Módulo 2 - Direitos Do Autor

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    MóduloDireitos do Autor2

    Noções Gerais de Direitos Autorais

    Brasília 2015

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    Fundação Escola Nacional de Administração Pública

    PresidentePaulo Sergio de Carvalho

    Diretor de Desenvolvimento Gerencial Paulo Marques

    Coordenadora-Geral de Educação a Distância

    Natália Teles da Mota

    Curso cedido pela Universidade Estadual de Ponta Grossa- UEPG

    Conteudista:Daniel Babinski (2012)

    Revisor de conteúdo e elaboração dos exercícios:

    Camila Parahyba (2013)

    Diagramação realizada no âmbito do acordo de Cooperação Técnica FUB/CDT/Laboratório La tude e Enap.

    © Enap, 2014

    Enap Escola Nacional de Administração PúblicaDiretoria de Comunicação e PesquisaSAIS – Área 2-A – 70610-900 - Brasília, DFTelefone: (61) 2020 3096 – Fax: (61) 2020 3178

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    SUMÁRIO

    1. Introdução ...................................................................................................................... 5

    2. Dos Direitos Morais ........................................................................................................ 6

    3. Dos Direitos Patrimoniais ................................................................................................ 7

    3.1 Temporariedade ........................................................................................................... 8

    3.2 Prévia Autorização ...................................................................................................... 10

    3.3 Proteção Automá ca e Individualidade e Independência da Proteção ......................... 11

    4 Dos Direitos de Autor na Administração Pública ............................................................ 12

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    1. IntroduçãoJá veri camos que existem dois modelos de proteção jurídica no Direito Autoral, os quais sãofrutos dos embates polí cos e econômicos do m da Idade Moderna. Dissemos na ocasião queo modelo inglês, por mo vos históricos, preocupava-se com a exploração econômica da obra,mediante o direito de cópia ( copyright ).

    Por sua vez, o modelo francês do droit d’auteur nha por ênfase a gura do autor, consagrando aexistência de dois feixes de direitos sob a égide do Direito Autoral – os direitos morais , vinculadosaos direitos de personalidade , e os direitos patrimoniais , decorrentes da exploração da obraprotegida. O sistema brasileiro de Direito Autoral baseia-se no modelo francês de proteção,conforme atesta o art. 22 da LDA: “Pertencem ao autor os direitos morais e patrimoniais sobrea obra que criou ”.

    Em síntese, podemos classi car o sistema brasileiro de proteção ao Direito Autoral na formado quadro abaixo:

    Direitos do Autor

    Neste capítulo, veremos detalhadamente a seguir no que consiste cada uma destas categoriais jurídicas. Ao nal, estudaremos as hipóteses em que a Administração Pública pode se tornardetentora de direitos autorais, assim como a situação dos servidores públicos que produzemobras protegidas no exercício de suas funções.

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    2. Dos Direitos Morais

    Classi cam-se usualmente os direitos morais autorais em direitos de personalidade,na medida em que se ocupam da relação do autor com sua obra. Assim como os demaisdireitos de personalidade – como o nome, imagem, dignidade, honra etc. – são inalienáveise irrenunciáveis, na forma do art. 27 da LDA. Embora não esteja na lei, pode-se dizer que sãotambém imprescri veis e impenhoráveis, como os demais direitos de personalidade.

    Ou seja, ao criar uma obra intelectual o autor passa a ser detentor dos direitos moraisindicados no art. 24 da LDA, os quais não podem ser comercializados, doados, renunciados,penhorados, assim como serão perpétuos. Estes direitos morais são a própria materialização dapersonalidade do autor e resguardam a relação deste com a tulação, circulação e elaboraçãode sua obra intelectual. São eles:

    Direitos Morais do Autor - art. 24 da LDA

    É importante destacar que estes direitos já estavam previstos na Lei nº 5.988, de 1973, àexceção do inciso VII, o qual determina o direito de acesso a exemplar único e raro de obra,quando se encontre legi mamente em poder de outrem, para o m de buscar preservar suamemória. Neste caso, assim como nas hipóteses dos incisos V e VI, os terceiros envolvidosdeverão ser indenizados na medida de seu prejuízo.

