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12 a 26 de Setembro de 2016 | Nº 117 | Ano V Director: José Luís Mendonça Kz 50,00 AGOSTINHO NETO MARIA BELMIRA TECE MEMÓRIAS PROJECTO OLONGOMBE EXPÕE EM LUANDA MOISÉS KAFALA REQUIEM PARA UM CANTADOR DE HISTÓRIA(S) A tua mão poeta sonorizando o batuque liberdade entre as cubatas escravas da vida Tenho-a na minha mão e através dela oferto-me à nossa África. ARTES Com recurso a materiais e técni- cas diversas, como aplicação em tecido, tecelagem, suporte em linho natural, bordados e cordas de sisal, MARIA BELMIRA reinven- ta de forma harmoniosa, criativa e original, o diálogo entre tradição e contemporaneidade. Pág. 13 IMPRENSA NACIONAL FAROL DA CULTURA ANGOLANA ECO DE ANGOLA Pág. 2 Pág. 11 ARTES Pág. 5 a 7 Angola perdeu uma das vozes cujo trabalho elevou a trova nacional. Um cantador de História(s) que traduziu na canção parte da História de Angola e muitas histórias que atravessaram a sua marcha neste mundo. Moisés Kafala. ECO DE ANGOLA ARTES 2 Pág. ECO DE ANGOLA Pág. MEMÓRIAS TECE BELMIRA MARIA MEMÓRIAS BELMIRA MARIA 5 a 7 Pág. aneidade empor t on adição e c tr tr , o diálogo en inal ig e or moniosa, cr ma har or ta de f A r ARIA BELMIR , M de sisal dados e c , bor al tur linho na elagem, supor ec , t ecido t omo aplicação em , c ersas cas div iais e t er t ecurso a ma om r C . EXPÕE EM LUANDA PROJECTO OLONGOMBE aneidade e tr a tiv ia moniosa, cr - en v ein A r das or dados e c e em t elagem, supor omo aplicação em - écni iais e t 13 Pág. ARTES EXPÕE EM LUANDA PROJECTO OLONGOMBE EXPÕE EM LUANDA MBE Págs. 4 e 5

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12 a 26 de Setembro de 2016 | Nº 117 | Ano V • Director: José Luís Mendonça • Kz 50,00

AGOSTINHO NETO

MARIABELMIRA

TECEMEMÓRIAS

PROJECTO OLONGOMBE EXPÕE EM LUANDA

MOISÉS KAFALAREQUIEM PARA UM CANTADOR DE HISTÓRIA(S)

A tua mão poetasonorizando o batuque liberdadeentre as cubatas escravas da vida

Tenho-a na minha mãoe através delaoferto-me à nossa África.

ARTES

Com recurso a materiais e técni-cas diversas, como aplicação em tecido, tecelagem, suporte em linho natural, bordados e cordas de sisal, MARIA BELMIRA reinven-ta de forma harmoniosa, criativa e original, o diálogo entre tradição e contemporaneidade.

Pág.13

IMPRENSA NACIONAL

FAROL DA CULTURA ANGOLANA

ECO DE ANGOLA

Pág.2

Pág.11

ARTES

Pág.5 a 7

Angola perdeu uma das vozes cujo trabalho elevou a trova nacional.

Um cantador de História(s) que traduziu na canção parte da História de Angola e muitas histórias que atravessaram a

sua marcha neste mundo. Moisés Kafala.

ECO DE ANGOLA

ARTES

2Pág. ECO DE ANGOLA

Pág.

MEMÓRIASTECE

BELMIRAMARIA

MEMÓRIAS

BELMIRAMARIA

5 a 7Pág.

aneidadeemportonadição e ctrtr, o diálogo eninalige or

moniosa, crma harorta de fA rARIA BELMIR, Mde sisal

dados e c, boralturlinho naelagem, suporec, tecidot

omo aplicação em , cersascas diviais e tertecurso a maom rC

.

EXPÕE EM LUANDAPROJECTO OLONGOMBE aneidade

e tra tiviamoniosa, cr

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13Pág.

ARTES

EXPÕE EM LUANDAPROJECTO OLONGOMBE

EXPÕE EM LUANDA MBE

Págs. 4 e 5

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2 | ARTE POÉTICA 12 a 25 de Setembro de 2016 | Cultura

Propriedade

Sede: Rua Rainha Ginga, 12-26 | Caixa Postal 1312 - Luanda Redacção 222 02 01 74 |Telefone geral (PBX): 222 333 344Fax: 222 336 073 | Telegramas: ProangolaE-mail: [email protected]

CulturaJornal Angolano de Artes e LetrasUm jornal comprometido com a dimensão cultural do desenvolvimento

Nº 117 /Ano V/ 12 a 25 de Setembro de 2016

E-mail: [email protected]: www.jornalcultura.sapo.aoTelefone e Fax: 222 01 82 84

CONSELHO EDITORIAL

Director e Editor-chefe:José Luís MendonçaSecretária:Ilda RosaAssistente Editorial:Coimbra Adolfo (Matadi Makola)Fotografia:Paulino Damião (Cinquenta)Arte e Paginação:Sandu CaleiaJorge de SousaAlberto Bumba Sócrates SimónsEdição online: Adão de Sousa

Colaboram neste número:

Angola: Adriano de Melo, Agostinho Neto, Caetano DeSousa João Cambambe, Eugénia Kossi, Gaspar Micolo,Januário Marimbala, João N’gola Trindade, Mário Pe-reira, Pedro Ângelo

Brasil: Jonathas Rafael, Tajana

Normas editoriais

O jornal Cultura aceita para publicação artigos literário-científicos e re-censões bibliográficas. Os manuscritos apresentados devem ser originais.Todos os autores que apresentarem os seus artigos para publicação aojornal Cultura assumem o compromisso de não apresentar esses mesmosartigos a outros órgãos. Após análise do Conselho Editorial, as contribui-ções serão avaliadas e, em caso de não publicação, os pareceres serãocomunicados aos autores.

Os conteúdos publicados, bem como a referência a figuras ou gráficos jápublicados, são da exclusiva responsabilidade dos seus autores.

Os textos devem ser formatados em fonte Times New Roman, corpo 12,e margens não inferiores a 3 cm. Os quadros, gráficos e figuras devem,ainda, ser enviados no formato em que foram elaborados e também numficheiro separado.

Conselho de Administração

António José Ribeiro

(presidente)

Administradores Executivos

Victor Manuel Branco Silva Carvalho

Eduardo João Francisco Minvu

Mateus Francisco João dos Santos Júnior

Catarina Vieira Dias da Cunha

António Ferreira Gonçalves

Carlos Alberto da Costa Faro Molares D’Abril

Administradores Não Executivos

Olímpio de Sousa e Silva

Engrácia Manuela Francisco Bernardo

A TUA MÃO POETAA tua mão poetaatravessou os oceanos até mimA tua mão poetaencontrou-me sentado na ilha-Áfricalevantada no coração de LisboaA tua mão poetapartiu de mim para mim pela tua vozpela tua voz ritmada das enxadasnos terrenos adubados pelo sangue da sujeiçãopela tua voz milhões de vozes fraternida de amorSituadas para lá das algemas para lá das gradesSempre livres sempre fortes sempre grito sempre risoA tua mão poetaum poeta de amorescrito com cinco dedos de Áfricasobre a ânsia humana de amizade e pazA tua mão poetasonorizando o batuque liberdadeentre as cubatas escravas da vidaTenho-a na minha mãoe através delaoferto-me à nossa África.

(in Renúncia Impossível)

POEMA DE AGOSTINHO NETO

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ECO DE ANGOLA | 3Cultura | 12 a 25 de Setembro de 2016

MOISÉS KAFALAREQUIEM PARA UM CANTADOR DE HISTÓRIA(S)

ADRIANO DE MELO e JOSÉ LUÍS MENDONÇA

Um cantador de História(s). As-sim se pode definir aquele a quemhoje rendemos homenagem. Moi-sés Kafala traduziu na canção parteda História de Angola e muitas his-tórias que atravessaram a sua mar-cha neste mundo. Se, como dissePessoa, “a trova é o vaso de floresque o povo põe à janela da sua al-ma”, então o músico conseguiu, aolongo da sua carreira, cantar o espí-rito dos angolanos, em temas cujasletras reflectem a identidade, a ri-queza das tradições e africanidade.

Escrever versos para a alma e ilu-miná-los com a guitarra é um desa-fio para qualquer criador. É um gé-nero que, como disse FernandoPessoa espelha o melhor da músi-ca. Este mês, o país perdeu uma dasvozes, cujo trabalho, em anos, ele-vou a trova nacional.Num dueto, os Irmãos Kafala (ou Ka-fala Brothers) levaram à World Music omelhor da trova nacional. Conquista-ram um espaço e conseguiram mantê-lo ao longo dos anos, com fãs de váriasgerações. Um feito que precisa ser re-cordado e lembrado com frequência,por representar o legado de um géneromusical muito próprio, exaltado du-rante anos por poetas como Jorge Ama-do. “É através da Trova que o povo tomacontacto com a poesia e sente a sua for-ça. Por isso mesmo, a Trova e o Trova-dor são imortais”. É certo que não vive-remos para sempre, mas o “peso” do le-gado deixado às gerações vindouras,através do trabalho, é uma forma deperpetuar quem fomos e buscar um lu-gar no “hall” da imortalidade. MoisésKafala merece um lugar no panteão doscriadores angolanos. Embora os Ir-mãos Kafala não tenham sido como os

trovadores ou os compositores itine-rantes do início do século XX, que per-corriam as cidades, cantando baladastradicionais, as suas músicas ficaramconhecidas a partir dos anos 80 e 90,em especial pela musicalização depoemas de autores consagrados, co-

mo “Renúncia Impossível”, de Agosti-nho Neto. Em músicas que evocamsensações, impressões e emoçõesemanadas de sons, harmonias e rit-mos, vocábulos metafóricos, em kim-bundo, umbundu e português, os “Ka-fala Brothers” conseguiram refazer a

beleza da poesia, por anos, e deixarum vasto trabalho, no campo da trova,a ser melhor inovado pelas próximasgerações de trovadores.A trova, enquanto poema autónomode quatro versos com rima e sentidocompleto, está intimamente ligado à

Moisés Kafala

A FundaçãoAntónio AgostinhoNeto atribuiu-lhe,a título póstumo, otítulo honorífico daOrdem SagradaEsperança, peloseu contributo àexaltação damúsica nacional

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poesia desde a Idade Média, onde erasinónimo de poema e letra de música.Hoje, a jovem geração de autores ango-lanos do género têm procurado se as-sociar aos declamadores e poetas paracriar uma nova simbiose e revolução. Éuma iniciativa louvável, mas que aindaprecisa de apoios e incentivos paravincar e ajudar a manter no activo a“harmonia da guitarra e da voz”.Para os Kafala Brothers’, esta har-monia esteve assente durante anos naliturgia religiosa, mas, com o tempo,muitos dos temas passaram a ter umcunho mais humanista e social. Comodestacou o governador do Bengo, JoãoMiranda, no elogio fúnebre de MoisésKafala, as suas músicas também fica-ram marcadas por evocar a dor, o sofri-mento, a conflitualidade étnica e amo-rosa, “a eterna esperança de um mun-do melhor, onde a harmonia social, po-lítica, tribal e regional era possível.”Moisés Kafala, que foi a enterrar dia5, no cemitério do Benfica, em Luanda,morreu, no dia 1, na Namíbia, vítimade doença, foi, para o Ministério daCultura, um “destacado homem decultura, que pautou a sua vida artísticaa defender e valorizar a identidadecultural angolana, com a criação decanções que marcaram o quotidiano.”Além de músico e também directorda Cultura no Bengo, Josué de Campos(de nome próprio) teve uma longapassagem pelo sector da Cultura ondefoi delegado da União Nacional dos

