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– 1 1. Introdução O homem, diferentemente de outras espécies, não se contenta em viver no mundo satisfazendo simples- mente suas necessidades primárias. Sente a necessidade de interpretar o mundo e acaba criando um segundo mundo: o mundo humano. Assim, podemos definir a espécie humana como aquela capaz de refletir sobre sua própria condição, capaz de planejar sua ação, de simbolizar e de produzir o universo da cultura. Deste novo mundo, faz parte a produção de artefatos, necessários para complementar uma inacabada estrutura biológica. O homem, assim, cria lanças para caçar, arma- mentos para guerrear, instrumentos para construir outras coisas, máquinas para voar. Além desses objetos, o homem ritualiza sua rotina, através de comemorações, cerimônias, festas e cultos. Assim, ele se assegura de que a vida tem algum sentido e garante a reprodução da vida social. O desenho de Escher sugere o exercício da reflexão humana. Segundo o filósofo Ernst Cassirer, a meta mais elevada da Filosofia é o conhecimento de si próprio. Não é só isso. O homem elabora abordagens do real. Não tolerando o caos ou a desordem, ele busca interpre- tações da realidade e acumula saberes que lhe permitem uma vida plena de consciência, usando a inteligência para escapar do absurdo da existência; ou seja, o homem, pelo conhecimento, traça para si uma existência de fato humana. Tais abordagens se apresentam em diversos aspectos e versam em diferentes áreas do conhecimento: a arte, a mitologia, a religião, a ciência, o senso comum e a filosofia. 2. O Senso Comum O senso comum é um conhecimento empírico, herdado pelo meio social, pouco questionado, irrefletido, fragmentário, difuso, elaborado sem método ou qualquer sistema. Isso não quer dizer que não tenha valor, mas o senso comum geralmente deve ser transcendido para que não gere julgamentos errados, preconceituosos e pobres. A realidade é complexa e exige esforços da inteligência para que seja mais bem sondada. Cabe ao bom senso saber usar o senso comum, reconhecendo seu valor e suas limitações. Assim, desenvolve-se o sen- so crítico, capacitado a questionar os valores transmitidos, sem destruí-los, apta a adequá-los e transformá-los diante das situações novas da existência. Zeus – Mito grego. Os gregos não se contentaram com as explicações míticas, por isso desenvolveram a reflexão filosófica. MÓDULO 1 Do Espanto à Reflexão

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1. Introdução

O homem, diferentemente de outras espécies, nãose contenta em viver no mundo satisfazendo simples -mente suas necessidades primárias. Sente a neces sidadede interpretar o mundo e acaba criando um segundomundo: o mundo humano. Assim, podemos definir aespécie humana como aquela capaz de refletir sobre suaprópria condição, capaz de planejar sua ação, desimbolizar e de produzir o universo da cultura.

Deste novo mundo, faz parte a produção de arte fatos,necessários para complementar uma inacabada estruturabiológica. O homem, assim, cria lanças para caçar, arma -men tos para guerrear, instrumentos para construir outrascoisas, máquinas para voar. Além desses objetos, ohomem ritualiza sua rotina, através de come morações,cerimônias, festas e cultos. Assim, ele se assegura deque a vida tem algum sentido e garante a reprodução davida social.

O desenho de Escher sugere o exercício da reflexão humana. Segundoo filósofo Ernst Cassirer, a meta mais elevada da Filosofia é oconhecimento de si próprio.

Não é só isso. O homem elabora abordagens do real.Não tolerando o caos ou a desordem, ele busca inter pre -tações da realidade e acumula saberes que lhe permitemuma vida plena de consciência, usando a inteligência paraescapar do absurdo da existência; ou seja, o homem, peloconhecimento, traça para si uma existência de fatohumana. Tais abordagens se apresentam em diversosaspectos e versam em diferentes áreas do conhecimento:a arte, a mitologia, a religião, a ciência, o senso comum ea filosofia.

2. O Senso Comum

O senso comum é um conhecimento empírico,herdado pelo meio social, pouco questionado, irrefletido,fragmentário, difuso, elaborado sem método ou qualquersistema. Isso não quer dizer que não tenha valor, mas osenso comum geralmente deve ser transcendido paraque não gere julgamentos errados, preconceituosos epobres. A realidade é complexa e exige esforços dainteligência para que seja mais bem sondada. Cabe aobom senso saber usar o senso comum, reconhecendoseu valor e suas limitações. Assim, desenvolve-se o sen -so crítico, capacitado a questionar os valores transmi tidos,sem destruí-los, apta a ade quá-los e transformá-los diantedas situações novas da existência.

Zeus – Mito grego. Os gregos não se contentaram com as explicaçõesmíticas, por isso desenvolveram a reflexão filosófica.

MÓDULO 1 Do Espanto à Reflexão

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Rodin, O Pensador. Só o homem reflete e questiona a sua existência.

3. O Nascimento da Filosofia

Os gregos antigos contavam com uma mitologiaampla e rica para explicar o universo e a realidade. Mas éna Grécia Antiga, mais especificamente nas suas colônias(Jônica e Magna Grécia), no século VI a.C, que nasce areflexão filosófica. Isso não decretou a morte do pensa -mento mítico, mas muitos filósofos rejeitavam os mitos eprocuravam dessacralizar a natureza, buscando entendercomo lógicos os processos naturais. Os mitos sebaseavam em certezas dogmáticas e não resultavam deprocessos reflexivos. A filosofia, segundo Platão (428-347a.C.), nascera do espanto, da per ple xidade, ou seja, dacapacidade humana de ad mirar o mundo. Assim, ohomem problematiza questões da vida, reflete sobre suaprópria condição e existência – filosofa. Sócrates (470-399a. C.) afirmara que uma existência sem reflexão não valeriaa pena e sabemos que hoje, num mundo pragmático,numa cultura marcada pelo cons tante culto ao vazio,muitas pessoas preferem não refletir; abrem mão desseprivilégio ou mesmo desse risco, pois a reflexãoconsciente nos mobiliza e então torna-se necessário sairda nossa zona de conforto. Tudo para essas pessoas énatural e a realidade não merece questionamento. Per ma -necem no senso comum.

Aristóteles, filósofo grego que valorizou a razão humana.

Texto Filosófico: Leia o texto escrito na Antiga Gréciapelo filósofo Aristóteles em seu livro Metafísica:

Os homens, no início, encontravam no assombro omotivo para filosofar, por que no início eles se ma -ravilhavam diante dos fe nô menos mais simples, dos quaisnão podiam dar-se conta. Depois, paulatina mente,passaram a estar diante de problemas mais com plexos,como as condições da Lua e do Sol, as es trelas e a origemdo universo.

Quem se encontra em estado de incerteza e deassombro acredita ser ignorante (por isso, quem seinteressa pelas lendas também é, de alguma maneira,filósofo, uma vez que o mito é um conjunto de coisasmaravilhosas).

Se é verdade que os homens começaram a filosofarpara livrar-se da ignorância, é evidente que procuravamconhecer por amor ao saber, e não por uma neces sidadeprática. Isso pode ser comprovado também pelo cursodos eventos, uma vez que os homens buscaram essaespécie de conhecimento somente depois que tiveram àsua disposição todos os meios indispensáveis à vida,assim como aqueles que oferecem comodidade e bem-estar.

É claro, então, que nos dedicamos a essa inves -tigação sem visar vantagens exteriores. Assim comodizemos que um homem que vive para si, e não para ooutro, é livre, do mesmo modo consideramos tal ciência.

“Passar do senso comum à consciência filosóficasignifica passar de uma concepção fragmentária,incoerente, desarticulada, implícita, degradada,mecâ nica, passiva e simplista a uma concepçãounitária, coerente, articulada, explícita, original,intencional, ativa e cultivada”.

(Dermeval Saviani)

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O filósofo Aristóteles nasceu em 384 a.C. e morreuem 322 a.C. Seus pensamentos e ideias sobre ahumanidade têm influências significativas na educação eno pensamento ocidental contemporâneo. Aristóteles éconsiderado o criador do pensamento lógico. Suas obrasinfluenciaram também na teologia da cristandade.

Aristóteles foi viver em Atenas aos 17 anos, ondeconheceu Platão, tornando-se seu discípulo. Passou o anode 343 a.C. como preceptor do imperador Alexandre, oGrande, da Macedônia. Fundou em Atenas, no ano de 335a.C, a escola Liceu, voltada para o estudo das ciênciasnaturais. Seus estudos filosóficos baseavam-se emexperimentações para comprovar fenômenos danatureza.

O filósofo valorizava a inteligência humana como aúnica forma de alcançar a verdade. Fez escola e seus pen -samentos foram seguidos e propagados pelos dis cípulos.

Pensou e escreveu sobre diversas áreas do conheci men -to: política, lógica, moral, ética, teologia, pedagogia,metafísica, didática, poética, retórica, física, antropologia,psicologia e biologia. Publicou muitas obras de cunhodidático, principalmente para o público geral. Valorizava aeducação e a considerava uma das formas crescimentointelectual e humano. Sua grande obra é o livro Organon,que reúne grande parte de seus pensamentos.Pensamento: “A educação tem raízes amargas, mas osfrutos são doces”.

Glossário:

Dessacralizar: retirar determinado elemento cultural daesfera sagrada.

Dogmático: de dogma, relativo a uma verdade que não épassível de questionamento.

Sobre Aristóteles

1. De acordo com o texto filosófico de Aristóteles, julgue as colocaçõesabaixo:a) A filosofia nasce da necessidade de sobrevivência humana. b) A filosofia é pura atividade contemplativa.c) A filosofia é amor puro e desinteressado pelo conhecimento.d) A filosofia nasce da apatia e da naturalização diante dos fenômenos.

São coerentes:a) todas. b) apenas I e II. c) apenas I e III. d) apenas II e III. e) apenas III e IV.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

2. “O ato de filosofar não pretende oferecer soluções já prontas,isentas de todo questionamento... Liberdade e razão se entrecruzam, eesse entrecruzamento reflete-se no ato de filosofar. É nestes termosque o ato de filosofar contraria tanto a ideologização quanto amistificação, porque está atento à dimensão especificamentehistórica...”.

(Thomas R. Giles)

Assinale a alternativa que melhor reflete a proposição acima.a) O ato de filosofar se limita a uma simples contemplação ou

constatação dos fatos, excluindo qualquer engajamento.b) Filosofar é estar em contato constante com os fatos e com a

experiência desses fatos, numa atitude de radicalidade (no sentidode raiz, de profundidade) sempre renovada, à procura dos pressu -postos e dos fundamentos de uma realidade que se manifesta e seesconde.

c) A interioridade a que a Filosofia nos leva e para a qual nos conclamaé aquela de um eu isolado, contemplativo, absorto e distante domundo.

d) O ato de filosofar deve elaborar respostas rápidas e prontas, capazesde expor soluções práticas às questões fundamentais da existênciae da vida social.

e) A atividade de filosofar se distingue do ato próprio de viver, segundoo pressuposto de Sócrates.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

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3. Filósofos sempre tentaram definir o homem distinguindo-o dosoutros animais. Nesse sentido, podemos afirmar:I. O homem é um ser social, enquanto os outros animais não vivem

em sociedade.II. O homem tem uma grande capacidade de adaptação ao ambiente

geográfico e à alimentação.III. O homem produz cultura, que é um mundo especificamente

humano, sem o qual não conseguiria viver adequadamente. IV. O homem não é um ser livre, somente os animais verdadeiramente

o são.

São coerentes apenas:a) I e II b) II e III c) II e IV d) III e IV e) I e IV

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

4. A filosofia sempre procurou definir o homem distinguindo-o dosdemais animais. Avalie as proposições abaixo:I. O homem é um ser que consegue repousar sobre seu próprio

corpo, prova de seu acabamento biológico.II. O homem é um ser de linguagem articulada e inventiva.III. O homem é o único ser social.IV. O homem produz conhecimento e abordagens do real porque não

tolera o caos.

São coerentes:a) I e II b) I e III c) II e III d) I e IV e) II e IV

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

5. “Ao homem cabem indagações axiológicas, ou seja, valorativas”.Isso significa quea) o homem não tem escolhas diante de sua existência.b) o homem tem uma estrutura biológica inadequada para sobreviver

em qualquer ambiente geográfico.c) o homem porta em sua existência consciente uma dimensão moral.d) o homem não possui habilidades para refletir sobre a sua condição.e) o homem é indiferente diante do outro, de sua dor e sofrimento.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

6. Platão dizia que a filosofia nascera do espanto humano diante da vidae do Universo. A palavra espanto (thauma em grego) teria aqui o sentidodea) medo ou receio.b) perplexidade ou admiração.c) susto ou pavor.d) ignorância ou trevas.e) conhecimento ou esclarecimento.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

7. Platão dizia que a filosofia nascera do espanto humano diante da vidae do Universo. No sentido aqui empregado, o contrário de espanto – eque portanto não promoveria o ato de filosofar – poderia ser:a) preconceito. b) tranquilidade.c) indiferença. d) preocupação.e) senso comum.

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

8. Costuma-se dizer que a filosofia assume, por vezes, uma posturanegativa, no sentido de dizer não aos preconceitos, ao óbvio, ao sensocomum. Isso significa dizer quea) a filosofia é um conhecimento crítico.b) a filosofia é um conhecimento dogmático e rígido.c) a filosofia é pessimista.d) a filosofia não tem habilidade para refletir plenamente sobre a

existência e a condição humana.e) os filósofos querem elaborar um conhecimento semelhante ao

produzido pela ciências naturais, como a biologia e a física.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

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1. O homem, diferentemente de outras espécies, não se contenta emviver no mundo satisfazendo simplesmente suas necessidadesprimárias. O homem também sente a necessidade de:a) interpretar o mundo e de se adaptar a ele, criando a cultura.b) acumular capital, sendo naturalmente ambicioso.c) reproduzir-se sexualmente, dando continuidade à espécie.d) viver em sociedade, coisa observável apenas nessa espécie.e) dominar as outras espécies, garantindo, assim, a sua sobrevivência.

2. O conhecimento empírico, herdado pelo meio social, poucoquestionado, irrefletido, fragmentário, difuso, elaborado sem método ouqualquer sistema. A isso costuma-se chamar de:a) bom senso. b) cientificismo. c) senso comum.d) ideologia. e) reflexão filosófica.

3. “Os gregos antigos contavam com uma mitologia ampla e rica paraexplicar o universo e a realidade. Mas é na Grécia Antiga, maisespecificamente nas suas colônias (Jônica e Magna Grécia), no séculoVI a.C, que nasce a reflexão filosófica. Isso não decretou a morte dopensamento mítico, mas muitos filósofos rejeitavam os mitos eprocuravam dessacralizar a natureza, buscando entender como lógicosos processos naturais. Os mitos se baseavam em certezas”. No texto,o termo dessacralizar está relacionado:a) ao fato da cultura grega nunca ter sofrido qualquer influência de

outras culturas, como a oriental ou cristã.

b) ao fato de o politeísmo (muitos deuses) ser considerado um pecado,pois só o monoteísmo (um só Deus) constitui a racionalidade everdade das religiões.

c) à necessidade dos antigos gregos de interpretar o mundo de acordocom o advento do pensamento científico e rigoroso.

d) à vontade intelectual dos gregos de entender a natureza de formamais reflexiva, pois os mitos se baseavam em certezas dogmáticase não resultavam de processos reflexivos.

e) às exigências do Estado grego de subordinar a religião ao poderpolítico, o que resultou na formação de um Estado laico (que separaa esfera religiosa da política).

4. “Ao buscarem a racionalidade do universo, os filósofosdessacralizam a natureza”.Assinale a alternativa que complementa esta sentença.a) Os primeiros filósofos elaboraram um conhecimento metafísico,

portanto distante da experiência concreta com o mundo.b) Os filósofos gregos elaboraram um saber mítico que só foi

desmantelado com o advento da ciência na idade moderna.c) O sucesso tecnológico justifica a supervalorização da ciência e a

exclusão das outras formas de conhecimento ultrapassadas.d) A natureza nada tem de sagrado, pois a única filosofia possível é

aquela comprometida com uma visão materialista e não mítica.e) À medida que o mito deixa de ser uma forma abrangente de com -

preensão do real, o conhecimento se seculariza e a razão torna-seum instrumento de valor para a compreensão filosófica.

9. (ENEM)

TEXTO I

Anaxímenes de Mileto disse que o ar é o elemento originário de tudo oque existe, existiu e existirá, e que outras coisas provêm de suadescedência. Quando o ar se dilata, transforma-se em fogo, ao passoque os ventos são ar condensado. As nuvens formam-se a partir do arpor feltragem e, ainda mais condensadas, transformam-se em água. Aágua, quando mais condensada, transforma-se em terra, e quandocondensada ao máximo possível, transforma-se em pedras.

BURNET, J. A aurora da filosofia grega. Rio de Janeiro: PUC-Rio,2006 (adaptado).

TEXTO II

Basílio Magno, filósofo medieval, escreveu: “Deus, como criador detodas as coisas, está no princípio do mundo e dos tempos. Quão parcasde conteúdo se nos apresentam, em face desta concepção, asespeculações contraditórias dos filósofos, para os quais o mundo seorigina, ou de algum dos quatro elementos, como ensinam os Jônios,ou dos átomos, como julga Demócrito. Na verdade, dão impressão dequererem ancorar o mundo numa teia de aranha.”

GILSON, E.: BOEHNER, P. História da Filosofia Cristã. São Paulo:Vozes, 1991 (adaptado).

Filósofos dos diversos tempos históricos desenvolveram teses paraexplicar a origem do universo, a partir de uma explicação racional. Asteses de Anaxímenes, filósofo grego antigo, e de Basílio, filósofomedieval, têm em comum na sua fundamentação teorias quea) eram baseadas nas ciências da natureza.b) refutavam as teorias de filósofos da religião.c) tinham origem nos mitos das civilizações antigas.d) postulavam um princípio originário para o mundo.e) defendiam que Deus é o princípio de todas as coisas.

RESOLUÇÃO:

Os dois autores postulam que um princípio teria ori gi nado o

mundo: para Anaxímenes, seria o ar; en quanto para o medieval

Basílio Magno, seria Deus, em acordo com a concepção criacionista

cristã.

Resposta: D

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1) A 2) C 3) D 4) E

5) E 6) D 7) E

8) Do grego Filo: amor, Sofia: saber; portanto, o sentido da

palavra é “amor ao conhecimento”, conforme inclusive está

colocado no texto de Aristóteles.

9) Segundo o filósofo grego, a filosofia nasce somente em

sociedades desenvolvidas materialmente, ou seja, naquelas

em que já são oferecidos conforto e bem-estar.

10) A frase refere-se ao surgimento da reflexão filosófica na

Grécia Antiga, em que foi deixado de lado, em parte, o saber

dogmático, irrefletido, e substituído por um pensar coerente,

unitário e original.

11) O senso comum é um conhecimento empírico, herdado pelo

meio social, pouco questionado, elaborado sem método ou

qualquer sistema. O senso comum geralmente deve ser

transcendido para serem evitados julgamentos errados,

preconceituosos e pobres.

12) A competição, para Darwin, e a colaboracão, para Wilson,

funcionam como fatores da natureza evolutiva na sobrevivên -

cia da espécie humana.

Resposta: C

5. Passar do senso comum à consciência filosófica significa passar de

uma concepção fragmentária, incoerente, desarticulada, implícita,

degradada, para uma concepção:

a) mecânica e coerente. b) passiva e explícita.

c) simplista e intencional. d) ativa e dogmática.

e) original e cultivada.

6. “Os homens, no início, encontravam no assombro o motivo para

filosofar, porque no início eles se maravilhavam diante dos fenômenos

mais simples, dos quais não podiam dar-se conta, e depois, paula -

tinamente, passaram a estar diante de problemas mais complexos, co -

mo as condições da Lua e do Sol, as estrelas e a origem do universo”.

(Aristóteles)No texto, o termo assombro faz referência:

a) à impossibilidade de se encontrar respostas definitivas e verdadeiras

acerca do universo.

b) ao espanto e à perplexidade humana diante da complexidade do

mundo e da existência, o que a leva à reflexão.

c) ao mistério da vida, que só pode ser desvendado progressivamente

com o desenvolvimento científico.

d) à religião, que tem como objeto de entendimento o mistério do

mundo e da existência.

e) à necessidade humana de produzir os mitos que explicam, de fato,

a origem das coisas e do universo.

7. “Não há filosofia que se possa aprender; só se aprende a filosofar”.

(I. Kant)

A frase do filósofo Kant pretende afirmar que:

a) a filosofia deve ser um conhecimento fechado, lógico e dogmático

(indiscutível).

b) a filosofia é, na verdade, uma doutrina que estabelece respostas e

verdades.

c) a filosofia não é um conhecimento coerente, tampouco lógico,

necessitando grande flexibilidade de interpretação, como acontece

com a arte.

d) a filosofia é um conjunto de ideias que foram expostas pelos gregos

do passado e hoje constitui uma ideologia.

e) o ato de filosofar implica autonomia de pensamento, ou seja, não se

trata de uma ideologia fechada ou de uma doutrina dogmática.

8. Pesquise o sentido e a origem do termo filosofia.

9. Como, no texto, Aristóteles argumenta contra a ideia de que a filo so -fia teria nascido em razão da necessidade de sobrevivência dos homens?

10.“O conhecimento filosófico não é dado pelos deuses, mas procuradopelos homens.” (Maria Lúcia de Arruda Aranha).Qual o sentido dessa frase?

11.Explique o senso comum e fale sobre a sua limitação.

12.(UNESP) – Encontrar explicações convincentes para a origem e aevolução da vida sempre foi uma obsessão para os cientistas. Acompetição constante, embora muitas vezes silenciosa, entre osindivíduos, teria preservado as melhores linhagens, afirmava CharlesDarwin. Assim, um ser vivo com uma mutação favorável para asobrevivência da espécie teria mais chances de sobreviver e espalharessa característica para as futuras gerações. Ao fim, sobreviveriam osmais fortes, como interpretou o filósofo Herbert Spencer. Um século emeio depois, um biólogo americano agita a comunidade científicainterna cional ao ousar complementar a teoria da seleção darwinista.Segundo Edward Wilson, da Universidade de Harvard, o processoevolutivo é mais bem-sucedido em sociedades nas quais os indivíduoscolaboram uns com os outros para um objetivo comum. Assim, gruposde pessoas, empresas e até países que agem pensando em benefíciodos outros e de forma coletiva alcançam mais sucesso, segundo oamericano.

(Rachel Costa. O poder da generosidade. IstoÉ. 11.05.2012.Adaptado)

Embora divergentes no que se refere aos fatores que explicam aevolução da espécie humana, ambas as teorias, de Darwin e de Wilson,apresentam como ponto comum a concepção de que a) influências religiosas e metafísicas são o principal veículo no

processo evolutivo humano ao longo do tempo.b) são os condicionamentos psicológicos que infuenciam de maneira

decisiva o progresso na história.c) a sobrevivência da espécie humana ao longo da história é explicada

pela primazia de fatores de natureza evolutiva.d) os fatores econômicos e materiais são os principais responsáveis

pelas transformações históricas.e) os fatores intelectuais são os principais responsáveis pelo sucesso

dos homens em dominar a natureza.

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“Deve-se exigir de mim que procure a verdade, mas não que a encontre” –

Diderot (1713 – 1784), Pensamentos Filosóficos.

“Não exageres o culto da verdade, não há homem queao fim de um dia não tenha mentido com razão

muitas vezes” –

Jorge Luis Borges (1899), Elogio da Sombra.

1. Introdução

A busca por uma Verdade universalmente válida temsido um dos motores da história do pensamento filo -sófico. Muitos veem nisso, como Nietzsche (1844-1900),uma obsessão desvairada e sem sentido. Outros, osrelativistas, afirmam que não há Verdade, mas pequenasverdades de valor particular, sem qualquer vocação deaplicação universal.

Trata-se do mais polêmico tema filosófico e umtratamento baseado no senso comum compromete aqualidade da discussão.

Protágoras, filósofo sofista da Antiga Grécia.

Na Antiga Grécia, o problema já estava presente. Ossofistas eram filósofos mestres em persuasão e o maisfamoso foi Protágoras (485-410 a.C.). Esses sábiospensadores eram itinerantes, ou seja, viajavam muito, etiveram, portanto, contato com povos diferentes e comconcepções diversas de realidade e verdade. Assim,chegaram à conclusão de que não havia uma verdadeuniversal. Do outro lado, temos a posição de Sócrates, jácitado na aula anterior. Sócrates jamais saíra de Atenas,hoje capital da Grécia, e não achava que precisasse viajarpara adquirir sabedoria, pois essa se encontrava exata -mente dentro do homem. Em Atenas, muitos jovensbuscavam o filósofo na via pública para aprender.Interpelava transeuntes e fazia tantas per gun tas que, nofinal, eles reconheciam a própria ignorância; para Sócrates,é exatamente no reconheci mento da própria ignorânciaque começa o caminho para a sa bedoria. Só sei que nadasei é uma frase que foi atribuída a ele. Nada escreveu,como Jesus, e seus ensina mentos foram registradospelos discípulos, particular mente por Platão. Sua peda go -gia foi chamada de Maiêutica, ou seja, relativo ao parto,pois, como um parteiro, ajudava a sabedoria nascer dedentro dos seus alunos. A Verdade, então, viria à luz.

Sócrates, filósofo grego que acreditava que a verdade estava dentro dohomem.

MÓDULO 2 A Busca da Verdade

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Texto Filosófico Antigo

Sócrates: Protágoras afirma que a medida de todasas coisas é o homem: daquelas coisas que são, pelo quesão, daquelas que não são, pelo que não são, entendendopor medida a norma de juízo e por coisas o fato geral.Logo o homem é a norma que julga todos os fatos:daqueles que são pelo que são, daqueles que não sãopelo que não são. Por isso, ele admite somente aquiloque parece a cada indivíduo, introduzindo, dessa forma, oprincípio de relatividade. Segundo ele, portanto, quemjulga as coisas é o homem. De fato, tudo o que pareceaos homens também é; e o que não parece a nenhumhomem tampouco é...

Protágoras: Eu afirmo, sim, que a verdade é mesmocomo escrevi: que cada um de nós é a medida das coisasque são e que não são; mas existe uma diferença infinitaentre homem e homem, e exatamente por isso as coisasparecem e são de um jeito para uma pessoa e, de outrojeito, para outra pessoa.

(Fonte: Platão, Teeteto)

Texto moderno

E se o Relativismo fosse verdade – Uma ilustração

(Matthew J. Slick - Tradução: Hamilton B. Furtado)

Relativismo é a posição em que todos os pontos devista são tão válidos quanto quaisquer outros e em que oindivíduo é a medida do que é verdade para si.

Eu vejo um grande problema nisso. A seguir está umailustração para demonstrar por quê.

O contexto: um ladrão está sondando uma joalheria afim de roubá-la. Ele entra para checar se há algum alarmevisível, fechaduras, o espaço etc. Neste pro cesso eleinesperadamente se vê envolvido em uma discussão como proprietário da joalheria, cujo passa tempo é o estudode filosofia e que acredita que a verdade e a moral sãorelativas.

– Então – diz o proprietário – Tudo é relativo. É porisso que eu acredito que toda a moral não é absoluta éque certo e errado é algo que o indivíduo deve deter mi nardentro dos limites da sociedade. Mas não há um certo eerrado absoluto.

– É uma perspectiva muito interessante – diz o ladrão. – Eu entrei acreditando que existia um Deus e que

existia certo e errado. Mas eu abandonei tudo isso econcordo com você que não existe um certo e erradoabsoluto e que nós somos livres para fazer o que queremos.

O ladrão deixa a loja e volta à tarde para assaltar. Eledesarma todos os alarmes e travas e está no processo deroubar a loja. Neste momento entra o proprietário por umaporta lateral. O ladrão saca uma arma. O proprietário nãopode ver a face do ladrão porque este usa uma máscarade esqui.

– Não atire em mim – diz o proprietário. – Por favor,pegue o que quiser e me deixe em paz.

– É exatamente isso que eu pretendo fazer. – Diz oladrão.

– Espere um pouco. Eu conheço você. Você é o homemque estava na loja hoje cedo. Eu reconheço sua voz.

– Isso é muito ruim para você – diz o ladrão. – Porqueagora você também sabe como eu sou. E como eu nãoquero ir para a cadeia eu vou ter que matar você.

– Você não pode fazer isso – diz o proprietário.– Por que não?– Porque não é certo – implora o homem, deses perado.– Mas você não me disse hoje cedo que não há um

certo e errado? – Sim, mas eu tenho uma família, filhos que precisam

de mim e uma esposa. – E daí? Eu tenho certeza que você tem seguro e eles

vão faturar um bom dinheiro. Mas como não há certo ouerrado não faz diferença se eu mato ou não você. E já quese eu deixá-lo vivo você irá me delatar e eu irei para aprisão. Lamento, mas isso não vai acontecer.

– Mas é um crime contra a sociedade me matar.– Isso é errado porque a sociedade diz que é. Como

você pode ver, eu não reconheço o direito da sociedadeimpor moralidade sobre mim. Tudo é relativo. Lembra-se?

– Por favor, não atire em mim. Eu lhe imploro. Euprometo não contar para ninguém como você é. Eu juro!

– Eu não acredito em você e não posso arriscar.– Mas é verdade! Eu juro que não conto para

ninguém.– Desculpe, mas isso não pode ser verdade, porque

não há verdade absoluta, não há certo nem errado, nemerro, lembra-se? Se eu deixar você viver e sair você vaiquebrar sua promessa porque isso tudo é relativo. Não háchance de confiar em você. Nossa conversa esta manhãconvenceu-me que você acredita que tudo é relativo. Porcausa disso eu não posso crer que você irá conservar suapalavra. Eu não posso confiar em você.

– Mas é errado me matar. Não está certo! – Para mim não é nem certo nem errado matar você.

Uma vez que a verdade é relativa ao indivíduo, se eumatar você, esta é a minha verdade. E é obviamenteverdadeiro que se eu deixá-lo vivo eu irei para a prisão.Lamento, mas você mesmo se matou.

– Não! Por favor, não atire em mim. Eu lhe imploro.– Implorar não faz diferença. (Bang!)Se o relativismo é verdadeiro, então qual o problema

em puxar o gatilho?Talvez alguém possa dizer que é errado tirar a vida de

outra pessoa sem necessidade. Mas porque seria erradose não há um padrão de certo e errado?Outros podemdizer que é um crime contra a sociedade. Mas, e daí? Seo que é verdade para você é simplesmente verdade,então qual é o erro em matar alguém para se protegerdepois de roubá-lo? Se o que é verdade para você quepara se proteger você deve matar, então quem se importacom o que a sociedade diz? Por que alguém seriaobrigado a se conformar com normas sociais? Agir assimé uma decisão pessoal.

Embora nem todos os relativistas ajam de maneiranão-ética, eu vejo o relativismo como um contribuidorpara a anarquia geral. Por quê? Porque é uma justificaçãopara fazer o que você quiser.

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O sentido grego. Sobre Sócrates

O sentido grego

Em grego, a palavra para ‘verdade’ é aletheia esignifica o não oculto, não escondido, não dissimulado.O verdadeiro é o que se manifesta aos olhos do corpo edo espírito, a verdade é a manifestação daquilo que é ouexiste tal como é. O verdadeiro, neste sentido, se opõeao falso, pseudos, que é o encoberto, o escondido, odissimulado, o que parece ser e não é como parece.Verdadeiro é o evidente, numa acepção quase ‘visual’ dapalavra; o ‘verdadeiro’ é claro, delineado, estruturado,visível.

Assim, a verdade é uma qualidade das próprias coisase o verdadeiro está nas próprias coisas. Conhecer é ver edizer a verdade que está na própria realidade e, portanto,a verdade depende de que a realidade se manifeste,enquanto a falsidade depende de que ela se esconda ouse dissimule em aparências.

Sobre Sócrates

Detalhes sobre a vida de Sócrates derivam de trêsfontes contemporâneas: os diálogos de Platão, as peçasde Aristófanes e os diálogos de Xenofonte. Não háevidência de que Sócrates tenha ele mesmo publicadoalguma obra. As obras de Aristófanes retratam Sócratescomo um personagem cômico e sua representação nãodeve ser levada ao pé da letra.

Sócrates casou-se com Xântipe, que era bem maisjovem que ele, e teve três filhos: Lamprocles, Sophronis -cus e Menexenus. Seu amigo Críton criticou-o por terabandonado seus filhos quando ele se recusou a tentarescapar antes de sua execução, mostrando que ele(assim como seus outros discípulos) parece não terentendido a mensagem que Sócrates tenta passar sobrea morte (diálogo Fédon), antes de ser executado.

Não se sabe ao certo qual o trabalho de Sócrates, seé que houve outro além da Filosofia. De acordo comalgumas fontes, Sócrates aprendeu a profissão depedreiro com seu pai. Na obra de Xenofonte, Sócratesaparece declarando que se dedicava àquilo que eleconsiderava a arte ou ocupação mais importante: debaterfilosofia. Platão afirma que Sócrates não recebiapagamento por suas aulas. Sua pobreza era prova de quenão era um professor. Várias fontes, inclusive os diálogosde Platão, mencionam que Sócrates tinha participado noexército em várias batalhas. Na Apologia, Sócratescompara seu período no serviço militar a seus problemasno tribunal, e diz que qualquer pessoa no júri que imagine

que ele deveria se retirar da filosofia deveria tambémimaginar que os soldados devessem bater em retiradaquando era provável que pudessem morrer em umabatalha. Algumas curiosidades: Sócrates costumavacaminhar descalço e não tinha o hábito de tomar banho.Em certas ocasiões, parava o que quer que estivessefazendo, ficando imóvel por horas, meditando sobrealgum problema. Certa vez o fez descalço sobre a neve,segundo os escritos de Platão, o que demonstra o caráterlegendário da figura socrática.

As crenças de Sócrates, em comparação às dePlatão, são difíceis de discernir. Há poucas distinçõesentre as duas ideias filosóficas. Consequentemente,diferenciar as crenças filosóficas de Sócrates, Platão eXenofonte é uma tarefa árdua e deve-se sempre lembrarque o que é atribuído a Sócrates pode refletir o pensa -mento dos outros autores.

Se algo pode ser dito sobre as ideias de Sócrates éque ele foi moralmente, intelectualmente e filosofica -mente diferente de seus contemporâneos atenienses.Quando estava sendo julgado por heresia e por corrom pera juventude, usou seu método de elenchos parademonstrar as crenças errôneas de seus julgadores.Sócrates acreditava na imortalidade da alma e que teriarecebido, em um certo momento de sua vida, umamissão especial do deus Apolo. Sócrates também duvi da -va da ideia sofista de que a arete (virtude) podia serensinada. Acreditava que a excelência moral é umaquestão de divindade e não de parentesco, pois paismoralmente perfeitos não tinham filhos semelhantes aeles. Isso talvez tenha sido a causa de não ter seimportado muito com o futuro de seus próprios filhos.Sócrates frequentemente diz que suas ideias não sãopróprias, mas de seus professores, entre eles Pródico eAnaxágoras de Clazômenas.

Sócrates apontando para o alto, sereno, no leito de morte.

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1. Platão afirmava que Sócrates não recebia pagamento por suas aulas.Sua pobreza era prova de que não era um professor. Isso indica que,para Sócrates,a) o conhecimento não era suficiente para ser considerado professor.b) a sabedoria não era comerciável e condenava os sofistas por

cobrarem por suas aulas.c) as aulas, que eram ministradas nas ruas de Atenas, e não numa

escola, não deveriam ser cobradas.d) o conhecimento era para os pobres e não para os ricos.e) a filosofia não era uma profissão, mas uma religião.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

2. Na Apologia, Sócrates compara seu período no serviço militar a seusproblemas no tribunal, e diz que qualquer pessoa no júri que imagineque ele deveria retirar-se da filosofia deveria também imaginar que ossoldados devessem bater em retirada quando fosse provável quemorressem em uma batalha.Vê-se nessa afirmação:I. O grande valor que a verdade tinha para Sócrates.II. O posicionamento relativista desse grande filósofo.III. Que foi no serviço militar que Sócrates se tornou filósofo.IV. A coerência moral desse filósofo atenienseSão verdadeiras apenas:a) I e II b) I e III c) II e III d) I e IV e) II e IV

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

3. Não existe um critério de juízo objetivo: toda verdade é verdade paraum sujeito. Cada indivíduo percebe o mundo à sua maneira. Segundoele, até os diferentes sabores que os homens experimentam nosalimentos constituem uma prova do subjetivismo perceptivo, nãopodendo servir como critério de sabedoria. Sobre essa ideia, podemosafirmar:I. Trata-se do pensamento de Sócrates.II. Trata-se do pensamento de Protágoras.III. Revela que o homem é a medida de todas as coisas.IV. O subjetivismo significa que a verdade é interna e universal.São verdadeiras apenas:a) I e III b) II e III c) I e IV d) III e IV e) I e II

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

4. Se toda verdade é relativa, isso também é relativo. Essa frase tentademonstrara) a coerência do relativismob) o absurdo de se acreditar numa única verdade.c) o paradoxo do relativismo.d) de que só existe uma verdade.e) de que não há verdades relativas.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

5. A imagem de Jacques-Louis David mostra

a) a serenidade de Sócrates antes de sua morte. b) uma pregação de Sócrates.c) a indignação de Sócrates diante da condenação à morte.d) uma reunião de Sócrates e seus discípulos.e) o confronto entre sócrates e Protágora.s

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

6. A gravura de Escher, entrando um pouco na filosofia, sugere

a) que o homem reflete sobre sua própria condição.b) que o homem deforma a realidade por meio do conhecimento.c) que a ciência é o único conhecimento que retrata fielmente a

realidade.d) que a reflexão filosófica não permite a exposição do sujeito. e) que a única função da filosofia é promover o autoconhecimento.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

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7. “Sócrates (470-399 a. C.) afirmara que uma existência sem reflexãonão valeria a pena e sabemos hoje que, num mundo pragmático, numacultura marcada pelo constante culto ao vazio, muitas pessoas preferemnão refletir, abrem mão desse privilégio ou mesmo desse risco”. Otermo “risco” aqui utilizado refere-sea) ao fato de que a reflexão pode desembocar em alguma forma de

patologia e isolamento social.b) ao fato de que a reflexão é sempre imprecisa, podendo recorrer ao

senso comum.c) ao fato de que a reflexão consciente nos mobiliza e então nos vemos

sair da nossa zona de conforto, momento em que transcendemos osenso comum.

d) ao fato de que a reflexão filosófica não se insere numa daspossibilidades de sobrevivência material e sucesso econômico.

e) ao fato de a filosofia não se apropriar dos métodos científicos, maiscoerentes e autênticos.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

8. “Não exageres o culto da verdade, não há homem que ao fim de umdia não tenha mentido com razão muitas vezes” – (Jorge Luis Borges).Pensando em moral ou ética, poderíamos dizer que a frase do escritorargentino Borges, de certa forma,a) relacionou a verdade e a ética, mostrando que uma não existe sem

a outra.b) revelou que o escritor era um relativista e portanto não cria em

verdades universais.c) relativizou a importância acerca da verdade, pois, algumas vezes,

mentir pode ter uma justificativa.d) dissociou verdade e razão.e) revelou que o escritor era antiético.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

1. Na antiga Grécia, os sofistas:a) Eram mestres da retórica e da persuasão.b) Seguiam a escola filosófica de Sócrates.c) Assumiam uma postura relativista.d) Raramente saíam de Atenas, pois achavam que não precisavam

viajar para encontrar a verdade. e) São verdadeiras apenas:a) I e II. b) I e III. c) II e IV. d) II e III. e) I e IV.

2. No debate entre Protágoras e Sócrates, podemos afirmar que:a) Para o sofista Protágoras, há uma verdade e ela está dentro dos

homens.b) Sócrates incitava seus alunos a viajarem muito para encontrar a

verdade.c) Protágoras via o homem como portador de uma dimensão moral

interior.d) Para Sócrates, existiam apenas verdades relativas e culturais.e) A maiêutica (parto) socrática era o exercício filosófico de trazer à luz

a verdade de dentro do homem.

3. Assinale a alternativa que expõe corretamente o sentido dapedagogia socrática da maiêutica.a) Maiêutica é a pedagogia expositiva, em que o mestre expõe aos

discípulos suas ideias e princípios.b) Maiêutica é a exposição pelos sermões religiosos e filosóficos.c) Maiêutica é a prática de viajar para buscar a verdade.

d) Maiêutica é a pedagogia do “parto”, no sentido de fazer nascer averdade de dentro do homem através da dialética (diálogo)

e) Maiêutica é a pedagogia que considera o aluno uma tábula rasa, umpapel em branco e, assim, transmite-se o conhecimento de formaunidirecional.

4. “Sócrates: Protágoras afirma que a medida de todas as coisas é ohomem: daquelas coisas que são, pelo que são, daquelas que não são,pelo que não são, entendendo por medida a norma de juízo e por coisaso fato geral. Logo o homem é a norma que julga todos os fatos: daquelesque são pelo que são, daqueles que não são pelo que não são. Por isso,ele admite somente aquilo que parece a cada indivíduo, introduzindo,dessa forma, o princípio de relatividade. Segundo ele, portanto, quemjulga as coisas é o homem. De fato, tudo o que parece aos homenstambém é; e o que não parece a nenhum homem tampouco é...”(Platão, Teeteto)Sobre a colocação de Sócrates, podemos afirmar que:a) Sócrates concordará com Protágoras, pois de fato o homem é a

medida de todas as coisas.b) Sócrates deverá concordar com Protágoras, pois um foi discípulo do

outro.c) Sócrates não concordará com o relativismo de Protágoras.d) Sócrates afirmará que Protágoras não foi relativista o suficiente para

considerá-lo seu discípulo.e) Sócrates era sofista e, portanto, não podia concordar com a

colocação de Protágoras.

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5. Sócrates foi condenado a tomar a cicuta (veneno) por influenciarnegativamente os jovens. Sócrates teve a oportunidade de fugir e evitara sua morte, porém optou por envenenar-se. Assinale a alternativa quemelhor explica o gesto do filósofo grego.a) Ao tomar o veneno, pretendeu ensinar a obediência ao poder públi -

co.b) Pretendia provar a sua coragem como último ensinamento.c) Como Jesus, desejou cumprir as escrituras.d) Uma fuga poderia significar uma negação (ou uma renúncia) de tudo

quanto ensinara.e) Pretendia com esse gesto fundar uma religião.

6. Leia o texto e assinale a alternativa que melhor completa a frase deMatthew J. Slick. “Embora nem todos os relativistas ajam de maneiranão-ética, eu vejo o relativismo como um contribuidor para a anarquiageral. Por quê?” a) Porque é uma justificação para fazer o que se quer.b) Porque torna o homem intolerante para com a “verdade de cada

um”.c) Porque fomenta conflitos e guerras entre os povos.d) Porque essa postura cai no fundamentalismo que dificulta a

compreensão de outros pontos de vista.e) Porque se trata de uma postura radical e alimenta os conflitos

especificamente religiosos e políticos.

7. Assinale a alternativa que completa corretamente a frase abaixo:

Em Atenas, muitos jovens buscavam Sócrates na via pública para

aprender. O filósofo interpelava os transeuntes e fazia tantas perguntas

que, no final, eles reconheciam a própria ignorância e, para Sócrates,…

a) é exatamente no reconhecimento da própria ignorância que

começava o caminho para a sabedoria.

b) as pessoas eram desprovidas da verdade.

c) as pessoas que reconhecessem a própria ignorância não estavam

habilitadas para adquirir o conhecimento.

d) somente as inteligências mais aguçadas teriam acesso à verdade.

e) toda verdade é relativa.

8. “... existe uma diferença infinita entre homem e homem...”

(Protágoras). A frase do filósofo refere-se:

a) à verdade única que está dentro do Homem, concebido abstra -

tamente.

b) ao universo íntimo do homem, em que vive latente a verdade.

c) à universalidade da busca de uma verdade única.

d) ao relativismo que é atribuído aos sofistas.

e) à impossibilidade de duas pessoas se parecerem entre si.

9. “É por isso que eu acredito que toda a moral não é absoluta e quecerto e errado é algo que o indivíduo deve determinar dentro dos limitesda sociedade. Mas não há um certo e errado absoluto”. Isso significaque para quem tivesse pronunciado tais palavras:a) Existe uma verdade universal.b) Não existem verdades relativas.c) A moral não tem qualquer relação com a cultura.d) Não há verdades produzidas pelos homens.e) Toda verdade é relativa.

10.O texto de Matthew Slick compactua com a postura filosófica deProtágoras ou de Sócrates? Justifique.

11.Se toda verdade é relativa, isso também é relativo. Comente osentido dessa frase.

12.Qual é o sentido da expressão de Protágoras: o homem é a medidade todas as coisas?

13.Explique a Maiêutica socrática.

14.Explique o sentido grego da palavra aletheia.

1) B 2) E 3) D 4) C 5) D

6) A 7) A 8) D 9) E

10) Com a de Sócrates, pois o texto critica o relativismo, segundo

o qual não há uma verdade universalmente válida; esta era a

postura de Protágoras, para quem o homem era a medida de

todas as coisas.

11) A frase denuncia uma contradição do relativismo, pois afirmar

que tudo é relativo parece uma verdade muito rígida, o que

não combina com a pregação aparentemente democrática

dos relativistas. Claro que há pequenas verdades pessoais,

culturais e historicamente construídas, mas alguns filósofos

reivindicam verdades éticas, morais, humanitárias ou mesmo

religiosas (metafísicas), de aplicação universal.

12) Para Protágoras, não existe um critério de juízo objetivo: toda

verdade é verdade para um sujeito. Cada indivíduo percebe o

mundo à sua maneira. Segundo ele, até os diferentes sabores

que os homens experimentam nos alimentos constituem uma

prova do subjetivismo perceptivo, não podendo servir como

critério de sabedoria.

13) Para Sócrates, a verdade se encontrava dentro do homem, e

sua pedagogia consistia em trazer à luz essa verdade,

desvelá-la. Maiêutica significa o que é relativo ao parto.

14) Aletheia significa o não oculto, não escondido, não

dissimulado. O verdadeiro é o que se manifesta aos olhos do

corpo e do espírito, a verdade é a manifestação daquilo que é

ou existe tal como é. Assim, a verdade é uma qualidade das

próprias coisas e o verdadeiro está nas próprias coisas.

Conhecer é ver e dizer a verdade que está na própria realidade

e, portanto, a verdade depende de que a realidade se

manifeste, enquanto a falsidade depende de que ela se

esconda ou se dissimule em palavras.

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PLATÃO E A REPÚBLICA

1. Introdução

Platão nasceu em Atenas, provavelmente em 427 a.C. e morreu em 347 a.C. É considerado um dosmais impor tantes filósofos gregos, e influenciou profunda -mente a forma de ver o mundo no ocidental. Toda a suafilosofia se fundamentou na divisão do mundo em duasrealida des: o das coisas sensíveis (mundo das ideias e ainteligência) e das coisas visíveis (seres vivos e a matéria).

Platão procedia de uma família de aristocratas evangloriava-se dos antepassados. Iniciou seus estudosem filosofia quando tinha vinte e nove anos de idade econheceu seu mestre Sócrates. Fundou a Academia, umaescola de filosofia com o propósito de recuperar edesenvolver as ideias e pensamentos socráticos.Convidado pelo rei Dionísio, passou um tempo emSiracusa, ensinando filosofia na corte.

Voltou para Atenas para administrar a Academia, ondedesenvolveu estudos em matemática, ciências, retóricae filosofia. Escreveu importantes e imortais obras, como:Apologia de Sócrates, em que valoriza os pensamentosdo mestre; O Banquete, em que fala sobre o amor deuma forma dialética; e A República, em que analisa apolítica grega, a ética, o funcionamento das cidades, acidadania e questões sobre a imortalidade da alma.Considerava a política uma decorrência natural da filosofiae acreditava que o poder estava reservado aos sábios.

Platão valorizava os métodos de debate e diálogocomo formas de alcançar o conhecimento. Para ele, osalunos deveriam descobrir as coisas superando osproblemas impostos pela vida e o objetivo maior daeducação era o desenvolvimento do homem moral.

Platão deixou influências culturais em todo o Ocidente.

O famoso Mito da Caverna é narrado por Platão nolivro VII da República. Trata-se de uma metáfora filosóficaque já teve várias interpretações, mas possui um sentidouniversal e profundo que descreve a condição da exis -tência humana. Para o filósofo, todos nós estamoscondenados a ver sombras à nossa frente e tomá-lascomo verdadeiras. Essa poderosa crítica à condição doshomens, escrita há quase 2500 anos atrás, inspirou eainda inspira inúmeras reflexões. Uma delas é o livro ACaverna, do escritor português José Saramago.Platão enxergava na humanidade numa condição infeliz.Imaginou os homens todos aprisionados numa caverna eimobilizados, obrigados a olharem sempre a parede emfrente. Então o que veriam? O bruxuleio das sombras dosobjetos e animais, por conta de uma luminosidade vindadetrás. Assim, os homens acreditavam que as imagensfantasmagóricas que apareciam aos seus olhos (quePlatão chama de ídolos) eram verdadeiras, tomando oespectro pela realidade. A sua existência era, pois,totalmente dominada pela ignorância (agnóia).

Imagem de Mats Halldin. O mito da caverna é uma alegoria da condiçãode ignorância dos homens.

2. O Mito

Imaginemos uma caverna separada do mundoexterno por um muro alto. Entre o muro e o chão dacaverna há uma fresta por onde passa um fino feixe de luzexterior, deixando a caverna na obscuridade quasecompleta. Desde o nascimento, geração após geração,

Platão e a República Aristóteles e o Pensamento LógicoMÓDULO 3

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seres humanos encontram-se ali, de costas para aentrada, acorrentados, sem poder mover a cabeça nemse locomover, forçados a olhar apenas a parede do fundo,vivendo sem nunca ter visto o mundo exterior nem a luzdo sol, sem jamais ter efetivamente visto uns aos outros,nem a si mesmos, apenas suas sombras e as dos outros,porque estão no escuro e imo bilizados. Abaixo do muro,do lado de dentro da caverna, há um fogo que iluminavagamente o interior sombrio e faz com que tudo o quese passa do lado de fora seja projetado como sombra nasparedes do fundo da caverna. Do lado de fora, pessoaspassam conver sando e carregando nos ombros figurasou imagens de homens, mulheres e animais cujassombras também são projetadas na parede da caverna,como num teatro de fantoches. Os prisioneiros julgamque as sombras, os sons de suas falas e as imagens quetransportam nos ombros são as próprias coisas externas,e que os artefatos projetados são seres vivos que semovem e falam.

Um dos prisioneiros, inconformado com a condiçãoem que se encontra, decide abandonar a caverna. Fa bricaum instrumento com o qual quebra os grilhões. De início,move a cabeça, depois o corpo todo; a seguir, avança nadireção do muro e o escala. Enfrentando os obstáculosde um caminho íngreme e difícil, sai da caverna. No pri -mei ro instante, fica totalmente cego pela luminosidadedo sol, com a qual seus olhos não estão acostumados.Enche-se de dor por causa dos movimentos que seucorpo realiza pela primeira vez e pelo ofuscamento deseus olhos sob a luz externa, muito mais forte do que ofraco brilho do fogo que havia no interior da caverna.Sente-se dividido entre a incre dulidade e o deslumbra -mento.

Ao permanecer no exterior, o prisioneiro, aos poucos,se habitua à luz e começa a ver o mundo. Encanta-se, tema felicidade de ver a realidade, descobrindo que estiveraprisioneiro a vida toda e que em sua prisão vira apenassombras. Doravante, desejará ficar longe da caverna parasempre e lutará com todas as forças para jamais regressara ela. No entanto não pode deixar de lastimar a sorte dosoutros prisioneiros e, por fim, toma a difícil decisão deregressar ao subterrâneo sombrio para contar aos demaiso que viu e convencê-los a se libertarem também.

Só que os demais prisioneiros zombam dele, nãoacreditando em suas palavras e, se não conseguem silen -ciá-lo com suas caçoadas, tentam fazê-lo espan cando-o.Se mesmo assim ele teima em afirmar o que viu e osconvida a sair da caverna, certamente acabam por matá-lo. Mas quem sabe alguns podem ouvi-lo e, contra avontade dos demais, também decidir sair da cavernarumo à realidade?

3. A República de Platão (Resumo)

Quem nunca construiu em sua mente uma sociedadeperfeita, infalível em funcionamento e estrutura? Todosos que almejam mais de si mesmo e do mundo devemter se rendido à técnica da idealização. Platão faz omesmo em sua República. Idealiza uma sociedadeperfeita, harmônica, simbiótica. Para isso lança mão daalegoria da caverna, que põe em xeque um par dedistinções muito ligado à natureza da alma do serhumano: é o par essência e aparência, repre sen tadas,respectivamente, pelo mundo inteligível e pelo mundosensível. Platão utiliza, para desenvolver a dicotomiaaparência/ideias, dois mecanismos bastante peculiares eacessórios ao desenvolvimento retórico-filosófico, asaber: a dialética e a alegoria, cuja conceituação se daráa seguir. A dialética é, segundo Platão, o único meio delevar o filósofo até o Bem, já que consiste em estender oslimites lógicos das reflexões filosófico-ideológicas. Este“estender” implica submeter o próprio pensamento àsopiniões e/ou contradições de outrem, justamente o queacontece n’A República, em que há um constante diálogoentre, por exemplo, Só crates e Glauco. Já a alegoriarepresenta um papel ainda mais relevante na difusão doaxioma filosófico proposto. Conceituada, grosso modo,como um conjunto interli gado de metáforas, ela semanifesta de maneira mais relevante no “mito dacaverna” (livro VII). Nele, Platão cria dois planos: “acaverna” e “o dia”, cada qual com seus elementosespecíficos. A caverna, que representa o mundo sensível,é composta pelos seguintes elementos: a sombra dasmarionetes, as marionetes e o fogo (respectivamenterepresentando as sombras do real, a realidade e o Sol). Odia (metáfora do mundo inteligível), por sua vez, tambémé composto por três elementos, sendo eles as sombrase reflexos, a realidade e o Sol (que representam, tambémrespectivamente, as sombras das ideias, as ideiaspropriamente ditas e o Bem). Construída esta alegoria,Platão ressalta a necessidade de sair da caverna econtemplar o Sol, ou seja, de libertar-se das falsasrealidades, conhecer por inteiro as realidades palpáveis,partir em busca das ideias e, finalmente, atingir o Bem.Platão privilegia a filosofia em detrimento da poesia. Opensamento platônico deixa claro que tornar-se umfilósofo não é tarefa das mais fáceis, pois exige odesapego das coisas subjetivas e piegas e exige odirecionamento da atenção fundamentalmente para omundo inteligível. Se apenas os filósofos podem alcançareste grau absoluto de verdade, conclui-se que só mesmoeles podem orientar os que ainda não conseguiram “sairda caverna e con templar o Sol”. Desta forma, cabe a eles,na so ciedade perfeita de Platão, ocupar o posto dedirigentes, con trolando desde os contribuintes para o bem

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material até os encarregados da proteção e defesa da jámencionada cidade. Por outro lado, o poeta não pode riaser um constituinte da cidade perfeita, visto que está atrês passos da realidade (já que sua produção espelha-sena sombra da realidade). Por estar tão distante do mundointeligível, sua obra nos revela apenas a aparência eapresenta uma descrição, sobretudo dos aspectostrágicos e taciturnos da natureza humana, o que, porconseguinte, corrompe a alma. O poeta, em suma, é duasvezes ilusório, visto que não imita o mundo ima nente, esim apenas o mundo sensível. Isso não quer dizer,contudo, que a poesia deveria ser totalmente descartada.O pensamento platônico impu nha que o aprimoramentoda educação dos guardiões deveria ser feito através de“ginástica para o corpo e música para a alma”. Destaforma, urgia a necessidade de selecionar o conteúdo dasletras das músicas, uma vez que elas poderiam conterapenas parte da verdade. A poesia poderia, sim, serutilizada com fins educativos, desde que não disseminas -sem concepções deturpadas da realidade. O própriofilósofo admite a utilidade de poetas como Homero, queexaltou o grego do passado e transmitiu às geraçõesposteriores um grande exemplo de procedimento que levaao Bem. Todavia, obras, por exemplo, como a Ilíada, queatribuía aos deu ses tanto o bem quanto o mal, deveriamser termi nantemente descar tadas. Não obstante apossibilidade de utilização da poesia com fins educativos,Platão deixa transparecer o desejo de substituição dapoesia pela filosofia como meio didático, pois somenteesta última pode nos revelar, na sua forma dialética, o quesão, de fato, as realidades verdadeiras.

(Disponível em: <www.logosofia.org.br>.)

Academia de Platão da Vila de T. Siminus Sephanus, Pompeia (I a.C.)

4. Excertos de A República, de Platão

SÓCRATES – Reflete agora sobre o que te vou dizer.Qual é o objeto da pintura? O de representar o que é, talqual é, ou o que parece, tal qual parece? Imita a aparênciaou a realidade?

GLAUCO – A aparência.

SÓCRATES – Logo, a arte de imitar está muitoafastada do verdadeiro; e a razão por que faz tantas coisasé que só toma uma pequena parte de cada uma, e estamesmo não passa de simulacro ou fantasma. Um pintor,por exemplo, pinta um sapateiro, um carpinteiro ou outroartesão qualquer, sem ter nenhum conhecimento de suasrespectivas artes. Isso não impede, se é bom pintor, deiludir as crianças e os ignorantes, mostrando-lhes delonge um carpinteiro por ele representado e que tomempor imitação da verdade.

GLAUCO – Sem dúvida.

SÓCRATES – O mesmo se deve entender, meu caroamigo, de todos os que fazem como o pintor. Sempre quealguém nos vier dizer ter encontrado um homem quesabe todos os ofícios e reúne em si, em elevado grau,todos os conhecimentos que se acham repartidos entremuitos, é preciso desenganá-lo, mostrando-lhe que nãopassa de um tolo por se ter deixado lograr por um imitadorou mágico a quem tomou por sábio, simples menteporque não sabe discernir a ciência da ignorân cia, arealidade da imitação.

GLAUCO – É a pura verdade.

SÓCRATES – Resta-nos agora considerar a tragédiae Homero, seu criador. Como ouvimos diariamente acertas pessoas que os poetas trágicos entendem muitode todas as artes e ciências humanas que se referem aovício e à virtude e mesmo com as de natureza divina; vistoque a um bom poeta é necessário estar perfeitamenteinstruído nos assuntos de que trata se quiser versá-lo comêxito que de outra sorte lhe seria impossível, cumpreverificarmos se os que assim falam não se deixam iludirpor esta espécie de imitadores; se, vendo-lhes asproduções, esqueceram de notar que se afastam trêsgraus da realidade e que, sem conhecer a verdade, é fácilcompô-los, visto que não passam, ao cabo, de merosfantasmas sem sombra do real; ou se há algo de sólido noque dizem; e se, realmente, os bons poetas entendem dasmatérias sobre as quais o comum dos homens pensa queescreveram bem.

(...)

SÓCRATES – A poesia imitativa produz em nóstambém o amor, a ira e todas as paixões da alma que têmpor objetivo o prazer e a dor, influindo em todas as nossasações, porque as alimenta e orvalha em vez de dessecá-las; faz-nos mais viciados e infelizes, pelo domínio que dáa estas paixões sobre nossa alma, em vez de mantê-lasinteiramente dependentes, o que nos tornaria melhor emais felizes.

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GLAUCO – Tenho de concordar contigo.

SÓCRATES – Assim, pois, caro Glauco, quandoencontrares admiradores de Homero a dizer que estepoeta instruiu e formou a Grécia e que a gente aprende,lendo-o, a governar-se e a bem conduzir-se nas váriascontingências da vida e que o melhor a fazer é pautar osatos por seus preceitos, será de bom conselho acolhê-loscom toda a atenção e respeito, como a homens bemintencionados e virtuosos que são, e admitir que Homeroé o maior dos poetas e o primeiro dos trágicos. Mas, aomesmo tempo, não esqueças que em nossa república sóse hão de tolerar como obras poéticas os hinos de louvordos deuses e os elogios de homens ilustres. Por queassim que aí deres entrada à musa mais voluptuosa dapoesia lírica ou épica, desde esse momento o prazer e ador reinarão no Estado em lugar da lei e da razão, cujaexcelência todos os homens reconheceram sempre.

GLAUCO – Nada é mais certo.

SÓCRATES – Visto que surgiu nova ocasião de falarem poesia, já ouviste o que tenho a dizer sobre o assuntopara provar que, sendo o que é, tivemos razão dedesterrá-la de uma vez por todas de nossa república;porquanto fora impossível resistir à força dos motivos quea isso nos levaram.

PLATÃO. A República. São Paulo: Livraria e Exposição do Livro, s.d.(p.280-81 e 289)

Platão acredita que a educação deva começar muito cedo na vida daspessoas, e que se desenvolva, sobretudo, em torno de um treinamentofísico adequado.

ARISTÓTELES E O PENSAMENTO LÓGICO

5. Introdução

Aristóteles foi um dos mais importantes filósofosgregos e deixou grande rastro na história do pensamentoocidental. Nasceu em 384 a.C., em Estagira, e morreu em324 a. C. na cidade de Cálcis.

Aristóteles é considerado o criador do pensamentológico. Suas obras influenciaram profundamente a teo -logia cristã e islâmica.

Escreveu uma quantidade enorme de livros, entreeles: Ética a Nicômaco, Política, Arte Poética, Retóricadas Paixões, O Homem de Gênio e a Melancolia, DeAnima, A Metafísica, e muito mais.

Aristóteles é considerado o criador do pensamento lógico.

6. Filosofia da Natureza

Para Platão, as coisas concretas que se movem sãosimples aparências, sombras da verdadeira realidade queestá no mundo das ideias. Aristóteles critica esseidealismo de seu mestre, e desenvolve uma concepçãomais realista ou empirista. Assim, cria uma dualidade: omundo é feito de matéria (ou substância) e forma. Amatéria é passividade, contendo a virtualidade da formaem potência. A forma, por sua vez, é o princípio inteligível,a essência comum a todos os indivíduos de uma mesmaespécie. Assim, a coisa comum a todos os seres de umamesma espécie é a forma e tudo o que é distintivo ousingular é a matéria ou substância. O movimento,portanto, é a atualização da forma realizada pelo ser.

Há uma ontologia aristotélica. Entende-se porontologia o estudo da natureza do ser (verificar glossário).Para o filósofo, as substâncias interagem de váriasmaneiras para produzir objetos que diferem em proprie -dades como quantidade, qualidade, tempo, posição econdição de ação. Assim, Aristóteles criou uma filosofiada natureza, afirmando que a matéria sofre processos de

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mudança dinâmica e espontânea mediados por princípiosestruturais preexistentes. Elaborou assim, uma espécie dehierarquia de existências que começam com os quatrocorpos primários: terra, água, fogo, ar, os quais formamsubstâncias inorgânicas e, depois, os seres vivos: asplantas apresentam as funções de crescimento, nutriçãoe reprodução; os animais possuem, além dessas, as desensação, desejo e locomoção; e os seres humanos, afaculdade da razão. Segundo a antropologia aristotélica, ohomem pode exercer a suprema atividade que é aobtenção do conhecimento, através de sua alma racional.

Metafísica estuda o ser e a sua origem primeira.

7. A Metafísica

O sentido da palavra metafísica deve-se a Aristótelese a Andrônico de Rodes. Aristóteles escreveu sobretemas relacionados à e sobre temas relacionados à éticae à política, entre outros semelhantes. Andrônico, aoorganizar os escritos de Aristóteles, o fez de forma que,espacialmente, aqueles que tratavam de temasrelacionados à physis viessem antes dos outros. Assim,eles vinham além da física (Meta = depois, além; Physis= física). Neste sentido, a metafísica é algo intocável, quesó existe no mundo das ideias. Assim, Andrônico orga -nizou os escritos de acordo com a classificação dos doistemas. Ética, política etc. são assuntos que não tratam deseres físicos, mas de seres não-físicos exis tentes apesarda sua imaterialidade. Metafísica, portanto, trata deproblemas sobre o propósito e a origem da existência edos seres. Especulação em torno dos primeiros princípios

e das causas primeiras do ser. Metafísica, portanto, podeestar relacionado à reflexão filosófica ou à Teologia.

A metafísica é, segundo o pensamento aristotélico, afilosofia primeira que analisa os métodos e as premissasdas filosofias secundárias (as ciências particulares), e elaestuda o ser enquanto ser. Assim, a metafísica analisaabstratamente a noção de realidade. O que define umhomem e em que ele se distingue dos animais, porexemplo, é a sua forma universalmente humana e nãoparticularidades materialmente observáveis. Nesse caso,a forma humana é a racionalidade. Em Aristóteles, porém,a razão difere da concepção platônica, pois ela nãoprovém do mundo das ideias, ao contrário, trata-se deuma habilidade e não de uma dimensão espiritual. Assim,o homem não nasce, segundo esse filósofo, com ideiasinatas, como pensava Platão.

Texto:

Política em Aristóteles

Aristóteles começou a escrever suas teorias políticasquando foi preceptor de Alexandre, o Grande. ParaAristóteles, a Política é a ciência mais suprema, à qual asoutras ciências estão subordinadas e da qual todas asdemais se servem numa cidade. A tarefa da Política éinvestigar qual a melhor forma de governo e instituiçõescapazes de garantir a felicidade coletiva. SegundoAristóteles, a pouca experiência da vida torna o estudo daPolítica supérfluo para os jovens, por regras impru dentes,que só seguem suas paixões. Embora não tenha propostoum modelo de Estado, como seu mestre Platão,Aristóteles foi o primeiro grande sistematizador das coisaspúblicas. Diferentemente de Platão, Aristóteles faz umafilosofia prática e não ideal e de especulação como seumestre. O Estado, para Aristó teles, constitui a expressãomais feliz da comunidade em seu vínculo com a natureza.Segundo Aristóteles, assim como é impos sível concebera mão sem o corpo, é impossível con ceber o indivíduosem o Estado. O homem é um animal social e político pornatureza. E, se o homem é um animal político, significaque tem necessidade natural de conviver em sociedade,de promover o bem comum e a felicidade. A polis gregaencarnada na figura do Estado é uma necessidadehumana. O homem que não necessita de viver emsociedade, ou é um deus ou uma besta. Para Aristóteles,toda cidade é uma forma de associação e toda associaçãose estabelece tendo como finalidade algum bem. Acomunidade política forma-se de forma natural pelaprópria tendência que as pessoas têm de se agruparem.E ninguém pode ter garantido seu próprio bem sem afamília e sem alguma forma de governo. Para Aristóteles,os indivíduos não se associam somente para viver, maspara viver bem. Dos agrupa mentos das famílias formam-se as aldeias, do agru pamento das aldeias forma-se a

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cidade, cuja finalidade é a virtude dos seus cidadãos parao bem comum. A cidade aristotélica deve ser compostapor diversas classes, mas quem entrará na categoria decidadãos livres que podem ser virtuosos são somentetrês classes su periores: os guerreiros, os magistrados eos sacerdo tes. Aristóteles aceita a escravidão e aconsidera desejável para os que são escravos pornatureza. Estes são os incapazes de governar a simesmos, e, portanto, devem ser gover nados. SegundoAristóteles, um cidadão é alguém politicamente ativo eparticipante da coisa pública. Segundo Aristóteles, semum mínimo de ócio não se pode ser cidadão. Assim, oescravo ou um arte são não se encontra suficientementelivre e com tempo para exercer a cidadania e alcançar avirtude, a qual é incompatível com uma vida mecânica. Eos escravos devem trabalhar para o sustento doscidadãos livres e virtuosos. Aristóteles contesta ocomunismo de bens, mulheres e crianças proposto porPlatão. Segundo ele, quanto mais comum for uma coisamenos se cuida dela.

Fonte: http://pt.shvoong.com/law-and-politicsAutoria: Filosofolionessantos Adaptado

Aristóteles deixou inúmeros textos que versam em diversas áreas.

Texto:

O Pensamento de Aristóteles.

“Mestre dos que sabem”, assim se lhe refere Dantena Divina Comédia. Com Platão, Aristóteles criou o núcleopropulsionador de toda a Filosofia posterior. Mais realistado que o seu professor, Aristóteles percorre todos oscaminhos do saber: da biologia à metafísica, da psicologiaà retórica, da lógica à política, da ética à poesia.Impossível resumir a fecundidade do seu pensa mento em

todas as áreas. Apenas algumas ideias. A obra aristotélicasó se integra na cultura filosófica europeia da IdadeMédia, através dos árabes, no século XIII, quando éconhecida a versão (orientalizada) de Averróis, o seu maisimportante comentarista. Depois, S. Tomás de Aquino vaiincorporar muitos passos das suas teses no pensamentocristão.

A teoria das causas. O conhecimento é o conhe -cimento das causas – a causa material (aquilo de que umacoisa é feita), a causa formal (aquilo que faz com que umacoisa seja o que é), a causa eficiente (a que transforma amatéria) e a causa final (o objetivo com que a coisa éfeita). Todas pressupõem uma causa primeira, uma causanão causada, o motor imóvel do cosmos, a divindade, queé a realidade suprema, a substância plena que determinao movimento e a unidade do universo. Mas, paraAristóteles, a divindade não tem a faculdade da criaçãodo mundo, este existe desde sempre. É a filosofia cristãque vai dar à divindade o poder da Criação.

Aristóteles opõe-se, frequentemente, a Platão e à suateoria das Ideias. Para o estagirita, não é possível pensaruma coisa sem lhe atribuir uma substância, uma quanti -dade, uma qualidade, uma atividade, uma passividade,uma posição no tempo e no espaço etc. Há duas es -pécies de Ser: os verdadeiros, que subsistem por si, e osacidentes. Quando se morre, a matéria fica; a forma, oque caracteriza as qualidades particulares das coisas,desaparece. Os objetos sensíveis são constituí dos peloprincípio da perfeição (o ato), são enquanto são e peloprincípio da imperfeição (a potência), através do qual selhes permite a aquisição de novas perfeições. O atoexplica a unidade do ser, a potência, a multiplicidade e amudança.

Aristóteles é o criador da biologia. A sua observaçãoda natureza, sem dispor dos mais elementares meios deinvestigação (o microscópio, por exemplo), apesar de terhoje um valor quase só histórico, não deixa de serextraordinária. O que mais o interessava era a naturezaviva. A ele se deve a origem da linguagem técnica dasciências e o princípio da sua sistematização e organi zação.Tudo se move e existe em círculos concêntricos,tendente a um fim. Todas as coisas se separam emfunção do lugar próprio que ocupam, determinado pelanatureza. Enquanto Platão age no plano das ideias,usando só a razão e mal reparando nas transformações danatureza, Aristóteles interessa-se por estas e pelosprocessos físicos. Não deixando de se apoiar na razão, ofilho de Nicômaco usa também os sentidos. Para Platão,a realidade é o que pensamos. Para Aristóteles, é tam -bém o que percebemos ou sentimos. O que vemos nanatureza – diz Platão – é o reflexo do que existe no mundodas ideias, ou seja, na alma dos homens. Aristóteles dirá:o que está na alma do homem é apenas o reflexo dosobjetos da natureza, a razão está vazia enquanto nãosentimos nada. Daí a diferença de estilos: Platão é

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poético, Aristóteles é pormenorizado, preferindo, porém,o fragmento ao detalhe. Chegaram até nós 47 textos dofundador do Liceu, provavelmente inacabados por seremapontamentos para as lições. Um dos vetoresfundamentais do pensamento de Aristóteles é a Lógica,assim chamada posteriormente (ele preferiu sempre adesignação de Analítica). A Lógica é a arte de orientar opensamento nas suas várias direções para impedir ohomem de cair no erro. O Organon será para sempre ummodelo de instrumento científico a serviço da reflexão. OEstado deve ser uma associação de seres iguais pro -curando uma existência feliz. O fim último do homem é afelicidade. Esta atinge-se quando o homem realiza,devidamente, as suas tarefas, o seu trabalho, na polis, acidade. A vida da razão é a virtude. Uma pessoa virtuosaé a que possui a coragem (não a cobardia, não a au dácia),a competência (a eficiência), a qualidade mental (a razão)e a nobreza moral (a ética). O verda deiro homem virtuosoé o que dedica largo espaço à medi tação. Mas nem opróprio sábio se pode dedicar, totalmente, à reflexão. Ohomem é um ser social. O que vive, isoladamente,sempre, ou é um deus ou uma besta. A razão orienta oser humano para que este evite o excesso ou o defeito (a

coragem – não a cobardia ou a temeridade). O homemdeve encontrar o meio-termo, o justo meio; deve viverusando, prudentemente, a riqueza; moderadamente, osprazeres, e conhecer, corretamente, o que deve temer.

Também na Poética, o contributo ordenador deAristóteles será definitivo: ele estabelecerá as caracte -rísticas e os fins da tragédia. Uma das suas leis sobre elaestender-se-á, por séculos, a todo o teatro: a regra dastrês unidades, ação, tempo e lugar.

Erros, incorreções, falhas, terá cometido Aristóteles.Alguns são célebres. Na zoologia, por exemplo, consideraque o homem tinha oito pares de costelas, não reconheceos ossos do crânio humano (três para o homem, um,circular, para a mulher), supõe que as artérias estão cheiasde ar (como, aliás, supunham os médicos gregos), pensaque o homem tem um só pulmão. Não esqueçamos:Aristóteles classificou e descreveu cerca de quinhentasespécies animais, das quais cinquenta terá dissecado –mas nunca dissecou um ser humano.

A grandeza genial da sua obra não pode ser questio -na da por tão raros erros, frutos da época – mais de 2 000anos antes de nós.

(Por Orlando Neves – Intelectual português. Adaptado.)

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Platão e a educação (uma reflexão)

“Os ideais de educação formulados por Platão podemser encontrados em sua maneira mais acabada nosdiálogos A República e As Leis, nos quais o filósofodemonstra a importância do processo pedagógico para aconstituição de um estado soberano e justo. E éprecisamente sobre o tema da Justiça que o primeiro livroda República discorre, no intuito de se estabelecer umconceito que possa ser a base para um projeto educacional.

Podemos, a partir de este exemplo, compreender quea educação deve ser norteada por valores consideradosjustos para todos os agentes envolvidos no processo. Porjustiça, neste caso, podemos entender a igualoportunidade para todos, em que nenhuma pessoa possacercear o direito de outro com base na ideia de umaequidade consignada, ou seja, o aspecto de que meuacesso a determinado direito seja condicionado à perdade tal direito por outrem. A questão da educação inclusivanos rende alguns exemplos de como isso vemacontecendo. Não é justo que deficientes auditivos, porexemplo, fiquem sem acesso à educação formal eminstituições de ensino públicas, pois é direito deles, comode todos os outros cidadãos, receberem educaçãogratuita e de qualidade. Contudo, o que acontece neste

caso é que muitas vezes tais educandos com estasnecessidades são simplesmente inseridos em sala deaula sem nenhuma forma de reestruturação física oucognitiva das mesmas. Em muitos casos, os professores,que não receberam preparo adequado para lidar comestas situações de educação inclusiva, acabam sedeparando com situações que resultam em umconstrangimento para os próprios estudantes. Assim, pormais que os docentes desejem promover a educaçãoinclusiva, ficam impossibilitados pela ausência de umintérprete ou por uma formação em linguagem de sinais,e os próprios alunos não terão acesso, pois não há umaporta que possibilite a comunicação plena entre mestres ediscentes. Fez-se a inclusão de maneira injusta, e o escopodisto é que não se promoveu o acesso à educação.

Ulteriormente, Platão acredita que a educação devacomeçar muito cedo na vida das pessoas, e que sedesenvolva, sobretudo, em torno de um treinamentofísico adequado. Evitar os excessos da alimentação epreparar o corpo físico nos moldes da educação espartanaera o caminho para o desenvolvimento de uma populaçãosaudável, aspecto imprescindível para a estruturação deum estado com alto nível de bem-estar social. Nestecaso, analisando os dias atuais, é comum observar adesmedida que pode ocasionar vícios, ou seja, é comum

Platão e a Educação (uma reflexão)Revolução da Alma, texto de Aristóteles

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encontrar pessoas que não praticam atividade físicanenhuma – a grande maioria da população –, e umapequena fração que vive apenas para a academia, ambosequivocados. No âmbito da educação, é normal observarnas instituições de ensino que o espaço destinado para aprática de educação física muitas vezes se limita a umaquadra de cimento rústica comprimida entre muros ouparedes das salas de aula. Gerações inteiras de jovenscresceram e crescem sem nunca praticarem atletismo,natação, e outros esportes que podem desenvolver ashabilidades físicas e o fortalecimento do corpo. Aquelespais que não possuem condições de proporcionar oacesso a academias particulares ou colégios com boascondições estruturais para seus filhos os verão desen -volverem-se apenas sob a prática massiva de futsal ouvôlei. Platão ainda alerta para o fato de que os jovensrecebam uma boa educação musical para que possampoten cializar sua sensibilidade e criatividade. Novamen -te, hoje, aqueles que não podem pagar por um serviçoparticular para fornecer educação musical aos filhos,observam a prole crescer embalada pelos ritmos musicaisda pior manifestação cultural musical da história dacivilização, fruto da indústria cultural de massa.Platão escreveu sobre isto há cerca de 2400 anos, e talvezestejamos a esperar outros 2400 anos para ouvir osconselhos de um homem sábio. Pena que não tenhocerteza de que haverá alguém ainda para ser educadoquando a civilização chegar lá.”

Por Maurício Fernando Bozatski (Mestre em Filosofia. Coordenandordo Curso de Filosofia da Faculdade Sant’Ana. Professor do SESI e

da SEED/PR e escritor)

Revolução da Alma, texto de Aristóteles

“Ninguém é dono da sua felicidade, por isso nãoentregues a tua alegria, a tua paz, a tua vida, nas mãos deninguém, absolutamente de ninguém. Somos livres, nãopertencemos a ninguém e não podemos querer ser donosdos desejos, da vontade ou dos sonhos de quem quer queseja. A razão da tua vida és tu mesmo. A tua paz interior éa tua meta de vida. Quando sentires um vazio na alma,quando acreditares que ainda está faltando algo, mesmo

tendo tudo, remete o teu pen samento para os teus desejosmais íntimos e busca a divindade que existe em ti. Para decolocar a tua felici dade, cada dia, mais distante de ti. Nãocoloques objeti vos longe demais de tuas mãos, abraça osque estão ao teu alcance, hoje. Se andas desesperado porproblemas financeiros, amorosos ou de relacionamentosfamiliares... busca no teu interior a resposta para teacalmares, tu és o reflexo do que pensas diariamente. Parade pensar mal de ti mesmo e sê teu melhor amigo,sempre. Sorrir significa aprovar, aceitar, felicitar. Então, abreum sorriso para aprovar o mundo que te quer oferecer omelhor. Com um sorriso no rosto, as pessoas terão asmelhores impressões de ti e tu estarás afirmando para timesmo que estás ‘pronto’ para seres feliz. Trabalha,trabalha muito a teu favor. Para de esperar a felicidade semesforços. Para de exigir das pessoas aquilo que nem tuconquistaste, ainda. Critica menos, trabalha mais. E não teesqueças, nunca, de agrade cer. Agradece tudo que está natua vida neste momento, inclusive a dor. A nossacompreensão do universo ainda é muito pequena parajulgar o que quer que seja na nossa vida.”

Glossário

Ontologia: Conforme o dicionário Aurélio, “ontologia” éa “parte da filosofia que trata do ser enquanto ser, isto é,do ser concebido como tendo uma natureza comum queé inerente a todos e a cada um dos seres (...)”. Tendo-seem conta que “onto”, do grego, significa indivíduo ou ser,e “logia” comumente significa estudo, tem-se que“ontologia” vem a ser o estudo investigativo e compa -rativo do indivíduo – aqui tido como exemplar da espéciehumana – frente aos demais seres vivos, passando pelasua concepção, criação, evolução e extinção. Busca,portanto, o conhecimento profundo acerca da natureza doser humano, levando em conta os aspectos fisiológicose espirituais, confrontando-os com aqueles quecaracterizam e distinguem os demais seres vivos.

Frases de Platão

“O belo é o esplendor da verdade”.

“O que mais vale não é viver, mas viver bem”.

“Vencer a si próprio é a maior de todas as vitórias”.

“O amor é uma perigosa doença mental”.

“Praticar injustiças é pior que sofrê-las”.

“A harmonia se consegue através da virtude”.

“Teme a velhice, pois ela nunca vem só”.

“A educação deve possibilitar ao corpo e à alma toda

a perfeição e a beleza que podem ter”.

Frases de Aristóteles

“O verdadeiro discípulo é aquele que consegue superaro mestre.”

“A principal qualidade do estilo é a clareza.”

“O homem que é prudente não diz tudo quanto pensa,mas pensa tudo quanto diz.”

“O homem livre é senhor de sua vontade e somenteescravo de sua própria consciência.”

“Devemos tratar nossos amigos como queremos queeles nos tratem.”

“O verdadeiro sábio procura a ausência de dor, e não oprazer.”

“A educação tem raízes amargas, mas os frutos sãodoces”.

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1. (UFU) – “Todo aquele que ama o saber conhece por experiência que,quando a filosofia toma conta de uma alma, vai encontrá-la prisioneira doseu corpo, totalmente grudada a ele. Vê que, impelida a observar osseres, não em si e por si, mas por meio desse seu caráter, paira por issona mais completa ignorância. Mas mais se dá ainda conta do absurdo detal prisão: é que ela não tem outra razão de ser senão o desejo do próprioprisioneiro, que é assim levado a colaborar, da maneira mais segura, noseu próprio encarceramento”.

Platão, Fédon. Trad. Maria Tereza S. de Azevedo. Brasília: UnB, 2000, p. 66.

Após analisar o texto acima, assinale a alternativa correta a) A ignorância é fruto da observação do que é em si e por si.b) A filosofia para Platão é inata, não sendo necessário nenhum esforço

de quem a ela se dedica para obtê-la.c) A alma encontra-se prisioneira do corpo por desejo do próprio

homem.d) A alma do filósofo encontra-se desde o início liberta dos entraves do

corpo, como demonstram, claramente, a Alegoria da Caverna e otexto acima.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

2. (UFU) – A Alegoria da Caverna de Platão, além de ser um texto deteoria do conhecimento, é também um texto político. No sentidopolítico, é correto afirmar que Platão sustentava um modeloa) monárquico, cujo governo deveria ser exercido por um filósofo e cujo

poder deveria ser absoluto, centralizador e hereditário.b) aristocrático, baseado na riqueza e que representava os interesses

dos comerciantes e nobres atenienses, por serem eles os mecenasdas artes, das letras e da filosofia.

c) democrático, baseado, principalmente, na experiência política degoverno da época de Péricles.

d) aristocrático, cujo governo deveria ser confiado aos melhores eminteligência e em conduta ética.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

3. (UFU) – “Mas quem fosse inteligente (…) lembrar-se-ia de que asperturbações visuais são duplas, e por dupla causa, da passagem da luzà sombra, e da sombra à luz. Se compreendesse que isso se passa coma alma, quando visse alguma perturbada e incapaz de ver, não riria semrazão, mas repararia se ela não estaria antes ofuscada por falta dehábito, por vir de uma vida mais luminosa, ou se, por vir de uma maiorignorância a uma luz mais brilhante, não estaria deslumbrada porreflexos demasiadamente refulgentes [brilhantes]; à primeira, deveriafelicitar pelas suas condições e pelo seu gênero de vida; da segunda, tercompaixão e, se quisesse troçar dela, seria menos risível esta zombariado que aquela que descia do mundo luminoso.”

(A República, 518 a-b, trad. Maria Helena da Rocha Pereira, Lisboa:Fundação Calouste Gulbenkian, 1987.)

