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Monarquia: Um chefe sem partido Num momento em que se discute qual o melhor sistema democrático, o UPress mostra a perspetiva monárquica. Entrevista com o ex- presidente da Real Associação de Braga, Luís Damásio. Conheça o rei Juan Carlos e descubra o seu percurso até hoje. Editorial: Quais as diferenças entre a monarquia e a repúbllica?

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Monarquia: Um chefe sem partidoNum momento em que se discute qual

o melhor sistema democrático, o UPress mostra a perspetiva monárquica.

Entrevista com o ex-presidente da Real Associação de Braga, Luís Damásio.

Conheça o rei Juan Carlos e descubra o seu percurso até hoje.

Editorial: Quais as diferenças entre a monarquia e a repúbllica?

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EditorialDireção Editorial

Dois regimes democráticos: um de escolha, outro de berço

Depois de 38 anos de reinado, Juan Carlos I abdicou do trono, dando lugar a Filipe VI. O iní-cio deste mês, em Espanha, viu-se marcado pela declaração de abdicação e o dia de hoje é marcado pela cerimónia de pro-clamação. O lugar do trono es-panhol passa a ter de um novo rei, terminando o processo de sucessão.

Agora, com Filipe VI no trono, Espanha continua a ser um dos 44 países do mundo com um re-gime monárquico. Um regime de-mocrático, tal como o Português, mas onde o chefe de estado não é eleito pelos cidadãos. Os reis, de facto, não são eleitos, não é o povo que os escolhe, nem dei-xam o seu lugar depois de qua-tro anos.

Com a monarquia, não há gas-tos constantes durante as eleições presidenciais, mas a verdade é que também dificilmente um rei é substituído quando as suas ca-racterísticas não são as melhores. Continuando a falar dos gastos, estes também são diferentes

quando falamos do custo que as duas formas de governo impõem. A monarquia custa a cada espa-nhol 19 cêntimos e a presidência da república custa a cada portu-guês um euro e 58 cêntimos.

São os países republicanos que, ainda, têm um árduo ca-minho a percorrer na competi-ção com aqueles que adotam a monarquia. Segundo o relatório de Desenvolvimento Humano, pu-blicado em 2013, seis dos dez países com melhor Índice de De-senvolvimento Humano (IDH) são países com um regime monárqui-co. Além disso, sete dos dez paí-ses mais democráticos, de acordo com a revista The Economist, são monárquicos.

A monarquia vence pelo IDH, pelo baixo custo e quando se fala de democracia. Vence em números e em ranking, mas con-tinua a ser um regime em que o chefe de estado não é escolhido, mas sim imposto, não havendo a liberdade de escolha do repre-sentante da nação. Quando um país democrático deve respeitar as liberdades fundamentais, esse país deve também dar a liber-dade a cada cidadão de esco-lher o seu representante, um re-presentante em que os cidadãos se revêm, já que é eleito.

UPRESS, QUI. 19 JUNHO 2014 2

Editora:Marisa Mourão

Perfil:Judite Rodrigues

Entrevista:Angélica Dias

Reportagem:Daniela MendesMarisa Mourão

Design Gráfico:A Equipa UPress

Número de páginas:7 páginas

Os textos assinados são da exclu-siva responsabilidade da equipa UPress. Este foram realizados para o trabalho avaliação do Atelier de Informação e Jornalismo I - Módulo de Imprensa.

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Um símbolo de paz para a Espanha

Judite Rodrigues

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Aquele que é conhecido como “o rei de todos os espanhóis” dei-xou o trono depois de 38 anos a ocupar este lugar. D. Juan Carlos exerceu um papel fundamental na transição da ditadura fran-quista para uma democracia parlamentar, sendo considerado o “maior promotor” da democra-cia espanhola e o “melhor símbo-lo de paz e liberdade”, segundo o primeiro-ministro espanhol Ma-riano Rajoy.

As quase quatro décadas em representação de Espanha fi-caram marcadas pela polémica caça de elefantes, no continente africano, em 2010. Nesse mesmo ano, Juan Carlos esteve, ainda, envolvido noutro escândalo. As fotografias tornadas públicas provaram ter cometido adultério. Contudo, o jornalista José Antó-nio Guarriaráné, especialista na vida da família real espanhola, considera que “a sua imagem continua boa. É uma pessoa sim-pática e extrovertida.”