Artistas e Compositores em Benguelae membro da comissão de avaliaçãode projectos culturais e artísticos doMinistério da Cultura.Ao longo da sua carreira artística, osIrmãos Kafala criaram três obras dis-cográficas, que se tornaram referên-cias incontornáveis na evolução datrova angolana: “Ngola”, gravado eapresentado na Inglaterra, em 1988,“Salipo”, produzido nos EUA, em 1995,e “Bálsamo”, feito em França, em 2000. No passado dia 10, a Fundação Antó-nio Agostinho Neto atribuiu-lhe, a títu-lo póstumo, o título honorífico da Or-dem Sagrada Esperança, pelo seu con-tributo à exaltação da música nacional.“Poesia da alma”Dar vida à poesia, com uma guitarrae voz é um desafio para qualquer umque queira ser músico. Em Angola,mesmo entre os artistas de renome,são poucos os que conseguem realizareste desafio. Portanto, a trova repre-senta o primeiro passo na “constru-ção” de futuros bons músicos.Porém, apesar de existirem projec-tos como o Festival Nacional de Trovae outros que ajudem a promover estegénero, assim como a descobrir jo-vens talentos, é preciso ainda um tra-balho mais acentuado em torno destegénero, actualmente pouco referen-ciado na música angolana.Nomes sonantes da trova, como os

Kafala Brothers, Duo Canhoto, RuyMingas, Waldemar Bastos, GabrielTchiema, Totó, Ângela Ferrão e FilipeMukenga conseguiram, durante algunsanos, trazer nova vitalidade ao género.Porém, as inovações dos arranjostecnológicos ou a “ascensão” do mer-cado das bandas, têm retirado partedo prestígio destes criadores, que fize-ram/fazem da voz e da guitarra a ma-nifestação real da sua arte. Nesta era da supremacia tecnológi-ca, do comportamento globalizado e dovanguardismo a qualquer preço, comodefendeu o escritor brasileiro SérgioBernardo, a trova resiste, mas continuaa encontrar inúmeras dificuldades. Apesar de, como defende o próprioSérgio Bernardo, “os autores já não es-tarem presos a temas fixos como nascantigas de exaltação a campanhasmilitares, feitos reais ou mesmo umrelato da vida quotidiana”, a trova an-golana ainda continua com um núme-ro reduzido de praticantes.“Status” socialMelhorar a condição do artista an-golano, em particular no campo social,é uma luta que precisa ser travada portodos os integrantes da sociedade, emespecial aqueles que vêm o brilho dasartes como algo excepcional.A morte de Moisés Kafala, por doen-ça, é um problema que não aflige so-mente uma classe, mas sim todos, e ape-

sar dos esforços de diversas institui-ções ligadas ao sector e do próprio Mi-nistério da Cultura, o artista ainda con-tinua a ser visto como um pedinte, umaimagem deplorável a ser invertida.Embora as culpas possam ser atri-buídas aos próprios músicos, que ain-da têm muito para aprender sobre osseus direitos e como os fazer valer, aoutra parte da responsabilidade deveser incutida aos agentes e promotoresdestes que nada fazem em sua defesa.A questão da saúde, assim como ahabitação, devem constar entre asprioridades das instituições que ve-lam pelos artistas angolanos, porquesão fundamentais e têm sido as princi-pais dificuldades destes nas últimasdécadas, em especial agora com a cri-se económica mundial.

As suas músicastambém ficarammarcadas porevocarem a eternaesperança de ummundo melhor,onde a harmoniasocial, política,tribal e regionalera possível

4 | ECO DE ANGOLA 12 a 25 de Setembro de 2016 | Cultura

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O Jornalismo e a Literatura ganha-ram uma elevada expressão em Ango-la, no Século IX, graças à existência deuma indústria gráfica muito desenvol-vida, com experiência acumulada des-de que chegaram os primeiros prelosmecânicos a Luanda e São Salvador doCongo (Mbanza Congo), no início doSéculo XVI. Mestres tipógrafos germâ-nicos e portugueses criaram autênti-cas escolas da “arte de imprimissão”, oque justificou o lançamento do pri-meiro jornal, o Boletim do Governo-Geral da Província de Angola, que co-meçou a circular no dia 13 de Setem-bro de 1845, era governador PedroAlexandrino da Cunha, um oficial daMarinha de Guerra.O jornal era impresso em oficinaprópria, que demorou 20 anos a sermontada. O Governo de Lisboa orde-nou a criação do Boletim Oficial, masforças mais radicais da corte acha-vam que era perigoso avançar comesse projecto. E tinham razão. Duasdécadas depois da criação da Im-prensa do Governo de Angola, nasceua chamada Imprensa Livre, com umperiódico impresso em oficina pró-pria. Em breve, nas páginas dos jor-

nais privados era reivindicada a inde-pendência e começou a ser forjadoum profundo sentimento de angola-nidade, que ganhou a sua expressãomáxima no Movimento Vamos Des-cobrir Angola, um século depois. No dia 6 de Dezembro de 1866, co-meçou a circular em Luanda o pri-meiro jornal privado, com consistên-cia e continuidade, que teve comofundadores os advogados AntónioUrbano Monteiro de Castro e AlfredoJúlio Cortês Mântua. O título era A Ci-vilização da África Portuguesa e osubtítulo Semanário dedicado a tra-tar dos interesses administrativos,económicos, agrícolas e industriaisde Angola e S. Tomé. Além dos dois advogados, o jornal te-ve ainda como fundadores João Felicia-no Pederneira, comerciante de Pun-goAndongo, Feliciano da Silva Oliveira,comerciante de Cambambe e FranciscoAntónio Pinheiro Bayão, funcionário pú-blico, de Luanda. Foi o princípio de umjornalismo de combate, servido por jor-nalistas angolanos, que na época esta-vam ao nível do melhor que existia naImprensa de língua portuguesa, entreeles, Arantes Braga,José de Fontes Perei-ra, Sant’Anna Palma, Augusto Bastos e opríncipe do jornalismo de língua portu-guesa,Pedro da Paixão Franco. Os docu-

mentos que atestam a origem da Im-prensa do Governo de Angola foram coli-gidos e publicados por uma comissão doMuseu de Angola, em 1950,presidida porMascarenhas Gaivão e da qual faziamparte, entre outros, o notável historiadorAlberto de Lemos e o padre Manuel daNeves, um dos mentores da revoluçãodo 4 de Fevereiro, nessa altura cónego daSé de Luanda. Quase toda a documenta-ção oficial tinha sido coligida por Augus-to Bastos, o angolano prodigioso quemarcou de uma forma indelével, o jorna-lismo, a literatura, a música, as artesplásticas, a ciência e a política.DECRETO DA FUNDAÇÃOO secretário de Estado dos Negóciosda Marinha e Ultramar, Vieira de Cas-tro, preparou o Decretoque a rainha as-sinou. Manda criar “debaixo da Inspec-ção de cada Governo-Geral, um Bole-tim no qual se publiquem as Ordens,Peças Oficiais, Extractos dos DecretosRegulamentares enviados pelo respec-tivo Ministério aos Governos do Ultra-mar, bem como notícias marítimas,preços correntes, Informações Estatís-ticas e tudo o que for interessante paraconhecimento Público”.O diploma legal foi assinado no Pa-ço das Necessidades, em Lisboa, em 7

de Dezembro de 1836. Este docu-mento lançou a Imprensa em Angola,mas o primeiro boletim só foi impres-so em 13 de Setembro de 1845, noveanos mais tarde, depois de muita in-sistência do governador Pedro Ale-xandrino da Cunha.No dia em que saiu a público o pri-meiro número do Boletim do Governo-Geral da Província de Angola (BoletimOficial), o governador enviou um ofíciopara Lisboa reclamando o envio “deuma imprensa completa” e mestres ti-pógrafos. O equipamento que estavaem Luanda,permaneceu demasiadosanos encaixotado e foi atacado pela fer-rugem e o salalé. O governador não dava descansoao Governo de Lisboa e em 22 de Se-tembro de 1845, enviou novo ofícioao Ministério da Marinha e do Ultra-mar pedindo “caixas de composiçãoem jogo completo de altas e baixas”.As “altas” são maiúsculas e as “bai-xas” as minúsculas.Pedro Alexandrino da Cunha, cansa-do de esperar a chegada dos tipógrafos,em 11 de Abril de 1846 enviou um ofí-cio onde reclamava apenas um compo-sitor porque encontrou em Luanda al-guns mestres tipógrafos que contratoudirectamente. Em 15 de Maio, a Im-prensa Nacional de Lisboa informou o

UM MARCO DA ANGOLANIDADEIMPRENSA NACIONAL FONTE

E FAROL DA CULTURA ANGOLANA

ECO DE ANGOLA | 5 Cultura |12 a 25 de Setembro de 2016

JANUÁRIO MARIMBALA

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governador que ia enviar para Luandaos compositores João da Silva Tojeiro eJosé da Costa. ESCOLA DE TIPÓGRAFOSNesta época, a Imprensa Nacional deLisboa era uma escola de tipógrafos eas suas modernas instalações tinhamiluminação a gás. Este modelo foi re-produzido, três décadas mais tarde, emLuanda, na Imprensa do Governo deAngola, hoje Imprensa Nacional. Em ofício de 3 de Junho de 1846, odirector da Imprensa Nacional de Lis-boa informa o governador Pedro Ale-xandrino da Cunha que “estão prontosos utensílios necessários para compore imprimir o Boletim Oficiale os mes-tres tipógrafos podem embarcar paraLuanda no primeiro vapor”. Angola te-ve de pagar o equipamento em quatroprestações mensais. Diz o documento:“Acha-se pronto e encaixotado umprelo de ferro, rolos e demais utensí-lios, tipos e outros objectos tipográfi-cos indispensáveis para fazer a com-posição e impressão do Boletim Ofi-cial de Angola. O preço total é de600$000 reis a pagar em quatro pres-tações mensais”.O Boletim do Governo-Geral da Pro-víncia de Angola saía a público, todosos sábados, há mais de um ano. O go-vernador arranjou equipamentos e

mestres tipógrafos em Luanda. Final-mente, em 13 de Abril de 1847, o se-cretário-geral de Pedro Alexandrinoda Cunha, João de Reboredo, informoua Fazenda que foi recebido o prelo emferro, tipos e demais objectos para aImprensa do Governo de Angola.Em 1849, o novo governador, Acá-cio da Silveira, enviou ao Ministério daMarinha e Ultramar uma lista de ma-teriais que estavam a fazer falta: “Uminterduo moderno, mais as linhas e

