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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE TRANSPORTES AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO OPERACIONAL DE TERMINAIS PORTUÁRIOS DE CARGA UNITIZADA: UMA APLICAÇÃO DAS REDES DE PETRI COLORIDAS BRUNO DE ATHAYDE PRATA ORIENTADOR: Prof. Dr. João Bosco Furtado Arruda CO-ORIENTADOR: Prof. Dr. Giovanni Cordeiro Barroso FORTALEZA - CE JANEIRO / 2006

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR

    CENTRO DE TECNOLOGIA

    DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE TRANSPORTES

    AVALIAO DE DESEMPENHO OPERACIONAL DE TERMINAIS

    PORTURIOS DE CARGA UNITIZADA: UMA APLICAO DAS REDES DE

    PETRI COLORIDAS

    BRUNO DE ATHAYDE PRATA

    ORIENTADOR: Prof. Dr. Joo Bosco Furtado Arruda

    CO-ORIENTADOR: Prof. Dr. Giovanni Cordeiro Barroso

    FORTALEZA - CE

    JANEIRO / 2006

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR

    CENTRO DE TECNOLOGIA

    DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE TRANSPORTES

    BRUNO DE ATHAYDE PRATA

    Monografia apresentada disciplina Projeto de Graduao da Coordenao do Curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Cear como requisito parcial para obteno do grau de Engenheiro Civil.

    FORTALEZA - CE

    JANEIRO / 2006

  • AVALIAO DE DESEMPENHO OPERACIONAL DE TERMINAIS

    PORTURIOS DE CARGA UNITIZADA: UMA APLICAO DAS REDES DE

    PETRI COLORIDAS

    Bruno de Athayde Prata

    MONOGRAFIA SUMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAO DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR COMO REQUISITO PARCIAL PARA OBTENO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

    Aprovada por:

    ________________________________________ Prof. Joo Bosco Furtado Arruda, PhD.

    ________________________________________ Prof. Giovanni Cordeiro Barroso, Ps - D. Sc.

    ________________________________________ Profa. Suelly Helena de Arajo Barroso, D. Eng.

    FORTALEZA, CE - BRASIL

    JANEIRO / 2006

  • i

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo a Universidade Federal do Cear, instituio que possibilitou minha

    formao como engenheiro e que, acima de tudo, me ensinou a enxergar um pouco mais

    a realidade. Sinto-me realizado por ter tido a oportunidade de estudar na Universidade

    supracitada e sempre levarei um pouco dela comigo pelo resto de minha vida.

    Agradeo a todos os servidores da UFC que nas coordenaes, nos

    departamentos, nos laboratrios, nas pr-reitorias, nas bibliotecas, nos consultrios e

    nos restaurantes universitrios, deram fundamental suporte s minhas atividades

    estudantis. Sem o apoio destas pessoas, minha vida acadmica teria sido completamente

    invivel.

    Agradeo ao Ncleo de Pesquisa em Logstica, Transporte e Desenvolvimento

    pelo acolhimento que me propiciou ingresso to profundo nos ramos da Engenharia de

    Transportes, Pesquisa Operacional e Logstica.

    Agradeo ao professor Joo Bosco Furtado Arruda por todos os ensinamentos

    concedidos e, sobretudo, pela viso humanista e sistmica que ele sempre me passou

    nos momentos de orientao e nas horas de aula. Grande parte do que sei hoje, e do que

    estou continuamente aprendendo, se deve ao aprendizado concedido pelo professor

    Bosco, pessoa de minha mais intensa admirao, gratido e estima. Sou grato ao

    professor Bosco tambm pela concesso do microcomputador e do espao fsico que

    possibilitaram a elaborao deste trabalho.

    Agradeo ao professor Giovanni Cordeiro Barroso pela considerao, pelo

    respeito, pela valiosa amizade e pela vasta gama de lies que com ele aprendi. Sua

    simplicidade e sua competncia foram, e continuam a ser, inestimveis modelos para

    minha formao como indivduo. Agradeo tambm ao professor Giovanni pelo apoio,

    em termos de software, de hardware e de acervo bibliogrfico, que viabilizaram o pleno

    desenvolvimento desta monografia.

  • ii

    Agradeo ao professor Ernesto Ferreira Nobre Jnior, pessoa que, ao longo da

    minha carreira acadmica, mais confiou em meu potencial e mais me estimulou a

    prosseguir com seu entusiasmo. Seu otimismo, sua ateno e sua amizade foram

    ingredientes imprescindveis para minha formao tcnica e acadmica, portanto sinto-

    me orgulhoso de ter compartilhado de sua companhia. O aprendizado propiciado por ele

    nas diversas disciplinas ministradas, assim como nos momentos de orientao,

    consolidou minha formao como engenheiro de maneira singular.