Já com 17 anos, tempo em que residia em Portugal, no Estoril, Juan Carlos foi alvo de polémica. O seu irmão Afonso morreu com um tiro perdido que, segundo a empregada dos condes, Josefina

Carolo, foi disparado pelo mo-narca acidentalmente.

O rei de Espanha, nascido, em Roma, a 5 de janeiro de 1938, durante o exílio do avô, teve, em criança, uma vida simples, susten-tada por alguns nobres espanhóis e famílias tradicionais do Estoril. Apenas aos 37 anos, quando já estava casado com a princesa da Grécia, Sofia, e já tinha os seus três filhos, assumiu funções de rei, a convite do ditador Francisco Franco.

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Entrevista ao ex-presidente da Real Associação de Braga

“Portugal está muito mais representado no Rei”

Angélica Dias

O que difere um regime mo-nárquico de uma república?

A diferença entre um país monárquico e um republicano é, efetivamente, a existência de al-guém que está a representar a nação. E essa representação está acima de qualquer força parti-dária, é suprapartidária, como é o caso da Inglaterra e da Espa-nha. O rei é uma figura simbólica que representa o país e toda a nação.

E o Presidente da República não representa simbolicamente todo o país?

A república, como nós sabe-mos, tem os seus vícios. Em termos teóricos, os seus defensores di-zem que qualquer cidadão pode ser Presidente da República, contudo, em termos práticos, isso não se concretiza. Nesses países, quem escolhe o Presidente da República não é o povo, mas os diretórios dos partidos.

Num momento em que a situação económica e social em Portugal se encontra fragilizada, há quem levante questões quanto à viabilidade do sistema republicano. O antigo presidente da Real Associa-ção de Braga, Luís Damásio, acredita que o futuro de Portugal passa por uma monarquia parlamen-tar e que esta seria a melhor solução para unificar a nação.

Que papel atribui às Reais Associações para a difusão e defesa da monarquia em Portu-gal?

Com o pós 25 de abril, o D. Duarte de Bragança e os monár-quicos decidiram criar as Reais Associações que são movimentos suprapartidários, em que qual-quer pessoa militante de um partido se pode inscrever. Temos associados de vários partidos exceto de partidos radicais, que nunca aceitam monarquias ou re-públicas. A maioria dos associa-dos são representantes no Parla-mento.

Que tipo de monarquia de-fende a Causa Real?

Todos defendemos a monar-quia do século XXI. A melhor mo-narquia, hoje, em termos práticos, é a democracia parlamentar e é nela que se revêm quase todos os monárquicos.

Faz sentido, após tantos anos de república, ainda existir uma monarquia em Portugal?

Basta olhar para o resto da Europa. Os países monárquicos são os países mais democratas,

“Quem escolhe o Presidente da República não é o povo, mas os

diretórios dos partidos”

“A melhor monarquia (...) é a democracia

parlamentar e é nela que se revêm quase todos os

monárquicos”

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em termos até de história. Para além disso, têm maior estabili-dade e união, como é o caso da Bélgica e da Espanha. A Bélgica está unida graças ao Rei.

Então, na sua opinião, a mo-narquia poderá vir a ser instau-rada, um dia, em Portugal?

Não tenho a menor dúvida, já que a história do nosso país tem 90% monarquia e só 10% repú-blica. A nossa história é mais de reis do que de presidentes da re-pública.

E se tal acontecesse o que é que mudaria em Portugal?

Mudaria a forma como os por-tugueses vêm Portugal. Eu acho que os cidadãos precisam de ter faróis, de ter símbolos. Numa na-ção há aspetos que estão acima de nós, como é o caso da ban-deira. Portugal está muito mais representado no rei do que numa república.

Nós estamos com uma carência de representações de tal manei-ra que se tivéssemos um rei que nos pedisse união para a resolu-ção da crise económica e social

seria muito mais ouvido. Seria uma intervenção do rei dirigida para um povo.

O que falta para que as Reais Associações consigam que a monarquia vença em Portugal?

A Constituição diz que Portu-

“Tem que haver uma alteração na Constituição que não é democrática”

gal é uma república, o que não nos permite fazer um referendo. Tem que haver uma alteração na Constituição que não é democrá-tica. Como Constituição democrá-tica tinha de aceitar qualquer re-gime, monárquico ou republicano.