chamadinhas. Uma pandecta moder-na, linhas e chamadinhas. Texto, cha-madinhas, breviário miúdo, linhas echamadinhas. Dois pontos de texto.Letra corpo 18 número dois. Zinco pa-ra as gravuras. Letra de corpo 22 nú-mero um. Cursivo de Parangona. Qua-drados de texto (ocos). Um prelo me-cânico em ferro, mesa e os rolos. Umaforma para fazer os rolos. Mais seis ar-reteis de tinta de imprimir e caixotes”.A fábrica de impressão e composi-ção crescia à medida do sucesso do bo-letim, queainda em 1845, dava umanotícia social: A Assembleia de Luan-da, onde se juntava a alta burguesiaeuropeia e africana, ia dar um baile emhomenagem ao governador PedroAlexandrino da Cunha. Mais tarde, publicava um anúnciocomercial. O comerciante Valentim Jo-sé Pereira dava nota pública de queera comprador de folhas de tabaco.Em 1846, o Boletim Oficial dava a suaprimeira notícia cultural. O TeatroProvidência, ali na Rua dos Mercado-res, levava à cena a peça “O Fugitivo daBastilha”. Desde então, passou a serum verdadeiro jornal, mas controladopelo Governo-Geral. Por isso, os inte-lectuais africanos e europeus da épocadecidiram criar a Imprensa Livre, emoposição à Imprensa Oficial. OFERTA DE UMA TIPOGRAFIAEm 9 de Maio de 1849, menos dequatro anos depois de ser editado o pri-meiro número do Boletim Oficial,ogo-vernador agradeceu a Arsénio Pompí-lio Pompeu do Carpo, a “oferta de umatipografia completa, papel e tintas” pa-ra a Imprensa do Governo de Angola”. Odoador era um madeirense que foi de-portado para Angola por ter participa-do numa revolta dos liberais, no Fun-chal. Com a doação ganhou a liberdadeplena e tornou-se um dos mais ricoscomerciantes de Angola, além de jor-nalista, dramaturgo e actor. A Imprensa do Governo de Angolatinha ao seu serviço equipamento, pa-pel e tinta, do melhor que existia nomundo, tudo importado de Londrespor Pompeu do Carpo, que como “cor-

respondente comercial”, tinha gran-des negócios na capital britânica.A alta qualidade da tipografia levoua que proprietários de jornais priva-dos recorressem aos seus serviços.Mas para isso, tinham de pedir autori-zação ao Ministério da Marinha e doUltramar. O Governo de Lisboa, pordecreto de 8 de Setembro de 1855, dezanos depois do início da actividade daoficina gráfica, nomeou o primeiro di-rector da Imprensa do Governo de An-gola: António José da Silva Ferreira.UM JORNAL ESTRANGULADOErnesto Marecos, Alfredo de Sar-mento e Francisco Teixeira da Silva,fundadores do jornal luandense “A Au-rora”, enviaram um requerimento aoGoverno, solicitando que o periódicofosse produzido na oficina onde eracomposto e impresso o Boletim Ofi-cial. A pretensão foi deferida em 2 deMaio de 1856, mas com uma condição:todos os textos tinham de ser envia-dos previamente ao secretário-geral,Manuel Alves de Castro Francina.“Não há nisto ideia de uma censuraliterária – Vossas Senhorias o pensa-rão assim, bem certamente: há só ajusta e legítima intenção de prevenirque possa aparecer no periódico ma-téria estranha ao seu projecto (…) oque deveria produzir a imediata sus-pensão do mesmo, na conformidadeda Lei Reguladora da Imprensa”, es-creve Francina no seu despacho. Maso estrangulamento foi ainda maisapertado. O secretário-geral do Go-verno de Angola exigiu também “a ex-pressa declaração de que o periódiconão tratará de questões políticas”. Ojornal começou a circular apenas comnoticiário literário e textos de entre-tenimento. Pouco tempo depois en-cerrou. Como nasceu estrangulado,teve uma vida efémera.Esta posição oficial justifica um fac-to: os grandes jornais da Imprensa Li-vre tinham tipografia própria e exce-lentes mestres tipógrafos. O Mercan-til, era um jornal com grande qualida-de gráfica e com seis páginas! Possuíaprelo próprio, nas suas oficinas da RuaDireita, ao Bungo.

6 | ECO DE ANGOLA 12 a 25 de Setembro de 2016 | Cultura

Máquina tipográfica de 1949

Julião Félix Machado

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Em 18 de Setembro de 1867 nasceuo jornal semanário O Commercio deLoanda, também com tipografia pró-pria. Em 1873, é editado o semanárioCruzeiro do Sul. Este jornal, onde pon-tificava o padre Castanheira Neves eUrbano de Castro, já teve como funda-dores jornalistas africanos. Tinhaigualmente oficinas próprias. Alfredo Troni veio de Coimbra paraLuanda servir o Poder Judicial. Mas embreve se rebelou contra o governador esua corte. Troni, em 7 de Julho de 1878,fundou o Jornal de Loanda, com tipo-grafia própria e sede na Rua Diogo Cão.Quando os seus afazeres de advogado oobrigaram a abandonar a trincheira dojornal, contratou um jornalista de pri-meira água, Ladislau Batalha, na época,um dos mais brilhantes arautos do so-cialismo. Em 1888, da tipografia priva-da de Troni saía o celebérrimo jornalMukuarimi. As oficinas gráficas doBungo passaram a chamar-se Typo-graphia do Mukuarimi. No ano de 1872, a Maçonaria fundouA Defeza de Angola (1903), um bi-se-manário, servido por jornalistas profis-sionais. O jornal tinha tipografia pró-pria de grande qualidade, compradapor subscrição pública. A Imprensa do Governo de Angolapassou a “Nacional” e foi habitaruma nave industrial moderna, cons-truída em terrenos adjacentes aoPalácio Presidencial, onde funcio-nava um parque de diversões. Aindahoje habita o mesmo espaço. Em 4de Maio de 1875, foi aprovado o pri-meiro regulamento da empresa.Nesta fase, já tinha vários prelos,iluminação a gás e era uma excelen-te escola de tipógrafos. O governador José Baptista de Andra-de mandou organizar uma mostra dasactividades de Angola, para depois serlevada à grande Exposição Colonial emLisboa. O excelente catálogo foi produzi-

do na Imprensa Nacional e os seus ope-rários criaram vitrinas e expositores.O PRIMEIRO PINTORA Imprensa Nacional está na ori-gem da grande exposição sobre Ango-la, aberta ao público em Luanda, noedifício da Aula Profissional, CidadeAlta, que incluiu artes plásticas. Nassuas oficinas foi composto e impressoo catálogo. Mas os seus operários fo-ram os grandes obreiros da mostra.Na página 79 do catálogo foi repro-duzida uma tela do artista Julião FélixMachado, “um rapaz natural de Luan-da” que, segundo o governador da épo-ca, José Baptista de Andrade, “denota amais alta vocação”. Não se enganou.Mais tarde tornou-se um caricaturistanotável, que conquistou a imprensa in-ternacional e integrou as mais impor-tantes publicações humorísticas daépoca, em Lisboa, Paris e Rio de Janeiro.O dia 30 de Outubro de 1884 é his-tórico para as artes plásticas angola-nas. Pela primeira vez, um artista “in-dígena de Angola” mostrou publica-mente as suas obras. Na exposição, Ju-lião Félix Machado apresentou umapaisagem impressionista, “uma cenada vida no campo”, também impres-sionista, e uma aguarela, representa-do “As Armas da Cidade de Loanda”Dois anos antes, o seu irmão, PedroFélix Machado, poeta e romancista,publicou em Lisboa o livro de poemasSorrisos e Desalentos, onde se revelouum inspirado parnasiano. É tambémautor do romance Scenasd'Africa. Masvamos apresentar aquele que foi omaior artista plástico angolano, até1930, ano em que faleceu.Julião Félix Machado nasceu emLuanda a 19 de Junho de 1863. Quan-do concluiu os estudos secundários,partiu para a Universidade de Coim-bra e depois matriculou-se na Univer-

sidade de Lisboa. Não há notícia deque tenha concluído qualquer cursosuperior. Mas cedo mostrou excepcio-nais qualidades como pintor, dese-nhista e caricaturista. Foi aluno dopintor José Malhoa e colaborou comRafael Bordalo Pinheiro. Em 1988, seupai, Félix da Costa, um dos mais ricoscomerciantes de Angola, faleceu emLuanda. Julião herdou uma fortunaque dissipou na boémia lisboeta e a fi-nanciar jornais humorísticos. O seu excepcional talento levou-o aser aceite, de braços abertos, pelosmembros do Grupo do Leão d’Ouro, en-tre os quais se destacavam Fialho d' Al-meida, Rafael Bordalo Pinheiro ou Co-lumbano. Por esta via chegou à im-prensa liberal da época, como caricatu-rista. Colaborou nos jornais O DiaboCoxo, a Revista Ilustrada, Comédia Por-tuguesa, Diário Ilustrado e Pontos nosii, entre outros. Quando surgiu a céle-bre revista Ilustração Portuguesa, o no-me do artista angolano figurou entre oscolaboradores mais notáveis. No início do Século XX, Julião FélixMachado foi para Paris, onde traba-lhou como caricaturista na imprensa.Esta experiência foi mal sucedida e oartista angolano partiu para a Argen-tina, mas o navio fez escala no Rio deJaneiroe ali desembarcou. Em pouco

tempo,revolucionou a caricatura bra-sileira. Os seus trabalhos foram pu-blicados em periódicos importantescomo a Gazeta de Notícias, Jornal doBrasil ou O País.No Brasil era o “número um” e apartir do Rio de Janeiro publicou tra-balhos de elevada qualidade na im-prensa internacional, sobretudo emjornais alemães, franceses e italianos.Quando regressou a Portugal traba-lhou para os mais importantes órgãosda Imprensa Portuguesa, entre osquais o jornal O Século, ou o Comérciodo Porto Ilustrado. Julião Félix Machado, para além decaricaturista e ilustrador, foi igualmen-te cenógrafo, jornalista e dramaturgo.Faleceu a 1 de Setembro de 1930. O primeiro jornal angolano (Bole-tim Oficial) nasceu em Setembro de1845 e quatro anos depois, em 1849, opoeta benguelense José da Silva MaiaFerreira publicou o livro Espontanei-dades da Minha Almacom o sugestivosubtítulo Às Senhoras Africanas. Emrodapé a marca importante: LoandaImprensa do Governo 1949. A Im-prensa Nacional tem a sua marca in-delével no primeiro livro de poemaspublicada em África, escrito por umangolano. O seu contributo para a Cul-tura Angolana é inestimável.

