Modulo Metodologia Do Trabalho Científico

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    Metodologia do trabalho cientfico 1 Semestre - 1 Tema 1 Perodo

    Em educao, nenhuma oportunidade deve ser perdida, tanto para aprender, quanto para ensinar, como para sentir.

    Apresentao da disciplina

    Querido Estudante!

    A humanidade tem passado por mudanas significativas a partir das ltimas dcadas, precisamente nesse perodo que vem sendo chamado de globalizao. Desde o advento da imprensa, que pode ser considerado o grande marco distintivo da cultura moderna, quando o conhecimento produzido e acumulado pela humanidade comeou a ser socializado, no assistimos a tantas mudanas em termos de disseminao do conhecimento. Frente s sucessivas mudanas que vem ocorrendo no mundo, evidenciamos a necessidade do homem estar preparado para as demandas sociais, o mercado de trabalho, o conhecimento pluricultural, as novas tecnologias da informao etc. Por isso, investir no estudo e na pesquisa, enfim, na construo do conhecimento, no desenvolvimento do esprito cientfico e do pensamento crtico e reflexivo o mais seguro mtodo para alcanarmos o progresso da cincia e da humanidade.

    Nossa disciplina o eixo norteador que lhe dar subsdios para a sistematizao dos conhecimentos adquiridos em todas as outras disciplinas ao longo do curso, viabilizando a instrumentalizao de normas e procedimentos acadmicos e cientficos importantes e necessrios para a sua vida profissional. Vamos iniciar agora a disciplina Metodologia do Trabalho Cientfico. Ela est dividida em 2 blocos e 4 temas. Portanto, nossa postura diante do curso, dos textos, das atividades e dos contedos que sero trabalhados ao longo de todo o processo que nos oportunizar absorver os conhecimentos necessrios para a compreenso das constantes mudanas que estamos vivendo nos ltimos tempos. Desejo discernimento, iniciativa e realizaes.

    Prof Ana Paula Amorim Edio revisada e ampliada por: Prof. Naurelice Maia (tema 01), Prof. Leila Cruz (tema 02), Prof. Rita Cristiane Gusmo(tema 03) e Prof. Patrcia Sena (tema 04).

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    Bloco Temtico 01 O conhecimento humano e a cincia O nosso primeiro bloco temtico versa sobre O conhecimento humano e a cincia. Nesta oportunidade, so contempladas questes tais como: a formao humana, o conhecimento (significao, principais elementos, tipos, registro e sistematizao), a relao entre metodologia e universidade, estudo, aprendizagem e leitura.

    Conversaremos tambm acerca da cincia, suas concepes e caractersticas, buscando fazer um panorama de sua natureza/estrutura e dimenso. Trataremos ainda da metodologia cientfica enquanto recurso e instrumento para a cincia da educao.

    Dentre as contribuies proporcionadas pelos contedos propostos neste bloco temtico consta a formao contnua do estudante na qualidade de sujeito ativo e transformador que percebe seu entorno de modo reflexivo, crtico e criativo e se constitui enquanto produtor de conhecimento e saberes.

    O ser humano, a sociedade e o conhecimento

    Nesse contedo oferecemos subsdios discusso em torno do CONHECIMENTO, como ele acontece e quais os seus principais tipos com as respectivas caractersticas.

    Esse contedo muito importante pelo fato de o estudante do Ensino Superior estar lidando com ele durante os contedos propostos pelas diversas disciplinas ao longo do curso. Aumentando, cada vez mais, o conjunto de conhecimentos e saberes que conferem ao aluno a qualidade de estudante, de sujeito ativo e transformador, comprometido a CONHECER, buscar o conhecimento e organiz-lo sistematicamente, construindo seu prprio ser.

    Ento vamos juntos nessa caminhada com determinao e disposio constante para a aprendizagem!!!

    Ser Humano , Conhecimento e Saber

    O que significa Ser Humano? O Ser Humano nasce j pessoa ou torna-se pessoa? Como cada um de ns percebe a significao do humano mediante o contexto que vivencia e as escolhas que faz?

    Que tal postar em nosso frum, tpico Ser Humano, Conhecimento e Saber, possveis respostas e comentrios para os questionamentos acima? Estamos aguardando sua participao!

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    Esses e outros questionamentos remetem ao vasto campo de discusso que hoje se estabelece sobre a formao humana. Conforme o educador francs contemporneo, Charlot (2000), nascer significa ver-se submetido obrigao de aprender. Aprender para construir-se em triplo processo de hominizao (tornar-se homem), de singularizao (tornar-se um exemplar nico de homem), de socializao (tornar-se membro de uma comunidade, partilhando seus valores e ocupando um lugar nela).

    Nesse triplo processo o ser humano vai construdo seu prprio ser, se estabelecendo na qualidade de sujeito transformador, de ser da e para a relao... Para as diversas relaes com o saber.

    O conceito de relao com o saber

    A relao com o saber uma forma da relao com o mundo: essa a proposio bsica. Voltemos ao ponto de partida: a condio antropolgica, fundamento de toda e qualquer elaborao terica sobre a relao com o saber. "Por um lado", a criana enquanto indivduo humano inacabado; "do outro", um mundo pr-existente e j estruturado. Mas, precisamente, no se deve situ-las assim, frente a frente, pois isso impedir que se pense sua relao. A criana no um objeto incompleto situado em um "ambiente" (um conjunto de outros objetos em torno dela). Situar o problema em termos de ambiente precipitar-se em inextricveis dificuldades, pois, assim, -se obrigado a raciocinar em termos de influncias do ambiente sobre a criana. Mas "a influncia" no influencia seno quem se deixa influenciar por essa influncia... Um evento, um lugar, uma pessoa produzem efeitos sobre tal indivduo sem por isso surtir obrigatoriamente um efeito sobre outro indivduo, que apresenta no entanto as mesmas caractersticas objetivas. Em outras palavras, um "influenciado" e o outro, no. Para entender isso, deve-se procurar a relao que existe entre cada um desses indivduos e esse evento, esse lugar, etc. Isso quer dizer que, na verdade, a "influncia" uma relao e, no, uma ao exercida pelo ambiente sobre o indivduo [...].

    A relao com o saber relao de um sujeito com o mundo, com ele mesmo e com os outros. relao com o mundo como conjunto de significados, mas, tambm, como espao de atividades, e se inscreve no tempo. Precisemos esses trs pontos.

    O mundo dado ao homem somente atravs do que ele percebe, imagina, pensa desse mundo, atravs do que ele deseja, do que ele sente: o mundo se oferece a ele como conjunto de significados, partilhados com outros homens. O homem s tem um mundo porque tem acesso ao universo dos significados, ao "simblico"; e nesse universo simblico que se estabelecem as relaes entre o sujeito e os outros, entre o sujeito e ele mesmo. Assim, a relao com o saber, forma de relao com o mundo, uma relao com sistemas simblicos, notadamente, com a linguagem. Nem por isso devemos esquecer que o sujeito e o mundo no se confundem. O homem tem um corpo, dinamismo, energia a ser despendida e reconstituda; o mundo tem uma materialidade, ele preexiste, e permanecer, independentemente do sujeito. Apropriar-se do mundo tambm apoderar-se materialmente dele, mold-lo, transform-lo. O mundo no apenas conjunto de significados, , tambm, horizonte de atividades. Assim, a relao com o saber implica uma

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    atividade do sujeito. E exatamente para marcar essa "exterioridade" do mundo e do sujeito que eu falo em "relao" com o saber, de preferncia a "ligao" com o saber: o termo "relao" indica melhor que o sujeito se relaciona com algo que lhe externo (Mosconi, in Beillerot, Blanchard-Laville, Mosconi et al., 1996).

    Por fim, a relao com o saber relao com o tempo. A apropriao do mundo, a construo de si mesmo, a inscrio em uma rede de relaes com os outros - "o aprender" - requerem tempo e jamais acabam. Esse tempo o de uma histria: a da espcie humana, que transmite um patrimnio a cada gerao; a do sujeito; a da linhagem que engendrou o sujeito e que ele engendrar. Esse tempo no homogneo, ritmado por "momentos" significativos, por ocasies, por rupturas; o tempo da aventura humana, da espcie, do indivduo. Esse tempo, por fim, se desenvolve em trs dimenses, que se interpenetram e se supem uma outra: o presente, o passado, o futuro.

    So essas as dimenses constitutivas do conceito de relao com o saber. Analisar a relao com o saber estudar o sujeito confrontado obrigao de aprender, em um mundo que ele partilha com outros: a relao com o saber relao com o mundo, relao consigo mesmo, relao com os outros. Analisar a relao com o saber analisar uma relao simblica, ativa e temporal. Essa anlise concerne relao com o saber que um sujeito singular inscreve num espao social.

    CHARLOT, Bernard. A relao com o saber: conceitos e definies. Disponvel em: < http://pedagogia.incubadora.fapesp.br/portal > Acesso em: 14 nov. 2006.

    Desta forma, a construo/autoconstruo humana ocorre de modo processual e contnuo, na infinita teia das inter-relaes, contribuindo construo social da realidade.

    A compreenso de uma sociedade s possvel quando seu estudo se d de modo abrangente, envolvendo aspectos diversos, e muitas vezes entrelaados, como religiosidade, relao com a morte, cotidiano, organizao, entre outros

    Voc j se indagou sobre todo este conhecimento e informaes que nos deparamos em nosso dia-a-dia?

    Como voc pensa que esse conhecimento produzido?

    Para voc existem tipos diferenciados de conhecimento?

    Quem produz esses conhecimentos?

    Voc produz conhecimento? Como?

    E ento para voc...

    Como ocorre o conhecimento?

    Qual o papel e importncia do ato de pesquisar e de estudar neste processo de aquisio e produo de conhecimento?

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    Pois ... Estas e muitas outras indagaes sero discutidas ao longo dos nossos estudos e teremos o prazer de manter dilogos investigativos em nosso frum de discusso para, cada vez mais, conhecermos essas questes. O Ato de conhecer

    O sculo XXI se apresenta como a Era do Conhecimento. Nos meios polticos, econmicos, acadmicos, por toda a parte houve-se dizer que o conhecimento a moeda corrente e a informao matria prima que constri o conhecimento. Mas que informaes, que conhecimento? Conhecimento racional construdo pelos setores intelectualizados da sociedade que considera os fora da Universidade como seres de segunda categoria? Conhecimento afetivo, perceptivo, construdo a partir da subjetividade individual entrelaado nas inter-relaes pessoais?

    Desde cedo, os mestres nos falam da necessidade de aprender a conhecer o mundo e posteriormente da necessidade de autoconhecimento.

    Agora que voc j visualizou a animao Caador de Mim e esteve diante dos questionamentos propostos em torno do autoconhecer e de suas implicaes na qualidade de movimento educativo, importa pensar sobre a nossa intencionalidade perante o processo de construo dos saberes, importa pensar as finalidades do educar...

    Nessa perspectiva, qual seria um dos maiores objetivos do ato de conhecer?