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Monarquia: um chefe sem partido

Daniela Mendes e Marisa Mourão

Num país onde a república é a única forma de Governo possível, alguns não veem vantagem na ele-gibilidade do Chefe de Estado. Eles são monárquicos e acreditam que um rei seria a melhor solução para Portugal. Manuel Neves e Manuel Beninger são portugueses que acreditam numa monarquia moderna, numa monarquia parlamentar.

A discussão entre monárquicos e republicanos é velha no âmbito da ciência política. No entanto, os monárquicos acreditam que têm a vitória e que Portugal não de-veria ser um dos 164 países sob regime republicano. Este país de-veria ter, segundo eles, um chefe de estado não eleito. Só assim se conseguiria a unidade nacional. Para Manuel Pinto Neves, de 63 anos, “os presidentes da repúbli-

ca são indicados por partidos e seguem ideologias, o que cria di-visão imediata”.

Segundo este monárquico, o rei é o símbolo de um país que não se envolve em partidos. É uma fi-gura independente destas situa-ções, procurando o consenso. Esta é uma das razões pelas quais se defende o regresso à monarquia.

Um regime com vantagens

O Presidente da República é visto, por quem defende a mo-narquia, como uma figura apenas eleita por uma parte da popu-lação. Além disso, para o Presi-dente da Comissão Distrital de Braga do Partido Popular Mo-nárquico (PPM), Manuel Benin-ger, a abstenção verificada nos últimos anos reflete “o descrédi-

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to nas instituições republicanas”. Este monárquico afirma que o rei seria a melhor opção dado que este é “absolutamente livre de pressões, de grupos económicos e de interesses partidários”, repre-sentando todos os portugueses.

blica, quando eles já saíram”.

Monarquia como opção de-mocrática

Não há números oficiais quan-to aos portugueses que defen-dem a monarquia. O número de filiados no movimento oficial mo-nárquico ronda os dez mil, mas o valor real é superior. Manuel Neves afirma que existem “gru-pos monárquicos informais que usam as redes sociais, encontros e convívios para manter a causa na memória”. Para além disso, segundo D. Duarte Pio, 30% dos portugueses achariam melhor ter um rei do que um presidente.

Apesar da luta por uma alte-ração no atual regime, a Cons-tituição não é favorável a uma mudança. “O atual regime e a constituição portuguesa não são, de todo, verdadeiramente de-mocráticos, uma vez que apenas consagram a República, como única opção de regime”, defen-de Manuel Beninger.

Uma causa que não precisa de partido

O Partido Popular Monárquico teve, na sua génese, alguns mem-bros monárquicos. No entanto, os membros da causa real não pertencem todos ao PPM. “Muita gente é do PSD, do CDS ou até do próprio partido socialista. A causa monárquica não precisa de partido”, afirma Manuel Neves.

Apesar desta heterogenei-dade, o representante do PPM acredita que “há um desconten-tamento profundo com o atual re-gime e com as atuais políticas do país”. Este é, para Manuel Benin-ger, o motivo apontado para que o Partido Popular Monárquico ti-vesse melhores resultados nas úl-timas eleições para o Parlamento Europeu, adquirindo 0,5% dos votos, segundo dados do Jornal Expresso. Apesar desta subida de 0,1% face às eleições euro-peias de 2009, “o partido popu-lar monárquico nunca teve nenhu-ma expressão a nível eleitoral”, de acordo com Manuel Neves.

Quanto ao futuro, o repre-sentante do PPM acredita “fir-memente que a restauração da monarquia já esteve mais longe e que esta será uma realidade ainda nesta geração”.

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A abstenção verificada nos últimos anos reflete “o descrédito nas instituições

republicanas”

A capacidade de neutralida-de em relação às forças políti-cas começa a ser preparada em criança. Desde a infância que o futuro rei adquire uma educação especializada que lhe permite subir ao trono mais tarde. Manuel Neves confirma esta ideia, refe-rindo que “os reis são prepara-dos imediatamente para o serem e para poderem prestar serviço à nação”.

Perante a atual situação do país, o cidadão de 63 anos re-lembra que um regime monár-quico é mais barato do que um regime republicano. Além disso, refere que os presidentes da re-pública gastam milhões e que “o estado continua a aguentar qua-tro ou cinco presidentes da repú-

“O atual regime e a constituição portuguesa

não são, de todo, verdadeiramente

democráticos”