7 ±00

Ca

-9 ±00

Aba

20 ±00

Ca

7,47 ±00

Aa

CONT 57

0 18,35

±1,66Aa

-9,5

±2,02Aa

40,17

±2,25Bb

7,25

±0,03Aa

120 19,98

±1,08Ba

-9,6

±1,96Aa

61,7

±5,18Aa

7,12

±0,06Aab

240 18,36

±2,5BCa

-13,40 ±3,44

Ba

73,06 ±6,35

Aa

6,98 ±0,07

Bb

CONT 63

0 20,24

±1,44Aa

-11,40 ±1,5

Ab

71,6 ±10,39

Aa

7,04 ±0,06

Aa

120 22,66

±2,61Aba

-4,8

±2,83 ABab

50,04

±5,79Aab

6,26

±1,0Aa

240 22,52

±1,75ABCa

-3,5

±2,18Aba

42,07

±2,18Bb

3,33

±0,03Aa

BETA 57

0 21,30

±1,44ABb

-7,75

±3,61Aa

46,50

±6,87Aba

7,18

±0,09Aa

120 26,77

±1,57Aa

-0,5

±2,1 Aa

56,7

±4,84Aa

7,27

±0,03Aa

240 25,95

±0,35ABab

-2

±00Aa

53,9

±3,9Ba

7,27

±0,02Aa

BETA 58

0 18,24

±1,96Ab

-13,20 ±2,27

Ab

67,88 ±14,66

Aba

7,04 ±0,07

Ab

120 28,42

±0,61Aa

1

±0,84Aa

61,76

±3,95Aa

7,26

±0,03Aa

240 27,96

±1,51Aa

2

±1,87Aa

49,44

±2,60Ba

7,35

±0,03Aa

A, B, C

na mesma coluna indicam diferença estatística entre grupos (p≤0,05)

a, b, c na mesma linha indicam diferença estatística entre momentos da avaliação (p≤0,05)

A saturação de O2 foi marcadamente superior nos grupos CONT 55 e BETA

57, sem significativa diferença entre eles (Tabela 9). Valores muito baixos foram

identificados nos neonatos do grupo CONT 57. Com base nos resultados de PvO2,

verificou-se hipóxia em todos os grupos, com resultado menos favorável para o

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69

Resultados

__________________________________________________________________

grupo CONT 57 (Tabela 9). Não houve diferença estatística nos valores de oximetria

entre o grupo CONT 63 e os grupos tratados.

Tabela 9 – Média e desvio padrão dos valores de SvO2, PvO2 e oximetria venosa em neonatos dos grupos controle (CONT) 55, 57 e 63 e grupos betametasona (BETA) 57 e 58 - São Paulo - 2011

GRUPOS SvO2(%) PvO2(mmHg) OXIMETRIA (%)

CONT 55 37,33±10,73A 20,43±4,91

A *

CONT 57 10,16±1,58C 11,77±1,06

B 81,46±3,43

B

CONT 63 30,27±4,11 AB

20,82±1,70 A

95,45±1,67 A

BETA 57 35,4±4,58 A

17,45±1,68 AB

89,55±2,96 AB

BETA 58 21,58±3,07BC

15,08±1,63 AB

87,12±7,50 AB

A, B, C na mesma coluna indicam diferença estatística entre grupos (p≤0,05)

.* significa ausência de avaliação.

Não houve significativa diferença nos valores de SvO2 e PvO2 entre os

diferentes momentos de avaliação. Com relação à oximetria, resultados satisfatórios

foram observados após 60 minutos do nascimento (Tabela 10).

Tabela 10 - Média e desvio padrão dos valores de SvO2, PvO2 e oximetria venosa neonatal nos momentos 0, 5, 60, 120 e 240 minutos do nascimento - São Paulo - 2011

TEMPO SvO2 PvO2 OXIMETRIA

0 26,76±0,05 A

15,85±2,18 A

73±00B

5 * * 74,55±6,11AB

60 * * 91,83±3,05A

120 23,10±0,03 A

16,79±1,34 A

91,66±2,08 A

240 36,53±3,28 A

17,46±1,31 A

92,33±4,75 A

A, B, C na mesma coluna indicam diferença estatística entre grupo (p≤0,05).

* significa ausência de avaliação

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70

Resultados

__________________________________________________________________

4.4 MORFOMETRIA

Os neonatos pertencentes ao grupo CONT 55 apresentaram maior

percentual tecidual de bronquíolos respiratórios (Figura 3), quando comparado aos

demais grupos (Tabela 11). A formação sacular (Figura 3) mostrou-se mais evidente

nos grupos BETA 57 e CONT 57, seguidos pelos grupos BETA 58 e CONT 55. Os

recém-nascidos do grupo CONT 63 obtiveram maior desenvolvimento subsacular

(Figura 3) em relação aos demais grupos, com semelhantes percentuais

identificados entre os grupos BETA 57 e BETA 58. É manifesto que esta estrutura

não foi observada nos grupos CONT 55 e CONT 57 (Tabela 11). Já o

desenvolvimento alveolar (Figura 3) apresentou-se em baixo percentual nos grupos

CONT 55, CONT 57 e BETA 57, com valores significativamente superiores no grupo

CONT 63 e resultados intermediários para o grupo BETA 58. Maior percentual de

septação foi observado nos grupos CONT 63, BETA 58 e BETA 57 (Tabela 11).