    Vejamos agora um pouco mais destes direitos morais.

    Diante do quadro, é possível se perguntar: se os direitos morais de autor são personalíssimos,o que ocorre quando o autor morre? Bem, neste caso, a LDA determina que a seus sucessorestransmitem-se os direitos previstos nos incisos I a IV. Trata-se, no entanto, de verdadeira

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    gafe legisla va, pois como vimos, os direitos morais são intransmissíveis. Na verdade, seussucessores apenas exercerão a defesa dos direitos morais do autor, na forma prevista pelosincisos1. Encerrado o prazo de setenta anos contados de 1º de janeiro subsequente aofalecimento do autor, compe rá ao Estado a defesa da integridade e autoria da obra, uma vezque será de domínio público (art. 25, § 2º, da LDA).

    Obras Audiovisuais. O exercício dos direitos morais sobre as obras audiovisuais pertenceexclusivamente aos seus diretores (art. 25 da LDA).

    Trabalhos Arquitetônicos. O art. 26 da LDA permite a renúncia de autoria de projetoarquitetônico alterado, sem o consen mento do autor, durante a execução ou após a conclusãoda construção. Neste caso, o proprietário da construção responderá pelos danos que causarao autor sempre que, após o repúdio, indicar a autoria do projeto ao renunciante. Emboratenhamos visto que compete apenas ao autor realizar alterações nas suas obras, o legisladorfez importante deferência aos trabalhos arquitetônicos, em razão de sua especi cidade,protegendo o autor, no entanto, das alterações que lhe sejam desagradáveis.

    3. Dos Direitos PatrimoniaisA proteção quanto à exploração econômica dos direitos autorais é garan da pelos direitospatrimoniais inerentes à obra intelectual. Segundo o art. 28 da LDA, cabe ao autor o direitoexclusivo de u lizar, fruir e dispor sobre sua obra literária, ar s ca ou cien ca.

    Por outro lado, como vimos anteriormente, os direitos patrimoniais do autor estão ligados àideia de propriedade, e desta forma são considerados alienáveis. Diferentemente dos direitosmorais, portanto, os direitos patrimoniais podem ser avaliados pecuniariamente, ou seja,possuem “preço”. Assim, pode o autor da obra intelectual vender, ceder ou mesmo doar osdireitos patrimoniais que possui sobre ela a qualquer terceiro, inclusive pessoa jurídica.

    Entretanto, o exercício dos direitos patrimoniais está sujeito a alguns princípios e regrasprevistos na legislação, os quais disciplinam sua proteção.

    1. PARANAGUÁ E BRANCO (2009: 48) relatam curiosa história a respeito da manutenção do inedi smo de obra intelectualde autores falecidos: “Parte da obra de Franz Ka a só se tornou pública porque Max Brod desobedeceu a orientação de seuamigo ín mo, que lhe pediu para queimar todas as suas obras que não vessem sido publicadas quando de sua morte. Graçasa Max Brod, o mundo conheceu O castelo e O processo, duas das obras mais signi ca vas do escritor tcheco”.

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    Vejamos, a seguir, quais são os principais:

    Direitos Patrimoniais do Autor

    3.1 Temporariedade

    O art. 41 da LDA determina que os direitos patrimoniais do autor perdurem por setenta anoscontados de 1º de janeiro do ano subsequente ao de seu falecimento, mesmo prazo concedido àsobras póstumas. Na hipótese do autor não ter cedido os direitos de sua obra e tampouco possuirherdeiros, a obra imediatamente cairá em domínio público , de modo que estará disponível parairrestrita u lização, desde que observados os direitos morais de autor, como vimos.