    Comumente, as pessoas entram na engrenagem do conhecimento do mundo sem colocar em pauta o que significa conhecer. Todavia, medida que nos defrontamos, na relao com o mundo, com os vrios campos e formas de conhecimento. Entramos num emaranhado de conceitos.

    Ento percebemos que quase no tematizamos questes bsicas como:

    Quem conhece? Como Conhece? Para que conhece? O conhecimento verdadeiro o conhecimento objetivo? E o conhecimento subjetivo falso?

    Hoje recebemos passivamente, atravs das instituies escolares, um modelo de conhecimento imposto pela ideologia do sistema tecnocrata. o modelo, muitas vezes deturpado, do conhecimento cientfico.

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    Esse modelo tem a sua razo de ser, expressa um modo de conhecer e dominar racionalmente a realidade, mas no deveria ser a nica abordagem. E mais ainda, esse modelo se acha comprometido muitas vezes com os interesses e discursos ideolgicos de dominao social.

    O estudo desses problemas nos remete constatao de controvertidas respostas a exigir uma anlise esclarecedora do sentido do conhecimento.

    Ento, finalmente, o que conhecimento?

    Partindo da etimologia da palavra, o termo conhecimento vem do latim cognoscere, que significa conhecer pelos sentido.

    o pensamento que resulta da relao que se estabelece entre o sujeito que conhece e o objeto a ser conhecido.

    Modos de Conhecer

    O conhecimento tambm pode ser definido como a manifestao da conscincia-de-conhecer. Em outras palavras, ele existe quando o indivduo consegue explicar um dado vivido. Portanto, o conhecimento e/ou o ato de conhecer existe como forma de soluo de problemas prprios e comuns vida.

    No dia-a-dia, o ato de conhecer se manifesta to natural que nem nos damos conta da sua complexidade. Visto que existem mltiplas interpretaes a respeito do real, diversos so os modos de significar o conhecimento. S o exame nos possibilita compreender o que est sendo passado de obscuro e de ideolgico no meio cultural, e recebido por ns, na maioria das vezes sem nenhuma crtica.

    Uma sntese de como ocorre o conhecimento no homem.

    Ento... O conhecimento o atributo geral que tem os seres vivos de reagir ativamente ao mundo circundante, na medida de sua organizao biolgica e no sentido de sua sobrevivncia. O homem, utilizando de suas capacidades, procura conhecer o mundo que o rodeia, o conhecimento, a informao, enfim, a prtica de vida resulta em conhecimentos.

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    primeira vista pode at parecer complicado, mas s impresso... Entender o conhecimento entender a nossa realidade.

    Vamos pensar em respostas possveis para as questes abaixo? Essas reflexes convidam outras questes? Quais?

    Na produo do conhecimento, qual o ponto de partida?

    O sujeito? O objeto? A relao entre sujeito e objeto?

    E, no cotidiano escolar, qual o ponto de partida para produo dos saberes?

    De que modo a experincia e o envolvimento se constituem como elementos indispensveis produo dos saberes?

    Voc sabia que a incerteza favorvel ao conhecimento e, especialmente, construo da nossa prxis enquanto educadores e educadoras?

    Sua participao fundamental! Estamos aguardando!

    Ento, para compreendermos de fato esse assunto vamos lanar o olhar sobre a Teoria do Conhecimento.

    A Teoria do Conhecimento

    A Teoria do Conhecimento uma explicao ou interpretao filosfica do conhecimento humano. tambm denominada de filosofia da cincia, e tem seus fundamentos estabelecidos de acordo com cada perspectiva de interpretao.

    A Teoria do Conhecimento tem os seus fundamentos estabelecidos de acordo com cada perspectiva de interpretao, constituindo assim diferentes correntes do conhecimento como: o dogmatismo, o ceticismo, o criticismo, o idealismo, o realismo, etc.

    No conhecimento encontram-se frente a frente a conscincia e o objeto, o sujeito e o objeto. O conhecimento apresenta-se como uma relao entre estes dois elementos, que nela permeiam eternamente separados um do outro. O dualismo sujeito e objeto pertence essncia do conhecimento.

    A relao entre os dois elementos ao mesmo tempo uma correlao. O sujeito s sujeito para um objeto e o objeto para um sujeito. Ambos s so o que so enquanto o so para o outro. Mas esta correlao no reversvel. Ser sujeito algo completamente distinto de ser objeto. A funo do sujeito consiste em apreender o objeto, a do objeto em ser apreendido pelo sujeito.

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    Os homens so os nicos seres que possuem razo, capacidade de relacionar, e ir alm da realidade imediata. O conhecimento uma forma de estar no mundo, e o processo do conhecimento mostra aos homens que eles jamais so alguma coisa pronta na medida em que esto sempre nascendo de novo, quando tm a coragem de se mostrar abertos diante da realidade. A capacidade dos homens pode:

    FAZER CONHECIMENTO USAR CONHECIMENTO POSICIONAR-SE DIANTE DO CONHECIMENTO ESTAR CRIATIVAMENTE NO MUNDO ESTAR SIMPLESMENTE NO MUNDO ESTAR CRITICAMENTE NO MUNDO

    estar aberto para reavaliar a prpria capacidade no trabalho do

    conhecer

    usa alguma coisa que j est pronta, acabada, definitiva,

    conforme determinado conhecimento considerado como

    suficiente

    implica colocar a relao do fazer e do usar de maneira

    dialtica

    TIPOS DE CONHECIMENTO

    Conhecimento Popular

    Denominado de popular ou senso comum, resulta do modo espontneo e corrente de conhecer. o conhecimento do dia-a-dia e se obtm pela experincia cotidiana.

    o modo comum, espontneo ou pr-crtico da maioria das pessoas conhecer; vem da tradio ou do ouvir-dizer dentro da sociedade [...].

    Cada um ao longo de sua vida vai acumulando experincias, interiorizando tradies, reforando-as com novos comportamentos e armazenando, assim, conhecimentos.

    Surge fragmentariamente, sem mtodo ou sistema conforme as ocasies da vida aparecem; tal conhecimento no procurado por si, mas acontecimentos da vida familiar, profissional, religiosa e social colocam a pessoa ao par de informaes[...].

    Este conhecimento atinge o fato, o fenmeno sem se preocupar com leis mais gerais que o explique, por isso gera certezas intuitivas e pr-criticas.

    CAMARGO, Marculino. Filosofia do Conhecimento e Ensino-Aprendizagem. Petrpolis: Vozes, 2004. p. 48-49

    Algumas caractersticas desse tipo de conhecimento:

    a) Sensitivo: a caracterstica que se d segundo a faculdade do sujeito cognoscente em sentir aquilo que lhe meramente agradvel ou desagradvel. [...] Nessa caracterstica, o homem em seu processo de conhecimento no consegue discernir o essencial do acidental, apreendendo apenas aspectos externos dos objetos e dos fatos [..].

    b) Superficial: Retm-se, nesse caso, aquilo que aparente, sem ater-se anlise de antecedentes e conseqentes que provocam a ocorrncia do fenmeno. Exemplificando, toma-se conscincia de que os corpos caem at o solo ou sobre um outro objeto apoiado na terra. No dia-a-dia, o homem pode contentar-se com essa observao, achando ser isso to comum e to simples que no procura uma explicao para o fato, no constata por

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    conseqncia o que Isaac Newton demonstrou: que a matria em uma relao equacional e que a fora de atrao entre os corpos denominada gravidade.

    c) Subjetivo: H, nesse caso, uma concepo individual e particular das coisas que esto dispostas no cosmo. Trata-se de um conhecimento direto com o mundo objetivo imediato, em que se projeta o eu individual com a sua competncia espontnea e sensitiva.

    d) Destitudo de mtodo (assistemtico): No possui definies metodolgicas que permitem a ordenao intencional e generalizada de fases que viabilizem a construo de um modelo inteligvel, simples, preciso e verificvel do mundo em que se vive. Consequentemente, o saber dispersivo e assistemtico.

    e) Impregnado de projees psicolgicas: Trata-se de um conhecimento impregnado de iluses e paixes. Tal o caso das supersties.

    BARROS, Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos de Metodologia Cientfica: um guia para a iniciao cientfica. 2 ed. So Paulo: Paerson, 2006. p.33

    CONHECIMENTO CIENTFICO

    o conjunto organizado de conhecimentos sobre um determinado objeto, em especial obtidos mediante a observao, a experincia dos fatos e um mtodo prprio. Caracterizando-se pela capacidade de analisar, de explicar, de desdobrar, de justificar, de induzir ou aplicar leis, de predizer com segurana eventos futuros. Ele explica os fenmenos e no s os apreende.

    O conhecimento cientfico factual [...], denotando coisas que existem no espao e no tempo. O conhecimento cientfico verificvel ou demonstrvel; ele se baseia num mtodo de observao, formulao de hiptese e demonstrao; com este processe atinge as causas da realidade, formulando leis gerais comprovadamente.

    O conhecimento cientfico analtico enquanto disseca ou dissocia aspectos do fenmeno, decompondo o todo para perceber as interconexes a fim de remontar ou sintetizar novamente.

    O conhecimento cientfico metdico e sistemtico, rigoroso e crtico, acumulativo e falvel: a cincia se constri, faz e refaz caminhos.

    CAMARGO, Marculino. Filosofia do Conhecimento e Ensino-Aprendizagem. Petrpolis: Vozes, 2004. p. 47-48

    CONHECIMENTO FILOSFICO

    Em sentido etimolgico, Filosofia significa devotamento sabedoria / amigo da sabedoria, isto , interesse em acertar nos julgamentos sobre a verdade e a falsidade, sobre o bem e sobre o mal.

    Veja de que modo Marilena Chau nos convida ao entendimento da atitude e da reflexo filosfica e da atitude crtica.

    A atitude filosfica

    Imaginemos, agora, algum que tomasse uma deciso muito estranha e comeasse a fazer perguntas inesperadas. Em vez de "que horas so?" ou "que dia hoje?", perguntasse: O que o

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    tempo? Em vez de dizer "est sonhando" ou "ficou maluca", quisesse saber: O que o sonho? A loucura? A razo?

    Se essa pessoa fosse substituindo sucessivamente suas perguntas, suas afirmaes por outras: Onde h fumaa, h fogo, ou no saia na chuva para no ficar resfriado, por: O que causa? O que efeito?; seja objetivo, ou eles so muito subjetivos, por: O que a objetividade? O que a subjetividade?; Esta casa mais bonita do que a outra, por: O que mais? O que menos? O que o belo?

    Em vez de gritar mentiroso!, questionasse: O que a verdade? O que o falso? O que o erro? O que a mentira? Quando existe verdade e por qu? Quando existe iluso e por qu? Se, em vez de falar na subjetividade dos namorados, inquirisse: O que o amor? O que o desejo? O que so os sentimentos?

    Se, em lugar de discorrer tranqilamente sobre maior e menor ou claro e escuro, resolvesse investigar: O que a quantidade? O que a qualidade? E se, em vez de afirmar que gosta de algum porque possui as mesmas idias, os mesmos gostos, as mesmas preferncias e os mesmos valores, preferisse analisar: O que um valor? O que um valor moral? O que um valor artstico? O que a moral? O que a vontade? O que a liberdade? Algum que tomasse essa deciso, estaria tomando distncia da vida cotidiana e de si mesmo, teria passado a indagar o que so as crenas e os sentimentos que alimentam, silenciosamente, nossa existncia.