Tabela 11 - Média e desvio padrão do percentual de bronquíolos respiratórios (BR), sáculos (SAC), subsáculos (SUBSAC), alvéolos (AL) e septos (SEP), presentes no parênquima pulmonar dos neonatos pertencentes aos grupos controle (CONT) 55, 57 e 63 e grupos betametasona (BETA) 57 e 58 - São Paulo - 2011

MORFOMETRIA PULMONAR (%)

GRUPOS BR SAC SUBSAC AL SEP

CONT 55 8,61±1,44A 18,66±2,21

B C 0±0,00

C 0±0,00

B 0,06±0,05

B

CONT 57 4,14±0,88B 22,37±1,38

A B 0±0,00

C 0,05±0,05

B 0,02±0,01

B

CONT 63 2,72±0,94 B

12,63±2,46C 14,81±2,89

A 1,35±0,86

A 0,81±0,27

A

BETA 57 4,68±1,48 B

28,32±4,54 A

5,29±1,91 BC

0,09±0,09 B

0,71±0,27 A

BETA 58 2,75±0,70 B

20,09±2,16 B

8,04±2,32 B

0,43±0,34 AB

0,93±0,28 A

A, B, C

na mesma coluna indicam diferença estatística entre grupo (p≤0,05)

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71

Resultados

__________________________________________________________________

Figura 3 - Fotomicrografia de tecido pulmonar de neonatos caninos sob avaliação morfométrica. A) Neonato pré-termo do grupo BETA 58. B) Neonato pré-termo do grupo BETA 57. C) Neonato termo do grupo CONT 63. D) Neonato pré-termo do grupo CONT 57. E, F) Neonatos pré-termo do grupo CONT 55. Sáculos (SAC), subsáculos (SS), alvéolos (AL), septos (SEP), bronquíolo respiratório (BR), bronquíolo terminal (BT). Coloração: Hematoxilina-eosina. Ampliação 400X.

4.5 IMUNO-HISTOQUÍMICA PULMONAR

A figura 4 demonstra o maior número de células produtoras da proteína SP-B

(Figura 5) por área de parênquima pulmonar para os grupos CONT 63 e BETA 57,

sem diferença estatística entre eles. Ainda, não houve diferença estatística entre os

grupos BETA 57, CONT 57 e BETA 58.

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Resultados

__________________________________________________________________

Figura 4 - Média e desvio padrão do número de pneumócitos do tipo II marcados para a proteína SP-B em cada 100µ2 de parênquima pulmonar nos neonatos pertencentes aos grupos CONT 57 e 63 e grupos BETA 57 e 58. A, B, C entre grupos indicam diferença estatística (p≤0,05) - São Paulo - 2011

Figura 5 - Fotomicrografia do tecido pulmonar de neonatos caninos com marcação citoplasmática positiva para a proteína SP-B (→) no citoplasma de pneumócitos tipo II. A) Neonatos do grupo BETA 57. B) Neonatos do grupo CONT 63. Técnica de Imuno-histoquímica. Ampliação 400X - São Paulo - 2011

A figura 6 evidencia maior número de células em fase S do ciclo celular nos

grupos CONT 57, quando comparado ao equivalente grupo tratado. Não foi possível

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73

Resultados

__________________________________________________________________

evidenciar diferença entre os grupos BETA 58 e CONT 63. Porém, os grupos CONT

57 e CONT 55 apresentaram marcação superior aos demais grupos (Figura 6).

Figura 6 - Fotomicrografia do tecido pulmonar de neonatos caninos com marcação nuclear positiva para ciclinas (→) em células pulmonares. A) Neonato do grupo BETA 57. B) Neonato do grupo CONT 57. C) Neonato do grupo BETA 58. D) Neonato do CONT 63. E, F) Neonatos do grupo CONT 55. Técnica de Imuno-histoquímica. Ampliação 400X.

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74

Resultados

__________________________________________________________________

A figura 7 demonstra que os grupos BETA 57, BETA 58 e CONT 63

apresentaram marcante delimitação entre os epitélios respiratórios e o parênquima

pulmonar (sáculos). Já os neonatos dos grupos CONT 57 e CONT 55 apresentaram

menor diferenciação estrutural, com maior distribuição de células epiteliais.

Figura 7 - Fotomicrografia do tecido pulmonar de neonatos caninos. A) Neonato do grupo BETA 57 com marcante distinção entre epitélio bronquiolar e sacular. B) Neonato do grupo CONT 57 com menor diferenciação epitelial. C) Neonato do grupo BETA 58 com marcante distinção entre epitélio bronquiolar e sacular. D) Neonato do CONT 63 com áreas saculares e bronquiolares bem definidas. E, F) Neonatos do grupo CONT 55 com menor diferenciação epitelial. Epitélio bronquiolar (→), saculos (S) Técnica de Imuno-histoquímica. Ampliação 400X

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75

Resultados

__________________________________________________________________

4.6 COLORAÇÃO PARA MICROSCOPIA DE LUZ

Não foi possível identificar diferença quanto a concentração de fibras elásticas

entre os grupos tratados e controle (Figura 8)

Figura 8 - Fotomicrografia do tecido pulmonar de neonatos caninos. Técnica de Vernhoeff para identificação de fibras elásticas. Ampliação 400X. A) Neonato do grupo BETA 57. B) Neonato do grupo CONT 57. C) Neonato do grupo BETA 58. D) Neonato do CONT 63. E, F) Neonatos do grupo CONT 55 com menor diferenciação epitelial.

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Resultados

__________________________________________________________________

4.7 AVALIAÇÃO RADIOGRÁFICA PULMONAR

A avaliação radiográfica torácica demonstrou que o grupo BETA 57

apresentou maior número de neonatos para os quais foi possível a identificação da

silhueta cardíaca (Figura 9), não havendo diferença estatística em relação ao grupo

CONT 57 (Tabela 12). Ainda, pôde-se verificar que o grupo CONT 57 apresentou

valor de escore de visibilização da silhueta cardíaca semelhante ao dos grupos

BETA 58 e CONT 63. O grupo CONT 55 apresentou o pior escore de visibilização da

silhueta cardíaca, bem como alta radiopacidade de parênquima pulmonar (Figura

10)

Figura 9 – Imagens radiográficas de neonatos caninos. A) Neonato pré-termo do grupo CONT 63. Projeção LLD. Intensa opacificação e bloqueio da função alveolar em lobos pulmonares cranial e médio direito, com pouca definição de silhueta cardíaca. B) Neonato pré-termo do grupo BETA 57. Projeção LLD. Leve opacificação observada em todo parênquima, com boa definição da silhueta

cardíaca.