    No caso de obras indivisíveis produzidas em coautoria, o prazo será contado da morte doúl mo dos coautores vivos. Para as obras anônimas ou pseudônimas, será contado o prazode 1º de janeiro do ano imediatamente posterior ao da primeira publicação, exceto no casoem que descobrirmos o autor, de modo que voltaríamos à regra do art. 41 da LDA. Por m,

    frisamos que o prazo de proteção de setenta anos também existe sobre as obras audiovisuaise fotográ cas, contado de 1º de janeiro do ano subsequente ao de sua divulgação .

    Por que um prazo tão longo? Temos que lembrar que os direitos autorais buscam não apenasproteger a gura do autor, mas também a exploração econômica de suas obras. São inúmerosos casos históricos que conhecemos de famílias de autores, músicos, poetas que se tornarammiseráveis após o falecimento destes. Estes exemplos in amaram uma inicia va de proteção,a qual encontrou reconhecimento na Convenção de Berna (1886), a qual determinou a adoçãode prazo mínimo de cinquenta anos para os países signatários.

    No Brasil, o Código Civil de 1916 previa o prazo de sessenta anos contados a par r do dia dofalecimento do autor (art. 649, § 1º), repe do pelo art. 42, § 2º da Lei nº 5.988, de 1973, oqual apenas estabeleceu que a contagem se desse de 1º de janeiro do ano subsequente ao

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    falecimento. O atual prazo de setenta anos previsto na LDA era exatamente o mesmo concedidopelos Estados Unidos, justamente até 1998, quando o Congresso estadunidense prorrogou oprazo anterior por mais vinte anos. O mo vo? Pressão de grandes grupos da mídia, sobretudona tenta va de salvar um ra nho mundialmente famoso que cairia em domínio público em2003. Agora nos resta esperar 2023 para ver o que vai acontecer ao Mickey Mouse...

    E o defunto autor? Ao iniciar sua obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado deAssis brinca com o fato de ser o próprio defunto o autor da narra va. Entretanto, há quem

    realmente acredite que existem autores no além-vida, os quais produzem as obras chamadasde psicografadas. Nestes casos, como ca a proteção dos direitos autorais?! Paranaguá eBranco nos relatam curiosa história ocorrida no Brasil:

    O caso se tornou clássico. Humberto de Campos (1896-1934),escritor e polí co, eleito para a Academia Brasileira deLetras em 1920, publicou diversos livros de poesia, contose crônicas. Apesar de ter falecido em 1934, a par r de1937 várias crônicas e romances atribuídos ao escritorcomeçaram a ser psicografados. Entre as obras, todas

    editadas pela Federação Espírita Brasileira, a de maiornotoriedade entre os espíritas foi Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho.

    Em 1944, a viúva de Humberto de Campos, d. CatarinaVergolino de Campos, ingressou em juízo contra aFederação Espírita Brasileira e Francisco Cândido Xavier,médium que havia psicografado os livros, a m de obter uma declaração, por sentença, estabelecendo se essaobra mediúnica “era ou não do "espírito" de Humbertode Campos” e, em caso a rma vo, para deter os direitosautorais sobre a obra.

    O assunto causou muita polêmica e, durante um bom tempo,ocupou espaço nos principais periódicos do país. A autora foi

    julgada carecedora da ação proposta, por sentença de 23 deagosto de 1944 do dr. João Frederico Mourão Russell, juizde direito em exercício na 8a Vara Cível do an go DistritoFederal. D. Catarina Campos recorreu da sentença, mas oTribunal de Apelação do an go DF a manteve.