ECO DE ANGOLA | 7Cultura | 12 a 25 de Setembro de 2016

MU ULUMBA WA MWENYU

MÁRIO PEREIRA Exi, ulumba wa mwenyu watuluNi mvula yoso iyi inoka inzenzesaJingonga, jindonga ja atu jimwesaKuma kihanji kya kyoso kyakuluUlumba wazenze ditoxi dyazuluDizula dilamba dyamwanganesaUndanda wami woso wa kusesaYoso yatowala, anga yoso yaluluUlumba ki wiza ni masa makuluMakula kamwanyu! MadimonekesaMu kambumbi ka we kadilebesaKyoso mesu ma mbutu amatuluUlumba wa kuzola weza, waluluUkambelu we wenyo ungibelesaMuxima wami woso walembwesaMuthu kuzola kituminu kya dyulu

NA PRIMAVERA DA VIDADisseram que a Primavera da vida chegou/ Com a chuva que faz ala-gar/ Os lagos, e as gentes que mostram/ Que a ansiedade cresceu/A Primavera escorreu uma lágrima molhada/ Que despe a desgraça qdestrói/ Toda a minha audácia em argumentar/ Tudo o que está doce,tudo o que está amargoA Primavera não vem com as espigas de milho já crescidas/ Elas cres-cem devagar! Fazem-se aparecer / Também na sua borbulhazinha quese ergue/ Quando os olhos da natureza nelas pousaramA Primavera do amor chegou, descalçou/ Essa ausência que definha/O meu sentimento q embargou/ Alguém amar por ordem divinaA Primavera enterra um ódio repentino/Que chega, olha e se encami-nha/ Onde se acha um coração que se revigora/ Sobre os escombros ur-didos ao meio-diaA Primavera vai chorando por sentir a sujeira/ Que enche a naturezacom a lixeira que coloca/ O mau odor que afugenta/ Multidões que fo-gem ao cheiro da morteO meu entusiasmo vem com o odor/ Da moça que realça o que flores-ce/ A Primavera de quem ainda não argumenta/ Quando a vislumbraem prantoA Primavera destaca os realces/ De uma alma cuja melancolia lambe/Tudo o que lhe tatua o corpo, que esquenta/ As entranhas que engolemtoda a antiga desgraçaA Primavera trás saúde em demasia/ Afirmou um feiticeiro destestempos que vai clarificando/ Como o negro suor se sublima/ Quandovem e me deixa em pleno êxtase

Ulumba ulamba uzembu wa mbuluKwila utula, utala anga udyendesaKwene kwala muxima udilendejesaKu tandu dya itetu yobange mu suluUlumba udidijila mukwivila uxidiluKuzalejesa mbutu ni maxita matesaDizumba dyabolo dikala kulengejesaJinzungule jilenga kunuha kwa ufwiluDizondela dyami diza ni kizumbidiluKya kilumba kilumbisa yoso izandesaUlumba wa muthu wala hanji kasesaMukumona monandumba mu udidiluOwulumba ulumbijisa mawulumbiluMa muxima wala ni mukondo ulesaYoso imumbumbisa mukutu, itemesaMidya iminya malamba moso ma ukuluOwulumba ubekesa kudisanza kwavuluWixi muloji wa kindala kwila uzelejesaKyebi suwalu ndondo ukala kudilebesaKyoso ki wiza kungixisa ni ukwambukilu

Caixa tipográfica com peças móveis

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Kossi.“Às muitas dúvidas hoje inculcadas”é assim que Filipe Zau situa a “necessi-dade de se resgatar a norma” no exer-cício por si assinado e que o Culturapublicou no número 112. Estamos afalar de novo e sempre dum capítulodo tema Línguas Nacionais na sequên-cia de muitos e interessantes artigossobre a Problemática da Linguística,em Angola é claro.Deixo para ti o falares sobre otermo “inculcar”. Mas repara que depois de Abril de2015, em cujo nº 79 o quinzenárioCultura publicou três textos sobre oassunto, apraz-me fazer notar que co-meçámos a participar no tema no nº109 com um texto e depois a sequên-cia de textos tem-se mantido comgrande regularidade. Assim, no nº 110sairam dois, no nº 111 saiu um, no nº112 sairam dois e finalmente no últi-mo nº, o 114, saiu mais um texto. Aotodo, só este ano o Cultura publicoudez (10) textos sobre o assunto em de-zanove (19) páginas. Apesar de estarmos perante textosque por um lado falam da LP, “a línguade aula” vrs “a língua do corredor”usando a feliz expressão de PaulinoSoma Adriano e por outro das línguasafricanas faladas em Angola o que écerto, parece que aqui estamos todosde acordo, estamos a falar, tanto numcaso como no outro, de Línguas Nacio-nais (vide a tabela do Censo de 2014que publicámos, com a devida vénia,no nº 109). Por isso, Kossi, mbora falarde Línguas Nacionais começando pelotexto de Filipe Zau pois os argumentosque utiliza autorizam-me a olhar derevés para a putativa LP padrão euro-peu cuja norma cria o desconforto en-tre aquilo que, inspiradamente, SomaAdriano refere como “Língua de Aula”,que ninguém fala, e “Língua de Corre-dor”, que todos falam incluindo o pro-fessor e as elites.Talvez seja oportuno lembrar que aVulgata, nome como é conhecida a Bí-blia escrita no século IV por S. Jerónimo(347-420), é assim conhecida por terusado o latim bárbaro. É dessa versão,em latim bárbaro, que, a partir do sécu-lo XVI, se passou a reeditar a Bíblia.Vem isto ao caso porque, ao ser critica-do pelos doutores da Igreja por usarum latim bárbaro tão distante da nor-ma do latim erudito de Cícero (develer-se [‘kikɛru]), S. Jerónimo respon-deu que o que lhe importava era quefosse entendido pelo povo e não pelospoucos cultores da norma erudita.Esta pequena estória, na sua sin-geleza, explica-nos que a língua variae, nas palavras de Benveniste, só setorna instrumento de construção dopensamento do falante se ele domi-nar o referente.

__________________Pedro, a preocupação de Filipe Zautalvez tenha sido uma exaltação legíti-ma de que há uma necessidade já determos nós também gramáticas publi-cadas. Porém, termos esta consciênciadeveria levar-nos a outra inquietação,a de termos equipas de investigaçãoespalhadas nos vários centros de Pes-quisa em Língua Portuguesa que de-veriam existir nas universidades. Entendo que uma “língua perfeita”(ou este desejo de recuperação da“língua perfeita”), discutida por Um-berto Eco, empreendida pela confusiolinguarum a que a humanidade supos-tamente fora submetida no início dostempos, seja ainda hoje o melhor mo-delo para o ensino da língua. Uma vezque para um professor, sobretudo nãolinguista seja mais cómodo e menosconfuso ilustrar as regras sem se darao trabalho de fazer uma descriçãominuciosa de cada fenómeno linguís-tico evidenciado nas variações. Diz-se que Angola é um país multi-cultural e com pluralidade linguística,meu caro Pedro, mas há ainda uma re-sistência em se assumir esta multicul-turalidade na Língua Portuguesa. Sequeremos realmente que a Língua Pa-drão seja ainda aquela da herança dacolonização – pois reclama-se para otempo colonial o melhor ensino doPortuguês –, então estaremos a acei-tar a imutabilidade cultural e a falta dedinamismo linguístico e da própria in-

teligência humana. Adérito Mirandaadverte, no seu trabalho “As Vogais nu-ma Língua Bantu” publicado no Cultu-ra nº 114, que estas são “[…] elemen-tos linguísticos, que ajudam a repre-sentar linguisticamente […] o mun-do, no aspecto de movimento e for-ças cósmicas e da vida”. Assim sendo,separar a vida cultural do indivíduoda sua vida linguística para adoptaruma língua padrão distante, leva-nosa crer que o ensino das línguas estejafadado ao fracasso. Marcos Bagno considera importanteque o professor de Língua tenha cons-ciência do processo de Letramento quedeve incluir a capacidade do ser huma-no de transmitir conhecimentos, pre-servar a memória do grupo e de estabe-lecer vínculos de coesão social dissocia-dos de qualquer cultura de escrita. En-tão, como pode o indivíduo aumentar oseu desempenho linguístico se é obri-gado a falar uma língua que limita a suacapacidade cognitiva?Reitero que a “língua do corredor”deve ser o ponto de partida para osnossos estudos para uma gramáticadescritiva do Português falado em An-gola que nos vai levar a um esquemapadronizado das nossas variantes deLP. Não que eu defenda a busca de umaNorma Padrão, mas deve haver umponto de partida para que nos situe-mos no tal cenário da Lusofonia. Nãosomos Portugueses, não somos Brasi-leiros, somos Angolanos, não em busca

de uma angolanidade, ela já habita em nós.Uma outra questão interessantetambém é acreditar-se que a línguadeve passar de uma geração para ou-tra sem variação, negando-se a criati-vidade humana que tanto se defende.Mas este não o cerne da questão. Aquestão é: que Português os nossosmais velhos falavam à saída do colo-nizador? Quantos falavam o tal puta-tivo Português Padrão? Não era talnorma portuguesa apenas utilizadapor um grupo selecto? Em todo o ca-so, mesmo que todos os nossos maisvelhos falassem Português usando aNorma Padrão, seríamos ainda hojeobrigados a falar como eles passadostantos anos, fugindo da identidadede toda uma geração?Pois bem, acho que Camões não sedeve importar com as variações queocorreram na LP depois de tantos sécu-los. Mas se assim o fizer, também já nãohá escapatória. A língua varia e as dúvi-das de uma geração não podem ser im-postas a outra geração, cada uma delastem competências para suprir as suaspróprias necessidades linguísticas. Percebo-te Kossi, é então essa “lín-gua do corredor” que deve dar origemà nossa Língua Padrão. É essa línguaque deve ser estudada pelos linguistasnos Centros de Investigação das Uni-versidades para que nos situemos nalusofonia e os pobres dos professoresde Português se possam identificarcom o que irão ensinar!

LÍNGUAS NACIONAIS (II)

Jacaré Bangão (Bengo)

8 | LETRAS 12 a 25 de Setembro de 2016 | Cultura

PEDRO ÂNGELOEUGÉNIA KOSSI

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LETRAS | 9Cultura | 12 a 25 de Setembro de 2016

CAETANO JOÃO CAMBAMBE Ao lermos Cunha & Cintra (1985:220),na tentativa de reflectir e analisar critica-mente muito daquilo que a tradição gra-matical considera como "bom portu-guês", discredibilizando e depreciandocertas realizações sintactica e pragmati-camente consagradas pelos falantestendo em conta a sua realidade linguís-tica, encontramos a seguinte — e assus-tadora — advertência: "No português contemporâneo só seusa a passiva pronominal quando nãovem expresso o agente, nomeadamenteem frases do tipo 'vendeM-SE casas' e'compraM-SE imóveis', considerandoCASAS e IMÓVEIS como os sujeitos dasformas verbais VENDEM e COMPRAM,razão por que na linguagem cuidada seevita deixar o verbo no singular". Foipossível, também, à semelhança do quevimos acima, encontrarmos tal chama-da de atenção em Evanildo Bechara, Mo-derna Gramática Portuguesa.À entrada da rua da UniversidadeJean Piaget, Luanda, Viana, Kapalan-ga, está estampado, aí mesmo no pré-dio do Banco BIC, o seguinte: 'Vende-se apartamentos'.Ora, já temos, de facto, duas frases to-talmente diferentes. A primeira, consagrada pela gramáti-ca; a segunda, efectivamente consagra-da pelo uso.VendeM-se casas?Quem vende o quê? Será que as pró-prias casas vendem-se a si mesma?! Énotório, caro leitor, o problema semânti-co, sintáctico e pragmático causado pelaprópria gramática?Contextualizando, apesar de a gra-mática tradicional recomendar o usodo verbo no plural, julgando e defen-dendo como a forma mais "correcta",sabe-se que, em Angola, tal regra é, de-veras, completamente desrespeitadae anulada, pois é, situacionalmente fa-lando, dificílimo encontrarmos aspec-tos do que se disse acima numa terratão bela chamada Angola. Por aqui,utiliza-se, desde longe, frases em queo verbo VENDER aparece, indubita-velmente, no singular, mas assumindouma nova ordem canónica. A títuloilustrativo, como exemplo, temos:Vende-se casas.Naquele exemplo, os falantes só têmdemonstrado que, em certos enuncia-dos semelhantes, estamos diante da or-dem 'verbo-objecto', contrariando o quea prescrição gramatical diz. A inversãosintáctica do sujeito, para Marcos Bagno(1997:156), confere à frase uma elegân-cia incrível, bem como um realce maiorao acto exercido.Enquanto a gramática analisa aquelafrase na ordem "verbo-sujeito", os falan-tes, por sua vez, por uma questão de in-tuito, analisam na ordem canónica "ver-