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Resultados

__________________________________________________________________

Figura 10 – Imagens radiográficas de neonatos caninos com alteração em campos pulmonares. A) Neonato pré-termo do grupo CONT 55. Projeção VD. Não visualização da silhueta cardíaca com intensa opacificação de parênquima pulmonar, sugerindo função alveolar bloqueada (óbito nos primeiros minutos de vida). B) Neonato pré-termo do grupo CONT 55. Projeção VD. Pouca definição de silhueta cardíaca com moderada opacificação pulmonar difusa, evidenciando pouco volume de ar pulmonar.

Quanto à identificação do parênquima pulmonar (Figuras 11), escore

estatisticamente superior foi observado para o grupo BETA 57, seguido pelos grupos

CONT 57, CONT 63 e BETA 58, sem significativa diferença entre eles (Tabela 12).

Tabela 12 – Média e desvio padrão do escore de identificação do coração e parênquima pulmonar (1 a 3) dos neonatos pertencentes aos grupos controle (CONT) 55, 57 e 63 e grupos betametasona (BETA) 57 e 58 - São Paulo - 2011

GRUPOS VARIÁVEIS

Coração Parênquima

CONT 55 1,2±0,20

C 1,2±0,20

C

CONT 57 2,2±0,20

AB 2±0,00

B

CONT 63 1,6±0,24

BC 1,8±0,20

B

BETA 57 2,8±0,20

A 2,6±0,24

A

BETA 58 1,6±0,24

BC 1,6±0,24

BC

A, B, C na mesma coluna indicam diferença estatística entre grupos (p≤0,05)

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Resultados

__________________________________________________________________

Figura 11 – Imagens radiográficas de neonatos caninos. A) Neonato pré-termo do grupo BETA 57. Projeção LLE. Leve opacificação de parênquima pulmonar, mais evidente em lobo cranial esquerdo, compatível com o período pós-natal imediato. B) Neonato pré-termo do grupo CONT 57. Projeção LLE. Intensa opacificação observada em todo parênquima, compatível com menor volume de ar pulmonar.

As imagens radiográficas compatíveis com broncograma aéreo foram

identificadas em 100% dos neonatos do grupo CONT 57 (Figura 12), enquanto 40%

dos animais dos grupos BETA 57 e 60% do grupo BETA 58 apresentaram esta

alteração (Figura 13). Já nos grupos CONT 63 e CONT 55 observamos 80% e 20%

de broncograma aéreo, respectivamente (Figura 12).

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79

Resultados

__________________________________________________________________

Figura 12 - Valores percentuais de neonatos dos grupos controle (CONT) 55, 57 e 63 e

grupos betametasona (BETA) 57 e 58 com broncograma aéreo.

Figura 13 – Imagens radiográficas de neonatos caninos. A) Neonato pré-termo do grupo CONT 57. Projeção LLE. Visibilização de broncograma aéreo em lobo caudal esquerdo. B) Neonato pré-termo do grupo BETA 57. Projeção LLD. Pouca identificação de broncograma aéreo em lobos pulmonares.

Com relação às imagens radiográficas compatíveis com atelectasia, somente

o grupo BETA 57 (Figura 15) apresentou percentual de recém-nascidos (60%)

isentos desta alteração (Figura 14). Para os neonatos do grupo CONT 57, observou-

se grau de atelectasia leve e moderado em 40% e 60% dos filhotes,

respectivamente. Para o grupo CONT 63 (Figura 15), 20% dos neonatos

apresentaram grau intenso de atelectasia, com 80% apresentando grau moderado.

A maioria (60%) dos neonatos do grupo BETA 58 demonstrou leve atelectasia,

enquanto para os 40% restantes, identificou-se grau moderado. O grupo CONT 55

apresentou intensa atelectasia em 80% dos seus neonatos e em 20%, grau leve

(Figura 14).

Page 82: Modificações pulmonares morfométricas e funcionais de ... · pulmonar fetal e transição para a vida extra-uterina. Até o momento, não há estudos na espécie canina, com o

80

Resultados

__________________________________________________________________

Figura 14 - Valores percentuais de neonatos dos grupos controle (CONT) 55, 57 e termo e grupos betametasona (BETA) 57 e 58 com ausência ou graus leve, moderado ou intenso de atelectasia pulmonar. São Paulo, 2011

Figura 15 – Imagens radiográficas de neonatos caninos. A) Neonato pré-termo do grupo BETA 57. Projeção LLD. Moderada opacificação pulmonar em lobo cranial direito, compatível com grau leve de atelectasia. B) Neonato termo do grupo CONT 63. Projeção LLD. Intensa opacificação difusa em parênquima pulmonar sugestivo de grau intenso de atelectasia por edema pulmonar. C, D) Fotomicrografia de tecido pulmonar de neonatos caninos do grupo CONT 63 evidenciando edema alveolar (ED). Coloração: Hematoxilina-eosina. Ampliação 600X.

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81

Resultados

__________________________________________________________________

4.6 TESTE DE CORRELAÇÃO

Foi estabelecida correlação positiva entre a formação de septos e subsáculos

e os valores de escore Apgar (Tabela 13). Quanto às suas variáveis FR, TM, IR e

CM, observou-se correlação positiva entre a FR e a formação de subsáculos, assim

como correlação negativa com formação alveolar (Tabela 13). Ademais, observou-se

correlação positiva entre a CM, septação, desenvolvimento subsacular e

irritabilidade reflexa.

Na avaliação hemogasométrica, foi traçada correlação positiva entre a

variável SO2 e o número de pneumócitos tipo II em parênquima pulmonar (Tabela

13). O percentual de sáculos pulmonares apresentou correlação negativa com a

formação de subsáculos e correlação positiva com a visibilização da silhueta

cardíaca (Tabela 13).

Tanto a visualização do parênquima pulmonar como da silhueta cardíaca

apresentaram correlação negativa com a atelectasia. Correlação positiva foi

estabelecida entre a visualização da silhueta cardíaca e parênquima pulmonar

(Tabela 13).