    Ao tomar essa distncia, estaria interrogando a si mesmo, desejando conhecer por que cremos no que cremos, por que sentimos o que sentimos e o que so nossas crenas e nossos sentimentos. Esse algum estaria comeando a adotar o que chamamos de atitude filosfica.

    Assim, uma primeira resposta pergunta O que Filosofia? poderia ser: A deciso de no aceitar como bvias e evidentes as coisas, as idias, os fatos, as situaes, os valores, os comportamentos de nossa existncia cotidiana; jamais aceit-los sem antes hav-los investigado e compreendido.

    Perguntaram, certa vez, a um filsofo: Para que Filosofia?. E ele respondeu: Para no darmos nossa aceitao imediata s coisas, sem maiores consideraes.

    CHAUI, Marilena. Convite Filosofia. Disponvel em: . Acesso em: 09 nov. 2006

    A atitude crtica

    A primeira caracterstica da atitude filosfica negativa, isto , um dizer no ao senso comum, aos pr-conceitos, aos pr-juzos, aos fatos e s idias da experincia cotidiana, ao que todo mundo diz e pensa, ao estabelecido.

    A segunda caracterstica da atitude filosfica positiva, isto , uma interrogao sobre o que so as coisas, as idias, os fatos, as situaes, os comportamentos, os valores, ns mesmos. tambm uma interrogao sobre o porqu disso tudo e de ns, e uma interrogao sobre como

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    tudo isso assim e no de outra maneira. O que ? Por que ? Como ? Essas so as indagaes fundamentais da atitude filosfica.

    A face negativa e a face positiva da atitude filosfica constituem o que chamamos de atitude crtica e pensamento crtico.

    A Filosofia comea dizendo no s crenas e aos preconceitos do senso comum e, portanto, comea dizendo que no sabemos o que imaginvamos saber; por isso, o patrono da Filosofia, o grego Scrates, afirmava que a primeira e fundamental verdade filosfica dizer: Sei que nada sei. Para o discpulo de Scrates, o filsofo grego Plato, a Filosofia comea com a admirao; j o discpulo de Plato, o filsofo Aristteles, acreditava que a Filosofia comea com o espanto. Admirao e espanto significam: tomamos distncia do nosso mundo costumeiro, atravs de nosso pensamento, olhando-o como se nunca o tivssemos visto antes, como se no tivssemos tido famlia, amigos, professores, livros e outros meios de comunicao que nos tivessem dito o que o mundo ; como se estivssemos acabando de nascer para o mundo e para ns mesmos e precisssemos perguntar o que , por que e como o mundo, e precisssemos perguntar tambm o que somos, por que somos e como somos.

    CHAUI, Marilena. Convite Filosofia. Disponvel em: Pfilosofia.pop.com.br. Acesso em: 09 nov. 2006

    A reflexo filosfica

    Reflexo significa movimento de volta sobre si mesmo ou movimento de retorno a si mesmo. A reflexo o movimento pelo qual o pensamento volta-se para si mesmo, interrogando a si mesmo.

    A reflexo filosfica radical porque um movimento de volta do pensamento sobre si mesmo para conhecer-se a si mesmo, para indagar como possvel o prprio pensamento. No somos, porm, somente seres pensantes. Somos tambm seres que agem no mundo, que se relacionam com os outros seres humanos, com os animais, as plantas, as coisas, os fatos e acontecimentos, e exprimimos essas relaes tanto por meio da linguagem quanto por meio de gestos e aes.

    A reflexo filosfica tambm se volta para essas relaes que mantemos com a realidade circundante, para o que dizemos e para as aes que realizamos nessas relaes. A reflexo filosfica organiza-se em torno de trs grandes conjuntos de perguntas ou questes:

    1. Por que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos e fazemos o que fazemos? Isto , quais os motivos, as razes e as causas para pensarmos o que pensamos, dizermos o que dizemos, fazermos o que fazemos?

    2. O que queremos pensar quando pensamos, o que queremos dizer quando falamos, o que queremos fazer quando agimos? Isto , qual o contedo ou o sentido do que pensamos, dizemos ou fazemos?

    3. Para que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos, fazemos o que fazemos? Isto , qual a inteno ou a finalidade do que pensamos, dizemos e fazemos?

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    Essas trs questes podem ser resumidas em: O que pensar, falar e agir? E elas pressupem a seguinte pergunta: Nossas crenas cotidianas so ou no um saber verdadeiro, um conhecimento?

    Como vimos, a atitude filosfica inicia-se indagando: O que ? Como ? Por que ?, dirigindo-se ao mundo que nos rodeia e aos seres humanos que nele vivem e com ele se relacionam. So perguntas sobre a essncia, a significao ou a estrutura e a origem de todas as coisas.

    J a reflexo filosfica indaga: Por qu?, O qu?, Para qu?, dirigindo-se ao pensamento, aos seres humanos no ato da reflexo. So perguntas sobre a capacidade e a finalidade humanas para conhecer e agir.

    CHAUI, Marilena. Convite Filosofia. Disponvel em:

    . Acesso em: 09 nov. 2006

    O quadro a seguir apresenta reflexes sobre a experincia que, conforme Plato e Aristteles, proporcionam ao ser humano o empenho do pensar filosoficamente. Essa experincia corresponde ao thauma, perplexidade...

    Admirao e Desbanalizao

    Plato e Aristteles deram filosofia uma de suas melhores definies. Eles viram a filosofia como um discurso admirado e/ou espantado com o mundo. difcil abandonar a idia, que vem dos clssicos gregos, de que um discurso que fala sobre o mundo e que responde questes do tipo o que um raio?, como acontece um raio?, um discurso curioso como discurso da cincia , mas que no denota algum to admirado e/ou to espantado quanto aquele que pergunta o que o que ? uma pergunta do discurso filosfico. As perguntas da filosofia mostram uma atitude de mxima admirao, pois demonstram inquietude com aquilo que at ento era o mais banal. Se algum pergunta o que o que ?, este algum est criando a desbanalizao de algo superbanal, que a condio de ser, o que at ento no havia preocupado ningum. Ns, por exemplo, estamos cotidianamente preocupados em saber coisas que no sabamos. Agora, perguntar pelo ser das coisas que queremos saber o que so, nos parece meio fora de propsito por que teramos de perguntar pelo que to banal? Ora, o que a filosofia faz, na acepo tradicional que vem de Plato e Aristteles, justamente isto: ela pe certas perguntas que nos obrigam a olhar o banal como no mais banal. A filosofia, ento, o vocabulrio com o qual desbanalizamos o banal. Tudo com o qual estamos acostumados fica sob suspeita, sob o crivo de uma sentena indignada e, assim, deixamos de nos ver acostumados com as coisas s quais, at ento, estvamos acostumados!

    GHIRALDELLI JUNIOR, Paulo. Que Filosofia? Disponvel em: . Acesso em: 09 nov. 2006

    CONHECIMENTO RELIGIOSO

    O conhecimento religioso supe e exige a autoridade divina; nela se fundamenta e s a ela atende. Apia-se em doutrinas que contm proposies sagradas (valorativas).

    A teologia um conhecimento direcionado compreenso da totalidade da realidade homem-

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    mundo. O Objetivo detectar um princpio e um fim unvoco no que se refere gnese essencial e existencial do cosmo. A teologia tem por objetivo de estudo os princpios da vida enquanto estes tm a sua causa suficiente em outro ser.

    o estudo do Absoluto e da relao que existe entre Absoluto X relativo. [...] H, nesse nvel de conhecimento, a reflexo sobre a essncia e a existncia naquilo que elas tm como causa primeira e ltima de toda a vida. [...] Do ponto de vista teolgico, a existncia divina evidente, e evidencia no se demonstra e nem se experimenta (pr1ocedimento experimental), mas analisa, interpreta-se e explica-se.

    BARROS, Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos de Metodologia Cientfica: um guia para a iniciao cientfica. 2 ed. So Paulo: Paerson, 2006. p.36.

    Apesar desta separao "metodolgica" e categrica no processo de apreenso da realidade do objeto, o sujeito pode penetrar nas diversas categorias. Por sua vez, estas formas de conhecimento podem coexistir na mesma pessoa: um cientista, voltado ao estudo da fsica, pode ser praticante de determinada religio, estar filiado a um sistema filosfico e, em muitos aspectos de sua vida cotidiana, agir segundo conhecimentos provenientes do senso comum.

    Agora, busque ativar sua memria e tente relacionar os diversos tipos de conhecimento destacando as principais caractersticas de cada um deles e/ou associando prtica pedaggica. Lembre-se, para buscar na memria... No vale olhar no texto. Utilize-o apenas para verificar se suas observaes estavam corretas, ok?! Confiamos em voc e aguardamos sua participao em nosso frum!

    Concepes de Cincia

    O homem sempre empreendeu esforos em busca da verdade, da compreenso do real, da explicao de sua natureza interna e da natureza externa que o cerca, sempre buscando dar conta das razes de sua existncia, a melhor maneira de superar os desafios. Nas diferentes dimenses do conhecimento humano, o homem apresenta respostas e avana na compreenso do mundo.

    Visto que a cincia fruto da tendncia humana para procurar respostas e justificaes positivas e convincentes, nesse contedo iremos analisar a natureza da cincia, conceituando seu aspecto lgico como mtodo de raciocnio e de inferncia acerca dos fenmenos j conhecidos ou a serem investigados.

    A cincia aumentou sobremaneira a capacidade de instrumentalizao do homem. Desenvolvendo tecnologias avanadas, liberou a mo de obra para atuar na rea de servios e pesquisas cientficas. medida que a cincia avana, o indivduo se torna cada vez mais capaz de dominar as circunstncias sua volta.

    A Cincia Do latim scientia, isto , conhecimento, arte, habilidade.

    A cincia pode ser entendida como uma sistematizao de conhecimentos, um conjunto de proposies logicamente correlacionadas sobre o comportamento de certos fenmenos que se deseja estudar.

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    Para Ander-Egg (1978) a cincia um conjunto de conhecimentos racionais, certos ou provveis, obtidos metodologicamente sistematizados e verificveis, que fazem referncia a objetos de uma mesma natureza.

    Para Freire-Maia (1991) a cincia um conjunto de descries, interpretaes, teorias, leis, modelos, etc., visando ao conhecimento de uma parcela da realidade, em contnua ampliao e renovao, que resulta da aplicao deliberada de uma metodologia especial (metodologia cientfica).

    Desses conceitos emana a caracterstica de apresentar a cincia como um pensamento racional, objetivo, lgico e confivel.