Sobre esse trecho do livro VII de A República de Platão, é corretoafirmar.I. A condição de quem vive nas sombras é digna de compaixão.II. O filósofo, sendo aquele que passa da luz à sombra, não tem

problemas em retornar às sombras.III. O trecho estabelece uma relação entre o mundo visível e o

inteligível, fundada em uma comparação entre o olho e a alma.IV. No trecho, é afirmado que o conhecimento não necessita de

educação, pois quem se encontraria nas sombras facilmente seacostumaria à luz.

Marque a alternativa que contém todas as afirmações corretas.a) II e III b) I e IV c) I e IIId) III e IV e) II e IV

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

4. Leia, abaixo, o trecho de Platão, extraído da Apologia de Sócrates.

“(…) descobrem uma multidão de pessoas que supõem saber algumacoisa, mas que na verdade pouco ou nada sabem. (…) e afirmam queexiste um tal Sócrates (…) que corrompe a juventude. Quando se lhespergunta por quais atos ou ensinamentos, não têm o que responder;não sabem, mas para não mostrar seu embaraço apresentam aquelasacusações que repetem contra todos os que filosofam: ‘as coisas docéu e o que há sob a terra; o não crer nos deuses; fazer prevalecer odiscurso e a razão mais fraca’. Isso porque não querem dizer a verdade:terem dado prova de que fingem saber, mas nada sabem.”

Apologia, 23.Nessas palavras,a) Platão acusa Sócrates de corromper a juventude.b) Platão afirma que Sócrates não tem o que responder quando

acusado de corromper a juventude.c) Platão defende Sócrates, afirmando a inconsistência das acusações

que lhe fazem.d) Platão revela-se opositor das ideias socráticas. e) Platão afirma que Sócrates faz prevalecer o discurso, mas com a

razão fraca.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

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5. Sobre o conceito de Política em Aristóteles, julgue as frases abaixoe coloque V para as verdadeiras e F para as falsas.I. ( ) A Política é uma ciência de importância menor, pois trata da

questão do poder, um princípio que facilmente corrompe a almahumana.

II. ( ) A tarefa da Política é investigar qual a melhor forma de governoe instituições capazes de garantir a felicidade coletiva.

III. ( ) Assim como fez o seu mestre Platão, Aristóteles traça umaconcepção ideal para o conceito e teorização da política.

IV. ( ) Aristóteles acreditava que a vida social era um artifício, pois,originalmente, o homem vivia em estado de natureza, à qualrenunciou para formar um contrato social. Assim, Aristótelespode ser enquadrado entre os filósofos contratualistas.

V. ( ) Para Aristóteles, toda cidade é uma forma de associação e todaassociação se estabelece tendo como finalidade algum bem. Acomunidade política forma-se de forma natural pela própriatendência que as pessoas têm de se agruparem.

VI. ( ) Aristóteles aceita a escravidão e a considera desejável para osque são escravos por natureza. Estes são os incapazes degovernar a si mesmos, e, portanto, devem ser governados.

RESOLUÇÃO:

F, V, F, F, V, V.

6. “O verdadeiro discípulo é aquele que consegue superar o mestre.”Considerando a relação mestre-discípulo e os pensamentos queexpressou em discordância com seus mestres, pode-se deduzir queessas palavras são de:a) Platão b) Sócrates c) Aristótelesd) Tomás de Aquino e) Averróis

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

7. Assinale a única alternativa errada sobre a filosofia aristotélica.a) Há uma ontologia aristotélica. Entende-se por ontologia o estudo da

natureza do ser (verificar glossário). b) Para o filósofo, as substâncias interagem de várias maneiras para

produzir objetos que diferem em propriedades como quantidade,qualidade, tempo, posição e condição de ação.

c) Aristóteles criou uma filosofia da natureza, afirmando que a matériasofre processos de mudança dinâmica e espontânea mediados porprincípios estruturais preexistentes.

d) Aristóteles elaborou uma espécie de hierarquia de existências quecomeçam com os quatro corpos primários: terra, água, fogo, ar, osquais formam substâncias inorgânicas e, depois, os seres vivos: asplantas apresentam as funções de crescimento, nutrição ereprodução; os animais possuem, além dessas, as de sensação,desejo e locomoção; e os seres humanos, a faculdade da razão.

e) Segundo a antropologia aristotélica, o homem pode exercer asuprema atividade, que é a obtenção do conhecimento, por meio desua alma racional. Essa alma tem natureza transcendente, assim, arazão provém de um mundo sobrenatural. Aristóteles foi umpensador racionalista.

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

8. Assinale a única alternativa correta com relação à vida de Aristótelese ao pensamento aristotélico.a) Aristóteles começou a escrever suas teorias políticas quando foi

preceptor de Pedro, “O Grande”. b) Para Aristóteles, a Política é a ciência mais suprema, à qual as outras

ciências estão subordinadas e da qual todas as demais se servemnuma cidade.

c) A tarefa da Política é investigar qual a melhor forma de governo einstituições capazes de assegurar a ordem coletiva. Nesse sentido,expressou um pensamento político autoritário.

d) Segundo Aristóteles, a grande experiência de vida torna o estudo daPolítica supérfluo para os jovens, pois estes seguem regrasimprudentes, baseadas apenas em suas razões.

e) Há uma natureza única no Universo, que expressa a realidade divinae transcendente.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

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9. Leia o texto “Platão e a educação”e assinale a alternativa que ocompleta corretamente.Para Platão, as coisas concretas que se movem são simples aparências,sombras da verdadeira realidade que está no mundo das ideias.Aristótelesa) critica esse idealismo de seu mestre, e desenvolve uma concepção

mais realista ou empirista.b) concorda perfeitamente com seu mestre, tendo-se tornado o

principal expositor da filosofia platônica.c) concorda parcialmente com a concepção de seu mestre, tendo

elaborado uma filosofia mais mística se comparada à de Platão. d) critica radicalmente seu mestre, tendo sido expulso da Academia e

sendo relegado na história do pensamento, com mínima influênciaaté o fim da Idade Média.

e) concorda com a posição se seu mestre, mas discorda num únicoponto, pois Aristóteles crê que a origem da razão está no mundo dasideias, numa realidade mais transcendente.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

10. (ENEM) – A felicidade é, portanto, a melhor, a mais nobre e a maisaprazível coisa do mundo, e esses atributos não devem estar separadoscomo na inscrição existente em Delfos “das coisas, a mais nobre é amais justa, e a melhor é a saúde; porém a mais doce é ter o queamamos”. Todos estes atributos estão presentes nas mais excelentesatividades, e entre essas a melhor, nós a identificamos como felicidade.

ARISTOTELES. A Política. São Paulo: Cia das Letras, 2010.

Ao reconhecer na felicidade a reunião dos mais excelentes atributos,Aristoteles a identifica comoa) busca por bens materiais e títulos de nobreza.b) plenitude espiritual e ascese pessoal.c) finalidade das ações e condutas humanas.d) conhecimento de verdades imutáveis e perfeitas.e) expressão do sucesso individual e reconhecimento público.

RESOLUÇÃO:

Para Aristóteles, a felicidade está ligada à virtude intelectual, o bem

maior, sendo necessário, para alcançá-la, levar uma vida prazerosa,

política e filosófica. Trata-se de um bem perfeito alcançado no agir,

objetivando o que todos desejam.

Resposta: C

11.Para Platão, o que havia de verdadeiro em Parmênides era que oobjeto de conhecimento é um objeto de razão e não de sensação, e erapreciso estabelecer uma relação entre objeto racional e objeto sensívelou material que privilegiasse o primeiro em detrimento do segundo.Lenta, mas irresistivelmente, a Doutrina das Ideias formava-se em suamente.

M. Zingano. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia. São Paulo: Odysseus, 2012 (adaptado).

O texto faz referência à relação entre razão e sensação, um aspectoessencial da Doutrina das Ideias de Platão (427 a.C.-346 a.C.). De acordocom o texto, como Platão se situa diante dessa relação?a) Estabelecendo um abismo intransponível entre as duas.b) Privilegiando os sentidos e subordinando o conheci mento a eles.c) Atendo-se à posição de Parmênides de que razão e sensação são

inseparáveis.d) Afirmando que a razão é capaz de gerar conhecimento, mas a

sensação não.e) Rejeitando a posição de Parmênides de que a sensação é superior à

razão.

RESOLUÇÃO:

Platão teorizou a dualidade entre mundo das ideias, que seria o

real e original, e o mundo sensível (referência aos sentidos), em

que dominam as aparências. Para o clássico filósofo grego, a razão

é preexistente e se origina justamente do mundo das ideias; por

isso, concordaria com Parmênides, para quem a razão é fonte

confiável de conhecimento, enquanto dever-se-ia desconfiar dos

sentidos.

Resposta: D

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1. Para Platão, a filosofia é superior à poesia. Por quê?

2. “Sócrates: A poesia imitativa produz em nós também o amor, a ira

e todas as paixões da alma que têm por objetivo o prazer e a dor,

influindo em todas as nossas ações, porque as alimenta e orvalha em

vez de dessecá-las; faz-nos mais viciados e infelizes, pelo domínio que

dá a estas paixões sobre nossa alma, em vez de mantê-las inteiramente

dependentes, o que nos tornaria melhor e mais felizes”. (Platão)

Relacione o texto acima com o pensamento político-filosófico de Platão.

3. “Praticar injustiças é pior que sofrê-las”. “O belo é o esplendor da

verdade”. Nessas duas frases Platão revelou sua preocupação em

questões:

a) políticas e econômicas b) sociais e filosóficas.

c) éticas e estéticas. d) religiosas e morais.

e) abstratas e reais.

4. “Ao homem cabem indagações axiológicas, ou seja, valorativas”.

Isso significa que:

a) O homem não tem escolhas diante de sua existência.

b) O homem tem uma estrutura biológica inadequada para sobreviver

em qualquer ambiente geográfico.

c) O homem porta em sua existência consciente uma dimensão moral.

d) O homem não possui habilidades para refletir sobre a sua condição.

e) O homem é indiferente diante do outro, de sua dor e sofrimento.

5. Platão dizia que a filosofia nascera do espanto humano diante da vida

e do Universo. A palavra espanto (thauma, em grego) teria aqui o sentido

de:

a) Medo ou receio.

b) Perplexidade ou admiração.

c) Susto ou pavor.

d) Ignorância ou trevas.

e) Conhecimento ou esclarecimento.

6. Platão dizia que a filosofia nascera do espanto humano diante da vida

e do universo. No sentido aqui empregado, o contrário de espanto – e

que, portanto não promoveria o ato de filosofar – poderia ser:

a) Preconceito. b) Tranquilidade. c) Indiferença.

d) Preocupação. e) Senso comum.

7. O que Platão chamava de ídolos?

8. Platão ressalta a necessidade de sair da caverna e contemplar o Sol.

O que isso significava para ele?

9. Aristóteles foi discíplulo de Platão. Explique um importante enfoque

que difere entre os dois filósofos.

10.Que representa a lógica para Aristóteles?

11.Explique a concepção aristotélica de Deus.

12.Explique a distinção e a relação entre matéria e forma no pensamen -

to de Aristóteles.

13.Defina Metafísica.

14.Explique a teoria das causas em Aristóteles.

15.Na história da filosofia grega, sempre foi central a questão política.

Leia e julgue as assertivas abaixo.

I. Diferentemente de Platão, Aristóteles faz uma filosofia ideal e de

especulação e não prática como seu mestre.

II. O Estado, para Aristóteles, constitui a expressão mais feliz da

comunidade em seu vínculo com a natureza.

III. Segundo Aristóteles, assim como é impossível conceber a mão sem

o corpo, é impossível conceber o indivíduo sem o Estado.

IV. O homem não é um animal social e político por natureza. E, se o

homem não é um animal político, significa que não tem neces sidade

natural de conviver em sociedade, de promover o bem comum e a

felicidade. Tais conceitos surgiram apenas no mundo moderno.

São verdadeiras:

a) I e II b) I e III c) I e IV

d) II e III e) III e IV

16.“Um dos prisioneiros, inconformado com a condição em que se

encontra, decide abandoná-la. Fabrica um instrumento com o qual

quebra os grilhões. De início, move a cabeça, depois o corpo todo; a

seguir, avança na direção do muro e o escala. Enfrentando os obs táculos

de um caminho íngreme e difícil, sai da caverna. No pri meiro instante,

fica totalmente cego pela luminosidade do sol, com a qual seus olhos

não estão acostumados. Enche-se de dor por causa dos movimentos

que seu corpo realiza pela primeira vez e pelo ofusca mento de seus

olhos sob a luz externa, muito mais forte do que o fraco brilho do fogo

que havia no interior da caverna. Sente-se dividido entre a incredulidade

e o deslumbramento”.

(d’ O Mito da Caverna)

O sentimento de incredulidade e deslumbramento pode ser umametáfora ao impulso humano que deu origem à filosofia segundo aosantigos gregos. Explique.

17.(UEL) – “Mas a cidade pareceu-nos justa, quando existiam dentro

dela três espécies de naturezas, que executavam cada uma a tarefa que

lhe era própria; e, por sua vez, temperante, corajosa e sábia, devido a

outras disposições e qualidades dessas mesmas espécies.

– É verdade.

– Logo, meu amigo, entenderemos que o indivíduo, que tiver na sua

alma estas mesmas espécies, merece bem, devido a essas mesmas

qualidades, ser tratado pelos mesmos nomes que a cidade”.

(PLATÃO. A República. Trad. de Maria Helena da Rocha Pereira. 7.ª ed.Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993. p. 190.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a justiça em Platão, écorreto afirmar:a) As pessoas justas agem movidas por interesses ou por benefícios

pessoais, havendo a possibilidade de ficarem invisíveis aos olhos dosoutros.

b) A justiça consiste em dar a cada indivíduo aquilo que lhe é de direito,conforme o princípio universal de igualdade entre todos os sereshumanos, homens e mulheres.

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c) A verdadeira justiça corresponde ao poder do mais forte, o qual,

quando ocupa cargos políticos, faz as leis de acordo com os seus

interesses e pune a quem lhe desobedece.

d) A justiça deve ser vista como uma virtude que tem sua origem na

alma, isto é, deve habitar o interior do homem, sendo independente

das circunstâncias externas.

e) Ser justo equivale a pagar dívidas contraídas e restituir aos demais

aquilo que se tomou emprestado, atitudes que asseguram uma

velhice feliz.

18.Leia e julgue as proposições abaixo sobre a teoria da matéria de

Aristóteles.

I. Existe uma espécie de hierarquia de existências que começam com

os quatro corpos primários: terra, água, fogo, ar, os quais formam

substâncias inorgânicas.

II. Os seres vivos vêm depois: as plantas apresentam as funções de

crescimento, nutrição e reprodução; os animais possuem, além

dessas, as de sensação, desejo e locomoção.

III. Os seres humanos possuem a faculdade da razão. Assim, o homem

pode exercer a suprema atividade que é a obtenção do

conhecimento, através de sua alma racional.

São verdadeiras:

a) Todas. b) Apenas I e II. c) Apenas II e III.

d) Apenas I e III. e) Apenas I.

19.Leia e julgue as assertivas abaixo, segundo a concepção de metafí -

sica no pensamento aristotélico.

I. A metafísica é, segundo o pensamento aristotélico, a filosofia primeira

que analisa os métodos e as premissas das filosofias secundárias (as

ciências particulares), e ela estuda o ser enquanto ser.

II. Assim, a metafísica analisa concretamente a noção de realidade. O

que define um homem e em que ele se distingue dos animais, por

exemplo, é a sua substância universalmente humana e não

particularidades materialmente observáveis.

III. A forma humana não é a sua animalidade, ou seja, o conjunto de

suas pulsões de sobrevivência.

IV. Em Aristóteles, a razão difere da concepção platônica na qual ela

provém do mundo das ideias; ao contrário, trata-se de uma

dimensão espiritual e não de uma habilidade. Assim, o homem

nasce, segundo esse filósofo, com ideias inatas.

São verdadeiras:

a) I e II b) I e III c) I e IV d) II e III e) III e IV

– 25

1) Para Platão, o poeta não poderia ser um constituinte da cidade

perfeita, visto que está a três passos da realidade e sua

produção está espelhada na sombra da realidade. Estando tão

distante do mundo inteligível, sua obra nos revela apenas a

aparência e apresenta uma descrição, sobretudo dos aspectos

trágicos e taciturnos da natureza humana, corrompendo a

alma. O poeta, assim, é duas vezes ilusório, visto que não

imita o mundo imanente, e sim apenas o mundo sensível.

2) Platão idealizava uma república em que não haveria espaço

para as paixões, e pensava que somente a razão e as leis

possuem excelência política na formação de um estado.

3) C 4) C 5) B 6) C

7) As imagens fantasmagóricas e sombras projetadas na parede

da caverna do mito da caverna. Representam a condição de

ignorância que os homens mantém sobre o mundo das ideias

que é o mundo original.

8) A necessidade de libertar-se das falsas realidades, conhecer

por inteiro as realidades palpáveis, partir em busca das ideias

e, finalmente, atingir o Bem.

9) Enquanto Platão age no plano das ideias, usando só a razão e

mal reparando nas transformações da natureza, Aristóteles

interessa-se por estas e pelos processos físicos. Não deixando

de se apoiar na razão, Aristóteles usa também os sentidos.

Para Platão a realidade é o que pensamos. Para Aristóteles é

também o que percebemos ou sentimos.

10) A Lógica é a arte de orientar o pensamento nas suas várias

direções para impedir o homem de cair no erro.

11) Deus seria a causa não causada, o motor imóvel do cosmos, a

divindade, que é a realidade suprema, a substância plena que

determina o movimento e a unidade do universo. Mas, para

Aristóteles, a divindade não tem a faculdade da criação do

mundo, este existe desde sempre. É a filosofia cristã que vai

dar à divindade o poder da Criação.

12) O mundo seria feito de matéria (ou substância) e forma. A

matéria é passividade, contendo a virtualidade da forma em

potência. A forma, por sua vez, é o princípio inteligível, a

essência comum a todos os indivíduos de uma mesma

espécie. Assim, a coisa comum a todos os seres de uma

espécie é a forma e tudo o que é distintivo ou singular é a

matéria ou substância.

13) Metafísica é a parte da Filosofia que trata de problemas sobre

o propósito e a origem da existência e dos seres, especulando em

torno dos primeiros princípios e das causas primeiras do ser.

14) Para esse filósofo, o conhecimento é o conhecimento das

causas: a causa material (aquilo de que uma coisa é feita), a causa

formal (aquilo que faz com que uma coisa seja o que é), a causa

eficiente (a que transforma a matéria) e a causa final (o objetivo

com que a coisa é feita). Todas pressupõem uma causa primeira,

uma causa não causada, o motor imóvel do cosmos, a divindade,

que é a realidade suprema, a substância plena que determina o

movimento e a unidade do universo.

15) D

16) Os antigos gregos acreditavam que a filosofia nascera do

espanto, no sentido de admiração. A filosofia, segundo o

próprio Platão, nascera da perplexidade, ou seja, da

capacidade humana de se admirar com o mundo. Assim, o

homem problematiza questões da vida, reflete sobre sua

própria condição e existência.

17) D 18) A 19) B

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1. Introdução

Entre tantas coisas, a Filosofia ocupou-se de estudaro ato de pensar e de conhecer. Como o homem pensa eproduz conhecimento? A teoria do conhecimento foichamada de epistemologia e essa área da Filosofia tornou-se fundamental para o desenvolvimento de métodoscientíficos. Relacionada a isso, está outra questão: qual éo critério necessário para identificar verdades?

Sabemos que o conhecimento é transmitido, pelafamília ou pela escola, por exemplo. Mas não é só isso: oconhecimento não é só transmitido, mas construído, casocontrário, não haveria acúmulo e evolução dos saberes eda forma de pensar ou interpretar o mundo. Como ohomem pode elaborar teorias e explicações válidas emtorno da realidade?

A imagem sugere a descoberta da racionalidade humana, exaltada pelosfilósofos iluministas.

2. Racionalismo e Empirismo

O filósofo René Descartes (1596-1650) iniciou umateoria do conhecimento. Descartes é um representantedo racionalismo ou do inatismo, segun do o qual ohomem desenvolve ideias a partir de seu próprio sujeito,pois a realidade está primeiramente no espírito. Diante dopolo sujeito e objeto (conhecedor e conhecido), Descartesprioriza o papel do primeiro, pois as ideias não vêm defora, mas estão dormentes no sujeito e somente umconhecimento baseado no critério da racionalidade internado homem pode assegurar um conhecimento verdadeiro.

Por outro lado, temos os empiricistas que afirmam ocontrário: a alma é como uma tábula rasa e o conhecimen -to só é construído em virtude do contato com a realidadeempírica, ou seja, em con tato com a realidade sensível.Um filósofo repre sentante dessa concepção é John

Locke (1632-1704) e Francis Bacon (1561-1626).Comparando Descartes a Locke, podemos afirmar queenquanto o primeiro en fatiza o sujeito conhecedor, osegundo enfatiza o ob jeto conhecido, pois a realidade éacessível ao pensa mento humano pela experimentação.

3. Immanuel Kant (1724-1804)

Entre a postura dos racionalistas, que valorizam osujeito, e dos empiricistas, que valorizam o objeto,encontramos a posição de Kant, para quem o conheci -mento esbarra com os limites da razão e com aspossibilidades da experiência. Se não se pode confiartotalmente na razão, também não se pode confiartotalmente nos sentidos.

Para Kant:“... o nosso conhecimento experimental é um

composto do que recebemos por impressões e do que anossa própria faculdade de conhecer de si mesma tira porocasião de tais impressões”.

Em suma, para Kant, o conhecimento resulta daapreensão dos conteúdos pela experiência empírica epela razão humana.

Kant, o filósofo que procurou conciliar o empiricismo e o racionalismo.

O Pensamento e o ConhecimentoMÓDULO 4

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4. Texto Filosófico Clássico

Fonte: I. Kant, Crítica da Razão Pura

O efeito de um objeto sobre a capacidade represen -tativa enquanto somos por ele afetados é a sensação.

Diz-se empírica a intuição que se refere ao objetomediante uma sensação. O objeto indeterminado de umaintuição empírica recebe o nome de fenômeno.

No fenômeno, denomino matéria aquilo que corres -ponde à sensação; e denomino forma do fenô meno o quefaz com que o que o fenômeno tem de diversificadopossa ser ordenado em determinadas relações.

Como aquilo em que somente as sensações seordenam e podem ser postas de uma determinada formanão pode, por sua vez, ser a sensação, resulta que amatéria de todo fenômeno só nos pode ser dada aposteriori, mas a forma relativa, para todos os fenômenos,já deve estar a priori no espírito e deve, portanto, poderser considerada separadamente de cada sensação.

5. Texto moderno: ConhecimentoCristina G. M. de Oliveira

Dá-se o nome de conhecimento à relação que seestabelece entre um sujeito cognoscente e um objeto.Assim, todo conhecimento pressupõe dois elementos: osujeito que quer conhecer e o objeto a ser conhecido.

Por extensão, dá-se também o nome de conheci men -to ao saber acumulado pelo homem através das gerações.

O conhecimento pode ser concreto, quando o sujeitoestabelece uma relação com o objeto individual. E podeser abstrato, quando estabelece uma relação com umobjeto geral, universal. Por exemplo, o conhecimento quetemos de homem, como gênero.

Devemos ressaltar que a relação de conhecimentoimplica uma transformação tanto do sujeito quanto doobjeto. O sujeito se transforma mediante o novo saber, eo objeto também se transforma, pois o conhecimento lhedá sentido.

Há muitos modos de se conhecer o mundo, quedependem da postura do sujeito frente ao objeto deconhecimento: o mito, o senso comum, a ciência, afilosofia, a arte.

Todos eles são formas de conhecimento, pois cadaum, ao seu modo, desvenda os segredos do mundo,atribuindo-lhe um sentido.

O mito proporciona um conhecimento que é mágicoporque ainda vem permeado pelo desejo de atrair o beme afastar o mal, dando segurança e conforto ao homem.

O senso comum ou conhecimento espontâneo é aprimeira compreensão do mundo resultante da herançado grupo a que pertencemos e das experiências atuaisque continuam sendo efetuadas.

A ciência, procurando descobrir o funcionamento danatureza através, principalmente, das relações de causa eefeito, busca o conhecimento objetivo, lógico, através demétodos desenvolvidos para manter a coerência internade suas afirmações.

A Filosofia, por sua vez, propõe-se oferecer um tipode conhecimento que busca, com todo o rigor, a origemdos problemas, relacionando-os a outros aspectos da vidahumana, numa abordagem globalizante.

Já o conhecimento proporcionado pela arte nos dánão o conhecimento de um objeto, mas de um mundo,interpretado pela sensibilidade do artista e traduzido numaobra individual.

Bibliografia: ARANHA, Maria Lúcia A., MARTINS, Maria H..P.Temas defilosofia.São Paulo: moderna,1992

6. Diversos modos de ver o mundo

Observe o quadro expondo modos de conhecer o mundo, os critérios de verdade, método e relação objeto-sujeito:

Modos de

Conhecer o

Mundo

Critérios de

verdadeObjetivação Metodologia Relação Sujeito-Objeto

1. O Mito A fé A expe riência pes soal discursivaA experiência

pessoal

Relação Suprapessoal, onde a Revelação do Sagrado semanifesta (revela) sobrenaturalmente ao profano através do

rito (Dramatização do mito, ou seja, da liturgia religiosa).

2. A

FilosofiaA razão

Esteticismo = A subjetividade doartista e do contemplador

A dialética (Odiscurso)

Relação transpessoal onde a palavra diz as coisas. O mundose manifesta pelos fenômenos e é dizível através do λογοσ.

3. O Senso

Comum

A culturaética e moral

A tradição culturalAs crençassilenciosas(Ideologias)

Relação interpessoal, onde a ideologia é estabelecida pelasideias dominantes e pelos poderes estabelecidos.

4. A Arte A estéticaEsteticismo = A subjetividade doartista e do contemplador (obser-

vador) da arte.O gosto

Relação pessoal, onde a criatividade é a percepção darealidade do autor e a interpretação é sensibilidade do

observador.

5. A CiênciaA experi-mentação

Objetividade = Comprovação de umadeterminada tese de modo obje tivo

A observaçãoRelação “impessoal”. A ausência do sujeito do cientistadiante de sua pesquisa: O mito da neutralidade científica.

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– Prof. Vanderlei e Barros Rosa – Professor de Filosofia eTeologia. Bacharel e Licenciado em Filosofia pelaUniversidade Estadual do Rio de Janeiro; Bacharel emTeologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil;Pós-graduado em Missiologia pelo Centro Evangélico deMissões; Pós-graduado em Educação Religiosa peloInstituto Batista de Educação Religiosa.

Glossário

Empírico: conhecimento baseado na experiênciasensível.

Inatismo: teoria que prega a ideia de algo inato, por tanto,não adquirido durante a existência.

1. A teoria do conhecimento foi chamada de

a) Epistemologia. b) Filosofia. c) Ciência.

d) Metodologia. e) Hermenêutica.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

2. “Devemos ressaltar que a relação de conhecimento implica uma

transformação tanto do sujeito quanto do objeto. O sujeito se transforma

mediante o novo saber, e o objeto também se transforma, pois o

conhecimento lhe dá sentido”. (Cristina de Oliveira):

Com isso, a autora quis

a) ressaltar o caráter dinâmico do processo de conhecimento.

b) indicar os limites do conhecimento.

c) mostrar a impossibilidade de se produzir um saber rigoroso, pois ele

está sempre se modificando.

d) valorizar a ciência sobre as demais formas de saber.

e) relativizar a capacidade racional humana.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

3. Sobre a produção de conhecimento, julgue as proposições abaixo:

I. Há várias formas de conhecer o mundo, com diferentes peculia -

ridades.

II. A arte aparece como uma forma de conhecimento predomi nan -

temente objetivo, pois resulta da experiência empírica.

III. O mito deve ser desclassificado como forma de conhecimento, pois

se baseia no inexistente e fantasioso.

IV. A filosofia é um conhecimento racional e elaborado com rigor.

São corretas:

a) apenas I e II. b) apenas II e III.

c) apenas I e III. d) apenas I e IV.

e) apenas III e IV.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

4. Segundo o “inatismo”, o homem desenvolve ideias a partir

a) de seu próprio sujeito.

b) da observação empírica.

c) dos dados coletados cientificamente.

d) de uma metodologia científica rigorosa, que deixe de lado

pressupostos racionais não comprovados.

e) da realidade externa.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

5. Diante do polo sujeito e objeto (conhecedor e conhecido), Descartes

prioriza o papel do primeiro, pois

a) as ideias vêm de fora e estão disponíveis na observação.

b) as ideias não vêm de fora, mas estão dormentes no sujeito.

c) somente um conhecimento baseado no critério da racionalidade

externa do homem pode assegurar um conhecimento verdadeiro.

d) esse filósofo é um empiricista.

e) deve-se confiar apenas na realidade concreta.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

6. Sobre o Empirismo, pode-se dizer:

I. A alma é como uma tábula rasa.

II. O conhecimento só é construído em virtude do contato com a

realidade empírica, ou seja, em contato com a realidade sensível.

III. Um filósofo representante dessa concepção é John Locke.

IV. O homem é portador de uma racionalidade confiável e segura na

produção de conhecimento e deve-se desconfiar dos sentidos.

São verdadeiras apenas:a) I e II. b) II e III. c) I, III e IV. c) I, II e III. d) II, III e IV. e) III e IV.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

7. Comparando Descartes a Locke, podemos afirmar:

a) Enquanto o primeiro enfatiza o sujeito conhecedor, o segundo

enfatiza o objeto conhecido.

b) Para o primeiro, a realidade é acessível ao pensamento humano pela

experimentação.

c) Os dois são adeptos de uma mesma metodologia e linha epistemo -

lógica.

d) Enquanto o primeiro é um empirista, o segundo é um inatista.

e) Enquanto o primeiro é um realista, o segundo é um racionalista.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

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8. (ENEM)TEXTO I

Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos,recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que aquilo quedepois eu fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser senãomui duvidoso e incerto. Era necessário tentar seriamente, uma vez emminha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então deracrédito, e começar tudo novamente a fim de estabelecer um saber firmee inabalável.

DESCARTES, R. Meditações concernentes à Primeira Filosofia.

São Paulo: Abril Cultural, 1973 (adaptado).

TEXTO II

É o caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprioprocesso de busca. Se todo o espaço for ocupado pela dúvida, qualquercerteza que aparecer a partir daí terá sido de alguma forma gerada pelaprópria dúvida, e não será seguramente nenhuma daquelas que foramanteriormente varridas por essa mesma dúvida.

SILVA, F.L. Descartes. a metafísica da modernidade.

São Paulo: Moderna, 2001 (adaptado).

A exposição e a análise do projeto cartesiano indicam que, para viabilizara reconstrução radical do conhecimento, deve-sea) retomar o método da tradição para edificar a ciência com

legitimidade.b) questionar de forma ampla e profunda as antigas ideias e

concepções.c) investigar os conteúdos da consciência dos homens menos

esclarecidos.d) buscar uma via para eliminar da memória saberes antigos e

ultrapassados.e) encontrar ideias e pensamentos evidentes que dispensam ser

questionados.

RESOLUÇÃO:

Os textos enfatizam o papel questionador do cognoscente, que

deve deixar de lado toda concepção anterior, e o termo “radical”

empregado no texto II tem o sentido de raiz, portanto, de profundo.

Descartes introduziu o ceticismo metodológico, que consiste no

exercício de afastar toda dúvida até se chegar ao conhecimento.

9. (ENEM)

TEXTO I

Experimentei algumas vezes que os sentidos eram enganosos, e é deprudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez.

DESCARTES, R. Meditações Metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

TEXTO II

Sempre que alimentarmos alguma suspeita de que uma ideia estejasendo empregada sem nenhum significado, precisaremos apenasindagar: de que impressão deriva esta suposta ideia? E se for impossívelatribuir-lhe qualquer impressão sensorial, isso servirá para confirmarnossa suspeita.

HUME, D. Uma investigação sobre o entendimento. São Paulo:Unesp, 2004 (adaptado).

Nos textos, ambos os autores se posicionam sobre a natureza doconhecimento humano. A comparação dos excertos permite assumirque Descartes e Humea) defendem os sentidos como critério originário para considerar um

conhecimento legítimo.b) entendem que é desnecessário suspeitar do significado de uma ideia

na reflexão filosófica e crítica.c) são legítimos representantes do criticismo quanto à gênese do

conhecimento.d) concordam que conhecimento humano é impossível em relação às

ideias e aos sentidos.e) atribuem diferentes lugares ao papel dos sentidos no processo de

obtenção do conhecimento.

RESOLUÇÃO:

René Descartes é representante da concepção racionalista,

segundo a qual a razão humana, e não a experiência empírica

(sensorial, concreta e real), é fonte confiável de produção de

conhecimento.

Já David Hume representa a concepção empirista, segundo a qual

a mente humana é uma tábula rasa e todo conhecimento se origina

na experiência empírica e sensorial.

Portanto, os dois filósofos discordam quanto ao papel dos sentidos

no processo de obtenção do conhecimento.

Resposta: E

10. (UNICAMP-2013) – A dúvida é uma atitude que contribui para osurgimento do pensamento filosófico moderno. Neste comportamento,a verdade é atingida através da supressão provisória de todoconhecimento, que passa a ser considerado como mera opinião. Adúvida metódica aguça o espírito crítico próprio da Filosofia.

(Adaptado de Gerd A. Bornheim, Introdução ao filosofar. Porto Alegre: Editora Globo, 1970, p. 11.)

A partir do texto, é correto afirmar que: a) A Filosofia estabelece que opinião, conhecimento e verdade são

conceitos equivalentes. b) A dúvida é necessária para o pensamento filosófico, por ser

espontânea e dispensar o rigor metodológico. c) O espírito crítico é uma característica da Filosofia e surge quando

opiniões e verdades são coincidentes. d) A dúvida, o questionamento rigoroso e o espírito crítico são

fundamentos do pensamento filosófico moderno.

RESOLUÇÃO:

O ceticismo metodológico foi introduzido pelo filósofo René

Descartes no século XVII e esse método surge como resposta ao

ambiente de incerteza de seu próprio tempo. Seria preciso

construir um saber racional a partir de certezas indubitáveis.

Descartes foi consi derado o fundador da filosofia moderna.

Resposta: D

– 29

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1. Sobre o texto de Cristina de Oliveira e o quadro de Vanderlei de B.Rosas, podemos afirmar:I. Ambos valorizam várias formas de conhecer o mundo, apontando

peculiaridades.II. A arte aparece como uma forma de conhecimento predominan -

temente objetivo, pois resulta da experiência empírica.III. O mito é desclassificado como forma de conhecimento, pois se

baseia no inexistente e fantasioso. IV. A filosofia é apresentada como um conhecimento racional e

elaborado com rigor. São coerentes:a) apenas I e II. b) apenas II e III. c) apenas I e III. d) apenas I e IV. e) apenas III e IV.

2. Aponte as diferenças fundamentais da postura dos racionalistas edos empiricistas acerca da forma como o homem produz conhecimento.

3. Sobre a distinção entre racionalistas e empiricistas, qual é a posiçãoassumida pelo filósofo Immanuel Kant?

4. “ Devemos ressaltar que a relação de conhecimento implica umatransformação tanto do sujeito quanto do objeto. O sujeito se transformamediante o novo saber, e o objeto também se transforma, pois oconhecimento lhe dá sentido”. (Cristina de Oliveira): Com isso, a autora quisa) ressaltar o caráter dinâmico do processo de conhecimento.b) indicar os limites do conhecimento.c) mostrar a impossibilidade de se produzir um saber rigoroso, pois ele

está sempre se modificando.d) valorizar a ciência sobre as demais formas de saber.e) relativizar a capacidade racional humana.

5. “... o nosso conhecimento experimental é um composto do que

recebemos por impressões e do que a nossa própria faculdade de

conhecer de si mesma tira por ocasião de tais impressões”.

Segundo o seu conhecimento em epistemologia, a frase anterior deve

ser atribuída a:

a) Descartes b) Bacon c) Locke

d) Platão e) Kant

6. No debate sobre epistemologia, Kant situa-se

a) ao lado dos racionalistas, valorizando o sujeito produtor de

conhecimento.

b) ao lado dos empiristas, sobrevalorizando o papel da razão humana.

c) ao lado dos inatistas, valorizando a produção de conhecimento pela

obsrvação da realidade concreta.

d) ao lado dos empiristas, valorizando a observação e o papel dos

sentidos.

e) entre a postura dos racionalistas, que valorizam o sujeito, e a dos

empiricistas, que valorizam o objeto.

7. Para Kant,

a) só se pode confiar nos sentidos.

b) deve-se confiar sobretudo na razão.

c) a razão é incapaz de reconhecer seus próprios limites para conhecer.

d) não há limites na racionalidade humana e não se deve confiar nos

sentidos.

e) se não se pode confiar totalmente na razão, também não se pode

confiar totalmente nos sentidos.

8. Conhecimento espontâneo é a primeira compreensão do mundo

resultante da herança do grupo a que pertencemos e das experiências

atuais que continuam sendo efetuadas. Trata-se da seguinte produção

de conhecimento.

a) Arte. b) Ciência. c) Filosofia.

d) Senso comum. e) Religião.

9. Procura descobrir o funcionamento da natureza, princi palmente,

pelas relações de causa e efeito, busca o conhecimento objetivo, lógico,

por métodos desenvolvidos para manter a coerência interna de suas

afirmações. Trata-se da seguinte produção de conhecimento.

a) Arte. b) Ciência. c) Filosofia.

d) Senso Comum. e) Religião.

10.Propõe-se oferecer um tipo de conhecimento que busca, com todo

o rigor, a origem dos problemas, relacionando-os com outros aspectos

da vida humana, numa abordagem globalizante. Trata-se da seguinte

produção de conhecimento.

a) Arte. b) Ciência. c) Filosofia.

d) Senso comum. e) Religião.

11.Essa forma de saber nos dá não o conhecimento de um objeto, mas

de um mundo, interpretado pela sensibilidade do criador e traduzido

numa obra individual. Trata-se da seguinte produção de conhecimento.

a) Arte. b) Ciência. c) Filosofia.

d) Senso Comum. e) Religião.

12.Passar do senso comum à consciência filosófica significa passar de

uma concepção fragmentária, incoerente, desarticulada, implícita,

degradada, para uma concepção

a) mecânica e coerente. b) passiva e explícita.

c) simplista e intencional. d) ativa e dogmática.

e) original e cultivada.

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1) D

2) Segundo o racionalismo, o homem desenvolve ideias a partir

de seu próprio sujeito, pois a realidade está primeiramente no

espírito. Diante do polo sujeito e objeto os racionalistas

valorizam o papel do primeiro, pois as ideias não vêm de fora,

mas estão dormentes no sujeito e somente um conhecimento

baseado no critério da racionalidade interna do homem pode

assegurar um conhecimento verdadeiro. Os empiricistas

afirmam o contrário: a alma é como uma tábula rasa e o

conhecimento só é construído em virtude do contato com a

realidade empírica, ou seja, em contato com a realidade

sensível, enfatizando o objeto conhecido, pois a realidade é

acessível ao pensamento humano pela experimentação.

3) Kant assume uma posição intermediária, pois, para ele, o

conhecimento resulta da apreensão dos conteúdos pela

experiência empírica e pela razão humana.

4) A 5) E 6) E 7) E 8) D

9) B 10) C 11) A 12) E

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MAQUIAVEL E POLÍTICA SOCIAL

1. Introdução

Nicolau Maquiavel (Niccolò Machiavelli) nasceu naFlorença, no dia 3 de maio de 1469 e morreu na mesmacidade em 21 de Junho de 1527. Filósofo, historiador,poeta, diplomata e músico italiano do Renascimento, foium filho do Antropocentrismo de seu século. Consideradofundador do pensamento político moderno, por ter escritosobre o Estado e o governo como realmente são e nãocomo deveriam ser. De Maquiavel, surgiu o adjetivomaquiavélico que significa espírito oportunista, astuto eesperto.

O contexto histórico em que viveu foi marcado peloesplendor cultural do Renascimento italiano, pelo retornoà cultura clássica e pelo governo florentino de Lourençode Médici. Aos 29 anos de idade, foi secretário daSegunda Chancelaria (responsável pelas guerras e políticainterna) em Florença. Teve assim a oportunidade deestudar o comportamento e atitudes dos políticos de suaépoca, experiência que fundamentou a sua obra.

Florença, em que viveu Maquiavel, foi um centro cultural e de arte naItália renascentista.

Escreveu várias obras, entre as quais, destacam-se“O Prín cipe” e os “Discursos sobre a primeira década deTito Lívio.”

O “Príncipe” (1513) é a obra mais popular e maisestudada de Maquiavel. O filósofo italiano enxergou apossibilidade de um príncipe unificar a Itália e defendê-lacontra os estrangeiros, com a união de Juliano de Médicie do Papa Leão X, porém, dedicou a obra a Lourenço deMédici II, mais jovem, com o claro objetivo de estimulá-

lo a realizar a unificação. O livro divide-se em 26 capítulos.Define o principado, criando uma tipificação. Além disso,defende a necessidade do príncipe de fundamentar suasforças não em mercenários, mas em exércitos próprios,e, após tratar do governo propriamente dito e dos motivospor trás da fraqueza dos Estados italianos, faz uma exorta -ção a que um novo príncipe conquiste e liberte a Itália.

2. Conceitos importantes

A obra de Maquiavel está intimamente relacionadacom o mundo em que viveu. Foi um empirista, ou seja,não era um teórico sistemático, não separava a teoria daprática. Pregou o Estado laico, ou seja, a separação daesfera política da religiosa.

Na sua obra, encontramos dois conceitos centrais:virtù e fortuna. Tais conceitos aparecem muitas vezes edefinem parte do seu pensamento.

Para ele, a virtù seria a habilidade de adaptação aosacontecimentos políticos que levaria à permanência nopoder. A virtù funcionaria como uma barragem que deteriaos desígnios do destino. O poder de um príncipe éameaçado se esse não tiver a capacidade de mudar,acompanhando as alterações da situação. Caso nãoutilizar a virtù, o governante perderá o poder.

Fortuna era, na mitologia romana, a deusa da sorte,boa ou má, e dos acontecimentos inevitáveis. ParaMaquiavel, nunca se sabe se a sorte sorrirá, ou seja, se ascircunstâncias históricas serão favoráveis ao governanteou não. Porém, dizia, quem fosse portador da virtù, seriaagraciado pela fortuna.

Maquiavel foi um pensador típico de sua época: uma renascentistaitaliano.

Maquiavel e a Política da AstúciaFilosofia Social: Thomas HobbesMÓDULO 5

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3. Antropologia maquiavélica.

Para Maquiavel, o homem era naturalmente portadorde uma natureza egoísta e má. Os homens querem obteros máximos ganhos a partir do menor esforço, e fazem obem quando forçados a isso. Não compreendia o homemcomo fruto de processos históricos e culturais, e assim,para ele, o homem era sempre o mesmo, não alterandosuas más inclinações.

Lourenço de Médici, príncipe de Florença na época de Maquiavel.

Texto 1

Maquiavel

Mais de quatro séculos nos separam da época emque viveu Maquiavel. Muitos leram e comentaram suaobra, mas um número consideravelmente maior depessoas evoca seu nome ou pelo menos os termos queaí tem sua origem. “Maquiavélico e maquiavelismo” sãoadjetivo e substantivo que estão tanto no discursoerudito, no debate político, quanto na fala do dia a dia. Seuuso extrapola o mundo da política e habita sem nenhumacerimônia o universo das relações privadas. Em qualquerde suas acepções, porém, o maquiavelismo está associa -do a ideia de perfídia, a um procedimento astucio so,velhaco, traiçoeiro. Estas expressões pejora tivas so bre vi -ve ram de certa forma incólumes no tempo e no espaço,apenas alastrando-se da luta política para as desavençasdo cotidiano. Assim, hoje em dia , na maioria das vezes,

Maquiavel é mal interpretado. Maquiavel, ao escrever suaprincipal obra, O PRÍNCIPE, criou um “manual dapolítica”, que pode ser interpretado de muitas maneirasdiferentes. Talvez por isso sua frase mais famosa: -”Osfins justificam os meios”- seja tão mal interpretada.

Mas para entender Maquiavel em seu real contexto,é necessário conhecer o período histórico em que viveu.É exatamente isso que vamos fazer.

(Extraído de www.culturabrasil)

4. O Panorama Político

Maquiavel viveu durante a Renascença Italiana, o queexplica boa parte das suas ideias.

Na Itália do Renascimento reina grande confusão. A tirania impera em pequenos principados, governadosdespoticamente por casas reinantes sem tradiçãodinástica ou de direitos contestáveis. A ilegitimidade dopoder gera situações de crise e instabilidade permanente,onde somente o cálculo político, a astúcia e a ação rápidae fulminante contra os adversários são capazes de mantero príncipe. Esmagar ou reduzir à impotência a oposiçãointerna, atemorizar os súditos para evitar a subversão erealizar alianças com outros principados constituem o eixoda administração. Como o poder se funda exclusivamenteem atos de força, é previsível e natural que pela força sejadeslocado, deste para aquele senhor. Nem a religião nema tradição, nem a vontade popular legitimaram e ele temde contar exclusivamente com sua energia criadora. A au -sên cia de um Estado central e a extrema multipola rizaçãodo poder criam um vazio, que as mais fortes individuali -dades têm capacidade para ocupar. Até 1494, graças aosesforços de Lourenço, o Magnífico, a península experi -men tou uma certa tranquilidade.

Entretanto, desse ano em diante, as coisas mudarammuito. A desordem e a instabilidade ficaram incontro -láveis. Para piorar a situação, que já estava grave, devidoaos conflitos internos entre os principados, somaram-seas constantes e desestruturadoras invasões dos paísespróximos como a França e a Espanha. E foi nesse cenárioconturbado, onde nenhum governante conseguia semanter no poder por um período superior a dois meses,que Maquiavel passou a sua infância e adolescência.

5. Vida e obra

Maquiavel nasceu em Florença em 3 de maio de1469, numa Itália “esplendorosa, mas infeliz”, segundoo historiador Garin. Sua família não era aristocrática nemrica. Seu pai, advogado como um típico renascentista, eraum estudioso das humanidades, tendo se empenhadoem transmitir uma aprimorada educação clássica para seufilho. Maquiavel com 12 anos, já escrevia no melhor estiloe, em latim. Mas apesar do brilhantismo precoce, só em

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1498, com 29 anos Maquiavel exerce seu primeiro cargona vida pública. Foi nesse ano que Nicolau passou aocupar a segunda chancelaria. Isso se deu após adeposição de Savonarola, acompanhado de todos osdetentores de cargos importantes da república florentina.Nessa atividade, cumpriu uma série de missões, tantofora da Itália como internamente, destacando-se suadiligência em instituir uma milícia nacional.

Com a queda de soverine, em 1512, a dinastia Médicivolta ao poder, desesperando Maquiavel, que é envolvidoem uma conspiração, torturado e deportado. É permitidoque se mude para São Cassiano, cidade pequena próximade Florença, onde escreve sobre a Primeira década deTito-Lívio, mas interrompe esse trabalho para escrever suaobra prima: O Príncipe, segundo alguns, destinado a quese reabilitasse com os aristocratas, já que a obra era nadamais que um manual da política.

Maquiavel viveu uma vida tranquila em S. Cassiano.Pela manhã, ocupava-se com a administração da pequenapropriedade onde está confinado.

À tarde, jogava cartas numa hospedaria com pessoassimples do povoado. E à noite vestia roupas de cerimôniapara conviver, através da leitura com pessoas ilustres dopassado, fato que levou algumas pessoas a considerá-lolouco.

A obra de Maquiavel é toda fundamentada em suaprópria experiência, seja ela com os livros dos grandesescritores que o antecederam, ou sejam os anos comosegundo chanceler, ou até mesmo a sua capacidade deolhar de fora e analisar o complicado governo do qualterminou fazendo parte.

Enfim, em 1527, com a queda dos Médici e arestauração da república, Maquiavel que achava estaremfindos os seus problemas, viu-se identificado por jovensrepublicanos como alguém que tinha ligações com ostiranos depostos. Então se viu vencido. Esgotaram-sesuas forças. Foi a gota d’água que estava faltando. Arepública considerou-o seu inimigo. Desgostoso, adoecee morre em junho.

Mas nem depois de morto, Maquiavel terá descanso.Foi posto no Índex pelo concílio de Trento, o que o levou,desde então a ser objeto de excreção dos moralistas.

6. A Nova Ciência Política

Maquiavel faleceu sem ter visto realizados os ideaispelos quais se lutou durante toda a vida. A carreira pessoalnos negócios públicos tinha sido cortada pelo meio como retorno dos Médicis e, quando estes deixaram o poder,os cidadãos esqueceram-se dele, “um homem que afortuna tinha feito capaz de discorrer apenas sobreassuntos de Estado”. Também não chegou a ver a Itáliaforte e unificada.

Deixou, porém um valioso legado: o conjunto deideias elaborado em cinco ou seis anos de meditaçãoforçada pelo exílio. Talvez nem ele mesmo soubesseavaliar a importância desses pensamentos dentro dopanorama mais amplo da história, pois “especulousempre sobre os problemas mais imediatos que seapresentavam”. Apesar disso, revolucionou a história dasteorias políticas, costituindo-se um marco que modificouo fato das teorias do Estado e da sociedade nãoultrapassarem os limites da especulação filosófica.

O universo mental de Nicolau Maquiavel é completa -mente diverso. Em São Cassiano, tem plena consciênciade sua originalidade e trilha um novo caminho. Delibera -damente distancia-se dos “tratados sistemáticos daescolástica medieval” e, à semelhança dos renascen tistaspreocupados em fundar uma nova ciência física, rompecom o pensamento anterior, através da defesa do métododa investigação empírica.

7. O pensamento de Maquiavel

Maquiavel nunca chegou a escrever a sua frase maisfamosa: “os fins justificam os meios”. Mas com certezaela é o melhor resumo para sua maneira de pensar. Seriapraticamente impossível analisar num só trabalho, todo opensamento de Nicolau Maquiavel, portanto, vamosanalisá-lo baseados nessa máxima tão conhecida e tãodiferentemente interpretada.

Ao escrever O Príncipe, Maquiavel expressa nitida -men te os seus sentimentos de desejo de ver uma Itáliapoderosa e unificada. Expressa também a necessidade(não só dele, mas de todo o povo Italiano) de um monarcacom pulso firme, determinado que fosse um legítimo reie que defendesse seu povo sem escrúpulos e nem mediresforços.

Em O Príncipe, Maquiavel faz uma referência elogiosaa César Bórgia, que após ter encontrado na recémconquistada Romanha, um lugar assolado por pilhagens ,furtos e maldades de todo tipo, confia o poder a DomRamiro de Orco. Este, por meio de uma tirania impiedosae inflexível põe fim à anarquia e se faz detestado por todaparte. Para recuperar sua popularidade, só restava aBórgia suprimir seu ministro. E um dia em plena praça,no meio de Cesena, mandou que o partissem ao meio. Opovo por sua vez ficou, ao mesmo tempo, satisfeito echocado.

Para Maquiavel, um príncipe não deve medir esforçosnem hesitar, mesmo que diante da crueldade ou datrapaça, se o que estiver em jogo for a integridadenacional e o bem do seu povo.

“... sou de parecer de que é melhor ser ousado doque prudente, pois a fortuna (oportunidade) é mulher e,

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para conservá-la submissa, é necessário (...) contrariá-la.Vê-se, que prefere, não raramente, deixar-se venderpelos ousados do que pelos que agem friamente. Porisso é sempre amiga dos jovens, visto terem eles menosrespeito e mais ferocidade e subjugarem-na com maisaudácia”.

Para Maquiavel, como renascentista que era, quasetudo que veio antes estava errado. Esse tudo deve incluiros pensamentos e as ideias de Aristóteles. Ao contráriodeste, Maquiavel não acredita que a prudência seja omelhor caminho. Para ele, a coerência está contida na artede governar.

Maquiavel procura a prática. A execução fria dasobser vações meticulosamente analisadas, feitas sobre oEs ta do, a sociedade. Maquiavel segue o espírito renas -cen tista, inovador. Ele quer superar o medieval. Querseparar os interesses do Estado dos dogmas e interes -ses da igreja.

Maquiavel não era o vilão que as pessoas pensam.Ele não era nem malvado. O termo maquiavélico tem sidoconstantemente mal interpretado. “Os fins justificam osmeios”. Maquiavel, ao dizer essa frase, provavelmentenão fazia ideia de quanta polêmica ela causaria. Ao dizerisso, Maquiavel não quis dizer que qualquer atitude éjustificada dependendo do seu objetivo. Seria totalmenteabsurdo. O que Maquiavel quis dizer foi que os finsdeterminam os meios. É de acordo com o seu objetivoque você vai traçar os seus planos de como atingi-los.

8. Conclusão

Assim, a contribuição de Nicolau Maquiavel para omundo é imensa e fantástica. Maquiavel ensinou, atravésda sua obra , a vários políticos e governantes. Aliás, a obrade Maquiavel entrou para sempre não só na história,como na nossa vida cotidiana atual, já que é aplicável atodos os tempos.

É possível perceber que “Maquiavel, fingindo ensinaraos governantes, ensinou também ao povo”. E é por issoque até hoje, e provavelmente para sempre, ele seráreconhecido como um dos maiores pensadores dahistória do mundo.

Trecho de O Príncipe

Quem quiser praticar a bondade em tudo o que fazestá condenado a penar, entre tantos que não são bons.É necessário, portanto, que o príncipe que deseja manter-se aprenda a agir sem bondade, faculdade que usará ounão, em cada caso, conforme seja necessário.

[…]

Pode-se observar que todos os homens – espe cial -men te os soberanos, colocados em posição mais elevada– têm a reputação de certas qualidades que lhe valemelogios ou vitupérios (palavra ou atitude ofensiva). Assim,alguns são tidos como liberais, outros por miseráveis […];um é considerado generoso; o outro, ávido; um cruel; ooutro, misericordioso; um, efeminado e pusilânime(covarde); e outro bravo e corajoso; […] e assim pordiante.

Naturalmente, seria muito louvável que um príncipepossuísse todas as boas qualidades acima mencionadas,mas como isso não é possível, pois as condiçõeshumanas não o permitem, é necessário que tenha aprudência necessária para evitar o escândalo provocadopelos vícios que poderiam fazê-lo perder seus domínios,evitando os outros, se for possível; se não for, poderápraticá-los com menores escrúpulos. Contudo não deverápreocupar-se com a prática escandalosa daqueles víciossem os quais é difícil salvar o Estado; isto porque, se serefletir bem, será fácil perceber que certas qualidades queparecem virtudes levam à ruína, e outras, que parecemvícios, trazem como resultado o aumento da segurança edo bem-estar.

Edição antiga de O Príncipe

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Texto 2

Maquiavel e a política contemporânea.

Por Alexandre Gomes

Maquiavel é talvez um dos autores – como a imensamaioria dos clássicos de qualquer área – mais malcompreendidos tanto pela crítica como, principalmente,pelo senso comum. A própria significação que se dá aotermo maquiavélico revela esta incompreensão.

A principal destas incompreensões provavelmente éa que o vincula à ação inescrupulosa e ao desejo do poderpelo Poder. Nada mais contrário a Maquiavel, ao definirque “os fins justificam os meios” – frase habitualmenteutilizada fora de contexto - ele não desprezava os fins, osobjetivos, mas sim os colocava em seu devido lugar: nocentro de planejamento de qualquer ação política.

E quais eram os fins que Maquiavel almejava,pergunta que poucos se fazem. Em primeiro lugar eledesejava trazer para a Itália uma instituição republicana naqual a vontade do povo fosse respeitada. É bastanteevidente em um texto dele – muito menos conhecido que"O Príncipe" – Comentários sobre a Primeira Década deTito Lívio sua vocação republicana e em certa medidademocrática.

Mas, mesmo nas páginas do Príncipe, ele adverte aosoberano que é perigoso ser odiado pelo povo e que a umgovernante que não é capaz de manter-se em paz com opovo é inútil a proteção dos exércitos e fortificações. Istose dá porque na sua compreensão de sociedade há atoresmúltiplos – o príncipe, os nobres, o povo – e, portanto eleé capaz de perceber que sempre existirão conflitos nasociedade.

Este modelo é muito diferente dos posteriores queirão imaginar a existência de um Estado acima dasociedade – como o pensado pelo modelo liberal – ouapenas como apêndice de uma parte da sociedade –como os marxistas. Ainda hoje parece ser um paradigmaeficiente para analisar a política.

Metas realistas

Maquiavel dedica boa parte dos seus textos a avaliarque é necessário ver a política como ela é, não como eladeveria ser. Ao afirmar isto ele em momento nenhumadvogou que os muitos truques – do assassinato àcorrupção - analisados por ele fossem um padrão ou umideal do que deveria ser a política – tampouco de que elasempre haveria de ser assim. Ele apenas constatou fatose analisou os dados presentes.

Assim a visão de Maquiavel é essencialmenteestratégica: definir o objetivo, enxergar a realidade comoela é, refletir como a partir daquela realidade dada se podechegar à situação desejada no objetivo, rever os objetivos

a partir desta reflexão e, finalmente, pensar nas táticasque podem ajudar a concretizar o objetivo através de umprocesso gradual de metas realistas e concretas.

Além disto, ele adverte de um lado para que não seperca o objetivo de vista e de outro para que nem todatática é recomendável. A questão não é, portanto linearnem são infinitas as escolhas porque algumas delasampliam o risco admissível. Os riscos, avalia ele, às vezesdevem ser corridos porque a sorte em geral favorece aosaudazes, mas se deve estar conscientes deles. Mais oumenos o conceito de risco calculado da estratégia militarcontem porânea.

Assim ele sabe que o Estado que ele deseja não seráobtido enquanto a Itália não for unificada. Sabe que elaNão será unificada a não ser por um Príncipe forte e queeste processo inevitavelmente conduzirá a guerras eviolência. Sabe que esta centralização precisa se dar emtorno de um nome forte porque precisará obrigatoriamen -te combater a aristocracia – com a qual o Estado republi -cano final não será possível. Daí o conteúdo até brutal emalguns momentos do Príncipe.

Síndrome de Cassandra

Curioso que Maquiavel, ao lado de dois outrosgrandes estrategistas – Ibn Khaldun e Karl Clausewitz –jamais tenham sido ouvidos em sua época. Maquiavelpassou a vida toda tentando se fazer ouvir pelos príncipesitalianos. Khaldun passou a vida fugindo de corte em cortedo Magreb onde inevitavelmente caia em desgraça.Clausewitz jamais conseguiu ser levado a sério peloEstado maior prussiano.

Tal como a personagem da mitologia grega, os trêsparecem ter recebido ao mesmo tempo o dom de prevero futuro e a maldição de não ser capaz de convencerninguém das suas previsões por mais acertadas quefossem. Ainda assim Maquiavel continua hoje sendo umeficiente conselheiro, Clausewitz moldando os exércitoscontemporâneos e Khaldun arrancando exclamaçõessobre a atualidade de seu modelo de interpretação dodesenvolvimento das sociedades. Enquanto isto oscontemporâneos a eles que obtiveram seus efêmerossucessos tiveram o nome apagados da história.

Frases de Maquiavel

“Há três espécies de cérebros: uns entendem por sipróprios; os outros discernem o que os primeirosentendem; e os terceiros não entendem nem por sipróprios nem pelos outros; os primeiros sãoexcelentíssimos; os segundos excelentes; e osterceiros totalmente inúteis”.

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Filosofia Social: Thomas Hobbes

9. Introdução

Hoje, dispomos de uma ciência específica que estudao ser social, as relações sociais: a sociologia. Mas afilosofia nunca deixou de interpretar a sociedade, aconvivência humana, imposta pela própria naturezaantropológica, pois o homem é um ser social e a vida emsociedade tem um fim em si mesmo. A filosofia tambémaborda as questões de política e ética, fundamentais parao estudo da sociedade humana.

Alguns filósofos acreditavam que o homem não eranaturalmente um ser social. Afirmavam que o homemvivia originalmente em um estado de natureza, mas queacabava por renunciar a este para assim conseguiralgumas vantagens, como segurança. A sociedade,portanto, era vista como um pacto ou contrato artificial,como um artifício para assegurar algum bem-estar. Essavisão já não é aceita pelos sociólogos e filósofosmodernos. Não há como pensar o homem sem asociedade. Veremos abaixo um pequeno texto de ThomasHobbes (1588-1679), filósofo inglês, para quem asociedade era um pacto artificial.

Hobbes, filósofo político, para quem a sociedade era um pacto artificial.

10. Texto Clássico

É certo que algumas criaturas vivas, como as abelhase as formigas, vivem em sociedade (e por isso sãoinclusas por Aristóteles entre as criaturas políticas), masnão são regidas senão por seus juízos e apetitesparticulares, não dispondo da linguagem por meio da qualuma possa indicar à outra aquilo que acredita servantajoso para o bem comum. Assim, talvez algunsdesejem saber por que o gênero humano não pode fazero mesmo. Ao que respondo:

Em primeiro lugar, os homens estão em contínuacompetição pela honra e pela dignidade, o que não ocorreentre essas criaturas; consequentemente, surgem entreos homens inveja e ódio e, por fim, a guerra; entre ascriaturas não é assim.

“Nenhum indício melhor se pode ter a respeito deum homem do que a companhia que frequenta: o quetem companheiros decentes e honestos adquire,merecidamente, bom nome, porque é impossível quenão tenha alguma semelhança com eles”.

“Os homens têm menos escrúpulos em ofenderquem se faz amar do que quem se faz temer, pois oamor é mantido por vínculos de gratidão que serompem quando deixam de ser necessários, já que oshomens são egoístas; mas o temor é mantido pelomedo do castigo, que nunca falha”.

“Não se pode chamar de "valor" assassinar seuscidadãos, trair seus amigos, faltar a palavra dada, serdesapiedado, não ter religião. Essas atitudes podemlevar à conquista de um império, mas não à glória”.

“Assegurar-se contra os inimigos, ganhar amigos,vencer por força ou por fraude, faze-se amar a e temerpelo povo, ser seguido e respeitado pelos soldados,destruir os que podem ou devem causar dano, inovarcom propostas novas as instituições antigas, sersevero e agradável, magnânimo e liberal, destruir amilícia infiel e criar uma nova, manter as amizades dereis e príncipes, de modo que lhe devam beneficiarcom cortesia ou combater com respeito, nãoencontrará exemplos mais atuais do que as ações doduque”.

“Um príncipe sábio deve observar modos similarese nunca, em tempo de paz, ficar ocioso".

“... Pois o homem que queira professar o bem portoda parte é natural que se arruíne entre tantos que nãosão bons”.

“Tendo o príncipe necessidade de saber usar bem anatureza do animal, deve escolher a raposa e o leão,pois o leão não sabe se defender das armadilhas e araposa não sabe se defender da força bruta dos lobos.Portanto é preciso ser raposa, para conhecer asarmadilhas e leão, para aterrorizar os lobos”.

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Em segundo lugar, entre as criaturas o bem comumnão se distingue do bem individual, mas, sendo, pornatureza, inclinadas a buscar o seu bem individual,acabam por alcançar o bem comum. Mas, para oshomens, a felicidade consiste em comparar-se com osoutros homens...

Em terceiro lugar, não possuindo essas criaturas (aocontrário do homem) o uso da razão, não veem nempensam ver qualquer culpa na administração dos seusnegócios comuns, ao passo que entre os homensexistem muitos que se julgam mais sábios e capazes queos outros para governar a coisa pública; e se esforçampara reformar e inovar as formas diferentes, o que acabapor levar à divisão e à guerra civil.

Em quarto lugar, essas criaturas irracionais, mesmofazendo um certo uso da voz para comunicar entre si osseus desejos e as suas predileções, são desprovidos daarte da linguagem, mediante a qual alguns homenspodem representar aos demais o que é bem sob aaparência do mal, e o que é mal sob a aparência do bem,aumentando ou diminuindo a aparente dimensão do beme do mal, provocando descontentamento entre oshomens e abalando sua paz e seu bel-prazer.

Em quinto lugar, as criaturas irracionais não sãocapazes de distinguir injúria e dano; portanto, desde quese sintam à vontade, não se sentem ofendidas pelas suascompanheiras, ao passo que o homem é tanto maisturbulento quanto mais se sente à vontade; é justamenteneste caso que gosta de exibir a sua sabedoria e censuraras ações daqueles que governam o Estado.

Finalmente, o acordo que se produz entre as cria turasé natural, enquanto o acordo entre os homens é apenaspactual, ou seja, artificial; portanto não surpreen de que(além do pacto) exijam algumas coisas uns dos outrospara tornar o acordo constante e duradouro – ou seja, umpoder comum que os constranja e dirija as suas açõespara um benefício comum.

(Thomas Hobbes, O Leviatã)

11. Texto Moderno

A natureza modificada pelo trabalho humano não éapenas a do mundo exterior, mas também a da individua -lidade humana, pois nesse processo o homem seautoproduz, isto é, faz a si mesmo homem.

O autoproduzir-se humano se completa em doismovimentos contraditórios e inseparáveis: por um lado,a sociedade exerce sobre o indivíduo um efeitoplasmador, a partir do qual é construída uma determinadavisão de mundo; por outro, cada um elabora e interpretaa herança recebida na sua perspectiva pessoal.

É bem verdade que o teor dessas mudanças variaconforme o tipo de sociedade: no mundo contem porâneode intensa urbanização, as alterações são muito maisvelozes do que nas tribos indígenas ou comuni dadestradicionais. Mesmo assim, não há sociedade estática:em maior ou menor grau, todas mudam, estabelecendouma dinâmica que resulta do embate entre tradição eruptura, herança e renovação.

A transformação produzida pelo homem pode sercaracterizada como um ato de liberdade, entendendo-seliberdade não como alguma coisa que é dada ao homem,mas como resultado da sua capacidade de compreendero mundo, projetar mudanças e fazer projetos. Pelotrabalho o homem aprende a conhecer as suas própriasforças e limitações, desenvolve a inteli gên cia, ashabilidades, impõe-se uma disciplina, relaciona-se com oscompanheiros e vive os afetos de toda relação. Nessesentido, dizemos que o homem se autoproduz, pois elese modifica e se constrói a partir de sua ação. E nessemovimento tece sua liberdade.

(Sociedade e Indivíduo, Maria Lúcia de Arruda Aranha)

Não há homens sem sociedade. Imagem de índios brasileiros.

Sobre Thomas Hobbes

Nascido no ano da Invencível Armada, Hobbesnasceu prematuramente devido à ansiedade da mãe,segundo ele próprio defendeu. O pai de Hobbes, umclérigo da igreja anglicana, desapareceu depois de se ter

envolvido numa zaragata à porta da sua igreja,abandonando os seus três filhos aos cuidados de um seuirmão, um bem sucedido luveiro de Malmesbury.

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Aos 4 anos Hobbes foi enviado para a escola, emWestport, a seguir para uma escola privada, e finalmentepara Oxford, onde se interessou sobretudo por livros deviagens e mapas. Quando acabou os estudos tornou-seprofessor privado do futuro 1.° conde de Devonshire,William Cavendish, iniciando a sua longa relação com afamília Cavendish. Tornou-se muito chegado ao seu aluno,que era pouco mais novo do que ele, tornando-se seusecretário e companheiro. Assim, em 1610, ThomasHobbes visitou a França e a Itália com o seu pupilo. Aídescobriu que a filosofia aristotélica que tinha aprendidoestava a perder influência, devido às descobertas deastrônomos como Galileu e Kepler, que formularam as leisdo movimento planetário. Por isso, ao regressar aInglaterra decidiu tornar-se um estudioso dos clássicos,tendo realizado uma tradução da História da Guerra doPeloponeso de Tucídedes, publicada em 1629, influen -ciada pelos problemas contemporâneos da Inglaterra.

Tendo voltado a viajar para o estrangeiro, com o seunovo pupilo Hobbes foi chamado à Inglaterra, em 1630,para ensinar o jovem 2.o conde de Devonshire, WilliamCavendish, filho do seu patrono e pupilo.

Foi durante uma nova viagem, a terceira, ao conti -nente que se deu o ponto de viragem intelectual deHobbes, quando descobriu os Elementos de Euclides, ea Geometria, devido à influência de Galileu, que o ajudoua clarificar as suas ideias sobre a filosofia, como qualquercoisa que podia ser demonstrada em termos positivos -«as regras e a infalibilidade da razão» - tendo escrito osElementos do Direito, Natural e Político, que circuloumanuscrito em 1640, mas que só foi publicado no séculoXIX, após ter chegado a Inglaterra, em 1637.

Em 1640 foi um dos primeiros emigrantes Realistas,o primeiro segundo ele próprio orgulhosamente afirmava,tendo vivido em Paris nos onze anos seguintes. Contatoude novo o círculo de Mersenne, escreveu sobreDescartes e publicou o De Cive, que desenvolvia osargumentos apresentados na 2.a parte dos Elementos,concluindo abordando as relações entre o Estado e areligião. Em 1646 o príncipe de Gales, o futuro Carlos II,chegou a Paris tendo Hobbes sido convidado a ensinar-lhe matemática. Os problemas políticos ingleses e o cadavez maior número de refugiados políticos levou-o a denovo para a filosofia política. Assim, em 1647 publicouuma segunda edição, aumentada, do De Cive, e a suatradução inglesa em 1651. Em 1650 publicou OsElementos da Lei em duas partes, a Natureza Humana eo De Corpore Politico (Do Corpo Político).

Em 1651 publicou a sua obra-prima, O Leviatã. CarlosI tinha sido executado e a causa realista pareciacompletamente perdida, por isso no fim da obra tentoudefinir as situações em que seria possível legitimamentea submissão a um novo soberano. Tal capítulo valeu-lhe o

desagrado da corte do novo rei de Inglaterra, no exílio, jáque se pensava que Hobbes estava a tentar cortejar oregime republicano em Inglaterra. Excluído da corteinglesa e suspeito, para as autoridades francesas, devidoaos seus ataques contra o Papado, Hobbes regressou defato a Inglaterra nesse ano de 1651.

O regresso à Inglaterra não se fez sem perigos, já queHobbes tinha atacado o sistema universitário, devido aoseu antigo apoio ao Papa, continuando a criticá-lo devidoà manutenção de um ensino baseado em conhecimentosultrapassados. De fato, a Universidade de Oxford criticou-o duramente em 1655, quando da saída do De Corpore.Hobbes, impressionado com os progressos de Galileu namecânica, tentou explicar todos os fenômenos e ospróprios sentidos com base do movimento dos corpos. Aposição foi muito criticada, dando origem a uma polêmicaque durou até 1662, ano em que se defendeu, comsucesso, de ter abandonado Carlos II, no exílio.

Com a Restauração da monarquia inglesa, em 1660,na pessoa de Carlos II, Hobbes voltou a ser admitido nacorte, contra o parecer dos bispos, passando mesmo areceber uma pensão do rei. Em 1666-67 Hobbes sentiu-se realmente ameaçado, devido à tentativa de aprovaçãono Parlamento de uma lei contra os ateus e osprofanadores de túmulos, já que a comissão encarre gadade discutir a lei tinha por dever analisar O Leviatã. Hobbesdefendeu-se afirmando que não havia na Inglaterranenhum tribunal com jurisdição sobre as heresias, desdea extinção da high court of comission, em 1641. Oparlamento acabou por não aprovar a lei contra o ateísmo,mas mesmo assim Hobbes nunca mais pôde publicarsobre a conduta dos homens, possivelmente o preço queo rei acordou para Hobbes ser deixado em paz.

O fim da vida foi passado com os clássicos da suajuventude, tendo publicado uma tradução da Odisseia em1675, e a da Ilíada no ano seguinte.

(Fonte: Enciclopédia Britânica)

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1. (ENEM) – O príncipe, portanto, não deve se incomodar com areputação de cruel, se seu propósito é manter o povo unido e leal. Defato, com uns poucos exemplos duros poderá ser mais clemente deoutros que, por muita piedade, permitem os distúrbios que levam aoassassinato e ao roubo.

MAQUIAVEL, N. O Príncipe, São Paulo: Martin Claret, 2009.

No século XVI, Maquiavel escreveu “O Príncipe”, reflexão sobre aMonarquia e a função do governante. A manutenção da ordem social,segundo esse autor, baseava-se na a) inércia do julgamento de crimes polêmicos. b) bondade em relação ao comportamento dos mercenários. c) compaixão quanto à condenação de transgressões religiosas. d) neutralidade diante da condenação dos servos. e) conveniência entre o poder tirânico e a moral do príncipe.

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

2. (IFRN) – Nicolau Maquiavel foi diferente dos teólogos medievais e deseus contemporâneos ao fundamentar as suas teorias políticas porquepartiu a) da Bíblia para fundamentar as suas teorias políticas. b) do direito romano para a construção do seu pensamento político. c) das obras dos filósofos grecorromanos para construir a sua teoria

política. d) da experiência real do seu tempo para fundamentar o seu pensamento

político.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

3. (UEL) – “O maquiavelismo é uma interpretação de O Príncipe deMaquiavel, em particular a interpretação segundo a qual a ação política,ou seja, a ação voltada para a conquista e conservação do Estado, é umaação que não possui um fim próprio de utilidade e não deve ser julgadapor meio de critérios diferentes dos de conveniência e oportunidade.”

(BOBBIO, Norberto. Direito e Estado no pensamento de EmanuelKant.Trad. de Alfredo Fait. 3.ed. Brasília: Editora da UNB, 1984. p. 14.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, para Maquiavelo poder político é: a) Independente da moral e da religião, devendo ser conduzido por

critérios restritos ao âmbito político. b) Independente da conveniência e oportunidade, pois estas dizem

respeito à esfera privada da vida em sociedade. c) Dependente da religião, devendo ser conduzido por parâmetros

ditados pela Igreja. d) Dependente da ética, devendo ser orientado por princípios morais

válidos universal e necessariamente. e) Independente das pretensões dos governantes de realizar os

interesses do Estado.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

4. (UFF) – De acordo com o filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679), em seu estado natural, os seres humanos são livres,competem e lutam entre si. Mas, como têm em geral a mesma força,o conflito se perpetua através das gerações, criando um ambiente detensão e medo permanentes. Para Hobbes, criar uma sociedadesubmetida à lei e na qual os seres humanos vivam em paz e deixem deguerrear entre si pressupõe que todos os homens renunciem a sualiberdade original e deleguem a um só deles (o soberano) o podercompleto e inquestionável.

Assinale a modalidade de governo que desempenhou importante papelna Filosofia Política Moderna e que é associada à teoria política deHobbes.a) Monarquia censitáriab) Monarquia absolutac) Sistema parlamentard) Despotismo esclarecidoe) Sistema republicano

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

5. Thomas Hobbes, em sua obra Leviatã, descreve um hipotéticoestado de natureza primitivo como sendo um estado de guerra de todoscontra todos. Para ele, a razão desse estado de guerra reside na a) ausência de um poder comum capaz de manter a todos em mútuo

respeito. b) natural propensão humana para buscar a guerra. c) ausência do desejo de autoconservação nos homens. d) desigualdade radical entre os homens no estado de natureza.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

6. (UFU) – Segundo Hobbes (1588-1679), podemos definir estado denatureza como sendo o lugar ondea) todos são bons por natureza, mas a vida em sociedade os corrompe.b) os homens são bons, “bons selvagens inocentes”, vivendo em

estado de felicidade original.c) todos são proprietários de suas vidas, de seus corpos, de seus

trabalhos, portanto, todos são proprietários.d) reina o medo entre os indivíduos, que temem a morte violenta, que

vivem isolados e em luta permanente, guerra de todos contra todos.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

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7. (UEL) – “Hobbes realiza o esforço supremo de atribuir ao contratouma soberania absoluta e indivisível [...]. Ensina que, por um único emesmo ato, os homens naturais constituem-se em sociedade política esubmetem-se a um senhor, a um soberano. Não firmam contrato comesse senhor, mas entre si. É entre si que renunciam, em proveito dessesenhor, a todo o direito e toda liberdade nocivos à paz”.

(CHEVALLIER, Jean-Jacques. As grandes obras políticas de Maquiavela nossos dias. Trad. de Lydia Cristina. 7. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1995.

p. 73.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o contrato político emHobbes, considere as afirmativas a seguir.I. A renúncia ao direito sobre todas as coisas deve ser recíproca entre

os indivíduos.II. A renúncia aos direitos, que caracteriza o contrato político, significa

a renúncia de todos os direitos em favor do soberano.III. Os procedimentos necessários à preservação da paz e da segurança

competem aos súditos cidadãos.IV. O contrato que funda o poder político visa pôr fim ao estado de

guerra que caracteriza o estado de natureza.Estão corretas apenas as afirmativas:a) I e II. b) I e IV. c) II e III.d) I, III e IV. e) II, III e IV.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

8. (ENEM) – “Não ignoro a opinião antiga e muito difundida de que oque acontece no mundo é decidido por Deus e pelo acaso. Essa opiniãoé muito aceita em nossos dias, devido às grandes transformaçõesocorridas, e que ocorrem diariamente, as quais escapam à conjecturahumana. Não obstante, para não ignorar inteiramente o nosso livre-arbítrio, creio que se pode aceitar que a sorte decida metade dos nossosatos, mas [o livre-arbítrio] nos permite o controle sobre a outra metade.”

MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Brasília: EdUnB, 1979 (adaptado).

Em O Príncipe, Maquiavel refletiu sobre o exercício do poder em seutempo. No trecho citado, o autor demonstra o vínculo entre o seupensamento político e o humanismo renascentista aoa) valorizar a interferência divina nos acontecimentos definidores do

seu tempo.b) rejeitar a intervenção do acaso nos processos políticos.c) afirmar a confiança na razão autônoma como fundamento da ação

humana.d) romper com a tradição que valorizava o passado como fonte de

aprendizagem.e) redefinir a ação política com base na unidade entre fé e razão.

RESOLUÇÃO:

O texto extraído da obra “O Príncipe”, de Maquiavel, refletindo

sobre o exercício do poder em seu tempo, apresentou a relação

existente entre o pensamento político e o humanismo próprio do

renascentismo. Assim, afirma a confiança na razão autônoma

quando aborda a questão do livre-arbítrio. A sorte não pode decidir

sozinha nossos atos, deve ser corroborada pela razão.

Resposta: C

9. (ENEM) – Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado quetemido ou temido que amado. Responde-se que ambas as coisas seriamde desejar; mas porque é difícil juntá-las, é muito mais seguro sertemido que amado, quando haja de faltar uma das duas. Porque doshomens se pode dizer, duma maneira geral, que são ingratos, volúveis,simuladores, covardes e ávidos de lucro, e enquanto lhes fazes bem sãointeiramente teus, oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos,quando, como acima disse, o perigo está longe; mas quando ele chega,revoltam-se.

MAQUIAVEL, N. O príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991.

A partir da análise histórica do comportamento humano em suasrelações sociais e políticas. Maquiavel define o homem como um sera) munido de virtude, com disposição nata a praticar o bem a si e aos

outros.b) possuidor de fortuna, valendo-se de riquezas para alcançar êxito na

política.c) guiado por interesses, de modo que suas ações são imprevisíveis e

inconstantes.d) naturalmente racional, vivendo em um estado pré-social e portando

seus direitos naturais.e) sociável por natureza, mantendo relações pacíficas com seus pares.

RESOLUÇÃO:

Maquiavel sustenta uma antropologia pessimista, muito próxima

da concepção de Hobbes. Assim, o homem é naturalmente um ser

egoísta e inclinado ao conflito. No texto, Maquiavel afirma que, em

geral, os homens são ingratos e volúveis, o que serve de

justificativa, inclusiva, aos regimes absolutistas.

Resposta: C

10. (UNESP) – A China é a segunda maior economia do mundo. Quergarantir a hegemonia no seu quintal, como fizeram os Estados Unidosno Caribe depois da guerra civil. As Filipinas temem por um atol derochas desabitado que disputam com a China. O Japão está de plantãopor umas ilhotas de pedra e vento, que a China diz que lhe pertencem.Mesmo o Vietnã desconfia mais da China do que dos Estados Unidos.As autoridades de Hanói gostam de lembrar que o gigante americanoinvadiu o México uma vez. O gigante chinês invadiu o Vietnã dezessete.

(André Petry. O Século do Pacífico. Veja, 24.04.2013. Adaptado.)

A persistência histórica dos conflitos geopolíticos descritos nareportagem pode ser filosoficamente compreendida pela teoriaa) iluminista, que preconiza a possibilidade de um estado de

emancipação racional da humanidade.b) maquiavélica, que postula o encontro da virtude com a fortuna como

princípios básicos da geopolítica.c) política de Rousseau, para quem a submissão à vontade geral é

condição para experiências de liberdade.d) teológica de Santo Agostinho, que considera que o processo de

iluminação divina afasta os homens do pecado.e) política de Hobbes, que conceitua a competição e a desconfiança

como condições básicas da natureza humana.

RESOLUÇÃO:

Thomas Hobbes afirma que “na natureza do homem encontramos

três causas principais de discórdia. Primeiro, a competição,

segundo, a desconfiança, e terceiro, a glória”. Assim, a luta pelo

espaço, a disputa pelo poder e a contínua desconfiança do próximo

constituem a antropologia filosófica de Hobbes. Mesmo o homem

artificial, ou seja, aquele que se libertou do estado de natureza, no

qual revelava toda a sua natureza egoísta, e que agora se encontra

em estado de contrato social, permanece incapaz de manter a

ordem e a paz, pois configura-se no pacto social um choque de

interesses entre a população e o Estado.

Resposta: E

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1. (IFRN) – Segundo O príncipe, de Maquiavel, toda cidade está divididaem dois desejos opostos: a) o desejo dos grandes de oprimir e comandar e o desejo do povo de

não ser oprimido nem comandado. b) o desejo do povo de ser bem guiado e o desejo dos grandes em ser

um bom pastor para o povo. c) o desejo do povo por um herói que os salve e a falta de vontade dos

grandes em serem heróis do povo. d) o desejo dos grandes em oprimir e comandar e o desejo do povo em

participar um dia dessa opressão.

2. (UEL) – “A escolha dos ministros por parte de um príncipe não écoisa de pouca importância: os ministros serão bons ou maus, de acordocom a prudência que o príncipe demonstrar. A primeira impressão quese tem de um governante e da sua inteligência, é dada pelos homensque o cercam. Quando estes são eficientes e fiéis, pode-se sempreconsiderar o príncipe sábio, pois foi capaz de reconhecer a capacidadee manter fidelidade. Mas quando a situação é oposta, pode-se sempredele fazer mau juízo, porque seu primeiro erro terá sido cometido aoescolher os assessores”.

(MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Trad. de Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2004. p. 136.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre Maquiavel, é corretoafirmar: a) As atitudes do príncipe são livres da influência dos ministros que ele

escolhe para governar. b) Basta que o príncipe seja bom e virtuoso para que seu governo

obtenha pleno êxito e seja reconhecido pelo povo. c) O povo distingue e julga, separadamente, as atitudes do príncipe

daquelas de seus ministros. d) A escolha dos ministros é irrelevante para garantir um bom governo,

desde que o príncipe tenha um projeto político perfeito. e) Um príncipe e seu governo são avaliados também pela escolha dos

ministros.