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82

Tabela 13 – Coeficiente de correlação e de significância do HCO3, BE, SvO2, pH, PvCO2, FR, TM, IR, CM, Apgar, temperatura (Temp), Pneumócitos tipo II (P. II), bronquíolo terminal (BRQ.T), saculo (SAC), subsaculo (SUBSAC), septos, alvéolos, coração, broncograma, pulmão, atelectasia. São Paulo, 2011

(Continua)

HCO3 BE SvO2 pH PCO2 PO2 FR TM IR Mucosa Apgar Temp

HCO3 1.00000 0.83055 <0001

0.17311 0.5064

0.35065 0.1096

0.26893 0.2262

0.20308 0.4344

0.18331 0.4142

-09395 0.6775

-22291 0.3187

0.00000 1.0000

-0.20275 0.3655

0.05205 0.8181

BE 1.00000 0.20099 0.4392

0.77208 <0001

0.23800 0.2862

0.27588 0.2838

0.30584 0.1663

-0.08396 0.7103

-15875 0.4804

0.01253 0.9559

-0.05495 0.8081

0.17520 0.4355

SvO2 1.00000 0.38551

0.1265

0.23800

0.2862

0.88780

<0001 0.11691

0.6550

-0.08396

0.7103

-15875

0.3187

0.01253

0.9559

-0.04932

0.8509

0.09292

0.7228

pH 1.00000 -74407 <0001

0.51373 0.0292

-11691 0.6550

-0.08396 0.7103

-07090 0.7869

0.04652 0.8330

0.04743 0.8299

0.27666 0.2013

PvCO2 1.00000 -37400 0.1392

-04519 0.8417

-0.20889 0.3508

-26021 0.2422

-0.04987 0.8256

-0.28505 0.1985

-0.37673 0.0839

PvO2 1.00000 0.19002

0.4223

-0.07313

0.7593

0.11968

0.6153

0.39167

0.0877

0.23750

0.3133

0.37528

0.1030

FR 1.00000 0.11811 0.5739

0.15704 0.4534

0.34190 0.0944

0.72902 <0001

0.06795 0.7469

TM 1.00000 0.84611 <0001

0.34483 0.0914

0.57163 0.0028

0.50424 0.0102

IR 1.00000 0.67566

0.0002 0.67832

0.0002

0.37878

0.0619

CM 1.00000 0.49697 0.0115

0.13308 0.5260

Apgar 1.00000 0.34407 0.0922

Temp. 1.00000

Page 85: Modificações pulmonares morfométricas e funcionais de ... · pulmonar fetal e transição para a vida extra-uterina. Até o momento, não há estudos na espécie canina, com o

(Continuação)

P. II BRQ.T SAC SUBSAC Septos Alvéolos Coração Broncograma Pulmão Atelectasia

HCO3 0.21755

0.4970

0.27619

0.2134

0.00621

0.9781

0.06942

0.7588

0.01529

0.9461

-0.04316

0.8487

-0.12271

0.5864

-0.34533

0.1155

-0.18824

0.4015

0.21569

0.3350

BE -0.08818 0.7852

0.40375 0.0624

0.22254 0.3195

-0.18672 0.4054

-0.23235 0.2981

-0.13236 0.5571

0.01588 0.9441

-0.28933 0.1915

-0.10529 0.6410

0.09595 0.6710

SO2 0.70763

0.0330 0.12408

0.6352

0.15961

0.5406

0.15361

0.5561

0.22298

0.3897

-0.00923

0.9720

0.29677

0.2474

-0.01222

0.9629

0.38369

0.1284

-0.27951

0.2773

pH -0.27824

0.3573

0.28070

0.1945

0.28656

0.1850

-0.42290

0.0444

-0.50198

0.0147

-0.41775

0.0473

0.22351

0.3053

-0.19682

0.3680

0.06251

0.7769

-0.17595

0.4219

PvCO2 0.11579 0.7201

-0.12150 0.5901

-0.44746 0.0368

0.38466 0.0771

0.41315 0.0560

0.32104 0.1452

-0.23949 0.2831

0.17276 0.4420

-0.11185 0.6202

0.25779 0.2468

PvO2 0.06250

0.8551

-0.05814

0.8077

0.04981

0.8348

0.19878

0.4008

0.17936

0.4493

-0.14680

0.7940

0.19191

0.4176

0.15102

0.5251

0.25502

0.2779

-0.21974

0.3519

FR 0.05082

0.8630

-0.07453

0.7233

-0.05101

0.8087

0.4008

0.0247 0.36029

0.0769

-0.47403

0.0167

0.07673

0.7154

0.16645

0.4265

0.16163

0.4402

-0.12071

0.5655

TM -0.44820 0.1080

-0.17927 0.3912

-0.11949 0.5694

0.07937 0.7061

0.07937 0.7061

-0.07737 0.7132

-0.12960 0.5369

-0.13797 0.5107

-0.31297 0.1277

0.11658 0.5789

IR -0.44820

0.1080

-0.20430

0.3273

-0.25722

0.2145

0.22671

0.2758

0.22671

0.2758

0.02286

0.9136

-0.09026

0.6679

-0.01747

0.9339

-0.24274

0.2423

0.14308

0.4950

Mucosa -0.04090

0.8461

-0.44982

0.0241

0.46481

0.0192

0.46481

0.0192 0.26772

0.1957

-0.15524

0.4587

-0.01180

0.9553

-0.16401

0.4334

0.26855

0.1943

APGAR -0.13601 0.6429

-0.27594 0.1818

-0.04487 0.8313

0.47699 0.0159

0.47699 0.0159

0.33311 0.1037

0.08134 0.6991

0.17391 0.4057

0.07856 0.7090

-0.14974 0.4750

Temp. -0.29790

0.3009

0.26695

0.26695

0.33815

0.0983

-0.00776

0.9706

-0.00776

0.9706

0.12297

0.5582

0.02548

0.9038

-0.01112

0.9579

-0.07812

0.7105

-0.15944

0.4465

Page 86: Modificações pulmonares morfométricas e funcionais de ... · pulmonar fetal e transição para a vida extra-uterina. Até o momento, não há estudos na espécie canina, com o