    So mltiplos os olhares lanados sobre a cincia, gerando diversas correntes do pensamento. Vejamos as consideraes realizadas por Barros e Lehfeld sobre duas dentre essas correntes e seus principais postulados:

    Positivismo

    A Cincia uma postura epistemolgica representada pela maturidade do esprito humano. A imaginao est subordinada observao. A Cincia eminentemente programtica. O critrio de definio sobre um conhecimento verdadeiro um consenso entrehumanos de boa-f, competentes etc. O grande expoente do positivismo Augusto Comte, que defende a tese de que o homem, em seu processo de conhecimento, assume trs estgios de explicao: teolgico; metafsico; positivo ou cientfico. No primeiro item, esto contidas as explicaes mitolgicas; no segundo, as explicaes msticas e, s no terceiro as cientficas. Positivamente, a Cincia trata de perscrutar e de encontrar ligaes e descries de como os fatos ocorrem.

    BARROS, Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos de Metodologia Cientfica: um guia para a iniciao cientfica. 2 ed. So Paulo: Paerson, 2006. p.42

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    Dialtica

    A Cincia definida como sendo o ato de se conhecer a anlise do processo do fenmeno como umaparte do processo do conhecimento, realizada a partir de uma conscincia crtica. A dialtica no explica, no d esquema de interpretao, ela [...] prepara os quadros da explicao. Assim sendo, a concepo dialtica de Cincia reproduz um sistema de conhecimento em desenvolvimento que permite a elaborao de conceitos concernentes s atividades do individuo e, portanto, estabelece previses a respeito da transformao da realidade e da sociedade.

    BARROS, Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos de Metodologia Cientfica: um guia para a iniciao cientfica. 2 ed. So Paulo: Paerson, 2006. p.43.

    Concepes da cincia

    No existe uma nica concepo de cincia. Podemos divid-la em perodos histricos, cada um com modelos e paradigmas tericos diferentes a respeito da concepo de mundo, de cincia e de mtodo, destacando-se trs grandes concepes: a cincia grega, que abrange o perodo que vai do sculo VIII a.C. at o final do sculo XVI; a cincia moderna, do sculo XVII at o incio do sculo XX; e a cincia contempornea, que surge no incio deste sculo at nossos dias.

    Com os gregos, a cincia tida e conhecida como filosofia da natureza. Tinha como nica preocupao a busca do saber, a compreenso da natureza das coisas e do homem.

    A concepo de cincia moderna ope-se cincia grega e ao dogmatismo religioso. Prope como caminho do conhecimento, o caminho da cincia, atravs do experimentar, do medir e comprovar. Surge o cientificismo, isto , a crena de que o nico conhecimento vlido era o cientfico e de que tudo poderia ser conhecido pela cincia.

    A viso contempornea de cincia centra-se na incerteza e na ruptura com o cientificismo (dogmatismo e a certeza da cincia). o contexto de crise da cincia e da ruptura do paradigma cartesiano, fundamentado na experincia e adotando a induo e a confirmabilidade para constatar a certeza de seus enunciados.

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    Os mitos da cincia

    Nos ltimos trs sculos, a cincia e a tecnologia foram capazes de alterar a face do mundo, com mudanas to radicais como nunca se teve notcia antes. Era inevitvel que se criasse uma aura em torno desse saber e desse poder, fazendo surgir, l onde se pensava apenas existires as luzes da razo, algumas regies nebulosas, os mitos da cincia.

    Esses mitos atingem leigos e cientistas, maravilhados com o rigor do saber e a eficcia da tcnica, alcanando a sociedade como um todo, sempre que os critrios da razo instrumental [...] passam a interferir nos domnios da vida afetiva, fazendo com que a cincia e a tcnica se desviem de sua destinao humana.

    O mito do cientificismo

    medida que a cincia se mostrou capaz de compreender a realidade de forma mais rigorosa, fazendo previses e transformando o mundo, houve a tendncia de desprezar as demais abordagens da realidade, tais como o mito, a religio, o bom senso da vida cotidiana, as intuies da vida afetiva, a arte e a filosofia, que passaram a ser consideradas formas menores de conhecimento.

    A confiana total na cincia valoriza apenas a recionalidade cientfica, como se ela fosse a nica forma de resposta s perguntas que fazemos. Essa maneira de pensar comea com os primeiros sucessos da cincia, e foi valorizada no sculo XIX pelo filsofo francs Augusto Comte, fundador do positivismo [...].

    Os crticos desse exagerado otimismo acusam o cientificismo de criar formas destrutivas e opressivas tanto da natureza quanto do ser humano. O filsofo alemo Max Weber (1864-1920) percebe que a formalizao da razo, tendo em vista o rendimento e a eficcia, caminha ao lado do desencantamento do mundo, agora despojado de seus aspectos mticos, sagrados, para se tornar mecnico e casual.

    Tambm os pensadores da Escola de Frankfurt, como Horkheimer e Adorno, criticam a predominncia da razo instrumental controladora responsvel por reduzir a atuao humana ao campo da eficcia, alm de fazer esquecer que a relao do ser humano com a natureza no deve ser de dominao, mas harmonia [...].

    O mito da neutralidade cientfica

    A cincia um tipo de saber capaz de superar a subjetividade d o prprio cientista e os preconceitos do senso comum. O rigor do mtodo permite atingir alto grau de objetividade, e seus processos e produtos podem ser verificados pela comunidade cientfica.

    Em decorrncia disso, muitos pensam que a cincia um saber neutro, ou seja, que as pesquisas cientficas no sofrem influencia social ou poltica e visam apenas ao conhecimento puro e desinteressado. Nesse sentido, o cientista se ocuparia com a descrio dos fenmenos, e no com juzos de valor. Estando a atividade cientfica margem das questes histricas, no caberia ao cientista discutir o uso poltico de suas descobertas.

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    No entanto, sabemos que no bem assim: a humanidade corre riscos diante do aprendiz de feiticeiro incapaz de discutir os fins a que se destinam suas descobertas. Basta indagarmos a respeito dos valores do indivduo urbano e civilizado que sofre de solido e tem sido vtima dos desconfortos do progresso, como a poluio ambiental. Isso nos leva a questionar o mito do progresso, que justifica as iluses e preconceitos dos povos civilizados quando se julgam superiores aos menos desenvolvidos [...].

    A bomba atmica no pode ser apenas o resultado do saber sobre a energia atmica, nem da simples tcnica de produzir exploso. Trata-se de um saber e de uma tcnica que dizem respeito vida e morte de seres humanos [...].

    [...] As altas cifras destinadas s pesquisas exigem o apoio financeiro de instituies publicas e privadas, desejosas de subvencionar os trabalhos que mais lhe interessem. Pode-se falar que, por muito tempo, houve uma indstria da guerra alimentando a corrida armamentista e exigindo o constante desenvolvimento da cincia e tecnologia no campo militar.

    Diante dessas questes, no h como sustentar a neutralidade da cincia. Cabe ao cientista a responsabilidade social de indagar sobre os fins a que se destinam suas descobertas, sem alegar iseno, uma vez que a produo cientfica no se realiza fora de um determinado contexto social e poltico.

    ARANHA, Maria Lcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de Filosofia. 2 ed. So Paulo: Moderna, 2000. p. 111 112.

    Lembre-se que quanto mais informaes adquirimos, mais condies temos de construir conhecimento. Portanto, busque investigar um pouco mais acerca dessas concepes de cincia: cincia grega, cincia moderna e cincia contempornea. Aproveite para descobrir outras concepes de cincias que no esto citadas aqui.

    Aps estudar tipos de conhecimento, concepes de cincia e cientificismo, dentre outras temticas, veja um breve relato do mito de caro e leia o poema Todo Risco. A partir dessas leituras, correlacionadas aos saberes e expectativas que voc vem construindo ao longo de sua trajetria humano-estudantil, elabore reflexes sobre os significados das expresses a seguir: avano tecnolgico, progresso cientfico, desenvolvimento humano e educao. Por exemplo, pensado a questo dos limites... Existe um limite para o conhecimento cientfico? Se existe, qual seria? Por qu? E qual a relao entre os atos educativos e tais questes?

    Visite nosso frum! Para as questes acima, acesse o tpico Consideraes sobre conhecimento e educao.

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    Todo risco (Damrio da Cruz)

    A possibilidade de arriscar que nos faz homens

    Vo perfeito no espao que criamos

    Ningum decide sobre os passos que evitamos

    Certeza de que no somos pssaros

    e que voamos Tristeza

    de que no vamos por medo dos caminhos

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    Natureza/Dimenso da Cincia

    A palavra cincia pode ser entendida em duas acepes:

    Em se tratando de analisar a natureza da cincia, podem ser explicitadas duas dimenses, na realidade inseparveis, ou seja, a compreensiva (contextual ou de contedo) e a metodolgica (operacional), abrangendo tanto aspectos lgicos quanto tcnicos. Pode-se conceituar o aspecto lgico da cincia como o mtodo de raciocnio e de inferncia acerca dos fenmenos j conhecidos ou a serem investigados; em outras palavras, pode-se considerar que o aspecto lgico constitui o mtodo para a construo de proposies e enunciados, objetivando, dessa maneira, uma descrio, interpretao, explicao e verificao mais precisas. Podemos ainda considerar a natureza da cincia sob trs aspectos. So eles:

    Componentes da Cincia

    As cincias caracterizam-se por possurem:

    Objetividade ou finalidade: preocupao em distinguir a caracterstica comum ou as leis gerais que regem determinados eventos.

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    Funo: aperfeioamento, atravs do crescente acervo de conhecimentos, da relao do homem com o seu mundo.

    Objeto: subdividido em material, aquilo que se pretende estudar, analisar, interpretar ou verificar, de modo geral; formal, o enfoque especial, em face das diversas cincias que possuem o mesmo objeto material.

    Classificao e Diviso da Cincia

    Pode-se classificar as cincias em duas grandes categorias: formais e empricas. As primeiras tratam de entidades ideais e de suas relaes, sendo a Matemtica e a Lgica as mais importantes. As segundas tratam de fatos e de processos, incluem-se nesta categoria cincias como a Fsica, a Qumica, a Biologia, a Psicologia.

    As cincias empricas, por sua vez, podem ser classificadas em naturais e sociais. Dentre as cincias naturais esto: a Fsica, a Qumica, a Biologia, a Astronomia. Dentre as cincias sociais esto: a Sociologia, a Antropologia, a Cincia Poltica, a Economia, a Psicologia, a Histria.

    Caractersticas

    De maneira geral, a cincia possui caractersticas e exigncias comuns a serem consideradas. So elas: Conhecimento pelas causas (racionalismo); profundidade e generalidade de suas condies; objeto formal; controle dos fatos; exige investigao e a utilizao de mtodos; comunicvel.

    - Conhecimento pelas causas (racionalismo)

    Implica em conhecer pelas causas. Se o cientista observa a chuva, ele quer saber por que chove, dispensando a influncia dos deuses. Utiliza-se o raciocnio analtico, lgico e despojado de impactos emocionais. Trata-se da racionalizao do conhecimento.

    - Profundidade e generalidade de suas condies

    O conhecimento pelas causas o modo mais ntimo e profundo de se atingir o real. A cincia no se contenta em registrar fatos, quer tambm verificar a sua regularidade, a sua coerncia lgica, a sua previso etc. A cincia generaliza porque atinge a constituio ntima e a causa comum a todos os fenmenos da mesma espcie. A validade universal dos enunciados cientficos confere cincia a prerrogativa de fazer prognsticos seguros.