bo-objecto", fazendo com que haja doisolhares diferentes a um só enunciado.De um lado, está a idosa gramática comas suas roupas velhas à espera de umadoacção; por outro lado, estão os falan-tes, seres completamente competen-tes no que tange à realização pragmáti-ca, sintáctica e semântica da sua lín-gua. Invertendo, sintacticamente fa-lando, não há razão por que, embora agramática não aprove, empregar o ver-bo no plural. Com aquela inversão, o fa-lante faz com que problemas ao nívelsintáctico, semântico e pragmático se-jam inexistente, conferindo, de igualmodo, uma expressividade mais coe-rente, realçando, é claro, a ideia de quehá, por trás daquela frase, um ser sujei-tíssimo desconhecido.Em "vende-se casas", dá-se a ideia deque há alguém que esteja por trás dissoe que — na realidade — a sua cara é,com certeza, desconhecida.Assim, para a gramática, é um errocrasso — só para não dizer que é cri-me — escrever ou falar 'vende-se ca-sas', pois o sujeito do verbo VENDER,segundo ela, é 'casas' que, por sinal,encontra-se no plural. Logo, para queesteja correcta, deve-se, tradicional-mente, empregar, também, o verbo"vender" no plural. Tendo-se estabelecido o cenário aci-ma, apraz-nos dizer, na qualidade de es-tudante (s) e amante(s) de língua portu-guesa, mormente o português falado emAngola, que no nosso país — terra quetambém é/foi de Njinga Mbandi e NgolaKiluanji —, actualmente, tal aviso gra-maticista, ou seja, tal regra gramatical,para os falantes, é como se fosse Deuspara os ateus: sem importância e comuma inutilidade extrema.Na mesma linhagem, tomamos comoexemplo a seguinte sentença frásica:

'Fecharam-se as crianças'. Nesteexemplo, para a gramática, seguindo aordem 'verbo-sujeito', 'crianças' é o su-jeito do verbo 'fechar'. Afinal, foram elasque se fecharam?! Não há, por aí, umproblema semântico? Meu Deus! Emequivalência, teríamos: 'Crianças foramfechadas'. Não há, de facto, duas frasestotalmente diferentes?! Não seria, e me-lhor, dizer que "fechou-se as crianças",remetendo para ideia da ordem 'verbo-objecto', visto que aí "se" assume, e semsombras de dúvidas, o índice de sujeitoindeterminado, remetendo, uma vezmais, para ideia de que há alguém, em-bora se desconheça, que as tenha fecha-do? Pois... Mas não é assim que a 'mú-mia' gramatical pensa. Vamos analisar, por ora,estas duas frases:1a. Nesse 'Stand' se vende uns carrosbons;2a. Nesse 'Stand' se vendem unscarros bons.Verifica-se, na primeira frase, quantoà análise intuitiva que os falantes têmfeito, a ordem canónica 'sujeito-verbo'.Na segunda frase, nota-se, claramente,de acordo com a tradição gramatical, aordem 'verbo-sujeito'.Ora, segundo a gramática, a primeirafrase é, deveras, agramatical. A segunda,é claro, de acordo com ela, é a correctís-sima, visto que há concordância entre overbo e sujeito. A primeira frase, aquela que a idosa ecaduca tradição gramatical consideraerro tendo em conta aquela ordem,efectivamente traduz uma sonoridadeassaz natural em relação à frase doiscom o seu sujeito, segundo a gramática,invertido sintacticamente: Nesse 'Stand' se vendem (verbo)

uns carros bons(sujeito).Na primeira frase com a ordem 'ver-bo-objecto' analisada intuitivamentepelos falantes, no Brasil, de acordo como nosso Professor, Autor, Escritor e So-ciolinguista (obs.: grafou-se com inicialmaiúscula por uma questão de respeitoe consideração), Marcos Bagno, a partí-cula "se" assume, apesar do tradiciona-lismo não admitir e reconhecer, a funçãosintáctica de um 'pronome-sujeito'.Aquela frase número um, enunciadoque a gramática considera errado e de-saconselha o seu uso, apesar de os falan-tes e o pragmatismo linguístico consa-grarem-na, torna ou não a frase mais ex-pressiva e coerente em comparação àfrase secundária? Claro que sim.Para se comprovar isso, para MarcosBagno, já que na segunda frase verifica-se uma inversão sintáctica do sujeito,torna-se relevante colocar a frase doisna sua ordem canónica, a fim de se anali-sar, semanticamente, o resultado final:Frase 3: Nesse 'Stand' uns carrosbons se vendem.Repare, caro leitor, o problema se-mântico, embora sintacticamente afrase (3) esteja correcta, causado pe-la gramática. Afinal, 'uns carros sevendem'? Não é, veridicamente fa-lando, engraçado? Pode sorrir, caroleitor! Está à vontade! É possível um carro se vender (perce-ba a lógica da questão!), caro leitor?O carro por si só é capaz de se vender?A frase três (3), a velha gramáticatradicional considera de correcta masque, com o sujeito e verbo na posiçãocanónica, assume, para o nosso autor,semanticamente, um papel cómico —é claro que só será cómico para al-guém que conseguir analisar critica eprofundamente. (risos)Após a apresentação dos exemplosacima, Marcos Bagno, em A língua deEulália, Novela Sociolinguística, numolhar 'linguístico-gramatical', comfundamentações precisas e convin-centes, conclui:"Juntando nossas três explicações— a manutenção da “ordem canônica”SVO da língua, a ausência de sentidodas frases com verbo no plural e a in-tenção que governa as escolhas do fa-lante, podemos dizer que: 1.°) o pronome 'se' em frases destetipo não é uma “partícula apassivado-ra”, mas sim o sujeito da oração, e porestar no singular, o verbo também de-ve estar no singular; 2.°) consequentemente, o verbo noplural torna a frase incoerente, deixa-asem sentido, ilógica;"3.°) frases deste tipo não estão na“voz passiva”, mas sim na voz activaporque correspondem a uma clara in-tenção da parte do falante de enfatizara acção praticada. Mais detalhes em Alíngua de Eulália, novela sociolinguís-tica, de Marcos Bagno, 1997.

PRAGMATISMO LINGUÍSTICO E A VELHA TRADIÇÃO GRAMATICAL PORTUGUESA

UMA ILHA LINGUÍSTICA ENTRE DOIS SERES QUE HABITAM NA MESMA RESIDÊNCIA

Fotografia de Van

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Escrevo isto para mim. Quem o ler,fá-lo-á por acaso. E tal se justifica por-que, nesta dita sociedade da informa-ção em que vivemos, onde muitos cul-tivam conhecimentos, se torna muitasvezes importante condensar as infor-mações que vamos adquirindo. Nestequesito, e como acompanho muitos jo-vens escritores angolanos, a mimsempre interessou o atrevimento des-tes pelo romance, género literáriobastante consagrado.E, assim repito, escrevo isto paramim porque me apetece resumir oque tenho lido sobre este atrevimento.Tudo para que não me esqueça. Quemo ler, fá-lo-á por acaso.Género narrativo ficcional em pro-sa, o romance é mais longo que a nove-la e o conto, e esta dimensão obriga aque o tempo e o espaço sejam catego-rias mais elaboradas, em que as perso-nagens são apresentadas com maiordensidade psicológica. Com efeito, é tido assim como umdos géneros literários mais complexos,não admira que muitos jovens escrito-res, angolanos e não só, comecem pelapoesia ou pelo conto, uma narrativaprosaica mais curta e menos densa.Foi perguntado a José Saramagoque conselho daria a um aspirante aescritor. “E eu respondi como sempre:não ter pressa (como se eu não a tives-se tido nunca) e não perder tempo(como se eu não o tivesse perdido ja-mais). E ler, ler, ler, ler”, disse o escritor,que mais tarde viria partilhar esta ex-periência vivida a 9 de Julho de 1993num dos seus cinco diários que selêem agradavelmente.Ao referir-se à pressa em publicar, oconsagrado escritor português, quehonrou a nossa língua com o único No-bel, lembra-nos a necessidade de setrazer ao público obras com valor, quesó a maturidade assim o justificasse. Etal necessidade é ainda maior quandose trata do romance.Mas porquê não deve ter pressa?Numa recente entrevista publicada narevista portuguesa Visão, a jornalistae escritora Inês Pedrosa, lembrou, re-ferindo-se à Augustina Bessa-Luís,que “antes dos 50 ninguém tem histó-ria. Acho que não se encontram géniosna ficção antes dos 35 anos. Ao contrá-rio da poesia, que estatisticamente éuma arte de juventude, a ficção é damaturidade. É mais ou menos como os100 metros são para os atletas novos ea maratona para os mais velhos”.Sendo o romance um dos génerosmais complexos, que exige maturida-de, como nos lembra Inês Pedrosa, en-tendemos agora o conselho de Sara-mago em não termos pressa em publi-car. Mas, entenderemos mais ainda serelermos alguns trechos da entrevistado escritor António Lobo Antunes àrevista Visão, na edição de 16 de De-zembro deste 2015. “É verdade, não sepode escrever um bom romance antesde ter vivido. Poesia pode ser. Olhe, eucom (24) essa idade só escrevia mer-da. Nunca tive pressa em publicar. Es-sa qualidade eu tenho”. António Lobo

Antunes, que acaba de lançar a Natu-reza dos Deuses, é um dos grandes es-critores da língua portuguesa, não ad-mira que seja um habitual candidatoao prémio Nobel. E lembrando um es-critor francês, Gustave Flaubert, autordo maravilhoso Madame Bovary, LoboAntunes diz: “ É preciso vasculhar to-da a vida social para ser um verdadei-ro romancista, visto que o romance é ahistória privada das nações”.Visto assim, nota-se a responsabili-dade que se exige quando alguém sepõe a escrever um romance. Maturi-dade e idade não são palavras associa-das, são uma só. E falando em vascu-lhar a vida social para se ser um verda-deiro romancista, lembro-me agorado maravilhoso e inesquecível escri-tor francês Marcel Proust que, nosseus romances À la Recherche duTemps Perdu, aproveitou muita da suaexperiência do meio familiar e socialem que viveu. Proust não relatava a“vidinha”, ou que se encontrava mais àmão, mas introduzia episódios da suavida, mais ou menos transpostos ebastante reelaborados pela memória.A isto se chama maturidade que se exi-ge na ficção, sobretudo no romance.E esta tal maturidade não se resu-me na idade, é preciso vida, pois a “vi-dinha” não interessa: “A maior desgra-ça que pode acontecer a um escritor écomeçar pela literatura, em vez de co-meçar pela vida. Cora-se de vergonha,depois, diante das ingenuidades im-pressas, que são cueiros sujos e pre-tendem ser livros. Só a experiência, ador e o trabalho trazem a dignidadeque uma obra literária exige. Mesmoque não se tenha génio, pode-se, en-tão, ter compostura. E seja qual for aduração do que se escreve, uma coisaao menos os vindouros poderão res-peitar: a nobreza do que vão ler”, es-creveu no seu diário, no dia 18 de Maiode 1946, o não menos importante es-critor Miguel Torga.Torga, como lhe chamo quase de for-ma íntima, tem sido uma escola. Gran-de parte da sua poesia foi publicadanos seus saborosos diários, que graça àminha amiga Isabel Coelho, mos chega-ram à mão. Para mim, se há escritor quemerecia o Nobel antes do Saramago,era sem sombras de dúvida o autor dosbelíssimos Contos da Montanha. Torgaé indescritível, é daqueles escritoresque se respeita e ponto final.Mas ainda não é ponto final no quese refere à maturidade para a ficção. Ea esta discussão é importante chamarum outro mestre do romance, se ca-lhar aquele que terá redefinido os pa-râmetros da literatura moderna: Ja-mes Joyce. Enganam-se aqueles queacham que traremos aqui o clássicoUlisses; pois antes deste belíssimo ro-mance, Joyce escreveu “Retrato do Ar-tista Quando Jovem”, uma obra quenarra a evolução de Stephen Dedalus,desde a infância, passando pela juven-tude até o início da vida adulta. O jo-vem se rebela contra a formação cató-lica, questionado os valores da família,igreja, historia e pátria. Longe de ser