(Conclusão)

P.II BR SAC SUBSAC Alvéolos V.Coração Broncograma V.Pulmão Atelectasia

P.II 1.00000 0.36163

0.2039

0.00000

1.0000

0.41901

0.1359

0.46955

0.0903

-0.26081

0.3678

-0.27796

0.3359

0.08656

0.7686

0.16527

0.5723

BR 1.00000 0.08809 0.6754

-0.36392 0.0737

-0.24846 0.2311

-0.22845 0.2720

-0.23321 0.2619

-0.29976 0.1455

0.31690 0.1227

SAC 1.00000 -0.46738

0.0185 -0.32688

0.1107

0.41342

0.0400 -0.13323

0.5255

0.25563

0.2175

-0.38635

0.0564

SUBSAC 1.00000 0.54025

0.0053 -0.01099

0.9584

0.03442

0.8703

0.16760

0.4233

-0.15263

0.4664

Alvéolos 1.00000 -0.12087 0.5649

0.33509 0.1015

0.08407 0.6895

0.11953 0.5693

Coração 1.00000 0.21677

0.2980

0.88391

<0001

-0.83942

<0001

Broncograma 1.00000 0.33080

0.1063

-0.21582

0.3001

Pulmão 1.00000 -0.83543 <0001

Atelectasia 1.00000

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85

Discussão

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86

Discussão __________________________________________________________________

5 DISCUSSÃO

5.1 AVALIAÇÃO CLÍNICA NEONATAL (ESCORE APGAR E TEMPERATURA

NEONATAL)

O período de transição da vida intra-uterina para a extra-uterina impõe ao

neonato processos adaptativos rápidos, relacionados a diferentes funções, tais como

respiratória, cardiovascular e metabólica, cuja efetividade garante a sobrevida

neonatal. Adota-se em Neonatologia o sistema de escore Apgar que permite avaliar

e documentar sinais que reverberam o funcionamento de diferentes sistemas, já nos

primeiros minutos de vida (FINSTER; WOOD, 2005). Os critérios de avaliação são

variáveis, obedecendo à singular fisiologia das espécies, bem como as condições

obstétricas relativas. Para cães nascidos em eutocia, adota-se o valor de escore 7

como ideal mínimo ao nascimento, com redução deste para 5 em neonatos nascidos

de cesariana (SILVA et al., 2008). Tais dados corroboram o baixo escore Apgar ao

nascimento observado no presente estudo. A partir dos 5 minutos de vida até a

última avaliação neonatal, valores semelhantes de escore Apgar foram observados

entre os neonatos do grupo CONT 63 e os grupos tratados. Todavia, o grupo BETA

57 evoluiu clinicamente com maior eficiência, obtendo nota de escore superior a 7

aos 60 minutos de vida (Tabela 5). Ademais, a correlação positiva identificada entre

os valores de escore Apgar e a formação de septos e subsáculos (Tabela 13)

permite inferir que as características morfológicas pulmonares determinam

condições de vitalidade ao nascimento. Willett et al. (2001) atestaram haver

remodelamento estrutural pulmonar, com aumento de septação e volume alveolar

(estruturas que compõem a porção respiratória pulmonar), em resposta a utilização

da corticoterapia pré-natal Tais asserções permitem inferir que a melhora clínica

observada nos neonatos pré-termos tratados, à semelhança do grupo termo, está

relacionada à maior eficiência das trocas gasosas, por alterações estruturais

resultantes da administração pré-natal de betametasona.

Como principal característica cardiovascular, os neonatos caninos

apresentam baixa pressão arterial e resistência vascular periférica (RICKARD,

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87

Discussão __________________________________________________________________

2011). Por conseguinte, para sustentar a adequada perfusão sanguínea, há

manutenção de alta freqüência e débito cardíacos. Nesta fase, tanto o controle

neurológico simpático como parassimpático do miocárdio, são parciais. Deste modo,

episódios de bradicardia não derivam de estímulo vagal e, sim, de hipoxemia

prolongada (GRUNDY, 2006). As fêmeas gestantes apresentam capacidade residual

e volume total pulmonar diminuídos, combinados ao elevado requerimento de

oxigênio, tornando-as extremamente vulneráveis à hipóxia, principalmente sob

anestesia (PASCOE; MOON, 1998). Nesta situação, desencadeia-se a hipóxia fetal

e neonatal, culminando em bradicardia (SILVA, 2008). Tais assertivas justificam os

baixos valores de escore para a freqüência cardíaca neonatal ao nascimento em

todos os grupos (Tabela 6). Relata-se, em cordeiros, melhora nos valores de

pressão arterial, débito cardíaco e diminuição da freqüência cardíaca em resposta à

administração fetal de glicocorticóides, por mecanismos fisiológicos não elucidados

(WOOD et al., 1987. SECKL, 2001). Em nosso estudo, os valores de freqüência

cardíaca não diferiram estatisticamente entre os neonatos dos grupos equivalentes

tratados e controles (Tabela 6). Portanto, não foi possível relacionar o efeito da

betametasona pré-natal na atividade cardiovascular neonatal. O menor escore de

FC, apresentado pelo grupo CONT 55, pode estar relacionado ao alto grau de

prematuridade e, portanto, imaturidade cardiovascular neonatal.

Com a ruptura do cordão umbilical ao nascimento, o suprimento sanguíneo

para o feto é abruptamente interrompido, culminando em estado de hipóxia e

aumento na resistência vascular periférica neonatal. Tal combinação de fatores cria

um estado de dispnéia, desencadeando reflexo de contração dos músculos

torácicos, pressão negativa em vias aéreas e promovendo a entrada de ar para o

interior dos pulmões. Alguns fatores podem contribuir para a manutenção da hipóxia

neonatal, sendo a inadequada capacidade de expansão pulmonar, normalmente

relacionada à prematuridade estrutural e funcional, a causa mais comum (RICKARD,

2011). Beck et al. (1981) demonstraram haver aumento na concentração de elastina

e colágeno no tecido pulmonar em neonatos Rhesus pré-termos, e conseqüente

aumento no volume pulmonar, após administração materna de betametasona.

