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Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 43 Módulo 1 • Unidade 2 A diversidade cultural na história do Brasil Para início de conversa... Há mais ou menos cem anos, Hiro Suzuki, sua esposa Midori e o primeiro filho do casal, Takeshi, desembarcaram no porto de Santos, vindos de uma longa e cansativa viagem do Japão, onde nasceram. Eles não tinham parentes, nem amigos no Brasil para ajudá-los a se estabelecer. Também não falavam Português. Sabiam apenas que fugiam da fome e da pobreza, e procuravam trabalho na lavoura. De Santos, foram de trem para a cidade de São Paulo. Lá receberam ajuda na Hospedaria dos Imigrantes e saíram em busca de trabalho, pelo interior do Estado. Até se estabelecerem em uma fazenda de café, passaram fome e frio, fo- ram roubados em uma estação de trem e Takeshi, o filhinho do casal, quase não sobreviveu a uma gripe prolongada. Figura 1: Foto da Hospedaria dos Imigrantes em São Paulo, 1910

Módulo 1 • Unidade 2 A diversidade cultural na história do ... · A diversidade cultural na ... Analisar a transformação da diversidade étnica e cultural em desigualdade e

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Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 43

Módulo 1 • Unidade 2

A diversidade cultural na história do BrasilPara início de conversa...

Há mais ou menos cem anos, Hiro Suzuki, sua esposa Midori e o primeiro

filho do casal, Takeshi, desembarcaram no porto de Santos, vindos de uma longa e

cansativa viagem do Japão, onde nasceram. Eles não tinham parentes, nem amigos

no Brasil para ajudá-los a se estabelecer. Também não falavam Português. Sabiam

apenas que fugiam da fome e da pobreza, e procuravam trabalho na lavoura.

De Santos, foram de trem para a cidade de São Paulo. Lá receberam ajuda

na Hospedaria dos Imigrantes e saíram em busca de trabalho, pelo interior do

Estado. Até se estabelecerem em uma fazenda de café, passaram fome e frio, fo-

ram roubados em uma estação de trem e Takeshi, o filhinho do casal, quase não

sobreviveu a uma gripe prolongada.

Figura 1: Foto da Hospedaria dos Imigrantes em São Paulo, 1910

Módulo 1 • Unidade 244

Algumas décadas depois, está situação tinha mudado muito. Três irmãos de Hiro também vieram do Japão à

procura de trabalho. Takeshi havia se casado com outra imigrante japonesa. O casal continuou a trabalhar no campo,

mas seus dois filhos tiveram destinos diferentes. José Hideo Suzuki, o mais velho, tornou-se motorista de caminhão

nos anos 1960 e “ganhou o mundo”, como diziam. Sua irmã, Nair Emiko Suzuki tornou-se professora da escola primária

e foi trabalhar na cidade.

Os anos passaram-se, o país transformou-se e a família Suzuki também. Nos anos 1990, já não era mais tão fácil

saber onde estavam e quem eram os descendentes de Hiro e Midori. Netos e bisnetos da família Suzuki cresceram, al-

guns foram morar longe, constituíram famílias, casando-se com brasileiros e descendentes de japoneses, de italianos, de

africanos e das mais diversas origens.

A história de Hiro ajuda-nos a pensar sobre a diversidade de culturas da sociedade brasileira e suas origens.

Afinal, o que é o “povo brasileiro” e como ele se formou? Quais são as nossas origens? Existem características comuns

a todos os indivíduos nascidos no Brasil?

Nesta unidade, você vai refletir sobre a formação da nossa diversidade cultural e sobre os vários povos que

constituem a história da nossa sociedade. Vamos analisar por que algumas ideias foram mais divulgadas do que ou-

tras pelos livros de história, pela televisão e pelas escolas, valorizando determinados grupos e ignorando a existência

de outros.

Finalmente, vamos estudar que as diferenças entre os grupos étnicos também podem significar desigualdade,

pois na história do Brasil, certos grupos exploraram e discriminaram outros.

Objetivos de aprendizagem � Discutir como se formou a ideia de “povo brasileiro” a partir das várias origens culturais do país;

� Identificar a influência de determinados grupos sociais e étnicos na divulgação de ideias sobre a história

do Brasil.

� Analisar a transformação da diversidade étnica e cultural em desigualdade e exclusão;

Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 45

Seção 1A formação do povo brasileiro

Na história mais recente do país, não existe uma imigração muito numerosa de estrangeiros à procura de

trabalho (com exceção da imigração de sul-americanos, especialmente bolivianos, paraguaios e peruanos, para o

sudeste do país). Mas a imigração e a integração de várias culturas e povos é parte importante da história do país,

desde sua formação.

Não é uma tarefa fácil se integrar à outra cultura, conhecer outra língua e aprender hábitos novos. Em geral, as

pessoas deslocam-se entre países ou estados à procura de trabalho e de melhores condições de vida, mas as adapta-

ções são muitas vezes difíceis. Por isto, uma das possibilidades mais comuns é que tais pessoas procurem manter suas

tradições. Assim, elas preservam sua identidade e memória. Ao mesmo tempo, ao se manter próximo da sua própria

cultura e da comunidade, o imigrante consegue se proteger melhor do preconceito e da discriminação.

Nas conversas cotidianas sobre essas histó-

rias, é muito comum ouvirmos falar sobre os desa-

fios de brasileiros que foram para a Europa ou para

os Estados Unidos, nos últimos anos, visando en-

contrar trabalho, estabelecer-se com segurança e

arrumar escola para os filhos.

Também é comum ouvir histórias mais antigas sobre a chegada de estrangeiros no Brasil e sobre a existência

de grupos mais ou menos incorporados aos costumes e à cultura que se formou no país. Alguns destes grupos per-

maneceram em áreas rurais e tentaram preservar suas culturas de origem, outros foram se integrando aos espaços

urbanos, ainda que vivendo em bairros de imigrantes. Grande parte da população brasileira tem ascendência estran-

geira: você sabe de onde vieram seus antepassados?

Além disso, a vinda forçada de milhões de africanos escravizados e a existência de diversas nações indígenas

no território brasileiro exigiram formas de integração à sociedade brasileira. Africanos e indígenas tiveram que se

adaptar, muitas vezes, foram forçados a isto para sobreviver. Mas, estes grupos construíram também formas de resis-

tência e de preservação de suas culturas.

Baseado na história real de um brasileiro

que foi morto pela polícia inglesa por ter

sido confundido com um terrorista, o filme

“Jean Charles” (2009) mostra as dificuldades

enfrentadas pelos brasileiros que vão bus-

car melhores condições de vida no exterior.

Módulo 1 • Unidade 246

O texto a seguir descreve as origens familiares de Margarida

dos Santos. Leia atentamente e depois responda à questão:

Eu, Margarida dos Santos, nasci em Araguaiana, no Mato Groso. Meu pai nas-ceu no Rio Grande do Sul, em uma cidadezinha, chamada Piratini, minha mãe nasceu na Alemanha, mas veio ainda criança para o Brasil. Os pais do meu pai eram de origem paraguaia, mas não sei se eram índios guaranis. O pai da minha mãe era da Suíça e a mãe dela era alemã. Eu me casei com Jovilson Pe-reira da Costa que nasceu no Paraná, em Iracema do Oeste. Ainda não temos filhos, mas quando tivermos, devem nascer aqui, em Porto Velho, Rondônia, onde moramos.

1. Utilize esse texto como modelo para escrever um relato sobre a sua origem e de seus

familiares. Registre também os aspectos históricos que você considera mais importan-

tes para definir a sua identidade pessoal.

Assim, muitos grupos étnicos das mais diversas origens constituíram a sociedade brasileira, ora se integrando,

ora resistindo às mudanças e adaptações. Ao longo da história do país, estas formas de integração não dependeram

somente de decisões pessoais, como se o indivíduo escolhesse livremente como e quando se adaptar.

Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 47

A integração era uma necessidade das elites que controlavam o poder e o Estado, pois, elas precisavam de

estabilidade social. Em outras palavras, era preciso uniformizar a diversidade de povos, origens e culturas para garan-

tir uma unidade baseada no território do país. Não bastava viver no território brasileiro, era preciso experimentar o

sentimento de que fazemos parte de um mesmo país e que, portanto, temos objetivos e propósitos comuns. Alguns

estudiosos chamam esse sentimento de “identidade nacional”.

Figura 2: Imigrantes italianos e portugueses, partindo para o Brasil

Sem um forte sentimento de identidade, o país corria o risco de viver em guerra ou de enfrentar com muita

frequência o descontentamento político de grupos sociais ou étnicos. Esta necessidade das elites de construir uma

ideia de que havia um “povo brasileiro” deu origem ao modo como muitos compreendem a história do país e definem

as características de “ser brasileiro”.

Para explicar estas características do brasileiro, em geral, as pessoas falam do caráter do povo, isto é, da sua na-

tural disposição para ser cordial e respeitador ou para ser festivo, alegre, descontraído. Costumam dizer que é porque

somos um povo com várias origens étnicas, com misturas de vários povos e, por isto, seríamos mais tolerantes com as

diferenças. Assim, na história do país, esta mistura teria produzido determinadas características na nossa sociedade

atual. Entre elas, um traço acolhedor, capaz de integrar novos grupos de imigrantes de vários países e migrantes de

outras regiões do Brasil.

Módulo 1 • Unidade 248

Vamos aprofundar esta conversa, refletindo sobre a formação histórica da sociedade brasileira, na sua diversi-

dade étnica e cultural. Vamos analisar de que modo esta diversidade contribuiu para construir a ideia que temos da

nossa identidade, isto é, daquilo que nos identifica como um povo e uma nação.

Lembre-se da pequena história da família Suzuki e de tantos milhões de imigrantes que vieram da Europa, da

África e da Ásia para cá. Como dissemos, a integração de todos estes povos realizou-se através de conflitos e tensões

que se desenvolveram ao longo da história do país.

As teorias e as ideias sobre a formação social brasileira

O pesquisador alemão Carl von Martius, foi um dos primeiros a afirmar, em 1845, que a formação do brasileiro

seria o resultado da mistura de três raças. Segundo palavras do próprio von Martius, essas raças seriam a “de cor cobre

(ou ‘americana’, isto é, cor da pele dos índios da América), a branca (ou ‘caucasiana’) e a preta (ou ‘etiópica’).”

Para Martius, a História da Humanidade respondia a um plano divino, isto é, à vontade de Deus que se realizaria

na mescla de todas as etnias e grupos em uma única raça humana. Por isto, o Brasil ocuparia um lugar de destaque, já

que a mistura de povos era uma característica natural dos brasileiros.

Mas, a contribuição de cada raça para a formação da sociedade brasileira era

diferente e desigual. No seu livro, “Como se deve escrever a História do Brasil”, pu-

blicado em 1845, Martius afirmou: “jamais nos será permitido duvidar que a vonta-

de da providência predestinou ao Brasil esta mescla. O sangue português, em um

poderoso rio, deverá absorver os pequenos confluentes das raças índia e etiópica.”

Portanto, para ele, o branco português era a raça mais importante, o “poderoso rio”, que formaria o país com as

contribuições menores dos povos indígenas e africanos. O livro de Martius tornou-se uma referência para uma série

de discussões sobre a formação da nação brasileira, definindo alguns caminhos na construção da identidade nacional.

Quando von Martius escreveu estas ideias, o território brasileiro já era independente de Portugal desde 1822,

mas o imperador, D. Pedro I, era português e o trabalho escravo era a base da economia. Então, havia problemas sérios

para que a integração da sociedade, imaginada pelas elites, fosse uma integração efetiva.

Afinal, se todos eram brasileiros e contribuíam para a formação do povo, por que uma parcela da população

era escrava? Além disso, se todos eram brasileiros, por que a monarquia que governava era portuguesa?

Além de von Martius, outros explicaram a questão da integração pela ideia de que a raça dominante era a por-

tuguesa e que as demais iriam se dissolver nela.

Vontade de providência

significa a sabedoria divina que

conduz todas as coisas, isto é, a

vontade de Deus..

Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 49

A ideia mais difundida que se construiu sobre a formação étnica e cultural da sociedade brasileira pode ser

assim resumida: somos formados pela mistura de três elementos, os indígenas, os negros africanos e os europeus. Da

cultura indígena, herdamos a habilidade para se deslocar no território, alguns hábitos alimentares e palavras incorpo-

radas ao Português. Os negros, escravizados da África, trouxeram a disposição para o trabalho pesado, a resistência

física e a alegria de viver. Mas a principal origem é portuguesa, pois o território brasileiro era colônia de Portugal,

herdamos, assim, o idioma, as leis, a organização do Estado, a religião católica e a cultura de um modo geral.

Esta forma de ver a formação do povo brasileiro já foi duramente criticada, pois ela não leva em conta a natu-

reza multiétnica da sociedade brasileira. Além disso, ela é considerada eurocêntrica, por valorizar as características

europeias em detrimento das demais. Em outras palavras, ela faz parecer que existe uma unidade na população bra-

sileira, como se todos fossem descendentes de europeus, com alguns traços menos importantes de índios e negros.

A Escritura Sagrada ensina que a humanidade inteira, tal como existe e povoa atualmente a terra, descende de um casal único, Adão e Eva. (...) A raça branca ou caucásico tem por caracteres a brancura da tez, o oval da face, o compri-mento e a finura do cabelo. Os brancos têm geralmente o nariz aquilino, den-tes verticais e barba muito densa. São inteligentes e sua influência estendese sobre todo o globo terrestre.

Raças Humanas: Raça Branca, Pele Vermelha. Raça Amarela e Raça Negra (FTD. Primeiras Noções de Ciências Físicas e Naturais – 1923)

a. O texto traz uma interpretação sobre a origem dos seres humanos e sua divisão

em raças. Qual é essa explicação? Qual a relação entre essas ideias e a formação

do povo brasileiro, proposta por Martius?

Módulo 1 • Unidade 250

b. Essas teses raciais, como são chamadas, foram muito contestadas por não terem

base científica alguma. Atualmente, inclusive, tais ideias podem ser consideradas

criminosas se forem usadas para justificar, por exemplo, atos de discriminação

contra uma pessoa. Mas, apesar de erradas, elas ainda circulam em nossa socieda-

de. Afinal, por que incomoda tanto a algumas pessoas conviver com o diferente?

Em 1933, o sociólogo Gilberto Freyre foi responsável por uma tese polêmica, que apresentava a mistura de

raças como algo positivo. Enaltecendo a miscigenação, afirmava que a mestiçagem havia sido boa para a cultura

brasileira. Segundo ele, a fusão da amorosidade do negro com a civilidade do europeu e com o índio teria originado

um povo absolutamente peculiar, onde prevalecia a harmonia entre as raças. No livro “Casa Grande e Senzala”, ele

afirmou: “A força, ou antes, a potencialidade da cultura brasileira parece-nos residir toda na riqueza dos antagonismos

equilibrados (...). Somos duas metades confraternizantes que se vêm mutuamente enriquecendo de valores e expe-

riências diversas...”

(FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala. 10a ed. Tomo 2, Rio de Janeiro, José Olympio Editores, 1961, p. 476.)