uma história comum de passagem pa-ra a maioridade, Retrato do ArtistaQuando Jovem traz em cada estágio danarrativa a evolução da idade e matu-ridade intelectual de Stephen. Nestaobra de inventividade e riqueza imagi-nativa surpreendentes, revelam-se jáa necessidade de o romancista ques-tionar a vida, vivendo-a, pois como es-creveu Ricardo Reis, heterónimo deFernando Pessoa: “Sábio é o que secontenta com o espectáculo do mun-do”. E tal espectáculo deve ser vivido equestionado como fez Stephen Deda-lus, pois assim, enquanto a idadeavança, a maturidade se acerta. Acer-ta-se para que não se fale mais empressa quando se for publicar. E notoisto em Onofre dos Santos. O autor de“O Astrónomo de Herodes”, que não

mais parou desde que começou a pu-blicar contos no jornal O País, quandoainda era semanário, sente-se con-fiante na ficção e, por mais que melembre a prosa bastante “imaginativa”de Henriques Abranches, o respeitadoe influente jurista angolano colocamuito da sua experiência na narrativa.E aqui já não se levanta a suspeição dapressa, pois se a idade não for sufi-ciente para justificar a necessidade deescrever, ao menos a experiência, co-mo lembra Torga, dá-lhe a dignidadeque uma obra literária exige.

O ROMANCISTA ENQUANTO JOVEM

A escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie

GASPAR MICOLO

10 | LETRAS 12 a 25 de Setembro de 2016 | Cultura

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ARTES | 11Cultura | 12 a 25 de Setembro de 2016

Encerrou, dia 1 de Setembro, no CA-MÕES, Centro Cultural Português, aExposição Colectiva Itinerante dos ar-tistas António Ole, António Gonga, Má-rio Tendinha, Masongui Afonso, PauloAmaral, Paulo Kussy, sob a égide doprojecto OLONGOMBE (os bois).Seis consagrados artistas plásti-cos angolanos juntaram-se em tornode uma ideia, da qual resultou umprojecto artístico a que deram o no-me de OLONGOMBE (manada de ga-do em umbundo), concretizado nu-ma exposição colectiva e itineranteque reunirá obras de pintura, dese-nho, escultura e instalação, unidaspela temática comum em torno do“Gado”, numa homenagem aos povospastoris do Sul de Angola.Ao evocar as comunidades pasto-ris do Sul de Angola, de que os Kuvalesão paradigma, OLONGOMBE reme-te-nos, incontornavelmente para aobra do escritor, historiador, antro-pólogo e poeta angolano Ruy Duartede Carvalho, a quem os seis artistastambém pretendem homenagearcom este trabalho. O projecto OLONGOMBE desenvol-ve os trabalhos artísticos em torno doGADO, figura central e riqueza maiordos povos Kuvale, tão bem descritopor Ruy Duarte de Carvalho na suaobra “Vou lá visitar pastores”, quetransforma em poesia “memórias

históricas, migrações, pastagens, so-los, climas, percursos milenares, ru-mos traçados por gerações, há muitoextintas, legados e destinos, num quo-tidiano animado pela urgência virildas transumâncias”.OLONGOMBE recorda a importân-cia deste modo de exploração ani-mal, fundado na mobilidade/circula-ção do gado. Um equilíbrio entre pas-tos, água, manada, força de trabalhoe consumo. Toda uma economia agravitar à volta do gado. Da paisagemao consumo do leite. A carne do gadoconsumida de forma mais restritiva ecomplementar, nos casos de mortenatural do gado, por doença, por aci-dente ou de abate ritual para cultos esacrifícios. “Cada região, cada mús-culo, cada membrana, cada tripa ecada osso do boi tem nome, tem sig-nificado, tem destino e está ligado aalguma função ritual”.Seis artistas de gerações diferen-tes, oriundos de lugares diferentesdo país, com percursos artísticos, ex-periências e histórias de vida dife-rentes, embarcaram na aventuraOLONGOMBE reconstruíram os ca-minhos perdidos da transumância.Primeiro em Moçâmedes, depois noLubango, a seguir em Benguela. Fi-nalmente, o projecto OLONGOMBEchega a Luanda, onde encerrou estaviagem no CAMÕES.

Esquerda: Mário Tendinha, Ministra da Cultura, Directora do Camões, Paulo Kussy e Paulo Amaral

Crâneo de boi pintado

PROJECTO OLONGOMBE EXPÕE EM LUANDA

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MATADI MAKOLA|Coração de Kizomba foi o título quea organização decidiu dar ao espectá-culo, no intuito de fazer valer o bomdesempenho de Euclides da Lombaneste género. Tal proposição é justa.Começou por brindar os presentescom o sucesso "Recado do Semba", umdos temas do seu último álbum de ori-ginais que deixou à disposição do pú-blico. Mas não era o semba o grandecartaz da noite, sendo este apenas uminício solene, tendo lá trás, nas congas,Joãozinho Morgado a garantir a batu-cada. Muito rapidamente, como era deprever, se volta para o género que culti-va com uma mestria reconhecida: a ki-zomba. Mas sem se deixar ir pelas mu-danças que tanto a transfiguraram,procurando não fugir dos temas que otornaram querido do público e que lhegarantiram uma maturidade musicalcapaz de se consagrar passados maisde vinte anos de música. "Quem meAma" foi suficiente para denunciar oque viria mais tarde, dado que a temá-tica universal do amor, no seu modoconfessionário e sofrido, foi sempre abase da sua música. Mas o registo fezum público voltar ao tempo em que akizomba fazia frente à intenção ro-mântica brasileira e tinha todo um ges-to de galanteio na performance dassuas letras, sem atingir sensibilidadese correr o risco de injectar no mercadoletras que ferem o pudor dos ouvintes. O registo "Falso Confidente" tem namusicalidade melodias que se aproxi-mam do belo trabalho da banda uigen-se Versáteis e confirmou antecipada-mente as influências que bebe do vizi-nho Congo Democrático. O piano e aguitarra de Elias tinham ganho prota-gonismo. Konga, violino e trompete fo-ram os ingredientes para a latina "CreyAme". Este ritmo fê-lo lembrar o inícioconvicto da sua vida musical, quandoera estudante na América Latina. "Tu-do Enfim", letra da sua autoria mas queestamos habituados a ouvir pela calmae doce voz de Ângela Ferrão, ganhouuma roupagem e possibilidade musi-cal que só os que lá estiveram poderãocontar um dia. Os ritmos latinos volta-ram a aquecer o público com a conhe-cida "Guantanamera", quando o Eucli-des já ia de violão em punho. Mas o piano se adiantou no registo"Buscando Teu Corpo", umas das maisbem conseguidas kizombas angolanasde todos os tempos. O coração voltou aaquecer com "Mil Motivos", deixandoa plateia a cantar em uníssono. "TeuJeito Atrevido", irresistível para umbom pé de dança, desarrumou os con-vidados, que se viram obrigados a darmesmo uns toques no exíguo espaçoque separava as alas. Como que de balde de água fria setratasse, não esperávamos que tirasse

do repertório uma canção escrita em1985 e que nunca teve coragem de edi-tá-la em disco porque é uma coisa mui-to própria da família da Lomba. É umacanção que homenageia a mulher maisimportante da sua vida: a sua mãe. Éuma balada, de temática épica, quenarra os contratados que vieram deCabo-Verde para Angola, especialmen-te a mãe do nosso artista de Cabinda,que nessa altura tinha apenas 15 anos.Um registo sentido, arrepiante pela es-tória narrada. E foram as lágrimas a es-preitar os olhos que obrigaram Eucli-des da Lomba a parar. Mas a trova con-tinuou com as interpretações de "Mbi-ri Mbiri" (Carlitos Vieira Dias), "HastaSiempre Comandante Che Guevara"(Buena Vista Social Clube) e "AmorRoubado" (Guilherme Silva). A kizomba voltou ao seu melhorcom "Angústia Fatal", um dos pontos al-tos do espectáculo, ao trazer do álbumLivre Serás, um dos registos que, nosdias actuais, se contrapõe às roupagensefémeras que imperam no mercado. Foi de facto um convidado surpre-sa: o congolês Lutchiana. Conhecidoem solo angolano pelos sucessos "De-cepcion" e "Junior", de grande aceita-ção junto do público angolano. Euclides recomeça com "Livre Se-rás", com arranjos harmónicos ajusta-dos, num produtivo casamento entre a

guitarra e o violino, ganhando depois ainterpretação clássica, ao modo euro-peu, de Bruno Neto. "Parrandeira" vol-tou a afirmar a kizomba, também can-tada em tom alto por quase todos ospresentes. "Tchuctha" eleva-se como aafirmação do lado cabo-verdiano emEuclides da Lomba, tanto na musicali-dade desta kizomba como na maneiracomo a entoa. E esta linha diferencial éclara em Euclides, sendo mais profícuona kizomba de batida angolana. "Re-gressa" foi cantada em pé e em unísso-no por todos aí presentes. Trata-se deum registo kizomba que os angolanosnascidos em 80 para cá dificilmente es-quecerão. Embora fosse o prenúnciodo fim, não deixou de parte uma das ki-zombas mais passadas pela TelevisãoPública de Angola e que o fez conhecidodas gerações mais novas: "Desejo Ma-landro", ainda no tempo das letras de-centes e do cuidado a ter com o pudor.Fecha a edição do Sow do Mês com "Ca-so de Amor", também cantada em pé,com o público a demonstrar as sauda-des dos tempos em que a kizomba erauma presença no seio das famílias. EnchenteDesta vez não foi pouco trabalho queYuri Simão, o promotor dos espectácu-los Show do Mês, teve em mãos. A sala

do Royal Plaza já não dava para metertanta gente com tanta sede pela músicade Euclides da Lomba, artista convida-do nos dias 2 e 3 de Setembro. O JornalCULTURA fez-se presente no dia 3, etestemunhou uma enchente que fazpensar que a música de Euclides ficougravada, nestas três décadas de activi-dade artística, de forma precisa no co-ração dos seus amantes. Mas a nossareportagem pode apurar no local queno dia anterior o sucesso foi igual. Ascadeiras do Royal Plaza já não basta-vam, tanto que as senhoras do protoco-lo viram-se obrigadas a convidar al-guns jornalistas que estavam sentadosnuma das alas da sala a irem para o fun-do e assistiram ao espectáculo em pé, aver se desocupavam os lugares para osconvidados que não paravam de che-gar, visto que, ao que justificavam aslindas senhoras, "são eles que são aprioridade". Resignados, os jornalistasacataram a ordem. Esta foi das ediçõesem que mais jornalistas marcaram pre-sença, para bem ou mal nas contas deYuri, ao que a classe tem a agradecerpela facilidade e imediata disposiçãoem colocar jornalistas dentro da salade espectáculo mal estes chegam à por-ta. Os públicos desta edição foram vá-rios, desde reputadas personalidadesda política angolana a figuras menosconhecidas no grande ecrã.