    Agradeo ao professor Mrio ngelo pela ateno, pela imensa considerao

    que ele sempre teve para com a minha pessoa, pelo grande aprendizado que ele me

    propiciou nas disciplinas de Engenharia de Trfego e de Transporte Urbano e,

    sobretudo, pela sua amizade.

    Agradeo ao professor Macrio pelas inesquecveis e, sobretudo, espetaculares

    aulas de Teoria das Estruturas e de Otimizao, bem como pela considerao e pela

    amizade. O Professor Macrio um exemplo de docente e me orgulho de ter sido seu

    aluno.

    Agradeo ao professor Felipe Loureiro, pessoa pela qual nutro grande admirao

    e estima, primeiramente por ter proferido uma palestra no incio de meu curso que me

    cativou a me especializar na rea de Engenharia de Transportes e, principalmente, pela

    ateno, pela considerao e pelos fundamentais ensinamentos que ele me transmitiu na

    fabulosa disciplina de Planejamento dos Transportes.

    Agradeo professora Suelly Barroso pela proeminente contribuio

    metodolgica na concepo deste trabalho, pelos inmeros conhecimentos concedidos

    em sala de aula e pela grande considerao que ela sempre teve para com a minha

    pessoa.

    Agradeo aos professores Ciro, Walmick e Mateus pelas formidveis e

    memorveis aulas de Clculo, Fsica e Clculo Numrico, pois estas aulas consolidaram

    de maneira singular o embasamento de minha formao como engenheiro.

  • iii

    Agradeo a Fbio Abreu e a Mrcio Carvalho, engenheiros da

    CEARPORTOS, pelo auxlio estratgico na coleta de dados no terminal porturio do

    Pecm. Sou muito grato aos amigos Diego e Nauri pelo fundamental apoio na coleta de

    dados. Ao meu grande amigo Ciro, pelo apoio inestimvel logstico, um agradecimento

    especial.

    Agradeo aos colegas de NUPELTD Expedito, Venescau, Carlos Andr, Emlio,

    Ins, Eduardo Praa, Mosio, Alysson, Filipe, Thas, Diego e Nauri pelo aprendizado e,

    principalmente, pelo convvio.

    Agradeo a todos os colegas de faculdade, especialmente aos meus grandes

    amigos (em ordem alfabtica): Alexandre, Carlildson, Carlos Eduardo, Ciro,

    Crislayberg, David Hermann, Ednardo, Eloneide, rico George, Gildemir, Hber, Joo

    Csar, Leonardo, Lindemberg, Luiz Alberto, Magno, Osvaldo, Paulo Igor e Teresa pelo

    convvio que tornou os cinco anos de graduao memorveis.

    Agradeo e homenageio o amigo de faculdade Eglaczio que, subitamente, nos

    deixou.

    Agradeo aos meus grandes amigos Caio e Regis pelo apoio, pelo aprendizado e,

    principalmente, pela estima.

    Agradeo ao meu tio Archimedes Fortes Avelino pelo inestimvel apoio, pelos

    conselhos e pelos inmeros conhecimentos de matemtica, fsica e engenharia

    concedidos nestes ltimos cinco anos.

    Agradeo aos meus pais Benedito Jos Nogueira Prata e Helena Badar de

    Athayde Prata por moldarem o meu carter de maneira singular e por me apoiarem com

    tamanho afinco ao longo dos meus anos de vida.

    Agradeo a Nadja Paulino Pessoa, por tudo.

  • iv

    A mais bela de todas as coisas

    quando os fracos e desencorajados

    levantam suas cabeas e deixam de crer na

    fora de seus opressores.