3. Descreva o panorama histórico da Itália em que viveu Maquiavel.

4. O que caracterizava a obra de Maquiavel?

5. Que visão Maquiavel tinha de homem?

6. Para Maquiavel, os fins justificam os meios?

7. Que propósito levou Maquiavel a escrever O Príncipe?

8. Explique os conceitos de virtù e fortuna em Maquiavel.

9. Leia e comente o trecho de O Príncipe.“Pode-se observar que todos os homens – especialmente ossoberanos, colocados em posição mais elevada – têm a reputação decertas qualidades que lhe valem elogios ou vitupérios (palavra ou atitudeofensiva). Assim, alguns são tidos como liberais, outros por miseráveis[…]; um é considerado generoso; o outro, ávido; um cruel; o outro,misericordioso; um, efeminado e pusilânime (covarde); e outro bravo ecorajoso; […] e assim por diante. Naturalmente, seria muito louvável

que um príncipe possuísse todas as boas qualidades acima mencio -nadas, mas como isso não é possível, pois as condições humanas nãoo permitem, é necessário que tenha a prudência necessária para evitaro escândalo provocado pelos vícios que poderiam fazê-lo perder seusdomínios, evitando os outros, se for possível; se não for, poderá praticá-los com menores escrúpulos”.

10. Em O Príncipe, Maquiavel (1469-1527) formulou ideias e conceitosque firmaram a sua reputação de o fundador da Ciência Políticamoderna. Dentre elas, pode-se citar os aspectos relacionados às açõespolíticas dos governantes e à dominação das massas. Para ele, a políticadeveria ser compreendida pelo governante como uma esferaindependente dos pressupostos religiosos que até então aimpregnavam. Ao propor a autonomia da política (esfera da vida públicae da ação dos dirigentes políticos) sobre a ética (esfera da vida privadae da conduta moral dos indivíduos), é legítimo afirmar que Maquiavelnão deixou, entretanto, de reconhecer e valorizar a religião como umaimportante dimensão da vida em sociedade. Segundo Maquiavel, areligião dos súditos deveria ser objeto de análise atenta por parte dogovernante. Sobre a relação entre política e religião, de acordo com Maquiavel, écorreto afirmar: a) A religião deve ser cultivada pelo governante para garantir que ele

seja mais amado do que temido. b) Por se constituírem em personagens importantes na vida política de

uma comunidade, os líderes religiosos devem formular as ações aserem executadas pelos príncipes.

c) O sentimento religioso dos súditos é um valor moral e, portanto,deverá ser combatido pelo príncipe, uma vez que conduz aofanatismo e prejudica a estabilidade do Estado.

d) A religião dos súditos é sempre um instrumento útil nas mãos doPríncipe, o qual deve aparentar ser virtuoso em matéria religiosa.

e) O dirigente político deve se esforçar para tornar-se, também, odirigente religioso de seu povo, rompendo, assim, com o preceito doEstado laico.

11. (UEL) – “Sendo, portanto, um príncipe obrigado a bem servir-se danatureza da besta, deve dela tirar as qualidades da raposa e do leão,pois este não tem defesa alguma contra os laços, e a raposa, contra oslobos. Precisa, pois, ser raposa para conhecer os laços e leão paraaterrorizar os lobos. Os que se fizerem unicamente de leões não serãobem-sucedidos. (…) E há de se entender o seguinte: que um príncipe,e especialmente um príncipe novo, não pode observar todas as coisasa que são obrigados os homens considerados bons, sendo frequente -mente forçado, para manter o governo, a agir contra a caridade, a fé, ahumanidade, a religião.”

(MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. 2.° ed. São Paulo: Abril Cultural,1979. p. 74-75).

A partir das metáforas propostas por Nicolau Maquiavel, pensadoritaliano renascentista, considere as afirmativas sobre a noção do poderpróprio ao governante. I. A sabedoria e o uso da força fundamentam o poder. II. O poder encontra seu fundamento na bondade e na caridade. III. A sobrevivência do poder depende das virtudes da fé e da religião. IV. Os fins podem justificar os meios, para resolver conflitos na disputa

pelo poder.

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– 43

Estão de acordo com o pensamento de Maquiavel apenas as afirmativas: a) I e II. b) I e III. c) I e IV. d) II e III. e) III e IV.

12. (FAAP) – Principalmente a partir do século XVI vários autores

passam a desenvolver teorias, justificando o poder real. São os legistas

que, através de doutrinas leigas ou religiosas, tentam legalizar o

Absolutismo. Um deles é Maquiavel: afirma que a obrigação suprema do

governante é manter o poder e a segurança do país que governa. Para

isso deve usar de todos os meios disponíveis, pois que “os fins

justificam os meios.” Professou suas ideias na famosa obra:

a) “Leviatã”

b) “Do Direito da Paz e da Guerra”

c) “República”

d) “O Príncipe”

e) “Política Segundo as Sagradas Escrituras”

13. (MACKENZIE) – O florentino Nicolau Maquiavel (1469-1527) rompeu

com a religiosidade medieval, estabelecendo nítida distinção entre a

moral individual e a moral pública. Em seu livro “O Príncipe” preconizava

que:

a) o chefe de Estado deve ser um chefe de exército. O Estado em guerra

deve renunciar a todo sentimento de humanidade... O equilíbrio das

forças está inscrito nos tratados. Mas os chefes de Estado não

devem hesitar em trair sua palavra ou violar sua assinatura no

interesse do Estado.

b) somente a autoridade ilimitada do soberano poderia manter a ordem

interna de uma nação. A ordem política internacional é a mais

importante; sem ela se estabeleceria o caos e a turbulência política.

c) na transformação do Estado Natural para o Estado Civil, legitima-se o

poder absoluto do rei, uma vez que o segundo monta-se a partir do

indivíduo, que cede seus direitos em troca de proteção contra a

violência e o caos do primeiro.

d) o trono real não é o trono de um homem, mas o trono do próprio

Deus... Os reis... são deuses e participam de alguma maneira da

independência divina. O rei vê mais longe e de mais alto; deve-se

acreditar que ele vê melhor...

e) há três espécies de governo: o republicano, o monárquico e o

despótico... A liberdade política não se encontra senão nos governos

moderados... Para que não se possa abusar do poder, é preciso que

pela disposição das coisas, o poder faça parar o poder.

14. (FUVEST) – Nicolau Maquiavel, em 1513, na Itália renascentista,

escreveu:

Um príncipe não pode observar todas as coisas a que são obrigados os

homens considerados bons, sendo frequentemente forçado, para

manter o governo, a agir contra a caridade, a fé, a humanidade, a religião.

(...) O príncipe não precisa possuir todas as qualidades (ser piedoso, fiel,

humano, íntegro e religioso), bastando que aparente possuí-las. Um

príncipe, se possível, não deve se afastar do bem, mas deve saber entrar

para o mal, se a isso estiver obrigado.

Adaptado de Nicolau Maquiavel. O Príncipe.

Indique qual das afirmações está claramente expressa no texto:

a) Os homens considerados bons são os únicos aptos a governar. b) O príncipe deve observar os preceitos da moral cristã medieval. c) Fidelidade, humanidade, integridade e religiosidade são qualidades

indispensáveis ao governante. d) O príncipe deve sempre fazer o mal, para manter o governo. e) A aparência de ter qualidades é mais útil ao governante do que

possuí-las.

15.Em termos filosóficos, Nicolau Maquiavel é apresentado como odescobridor da política como categoria independente da moral teológica.A ruptura de Maquiavel com a moralidade do cristianismo significa que: a) a virtude (virtù) política está associada à maldade e ao uso

indiscriminado da força bruta. b) a ética ou a moral da política moderna deve ser a do mundo pagão,

que se destina à realização do bem público, antes de tudo. c) a ação política deve estar pautada nos preceitos da razão humana,

que determinam a priori o que é bom ou mal, justo ou injusto. d) as virtudes cristãs - a humildade, a misericórdia, a fé em Deus, o

amor ao próximo - são, em si mesmas, ruins e sem importância. e) o elemento decisório da política não é Deus, mas sim a força

incontrolável do acaso, a eventualidade da “fortuna”.

16. (FUVEST) – No início do século XVI, Maquiavel escreveu O

Príncipe – uma célebre análise do poder político, apresentada sob a

forma de lições, dirigidas ao príncipe Lorenzo de Médicis. Assim

justificou Maquiavel o caráter professoral do texto:

Não quero que se repute presunção o fato de um homem de baixo e

ínfimo estado discorrer e regular sobre o governo dos príncipes; pois

assim como os [cartógrafos] que desenham os contornos dos países se

colocam na planície para considerar a natureza dos montes, e para

considerar a das planícies ascendem aos montes, assim também, para

conhecer bem a natureza dos povos, é necessário ser príncipe, e para

conhecer a dos príncipes é necessário ser do povo.

(Tradução de Lívio Xavier, Adaptada.)

Ao justificar a autoridade com que pretende ensinar um príncipe agovernar, Maquiavel compara sua missão à de um cartógrafo parademonstrar que a) Temendo ser qualificado de presunçoso, Maquiavel achou por bem

defrontar sua autoridade intelectual, tipo um cartógrafo habilitado adesenhar os contrastes de uma região.

b) Maquiavel, embora identificando-se como um homem de baixoestado, não deixou de justificar sua autoridade diante do príncipe,em cujos ensinamentos lhe poderiam ser de grande valia.

c) Manifestando uma compreensão dialética das relações de poder,Maquiavel não hesita em ministrar ao príncipe, já ao justificar o livro,uma objetiva lição de política.

d) Maquiavel parece advertir aos poderosos de que não se menosprezeas lições de quem sabe tanto analisar quanto ensinar o comporta -mento de quem mantenha relações de poder.

e) Maquiavel, apesar de jamais ter sido um governante em seu livrotão perspicaz, soube se investir nesta função, e assim justificar-sediante de um príncipe autêntico.

17. (UEM) – Thomas Hobbes explica a origem da sociedade e doEstado mediante a ideia de um pacto ou acordo entre os indivíduos para

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regulamentar o convívio social e garantir a paz e a segurança de todos.Sobre a teoria política de Thomas Hobbes, assinale o que for correto. 01)Segundo Thomas Hobbes, no estado de natureza, o comportamento

dos homens é pacífico, o que é condição para instauração do pactode respeito mútuo às liberdades individuais.

02)Segundo Thomas Hobbes, no estado de natureza, o homem dispõede toda liberdade e poder para realizar tudo quanto sua força ouastúcia lhe permitir.

04) Segundo Thomas Hobbes, o Estado é a unidade formada por umamultidão de indivíduos que concordaram em transferir seu direitode governarem a si mesmos à pessoa ou à assembleia de pessoasque os represente e que possa assegurar a paz e o bem comum.

08)Na obra Leviatã, para caracterizar o Estado, Thomas Hobbes utilizaa figura do Novo Testamento, o Leviatã, cuja função é salvar oshomens do poder despótico dos reis.

16) Segundo Thomas Hobbes, o Estado não dispõe de poder absolutoalgum. É ilegítimo o uso da força pelo soberano para constranger ossúditos, pois o controle do poder instituído, como o próprio poder,deve assentar-se no acordo e no convencimento.

18.Durante muito tempo, filósofos estudaram a questão da sociabi -lidade humana, supondo que os homens viviam num passado remotooriginalmente em estado de natureza e teriam renunciado à liberdadepara viver em sociedade. Esses filósofos foram conhecidos comoa) contratualistas, como Hobbes.b) racionalistas, como Descartes.c) empiricistas, como Locke.d) sofistas, como Protágoras.e) metafísicos, como Agostinho.

19.Entre as criaturas o bem comum não se distingue do bem individual,porém, por serem, por natureza, inclinadas a buscar o seu bemindividual, acabam por alcançar o bem comum. Mas, para os homens,a felicidade consiste em comparar-se. Na vertente contra os filósofoscontratualistas, os sociólogos, em geral, acreditam que:I. A vida em sociedade tem um fim em si mesmo.II. Não há homens sem sociedade.III. Os indivíduos constituem uma realidade independente da socie dade.

São verdadeiras:a) apenas I e II. b) apenas I e III. c) apenas I. d) apenas II e III. e) apenas III.

20.“Em primeiro lugar, os homens estão em contínua competição pelahonra e pela dignidade, o que não ocorre entre essas criaturas;consequentemente, surgem entre os homens inveja e ódio e, por fim,a guerra; entre as criaturas não é assim. Em segundo lugar, com os outros homens...” (Hobbes)Após a leitura do texto, julgue as assertivas abaixo.I. Para o autor, os homens são diferentes das criaturas (animais)

porque são todos dignos e honrados.II. Há uma inclinação natural humana para os conflitos.III. Os homens seriam, segundo o filósofo, marcados por um egoísmo

natural.IV. O autor aproxima os homens dos animais, ao compará-los.

São verdadeiras: a) I e II. b) II e III. c) IIII e IV. d) I e III. e) I e IV.

21.“O acordo que se produz entre as criaturas é natural, enquanto oacordo entre os homens é apenas pactual, ou seja, artificial; portantonão surpreende que (além do pacto) exijam algumas coisas uns dosoutros para tornar o acordo constante e duradouro – ou seja, um podercomum que os constranja e dirija as suas ações para um benefíciocomum.” (Hobbes) A frase de Hobbes expressaa) a ideia de que a vida social tem um fim em si mesma.b) o princípio do primado da sociedade sobre o indivíduo.c) uma ideia filosófica que se opõe a dos contratualistas. d) que a natureza antropológica impõe a convivência.e) que a vida social é um artifício.

22.Sobre a vida social, leia as proposições abaixo. I. Na concepção moderna, ao contrário do que pensavam os

contratualistas, a vida em sociedade tem um fim em si mesmo.II. A natureza antropológica impõe a convivência e, portanto, a vida

social é totalmente artificial.III. A filosofia investiga a natureza política e moral da convivência entre

os homens.IV. Os povos indígenas não vivem em sociedade, mas em estado de

natureza.São coerentes com as concepções modernas acerca da vida socialapenas:a) I e II. b) II e III. c) IIII e IV. d) I e III. e) I e IV.

23.Leia as proposições abaixo e assinale a alternativa que agrupa ascorretas.I. Toda sociedade está em transformação, por isso dizemos que são

estáticas.II. O ritmo de transformação pode mudar de uma para a outra. III. No mundo contemporâneo de intensa urbanização, as alterações são

muito mais velozes do que nas tribos indígenas ou comunidadestradicionais.

IV. As sociedades mudam, estabelecendo uma dinâmica que resulta doembate entre tradição e ruptura, herança e renovação.

V. Sociedades atrasadas como as tribais e tradicionais não sãodinâmicas e não entraram ainda para a modernidade.

a) I, II e V. b) II, III e IV. c) III, IV e V. d) I, IV e V. e) I, II e III.

24.O homem é visto como um ser inacabado, um projeto, pois suaexistência é por ele determinada, apesar das influências estruturais dasociedade e da cultura. Essa frase nos permite concluir que:a) o homem é marcado pela liberdade.b) trata-se de uma antropologia pessimista.c) a condição humana é marcada somente pelas influências estruturais

da sociedade e da cultura.d) não é possível ao homem determinar sua própria existência, por

conta do peso das estruturas sociais. e) é o homem que faz a sociedade e não o contrário.

25.São concepções da filosofia de Hobbes:

I. Há motivações para a vida social: o temor e as necessidades

recíprocas.

II. Os homens competem pela honra gerando ódio e inveja.

III. O Estado totalitário oprime o indivíduo e corrompe o ser social.

IV. Só a democracia é capaz de trazer a orcem social.

São corretas apenas: a) I e II. b) II e III. c) IIII e IV. d) I e III. e) I e IV.

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26. São concepções da filosofia de Hobbes:

I. Os homens buscam o seu bem individual.

II. Os homens constroem um bem comum que a vida social artificial.

III. O pacto social e o Estado não conseguem controlar a agressividade

gratuita dos homens.

IV. O homem é um ser bom criado por Deus.

São verdadeiras: a) I e II. b) II e III. c) IIII e IV. d) I e III. e) I e IV.

27. Para Hobbes, o Estado Moderno é o Leviatã, monstro que aparece

nas páginas da Bíblia, representando força. Nesse sentido, leia as

proposições abaixo.

I. Hobbes era absolutista, acreditava na necessidade de um Estado

forte.

II. Apesar de absolutista, acreditava que não deveria haver um culto ao

soberano.

III. O Estado será venerado, pois será capaz de gerar a ordem social.

IV. A democracia é a força do Estado.

São verdadeiras:

a) I e II b) II e III c) III e IV d) I e III e) I e IV

28. Para Hobbes, a linguagem humana não passava de uma operação

matemática. Assinale a única alternativa que não se refere à ideia de

Hobbes sobre a linguagem.

a) A linguagem é um sistema de operações de sinais.

b) Operações mentais são cálculos, pois somamos e subtraímos

informações.

c) Pela linguagem, representamos o bem sob a aparência do mal e vice-

versa.

d) O homem é incapaz de mentir porque traz em si uma dimensão

moral interior.

e) A retórica é habilidade exclusiva dos seres humanos.

– 45

1) A 2) E

3) A Itália não constituía um Estado ainda, ou seja, não sofrera

ainda o processo de unificação. A tirania impera em pequenos

principados, governados despoticamente por casas reinantes

sem tradição dinástica ou de direitos contestáveis. A

ilegitimidade do poder gera situações de crise, instabilidade

permanente, onde somente o cálculo político, dizia Maquiavel,

a astúcia e a ação rápida e fulminante contra os adversários

são capazes de manter o príncipe. O quadro cultural era

marcado pelo Renascimento e sua cidade, Florença, era

próspera nesse sentido.

4) Sua obra estava baseada na sua experiência de vida. Trata-se

de uma obra pouco sistemática e muito empírica.

5) O homem, segundo Maquiavel, tinha uma inclinação natural

para o mal e para o egoísmo. Não percebia a dimensão

histórico-cultural formativa da existência humana. Os homens

querem obter os máximos ganhos a partir do menor esforço,

e fazem o bem quando forçados a isso.

6) Maquiavel nunca escreveu essa frase que lhe é tão

comumente atribuída. Porém, essa frase pode, se bem

compreendida, resumir um aspecto de sua filosofia política.

No pensamento de Maquiavel, os fins determinam os meios:

de acordo com o seu objetivo que você vai traçar os seus

planos de como atingi-los.

7) O desejo de ver a Itália poderosa e unificada.

8) Para ele, a virtù seria a habilidade de adaptação aos aconteci -

men tos políticos que levaria à permanência no poder. A virtù

funcionaria como uma que deteria os desígnios do destino. O

poder de um príncipe é ameaçado se esse não tiver a

capacidade de mudar, acompanhando as alterações da

situação. Fortuna era, na mitologia romana, a deusa da sorte,

boa ou má, e dos acontecimentos inevitáveis. Para Maquiavel,

nunca se sabe se a sorte sorrirá, porém, dizia, quem fosse

portador da virtù, seria agraciado pela fortuna.

9) Maquiavel instrui o comportamento adequado de um príncipe

para reproduzir-se no poder. São frases como essa que o

tornaram o filósofo da astúcia e de onde teria surgido o

adjetivo “maquiavélico.”

10) D 11) C 12) D 13) A

14) E 15) B 16) A 17) 02 e 04

18) A 19) A 20) B 21) E

22) D 23) B 24) A 25) A

26) A 27) D 28) D

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MÓDULO 6 As Luzes de Rousseau e de Voltaire

1. Introdução

O Iluminismo foi um dos mais importantesmovimentos culturais do Ocidente e se desenvolveu noséculo XVIII, o Século das Luzes.

O termo sintetiza várias tradições da filosofia europeiabaseadas na valorização do homem, visto agora não maiscomo ser insuficiente e pecador, mas como ser racional,com a possibilidade de emancipar-se. Assim, osiluministas valorizavam a razão, a união, a tolerância e afraternidade pelo exercício político. Immanuel Kant, umdos mais conhecidos expoentes do pensamentoiluminista, num texto escrito precisamente como respostaà questão O que é o Iluminismo?, descreveu de maneiralapidar a mencionada atitude:

O Iluminismo representa a saída dos sereshumanos de uma tutelagem que estes mesmosse impuseram a si. Tutelados são aqueles quese encontram incapazes de fazer uso da própriarazão independentemente da direção deoutrem. É-se culpado da própria tutelagemquando esta resulta não de uma deficiência doentendimento mas da falta de resolução ecoragem para se fazer uso do entendimentoindependentemente da direção de outrem.Sapere aude! Tem coragem para fazer uso datua própria razão! – esse é o lema do Iluminismo.

O Iluminismo exerceu notável influência na História,particularmente na esfera política, período em que seformavam os Estados modernos, as nações politi camenterepresentadas (Estado-nação), período marca da pelaexpansão dos direitos civis, consolidação do liberalismoe da democracia, e pela secularização, isto é, a separaçãodas instâncias política e religiosa, impli cando menorinterferêncioa da Igreja no Estado. O Iluminismo influen -ciou a Revolução Francesa, a Constituição Polaca de 1791,a Revolução Dezembrista e as ideias socialistas.

Entre os filósofos iluministas, destacam-se osseguintes nomes: Spinoza, John Locke, Montesquieu,Kant, Diderot, David Hume, Rousseau e Voltaire.

As principais características do Iluminismo eram: • Valorização da razão, considerada o mais importante

instrumento para se alcançar qualquer tipo deconhecimento;

• Valorização do questionamento, da investigação e daexperiência como forma de conhecimento tanto danatureza quanto da sociedade, política ou economia;

• Crença nas leis naturais, normas da natureza queregem todas as transformações que ocorrem nocomportamento humano, nas sociedades e nanatureza;

• Crença nos direitos naturais, que todos os indivíduospossuem em relação à vida, à liberdade, à posse debens materiais;

• Crítica ao absolutismo, ao mercantilismo e aosprivilégios da nobreza e do clero;

• Defesa da liberdade política e econômica e daigualdade de todos perante a lei;

• Crítica à Igreja Católica, embora não se excluísse acrença em Deus. “

FILHO, Milton B. B. História Moderna e Contemporânea. São Paulo, Scipione,1993 .

Delacroix, A Liberdade guia o Povo, 1830. As revoluções burguesasforam inspiradas pelas ideias iluministas.

Rousseau e Voltaire

(Extraído de Wikipédia – adaptação)

Jean-Jacques Rousseau (Genebra, 28 de Junho de1712 — Ermenonville, 2 de Julho de 1778) foi um filósofogenebrino, escritor, teórico político e um compositormusical autodidata. Uma das figuras marcantes doIluminismo francês, Rousseau é também um precursordo romantismo.

Ao defender que todos os homens nascem livres, ea liberdade faz parte da natureza do homem, Rousseauinspirou todos os movimentos que visavam uma buscapela liberdade. Incluem-se aí as Revoluções Liberais, oMarxismo, o Anarquismo entre outros.

Sua influência se faz sentir em nomes da literaturacomo Tolstói e Thoreau, influencia também movimentosde Ecologia Profunda, já que era adepto da proximidadecom a natureza e afirmava que os problemas do homemdecorriam dos males que a sociedade havia criado e nãoexistiam no estado selvagem. Foi um dos grandespensadores nos quais a Revolução Francesa se baseou,apesar de esta se apropriar erroneamente de muitas desuas ideias.

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A filosofia política de Rousseau é inserida naperspectiva dita contratualista de filósofos britânicos dosséculos XVII e XVIII, e seu famoso Discurso sobre aorigem e os fundamentos da desigualdade entre oshomens pode ser facilmente entendido como um diálogocom a obra de Thomas Hobbes.

Principais obras

• Discurso sobre as ciências e as artes• Discurso sobre a origem da desigualdade entre os

homens• Do Contrato Social• Emílio, ou da Educação

François-Marie Arouet, mais conhecido pelopseudônimo Voltaire (Paris, 21 de novembro de 1694 —Paris, 30 de maio de 1778), foi um escritor, ensaísta,deísta e filósofo iluminista francês, conhecido pela suaperspicácia e espirituosidade na defesa das liberdadescivis, inclusive liberdade religiosa e livre comércio.

Voltaire foi um escritor prolífico, e produziu obras emquase todas as formas literárias, assinando peças deteatro, poemas, romances, ensaios, obras científicas ehistóricas, mais de 20 mil cartas e mais de 2 mil livros epanfletos.

Ele foi um defensor aberto da reforma social apesardas rígidas leis de censura e severas punições para quemas quebrasse. Um polemista satírico, ele frequentementeusou suas obras para criticar a Igreja Católica e asinstituições francesas do seu tempo.

Voltaire foi um entre muitas figuras do Iluminismo(juntamente com John Locke e Thomas Hobbes) cujasobras e ideias influenciaram pensadores importantestanto da Revolução Francesa como da Americana.

Principais obras

• Édipo, • O infante pródigo • Elementos da Filosofia de Newton • O século de Luis XIV • Micrômegas • Tratado sobre a tolerância • Dicionário filosófico

Voltaire e Rousseau, grandes pensadores que marcaram o Iluminismo

Texto: A antropologia de Rousseau.

Por José Maurício F. Mazzucco

É notável a concepção de homem na obra deRousseau. Muitos o julgam um ingênuo, pois sustentavauma concepção romântica acerca da natureza humana,mas uma análise mais profunda da antropologiarousseauniana revela a complexidade de seu pensa mento.

Sua antropologia aparece inicialmente na obraDiscurso sobre a origem e fundamentos da desi gual dadeentre homens. Para ele, o homem vivia originalemte emum estado de natureza. O homem natural, original, é umser desprovido de preocupações intelectivas e sua ação émotivada apenas por aquilo que o rodeia. Assim, ohomem de Rousseau, em estado de natureza, vive nummundo sensível. Nessa condição, o homem não chega aimaginar um desejo distante e despercebido. Portanto,esse homem não planeja, não faz projetos para o futuro evive para o presente. É desprovido da habilidade deabstrair.

Para Rousseau, o homem natural não pode distinguir-se do outro sequer. Conhece apenas os homens de seucírculo de convivência e está incapacitado de abstrairacerca da condição humana, na qual se insere. Seria umhomem incapaz de identificar uma essência comum aoshomens. Escreve Rousseau: “Eles tiveram a ideia de umpai, filho, irmão, e não de um homem. A cabine continhatodos os seus companheiros … Fora eles e suas famílias,não havia mais nada no universo.” (Ensaio, IX)

Ao contrário do pensamento, por exemplo, de ThomasHobbes, Rousseau não vê o homem como um ser mau,um lobo egoísta, porém, também não vive socialmenteem natureza, pois vive de seu instinto que lhe basta.

O homem de Rousseau passa de ser natural, nu, paraser social, vestido, através de um novo recurso: não maiso do instinto, mas da razão. Se o instinto é o meio peloqual o homem vive em natureza; a razão será oinstrumento jurídico de convivência.

Assim, Rousseau é um filósofo contratualista, ouseja, supõe que a convivência humana resultaria de umaespécie de contrato social, em que se renunciaria acondição de liberdade natural. A transição de um estadopara outro, do natural para o civil, ocorreria num períodomarcado por conflitos, uma “guerra de todos contratodos”. Esse estado de guerra teria sido promovido peloestabelecimento da propriedade privada, afirmaRousseau. Além disso, faltavam regras e leis queestabelecessem a convivência. É claro que essasconcepções filosóficas, da época, eram desprovidas decritérios científicos, como faz a sociologia ou a história.Daí nasce a necessidade de um contrato social, capaz deevitar as desiguladades. Assim, segundo Rousseau, comsuas palavras: O que o homem perde pelo contrato socialé a liberdade natural e um direito ilimitado a tudo quantoaventura e pode alcançar. O que com ele ganha é aliberdade civil e a propriedade de tudo o que possui.

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O homem, pela convivência, desenvolve a habili dadede raciocinar (intelecto) mas também de amar (afeto).Assim, se desenvolve a capacidade de com preender.

Na ordem civil, a desigualdade advinda da proprie dadeprivada pode ainda se manter, mas Rousseau vê aí anecessidade de estabelecer o Estado democrático, emque as leis alcancem o princípio de iguladade. Defineassim a democracia como a vontade soberana da maioria,uma vontade geral que não pode ser a soma das vontadesindividuais.

Mas, a vida social, segundo Rousseau, cria condicio na -mentos, convenções e artificialismos que corrompem o serhumano, ferido na espontaneidade natural que o caracteriza.Aponta, assim, os caminhos da educação. A educação nãodeve devolver o homem ao estado de natureza, mas develibertar o homem da escravidão das convenções sociais,hipocrisias e dos habitos exteriores. Sua pedagogia valorizaa experiência e está voltada para a vida. A educação é umretorno à pureza da consciência natural.

Voltaire criticou a filosofia de Rousseau afirmando que“ninguém jamais pôs tanto engenho em querer nosconverter em animais”. Mas, tal interpretação é equivo -cada se considerarmos a visão que Rousseau tinha de serhumano. Rousseau afirma, por exemplo, que o sentimentodesenvolvido no homem é um instrumento de penetraçãona essência interior do homem. Abandonar as convençõestorna-se um caminho para se chegar misticamente aoinfinito. Isso equivale, diz o filósofo, a uma imersão naprópria interioridade, alcançando a consciência deliberdade e, assim, atingindo o sentimento íntimo da vida,com a qual o homem se identificaria com seussemelhantes e com a universalidade de todos os seres.

Sobre Voltaire

Por José Maurício F. Mazzucco

Voltaire fêz grande oposição à intolerância,particularmente religiosa. A Europa era marcada porguerras religiosas e por indas de intolerância. Falar emtolerância de pensamento e em liberdade religiosa hoje,soa como natural, como se fossem processos naturais deconvivência humana e sempre tivessem existido. Mas nãofoi assim. Ao pronunciar-se acerca da tolerância, Voltaire foiconsiderado um revolucionário e foi perseguido, sendoinclusive exilado da França. Voltaire, assim, muitocontribuiu para a liberdade humana de expressão, e, alémdisso, contribuiu para o desenvolvimento da ciência doDireito, pois defendia a criação de leis para todos. Era umliberal, mas o seu liberalismo não deve ser confundido como liberalismo econômico de Adam Smith. Este prega amínima intervenção do Estado nos processos econômicos.Dizer que Voltaire era um liberal equivale a dizersimplesmente que não era um conservador político.

Vida e Obra de Voltaire (Enciclopédia MiradorInternacional)

François-Marie Arouet, dito Voltaire, nasceu em umaabastada família burguesa e fez seus estudos com osjesuítas, no Colégio Louis-le-Grand, em Paris. Em 1718,alcançou grande sucesso com a tragédia Édipo. Contudo,por ter insultado um nobre, o duque de Rohan-Chabot, foiencarcerado na Bastilha, em 1726, e mais tarde libertado,mas sob a condição de que partisse para o exílio. Assim,passa três anos na Inglaterra, quando, além de frequentara aristocracia e a intelectualidade inglesas, se familiarizacom as ideias do Iluminismo.

Retorna a Paris em 1729, mas sua obra Cartasfilosóficas (ou Cartas sobre os ingleses), em que fazelogios à tolerância religiosa e à liberdade cultural epolítica na Inglaterra, é condenada pelas autoridades, oque o obriga a se refugiar no castelo de Cirey, onde passadez anos escrevendo e estudando (inclusive a física deNewton), ao lado da marquesa du Châtelet, sua amante,mulher espirituosa e erudita.

Retorna a Paris em 1744, sendo eleito para aAcademia Francesa em 1746, quando é introduzido nacorte por Madame de Pompadour, amante do rei. Muda-se, em 1750, para Potsdam, depois de aceitar o convitede Frederico II, da Prússia. Três anos mais tarde, noentanto, após um conflito com o rei, retira-se para umacasa perto de Genebra.

Hábil homem de negócios, com a fortuna adquiridainclusive por meio de especulações na Bolsa compra ocastelo e a fazenda Ferney, nas proximidades de Genebra,onde instala fábricas de tecidos de seda e de relógios.Torna-se milionário. E graças à independência financeira,passa a intervir em casos de intolerância religiosa, comoo Calas (execução de um protestante cujo filho sesuicidara, sob acusação de tê-lo assassina do para oimpedir de converter-se ao catolicismo) e o La Barre(homem executado por não ter tirado o chapéu aoencontrar uma procissão).

Obra e influência

Não seria exagero dizer que Voltaire foi o homemmais influente do século XVIII. Seus livros eram lidos portoda a Europa e vários monarcas pediram seus conselhos.Deixou uma obra que reúne cerca de 70 volumes.

Apesar de obras poéticas consideradas ultrapas sadas,e em alguns casos ilegíveis, Voltaire é magnífico na prosa,de estilo, correção e fluência admiráveis, além de possuirespirituosidade e irreverência. Seu O século de Luís XIV,de 1751, por exemplo, é a primeira obra de historiografiaque inclui a história da cultura, das letras e das artes. E oEnsaio sobre os costumes e o espírito das nações de1756, obra de erudição incrível, é a primeira tentativa deuma história universal do ponto de vista do liberalismoreligioso e político.

Nenhum de seus livros, contudo, supera, emespirituosidade, o Cartas filosóficas, em que a vivaci dadedas comparações entre a liberdade inglesa e o atraso daFrança é irresistível.

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Voltaire propagandeou os ideais iluministas em todosos seus livros, mas principalmente nos romances –também chamados de “contos filosóficos”, como Zadig,Micrômegas e, sua obra-prima, Cândido, ou o otimismo –e no seu radical Dicionário filosófico. Ele também nosdeixou cerca de 10 mil cartas, extensa correspondênciaque guarda, até hoje, qualidades fascinantes.

Apesar de anticlerical fervoroso e de combater todas asformas de intolerância, Voltaire não foi ateu, mas um deísta.Defensor da burguesia, foi um dos principais inspiradoresda Revolução Francesa, movimento que realizou suasideias anticlericais e de igualdade perante a lei.

Em fevereiro de 1778, Voltaire finalmente retornou aParis, onde foi amplamente festejado, morrendo logodepois.

Voltaire dedicou preciosa obra sobre o problema da tolerância religiosa

Texto: Voltaire em Defesa da Tolerância

Por Voltaire Schilling

Desde que se exilara na Inglaterra em 1726, Voltaireencantou-se com a liberdade dos súditos britânicos. Nãosó isto, tornou-se um anglófilo preocupado em difundir aciência (as concepções de Newton) bem como oscostumes e ideias dos escritores e pensadores daquelereino que ele entendia ser feliz. Entre elas entregou-sepor igual na defesa da tolerância.

Em favor da tolerância

Seguindo as pegadas de John Locke, que apresentouuma sólida argumentação a favor da tolerância comoremédio para as discórdias civis e religiosas (‘Cartas sobrea tolerância’, 1689), Voltaire produziu dois ensaios sobreo tema. Um ele introduziu no seu DictionairePhilosophique, (Dicionário Filosófico), de 1764, verbete‘tolerância’, o outro foi uma exposição mais longa da suadefesa do Caso Calas, dado a público um ano antes, em1763, intitulado Traité sur la tolérance, em favor dareabilitação de um burguês protestante, Jean Calas.

O pobre homem sofrera, devido a um erro judicial,uma pena injusta por motivos de fanatismo religioso,perdendo a vida e os bens quando esquartejado emToulouse em 10 de março de 1762 (no mesmo local ondeo filósofo italiano Vanini fora queimado pela Inquisiçãoacusado de ateísmo, em 1619). O Traité se tornou umlibelo do iluminismo contra o obscurantismo, ou como sedisse, o J’accuse do século XVIII.

Contra o fanatismo

Não havia outra solução, para ele, no combate aoradicalismo religioso e a inclinação para o extremismoteológico senão que a adoção de uma firme política datolerância. O fanatismo é uma espécie de febre ou cólerada alma que leva os indivíduos a confundirem visões esonhos com a realidade, terminando por satisfazer sualoucura por meio do crime. É a aliança entre a ignorânciae a crueldade.

‘O que é tolerância’, perguntou, senão que ‘oapanágio da humanidade. Somos todos cheios defraquezas e de erros; perdoemo-nos reciprocamente asnossas tolices...’(Dicionário Filosófico). Para ele nadamelhor como exemplo do bom convívio entre asdiferenças do que frequentar a bolsa de valores, coisaque ele fazia costumeiramente em Londres.

Lá se encontravam o episcopal, o calvinista, omuçulmano, o judeu, o católico, e seja mais qual for,todos em harmonia ganhando o seu dinheiro e ajudandona prosperidade do reino. Nenhum deles se aprontavapara degolar o outro ou para colocá-lo na fogueira. Porque, no restante da sociedade, não se seguia o exemplodo bom convívio deles?

Um histórico de desavenças e perse gui ções

Para Voltaire, o desacerto dos cristãos não começoucom a Reforma. Data de tempos bem mais remotos. János primeiros séculos do cristianismo, entre Tertuliano,Origines, Novaciano, Sibelius, Donat, e outros patriarcas,imperava abertamente a discórdia. Mesmo depois deConstantino ter reconhecido o cristianismo como religiãodo império, a cizânia não cessou entre os seguidores danova fé; atanasianos brigavam com eusebianos.

Durante a perseguição de Domiciano, as seitascristãs não cessavam de ofenderem-se. Ainda quetivessem escondidas em subterrâneos ou nascatacumbas de Roma, trocavam injúrias e lançavammaldições umas contra as outras.

Naqueles idos, a Igreja Cristã, inundada de sangue,jamais marchara unida: o ebionita excomungava ocorpocraniano, que por sua vez, era anatematizado pelosabeliano. E tais desavenças e rancores se projetarampelos tempos a fora, fazendo com que somente atolerância poderia vir a saná-los.

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As incertezas da fé

Como poderiam os integrantes das seitas cristãsestarem tão certos e aferrados às suas crenças se elasnão estão baseadas nos rigores da geometria nem daaritmética? O que os garantia como depo sitários daverdadeira fé e os outros não? Isto o levou a concluir quehavendo duas igrejas num reino uma tentará cortar opescoço da outra, se forem trinta viverão em paz.

Além disto, havia uma enorme distância entre aspráticas de Jesus e o que mais tarde se estratificou comonorma da Igreja Cristã. Na verdade, afirmou Voltaire, elaé ‘o oposto da religião de Jesus’. Tudo isto o levou aconcluir que, devido as nossas fraquezas e nossos erros,tão humanos e constantes, ‘devemos tolerarmo-nosmutuamente’ visto estarmos sujeitos à mutabilidade, àinconsequência e ao engano. Não somos senão ‘umcaniço vergado pelo vento na lama’, o que não nosautoriza a desencadear perseguições a ninguém, muitomenos a um outro caniço igual a nós.

Atingir o alvo

Voltaire não acreditava que suas palavras pudessemter qualquer efeito de fato sobre o poder clericalpromovendo a sua conversão à tolerância. Ele dirigia-se,ativa e diretamente, a um novo elemento que se formavacrescentemente no século XVIII: a opinião publica!

Dela é que partiria a pressão a ser feita junto àsautoridades seculares para coibir a intolerância,especialmente se na cabeça do reino estiver um príncipeilustrado, um déspota esclarecido, como era o caso deFrederico II da Prússia, que acolhera Voltaire em seupalácio de Sans-Souci e que usara o pulso firme paraevitar as quizílias religiosas em Berlim.

Alguém, enfim, com visão moderna que lançaria mãodos poderes do estado para impedir os exageros dofanatismo e dos desatinos praticados em nome de Deus.

Trecho De Rousseau, Discurso sobre as ciências e

artes.

O que a reflexão nos ensina a esse propósito, aobservação o confirma perfeitamente: o homemselvagem e o homem policiado diferem de tal modo,tanto no fundo do coração quanto nas suas inclinações,que aquilo que determinaria a felicidade de um reduziriao outro ao desespero.

O primeiro só almeja o repouso e a liberdade, só querviver e permanecer na ociosidade e mesmo a ataraxia doestoico não se aproxima de sua profunda indiferença porqualquer outro objeto.

O cidadão, ao contrário, sempre ativo cansa-se, agita-se, atormenta-se sem cessar para encontrar ocupaçõesainda mais trabalhosas; trabalha até a morte, corre no seuencalço para colocar-se em situação de viver ou renunciar

à vida para adquirir a imortalidade; corteja os grandes, queodeia, e os ricos, que despreza; nada poupa para obter ahonra de servi-los; jacta-se orgulhosamente de suaprópria baixeza e da proteção deles, e, orgulhoso de suaescravidão, refere-se com desprezo àqueles que nãogozam a honra de partilhá-la.Que espetáculo não seria para um caraíba os trabalhospenosos e invejados de um ministro europeu!

Frases de Rousseau

– “O mais forte não é suficientemente forte se nãoconseguir transformar a sua força em direito e aobediência em dever” – “Vosso filho nada deve obter porque pede, masporque precisa, nem fazer nada por obediência, mas pornecessidade” – “A razão forma o ser humano, o sentimento oconduz.” – “O homem de bem é um atleta a quem dá prazerlutar nu.” – “O maior passo em direção ao bem é não fazer omal.” – “Bastará nunca sermos injustos para estarmossempre inocentes?” – “A paciência é muito amarga, mas seus frutos sãodoces.” – “As boas ações elevam o espírito e predispõem-no apraticar outras”. – “Quem enrubesce já é culpado; a verdadeirainocência não tem vergonha de nada.” – “O ser humano verdadeiramente livre apenas quer oque pode e faz o que lhe agrada.” – “Para conhecer os homens é preciso vê-los atuar.”

Trecho de Voltaire, Dicionário Filosófico,

Igualdade.

Que é que deve um cão a outro cão, e um cavalo aoutro cavalo? Nada.

Nenhum animal depende do seu semelhante; maspor que o homem recebeu da Divindade um raio de luzque se chama razão, qual é o fruto disso?

É ser escravo em quase toda a terra. Todos oshomens nascem com uma tendência bastante violenta epronunciada para o domínio e os prazeres, e uma quedaacentuada para a preguiça: por conseguinte, qualquerhomem gostaria de possuir o dinheiro e as mulheres ouas filhas dos outros, ser o amo deles, submetê-los a todosos caprichos seus e não fazer nada ou, pelo menos, fazerapenas o que muito bem lhe apetecesse. Já veem que,com tão lindas disposições, é impossível que os homenssejam iguais, como é impossível que dois pregadores oudois professores de teologia não tenham ciúmes e invejaum do outro.

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Frases de Voltaire

“É difícil libertar os tolos das amarras que elesveneram”.

“A leitura engrandece a alma”.

“Todo aquele que desconfia, convida os outros a traí-lo.”

“O abuso da graça é afetação; o abuso do sublime,absurdo. Toda perfeição é um defeito.”

“O valor dos grandes homens mede-se pelaimportância dos serviços prestados à humanidade.”

“A guerra é o maior dos crimes, mas não existeagressor que não disfarce seu crime com pretexto dejustiça.”

“Encontra-se oportunidade para fazer o mal cemvezes por dia e para fazer o bem uma vez por ano.”

“Que Deus me proteja dos meus amigos. Dosinimigos, cuido eu.”

“O preconceito é uma opinião não submetida arazão.”

“Tenho um instinto para amar a verdade; mas éapenas um instinto.”

“Como é horrível odiarmos quem desejávamosamar.”

“O meu ofício é dizer o que penso.”

“A primeira lei da natureza é a tolerância; já quetemos todos uma porção de erros e fraquezas.”

“Devemos julgar um homem mais pelas suasperguntas que pelas respostas.”

“O acaso é uma palavra sem sentido. Nada podeexistir sem causa.”

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1. São características do Iluminismo, exceto: a) valorização da razão, considerada o mais importante instrumento

para se alcançar qualquer tipo de conhecimento; b) valorização do questionamento, da investigação e da experiência

como forma de conhecimento tanto da natureza quanto dasociedade, da política ou da economia;

c) crença nas leis naturais, normas da natureza que regem todas astransformações que ocorrem no comportamento humano, nassociedades e na natureza; crença nos direitos naturais, que todos osindivíduos possuem em relação à vida, à liberdade, à posse de bensmateriais;

d) defesa do absolutismo, do mercantilismo e dos privilégios danobreza e do clero;

e) defesa da liberdade política e econômica e da igualdade de todosperante a lei; crítica à Igreja Católica, embora não se excluísse acrença em Deus.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

2. Analise as alternativas que pretendem abordar o contexto históricoem que o Iluminismo se desenvolveu e julgue as proposições. I – Ocorreu no século XV. Formação dos Estados modernos, as

nações políticamente representadas (Estado-nação) e ausência deEstados absolutistas.

II – Expansão dos direitos civis, consolidação do liberalismo e dademocracia.

III – Estabelecimento da secularização.IV – Período em que não havia grandes conflitos religiosos, daí a

elaboração de textos acerca da tolerância.São verdadeiras:a) I e II b) I e III c) II e III d) III e IV e) I e IV

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

3. “O que o homem perde pelo contrato social é a liberdade natural eum direito ilimitado a tudo quanto aventura e pode alcançar. O que comele ganha é a liberdade civil e a propriedade de tudo o que possui.”

(Rousseau)A frase do filósofo Rousseau o situa entre os filósofosa) pessimistas. b) contratualistas. c) socialistas.d) autoritários. e) libertários.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

4. Sobre a visão de homem sustentada pelo filósofo Rousseau, leia ejulgue as assertivas abaixo.I – Sua antropologia aparece inicialmente na obra Discurso sobre a

Origem e Fundamentos da Desigualdade Entre Homens. II – Para ele, o homem vivia originalmente em um estado de natureza.

O homem natural, original, é um ser desprovido de preocupaçõesintelectivas e sua ação é motivada apenas por aquilo que o rodeia.Assim, o homem de Rousseau em estado de natureza vive nummundo sensível. Nessa condição, o homem não chega a imaginarum desejo distante e despercebido. Portanto, esse homem nãoplaneja, não faz projetos para o futuro e vive para o presente. Édesprovido da habilidade de abstrair.

III – Para Rousseau, o homem natural não pode distinguir-se do outrosequer. Conhece apenas os homens de seu círculo de convivênciae está incapacitado de abstrair acerca da condição humana, na qualse insere.

IV – Em estado de natureza, o homem revela uma face egoísta e umanatureza má. Sua imoralidade e inclinações para a guerra resultamde uma natureza essencial da condição humana. Esse homemficou conhecido como o mau selvagem.

São verdadeiras:a) I e II b) I, II e III c) II e III d) III e IV e) I, III e IVRESOLUÇÃO:

Resposta: B

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5. (UFF) – O escritor e filósofo francês Voltaire, que viveu no séculoXVIII, é considerado um dos grandes pensadores do Iluminismo ouSéculo das Luzes. Ele afirma o seguinte sobre a importância de manteracesa a chama da razão:“Vejo que hoje, neste século que é a aurora da razão, ainda renascemalgumas cabeças da hidra do fanatismo. Parece que seu veneno émenos mortífero e que suas goelas são menos devoradoras. Mas omonstro ainda subsiste e todo aquele que buscar a verdade arriscar-se-á a ser perseguido. Deve-se permanecer ocioso nas trevas? Ou deve-seacender um archote onde a inveja e a calúnia reacenderão suas tochas?No que me tange, acredito que a verdade não deve mais se esconderdiante dos monstros e que não devemos abster-nos do alimento commedo de sermos envenenados”.Identifique a opção que melhor expressa esse pensamento de Voltaire.a) Aquele que se pauta pela razão e pela verdade não é um sábio, pois

corre um risco desnecessário.b) A razão é impotente diante do fanatismo, pois esse sempre se impõe

sobre os seres humanos.c) Aquele que se orienta pela razão e pela verdade deve munir-se da

coragem para enfrentar o obscurantismo e o fanatismo.d) O fanatismo e o obscurantismo são coisas do passado e por isso a

razão não precisa mais estar alerta.e) O fanatismo e o obscurantismo são coisas do futuro e por isso a

razão precisa redobrar sua atenção.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

6. (UFU-Adaptada) – A relação homem-natureza consome a maiorparte das obras de Rousseau, que seguiu uma direção peculiarassentada na crítica ao progresso das ciências e das artes.A este respeito, pode-se afirmar queI – prevalece, nos escritos de Rousseau, a moral fundada na liber dade,

a primazia do sentimento sobre a razão e, principalmente, a teoriada bondade natural do homem;

II – o bom selvagem ou o homem natural é dotado de livre arbítrio esentido de perfeição, sentimentos esses corrompidos com osurgimento da propriedade privada;

III – o bom selvagem, descrito por Rousseau, possui uma sabedoriamais refinada que o conhecimento científico, o que confirma acompleta ignorância da cultura letrada;

IV – Rousseau não defende o retorno do homem à animalidade; aocontrário, é preciso conservar a pureza da consciência natural, istoé, alcançar a verdadeira liberdade.

Assinale a alternativa que apresenta todas as afirmativas corretas.a) I, III e IV b) II, III e IV c) I, II e IVd) I, II e III e) II e IV

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

7. Mas há sempre algum altruísmo nas pessoas. Serão valoresembutidos em nossa cultura por um legado religioso? Ou um impulsoinato, recebido da natureza ao nascer? Sangue, e rios de tinta, ainda nãoresponderam a essa pergunta. No século XVIII, J. J. Rousseau,invertendo muitos séculos da visão pessimista do homem naturalmentepecador e mau, embutida na tradição cristã, substituiu-a por uma ideiaoposta: a do homem que nasce virtuoso, e degenera na sociedade. É o"bom selvagem", uma das contribuições iniciais da descoberta do Brasilao pensamento europeu.

(Roberto Campos. O Bom Selvagem e a Sociedade Cruel)

Segundo o texto, J. J. Rousseaua) afirmou que o homem é naturalmente pecador e mau, mas, devido

à tradição cristã, quando nasce virtuoso, degenera na sociedade.b) é o bom selvagem que contribuiu para a descoberta do Brasil.c) errou, ao inverter a visão da Igreja, que sempre acreditou ser virtuoso

o homem, mas degenerador da sociedade.d) contradisse a tradição cristã, ao afirmar que o homem nasce virtuoso,

e a sociedade o corrompe.e contribuiu para a descoberta do Brasil, ao afirmar que o selvagem

que aqui habitava era naturalmente bom.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

8. (ENEM) – Os produtos e seu consumo constituem a meta declaradado empreendimento tecnológico. Essa meta foi proposta pela primeiravez no início da Modernidade, como expectativa de que o homempoderia dominar a natureza. No entanto, essa expectativa, convertidaem programa anunciado por pensadores como Descartes e Bacon eimpulsionado pelo Iluminismo, não surgiu “de um prazer de poder”, “deum mero imperialismo humano”, mas da aspiração de libertar o homeme de enriquecer sua vida, física e culturalmente.

CUPANI, A. A tecnologia como problema filosófico: três enfoques,Scientiae Studia. São Paulo, v. 2 n. 4, 2004 (adaptado).

Autores da filosofia moderna, notadamente Descartes e Bacon, e oprojeto iluminista concebem a ciência como uma forma de saber quealmeja libertar o homem das intempéries da natureza. Nesse contexto,a investigação científica consiste ema) expor a essência da verdade e resolver definitivamente as disputas

teóricas ainda existentes.b) oferecer a última palavra acerca das coisas que existem e ocupar o

lugar que outrora foi da filosofia.c) ser a expressão da razão e servir de modelo para outras áreas do

saber que almejam o progresso.d) explicitar as leis gerais que permitem interpretar a natureza e eliminar

os discursos éticos e religiosos.e) explicar a dinâmica presente entre os fenômenos naturais e impor

limites aos debates acadêmicos.

Resolução

Descartes e Bacon rivalizam quanto à concepção epistemológica e

métodos propostos. Descartes era racionalista, para quem o

conhecimento se encontra na razão e sugere o método dedutivo;

Bacon era empirista, para quem o conhecimento é construído pela

experiência sensorial, propondo o método indutivo. Contudo, tais

filósofos contribuíram muito para os caminhos da ciência e

introduziram, por exemplo, o ceticismo metodológico. À ciência,

caberia conhecer os processos naturais, afastando as sombras das

dúvidas. Os iluministas, nesse sentido, valorizam a razão, como

meio de emancipação do homem.

Resposta: C

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1. Que visão geral Rousseau sustenta acerca do homem.

2. “Ninguém jamais pôs tanto engenho em querer nos converter emanimais.” Essas palavras foram escritas por Voltaire para criticarRousseau. O que elas queriam dizer? E por que não julgam adequada -mente a filosofia de Rousseau?

3. Comente uma contribuição de Voltaire para o advento do homemmoderno.

4. Comente o projeto pedagógico de Rousseau.

5. O Iluminismo representa a saída dos seres humanos de umatutelagem que estes mesmos se impuseram a si. Tutelados são aquelesque se encontram incapazes de fazer uso da própria razãoindependentemente da direção de outrem. É-se culpado da própriatutelagem quando esta resulta não de uma deficiência do entendimentomas da falta de resolução e coragem para se fazer uso do entendimentoindependentemente da direção de outrem. Sapere aude! Tem coragempara fazer uso da tua própria razão! – esse é o lema do Iluminismo.

(Kant)

Segundo essas palavras:I. O homem é desvalorizado, porquanto tem a razão como limite para

o desenvolvimento da alma.II. O homem é um projeto para a emancipação.III. A razão humana é instrumento de tutelagem.IV. A razão é um caminho para a emancipação.V. O autor faz uma crítica ao Iluminismo.São verdadeiras apenas:a) I, II e III b) II, III e V c) I, IV e V d) II e IV e) II, IV e V

6. Enumere características fundamentais do Iluminismo.

7. Descreva o contexto histórico em que o Iluminismo se desenvolve.

8. Uma das perguntas mais intratáveis da vida moderna é sobre se oindivíduo tem precedência sobre o ente coletivo, ou o contrário?Prevalecerá a preferência pessoal de cada um, ou a vocação altruísta dese sacrificar pelos demais? Nas sociedades primitivas, o problema eramenos complicado porque a sobrevivência individual estava estreita -mente ligada à do grupo. Mas por outro lado, o egoísmo grupal eraimplacável. Na era moderna, o indivíduo adquiriu autonomia, tornou-secidadão votante e consumidor soberano. Os conflitos entre egoísmo ealtruísmo foram complicados pelo anonimato, pela burocracia, e pelogigantismo das sociedades. Fora do círculo íntimo da família nuclear, oslaços de solidariedade tornaram-se indiretos e difusos.

(Roberto Campos. O Bom Selvagem e a Sociedade Cruel)

Indique a afirmação correta em relação ao texto.a) Era mais fácil viver na sociedade primitiva, pois todos se ajudavam

mutuamente.b) Os grupos que se formavam, na sociedade primitiva, não eram

isolados uns dos outros.c) A burocracia existente na vida moderna arrefeceu os conflitos entre

o egoísmo e o altruísmo.

d) Em toda família nuclear, há laços de solidariedade.e) A vida moderna fortaleceu os conflitos entre o individualismo e o

altruísmo.

9. “Ninguém jamais pôs tanto engenho em querer converter-nos emanimais.” Essas palavras foram escritas por Voltaire para criticarRousseau. Sobre a frase de Voltaire e a real concepção de Rousseau,podemos afirmar:I – Trata-se de uma crítica à proposta de Rousseau de devolver ao

homem a sua pureza natural corrompida pelo ser social. II – De fato, a antropologia rousseauniana reduz o homem a um mero

animal. III – Rousseau é contra a vida social e propõe um retorno urgente ao

estado de natureza.IV – O homem de Rousseau é concebido como o bom selvagem.

São verdadeiras:a) I e II b) I e III c) II e III d) III e IV e) I e IV

10. A educação deve libertar o homem da escravidão das convençõessociais, hipocrisias e dos hábitos exteriores. Assim, a educação deveriavalorizar a experiência e uma experiência voltada para a vida. A educaçãoé um retorno à pureza da consciência natural. Podemos melhor afirmarque tais palavras interpretama) a concepção que Rousseau tem de sociedade.b) o projeto pedagógico de Rousseau.c) a doutrina social de Rousseau.d) a concepção de Voltaire acerca da tolerância entre os homens.e) o projeto revolucionário do Iluminismo.

11. Leia e julgue as assertivas abaixo sobre a antropologia de Rousseau I – É um ser livre que originalmente vive em estado de natureza,

individualmente, mas que renuncia à liberdade para viver emsociedade, ganhando, assim, a liberdade civil.

II – O homem em estado de natureza revela más inclinações para oegoísmo e só o contrato social, baseado no estabelecimento deum Estado forte e absoluto pode libertar o homem de suacondição infeliz.

III – O homem natural, original, é um ser desprovido de preocupaçõesintelectivas e sua ação é motivada apenas por aquilo que o rodeia.

Estão(está) corretas(correta):a) Todas b) Apenas I e II c) Apenas II e III d) Apenas I e III e) Apenas II

12. O homem de Rousseau em estado de natureza vive num mundosensível. Nessa condição, o homem não chega a imaginar um desejodistante e despercebido. Portanto, esse homem não planeja, não fazprojetos para o futuro e vive para o presente. É desprovido da habilidadede abstrair. Para Rousseau, o homem natural não pode distinguir-se dooutro sequer. Conhece apenas os homens de seu círculo de convivênciae está incapacitado de abstrair acerca da condição humana, na qual seinsere. Portanto:a) seria um homem incapaz de identificar uma essência comum aos

homens.b) o homem é naturalmente um ser social. c) o homem só desenvolve habilidades intelectuais quando rompe

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com as convenções sociais. d) antes de viver em individualidade, os homens viviam em

sociedades tribais.e) o homem é um ser irracional, movido por pulsões que impossibi -

litam uma convivência social democrática.

13. A inversão de Rousseau teve consequências imprevistas. Se oproblema residia na sociedade, bastaria ao homem transformá-la paravoltar ao paraíso. Tentação tanto mais irresistível quanto estavaacontecendo a transição do mundo pré-industrial para os horizontesinexplorados da Revolução Industrial. Durante três séculos, a Era daRazão vinha abalando os alicerces intelectuais da cosmovisão religiosaque sustentara a grande unidade espiritual da Idade Média. E a vitória doracionalismo humanista trazia no bojo o liberalismo político e econômico.

(Roberto Campos. O Bom Selvagem e a Sociedade Cruel)

A frase que altera a ideia básica do segundo período desse parágrafo é:a) Já que o problema residia na sociedade, bastaria ao homem

transformá-la para voltar ao paraíso.b) Uma vez que o problema residia na sociedade, bastaria ao homem

transformá-la para voltar ao paraíso.c) Como o problema residia na sociedade, bastaria ao homem

transformá-la para voltar ao paraíso.d) Embora o problema residisse na sociedade, bastaria ao homem

transformá-la para voltar ao paraíso.e) Porquanto o problema residisse na sociedade, bastaria ao homem

transformá-la para voltar ao paraíso.

14. A inversão de Rousseau teve consequências imprevistas. Se oproblema residia na sociedade, bastaria ao homem transformá-la paravoltar ao paraíso. Tentação tanto mais irresistível quanto estavaacontecendo a transição do mundo pré-industrial para os horizontesinexplorados da Revolução Industrial. Durante três séculos, a Era daRazão vinha abalando os alicerces intelectuais da cosmovisão religiosaque sustentara a grande unidade espiritual da Idade Média. E a vitória doracionalismo humanista trazia no bojo o liberalismo político e econômico.

(Roberto Campos. O Bom Selvagem e a Sociedade Cruel)Segundo o texto,a) três séculos depois de Rousseau, teve início a Idade Média.b) o liberalismo político e econômico era uma das características do

racionalismo humanista.c) a vitória do racionalismo humanista extinguiu o liberalismo político

e econômico.d) a Era da Razão e a Idade Média são nomes para uma mesma

época.e) o problema realmente residia na sociedade.

15. Não havia outra solução, para ele, no combate ao radicalismoreligioso e a inclinação para o extremismo teológico senão a adoção deuma firme política da tolerância. O fanatismo é uma espécie de febre oucólera da alma que leva os indivíduos a confundir visões e sonhos coma realidade, terminando por satisfazer sua loucura por meio do crime. Éa aliança entre a ignorância e a crueldade.

(Schilling) O texto expressa ideias dea) Descartes. b) Rousseau. c) Voltaire.d) Kant. e) Marx.

1) É um ser livre que originalmente vive em estado de natureza,

individualmente, mas que renuncia à liberdade para viver em

sociedade, ganhando, assim, a liberdade civil.

2) Trata-se de uma crítica à proposta de Rousseau devolver ao

homem a sua pureza natural corrompida pelo ser social. Mas

a antropologia rousseauniana se revela bem mais complexa e

não reduz o homem a um mero animal.

3) Voltaire pregou a liberdade de expressão e criticou a

intolerância religiosa. Contribuiu também para o conceito de

igualdade de direitos.

4) A educação deve libertar o homem da escravidão das

convenções sociais, hipocrisias e dos hábitos exteriores. Sua

pedagogia valoriza a experiência e está voltada para a vida. A

educação é um retorno à pureza da consciência natural.

5) D

6) • Valorização da razão, considerada o mais importante ins -

trumento para se alcançar qualquer tipo de conhecimento;

• Valorização do questionamento, da investigação e da

experiência como forma de conhecimento tanto da

natureza quanto da sociedade, política ou economia;

• Crença nas leis naturais, normas da natureza que regem

todas as transformações que ocorrem no comportamento

humano, nas sociedades e na natureza;

• Crença nos direitos naturais, que todos os indivíduos

possuem em relação à vida, à liberdade, à posse de bens

materiais;

• Crítica ao absolutismo, ao mercantilismo e aos privilégios

da nobreza e do clero;

• Defesa da liberdade política e econômica e da igualdade de

todos perante a lei;

• Crítica à Igreja Católica, embora não se excluísse a crença

em Deus.

7) Século XVIII. Formação dos Estados modernos, as nações

políticamente representadas (Estado-nação), expansão dos

direitos civis, consolidação do liberalismo e da democracia,

secularização.

8) E 9) E 10)B 11)D

12) A 13)D 14)B 15)C

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Kant e as Críticas da RazãoA Dialética de Hegel

MÓDULO 7

KANT E AS CRÍTICAS DA RAZÃO

1. Introdução

Immanuel Kant nasceu, estudou, lecionou e morreu emKönigsberg. Nunca saiu dessa cidade da Prússia Oriental,centro da intelectualidade e comercial. A vida de Kant foiaustera e, costuma-se dizer, regular como um relógio.

Kant era de família protestante, da Igreja Luterana, oque deixou profunda influência sobre o seu pensamento,marcado pelo racionalismo e pelo culto à moralidadeinterior do homem.

A primeira obra importante de Kant foi o Ensaio sobreo mal radical, em que estuda o problema do mal. Nessaobra, o mal não é visto apenas como a simples “privatiobone” (ausência do bem, como entendia o antigo filósofoneoplatônico Plaotino), mas o objeto muito positivo deuma liberdade malfazeja.

Kant distingue o conhecimento sensível que abrangeas instituições sensíveis e o conhecimento inteligível, ouseja, das ideias metafísicas. As obras seguintes expõemo pensamento chamado crítico do filósofo: a Crítica da

Razão Pura (1781), em que explica essencialmenteporque as metafísicas são voltadas ao fracasso e porquea razão humana é impotente para conhecer o fundo dascoisas; e a a Crítica da Razão Prática (1788), obra emque estuda o problema da moralidade humana. Escreveutambém outras importantes obras: Fundamento daMetafísica dos Costumes, a Crítica do Juízo e outros.

Só o resultado permite imediatamente julgar se a elaboração dosconhecimentos pertencentes aos domínios próprios da razão segueou não a via segura da ciência. (Kant)

O significado do termo “Crítica”

O termo ‘crítica’ pode ser entendido como o métodokantiano da reflexão analítica ou da análise reflexiva. Essemétodo parte do exercício de remontar do conhecimentoàs condições que o tornariam legítimo. Kant não duvidavadas verdades científicas de sua época, tampouco dosprincípios morais, contudo, achava necessário buscar osfundamentos racionais que sustentavam essas verdadesuniversais. Assim, os juízos rigorosamente verdadeiros,e portanto, necessários e universais, são juízos a priori,isto é independentes dos azares da experiência, sempreparticular e contigente.

Texto: Kant Por Julián Marías (Filósofo espanhol cristão,

autor de inúmeros livros)

(Esse texto resulta de uma conferência do curso “Losestilos de la Filosofía”, em Madrid, entre 1999 e 2000.Edição: Jean Lauand. Tradução: Elie Chadarevian)

Hoje vamos falar de Kant. Kant é uma das maioresfiguras da História da Filosofia, mas, além disso,representa algo de muito especial neste curso, cujo temaé “Os estilos da Filosofia”. Como veremos, ele não sórepresenta um estilo novo, mas também tem umaparticular consciência disto.

Kant, nasceu em 1724 e morreu em 1804. Nasceu,viveu e morreu em Königsberg, não saiu de sua cidadenatal. Era um homem metódico, as pessoas acertavamseus relógios quando o senhor Kant passava, por certolugar, porque passava sempre na mesma hora. Há unsversos de Antonio Machado que dizem: Tartarin emKönigsberg! Com a mão no queixo, tudo chegou a saber.

Era de uma família modesta, muito religiosa,protestante, pietista, teve uma vida de professor, solitário,uma vida enormemente singela e simples. É curioso ofato de que tinha boa imaginação: dava cursos degeografia e, ao que parece, descrevia países que nãoconhecia, que nunca tinha visitado, com grandeimaginação.

Seu pensamento filosófico começou cedo, sem muitaprecocidade, mas há uma longa época em sua vida – queé o que depois se denominou “o período pré-críti co” – naqual – mais ou menos – segue os caminhos dopensamento dominante das primeiras e médias décadasdo século XVIII. Depois há uma época bastante longa emque não escreve, medita, pensa... e então começa operíodo crítico: em 1781 publica seu livro principal, Críticada razão pura, Kritik der reinen Vernunft, que depois

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voltou a publicar – uma edição bastante modificada – em1787. Justamente a palavra “crítica” é essencial nesseperíodo; ele publica outros livros importantes: Crítica darazão prática, Crítica do juízo, Fundamentação dametafísica dos costumes...

O interessante é que nessas obras de maturidade,mais propriamente pessoais, que marcam um estilonovo – ele tem consciência disto – diz que se trata de“uma revolução copernicana”. Ele pensa na inversão daconcepção astronômica de Ptolomeu feita por Copérnicoe apresenta sua filosofia como sendo “uma revoluçãocopernicana”, eine kopernikanische Wendung.

Ou seja, ele tem plena consciência de um novo estilo.Este estilo tem a ver, evidentemente, com a tendênciaque já temos encontrado (e a vimos claramente emDescartes): a tendência a evitar o erro. Mais do que adescoberta da verdade, com mais força ainda, o que sebusca é evitar o erro.

Lembrem como Descartes põe em dúvida muitaspossibilidades de conhecimento, ele acha que não sãoseguras e busca evitar o engano, e procura umfundamento indubitável, que vai ser o cogito, a mente quepensa: algo do qual não se pode duvidar. Isto aparecetambém no empirismo, especialmente em Locke,também há uma espécie de renúncia a muitosproblemas – já os vimos outro dia – justamente porquese trata de poder estar seguro mediante a experiência.

Pois bem, isto é capital. Não esqueçamos que Kantrecebe uma poderosa influência não só de Locke, mastambém de Hume, a quem chama “esse homem adulto”,que chega a uma forma inclusive quase cética do empirismode Locke e questiona uma série de possibilidades deconhecimento: isto faz com que Kant fique em alerta, e ele vaise concentrar sobre os objetos da razão e seus limites, suaspossibilidades. É a crítica da razão.

Cabe aqui um esclarecimento terminológico: em Kanta palavra “puro” quer dizer independente da experiência.Kant dirá em algum lugar: “Todo conhecimento começacom a experiência, mas nem todo conhecimento se fundana experiência”. Há conhecimentos que não se fundamna experiência, isto quer dizer “puro” ou também, comoutro termo que ele usa muito, “a priori”. “A priori” ou“puro” quer dizer independente da experiência, oposto a“a posteriori”, que é fundado na experiência.

Em segundo lugar, outro esclarecimento terminoló -gico, quando Kant fala de crítica da razão pura e de críticada razão prática o leitor não filósofo supõe que há umacontraposição entre puro e prático. E não: a razão pura étoda a razão; é a razão pura teórica e a razão pura prática.Ou seja, o adjetivo “puro” corresponde às duas, adiferença é que uma é teórica e outra é prática.

Kant vai empreender a tarefa da crítica da razão, deestabelecer os limites da razão, suas possibilidades, suajustificação e isso justamente no momento em que a

Física de Newton tem um enorme prestígio. E as trêsperguntas fundamentais que Kant lança na Crítica daRazão Pura são: Como é possível a matemática pura?Como é possível a física pura? É possível a metafísica?

Vejam a diferença entre as perguntas: toma comocerto que são possíveis a matemática e a física puras epergunta se é possível a metafísica. E diz que ainda nãose encontrou o caminho seguro da filosofia: enquanto amatemática e as ciências encontraram um caminhoseguro e progridem, avançam, se consolidam; emfilosofia, em metafísica não se chegou a ter o caminhoseguro da ciência “kein sicherer Weg derWinssenschaft” e isto é justamente o que ele vai buscar,o que vai determinar a obra de Kant.

Isto vai levar Kant a uma reflexão muito profunda.Normalmente considera-se que o pensamento conheceas coisas; conhece as coisas tal como são. E Kant diz:não, isto não é possível. O que chama de “a coisa em si”,“das Ding an sich” não se pode conhecer; porque euconheço “a coisa em mim”. O que eu conheço, conheçosubmetido a mim; submetido ao meu espaço, ao meutempo, às minhas categorias, isto é a “coisa em mim”,que ele chamará “fenômeno”, opondo-o ao “noumeno”,a coisa em si.

Quando eu conheço algo, transformo, modifico acoisa em si, que, como tal, é inadmissível. É contraditórioque eu conheça a coisa em si porque quando a conheçoestá em mim, ingressa em minha subjetividade, que amodifica.

É algo capital, decisivo, que vai iniciar uma novamaneira de propor os problemas filosóficos e éjustamente isto que a Crítica da Razão Pura vai explorar.

Então faz uma crítica muito profunda da qual,naturalmente, só podemos dar umas poucas amostras.Por exemplo, recordem como, por meio de Deus, essefamoso problema da comunicação das substâncias foiresolvido na filosofia do século XVII (Deus como garantiada evidência em Descartes: não há um gênio maligno quenos engana etc.). A abordagem de Kant é diferente: fala-se da existência como se fosse uma qualidade dascoisas... e não! Sein ist keine reales prädikat, o ser não éum predicado real. O que isto quer dizer? Não é que umacoisa seja o que é e, além disso, exista; não! A existêncianão é um predicado real. Ele diz “Cem táleres - a moedada época - pensados são o mesmo que cem táleres reais”(bem, no meu bolso, não, não é o mesmo... [risos] setenho mil pesetas possíveis ou se tenho mil pesetas reais,há uma pequena diferença...). Mas, em que consiste adiferença? Não no conteúdo, mas na conexão com aexperiência. Digamos: os cem táleres reais estão aqui,tenho-os na mão, estão nesta mesa, estão em conexãocom a experiência; os outros, não. Portanto é um caráterque não é intrínseco à própria coisa: a existência éjustamente algo que é a conexão de alguma coisa com o

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conjunto da experiência: é o que os filósofos dessaépoca – e Kant é o primeiro – chamarão “a posição”, estáposto: o ser não é um predicado real. Por exemplo, Fichte,o discípulo mais próximo de Kant dirá, em sua forma deidealismo: o eu se põe a si mesmo e ao não eu; o não eu,o mundo, é posto pelo eu – por isto é idealismo.

Há um ato de posição: isto é muito importante nopensamento pós-kantiano.

Isto leva a uma ideia que é o que se vai chamar o sertranscendental. É uma ideia capital e por isso o idealismode Kant é chamado de idealismo transcendental. Aescolástica já usava os conceitos de imanente etranscendente. Imanente é o que permanece no sujeito;transcendente é o que está além. Kant dirá: não se tratade imanente nem de transcendente, trata-se dotranscendental. O transcendental é o resultado dainserção, digamos, do real em si – que não é acessível,que não se pode conhecer diretamente como tal – emminha sensibilidade: o espaço, o tempo e as categoriassão as que ordenam o que, de modo bruto, ésimplesmente um caos de sensações. O que eu vejo, oque eu percebo está ordenado segundo o espaço, otempo e as categorias e isso não são as coisas, mas osfenômenos, que é o que eu conheço.

Este é o ponto de vista da visão kantiana do real, quetraz naturalmente consigo uma visão do conhecimento.Uma visão que é – e isto terá consequências – umatransformação do real: ao conhecer eu transformo; onoumenon, a coisa em si não é acessível, não écognoscível, porque conhecer quer dizer transformar onoumenon em fenômeno, que é o que eu conheço.Portanto o conhecimento é, de certo modo, umatransformação do real. É interessante como, por exemplo,muito recentemente se chegou a uma visão, inclusivefísica, que tem conexão com isto: para estudar umfenômeno físico, eu devo iluminá-lo, mas a luz transformao objeto, o modifica: se eu ilumino um sistema físico,modifico-o, mas para conhecê-lo tenho que iluminá-lo...

Kant tem, então, a matemática e a física – e a física deNewton é o modelo de ciência que é válido para ele (isto,naturalmente, pode-se corrigir, foram feitas críticasposteriores, houve modificações muito profundas comEisntein, com Planck, com Heisenberg etc., mas paraKant a física de Newton tem plena validade). E Kant sedepara com o problema da metafísica; os grandesproblemas: Deus, a liberdade, a imortalidade. Estesproblemas escapam à experiência...

Então ele dirá: não é possível chegar a umconhecimento pleno na crítica da razão pura dessasrealidades que vão se portar como o que ele chamará deideias regulativas, mas não são objeto do conhecimentoespeculativo, da razão pura teórica.

Kant então se encontra com este fato e há umalimitação, que afeta precisamente estes grandes temasda metafísica. Mas não é que desapareçam, o que ocorreé que reaparecem no âmbito da razão prática eprecisamente no âmbito da moralidade. E há um fato damoralidade: o homem é moral. O homem se senteresponsável e portanto livre. E portanto moral. O únicobem sem restrições é a boa vontade, que será o núcleoda atitude moral de Kant: a boa vontade. Ele vaiprecisamente considerar que a boa vontade consiste norespeito ao dever. Kant desvaloriza os desejos, ossentimentos, as emoções... tudo isto está muito bem,mas não tem que ver com a moralidade. Se eu faço algoporque me comovo, porque me parece desejável, porcompaixão... isto está muito bem pessoalmente mas nãotem nada que ver com a moral. A moral consiste em queeu faça algo por puro respeito ao dever. Este é o ponto devista kantiano.

Por um lado, Kant necessita estabelecer uma moralque seja absolutamente válida. Ele distingue entreimperativos condicionados e imperativos categóricos. Sedizem a uma pessoa: – Não coma demasiado porque vaiengordar – Pois bem, vou engordar. Não faça tal coisaporque vai se machucar.

Pois bem, vou me machucar... Ou seja, o imperativoperde validade, porque são imperativos condicionados,dependem de uma condição: se essa condição falta ounão se cumpre, então o imperativo cai. E ele quer umimperativo categórico, que obrigue sem restrições, semmais. Então tem de ser um imperativo não material, nãode conteúdo, que não dependa de tal ou qual coisa, mas:Faça as coisas de tal maneira!

A fórmula – há várias fórmulas para o imperativocategórico, mas seria mais ou menos isto: “Age de modoque o motivo de tua ação possa ser uma lei universal danatureza”. Se eu posso querer que o motivo pelo qualfaço algo se converta em lei universal da natureza, entãoisto moralmente obriga de modo absoluto.

Ele dá exemplos, alguns muito triviais: se umapessoa, faz um depósito em empréstimo para outrapessoa, há obrigação de devolver. Ou será que possodesejar que seja lei universal que quando se faz umempréstimo não se devolva? Ou que possa querer queseja lei universal que se minta quando se fala? Não,porque então ninguém acreditaria no que se diz e não sepoderia viver.

Como veem, essa ideia muito profunda em Kant – aideia de uma moral autônoma, categórica – não pode seruma moral de conteúdo – o que depois se chamará“moral material” – é uma moral formal, que se atém àforma da ação, ao motivo pelo qual se executa umadeterminada ação.

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Ora, o fato da moralidade – o fato de que o homem éresponsável, se sente responsável e, portanto livre e,portanto moral – faz com que ingressem no campo darazão prática – que é superior à teórica – esses grandestemas, que não se podem equacionar suficientemente naesfera da razão pura teórica; essas grandes ideiasregulativas, reaparecem no mundo moral, culminam noconceito de pessoa moral, que é central no kantismo.

Como veem, é realmente uma revolução coper -nicana, é uma mudança profundíssima, é uma maneiranova de ver as coisas, é uma renúncia à crença ingênuade que se conhecem as coisas em si mesmas – há umasubjetividade que as transforma, que as converte em algodiferente; conhecer é transformar –, mas se salvam osgrandes conteúdos da metafísica na esfera da razãoprática.

É que a metafísica é eine Naturanlage “umatendência natural”: o homem não pode renunciar a fazermetafísica; o que acontece é que a tem que deslocar darazão especulativa para a razão prática. “Em primeiro lugartive que eliminar o saber para dar lugar à crença”, umacrença racionalmente justificada, na esfera da razãoprática, que é a decisiva.

Isto foi, naturalmente, como uma espécie deterremoto intelectual.

Naturalmente se trata de um sistema complexo edifícil: se quiserem ler Kant, eu lhes recomendo asgrandes Críticas, que são muito difíceis e muito extensas.A fundamentação da metafísica dos costumes é um livrobreve, muito acessível e claro. E a Introdução à Lógica deKant, publicado por Jaesche, e que é uma introdução aseu método filosófico.

Kant foi um filósofo que viveu 80 anos. E só muitotardiamente exerceu influência: por exemplo, seuprincipal discípulo, Fichte, só o conheceu em 1791,bastante tarde, e os outros são posteriores. Ou seja, oskantianos são netos de Kant: há uma geraçãointermediária que não é kantiana. E há ainda um problemamuito delicado: quando há um grande filósofo, nem todasua obra está em linguagem clara: há certos silêncios,certos esquecimentos, certas missões... E entre os pós-kantianos, a razão prática tem muito maior relevo: sim,partem da crítica da razão teórica, contam com ela, masnão é o que seguem, não é o que primariamentedesenvolvem. E o que fazem é uma especulação: sãograndes construtores de catedrais, os grandessistemáticos da filosofia, que elaboram grandes eimpressionantes construções intelectuais, às vezes comcertas violências à realidade. Ortega disse certa vez quetinha pensando em escrever um ensaio intitulado

“Genialidade e inverecúndia no idealismo transcen -dental”. E há esse afã, de esquematismo, do desenvol -vimento das grandes construções intelectuais... e isto é aconsequência imediata de Kant.

Depois há o positivismo. O positivismo recebeinfluência do kantismo, mas o recebe num momento emque se renuncia aos grandes problemas, em que se falados fenômenos e de suas leis; não se fala de essências,do que as coisas são. Isto faz com que o pensamentokantiano se converta numa espécie de metodologia doconhecimento empírico. Já na segunda metade do séculoXIX aparece o que se chama de neo-kantismo (sempreque eu vejo o prefixo “neo” me preocupo – há um livrofamoso “Kant e os epígonos”, cujos capítulos sempreterminavam com: “portanto é preciso retornar a Kant”) –cuja escola mais importante é a escola de Marburgo, quealém do mais nos interessa muito particularmente porquefoi nela que Ortega se formou. O que querem é, emúltima análise, converter o kantismo em teoria doconhecimento, em epistemologia.

E ainda mais: há um momento no século XX em quese volta a ler Kant de outra maneira, com outros olhos. Elê-se Kant sobretudo como um pensador inacabado, quenão chegou a completar sua filosofia: toda sua enormeobra era uma preparação para isto. O primeiro a repararnesse fato foi Ortega. Ortega escreve um folheto em1924: Kant: reflexões de um centenário. E precisamenteexamina Kant a partir do ponto de vista do que representapara a cultura alemã. Por exemplo, a dificuldade de ir maisalém de si mesmo, a atitude frequentemente subjetivistaque aparece no pensamento alemão. Pouco depoispublicou outro folheto Kant no qual explicita isto: Kant,afinal, é um metafísico: trata de fazer uma obra que nãochega a completar, que se indica em alguns de seuslivros, especialmente num deles há textos muitointeressantes que comentarei brevemente daqui a pouco.

E em 1929 Heidegger publica Kant und das Problemder Metaphysik, Kant e o problema da metafísica, umavisão da metafísica indicada – mas não plenamenterealizada – por Kant, que, em última análise, seria justa -mente um metafísico que não acaba de realizar sua obra.

Além disso Kant diz coisas particularmente muitointeressantes quando fala das quatro perguntasfundamentais que devem ser feitas: O que posso saber?A Metafísica responde a isto. O que posso esperar? Areligião responde a isto.

O que devo fazer? Isto é a moral. E finalmente: O queé o homem? A isto responde a antropologia. E Kant dizque estas quatro perguntas resumem-se, afinal, na última:“O que é o homem”: E isto é interessante porque Kantfaz a distinção entre dois conceitos da filosofia: o

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Schulbegriff, o conceito escolar da filosofia e oWeltbegriff, o conceito mundano da filosofia, a filosofiapara a vida. E ele diz: mais importante é a filosofia paravida, o conceito mundano da filosofia.

Precisamente nesse breve texto da Introdução àsLições de Lógica, editadas por Jaesche, já no final da vidade Kant, é interessante que justamente a filosofia de Kantdesemboca na distinção entre o conceito escolar e oconceito mundano da filosofia e nessas quatro perguntascapitais.

Já há bastante tempo eu disse na AntropologiaMetafísica que, do meu ponto de vista, não é certo que sepossa reduzir tudo a uma pergunta: O que é o homem? Eo dizia precisamente num livro de antropologia. Eu dizia: –não, para começar, não está correta a pergunta: “O que éo homem?”. Essa pergunta tem sido feita pela filosofia jáhá muito tempo, mas é uma pergunta errada, é umapergunta que propõe um problema de resposta falsa,porque o homem não é um “que”... Se alguém bate àporta, não se pergunta “que”, mas sim “quem” é.

Devemos distinguir radicalmente entre “que” e“quem”. A pergunta não é portanto “O que é ohomem?”, nem tampouco “Quem é o homem?” – istonão tem sentido – a pergunta radical é “Quem sou eu?”.

Outros filósofos alemães – de Kant a Hegel – falam doeu; a filosofia de todos os idealistas alemães está centradano conceito do eu, que põe o não-eu. O eu transcendental.Sim, sim, mas quando se usa o artigo determinado com apalavra “eu”, esta palavra se altera profundamente, ficasubstantivada, coisificada. Porque “eu” é um pronome, éum pronome pessoal, que indica precisamente a posiçãoexistente e única. Quando alguém bate e se pergunta“Quem é”, frequentemente se responde: “eu”, se a vozfor conhecida. “Eu”, não “o eu”, que é uma abstração;“eu”, rigorosamente pronominal.

Portanto, a pergunta não seria “O que é o homem?”,a pergunta seria “Quem sou eu?”. Mas esta pergunta vaiacompanhada de outra, inseparável: “O que vai ser demim?”. São duas perguntas inseparáveis e que de certomodo se contrapõem: quero dizer que na medida em queposso responder plenamente a uma, a outra fica nasombra. Se eu sei quem sou, se eu me vejo a mimmesmo como pessoa, como quem, não acabo de saber oque vai ser de mim... Se, por outro lado, quero ter acerteza sobre o que vai ser de mim, evidentementenecessito apoiar-me em algo estável e executo aoperação de – de certo modo – coisificação. Essas duasperguntas são inevitáveis, inseparáveis e – de algummodo – conflitantes. Por isso, é que eu acho que a vidahumana é dramática.

Conferência do curso “Los estilos de la Filosofía”, Madrid, 1999/2000.

© Edição: Jean Lauand. Tradução: Elie Chadarevian

Julian Marías: renomado filósofo espanhol, autor da conferência sobreKant anteriormente publicada.

Frases e Pensamentos de Kant

“A missão suprema do homem é saber o que precisapara ser homem.”

“A moral, propriamente dita, não é a doutrina que nosensina como sermos felizes, mas como devemos tornar-nos dignos da felicidade.”

“É no problema da educação que assenta o grandesegredo do aperfeiçoamento da humanidade.”

