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Universidade de Aveiro Ano 2013
Departamento de Educação Departamento de Comunicação e Arte
MÓNICA SOFIA LOPES ARESTA
A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE EM AMBIENTES DIGITAIS
Universidade de Aveiro Ano 2013
Departamento de Educação Departamento de Comunicação e Arte
MÓNICA SOFIA LOPES ARESTA
A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE EM AMBIENTES DIGITAIS Estudo de caso sobre a construção da identidade online no SAPO Campus e em ambientes informais
Tese apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em Multimédia em Educação, realizada sob a orientação científica do Doutor Luís Francisco Mendes Gabriel Pedro, Professor Auxiliar Convidado do Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro, e coorientação do Doutor António Augusto de Freitas Gonçalves Moreira, Professor Associado do Departamento de Educação da Universidade de Aveiro.!
Apoio financeiro da FCT e do FSE no âmbito do III Quadro Comunitário de Apoio. Trabalho realizado em parceria com o projeto PTDC/CPE-CED/114130/2009, financiado por Fundos FEDER através do Programa Operacional Factores de Competitividade – COMPETE e por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
o júri
presidente Prof. Doutor António Carlos Mendes de Sousa Professor Catedrático da Universidade de Aveiro
Prof. Doutor Paulo Maria Bastos da Silva Dias Professor Catedrático do Departamento de Educação e Ensino à Distância da Universidade Aberta
Prof. Doutor Luís Manuel Borges Gouveia Professor Associado com Agregação da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Fernando Pessoa
Prof. Doutor António Maria Salvado Coxito Granado Professor Auxiliar da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa
Prof. Doutor Luís Francisco Mendes Gabriel Pedro Professor Auxiliar da Universidade de Aveiro Prof. Doutor António Augusto de Freitas Gonçalves Moreira Professor Associado da Universidade de Aveiro
À Mariana e ao Gonçalo, os dois amores da minha vida... ... e à Margarida, pequena luz e promessa de felicidade plena. !
agradecimentos
Um trabalho que se faz em quatro anos não é, de todo, um trabalho que se faz sozinho. Ao longo de um grande percurso, resumido nestas (de certa forma) poucas páginas, foram muitas as pessoas que me apoiaram, me ajudaram, pessoas que – de uma forma ou de outra, presencialmente ou à distância – ajudaram a que este barco chegasse a bom porto. Assim, gostaria de deixar registado um agradecimento especial aos meus orientadores, Luís Pedro e António Moreira, pelo apoio dado durante estes anos em que trabalhamos juntos e pela paciência com que leram e orientaram as primeiras versões – tão distantes, tão diferentes – do trabalho que apresento agora. Um agradecimento, também especial, à Margarida, à Sílvia Bandeira e à Sara Batalha: a forma afável e aberta com que acederam partilhar comigo os seus pontos de vista e as suas experiências pessoais e profissionais foram de uma importância fundamental para o meu trabalho de investigação. Nunca esquecerei os minutos que passei a falar convosco, presencialmente ou à distância, e a maneira como saí “diferente” de cada uma das nossas conversas. Muito, muito obrigada. Mais um agradecimento, desta feita a todos os que acederam participar neste estudo e a partilhar, comigo, a sua forma de estar e viver a rede. Sem vós este trabalho não teria sido possível, a vós – à vossa disponibilidade – devo alguns dos mais estimulantes e interessantes momentos da escrita desta tese. Agradeço ainda ao Carlos Santos. Pelos inputs, pelo discernimento e clareza, por tudo: um grande professor, um grande consultor, um bom amigo. E deixo um agradecimento ao Júnior, por me ter dado um lugar no Lounge e me ter permitido, ao longo deste último ano, ter um espaço onde pudesse escrever e expressar os meus pensamentos e ideias, a minha forma de ver o mundo. Um espaço onde pudesse ser eu. Por último, um obrigada aos meus amigos do CETAC: à Cátia, por ter sido uma constante no meio de tantas variáveis; ao Samuel, “amigo-de-se-ver”, colega de carteira e especialista na formatação de documentos impossíveis de formatar; à Paula, pela doçura e pela forma desarmante como nos coloca a sorrir com um gesto ou um abraço; à Marta, pela companhia, amizade e seriedade com que trata todos os assuntos; à Dalila, pelos esclarecimentos sobre a metodologia e pelo sorriso sempre aberto. E um grande obrigada à Anabela. Por me teres acompanhado, por me teres ajudar a crescer, por tudo. Parte do que sou e faço devo-o a ti. E, por isso, este trabalho também é teu.
palavras-chave
Identidade online; reputação; SAPO Campus; mudança; literacias digitais; Ensino Superior; ambientes digitais; modelo de análise
resumo
O reconhecimento da dimensão criativa, participativa e social da rede trouxe profundas alterações à forma como se percebem e compreendem as questões relacionadas com a identidade, a educação, a prática e o conhecimento. Num cenário caraterizado pela conectividade e pela facilidade de acesso a pessoas e conteúdos, a rede oferece aos indivíduos um espaço onde podem interagir, trabalhar na sua aprendizagem, trocar experiências e construir uma identidade e reputação acessíveis a toda a comunidade. Quando se torna praticamente impossível permanecer fora do mundo digital e, consequentemente, da produção de uma identidade online (Costa e Torres, 2011; Warburton, 2009), a presença construída pelo indivíduo na rede surge como um currículo vitae ativo e dinâmico, revelador não apenas das competências adquiridas e certificadas em contextos de aprendizagem formais como daquelas desenvolvidas pela interação com os pares, pela partilha e pela comunicação. Partindo da análise da utilização de uma plataforma suportada institucionalmente (i.e. SAPO Campus), o presente trabalho de investigação tem como principal objetivo a análise e caraterização da construção da identidade online de um grupo de alunos do Mestrado em Comunicação Multimédia da Universidade de Aveiro num espaço providenciado pela instituição de ensino que frequentam. Com recurso a inquéritos por questionário, entrevistas em profundidade (realizadas aos participantes no estudo e a profissionais da área da comunicação e gestão de carreiras) e observação direta (análise quantitativa e qualitativa dos conteúdos publicados pelos participantes no SAPO Campus e em duas redes informais), procurou-se ainda caraterizar e analisar a identidade construída em espaços formais e informais, e aferir a importância – para alunos, instituição e mercado – da identidade online enquanto espaço de manifestação e divulgação de competências. Ainda que circunscrita ao contexto específico do Mestrado em Comunicação Multimédia e mais especificamente aos alunos cuja identidade online foi objeto de estudo, análise dos dados permite avançar que, de facto, os alunos estão conscientes da sua própria identidade online bem como da relevância de construir uma identidade e reputação sólidas e autênticas, que reflitam as suas competências e capacidades enquanto aprendentes e profissionais.
resumo (cont.)
Assim, poder-se-á avançar que no SAPO Campus os alunos estão a construir uma identidade online mais formal e cuidada, editando e selecionando os conteúdos de acordo com o contexto. Neste espaço, a maioria das publicações está diretamente relacionada com os trabalhos de investigação dos participantes, que recorrem à sua partilha nas redes informais para aumentar a visibilidade e exposição dos conteúdos publicados. Os participantes no estudo revelaram ainda valorizar o sentimento de segurança providenciado pelas tecnologias institucionais, bem como a possibilidade de construir uma identidade numa plataforma associada à sua instituição de ensino. Do estudo efetuado resultou ainda uma proposta de um modelo para a análise da identidade online, que poderá ser utilizado na análise da presença dos indivíduos em ambientes online formais e informais. Apresentando a identidade online como uma realidade assente na representação digital, na gestão da privacidade e na reputação construída na rede, o modelo foi aplicado aos dados recolhidos pelo estudo, conduzindo ao desenho de duas grandes formas de estar na rede: identidade orientada pelo contexto, e identidade orientada pelo utilizador. Quando as caraterísticas dos mundos digitais alteram a forma de produção da identidade e num cenário onde a contextualização de dados e informação assume uma importância crescente, este estudo de caso poderá contribuir para o conhecimento dos processos de construção da identidade em espaços formais e informais, da forma como os indivíduos gerem e constroem a sua identidade online, e ainda sobre a importância e o impacto da construção de uma identidade online consciente e credível para a reputação dos indivíduos e das Instituições de Ensino Superior.
keywords
Online identity; reputation; SAPO Campus; change; digital literacies; Higher Education; digital environments; analysis model
abstract
The recognition of the creative, participatory and social dimensions of the Web brought profound changes to the way individuals perceive and understand the issues related to identity, education, practice and knowledge. In a scenario characterized by connectivity and ease of access to people and content, the network provides a space where people can interact, learn, share experiences and build a reputation and identity available and accessible to the entire community. When it is almost impossible to stay out of the digital world and, therefore, of the production of an online identity (Costa and Torres, 2011; Warburton, 2009), the presence built by individuals over the network can be understood as an active and dynamic curriculum vitae, one that reveals not only the skills acquired in formal learning environments but also those developed through interaction and communication with peers. Based on the analysis of the use of an institutionally supported platform (i.e. SAPO Campus), this work has as main objective the analysis and characterization of the online identity constructed by of a group of students of the Master Degree in Multimedia Communication, University of Aveiro, in an online space provided by their educational institution. Using questionnaires, in-depth interviews (made to the study’s participants and to professionals in the field of communication and career management) and direct observation (quantitative and qualitative analysis of the content posted by participants in SAPO Campus and in two informal online spaces), the study characterized and analysed the online identity constructed in both formal and informal spaces, and assessed the importance - for students, institution and market – of the online identity as a space for revealing competences and skills that encompasses the individuals’ personal, academic and professional lives. Although limited to the specific context of the Master in Communication Media - and more specifically to students whose online identity has been studied - data analysis revealed that, in fact, students are conscious of their own identity online and of the importance of building a solid and authentic online identity, one that reflect their skills and abilities as learners and professionals.
abstract (cont.)
On SAPO Campus, students are building a more formal and careful online identity more, selecting and editing contents according to the context. In this space, most publications are directly related to the research and academic interests of the participants who, in order to increase the visibility and exposure of published content, share content in informal and social networks. The participants in the study also mentioned the security provided by institutional technologies, as well as the possibility of building an identity on a platform associated with your educational institution as main reasons for adopting the SAPO Campus platform. The study also resulted in the design of a proposal for an online identity analysis model, which can be used to analyse the presence of individuals in formal and informal online environments. Introducing online identity as a concept based on digital representation, privacy management and reputation, the model was applied to the collected data, leading to the identification of two main ways of building an online identity: context-driven online identity and user-driven online identity. When the characteristics of the digital world change the ways of building identity, and in a scenario where the contextualization of data and information is becoming increasingly important, this case study may contribute to the understanding of the processes of identity construction in formal and informal environments, in understanding how individuals manage and build their online identity, and about the importance and impact – for both the individual’s and the Higher Education Institution’s reputation – of building a more conscious and truthful online identity.
A construção da identidade em ambientes digitais
i
ÍNDICE
Capítulo 1! APRESENTAÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO ................................. 1!
1.1! Breve contextualização e motivações .............................................................................. 1!
1.2! A questão de investigação ............................................................................................... 3!
1.3! Desenvolvimento do trabalho .......................................................................................... 4!
1.4! Estrutura da tese .............................................................................................................. 6
Capítulo 2! A REDE, ESPAÇO DE PARTICIPAÇÃO E CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE .... 9!
2.1! A rede, cenário de mudança e manifestação de competências ................................... 10!
2.1.1! O software social .................................................................................................... 10!
2.1.1.1! A utilização do software social em contextos educativos formais ........................ 12!
2.1.2! Literacias digitais, ou a rede como espaço de desenvolvimento de competências
14!
2.1.2.1! O conceito de literacia na sociedade digital ........................................................ 15!
2.1.2.2! Web, soft-skills e a utilização contextualizada da tecnologia ............................... 18!
2.2! A rede, espaço de construção da identidade ............................................................... 22!
2.2.1! Sobre Identidade .................................................................................................... 22!
2.2.1.1! Identidade e Interação Social ............................................................................... 24!
2.2.2! Do analógico ao digital: a representação do individuo na rede ............................ 25!
2.2.2.1! A construção da identidade em ambientes digitais ............................................. 25!
2.2.2.2! Nativos e imigrantes, residentes e visitantes, formas de ser e de estar na rede . 27!
2.2.2.3! Identidade, participação e não participação ........................................................ 30!
2.2.3! A construção e gestão da identidade online .......................................................... 31!
2.2.3.1! A representação do indivíduo na rede ................................................................. 33!
Índice
ii
2.2.3.1.1! Representação visual da identidade online: ferramentas de agregação ..... 36!
2.2.4! A gestão da privacidade ......................................................................................... 37!
2.2.4.1! Privacidade e arquitetura ...................................................................................... 38!
2.2.4.2! Gestão de contextos: identidade facetada .......................................................... 39!
2.2.5! Identidade online e reputação ................................................................................ 41!
2.3! A rede, oportunidade e desafio para indivíduos e instituições ...................................... 42!
2.3.1! A (r)evolução tecnológica, práticas e comportamentos ........................................ 43!
2.3.2! Rede, tecnologia e identidade, oportunidade e desafio paras as Instituições de
Ensino Superior ........................................................................................................................ 46
Capítulo 3! METODOLOGIA ................................................................................................. 49!
3.1! Questão de investigação ............................................................................................... 49!
3.2! Metodologia de investigação adoptada: o estudo de caso .......................................... 50!
3.2.1! Técnicas de recolha de dados e fontes de informação ......................................... 51!
3.2.1.1! Inquérito por questionário .................................................................................... 52!
3.2.1.2! Inquérito por entrevista ......................................................................................... 52!
3.2.1.3! Observação direta não participante ..................................................................... 52!
3.3! Contextualização e definição do estudo ........................................................................ 55!
3.3.1! Identificação dos participantes .............................................................................. 55!
3.3.2! Unidade de análise: espaços online, mensagens e contexto temporal ................ 57!
3.4! Construção dos instrumentos de observação e recolha de dados .............................. 58!
3.4.1! Inquérito por questionário ....................................................................................... 58!
3.4.2! Inquérito por entrevista ........................................................................................... 59!
3.4.2.1! Entrevista realizada ao representante da Universidade de Aveiro ........................ 59!
3.4.2.2! Entrevista realizada ao gestor de um gabinete de carreira e estágios profissionais
59!
3.4.2.3! Entrevista realizada a um profissional da área de comunicação e novos media . 60!
3.4.2.4! Entrevista realizada aos participantes no estudo ................................................. 60
A construção da identidade em ambientes digitais
iii
3.5! Observação direta: análise do conteúdo ....................................................................... 61!
3.5.1! Definição dos parâmetros e indicadores ............................................................... 62!
3.5.1.1! Controlo da subjetividade .................................................................................... 66
Capítulo 4! ESTUDO DE CASO ............................................................................................ 69!
4.1! Enquadramento do estudo ............................................................................................ 69!
4.2! Identidade online, oportunidade e desafio .................................................................... 70!
4.2.1! A perspetiva institucional ........................................................................................ 71!
4.2.2! A identidade online vista na perspetiva do mercado ............................................. 73!
4.2.3! A identidade online espaço e meio de manifestação de competências ............... 74!
4.3! O SAPO Campus e o software social no Mestrado em Comunicação Multimédia ...... 77!
4.3.1! Caraterização dos alunos respondentes ao questionário ..................................... 77!
4.3.2! Utilização das ferramentas do software social ....................................................... 78!
4.3.3! Utilização da plataforma SAPO Campus ............................................................... 83!
4.3.4! Razões para o registo no SAPO Campus .............................................................. 84!
4.4! A construção da identidade no Mestrado em Comunicação Multimédia ..................... 85!
4.4.1! Caraterização dos participantes no estudo ........................................................... 86!
4.4.2! Utilização do SAPO Campus e das ferramentas do software social ..................... 86!
4.5! A construção da identidade em ambientes digitais: ..................................................... 89!
4.5.1! P01 – “Não me comprometo” ................................................................................ 89!
4.5.1.1! Autoperceção/identidade autoinformativa ............................................................ 90!
4.5.1.2! Participação: tipologia e formato das publicações .............................................. 91!
4.5.2! P02 – “ um espelho da realidade” .......................................................................... 94!
4.5.2.1! Autoperceção/identidade autoinformativa ............................................................ 94!
4.5.2.2! Participação: tipologia e formato das publicações .............................................. 96!
4.5.3! P03 – “Dress for the work you want to have” ......................................................... 98!
4.5.3.1! Autoperceção/identidade autoinformativa ............................................................ 98!
4.5.3.2! Participação: tipologia e formato das publicações ............................................ 100!
Índice
iv
4.5.4! P04 – “Uma presença normal” ............................................................................. 103!
4.5.4.1! Autoperceção/identidade autoinformativa .......................................................... 103!
4.5.4.2! Participação: tipologia e formato das publicações ............................................ 104!
4.5.5! P05 – “Não é só uma identidade” ........................................................................ 107!
4.5.5.1! Autoperceção/identidade autoinformativa .......................................................... 107!
4.5.5.2! Participação: tipologia e formato das publicações ............................................ 109!
4.5.6! P06 – “Não publico nada da minha esfera privada” ............................................ 112!
4.5.6.1! Autoperceção/identidade autoinformativa .......................................................... 112!
4.5.6.2! Participação: tipologia e formato das publicações ............................................ 113!
4.5.7! P07 – “Sou aquilo que sou” .................................................................................. 115!
4.5.7.1! Autoperceção/identidade autoinformativa .......................................................... 115!
4.5.7.2! Participação: tipologia e formato das publicações ............................................ 116!
4.5.8! P08 – “uma pessoa bastante simples” ................................................................ 118!
4.5.8.1! Autoperceção/identidade autoinformativa .......................................................... 118!
4.5.8.2! Participação: tipologia e formato das publicações ............................................ 119!
4.5.9! P09 – “Publico tudo o que me vier à cabeça” ...................................................... 122!
4.5.9.1! Autoperceção/ identidade autoinformativa ......................................................... 122!
4.5.9.2! Participação: tipologia e formato das publicações ............................................ 124!
4.5.10! P10 – “Sou confiante das coisas que publico” .................................................. 126!
4.5.10.1! Autoperceção/identidade autoinformativa ........................................................ 127!
4.5.10.2! Participação: tipologia e formato das publicações .......................................... 128!
4.5.11! P11 – “Sou eu próprio” ....................................................................................... 130!
4.5.11.1! Autoperceção/identidade autoinformativa ........................................................ 131!
4.5.11.2! Participação: tipologia e formato das publicações .......................................... 132!
4.5.12! P12 – “Consumo mais do que partilho” ............................................................. 134!
4.5.12.1! Autoperceção/identidade autoinformativa ........................................................ 134!
4.5.12.2! Participação: tipologia e formato das publicações .......................................... 136!
4.5.13! P13 – “Partilho aquilo que acho interessante partilhar” ..................................... 138!
4.5.13.1! Autoperceção/identidade autoinformativa ........................................................ 138!
4.5.13.2! Participação: tipologia e formato das publicações .......................................... 140!
A construção da identidade em ambientes digitais
v
4.6! SAPO Campus, Facebook e Twitter em contexto formal de aprendizagem ............... 143!
4.7! Representação digital, gestão da privacidade e reputação: análise da identidade
construída em ambientes digitais ............................................................................................... 145!
4.7.1! Representação digital ........................................................................................... 148!
4.7.2! Gestão da privacidade ......................................................................................... 149!
4.7.3! Reputação ............................................................................................................ 150!
4.7.4! Aplicação do Modelo para a Análise da Identidade Online ................................. 152!
4.7.4.1! Modelo para a Análise da Identidade Online: resultados da aplicação ............. 159!
4.8! Síntese .......................................................................................................................... 159
Capítulo 5! DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................................................... 161!
5.1! SAPO Campus e identidade online ............................................................................. 161!
5.1.1! Representação digital no SAPO Campus ............................................................ 162!
5.1.2! A influência da dimensão institucional da plataforma na modelação de
comportamentos .................................................................................................................... 164!
5.1.3! Visibilidade e exposição dos conteúdos publicados no SAPO Campus ............ 164!
5.1.4! Identidade online no SAPO Campus: a relevância da associação institucional . 165!
5.2! A construção da identidade em ambientes digitais .................................................... 167!
5.2.1! A Representação digital ....................................................................................... 167!
5.2.1.1! Representação digital: controlo da subjetividade .............................................. 171!
5.2.2! A gestão da identidade: mecanismos e estratégias ............................................ 172!
5.2.3! Identidade online: análise da presença na rede a partir do Modelo para a Análise
da Identidade Online .............................................................................................................. 173!
5.2.3.1! Identidade orientada pelo contexto .................................................................... 174!
5.2.3.2! Identidade orientada pelo utilizador ................................................................... 176!
5.2.3.3! Identidade online: posicionamento dos participantes ....................................... 177!
5.3! Identidade online, espaço de manifestação de competências ................................... 178!
5.3.1! A importância da identidade online em contexto profissional ............................. 178!
5.3.2! Identidade online e construção de reputação ..................................................... 179!
Índice
vi
5.3.3! A rede, espaço de manifestação de competências ............................................ 180!
5.4! Síntese .......................................................................................................................... 181
Capítulo 6! CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE INVESTIGAÇÃO FUTURA ...................... 183!
6.1! Conclusões relativas às questões de investigação ..................................................... 184!
6.2! O Modelo para Análise da Identidade Online .............................................................. 186!
6.3! Limitações do estudo ................................................................................................... 190!
6.4! Perspetivas de investigação futura .............................................................................. 190!
6.5! Reflexões relativas ao trabalho de investigação .......................................................... 192!
6.6! Reflexões finais ............................................................................................................. 193
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 197
ANEXOS ....................................................................................................... 207
A construção da identidade em ambientes digitais
vii
ÍNDICE DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Ferramentas do software social: frequência de utilização (MCMM 2008-2010) .......... 79!Gráfico 2 – Software social: contextos de utilização (MCMM 2008-2010) ...................................... 80!Gráfico 3 - Ferramentas do software social: frequência de utilização (MCMM 2009-2011) .......... 81!Gráfico 4 - Software social: contextos de utilização (MCMM 2009-2011) ...................................... 82!Gráfico 5 - SAPO Campus: frequência de utilização (MCMM 2008-2010) ..................................... 83!Gráfico 6 - SAPO Campus: frequência de utilização (MCMM 2009-2011) ..................................... 84!Gráfico 7 - Razões para o registo no SAPO Campus ..................................................................... 85!Gráfico 8 - Software social: contextos de utilização (participantes no estudo) .............................. 87!Gráfico 9 – P01: conteúdos publicados pela participante (tipologia e formato) ............................ 93!Gráfico 10 - P02: conteúdos publicados pelo participante (tipologia e formato) ........................... 97!Gráfico 11 – P03: conteúdos publicados pelo participante (tipologia e formato) ........................ 102!Gráfico 12 - P04: conteúdos publicados pelo participante (tipologia e formato) ......................... 106!Gráfico 13 - P05: conteúdos publicados pela participante (tipologia e formato) ......................... 111!Gráfico 14 - P06: conteúdos publicados pela participante (tipologia e formato) ......................... 114!Gráfico 15 – P07: conteúdos publicados pelo participante (tipologia e formato) ........................ 117!Gráfico 16 – P08: conteúdos publicados pelo participante (tipologia e formato) ........................ 121!Gráfico 17 – P09: conteúdos publicados pelo participante (tipologia e formato) ........................ 126!Gráfico 18 – P10: conteúdos publicados pelo participante (tipologia e formato) ........................ 130!Gráfico 19 – P11: conteúdos publicados pela participante (tipologia e formato) ........................ 133!Gráfico 20 – P12: conteúdos publicados pela participante (tipologia e formato) ........................ 137!Gráfico 21 – P13: conteúdos publicados pela participante (tipologia e formato) ........................ 142!
Índice
viii
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1 - Plano de Ação ............................................................................................................... 54!Quadro 2 - Relação entre o número de alunos inscritos nas turmas e o número de respondentes
ao questionário ....................................................................................................................... 56!Quadro 3 - Relação entre respondentes (questionário) e alunos participantes no estudo ............ 56!Quadro 4 - Tipologia de participação: indicadores ......................................................................... 64!Quadro 5 - Formato das participações: indicadores ...................................................................... 65!Quadro 6 – Idades dos respondentes ao questionário .................................................................. 78!Quadro 7 - Software social: ferramentas mais utilizadas (MCMM 2008-2010) .............................. 78!Quadro 8 - Software social: ferramentas mais utilizadas (MCMM 2009-2011) .............................. 80!Quadro 9 - Idades dos participantes no estudo ............................................................................. 86!Quadro 10 – Caraterização dos participantes no estudo ............................................................... 88!Quadro 11 – Participante P01: conteúdos publicados por plataforma ........................................... 91!Quadro 12 – Participante P02: conteúdos publicados por plataforma ........................................... 96!Quadro 13 – Participante P03: conteúdos publicados por plataforma ......................................... 100!Quadro 14 – Participante P04: conteúdos publicados por plataforma ......................................... 105!Quadro 15 – Participante P05: conteúdos publicados por plataforma ......................................... 110!Quadro 16 – Participante P06: conteúdos publicados por plataforma ......................................... 113!Quadro 17 – Participante P07: conteúdos publicados por plataforma ......................................... 116!Quadro 18 – Participante P08: conteúdos publicados por plataforma ......................................... 120!Quadro 19 – Participante P09: conteúdos publicados por plataforma ......................................... 124!Quadro 20 – Participante P10: conteúdos publicados por plataforma ......................................... 128!Quadro 21 – Participante P11: conteúdos publicados por plataforma ......................................... 132!Quadro 22 – Participante P12: conteúdos publicados por plataforma ......................................... 136!Quadro 23 – Participante P13: conteúdos publicados por plataforma ......................................... 141!Quadro 24 – Modelo para a Análise da Identidade Online ........................................................... 147!Quadro 25 - Caraterização do perfil da identidade online dos participantes no estudo .............. 158!Quadro 26 - Conteúdos publicados pelos participantes no SAPO Campus ............................... 169!Quadro 27 - Conteúdos publicados pelos participantes no Facebook ........................................ 170!Quadro 28 - Conteúdos publicados pelos participantes no Twitter ............................................. 170!Quadro 29 - Concordância entre os dois momentos de codificação ........................................... 171!
A construção da identidade em ambientes digitais
ix
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 - Dimensões do Modelo para a Análise da Identidade Online ....................................... 152!Figura 2 – informação disponibilizada pelos participantes no perfil de utilizador ........................ 169!Figura 3 - Posicionamento dos participantes de acordo com o seu perfil de identidade online . 177!
A construção da identidade em ambientes digitais
1
Capítulo 1 APRESENTAÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO
“The creation of even one single account marks the beginning of our digital self. (…).
It is up to us to manage it wisely, and guide others in their journey to create theirs.”
(Costa e Torres, 2011:929)
1.1 Breve contextualização e motivações
Com o desenvolvimento das Web social, a Internet evoluiu de um meio veiculador da
informação para uma plataforma assente na criação, partilha e transformação de conteúdos
(Downes, 2005). Num contexto caraterizado pela negociação, discussão e partilha de
informação, dados e conhecimento, o aparecimento das ferramentas sociais da Web 2.0 e a
perceção da rede como plataforma de comunicação e colaboração representam uma viragem
ao nível da utilização da tecnologia em direção a uma abordagem que realça a dimensão
participativa da rede (Santos e Pedro, 2009). Mais do que facilitar o acesso a repositórios
digitais, a nova abordagem à rede potenciou a ligação entre indivíduos, concretizada na partilha
de ideias, na aprendizagem com e pelos pares e na criação colaborativa de novas formas de
conhecimento (Chatti et al, 2007) e possibilitando o aparecimento de um novo comportamento
online que transforma a sociedade e coloca desafios à forma como se comunica e aprende (Lee
e McLoughkin, 2008).
Ao aprenderem com e através dos media, os indivíduos estarão ao mesmo tempo a
desenvolver uma orientação para a informação e uma consciência pessoal da sua própria
identidade enquanto aprendentes (Buckingham, 2008b). O espaço online, enquanto laboratório
social onde os indivíduos podem testar e trabalhar na construção e reconstrução do “eu” (Turkle,
1995), abre caminho a inúmeras formas de interação, comunicação e construção de
comunidades (Buckingham, 2008b).
Num contexto caraterizado pela mediatização e participação, e onde a informação e os
dados permanecem para além do tempo de vida esperado pelo indivíduo, a construção de uma
Capitulo I – Apresentação e contextualização do estudo
2
identidade na rede surge como um fenómeno praticamente inevitável (Warburton, 2009): quer
através do registo em bases de dados nacionais ou pela criação de uma conta num serviço de
onlinebanking, quer através da participação ativa em blogs, fóruns de discussão ou pela
interação em redes sociais, o indivíduo constrói uma presença na rede, um registo
eventualmente possível de ser recuperado e replicado e eventualmente acessível a toda a
comunidade.
A existência de uma identidade na rede tornou-se um fenómeno impossível de contornar,
quer por indivíduos quer por instituições. Podendo ser encarada como uma ameaça à
privacidade e à segurança dos indivíduos - incapazes de controlar o percurso da informação que
adiciona ou que é por outros adicionada à sua presença – ou como uma oportunidade e uma
forma de divulgar, a uma vasta audiência, competências pessoais e profissionais que vão ao
encontro das atuais necessidades da sociedade e do mercado, a presença na rede assume-se
como uma realidade que ultrapassa o ambiente digital e que se poderá repercutir nas relações,
nas interações e na reputação dos indivíduos.
Neste cenário, o estudo dos processos e tomadas de decisão subjacentes à construção da
identidade na rede assume uma importância crescente no contexto do ensino superior,
nomeadamente no que diz respeito à gestão da presença em ambientes digitais e ao papel das
instituições na preparação dos seus alunos para o futuro profissional. Mais ainda, importa
conhecer os processos de tomada de decisão, a forma como indivíduos-alunos e as próprias
instituições trabalham e apresentam a sua identidade na rede – quer em espaços formais ou
institucionais, quer em espaços sociais –, o que os motiva, quais os objetivos que conduzem à
construção dessa presença e qual o impacto (potencial e real) da identidade construída na rede.
A análise e reflexão sobre a construção da identidade no espaço online implica assim uma
resposta complexa, onde a identidade surge como um perfil distribuído, composto e mesmo
escrito por múltiplos autores e que considera múltiplas questões (Downes, 2008). Tomando
como contextos de análise a identidade construída por um grupo de alunos do Mestrado em
Comunicação Multimédia (Universidade de Aveiro) numa plataforma suportada pela sua
instituição de ensino (i.e. SAPO Campus) e em espaços informais (i.e. Facebook e Twitter), este
estudo de caso procura analisar a forma como os alunos constroem a sua identidade numa
plataforma providenciada pela instituição de ensino que frequentam, na identificação dos
aspetos que caraterizam a construção da identidade nessa plataforma e em espaços informais e
ainda perceber a importância, para alunos, instituição e comunidade, da existência de uma
identidade que reflita o percurso e competências do aluno enquanto indivíduo, académico e
profissional
A construção da identidade em ambientes digitais
3
1.2 A questão de investigação
Na rede, o indivíduo articula a sua presença entre cenários, plataformas, grupos e
comunidades produzindo, nesse percurso, um vasto conjunto de informação reveladora de
aspetos e dimensões da sua identidade passível de traduzir – direta ou indiretamente – o seu
percurso enquanto aprendente e indivíduo. Desenvolvido na Universidade de Aveiro, o SAPO
Campus é uma plataforma integrada de serviços Web 2.0 baseada na criação de conteúdos
pelo utilizador e que faculta, aos seus utilizadores, uma infraestrutura tecnológica de suporte ao
desenvolvimento de competências ao nível da colaboração, partilha e comunicação. A dimensão
da presença na rede está também presente no desenho da plataforma: considerando a
presença online como algo desdobrado em “múltiplas presenças e diferentes serviços que,
inclusivamente, podem ter objectivos semelhantes” (Santos, 2009:42), o SAPO Campus
disponibiliza um serviço de agregação de conteúdos internos ou externos à plataforma e um
conjunto de serviços (e.g. blog, serviço de partilha de fotos e vídeo, wiki) que possibilitam ao
utilizador criar uma identidade própria que reflita o seu percurso enquanto indivíduo e
aprendente.
Neste contexto, a análise da construção da presença online num ambiente institucional – e,
por isso, diretamente associado à identidade real do utilizador – surge como um aspeto que
poderá trazer mais informação sobre a forma como o indivíduo constrói, articula e partilha a sua
identidade na rede. Considerando os múltiplos serviços da rede já utilizados pelos indivíduos e
tendo como campo de análise a dimensão da “presença online” providenciada pela plataforma,
definiram-se como ponto de partida para o presente estudo as seguintes questões de
investigação:
! num cenário onde a rede possibilita a ligação entre indivíduos, espaços e
comunidades, como é que alunos do Mestrado em Comunicação Multimédia
(MCMM) da Universidade de Aveiro constroem a sua identidade num espaço
providenciado pela instituição de ensino que frequentam?
! que aspetos caraterizam a identidade online construída numa plataforma suportada
institucionalmente (i.e. SAPO Campus) e aquela construída em ambientes informais?
! qual a importância (percebida por alunos, instituição e comunidade) da identidade
online enquanto meio de manifestação e divulgação de competências?
No intuito de encontrar resposta às questões avançadas, definiu-se uma estrutura de suporte
à investigação concretizada nos seguintes objetivos:
! descrever e analisar a identidade online de um grupo de alunos, manifestada em
ambientes digitais (ambiente institucional e ambientes informais);
! analisar a perceção dos indivíduos relativamente à sua própria representação
Capitulo I – Apresentação e contextualização do estudo
4
(identidade autoinformativa) em ambientes formais e informais, avaliando a
importância do contexto (formal e informal) na modelação dos comportamentos e da
presença online;
! identificar os mecanismos e estratégias utilizados pelos indivíduos para a gestão da
sua identidade na rede, e os motivos e razões subjacentes à adoção dessas
medidas;
! avaliar a influência da dimensão institucional na construção da identidade online dos
indivíduos, identificando as razões subjacentes à utilização de uma plataforma online
suportada institucionalmente;
! identificar a manifestação, em ambiente digital, de competências e aprendizagens
adquiridas e desenvolvidas pelos indivíduos;
! avaliar a importância (percebida pelos indivíduos, instituição e comunidade) da
reputação digital e do papel que esta desempenha ao nível do futuro profissional, da
imagem da instituição de ensino e da adequação ao mercado de trabalho.
1.3 Desenvolvimento do trabalho
Com o presente estudo pretende-se analisar a identidade construída e manifestada por um
grupo de alunos do Mestrado em Comunicação Multimédia no SAPO Campus e em dois
espaços informais: Facebook e Twitter. Mais ainda, pretende-se identificar os motivos que
suportam a construção da identidade na rede, os mecanismos adotados pelos participantes no
estudo para a gestão da sua identidade e perceber, a partir da realização de entrevistas, a
perceção dos participantes, da instituição e do mercado de trabalho relativamente à importância
da construção de uma identidade na rede.
Procurando analisar em profundidade os aspetos que caraterizam a construção da
identidade numa plataforma providenciada pela instituição de ensino, bem como as motivações
subjacentes à construção de uma identidade online, considerou-se a metodologia de estudo de
caso como sendo a mais adequada à natureza da investigação. Definidos os objetivos do
estudo e a linha orientadora do enquadramento teórico – i.e. o estudo da rede enquanto espaço
de manifestação de competências e enquanto espaço de construção de identidade – procedeu-
se à determinação das técnicas e instrumentos de recolha de dados e das fontes de
informação. Assim, foram consideradas como técnicas de recolha de dados o inquérito por
questionário, o inquérito por entrevista, e a observação direta não participante. Considerada a
necessidade de recolher informação referente à perspetiva de alunos, da instituição de ensino e
do mercado de trabalho relativamente à importância da identidade e reputação construídas na
A construção da identidade em ambientes digitais
5
rede, consideraram-se como fontes de informação os alunos do Mestrado em Comunicação
Multimédia participantes no estudo, um representante da Universidade de Aveiro (representante
institucional), um profissional da área da gestão de carreiras e estágios profissionais, e um
profissional da área da comunicação e dos media.
A aplicação de questionários a duas turmas do Mestrado em Comunicação Multimédia
(edições 2008-2010 e 2009-2011) possibilitou a identificação das ferramentas do software social
mais utilizadas pelos alunos (n=58, correspondentes a 72,5% do total de alunos inscritos nas
duas turmas), bem como os contextos de utilização das diferentes ferramentas. Mais ainda,
permitiu a classificação dos alunos enquanto utilizadores do software social e da plataforma
SAPO Campus, ao nível dos contextos e frequência de utilização, e a identificação dos motivos
subjacentes à adoção da plataforma suportada institucionalmente, e a identificação dos
potenciais participantes no estudo (i.e. os alunos cuja identidade online seria objeto de análise e
que, após contacto, acederam a continuar a participar na investigação, n=13).
Identificados os alunos participantes no estudo, procedeu-se ao levantamento dos conteúdos
por estes publicados no SAPO Campus e em duas redes informais (Facebook e Twitter),
conteúdos que foram transcritos e analisados quantitativa e qualitativamente de acordo com
parâmetros predefinidos. Todos os conteúdos publicados pelos participantes durante um
período de dez meses (de setembro a junho, período correspondente ao ano letivo) pelos 13
participantes foram analisados e codificados segundo a tipologia de conteúdo (i.e. conteúdo de
caráter pessoal, social, académico, profissional ou organizacional) e segundo o formato (i.e.
mensagem de texto, partilha de ligação, conteúdo áudio/vídeo ou fotografia), num total de 3692
publicações: 347 publicações no SAPO Campus; 1249 publicações no Facebook; e 2096
publicações no Twitter.
A realização de entrevistas aos alunos possibilitou a caraterização, pelos próprios, da
identidade construída na rede, das motivações para a construção dessa identidade, a
identificação dos mecanismos de gestão adotados na gestão da presença na rede e a avaliação
do potencial e/ou real impacto da identidade construída no SAPO Campus e nas redes
informais. A informação recolhida a partir das entrevistas realizadas aos profissionais possibilitou
a caraterização do contexto social e profissional em que os alunos constroem a sua presença,
bem como a identificação de linhas de pensamento e reflexão que deverão ser consideradas
aquando da análise, planificação e gestão da identidade construída na rede.
A partir da análise da informação recolhida nos questionários, pelas entrevistas e a partir da
análise dos conteúdos publicados pelos participantes nos três espaços considerados no
presente estudo, foi possível identificar um conjunto de pontos comuns ao nível da
representação digital, da gestão da privacidade e da construção da reputação dos indivíduos,
ponto de partida para a construção da proposta de Modelo para a Análise da Identidade Online
apresentada no capitulo V – Estudo de caso.
Capitulo I – Apresentação e contextualização do estudo
6
1.4 Estrutura da tese
O presente documento encontra-se estruturado em seis capítulos, articulados de forma a dar
resposta às questões de investigação enunciadas.
No presente capítulo (primeiro), procede-se à contextualização do estudo, à apresentação
das motivações que estão na origem do trabalho, enunciadas as questões de investigação e
apresentado, de uma forma sumária, o processo e o desenvolvimento do trabalho de
investigação.
No segundo capítulo – “A rede, espaço de participação e de construção da identidade”–,
reflete-se sobre a evolução da rede e as suas implicações ao nível da utilização da tecnologia
em contextos educativos formais e em contextos informais. Na primeira secção, são abordados
aspetos relacionados com a literacia digital, sobre o desenvolvimento de competências e sobre
a influência da Web social ao nível das práticas e dos comportamentos. A segunda secção
incide sobre a rede enquanto espaço de construção de identidade, abordando-se a diversidade
do conceito de identidade, refletindo-se sobre a identidade enquanto processo socialmente
construído e sobre os aspetos que caraterizam a construção da identidade em ambientes
digitais. Ainda neste capítulo aborda-se a importância da identidade ao nível da construção da
reputação, e as implicações e desafios que a presença na rede representa para alunos e para as
instituições.
No terceiro capítulo, descrevem-se os procedimentos metodológicos que orientaram o
desenvolvimento dos trabalhos de investigação. Enunciadas as questões de investigação e
apresentada em detalhe a metodologia de investigação adotada e as técnicas de recolha de
dados e fontes de informação, procede-se à contextualização e definição do estudo com a
identificação dos participantes e da unidade de análise. Neste capítulo é ainda apresentado o
plano de ação, descrita a construção dos instrumentos de observação e recolha de dados e
definidos os parâmetros que serviram de base à classificação dos conteúdos publicados na
rede pelos alunos participantes no estudo.
O quarto capítulo apresenta e analisa os dados recolhidos ao longo do trabalho de
investigação. Enquadrado o estudo, analisa-se importância da identidade online a partir da
perspetiva institucional e do mercado (através da análise da informação recolhida nas entrevistas
realizadas ao representante institucional e ao profissional da área da gestão de carreiras e
estágios profissionais) e enquanto espaço e meio de manifestação de competências (a partir da
informação recolhida na entrevista realizada ao profissional da área da comunicação e dos
media). A terceira secção carateriza a utilização da plataforma SAPO Campus e das ferramentas
do software social no Mestrado em Comunicação Multimédia, e a quarta secção apresenta a
caraterização dos participantes no estudo e a utilização, pelos mesmos, da plataforma SAPO
Campus e das ferramentas do software social. Ainda neste capitulo é apresentada,
A construção da identidade em ambientes digitais
7
individualmente e com detalhe, a análise da informação recolhida a partir dos questionários,
entrevistas e análise dos conteúdos publicados pelos participantes no estudo, e reflete-se sobre
a utilização do SAPO Campus e das redes informais em contextos formais de aprendizagem.
Resultado do estudo, tratamento e reflexão dos dados recolhidos e apresentados ao longo do
capítulo, a última secção apresenta a proposta de Modelo para Análise da Identidade Online, um
instrumento que poderá ser utilizado para análise e reflexão da identidade construída pelos
indivíduos na rede.
O quinto capítulo apresenta a discussão dos resultados, procurando responder às questões
de investigação definidas para o presente estudo, refletindo sobre a construção da identidade no
SAPO Campus e sobre a influência da dimensão institucional da plataforma na modelação de
comportamentos, apresentando as principais conclusões sobre a construção da identidade em
ambientes digitais, ao nível da representação digital, dos mecanismos de gestão da identidade e
da identidade online enquanto espaço de manifestação de competências. Neste capítulo reflete-
se ainda sobre a importância da identidade online em contexto profissional e da importância da
reputação construída na rede.
O sexto capítulo procura apresentar uma reflexão sobre o contributo do trabalho de
investigação desenvolvido, nomeadamente na sua importância para a análise da gestão da
identidade na rede de indivíduos e instituições, e nas implicações que esta dimensão da
identidade poderá ter na reformulação dos currículos de ensino.
Por fim, apresentam-se as referências bibliográficas que servem de suporte a este estudo, e
os anexos, que incluem os instrumentos de recolha de dados construídos e utilizados no
presente trabalho de investigação.
A construção da identidade em ambientes digitais
9
Capítulo 2 A REDE, ESPAÇO DE PARTICIPAÇÃO E DE CONSTRUÇÃO DA
IDENTIDADE
O reconhecimento da dimensão participativa da rede alterou a forma como se percebem as
questões relacionadas com a aprendizagem e o desenvolvimento de competências, colocando a
partilha, a interação e a troca de experiências no centro dos processos de discussão e construção
do conhecimento. Num contexto caraterizado pela ligação entre sistemas e indivíduos, a rede surge
como um espaço onde pessoas e comunidades convergem e interagem e onde a identidade do
indivíduo, enquanto aprendente, já não se resume ao conjunto das suas experiências académicas
formais mas engloba também o seu percurso de vida e os diferentes espaços por onde e através
dos quais constrói a sua aprendizagem.
Quando a ubiquidade tecnológica possibilita ao indivíduo o acesso a fontes de informação e
contextos de aprendizagem que vão além do espaço físico e temporal onde se move e constrói a
sua identidade enquanto aprendente, a reflexão sobre os cenários e contextos de aprendizagem, a
relevância das competências adquiridas e a utilização da rede enquanto espaço de manifestação e
divulgação de competências poderá ser o ponto de partida para uma análise mais profunda, capaz
de fornecer algumas respostas aos desafios que se colocam às Instituições de Ensino Superior.
Estruturado em três secções, este capítulo apresenta a revisão da literatura que serviu de
suporte ao presente estudo. Partindo de uma abordagem sumária ao software social e às questões
relacionadas com a sua adoção em contexto educativo, a primeira secção incide sobre a rede
enquanto cenário de mudança e de manifestação de competências e reflete sobre a importância e
relevância das literacias digitais; na segunda secção abordam-se as questões relacionadas com a
identidade, com a sua manifestação em ambientes digitais e a importância da construção de uma
reputação na rede; por fim, na terceira secção, recuperam-se as questões abordadas anteriormente
e apresenta-se uma revisão e reflexão que incide sobre as implicações e desafios que a adoção da
rede como espaço de construção e manifestação de identidade colocam às instituições de ensino
superior.
Capítulo II – A rede, espaço de participação e de construção da identidade
10
2.1 A rede, cenário de mudança e manifestação de competências
A Internet teve, nos últimos tempos, um profundo impacto nas vidas profissionais e pessoais dos
indivíduos. Normalmente associada a um conjunto de tecnologias facilitadoras da ligação e
comunicação entre pessoas, espaços e comunidades, a Web 2.0 – conceito que surgiu
oficialmente em 2004, numa sessão de trabalhos entre as empresas O’Reilly e a MediaLab
International, onde se discutiu a eventual organização de uma conferência sobre a Internet
(Anderson, 2007)1 – trouxe profundas alterações ao nível do papel do utilizador enquanto
colaborador na criação da informação (Richardson, 2006). No termo popularizado por O’Reilly, a
rede é apresentada como uma plataforma cujo controlo está nas mãos dos próprios utilizadores,
concedendo-lhes a capacidade de extraírem dados e informação e de os reutilizarem de forma
flexível (O’Reilly, 2006). Referindo-se também à Web 2.0, Dawson (2007) realça o caráter
descentralizado, participativo e aberto da rede, apresentando como exemplos a emergência do
blogging, das redes sociais, e do upload gratuito e facilitado de imagens, áudio e vídeo, permitindo
a criação fácil, coletiva e partilhada de conteúdo.
Num sistema em evolução constante onde o software é sujeito a um processo contínuo de
melhoria (Bryant, 2007), os utilizadores têm a possibilidade de se afastarem da atitude passiva de
meros consumidores de informação, assumindo o papel de coprodutores dos programas e
conteúdos que utilizam. Componente essencial do movimento Web 2.0, o software social – i.e.
software desenvolvido para suportar a interação e colaboração do grupo (Owen et al., 2006) –
possibilita a comunicação e interação entre utilizadores, a colaboração e a publicação de
conteúdos em inúmeros formatos e meios, e potencia a construção conjunta de conhecimento,
trabalhado pelos aprendentes de forma a responder às suas necessidades específicas (ib, 2006).
2.1.1 O software social
Em contexto educativo, o software social encontra aplicação ao nível da comunicação, contacto
e interação entre indivíduos ou grupos, promove a partilha de conteúdos e o desenvolvimento de
formas colaborativas de agregação e indexação da informação, incentivando a construção do
conhecimento para além do currículo e a sua partilha com a comunidade. Ferramentas como
1 No ano seguinte, em 2005, Tim O’Reilly publica “What is Web 2.0: Designing Patterns and Bussiness
Models for the Next Generation of Software”, artigo onde define quais as palavras-chave associadas à
tecnologia de software social: participação, poder da multidão, utilizador como contribuinte (Anderson, 2007).
A construção da identidade em ambientes digitais
11
blogs2, wikis3, ferramentas de partilha de conteúdos4 e redes sociais5 (entre outras) são utilizadas
enquanto suporte aos processos de ensino e aprendizagem, favorecendo a criação de ambientes
mais dinâmicos e personalizados.
No domínio da escrita digital, o blogging potencia o aparecimento da escrita distribuída – um
estilo que implica leitura e reflexão, clareza na construção dos textos e cuidados com as fontes de
informação (Richardson, 2006). Em contexto educativo, poderá contribuir para incrementar
competências ao nível da escrita, da aprendizagem em comunidade, da pesquisa em profundidade,
da ponderação e da edição pelos pares, e ainda o encontro de comunidades de interesse sobre um
mesmo tópico, aumentando a confiança relativamente ao próprio conhecimento adquirido e
desenvolvido (Solomon e Schrum, 2007).
Pela utilização de wikis – ferramenta do software social que possibilita a construção cooperativa
e/ou colaborativa de conhecimento – é dado ao utilizador o poder de trabalhar e editar a
informação, assumindo cada contribuinte o papel de editor num processo assente na premissa que
esforço e trabalho conjuntos serão superiores a qualquer resultado individual (Richardson, 2006). A
sua relativa facilidade de utilização, edição e alteração de conteúdo, independentemente do espaço
e do tempo, torna-a uma ferramenta eficaz no domínio da escrita colaborativa (Solomon e Schrum,
2007), encontrando-se entre os principais problemas associados à utilização desta ferramenta as
implicações ao nível da propriedade intelectual e dos direitos de autor – uma vez que o conteúdo
criado pode ser editado e reestruturado por milhares de pessoas (Lamb, 2004) –, os riscos
associados ao vandalismo, traduzidos na eliminação e alteração dos conteúdos publicados e a
publicação de textos com pouca qualidade ao nível da escrita e de validação das fontes.
No campo educativo, a utilização de wikis possibilita a exploração partilhada de áreas de
conhecimento, e a construção de recursos educativos de forma genuinamente colaborativa (Bryant,
2007). O ambiente colaborativo proporcionado por esta ferramenta poderá potenciar, nos alunos, o
2 Sítio web com conteúdos geralmente de opinião ou informação, apresentados numa ordem
cronologicamente inversa, mantidos e atualizados por um ou mais autores (Huang e Behara, 2007) de forma instantânea a partir de qualquer ligação à Internet e que incluem normalmente ligações para outros blogs, visitados pelo autor numa base regular (Siemens, 2002). Ainda que a designação formal seja weblog, no presente document opta-se pela utilização do termo na sua forma mais comum, i.e. blogs/blogs.
3 Comummente definidas como um conjunto de páginas da Internet facilmente editáveis por quem elas tenha acesso, sem necessidade de conhecimento prévio de programação (D’Sousa, s/d), organizada de forma não hierárquica ou de navegação direta mas antes pelo contexto e por ligações de entrada e de saída (Lamb, 2004)."
4 Ferramentas que facilitam o armazenamento e partilha de conteúdos multimédia (e.g. Flickr, YouTube).
5 Sistemas que oferecem serviços de comunicação e interação na rede entre indivíduos, grupos e comunidades; geralmente conduzidos para o incentivo da socialização ou para o estabelecimento de contatos profissionais, as redes sociais possibilitam ainda a identificação e o contato de entre indivíduos que partilham interesses semelhantes (Owen et al., 2006).
Capítulo II – A rede, espaço de participação e de construção da identidade
12
desenvolvimento de competências relacionadas com o trabalho colaborativo, a criação de
comunidades ou mesmo o desenvolvimento de métodos de trabalho assentes na colaboração e no
esforço de grupo (Richardson, 2006).
Fora do âmbito das ferramentas assentes na escrita, as ferramentas de partilha de conteúdos
facilitam o armazenamento, partilha e distribuição de conteúdos multimédia pelos utilizadores na
rede. Serviços como o YouTube para a partilha de vídeos, o Flickr ou Picasa para a partilha de fotos,
o Soundcloud6 para a partilha de ficheiros áudio, contribuem para a promoção do utilizador como
contribuinte ativo na produção de conteúdos, afastando-o da perspetiva de utilizador como mero
consumidor de informação (Anderson, 2007).
No que se refere às redes sociais, consistem em sistemas normalmente desenhados para
incentivar a socialização, a troca de informação (pessoal, social, profissional) e o estabelecimento
de contactos (pessoais ou profissionais). Através da adoção de conceitos como “amizades”,
“ranking” e “comunidades”, estes sistemas desenham uma rede de contactos onde a reputação –
fator potencial de motivação – é construída a partir da importância ou popularidade das publicações
dos utilizadores, avaliada pelos membros da comunidade (Franklin e Harmelen, 2007). Dada a
possibilidade de adicionar, à rede de contactos, utilizadores pertencentes a diferentes áreas de
interesse ou conhecimento ou indivíduos associados às diferentes dinâmicas sociais do utilizador,
as redes sociais surgem como um ambiente onde o pessoal e o profissional, o académico e o
social se cruzam, potenciando a construção de novos cenários de estar e trabalhar na rede.
2.1.1.1 A utilização do software social em contextos educativos formais
No campo da educação, os estudantes estarão a utilizar o software social por sua própria
iniciativa como suporte à aprendizagem, à colaboração e partilha com a comunidade e ainda como
apoio à construção e exploração da sua própria identidade (Margaryan et al. 2008). Neste cenário, a
integração das ferramentas do software social em contextos formais de educação poderá trazer
profundas mudanças na forma como o conhecimento é trabalhado e processado. Mais do que a
simples utilização da tecnologia, a integração destas ferramentas em contexto educativo implica
uma mudança na forma como se percebem e abordam as questões relacionadas com a
aprendizagem, colocando o aprendente – e não o conteúdo – no centro de todo o processo. Ao
fazê-lo, coloca-se também a ênfase no aprendente enquanto ser completo e não apenas como
“aluno”, valorizando as diferentes formas e percursos que este escolhe para construir e manifestar a
sua identidade e para obter reconhecimento junto dos seus pares.
6 Disponíveis em http://www.youtube.com, http://www.flickr.com, http://picasa.google.com e https://soundcloud.com, acedidos a 21 de Outubro de 2011.
A construção da identidade em ambientes digitais
13
É neste contexto, em que a informação é rapidamente desatualizada e o conhecimento adquire
um caráter dinâmico e em constante transformação, que a valorização do ato de aprender, de
interpretar, de se posicionar, de saber relacionar e selecionar de forma crítica diferentes conteúdos
e fontes de informação assume ainda maior relevância. Enquanto as abordagens mais tradicionais
apresentam um modelo de ensino e aprendizagem assente em materiais e estratégias predefinidas
pelas instituições (Lee e McLoughlin, 2008), investigação recente realça a crescente apreciação do
aprendente relativamente ao controlo do seu próprio processo de aprendizagem. Conole et al.
(2006), num estudo de caso desenvolvido com o objetivo de analisar e descrever a forma como os
alunos integram a tecnologia nos seus processos de aprendizagem, concluíram que estes estão a
utilizar tecnologias formais (providenciadas pela instituição) e informais de forma a responderem às
suas necessidades de aprendizagem. Observando que a Internet é o primeiro local onde acedem
para pesquisar informação – recorrendo a motores de pesquisa, acedendo a páginas específicas e
consultando jornais electrónicos –, os investigadores apontam para a existência de uma mudança
profunda nos modelos de trabalho dos estudantes, assentes agora na complexa e rica inter-relação
entre os indivíduos e as ferramentas e na utilização integrada da tecnologia.
No mesmo estudo, Conole et al. (2006) observam ainda a existência de uma mudança na forma
como os estudantes aprendem e desenvolvem competências: fazendo parte de uma comunidade
mais ampla e ligada, partilhando recursos e solicitando ajuda e revisão pelos seus pares. Mais
ainda, os estudantes demonstram a existência de competências relacionadas com a literacia digital
utilizando a tecnologia como suporte à aprendizagem. Esta utilização, concretizada no
desenvolvimento de novas formas de avaliação da informação (pesquisa, reestruturação,
validação), permite-lhes a tomada de decisões, de forma crítica, relativamente a uma variedade de
fontes e conteúdos. A tecnologia utilizada socialmente será, assim, integrada nos ambientes e
contextos de aprendizagem dos estudantes, possibilitando a ligação com os seus pares e alterando
a forma como o trabalho se processa:
“New working practices using an integrated range of tools are emerging. The use of these tools is
changing the way they gather, use and create knowledge. There is a shift in the nature of the basic skills
with a shift from lower to higher levels of Blooms’ taxonomy, necessary to make sense of their complex
technologically enriched learning environment.” (Conole et al., 2006:6)
Com a finalidade de analisar o impacto dos media sociais no reforço das oportunidades ao nível
da aprendizagem e do ensino na Europa, estudos desenvolvidos pelo Institute for Prospective
Technological Studies (IPTS) defendem que a crescente utilização das ferramentas do software
social fora dos contextos formais de aprendizagem oferece novas oportunidades ao nível da
inovação e modernização das instituições educativas, nomeadamente na preparação dos
estudantes para uma realidade de trabalho assente na colaboração e na interação (Redecker et al.,
Capítulo II – A rede, espaço de participação e de construção da identidade
14
2010). Ainda que os estudos revelem que o software social não é, ainda, amplamente explorado
para fins educativos, a investigação desenvolvida pelo IPTS identifica um conjunto de
situações/oportunidades para a utilização das ferramentas Web 2.0 dentro e fora das instituições.
Designadas como os “four C’s of Learning 2.0” – content, creation, connecting e collaboration –
pelos investigadores do IPTS, a adoção e integração das ferramentas do software social poderão
trazer alterações significativas ao nível :
! do conteúdo (content), conduzindo a inovações no acesso a conteúdos, contribuindo para a
equidade e inclusão e pressionando as instituições no sentido de melhorar a qualidade dos
seus materiais de apoio à aprendizagem;
! da criação (creation), contribuindo para a criação e publicação de conteúdos de autor,
encorajando abordagens mais ativas e proativas à aprendizagem;
! da conexão (connecting), promovendo a ligação aprendente-aprendente, aprendente-
professor, aprendente-especialista, possibilitando o acesso às experiências de
aprendizagem e ao conhecimento dos seus pares e ao conhecimento específico, em
diferentes áreas de interesse;
! e ao nível da colaboração (collaboration), apoiando e incentivando a colaboração entre os
agentes envolvidos no processo de ensino e aprendizagem (aprendentes e professores) em
determinados projetos, trabalhos ou tópicos, pela reunião do conhecimento, experiência e
potencial de um grupo de pessoas unidas pelo mesmo objectivo.
2.1.2 Literacias digitais, ou a rede como espaço de desenvolvimento de
competências
A facilidade de publicação de conteúdo na rede trouxe implicações ao nível dos processos de
comunicação, na forma como o currículo é apresentado e trabalhado e nas próprias expectativas
dos e relativas aos alunos (Richardson, 2006). Mais do que facilitar a ligação e acesso a fontes ou
repositórios digitais de conhecimento, a evolução da Internet potencia a ligação entre indivíduos e
comunidades, visível na criação colaborativa de conhecimento, na partilha de ideias, e na
aprendizagem com e pelos pares (Chatti et al., 2007), um processo que implica a abertura a um
universo onde o conhecimento é obtido e trabalhado através de um processo social.
Ao disponibilizar um número crescente de oportunidades relacionadas com o acesso à
informação, aquisição e partilha de conhecimento, permitindo aos indivíduos alcançar objectivos
pessoais ao nível da aprendizagem (Redecker et al., 2010), a Internet assume-se como um
meio/plataforma para o desenvolvimento e reconhecimento de novas formas de estar e de
aprender. Num cenário fortemente influenciado pela presença dos media participativos e onde a
A construção da identidade em ambientes digitais
15
rapidez e facilidade de acesso à rede facilitam a interação entre diferentes fontes de conhecimento,
o indivíduo move-se entre diferentes espaços de aprendizagem, construindo, pela interação com o
meio e com os outros, um percurso que reflete a sua identidade enquanto pessoa e enquanto
aprendente. Não mais circunscritos a cenários formais, os processos de desenvolvimento da
aprendizagem estendem-se às interações que o indivíduo estabelece com outras pessoas,
comunidades, interfaces ou instituições, e o incentivo à mestria tecnológica e ao domínio das
ferramentas cede lugar à promoção de competências digitais orientadas para o desenvolvimento de
consciência crítica em relação ao conteúdo criado e utilizado (Mutka et al., 2008), também
designadas por literacias digitais.
2.1.2.1 O conceito de literacia na sociedade digital
Ao longo dos anos, têm sido várias as tentativas de expandir o conceito de “literacia” para além
do seu significado inicial, i.e., a capacidade de ler e escrever. Na sociedade da informação e do
conhecimento, onde a tecnologia desempenha um papel simultâneo de mediador (enquanto meio
de acesso, criação e partilha de informação) e de facilitador (atenuando as barreiras geográficas e
sociais e estabelecendo canais de comunicação mais flexíveis e imediatos), expressões como
literacia da informação e de computadores (Shapiro e Huges, 1996, apud Bawden, 2008 e Guth e
Helm, 2010), literacia da participação (Giger, 2006, apud Guth e Helm, 2010) e literacia digital
(Gilster, 1997, apud Goodfellow, 2011, Martin, 2008 e Guth e Helm, 2010) são utilizadas em
diferentes contextos para designar e circunscrever diferentes tipologias de competências e
comportamentos necessários a proficiência em determinadas áreas de trabalho e conhecimento
(Guth e Helm, 2010).
No que se refere à literacia digital - expressão popularizada por Gilster (1997, apud Goodfellow,
2011), e defendida como a capacidade de compreender e utilizar a informação em múltiplos
formatos, a partir de uma grande variedade de fontes e quando apresentada através de
computadores (Gilster, 1997, apud Goodfellow, 2011 e Martin, 2008) –, surge muitas vezes como
um conceito umbrella ou uma moldura que engloba diferentes aspetos da integração e utilização da
tecnologia na vida dos indivíduos e instituições e que poderá englobar:
! práticas socialmente situadas suportadas por competências, estratégias e posturas que
incentivam e apoiam a capacidade de um indivíduo para representar e compreender ideias,
utilizando várias modalidades e ferramentas digitais (O’Brien e Scharber, 2008, apud
McLoughlin, 2011);
! a utilização criativa das tecnologias, incluindo o desenvolvimento de conhecimento e novas
ferramentas digitais, a utilização das ferramentas para satisfazer necessidades pessoais e
Capítulo II – A rede, espaço de participação e de construção da identidade
16
profissionais (Martin, 2008; SNOCUL, 2006, apud Bawden, 2008);
! o conhecimento necessário à gestão dos espaços digitais públicos e privados que
possibilita a construção de uma identidade capaz de traduzir o perfil e o percurso dos
indivíduos, integrando assim as dimensões académicas e profissionais das suas vidas
(Costa e Torres, 2011).
Ainda que de utilização pouco frequente em livros, mas surgindo já com alguma regularidade em
journals publicados na língua inglesa e frequentemente em blogs e wikis (Goodfellow, 2011;
Lankshear e Knobel, 2008; Guth e Helm, 2010) a utilização da expressão literacias digitais, no plural,
parece ser mais coerente com a multiplicidade de campos, cenários e situações em que se poderá
concretizar.
Numa abordagem que irá ao encontro desta visão, o JISC – Joint Information Systems
Committee, um órgão consultivo independente que trabalha com o ensino superior nas áreas da
orientação estratégica, consultoria e desenho de oportunidades que visam a utilização das
tecnologias da informação e da comunicação no apoio à aprendizagem, ao ensino, à pesquisa e à
administração – define literacias digitais como as capacidades que tornam o indivíduo capaz de
viver, aprender e trabalhar na sociedade digital, podendo assumir um caráter mais ou menos
específico ou direcionado de acordo com a área de conhecimento e prática a que se referem. Num
briefing7 que apresenta e explora alguns dos temas do programa “JISC Digital Literacies” (a decorrer
de 2011 a 2013), o JISC realça a importância das literacias digitais no acesso a oportunidades de
trabalho, as suas implicações na vida dos indivíduos e a sua importância ao nível da aprendizagem.