    Brecht

  • v

    SUMRIO

    Lista de Figuras viii

    Lista de Tabelas ix

    Lista de Nomenclaturas e Abreviaes x

    Resumo xi

    Abstract xii

    1. INTRODUO 1

    1.1 Consideraes iniciais 1

    1.2 Justificativa do tema abordado 1

    1.3 Definio do problema 2

    1.4 Objetivos 2

    1.4.1 Objetivo geral 2

    1.4.2 Objetivos especficos 3

    1.5 Metodologia 3

    1.6 Estrutura do trabalho 5

    2. TERMINAIS PORTURIOS DE CARGAS UNITIZADAS 6

    2.1 Introduo 7

    2.1.1 Definio de um porto 7

    2.1.2 Histrico e evoluo do conceito de porto 8

    2.1.2.1 Portos de 1. gerao 9

    2.1.2.2 Portos de 2. gerao 9

    2.1.2.3 Portos de 3. gerao 10

    2.1.2.4 Portos de 4. gerao 10

    2.2.Portos voltados para o desenvolvimento 10

    2.2.1 As dimenses em um porto enquanto equipamento-suporte do

    desenvolvimento econmico-regional 10

    2.2.2 Como (re) definir o papel de um porto no mundo hodierno

    globalizado 12

    2.3.Aspectos relacionados s cargas 14

    2.3.1 Caractersticas da carga 14

    2.3.1.1 Tipo da carga 15

    2.3.1.2 Natureza da carga 15

  • vi

    2.3.2 Embalagem e marcao 17

    2.3.3 Unitizao 18

    2.3.3.1 Pallets 18

    2.3.3.2 Contineres 19

    2.3.3.3 Outros tipos de unitizao 21

    2.4.A operao de terminais porturios de cargas unitizadas 21

    2.4.1 Lgica da operao 21

    2.4.2 Equipamentos 22

    2.4.3 Multimodalidade e intermodalidade 24

    2.4.4 Mo-de-obra porturia 25

    2.5.A avaliao de desempenho de terminais porturios de cargas unitizadas 26

    2.5.1 Indicadores de desempenho operacional 26

    2.5.2 Modelagem matemtica e desempenho operacional 29

    3. REDES DE PETRI COLORIDAS 31

    3.1 Conceitos bsicos 32

    3.1.1 Sistemas a eventos discretos 32

    3.1.2 Apresentao das redes de Petri 34

    3.1.3 Redes de Petri com restries de tempo 37

    3.2 Apresentao informal s redes de Petri coloridas 38

    3.3 Apresentao formal s redes de Petri coloridas 46

    3.4 Multi-conjuntos 47

    4. MODELO DE AVALIAO DE DESEMPENHO OPERACIONAL DE

    TERMINAIS PORTURIOS DE CARGA UNITIZADA 48

    4.1 Concepo do modelo 49

    4.2 Descrio do Terminal Porturio do Pecm 49

    4.2.1 Consideraes gerais 49

    4.2.2 Descrio da infra-estrutura 50

    4.2.3 Descrio dos equipamentos 53

    4.2.4 Lgica operacional 54

    4.2.5 Descrio da operao 55

    4.3 Sistema modelado 57

    4.4 Validao do modelo 60

    4.4.1 Discusso conceitual 60

  • vii

    4.4.2 Avaliao do modelo 63

    4.4.3 Anlise das propriedades comportamentais da rede 64

    4.5 Simulao de cenrios, anlise e discusso dos resultados obtidos 65

    5. CONCLUSES 68

    5.1 Introduo 68

    5.2 Relevncia, originalidade e resultados do modelo 68

    5.2.1 Importncia do modelo desenvolvido 68

    5.2.2 Originalidade da modelagem apresentada 69

    5.2.3 Resultados obtidos pelo modelo 69

    5.3 Limitaes do modelo proposto 70

    5.4 Proposies para estudos futuros 71

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 73

    Anexos

    ANEXO I CDIGO FONTE DO MODELO DESENVOLVIDO 78

  • viii

    LISTA DE FIGURAS Figura 2.1 Dimenses envolvidas com um porto voltado para o desenvolvimento

    scioeconmico 11

    Figura 2.2 Ilustrao de tipos de pallets 18

    Figura 2.3 Estrutura operacional de um tpico terminal de contineres 22

    Figura 2.4 Portiner em operao 23

    Figura 2.5 Trator de terminal (TT) 23

    Figura 2.6 Empilhadeira iando continer vazio 24

    Figura 3.1 Exemplo do disparo de uma transio 35

    Figura 3.2 RdP descrevendo a alocao de recursos do sistema (marcao inicial M0) 40

    Figura 3.3 RPC descrevendo a alocao de recursos do sistema (marcao inicial M0) 42

    Figura 3.4 Viso esquemtica do jantar dos filsofos 44

    Figura 3.5 Modelo, do jantar dos filsofos, baseado em redes de Petri ordinrias 45

    Figura 3.6 Modelo, do jantar dos filsofos, baseado em redes de Petri coloridas 45

    Figura 4.1 Operao de contineres do Terminal Porturio do Pecm modelada por uma

    rede de Petri colorida 57

    Figura 4.2 Relao utilidade versus validade de um modelo 63

  • ix

    LISTA DE TABELAS Tabela 2.1 Classificao dos portos em geraes 8

    Tabela 2.2 Dimenses de alguns tipos de contineres 19

    Tabela 2.3 Tipos de contineres e descries 20

    Tabela 3.1 Analogia entre redes de Petri e linguagens de programao 42

    Tabela 4.1 Ponte de acesso aos peres 51

    Tabela 4.2 Per de produtos siderrgicos e carga geral 51

    Tabela 4.3 Per 2 per de granis lquidos e gases liquefeitos 52

    Tabela 4.4 Per dos rebocadores 52

    Tabela 4.5 Equipamentos utilizados no Terminal Porturio do Pecm 53

    Tabela 4.6 Legenda dos lugares da rede apresentada na Figura 4.1 58

    Tabela 4.7 Legenda das transies da rede apresentada na Figura 4.1 58

    Tabela 4.8 Descrio das cores da rede apresentada na Figura 4.1 59

    Tabela 4.9 Descrio das variveis da rede apresentada na Figura 4.1 59

    Tabela 4.10 Taxas de utilizao dos equipamentos empregados no cenrio 1 66

    Tabela 4.11 Anlise de sensibilidade da varivel quantidade de caminhes no desempenho

    do sistema 67

  • x

    LISTA DE NOMENCLATURAS E ABREVIAES

    ANTAQ Agncia Nacional de Transportes Aquavirios

    CEARPORTOS Companhia de Integrao Porturia do Cear

    CPNTools Editor de redes de Petri coloridas, de domnio pblico,

    desenvolvido e distribudo pela Universidade de Aarhus

    (Dinamarca).