“Age de modo que consideres a humanidade tantona tua pessoa quanto na de qualquer outro, e semprecomo objetivo, nunca como simples meio.”

“O mesmo acontece ao mérito e à inocência: perde-se, desde que deles nos sustentemos.”

“Belo é tudo quanto agrada desinteressadamente.”

“O desejo é a autodeterminação do poder dumapessoa pela imaginação dum fato futuro, que seria oefeito desse poder.”

“O princípio da finalidade não é constitutivo, masregulador.”

“A amizade é semelhante a um bom café; uma vezfrio, não se aquece sem perder bastante do primeirosabor.”

“Todo o conhecimento humano começou comintuições, passou daí aos conceitos e terminou comideias.”

“É por isso que se mandam as crianças à escola: nãotanto para que aprendam alguma coisa, mas para que sehabituem a estar calmas e sentadas e a cumprirescrupulosamente o que se lhes ordena, de modo quedepois não pensem mesmo que têm de pôr em prática assuas ideias.”

“A geometria é uma ciência de todas as espéciespossíveis de espaços.”

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“Age sempre de tal modo que o teu comportamentopossa vir a ser princípio de uma lei universal.”

“O homem é o único animal que precisa trabalhar.”

“Age de tal forma que a máxima do teu querer possavaler em todo o tempo também como princípio de umalegislação geral.”

“Quanto mais amor temos, tanto mais fácil fazemosa nossa passagem pelo mundo.”

“O homem não é nada além daquilo que a educaçãofaz dele.”

“A paciência é a fortaleza do débil e a impaciência, adebilidade do forte.”

“Não há garantias. Do ponto de vista do medo,ninguém é forte o suficiente. Do ponto de vista do amor,ninguém é necessário.”

“A nossa época é a época da crítica, à qual tudo temque submeter-se. A religião, pela sua santidade, e alegislação, pela sua majestade, querem igualmentesubtrair-se a ela. Mas então suscitam contra elasjustificadas suspeitas e não podem aspirar ao sincerorespeito, que a razão só concede a quem pode sustentaro seu livre e público exame.”

Para Kant, a razão prática é aquela que orienta a moral humana.

“Podemos julgar o coração de um homem pela formacomo ele trata os animais.”

“Duas coisas povoam a mente com uma admiração erespeito sempre novos e crescentes...o céu estrelado porcima e a lei moral dentro de nós.”

“Ciência é conhecimento organizado. Sabedoria évida organizada.”

Texto:

Racionalismo e Empirismo

Por José Maurício F. Mazzucco

O filósofo René Descartes (1596-1650) iniciou umateoria do conhecimento. Descartes é um representantedo racionalismo ou do inatismo, segundo o qual o homemdesenvolve ideias a partir de seu próprio sujeito, pois arealidade está primeiramente no espírito. Diante do pólosujeito e objeto (conhecedor e conhecido), Descartesprioriza o papel do primeiro, pois as ideias não vêm defora, mas estão dormentes no sujeito e somente umconhecimento baseado no critério da racionalidade internado homem pode assegurar um conhecimento verdadeiro.Por outro lado, temos os empiricistas que afirmam ocontrário: a alma é como uma tabula rasa e oconhecimento só é construído graças ao contato com arealidade empírica, ou seja, em contato com a realidadesensível. Um filósofo representante dessa concepção éJohn Locke (1632-1704) e Francis Bacon (1561-1626).Comparando Descartes a Locke, podemos afirmar queenquanto o primeiro enfatiza o sujeito conhecedor, osegundo enfatiza o objeto conhecido, pois a realidade éacessível ao pensamento humano pela experimentação.

Entre a postura dos racionalistas, que valorizam osujeito, e dos empiricistas, que valorizam o objeto,encontramos a posição de Immanuel Kant (1724-1804),para quem o conhecimento esbarra com os limites darazão e com as possibilidades da experiência. Se não sepode confiar totalmente na razão, também não se podeconfiar totalmente nos sentidos. Para Kant:

“... o nosso conhecimento experimental é umcomposto do que recebemos por impressões e do que anossa própria faculdade de conhecer de si mesma tira porocasião de tais impressões”.

Em suma, para Kant, o conhecimento resulta daapreensão dos conteúdos pela experiência empírica epela razão humana.

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A DIALÉTICA DE HEGEL

2. Introdução

Georg Wilhelm Friedrich Hegel nasceu em Estugarda,em 27 de agosto de 1770, e faleceu em Berlim, no dia 14de novembro de 1831. Hegel foi um dos mais influentese fundamentais filósofos alemães. Rece beu sua formaçãono Tübinger Stift – Seminário de Tubinga (Seminário daIgreja Protestante em Württemberg). Na constelação deinfluências de Hegel, temos o nome de grandes filósofos,como Spinoza, Kant e Rousseau. No seminário conheceudois nomes do romantismo literário: Hölderlin e Schelling,com quem compartilhava um entusiasmo pela RevoluçãoFrancesa. Posteriormente, decepcionado com o períododo Terror, voltou-se para uma postura mais conservadora.Hegel representa o ápice do idealismo alemão do séculoXIX, que teve impacto profundo no materialismo históricode Karl Marx. É considerado também o pai da dialéticamoderna, sistema filosófico que construiu lentamente.

A primeira e a mais importante das obras maiores deHegel é sua Fenomenologia do Espírito. Publicou tambéma Enciclopédia das Ciências Filosóficas, a Ciência daLógica, e os (Elementos da) Filosofia do Direito. Sua obra,no entanto é bem mais vasta, versando sobre religião,filosofia da História e estética.

3. A Dialética e o Idealismo

Hegel criou um sistema para possibilitar uma visãototal da História e do mundo: a dialética, uma progressãona qual cada movimento sucessivo surge como soluçãodas contradições inerentes ao movimento anterior.Formulou, assim, uma espécie de motor da História emque a evolução se dava pelas relações de contradição dosfenômenos, onde toda tese, pressupõe uma antítese (suacontradição) e da relação de tensão entre a tese eantítese, surgiria uma síntese, que por sua vez seconstituiria numa nova tese. Essa tríade (tese, antítese esíntese) simplifica a compreensão da dialética de Hegel,mas ele próprio nunca a usou. Por exemplo, a RevoluçãoFrancesa constitui, segundo o filósofo alemão, aintrodução da liberdade nas sociedades ocidentais.Contudo, justamente por ser novidade absoluta, étambém absolutamente radical: de um lado, a eclosão daviolência que fez falta para realizar a revolução, não podedeixar de ser o que é, sendo que, por outro lado, jáconsumiu seu oponente. A revolução, portanto, resultariainevitavel mente no brutal Terror. A dialética consiste noprogresso da História, porque se aprende com seus erros.No caso da Revolução, diria que somente depois destaexperiência, e precisamente por causa dela, pode-sepostular a existência de um Estado constitucional decidadãos realmente livres. Nesse caso, diríamos que a

Revolução seria a tese, o Terror, a antítese e a consti tuiçãodo Estado democrático, a síntese. Vale lembrar que osistema dessa tríade, não aparecendo claramente emHegel, tem função pedagógica.

O pensamento de Hegel é chamado de idealistaporque, diferentemente da visão dos materialistas, quejulgam as forças materiais serem o motor da História,acreditava que a força da História residia nos princípiosdo espírito e do pensamento. Assim, para Hegel, acontradição é o motor do pensamento. Karl Marx foiprofundamente influen ciado por Hegel, mas o acusou deidealista, criando assim uma dialética materialista, em queo motor da História seria o desenvolvimento das forçasprodutivas.

Hegel foi o pai do idealismo alemão.

Texto: HegelPor Rubem Queiroz Cobra (Bacharel em

Filosofia e Doutor em Geologia)

Pensamento: A filosofia de Hegel é a tentativa deconsiderar todo o universo como um todo sistemático. Osistema é baseado na fé. Na religião cristã, Deus foirevelado como verdade e como espírito. Como espírito, ohomem pode receber esta revelação. Na religião averdade está oculta na imagem; mas na filosofia o véu serasga, de modo que o homem pode conhecer o infinito ever todas as coisas em Deus.

O sistema de Hegel é assim um monismo espiritual,mas um monismo no qual a diferenciação é essencial.Somente através da experiência pode a identidade dopensamento e o objeto do pensamento serem alcan -

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çados, uma identidade na qual o pensar alcança ainteligibilidade progressiva que é seu objetivo. Assim, averdade é conhecida somente porque o erro foiexperimentado e a verdade triunfou; e Deus é infinitoapenas porque ele assumiu as limitações de finitude etriunfou sobre elas. Similarmente, a queda do homem eranecessária se ele devia atingir a bondade moral. Oespírito, incluindo o Espírito infinito, conhece a si mesmocomo espírito somente por contraste com a natureza.

O sistema de Hegel é monista pelo fato de ter umtema único: o que faz o universo inteligível é vê-lo comoo eterno processo cíclico pelo qual o Espírito Absolutovem a conhecer a si próprio como espírito (1) através deseu próprio pensamento; (2) através da natureza; e (3)através dos espíritos finitos e suas autoexpressões nahistória e sua autodescoberta, na arte, na religião, e nafilosofia, como Um com o próprio Espírito Absoluto.

O compêndio do sistema de Hegel, a “Enciclopédiadas Ciências Filosóficas”, é dividida em três partes:Lógica, Natureza e Espírito. O método de exposição édialético. Acontece com frequência, que em umadiscussão, duas pessoas que a princípio apresentampontos de vista diametralmente opostos, depoisconcordam em rejeitar suas visões parciais próprias eenfim aceitam uma visão nova e mais ampla, que fazjustiça à substância de cada uma das precedentes. Hegelacreditava que o pensamento sempre procede destemodo: começa por lançar uma tese positiva que é negadaimediatamente pela sua antítese; então um pensamentoseguinte produz a síntese. Mas esta síntese, por sua vez,gera outra antítese, e o mesmo processo continua umavez mais. O processo, no entanto, é circular: ao final, opensamento alcança uma síntese que é igual ao ponto departida, exceto pelo fato de que tudo que estava implícitoali foi agora tornado explícito, tudo que estava oculto noponto inicial foi revelado.

Assim, o pensamento propriamente, como processo,tem a negatividade como um de seus momentosconstituintes, e o finito é, como a automanifestação deDeus, parte e parcela do infinito mesmo. O sistema deHegel dá conta desse processo dialético em três fases:

Lógica: O sistema começa dando conta dopensamento de Deus “antes da criação da natureza e doespírito finito”, isto é, com as categorias ou formas purasde pensamento, que são a estrutura de toda vida física eintelectual. Todo o tempo, Hegel está lidando comessencialidades puras, com o espírito pensando suaprópria essência; e estas estão ligadas a um processodialético que avança do abstrato para o concreto. Se umhomem tenta pensar a noção de um ser puro (a maisabstrata categoria de todas), ele encontra que ela éapenas o vazio, isto é, nada. No entanto, o nada “é”. Anoção de ser puro e a noção de nada são opostas; e, noentanto cada uma, quando alguém tenta pensá-la, passa

imediatamente para a outra. Mas o caminho para sairdessa contradição é de imediato rejeitar ambas as noçõesseparadamente e afirmá-las juntas, isto é, afirmar a noçãodo vir a ser, uma vez que o que ambas vem a ser é e nãoé ao mesmo tempo. O processo dialético avança atravésde categoria de crescente complexidade e culmina com aideia absoluta, ou com o espírito como objetivo para simesmo.

Natureza: A natureza é o oposto do espírito. Ascategorias estudadas na Lógica eram todas interna menterelacionadas umas às outras; elas nascem umas dasoutras. A natureza, no entanto, é uma esfera de relaçõesexternas. Partes do espaço e momentos do tempoexcluem-se uns aos outros; tudo na natureza está emespaço e tempo e, assim, é finito. Mas a natureza é criadapelo espírito e traz a marca de seu criador. As categoriasaparecem nela como sua estrutura essencial e é tarefa dafilosofia da natureza detectar essa estrutura e suadialética; porém a natureza, como o reino da“externalidade”, não pode ser racional sequencialmente,de modo que a racionalidade prefigurada nela torna-segradualmente explícita quando o homem aparece. Nohomem a natureza alcança a autoconsciência.

Espírito: Aqui Hegel segue o desenvolvimento doespírito humano através do subconsciente, consciente evontade racional. Depois, através das instituiçõeshumanas e da História da humanidade como aincorporação e objetivação da vontade; e finalmente paraa arte, a religião e filosofia, esta última na qual finalmenteo homem conhece a si mesmo como espírito, como Umcom Deus e possuído da verdade absoluta. Assim, ohomem aberto para ele pensar sua própria essência, istoé, os pensamentos expostos na Lógica. Ele finalmentevoltou ao ponto de partida do sistema, mas no roteirodeixou explícito tudo que estava implícito nele e descobriuque “nada senão o espírito é, e espírito é pura atividade”.

Nos trabalhos políticos e históricos de Hegel, oespírito humano objetiva a si próprio no seu esforço paraencontrar um objeto idêntico a si mesmo. A Filosofia doDireito cai em três divisões principais. A primeira trata dalei e dos direitos como tais: pessoas (isto é, o homemcomo homem, muito independentemente de seu caráterindividual) são o sujeito dos direitos, e o que é requeridodelas é meramente obediência, não importa que motivosde obediência possam ser. O Direito assim é um abstratouniversal e portanto faz justiça somente ao elementouniversal na vontade humana. O indivíduo, porém, nãopode ser satisfeito a menos que o ato que ele fazconcorde não meramente com a lei mas também comsuas próprias convicções conscientes. Assim, o problemano mundo moderno é construir uma ordem política esocial que satisfaça os anseios de ambos. E assimtambém, nenhuma ordem política pode satisfazer osanseios da razão a menos que seja organizada de modo a

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evitar, por uma parte, a centralização que faria os homensescravos ou ignorar a consciência e, por outra parte, umantinomianismo (argumentação que se desenvolve pormeio de antinomias: as proposições mutuamenteexcludentes) que iriam permitir a liberdade de convicçãopara qualquer indivíduo (liberalismo) e assim produzir umalicenciosidade que faria impossível a ordem política esocial.

O Estado que alcançasse essa síntese haveria deapoiar-se na instituição da família e no sentimento deculpa. Seria talvez uma forma de monarquia limitada, comgoverno parlamentarista, julgamento por um júri,tolerância para judeus e dissidentes, e seria diferente dequalquer estado existente nos dias de Hegel.

Na Filosofia da História, Hegel pressupôs que aHistoria da humanidade é um processo através do qual ahumanidade tem feito progresso espiritual e moral eavançado seu autoconhecimento. A História tem umpropósito e cabe ao filósofo descobrir qual é. Algunshistoriadores encontraram sua chave na operação das leisnaturais de vários tipos. A atitude de Hegel, no entanto,apoiou-se na fé de que a História é a repre sentação dopropósito de Deus e que o homem tinha agora avançadolonge o bastante para descobrir o que esse propósito era:ele é a gradual realização da liberdade humana.

O primeiro passo era fazer uma transição da vidaselvagem para um estado de ordem e de lei. Em muitospontos, o pensamento de Hegel serviu aos fundamentosdo marxismo, um deles é sua concepção de que os Estadostêm de ser encontrados por força e violência, pois não háoutro caminho para fazer o homem curvar-se à Lei antes deele ter avançado mentalmente tão longe suficiente paraaceitar a racionalidade da vida ordenada. Alguns homensaceitarão as leis e se tornarão livres, enquanto outrospermanecerão escravos. No mundo moderno, o homempassou a crer que todos os homens, como espíritos, sãolivres em essência, e sua tarefa é, assim, criar instituiçõessob as quais eles serão livres de fato.

O pensamento dialético percebe que as contradições movem a História.

Frases e textos de Hegel

“Nada existe de grandioso sem Paixão”.“A necessidade geral da arte é a necessidade racional

que leva o homem a tomar consciência do mundo interiore exterior e a fazer um objeto no qual se reconheça a sipróprio”.

“A necessidade, a natureza e a história não são maisdo que instrumentos da revelação do Espírito”.

“A verdadeira figura na qual a verdade existe só podeser o sistema científico dessa verdade”.

“As ideias que revolucionam o mundo avançam apasso miúdo”.

“Grandeza, entidade variável mas que, apesar da suavariação, continua sempre a ser a mesma”.

“Nada de grande se realizou no mundo sem paixão”.“O Estado é a forma histórica específica na qual a

liberdade adquire uma existência objetiva e usufrui da suaobjetividade”.

“O artista não precisa de filosofia e, se pensa comofilósofo, entrega-se a um trabalho que está justamenteem oposição à forma do saber próprio da arte”.

“O estado da natureza é, antes, o estado da injustiça,da violência, do instinto natural desenfreado, das ações edos sentimentos desumanos”.

“O homem não é mais do que a série dos seus atos”.“O tempo, essa inquietação pura da vida e esse

processo de absoluta distinção”. “O verdadeiro é o delírio báquico no qual nenhum

membro deixa de estar embriagado”. “Povo é a parte da nação que não sabe o que quer”.“Quanto ao seu supremo destino, a arte permanece

para nós uma coisa do passado”. “Um povo que considera a natureza seu deus não

pode ser um povo livre”. “A filosofia vem sempre demasiado tarde. Enquanto

pensamento do mundo, só aparece quando a realidaderealizou e terminou o seu processo de formação”.

“O mais alto objetivo da Arte é o que é comum àReligião e à Filosofia. Tal como estas, é um modo deexpressão do divino, das necessidades e exigências maiselevadas do espírito”.

O Sentido do Espírito

Para conhecer bem os fatos e enxergá-los no seuverdadeiro lugar, deve-se estar no cume – não osconsiderar de baixo pelo buraco da fechadura damoralidade ou de alguma outra sabedoria.

(...) O ponto de vista geral da história filosófica não éabstratamente geral, mas concreto e eminentementeatual, porque é o Espírito que permanece eternamentejunto de si mesmo e ignora o passado. À semelhança deMercúrio, o condutor das almas, a Ideia é na verdade oque conduz os povos e o mundo, e é o Espírito, a suavontade razoável e necessária, que orientou e continua aorientar os acontecimentos do mundo.

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A Razão

A razão é a suprema união da consciência e daconsciência de si, ou seja, do conhecimento de um objetoe do conhecimento de si. É a certeza de que as suasdeterminações não são menos objetais, não são menosdeterminações da essência das coisas do que são osnossos próprios pensamentos. É, num único e mesmopensamento, ao mesmo tempo e ao mesmo título,certeza de si, isto é, subjetividade, e ser, isto é,objetividade.

(...) A razão é tão poderosa quanto ardilosa. O seuardil consiste em geral nessa atividade mediadora que,deixando os objetos agirem uns sobre os outrosconforme à sua própria natureza, sem se imiscuirdiretamente na sua ação recíproca, consegue, contudo,atingir unicamente o objetivo a que se propõe.

(...) A Razão governa o mundo e, consequen temente,governa e governou a história universal. Em relação aessa razão universal e substancial, todo o resto ésubordinado e serve-lhe de instrumento e de meio.Ademais, essa Razão é imanente na realidade histórica,realiza-se nela e por ela. É a união do Universal existenteem si e por si e do individual e do subjetivo que constituia única verdade.

O Artista e a sua Obra

O artista tem, pois essa experiência com a sua obra:ele não produziu uma essência igual a ele mesmo. Semdúvida, da sua obra retorna para ele uma consciência,pois uma multidão admirativa honra a obra como oespírito que é a essência deles. Essa admiração, porém,ao lhe restituir a sua consciência de si apenas comoadmiração é antes uma confissão feita ao artista de queela não é igual a ele. Uma vez que o seu Si retorna paraele como júbilo em geral, ali ele não encontra nem a dorda sua formação e da sua produção, nem o esforço doseu trabalho. Os outros podem de fato julgar a obra outrazer-lhe oferendas, conceber, de algum modo, que ela

seja a sua consciência; se eles se colocam com o seusaber acima dela, o artista, pelo contrário, sabe o quantoa sua operação vale mais do que a compreensão e odiscurso deles; se eles se colocam abaixo dela e nelareconhecem a essência deles que os domina, eleconhece-a, pelo contrário, como o seu senhor.

A Mente Universal

A mente universal manifesta-se na arte comointuição e imaginação; na religião manifesta-se comosentimento e pensamento representativo; e na filosofiaocorre como liberdade pura de pensamento. Na históriamundial a mente universal manifesta-se como atualidadeda mente, na sua integridade de internalidade e deexternalidade. A história do mundo é um tribunal porque,na sua absoluta universalidade, o particular, isto é, asformas de culto, sociedade e espíritos nacionais em todasas suas diferentes atualidades, está presente apenascomo ideal, e aqui o movimento da mente é amanifestação disto mesmo...

A História do mundo não é o veredicto da força, istoé, de um destino cego realizando-se a si mesmo numainevitabilidade abstrata e não racional. Pelo contrário,porque a mente é razão implícita e explicitamente, eporque a razão é explícita para si mesma, na mente,enquanto conhecimento, a história do mundo é odesenvolvimento necessário, decorrente da liberdade damente, dos momentos da razão e, deste modo, daautoconsciência e da liberdade da mente.

A história da mente é a sua ação. A mente é apenaso que faz, e a sua ação faz dela o objeto da sua própriaconsciência. Através da história, a sua ação ganhaconsciência de si mesma como mente, e apreende-se nasua interpretação de si mesma para si mesma. Estaapreensão é no seu ser e no seu princípio, e a realizaçãodesta apreensão numa dada fase é simultaneamente arejeição dessa fase e a sua elevação a uma fase maiselevada.

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Materialismo Dialético

Baseado em Demócrito e Epicuro sobre omaterialismo e em Heráclito sobre a dialética (do grego,dois logos, duas opiniões divergentes), Marx defende omaterialismo dialético, tentando superar o pensamentode Hegel e Feuerbach.

A dialética hegeliana era a dialética do idealismo(doutrina filosófica que nega a realidade individual dascoisas distintas do “eu” e só lhes admite a ideia), e adialética do materialismo é a posição filosófica queconsidera a matéria como a única realidade e que nega a

existência da alma, de outra vida e de Deus. Ambassustentam que realidade e pensamento são a mesmacoisa: as leis do pensamento são as leis da realidade. Arealidade é contraditória, mas a contradição supera-se nasíntese que é a “verdade” dos momentos superados.Hegel considerava ontologicamente (do grego onto +logos; parte da metafísica, que estuda o ser em geral esuas propriedades transcendentais ) a contradição(antítese) e a superação (síntese); Marx consideravahistoricamente como contradição de classes vinculada a

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certo tipo de organização social. Hegel apresentava umafilosofia que procurava demonstrar a perfeição do queexistia (divinização da estrutura vigente); Marxapresentava uma filosofia revolucionária que procuravademonstrar as contradições internas da sociedade declasses e as exigências de superação.

Ludwig Feuerbach procurou introduzir a dialéticamaterialista, combatendo a doutrina hegeliana, que, a parde seu método revolucionário, concluía uma doutrinaeminentemente conservadora. Da crítica à dialéticaidealista, partiu Feuerbach à crítica da Religião e daessência do cristianismo.

Feuerbach pretendia trazer a religião do céu para aTerra. Ao invés de haver Deus criado o homem à suaimagem e semelhança, foi o homem quem criou Deus àsua imagem. Seu objetivo era conservar intactos osvalores morais em uma religião da humanidade, na qual ohomem seria Deus para o homem.

Adotando a dialética hegeliana, Marx rejeita, comoFeuerbach, o idealismo, mas, ao contrário, não procurapreservar os valores do cristianismo. Hegel tinha iden -tificado, no dizer de Radbruch, o ser e o dever-ser (o Sene o Solene), encarando a realidade como um desen -volvimento da razão e vendo no dever-ser o aspectodeterminante e no ser o aspecto determinado dessaunidade.

A dialética marxista postula que as leis do pen -samento correspondem às leis da realidade. A dialéticanão é só pensamento: é pensamento e realidade a um sótempo. Mas, a matéria e seu conteúdo histórico ditam adialética do marxismo: a realidade é contraditória com opensamento dialético. A contradição dialética não éapenas contradição externa, mas unidade das contra -dições, identidade: “a dialética é ciência que mostra como

as contradições podem ser concretamente (isto é, vir-a-ser) idênticas, como passam uma na outra, mos trandotambém porque a razão não deve tomar essascontradições como coisas mortas, petrificadas, mas comocoisas vivas, móveis, lutando uma contra a outra em eatravés de sua luta.” (Henri Lefebvre, Lógica formal/Lógica dialética, trad. Carlos N. Coutinho, 1979, p. 192).Os momentos contraditórios são situados na história comsua parcela de verdade, mas também de erro; não semisturam, mas o conteúdo, considerado como unilateralé recaptado e elevado a nível superior.

Marx acusou Feuerbach, afirmando que seu huma -nismo e sua dialética eram estáticas: o homem deFeuerbach não tem dimensões, está fora da sociedade eda história, é pura abstração. É indispensável, segundoMarx, compreender a realidade histórica em suascontradições, para tentar superá-las dialeticamente. Adialética apregoa os seguintes princípios: tudo relaciona-se (Lei da ação recíproca e da conexão universal); tudose transforma (lei da transformação universal e dodesenvolvimento incessante); as mudanças qualitativassão consequências de revoluções quantitativas; acontradição é interna, mas os contrários se unem nummomento posterior: a luta dos contrários é o motor dopensamento e da realidade; a materialidade do mundo; aanterioridade da matéria em relação à consciência; a vidaespiritual da sociedade como reflexo da vida material.

O materialismo dialético é uma constante nopensamento do marxismo-leninismo (surgido comosuperação do capitalismo, socialismo, ultrapassando osensinamentos pioneiros de Feuerbach.

http://www.culturabrasil.org/marx.htm

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1. (UERJ) – O Iluminismo é a saída do homem do estado de tutela,pelo qual ele próprio é responsável. O estado de tutela é a incapacidadede utilizar o próprio entendimento sem a condução de outrem. Cada umé responsável por esse estado de tutela quando a causa se refere nãoa uma insuficiência do entendimento, mas à insuficiência da resoluçãoe da coragem para usá-lo sem ser conduzido por outrem. Sapere aude!(Expressão latina que significa ‘tenha a coragem de saber, de aprender’).Tenha a coragem de usar seu próprio entendimento. Essa é a divisa doIluminismo.

IMMANUEL KANT (1784)

No contexto da expansão capitalista no século XIX, uma das ideiascentrais do Iluminismo, de acordo com o texto, está associadadiretamente à valorização da a) superioridade técnica. b) soberania econômica.c) liberdade política. d) razão científica.e) liberdade religiosa.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

2. Sobre o filósofo Immanuel Kant, leia e julgue as assertivas abaixo:I – Kant distingue o conhecimento sensível, que abrange as ins -

tituições sensíveis, e o conhecimento inteligível, ou seja, das ideiasmetafísicas.

II – As obras seguintes expõem o pensamento chamado crítico dofilósofo: a Crítica da Razão Prática (1781) em que explicaessencialmente porque as metafísicas são voltadas ao fracasso eporque a razão humana é impotente para conhecer o fundo dascoisas; e a Crítica da Razão Pura (1788), obra em que estuda oproblema da moralidade humana.

III – O termo ‘crítica’ pode ser entendido como o método kantiano dareflexão analítica ou da análise reflexiva. Esse método parte doexercício de remontar o conhecimento às condições que otornariam legítimo.

Estão(está) corretas(correta):a) Todas b) Apenas I e II c) Apenas II e III d) Apenas I e III e) Apenas II

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

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3. Kant não duvidava das verdades científicas de sua época, tampoucodos princípios morais, contudoa) achava necessário buscar os fundamentos racionais que

sustentavam essas verdades universais.b) valorizava sobretudo a experiência religiosa.c) sustentava que somente as bases empíricas poderiam dar coesão e

sentido às categorias filosóficas.d) acreditava que, sendo o homem uma tábula rasa, todo conhecimento

teria origem na realidade concreta e empírica. e) sustentava que a análise historicista deveria nortear todo discurso e

toda teoria.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

4. Para Kant, os juízos rigorosamente verdadeiros, e, portanto,necessários e universais, são juízos a priori, isto é independentes dosazares da experiência, sempre particular e contigente. Isso significa queKanta) era um empirista.b) valorizava a razão humana.c) sustentava verdades matafísicas.d) era um cético.e) era uma analítico historicista.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

5. Leia e julgue as assertivas abaixo acerca do pensamento de KantI – As ciências são possíveis, pois a matemática e as ciências

encontraram um caminho seguro e progridem, avançam, seconsolidam; em filosofia, em metafísica não se chegou a ter ocaminho seguro da ciência e isto é justamente o que determina apreocupação central de Kant.

II – Kant diz que aquilo que chama de “a coisa em si” não se podeconhecer; porque eu conheço “a coisa em mim”. O que euconheço, conheço submetido a mim; submetido ao meu espaço,ao meu tempo, às minhas categorias, isto é a "coisa em mim”.Quando eu conheço algo, transformo, modifico a coisa em si. Emoutros termos, o conhecimento é uma transformação do real.

III – Kant usa os termos a priori ou puro para indicar todo conhe cimentoque independe da experiência. Há, portanto, um conhecimento aposteriori, fundamentado na experiência e um a priori, que delaindepende.

Estão(está) corretas(correta):a) Todas b) Apenas I e II c) Apenas II e III d) Apenas I e III e) Apenas II

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

6. No debate sobre epistemologia, Kant situa-sea) ao lado dos racionalistas, valorizando o sujeito produtor de

conhecimento.b) ao lado dos empiristas, sobrevalorizando o papel da razão humana.c) ao lado dos inatistas, valorizando a produção de conhecimento pela

obsrvação da realidade concreta.d) ao lado dos empiristas, valorizando a observação e o papel dos

sentidos.e) entre a postura dos racionalistas, que valorizam o sujeito, e a dos

empiricistas, que valorizam o objeto.

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

7. Para Kant,a) só se pode confiar nos sentidos.b) deve-se confiar sobretudo na razão.c) a razão é incapaz de reconhecer seus próprios limites para conhecer.d) não há limites na racionalidade humana e não se deve confiar nos

sentidos.e) se não se pode confiar totalmente na razão, também não se pode

confiar totalmente nos sentidos.

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

8. O pensamento de Hegel é chamado de idealista porquea) diferente da visão dos materialistas, que julgam as forças materiais

ser o motor da História, acreditava que a força da História residia nosprincípios do espírito e do pensamento.

b) esse filósofo criou um ideal de sociedade baseado na justiça sociale na democracia, e isso explica o grande interesse de Marx pelarelação sua dialética.

c) o filósofo alemão sustentava que a razão era fonte do saber,posicionando-se, portanto, ao lado dos pensadores neoplatônicos.

d) esse filósofo acreditava que as instâncias do espírito e da culturaeram determinadas pelo desenvolvimento das forças produtivas.

e) Hegel entendia que o mundo original era o mundo das ideias e nãoo mundo sensível das aparências reveladas pela experiênciasensorial.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

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9. (UFU-adaptada) – A respeito do conceito de dialética, Hegel faz aseguinte afirmação:

“O interesse particular da paixão é, portanto, inseparável daparticipação do universal, pois é também da atividade do particular e desua negação que resulta o universal.”

(HEGEL, G. W. F. Filosofia da História. 2a. ed. Tradução de MariaRodrigues e Hans Harden. Brasília: Editora da UnB, 1998. p. 35.)

Com base no pensamento de Hegel, assinale a alternativa correta.a) O particular é irracional, por isso é a negação do universal, portanto,

a História não é guiada pela razão, mas se deixa conduzir pelo acasocego dos acontecimentos que se sucedem sem nenhuma relaçãoentre eles.

b) O universal é a somatória dos particulares, de modo que a Históriaé tão só o acumulado ou o agregado das partes isoladas, e assimelas estão articuladas tal como engrenagens de uma grandemáquina.

c) O particular da paixão é a ação dos indivíduos, sempre em oposiçãoà finalidade da História, isto é, do universal da razão que governa omundo, mas esta depende da ação dos indivíduos, sem os quais elanão se manifesta.

d) O universal é a vontade divina que, por intermédio da sua açãoprovidente, preserva os homens de todos os perigos, evitando quese desgastem com suas paixões, assim, o humano é preservadodesde o seu surgimento na Terra.

e) O mundo não tem sentido e a História não tem uma finalidade. É oespírito humano que lhe atribui sentidos para escapar do absurdo daexistência.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

10.“A filosofia vem sempre demasiado tarde. Enquanto pensamentodo mundo, só aparece quando a realidade realizou e terminou o seuprocesso de formação”.

(Hegel) Assinale a alternativa que explica o sentido dessas palavras.a) Para Hegel, o pensamento é reflexo das forças produtivas.b) Para Hegel, a História tem seu próprio motor e independe das

expressões da filosofia.c) Para Hegel, os filósofos sentenciam os rumos da História.d) Hegel revela-se pouco dialético ao entender que os filósofos não

conduzem as vias da História.e) A História é o acúmulo dos registros filosóficos, dos ensaios e

reflexões dos grandes pensadores da humanidade.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

11.Diz-se que a filosofia de Hegel é monista. Entende-se por isso quea) o pensamento hegeliano não percebe as contradições da realidade

e dos movimentos do espírito humano.b) Hegel entende o universo como um todo coerente, livre dos

paradoxos que de fato constituem o mundo. c) a sua filosofia pretende projetar uma explicação científica para a

evolução econômica da humanidade, terminando em um modeloque socializa o patrimônio material e espiritual.

d) a filosofia de Hegel julga que o homem é a medida de todas ascoisas.

e) a filosofia de Hegel é a tentativa de considerar todo o universo comoum todo sistemático.

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

12. (ENEM-2014) – Até hoje admitia-se que nosso conhecimento sedevia regular pelos objetos; porém, todas as tentativas para descobrir,mediante conceitos, algo que ampliasse nosso conhecimentomalogravam-se com esse pressuposto. Tentemos, pois, uma vez,experimentar se não se resolverão melhor as tarefas da metafísica,admitindo que os objetos se deveriam regular pelo nosso conhecimento.

KANT, I. Crítica da razão pura. Lisboa: Calouste-Guibenkian, 1994 (adaptado).

O trecho em questão é uma referência ao que ficou conhecido comorevolução copernicana da filosofia. Nele, confrontam-se duas posiçõesfilosóficas quea) assumem pontos de vista opostos acerca da natureza do

conhecimento.b) defendem que o conhecimento é impossível, restando-nos somente

o ceticismo.c) revelam a relação de interdependência entre os dados da experiência

e a reflexão filosófica.d) apostam, no que diz respeito às tarefas da filosofia, na primazia das

ideias em relação aos objetos.e) refutam-se mutuamente quanto à natureza do nosso conhecimento

e são ambas recusadas por Kant.

RESOLUÇÃO:

O texto da questão apresenta posições opostas a respeito da

natureza do conhecimento. Enquanto, em uma delas, os objetos

são a fonte da produção do conhecimento, a outra afirma a

primazia das ideias sobre os objetos na busca do conhecimento,

posição essa defendida por Kant.

Resposta: A

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1. Normalmente considera-se que o pensamento conhece as coisas;conhece as coisas tal como são. Kant, porém, introduziu uma novaconcepção sobre esse fato. Comente.

2. No debate sobre epistemologia, Kant situa-se:a) Ao lado dos racionalistas, valorizando o sujeito produtor de

conhecimento.b) Ao lado dos empiristas, sobrevalorizando o papel da razão humana.c) Ao lado dos inatistas, valorizando a produção de conhecimento pela

observação da realidade concreta.d) Ao lado dos empiristas, valorizando a observação e o papel dos

sentidos.e) Entre a postura dos racionalistas, que valorizam o sujeito, e dos

empiricistas, que valorizam o objeto.

3. Para Kant:a) Só se pode confiar nos sentidos.b) Deve-se confiar sobretudo na razão.c) A razão é incapaz de reconhecer seus próprios limites para conhecer.d) Não há limites na racionalidade humana e não se deve confiar nos

sentidos.e) Se não se pode confiar totalmente na razão, também não se pode

confiar totalmente nos sentidos.

4. Para Kant, o conhecimento resulta: a) Da apreensão dos conteúdos pela experiência empírica e pela razão

humana. b) Da observação sistemática dos fatos empíricos.c) Da construção de premissas universais e aceitas racionalmente.d) Somente da apreensão dos conteúdos pela experiência dos

sentidos.e) Somente da apreensão da realidade pelo exercício da razão humana.

5. “... o nosso conhecimento experimental é um composto do querecebemos por impressões e do que a nossa própria faculdade deconhecer de si mesma tira por ocasião de tais impressões”.Segundo o seu conhecimento em epistemologia, a frase anterior deveser atribuída a:a) Descartes b) Bacon c) Locke d) Platão e) Kant

6. Explique o sentido de conhecimento a priori que aparece na obra deKant.

7. Que conteúdo trazem as duas principais obras de Kant?

8. O que Kant postula no resumo das duas grandes obras?

9. “Todo conhecimento começa com a experiência, mas nem todoconhecimento se funda na experiência”.

(I. Kant)

Isso significa quea) há conhecimentos que não se fundam na experiência, isto é, são

“puros” ou também, com outro termo que ele usa muito, “a priori”. b) o conhecimento “a priori” ou “puro” é o que depende da

experiência, oposto a “a posteriori”, que não é fundado naexperiência.

c) não há forma de conhecimento que se sustente fora da experiência. d) Kant era um filósofo empirista.e) o conhecimento é construído pela experiência e, assim, torna-se

retrato fiel da realidade.

10.Quando Kant fala de crítica da razão pura e de crítica da razão prática,o leitor não filósofo supõe que há uma contraposição entre puro eprático. Sobre esse tema, leia as proposições abaixo:I – A razão pura é toda a razão; é a razão pura teórica e a razão pura

prática. Ou seja, o adjetivo "puro" corresponde às duas, a diferençaé que uma é teórica e outra é prática.

II – Kant vai empreender a tarefa da crítica da razão, de estabelecer oslimites da razão, suas possibilidades, sua justificação e issojustamente no momento em que a Física de Newton tem umenorme prestígio.

III – As três perguntas fundamentais que Kant lança na Crítica da RazãoPura são: Como é possível a matemática pura? Como é possível afísica pura? É possível a metafísica?

Estão (está) corretas (correta):a) Todas b) Apenas I e II c) Apenas II e III d) Apenas I e III e) Apenas II

11.“Ou seja, ele (Kant) tem plena consciência de um novo estilo. Esteestilo tem que ver, evidentemente, com a tendência que já temosencontrado (e a vimos claramente em Descartes): a tendência a evitaro erro. Mais do que a descoberta da verdade, com mais força ainda, oque se busca é evitar o erro”. A isso podemos dar o nome de:a) ceticismo metodológico. b) materialismo.c) idealismo. d) empirismo.e) dialética.

12.Sobre a filosofia de Kant, leia e julgue as breves proposições abaixo:I – No livro Crítica à Razão Pura, Kant esboça uma teoria sobre a

moralidade humana.II – O homem é um ser moral, responsável e livre.III – Não há um conhecimento a posteriori, todo conhecimento é

sempre a priori. IV – Para Kant, a moralidade é uma dimensão autônoma e livre de

interesses.São verdadeiras apenas:a) I e II b) I e III c) II e III d) II e IV e) I e IV

13.Para Kant, o homem é um ser moral. Além disso, podemos afirmarque, para esse filósofo:

I – a moral é boa vontade e respeito ao dever. II – há uma autonomia da moral.III – o sentimentalismo do bem e a comoção são peças centrais da

experiência moral.Estão(está) corretas(correta):a) Todas b) Apenas I e II c) Apenas II e III d) Apenas I e III e) Apenas II

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14.Kant, em sua epistemologia, postula a seguinte frase: “não vejo ascoisas em si, mas as coisas em mim”. Isso significa quea) não temos acesso à realidade senão pela experiência empírica.b) o conhecimento é apreendido pelos sentidos.c) conhecimento é interpretação.d) todo conhecimento é a posteriori.e) a metafísica é a forma mais coerente de conhecimento já produzido.

15. Isto vai levar Kant a uma reflexão muito profunda. Normalmente,considera-se que o pensamento conhece as coisas; conhece as coisastal como são. E Kant diz: não, isto não é possível. (Julian Marias) Assim:I – O que chama de “a coisa em si”, “das Ding an sich” não se pode

conhecer; porque eu conheço "a coisa em mim”. II – O que eu conheço, conheço submetido a mim; submetido ao meu

espaço, ao meu tempo, às minhas categorias, isto é, a “coisa emmim”, que ele chamará "fenômeno", opondo-o ao "noumenon", acoisa em si.

III – Quando eu conheço algo, não transformo, não modifico a coisa emsi, que, como tal, é inadmissível. É contraditório que eu nãoconheça a coisa em si porque quando a conheço não está em mim.

IV – O objeto do meu conhecimento ingressa em minha subjetividade,que o modifica.

São verdadeiras apenas:a) I , II e IV b) I e III c) I, II e III d) II e IV e) I e IV

16.A moral, propriamente dita, não é a doutrina que nos ensina comosermos felizes, mas como devemos tornar-nos dignos da felicidade.(Kant) Isso significa que para Kant:a) A moral se fundamenta na ética do hedonismo, ou seja, na busca do

prazer, como entendiam os gregos antigos.b) A moral se justifica no pensamento dionisíaco de Nietzsche.c) A moral é um caminho para sermos eternamente felizes.d) Nem sempre a moralidade é o caminho do prazer.e) Há uma oposição intransponível entre moral e felicidade.

17.“Age sempre de tal modo que o teu comportamento possa vir a serprincípio de uma lei universal.”

(Kant) Essa frase revela uma ideia sobrea) conteúdo relativista.b) concepção de moral natural.c) construção cultural de moralidade.d) obediência às normas sociais.e) concepção de moral sociológica.

18.“Ciência é conhecimento organizado. Sabedoria é vida organizada.” (Kant)

Nessa frase, percebe-se que, para o filósofo:a) conhecer e saber são sinônimos.b) conhecimento tem origem a priori e sabedoria, a posteriori. c) conhecimento é superior à sabedoria.d) sabedoria pode ser superior e mais pragmático em relação ao

conhecimento.e) conhecimento é organizar a sabedoria de vida.

19.“Duas coisas povoam a mente com uma admiração e respeitosempre novos e crescentes... o céu estrelado por cima e a lei moral den trode nós.”

(Kant)

Tais palavras revelam, acerca do pensamento de Kant:I – uma valorização da dimensão interior do homem.II – uma desvalorização das ciências da natureza, em exaltação às

humanidades.III – uma concepção de moralidade relativista e culturalmente construída. a) Todas b) Apenas I e II c) Apenas II e III d) Apenas I e III e) Apenas I

20. Podemos afirmar que Marx fez total oposição à Hegel? Explique.

21.Leia as frases abaixo de Karl Marx e faça uma comparação à dialéticade Hegel.

“Na produção social da sua existência, os homens travam relaçõesdeterminadas, necessárias, independentes de sua vontade; essasrelações de produção correspondem a um determinado grau dedesenvolvimento das suas forças produtivas materiais”.

“... Não é a consciência dos homens que determina a sua existência,é, pelo contrário, a sua existência que determina a sua consciência”.

22.Por que se diz que a filosofia de Hegel é monista?

23.“A filosofia vem sempre demasiado tarde. Enquanto pensamentodo mundo, só aparece quando a realidade realizou e terminou o seuprocesso de formação”. (Hegel) Comente o sentido dessa frase de Hegel.

24.Leia as afirmações e coloque V para as alternativas verdadeiras e Fpara as falsas, de acordo com o pensamento e vida de Hegel.( ) A Razão governa o mundo e, consequentemente, governa e

governou a história universal. Em relação a essa razão universal esubstancial, todo o resto é subordinado e serve-lhe de instrumentoe de meio.

( ) As contradições da história impedem o desenvolvimento natural dosfatos.

( ) O espírito, incluindo o Espírito infinito, conhece a si mesmo comoespírito somente por contraste com a natureza, assim, espírito enatureza são realidades opostas.

( ) Hegel sempre foi um revolucionário durante toda a sua vida,apoiando a Revolução Francesa e seus desdobramentos natural -mente democráticos.

25.Por que o pensamento de Hegel foi chamado de idealista?

26.Para Hegel, a Revolução Francesa desembocaria naturalmente noReinado do Terror. Que consequências adviriam desse fato, segundo ofilósofo?

27.No caso da Revolução Francesa, diria que somente depois destaexperiência, e precisamente por causa dela, pode-se postular aexistência de um Estado constitucional de cidadãos realmente livres.Nesse caso, diríamos que a Revolução seria a tese, o Terror, a antítesee a constituição do Estado democrático, a síntese. Esse raciocínio,sobretudo,a) revela a posição política de Hegel.b) revela o contexto histórico em que viveu Hegel e de seu país.c) contraria historicamente a teoria proposta de Hegel, mostrando a

contradição em seu pensamento, e a isso chamamos de dialética.d) é um exemplo de aplicação da dialética hegeliana.e) é o argumento marxista de discordância em relação ao idealismo de

Hegel.

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28.O pensamento de Hegel é chamado de idealista porque, diferente davisão dos materialistas, que julgam as forças materiais ser o motor daHistória, acreditava que a força da História residia nos princípios doespírito e do pensamento. Assim, para Hegel, a contradição é o motordo pensamento. Podemos citar como representante da dialética materialista:a) Weber b) Marx c) Descartesd) Durkheim e) Nietzsche

29.A filosofia de Hegel é a tentativa de considerar todo o universo comoum todo sistemático. Sobre Hegel e sua filosofia, leia e julgue asproposições abaixo.I – O sistema é baseado na fé. Na religião cristã, Deus foi revelado

como verdade e como espírito. Como espírito, o homem podereceber esta revelação. Na religião, a verdade está oculta naimagem; mas na filosofia o véu se rasga, de modo que o homempode conhecer o infinito e ver todas as coisas em Deus.

II – O sistema de Hegel é assim um monismo espiritual, mas ummonismo no qual a diferenciação é essencial. Somente pelaexperiência pode a identidade do pensamento e o objeto dopensamento serem alcançados, uma identidade na qual o pensaralcança a inteligibilidade progressiva que é seu objetivo.

III – Assim, a verdade é conhecida somente porque o erro não foiexperimentado e a verdade triunfou; e Deus é infinito apenasporque ele assumiu as limitações de finitude e triunfou sobre elas.

IV – Similarmente, a queda do homem era necessária se ele deviaatingir a bondade moral. O espírito, incluindo o Espírito infinito,conhece a si mesmo como espírito somente por contraste com anatureza.

São verdadeiras apenas:a) I e II b) II e III c) I, II e III d) II, III e IV e) I, II e IV

30.O compêndio do sistema de Hegel, a "Enciclopédia das CiênciasFilosóficas", é dividida em três partes: Lógica, Natureza e Espírito. Sobretal filosofia, julgue as proposições abaixo:I – O método de exposição é dialético. Acontece com frequência que

em uma discussão, duas pessoas que a princípio apresentampontos de vista diametralmente opostos, depois concordam emrejeitar suas visões parciais próprias, e aceitam uma visão nova emais ampla que faz justiça à substância de cada uma das precedentes.

II – Hegel acreditava que o pensamento sempre procede deste modo:começa por lançar uma tese positiva que é negada imediatamentepela sua síntese; então um pensamento seguinte produz aantítese. Mas essa antítese, por sua vez, gera outra síntese, e omesmo processo continua uma vez mais.

III – O processo dialético, no entanto, é circular: ao final, o pensa mentoalcança uma síntese que é igual ao ponto de partida, exceto pelofato de que tudo que estava implícito ali foi agora tornado explícito,tudo que estava oculto no ponto inicial foi revelado.

São verdadeiras:a) I e II b) II e III c) Todas d) I, II e IV e) I e III

31.Assim, o pensamento propriamente, como processo, tem anegatividade como um de seus momentos constituintes, e o finito é,como a automanifestação de Deus, parte e parcela do infinito mesmo.Tal concepção teológica está inserta no seguinte sistema filosófico:a) monismo b) dialética c) inatismod) indução e) empirismo

32.Leia e julgue as proposições acerca da concepção política de Hegel:I – Nos trabalhos políticos e históricos de Hegel, o espírito humano

objetiva a si próprio no seu esforço para encontrar um objetoidêntico a si mesmo. A Filosofia do Direito cai em três divisõesprincipais. A primeira trata da lei e dos direitos como tais: pessoas(isto é, o homem como homem, muito independentemente deseu caráter individual) são o sujeito dos direitos, e o que érequerido delas é meramente obediência, não importa quemotivos de obediência possam ser.

II – O Direito assim é um abstrato universal e portanto faz justiçasomente ao elemento universal na vontade humana. O indivíduo,no entanto, não pode ser satisfeito a menos que o ato que ele fazconcorde não meramente com a lei, mas também com suaspróprias convicções conscientes. Assim, o problema no mundomoderno é construir uma ordem política e social que satisfaça osanseios de ambos. E assim, também, nenhuma ordem políticapode satisfazer os anseios da razão a menos que seja organizadade modo a evitar, por uma parte, a centralização que faria oshomens escravos ou ignorar a consciência e, por outra parte, umantinomianismo (argumentação que se desenvolve por meio deantinomias: as proposições mutuamente excludentes) que iriapermitir a liberdade de convicção para qualquer indivíduo(liberalismo) e assim produzir uma licenciosidade que fariaimpossível a ordem política e social.

III – O Estado que alcançasse essa síntese haveria de abandonar osprincípios de família e de culpa. Segundo Hegel, as premissas docristianismo constituem uma moralidade ineficiente em matériade política.

São verdadeiras:a) I e II b) II e III c) Todas d) I, II e IV e) I e III

33.Hegel tentou sistematizar uma concepção unitária de História. Leiae julgue as assertivas abaixo:I – Na Filosofia da História, Hegel pressupôs que a historia da

humanidade é um processo pelo qual ela tem feito progressoespiritual e moral e avançado no seu autoconhecimento.

II – A História tem um propósito e cabe ao filósofo descobrir qual é.Alguns historiadores encontraram sua chave na operação das leisnaturais de vários tipos.

III – A atitude de Hegel, no entanto, apoiou-se na fé de que a Históriaé a representação do propósito de Deus e que o homem tinhaagora avançado longe o bastante para descobrir o que essepropósito era: ele é a gradual realização da liberdade humana.

São verdadeiras:a) I e II b) II e III c) Todas d) I, II e IV e) I e III

34.Hegel entendeu a História como um processo e projeto unitário.Nesse sentido, leia e julgue as proposições abaixo.I – O primeiro passo para fazer uma transição da vida selvagem para

um estado de ordem e lei é a revolução. Em muitos pontos, opensamento de Hegel serviu aos fundamentos do marxismo, eum deles é sua concepção de que os Estados têm de ser respeita -dos por meio de força e violência, pois não há outro caminho parafazer o homem curvar-se à lei antes de ele ter avançadomentalmente tão longe o suficiente para aceitar a racionalidade davida ordenada.

70 –

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II – Alguns homens aceitarão as leis e se tornarão livres, enquantooutros permanecerão escravos. No mundo moderno, o homempassou a crer que todos os homens, como espíritos, são livres emessência, e sua tarefa é, assim, criar instituições sob as quais elesserão livres de fato.

III – Em alguns casos, a escravidão é até aconselhável. Para Hegel, aexistência de escravos pode facilitar o desenvolvimento dademocracia, como provou a história das Américas, particular mentenos Estados Unidos da América.

São verdadeiras:a) I e II b) II e III c) Todas d) I, II e IV e) I e III

35.Leia as duas frases abaixo:I – “Na produção social da sua existência, os homens travam rela -

ções determinadas, necessárias, independentes de sua vontade;essas relações de produção correspondem a um determinado graude desenvolvimento das suas forças produtivas materiais”.

II – “... Não é a consciência dos homens que determina a suaexistência, é, pelo contrário, a sua existência que determina a suaconsciência”.

Assinale a alternativa que identifica corretamente a autoria das duasfrases.a) São ambas de Marx e contestam o idealismo de Hegel.b) São frases de Hegel e revelam seu sistema dialético.c) A primeira é de Hegel e a segunda é de Marx.d) A primeira é de Marx e a segunda é de Hegel.e) A primeira representa o idealismo alemão e a segunda, o materialismo.

– 71

1) Kant diz que aquilo que chama de “a coisa em si” não se pode

conhecer; porque eu conheço “a coisa em mim”. O que eu

conheço, conheço submetido a mim; submetido ao meu

espaço, ao meu tempo, às minhas categorias, isto é a “coisa

em mim”. Quando eu conheço algo, transformo, modifico a

coisa em si. Em outros termos, o conhecimento é uma

transformação do real.

2) E 3) E 4) A 5) E

6) Kant usa os termos a “priori” ou “puro” para indicar todo

conhecimento que independe da experiência. Há, portanto um

conhecimento a posteriori, fundamentado na experiência e um a

priori, que dela independe.

7) A Crítica da Razão Pura (essa obra é mais voltada para o

conhecimento científico) em que explica essencialmente porque as

metafísicas são voltadas ao fracasso e porque a razão humana é

impotente para conhecer o fundo das coisas; e a a Crítica da Razão

Prática, obra em que estuda o problema da moralidade humana.

8) As ciências são possíveis pois a matemática e as ciências

encontraram um caminho seguro e progridem, avançam, se

consolidam; em filosofia, e em metafísica não se chegou a ter o

caminho seguro da ciência e isto é justamente o que determina a

preocupação central de Kant.

9) A 10) A 11) A 12) D

13) B 14) C 15) A 16) D

17) B 18) D 19) E

20) Não totalmente. Marx foi influenciado por Hegel, mas acreditou

ter alcançado um degrau superior de compreensão. Marx o

acusou de idealista, criando assim uma dialética materialista,

em que o motor da história seria o desenvolvimento das forças

produtivas, e não o espírito humano.

21) As frases são a defesa clara de que o motor da história seria o

desenvolvimento das forças produtivas, e não o desenvolvi -

mento do Espírito, como entendia Hegel. Esse sistema criado

por Marx foi chamado de materialismo histórico ou

materialismo dialético.

22) Monismo é perceber a totalidade do mundo. A filosofia de

Hegel é a tentativa de considerar todo o universo como um

todo sistemático. Esse sistema foi baseado na fé cristã. Na

religião cristã, Deus, dizia Hegel, foi revelado como verdade e

como espírito. Assim, na religião a verdade está oculta na

imagem revelada; mas na filosofia o véu se rasga, de modo

que o homem pode conhecer o infinito e ver realmente todas

as coisas em Deus.

23) Para Hegel, a história tem seu próprio motor, ela independe

das expressões da filosofia. Marx concordaria nesse ponto.

24) V, F, V, F

25) O pensamento de Hegel foi chamado de idealista porque,

diferentemente da visão dos materialistas, que julgam as

forças materiais serem o motor da história, acreditava que a

força da história residia nos princípios do espírito e do

pensamento.

26) Uma síntese: A experiência histórica ensinaria o caminho para

a consolidação de um Estado democrático.

27) D 28) B 29) E 30) E 31) B

32) A 33) C 34) A 35) A

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1. Introdução

Arthur Schopenhauer nasceu em Danzig, no dia 22de fevereiro de 1788, e faleceu em Frankfurt, no dia 21 desetembro de 1860. Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceuem Röcken, 15 de outubro de 1844, e morreu emWeimar, em 25 de Agosto de 1900. Estamos falando,portanto, de dois grandes representantes da filosofiaalemã. Ambos são marcados por terem produzido umafilosofia que não se encaixava em nenhum sistema depensamento de suas épocas. Outro ponto em comum éque os dois teorizaram o problema da vontade, entendidacomo força natural. Na verdade, Shopenhauer influenciouprofunda mente o pensamento de Nietzsche, porém,apresen taram várias divirgências.

Schopenhauer foi influenciado pelas ideias de Kant,particularmente a respeito do pressuposto acerca dosfenômenos. Isso significa que o mundo não passa de umarepresentação, em que temos, de um lado, o objetodefinido por tempo e espaço, e, por outro, a consciênciasubjetiva, essencial para que o mundo exista. Para Kant,o mundo em si (a realidade não fenomênica) não seriaapreensível pela consciência; já para Schopenhauer, aotomar consciência de si, o ser humano se experienciacomo um ser movido por aspirações e paixões. Estasconstituem a unidade da Vontade. Esta é entendida pelofilósofo em questão como força natural, presente emtodos os fenômenos e em todas as coisas e seria oprincípio norteador da existência humana. Assim, aVontade seria o substrato do mundo, o fundamento detoda a realidade.

A Vontade, no entendimento de Schopenhauer, não éum princípio racional, mas um impulso irracional e cegoque conduz ao “instinto” de preservação. O homem,porém, tenta encobrir a irracionalidade dessa força,conferindo causalidade a seus atos. Portanto, a vontadeconstitui, igualmente, a causa de todo sofrimento, umavez que lança os entes em uma cadeia perpétua deaspirações sem fim, o que provoca a dor de permaneceralgo que jamais consegue completar-se. Dessa forma, oprazer consiste apenas na supressão momentânea da dor.Em razão dessa concepção, Schpenhauer foi consideradoum filósofo pessimista. Nessa preocupação metafísicacom o problema do sofrimento, Schopenhauer aproximouo budismo da sua filosofia.

Nietzsche, ao contrário, considerou o cristianismo e oBudismo como religiões responsáveis pela decadência dacultura. Mesmo assim, Nietzsche considerou o Budismosuperior e mais realista do que o Cristianismo. OBudismo, de fato, tem uma abordagem menosmetafísica, mais psicológica e existencial acerca da vidahumana. Contudo, esse pensador era declaradamente

ateu. “Para mim – escreveu Nietzsche – o ateísmo nãoé nem uma consequência, nem mesmo um fato novo:existe comigo por instinto.” (Ecce Homo). Ele, de fato,elaborou uma filosofia avessa à metafísica.Nietzsche desenvolveu uma teoria sobre a questão daVontade e a relacionou com o princípio da vida. Essa éentendida pelo autor como luta entre vencidos evencedores. A vontade de potência ou vontade de poderdefine a vida e é força incriada que regula todos osfenômenos do Universo. As religiões, segundo opensador em questão, enfraquecem essa força, e ohomem deve conduzir sua vida por essa vontade depoder. Jesus Cristo, porém, dizia Nietzsche, foi de fato,nesse sentido, um super-homem.

Schopenhauer influenciou Nietzsche, mas suas filosofias divergiam emalguns pontos.

Texto: A Vontade em SchopenhauerPor Alice Valente

No sistema de Schopenhauer, a vontade é a raizmetafísica do mundo e da conduta humana; ao mesmotempo, a fonte de todos os sofrimentos. Sua filosofia é,assim, profundamente pessimista, pois a vontade éconcebida como algo sem nenhuma meta ou finalidade,um querer irracional e inconsciente. Sendo um malinerente à existência do homem, ela gera a dor,necessária e inevitavelmente, aquilo que se conhececomo felicidade seria apenas a interrupção temporária deum processo de infelicidade e somente a lembrança deum sofrimento passado criaria a ilusão de um bempresente. Para Schopenhauer, o prazer é momento fugazde ausência de dor e não existe satisfação durável. Todoprazer é ponto de partida de novas aspirações, sempreobstadas e sempre em luta por sua realização: “Viver ésofrer”.

Mas, apesar de todo seu profundo pessimismo, afilosofia de Schopenhauer aponta algumas vias para a

MÓDULO 8 Schopenhauer e Nietzsche e a Vontade

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suspensão da dor. Num primeiro momento, o caminhopara a supressão da dor encontra-se na contemplaçãoartística. A contemplação desinteressada das ideias seriaum ato de intuição artística e permitiria a contemplação davontade em si mesma, o que, por sua vez, conduziria aodomínio da própria vontade.

Na arte, a relação entre a vontade e a representaçãoinverte-se, a inteligência passa a uma posição superior eassiste à história de sua própria vontade; em outrostermos, a inteligência deixa de ser atriz para serespectadora. A atividade artística revelaria as ideiaseternas através de diversos graus, passandosucessivamente pela arquitetura, escultura, pintura,poesia lírica, poesia trágica e, finalmente, pela música. EmSchopenhauer, pela primeira vez na história da filosofia, amúsica ocupa o primeiro lugar entre todas as artes.Liberta de toda referência específica aos diversos objetosda vontade, a música poderia exprimir a Vontade em suaessência geral e indiferenciada, constituindo um meiocapaz de propor a libertação do homem, em face dosdiferentes aspectos assumidos pela vontade.

A ética de Schopenhauer não está presa à noção de“dever”, rejeitando assim todas as formas imperativas ecoercivas assentes em quaisquer doutrinas oumandamentos, apoiando-se antes na noção de que acontemplação da verdade é o caminho de acesso ao bem.E tal como Bento Espinosa, do ponto de vista teológico,elimina Deus e substitui-o pela vontade superior danatureza.

A Vontade é força natural, irracional que move universo

Texto Clássico: A Dor (Trechos)Por Arthur Schopenhauer

(…) Os esforços para banir a dor de nossas vidas nãoconseguem outro resultado senão o de fazê-la mudar deforma. Em sua origem tomam o aspecto da necessidade,cuidado, para atender as coisas materiais da vida, equando, após um trabalho incessante e penoso,conseguimos afastar a horrível máscara da dor nestedeterminado aspecto, adquire outros mil disfarces,segundo a idade e as circunstâncias: o instinto sexual, o

amor apaixonado, a inveja, o rancor, os ciúmes, aambição, a avareza, o temor, a enfermidade etc.

Toma o aspecto triste e desolado do tédio, dasociedade, quando não encontra outro modo de seapresentar. E se com novas armas conseguimos afastá-la,novamente recuperará sua antiga máscara, e a dançarecomeça.

(…) Tudo que defendemos, resiste-nos, tudo temuma vontade hostil que é preciso vencer.

(…) Em todas as partes e ocasiões temos que travarcombate com um adversário. (…)

Se o mundo é obra de um criador, as dores voltam-secontra ele dando lugar a cruéis sarcasmos; mas se é obranossa, a acusação é contra o nosso ser e a nossa vontade.Isto nos faz pensar que viemos ao mundo já viciados, comoos filhos de pais gastos pelos desregramentos, e que se anossa existência é tão miserável, e tem por desfecho amorte, é porque assim merecemos, para expiar nossa culpa.Generalizando, nada é mais certo: a culpa do mundo é quecausa os sofrimentos, e entendemos esta relação nosentido metafórico, e não no físico e empírico. Por isso, ahistória do pecado original reconcilia-me com o AntigoTestamento; para mim é a única verdade metafísica que olivro contém expressa em forma alegórica. A nada seassemelha tanto nosso destino como à consequência deuma falta, de um desejo culpado. (…)

(…) Do mesmo modo que o rio corre manso e sereno,enquanto não encontra obstáculos que se oponham à suamarcha, assim corre a vida do homem quando nada selhe opõe à vontade. Vivemos inconscientes e desatentos:nossa atenção desperta no mesmo instante em quenossa vontade encontra um obstáculo e choca-se contraele. (…)

É um absurdo acreditar o contrário; que o mal énegativo. Ele é positivo, porque se faz sentir. Toda afelicidade, todo o bem é negativo, e toda a satisfaçãotambém o é, porque suprime um desejo ou termina umpesar. Acrescentamos a isto que, em geral, nuncasentimos uma alegria maior que a que sonhávamos, e quea dor sempre a excede. (…)

(…) A felicidade está no futuro, ou no passado; opresente é uma pequena nuvem escura que o ventoimpele sobre a planície cheia de sol. Diante e atrás dela,tudo é luminoso; só a nuvem é que projeta uma sombra.

(…) O homem, ameaçado por todos os lados pelosperigos que o rodeiam, usa de sua prudência semprevigilante para poder escapar. Com passo inquieto,lançando em volta olhares angustiosos, segue o seucaminho em luta constante com os casos e com seusinúmeros inimigos. O homem não se sente seguro entreos da sua raça e nem nos mais longínquos desertos.

(…) A necessidade imperiosa do homem é assegurara existência, e feito isto, já sabe o que fazer. Portanto,depois disso, o homem se esforça para aliviar o peso da

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vida, torná-la agradável e menos sensível: “matar otempo”, isto é, fugir ao aborrecimento.

(…) A miséria é sofrimento pungente do povo; odesgosto é para os favorecidos. Na vida civil, o domingosignifica o tédio, e os seis dias, o desgosto.

(…) O aborrecimento dá-nos a noção do tempo e adistração nos faz esquecer.

Isto prova que a nossa existência é mais feliz quandomenos a sentimos: de onde se deduz que seríamos maisfelizes se nos livrássemos dela.

(…) Os otimistas quiseram adaptar o mundo ao seusistema, e apresentá-lo a priori como o melhor dosmundos possíveis. O absurdo é evidente.

(…) A sinceridade de certos homens não lhes permitea união ao coro dos otimistas, e com eles entoar a aleluia.

Texto: Nietzsche Vida e Obra

Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu a 15 de outubrode 1844 em Röcken, localidade próxima a Leipzig. KarlLudwig, seu pai, pessoa culta e delicada, e seus dois avóseram pastores protestantes; o próprio Nietzsche pensouem seguir a mesma carreira.

Em 1849, seu pai e seu irmão faleceram; por causadisso a mãe mudou-se com a família para Naumburg,pequena cidade às margens do Saale, onde Nietzschecresceu, em companhia da mãe, duas tias e da avó.Criança feliz, aluno modelo, dócil e leal, seus colegas deescola o chamavam “pequeno pastor”; com eles criouuma pequena sociedade artística e literária, para a qualcompôs melodias e escreveu seus primeiros versos.

Em 1858, Nietzsche obteve uma bolsa de estudos naentão famosa escola de Pforta, onde haviam estudado opoeta Novalis e o filósofo Fichte (1762-1814). Datamdessa época suas leituras de Schiller (1759-1805),Hölderlin (1770-1843) e Byron (1788-1824); sob essainfluência e a de alguns professores, Nietzsche começoua afastar-se do cristianismo. Excelente aluno em grego ebrilhante em estudos bíblicos, alemão e latim, seusautores favoritos, entre os clássicos, foram Platão (428-348 a.C.) e Ésquilo (525-456 a.C.). Durante o último anoem Pforta, escreveu um trabalho sobre o poeta Teógnis(séc. VI a.C.). Partiu em seguida para Bonn, onde sededicou aos estudos de teologia e filosofia, mas,influenciado por seu professor predileto, Ritschl, desistiudesses estudos e passou a residir em Leipzig, dedicando-se à filologia. Ritschl considerava a filologia não apenashistória das formas literárias, mas estudos das instituiçõese do pensamento. Nietzsche seguiu-lhe as pegadas erealizou investigações originais sobre Diógenes Laércio(séc. III), Hesíodo (séc. VIII a.C.) e Homero. A partirdesses trabalhos foi nomeado, em 1869, professor defilologia em Basileia, onde permaneceu por dez anos. Afilosofia somente passou a interessá-lo a partir da leiturade O Mundo como Vontade e Represen tação, deSchopenhauer (1788-1860). Nietzsche foi atraído pelo

ateísmo de Schopenhauer, assim como pela posiçãoessencial que a experiência estética ocupa em suafilosofia, sobretudo pelo significado metafísico que atribuià música.

Em 1867, Nietzsche foi chamado para prestar oserviço militar, mas um acidente em exercício de montarialivrou-o dessa obrigação. Voltou então aos estudos nacidade de Leipzig. Nessa época teve início sua amizadecom Richard Wagner (1813-1883), que tinha quase 55anos e vivia então com Cosima, filha de Liszt (1811-1886).Nietzsche encantou-se com a música de Wagner e comseu drama musical, principalmente com Tristão e Isolda ecom Os Mestres Cantores. A casa de campo deTribschen, às margens do lago de Lucerna, onde Wagnermorava, tornou-se para Nietzsche lugar de “refúgio econsolação”. Na mesma época, apaixonou-se porCosima, que viria a ser, em obra posterior, a “sonhadaAriane”. Em cartas ao amigo Erwin Rohde, escrevia:“Minha Itália chama-se Tribschen e sinto-me ali como emminha própria casa”. Na universidade, passou a tratar dasrelações entre a música e a tragédia grega, esboçandoseu livro O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música.

Fonte: http://www.mundodosfilosofos.com.br/nietzsche.htm

Dionísio: era o deus gregoequivalente ao deusromano Baco, dos ciclosvitais, das festas, do vinho,da alegria, mas, sobretudo,da intoxicação que funde obebedor com a deidade.Filho de Zeus e daprincesa Semele, foi oúnico deus filho de umamortal, o que faz dele umadivindade grega atípica.Para Nietzsche, era umaalegoria do bem viver.

O Filósofo e o Músico

Em 1870, a Alemanha entrou em guerra com aFrança; nessa ocasião, Nietzsche serviu o exército comoenfermeiro, mas por pouco tempo, pois logo adoeceu,contraindo difteria e disenteria. Essa doença parece tersido a origem das dores de cabeça e de estômago queacompanharam o filósofo durante toda a vida. Nietzscherestabeleceu-se lentamente e voltou a Basileia a fim deprosseguir seus cursos.

Em 1871, publicou O Nascimento da Tragédia, arespeito da qual se costuma dizer que o verdadeiroNietzsche fala através das figuras de Schopenhauer e de

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Wagner. Nessa obra, considera Sócrates (470 ou 469 a.C.-399 a.C.) um “sedutor”, por ter feito triunfar junto àjuventude ateniense o mundo abstrato do pensamento.A tragédia grega, diz Nietzsche, depois de ter atingido suaperfeição pela reconciliação da “embriaguez e da forma”,de Dioniso e Apolo, começou a declinar quando, aospoucos, foi invadida pelo racionalismo, sob a influência“decadente” de Sócrates. Assim, Nietzsche estabeleceuuma distinção entre o apolíneo e o dionisíaco: Apolo é odeus da clareza, da harmonia e da ordem; Dioniso, o deusda exuberância, da desordem e da música. SegundoNietzsche, o apolíneo e o dionisíaco, complementaresentre si, foram separados pela civilização. Nietzsche tratada Grécia antes da separação entre o trabalho manual e ointelectual, entre o cidadão e o político, entre o poeta e ofilósofo, entre Eros e Logos. Para ele, a Grécia socrática,a do Logos e da lógica, a da cidade-Estado, assinalou ofim da Grécia antiga e de sua força criadora. Nietzschepergunta como, num povo amante da beleza, Sócratespôde atrair os jovens com a dialética, isto é, uma novaforma de disputa (ágon), coisa tão querida pelos gregos.Nietzsche responde que isso aconteceu porque aexistência grega já tinha perdido sua “bela imediatez”, etornou-se necessário que a vida ameaçada de dissoluçãolançasse mão de uma “razão tirânica”, a fim de dominaros instintos contraditórios.

Seu livro foi mal acolhido pela crítica, o que o impeliua refletir sobre a incompatibilidade entre o “pensadorprivado” e o “professor público”. Ao mesmo tempo, comruim estado de saúde: (dores de cabeça, perturbaçõesoculares, dificuldades na fala) interrompeu assim suacarreira universitária por um ano. Mesmo doente, foi atéBayreuth para assistir à apresentação de O Anel dosNibelungos, de Wagner. Mas o “entusiasmo grosseiro”da multidão e a atitude de Wagner embriagado pelosucesso o irritaram.

Terminada a licença da universidade para que tratasseda saúde, Nietzsche voltou à cátedra. Mas sua voz agoraera tão imperceptível que os ouvintes deixaram defrequentar seus cursos, outrora tão brilhantes. Em 1879,pediu demissão do cargo. Nessa ocasião, iniciou suagrande crítica dos valores, escrevendo Humano,Demasiado Humano; seus amigos não ocompreenderam. Rompeu as relações de amizade que oligavam a Wagner e, ao mesmo tempo, afastou-se dafilosofia de Schopenhauer, recusando sua noção de“vontade culpada” e substituindo-a pela de “vontadealegre”; isso lhe parecia necessário para destruir osobstáculos da moral e da metafísica. O homem, diziaNietzsche, é o criador dos valores, mas esquece suaprópria criação e vê neles algo de “transcendente”, de“eterno” e “verdadeiro”, quando os valores não são maisdo que algo “humano, demasiado humano”.

Nietzsche, que até então interpretara a música de

Wagner como o “renascimento da grande arte daGrécia”, mudou de opinião, achando que Wagnerinclinava-se ao pessimismo sob a influência deSchopenhauer. Nessa época Wagner voltara-se, aomesmo tempo, para a recusa do cristianismo e deSchopenhauer; para Nietzsche, ambos são parentesporque são a manifestação da decadência, isto é, dafraqueza e da negação. Irritado com o antigo amigo,Nietzsche escreveu: “Não há nada de exausto, nada decaduco, nada de perigoso para a vida, nada que calunie omundo no reino do espírito, que não tenha encontradosecretamente abrigo em sua arte; ele dissimula o maisnegro obscurantismo nos orbes luminosos do ideal. Eleacaricia todo o instinto niilista (budista) e embeleza-o coma música; acaricia toda a forma de cristianismo e todaexpressão religiosa de decadência”.

Solidão, Agonia e Morte

Em 1880, Nietzsche publicou O Andarilho e suaSombra; um ano depois apareceu Aurora, com a qual seempenhou “numa luta contra a moral da autorrenúncia”.Mais uma vez, seu trabalho não foi bem acolhido por seusamigos; Erwin Rohde nem chegou a agradecer-lhe orecebimento da obra, nem respondeu à carta queNietzsche lhe enviara. Em 1882, veio à luz A Gaia Ciência,depois Assim falou Zaratustra (1884), Para Além de Beme Mal (1886), O Caso Wagner, Crepúsculo dos Ídolos,Nietzsche contra Wagner (1888). Ecce Homo, DitirambosDionisíacos, O Anticristo e Vontade de Potência sóapareceram depois de sua morte.

Durante o verão de 1881, Nietzsche residiu emHaute-Engandine, na pequena aldeia de Silvaplana, e,durante um passeio, teve a intuição de O Eterno Retorno,redigido logo depois. Nessa obra defendeu a tese de queo mundo passa indefinidamente pela alternância dacriação e da destruição, da alegria e do sofrimento, dobem e do mal. De Silvaplana, Nietzsche transferiu-se paraGênova, no outono de 1881, e depois para Roma, ondepermaneceu por insistência de Fräulein von Meysenburg,que pretendia casá-lo com uma jovem finlandesa, LouAndreas Salomé. Em 1882, Nietzsche propôs-lhecasamento e foi recusado, mas Lou Andreas Salomédesejou continuar sua amiga e discípula. Encontraram-semais tarde na Alemanha; porém, não houve a esperadaadesão à filosofia nietzschiana e, assim, acabaram por seafastar definitivamente.

Em seguida, retornou à Itália, passando o inverno de1882-1883 na baía de Rapallo. Em Rapallo, Nietzsche nãose encontrava bem instalado; porém, “foi durante oinverno e no meio desse desconforto que nasceu o meunobre Zaratustra”.

No outono de 1883 voltou para a Alemanha e passoua residir em Naumburg, em companhia da mãe e da irmã.Apesar da companhia dos familiares, sentia-se cada vezmais só. Além disso, mostrava-se muito contrariado, pois

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sua irmã tencionava casar-se com Herr Foster, agitadorantissemita, que pretendia fundar uma empresa colonialno Paraguai, como reduto da cristan dade teutônica.Nietzsche desprezava o antisse mitismo, e, nãoconseguindo influenciar a irmã, abandonou Naumburg.

Em princípio de abril de 1884 chegou a Veneza,partindo depois para a Suíça, onde recebeu a visita dobarão Heinrich von Stein, jovem discípulo de Wagner. VonStein esperava que o filósofo o acompanhasse a Bayreuthpara ouvir o Parsifal, talvez pretendendo ser o mediadorpara que Nietzsche não publicasse seu ataque contraWagner. Por seu lado, Nietzsche viu no rapaz um discípulocapaz de compreender o seu Zaratustra. Von Stein, noentanto, veio a falecer muito cedo, o que o amargurouprofundamente, sucedendo-se alternâncias entre euforiae depressão. Em 1885, veio a público a quarta parte deAssim falou Zaratustra; cada vez mais isolado, o autor sóencontrou sete pessoas a quem enviá-la. Depois disso,viajou para Nice, onde veio a conhecer o intelectualalemão Paul Lanzky, que lera Assim falou Zaratustra eescrevera um artigo, publicado em um jornal de Leipzig ena Revista Europeia de Florença. Certa vez, Lanzky sedirigiu a Nietzsche tratando-o de “mestre” e Nietzschelhe respondeu: “Sois o primeiro que me trata dessamaneira”.

Depois de 1888, Nietzsche passou a escrever cartasestranhas. Um ano mais tarde, em Turim, enfrentou oauge da crise; escrevia cartas ora assinando “Dioniso”,ora “o Crucificado” e acabou sendo internado emBasileia, onde foi diagnosticada uma “paralisiaprogressiva”. Provavelmente de origem sifilítica, amoléstia progrediu lentamente até a apatia e a agonia.Nietzsche faleceu em Weimar, em 25 de agosto de 1900.

O Dionisíaco e o Socrático

Nietzsche enriqueceu a filosofia moderna com meiosde expressão: o aforismo e o poema. Isso trouxe comoconsequência uma nova concepção da filosofia e dofilósofo: não se trata mais de procurar o ideal de umconhecimento verdadeiro, mas sim de interpretar eavaliar. A interpretação procuraria fixar o sentido de umfenômeno, sempre parcial e fragmentário; a avaliaçãotentaria determinar o valor hierárquico desses sentidos,totalizando os fragmentos, sem, no entanto, atenuar ousuprimir a pluralidade. Assim, o aforismo nietzschiano é,simultaneamente, a arte de interpretar e a coisa a serinterpretada, e o poema constitui a arte de avaliar e aprópria coisa a ser avaliada. O intérprete seria umaespécie de fisiologista e de médico, aquele que consideraos fenômenos como sintomas e fala por aforismos; oavaliador seria o artista que considera e cria perspectivas,falando pelo poema. Reunindo as duas capacidades, ofilósofo do futuro deveria ser artista e médico-legislador,ao mesmo tempo.

Para Nietzsche, um tipo de filósofo encontra-se entreos pré-socráticos, nos quais existe unidade entre opensamento e a vida, esta “estimulando” o pensamento,e o pensamento “afirmando” a vida. Mas o desenvol -vimento da filosofia teria trazido consigo a progressivadegeneração dessa característica, e, em lugar de umavida ativa e de um pensamento afirmativo, a filosofia ter-se-ia proposto como tarefa “julgar a vida”, opondo a elavalores pretensamente superiores, mediando-a por eles,impondo-lhes limites, condenando-a. Em lugar do filósofo-legislador, isto é, crítico de todos os valores estabelecidose criador de novos, surgiu o filósofo metafísico. Essadegeneração, afirma Nietzsche, apare ceu claramente comSócrates, quando se estabeleceu a distinção entre doismundos, pela oposição entre essencial e aparente,verdadeiro e falso, inteligível e sensível. Sócrates“inventou” a metafísica, diz Nietzsche, fazendo da vidaaquilo que deve ser julgado, medido, limitado, em nomede valores “superiores” como o Divino, o Verdadeiro, oBelo, o Bem. Com Sócrates, teria surgido um tipo defilósofo voluntário e sutilmente “submisso”, inaugurandoa época da razão e do homem teórico, que se opôs aosentido místico de toda a tradição da época da tragédia.

Para Nietzsche, a grande tragédia grega apresentacomo característica o saber místico da unidade da vida eda morte e, nesse sentido, constitui uma “chave” queabre o caminho essencial do mundo. Mas Sócratesinterpretou a arte trágica como algo irracional, algo queapresenta efeitos sem causas e causas sem efeitos, tudode maneira tão confusa que deveria ser ignorada. Por issoSócrates colocou a tragédia na categoria das artesaduladoras, que representam o agradável e não o útil, epedia a seus discípulos que se abstivessem dessasemoções “indignas de filósofos”. Segundo Sócrates, aarte da tragédia desvia o homem do caminho da verdade:“uma obra só é bela se obedecer à razão”, fórmula que,segundo Nietzsche, corresponde ao aforismo “só ohomem que concebe o bem é virtuoso”. Esse bem idealconcebido por Sócrates existiria em um mundosuprassensível, no “verdadeiro mundo”, inacessível aoconhecimento dos sentidos, os quais só revelariam oaparente e irreal. Com tal concepção, criou-se, segundoNietzsche, uma verdadeira oposição dialética entreSócrates e Dioniso: “enquanto em todos os homensprodutivos o instinto é uma força afirmativa e criadora, ea consciência, uma força crítica e negativa, em Sócrates,o instinto torna-se crítico, e a consciência, criadora”.Assim, Sócrates, o “homem teórico”, foi o únicoverdadeiro contrário do homem trágico e com ele teveinício uma verdadeira mutação no entendimento do Ser.Com ele, o homem se afastou cada vez mais desseconhecimento, na medida em que abandonou ofenômeno do trágico, verdadeira natureza da realidade,segundo Nietzsche. Perdendo-se a sabedoria instintiva da

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arte trágica, restou a Sócrates apenas um aspecto da vidado espírito, o aspecto lógico-racional; faltou-lhe a visãomística, possuído que foi pelo instinto irrefreado de tudotransformar em pensamento abstrato, lógico, racional.Penetrar a própria razão das coisas, distinguindo overdadeiro do aparente e do erro era, para Sócrates, aúnica atividade digna do homem. Para Nietzsche, porém,esse tipo de conhecimento não tarda a encontrar seuslimites: “esta sublime ilusão metafísica de umpensamento puramente racional associa-se aoconhecimento como um instinto e o conduzincessantemente a seus limites onde este se transformaem arte”.

Por essa razão, Nietzsche combateu a metafísica,retirando do mundo suprassensível todo e qualquer valoreficiente e entendendo as ideias não mais como “verda -des” ou “falsidades”, mas como “sinais”. A única existên -cia, para Nietzsche, é a aparência e seu reverso não é maiso Ser; o homem está destinado à multiplicidade, e a únicacoisa permitida é sua interpretação.

O Voo da Águia, a Ascensão da Montanha

A crítica nietzschiana à metafísica tem um sentidoontológico e um sentido moral: o combate à teoria dasideias socrático-platônicas é, ao mesmo tempo, uma lutaacirrada contra o cristianismo.

Segundo Nietzsche, o cristianismo concebe o mundoterrestre como um vale de lágrimas, em oposição aomundo da felicidade eterna do além. Essa concepçãoconstitui uma metafísica que, à luz das ideias do outromundo, autêntico e verdadeiro, entende o terrestre, osensível, o corpo, como o provisório, o inautêntico e oaparente. Trata-se, portanto, diz Nietzsche, de “umplatonismo para o povo”, de uma vulgarização dametafísica, que é preciso desmistificar. O cristianismo,continua Nietzsche, é a forma acabada da perversão dosinstintos que caracteriza o platonismo, repousando emdogmas e crenças que permitem à consciência fraca eescava escapar à vida, à dor e à luta, e impondo aresignação e a renúncia como virtudes. São os escravose os vencidos da vida que inventaram o além paracompensar a miséria; inventaram falsos valores para seconsolar da impossibilidade de participação nos valoresdos senhores e dos fortes; forjaram o mito da salvaçãoda alma porque não possuíam o corpo; criaram a ficçãodo pecado porque não podiam participar das alegriasterrestres e da plena satisfação dos instintos da vida.“Este ódio de tudo que é humano”, diz Nietzsche, “detudo que é 'animal' e mais ainda de tudo que é 'matéria',este temor dos sentidos... este horror da felicidade e dabeleza; este desejo de fugir de tudo que é aparência,mudança, dever, morte, esforço, desejo mesmo, tudoisso significa... vontade de aniquilamento, hostilidade àvida, recusa em se admitir as condições fundamentais daprópria vida”.