No que se refere concretamente às oportunidades de trabalho, o briefing defende que
“Employers stress that being digitally literate is an essential attribute of an employable graduate.
Employers value the skills of flexibility and want graduates who can communicate effectively via digital
media and critically judge the validity and reliability of information found online.” (JISC, 2012:1)
Dentro do mesmo programa, o projeto PRiDE8 (Professionalism in the Digital Environment,
projeto desenvolvido na University of Bath, Inglaterra, de agosto de 2011 a julho de 2013) reforça a
ideia de literacias digitais como conceito amplo, passível de ser desdobrado e aplicado em
múltiplas áreas de conhecimento. Nesse sentido, o projeto definiu uma estrutura de atributos ou
7 JISC, “Developing Digital Literacies”, disponível em http://www.jisc.ac.uk/media/documents/publications/briefingpaper/2012/Developing_Digital_Literacies.pdf, acedido a 10 de agosto de 2012.
8 PRiDE project, disponível em http://www.bath.ac.uk/learningandteaching/courses-development/current-projects/pride-project.html, acedido a 11 de agosto de 2012.
A construção da identidade em ambientes digitais
17
competências passíveis de serem utilizadas nas escolas e faculdades e que, tendo a designação
de literacias digitais são distribuídas por áreas como:
! a engenharia e o design (onde são apresentados como exemplos de literacias a proficiência
na procura, gestão, avaliação, avaliação, partilha e apresentação de informação relevante,
suportada pelo acesso ao hardware e software adequados);
! as humanidades e ciências sociais (área onde as literacias digitais incluem a consciência
crítica e o sentido de ética no envolvimento em práticas digitais, no trabalho com recursos,
ferramentas e ambientes e no estabelecimento de identidades coerentes);
! as ciências (onde a literacia implica o acesso e análise crítica, bem como a utilização de
ferramentas apropriadas e competências ao nível da adaptabilidade e inovação
relativamente a novos programas e ambientes);
! e a gestão (área onde são apresentadas como literacias digitais fundamentais a utilização e
exploração confiante das tecnologias, tendo em vista a autonomia e a segurança em
funções ou papéis presentes e futuros).
Um pouco afastado da discussão entre a utilização do termo na sua forma singular ou plural –
mas apresentando literacia como um conceito adaptável e evolutivo – Martin (2008) defende que o
conceito de literacia, quando aplicado aos computadores e ao digital, terá ao longo das últimas
décadas compreendido três fases:
! a da mestria tecnológica (até aos anos 80), onde o enfoque era colocado na obtenção de
conhecimento especializado e na mestria ao nível da utilização dos instrumentos e
ferramentas (e.g. domínio do funcionamento do computador, quer em termos de
equipamento quer ao nível da programação);
! a da aplicabilidade da tecnologia (anos 80-90), fase que terá surgido com o
desenvolvimento de aplicações que tornaram os computadores acessíveis às massas,
passando a máquina e os programas a serem encarados como uma ferramenta possível de
ser utilizada numa multiplicidade de contextos: educativo, de trabalho, de lazer, e mesmo ao
nível da utilização doméstica. Nesta fase, o foco é colocado no “como” se utiliza as
aplicações e a tecnologia, e a definição de literacia informática e tecnológica foca-se no
desenvolvimento de competências práticas e não tanto no conhecimento especializado (e.g.
proliferação nas certificações em Tecnologias da Informação e da Comunicação);
! a da utilização reflexiva (após os anos 90), que terá surgido da consciencialização de que as
tecnologias da informação e da comunicação deverão ser pensadas e abordadas de uma
Capítulo II – A rede, espaço de participação e de construção da identidade
18
forma mais crítica, avaliativa e reflectida. Nesta fase, as competências específicas são
substituídas por competências genéricas ou meta-skills, tais como a capacidade de aceder,
de gerir, de integrar e avaliar a informação de forma a participar efetivamente na sociedade.
Partindo desta análise, Martin (2008) apresenta a ideia de literacia digital como estando
articulada em três níveis: um primeiro, técnico, centrado no saber trabalhar com a tecnologia; o
segundo, da utilização crítica e pensada (i.e. contextualizada) das ferramentas, ligações e recursos
digitais; e o terceiro, da reflexão crítica, que se concretizará na compreensão do impacto
transformativo humano e social das ações digitais. Para o autor, só se poderá falar verdadeiramente
de literacia digital abordando os segundos e terceiros níveis, ou seja, considerando a competência
digital (i.e. o saber trabalhar com a tecnologia) como um percursor e um pré-requisito para a
literacia digital:
“Digital literacy involves being able to carry out successful digital actions embedded within work,
learning, leisure, and other aspects of everyday life; (...)Digital literacy is broader than ICT literacy and
will include elements drawn from several related “digital literacies”;(...)Digital literacy involves acquiring
and using knowledge, techniques, attitudes and personal qualities and will include the ability to plan,
execute and evaluate digital actions in the solution of life tasks; (...) It also includes the ability to be
aware of one self as a digitally literate person, and to reflect on one’s own digital literacy development.”
(Martin, 2008: 166-167)
2.1.2.2 Web, soft-skills e a utilização contextualizada da tecnologia
A ideia defendida por Martin (2008) pode ser percebida como indo ao encontro daquilo que, na
literatura e em recomendações e documentos oficiais, é apresentado como dizendo respeito à
importância e ao desenvolvimento da literacia digital. Definida pela Comissão Europeia como a
capacidade de utilizar as tecnologias da informação e da comunicação e a Internet (McLoughlin,
2011), de compreender e avaliar de forma crítica diferentes aspetos dos conteúdos e media digitais,
e ainda a capacidade de comunicar, de forma eficiente, numa variedade de contextos (Mutka et al.,
2008; McLoughlin, 2011), a literacia digital surge assim como um pré-requisito para a criatividade,
inovação e empreendedorismo, englobando um conjunto de competências essenciais ao acesso e
à comunicação em ambientes digitais e realçando a importância da utilização crítica das
tecnologias na atividade profissional, na aprendizagem, no desenvolvimento pessoal e na
participação na sociedade (Mutka et al., 2008).
Numa recomendação emitida a 18 de Dezembro de 2006, incindindo sobre as competências
consideradas essenciais para a aprendizagem ao longo da vida, o Parlamento Europeu e o
Conselho da União Europeia enquadram a competência digital na utilização segura e crítica da
A construção da identidade em ambientes digitais
19
tecnologia, concretizada na procura, seleção e apresentação da informação e na capacidade de
utilização das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) para comunicar e participar em
redes de cooperação. Assim, e além do domínio utilitário da tecnologia (processamento de texto,
elaboração de folhas e mapas), definem-se como aptidões correspondentes a esta competência a
consciência relativamente às potencialidades e riscos da utilização da tecnologia e, ainda, a
capacidade de procurar e reunir informação, utilizando-a de forma crítica para apoiar o pensamento
crítico, a criatividade e a inovação:
“O uso das TSI [tecnologias da sociedade da informação] exige uma atitude crítica e reflectida face à
informação disponível e um uso responsável dos meios interativos. Esta competência também sai
reforçada quando o indivíduo manifesta interesse em participar em comunidades e redes para fins
culturais, sociais e/ou profissionais.” (Comissão Europeia, 2006:15).
Também nesta perspetiva, Buckingham (2008) critica a utilização da expressão literacia digital
como forma de referir um conjunto mínimo de competências que permitirão ao indivíduo a utilização
eficiente de ferramentas e aplicações informáticas ou o desempenho de tarefas básicas como a
pesquisa e a organização da informação. Para o autor, essa definição limitaria o conceito de
literacia digital a uma abordagem meramente funcional, especificando as competências básicas
necessárias ao desempenho de determinadas operações mas restringindo a sua compreensão a
estas mesmas competências. Neste sentido, Buckingham (2008) aborda a literacia digital como
algo que ultrapassa algumas das abordagens atualmente adotadas no campo da tecnologia da
informação em educação, defendendo que a utilização da tecnologia na escola deverá contemplar
não apenas o conhecimento do funcionamento de máquinas e programas mas sobretudo o que
esta (a tecnologia) significa em termos de representação do mundo e da comunicação: a tecnologia
como experiência cultural.
A literacia digital (ou literacias digitais) deverá ser, assim, abordada para além da sua questão
funcional, centrada no como utilizar um computador ou no como realizar pesquisas online. Ainda
que o conhecimento básico – definido por Martin (2008) como o nível técnico, i.e., saber localizar
materiais, selecionar a informação – seja indispensável, “to stop here is to confine digital literacy to a
form of instrumental or functional literacy” (Buckingham, 2008:78).
Em contexto educativo, o desenvolvimento de competências relacionadas com a literacia digital
poderá ser reconhecido na utilização de ferramentas digitais de forma ativa e criativa, tendo em
vista o desenvolvimento de competências cognitivas e sociais (McLoughlin, 2011). Num contexto
em que a utilização da tecnologia faz parte do dia-a-dia dos indivíduos e organizações (de acordo
com dados do Eurostat 2009, 65% dos lares dos países da União Europeia tem acesso à Internet e
cerca de 60% dos indivíduos com idades entre os 16 e os 74 anos utilizam-na pelo menos uma vez
Capítulo II – A rede, espaço de participação e de construção da identidade
20
por semana), observa-se uma utilização crescente, em contextos formais de educação, de
ferramentas e estratégias normalmente associadas à interação e aprendizagem informal.
Apresentada como toda a aprendizagem que ocorre ao longo da vida dos indivíduos, fora do
ambiente escolar tradicional (Livingstone, 2000, apud Selwin, 2007; Bull et al., 2008; Kahnwald,
2008), a aprendizagem informal - também designada por experiencial ou acidental (Attwell, 2007;
Cedefop, 2008) – ocorre através da vida das pessoas, num modelo personalizado que se baseia
nas necessidades particulares do indivíduo, nos seus interesses e experiências (Selwyn, 2007; Bull
et al, 2008; Kahnwald, 2008). Neste sentido, a aprendizagem informal poderá ser entendida como
uma abordagem multifacetada, voluntária, e auto-direcionada da aprendizagem, muitas vezes
mediada dentro de um contexto social e fornecendo uma base de experiência e motivação para
futuras atividades relacionadas com a aprendizagem (Bull et al., 2008).
Aliado à (r)evolução tecnológica, a compreensão e o reconhecimento da aprendizagem como
um processo contínuo – i.e. um percurso construído pelo e incorporado no indivíduo ao longo da
sua vida – poderá trazer sérias mudanças à forma como se veem, percebem e constroem os
currículos e as experiências educativas. Neste cenário, o reconhecimento da dimensão informal da
aprendizagem poderá ser assumido como uma forma de integrar, no percurso e processo de
aprendizagem dos indivíduos, o conhecimento obtido e construído através das experiências e
atividades do dia-a-dia. Não implicando a desvalorização do conhecimento adquirido e trabalhado
em contexto académico ou formal, o reconhecimento da aprendizagem informal poderá antes
conduzir à valorização de contextos e processos que, não decorrendo ou ocorrendo diretamente
das tradicionais fontes de conhecimento (escolas, centros de formação, universidades), são parte
integrante da vida dos indivíduos e cenários de uma aprendizagem mais contextual e personalizada.
Ainda no campo do desenvolvimento de competências, a International Society for Technology in
Education – ISTE, na sua página Web9, identifica o pensamento crítico e a cidadania digital como
sendo fundamentais ao desenvolvimento de uma aprendizagem eficaz e adequada às
necessidades da sociedade global. Geralmente designadas por soft-skills, estas competências
adquirem uma maior importância numa sociedade económica e socialmente global onde se espera
que os aprendentes sejam capazes de resolver problemas, concluir projetos e divulgar de forma
criativa as suas capacidades; de demonstrar criatividade e inovação, comunicando e colaborando;
e de utilizar a tecnologia para pesquisar e aplicar a informação, desenvolvendo o pensamento
crítico, a resolução de problemas e a tomada de decisão.
Margaryan et al. (2008), apresentando um estudo que reflete sobre o potencial das novas
tecnologias e da sua utilização – por alunos e instituições –, em contextos formais e informais,
9 Disponível em http://www.iste.org/standards/nets-for-students.aspx, acedido a 20 de outubro de 2011.
A construção da identidade em ambientes digitais
21
apontam como competências essenciais na sociedade moderna a construção e partilha de
conhecimento; a capacidade de encontrar, avaliar, criar, sintetizar e partilhar informação tendo em
vista a resolução de problemas complexos; e o desenvolvimento do pensamento crítico. Um outro
estudo, realizado por Fernandez-Sanz et al. (2010) e que incidiu sobre a importância do
desenvolvimento de soft-skills (survey realizada a um grupo de 30 estudantes e professores de
diferentes nacionalidades com o objectivo de identificar, num conjunto de competências
predeterminado, quais as consideradas mais importantes num contexto de trabalho multinacional),
considera como competências fundamentais para o contexto de trabalho o trabalho de equipa, as
competências ao nível da comunicação, a flexibilidade (e.g. capacidade de adaptação,
compreensão de pontos de vista diferentes, alteração de ponto de vista perante nova informação), a
iniciativa e a autoconfiança, traduzida não apenas na confiança na própria capacidade, mas
também na capacidade de aceitar desafios, de expressar discordância de forma consistente,
expressar a própria opinião mesmo em situações de conflito.
Os estudos referidos acima e as indicações da Comissão Europeia revelam a importância do
desenvolvimento e reconhecimento das soft-skills para o mercado de trabalho. Estas competências,
muitas vezes resultantes da aprendizagem informal e do relacionamento estabelecido em
ambientes não formais – círculo de amigos, colegas ou pares, passatempos ou comunidades –,
poderão ser entendidas como fatores críticos de sucesso para o futuro pessoal e profissional dos
indivíduos. Num contexto em que a tecnologia possibilita ao aprendente a aquisição e
desenvolvimento de competências que vão ao encontro das suas necessidades e das
necessidades do mercado, a rede poderá surgir como um espaço favorável à participação e à
interação, um ambiente onde o aprendente pode construir uma identidade plena e que engloba as
aprendizagens e competências desenvolvidas ao longo do seu percurso pessoal, académico e
profissional. Mais do que aprender uma tecnologia específica, importa fomentar uma abertura que
possibilite ao estudante a escolha dos métodos e ferramentas que lhe são adequados e não ter de
se submeter a um modelo uniforme e desenhado para todos (Dron et al., 2007).
Neste contexto, o desenvolvimento de competências que possibilitem uma utilização da
tecnologia que vá além da pesquisa ou organização da informação deverá ser encarado como um
desafio e uma oportunidade para os indivíduos e para as instituições, nomeadamente para as de
ensino superior:
“And we need to address digital identity literacy – the above difficulties are compounded when we
consider the effort required by individuals to acquire the appropriate digital [identity] literacies and so be
able to participate productively in lifelong learning related transactions such as self-presentation,
presentation of competences, ego-branding, job searches, reflective learning, cooperation in
communities of practice, peer-learning, social networking, self assessment, evaluation and
Capítulo II – A rede, espaço de participação e de construção da identidade
22
accreditation” (Warburton, 2008, blog post10).
2.2 A rede, espaço de construção da identidade
As questões relacionadas com a literacia digital e o desenvolvimento da identidade online
colocam assim algumas questões e desafios às instituições de Ensino Superior, nomeadamente
relativamente àquele que deverá ser o seu papel na preparação dos seus alunos para o seu futuro
profissional. Não sendo possível ignorar as mudanças que a Internet e o software social trouxeram
para o contexto social e educativo, as instituições enfrentam agora o desafio de serem capazes de
reconhecer a dimensão digital da identidade e de adotar abordagens que fomentem o
desenvolvimento de uma nova perspetiva de blended-learning: a integração das dimensões formal
e informal da aprendizagem (Santos e Pedro, 2009).
“In educational settings, developing digital literacy skills means giving students the opportunity to use
digital tools to learn in an active, creative way in order to further their cognitive and social skills, while
ensuring that they have the ability to operate various digital technologies” (McLoughlin, 2011:474).
Apresentando “identidade online” com um conceito dinâmico que engloba as diferentes
manifestações do indivíduo na rede, e estabelecendo a relação entre identidade online e a
manifestação de uma presença tradutora das competências e capacidades do indivíduo, esta
secção aborda as questões relacionadas com a identidade, com a sua manifestação em ambientes
digitais e a sua importância ao nível da construção da reputação.
2.2.1 Sobre Ident idade
“Identity is an ambiguous and slippery term.” (Buckingham, 2008b:1).
Ainda que identidade, enquanto palavra, derive do étimo latino idem, que significa “o mesmo”, o
conceito de identidade não é isolado ou fechado, caraterizando-se antes pela multiplicidade de
significados e aplicações. Utilizado para designar as diferenças e semelhanças entre duas
entidades (filosofia), para referir o conjunto de informação associada à identificação dos indivíduos,
como o nome, números de identificação, ou mesmo para designar a conceptualização que o
10 Disponível em http://digitaldisruptions.org/rhizome/2008/10/26/mapping-online-identity-challenges/,
acedido a 28 de maio de 2009.
A construção da identidade em ambientes digitais
23
indivíduo tem de si próprio e a forma como se dá a conhecer ao outro (Boyd, 2002; Greenhow e
Robelia, 2009; Zhao et al., 2008; Peachey e Childs, 2011), o conceito de identidade é ainda
associado a questões relacionadas com a forma como as pessoas se percebem e experienciam
enquanto indivíduos, e à forma como se revelam aos outros. Na literatura, o termo identidade é
utilizado para referenciar as diferentes dimensões que poderão compor a génese e a expressão do
indivíduo:
! o eu interno, enquanto conceção e perceção que o indivíduo tem de si próprio e a versão
projetada desse “eu interno”, composta pelas dimensões ou facetas utilizadas pelo
indivíduo para se dar a conhecer ao outro (Boyd, 2002);
! o eu atual e o possível eu, entidades que compõem a concepção que o indivíduo tem de si
próprio, concretizadas na entidade estabelecida e conhecida pelos outros (eu atual) e nas
entidades que o indivíduo crê serem possíveis existir dentro de determinadas condições,
muitas vezes condicionadas ou bloqueadas por questões relacionadas com limitações
físicas ou geográficas (Markus e Nurius, 1986, apud Zhao, 2008);
! a identidade social, que permite ao indivíduo a articulação e negociação em contextos
sociais (Boyd, 2002);
! a identidade autoinformativa e identidade nominal11, onde a primeira se refere à
conceptualização que o indivíduo tem de si próprio – um conceito que pode ser fluido – e a
segunda ao conjunto de atributos apostos aos indivíduos pela sociedade e que permitem a
sua identificação e re-identificação (Manders-Huit, 2010, apud Childs, 2011).
Utilizado para designar o conjunto de caraterísticas que tornam cada indivíduo único e, ao
mesmo tempo, para referir aquelas que – partilhadas com outros indivíduos – o tornam parte
integrante de um grupo ou comunidade, o conceito de identidade emerge assim como produto de
uma autobiografia única e pessoal e reflexo do contexto social em que o indivíduo se articula
(Buckingham, 2008b). Neste contexto, a identidade assume-se como um conceito fluido e em
permanente negociação, onde o “eu” se torna uma espécie de projeto constantemente trabalhado
pelos indivíduos (Costa e Torres, 2011; Giddens, 1991, apud Buckingham, 2008b).
11 “Nominal identity is the set of attributes assigned to a person by society and which need to be fixed, so that a person can be identified and re-identified consistently (Manders-Huits 2010, p. 48). Self-informative identity is a per- son’s conceptualisation of their self, which can be fluid.” (Childs, 2011:14)
Capítulo II – A rede, espaço de participação e de construção da identidade
24
2.2.1.1 Identidade e Interação Social
Componente importante do autoconceito, a identidade surge como a parte visível do “eu” pela
qual o indivíduo se dá a conhecer ao outro (Zhao et al., 2008) pelo envio de sinais reveladores de
aspetos de si próprio, sujeitos à análise e interpretação pelo outro durante a interação social em
curso (Boyd, 2002).
Compreendida como um processo no qual o individual e o social se encontram
inextricavelmente relacionados (Jenkins, 2004, apud Buckingham, 2008b), esta identidade social
(Boyd, 2002) define-se nos aspetos internos aos quais o indivíduo recorre para, projetando-os na
sua dimensão social, possibilitar a negociação e o relacionamento com os seus pares. Para a
autora, é pela negociação entre a identidade interna e a social que os indivíduos percebem quem
são relativamente ao mundo que os rodeia, construindo essa identidade que lhes permite trabalhar
e negociar em cenários sociais:
“While internal identity is entirely constructed and maintained by the individual, social identity is
perceived externally, relying not on the intention, but the effective expression and perception of an
individual's presentation.” (…) “While interacting socially, people are aware of and react to the
feedback that they receive by the other people in an environment” (Boyd, 2002:22).
Será a partir do feedback aos sinais inicialmente projetados e sujeitos a interpretação que o
indivíduo procederá à validação ou alteração dos comportamentos inicialmente adotados, num
processo de performance, interpretação e ajustamento que Goffman (1959) designa por impression
management. No seu trabalho “The presentation of self in everyday life”, Goffman (1959) aborda a
dimensão performativa da formação da identidade enfatizando a ideia de que os indivíduos agem
como atores, desempenhando diferentes papéis, em diferentes alturas, a diferentes pessoas,
alterando o seu comportamento no intuito de influenciar a perceção que o outro tem de si.
Referindo-se à etimologia do termo “persona” – que deriva de per sonare, soar através de –,
Goffman apresenta uma metáfora sobre as interações e a performance, defendendo que, nas
interações sociais, os indivíduos recorrem de forma consciente a determinadas expressões, com o
objectivo de criar impressões particulares naqueles que os rodeiam, surgindo o ambiente social
como o palco onde as várias performances interagem e onde os outros indivíduos assumem o
papel de audiência.
A construção da identidade poderá, assim, ser compreendida como um processo dinâmico,
autorreflexivo e performativo (Greenhow e Robelia, 2009), baseada nas caraterísticas intrínsecas do
indivíduo e na forma como este reage e internaliza as experiências em que se envolve e participa
(Boyd, 2002). Nesta perspetiva, a natureza dinâmica do “eu” torna a identidade num conceito difuso
e mutável, dinâmico, facetado e por vezes fragmentado (Childs, 2011), que reflete e se reflete nas
ações e comportamentos do indivíduo (Greenhow e Robelia, 2009).
A construção da identidade em ambientes digitais
25
2.2.2 Do analógico ao digita l: a representação do individuo na rede
No mundo físico, o corpo – enquanto meio de veiculação de informação – surge como objecto
central na manifestação da identidade (Boyd, 2008b; Childs, 2011). Estabelecida na interação social
e concretizada na troca de informação – seja ela linguística, paralinguística, visual ou textual
(Clemment, 2002) –, esta identidade corpórea define e ao mesmo tempo limita os indivíduos,
impedindo-os de reclamar a identidade de outrem (Zhao et al., 2008). O aparecimento da Internet e
dos ambientes mediados por computador veio, contudo, alterar as condições tradicionais de
produção de identidade (Zhao et al., 2008): impossibilitados de se representarem fisicamente na
rede, os indivíduos recorrem a ferramentas que lhes permitam criar e definir uma representação
digital da sua identidade (Boyd, 2002), seja através da criação de avatares, assinaturas de e-mail,
nicknames ou através da escrita, manifestada em blogs, homepages ou perfis de redes sociais
(Buckingham, 2008b; Childs, 2011; Greenhow and Robelia, 2009).
2.2.2.1 A construção da identidade em ambientes digitais
O desenvolvimento e a multiplicidade dos novos media trouxe o colapso das fronteiras entre o
estar online e o estar offline, transformados agora num único espaço onde os indivíduos articulam a
sua presença (Warburton et al., 2010) e onde podem testar a e trabalhar na construção e
reconstrução do “eu” (Turkle, 1995).
Quer associada à autenticação (Buckingham, 2008b; Clement, 2002; Warburton et al., 2010)
quer à forma como o indivíduo se representa, manifesta e expressa numa variedade de espaços
digitais (Boyd, 2002; Boyd, 2008b; Coiro et al., 2008; Warburton, 2008; Wild et al., 2008; Greenhow
and Robelia, 2009; Greenhow et al., 2009; Warburton et al., 2010), a produção de uma identidade na
rede surge como uma realidade praticamente incontornável num universo cada vez mais conetado.
Quando transposto para o contexto online, o conceito de identidade (cf. ponto 3.1) torna-se
ainda mais complexo, o que poderá justificar a existência de diferentes expressões para designar a
representação do indivíduo em ambientes digitais: entre as mais frequentes, encontram-se “digital
identity” (identidade digital) e “online identity” (identidade online), expressões que – ainda que se
refiram ao mesmo fenómeno, i.e., à identidade existente na rede – são caraterizadas com alguns
aspetos que as distinguem e apresentam duas perspetivas do mesmo conceito. Na revisão da
literatura que serve de base a este trabalho, verificou-se que “digital identity” é utilizada em estudos
que incidem sobre autenticação e proteção de identidade (Boyd, 2002; Clement, 2002; McAlpine,
2005); “online identity”, por seu lado, surge em trabalhos relacionados com a construção de uma
presença na rede, pelos indivíduos, passível de ser reconhecida e traduzida:
Capítulo II – A rede, espaço de participação e de construção da identidade
26
! na publicação de conteúdos (Coiro et al., 2008; Zhao et al., 2008; Greenhow e Robelia, 2009;
Greenhow et al., 2009; Costa e Torres, 2011);
! na criação de perfis (Boyd, 2008b; Greenhow e Robelia, 2009);
! na tipologia de participação (Fraser, 2008);
! na autenticidade da presença, reflexo ou antítese da dimensão física (Buckingham, 2008b;
Childs, 2011);
! ou na forma como engloba as diferentes representações dos indivíduos numa única
identidade (Warburton, 2008).
Apresentando identidade online como um conceito que evoluiu técnica e culturalmente nos
últimos anos, Warburton et al. (2010) defendem que esta deverá ser compreendida como a parte da
identidade pessoal que é mediada através da Internet e que existe no mundo digital:
“Whether we call it ‘digital identity’, ‘online persona’ or ‘virtual self’ we are talking about accumulated
electronic data that references us as an individual – the things that we say about us, and/or the product
of our electronic transactions that are driven by human-machine or machine-machine interactions”
(Warburton et al., 2010:8).
Vista como um continuum (Warburton et al., 2010), a dimensão digital da identidade poderá ser
compreendida como o total da informação referente ao indivíduo e publicada – pelo próprio ou por
outros – na rede, um conjunto que se estende desde simples credenciais electrónicas que permitem
o acesso a sistemas fechados até à representação complexa do “eu” num espaço digital, “a
prostetic [digital] identity that extends our real persona” (Warburton, 2008, blog post12). Referindo-se
à discussão em redor da designação de identidade em ambientes digitais, o autor (2010) defende a
utilização da expressão “online identity” – identidade online – como sendo a que melhor traduzirá a
dimensão pessoal e interativa da presença na rede: “Perhaps the term ‘online identity’ would be
more appropriate because it is not about the digital nature of identity but more about it’s existence in
online spaces – ‘the way my identity is constructed around various online activities’” (Warburton et
al., 2010:10).
Num estudo que pretende incidir sobre a construção da identidade num espaço online
providenciado por uma instituição de ensino e a forma como os indivíduos utilizam a identidade
construída na rede como forma de manifestar e divulgar as suas capacidades e competências, a
discussão sobre as diferentes designações atribuídas à identidade construída em ambientes digitais
12 Disponível em http://digitaldisruptions.org/rhizome/2008/10/26/mapping-online-identity-challenges/, acedido a 4 de novembro de 2011.
A construção da identidade em ambientes digitais
27
também deverá ser considerada. Assim, e para além das designações apresentadas acima, a
identidade construída na rede poderá ainda ser analisada:
! a partir do emissor da informação (i.e. informação adicionada pelo indivíduo à sua própria
identidade, como a informação que adiciona ao seu perfil de utilizador ou a adição de
gostos e preferências, ou informação adicionada por outros à identidade do indivíduo, como
informação referente a registo de aluno, histórico de notas, informação referente ao cargo
que representa em empresa ou organização);
! a partir do caráter direto/objetivo (e.g. informação que o indivíduo adiciona sobre o local ou
cargo profissional, anos de escolaridade frequentados) ou interpretável/subjetivo da
informação (interpretação, pelos outros, da informação partilhada pelos indivíduos. E.g.: a
partir da análise dos conteúdos partilhados pelo indivíduo, inferir a sua orientação religiosa,
política ou convicções sociais).
Tomando como base os objetivos deste estudo, as perspetivas apresentadas pelos autores
referidos nos pontos anteriores e a própria reflexão sobre as diferentes formas de designar a
identidade construída na rede, optou-se pela utilização de ident idade onl ine para designar as
manifestações do indivíduo que, associadas à construção de uma presença, lhe possibilitam a
representação e a construção de uma reputação em ambientes digitais (e.g.: manifestação de
opinião, interações e relações com outros indivíduos e comunidades, construção de redes de
contactos, publicação de conteúdos); a expressão ident idade digi ta l será utilizada, sempre que
necessário, para designar a informação disponibilizada e/ou associada ao indivíduo e que lhe
permite a validação da sua identidade na rede.
2.2.2.2 Nativos e imigrantes, residentes e visitantes, formas de ser e de estar na rede
Num contexto em que a dimensão digital da vida dos indivíduos assume uma importância
crescente, as tecnologias da Web 2.0 surgem como espaços híbridos que atravessam o espaço
físico e digital e criam novas formas de estar e aprender (Greenhow et al., 2009). A construção da
identidade na rede assume-se como um processo contínuo, concretizado na forma como os
indivíduos se apropriam da tecnologia e a utilizam para explorar, comunicar, partilhar e expressar as
suas ideias e opiniões.
Imersos num ambiente tecnologicamente rico e assente em ligações entre pessoas e sistemas,
os indivíduos articulam a sua presença entre cenários, grupos e comunidades, manifestando
nesses percursos um conjunto de caraterísticas e comportamentos capazes de traduzir a sua
posição em relação ao ambiente que os rodeia. Apresentada pela primeira vez em 2001 por Marc
Capítulo II – A rede, espaço de participação e de construção da identidade
28
Prensky, a divisão nativos digitais/imigrantes digitais será provavelmente uma das mais populares e
mais contestadas dicotomias utilizadas na classificação dos indivíduos relativamente à forma como
utilizam a tecnologia.
Prensky (2001), numa abordagem fortemente criticada assente fundamentalmente na divisão
geracional (e.g. Jenkins, 2007; Siemens, 2007; Bennett et al., 2008; ; White, 2008; Helsper e Eynon,
2010), realça as diferenças entre a forma como os indivíduos nascidos antes e depois de 1982
vivem, trabalham e incorporam a tecnologia nas suas vidas. Para Prensky, os jovens (os nativos
digitais) adotaram a tecnologia como parte da sua vida, integrando-a nas suas atividades diárias de
uma maneira que se reflete na forma como aprendem: rápida, assente em estímulos visuais,
articulada entre múltiplos ambientes (multitarefa) e fortemente aleatória. Os imigrantes digitais, por
oposição, são caraterizados como indivíduos nascidos antes da década de 80 e que, apesar de
entusiastas que consideram a tecnologia como algo novo e fascinante, e de a utilizarem e
integrarem nas suas vidas, mantêm ainda alguns comportamentos que denunciam a sua condição
de não-nativos (e.g. impressão de e-mails e outros documentos).
Ao transpor a sua classificação para contextos e ambientes educativos, Prensky (2001) realça o
choque entre a forma rápida e interativa como os nativos aprendem e aquela que encontram ao
entrarem nas escolas, um ambiente tipicamente dominado pelos imigrantes digitais:
“[But] Digital Immigrants typically have very little appreciation for these new skills that the Natives have
acquired and perfected through years of interaction and practice. These skills are almost totally foreign
to the Immigrants, who themselves learned – and so choose to teach – slowly, step-by-step, one thing
at a time, individually, and above all, seriously” (Prensky, 2001:2).
As expressões “nativos/imigrantes digitais”, ainda que contestadas, continuam a ser empregues
para descrever o choque entre a cultura tecnológica experienciada fora do sistema de ensino e
aquela vivida nas escolas, em ambientes institucionais (Downes, 2005; Cross, 2006; Chatti et al.,
2007; Bull et al., 2008; Grodecka et al., 2008; Trinder, 2008). Ainda que utilizada para realçar a
necessidade da adequação do sistema de ensino às mudanças desencadeadas pela (r)evolução
tecnológica, esta divisão é contudo fortemente criticada pela forma como potencia conflitos e
reforça a divisão entre jovens e adultos, alunos e professores, desvalorizando os tipos de partilha
que ocorrem entre crianças e adultos e limitando a interação entre as duas gerações (Jenkins, 2007;
Siemens, 2007). Mais ainda, é contestada por ser uma abordagem que ignora o tipo de utilização
que é dado à tecnologia, bem como o grau de profundidade com que esta é explorada (Siemens,
2007; White, 2008).
Siemens (2007), afirmando que a distinção pela idade é algo inteiramente falso e desnecessário,
remete a popularidade do conceito para o campo emocional, considerando-a como fruto de
A construção da identidade em ambientes digitais
29
sentimentos de insegurança existentes nos próprios professores. Jenkins (2007), por seu lado,
relembra as implicações da própria terminologia adoptada, referindo como exemplo a dimensão
cultural do fenómeno da emigração nos Estados Unidos da América. Os dois autores estão de
acordo ao afirmar que a visão de Prensky ignora o potencial colaborativo da rede enquanto
plataforma, centrando-se na questão utilitária e desviando a atenção daquilo que será realmente
importante – a forma como os indivíduos se apropriam da tecnologia e o grau de imersão nos
ambientes digitais:
“[...] the discussion of immigrants and natives overlooks the fact that the younger generation often
understands technology at a utilitarian level (i.e. how to use a piece of software for its intended purpose,
but not much beyond that). Depth of understanding, social implications, trends, and other more
advanced concepts are often not present (I wish I could point to research to support this - at this point,
my opinion is based on what I've seen with students in the classroom)” (Siemens, 2007, blog post)13.
A dimensão utilitária da tecnologia e o grau de envolvimento dos seus utilizadores referidos por
Siemens (2007) são dois aspetos recuperados por White (2008) para descrever a forma como os
indivíduos vivem e experimentam a rede. Colocando o enfoque na forma como os alunos utilizam a
tecnologia (e não no tipo de tecnologias utilizadas), White (2008) afasta-se da abordagem de
Prensky e apresenta os conceitos de “visitantes” e “residentes” para caraterizar os utilizadores de
acordo com a profundidade do envolvimento que estabelecem com os ambientes e aplicações
digitais. Apresentados como indivíduos que veem a rede enquanto ferramenta e não enquanto
plataforma de comunicação, interação e construção de identidade, os visitantes utilizarão a rede
para a resolução de tarefas específicas – reserva de voos, comunicação com familiares distantes –,
encarando com cepticismo a ideia de construção de uma identidade online e não sentindo a
necessidade de se expressarem ou manifestarem nos ambientes digitais (White, 2008). Os
residentes, por seu lado, são descritos como indivíduos cuja identidade se estende ao mundo
online, e cuja interação com a rede ultrapassa a utilização de sistemas de homebanking ou de
pesquisa de informação. Considerando a rede como um espaço onde podem socializar e expressar
as suas ideias e opiniões, estes residentes constroem uma presença estruturada e consciente que
engloba a dimensão profissional, académica e recreativa das suas vidas. Para eles, a rede surge
como uma plataforma onde podem construir e manter a sua identidade e estabelecer relações
sociais, encarando o ambiente virtual como uma dimensão crucial da sua própria representação
(White, 2008).
13 Disponível em http://www.connectivism.ca/?p=97, acedido a 31 de maio de 2012.
Capítulo II – A rede, espaço de participação e de construção da identidade
30
Ao defender uma perspetiva que, não assentando em caraterísticas demográficas, apresenta os
conceitos não como categorias estanques mas como extremos de um espetro mais largo, White
(2008) afasta-se da classificação dicotómica de Prensky e abre caminho a uma visão mais realista
daquilo que poderá ser a construção da identidade online dos indivíduos. Do ponto de vista da
construção e gestão da identidade em ambientes digitais, a perspetiva de White (2008) torna-se
especialmente interessante quando se reflete sobre a forma como os indivíduos interagem e se
comportam em diferentes ambientes e plataformas. Dependendo do interesse, do grau de
envolvimento e da identificação (com membros e regras) com diferentes comunidades, os
utilizadores poderão assumir uma postura mais ou menos participativa, adoptando
comportamentos de residentes ou de visitantes em determinadas alturas e despendendo mais ou
menos tempo e esforço na construção da sua identidade nesse espaço. Ao ignorar o potencial
colaborativo dos ambientes digitais e a própria força motivadora da comunidade, a visão de
Prensky (2001) remete o esforço ao nível da utilização e gestão das tecnologias Web em contextos
de aprendizagem para o desenho de estratégias de familiarização tecnológica e reciclagem
discursiva, conferindo-lhe um caráter quase lúdico ou recreativo que desvaloriza as capacidades da
rede enquanto plataforma.
2.2.2.3 Identidade, participação e não participação
A reflexão sobre a rede enquanto espaço de participação e partilha está também presente nos
trabalhos de Kurhila (2006) e Boyd (2008b) que, apresentando o utilizador enquanto interveniente e
autor de conteúdos, classificam-no de acordo com o grau de participação, interação e envolvimento
com a rede. Kurhila (2006), baseando-se num estudo que incidiu sobre a utilização do software
social enquanto suporte à aprendizagem, identifica três tipos de utilizadores: intensivo (expert user),
social e lurker. De acordo com o autor, o utilizador intensivo assume uma posição proativa na
utilização do software social, utilizando-o de forma a apoiar o seu processo de aprendizagem,
formal ou informal. Para este tipo de utilizador, o software social surge muitas vezes como a forma
mais rápida e direta de aceder à informação. O utilizador social, por seu lado, tira proveito do
potencial comunicativo e interativo das aplicações, utilizando o software de forma generalista e de
modo a manter-se atualizado relativamente ao que acontece nas redes sociais. Finalmente, e no
que diz respeito ao lurker – utilizador que não contribui mas que beneficia do input direto dos outros
utilizadores (Preece, 2000, apud Kurhila, 2006) –, é descrito como um indivíduo que utiliza a rede
sobretudo enquanto fonte de informação, recorrendo a ferramentas assíncronas para aceder aos
conteúdos que deseja e que só deverá ser visto como um elemento nocivo se permanecer como
elemento observador e não participante, nunca evoluindo para contribuinte.
Boyd (2008b), referindo-se às redes sociais como espaços onde os indivíduos (adolescentes)
A construção da identidade em ambientes digitais
31
podem trabalhar uma identidade e construir a sua própria reputação, reflete sobre as potenciais
razões para o não envolvimento em ambientes digitais, apresentando dois tipos de não-
participantes: adolescentes marginalizados e objetores de consciência. Para a autora, incluem-se
no grupo dos adolescentes marginalizados os indivíduos que não têm acesso à Internet ou apenas
acedem em locais públicos onde o acesso às redes sociais é condicionado ou proibido, e aqueles
cuja eventual participação foi proibida pelos pais. Quanto aos objetores de consciência, são
descritos como jovens que decidem não participar nas redes sociais por motivos relacionados com
segurança e privacidade (questões relacionadas com a propriedade dos dados), com questões
morais (adolescentes que decidiram obedecer e respeitar a posição moral e as preocupações dos
pais), e sociais (jovens marginalizados que consideram as redes sociais como espaços
privilegiados e por isso acessíveis apenas a uma elite, e jovens que se consideram, eles próprios,
demasiado importantes para fazerem parte destes sites).
Ao refletir sobre os motivos da não participação e envolvimento dos indivíduos em comunidades
online, o trabalho de Boyd (2008b) oferece um ponto de partida para uma maior reflexão sobre a
forma como se lida, em contextos de aprendizagem formais, com elementos não-participantes.
Num ambiente em que a identidade e a presença se constroem pela participação, a identificação e
reflexão sobre motivos subjacentes à autoexclusão poderão trazer um contributo importante para a
forma como se planificam, desenham e implementam as diferentes estratégias pedagógicas,
abrindo caminho para um ambiente de aprendizagem mais rico e participativo.
2.2.3 A construção e gestão da identidade onl ine
No mundo físico, o corpo funciona como meio veiculador de informação: gestos, expressões
verbais e não verbais, postura, vestuário e acessórios, são elementos de um código contextual que
possibilita a afirmação e a manifestação da identidade dos indivíduos. De acordo com o feedback
recebido na interação com o outro, o indivíduo procede (ou não) ao ajustamento do seu
comportamento, trabalhando a sua identidade social de forma a obter a reação esperada. As
fronteiras e limites espaciais conferem uma contextualização aos atos dos indivíduos que, ao
divulgarem determinada informação ou opinião, esperam que esta fique de certa forma confinada,
associada ao contexto (físico e situacional) em que foi emitida (Boyd, 2002).
A arquitetura que suporta os ambientes digitais não contempla, contudo, os mecanismos de
feedback e de contextualização a que os indivíduos estão habituados (Boyd, 2002).
Inadequadamente transpostos para os ambientes digitais, a replicação de comportamentos
caraterísticos do mundo físico poderá conduzir à exposição descontextualizada do indivíduo,
tornando-se, por isso, necessário que este tome consciência e se ajuste a estas diferenças de
forma a alcançar o mesmo nível de interação social que conseguia off-line (ib, 2002).
Capítulo II – A rede, espaço de participação e de construção da identidade
32
No mundo digital a informação é automaticamente (i.e. por defeito) guardada, ficando
desprovida do seu caráter de contextualização e imobilidade. Ao tornar possível o arquivo da
informação, a arquitetura de rede abriu caminho à interpretação descontextualizada de mensagens,
possíveis de recuperação e reprodução independentemente do espaço e do tempo:
“Past posts are considered part of a user’s digital present in ways not comparable to the physical
domain. Slander and gossip are archived, but the subject has no recourse for adjusting this data. In
such incidents, people feel misrepresented and powerless” (Boyd, 2002:37).
Ao publicarem conteúdos na rede, os indivíduos produzem uma vasta quantidade de informação
revelando aspetos e dimensões da sua identidade que, arquivados, podem ser facilmente
recuperados. Enquanto os comportamentos e informação produzidos em ambiente analógico estão
limitados ao espaço e ao tempo em que surgiram, os conteúdos publicados podem ser
recuperados, trabalhados, reorganizados e reproduzidos, muitas vezes de uma forma impossível de
ser controlada por quem os emitiu inicialmente. Emitidos num determinado contexto (situacional,
geográfico ou temporal), os conteúdos ficam assim armazenados e disponíveis através de
pesquisas ou buscas de informação, uma situação que poderá levantar algumas questões ao nível
da construção da identidade online.
“The potential audience is affected by the properties of the mediating technologies, namely
persistence, replicability, and invisible audiences. Networked publics add an additional feature—
searchability—while magnifying all of the other properties” (Boyd, 2008b:126). Boyd (2008b), num
estudo que incide sobre a construção da identidade (por adolescentes) na rede social MySpace,
aponta como principais diferenças entre a representação dos indivíduos em ambientes físicos e em
ambientes digitais:
! a persistência da informação: o discurso é efémero mas o texto eletrónico pode ser
guardado indefinidamente;
! a facilidade da procura (searchability): a capacidade de pesquisa das ferramentas digitais
permite a identificação e localização de ideias e de indivíduos;
! a replicabilidade dos conteúdos publicados: os media eletrónicos facilitam a duplicação e
possibilitam a alteração, por outrem, dos conteúdos criados pelos indivíduos;
! a existência de audiências invisíveis: é impossível, para o utilizador, o controlo e
conhecimento total relativamente a quem lê os conteúdos que publica e à forma como estes
são interpretados.
O facto de a identidade estar associada aos papéis ou contextos e ambientes sociais em que o
indivíduo se encontra ou nos quais pretende atuar justifica a necessidade de uma maior reflexão
A construção da identidade em ambientes digitais
33
sobre as diferenças e semelhanças entre os ambientes físicos e digitais. Quando uma das forças
atrativas da tecnologia em relação aos jovens reside na possibilidade e capacidade de criar,
partilhar ideias, aderir a grupos, de publicar, concretizada na possibilidade de criação de uma
identidade própria na rede (Attwell, 2006), o desenvolvimento de uma consciência relativamente à
representação digital dos indivíduos deverá ser assumido como um imperativo e uma necessidade
inultrapassável.
“Digital Identity is a serious matter in this day and age. In our opinion, it centers around two macro
areas: presentation and reputation. The first deals with the way we showcase our practice online, how
we participate and interact in shared spaces, i.e., how we present ourselves and which “persona” we
assume as part of our presence online. The second focuses on what others think of us” (Costa e Torres,
2011).
A identidade dos indivíduos não deverá ser definida enquanto entidade psicologicamente estável
e independente mas antes como algo que se encontra em constante mutação, constantemente
trabalhada à medida que interage com o outro (Goffman, 1959, apud Warburton et al., 2010). O
“eu”, enquanto entidade socialmente construída, é modelado através da interação social, das
ligações com comunidades e redes, da interpretação do/pelo outro. Neste sentido, quando a
Internet se assume como uma rede dinâmica de assuntos e sujeitos que se ligam e interagem
(Warburton et al., 2010), a dimensão digital das vidas dos indivíduos assume cada vez mais
relevância. A compreensão do contexto e a autoconsciência pessoal poderão, assim, ser
consideradas como alicerces no controlo da identidade dos indivíduos e na
apresentação/manifestações durante as interações sociais (Boyd, 2002).
2.2.3.1 A representação do indivíduo na rede
Numa realidade fortemente marcada pela ligação entre indivíduos e sistemas e pela
multiplicidade de meios digitais torna-se praticamente impossível permanecer fora do mundo digital
e, consequentemente, da produção de uma identidade online (Costa e Torres, 2011; Warburton,
2009). Dissociada da dimensão física, a presença na rede poderá ser identificada e reconhecida
através da participação do indivíduo em blogs ou wikis, pela partilha de conteúdos na rede e
mesmo pela interação nas comunidades e redes de que faz parte.
Online, os indivíduos representam-se através de dados e informação (e.g. nome, idade,
fotografia, endereços de e-mail, local ou dada de nascimento). No intuito de estabelecerem e se
definirem enquanto elementos de uma ou mais comunidades, poderão optar pela inclusão de
informação relativa à família ou grupo de amigos, profissão, organização ou instituição a que
pertencem. Para além deste tipo de informação (usualmente solicitada e adicionada aos perfis de
Capítulo II – A rede, espaço de participação e de construção da identidade
34
utilizador de diferentes espaços online), a identidade do indivíduo poderá englobar ainda o tipo de
conteúdos que associa aos seus espaços e a forma como se manifesta e traduz a sua presença
(estrutura discursiva, tópicos abordados). O simples ato de criar um perfil numa rede social ou num
serviço de publicação de conteúdos está muitas vezes associado a um processo de autorreflexão,
no qual o utilizador decide qual a informação a adicionar e a forma como deverá responder às
questões colocadas pela plataforma (Boyd, 2008a), determinando a forma como deseja apresentar-
se à comunidade:
“Creating a profile is an act of impression management, requiring teens to consider who might see their
profiles and how they might be interpreted. The desire to be seen in a positive or accurate light compels
teens to carefully craft their profiles.” (Boyd 2008a:130)14
Neste cenário, a construção da identidade emerge como um processo social, autorreflexivo e
performativo (Greenhow e Robelia, 2009), assente nas caraterísticas intrínsecas do indivíduo e na
forma como este reage e internaliza as experiências em que se envolve (Boyd, 2002). Ao fornecer
aos indivíduos um ambiente onde podem explorar de forma livre diferentes papéis ou identidades,
sem que a essa experimentação esteja diretamente associado o risco de consequências físicas ou
rejeição social (Suler, 2004, apud Peachey e Childs, 2011), o espaço online surge como um
ambiente onde a construção e reconstrução do “eu” decorre independentemente do espaço e do
tempo.
Num universo em que a presença se concretiza na escrita e publicação de conteúdos, Slater
(2002) aborda o potencial performativo da identidade online caraterizando a rede como um espaço
onde a identidade pode ser construída independentemente das limitações e constrangimentos do
mundo físico: na rede, o indivíduo pode assumir o papel de homem, mulher, criatura ou entidade,
pode criar identidades impossíveis de existir no mundo físico, ou mesmo explorar diferentes
perspetivas políticas, sociais, religiosas ou éticas. Livres dos constrangimentos físicos que os
impedem de tomar ou adotar as caraterísticas que gostariam de ver associadas à sua identidade,
os indivíduos podem optar por uma representação que corresponda à sua identidade no mundo
físico (e.g. utilização no nome real ou foto real no perfil de utilizador) ou utilizar uma forma de
representação diferente (e.g. utilização de avatar ou nickname). Podem, ainda, construir uma
identidade constante ou estável, i.e., cujos traços gerais (identificação, estrutura de discurso,
tipologia de conteúdo) são comuns a diferentes espaços, ou optar pela separação ou segregação
14 Não incidindo o presente trabalho de investigação sobre os processos subjacentes à seleção da informação a figurar nos perfis de utilizador de redes sociais ou outros espaços online, esta secção não explorará esta dimensão do estudo da identidade online. Recomenda-se, contudo, a leitura do trabalho de Boyd “Taken Out of Context”, 2008, onde a autora explora os processos e técnicas de autorrepresentação adotados por adolescentes para a construção e gestão de perfis.
A construção da identidade em ambientes digitais
35
de diferentes dimensões da sua identidade, revelando a informação e o conteúdo de acordo com o
espaço online onde se encontra e a audiência com que nele interage. Neste cenário, os indivíduos
tornam-se atores, desempenhando diferentes papéis em diferentes situações e perante diferentes
pessoas, ajustando o seu comportamento de forma a influenciar ou condicionar a perceção da sua
audiência (Goffman, 1959). Nesta perspetiva, a ideia de contexto emerge como um conceito que
engloba o espaço online onde a construção da identidade e a interação acontecem (e.g. redes
sociais, fóruns online, páginas Web, blogs), períodos específicos no espaço e no tempo (e.g.
secundário, férias, período de frequência do ensino superior) e grupo de relações sociais (e.g.
amigos, família, colega de trabalho, supervisores, professores).
Resultado de um processo social e negociado, a identidade na rede pode ainda contemplar
dimensões mais estruturadas que, não sendo totalmente controladas pelo indivíduo, são por este
assumidas como componentes da sua própria identidade. Josie Fraser (2009), referindo-se à forma
como os indivíduos interagem, se movem e marcam a sua presença na rede, acrescenta à
dimensão pessoal da identidade as dimensões profissional e organizacional, apresentando uma
framework que possibilita uma reflexão mais ampla sobre as questões da privacidade, direitos sobre
dados, mobilidade e representação. Realçando o caráter permeável destas categorias, Fraser
(2009) apresenta como exemplo da componente pessoal da identidade a utilização de redes
sociais para interação e partilha de informação com amigos e família, dimensão normalmente
caraterizada pela adoção de elevados cuidados em termos de privacidade. Quanto à dimensão
prof issional, traduz-se essencialmente na utilização de redes de networking ou da utilização de
blogs ou sites para a apresentação de portfólios, incluindo currículos públicos ou mesmo o acesso
a partes dos ambientes pessoais de aprendizagem (Personal Learning Environments – PLE) dos
indivíduos. Enquanto atividades tipicamente dirigidas ao público, incluem normalmente assuntos e
temas relacionados com a reputação e são apresentados de forma mais consciente. É na última
das três dimensões apresentadas por Fraser (2009) que sobressairá a incorporação, pelo indivíduo,
de uma dimensão online que, não sendo totalmente controlada, é assumida como parte da sua
identidade. A dimensão organizacional implica a utilização, por trabalhadores, de ferramentas ou
plataformas em nome do seu empregador ou que se encontrem na linha dos seus deveres e tarefas
profissionais. Incluindo a gestão de blogs para divulgação de informação, a manutenção de perfis
na rede ou mesmo a definição de contas, este tipo de utilização e construção de identidade pode
ser público (e.g. em redes sociais ou espaços online abertos) ou articulado dentro de ambientes
fechados (walled gardens, e.g. LMS como o Moodle).
Capítulo II – A rede, espaço de participação e de construção da identidade
36
2.2.3.1.1 Representação visual da identidade online: ferramentas de agregação
Quando a rede se torna parte da vida dos indivíduos, a publicação de conteúdos surge como
algo natural e por isso muitas vezes inconsciente. Assumindo o papel de visitantes ou residentes, os
indivíduos constroem uma identidade online através de participações em fóruns, comentários em
blogs, publicação de fotos. Na rede, os conteúdos publicados permanecem para além do tempo de
vida esperado ou percebido pelo utilizador, uma realidade virtual onde toda a informação pode ser
pesquisada e facilmente recuperada. Entre a persistência dos dados e o risco de
descontextualização da informação, os indivíduos ficam de certa forma limitados quanto ao controlo
da forma como a sua identidade é apresentada online. Neste sentido, a utilização de serviços que
possibilitam a visualização, monitorização e interpretação dos conteúdos publicados poderá
conduzir a uma melhor gestão da representação online dos indivíduos e ao desenvolvimento de
uma consciência digital.
Para além da simples pesquisa do nome do utilizador no Google, por exemplo, existem alguns
serviços e aplicações construídas especialmente para agregar e disponibilizar a informação
partilhada pelos indivíduos na rede. Nestas plataformas, o utilizador seleciona a informação que
pretende ver associada à sua identidade online, construindo assim um espaço personalizado mas
ao mesmo tempo acessível a quem o quiser consultar ou, dependendo das definições de
privacidade, às pessoas com as quais pretende partilhar a informação.
Apresentando como mote “Decide what the world sees when it searches for you”, o Google
profiles15 é um serviço disponibilizado pelo Google onde, acedendo ao perfil da sua conta de e-
mail, o utilizador do serviço pode definir a informação que quer ver apresentada na primeira entrada
de uma pesquisa feita pelo nome no Google. Controlado pelo utilizador, o perfil oferece a
possibilidade de associação de uma foto ao utilizador, a inserção de frases descritivas, a indicação
da profissão, estabelecimentos de ensino frequentados e locais onde viveu, contactos pessoais e
profissionais, estado civil, interesses, informação que ficará visível nos motores de busca apenas se
o utilizador assim o pretender. O Google profiles apresenta ainda a possibilidade de adicionar
separadores ao perfil, associando a informação sobre álbuns de fotos (i.e. Picasa) à identidade do
utilizador. Apesar de os dados disponibilizados no Google profiles ficarem associados ao perfil de
utilizador Google, o utilizador pode optar pela indexação ou não indexação da informação pela
maioria dos motores de busca.
Um outro serviço, o About.me16 (“A personal page that’s all about you”) é um serviço online que
possibilita a agregação das diferentes presenças de um utilizador numa única página. Para além da
15 Disponível em http://profiles.google.com, acedido a partir do perfil da conta Google, acedido a 22 de junho de 2011.
16 Disponível em https://about.me, acedido a 21 de agosto de 2012.
A construção da identidade em ambientes digitais
37
personalização gráfica da página (imagem de fundo, tipografia, cor, adição de símbolos ou ícones,
adição de frases ou texto), o About.me possibilita a associação de conteúdos dispersos por
diferentes plataformas a um nome de utilizador. Na sua página, o indivíduo pode disponibilizar o
acesso a blogs, links e redes sociais onde tem presença. Nas definições/opções de privacidade, o
About.me permite a pesquisa de utilizadores através do endereço de e-mail associado à conta, bem
como a possibilidade dos visitantes da página poderem enviar mensagens via e-mail aos donos do
perfil. O endereço de e-mail associado à conta não é disponibilizado nem se encontra visível em
nenhuma das duas opções.
2.2.4 A gestão da privacidade
Na rede, os conteúdos publicados permanecem para além do tempo de vida esperado ou
percebido pelo utilizador, numa realidade virtual onde toda a informação pode ser pesquisada e
facilmente recuperada. Entre a persistência dos dados, a descontextualização, o caráter dinâmico e
as constantes atualizações de aplicações e plataformas, os indivíduos possuem pouco controlo
sobre a forma como a sua identidade é apresentada na rede; ao possibilitar a construção de uma
identidade que ultrapassa as barreiras geográficas e temporais, a Internet cria, ao mesmo tempo,
um espaço onde a privacidade dos indivíduos se encontra em permanente exposição e sujeita a
ameaças de diversos tipos, tenham estas origem nas fragilidades dos sistemas ou na má fé de
outros utilizadores. Muitas vezes desprovidos de uma consciência digital – consciência
relativamente ao peso, relevância e repercussão da informação que disponibilizam na rede – os
indivíduos associam à sua identidade online conteúdos e informações que, recuperados de forma
descontextualizada, poderão estar na origem de interpretações e representações erróneas da sua
própria identidade.
Costa e Torres (2011), num artigo que reflete sobre a importância da identidade construída em
ambientes digitais na sociedade de rede, apontam como principais desafios à gestão da identidade
online a opção entre a abertura ou reserva da identidade, a escolha entre a manutenção de uma
identidade única ou de múltiplas identidades e a criação de identidades genuínas (i.e. que refletem
a identidade do utilizador) ou falsas, ou seja, a criação de várias identidades para serem utilizadas
em diferentes cenários ou contextos. Para os investigadores, a criação de uma identidade online
está intimamente ligada à construção de uma imagem de reputação na rede, espaço onde o
indivíduo tem a possibilidade de se manifestar, divulgar o seu trabalho e competências e comunicar
e interagir com uma audiência alargada. Para além da opção entre a manutenção de uma
identidade fechada (i.e. divulgada e/ou acessível a apenas alguns utilizadores) ou aberta (visível
para toda a comunidade), cabe ao indivíduo definir o grau de autenticidade da identidade
construída, bem como a quantidade de informação e o tipo de conteúdos que deseja ver associado
Capítulo II – A rede, espaço de participação e de construção da identidade
38
à sua ou às suas presenças.
2.2.4.1 Privacidade e arquitetura
Quando a problemática das normas sociais e os receios associados à privacidade surgem como
fatores condicionantes da construção de uma identidade online (Boyd, 2002), a inexistência de
normas de regulação ou de feedback efetivo a que os indivíduos estão habituados poderá fomentar
o desenvolvimento de sentimentos de insegurança e de falta de poder, aumentando o nível de
rejeição relativamente a estes ambientes. Referindo-se ao desenho e construção dos ambientes
digitais, Boyd (2002) defende que os sistemas online deveriam ser dotados de mecanismos e
canais de feedback que, concedendo aos utilizadores o controlo sobre a sua representação digital,
possibilitassem a criação de um ambiente propício a uma melhor interação social. Segundo Boyd
(2002), o sistema deveria possibilitar ao utilizador o controlo sobre os diferentes contextos de
partilha de informação, permitindo-lhe a seleção do espaço temporal e dos sujeitos a quem
determinada informação seria divulgada.
Ainda no mesmo campo da arquitetura dos sistemas online, Cameron (2005) apresenta as “sete
leis da identidade” como pontos de reflexão sobre o que deverá ser um sistema desenhado para
suportar a construção e gestão de uma identidade na rede. Alertando para a rapidez e o
descontrolo do crescimento da Internet, Cameron (2005) realça a importância de se construir um
sistema que consiga a confiança do utilizador e o proteja de ataques à sua identidade digital,
apresentando o que designa por “sete leis da identidade17”. Destas, destacam-se pela sua
pertinência no domínio da gestão da identidade a lei do controlo, que defende que a informação só
deverá ser divulgada pelo sistema se o utilizador assim o pretender; a lei da menor revelação, que
defende como mais estável a longo prazo a solução tecnológica que revelar o menor número de
informação identificável; e a lei do pluralismo, que define que um sistema universal deverá permitir a
integração de múltiplas tecnologias de identidade (i.e. tecnologias que possibilitam a construção e
manifestação da identidade) provenientes de múltiplos fornecedores ou serviços. Tendo em vista a
adequação e aceitação dos sistemas em contextos culturalmente distintos, as “sete leis da
identidade” apresentam uma visão que coloca o utilizador no controlo da informação que pretende
partilhar, alertando para alguns pontos-chave da construção de ambientes online. Ao nível da
privacidade, por exemplo, as leis do controlo e da menor revelação realçam a necessidade de se
desenharem ambientes onde a informação só é partilhada se o utilizador assim o pretender,
surgindo como soluções mais estáveis aquelas que revelarem a menor quantidade de informação
identificável.
17 Cf. Cameron (2005), http://www.identityblog.com/stories/2004/12/09/thelaws.html, acedido a 20 de julho de 2011.
A construção da identidade em ambientes digitais
39
2.2.4.2 Gestão de contextos: identidade facetada
No mundo físico, os acontecimentos, pessoas e discursos estão confinados a um determinado
espaço físico e temporal. Em ambientes digitais, contudo, a informação – porque armazenada e
facilmente acessível – pode ser recuperada em cenários distintos daqueles onde teve origem, o que
poderá conduzir à descontextualização do conteúdo e consequente adulteração/má interpretação
da identidade inicialmente construída. O caráter persistente da informação, aliado à possibilidade
de esta poder ser replicada em contextos totalmente diversos, confere ainda mais relevo às
questões sobre o controlo da presença, da segurança dos dados e das definições de privacidade
relacionadas com a construção da identidade online.
Quando quaisquer dados enviados para a rede, intencionalmente ou não, são arquivados e
passíveis de serem utilizados para ajudar a representar o comportamento de um indivíduo, a
dimensão contextual da informação torna-se ainda mais relevante. Enquanto que no mundo físico a
delimitação e temporalidade dos contextos onde o indivíduo se move, interage e comunica é algo
possível de se conseguir, no espaço digital os ambientes não são estanques e totalmente fechados.
De forma a contornar essa permeabilidade caraterística dos ambientes online e de forma a
controlar o tipo de informação associado à sua identidade, os indivíduos poderão recorrer a
estratégias assentes no anonimato ou, em alternativa, na criação e gestão de diferentes contas de
e-mail para diferentes plataformas e sistemas (Boyd 2002). Quando os dados fornecidos pelos
utilizadores podem ser, na maior parte das vezes, agregados através da convergência de contas de
e-mail ou nomes, ou mesmo pela utilização de motores de pesquisa, a criação de múltiplas contas
de e-mail durante o registo em diferentes serviços surge muitas vezes como uma forma utilizada
para contornar a agregação automática da informação.