    - Objeto formal

    A finalidade da cincia manifestar a evidncia dos fatos e no das idias. Procede por via experimental, indutiva, objetiva; suas demonstraes consistem na apresentao das causas fsicas determinantes ou constitutivas das realidades experimentalmente controladas. No se submete a argumentos de autoridade, mas to-somente evidncia dos fatos.

    - Controle dos fatos

    Ao utilizar a observao, a experincia e os testes estatsticos tenta dar um carter de exatido aos fatos. Embora os enunciados cientficos possam ser possveis de revises pela sua natureza

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    tentativa, no seu estado atual de desenvolvimento, a cincia fixa degraus slidos na subida para o integral conhecimento da realidade. (RUIZ, 1979, p. 124 a 126).

    - Exige investigao e a utilizao de mtodos

    Investigar implica em pesquisar, e a cincia ocorre base de questionamentos, buscas e descobertas. Na cincia, a investigao tambm a disposio do pesquisador em submeter-se a um rigor metodolgico.

    - comunicvel

    Os estudos e resultados das investigaes cientficas devem ser comunicados sociedade. Para tal, o cientista deve fazer uso das definies, conceitos e termos, a fim de representar fielmente as idias que se quer expressar.

    Objetivos e Funes da Cincia

    Os objetivos da cincia so determinados pela necessidade que o homem tem de compreender e controlar a natureza das coisas e do universo. Delineados os objetivos, cabe cincia realizar suas trs funes, a saber: descrever, explicar e prever os dados que permeiam a realidade em estudo.

    Segundo Ferrari (1982), a cincia ainda deve proporcionar aumento e melhoria de conhecimento; descoberta de novos fatos e fenmenos; aproveitamento espiritual; aproveitamento material do conhecimento.

    Metodologia Cientfica Aplicada s Cincias da Educao

    Metodologia Cientfica no um simples contedo a ser decorado pelos estudantes. Numa definio em sentido amplo, o estudo dos mtodos de conhecer. Trata-se de fornecer aos estudantes um instrumental indispensvel para que sejam capazes de atingir os objetivos da Academia, que so o estudo e a pesquisa em qualquer rea do conhecimento. Trata-se, ento, de se aprender tambm fazendo, conforme sugerido por perspectivas contemporneas da Educao. O que se deve fazer, na medida do possvel, seguir rigorosamente as regras definidas pela Associao Brasileira de Normas Tcnicas - ABNT, para elaborao de trabalhos cientficos. Caso alguma regra no esteja sendo cumprida, a responsabilidade da desateno do autor.

    Quando falamos de um curso superior, estamos nos referindo a uma Academia de Cincias, j que qualquer Faculdade corresponde ao local prprio da busca incessante do saber cientfico. Neste sentido, a Metodologia Cientfica tem uma importncia fundamental na formao do profissional. Se os estudantes procuram a Academia para buscar saber, precisamos entender que a Metodologia Cientfica tambm compreendida como o estudo dos caminhos do saber, se entendermos que mtodo quer dizer caminho, logia quer dizer estudo e cincia quer dizer saber.

    Conceitos e Objetivos

    Mtodo, etimologicamente, significa methodos ou metodus meta = meta, hodos = caminho.

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    Caminho para se chegar a determinado fim.

    O Mtodo Cientfico a ordem que se segue na investigao da verdade, no estudo feito por uma cincia, ou para alcanar um fim determinado. No h cincia sem o emprego de mtodos cientficos.

    Mtodos cientficos

    A Metodologia Cientfica uma disciplina que est intimamente relacionada com o estudo crtico dos fatos. Ela estuda e avalia os mtodos disponveis e suas implicaes, alm de avaliar as tcnicas de pesquisa. De modo geral, ela uma reunio de procedimentos utilizados por uma tcnica.

    por meio da Metodologia Cientfica que ocorre o contato entre o conhecimento e a anlise crtica, possibilitando a ampliao do saber, posicionando-o no plano scio-histrico e poltico. Vale considerar que a Metodologia Cientfica no aponta solues, mas indica o caminho para encontr-las.

    Visto que essa disciplina permite o questionamento da realidade, ela tem funo tambm de oferecer suporte Pesquisa Cientfica. Dessa forma, ela pode ser entendida como uma abstrao, observando-se a relao intrnseca entre o conhecer e o intervir.

    Recordando o tempo de escola... Em sua formao estudantil, voc vivenciou essa

    interao entre o conhecer e o intervir? De que forma a presena ou ausncia dessa interao

    contribuiu ao modo pelo qual hoje voc estabelece as relaes e produz saberes?

    Visite nosso frum!

    A sua maior importncia est na apresentao e exame de diretrizes para a eficcia do estudo e da aprendizagem. Ela est sincronicamente relacionada com o principal objetivo da universidade que ensinar e divulgar o procedimento cientfico.

    Portanto, para adquirir o mtodo de estudo mais adequado e conveniente, o estudante deve fazer uso dos fundamentos que o orientar no processo de investigao para tomadas de decises oportunas na busca do saber e na formao do seu esprito crtico.

    Metodologia Cientfica e Universidade

    A histria da cincia a da conquista gradual, pela cincia experimental, de uma posio central na cultura e na viso do mundo do homem moderno. A cincia se desenvolveu basicamente fora

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    das universidades tradicionais, e s no sculo XIX a ligao ntima entre cincia e universidade, que hoje muitos consideram natural, ocorre de forma efetiva.

    Os novos parmetros curriculares sero propostos visando a orientar as aes educativas nas escolas e assegurar a todos "a aquisio do instrumental bsico para acesso aos cdigos do mundo contemporneo (leitura, escrita, expresso oral, clculo, etc.)".

    Tambm devero incentivar um conjunto de conhecimentos de habilidades e valores que contribuam para que os estudantes desenvolvam-se para o exerccio da cidadania, o desempenho das atividades cotidianas e a insero no mercado de trabalho.

    2 Tema Metodologia do trabalho cientfico

    "Aprendendo a Aprender"

    O aprendizado um fenmeno bastante presente em nossas vidas, concorda? Algumas vezes aprendemos com prazer e entusiasmo, em outras travamos uma verdadeira luta com os livros e contedos que insistem em deixar a nossa vida sempre mais difcil. De qualquer forma, o fato que aprender significa sobreviver, desde a origem da espcie humana e principalmente agora, na era da informao globalizada.

    E provvel que vocs j tenham ouvido a expresso que serve de ttulo para o nosso tema. Aprender a aprender tornou-se um verdadeiro lema da educao na atualidade, na qual se entende que a preparao para a vida e o trabalho depende muito mais do desenvolvimento de habilidades relevantes que dos contedos a que se tem acesso na vida escolar. Nosso objetivo aqui ser, portanto, discutir atitudes e aes teis para que voc, estudante, possa aprender de maneira cada vez mais eficiente, organizada e integrada.

    Para alcanar este objetivo, lanaremos um novo olhar para a prtica do estudo, para que possamos adotar atitudes compatveis com sua importncia para a aprendizagem, em particular no ensino distncia. Discutiremos tambm a leitura como uma habilidade imprescindvel para o

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    estudo e a aprendizagem, e ofereceremos a voc tcnicas para melhorar a leitura e a compreenso de textos. Por fim, apresentaremos diversos recursos para organizar e sistematizar os conhecimentos aprendidos, para que voc possa aproveit-los durante toda a sua vida acadmica e profissional.

    Esperamos, assim, que voc termine a disciplina munido das ferramentas necessrias para alcanar o sucesso ao longo do curso e, mais importante, para sobreviver em uma sociedade que exige o aprendizado em tempo integral. Bom trabalho!

    Registro e Sistematizao do Conhecimento

    Informao e Conhecimento

    O mundo de hoje um mundo de informao. A constatao de que as novas tecnologias mudaram a velocidade e qualidade das informaes que circulam na sociedade, bem como nosso modo de interagir com elas, to bvia que quase chega a ser um clich. A compreenso dessa nova ordem mundial, no entanto, ainda est sendo construda, tanto pela sociedade em geral quanto pela academia.

    Uma coisa certa: a dinmica da informao demanda certas habilidades para que os indivduos se integrem a ela de maneira autnoma e responsvel. O ensino tradicional, centrado na transmisso de contedos, j no mais suficiente para assegurar uma formao humana integral (ZABALA, 1998), e portanto fica aqum da misso de contribuir para a insero autnoma e responsvel dos indivduos.

    Segundo Dudziak (2003), o reconhecimento da informao como um elemento-chave das relaes sociais na contemporaneidade impe a aquisio da information literacy, ou competncia em informao, em uma traduo aproximada e provisria. Segundo esta autora, a competncia em informao poderia ser definida como o domnio dos fundamentos conceituais, atitudinais e de habilidades necessrio compreenso e interao permanente com o universo informacional e sua dinmica (DUDZIAK, 2003, p. 28). O objetivo dessa competncia seria proporcionar aos indivduos a possibilidade de aprendizado constante ao longo da vida e os meios de sobrevivncia na sociedade atual, tal qual um consumidor de informao (DUDZIAK, 2003, p. 23, grifo no original).

    Mas ser que consumir informao equivalente a construir conhecimento? primeira vista, parece que no: enquanto a informao corresponde a um dado da realidade, o conhecimento supe uma elaborao intelectual desses dados, a reflexo. Evidentemente, a informao necessria para construir o conhecimento, mas se tratam de objetos diferentes. Para o filsofo alemo Robert Kurz, o paradoxo da chamada sociedade do conhecimento que nela estamos cada vez mais soterrados de informao e menos reflexivos, ou seja, mais ignorantes (KURZ, 2006). Acesse o texto em: http://obeco.planetaclix.pt/rkurz95.htm

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    APRENDIZADO E METACOGNIO

    Como podemos, ento, construir conhecimento a partir das informaes a que temos acesso? Essa construo do conhecimento, ou aprendizado, depende de vrios fatores relativos ao ambiente da aprendizagem e aos prprios aprendizes. Segundo reviso da literatura acerca dos padres de aprendizado dos estudantes, Vermunt e Vermetten (2004), os fatores relativos aos estudantes que influenciam em seu aprendizado so de ordem cognitiva, metacognitiva e afetiva/motivacional.

    Os fatores de ordem cognitiva correspondem s aes mentais envolvidas no processamento do contedo, levando diretamente a resultados em termos de conhecimento, compreenso, habilidades, entre outras. Os fatores afetivos e motivacionais constituem a maneira com que os estudantes se relacionam com as emoes que emergem durante o aprendizado, que produz estados que podem influenciar o andamento da aprendizagem de forma positiva, neutra ou negativa. Por fim, os fatores metacognitivos dirigem os fatores cognitivos e afetivos/motivacionais, levando indiretamente aos resultados da aprendizagem. sobre estes ltimos que trataremos aqui; nas demais sees desse tema, discutiremos aspectos relacionados aos fatores cognitivos e afetivos/motivacionais.

    O que a metacognio e como ela influencia no aprendizado?