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    3.2 Prévia Autorização

    Enquanto o prazo de setenta anos ainda não ver sido alcançado, a u lização da obraintelectual estará sempre condicionada à prévia e expressa autorização do tular dos direitospatrimoniais sobre ela. O art. 29 da LDA apresenta extensa lista exempli ca va de atos cujareferida autorização é obrigatória:

    Art. 29. Depende de autorização prévia e expressa do autor a u lização da obra, porquaisquer modalidades, tais como:

    I - a reprodução parcial ou integral.II - a edição.III - a adaptação, o arranjo musical e quaisquer outras transformações.IV - a tradução para qualquer idioma.V - a inclusão em fonograma ou produção audiovisual.VI - a distribuição, quando não intrínseca ao contrato rmado pelo autor com terceiros

    para uso ou exploração da obra.VII - a distribuição para oferta de obras ou produções mediante cabo, bra ó ca,satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção daobra ou produção para percebê-la em um tempo e lugar previamente determinados

    por quem formula a demanda, e nos casos em que o acesso às obras ou produções se faça por qualquer sistema que importe em pagamento pelo usuário.VIII - a u lização, direta ou indireta, da obra literária, ar s ca ou cien ca, mediante:

    a) representação, recitação ou declamação.b) execução musical.

    c) emprego de alto-falante ou de sistemas análogos.d) radiodifusão sonora ou televisiva.e) captação de transmissão de radiodifusão em locais de frequência cole va.

    f) sonorização ambiental.g) a exibição audiovisual, cinematográ ca ou por processo assemelhado.h) emprego de satélites ar ciais.i) emprego de sistemas ó cos, os telefônicos ou não, cabos de qualquer po e meiosde comunicação similares que venham a ser adotados.

    j) exposição de obras de artes plás cas e gura vas.

    IX - a inclusão em base de dados, o armazenamento em computador, a micro lmageme as demais formas de arquivamento do gênero.

    X - quaisquer outras modalidades de u lização existentes ou que venham a serinventadas.

    Considerando a elaboração de cursos a distância, podemos destacar os incisos IV (tradução),VII (distribuição pela internet), VIII (u lização direta e indireta de obras) e IX (inclusão em basede dados e armazenamento em computador).

    É preciso observar que as traduções são protegidas por direitos autorais (inciso IV) – a eventualedição ou publicação de obra intelectual estrangeira ver da para o português não dependeráapenas da cessão dos direitos sobre a obra original, mas também dos direitos sobre a versãotraduzida, os quais pertencem originalmente ao tradutor.

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    Veremos adiante no nosso estudo em que condições se operam essas cessões.

    Quanto à distribuição de obra intelectual pela internet ou sua inclusão em bases de dadosou armazenamento em computador, lembramos que é necessário o prévio e expressoconsen mento do tular dos direitos patrimoniais sobre a obra. Veremos adiante que osnegócios jurídicos envolvendo direitos autorais sempre se interpretam restri vamente (art. 4ºda LDA), de modo que não se presumem autorizações, tampouco se aceitam genéricas. Assim,é preciso que o autor dos conteúdos que serão produzidos para os cursos a distância autorize

    prévia e expressamente a adaptação de seu curso à modalidade a distância, bem como suau lização e disponibilização pela internet.

    Posso u lizar obras protegidas em material didá co ou sala de aula? Por m, o inciso VIIIestabelece que a u lização de qualquer obra intelectual no material didá co deve serprecedida de prévia e expressa autorização do tular dos direitos. Falamos, por exemplo, de

    lmes, livros, imagens de obras plás cas etc. Entretanto, veremos na sequência em que casosé possível u lizar obras protegidas sem necessidade de prévio e expresso consen mento doautor, sem infringir qualquer direito autoral.

    Por que eu preciso de autorização do autor se eu comprei um livro ou um CD? O art. 37 daLDA estabelece que a aquisição do original de obra ou exemplar não confere ao adquirentequalquer dos direitos patrimoniais do autor, salvo convenção em contrário entre as partes eos casos previstos em lei.

    Como já dissemos, os direitos patrimoniais do autor estão ligados à exploração econômica daobra. Quando adquirimos um livro ou CD, adquirimos apenas o bem material em que a obraestá xada. Ou seja, posso livremente dispor do meu CD ou livro, nos limites do meu direitode propriedade sobre ele. Entretanto, não possuo direitos patrimoniais sobre seu conteúdo,exceto nos limites previstos na lei. É por isso que precisaríamos de autorização do autor parafazer cópias integrais das músicas ou dos livros, mesmo quando os adquirimos legalmente.