Não sendo uma forma intuitiva/natural de gestão da identidade (Boyd, 2002), esta forma de
gestão possibilita aos indivíduos a recuperação, até um certo ponto, do controlo e da privacidade a
que estão habituados. Nesta perspetiva, a adoção de endereços de e-mail pessoais e profissionais,
um dos exemplos mais comuns, poderá ser reveladora do desejo de marcar a separação entre as
duas presenças, replicando no ambiente digital os contextos existentes no mundo real. Ao dificultar
a agregação automática da sua presença, a utilização de diferentes contas pode ser uma alternativa
à participação anónima ou mesmo à não participação, possibilitando uma construção gradual e
controlada da presença na rede. Enquanto alternativa ao anonimato, a criação de diferentes contas
de e-mail possibilita aos indivíduos a construção de reputações e amizades, revelando apenas parte
da sua identidade e criando assim barreiras aos mecanismos automáticos de agregação (Boyd,
2002): “By maintaining multiple accounts, users associate context locally. In other words, rather than
adjusting one’s presentation according to the situation or current population, one can maintain an
Capítulo II – A rede, espaço de participação e de construção da identidade
40
account that represents a specific face and present oneself through that” (Boyd, 2002:42).
O recurso a diferentes contas ou registos de utilizador como forma de representação e gestão
da identidade na rede foi considerado por investigadores como Turkle (1995) e Stone (1998, apud
Boyd, 2002) como um indicador de um “eu” pós-moderno fragmentado. Boyd (2002), contudo,
argumenta que esta multiplicidade de representações permite ao indivíduo uma maior flexibilidade
no que se refere à sua representação na rede, apresentando diferentes personas em diferentes
cenários, uma situação que reflete comportamentos que ocorrem no espaço offline. Através desta
alternativa ao anonimato, os indivíduos procuram criar barreiras aos mecanismos automáticos de
agregação, possibilitando a interação e o estabelecimento de relações com diferentes grupos ou
comunidades. Assim, e à semelhança do que acontece no mundo real, onde o espaço físico pode
funcionar como delimitador do contexto e da atividade dos indivíduos (empresa, casa, espaço de
lazer), a utilização de diferentes contas de e-mail poderá permitir aos indivíduos a gestão da sua
presença nos diferentes espaços onde participa.A utilização de e-mails ou nomes de utilizador
diferentes para o registo em diferentes plataformas surge como um mecanismo de controlo e
gestão das diferentes plataformas e espaços onde o indivíduo constrói a sua identidade.
O ambiente digital, ao mesmo tempo que fornece ao indivíduo um espaço relativamente livre de
preconceitos onde pode interagir em novos domínios (Boyd, 2002), é um ambiente aberto onde
diferentes contextos se misturam e se interligam. De forma a evitar a colisão de dois mundos
diferentes e o consequente aparecimento de situações socialmente estranhas ou perturbadoras, o
indivíduo poderá decidir apresentar uma identidade consensual (ib, 2002) ou, então, optar pela
apresentação de uma identidade facetada (Boyd, 2002), revelando a diferentes públicos diferentes
partes da sua identidade (Boyd, 2002; Coiro, 2008; Stankovic, 2009; Warburton et al., 2010; Childs,
2011; Costa e Torres, 2011).
Segundo Boyd (2002), a multiplicidade de facetas não será indicadora do colapso do indivíduo
mas representará, antes, o controlo ou tentativa de controlo que este possui sobre a forma como se
apresenta no dia a dia. Consciente da possibilidade da reunião ou confronto dessas mesmas
facetas, o indivíduo poderá optar pela manutenção da separação dos contextos ou, em alternativa,
adotar uma “face” universalmente aceite pelos diferentes públicos com que interage. Numa
abordagem semelhante, Stankovic (2009) apresenta o conceito de “the presence diamond”,
referindo-se à presença online como a totalidade da informação associada à identidade dos
indivíduos na rede e reforçando o facto de estes selecionarem, de acordo com o contexto e os
interlocutores, a informação que pretendem apresentar:
“Therefore, there is a need to look at the notion of online presence as a faceted phenomenon. For this
reason, I introduce the notion of presence diamond to capture the faceted nature of online presence
and the need to appear differently to different groups of people” (Stankovic, 2009:13).
A construção da identidade em ambientes digitais
41
2.2.5 Ident idade onl ine e reputação
A separação entre os diferentes contextos, aparentemente fácil e quase natural, poderá revelar-
se uma solução difícil de manter a longo prazo. Se, numa fase inicial, o indivíduo poderá recorrer a
diferentes contas para criar espaços que reflitam diferentes facetas da sua identidade, à medida
que se deixa envolver pela dimensão social da rede e constrói relações com outros espaços e
indivíduos poderá sentir a necessidade de construir uma presença mais consistente e que reflita a
sua identidade como um todo.
Enquanto visitante (White, 2008), a adoção de diferentes contas de e-mail ou mesmo a criação
de diferentes identidades (pela utilização de alias, nicks, avatares, histórias de percurso de vida) é
algo quase natural: protegido pelo anonimato, o indivíduo pode explorar os diferentes ambientes,
interagir com a comunidade, emitir opiniões ou participar em discussões sem receio de que a
identidade que está a construir na rede tenha repercussões ou seja associada à sua identidade
física. No entanto, e à medida que se vai envolvendo e relacionando com a comunidade,
participando em ações ou projetos, o indivíduo poderá sentir a necessidade de se afirmar enquanto
pessoa e de ver associado à sua identidade aquilo que publica e partilha. Childs (2011), num
trabalho que reflete sobre a construção da identidade em ambientes virtuais (Second Life), refere
que – e apesar da maleabilidade caraterística da identidade nos mundos digitais – existe uma
pressão social para que os indivíduos mantenham uma “identidade primária” estável, necessária à
construção e manutenção de redes de pessoas e comunidades. O autor defende ainda que a
persistência da identidade permite não apenas a identificação pelo sistema (software) como
também para que os indivíduos sejam reconhecidos pelos seus pares nos mundos virtuais.
À semelhança do que acontece no mundo físico, em ambientes digitais a identidade do
indivíduo não é composta apenas pela imagem ou representação que este tem de si próprio e as
facetas ou caraterísticas que seleciona para se dar a conhecer ao outro: num ambiente em que a
presença é construída através dos conteúdos publicados, a identidade ultrapassa a autoimagem
dos indivíduos e estende-se à interpretação, pelo outro, desses conteúdos e à própria interação
realizada na rede. Habituados a replicar, nos ambientes digitais, os comportamentos e atitudes que
adoptam no mundo físico, os indivíduos transportam muitas vezes para a rede a divisão entre o
público e o privado, o pessoal e o social, situação que poderá colocar alguns problemas ao nível da
gestão da identidade e da construção de uma reputação: “We have to recognize one critical feature
of our digital identities – their persistence – and how this creates an incredible capacity to impact on
our digital reputations” (Warburton et al., 2010:11).
Capítulo II – A rede, espaço de participação e de construção da identidade
42
Quando o caráter dinâmico e de perpetual beta18 das aplicações dificulta a separação de
contextos e quando as definições de privacidade de redes e plataformas estão sob controlo dos
criadores ou detentores das aplicações e não sob controlo dos utilizadores, a preocupação dos
indivíduos que estão a construir uma identidade e uma reputação na rede dever-se-á centrar não na
gestão de listas de contactos ou de amigos (e.g. listas do Facebook, círculos do Google+) ou a
separação dos contextos onde se manifesta, mas na criação de uma identidade coerente,
consciente e responsável.
As dimensões apresentadas por Boyd (2002) – persistência, replicabilidade, possibilidade de
pesquisa e exposição alargada e incontrolada dos conteúdos – reforçam a necessidade de se
assumir a identidade online como um espaço indissociável da identidade “real”.
Refletindo sobre a identidade online e sobre as vantagens da integração desta dimensão nos
currículos académicos e profissionais, Costa e Torres (2011) apresentam a rede como o espaço
ideal para incentivar os alunos à construção de uma identidade e ao desenvolvimento de uma
presença social, complemento da atividade profissional e do percurso e perfil académico. Segundo
os investigadores, o marketing pessoal, a construção de uma reputação, a autenticidade da
interação e a coerência da presença surgem como vantagens da adoção de uma identidade real,
devendo os potenciais benefícios da criação e manutenção de uma identidade estável e que
englobe as diferentes dimensões da vida dos indivíduos ser considerados e ponderados durante os
processos de decisão e gestão da identidade online:
“Hence, digital identity management is important, as it can impact on our activity both face to face and
online. In a digitally connected world, educators have a two-fold role when it comes to address the
issues cyberspace poses on their practice: on the one hand they need to mentor their students to be
digitally savvy, which is far more complex a task than teaching them to create accounts in social
networks or help them create a blog, for instance. On the other hand, they need to do what they preach
in order to model behaviour, i.e., establish a reputable digital identity which students can look up to and
follow as example” (Costa e Torres, 2011).
2.3 A rede, oportunidade e desafio para indivíduos e instituições
Num cenário em que a Internet é cada vez mais utilizada como suporte e meio para a
aprendizagem informal, a identidade online surge como uma construção que liga os indivíduos e os
18 “perpetual beta” - termo comummente utilizado para descrever programas ou aplicações que nunca abandonam o estádio de desenvolvimento.
A construção da identidade em ambientes digitais
43
locais onde a aprendizagem significativa acontece (Warburton, 2008), tornando-se a face visível de
um percurso construído ao longo da vida. No campo do Ensino Superior, surge uma nova forma de
encarar e perspetivar a educação e as suas finalidades, um enfoque orientado para a necessidade
de apoiar e possibilitar não apenas a aquisição de conhecimento como também o desenvolvimento
de competências e de recursos indispensáveis à aprendizagem ao longo da vida (McLoughlin e
Lee, 2007).
Fora do contexto educativo, os problemas, situações e desafios colocados aos
aprendentes/profissionais requerem resposta quase imediata, não sendo mais possível aguardar
pela emissão de materiais desenvolvidos institucionalmente (Fiedler e Kieslinger, 2006). Ao suportar
a criação de redes de pessoas, conteúdos e serviços, a utilização do software social surge como
resposta à necessidade de uma estrutura capaz de dar resposta a problemas e objectivos em
constante mudança (Attwell, 2006), contribuindo assim para uma aprendizagem mais
contextualizada e significativa.
Integrar o software social em contextos educativos é reconhecer a aprendizagem como algo que
ultrapassa as barreiras dos espaços educativos formais, um processo que envolve uma mudança
de mentalidade relativamente à posição das instituições de ensino e dos aprendentes, e que obriga
a repensar o próprio conceito de “aluno” enquanto produtor e prescritor da qualidade da Instituição
que frequenta. Caraterizados como “nómadas” (Fiedler e Kieslinger, 2006; Grodecka et al., 2008;
Pata e Väljataga, 2007), os novos aprendentes orientam-se pelos seus próprios interesses e
necessidades pessoais, numa aprendizagem autodidata ou alicerçada em alianças e projetos onde
a instituição formal de ensino surge, por vezes, como local de acreditação das competências
adquiridas fora da escola (Fiedler e Kieslinger, 2006).
2.3.1 A (r)evolução tecnológica, prát icas e comportamentos
Em contexto educativo, a utilização das tecnologias da informação e da comunicação (TIC)
trouxe alterações às dinâmicas de colaboração, expressão e aos processos de ensino e
aprendizagem e, consequentemente, a alteração dos padrões tradicionais de comportamento e
interação dos alunos com a academia (Collis e Moonen, 2011). No domínio da educação e da
formação, as TIC estão a ser utilizadas para facilitar o acesso à informação e para promover a troca
e partilha de experiências entre indivíduos e comunidades, bem como para favorecer a criação de
ambientes mais motivadores, personalizados e envolventes, desenhando e implementando
estratégias pedagógicas que visam apoiar, facilitar e melhorar o processo de aprendizagem
(Redecker et al., 2010).
Trinder et al. (2008), num projeto focalizado no estudo dos comportamentos e práticas informais
Capítulo II – A rede, espaço de participação e de construção da identidade
44
dos alunos no ensino superior, nomeadamente da utilização e exploração da tecnologia em
atividades de aprendizagem e de lazer, dentro e fora do ambiente formal de educação, afirmam que
os alunos estão a utilizar as capacidades e funcionalidades da rede para atividades de socialização
e criação de comunidades de apoio, para partilhar recursos e para organizar a própria dinâmica do
grupo e do estudo, num cenário onde as atividades relacionadas com a aprendizagem e com a
socialização se encontram muitas vezes interligadas:
“Learning activity (or activity that supports learning) and socialising were often mixed together in these
spaces (...). This type of exchange shows how the use of these tools is ubiquitous and how skills have
developed that allow for easy uploading and sharing of content for some students. It is part of their
everyday life both for study and socialisation.” (Trinder et al, 2008:35).
Um outro estudo, desenvolvido por Clark et al. (2009), procurou investigar a forma como os
aprendentes (no estudo, indivíduos com idades entre os 11 e os 16 anos) lidam com as tecnologias
do software social dentro e fora do contexto escolar. Da análise das práticas de 51 alunos,
concluíram que a utilização da tecnologia ultrapassa a sua dimensão utilitária e de socialização e
que se estende aos contextos formais de aprendizagem: “As a result, the boundaries between
formal and informal spaces are becoming blurred.” (Clark et al., 2009:66).
As alterações na rede poderão, assim, trazer grandes transformações à forma como se percebe
o ensino a distância, nomeadamente em termos de mudança de paradigma pedagógico e de
utilização da tecnologia (Pata e Väljataga, 2007). Assiste-se à discussão entre a segurança,
estabilidade e fiabilidade das ferramentas institucionais e a abertura, pertinência e adequabilidade
das ferramentas do software social. Ainda dominado pelos Learning Management Systems (LMS),
os ambientes institucionais surgem perante os alunos como sistemas fechados, hierarquicamente
definidos e pouco flexíveis, onde ferramentas e conteúdos são superiormente determinados e
orientados para o desenvolvimento de competências técnicas/específicas que, muitas vezes, não
correspondem aos seus interesses e expectativas. No extremo oposto, o software social – ao
possibilitar a criação de ambientes pessoais com ferramentas e serviços distribuídos – surge como
um espaço personalizado e personalizável, onde o aprendente procura, acede e interage com os
recursos que considera adequados e onde manifesta a sua opinião e partilha as suas experiências
com os seus pares, mentores e especialistas.
Utilizando a expressão “dissonância digital” para descrever a tensão existente em redor da
utilização das tecnologias do software social em contextos de educação formais, Clark et al. (2009)
defendem que, para se compreender como a tecnologia pode unificar/aproximar os dois universos
(formal e informal), é necessário um conhecimento prévio sobre a forma como a tecnologia está a
ser utilizada pelos jovens enquanto consumidores e autores de conteúdo. As ferramentas do
software social estão a ser utilizadas pelos alunos como suporte ao seu processo de aprendizagem
A construção da identidade em ambientes digitais
45
fora das instituições de ensino (Fiedler, 2007; Trinder et al., 2008), facto que poderá, de acordo com
Trinder et al. (2008), reforçar a frustração sentida perante a pouca e inadequada utilização da
tecnologia dentro dos ambientes formais. Esta situação, alimentada muitas vezes, segundo Sterling
(2008), pela própria posição institucional (derivada de constrangimentos temporais que impedem
uma maior exploração da tecnologia, económicos e ao nível de boas práticas, i.e. a pouca
investigação ao nível de modelos de integração da tecnologia em contexto educativo), poderá ter
como consequência o reforço da separação entre a cultura institucional e a cultura vivida pelos
aprendentes fora da instituição.
Redecker et al. (2010), analisando o impacto do Learning 2.0 19na Europa, apresentam como
barreiras à integração do software social na aprendizagem formal a dificuldade no acesso à
tecnologia e a inexistência de competências digitais básicas (e.g., utilização crítica e confiante das
TIC), competências pedagógicas, a incerteza ao nível da fiabilidade e perenidade das aplicações e
questões relacionadas com a segurança e a privacidade. Margaryan et al. (2008), num estudo que
investiga o potencial das novas tecnologias em educação e a forma como os alunos e instituições
as integram nos domínios formais e informais, abordam a temática da transferência de
competências entre os dois contextos referindo que, apesar de alguns estudos confirmarem a sua
existência (Conole et al., 2006), outros revelam a ocorrência de dificuldades na transferência de
competências entre esses dois universos (Miller et al., 2007).
De acordo com o relatório “National Study of Undergraduate Students and Information
Technology”, promovido pelo ECAR – Educause Center for Applied Research em Outubro de 2011 e
desenvolvido por Dahlstrom et al., os estudantes estão conscientes e reconhecem a importância da
utilização das TIC em educação, nomeadamente ao nível da facilidade de acesso à informação, ao
nível da produtividade, da ligação com os outros e na promoção de experiências de aprendizagem
mais imersivas, relevantes e envolventes. Ao suportar a criação de redes de pessoas, conteúdos e
serviços, a utilização do software social alterou os paradigmas tradicionais de construção de
conhecimento e surge como resposta à necessidade de uma estrutura capaz de dar resposta a
problemas e objectivos em constante mudança (Attwell, 2006), contribuindo para uma
aprendizagem mais contextualizada e significativa. Aprendendo com e através dos media, os
indivíduos estão simultaneamente a aprender a aprender, trabalhando competências relacionadas
com a análise crítica à informação e desenvolvendo um sentido pessoal da sua identidade
enquanto pessoas e aprendentes (Buckingham, 2008b): “As learners use different tools, they build
up digital identities in various situations and applications, by constructing knowledge in online
interactions, by collaborating and exchanging ideas, by creating learning communities” (Wild et al,
2008:5831).
19 “Learning 2.0” – Expressão utilizada por Redecker et al.(2010) para designar o impacto da utilização do software social em contextos de aprendizagem.
Capítulo II – A rede, espaço de participação e de construção da identidade
46
2.3.2 Rede, tecnologia e identidade, oportunidade e desafio paras as
Inst i tu ições de Ensino Superior
No cenário atual, caraterizado pelas mudanças sociais e tecnológicas, assiste-se a
transformações na forma como os indivíduos vivem e trabalham. No campo do Ensino Superior,
verifica-se o aparecimento de mudanças na visão sobre a finalidade da educação, com um ênfase
crescente nas necessidades de apoiar e permitir não só a aquisição de conhecimento como
também o desenvolvimento de competências e recursos indispensáveis à aprendizagem ao longo
da vida (McLoughlin e Lee, 2007) e o desenvolvimento de literacias digitais.
Num estudo desenvolvido para “The Economist Intelligence Unit” (EIU) – baseado numa survey
realizada a 289 indivíduos pertencentes ao Ensino Superior e em 12 entrevistas em profundidade –
que incidia sobre as implicações da tecnologia no futuro do ensino superior, Glenn (2008) apresenta
como alguns dos benefícios da transformação potenciada pela tecnologia o
aparecimento/desenvolvimento da educação à distância, a existência de sistemas de gestão de
aprendizagem e a oportunidade de colaborar com parceiros distantes. Nesse estudo, Glenn (2008)
apresentava as ferramentas colaborativas e o software de apoio à aprendizagem personalizada (i.e.
desenvolvida ao ritmo do aprendente) como as ferramentas mais relevantes em contexto educativo.
Mais ainda, defendia que a adoção da tecnologia iria ter como consequência a ocorrência de
alterações profundas no desenho dos cursos e programas educativos, não mais assentes na
memorização mas antes na aplicação do conhecimento adquirido a problemas específicos e na
preparação de cidadãos para os desafios do século XXI:
“But perhaps the most critical question facing the academic world is something far more fundamental:
namely, what it will mean to be an educated person in the 21st century. As our study indicates, these
sweeping technological changes will effectively change the skill-sets of the future workforce, as well as
its approach to work in general. As a result, societies around the world will need to consider how to
make the most of these new opportunities and thus ensure that they remain competitive in the global
marketplace.” (Glenn, 2008:16)
Collis e Moonen, ao replicarem em 2010 uma análise efetuada ao estado do Ensino Superior
nove anos antes20, constataram que – não obstante a tecnologia ter efetivamente contribuído para
20 Na análise efetuada em 2001, Collis e Moonen projetaram quatro cenários que poderiam traduzir o
posicionamento das instituições de ensino face ao impacto da tecnologia nos processos de aprendizagem,
apresentaram como potenciais reações à evolução tecnológica aquilo que designaram por: back to basics, ou
o regresso às raízes, com a valorização da interação face-a-face e do ensino presencial, onde as decisões
A construção da identidade em ambientes digitais
47
alterar as práticas administrativas e logísticas no campo da educação – o impacto da evolução
tecnológica não se refletia ao nível da pedagogia, observando-se uma persistência na utilização de
ambientes de aprendizagem de uma forma maioritariamente administrativa (i.e., em funções
relacionadas com a gestão e administração dos espaços educativos) e o afastamento dos alunos
em direção a sistemas mais abertos e personalizáveis. Aliada a esta situação, a própria situação
financeira das instituições de ensino (fator já referido por Glenn, em 2008, no estudo desenvolvido
para o EIU) terá tido como consequência o aumento da falta de motivação de pessoal docente e de
apoio: ao nível dos professores, e segundo os autores, assistir-se-á a uma falta de tempo e de
motivação para explorar e utilizar as tecnologias além do indispensável; ao nível do pessoal de
apoio, verificar-se-á uma falta de pessoas dedicadas à reformulação dos currículos e à promoção
da inovação pedagógica, bem como ao acompanhamento de professores e alunos na utilização da
tecnologia.
Assim, e tendo em consideração os obstáculos e as dificuldades financeiras com que as
Instituições de Ensino Superior se debatem, Collis e Moonen avançam com novas projeções.
Segundo os investigadores, a falta de alunos e a redução de financiamento, encerramento ou fusão
de algumas instituições de ensino poderão conduzir a uma lenta adaptação à mudança e reduzido
investimento na área do e-learning e da inovação tecnológica. Um outro cenário, oposto a este mas
tendo como base as mesmas dificuldades ao nível do número de alunos e do financiamento, prevê
uma orientação para o mercado e a competitividade e a passagem para uma aprendizagem flexível,
orientada pelos empregadores e onde os programas se orientam para a certificação ou creditação
de competências e à valorização de experiência de trabalho. Será neste segundo cenário que a
tecnologia desempenhará um papel importante, justificando a necessidade de se considerar os
aprendentes participantes ativos ou coprodutores e não consumidores passivos de conteúdo, e
encarando a aprendizagem como um processo participativo e social (McLoughlin e Lee, 2007).
Quando a economia do conhecimento solicita/exige um novo tipo de aprendentes e criadores
(Atkins, 2005), a tecnologia possibilita ao aprendente a aquisição e desenvolvimento de
competências de uma forma holística, embebida no contexto real do dia-a-dia e integrada na sua
aprendizagem ao longo da vida (Redecker et al., 2010). Neste contexto, a rede surge como espaço
relativas ao desenho do currículo seriam da responsabilidade das instituições; global campus, um cenário que
afetava o controlo do currículo à instituição mas que previa que os processos de aprendizagem passassem a
ser mediados pela tecnologia; stretching the mould, ou alargar do espaço, com a valorização do espaço físico
e da interação face-a-face mas onde o aprendente assume as escolhas relativamente ao currículo e à
qualidade e relevância das experiências de aprendizagem; e a new economy, cenário assente no impacto da
nova economia (do conhecimento) e na escolha do currículo pelos aprendentes, sendo a aprendizagem
mediada pela tecnologia e desenvolvida a partir de múltiplas fontes e recursos.
Capítulo II – A rede, espaço de participação e de construção da identidade
48
onde o indivíduo/aprendente se assume como participante ativo e consciente no seu próprio
processo de procura e processamento de informação, traduzindo uma identidade plena que
envolve os espaços formais e informais onde a sua aprendizagem decorre. Neste cenário, as
ferramentas e aplicações digitais possibilitam ao indivíduo a construção de uma presença visível ao
resto da sociedade, criando ainda as condições para o desenvolvimento de uma identidade social,
construída na e pela interação com o outro (Martin, 2008).
O ensino superior não pode ignorar as mudanças globais promovidas pela evolução
tecnológica, numa economia de conhecimento onde a capacidade dos indivíduos em pesquisar,
avaliar, criar e partilhar informação e sintetizar conhecimento de forma a resolver problemas e
situações adquire uma importância vital (Margaryan et al., 2008). Competências como inovação,
multidisciplinaridade, colaboração e resolução de problemas são valorizadas como competências
fundamentais para as novas realidades e contextos, cabendo às Universidades compreender os
seus alunos como promotores ativos da sua própria qualidade, oferecendo-lhes a infraestrutura
tecnológica e a abordagem pedagógica necessárias à construção de um currículo relevante e da
sua própria identidade na rede (Aresta et al., 2012).
“In this society, the consrtuction of individual identity has become the fundamental social act. (...) Under
such conditions individual identity becomes the major life-project. You have to choose the pieces (from
those available to you) rather than having them (largely) chosen for you.” (Martin, 2008:154)
Quando a consciência e a reflexão relativamente à própria identidade assume uma nova
importância na vida dos indivíduos, e quando “each individual is responsible for their own
biography” (Martin, 2008:154), o próximo capítulo descreve os procedimentos metodológicos
subjacentes ao desenvolvimento do presente estudo de caso. Para além da análise da utilização de
uma plataforma suportada institucionalmente e da utilização de redes informais (i.e. não associadas
à instituição) enquanto espaço de construção da identidade e manifestação de competências,
reflete-se sobre a utilização do software social em contextos formais de educação, sobre a
importância do desenvolvimento e manifestação de competências e sobre o papel que a
infraestrutura tecnológica facultada pela instituição poderá desempenhar na construção da
reputação dos seus alunos.
A construção da identidade em ambientes digitais"
49
Capítulo 3 METODOLOGIA
O reconhecimento da dimensão criativa, participativa e social da rede trouxe fortes alterações à
forma como se percebe e se compreendem as questões relacionadas com a identidade, a
educação, a prática e o conhecimento. Associada às mudanças que a Internet e o software social
trouxeram para o plano educativo (e.g. aprendizagem em rede, conectivismo), a dimensão online da
identidade enquanto espaço de divulgação e manifestação de competências assume uma
importância crescente no contexto do ensino superior, nomeadamente no que diz respeito à gestão
da presença em ambientes digitais e ao papel das instituições na preparação dos seus alunos para
o futuro profissional. Tendo como objeto de investigação a construção da identidade online numa
plataforma providenciada por uma instituição de ensino, a caraterização da identidade construída
em ambientes digitais formais e informais e a importância da identidade online na manifestação das
capacidades e competências dos indivíduos, este capítulo descreve os procedimentos
metodológicos que orientaram o desenvolvimento dos trabalhos de investigação através da
enunciação das questões de investigação e definição de objetivos; da contextualização e definição
do estudo; e da apresentação das técnicas e instrumentos de recolha de dados.
3.1 Questão de investigação
Num universo fortemente conectado o aprendente articula a sua presença entre cenários,
plataformas, grupos e comunidades, produzindo um vasto conjunto de informação reveladora de
aspetos e dimensões da sua identidade e passível de traduzir, de forma direta ou indireta, o seu
percurso enquanto aprendente e indivíduo. Alicerçado na revisão da literatura efetuada e tendo em
consideração as considerações apresentadas acima, desenvolveu-se o presente estudo que
procura dar resposta às seguintes questões de investigação:
! num cenário onde a rede possibilita a ligação entre indivíduos, espaços e comunidades,
Capítulo III – Metodologia
50
como é que alunos do Mestrado em Comunicação Multimédia (MCMM) da Universidade
de Aveiro constroem a sua identidade num espaço providenciado pela instituição de
ensino que frequentam?
! que aspetos caraterizam a identidade online construída numa plataforma suportada
institucionalmente (i.e. SAPO Campus) e aquela construída em ambientes informais?
! qual a importância (percebida por alunos, instituição e comunidade) da identidade
online enquanto meio de manifestação e divulgação de competências ?
Determinadas as questões, e de forma a estruturar o percurso e o desenvolvimento do estudo,
foram definidos como objetivos da investigação:
! descrever e analisar a identidade online de um grupo de alunos, manifestada em
ambiente institucional e em ambientes informais;
! analisar a perceção dos indivíduos relativamente à sua própria representação
(identidade autoinformativa) em ambientes formais e informais, avaliando a importância
do contexto (formal e informal) na modelação dos comportamentos e da presença
online;
! identificar os mecanismos e estratégias utilizados pelos indivíduos para a gestão da sua
identidade na rede, e os motivos e razões subjacentes à adoção dessas medidas;
! avaliar a influência da dimensão institucional na construção da identidade online dos
indivíduos, identificando as razões subjacentes à utilização de uma plataforma online
suportada institucionalmente;
! identificar a manifestação, em ambiente digital, de competências e aprendizagens
adquiridas e desenvolvidas pelos indivíduos;
! e avaliar a importância (percebida pelos indivíduos, instituição e comunidade) da
reputação digital e do papel que esta desempenha ao nível do futuro profissional, da
imagem da instituição de ensino e da adequação ao mercado de trabalho.
3.2 Metodologia de investigação adoptada: o estudo de caso
Procurando o presente estudo analisar em profundidade os aspetos que caraterizam a
construção da identidade numa plataforma providenciada pela instituição de ensino, bem como as
motivações subjacentes à construção de uma identidade online, considerou-se a metodologia de
estudo de caso como sendo a mais adequada à natureza da investigação. A avaliação qualitativa é
caraterizada, de acordo com Martins (2006), pela descrição, compreensão e interpretação de factos
A construção da identidade em ambientes digitais"
51
e fenómenos. Neste sentido, o estudo de caso assume-se como uma metodologia de investigação
que estuda fenómenos dentro do seu contexto real, e onde o investigador não possui controlo
sobre os acontecimentos e as variáveis. Consistindo na observação detalhada de um determinado
contexto (Merriam, 1988, apud Bogdan e Biklen, 1991), o estudo de caso possibilita a articulação
entre diferentes fontes de informação, potenciando um conhecimento mais profundo do fenómeno a
estudar (Lessard-Herbért et al., 2005; Yin, 2005).
No presente estudo, e no que se refere à caraterização da identidade construída numa
plataforma diretamente associada a uma instituição de ensino, a investigação alicerçou-se quer na
análise das publicações efetuadas pelos alunos na plataforma (análise quantitativa, pela
contabilização do número de publicações, e qualitativa, pela classificação das publicações em
categorias predefinidas) como na informação recolhida através de entrevistas em profundidade
realizadas aos participantes no estudo. De forma a garantir um maior conhecimento do contexto
profissional onde os participantes constroem a sua identidade, foram ainda realizadas entrevistas a
três profissionais cuja atividade está diretamente relacionada com a gestão da identidade online,
com a sua relevância na inserção no mercado de trabalho e na importância da identidade online
enquanto espaço de comunicação e manifestação de competências.
3.2.1 Técnicas de recolha de dados e fontes de informação
Em investigação qualitativa, a triangulação das fontes de dados assume-se como fundamental
para o estabelecimento da validade do estudo (Fraenkel et al., 2012). Pela confrontação da
informação proveniente de diferentes fontes (Stake, 1995, apud Coutinho e Chaves, 2002), o
investigador reduz a probabilidade de enviesamento na análise dos dados, aumentando a
qualidade e o rigor da interpretação dos resultados obtidos (Fraenkel et al., 2012). Definida a linha
orientadora do enquadramento teórico e de acordo com os objectivos considerados, procedeu-se à
seleção das técnicas de recolha de dados e das fontes de informação a considerar no estudo.
Incidindo o estudo na análise da utilização da rede enquanto espaço de construção da identidade
online e de manifestação das competências e capacidades dos indivíduos, consideraram-se como:
! técnicas de recolha de dados: o inquérito por questionário; o inquérito por entrevista; e a
observação direta não participante;
! fontes de informação: um representante da Universidade de Aveiro (representante
institucional); um profissional da área da gestão de carreiras e estágios profissionais; um
profissional da área da comunicação e dos media; os alunos do Mestrado em
Comunicação Multimédia da Universidade de Aveiro, participantes no estudo.
Capítulo III – Metodologia
52
O contributo de cada um dos participantes é descrito de forma detalhada no ponto 3.2.1.2 –
“Inquérito por entrevista”.
3.2.1.1 Inquérito por questionário
A aplicação de quest ionários a duas turmas do Mestrado em Comunicação Multimédia
(edições 2008-2010 e 2009-2011), no início do 3º semestre de cada curso, teve como objetivo a
caraterização demográfica da população e recolha de informação relativa à utilização de
ferramentas de software social, disponibilizadas pelas redes informais e pela plataforma SAPO
Campus. Neste sentido, foi solicitada informação referente à utilização de um conjunto de
ferramentas, nomeadamente frequência e contextos de utilização, através de questões de resposta
aberta (indicação das ferramentas mais utilizadas) e fechada (escolha múltipla e escalas de
frequência). Os questionários – de resposta anónima – foram aplicados presencialmente, estando o
seu processo de construção descrito com detalhe na secção 3.4.
3.2.1.2 Inquérito por entrevista
A recolha de informação na primeira pessoa, em discurso direto, possibilita a maior
compreensão relativamente ao significado que os interlocutores atribuem a determinadas questões
(Martins, 2006) e um maior conhecimento, da parte do investigador, das percepções dos
participantes sobre à sua própria posição relativamente à temática em estudo.
No presente estudo, para além do estudo da identidade construída pelos participantes na rede,
pretendia-se ainda obter um maior conhecimento e caraterização da perspetiva institucional e do
mercado de trabalho relativamente à importância da construção de uma identidade online e das
competências (soft-skills) mais valorizadas pelas entidades empregadoras. Neste sentido, foram
realizadas entrevistas aos alunos participantes no estudo, ao responsável pelos Serviços de
Comunicação, Imagem e Relações Públicas da Universidade de Aveiro (SCIRP-UA), ao Gestor de
um Gabinete de Carreiras e Estágios Profissionais (responsável pela gestão e colocação de alunos
em estágios) e a um profissional da comunicação nos novos media. O processo de construção dos
guiões de entrevistas está descrito na secção 3.4.
3.2.1.3 Observação direta não participante
Pela observação direta, o investigador procura recolher a informação que lhe permita uma
descrição exaustiva das componentes objetivas de uma dada situação social (Laperrière, 2003).
Exigente ao nível do tempo e dos recursos, a observação direta assenta na recolha de informações
pelo próprio investigador num modelo no qual os sujeitos observados não intervêm na produção da
A construção da identidade em ambientes digitais"
53
informação. No presente trabalho, o estudo da identidade online dos participantes teve em
consideração a análise das publicações efetuadas pelos participantes em ambientes informais e na
plataforma institucional. A partir da observação direta não participante foi possível a recolha e
análise dos conteúdos publicados pelos participantes nos espaços online onde constroem a sua
identidade, conteúdos recolhidos a partir da timeline dos participantes e sujeitos à análise do
conteúdo. As publicações efetuadas pelos participantes foram recolhidas, registadas e codificadas
em grelhas de observação quantitativas e qualitativas, tendo os dados recolhidos sido trabalhados
com recurso ao SPSS e WebQDA. A análise dos dados foi ainda complementada com a informação
constante no diário de bordo do investigador, onde se encontram registados os processos e as
impressões decorrentes da observação.
A informação recolhida e analisada corresponde à totalidade de conteúdos publicados pelos
participantes no estudo, nos períodos compreendidos entre os meses de setembro de 2009 e
junho de 2010 e Setembro de 2010 e Junho de 2011 (períodos correspondente aos 3º e 4º
semestres das duas turmas do Mestrado em Comunicação Multimédia). As grelhas de observação
e a definição dos indicadores considerados para a análise do conteúdo são apresentados com
maior detalhe na secção 3.5. Definido o plano de ação (Quadro 1) e identificadas as técnicas e
instrumentos de recolha de dados, procedeu-se à estruturação das diferentes fases do processo,
articuladas em três etapas principais: contextualização e definição do estudo; desenho e
construção dos instrumentos de recolha de dados; e recolha, tratamento e análise da informação.
Capítulo III – Metodologia
54
Objetivos Ação Técnicas de recolha de dados
Descrever e analisar a identidade online de um grupo de alunos, manifestada em ambiente institucional e em ambientes informais
Identificação dos ambientes de rede onde os participantes constroem a sua identidade
Análise (quantitativa e qualitativa) dos conteúdos publicados pelos alunos participantes no estudo, na plataforma institucional e em ambientes online informais
Análise da informação recolhida através entrevistas a realizar aos participantes no estudo
Inquérito por questionário
Inquérito por entrevista (em profundidade)
Observação direta não participante
Analisar a perceção dos indivíduos relativamente à sua própria representação em ambientes formais e informais, avaliando a importância do contexto na modelação dos comportamentos e da presença online
Análise das respostas recolhidas durante as entrevistas realizadas aos alunos participantes no estudo
Análise (quantitativa e qualitativa) dos conteúdos publicados pelos alunos participantes no estudo, na plataforma institucional e em ambientes online informais
Inquérito por entrevista (em profundidade)
Observação direta: análise do conteúdo
Identificar os mecanismos e estratégias utilizados pelos indivíduos para a gestão da sua identidade na rede, e os motivos e razões subjacentes à adoção dessas medidas
Análise das respostas recolhidas durante as entrevistas realizadas aos alunos participantes no estudo, ao responsável dos SCIRP-UA, ao gestor do gabinete de carreiras e estágios e ao profissional da área da comunicação nos novos media
Inquérito por entrevista (em profundidade)
Avaliar a influência da dimensão institucional na construção da identidade online dos indivíduos
Análise (quantitativa e qualitativa) dos conteúdos publicados pelos alunos participantes no estudo, na plataforma institucional e em ambientes online informais
Análise das respostas recolhidas durante as entrevistas realizadas aos alunos participantes no estudo
Observação direta: análise do conteúdo
Inquérito por entrevista (em profundidade)
Identificar as razões subjacentes à adoção e/ou rejeição de uma plataforma online suportada institucionalmente
Análise da informação recolhida pela aplicação do inquérito por questionário
Análise da informação recolhida através entrevistas a realizar aos participantes no estudo
Inquérito por questionário
Inquérito por entrevista (em profundidade)
Identificar a manifestação, em ambiente digital, de competências e aprendizagens adquiridas e desenvolvidas pelos indivíduos
Identificação das competências adquiridas em contextos formais, a partir da análise das respostas recolhidas através das entrevistas
Análise (quantitativa e qualitativa) dos conteúdos publicados pelos participantes na plataforma institucional e em ambientes online informais
Inquérito por entrevista (em profundidade)
Observação direta: análise do conteúdo
Avaliar a importância da reputação digital dos indivíduos e do papel que esta desempenha ao nível do seu futuro profissional, da imagem da instituição de ensino que frequentam e da sua adequação ao mercado de trabalho
Análise das respostas recolhidas durante as entrevistas realizadas aos alunos participantes no estudo, ao responsável dos SCIRP-UA, ao gestor do gabinete de carreiras e estágios e ao profissional da área da comunicação nos novos media
Inquérito por entrevista (em profundidade)
Objet ivo global Analisar e caraterizar a construção da identidade online dos alunos do Mestrado em Comunicação Multimédia
num espaço providenciado pela instituição de ensino que frequentam, e a sua utilização enquanto meio de manifestação e divulgação de competências para o mercado de trabalho
Quadro 1 - Plano de Ação
A construção da identidade em ambientes digitais"
55
3.3 Contextualização e definição do estudo
No espaço online, a identidade constrói-se a partir da informação publicada e partilhada, pelos
indivíduos, com outras pessoas, espaços e comunidades. Através da interação e participação na
rede, os indivíduos manifestam aspetos e dimensões da sua identidade construindo uma presença
passível de traduzir o seu percurso enquanto pessoa, aprendente e profissional: a identidade
construída nos diversos espaços e plataformas onde o indivíduo articula a sua presença surge
como um currículum vitae ativo e dinâmico, revelador não apenas das competências adquiridas e
certificadas em contextos de aprendizagem formais como daquelas desenvolvidas pela interação
com os pares, pela partilha e pela comunicação. Enquanto produtores ativos de conteúdo, os
aprendentes têm a oportunidade de trabalhar numa identidade capaz de englobar o seu percurso
enquanto pessoas, aprendentes e profissionais, revelando – nas redes informais e nos espaços
formais – as suas competências, capacidades de comunicação, de interação e de partilha.
Desenvolvido na Universidade de Aveiro (UA), o SAPO Campus é uma plataforma integrada de
serviços Web 2.0, baseada na criação de conteúdos pelo utilizador e que oferece, aos seus
utilizadores, uma infraestrutura tecnológica de suporte ao desenvolvimento de competências ao
nível da comunicação, partilha e colaboração. Oficialmente lançado em Setembro de 2009, o SAPO
Campus encontra-se disponível para toda a comunidade da Universidade de Aveiro, tendo sido
adotado por docentes de diversos ciclos de estudo como plataforma de suporte à comunicação,
interação e partilha de conteúdos. Facultando aos seus utilizadores um espaço onde podem
construir, gerir e partilhar conteúdo e informação, o SAPO Campus oferece à comunidade um
ambiente online (suportado institucionalmente) onde podem articular as dimensões formais e
informais da aprendizagem e trabalhar na construção e manifestação da sua identidade enquanto
indivíduos, aprendentes e profissionais.
3.3.1 Ident i f icação dos part ic ipantes
De acordo com o referido, a plataforma SAPO Campus foi lançado na Universidade de Aveiro
em Setembro de 2009. Considerada a diversidade de utilizadores (e.g. docentes, alunos,
colaboradores, departamentos, associações e grupos), optou-se por limitar o estudo aos alunos
inscritos no segundo ano do Mestrado em Comunicação Multimédia (MCMM), curso administrado
pelo Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro. Dado seu forte cariz
multimédia, e o envolvimento dos docentes na utilização de software social e da plataforma
institucional ao longo da componente curricular do curso, considerou-se este grupo como aquele
que poderia reunir as condições necessárias para funcionar como um grupo piloto de utilizadores
da plataforma. Determinada a população e identificado o número de alunos inscritos, procedeu-se à
Capítulo III – Metodologia
56
aplicação do questionário referido em 3.2.1.1. Aplicado presencialmente no início do 3º semestre do
curso (i.e. novembro) durante uma sessão da unidade curricular de Projeto de Dissertação, o
questionário teve como objetivo obter informação relativamente à utilização do software social pelos
alunos inscritos no curso, nomeadamente tipos de ferramentas utilizadas e contextos de utilização,
bem como recolher dados referentes à utilização da plataforma SAPO Campus. O quadro 2
apresenta a relação entre o número de alunos inscritos nas duas turmas e o número de
respondentes ao questionário.
Quadro 2 - Relação entre o número de alunos inscritos nas turmas e o número de respondentes ao questionário
Pretendendo-se ainda, com o questionário, identificar e selecionar os indivíduos cuja identidade
online seria objeto de estudo, cada questionário – de resposta anónima – foi acompanhado de um
código alfanumérico, garantindo-se o anonimato dos respondentes e, simultaneamente, a seleção
imparcial dos participantes. Concluída a análise e caraterização individual dos respondentes, foi
enviado um e-mail solicitando a sua identificação (i.e. associação do código alfanumérico ao
nome), de forma a poder dar início à marcação das entrevistas e à análise da identidade construída
na rede. Não obstante a insistência (envio de segundo e terceiro e-mail, contacto via redes sociais),
do número total de respondentes apenas 22% manifestou interesse e disponibilidade em manter a
sua colaboração no estudo. A relação entre o número de alunos inscritos nas turmas, número de
respondentes ao questionário e número de alunos que acederam a continuar no estudo (passagem
a entrevistas, análise da identidade online) é apresentada no quadro 3.
Quadro 3 - Relação entre respondentes (questionário) e alunos participantes no
estudo
Concluída a identificação dos participantes, e no sentido de delimitar as ações a desenvolver
durante o processo de recolha, tratamento e interpretação dos dados, estabeleceu-se que a análise
e apresentação da informação se articularia em dois planos:
Turma Nº de alunos inscritos
Nº de respondentes
MCMM 2008-2010 30 26 MCMM 2009-2011 50 32
Turma Nº de alunos inscritos
Nº de alunos respondentes (questionário)
Nº de alunos participantes
no estudo
MCMM 2008-2010 30 26 6 MCMM 2009-2011 50 32 7
A construção da identidade em ambientes digitais"
57
! análise (global) da informação referente aos alunos que responderam ao questionário,
incidindo na análise da utilização das ferramentas do software social e do SAPO
Campus, identificação de contextos de utilização e identificação das razões subjacentes
à utilização ou rejeição da plataforma institucional;
! análise (detalhada) da identidade online dos participantes no estudo (alunos que
acederam a continuar no estudo), que contemplou a análise em profundidade da
identidade online através da análise do conteúdo das publicações efetuadas nas
plataformas e da análise da informação recolhida pelas entrevistas.
3.3.2 Unidade de anál ise: espaços onl ine, mensagens e contexto temporal
Tendo em consideração a diversidade de espaços onde os indivíduos podem construir a sua
presença na rede, foi necessário delimitar o universo das plataformas a estudar de forma a poder
proceder ao levantamento e análise dos conteúdos publicados. Para além da identidade construída
no SAPO Campus, verificou-se –pela análise da informação recolhida nos questionários e durante
as entrevistas – a referência ao Facebook e ao Twitter como os espaços mais utilizados pelos
participantes para a construção da sua presença na rede. Assim, determinou-se que a análise dos
conteúdos publicados incidiria sobre o SAPO Campus (plataforma institucional) e sobre estas duas
redes, doravante designadas por “redes informais”.
Delimitados os espaços online a estudar e tendo em conta as particularidades de cada um deles
(ao nível da publicação de conteúdos, replicação de informação, etc.), foi necessário definir o tipo
de mensagens a analisar. No que diz respeito às publicações, estas foram organizadas em três
grandes grupos: mensagens publicadas pelo participante; mensagens publicadas por outros
utilizadores nos espaços do participante; mensagens trocadas entre utilizadores, semelhantes a
conversação (frequentes no Twitter e identificadas pela utilização de “@nomedeutilizador”).
Tendo sido, numa primeira abordagem, ponderada a inclusão das mensagens trocadas entre
utilizadores (visíveis nas timelines e, por isso mesmo, públicas), optou-se pela sua exclusão devido
ao facto de se ter verificado, nas mensagens analisadas, a existência de uma carga simbólica (e.g.
utilização de metáforas, referências a acontecimentos passados) impossível de ser totalmente
compreendida pelo investigador. Mais ainda, e não obstante a perspetiva de que, na rede como no
espaço offline, a identidade é construída não apenas pela informação partilhada pelo indivíduo mas
também por aquela que a ele é associada, determinou-se que para o presente estudo seriam
consideradas apenas as mensagens publicadas pelo próprio participante no seu espaço. Foram,
por isso, excluídas da análise do conteúdo: as mensagens publicadas por outros, as mensagens
Capítulo III – Metodologia
58
trocadas entre utilizadores, as publicações referentes a gostos (i.e. “likes”, no Facebook) e ainda
comentários efetuados a conteúdos publicados.
Relativamente ao período de tempo sobre o qual incidiria a recolha e análise, procurou-se
selecionar um espaço onde houvesse maior incidência de conteúdos publicados quer na
plataforma institucional quer nas redes informais (i.e. Facebook e Twitter). Assim, as publicações
recolhidas dizem respeito aos meses compreendidos entre os meses de setembro de 2009 e junho
de 2010 e setembro de 2010 e junho de 2011, períodos correspondente aos 3º e 4º semestres das
duas turmas do MCMM.
3.4 Construção dos instrumentos de observação e recolha de dados
De acordo com o que referido em 4.2.1, foram definidas como técnicas de recolha de dados o
inquérito por questionário, o inquérito por entrevista semiestruturada e a observação não
participante. As secções que se seguem procuram fundamentar a opção por cada uma das
técnicas e descrever, sumariamente, o processo de construção dos diferentes instrumentos a elas
associados.
3.4.1 Inquéri to por quest ionário
O questionário aplicado aos alunos de MCMM foi organizado em três grupos: caraterização
sociodemográfica (i.e. idade, sexo, atividade profissional); caraterização da utilização do software
social (ferramentas utilizadas, frequência e contextos de utilização); caraterização de utilização da
plataforma SAPO Campus (frequência de utilização das ferramentas); e razões para o registo ou
não registo na plataforma. A informação foi recolhida através de uma questão de resposta aberta
(identificação das ferramentas de software social mais utilizadas) e seis questões de resposta
fechada que incidiram sobre:
! a frequência de utilização das ferramentas de Software Social, para cada uma das
ferramentas: escala de frequência (“todos os dias”; “2 a 3 vezes por semana”; “1 vez
por semana”; “1 vez por mês”; “menos de 1 vez por mês”; “nunca”);
! o contexto de utilização das ferramentas de Software Social, para cada uma das
ferramentas: resposta de escolha múltipla (“social”; “profissional”; “de aprendizagem”);
! frequência de utilização das ferramentas do SAPO Campus (i.e. blogs, fotos, vídeos):
escala de frequência (“todos os dias”; “2 a 3 vezes por semana”; “1 vez por semana”; “1
A construção da identidade em ambientes digitais"
59
vez por mês”; “menos de 1 vez por mês”; “nunca”).
A informação referente às razões do registo foi recolhida através de questões de escolha
múltipla, com afirmações referentes às razões de registo e não registo. A cada uma das questões
foi adicionada a opção “outra: qual”, salvaguardando-se assim a possibilidade de existência de
outras razões. O modelo do questionário encontra-se disponível no anexo 1.
3.4.2 Inquéri to por entrevista
3.4.2.1 Entrevista realizada ao representante da Universidade de Aveiro
A entrevista realizada ao responsável pelos SCIRP-UA teve como objetivo conhecer a
perspetiva institucional relativamente à importância da construção de uma presença na rede, bem
como conhecer as estratégias adotadas pela instituição na gestão da sua identidade online. Sendo
da competência dos serviços o desenvolvimento e implementação de estratégias de marketing,
relações públicas, comunicação e imagem, considerou-se a participação da responsável por este
serviço como uma mais-valia para o presente estudo.
No decorrer da entrevista, foram colocadas questões relativas à identidade construída pela
Universidade na rede e ao impacto e importância da identidade construída no SAPO Campus (por
alunos e pela própria instituição) na imagem e reputação da Universidade. Articulada em dois
grupos, a entrevista incidiu sobre:
! a identidade da UA na rede: posicionamento, fundamentos para a construção de
critérios adotados na seleção da informação publicada, vantagens e desvantagens de
ter (enquanto instituição de ensino superior) uma presença na rede;
! a identidade da UA e o SAPO Campus: perspetiva institucional relativamente aos
conteúdos publicados pelos alunos na plataforma, perspetiva institucional relativamente
à plataforma e eventual impacto da identidade online dos alunos na imagem e
reputação da própria instituição.
A entrevista foi realizada presencialmente, estando o guião disponível no anexo 2.
3.4.2.2 Entrevista realizada ao gestor de um gabinete de carreira e estágios profissionais
A entrevista, realizada ao responsável pela gestão do gabinete de carreiras e estágios
profissionais de um instituto superior privado, responsável pela colocação dos alunos no mercado
de trabalho, teve como objetivo o conhecimento dos processos associados à integração (pelo
instituto) dos alunos no mercado de trabalho, a identificação das competências mais solicitadas e a
Capítulo III – Metodologia
60
perspetiva do profissional relativamente às questões associadas à identidade online. Organizada
em dois blocos, a entrevista incidiu em questões relacionadas com:
! a apresentação e descrição do processo de colocação de alunos em estágio (não
considerada para o estudo e por isso não contemplada na análise) e identificação das
competências técnicas, específicas e transversais mais solicitadas pelas entidades
empregadoras;
! a perspetiva do profissional relativamente à importância da construção de uma presença
na rede: perfil do candidato, vantagens e desvantagens da construção de uma
identidade online enquanto espaço de manifestação de competências profissionais.
À semelhança da entrevista realizada ao responsável pelos SCIRP-UA, também esta entrevista
foi realizada presencialmente. O guião da entrevista está disponível no anexo 3.
3.4.2.3 Entrevista realizada a um profissional da área de comunicação e novos media
Por último, a entrevista realizada ao profissional da área da comunicação nos novos media teve
como propósito conhecer a perspetiva relativamente à importância de ter e construir uma identidade
online enquanto meio de apresentação e contacto com o mercado de trabalho. A entrevista,
realizada via Skype, articulou-se em três partes:
! a importância da construção de uma identidade na rede: vantagens e desvantagens, e
importância da rede de contactos;
! identidade construída na rede: principais desafios, cuidados a ter na seleção e
publicação de informação e conteúdos;
! espaços online enquanto forma de divulgação de competências: espaço de construção
de currículo, competências mais solicitadas pelo mercado de trabalho atual.
A entrevista foi efectuada a 30 de setembro de 2011. A informação gravada foi posteriormente
transcrita e analisada, encontrando-se o guião disponibilizado no anexo 4.
3.4.2.4 Entrevista realizada aos participantes no estudo
Tendo em conta os objetivos propostos e considerando os tópicos abordados na revisão da
literatura (nomeadamente aqueles relacionados com a gestão da identidade em ambientes digitais),
realizaram-se entrevistas em profundidade aos alunos participantes no estudo, de forma a
conhecer, com o maior detalhe possível, a sua perceção relativamente à identidade que constroem
na rede. Através das entrevistas, procurou-se obter um maior e mais profundo conhecimento
A construção da identidade em ambientes digitais"
61
relativamente aos processos subjacentes à construção da identidade online, bem como a
importância que esta tem em termos de manifestação de competências, reputação e
empregabilidade.
Durante as entrevistas, realizadas presencialmente ou via Skype, os entrevistados foram
questionados relativamente à perceção que têm sobre a sua própria identidade online, aos
mecanismos e estratégias que adotam na gestão da sua presença na rede e à sua posição,
enquanto alunos e utilizadores, relativamente à importância da identidade construída em ambientes
online abertos e na plataforma institucional. A entrevista abordou ainda a temática da utilização do
software social em educação, e a revelação, pela identidade construída na rede, das competências
adquiridas no percurso académico e profissional dos participantes, e foi organizada nos seguintes
grupos de questões:
! a construção da presença online: perceção do entrevistado relativamente à presença
que constrói na rede, gestão da identidade online;
! identidade, reputação e empregabilidade: perceção do entrevistado quanto ao potencial
impacto da sua identidade online ao nível da empregabilidade;
! identidade online em ambiente institucional: tipo de conteúdos publicados no SAPO
Campus; influência da identidade institucional na seleção e publicação de conteúdos;
vantagens e desvantagens da construção de uma identidade associada à instituição de
ensino; perceção sobre o impacto da identidade online dos alunos na reputação da
instituição de ensino que frequentam;
! a rede e o desenvolvimento de competências: integração de software social em contexto
formal de aprendizagem; identidade online como reflexo das competências adquiridas
e/ou desenvolvidas.
As entrevistas foram realizadas nos meses de julho e agosto de 2011, encontrando-se o guião
das entrevistas disponível no anexo 5.
3.5 Observação direta: análise do conteúdo
Em investigação, a observação direta assenta na recolha de informações pelo próprio
investigador, um processo no qual os sujeitos observados não intervêm na produção da
informação. Assim, e para além da informação recolhida nas entrevistas, a análise da identidade
online dos participantes no estudo teve também, como fonte de informação, a presença construída
pelos indivíduos nos três espaços em estudo: SAPO Campus, Facebook e Twitter. A informação foi
recolhida a partir do perfil e das timelines públicas dos participantes (i.e. não foi solicitado o acesso
Capítulo III – Metodologia
62
a mensagens ou conteúdos privados ou partilhados em grupos), sendo posteriormente trabalhada
com ferramentas de análise do conteúdo (WebQDA) e de análise estatística de dados numéricos
(SPSS). A informação referente ao perfil de utilizador foi recolhida nos meses de julho e agosto de
2011.
No que diz respeito à tipo de análise, o investigador pode optar pela codificação das mensagens
de acordo com o seu conteúdo manifesto, de acordo com o conteúdo latente ou ainda pela dupla
codificação (Fraenkel et al., 2012). A análise da mensagem de acordo com o seu conteúdo
manifesto incide sobre os componentes da mensagem (i.e. palavras, imagens), reduzindo a
eventualidade de inferência do investigador e oferecendo mais garantias ao nível da fiabilidade da
análise, i.e., à probabilidade de obtenção dos mesmos resultados, por outro investigador,
recorrendo ao mesmo modelo de análise. Embora ofereça mais garantias ao nível da fiabilidade, a
análise das mensagens de acordo com o seu conteúdo manifesto coloca algumas restrições em
termos de validade: a mesma palavra, expressão, imagem, pode ter significados diferentes de
acordo com o emissor ou o contexto, podendo conduzir a uma codificação inadequada (Fraenkel et
al., 2012). A análise do conteúdo latente, por seu lado, incide sobre o significado daquilo que é
dito, um processo que oferece uma maior garantia ao nível da validade: as mensagens são
analisadas e codificadas de acordo com o seu significado e contexto, aumentando a probabilidade
de uma codificação mais correta. Este modelo, contudo, também compreende uma desvantagem:
ao codificar-se a mensagem de acordo com o seu significado, aumenta-se a subjetividade da
análise e a possibilidade da ocorrência de resultados diferentes por investigadores diferentes. No
contexto específico deste trabalho de investigação – e consideradas as vantagens e desvantagens
dos dois sistemas – optou-se pela análise das mensagens de acordo com o seu conteúdo latente,
o que implicou a análise da mensagem de acordo com o conteúdo partilhado e, por isso mesmo, a
consulta e visualização das ligações, vídeos, áudio e fotos partilhadas.
3.5.1 Definição dos parâmetros e indicadores
Tendo sido estabelecido que a análise se limitaria aos conteúdos publicados pelos participantes
nos seus espaços (cf. 3.3.2), determinou-se que estes seriam codificados de acordo com a sua
tipologia e formato. No que diz respeito à tipologia, e consultada a literatura referente à construção
da identidade na rede, tomou-se como ponto de partida a proposta apresentada por Fraser (2008)
e já referida na revisão da literatura, e os trabalhos de Kulhila (2006).
De acordo com Fraser, a presença online dos indivíduos articular-se-á entre três categorias não
estanques designadas como pessoal (mensagens cujo conteúdo se relaciona com o grupo de
amigos ou família dos indivíduos, normalmente caraterizadas por um elevado grau de preocupação
relativamente às definições de privacidade), profissional (utilização de uma rede social, blog ou
A construção da identidade em ambientes digitais"
63
outra plataforma para registar e divulgar trabalhos desenvolvidos ou para estabelecer relações
profissionais) e organizacional (utilização de ferramentas ou plataformas em nome da entidade
empregadora, na linha das suas obrigações profissionais).
Quanto a Kurhila (2006), o autor aborda a utilização do software social do ponto de vista da
participação, caraterizando os utilizadores como expert users (utilizadores proactivos do software
social, utilizando as ferramentas como suporte à aprendizagem), social users (utilizadores que
utilizam o software social de forma generalizada, tirando proveito do potencial comunicativo e
interativo das aplicações para se manterem atualizados relativamente ao que acontece nas redes
sociais) e lurkers (indivíduos que utilizam a rede para acompanhar e aceder a conteúdos, isto é,
como fonte de informação).
Consideradas as propostas dos dois autores, desenhou-se uma tipologia de codificação da
participação, assente em indicadores específicos e apresentada no quadro 4. De forma a facilitar a
sua compreensão, foram acrescentados exemplos de evidências, retirados das timelines dos
participantes 21.
21 As mensagens publicadas no SAPO Campus são identificadas com um asterisco (*); as mensagens
publicadas no Facebook são identificadas com dois asteriscos (**); as mensagens publicadas no Twitter são identificadas com três asteriscos (***). De forma a garantir o anonimato dos participantes, os endereços URL foram alterados e o nome dos participantes foi substituído pelo código alfanumérico correspondente.
Capítulo III – Metodologia
64
Categoria Indicadores Exemplos de evidências
Pessoal
Referência a família ou amigos
Manifestação de emoções ou estados de espírito (e.g. carinho, frustração, ansiedade)
Manifestação de opinião pessoal relativamente a temas relacionados com política ou religião
“[participante P02] adicionou 6 fotos novas ao álbum: A minha sobrinha”**
“Aos amigos que me ajudaram, aos que me são próximos e aos que me esqueci de colocar no desenho... Obrigado. You made my day!”**
“Feliz aniversário, pai ;) twitpic.com/fxt”***
“bureaucracy my ass! — at Edifício Central da Reitoria da UA http://gowal.la/c/2sy?13”***
Social
Publicação de conteúdos relacionados com música ou filmes
Publicação de mensagens que não manifestem tomadas de posição;
Publicação de conteúdos de caráter geral
“[participante P02] publicou uma imagem com o título fitas-coleccionar aquelas coisas de meter ao pescoço que dão nos eventos”*
“bella música, bella voz, bella artista! Ciao Bella - Rose (Live )”**
“alguém sabe quanto custa e quanto tempo demora a tirar o cartão do cidadão?”***
“This is unbelievable... youtube.com/watch?v=QDZICi... ***
Académico
Partilha de conteúdos relacionados com a atividade académica (mensagens, ligações, conteúdos áudio/vídeo, fotos)
Divulgação trabalhos desenvolvidos em âmbito académico
“[participante P04] Publicou um post com o título Updates, decisions and issues em http://aaa.blogs.ua.sapo.pt/5519.html”*
“[participante P11] partilhou uma ligação: LAB - Diário de Investigação MCMM - http://aaas.blogs.ua.sapo.pt/” **
“Alojei e organizei todos os recursos, conceitos, citações de leituras na wiki pessoal.” ***
“Multi-Touch Interaction Overview - new post at http://aaa.blogs.ua.sapo.pt/ :)” ***
Profissional
Publicação de conteúdos relacionados com a atividade profissional
Publicação de conteúdos relacionados com as competências dos indivíduos
“Projecto de instalação I-SENSE nomeado para a categoria de Arte e Entretenimento”**
“[participante P11] tem finalmente um site: http://.tumblr.com/ - Enjoy!” **
“RT @aaaa: A melhor rádio cá do pátio volta a atacar com novo programa... Ouvir em: http://radio.aa.com” ***
Organizacional
Publicação de conteúdos em nome da identidade empregadora
Publicação de conteúdos com identificação direta da entidade empregadora/ da instituição
“[participante P01] partilhou uma ligação. Sessão de Jogo WeOnTV - (...) Marque já na sua agenda.”**
“[participante P02] partilhou um evento: Imagine Cup 2010 na Universidade de Aveiro. | Local: Universidade de Aveiro”**
“RT @lab_sapo_ua: weontv demo video http://bit.aa/aa54GR” ***
Quadro 4 - Tipologia de participação: indicadores
No que diz respeito ao formato das mensagens, e partindo de uma primeira observação do tipo
de publicações efetuadas pelos participantes nos seus espaços, estas foram codificadas em:
A construção da identidade em ambientes digitais"
65
mensagens escritas, ligações, conteúdos áudio/vídeo e fotos. Para facilitar a compreensão do
sistema, às categorias e indicadores foram acrescentados exemplos de evidências, retirados das
timelines dos participantes 22.