    FCL Full container load

    FEU Forty Feet Equivalent Unit

    FLO/FLO Float-on/Float-off

    LCL Less than container load

    LO/LO Lift-on/Lift-off

    RA/RA Rail-on/Rail-off

    RA/RO Rail-Road

    RdP Redes de Petri

    RO/RO Roll-on/Roll-off

    RPAN Redes de Petri de Alto Nvel

    RPC Redes de Petri Coloridas

    RPT Redes de Petri Temporais

    SED Sistemas a Eventos Discretos

    TEU Twenty Feet Equivalent Unit

    UNCTAD United Nations Conference on Trade and Development

  • xi

    Resumo da monografia submetida ao Curso de Engenharia Civil/UFC como parte dos

    requisitos para obteno do ttulo de Engenheiro Civil.

    AVALIAO DE DESEMPENHO OPERACIONAL DE TERMINAIS

    PORTURIOS DE CARGA UNITIZADA: UMA APLICAO DAS REDES DE

    PETRI COLORIDAS

    Bruno de Athayde Prata

    Janeiro / 2006

    Orientador: Prof. Joo Bosco Furtado Arruda, Ph.D.

    Co-Orientador: Prof. Giovanni Cordeiro Barroso, Ps D.Sc.

    O presente trabalho decorre de uma pesquisa que buscou a proposio de um

    modelo matemtico de avaliao de desempenho operacional de terminais porturios de

    carga unitizada, vistos como Sistemas a Eventos Discretos. Sendo assim, o objetivo

    deste trabalho foi elaborar um modelo de avaliao de desempenho operacional em

    terminais porturios, baseado nas redes de Petri coloridas, tendo como principal varivel

    de deciso o tempo total de deslocamento das cargas unitizadas em um porto e suas

    implicaes no tamanho da frota dos equipamentos de transporte utilizados. Este

    modelo foi aplicado ao caso do Terminal Porturio do Pecm, Cear. Realizaram-se

    levantamentos de campo com o intuito de caracterizar a lgica operacional do Porto do

    Pcem, assim como coletar informaes inerentes aos tempos operacionais dos

    equipamentos do terminal em questo. Utilizou-se o programa CPNtools, editor e

    simulador de redes de Petri coloridas, para implementao, simulao e anlise do

    modelo proposto. As anlises realizadas permitiram observar que o modelo assemelha-

    se realidade modelada, sendo requeridos alguns aperfeioamentos para sua melhor

    representao. As simulaes realizadas permitiram avaliar que o terminal supracitado

    est operando de forma ineficiente, no que tange frota de caminhes alocada para a

    movimentao de contineres. Como concluses, pode-se destacar que as redes de Petri

    coloridas so uma tcnica de grande valia para modelagem, simulao e anlise de

    terminais de carga.

    Palavras chaves: Logstica porturia, redes de Petri coloridas, Avaliao de desempenho porturio.

  • xii

    Abstract monograph submitted to Civil Engineering Course as a partial fulfillment of

    the requirements for the degree of Civil Engineer.

    ASSESSING PERFORMANCE OF CONTAINER TERMINALS: A COLORED

    PETRI NETS APPROACH

    Bruno de Athayde Prata

    2006 / January

    Advisor: Prof. Joo Bosco Furtado Arruda, Ph.D.

    Co- Advisor: Prof. Giovanni Cordeiro Barroso, Ps D.Sc.

    This work is a result of an under-graduate research with the aim to propose a

    mathematical model to assess performance of container terminals, based on Discrete

    Events Theory. The objective of this work was create a model, using colored Petri nets,

    where the principal decision variable was the goods transit time in the port and the

    implications of that variable in the fleet size of transportation equipments. This model

    was applied to the case of the Port of Pecm. In the accomplished surveys, the logic of

    the system operations was described and data were gathered about the transport

    operational times in the terminal. Software CPNtools, editor and simulator of colored

    Petri nets, was used for the implementation, simulation and analysis of the proposed

    model. The analysis made possible to observe that the model works, in an acceptable

    way, as a reflection of the reality modeled but also that it requires some adjustments for

    a real-world best representation. Simulations were made to evaluate the operational

    efficiency of the studied port. As conclusions, one can observe that the colored Petri

    nets are a feasible and useful technique for the modeling, simulation and analysis of port

    terminals, mainly those specialized in container operations.