Nietzsche propôs a si mesmo a tarefa de recuperar avida e transmutar todos os valores do cristianismo:“munido de uma tocha cuja luz não treme, levo umaclaridade intensa aos subterrâneos do ideal”. A imagemda tocha simboliza, no pensamento de Nietzsche, ométodo filológico, por ele concebido como um métodocrítico e que se constitui no nível da patologia, poisprocura “fazer falar aquilo que gostaria de permanecermudo”. Nietzsche traz à tona, por exemplo, umsignificado esquecido da palavra “bom”. Em latim, bonussignifica também o “guerreiro”, significado este que foisepultado pelo cristianismo. Assim como esse, outrossignificados precisariam ser recuperados; com isso sepoderia constituir uma genealogia da moral que explicariaas etapas das noções de “bem” e de “mal”. ParaNietzsche, essas etapas são o ressentimento (“é tuaculpa se sou fraco e infeliz”); a consciência da culpa(momento em que as formas negativas se interiorizam,dizem-se culpadas e voltam-se contra si mesmas); e oideal ascético (momento de sublimação do sofrimento ede negação da vida). A partir daqui, a vontade de potênciatorna-se vontade de nada e a vida transforma-se emfraqueza e mutilação, triunfando o negativo e a reaçãocontra a ação. Quando esse niilismo triunfa, diz Nietzsche,a vontade de potência deixa de querer significar “criar”para querer dizer “dominar”; essa é a maneira como oescravo a concebe. Assim, na fórmula “tu és mau, logoeu sou bom”, Nietzsche vê o triunfo da moral dos fracosque negam a vida, ou negam a “afirmação”; neles tudo éinvertido: os fracos passam a se chamar fortes, a baixezatransforma-se em nobreza. A “profundidade daconsciência” que busca o Bem e a Verdade, dizNietzsche, implica resignação, hipocrisia e máscara, e ointérprete-filólogo, ao percorrer os signos para denunciá-las, deve ser um escavador dos submundos a fim demostrar que a “profundidade da interioridade” é coisadiferente do que ela mesma pretende ser. Do ponto devista do intérprete que desça até os bas-fonds daconsciência, o Bem é a vontade do mais forte, do“guerreiro”, do arauto de um apelo perpétuo à verdadeiraultrapassagem dos valores estabelecidos, do super-homem, entendida esta expressão no sentido de um serhumano que transpõe os limites do humano, é o “além-do-homem”. Assim, o voo da águia, a ascensão damontanha e todas as imagens de verticalidade que seencontram em Assim falou Zaratustra representam ainversão da profundidade e a descoberta de que ela nãopassa de um jogo de superfície.

A etimologia nietzschiana mostra que não existe um“sentido original”, pois as próprias palavras não passamde interpretações, antes mesmo de serem signos, e elassó significam porque são “interpretações essenciais”.As palavras, segundo Nietzsche, sempre foraminventadas pelas classes superiores e, assim, não

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indicam um significado, mas impõem uma interpretação.O trabalho do etimologista, portanto, deve centralizar-seno problema de saber o que existe para ser interpretado,na medida em que tudo é máscara, interpretação,avaliação. Fazer isso é “aliviar o que vive, dançar, criar”.Zaratustra, o intérprete por excelência, é como Dioniso.

Os Limites do Humano: O Além-do-Homem

Em Ecce Homo, Nietzsche assimila Zaratustra aDioniso, concebendo o primeiro como o triunfo daafirmação da vontade de potência e o segundo comosímbolo do mundo como vontade, como um deus artista,totalmente irresponsável, amoral e superior ao lógico. Poroutro lado, a arte trágica é concebida por Nietzsche comooposta à decadência e enraizada na antinomia entre avontade de potência, aberta para o futuro, e o “eternoretorno”, que faz do futuro numa repetição; esta, noentanto, não significa uma volta do mesmo nem umavolta ao mesmo; o eterno retorno nietzschiano éessencialmente seletivo. Em dois momentos de Assimfalou Zaratustra (Zaratustra doente e Zaratustraconvalescente), o eterno retorno causa ao personagem-título, primeiramente, uma repulsa e um medointoleráveis que desaparecem por ocasião de sua cura,pois o que o tornava doente era a ideia de que o eternoretorno estava ligado, apesar de tudo, a um ciclo, e queele faria tudo voltar, mesmo o homem, o “homempequeno”. O grande desgosto do homem, diz Zaratustra,aí está o que me sufocou e que me tinha entrado nagarganta e também o que me tinha profetizado o adivinho:tudo é igual. E o eterno retorno, mesmo do maispequeno, aí está a causa de meu cansaço e de toda aexistência. Dessa forma, se Zaratustra se cura é porquecompreende que o eterno retorno abrange o desigual e aseleção. Para Dioniso, o sofrimento, a morte e o declíniosão apenas a outra face da alegria, da ressurreição e davolta. Por isso, “os homens não têm de fugir à vida comoos pessimistas”, diz Nietzsche, “mas, como alegresconvivas de um banquete que desejam suas taçasnovamente cheias, dirão à vida: uma vez mais”.

Para Nietzsche, portanto, o verdadeiro oposto aDioniso não é mais Sócrates, mas o Crucificado. Emoutros termos, a verdadeira oposição é a que contrapõe,de um lado, o testemunho contra a vida e oempreendimento de vingança que consiste em negar avida; de outro, a afirmação do devir e do múltiplo, mesmona dilaceração dos membros dispersos de Dioniso. Comessa concepção, Nietzsche responde ao pessimismo deSchopenhauer: em lugar do desespero de uma vida paraa qual tudo se tornou vão, o homem descobre no eternoretorno a plenitude de uma existência ritmada pelaalternância da criação e da destruição, da alegria e dosofrimento, do bem e do mal. O eterno retorno, e apenasele, oferece, diz Nietzsche, uma “saída fora da mentirade dois mil anos”, e a transmutação dos valores traz

consigo o novo homem que se situa além do própriohomem.

Esse super-homem nietzschiano não é um ser, cujavontade “deseje dominar”. Se se interpreta vontade depotência, diz Nietzsche, como desejo de dominar, faz-sedela algo dependente dos valores estabelecidos. Comisso, desconhece-se a natureza da vontade de potênciacomo princípio plástico de todas as avaliações e comoforça criadora de novos valores. Vontade de potência, dizNietzsche, significa “criar”, “dar” e “avaliar”.

Nesse sentido, a vontade de potência do super-homem nietzschiano o situa muito além do bem e do male o faz desprender-se de todos os produtos de umacultura decadente. A moral do além-do-homem, que viveesse constante perigo e fazendo de sua vida umapermanente luta, é a moral oposta à do escravo e à dorebanho. Oposta, portanto, à moral da compaixão, dapiedade, da doçura feminina e cristã. Assim, paraNietzsche, bondade, objetividade, humildade, piedade,amor ao próximo constituem valores inferiores, impondo-se sua substituição pela virtù dos renascentistasitalianos, pelo orgulho, pelo risco, pela personalidadecriadora, pelo amor ao distante. O forte é aquele em quea transmutação dos valores faz triunfar o afirmativo navontade de potência. O negativo subsiste nela apenascomo agressividade própria à afirmação, como a críticatotal que acompanha a criação; assim, Zaratustra, oprofeta do além-do-homem, é a pura afirmação, que levaa negação a seu último grau, fazendo dela uma ação,uma instância a serviço daquele que cria, que afirma.

Compreende-se, assim, porque Nietzsche desacre -dita das doutrinas igualitárias, que lhe parecem “imorais”,pois impossibilitam que se pense a diferença entre osvalores dos “senhores e dos escravos”. Nietzsche recusao socialismo, mas em Vontade de Potência exorta osoperários a reagirem “como soldados”.

Uma Filosofia Confiscada

Apoiado na crítica nietzschiana aos valores da moralcristã, em sua teoria da vontade de potência e no seuelogio do super-homem, desenvolveu-se um pensamentonacionalista e racista, de tal forma que se passou a ver noautor de Assim Falou Zaratustra um percursor donazismo. A principal responsável por essa deformação foisua irmã Elisabeth, que, ao assegurar a difusão de seupensamento, organizando o Nietzsche-Archiv, emWeimar, tentou colocá-lo a serviço do nacional-socialismo.Elisabeth, depois do suicídio do marido, que fracassaraem um projeto colonial no Paraguai, reuniuarbitrariamente notas e rascunhos do irmão, fazendopublicar Vontade de Potência como a última e a maisrepresentativa das obras de Nietzsche, retendo até 1908Ecce Homo, escrita em 1888. Esta obra constitui umainterpretação, feita por Nietzsche, de sua própria filosofia,

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que não se coaduna com o nacionalismo e o racismogermânicos. Ambos foram combatidos pelo filósofo,desde sua participação na guerra franco-prussiana (1870-1871).

Por ocasião desse conflito, Nietzsche alistou-se noexército alemão, mas seu ardor patriótico logo sedissolveu, pois, para ele, a vitória da Alemanha sobre aFrança teria como consequência “um poder altamenteperigoso para a cultura”. Nessa época, aplaudia aspalavras de seu colega em Basileia, Jacob Burckhardt(1818-1897), que insistia junto a seus alunos para que nãotomassem o triunfo militar e a expansão de um Estadocomo indício de verdadeira grandeza.

Em Para Além de Bem e Mal, Nietzsche revela odesejo de uma Europa unida para enfrentar onacionalismo (“essa neurose”) que ameaçava subverter acultura europeia. Por outro lado, quando confiou ao“louro” a tarefa de “virilizar a Europa”, Nietzsche levouaté a caricatura seu desprezo pelos alemães, homens“que introduziram no lugar da cultura a loucura política enacional... que só sabem obedecer pesadamente,disciplinados como uma cifra oculta em um número”. Nomesmo sentido, Nietzsche caracterizou os heróiswagnerianos como germanos que não passam de“obediência e longas pernas”. E acabou rompendodefinitivamente com Wagner, por causa do nacionalismoe antissemitismo do autor de Tristão e Isolda: “Wagnercondescende a tudo que desprezo, até o antisse -mitismo”.

Para compreender corretamente as ideias políticas deNietzsche, é necessário, portanto, purificá-lo de todos osdesvios posteriores que foram cometidos em seu nome.Nietzsche foi ao mesmo tempo um antidemo crático e umantitotalitário. “A democracia é a forma histórica dedecadência do Estado”, afirmou Nietzsche, entendendopor decadência tudo aquilo que escraviza o pensamento,sobretudo um Estado que pensa em si em lugar depensar na cultura. Em Considerações Extemporâneasessa tese é reforçada: “estamos sofrendo asconsequências das doutrinas pregadas ultimamente portodos os lados, segundo as quais o Estado é o mais altofim do homem, e, assim, não há mais elevado fim do queservi-lo. Considero tal fato não um retrocesso aopaganismo mas um retrocesso à estupidez”. Por outrolado, Nietzsche não aceitava as considerações de que aorigem do Estado seja o contrato ou a convenção; essasteorias seriam apenas “fantásticas”; para ele, aocontrário, o Estado tem uma origem “terrível”, sendocriação da violência e da conquista e, como consequência,seus alicerces encontram-se na máxima que diz: “o poderdá o primeiro direito e não há direito que no fundo nãoseja arrogância, usurpação e violência”.

O Estado, diz Nietzsche, está sempre interessado naformação de cidadãos obedientes e tem, portanto,tendência a impedir o desenvolvimento da cultura livre,

tornando-a estática e estereotipada. Ao contrário disso, oEstado deveria ser apenas um meio para a realização dacultura e para fazer nascer o além-do-homem.

Assim Falou Zaratustra

Em Ecce Homo, Nietzsche intitulou seus capítulos:“Por que sou tão finalista?”, “Por que sou tão sábio?”,“Por que sou tão inteligente?”, “Por que escrevo livrostão bons?”. Isso levou muitos a considerarem sua obracomo anormal e desqualificada pela loucura. Essa opinião,no entanto, revela um superficial entendimento de seupensamento. Para entendê-lo corretamente, é necessáriocolocar-se dentro do próprio núcleo de sua concepção dafilosofia: Nietzsche inverteu o sentido tradicional dafilosofia, fazendo dela um discurso ao nível da patologia econsiderando a doença “um ponto de vista” sobre asaúde, e vice-versa. Para ele, nem a saúde, nem a doençasão entidades; a fisiologia e a patologia são uma únicacoisa; as oposições entre bem e mal, verdadeiro e falso,doença e saúde são apenas jogos de superfície. Há umacontinuidade, diz Nietzsche, entre a doença e a saúde e adiferença entre as duas é apenas de grau, sendo a doençaum desvio interior à própria vida; assim, não há fatopatológico.

A loucura não passa de uma máscara que escondealguma coisa, esconde um saber fatal e “demasiadocerto”. A técnica utilizada pelas classes sacerdotais paraa cura da loucura é a “meditação ascética”, que consisteem enfraquecer os instintos e expulsar as paixões; comisso, a vontade de potência, a sensualidade e o livreflorescimento do eu são considerados “manifestaçõesdiabólicas”. Mas, para Nietzsche, aniquilar as paixões éuma “triste loucura”, cuja decifração cabe à filosofia, poisé a loucura que torna mais plano o caminho para as ideiasnovas, rompendo os costumes e as superstiçõesveneradas e constituindo uma verdadeira subversão dosvalores. Para Nietzsche, os homens do passado estiverammais próximos da ideia de que onde existe loucura há umgrão de gênio e de sabedoria, alguma coisa de divino:“Pela loucura os maiores feitos foram espalhados pelaGrécia”. Em suma, aos “filósofos além de bem e mal”,aos emissários dos novos valores e da nova moral nãoresta outro recurso, diz Nietzsche, a não ser o deproclamar as novas leis e quebrar o jugo da moralidade,sob o travestimento da loucura. É dentro dessaperspectiva, portanto, que se deve compreender apresença da loucura na obra de Nietzsche. Sua crise finalapenas marcou o momento em que a “doença” saiu desua obra e interrompeu seu prosseguimento. As últimascartas de Nietzsche são o testemunho desse momentoextremo e, como tal, pertencem ao conjunto de sua obrae de seu pensamento. A filosofia foi, para ele, a arte dedeslocar as perspectivas, da saúde à doença, e a loucuradeveria cumprir a tarefa de fazer a crítica escondida dadecadência dos valores e aniquilamento: “Na verdade, a

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doença pode ser útil a um homem ou a uma tarefa, aindaque para outros signifique doença... Não fui um doentenem mesmo por ocasião da maior enfermidade”.

Texto filosófico clássico: O Nascimento da

TragédiaPor Friedrich Nietzsche

Para Nietzsche, o homem precisava se libertar da preocupação com averdade e investir no conceito de viver. O homem seria portador deuma vontade de poder. Seu livro mais conhecido é Assim falouZaratustra.

(...) Sob o encantamento do dionisíaco não só sereconstitui a ligação entre o homem e homem. Tambéma natureza alienada, hostil ou subjugada celebra a suafesta de perdão ao filho perdido: o homem.

A terra oferece espontaneamente os seus frutos, eos animais ferozes dos rochedos e dos desertosaproximam-se mansamente. O carro de Dionísio estácoberto de flores e de guirlandas: sob o seu jugo,avançam o tigre e a pantera. Imortaliza-se o Hino à Alegriade Beethoven em um quadro e que não se fique atráscom a imaginação, quando milhões se ajoelharãoestremecendo no pó: assim poderemos nos aproximar dodionisíaco.

Agora, o escravo é um homem livre, agora serompem todas as limitações inflexíveis e hostis que anecessidade, o arbítrio, o descarado costume colocaramentre os homens. Agora, no Evangelho da harmoniauniversal, cada qual não só se sente vizinho, reconciliado,fundido com o seu próximo, mas forma um todo comele...

O homem apresenta-se cantando e dançando comomembro de uma unidade superior: desaprendeu a andar,a falar e está perto de pairar dançando no ar. Os seusgestos revelam o encantamento. Agora que os animaisfalam e a Terra oferece leite e mel, ele também revelaalgo de sobrenatural: ele se sente como Deus, paira

extático e exaltado, como em sonhos ele via os deuses semoverem.

O homem já não é um artista, tornou-se uma obra dearte: a potência estética de toda natureza se revela nosarrepios de embriaguez como supremo apagamento doUno originário. Aqui se trabalha a argila mais preciosa, sedebuxa o mármore mais valioso, o homem, e aos golpesde cinzel do sumo artista dionisíaco ecoa o grito dosmistérios eleusinos: Prostrai-vos, milhões? E tu, mundo,sentes a mão do teu criador?

Frases de Arthur Schopenhauer

“O dinheiro é uma felicidade humana abstrata; porisso aquele que já não é capaz de apreciar a verdadeirafelicidade humana, dedica-se completamente a ele.”

“Não devemos mostrar a nossa cólera ou o nossoódio senão por meio de atos. Os animais de sangue friosão os únicos que têm veneno.”

“Ninguém é realmente digno de inveja, e tantos sãodignos de lástima!”

“Ler quer dizer pensar com uma cabeça alheia, emlugar da própria.”

“O dinheiro é a coisa mais importante do mundo.Representa: saúde, força, honra, generosidade e beleza,do mesmo modo que a falta dele representa: doença,fraqueza, desgraça, maldade e fealdade.”

“Arquitetura é música congelada.”

Frases de Friedrich Nietzsche

“Para Dioniso, o sofrimento, a morte e o declínio sãoapenas a outra face da alegria, da ressurreição e da volta.Por isso, “os homens não têm de fugir à vida como ospessimistas, mas, como alegres convivas de umbanquete que desejam suas taças novamente cheias,dirão à vida: uma vez mais”.

“O que não provoca minha morte faz com que eufique mais forte.”

“Quanto mais nos elevamos, menores parecemosaos olhos daqueles que não sabem voar.”

“Só cabe aos que me reprovam refletir um pouco edepois pedir desculpas a si mesmos. Não preciso de umapalavra para a minha defesa”.

“Temos a arte para não morrer da verdade.”

“A recompensa final dos mortos é não morrer nuncamais.”

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1. “A terra oferece espontaneamente os seus frutos, e os animaisferozes dos rochedos e dos desertos aproximam-se mansamente. Ocarro de Dionísio está coberto de flores e de guirlandas: sob o seu jugo,avançam o tigre e a pantera. Imortaliza-se o Hino à Alegria de Beethovenem um quadro e que não se fique atrás com a imaginação, quandomilhões se ajoelharão estremecendo no pó: assim poderemos nosaproximar do dionisíaco.” (Nietzsche)No texto acima, o filósofo está:I. proclamando a alegria de viver.II. exprimindo a fragilidfade da vida humana.III. afirmando que a nona sinfonia de Beethoven é obra da imaginação

humana.IV. proclamando poeticamente a existência livre e natural.

São verdadeiras apenas:a) I e II b) I e III c) II e III d) III e IV e) I e IV

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

2. “Agora, o escravo é um homem livre, agora se rompem todas aslimitações inflexíveis e hostis que a necessidade, o arbítrio, o descaradocostume colocaram entre os homens. Agora, no Evangelho da harmoniauniversal, cada qual não só se sente vizinho, reconciliado, fundido como seu próximo, mas forma um todo com ele...” (Nietzsche)O filósofo pretendeu nessas palavrasa) proclamar a fragilidade humana.b) mostrar que a condição natural dos homens é viver em escravidão.c) proclamar o Evangelho de Cristo de acordo com as instituições que

revelaram suas mensagens.d) proclamar a necessidade de se romper com a cultura construída

pelos homens que dificulta uma existência plena.e) mostrar que só a religião do Evangelho pode salvar a condição

escrava dos homens.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

3. Na filosofia de Nietzsche, o conceito de “vontade de potência” temfundamental papel. Sobre isso, leia as proposições abaixo:I. Trata-se de uma lei criada pelos homens que deve regular suas

existências.II. Trata-se do impulso universal que rege todo o universo e deve

conduzir a existência dos homens.III. É essência da natureza, conduz os astros e os fenômenos culturais

e políticos.IV. É energia física criada por Deus e fundamento da existência

humana.

São verdadeiras (apenas) a) Todas. b) I e III. c) II e IV. d) III e IV. e) II e III.

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

4. Assinale as alternativas que encerram a proposta filosófica deNietzsche.I. O artista dionisíaco, que é o homem, ultrapassa a distância entre si

e a obra, produzindo arte com a sua própria vida.II. Dionísio representa uma existência austera, grave e racional.III. De certa forma, Dionísio subverte as regras sociais, a etiqueta, a boa

educação, as convenções, sendo o deus da loucura na busca devitalidade.

IV. A vida dionisíaca rompe as relações com a natureza, pois sobre -valoriza o universo da cultura humana.

São corretas apenasa) I e II. b) I e III. c) II e III. d) I e IV. e) III e IV.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

5. Podemos afirmar que o texto de Nietzsche é pessimista? a) Sim, pois o filósofo é ateu e não crê em qualquer verdade. Assim, é

inevitável a classificação de pessimista.b) Não, ao contrário. O filósofo em questão é marcado por um otimismo

fundamentado em hipóteses metafísicas e religiosas.c) Sim, pois a doutrina nietzschiana se fundamenta num anti-

humanismo. Considera o homem um ser insuficiente e fraco.d) Sim, pois Nietzsche considera a existência humana marcada pela

tragédia existencial e pela condição de miséria espiritual.e) Em hipótese alguma. O filósofo exalta o homem e a vida; a convi -

vência e a integração de todas as coisas, inclusive entre o homem ea natureza.

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

6. Shopenhauer influenciou profundamente o pensamento de Nietzsche,e, apesar das divergências entre eles, apresentam um tema centralem comum. Assinale a alternativa que revela a temática comumentre os dois filósofos.

a) A melhor vida é a conduzida por uma proposta hedonista edionisíaca.

b) A vida é sofrimento.c) Há uma força natural de vontade que regula o universo.d) O tempo existencial retorna eternamente como uma ampulheta.e) Há uma ventura filosófica no saber metafísico, que para Nietzsche

está no cristianismo e para Schopenhauer, no budismo.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

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7. Sobre a filosofia de Schopenhauer, leia e julgue as proposiçõesabaixo.I – A vontade é um princípio racional que conduz ao “instinto” de

preservação. Trata-se de uma força da natureza e universal. II – O homem, porém, tenta encobrir essa força, conferindo

causalidade a seus atos. Portanto, a vontade constitui, igualmente,a causa de todo sofrimento, uma vez que lança os entes em umacadeia perpétua de aspirações sem fim, o que provoca a dor depermanecer algo que jamais consegue completar-se.

III – Assim, o prazer consiste apenas na supressão momentânea dador. Isso confere a sua filosofia um caráter pessimista.

Estão (está) corretas (correta):a) Todas b) Apenas I e II c) Apenas II e IIId) Apenas I e III e) Apenas II

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

8. (UEM-adaptada) – Um dos elementos fundamentais da Filosofiacontemporânea é o contexto de crise da razão. Nela, criticam-se pilaresda racionalidade moderna, como a ideia de fundação do conhecimentoa partir do sujeito, e a possibilidade de uma ação moral universal. Combase na afirmação acima, assinale o que for correto e errado.01)Sören Kierkegaard (1813-1885), precursor do existencialismo cristão,

fez críticas severas à Filosofia moderna, pois nela o ser humano nãoaparece como ser existente, mas reduzido ao conhecimentoobjetivo.

02)Friedrich Nietzsche (1844-1900), ao perguntar sobre o valor dosvalores, não representa uma novidade na maneira de formular asquestões da Filosofia, sobretudo ao propor o movimento genealó -gico.

04)Sigmund Freud (1856-1939), fundador da Psicanálise, evidencia opapel da racionalidade da consciência e da unidade do eu, estabe -lecendo, para determinar as pulsões, a análise sintética a priori.

08)Michel Foucault (1926-1984) introduz, no cenário filosófico, oconceito de microfísica do poder, isto é, a fragmentação do sujeitoem torno de um núcleo teórico unívoco, tanto moral quantoepistêmico.

16)A Escola de Frankfurt utiliza-se da razão instrumental para criticar oscéticos e fundamentar, em novas bases, o cientificismo.

Estão erradas somente: a) 02, 04, 16 b) 08 c) 01 e 04d) 01 e) 16

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

9. (UEL) –

A gravura de Escher provoca a reflexão acerca da percepção darealidade, ou seja, da relação entre a consciência e a realidade. SegundoNietzsche, “[...] todo homem que for dotado de espírito filosófico há deter o pressentimento de que, atrás da realidade em que existimos evivemos, se esconde outra, muito diferente, e que, por consequência,a primeira não passa de uma aparição da segunda”.

(NIETZSCHE, Friedrich. Apud:SATIRA, Angélica. Pensando melhor. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 75.)

Assinale a alternativa que está de acordo com o texto.a) A razão elimina as ilusões que provêm dos sentidos, permitindo ao

homem um conhecimento verdadeiro do real.b) A percepção da realidade é objetiva e independe de sentimentos e

emoções do homem.c) Ao perceber a realidade, o homem dá a ela significados, pois a

percepção é uma relação condicionada, entre outros fatores, pelascoisas e pelo sujeito que percebe.

d) A visão é o sentido que permite perceber a essência das coisas, sema qual o conhecimento do real é inviável.

e) O homem conhece a realidade exatamente como ela é, em umarelação imediata entre consciência e realidade.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

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1. Nietzsche percebe um extraordinário contraefeito da valorização daarte por Schopenhauer, o surgimento da figura do artista como oráculo:articulação da metafísica do belo que fala diretamente à vaidade doartista. Por outro lado, Nietzsche vê nos artistas um perigo: a necessidade deproteção, de amparo em uma religião ou filosofia qualquer, das quaisseriam os “criados”. Seria exatamente esse o caso de Wagner emrelação a Schopenhauer.Segundo a análise do texto, pode-se concluir quea) Nietzsche vê o artista como oráculo da metafísica. b) Schopenhauer sustenta uma visão da arte que dissolve qualquer

expressão de vaidade do artista.c) Nietzsche entende que Schopenhauer carece de uma concepção

religiosa.d) Nietzsche critica a metafísica e a necessidade humana de se amparar

na religião.e) Schopenhauer entende que a arte não deve possuir uma dimensão

metafísica.

2. “A arte pela arte. A luta contra a finalidade na arte é sempre umaluta contra as tendências moralizadoras, contra a subordinação da arteà moral. A arte pela arte quer dizer: ‘ao diabo com a moral’. Essa mesmainimizade denuncia o poder preponderante ainda daquela preocupação.Porém ainda que se exclua da arte o fim de edificar e melhorar oshomens, não se conclui daí que a arte deva carecer em absoluto dumfim, duma aspiração e dum sentido; que seja, numa palavra, a arte pelaarte; a serpente que morde a própria cauda. ‘Antes não ter um fim queter um fim moral!’ Assim fala a paixão. Porém um psicólogo pergunta,ao contrário: O que em toda espécie de arte faz? Não louva? Nãoglorifica? Não isola? Com tudo isso a arte fortalece ou enfraquece certasavaliações; é isso um acessório, uma coisa acidental? É algo em que oinstinto artístico não tem participação completa? É que a faculdade depoder do artista não é a condição primeira da arte? Está o seu instintobásico dirigido à arte, ou preferivelmente ao sentido da arte, à vida, a umdesejo de vida? A arte é o grande estimulante da vida”.

(Nietzsche) Segundo o filósofo Nietzsche,a) a arte tem uma função reguladora das relações sociais.b) a arte tem uma dimensão ética intrínseca.c) a arte é como uma serpente que morde a própria cauda, ou seja, ela

tem um fim em si mesma.d) a arte é produzida pelo intelecto e pela racionalidade dos homens.e) o homem produz a arte para compensar suas fragilidades inerentes.

3. “O que aconteceria se, um dia ou uma noite, um demônio seesgueirasse furtivamente na mais solitária das tuas solidões e tedissesse: ‘Esta vida, assim como a vives agora e a vivestes, terás devivê-la novamente infinitas vezes e nela não haverá nada de novo, masretornarão a ti cada dor e cada prazer, cada pensamento e suspiro, cadacoisa indizivelmente pequena ou grande da tua vida, e tudo na mesmasequência e sucessão, como esta aranha e este luar por entre os ramose também este instante e eu mesmo. A eterna ampulheta da existênciaserá novamente virada e tu com ela, grão de poeira!’Não te lançarias ao chão, rangendo os dentes e maldizendo o demônioque assim te falou? Ou então, talvez tendo vivido alguma vez uminstante tão imenso, seria esta a tua resposta: ‘Tu és um Deus e nuncaouvi nada tão divino?’

Se esse pensamento ganhasse poder sobre ti, assim como és agora,

ele te faria sofrer uma metamorfose e talvez te triturasse. A pergunta

para qualquer coisa – ‘Queres isso mais uma vez e ainda inúmeras

vezes? – pesaria sobre o teu modo de agir como o maior dos pesos!

Ou, então, quanto terias que amar a ti mesmo e à vida, para não desejar

nada mais que esta última e eterna confirmação, esta chancela?’”...

(Nietzsche)

As palavras de Nietzsche referem-se ao seu conceito de “mito do eterno

retorno”. A partir das palavras do filósofo, pode-se afirmar que

a) pretendia defender uma concepção metafísica ou religiosa do tempo,

pois fala em eternidade.

b) pretendeu dizer que o tempo é um mito.

c) pretendeu afirmar que o tempo é uma criação de Deus.

d) falou da incomensurabilidade do tempo.

e) defendeu a ideia de se conduzir uma existência dionisíaca

(fundamentada na busca do prazer).

4. Escreva um texto, explicando o conceito de vontade no pensamento

de Schopenhauer.

5. (CONUPE) – Friedrich Nietzsche (1844-1900), na sua doutrina, liga-

se a correntes diversas, embora não se filie a nenhuma: o evolucio -

nismo, o irracionalismo, a filosofia de vida. Marque a alternativa

incorreta sobre o pensamento filosófico de Friedrich Nietzsche.

a) Nietzsche identificou o super-homem com o filósofo na acepção de

profeta de uma nova humanidade e, deste ponto de vista, a noção de

uma “raça de super-homem” apresenta-se-nos absurda e pueril.

b) No plano antropológico e ético, o que Nietzsche quis propor foi uma

nova técnica de valores, os valores vitais.

c) Toda a obra de Nietzsche visa esclarecer e defender a aceitação total

e entusiástica da vida. Dioniso é o símbolo divinizado desta

aceitação, e Zaratustra, o seu profeta.

d) A filosofia de Friedrich Nietzsche não é uma reação tardia contra o

idealismo de Hegel e o pessimismo de Schopenhauer. Contra o

realismo do primeiro, coloca ele a natureza íntima do homem não na

vontade, mas na razão. Contra o pessimismo do segundo, afirma

que o homem deve procurar o aniquilamento pessoal.

e) A transfiguração dos valores é entendida por Nietzsche como a

anulação dos limites, como a conquista de um domínio absoluto do

homem sobre a terra e o seu corpo, como a eliminação do caráter

problemático da vida e de toda a perda ou transvio a que o homem

está sujeito.

6. (Governo do Estado de São Paulo – Secretaria da Educação) –

Friedrich Nietzsche, ao pensar a arte, recorreu à mitologia da religião

grega antiga, principalmente aos deuses Dionísio e Apolo (conceitos de

dionisíaco e apolíneo). São características do apolíneo:

a) Sonho, aparência, luz, ordem e individual.

b) Sonho, violência, luz, ordem e coletivo.

c) Embriaguez, dança, selvagem e mutação.

d) Sonho, embriaguez, luz e ordem.

e) Sonho, aparência, luz, dança e individual.

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7. Leia e julgue as assertivas abaixo:I – Para Dioniso, o sofrimento, a morte e o declínio são apenas a outra

face da alegria, da ressurreição e da volta. Por isso, “os homensnão têm de fugir à vida como os pessimistas”, diz Nietzsche, “mas,como alegres convivas de um banquete que desejam suas taçasnovamente cheias, dirão à vida: uma vez mais”.

III – Para Nietzsche, o verdadeiro oposto a Dioniso não é mais Sócrates,mas o Crucificado. Em outros termos, a verdadeira oposição é aque contrapõe, de um lado, o testemunho contra a vida e oempreendimento de vingança que consiste em negar a vida; deoutro, a afirmação do devir e do múltiplo, mesmo na dilaceraçãodos membros dispersos de Dioniso. Com essa concepção,Nietzsche responde ao pessimismo de Schopenhauer: em lugardo desespero de uma vida para a qual tudo se tornou vão, ohomem descobre no eterno retorno a plenitude de uma existênciaritmada pela alternância da criação e da destruição, da alegria e dosofrimento, do bem e do mal.

IIII – O eterno retorno, e apenas ele, oferece, diz Nietzsche, uma “saídafora da mentira de dois mil anos” (Cristianismo), e a transmutaçãodos valores traz consigo o novo homem que se situa além dopróprio homem.

Estão (está) corretas (correta):a) Todas b) Apenas I e II c) Apenas II e IIId) Apenas I e III e) Apenas II

8. (ENADE) – O filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), talvezo pensador moderno mais incômodo e provocativo, influenciou váriasgerações e movimentos artísticos. O Expressionismo, que teve forteinfluência desse filósofo, contribuiu para o pensamento contrário aoracionalismo moderno e ao trabalho mecânico, por meio do embateentre a razão e a fantasia.As obras desse movimento deixam de priorizar o padrão de belezatradicional para enfocar a instabilidade da vida, marcada por angústia,dor, inadequação do artista diante da realidade.

Das obras a seguir, a que reflete esse enfoque artístico é:a) b)

Homem idoso na poltrona Figura e borboleta, Milton Dacosta

c) d)

O grito – Edvard Munch Menino mordido por um lagartoMuseu Munch, Oslo

e)

Abaporu. Tarsila do Amaral

9. A etimologia nietzschiana mostra que não existe um “sentidooriginal”, pois as próprias palavras não passam de interpretações, antesmesmo de serem signos, e elas só significam porque são“interpretações essenciais”. As palavras, segundo Nietzsche, sempreforam inventadas pelas classes superiores e, assim, não indicam umsignificado, mas impõem uma interpretação. O trabalho do etimologista,portanto, deve centralizar-se no problema de saber o que existe para serinterpretado, na medida em que tudo é máscara, interpretação,avaliação. Fazer isso é “aliviar o que vive, dançar, criar”. Zaratustra, ointérprete por excelência, é como Dioniso.

http://www.mundodosfilosofos.com.br/nietzsche.htm

O tema central desse texto está na alternativa:a) O poder das classes superioresb) A função da etimologiac) As palavras como interpretaçõesd) O conhecimento retrata a realidadee) A invenção das palavras

10.Para Nietzsche, a história não é finalista, não há progresso nemobjetivo final da história. A esse princípio, o filósofo deu o nome de:a) O eterno retorno do mesmo. b) Potência de Vontadec) Vontade de Potência d) Existência autêntica.e) Existência dionisíaca.

11.Chove lá fora. A água enche a represa. Poucos trovões, poucasdescargas elétricas. É impressionante como um fato tão banal – aprópria realidade – que parece inquestionável, já venha carregado deinterpretações milenares. Afinal, quem nos garante que o céu não cairásobre nossas cabeças? Onde foi que aprendemos sobre trovões, raiose água como fenômenos físicos e não como manifestação da ira ou dagenerosidade dos deuses?

(Nietzsche)

Com essas palavras o filósofo pretendeua) Assegurar a legitimidade das interpretações teóricas.b) mostrar a consistência das explicações religiosas acerca dos

fenômenos naturais.c) revelar a real causa dos fenômenos naturais.d) questionar a preocupação humana de teorizar os eventos. e) contrariar as teorias científicas que tentam explicar os fenômenos

sobrenaturais.

12.Assinale a alternativa que completa corretamente a frase abaixo.O Estado, diz Nietzsche, está sempre interessado na formação decidadãos obedientes e tem, portanto, tendência a impedir o desenvolvi -mento da cultura livre, tornando-a estática e estereotipada. Ao contrário

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1) D

2) C

3) E

4) A Vontade, no entendimento de Schopenhauer, não é um

princípio racional, mas um impulso irracional e cego que

conduz ao “instinto” de preservação. Trata-se de uma força

da natureza e universal. O homem, porém, tenta encobrir a

irracionalidade dessa força, conferindo causalidade a seus

atos. Portanto, a Vontade constitui, igualmente, a causa de

todo sofrimento, uma vez que lança os entes em uma cadeia

perpétua de aspirações sem fim, o que provoca a dor de

permanecer algo que jamais consegue completar-se. Assim, o

prazer consiste apenas na supressão momentânea da dor.

5) D

6) A

7) A

8) C

9) B

10) A

11) D

12) A

13) A Seicho-no-ie é uma respeitável filosofia espiri tualista

sincretista, baseada em fundamentos reli giosos, de origem

japonesa. Prega a gratidão à família e a Deus e o poder da palavra

e do pensamento positivo como meio para alcançar a felicidade.

No texto, observa-se uma antropologia da criaturidade, ou seja, vê-

se o Homem sobrevalorizado sob a crença de que se trata de uma

criação privilegiada de Deus. Em matéria de filosofia, essa

concepção, portanto, aproxima-se de uma visão metafísica, em que

o homem é portador de uma essência ou origem divina.

Friedrich Wilhelm Nietzsche foi um filósofo alemão que viveu na

segunda metade do século XIX. Nietzsche era um pensador ateu e

um fervoroso opositor das concepções metafísicas, embora tivesse,

na sua ju ventude, iniciado estudos em teologia protestante. Trata-

se de um pensador trágico e isso, em filosofia, significa que não

haveria um sentido moral no Uni verso, sendo a origem do homem

um mero acidente no processo de formação e evolução casual do

Uni verso. Nesse sentido, percebe-se uma diluição violenta do

antropocentrismo da concepção criacionista. Por outro lado,

enquanto a teologia e o pensamento reli gioso chegaram a criar

uma cultura mais teocêntrica no passado (Idade Média), a

modernidade estabeleceu uma cultura antropocêntrica, uma vez

que, sobretudo no Iluminismo, sobrevalorizou-se a razão humana.

Não é o caso específico de Nietzsche, pois trata-se de um pensador

que relativizou as concepções ilu ministas. Porém, esse filósofo

alemão também valo rizou a condição humana a partir de uma

concepção hedonista, que proclama o prazer como fim supremo

da vida.

disso, o Estado deveria ser apenasa) um meio para a realização da cultura e para fazer nascer o além-do-

homem. b) um regulador das relações sociais.c) um orientador da ética humana e exemplo de civilidade.d) um organizador da educação e saúde públicas.e) o detentor dos meios de produção.

13.(UNESP) –

Texto 1

O ser humano é a flor do céu que desabrochou na Terra. Suasemente foi plantada por Deus, sua bela imagem foi projetada por Deuse seu perfume agradável foi também presenteado por Deus. Nãodevemos perder essa bela imagem nem o agradável perfume. Nossobelo desabro char é a manifestação da glória de Deus.

(Seicho-no-ie do Brasil. Palavras de luz, 2013.)

Texto 2

Em algum remoto rincão do universo cintilante que se derrama emum sem-número de sistemas solares, havia uma vez um astro em queanimais inteligentes inventaram o conhecimento. Foi o minuto maissoberbo e mais mentiroso da “história universal”: mas também foisomente um minuto. Passados poucos fôlegos da natu reza, congelou-se o astro e os animais inteligentes ti veram de morrer. – Assim poderiaalguém inventar uma fábula e nem por isso teria ilustradosuficientemente quão lamentável, quão fantasmagórico e fugaz, quãosem finalidade e gratuito fica o intelecto humano dentro da natureza.Houve eternidades em que ele não estava; quando de novo ele tiverpassado, nada terá acontecido.

(Friedrich Nietzsche. Sobre verdade e mentira no sentido extramoral. Adaptado.)

Os textos citados apresentam concepções filosóficas distintas sobre olugar do ser humano no universo. Discorra brevemente sobre essasdiferenças, considerando o teor antropocêntrico dos textos.

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MÓDULO 9 O Homem: quem é ele? O Homem concreto e o existencialismo

1. Introdução

Definir o ser humano é o objetivo da antropologiafilosófica. Todo conhecimento produzido, em qualquerárea, em qualquer época, tem implícita uma concepçãode homem. Toda obra de arte, reflexão ou ação trazsubjacente essa grande questão, que não pode serabandonada sem o risco de desperdiçar uma atividadeexclusiva da criatura humana – a capacidade de refletirsobre sua própria essência e existência.

Leonardo da Vinci. O homem visto como objeto do conhecimento.

2. Três Principais Concepções

Encontramos três principais concepções de homemnas tradições filosóficas: a concepção metafísica, anaturalista e a histórico-social. Em geral, pensadoresoptam por uma delas, excluindo as demais; o que énatural, porque tais concepções parecem contradizer-semutuamente. Porém, não podemos esquecer que ohomem pode ser definido por uma complexidade dedimensões, o que nos permite afirmar que certasdefinições de ser humano sejam complementares.

A concepção metafísica vê o homem a partir de umaessência imutável, apesar da distinção entre os homens.Baseada no platonismo, essa ideia predominou na IdadeMédia e permanece válida para o pensamento religioso eteológico. Entende-se com ela que há um modelo dehomem e que somos as variações desse modelo.

A concepção naturalista, forte na Idade Moderna, éfruto das descobertas científicas e do pensamento deDescartes e Locke. O homem é definido a partir de suadualidade psicofísica, ou seja, a partir de uma substânciapensante e outra biológica ou corporal. O homem torna-se produto das determinações naturais e não é per cebidocomo ser autônomo, capaz de gerir seu destino.

A terceira concepção, a histórico-social, entende ohomem como um processo, valorizado na sua existênciapessoal e concreta. Vê-se, então, o homem como alguémno espaço e no tempo, marcado pela singu laridade e pelapossibilidade de realização. O homem enquanto processoimplica a marca do inacabamento, pois não se nascepronto, não se “nasce homem”. Nesse sentido, édescoberto o ser social e podemos afirmar que ahumanidade constrói, ou inverte, sua própria humanidade.

Charles Darwin desenvolveu a teoria da evolução da espécie humana.

3. A Condição Humana

Conhecer o homem não é separá-lo do Universo, massituá-lo nele. (...) todo conhecimento, para ser pertinente,deve contextualizar seu objeto. “Quem somos nós?” é

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inseparável de “Onde estamos, de onde viemos, paraonde vamos?”. Pascal já nos havia situado, corretamente,entre dois infinitos, o que foi amplamente confirmado noséculo XX pela dupla evolução da Microfísica e daAstrofísica. Conhecemos hoje nosso duplo enraizamento:no cosmo físico e na esfera viva.

Claro, novas descobertas ainda vão modificar nossoconhecimento, mas, pela primeira vez na História, o serhumano pode reconhecer a condição humana de seuenraizamento e de seu desenraizamento.

Em meio à aventura cósmica, no extremo doprodigioso desenvolvimento de um ramo singular de auto-organização viva, prosseguimos, à nossa maneira, naaventura da organização. Essa época cósmica daorganização, incessantemente sujeita às forças dadesorganização e da dispersão, é, também, a época dareunião, e só ela impediu que o cosmo se dispersasse edesaparecesse, tão logo acabara de nascer. Nós, viventes,e, por conseguinte, humanos, filhos das águas, da Terra,e do Sol, somos um feto da diáspora cósmica, algumasmigalhas da existência solar, uma ínfima brotação daexistência terrestre (...).

Os novos conhecimentos, que nos levam a descobriro lugar da Terra no cosmo, a Terra-sistema, a Terra-Gaia oubiosfera, a Terra-pátria dos humanos, não têm sentidoalgum enquanto isolados uns dos outros. A Terra não é asoma de um planeta físico, de uma biosfera e dahumanidade. A Terra é a totalidade complexa físico-biológico-antropológica, onde a vida é uma emergênciada história e da vida terrestre. A relação do homem coma natureza não pode ser concebida de forma redu cionista,nem de forma disjuntiva. A humanidade é uma entidadeplanetária e biosférica (...). Tudo isso nos coloca diante docaráter duplo e complexo do que é humano: ahumanidade não se reduz absolutamente à animalidade,mas, sem animalidade, não há humanidade (...)

O ser humano nos é revelado em sua complexidade:ser, ao mesmo tempo, totalmente biológico e totalmentecultural.

MORIN, Edgar. A Cabeça Bem-feita.

São Paulo: Bertrand Brasil, 17 ed. 2010.

4. Paradoxo

O ser humano é ambivalente. Conhecido e estranho,próximo e distante, transparente e opaco. O ser humanocanta e protesta, dança e agride, congrega e dispersa (...).O ser humano expande-se festivamente e tranca-seamargamente. É lógico e ilógico.

O ser humano é linguagem pluriforme. Fala e silencia,grita e emudece, gargalha e enclausura-se. O ser humanoé palavra ofertada e palavra recusada. E recusar a palavraaos outros é rejeitá-los. O ser humano é fonte exuberantede comunicação, e também núcleo rígido de

incomunicação. Comunicabilidade e Incomu nica bilidadesão duas faces do existir humano. O ser humano édiálogo fecundo e monólogo estéril (...).

O ser humano é fértil em criações. Cria vida, saúde,pão, paz, ciência e tecnologia. Mas o ser humano étambém niilista. Incinera o mundo. Basta ver a guerra. Oser humano constrói maravilhas, mas também podearrasá-las. Planta semente e desintegra a germinação. (...)

O ser humano sente necessidade de convivênciasocial e solidariedade. Mas é também antissocial. Adiscriminação, o fanatismo e o sectarismo esfiapam otecido da sociabilidade. (...) O ser humano cativa comafeição e algema com servidão. (...)

O ser humano é oscilante. É paradoxo. Avança erecua, atrai e expulsa, ergue-se e recai, edifica e pulveriza,arrisca-se e amoita-se. O ser humano não é apenasherança. É decisão. É gênese existencial. É conquista detodos os dias. Lidar com o ser humano é lidar com oparadoxo. (...)

Para compreender o ser humano é preciso vê-locomo processo, como fenômeno em andamento. A visãofixista estratifica o ser humano e mumifica-lhe o realsignificado. O ser humano pulsa, está em mutação. Écachoeira de decisões. Jamais concluído.

ARDUINI, Juvenal. Ousar para Reinventar a Humanidade. São Paulo: Paulus, 2002.

Glossário

Paradoxo: contradição.Pluriforme: de formas múltiplas, diferentes faces.

Sobre Edgar Morin

Sociólogo e filósofo francês pesquisador emérito doCNRS (Centre National de La Recherche Scientifique).Formado em Direito, História e Geografia, iniciou-se naFilosofia, na Sociologia e na Epistemologia. É autor demais de 30 livros, entre eles: O método; Introdução aopensamento complexo; Ciência com consciência; e Ossete saberes necessários para a Educação do futuro.Durante a Segunda Guerra Mundial, participou daResistência Francesa. É considerado um dospensadores mais importantes do século XX. Entre suasobras, destacam-se Cultura de Massas no Século XX ePara sair do século XX.

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O HOMEM CONCRETO E O EXISTENCIALISMO

5. Introdução

O século XX assistiu ao advento de vários movi -mentos intelectuais inovadores, com destaque para oestruturalismo e o existencialismo. No primeiro, o homemé percebido como determinação da estrutura social,cultural e histórica; no segundo, como um projeto, um sercondenado a ser livre, como diria o existencialista JeanPaul Sartre (1905-1980). Tais concepções foram influen -ciadas pelo marxismo europeu, que via a cultura comoproduto de determinações históricas do processoeconômico, mas que também via no homem o agentecapaz de atuar na História pela vontade política.

Michelangelo, A Criação de Adão (detalhe).

6. Texto Filosófico

O existencialismo

(...) Para o existencialismo, o homem não é o seupróprio fim, uma vez que não existe senão enquanto seprojeta para além de si mesmo. Segundo oexistencialismo, o homem existe antes de ser. O homemdeve dar à sua existência um sentido, uma vez que não ésenão aquilo que ele próprio faz de si mesmo; ser éescolher-se através de um livre compromisso. O homemé “liberdade absoluta”: “está condenado a ser livre”.Desta situação resulta a angústia como experiênciametafísica consubstanciada no sentimento da possibili -dade de o homem perder a sua própria existência; atravésda angústia, o homem experiencia o nada e pressente aincerteza das escolhas que o conduzirão ao ser. Aexistência é lançada num total abandono de si mesma;isto equivale a dizer que é absoluta liberdade, na medidaem que depende exclusivamente de si. Liberdadesignifica, assim, contingência absoluta e, através dela,define-se o ser da existência. Daqui se conclui que a

existência nunca poderá ser apreendida senão sob aforma de uma história; em cada instante, o homem estácondenado a inventar o homem. O existen cialismo é,assim, uma filosofia que tem como objetivo a análise e adescrição da existência concreta considerada como atode uma liberdade, que se constitui afirmando-se e quetem unicamente como gênese ou fundamento estaafirmação de si.

Esta corrente filosófica desenvolveu-se, na Europa,entre as duas guerras mundiais; constitui uma reaçãocontra todas as formas de alienação do homem; este nãoé um mero ente, mas antes um existente. Não é algo quepossa ser determinado objetivamente; o seu ser é umconstituir-se contínuo de si mesmo. O homem não é,pois, nenhuma substância, susceptível de ser determi -nada objetivamente. No processo da sua constituiçãoexistencial, o homem pode gerar o âmbito de inteligibi -lidade que lhe permitirá compreender-se a si mesmo e àsua situação com os outros, no mundo.

O existencialismo é, primordialmente, um modo deentender a existência enquanto existência humana; a suaatenção centra-se na análise da existência. Este vocábulodesigna o modo de estar-no-mundo do próprio homem;enquanto existência, o homem está sempre ligado aomundo. O mundo manifesta-se nas estruturas queconstituem o homem como existência; mas o homemestá intimamente ligado aos outros homens. Se aexistência se refere sempre a uma situação, também acoexistência, a comunicação e a alteridade constituemuma referência fundamental do homem: existir é sempreser-com. Pour-soi, em Sartre, Existenz, em K. Jaspers,Dasein, em Heidegger, são termos que traduzem aexistência concreta que não se pode captar pela razão. Aexistência é uma realidade individual, singular, subjetivae finita que não se define nem se traduzconceptualmente. Esta filosofia dirige-se ao existentesingular em ordem a compreendê-lo como possibilidadee como projeto; neste sentido, a existência estáintimamente ligada à temporalidade.

O existencialismo surgiu como reação contra asconstruções filosóficas sistemáticas que dissolviam ohomem na série das abstrações, despersonalizando-o; é,por outro lado, uma reação contra os resultados dasciências positivas que estudaram o homem em váriosdomínios, perdendo de vista a unidade da sua realidadeconcreta, enquanto autor de um destino individual;constitui também uma reação perante uma sociedadecada vez mais orientada pela técnica que dissolveu ohomem num complexo de funções; foi por isso que oexistencialismo assumiu uma forma de humanismo,apontando para uma valorização pessoal e responsável dohomem através de uma abertura temporal para o mundoem moldes exclusivamente terrenos, negadores dequalquer Transcendência (existencialismo fechado –

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Sartre), ou admitindo uma abertura ao Absoluto(existencialismo aberto – G. Marcel, K. Jaspers).Kierkegaard procurou a valorização do homem numsentido espiritualista, mas em nítida oposição a Hegel;Nietzsche, num sentido materialista.

O existencialismo é uma corrente caracterizada porum irracionalismo extremo, ao chamar a atenção para ainsuficiência dos processos da razão na compreensão dosproblemas especificamente humanos, contribuindo parasuscitar um novo conceito de razão, abrindo novoscaminhos para a ontologia.

A caracterização fundamental do existencialismoreside, assim, na análise da existência na modalidade deser-aberto-para-as-coisas-do-mundo, no qual essas coisasse consciencializam; tal existência é o homem concreto,em situação, aberto para as coisas do mundo e para osoutros homens. Esta existência cria a sua própriaessência num desenvolvimento livre através do tempo.A existência não é uma atualidade absoluta, masessencialmente temporal; está lançada para fora de sinuma construção de si mesma e do seu mundo.Ganhando consciência de si e das suas possibilidades, aexistência só é autenticamente na sua temporalização. Aprioridade da existência sobre a essência significa que aexistência não tem essência distinta dela mesma, ou seja,que esta essência não é mais do que a manifesta ção daspossibilidades da existência desenvolvidas através dotempo. Na sua realização, a existência depende exclusi -vamente de si mesma e, por isso, é essencialmente

liberdade; neste seu desenvolvimento livre, éresponsável, devido ao seu compromisso com os outrosna realidade concreta do viver; daqui brota a angústia, ainsegurança e a inquietação. Só o homem é capaz desta“ex-sistência”; por isso, o existencialismo é uma filosofiado homem e, neste sentido, um humanismo.

Uma característica comum a todas as filosofias daexistência reside no fato de repousarem na vivênciapessoal da existência. Esta não se pode captar pela razão,referida ao geral e constituindo um sistema. As filosofiasda existência dirigem-se, assim, ao existente singular,mas não como fato empírico nem como ideia abstrata;propõem-se compreendê-lo como possibili dade no serprofundo donde são extraídas as suas realizações; ohomem não está encerrado em si mesmo; comorealidade inacabada, está intimamente ligado ao mundoque se manifesta nas estruturas que constituem ohomem como existência; mas estas estruturas são osmodos possíveis de relacionamento do homem com omundo.

As principais categorias das filosofias existenciais quepassaram para a literatura existencialista são asubjetividade, a temporalidade, o nada, a angústia, acomunicação, o paradoxo, a ambiguidade, a contin gên -cia, a autenticidade, a liberdade, a alienação, a escolha, adecisão, a situação, o compromisso, o estar-no-mundo, amorte, o fazer-se a si mesmo, o fracasso e a esperança.

(Cassiano Reimão – filósofo português)

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1. O homem é “liberdade absoluta”: “está condenado a ser livre”.Dessa situação, resulta a angústia como experiência metafísicaconsubstanciada no sentimento da possibilidade de o homem perder asua própria existência; por causa da angústia, o homem experiencia onada e pressente a incerteza das escolhas que o conduzirão ao ser. Aexistência é lançada num total abandono de si mesma; isso equivale adizer que é absoluta liberdade, na medida em que depende exclusi -vamente de si.De acordo com o texto:I. Liberdade é o contrário de angústia.II. A liberdade representa a condição primeira do homem.III. A angústia é causada pela incerteza diante das escolhas e essas

resultam da nossa liberdade.IV. O homem concreto não tem chances de escolha e por isso

experien cia a angústia.

São coerentes:a) apenas I e III. b) apenas II e IV. c) apenas I e IV. d) apenas III e IV. e) apenas II e III.

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

2. (UFU) – Segundo Jean Paul Sartre, filósofo existencialistacontemporâneo, liberdade éI. escolha incondicional que o próprio homem faz de seu ser e de seu

mundo.II. aceitar o que a existência determina como caminho para a vida do

homem.III. sempre uma decisão livre, por mais que se julgue estar sob o poder

de forças externas.IV. estarmos condenados a ela, pois é a liberdade que define a

humanidade dos humanos.Assinalea) se apenas I e IV estiverem corretas.b) se apenas II e III estiverem corretas.c) se apenas I, II e IV estiverem corretas.d) se apenas III e IV estiverem corretas.e) se apenas I, III e IV estiverem corretas.

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

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3. (UFU) – Liberdade, para Jean Paul Sartre (1905-1980), seria assimdefinida:a) o estar sob o jugo do todo para agir em conformidade consigo

mesmo, instaurando leis e normas necessárias para os indivíduos.b) circunstâncias que nos determinam e nos impedem de fazer

escolhas de outro modo.c) conformação às situações que encontramos no mundo e que nos

determinam.d) escolha incondicional que o próprio homem faz de seu ser e de seu

mundo. “Estamos condenados à liberdade”, segundo o autor.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

4. (UFU) – O nada, impensado para Parmênides, encontrou em Sartrevalor ontológico, pois o nada é o ponto de partida da existência humana,uma vez que não há nenhuma anterioridade à existência, nem mesmouma essência. Essa tese apareceu no livro O Ser e o Nada. Tal afirmaçãoencontra-se também em outro livro, O existencialismo é umhumanismo, no qual está escrito:“Porém, se realmente a existência precede a essência, o homem éresponsável pelo que é. Desse modo, o primeiro passo doexistencialismo é o de pôr todo homem na posse do que ele é, desubmetê-lo à responsabilidade total de sua existência.”

SARTRE, J.P. O existencialismo é um humanismo. Trad. de RitaCorreia Guedes. São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 6. Coleção Os

Pensadores.

A responsabilidade para Sartre diz respeitoa) ao indivíduo para consigo mesmo, já que o existencialismo é

dominado pelo conceito de subjetividade que restringe o sujeito daação à sua esfera interior, circunscrita pelas suas representaçõesarbitrárias, que exclui o outro; toda escolha humana é a escolha porsi próprio.

b) ao vínculo entre o indivíduo e a humanidade, já que para o existen -cialista, cada um é responsável por todos os homens, pois, criando ohomem que cada um quer ser, estaremos sempre escolhendo o beme nada pode ser bom para um, que não possa ser para todos.

c) à imagem de homem que pré-existe e é anterior ao sujeito da ação.É uma imagem tal qual se julga que todos devam ser, de modo queo existencialismo, em virtude da sua origem protestante comKierkegaard, renova a moral asceta do cristianismo, que exige aanulação do eu.

d) ao partido político que tem a primazia na condução do processo deedificação da nova imagem de homem comprometido com arevolução e que faz de cada um aquilo que deverá ser, tal como ficoucélebre no mote existencialista: o que importa é o resultado daquiloque nos fizeram.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

5. O existencialismo foi uma corrente de pensamento que fez dohomem efetivamente existente o centro e o núcleo das questõesfilosóficas, e o ponto de partida para a Ontologia; um dos seus maisconhecidos criadores e pensadores, o francês Jean Paul Sartre, a) rejeita toda e qualquer dependência da filosofia de Heidegger. b) não aceita a metodologia fenomenológica e prefere um discurso

filosófico mais próximo do dramático. c) considera que a existência de Deus é a garantia da plena liberdade

humana. d) define o ser humano como um ser em projeto, inacabado, que se

completa nas suas relações de solidariedade com os outros. e) argumenta que a essência do ser para si é sua própria existência.

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

6. Em seu tratamento da liberdade, Sartre afirma que esta é um projetoe não um dado da realidade, sendo necessária uma preocupação com oque o autor chama de má fé. Considerando-se a ideia de má fé e de suas consequências para aliberdade, é incorreto afirmar: a) Agir em má fé consiste em viver na seriedade. b) Agir em má fé representa virar as costas à escolha de si mesmo. c) Agir em má fé representa uma afirmação do sujeito. d) Agir em má fé significa uma fuga à responsabilidade da decisão livre. e) Agir em má fé representa identificar-se com o ser.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

90 –

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1. Essa concepção vê o homem a partir de uma essência imutável,apesar da distinção entre os homens. Baseada na concepção platônica,essa concepção predominou na Idade Média e permanece válida para opensamento religioso e teológico. Entende-se aqui que há um modelode homem e somos as variações desse modelo.

Trata-se da concepção do homem:a) metafísico.b) histórico.c) concreto.d) naturalista.e) existencial.

2. Tal concepção de homem é fruto das descobertas científicas e dopensamento de Descartes e Locke. O homem é definido a partir de suadualidade psicofísica, ou seja, a partir de uma substância pensante eoutra biológica ou corporal. Trata-se da concepção de homem:a) existencial.b) concreto.c) naturalista.d) metafísico.e) histórico.

3. Essa concepção entende o homem como um processo, valorizadona sua existência pessoal e concreta. Vê-se aqui o homem como alguémno espaço e no tempo, marcado pela singularidade e pela possibilidadede realização. O homem enquanto processo implica a marca doinacabamento, pois não se nasce pronto, não se nasce homem. Trata-se:a) da concepção metafísica.b) da concepção religiosa.c) da concepção naturalista.d) da concepção estruturalista.e) da concepção histórico-social.

4. Conhecer o homem não é separá-lo do Universo, mas situá-lo nele.(...) todo conhecimento, para ser pertinente, deve contextualizar seuobjeto. “Quem somos nós?” é inseparável de “Onde estamos, de ondeviemos, para onde vamos?”. (E. Morin)Com essas palavras, Edgar Morin deseja expressar seu conceito de:a) Complexidade.b) Realidade.c) Enraizamento.d) Transdisciplinaridade.e) Transbordamento.

5. “Os novos conhecimentos, que nos levam a descobrir o lugar daTerra no cosmo, a Terra-sistema, a Terra-Gaia ou biosfera, a Terra-pátriados humanos. Não tem sentido algum enquanto isolados uns dosoutros. A Terra não é a soma de um planeta físico, de uma biosfera e dahumanidade. A Terra é a totalidade complexa físico-biológico-antropológica, onde a vida é uma emergência da história e da vidaterrestre”. (E. Morin)Sobre o texto de Morin, é possível deduzir que:I. O texto defende a ideia de que o conhecimento deve ser disjuntivo,

fragmentado e especialista para melhor refletir a complexidade domundo real.

II. O fragmento do texto revela uma preocupação ambiental, tônica dafilosofia de Morin.

III. Há, para o autor, uma relação estreita entre conhecimento eresponsabilidade ética.

São verdadeiras apenas:a) I e II. b) I e III. c) II e III. d) I. e) II.

6. “A humanidade é uma entidade planetária e biosférica (...). Tudo issonos coloca diante do caráter duplo e complexo do que é humano: ahumanidade não se reduz absolutamente à animalidade, mas, semanimalidade, não há humanidade”. (Morin)O pensador Edgar Morin expressou nessas palavras:a) uma contradição de seu pensamento, pois o autor confundiu os

conceitos de humanidade e animalidade.b) uma visão do desenraizamento do ser humano diante do mundo.c) uma tendência a valorizar o lado animal do ser humano, correndo o

risco de afastar-se de uma visão humanista e espiritual.d) a complexidade da condição humana e uma evocação à condição

planetária, o que nos conduz a uma preocupação ética. e) um paradoxo, pois o ser humano não porta coerência em qualquer

ocasião e sua condição própria é a de ser exilado do planeta.

7. “O ser humano nos é revelado em sua complexidade: ser, ao mesmotempo, totalmente biológico e totalmente cultural”. (Edgar Morin) Dessaideia, pode-se deduzir com coerência que:a) O homem é cem por cento natural e cem por cento cultural. O que

mostra que a divisão do mundo humano em natureza e cultura, paraesse pensador, é relativa.

b) O homem é complexo porque é um produtor de cultura.c) Diferentemente dos outros animais, o homem revela uma comple -

xidade que torna difícil estudar sua natureza biológica e cultural.d) O ser humano goza de um aparelho biológico cem por cento

funcional.e) O ser humano é capaz de aperfeiçoar sua natureza por intermédio da

cultura, graças à complexidade de sua condição.

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8. “A Terra não é a soma de um planeta físico, de uma biosfera e dahumanidade. A Terra é a totalidade complexa físico-biológico-antropológica, onde a vida é uma emergência da história e da vidaterrestre”. (Morin)Ao afirmar que a Terra não é a soma dos elementos, mas a totalidadecomplexa, Morin pretendeu:a) Confirmar o caráter de unidade fechada entre os elementos queconstituem o planeta.b) Valorizar o elemento ecológico sobre o humano, pois esse não é

elemento central nas relações.c) Mostrar o caráter sistêmico do planeta, pois os elementos que o

constituem se encontram em relação dinâmica de interação.d) Indicar o caráter de isolamento e independência entre os elementos

que constituem o planeta.e) Mostrar que as relações entre os elementos são carentes de uma

dinâmica própria e por isso existem problemas ambientais.

9. “Conhecido e estranho, próximo e distante, transparente e opaco. Oser humano canta e protesta, dança e agride, congrega e dispersa (...).O ser humano expande-se festivamente e tranca-se amargamente. Élógico e ilógico. O ser humano é linguagem pluriforme. Fala e silencia,grita e emudece, gargalha e enclausura-se. O ser humano é palavraofertada e palavra recusada”.

(Juvenal Arduini)

O autor do texto acima faz referência:a) à coerência da condição humana.b) à impossibilidade de se fazer uma antropologia filosófica.c) ao caráter dinâmico da existência humana.d) à divisão do mundo entre homens bons e maus.e) ao caráter ambivalente do ser humano.

10. Esta concepção vê o homem como determinação de processosculturais, sociais e históricos. Trata-se do (a):a) Estruturalismo.b) Existencialismo.c) Concepção metafísica.d) Concepção naturalista.e) Racionalismo.

11.Essa concepção vê o homem como um projeto, um ser condenadoa ser livre, como diria o filósofo Jean Paul Sartre (1905-1980). O homemseria um vir-a-ser, uma possibilidade aberta de realização. Trata-se da(o):a) Essencialismo.b) Estruturalismo.c) Existencialismo.d) Concepção metafísica.e) Concepção naturalista.

12.“Para o existencialismo, o homem não é o seu próprio fim, uma vezque não existe senão enquanto se projeta para além de si mesmo.”Assinale as opções relacionadas com a frase acima.I. O homem é essência e o seu conceito abstrato permite o conheci -

mento de todos os homens existentes.II. A existência precede a essência.III. O homem é um ser que só existe em relação com os outros.São corretas apenas:a) I e II. b) I e III. c) II e III. d) I. e) III.

13. O homem para Sartre não pode ser ora livre, ora escravo. Ele étotalmente e sempre livre, ou não o é. A liberdade não é alguma coisaque é dada, mas resulta de um projeto de ação. É uma árdua tarefa cujosdesafios nem sempre são suportados pelo homem, daí resultando osriscos de perda de liberdade pelo homem que se acomoda não lutandopara obtê-la. (Dora Lúcia Alcântara)Para o filósofo existencialista Sartre, a condição humana éa) marcada pela liberdade, condição que lhe garante satisfação e

segurança.b) marcada pela escravidão, pois homem algum é de fato livre.c) marcada pela liberdade que é dada naturalmente, nunca ameaçada

por qualquer circunstância.d) marcada ora pela liberdade, ora pela escravidão, dependendo da

condição econômica.e) marcada pela liberdade, que é causadora de angústia.

14.“Esta corrente filosófica desenvolveu-se, na Europa, entre as duasguerras mundiais; constitui uma reação contra todas as formas dealienação do homem; este não é um mero ente, mas antes umexistente. Não é algo que possa ser determinado objetivamente; o seuser é um constituir-se contínuo de si mesmo. O homem não é, pois,nenhuma substância, susceptível de ser determinada objetivamente.”Sobre isso, analise as colocações abaixo:

I. Trata-se do estruturalismo.II. Para essa concepção, a essência precede a existência.III. Não é possível apreender o homem a partir de uma abstração

conceitual.IV. O homem é um projeto e tem a possibilidade de dirigir a sua própria

existência.São corretas:a) I e II. b) I e III. c) II. d) II e IV. e) III e IV.

15.Sobre o existencialismo, analise as colocações abaixo:I. O existencialismo é, primordialmente, um modo de entender a

existência enquanto existência humana; a sua atenção centra-se naanálise da existência.

II. O vocábulo “existência” designa o modo de estar-no-mundo dopróprio homem; enquanto existência, o homem está sempre ligadoao mundo.

III. O mundo manifesta-se nas estruturas que constituem o homemcomo existência; mas o homem está intimamente ligado aos outroshomens.

IV. Jean Paul Sartre foi um grande opositor desse pensamento.São verdadeiras apenas:a) I, II e III. b) I, III e IV. c) III e IV. d) II, III e IV. e) II e III.

16.O existencialismo é, assim, uma filosofia que tem como objetivo aanálise e a descrição da existência concreta considerada como ato deuma liberdade que se constitui afirmando-se e que tem unicamentecomo gênese ou fundamento esta afirmação de si. O termo aquiempregado de existência concreta significaa) essência humana.b) natureza humana.c) alma humana.d) relações humanas e sociais.e) singularidade humana.

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17.O existencialismo surgiu como reação contra a) as construções filosóficas sistemáticas que dissolviam o homem na

série das abstrações, despersonalizando-o.b) as tendências que veem o homem como realidade concreta e

singular.c) as construções teóricas que tomaram o homem como ser para a

liberdade.d) as escolas filosóficas que entendiam o homem como ser histórico e

sujeito-autor de sua biografia.e) a visão de homem como ser lançado na contingência absoluta.

18.A valorização da singularidade, da temporalidade, da vivência pessoalacima dos sistemas filosóficos, a visão de homem como existênciaconcreta, inacabada e como projeto. Esse aspecto faz do existencialismoa) uma filosofia pessimista.b) uma filosofia pouco realista.c) uma visão conservadora em termos políticos.d) um humanismo.e) uma retomada da concepção metafísica.

19.Para a filosofia existencial, a existência é lançada num total abandonode si mesma. Isso significa que o homem é um ser solitário?a) Sim, pois o homem é tomado como ser absolutamente singular e

único.b) Sim, pois o homem é percebido como ser suficiente e completo.c) Não, pois o homem é percebido como essência universal.d) Sim, pois o existencialismo não vê o homem como ser social.e) Não, pois se a existência se refere sempre a uma situação, também

a coexistência, a comunicação e a alteridade constituem umareferência.

20.Como podemos definir a concepção que Edgar Morin expõe sobreo homem?

21.Por que Juvenal Arduini intitula seu texto de Paradoxo?

22.Segundo o texto, a existência é lançada num total abandono de simesma. Isso significa que o homem é um ser solitário? Justifique.

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1) A 2)C 3) E 4) C 5) C

6) D 7)A 8) C 9) E 10) A

11) C 12)C 13)E 14)E 15)A

16) E 17)A 18)D 19)E

20) Morin tem um conceito complexo de ser humano. Ele o vê

como parte do cosmo ou do Universo. Percebe-se no texto

um apelo à responsabilidade ética perante a Terra, esboçando

uma preocupação ambiental e visão unitária entre homem e

natureza.

21) “Paradoxo” significa “contradição” e o autor tece o texto

abordando a dualidade do ser humano, visto como

contraditório, capaz de exaltar-se por uma existência nobre ou

rebaixar-se pela mediocridade.

22) Não, a condição de abandono refere-se ao fato de que o

homem é condenado a escolher e a assumir

responsabilidades, o que o angustia, mas o texto afirma que

o homem está intimamente ligado aos outros homens. Se a

existência se refere sempre a uma situação, também a

coexistência, a comunicação e a alteridade constituem uma

referência.

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1. Introdução

À filosofia sempre importou o problema da convi -vência humana. Esta resulta em relações de solidarie dadee conflitos e, por isso, implica uma dimensão moral eética. Mais do que um simples conjunto de regras sociais,a moral e a ética fazem emergir o bom senso e a aplicaçãoda experiência acumulada pelo indivíduo, pelacomunidade em que vive e pela história da humanidadecomo um todo.

As religiões desenvolveram códigos morais e éticos,mas, se de um lado elas pretenderam facilitar aconvivência, por outro, foram e são motivos de inúmerosconflitos entre diferentes grupos. Assim, quando se falaem ética ou em moral, não se está imune àscontrariedades e conflitos humanos, já que os homensportam experiências e culturas tão diversas. Além disso,há o problema dos interesses. Muitos guardam osinteresses pessoais acima dos coletivos; outros prezamapenas os interesses de classe, ou ainda, há os que secolocam os interesses do grupo específico acima doshumanitários. Tudo isso torna difícil a convivência entreos homens.

O homem é portador de um senso moral que lhe permite discernir oque é certo e o que é errado.

2. Moral e Ética

A confusão que acontece entre as palavras Moral eÉtica existe há muitos séculos. A própria etimologiadestes termos gera confusão, sendo que Ética vem dogrego “ethos”, que significa modo de ser, e Moral temsua origem no latim, que vem de “mores”, significandocostumes.

Esta confusão pode ser resolvida com o esclareci -mento dos dois temas, sendo que Moral é um conjuntode normas que regulam o comportamento do homem em

sociedade, e estas normas são adquiridas pela educa ção,pela tradição e pelo cotidiano. Durkheim explicava Moralcomo a “ciência dos costumes”, sendo algo anterior aprópria sociedade. A Moral tem caráter obrigatório.

Já a palavra Ética, Motta (1984) definiu como um“conjunto de valores que orientam o comportamento dohomem em relação aos outros homens na sociedade emque vive, garantindo, outrossim, o bem-estar social”, ouseja, Ética é a forma que o homem deve se comportar noseu meio social.

A Moral sempre existiu, pois todo ser humano possuia consciência Moral que o leva a distinguir o bem do malno contexto em que vive. Surgindo realmente quando ohomem passou a fazer parte de agrupamentos, isto é,surgiu nas sociedades primitivas, nas primeiras tribos. AÉtica teria surgido com Sócrates, pois se exige maior graude cultura. Ela investiga e explica as normas morais, poisleva o homem a agir não só por tradição, educação ouhábito, mas principalmente por convicção e inteligência.Vásquez (1998) aponta que a Ética é teórica e reflexiva,enquanto a Moral é eminentemente prática. Umacompleta a outra, havendo um inter-relacionamento entreambas, pois na ação humana, o conhecer e o agir sãoindissociáveis.

Em nome da amizade, deve-se guardar silêncio diantedo ato de um traidor? Em situações como esta, osindivíduos se deparam com a necessidade de organizar oseu comportamento por normas que se julgam maisapropriadas ou mais dignas de ser cumpridas. Tais normassão aceitas como obrigatórias, e desta forma, as pessoascompreendem que têm o dever de agir desta ou daquelamaneira. Porém o comportamento é o resultado denormas já estabelecidas, não sendo, então, uma decisãonatural, pois todo comportamento sofrerá um julgamento.E a diferença prática entre Moral e Ética é que esta é o juizdas morais, assim Ética é uma espécie de legislação docomportamento Moral das pessoas. Mas a funçãofundamental é a mesma de toda teoria: explorar,esclarecer ou investigar uma determinada realidade.

A Moral, afinal, não é somente um ato individual, poisas pessoas são, por natureza, seres sociais, assimpercebe-se que a Moral também é um empreendimentosocial. E esses atos morais, quando realizados por livreparticipação da pessoa, são aceitos, voluntariamente.Pois assim determina Vásquez (1998) ao citar a Moralcomo um “sistema de normas, princípios e valores,segundo o qual são regulamentadas as relações mútuasentre os indivíduos ou entre estes e a comunidade, de talmaneira que estas normas, dotadas de um caráterhistórico e social, sejam acatadas livres e consciente -mente, por uma convicção íntima, e não de uma maneiramecânica, externa ou impessoal”.

MÓDULO 10 Ética e Bioética

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Enfim, Ética e Moral são os maiores valores dohomem livre. Ambos significam "respeitar e venerar avida". O homem, com seu livre arbítrio, vai formando seumeio ambiente ou o destruindo, ou ele apoia a natureza esuas criaturas ou ele subjuga tudo que pode dominar, eassim ele mesmo se torna no bem ou no mal desteplaneta. Deste modo, Ética e a Moral se formam numamesma realidade.

(Thiago Firmino Silvano)

3. Texto Filosófico

Ética Pessoal e Ética Corporativa: limites e

desafios

Atualmente, a palavra “ética” tem se tornado uma“expressão” muito usada no cotidiano das pessoas, nasempresas e nas corporações, pela sua constanteexposição pela mídia e pelos impactos promovidos poresta. Mas afinal de contas, o que é a ética a que todos sereferem? O que é ética corporativa? De que maneira aética pessoal e a ética corporativa podem interagir?Buscamos respostas para estas questões paraverificarmos se de fato entendemos o que é a ética equais são algumas maneiras de aplicá-la.

Vivemos em uma sociedade onde temos liberdade deexpressão e pensamento. A expressão de um indiví duopode até ser contida, ao passo que o pensamento nãopode ser censurado, pode somente ser influenciado. Taisinfluências são provenientes do meio onde este indivíduovive, da sua cultura, da sua educação, da sua interaçãocom a sociedade, e de suas relações interpessoais. Aética adotada pode ser por ele mesmo modificada emrazão da mudança de valores e parâmetros que asustentava, assim sendo, o liberal do passado pode ser oconservador do futuro, e vice-versa. Um fato que éapreciado por mais de um telespectador, dificilmente seráinterpretado e valorado de forma idêntica por todos eles.Conforme diz o ditado “cada cabeça uma sentença”.

A ética pessoal funciona como uma bússola para umindivíduo, orientando-o a proceder conforme um juízo devalor pré-adotado por ele mesmo. A sua liberdade depensamento cria no íntimo de sua consciência umaespécie de “laboratório privado”, onde situações passampor análises internas que visam moldar sua concepçãosobre um determinado assunto. Este molde é o seu ponto

de vista, não necessariamente imutável e definitivo, poisa ética de interpretá-lo vai depender da ótica que oindivíduo estiver adotando. Em se tratando de limites nocampo da ética pessoal, podemos citar o respeito quedevemos ter à ética adotada pelo próximo, o respeito àdignidade humana e aos princípios de cada cultura. Temosque estar sempre atentos para não invadirmos a liberdadedo próximo, pois o que pode estar certo para você podenão estar para o outro.

A ética corporativa, por sua vez, abraça a ideia decoletividade. A ética de uma corporação é a maneira comoela deve proceder em sociedade, e o que a define ou aconstrói é a soma das éticas pessoais que a compõem.Sendo assim, a ética corporativa é formada por indivíduosunidos por um fim comum de pensa mentos e ideias, quepossuem uma mesma concepção no modo de realizá-los,estando sujeitos a “regula mentos” que vão fornecerprocedimentos adequados a serem seguidos. A buscapela ética nas empresas também impõe limites: aempresa realmente está adotando uma postura ética ouestá apenas fazendo um trabalho de marketing?Poderíamos citar inúmeros exemplos de empresas queajudam a sociedade nos mais variados programas, masmuitas vezes isso acaba sendo uma simples ação de seuinteresse próprio e não um trabalho social. Por outro lado,podemos dizer que algumas empresas de fatoapresentam uma boa conduta, estando preocupadas coma disposição correta de resíduos gerados por seusprocessos produtivos, na verificação de se os produtosque vêm desenvolvendo podem ser nocivos ao serhumano e ao meio ambiente, entre outros. Issocaracteriza corporações que dão exemplos à comunidadee aos seus colaboradores do que é ter uma boa condutaética. Uma das consequên cias positivas desta boaconduta é que essas pessoas, ao incorporarem a imagemcorreta de ética, estenderão esses conceitos para dentrode suas casas e continuarão dando bons exemplos paraa vizinhança próxima. Quando tratamos de corporaçõeséticas, podemos usar o jargão “o exemplo deve vir decima”. Se os superiores não realizam suas atividadesdentro dos padrões morais da sociedade, como elespoderão exigir que seus funcionários façam o mesmo?Este é um dos desafios que as corporações precisamenfrentar. É necessário que os seus superiores sejamexemplos, referências de boa índole, para que dessemodo todos os membros da corporação entrem no“espírito ético” da empresa.

WHITAKER coloca como objetivos dos códigos deética em Porque as empresas estão implantando códi gosde ética, como podemos “garantir homogeneidade naforma de encaminhar questões específicas” se até hojeexiste discriminação entre o alto escalão e o chão defábrica dentro das empresas? Verdade seja dita, nemtodas as censuras aplicadas a um valem para o outro.

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Enquanto para um uma situação pode ser permitida, parao outro pode significar uma demissão por justa causa. Eonde fica a ética? “Facilitar o desenvolvimento dacompetitividade saudável entre concorrentes”. Comoconseguir isso dentro do capitalismo selvagem que existehoje? Será que a solidariedade, a gentileza e a cortesiapodem ditar regras entre empresas que possuam omesmo mercado?

Dentro desses conceitos, como definir se umapessoa é ética? Como definir se uma corporação é ética?O que mencionamos pode criar indivíduos e corporaçõeséticas? A única certeza que podemos ter é a de que umasolução ideal não existe. Não há como criar uma cartilhaespecificando o que as pessoas devem ou não fazer noâmbito pessoal. Já no âmbito corporativo, podemos tentarrealizar algo nesse sentido, com a criação de um “códigode ética”, por exemplo. Fica claro que a empresa torna-seética perante a sociedade com as ações que citamosanteriormente, mas é necessário que as pessoas dentrodela possuam princípios e valores, que respeitem umasas outras e que saibam conviver em harmonia, sabendoseparar, através dos princípios e valores da corporação, oque é certo e o que é errado para o bem de todos quetrabalham naquele ambiente. É a interação entre as éticaspessoal e corporativa.

Ficam estas, entre tantas outras questões, paraserem pensadas e refletidas, a respeito da ética perfeitaque se tem em teoria, mas que na prática não funciona damesma maneira. Os limites e desafios de fato existem,mas há que se buscar uma convergência ética pessoal ecorporativa verdadeira para que as empresas não soframos mesmos “efeitos colaterais” que empresas sofreramno passado.

(Julianne O. Capucho e Manoel Flávio Leal)

Autoética

Minha autoética baseia-se sobretudo na “fé” no amor,

na compaixão na fraternidade no perdão e na redenção

que marcou minha adolescência. Mas minha

“fé” na redenção é desde então estritamente individual.

(Edgar Morin)

4. Introdução

Autoética é um termo criado pelo pensador francêscontemporâneo Edgar Morin, pensador francês contem -porâneo, o maior expoente do chamado pensamentocomplexo.

Complexo vem de complexus, termo do latim quesignifica aquilo que é tecido junto, ou seja, o conjunto demuitos elementos, de várias partes, interdependentes eindissociáveis.

Morin identifica no mundo moderno uma forma de seproduzir conhecimento errado, pois é marcado pela

disjunção entre os saberes e, assim, produz-se conhe -cimento e ignorância simultaneamente. A ciência estáseparada da filosofia ou a especialização da reflexão; arazão da emoção ou do imaginário; cultura científica dahumanista, assim, as ciências naturais das humanas; aprosa da poesia, e a arte foi relegada a um plano de merafunção de entretenimento. O pensamento comple xopropõe uma religação dos saberes, sem negar aespecificidade de cada área, pretendendo construir umconhecimento transdisciplinar.

Morin também se preocupa com a dimensão ética doconhecimento e escreveu, entre outros tantos, o livroCiência com consciência. O pensador escreve e fala muitosobre ética, ampliando o conceito e devolvendo-lhe adimensão humanista, pois o termo ficou desgastado comas colocações formais e técnicas na área profissional epolítica.

Assim, Morin destaca a necessidade de reformar opensamento e a educação nas escolas e seus efeitos jáestão presentes no mundo todo, inclusive no Brasil, paísque visita com frequência. Ele pretende que a sociedadeproduza “cabeças bem feitas” no lugar de “cabeças bemcheias”, priorizando a qualidade e não a quantidade deconhecimento. Esse novo saber produziria, para o autor,pessoas responsáveis e capazes de atuar eticamente emsuas existências muito pessoais.

Escher. O desenho revela a noção de complexidade e mútuadeterminação.

5. Texto filosófico

Uma ética complexa

Eis, portanto, uma ética sem outro fundamento senãoela mesma, mas que precisa de apoios exteriores a elamesma: precisa se alimentar de uma fé, apoiar-se emuma antropologia e conhecer condições e situações emque é praticada.

É uma ética da compreensão. É uma ética que nãoimpõe uma visão maniqueísta do mundo. É uma éticasem salvação, sem promessa. É uma ética da comuni -dade de perdição.

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É uma ética que encontra em seu seio sempre aincerteza e a contradição. É uma ética do desafio. É umaética que nos reclama exigência conosco e indulgênciacom o outro, e não o inverso.

Na autoética, a consciência moral necessita, por umlado, de uma fé ou de uma mística que a inspirem, poroutro, o exercício permanente de uma consciênciaesclarecedora. A moral é uma iluminação que precisa seriluminada pela inteligência, e a inteligência é umailuminação que precisa ser iluminada pela moral. Daí osentido da frase de Pascal, “trabalhar para bem pensar,eis o princípio da moral”. A ética deve mobilizar ainteligência para enfrentar a complexidade da vida, domundo e da própria ética.