Categoria Indicadores Exemplos de evidências
Mensagens escritas
Publicações compostas exclusivamente por mensagens de texto, sem ligação a outros conteúdos multimédia (i.e. vídeo, ligações)
“[participante P01] Publicou um post com o título Atividade Projecto de Dissertação #1” *
“De volta a Aveiro, aos meus pais e aos meus amigos :)” **
“Today: tired and with lots of thing to do before the end of the day. Guess I'm starting to be a grown-up now...”***
Ligações
Publicação de links para outras páginas (e.g. blogs, serviços de notícias, ligações para pdfs), podendo ou não ser acompanhadas por mensagens de texto
“Sugestão de links/recursos importantes na plataforma (...)na wiki pessoal. Ver WIKI PESSOAL : http://wiki.ua.sapo.pt/wiki/aaa”*
“A explorar o bundlr.. mt bom! | Bundlr: dois estudantes portugueses querem revolucionar o "clipping" p3.publico.pt” **
“Não me chamo Julieta mas não me importava nada de ter um destes http://www.alfagiulietta.com/ :D”***
Conteúdos áudio/vídeo
Publicação de conteúdos áudio ou vídeo (e.g. ligações para YouTube ou Vimeo, ligações para Blip ou Last.fm), podendo ou não ser acompanhadas por mensagens de texto
“[participante P13] Publicou um vídeo com o título: Tema Projecto de Dissertação. Este vídeo apresenta o meu projecto de dissertação com a temática XPTO”*
“Parafraseando a minha colega aaa, "um belo documentário": vídeo Os Renovadores”**
“listening to "The Smiths - Please, Please, Please Let Me Get What I Want" http://blip.fm/~l8aaa”***
Fotos
Publicação de imagens ou fotos, podendo ou não ser acompanhadas por mensagens de texto
“[participante P09] Publicou uma imagem com o título fb_GQApAkFZuOVQtnAas”*
“[participante P04] adicionou 5 fotos novas ao álbum My Stuff”]**
“Ah, Barra de barco :) twitpic.com/5lmaaa”***
“ <3 #London :) twitpic.com/5aaa” ***
Quadro 5 - Formato das participações: indicadores
Durante a codificação das mensagens publicadas nas diferentes redes, verificou-se a presença
de mensagens de texto que acompanhavam ou enquadravam a partilha de links, conteúdos
áudio/vídeo ou fotos. Não ignorando a importância desta situação (reveladora de cuidado na
contextualização dos conteúdos publicados), definiu-se que: as mensagens de partilha de ligações
(com ou sem mensagem) seriam codificadas como ligações; as mensagens de partilha de
conteúdos áudio/vídeo (com ou sem mensagem) seriam codificadas como conteúdos áudio/vídeo;
22 Ver nota de rodapé 21.
Capítulo III – Metodologia
66
e assim sucessivamente. No que diz respeito à partilha de fotos, e consideradas as especificidades
de cada uma das três redes analisadas (SAPO Campus, Facebook e Twitter), determinou-se que
seriam inseridos nesta categoria as publicações onde houvesse a partilha direta de fotos (possível
no SAPO Campus e no Facebook) e aquelas onde a publicação de fotos ocorresse através de
serviços de partilha de imagens (e.g. Twitpic, para a partilha de fotos no Twitter; nestes casos,
considerou-se a mensagem como pertencente à categoria “fotos” e não “ligações”). Na análise do
conteúdo, a análise e codificação das publicações incidiu na mensagem como um todo, e não em
segmentos de mensagem, tendo cada publicação sido codificada numa única categoria em temos
de tipologia e em termos de formato. Foram analisadas e codificadas 3692 publicações (984
mensagens de texto, 1309 partilhas de ligações, 1001 ficheiros de áudio/vídeo e 398 imagens),
correspondentes à totalidade de conteúdos publicados pelos participantes no estudo, nos períodos
compreendidos entre os meses de setembro de 2009 e junho de 2010 e setembro de 2010 e junho
de 2011. A análise do conteúdo foi realizada em outubro de 2011.
3.5.1.1 Controlo da subjetividade
No que se refere à análise dos conteúdos publicados pelos participantes, procurou-se reduzir ao
mínimo a possibilidade da ocorrência de desvios na classificação das publicações, quer pela
definição prévia das categorias e indicadores, quer pela análise da totalidade das mensagens
publicadas, quer pela classificação das mensagens de acordo com o seu significado latente. Não
obstante, a própria natureza deste tipo de análise tem associada um certo grau de subjetividade
que deve ser tido em conta aquando do desenho da investigação. Como método de controlo da
subjetividade, optou-se pela replicação da análise dos conteúdos publicados pelos participantes
nos três espaços cinco meses depois da primeira análise. Nesta segunda análise, foram
codificadas um total de 1780 mensagens, distribuídas da seguinte forma: SAPO Campus, 229
mensagens; Facebook, 622 mensagens; Twitter, 909 mensagens. A análise foi feita para as
mensagens publicadas por cada um dos participantes, em cada uma das redes (amostra
estratificada, i.e., o cálculo do número de mensagens a analisar foi feito tendo em conta o peso das
mensagens publicadas por cada participante em cada um dos espaços, e não o total de
mensagens publicadas pelo grupo em cada espaço). No próximo capítulo (Capítulo IV – Estudo de
caso) são apresentados os resultados das codificações, bem como a percentagem de
concordância entre o primeiro e o segundo momento de codificação.
Os dados recolhidos pela aplicação do inquérito por questionário, nas entrevistas realizadas aos
profissionais e aos participantes no estudo e através da análise das participações foram analisados
e trabalhados, no sentido de se obter resposta às questões de investigação. O capítulo que se
A construção da identidade em ambientes digitais"
67
segue apresenta, para além de um breve enquadramento e contextualização do estudo, a análise
dos dados e da informação recolhida ao longo do trabalho de investigação.
A construção da identidade em ambientes digitais"
69
Capítulo 4 ESTUDO DE CASO
Num contexto em que as ferramentas do software social fazem parte das vidas pessoais,
sociais, académicas e profissionais de indivíduos e organizações, a identidade e a reputação
constroem-se não apenas na interação direta com os indivíduos mas também através dos
conteúdos que estes publicam na rede. Neste cenário, o estudo da utilização da rede enquanto
meio de veiculação de competências poderá ser útil para a discussão em redor da validade e
significado da construção de uma identidade online, bem como das implicações que esta poderá
ter quer para o futuro profissional dos aprendentes quer para a reputação da própria instituição de
ensino que estes frequentam.
Neste capítulo, para além da contextualização do estudo e da caraterização da população ao
nível da utilização das ferramentas do software social e do SAPO Campus, apresenta-se a
perspetiva institucional relativamente à própria identidade construída na rede e a importância,
enquanto instituição de ensino, da identidade construída pelos alunos no SAPO Campus. Através
da informação recolhida pelas entrevistas realizadas a um gestor de carreiras e estágios e a um
profissional da comunicação dos novos media procura-se obter uma perspetiva (ainda que apenas
do ponto de vista dos dois profissionais) relativamente às solicitações do mercado de trabalho e da
importância, em termos de visibilidade e potencial empregabilidade, da construção de uma
identidade na rede que reflita o percurso académico e profissional do aluno. Contextualizado o
estudo e caraterizados os participantes, apresenta-se a análise da identidade online construída no
SAPO Campus e nas redes informais (Facebook e Twitter) e a proposta de Modelo para Análise da
Identidade Online que resultou deste estudo.
4.1 Enquadramento do estudo
No espaço online, a identidade constrói-se a partir da informação publicada e partilhada, pelos
indivíduos, com outras pessoas, espaços e comunidades. Através da interação e participação na
Capítulo IV – Estudo de Caso
70
rede, os indivíduos manifestam aspetos e dimensões da sua identidade construindo uma presença
passível de traduzir o seu percurso enquanto pessoas, aprendentes e profissionais. A identidade
construída nos diversos espaços e plataformas onde o indivíduo articula a sua presença surge,
assim, como um currículum vitae ativo e dinâmico, revelador não apenas das competências
adquiridas e certificadas em contextos de aprendizagem formais como daquelas desenvolvidas
pela interação com os pares, pela partilha e pela comunicação. No que diz respeito à presença que
constroem na rede, os aprendentes – enquanto produtores ativos de conteúdo – têm a
oportunidade de trabalhar numa identidade capaz de revelar a pares e à comunidade as suas
competências, capacidades de comunicação, de interação e de partilha.
Neste cenário, as mudanças trazidas pela abertura da Web 2.0 proporcionam às Instituições de
Ensino Superior a oportunidade de oferecerem aos seus alunos ambientes e comunidades onde
estes possam construir, explorar e aplicar conhecimento contextualizado e adequado às suas
necessidades e às necessidades do mercado. Desenvolvido na UA, o SAPO Campus integra nos
seus serviços um espaço onde os utilizadores registados podem agregar e gerir informação
(através de um agregador de feeds) e disponibiliza, ainda um conjunto de ferramentas – blogs, wiki,
plataforma de partilha de vídeos e de fotos – que possibilita aos seus utilizadores registados a
interação com ambientes internos e externos à plataforma23.
Todo o conteúdo partilhado encontra-se abrangido por uma licença Creative Commons24
“Atribuição – Uso não comercial” (CC-BY-NC), estando visível não apenas para utilizadores
registados mas para toda a rede. Apresentado à comunidade académica em setembro de 2009, o
SAPO Campus tem sido utilizado por alunos, docentes, colaboradores e grupos, sendo a
plataforma adotada pelos docentes do Mestrado em Comunicação Multimédia (MCMM) para a
comunicação, interação e divulgação de trabalhos e projetos.
4.2 Identidade online, oportunidade e desafio
De forma a obter um conhecimento do contexto onde os participantes no estudo constroem a
sua identidade online, e de acordo com o referido em 3.2.1 – “Técnicas de recolha de dados e
fontes de informação”–, foram realizadas entrevistas ao responsável pelos Serviços de
23 Mais informação sobre o SAPO Campus pode ser encontrada na página oficial do projeto, disponível em http://campus.ua.sapo.pt, acedida a 21 de agosto de 2012.
24 Página da Creative Commons disponível em http://creativecommons.org/licenses/, acedida a 21 de agosto de 2012.
A construção da identidade em ambientes digitais"
71
Comunicação, Imagem e Relações Públicas da Universidade de Aveiro (SCIRP-UA), ao Gestor de
um Gabinete de Carreiras e Estágios Profissionais e a um profissional da comunicação nos novos
media. Desta forma, pretendia-se obter um maior conhecimento e caraterização da perspetiva
institucional e do mercado de trabalho relativamente à importância da construção de uma
identidade online e das competências (soft skills) mais valorizadas pelas entidades empregadoras.
4.2.1 A perspetiva inst i tucional
A entrevista realizada à responsável pelos SCIRP-UA teve como propósito o conhecimento da
perspetiva institucional relativamente à importância da construção de uma presença na rede (por
alunos e pela instituição), das estratégias adotadas pela Universidade na gestão da sua identidade
online, e da relação entre a identidade construída pelos alunos e a identidade da própria instituição.
Foram, ainda, abordadas questões relativas à posição dos SCIRP-UA relativamente à plataforma
institucional enquanto espaço de construção e divulgação de identidade online da Universidade e
dos seus alunos.
No que diz respeito à presença construída pela Universidade de Aveiro na rede, a responsável
pelos SCIRP descreve-a como sendo “[uma] presença institucional”, orientada para os diferentes
públicos (alunos, comunicação social, comunidade em geral) e com o propósito de “estar presente
onde os públicos principais, e nomeadamente os alunos, vão estando e se vão revendo”. Com uma
presença na rede mais ativa desde 1995/1996 (referida como a altura da criação do site oficial da
instituição), a responsável realça o cuidado na planificação e seleção dos conteúdos, a adequação
do tipo de discurso a emitir e o acompanhamento das comunicações e interações na rede como as
principais preocupações na construção e gestão da identidade online da Universidade:
! “Dado que são presenças institucionais e, portanto, não se avança logo de uma forma
entusiástica e demasiado centrada na tecnologia. Há sempre alguma cautela de assegurar
que é um investimento que vai perdurar no tempo de alguma forma, de que há capacidade
para depois alimentar as várias plataformas, que é preocupação maior, e de ir
acompanhando todas as presenças.”
Assim, no Facebook25 – onde o principal público é composto por alunos (presentes e potenciais)
–, a Universidade adota um discurso mais direto e assente na colocação de desafios, procurando
desta forma provocar uma maior interação entre a presença da instituição e os alunos: “No
Facebook não damos tanto enfoque a essa componente de agenda e tentamos dar algumas outras
25 Página da Universidade disponível em http://www.facebook.com/universidadedeaveiro, acedida a 20 de
agosto de 2012.
Capítulo IV – Estudo de Caso
72
dicas de outras dinâmicas e daquilo que pode interessar aos vários públicos ao longo do ano letivo
(...).” No Twitter26, onde a Universidade mantém uma presença ativa, o discurso é mais formal e
dirigido sobretudo às agências noticiosas e comunicação social:
! “No Twitter temos tido uma outra abordagem, mais de reposição quase só daquilo que o
jornal online vai difundindo e uma intervenção menos humanizada, e acabámos por tentar
que o Twitter fosse mais dirigido para a comunicação social e para quem está mais
vocacionado para receber esse tipo de informação de cariz noticioso.”
No que se refere à presença construída no SAPO Campus27, a responsável afirma que “O SAPO
Campus tem sido para nós um ótimo suporte”, sendo utilizado para a publicação de fotos e vídeos
dos eventos da Universidade e facilitando, assim, a consulta e o aceso à informação pelos
diferentes públicos interessados:
! “(...) tem sido muito interessante a utilização da componente fotografia e vídeo, porque nos
permite disponibilizar todo esse arquivo e a dinâmica dos eventos de uma forma muito
imediata, e tem-nos servido de interação com os públicos mais diversos, tanto com os
parceiros (...), como a própria comunidade (...).”.
Para a responsável, a grande mais-valia de ter uma presença na rede reside na possibilidade de
interação, na rapidez de feedback (que permite o conhecimento e análise do impacto das diferentes
iniciativas encetadas e a planificação de ações futuras), e o maior conhecimento das dinâmicas e
caraterísticas das várias comunidades que compõem e contactam com a instituição. Em termos de
desvantagens, aponta o investimento em termos de recursos humanos, materiais e de tempo como
um dos principais desafios:
! “É preciso para ir acompanhando, ir estimulando, aproveitando todas as abordagens
possíveis, o investimento do acompanhamento das diferentes plataformas e evoluções, do
que é que em termos tecnológicos vai avançando ou regredindo ou caindo, isso exige
muito das pessoas que estão nestas áreas. (...) Não diria que é uma desvantagem, mas é
um peso. Não sendo uma desvantagem, é um investimento muito grande, contínuo, um
esforço adicional.”.
Questionada relativamente à importância do SAPO Campus enquanto plataforma associada à
instituição, a responsável pelos SCIRP-UA afirma que este espaço representa “um conjunto de
26 Página da Universidade, disponível em http://twitter.com/UnivAveiro, acedida a 20 de agosto de 2012.
27 Página da Universidade, disponível em http://sre.campus.ua.sapo.pt/#tab=atividade, acedida a 20 de agosto de 2012.
A construção da identidade em ambientes digitais"
73
potencialidades enormes de informação e interação” e que se poderá concretizar numa “extensão
da vida da sala de aula”:
! “(...) pode refletir muito as competências formais e não formais que são desenvolvidas
curricularmente na UA e podem potenciar outras interações que podem ir para outras áreas.
(...)[P]ode ser por um lado um espelho daquilo que a UA está a dinamizar em termos
curricular, em termos de investigação, em termos culturais dentro do seu plano, depois
ultrapassa muito isso porque vai também muito para o campo pessoal dos interesses, das
motivações, do académico.”.
Quanto a eventuais riscos – em termos de associação da imagem dos alunos à da Universidade
–, a responsável defende que “não vejo aí um perigo tão evidente. Até porque do que me tenho
apercebido, há alguma salvaguarda e alguma cautela na utilização de todas as presenças,
inclusivamente no SAPO Campus, e as pessoas não se expõem de uma forma tão aberta como
inicialmente se poderia esperar.” Defendendo que “todos os tipos de conteúdos [publicados]
podem ser interessantes mediante os objetivos que estivermos a pensar”, considera a publicação
de conteúdos na plataforma como informação interessante e “útil” que poderá, de acordo com a
sua opinião, “refletir na prática aquilo que a universidade diz ser, as competências que passam.”.
4.2.2 A identidade onl ine vista na perspetiva do mercado
A entrevista realizada à gestora de um Gabinete de Carreiras e Estágios Profissionais,
responsável pela colocação dos alunos no mercado de trabalho e principal mediador entre a
instituição que representa e as potenciais entidades empregadoras, permitiu a identificação de um
conjunto de competências técnicas, específicas e transversais consideradas como as mais
importantes pelas entidades empregadoras. A entrevista possibilitou, ainda, o conhecimento da
perspetiva da gestora relativamente à identidade que os futuros profissionais constroem na rede.
Com 14 anos de experiência na área da gestão de carreiras e estágios e de docente num instituto
superior, a entrevistada possui um conhecimento abrangente e alicerçado na interação contínua
com empresas e futuros profissionais.
Questionada quanto às caraterísticas e competências profissionais mais requisitadas pelas
empresas com as quais contacta, a gestora refere o domínio das línguas (nomeadamente francês,
inglês e castelhano), o domínio de ferramentas de informática na ótica do utilizador, o domínio das
redes sociais (ao nível da criação e gestão de presenças) e a construção e manutenção de sítios
Web como as mais mencionadas. Relativamente às competências transversais ou soft-skills, a
responsabilidade, boa apresentação, capacidade de trabalho em equipa, capacidade de liderança
são aquelas que figuram no topo das competências solicitadas pelas empresas e instituições, para
Capítulo IV – Estudo de Caso
74
a colocação de alunos em estágios.
No que diz respeito à sua perceção quanto ao papel e importância da identidade online para
alunos e futuros profissionais, a gestora aponta duas razões para se ter e manter uma presença na
rede: a necessidade de acompanhar e fazer parte das dinâmicas e temas discutidos (“acho
importante as pessoas estarem, independentemente da idade que tiverem e do que fizerem, acho
que é importante perceberem um pouco como o mundo funciona, uma pessoa tem necessidade de
saber sobre o que se fala, o que se comenta”); e a importância, em termos de visibilidade e
exposição, da presença construída e manifestada na rede:
! “(...) também é uma imagem nossa, e hoje em dia as empresas também valorizam isso, e
pode ser um meio importante de promoção de cada um de nós, se nós soubermos usar e
se tivermos pretensões que seja através deste meio queiramos. Porquê? Um currículo em
papel é igual, e aqui sim, nós podemos fazer uma coisa mais personalizada, e diferente, e
que pode mostrar até a proatividade que nós podemos ter.”
Neste sentido, uma das principais preocupações de quem tem uma presença na rede deverá
centrar-se no cuidado ao nível da gestão dos conteúdos publicados e associados à sua identidade
online: “é uma presença que deve ser bem gerida, devemos pensar bem no que lá colocamos (...).
[M]uitas vezes mesmo as próprias notícias que colocamos lá, ou que comentamos, mostra um
pouco aquilo que nos interessa, a nossa área de interesse (...)”. Na opinião da profissional, a
identidade construída na rede poderá ser vista como um reflexo das caraterísticas e personalidade
do próprio indivíduo, que – por isso mesmo – deveria considerar a sua identidade online como a
imagem pública das suas competências e preferências enquanto pessoa e profissional: “acabamos
por ser quase uma empresa, colocamos ali os nossos gostos, os nossos amigos, o que gostamos.”
4.2.3 A identidade onl ine enquanto espaço e meio de manifestação de
competências
No sentido de perceber a importância da identidade online enquanto espaço/meio de
manifestação de competências, realizou-se uma entrevista a uma profissional da área da
comunicação nos novos media.
A entrevista, realizada à Diretora Executiva da Media Training Worldwide (MTW) Global e
consultora de comunicação há mais de 14 anos, teve como finalidade a recolha de informação
referente à perspetiva da profissional quanto à importância da identidade online (gestão de
conteúdos e rede de contactos), quanto aos desafios que se colocam a quem pretende construir
A construção da identidade em ambientes digitais"
75
uma reputação profissional na rede, e na importância da identidade online enquanto forma de
manifestação e divulgação das competências requeridas para o mercado de trabalho.
Questionada quanto à importância – em termos profissionais e pessoais – de se ter uma
identidade online, a profissional defende que “[profissionalmente] quem não estiver online, não
existe. Quem não tiver uma identidade digital, não está a comunicar.”. Segundo a entrevistada, os
recursos humanos de empresas recorrem às redes sociais para efetuar uma triagem e auscultação
de mercado, pelo que a presença nestas redes (nomeadamente no LinkedIn e no Facebook) se
assume como fundamental para quem se pretende assumir como candidato a emprego: “Portanto,
se eu sei que empresas, por exemplo como a IKEA, fez um recrutamento específico só on-line, como
é que eu posso dar-me ao luxo de não estar a comunicar o meu valor através dessa plataforma? Não
posso.”
Em termos profissionais, para a profissional a importância de se estar online ultrapassa a mera
presença na rede: “não posso apenas estar presente, como tenho de criar uma identidade”. Neste
sentido, e relativamente ao seu futuro profissional, o indivíduo deverá conhecer-se e definir
antecipadamente o percurso que pretende fazer e a identidade que pretende construir. No contexto
profissional, uma identidade sólida e que reflita as competências e capacidades do indivíduo
enquanto pessoa e profissional, e que seja desenvolvida ao longo do tempo, poderá ser encarada
como uma mais valia e um sinal de proatividade:
! “[H]á uns anos atrás eu fui dar uma palestra na Faculdade de Arquitetura para caloiros, eu
expliquei-lhes: porque é que vocês em vez de estarem a fazer estes projetos que não
mostram a ninguém, só mostram ao professor, porque é que não os colocam já [na rede], e
começam a ver trabalhos de outros arquitetos que vocês gostam, e comecem a interagir
com eles, (...) e quando vocês chegarem, tiverem de facto um portfólio para apresentar,
eles já conhecem porque já estiveram nos blogs deles, já comentaram os blogs deles, eles
já vos pesquisaram, já vos encontraram, já encontraram opinião, e valor, e proatividade.”.
Para a profissional, na construção da identidade online é indispensável a perceção, o
conhecimento e a gestão dos contactos que o indivíduo adiciona à sua rede. Mais importante que
o número de contactos ou ligações (quantidade) será a importância que esses contactos
representam em termos de oportunidades profissionais: “mais importante do que quantas pessoas
eu tenho no Facebook é que tipo de pessoas eu tenho. Mais importante do que as pessoas que eu
sigo são as pessoas com as quais eu aprendo. E são duas coisas diferentes.”. Considerando que “a
grande vantagem de ter uma identidade online é que permite acelerar um processo de
relacionamento pessoal presencial”, a gestão da rede de contactos poderá, de acordo com a
entrevistada, passar pela associação e ligação a pessoas, indivíduos e comunidades que estejam
Capítulo IV – Estudo de Caso
76
direta ou indiretamente associados ao contexto onde o indivíduo pretende construir um percurso
profissional e do qual deseja fazer parte:
! “Não sabendo quem eu sou, ainda assim, ou não sabendo para onde eu estou a ir, eu
posso escolher (...) e começar a pensar assim “Muito bem, qual é a empresa que eu
pagava para trabalhar?” E quem é que trabalha lá? O que é que eu posso acrescentar a
esta empresa? E depois começar. Quem temos em comum, que é que temos em comum,
quem(...), onde é que eles estão, vou ter com eles.”
Para a profissional, as desvantagens de se ter uma identidade online decorrerão da própria
identidade que é construída, i.e., dos conteúdos, publicações, ligações e contactos que o indivíduo
adiciona ou liga à sua presença na rede. Ao encarar as redes e espaços online como “um meio de
divertimento junto da sua esfera de amigos” e não como “uma possível esfera de influência, porque
hoje quem está connosco, os nossos colegas, vão ser os nossos possíveis empregadores daqui a
dez anos”, o indivíduo poderá associar à sua presença conteúdos que, num outro contexto
temporal, poderão ser interpretados de forma menos positiva e, por isso mesmo, prejudicar ou
danificar a sua reputação em termos profissionais:
! “é importante que as pessoas percebam que nós só controlamos 100% aquilo que sai da
nossa boca. De resto, existe sempre pessoas que não vão gostar de nós, e que ter uma
identidade online é estar exposto. (...)então, se eu acrescentar valor em todos os meus
posts, se eu ponderar cada post que ponho, cada comentário, cada like, eu certifico-me
que ninguém vai encontrar um like num site duvidoso.”.
Por fim, e apontando como principais competências para o contexto atual de trabalho a
proatividade, a criatividade e a capacidade de comunicação, a entrevistada realça a necessidade
de se ter uma framework daquilo que se pretende desenvolver em termos de presença profissional,
construindo-se, a partir dela, uma identidade consciente e que reflita os interesses, competências e
capacidades do indivíduo: “Primeiro saber quem eu sou, no que é que acredito, o que é que eu
quero, para onde eu vou, o que é que eu sei que os outros não sabem, e o que é que eu posso,
como é que eu posso contribuir”. “Proatividade, criatividade e valor acrescentado são três pontos
fundamentais para o novo profissional que tem uma identidade online”.
A construção da identidade em ambientes digitais"
77
4.3 O SAPO Campus e o software social no Mestrado em Comunicação
Multimédia
Realizadas as entrevistas que permitiram a caraterização e definição do contexto institucional e
profissional onde os alunos do MCMM constroem a sua identidade online, procedeu-se ao estudo e
análise da utilização do SAPO Campus e das ferramentas do software social. Os pontos que se
seguem apresentam a caraterização da população ao nível demográfico e enquanto utilizadora das
ferramentas do software social e da plataforma SAPO Campus (informação recolhida pela aplicação
dos questionários).
4.3.1 Carater ização dos alunos respondentes ao quest ionário
De acordo com o referido em 3.3.1 – “Identificação dos participantes”, a análise da informação
recolhida foi articulada em dois planos: análise global da informação referente aos alunos que
responderam ao questionário (n=58); e análise detalhada da identidade online dos participantes no
estudo (n=13, amostra por conveniência). Neste ponto, apresenta-se a caraterização dos
respondentes ao questionário (incluindo os participantes), assente na descrição da utilização das
ferramentas do software social e das ferramentas disponibilizadas pela plataforma SAPO Campus,
na identificação de contextos de utilização e na identificação das razões subjacentes à utilização ou
rejeição da plataforma institucional.
Nas edições de 2008-2010 e 2009-2011 estavam inscritos no Mestrado em Comunicação
Multimédia um total de 80 alunos (30 e 50, respetivamente). Da primeira turma, responderam ao
questionário 26 dos 30 alunos, 16 do sexo masculino e 10 do sexo feminino, 11 estudantes e 15
trabalhadores estudantes, com idades compreendidas entre os 22 e os 35 anos (média de idades:
26 anos, aproximadamente). Da segunda turma, responderam ao questionário 32 indivíduos, 22 do
sexo masculino e 10 do sexo feminino, 7 estudantes e 25 trabalhadores estudantes, com idades
compreendidas entre os 21 e os 50 anos (média de idades: 28 anos, aproximadamente). Na
resposta aos questionários, os inquiridos afirmaram ser utilizadores das ferramentas do software
social. Dos respondentes, apenas um afirmou não estar registado no SAPO Campus.
Capítulo IV – Estudo de Caso
78
Idades dos respondentes ao questionário
≥ 25 30
26 – 30 12
31 – 35 9
≤ 36 7
Total 58
Quadro 6 – Idades dos respondentes ao questionário
4.3.2 Uti l ização das ferramentas do software social
A informação referente à utilização das ferramentas do software social e do SAPO Campus foi
recolhida em dois períodos distintos: novembro de 2009 e novembro de 2010. Posto isto, e ainda
que não se pretenda estabelecer quaisquer correlações entre os anos letivos/as turmas o nível da
utilização das ferramentas, a informação que se segue é apresentada para cada um dos períodos
em separado. A análise da informação recolhida será apresentada de acordo com a ordem em que
foi solicitada no questionário: informação referente à utilização de software social; informação
referente à utilização da plataforma SAPO Campus.
De acordo com a informação recolhida dos questionários aplicados em novembro de 2009, as
ferramentas do software social mais utilizadas pelos respondentes (n=26) eram as redes sociais e
as ferramentas de partilha de conteúdos (96%), seguidas das ferramentas de edição colaborativa
(85%) e blogs (62%). As ferramentas de microblogging eram utilizadas por 57% dos respondentes, e
as ferramentas de agregação por 51%. As ferramentas de social bookmarking eram adotadas por
31% dos respondentes.
Ferramentas mais utilizadas pelos inquiridos
Redes sociais 96 %
Partilha de conteúdos 96 %
Edição colaborativa 85 %
Weblogs 62 %
Microblogging 57 %
Ferramentas de agregação 51 %
Social bookmarking 31 %
Quadro 7 - Software social: ferramentas mais utilizadas (MCMM 2008-2010)
A construção da identidade em ambientes digitais"
79
Relativamente à frequência de utilização, as redes sociais seriam utilizadas diariamente por 58%
dos respondentes, seguidas das ferramentas de partilha de conteúdos (42%) e ferramentas de
microblogging (38%). Os blogs e as ferramentas de edição colaborativa eram utilizados
semanalmente por 42% e 35% dos indivíduos, respetivamente. As ferramentas de social
bookmarking seriam utilizadas diária e semanalmente por apenas 27% dos respondentes.
"
"
Gráfico 1 - Ferramentas do software social: frequência de utilização (MCMM 2008-2010)
Para além da análise das frequência de utilização dos diferentes conjuntos de ferramentas, o
estudo contemplou ainda a análise dos seus contextos de utilização. Assim, a análise dos dados
permitiu verificar que:
! em contexto social, as ferramentas com uma utilização mais intensiva foram as redes
sociais (85% dos inquiridos apresentaram esta resposta), seguidas pelo microblogging
(46%) e as ferramentas de partilha de conteúdos (42%);
! em contexto académico, as ferramentas mais utilizadas foram as ferramentas de partilha
de conteúdos (metade dos inquiridos apresentou esta resposta), seguidas pelas
ferramentas de edição colaborativa, ferramentas de agregação e blogs (38%);
! em contexto profissional, destacava-se a utilização de ferramentas de partilha de
conteúdos (77%) e de edição colaborativa (62%); 42% dos respondentes afirmaram
ainda utilizar as redes sociais em contexto profissional.
"
8
38
12
58
31
42
19
19
15
42
31
27
42
35
4
4
8
7
0
12
31
69
43
38
4
42
4
15
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Social Bookmarking
Microblogging
Weblogs
Redes sociais
Ferramentas de agregação
Partilha de Conteúdos
Edição Colaborativa
Ferramentas do Software Social: frequência de utilização
diariamente semanalmente mensalmente/menos de 1 vez por mês não utiliza
Capítulo IV – Estudo de Caso
80
"
Gráfico 2 – Software social: contextos de utilização (MCMM 2008-2010)
De acordo com a informação recolhida dos questionários aplicados em novembro de 2010, as
ferramentas do software social mais utilizadas pelos respondentes (n=32) foram as redes sociais e
as ferramentas de partilha de conteúdos (100% e 97%), seguidas dos blogs (91%) e das
ferramentas de edição colaborativa (81%). As ferramentas de social bookmarking eram adotadas
por 81% dos respondentes, e as ferramentas de agregação por 66%. As ferramentas de
microblogging eram utilizadas por 47% dos respondentes.
"
Ferramentas mais utilizadas pelos inquiridos
Redes sociais 100 %
Partilha de conteúdos 97 %
Weblogs 91 %
Edição colaborativa 81 %
Social bookmarking 81 %
Ferramentas de agregação 66 %
Microblogging 47 %
Quadro 8 - Software social: ferramentas mais utilizadas (MCMM 2009-2011)
"
Relativamente à frequência de utilização, as redes sociais eram utilizadas diariamente por 69%
dos respondentes, seguidas das ferramentas de partilha de conteúdos (37%) e ferramentas de
agregação (37%). As ferramentas de partilha de conteúdos eram ainda utilizadas semanalmente por
12
27
12
31
31
46
31
38
38
42
15
85
8
38
27
77
50
42
62
38
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Pro
fissi
onal
A
cadé
mic
o S
ocia
l
Percentagem de utilizadores
Contextos de utilização
Ed. Colaborativa
P. Conteúdos
F. agregação
Redes sociais
Weblogs
Microblogging
Social Bookmarking
A construção da identidade em ambientes digitais"
81
47% dos respondentes, e as ferramentas de edição colaborativa por 41%.Os blogs eram utilizados
diária e semanalmente por 43% dos respondentes, as ferramentas de social bookmarking por 44%.
O microblogging era utilizado por apenas 47% dos respondentes, mensalmente ou menos de uma
vez por mês.
"
"
Gráfico 3 - Ferramentas do software social: frequência de utilização (MCMM 2009-2011)
No que diz respeito aos contextos de utilização, a análise dos dados permitiu verificar que:
! em contexto social, as ferramentas com uma utilização mais intensiva foram as redes
sociais (78% dos inquiridos apresentaram esta resposta), seguidas pelas ferramentas de
partilha de conteúdos (66%) e blogs (38%);
! em contexto académico, as ferramentas mais utilizadas foram as ferramentas de partilha
de conteúdos e os blogs (respostas apresentada por 63% dos inquiridos), seguidas
pelas ferramentas de edição colaborativa (59%) e ferramentas de social bookmarking e
redes sociais (44%);
! em contexto profissional, 56% dos respondentes afirmou utilizar ferramentas de partilha
de conteúdos, 47% ferramentas de edição colaborativa e 41% ferramentas de social
bookmarking. De referir, ainda, que 28% afirmou utilizar blogs em contexto profissional.
"
16
13
22
69
25
37
6
28
6
31
22
19
47
41
37
28
38
9
22
13
34
19
53
9
0
34
19
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Social Bookmarking
Microblogging
Weblogs
Redes sociais
Ferramentas de agregação
Partilha de Conteúdos
Edição Colaborativa
Ferramentas do Software Social: frequência de utilização
diariamente semanalmente mensalmente/menos de 1 vez por mês não utiliza
Capítulo IV – Estudo de Caso
82
"
Gráfico 4 - Software social: contextos de utilização (MCMM 2009-2011)
A partir da análise dos dados recolhidos é possível verificar que, no que diz respeito à utilização
das ferramentas do software social, as redes sociais e as ferramentas de partilha de conteúdos são
apontadas como as mais utilizadas pelo total de respondentes (n=58). Ainda que as ferramentas de
microbbloging sejam as menos referidas pelo segundo grupo, são mencionadas por 47% dos
respondentes (no primeiro grupo, foram mencionadas por 57% dos respondentes). A principal
diferença verifica-se ao nível da utilização das ferramentas de social bookmarking, utilizadas por
81% dos respondentes do segundo grupo, por oposição a 31% do primeiro grupo.
Assim, e no que se refere às ferramentas mais mencionadas, verifica-se que as ferramentas de
partilha de conteúdos são utilizadas sobretudo em contexto profissional (opção assinalada por 66%
dos respondentes), sendo que 60% dos respondentes referiu utilizar estas ferramentas em contexto
educativo e 55% em contexto social. As redes sociais são utilizadas em contexto social por 81% dos
respondentes, e em contexto profissional por 38%, e as ferramentas de edição colaborativa são
utilizadas por 53% dos respondentes em contexto educativo e por 53% em contexto profissional.
Quanto aos blogs (quarta ferramenta mais utilizada), são utilizados em contexto educativo por 55%
dos respondentes, e em contexto social por 41%.
"
41
44
31
22
16
34
38
63
38
28
44
78
28
34
16
56
63
66
47
59
25
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Pro
fissi
onal
A
cadé
mic
o S
ocia
l
Percentagem de utilizadores
Contextos de utilização
Ed. Colaborativa
P. Conteúdos
F. agregação
Redes sociais
Weblogs
Microblogging
Social Bookmarking
A construção da identidade em ambientes digitais"
83
4.3.3 Uti l ização da plataforma SAPO Campus
De acordo com a informação recolhida, todos os inquiridos pertencentes ao primeiro grupo
estavam registados e eram utilizadores de uma ou mais ferramentas do SAPO Campus (i.e. blogs,
fotos e vídeos28). No que diz respeito à frequência de utilização, a análise das respostas permitiu
aferir que, para o primeiro grupo, das três ferramentas, os blogs foram aqueles cuja utilização teria
sido mais intensiva. Assim, os blogs eram utilizados diariamente por 12% e semanalmente por 69%
dos respondentes. O serviço de publicação e partilha de fotos (não utilizado por 8% dos
respondentes) era utilizado sobretudo numa base mensal (resposta escolhida por 50% dos
inquiridos), e o serviço de partilha de vídeos (serviço nunca utilizado por 31% dos respondentes) era
utilizado na sua maioria uma vez por mês ou menos de uma vez por mês.
"
"
Gráfico 5 - SAPO Campus: frequência de utilização (MCMM 2008-2010)
"
No segundo grupo, e de acordo com a informação recolhida, apenas um dos inquiridos não se
encontrava registado na plataforma SAPO Campus. Analisando as respostas dos utilizadores
registados, verifica-se que, no que diz respeito à frequência de utilização – e à semelhança do
verificado para o grupo 1 –, os webblogs eram utilizados diária e semanalmente por 90% dos
respondentes. O serviço de partilha de fotos era utilizado sobretudo numa base mensal (52% dos
indivíduos respondeu com esta opção), bem como o serviço de partilha de vídeos (resposta
28" O SAPO Campus conta ainda, entre os serviços disponibilizados, com uma wiki. Não obstante o interesse da ferramenta enquanto espaço de colaboração e construção de conhecimento optou-se, no presente estudo, por abordar apenas os blogs, serviço de fotos e de serviço de partilha de vídeos."
12
19
42
69
50
50
19
31
8
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Vídeos
Fotos
Blogs
SAPO Campus: frequência de utilização
diariamente semanalmente mensalmente/menos de 1 vez por mês nunca utilizou
Capítulo IV – Estudo de Caso
84
apresentada por 42% dos inquiridos). Os serviços de partilha de fotos e vídeos nunca foram
utilizados por 26 e 32% dos respondentes, respetivamente.
"
Gráfico 6 - SAPO Campus: frequência de utilização (MCMM 2009-2011)
"
4.3.4 Razões para o registo no SAPO Campus
O questionário aplicado em novembro de 2010, para além das informações acima
apresentadas, solicitava ainda aos respondentes a indicação dos motivos de registo/não registo na
plataforma. Assim, e através da apresentação de um número de opções, seria possível seria
possível obter uma visão global relativamente às razões subjacentes à adoção e/ou rejeição do
SAPO Campus29.
De entre as dez razões apresentadas para o registo na plataforma, foram escolhidas por um
maior número de participantes: o facto de os professores terem dado indicações para isso
(resposta escolhida por 84% dos respondentes); o facto de estar associada à Universidade (69%); o
ser conveniente, enquanto aluno da UA, estar registado na plataforma (resposta escolhida por 50%
dos respondentes); e a necessidade de ter um local para publicação dos trabalhos (resposta
escolhida por 28% dos respondentes). Nas respostas recolhidas, 19% dos inquiridos referiu ainda
29 Uma vez que este grupo de questões só surgiu no segundo questionário aplicado (fase de estabilização da plataforma), os dados que se seguem dizem respeito apenas aos alunos da turma de Mestrado em Comunicação Multimédia 2009-2011, i.e., 32 alunos.
19
19
87
42
52
7
32
26
3
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Vídeos
Fotos
Blogs
SAPO Campus: frequência de utilização
diariamente semanalmente mensalmente/menos de 1 vez por mês nunca utilizou
A construção da identidade em ambientes digitais"
85
como razão principal a maior exposição dos trabalhos publicados, enquanto que 13%
consideraram a plataforma como sendo uma mais-valia em relação a outras plataformas. Questões
relacionadas com a segurança da plataforma, interface e facilidade de registo foram mencionados
por apenas um respondente, enquanto que o facto de os amigos serem ou não utilizadores
habituais não foi considerado, por nenhum dos respondentes, como uma das razões para o registo.
O respondente que referiu não estar registado na plataforma apontou como razão (única) para a
situação o facto de, por questões associadas ao registo enquanto aluno, ainda não ter conseguido
configurar com sucesso a sua conta.
"
"
Gráfico 7 - Razões para o registo no SAPO Campus
"
"
4.4 A construção da identidade no Mestrado em Comunicação Multimédia
Caraterizada a população e apresentada a informação relativa à utilização do software social e
das ferramentas do SAPO Campus, proceder-se-á à caraterização dos participantes no estudo e à
análise da identidade construída no SAPO Campus e nas redes informais (informação recolhida a
partir das entrevistas e da análise do conteúdo ao perfil e à timeline dos participantes).
"
0
1
1
1
4
6
9
16
22
27
porque os meus amigos são utilizadores habituais
porque gosto do interface
porque o registo foi simples
porque é uma plataforma segura
porque considero uma mais-valia em relação a outras plataformas
pela maior exposição dos trabalhos que publico
porque preciso de um sítio onde publicar os meus trabalhos
porque é conveniente para mim, enquanto aluno da UA, estar registado na plataforma
porque está associada à Universidade
porque os meus professores deram indicações para isso
Número de respostas
SAPO Campus: razões para o registo
Capítulo IV – Estudo de Caso
86
4.4.1 Carater ização dos part ic ipantes no estudo
Dos 58 respondentes ao questionário acederam continuar a participar no estudo 13 alunos, 5 do
sexo feminino e 8 do sexo masculino, 8 trabalhadores estudantes e 5 estudantes, com idades
compreendidas entre os 22 e os 39 anos (média de idades: 26 anos, aproximadamente).
""
Idades dos participantes no estudo
≥ 25 7
26 – 30 4
31 – 35 1
≤ 36 1
Quadro 9 - Idades dos participantes no estudo
Na resposta aos questionários, todos os participantes afirmaram estar registados no SAPO
Campus (condição necessária à prossecução no estudo)e ser utilizadores das ferramentas do
software social.
"
4.4.2 Uti l ização do SAPO Campus e das ferramentas do software social
No que diz respeito aos contextos de utilização, a análise da informação referente aos
participantes no estudo (e recolhida a partir da aplicação do questionário) permitiu verificar que:
! em contexto social, as redes sociais foram utilizadas pela totalidade dos participantes no
estudo; as ferramentas de microblogging foram usadas por 77 % dos participantes e os
blogs por 69%;
! em contexto académico, os webblogs foram a ferramenta mais utilizada pelos
participantes (referida por 92%), seguidas das ferramentas de edição colaborativa e de
partilha de conteúdos, das ferramentas de agregação e das redes sociais, utilizadas por
77% dos participantes;
! em contexto profissional, as redes sociais foram utilizadas por 92% dos participantes; as
ferramentas de partilha de conteúdos por 85%, e as ferramentas de edição colaborativas
e os blogs por 77%.
"
A construção da identidade em ambientes digitais"
87
"
Gráfico 8 - Software social: contextos de utilização (participantes no estudo)
"
Para além desta caraterização, interessava ainda caraterizar os participantes quanto à utilização
da plataforma SAPO Campus e das ferramentas do software social. Assim, e no que diz respeito à
frequência de utilização, foram classificados como utilizadores frequentes da plataforma os
indivíduos que afirmaram utilizar duas ou mais ferramentas todos os dias, ou duas ou mais
ferramentas duas a três vezes por semana; utilizadores ocasionais indivíduos que responderam
utilizar duas ou mais ferramentas uma vez por semana; e utilizadores pouco frequentes
indivíduos que utilizavam duas ou mais ferramentas uma vez por mês ou menos de uma vez por
mês.
No que diz respeito às ferramentas de software social, e considerado o maior número de
ferramentas apresentado no questionário, consideraram-se utilizadores frequentes das
ferramentas indivíduos que afirmaram utilizar quatro ou mais ferramentas diariamente ou duas a três
vezes por semana; utilizadores ocasionais os indivíduos que responderam utilizar quatro ou mais
ferramentas uma vez por semana; e utilizadores pouco frequentes aqueles que utilizavam quatro
ou mais ferramentas uma vez por mês ou menos de uma vez por mês. Posto isto, e de acordo com
a informação recolhida, traçou-se o primeiro perfil dos participantes no estudo apresentado no
quadro 10.
"
69
62
46
69
46
77
77
92
69
92
77
100
46
77
46
85
77
54
77
77
38
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Pro
fissi
onal
A
cadé
mic
o S
ocia
l
Percentagem de utilizadores
Contextos de utilização
Ed. Colaborativa
P. Conteúdos
F. agregação
Redes sociais
Weblogs
Microblogging
Social Bookmarking
Capítulo IV – Estudo de Caso
88
Código do participante Idade Sexo
Situação profissional
Utilização do SAPO
Campus Software
social
P01 22 F Estudante Ocasional Frequente
P02 28 M Estudante Frequente Frequente
P03 32 M T. estudante Pouco frequente Frequente
P04 22 M Estudante Pouco frequente Frequente
P05 23 F Estudante Pouco frequente Frequente
P06 24 F Estudante Pouco frequente Frequente
P07 39 M T. estudante Pouco frequente Frequente
P08 25 M T. estudante Frequente Frequente
P09 23 M Estudante Pouco frequente Frequente
P10 27 M T. estudante Ocasional Ocasional
P11 28 M Estudante Pouco frequente Ocasional
P12 23 F Estudante Pouco frequente Frequente
P13 26 F T. estudante Pouco frequente Frequente
Quadro 10 – Caraterização dos participantes no estudo
"
De acordo com o referido anteriormente, acederam a participar no estudo 13 alunos, 5 do sexo
feminino e 8 do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 22 e os 39 anos (média de
idades: 26 anos, aproximadamente). Dos 13 alunos, 5 são estudantes e 8 trabalhadores estudantes.
A maior parte dos participantes no estudo tem idade inferior a 25 anos. A partir da análise da
informação disponibilizada no quadro 10, pode-se observar que 85% dos participantes é utilizador
frequente das ferramentas do software social, enquanto apenas 15% afirma utilizar com frequência
as ferramentas do SAPO Campus. No que diz respeito a esta plataforma, a caraterização dos
participantes a partir das respostas recolhidas dos questionários aponta para a utilização pouco
frequente da plataforma (i.e., utilização de duas ou mais ferramentas uma vez por mês ou menos de
uma vez por mês). A análise do quadro possibilita ainda observar que o grupo cuja presença na
rede foi objeto de estudo inclui participantes com níveis de utilização das ferramentas do SAPO
Campus e do software social diferentes, o que possibilitou uma análise da identidade online mais
ampla e não limitada a um grupo demasiado homogéneo. Assim, e ainda que os participantes no
estudo pertençam ao mesmo curso – ainda que a turmas e anos letivos diferentes – foi possível
analisar indivíduos com caraterísticas de utilização e participação diversas, o que terá contribuído
para a riqueza da análise30.
30 De forma a atenuar o enviesamento dos dados, procurou-se que a amostra incluísse participantes com caraterísticas diferentes ao nível da utilização do SAPO Campus e das ferramentas do software social. O
A construção da identidade em ambientes digitais"
89
4.5 A construção da identidade em ambientes digitais:
De acordo com o definido em 3.3.1 – “Identificação dos participantes”, o estudo da identidade
online dos participante no estudo articulou-se em duas vertentes:
! a análise da perceção do indivíduo relativamente à sua própria identidade –
autoperceção, ou “identidade autoinformativa”, como defendido por Manders-Huit
(2010, apud Childs, 2011);
! a análise da tipologia de participação, através da recolha e codificação dos conteúdos
publicados pelos indivíduos nos três espaços em estudo: SAPO Campus, Facebook e
Twitter.
Os pontos que se seguem (4.5.1 a 4.5.13) procuram descrever a identidade construída por cada
um dos participantes na rede, pela apresentação da informação recolhida a partir entrevistas e da
análise do conteúdo. De forma a salvaguardar a privacidade dos participantes, os nomes foram
substituídos pelos códigos apresentados no quadro 16. As transcrições do discurso dos
participantes refletem as marcas da oralidade do próprio discurso, podendo por isso ocorrer a
existência de incoerências ao nível sintático ou gramatical. A informação relativa ao perfil de
utilizador (apresentada para cada um dos participantes) corresponde àquela disponibilizada pelos
participantes nos meses de julho e agosto de 2011.
"
"
4.5.1 P01 – “Não me comprometo”
Participante P01, 22 anos, sexo feminino, aluna do Mestrado em Comunicação Multimédia. De
acordo com a informação recolhida do questionário aplicado em novembro de 2009, a participante
utiliza as ferramentas do software social como suporte à aprendizagem e para fins profissionais. As
redes sociais e as ferramentas de microblogging são ainda utilizadas para fins de socialização, e
quanto à participação no SAPO Campus, a participante afirma utilizar os blogs diariamente,
partilhando fotos e vídeos uma vez por semana. Online, a participante identifica-se com o nome
próprio/nome real nos três espaços em estudo (i.e. SAPO Campus, Facebook e Twitter), utilizando
como imagem de perfil um avatar (plataforma institucional) e foto própria (nos ambientes informais).
Na rede, disponibiliza ainda informação biográfica (Facebook: data de nascimento e localidade) e
informação relativa à formação académica (SAPO Campus e Twitter). No Twitter partilha ainda a
ligação para o blog no SAPO Campus.
perfil dos alunos que acederam continuar a participar no estudo foi ao encontro da intenção inicial, como se poderá verificar pela informação constante no quadro 10.
Capítulo IV – Estudo de Caso
90
"
4.5.1.1 Autoperceção/identidade autoinformativa
Questionada quanto à identidade que constrói na rede, a participante descreve-se como sendo
mais consumidora do que produtora de conteúdos: “Sou mais leitora do que produtora, muito mais.
Ou seja, estou sempre a consumir e a produzir bastante pouco, e normalmente só vejo mesmo
aquilo que me interessa, o que não me interessar ignoro.”. Quanto ao tipo de conteúdos que
publica, a participante distingue entre espaços pessoais e institucionais (“pessoal é a minha conta
do Facebook, sim, e o blog do SAPO Campus é institucional”), selecionando os tópicos a abordar e
adequando o conteúdo de acordo com o espaço onde o partilha:
! “depende sempre da plataforma onde estiver a publicar, também altero um bocado o
discurso”; “tenho sempre cuidado, em nenhum deles é demasiado pessoal (...)é o link ou o
vídeo com a mensagem, e pronto”; “No SAPO Campus são coisas ligadas realmente à
minha... ao meu papel de aluna, por assim dizer. Coisas assim mais pessoais, lá está, não
publico porque não estão associadas ao perfil institucional”.
No caso específico do SAPO Campus afirma ter tido o cuidado de publicar apenas conteúdo
previamente editado, “coisas que já estavam refinadas, não publicava coisas em processo, por
assim dizer. (...)E depois também tenho mais cuidado na redação das coisas, na própria
organização do texto, para ser uma coisa clara e com pés e cabeça”. Não adotando medidas
específicas ao nível da gestão da identidade na rede (e.g. utilização de diferentes contas de e-mail
para diferentes plataformas, segregação ou agregação de contactos de acordo com a plataforma),
opta pela não publicação de conteúdos de caráter pessoal nos diferentes espaços onde constrói a
sua presença: “em nenhum deles é demasiado pessoal, não me comprometo”.
Solicitada a refletir sobre o impacto da sua presença na rede, a participante reconhece não
utilizar a rede como forma de manifestar competências adquiridas ao longo do seu percurso
académico e pessoal: “Mas sim, estão publicadas algumas delas, mas na altura não lhes dei assim
muita visibilidade. Não é que tenha vergonha delas, pelo contrário, mas lá está,(...) as coisas estão
publicadas, só não lhes dou muita visibilidade”. Procura, antes, apresentar as suas áreas de
interesse (ao nível pessoal e enquanto investigadora), construindo ao mesmo tempo uma presença
de caráter mais social: “gostaria que vissem que também me interesso por outras coisas como
música, que estou atenta também à atualidade, ao que se passa, que sou uma pessoa equilibrada”.
Quanto ao caso específico do SAPO Campus, e da presença que construiu/constrói na
plataforma suportada institucionalmente, a participante apresenta como vantagem a visibilidade e
exposição dos conteúdos produzidos e partilhados neste espaço (“à partida seria uma vantagem
enorme, porque o teu trabalho tem mais alcance, e potencialmente podes receber feedback mais
A construção da identidade em ambientes digitais"
91
variado, pode ajudar-te a sair um bocadinho da tua concha, do teu ambiente habitual e das pessoas
com quem discutes ideias”). Mais ainda, refere que a presença online dos indivíduos poderá ser
enriquecida com aquilo que define como “transferência de credibilidade”:
! “Para já têm a credibilidade da instituição, que acaba por ser um bocado, passa para o
aluno, por assim dizer. (...) A partir daí dá-nos a credibilidade da Instituição, que é
importante, e depois faz também com que não sejamos só mais um aluno, acaba-se por
marcar ali, no meio dos milhares que aqui andam”.
Para a participante, este seria um processo “simbiótico”, onde o aluno beneficiaria da reputação
da instituição e onde a própria Universidade tiraria benefícios da presença construída pelo aluno: “o
trabalho do aluno também dá credibilidade à Universidade”, um cenário em que a qualidade do
trabalho e da presença do aluno seriam indicadores da qualidade da própria instituição.
4.5.1.2 Participação: tipologia e formato das publicações
No que diz respeito às publicações efetuadas nos três espaços considerados neste estudo,
entre setembro de 2009 e Junho de 2010 a participante efetuou um total de 125 publicações,
distribuídas da seguinte forma: SAPO Campus, 43 publicações; Facebook, 10 publicações; Twitter,
72 publicações. O conteúdo publicado foi analisado e codificado de acordo com os parâmetros
definidos em 3.5.1, encontrando-se o resultado registado no quadro 11.
"
Plataforma Conteúdo Formato
Total Texto Ligação Áudio/vídeo Foto
SAPO Campus
Pessoal 0 0 0 0
43 Social 0 1 0 0 Académico 15 10 6 11 Profissional 0 0 0 0 Organizacional 0 0 0 0
Pessoal 0 0 0 0
10 Social 1 1 0 2 Académico 0 0 1 0 Profissional 0 0 0 0 Organizacional 0 4 0 1
Pessoal 2 0 0 0
72 Social 15 10 18 1 Académico 9 8 1 3 Profissional 0 0 0 0 Organizacional 0 5 0 0
Total 42 39 26 18 125
Quadro 11 – Participante P01: conteúdos publicados por plataforma
Capítulo IV – Estudo de Caso
92
Da análise das publicações registadas é possível verificar que:
! durante o período em estudo, o Twitter foi a rede mais utilizada;
! no SAPO CAMPUS, a presença é construída pela partilha de conteúdos de caráter
académico;
! no Facebok e Twitter a presença é marcadamente social (embora no Facebook se
verifique uma maior quantidade de publicações codificadas em organizacional, 66,7% das
publicações registadas nos dois espaços inserem-se nesta categoria);
! a partilha de conteúdos de caráter pessoal, no global, é residual (1,6% registados apenas
no Twitter).
Ao nível do formato das publicações, e em ermos globais, verifica-se que:
! a presença social é construída maioritariamente pela partilha de conteúdos áudio/vídeo
(37%) e mensagens de texto (33%);
! as mensagens associadas à instituição (codificadas em organizacional) são compostas na
sua maioria pela partilha de ligações;
! a dimensão académica assenta na partilha de ligações (37%) e de mensagens de texto
(32%);
! a dimensão pessoal é construída unicamente por mensagens (duas).
No que diz respeito às redes individualmente consideradas, verifica-se que no SAPO Campus
(plataforma suportada institucionalmente e segunda rede mais utilizada pela participante) 98% das
publicações dizem respeito a conteúdos de teor académico, diretamente relacionados com os
trabalhos da participante. Destas, 36% consistem em mensagens de texto, 26% na partilha de fotos,
24% em partilha de ligações (para recursos académicos publicados por outros utilizadores), e 14%
na partilha de ficheiros áudio/vídeo. Das 43 publicações observadas no SAPO Campus, 30 são da
autoria da participante, compostos na sua maioria por mensagens de texto associadas à presença
académica. Quanto às publicações replicadas pela participante neste espaço, 87% são
acompanhadas de mensagem introdutória (de contextualização e/ou enquadramento).
No Facebook a presença da participante é construída maioritariamente pela partilha de
conteúdos de caráter organizacional (50%) e social (40%). Das publicações registadas neste
espaço, 50% consistem em partilha de ligações (nomeadamente na replicação de conteúdos
emitidos pela Universidade ou pelo departamento), 30% na partilha de fotos e os restantes 20%
distribuem-se entre a publicação de mensagens de texto e ficheiros de áudio/vídeo.
No Twitter a participação é marcadamente social (61% das publicações inserem-se nesta
categoria). Nesta categoria, 41% dos conteúdos publicados são ligações para outros espaços ou
utilizadores, enquanto as mensagens de texto correspondem a 34% do total. No Twitter, a dimensão
académica (com 29% das publicações) é formada na sua maioria pela partilha de mensagens de
A construção da identidade em ambientes digitais"
93
texto e ligações para outras páginas – incluindo ligação para o blog do SAPO Campus – ou
conteúdos de outros utilizadores; a dimensão pessoal é residual e composta unicamente por
mensagens.
Ainda dentro da análise aos conteúdos publicados pela participante, e no que se refere à
presença de conteúdo de autor (i.e., publicações compostas exclusivamente por conteúdos da
autoria da participante, e não pela replicação de conteúdos produzidos por outros indivíduos),
verificou-se que no SAPO Campus 70% os conteúdos publicados são da autoria da participante; no
Facebook 40% dos conteúdos publicados são da autoria da participante; no Twitter, 35% dos
conteúdos publicados são da autoria da participante. No que diz respeito às publicações replicadas
pelo participante nos três espaços em estudo, 36,8% são acompanhadas de mensagem
introdutória (de contextualização e/ou enquadramento).
"
Gráfico 9 – P01: conteúdos publicados pela participante (tipologia e formato)
"
De acordo com o definindo em 3.5.1.1 – “Controle da subjetividade”, foi efetuada uma segunda
análise (cinco meses depois) aos conteúdos publicados pela participante nos três espaços
analisados31. Para a participante P01 foram analisadas 95 publicações, distribuídas da seguinte
31 Quadro disponível no Anexo 7 – Análise do conteúdo, tipologia e forma – Participante 01 (disponível apenas em formato digital).
0 5 10 15 20 25 30
foto
audio/video
ligação
texto
foto
audio/video
ligação
texto
foto
audio/video
ligação
texto
Twitt
er
Face
book
S
AP
O C
ampu
s
Conteúdos publicados pela participante
pessoal social académico profissional organizacional
Capítulo IV – Estudo de Caso
94
forma: SAPO Campus, 32 publicações; Facebook, 8 publicações; Twitter, 55 publicações (amostra
estratificada). A concordância entre as codificações foi a seguinte: SAPO Campus, 94% (formato) e
100% (tipologia); Facebook, 100% (formato e tipologia); Twitter, 100% (formato e tipologia).
4.5.2 P02 – “ um espelho da real idade”
Participante P02, 28 anos, sexo masculino, aluno do Mestrado em Comunicação Multimédia.. De
acordo com a informação recolhida a partir do questionário aplicado em novembro de 2009, o
participante utiliza as redes sociais, os blogs e as ferramentas de social bookmarking quer para fins
de socialização quer em contextos profissionais e de aprendizagem. As ferramentas de edição
colaborativa e de partilha de conteúdos são utilizadas apenas para fins profissionais, as ferramentas
de agregação apenas em contexto educativo, e o microblogging em contexto profissional e social.
Relativamente à participação na plataforma institucional SAPO Campus, o participante afirma utilizar
os blogs diariamente e o serviço de partilha de fotos e vídeos duas a três vezes por semana. Online,
o participante identifica-se com o nome próprio/nome real e foto própria nos três espaços em
estudo, sendo a informação relativa à data de nascimento partilhada tanto no SAPO Campus como
no Facebook. No SAPO Campus partilha ainda informação referente a interesses, disponibiliza o
contacto de e-mail e informação relativa à instituição de ensino que frequenta, e no Facebook
partilha interesses, endereço de e-mail e contacto telefónico. Nos três espaços em estudo o
participante partilha, ainda, ligação para a sua página pessoal.
4.5.2.1 Autoperceção/identidade autoinformativa
Relativamente à identidade que constrói na rede, o participante afirma que a sua presença é um
reflexo da sua identidade real, não receando transpor ou transcrever, para a rede, a sua
personalidade e aquilo que é no mundo físico:
! “aquilo com que me identifico dentro da rede é basicamente aquilo que eu sou fora,
também. Algumas pessoas tendem mais para o sentido da criação de uma espécie de um
heterónimo ou uma personagem virtual que fica algo distante daquilo que eles são na
realidade. Eu não vejo grande interesse nisso, é aquilo que eu sou, fica um espelho da
realidade”.
Questionado quanto ao tipo de conteúdos que publica, afirma não ter preocupações
relativamente à interpretação das suas mensagens, afirmando tentar “ser um bocado transparente
A construção da identidade em ambientes digitais"
95
no que escrevo, mesmo se estou a escrever algo que vai ser de alguma forma negativo para a minha
imagem, ou seja, do ponto de vista de quem está fora, não tenho grande receio (...) publico,
digamos, aquilo que me apetece”. Afirmando partilhar, na rede, informação relativamente a
atividades extraprofissionais (desporto), o participante manifesta-se consciente relativamente à
abertura e exposição potenciadas pela rede –“(...) ultimamente também sinto que devo ter um pouco
mais de cuidado a publicar seja o que for nas redes, (...) sinto que o Facebook está a ser cada vez
mais invasivo”. Definindo a conta do LinkedIn como um espaço “um pouco mais formal”, diz
partilhar a mesma informação neste espaço e na rede social Facebook não revela preocupação
relativamente à consulta, por outros, da informação e conteúdos que disponibiliza nos diferentes
espaços: “as pessoas já sabem à partida que vai haver quem consulte os dados”, “cada um tem de
ter a consciência da informação que coloca”. No SAPO Campus, publicou conteúdo diretamente
relacionado com os seus trabalhos de investigação.
Ao nível da gestão da sua identidade, o participante afirma ter apenas duas contas de e-mail
que utiliza tanto para comunicar como para registo em aplicações ou espaços na rede. A
publicação sincronizada de conteúdos (i.e. publicação automática de conteúdos em plataformas
onde não foram inicialmente produzidos), está presente na publicação de informação relativa a
atividades desportivas, nomeadamente na publicação, na rede, de “resultados do desporto que
pratico ou do exercício que fiz, através de um sistema automático que defini; (...) eu faço desporto, e
meia volta gosto de publicar os resultados desse desporto, do exercício que eu fiz, ou através de um
sistema automático que publica diretamente(...) ou então sou eu manualmente que publico porque
gosto de ter o comentário dos amigos e a avaliação que eles fazem desse exercício”.
Relativamente à identidade que constrói no SAPO Campus, o participante afirma ter tido cuidado
relativamente aos conteúdos que publicada no SAPO Campus, uma vez que “no SAPO Campus
estou perante uma comunidade académica de alunos e professores, orientadores, as pessoas têm
de pensar um pouco naquilo que estão a pôr (...) tive esse cuidado, sim”. Referindo que a
identificação com a Universidade poderá incentivar “o próprio brio do trabalho dos alunos, se a
Universidade tiver prestígio os alunos sentem-se de alguma forma responsabilizados por estarem
associados a essa universidade, logo a ter um trabalho de prestígio”, afirma que esses mesmos
trabalhos poderão ter impacto na presença e identidade da própria instituição, defendendo por isso
a necessidade de um sistema ou modelo de moderação ao nível dos conteúdos publicados:
“apesar de eu ser a favor do sistema aberto e do sistema livre, tem de haver uma forma, um sistema
de moderação, nem que seja de consciência própria da pessoa ou de incentivo à consciência
própria de cada pessoa. Tem de se pensar um pouco naquilo que se vai colocar”.