    Key words: Port logistics, colored Petri nets, Port evaluation techniques.

  • 1

    CAPTULO 1

    INTRODUO 1.1 CONSIDERAES INICIAIS

    A princpio, pode-se imaginar que estudar a operao de um porto uma

    atividade com foco pontual; no entanto, tal anlise muito mais abrangente do que

    inicialmente se imagina. Um porto que opera de forma eficiente e eficaz pode induzir o

    desenvolvimento na regio onde est inserido, captando novos clientes e mantendo os j

    existentes, de modo a facilitar o escoamento da produo local.

    Segundo Souza (2002), os portos so elementos de entrada e sada de quase todo

    o comrcio exterior, sendo considerados elos logsticos estratgicos para integrao de

    uma nao economia globalizada. A competitividade da economia depende, em

    grande medida, da eficincia e do baixo custo das atividades porturias.

    O atraso na modernizao do sistema porturio, portanto, compromete todo o

    esforo do pas para melhorar a competitividade dos seus produtos e equilibrar a

    balana comercial. Logo, para atingir altos nveis de eficincia operacional, um

    planejamento rgido das atividades logsticas deve ser realizado nos terminais porturios

    de modo a reduzir ao mximo os custos logsticos e os tempos de permanncia das

    embarcaes.

    De acordo com Santos e Martins (1998) apud Souza (2002), em uma pesquisa

    realizada pela Confederao Nacional dos Transportes, constatou-se que o Brasil perde

    cerca de US$ 5 bilhes anuais considerando-se todas as ineficincias de seus portos.

    Deste modo, a avaliao de desempenho mostra-se fundamental para a caracterizao de

    um terminal porturio, bem como para o diagnstico de possveis problemas

    encontrados na sua operao.

    1.2 JUSTIFICATIVA DO TEMA ABORDADO

    O desempenho de um sistema logstico impacta significativamente os custos

    logsticos associados a um produto ou servio, refletindo o nvel de servio ofertado ao

  • 2

    cliente. Conforme Ballou (2001), um sistema logstico eficiente permite a uma regio

    geogrfica explorar suas vantagens competitivas pelo direcionamento de seus esforos

    produtivos queles produtos com ela mais compatveis, implicando na maior exportao

    desses produtos para outras regies.

    O atraso na modernizao do sistema porturio, portanto, compromete todo o

    esforo do pas para melhorar a competitividade dos seus produtos e equilibrar a

    balana comercial. Logo, para atingir altos nveis de eficincia operacional, um

    planejamento rgido das atividades logsticas deve ser realizado nos terminais porturios

    de modo a reduzir ao mximo os custos logsticos e os tempos de permanncia das

    embarcaes.

    O porto do Pecm um equipamento logstico de importncia estratgica para o

    Estado do Cear, pois ele se constitui como uma das principais portas de escoamento,

    para o mercado externo, dos produtos locais, dentre os quais podem ser destacados os

    produtos agrcolas (ARRUDA e BASTOS, 2001a).

    Os portos brasileiros, em contraste com o que ocorre com os portos das naes

    desenvolvidas, ainda no se capacitaram para atingir elevados nveis de eficincia

    logstica. Deste modo, tornam-se necessrios os esforos que contribuam para a

    maximizao da eficincia operacional dos terminais porturios do Brasil.

    1.3 DEFINIO DO PROBLEMA

    Dentro de tal conjuntura, temos o seguinte problema de pesquisa: como avaliar o

    desempenho operacional de um terminal porturio de cargas unitizadas, tendo em vista

    a quantidade de contineres a ser movimentada e os equipamentos empregados no

    terminal, de modo a obter-se uma maior compreenso do sistema avaliado?

    1.4 OBJETIVOS 1.4.1 Objetivo geral

    Elaborar um modelo de avaliao de desempenho operacional em ptios

    porturios, baseado nas redes de Petri coloridas, tendo como principal varivel de

    deciso o tempo total de deslocamento das cargas unitizadas em um porto e suas

  • 3

    implicaes no tamanho da frota dos equipamentos de transporte utilizados. Este

    modelo ser aplicado ao caso do Terminal Porturio do Pecm, Cear.

    1.4.2 Objetivos especficos Como objetivos especficos do presente trabalho, podem ser ressaltados:

    i) Determinar a lgica da operao de cargas unitizadas no Terminal Porturio do

    Pecm, permitindo a avaliao de desempenho operacional do sistema com base no

    estado da arte tanto dos instrumentos de aferio daquele desempenho como da

    utilizao das redes Petri coloridas;

    ii) Simular a aplicao do modelo de movimentao de contineres, no mbito do

    Terminal Porturio do Pecm;

    iii) Analisar as propriedades estruturais do modelo desenvolvido, permitindo uma maior

    compreenso da realidade modelada;

    iv) Mensurar, em termos da reduo do tempo de ciclo, os benefcios resultantes da

    aplicao do modelo em vrios cenrios de simulao, comparativamente infra-

    estrutura operacional atualmente vigente no Terminal Porturio do Pecm;

    v) Determinar as taxas de ocupao dos equipamentos empregados nos cenrios

    operacionais.