De acordo com a visão desse autor, a escravidão, longe de ter sido uma instituição funesta, deveria ser enten-

dida pelo modo particular como se desenvolveu no Brasil. Aqui as relações entre negros escravizados e seus senhores

brancos eram estáveis, sem grandes atritos. Segundo Gilberto Freyre, predominavam a negociação, o acordo, a con-

ciliação entre senhores e escravos:

Desde logo salientamos a doçura nas relações de senhores com escravos domésticos, talvez maior no Brasil do que em qualquer outra parte da América. A casa-grande fazia subir da senzala para o serviço mais íntimo e delicado dos senhores uma série de indivíduos - amas de criar, mucamas, irmãos de criação dos meninos brancos. Indivíduos cujo lugar na família ficava sendo não o de escravos mas o de pessoas da casa. Es-pécie de parentes pobres nas famílias europeias. À mesa pa-

Mucamas e Malungos

Mucamas eram escravas negras que realizam servi-

ços domésticos.

Malungos são pessoas que foram amamentadas

com o mesmo leite de outra mãe ou criadas com

outra

Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 51

triarcal das casas-grandes sentavam-se como se fossem da família numerosos mulatinhos. Crias. Malungos. Moleques de estimação. Alguns saíam de carro com os senhores, acompanhando-os aos passeios como se fossem filhos.

(FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala. 10a ed. Tomo 2, Rio de Janeiro, José Olympio Editores, 1961, p. 490.)

Nas décadas seguintes, inúmeras críticas às ideias de Gilberto Freyre afirmavam que este autor teria minimiza-às ideias de Gilberto Freyre afirmavam que este autor teria minimiza-s ideias de Gilberto Freyre afirmavam que este autor teria minimiza-

do os efeitos da violência contra os negros, suprimindo o conflito, a resistência e o confronto entre escravos e senho-

res. Além disso, a obra de Gilberto Freyre, segundo esta perspectiva, teria justificado uma ideia amplamente difundida

a partir da segunda metade do século XX: a ideia da “democracia racial”, que descrevia o Brasil como um “paraíso” de

todas as raças, onde negros, brancos e índios conviviam sem preconceitos. Estas teses ignoravam a situação de mar-

ginalidade a que estão relegados os negros e mestiços em nossa sociedade até os dias de hoje.

Veja a seguir o trecho de uma música chamada “A Carne”, de autoria de Seu Jorge, Marcelo Yuka e Ulis-

ses Cappelletti,e que expressa essa situação:

A carne mais barata do mercado é a carne negra (repete 5 vezes)

Que vai de graça pro presídio

E para debaixo de plástico

Que vai de graça pro subemprego

E pros hospitais psiquiátricos

A carne mais barata do mercado é a carne negra (repete 5 vezes)

Que fez e faz história

Segurando esse país no braço.

Em uma interpretação nova sobre a escravidão, a historiadora Emília Viotti escreveu, em seu livro “Da Senzala

à Colônia”:

Módulo 1 • Unidade 252

Dos séculos da convivência, das influências trocadas, do caldeamento das duas raças, resultou a população de mestiços e mulatos que hoje ainda povoa o país. As marcas que nos ficaram como um legado do regime servil (escravidão) e que transcenderam sua época chegando até nós imprimiram aspectos peculiares à nossa sociedade. A concentração de negros e mestiços, os problemas de sua marginalidade, a questão do preconceito racial, as dificuldades para a integração e adaptação dos descendentes de escravos, os baixos níveis culturais da grande maioria, certos aspectos do comportamento do branco, tudo isso deriva do pas-sado próximo cujo conhecimento é essencial para a compreensão de fenômenos atuais.”

(COSTA, Emilia Viotti da. Da Senzala à colônia. São Paulo, Difusão Europeia do Livro, s/d, p. 10.)

A formulação dessas críticas praticamente desmascarou o mito da democracia racial e denunciou a existência

de teses racistas entre pensadores brasileiros. Mesmo assim o alcance destas críticas e denúncias pouco ecoou na

população. Na mentalidade coletiva, permaneceu a ideia de que, em nosso país, os grupos étnicos que compunham

a população encontraram as mesmas condições de igualdade para sua integração na sociedade, que vivíamos em um

modelo igualitário, de pacífica convivência racial.

No filme brasileiro “Quanto Vale ou é por Quilo?” (2005) duas histórias são contadas paralelamente. A

primeira é uma adaptação livre de um conto do escritor Machado de Assis (“Pai contra Mãe”) e tem

como contexto a escravidão no século XVIII. A outra história passa-se na atualidade e tem como foco

uma ONG que explora a miséria. Apesar dos 300 anos que separam as histórias, percebemos a manu-

tenção da impunidade sobre a corrupção, da violência e das enormes diferenças étnicas e sociais.

1. Afinal, existe ou não racismo no Brasil? Esta é uma pergunta que está sempre presente,

quando pensamos sobre a formação da nossa sociedade. Para refletir sobre ela, respon-

da às duas questões a seguir:

a. Segundo o texto, quais eram as opiniões defendidas pelos dois historiadores

citados, Gilberto Freyre e Emilia Viotti, sobre o tema da escravidão? Faça uma

pequena síntese das ideias destes autores.

Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 53

b. Você considera que a herança da escravidão continua presente nas relações so-

ciais ou você entende que, no Brasil, existe uma igualdade entre negros e bran-

cos? Justifique sua opinião, utilizando exemplos vivenciados por você cotidiana-

mente ou que tenha obtido através dos meios de comunicação.

Seção 2A presença negra no Brasil: resistência e diversidade

A escravidão dos povos africanos no território brasileiro iniciou-se praticamente com a colonização portugue-

sa, a partir de 1500 e prolongou-se até 1888. Não há números exatos sobre a quantidade de pessoas escravizadas, mas

os pesquisadores estimam que foram trazidos para cá entre 5 e 10 milhões de africanos.

A mão de obra escrava e negra foi responsável pela geração das principais riquezas que o Brasil produziu em

sua história, desde a produção agrícola de cana-de-açúcar e de café, até a extração de ouro e diamantes. Mas também

foi utilizada nas atividades mais comuns do dia a dia, sendo responsável pela maioria dos serviços domésticos e urba-

nos, durante mais de três séculos da nossa história.

Um padre jesuíta italiano, André João Antonil (1649-1716), quando esteve no território brasileiro, escreveu que

os escravos eram “as mãos e os pés dos senhores de engenho”, isto é, dos proprietários de grandes fazendas de cana

do nordeste. Essa expressão dá uma ideia do que significou o trabalho escravo no Brasil. Quase tudo era realizado

pelos escravos: as famílias brancas, mesmo as que não eram ricas, tinham pelo menos um escravo ou escrava para

os serviços domésticos. Nas fazendas, também predominava a mão de obra escrava na lavoura, na pecuária e nos

serviços domésticos.

Módulo 1 • Unidade 254

A importância da escravidão para o desenvolvimento econômico da nossa história tem sido muito divulgada

em livros didáticos e na televisão. Ninguém hoje é capaz de negar que o braço escravo construiu o país até o final do

século XIX, quando a escravidão foi finalmente abolida, em 1888.

No entanto, o que nem sempre aparece nestas histórias é que a presença de africanos e seus descendentes

na história do país não se limitou apenas à condição de miséria e violência pela qual o negro escravizado passava

nas grandes lavouras do país. Podemos destacar três elementos fundamentais que demonstram a importância dos

escravizados para a formação do país.

Em primeiro lugar, os escravos não exerciam apenas o trabalho braçal mais pesado, mas diversos serviços

especialmente nas cidades. Eles eram alfaiates, barbeiros, fabricantes de joias, marceneiros, sapateiros, bombeiros,

padeiros e professores de diversas disciplinas (música e gramática, por exemplo). Isto significa que a presença de afri-

canos e sua importância social eram bastante profundas e estavam integradas à vida cotidiana dos homens brancos.