"
Capítulo IV – Estudo de Caso
96
4.5.2.2 Participação: tipologia e formato das publicações
No que diz respeito às publicações efetuadas nos três espaços, entre setembro de 2009 e junho
de 2010 o participante efetuou um total de 656 publicações, distribuídas da seguinte forma: SAPO
Campus, 11 publicações; Facebook, 118 publicações; Twitter, 527 publicações."
Plataforma Conteúdo Formato Total Texto Ligação Áudio/vídeo Foto
SAPO Campus
Pessoal 0 0 0 0
11 Social 0 0 1 3 Académico 4 2 0 1 Profissional 0 0 0 0 Organizacional 0 0 0 0
Pessoal 2 0 0 4
118
Social 2 36 58 6 Académico 2 1 0 0 Profissional 0 0 0 0 Organizacional 0 6 0 1
Pessoal 5 3 0 5
527 Social 190 190 65 27 Académico 5 10 0 1 Profissional 0 0 0 0 Organizacional 3 22 1 0
Total 213 270 125 48 656
Quadro 12 – Participante P02: conteúdos publicados por plataforma
A partir da análise das publicações registadas é possível verificar que:
! durante o período em estudo, o Twitter foi a rede mais utilizada;
! no SAPO Campus, a presença é construída pela partilha de conteúdos de caráter
académico (64%) e social (36%);
! no Facebook e no Twitter, a presença é marcadamente social (89% das publicações
registadas nos dois espaços inserem-se nesta categoria);
! a partilha de conteúdos de caráter pessoal corresponde a 3,1% do total de publicações.
Ao nível do formato das publicações, verifica-se que:
! a dimensão pessoal é construída pela partilha de fotos (50%), mensagens de texto (35%)
e ligações (15%);
! a presença social é formada maioritariamente pela partilha de ligações (39%), mensagens
de texto (33%) e pela partilha de vídeos (22%);
! a dimensão académica compõe-se sobretudo pela publicação de ligações (50%) e
mensagens de texto (42%);
! as mensagens associadas à instituição (codificadas em organizacional) são compostas na
sua maioria pela partilha de ligações (85%).
A construção da identidade em ambientes digitais"
97
No que diz respeito às redes individualmente consideradas, no SAPO Campus (plataforma
suportada institucionalmente) 64% das publicações dizem respeito a conteúdos de teor académico
e estão diretamente relacionados com os trabalhos do participante. A presença construída neste
espaço assenta sobretudo na publicação de mensagens de texto e na partilha de fotos (80% dos
conteúdos publicados são compostos por texto e fotos). Todos os conteúdos publicados são da
autoria do participante. No Facebook, a presença do participante é marcadamente social e
composta, na sua maioria, pela publicação de ficheiros áudio/vídeo (49%) e pela partilha de
ligações (37%). A partilha de ficheiros de áudio/vídeo e de fotos é de apenas 14%. No Twitter, o
participante constrói uma identidade marcada pela presença de conteúdos casuais (90% das
publicações insere-se nesta categoria), na sua maioria mensagens de texto e ligações para outras
páginas ou utilizadores (40% em cada um dos formatos). A dimensão académica não ultrapassa os
3% e é composta sobretudo pela partilha de ligações. A dimensão pessoal é de 2,4%, incluindo
mensagens que traduzem opinião relativamente a assuntos de caráter político e/ou ideológico.
Ainda dentro da análise aos conteúdos publicados pela participante, e no que se refere à
presença de conteúdo de autor (i.e., publicações compostas exclusivamente por conteúdos da
autoria do participante, e não pela replicação de conteúdos produzidos por outros indivíduos),
verificou-se que no SAPO Campus todos os conteúdos publicados são da autoria do participante;
no Facebook 14% dos conteúdos publicados são da autoria do participante; no Twitter, 46% dos
conteúdos publicados são da autoria do participante. No que diz respeito às publicações replicadas
pelo participante no Facebook e no Twitter, 39% são acompanhadas de mensagem introdutória (de
contextualização e/ou enquadramento).""
"
Gráfico 10 - P02: conteúdos publicados pelo participante (tipologia e formato)
"
0 50 100 150 200 250
foto audio/video
ligação texto foto
audio/video ligação
texto foto
audio/video ligação
texto
Twitt
er
Face
book
S
AP
O
Cam
pus
Conteúdos publicados pelo participante
pessoal social académico profissional organizacional
Capítulo IV – Estudo de Caso
98
De acordo com o definindo em 3.5.1.1 – “Controle da subjetividade”, foi efetuada uma segunda
análise (cinco meses depois) aos conteúdos publicados pela participante nos três espaços
analisados32. Para o participante P02 foram analisadas 343 publicações, distribuídas da seguinte
forma: SAPO Campus, 7 publicações; Facebook, 62 publicações; Twitter, 274 publicações (amostra
estratificada). A a concordância entre as codificações foi a seguinte: SAPO Campus, 86% (formato)
e 100% (tipologia); Facebook, 94% (formato) e 100% (tipologia); Twitter, 96% (formato) e 99%
(tipologia)."
"
4.5.3 P03 – “Dress for the work you want to have”
Participante P03, 32 anos, sexo masculino, designer multimédia e aluno do Mestrado em
Comunicação Multimédia. De acordo com a informação recolhida do questionário aplicado em
novembro de 2009, o participante utiliza as ferramentas de edição colaborativa, os blogs e as
ferramentas de social bookmarking em contexto profissional e como suporte à aprendizagem. As
ferramentas de agregação são utilizadas apenas para fins de socialização e as ferramentas de
partilha de conteúdos, as redes sociais e o microblogging são utilizados nos três contextos: social,
profissional e de aprendizagem. No que diz respeito à participação na plataforma institucional SAPO
Campus, o participante afirma utilizar os blogs numa base mensal e publicar fotos e vídeos menos
de uma vez por mês. Na rede, o participante identifica-se com o nome próprio/real e foto própria no
SAPO Campus, Facebook e Twitter. Enquanto no SAPO Campus esta é a única informação
disponível no perfil, no Facebook verifica-se ainda a partilha de informação biográfica (data de
nascimento e localidade), de contacto (endereço de e-mail) e pessoal (partilha de interesses). A
relação com outros espaços é visível no Twitter, onde o participante disponibiliza a ligação para o
seu blog profissional.
"
4.5.3.1 Autoperceção/identidade autoinformativa
Questionado sobre a sua presença na rede, o participante afirma estar a tentar construir uma
identidade orientada para aqueles que são os seus interesses e para a atividade profissional que
pretende exercer no futuro. Não descurando ou ocultando informação sobre a sua realidade
académica e de trabalho, procura revelar e projetar, na rede, um perfil mais orientado para as suas
competências e ambições profissionais:
! “O que partilho está relacionado com o que quero fazer e não com o que faço agora, não
32 Quadro disponível no Anexo 7 – Análise do conteúdo, tipologia e forma – Participante 02 (disponível apenas em formato digital).
A construção da identidade em ambientes digitais"
99
é? Faz lembrar uma imagem que ainda há poucos dias um amigo meu partilhou no
Facebook, que era uma frase clássica mas está engraçada, que era sobre como nos
vestimos no trabalho, e ele tinha qualquer coisa como “dress not for the work you have,
dress for the work you want to have”, e estava um gajo vestido de Batman numa reunião
de engenheiros com gráficos, e ele estava vestido de Batman, porque o trabalho dele não
era aquilo que ele queria. E, se calhar acaba por acontecer um pouco isso, ou seja, tento
passar mais aquilo que – tento não, acabo por passar mais aquilo que quero ser e não
aquilo que sou, se calhar. Para projetar um pouco, sim.”.
Nesse sentido, procura construir uma presença que traduza os seus interesses em termos
profissionais, construindo um perfil “de alguém que tem formação sobre coisas atuais, mais de
tecnologia, um cruzamento entre a tecnologia e a música, ou seja, tanto a informação de música
tradicional como o cruzamento da parte tecnológica com a música”. Mais ainda, e de forma a gerir a
sua identidade, o participante afirma alterar o tipo de discurso de acordo com os espaços e os
públicos com os quais interage: “(...)tenho cuidado com o que partilho, faço uma separação do que
é profissional, o que é informação relacionada com o que investigo, com o que trabalho. O que é
trabalho partilho através do Twitter e em inglês, sempre, porque tenho outro tipo de contactos”. Para
o participante, é importante “a imagem que nós temos, que queremos passar enquanto profissionais
(...) não podemos correr o risco de ficarmos a ser mal vistos no trabalho só por uma opinião pessoal
que demos, ou por uma atitude ou fotografia ou um vídeo menos pensado”. Afirma, no entanto, não
ter problemas em partilhar dúvidas ou questões nos espaços “pessoais” onde interage,
considerando a eventualidade de receber feedback e opiniões dos amigos como uma vantagem da
partilha na rede.
A preocupação relativamente aos públicos está também presente na estão de contactos: “No
Facebook tenho um tipo mais pessoal, a maior parte são meus amigos, pessoas com quem tenho
conhecimento mesmo real, físico, mas também tenho cuidado porque muitas dessas pessoas
também são colegas de trabalho, ex-professores, professores. Tento por coisas que considero
interessantes mas tento (...) não criar nenhuma confusão.” Assim, e embora afirme não adotar
medidas específicas ao nível da gestão da sua identidade (“[uso diferentes contas de e-mail]
mesmo só para facilitar, uma questão de gestão e organização da informação.”), defende que o facto
de o seu percurso enquanto indivíduo, estudante e profissional ter proporcionado o contato com
diferentes públicos condiciona a forma como faz a sua gestão da rede:
! “Passei por várias fases na vida e trabalhei em vários sítios, e tenho grupos de amigos que
são completamente distintos. (...)há pessoal que tem imagens diferentes de mim, coisas
que se recordam do liceu, início da Universidade, etc. E então apercebi-me disso e procurei
separar as águas, ou seja, pessoal que me conhece pelo trabalho vai pelo Twitter...”
Capítulo IV – Estudo de Caso
100
No que diz respeito à identidade construída no SAPO Campus e a consequente associação à
Universidade, afirma ter partilhado na plataforma conteúdos relacionados com as disciplinas que
frequentou e ter tido o cuidado relativamente à forma de expressão e aos assuntos abordados: “se
já tenho algum cuidado, aí ainda mais. Porque também via aquilo... também imaginava do lado de
fora, como está associado à universidade, quem ver vem, quem vem à procura de informação, veja
ali como um exemplo do que se faz aqui, e eu não queria, e não quero, tenho o cuidado de não
estragar o bom nome da Universidade com alguma coisa.” Neste espaço, e tendo em consideração
a visibilidade e exposição dos conteúdos publicados, as mensagens foram publicadas em inglês
“para que fosse uma coisa mais universal”. Ainda no que diz respeito à exposição e visibilidade na
plataforma, considera como vantajoso “o feedback que posso ter do trabalho. Porque às vezes
nós... e nós estamos num curso que tem uma vertente mais de comunicação e de exteriorização do
que fazemos, mas mesmo assim sentia que às vezes havia coisas que podiam sair para fora e
ficavam aqui fechadas dentro disto. E isto é uma boa forma de conseguirmos lá fora.”
"
4.5.3.2 Participação: tipologia e formato das publicações
No que diz respeito às publicações efetuadas nos três espaços considerados neste estudo,
entre setembro de 2009 e junho de 2010 o participante efetuou um total de 787 publicações,
distribuídas da seguinte forma: SAPO Campus, 8 publicações; Facebook, 484 publicações; Twitter,
295 publicações.
Plataforma Conteúdo Formato
Total Texto Ligação Áudio/vídeo Foto
SAPO Campus
Pessoal 0 0 0 0
8 Social 0 0 0 0 Académico 5 2 0 1 Profissional 0 0 0 0 Organizacional 0 0 0 0
Pessoal 0 0 1 2
484
Social 8 45 383 15 Académico 1 0 0 0 Profissional 2 20 1 3 Organizacional 0 1 2 0
Pessoal 0 0 0 0
295
Social 37 97 96 11 Académico 7 17 1 2 Profissional 0 7 0 0 Organizacional 2 17 1 0
Total 61 207 485 34 787
Quadro 13 – Participante P03: conteúdos publicados por plataforma
A construção da identidade em ambientes digitais"
101
Da análise das publicações registadas é possível verificar que:
! durante o período em estudo, o Facebook foi a rede mais utilizada;
! no SAPO Campus, a presença é construída unicamente pela partilha de conteúdos de
caráter académico;
! no Facebook e no Twitter, a presença é sobretudo social (89% das publicações registadas
nos dois espaços inserem-se nesta categoria), registando-se ainda a presença de
conteúdos de caráter académico e profissional (6% no Facebook e 12% no Twitter);
! a partilha de conteúdos de caráter pessoal é residual (3 publicações, correspondentes a
0,4% do total).
Ao nível do formato das publicações, observa-se que:
! a dimensão pessoal, ainda que residual, é construída pela partilha de fotos (67%) e de
ficheiros de áudio/vídeo (33%);
! a presença social é formada na sua maioria pela partilha de conteúdos áudio/vídeo (69%)
e partilha de ligações (21%);
! a dimensão académica compõe-se pela partilha de mensagens de texto (74%) e ligações
e fotos (26%);
! as mensagens associadas à instituição (codificadas em organizacional) são compostas na
sua maioria pela partilha de ligações (78%).
Relativamente à presença nas redes individualmente consideradas, a presença construída pelo
participante no SAPO Campus é exclusivamente académica e está diretamente relacionada com a
temática do seu trabalho de investigação. Para além das mensagens de texto (que compõem 74%
das publicações registadas) o participante partilhou ainda uma foto e três ligações. Todo os
conteúdos publicados no SAPO Campus são da autoria do participante, e estão publicados em
inglês. Quanto à presença no Facebook, esta é marcadamente social (93% dos conteúdos
publicados foram codificados nesta categoria) e assente sobretudo na partilha de ficheiros de
áudio/vídeo (79%), na sua maioria vídeos de música. Não obstante, verifica-se nesta rede a
publicação de conteúdos relacionados com a atividade profissional, nomeadamente a partilha de
ligações para o espaço online da empresa gerida pelo participante.
A presença no Twitter, embora igualmente caraterizada pela publicação de conteúdos de caráter
casual (82% das publicações foram codificadas nesta categoria), é composta ainda pela partilha de
conteúdos associados à atividade académica do participante (9%) e à dimensão organizacional da
identidade (conteúdos associados à Universidade e replicados pelo participante nos seus espaços
da rede, 7%). Nesta rede, a partilha de ligações compõe 47% do total de conteúdos publicados,
seguida da partilha de ficheiros de áudio e vídeo (33%) e da publicação de mensagens de texto
(16%). Tal como mencionado pelo participante na entrevista, as mensagens relacionadas com a
Capítulo IV – Estudo de Caso
102
atividade académica são publicadas em inglês e remetem para os conteúdos publicados no
mesmo idioma no SAPO Campus. Foi possível observar, ainda, a partilha destes conteúdos e a
interação com especialistas e figuras de referência, bem como a publicação em plataformas da
especialidade. Não se verificou, nesta plataforma, a partilha de conteúdos de caráter pessoal.
Ainda dentro da análise aos conteúdos publicados pelo participante, e no que se refere à
presença de conteúdo de autor (i.e., publicações compostas exclusivamente por conteúdos da
autoria do participante, e não pela replicação de conteúdos produzidos por outros indivíduos),
verificou-se que no SAPO Campus todos os conteúdos publicados são da autoria do participante;
no Facebook 10% dos conteúdos publicados são da autoria do participante; no Twitter, 15% dos
conteúdos publicados são da autoria do participante. No que diz respeito às publicações replicadas
pelo participante no Facebook e no Twitter, 56% são acompanhadas de mensagem introdutória (de
contextualização e/ou enquadramento).
"
Gráfico 11 – P03: conteúdos publicados pelo participante (tipologia e formato)
De acordo com o definindo em 3.5.1.1 – “Controle da subjetividade”, foi efetuada uma segunda
análise (cinco meses depois) aos conteúdos publicados pela participante nos três espaços
analisados33. Para o participante P03 foram analisadas 258 publicações, distribuídas da seguinte
forma: SAPO Campus, 3 publicações; Facebook, 160 publicações; Twitter, 95 publicações (amostra
33 Quadro disponível no Anexo 7 – Análise do conteúdo, tipologia e forma – Participante 03 (disponível apenas em formato digital).
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450
foto audio/video
ligação texto foto
audio/video ligação
texto foto
audio/video ligação
texto
Twitt
er
Face
book
S
AP
O
Cam
pus
Conteúdos publicados pelo participante
pessoal social académico profissional organizacional
A construção da identidade em ambientes digitais"
103
estratificada). A concordância entre as codificações foi a seguinte: SAPO Campus, 100% (formato e
tipologia); Facebook, 99% (formato) e 98% (tipologia); Twitter, 93% (formato) e 99% (tipologia).
4.5.4 P04 – “Uma presença normal”
Participante P04, 22 anos, sexo masculino, aluno do Mestrado em Comunicação Multimédia. De
acordo com a informação recolhida no questionário, o participante utiliza as ferramentas de edição
colaborativa para fins profissionais; ferramentas de partilha de conteúdos para fins profissionais e
como suporte à aprendizagem; ferramentas de agregação para fins de socialização e em contexto
de aprendizagem, blogs em contextos sociais e profissionais, e ferramentas de social bookmarking
apenas em contexto educativo. O microblogging é utilizado nos três contextos apresentados, e as
redes sociais são utilizadas em contexto social e profissional. Os blogs do SAPO Campus são
utilizados semanalmente, e os serviços de fotos e vídeos uma vez por mês.""
No que diz respeito à informação que partilha na rede (ao nível do perfil de utilizador), o
participante identifica-se com o nome real e foto própria nos três espaços considerados no estudo.
No SAPO Campus e no Facebook partilha informação biográfica (preenchimento dos campos
referentes à data de nascimento e localização geográfica), e a informação de contacto (e-mail) é
disponibilizada apenas no Facebook. A relação com outros espaços é estabelecida no Twitter e no
Facebook, onde partilha a ligação para o site e blog pessoal.
4.5.4.1 Autoperceção/identidade autoinformativa
Referindo-se à identidade que está a construir nos diferentes espaços da rede, o participante diz
estar a construir “uma presença normal, mais ao nível social, para estar, para combinar, para falar
as coisas com os amigos”. Fazendo distinção entre ambientes profissionais e sociais, direciona
conteúdos relacionados com a atividade profissional para o Twitter e mantém, no Facebook, uma
presença mais social: “existem vários tipos de rede, há umas que uso mais para fins profissionais,
por exemplo o twitter é raro usar a nível pessoal, é mais profissional, de publicitação, o Facebook já
utilizo para as duas coisas, profissional e pessoal”. No que diz respeito à informação disponibilizada
nos diferentes perfis de utilizador, afirma disponibilizar gradualmente a informação, adicionando
conteúdos à medida que constrói a presença nos diferentes espaços. Consciente das
potencialidades da rede ao nível profissional, considera encontrar-se agora “num ponto de
viragem”, mantendo a dimensão social mas utilizando a rede para contactar com empresas e ficar a
par de oportunidades de emprego. Neste sentido, as suas preocupações ao nível da imagem
Capítulo IV – Estudo de Caso
104
construída centram-se sobretudo ao nível da persistência e replicabilidade dos conteúdos
publicados:
! “Tudo aquilo que uma pessoa faz associa-se à sua personalidade. (...)Uma pessoa não
pode ter vergonha daquilo que fez ou deixou de fazer, porque isso faz parte de nós, só que
ao mesmo tempo o problema disto tudo é o contexto, muitas vezes a Internet tira todo o
contexto da situação.”
Afirmando estar confortável na publicação online de questões, dúvidas, ou mesmo em pedir
opinião de colegas sobre trabalhos ou projetos, optou pela criação de uma página pessoal (site)
para a divulgação de trabalhos e para a apresentação e interação, na rede, com potenciais
empregadores. Nessa página (não considerada no presente estudo), apresenta uma seleção de
trabalhos desenvolvidos ao longo do curso e em atividades extracurriculares, do mais recente para
o mais antigo, uma organização que – de acordo com o participante – permitirá não apenas uma
consulta mais eficaz como ainda uma contextualização dos trabalhos produzidos (e.g. trabalhos do
1º ano de licenciatura, trabalhos finais). Neste espaço disponibiliza ainda o currículum vitae, links de
interesse, ligação para canais do Youtube, Vimeo, Facebook e LinkedIn.
Não adotando medidas específicas para gerir a sua presença na rede, utiliza uma mesma conta
de e-mail para se registar em diferentes espaços e, ao nível dos contactos, opta pela não
discriminação e inclui, em diferentes espaços, contactos pessoais e profissionais: “por exemplo,
mesmo no LinkedIn, há contactos que tenho e que não são estritamente profissionais, são pessoas
de quem sou amigo e que tenho no LinkedIn na mesma.”
Por fim, e no que se refere à presença construída no SAPO Campus, afirma que as publicações
nesse espaço se relacionam com a atividade académica, considerando a plataforma como “uma
ferramenta educacional, não tanto uma ferramenta pessoal”; “É um blog de trabalho, para publicar
coisas de trabalho”. Ao nível da exposição dos conteúdos da plataforma, considera a visibilidade
das publicações como uma vantagem, uma vez que “[o conteúdo] está disponível para toda a
gente, podem achar interessante e através disso podem vir a conhecer o que estamos a fazer”.
Tendo limitado a utilização do SAPO Campus à sua permanência na Universidade, mantém contudo
o vínculo à instituição através da utilização do e-mail institucional.
"
4.5.4.2 Participação: tipologia e formato das publicações
Entre Setembro de 2009 e Junho de 2010 o participante efetuou um total de 204 publicações,
distribuídas da seguinte forma: SAPO Campus, 35 publicações; Facebook, 41 publicações; Twitter,
A construção da identidade em ambientes digitais"
105
128 publicações. O conteúdo publicado foi analisado e codificado de acordo com os parâmetros
definidos em 3.5.1, encontrando-se o resultado registado no quadro 14.
Plataforma Conteúdo Formato
Total Texto Ligação Áudio/vídeo Foto
SAPO Campus
Pessoal 0 0 0 0
35 Social 0 0 0 5 Académico 10 7 1 12 Profissional 0 0 0 0 Organizacional 0 0 0 0
Pessoal 3 0 0 11
41
Social 14 1 6 4 Académico 0 1 1 0 Profissional 0 0 0 0 Organizacional 0 0 0 0
Pessoal 6 1 0 0
128
Social 56 18 30 1 Académico 1 7 2 0 Profissional 0 4 0 0 Organizacional 0 2 0 0
Total 90 41 40 33 204
Quadro 14 – Participante P04: conteúdos publicados por plataforma
A partir da análise das publicações registadas é possível verificar que:
! durante o período em estudo, o Twitter foi a rede mais utilizada;
! no SAPO Campus, a presença é construída pela partilha de conteúdos de caráter
académico (73%) e social (27%);
! no Facebook e no Twitter a presença é marcadamente social (77% das publicações
registadas nos dois espaços inserem-se nesta categoria); nestas redes, 7% dos
conteúdos são codificados como académicos;
! dos conteúdos partilhados, 10% são de caráter pessoal e registados apenas nas
plataformas informais.
Relativamente ao formato das publicações, observa-se que:
! a dimensão pessoal é construída pela partilha de fotos (52%) e de mensagens de texto
(43%);
! a presença social é formada na sua maioria pela partilha de mensagens de texto (52%),
ficheiros de áudio/vídeo (27%) e partilha de ligações (14%);
! na dimensão académica verifica-se um equilíbrio entre a partilha de ligações (36%), de
fotos (29%) e de mensagens de texto (26%); 9% dos conteúdos publicados consistem na
partilha de ficheiros de áudio e vídeo;
Capítulo IV – Estudo de Caso
106
! as publicações codificadas como profissional e organizacional compõem-se unicamente
pela partilha de ligações.
!
No que diz respeito às redes individualmente consideradas, verifica-se que no SAPO Campus, o
participante constrói uma presença composta por conteúdos de teor académico (86% das
participações foram registadas nesta categoria), diretamente ligados aos seus trabalhos de
investigação, e social (14%). Os conteúdos partilhados são, na sua maioria, da autoria do
participante (89%). No Facebook a presença é maioritariamente social (61% dos conteúdos
publicados foram codificados nesta categoria) e assente sobretudo na partilha de mensagens de
texto (56%). É visível, ainda, a presença de conteúdos pessoais (34%), compostos sobretudo pela
partilha de fotos com amigos. A presença social é ainda mais marcante no Twitter, onde 84% dos
conteúdos foram codificados na categoria social. Neste espaço, o participante expressa-se
sobretudo através de mensagens de texto (53%) e pela partilha de ficheiros de áudio/vídeo (29%).
Das publicações registadas, 7% dizem respeito à partilha de conteúdos de caráter académico,
nomeadamente na replicação de publicações originalmente emitidas na plataforma institucional
(SAPO Campus).
Das 169 publicações registadas no Facebook e no Twitter, 66% são da autoria do participante,
associadas à dimensão social (75 publicações) e pessoal da identidade (21 publicações)
Relativamente às publicações replicadas pelo participante nos seus espaços, 31% são
acompanhadas de mensagem introdutória (de contextualização e/ou enquadramento).
"
Gráfico 12 - P04: conteúdos publicados pelo participante (tipologia e formato)
0 10 20 30 40 50 60 70
foto
audio/video
ligação
texto
foto
audio/video
ligação
texto
foto
audio/video
ligação
texto
Twitt
er
Face
book
S
AP
O C
ampu
s
Conteúdos pubicados pelo participante
pessoal social académico profissional organizacional
A construção da identidade em ambientes digitais"
107
De acordo com o definindo em 3.5.1.1 – “Controle da subjetividade”, foi efetuada uma segunda
análise (cinco meses depois) aos conteúdos publicados pela participante nos três espaços
analisados34. Para o participante P04 foram analisadas 134 publicações, distribuídas da seguinte
forma: SAPO Campus, 23 publicações; Facebook, 27 publicações; Twitter, 84 publicações (amostra
estratificada). A concordância entre as codificações foi a seguinte: SAPO Campus, 91% (formato) e
100% (tipologia); Facebook, 100% (formato e tipologia); Twitter, 94% (formato) e 100% (tipologia).
"
"
4.5.5 P05 – “Não é só uma identidade”
Participante P05, 23 anos, sexo feminino, aluna do Mestrado em Comunicação Multimédia. Ao
nível da utilização do software social, a participante utiliza as ferramentas de partilha de conteúdos e
o microblogging quer para socialização quer em contexto profissional e de aprendizagem. As
ferramentas de edição colaborativa e os blogs são adotados em contexto de aprendizagem,
enquanto as redes sociais são utilizadas para fins de socialização e em contexto profissional. No
que diz respeito à presença no SAPO Campus, publica no blog uma vez por semana, e utiliza as
ferramentas de partilha de fotos e vídeos menos de uma vez por mês.
Ao nível da representação na rede, a participante identifica-se com o nome próprio/nome real
nos três espaços em estudo (i.e. SAPO Campus, Facebook e Twitter). No SAPO Campus a única
informação disponível é o nome, não tendo adicionado qualquer imagem de identificação ao seu
perfil. Em nenhum dos espaços apresenta informação de contacto ou endereços de ligação para
outros espaços.
"
4.5.5.1 Autoperceção/identidade autoinformativa
Questionada quando ao tipo de identidade que constrói na rede, a participante assume que:
! “Não posso dizer que é uma identidade, não é só uma, porque dependendo da
plataforma e do âmbito para que criei aquela conta tenho várias identidades, tenho perfis
mais profissionais e perfis mais friendly”.
Afirmando partilhar informação relacionada com a sua área de investigação (trabalhos
desenvolvidos e participação em eventos), refere que “dependendo da plataforma e do âmbito para
34 Quadro disponível no Anexo 7 – Análise do conteúdo, tipologia e forma – Participante 04 (disponível apenas em formato digital).
Capítulo IV – Estudo de Caso
108
que criei aquela conta (...) publico informações dos meus interesses pessoais e depois outras em
que publico só interesses profissionais e coisas relacionadas com a minha área”, e diz ter o cuidado
de editar a informação que pretende publicar, revendo as fontes e partilhando apenas o que – do
seu ponto de vista – seja credível e com interesse. Apresentando como justificação o facto de ter
uma rede onde os contactos profissionais e os pessoais se cruzam, evita “tecer comentários a nível
político, mesmo no Facebook sigo todos os partidos políticos mas, depois, nunca partilho nada de
partidos ou faço comentários partidários. Não faço, nunca se sabe o dia de amanhã”.
No entender da participante, a melhor abordagem no que diz respeito à publicação de
conteúdos na rede e consequente construção de uma identidade é “primeiro rever sempre o
conteúdo antes de partilhar.” Não pretendendo criar uma identidade que não corresponda à
realidade (“Não é com o objetivo de distorcer a minha imagem”), a consciência relativamente às
repercussões da sua presença e dos conteúdos que publica (“se calhar tenho pessoas que têm
mais impacto na minha vida profissional a seguir aquilo que eu ponho”) leva-a a publicar conteúdos
relacionados com a sua área de investigação e a destacar as atividades em que se vai envolvendo:
“Obviamente que eu destaco as coisas em que vou estando envolvida, daí que quem for um possível
empregador e esteja a pesquisar "Ah, deixa-me cá ver o que é que ela publica", vou partilhando
conteúdos que são relativamente de interesse para a minha área.”
No que diz respeito à gestão da identidade, a gestão da privacidade é, para a participante, um
ponto sensível na construção da sua própria presença na rede. Nesse sentido, recorre à utilização
de várias contas de e-mail enquanto estratégia para contornar a agregação automática de
informação:
! “Tenho e-mails diferentes para tipos de contas diferentes. A minha conta do LinkedIn não
tem nada a ver com a minha conta do Facebook, pronto, isso separa logo. (...). E depois
também tem a ver com o nickname. Por exemplo, eu tenho manter o mesmo para coisas
profissionais, depois (...) na conta do Last FM tenho um nick completamente diferente dos
outros, pronto, também para não haver aquele tracking total de todas as coisas, para não
haver essa mistura. (...) para evitar que as pessoas vão ver, vão ao Google, e depois
aparecem todas as coisas, e não me interessa coisa que eu acho que são mais do âmbito
pessoal como gostos e coisas assim não me interessa juntar.”
Não obstante procurar manter as dimensões social e profissional separadas, afirma tirar proveito
do potencial da rede (ao nível da visibilidade e exposição de conteúdos) para divulgar o seu
trabalho de investigação e os seus objetivos em termos profissionais:
! “(...) Fiz muita partilha das coisas, dos posts do blog [do SAPO Campus] no Twitter. Tinha
noção que aquilo atraía comunidade académica e de investigação que estavam ali a fazer
A construção da identidade em ambientes digitais"
109
investigação na mesma área do que eu, (...) eu precisava de muitas fontes, para saber o
que é que se andava a fazer, porque o que eu estava a investigar era relativamente recente,
e eu tenho noção que tudo o que eu publiquei a nível académico e de investigação foi
partilhado.”
Tendo optado por replicar os conteúdos “essencialmente académicos” publicados no SAPO
Campus no Twitter, a participante afirma ter beneficiado da abertura e da visibilidade intrínsecas da
rede para obter feedback e interagir com outros públicos e para discutir resultados com os seus
pares: “(...) fiz a partilha no twitter, basicamente, foi aí muito partilhado e muito discutido, e depois
deu azo aí a conversas paralelas no twitter de investigadores, e tirei daí muitos dados para a minha
tese, sim. ”
Por fim, e no que diz respeito à identidade construída no SAPO Campus e consequente ligação
à instituição, a participante considera importante a associação da sua identidade à identidade da
própria Universidade:
! “Estamos a falar da Universidade de Aveiro, é uma Universidade que a nível tecnológico
está bem cotada mundialmente. E isso é sempre bom estar associada a coisa que estão
bem cotadas a nível mundial, e sem dúvida ter lá uma presença faz com que, primeiro:
pareça que a Universidade está tecnologicamente muito avançada porque os alunos têm
uma rede de partilha entre eles e os professores, isto só dá um aspeto fenomenal, e
segundo, para possíveis empregadores saberem que eu vim da UA do ponto de vista
tecnológico na área, influencia muito, sem dúvida.”
Quanto ao impacto da reputação dos alunos na reputação da Universidade, afirma que
“teoricamente seria bom, mas na prática é perigoso. Aquilo é um bocado uma balança, pode tanto
pesar para um lado como para o outro. Não vou ser ingénua e dizer que é fantástico. Pode ser,
pode não ser.” Segundo a participante, a ausência de filtragem ou moderação de conteúdos
poderá ser um dos principais “perigos” desta associação.
4.5.5.2 Participação: tipologia e formato das publicações
No que diz respeito às publicações efetuadas nos três espaços considerados neste estudo,
entre Setembro de 2009 e Junho de 2010 a participante efetuou um total de 157 publicações,
distribuídas da seguinte forma: SAPO Campus, 33 publicações; Twitter, 124 publicações. Ainda que
esteja registada no Facebook, no período considerado para o estudo não foram publicados
conteúdos neste espaço.
Capítulo IV – Estudo de Caso
110
Plataforma Conteúdo Formato Total Texto Ligação Áudio/vídeo Foto
SAPO Campus
Pessoal 0 0 0 0
33 Social 5 0 0 0 Académico 17 9 1 1 Profissional 0 0 0 0 Organizacional 0 0 0 0
Pessoal 1 0 0 1
124
Social 37 44 2 8 Académico 5 21 0 0 Profissional 0 0 0 0 Organizacional 0 4 1 0
Total 65 78 4 10 157
Quadro 15 – Participante P05: conteúdos publicados por plataforma
"
Da análise das publicações registadas é possível verificar que:
! no SAPO Campus, a presença é construída pela partilha de conteúdos de caráter
académico (85%) e social (15%);
! embora no Twitter a presença seja maioritariamente social (73% das publicações
registadas neste espaço inserem-se nesta categoria), 21% das publicações dizem respeito
à partilha de conteúdos de caráter académico;
! a partilha de conteúdos de caráter pessoal é residual (1,3% do total de publicações).
Ao nível do formato das publicações, observa-se que:
! a presença social é formada maioritariamente pela partilha de ligações (46%) e de
mensagens de texto (44%);
! a nível académico, 55% dos conteúdos partilhados assentam na partilha de ligações,
seguido das mensagens de texto (42%);
! as mensagens associadas à instituição (codificadas em organizacional) são compostas na
sua maioria pela partilha de ligações (80%).
No SAPO Campus, a presença construída é maioritariamente académica e está diretamente
relacionada com os seus trabalhos de investigação. Neste espaço, 67% das publicações são
compostas por mensagens de texto, seguidas da publicação de ligações (27%). 73% dos
conteúdos publicados são da autoria da participante, sendo os conteúdos de teor académico
publicados exclusivamente em inglês. No que diz respeito ao Twitter, a presença construída pela
participante é marcadamente casual e assente sobretudo na partilha de ligações (48%) e
mensagens de texto (41%).Nesta rede, é possível ainda verificar a existência de uma percentagem
significativa de conteúdos relacionados com a atividade académica da participante (21%),
A construção da identidade em ambientes digitais"
111
nomeadamente a partilha de ligações para posts publicados na plataforma institucional (81%) e a
publicação de mensagens de texto (19%). As mensagens relacionadas com a atividade académica
da participante são publicadas em inglês. Das 124 publicações registadas neste espaço, 49% são
da autoria da participante e associadas sobretudo às dimensões social e académica da identidade
(35 e 24 mensagens, respectivamente). No que diz respeito às publicações replicadas pela
participante (i.e. publicações efetuadas por outros e republicadas pela participante), 19% são
acompanhadas de mensagem introdutória (de contextualização e/ou enquadramento).
"
"
Gráfico 13 - P05: conteúdos publicados pela participante (tipologia e formato)
"
De acordo com o definindo em 3.5.1.1 – “Controle da subjetividade”, foi efetuada uma segunda
análise (cinco meses depois) aos conteúdos publicados pela participante nos três espaços
analisados35. Para a participante P05 foram analisadas 95 publicações, distribuídas da seguinte
forma: SAPO Campus, 24 publicações; Twitter, 88 publicações (amostra estratificada). A
concordância entre as codificações foi a seguinte: SAPO Campus, 92% (formato) e 100%
(tipologia); Twitter, 95% (formato) e 100% (tipologia).
35 Quadro disponível no Anexo 7 – Análise do conteúdo, tipologia e forma – Participante 05 (disponível apenas em formato digital).
0 10 20 30 40 50 60 70 80
foto
audio/video
ligação
texto
foto
audio/video
ligação
texto
Twitt
er
SA
PO
Cam
pus
Conteúdos publicados pela participante
pessoal social académico profissional organizacional
Capítulo IV – Estudo de Caso
112
4.5.6 P06 – “Não publ ico nada da minha esfera pr ivada”
Participante P06, 24 anos, sexo feminino, aluna do Mestrado em Comunicação Multimédia. De
acordo com a informação recolhida pelo questionário aplicado em novembro de 2009, a
participante utiliza a maioria das ferramentas em contexto de aprendizagem (exceção: redes
sociais, utilizadas para fins de socialização). Os blogs são utilizados quer para socialização quer em
contexto de aprendizagem. No SAPO Campus, publica no blog uma vez por semana, utilizando as
ferramentas de partilha de fotos e vídeos uma vez por mês. Online, a participante identifica-se com
o nome próprio/nome real no SAPO Campus e no Facebook (não possui conta no Twitter),
partilhando ainda no Facebook informação relativa à data de nascimento, interesses e frase de
descrição/mote. No SAPO Campus disponibiliza apenas o nome, não tendo adicionado qualquer
imagem de identificação ao seu perfil. Em nenhum dos espaços apresenta informação de contacto
ou endereços de ligação para outros espaços.
4.5.6.1 Autoperceção/identidade autoinformativa
Questionada quanto à sua presença na rede, a participante define-se como tendo uma postura
passiva, utilizando a rede sobretudo para o relacionamento com amigos (e.g. troca de mensagens,
esclarecimento de dúvidas). Não partilhando conteúdos de caráter mais pessoal ou privado
(“partilham mais amigos meus fotos comigo, e adicionam ao meu mural, do que eu as minhas
próprias fotos”), opta por enviar mensagens privadas quer para a colocação de questões quer para
o envio de mensagens mais pessoais. Construindo a sua presença através da publicação de
conteúdos de caráter mais geral (e.g. informação relacionada com ofertas de emprego ou vídeos de
música), afirma construir uma identidade online que não colide nem reflete a sua identidade
enquanto indivíduo e/ou profissional: “se fosse uma entidade empregadora a ver o meu perfil, não
saberia nada sobre mim”, “Eu acho que não colidem. Acho que não tem nada a ver, a minha
presença online com a parte profissional, acho que não tem nada a ver.”. Neste sentido, as medidas
de gestão da privacidade da participante centram-se sobretudo na não divulgação de qualquer
informação que diga respeito à esfera privada ou pessoal:
! “Não publico nada da minha esfera privada, mesmo”; “As poucas coisas que partilho são
mais relacionadas com sítios onde estive, mas (...) não aparece ninguém, nem eu própria
no local.”, “O que é publicado é ou contexto académico ou contexto formal.”
Por fim, e no que diz respeito à associação da sua presença à instituição de ensino que
frequenta, defende que “acaba por não ser tão evidente”, podendo “ser vantajoso ou desvantajoso,
pode acontecer os dois”. Questionada quanto às publicações efectuadas no SAPO Campus, a
participante afirma ter partilhado apenas conteúdos académicos, relacionados com a unidade
A construção da identidade em ambientes digitais"
113
curricular que estava a frequentar. Realçando a importância da utilização da plataforma (“Utilizando
o blog conseguíamos ter acesso e ver quem tinha pontos de interesse comuns com os nossos, e a
partir daí é que nós conseguíamos, por exemplo, discutir ideias sobre determinados assuntos e até
partilhar ideias sobre bibliografias”), afirma que os conteúdos publicados se resumiam à “esfera
académica” e, por isso mesmo, editados e trabalhados no sentido de refletir uma presença mais
formal:
! “havia uma preocupação coma escrita, até porque era de âmbito académico, temos de ter
cuidado com aquilo que escrevemos. Os cuidados que tinha, mesmo quando estava a
escrever, era que fosse uma escrita devidamente formal (...)”.
Não sendo mais utilizadora da plataforma SAPO Campus, utilizada só em contexto académico,
defende ser preferível construir uma presença profissional dissociada (em termos de espaço online)
da instituição de ensino, afirmando que o currículo não é apenas construído na academia mas
também nos espaços fora da Universidade:
! “preferia mantê-lo separado, até porque o nosso portfólio não é construído só em contexto
académico, e o facto de estar associado a contexto académico poderia – ou não, não sei –
mas logo por estar ali no SAPO poderíamos estar a associar todo o meu currículo ao SAPO,
quando o meu currículo é também construído fora do contexto da universidade.”
"
4.5.6.2 Participação: tipologia e formato das publicações
Entre setembro de 2009 e junho de 2010 a participante efetuou um total de 26 publicações,
distribuídas da seguinte forma: SAPO Campus, 25 publicações; Facebook, 1 publicação.
O conteúdo publicado foi analisado e codificado de acordo com os parâmetros definidos em
3.5.1, encontrando-se o resultado registado no quadro 16.
Plataforma Conteúdo Formato
Total Texto Ligação Áudio/vídeo Foto
SAPO Campus
Pessoal 0 0 0 0
24 Social 0 0 0 0 Académico 15 2 3 4 Profissional 0 0 0 0 Organizacional 0 0 0 0
Pessoal 0 0 0 0
1 Social 0 0 0 1 Académico 0 0 0 0 Profissional 0 0 0 0 Organizacional 0 0 0 0
Total 15 2 3 5 25
Quadro 16 – Participante P06: conteúdos publicados por plataforma
Capítulo IV – Estudo de Caso
114
Da análise das publicações registadas é possível verificar que:
! no SAPO Campus, a presença é construída exclusivamente pela partilha de conteúdos de
caráter académico; no período considerado no estudo a participação no Facebook
resume-se à publicação de uma fotografia de caráter social.
Ao nível do formato das publicações, observa-se que, dos conteúdos codificados como sendo
de caráter académico e publicados no SAPO Campus, 62% são compostos por mensagem de
texto, 17% pela partilha de fotos e os restantes 21% assentam na partilha de ficheiros de
áudio/vídeo e na partilha de ligações. Dos conteúdos publicados, 83% são da autoria da
participante.
"
Gráfico 14 - P06: conteúdos publicados pela participante (tipologia e formato)
De acordo com o definindo em 3.5.1.1 – “Controle da subjetividade”, foi efetuada uma segunda
análise (cinco meses depois) aos conteúdos publicados pela participante nos três espaços
analisados36. Para a participante P06 foram analisadas 24 publicações, distribuídas da seguinte
forma: SAPO Campus, 23 publicações; Facebook, 1 publicações (amostra estratificada). A
concordância entre as codificações foi a seguinte: SAPO Campus, 100% (formato e tipologia);
Facebook, 100% (formato e tipologia).
36 Quadro disponível no Anexo 7 – Análise do conteúdo, tipologia e forma – Participante 06 (disponível apenas em formato digital).
0 1 2 3 4 5
foto
audio/video
ligação
texto
foto
audio/video
ligação
texto
face
book
S
AP
O C
ampu
s
Conteúdos publicados pela participante
pessoal social académico profissional organizacional
A construção da identidade em ambientes digitais"
115
4.5.7 P07 – “Sou aqui lo que sou”
Participante P07, 39 anos, sexo masculino, trabalhador-estudante e aluno do Mestrado em
Comunicação Multimédia. De acordo com a informação recolhida pelo questionário aplicado em
novembro de 2010, o participante utiliza as ferramentas de edição colaborativa, as redes sociais e
os blogs nos três contextos apresentados: social, profissional e de aprendizagem. As ferramentas
de social bookmarking são utilizadas em contexto social e profissional, e as de partilha de conteúdo
são aplicadas em contexto profissional e de aprendizagem. As ferramentas de agregação são
utilizadas apenas em contexto de aprendizagem. Relativamente à presença no SAPO Campus, o
participante afirma utilizar o blog uma vez por semana e as ferramentas de partilha de fotos e vídeo
uma vez por mês. Na rede, o participante identifica-se com nome e foto própria no SAPO Campus e
no Facebook (não possui conta no Twitter). Enquanto no SAPO Campus esta é a única informação
associada ao perfil, no Facebook disponibiliza ainda informação relativa à data de nascimento e
localização geográfica, partilha de interesses, frase de descrição e informação de contacto
(endereço de e-mail).
4.5.7.1 Autoperceção/identidade autoinformativa
Questionado quanto à sua presença na rede, o participante define-se como tendo uma presença
“discreta”. Tendo colocado, o perfil, apenas as indicações básicas, iniciou a construção da sua
presença no Facebook por motivos relacionados com os trabalhos académicos: “Tenho a minha
presença online no Facebook mais porque quando comecei a fazer o mestrado os meus amigos
também tinham e era importante para alguns trabalhos que estávamos a realizar na altura”.
Considerando a dimensão social da plataforma como um dos pontos positivos de ter uma presença
online, aponta a falta de tempo como um dos motivos para a sua reduzida participação na rede.
Enquanto utilizador do SAPO Campus, afirma ter partilhado conteúdos relacionados com a
dimensão académica, nomeadamente sobre os trabalhos de dissertação, referindo a interação e
discussão com os colegas como um ponto positivo da utilização desse espaço: “surgia-nos uma
questão, e tínhamos uma ideia, ou colocávamos lá numa linha de interajuda connosco e com os
colegas. (...) pronto, e íamos trocando assim um bocado esse tipo de mensagens”. No que diz
respeito ao discurso, refere não ter tido receio em partilhar, com a comunidade, questões ou
dúvidas que surgissem, salientando a importância da interação e do discurso adoptado na rede
como indicador das competências pessoais e interpessoais do indivíduo: “era capaz de ter em
atenção algumas coisas importantes, como a maneira como as pessoas se expressam em público, a
maneira como refere certos problemas da vida pessoal em público, a maneira como escreve, acho
que diz muito do que a pessoa é”.
Capítulo IV – Estudo de Caso
116
Ao nível da gestão da sua presença na rede, o participante refere que “na rede não tenho nada a
esconder, sou aquilo que sou”, centrando-se essa gestão na não divulgação de informação que
considera privada ou pessoal. Numa reflexão sobre a reputação que se constrói no SAPO Campus,
realça a importância de se ter uma presença associada à instituição de ensino afirmando que os
benefícios, a existirem, seriam tanto da instituição quanto do indivíduo que a ela associasse a sua
identidade:
! “Eu acho que é ótimo. Se o aluno tiver um bom desempenho, se a instituição der boas
ferramentas ao aluno para ter um bom desempenho, ambos ganham. A instituição em si
fica mais privilegiada, assim como o aluno (...). É assim: se tu fazes o doutoramento na
Universidade de Aveiro, se fores uma boa profissional, é lógico que o teu nome fica
associado sempre à entidade, não é? Expunhas-te mais, e automaticamente expunhas mais
a instituição. Acho que ganhariam mais dividendos.”!
4.5.7.2 Participação: tipologia e formato das publicações
Entre Setembro de 2010 e Junho de 2011 o participante efetuou um total de 122 publicações, 5
registadas no SAPO Campus e 117 no Facebook. O participante não se encontra registado no
Twitter. O conteúdo publicado foi analisado e codificado de acordo com os parâmetros definidos
em 3.5.1, encontrando-se o resultado registado no quadro 17.
Plataforma Conteúdo Formato
Total Texto Ligação Áudio/vídeo Foto
SAPO Campus
Pessoal 0 0 0 0
5 Social 0 0 0 0 Académico 2 0 1 2 Profissional 0 0 0 0 Organizacional 0 0 0 0
Pessoal 37 1 0 3
117 Social 4 22 24 20 Académico 0 6 0 0 Profissional 0 0 0 0 Organizacional 0 0 0 0
Total 43 29 25 25 122
Quadro 17 – Participante P07: conteúdos publicados por plataforma
Da análise das publicações registadas é possível verificar que:
! no SAPO Campus, a presença é construída exclusivamente pela partilha de conteúdos de
caráter académico;
! a presença no Facebook é composta por publicações de caráter pessoal e social;
! a presença pessoal é construída maioritariamente pela partilha de mensagens de texto;
A construção da identidade em ambientes digitais"
117
! do total de participações registadas, 35% compõem-se por mensagens de texto, 24% pela
partilha de ligações (para outros espaços ou para conteúdos publicados por outro
utilizador), 21% pela partilha de ficheiros de áudio/vídeo e 20% pela partilha de fotos.
No SAPO Campus, o participante constrói uma presença composta exclusivamente por
conteúdos relacionados com o seu trabalho de investigação. Das mensagens publicadas, 40%
consistem em mensagens de texto (posts) e 40% pela partilha de imagens, assinalando-se ainda, a
partilha de um ficheiro de vídeo.
No Facebook, o participante constrói uma presença articulada entre a partilha de conteúdos de
caráter pessoal e social. Das 117 mensagens registadas e analisadas, 60% foram codificadas como
sendo de cariz social e 35% de cariz pessoal e dizem respeito à partilha de informação sobre
atividades extraprofissionais e académicas. Enquanto a presença social é composta pela partilha de
ficheiros áudio/vídeo, de ligações e de fotos (34%, 31% e 29%, respectivamente), na presença
pessoal verifica-se a existência de 37 mensagens de texto, correspondentes a 90% do total de
mensagens publicadas neste espaço.
Gráfico 15 – P07: conteúdos publicados pelo participante (tipologia e formato)
De acordo com o definindo em 3.5.1.1 – “Controle da subjetividade”, foi efetuada uma segunda
análise (cinco meses depois) aos conteúdos publicados pela participante nos três espaços
analisados37. Para a participante P07 foram analisadas 93 publicações, distribuídas da seguinte
37 Quadro disponível no Anexo 7 – Análise do conteúdo, tipologia e forma – Participante 07 (disponível apenas em formato digital).
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
foto
audio/video
ligação
texto
foto
audio/video
ligação
texto
Face
book
S
AP
O C
ampu
s
Conteúdos publicados pelo participante
pessoal social académico profissional organizacional
Capítulo IV – Estudo de Caso
118
forma: SAPO Campus, 4 publicações; Facebook, 89 publicações (amostra estratificada). A
concordância entre as codificações foi a seguinte: SAPO Campus, 100% (formato e tipologia);
Facebook, 100% (formato) e 99% (tipologia).
4.5.8 P08 – “uma pessoa bastante simples”
Participante P08, 25 anos, sexo masculino, aluno do Mestrado em Comunicação Multimédia. De
acordo com a informação recolhida, e excetuando as ferramentas de social bookmarking (utilizadas
em contexto social e profissional), o participante utiliza as ferramentas nos três contextos
considerados (i.e. social, profissional e de aprendizagem). Relativamente à participação na
plataforma institucional SAPO Campus, o participante utiliza os blogs e o serviço de alojamento e
partilha de fotos duas a três vezes por semana, e a plataforma de vídeos uma vez por semana.
Online, o participante identifica-se com o nome próprio/nome real nos três espaços em estudo
(i.e. SAPO Campus, Facebook e Twitter); nos espaços informais utiliza uma foto própria como
imagem de representação, não tendo associada qualquer imagem ao perfil do SAPO Campus. O
perfil do SAPO Campus, para além do nome, contém apenas uma frase de identificação/mote. No
Facebook, partilha informação referente à data de nascimento, localização geográfica, interesses e
contacto de e-mail, e no Twitter, disponibiliza informação relativamente à localização gráfica e
adiciona, ainda, uma frase de descrição/mote. A ligação para outros espaços é partilhada nas redes
informais, onde o participante disponibiliza o URL da sua página/site pessoal.
"
4.5.8.1 Autoperceção/identidade autoinformativa
Questionado quanto ao conteúdo que publica e à forma como se representa na rede, o
participante define-se como “uma pessoa bastante simples, e comum, não tão participativo
quanto isso”. Assumindo ter cuidado com os conteúdos que publica, prefere não publicar
conteúdos pessoais e opta por uma participação assente na partilha de informação de caráter
geral, de informação relacionada com atividades (hobbies) que pratica e de ligações para páginas
que considera interessantes. Admitindo não utilizar os espaços informais (Facebook e Twitter) para
a divulgação de “coisas relacionadas com o trabalho”, refere que no SAPO Campus a sua
participação se resumiu a conteúdos relacionados com os trabalhos de investigação tentando,
nesse espaço, “mostrar o desenvolvimento do trabalho e os meus pensamentos, e tentar também
obter algumas opiniões”.
A construção da identidade em ambientes digitais"
119
Afirmando que o facto de ter optado pela criação de uma identidade real, não anónima (“é algo
que não faço [utilizar diferentes e-mails ou nomes de utilizador], sei de casos de pessoas que usam,
que fazem essa divisão, mas eu não costumo fazer”), influenciou a forma como se manifesta nos
diferentes espaços online, admite não partilhar muita informação sobre os seus interesses
profissionais, definindo-se como “uma pessoa que tem cuidado, tanto a nível de media, fotografias,
tenho algum cuidado”. No que se refere à visibilidade e exposição dos conteúdos publicados online,
considera a visibilidade da presença construída na rede (nomeadamente no SAPO Campus) como
“muito importante”: “(...) a mais-valia das redes sociais no fundo é a divulgação do conteúdo, seja
ele pessoal ou não”, apontando a seleção e edição dos conteúdos como um dos cuidados
associados à construção da sua identidade: “Sim, no fundo sim. Foi um pouco como eu disse na
primeira pergunta, eu tenho sempre algum cuidado com... ou gosto de ter cuidado com aquilo que
ponho, (...) se calhar, mesmo sem querer, acabo por colocar só coisas que acabem por me
favorecer.” Relativamente à forma como utilizou a plataforma, refere que “éramos incentivados a
participar, a divulgar o desenvolvimento do nosso projeto, a participar no que as outras pessoas
tinham divulgado, portanto, comentar, dar opinião, pronto, essas coisas todas, nós éramos mesmo
incentivados a isso”. Ao nível da gestão da privacidade, o participante relembra o facto de não
publicar conteúdos pessoais para justificar a sua não preocupação relativamente aos conteúdos ou
pessoas que mantém associados aos seus espaços na rede. Consciente da permanência dos
conteúdos, refere ter cuidado relativamente aos espaços que tem na rede, procurando eliminar
espaços ou contas onde já não tenha atividade e manter apenas aqueles onde ainda participe:
! “Eu sou daquele tipo de pessoas que quando deixa de utilizar uma conta gosta de poder ir
lá apaga-la, ou desativar a conta. Se estiver numa plataforma em que não participo muito,
em que participo de ano a ano, por exemplo, deixa de ter interesse e também gosto de ir lá
e apagar”.
No que diz respeito à sua identidade no SAPO Campus e à consequente associação à
identidade da Universidade, afirma que ter uma presença associada à instituição de ensino pode
ser “uma boa maneira de ligar as pessoas, as pessoas acabam por estar ligadas, e como podem
comunicar, podem-se ligar diferentes departamentos, diferentes qualidades das pessoas”.
4.5.8.2 Participação: tipologia e formato das publicações
Entre setembro de 2010 e junho de 2011 o participante efetuou um total de 291 publicações,
distribuídas da seguinte forma: SAPO Campus, 99 publicações; Facebook, 28 publicações; Twitter,
164 publicações.
"
Capítulo IV – Estudo de Caso
120
Plataforma Conteúdo Formato Total Texto Ligação Áudio/vídeo Foto
SAPO Campus
Pessoal 0 0 0 0
99 Social 1 0 1 97 Académico 0 0 0 0 Profissional 0 0 0 0 Organizacional 0 0 0 0
Pessoal 0 0 0 1
28
Social 1 5 18 1 Académico 0 1 0 0 Profissional 0 0 0 0 Organizacional 0 0 1 0
Pessoal 0 1 0 0
164 Social 39 67 39 5 Académico 0 5 1 0 Profissional 0 0 0 0 Organizacional 1 6 0 0
Total 42 85 60 104 291
Quadro 18 – Participante P08: conteúdos publicados por plataforma
"
A partir da análise das publicações registadas, verifica-se que:
! durante o período em estudo, o Twitter foi a rede mais utilizada;
! a presença do participante, nos três ambientes em estudo (i.e. SAPO Campus, Facebook,
Twitter e SAPO Campus) é marcadamente social (94% das publicações inserem-se nesta
categoria);
! a partilha de conteúdos de caráter pessoal é residual (0,3%, registados apenas no Twitter).
Ao nível do formato das publicações, verifica-se que:
! a presença social (274 mensagens) é construída sobretudo pela partilha de fotografias
(38%) e pela partilha de ligações (26%);
! a dimensão académica assenta na partilha de ligações (5 publicações);
! a dimensão pessoal é construída unicamente pela partilha de uma foto.
"
A análise da presença construída no SAPO Campus revelou a existência de 99 mensagens de
teor social, compostas na sua quase totalidade (98%) pela partilha de fotos. 95% das fotos foram
publicadas num único dia, pertencem ao mesmo álbum e são da autoria do participante. No
Facebook, o participante constrói uma presença marcadamente social. Das 28 mensagens
registadas, 89% inserem-se nesta categoria e são compostas sobretudo pela partilha de ficheiros
de áudio/vídeo. No Twitter, a participação é marcadamente social, com 91% dos conteúdos
codificados nesta categoria. Nesta plataforma, 48% dos conteúdos assentam na partilha de
A construção da identidade em ambientes digitais"
121
ligações para outros espaços ou conteúdos publicados por outros utilizadores, nomeadamente
para páginas Web dedicadas ao desporto e à tecnologia. De notar, ainda, que grande parte das
mensagens estão redigidas em inglês. A interação com outras plataformas ou espaços é
estabelecida pela publicação, no Twitter, de mensagens de georreferenciação emitida a partir de
outras aplicações (i.e. Gowalla).
Das 192 publicações registadas no Facebook e no Twitter, 43 são da autoria do participante e
associados, na sua maioria, à presença social. Quanto às publicações replicadas pela participante
nos seus espaços, 61% são acompanhadas de mensagem introdutória (de contextualização e/ou
enquadramento). 38
"
"
Gráfico 16 – P08: conteúdos publicados pelo participante (tipologia e formato)
"
De acordo com o definindo em 3.5.1.1 – “Controle da subjetividade”, foi efetuada uma segunda
análise (cinco meses depois) aos conteúdos publicados pela participante nos três espaços
analisados39. Para o participante P08 foram analisadas 166 publicações, distribuídas da seguinte
forma: SAPO Campus, 56 publicações; Facebook, 17 publicações; Twitter, 93 publicações (amostra
38"Embora o participante não publique mensagens de teor pessoal, o seu mural (no Facebook) contém um grande número mensagens pessoais, publicadas por outrem. Ainda que, como foi referido na literatura, a identidade dos indivíduos não se comporte apenas aos conteúdos emitidos pelo próprio, considerou-se também neste caso limitar a análise da identidade aos conteúdos publicados pelo indivíduo, ainda que se tenha verificada a presença de uma forte componente pessoal concretizada na publicação, no espaço do participante, de mensagens e fotos relativas à esfera mais pessoal."
39 Quadro disponível no Anexo 7 – Análise do conteúdo, tipologia e forma – Participante 08 (disponível apenas em formato digital).
0 20 40 60 80 100 120
foto
audio/video
ligação
texto
foto
audio/video
ligação
texto
foto
audio/video
ligação
texto
Twitt
er
Face
book
S
AP
O
Cam
pus
Conteúdos publicados pelo participante
pessoal social académico profissional organizacional
Capítulo IV – Estudo de Caso
122
estratificada). A concordância entre as codificações a seguinte: SAPO Campus, 100% (formato e
tipologia); Facebook, 100% (formato e tipologia); Twitter, 97% (formato) e 100% (tipologia).
"
"
4.5.9 P09 – “Publ ico tudo o que me vier à cabeça”
Participante P09, 23 anos, sexo masculino, aluno do Mestrado em Comunicação Multimédia. De
acordo com a informação recolhida no questionário aplicado em novembro de 2010, o participante
utiliza todas as ferramentas do software social nos três contextos considerados: social, profissional
e de aprendizagem. Relativamente ao SAPO Campus, diz utilizar os blogs duas ou três vezes por
semana, o serviço de partilha de fotos uma vez por mês e a plataforma de partilha de vídeos menos
de uma vez por mês. Online, o participante identifica-se com o nome real e foto própria nos três
espaços em estudo (i.e. SAPO Campus, Facebook e Twitter). No SAPO Campus, partilha ainda
informação referente a interesses, contactos telefónicos e de e-mail, e informação referente à
instituição de ensino que frequentou no secundário e superior. No SAPO Campus e no Facebook
partilha, ainda, informação referente à data de nascimento e localidade, e nos três espaços (Sapo
Campus, Facebook e Twitter) partilha uma frase de descrição/mote. Do perfil do Facebook consta
ainda informação relativamente a interesses e informação de contacto (endereço de e-mail, telefone
e endereço postal). A ligação para outros espaços é estabelecida nos três espaços, onde o
participante partilha o endereço Web da sua página (Website) pessoal.
4.5.9.1 Autoperceção/ identidade autoinformativa
De acordo com o participante, a sua identidade online é “muito semelhante de rede para rede”.
Ainda que, no SAPO Campus, tenha partilhado apenas conteúdos relacionados com os trabalhos
de investigação, afirma não ter preocupações relativamente ao tipo e forma dos conteúdos que
publica na rede: “publico o mesmo tipo de coisas, com o mesmo tipo de linguagem, uso o mesmo
avatar”. Apontando o Twitter como o espaço onde partilha mais informação, define a sua presença
online como tendo uma forte componente social, aproveitando o potencial da rede para colocar
dúvidas ou questões que tenha sobre trabalho ou assuntos académicos: “Eu uso o twitter quase
maioritariamente agora mesmo para expor dúvidas que eu tenha. (...) sempre que tenho um
problema, mas a minha forma favorita é mesmo através do twitter, através mesmo de twitts públicos,
sem ser mesmo através das mensagens privadas.”
Consciente da visibilidade dos conteúdos, o participante preocupa-se com a relevância e
interesse, para os seus contactos, daquilo que partilha nos diferentes espaços. Assim, e ainda que
A construção da identidade em ambientes digitais"
123
tenha ativada a sincronização automática entre plataformas (Twitter e Facebook), opta edita os
conteúdos publicados de forma a construir uma timeline adequada ao público em questão:
! “Quando publico no Twitter e o Twitter envia automaticamente para o Facebook, às vezes –
nem sempre – vou lá tirar. No Facebook tenho amigos e contactos mais dos círculos mais
chegados, não tão dos sítios profissionais, portanto não me é muito relevante deixar essas
publicações ficarem-se pelo Facebook. Tenho alguma preocupação em fazer com que as
publicações que me aparecem sejam de teor mais pessoal do que profissional.”