    1.5 METODOLOGIA A metodologia foi composta de seis etapas, apresentadas a seguir.

    (i) Reviso bibliogrfica

    A reviso de literatura da presente pesquisa consistiu no levantamento de obras

    que abordassem as redes de Petri e suas aplicaes, traando paralelos entre estas e o

    problema da operao de terminais porturios de cargas unitizadas. Tambm foi

    levantado o estado da arte sobre o planejamento e a operao de portos.

    (ii) Caracterizao do sistema a modelar

    Foi levantada, junto Autoridade Porturia CEARPORTOS, a lgica de

    operao do Terminal Porturio do Pecm, assim como as caractersticas operacionais

  • 4

    dos equipamentos empregados na movimentao de cargas unitizadas e dados acerca de

    situaes reais de embarque e desembarque de mercadorias.

    (iii)Concepo do modelo

    Foram estabelecidos os eventos mais significativos a serem modelados no

    sistema de movimentao de cargas unitizadas do Terminal Porturio do Pecm, assim

    como a suas relaes de causa e efeito.

    (iv) Aplicao e anlise do modelo

    A aplicao e a anlise do modelo idealizado consistiram nas seguintes

    atividades:

    a) Implementao computacional do modelo;

    b) Anlise das propriedades do modelo;

    c) Simulao de cenrios operacionais;

    d) Validao e calibrao do modelo;

    e) Apresentao e discusso dos resultados.

    O modelo foi implementado no software CPNTools, editor de redes de Petri

    coloridas, de domnio pblico, desenvolvido e distribudo pela Universidade de Aarhus

    (Dinamarca). Aps a fase de implementao, foram analisadas as propriedades do

    modelo. Foram simulados diversos cenrios operacionais visando a avaliao de

    desempenho do Terminal Porturio do Pecm. A anlise do modelo e a simulao de

    cenrios permitiram a validao e a calibrao do modelo proposto. Por fim, foram

    apresentados e discutidos os resultados obtidos.

    (v) Elaborao de Relatrio

    Esta etapa da metodologia consistiu na redao da monografia propriamente

    dita. A fase de elaborao escrita foi realizada ao longo de todo trabalho,

    concomitantemente s demais atividades propostas.

  • 5

    (vi) Defesa do trabalho

    Por fim, a monografia foi apresentada, sendo avaliada por uma banca

    examinadora.

    1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO

    A monografia composta por cinco captulos, descritos a seguir. O primeiro

    captulo constitui a introduo do trabalho. O segundo captulo descreve o estado da arte

    sobre terminais porturios de cargas unitizadas, com foco na avaliao de desempenho

    operacional. No terceiro captulo, so apresentadas as redes de Petri coloridas. O quarto

    captulo apresenta o modelo de avaliao de desempenho operacional de terminais

    porturios de carga unitizada baseado em redes de Petri coloridas, assim como delineia

    e discute os resultados obtidos na anlise do modelo e na simulao de cenrios. Por

    fim, no quinto captulo, so apresentadas as principais concluses acerca do trabalho,

    bem como sugestes e recomendaes para estudos futuros.

  • 6

    CAPTULO 2

    TERMINAIS PORTURIOS DE CARGAS UNITIZADAS

    At as ltimas dcadas do sculo XX, os portos eram vistos como meros

    terminais de carga que interligavam dois ou mais modais de transporte. Contudo, dado o

    processo de globalizao da atividade econmica, ocorrido a partir dos anos 80, os

    portos deixaram de ser vistos como simples instrumentos de transbordo e passaram a ser

    tratados como elementos estratgicos para a participao de pases no mercado

    internacional. A excelncia da operao porturia tornou-se imprescindvel para o xito

    das cadeias produtivas, contribuindo, ainda mais, para o desenvolvimento scio-

    econmico regional.

    No estgio atual da economia globalizada, os pases, tanto desenvolvidos quanto

    aqueles ainda em estgio de desenvolvimento, necessitam planejar o escoamento de

    importao/exportao de produtos agrcolas e industrializados de modo a obter uma

    balana comercial favorvel. Dentro de tal conjuntura, os portos exercem papel

    fundamental na economia de uma nao, sendo um dos principais canais de acesso de

    uma regio aos mercados nacionais e internacionais.

    Este captulo apresenta o estado da arte acerca de terminais porturios,

    restringindo a anlise movimentao de cargas unitizadas e enfatizando questes

    inerentes ao planejamento e operao de tais facilidades. A estrutura do captulo ser

    dividida em cinco sees, explicitadas a seguir.