    Vamos primeiro examinar o prprio termo metacognio. Ele formado por duas palavras: meta + cognio. A palavra meta corresponde a um prefixo grego, significando mudana, posteridade, alm, transcendncia (FERREIRA, 1975, p. 922). Cognio, segundo o mesmo dicionrio, corresponde aquisio de um conhecimento (FERREIRA, 1975, p. 343), ou segundo Ribeiro (2003, p. 110), representao dos objetos e fatos da realidade. Assim, o termo metacognio pode ser entendido como uma viso mais ampla do conhecimento. De acordo com Ribeiro (2003, p. 110):

    Assim, como objeto de investigao e no domnio educacional encontramos duas formas essenciais de entendimento da metacognio: conhecimento sobre o conhecimento (tomada de conscincia dos processos e das competncias necessrias para a realizao da tarefa) e controle ou auto-regulao (capacidade para avaliar a execuo da tarefa e fazer correes quando necessrio - controle da atividade cognitiva, da responsabilidade dos processos executivos centrais que avaliam e orientam as operaes cognitivas).

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    As discusses acadmicas sobre a metacognio ganharam proeminncia a partir da dcada de 1970, e em pouco tempo a literatura estava repleta de termos derivados da definio original (VEENMAN; Van HOUT-VOUTERS; AFFLERBACH, 2006). O interesse na rea surgiu depois que vrios estudos demonstraram que estudantes bem-sucedidos em geral empregam estratgias tanto para adquirir, organizar e utilizar seu conhecimento, como na regulao de seu processo cognitivo (RIBEIRO, 2003, p. 109). Em suma: estudantes bem-sucedidos parecem monitorar conscientemente seu processo de aprendizado.

    Por favor, pare um momento!

    Essa a sua oportunidade de parar para pensar sobre voc mesmo. Como vai a sua vida de estudante? Quais so os seus hbitos de estudo? Em que tarefas voc se sai muito bem, e quais so aquelas em que tem mais dificuldade?

    A disciplina de Metodologia o ponto inicial de sua jornada na graduao. Por isso, vale a pena fazer uma reviso de viagem, para verificar como andam seus equipamentos de aprendizado. E claro que a partir de agora, essa ter de ser uma atividade rotineira, sobretudo no ensino a distncia.

    Por fim, reflita: como voc controla seu processo de aprendizado? Voc dispe de tcnicas e hbitos de avaliao constante do andamento de seu estudo? Quando voc percebe que o estudo no est chegando aos objetivos esperados, o que voc faz?

    A influncia da metacognio sobre o aprendizado e a motivao para os estudos foi verificada em um grande nmero de trabalhos. O desempenho no aprendizado foi melhorado independentemente da habilidade cognitiva, idade, e contexto social dos estudantes, e para diferentes tipos de tarefas e domnios do conhecimento (veja VEENMAN; Van HOUT-VOUTERS; AFFLERBACH, 2006). Diversos autores reconhecem que a metacognio abrange pelo menos dois aspectos distintos (ver RIBEIRO, 2003):

    Metaconhecimentos - Conhecimentos sobre os conhecimentos: referem-se s estratgias empregadas na aprendizagem, natureza do assunto a ser aprendido, tarefa a ser desempenhada (objetivos, critrios, dificuldade), bem como aos conhecimentos acerca das prprias capacidades e habilidades pessoais (auto-imagem, confiana, motivao).

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    Estratgias metacognitivas - Conhecimentos sobre a regulao dos processos de aprendizagem: referentes execuo da auto-regulao, apiam-se nos metaconhecimentos para a monitorao e controle da aprendizagem. Incluem o planejamento, a deciso sobre as estratgias mais adequadas realizao de determinada tarefa, a aplicao dessas estratgias, a avaliao de seu desempenho e a correo de cursos de ao quando necessrio.

    Toda essa discusso se relaciona diretamente com os contedos tratados no tema 2 de nossa disciplina. Agora que voc j tem uma idia geral do que a metacognio e de sua importncia, perceber que todos aqueles contedos se referem a estratgias e atitudes relativas conscincia sobre o aprendizado, bem como a estratgias teis para realiz-lo, e se destinam dar a voc maior controle sobre ele. Estas estratgias, no entanto, precisam estar aliadas reflexo, ou ento ficaro reduzidas a um amontoado de procedimentos automatizados e vazios. Essa breve introduo nem mesmo se aproxima de esgotar todas as discusses relacionadas metacognio. Nossa inteno aqui foi despertar seu interesse e sua ateno a voc mesmo, a suas atitudes e aes, e temos certeza de que sua reflexo lhe tornar uma pessoa mais crtica e consciente.

    O estudante no ensino a distncia

    A educao a distncia (EaD) tem sido vista como uma grande promessa por seu potencial para democratizar o acesso educao. Trata-se de uma modalidade em expanso em todo o mundo, cada vez mais integrada s novas tecnologias de comunicao, e estendendo-se alm do tradicional pblico adulto para alcanar jovens e mesmo crianas (SHERRY, 1995). A principal caracterstica da educao a distncia voc j conhece at pela sua denominao: a separao fsica e temporal entre professores e aprendizes. Embora seja alvo de muitas crticas, diversos trabalhos apontam que seus resultados so pelo menos equivalentes aos alcanados pelo ensino tradicional. Uma outra marca inconfundvel da EaD a centralizao da aprendizagem em torno do estudante.

    Isso significa que o processo de ensino-aprendizagem , na maioria das vezes, dirigido e controlado pelo estudante, e que os professores assumem de fato seu papel como facilitadores. No ensino tradicional, centrado em aulas expositivas, normalmente o professor quem assume o papel central pois ele quem detm o contedo e suas formas de transmisso, restando ao estudante o papel de receptor passivo das informaes veiculadas. As crticas da Pedagogia a

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    esse modelo classificam-no como verbalista, autoritrio e inibidor da participao do aluno (LOPES, 1991, p. 36-37).

    Na EaD, por outro lado, a distncia entre alunos e professores ressalta ainda mais o fato de que a aula no suficiente para que o estudante saia do curso com o domnio da matria. Isto ocorre tambm no ensino tradicional, mas nos acomodamos com a convenincia de ter outra pessoa responsvel pelo andamento do processo de ensino-aprendizagem e pela transmisso dos contedos: tudo o que temos a fazer ouvir. Desse modo, na EaD opera-se uma mudana no papel de estudantes e professores, que pode ser de difcil assimilao no primeiro momento. No entanto, segundo Briggs (2005), o esclarecimento dos papis de estudantes e professores fundamental para o desenvolvimento das competncias necessrias ao desempenho de cada um destes papis.

    Para isso, podemos refletir um pouco acerca do que significa ser um estudante do ensino a distncia. O perfil geral desse estudante o de um adulto, que necessita de flexibilidade para superar dificuldades relativas a horrios, distncia de centros de ensino, e financiamento dos cursos (SHERRY, 2005). Desse pblico normalmente heterogneo, no entanto, espera-se o mesmo comportamento (RAILTON; WATSON, 2005): a atuao como aprendizes autnomos desde o ingresso no curso superior.

    De acordo com Railton e Watson (2005), ser um estudante autnomo exige que voc domine as habilidades necessrias para gerir, com eficincia, uma grande poro de tempo de estudo independente, com pouca ou nenhuma orientao expressa. Tais habilidades incluem, principalmente (KERR; RYNEARSON; KERR, 2006):

    1. Habilidades de leitura e escrita: a comunicao escrita a forma preponderante de troca de idias e experincias entre professores e alunos e tambm entre alunos e alunos. Alm disso, a mais importante do contedo trabalhada com a linguagem escrita. Portanto, na EaD como em qualquer outra parte da vida acadmica e profissional, o domnio da leitura e escrita essencial. 2. Tcnicas de aprendizado independente: Lembra-se das habilidades metacognitivas? Utilize-as!

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    3. Motivao: Estudantes motivados guiam-se pelos objetivos que impem a si mesmos, assumindo maior responsabilidade pelo processo de aprendizagem. 4. Familiaridade com a tecnologia: A facilidade com que os estudantes utilizam os recursos tecnolgicos disponveis traduz-se tambm em maior facilidade no processo de aprendizagem. Afinal, a tecnologia o meio atravs do qual os contedos so trabalhados.

    As informaes acima so fruto de alguns estudos acadmicos acerca da situao do estudante na EaD. De posse desses dados, avalie sua prpria situao. Como estamos no incio do curso, esta a hora de estabelecer um programa de aes para melhorar seu desempenho acadmico. O primeiro passo a reflexo sobre as prprias caractersticas, e a avaliao de pontos fortes e fracos. A seguir, estabelea prioridades: que aspectos necessitam ser trabalhados primeiro? Alguns deles provavelmente j sero abordados aqui na disciplina. Ento, aproveite o mximo e mos a obra!

    ATIVIDADE PROPOSTA

    Complete o quadro abaixo com as atividades em que voc tem mais facilidade e mais dificuldade durante o estudo, realizadas habitualmente. A seguir, liste os aspectos que voc supe que exigiro mais trabalho no estudo distncia. Essa parte do quadro ser o DIAGNSTICO dos seus hbitos de estudo. Agora, apresente propostas de aes que voc poderia utilizar para avaliar seu prprio desempenho; essa ser a parte de AVALIAO. Por fim, na parte de SUGESTES, imagine que atividades voc pode praticar, ou que contedos ter de aprender para se tornar um estudante bem-sucedido e... feliz!

    DIAGNSTICO AVALIAO SUGESTES FCIL: DIFCIL: E na EaD,

    como ser? Como saber se

    aprendi? O que fazer para aprender

    melhor?

    Agora, pergunte aos seus colegas como ficou o quadro deles!

    Mtodo e Estratgia de Estudo e Aprendizagem Estudar exige empenho responsvel e dedicao generosa. Conseqentemente, pressupe sacrifcios e escolhas conscientes. Quem de fato quer estudar deve estabelecer uma hierarquia de valores em sua vida. Agir metodologicamente condio bsica de qualquer pesquisa cientfica, por mais elementar que seja.

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    Trata-se efetivamente de um conjunto de processos que o esprito humano deve empregar na investigao e demonstrao da verdade. No devemos considerar o mtodo como o essencial, mas lembrar que ele um instrumento intelectual, um meio de acesso, enquanto a inteligncia, junto com a reflexo, descobre o que os fatos realmente so.

    Um estudo eficaz quando se torna significativo, isto , quando os novos conhecimentos e informaes so assimilados pessoalmente e confrontados e integrados no complexo de conhecimentos j existentes, podendo ser reutilizados em outras situaes. Assim, o estudo contribui para a formao integral da pessoa e de sua maturao.