Afirmando publicar “tudo o que me vem à cabeça”, utiliza a rede para interagir e socializar
com amigos e conhecidos e ainda para colocar dúvidas e questões relativamente aos seus projetos
profissionais. Considerando a consulta dos perfis disponibilizados pelos utilizadores como “quase
tão natural como procurar referências”, partilha na rede fotos e vídeos relacionada com
passatempos, desportos e experiências que vai vivendo. Ao nível da gestão da sua presença na
rede, o participante recorre aos mesmos elementos (imagem de perfil, nome, informação) para se
identificar nos diferentes espaços. Quando questionado sobre a adoção de medidas mais
específicas (e.g. utilização de diferentes contas de e-mail) para gerir a sua identidade online,
responde fazer “exatamente o contrário. Não só uso o mesmo avatar entre todas estas redes sociais
como tento manter o mesmo nome, e de uma forma geral tentar manter o mesmo perfil, até a minha
descrição (...) é igual em todas, é tudo igual.”.
Para o participante, a facilidade no acesso à informação (e.g. notícias, avisos, alertas), a rapidez
e a flexibilidade ao nível comunicação surgem como principais vantagens da existência de uma
identidade online. No caso específico da associação da sua identidade à identidade da instituição
(pela utilização do SAPO Campus), defende que
! “uma clara vantagem seria o facto de a minha identidade estar associada à identidade da
UA, ou seja, pelo menos para mim, havia aqui uma quase uma transferência de reputação.
Há uma transferência quase da imagem da universidade de Aveiro (...). Para as pessoas
fora da UA para quem eu estou a escrever, isto significa muito, significa que eu estou
inserido numa universidade que é a Universidade de Aveiro e que tem alguma reputação, e
que isso pode fazer com que os meus conteúdos tenham mais visibilidade.”
Do ponto de vista da instituição, considera que “pode ser perigoso ter estas pessoas, como eu
fiz há dois anos atrás, a publicar conteúdos menos ortodoxos com contas associadas à
universidade de Aveiro. Mas eu acho que com uma moderação certa e com algumas regras, e com
alguma supervisão até, esta desvantagem pode ser quase anulada e ficam só as vantagens.”
Capítulo IV – Estudo de Caso
124
4.5.9.2 Participação: tipologia e formato das publicações
Entre setembro de 2010 e junho de 2011 o participante efetuou um total de 984 publicações,
distribuídas da seguinte forma: SAPO Campus, 28 publicações; Facebook, 174; Twitter, 782
publicações. O conteúdo publicado foi analisado e codificado de acordo com os parâmetros
definidos em 3.5.1, encontrando-se o resultado registado no quadro 19.
Plataforma Conteúdo Formato Total Texto Ligação Áudio/vídeo Foto
SAPO Campus
Pessoal 0 0 0 0
28 Social 0 0 0 0 Académico 10 6 3 9 Profissional 0 0 0 0 Organizacional 0 0 0 0
Pessoal 7 3 0 8
174 Social 27 43 40 13 Académico 1 26 3 0 Profissional 0 1 1 0 Organizacional 0 1 0 0
Pessoal 26 5 0 6
782 Social 222 320 22 35 Académico 41 52 0 3 Profissional 26 16 3 2 Organizacional 0 3 0 0
Total 360 476 72 76 984
Quadro 19 – Participante P09: conteúdos publicados por plataforma
Da análise das publicações registadas é possível verificar que:
! o Twitter é a rede mais utilizada pelo participante (79% dos conteúdos foram publicados
neste espaço);
! no SAPO Campus, todos os conteúdos publicados são de teor académico,;
! no Facebook e no Twitter a presença é marcadamente social (76%);
! 5% dos conteúdos foram codificados como pertencendo à categoria “profissional”;
! a presença pessoal é composta por apenas 6% do total de conteúdos publicados.
Ao nível do formato das publicações, observa-se que:
! a presença pessoal é formada maioritariamente pela partilha de mensagens de texto
(60%), seguida da partilha de ligações (25%);
! 50% dos conteúdos associados à presença social são compostos por ligações (para
outros recursos e/ou conteúdos partilhados por outros utilizadores), e 34% por mensagens
de texto;
A construção da identidade em ambientes digitais"
125
! a nível académico, 54% dos conteúdos partilhados assentam na partilha de ligações,
seguido das mensagens de texto (34%);
! a nível profissional, 53% dos conteúdos publicados são mensagens de texto e 35% de
partilha de ligações;
! as mensagens associadas à instituição (codificadas em organizacional) são compostas
exclusivamente pela partilha de ligações.
!
No SAPO Campus, o participante manifesta uma presença exclusivamente académica. Neste
espaço, 36% das publicações são compostas exclusivamente por mensagens de texto, seguidas
da partilha de fotos (32%) e de ligações (32%). 68% dos conteúdos publicados são da autoria do
participante (i.e., sem recurso a recursos publicados por outros), e todos os conteúdos são
publicados em inglês.
No Facebook, a presença social articula-se entre a partilha de ligações para outros espaços ou
outros utilizadores (35%) e a partilha de conteúdos áudio/vídeo (32%). Neste espaço, é de realçar a
presença de conteúdos relacionados com os trabalhos de investigação do participante (17% das
publicações foram codificadas em “académico”), alicerçados sobretudo na partilha de ligações. A
componente pessoal engloba 10% dos conteúdos publicados e assenta, sobretudo, na partilha de
mensagens de texto. A interação com outras plataformas ou espaços é visível na replicação, nesta
plataforma, de mensagens de georreferenciação emitida a partir de outras aplicações (i.e. Gowalla).
No Twitter, a presença social engloba 77% do total de conteúdos publicados, e assenta
sobretudo na partilha de ligações (53%) e na publicação de mensagens de texto (37%). Quanto à
presença académica (onde foram registadas 96 mensagens, correspondentes a 12% do total), é
composta na sua maioria pela partilha de ligações (54%) e de mensagens de texto (43%), e
consistem sobretudo na partilha de questões relacionadas com a atividade académica, discussão,
partilha de recursos. Utilizando esta rede para a partilha de questões ou dúvidas sobre os seus
interesses de investigação e atividade profissional, o participante publicou 47 mensagens
codificadas em “profissional”, das quais 55% são compostas por mensagens de texto onde
interage e coloca questões a especialistas. No que diz respeito à presença pessoal, das 55
mensagens codificadas nesta categoria 64% fazem referência direta a familiares e/ou amigos, e
36% refletem a opinião do participante sobre serviços e situações, nomeadamente reclamações
relativas aos serviços da instituição de ensino que frequenta. As mensagens relacionadas com a
atividade académica e profissional do participante são publicadas em inglês. De referir ainda que,
no Twitter, o participante partilha dúvidas relacionadas com a atividade académica (referência a
artigos e publicações) e coloca questões diretas a especialistas (utilizando @nome_de_utilizador).
Neste espaço, adota uma linguagem mais informal, sendo frequente a presença de expressões
populares e/ou informais.
Capítulo IV – Estudo de Caso
126
Das 956 mensagens registadas no Facebook e no Twitter, 55% são da autoria do participante e
associadas, sobretudo, à dimensão social (38%) e académica (8%) da identidade. No que diz
respeito às publicações replicadas pelo participante nos seus espaços, 41% são acompanhadas de
mensagem introdutória (de contextualização e/ou enquadramento). "
Gráfico 17 – P09: conteúdos publicados pelo participante (tipologia e formato)
"
De acordo com o definindo em 3.5.1.1 – “Controle da subjetividade”, foi efetuada uma segunda
análise (cinco meses depois) aos conteúdos publicados pelo participante nos três espaços
analisados40. Para a participante P09 foram analisadas 276 publicações, distribuídas da seguinte
forma: SAPO Campus, 8 publicações; Facebook, 50 publicações; Twitter, 218 publicações (amostra
estratificada). A a concordância entre as codificações foi a seguinte: SAPO Campus, 88% (formato)
e 100% (tipologia); Facebook, 94% (formato) e 100% (tipologia); Twitter, 96% (formato) e 100%
(tipologia).
"
4.5.10 P10 – “Sou confiante das coisas que publ ico”
Participante P10, 27 anos, sexo masculino, trabalhador-estudante e aluno do Mestrado em
Comunicação Multimédia. De acordo com a informação recolhida no questionário aplicado em
40 Quadro disponível no Anexo 7 – Análise do conteúdo, tipologia e forma – Participante 09 (disponível apenas em formato digital).
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450
foto
audio/video
ligação
texto
foto
audio/video
ligação
texto
foto
audio/video
ligação
texto
Twitt
er
Face
book
S
AP
O C
ampu
s
Conteúdos publicados pelo participante
pessoal social académico profissional organizacional
A construção da identidade em ambientes digitais"
127
novembro de 20010, o participante utiliza as ferramentas do software social em contexto profissional
e social; as ferramentas de edição colaborativa, de partilha de conteúdos, de agregação e as redes
sociais são ainda utilizadas em contexto de aprendizagem. Relativamente ao SAPO Campus,
responde utilizar a plataforma de vídeos diariamente, publicando no blog uma vez por semana.
Utiliza a plataforma de partilha de fotos uma vez por mês. Online, o participante identifica-se com o
nome real e foto própria no SAPO Campus e no Facebook, partilhando ainda, nos dois espaços,
informação referente à data de nascimento e localização geográfica. No SAPO Campus partilha
ainda informação de contacto (e-mail) e informação referente à instituição de ensino que frequenta.
Esta última informação é também partilhada no Facebook, onde disponibiliza ainda o endereço de
e-mail e informação referente a interesses (e.g. filmes, livros). O participante não possui conta no
Twitter.
"
4.5.10.1 Autoperceção/identidade autoinformativa
Solicitado a refletir sobre a forma como se manifesta e representa na rede, o participante define-
se como tendo uma “semi-identidade”, assente na partilha de conteúdos de caráter profissional e
reduzida referência a conteúdos pessoais. Referindo-se ao Facebook como um ambiente mais
pessoal, afirma ter uma presença orientada pela publicação de conteúdos “mais profissionais do
que pessoais”, fazendo publicações relacionadas com a sua área de interesse/atividade profissional
(multimédia audiovisual) ou com gostos pessoais. Ao publicar conteúdos relacionados com os seus
gostos, interesses e atividades, o participante considera estar a criar uma identidade que reflete o
seu percurso enquanto pessoa e profissional:
! “[p]ublico certas coisas, como por exemplo, gosto muito de pós-produção - além de o levar
como trabalho também levo como hobbie - e edição, automaticamente acho que ao
partilhar esses conteúdos tanto feitos por mim como gostos pessoais de certas pessoas
que o fazem acho que estou automaticamente a criar aminha identidade, aquilo que eu
gosto, e que gostava de fazer, ou aquilo que eu gosto e aquilo que eu fiz (...)”.
Confortável para colocar questões ou manifestar dúvidas na rede, defende este comportamento
como uma forma de obter feedback relativamente aos conteúdos partilhados:
! “Alguns trabalhos que eu fiz na universidade, independentemente das pessoas que vão ver,
eu publico até por uma questão de ver o feedback que as pessoas me dão, para ver onde
posso melhorar e o que é que as pessoas acham. Porque às vezes até estou tão envolvido
em certos trabalhos que quero ver a opinião das pessoas, porque só assim vou cair com os
pés na terra, não é?”
Capítulo IV – Estudo de Caso
128
Ao nível da gestão da sua presença na rede, o participante adota a criação de grupos como
forma de gerir a informação a partilhar com os diferentes grupos de contactos que formam a sua
rede: “(...) não ponho tudo disponível, mesmo o que os meus amigos publicam, em que eu estou
incluído, não deixo que toda a gente veja, sou assim um bocadinho reservado nesse aspeto.”. Desta
forma, procura obter um maior controlo sobre o acesso à informação partilhada e revelar, em cada
espaço, apenas a informação que considera adequada: “(…)estou a dar aulas e tenho o cuidado (..)
de os meus alunos não verem, realmente, o que eu publico para muita gente ver (...). Assim, (...)
tenho uma lista só para eles em que permito só verem os conteúdos profissionais, por exemplo.”
No que se refere à presença construída no SAPO Campus – onde terá partilhado apenas
conteúdos relacionados com os trabalhos académicos – a influência da plataforma (ambiente não
anónimo, associado à identidade real) na qualidade e estrutura do discurso terá sido mínima, uma
vez que “não costumo ter problemas em publicar seja o que for, porque normalmente sou
confiante das coisas que publico.”. Considerando vantajosa a divulgação, neste espaço, de
informação e conteúdos (i.e. maior interação, partilha e intercâmbio de ideias), considera que
construção de uma presença no SAPO Campus poderia trazer benefícios tanto para a Universidade
como para o aluno. No entender do participante, os eventuais riscos estariam sobretudo associados
à ausência de moderação, defendendo como vantagens da parte da Universidade no facto de ficar
com um histórico/registo do percurso académico do aluno, concretizado na publicação de
trabalhos e outros conteúdos na plataforma; o aluno, por seu lado, teria um espaço de
comunicação e troca de informação com os seus pares, o que lhes permitiria ao mesmo tempo ter
uma posição mais ativa e de destaque no ambiente universitário.
"
4.5.10.2 Participação: tipologia e formato das publicações
Entre setembro de 2010 e junho de 2011 o participante efetuou um total de 38 publicações,
distribuídas da seguinte forma: SAPO Campus, 7; Facebook, 31 publicações.
Plataforma Conteúdo Formato
Total Texto Ligação Áudio/vídeo Foto
SAPO Campus
Pessoal 0 0 0 0
7 Social 0 0 1 3 Académico 1 1 1 0 Profissional 0 0 0 0 Organizacional 0 0 0 0
Pessoal 2 1 1 0
31 Social 7 9 5 3 Académico 0 1 1 0 Profissional 0 0 1 0 Organizacional 0 0 0 0
Total 10 12 10 6 38
Quadro 20 – Participante P10: conteúdos publicados por plataforma
A construção da identidade em ambientes digitais"
129
Através da análise das publicações registadas é possível verificar que:
! a presença no SAPO Campus articula-se entre a partilha de conteúdos de caráter social
(57%) e académico (43%);
! no Facebook o participante constrói uma presença assente na partilha de conteúdos de
caráter social (77% dos conteúdos publicados foram codificados nesta categoria);
! a presença pessoal engloba 11% dos conteúdos publicados, ocorrendo apenas nos
ambientes informais.
Ao nível do formato das publicações, verifica-se que:
! a presença pessoal assenta na publicação de mensagens de texto (50%), em conteúdos
áudio/vídeo (25%) e na partilha de ligações (25%);
! no que diz respeito à presença social, existe um equilíbrio entre a partilha de ligações
(32%), mensagens de texto (25%), partilha de conteúdos áudio/vídeo (22%) e partilha de
fotos (21%);
! a dimensão académica articula-se entre a partilha de conteúdos áudio/vídeo (40%) e a de
ligações (40%).
"
No SAPO Campus (plataforma suportada institucionalmente), a presença do participante
articula-se entre conteúdos de caráter social (57% das publicações) e académico (43%). Das 7
publicações registadas, 43% consistem na partilha de fotos e 29% na partilha de ficheiros
áudio/vídeo. Todos os recursos publicados na plataforma são da autoria do participante.""
No Facebook, a presença construída pelo participante é marcadamente social. Das 31
publicações registadas neste espaço, 77% foram codificadas nesta categoria e consistem,
sobretudo, na partilha de ligações para outros espaços ou para publicações de outros utilizadores.
Nesta rede, a presença pessoal (com 13% dos conteúdos publicados) assenta sobretudo na
partilha de mensagens de texto (50%). O participante utiliza ainda a rede para publicação de
conteúdos de caráter académico (7%), nomeadamente a partilha de mensagens de texto,
conteúdos áudio/vídeo e partilha de ligações. Das 31 publicações registadas, 52% são da autoria
do participante e associados, na sua maioria, à dimensão social da sua presença. Quanto às
publicações replicadas pelo participante nos seus espaços, 60% são acompanhadas de mensagem
introdutória (de contextualização e/ou enquadramento).
"
Capítulo IV – Estudo de Caso
130
"
Gráfico 18 – P10: conteúdos publicados pelo participante (tipologia e formato)
"
De acordo com o definindo em 3.5.1.1 – “Controle da subjetividade”, foi efetuada uma segunda
análise (cinco meses depois) aos conteúdos publicados pela participante nos três espaços
analisados41. Para a participante P10 foram analisadas 35 publicações, distribuídas da seguinte
forma: SAPO Campus, 6 publicações; Facebook, 29 publicações (amostra estratificada). A
concordância entre as codificações foi a seguinte: SAPO Campus, 100% (formato e tipologia);
Facebook, 97% (formato) e 100% (tipologia)."
"
""
4.5.11 P11 – “Sou eu próprio”
Participante P11, 28 anos, sexo masculino, trabalhador-estudante e aluno do Mestrado em
Comunicação Multimédia. De acordo com a informação recolhida, e à exceção das ferramentas de
edição colaborativa, todas as ferramentas do software social indicadas no questionário são
utilizadas pelo participante em contexto social e profissional, sendo que ferramentas de edição
colaborativa, de partilha de conteúdos, redes sociais e blogs são ainda utilizados em contexto de
aprendizagem. No SAPO Campus, o participante utiliza os blogs duas a três vezes por semana e o
serviço de partilha de fotos uma vez por mês. Online, o participante identifica-se com o nome
próprio/nome real e foto própria no SAPO Campus e no Facebook (não está registado no Twitter),
41 Quadro disponível no Anexo 7 – Análise do conteúdo, tipologia e forma – Participante 10 (disponível apenas em formato digital).
0 2 4 6 8 10 12
foto
audio/video
ligação
texto
foto
audio/video
ligação
texto
Face
book
S
AP
O C
ampu
s
Conteúdos publicados pelo participante
pessoal social académico profissional organizacional
A construção da identidade em ambientes digitais"
131
divulgando ainda, nos dois espaços, informação relativa à data de nascimento. No SAPO Campus
partilha informação referente a interesses, disponibiliza contacto de e-mail e endereço de ligação
para o site pessoal, e informação referente à instituição de ensino que frequenta. No Facebook
partilha ainda informação relativa à sua localização geográfica, interesses, descrição de interesses e
ligação para outros espaços online (conta do Tumblr, onde partilha o portfólio dos trabalhos que
realiza).
"
4.5.11.1 Autoperceção/identidade autoinformativa
Questionado sobre a presença que constrói na rede, o participante define-se como tendo uma
identidade muito próxima daquilo que é na realidade: “Antes de mais, sou eu próprio. Ou seja, o
que partilho mais é aquilo que gosto, o que no momento apreendo do mundo,(...) o meu dia-a-dia
(...)”. Ao nível da gestão da sua identidade na rede, seleciona os conteúdos que associa à sua
presença (“Sinceramente, eu escolho um pouco aquilo que mostro online”; “não mostro a 100% tudo
aquilo que poderia mostrar, mostro só alguns pormenores mais a nível profissional, aquilo que eu
gosto”), e tem o cuidado de editar a sua timeline no sentido de ter uma presença na rede que reflita
a sua identidade e interesses offline:
! “[M]uitas coisas ficam pelo caminho. Talvez porque também não se identificam comigo ou
– lá está – não estão a meu gosto, não tenho interesse em mostrá-las. (...) [À]s vezes vou
atrás. Até por exemplo, especificamente no Facebook, se alguém for lá e olhar para o mural
vê que eu tenho aquilo muito organizadinho, ou seja, as amizades que vou fazendo e que
ficam lá registadas, os likes que vou fazendo e que ficam lá no mural, eu limpo tudo, ou
seja, só deixo mesmo os posts que devem ficar, um comentário que eu tenha feito noutro
perfil, noutro mural, vou sempre limpar, também tenho esse cuidado. Não gosto de longas
listas de realmente tudo o que andei a fazer na rede (...).”.
Afirmando ter alguma dificuldade em distinguir entre publicações de interesse pessoal e
profissional (“acho que misturo um pouco as duas coisas, porque como sou designer também gosto
de mostrar alguns trabalhos, (...) algumas coisas são pessoais, só que ao mesmo tempo é a minha
profissão.”), considera o Facebook uma ferramenta “muito útil” e utiliza-a em contexto profissional
como veículo de disseminação, de informação, comunicação, partilha de ideias e para receber
feedback: “há outras [coisas] que provavelmente publiquei, não se identificando totalmente comigo,
mas que queria/cria algum feedback, principalmente isso.”
No que diz respeito ao SAPO Campus, afirma ter publicado apenas conteúdos relacionados
com a sua atividade académica e trabalhos de investigação. Não revelando preocupações
relativamente à agregação automática (i.e. por motores de busca) da informação e conteúdos que
Capítulo IV – Estudo de Caso
132
disponibiliza na rede (“nunca tive muito essa preocupação [com os registos e as contas de e-mail] a
minha conta no Facebook agrega isso tudo”), o participante define-se como sendo criterioso
relativamente aos contactos que adiciona aos seus espaços fazendo “uma triagem das pessoas
que aceito”. Por fim, e no que diz respeito à associação da sua identidade à identidade da
instituição onde estuda, realça a visibilidade dos conteúdos publicados como uma das vantagens
“pelo nível da visibilidade que teria, e estar associado também ter estudado aqui, acho que é um
cartão de visita muito importante”.
4.5.11.2 Participação: tipologia e formato das publicações
Entre setembro de 2010 e junho de 2011 o participante efetuou um total de 98 publicações,
distribuídas da seguinte forma: SAPO Campus, 20 publicações; Facebook, 78 publicações. O
conteúdo publicado foi analisado e codificado de acordo com os parâmetros definidos em 3.5.1,
encontrando-se o resultado registado no quadro 21."
Plataforma Conteúdo Formato
Total Texto Ligação Áudio/vídeo Foto
SAPO Campus
Pessoal 0 0 0 0
20 Social 0 0 0 0 Académico 10 6 2 2 Profissional 0 0 0 0 Organizacional 0 0 0 0
Pessoal 1 0 0 0
78
Social 2 14 20 9 Académico 0 3 1 0 Profissional 0 17 0 8 Organizacional 0 3 0 0
Total 13 43 23 19 98
Quadro 21 – Participante P11: conteúdos publicados por plataforma
"
Através da análise das publicações registadas, é possível verificar que:
! no SAPO Campus, a presença é construída unicamente pela partilha de conteúdos de
caráter académico;
! no Facebook, o participante constrói uma presença assente na partilha de conteúdos de
caráter social (58%) e profissional (32%);
! a partilha de conteúdos de caráter pessoal é residual, correspondendo a 1% do total de
publicações.
Ao nível do formato das publicações, observa-se que:
! 47% dos conteúdos no Facebook consistem na partilha de ligações (na sua maioria para
páginas relacionadas com design) ; 27% partilha de ficheiros áudio e vídeo e 22% partilha
A construção da identidade em ambientes digitais"
133
de imagens; neste espaço, a presença social é formada na sua maioria pela partilha de
conteúdos áudio/vídeo (44%) e partilha de ligações (37%);
! nas duas redes, a dimensão académica compõe-se pela partilha de mensagens de texto
(42%) e ligações e fotos (26%);
! as mensagens associadas à instituição (codificadas em organizacional) são compostas
exclusivamente pela partilha de ligações.
A presença construída pelo participante no SAPO Campus é exclusivamente académica e está
diretamente relacionada com a temática do seu trabalho de investigação. Para além das
mensagens de texto (que compõem 50% das publicações registadas) o participante publicou ainda
mensagens (posts) com ligações para recursos publicados por outros indivíduos (30%), ficheiros
áudio e vídeo (20%) e fotos (20%). Dos conteúdos publicados na plataforma, 85% são da autoria do
participante. No Facebook, a presença social (onde foram codificados 58% dos conteúdos
publicados) consiste sobretudo na partilha de conteúdos áudio/vídeo (44%, na sua maioria vídeos
de música) e de ligações (31%). A presença profissional – segunda mais registada, com 32% dos
conteúdos publicados – constrói-se pela partilha de ligações para um outro espaço do participante
(Tumblr), ligações essas que compõem 68% do total de publicações. Ainda nesta presença,
verifica-se a publicação de fotos (32%) que refletem a atividade profissional e interesses do
indivíduo. A presença pessoal, neste espaço, é quase residual e compõe-se apenas pela
publicação de uma mensagem de texto. Das 78 publicações registadas neste espaço, 32% são da
autoria do participante e associados na sua maioria à dimensão profissional da identidade (76%).
No que diz respeito às publicações replicadas pelo participante nos seus espaços, 96% são
acompanhadas de mensagem introdutória (de contextualização e/ou enquadramento).
Gráfico 19 – P11: conteúdos publicados pela participante (tipologia e formato)
0 5 10 15 20 25 30 35 40
foto
audio/video
ligação
texto
foto
audio/video
ligação
texto
Face
book
S
AP
O C
ampu
s
Conteúdos publicados pelo participante
pessoal social académico profissional organizacional
Capítulo IV – Estudo de Caso
134
De acordo com o definindo em 3.5.1.1 – “Controle da subjetividade”, foi efetuada uma segunda
análise (cinco meses depois) aos conteúdos publicados pela participante nos três espaços
analisados42. Para a participante P11 foram analisadas 78 publicações, distribuídas da seguinte
forma: SAPO Campus, 16 publicações; Facebook, 62 publicações (amostra estratificada). A
concordância entre as codificações a seguinte: SAPO Campus, 94% (formato) e 100% (tipologia);
Facebook, 98% (formato) e 100% (tipologia).
4.5.12 P12 – “Consumo mais do que part i lho”
Participante P12, 23 anos, sexo feminino, aluna do Mestrado em Comunicação Multimédia. De
acordo com a informação recolhida no questionário, a participante utiliza as ferramentas de edição
colaborativa, de partilha de conteúdos, de agregação e os blogs em contexto profissional e de
aprendizagem. As redes sociais são utilizadas nos três contextos e as ferramentas de social
bookmarking são utilizadas apenas em contexto de aprendizagem. No SAPO Campus, a
participante utiliza os blogs uma vez por semana e o serviço de partilha de fotos uma vez por mês,
nunca tendo utilizado o serviço de publicação e partilha de vídeos. Online, a participante identifica-
se com o nome próprio/nome real e foto própria no SAPO Campus e no Facebook (não está
registada no Twitter), divulgando, nos dois espaços, informação relativa à data de nascimento e
localização geográfica. No SAPO Campus partilha ainda informação referente à instituição de
ensino frequentada no secundário e no ensino superior, e o curso frequentado. No Facebook
partilha ainda informação referente a interesses (e.g. filmes favoritos, livros).
"
4.5.12.1 Autoperceção/identidade autoinformativa
Solicitada a refletir sobre a sua presença na rede, define-se com tendo uma presença passiva,
assente no consumo e não na produção de conteúdos: “sou mais passiva, consumo mais do que
partilho, ou seja... a minha presença online é eu consumir mais aquilo que sigo, normalmente não
faço os meus próprios conteúdos, partilho o que acho interessante. (...)acaba por ser quase um
jornal para mim, as coisas que eu sigo têm aquilo que eu quero ver.” No SAPO Campus, afirma ter
publicado conteúdos relacionados com a sua atividade académica e trabalhos de investigação
tendo, por isso mesmo, tido o cuidado de construir recursos mais estruturados. Assim, o perfil
construído neste espaço traduz apenas “o meu perfil como aluna, (...) aquilo que foi o meu estudo”.
42 Quadro disponível no Anexo 7 – Análise do conteúdo, tipologia e forma – Participante 11 (disponível apenas em formato digital).
A construção da identidade em ambientes digitais"
135
Para a participante, a facilidade de acesso a comunidades e especialistas surgem como uma
das vantagens de ter e construir uma presença online: “Agora é tão simples quanto seguir a página
dela no Facebook, no Twitter, e ver o que ela publica e termos acesso às informações que ela tem.
(...) o Facebook torna isso muito mais fácil e próximo”. Afirmando não construir, na rede, uma
presença muito ativa, a participante preocupa-se sobretudo com a visibilidade e exposição dos
conteúdos que publica. Nesse sentido, tem o cuidado de consultar o seu próprio perfil de forma a
ter a perceção da imagem e dos conteúdos que associa à sua identidade:
! “(...) agora tenho muito poucas coisas públicas porque já tenho por defeito... ou seja, aquilo
que eu mostro para um perfil que não é meu amigo, alguém que está de fora, porque eu
também tenho esse cuidado de ver como é que é visto o meu perfil, é apenas a minha
informação, nem tenho o e-mail visível, é apenas o meu nome, a minha fotografia, e
aparecem os meus amigos, e nada mais (...)”.
O facto de os conteúdos permanecerem na rede pode ser uma situação passível de criar
desfasamentos entre a identidade atual do indivíduo (os seus gostos, preferências interesses,
opiniões) e aquela que se encontra arquivada e passível de ser consultada na rede: “É estranho. É
estranho, porque... (...) nós vamos alterando a nossa forma de pensar, de ver as coisas, (...) No
entanto aquilo continua a ligar-nos àquilo mesmo que agora não queiramos, ou seja, é estranho”. A
gestão da identidade, para a participante, passa também pela gestão da privacidade. Utilizando
duas contas de e-mail apenas por uma questão de gestão da informação – “(...) tenho um mail mais
profissional e é para os meus contactos e outro para redes (...)”–, as medidas de gestão da
privacidade da participante articulam-se, sobretudo, ao nível da gestão de contactos e na definição
daquilo partilha na rede:
! “(...) também tenho agora mais atenção em escolher os amigos, por exemplo: se só
conheço essa pessoa porque a vi uma vez e ela me adicionou como amigo... já não aceito.
Aceito só aquelas com que já tive mais do que uma conversa.”; “De vez em quando faço
uma revisão aos amigos, e vejo: então, mas eu nunca falei com ele, nunca tivemos
sequer... tiro-o da minha lista.”
No que diz respeito à associação da sua identidade com a identidade da instituição onde
estuda, aponta a visibilidade dos conteúdos e do percurso partilhado, a possibilidade de interação
com outros indivíduos e a transferência de prestígio como principais vantagens de ter uma
presença construída numa plataforma institucional:
! “Sim, é importante. (...)a Universidade de Aveiro ganhou prestígio, pelo menos nesta área
das tecnologias em que nós estamos, e claro tento sempre referir que estudei na
universidade de Aveiro, que sou aluna na universidade de Aveiro, que fui investigadora no
Capítulo IV – Estudo de Caso
136
centro... acho que é uma boa relação, eu não tendo nenhuma experiência profissional, não
tendo trabalhado em nenhuma empresa, isto é o que me leva a ter outras coisas (...)”.
Para a participante, a visibilidade e exposição dos conteúdos publicados na plataforma
suportada institucionalmente poderá conduzir a uma maior interação e visibilidade do trabalho
desenvolvido:
! “Partindo do princípio que os alunos, ou que as pessoas que utilizam o SAPO Campus
utilizam-no com a consciência de que estão ligados à Universidade, (...) eu acho que é uma
mais-valia. Porque... (...) se calhar nós temos o departamento, estamos aqui fechados e só
conhecemos o departamento, mas se calhar nós temos outros interesses com outros
departamentos, e eles podem colaborar connosco conhecendo-nos no SAPO Campus.”
Considerando a possibilidade de os conteúdos poderem ser consultados e replicados
internacionalmente “[com] outros investigadores que sejam de outra universidade do país como
sendo de fora, estrangeiros”, defende a publicação dos conteúdos em inglês como um factor
importante na disseminação do trabalho desenvolvido. Embora considerando importante a
construção da presença na plataforma institucional, a participante afirma que, caso necessitasse de
um serviço de eportefólios ou de desenvolver uma plataforma para a divulgação dos seus
trabalhos, procuraria uma solução que não estivesse direta e visivelmente ligada à instituição:
“[procuraria] um outro fora para estar ligado a mim. (...) Acho interessante [publicar no SAPO
Campus] mas gosto de ter a minha identidade sem ser vinculada à universidade.”
"
4.5.12.2 Participação: tipologia e formato das publicações
Entre setembro de 2010 e junho de 2011 o participante efetuou um total de 28 publicações,
distribuídas da seguinte forma: SAPO Campus, 15 publicações; Facebook, 13 publicações.
Plataforma Conteúdo Formato
Total Texto Ligação Áudio/vídeo Foto
SAPO Campus
Pessoal 0 0 0 0
15 Social 0 0 0 0 Académico 9 3 0 3 Profissional 0 0 0 0 Organizacional 0 0 0 0
Pessoal 1 0 0 2
13
Social 0 1 1 5 Académico 0 1 0 0 Profissional 2 0 0 0 Organizacional 0 0 0 0
Total 12 5 1 10 28
Quadro 22 – Participante P12: conteúdos publicados por plataforma
A construção da identidade em ambientes digitais"
137
Da análise das publicações registadas é possível verificar que:
! no SAPO Campus, a presença é construída exclusivamente pela partilha de conteúdos de
caráter académico;
! no Facebook, 54% dos conteúdos publicados foram codificados em “social”, e 23% dos
conteúdos dizem respeito à dimensão pessoa da identidade da participante.
Ao nível do formato das publicações, verifica-se que:
! a presença pessoal é construída pela publicação de fotos e uma mensagem de texto;
! a presença social é construída maioritariamente pela partilha de fotos (71% dos conteúdos
publicados nesta categoria são fotografias);
! a dimensão académica assenta na partilha de mensagens de texto (60%), ligações e fotos
(20% para cada um dos formatos).
A presença construída pela participante no SAPO Campus é exclusivamente académica e está
diretamente relacionada com a temática do seu trabalho de investigação. Para além das
mensagens de texto (que compõem 60% das publicações registadas), verificou-se ainda a
publicação de fotos (20%) e a partilha de ligações para outros recursos ou páginas de outros
utilizadores (20%). Dos conteúdos publicados na plataforma, 87% são da autoria da participante.
No Facebook, a presença social (onde foram codificados 54% dos conteúdos publicados) consiste
sobretudo na partilha de fotos (71%). A presença profissional – segunda mais registada, com 15%
dos conteúdos publicados) – constrói-se pela publicação de mensagens de texto, verificando-se
ainda a publicação conteúdos de teor pessoal (fotos e mensagem de texto). Das publicações
registadas neste espaço, 62% são da autoria da participante e associadas sobretudo à dimensão
social da identidade. Todas as publicações replicadas pela participante neste espaço são
acompanhadas de mensagem introdutória (de contextualização e/ou enquadramento).
Gráfico 20 – P12: conteúdos publicados pela participante (tipologia e formato)
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
foto
audio/video
ligação
texto
foto
audio/video
ligação
texto
Face
book
S
AP
O
Cam
pus
Conteúdos publicados pela participante
pessoal social académico
Capítulo IV – Estudo de Caso
138
De acordo com o definindo em 3.5.1.1 – “Controle da subjetividade”, foi efetuada uma segunda
análise (cinco meses depois) aos conteúdos publicados pela participante nos três espaços
analisados43. Para a participante P12 foram analisadas 26 publicações, distribuídas da seguinte
forma: SAPO Campus, 14 publicações; Facebook, 12 publicações (amostra estratificada). A
concordância entre as codificações foi a seguinte: SAPO Campus, 100% (formato e tipologia);
Facebook, 100% (formato e tipologia).
4.5.13 P13 – “Part i lho aqui lo que acho interessante part i lhar”
Participante P13, 26 anos, sexo feminino, trabalhadora e aluna do Mestrado em Comunicação
Multimédia. De acordo com a informação recolhida no questionário aplicado em novembro de 2010,
a participante utiliza as ferramentas de edição colaborativa, de partilha de conteúdos, e as
ferramentas de social bookmarking em contexto social e profissional, sendo as redes sociais
utilizadas ainda em contexto de aprendizagem. As ferramentas de agregação são utilizadas apenas
em contexto de aprendizagem e os blogs e o microblogging são utilizados em contexto social e de
aprendizagem. Os blogs do SAPO Campus são utilizados numa base semanal, e o serviço de
partilha de fotos e vídeos uma vez por mês. Online, a participante identifica-se com o nome
próprio/nome real e foto própria nos três espaços em estudo (SAPO Campus, Facebook e Twitter).
No Facebook revela ainda informação relativa à data de nascimento e localização geográfica.
Nenhuma das três plataformas disponibiliza informação de contacto ou ligação para outras redes.
"
4.5.13.1 Autoperceção/identidade autoinformativa
Refletindo sobre a identidade que constrói na rede, a participante define-a como “um bocadinho
como o meu blog: partilho aquilo que acho interessante partilhar”. Afirmando que “a minha vida
pessoal (...) é feita em casa, com a família, e não numa rede social com pessoas a quem só digo
Olá”, opta pela não-publicação de conteúdos de caráter pessoal e centra a sua participação na
partilha de conteúdos que considera interessantes.
Utilizando a rede para partilhar conteúdos relacionados com hobbies e interesses (fotografia),
afirma fazer uma seleção dos conteúdos a publicar orientada não pela qualidade ou perfeição da
imagem mas pelo impacto, em termos de timeline, que os conteúdos poderão ter no espaço dos
outros: “(...) faço uma seleção porque aquilo não é o meu computador, não quero estar a impingir
43 Quadro disponível no Anexo 7 – Análise do conteúdo, tipologia e forma – Participante 12 (disponível apenas em formato digital).
A construção da identidade em ambientes digitais"
139
para lá tudo”. Para além das fotos, refere publicar ainda trabalhos realizados por si própria,
trabalhos de colegas e ligações a páginas ou recursos relacionados com a sua atividade
profissional (docência) que considere interessantes. Não considerando a rede como o espaço
indicado para partilhar questões pessoais ou emocionais, recorre à partilha de músicas ou temas
como forma de – indiretamente – partilhar estados de espírito: “às vezes também pode existir aquele
desabafo, sei lá, quando estamos mais em baixo, e publico uma música que eu acho que vai
caraterizar aquele dia, mas sempre de uma forma... tento não ser muito direta naquilo que publico
(...)”.
Embora considere que o Facebook é uma rede que “nos tira algum tempo”, a participante utiliza-
o para se manter atualizada relativamente ao que é publicado e partilhado na sua área de
interesse, muitas vezes antes da informação circular nos canais formais habituais. Reforçando, mais
uma vez, não utilizar a rede para publicar conteúdos de caráter pessoal (“Porque eu não publico (...)
a minha vida pessoal, as minhas fotos com os amigos, a jantarada (...)”), constrói uma presença
assente na partilha de conteúdos relacionados com a sua área criativa e com o design, de forma a
se mostrar atualizada em termos profissionais.
Tendo-se registado no SAPO Campus por indicação dos docentes, afirma ter publicado
conteúdos relacionados com a atividade e trabalhos académicos e condicionado a sua participação
– em termos de tópicos e discurso – às caraterísticas e contexto da plataforma:
! “Na Universidade de Aveiro eu era aluna, portanto registei-me com a conta de aluna e tudo
o que publicasse seria no contexto, seria de acordo com a unidade curricular”; “ Sim,
porque na UA eu sou aluna, não é?, portanto a minha postura é como aluna. Isso é como a
vida real, não é? Nós moldamo-nos ao espaço onde estamos.”
Na rede, procura separar o pessoal do profissional recorrendo à utilização de diferentes contas
de e-mail como forma de gerir a informação e filtrando os conteúdos que recebe nas suas contas:
“Eu quando criei conta no Facebook foi com o meu mail onde vai o SPAM todo o FB é na conta do
lixo, um bocadinho, porque não quero que me incomodem no meu e-mail profissional nem no meu
pessoal.” Tendo associado, a esse espaço, contactos que vão além da sua rede social e pessoal
(e.g. alunos, colegas de trabalho), a participante seleciona previamente os conteúdos a publicar
tendo em vista o interesse que poderão ter para a sua rede, recorrendo às opções de privacidade
de cada uma das plataformas:
! “(...) o Facebook tem a possibilidade de catalogarmos se são amigos, se são conhecidos,
e dar - eu faço uso da minha privacidade, por isso, partilho... em princípio no meu mural só
mesmo os meus amigos é que têm acesso”, “em relação ao FB, eu tenho álbuns em que
só as pessoas que estiveram naquele evento, ou naquela situação têm acesso a esse
Capítulo IV – Estudo de Caso
140
álbum, tudo o resto (...) não tem acesso a esse álbum, porque eu acho que é
desnecessário terem acesso a esse tipo de informação, não é isso que eu quero partilhar.”
Consciente da visibilidade e exposição proporcionada pela rede, considera vantajoso o facto de,
no SAPO Campus, os conteúdos publicados ficarem imediatamente visíveis para a comunidade
académica. Nesse sentido, aponta como principais vantagens a possibilidade de interação com
outros públicos ou comunidades, o acesso a diferentes fontes de informação e a possibilidade de
acompanhar, à distância, os trabalhos e o progresso do trabalho dos colegas:
! “Eu acho que pode ser vantajoso, (...) podemos estar a aprender com os outro, eu acho
que é importante nós comunicarmos uns com os outros, mesmo que sejamos de áreas
diferentes, porque é assim que nós vamos aprendendo mais coisas e vamos adquirindo
mais conhecimento.”.
Referindo que a escolha do SAPO Campus como espaço de partilha não foi um acto voluntário
(“fomos obrigados, quase”), considera-o contudo como a rede indicada para partilhar conteúdos
relacionados com os seus trabalhos académicos: “[A]gora que terei de voltar à minha tese, eu tenho
lá a informação toda. E os próprios professores e os orientadores davam feedback, acho que é
importante essa comunicação”.
Por fim, e no que diz respeito à associação da sua identidade online à identidade da
Universidade, considera esta situação uma vantagem tanto para si (aluna) quanto para a instituição
apontando o prestígio da Universidade e a eventual boa imagem decorrente de trabalhos de alunos
como razões de suporte à sua opinião.
"
4.5.13.2 Participação: tipologia e formato das publicações
Entre setembro de 2010 e junho de 2011 a participante efetuou um total de 177 publicações,
distribuídas da seguinte forma: SAPO Campus, 19 publicações; Facebook, 154; Twitter, 4
publicações. O conteúdo publicado foi analisado e codificado de acordo com os parâmetros
definidos em 3.5.1, encontrando-se o resultado registado no quadro 23.
"
A construção da identidade em ambientes digitais"
141
Plataforma Conteúdo Formato Total Texto Ligação Áudio/vídeo Foto
SAPO Campus
Pessoal 0 0 0 0
19 Social 0 0 0 0 Académico 7 6 3 3 Profissional 0 0 0 0 Organizacional 0 0 0 0
Pessoal 1 0 1 0
154
Social 8 8 119 7 Académico 0 1 0 0 Profissional 0 5 4 0 Organizacional 0 0 0 0
Pessoal 0 0 0 0
4 Social 2 2 0 0 Académico 0 0 0 0 Profissional 0 0 0 0 Organizacional 0 0 0 0
Total 18 22 127 10 177
Quadro 23 – Participante P13: conteúdos publicados por plataforma
Da análise das publicações registadas é possível verificar que:
! na plataforma institucional, os conteúdos partilhados são de caráter exclusivamente
académico;
! no Facebook e no Twitter, a participante constrói uma presença assente maioritariamente
na partilha de conteúdos de caráter social (92%), verificando-se ainda a partilha de
conteúdos de caráter profissional, ligados à partilha de recursos e atividades de interesse
(6%);
! nos três espaços em estudo, a partilha de conteúdos de caráter pessoal é residual (0,6%)
e visível apenas no Facebook.
Ao nível do formato das publicações, observa-se que:
! a dimensão pessoal é composta pela partilha de uma mensagem de texto e a partilha de
um conteúdo áudio/vídeo;
! a presença social constrói-se sobretudo pela partilha de conteúdos áudio/vídeo (81%);
! a dimensão académica articula-se entre a partilha de mensagens de texto (35%) e de
ligações para outras redes ou recursos (35%);
! a partilha de conteúdos relacionados com interesses ou com a atividade profissional da
participante é composta pela partilha de ligações (56%) e de ficheiros de áudio e vídeo
(44%).
!
Capítulo IV – Estudo de Caso
142
A presença construída no SAPO Campus é exclusivamente académica e está diretamente
relacionada com a temática do trabalho de investigação da participante. As mensagens de texto
compõem 37% das publicações registadas, tendo sido ainda publicadas ligações para outros
espaços ou recursos (31%), conteúdos áudio vídeo (16%) e imagens (16%). 79% dos conteúdos
publicados na plataforma são da autoria da participante, e no que diz respeito a publicações
assentes na partilha de conteúdos produzidos por outros utilizadores, são todas acompanhadas
por mensagens introdutórias e/ou de enquadramento.
No Facebook, a presença social (onde foram codificados 92% dos conteúdos publicados)
assenta maioritariamente na partilha de conteúdos áudio/vídeo (84%, na sua maioria vídeos de
música). A presença profissional – segunda mais registada, com 6% dos conteúdos publicados) –
constrói-se na partilha de ligações para outras redes ou recursos (56%) e pela partilha de ficheiros
áudio/vídeo (44%). Neste espaço, apenas uma mensagem (partilha de ligação) foi codificada como
sendo de teor académico, e a presença pessoal é quase residual e compõe-se apenas pela
publicação de uma mensagem de texto e de um ficheiro de áudio/vídeo.
No Twitter registaram-se apenas quatro publicações, correspondentes à dimensão social da
identidade e compostas por mensagens de texto e pela partilha de ligações.
Das 158 publicações registadas nestes dois espaços (Facebook e Twitter), 9% são da autoria da
participante e associados na sua maioria à dimensão social da identidade (93%). No que diz
respeito às publicações replicadas pela participante nos seus espaços, 33% são acompanhadas de
mensagem introdutória (de contextualização e/ou enquadramento).
"
Gráfico 21 – P13: conteúdos publicados pela participante (tipologia e formato)
"
0 20 40 60 80 100 120 140
foto
audio/video
ligação
texto
foto
audio/video
ligação
texto
foto
audio/video
ligação
texto
Twitt
er
Face
book
S
AP
O
Cam
pus
Conteúdos publicados pela participante
pessoal social académico profissional organizacional
A construção da identidade em ambientes digitais"
143
De acordo com o definindo em 3.5.1.1 – “Controle da subjetividade”, foi efetuada uma segunda
análise (cinco meses depois) aos conteúdos publicados pela participante nos três espaços
analisados44. Para a participante P13 foram analisadas 120 publicações, distribuídas da seguinte
forma: SAPO Campus, 13 publicações; Facebook, 105 publicações; Twitter, 2 publicações (amostra
estratificada). A concordância entre as codificações foi a seguinte: SAPO Campus, 92% (formato) e
100% (tipologia); Facebook, 95% (formato) e 100% (tipologia); Twitter, 100% (formato e tipologia).
"
"
4.6 SAPO Campus, Facebook e Twitter em contexto formal de
aprendizagem
Além da recolha de informação referente à construção da identidade online em ambientes
institucionais (SAPO Campus) e informais (Facebook e Twitter), as entrevistas realizadas aos
participantes no estudo procuraram também efetuar o levantamento da opinião dos alunos
relativamente à utilização das ferramentas do software social enquanto suporte à aprendizagem
desenvolvida em contextos formais (i.e., durante a componente curricular do curso).
Questionados sobre esta temática, oito dos treze alunos entrevistados apresentam como
principais vantagens da utilização das ferramentas do SAPO Campus e do software social: a
abertura e partilha proporcionada por estes espaços (P01); a prévia familiaridade com os ambientes
e tecnologias, facilitando a sua integração e adoção em contexto formal (P08); a maior interação e
divulgação com públicos ou comunidades distantes (P07; P12; P13); e a rapidez do feedback (P10;
P12). Referindo-se especificamente ao Facebook, um dos participantes (P11) afirma que a
utilização das ferramentas do software social durante a componente curricular do mestrado trouxe
ainda como vantagem o conhecimento das próprias ferramentas, cuja utilização foi transposta para
a sua atividade profissional. Esta rede é também mencionada por outro participante (P09), que
defende a utilização das redes sociais em contexto educativo como um processo que “resultou
muito bem”, apresentando como fundamento para a sua opinião o facto de o Facebook ter
funcionado como um espaço de discussão, fundindo o “pessoal e o académico num só”. Neste
espaço, segundo o participante, terão decorrido “discussões muito ricas e com muita participação”,
quer em grupos abertos (criados para a disciplina) que em grupos fechados (criados por cada
grupo de trabalho).
44 Quadro disponível no Anexo 7 – Análise do conteúdo, tipologia e forma – Participante 13 (disponível apenas em formato digital).
Capítulo IV – Estudo de Caso
144
No que diz respeito à plataforma suportada institucionalmente, e embora realce as suas
vantagens enquanto espaço de construção de identidade, um dos entrevistados (P10) refere o
caráter pouco prático do acesso à plataforma (necessidade de login institucional, exploração dos
menus) como um dos potenciais motivos para a pouca adesão à mesma. A possibilidade de plágio
ou apropriação do trabalho desenvolvido por outros (os conteúdos estão disponíveis para qualquer
utilizador registado ou não registado) é também apresentado como uma das razões para a
resistência à publicação na plataforma institucional:
! “Há certos conteúdos que só os alunos da Universidade de Aveiro, ou seja, o login feito
com uma pessoa da UA é que deveria ter acesso, há informação fundamental, que foi o
trabalho de uma pessoa ou de várias pessoas que ficando aberto disponível a toda a gente
(...) qualquer pessoa chega e pode se inspirar nisso, e inspirar ou copiar mesmo o trabalho.
Há as questões do plágio e etc., eu acho que há conteúdos demasiado importantes para
estarem abertos..” (P02).
De acordo com três dos participantes (P01, P04 e P05), o facto de terem sido incentivados e
orientados a utilizar a plataforma como meio de divulgação do trabalho desenvolvido (e que foi
referido por 84% dos respondentes aos questionários como o motivo para o registo na plataforma)
não terá sido o suficiente para criar, nos alunos, o desejo ou a vontade de publicar:
! “parece que as pessoas têm de estar a ser impulsionadas para o utilizar” (P01);
! “foi-nos dada a indicação para termos um blog, mas o problema disto é: (...)como é que
nós sabemos que aquilo vai servir para alguma coisa? Uma pessoa até se desmotiva, se
não soubermos que há alguém a ver aquilo, alguém a responder (...) e mesmo que seja
para a avaliação, as pessoas pensam “é para a avaliação”, não nos dizem isto está bem,
isto está mal.” (P04);
! “Eu acho que apesar de todos os esforços não foi assim muito bem sucedida. Porque...
não é por um professor dizer "agora vamos todos passar a usar isto por causa da partilha de
informação e etc que a informação vai ser partilhada de forma mais eficiente ou que eu vou
ter recursos de forma mais rápida (...) porque é dessa forma que és avaliada" eu acho que
aí o factor avaliação estraga tudo. Nunca vais partilhar informação só porque te apetece
mesmo partilhar, vais partilhar porque sabes que tem ponderação na avaliação.” (P05).
!
A construção da identidade em ambientes digitais"
145
4.7 Representação digital, gestão da privacidade e reputação: análise da
identidade construída em ambientes digitais
Durante as entrevistas, quando solicitados a refletir sobre a sua identidade online, os
participantes no estudo abordaram a construção da identidade online do ponto de vista pessoal,
caraterizando o tipo de presença que constroem na rede, descrevendo os processos de seleção e
gestão dos conteúdos e ligações que associam à sua identidade, e refletindo sobre o real e/ou
potencial impacto da sua identidade online. No decorrer do tratamento e análise das transcrições,
foram identificadas três grandes áreas em redor das quais os participantes descreviam e
caraterizavam a sua forma de estar na rede. Já abordadas na revisão da literatura (cf. Cap. II,
secção 2.2), estas três áreas poderão ser entendidas como os três eixos em redor dos quais se
constrói a identidade online: a representação digital, i.e., a informação e os conteúdos que o
indivíduo publica e partilha na rede e que concretizam a dimensão digital da sua identidade; a
gestão da privacidade, i.e., os mecanismos ou estratégias a que o indivíduo recorre de forma a ter
um maior controlo e gerir a sua representação na rede; e a reputação, i.e., o impacto real ou
potencial da identidade online construída pelo indivíduo.
Tomando como ponto de partida estas três unidades temáticas, procedeu-se a nova leitura das
transcrições (designada por Bardin, 1977, por leitura flutuante) e à associação das ideias
manifestadas pelos participantes a cada uma das dimensões. Feita esta primeira codificação,
procedeu-se à análise do conteúdo associado a cada uma das unidades temáticas e à identificação
de pontos comuns no discurso dos participantes, pontos que, sintetizados e organizados, deram
origem a uma primeira versão de uma proposta de modelo para analisar a identidade online. Pelo
cruzamento da proposta com a informação recolhida nas entrevistas realizadas aos profissionais
(cf. secções 4.2.1 a 4.2.3), pela análise das participações e a partir da informação referente ao perfil
dos participantes, e tendo em consideração a reflexão decorrente da revisão da literatura, foram
identificadas e associadas subcategorias a cada uma das unidades temáticas e estabelecidos os
objetos de análise e definidos os indicadores.
Quando um primeiro grupo de entrevistas (n=6) foi analisado e todas as ideias categorizadas, a
estrutura de categorias e subcategorias foi organizada numa primeira versão do modelo e aplicada
à totalidade das transcrições (n=13). Analisada e codificada a totalidade das entrevistas, a
proposta de modelo de análise foi revista e alguns detalhes corrigidos (nomeadamente ao nível da
terminologia), tendo-se associado indicadores e códigos a cada uma das subcategorias. Deste
processo resultou a proposta de Modelo para a Análise da Identidade Online apresentado no
quadro 24.
Capítulo IV – Estudo de Caso
146
Categoria Temática: Representação Digital [RD]
Subcategoria Objeto de análise Indicadores
Elementos
de Identificação
[RD/EI]
Nome de utilizador Escolha do nome real, pseudónimo, nickname como nome
digital
Imagem de perfil Seleção de retrato, avatar , foto de grupo, paisagem, como
imagem de representação
Informação Adicional
[RD/IA]
Informação biográfica Partilha de informação referente a nome, data de nascimento,
local de nascimento, nacionalidade, formação académica,
profissão
Informação de
contacto
Partilha de informação referente a endereço postal, endereço
de e-mail, número de telefone
Mote, Interesses e
preferências
Partilha de informação referente a interesses, preferências,
mote pessoal
Relação com a
comunidade
Partilha de informação que evidencie a ligação com a
comunidade (e.g. turma de liceu, clube desportivo,
associações a que pertence)
Ligação para outros
espaços
Partilha de informação que estabeleça a ligação com outros
espaços onde o indivíduo constrói a sua presença, incluindo
páginas Web, páginas pessoais, páginas de perfil ou outros
endereços na rede
Conteúdo
[RD/C]
Tópicos Seleção de tópicos de acordo com as caraterísticas do espaço
online onde o conteúdo é publicado (espaço pessoa,
profissional)
Seleção de tópicos de acordo com as preferências do
indivíduo, independentemente do espaço online onde o
conteúdo é publicado
Estrutura do discurso Adequação do discurso (i.e. estrutura gramatical, vocabulário)
ao espaço online onde o conteúdo é publicado
Partilha de conteúdo independentemente do espaço online
onde é publicado
Tipologia de conteúdo Seleção e partilha de conteúdo (pessoal, social, académico,
profissional, organizacional) de acordo com ou ajustado ao
espaço online onde é publicado, evidente na predominância
de um dos tipos
Tipologia de conteúdo (pessoal, social, académico,
profissional, organizacional) independente do espaço online
Formato do conteúdo Seleção e partilha de conteúdo (mensagem de texto, ligação,
vídeo/áudio, foto) de acordo com ou ajustado ao espaço
online onde é publicado, evidente na predominância de um
dos tipos
Formato do conteúdo independente do espaço online onde é
publicado
A construção da identidade em ambientes digitais"
147
(cont.)
Categoria Temática: Gestão da Privacidade [GP]
Subcategoria Objeto de análise Indicadores
Processo de Registo
[P/PR]
E-mail de registo ou
nome de utilizador
Utilização de diferentes contas de e-mail ou nomes de
utilizador aquando do registo em diferentes espaços online
Utilização do mesmo endereço de e-mail e/ou do mesmo
nome de utilizador aquando do registo em diferentes
espaços online
Gestão de Contactos
[P/GC]
Rede de contactos
(friends, followers)
Associação ou segregação de contactos de acordo com o
espaço online onde a identidade é construída;
Criação e gestão de grupos
Associação de contactos independentemente do espaço
online onde a identidade é construída
Gestão de Contextos
[P/GCtx]
Conteúdo republicado
entre espaços
Ativação da sincronização automática de conteúdo entre
plataformas, estabelecendo ligação entre espaços
diferentes
Republicação de conteúdo em plataformas diferentes
daquelas onde foi inicialmente publicado (e.g. partilha de
posts de um blog nas redes sociais)
Categoria Temática: Reputação [R]
Subcategoria Objeto de análise Indicadores
Demonstração de
competências ou
capacidades
[R/DCC]
Conteúdo publicado Seleção e partilha de conteúdo com a finalidade de
demonstrar ou revelar a existência de competências gerais
ou específicas (e.g. partilha de vídeos, posts, desenhos,
relatórios, documentos ou trabalhos produzidos em
contextos formais, informais ou não-formais)
Visibilidade e
Exposição
[R/VE]
Conteúdo reproduzido
(entre plataformas)
Partilha de conteúdo em plataformas ou espaços
diferentes daqueles onde foi inicialmente publicado,
aumentando a visibilidade e exposição dos conteúdos
produzidos
Interação com pares
e/ou especialistas
Contacto e interação com colegas e/ou especialistas,
divulgando trabalhos, revelando interesse ou partilhando
opinião em determinados ou vários campos de
conhecimento
Ligação à Identidade
Institucional
[R/LII]
Referência, menção ou
ligação à identidade online
da instituição
Reprodução de conteúdo publicado pela instituição;
Partilha de informação referente ao cargo, emprego ou
papel na instituição, revelando a ligação entre a identidade
online do indivíduo e a identidade online da instituição
Quadro 24 – Modelo para a Análise da Identidade Online
Capítulo IV – Estudo de Caso
148
Os pontos que se seguem procuram descrever a estrutura conceptual subjacente à construção
do Modelo para a Análise da Identidade Online, organizada nas três dimensões referidas acima:
representação digital, gestão da privacidade e reputação.
4.7.1 Representação digital
A construção da identidade poderá ser compreendida como um processo social, autorreflexivo e
interpretativo (Greenhow e Robelia, 2009), baseado nas caraterísticas intrínsecas do indivíduo e na
forma como este reage e interioriza as experiências com as quais se envolve (Boyd, 2002). Online,
os indivíduos representam-se através de dados e informação (e.g. nome, data de nascimento, foto,
endereço de e-mail, local de nascimento, interesses e preferências) e, de forma a definirem o papel
que representam na sociedade ou comunidade, poderão ainda adicionar informação referente a
ligações familiares, profissão, à organização onde trabalham ou à qual pertencem, ou ainda grupos
ou associações de que fazem parte. A representação digital do indivíduo na rede poderá, assim,
ser entendida como toda a informação e conteúdo que o indivíduo partilha de forma a criar uma
identidade online. No modelo para a análise da identidade online proposto nesta secção, a
informação partilhada pelo indivíduo é organizada em três subcategorias: elementos de
identificação, informação adicional e conteúdo.
Nesta proposta, os elementos de identificação incluem o nome e a foto ou imagem escolhida
pelos indivíduos como forma de representação: nome real ou nickname, um retrato (foto real), um
avatar, ou uma foto com familiares ou amigos.
A categoria informação adicional engloba toda a informação facultada pelos indivíduos (em
algumas redes e plataformas nas secções “about me/sobre mim”, ou “perfil”) de forma a
contextualizarem-se em cada um ou em todos os espaços online onde constroem a sua identidade,
e que poderá ser organizada em: in formação biográf ica (e.g. nome completo, data de
nascimento, local de nascimento; in formação de contacto (e.g. endereço postal ou de e-mail,
contacto telefónico); mote, interesses e preferências (informação relacionada com interesses
do indivíduo, como músicas favoritas, programas de Televisão favoritos); re lação com a
comunidade (informação que reflete o seu papel ou ligação com a comunidade, como a
indicação da escola que frequentou ou o clube desportivo ao qual pertence); e l igação para
outros espaços onde o indivíduo possui uma presença online (e.g. partilha de endereço de um
blog no perfil do Twitter, partilha da página pessoal do SAPO Campus no perfil do Facebook).
A definição da informação referente às categorias elementos de identificação e informação
adicional teve como ponto de partida os trabalhos de Boyd (2008b), Greenhow e Robelia (2009),
Jones (2008) e Zhao et al. (2008), trabalhos que incidem sobre a informação presente nos perfis de
A construção da identidade em ambientes digitais"
149
redes sociais e já abordados na revisão da literatura.
Por fim, em conteúdo, englobam-se todas as mensagens publicadas pelo indivíduo nos seus
espaços online. No modelo proposto nesta secção, o conteúdo é abordado do ponto de vista da
sua contribuição para a construção da identidade dos indivíduos, podendo por isso ser observado
e analisado quanto aos tópicos abordados, da estrutura do discurso, da tipologia e do formato. Por
tópicos abordados entende-se a análise das temáticas abordadas pelo utilizador nos espaços
onde constrói a sua identidade online, e que poderão ou não refletir a formalidade ou informalidade
da plataforma (e.g. publicação de conteúdos de teor académico na plataforma institucional e de
conteúdos de teor social ou pessoal nas redes sociais, não publicação de conteúdos de caráter
político em nenhum dos espaços; publicação de conteúdos pessoais nas plataformas institucionais
e nas plataformas informais). A estrutura do discurso , segunda subcategoria de “conteúdos”,
incide sobre as caraterísticas do discurso adotado nas diferentes plataformas, bem como na maior
ou menor articulação do discurso, e que se poderá traduzir na publicação, por exemplo, de textos
mais estruturados e gramaticalmente corretos nos espaços formais e na adoção de um discurso
mais coloquial nas redes informais. Quanto à t ipologia e ao formato do conteúdo , poderão ser
compreendidas pela observação das mensagens publicadas pelos indivíduos e, tal como nas
subcategorias anteriores, poderão ou não variar de acordo com o espaço online onde são
publicadas (e.g. publicação de mensagens escritas na plataforma institucional, republicação de
conteúdos áudio e vídeo no Facebook ou Twitter).
4.7.2 Gestão da privacidade
Ao publicarem conteúdo na rede, os indivíduos estão, simultaneamente, a produzir uma vasta
quantidade de informação passível de revelar certos aspetos da sua identidade, construindo uma
presença e confiando os seus dados, informação e conteúdos a sistemas que não controlam e dos
quais não são proprietários. Neste contexto, a gestão da privacidade engloba os mecanismos e
estratégias adotados pelo indivíduo para a gestão da sua identidade online e que, nesta proposta,
são analisadas em três vertentes: processo de registo, gestão de contactos e gestão de contextos.
O processo de registo encontra-se profundamente associado às dimensões apresentadas por
Boyd (2008b) e referidas no capítulo II, secção 2.2.3. Quando a persistência e a replicabilidade da
informação, o seu caráter pesquisável e a existência de audiências invisíveis (Boyd, 2008b) se
assumem como principais diferenças entre a representação física e a representação digital dos
indivíduos, estes podem optar pela utilização de diferentes contas de e-mail ou nomes de utilizador
aquando do registo em diferentes espaços, contornando desta forma a agregação automática das
suas diferentes presenças por motores ou aplicações de busca (cf. cap. II, ponto 2.2.3.1.1 –
“Representação visual da identidade online – ferramentas de agregação”).