Em segundo lugar, a resistência dos escravizados não se dava apenas através de quilombos e das rebeldias in-

dividuais, e coletivas que provocavam, muitas vezes, a morte dos senhores de escravos. Eles também organizavam di-

versas estratégias para sobreviver, reduzindo ao máximo a exploração no trabalho. Procuravam sabotar as máquinas e

ferramentas, diminuíam o ritmo da produção, criavam justificativas para evitar o trabalho, faziam ameaças disfarçadas

aos seus senhores ou procuravam conquistar sua confiança.

Figura 3: Barbeiros ambulantes – Pintura de Jean Baptiste Debret, artista francês que viveu no Rio de Janeiro entre 1808 e 1831.

Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 55

Na prancha “Barbeiros ambulantes” vemos novamente os negros de ganho, que aqui Debret define como “carregadores, moços de recado, os pedreiros, os carpinteiros, os marinheiros e as quitandeiras”, exercendo a função de bar-beiros em plena via pública, muito próximo ao cais, vestidos com trapos, de acordo com o pintor, mostrando assim pertencerem a um senhor pobre. Duas vezes ao dia, os barbeiros ambulantes são obrigados a comparecer na casa de seus senhores para as refeições e para entregar o resultado da féria. Na descrição da prancha, Debret relata que os dois negros sentados no chão, que estão recebendo o atendimento pelos barbeiros ambulantes, são negros de elite. Condição que é percebida, segundo o francês, por causa dos belos trajes ostentados por eles. O negro sentado à esquerda, que tem o seu rosto pre-parado para o barbear, possui uma medalha de ouro que indica sua função como trabalhador da alfândega, informa o francês.

Texto de Cristiane Maria Magalhães. Escravos e libertos: homens de ocupa-ções no século XIX.

Fonte: http://oolhodahistoria.org/artigos/IMAGENS-escravos-libertos-homens-secxix cristiane-magalhaes.pdf

1. Pelo texto, podemos avaliar como era complexa a vida de escravos e homens livres no

Brasil do século XIX.

a. Que ocupações podiam exercer os escravos no meio urbano? Como funcionava

sua relação com seu proprietário?

b. Que distinções existem entre os personagens retratados por Debret? Como se

pode perceber estas distinções?

Módulo 1 • Unidade 256

No Brasil, prevaleceram, durante séculos, formas violentas de exploração da mão de obra, graças à permanên-

cia da escravidão. Para sobreviver, era preciso reagir a essas violências e encontrar alternativas ainda que nem sempre

fosse possível conquistar a liberdade. Até hoje, os trabalhadores assalariados empregam as mais diversas estratégias,

quando se sentem explorados por seus patrões. Elas são parte importante da nossa cultura e expressam o nosso sen-

timento do que é ou não justo nas relações de trabalho.

Finalmente, em terceiro lugar, a presença do negro africano no Brasil pode ser observada pela existência de

milhões de descendentes que habitam o nosso território. A presença de cada afrodescendente é a maior evidência

da importância das culturas africanas na formação populacional, nas práticas cotidianas e nas visões de mundo que

configuram a sociedade brasileira.

Além disso, uma parcela de afrodescendentes vive em comunidades tradicionais, originárias de antigos qui-

lombos. Existem atualmente mais de duas mil comunidades remanescentes de quilombos, das quais, boa parte ainda

utiliza idiomas de origem africana. Ao lado das centenas de sociedades indígenas, esses povos expressam a diversi-

dade cultural da sociedade brasileira.

1. A partir do que você leu nesta unidade, faça uma reflexão sobre o tema da escravidão,

a partir de duas perguntas:

a. Quais eram as informações que você conhecia sobre o tema da escravidão a par-

tir dos filmes, novelas e da sua experiência escolar anterior?

b. Quais são as informações contidas neste texto que você até então desconhecia?

Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 57

A Revolta dos Malês em Salvador

Na madrugada de 25 de janeiro de 1835, um alerta sobre um grande levante de escravos, na cidade de Sal-

vador, havia chegado até a polícia. Uma das patrulhas invadiu a casa do africano liberto Manuel Calafate, onde se

encontrava o grupo central do levante. Cerca de 60 negros lançaram-se contra os policiais. No confronto, os negros

conseguiram escapar ao cerco que contava também com o apoio da população civil.

O alerta começou com um casal de libertos, Domingos Fortunato e Guilhermina Rosa de Souza. Eles ouviram bo-

atos sobre a movimentação intensa de escravos naquele sábado, 24 de janeiro, e sobre o levante na manhã de domingo.

Quando Guilhermina conversava com sua comadre, Sabina da Cruz, outra liberta, obteve mais informações sobre o local

onde os rebeldes encontravam-se reunidos: perto da Igreja de Nossa Senhora da Guadalupe, na freguesia da Sé.

Os negros, escravos e libertos, saíram da casa de Manuel Calafate depois do confronto com a polícia e dividi-

ram-se em vários grupos, tomando rumos diferentes. Percorreram a cidade, batendo nas portas e avisando aos com-

panheiros que a revolta já havia começado.

O principal grupo assaltou a cadeia da cidade com o objetivo de libertar um dos seus líderes, Pacífico Licutan,

preso naquela cadeia, há alguns meses. Os rebeldes sofreram então um duplo ataque: dos guardas da cadeia e de um

grupo de soldados que os cercaram por traz. Escaparam e seguiram para o forte de São Bento, onde foram novamente

repelidos pelos guardas. Reagruparam-se em frente ao convento das Mercês onde enfrentaram outro destacamento,

houve mortos e feridos dos dois lados, mas a corrida pela cidade continuava.

Os rebeldes eram numericamente superiores, mas as forças policiais tinham a vantagem das armas de fogo e

do uso dos fortes. Assim, tendo falhado as tentativas de assalto aos destacamentos da polícia, os rebeldes começaram

a abandonar aquela área de Salvador.

Avançaram em direção a outra região, conhecida como Cidade Baixa e, depois iriam para o bairro de Itapagipe,

mas foram barrados no meio do caminho, em Água dos Meninos, onde se encontrava o quartel da cavalaria. Este

quartel, estrategicamente localizado, bloqueava a passagem dos rebeldes, que tentaram evitar o confronto, mas não

conseguiram escapar do ataque e foram definitivamente derrotados.

Ao amanhecer do dia 25 de janeiro, havia em frente ao quartel 19 africanos mortos, 13 prisioneiros e um número

difícil de calcular de feridos. Participaram do levante cerca de 600 rebeldes em pouco mais de três horas de agitações. É

provável que muitos tenham desistido pelo caminho e outros só tenham entrado no grupo durante os distúrbios.

Esse levante foi organizado, planejado e liderado por escravos e libertos africanos ligados à religião muçulma-

na. Eles eram conhecidos como “malês” que significa no idioma ioruba, «islã» ou «muçulmano» (em ioruba se dizia

“imale”). Os malês não eram a maioria dos escravos, mas um grupo significativo entre os africanos na Bahia. Professa-

vam a mesma religião, mas tinham origens étnicas diferentes, como haussás, nagôs, jejes, entre outros.

Módulo 1 • Unidade 258

Entre os malês, os líderes espirituais eram muito respeitados e eram chamados de mestres. O levante de 1835

foi organizado por alguns desses mestres: Pacífico Licutan e Ahuna, ambos escravos nagôs, Dandará, liberto haussá,

e Manuel Calafate, um nagô liberto.

O escravismo era uma forte barreira ao islamismo e ao desenvolvimento espiritual de discípulos e mestres, pois

limitava o tempo para se dedicarem às tarefas religiosas (as orações, o estudo da língua árabe e dos preceitos religio-

sos). Segundo o historiador João José Reis, esse foi um dos principais motivos que os levaram a organizar a revolta.