    Fundamentos do Mtodo do Estudo

    Entre duas pessoas que tenham o mesmo grau de escolaridade, processos cognitivos semelhantes e graus de motivao semelhantes, certamente aquele que fizer uso de um mtodo de estudar compatvel ter melhor rendimento. A eficincia do estudo depende de mtodo, mas o mtodo depende de quem o aplica, da maneira como o faz, adequando-o as suas necessidades e convices. Podemos citar como pontos essenciais para eficincia nos estudos o que se segue: a) finalidade: desenvolver hbitos de estudo eficientes que no se restrinjam apenas a determinado setor de atividade ou matria especfica; b) abrangncia: servir de instrumento a todos os que tenham as mesmas necessidades e interesses, em qualquer fase de desenvolvimento e escolaridade, podendo aperfeioar-se medida que o indivduo progride, atravs de seus prprios recursos.

    Fatores Condicionantes do Estudo

    O ofcio de estudar requer algumas qualidades especficas que podemos sintetizar na seguinte trilogia: constncia, pacincia e perseverana. A constncia vence as impresses de falso cansao que freqentemente se apoderam do esprito e do corpo. A persistncia, no entanto, faz as articulaes se desenferrujarem, os msculos se revigorarem, a respirao se dilatar, de repente, um novo nimo empurra para frente, coisa semelhante pode acontecer com os estudos, em vez de ceder diante dos primeiros sintomas de fadiga, o estudante deve romper para frente, forar a sada da energia interior. E a pacincia para aguardar com amor o natural resultado dos esforos desenvolvidos.

    regra de ouro no empreender nada alm da capacidade pessoal. Cada um tem seu ritmo prprio e suas limitaes. O presunoso aquele que se julga superior ao que realmente e pode ser, contenta-se com aparncias e facilmente vtima de auto-iluso. Conhecer os reais limites pessoais fator de honestidade para consigo mesmo e para com os outros. Quando o trabalho fruto do prprio esforo, ento que tem valor, mesmo no atingindo inteiramente a qualidade acadmica exigida. Deve-se desistir da tentao de sempre querer comparar-se com os outros. O que eu mesmo sou capaz de produzir, dentro das minhas condies pessoais, o que contribui efetivamente para minha realizao humana.

    Portanto, as condies fsicas e as do seu ambiente de estudo devem ser favorveis, possibilitando o trabalho atento e tranqilo.

    Ambiente: Procura-se, se possvel, um lugar sossegado. O quarto de estudo deve ser bem arejado e iluminado. Na escrivaninha do estudante devem ser afastados todos os objetos que

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    podem distrair. O que no pode faltar um bom dicionrio, papel ou fichas, lpis, borracha e caneta.

    Sade: s vezes tratam-se de casos relativamente simples de serem resolvidos. Assim, por exemplo, sonolncia constante em perodos de estudos pode ter como motivao a inadequao do horrio de estudo ou tipo de alimentao efetuada antes do estudo.

    Intercmbio: de grande utilidade reunir-se de tempos em tempos com colegas estudantes para trocar experincias de estudo, confrontar resultados, preparar um exame ou um debate em aula. Esse tipo de intercmbio abre novos horizontes, estimula o esforo e esclarece dvidas.

    Motivao: Um fator absolutamente central no estudo a motivao, ou seja, uma disposio interior que nos impulsiona a adotar e manter um estilo de vida e um comportamento que expressam e concretizam valores tidos como importantes. Sem objetivos concretos, que devem ser constantemente lembrados, corremos o risco de desanimar diante das primeiras dificuldades que se apresentam, enquanto a experincia de fracasso provoca uma profunda frustrao psicolgica. Ao contrrio, uma forte motivao garante um estudo perseverante e bem-sucedido.

    Autodisciplina: No campo da formao intelectual nada se faz sem autodisciplina. A concentrao elemento primordial nos estudos depende em boa parte dela, pelo fato de exigir fora de vontade e tenacidade na ao. Sem esta disposio firme e empenho decidido no adianta absolutamente nada oferecer subsdios metodolgicos, acompanhamento pessoal nos estudos ou tcnicas sofisticadas de aprendizagem.

    A aprendizagem

    Toda aprendizagem uma estrutura que deve ser assimilada globalmente, portanto deve-se pensar sempre em termos de totalidade e relao das partes entre si. Um estudo eficiente passa necessariamente por trs etapas que, articuladas, levaro o educando a atingir com mais eficincia a aprendizagem desejada, denominada aqui de sncrese, a primeira etapa, anlise, a etapa intermediria, e sntese, a etapa final. Vejamos o quadro abaixo:

    SINCRESE ANLISE SNTESE Procurar o sentido

    estrutural do todo

    Procurar ver e compreender

    todos os detalhes Eliminar da investigao tudo que no for fundamental

    Viso difusa do contedo Ordenar o contedo Concluses, definies, princpios, esquemas, diagramas

    Planejamento e Organizao

    No se pode esperar ter xito nos estudos sem planejamento e organizao. O planejamento diz respeito ao tempo disponvel, enquanto a organizao se refere utilizao eficiente deste tempo em termos de estudo. Estudo exige, por sua prpria natureza, autodisciplina e disponibilidade. Elaborar um Quadro de Horrio prevendo a distribuio do tempo dedicado ao estudo um excelente recurso para otimizao do tempo, possibilitando o acompanhamento das tarefas a mdio e longo prazo. Tambm no sentido de contribuir na organizao das atividades seria bom elaborar um Quadro de Tarefas, possibilitando o acompanhar das atividades.

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    Regras Gerais de Estudo

    Se voc adotar as tcnicas aqui expostas, em pouco tempo ter aprendido a aprender. Seu estudo render mais, ter maior eficcia. Mas as regras apresentadas no devem escraviz-lo. Voc dever domin-las e aplic-las como um senhor, usando-as em seu proveito.

    MTODO DE ESTUDO

    Fases Atitude e Comportamento Tcnicas Bsicas do Estudo

    G L O B A L

    Curiosidade Interesse Propsito definido

    Olho clnico Ateno No-passividade

    1. Perguntar-se antes do estudo: - Qual o assunto? - O que sei sobre isso? - Que acho que vai tratar-se aqui? 2. Pausa para responder-se mentalmente a essas perguntas. 3. Leitura rpida sobre todo o livro (quando o primeiro contato com ele): - Tentar obter o plano da obra - Informaes sobre o autor e seu trabalho - Tentar descobrir seu mtodo expositivo4. Leitura rpida sobre o captulo, a lio: - Tentar apenas se informar do que se trata - Tentar esboar o plano do captulo ou do texto - Estabelecer rapidamente relaes com temas anteriores - Sem anotaes veloz - Esta primeira leitura sem anlise

    P A R C I A L

    Concentrao Anlise Crtica

    Sntese

    Sistematizao

    Ordenao lgica

    5. Nova leitura: demorada, refletida - Assinalar as partes importantes - Obteno da idia principal - Obteno dos detalhes importantes - Assinalar a lpis no livro - Relacionar as partes - Criticar (se for o caso) pontos de vista do autor - Confront-los com os prprios - Levantar dvidas - Procurar respostas 6. Anotaes (de preferncia em fichas) - Breves transcries - Esquemas - Resumos prprios - Concluses tiradas - Anlises e crticas pessoais (se for o caso) - Documentar-se no apenas para o presente, o imediato. A anotao deve servir para o futuro. Da ser concisa, sem ser obscura 7. Relacionar o assunto com o anterior e o seguinte - Consultar outras fontes. No se escravizar ao livro de textos

    G L O B A L

    Concentrao Persistncia

    Adaptao s situaes reais, fora do contexto lido

    8. Reviso e assimilao - Rever toda a anotao feita - Confrontar com o texto - Repetir para si o aprendido, imaginando que o est comunicando a algum- Treinar-se para que tal comunicao tenha clareza e seqncia lgica - Testar a memria para assegurar-se de que no esqueceu algo importante. No decorar, mas assimilar.

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    ATIVIDADE PROPOSTA

    Exercite agora com o prprio contedo de MTC. Na etapa de Sncrese, descubra qual o sentido da estrutura de nosso material: como a organizao das partes se relaciona com o contedo apresentado no material inteiro? Na etapa de Anlise, faa um resumo de tudo o que voc aprendeu at aqui. Na etapa de Sntese, aponte suas principais concluses em forma de tpicos. Leitura e Anlise de Textos preciso ler, e principalmente, ler bem. Quem no sabe ler no saber resumir, no saber tomar apontamentos e, finalmente, no saber estudar. Ler bem o ponto fundamental para os que quiserem ampliar e desenvolver as orientaes e aberturas das aulas.

    O processo de aprendizagem, no que tange as atividades estudantis, depende, dentre outros elementos, da capacidade de leitura e assimilao reflexiva dos contedos trabalhados. As leituras necessrias e justificveis podem ser realizadas de modo proveitoso e com menor grau de esforo quando efetuadas com base em algumas tcnicas. O que uma leitura proveitosa, que tcnicas podemos fazer uso, que cuidados devemos ter para maior proveito ser agora objeto do nosso estudo. Vamos a ele!

    Elementos da Leitura

    A leitura amplia e integra os conhecimentos, desonerando a memria, abrindo cada vez mais os horizontes do saber, enriquecendo o vocabulrio e a facilidade de comunicao, disciplinando a mente e alargando a conscincia pelo contato com formas e ngulos diferentes sob os quais o mesmo problema pode ser considerado. Quem l constri sua prpria cincia; quem no l memoriza elementos de um todo que no se atingiu.

    Apesar de todo o avano tecnolgico observado na rea de comunicaes, principalmente audiovisuais, nos ltimos tempos, ainda , fundamentalmente, atravs da leitura que se realiza o processo de transmisso/aquisio do conhecimento. Da a importncia capital que se atribui ao ato de ler, enquanto habilidade indispensvel. Aprender a ler no uma tarefa to simples, pois exige uma postura crtica, sistemtica, uma disciplina intelectual por parte do leitor, e esses requisitos bsicos s podem ser adquiridos atravs da prtica, da experincia. Os livros, de modo geral, expressam a forma pela qual seus autores vem o mundo. Para entend-los indispensvel no s penetrar em seu contedo bsico, mas tambm ter sensibilidade e esprito de busca, para identificar, em cada texto lido, os vrios nveis de significao e as vrias interpretaes das idias expostas por seus autores.

    Os livros ou textos selecionados servem para leituras ou consultas: podem ajudar nos estudos em face dos conhecimentos tcnicos e atualizados que contm, ou oferecer subsdios para a elaborao de trabalhos cientficos, incluindo seminrios, trabalhos escolares, monografias etc.

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    Modalidades de Leitura

    A realidade da leitura extremamente complexa e variada, visto que o dilogo que se estabelece entre emissor e receptor no se d sempre da mesma forma. As nossas leituras tm origens e objetivos bastante diferenciados. Assim, h leituras de pura informao, como noticirios, jornais, revistas; leituras de passatempo, como revistas em quadrinhos, romances etc.; leituras literrias que so, antes de tudo, uma comunicao ntima entre o texto e o leitor.

    No caso especfico de leituras acadmicas, trata-se de uma linguagem cientfica que se caracteriza pela clareza, preciso e objetividade. Ela fundamentalmente informativa e tcnica, firma-se em dados concretos, a partir dos quais analisa e sintetiza, argumenta e conclui. A objetividade e racionalidade da linguagem cientfica a distingue de outras expresses, igualmente vlidas e necessrias.