    Na primeira seo feita uma sucinta introduo ao tema abordado, sintetizando

    a evoluo do conceito de porto. Na segunda seo, evidencia-se a importncia dos

    terminais porturios no contexto econmico regional. A terceira seo apresenta as

    caractersticas de cargas movimentadas por portos e as formas de unitizao correntes.

    Na quarta seo so discutidos os aspectos inerentes operao do sistema porturio.

    Por fim, na quinta seo, aborda-se a avaliao de desempenho de terminais porturios.

  • 7

    2.1 INTRODUO 2.1.1 Definio de um porto

    Um sistema de transportes composto pelos indivduos e bens transportados,

    pelos veculos que proporcionam estes deslocamentos e pelas redes onde ocorrem os

    fluxos de transporte. As redes onde ocorrem os fluxos de transportes so conjuntos de

    trechos interligados por ns.

    Os trechos de uma rede so as vias que propiciam o deslocamento de qualquer

    que seja o modo, ou seja, rodovias, dutovias, ferrovias, hidrovias, aerovias, dentre

    outras. Por n, entende-se o encontro de duas ou mais vias em uma rede de transportes;

    os ns so compreendidos, basicamente, por intersees de vias e terminais de um ou

    mais modais de transporte.

    Os portos so terminais onde se encontram diversos segmentos de uma

    complexa rede de transportes. Na sua concepo mais simples, um porto um n

    compreendido pela interseo de hidrovias, rodovias, ferrovias, aerovias e dutovias que

    recebe tanto cargas quanto indivduos. No entanto, neste texto, aborda-se apenas o

    transporte de cargas.

    A concepo, a construo e a operao de um porto podem implicar em um

    elevado custo de oportunidade para qualquer municpio, estado ou nao, se tais etapas

    no forem tecnicamente otimizadas. Por ser um investimento de grande porte e incluir a

    participao e interao de diversos modais de transporte, um terminal porturio deve

    movimentar uma grande quantidade de cargas para ter viabilidade financeira e

    econmica. Como conseqncia disto, um porto deve ser um terminal multimodal e

    intermodal.

    Um porto normalmente um elemento de conexo entre o modal hidrovirio

    com os demais modais. A existncia do modal aerovirio na retrorea imediata de um

    porto menos freqente, mas h uma tendncia atual de se construirem aeroportos

    especializados em cargas nas retroreas porturias, quando as restries ambientais ou

    de outra natureza so removveis. A interao fsica entre os modos hidrovirio e

    dutovirio j to evidenciada quanto a interao entre o modal hidrovirio e os modos

  • 8

    rodovirio e ferrovirio. Neste trabalho, o conceito de intermodalidade em portos

    enfatizar os modais hidrovirio, ferrovirio e rodovirio.

    2.1.2 Histrico e evoluo do conceito de porto No incio da dcada de 90, o UNCTAD (United Nations Conference on Trade

    and Development) agrupou os portos de acordo com sua estratgia de desenvolvimento,

    sua poltica comercial e sua organizao gerencial e espacial, sendo ento definidas trs

    geraes de portos.

    Durante os anos seguintes, notou-se uma nova tendncia na organizao dos

    grandes portos de todo o mundo e constatou-se o surgimento de uma nova gerao de

    portos, conhecida como portos de 4a. gerao. Na Tabela 2.1 apresentada uma

    definio geral de cada gerao de terminais porturios, assim como algumas das suas

    caractersticas.

    Tabela 2.1: Classificao dos portos em geraes

    Gerao Definio geral e algumas caractersticas

    1a.

    Interface entre dois modos de transporte - No existe desenvolvimento estratgico especfico - Atividades tradicionais de manuseio e armazenagem no-organizadas - Atividades localizadas nas docas - Justaposio das transaes dos portos - Supremacia do suprimento - Pouca ateno dada s necessidades dos usurios

    2a.

    Centro de transporte, atividades industriais e comrcio - Surgimento e expanso do desenvolvimento estratgico - Atividades de transformao (indstrias pesadas), servios de navios - Ampliao da zona porturia - Incio de uma comunidade porturia - Relacionamento ocasional entre o porto e sua cidade adjacente

    3a.

    Centro de transporte integrado com plataforma logstica para o comrcio internacional- Desenvolvimento estratgico orientado ao mercado - Distribuio de mercadorias, atividades logsticas, centro de distribuio - Sistema de Informao (EDI) utilizado pelo porto - Racionalizao do espao do porto - Comunidade porturia unificada e ativa, coordenao das atividades - Forte relacionamento entre porto e cidade

    4a.

    Portos em rede - Estratgia para tornar-se um membro da rede mundial, diversificao das atividades - Parceria com operadores na organizao dos servios logsticos - Uso das redes EDI integradas entre os portos - Participao em pesquisa de locais para portos visando possvel desenvolvimento e integrao - Cooperao entre as comunidades porturias

    Fonte: ISEMAR (1997).