    3.3 Proteção Automá ca e Individualidade e Independência da Proteção

    Proteção Automá ca

    Quando estudamos as obras intelectuais protegidas, vimos que o art. 18 da LDA a rma queo registro é faculta vo, ou seja, a proteção jurídica sobre os direitos autorais independe dasolenidade – é automá ca e existe a par r da criação da obra intelectual.

    Individualidade e Independência da Proteção

    O art. 31 da LDA estabelece que as diversas modalidades de u lização das obras protegidas sãoindependentes entre si, de modo que a autorização concedida pelo autor ou pelo produtor,respec vamente, não se estende a quaisquer das demais.

    Ou seja, cada obra é protegida individualmente, de modo que a versão original de um livro e asua tradução para outra língua gozam de proteções especí cas, sobre as quais incidem prazosde exercício de direitos patrimoniais diferentes. Assim sendo, reforçamos a preocupação emse obter autorizações prévias e expressas para todos os pos de u lizações que se pretende,

    pois como diz a lei, a autorização concedida pelo autor para um po de uso não se estendea outros pos de usos. Não posso traduzir se apenas ob ve autorização para reproduzir, ouainda, não poderia adaptar o livro para o cinema ou teatro.

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    4 Dos Direitos de Autor na Administração Pública

    Como já dissemos anteriormente, as obras protegidas pelos direitos autorais são criaçõesdo espírito humano. Como tais, somente podem ser fruto da a vidade intelectual de pessoa

    sica. Entretanto, é possível que os autores destas obras cedam seus direitos para pessoas jurídicas, as quais se transformariam em tulares dos direitos autorais, na extensão da referidacessão. Veremos o que ocorre na Administração Pública.

    Vislumbram-se três hipóteses pelas quais a Administração Pública poderia se tornar eventualdetentora de direitos autorais: (a) na a vidade de fomento de cultura ; (b) contratando obrasintelectuais ; e (c) produzindo obras intelectuais , por meio de seus servidores.

    Fomento à cultura

    É sabido que cabe ao Estado brasileiro, por preceito cons tucional, garan r a valorização dacultura, por meio de incen vos para a produção e conhecimento de bens e valores culturais(art. 216, § 3º, da Cons tuição Federal de 1988). Nesse sen do, pode atuar na subvenção deobras protegidas, como lmes, peças teatrais e livros.

    Para estes casos, a LDA estabelece que não seja de domínio da Administração Pública ENAP- em qualquer esfera de governo - as obras por ela simplesmente subvencionada (art. 6º daLDA). Assim, os direitos autorais pertencerão exclusivamente aos criadores da obra intelectualem questão.

    Contratação de Obras Protegidas

    O art. 36 da Lei nº 5.988, de 1973, previa que os direitos do autor sobre as obras intelectuaisproduzidas no âmbito de prestação de serviços pertenceriam a ambas as partes – contratantee prestador –, salvo convenção em contrário.

    Mais recentemente, as recentes Lei de Propriedade Industrial e Lei da Propriedade Intelectualde Programa de Computador estabelecem que os direitos rela vos aos inventos industriais e aosprogramas de computador, respec vamente, pertencerão exclusivamente ao encomendante,salvo expressa manifestação das partes em contrário.

    E como cam os direitos autorais? A LDA é silente quanto ao tema e não reproduz o regimede copropriedade estabelecido pela legislação anterior. Ou seja, não determina a quempertencem os direitos autorais de obras produzidas a par r de prestação de serviços, exceçãofeita aos ar gos escritos para a imprensa, desde que não assinados, cujos direitos pertencerãoaos editores (art. 36 da LDA). A princípio, portanto, prevalece a regra de que as partes podemdeterminar a tularidade destes direitos.

    Mas atenção! Apenas a tularidade dos direitos patrimoniais, pois os direitos moraispermanecerão com o autor, por força do art. 27 da LDA 2.