O levante dos Malês foi planejado com alguns meses de antecedência, desde de novembro de 1834. A data

para o início foi escolhida com critério. Em 25 de janeiro, um domingo, dia de Nossa Senhora da Guia, haveria festa

no Bairro do Bonfim desde a noite de sábado. O feriado afrouxaria a vigilância dos senhores sobre seus escravos e as

forças policiais ficariam ocupadas com os problemas advindos da própria população branca reunida para os festejos.

No amanhecer de domingo, quando os escravos fossem pegar água nas fontes, como faziam todos os dias,

seriam convocados para o levante. Porém, a informação sobre o levante havia chegado até a polícia.

A intenção dos rebeldes era, provavelmente, chegar à região rural e conseguir adeptos entre os escravos dos

engenhos. Por isso, não insistiam em ocupar os quartéis e palácios da cidade, apenas tentaram provocar tumultos e

correrias que confundiriam a atuação das forças policiais.

Apesar dos distúrbios nas ruas, o objetivo dos rebeldes havia sido muito bem calculado. Eles não tentaram

invadir casas, nem matar senhores, pelo contrário, combateram apenas as forças militares organizadas contra eles.

Os libertos foram muito importantes na organização do levante. Eles tinham mais facilidade para circular com

as informações, agitar e mobilizar os rebeldes, oferecer suas casas como pontos de reunião, depósitos de armas, es-

conderijos de escravos e até mesmo como locais de integração social.

Derrotado o levante, a repressão não tardou. Entre 25 e 26 de janeiro, apenas algumas horas depois da revolta,

foram presos 95 escravos e libertos. O presidente da província deu ordens para o chefe de polícia que agisse rapida-

mente e acelerasse os julgamentos.

As patrulhas foram multiplicadas na busca de provas e testemunhas, as casas de africanos invadidas e revis-

tadas, seus moradores levados para interrogatórios. Caso fossem encontrados objetos «suspeitos» (ligados à religião

islâmica) executava-se imediatamente a prisão de seus donos.

A população de Salvador colaborou com a polícia. Juntavam-se às patrulhas e denunciavam vizinhos africanos.

O medo de que uma revolta de escravos pudesse matar ou expulsar brancos e mulatos motivou centenas de testemu-

nhas a dar declarações que comprometiam os africanos no tribunal.

Durante os interrogatórios, a maioria dos envolvidos falou muito pouco sobre a organização do levante. Isso

era prova da fidelidade entre os malês e revelava também um elevado grau de organização entre os revoltosos.

Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 59

As sentenças variavam segundo o nível de participação do rebel-

de. As penas foram açoites, prisão, galés, deportação e morte. As mais

graves recaíram sobre os líderes e sobre os libertos. Porém, as autori-

dades colocaram vários envolvidos como “líderes” para poder aplicar a

deportação e as galés. Aliás, centenas de libertos presos como suspeitos

e contra os quais não se reuniu provas suficientes, foram deportados

arbitrariamente para portos africanos.

Foram sentenciados ao todo 231 envolvidos, dos quais 129 eram escravos e 102 eram libertos. Quatro rebeldes

sofreram a pena de morte, nenhum deles, porém, era líder do levante. Os líderes conhecidos tiveram outro destino:

Manuel Calafate foi morto em combate, na madrugada de 25 de janeiro, Ahuna, apesar de ser o rebelde mais procu-

rado, não foi preso. E Licutan foi condenado a 600 açoites.

O levante repercutiu em todo o país e provocou uma onda de medo, e de precaução do governo imperial e das

diversas províncias onde a população escrava era muito numerosa. O nível de organização e a lealdade dos envolvi-

dos demonstraram a existência de uma cultura complexa e sofisticada entre os africanos islâmicos.

O levante era também uma evidência da diversidade trazida pelos africanos escravizados no Brasil, pois, ele

havia sido organizado em torno de certos princípios religiosos. Em todo o território, durante mais de três séculos de

escravidão africana, essa diversidade foi submetida à cultura ocidental branca. Mesmo assim, os escravos inventaram

uma infinidade de formas de resistência, preservação e adaptação das suas culturas de origem.

6

A repercussão do levante dos Malês não se limitou à Bahia, mas atingiu o país intei-

ro, como analisou o historiador João José Reis em seu livro “Rebelião escrava no Brasil: a

história do levante dos malês em 1835”. Alguns meses depois da rebelião, o governo, sob

comando de um regente, decretava uma lei acentuando o controle sobre a rebeldia dos

escravos. No seu 1o artigo estava escrito:

Serão punidos com a pena de morte os escravos ou escravas que matarem de qualquer maneira que seja, propinarem* venenos, ferirem gravemente ou fizerem qualquer outra grave ofensa física a seu senhor, a sua mulher, a des-cendência ou ascendentes que em sua companhia morarem, o administrador, o feitor e às suas mulheres que com eles viverem.

*propinarem = oferecerem

Galés

Galés ou galera é como são chamados os na-

vios movidos a remos. Muitas vezes, os rema-

dores eram prisioneiros, nesse caso, os ne-

gros africanos. O serviço era muito temido,

pois quase não tinham descanso, comiam

mal e eram muito mal tratados.

Módulo 1 • Unidade 260

6

a. Qual era a finalidade dessa lei decretada em 1835, isto é, o que o governo pre-

tendia com ela?

b. Segundo o texto sobre o levante dos malês, quais eram as forças sociais que se

opuseram à rebelião? Você saberia explicar por que essas forças quiseram des-

truir a rebelião e condenar os responsáveis por ela?

Seção 3As lutas dos povos indígenas

A história da família Suzuki revelou um pouco dos desafios dos povos que imigraram para o Brasil, especial-

mente a partir do final do século XIX, isto é a partir de 1880 e que continuam a chegar ao nosso território. Depois, a

história dos africanos e de suas formas de luta procurou revelar a presença significativa de milhões de pessoas que

chegaram ao Brasil escravizadas e aqui reconstruíram suas vidas. Mas, os primeiros habitantes do território foram os

povos indígenas.

A luta destes povos contra a exploração dos colonizadores teve origem no século XVI, quando começou a con-

quista portuguesa, a partir de 1500. Naquela época, havia milhões de indígenas espalhados pelo litoral e pelo interior

do continente americano.

Durante muito tempo, os portugueses submeteram os povos indígenas à escravidão, destruíram aldeias e pro-

moveram um imenso genocídio, isto é, um massacre dirigido contra esses povos. Em quase todo o litoral brasileiro, a

ação violenta dos colonizadores levou a extinção de populações e expulsou diversos grupos para o interior.

Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 61

Figura 4: Os índios escravizados durante a colonização.

Nas histórias difundidas pelos filmes e novelas de televisão, e nos livros didáticos, os índios aparecem apenas

nos primeiros séculos da colonização. Raramente, encontramos narrativas sobre a presença indígena nos séculos

seguintes, quando o Brasil tornou-se independente de Portugal (1822) ou nos tempos atuais.

No entanto, os conflitos entre brancos e índios ocorreram durante toda a nossa história e ainda hoje há diver-

sos confrontos e tensões, envolvendo comunidades indígenas.

Para entender melhor em que condições estes povos estão presentes no território nacional, é preciso refletir

sobre dois temas.

O primeiro deles diz respeito à presença atual de milhares de índios no Brasil e o crescimento de sua população

entre nós. O segundo tema refere-se à diversidade cultural entre os vários grupos indígenas.

Leia, a seguir, uma informação retirada do site da FUNAI (Fundação Nacional do Índio):

Hoje, no Brasil, vivem cerca de 460 mil índios, distribuídos entre 225 sociedades indígenas, que perfaz cer-ca de 0,25% da população brasileira. Cabe esclarecer que este dado populacional considera tão somente aqueles indígenas que vivem em aldeias, havendo estimativas de que, além destes, há entre 100 e 190 mil vivendo fora das terras indígenas, inclusive em áreas urbanas. Há também 63 referências de índios ainda não contatados, além de existirem grupos que estão requerendo o reconhecimento de sua condição indí-gena junto ao órgão federal indigenista.