Ademais, admite-se que a deposição de elastina na parede sacular esteja

intimamente relacionada à formação de septos e subsáculos (MIYOSHI;

GUINSBURG, 1998). De fato, os neonatos do grupo BETA 57 apresentaram escore

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88

Discussão __________________________________________________________________

de FR superior ao seu grupo controle, porém semelhante ao grupo CONT 63

(Tabela 6). Ainda, observou-se correlação positiva entre os valores de FR e

formação de subsáculos (Tabela 13). Desta maneira, é possível inferir que o uso

pré-natal de corticosteróides melhorou a função pulmonar dos neonatos do grupo

BETA 57 a valores semelhantes ao grupo termo (CONT 63), ao acelerar sua

maturação estrutural por expansão das áreas de trocas gasosas, corroborando,

parcialmente, estudos prévios em outras espécies (BECK et al., 1981; LOEHLE et

al., 2010). O grupo BETA 58 apresentou escore de FR significativamente inferior ao

grupo BETA 57, revelando resposta menos pronunciada à corticoterapia (Tabela 6).

A variação ao efeito do fármaco pode estar relacionada ao maior intervalo entre a

aplicação da betametasona e o momento do parto.

Tanto a variável tônus muscular (TM), como irritabilidade reflexa (IR),

exprimem o grau de depressão do sistema nervoso central do neonato (FEITOSA,

2008). Gabas et al. (2006) conferiram à variável TM nota mínima para todos os

neonatos nascidos de fêmeas anestesiadas com acepromazina, propofol e

sevofluorano, imediatamente e após 10 minutos do nascimento. Tais dados

corroboram parcialmente a depressão neonatal por agentes anestésicos,

evidenciada no presente estudo, pois os neonatos de todos os grupos receberam

baixo escore ao nascimento (Figura 1). A partir de 120 minutos, observou-se valores

de TM significativamente mais elevados nos grupos CONT 63 e tratados (Figura 1),

sugerindo semelhante potencial adaptativo entre os neonatos termos e os

submetidos à corticoterapia pré-natal. Do mesmo modo, os valores de IR foram

estatisticamente superiores nos grupos tratados e CONT 63, em relação aos grupos

controles pré-termos (Tabela 6).

Neonatos hígidos devem apresentar mucosas de coloração (CM) rósea

intensa. Quando cianóticas, sinalizam severa hipoxemia e palidez, hipoperfusão ou

anemia (FEITOSA, 2008). Os grupos CONT 63 e tratados com betametasona

atingiram o valor máximo de escore para a CM (2) aos 120 minutos de vida (Figura

2); momento no qual também apresentavam diferentes graus de hipoxemia (Tabela

10). Tal achado indica que a avaliação das mucosas aparentes é uma variável

pouco fidedigna para identificação de neonatos com graus leves de alterações

cardiorrespiratórias. Em contraposição, houve correlação positiva entre a CM e o

desenvolvimento subsacular e septação na morfometria pulmonar (Tabela 13). Por

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89

Discussão __________________________________________________________________

outro lado, verificou-se correlação negativa entre a CM e a formação sacular na

histologia pulmonar (Tabela 13). É possível inferir que esta última correlação indica

maior desenvolvimento pulmonar nos grupos com melhores valores de CM (grupos

tratados e CONT 63), com substituição da unidade sacular por subsáculos.

A termorregulação neonatal é limitada por inúmeras particularidades, tais

como ausência de reflexo de tremor, baixa capacidade de vasoconstricção e

escassa reserva de tecido subcutâneo (RICKARD, 2011). Portanto, é esperado

evidenciar baixas temperaturas neonatais, salientando a importância do manejo

ambiental. Até os 60 minutos de vida, os neonatos dos grupos CONT 55, CONT 57,

CONT 63, BETA 57 apresentaram hipotermia (Tabela 7), mesmo submetidos ao

aquecimento artificial, resultados que vão ao encontro de estudos prévios (PRATS,

2005). Apenas o grupo BETA 57 apresentou, em todos os momentos de avaliação,

valor de temperatura indicativo de hipotermia (Tabela 7). Não foi possível

estabelecer causas aparentes para a hipotermia neste grupo experimental, haja vista

a melhor evolução de escore Apgar.

5.2 HEMOGASOMETRIA VENOSA

Ao nascimento e duas horas de vida, os neonatos de todos os grupos

apresentaram semelhantes valores de acidemia (Tabela 8), corroborando estudos

anteriores que denotam baixos valores de pH aos 60 minutos após o nascimento por

cesariana (SILVA, 2008). Nos referidos momentos, observou-se hipercapnia em

todos os grupos, propondo acidose respiratória (Tabela 8). Ainda, nos grupos CONT

55 e 57, verificou-se baixos valores de bicarbonato referindo, acidose mista

(respiratória e metabólica). A acidose mista foi evidenciada no grupo BETA 58

apenas ao nascimento. A elevação nos valores de PCO2 está relacionada à

ventilação pulmonar comprometida, seja por mecanismo pulmonar local (atelectasia,

edema e baixa complacência) ou depressão respiratória central (ROBERTSON,

1989). O mecanismo compensatório da acidose respiratória aguda compreende o

tamponamento do H+ por tampões não-bicarbonato (hemoglobina, fosfato e

proteínas), enquanto há acúmulo para reposição do bicarbonato sangüíneo. Já a

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90

Discussão __________________________________________________________________

acidose metabólica, caracterizada por baixos valores de HCO3-, é contrabalanceada

por hiperventilação compensatória (ANDRADE, 2005). A melhor resposta

compensatória ao desequilíbrio ácido-básico foi observada no grupo BETA 58, com

queda dos valores de PCO2 e normalização dos níveis de bicarbonato e BE, a partir

dos 120 minutos pós-nascimento, atingindo valores ideais de pH e PCO2 aos 240

minutos (Tabela 8). O presente resultado imprime ao grupo BETA 58 melhor

capacidade de troca gasosa pulmonar em relação aos demais grupos, assim como

tamponamento químico. Observou-se, ainda, valores estatisticamente inferiores de

PCO2, aos 240 minutos nos grupos tratados com betametasona e CONT 63, em

relação ao grupo CONT 57, sugerindo melhora da função respiratória nos neonatos

pré-termo tratados a valores semelhantes ao termo controle. Em oposição aos

grupos controles, valores normais de bicarbonato e BE foram evidenciados nos

grupos tratados e CONT 63 já aos 120 minutos após o nascimento (Tabela 8),

incutindo, novamente, melhor capacidade de tamponamento químico e

restabelecimento do equilíbrio acido básico.