12 | ARTES 12 a 25 de Setembro de 2016 | CulturaEUCLIDES DA LOMBA NO SHOW DO MÊS

KIZOMBA EM ESTÁDIO MADURO

Euclides da Lomba

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Inaugurada no dia 6 de Setembro noCAMÕES/CENTRO CULTURAL POR-TUGUÊS a exposição individual de Te-celagem e Tapeçaria TECENDO ME-MÓRIAS, da conceituada artista ango-lana MARIA BELMIRA, presta uma ho-menagem a algumas mulheres impor-tantes da sua vida, como a sua avó e asua mãe, “pessoas que marcaram aconstrução da sua personalidade eidentidade”. Presta também home-nagem a outras mulheres que a inspi-raram e incentivaram a prosseguir ocaminho da arte, como as artistas,Marcela Costa e Ana Sousa Santos.Inclui ainda nesta homenagem “to-das as pessoas que fazem da arte oseu suporte de subsistência, de afec-to, e de valorização da memória co-lectiva de um povo”.Em TECENDO MEMÓRIAS, a artistaapresenta 10 obras inéditas de Tecela-gem e Tapeçaria, produzidas nos últi-mos seis anos, quatro delas concluídasno corrente ano. Com recurso a mate-riais e técnicas diversas, como aplicaçãoem tecido, tecelagem, suporte em linhonatural, bordados e cordas de sisal, MA-RIA BELMIRA reinventa de forma har-moniosa, criativa e original, o diálogoentre tradição e contemporaneidade.Neste seu trabalho, a artista retratao quotidiano da mulher e a sua relaçãocom a natureza, procurando revelar aharmonia do ser humano no seu habi-tat natural. Citando palavras da artis-ta “pretendo traduzir as minhas vivên-cias angolanas, as emoções, os mitos,e as expressividades do corpo, atravésde técnicas do bordado, aplicação emtecido, tecelagem e tapeçaria com ma-térias de fibras naturais e industriais,

tecidos de linho natural e industriais,numa simbiose entre o tradicional e omoderno”. “Trago uma proposta que éuma visão global que pretende cons-truir uma identidade de tapeçaria fei-ta por uma angolana, participando, as-sim, no resgate da valorização de téc-nicas tradicionais, numa perspectivada sua contemporaneidade”. SOBRE A ARTISTA

MARIA BELMIRA nasceu em Luan-da em 1967, onde fez o ensino primá-rio e pré-universitário. Em 1985, con-cluiu o Curso de Tear, Gravura, Dese-nho, Pintura e Cerâmica na Escola do“Barracão” em Luanda. Em 1986, con-cluiu o 2º curso de Tear Artístico, pro-movido pelo Instituto Nacional deFormação Artística e pela Secretariade Estado da Cultura de Angola. De1988 a 1991, foi monitora do Tear daOficina Têxtil da Escola Média de Ar-tes Plásticas do Instituto Nacional deFormação Artística e Cultural. De1992 a 1994, trabalhou na OficinaTêxtil e Cerâmica da Escola Profissio-nal de Ofícios Artísticos de Vila Novade Cerveira em Portugal. Em 2011,concluiu a licenciatura em EstudosCulturais na Universidade FernandoPessoa no Porto.Actualmente, frequenta o Mestrado

em Estudos Culturais/AntropologiaSocial na Universidade Fernando Pes-soa no Porto.Ao longo do seu percurso artístico

de mais de 30 anos, a artista, partici-pou em múltiplas exposições em An-gola, Portugal, Espanha e Egipto, en-tre outros países.

MARIA BELMIRA TECE MEMÓRIASCOM EMOÇÕES, MITOS E EXPRESSIVIDADES DO CORPO

Maria Belmira

ARTES | 13Cultura | 12 a 25 de Setembro de 2016

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“EU VOU LER O LIVRODO PEPETELA?!”

Afinal de contas, quem é Pe-petela? Artur Carlos Maurí-cio Pestana dos Santos, ousimplesmente Pepetela, éuma referência incontornável na lite-ratura angolana, em particular, e na lu-sófona, em geral.Em 1997 o escritor angolano foi galar-doado com o Prémio Camões, por sinal omais prestigiado entre os países de lín-gua oficial portuguesa, como reconheci-mento do conjunto da sua obra literáriaformada por, entre outros, romances his-tóricos como Lueji – o nascimento de umimpério (1990), A geração da utopia(1992), A gloriosa família (1997), etc..Recentemente um dos seus livros -Mayombe – foi incluído na bibliografiade consulta obrigatória para os estu-dantes que realizam e realizarão osexames de acesso à Universidade deSão Paulo, no Brasil, no período com-preendido entre 2016 e 2019.

O cerne da questãoOra, esperava-se que uma jovemque orgulhosamente ostenta o grau deLicenciada em Gestão de Empresas ti-vesse lido - para além dos livros da suaárea - pelo menos uma das obras deum escritor com os créditos acima re-feridos, e/ou tivesse o orgulho de tercomo compatriota aquele que é tão so-mente um dos ícones da literaturaproduzida na lusofonia. Ledo engano!A soberba por ter “terminado a Fa-culdade”, como soe dizer-se entre «nós»e, sobretudo, o desprezo manifestadopela jovem em relação à obra de Pepete-

la chocaram violentamente com as ex-pectativas do seu interlocutor, habitua-do a tertúlias nas quais a literatura é umdos seus temas de eleição.Convém recordar que durante a se-gunda metade da década de 90, por ra-zões que não adianta mencionar, o aces-so ao ensino pré-universitário ou mé-dio era vedado a muitos adolescentes.Neste contexto, o cultivo do hábito daleitura passou a ser a maior ocupaçãode um adolescente de 16 anos que, es-tando na biblioteca do seu irmão, en-trou em contacto pela primeira vez comLueji – o nascimento de um império.De facto, foi em 1997 e por intermé-dio desta obra, por sinal, das mais“consumidas” enquanto produto cul-tural, que o autor destas linhas adqui-riu algum conhecimento sobre o exer-cício do poder no antigo Estado Lun-da, em particular, e em África, em ge-ral, durante o período pré-colonial.In Novo Jornal (Caderno Mutamba, pp. 4-5),

nº427, 15/04/2016.Doze anos após a ocorrência destefacto registado na sua memória, o agoraestudante universitário comentava du-rante uma aula de História de África ofenónemo da bicefália do poder emÁfrica durante no período em referên-cia, baseando-se na referida obra de Pe-petela. “São estes livros que vocês [estu-dantes] devem ler” – dirá o Professor.O testemunho que acaba de serapresentado é apenas um dos exem-plos dos benefícios (em termos decompreensão, análise, desenvolvi-

mento da memória, etc.) que a leituraproporciona ao estudante que enten-de que a formação numa determinadaárea de conhecimento deve ser acom-panhada, e suportada, pela busca in-cessante de informaçoes e conheci-mentos sobre a vida e/ou o mundonos diversos dominios: político, eco-nómico, cultural, tecnológico, etc..Chama-se à isto cultura geral.As consequências decorrentes dafalta deste elemento - indicativo da fal-ta de leitura – são por demais conheci-das, e, para além da falta da análise crí-tica dos factos socias, culturais (MEN-DONÇA, 2015), etc., inclue-se no seuconjunto disparates semelhantes aoque foi proferido pela ilustre Gestorade Empresas que, além de ter ignora-do o valor cultural e comercial do livro(terá noção disso?), aproveitou a oca-sião para dizer o seguinte: “isto [Lite-ratura] é para o estudante de Históriaque deve manter-se informado!”. Se é verdade que o autor de umaobra (literária, científica...) tenha ini-cialmente a intenção de alcançar umdeterminado público, formado pelosseus colegas de formação, ou de profis-são, nada impede que o seu trabalhodesperte o interesse dos estudantes eespecialistas dos mais diversos cursose especialidades (M’BOKOLO, 2007).Tratando-se de uma obra literária, vá-rios benefícios podem ser obtidos peloleitor e, para além do que foi dito ante-riormente, acrescenta-se o seguinte: (1)o desenvolvimento mental; (2) a melho-ria da comunicação (oral e escrita); (3)

exercício da crítica, etc., etc.. Portanto,não faz sentido a afirmação segundo aqual apenas o estudante de História de-ve interessar-se pela Literatura. Na verdade, a ideia defendida pela di-plomada em Gestão Empresarial reflec-te, em parte, a qualidade do ensino mi-nistrado em Angola aos estudantes que,em muitos casos, estão desprovidos dosenso crítico devido ao abandano dohábito da leitura (MENDONÇA, 2015). Esta situação suscita reflexão so-bre: 1) o perfil de quadros/técnicossuperiores que o Páis precisa e está aformar; 2) o valor que os estudantesdão à formação e; 3) se estarão a sercapacitados para responder aos desa-fios que o País enfrenta nas mais di-versas áreas, incluindo a Gestão deProjectos Culturais. Sobre este assunto, é bom que se di-ga que esta constitui actualmente umadas saídas profissionais para quemnela se especializa com o objectivo detrabalhar em Casas de Cultura, Edito-ras, Livrarias, etc., etc.. Por outras palavras, mais do que umsimples negócio – do livro, e não só -estas instituições deverão estabelecerparcerias com as escolas por formas aque os alunos consumam cada vezmais produtos culturais como os livrosde escritores angolanos, em geral.O assunto é tão sério na medida emque envolve questões como a identi-dade cultural de um povo, particular-mente, da elite intelectual em forma-ção que, entre outros, deve assumir asua identidade não somente de pontode visto jurídico, mas, e acima de tudo,no plano cultural. Neste sentido, oconsumo de obras literárias de auto-res angolanos contribui para o reforçoda identidade cultural angolana.ConclusãoO sistema de ensino em Angola deve estar

à altura de dar resposta aos desafios que en-frenta nos dias que correm. A criação de bi-bliotecas escolares (no verdadeiro sentidoda palavra), associada à responsabilidadeque a família desempenha no processo deformação dos seus filhos, são algumas dasmedidas que se impõem para que o estudan-te tenha acesso ao livro, ainda na infância, econsequentemente ganhe gosto pela leituradurante a sua vida. Do contrário, o recém-li-cenciado, ou ainda o técnico médio, dificil-mente vai impor-se no mercado de trabalho,cada vez mais concorrido que, para além dodiploma exige um conjunto de qualificações(como a redacção/elaboração, análise dedocumentos, particularmente os serviçosadmnistrativos) que em muitos casos, só po-dem ser obtidas por meio da leitura.

Pois, o País precisa tanto de pessoas forma-das quanto de gente culta. E como diz o slogan... Gente culta é culta que lê!

JOÃO N’GOLA TRINDADE

12 a 25 de Setembro de 2016 | Cultura14| GRAFITOS NA ALMA

Introdução

Este texto surge na sequência do diálogo mantido entre o seu autor e uma jovem que, questionada se lia os livrosde Pepetela, não se coibiu em proferir a frase em epígrafe que suscitou a presente reflexão.

Tendo em conta a impressão que o título possa vir a causar, o autor esclarece que não pretende de forma alguma su-bestimar a obra, ou nenhuma das obras, de Pepetela. Pelo contrário, é sua intenção reflectir apenas sobre o hábito da lei-tura, o sistema de ensino em Angola, a formação cultural do estudante angolano – temas cuja abordagem, feita frequen-temente pelos especialistas na matéria, estende-se a outros assuntos que, por enquanto, não serão aqui analisados.