    Destacamos que o Tribunal de Contas da União - TCU já se debruçou sobre o tema, em razãode consulta formulada pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE. Naocasião, o Fundo desejava saber se os manuais e cadernos produzidos com recursos do órgãopoderiam ser enquadrados como obras intelectuais e, como tais, se conferiam direitos autorais

    aos seus criadores.

    2. Art. 27. Os direitos morais do autor são inalienáveis e irrenunciáveis.

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    Por meio do Acórdão TCU 883/2008 – Plenário, a Corte de Contas publicou o entendimentode que a Administração Pública poderia contratar a criação de obras intelectuais protegidas,como por exemplo, os manuais e cadernos produzidos pelo FNDE.

    Adiante, indicou que caso seja do interesse da Administração obter a tularidade dos direitospatrimoniais sobre obra protegida contratada, deverá prever expressamente a transmissãodestes direitos no contrato a ser rmado com o criador:

    1) não havendo previsão expressa de transmissão dos direitos patrimoniais para oencomendante, eles permanecerão sob a tularidade do autor , sendo irrelevanteque a obra tenha sido custeada pelo Erário, por encomenda da AdministraçãoPública.

    2) ao encomendar obra protegida pela LDA (não apenas serviços técnicosespecializados), deve a Administração ter a cautela de prever a transferência(total ou parcial) dos respec vos direitos patrimoniais do autor, sempre que talmedida for necessária para evitar futuros embaraços à u lização da obra peloente público contratante 3. (grifos nossos)

    Quanto ao segundo ponto, é importante não esquecer o disposto no art. 111 da Lei nº 8.666,de 21 de junho de 1993: “ A Administração só poderá contratar, pagar, premiar ou receber projeto ou serviço técnico especializado desde que o autor ceda os direitos patrimoniais aele rela vos e a Administração possa u lizá-lo de acordo com o previsto no regulamento deconcurso ou no ajuste para sua elaboração ”.

    O entendimento do Acórdão é de que este ar go não transmite necessariamente os direitospatrimoniais do autor para a Administração. Na verdade, o TCU o interpreta como um deverde cautela a toda Administração, no sen do de que esta preveja, sempre que necessário, atransmissão de direitos patrimoniais de autor em seus contratos:

    O disposi vo não obriga o autor a ceder seus direitos patrimoniais à Administração, se isso não foi previsto ‘no regulamento do concurso ou no ajuste’. O preceito é dirigido à própria Administração,obrigando-a a prever a transferência dos direitos patrimoniais do autor no instrumento daavença, de modo a não pairar qualquer dúvida a respeito do sen do e alcance do negócio jurídico.Cabe ao autor da obra aceitar ou não tal condição, acatando ou recusando a encomenda, mas

    cando desde logo ciente estar diante de um contrato coligado, que envolve não só a produçãoda obra encomendada, mas também a cessão dos direitos sobre a obra produzida, aspectos queconservam sua autonomia e que são regulados por disciplina jurídica própria 4.

    Obras protegidas criadas por servidores públicos

    Veri camos anteriormente que tanto a Lei de Propriedade Industrial quanto a Lei dePropriedade Intelectual de Programa de Computador estabelecem que os direitos sobre seusobjetos protegidos pertencem exclusivamente ao contratante ou empregador.

    Entretanto, como isso ocorre no caso da Administração empregadora? O art. 93 da LPIestabelece que a mesma sistemá ca se aplica à Administração direta, indireta e fundacional,federal, estadual ou municipal.

    Ou seja, nos casos de propriedade industrial, é pací co que a propriedade de invenção ou

    de modelo de u lidade pertencem apenas à Administração, quando decorrerem de contrato

    3. Trecho do item 6 do relatório do Acórdão em questão.4. Idem.

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    de trabalho cuja execução ocorra no Brasil e que tenha por objeto a pesquisa ou a a vidadeinven va, ou resulte esta da natureza dos serviços para os quais foi o empregado contratado(art. 88 da LPI).