    O que mais presente a leitura de estudo ou informativa, pois visa coleta de informaes para determinado propsito, destacando-se trs objetivos predominantes:

    - certificar-se do contedo do texto, constatando o que o autor afirma, os dados que apresenta e as informaes que oferece;

    - correlacionar os dados coletados a partir das informaes do autor com o problema em pauta;

    - verificar a validade dessas informaes.

    Etapas da Leitura

    - Decodificao: Traduo dos sinais grficos em palavras; - Inteleco: Percepo do assunto, emisso de significado ao que foi lido; - Interpretao: Apreenso das idias e estabelecimento de relaes entre o texto e o contexto; - Aplicao: Funo prtica da leitura, de acordo com os objetivos que se props.

    Motivao para Leitura

    A leitura pode ser feita com diferentes finalidades. Em outras palavras, voc est lendo para adquirir conhecimentos suficientes que o levar ao sucesso. A seleo dos seus textos de leitura deve ser feita a partir da. As tcnicas de leitura que voc dever usar sero escolhidas tambm a partir dessa finalidade principal. Portanto: - determine inicialmente a principal finalidade da leitura mantendo as unidades de pensamento, avaliando o que se l; - escolha os textos (livros, apostilhas, etc.) tendo em vista a finalidade principal da leitura; - use as tcnicas de leitura mais indicadas finalidade fixada e aos textos a ler; - leia com objetivo determinado, preocupe-se com o conhecimento de todas as palavras, utilizando para isso glossrios, dicionrios especializados da disciplina ou mesmo dicionrio geral; - interrompa a leitura, quer peridica quer definitivamente, se perceber que as informaes no so as que esperava ou no so mais importantes;

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    - discuta freqentemente o que foi lido com os colegas, professores e outras pessoas.

    Condies para uma Leitura Proveitosa

    Para um estudo proveitoso de um texto, de um artigo ou de um livro, com boa assimilao de seu contedo, alguns passos fazem-se necessrios:

    a) ateno - aplicao cuidadosa e profunda da mente, buscando o entendimento, a assimilao dos contedos bsicos do texto;

    b) inteno - interesse ou propsito de conseguir algum proveito por meio da leitura;

    c) reflexo - considerao e ponderao sobre o que se l, observando todos os ngulos, tentando descobrir novos pontos de vista, novas perspectivas e relaes;

    d) esprito crtico - ler com esprito crtico significa faz-lo com reflexo, no admitindo idias sem analisar ou ponderar, proposies sem discutir, nem raciocnio sem examinar;

    e) anlise - diviso do tema em partes, determinao das relaes existentes entre elas, seguidas do entendimento de toda sua organizao;

    f) sntese - reconstituio das partes decompostas pela anlise, procedendo-se ao resumo dos aspectos essenciais, deixando de lado tudo o que for secundrio e acessrio, sem perder a seqncia lgica do pensamento.

    Etapas da Anlise e Interpretao de Textos

    DECOMPOSIO GENERALIZAO ANLISE CRTICA

    Verificao dos componentes de um conjunto e suas possveis

    relaes.

    Permite a classificao, fundamentada em traos comuns, dos elementos

    constitutivos.

    Objetividade, explicao e a justificativa so trs elementos importantes para se chegar

    validade.

    O QUE DEVO IDENTIFICAR NUM TEXTO?

    TEMA: Idia central ou assunto tratado pelo autor, o fenmeno que se discute no decorrer do texto. Em primeiro lugar, busca-se saber do que fala o texto. A resposta a esta questo revela o tema ou assunto da unidade.

    PROBLEMA: A apreenso da problemtica, aquilo que provocou o autor, isto , pode ser visto como o questionamento de motivao do autor.

    TESE: A idia de afirmao do autor a respeito do assunto. Captada a problemtica, a terceira questo surge espontaneamente: o que o autor fala sobre o tema, ou seja, como responde dificuldade, ao problema levantado? Que posio assume, que idia defende, o que quer demonstrar? A resposta a esta questo revela tese, proposio fundamental: trata-se sempre da idia mestra, da idia principal defendida pelo autor naquela unidade.

    OBJETIVO: A finalidade que o autor busca atingir. Que mensagem ele espera transmitir com o texto. O objetivo pode estar explcito ou implcito no texto.

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    IDIAS CENTRAIS: Idias principais do texto. A cada pargrafo podemos selecionar idias centrais ou secundrias.

    ATIVIDADE PROPOSTA Nada como a prtica! Sugerimos que voc utilize as tcnicas que apresentamos na leitura de um texto que ser muito til na realizao da sua Atividade Orientada. O texto se chama O professor, seu saber e sua pesquisa, de autoria da Prof Menga Ldke. Para ler o artigo, acesse o endereo:

    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73302001000100006 &lng=en&nrm= iso

    Tcnicas para Sistematizao do Conhecimento I

    A necessidade de romper com a tendncia fragmentadora e desarticulada do processo do conhecimento, justifica-se pela compreenso da importncia da interao e transformao recprocas entre as diferentes reas do saber. Essa compreenso crtica colabora para a superao da diviso do pensamento e do conhecimento, que vem colocando a pesquisa e o ensino como processo reprodutor de um saber parcelado que conseqentemente muito tem refletido na profissionalizao, nas relaes de trabalho, no fortalecimento da predominncia reprodutivista e na desvinculao do conhecimento do projeto global de sociedade.

    Faz-se necessrio a produo e a sistematizao do conhecimento, no sentido de minimizar a complexidade do mundo em que vivemos. Neste sentido, a interdisciplinaridade aparece como entendimento de uma nova forma de institucionalizar a produo do conhecimento, possibilitando a articulao de novos paradigmas, as determinaes do domnio das investigaes, as pluralidades dos saberes e as possibilidades de trocas de experincias. Voc j aprendeu que o estudo envolve relaes com o tema estudado em dois nveis, o global e o parcial, aprendeu as condies para um estudo eficiente, e os princpios de uma leitura proveitosa. Isso no suficiente para ter um aprendizado timo do contedo?

    Em geral, um bom estudo envolve a consulta a diferentes fontes de informao e a integrao e reelaborao dos contedos aprendido. A sistematizao permite que os contedos aprendidos possam ser reelaborados: quando voc escreve o que entendeu, est trabalhando de forma criativa com o conhecimento. Esse trabalho criativo permite que voc integre o conhecimento de forma funcional a sua estrutura mental e alm disso, possa organizar todo o seu estudo. Enquanto organiza, voc estabelece relaes significativas entre cada momento de estudo, articulando-os e reduzindo a fragmentao do conhecimento. Vamos agora ver tcnicas para essa sistematizao. A seguir, verificaremos as diversas tcnicas de sistematizar o conhecimento e as suas devidas aplicaes prticas. Vamos a elas!

    Tcnica para Sublinhar

    Devemos compreender que cada texto tem uma idia principal, um conceito fundamental, que se apresenta como fio condutor do pensamento. Portanto, devemos captar o fato essencial do texto, destacando, com marcas e cores diferentes, cada parte importante do todo. A tcnica de sublinhar tem por objetivo destacar, no prprio texto, as idias principais e secundrias do argumento elaborado pelo(a) autor(a). Se no seguir essa tcnica, muitas vezes o estudante acaba sublinhando idias demais, o que prejudica a leitura do texto depois por deixar as pginas poludas, ou ento sublinha palavras ou idias que se mais aparecem, levando redundncia.

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    a) Leitura integral do texto;

    b) Esclarecimento de dvidas de vocabulrio, termos tcnicos e outras;

    c) Releitura do texto, para identificar as idias principais;

    d) No sublinhar aps a primeira leitura;

    e) Ler e sublinhar, em cada pargrafo, as palavras que contm a idia-ncleo e os detalhes mais importantes. No sublinha-se a mesma palavra novamente;

    f) Sublinhar apenas as idias principais e os detalhes importantes, usando dois traos para as palavras-chave e um para os pormenores mais significativos, assinalar com uma linha vertical, margem do texto, os tpicos mais importantes, com dois os tpicos muito importantssimos;

    g) Assinalar, margem do texto, com um ponto de interrogao, os casos de discordncia, as passagens obscuras, os argumentos discutveis;

    h) Reconstruir o pargrafo a partir das palavras sublinhadas;

    i) Ler o texto sublinhado com continuidade e plenitude de um telegrama.

    Tcnica para Esquematizar

    O esquema utilizado como trabalho preparatrio para o resumo, para memorizar mais facilmente o contedo integral de um texto. Utiliza-se de setas, linhas retas ou curvas, crculos, colchetes, chaves, smbolos diversos. Pode ser montado em linha vertical ou horizontal. importante que nele apaream as palavras que contm as idias principais, de forma clara, compreensvel.

    Um esquema uma representao diagramtica de um texto. Depois da leitura, voc j percebeu as idias principais discutidas pelo autor. Se voc tiver sublinhado o texto, ter uma viso ainda melhor de quais so as idias principais e secundrias do argumento. De posse dessas informaes, comece a ordenar graficamente as idias em uma hierarquia. Os esquemas tm formas variadas, conforme o objetivo de quem esquematiza; por isso, alm de refletir a ordenao de idias do texto, tambm refletem a compreenso de quem o leu. Assim, um bom esquema lhe dar uma viso global e rpida sobre como aquele texto est organizado, lembrando-lhe de como voc o entendeu no momento da leitura.

    Normas para Esquema

    a) seja fiel ao texto;

    b) aponte o tema do autor, destaque ttulos, subttulos;

    c) seja simples, claro, distribuindo organicamente o contedo;

    d) subordine idias e fatos, no os rena apenas;

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    e) faa uma distribuio grfica do assunto, mediante divises e subdivises que representem a sua subordinao hierrquica;

    f) construa o esquema atravs de chaves de separao ou por listagens itemizadas com diferenciao de espao e/ou classificao numrica para as divises e subdivises dos elementos;

    g) lembre-se que o esquema tem, tambm, um contedo pessoal.

    Tcnicas para Sistematizao do Conhecimento II

    Depois que voc verificou as principais tcnicas que facilitam a compreenso do texto, vamos examinar algumas tcnicas que permitem a organizao das diversas leituras. A partir dessa organizao voc poder construir um arquivo ou banco de dados a partir de suas leituras, armazenando sua interpretao, opinies, resumos, citaes, enfim: tudo o que voc julgar pertinente em relao ao texto lido.

    Aqui, importante adotar o esprito cientfico e perceber que, para a construo do conhecimento, preciso organizao e planejamento. Muito de nossas idias construdo a partir de nossos estudos; por isso, convm sistematiz-los para que possamos lanar mo deles quando for necessrio produzir qualquer trabalho intelectual.

    Tcnica para Fichar

    Fichar transcrever anotaes em fichas, para fins de estudo ou pesquisa. medida que o pesquisador tem em mos as fontes de referncia, deve transcrever os dados em fichas, com o mximo de exatido e cuidado. A ficha, sendo de fcil manipulao, permite a ordenao do assunto, ocupa pouco espao e pode ser transportada de um lugar para outro. At certo ponto, leva o indivduo a pr ordem no seu mater