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GRAFITOS NA ALMA | 15Cultura | 12 a 25 de Setembro de 2016SOBRE A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA(OBVIOUS MAGAZINE)

Este artigo visa a discorrer sobrea Literatura, limitando-se a apre-sentar a ideia de que ela, embora,com muita frequência, tratada comoalgo de pouca importância, é capazde fazer com que seus leitores de-senvolvam uma posição activa dian-te da realidade na qual estão inseri-dos. Literatura é investimento!De modo geral, a Literatura, ainda, écompreendida como algo de pouca ounenhuma importância. “Não há porque “gastar” tempo com ela!”, ouve-sepor aí. Aqueles que investem nela, en-quanto leitores ou escritores, em cer-tas ocasiões, são até estigmatizados.Ocorre também o fato de que, emboraseja a instituição escolar um dos con-textos onde a Literatura mais deveriaestar, é onde, com muita frequência,ela menos se acha. Isso, porque muitoseducadores, se é que assim podemoschamá-los, julgam ser a Literaturadespossuída de significados e de ob-jectivos técnicos, isto é, não promoveaprendizagem. Quando, de fato, é utili-zada, está acompanhando uma segun-da actividade cujo carácter é técnico,exacto, objectivo e/ou pedagógico.Somos, então, levados a discordardisso e dizer que a Literatura tem, sim,significados e objectivos técnicos, sen-do capaz de promover aprendizagem.Seus leitores conseguem desenvolversuas capacidades de escrita, já que sãoabordados por mensagens e indaga-ções de diferentes conteúdos que acriação literária lhes oferece. Conse-guem desenvolver suas competênciasde leitura, desde que sejam evidencia-dos elementos tais quais a enredo,

tempo, espaço, personagens, peculia-ridades de cada criação literária, con-textualização em relação ao estilo deépoca e individual, bem como elemen-tos relacionados à própria criação lite-rária, a saber, imagens, peculiaridadesde oralidade e ritmo de narrativa. Nãomenos, conseguem desenvolver a ca-pacidade da oralidade, já que eles pas-sam a lidar com vivências de terceiros(Silva, 2003).Além de possuir códigos temáticos,ideológicos, linguísticos e estilísticos,faz com que, devido a possuir comobase a leitura, ocorra uma abordageminterdisciplinar capaz de demonstraraos seus leitores as “motivações histó-ricas, sociais, políticas, filosóficas epsicológicas...” que a integram. Issoimplica dizer que a Literatura é um fe-nómeno multidimensional, reveladorde paradoxos e ambiguidades concer-nentes à realidade de que faz parte(Silva, 2003). Com efeito, seus leitoresse identificam com os personagens e,então, lidam com situações das maisdiferentes, o que lhes faz atribuir sig-nificados às suas vidas. Desenvolvema capacidade de lidar com situaçõesda vida real pelas quais já foram afec-tados ou não, ocasionando novas vi-vências. Em outras palavras, a Litera-tura também educa.Criar e recriar realidadesA Literatura faz com que, ao invésde indivíduos, seus leitores sejam su-jeitos activos, já que está intimamenteligada ao acto de ler, responsável porpromover crítica, reflexão e interroga-ção, logo, há a desconstrução de co-nhecimentos cristalizados fundamen-tados em perspectivas estereotipadas.

Junto a isso, é possível dizer que a Lite-ratura pode ser compreendida comouma maneira de posicionar e revelar-se politicamente, uma vez que possi-bilita a seus leitores criar e recriarsuas realidades, sem precisarem so-brepujar suas vivências (Silva, 2003).Diante disso, cumpre dizer que a Li-teratura pode ser compreendida emduas perspectivas. A primeira é indivi-dual, porque promove a criação defantasias, fazendo com que seus leito-res estejam diante de dois imagináriose duas vivências interiores, bem comopromove posicionamento intelectual,porque o texto literário faz com que osaber seja construído. “Nesse sentido,o texto literário introduz um universoque, por mais distanciado da rotina,leva o leitor a reflectir sobre seu quoti-diano e a incorporar novas experiên-cias”, conforme ressalta Iser (1993,apud Zilberman, 2008). Faz com queseus leitores despertem alteridadesem abrirem mão de suas subjectivi-dades e histórias. Não se esquecem de“suas próprias dimensões, mas expan-de(m) as fronteiras do conhecido, queabsorve(m) através da imaginação edecifra(m) por meio do intelecto.”. Asegunda perspectiva é social, intima-mente relacionada à perspectiva indi-vidual, porque faz com que seus leito-res socializem suas experiências,comparem suas conclusões com ou-tros leitores, apresentando seus pon-tos de vista. Nesse sentido, podemosperceber que a Literatura promove odiálogo, que por sua vez promove tro-cas experienciais, não sendo, portan-to, uma produção egocêntrica (ZIL-BERMAN, 2008).Enfim, temos de assumir que, real-mente, não é uma tarefa fácil fazer

com que a Literatura seja, cada vezmais, aceita pela sociedade, suas insti-tuições e seus integrantes. Não é nadafácil demonstrar sua importância nodesenvolvimento de seus leitores e,com efeito, as contribuições que elafornece. Talvez seja pelo fato de queseus resultados não serem tangíveis eem curto prazo, duas característicasextremamente consideradas actual-mente. No entanto, não podemos,nunca, esquecer que a Literatura tam-bém é prática educadora, que investirem sua propagação beneficiará a to-dos. É necessário ter persistência.______________ReferênciasSILVA, I., M., M. Literatura em Salade Aula: da teoria literária à prática es-colar. Anais do Evento PG Letras: 30anos, v. 1, n° (1), 514-527, 2003.Zilberman, R. O papel da literaturana escola. Revista Via Atlântica, n°. 1,11-22, dez.2008.___________________JONATHAS RAFAELEscrever é ato: às vezes, substan-

tivo; às vezes, verbo. Às vezes, aliás,escrever é ato, por assim dizer, hí-brido: substantivo mais verbo e vi-ce-versa. Então, cabe a cada um denós decidir, de acordo com nossasconvicções, qual deles empregar eem quais circunstâncias. .

JONATHAS RAFAEL

(OBVIOUS MAGAZINE)

Ocean - Pawel Kuczynski

Page 16: MOISÉS KAFALA - blog.lusofonias.net · POEMA DE AGOSTINHO NETO. ... em especial pela musicalização de poemas de autores consagrados, co- ... de quatro versos com rima e sentido

16| NAVEGAÇÕES 12 a 25 de Setembro de 2016 | Cultura

TAJANA (OBVIOUS MAGAZINE)

Escaravelhos, abelhas, gafanho-tos, borboletas, aranhas, escor-piões - se os dispensa vivos, talvezconsiga apreciar-lhes a belezabem guardados dentro duma cam-pânula de vidro, como máquinasantigas num museu que tanto é dearte, como de história natural, co-mo de engenharia.Em muitos filmes de ficção cientí-fica, esta é a concretização de um dosmaiores pesadelos humanos: insec-tos-robots. Criaturas que juntamuma anatomia natural ultra-resis-tente ao poder potencialmente des-trutivo da tecnologia (neste caso, nasmãos - ou antes, nas patas - erradas).O pesadelo fica completo quando lheacrescentamos o medo irracional demuitos de nós perante estas peque-nas criaturas.Mas aqui não se trata de enxamesassassinos vindos de Marte paranos destruir, nem dos tripods daGuerra dos Mundos: estes são espé-cimes frágeis, reais, naturais, solitá-rios, que o artista Mike Libby trans-forma, equipando-os com pequenaspeças mecânicas que lhes dão esteaspecto cibernético.É uma oportunidade para confir-marmos que há insectos espectacu-larmente bonitos. Escaravelhos lu-minosos, borboletas exibicionistas,libélulas elegantíssimas - e até asmais modestas abelhas ou os gafa-nhotos. Os insectos, um dos moti-vos recorrentes na delicada artejaponesa, deixaram escola tam-bém, por exemplo, na Arte Novaocidental. Ainda assim, encararum insecto real como uma obra dearte não é para todos.A ideia de equipar os insectos compeças mecânicas surgiu a Libby há al-guns anos, depois de ter encontradoum escaravelho morto. A beleza doanimal e a forma como as suas váriaspartes se articulavam foram o pontode partida para este trabalho: Libbyesvazia os insectos (no caso dos esca-ravelhos) e cola no seu interior pe-quenas peças dos mecanismos de re-lógios, mas também de componenteselectrónicos e até de máquinas decostura e outros aparelhos.Um trabalho de minúcia que resul-ta nestas criaturas a meio caminhoentre uma jóia e um aparelho de altaprecisão. No caso de animais comoborboletas ou abelhas, as peças sãocoladas no exoesqueleto do animal.Não ficamos com insectos a funcio-nar movidos a corda, mas a sugestãodo mecanismo e das suas possibili-dades está lá.

Mas porquê os insectos? Libby diz-nos, em entrevista por email, que emcriança nunca coleccionou insectos eque “nem os insectos nem a ciberné-tica surgem em nenhum do meu tra-balho anterior”. Sobre o que o motiva,acrescenta: “Faço isto há tanto tempoque às vezes me esqueço do porquê.Em parte é o desafio, é um trabalhode facto complicado, sobretudo nu-ma área tão pequena, mas se funcio-nar do ponto de vista visual, é aí queestá a gratificação. Também gosto defazer as pessoas parar e prestar aten-ção, e usarem a sua própria imagina-ção”. E qual a relação deste InsectLabcom os outros projectos artísticos deLibby? “ O InsectLab permite-me fa-zer uma coisa conhecida, fazer algu-ma coisa a partir de bichos mortos erelógios partidos, mas o meu outrotrabalho é muito mais aberto. Há al-guns temas de história natural emque os projectos se cruzam, bem co-mo o processo de reconciliar e fazercorresponder coisas que se calharnão combinam de forma muito fácil(ou demasiado fácil!)”.Libby trabalha com animais quelhe chegam de todo o mundo, mui-tos deles através de vendedores deinsectos (é verdade, existem mes-mo). Preparar um destes bichospode demorar entre 2 dias e 2 se-manas, e o artista geralmente tra-balha em vários ao mesmo tempo.“As aranhas e as libelinhas são asmais difíceis”, afirma.A Libby interessa a fusão entre as-pectos aparentemente distantes: aforma orgânica, natural, dos animaisaliada à tecnologia é um fio que nos li-ga tanto ao passado quanto ao futuro.Sabemos que os insectos estão naTerra há mais tempo do que nós, eprovavelmente ficarão por cá depoisde os seres humanos e os outros ma-míferos terem desaparecido. Esta re-sistência, ampliada pelas capacida-des tecnológicas, e a ideia de que osinsectos - sobretudo os que agem deforma organizada - podem dominar omundo é um fantasma que ecoa nasnossas mentes.Dum ponto de vista mais científi-co, muita engenharia tem procuradoinspiração e pistas nos insectos - es-tudando o seu movimento e o seu de-sign à procura de soluções para pro-blemas tecnológicos, sobretudo osque estão relacionados com o voo.Os insectos de Mike Libby já esti-veram expostos em várias galerias epodem ser comprados directamenteao artista, através do contacto poremail. Libby também aceita enco-mendas específicas. Os seus clientes,diz-nos, são pessoas de todo o tipo,que “simplesmente gostam de sentireste fascínio”.

EU, INSECTO: AS ESCULTURAS DE MIKE LIBBY