    Por outro lado, a própria Administração Pública, por meio do Decreto nº 2.553, de 16 de abrilde 1998, incen va o desenvolvimento de bens de propriedade industrial pelos seus servidores,a par r da possibilidade de premiação por meio de parcela do valor das vantagens auferidaspelo órgão, durante a vigência da patente ou do registro:

    Art. 3º Ao servidor da Administração Pública direta, indireta e fundacional, quedesenvolver invenção, aperfeiçoamento ou modelo de u lidade e desenho industrial,será assegurada, a tulo de incen vo, durante toda a vigência da patente ou doregistro, premiação de parcela do valor das vantagens auferidas pelo órgão ouen dade com a exploração da patente ou do registro.

    § 1º Os órgãos e as en dades da Administração Pública direta, indireta e fundacional promoverão a alteração de seus estatutos ou regimentos internos para inserir normas

    que de nam a forma e as condições de pagamento da premiação de que trata estear go, a qual vigorará após publicação no Diário O cial da União, cando convalidadosos acordos rmados anteriormente.

    § 2º A premiação a que se refere o caput deste ar go não poderá exceder a um terçodo valor das vantagens auferidas pelo órgão ou en dade com a exploração da patenteou do registro.

    Infelizmente, a correlação não existe na LDA, a qual não possui qualquer posição a respeito do

    tema, a despeito do an go art. 36 da Lei nº 5.988, de 1973. Este ar go, por sua vez, determinavao regime de copropriedade para as obras criadas no estrito cumprimento de dever funcional.

    Entretanto, diferentemente da hipótese prevista para as obras protegidas contratadas, oTribunal de Contas da União entende que para as obras criadas no estrito cumprimento dedever funcional não se aplica o regime de livre disposição entre as partes, de modo que odireito autoral seria exclusivo da Administração Pública empregadora.

    Argumenta, a propósito, que os servidores não poderiam auferir bene cios privadosdecorrentes do exercício de função pública sem que haja expressa previsão legal para tanto .Nesse sen do, caso a criação de obra protegida esteja dentre as atribuições funcionais dedeterminado servidor, este não poderá deter qualquer direito sobre a obra, pois a LDA nãoo previra. Por exemplo: o servidor que possui como dever funcional a elaboração de manual,não deterá qualquer direito autoral sobre este, na interpretação do Tribunal.

    Por outro lado, embora o referido Acórdão não o explicite, é possível admi r que o direitoautoral seja exclusivo do servidor para os casos em que a obra protegida criada não decorrado desempenho das tarefas próprias de seu cargo. Por exemplo: servidor que publica ar goem revista cien ca sobre objeto de seu trabalho, ou ainda que ministre curso voluntário detreinamento.

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    Proposta de Alteração da LDA

    Entre os dias 25 de abril e 30 de maio de 2011, o Ministério da Cultura submeteu a apreciaçãopública o texto da Segunda Proposta de Revisão da LDA. Esta versão propõe nova regra geralsobre a matéria. A inicia va prevê a autorização do empregador, ente público ou privado,para u lizar, com exclusividade, as obras criadas no estrito cumprimento das atribuições e

    nalidades decorrentes de vínculo estatutário ou de emprego. A exclusividade, no entanto,perduraria por apenas dez anos, conforme proposta do novo art. 52-C:

    Art. 52-C. Salvo convenção em contrário, o empregador, ente público ou privado,considerar-se-á autorizado, com exclusividade, a u lizar as obras criadas no estritocumprimento das atribuições e nalidades decorrentes de vínculo estatutário oucontrato de trabalho.

    § 1º - A exclusividade da autorização cessa em dez anos, contados da data da primeirau lização da obra pelo empregador ou, na ausência desta, da data de conclusão da obra.

    § 2º - O autor poderá dispor livremente dos direitos relacionados às demais modalidadesde u lização da obra, desde que não concorra com o uso realizado pelo empregador.