Fonte: http://www.funai.gov.br/indios/conteudo.htm#HOJE (Acesso em ago 2010)

Módulo 1 • Unidade 262

Como se pode ver, há enorme diversidade entre os povos indígenas. Essa diversidade reflete-se nos diversos

idiomas, na forma de se relacionarem com o mundo sagrado, na construção das casas, na relação com o homem bran-

co, enfim, na visão de mundo de cada povo indígena. Além disso, cada povo não se identifica como “indígena”, mas a

partir de sua própria cultura: guarani, ianomami, pataxó, assurini entre mais de duzentas etnias diferentes.

A presença dessas comunidades indígenas mostra que a diversidade é uma característica importante do povo

brasileiro. A chamada mistura de vários povos não é um traço comum a todos os brasileiros, como, por exemplo, no

caso de alguns povos indígenas. Eles não se identificam como descendentes de portugueses. Mas reivindicam legiti-

mamente seus direitos como integrantes da sociedade brasileira, ou seja, como cidadãos brasileiros.

Há povos indígenas que não se identificam com esta ideia de miscigenação, construída pelas elites brancas.

Isto é um traço de uma sociedade multiétnica, isto é, uma sociedade construída por culturas, tradições e línguas

diversas. Em uma sociedade como a nossa, a valorização de uma única identidade esconde a diversidade e submete

todos a uma única herança.

Figura 5: Imagem do site Povos Indígenas no Brasil – que faz parte do portal do Instituto Socioambiental (ISA) – com informações sobre os povos e a temática indígena (http://pib.socioambiental.org/pt). Nesta imagem, podemos observar uma diversidade de palavras, designando o nome de diferentes povos indígenas que habitam o Brasil. Você conhece quantos desses povos?

Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 63

Portanto, quando se fala numa única identidade, ainda que ela esteja relacionada à miscigenação e à

mistura de povos, não se leva em conta a diversidade.

7

Leia o trecho a seguir e depois reflita sobre ele a partir de duas questões.

O tema da cor ou raça tem sido pesquisado recentemente pelo IBGE em termos da “cor” das pessoas, com as alternativas de “branco”, “preto,” “pardo” e “amarelo,” e mais a categoria de “indígena”. Esta pergunta é feita nos recenseamentos de-cenais, e também na pesquisa nacional por amostra de Domicílios (PNAD), reali-zada anualmente. São as próprias pessoas que devem se colocar nestas catego-rias, ainda que não se possa ter certeza de que os entrevistadores não exerçam influência nas respostas. As motivações para o levantamento desta informação têm certamente variado através do tempo. Até o século XIX, a informação rele-vante era a classificação da população em termos de sua condição civil, entre “livres” e escravos, e os recenseamentos de 1872 e 1890 já introduziam as ques-tões de raça ou cor. Ao longo do século XX, é provável que as ideias racistas e as preocupações então existentes com o “melhoramento da raça” brasileira tenham influído na reintrodução do item de raça no recenseamento de 1940, da mesma maneira com que a noção de que no Brasil “não existe problema de raça” parece ter levado à exclusão do tema no censo de 1970. Hoje, parece claro que o objetivo não é tentar medir ou quantificar as características biológicas da população, e sim sua diversidade social, cultural e histórica, que, como é sabido, está relacionada a diferenças importantes de condições de vida, oportunidade e eventuais problemas de discriminação e preconceito.

(Trecho extraído do texto de Simon Schwartzman, disponível no endereço eletrônico http://br.monografias.com/trabalhos/fora-diversidade-identidades)

1. Segundo o texto, por que o tema da “cor” foi reintroduzido no recenseamento das últi-

mas décadas?

Módulo 1 • Unidade 264

7

2. Identifique a alternativa que explica da forma correta o texto do sociólogo brasileiro

Simon Schwartzman:

a. ( ) A necessidade do uso dos termos raça ou cor tem sido um consenso nas

pesquisas sobre a população brasileira, feitas ao longo da história do país;

b. ( ) No século XIX, a classificação da população obedecia a critérios relativos a

cor e raça, pois, havia uma clara política de segregação entre negros e brancos;

c. ( ) No século XX, o Brasil tornou-se efetivamente uma democracia racial, por

isso qualquer forma de classificação da população em raça e cor era considerada

preconceituosa;

d. ( ) Hoje se pesquisa a cor e raça para entender a diversidade cultural da popu-

lação e relacioná-las com as desigualdades e o preconceito.

Sociedade brasileira: multiétnica, diversa e desigual

A partir da metade do século XIX, por volta de 1860, começaram a chegar ao Brasil grandes levas de imigrantes

à procura de trabalho. No final daquele século, esta imigração intensificou-se. Entre eles, destacaram-se principalmen-

te, portugueses, italianos, espanhóis, alemães e japoneses. Eles vieram para várias regiões do país, mas se estabelece-

ram principalmente nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 65

Figura 6: Chegada dos primeiros imigrantes japoneses no Brasil.

A família de Hiro Suzuki veio estimulada por esse fenômeno migratório. Como eles, milhões de imigrantes de-

sembarcaram em portos de toda a América, especialmente em países, como: o Brasil, a Argentina e os Estados Unidos.

Estes imigrantes misturavam-se aos habitantes do país, mesclando hábitos, formas de trabalho e o uso do

idioma. Mas não foram incorporados de forma tranquila, pois houve momentos de tensão, preconceito e violência

contra estrangeiros que aqui se estabeleceram. Por conta destas discriminações e de outras formas de preconceito,

muitos imigrantes preferiram viver em colônias isoladas, isto é, áreas onde cada grupo estabelecia-se, mantendo suas

características culturais com certa independência.

Figura 7: Bairro Liberdade, o maior reduto da comunidade japonesa da cidade de São Paulo.

Módulo 1 • Unidade 266

Desde o início do século XX, houve intenso controle sobre as ações políticas de imigrantes italianos e espa-

nhóis que se estabeleceram nas áreas urbanas, particularmente, na cidade de São Paulo. Muitos destes imigrantes

eram militantes comunistas e anarquistas que já tinham atividades políticas nos seus países de origem. Outros passa-

ram a se engajar em alguma atividade política, na medida em que vivenciavam as formas violentas de exploração do

trabalho nas oficinas e fábricas brasileiras ou na lavoura de café.

Em 1907, foi aprovada uma lei, proposta pelo deputado Adolfo Gordo, que ampliava as formas de controle

e repressão do movimento operário e permitia que o Estado expulsasse os estrangeiros envolvidos em greves ou

manifestações de descontentamento. Só naquele ano, foram deportados (mandados para fora do país) mais de

cem imigrantes.

Durante a Segunda Guerra Mundial, entre 1939 e 1945, imigrantes japoneses e alemães foram perseguidos

pelo Estado e discriminados socialmente, pois o Brasil havia declarado guerra à Alemanha e ao Japão. Naquele con-

texto, escolas e associações (clubes, igrejas) dessas comunidades foram fechadas, muitas pessoas sofreram persegui-

ção policial e tiveram suas casas revistadas à procura de documentos que os relacionassem à guerra na Europa.

Portanto, quando refletimos sobre a formação da sociedade brasileira, precisamos levar em conta três aspec-

tos importantes.

Em primeiro lugar, ela não é o resultado da contribuição de três etnias (indígenas, africanos e portugueses).

Embora as etnias mencionadas tenham exercido grande

influência na sociedade brasileira atual, muitas pessoas, de

variados pontos do planeta, também imigraram para cá.

Em segundo lugar, devemos desmitificar a ideia de

que a mistura de várias etnias teria forjado um povo tole-

rante, respeitoso, que teria transformado o país em um “pa-

raíso” para todos os grupos étnicos. Desde a chegada dos portugueses que há grande conflito entre os diversos povos

que aqui habitam. Mesmo hoje em dia inúmeros imigrantes são discriminados e o preconceito racial ainda se faz

presente.