Capítulo IV – Estudo de Caso
150
Sendo a identidade do indivíduo construída não apenas pela informação emitida mas também
pelas ligações e conexões que estabelece com outros utilizadores, a gestão de contactos
pretende refletir sobre a forma como os contactos são associados às presenças dos indivíduos, e
que poderá incluir a sua segregação e/ou seleção de acordo com o espaço online (e.g. separação
entre familiares, amigos, colegas, empregadores), a associação de contactos independentemente
da plataforma, ou mesmo a criação e gestão de grupos (possível no Facebook e no Google+).
Quanto à subcategoria gestão de contextos, esta encontra-se associada à informação
disponibilizada pelo indivíduo em representação digital: informação adicional: ligação para outros
espaços, e procura abordar a gestão da privacidade ao nível do estabelecimento ou não
estabelecimento, na publicação de conteúdos, de ligações entre os diferentes espaços ou
plataformas onde este constrói a sua identidade. Na gestão de contextos, o indivíduo pode optar
pela ocultação ou não divulgação de conteúdos publicados em espaços online onde tem presença
(e.g. partilha de um post publicado no SAPO Campus na timeline do Twitter), ou ainda – como foi
referido por alguns dos participantes no estudo – ativar a sincronização automática entre
plataformas permitindo, desta forma, a publicação de conteúdos entre plataformas distintas.
4.7.3 Reputação
Ao interagirem com a comunidade, estabelecerem novas ligações a espaços ou utilizadores e
ao partilharem conteúdo em várias plataformas, os indivíduos estão a expandir a sua área de
influência e a estabelecer as fundações para a construção de uma identidade online mais forte e
credível: uma reputação. Através da identidade que constrói na rede, o indivíduo pode revelar a uma
audiência mais vasta a existência de competências ou capacidades (pessoais, sociais ou
profissionais) que o evidenciem do resto da comunidade, que revelem aquilo que é capaz de fazer
ou alcançar, ou que o definam enquanto elemento de uma comunidade ou organização. Neste
modelo, a reputação é considerada do ponto de vista do indivíduo, i.e., da finalidade ou objetivos
que orientam a construção da sua presença na rede, e articula-se entre: a demonstração de
capacidades ou competências, a visibilidade e exposição da presença construída na rede e o apoio
ou ligação a identidades online institucionais.
A demonstração de capacidades ou competências diz respeito à forma como o indivíduo
utiliza a identidade construída na rede para revelar, aos seus contactos e a um público mais
abrangente, capacidades ou competências adquiridas ou desenvolvidas em contextos formais,
informais ou não formais e que, enquanto parte da identidade online, poderão ser compreendidas
como o registo ou a documentação de um percurso construído enquanto aluno e/ou profissional.
Neste sentido, o indivíduo poderá partilhar na rede trabalhos realizados, construir portfólios, divulgar
capacidades ao nível da escrita criativa ou técnica, demonstrando dessa forma aquilo que pode
A construção da identidade em ambientes digitais"
151
fazer e o trabalho que pode desempenhar.
De forma a aumentar a visibilidade e exposição da sua identidade online – nomeadamente
dos conteúdos que publica nos seus espaços –, o indivíduo poderá optar pela reprodução de
conteúdos entre plataformas , i.e., replicando conteúdos inicialmente publicados noutros
espaços45. Poderão, ainda optar pela interação com pares ou especial istas , partilhando os
conteúdos produzidos, revelando interesse ou competências e trabalhando na construção de uma
reputação em determinada área ou áreas de conhecimento.
Ao refletir e decidir sobre as caraterísticas e objetivos da reputação que constrói na rede, e ao
impacto que pretende provocar com a sua identidade online, o indivíduo pode optar por tornar
visível a ligação entre a sua identidade e a identidade online da instituição que frequenta ou na qual
trabalha. Através da ligação da sua presença na rede à identidade e reputação da instituição, o
indivíduo inicia um processo que concretiza a ligação à identidade institucional, um cenário onde
a sua presença na rede fica associada à presença da instituição, e a reputação ou imagem da
instituição fica ligada à própria identidade online do indivíduo.
Nesta proposta de modelo não se pretende que as subcategorias associadas a cada uma das
unidades temáticas sejam consideradas como exclusivas da categoria mas antes como dimensões
dinâmicas e associáveis à categoria adjacente. Assim, e a título de exemplo, as subcategorias
elementos de identificação, informação adicional e conteúdo – ainda que associadas à
representação digital, i.e., à forma como o indivíduo se representa na rede – poderão ser
interpretadas do ponto de vista da privacidade (e.g. utilização de diferentes usernames como forma
de gestão da privacidade), ou mesmo da reputação (e.g. seleção de tópicos e temas de acordo
com o impacto que o indivíduo pretende obter com a sua presença).
A figura 1 – “Dimensões do Modelo para a Análise da Identidade Online” procura representar, de
forma gráfica, a organização das diferentes dimensões e as relações e associações passíveis de
existir entre cada uma delas.
45" Ainda que semelhante, em termos funcionais, à gestão de contextos da categoria “gestão da privacidade”, esta subcategoria distingue-se pela finalidade subjacente à replicação de conteúdos, i.e., está diretamente associada ao desejo de incrementar a visibilidade e exposição dos materiais partilhados e não a questões relacionadas com a separação de contextos."
Capítulo IV – Estudo de Caso
152
Figura 1 - Dimensões do Modelo para a Análise da Identidade Online
4.7.4 Aplicação do Modelo para a Anál ise da Identidade Online
Definidas as categorias e parâmetros, o Modelo para a Análise da Identidade Online foi aplicado
à informação referente a cada um dos participantes no estudo (apresentada na secção 4.5 – “A
construção da identidade em ambientes digitais”), tornando possível a caraterização do perfil de
cada um dos participantes. O resultado da análise e caraterização é sintetizado no quadro 25.
!
Categ
oria T
emática: R
epresen
tação D
igital [R
D]
Su
bcateg
oria
Ob
jeto d
e an
álise P
01 P
02 P
03 P
04 P
05
Elem
entos Id
entificação [R
D/E
I]
Nom
e de utilizador
Utilização do nom
e real nos três espaços
Utilização do nom
e real nos três espaços
Utilização do nom
e real nos três espaços
Utilização do nom
e real nos três espaços
Utilização do nom
e real nos três espaços
Imagem
de perfil A
vatar no SC
Im
agem real no FB
e TW
Utilização de im
agem
real nos três espaços U
tilização de imagem
real nos três espaços
Utilização de im
agem
real nos três espaços P
erfil do SC
sem
imagem
; Imagem
real no FB
e TW
Informação
Ad
icional [R
D/IA
]
Informação
biográfica P
resente no FB
Presente no S
C e no FB
P
resente no FB
Presente no S
C e FB
N
ão disponibiliza inform
ação biográfica
Informação de
contacto N
ão disponibiliza inform
ação de contacto P
resente no FB
Presente no FB
P
resente no FB
Não disponibiliza
informação de contacto
Mote, interesses
ou preferências N
ão disponibiliza inform
ação P
resente no SC
e no FB
Presente no FB
N
ão disponibiliza inform
ação P
resente no TW
Relação com
a com
unidade Visível na referência à Instituição de ensino, no S
C e no FB
Visível na referência à Instituição de ensino, no S
C e no FB
Visível na referência à instituição de ensino e form
ação académica,
no FB
Visível na referência à instituição de ensino e form
ação académica,
no FB
Não disponibilizada
Ligação para outros espaços
Ligação para o SC
disponibilizada no TW
Ligação para site pessoal, no S
C e TW
Ligação para site pessoal, no Tw
itter Ligação para o site pessoal, no FB
e no TW
Não disponibilizada
Conteúd
o [R
D/C
] Tópicos
Selecionados de acordo
com o espaço onde o
conteúdo é publicado
Selecionados de acordo
com as preferências do
participante
Selecionados de acordo
com o espaço onde o
conteúdo é publicado
Selecionados de acordo
com o espaço onde o
conteúdo é publicado
Selecionados de acordo
com o espaço onde o
conteúdo é publicado
Estrutura do
discurso E
strutura adaptada à plataform
a Independente do espaço online
Estrutura adaptada à
plataforma
Ponto não abordado
pelo participante E
strutura adaptada à plataform
a
Tipologia de conteúdo (predom
inante)
Académ
ico no SC
; organizacional no FB
; social no TW
(nota: presença de conteúdo social no S
C e de
académico no FB
e TW)
Académ
ico no SC
; social no FB
; social no TW
(nota: presença de conteúdo social no S
C e de
académico no FB
e TW)
Académ
ico no SC
; social no FB
; social no TW
(nota: conteúdo profissional no FB
; presença de conteúdo académ
ico e organizacional no TW
)
Académ
ico no SC
; social no FB
e no TW
(nota: presença de conteúdo social no S
C;
presença de conteúdo académ
ico no FB e TW
e profissional no TW
)
Académ
ico no SC
; social no TW
(nota presença de conteúdo social no S
C;
presença de conteúdo académ
ico no TW)
Formato do
conteúdo (predom
inante)
Texto no SC
; Ligações no FB
; Texto no TW
Texto no SC
; áudio/vídeo no FB
; ligações no TW
Texto no SC
; áudio/vídeo no FB
; ligações no TW
Fotos no SC
; texto no FB
; texto no TW
Texto no SC
; ligações no TW
Categ
oria T
emática: G
estão d
a Privacid
ade [G
P]
Su
bcateg
oria
Ob
jeto d
e análise
P01
P02
P03
P04
P05
Processo d
e R
egisto[P
/PR
] E
-mail de registo/
username
Não utiliza diferentes e-
mails ou usernam
es N
ão utiliza diferentes e-m
ails ou usernames
Não utiliza diferentes e-
mails ou usernam
es N
ão utiliza diferentes e-m
ails ou usernames
Diferente, de acordo
com os espaços
Gestão d
e C
ontactos [P
/GC
]
Rede de contactos
Independente do espaço ou plataform
a P
onto não abordado pelo participante
Segregação de
contactos de acordo com
o espaço online
Independente do espaço ou plataform
a S
egregação de contactos de acordo com
o espaço online
Gestão d
e C
ontextos [P
/GC
tx]
Conteúdo
republicado entre espaços
Partilha, no TW
, de ligações para conteúdos publicados no S
C
Sincronização
automática de
conteúdos P
artilha, no FB e TW
, de ligações para conteúdos publicados no S
C
Partilha, no TW
, de ligações para conteúdos publicados no S
C
Partilha, no TW
, de ligações para conteúdos publicados no S
C
Partilha, no TW
, de ligações para conteúdos publicados no S
C
Categ
oria T
emática: R
epu
tação [R
]
Dem
onstração d
e C
omp
etências [R
/DC
C]
Conteúdo
publicado N
ão publica conteúdo com
a finalidade de dem
onstrar ou m
anifestar a existência de com
petências
Utiliza a rede para
partilhar resultados de atividades desportivas, nom
eadamente no FB
Utiliza a rede com
o espaço de divulgação de com
petências e projeção de identidade profissional
Utiliza a rede (site
pessoal) como espaço
de divulgação de com
petências
Utiliza a rede com
o espaço de divulgação do trabalho académ
ico, profissional e de interesses profissionais
Visib
ilidad
e e E
xposição
[R/V
E]
Conteúdo
reproduzido (entre plataform
as)
Não intencional (i.e.,
sem a finalidade de
aumentar a visibilidade)
Intencional, pela sincronização autom
ática de conteúdos (feedback da atividade desportiva)
Intencional, com o
objetivo de divulgar o trabalho desenvolvido e receber feedback (conteúdos em
inglês)
Não intencional (i.e.,
sem a finalidade de
aumentar a visibilidade)
Intencional, com objetivo
de divulgar o trabalho desenvolvido, interesses / receber feedback (conteúdos em
inglês)
Interação com
pares e/ou especialistas
Ponto não abordado
pelo participante P
onto não abordado pelo participante
Procurada (via TW
, com
a colocação de questões e divulgação de posts do S
C)
Ponto não abordado
pelo participante P
rovocada (via TW, com
a colocação de questões e divulgação de posts do S
C)
Ligação à
Identid
ade
Institucional
[R/LII]
Referência /
menção / ligação à
identidade online da instituição
Visível na reprodução de conteúdo organizacional, no FB
e no TW
R
eferência à instituição de ensino, no FB
Visível na reprodução de conteúdo organizacional, no FB
e no TW
R
eferência à instituição de ensino, no FB
Visível na reprodução de conteúdo organizacional, no TW
R
eferência à instituição de ensino (e form
ação académ
ica), no FB
Reprodução de
conteúdo organizacional, no TW
R
eferência à instituição de ensino (e form
ação académ
ica), no FB
Reprodução de
conteúdo organizacional, no TW
!
Categ
oria T
emática: R
epresen
tação D
igital [R
D]
Su
bcateg
oria
Ob
jeto d
e análise
P06
P07
P08
P09
P10
Elem
entos
Identificação
[RD
/EI]
Nom
e de utilizador U
tilização do nome real
no SC
e FB
Utilização do nom
e real no S
C e FB
U
tilização do nome real
nos três espaços U
tilização do nome real
nos três espaços U
tilização do nome real
nos três espaços
Imagem
de perfil P
erfil do SC
sem
imagem
Im
agem real no FB
Utilização de im
agem
real no SC
e FB
Perfil do S
C sem
im
agem
Imagem
real FB e TW
Utilização de foto real
nos três espaços U
tilização de foto real nos três espaços
Inform
ação biográfica
Presente no FB
P
resente no FB
Presente no FB
e TW
Presente no S
C e FB
P
resente no SC
e FB
Informação de
contacto N
ão disponibiliza inform
ação de contacto P
resente no FB
Presente no FB
P
resente no SC
e FB
Presente no FB
Interesses ou preferências
Presente no FB
P
resente no FB
Presente no S
C, FB
e TW
P
resente no SC
P
resente no SC
e FB
Relação com
a com
unidade Visível na referência à instituição de ensino e form
ação académica,
disponibilizada no FB
Visível na referência à instituição de ensino e form
ação académica,
disponibilizada no FB
Instituição de ensino no S
C; Instituição de
ensino e formação
académica, no FB
Visível na referência à instituição e form
ação académ
ica, disponibilizada no S
C e
FB
Visível na referência à instituição de ensino, disponibilizada no S
C e
no FB
Ligação para outros espaços
Não disponibilizada
Não disponibilizada
Ligação para site pessoal, no S
C e FB
Ligação para site pessoal, no S
C, FB
e TW
Não disponibilizada
Conteúd
o
[RD
/C]
Tópicos S
elecionados de acordo com
o espaço S
elecionados de acordo com
as preferências do participante
Selecionados de acordo
com o espaço onde o
conteúdo é publicado
Selecionados de acordo
com as preferências do
participante
Selecionados de acordo
com o espaço onde o
conteúdo é publicado
Estrutura do
discurso E
strutura adaptada à plataform
a Independente do espaço online
Estrutura adaptada à
plataforma
Independente do espaço online
Independente do espaço online
Tipologia de conteúdo (predom
inante)
Académ
ico no SC
; social no FB
; social no TW
Académ
ico no SC
; S
ocial no FB
Social no S
C, FB
e TW
(nota: presença de conteúdo académ
ico no FB
e TW)
Académ
ico no SC
; social no FB
e no TW
(nota: presença de conteúdo académ
ico e profissional no FB
e TW)
Académ
ico no SC
; social no FB
(nota: presença de conteúdo social no S
C;
presença de conteúdo académ
ico e profissional no FB
)
Formato do
conteúdo (predom
inante)
Texto no SC
; foto no FB
Texto no SC
; texto no FB
Fotos no SC
; áudio/vídeo no FB
; ligações no TW
Texto no SC
; ligações no FB
e no TW
Foto no SC
; ligações no FB
Categ
oria T
emática: G
estão d
a Privacid
ade [G
P]
Su
bcateg
oria
Ob
jeto d
e análise
P06
P07
P08
P09
P10
Processo d
e R
egisto[P
/PR
] E
-mail de registo/
username
Não utiliza diferentes e-
mails ou usernam
es P
onto não abordado pelo participante
Não utiliza diferentes e-
mails ou usernam
es U
tiliza, intencionalm
ente, o m
esmo endereço e/ou
username
Ponto não abordado
pelo participante
Gestão d
e C
ontactos [P
/GC
]
Rede de contactos
Ponto não abordado
pelo participante Independente do espaço ou plataform
a Independente do espaço ou plataform
a Independente do espaço ou plataform
a G
erida de acordo com o
espaço online C
riação de grupos
Gestão d
e C
ontextos [P
/GC
tx]
Conteúdo
republicado entre espaços
Republicação de
conteúdo (indicador) não verificada na análise do conteúdo
Republicação de
conteúdo (indicador) não verificada na análise do conteúdo
Partilha, no TW
, de ligações para conteúdos publicados no S
C
Partilha, no FB
e TW, de
ligações para conteúdos publicados no S
C
Republicação de
conteúdo (indicador) não verificada na análise do conteúdo
Categ
oria T
emática: R
epu
tação [R
]
Dem
onstração d
e C
omp
etências [R
/DC
C]
Conteúdo
publicado N
ão publica conteúdo com
a finalidade de dem
onstrar ou m
anifestar a existência de com
petências
Não publica conteúdo
com a finalidade de
demonstrar ou
manifestar a existência
de competências
Utiliza a rede para
partilhar hobbies e interesses (visível em
conteúdos publicados no FB
)
Utiliza a rede com
o espaço de divulgação de com
petências e identidade profissional e ainda para partilha de hobbies
Utiliza a rede com
o espaço de divulgação de com
petências e percurso e identidade profissional
Visib
ilidad
e e E
xposição
[R/V
E]
Conteúdo
reproduzido (entre plataform
as)
Situação não procurada
pelo participante S
ituação não procurada pelo participante
Não intencional (i.e.,
sem a finalidade de
aumentar a visibilidade)
Intencional, com o
objetivo de divulgar o trabalho desenvolvido e receber feedback (conteúdos em
inglês)
Intencional, com o
objetivo de divulgar o trabalho desenvolvido e receber feedback
Interação com
pares e/ou especialistas
Ponto não abordado
pelo participante A
inda que não intencional, existente no S
C, pela interação com
colegas e docentes
Ainda que não
intencional, existente no S
C, pela interação com
colegas e docentes
Procurada (via TW
, com
a colocação de questões e divulgação de posts do S
C)
Procurada, pela
publicação de conteúdos no sentido de receber feedback
Ligação à
Identid
ade
Institucional [R
/LII]
Referência /
menção / ligação à
identidade online da instituição
Não desejada pelo
participante, que m
anifesta preferência pela construção de um
portfólio desvinculado da instituição
Visível na referência à instituição de ensino e form
ação académica,
disponibilizada no FB
Visível na reprodução de conteúdo organizacional, no TW
Visível na referência à instituição de ensino e form
ação académica,
disponibilizada no FB
Visível na reprodução de conteúdo organizacional, no TW
Visível na referência à instituição de ensino e form
ação académica,
disponibilizada no FB
Visível na referência à instituição de ensino e form
ação académica,
disponibilizada no SC
e FB
!
Categ
oria T
emática: R
epresen
tação D
igital [R
D]
Su
bcateg
oria
Ob
jeto d
e análise
P11
P12
P13
Elem
entos Id
entificação [R
D/E
I]
Nom
e de utilizador U
tilização do nome real no S
C e FB
U
tilização do nome real no S
C e FB
U
tilização do nome real nos três espaços
Imagem
de perfil U
tilização de imagem
real no SC
e FB
Utilização de im
agem real no S
C e FB
U
tilização de foto real nos três espaços
Inform
ação biográfica
Presente no S
C e FB
P
resente no SC
e FB
Presente no FB
Informação de
contacto P
resente no SC
e FB
Não disponibilizada
Não disponibiliza inform
ação de contacto
Interesses e preferências
Presente no S
C e FB
P
resente no SC
N
ão disponibiliza informação
Relação com
a com
unidade Visível na referência à instituição de ensino e form
ação académica, disponibilizada no
SC
e FB
Visível na referência à instituição de ensino e form
ação académica, disponibilizada no
SC
e FB
Visível na referência à instituição de ensino e form
ação académica, disponibilizada no
FB
Ligação para outros espaços
Ligação para site pessoal, no SC
e FB
Não disponibilizada
Não disponibilizada
Conteúd
o [R
D/C
] Tópicos
Selecionados de acordo com
as preferências do participante
Selecionados de acordo com
o espaço onde o conteúdo é publicado
Selecionados de acordo com
o espaço onde o conteúdo é publicado
Estrutura do
discurso Independente do espaço online
Estrutura adaptada à plataform
a E
strutura adaptada à plataforma
Tipologia de conteúdo* *tipologia predom
inante
Académ
ico no SC
; social no FB
(nota: presença de conteúdo académico e
profissional no FB)
Académ
ico no SC
; social no FB
(nota: presença de conteúdo académico e
profissional no FB)
Académ
ico no SC
; social no FB e TW
(nota: presença de conteúdo académ
ico e profissional no FB
)
Formato do
conteúdo * *form
ato predom
inante
Texto no SC
; ligações (conteúdo social e profissional) no FB
Texto no S
C; fotos no FB
Texto no S
C; áudio/vídeo no FB
; texto e ligações no TW
Categ
oria T
emática: G
estão d
a Privacid
ade [G
P]
Su
bcateg
oria
Ob
jeto d
e análise
P11
P12
P13
Processo d
e R
egisto
[P/P
R]
E-m
ail de registo/ usernam
e N
ão utiliza diferentes e-mails ou usernam
es N
ão utiliza diferentes e-mails ou usernam
es D
iferente para pessoal e profissional
Gestão d
e C
ontactos [P
/GC
]
Rede de contactos
Independente do espaço ou plataforma
Gerida de acordo com
o espaço online E
liminação de contactos desnecessários
Gerida de acordo com
o espaço online C
riação de grupos
Gestão d
e C
ontextos [P
/GC
tx]
Conteúdo
republicado entre espaços
Partilha, no FB
, de ligações para conteúdos publicados no site pessoal
Republicação de conteúdo (indicador) não
verificada na análise do conteúdo R
epublicação de conteúdo (indicador) não verificada na análise do conteúdo
Categ
oria T
emática: R
epu
tação [R
]
Dem
onstração d
e C
omp
etências [R
/DC
C]
Conteúdo
publicado U
tiliza a rede como espaço de divulgação de
competências e construção identidade
profissional (visível na republicação de conteúdos)
Não publica conteúdo com
a finalidade de dem
onstrar ou manifestar a existência de
competências
Utiliza a rede com
o espaço de divulgação de com
petências, espaço de trabalho e e construção identidade profissional
Visib
ilidad
e e E
xposição
[R/V
E]
Conteúdo
reproduzido (entre plataform
as)
Intencional, com o objetivo de divulgar o
trabalho desenvolvido em term
os profissionais e obter feedback
Situação não procurada pelo participante
Situação não procurada pelo
participante
Interação com
pares e/ou especialistas
Procurada, pela publicação de conteúdos no
sentido de receber feedback U
tilização dos grupos do FB em
contexto profissional
Situação não procurada pelo participante
Procurada, pela partilha de conteúdos
específicos (áreas de conhecimento,
atividades profissionais) com
utilizadores com interesses com
uns
Ligação à
Identid
ade
Institucional [R
/LII]
Referência /
menção / ligação à
identidade online da instituição
Visível na reprodução de conteúdo organizacional, no FB
Visível na referência à instituição de ensino e form
ação académica, disponibilizada no S
C e
FB
Visível na referência à instituição de ensino e form
ação académica, disponibilizada no S
C e
FB
Visível na referência à instituição de ensino e form
ação académica,
disponibilizada no FB
Quadro 25 - C
araterização do perfil da identidade online dos participantes no estudo
A construção da identidade em ambientes digitais!
159
4.7.4.1 Modelo para a Análise da Identidade Online: resultados da aplicação
O quadro apresentado nas páginas anteriores sintetiza a informação referente a cada um dos
participantes no estudo, recolhida através dos questionários, das entrevistas e da análise
efetuada ao conteúdo publicado na plataforma suportada institucionalmente e nas redes
informais (Facebook e Twitter). Ao considerar dados proveniente de diferentes fontes, o Modelo
para a Análise da Identidade Online possibilita a triangulação da informação, nomeadamente o
confronto entre a fornecida diretamente pelos participantes (recolhida através dos questionários
e das entrevistas) e a proveniente da análise do conteúdo efetuada pelo investigador, i.e., entre a
sua identidade autoinformativa (i.e. a perceção que o indivíduo tem da sua própria identidade) e
a imagem que, construída e manifestada na rede, se encontra sujeita à análise e interpretação
por outros.
Numa primeira análise à informação sintetizada no quadro 25 (construído a partir da
aplicação do modelo proposto), verifica-se que não existem diferenças significativas entre a
perceção que os participantes têm da sua identidade e aquela possível de ser construída pela
análise da informação e conteúdos que associam à sua presença. A título de exemplo, é
possível verificar que os participantes que afirmaram durante as entrevistas utilizar a rede como
espaço de divulgação de competências e de projeção de uma identidade profissional
(informação incluída na categoria temática “Reputação”) publicam nos seus espaços informais
uma percentagem significativa de conteúdos de teor académico e profissional (e.g. caso do
participante P03, com 12% das publicações registadas no Twitter codificadas em “académico” e
“profissional”, e da participante P05, com 21% de publicações registadas no Twitter codificadas
como “académico”). Verifica-se, ainda, que no caso dos participantes que afirmaram construir
uma identidade assente na publicação de conteúdos “seguros”, i.e., não manifestando ou
partilhando opiniões ou conteúdos pessoais (e.g. P01, P06, P12 e P13), a existência de
conteúdos associados a “pessoais” é nula ou praticamente inexistente.
A aplicação do modelo e consequente triangulação da informação possibilitou ainda a
identificação de pontos comuns ao nível da representação digital, da gestão da privacidade dos
participantes, e da reputação que procuram construir na rede. O resultado desta análise e
identificação encontra-se apresentado em detalhe no próximo capítulo – “Discussão dos
resultados”, no ponto 5.2.3 – “Identidade online: análise da presença na rede a partir do Modelo
para a Análise da Identidade Online”.
4.8 Síntese
O trabalho apresentado ao longo deste capítulo teve como objetivo a descrição e análise da
construção da identidade em ambientes digitais, por um grupo de alunos, centrada na
160
caraterização do contexto de construção da identidade, na sua importância enquanto meio de
demonstração e divulgação de competências e na análise das publicações efetuadas pelo
participantes na plataforma institucional e nas redes informais. Para além da informação
referente à identidade online construída no SAPO Campus e nas redes informais (Facebook e
Twitter), procurou-se ainda caraterizar a utilização das ferramentas do software social em
contexto formal de aprendizagem e a identificação, através da informação recolhida pelos
questionários aplicados, das principais razões subjacentes à adoção da plataforma suportada
institucionalmente.
Para além da triangulação da informação recolhida pela análise do conteúdo, dos
questionários aplicados e das entrevistas realizadas, a análise e sintetização da informação
referente à construção da identidade online do participantes possibilitou a construção de um
modelo que poderá ser utilizado para a análise da identidade manifestada em ambientes
digitais, designado por Modelo para a Análise da Identidade Online. Tendo-se procurado, pela
apresentação dos dados recolhidos, reunir informação que possibilite a resposta às questões de
investigação definidas para o estudo, o capítulo que se segue apresenta o resultado da análise
dos dados e a decorrente discussão dos resultados.
A construção da identidade em ambientes digitais!
161
Capítulo 5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Num cenário caraterizado pela conectividade e pela facilidade de acesso a pessoas e
conteúdos, a rede oferece aos indivíduos um espaço (não mais limitado ou definido apenas
pelas instituições de ensino) onde podem interagir, aprender, trocar experiências e, ao mesmo
tempo, construir uma identidade e uma reputação acessíveis a toda a comunidade. Mais do que
um Curriculum Vitae, a identidade online poderá assumir-se como uma forma de demonstrar e
comprovar as competências adquiridas e desenvolvidas em contextos de educação formais e
informais, consistindo num factor de diferenciação e uma mais-valia no campo pessoal,
académico e profissional.
Analisados e apresentados os dados recolhidos, este capítulo apresenta a discussão dos
resultados obtidos pela investigação, procurando responder às questões de investigação
inicialmente enunciadas. Partindo da descrição da identidade construída pelos participantes no
estudo na plataforma SAPO Campus, procura-se avaliar a influência do caráter institucional da
plataforma na modelação dos comportamentos dos utilizadores, nomeadamente ao nível do
discurso e dos conteúdos publicados nesse espaço. De seguida, carateriza-se a identidade
construída pelos participantes na plataforma suportada institucionalmente e nas duas redes
consideradas no estudo (Facebook e Twitter), tomando como base a informação recolhida ao
longo do estudo. Partindo da aplicação do Modelo para a Análise da Identidade Online proposto
no capítulo anterior analisa-se o perfil de identidade de cada um dos participantes e, na última
secção, aborda-se a questão relacionada com a identidade online enquanto espaço de
manifestação de competências e a sua relevância para a construção de uma reputação pessoal,
académica e profissional.
5.1 SAPO Campus e identidade online
Disponível desde setembro de 2009, o SAPO Campus oferece à comunidade académica um
espaço suportado institucionalmente onde utilizadores registados podem reunir, publicar e gerir
conteúdo e, dessa forma, construir um percurso passível de englobar a sua identidade
Capítulo V – Discussão dos resultados
162
enquanto indivíduo, estudante e profissional. Focando-se na utilização do SAPO Campus
enquanto espaço de construção da identidade online, a informação reunida nos próximos
pontos procura dar resposta à primeira questão de investigação:
" num cenário onde a rede possibilita a ligação entre indivíduos, espaços e comunidades,
como é que alunos do Mestrado em Comunicação Multimédia (MCMM) da Universidade
de Aveiro constroem a sua identidade num espaço providenciado pela instituição de
ensino que frequentam?
Nesse sentido, e após a caraterização da população em estudo, será apresentada a
informação referente à representação digital dos participantes – informação de perfil, utilização
dos serviços da plataforma –, abordada a sua perceção relativamente à influência do caráter
institucional da plataforma na modelação dos comportamentos online; será anda apresentada a
perspetiva dos participantes quanto às vantagens e desvantagens da visibilidade e exposição
dos conteúdos publicados na plataforma e a sua opinião relativamente ao impacto, para
utilizadores e instituição, da construção da identidade online no SAPO Campus.
A informação foi recolhida através da aplicação de questionários (novembro de 2009 e
novembro de 2011), através da análise da informação disponibilizada no perfil de utilizador dos
participantes e aquela recolhida nas entrevistas (informação recolhida em julho e agosto de
2011) e ainda por observação direta (análise dos conteúdos publicados pelos participantes entre
setembro de 2009 e junho de 2010, e setembro de 2010 e junho de 2011).
5.1.1 Representação digital no SAPO Campus
Ao nível da representação digital no SAPO Campus, a análise da informação recolhida pela
aplicação dos diferentes instrumentos possibilitou a caraterização da população (na sua
dimensão sociodemográfica e enquanto utilizadores da plataforma) e a caraterização dos
participantes no estudo, ao nível da presença construída neste espaço.
No que diz respeito aos alunos do Mestrado em Comunicação Multimédia, edições 2008-
2010 e 2009-2011 (idades compreendidas entre os 21 e os 50 anos, 38 do sexo masculino e 20
do sexo feminino), a informação recolhida pela aplicação dos questionários aplicados (n= 58)
permitiu verificar que os blogs surgem como a ferramenta mais utilizada pelos inquiridos,
seguidos do serviço de fotos e por fim do serviço de vídeos. De acordo com as respostas
avançadas pelos inquiridos, 7% utilizou o serviço de blogs diariamente e 79% semanalmente,
sendo que apenas 2% nunca publicou conteúdos neste espaço do SAPO Campus. Quanto ao
serviço de partilha de fotos, 30% dos inquiridos afirma utilizar o serviço numa base semanal, 50%
mensalmente ou menos de uma vez por mês, 2% diariamente e 18% afirma nunca ter utilizado
este serviço. Por fim, o serviço de partilha de vídeos foi utilizado por 46% dos inquiridos numa
A construção da identidade em ambientes digitais!
163
base mensal ou menos de uma vez por mês, 19% numa base semanal, e 32% nunca terá
utilizado o SAPO Campus vídeos. Questionados quanto às razões que os levaram a registar-se
na plataforma (questão colocada no segundo questionário), a indicação ou recomendação dos
professores, a associação à Universidade de Aveiro e a conveniência, enquanto aluno, de ter um
espaço onde publicar os trabalhos surgem como os três motivos principais (respostas
assinaladas por 84%, 69% e 50% dos respondentes, respetivamente).
Quanto aos participantes no estudo (n=13, idades compreendidas entre os 22 e os 39
anos, 5 do sexo feminino e 8 do sexo masculino), a análise da informação associada ao perfil de
utilizador permitiu verificar que todos os participantes se identificam com o nome real, 10 utilizam
como imagem de identificação uma foto real, um utiliza avatar e dois não utilizam qualquer
imagem de representação. Ao nível da informação adicional, no SAPO Campus seis dos
participantes publicam informação biográfica (e.g. data de nascimento, localidade); informação
sobre interesses ou preferências e relação com a comunidade é partilhada por seis dos
participantes, enquanto quatro publicam informação que estabelece a ligação para outros
espaços ou redes. Apenas dois dos 13 participantes no estudo partilham informação de
contacto.
No que diz respeito à utilização da plataforma, e a partir do tratamento da informação
recolhida pela aplicação dos questionários, verifica-se que 85% utiliza os blogs semanalmente,
7,5% numa base diária e 7,5% mensalmente ou menos de uma vez por mês. Quanto ao serviço
de partilha de fotos, será utilizado semanalmente por 15% dos participantes e mensalmente ou
menos de uma vez por mês por 85%. No que se refere ao serviço de partilha de vídeos, um
participante afirma nunca ter utilizado o serviço enquanto 69% afirma utilizá-lo uma vez ou menos
de uma vez por mês, e 15% numa base semanal. Um participante respondeu utilizar o serviço de
partilha de vídeos diariamente.
Na análise das publicações efetuadas pelos 13 participantes no SAPO Campus, e numa
análise aos resultados absolutos, verifica-se que nos períodos compreendidos entre setembro
de 2009 e junho de 2010 e setembro de 2010 e junho de 2012, os participantes publicaram
sobretudo fotos (45% dos 347 conteúdos analisados, i.e. 157 publicações, estão inseridos nesta
categoria) e mensagens de texto (32%, correspondentes a 111 das 347 publicações registadas).
Das 157 fotos registadas, 97 foram publicadas por um único participante no mesmo dia, e fazem
parte de um único álbum. Relativamente à tipologia do conteúdo, 66% do total de publicações
registadas na plataforma nos períodos considerados no estudo correspondem a conteúdos de
caráter académico, e 44% a conteúdos de caráter social.
Capítulo V – Discussão dos resultados
164
5.1.2 A inf luência da dimensão inst i tucional da plataforma na modelação de
comportamentos
Ainda dentro do estudo da identidade construída no SAPO Campus, procurou-se analisar a
influência da dimensão institucional da plataforma, i.e., o facto de ser suportada
institucionalmente, na modelação do comportamento dos utilizadores ao nível do conteúdo
publicado. Questionados nas entrevistas sobre o conteúdo que publicam no SAPO Campus, os
participantes no estudo caraterizam a sua presença como sendo assente na partilha de
conteúdos académicos (afirmação feita por todos os participantes), situação que, de acordo
com quatro dos 13 participantes, esteve diretamente relacionada com a obrigatoriedade da
utilização da plataforma (P06, P07, P09 e P13).
No que diz respeito à influência da plataforma no tipo e estrutura dos conteúdos publicados
pelos participantes46, oito participantes afirmam ter sido influenciados, ao nível do tipo e estrutura
dos conteúdos, pela associação entre do SAPO Campus e a Universidade de Aveiro.
Relativamente aos motivos apresentados para esta situação, a análise da informação recolhida a
partir do discurso direto dos participantes revelou a existência de dois grandes motivos/razões: o
caráter institucional da plataforma (argumento avançado pelos participantes P01, P02, P04, P05
e P06), que conduziu à adoção de um discurso mais profissional, estruturado, direcionado para
o universo académico e de investigação; e a responsabilidade relativamente aos conteúdos
publicados, enquanto imagem da própria instituição (P03, P12 e P13). Na perspetiva destes
participantes (P03, P12 e P13), os conteúdos publicados na plataforma ficam associados à
imagem da própria Universidade devendo, por isso, existir o cuidado de não partilhar conteúdos
que possam direta ou indiretamente “estragar o bom nome da universidade” (P03). Quatro dos
treze participantes afirmam não ter sido influenciados pelo facto de a sua identidade no SAPO
Campus estar associada à sua identidade real enquanto aluno: “não influencia” (P07, P09),
“talvez uma atençãozinha mais profissional” (P10), “não fez diferença nenhuma, nunca pensei
nisso” (P11)
5.1.3 Visibi l idade e exposição dos conteúdos publ icados no SAPO Campus
No SAPO Campus, todos os conteúdos ficam visíveis para a comunidade académica e para
a rede em geral quer através da presença (divulgação automática) na página principal da
plataforma47 quer pela consulta das páginas de cada um dos serviços48 ou da pesquisa por
46!Questão nº 5 do guião da entrevista, “No SAPO Campus a tua identidade virtual está associada à tua identidade real, enquanto aluno. De que forma é que isso influencia o que publicas/ a forma como te manifestas?”.!
47 Disponível em http://campus.ua.sapo.pt, acedida a 5 de setembro de 2012.!
A construção da identidade em ambientes digitais!
165
utilizador49.
Questionados quanto às vantagens e desvantagens de terem os seus conteúdos visíveis
para a comunidade académica e disponíveis na rede, dos pontos positivos apontados pelos
participantes destacam-se:
" a rapidez de feedback aos conteúdos ou questões colocadas (ponto referido pelos
participantes P01, P03, P06, P10, P12 e P13);
" a possibilidade de interação com outros públicos ou comunidades (referido pelos
participantes P03, P08, P10, P12 e P13);
" e a maior divulgação dos trabalhos realizados (P01, P08 e P12).
Os participantes referiram ainda o tracking dos trabalhos produzidos durante o percurso
académico e arquivados no SAPO Campus (P12 e P13), e o facto de, pela publicação de
conteúdos na plataforma, o aluno se evidenciar enquanto indivíduo e ter a possibilidade de
destacar e evidenciar as suas competências e capacidades (P01, P10) como vantagens de ter
uma presença construída na plataforma. No que diz respeito às desvantagens, dois dos
participantes (P01 e P06) referem que, ao divulgarem os seus conteúdos na plataforma,
aumentam o risco de verem os seus trabalhos copiados ou apropriados por outrem.
5.1.4 Ident idade onl ine no SAPO Campus: a relevância da associação
inst i tucional
Questionados quanto à importância de terem uma presença online associada à instituição de
ensino que frequentam e ao impacto dessa mesma presença na imagem e identidade da
universidade (questões 17 e 18 do guião da entrevista), nove dos 13 participantes apontam a
transferência ou repercussão da credibilidade e reputação da Universidade de Aveiro na
identidade dos alunos como uma das maiores vantagens de se construir uma presença no
SAPO Campus. No entender destes participantes, a associação das duas identidades potencia
uma transferência de reputação entre a instituição e os alunos, surgindo a relação assim
concretizada como um “cartão de visita importante” (P11). Ainda de acordo com a opinião dos
participantes, o prestígio da Universidade (P05) poderá refletir-se e influenciar o trabalho do
próprio aluno que, de certa forma, poderá sentir a responsabilidade de estar associado a uma
universidade com reputação (P02) e procurar, pela publicação de conteúdos no SAPO Campus,
construir uma identidade que corresponda à imagem da sua instituição.
48!Disponível em http://fotos.ua.sapo.pt, http://videos.ua.sapo.pt e http://blogs.ua.sapo.pt, acedida a 5 de setembro de 2012.!
49! Diretório de utilizadores, disponível em http://campus.ua.sapo.pt/utilizadores e acedido a 5 de setembro de 2012.
Capítulo V – Discussão dos resultados
166
No que diz respeito a desvantagens ou problemas na construção de uma identidade na
plataforma ligada à instituição, um participante aponta o facto de os conteúdos publicados
poderem ser considerados como “propriedade” da Universidade como um dos factores poderá
condicionar a maior participação dos alunos (P06). Considerando o currículo enquanto aluno e
profissional como algo que ultrapassa o percurso académico, o participante prefere ter a sua
identidade construída em espaços ou plataformas externas à instituição, facto referido por outro
participante (P12) que prefere manter separadas a sua identidade académica da sua identidade
enquanto profissional.
Ao analisar as opiniões dos participantes relativamente às questões acima abordadas,
verificou-se, no discurso de nove dos 13 participantes, um cuidado relativamente ao impacto que
a imagem online dos alunos poderá ter na imagem da instituição que frequentam. Apontando
como riscos da adoção de uma plataforma com as caraterísticas do SAPO Campus a
potencialidade de ocorrência de plágio ou de apropriação de trabalhos de outros alunos, estes
participantes sugerem a filtragem ou moderação dos conteúdos publicados/a publicar como
forma de proteger a Universidade de eventuais danos à sua imagem.
De acordo com um dos participantes (P13), “tem de haver uma filtragem dos conteúdos,
porque é a imagem da universidade que está lá fora, tudo o que os alunos produzem nas
universidades, felizmente ou infelizmente, tem o carimbo da universidade”. Assim, para além da
moderação de conteúdos (defendida por três dos participantes, P02, P09 e P13), dever-se-ia ter
um especial cuidado na apresentação, adoção e contextualização da plataforma enquanto
espaço de construção de identidade (P02 e P10). No sentido de “salvaguardar a imagem da
universidade” (P02), a utilização da plataforma deveria ser precedida de sessões de
esclarecimento, de forma a que tanto os utilizadores como aqueles que acedem à plataforma
tomassem conhecimento das condições em que os conteúdos são produzidos e publicados:
" “[deveriam] informar relativamente ao tipo de licença, à visibilidade dos conteúdos, para
que se saiba que é um sistema aberto, que todos podem aceder e onde cada um pode
publicar livremente, logo poderão surgir conteúdos menos positivos, é necessário
salvaguardar a imagem da universidade. Da mesma forma, quem “acede” deverá ter
conhecimento destas regras e pressupostos, para salvaguardar a imagem da
universidade e da pessoa que publica!” (P02).
A construção da identidade em ambientes digitais!
167
5.2 A construção da identidade em ambientes digitais
Incidindo sobre a identidade construída e manifestada no SAPO Campus e nas redes
informais consideradas no presente estudo (i.e. Facebook e Twitter), a informação apresentada
nos pontos que se seguem tem como finalidade responder à segunda questão de investigação:
" que aspetos caraterizam a identidade online construída numa plataforma suportada
institucionalmente (i.e. SAPO Campus) e aquela construída em ambientes informais?
Assim, e recuperando-se parte da informação apresentada na secção anterior, proceder-se-á
à caraterização da identidade construída no SAPO Campus e aquela construída no Facebook e
no Twitter, nomeadamente pela apresentação da informação disponibilizada no perfil dos 13
participantes, e à tipologia e formato dos conteúdos publicados no período em análise
(setembro de 2009 e junho de 2010, e setembro de 2010 e junho de 2011). Ainda no que se
refere à construção da identidade em ambientes digitais, serão apresentadas as principais
medidas adotadas pelos participantes na gestão da sua identidade online e as reflexões
decorrentes da aplicação do modelo para a análise da identidade online (apresentado no
capítulo IV, ponto 4.6) à identidade construída pelos participantes no estudo.
5.2.1 A Representação digita l
No SAPO Campus, a informação de perfil encontra-se distribuída por quatro separadores:
“informação pessoal”, “interesses”, “contactos” e “informação académica”. No que diz respeito
à informação pessoal, os utilizadores podem incluir neste espaço informação biográfica (nome,
sexo, data de nascimento, naturalidade, local de residência, local, concelho e distrito de
nascimento), e informação adicional, num campo designado como “sobre mim”. No separador
dos “interesses”, podem adicionar informação sobre atividades e interesses, livros, música,
filmes e séries de televisão; no separador de “contactos”, têm a possibilidade de adicionar ao
seu perfil endereços de e-mail e instant messaging, endereço de páginas pessoais, números de
telefone móvel e fixo e ainda endereço postal. Por último, no separador “informação académica”,
podem adicionar informação referente ao ensino secundário e ensino superior (e.g. nome da
escola frequentada)50.
Numa análise global da informação associada ao perfil de utilizador (i.e., resultante da análise
da informação global dos participantes e não da análise individual de cada perfil), e seguindo a
estrutura apresentada na proposta de modelo para a análise da identidade online, verifica-se
que, no SAPO Campus, dois dos participantes não associam qualquer imagem ao seu perfil de
50 Informação recolhida em 21 de março de 2012, nas páginas de perfil de utilizadores do SAPO Campus.
Capítulo V – Discussão dos resultados
168
utilizador. Dos 13 participantes, 46% partilha informação biográfica e apenas 15% partilha
informação de contacto. A partilha de interesses e preferências e a relação com a comunidade é
visível em apenas 46% dos perfis dos participantes, e apenas 31% estabelece, na página de
perfil, ligação para outros espaços ou redes onde constrói a sua presença.
No Facebook, a informação relacionada com o perfil de utilizador está organizada em sete
secções: “Trabalho e formação”, onde se pode adicionar informação referente às instituições
educativas e profissionais frequentadas (nome e período de frequência); “Residência”, onde se
pode adicional informação referente à localização atual e naturalidade; “Relações e família”
onde, para além do estado civil, se podem pesquisar e associar relações familiares ao perfil;
“Sobre ti”, um campo aberto onde se pode adicionar qualquer tipo de informação; “Informação
básica”, que inclui informação biográfica (data de nascimento, sexo), estado civil, idiomas,
crenças religiosas e ideologia política, ambos com campo de descrição; “Informação de
contacto”, onde se podem adicionar endereços de e-mail, telemóveis ou outros números de
telefone, nomes de utilizador e instant messaging, endereço postal, endereço de sites pessoais,
ligações para redes; e “Citações favoritas”, um campo aberto onde o utilizador pode inserir
citações ou frases de motivação pessoal entre outras. O “nome” é adicionado no campo das
definições gerais de conta, aquando do registo, podendo – tal como a imagem de perfil – ser
alterado pelo utilizador51. Na mesma análise global da informação presente nos perfis do
Facebook, constata-se que todos os participantes associam o nome e imagem real ao perfil de
utilizador, e 92% partilham ainda informação biográfica e informação que estabelece relação
com a comunidade. 62% dos participantes disponibiliza no seu perfil informação de contacto, e
54% informação referente a interesses ou preferências. Apenas 31% dos participantes
estabelece, no seu perfil, ligação para outros espaços.
No Twitter, no que diz respeito à informação do perfil de utilizador, é possível definir a
imagem e nome a associar ao perfil, adicionar informação referente à localização e endereço de
página pessoal; é disponibilizado, ainda, um campo designado por “bio”, onde o utilizador é
convidado a incluir uma descrição que não ultrapasse os 160 carateres e pode-se, também,
ativar a publicação automática dos posts (publicados nesta rede) no Facebook.52 Da análise dos
perfis dos participantes registados neste espaço (8 utilizadores), verifica-se que para além da
associação do nome próprio/real e de uma imagem real ao seu perfil, 63% dos participantes
associa informação que estabelece ligação para outros espaços ou redes. 13% partilha
informação relativa a interesses ou preferências e informação que estabelece relação com a
comunidade. Em nenhum dos perfis se verifica a associação de informação biográfica ou de
contacto.
51 Informação recolhida em 21 de março de 2012, nas páginas de perfil de utilizador do Facebook.
52!Informação recolhida em 21 de março de 2012, nas páginas de perfil de utilizador do Twitter.!
A construção da identidade em ambientes digitais!
169
Figura 2 – informação disponibilizada pelos participantes no perfil de utilizador
Ainda no que diz respeito à representação digital dos participantes nos três espaços
considerados para o estudo, a análise da informação recolhida nas grelhas de observação e já
apresentada em 4.5 – “A construção da identidade em ambientes digitais” –, permite constatar
que, no SAPO Campus, a informação partilhada é maioritariamente académica (66% do total de
conteúdos publicados insere-se nesta categoria). No que se refere ao formato das publicações,
regista-se a predominância de partilha de fotos (45%) e mensagens de texto (32%), seguidas da
publicação de ligações para outros conteúdos (16%) e partilha de conteúdos de áudio/vídeo
(7%).
Plataforma Conteúdo Formato Total Texto Ligação Áudio/vídeo Foto
SAPO Campus
Pessoal 0 0 0 0 0 Social 6 1 3 108 118 Académico 105 54 21 49 229 Profissional 0 0 0 0 0 Organizacional 0 0 0 0 0
Total 111 55 24 157 347
Quadro 26 - Conteúdos publicados pelos participantes no SAPO Campus
Nome de utilizador SAPO Campus 100% Facebook 100% Twitter 100% Imagem de perfil SAPO Campus 85% Facebook 100% Twitter 100% Informação biográfica SAPO Campus 46% Facebook 92% Twitter 0% Informação de contacto SAPO Campus 15% Facebook 62% Twitter 0% Interesses e preferências SAPO Campus 46% Facebook 54% Twitter 13% Relação com a comunidade SAPO Campus 46% Facebook 92% Twitter 13% Ligação para outros espaços SAPO Campus 31% Facebook 31% Twitter 63%
Capítulo V – Discussão dos resultados
170
No Facebook a presença construída pelos participantes é marcadamente social (82% dos
conteúdos publicados inserem-se nesta categoria), sendo a presença de conteúdos de caráter
pessoal (7%), profissional (5%), académico (4%) e organizacional (2%) praticamente residual. No
que diz respeito ao formato das publicações, mais de metade (56%) dos conteúdos publicados
nesta rede pelos participantes consiste em conteúdos de áudio/vídeo, 23% em partilha de
ligações para outros espaços ou utilizadores, 11% em mensagens de texto e 10% na partilha de
imagens ou fotos.
Plataforma Conteúdo Formato Total Texto Ligação Áudio/vídeo Foto
Pessoal 54 5 3 31 93 Social 74 185 674 86 1019 Académico 4 41 7 0 52 Profissional 4 43 7 11 65 Organizacional 0 15 3 2 20
Total 136 289 694 130 1249
Quadro 27 - Conteúdos publicados pelos participantes no Facebook
Por último, e no que diz respeito à presença construída no Twitter, a análise dos dados
recolhidos permite avançar que – à semelhança do verificado no Facebook – a presença é
marcadamente social (81% dos conteúdos publicados inserem-se nesta categoria). Verifica-se,
contudo, a presença de conteúdos de teor académico, numa percentagem superior à registada
no Facebook (10% dos conteúdos publicados no Twitter inserem-se nessa categoria). A
presença de conteúdo pessoal, profissional e organizacional (3% em cada categoria) é
reduzida. No que diz respeito ao formato das publicações, verifica-se a predominância de
partilha de ligações (46%), seguida de mensagens de texto (35%) e partilha de conteúdos
áudio/vídeo (14%). A partilha de imagens ou fotos é apenas de 5%.
Plataforma Conteúdo Formato
Total Texto Ligação Áudio/vídeo Foto
Pessoal 40 10 0 12 62 Social 598 748 272 88 1076 Académico 68 120 5 9 202 Profissional 26 27 3 2 58 Organizacional 6 59 3 0 68
Total 738 964 283 111 2096
Quadro 28 - Conteúdos publicados pelos participantes no Twitter
A construção da identidade em ambientes digitais!
171
5.2.1.1 Representação digital: controlo da subjetividade
De acordo com o referido em 3.5.1 optou-se, como método de controlo da subjetividade,
pela replicação da análise dos conteúdos publicados pelos participantes nos três espaços cinco
meses depois da primeira análise. Assim, das 347 publicações efetuadas pelos participantes no
estudo no SAPO Campus, foram sujeitas a segunda análise 299 mensagens; para o Facebook,
foram analisadas 622 mensagens; e para o Twitter foram analisadas 909 mensagens53. O quadro
29 apresenta as percentagens de concordância nas codificações, para cada um dos
participantes em cada um dos espaços54.
Participante SAPO Campus Facebook Twitter
formato tipologia formato tipologia formato tipologia
P01 94% 100% 100% 100% 100% 100%
P02 86% 100% 94% 100% 96% 100% P03 100% 100% 99% 98% 93% 99% P04 95% 100% 100% 100% 94% 100%
P05 92% 100% 95% 100% ----- ----- P06 100% 100% 100% 100% ----- -----
P07 100% 100% 100% 99% ----- ----- P08 100% 100% 100% 100% 97% 100% P09 88% 100% 94% 100% 96% 100%
P10 100% 100% 97% 100% ----- ----- P11 94% 100% 98% 100% ----- ----- P12 100% 100% 100% 100% ----- -----
P13 92% 100% 95% 100% 100% 100%
Quadro 29 - Concordância entre os dois momentos de codificação
Pela análise dos dados apresentados no quadro é possível observar que, ao nível do formato
das publicações (i.e. mensagem, ligação, áudio/vídeo e foto) apenas em três dos participantes
(P06, P07 e P12) se verificou a total concordância entre o primeiro e o segundo momento de
codificação. De referir, contudo, que nos casos em que a discrepância é mais elevada (i.e.
inferior a 95%) a análise dos quadros disponibilizados no anexo 755 permite constatar que as
percentagens de não concordância correspondem a valores não superiores a: duas mensagens
(no caso das publicações no SAPO Campus); cinco mensagens (no caso das publicações no
Facebook); e a nove mensagens (no caso das publicações no Twitter).
53 Amostra estratificada, ou seja, o cálculo do número de mensagens a analisar foi feito tendo em conta o peso das mensagens publicadas por cada participante em cada um dos espaços.
54 Quadros com as concordâncias para cada um dos participantes disponíveis no Anexo 7 (disponível apenas em formato digital).
55 Anexo 7 - Análise do conteúdo, tipologia e forma, disponível apenas em formato digital.
Capítulo V – Discussão dos resultados
172
No que se refere à tipologia das publicações (i.e. pessoal, social, académico, profissional e
organizacional) são poucas as discrepâncias verificadas entre o primeiro e o segundo momento
de codificação: para onze dos 13 participantes, a concordância é de 100%, e nos dois casos em
esta situação não se verificou o grau de discordância é inferior a cinco pontos percentuais.
5.2.2 A gestão da identidade: mecanismos e estratégias
Na construção da sua identidade online – considerando ou não as caraterísticas do mundo
digital ao nível da persistência, possibilidade de pesquisa, replicabilidade e exposição da
informação (Boyd, 2008b) – os indivíduos podem recorrer a processos ou estratégias no sentido
de obter um relativo grau de controlo sobre a informação que disponibilizam na rede. Nas
entrevistas, os participantes no estudo foram questionados quanto às medidas específicas ou
gerais que adotavam para gerir a sua presença e privacidade na rede. Assim, ao nível do
conteúdo, apontaram como principais medidas de gestão da identidade:
" a edição e seleção prévia dos conteúdos a publicar (referida por sete participantes);
" a não publicação de conteúdos de caráter pessoal (referida por seis participantes);
" a adequação dos conteúdos ao espaço onde serão publicados (referida por cinco
participantes);
" a revisão e edição (a posteriori) de conteúdos publicados, i.e., a remoção de
conteúdos já publicados mas que terão perdido a pertinência ou relevância (referida
por dois participantes);
Ao nível da gestão da privacidade (i.e. medidas que visam obter um maior controlo sobre a
informação publicada e a identidade criada na rede), os participantes no estudo apontam como
mais relevantes:
" a gestão da rede de contactos, seja pela seleção dos contactos a adicionar a cada
rede ou pela criação de grupos (referida por quatro participantes);
" a criação de diferentes identidades, pela utilização de diferentes contas de e-mail
e/ou diferentes usernames (referida por um participante);
" a eliminação de contas criadas mas não utilizadas (referida por um participante).
Cruzando as medidas avançadas pelos participantes com aquelas apresentadas ou
sugeridas pelas profissionais entrevistadas no estudo (cf. Cap. IV, secção 4.2), verifica-se a
coincidência, ao nível dos cuidados relacionados com o conteúdo, de diversos pontos nos dois
discursos. Assim, tanto os participantes como os profissionais apontam o cuidado relativamente
A construção da identidade em ambientes digitais!
173
aos conteúdos a publicar – edição e seleção prévia dos conteúdos – como uma das principais
medidas a ter em conta na gestão da identidade online. De referir ainda que, enquanto a
responsável pelos SCRIP-UA refere a importância da adequação dos conteúdos ao contexto de
cada espaço ou plataforma, a profissional de comunicação nos novos media reforça a
necessidade de se efetuar uma boa e adequada gestão da rede de contactos.
5.2.3 Ident idade onl ine: anál ise da presença na rede a part i r do Modelo para
a Anál ise da Identidade Onl ine
De acordo com o referido em 3.3.1, o estudo da construção da identidade online no SAPO
Campus foi limitado aos alunos inscritos no segundo ano do Mestrado em Comunicação
Multimédia (MCMM), curso administrado pelo Departamento de Comunicação e Arte da
Universidade de Aveiro. Considerando o forte cariz multimédia do curso e o envolvimento dos
docentes na utilização de software social e da plataforma institucional ao longo do curso, este
grupo foi considerado como aquele que poderia reunir as condições necessárias para funcionar
como um grupo piloto de utilizadores da plataforma e, ao mesmo tempo, possuir uma formação
e experiência ao nível das literacias digitais que possibilitasse uma análise mais profunda e
detalhada da identidade construída na rede.
A partir da análise da informação recolhida pela aplicação dos questionários, procedeu-se à
caraterização dos respondentes (n=58) e, por fim, ao contacto dos alunos que participaram nas
entrevistas e cuja identidade online foi objeto de estudo (n=13). Sendo esta uma amostra por
conveniência, não pode nem deve ser considerada como representativa da população. Mais
ainda, e de acordo com o mencionado acima, os próprios alunos do Mestrado em Comunicação
Multimédia – dado o seu percurso académico – possuem um conhecimento e uma
experimentação muito próprias das ferramentas e tecnologias, o que poderá, direta ou
indiretamente, dotá-los de uma consciência mais acurada relativamente às questões
relacionadas com a identidade online.
Com a consciência das limitações da amostra por conveniência, e particularmente da
amostra considerada para o presente estudo, a proposta de Modelo para a Análise da
Identidade Online foi aplicada à informação recolhida através das entrevistas e da análise dos
conteúdos publicados pelos participantes. Esta análise, limitada aos participantes no estudo e
apresentada nos pontos anteriores, possibilitou a identificação de pontos comuns ao nível da
representação digital, gestão da privacidade e reputação dos participantes, passíveis de serem
organizadas em dois grandes tipos de comportamento na rede: utilizadores que orientam a
identidade que constroem na rede de acordo com o contexto (e.g. de acordo com o espaço,
com as caraterísticas do espaço, com os contactos que têm adicionados em cada espaço); e
utilizadores que constroem a sua identidade online de acordo com as suas próprias
Capítulo V – Discussão dos resultados
174
preferências, i.e., independentemente do contexto.
Designando a primeira abordagem como “identidade online orientada pelo contexto” e a
segunda como “identidade orientada pelo utilizador”, os pontos que se seguem apresentam
a reflexão decorrente da análise da informação recolhida no quadro 25 e a caraterização de
cada uma das tipologias. À semelhança das categorias propostas no Modelo para a Análise da
Identidade Online, os perfis apresentados não deverão ser considerados como absolutos ou
como entidades fixas estanques mas antes como áreas dinâmicas dentro das quais os
utilizadores vão definindo a sua presença.
5.2.3.1 Identidade orientada pelo contexto
Quando construindo uma identidade online orientada para o contexto, estes participantes
revelam cuidado na seleção e produção dos conteúdos a publicar, adequando o tipo de
discurso, tópicos abordados e tipologia de conteúdo ao contexto e/ou plataforma (P01, P03,
P04, P05, P06, P08, P10, P12 e P13) e gerindo a sua rede de contactos de acordo com os
contextos (P03, P05, P10, P12 e P13) ou independentemente do espaço online ( P01, P04,P07 e
P08). De acordo com a finalidade com que constroem a sua presença, os participantes
caraterizados como tendo uma identidade online orientada para o contexto foram organizados
em dois subgrupos:
" participantes que, tendo uma presença online ativa, constroem uma identidade
assente na publicação de conteúdos que acreditam ser “seguros”, i.e., conteúdos
que tornam concreta e visível a sua presença na rede mas que não revelam
demasiado sobre a sua identidade;
" participantes que, selecionando os conteúdos que publicam na rede, utilizam o
espaço online como forma de manifestação e demonstração de competências e
capacidades, trabalhando uma identidade orientada para a construção de uma
reputação enquanto alunos e profissionais.
No que diz respeito aos participantes do primeiro subgrupo, e de acordo com a informação
recolhida pelas entrevistas e pela análise do conteúdo, estes optam por não utilizar os espaços
informais para manifestar ou comprovar a existência de capacidades ou competências,
assentando a sua presença nestes espaços (i.e. Facebook e Twitter) na partilha de conteúdo de
caráter social (83% dos conteúdos foram codificados nesta categoria). Não adotando medidas
específicas ao nível da gestão da identidade (apenas um dos participantes incluídos neste grupo
referiu gerir os contactos de acordo com o espaço, eliminando contactos que considerasse
desnecessários), orientam a sua presença pela não publicação de conteúdo pessoal. Dos
conteúdos publicados pelos participantes deste grupo nas redes informais, apenas 6,4% foi
considerado como sendo de caráter pessoal, e 0,2% de caráter profissional. No SAPO Campus,
A construção da identidade em ambientes digitais!
175
adicionam informação referente à instituição de ensino que frequentam e publicam conteúdo de
caráter académico, relacionado com os seus trabalhos de investigação (47% dos conteúdos
foram codificados nesta categoria); um dos participantes incluído neste subgrupo utilizou o
SAPO Campus para a partilha de conteúdos de caráter social, que no resultado final compõem
53% dos conteúdos publicados pelos seis participantes neste espaço.
Ao nível da informação partilhada no perfil de utilizador, os participantes incluídos neste
grupo utilizam o nome real para identificação quer nos espaços informais quer no SAPO
Campus. Nas redes informais, utilizam uma imagem real enquanto forma de representação,
partilham informação biográfica, e a relação com a comunidade é estabelecida pela partilha de
informação referente ao estabelecimento de ensino que frequentam. Informação de contacto e
informação que estabeleça ligação com outros espaços é partilhada por apenas metade dos
participantes incluídos neste grupo.
A informação disponibilizada no perfil do SAPO Campus varia, não tendo sido possível
estabelecer um perfil-tipo. Embora todos se identifiquem com o nome real, apenas três dos
participantes se identificam com imagem real, e dois participantes não adicionam qualquer
imagem de representação. Três disponibilizam informação de contacto, três partilham
informação de relação com a comunidade e dois partilham ligação para outros espaços ou
redes. A este grupo, poderão ser associados os participantes P01, P06, P07, P08 e P12.