Os valores da PvO2 associada à SvO2 são bases de informação para a

perfusão tecidual e quantidade de oxigênio em sangue venoso. Baixos valores de

PvO2 (<27mmHg) podem ser indicadores da alta demanda e baixa reserva tecidual

de oxigênio, além da produção de ácido lático por metabolismo anaeróbico (DAY,

2002). Com base nas afirmações de Day (2002), os baixos valores de PvO2

presentes em todos os grupos e momentos de avaliação (Tabelas 9 e 10) sugerem

elevada atividade metabólica celular, com máxima utilização tecidual de O2 e

produção de ácido lático. Tais resultados permitem inferir que os neonatos caninos

desenvolvem metabolismo anaeróbico e produção de ácido lático conseqüente à

hipóxia tecidual ao longo das primeiras 4 horas de vida, em função do aumento da

taxa metabólica e independente da corticoterapia pré-natal.

O grupo CONT 57 apresentou valores extremamente baixos de SO2 e PO2,

com conseqüente agravamento da acidemia (Tabela 9). Resultados estatisticamente

superiores, mas não satisfatórios, foram observados no grupo tratado BETA 57,

seguido pelo grupo CONT 63 e BETA 58, sem diferença estatística entre eles

(Tabela 9). Ademais, a variável SO2 correlacionou-se positivamente com o número

de pneumócitos tipo II em parênquima pulmonar (Tabela 13). De fato, Tanswell et al.

(1991) relacionam o aumento na complacência pulmonar como resultado da maior

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91

Discussão __________________________________________________________________

produção de proteínas do surfactante, permitindo inferir melhores valores de

saturação de oxigênio resultantes do aumento do volume gasoso comportado pelo

pulmão.

5.3 MORFOMETRIA PULMONAR

Willet et al. (2001) evidenciaram alterações morfológicas pulmonares à

utilização pré-natal de betametasona, tais como: aumento do volume do espaço

aéreo e maior formação e septação alveolar, tornando favoráveis os processos de

troca gasosa. No presente estudo, tais achados corroboram os dados de maior

septação nos grupos tratados e controle termo (CONT 63), em relação aos demais

grupos (Tabela 11). Ademais, não houve diferença estatística entre os percentuais

de formação de subsáculos entre os grupos tratados, embora com valores inferiores

ao grupo CONT 63 (Tabela 11). A avaliação conjunta destas variáveis permite

afirmar que o desenvolvimento estrutural pulmonar em neonatos caninos pré-termos

ocorreu em resposta à utilização pré-natal de betametasona em dose única.

O período acurado para haver o início de alveolização é controverso em

humanos e irresoluto na espécie canina. Assim como Latshaw (1987), Sipriani et al.

(2009) não observaram desenvolvimento alveolar no período fetal em cães. Todavia,

em nosso estudo, pode-se evidenciar início de alveolização nos grupos tratados e

CONT 63 (Tabela 11). Tais achados permitem estabelecer o início do estágio

alveolar de desenvolvimento pulmonar no período pré-natal em cães. Um percentual

estatisticamente superior de alveolização foi observado no grupo CONT 63, seguido

pelo grupo BETA 58, indicando semelhança do estágio de desenvolvimento entre os

referidos grupos experimentais. Todavia, o grupo BETA 58 não apresentou diferença

estatística com os demais grupos (Tabela 11), podendo ser justificado pelo pequeno

número amostral alocado nos grupos experimentais.

O grupo CONT 63 apresentou estatisticamente menor número de sáculos,

seguido pelos grupos BETA 58 e CONT 55 (Tabela 11). Nos dois primeiros grupos,

este resultado pode ser justificado pela progressão do desenvolvimento estrutural

pulmonar, com diferenciação de sáculos em subsáculos. Já no grupo CONT 55, este

dado está relacionado ao reduzido desenvolvimento pulmonar de forma global,

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92

Discussão __________________________________________________________________

também evidenciado pelo maior percentual de bronquíolos respiratórios (Tabela 11)

(figura 7), estrutura precursora dos sáculos e subsáculos.

5.4 IMUNO-HISTOQUÍMICA PULMONAR

Estudos em coelhos e cordeiros denotam que a utilização pré-natal de

corticosteróides promove maior produção de proteínas do surfactante e aceleram a

citodiferenciação e maturação da citoarquitetura, com conseqüente aumento da

complacência e máximo volume pulmonar neonatal (LOEHLE et al., 2010). Em

experimento utilizando pulmões humanos, evidenciou–se aumento na produção das

proteínas A, B, C e D, bem como da atividade de enzimas-chave para a síntese de

fosfolípides, após a utilização de corticosteróides (BALLARD; BALLARD, 1995). Em

contraposição, Johnson et al. (1978) não observaram diminuição da tensão

superficial alveolar ou aumento na concentração de fosfolipídios, em resposta à

corticoterapia materna, sugerindo mínimo efeito no surfactante pulmonar.

Em consonância com Ballard et al. (1995), observamos resultados

semelhantes quanto ao número de pneumócitos tipo II marcados para a proteína

SP-B entre os neonatos do grupo CONT 63 e BETA 57 (Figuras 4 e 5) . Ainda, não

observamos diferença estatística entre os grupos tratados e o CONT 57.