Em terceiro e último, ao longo da História, os setores da elite que controlaram o Estado construíram a imagem

de que, a despeito da diversidade étnica que constituiu a nossa sociedade, nossa identidade cultural seria única e

comum a todos.

Como procuramos analisar, a nossa formação é múltipla e, portanto, nossa identidade só pode ser compreendida

como um conjunto de múltiplas raízes culturais, de diferentes religiões e, inclusive, de diferentes idiomas (pois, os povos

indígenas possuem outros idiomas, além do português).

A sociedade brasileira é fruto dos

encontros e dos conflitos entre di-

versos grupos étnicos, de origens

distintas, que atuaram e atuam na

formação da nossa diversidade.

Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 67

Resumo...Nesta aula, vimos que:

– Embora o Brasil receba um número de imigrantes relativamente baixo atualmente, a imigração, no decorrer

da História, desempenhou um papel determinante na constituição da nossa sociedade.

– Para o pesquisador Carl Von Martius, a História da Humanidade estaria destinada a cumprir um plano divino

segundo o qual as diversas etnias iriam se misturar de modo a constituir uma raça humana única.

– Este mesmo pesquisador afirmava que a nossa etnia seria formada pela mistura de três raças: a americana

(índios), a caucasiana (europeus) e a etiópica (africanos).

– Vale ressaltar que Martius privilegiava a determinação portuguesa nesta mistura, como fica evidente na ima-

gem que ele evoca: “O sangue português, em um poderoso rio, deverá absorver os pequenos confluentes das raças

índia e etiópica”.

– O sociólogo Gilberto Freyre elaborou uma tese polêmica, que enaltecia a mestiçagem. O autor enfatizou o

fato de que a escravidão no Brasil ganhou contornos diferentes de outras regiões do mundo. Ele chamou a atenção

para a ideia de que, no Brasil, os escravos domésticos possuíam uma relação pouco belicosa, às vezes até “doce”, com

seus senhores.

– Para alguns autores, a tese de Gilberto Freyre teria dado suporte à ideia de “democracia racial”, isto é, a ideia

segundo a qual o Brasil seria uma espécie de “paraíso” de todas as raças, um lugar onde não existiria preconceito.

– A mão de obra escrava desempenhou um papel fundamental na construção de riquezas do país. A presença

de milhões de africanos e seus descendentes ampliou a nossa diversidade cultural e étnica, mas essa riqueza cultural

não foi devidamente valorizada na história do país.

– Com a chegada dos europeus, as populações indígenas foram exploradas, escravizadas, e muitas vezes ex-

terminadas.

- Vale ressaltar que os conflitos com indígenas perduram até hoje e que a diversidade cultural, entre os próprios

índios brasileiros, é imensa.

– A diversidade cultural é uma das principais características da sociedade brasileira, que foi constituída, desde

a chegada dos europeus, pelo encontro de etnias distintas.

Módulo 1 • Unidade 268

Veja Ainda...Para ampliar seus conhecimentos sobre o assunto deste texto, damos as seguintes sugestões.

Filme

Caramuru, a Invenção do Brasil

Direção: Guel ArraesBrasil, 2001O filme narra, de modo bem humorado, o encontro entre o português Diogo Álvares (o Caramuru) e a índia Paraguaçu. A história de amor entre os dois trata, na verdade, das relações entre as duas culturas e o surgi-mento de uma nova sociedade que traz aspectos europeus e indígenas. O filme já foi exibido na televisão algumas vezes, mas vale a pena rever, depois de refletir sobre os temas deste módulo.

Livro

Viva o Povo Brasileiro – João Ubaldo Ribeiro (1984)

Romance histórico sobre a formação da identidade brasileira, narra as experiências de personagens que viveram em diferentes períodos da história do Brasil, desde o século XVI até 1977. É um livro difícil e longo (cerca de 600 páginas), mas a leitura é extremamente enriquecedora.

Site

http://pib.socioambiental.org/pt (acesso em agosto de 2010)

Instituto Socioambiental mantém um site com muitas informações e fotografias sobre os povos indígenas. No site, pode-se encontrar a história do contato de cada povo indígena com os brancos, suas crenças e rituais, e as condições em que se encontram atualmente.

Referências

Bibliografia Consultada

� COSTA, Emilia Viotti da. Da Senzala à colônia. São Paulo, Difusão Europeia do Livro, s/d.

� FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala. 10a ed. Tomo 2, Rio de Janeiro, José Olympio Editores, 1961.

� REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil. A história do levante dos malês em 1835. São Paulo, Com-

panhia das Letras, 2003.

Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 69

Imagens

  •  http://www.sxc.hu/browse.phtml?f=view&id=555012  •  Elvis Santana.

  •  http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Hospedaria_Imigrante_1910.jpg

  •  http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Italiane.JPG.

  •  http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Imigrantes_portugueses.jpg.

  •  http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Jean-Baptiste_Debret_-_Barbeiros_ambulantes.JPG.

  •  http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Jean_baptiste_debret_-_ca%C3%A7ador_escravos.jpg.

  •  http://pib.socioambiental.org/pt.

  •  http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Desembarque_Kasato_Maru.jpg.

  •  http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Bairro_Liberdade.jpg.

  •  http://www.sxc.hu/photo/572754.

  •  http://www.sxc.hu/photo/517386  •  David Hartman.

  •  http://www.sxc.hu/985516_96035528.

  •  http://www.sxc.hu/browse.phtml?f=download&id=1024076  •  Michal Zacharzewski.

Módulo 1 • Unidade 270

Atividade 1

A resposta depende das suas origens familiares e sociais. Caso você tenha muitas

dúvidas sobre sua história familiar, essa pode ser uma oportunidade para você conversar

com parentes e familiares, e registrar no papel um pouco da memória dos seus antepassa-

dos e da sua própria história.

Atividade 2

a) O texto apresenta uma interpretação sobre a origem dos seres humanos e sua divisão em raças, baseada na versão bíblica sobre a origem da humanidade a partir de um único casal – Adão e Eva. A explicação sobre a origem do povo bra-sileiro proposta por Martius baseia-se na mesma hipótese sobre as origens das raças, apontando a raça branca, de origem europeia, como superior às demais. Essa forma de interpretar nossas origens e acreditar que a miscigenação traria o branqueamento do Brasil, além de enganosa, desvaloriza o papel dos negros e índios na nossa formação cultural.

b) O desconhecido, o diferente, aquilo que não nos é familiar, ou simplesmente algo novo, pode provocar uma reação de medo, como uma ameaça ao nosso modo de vida. O medo do outro, medo do novo, medo do diferente é comum a várias sociedades e varia de acordo com a história de cada povo. Por isso, aceitar as diferenças, sejam físicas, culturais, étnicas ou religiosas, é a base para a cons-trução de uma sociedade democrática que seja justa para todos.

Atividade 3

a) Segundo Gilberto Freyre, a mistura de raças que deu origem ao povo brasileiro era positiva para a nossa cultura. Segundo ele, a fusão da amorosidade do negro com a civilidade do europeu e com o índio teria originado um povo absoluta-mente peculiar, onde prevalecia a harmonia entre as raças.

Para Emilia Viotti, da escravidão resultaram marcas em nossa sociedade. A ques-tão do preconceito racial, as dificuldades para a integração e adaptação dos descendentes de escravos, os baixos níveis culturais da grande maioria (sobre-tudo nos primeiros anos após a abolição), certos aspectos do comportamento do branco, tudo isso deriva do passado próximo cujo conhecimento é essencial para a compreensão de fenômenos atuais.

b) Embora essa questão envolva certa subjetividade, você muito provavelmente respondeu afirmando que o Brasil não é um país onde negros e brancos dispõem, na prática, de iguais direitos e que as relações sociais aqui ainda são profunda-mente marcadas pela escravidão. Você pode ter fundamentado sua argumenta-ção dando um exemplo de algum ato racista que tenha presenciado ou que lhe foi relatado pelos meios de comunicação. Não é raro informarem-nos acerca de um atleta ou artista, por exemplo, que tenha sido alvo de insultos raciais.

Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 71

Uma alternativa seria citar um dado estatístico relevante, como o que indica que os negros ganham, em média, salários muito inferiores aos dos brancos em geral, por exemplo.

Atividade 4

a) Nas cidades, os negros e negras escravizados exerciam as mais diferentes ocu-pações. No caso das escravas, podiam ser amas de leite, cozinheiras, lavadeiras, engomadeiras ou costureiras, por exemplo. Já os escravos, trabalhavam como operários, pedreiros, carpinteiros, barbeiros, carregadores etc. A relação com seu proprietário poderia ser como doméstico, escravo de ganho e até de aluguel.

b) Segundo o quadro de Debret, as distinções entre os escravos resultam da con-dição do senhor proprietário, seja ele pobre ou rico. As diferenças podem ser percebidas pelas roupas e objetos, como a medalha de ouro que distingue os escravos que trabalham na alfândega.

Atividade 5

a) Procure se lembrar das diversas novelas, minissérieis e filmes que abordam o tema da escravidão ou, pelo menos, onde há personagens escravos. A imagem mais comum veiculada por todos esses meios é a da vida sofrida dos escravos, submetidos a trabalhos pesados e sujeitos aos mais violentos castigos.

b) É possível que, antes desta aula, você não soubesse que os escravos realizavam outras tarefas além dos trabalhos braçais, dentre as quais, por exemplo, a de professor ou barbeiro. É possível também que você achasse que a única forma de resistência oferecida pelos escravos à exploração manifestava-se na violência contra seus senhores. Como vimos, inúmeros recursos foram empregados pelos escravos neste sentido, como, por exemplo, a sabotagem de máquinas e a mo-rosidade no trabalho.

Atividade 6

a) A lei intensificava a punição diante de qualquer ato de violência, cometido por um escravo contra um não escravo, isto é, um homem ou mulher livre. Esperava--se, assim, impedir ou, pelo menos diminuir, revoltas individuais ou coletivas de escravos em todo o território nacional.

b) As forças sociais que impediram o levante dos malês era composta pela polícia e a cavalaria, por civis que ajudaram na perseguição e por homens livres que denunciaram escravos suspeitos de terem participado da rebelião. De modo ge-ral, a população de Salvador colaborou para encontrar os revoltosos. Os homens livres tinham medo de que uma revolta de escravos pudessem matar ou expul-sar os brancos da cidade. Numa sociedade escravista, a oposição entre livres e escravos é muito intensa, por isso, uma revolta de escravos tende a unificar os interesses dos homens livres para impedi-la.

Módulo 1 • Unidade 272

Atividade 7

a) Segundo o texto, o tema da “cor” foi reintroduzido no recenseamento das últimas décadas com o objetivo de identificar a diversidade social, cultural e histórica do povo brasileiro. Ademais, este levantamento ajuda a estabelecer diferenças impor-tantes de condições de vida e oportunidades, além de ajudar a identificar eventu-ais problemas de discriminação e preconceito.

b) Alternativa “d”.

Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 73

O que perguntam por aí?(Enem 2011, Ciências Humanas e suas Tecnologias, questão 32)

A Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, inclui no currículo dos estabelecimentos de Ensino Fundamental e Médio,

oficiais e particulares, a obrigatoriedade do ensino sobre História e Cultura Afro-brasileira, e determina que o conte-, e determina que o conte-

údo programático incluirá o estudo da História da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra

brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social,

econômica e política pertinentes à Historia do Brasil, além de instituir, no calendário escolar, o dia 20 de novembro

como data comemorativa do “Dia da Consciência Negra”.

Disponível em: http://www.planalto.gov.br. Acesso em: 27 jul. 2010 (adaptado).

A referida lei representa um avanço não só para a educação nacional, mas também para a sociedade brasileira

porque:

a. Legitima o ensino das ciências humanas nas escolas.

b. Divulga conhecimentos para a população afro-brasileira.

c. Reforça a concepção etnocêntrica sobre a África e sua cultura.

d. Garante aos afrodescendentes a igualdade no acesso à educação.

e. Impulsiona o reconhecimento da pluralidade etnicoracial do pais.

A resposta correta é a alternativa “e”. Repare que a instituição de uma data comemorativa para celebrar a cons-

ciência negra e a obrigatoriedade do ensino da cultura Afro-brasileira são formas de conscientizar a população acerca

da influência dos negros na constituição da nossa cultura, incitando o reconhecimento da pluralidade etnicoracial

característica do nosso país.

Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 75

Caia na redeEduardo Viveiros de Castro é um antropólogo brasileiro, reverenciado no mundo todo como dos melhores da

atualidade. Basta dizer que Lévi-Strauss, um dos maiores intelectuais do século XX, realizou a seguinte declaração

sobre ele:

“Viveiros de Castro é o fundador de uma nova escola na Antropologia. Com ele, sinto-me em completa harmo-

nia intelectual”.

Pois bem, este notável brasileiro passou muitos anos vivendo em aldeias indígenas para realizar as suas pes-

quisas. Veja no link abaixo a defesa que ele faz do Rio Xingú, que abriga atualmente 26 povos indígenas:

� http://www.youtube.com/watch?v=4UpAr8wYJAY

Na palestra que disponibilizamos a seguir, Eduardo defende uma tese interessante. É sabido que as questões

mais essenciais são constantemente refeitas no decorrer da história da humanidade. Ele afirma que não se importa

muito com as diferentes respostas que as diferentes culturas dão a essas questões. O que interessa a ele é a reformu-

lação da pergunta, isto é, as culturas são tão diferentes que o próprio indivíduo pertencente a uma cultura alheia a

do pesquisador (um índio, por exemplo) tem que reformular a pergunta para que possa responder a ela. Neste vídeo,

Eduardo Viveiros de Castro mostra como a morte é encarada de forma completamente distinta nas diferentes culturas.

� http://www.youtube.com/watch?v=Zdz8U9_8YVU

Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 77

MegamenteNesta Unidade, falamos sobre as diferentes etnias que fazem parte da população brasileira. Que tal conhecer um pouco

mais sobre alguma delas? Escolha uma com a qual você não tem muita familiaridade e procure na sua cidade um mercado ou

restaurante onde você possa encontrar comidas e temperos da culinária típica da etnia escolhida. Por exemplo: se você nunca

experimentou comida japonesa, procure um restaurante típico e prove sashimi (peixe cru) com wasabi (pasta de raiz forte)

e shoyu (molho de soja). Perceba a textura e o cheiro da comida, além da decoração e a música do local. Caso a grana esteja

curta, procure no supermercado um tempero chamado “curry”, que é uma mistura de condimentos muito usada na Índia e na

Tailândia. Depois pesquise uma receita e faça você mesmo um prato que nunca tenha experimentado antes.

A culinária é uma ótima maneira de conhecermos um pouco sobre outras culturas. Quando comemos, várias sen-

sações são despertadas no cérebro. Não só o paladar, mas o sistema olfativo é super estimulado quando experimentamos

comidas, pois esse sistema é capaz de distinguir milhões de odores diferentes. Aliás, o sistema olfativo tem conexões diretas

com o centro emocional do cérebro e novos odores podem evocar sentimentos e associações inesperadas, inclusive com a

etnia da culinária em questão. Então, bom apetite!

Figura 8: Observe este lindo prato de comida japonesa. Veja como é diferente dos pratos que usualmente comemos.