Assim, não é uma norma arrogante nem umevangelho melodioso o que anuncia a autoética que façominha: é o enfrentamento da dificuldade de pensar e deviver. O sentido que lhe darei, finalmente, se for precisoum termo que possa englobar todos os seus aspectos, éa resistência à crueldade do mundo.

(Edgar Morin)

Edgar Morin, o maior expoente da teoria da complexidade.

6. A reforma do pensamento

Moral, solidariedade, responsabilidade, não podemser ditas de forma abstrata; não podemos enfiá-las noespírito como empanturramos as aves para engordá-las.Elas devem ser induzidas pelo modo de pensar e pelaexperiência vivida. O pensamento que religa mostra asolidariedade dos fenômenos. O pensamento que nosreliga ao cosmo não nos reduz ao estado físico. Não, éum pensamento que nos mostra nossas origens físico-cósmicas. Ora, um pensamento que religa nos restitui asolidariedade. O que é que destrói a solidariedade e aresponsabilidade? É o modo compartimentado e parce -lado no qual vivem não somente os especialistas, técni -cos, experts, mas também aqueles que sãocompar ti mentados nas administrações e burocracias. Senós perdemos de vista o olhar em relação ao conjunto noqual trabalhamos e, bem entendido, a cidade na qualvivemos, nós perdemos de fato o senso de respon -sabilidade. A reforma do pensamento pode despertar asaspirações e o senso de responsabilidade inato em cadaum de nós, fazer renascer o sentimento de solidariedadeque se manifesta talvez particularmente em alguns, mas

que é latente em todo ser humano. A reforma do pensa -mento e a reforma do ensino não são os únicos ele -mentos que podem agir nesse sentido, mas representamum elemento constitutivo essencial. Uma segundaconsequência importante do ponto de vista ético é que opensamento transdisciplinar nos incita à ética dacompreensão. Um ser humano é uma galáxia; ele não éapenas extraordinariamente complexo, mas possui suamultiplicidade interior. Sem a compreensão, não hácivilização possível. Nós somos ainda bárbaros em relaçãoao processo e à ética da compreensão. Fenô menos debarbárie surgem em diversos pontos do globo; isso podeaparecer em nossa casa. No nosso país dito civilizado,sentimos ou pressentimos que as consequên cias éticasde uma reforma de pensamento são incalcu lá veis. É porisso que efetivamente nós nos damos conta de que areforma da Universidade traz em si as virtua lidades quetranscendem a reforma da Universidade em si mesma.

(Edgar Morin. Tradução: Prof.a Regina Ramos)

Glossário:

Maniqueísta: relativo ao maniqueísmo. O maniqueísmo éuma antiga doutrina religiosa do Oriente; hoje, forma dever o mundo sob a disputa de duas forças: a do bem e ado mal.

Sobre Edgar MorinSeu verdadeiro nome é Edgar Nahoum. Nasceu em Paris

em 8 de julho de 1921. É um sociólogo e filósofo francês deorigem judaico-espanhola (sefardita).

Pesquisador emérito do CNRS (Centre National de laRecherche Scientifique). Formado em Direito, História eGeografia se adentrou na Filosofia, na Sociologia e naEpistemologia. Um dos principais pensadores sobrecomplexidade. Autor de mais de trinta livros, entre eles: Ométodo, Introdução ao pensamento complexo, Ciência comconsciência e Os sete saberes necessários para a educaçãodo futuro. Durante a Segunda Guerra Mundial, participou daResistência Francesa. É considerado um dos pensa doresmais importantes do século XX.

Entre suas obras, destacam-se Cultura de massas noséculo XX e Para sair do século XX.

Na primeira das duas obras supracitadas divagamormente sobre três importantes aspectos da produ ção decultura no regime capitalista: a felicidade, o amor e ofeminismo.

Outra obra de destaque – especialmente de cunhoacadêmico pedagógico – é o livro A cabeça bem-feita:repensar a reforma, reformar o pensamento.

Dentre outros questionamentos formulados pelo autor nolivro, Morin afirma que, diante dos problemas complexos queas sociedades contemporâneas hoje enfrentam, apenasestudos de caráter inter-poli-transdisciplinar poderiam resultarem análises satisfa tórias de tais complexidades:

“Afinal, de que serviriam todos os saberes parciais senãopara formar uma configuração que responda a nossas expec -tativas, nossos desejos, nossas interrogações cognitivas?.”

MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 8.a ed. Rio de Janeiro:

Bertrand Brasil, 2003, p. 116.

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BIOÉTICA

7. Introdução

Bioética é uma palavra muito nova, formada por duasraízes gregas: bios (vida) + ethos (relativo à ética).Segundo Diniz & Guilhem, "(...) por ser a bioética umcampo disciplinar compromissado com o conflito moralna área da saúde e da doença dos seres humanos e dosanimais não humanos, seus temas dizem respeito asituações de vida que nunca deixaram de estar em pautana história da humanidade (...)"

Com o fim do Holocausto nazista da Segunda GrandeGuerra, surge no mundo a preocupação ética em relaçãoàs experiências realizadas com a vida humana. Umapostura minimamente humanista nos permite perceberque a ciência não é superior ao homem e não pode disporda vida humana para fazer experiências. A humanidadeprecisa tornar-se conscien te das consequências para avida e riscos advindos do progresso e dodesenvolvimento científico.

O termo foi usado pela primeira vez em 1971, no livroBioética: Ponte para o Futuro, do biológo e oncologistaamericano Van R. Potter. O obstetra holandês Hellegersdesempenhou-se em elaborar um aprofundamento danova disciplina.

A bioética, hoje, discute as experiências e ques tõesbiomédicas relacionadas ao aborto, à clonagem, aostransgênicos e à eutanásia.

Nos últimos anos, a humanidade deu grandes passos no desenvolvi -mento da genética.

8. Bioética e Direitos Humanos

A vida humana como valor ético

Por Dalmo de Abreu Dallari

“Qualquer ação humana que tenha algum reflexosobre as pessoas e seu ambiente deve implicar oreconhecimento de valores e uma avaliação de comoestes poderão ser afetados. O primeiro desses valores éa própria pessoa, com as peculiaridades que são inerentesà sua natureza, inclusive suas necessidades materiais,psíquicas e espirituais. Ignorar essa valoração ao praticaratos que produzam algum efeito sobre a pessoa humana,seja diretamente sobre ela ou através de modificações domeio em que a pessoa existe, é reduzir a pessoa àcondição de coisa, retirando dela sua dignidade. Isto valetanto para as ações de governo, para as atividades queafetem a natureza, para empreen dimentos econômicos,para ações individuais ou cole tivas, como também para acriação e aplicação de tecnologia ou para qualqueratividade no campo da ciência.

Entre os valores inerentes à condição humana está avida. Embora a sua origem permaneça um mistério,tendo-se conseguido, no máximo, associar elementosque a produzem ou saber que em certas condições ela seproduz, o que se tem como certo é que sem ela a pessoahumana não existe como tal, razão pela qual é deprimordial importância para a humanidade o respeito àorigem, à conservação e à extinção da vida.

O que hoje pode ser afirmado com argumentossofisticados, após milênios de reflexões e discussõesfilosóficas, foi pensado ou intuído pela humanidade hámilhões de anos e continua presente no modo de ser detodos os grupos humanos, tanto naqueles que seconsideram mais avançados como nos que vivem emcondições julgadas mais rudimentares, como os gruposindígenas que ainda vivem isolados nas selvas. Como foiassinalado por Aristóteles e por muitos outros pensa -dores, e as modernas ciências que se ocupam do serhumano e de seu comportamento o confirmam, o serhumano é associativo por natureza. Por necessidadematerial, psíquica (aqui incluídas as necessidadesintelectuais e afetivas), espiritual, todo ser humanodepende de outros para viver, para desenvolver sua vidae para sobreviver. A percepção desse fato é que faz davida um valor, tanto nas sociedades que se considerammais evoluídas e complexas quanto naquelas julgadasmais simples e rudimentares.

Desse modo, reconhecida a vida como um valor, foique se chegou ao costume de respeitá-la, incorporando-a ao ethos de todos os povos, embora com algumasvariações decorrentes de peculiaridades culturais. Assim,independentemente de crenças religiosas ou deconvicções filosóficas ou políticas, a vida é um valor ético.Na convivência necessária com outros seres humanoscada pessoa é condicionada por esse valor e pelo deverde respeitá-lo, tenha ou não consciência do mesmo. A pardisso, é oportuno lembrar que tanto a DeclaraçãoUniversal dos Direitos Humanos, editada pela ONU em1948, quanto os Pactos de Direitos Huma nos que elaaprovou em 1966 proclamam a existência de umadignidade essencial e intrínseca, inerente à condiçãohumana. Portanto, a vida humana é mais do que a simplessobrevivência física, é a vida com dignidade, sendo esseo alcance da exigência ética de respeito à vida, que porcorresponder, entre outras coisas, ao desejo humano desobrevivência, está presente na ética de todas associedades humanas.

A ética de um povo ou de um grupo social é umconjunto de costumes consagrados, informados porvalores. A partir desses costumes é que se estabeleceum sistema de normas de comportamento cuja obediên -cia é geralmente reconhecida como necessária ouconveniente para todos os integrantes do corpo social. Sealguém, por conveniência ou convicção pessoal, procuracontrariar ou efetivamente contraria uma dessas normastem comportamento antiético, presumivelmente

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prejudicial a outras pessoas ou a todo o grupo, quandonão a todos os seres humanos. Assim, fica sujeito àssanções éticas previstas para a desobediência, poden do,pura e simplesmente, ser impedido de prosseguir naprática antiética ou, conforme as circunstâncias, serpunido pelos danos que tenha causado ou ser obrigado arepará-los. Todos estes fatores têm aplicação à proteçãoda vida no plano da ética, sem prejuízo da proteçãoresultante de seu reconhecimento como valor jurídico.”

Dolly: A ovelha clonada.

9. Sobre a Clonagem

REPRODUÇÃO HUMANA EM LABORATÓRIO

Por José Jorge Ribeiro Meirelles

“O que leva os cientistas a pesquisar e aplicar comêxito a reprodução da vida de forma artificial? Sem dúvidaque é a necessidade. Portanto a abordagem ética terá queavaliar esta necessidade distinguindo as motivaçõesaceitáveis, corretas daquelas injustificáveis.

Outro aspecto realmente dentro desta abordagem éo conceito de utilidade. Argumenta-se que a utilidade daclonagem humana seria para produzir órgãos paratransplantes, tão escassos hoje.

Ora, o ser humano não é um produto útil onde se usao que precisa e descarta o que não serve. ‘Os valoresmorais existem unicamente em atos ou produtoshumanos’. A utilidade deve ser descartada como critériopara a reprodução humana via clonagem.

CONSEQUÊNCIAS ÉTICAS DA REPRODUÇÃO

POR MEIO DA CLONAGEM

Compete à ética preocupar-se com o desenvol -vimento e o bem-estar de cada órgão, não só em simesmo, mas em função de todo humano. A Bioética temo grande desafio de colocar a questão da clonagemhumana observando seus aspectos positivos e negativos.Que consequências a curto, médio e longo prazo, trarãoa clonagem humana? Nem as ciências biológicas sabemdar uma resposta. Nenhum ser humano foi clonado parase aferir as vantagens e desvantagens desta técnica.Sabe-se que a ovelha Dolly, clonada na Inglaterra comsucesso, já apresenta sinais de envelhecimento precoce.

O maior questionamento em torno da clonagemhumana passa pela ideia da eugenia. Foi esta ideia quemoveu Adolf Hitler a levar uma nação a odiar judeus enegros, pregando a purificação da raça humana com aascensão da raça ariana ao poder.

As motivações utilitárias e econômicas de cientistase grupos de geneticistas passam pela ideia de se criaruma raça humana futura de seres superdotados e isentosde qualquer imperfeição no seu genoma. As pessoasportadoras destas ‘imperfeições’ serão preteridas emrelação às clonadas. O acesso a estes recursos seráreservado a uma minoria que dispõe de condiçõesfinanceiras para tal. Uma porcentagem muito pequena desuperdotados terá o controle sobre a totalidade dos sereshumanos, visto que é portadora de caracteres tidos porsuperiores.”

Glossário

Eugenia: Ciência que se ocupa com o estudo e cultivo decondições que tendem a melhorar as qualidades físicas emorais de gerações futuras.

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1. A melhor definição para ética é:a) um conjunto de valores morais e princípios que norteiam a conduta

humana na sociedade. b) um conjunto de comportamentos corretos e relacionados com a

conduta humana.c) a maneira como os seres humanos se comportam uns com os

outros.d) o princípio fundamental para que o ser humano possa viver em

família.e) um comportamento que se deve ter apenas quando se estiver

trabalhando.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

2. A ética serve para que possa existir certo equilíbrio e funciona mentosocial de qualidade, fazendo com que ninguém saia prejudicado. Nesteponto de vista, a ética, embora não possa ser confundida com as leis,está diretamente voltada para a) a educação e a erudição das pessoas.b) o sentimento de justiça social. c) o medo de errar da sociedade.d) a educação dada na infância.e) o pensamento de pessoas que possuem conhecimentos profundos.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

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3. A ética é construída por uma sociedade com base a) na genética, pois vai passando de geração a geração.b) na educação que é dada nas escolas.c) nos ensinamentos oferecidos nas faculdades.d) nos meios de comunicação, como TV e rádio.e) nos valores históricos e culturais.

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

4. (UEL) “– O que significa exatamente essa expressão antiquada:‘virtude’? – perguntou Sebastião.– No sentido filosófico, compreende-se por virtude aquela atitude de,na ação, deixar-se guiar pelo bem próprio ou pelo bem alheio –esclareceu o senhor Barros.– O bem alheio? – perguntou Sebastião.– Sim – disse o senhor Barros. – É verdade que a coragem e amoderação são virtudes, em primeiro lugar, para consigo mesmo, mastambém há outras virtudes, como a benevolência, a justiça e a seriedadeou confiabilidade, ou seja, a qualidade de ser confiável, que sãodisposições orientadas para o bem dos outros.”

(TUGENDHAT, Ernst; VICUÑA, Ana Maria; LÓPES, Celso. O livro deManuel e Camila: diálogos sobre moral. Trad. de Suzana Albornoz.

Goiânia: Ed. da UFG, 2002. p. 142.)

Com base no texto, é correto afirmar:a) As ações virtuosas são reguladas por leis positivas, determinadas

pelo direito, independentemente de um princípio de bem moral.b) A virtude limita-se às ações que envolvem outras pessoas; em

relação a si próprio, a ação é independente de um princípio de bem.c) A ação virtuosa é orientada por princípios externos que determinam

a qualidade da ação.d) Ser virtuoso significa guiar suas ações por um bem, que pode ser

tanto em relação a si próprio quanto em relação aos outros.e) As virtudes são disposições desvinculadas de qualquer orientação,

seja para o bem, seja para o mal.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

No campo da política, costuma-se dizer que os fins justificam os meios,de modo que, para alcançar um fim legítimo, todos os meios disponíveissão válidos. No campo da ética, porém, essa afirmação deixa de ser óbvia.Suponhamos uma sociedade que considere um valor e um fim moral alealdade entre seus membros, baseada na confiança recíproca. Issosignifica que a mentira, a inveja, a adulação, a má-fé, a crueldade e omedo deverão estar excluídos da vida moral, e as ações que se valhamdesses recursos, empregando-os como meios para alcançar um fim,serão imorais. No entanto, poderia acontecer que, para forçar alguém àlealdade, fosse preciso fazê-lo sentir medo da punição pela deslealdade,ou fosse preciso mentir-lhe para que não perdesse a confiança em certaspessoas e continuasse leal a elas.Nesses casos, o fim – a lealdade – não justificaria os meios – o medo e amentira? A resposta ética é: não. Por quê? Porque esses meiosdesrespeitam a consciência e a liberdade da pessoa moral, que agiria porcoação externa e não por reconhecimento interior e verdadeiro do fim ético.No campo da ética, portanto, nem todos os meios são justificáveis, masapenas aqueles que estão de acordo com os fins da própria ação. Emoutras palavras, fins éticos exigem meios éticos.

A relação entre meios e fins pressupõe que a pessoa moral não existecomo um fato dado, como um fenômeno da natureza, mas é instauradapela vida intersubjetiva e social, precisando ser educada para os valoresmorais e para as virtudes.

(Marilena Chauí. Convite à Filosofia)

5. Esse texto se desenvolve de modo a argumentar em favor daseguinte posição:a) a prática dos valores éticos é um atributo natural dos seres humanos.b) os meios só se justificam quando não são contrários aos fins de uma

ação.c) a deslealdade pode ser necessária para se promover uma atitude

leal.d) a educação moral torna possível justificar quaisquer meios em razão

dos fins.e) a legitimidade dos fins é assegurada pela eficácia de uso dos meios

disponíveis.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

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6. (UNESP) – Governos que se metem na vida dos outros sãogovernos autoritários. Na história temos dois grandes exemplos: ofascismo e o comunismo. Em nossa época existe uma outra tentaçãototalitária, aparentemente mais invisível e, por isso mesmo, talvez, maisperigosa: o "totalitarismo do bem". A saúde sempre foi um dossubstantivos preferidos das almas e dos governos autoritários. Quemestudar os governos autoritários verá que a "vida cientificamentesaudável" sempre foi uma das suas maiores paixões. E, aqui, o advérbio"cientificamente" é quase vago porque o que vem primeiro é mesmo odesejo de higienização de toda forma de vício, sujeira, enfim, dehumanidade não correta. Nosso maior pecado contemporâneo é nãoreconhecer que a humanidade do humano está além do modo "correto"de viver. E vamos pagar caro por isso porque um mundo só de gente"saudável" é um mundo sem Eros.

(Luiz Felipe Pondé. Gosto que cada um sente na boca

não é da conta do governo. Folha de S.Paulo, 14.03.2012. Adaptado.)

Na concepção do autor, o totalitarismoa) é um sistema político exclusivamente relacionado com o fascismo e

o comunismo.b) inexiste sob a égide de regimes políticos institucio nalmente

democráticos e liberais.c) depende necessariamente de controles de natureza policial e

repressiva dos comportamentos.d) mobiliza a ciência para estabelecer critérios de na tureza biopolítica

sobre a vida.e) estabelece regras de comportamento subordinadas à autonomia dos

indivíduos.

RESOLUÇÃO:

O professor e filósofo pernambucano Luiz Filipe Pondé é um crítico

da modernidade, e denuncia formas múltiplas de autoritarismos

presentes nos projetos políticos da direita, da esquerda e, inclusive,

dos regimes democráticos. Nesse texto, Pondé critica o conceito

moderno da vida saudável, que se tornou uma forma sutil de

controle social e uma obsessão do comportamento humano que

nos afasta de nossa dimensão humana, cuja natureza, segundo o

filósofo, está além do modo “correto” de viver. Convém lembrar

que o filósofo em questão se declara um pessimista em relação à

natureza humana, ou aos pretensos projetos de emancipação de

suas con tradições e paradoxos.

Resposta: D

7. (UNESP) – A poderosa American Psychiatric Association (As -sociação Americana de Psiquiatria – APA) lançou neste final de semanaa nova edição do que é conhecido como a “Bíblia da Psiquiatria”: oDSM-5. E, de imediato, virei doente mental. Não estou sozinha. Estácada vez mais difícil não se encaixar em uma ou várias doenças domanual. Se uma pesquisa já mostrou que quase metade dos adultosamericanos teve pelo menos um transtorno psiquiátrico durante a vida,alguns críticos renomados desta quinta edição do manual têm afirmadoque agora o número de pessoas com doenças mentais vai se mul -tiplicar. E assim poderemos chegar a um impasse muito, mas muitofascinante, mas também muito perigoso: a psiquiatria conseguiria afaçanha de transformar a “normalidade” em “anormalidade”. O“normal” seria ser “anormal”. Dá-se assim a um grupo de psiquiatraso poder – incomensurável – de definir o que é ser “normal”. E assiminterferir direta e indiretamente na vida de todos, assim como naspolíticas governamentais de saúde pública, com consequências eimplicações que ainda precisam ser muito melhor analisadas ecompreendidas. Sem esquecer, em nenhum momento sequer, que adefinição das doenças mentais está intrinsecamente ligada a uma dasindústrias mais lucrativas do mundo atual.

(Eliane Brum. Acordei doente mental. Época, 20.05.2013. Adaptado.)

No entender da autora do artigo, no âmbito psiquiátrico, a distinção entrecomportamentos normais e anormaisa) apresenta independência frente a condicionamentos de natureza

material, histórica ou social.b) pressupõe o poder absoluto da ciência, em detrimento da

relativização dos critérios de normalidade.c) deriva sua autoridade e legitimidade científica de critérios empíricos

e universais.d) busca valorizar a necessidade de autonomia individual no que se

refere à saúde mental.e) estabelece normas essenciais para o progresso e aper fei çoamento

da espécie humana.

RESOLUÇÃO:

A autora afirma que a distinção entre comportamento normal e

anormal torna-se perigosa quando um grupo de psiquiatras detém

o poder incomensurável de determinar o que é normal e de

interferir na vida hu mana e nas políticas governamentais de saúde

pública.

Resposta: B

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8. (UNESP) – Por que as pessoas fazem o bem? A bondade estáprogramada no nosso cérebro ou se desenvolve com a experiência? Opsicólogo Dacher Keltner, diretor do Laboratório de Interações Sociais daUniversidade da Califórnia, em Berkeley, investiga essas questões porvários ângulos e apresenta resultados surpreendentes.

Keltner – O nervo vago é um feixe neural que se origina no topo daespinha dorsal. Quando ativo, produz uma sensação de expansãoconfortável no tórax, como quando estamos emocionados com abondade de alguém ou ouvimos uma bela música.Pessoas com alta ativação dessa região cerebral são mais propensas adesenvolver compaixão, gratidão, amor e felicidade.

Mente & Cérebro – O que esse tipo de ciência o faz pensar?Keltner – Ela me traz esperanças para o futuro. Que nossa cultura se

torne menos materialista e privilegie satisfações sociais como diversão,toque, felicidade que, do ponto de vista evolucionário, são as fontesmais antigas de prazer. Vejo essa nova ciência em quase todas as áreasda vida. Ensina-se meditação em prisões e em centros de detenção demenores. Executivos aprendem que inteligência emocional e bomrelacionamento podem fazer uma empresa prosperar mais do que seela for focada apenas em lucros.

(www.mentecerebro.com.br. Adaptado.)

De acordo com a abordagem do cientista entrevistado, as virtudesmorais e sentimentos agradáveisa) dependem de uma integração holística com o universo.b) dependem de processos emocionais inconscientes.c) são adquiridos por meio de uma educação religiosa.d) são qualidades inatas passíveis de estímulo social.e) estão associados a uma educação filosófica racionalista.

RESOLUÇÃO:

Apesar de buscar um apoio biológico para sua pesquisa sobre a

bondade humana, o cientista afirma no último parágrafo que há

esperança no futuro, ao confiar no advento de uma cultura menos

materialista e, portanto, uma sociedade melhor trará estímulos

sociais.

Resposta: D

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1. Sobre a questão da ética, leia com atenção as opções abaixo eassinale a errada.a) À filosofia sempre importou o problema da convivência humana. Esta

resulta em relações de solidariedade e conflitos e, por isso, implicauma dimensão moral e ética.

b) A moral e a ética são um simples conjunto de regras sociais.c) A moral e a ética fazem emergir o bom senso e a aplicação da

experiência acumulada pelo indivíduo, pela comunidade em que vivee pela história da humanidade como um todo.

d) Quando se fala em ética ou em moral, não se está imune às contra -rie dades e conflitos humanos, já que os homens portam experiên ciase culturas tão diversas.

e) Muitos guardam os interesses pessoais acima dos coletivos; outrosprezam apenas os interesses de classe, ou ainda, há os que secolocam os interesses do grupo específico acima dos humanitários.Tudo isso torna difícil a convivência entre os homens.

2. Leia o texto abaixo e comente o seu sentido. “É uma ética dacompreensão. É uma ética que não impõe uma visão maniqueísta domundo. É uma ética sem salvação, sem promessa. É uma ética dacomunidade de perdição”. (Morin)

3. Que relação existe, no pensamento de Morin, entre conhecimentoe ética?

4. Comente a visão de ser humano que aparece nos dois textos deMorin.

5. A Ética teria surgido com Sócrates. Ela investiga e explica as normasmorais, pois leva o homem a agir não só por tradição, educação ouhábito, mas principalmente por convicção e inteligência. Vásquez (1998)aponta que a Ética é teórica e reflexiva, enquanto a Moral éeminentemente prática. Assim, podemos afirmar que:a) a ética exige uma conduta rígida e séria.b) a moral e a ética não possuem qualquer relação.c) a ética exige elevada cultura.d) a ética e a moral são realidades opostas.e) onde há moralidade não há esboço de comportamento ético.

6. Em nome da amizade, deve-se guardar silêncio diante do ato de umtraidor? Em situações como esta, os indivíduos se deparam com anecessidade de organizar o seu comportamento por normas que sejulgam mais apropriadas ou mais dignas de ser cumpridas. Tais normassão aceitas como obrigatórias, e desta forma, as pessoas compreendemque têm o dever de agir desta ou daquela maneira. Porém ocomportamento é o resultado de normas já estabelecidas, não sendo,então, uma decisão natural, pois todo comportamento sofrerá umjulgamento. E a diferença prática entre moral e ética é que esta é o juizdas morais, assim:a) Ética é uma espécie de legislação do comportamento moral das

pessoas.b) Moral e ética são dissociáveis.c) A moral é estrutura teórica para a ética.d) A ética refere-se aos costumes dos povos, enquanto a moral refere-

se aos postulados teóricos da filosofia.e) Moralidade refere-se à religião e ética à profissão.

7. “A Moral, afinal, não é somente um ato individual, pois as pessoassão, por natureza, seres sociais; assim, percebe-se que a Moral tambémé um empreendimento social. E esses atos morais, quando realizadospor livre participação da pessoa, são aceitos, voluntariamente.” O textopretendeu afirmar que:a) A moralidade é um fenômeno sociológico e não tem qualquer

interferência do sujeito.b) A moral tem sempre um caráter coercitivo (de imposição) sobre o

indivíduo, possuindo, portanto, uma dimensão unicamente social.c) Os indivíduos se unem livremente para formar a sociedade e

decidem, assim, sobre a formação do pacto ético sob o qual viverão. d) A moral não é somente uma opção do indivíduo, uma vez que tem

uma origem social, porém o indivíduo pode aceitar espontanea menteo código moral de seu grupo social.

e) A moralidade é um corpo de normas escolhidas pelos indivíduos eimposto à sociedade.

8. Leia as proposições abaixo e assinale a opção que agrupa as corretas.I. A Moral, afinal, é fundamentalmente um ato individual, pois as

pessoas são, por natureza, seres individualistas.II. Percebe-se que a Moral é um empreendimento social. Porém, os

atos morais, quando realizados por livre participação da pessoa, sãoaceitos, voluntariamente.

III. Moral é um sistema de normas, princípios e valores, segundo o qualsão regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entreestes e a comunidade, de tal maneira que estas normas, dotadasde um caráter histórico e social, sejam acatadas, livres econscientemente, por uma convicção íntima, e não de uma maneiramecânica, externa ou impessoal.

IV. A Moral de uma sociedade é aquele bloco rígido de princípios quedizem o que é certo ou errado, permanecendo inalteradas ao longodo tempo e incólume aos processos de transformação da sociedade.

a) I e II. b) II e III. c) III e IV. d) I e III. e) I e IV.

9. “Minha autoética baseia-se, sobretudo na ‘fé’ no amor, na compai xãona fraternidade no perdão e na redenção que marcou minhaadolescência. Mas minha “fé” na redenção é desde então estritamenteindividual.” (Edgar Morin)Assinale a opção que elucida o emprego pelo autor do termo “estrita -mente individual”:a) O autor posicionou-se de forma individualista, sem deixar espaço

para a dimensão coletiva da ética.b) O autor imputa à sua responsabilidade pessoal o desenvolvimento de

uma conduta e consciência ética.c) O autor equivoca-se ao ignorar que a ética e a moral são dimensões

sociais e culturais, unicamente.d) O autor se esquece que a ética está sempre associada a uma

determinada corporação, como a profissional, por exemplo.e) O autor prega um código moral exterior ao indivíduo, baseado em

princípios religiosos.

10. “Os novos conhecimentos, que nos levam a descobrir o lugar daTerra no cosmo, a Terra-sistema, a Terra-Gaia ou biosfera, a Terra-pátriados humanos. Não tem sentido algum enquanto isolados uns dosoutros. A Terra não é a soma de um planeta físico, de uma biosfera e da

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humanidade. A Terra é a totalidade complexa físico-biológico-antropológica, onde a vida é uma emergência da história e da vidaterrestre”.

(E. Morin)

Sobre o texto de Morin, é possível deduzir que:I. O texto defende a ideia de que o conhecimento deve ser disjuntivo,

fragmentado e especialista para melhor refletir a complexidade domundo real.

II. O fragmento do texto revela uma preocupação ambiental, tônica dafilosofia de Morin.

III. Há, para o autor, uma relação estreita entre conhecimento eresponsabilidade ética.

São verdadeiras apenas:a) I e II. b) I e III. c) II e III. d) I. e) II.

11.“Entre os valores inerentes à condição humana está a vida. Emboraa sua origem permaneça um mistério, tendo-se conseguido, no máximo,associar elementos que a produzem ou saber que em certas condiçõesela se produz, o que se tem como certo é que sem ela a pessoa humananão existe como tal, razão pela qual é de primordial importância para ahumanidade o respeito à origem, à conservação e à extinção da vida.”

(Dalmo de Abreu Dallari)

No parágrafo acima, o autor defende o valor da vida, porém no final dotexto, defende também a extinção da vida. Assinale a alternativa quemelhor reflete o sentido dessa aparente contradição.a) O autor defende a pena de morte, como um direito dos homens

diante dos problemas sociais como a criminalidade. b) O autor defende uma ideia espiritualista, segundo a qual, a vida não

termina com a morte.c) Para o autor, a vida seria um processo de surgimento, desenvolvi -

men to e fim e é justamente esse processo natural que deveria serrespeitado.

d) A extinção da vida é um processo natural que, segundo o autor, aciência tem contribuído para adiar, o que é perfeitamente visível noaumento da expectativa de vida, e o autor se posiciona contra essesbenefícios da ciência que adiam a extinção da vida.

e) O texto se posiciona a favor do controle do poder público sobre osprocessos da vida e da morte.

12.“Por isso, pode-se dizer que a bioética tem uma tríplice função,reconhecida acadêmica e socialmente: (1) descritiva, consistente emdescrever e analisar os conflitos em pauta; (2) normativa com relação atais conflitos, no duplo sentido de proscrever os comportamentos quepodem ser considerados reprováveis e de prescrever aqueles considera -dos corretos; e (3) protetora, no sentido, bastante intuitivo, de amparar,na medida do possível, todos os envolvidos em alguma disputa deinteresses e valores, priorizando, quando isso for necessário, os maisfracos”.

(Fermin Roland Schramm e Marlene Braz)

De acordo com o texto, podemos afirmar:I. A bioética tem uma dimensão científica e política, prevendo, de um

lado, os problemas morais que advém do desenvolvimento, e, poroutro, executando políticas de amparo à vida.

II. Não cabe à bioética qualquer preocupação com o campo jurídico, poisela se retém à contemplação científica dos problemas bioló gi cos.

III. À bioética interessam as questões axiológicas, ou seja, de valor, poismantém uma perspectiva humanitária que deve ser limitada apenaspor interesses políticos e econômicos.

IV. A bioética, como forma talvez especial da ética, é, antes, um ramoda Filosofia, podendo ser definida de diversos modos, de acordo comas tradições, os autores, os contextos e, talvez, os próprios objetosem exame, possuindo várias funções.

São verdadeiras apenas a) I e II. b) II e III. c) III e IV. d) I e III. e) I e IV.

13.“Os aspectos éticos mais importantes que envolvem questões dereprodução humana são os relativos à utilização do consentimentoinformado; a seleção de sexo; a doação de espermatozoides, óvulos,pré-embriões e embriões; a seleção de embriões com base na evidênciade doenças ou problemas associados; a maternidade substitutiva; aredução embrionária; a clonagem; pesquisa e criopreservação(congelamento) de embriões. Um importante assunto, de crescentediscussão ética, moral e legal é o aborto. Independentemente daquestão legal, existe nesta situação um conflito entre a autonomia, abeneficência, a não maleficência e a justiça da mãe, do feto e do médico.Os julgamentos morais sobre a justificativa do aborto dependem maisdas convicções sobre a natureza e desenvolvimento do ser humano doque das regras e princípios.”

(José Roberto Goldim)

Segundo o texto, podemos afirmar que:a) Os interesses da ciência e do seu progresso são suficientes para

decidir juridicamente sobre questões supostamente éticas.b) O ponto de vista pessoal é o único elemento capaz de servir como

referência para a execução de normas em bioética.c) As convicções pessoais não devem interferir sobre a legitimação de

uma prática médica ou científica, pois poderia atrapalhar odesenvolvimento racional da ciência humana.

d) Os julgamentos morais sobre a justificativa do aborto dependemmais das convicções sobre a natureza e desenvolvimento do serhumano do que das regras e princípios, e isso tem relação comquestões de fé e postura religiosa das pessoas.

e) A doação de espermatozoides e óvulos é uma prática absolutamentee cientificamente imoral.

14.Leia as frases abaixo:– A preservação de animais em extinção; – Desenvolvimento de animais imunes a algumas doenças que são

contagiosas; – Clonagem de células humanas para tratamento de doenças, como:

pâncreas para diabéticos e de células do sangue para os leucêmicos. Esses(as) são:

a) questões sobre a clonagem isentas de preocupação ética.b) colocações feitas como vantagens da clonagem.c) aspectos negativos e positivos das experiências da tecnologia

genética.d) práticas comuns e antigas da ciência médica e veterinária.e) ideias que não incentivam o desenvolvimento da clonagem.

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15.“A questão da clonagem humana não pode ser reduzida apenas aum problema técnico. Está em jogo não apenas a vida de um novo ser,mas a sua própria dignidade enquanto pessoa. Ao clonarem-se ascélulas de um ser humano, destrói-se a própria identidade do novo ser.Deixamos de ter indivíduos, e como tais únicos e irrepetíveis, paratermos múltiplos sem dignidade própria. – Com que fundamento moral se podem produzir seres para servirem

de material genético para outros seres? – Com que fundamento se podem produzir seres humanos deficientes

apenas para gozo de frustrados pais ou em nome de progressocientífico?”

Carlos FontesSegundo o texto:I. A clonagem humana destrói a singularidade das pessoas.II. A clonagem humana já tem sua reflexão moral bem definida e as

reflexões todas mostram que tal prática é absolutamentecondenável.

III. A questão da clonagem refere-se a uma realidade consumada einevitável, o que torna estéreis os debates acerca das implicaçõeséticas.

IV. A singularidade humana gera dignidade e a clonagem representauma ameaça à dignidade e à liberdade, pois torna o homem umadeterminação.

São verdadeiras apenasa) I e II. b) II e III. c) III e IV. d) I e III. e) I e IV.

16.Sobre a questão da bioética, julgue as frases abaixo.I. A humanidade precisa tornar-se consciente das consequências para

a vida e riscos advindos do progresso e do desenvolvimento científico.II. Ignorar as consequências sociais, físicas, materiais, espirituais e

psicológicas das ações humanas é reduzir a pessoa à condição decoisa.

III. Independentemente de crenças religiosas, filosóficas ou políticas, avida é um valor ético.

IV. A Bioética tem o grande desafio de colocar a questão da clonagemhumana observando seus aspectos positivos e negativos.

V. Nunca na história da humanidade tentou-se produzir uma raçasuperior. Isso é uma novidade conquistada com o desenvolvimentoda genética.

São verdadeiras apenasa) I, III e IV. b) II, III e V. c) III, IV e V. d) I, II, III e IV. e) I, II e V.

17.Sobre a questão da clonagem humana, julgue as dissertativas abaixo.I. As motivações utilitárias e econômicas de cientistas e grupos de

geneti cistas passam pela ideia de se criar uma raça humana futura deseres superdotados e isentos de qualquer imperfeição no seugenoma.

II. As pessoas portadoras destas ‘imperfeições’ serão preteridas emrelação às clonadas. O acesso a estes recursos será reservado a umaminoria de condições financeiras para tal.

III. Uma porcentagem muito pequena de superdotados terá o controlesobre a totalidade dos seres humanos, visto que é portadora decaracteres tidos por superiores.

IV. O genoma contemporâneo resulta do avançado progresso científicoe resultará em uma democratização da tecnologia.

São verdadeiras:a) Todas. b) Apenas I, II e III. c) Apenas II, III e IV. d) Apenas I e III.e) Apenas III e IV. 18.Leia o texto abaixo e faça um comentário sobre ele. “A Moral, afinal,não é somente um ato individual, pois as pessoas são, por natureza,seres sociais; assim percebe-se que a Moral também é umempreendimento social. E esses atos morais, quando realizados por livreparticipação da pessoa, são aceitos, voluntariamente”.

(T. F. Silvano)

19.Há uma ética perfeita e universal, pronta e adequada para auniversalidade humana? Justifique.

20.Embora a bioética seja um neologismo e uma preocupação nova dahumanidade, Dalmo de A. Dallari se fundamenta em tradições paraexpor suas ideias. Comente.

21.Segundo José Jorge R. Meirelles, qual é o papel da bioética?

22. (UNESP) –Texto 1

O biopoder, sem a menor dúvida, foi elemento in dispensável aodesenvolvimento do capitalismo, que só pode ser garantido à custa dainserção controlada dos corpos no aparelho de produção e por meio deum ajus tamento dos fenômenos de população aos processoseconômicos. Para o biopoder, que tem a tarefa de se encarregar da vida,sua necessidade de mecanismos contínuos, reguladores e corretivosexige distribuir os vivos em um domínio de valor e utilidade. Um poderdessa natureza tem de qualificar, medir, avaliar, hie rarquizar. Umasociedade normalizadora é o efeito histórico de uma tecnologia de podercentrada na vida.

(Michel Foucault. História da sexualidade, vol. 1, 1988. Adaptado.)

Texto 2

Uma pesquisa anunciada recentemente na Suíça reve lou que, comum simples exame de sangue, será possível detectar a Síndrome deDown (ou trissomia do 21) no feto. O aval ao novo teste pré-natal foidado recentemente pela Agência Nacional de Produtos Tera pêuticos daSuíça, em meio à controvérsia de que o exame poderia levar a umaumento no número de abortos. Os testes estarão disponíveis nomercado ainda neste mês. Apesar de a legislação de países europeuscomo Espanha, Itália e Alemanha garantir autonomia à mulher naescolha sobre o aborto, o tema não passou isento de discussão. AFederação Internacional das Organizações de Síndrome de Down, quereúne 30 associações de 16 países, entrou com uma representação naCorte Europeia de Direitos Humanos pedindo a proibição do teste.

(http://zerohora.clicrbs.com.br, 22.08.2012. Adaptado.)

Com base no texto de Foucault, comente o papel da ciên cia comopossível instrumento de eugenia e norma lização, relacionando-o com asimplicações biopolíticas do lan çamento do teste pré-natal.

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1) B

2) Morin não se coloca contra as religiões, mas ao propor uma

ética sem salvação, sem promessa e ao falar de uma

comunidade de perdição, está propondo a construção de uma

ética universal laica, independente de referências religiosas.

3) Morin apela para a elaboração de uma ciência consciente,

responsável e humanista. A educação nas escolas, por

exemplo, deveria priorizar a formação de cidadãos

responsáveis, com consciência planetária e sentimento de

solidariedade.

4) O homem para Morin é uma galáxia, ou seja, revela uma

dimensão cósmica, no sentido de complexidade e

multiplicidade interior. Porém, ele entende que o ser humano

é um projeto e se encontra na infância na tarefa de construção

da civilização e humanização.

5) C 6)A 7) D 8) B

9) B 10) C 11) C 12) E

13) D 14) B 15) E 16) D

17) B

18) (sugestão) Embora a moral seja um fato social coercitivo, isto

é imposto pela sociedade, o indivíduo traz o ser social em si,

ele o representa e, geralmente, compactua com a moral que

lhe possibilita inclusive uma convivência mais fácil e uma

sensação de bem-estar espiritual ou de consciência.

19) Não. Embora a ética deva buscar valores humanitários, deve

também contar com as diferenças culturais, respeitando as

concepções construídas, dentro dos limites do bom senso.

20) O autor refere-se, no terceiro parágrafo, ao acúmulo de

reflexões filosóficas de milênios, citando inclusive Aristóteles.

Assim, mostra a importância da filosofia e de toda a sua

história na discussão e reflexão acerca de problemas

totalmente novos da humanidade.

21) Ela deve abraçar o grande desafio de colocar a questão da

clonagem humana observando seus aspectos positivos e

negativos.

22) Trata-se de uma questão de bioética. A bioética hoje questiona

as experiências e as questões biomédicas relacionadas à

questão do aborto, da clonagem, dos transgênicos e da

eutanásia. As ações humanas trazem consequências sobre as

pessoas e seu ambiente, o que implica reconhecer valores e

uma avaliação de como estes poderão ser afetados. O

primeiro desses valores é o próprio ser humano, com as

peculiaridades que são inerentes à sua natureza, inclusive

suas neces sidades materiais, psíquicas e espirituais. O risco

de se ignorar tais implicações é o de reduzir a pessoa à

condição de coisa, retirando dela sua dignidade. A criação e

aplicação de tecnologia e qualquer atividade no campo da

ciência deve prever e avaliar conse quências éticas, sociais e

morais.

Foucault usou o termo biopoder para designar a prática dos

Estados modernos e a regulação sobre os que lhe estão

sujeitos por meio de “uma explosão de técnicas numerosas e

diversas para obter a subjugação dos corpos e o controle de

populações”. Justamente, o termo criado por Foucault tem

sido usado em pesquisas acerca do desenvolvimento da

biomedicina e da saúde pública. Assim, a bioética tem o

grande desafio de colocar a questão da eugenia, assim como

o da clonagem humana, observando consequências políticas

de controle e poder sobre a condição humana. O maior

questionamento em torno da clonagem hu mana passa pela

ideia da eugenia. Foi essa ideia que moveu Adolf Hitler a levar

uma nação inteira a odiar judeus, por exemplo, pregando a

purificação da raça humana com a ascensão da raça ariana ao

poder.

As motivações utilitárias e econômicas de cientistas e grupos

de geneticistas passam pela ideia de se criar uma raça humana

futura de seres superdotados e isentos de qualquer

imperfeição no seu genoma. As pessoas portadoras destas

‘imperfeições’ serão pre teridas em relação às clonadas. O

acesso a estes recursos poderá ser reservado a uma minoria

que dispõe de condições financeiras para tal, sobretudo na

sociedade de mercado. Uma porcentagem muito pequena de

superdotados terá o controle sobre a totalidade dos seres

humanos, visto que é portadora de caracteres considerados

superiores.

O teste pré-natal em questão anuncia um avanço que parece

inevitável, pois a ciência se desenvolve sem preocupação

prévia acerca das consequências políticas do controle

tecnológico sobre o corpo e sobre a condi ção humana.

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“Toda dor pode ser suportada se sobre ela puder ser

contada uma história.”

(Hannah Arendt)

HUMANISMO

1. Introdução

O termo humanismo refere-se a um conjunto devalores e a uma forma de pensar que valoriza o serhumano. No sentido mais moderno, o conceito dehumanismo nasceu na Renascença, quando a culturapassa do teocentrismo para o antropocentrismo. Apartir do século XVI, a escolástica (filosofia medieval)declina e filósofos e artistas retornam aos clássicos daAntiguidade Greco-Latina.

Os últimos séculos desenvolveram outras expres -sões do humanismo. O Iluminismo e o marxismo, porexemplo, investiram na ideia de emancipação do serhumano. O homem deixou de ser visto, por algunsfilósofos, como um ser sobrenatural, deslocado danatureza e marcado pelo exílio desde a queda de Adão, epassou a ser visto como parte da natureza. Valorizou-se arazão humana como instrumento de emancipação e anoção de progresso estabeleceu, através do hu manismo,o início da modenidade.

Brilhante filósofa do século XX, Hannah Arendt esta -be leceu novos enfoques sobre o humanismo, criti can doos sistemas totalitários e investindo no conceito deeducação do homem.

Vênus de Botticelli. Os temas da Antiguidade Clássica marcam a artehumanista.

2. Hannah Arendt

Hannah Arendt nasceu em Hanover, em uma famíliajudia. Estudou fiosofia e foi aluna e amante de um dosmaiores filósofos do século XX: Martin Heidegger.Estudou em Marburgo e em Heidelberg, onde escreveua sua tese de doutorado sobre o amor em Santo

Agostinho, tendo como orientador outro grande filósofo:Karl Jaspers.

Foi vítima do nazismo, proibida de continuar seusestudos e presa. Escapou da Alemanha para Paris, ondetrabalhou com crianças. Foi presa uma segunda vez eacabou fugindo para os Estados Unidos da América.Nesse país, trabalhou em várias editoras e lecionou naUniversidade de Chicago e na New School for SocialResearch, instituição onde se manterá até à sua morteem 1975.

O trabalho filosófico de Hannah Arendt se estendepor temas como a política, a autoridade, o totalitarismo, aeducação, a condição laboral, a violência, a condiçãohumana e da mulher. Valorizou a condição humana,sustentando uma postura ético-política.

Imagens de Hanna Arendt em diferentes períodos de sua vida.

3. Texto

Retorno é proposto num tempo de declínio das

tradições.

Por Celina Fernandes Gonçalves Bruniera

“Na passagem da tradição à modernidade torna-secomum o declínio do sentimento de pertencer àcomunidade. A isso se acrescenta a sensação crescentede distanciamento entre os indivíduos e a sociedade.

A distância entre o indivíduo e a sociedade fazemergir alienação em relação ao mundo e a si mesmo.Esse estranhamento é caracterizado pela pouca condi çãoque os homens têm de se integrar à sociedade a partir deum material cultural e social que não lhes pertence.

Nesse contexto é que entendemos a importância denos voltarmos ao passado para compreender como se dãoas mudanças sociais e como elas delineiam o caráter dasrelações sociais e novas formas de socialização.

MÓDULO 11 Humanismo e Axiologia

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O que distancia as gerações

Para autores como Walter Benjamin e HannahArendt, a diminuição do compartilhamento de referênciassimbólicas na cultura contemporânea seria um elementoque distancia gerações. A transmissão da tradição, dolegado dos mais velhos aos mais novos possibilitada nassociedades tradicionais, é praticamente inexistente.

Hannah Arendt traz a discussão para o campo daeducação. No mundo contemporâneo, quem educa –qualquer adulto que seja responsável por apresentar omundo aos mais jovens – vê a transmissão da herançados antepassados como sem sentido. Já não se encontraum contexto que sirva de moldura a essa formação, nemexistem interessados em recebê-la. Arendt propõe umavolta ao humanismo clássico a fim de compreender aquestão.

Legado a ser transmitido

A educação, no seu sentido clássico, pode serentendida como a transmissão do legado dos antigos àsgerações mais novas. O educador seria quem se respon -sabiliza por compartilhar com os mais jovens a tradiçãoherdada do passado, o ‘mediador entre o velho e o novo’.

Compartilhar seria um diálogo entre gerações dife ren -tes. Haveria entre elas o compromisso de consi derar opassado como modelo e de permitir aos mais novosatribuir sentido à tradição transmitida, dar forma aoconteúdo recebido e construir novos conteúdos.

Para o ideário humanista, a educação assumiria ocaráter de formação, caracterizada por acesso à culturahumana e interpretação dessa cultura por outras gera -ções. Tal processo seria possível se o ensino acolhesse aressignificação do legado e não se resumisse a seguir umreceituário.

Dos humanistas aos dias atuais

O resgate do sentido clássico da educação foi feito,primeiramente, pelos humanistas de Florença, no séculoXVI. Surgiu como um esforço de aproximar a formaçãorenascentista da formação clássica romana. Buscava-seum ideal que pudesse orientar a educação das geraçõesfuturas.

Esse movimento ganhou relevância, nos dias atuais,pelo caráter de aproximação apresentado pela tradiçãoclássica. Uma proposta de retorno ao passado paraalimentar a reflexão crítica sobre o presente e configurarum projeto para a formação das gerações mais novas,diminuindo a sensação de não pertencer ao própriomundo.”

Glossário

Antropocentrismo: O homem como centro dosvalores e da cultura.

Teocentrismo: Deus como centro da cultura.

AXIOLOGIA

4. Introdução

Axiologia (de axiov: valor) é a área da filosofia queestuda os valores. Toda sociedade humana é tecida porum conjunto de valores, mais ou menos claros, pois pode-se dizer que alguns valores nem sempre são percebidosde imediato, inclusive pelos membros da sociedade queos criou. Os valores de uma sociedade variam de acordocom a época e região. Os valores dominantes no períododa chamada Idade Média, por exemplo, dificilmente serãocompreendidos pelo homem moderno. Assim também,os chamados povos orientais possuem valores distintosdaqueles cultivados no ocidente.

Assim, podemos ver que os valores estão intimamen -te relacionados, senão também condicionados pela cul tura.Porém, não faltaram filósofos que buscassem valoreshumanos universais. E eles de fato existem, ou seria cabí -vel atribuir ao valor de dignidade humana e honestidadeapenas ao contexto desta ou daquela cultura?

Podemos classificar os valores em positivos e nega -ti vos; sensíveis e espirituais; pessoais e sociais ou rela ti -vos e universais.

Leia sobre o relativismo axiológico:

“Em essência, o relativismo axiológico defende queos valores de uma pessoa ou de um grupo de pessoassão tão bons e tão válidos como os de quaisquer outraspessoas ou grupos; todos têm direito à sua própria opi -nião e, quando se refere a questões sobre o bem, o belo,a justiça, não há maneira de provar que uma opinião émelhor que a outra, isto é, os pontos de vista equivalem-se e devem, por isso, ser igualmente respeitados. O pro -blema com o relativismo dos valores é a sua inca -pacidade para criar um método ou um critério satisfatóriopara resolver as situações de conflitos de valores, quersejam interpessoais, quer sejam interso ciais. Colocado perante este problema, um relativista poderiaargumentar que tal método ou tal critério não sãonecessários, pois não há necessidade de procurarresolver tais conflitos porque qualquer pessoa apenasassume os valores que para si são os mais corretos e osmelhores.O problema com este tipo de resposta é que,na vida concreta dos homens e das sociedades, ocorremdivergências de pontos de vista que geram conflitos paraos quais não se pode deixar de encontrar uma solução. Questões como a guerra, a xenofobia e o racismo, oaborto, a preservação do meio ambiente e outras tantasdo mesmo gênero, demonstram a existência de certostipos de conflitos de valores que não podem deixar de tersolução. A chantagem, a decisão da maioria e o empregoda força são alguns dos métodos que se podem adotarpara resolução de conflitos de valor. Um relativista poderiasempre defender qualquer um desses meios, mas teriaque admitir que a decisão entre um ou outro meio para aresolução de conflitos de valores era apenas a sua opiniãoe, por isso, jamais poderia demonstrar que um dosmétodos era mais certo e melhor que qualquer dos

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Page 109: MÓDULO 1 Do Espanto à Reflexão - objetivo.br · – 1 1. Introdução O homem, diferentemente de outras espécies, não se contenta em viver no mundo satisfazendo simples - mente

outros.Talvez seja esta a razão que leva as teoriasrelativistas dos valores a ignorar ou evitar a questãofundamental que é a de como resolver, sem recurso àopressão e à arbitrariedade, os conflitos reais que sedesenvolvem no interior da vida concreta dos homens edas comunidades.”

(A. Lockwood, Visão Crítica sobre Clarificação de Valores)

Foto: Antonio Brasiliano. A sociedade humana complexa está distantede conseguir relacionar teoria dos valores e a realidade.

Texto: Axiologia: os valores

Por Neri de Paula Carneiro (filósofo, teólogo,historiador)

(Texto adaptado)

“O que nos leva a decidir por uma quando nosencontramos entre duas ou mais realidades de que gosta - mos ou desejamos? O que nos move a fazer escolhas?

A primeira resposta poderia ser: decidimos por quesomos livres. E, por sermos livres fazemos escolhas asquais são determinadas pelo valor que atribuímos àquiloque escolhemos.

Mas isso ainda não é tudo. Nossa decisão se deve aalgo que vai além da liberdade ou que dá sentido àliberdade. Decidimos por que somos capazes de deter mi -nar o valor das realidades com as quais nos relacio namos.Não esquecendo que a liberdade também é um valor queprezamos.

Quando nos perguntamos o que nos leva a valori zaralguma coisa em detrimento de outra, observaremos quealém de livres e com capacidade de fazermos escolhas, apartir dos valores que desenvolvemos, somos capazes,também, de hierar quizar nossas observações e nossasrelações. Relacio namo-nos com as coisas e com aspessoas a partir de uma hierarquiza ção que chamamosde ‘valores’. E, neste ponto perce be ríamos que estamosdiante de questões culturais.

Os valores que desenvolvemos nascem da cultura.Essa é a razão pela qual povos diferentes valorizamrealidades distintas. É a razão pela qual muitos elemen tosque são valorizados por alguns grupos humanos não o sãopor outros. Os valores, portanto, não são absolutos, mas

condicionados pela cultura espaço-temporal. Nem todosos valores de antigamente permanecem sendo valoresatualmente. Nem todos os valores para nós são valorespara outros.

(Mestre Jou, 1967)

Segundo o prof. Morente, nossas relações com asrealidades se desenvolvem a partir de seu significado paranós, ou seja, as coisas não nos são indiferentes. ‘Não hácoisa alguma diante da qual não adotemos uma posiçãopositiva ou negativa, uma posição de prefe rência (...) nãohá coisa alguma que não tenha valor. Umas serão boas,outras más, umas úteis, outras prejudi ciais; porémnenhuma absolutamente indiferente’. Ou seja, sempreestamos emitindo juízos sobre as realida des. Ou nosrelacionando com elas a partir da valoração que lheatribuímos.

Notemos, também, que o conceito ‘valor’ é empre -gado para diferentes realidades: quando falamos emvalores econômico–financeiros referimo-nos à qualifi -cação de coisas ou serviços. Esses, em nosso padrãosociocultural, são completamente distintos dos valoressociais, humanos, morais. Enquanto os valores econô -mico-financeiros são aplicados a coisas ou situaçõesespecíficas e objetivas, os valores sociais, culturais,humanos e morais demandam certa subjetividade quetorna mais difícil sua classificação. Há que se considerar,também, os elementos estéticos, e religiosos. Nessaamalgama de relações emerge o que chamamos devalores ético-morais.

Esse é o centro da reflexão que, de alguma forma,precede a discussão sobre ética e moral: nossa capaci -dade de escolha, que se deve, como estamos afirmando,não à nossa liberdade, mas à nossa capacidade de formarjuízos. E isso se dá em função de nossa capaci dade deestabelecermos ou percebermos os valores. Podemosretomar as palavras do professor Morente:

‘A filosofia atual emprega muitas vezes a distinçãoentre juízos de existência e juizes de valor; é esta umadistinção frequente na filosofia, e assim os juízos deexistência serão aqueles juízos que enunciam de umacoisa aquilo que essa coisa é [...]. Em frente a estesjuízos de existência, a filosofia contemporânea põe oucontrapõe os juízos de valor. Os juízos de valor enun ciamacerca de uma coisa algo que não acrescenta nem tiranada do cabedal existencial e essencial da coisa.Enunciam algo que não se confunde nem com o serenquanto existência nem com o ser enquanto essênciade coisa.’

(Morente, 1967, p. 294).

O professor espanhol mostra que, quando dizemosque algo é justo ou injusto, nesse julgamento não está acoisa em si, mas o seu significado para nós. Depende decomo valoramos aquilo que consideramos justo / injusto.

Em síntese, podemos dizer que aquilo que nos leva atomar decisões, não é, em primeiro lugar a liberdade, masnosso quadro de valores. E este, em grande parte, édeterminado pela cultura. Além de formarmos nossosjuízos sobre a existência (os juízos de fato), a partir daconstatação da existência caracterizada no tempo e no

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espaço, formamos também os juízos de valor a partir deuma relação intencionada com os elementos que absor -va mos. E fazemos isso ao escolher o que nos interessa eao rejeitarmos o que não nos interessa. Assim sendo,podemos dizer que viver é fazer escolhas e fazemosescolhas porque atribuímos valores aos elementos erealidades que circundam nossas vidas.

Concluímos com o professor espanhol que ‘o critériode valor não consiste no agrado ou desagrado que nos

produzem as coisas, mas em algo completamentedistinto; porque uma coisa pode produzir-nos agrado, e,não obstante, ser, para nós, considerada como má e podeproduzir-nos desagrado e ser por nós considerada comoboa’. O bem pode não ser agradável, da mesma formaque o mal pode não ser desagradável. Em ambos oscasos, o que nos leva a fazer o bem ou o mal é acapacidade de escolher.”

110 –

1. Segundo Hannah Arendt, na passagem da tradição à modernidade,torna-se comum o declínio do sentimento de pertencer à comunidade.A isso se acrescenta a sensação crescente de distanciamento entre osindivíduos e a sociedade. Isso se deu em parte devidoa) à ascensão das ideias socialistas e comunistas.b) à ascensão dos regimes autoritários da Europa.c) à ascensão do individualismo burguês.d) à decadência dos princípios cristãos.e) à decadência das filosofias humanistas.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

2. O resgate do sentido clássico da educação já teria sido iniciado hátempoa) pelos ideários socialistas, que sonhavam com uma sociedade

igualitária.b) pelos românticos do século XIX que viam no ser humano o portador

da racionalidade e de emoções equilibradas, sendo capaz de alcançara própria emancipação.

c) pelos nacionalistas do século XX que conduziram a história àformação de Estados nacionais que representavam os interessessociais autênticos.

d) pelos humanistas de Florença, no século XVI. Surgiu como umesforço de aproximar a formação renascentista da formação clássicaromana. Buscava-se um ideal que pudesse orientar a educação dasgerações futuras.

e) pelos pedagogos iluministas que confiavam na razão humana e nasinstituições religiosas tradicionais como elementos prontos para aorientação educacional das novas gerações.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

3. Uma proposta de retorno ao passado para alimentar a reflexão críticasobre o presente e configurar um projeto para a formação das geraçõesmais novas teria como objetivoa) diminuir a sensação de não pertencer ao próprio mundo.b) voltar às instituições conservadoras e tradicionais.c) equilibrar os caracteres agressivos do espírito humano.d) valorizar tendências progressistas e sistemas econômicos que

priorizem o desenvolvimento tecnológico, capaz de trazer confortoreal aos homens.

e) evitar grandes transformações sociais que ameacem a estabilidadeeconômica em que o mundo hoje se encontra.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

4. “A essência dos Direitos Humanos é o direito a ter direitos.”

(Hannah Arendt)

Nessas palavras, a autoraa) afirma que a sociedade humana hoje só se preocupa em ter direitos

e se esquece dos deveres.b) revela pouca preocupação com as reais necessidades humanas, já

que exigir direitos não é o suficiente para construir a dignidadehumana.

c) defende a ideia de que é preciso saber reivindicar e lutar pelosdireitos reconhecidos e, nesse sentido, ela se revela humanista.

d) estabelece os passos para a construção de uma sociedade semconflitos.

e) se revela uma pensadora socialista.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

5. “Nunca defenderei a dor, e é obrigação de toda pessoa que seconsidere humana cooperar para a sua destruição. Mas, afirmo que osque sofrem possuem a potência de saber criar e que, através da dor,conseguem-se forças para desenvolver a vida”.

(J. Borao)

A frase acimaa) revela um pensamento contraditório, pois exalta e condena a dor.

Sendo assim, não merece crédito ou reflexão.b) defende a dor como única forma de promover o amadurecimento do

espírito humano.c) aponta para uma visão humanista, pois condena as formas de dor,

porém, reconhecendo a capacidade que ela tem para deixar lições devida.

d) afirma que a potência promove a dor, o que justifica a inclinação doautor para desejar destruir a dor humana.

e) afirma ser impossível extinguir a dor, pois ela faz parte da experiênciade vida dos homens.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

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6. Relacionamo-nos com as coisas e com as pessoas a partir de umahierarquização que chamamos de “valores”. Julgue as frases de acordocom o dito acima.I. Quando nos perguntamos o que nos leva a valorizar alguma coisa

em detrimento de outra, observaremos que além de livres e comcapacidade de fazermos escolhas, a partir dos valores quedesenvolvemos, somos capazes, também, de hierarquizar nossasobservações e nossas relações.

II. Os valores que desenvolvemos nascem em geral da cultura. Essa éa razão pela qual povos diferentes valorizam realidades distintas.

III. Os valores, portanto não são sempre absolutos, mas podem sercondicionados pela cultura espaço-temporal.

São verdadeiras (apenas):a) Todas. b) I e II. c) II e III.d) I e III. e) II.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

7. A liberdade é um valor importante em si mesmo. Além disso, é peloexercício da liberdade que escolhemos nossos valores e os distribuímosnuma hierarquia. De acordo com isso, julgue as frases abaixo.I. Há uma relação estreita entre liberdade humana e axiologia.II. A hierarquia dos valores é produto da liberdade.III. O homem torna-se livre quando se liberta de valores e deixa de

distribuí-los em uma hierarquia.IV. Há liberdade no ato de escolher e a liberdade é tanto maior quanto

mais não nos responsabilizamos pelas nossas escolhas.

a) I e II. b) II e III. c) II e IV. d) III e IV. e) I e IV.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

8. “O homem erudito é um descobridor de fatos que já existem – maso homem sábio é um criador de valores que não existem e que ele fazexistir”.

(Albert Einstein)

Segundo o cientista Einstein,a) não há valores criados, pois eles são fatos que já existem.b) não existem valores, pois eles são criação humana.c) há uma distinção entre sabedoria e erudição, com uma certa

superioridade da primeira.d) os valores passam a existir depois que os eruditos os descobrem.e) a erudição é incapaz de criar conhecimentos.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

9. “Não exageres o culto da verdade, não há homem que ao fim de umdia não tenha mentido com razão muitas vezes”

(Jorge Luis Borges)

Nessa frase, tentando pensar em moral ou ética, poderíamos dizer quea frase do escritor argentino Borges de certa formaa) relacionou a verdade e a ética, mostrando que uma não existe sem

a outra.b) revelou ser ele um relativista e portanto não cria em verdade

universais.c) relativizou a importância acerca da verdade, pois algumas vezes,

mentir pode ter uma justificativa.d) desassociou verdade e razão.e) revelou antiético.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

10. “... existe uma diferença infinita entre homem e homem...”(Protágoras). A frase do filósofo refere-sea) à verdade única que está dentro do Homem, concebido abstra -

tamente.b) ao universo íntimo do homem, em que vive latente a verdade.c) à universalidade da busca de uma verdade única.d) ao relativismo que é atribuído aos sofistas.e) à impossibilidade de duas pessoas se parecerem entre si.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

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1. “Arendt escreveu contra formas múltiplas de totalitarismo político,estudou a condição humana, das minorias, da mulher e da educação.Em seus trabalhos valorizou a vida humana e sustentou uma visão éticadas relações políticas e sociais. Hannah Arendt sofreu a perseguição ediscriminação na Alemanha nazista por ser judia.” Disso conclui-se quea) sua experiência pessoal contribuiu muito na formação do seu

pensamento.b) Arendt assumiu uma postura marxista a favor do sistema soviético

no contexto da Guerra Fria.c) apesar de não integrar qualquer minoria social, estudou as minorias

e as defendeu contra os regimes totalitários.d) valorizou a vida humana, sobretudo as formas múltiplas de

totalitarismo político.e) sua condição de judia e mulher impediu que se tornasse uma das

maiores filósofas de seu tempo.

2. Sobre o pensamento de Arendt, julgue as assertivas abaixo.I. No mundo contemporâneo, a filósofa Arendt vê a transmissão da

herança dos antepassados como sem sentido. II. Segundo Arendt, a educação, no seu sentido clássico, pode ser

entendida como a transmissão do legado dos antigos às geraçõesmais novas. O educador seria quem se responsabiliza por comparti -lhar com os mais jovens a tradição herdada do passado, o "mediadorentre o velho e o novo".

III. Para o ideário humanista, a educação assumiria o caráter deformação, caracterizada por acesso à cultura humana e interpretaçãodessa cultura por outras gerações.

IV. Uma proposta de retorno ao passado clássico arruinaria a reflexãocrítica sobre o presente, aumentando a sensação de não pertencerao próprio mundo.

São verdadeiras apenasa) I e II. b) II e III. c) II e IV. d) III e IV. e) I e IV.

3. Sobre o humanismo, leia e julgue as colocações abaixo.I. O termo humanismo refere-se a um conjunto de valores e a uma

forma de pensar que valoriza o ser humano. II. No sentido mais moderno, o conceito de humanismo nasceu na

Renascença, quando a cultura passava do antropocentrismo para oteocentrismo. A partir do século XVI, a clássica e latina foidesvalorizada e retorna-se à escolástica medieval.

III. Os últimos séculos desenvolveram outras expressões dohumanismo. O Iluminismo e o marxismo, por exemplo, investiram naideia de emancipação do ser humano. O homem deixou de ser visto,por alguns filósofos, como um ser sobrenatural, deslocado danatureza e marcado pelo exílio desde a queda de Adão, e passou aser visto como parte da natureza.

IV. Valorizou-se a razão humana como instrumento de emancipação e anoção de progresso estabeleceu, através do humanismo, o fim damodenidade.

São verdadeiras apenasa) I e II. b) II e III. c) II e IV. d) III e IV. e) I e III.

4. Para autores como Walter Benjamin e Hannah Arendt, a diminuiçãodo compartilhamento de referências simbólicas na cultura contempo -rânea seria um elemento que distancia gerações. A transmissão datradição, do legado dos mais velhos aos mais novos possibilitada nassociedades tradicionais, é praticamente inexistente.

Assinale a alternativa que está diretamente relacionada com essacolocação.a) Somente compartilhamento de referências simbólicas na cultura

seria capaz de romper com as gerações passadas e estabelecer umanova sociedade.

b) É indesejável a transmissão do legado hoje por parte das geraçõesprecedentes.

c) As gerações passadas não tem um legado para ser transmitido eisso diminui o compartilhamento de referências simbólicas na culturacontemporânea.

d) O problema se relaciona com as dificuldades que existem hoje nosprocessos educacionais.

e) Walter Benjamin e Hannah Arendt são filósofos politicamenteconservadores, pois se preocupam com o legado das tradições dosantepassados.

5. “Toda dor pode ser suportada se sobre ela puder ser contada umahistória”.

(Hannah Arendt)

Leia as assertivas e assinale as que estão coerentes com o pensamentoacima de Arendt.I. A filosofia de Arendt se revela sádica ao exaltar a dor.II. A dor integra as experiências humanas e pode resultar em um

aprendizado acerca da condição humana.III. A autora exalta a história como disciplina superior à própria filosofia.IV. A perspectiva humanista valoriza a memória como depositário das

experiências.São verdadeiras apenas:a) I e II. b) II e III. c) II e IV. d) III e IV. e) I e IV.

6. Axiologia é aa) ciência que estuda o comportamento humano.b) área do conhecimento que reflete sobre a condição de vida do ser

humano.c) área da filosofia que estuda os valores humanos.d) área da filosofia voltada para o problema da educação.e) área da filosofia que estuda a estética e a produção artística.

7. Toda sociedade humana é tecida por um conjunto de valores, maisou menos claros, poisa) pode-se dizer que alguns valores nem sempre são percebidos de

imediato, inclusive pelos membros da sociedade que os criou.b) sabe-se que os valores humanos são sempre relativos e jamais

aspiram a uma universalização.c) acredita-se que, por serem produção humana, os valores sempre

expressam interessem econômicos ocultos.d) os valores estão sempre ligados a alguma tradição religiosa e essas

são muitas e conflituosas.e) pode-se dizer que os valores humanos são conscientes e explícitos,

representam as mais claras reivindicações de dignidade humana.

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8. Os valores de uma sociedade podem variar de acordo com a épocae região. Os valores dominantes no período da chamada Idade Média,por exemplo, dificilmente serão compreendidos pelo homem moderno.Assim também, os chamados povos orientais possuem valores distintosdaqueles cutivados no Ocidente. Conclui-se dissoa) que os valores são sempre relativos.b) que não há valores universalmente válidos.c) que, em geral, os valores são construções humanas.d) que há uma hierarquia de valores inerentes à realidade das coisas.e) que os homens sempre atribuem os valores de acordo com os

interesses econômicos ou de poder envolvidos.

9. Seria cabível atribuir ao valor de dignidade humana e honestidadeapenas ao contexto desta ou daquela cultura? Essa questão propõe aideia de quea) os valores são condicionados pela cultura.b) os valores se inserem em dados históricos e geográficos precisos.c) os valores são incontestavelmente relativos.d) há valores universais.e) não há como os valores estarem desvinculados do contexto cultural.

10. Sobre o estudo dos valores por parte da filosofia, julgue as assertivasabaixo:I. Podemos classificar os valores em positivos e negativos; sensíveis

e espirituais; pessoais e sociais ou relativos e universais.II. O relativismo axiológico defende que os valores de uma pessoa ou

de um grupo de pessoas são tão bons e tão válidos como os dequaisquer outras pessoas ou grupos.

III. A vantagem do relativismo dos valores é a sua plena capacidade paracriar um método ou um critério satisfatório para resolver as situaçõesde conflitos de valores, pois todos tem direito a adoção de seuspróprios valores.

IV. O relativismo demonstra satisfatoriamente que os valores não sãouniversais, assim, o que é digno para uma sociedade (ou pessoa),será indigno para outra e o melhor a fazer é respeitar os valores dosoutros.

São verdadeiras apenasa) I e II. b) II e III. c) II e IV. d) III e IV. e) I e IV.

11.“O problema com este tipo de resposta é que, na vida concreta doshomens e das sociedades, ocorrem divergências de pontos de vista quegeram conflitos para os quais não se pode deixar de encontrar umasolução. Questões como a guerra, a xenofobia e o racismo, o aborto, apreservação do meio ambiente e outras tantas questões do mesmogênero, demonstram a existência de certos tipos de conflitos de valoresque não podem deixar de ter solução.” Tal argumentoa) fortalece os argumentos relativistas.b) confirma que os valores são sempre e somente criações culturais.c) concorda com a ideia de que os valores sempre sejam relativos.d) aponta para uma falha dos argumentos relativistas.e) demonstra ser impossível a solução de certos problemas, pois cada

cultura tem seu conjunto diferenciado de valores.

12.“O que nos leva a decidirmos por uma quando nos encontramosentre duas ou mais realidades de que gostamos ou desejamos? O quenos move a fazer escolhas? A primeira resposta poderia ser: decidimos porque somos livres. E, porsermos livres fazemos escolhas as quais são determinadas pelo valor

que atribuímos àquilo que escolhemos.Mas isso ainda não é tudo. Nossa decisão se deve a algo que vai alémda liberdade ou que dá sentido à liberdade.”

Segundo o texto, que algo é esse?a) Decidimos porque somos capazes de determinar o valor das

realidades com as quais nos relacionamos.b) Decidimos porque apreendemos os valores inerentes às próprias

coisas.c) Decidimos porque somos incapazes de hierarquizar os valores das

coisas.d) Decidimos porquanto não temos habilidades para perceber os

valores inerentes a todas as coisas e, assim, ficamos inábeis paraescolher o melhor.

e) Decidimos porque temos o livre-arbítrio e não nos responsabili za -mos pelas nossas escolhas.

13.“Relacionamo-nos com as coisas e com as pessoas a partir de umahierarquização que chamamos de ‘valores’.”Julgue as frases de acordo com o dito acima.I. Quando nos perguntamos o que nos leva a valorizarmos alguma

coisa em detrimento de outra, observaremos que além de livres ecom capacidade de fazermos escolhas, a partir dos valores quedesenvolvemos, somos capazes, também, de hierarquizar nossasobservações e nossas relações.

II. Os valores que desenvolvemos nascem em geral da cultura. Essa éa razão pela qual povos diferentes valorizam realidades distintas.

III. Os valores, portanto não são sempre absolutos, mas podem sercondicionados pela cultura espaço-temporal.

São verdadeiras:a) Todas. b) I e II apenas. c) II e III apenas.d) I e III apenas. e) II apenas.

14.Em obras como Sobre a violência, Hannah Arendt compreende opoder político como a) o monopólio do exercício legítimo da força. b) o sucesso no alcance de metas próprias. c) a habilidade para influenciar comportamentos. d) a capacidade humana de agir em concerto.

15.Para Hannah Arendt, a distância entre o indivíduo e a sociedade fazemergir alienação em relação ao mundo e a si mesmo. Esse estranha -mento é caracterizado pela pouca condição que os homens têm de seintegrar à sociedade a partir de um material cultural e social que nãolhes pertence. De acordo com essa observação, julgue as assertivasabaixo.I. Nesse contexto é que se entende a importância de se voltar ao

passado para compreender como se dão as mudanças sociais ecomo elas delineiam o caráter das relações sociais e das novasformas de socialização.

II. O fim da economia de mercado que alimenta a cultura burguesa é aúnica alternativa capaz de resgatar os sentimentos de pertenci mentoao mundo.

III. Hannah Arendt teria indicado o sistema soviético como o modelosocialista ideal no resgate dos valores humanitários.

IV. O humanismo clássico, segundo Arendt, pode auxiliar no resgate domundo humano.

São verdadeiras:a) I e II b) II e III c) II e IV d) III e IV e) I e IV

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16.O humanismo em geral sustenta uma visão de homema) como ser inacabado diante da natureza e do mundo.b) como ser racional e em projeto para a própria emancipação.c) como ser insuficiente diante do seu Criador.d) como ser sobrenatural em estado de queda e pecado.e) como ser egoísta e marcado por uma ambição natural e universal.

17.“O critério de valor não consiste no agrado ou desagrado que nosproduzem as coisas, mas em algo completamente distinto; por que umacoisa pode produzir-nos agrado, e, não obstante, ser, para nós,considerada como má e pode produzir-nos desagrado e ser por nósconsiderada como boa”.

Assim sendo,a) o bem não pode ser agradável.b) o mal será sempre indesejável.c) o mal é sempre agradável devido a uma natureza perversa do

homem.d) em ambos os casos, o que nos leva a fazer o bem ou o mal é a

capacidade de escolher.e) a escolha depende mais do conceito do que seja agradável do que

daquilo que possa ser inconveniente.

18.Muitas respostas diferentes podem ser dadas à pergunta "o que éintrinsecamente bom?" Os hedonistas dizem que é o prazer; ospragmáticos, a satisfação, o crescimento ou a adaptação; os humanistas,a autorrealização harmoniosa; os cristãos, o amor a Deus. Assim, julgueas assertivas abaixo.I. O texto sugere a grande variedade de valores possíveis dependendo

do ponto de vista.II. Convém lembrar que para muitos filósofos, embora existam os

valores relativos, há os que são universais. III. O relativismo é competente para lidar com questões éticas como o

racismo, a violência, o sofrimento ou o problema ambiental. IV. Entre os agentes citados acima, os mais corretos são os hedonistas.

São verdadeiras:a) I e II. b) II e III. c) II e IV. d) III e IV. e) I e IV.

19.Sua importância reside principalmente no novo e mais extensosignificado que atribuiu ao termo “valor” e na unidade que trouxe aoestudo de questões econômicas, éticas, estéticas e lógicas que eramtradicionalmente consideradas em separado. O texto refere-se àimportância do (da)a) Relativismo. b) Axiologia. c) Filosofia.d) Dignidade Humana. e) Humanismo.

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1) A 2) B 3) E 4) D

5) C 6) C 7) A 8) C

9) D 10) A 11) D 12) A

13) A 14) D 15) E 16) B

17) D 18) A 19) B

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1. Introdução

Escola de Frankfurt é o nome dado a um grupo defilósofos e cientistas sociais de tradição marxista que seencontram no final dos anos 1920. A Escola de Frankfurtse associa diretamente à chamada Teoria Crítica daSociedade. Deve-se à essa escola a criação de conceitoscomo “indústria cultural” e “cultura de massa”.A Escola de Frankfurt foi fundada em 1924 por Félix Weil,filho de um grande negociante de grãos de trigo naArgentina. Antes dessa denominação tardia (só viria a seradotada, e com reservas, por Max Horkheimer – um dosrepresentantes da escola – na década de 1950), pensou-se o nome Instituto para o Marxismo, mas optou-se porInstituto para a Pesquisa Social.

Diante do anticomunismo reinante nos meiosacadêmicos alemães nas décadas de 1920-1939, o novoInstituto preenchia uma lacuna existente na universidadealemã quanto à história do movimento trabalhista e dosocialismo. Carl Grunberg, economista austríaco, foi oprimeiro diretor, de 1923 a 1930. O órgão do Instituto eraa publicação chamada Arquivos Grunberg. Horkheimer, apartir de 1931, já com título acadêmico, exerceu então afunção de diretor do Instituto, que se associava àUniversidade de Frankfurt. O órgão oficial dessa gestãopassou a ser a Revista para a Pesquisa Social.

Para a Escola de Frankfurt, a indústria cultural produz alienação.

Theodor Adorno nasceu em 1903 em Frankfurt, filhode pai alemão – um próspero negociante de vinhos, judeuassimilado – e mãe italiana. Estudou a obra de Kant porinfluência de um amigo: Kracauer, especialista em

sociologia do conhecimento, que viria a se notabilizar coma publicação da obra De Caligari a Hitler, sobre as relaçõesentre o cinema e o nazismo. Adorno vinha de um meiode músicos, conduzindo-se para o estudo da estéticamusical. Com o fim da Guerra, Adorno tornou-se diretor-adjunto do Instituto Para Pesquisa Social e seu codiretorem 1955, com a aposentadoria de Horkheimer, Adornotorna-se o novo diretor.

Adorno foi um dos mais expressivos representantes daEscola de Frankfurt

Estão abaixo selecionados três textos distintos paraapreciar os conteúdos críticos dessa escola.

2. Texto

A separação entre ser e pensar e suas con tradi -

ções sociais, segundo Max Horkheimer

Por Ângelo Fornazari Batista (Adaptado)

A Teoria Crítica tem como instrumentos metodoló gi -cos a dialética de Hegel e alguns conceitos encontradosnas obras de Marx, tais como mais-valia, mercadoria erelação de troca. Podemos dizer que para ela, a dialéticaé sua força motriz, enquanto os conceitos marxistassupracitados servem de apoio e mesmo corroboração desuas teses. Seu objeto de estudo é efetivamente asociedade burguesa contemporânea, tal como concebi dae idealizada pela Revolução Francesa. Neste sentido a afirmação de Horkheimer éesclarecedora: ”… a Teoria Crítica é em sua totalidadeum único juízo de existência desenvolvido”.

O referido juízo abarca o objeto individual e real.Mostra as peculiaridades que o forma, recusando, numcerto sentido, o caráter hipotético de deduções no quediz respeito à construção de seu conhecimento. De fato,a preocupação do individuo somente com a sua auto-conservação; a síntese de conhecimentos caracterizada

MÓDULO 12 Escola de Frankfurt

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por uma razão instrumentalizada; a eliminação deconceitos por fórmulas; a eficácia do tempo livre dirigidopor outrem; as associações intersubjetivas marcadas porrelações de trocas – entre outras determinações – sãotodos sintomas de nossa sociedade e que de nenhumamaneira devem ser analisados fora deste mesmo âmbitopolítico e social. As qualidades de totalidade e unicidadeque este juízo comporta remetem, portanto, aos variadosindícios de uma mesma realidade. Indícios estesimpregnados de contradições objetivas e subjetivas.

O cientista tradicional, o teórico (neo)positivista e osenso comum fecham os olhos para tais contradições.Enquanto uns veem suas atividades como absoluta menteindependentes de outras ao seu redor, outros veem narealidade a aparência do concreto. O cientista de nossaépoca não é capaz de enxergar que seu fazer estáconectado com outras ciências. Pensa que éindependente também em relação ao status quo: sequerimagina que suas descobertas estão sendo exigidas emanipuladas pela economia e o Estado burguês. O teóricoatual olha para um mundo imóvel e dado. Sua compulsãopor números chega a ser passível de uma análisepsicanalítica. Olhar, classificar, ordenar, quantificar,expressar em gráficos: tal é sua fascinação. A osenso comum já está tudo como tem de estar ou comodeve estar. Até mesmo a força que Marx via noproletariado, hoje, já não pode mais ser pensada a rigor:esta classe social já se atomizou e dissolveu-se noestablishment mediante a propaganda e fetichização dosbens de consumo e produção.

A Teoria Crítica, ou o juízo de existência desenvol vido,tenta entender por que as contradições não sãoprogressivamente superadas sem que invariavelmentetenha-se de voltar a elas. Dito de outra forma, estudar oporquê de estarmos na barbárie, se todas as ferramentasobjetivas necessárias para a conquista da liberdadeconcreta humana estão em nossa época disponíveis. Jáapontamos, no parágrafo acima, algumas razõesenunciadas por Horkheimer. Iremos, entretanto, nosdemorar um pouco mais na concepção que o teóricotradicional tem de si. Com relação a ele, Horkheimerobserva: “o dualismo entre pensar e ser, entendimento epercepção, é para ele natural“.

A dicotomia entre res cogitans e res extensa foiformal e materialmente explicitada por Descartes. Oexistir do cogito é substancial. A relação entre o pensar eo existir dá-se abstratamente, necessitando da mediaçãodivina para o objeto concreto se perfazer. A filosofiacartesiana foi incorporada à vida social, tornou-se práxis,porém sem nenhuma mediação, pois a sociedade queserviria de mediadora é vista sem vida: é movimentadamecanicamente. Enquanto o teórico crítico compreendeo pensar, o formular a teoria em perma nente contato como ser, com o acontecer fático, com o agir. (Adorno dirá

outrora: “Pensar é um agir; teoria é uma forma depráxis”.) Para o outro teórico, sua teoria deve obedeceraos fatos. Essa associação hierárquica supõe o fato comoconsequência de um destino a-histórico e, portanto, alheioà sociedade. Uma institui ção qualquer não é vista comoreflexo de uma atividade social, não é, por assim dizer,um fazer humano, é tão somente algo que já estáconcluído, impassível de contradições. Do mesmo modo,a separação entre entendimento e percepção dá-seporque o objeto é pensado post factum, i. e., comonecessariamente lógico, mas não como uma imanentenecessidade objetiva ou concreta.

O caráter natural que Horkheimer atribui a estasseparações deve-se ao teórico e mesmo a todos os outrosindivíduos de nossa sociedade não estarem mais aptos afazer experiências. Se tolhida a experiência,inevitavelmente todo e qualquer objeto já está concebido.

A dialética hegeliana não serve para Horkheimerenfatizar que existe um Espírito, o qual comanda a históriado mundo, nem para identificar o particular com o geral;antes, mostrar que a práxis humana deve corresponder auma sociedade igualmente humana. Em nossa sociedade– felizmente vislumbrada por Marx – não hápossibilidade alguma de identificação entre contingentee necessário: somente a exposição e denúncia dascontradições.