No que diz respeito ao segundo subgrupo inserido neste perfil, os participantes distinguem-
se do anterior pela utilização intencional e assumida da rede enquanto meio de projeção da sua
identidade enquanto aluno e profissional (aspeto referido pelos cinco participantes). Com uma
forte presença nas redes informais, e ainda que publicando conteúdos maioritariamente sociais,
associam à sua presença conteúdos de caráter académico e profissional (8,5% dos conteúdos
incluem-se nestas duas categorias), conteúdo sobretudo baseado em links para a página
académica ou profissional e para conteúdos publicados no SAPO Campus. Apenas 2,3% do
conteúdo foi codificado em “pessoal”. Ao nível da gestão da privacidade, preocupam-se
sobretudo com a gestão dos contactos (aspeto referido por quatro dos cinco participantes) e
estabelecem uma distinção ao nível de contactos pessoais e profissionais, selecionando as suas
ligações de acordo com o contexto a que pertencem.
Assumindo utilizar a rede como forma de demonstração e divulgação de competências e
capacidades, partilham conteúdo entre plataformas (publicação de conteúdos do SAPO
Campus nas redes informais, observada no perfil de todos participantes) e interagem com pares
e peritos para colocar questões, solicitar feedback ou revelar os trabalhos produzidos. Dos cinco
participantes incluídos neste subgrupo, apenas dois (P05 e P13) não disponibilizam informação
de contacto e ligação para outros espaços online onde construa a sua presença. No SAPO
Campus, os participantes constroem uma presença assente na publicação de conteúdos de teor
Capítulo V – Discussão dos resultados
176
académico e relacionado com os seus trabalhos de investigação (86% dos conteúdos incluem-
se nesta categoria), que republicam nas redes informais (verificado em todos os participantes).
Nas páginas do SAPO Campus de dois dos participantes, todos os conteúdos são publicados
em inglês.
Ao nível da informação partilhada no perfil de utilizador, os participantes incluídos neste
grupo utilizam o nome real para identificação quer nos espaços informais quer no SAPO
Campus. Nas redes informais utilizam uma foto real como forma de representação, partilham
informação biográfica (exceção: P05, que não partilha informação biográfica, de contacto e não
publica informação que estabeleça relação com a comunidade ou para outros espaços) e a
relação com a comunidade é visível na publicação de informação referente à formação
académica e instituição de ensino. Três dos cinco participantes incluídos neste subgrupo
partilham informação de contacto.
No que diz respeito à informação partilhada no perfil do SAPO Campus, os participantes
identificam-se com o nome e imagem real (exceção: participante P05, que não adiciona qualquer
imagem de representação), única informação partilhada no perfil da plataforma. Nenhum dos
participantes publica informação de contacto ou estabelece ligação para outros espaços onde
construa a sua presença. A este grupo, poderão ser asssociados os participantes P03, P04, P05,
P10 e P13.
5.2.3.2 Identidade orientada pelo utilizador
Os participantes incluídos neste grupo (P02, P09 e P11) distinguem-se do grupo e subgrupos
anteriores pela construção, na rede, de uma presença orientada pelos seus próprios interesses
(ao nível do conteúdo partilhado, do tipo de discurso adotado) e não pelas caraterísticas de
cada um dos espaços online onde manifestam a sua identidade. Utilizando a rede como espaço
de divulgação de competências e construção de uma reputação profissional e interação com
pares e especialistas, afirmam construir uma identidade online que reflete a sua própria
identidade e interesses enquanto indivíduo. Publicando conteúdo de acordo com as suas
preferências e não de acordo com as caraterísticas da plataforma (pessoal, social, académica
ou profissional), associam à sua identidade online conteúdos pessoais e profissionais,
académicos e organizacionais, não se coibindo de abordar temáticas mais sensíveis como
questões políticas, ideológicas ou sociais. Não adotando medidas especiais ao nível da gestão
da privacidade, não assumem cuidados particulares ao nível da gestão de contactos e
estabelecem ligação entre a presença construída em ambientes informais (e.g. Facebook) e a
sua presença profissional (site pessoal). Ainda que afirmem adotar uma abordagem mais flexível
e pessoal no que diz respeito à identidade online, têm consciência da visibilidade e exposição da
sua presença da rede, adotando a reprodução de conteúdo entre plataformas e a interação com
A construção da identidade em ambientes digitais!
177
pares e especialistas como forma de divulgação e projeção dos trabalhos desenvolvidos.
Nas redes informais, partilham conteúdo de caráter pessoal (5% do conteúdo foi codificado
nesta categoria, sobretudo mensagens de texto) e, ainda que a presença nestes espaços seja
maioritariamente social (71% do conteúdo publicado pelos participantes insere-se nesta
categoria), partilham ainda conteúdos de caráter académico (12%) e profissional (7%). No SAPO
Campus, a presença é exclusivamente académica, com partilha de mensagens de texto,
ligações, ficheiros áudio-vídeo e fotos. Ao nível da informação partilhada no perfil de utilizador,
os participantes incluídos neste grupo destacam-se dos anteriores pela partilha, nas redes
informais e no SAPO Campus, do mesmo tipo de informação: nome e foto real, informação
biográfica, informação de contacto, interesses e preferências, relação com a comunidade e
ligação para outros espaços (i.e. para o site pessoal).
5.2.3.3 Identidade online: posicionamento dos participantes
A figura 7 procura representar, de forma gráfica, o posicionamento dos 13 participantes
relativamente à tipologia de identidade online apresentada.
Figura 3 - Posicionamento dos participantes de acordo com o seu perfil de identidade online56
56 Identidade orientada pelo contexto [rede enquanto espaço de publicação de conteúdos seguros]: publicação de conteúdos considerados “seguros” pelos participantes; publicação de conteúdos dissociada do desejo de revelação de competências ou capacidades; partilha de conteúdo de caráter social; consciência da visibilidade e exposição da identidade online; gestão da identidade assente na não publicação de conteúdos pessoais.
Capítulo V – Discussão dos resultados
178
5.3 Identidade online, espaço de manifestação de competências
Pela publicação de conteúdo na rede, os indivíduos estão ao mesmo tempo a construir uma
identidade que pode ser orientada para a divulgação, a uma vasta audiência, das suas
potenciais e reais capacidades profissionais e pessoais. Tomando como ponto de partida a
perceção dos participantes no estudo e dos profissionais entrevistados, esta secção procura dar
resposta à terceira questão de investigação:
" qual a importância (percebida por alunos, instituição e comunidade) da identidade
online enquanto meio de manifestação e divulgação de competências ?
Centrada na informação referente aos participantes no estudo e naquela recolhida pelas
entrevistas realizadas aos três profissionais, procurar-se-á responder à questão de investigação
apresentando a perceção dos participantes relativamente à importância da sua identidade
online, e a enunciação das competências que, segundo os próprios, serão manifestadas nos
espaços onde constroem a sua presença. Proceder-se-á, ainda, ao confronto entre a perceção
dos indivíduos (informação recolhida dos questionários e a partir das entrevistas) e a informação
recolhida pela observação direta (análise da tipologia de conteúdo).
5.3.1 A importância da identidade onl ine em contexto prof issional
Num contexto em que a rede aproxima utilizadores e comunidades, a construção de uma
identidade que reflita ou espelhe as competências pessoais, sociais e profissionais dos
indivíduos, poderá ser compreendida como uma mais valia e um fator de diferenciação em
termos profissionais. Questionadas quanto à importância de se ter e construir uma presença na
rede, acessível a uma vasta comunidade, as profissionais entrevistadas para este estudo
apontam a possibilidade de interação e a rapidez no feedback, o conhecimento da realidade e
das dinâmicas das comunidades e a maior visibilidade e exposição da presença construída
como algumas das vantagens de se ter uma identidade online. Para a responsável dos SCIRP
da Universidade de Aveiro, a facilidade de interação reflete-se não apenas na rapidez de
feedback mas também na possibilidade de analisar e conhecer o impacto das diferentes
Identidade orientada pelo contexto [rede enquanto espaço de manifestação de competências]: publicação de conteúdos que evidenciem ou demonstrem a existência de competências; utilização assumida da rede enquanto espaço de construção de reputação profissional; partilha de conteúdos entre plataformas; consciência da visibilidade e exposição da identidade online; gestão da identidade assente na gestão de contactos e contextos.
Identidade orientada pelo utilizador [rede enquanto reflexo das preferências e interesses do indivíduo]: desvalorização do contexto enquanto fator de influência; partilha de conteúdos entre plataformas; construção de reputação profissional; partilha de opinião sobre temáticas sensíveis (e.g. política); consciência da visibilidade e exposição da identidade online; gestão da identidade orientada pelos interesses e preferências.
A construção da identidade em ambientes digitais!
179
iniciativas ou comportamentos na rede, facilitando o ajuste e a planificação de ações futuras.
Outra profissional entrevistada, a gestora do gabinete de carreiras e estágios, refere o
conhecimento da atualidade, a necessidade de acompanhar e fazer parte das dinâmicas e
temas em discussão no dia-a-dia, perceção de como o mundo funciona como pontos decisivos
para a opção de se ter uma presença na rede. Questionada sobre o mesmo assunto, a terceira
entrevistada – profissional de comunicação nos novos media – afirma que, profissionalmente,
“quem não estiver online não existe. Quem não tiver uma identidade digital não está a comunicar”.
Para esta profissional, a identidade online deverá ser encarada como um meio de comunicação
por excelência, assumindo-se como fundamental para aqueles que pretendam divulgar as suas
competências e trabalhar para o seu futuro profissional.
No que diz respeito à importância dos contactos adicionados pelos indivíduos nos/aos
espaços onde constrói a sua identidade, a profissional de comunicação nos novos media realça
a importância de se ter uma rede de contactos que reflita e vá ao encontro das expectativas
pessoais e profissionais dos indivíduos. Considerando a rede de contactos como uma possível
área de influência profissional, afirma que os indivíduos não deverão centrar a sua preocupação
no número de contactos adicionados mas na importância que estes representam em termos de
oportunidades profissionais: quando a presença na rede acelera os processos de contacto e
relacionamento pessoal, a gestão da rede de contactos poderá passar pela associação de
pessoas ou comunidades que, estando direta ou indiretamente ligadas ao contexto profissional
desejado pelo indivíduo, poderão facilitar a interação e a manifestação de interesse e
competências nessa área de atividade.
5.3.2 Ident idade onl ine e construção de reputação
Refletindo sobre a importância, em termos profissionais, de se ter uma presença na rede, a
profissional de comunicação refere que mais importante que a “simples” presença é a
construção de uma identidade online sólida e que reflita as competências e capacidades do
indivíduo enquanto pessoa e profissional. Nesse sentido, o indivíduo deverá conhecer-se e
conhecer as suas capacidades definindo, antecipadamente, o percurso que pretende fazer e a
identidade que pretende construir.
Quando a presença na rede pode ser vista como um reflexo das caraterísticas e
personalidade do próprio indivíduo (opinião da gestora do gabinete de carreiras e estágios), este
deveria encarar a sua identidade online como a imagem pública das suas competências e
preferências pessoais e profissionais, um meio de promoção de um currículo mais
personalizado, distinto, revelador de mais valia e proatividade. Neste sentido, o cuidado na
planificação e seleção dos conteúdos a publicar, a adequação do tipo de discurso e o
acompanhamento das repercussões das comunicações na rede – apresentados pela
Capítulo V – Discussão dos resultados
180
responsável pelos SCIRP como cuidados a ter na planificação da presença institucional e por
Sílvia Bandeira como preocupações a ter na construção da identidade online – assumir-se-ão
aspetos fundamentais na gestão da presença na rede.
A identidade na rede não se limitará, contudo, à publicação de conteúdos mas estender-se-á
à interação que o indivíduo tem com outras pessoas e comunidades. Assim, e para além de
mencionar os cuidados na partilha de conteúdos, a profissional de comunicação entrevistada
neste estudo avança como fatores importantes na construção de uma reputação na rede a
construção de uma identidade sólida e credível que poderá passar pela participação em fóruns
de discussão onde se discutam temáticas que vão ao encontro dos desejos profissionais dos
indivíduos, a interação com especialistas ainda enquanto estudante, criando assim uma
presença de valor, assente na manifestação de opinião e na proatividade.
5.3.3 A rede, espaço de manifestação de competências
Quando a responsabilidade, a capacidade de comunicação, a inovação e criatividade, o
domínio das línguas e das ferramentas de informática, a criação e gestão de presenças nas
redes sociais, a proatividade, a criatividade e a capacidade de comunicação surgem como
competências chave para o contexto profissional e para o mercado de trabalho (Fernandez-
Sanz, 2010), a construção de uma identidade online – através da participação e da interação –
poderá assumir-se como fator de diferenciação e demostração de competências. Solicitados,
nas entrevistas, a refletir sobre o impacto da identidade que constroem na rede, os participantes
no estudo manifestaram consciência relativamente à importância da identidade online enquanto
espaço de divulgação de capacidades e competências, e não apenas como espaço de contacto
ou convívio social. Não obstante esta situação, apenas 54% dos participantes afirma utilizar a
rede como plataforma de construção de uma reputação ao nível profissional e, dos 13
participantes, quatro (P01, P06, P07 e P12) afirmam não aproveitar a visibilidade e exposição da
rede para construírem uma identidade que revele as suas capacidades à comunidade e ao
mercado de trabalho.
Analisando as publicações efectuadas pelos participantes nos três espaços em estudo,
verifica-se que, das 3692 publicações analisadas, apenas 123 (correspondentes a 3,3% do total
de conteúdos) foram codificadas como sendo de teor “profissional”, i.e., publicações que
dissessem respeito à atividade profissional ou relacionados com as competências dos
indivíduos. Retirando da equação os participantes que afirmaram não utilizar a rede para revelar
competências académicas e profissionais, e tendo como base os perfis de identidade online
apresentados neste capítulo (cf. 6.2.3 – “Identidade online: análise da presença na rede a partir
do Modelo para a Análise da Identidade Online”), verifica-se que, no que diz respeito aos
participantes P03, P04, P05, P10 e P13 – utilizadores da rede enquanto espaço de manifestação
A construção da identidade em ambientes digitais!
181
de competências –, 11,5% dos conteúdos publicados no SAPO Campus, Facebook e Twitter
(1363) foram codificados como “académico” e 3,4% como “profissional”. Relativamente aos
participantes P09 e P11 – identidade online orientada pelo utilizador –, a análise dos conteúdos
publicados (1082 publicações) confirma a presença de conteúdos de teor académico (16,5%) e
profissional (6,8%), evidenciando a utilização da rede nestes dois contextos.
No que diz respeito à presença nas redes informais, ou seja, considerando apenas os
conteúdos publicados no Facebook e no Twitter, verifica-se que das 1261 publicações
registadas e referentes ao grupo que utiliza a rede como espaço de revelação de competências,
5,5% dos conteúdos foram de teor académico e 3,7% refletiam a atividade profissional dos
participantes. A presença destes conteúdos é ainda mais relevante quando se analisam as
publicações dos participantes incluídos no terceiro grupo (P09 e P11), registando-se 12,6% de
conteúdos de teor académico e 7,2% de teor profissional, para um total de 1034 publicações.
A análise dos dados registados e recolhidos a partir dos questionários, pela observação
direta e pelas entrevistas realizadas aos participantes no estudo e aos profissionais contactados
permite concluir que, no que se refere à importância da identidade online enquanto espaço de
manifestação de competências, tanto alunos como profissionais revelam consciência e
assumem a relevância da construção de um espaço que possibilite a divulgação das
capacidades potenciais e reais dos indivíduos, i.e., uma reputação. Neste sentido, a utilização
da rede enquanto plataforma de publicação de conteúdos académicos e profissionais evidencia
a existência não apenas da consciência mas de uma abordagem proativa no que diz respeito à
identidade online, traduzida na partilha de informação e na interação com a comunidade. Assim,
e ainda que utilizado sobretudo como ferramenta de suporte às atividades académicas, o SAPO
Campus foi adotado pelos 13 participantes como espaço de divulgação dos seus trabalhos de
investigação. Destes, sete replicaram os conteúdos nas redes informais (Twitter) aumentando
desta forma a visibilidade, exposição e interação relativamente aos conteúdos produzidos.
!
!
5.4 Síntese
O trabalho apresentado ao longo deste capítulo teve como objetivo a apresentação e
discussão dos resultados e, dessa forma, dar resposta às questões de investigação propostas
para o presente estudo. Nesse sentido, a primeira secção procurou descrever a identidade
construída pelos participantes na plataforma suportada institucionalmente tomando como base a
análise do tipo de conteúdo partilhados no SAPO Campus, a influência da dimensão institucional
da plataforma na modelação de comportamentos e construção de presença e, ainda, as
Capítulo V – Discussão dos resultados
182
vantagens e desvantagens de construir uma identidade associada a uma instituição,
nomeadamente na visibilidade e exposição dos conteúdos publicados.
A segunda secção, que abordou a construção da identidade em ambientes digitais, procurou
caraterizar a presença construída no SAPO Campus e nas redes informais (i.e. Facebook e
Twitter), nomeadamente ao nível da representação digital (informação partilhada pelos
participantes) e na identificação dos mecanismos e estratégias adotados pelos participantes na
gestão da sua identidade e privacidade na rede. A partir da utilização do Modelo para a Análise
da Identidade Online proposto no capítulo anterior, analisou-se a informação recolhida para cada
um dos participantes no estudo tendo sido identificados pontos comuns ao nível das
caraterísticas da presença e participação dos indivíduos. A identificação destas caraterísticas
comuns possibilitou a identificação de duas grandes formas de estar na rede: a identidade
online orientada pelo contexto, e a identidade online orientada pelo utilizador. Cada um destes
perfis foi caraterizado tendo em conta a informação recolhida pela observação direta e pelas
entrevistas realizadas aos participantes.
Por fim, e no que se refere à identidade online enquanto espaço de manifestação de
competências, a terceira secção procurou aferir a importância da identidade online como meio
de divulgação das capacidades reais e potenciais dos indivíduos, abordando a importância da
identidade online para o mercado de trabalho e a sua relevância para a construção de uma
reputação pessoal, académica e profissional. Por último, e abordando a identidade online
enquanto reflexo das capacidades do indivíduo, analisou-se a informação recolhida nas
entrevistas e pela observação direta tendo-se verificado que, ainda que a plataforma suportada
institucionalmente seja utilizada maioritariamente para a partilha de conteúdo de teor académico,
mais de metade dos participantes no estudo utilizaram-na como ponto de partida para a
interação com pares e especialistas, replicando os conteúdos publicados nesta plataforma nas
redes informais onde constroem a sua presença. Tendo-se procurado, pela discussão dos
resultados, dar resposta às questões de investigação definidas para o estudo, o próximo
capítulo apresenta as principais conclusões do estudo, as suas limitações, a sua aplicação em
educação e as propostas para investigação futura.
A construção da identidade em ambientes digitais!
183
Capítulo 6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE INVESTIGAÇÃO FUTURA
O trabalho desenvolvido e apresentado ao longo destes capítulos resultou de um projeto de
investigação desenvolvido com o objetivo de conhecer, analisar e caraterizar os processos de
construção da identidade online de um grupo de indivíduos (alunos do Mestrado em
Comunicação Multimédia, Universidade de Aveiro), numa plataforma suportada pela instituição
de ensino que frequentam e em ambientes digitais informais. Mais ainda, pretendia-se avaliar a
importância (percebida pelos participantes no estudo e pela comunidade alargada) da
identidade online enquanto espaço de manifestação de competências e potencial fator de
evidência e diferenciação num futuro profissional.
Tendo como campo de análise a identidade construída pelos participantes na plataforma
suportada institucionalmente – SAPO Campus – e em duas redes informais – Facebook e Twitter
– desenvolveu-se um estudo de caso assente nas seguintes questões de investigação:
" num cenário onde a rede possibilita a ligação entre indivíduos, espaços e
comunidades, como é que alunos do Mestrado em Comunicação Multimédia
(MCMM) da Universidade de Aveiro constroem a sua identidade num espaço
providenciado pela instituição de ensino que frequentam?
" que aspetos caraterizam a identidade online construída numa plataforma suportada
institucionalmente (i.e. SAPO Campus) e aquela construída em ambientes informais?
" qual a importância (percebida por alunos, instituição e comunidade) da identidade
online enquanto meio de manifestação e divulgação de competências ?
Com recurso a inquéritos por questionário, entrevistas em profundidade e observação direta
(pela análise dos conteúdos publicados pelos participantes nos três espaços, num total de 3692
publicações), procurou-se descrever e analisar a identidade manifestada em ambiente
institucional e em ambientes informais, analisar a perceção dos indivíduos relativamente à sua
própria representação (identidade autoinformativa) e avaliar a influência do contexto (formal e
informal) na modelação dos comportamentos e da presença online. Ao longo do estudo foi
ainda possível identificar os mecanismos e estratégias utilizados pelos participantes para a
gestão da sua identidade na rede, bem como os motivos e razões subjacentes à adoção dessas
Capítulo VI – Conclusões e sugestões de investigação futura
184
medidas, e avaliar a influência da dimensão institucional na construção da identidade online dos
indivíduos. O tratamento da informação recolhida nas entrevistas permitiu avaliar a importância
de se construir uma identidade e reputação na rede, e do papel que esta desempenha ao nível
do futuro profissional, da imagem da instituição de ensino e da adequação ao mercado de
trabalho.
6.1 Conclusões relativas às questões de investigação
No que se refere à primeira questão de investigação – como é que alunos do Mestrado
em Comunicação Multimédia (MCMM) da Universidade de Aveiro constroem a sua identidade
num espaço providenciado pela instituição de ensino que frequentam –, e partindo da
informação referente aos participantes no estudo (n=13), a análise dos dados permite concluir
que, no SAPO Campus, os participantes constroem uma identidade assente na partilha de
conteúdos de teor académico, sobretudo mensagens de texto (posts em blogs). Entre as
principais razões para esta situação, encontra-se a associação entre o SAPO Campus e a
Universidade de Aveiro – que terá exercido influência ao nível da seleção, teor e publicação dos
conteúdos, nomeadamente na adoção de um discurso mais profissional, estruturado e
direcionado para o universo académico e de investigação, argumento avançado por cinco
participantes) – e a responsabilidade relativamente aos conteúdos publicados. De acordo com
três dos participantes, o facto de os conteúdos publicados na plataforma ficarem associados à
imagem enquanto alunos e à imagem da própria Universidade terá tido influência na seleção e
estruturação dos conteúdos a partilhar no SAPO Campus.
Relativamente à forma como se representam neste espaço, todos os participantes utilizam o
nome real como forma de identificação e, nos 13 perfis de utilizador analisados, 10 apresentam
uma foto real como imagem de identificação. Seis dos participantes partilham ainda informação
sobre interesses ou preferências, seis associam ao seu perfil informação sobre a comunidade
(neste caso, informação sobre o curso que frequentam) e quatro associam ao perfil ligações
para outros espaços ou redes. Dos 13 participantes, apenas dois partilham informação de
contacto.
No SAPO Campus, todos os conteúdos publicados pelos utilizadores são automaticamente
divulgados na página principal da plataforma e encontram-se visíveis para toda a comunidade e
público em geral. Questionados quanto às vantagens e desvantagens desta situação (não
controlável pelo utilizador), os participantes apontam como principais vantagens a rapidez de
feedback aos conteúdos ou questões colocadas nos seus espaços, a possibilidade de interação
com outros públicos ou comunidades e a maior divulgação dos trabalhos realizados e
publicados na plataforma. Quanto a eventuais desvantagens, a preocupação centra-se
A construção da identidade em ambientes digitais!
185
sobretudo no risco de cópia ou apropriação, por outrem, de trabalhos realizados e divulgados
(argumento avançado por dois participantes).
Por fim, e no que se refere à importância de construir uma identidade associada à identidade
online da instituição, a maioria dos participantes aponta a transferência ou repercussão da
credibilidade institucional como uma das maiores vantagens na construção de uma identidade
no SAPO Campus. De acordo com nove dos 13 participantes, a associação das duas
identidades poderá potenciar a transferência de reputação entre a instituição e os alunos, um
cenário onde o aluno poderá sentir a influência do prestígio da instituição que frequenta e, em
consequência, procurar produzir conteúdos mais cuidados e construir uma identidade que
corresponda à imagem da Universidade. Relativamente a desvantagens nesta associação, um
participante aponta a dificuldade de separação entre o que é conteúdo – propriedade intelectual
do aluno e o que é propriedade da Universidade, enquanto um outro participante afirma preferir
manter separadas as duas dimensões da sua identidade – a académica e a profissional – e, por
isso, construir um percurso e uma identidade em plataformas externas à instituição.
No que diz respeito à segunda questão de investigação – que aspetos caraterizam a
identidade online construída no SAPO Campus e aquela construída em ambientes informais – a
análise dos dados revelou que, ao nível da informação partilhada no perfil de utilizador, os
participantes constroem um perfil mais completo nos ambientes informais (nomeadamente no
Facebook, onde 92% dos participantes partilha informação biográfica); no SAPO Campus,
apenas 46% partilha informação biográfica e apenas 15% partilha informação de contacto.
Enquanto no SAPO Campus a presença é maioritariamente académica e assente em
mensagens de texto (posts), nas redes informais a presença é sobretudo social. No Facebook,
82% dos conteúdos publicados pelos participantes (um total de 1249 publicações) foram
incluídos nesta categoria, e a maioria das publicações registadas (56%) consistiram na partilha
de conteúdos áudio/vídeo, seguidas de ligações para outros espaços. No Twitter, segunda rede
analisada, 81% dos conteúdos são de teor social, com predominância da partilha de ligações
(46%); de realçar, contudo, a presença de 10% de conteúdos de caráter académico, composto
na sua maioria pela partilha de ligações. Nesta rede, fora publicadas e analisadas 2096
publicações.
Ao nível da gestão da identidade – i.e., das medidas adotadas para a gestão da presença na
rede –, o cuidado prévio na publicação de conteúdos surge como a medida mais indicada pelos
participantes. Assim, a edição e seleção prévia de conteúdos, a não publicação de conteúdos
de caráter pessoal, a adequação dos conteúdos ao espaço onde serão publicados são
avançados como as principais formas de gestão da identidade na rede. A revisão e edição a
posteriori dos conteúdos publicados, concretamente a eliminação de conteúdos que tenham
perdido a pertinência ou relevância é apontada por dois participantes como uma forma de
Capítulo VI – Conclusões e sugestões de investigação futura
186
controlar a permanência dos conteúdos na rede e a consequente associação à imagem e
identidade dos indivíduos.
Por fim, e no que se refere à terceira questão de investigação – a importância da
identidade online enquanto meio de manifestação de competências – recolheu-se a opinião das
três profissionais entrevistadas e dos próprios participantes no estudo. De acordo com a opinião
das entrevistadas, a possibilidade de interação, feedback, a maior visibilidade e exposição da
presença construída surgem como principais vantagens de se ter uma identidade na rede,
acessível a uma vasta comunidade. A identidade online deverá, assim, ser encarada como um
meio de comunicação por excelência, uma dimensão incontornável para quem pretenda divulgar
as suas competências e trabalhar para um futuro profissional, onde a rede de contactos – ao
facilitar a interação com profissionais e especialistas de determinadas áreas de interesse e
conhecimento – poderá desempenhar um papel fundamental. Neste contexto, a construção de
uma identidade que ultrapasse o “simples” estar na rede e que traduza as competências e
capacidades pessoais e profissionais do indivíduo assume-se como um ponto de maior
importância, surgindo a identidade online como o meio de promoção de um currículo mais
personalizado, distinto e revelador de proatividade.
No que diz respeito à opinião dos participantes, esta corrobora a das três profissionais
entrevistadas: questionados quanto à importância da identidade online, reconhecem a relevância
da identidade construída na rede enquanto forma de demonstração das capacidades adquiridas
e desenvolvidas ao longo do percurso académico e profissional e não apenas como espaço
social. Não obstante, do total de conteúdos analisados (3692 publicações) apenas 3,3% foi
codificado como sendo de teor profissional, i.e., publicações relacionadas com a atividade
profissional ou que traduzissem as competências dos indivíduos, um número que aumenta
quando se retiram da análise os participantes que afirmaram não utilizar a rede enquanto espaço
de manifestação de competências. Analisando somente a informação referente aos cinco
participantes que afirmam procurar, na rede, construir uma identidade que reflita as suas
competências e interesses, verifica-se que 11,5% dos conteúdos publicados nas três redes
consideradas no estudo são codificados como sendo de teor académico ou profissional.
6.2 O Modelo para Análise da Identidade Online
Resultado da análise da identidade construída pelos participantes no SAPO Campus e nas
redes informais, da informação recolhida pelas entrevistas realizadas às especialistas e tendo
como referência a revisão da literatura efetuada, o Modelo para Análise da Identidade Online
surge como uma proposta de estrutura passível de ser utilizada sobretudo na autoanálise da
identidade construída na rede. Neste modelo, a identidade é analisada do ponto de vista da
A construção da identidade em ambientes digitais!
187
representação digital, da gestão da privacidade e da reputação. No que diz respeito à
representação digital, analisa-se a forma como os indivíduos se representam na rede,
concretizada nos elementos de identificação (nome de utilizador e imagem de perfil), na
informação suplementar que utilizador adiciona ao seu perfil (informação biográfica, de contacto,
informação relativa a interesses ou preferências, informação que evidencia a relação com a
comunidade e ligações para outros espaços), e no tipo de conteúdo publicado (tópicos,
estrutura do discurso, tipologia e formato do conteúdo). Nesta dimensão, analisa-se ainda a
influência do espaço online (e.g. formal, informal, social, institucional) na estruturação, seleção e
publicação dos conteúdos, quer ao nível da estrutura discursiva, formalidade ou informalidade
do texto, quer ao nível da tipologia (pessoal, social, académico, profissional ou organizacional) e
formato (mensagem de texto, partilha de ligações, ficheiro áudio/vídeo ou fotos). Para a
estruturação desta dimensão do modelo, consideraram-se os trabalhos de Boyd (2008b),
Greenhow e Robelia (2009), Jones (2008) e Zhao et al. (2008) para as duas primeiras
subcategorias (elementos de identificação e informação adicional) e as propostas de Fraser
(2008) e Kurhila (2006) para a tipologia de conteúdo, autores referidos na revisão da literatura.
Na gestão da privacidade, centrada nas decisões do utilizador aquando do registo em
plataformas, na forma como gere os seus contactos e contextos, a análise incidiu sobre o
processo de registo nas plataformas (utilização de um mesmo endereço de e-mail ou username,
ou de endereços e usernames diferentes), na gestão que o utilizador faz da sua rede de
contactos (a associação de contactos independentemente da plataforma ou a segregação de
contactos de acordo com a plataforma), e na forma como gere os contextos (social, pessoal,
profissional), detetável na replicação de conteúdos entre plataformas (automática ou seletiva).
Para a estruturação desta dimensão, considerou-se a informação recolhida durante as
entrevistas realizadas quer aos participantes no estudo quer às especialistas, e ainda os
trabalhos de Boyd (2002), quando se refere às principais diferenças entre o mundo físico e o
digital (i.e., a persistência e a facilidade de pesquisa da informação, a replicabilidade dos
conteúdos e a existência de audiências invisíveis) e aos mecanismos a que os utilizadores
recorrem para contornar ou conviver com essas diferenças (e.g. adoção de diferentes contas de
e-mail).
À semelhança das dimensões anteriores, a reputação é apresentada na perspetiva do
utilizador. Assim, analisa-se a rede enquanto espaço de demostração e revelação de
competências, situação concretizada na seleção e publicação, pelo utilizador, de informação
passível de traduzir a existência de capacidades ou competências gerais ou específicas. Na
análise dos conteúdos publicados pelos participantes, verificou-se a partilha de conteúdo de teor
académico ou profissional, desde a publicação de trabalhos realizados até à publicação (no
Capítulo VI – Conclusões e sugestões de investigação futura
188
SAPO Campus) ou replicação (no Facebook e no Twitter) de conteúdos relacionados com os
seus trabalhos de investigação.
Ainda no campo da reputação, a visibilidade e exposição dos conteúdos publicados surge
associada à replicação de conteúdos entre plataformas, de forma a aumentar a visibilidade e
repercussão das publicações (situação assumida e referida por cinco participantes) e à
interação com pares e especialistas, de forma a obter feedback e divulgar, ainda durante o
processo de investigação, o trabalho desenvolvido em contexto académico. De acordo com a
informação recolhida nas entrevistas realizadas aos participantes, a associação da sua
identidade online à identidade online da instituição poderá traduzir-se numa transferência de
reputação da instituição para o indivíduo. Partindo desta perspetiva, a terceira subcategoria
incluída em reputação incide sobre a referência, menção ou ligação à identidade online da
instituição. Na perspetiva dos participantes, a associação das duas identidades – a pessoal e a
da instituição – poderá potenciar a transferência de reputação entre a instituição e os alunos, um
cenário onde o aluno, sentindo a influência do prestígio da instituição que frequenta, procura
produzir conteúdos mais ricos de forma a construir uma identidade que não prejudique mas que
reforce a imagem da Universidade.
O Modelo para Análise da Identidade Online, aplicado à informação referente aos 13
participantes no estudo e recolhida através das entrevistas e da análise dos conteúdos
publicados, revelou a existência de pontos comuns quer no discurso quer na informação
partilhada. Ainda que a análise se tenha limitado à informação referente à amostra – 13 alunos
oriundos do Mestrado em Multimédia em Educação, cujo percurso académico e utilização das
ferramentas do software social em contextos formais de educação poderá ter influenciado a
forma de estar e pensar a identidade na rede –, os pontos, sistematizados e analisados,
resultaram no desenho de dois tipos de perfil, passíveis de descrever a identidade construída na
rede: identidade orientada pelo contexto, e identidade orientada pelo utilizador57.
No que diz respeito à identidade orientada pelo contexto, engloba as presenças
caraterizadas por um cuidado na seleção e produção de conteúdos, na adequação do discurso,
tópicos abordados e tipologia de conteúdo ao contexto e/ou caraterísticas da plataforma. Deste
perfil, fazem parte dois subgrupos: identidade orientada pelo contexto assente na publicação de
conteúdos “seguros”, i.e., conteúdos que tornam visível a presença na rede mas que não
revelam ou destacam demasiado a identidade dos utilizadores; e identidade orientada pelo
contexto assente na partilha de conteúdos que evidenciem ou manifestem competências e
57 Em outubro de 2011, o The New York Times desenvolveu um estudo que procurava analisar as razões por detrás da partilha de informação na rede pelos consumidores. Para além de identificarem as cinco principais razões subjacentes a essa partilha, o estudo define ainda seis tipos de personalidade associados à partilha de conteúdos: altruístas, construtores de carreira, hipsters, boomerangs, conectores e seletivos. Informação referente ao estudo desenvolvido pode ser encontrada em http://nytmarketing.whsites.net/mediakit/pos/index.html (acedida a 20 de outubro de 2012).
A construção da identidade em ambientes digitais!
189
capacidades, uma identidade orientada para a construção de uma reputação enquanto alunos
e/ou profissionais. No primeiro subgrupo, verificou-se a predominância de conteúdos de caráter
social, e a principal medida de gestão de privacidade estará relacionada com a não publicação
ou a pouca publicação de conteúdos de caráter pessoal. Para o segundo subgrupo, as
preocupações relativamente à gestão da privacidade estão associadas à gestão e seleção de
contactos, concretizada na separação entre contactos pessoais e profissionais e na seleção de
ligações de acordo com o contexto a que pertencem.
Quanto à identidade orientada pelo utilizador, poderá ser caraterizada como uma identidade
que reflete os interesses do indivíduo e não as caraterísticas do espaço onde manifesta a sua
presença. Neste perfil, os utilizadores caraterizam-se pela partilha de conteúdo de acordo com
as suas preferências, não adotando medidas específicas para a gestão da sua privacidade e
estabelecendo – inclusive pela replicação automática de conteúdos – a ligação entre a presença
construída em ambientes formais e informais. Ainda que assumam adotar uma abordagem mais
flexível e não condicionada à presença na rede, os indivíduos associados a este perfil revelam
consciência relativamente à visibilidade e exposição da identidade online, utilizando a sua
presença como forma de divulgação e projeção de competências e trabalhos desenvolvidos.
Tanto na proposta de Modelo para a Análise da Identidade Online como na proposta dos três
perfis de utilizador da rede, dever-se-á ter em consideração dois pontos fundamentais: primeiro,
a identidade na rede deverá ser considerada como algo dinâmico e mutável, onde a
representação digital, a gestão da privacidade e a reputação não surgem como categorias
estanques mas como dimensões contínuas ou permeáveis. Assim, a representação digital dos
indivíduos poderá ser influenciada pelas medidas de gestão de privacidade, que variarão de
acordo com a reputação que se pretenda construir (e.g. um indivíduo que pretenda aumentar a
visibilidade e exposição da sua presença poderá optar pela republicação de conteúdos entre
espaços ou plataformas); da mesma forma, a reputação, visível através da informação e
conteúdos que o indivíduo associa à sua representação digital, influenciará as medidas de
privacidade adoptadas. Segundo, tanto a proposta de modelo como os perfis resultantes da sua
aplicação tiveram como base a informação recolhida através das entrevistas realizadas a três
especialistas e da análise do conteúdo publicado pelos 13 participantes, análise limitada a um
período de tempo específico. Resultando os perfis da análise efetuada à identidade de uma
amostra por conveniência, dever-se-á encarar os perfis de identidade online apresentados como
perfis não estanques e não limitados; uma outra análise, a uma amostra diferente, poderá revelar
a existência de outros perfis, pelo que este deverá ser considerado como uma primeira proposta
e não como uma classificação definitiva.
Capítulo VI – Conclusões e sugestões de investigação futura
190
6.3 Limitações do estudo
Ainda que tenha procurado, pelo recurso a diferentes técnicas de recolha de dados,
apresentar uma análise o mais exaustiva e profunda dos processos associados à construção da
identidade em ambientes digitais e à importância da identidade online enquanto espaço de
manifestação de competências, este estudo apresenta limitações que não deverão ser
ignoradas.
No que se refere às opções metodológicas, o estudo da construção da identidade online no
SAPO Campus foi confinado aos alunos inscritos no segundo ano do Mestrado em
Comunicação Multimédia (MCMM), curso administrado pelo Departamento de Comunicação e
Arte da Universidade de Aveiro e caraterizado por uma forte componente multimédia. Esta
situação, associada ao envolvimento dos docentes na utilização de software social e da
plataforma institucional ao longo do curso, faz com que estes alunos possuam um conhecimento
e uma experimentação muito próprias das ferramentas e tecnologias, o que poderá, direta ou
indiretamente, ter influenciado a sua perceção relativamente às questões relacionadas com a
identidade online.
No que diz respeito à análise dos dados, mais especificamente à análise do conteúdo
publicado pelos participantes nos três espaços online em estudo (i.e. SAPO Campus, Facebook
e Twitter), procurou-se reduzir a eventualidade da ocorrência de desvios na classificação e
codificação das publicações pela definição prévia das categorias e indicadores, pela análise das
mensagens de acordo com o seu significado latente. Como método de controlo da
subjetividade, optou-se ainda pela replicação da análise dos conteúdos publicados pelos
participantes nos três espaços cinco meses depois da primeira análise, tendo sido codificadas
1780 mensagens, distribuídas pelos três espaços em estudo e por cada um dos participantes
(amostra estratificada). Não obstante, e tendo em consideração que a análise foi feita apenas
pelo investigador (i.e. sem recurso a um investigador externo), a possibilidade de existência de
um certo grau de subjetividade não deverá ser ignorada.
Por fim, e no que se refere à proposta de Modelo para a Análise da Identidade Online, a
adoção de uma amostra por conveniência e limitada a 13 participantes implica que os perfis de
identidade online apresentados devam ser considerados como uma abordagem preliminar à
identidade na rede e não como uma análise fechada ou definitiva.
6.4 Perspetivas de investigação futura
Ao refletir sobre os processos de construção da identidade online, numa plataforma
suportada institucionalmente e em ambientes informais, este trabalho poderá ser entendido
A construção da identidade em ambientes digitais!
191
como uma abordagem e um ponto de partida para a exploração do fenómeno da identidade
online e da sua importância para indivíduos e instituições. Quando a presença e participação na
rede se inicia cada vez mais cedo (em Portugal, 72% dos indivíduos entre os 16 e os 24 anos
utiliza a internet para fins pessoais, nomeadamente para participar nas redes sociais: criar perfis
de utilizador, publicar mensagens ou outro tipo de conteúdos em redes como o Facebook ou o
Twitter58), a reflexão sobre a construção da identidade em ambientes digitais deverá fazer parte
das preocupações e programas de indivíduos e instituições, e não apenas das de Ensino
Superior. Neste cenário, a continuidade da investigação poderá trazer mais informação e
conhecimento acerca dos processos de construção e gestão da identidade, da forma como as
caraterísticas da plataforma influenciam o tipo de identidade construída e mesmo das
potencialidades da identidade online enquanto currículo vivo e construído ao longo do percurso
académico dos alunos.
No caso específico do SAPO Campus, plataforma que em 2012 está a ser utilizada não
apenas na Universidade de Aveiro mas também em escolas do Ensino Básico e Secundário59,
seria interessante o desenvolvimento de projetos e estudos que, tendo como ponto de partida a
proposta de Modelo para a Análise da Identidade Online, procurassem alertar para as
potencialidades e riscos da construção de uma presença na rede e refletir e analisar os
processos de construção da identidade em níveis de ensino inferiores àquele contemplado neste
estudo. Considerando que a identidade online poderá ser assumida como um registo dinâmico
das competências, capacidades e caraterísticas dos indivíduos, a discussão em torno das
literacias digitais e das potencialidades e riscos de construir uma presença na rede deverá ser
conduzida e explorada ao longo da formação académica dos alunos. Neste campo, caberá às
instituições – desde as do ensino básico até às de ensino superior – a planificação de atividades
que visem a exploração, por docentes, alunos e colaboradores, do significado de estar online.
Como ponto de partida, poder-se-á refletir sobre projetos como o “Digital Tatoo60”, um projeto
desenvolvido pela University of British Columbia's Teaching and Learning Enhancement Fund e
pelo BC Campus, onde se reflete sobre a permanência dos conteúdos na rede e a forma como
estes ficam indissoluvelmente associados à identidade dos indivíduos; ou sobre o “This is Me
project61”, da University of Reading, um projeto associado ao Joint Information Systems
Committee – JISC, Reino Unido, que apresenta inúmeros materiais para reflexão sobre a
identidade online.
58 Dados Eurostat de 05 de novembro de 2012, disponíveis em http://epp.eurostat.ec.europa.eu/portal/page/portal/product_details/dataset?p_product_code=TIN00127 e acedidos a 20 de dezembro de 2012.
59 Mais informação em http://campus.sapo.pt (acedido em 21 de dezembro de 2012).
60 Página do “Digital Tattoo” disponível em http://digitaltattoo.ubc.ca, e acedida a 9 de maio de 2011.
61 Página do projeto “This is Me” disponível em http://blogs.reading.ac.uk/this-is-me/ , e acedida a 9 de maio de 2011.
Capítulo VI – Conclusões e sugestões de investigação futura
192
Ainda dentro da aplicabilidade da proposta do Modelo para a Análise da Identidade Online,
seria interessante a sua adaptação e aplicação a outros contextos (e.g. análise pessoal e de
autoconhecimento, marketing pessoal, contexto empresarial) e a consequente reflexão e análise
da identidade construída na rede. No caso do contexto empresarial, a aplicação do modelo
poderia ser útil quer na análise da identidade online da empresa ou instituição como na reflexão,
por colaboradores e dirigentes, do impacto da presença individual na reputação das próprias
organizações.
Por fim, e no que diz respeito ao desenho, desenvolvimento ou atualização de espaços ou
plataformas direcionadas para a aprendizagem e para a construção da identidade na rede
(como é o caso do SAPO Campus), o alargamento da investigação a um maior número de
utilizadores e a uma amostra representativa da academia – com a realização de surveys e focus
groups, e pela aplicação da proposta de Modelo para a Identidade Online – poderá contribuir
para um maior conhecimento das motivações dos utilizadores, para a identificação de
necessidades ao nível da infraestrutura tecnológica, o que poderá resultar na maior identificação
dos utilizadores com o espaço providenciado pela instituição.
6.5 Reflexões relativas ao trabalho de investigação
A evolução tecnológica, o reconhecimento da importância da aprendizagem e das
experiências desenvolvidas fora das instituições e a importância da dimensão online da
identidade levantam algumas questões relativamente ao papel das instituições de ensino
superior na preparação dos seus alunos para o futuro profissional. No contexto do ensino
superior, a identidade de uma instituição é ainda muitas vezes definida pela sua antiguidade,
pela oferta académica e pelas infraestruturas que coloca à disposição dos seus alunos, uma
abordagem racional mas tradicional que poderá estar na origem da resistência em abraçar e
integrar as novas filosofias e tecnologias (Aresta et al., 2012; Fiedler e Kieslinger, 2006). Com
efeito, “[…] the longevity of the university is not a result of never changing – but rather a credit to
its ability to evolve, adapt, and change over time.” (Atkins, 2005:2).
A consciência relativamente à importância da dimensão digital da identidade e à relevância
de uma reputação socialmente construída poderá, assim, ter como consequência a alteração da
forma como alunos e instituições olham para os papéis que desempenham no sistema e
contexto educativos. No que diz respeito aos alunos, ao considerarem a instituição que
frequentam como um espaço onde podem desenvolver a sua autonomia e trabalhar uma
identidade forte, bem articulada, única e dinâmica (Aresta et al., 2012), poderão estabelecer,
desde muito cedo, uma base para a construção de uma reputação que os acompanhará ao
longo do seu percurso académico e profissional. No caso específico do SAPO Campus e da
A construção da identidade em ambientes digitais!
193
Universidade de Aveiro, a reputação e segurança oferecidas pela instituição, associadas à
estabilidade da plataforma e segurança dos dados poderão surgir como fatores decisivos para a
adoção desse espaço para a construção de uma identidade online forte, articulada, única e que
reflete o seu percurso enquanto aluno e indivíduo.
Do ponto de vista institucional, as Universidades deveriam considerar os seus alunos como
promotores ativos da sua própria qualidade, oferecendo-lhes não só as condições para o
desenvolvimento do seu currículo académico mas também a sua identidade e presença digital.
Ao fazê-lo, estariam a apresentar os seus alunos não como produtos padrão mas como
entidades singulares e com as competências adequadas às necessidades do mercado de
trabalho, assumindo-se a Universidade como um dos melhores lugares para a aprendizagem e o
desenvolvimento pessoal (traduzido de Aresta et al., 2012).
Num cenário em que a contextualização de dados e informação assume uma importância
crescente, este estudo de caso poderá trazer alguma informação sobre a forma como os alunos
constroem a sua identidade numa plataforma providenciada pela sua Instituição de Ensino
Superior, como se apresentam e gerem a sua identidade online, e ainda sobre a importância e o
impacto da construção de uma identidade online consciente e credível. Quando o controlo da
informação é algo difícil de conseguir e quando os indivíduos não possuem total controlo sobre
o que é associado à presença na rede, caberá aos indivíduos olhar para a sua identidade online
como parte das suas vidas, ameaças e oportunidades incluídas.
6.6 Reflexões finais
A temática da identidade online, foco deste estudo e abordada ao longo dos últimos
capítulos – desde a revisão da literatura ao desenho metodológico da investigação, à recolha de
dados e às conclusões resultantes da sua análise – não se encerra na caraterização e definição
daquilo que poderá ser uma identidade construída na rede, seja em ambientes formais seja
informais. Não se deverá limitar, ainda, ao desenho de um, dois ou vários perfis de identidade,
nem à definição ou desenho de diretrizes orientadas para aquilo que deveria – de acordo com as
várias fontes de informação consultadas ao longo do estudo – ser o processo de construção de
uma identidade consciente, credível e responsável.
Este trabalho, mais do que (ou para além de) responder às questões de investigação, teve
como grande objetivo o estudo, a autorreflexão, a análise e a compreensão da forma como a
rede – com todos os seus riscos e potencialidades – poderá ser aproveitada como um espaço
de manifestação de um “eu” que, não sendo apenas pessoal, académico ou profissional, reflete
os gostos e as preferências, as capacidades e as competências dos indivíduos e das
organizações. Mais ainda, procurou refletir sobre as diferenças entre o mundo digital e o mundo
Capítulo VI – Conclusões e sugestões de investigação futura
194
real, sobre a problemática da descontextualização – talvez um dos principais problemas da
participação no mundo online – e ainda sobre a forma como, desde uma idade cada vez mais
precoce, os jovens estão a colocar na rede informação sobre os seus gostos e preferências,
sobre a sua vida pessoal e/ou sobre preocupações académicas ou profissionais.
Num contexto em que a rede é encarada, muitas vezes, como um espaço alternativo para a
construção da identidade (Sherry Turkle, autora de “Life on Screen” e “Alone Together”62,
descreve a rede como um espaço onde se constrói o “eu” que se deseja, “eu” esse que se pode
editar, apagar, transformar de acordo com a personagem que se pretende desempenhar), onde
cada indivíduo pode ser autor de conteúdos, partilhando-os independentemente da qualidade
do produto63, e onde a separação entre aquilo que é público e o que é pessoal ou privado (o
frontstage e backstage referidos por Goffman, 1959) pode ser vista como algo cada vez mais
ténue, a perceção relativamente às implicações positivas e negativas de se ter uma identidade
na rede não poderá ser desvalorizada quer pelos indivíduos quer pelas instituições. São
questões que deverão ser consideradas cada vez mais cedo, independentemente da faixa etária
ou do nível de escolaridade dos indivíduos. É necessário, sobretudo, a compreensão que as
regras do mundo digital – ainda que aparentem ser um reflexo das do mundo físico – regem-se
por modelos diferentes e devem, por isso mesmo, ser compreendidas e discutidas ao mesmo
tempo que se discute o “como utilizar o Twitter”, ou “como criar um perfil no Facebook”. Ao abrir
canais de comunicação que anulam as barreiras físicas e geográficas, a rede potencia a
interação entre indivíduos, comunidades, organizações que poderão, em termos culturais, ter
raízes profundamente diferentes; numa escala mais pequena, poderão anular a separação
geracional e colocar em contacto indivíduos de idades e com experiências diferentes, com todas
as vantagens e consequências que daí poderão advir. É necessário, por isso, uma nova noção
de netiquette, a compreensão que a convivência e manifestação de opinião na rede não estão
isentas de normas ou regras que, ainda que mais flexíveis, são ainda importantes – questões
que não poderão ser ignoradas pelas instituições que assumem a responsabilidade de preparar
os indivíduos para um futuro profissional.
No mundo físico, a construção da identidade não é um processo imediato mas o resultado
de um crescimento e amadurecimento pessoal, do relacionamento e interação com os pares, de
um processo de autodesenvolvimento e autoaprendizagem que se inicia na infância e só
terminará quando termina a vida do indivíduo. Na rede, onde os processos são agilizados e tudo
62 “Life on the Screen: Identity in the Age of the Internet”, publicado em 1995 pela New York: Simon & Schuster; “Alone together – Why we expect more from technology and less from each other”, publicado em 2011 pela Basic Books, New York.
63 Cf. Andrew Keen (2012), “Digital Vertigo: How Today’s Online Social Revolutionis Dividing, Diminishing, and Disorienting Us”, publicado em 2012 pela St. Martin’s Press, New York.
Cf. Andrew Keen (2012), TEDx Talk apresentada no âmbito da TEDx Danubia 2011, disponível em, http://www.youtube.com/watch?v=WY2CjqafwQk, acedida a 28 de fevereiro de 2012.
A construção da identidade em ambientes digitais!
195
se desenrola a uma velocidade superior àquela muitas vezes desejada pelos indivíduos, a
criação de uma identidade deverá ser ainda mais consciente, ponderada e refletida. E isto só
poderá ser conseguido se, desde bastante cedo, se discutirem e trabalharem as questões
associadas à construção da identidade em ambientes digitais; só poderá ser conseguido pela
compreensão das potencialidades e dos riscos associados à presença na rede, do como
aproveitar as oportunidades deste “novo” universo e de como gerir, da melhor forma, os
eventuais perigos relacionados com a descontextualização e permanência de conteúdos.
Num espaço aberto à participação dos indivíduos e onde todos têm as mesmas
oportunidades, todos podem escolher o tipo de identidade que querem construir. Cabe por isso
ao indivíduo decidir sobre a forma como, sendo e podendo ser tudo, se tornará grande naquilo
que o faz único.
A construção da identidade em ambientes digitais!
197
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A construção da identidade em ambientes digitais!
207
ANEXOS
A construção da identidade em ambientes digitais
209
Anexo 1
Questionário
Anexos
210
A construção da identidade em ambientes digitais
211
A construção da identidade em ambientes digitais
213
Anexo 2
Guião de Entrevista - Responsável SCIRP-UA
Grupo 1
A Universidade de Aveiro (UA) é uma instituição com uma forte presença na rede, quer em plataformas mais tradicionais (como a página da Universidade) quer nas redes sociais.
1. Como descreveria a posição/a presença da UA nestes media?
2. Que mensagem e imagem pretendem transmitir à comunidade (ao divulgar
esses conteúdos, com abordagens diferentes)?
3. Na seleção da informação (a ser divulgada nas diferentes plataformas),
existem critérios/linhas de orientação? Poderia descrevê-los? Como é
selecionada a informação a divulgar/a destacar?
4. Como tem sido recebida a presença da UA nessas plataformas mais
abertas? Qual tem sido o feedback?
5. Na sua opinião, qual a importância de ter uma presença na rede? Que
vantagens e desvantagens consegue antever?
Grupo 2
Os alunos da Universidade (enquanto indivíduos) não são apenas consumidores mas também produtores de conteúdos online. Com o SAPO Campus, a produção e publicação de conteúdos na plataforma torna visível/concreta a ligação entre aluno e Universidade.
6. O que representa, para a Universidade de Aveiro, a existência de uma
plataforma com as caraterísticas do SAPO Campus?
7. O que significa o SAPO Campus – enquanto plataforma e enquanto meio
de divulgação da identidade dos alunos - em termos de divulgação e
promoção da própria Universidade?
8. Ao publicarem conteúdos, os utilizadores do SAPO Campus estão a criar,
eles próprios, uma identidade na rede diretamente associada à
Universidade. Qual a sua opinião, enquanto representante da instituição,
relativamente a este assunto? Que imagem gostaria de ver associada à
Universidade?
9. Em alguns casos a qualidade do produto (neste caso os alunos) é
Anexos
214
considerada um reflexo da qualidade da instituição que os forma. Qual a
sua opinião relativamente a esta associação?
A construção da identidade em ambientes digitais
215
Anexo 3 – Guião de Entrevista
Gestora de gabinete de carreiras e estágios profissionais
Grupo 1
A Sílvia Bandeira é responsável pela gestão do gabinete de carreiras e estágios profissionais, ou seja, pela colocação dos alunos em estágio, em empresas.
1. Descreva-me, por favor, como decorre este processo.
2. Tem algum processo para ajustar os candidatos, ao nível do perfil, aos
pedidos recebidos?
3. Quando as empresas a contactam no sentido de formalizar pedidos de
estágio e/ou emprego, quais são as competências específicas e
transversais mais solicitadas?
Grupo 2
No contexto atual, os indivíduos publicam, utilizam as redes como forma de partilha e expressão.
4. O que pensam os empregadores desta situação? Estão atentos à
identidade que os alunos-candidatos constroem na rede?
5. Enquanto responsável pela gestão de carreiras, qual é a sua opinião
relativamente à importância da identidade na rede? Que vantagens e
desvantagens encontra a construção de uma presença na rede?
6. Qual é, para si, o “perfil ideal”, em termos de identidade na rede, de um
candidato? O que é que as empresas procuram, o que dizem sobre este
tema?
7. Como tem sido recebida a presença da UA nessas plataformas mais
abertas? Qual tem sido o feedback?
8. Na sua opinião, qual a importância de ter uma presença na rede? Que
vantagens e desvantagens consegue antever?
A construção da identidade em ambientes digitais
217
Anexo 4 – Guião de Entrevista
Profissional da área da comunicação e novos media
Grupo 1
Hoje em dia é praticamente impossível permanecer fora da rede: os indivíduos acedem a serviços online, partilham os seus dados, utilizam plataformas de serviços (e.g. Segurança Social, Via Verde, Site das Finanças) onde inserem os seus dados que são arquivados de forma permanente. Mais ainda – e é nisto que incide o meu estudo – utilizam redes e serviços online para se manifestarem, partilharem ideias, trabalharem remotamente com colegas, desenharem portfólios, e com isso constroem uma presença em vários espaços e acessível a várias pessoas.
1. Na sua opinião e de acordo com a sua experiência profissional, qual é a
importância – em termos profissionais e no contexto atual – de se ter uma
identidade online?
2. Que vantagens encontra na existência de uma presença online? E que
desvantagens ou perigos consegue encontrar?
3. De acordo com a sua experiência, qual a importância de ter uma boa rede
de contactos (online)? E o que considera uma boa rede de contactos?
Grupo 2
Numa das suas intervenções nos media (imprensa escrita), a S. teve uma afirmação curiosa: “A internet é como Las Vegas: o que lá acontece fica”.
4. Na sua opinião, considera que a sociedade (em geral) e os jovens (em
particular) têm noção desta realidade? Porquê?
5. Numa altura em que os indivíduos partilham informação pessoal,
profissional, emitem opiniões e interagem na rede, e quando a internet se
assume como um arquivo da vida das pessoas (e cuja informação pode
ser pesquisada, recuperada, transformada e replicada de uma forma não
controlada pelo emissor original), quais os principais desafios para alguém
que está a construir uma identidade na rede?
6. Que cuidados deverá ter alguém que, ainda numa fase inicial da sua vida
profissional, pretende utilizar a sua presença na rede como “cartão de visita”
para o mercado de trabalho? E o que deverá evitar?
Anexos
218
7. Como profissional, qual é a sua opinião sobre a forma como os indivíduos
(jovens) estão a construir a sua identidade na rede?
Grupo 3
No vídeo de apresentação da Media Training Worldwide (disponível no site da Organização), a S. fala sobre a importância de comunicar de forma eficaz.
8. Na sua opinião e de acordo com a sua experiência profissional, quais são
as principais características de uma comunicação eficaz?
9. Se nós “somos o que falamos”, online somos o que escrevemos e o que
publicamos. De que forma é que alguém que está a iniciar a sua vida
profissional pode utilizar a rede (e os seus múltiplos serviços) para
comunicar eficazmente e assim divulgar o seu currículo?
10. Na sua opinião enquanto profissional, quais as competências (normalmente
designadas por soft-skills) que deverão fazer parte do Currículo de alguém
que pretende entrar no mercado de trabalho?
11. E, sendo nós aquilo que falamos, como poderá um jovem
manifestar/comprovar a existência dessas competências através dos novos
media?
A construção da identidade em ambientes digitais
219
Anexo 5
Guião de Entrevista - Alunos
Tema: A construção da identidade online no SAPO Campus e em ambientes informais;
Identidade online, espaço de manifestação de competências
Questão Objetivos
Estás online, tens conta no Facebook, publicas na rede. De uma maneira geral, como descreverias a tua identidade na rede?
Descrever e analisar a identidade online de um grupo de alunos, manifestada em ambiente institucional e em ambientes informais
Quando utilizas os teus espaços online, procuras manter algum grau de separação entre eles, mantendo alguns mais pessoais e outros mais abertos/profissionais? Que tipo de medidas tomas para salvaguardar/manter essa separação?
Identificar os mecanismos e estratégias utilizados pelos indivíduos para a gestão da sua identidade na rede, e os motivos e razões subjacentes à adopção dessas medidas
Relativamente ao conteúdo que publicas: tens a preocupação de publicar só coisas que te favoreçam e sejam bem recebidos, ou preferes mostrar os teus pontos fortes e fracos e deixar que quem lê perceba que és capaz de aprender com os erros? Qual te parece a melhor abordagem?
Analisar a perceção dos indivíduos relativamente à sua própria representação (identidade autoinformativa) em ambientes formais e informais, avaliando a importância do contexto (formal e informal) na modelação dos comportamentos e da presença online
Estás registado no SAPO Campus. Que tipo de conteúdos publicas? Avaliar a influência da dimensão
institucional na construção da identidade online dos indivíduos, identificando as razões subjacentes à utilização de uma plataforma online suportada institucionalmente
No SAPO Campus a tua identidade virtual está associada à tua identidade real, enquanto aluno. De que forma é que isso influencia o que publicas/ a forma como te manifestas?
Que importância tem, para ti, o facto de os teus conteúdos ficarem visíveis a toda a comunidade académica – colegas, professores, academia em geral? É, na tua opinião, uma vantagem ou desvantagem? Porquê?
Pedia-te que te colocasses, agora, no papel de um potencial empregador. Na tua opinião, o é que a tua presença online – o teu perfil no Facebook, no linkedIn, a tua atividade no SAPO Campus – diria sobre ti? O que, daquilo que publicas, poderia ser vantajoso sobre ti? E o que gostarias que não fosse associado à tua pessoa? Identificar a manifestação, em
ambiente digital, de competências e aprendizagens adquiridas e desenvolvidas pelos indivíduos
Tens hobbies ou atividades/interesses que partilhes na rede e que, na tua opinião, poderiam reforçar uma eventual candidatura a um emprego? Quais? E qual a tua opinião sobre o facto de as empresas (por exemplo) pesquisarem sobre a tua atividade na rede?
De que forma é que a tua presença online – os espaços onde te manifestas – comprova as competências que desenvolveste ao longo do teu percurso pessoal, académico
Anexos
220
e profissional? Como é que essas competências poderiam visíveis, por exemplo, na presença online de um aluno?
A forma como te manifestas na rede, os grupos e espaços em que participas... na tua opinião, que importância têm ou poderão vir a ter no teu futuro profissional?
Ao longo do mestrado houve docentes que integraram ferramentas mais abertas nas suas aulas. Qual a tua opinião relativamente a esta integração? Foi bem sucedida, trouxe vantagens, não gostaste, não funcionou? O que pensas sobre a integração das ferramentas da web 2.0 em contextos educativos? Que vantagens e desvantagens encontras?
(avaliar a perceção dos participantes relativamente à mais-valia da adopção de ferramentas do software social em contexto educativo formal)
No caso específico do SAPO Campus, a tua presença online está associada à tua identidade real. Como é que esta situação- esta identificação – influencia a forma como te manifestas? Que cuidados tens (ou não tens) na utilização do SAPO Campus, ao nível dos conteúdos que publicas?
Avaliar a influência da dimensão institucional na construção da identidade online dos indivíduos, identificando as razões subjacentes à utilização de uma plataforma online suportada institucionalmente
É importante, para ti, teres uma presença online associada à tua instituição de ensino? Que vantagens tens enquanto aluno? E desvantagens?
avaliar a importância (percebida pelos indivíduos, instituição e comunidade) da reputação digital e do papel que esta desempenha ao nível do futuro profissional, da imagem da instituição de ensino e da adequação ao mercado de trabalho.
E relativamente à Universidade: achas que tem a ganhar ou a perder com a utilização de uma plataforma deste tipo? Que eventuais vantagens e problemas consegues visualizar, quer para os alunos quer para a instituição?