Acreditamos que ocorreu, em um período de 48 horas entre a aplicação de

betamestasona e o nascimento, discreto aumento no número de células produtoras

de surfactante no parênquima pulmonar dos animais tratados. Possivelmente, o

baixo número de animais por grupo experimental justifica a ausência de diferença

estatística entre os grupos tratados e CONT 57. Portanto, neste estudo, os dados

referentes ao número de pneumócitos II marcados, reflexo da síntese de surfactante,

devem ser interpretados com cautela.

Dentre as alterações pulmonares reflexas à corticoterapia pré-natal,

evidencia-se a maturação estrutural como efeito primário, favorecendo a função

pulmonar após o nascimento (BALLARD; BALLARD, 1995). Beck et al. (1981)

demonstraram aumento na concentração de fibras elásticas e colágeno em pulmões

de neonatos Rhesus após tratamento materno com betametasona, levando ao

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93

Discussão __________________________________________________________________

aumento do volume pulmonar máximo mesmo sem alteração da composição do

surfactante neonatal. Em nosso estudo, não foi possível avaliar aumento de fibras

elásticas em resposta à corticoterapia pré-natal (Figura 8).

5.5 RADIOGRAFIA TORÁCICA

No período fetal, o pulmão é repleto de fluídos, os quais devem ser

rapidamente absorvidos permitindo as trocas gasosas ao nascimento (JAIN;

GOLDEN, 2006). As imagens radiográficas do tórax de filhotes apresentam

particularidades inerentes ao período, com aumento de opacidade intersticial

generalizada reflexa ao menor volume de ar presente no pulmão (SILVA, 2008).

Nossos achados vão ao encontro das prévias citações literárias (JAIN; GOLDEN,

2006; SILVA, 2008), haja vista que todos os grupos exibiram graus de opacificação

alveolar em campos pulmonares, dificultando a visibilização do parênquima, bem

como a definição da silhueta cardíaca (Tabela 12). O mecanismo de absorção do

líquido pulmonar (clearance pulmonar) inicia-se no final da gestação e segue no

período pós-natal. Falhas neste processo podem limitar a entrada de ar e a

expansão pulmonar. No presente estudo, tanto a visibilização da silhueta cardíaca

como do parênquima pulmonar correlacionaram negativamente com a presença de

áreas de atelectasia (Tabela 13). Dentre os fatores envolvidos na ativação deste

processo de clearance pulmonar destaca-se o aumento na concentração de

esteróides circulantes (JAIN; GOLDEN, 2006). Por este motivo, houve melhor

visibilização do parênquima pulmonar no grupo BETA 57 em relação aos demais,

com diminuição da opacidade generalizada e maior volume de ar pulmonar (Figura

6).

O melhor padrão de visibilização da silhueta cardíaca foi identificado no grupo

BETA 57 (Figura 7), o qual não apresentou diferença estatística em relação ao seu

grupo controle (CONT 57). O mesmo foi observado entre os grupos BETA 58 e

CONT 63, reverberando igual padrão de opacificação e bloqueio da função alveolar

em lobos pulmonares médios e caudais. O grupo CONT 55 apresentou o pior grau

de visibilização da referidas estruturas, sugerindo quadro alveolar difuso e intenso,

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Discussão __________________________________________________________________

com função alveolar bloqueada (Figura 8). Neste último grupo, a difícil visibilização

das áreas de broncograma pode estar relacionada ao bloqueio da passagem de ar

em vias aéreas inferiores, por falha nos mecanismos de clearance pulmonar e

demais falhas relacionadas à maturação estrutural e funcional, reflexas ao alto grau

de prematuridade. O grupo BETA 57 apresentou menor percentual de broncograma

aéreo (Tabela 9), associado à melhor visibilização do parênquima pulmonar, o que

acreditamos ser decorrente de melhor passagem de ar e expansão pulmonar neste

grupo tratado.

Após o nascimento, com o início da ventilação do pulmão prematuro, há

movimento de proteínas para dentro e para fora dos espaços aéreos, resultando em

edema pulmonar (IKEGAMY et al., 1987). O edema está relacionado ao aumento

anormal da permeabilidade da microcirculação pulmonar às proteínas, levando à

inativação do surfactante (REBELLO, 1969) e posterior colapso alveolar

(atelectasia). O tratamento materno com corticosteróides diminui de maneira

significativa a permeabilidade endotelial pulmonar às proteínas (REBELLO, et al.,

1997). Como conseqüência, não se observou imagens radiográficas compatíveis

com atelectasia em 60% do grupo BETA 57 (Figura 12). Os animais dos demais

grupos apresentaram algum grau de atelectasia. O grupo BETA 58 apresentou grau

leve (60%) a moderado (40%), enquanto o GRUPO 63 apresentou grau intenso de

atelectasia em 20% dos animais (Figura 11) e moderado nos demais, associado aos

achados histológicos de edema em 4 destes animais (Figura 12).

A técnica radiográfica utilizada dificulta a identificação de alguns padrões

radiográficos, mas contribui para o diagnóstico de falha na reabsorção de fluídos

pulmonares e expansão alveolar. Por este motivo, sugere-se que a imagem torácica

seja utilizada como ferramenta adjuvante às demais avaliações clínicas na

determinação de afecções pulmonares.

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Conclusão

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Conclusão __________________________________________________________________

6 CONCLUSÃO

1) A administração de betametasona materna no período pré-natal induz alterações

estruturais do parênquima pulmonar, resultando em melhores condições clínicas dos

neonatos caninos nas primeiras horas de vida.

2) A betametasona pré-natal aumenta a capacidade de trocas gasosas pulmonar,

imprimindo melhor resposta compensatória, tanto metabólica quanto respiratória, ao

desequilíbrio ácido-basico.

3) A administração pré-natal de betametasona não induz ao aumento na síntese de

surfactante pulmonar em neonatos caninos pré-termos, nas condições do presente

estudo.

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