Horkheimer e Adorno: nomes centrais da Escola de Frankfurt

3. Texto

Marcuse e o fim da sociedade do trabalho

Por Michel Aires de Souza (Adaptado)

Marx, Weber e Durkhein conceberam o conceito detrabalho como a peça fundamental de seus pensamen -tos. Contudo, em nossa atualidade, o trabalho já não émais o principal fator que organiza a sociedade. Ossociólogos de hoje consideram outros fatores comomodos da organização social, como a família, o racismo,a sexualidade, o corpo. O trabalho tornou-se um conceito

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ultrapassado. Além disso, os conflitos sociais já nãopartem mais do antagonismo entre burguesia e proleta -riado. Hoje, conflitos raciais, separatistas, religio sos eculturais são mais constantes. Em nossa atualidade otrabalho se fragmentou, já não é mais o mesmo. Os tra -ba lhos produtivos da indústria, cujos princípios nortea -dores eram o fordismo e o taylorismo, que valoriza vam aprodutividade, controlando os movimentos das máquinase dos homens no processo de produção, tende adesaparecer. Hoje têm sido criadas novas modalidadesde ocupação. A prestação de serviços vem tomando olugar do trabalho produtivo. Atualmente com o desem pre -go estrutural (desemprego causado pela crescentemecanização), tem surgido cada vez mais o trabalhoinformal. Pode ser que num futuro próximo todas asesferas da vida social sejam mecanizadas. Se estediagnóstico for correto, qual novo tipo de trabalho seriapossível numa sociedade pós-industrial? Qual o novo tipode indivíduo para esta nova sociedade? Marcuse, filósofoda Escola de Frankfurt, em pleno auge da industrialização,na década de cinquenta, já pensava sobre estas questões.Em seu livro Eros e civilização de 1955 ele já pensavasobre o colapso do capitalismo e o fim da sociedade dotrabalho. Em sua opinião, a perspectiva de mudanças nosmodos e nas relações de produção, com a mecanizaçãoe automa ti zação em todas as esferas da vida social, devepossibilitar uma nova forma histórica da realidade. Ocapitalismo terá seu fim quando todas as esferas da vidasocial forem mecanizadas e automatizadas acabando como trabalho produtivo. Ele espera que surja daí uma novaracionalidade, uma vez que todos os bens materiais eintelectuais, sem a necessidade do trabalho, serviriam aodesenvolvimento das potencialidades humanas eestariam a serviço da vida. A proposta de Marcuse é aideia de uma nova racionalidade sensível, que secaracteriza e se define como racionalidade do prazer. Essaracionalidade se opõe ao moderno conceito deracionalidade instrumental da sociedade capitalista, quese fundamenta numa razão formal, lógico-matemática. Aracionalidade do mundo ocidental é uma racionalidadetécnica, repressiva, fundamentada numa razão que visacoordenar os meios com os fins, buscando apenas aoperação e o procedimento eficaz na exploração econtroles da natureza e dos homens. Essa razãoabandonou os ideais iluministas de liberdade, igualdade efraternidade, ela não tem mais a preocupação com afelicidade humana, mas sim com o capital. ContudoMarcuse, no mesmo livro Eros e Civilização, diagnosticouque o conceito de razão desenvolvido pelo mundoocidental desvelou uma forma de razão superior àquelaexistente na cultura capitalista e que contém sua próprianegação, uma razão que signifique contemplação, fruiçãoe receptividade do prazer. Hoje, como sabemos, existemtodas as forças materiais e intelectuais neces sárias àrealização de uma sociedade livre. O progresso humanopode possibilitar a eliminação da pobreza, da fome, da

miséria, do trabalho alienado e da repressão. Isto éhistoricamente possível. “As forças explosivas acham suamanifestação mais significativa na automa ção. Aautomação ameaça a inverter a relação entre tempo livree tempo de trabalho sobre a qual repousa a civilizaçãoatual: ela ameaça oferecer a possibilidade do tempo detrabalho se tornar marginal e o tempo livre essencial. Oresultado será uma transformação radical do conteúdodos valores e um modo de vida incom pa tível com acivilização tradicional. A sociedade industrial é mobiliza dae permanece contra essa possibilidade.

A proposta de Marcuse de uma nova racionalidadesensível surge como desdobramento dialético da racio -nali dade instrumental. A mudança na base material dasociedade deve mudar a forma da realidade. Se a formada realidade é a da racionalidade instrumental, com o fimda sociedade do trabalho deve surgir uma novaracionalidade sensível. Nesta nova racionalidade as novasformas de trabalho seriam lúdicas. A redução quantitativado trabalho necessário poderia se transfor mar emliberdade e em uma melhor forma e qualidade de vida. Otrabalho automático, irritante e desprazeroso seria abolidoe substituído pelo trabalho lúdico. O trabalho deve seracompanhado da reativação do erotismo polimórfico, ouseja, da capacidade de sentir prazer. Essa ideia derelações libidinais no trabalho surge em Fourier. Marcuseassimila em sua teoria os conceitos de attraccionpassionnée ou Travail attrayant. Para Fourier o trabalhodeve ser atraente e prazeroso, pois é possível a criação deuma cooperação agradável entre os indivíduos. Essaatração tem três objetivos: “a criação do luxo e do prazerdos ‘cinco sentidos’; a formação de grupos libidinais (deamor e amizade) e o estabele ci mento de uma ordemharmoniosa organizada por grupos de trabalho, de acordocom as ‘paixões individuais’ (‘jogo’ interno e externo dasfaculdades)” (Marcuse, 1955, p.189). O trabalho seriaorganizado tendo em vista a economia de tempo e espaçopara o desenvolvimento integral do indivíduo. Seria umnovo mundo estético, onde o trabalho seria lúdico eprazeroso. Todas as esferas da vida social seriamorganizadas de tal forma que propiciariam o plenodesenvolvimento do indivíduo e de suas faculdadesreceptivas e de fruição do prazer. O homem modelaria arealidade pela sua imaginação produtora, transformando arealidade em obra de arte.

Nesta nova racionalidade do prazer, o próprioindivíduo modificaria sua estrutura psíquica. Contra umaconcepção de indivíduo como Logos (Razão), surge anoção de indivíduo como Eros (Amor). O novo indivíduoproclamado por Marcuse tem seu fundamento na teoriadas pulsões freudiana. Partindo de uma interpretação daobra de Freud, à luz do marxismo, Marcuse buscoudesenvolver uma nova concepção de natureza humana.O indivíduo foi entendido por ele como pulsão de vida(Eros). Na teoria freudiana essa pulsão é o impulso quepreserva a vida e procura criar complexidades cada vez

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maiores de vida. Eros é a pulsão que busca a satisfaçãoda sexualidade, do prazer e do amor. A luta pelo prazer seconstitui como um anseio de toda matéria orgânica pelaexistência. Segundo Marcuse, nos primórdios da matériaorgânica, a razão surge no mundo como busca do prazere fuga da dor. Mas quando a civilização, através da lutapela existência, se transformou em dominação pelosinteresses de classes, a razão se converteu emrepressão. Por este motivo, Marcuse busca recuperar aantiga essência da razão humana. A razão tem comoobjetivo aliviar as tensões do organismo através do prazer.Na teoria freudiana, a função do aparelho neuronial éaliviar as tensões endógenas e exógenas do organismo.A função de descarga motora dá-se pelo impulso deprazer (Eros). Mas essa descarga se tornou em nossaépoca ação convertida em trabalho.

Herbert Marcuse: é notávela influência da psicanálise na sua filosofia.

O aparelho mental perdeu sua natureza essencial queera aliviar as tensões internas através de Eros. Hoje essastensões são aliviadas no trabalho, que produz maistensões e frustrações. Todas as forças psíquicas e físicassão empregadas na alteração apropriada da realidade. Oobjetivo de Marcuse, portanto, é recuperar a antigafunção do aparelho neuronial como pulsão. A razãodeveria assumir seu estado natural, a razão deveriatransformar-se em Eros (pulsão de vida). Com isso, Erosredefiniria a razão em seus próprios termos. Essa novarazão, em uma sociedade futura, seria perso nificada narealidade em todas as esferas da vida social.

4. Texto

Crítica à sociedade de comunicação de massa

Por José Renato Salatiel (jornalista e professoruniversitário)

(Adaptado)

Qual é a influência de meios de comunicação demassa, como a TV, sobre uma sociedade? Como aspessoas são mobilizadas a acompanharem um noticiáriocomo se estivessem assistindo a uma telenovela, como

ocorreu no recente caso da morte da menina Isabella? Osprimeiros filósofos que detectaram a dissolução dasfronteiras entre informação, consumo, entretenimento epolítica, ocasionada pela mídia, bem como seus efeitosnocivos na formação crítica de uma sociedade, foram ospensadores da Escola de Frankfurt.

Max Horkheimer (1895-1973) e Theodor W.

Adorno (1903-1969) são os principais representantes daescola, fundada em 1924, na Universidade de Frankfurt,na Alemanha. No local, um conjunto de teóricos, entreeles Walter Benjamin (1892-1940), Jurgen Habermas

(1929), Herbert Marcuse (1898-1979) e Erich Fromm

(1900-1980) desenvol ve ram estudos de orientaçãomarxista.

Os estudos dos filósofos de Frankfurt ficaram conhe -cidos como Teoria Crítica, que se contrapõe à TeoriaTradicional. A diferença é que enquanto a tradicional é“neutra” em seu uso, a crítica busca analisar as condi -ções sociopolíticas e econômicas de sua aplica ção,visando à transformação da realidade. Um exemplo decomo isso funciona é a análise dos meios de comunica -ção caracterizados como indústria cultural.

Indústria cultural

Em um texto clássico escrito em 1947, “Dialética doIluminismo”, Adorno e Horkheimer definiram indústriacultural como um sistema político e econômico que tempor finalidade produzir bens de cultura – filmes, livros,música popular, programas de TV etc. – comomercadorias e como estratégia de controle social.

A ideia é a seguinte: os meios de comunicação demassa, como TV, rádio, jornais e portais da Internet, sãopropriedades de algumas empresas, que possueminteresse em obter lucros e manter o sistema econômicovigente que as permitem continuar lucrando. Portanto,vendem-se filmes e seriados norte-americanos, músicas(funk, pagode, sertaneja etc.) e novelas não como bensartísticos ou culturais, mas como produtos de consumoque, neste aspecto, em nada se diferenciariam de sapatosou sabão em pó. Com isso, ao invés de contribuírem paraformar cidadãos críticos, manteriam as pessoas“alienadas” da realidade.

Como afirmam no texto: “Filmes e rádio não têmmais necessidade de serem empacotados como arte. Averdade, cujo nome real é negócio, serve-lhes deideologia. Esta deverá legitimar os refugos que depropósito produzem. Filme e rádio se autodefinem comoindústrias, e as cifras publicadas dos rendimentos de seusdiretores-gerais tiram qualquer dúvida sobre anecessidade social de seus produtos”.

Para Adorno, os receptores das mensagens dosmeios de comunicação seriam vítimas dessa indústria.Eles teriam o gosto padronizado e seriam induzidos aconsumir produtos de baixa qualidade. Por essa razão,indústria cultural substitui o termo cultura de massa, poisnão se trata de uma cultura popular representada emnovelas da Rede Globo, por exemplo, mas de umaideologia imposta às pessoas.

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Dominação política

E como a indústria cultural torna-se mecanismo dedominação política? Adorno e Horkheimer vislumbraramos meios de comunicação de massa como uma perver sãodos ideais iluministas do século 18. Para o Iluminis mo, oprogresso da razão e da tecnologia iria libertar o homemdas crenças mitológicas e supersti ções, resultando numasociedade mais livre e democrá tica.

Mas os pensadores da Escola de Frankfurt, que eramjudeus, se viram alvos da campanha nazista com achegada de Hitler ao poder nos anos 30, na Alemanha.Com apoio de uma máquina de propaganda que pelaprimeira vez usou em larga escala os meios decomunicação como instrumentos ideológicos, o nazismoera uma prova de como a racionalidade técnica, que noIluminismo serviria para libertar o homem, estavaescravizando o indivíduo na sociedade moderna.

Nas mãos de um poder econômico e político, atecnologia e a ciência seriam empregadas para impedirque as pessoas tomassem consciência de suascondições de desigualdade. Um trabalhador que em seuhorário de lazer deveria ler bons livros, ir ao teatro ou aconcertos musicais, tornando-se uma pessoa mais culta,questionadora e engajada politicamente, chega em casa

e senta-se à frente da TV para esquecer seus problemas,absorvendo os mesmos valores que predominam em suarotina de trabalho. É desta forma que a indústria culturalexerceria controle sobre a massa. Como resultado, aoinvés de cidadãos conscientes, teríamos apenasconsumidores passivos.

Totalitarismo eletrônico

Posteriormente, entre os anos 70 e 80, osfrankfurtianos foram muito criticados por uma visãoreducionista dos receptores, em razão de pesquisas quedemonstraram que as pessoas não são tão manipuláveisquanto Adorno pensava na época. Além disso, nem todaprodução cultural se resume à indústria. Nas histórias emquadri nhos, por exemplo, temos Disney e Maurício deSouza, mas temos também quadrinhos alternativos eautorais.

Apesar disso, Adorno e Horkheimer tiveram o méritode serem os precursores da denúncia de um “totalita ris -mo eletrônico”, em que diversão e assuntos importantessão “mixados” num só produto; em que representantespolíticos são escolhidos como se fossem sabonetes.Neste sentido, a crítica permanece atual.

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1. Cultura de Massa

2. Adorno e a Cultura de Massa

1. Cultura de Massa

(Disponível em:http://www.infoescola.com/sociedade/cultura-de-massa/)

A expressão ‘cultura de massa’, posteriormentetrocada por ‘indústria cultural’, é aquela criada com umobjetivo específico, atingir a massa popular, maioria nointerior de uma população, transcendendo, assim, toda equalquer distinção de natureza social, étnica, etária, sexualou psíquica. Todo esse conteúdo é disseminado por meiodos veículos de comunicação de massa.

Os filósofos alemães, integrantes da Escola deFrankfurt – Theodor W. Adorno e Max Horkheimer —,foram os responsáveis pela criação do termo ‘IndústriaCultural’. Eles anteviam a forma negativa como a recém-criada mídia seria utilizada durante a Segunda GuerraMundial. Aliás, eles eram de etnia judia, portanto,sofreram dura perseguição dos nazistas e, para fugirdeste contexto, partiram para os EUA.

Antes do advento da cultura de massa, havia diversasconfigurações culturais – a popular, em contraposição àerudita; a nacional, que entretecia a identidade de uma

população; a cultura no sentido geral, definida como umconglomerado histórico de valores estéticos e morais; eoutras tantas culturas que produziam diversificadasidentidades populares.

Mas, com o nascimento do século XX e, com ele, dosnovos meios de comunicação, estas modalidades cultu -rais ficaram completamente submergidas sob o domínioda cultura de massa. Veículos como o cinema, o rádio e atelevisão ganharam notório destaque e se dedicaram, emgrande parte, a homogeneizar os padrões da cultura.

Como esta cultura é, na verdade, produto de umaatividade econômica estruturada em larga escala, deestatura internacional, hoje global, ela está vinculada,inevitavelmente, ao poderoso capitalismo industrial efinanceiro. A serviço deste sistema, ela oprime incessan -temente as demais culturas, valorizando tão somente osgostos culturais da massa.

Outro importante pensador contemporâneo, ofrancês Edgar Morin, define a cultura de massa ou indús -tria cultural como uma elaboração do complexo industrial,um produto definido, padronizado, pronto para oconsumo. Mas, ainda conforme este estudioso, umaindustrializa ção secundária se processa paralelamente,mais sutil e, portanto, mais ardilosa, a da alma humana,

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pois ela ocorre nos planos imagético e onírico.Esta cultura é hipnotizante, entorpecente, indutiva.

Ela é introjetada no ser humano de tal forma que se tornaquase inevitável o seu consumo, principalmente se amassa não tem o seu olhar e a sua sensibilidade educa -dos de forma apropriada e o acesso indispen sável àmultiplicidade cultural e pedagógica. Com este manan cialde recursos, é possível criar modalidades de resistência aessa cultura impositiva.

Do contrário, com os apelos desta indústria,personificados principalmente na esfera publicitária,principalmente aquela que se devota sem pudor aosensacionalismo, é quase impossível resistir aos saboresvisuais da avalanche de imagens e símbolos que inundama mente humana o tempo todo. Este é o motor que moveas engrenagens da industria cultural e aliena asmentalidades despreparadas.

2. Adorno e a Cultura de Massa

Por Voltaire Schilling (Historiador)

Theodor Adorno, filósofo e sociólogo alemão,projetou-se como um dos críticos mais ácidos dosmodernos meios de comunicação de massa. Ao exilar-senos Estados Unidos, entre 1938 e 1946, percebeu que amídia não se voltava apenas para suprir as horas de lazerou dar informações aos seus ouvintes ou espectadores,mas fazia parte do que ele chamou de industria cultural.Um imenso maquinismo composto por milhares deaparelhos de transmissão e difusão que visava produzir ereproduzir um clima conformista e dócil na multidãopassiva.

Indo para a América

“A civilização atual a tudo confere um ar de seme -lhança”. M. Horkheimer e T. Adorno In: A Indústria Cultural,1947

Theodor Adorno nascido em Frankfurt, na Alemanha,em 1903, foi daqueles tantos intelectuais, cientistas,artistas, compositores e escritores alemães, que, nadécada de 1930, por serem de descendência judaica oupor inclinarem-se pelo socialismo, ou ambas as coisas,foram obrigados a emigrar para os Estados Unidos, naquiloque foi, talvez, a maior evasão de cérebros registrada nahistória contemporânea. Ele pertencia a um grupo depensadores extremamente sofisticado que fazia parte dafamosa Escola de Frankfurt, fundada em 1923, e que foraconstrangido a sair do país nos anos seguintes daascensão do nacional-socialismo ao poder.

É de se imaginar o contentamento dele quando, ainda naSuíça, no outono de 1938, recebeu um inespe ra dotelefonema de Londres do seu particular amigo e parceiro,Max Horkheimer. Era um convite para que ele fosse àAmérica para assumir uma pesquisa a serviço da

Universidade de Princeton, a mesma que, em 1933,convidara Albert Einstein para integrar o seu corpo docente.

Tratava-se de um projeto e tanto, pois a RadioResearch Projet queria saber tudo sobre os ouvintesnorte-americanos. Nova Iorque provocou-lhe umaestranha reação. Chocou-o a convivência dos “palácioscolossais...dos grandes cartéis internacionais” comsombrios edifícios erguidos para os pequenos negócios,formando, no geral, um ar de cidade desolada. Nemmesmo o plano municipal de levar gente a morar nossubúrbios mais afastados, dando às residências um ar deindividualidade, o consolou.

A estandardização americana (Adaptado)

Para ele, um europeu refinado que passara boa parteda sua vida cultivando a música modernista de Alban Berge, depois, a de Schönberg e sua atonalidade incidental, aAmérica pareceu-lhe toda igual. Contradito riamente, opaís que mais celebrava e enaltecia a singularidade e aofato de cada um procurar ser algo bem diferente dosdemais não parava de produzir e imprimir tudo idêntico,tudo estandardizado. A imensa rede de atividades quecobria toda a cidade era regida apenas pela ideologia donegócio. Numa sociedade onde as pessoas somentesorriam se ganhavam uma gorjeta, nada escapava dasmotivações do lucro e do interesse. Aprofundando-se noestudo da mídia norte-americana, entendeu que detrásdaquele aparente caos, onde rádios, filmes, revistas ejornais atuavam de maneira livre e inde pen dente, haviauma espécie de monopólio ideológico cujo objetivo era adomesticação das massas. Quando o cidadão saía do seuserviço e chegava em casa, a mídia não o deixava em paz,bombardeando-o, ele e a família, com programas de baixonível, intercala dos com anún cios carregados de clichêsconformistas, compro me tendo-o com a produção e oconsumo.

Não se tratava, para ele, de que aqueles sem-fim denovelas e shows de auditórios refletissem a vontade dasmassas, algo autêntico e espontâneo, vindo do meio dopovo. Um anseio que os profissionais da mídia apenasprocuravam dar corpo, transformando-os em diversão eentretenimento. Ao contrário, demonstrava, isso sim, aexistência de uma poderosa e influente indústria culturalque, de forma planejada, impingia aos seus consu midoresdoses cavalares de lugares-comuns e banalida des, cujoobjetivo era ajudar a reproduzir “o modelo do gigantescomecanismo econômico” que pressionava sem parar asociedade como um todo.

Lá, na América, não havia espaço neutro. Não ocorriauma cisão entre a produção e o lazer. Tudo era a mesmacoisa, tudo girava em função do grande sistema. Dessaforma, qualquer coisa que causasse reflexão, umainquietação mais profunda, era imediatamente expelida

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pela indústria cultural como indigesta ou impertinente.Adorno, terminada a Segunda Guerra, voltou para aEuropa, para Frankfurt, atarefado em reabrir a sua escolade sociologia. Morreu em 1969, arrasado com a humi -lhação a que estudantes ultraesquerdistas o submeteram,em plena sala de aula, durante a revolta de 1968/9.

Principais Obras de Adorno

1933 – Kierkegaard. Konstruktion des Ästhetischen(Kierkegaard, a construção da estética).

1947 – Dialektik der Aufklärung. PhilosophischeFragmente (A dialética do esclarecimento.Filosofia em fragmento), com Max Horkheimer.

1949 – Philosophie der neuen Musik (A filosofia da novamúsica).

1950 – The Authoritarian Personality (A personalidadeautoritária) juntamente com E. Frenkel-Brunswik,D. J. Levinson e R. N. Sanford.

1951 – Minima Moralia (Mínima morália).

1956 – Zur Metakritik der Erkenntnistheorie (Sobre ametacrítica da teoria do conhecimento).

1967 – Negative Dialektik (Dialética negativa).

1970 – Ästhetische Theorie (Teoria estética).

1971 – Soziologische Schriften (Escritos sociológicos).

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1. (UEL) “A doença da razão está no fato de que ela nasceu danecessidade humana de dominar a natureza. Essa vontade de dominara natureza, de compreender suas ‘leis’ para submetê-la, exigiu ainstauração de uma organização burocrática e impessoal, que, em nomedo triunfo da razão sobre a natureza, chegou a reduzir o homem asimples instrumento. Naturalmente, as possibilides atuais eraminimagináveis nos tempos passados: hoje o progresso tecnológico põeà disposição de todos objetos e bens que antes só existiam nos sonhosdos utopistas. [...] O progresso dos recursos técnicos, que poderia servirpara ‘iluminar’ a mente do homem, se acompanha pelo processo dadesumanização, de tal modo que o progresso ameaça destruirprecisamente o objetivo que deveria realizar: a ideia do homem.”

(REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia. Trad. deÁlvaro Cunha. São Paulo: Paulinas, 1991. v. 3. p. 846.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre razão instrumental emAdorno e Horkheimer, considere as afirmativas a seguir.I. A forma como o domínio da natureza foi alcançado preservou a “ideia

do homem”, objetivo central do progresso técnico.II. O objetivo do homem, desde o início de sua história, era o de dominar

a natureza e fazer uso de seus recursos para viver melhor.III. A dimensão crítica da razão, imune ao progresso tecnológico e ao

avanço da ciência, impediu a dominação do homem.IV. A humanidade, nos dias atuais, atingiu um grau significativo de

controle sobre o meio em que vive e, para isso, conta com o auxíliode instrumentos administrativos e tecnológicos.

Estão corretas apenas as afirmativas:a) I e III. b) I e IV. c) II e IV.d) I, II e III. e) II, III e IV.

RESOLUÇÃO:Resposta: C

2. (UEL) – “O aumento da produtividade econômica, que por um ladoproduz as condições mais justas para um mundo mais justo, confere poroutro lado ao aparelho técnico e aos grupos sociais que o controlam umasuperioridade imensa sobre o resto da população. O indivíduo se vêcompletamente anulado em face dos poderes econômi cos. Ao mesmotempo, estes elevam o poder da sociedade sobre a natureza a um níveljamais imaginado. Desaparecendo diante do aparelho a que serve, oindivíduo se vê, ao mesmo tempo, melhor do que nunca provido por ele.Numa situação injusta, a impotência e a dirigibilidade da massaaumentam com a quantidade de bens a ela destinados.”

(ADORNO, Theodor W; HORKHEIMER, Max. Dialética doesclarecimento. Trad. De Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro:

Jorge Zahar Editor, 1997. p. 14.)

De acordo com o texto de Adorno e Horkheimer, é correto afirmar:a) A alta capacidade produtiva da sociedade assegura liberdade e justiça

para seus membros, independentemente da forma como ela seestrutura, controlando ou não seus membros.

b) O “desaparecimento” do indivíduo diante do aparato econômico dasociedade se deve à incapacidade dos próprios cidadãos em seintegrarem adequadamente ao mercado de trabalho.

c) A ciência e a técnica, independente de quem tem seu controle, sãoas responsáveis pela circunstância de muitos estarem impossibili -tados de atingir o status de sujeito numa sociedade altamenteprodutiva.

d) O fato de a sociedade produzir muitos bens, valendo-se da ciência eda técnica, poderia representar um grau maior de justiça para todos;no entanto, ela anula o indivíduo em função do modo como estáorganizada e como é exercido o poder.

e) O alto grau de autonomia das massas na sociedade capitalistacontemporânea é resultado do avançado domínio tecnológicoalcançado pelo homem.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

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3. (UEL) – Observe essaimagem. Ela refere-se a umquadro que foi produzido peloartista norte-americano AndyWarhol. Valendo-se de recur -sos da “socie dade de con -sumo” co mo, por exem plo,fotos de artistas famo sos,Warhol produ ziu um númeroassombro so de quadros emum curto espaço de tempo. Ofenômeno da reprodução naarte foi estudado pelo filósofo alemão Walter Benjamin, que na décadade 1930 publicou um ensaio intitulado “A obra de arte no tempo de suareprodutibilidade técnica”. Sobre a teoria de Walter Benjamin a respeito das consequências dareprodução em massa das obras de arte, é correto afirmar que o autor.a) entende negativamente o fenômeno da reprodução na arte por

representar a destruição das obras de arte e a sua transformação emmercadoria pela indústria cultural.

b) reconhece que ocorrem mudanças na forma das pessoas receberemas obras de arte e propõe a reeducação das massas como forma deresgate da aura, isto é, daquilo que é dado apenas uma vez.

c) percebe na reprodução da obra de arte a dissolução da sociedademoderna, fenômeno este sem volta e que representa o triunfo docapitalismo sobre o pensamento crítico e a reflexão.

d) interpreta a reprodutibilidade como um fenômeno inevitável dasociedade capitalista que provoca alterações na interpretação quecríticos e artistas fazem das obras de arte, sem maiores consequên -cias ou possibilidades políticas.

e) afirma que a reprodutibilidade técnica provoca mudanças napercepção e na postura das pessoas que têm acesso às obras; porisso, certas formas artísticas, sobretudo o cinema, podem vir adesempenhar o papel de politização das massas.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

4. (UFU) – Analise a figura a seguir.

Chaplin. Tempos Modernos. (Disponível em: Acesso em: 8 ago. 2004.)

“Parece que enquanto o conhecimento técnico expande o horizonte daatividade e do pensamento humanos, a autonomia do homem enquantoindivíduo, a sua capacidade de opor resistência ao crescente mecanismode manipulação das massas, o seu poder de imaginação e o seu juízoindependente sofreram aparentemente uma redução. O avanço dosrecursos técnicos de informação se acompanha de um processo dedesumanização. Assim, o progresso ameaça anular o que se supõe sero seu próprio objetivo: a ideia de homem.”.\

(HORKHEIMER Max. Eclipse da razão. Trad. de Sebastião UchôaLeite. Rio de Janeiro: Editorial Labor do Brasil, 1976. p. 6.)

Com base no texto, na imagem e nos conhecimentos sobre racionali -dade instrumental, é correto afirmar: a) A imagem de Chaplin está de acordo com a crítica de Horkheimer: ao

invés de o progresso e da técnica servirem ao homem, este se tornacada vez mais escravo dos mecanismos criados para tornar a suavida melhor e mais livre.

b) A imagem e o texto remetem à ideia de que o desenvolvimentotecnológico e o extraordinário progresso permitiram ao homematingir a autonomia plena.

c) Imagem e texto apresentam o conceito de racionalidade que está naestrutura da sociedade industrial como viabilizador da emancipaçãodo homem em relação a todas as formas de opressão.

d) Enquanto a imagem de Chaplin apresenta a autonomia dostrabalhadores nas sociedades contemporâneas, o texto deHorkheimer mostra que, quanto maior o desenvolvimentotecnológico, maior o grau de humanização.

e) Tanto a imagem quanto o texto enaltecem a inevitável instrumen -talização das relações humanas nas sociedades contemporâneas.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

5. (UEL) – “A indústria cultural não cessa de lograr seus consumi doresquanto àquilo que está continuamente a lhes prometer. A promissória sobre o prazer, emitida pelo enredo e pela encenação, éprorrogada indefinidamente: maldosamente, a promessa a que afinal sereduz o espetáculo significa que jamais chegaremos à coisa mesma,que o convidado deve contentar-se com a leitura do cardápio. [...] Cadaespetáculo da indústria cultural vem mais uma vez aplicar e demonstrarde maneira inequívoca a renúncia permanente que a civilização impõe àspessoas. Oferecer-lhes algo e ao mesmo tempo privá-las disso é amesma coisa”.

(ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. Dialética doesclarecimento. Trad. de Guido Antônio de Almeida. Rio de Janeiro:

Jorge Zahar, 1997. pp. 130-132.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre indústria cultural emAdorno e Horkheimer, é correto afirmar: a) A indústria cultural limita-se a atender aos desejos que surgem

espontaneamente da massa de consumidores, satisfazendo asaspirações conscientes de indivíduos autônomos e livres queescolhem o que querem.

b) A indústria cultural tem um desempenho pouco expressivo naprodução dos desejos e necessidades dos indivíduos, mas ela éeficiente no sentido de que traz a satisfação destes desejos enecessidades.

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c) A indústria cultural planeja seus produtos determinando o que osconsumidores desejam de acordo com critérios mercadológicos.Para atingir seus objetivos comerciais, ela cria o desejo, mas, aomesmo tempo, o indivíduo é privado do acesso ao prazer e àsatisfação prometidos.

d) O entretenimento que veículos como o rádio, o cinema e as revistasproporcionam ao público não pode ser entendido como forma deexploração dos bens culturais, já que a cultura está situada foradesses canais.

e) A produção em série de bens culturais padronizados permite que aobra de arte preserve a sua capacidade de ser o suporte de manifes -tação e realização do desejo: a cada nova cópia, a crítica se renova.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

6. (UEL) – “A diversão é o prolongamento do trabalho sob o capitalismotardio. Ela é procurada por quem quer escapar ao processo de trabalhomecanizado, para se pôr de novo em condições de enfrentá-lo. Mas, aomesmo tempo, a mecanização atingiu um tal poderio sobre a pessoaem seu lazer e sobre a sua felicidade, ela determina tão profundamentea fabricação das mercadorias destinadas à diversão, que esta pessoanão pode mais perceber outra coisa senão as cópias que reproduzem opróprio processo de trabalho.”

(ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. Dialética doesclarecimento. Trad. de Guido Antônio de Almeida. Rio de Janeiro:

Jorge Zahar, 1997.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre trabalho e lazer nocapitalismo tardio, em Adorno e Horkheimer, é correto afirmar:a) Há um círculo vicioso que envolve o processo de trabalho e os

momentos de lazer. Com o objetivo de fugir do trabalho mecani zadoe repor as forças, o indivíduo busca refúgio no lazer, porém o lazer seestrutura com base na mesma lógica mecanizada do trabalho.

b) Apesar de se apresentarem como duas dimensões de um mesmoprocesso, lazer e trabalho se diferenciam no capitalismo tardio, namedida em que o primeiro é o espaço do desenvolvimento daspotencialidades individuais, a exemplo da reflexão.

c) Mesmo sendo produzidas de acordo com um esquema mercado -lógico que fabrica cópias em ritmo industrial, as mercadoriasconsumidas nos momentos de lazer proporcionam ao indivíduo plenadiversão e cultura.

d) Tanto o trabalho quanto o lazer preservam a autonomia do indiví duo,mesmo nos processos de mecanização que caracterizam afabricação de mercadorias no capitalismo tardio.

e) As atividades de lazer no capitalismo tardio, como o cinema e atelevisão, são caminhos para a politização e aquisição de culturapelas massas, aproximando-as das verdadeiras obras de arte.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

7. (UEL) – Leia o texto a seguir.Habermas distingue entre racionalidade instrumental e racionalidadecomunicativa. A racionalidade comunicativa ocorre quando os sereshumanos recorrem à linguagem com o intuito de alcançar oentendimento não coagido sobre algo, por exemplo, decidir sobre amaneira correta de agir (ação moral). A racionalidade instrumental, por

sua vez, ocorre quando os seres humanos utilizam as coisas do mundo,ou até mesmo outras pessoas, como meio para se alcançar um fim(raciocínio meio e fim).Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria da açãocomunicativa de Habermas, é correto afirmar:a) Contar uma mentira para outra pessoa buscando obter algo que

desejamos e que sabemos que não receberíamos se disséssemosa verdade é um exemplo de racionalidade comunicativa.

b) Realizar um debate entre os alunos de turma da faculdade buscandodecidir democraticamente a melhor maneira de arrecadar fundospara o baile de formatura é um exemplo de racionalidadeinstrumental.

c) Um adolescente que diz para seu pai que vai dormir na casa de umamigo, mas, na verdade, vai para uma festa com amigos, é umexemplo de racionalidade comunicativa.

d) Alguém que decide economizar dinheiro durante vários anos a fim defazer uma viagem para os Estados Unidos da América é um exemplode racionalidade instrumental.

e) Um grupo de amigos que se reúne para decidir democraticamenteo que irão fazer com o dinheiro que ganharam em um bolão da Mega-Sena é um exemplo de racionalidade instrumental.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

8. (UEL) – Leia o texto a seguir.“Francis Bacon, em sua obra Nova Atlântida, imagina uma utopiatecnocrática na qual o sofrimento humano poderia ser removido pelodesenvolvimento e pelo aperfeiçoamento do conhecimento científico, oqual permitiria uma crescente dominação da natureza e um supostoafastamento do mito. Na obra Dialética do Esclarecimento, Adorno eHorkheimer defendem que o projeto iluminista de afastamento do mitofoi convertido, ele próprio, em mito, caindo no dogmatismo e em umaforma de mitologia. O progresso técnico-científico consiste, para Adornoe Horkeheimer, no avanço crescente da racionalidade instru mental, aqual é incapaz de frear iniciativas que afrontam a moral, como foram,por exemplo, os campos de concentração nazistas.”

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o desenvolvimentotécnico-científico, é correto afirmar:a) Bacon pensava que o incremento da racionalidade instrumental

aliviaria as causas do sofrimento humano, apesar de a razão, a longoprazo, sucumbir novamente ao mito.

b) Adorno e Horkheimer concordavam que o progresso científico nãoconsegue superar o mito, mas se torna um tipo de concepção míticaincapaz de discriminar o que é certo do que é errado moralmente.

c) Adorno e Horkheimer sustentavam que o crescente avanço daracionalidade instrumental consistia num incremento da capacidadehumana de avaliar moralmente.

d) Bacon apontava que o aumento da capacidade de domínio do homemsobre a natureza conduziria os seres humanos a uma forma dedogmatismo.

e) Tanto Adorno e Horkheimer quanto Bacon viam o progresso técnicoe científico como a solução para os sofrimentos humanos e para asincertezas morais humanas.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

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9. (UNESP-2013) – Não somente os tipos das canções de sucesso, osastros, as novelas ressurgem ciclicamente como invariantes fixos, maso conteúdo específico do espetáculo só varia na aparência. O fracassotemporário do herói, que ele sabe suportar como bom esportista que é;a boa palmada que a namorada recebe da mão forte do astro, são, comotodos os detalhes, clichês prontos para serem empregadosarbitrariamente aqui e ali e completamente definidos pela finalidade quelhes cabe no esquema. Desde o começo do filme já se sabe como eletermina, quem é recompensado, e, ao escutar a música ligeira, o ouvidotreinado é perfeitamente capaz, desde os primeiros compassos, deadivinhar o desenvolvimento do tema e sente-se feliz quando ele temlugar como previsto. O número médio de palavras é algo em que nãose pode mexer. Sua produção é administrada por especialistas, e suapequena diver sidade permite reparti-las facilmente no escritório.

(Theodor W. Adorno e Max Horkheimer.

A indústria cultural como mistificação das massas.

In: Dialética do esclarecimento, 1947. Adaptado.)

O tema abordado pelo texto refere-sea) ao conteúdo intelectualmente complexo das produções culturais de

massa.b) à hegemonia da cultura americana nos meios de comunicação de

massa.c) ao monopólio da informação e da cultura por ministérios estatais.d) ao aspecto positivo da democratização da cultura na sociedade de

consumo.e) aos procedimentos de transformação da cultura em meio de

entretenimento.

RESOLUÇÃO:

Adorno, representante da Escola de Frankfurt, estudou o fenômeno

da indústria cultural, fenômeno em que a cultura se reduz a mero

entretrenimento e produto de consumo, portadora da ideologia da

classe dominante, e que funciona para conter o desen volvimento

das consciências e, portanto, da autonomia dos homens.

Resposta: E

124 –

1. Para Adorno e Horkheimer, que é a indústria cultural?

2. Segundo a Escola de Frankfurt, como a indústria cultural podeproduzir alienação?

3. “O cientista tradicional, o teórico (neo)positivista e o senso comumfecham os olhos para tais contradições. Enquanto uns veem suasatividades como absolutamente independentes de outras ao seu redor,outros veem na realidade a aparência do concreto. O cientista de nossaépoca não é capaz de enxergar que seu fazer está conectado com outrasciências. Pensa que é independente também em relação ao status quo:sequer imagina que suas descobertas estão sendo exigidas emanipuladas pela economia e o Estado burguês. O teórico atual olhapara um mundo imóvel e dado. Sua compulsão por números chega aser passível de uma análise psicanalítica. Olhar, classificar, ordenar,quantificar, expressar em gráficos: tal é sua fascinação”.

(Ângelo Fornazari Batista)Quais são os elementos no texto que sustentam esta crítica?

4. Identifique o tema central no texto de Ângelo Fornazari Batistaacerca do pensamento de Horkheimer.

5. “Hoje, conflitos raciais, separatistas, religiosos e culturais são maisconstantes. Em nossa atualidade o trabalho se fragmentou, já não émais o mesmo. Os trabalhos produtivos da indústria, cujos princípiosnorteadores eram o fordismo e o taylorismo, que valorizavam aprodutividade, controlando os movimentos das máquinas e dos homensno processo de produção, tende a desaparecer. Hoje têm sido criadasnovas modalidades de ocupação. A prestação de serviços vem tomandoo lugar do trabalho produtivo. Atualmente com o desemprego estrutural(desemprego causado pela crescente mecanização), tem surgido cadavez mais o trabalho informal. Pode ser que num futuro próximo todas asesferas da vida social sejam mecanizadas. Se este diagnóstico forcorreto, qual novo tipo de trabalho seria possível numa sociedade pós-industrial? Qual o novo tipo de indivíduo para esta nova sociedade?Marcuse, filósofo da Escola de Frankfurt, em pleno auge da indus -trialização, na década de cinquenta, já pensava sobre estas questões.Em seu livro Eros e civilização de 1955 ele já pensava sobre o colapso

do capitalismo e o fim da sociedade do trabalho. Em sua opinião, aperspectiva de mudanças nos modos e nas relações de produção, coma mecanização e automatização em todas as esferas da vida social, devepossibilitar uma nova forma histórica da realidade. O capitalismo teráseu fim quando todas as esferas da vida social forem mecanizadas eautomatizadas acabando com o trabalho produtivo. Ele espera que surjadaí uma nova racionalidade, uma vez que todos os bens materiais e inte -lectuais, sem a necessidade do trabalho, serviriam ao desenvol vimentodas potencialidades humanas e estariam a serviço da vida”.

Michel Aires de Souza

Marcuse propõe uma racionalidade sensível no lugar da instrumental.Explique.

6. A cultura de massa é hipnotizante, entorpecente, indutiva. Comen teo sentido desta afirmação, com base nas leituras complementares.

7. Que havia no âmbito ou universo cultural antes do advento da culturade massa?

8. (UEL) – Leia os textos a seguir.[...] seria possível reconstituir a história da arte a partir do confronto dedois polos, no interior da própria obra de arte, e ver o conteúdo dessahistória na variação do peso conferido seja a um polo, seja a outro. Osdois polos são o valor de culto da obra e seu valor de exposição. [...] Àmedida que as obras de arte se emancipam do seu uso ritual, aumentamas ocasiões para que elas sejam expostas. (p. 172).

(BENJAMIN, W. “A obra de arte na era de sua reprodutibilidadetécnica - Primeira versão.” In: Magia e técnica, arte e política: ensaios

sobre literatura e história da cultura. 7.o ed. São Paulo: Brasiliense,1994.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento de WalterBenjamin, é correto afirmar:a) O resgate da aura artística da obra de arte promovido pela

reprodutibilidade técnica amplia sua função potencialmentedemocratizadora, permitindo o acesso de um número maior depessoas à sua contemplação.

b) O declínio da aura da obra de arte, decorrente de sua crescenteelitização e das novas técnicas de reprodução em série, reforça seu

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valor tradicional de culto e amplia a percepção estética dascoletividades humanas.

c) A arte, na sociedade primitiva, tinha por finalidade atender aos rituaisreligiosos, por isso possuía um caráter aurático (relativo à aura)vinculado ao valor de culto, o qual se perde com o avanço dareprodutibilidade técnica, na época moderna.

d) O cinema manifesta-se como uma obra de arte aurática, pois suscitaem cada um dos espectadores uma forma singular e única de serela cionar com o objeto artístico no interior do qual mergulha e nelese distrai.

e) O que determina o esvaziamento da aura da obra de arte reproduzidatecnicamente é a sua reclusão e a perda do valor de exposição, oque restringe o acesso das massas, que se tornaram alienadas.

9. Leia o texto a seguir.Em Técnica e Ciência como “ideologia”, Habermas apresenta uma

reformulação do conceito weberiano de racionalização pela qual lança asbases conceptuais de sua teoria da sociedade. Neste sentido, postula adistinção irredutível entre trabalho ou agir instrumental e interação ouagir comunicativo, bem como a pertinência da conexão dialética entreessas categorias, das quais deriva a diferenciação entre o quadroinstitucional de uma sociedade e os subsistemas do agir racional comrespeito a fins. Segundo Habermas, uma análise mais pormenorizadada primeira parte da Ideologia Alemã revela que “Marx não explicitaefetivamente a conexão entre interação e trabalho, mas sob o título nadaespecífico da práxis social reduz um ao outro, a saber, a açãocomunicativa à instrumental”.

(Adaptado: HABERMAS, J. Técnica e ciência como “ideologia”.Lisboa: Edições 70, 1994. p.41-42.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento deHabermas, é correto afirmar:a) O crescimento das forças produtivas e a eficiência administrativa

conduzem à organização das relações sociais baseadas nacomunicação livre de quaisquer formas de dominação.

b) A liberação do potencial emancipatório do desenvolvimento datécnica e da ciência depende da prevenção das disfuncionalidadessistêmicas que entravam a reprodução material da vida e suasrespectivas formas interativas.

c) O desenvolvimento da ciência e da técnica, enquanto forças produ -tivas, permite estabelecer uma nova forma de legitimação que, porsua vez, nega as estruturas da ação instrumental, assimilando-as àação comunicativa.

d) Com base na irredutibilidade entre trabalho e interação, a luta pelaemancipação diz respeito tanto ao agir comunicativo, contra asrestrições impostas pela dominação, quanto ao agir instrumental,contra as restrições materiais impostas pela escassez econômica.

e) A racionalização na dimensão da interação social submetida àracionalização na dimensão do trabalho na práxis social determina ocaráter emancipatório do desenvolvimento das forças produtivas edo bem-estar da vida humana.

10. Leia o texto "Na medida em que nesse processo a indústria cultural inegavelmenteespecula sobre o estado de consciência e inconsciência de milhões depessoas às quais ela se dirige, as massas não são, então, o fatorprimeiro, mas um elemento secundário, um elemento de cálculo;acessório da maquinaria. O consumidor não é rei, como a indústriacultural gostaria de fazer crer, ele não é o sujeito dessa indústria, masseu objeto. O termo mass media, que se introduziu para designar a

indústria cultural, desvia, desde logo, a ênfase para aquilo que éinofensivo. Não se trata nem das massas em primeiro lugar, nem dastécnicas de comunicação como tais, mas do espírito que lhes éinsuflado, a saber, a voz de seu senhor. A indústria cultural abusa daconsideração com relação às massas para reiterar, firmar e reforçar amentalidade destas, que ela toma como dada a priori e imutável. Éexcluído tudo pelo que essa atitude poderia ser transformada. Asmassas não são a medida mas a ideologia da indústria cultural, aindaque esta última não possa existir sem a elas se adaptar."

(Theodor W. Adorno. “A indústria cultural.” In: Cohn, Gabriel (org.).Theodor W. Adorno. São Paulo, Ática, 1996)

De acordo com o filósofo alemão Adorno, pode-se afirmar que a) há notável descontinuidade e heterogeneidade entre tempo de

trabalho e tempo livre. b) não é verdade que os meios de massa sejam estilística e

culturalmente conservadores. c) os meios de comunicação de massa apresentam indiscutível

potencial revolucionário. d) ao adaptar-se aos desejos das massas, a indústria cultural apresenta

inegável potencial democrático. e) a indústria cultural é moldada pela racionalidade instrumental.

11. Adorno pertenceu ao seguinte movimento filosófico: a) existencialismo. b) teoria crítica. c) epicurismo. d) estruturalismo. e) empirismo.

12. Leia o texto "Na medida em que nesse processo a indústria cultural inegavelmenteespecula sobre o estado de consciência e inconsciência de milhões depessoas às quais ela se dirige, as massas não são, então, o fatorprimeiro, mas um elemento secundário, um elemento de cálculo;acessório da maquinaria. O consumidor não é rei, como a indústriacultural gostaria de fazer crer, ele não é o sujeito dessa indústria, masseu objeto. O termo mass media, que se introduziu para designar aindústria cultural, desvia, desde logo, a ênfase para aquilo que éinofensivo. Não se trata nem das massas em primeiro lugar, nem dastécnicas de comunicação como tais, mas do espírito que lhes éinsuflado, a saber, a voz de seu senhor. A indústria cultural abusa daconsideração com relação às massas para reiterar, firmar e reforçar amentalidade destas, que ela toma como dada a priori e imutável. Éexcluído tudo pelo que essa atitude poderia ser transformada. Asmassas não são a medida mas a ideologia da indústria cultural, aindaque esta última não possa existir sem a elas se adaptar."

(Theodor W. Adorno. A indústria cultural. In: Cohn, Gabriel (org.).Theodor W. Adorno. São Paulo, Ática, 1996)

De acordo com Adorno, a) o termo mass media é adequado para designar o fenômeno da

indústria cultural. b) a indústria cultural apresenta indiscutível potencial emancipador. c) a indústria cultural não é ideológica. d) o consumidor cultural existe em estado de heteronomia. e) o consumidor cultural existe em estado de autonomia.

13. E quanto mais as classes exploradas, o "povo", sucumbem aospoderes existentes, tanto mais a arte se distanciará do "povo", aocontrário do que pensam Brecht e Sartre. A arte não pode mudar omundo, mas pode contribuir para a mudança da consciência e dosimpulsos dos homens e mulheres que poderiam mudar o mundo" (...) Apossibilidade de uma aliança entre "o povo" e a arte pressupõe que os

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homens e as mulheres administrados pelo capitalismo monopolistadesaprendam a linguagem, os conceitos e as imagens destaadministração, que experimentem a dimensão da mudança qualitativa,que reivindiquem a sua subjetividade, a sua interioridade (...). Se opotencial radical da arte residir precisamente nesta não identidade coma práxis política, como pode este potencial encontrar representaçãoválida numa obra de arte e como pode ela tornar-se um fator detransformação da realidade?

(H. Marcuse, Dimensão Estética. São Paulo: Martins Fontes, s/d.)

Das afirmações de Herbert Marcuse, pode-se depreender que a) Brecht e Sartre divergem radicalmente acerca da necessidade de

unidade entre arte e práxis política. b) a arte apresenta potenciais revolucionários exatamente quando se

adapta à linguagem popular. c) a realização do potencial radical da arte pressupõe o retorno ao

monopólio dos objetos artísticos pelas elites aristocráticas. d) a possibilidade de uma aliança entre o povo e a arte pressupõe um

processo educativo que torne esta um fator de transformação darealidade.

e) a possibilidade de uma aliança entre o povo e a arte pressupõe arealização da revolução comunista.

126 –

1) Indústria cultural é um sistema político e econômico que tem

por finalidade produzir bens de cultura – filmes, livros, música

popular, programas de TV etc. – como mercadorias e como

estratégia de controle social.

2) A indústria cultural conduz a um consumo da produção

cultural, em que o comportamento humano é manipulado

segundo os interesses da classe dominante. Assim, a forma

como ocorre o consumo da cultura que se torna mercadoria,

visando à estrutura inconsciente do público, dificulta o

exercício da reflexão autônoma e produz indivíduos alienados.

3) O autor indica a razão instrumentalizada; a eliminação de

conceitos por fórmulas; a eficácia do tempo livre dirigido por

outrem; as associações intersubjetivas marcadas por relações

de trocas e aponta a necessidade de enxergar o contexto

político-social desta realidade.

4) Trata-se de uma crítica à disjunção entre saber, ser e agir. Tal

disjunção acarreta desastrosa consequência política, como a

persistência na barbárie.

5) A mudança na base material da sociedade deve mudar a forma

da realidade. Se a forma da realidade é a da racionalidade

instrumental, com o fim da sociedade do trabalho deve surgir

uma nova racionalidade sensível. Nesta nova racionalidade,

as novas formas de trabalho seriam lúdicas. A redução

quantitativa do trabalho necessário poderia se transformar em

liberdade e em uma melhor forma e qualidade de vida. O

trabalho automático, irritante e desprazeroso seria abolido e

substituído pelo trabalho lúdico. O trabalho deve ser

acompanhado da reativação do erotismo polimórfico, ou seja,

da capacidade de sentir prazer.

6) A cultura de massa é introjetada no ser humano de tal forma

que se torna quase inevitável o seu consumo, principalmente

se a massa não tem o seu olhar e a sua sensibilidade educados

de forma apropriada e o acesso indispensável à multiplicidade

cultural e pedagógica.

7) Antes do advento da cultura de massa, havia diversas

configurações culturais – a popular, em contraposição à

erudita; a nacional, que entretecia a identidade de uma

população; a cultura no sentido geral, definida como um

conglomerado histórico de valores estéticos e morais; e outras

tantas culturas que produziam diversificadas identidades

populares.

8) C 9) D 10) E

11) B 12) D 13) D

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ESTÉTICA E ARTE

1. Introdução

A estética (do grego aisthésis que significapercepção) é a área da Filosofia que estuda o sentido, abusca e a reprodução do belo na arte. O fenômenoestético envolve a percepção, interpretação, julgamento eemoção relacionados ao que é considerado belo.

David de Michelangelo. A obra é renascentista, período voltado para a cultura clássica.

O filósofo alemão Alexander Gottieb Baumgartenescreveu um extenso texto (dois volumes) no séculoXVIII, analisando a produção artística como transformaçãoda natureza pelos sentimentos do artista. Dessa forma, aarte deixa de ser vista como cópia da realidade, para setornar produção de um sujeito que interpreta o mundo aoseu redor.

Entre os gregos, particularmente com Platão eAristóteles – além do neoplatônico Plotino – a arte e aestética estavam intimamente ligadas à ética e à lógica.Para Platão, o mais antigo entre os filósofos aqui citados,o belo era a verdade e, portanto, era bom. Assim, naAntiguidade Clássica, a noção estética não era entendidacomo problema de gosto pessoal, como ocorre nasociedade moderna, tampouco fruto único de umprocesso cultural, mas estava relacionada ao Cosmos e ànatureza universal. Assim, o que era belo, deveria ser belopara todos. A noção e percepção do belo estavaminseridas na espiritualidade da cultura clássica grega e,

inclusive, romana. Durante a Idade Média, a estética separou-se da

metafísica e passou a ser vista como um fenômenoisolado pelos filósofos. É comum, na atualidade, chamaressa área do conhecimento de Filosofia da Arte.

Texto Clássico

Do livro Sistema do Idealismo Transcendental deFriedrich Wilhelm Joseph Schelling (1775-1854)

“A intuição postulada deve envolver o que existe deseparado no fenômeno da liberdade e na intuição doproduto natural; ou seja, a identidade do consciente e doinconsciente no Eu e a consciência dessa identidade.Portanto, o produto dessa intuição confinará, de um lado,com o produto natural, do outro, com os produtos daliberdade, e deverá reunir em si os caracteres de ambos(...)

O produto postulado não é outro senão o produto dogênio, ou melhor, posto que o gênio só é possível emarte, o produto artístico (...)Toda produção estética se baseia numa antítese deatividade – é o que podemos argumentar a partir dadeclaração de todos os artistas, de que são involunta -riamente impelidos a produzir suas obras e, ao fazê-lo,eles simplesmente satisfazem um irresistível impulso desua natureza (...)

Assim como a produção estética parte do sentimentode uma contradição insolúvel, ela culmina, segundo aconfissão de todos os artistas, e de todos aqueles queparticipam de seu entusiasmo, no sentimento de umainfinita harmonia.

O fato de que esse sentimento que acompanha aexecução da obra seja, ao mesmo tempo, uma comoçãojá demonstra que o artista atribui a resolução dacontradição que percebe na sua obra não somente a simesmo, mas a um dom espontâneo da natureza (...)Se, além disso, a arte é posta em ato por duas atividadestotalmente distintas entre si (natureza e inteligência),então o gênio não é nem uma nem a outra, mas o queestá acima de ambas.

Se na atividade consciente nós devemos procuraraquilo que comumente se denomina arte, e que, todavia,é apenas uma parte dela — vale dizer, aquela que éexercida pela consciência, meditação e reflexão, que sepode ensinar, aprender e adquirir, por transmis são ouexercício próprio —, devemos pelo contrário buscar noinconsciente, que também faz parte da arte, aquilo quenão se pode aprender nem adquirir pelo exercício ou poroutro modo, mas que só pode ser inato por livre dom danatureza, que é o que em uma palavra podemos chamarde poesia em arte.”

MÓDULO 13 Estética e Arte e a Filosofia da Linguagem

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Texto moderno

Estética ou Filosofia da Arte

Por Aires Almeida

“Uma das disciplinas tradicionais da Filosofia, queaborda um conjunto de problemas e conceitos por vezesmuito diferentes entre si. A estética começou por ser,sobretudo, uma TEORIA DO BELO, depois passou a serentendida como TEORIA DO GOSTO e nos nossos diasé predominantemente identificada com a FILOSOFIA DAARTE.

Há fortes razões para considerar que estas trêsformas de encarar a estética não são apenas diferentesmaneiras de abordar os mesmos problemas. É certo quegostamos de coisas belas que também são arte, mas nãodeixa de ser verdade que as coisas que considera mosbelas, aquelas de que gostamos e as que são arte,formam conjuntos distintos. Afinal, até é banal gostarmosde coisas que não são belas e muito menos arte; assimcomo podemos nomear obras de arte de que nãogostamos nem consideramos belas.

Enquanto teoria do belo, a estética defronta-se comproblemas como ‘O que é o belo?’ e ‘Como chegamos asaber o que é o belo?. Estas são perguntas que jáPLATÃO colocava no séc. IV a.C. e que só indiretamentediziam respeito à arte, pois a arte consistia, para ele, naimitação das coisas belas. Razão pela qual Platão tinhauma opinião desfavorável à arte, ao contrário do seucontemporâneo ARISTÓTELES, para quem a imitação decoisas belas tinha os seus próprios méritos.Já para os filósofos do séc. XVIII, como HUME e KANT, éno campo da subjetividade que se encontra a respostapara o problema do belo. A estética transformou-se,assim, em teoria do gosto, cujo problema central passoua ser o de saber como justificamos os nossos gostos. OSUBJETIVISMO ESTÉTICO é a doutrina defendida porestes dois filósofos, embora com tonalidades diferentes.

A doutrina rival é o OBJETIVISMO ESTÉTICO e é bemrepresentado pelo filósofo americano contempo râneoMonroe Beardsley (1915–85), para quem o belo nãodepende dos gostos pessoais, mas da existência decertas características nas próprias coisas (...)”

2. Introdução À Filosofia da Arte

A Filosofia da Arte – como vimos na aula anterior –está relacionada à estética. É uma disciplina que estuda arelação entre sociedade e produção artística, assim comoa sua dimensão ética e sua relação com a cultura que aproduziu. A arte, geralmente, revela uma dimensãopolítica, e mensagens mais ou menos explícitas ouimplícitas que tanto refletem as relações sociais como asinfluenciam. Um movimento da literatura, música, dançaou artes plásticas é uma interpretação da realidadeexterna, mas também expressa o mundo íntimo docriador (artista), não menos real.

Moulin Galette de Renoir. A obra expressa uma época, mas tambémtoda a subjetividade do artista.

Texto

Ilusão e Arte

Por Mauro Andriole

“A relação entre a Arte e a Ilusão é absolutamenteindissolúvel.

Se o artista é tomado por um desejo de realização doBelo a partir de sua interioridade, na qual, um objeto seeleva a paradigma da Beleza, é porque não há freios nestaexperiência, vivida de fato, que o impeçam de justificarseu propósito artístico.

E assim, o ímpeto criador encontra seu curso livre paraa realização da obra, mesmo que ela retenha apenas aIlusão de ser o objeto que lhe dá um sentido aparente, pois,tanto quanto o Mito, a obra só alcança seu significadoverdadeiramente na representação de si mesma, por maisque isto pareça impossível ao olhar leigo.

Só há sentido na criação, quando a Ilusão a que oartista está acometido, suspende seu domínio lógico, ouseja, quando as bases de sua realidade ordinária, daobjetividade intrínseca que fundamenta sua razão, sesublimam ante o que é extraordinário, assim alargando,por assim dizer, os limites da noção de realidade.

Daí, dizermos que o domínio da Arte é autônomo, esua lógica – se é que este termo é o adequado para isto –consiste em algo mais do que o possível e o impossível,aquilo que instaurando novas bases, cria o meio e a formada realidade inefável tal como o paradigma da realidade.

A autonomia do artista está justamente em suautopia, neste sonho e desejo de realizar a tradução desseuniverso inefável para uma linguagem compreen sível àrazão, porém, quando o faz, ela fala numa língua libertade meios exclusivos, e ultrapassa todo e qualquer sensocomum. E desta forma, mais do que traduzir seu desejo,o artista constitui uma linguagem perfeita, porque suaforma é universal por excelência, seu discurso visa e deve

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atender a necessidades independentes de quaisquerfatores culturais, políticos, filosóficos ou religio sos,dizendo seu conteúdo a todos que a contemplem. Éneste sentido que se identifica com o Mito, porque aoatingir este poder de Iludir, continua representativa esignificativa indefinidamente no tempo.

Temos, portanto, que é na Arte que a dimensãoextraordi nária se manifesta abertamente.

Isto ocorre porque esta é a natureza da Arte. A Obrade Arte verdadeira é uma realidade perfeita em si mesma,independente da autoria, da data ou da técnica escolhidapara sua materialização.

Manifesta no mundo, ela torna-se potência pura,inesgotável em seu poder de indução. Trata-se da rea liza -ção de um Cosmo, que atravessa os limites da fugacidadesensorial e se instala na matéria e na consciência,trazendo para o plano real, as ideias de eternidade,imortalidade e universalidade. Nesse sentido é que a Arteé a manifestação da Beleza Suprema, é nela que o espíritohumano busca o que lhe sobrepassa e ao mesmo tempolhe confere uma distinção entre todos os outros animais.

No entanto, a Arte revela este poder de persuasãoatravés da Ilusão, porque despida de seu significadoemocional, reduz-se a matéria amorfa. Não há Arte queresista em seu esplendor total quando posta à indiferençae mediocridade humanas. Restará apenas uma sombrasem um corpo que lhe justifique, e o mesmo se podedizer daquele que desce até onde a luz da Obra de Artenão pode lhe alcançar.

De fato, a comunicação de um conteúdo através daObra, só pode se dar plenamente quando os fatoresculturais colaboram para isto. De modo que, o mesmoconteúdo seja lido por povos distintos, sob formasdistintas, ou até mesmo, anulado em sua integridade,quando ela não encontra similitude no seio da sociedade.

Não podemos desprezar as diferenças entre apercep ção de civilizações ancestrais diante do objeto deArte moderno, como ocorre com os povos indígenasisolados da cultura branca – caso dos aborígenesaustralianos ou dos ianomamis do norte da América doSul – diante dos quais, a foto de uma paisagem, nãorepresenta mais do que um pedaço de papel colorido, ejamais “alguém ou uma paisagem”; reagem distancian -do-se largamente da noção moderna do que é umareprodução de espaço e tempo, fato que nos chega deimediato devido à formação cultural que nos dá basespara isto.

Por outro lado, a despeito desse caso específico, hácasos em que as barreiras culturais não impedem ofenômeno da Ilusão, e este é o nosso interesse.

É exatamente quando os limites da cultura cessamsua influência sobre a apreensão do conteúdo da Obra,quando a Ilusão recai igualmente sobre qualquer ho mem,que o fenômeno artístico se modifica, e distingue-se da

forma como se apresentava antes. Tudo se altera com oadvento da imagem virtual, criada recentemente pelamanipulação dos recursos tecnológicos.

A imagem digital de um peixe, vista num monitor,será sempre percebida igualmente em sua integridade,por qualquer homem contemporâneo?

Será que ela dirá seu conteúdo, até mesmo para ohomem isolado deste tipo de representação tecnológica?

Chegamos a Ilusão plena? Talvez... Mas antes de discutirmos essa questão, precisamos

entender em que contexto o artista também se modificoudiante de tais recursos.

Será que a conquista do espaço virtual modificou oartista em seu desejo de realizar a tradução da Beleza?

Por que este desejo estaria relacionado às mudan çasque os meios técnicos sofreram?

Aparentemente, não há como dissociar a apreensãosensorial, dos meio disponíveis para representá-la. Daí,toda transformação nos meios geraria uma alteração napercepção do que pode ou não ser representado peloartista.

No entanto, o modelo ideal, que condiciona o gestocriador, não é suficientemente rígido para permitir uma sóresposta. Podemos arriscar, que no mais das vezes, estastransformações vêm para cercear práticas artísti casconsideradas antigas, em detrimento das inovações doaparato técnico, que desvelam a cada tentativa do artista,uma nova chance para saciar sua ânsia de realizar a obra.

Mas de que modo o meio pode condicionar aapreensão do desejo criador se ele só é posto em usoposterior mente?

O que quero dizer, é que nada pode limitar o desejode representação a parâmetros fixos, de modo que adescoberta que vem à luz sob outros meios, ganhacontornos novos incessantemente, de outro modo, nempoderíamos chamá-la de descoberta verdadeiramente. Edurante esse processo criativo investigativo, as formasdesveladas são por si mesmas muito mais eficazes parao curso que a obra tomará, do que a própria ideia originalde onde partiu o gesto. Seria algo como a obra da obra,pois a cada experimentação, a cada nova investida, omodelo sofre mutações para ajustar-se a esse todo. E istose revela igualmente na realização artística, desde aprimeira mancha pré-histórica numa caverna até chegarao nosso click do mouse contemporâneo.

Mas esta seria uma condição inevitável ou natural? O artista é refém da técnica ou é senhor dela no

momento da criação da Obra? Na verdade, o foco do artista nunca dependeu

totalmente do meio que dispunha para executar sua Obra,ao menos, não há razões para esta limitação, mas, pelocontrário, ao nos deparamos com Obras colossais, comoas esculturas de Michelangelo, por exemplo, é difícil

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duvidar do quanto este gênio realmente estava seguro desua realização antes de golpear o mármore. Contudo suasegurança se encontrava enraizada profundamente emseu desejo criador, sublimando qualquer dúvida quanto aomodo de realizá-la.

O desafio diante da realização da Obra, já é parte daprimeira etapa do processo criativo, sobre isto nãoprecisamos ter dúvidas.

Mas em que instante a Ilusão permeia esseempreendimento criador?

Ora, durante todo o tempo, pois o artista parte deuma impossibilidade: ele pretende consagrar um instanteexpressivo na matéria amorfa, ignorando os limitesfísicos, e inaugurando um novo tempo com este espaço,ele desoculta o espaço extraordinário, como dissemosantes. O gesto iluminado na obra escultórica está absolu -ta mente transcorrendo em nossa apreensão, e perma -nece petrificado a despeito do que sentimos comoverdadeiro! Isto é extraordinário!

Temos que ter em mente, que o termo extraordináriovisa à distinção do que é o ordinário, no sentido do quenão se insere na ordem do dia comum, e transcende osentido que tem a produção de bens de consumo,intrinsecamente efêmeros por necessidade mercado ló -gica. A Obra situa-se no extremo oposto dessa naturezade objetos, e só pode nascer de uma necessidadeigualmente extraordinária, que abranja esse sentidotranscendental, que é imanente na Arte.

Dizemos que a Ilusão recai sobre todo artista e sobrea Arte, porque é justamente esse universo que o colocaem questão sobre o que é a realidade.

De fato, nossa noção de realidade se funda, quaseem sua totalidade, na crença de que conhecemos ascoisas tal como elas são. Mas o que diríamos acerca dosque ignoram nossas descobertas modernas, hoje tãocorriqueiras, como as pilhas ou a luz fosforescente?

Não precisamos recuar muito para percebermos quea realidade atual era uma ficção, ou talvez nem issosequer, pois nem havia a possibilidade de imaginar taisconquistas, já que o desejo que as motivou não pulsavanas veias humanas.

Será que é possível crer que alguém desejasse umaparelho para exercitar a corrida e que não ocupasseespaço na casa? Uma esteira pareceria uma boa ideia em1800? Só se servisse para transportar cargas pesadastalvez... Mas para alguém correr sobre ela? E assim, omesmo poderíamos dizer sobre inúmeros objetos quehoje são imprescindíveis, como o abridor de latas, aslâminas descartáveis, os filtros de papel para o aspiradorde pó etc etc etc ...

O desejo humano se transformou, e com ele, arealidade assumiu contornos definidos para a época epara as crenças vigentes.

Então, o que é a realidade de fato?

Esta é uma pergunta que não impede o artista de crerque contribui de algum modo para desocultar facesmisteriosas do espírito humano, e abre seu Cosmo paratodos, como se ele fosse verdadeiramente o de todosnós. Sua obra é Iludir-se de que não há ilusões, masapenas realidade.”

FILOSOFIA E LINGUAGEM

3. Introdução

Por Paulo Faitanin

“O tema da Filosofia da Linguagem ganhou força noséculo XX com o filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein[1889-1951] que, com sua obra Tratado Lógico-Filosófico,de 1929, sustentara aquela que seria a sua tesefundamental: a função da linguagem é descrever arealidade, porque em rigor nada pode ser dado fora dalinguagem. Por Filosofia da Linguagem entende-se oramo da filosofia que estuda a essência e natureza dosfenômenos linguísticos. Ela trata, de um ponto de vistafilosófico, da natureza do significado linguístico, dareferência, do uso da linguagem, do aprendizado dalinguagem, da criatividade dos falantes, da compreen sãoda linguagem, da interpretação, da tradução, de aspectoslinguísticos do pensamento e da experiência. Tratatambém do estudo da sintaxe, da semântica, dapragmática e da referência. A investigação filosófica dalinguagem pode ser encontrada já nos textos de Platão,Aristóteles e autores estoicos. Desde a Escolástica deTomás de Aquino, que via na linguagem um instrumentode comunicação dos conceitos e de Guilherme deOckham, que via na linguagem nominal a substituição dosmesmos, via-se em filosofia uma importante retoma dada análise da linguagem. Do termo latino sermo, onis,deriva o sentido de linguagem, ou seja, modo de expres -são por meio de sinais intersubjetivos que permitem acomunicação, embora sua origem etimológica esteja emlingua, ae. Aqui tomamos Filosofia da Linguagem parasignificar, em Tomás de Aquino, o estudo dos senti doscom que os conceitos são significados pelos nomes.”

O mímico francês Marcel Marceau. A linguagem humana como absolutacriação.

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4. Texto

Fenomenologia e linguagem

Por José Maurício Fonzaghi Mazzucco,do livro Cacos.

“O problema da linguagem merece sempre umenfoque filosófico. Passo então a expor a concepção delingua gem de três filósofos, lembrando que não é minhaintenção oferecer ao leitor um adequado conhecimentosobre eles. O pouco aqui relatado estará muito aquém deuma superficial noção de seus fecundos pensamentos.

O filósofo Maurice Merleau-Ponty (1908-1961),expoente da fenomenologia, tratou a linguagem comoparte do corpo humano, e não como expressão dopensamento puro. A intenção da palavra nasce no corpo,assim como este estica o braço para alcançar determina -do objeto. A linguagem não é artifício do pensamento quenão consegue se expressar, mas instrumentalespontâneo que origina dialogicamente o pensamento.Assim, criada na espontaneidade, a palavra possui umsignificado mutável, dentro do texto, elaborado numacadeia verbal que possibilita a comunicação. Esta emergegraças à maleabilidade de significados que os signos-palavra carregam, e não apesar disso.

O que isso significa? Não somos prisioneiros dapalavra e da linguagem que, como geralmente se supõe,procuram traduzir com pouca eficiência o pensamento. Apalavra fala e a linguagem transcende a intenção dofalante. Quem fala não necessariamente sabe mais sobreo que diz do que aquele que escuta. Para Merleau-Ponty,o orador não pensa antes de dizer, pois sua fala é o pró -prio ato de pensar e sem linguagem não há pensamento.

Merleau-Ponty distingue dois níveis de linguagem: afalada e a falante. No cotidiano, usamos a linguagemfalada, desgastada, como uma moeda que passa de mãoem mão. Tal fala torna-se previsível e radicaliza-se nosclichês, frases feitas, mensagens e discursos con ven -cionais. A linguagem autêntica, a falante, por outro lado,é criativa, libertadora, pois surpreende e não se limita atagarelar sobre banalidades. Ora, não é só o conteúdo queestá em jogo, mas o uso da linguagem, como nas artes,capaz de carregar riquezas intrínsecas, valores estéticosque revelam e ocultam universos de dizeres. A linguagempoética está inserida nessa reali dade e na possibilidadede uso da linguagem falante, como quer o filósofo.

Martin Heidegger (1889-1976) também distingueduas formas de linguagem. O homem, segundo o filósofoalemão, define-se como um ser em busca de si mesmoe para isso, projeta-se para fora de si, mas encontra-semergulhado sempre na própria facticidade, nacontingência do mundo. A tarefa de tornar-se si mesmo,porém, encontra-se alienada diante das preocupaçõescom as questões cotidianas, vivendo assim o homem

apenas com e para os outros. O homem, portanto, temlevado, segundo Heidegger, uma existência banal einautêntica, distanciada do Ser, esquecendo-se da pró priacondição de mortalidade. A existência inautêntica torna-nos incapazes de perceber a dualidade entre o humano eo não humano, pois o homem, diferente das coisas, estáno mundo do homem, e não simplesmente no mundo.Em algum momento de nossa história sofre mos umaqueda que nos distanciou do Ser. Sócrates e Platão teriamcontribuído para a tragédia, pela introdução da metafísicaque gerou um mundo fictício: o das ideias. Diz Heideggerque o homem necessita retornar a ser-aí, existir, projetar-se, exteriorizar-se e ser uno com o mundo. Porém atécnica seria a grande culpada, pois, entronada, passou ase desenvolver sem limites, sufo cando o nosso ser maisprofundo. A técnica nos separa da relação imediata eautêntica com as coisas e nossa atenção se ocupa com osentes, esque ci da do Ser.

O homem em sua existência inautêntica passa a viversem questionar, aceita padrões de comportamento,questões de moral que lhe são exteriores. Acovardado eexausto, ele sobrevive numa rotina sem realizar-se comoprojeto. Em Heidegger, a linguagem humana revela essamesma dualidade. De um lado, a linguagem inautêntica,a serviço da técnica e pré-programada, tagarelando parafazer o homem esquecer sua angústia e exílio; de outro,a possibilidade da linguagem surgir pela poesia como aclareira do Ser, estado em que o homem encontra a simesmo autenticamente. A linguagem (autêntica), quer ofilósofo, ilumina o Ser, a ‘casa’ do homem no meio de umbosque labiríntico, cujos caminhos não nos levam a partealguma.

Gaston Bachelard (1853-1908) é o terceiro filósofo.Trabalhou especificamente com a produção literária erevela-se um defensor da fenomenologia da imaginação,do devaneio. Para ele, as imagens são mais ricas que osconceitos. Estes se encontram rígidos e desgastados;enquanto as imagens sugerem mobilidade e são vividasdiretamente como acontecimentos súbitos da vida.Assim, diz o filósofo, quando a imagem é nova, o mundoé novo. Em A Poética do Devaneio, escreve: ‘A poesia éum dos destinos da palavra. Tentando sutilizar a tomadade consciência da linguagem ao nível dos poemas,chegamos à impressão de que tocamos o homem dapalavra nova, de uma palavra que não se limita a exprimirideias ou sensações, mas que tenta ter um futuro. Dir-se-ia que a imagem poética, em sua novidade, abre um porvirda linguagem’.

A fenomenologia teria, portanto, a capacidade deevidenciar a consciência que se acha na origem da menorvariação da imagem. A imagem poética manifesta umaingenuidade primordial e, como diria Bachelard, afenomenologia é uma escola de ingenuidade, que,liquidando um passado, instaura um tempo novo e

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original. Em A Poética da Casa, Bachelard afirma que nãosaber é uma precondição da poesia. Não saber nãosignifica ignorar, mas um ato difícil de superação doconhecimento, para deixar emergir o novo.

Em língua japonesa existe um termo que mantémcerto paralelo ao conceito acima: shoshin, que pode sertraduzido como mente de principiante. O conceito sugereuma postura mental não discriminatória, disposta aapreender constantemente o novo. Há uma históriatradicional no Japão que reporta a tal postura mental. Nan-in, um mestre do zen budismo, recebeu a visita de umintelectual e professor que pretendia receber conhe -cimentos acerca do zen. Nan-in serviu chá, enchendocompletamente a xícara do professor e continuou adespejar o chá até transbordá-lo. O professor não seconteve e gritou: “Já está derramando! Não cabe maisnada!” Nan-in então respondeu: “Como posso lhe falardo zen se você está cheio de opiniões e ideias prontas erígidas?”. Assim, sugerido o desbloqueio, emerge o novo,instaura-se a experiência fenomenológica.

Outro traço interessante desenvolvido por Bachelardé a distinção entre metáfora e imagem. Para ele, ametáfora não se presta ao estudo fenomenológico, portratar-se de uma construção e um artifício. Metáforas nãopossuem raízes profundas e se equivalem aos conceitos,diante da rigidez e falta de mobilidade. Muitas vezes, asmetáforas são aplicadas convencionalmente, raramentenascem originais, em aplicações singulares. Assim, porexemplo, na expressão “asas da imaginação”, as asassão comumente metáforas, quase inflexíveis, de liberda -de. Por outro lado, temos as imagens: frutos da puraimagina ção e doadoras do ser, capturadas, não construí -das, na experiência fenomenológica, em que o interno eexterno (mundo subjetivo e objetivo) se confundem ou sefundem. Assim, quando num poema lemos a palavralanda, esta não é uma metáfora encontrada ou escolhidapara exprimir determinado estado de alma. A imagem deuma landa terá produzido um estado interior, ou, por outra

via, um determinado estado de alma nos terátransportado, pela imaginação poética e não menos real,para uma extensa landa. Uma metáfora pensa rápido,porque se dá pronta, e não cria uma fusão sensível entrea realidade íntima e externa.

Para Bachelard, o fenomenólogo se distingue docrítico literário que geralmente julga o que não podeescrever. Aquele revive a experiência do poeta, tornan do-se, então, poeta também. A genialidade de uma obra estána possibilidade de tornar gênio o leitor que passa a provarda liberdade, pois a poesia é o fenômeno da liberdade enão há poesia sem criação absoluta. Criar em absoluto éum gesto ao encontro da liberdade porquanto escapa doprevisível, surpreende e instaura o novo em um mundodesgastado por excesso de repetições, de signosesvaziados pela reificação. A poesia nos liberta, portanto,dos automatismos da palavra, da linguagem e dopensamento.

Para os três filósofos acima superficialmente citados,a poesia emerge como exercício da liberdade, comoexpressão criativa e forma de conhecimento. Entre ossaberes que produzimos (ciência, filosofia, informação)entronamos a forma prosaica em detrimento da poesia.Toda expressão artística, poética por excelência, criativa,falante, deve ser resgatada como forma de conheci -mento, permitindo que ilumine a inteligência humana quenela se reconhece e se conhece.”

Glossário

Fenomenologia: escola da filosofia que valoriza aexperiência direta com os entes para a produção deconhecimento. Landa: extensa charneca resultante da destruição dasflorestas.Reificação: objetivação, coisificação. Processo denaturalizar ideologicamente fatos sociais, culturais ehistóricos.

132 –

1. Assinale a alternativa que melhor expõe o conceito de arte emfilosofia da estética. a) Cópia da realidade.b) Produção de um sujeito que interpreta o mundo ao seu redor. c) Sobretudo, fruto de inspiração espiritual e de estado alterado de

consciência.d) Forma de entretenimento, mas que não reflete a realidade.e) Forma de conhecimento que emprega sobretudo a técnica e a

racionalidade.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

2. Sobre a concepção que os antigos clássicos, particularmente osgregos, tinham sobre a estética, leia e julgue as assertivas abaixo.I. Para Platão, o belo era a verdade e, portanto, era bom. II. Assim, na Antiguidade Clássica, a noção de estética era entendida

como problema de gosto pessoal, assim como ocorre na sociedademoderna.

III. Os clássicos entendiam a arte como fruto único de um processocultural.

IV. A arte estava relacionada ao Cosmos e à natureza universal. Assim,o que era belo, deveria ser belo para todos. A noção e percepção dobelo estavam inseridas na espiritualidade.

São verdadeiras apenas a) I e II. b) II e III. c) I e IV. d) III e IV. e) II e IV.RESOLUÇÃO: Resposta: C

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3. Durante a Idade Média,a) a arte foi ligada à espiritualidade e ao conhecimento metafísico.

Produziu-se intensa manifestação representativa do mundo e domundano.

b) a noção de estética estava ligada à representação dos mitos e dasconcepções metafísicas.

c) a noção de belo era relacionada à ética e houve um intenso incentivoà arte clássica.

d) a produção artística valorizou o antropocentrismo e foi marcado pelohumanismo.

e) a estética separou-se da metafísica e passou a ser vista como umfenômeno isolado pelos filósofos.

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

4. Para Schelling, o impulso criativo é involuntário, não nasce de umadecisão da inteligência. Isso porém , para ele, significa também que:a) O gênio separa natureza e inteligência.b) A dimensão profissional da arte (o ofício) pode ser aprendida, mas a

inspiração é um dom da natureza. c) O homem não pode aprender o ofício da arte, sendo sempre nata.d) O homem nasce com a técnica da arte e ele aprende a cultivar a

inspiração.e) O artista não sofre qualquer influência do meio ou da cultura durante

a produção artística.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

5. Sobre o conhecimento e o papel da arte, é correto afirmar que:a) O que chamamos de realidade não passa de interpretação. Assim, a

obra artística não pode ser desclassificada como sendo mera ilusão,mas ao contrário, tem uma grande contribuição como forma deconhecimento.

b) A arte é interpretação subjetiva da realidade. Somente a ciência tema propriedade de descrever a realidade de forma objetiva, imediatae concreta.

c) O conhecimento é o acesso à realidade. A arte é a forma maisobjetiva e universal de acesso.

d) A arte tem o papel de entreter e retirar a inteligência humanamomentaneamente do árduo exercício especulativo de interpretar arealidade, tarefa essa empreendida pela filosofia e pela ciência.

e) A arte diferencia-se das demais formas de conhecimento por adotarum método mais indutivo e de contato com o ser empírico.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

6. O termo extraordinário visa à distinção do que é o ordinário, nosentido do que não se insere na ordem do dia comum, e transcende osentido que tem a produção de bens de consumo, intrinsecamenteefêmeros por necessidade mercadológica. A Obra situa-se no extremooposto dessa natureza de objetos, e só pode nascer de umanecessidade igualmente extraordinária. Disso conclui-se quea) o ordinário é o que não se insere na ordem do dia comum.b) o extraordinário é o que tem a produção de bens de consumo.c) a arte se insere no ordinário, portanto, no intrinsecamente efêmero

por necessidade mercadológica.d) a arte insere-se no extraordinário, portanto, no intrinsecamente

efêmero por necessidade mercadológica.e) a arte é produção estranha ao universo da ordem do dia comum, do

efêmero imposto por necessidade mercadológica.

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

7. No século XX, o filósofo Ludwig Wittgenstein com sua obra TratadoLógico-Filosófico, de 1929, sustentara aquela que seria a sua tesefundamental. Assinale a alternativa correta.a) Segundo Wittgenstein, a função da linguagem seria descrever a

realidade, porque em rigor nada poderia ser dado fora da linguagem. b) Wittgenstein acreditava que a linguagem humana era incapaz de

interpretar a realidade concreta. c) A linguagem seria uma forma de interpretação da realidade, porém,

essa não seria facilmente apreendida por aquela, pois a linguagem éum código genético pouco flexível.

d) A linguagem é construção da mente, distante da realidade, quepermanece transcendente.

e) Na filosofia de Wittgenstein, a linguagem tem papel relativo, pois elaretrata opacamente o mundo real.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

8. Assinale a alternativa correta sobre a filosofia da linguagem dofenomenólogo Merleau-Ponty.a) A linguagem difere do corpo humano, é expressão do pensamento

puro. b) A linguagem é artifício que mal expressa o pensamento.c) Há dois tipos de linguagem: a falante, banal e utilizada no cotidiano,

tagarelando sobre superficialidades e a falada, que instaura o novo,o inesperado, como faz a poesia.

d) A linguagem expressa a racionalidade humana; enquanto o universoemotivo é indizível.

e) A linguagem é experiência sensorial do corpo e do pensamento.

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

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9. Assinale a alternativa que interpreta corretamente o pensamento dofilósofo Heidegger.a) O homem pode levar uma existência autêntica – aquela em que ele

busca o Ser – ou uma existência inautêntica, em que se viveesquecido da verdadeira condição do homem no mundo.

b) Na existência autêntica, passa-se a viver sem questionar, aceitandopadrões de comportamento, questões de moral que lhe sãoexteriores.

c) O homem sempre se realiza enquanto projeto em busca do Ser. d) A linguagem humana pode ser autêntica, a serviço da técnica e pré-

programada, tagarelando para fazer o homem esquecer sua angústiae exílio.

e) Na existência inautêntica, ocorre a possibilidade da linguagem surgirpela poesia como a clareira do Ser.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

10. A linguagem, segundo Merleau-Ponty, não é artifício do pensamen -to que não consegue se expressar, masa) modelo original da cultura, jamais inventiva.b) código genético natural e espontâneo da espécie humana.c) instrumental espontâneo que origina dialogicamente o pensamento.d) instrumento de comunicação historicamente construído, não presen -

te em qualquer comunidade.e) suporte de comunicação exterior ao indivíduo.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

11.Sobre a relação linguagem e sociedade, é correto afirmar que:a) Somente os homens possuem linguagem e são seres sociais. b) A linguagem humana é um código natural e universal, o que favorece

as comunicações e relações entre os povos.c) O homem é um ser social e não depende da articulação de lingua -

gens para realizar essa natureza. d) Os outros animais são seres sociais, mas não possuem linguagens

e, portanto, não se comunicam.e) A linguagem é ferramenta de sociabilidade e os homens articulam

linguagens diversas.

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

12. A língua que o homem utiliza para se comunicar e que é ensinada,encontra-se estruturada toda por signos. Nesse sentido, a palavra éentendida comoa) um dom natural dado ao homem pela natureza ou por Deus.b) um símbolo universal da humanidade.c) um signo culturalmente criado que possibilita a construção do código.d) uma técnica de comunicação dos homens que surgiu apenas com o

advento da escrita.e) um artifício cultural de comunicação e intraduzível em culturas

diferentes.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

13. A fenomenologia é a escola filosófica que

a) defende o rigor teórico.

b) valoriza a experiência sensorial.

c) entende a linguagem humana unicamente como fruto da cultura.

d) está pouco preocupada com o rigor científico de análises, pois

interessou-se sobretudo pela literatura.

e) considera que o conhecimento é inato e que o método dedutivo é o

mais adequado na produção de conhecimento.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

134 –

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14. (UNICAMP-2013)

(Em http://www.moseschwartz.com/images/che_original.jpg.)

A imagem acima, obra de Andy Warhol, pertence a uma série que fazreferência a outros ícones do século XX. Sobre o artista e a obra écorreto afirmar que:a) A proliferação de imagens produzidas pela pu blicidade, cinema, TV

e jornais estimulou uma pintura que trouxe para a tela, com a PopArt, referências conhecidas.

b) Che Guevara, Pelé e Marilyn Monroe são referências em suas áreasde atuação e foram retratados por Warhol porque o artista queria queos jovens os imitassem.

c) O artista denunciava as ações do regime cubano, por meio daimagem de Che Guevara, ao mesmo tempo em que criticava opredomínio cultural americano, ao fazer trabalho semelhante comMarilyn Monroe.

d) A Pop Art, na qual se insere Andy Warhol, é um movimento devalorização da cultura midiática, daí sua predileção porrepresentantes de esquerda e de minorias, como mulheres e negros.

RESOLUÇÃO:

O artista plástico norte-americano Andy Warhol (1928-1987)

utilizou motivos e conceitos da publi cidade em sua obra com o uso

de cores fortes e brilhantes e tintas acrílicas. Foi um reintérprete da

pop art, reproduzindo mecanicamente as imagens em múltiplos

trabalhos serigráficos; tematizou artigos de consumo como latas

de sopas, garrafas de coca-cola e figuras populares da mídia, como

Elvis Presley, Che Guevara, Marilyn Monroe, Pelé, Liz Taylor etc.

Resposta: A

15. (UNESP-2013) – Uma obra de arte pode denominar-se revolucionáriase, em virtude da transformação estética, representar, no destinoexemplar dos indivíduos, a predominante ausência de liberdade,rompendo assim com a realidade social mistificada e petrificada eabrindo os horizontes da libertação. Esta tese implica que a literaturanão é revolucionária por ser escrita para a classe trabalhadora ou para a“revolução”. O potencial político da arte baseia-se apenas na sua própriadimensão estética. A sua relação com a práxis (ação política) éinexoravelmente indireta e frustrante. Quanto mais imediatamentepolítica for a obra de arte, mais reduzidos são seus objetivos de transcen -dência e mudança. Nesse sentido, pode haver mais potencial subversivona poesia de Baudelaire e Rimbaud que nas peças didáticas de Brecht.

(Herbert Marcuse. A dimensão estética, s/d.)

Segundo o filósofo, a dimensão estética da obra de arte caracteriza-sepora) apresentar conteúdos ideológicos de caráter con ser va dor da ordem

burguesa.b) comprometer-se com as necessidades de en tre te ni men to dos

consumidores culturais.c) estabelecer uma relação de independência frente à con jun tura

política imediata.d) subordinar-se aos imperativos políticos e materiais de trans formação

da sociedade.e) contemplar as aspirações políticas das populações eco no micamente

excluídas.

RESOLUÇÃO:

A arte, segundo o texto, estabelece uma relação de independência

em face da conjuntura política porque possui um caráter

revolucionário, rompendo com a realidade social mistificada, e

estabelece uma estética livre e contestadora.

Resposta: C

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1. Para Schelling, toda obra de arte é um objeto concreto e um produtodo espírito. A arte é confluência entre espírito e matéria. Nesse sentidojulgue as proposições abaixo e coloque V para as que são coerentescom o texto clássico dessa aula e com o pensamento de Schelling e Fpara as incoerentes. I. Uma teoria da criação artística deve identificar o ponto de contato

entre espírito e natureza. ( )II. Somente a ciência pode ser genial, porque é representação fiel da

realidade. ( )III. O impulso criativo é involuntário, não nasce de uma decisão da

inteligência. ( )IV. O gênio separa natureza e inteligência. ( )V. A dimensão profissional da arte (o ofício) pode ser aprendida, mas a

inspiração é um dom da natureza. ( )

2. Explique a diferença entre o subjetivismo e o objetivismo nadimensão estética.

3. “Manifesta no mundo, ela (a obra de arte) torna-se potência pura,inesgotável em seu poder de indução. Trata-se da realização de umCosmo, que atravessa os limites da fugacidade sensorial e se instala namatéria e na consciência, trazendo para o plano real, as ideias deeternidade, imortalidade e universalidade” (Mauro Andriole). O texto acima refere-se

a) à ausência de autonomia da obra de arte.b) à instauração do Belo Supremo no mundo real pela produção do artista.c) a uma postura contrária à concepção platônica de estética.d) ao engajamento político do verdadeiro artista.e) a um processo de pura ilusão produzida pelo artista.

4. No século XX, o filósofo Ludwig Wittgenstein com sua obra TratadoLógico-Filosófico, de 1929, sustentara aquela que seria a sua tesefundamental. Comente-a

5. Como o filósofo Merleau-Ponty compreende o problema dalinguagem?

6. Que relação existe entre ética e estética para Platão?

7. Releia o texto Ilusão e Arte de Mauro Andriole e explique qual é a suaideia central.

8. Para o autor do texto Ilusão e Arte, o que contrapõe a obra artísticaao objeto de consumo?

9. Para Heidegger, que relação existe entre a existência humana e alinguagem?

136 –

1) V, F, V, F, V

2) A estética, segundo o subjetivismo, acredita que o belo resulta

de um gosto pessoal, fruto da educação e das inclinações do

indivíduo; já para o objetivismo, o belo não depende dos

gostos pessoais, mas das caracterís ticas nos objetos de

percepção.

3) Resposta: B

4) Segundo Wittgenstein, a função da linguagem seria descrever

a realidade, porque em rigor nada poderia ser dado fora da

linguagem.

5) A linguagem seria parte do corpo humano, e não a expressão

do pensamento puro e, assim, a intenção da palavra nasce no

corpo. A linguagem não seria artifício do pensamento que não

consegue se expressar, mas instrumental espontâneo que

origina dialogicamente o pensamento.

Além disso, o filósofo distingue dois tipos de linguagem: a

falada, banal e utilizada no cotidiano, tagarelando sobre

superficiali dades e a falante, que instaura o novo, o

inesperado, como faz a poesia.

6) Para esse filósofo, o belo é expressão da verdade e por isso é

bom. O sentido último da existência humana é a

contemplação do Belo e da Verdade.

7) O que chamamos de realidade não passa de interpretação.

Assim, a obra artística não pode ser desclassificada como

sendo ilusão, mas ao contrário, tem uma grande contribuição

como forma de conhecimento.

8) O termo extraordinário visa à distinção do que é o ordinário,

no sentido do que não se insere na ordem do dia comum, e

transcende o sentido que tem a produção de bens de

consumo, intrinsecamente efêmeros por necessidade

mercadológica. A Obra situa-se no extremo oposto dessa

natureza de objetos, e só pode nascer de uma necessidade

igualmente extraordinária.

9) O homem pode levar uma existência autêntica – aquela em

que ele busca o Ser – ou uma existência inautêntica, em que

se vive esquecido da verdadeira condição do homem no

mundo. Passa-se a viver sem questionar, aceitando padrões

de comporta mento, questões de moral que lhe são exteriores.

O homem deixa de se realizar enquanto projeto. A linguagem

humana revelaria essa dualidade mesma. De um lado, a

linguagem inautêntica, a serviço da técnica e pré-programada,

tagarelando para fazer o homem esquecer sua angústia e

exílio; de outro, a possibilidade da linguagem surgir pela

poesia como a clareira do Ser, estado em que o homem

encontra a si mesmo autenticamente.

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NOÇÃO DE TEMPO

1. Introdução

O tempo é elemento físico e cultural regulador da vidahumana. Assim, a humanidade organiza o tempo a partirde intervalos e períodos de duração. O tema datemporalidade interessa, de fato, aos historiadores, físi -cos e filósofos, entre outros estudiosos do conheci mento.O historiador, por exemplo, pode questionar como otempo tornou-se uma forma de disciplinar o trabalhohumano, aumentando a produtividade e pode relacionar otema ao desenvolvimento do capitalismo. Interessatambém ao historiador a elaboração de calendários erelógios. O físico, por influência da obra de Albert Einstein,vê o tempo como uma quarta dimensão do contínuoespaço-tempo do Universo. E o filósofo propõe umareflexão acerca da concepção humana de tempora li dadee suas implicações existenciais. Agostinho de Hipona(Santo Agostinho), por exemplo, foi um dos antigosespecula dores acerca da natureza do tempo, destacando-lhe uma dimensão metafísica. É tema de reflexãofilosófica e sociológica também a relação entre novastecnologias e a acelera ção do tempo, fenômeno dassociedades modernas, ou como preferem alguns, dasociedade pós-moderna.

Para Agostinho (Santo Agostinho), toda percepçãp humana se enraizano presente.

2. Texto

Por Agostinho de Hipona (S.anto Agostinho),

em As confissões

(Adaptado)

“O que é, efetivamente, o tempo? Quem poderáexplicá-lo breve e facilmente? Quem poderá alcançar suanoção, com o pensamento, a ponto de dizer sobre eleuma palavra exata? E, no entanto, em nossos discur sos,que ideia damos como mais conhecida e familiar que ade tempo? E, quando falamos a seu respeito, aentendemos, assim como a entendemos quando delaouvimos falar. O que é, portanto, o tempo? Se ninguémme pergunta, eu sei; se quero explicá-lo, a quem mepergunta, não sei.

Todavia, com segurança afirmo que, se nada pas sas -se, não haveria o passado; se nada acontecesse, nãohaveria o futuro; se nada fosse, não existiria o presente.

Mas, então, como existem esses dois tempos, opassado e o futuro, se o passado não é mais e o futuroainda não é? Quanto ao presente, se fosse semprepresente e não transcorresse no passado, não seria maistempo e sim, eternidade. Se, portanto, o presente, parafa zer parte do tempo, deve existir e transcorrer no pas -sado, como podemos dizer que é , se a sua razão de ser éo cessar de ser, uma vez que só podemos dizer queverdadeiramente o tempo é porque tende para o não ser?

E, todavia, falamos do tempo longo e do tempo curto,e somente em relação ao passado e ao futuro. Chama -mos longo o passado que teve início, por exem plo, 100anos atrás, e, do mesmo modo, longo o futuro que temcomo prazo 100 anos a partir de hoje; breve o passado dedez dias atrás; breve o futuro daqui a dez dias. Mas deque modo pode ser longo ou breve o que não existe?

O passado já não é mais; o futuro ainda não é. Nãodizemos, portanto, do passado: é longo; mas foi longo; edo futuro: será longo. Meu Senhor, minha luz, assim nãoestaria a realidade zombando do homem? Aquele pas -sado efetivamente foi longo quanto? Foi longo quan do erapassado ou quando ainda era presente? Tinha realmentea possibilidade de ser longo somente quando exis tiaaquilo que podia ser longo. O passado já não era mais;por isso, tampouco tinha a possibilidade de ser longo oque não existia. Assim, não dizemos: foi longo aqueletempo passado; também não encontrare mos mais aquiloque foi longo; porque o tempo, enquanto passado, nãoexiste mais...

Nem o futuro nem o pesente existem; isso agora estámuito claro. Nem se pode dizer propriamente que ostempos são três: passado, presente e futuro. Talvez fossemelhor dizer que os tempos são: o presente do passado;o presente do presente; o presente do futuro. E estesestão na alma; não os vejo alhures. O presente dopassado é a memória, o presente do presente é apercepção, o presente do futuro é a expectativa.”

– 137

MÓDULO 14 Noção de Tempo e Reflexões sobre o Amor

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O tempo é regulador da vida e da cultura humana.

Por Nietzsche, em A Ciência Gaia

(sobre o mito do eterno retorno)

“O que aconteceria se, um dia ou uma noite, umdemônio se esgueirasse furtivamente na mais solitáriadas tuas solidões e te dissesse: ‘Esta vida, assim como avives agora e a vivestes, terás de vivê-la novamenteinfinitas vezes e nela não haverá nada de novo, masretornarão a ti cada dor e cada prazer, cada pensamentoe suspiro, cada coisa indizivelmente pequena ou grandeda tua vida, e tudo na mesma sequência e sucessão,como esta aranha e este luar por entre os ramos etambém este instante e eu mesmo. A eterna ampulhetada existência será novamente virada e tu com ela, grãode poeira!’

Não te lançarias ao chão, rangendo os dentes emaldizendo o demônio que assim te falou? Ou então,talvez tendo vivido alguma vez um instante tão imenso,seria esta a tua resposta: ‘Tu és um Deus e nunca ouvinada tão divino?’

Se esse pensamento ganhasse poder sobre ti, assimcomo és agora, ele te faria sofrer uma metamorfose etalvez te triturasse. A pergunta para qualquer coisa –’Queres isso mais uma vez e ainda inúmeras vezes?’ –pesaria sobre o teu modo de agir como o maior dospesos! Ou, então, quanto terias que amar a ti mesmo e àvida, para não desejar nada mais que esta última e eternaconfirmação, esta chancela?...”

Por Henri Bergson, em Matéria e memória

“O que é para mim o momento presente? É própriode o tempo decorrer; o tempo já decorrido é o passado,e chamamos presente o instante em que decorre. Masnão se trata aqui de um instante matemático. Existe, semdúvida, um presente ideal, puramente concebido, limiteindivisível que separaria o passado do futuro. Mas opresente real, concreto, vivido, aquele de que falo quandofalo da minha percepção presente, este presente ocupanecessariamente uma duração. Onde, portanto, estálocalizada essa duração? Está aquém ou além do pontomatemático que determino idealmente quando penso noinstante presente?

É bastante evidente que essa duração se encontracontemporaneamente aquém e além, e o que eu deno -mino meu presente confina ao mesmo tempo com o meupassado e o meu futuro. Com o meu passado, antes detudo, porque o momento em que falo já está distante demim; depois com o meu futuro, porque é para o futuroque esse momento tende, e porque se eu pudesse fixaresse presente indivisível, este momento infinitesimal nacurva do tempo, ele me indicaria a direção do futuro. É,portanto, necessário que o estado psicológico que eudenomino meu presente seja contemporaneamente umapercepção do passado imediato e uma determinação dofuturo imediato.

Enquanto é percebido, o passado imediato ésensação, pois toda sensação traduz uma sucessão muitolonga de vibrações elementares; enquanto se determina,o futuro imediato é ação, o movimento. O meu presenteé, portanto, contemporaneamente sensação emovimento; e como o meu presente forma um todoindiviso, o movimento deve depender da sensação,prolongá-la em ação. Concluo daí que o meu presenteconsiste em um sistema combinado de sensações emovimento: é, por essência, sensório-motor.”

3. Henri-Louis Bergson

(Paris, 18 de outubro de 1859 — Paris, 4 de janeirode 1941) foi um filósofo e diplomata francês.

Conhecido principalmente por Matière et mémoire eL’évolution créatrice, sua obra é de grande atualidade etem sido estudada em diferentes disciplinas: cinema,literatura, neuropsicologia, entre outras.

Em 1927, obteve o Prêmio Nobel de Literatura.Henri Bergson era filho de mãe inglesa e pai polaco.

Viveu com os seus pais alguns anos em Londres, mas aosnove anos regres sou a Paris, seu local de nascimento,onde se naturalizou francês. Ali fez os seus estudos,licenciando-se em Letras e em 1881 tornou-se professor,lecionando em várias localidades da França.

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Em 1889 obte ve odoutoramento em Letraspela Universi dade deParis, com uma tesesobre Aristóteles. Noano seguinte obteve umlugar como professor noCollège de France.A partir de 1925, passa

a sofrer de umreumatismo defor man -te, que o deixarásemiparalisado, a pontode impedi-lo de ir aEstocolmo para recebero Nobel de Literatura de1927. Faleceu em 1941,aos 81 anos.

4. TEXTO

Filosofia do tempo

Por Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

“O tempo é um dos temas que sempre atraíram aatenção do ser racional. Trata-se de conhecê-lo, diag nos -ticá-lo, para dar dimensões mais amplas ao desen vol - vimento pessoal. A Filosofia ensina-nos que ele é um fluirconstante. Uma sucessão ininterrupta, na qual todas ascoisas que a experiência nos mostra nascem, existem emorrem. É fatalmente irreversível: nenhum esforço hu -ma no o pode deter, retardar ou acelerar. Tudo, commovimento perpétuo e revolução perene, passa e vaipassando. Daí o natural interesse do homem pelo tempo.

Os sábios da Grécia falavam em seis idades: infância,puerícia, adolescência, juventude, idade adulta, velhice.Salomão e Confúcio sintetizavam a vida humana em trêsetapas: juventude, maturidade e velhice. Shakespeareclassificou a existência humana em sete períodos. Sábiose pensadores, analisando a trajetória do homem nestemundo, vêm tecendo considerações sobre o tempo eindagam: – Onde estamos? – Para onde vamos? – Quepodemos saber? – Que devemos fazer? – Que nos é lícitoesperar? Eis aí problemas fundamentais intimamenterelacionados com o tempo. Seja qual for a solução, cadaum joga com um período de vida que lhe é outorgado paralevar a bom termo o fim supremo de sua existência.

O gênio Aristóteles deixou esta definição: ‘O tempoé o número (soma) do movimento, segundo o anterior eo posterior’. Daí a distinção entre o tempo cósmico,histórico e existencial, de tanta importância e consequên -cias.

Magnífica a análise feita por Berdiaeff: ‘O tempocósmico é calculado matematicamente sobre o movi -mento de rotação em torno do sol. Com ele se estabe -

lecem os calendários e os relógios. Ele é simbolizado porum turbilhão. O tempo histórico está como que encai xa -do no tempo cósmico e se pode contá-lo matematica -men te por dezenas de anos, por séculos, por milênios.Nenhum fato, porém, pode nele se repetir. Estásimbolizado por uma linha dirigida para o futuro, para anovidade. O tempo existencial não se calcula matemati ca -mente. Seu curso depende da intensidade com a qual sevive nele, depende de nossos sofrimentos e de nossasalegrias’. Não se mede nem se avalia uma existência pelonúmero de anos, nem pelo período histórico, mas, sim,pela vivência plena e intensa, repleta de ações queperenemente repercutirão. Bem afirmou Vieira: ‘Nemtodos os anos que passam se vivem: uma coisa é contaros anos, outra é vivê-los’. As ações são, em verdade, osdias e é por elas que têm valor os anos.

O viver em plenitude cada instante é o segredo daverdadeira vida. Cristo viveu 33 anos. Alexandre Magno, 32.Tomás de Aquino, 48. Luís Gonzaga, 23. Alberto Magno,32. Franz Schubert, 31. Mozart, 35. A eles e a tan tos outrosse aplica o dito da Escritura: ‘Tendo vivido pouco, encherama carreira duma larga vida’. Tanto é verdade que oimportante não é viver muito, mas viver bem.

Os que tiveram existência longa só continuam nalembrança dos pósteros porque souberam bem seaproveitar de seus dias. Eis porque Horácio lançou estasentença: ‘carpe diem, quam minimum credula postero’– aproveita o dia presente e não queiras confiar no deamanhã. Escrivá dá este conselho: ‘Que a tua vida nãoseja estéril. Sê útil. Deixa rasto’. É dos latinos a máxima:‘age quod agis’ – faze bem o que estas fazendo.

Goethe dá o motivo: ‘Cada momento, cada segundoé de um valor infinito, pois ele é o representante de umaeternidade inteira’. Ideia já expressa por Apuleio: ‘tempusaevi imaginem’ – o tempo é a imagem da eternidade.Virgílio advertiu que não se pode dissipar o tempo: ‘Fugitirreparabile tempus’ – foge o irreparável o tempo. A elefez eco Horácio: ‘Eheu! Fugaces labuntur anni’ – ai denós, os anos fogem rápidos! Escapam-nos.

Razão teve Riminaldo ao escrever: ‘Há quatro coisasque não voltam atrás: a pedra, depois de solta da mão; apalavra, depois de proferida; a ocasião, depois de perdida;e o tempo, depois de passado’. É de Bulwer-Lytton o ditofamoso: ‘Time is money’ – o tempo é dinheiro. Quevedofaz esta ponderação: ‘Sabes tu, porventura, o que valeum dia? Conheces o preço de uma hora? Examinaste, já,o valor do tempo? Decerto não, porque o deixas passar,alegre, descuidado da hora que, fugitiva e secreta, te levapreciosíssimo roubo. Quem te disse que o que já foi,voltará, quando te for preciso, se o chamares? Dize-me:viste já alguma pegada do dia? Não! Ele só volta à cabeçapara rir e zombar daqueles que assim o deixaram passar’.Tudo isto merece uma reflexão profunda.”

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REFLEXÕES SOBRE O AMOR

5. Introdução

O termo amor tem origem no latim amor e expressagrande variedade de sentidos. Amor geralmente estárelacionado a um íntimo sentimento de afeição cujoobjeto pode ser de ordem física ou espiritual. A atraçãosexual ou estética, por exemplo, é de ordem física; acompaixão ou a devoção religiosa, de ordem espiritual. Oconceito pode implicar uma relação, ou seja, o amor,nesse caso, não é unilateral, mas um sentimento mútuocompartilhado, em que não se faz a clara distinção entreobjeto e sujeito. Assim, o amor estimula os sentidos e osestados psicológicos, inclinando-os para a atração,reproduzindo e alimentando esse sentimento. O amor genuíno inclina-se ao desejo de fazer o bem aoseu objeto. Fala-se, portanto, do amor de mãe, do amorfraterno, do amor a Deus, do amor à vida, do amor peloconhecimento (Filosofia) e até de amor platônico, ou seja,aquele que inspira à contemplação.

O amor também está no centro da filosofia e tradiçãoreligiosa cristã. O professor Anderson Pereira da Cruzescreveu: “A Bíblia nos dá uma grande tradução para oamor em I Coríntios 13. O amor é diferente de sexo. Osexo é um complemento do amor no matrimônio, namoroou noivado. O amor busca o bem da (o) parceira (o), buscaa verdade, a fidelidade, a comunhão. O amor não seufana, não se irrita por qualquer motivo”.

O Amor Platônico

Platão escreveu uma apologia sobre o amor chamadaO banquete. Para Platão, o homem porta um impulsonostálgico, pois a alma preexiste e tem sua origem nummundo de idealidades. O mundo material seria apenas umjogo de sombras do verdadeiro mundo das ideias. Paraesse filósofo grego, há nos homens um Bem ansiado deordem metafísica e dele nasce o Eros.

Eros é, na mitologia grega, o deus do amor, masrepresenta a parte consciente da experiência de atraçãoque uma pessoa sente por outra. Daí vem o termoerótico. Para Platão, a contemplação espiritual é a formatranscendente e verdadeira de amar.

Hoje, amor platônico expressa um amor ideal, alheioaos interesses ou ao gozo e o termo é usado muito paradesignar um amor casto. Trata-se de uma adulteração dosentido original e filosófico de amor platônico. Esse queriadizer a busca da verdade essencial, pois para opensamento de Platão, o amor é ausência, pois oshomens estão na matéria, distantes do mundo original.Para Platão, assim como para a tradição cristã, o amor seinsere numa dimensão metafísica. Outros autorestrataram o amor sob a ótica da filosofia materialista, ou da

ciência e psicanálise, como Sigmund Freud, consideradopor muitos o pai da psicanálise.

O triunfo de Vênus, de Angelo Brozino. Uma obra de arte que expressabelamente o erótico.

6. Texto

O Amor como Fator Civilizador

Por Sigmund Freud, em Psicologia das massas e a

análise do eu.

“As provas da psicanálise demonstram que quasetoda relação emocional íntima entre duas pessoas queperdura por certo tempo — casamento, amizade, asrelações entre pais e filhos — contém um sedimen to desentimentos de aversão e hostilidade, o qual só escapa àpercepção em consequência da repressão. Isso se achamenos disfarçado nas altercações comuns entre sócioscomerciais ou nos resmungos de um subordinado emrelação ao seu superior.

A mesma coisa acontece quando os homens sereúnem em unidades maiores. Cada vez que duas famí liasse vinculam por matri mônio, cada uma delas se julgasuperior ou de melhor nascimento do que a outra. Deduas cidades vizinhas, cada uma é a mais ciumenta rivalda outra; cada pequeno cantão encara os outros comdesprezo. Raças estreitamente aparentadas mantêm-se acerta distância uma da outra: o alemão do sul não podesuportar o alemão setentrional, o inglês lança todo tipode calúnias sobre o escocês, o espanhol despreza oportuguês. Não ficamos mais espantados que diferençasmaiores condu zam a uma repugnância quase insupe rável,

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tal como a que o povo gaulês sente pelo alemão, o arianopelo semita. Quando essa hostilidade se dirige contrapes soas que de outra maneira são amadas, descreve mo-la como ambivalência de sentimentos e explicamos ofato, provavelmente de maneira demasia damenteracional, por meio das numerosas ocasiões para conflitosde interesse que surgem precisamente em tais relaçõesmais próximas.

Nas antipatias e aversões indisfarçadas que aspessoas sentem por estranhos com quem têm de tratar,podemos identificar a expressão do amor a si mesmo, donarcisismo. Esse amor a si mesmo trabalha para apreservação do indivíduo e comporta-se como se aocorrência de qualquer divergência das suas própriaslinhas específicas de desenvolvimento envolvesse umacrítica delas e uma exigência da sua alteração. Nãosabemos por que tal sensitividade deva dirigir-seexatamente a esses pormenores de diferenciação, masé inequívoco que, em relação a tudo isso, os homens dãoprovas de uma presteza a odiar, de uma agressividadecuja fonte é desconhecida, e à qual se fica tentado aatribuir um caráter elementar.

Mas, quando um grupo se forma, a totalidade dessaintolerância desvanece-se, temporária ou permanente -mente, dentro do grupo. Enquanto uma formação degrupo persiste ou até onde ela se estende, os indivíduosdo grupo comportam-se como se fossem uniformes,toleram as peculiaridades dos seus outros membros,igualam-se a eles e não sentem aversão por eles. Tallimitação do narcisismo, de acordo com nossasconcepções teóricas, só pode ser produzida por umdeterminado fator, um laço libidinal com as outraspessoas. O amor por si mesmo só conhece uma barreira:o amor pelos outros, o amor por objetos. Levantar-se-áimediatamente a questão de saber se a comunidade de

interesse em si própria, sem qualquer adição de libido,não deve necessariamente conduzir à tolerância dasoutras pessoas e à consideração para com elas. Essaobjeção pode ser enfrentada pela resposta de que, nãoobstante, nenhuma limitação duradoura do narcisismo éefetuada dessa maneira, visto que essa tolerância nãopersiste por mais tempo do que o lucro imediato obtidopela colaboração de outras pessoas. Contudo, aimportância prática desse debate é menor do que sepoderia supor, porque a experiência demonstrou que, noscasos de colaboração, se formam regularmente laçoslibidinais entre os companheiros de trabalho, laços queprolongam e solidificam a relação entre eles até um pontoalém do que é simplesmente lucrativo. A mesma coisaocorre nas relações sociais dos homens, como se tornoufamiliar à pesquisa psicanalítica no decurso dodesenvolvimento da libido individual. A libido liga-se àsatisfação das grandes necessidades vitais e escolhecomo seus primeiros objetos as pessoas que têm umaparte nesse processo. E, no desenvolvimento dahumanidade como um todo, do mesmo modo que nosindivíduos, só o amor atua como fator civilizador, nosentido de ocasionar a modificação do egoísmo emaltruísmo. E isso é verdade tanto quanto ao amor sexualpelas mulheres, com todas as obrigações que envolve denão causar dano às coisas que são caras às mulheres,quanto do amor dessexualizado e sublimado, por outroshomens, que se origina do trabalho em comum.”

Glossário

Libido: (do latim, significando “desejo” ou “anseio”) écaracterizada como a energia aproveitável para osinstintos de vida. De acordo com Freud, o ser humanoapresenta uma fonte de energia separada para cada umdos instintos gerais.

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Leitura Complementar: Freud

Sobre Freud, em Netsaber Biografias.(Modificado)

“O criador da psicanálise nasceu na região daMorávia, que então fazia parte do Império Austro-Húngaro, hoje na República Checa. Sua mãe, Amalie, eraa terceira esposa de Jacob, um modesto comer ciante. Afamília mudou-se para Viena em 1860.

Em 1877, ele abreviou o seu nome de SigismundSchlomo Freud para Sigmund Freud. Foi aluno daFaculdade de Medicina da Universidade de Viena de 1873a 1882, onde pesquisava no laboratório de Neurofisiologia.

Ao se formar, passou a clinicar no Hospital Geral deViena. Freud trabalhou por seis meses com o neurolo gis -ta francês Jean-Martin Charcot, que lhe mostrou o uso dahipnose.

Em parceria com o médicoJoseph Breuer, seu principalcolaborador, ele publicou em1895 o Estudo sobre Histeria.O livro descreve a teoria de queas emoções reprimidas levamaos sintomas da histeria, que

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poderiam desaparecer se o paciente conseguisse seexpressar.

Insatisfeito com a hipnose, Freud desenvolveu o queé hoje a base da técnica psicanalítica: a livre associação.

O paciente é convidado a falar o que lhe vem à mentepara revelar memórias reprimidas causadoras deneuroses.

Em 1899, publicou A interpretação dos sonhos, noqual afirma que os sonhos são ‘a estrada mestra para oinconsciente’, a camada mais profunda da mentehumana, um mundo íntimo que se oculta no interior decada indivíduo, comandando seu comportamento, adespeito de suas convicções conscientes. Mesmo comdificuldades para ser reconhecido pelo meio acadêmico,Freud reuniu um grupo que deu origem, em 1908, àSociedade Psicanalítica de Viena. Seus mais fiéis segui -dores eram Karl Abraham, Sandor Ferenczi e ErnestJones. Já Alfred Adler e Carl Jung acabaram comodissidentes.

A perda de Jung foi muito mais dolorosa, pois Freudesperava que o discípulo, suíço e protestante, projetassea psicanálise além do ambiente judaico. Além de discordardo papel prioritário dado por Freud ao desejo, Jung setornou místico.

Sensibilizado pela Primeira Guerra Mundial e pelamorte da filha Sophie, vítima de gripe, Freud teorizousobre a luta constante entre a força da vida e do amorcontra a morte e a destruição, simbolizados pelos deusesgregos Eros (amor) e Tanatos (morte). A sua teoria damente ganhou forma com a publicação em 1923, de Oego e o id.

Em 1936, disse considerar um avanço seus livrosterem sido queimados pelos nazistas. Afinal, no passado,eram os autores que iam à fogueira. Mas a subida deHitler ao poder ditatorial não demorou e a perseguição aosjudeus se intensificou. Em 1938, já velho e com câncer,fugiu para a Inglaterra, onde morreu no ano seguinte. ComMartha Bernays, teve seis filhos. A caçula Ana tornou-sediscípula, porta-voz do pai, e uma eminente psicanalista.

Atualmente, Freud continua tão polêmico quanto naépoca em que esteve vivo. Por um lado, é verdadeira men -te idolatrado por seguidores ortodoxos da teoriapsicanalítica – e, aliás, em vida, Freud demonstrava umainegável satisfação em ser reverenciado como um gênio.Por outro, é visto também como um mistificador,principalmente a partir da década de 1990, quando asdescobertas da neurociência questionaram muitos dosprincípios fundamentais da psicanálise.”

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1. A realidade psicológica do presente é a duração do tempo. Opresente confina com o passado imediato (sensação) e com o futuroimediato (ação). O presente consiste em um sistema combinado desensações e movimento. Esse pensamento provém do filósofo:a) Agostinho (S. Agostinho). b) Heidegger.c) Merleau-Ponty. d) Nietzsche.e) Bergson.

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

2. “A reflexão sobre o tempo propõe importantes questões sobre avida humana e seu sentido e brevidade, como: Onde estamos? – Paraonde vamos? – Que podemos saber? – Que devemos fazer? – Que nosé lícito esperar”?

(José Geraldo V. de Carvalho)

O título mais adequado para esse texto é:a) Em busca da origem da espécie humana.b) Objeto fundamental de toda forma de conhecimento humano.c) A função única da filosofia.d) A relação entre o problema do tempo e a filosofia.e) Em busca do tempo perdido.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

3. Segundo José Geraldo V. de Carvalho, viver bem é viver plenamen -te e intensamente. Ele cita importantes personagens que fizeram ahistória da cultura humana e que viveram pouco tempo, como AlexandreMagno, Tomás de Aquino, Alberto Magno, os compositores Schubert eMozart e o próprio Cristo. Portantoa) viver bem é ter uma longa vida saudável.b) longevidade é qualidade de vida.c) para o autor, viver bem não significa necessariamente viver muito

tempo.d) viver plenamente é ter saúde, vida longa e trabalhar.e) as condições profiláticas (de saúde física) são fundamentais para que

se produza qualidade e plenitude de vida.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

4. Pode-se questionar como o tempo tornou-se uma forma dedisciplinar o trabalho humano, aumentando a produtividade e poderelacionar o tema ao desenvolvimento do capitalismo. Interessa tambémpara entender a elaboração de calendários e relógios. Vê-se o tempocomo uma quarta dimensão do contínuo espaço-tempo do Universo.Propõe-se uma reflexão acerca da concepção humana de temporalidadee suas implicações existenciais ou a relação entre tempo e metafísica.Essas três preocupações em estudar o tempo podem ser identificadas,respectivamente, nas atividades doa) historiador, físico e filósofo. b) filósofo, físico e historiador.c) físico, historiador e filósofo. d) sociólogo, historiador e físico.e) historiador, sociólogo e filósofo.

RESOLUÇÃO: Resposta: A

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5. “O passado já não é mais; o futuro ainda não é. Não dizemos,portanto, do passado: é longo; mas foi longo; e do futuro: será longo.Meu Senhor, minha luz, assim não estaria a realidade zombando dohomem? Aquele passado efetivamente foi longo quanto? Foi longoquando era passado ou quando ainda era presente? Tinha realmente apossibilidade de ser longo somente quando existia aquilo que podia serlongo. O passado já não era mais; por isso, tampouco tinha apossibilidade de ser longo o que não existia. Assim, não dizemos: foilongo aquele tempo passado; também não encontraremos mais aquiloque foi longo; porque o tempo, enquanto passado, não existe mais...Nem o futuro nem o pesente existem; isso agora está muito claro. Nemse pode dizer propriamente que os tempos são três: passado, presentee futuro. Talvez fosse melhor dizer que os tempos são: o presente dopassado; o presente do presente; o presente do futuro. E estes estão naalma; não os vejo alhures. O presente do passado é a memória, o presentedo presente é a percepção, o presente do futuro é a expectativa.”

(Santo Agostinho)

Com essas palavras, o filósofo cristão pretendeu afirmar quea) o tempo não existe.b) o tempo está na alma humana.c) o tempo é um mistério divino.d) o tempo está dividido em passado, presente e futuro.e) a temporalidade resulta em uma concepção resultante de processos

da cultura.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

6. “O que aconteceria se, um dia ou uma noite, um demônio se esguei -ras se furtivamente na mais solitária das tuas solidões e te dissesse:‘Esta vida, assim como a vives agora e a vivestes, terás de vivê-lanovamente infinitas vezes e nela não haverá nada de novo, masretornarão a ti cada dor e cada prazer, cada pensamento e suspiro, cadacoisa indizivelmente pequena ou grande da tua vida, e tudo na mesmasequência e sucessão, como esta aranha e este luar por entre os ramose também este instante e eu mesmo. A eterna ampulheta da existênciaserá novamente virada e tu com ela, grão de poeira!’Não te lançarias ao chão, rangendo os dentes e maldizendo o demônioque assim te falou? Ou então, talvez tendo vivido alguma vez uminstante tão imenso, seria esta a tua resposta: ‘Tu és um Deus e nuncaouvi nada tão divino?’Se esse pensamento ganhasse poder sobre ti, assim como és agora,ele te faria sofrer uma metamorfose e talvez te triturasse. A perguntapara qualquer coisa – ‘Queres isso mais uma vez e ainda inúmerasvezes?’ – pesaria sobre o teu modo de agir como o maior dos pesos! Ou,então, quanto terias que amar a ti mesmo e à vida, para não desejarnada mais que esta última e eterna confirmação, esta chancela?...”

(Nietzsche)

As palavras de Nietzsche referem-se ao seu conceito de “mito doeterno retorno”. A partir das palavras do filósofo, pode-se afirmar quea) pretendia defender uma concepção metafísica ou religiosa do tempo,

pois fala em eternidade.b) pretendeu dizer que o tempo é um mito. c) pretendeu afirmar que o tempo é uma criação de Deus.d) falou da incomensurabilidade do tempo.e) defendeu a ideia de se conduzir uma existência dionisíaca

(fundamentada na busca do prazer).

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

7. O amor sempre foi objeto de especulação filosófica. Leia e julgue asproposições abaixo.I. O termo amor tem origem no latim amor e expressa grande varie -

dade de sentidos. Amor geralmente está relacionado a um íntimosentimento de afeição cujo objeto é de ordem física.

II. Tratando-se sempre de uma experiência física, a atração pode serde ordem sexual ou estética.

III. A devoção ou a contemplação são experiências abstratas, nãopassíveis de estudo e reflexão filosófica. Há muito que a metafísicae a experiência fenomenológica de ordem espiritual deixaram de serlevadas a sério pelos especialistas sérios em filosofia.

IV. O conceito de amor pode implicar uma relação, ou seja, o amor, nessecaso, não é unilateral, mas um sentimento mútuo compartilhado, emque não se faz a clara distinção entre objeto e sujeito.

Assinale a alternativa que expõe a(s) correta (s):a) Todas. b) I, II e IV, apenas. c) I e III, apenas. d) IV, apenas. e) I, II e III, apenas.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

8. O amor também está no centro da filosofia e tradição religiosa cristã.O Professor Anderson Pereira da Cruz escreveu: “A Bíblia nos dá umagrande tradução para o amor em I Coríntios 13. O amor é diferente desexo. O sexo é um complemento do amor no matrimônio, namoro ounoivado. O amor busca o bem da (o) parceira (o), busca a verdade, afidelidade, a comunhão. O amor não se ufana, não se irrita por qualquermotivo”. Segundo o texto, conclui-se que a) não há sexo sem amor.b) o sexo nunca é expressão de amor.c) a sexualidade humana é mera expressão de animalidade, enquanto o

amor, de pura espiritualidade.d) no casamento, o amor é complemento da relação sexual, não

podendo ocorrer senão dentro da tradição cristã.e) o amor genuíno é desejo de fazer o bem ao outro.

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

9. Platão escreveu uma apologia sobre o amor chamada O Banquete.Leia e julgue as assertivas.I. Para Platão, o homem porta um impulso nostálgico, pois a alma

preexiste e tem sua origem num mundo de idealidades. II. O mundo das ideias seria apenas um jogo de sombras do verdadeiro

mundo material.III.Para esse filósofo grego, há nos homens um Bem ansiado de ordem

metafísica e dele nasce o Eros.

Está (ão) correta(s) apenasa) Todas. b) I e II, apenas. c) I e III, apenas.d) I, apenas e) II e III, apenas.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

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10.Para Platão, a contemplação espiritual é a forma transcen dente everdadeira de amar. Sobre esse conceito, assinale a alternativa errada:a) Hoje, amor platônico expressa um amor ideal, alheio aos interesses

ou ao gozo e o termo é usado muito para designar um amor casto.Trata-se de uma adulteração e reinterpretação do sentido original efilosófico de amor platônico.

b) Amor platônico queria dizer a busca da verdade existencial, pois parao pensamento de Platão, o amor é presença, pois os homens estãovivendo em seu mundo original.

c) Para Platão, assim como para a tradição cristã, o amor se inserenuma dimensão metafísica.

d) O homem é portador de uma ansiedade ou sede ontológica (própriado ser), natural.

e) A contemplação é expressão do amor platônico.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

11.Amor platônico, na acepção vulgar, é toda a relação afetuosa em quese abstrai o elemento sexual, idealizada por elementos de gênerosdiferentes - como num caso de amizade pura, entre duas pessoas.Esta definição, contudoa) difere da concepção mesma do amor ideal de Platão, o filóso -

fo grego da Antiguidade, que concebera o amor como algo essencial -mente puro e desprovido de paixões, ao passo em que estas sãoessencialmente cegas, materiais, efêmeras e falsas.

b) difere da concepção original, pois o amor, no ideal platônico, sefundamenta num interesse sexual.

c) difere da concepção do filósofo grego, para quem só há um amorautêntico que é o filosófico, ou seja, o amor pelo conhecimento.

d) difere da concepção grega antiga, pois o amor era virtude espirituale abstinência física.

e) difere da concepção original, pois para Platão, o amor era expe riênciaconcreta e existencial, verificável nas relações domésticas.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

12.Leia os textos:

TEXTO A

“Ironicamente, tanto Platão quanto Sócrates e Ficino falavam doamor como uma espécie de amizade pedagógica, mas também tinhamespecial predileção sexual por jovens do sexo masculino. Os trêspossuíam este afeto puro pelos discípulos, mas nutriam interesseerótico por rapazes. O conceito de amor platônico surge, assim, numcontexto em que se debatia a pederastia (homossexualidade) mundanacontra o amor filosófico puro (castidade), decorrente da visão contidanos escritos de Platão.

Levando-se em conta a definição atual do amor platônico, existe umparadoxo quando se leva em consideração a vida e os ensinamentosdesses filósofos. Platão e os demais não ensinaram que a relação deum homem com um rapaz deveria possuir o interesse erótico, mas simque o desejo pela beleza (em si mesma) do jovem deve ser ofundamento da amizade e amor entre ambos. Mas, reconhecendo queo desejo erótico do homem pelo jovem desvia as energias, é sábioresistir e opor-se o Eros (amor) de sua expressão sexual, canalizando-seas forças para as esferas intelectuais e emocionais.”

(Wikipédia, sobre o amor platônico)

TEXTO B

“E, no desenvolvimento da humanidade como um todo, do mesmomodo que nos indivíduos, só o amor atua como fator civilizador, nosentido de ocasionar a modificação do egoísmo em altruísmo. E isso éverdade tanto quanto ao amor sexual pelas mulheres, com todas asobrigações que envolve de não causar dano às coisas que são caras àsmulheres, quanto do amor dessexualizado e sublimado, por outroshomens, que se origina do trabalho em comum.”

(Freud)

Os dois textos falam sobre o amor, um se referindo ao conceito de amorem Platão e o outro, um texto do pai da psicanálise Freud. Apesar deserem textos tão distintos, uma temática aparece nos dois. Assinale aalternativa que revela o conceito que sintetiza esse tema.a) Homossexualidade.b) Sublimação.c) Filosofia.d) Afeto puro.e) Pederastia.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

13.“Mas, quando um grupo se forma, a totalidade dessa intolerânciadesvanece-se, temporária ou permanentemente, dentro do grupo.Enquanto uma formação de grupo persiste ou até onde ela se estende,os indivíduos do grupo comportam-se como se fossem uniformes,toleram as peculiaridades dos seus outros membros, igualam-se a elese não sentem aversão por eles. Tal limitação do narcisismo, de acordocom nossas concepções teóricas, só pode ser produzida por umdeterminado fator, um laço libidinal com as outras pessoas. O amor porsi mesmo só conhece uma barreira: o amor pelos outros, o amor porobjetos.”Para Freud, então ocorre a) a passagem do egoísmo para o altruísmo.b) a ameaça às relações humanas de solidariedade.c) a perda da identidade singular.d) a crise da civilização.e) o complexo de Édipo.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

14. O termo vem do latim e significa anseio. É caracterizada como aenergia aproveitável para os instintos de vida. De acordo com Freud, oser humano apresenta uma fonte de energia separada para cada um dosinstintos gerais. Assinale a alternatia que expõe o conceito descrito.a) Pulsão.b) Eros.c) Amord) Libido.e) Sublimação.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

144 –

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15.O homem porta certa vocação à rivalidade natural, que resulta daautopreservção narcísica e resulta numa hostilidade no convívio. Segundo Freud, ainda podemos dizer quea) essa rivalidade e hostilidade são insuperáveis.b) são pulsões humanas ingovernáveis e não reprimidas, o que explica

o grande número de tensões e conflitos que tecem as relaçõeshuma nas.

c) o convívio com grupos maiores tende a diluir essa tendência esublima-se a libido na consolidação da civilização.

d) no grupo, o narcisismo é diluido, o que representa uma ameaça àautopreservação e, consequentemente, à vida humana.

e) o indivíduo é reprimido pelo advento da civilização, perdendo suaestrutura humana original, obstruindo sua faculdade natural para amar.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

16.No desenvolvimento da humanidade como um todo, do mesmomodo que nos indivíduos, só o amor atua como fator civilizador, nosentido de ocasionar a modificação do egoísmo em altruísmo. Analise as assertivas que pretendem se relacionar com o conteúdo daideia acima.I. Essa ideia é defendida por Sigmund Freud.II. O convívio íntimo é elemento facilitador desse processo.III. O convívio sublima a libido em favor de grandes realizações

humanas. Dá-se, assim, o processo da civilização.

Está (ão) correta(s)a) Todas. b) I e II, apenas. c) I e III, apenas.d) I, apenas. e) II e III, apenas.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

– 145

1. Leia o texto de Agostinho de Hipona (S. Agostinho) e julgue asassertivas abaixo, colocando V para as verdadeiras e F para as falsas.I. Para Agostinho (S. Agostinho), somente o presente possui um

comprimento. ( )II. O tempo pode ser medido somente no presente. ( )III. Há um tempo outro em que o presente se torna pleno e que se

chama eternidade. ( )IV. Toda experiência humana está enraizada na percepção do presente.

( )

2. Sobre o texto de Nietzsche, é possível afirmar quea) é impossível conceber o tempo numa estrutura cíclica.b) a perda do sentido linear do tempo comportaria uma revolução na

psicologia humana.c) o homem coerente e feliz não aceita a ideia ou o mito do eterno

retorno.d) o mito do eterno retorno pode tornar a vida mais penosa e infeliz.e) cada ser humano percebe o tempo a sua maneira.

3. Sobre a antropologia filosófica de Platão, é coerente afirmar que:a) Platão foi um empiricista.b) Nos sentidos, o homem realiza a sua humanidade.c) O intelecto é um obstáculo ao desenvolvimento dos sentidos,

capazes de produzir conhecimento. d) A alma preexiste mas não sobrevive à morte do corpo.e) Há um impulso nostálgico no homem (o Bem ansiado) que se

manifesta na experiência do Eros.

4. Que relação Freud estabeleceu entre o amor e a civilização?

5. Leia o texto de Bergson e sintetize a sua ideia central.

6. Segundo o cônego José Geraldo V. de Carvalho, no texto de leituracomplementar, que relação existe entre o problema do tempo e afilosofia?

7. Segundo o texto de José Geraldo V. de Carvalho, ter uma vida longaimplica viver bem? Justifique.

8. Qual é o sentido original da expressão amor platônico?

1) F, V, V, V. 2) B 3) E

4) Há nos indivíduos, segundo Freud, uma inclinação original

para sentimentos de hostilidade, mas os homens estabelecem

relações entre si, por laços libidinais e os indivíduos do grupo

comportam-se como se fossem uniformes, toleram as

peculiaridades dos seus outros membros, igualam-se a eles e não

sentem aversão por eles. A civilização é formada por esses laços a

partir da transformação do egoísmo em altruísmo.

5) A realidade psicológica do presente é a duração do tempo. O

presente confina com o passado imediato (sensação) e com o

futuro imediato (ação). O presente consiste em um sistema

combinado de sensações e movimento.

6) A reflexão sobre o tempo propõe importantes questões sobre

a vida humana e seu sentido e brevidade, como: Onde

estamos? – Para onde vamos? – Que podemos saber? – Que

devemos fazer? – Que nos é lícito esperar?

7) Não. Para o autor, viver bem é viver plenamente e

intensamente e não necessáriamente muito. Ele cita

importantes personagens que fizeram história da cultura

humana e que viveram pouco tempo, como Alexandre Magno,

Tomás de Aquino, Alberto Magno, os compositores Schubert

e Mozart e o próprio Cristo.

8) A expressão queria dizer a busca da verdade essencial, visto

que para o pensamento de Platão, o amor é ausência, pois os

homens estão na matéria, distantes do mundo original. Nesse

sentido, amor platônico é um exercício de contemplação

metafísica.

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O PROBLEMA DA LIBERDADE

1. Introdução

Em filosofia, o conceito de liberdade indica um estadode autonomia do espírito humano, intelectual e físico, quedificulta a submissão do sujeito. Segundo o filósofoDescartes (1596-1650), torna-se necessário conhecer ecompreender as alternativas ao alcance da nossa escolhapara experimentar maior liberdade. Nesse sentido, oindivíduo precisa buscar se informar acerca dasalternativas.

Para o filósofo Kant (1725-1804), a autonomia deespírito requer a apropriação de regras para o “agir”racional. A razão e a liberdade se implicam e, assim comoem Descartes, a relação exige conhecimento. ContinuaKant afirmando que é necessário também que o indivíduoseja consciente de sua liberdade.

Já para outro filósofo, Schopenhauer (1788-1860), aação humana não é totalmente livre, pois o homem não élivre para deliberar sobre a sua vontade, não escolhe oque deseja, já que a vontade se insere numa lógica natural(lei) de causalidade.

Para Sartre (1905-1980), filósofo existencialista, ohomem é condenado a ser livre, ou seja, a liberdade é asua condição ontológica. O ser humano é nada antes deser qualquer coisa e é absolutamente livre para transfor -mar-se, definir-se e engajar-se. Mas para Sartre, acondição de liberdade causa angústia ao homem, pois sevê obrigado a fazer escolhas e ele se sente oprimido pelaresponsabilidade implicada.

Para Sartre, a liberdade é condição ontológica do homem.

2. Texto

Direito e Liberdade

Por Rosana Madjarof

“Pensar o Direito é pensar a Liberdade. Fazer agir oDireito, é viver a Liberdade. Intrinsecamente ligados, émister que se faça valer o direito à liberdade dentro dosparâmetros e paradigmas do Direito, isto é, temos odireito de nascer, crescer, estudar, comer, morar e morrer.Esses direitos são necessários para se encontrar, de umaforma ou de outra, os caminhos, as metas e os objetivosde cada indivíduo – tanto para o bem, quanto para o mal –,ou seja, a liberdade será determinada pelos seusprincípios de ‘direito’: o errar e o acertar.

A liberdade, antes de tudo, deve ser vista comresponsabilidade. A responsabilidade de nossos atos éfator sumamente importante para que possamos fazer jusa ‘essa tal liberdade’...

Nos dias atuais, vemos e ouvimos, a toda hora e emtodo lugar, pronunciamentos em prol da liberdade deexpressão. O que seria isso? A grande mídia, tanto afalada, a escrita e a televisiva, quer conquistar ‘essa talliberdade’. Vejamos... Nos anos 60 existia um objetivocomum: a Ditadura Militar. Os jovens pediam o fim daDitadura, reivindicavam a redemocratização do País,pediam o fim do imperialismo, queriam a liberdade deexpressão, a revolução sexual, paz e amor e a defesa dopatrimônio nacional. E hoje? Qual será o ideal de liberdadetão almejado por todos? Podemos dizer que hoje, asdemandas e as necessidades são outras. Hoje, há outrosgrupos organizados que saem às ruas para lutar pordireitos, como os homossexuais, os negros, as mulheresetc.

Se fizermos uma viagem através do túnel do tempo,até as décadas de 60-70, veremos que o simples fato dese pensar na palavra ‘liberdade’, já era sinal de alerta paraos ‘Donos do Poder’. As pessoas tentavam, através desuas canções e poesias, extravasar o seu ‘subjuga do’pensamento. As palavras de protesto sofriam mutações,e chegavam até nós, através de ‘Bandas’ (1) ou ‘Flores’(2)... , já que a ação da censura impedia que a populaçãotivesse conhecimento daquilo que realmente acontecia,passando, sempre, a ideia de uma ‘paz tranquila’. Hoje,com a advento da globalização, a circulação de notíciasimediatas através da Internet e o fim da Ditadura, temosdireito a ter direito a ‘essa tal liberdade’.

Mas, mesmo com a liberdade de pensamentos, nemsempre podemos colocar em prática esses pensa mentos.Seria um atentado contra as regras do Direito. Podemosaté falar, mas, não podemos, nunca, fazer o que falamos.Se assim fosse possível, quantas vezes teriam matado onosso Ilustríssimo Presidente? Ou quantas bombasteriam jogado no Palácio do Governo? Nesse caso, temos,

146 –

MÓDULO 15 O Problema da Liberdade e o Consumismo

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somente, a liberdade de opinião, mas nunca a liberdadede ação. Portan to, delicio-me em dizer que: Não regozijo-me em ser uma livre pensadora, pois, acima de tudo,quero ser uma pensadora livre. Quero ser livre, nãosomente para pensar, mas, sonhar, falar, errar e acertarlivremente.

Liberdade, no fundo, é isto: o direito de ‘errar’, acertare pensar sozinho.”

Notas:

1. Chico Buarque de Holanda, em 1966, compôs amúsica intitulada A banda. Em plena Ditadura Militar,esta canção chegou até nós como uma formasimples, alegre e descontraída de demonstrar o amor,compen sando-nos da confiança perdida nos homense suas promessas, da perda dos sonhos que odesamor puiu e fixou.

2. Geraldo Vandré, advogado, compositor e músico,em 1968, no III FIC, em São Paulo, causou impactocom a apresentação da música Pra não dizer que nãofalei das flores ou Caminhando. A música teve grandeêxito, tornando-se uma espécie de hino estudantil,mas teve seu curso interrompido pela censura pormais de dez anos.

A liberdade é uma conquista do indivíduo e social.

Liberdade: uma conquista do homem

Por Dora Lucia Alcântara

(Psicóloga e psicoterapeuta existencial)

“O que é ser livre? Como o homem pode ser livre?Seria uma possibilidade utópica?

Mal-entendida, negada, almejada, sobretudo usurpa -da a liberdade sempre foi uma questão fundamental paraa humanidade.

‘Liberdade, essa palavraQue o sonho humano alimentaQue não há ninguém que expliqueE ninguém que não entenda’

Cecília Meireles

Há sempre questões, dúvidas e impossibilidades.Como serei livre com o pai que tenho? ...Ah! Quando eume casar!... Depois do casamento pode ainda não sentir-se livre e novamente buscar soluções para iludir-se. Porque o ser humano tão frequentemente é infiel? Será queaí julga-se livre? Estará ele realmente livre?

Liberdade não implica em falta de educação, nin guémprecisa ser inconveniente ao meio para conseguir serlivre, mas deve impedir que o meio seja inconvenien te asi para roubar-lhe a liberdade.

O homem sempre se fez prisioneiro de angústias,medos, culpas, solidão, impossibilidade de agir, padrõespré-determinados, doutrinas, normas, dogmas etc. Podeentão, libertar-se buscando o autoconhecimento e reali -zando-se. Tornando-se responsável por suas escolhas.

Para Sartre o homem é a sua liberdade e estácondenado a ser livre. Condenado porque não se criou asi mesmo, e como, no entanto é livre, uma vez que foilançado no mundo é responsável por tudo que faz.

Segundo Jaspers, só nos momentos em que exerçominha liberdade é que sou plenamente eu mesmo. Assimserá o indivíduo autêntico, autônomo, autodeterminado.

Ser e fazer implica liberdade. A condição primordialda ação é a liberdade. Liberdade é essencialmentecapacidade de escolha. Onde não existe escolha, não háliberdade. O homem faz escolhas da manhã à noite e seresponsabiliza por elas assumindo seus riscos (vitórias ouderrotas). Escolhe roupas, amigos, amores, filmes,músicas, profissões... A escolha sempre supõe duas oumais alternativas; com uma só opção não existe escolhanem liberdade.

As escolhas nem sempre são fáceis e simples.Escolher é optar por uma alternativa e renunciar à outra ouàs outras.

Não existe liberdade zero ou nula. Por mais escravi -zada que se ache uma pessoa, sempre lhe sobra algumpoder de escolha. Também não há liberdade infinita,ninguém pode escolher tudo.

Na facticidade, somos limitados, determinados. Umótimo exemplo nos é dado por Luís Fernando Veríssimoquando descreve: ‘poderia se dizer que livre, livre mesmo,é quem decide de uma hora para outra que naquela noitequer jantar em Paris e pega um avião. Mas, mesmo estedepende de estar com o passaporte em dia e encontrarlugar no avião. E nunca escapará da dura realidade de quesó chegará em Paris para o almoço do dia seguinte. Oplaneta tem seus protocolos’.

Contra o senso comum ‘ser-livre’ não significa ‘obtero que se quis’, mas sim ‘determinar-se por si mesmo aquerer’ (no sentido de escolher). O êxito não importa emabsoluto à liberdade. O conceito técnico e filosófico deliberdade significa: autonomia de escolha, não fazendodistinção entre intenção e ato.

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O ato livre é, necessariamente, um ato pelo qual sedeve responder e responsabilizar-se. Porque sou livretenho que assumir as consequências de minhas ações eomissões.

Os animais irracionais não são livres, não são respon - sáveis pelo que fazem ou deixam de fazer. Ninguém podecondenar um cavalo que lhe deu um coice. O animal nãofaz o que quer e sim o que precisa ou o que se encontradeterminado pelo instinto de sobrevivência para quecontinue existindo.

O próprio voo de um pássaro está sujeito às leis daFísica. Kant brincava com essa ideia, imaginando umapomba indignada contra a resistência do ar que aimpediria de voar mais depressa. Na verdade, argumen ta,é justamente essa resistência que lhe serve de suporte,pois seria impossível voar no vácuo.

‘Não me apontes o caminho,o rumo certo pra chegar ao cimo.Deixa-me encontrá-lo para que sejameu...

Não me reveles a mais brilhante estrela, Aquela que te guia. Eu buscarei a minha...Não me estendas a mão quando eu cair.Em tempo certo, em hora exata,Eu ficarei de pé...

Não te apiedes de mim.É minha estrada, é minha estrela,É meu destino.

Deixa apenas que eu seja.Sem ti...’

Eliette Ferreira

O homem para Sartre não pode ser ora livre oraescravo. Ele é totalmente e sempre livre, ou não o é.

A liberdade não é alguma coisa que é dada, masresulta de um projeto de ação. É uma árdua tarefa cujosdesafios nem sempre são suportados pelo homem, daíresultando os riscos de perda de liberdade pelo homemque se acomoda não lutando para obtê-la.

Glossário:

Ontologia: Conforme o dicionário Aurélio, “ontologia” é a“parte da filosofia que trata do ser enquanto ser, i. é, do serconcebido como tendo uma natureza comum que éinerente a todos e a cada um dos seres (...)”. Tendo-se emconta que “onto”, do grego, vem a significar indivíduo ouser, e “logia”, que comumente significa estudo, tem-seque “ontologia” vem a ser o estudo investigativo ecomparativo do indivíduo – aqui tido como exemplar da

espécie humana – frente aos demais seres vivos, pas -sando pela sua concepção, criação, evolução e extinção.Busca, portanto, o conhecimento profundo acerca danatureza do ser humano, levando em conta os aspectosfisiológicos e espirituais, confrontando-os com aquelesque caracterizam e distinguem os demais seres vivos.

O CONSUMISMO

A terra pode oferecer o suficiente para satisfazer asnecessidades de todos os homens, mas não a ganânciade todos os homens.

(M. Gandhi)

“Não há drama no fato de alguém não poder comprarmarcas e luxo; o drama é a vida não ter outro ideal senãoo consumo. “

(G. Lipovetsky)

3. Introdução

Há uma diferença entre os termos consumo econsumismo. Esse último sugere o ato de consumir deforma alienada e inconsciente. Alcançar a estruturainconsciente do agir humano é o propósito mesmo dastécnicas de publicidade e propaganda, de tal forma que odomínio sobre o comportamento humano através doconsumo induzido, amplia as possibilidades de acúmulode capital e lucro por parte das empresas. Claro queconsumir é uma necessidade humana, mas existe oconsumo desnecessário e filósofos questionam o lugarda liberdade humana no consumismo, assim como aprioridade que se dá ao ato de consumir. Em outraspalavras, o paradigma do mercado, na sociedadecontemporânea, teria colocado o consumo na posiçãomais alta na hierarquia de valores humanos.

O consumismo desenfreado pode ser consideradouma patologia comportamental e a cultura moderna oincentiva. Assim, compra-se compulsivamente, alegan dobenefícios terapêuticos inclusive. Ignora-se, porém, emgeral, as causas históricas como o desenvolvimento daRevolução Industrial e do advento da sociedadecapitalista, urbana e burguesa, em que os valoresadquiriram um pseudo caráter universal e supostamenteatemporais.

Além de tudo já colocado, considere-se também arelação existente entre o consumo e os impactosambientais que ameaçam a própria qualidade de vida doshomens no planeta. Vê-se, então, a dimensão da questãodo consumismo.

O consumismo pode ter implicações emocionais epsicológicas, por vezes relacionado à baixa autoestima eproblemas de relacionamentos humanos e afetivos.Outras vezes, ele é induzido pela simples curiosidadedespertada pelas propagandas.

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Assim, o consumismo revela, na sociedade contem -porânea, consequências mentais de alienação, explora -ção econômica, problemas ambientais, impactosculturais, manipulação comportamental e aumento dasdesigualdades sociais.

O filósofo francês Gilles Lipovetsky, professor deFilosofia na Universidade de Grenoble, na França, publicouem 2007 o livro A sociedade da decepção, em que eleanalisa a espiral da frustração humana, eviden cian do queo que gera decepção não é tanto a falta de confortopessoal, mas a desagradável sensação de desconfortopúblico e a constatação do conforto alheio e afirma aindaque a inveja provocada pelos bens não comercializáveis(amor, poder, beleza, prestígio e êxito) permaneceinalterável, mas aquela provocada pelos bens materiaisdiminui. Para ele, a sociedade é marcada pelos excessose abundância, seja de riqueza, seja de pobreza, além doexcesso de desejos por parte da classe média.

A sociedade de consumo, por um lado, prega epropaga o bem-estar material, ao menos para alguns, e,por outro lado, experimenta uma incidência de perturba -ções e ansiedades. O filósofo conclui que, ao contrário doque se pensa, o aumento de consumo não propiciaaumento de felicidade.

Por fim, a corrida pelo possuir alimenta o individua -lismo, tornando raros os momentos de legítimo convívio,e de acesso ao espaço público.

O consumismo pode ser visto como patologia comportamental.

4. Texto

O Consumismo como nova forma de exploração

Por Francisco Trindade (Portugal)

“(...)A Cimeira do Rio de Janeiro de 1992 alertou para que

a modificação dos atuais níveis de consumo no mundoindustrializado, isto é, a eliminação do consumis mo,deveria ser uma das tarefas principais da humani da de

para o próximo século, pois só assim se poderia salvar oplaneta da catástrofe que se avizinha. Já se passaramcatorze anos desde a realização daquela cimeiraconvocada pelas Nações Unidas, e descontando ascentenas de discursos, o não cumprimento de com -promis sos e as mil promessas dos governantes dospaíses ricos e industrializados, a verdade é que muitopouco se fez. Enquanto isso, a consciência do perigomortal vai crescendo e os efeitos da deterioraçãoambiental multiplicam-se.

Ninguém duvida que as principais vítimas a sofrercom as consequências da grave deterioração do meioambiente são os habitantes pobres dos países menosdesenvolvidos. São os que não têm automóveis, nemaparelhos de ar condicionado, provavelmente nem sequergeladeiras, ou seja, não são eles que contaminam a terrae, não obstante, é sobre eles que recaem maisdiretamente os efeitos das emissões de dióxido decarbono causadoras do aquecimento do planeta e doefeito estufa. Também são eles que, quando estãodoentes, não têm hospitais, médicos nem medicamentossuficientes como os que existem na outra parte doplaneta. Tampouco podemos esquecer que a populaçãomundial demorou dezenas de anos a atingir a soma de 1000 milhões de habitantes, soma essa que foi alcan ça dapor volta do ano de 1800. Acontece que só nos últimos200 anos a população mundial atingiu a cifra superior aos6 300 milhões de habitantes, e que as previ sões apontampara que no ano 2050 se chegue aos 9 000 milhões.

Esta grande explosão demográfica, junto à acele radadegradação das condições naturais básicas para asobrevivência da humanidade está a provocar umaenorme preocupação em muitos países, sobretudo nosmenos desenvolvidos já que é nestes que se registra ummaior crescimento da população.

(...) Globalizou-se a desigualdade e por isso é que há cada

vez maiores diferenças entre os países ricos e pobres.Mas isto não é inevitável e há que afirmar que estasituação pode ser mudada, pois outro mundo é possível,outros sistemas são possíveis, e que é possível globalizara cultura, a saúde, o respeito pelo meio ambiente, e,sobretudo que é possível globalizar uma alimentação justapara todos os habitantes do planeta chamado Terra, masisso só será possível se travarmos a corridaarmamentista, o domínio de uns países sobre outros e adestruição dos recursos naturais.

Há que apostar por um consumo racional e sustentá -vel numa sociedade justa e sustentável, e esses doisobjetivos devem estar unidos.

(...)O consumo sustentável ou consumo racional supõe

muito mais que trocar um produto prejudicial para o meioambiente ou para os seres humanos por outro menos

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nocivo. Nem significa apenas selecionar os resíduosurbanos das nossas casas. Implica, acima de tudo,questionar o nosso sistema social, examinar o nossopapel face às desigualdades da economia mundial e exigirpolíticas que favoreçam uma real mudança no atualsistema de produção e consumo. Mas significa principal -mente assumir que a manutenção do atual modo de vidadas sociedades consumistas só poderá acontecer à custada manutenção do atual modo de vida das populaçõesdos países pobres, além de justificar guerras e invasõesa fim dos recursos naturais dos países pobres seremapropriados por aqueles outros (...)

Além disso, afeta-nos porque somos vítimas de umadupla exploração. A que sofremos como trabalhadores ea que sofremos como consumidores, provocandocomporta mentos generalizados de consumo irracional,quase compulsivo, com a ilusão de que quanto maisconsumir mos mais felizes seremos, e mais nos aproxima -remos dos patrões e dos conceitos de vida que nosimpõem os poderosos que governam a Terra.

Por outro lado, há a exploração dos habitantes dospaíses pobres que, em consequência do consumismo eda sobre-exploração dos recursos do planeta, não podemsair da pobreza e do subdesenvolvimento em que viveme que permitem o consumismo e o desper dício no mundodos ricos.

Para além dos efeitos que o consumismo está aprovocar com a destruição do meio ambiente pondo emcausa a própria sobrevivência do planeta, há que assinalaros efeitos desse modelo de comportamento consumistapara a qualidade de vida e para a própria situaçãoeconômica.

Este aspecto é objeto de um manto de silêncio, o quenão surpreende, uma vez que se o conseguirmos rompera sociedade começará a interrogar-se sobre o estilo devida que tem adotado, para além de começar a colocarem questão a noção de que ter mais significa ser maisfeliz e gozar de maior qualidade de vida.

Verificamos que os consumidores das economiasindustrializadas empenham-se em consumir cada vezmais bens de consumo. Sofrem quase que umadependência paranoica deste tipo de bens e que servemde estímulo externo para compensar o deficit interior, paraalém de servir para constituir um símbolo de estatutosocial. As classes dominantes encarnam uma imagem derealização das possibilidades humanas: poder, segurança,comodidade, refinamento e cultura.

As demais pessoas, ao quererem imitá-las, perdema sua capacidade autônoma de definir aquilo que é dignode se possuir. A formação dos gostos e preferên cias fica

subordinada aos valores de uns poucos privilegiados. Todaesta análise constitui a chave para conhecermos aideologia do consumismo. O consumo de bens satisfaznecessidades físicas objetivas e, por consequência, temsempre um ponto de saturação. O bem-estar ou asatisfação de bens relacionais ou de posição mede-seatravés da comparação com outros consumidores eoutros momentos históricos, sem limites, já que avontade de diferenciação é infinita. Esta situação está alevar os consumidores dos países com economiasdesenvolvidas a um sobre-endividamento, isto é, a gastaracima do seu rendimento e, com isso, a tornarem-sereféns do sistema.

Sempre que pensamos em evitar ou limitar os danosambientais gerados pela produção, distribuição econsumo de bens, aceitamos a necessidade de produtose técnicas menos prejudiciais. O que não é fácil de aceitaré a redução da produção e do consumo. Nesse sentido,a promoção do consumismo através da publicidade, datelevisão e dos centros comerciais deve ser objeto decontestação dos consumidores. Uma forma de fazer comque o consumo seja a simples satisfação denecessidades passa por nos libertarmos dos automa -tismos que nos impõem o hábito de um consu mis moexacerbado. No fundo, são automatismos que fazeminfelizes por nunca conseguirmos imitar os padrões defelicidade que a publicidade nos vende. Termi na mos comuma afirmação sobre o futuro da sociedade de consumo:esta não é mais que uma etapa da história que seráultrapassada. O que não se pode ainda prever é quando éque tal se dará por via de uma mudança de mentalidadesou então por via de uma situação apocalíp tica docapitalismo em consequência do esgotamento dosrecursos e da destruição do meio ambiente.”

O consumismo gera lixo e exclusão social.

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1. Segundo o filósofo francês Gilles Lipovetsky:I. A sociedade moderna é marcada pela decepção e frustração.II. O que gera decepção não é tanto a falta de conforto pessoal, mas a

desagradável sensação de desconforto público e a constatação doconforto alheio.

III. A sociedade é marcada pelos excessos e abundância, seja deriqueza, seja de pobreza, além do excesso de desejos por parte daclasse média.

IV. A sociedade de consumo, por um lado, prega e propaga bem-estarmaterial e emocional, conferindo uma correspondência entreconsumir e o estado de felicidade.

São verdadeiras apenas a) I e II. b) II e III. c) II, III e IV. d) I, II e III. e) I, III e IV.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

2. Sobre a condição humana, podemos afirmar que:a) O homem não é um ser livre – condição específica de alguns animais

que tem o poder de escolha –, e por isso ele se angustia.b) O homem tem uma capacidade muito restrita de adaptação aos

espaços geográficos, diferente de outros animais que podem viverem diversos habitat.

c) O homem porta um código natural que restringe sua possibilidade dearticular linguagem.

d) O homem não é considerado um ser histórico devido à suainadequada estrutura biológica.

e) O homem é o único ser vivente na Terra capaz de refletir sobre a suaprópria existência e condição.

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

– 151

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3. O homem é “liberdade absoluta”: “está condenado a ser livre”.Desta situação resulta a angústia como experiência metafísicaconsubstanciada no sentimento da possibilidade de o homem perder asua própria existência; através da angústia, o homem experiencia o nadae pressente a incerteza das escolhas que o conduzirão ao ser. A existên cia é lançada num total abandono de si mesma; isto equivalea dizer que é absoluta liberdade, na medida em que dependeexclusivamente de si.De acordo com o texto: I. Liberdade é o contrário de angústia.II. A liberdade representa a condição primeira do homem.III. A angústia é causada pela incerteza diante das escolhas e essas

resultam da nossa liberdade.IV. O homem concreto não tem chances de escolha e por isso

experiencia a angústia.São coerentesa) apenas I e III. b) apenas II e IV. c) apenas I e IV. d) apenas III e IV. e) apenas II e III.

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

4. “O homem para Sartre não pode ser ora livre ora escravo. Ele étotalmente e sempre livre, ou não o é. A liberdade não é alguma coisaque é dada, mas resulta de um projeto de ação. É uma árdua tarefa cujosdesafios nem sempre são suportados pelo homem, daí resultando osriscos de perda de liberdade pelo homem que se acomoda não lutandopara obtê-la.”

(Dora Lúcia Alcântara)

Para o filósofo existencialista Sartre, a condição humana éa) marcada pela liberdade, condição que lhe garante satisfação e

segurança.b) marcada pela escravidão, pois homem algum é de fato livre.c) marcada pela liberdade que é dada naturalmente, nunca ameaçada

por qualquer circunstância.d) marcada ora pela liberdade ora pela escravidão, dependendo da

condição econômica.e) marcada pela liberdade que é causadora de angústia.

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

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5. (UNESP-2013) – A produção de mercadorias e o consumismoalteram as percepções não apenas do eu como do mundo exterior ao eu;criam um mundo de espelhos, de imagens insubstanciais, de ilusõescada vez mais indistinguíveis da realidade. O efeito refletido faz dosujeito um objeto; ao mesmo tempo, transforma o mundo dos objetosnuma extensão ou projeção do eu. É enganoso caracterizar a cultura doconsumo como uma cultura dominada por coisas. O consumidor viverodeado não apenas por coisas como por fantasias. Vive num mundoque não dispõe de existência objetiva ou independente e que pareceexistir somente para gratificar ou contrariar seus desejos.

(Christopher Lasch. O mínimo eu, 1987. Adaptado.)

Sob o ponto de vista ético e filosófico, na sociedade de consumo, oindivíduoa) estabelece com os produtos ligações que são definidas pela

separação entre razão e emoção.b) representa a realidade mediante processos mentais es sen cialmente

objetivos e conscientes.c) relaciona-se com as mercadorias considerando prio ri ta riamente os

seus aspectos utilitários.d) relaciona-se com objetos que refletem ilusoriamente seus processos

emocionais inconscientes.e) comporta-se de maneira autônoma frente aos me ca nis mos

publicitários de persuasão.

RESOLUÇÃO:

O texto afirma que o consumismo não cria um mundo feito apenas

de coisas ou objetos materiais. Ele gera um mundo de espelhos,

de imagens e ilusões em que operam processos emocionais

inconscientes.

Resposta: D

6. (ENEM-2013) – O edifício é circular. Os apartamentos dosprisioneiros ocupam a circunferência. Você pode chamá-los, se quiser,de celas. O apartamento do inspetor ocupa o centro; você pode chamá-lo, se quiser de alojamento do inspetor. A moral reformada; a saúdepreservada; a indústria revigorada; a instrução difundida; os encargospúblicos aliviados; a economia assentada, como deve ser, sobre umarocha; o nó górdio da Lei sobre os Pobres não cortado, mas desfeito –tudo por uma simples ideia de arquitetura!BENTHAM, J. O panóptico. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.

Essa é a proposta de um sistema conhecido como panóptico, ummodelo que mostra o poder da disciplina nas sociedadescontemporâneas, exercido preferencial mente por mecanismosa) religiosos, que se constituem como um olho divino controlador que

tudo vê.b) ideológicos, que estabelecem limites pela alienação, impedindo a

visão da dominação sofrida.c) repressivos, que perpetuam as relações de dominação entre os

homens por meio da tortura física.d) sutis, que adestram os corpos no espaço-tempo por meio do olhar

como instrumento de controle.e) consensuais, que pactuam acordos com base na compreensão dos

benefícios gerais de se ter as próprias ações controladas.

RESOLUÇÃO:

O conceito do panóptico foi utilizado no século XVIII, pelo filósofo

e jurista Jeremy Bentham, que projetou o conceito de prisão

circular, na qual o observador central poderia ver todos os locais

onde estivessem os presos.

Resposta: D

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7. (UNESP) – Desde o início da semana, alunos da rede municipal deVitória da Conquista, na Banhia, não vão mais poder cabular aulas. Um“uniforme inteligente” vai conta aos pais se os alunos chegaram àescola – ou “dedurar” se eles não passaram do portão. O sistema,baseado em rádio-frequência, funciona por meio de um minichipinstalado na camiseta do novo uniforme, que começou a ser distribuídopara 20 mil estudantes na segunda-feira.Funciona assim: no momento em que os alunos entram na escola, umsensor instalado na portaria detecta o chip e envia um SMS aos paisavisando sobre a entrada na instituição.

(Natália Cancian. Uniforme inteligente entrega aluno que cabula aula na Bahia.

Folha de S.Paulo, 22/03/2012).

A leitura do fato relatado na reportagem permite repercussões filosóficasrelacionadas à esfera da ética, pois o “uniforme inteligente”a) está inserido em um processo de resistência ao poder disciplinar na

escola.b) é fruto de uma ação do Estado para incrementar o grau de liberdade

nas escolas.c) indica a consolidação de mecanismos de consulta democrática na

escola pública.d) introduz novas formas institucionais de controle sobre a liberdade

individual.e) proporciona uma indiscutível contribuição científica para a autonomia

individual.

RESOLUÇÃO:

O uniforme inteligente resulta numa forma de colocar a tecnologia

a serviço do controle sobre a autonomia dos indivíduos, uma vez

que o sistema permite o rastreamento dos alunos.

Resposta: D

8. (UNESP) – Em um documento rubricado pela Rede Global deAcademias de Ciência (IAP), um grupo de pensadores da comunidadecientífica com sede em Trieste (Itália) que engloba 105 academias detodo o mundo alerta pela primeira vez sobre os riscos do consumo nospaíses do Primeiro Mundo e a falta de controle demográfico, prin ci -palmente nas nações em desenvolvimento. Na decla ração dacomunidade científica se indica que as pautas de consumo exarcebadodo Primeiro Mundo estão se deslocando perigosamente para os paísesem desenvol vimento: os milhões de telefones celulares e toneladas de“junk food” que invadem os lares pobres são claros indicadores dessaproblemática. A ausência nos países pobres de políticas deplanejamento familiar ou de prevenção de gravidezes precoces acabade configurar um sombrio cenário de superpopulação. Trata-se de doisproblemas convergentes que pela primeira vez analisamos de formaconjunta”, afirma García Novo.

(Francho Barón, El País, 16.06.2012. Adaptado)

Um dos problemas relatados no texto está relacionado coma) a supremacia de tendências estatais de controle sobre a economia

liberal.b) o aumento do nível de pobreza nos países subdesen volvidos.c) a hegemonia do planejamento familiar nos países do Terceiro Mundo.d) o declínio dos valores morais e religiosos na era contemporânea.e) o irracionalismo das relações de consumo no mundo atual.

RESOLUÇÃO:

O texto aborda problemas relacionados ao modelo capitalista de

consumo e a questões demográficas, em que a falta de controle

populacional e o consumo irracional e exacerbado aparecem como

ameaças para o futuro da humanidade.

Resposta: E

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1. Como o filósofo Sartre define a relação entre liberdade e condição

humana?

2. Por que, para Sartre, a liberdade causa angústia?

3. Por que o consumismo desenfreado pode ser considerado umapatologia comportamental?

4. Em que sentido o texto de Dora Lucia Alcântara nos possibilita ver

uma influência do pensamento existencial?

5. Exponha duas temáticas centrais do texto de Francisco Trindade.

6. Leia as proposições abaixo e assinale as verdadeiras.

I. Há uma diferença entre os termos consumo e consumismo. Esse

último sugere o ato de consumir de forma responsável e consciente

de comprar. Alcançar a estrutura consciente do agir humano é o

propósito mesmo das técnicas de publicidade e propaganda, de tal

forma que o domínio sobre o comportamento humano através do

consumo induzido, amplia as possibilidades de acúmulo de capital e

lucro por parte das empresas.

II. O consumismo desenfreado pode ser considerado uma patologia

comportamental e a cultura moderna o incentiva. Assim, compra-se

compulsivamente, alegando benefícios terapêuticos inclusive. Ignora-

se, porém, em geral, as causas históricas como o desenvolvi mento

da Revolução Industrial e do advento da sociedade capita lista, urbana

e burguesa, em que os valores adquiriram um pseudo caráter universal

e supostamente atemporais.

III. Além de tudo já colocado, considere-se também a relação existente

entre o consumo e os impactos ambientais que ameaçam a própria

qualidade de vida dos homens no planeta. Vê-se, então, a dimensão

da questão do consumismo.

IV. O consumismo pode ter implicações emocionais e psicológicas, por

vezes relacionado à baixa autoestima e a problemas de

relacionamentos humanos e afetivos. Outras vezes, ele é induzido

pela simples curiosidade despertada pelas propagandas.

7. Lendo a introdução, que elemento pareceu de primeira importância

para identificar o estado de autonomia no ser humano?

8. Consumo e consumismo possuem o mesmo conceito? Explique.

9. (UNESP-2013)

Texto 1

Um consumidor de 34 anos aproveitou a carona do pai no bairro

Tucuruvi, Zona Norte de São Paulo, na manhã desta quinta-feira

[13.12.12], para chegar antes na fila pelo lançamento do iPhone 5, em

um shopping da Zona Oeste. Por volta das 17h, cerca de 50 pessoas já

for mavam uma fila em frente à loja responsável. Ele chegou com a mãe,

de 65 anos, às 7h30, 16 horas antes do início das vendas daquele

smartphone.

(http://g1.globo.com. Adaptado.)

Texto 2

Os produtos de consumo doutrinam e manipulam; promovem uma

falsa consciência que é imune à sua falsidade. As falsas necessidades

têm um conteúdo e uma função sociais determinados por forças

externas sobre as quais o indivíduo não tem controle algum; o desen -

volvimento e a satisfação dessas necessidades são heterônomos.

Independentemente do quanto tais neces sidades se possam ter

tornado do próprio indivíduo; reproduzidas e fortalecidas pelas

condições de sua exis tência; independentemente do quanto ele se

identifique com elas e se encontre em sua satisfação, elas continuam

a ser o que eram de início – produtos de uma sociedade cujo interesse

dominante exige repressão.

(Herbert Marcuse. Ideologia da sociedade industrial,

1969. Adaptado.)

Explique o significado da heteronomia das falsas neces sidades na

sociedade de consumo e relacione o fato descrito no texto 1 a esse

conceito filosófico apresentado por Marcuse.

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1) A liberdade é a sua condição ontológica. O ser humano é nada

antes de ser qualquer coisa e é absolutamente livre para

transformar-se, definir-se e engajar-se.

2) Causa angústia ao homem, pois o homem se vê obrigado a

fazer escolhas e ele se sente oprimido pela responsabilidade

implica da.

3) Porque se compra compulsivamente sob estados emocionais

e psicológicos, relacionados à baixa autoestima e a problemas

de relacionamentos humanos e afetivos.

4) A autora afirma que a existência humana, e não animal,

implica liberdade, pois o homem escolhe constantemente e

isso implica em responsabilidades.

5) O consumismo gera inúmeros impactos ambientais e propicia

o aumento da miséria e das desigualdades sociais.

6) Verdadeiras: II, III e IV

7) A apropriação do conhecimento.

8) Não. O consumo é uma necessidade natural humana e o

consumismo sugere o ato de consumir de forma alienada e

inconsciente por indução de propagandas.

9) A heteronomia (antônimo de autonomia) é a condição

humana, de um indivíduo ou grupo, de submissão a uma

realidade que lhe seja exterior e estranha à própria razão, no

caso, o consumismo. Numa socie dade de consumo, o

comportamento humano é con trolado pela sedução exercida

pela mercadoria e pelas técnicas de propaganda que visam à

estrutura in consciente dos seres humanos. O consumidor é

ex plorado na sua vaidade e no seu desejo ou neces sidade de

destaque no grupo social, submetendo-se a uma lógica que

alimenta o mercado e que leva o com portamento humano,

muitas vezes, à beira da irra cionalidade, como o caso descrito

no texto, em que, movido pela ânsia irracional de se ver em

posse de um aparelho telefônico, um rapaz acompanhado de

sua mãe, da terceira idade, ocupou um lugar numa fila 16

horas antes do início da venda desse aparelho.

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