  • 9

    2.1.2.1 Portos de 1a gerao Os portos de 1a gerao so caracterizados, principalmente, pela sua funo de

    mera interface entre o modal hidrovirio e os modais terrestres. Nesta gerao de

    terminais porturios, as operaes eram focadas nas docas, realizadas de forma, muitas

    vezes, desprovida de qualquer planejamento, efetuada por mo-de-obra bruta.

    Os portos eram usualmente localizados dentro das grandes urbes, demonstrando

    total falta de planejamento estratgico por parte da gesto porturia. O crescimento

    urbano em torno da rea porturia foi desenfreado e, muitas vezes, evidenciava-se a

    deteriorao da atividade residencial nessas regies.

    Dada suas desorganizaes espacial e operacional, as autoridades gestoras dos

    portos de 1a gerao pouco se importavam com a satisfao dos clientes, esperando que

    estes se adequassem s caractersticas do terminal. A carga predominante era a carga

    geral, evidenciando-se a supremacia do suprimento.

    2.1.2.2 Portos de 2a gerao A partir de 1945, diversas tendncias importantes puderam ser discernidas no

    que tange movimentao de carga nos portos mundiais. Conforme Oram e Backer

    (1971), a primeira e mais importante tendncia ps-guerra foi a introduo de

    equipamentos mecnicos na movimentao de cargas.

    Este pode ser considerado o marco da 2a gerao de portos: os navios no podem

    esperar, a movimentao de mercadorias deve ser a mais rpida possvel. A

    mecanizao foi imprescindvel para aumentar a produtividade dos servios porturios

    e, conseqentemente, satisfazer necessidade de reduo de custos.

    A rea do porto se expande e estes passam a se localizar mais afastados das

    atividades urbanas, fato que enfraqueceu o relacionamento dos portos com as cidades.

    No entanto, os portos de 2a gerao se destacaram por fomentar o surgimento de

    atividades do setor industrial e de servios atreladas ao espao porturio, evidenciando o

    desenvolvimento estratgico da gesto dos portos.

  • 10

    2.1.2.3 Portos de 3a gerao A principal caracterstica dos terminais porturios de 3a gerao que estes

    deixam de ser encarados simplesmente como elementos de uma rede de transportes e

    passam a ser vistos como locais de excelncia logstica, consolidando-se como

    elementos de suma importncia para a gesto da cadeia de suprimentos.

    O porto passa a ter uma viso orientada para o mercado, onde abordagens

    mercadolgicas e de comrcio exterior caracterizam o porto como um produto que deve

    estar apto a gerar benefcios para os seus clientes atuais e potenciais.

    As atividades porturias passam a ser cada vez mais racionalizadas: os

    equipamentos tornam-se gradativamente mais eficientes, o leiaute passa a ser

    continuamente planejado e a gesto porturia evidencia-se como mais incisiva e

    permanente. Os portos de 3a gerao so monitorados e controlados por robustos

    sistemas de informao logstica que garantem uma operao cada vez mais otimizada.

    2.1.2.4 Portos de 4a gerao Dada a vital importncia dos portos para as economias regionais, notou-se que

    estes no deviam competir entre si, mas sim formar coalizes de modo a estruturar uma

    rede mundial. Este o conceito dos portos de 4a gerao: terminais dotados de agilidade

    gerencial e operacional que, interligados por sistemas de informaes, tornam-se

    plataformas logsticas integradas.

    O conceito de terminal porturio de 4a gerao recente, sendo uma realidade

    apenas em terminais extremamente organizados. O tema pode ser aprofundado em

    Paixo e Marlow (2003) e Marlow e Paixo Casaca (2003).

    2.2 PORTOS VOLTADOS PARA O DESENVOLVIMENTO 2.2.1 As dimenses em um porto enquanto equipamento-suporte do

    desenvolvimento econmico regional

    Segundo Oram e Baker (1971), nada causa um impacto mais direto nas despesas

    de um pas dotado de costa martima do que a velocidade de atendimento de navios em

    seus portos.

  • 11

    Diante do exposto, pode-se perceber que um porto tem como funo receber e

    distribuir cargas, fazendo o melhor uso possvel da intermodalidade para este devido

    fim. Pode-se dizer que, devido a um porto ser um elemento prestador de servios,

    movimentar mercadorias uma funo em nvel microeconmico; contudo, em nvel

    macroeconmico, este desempenho bem mais abrangente.

    Conforme Arruda e Bastos (2001a), um porto possui uma srie de dimenses

    mais amplas que, se exploradas adequadamente, podem propiciar o desenvolvimento

    integrado na rea de influncia do terminal. Na Figura 2.1 so explicitadas as dimenses

    subjacentes a um terminal porturio de terceira gerao.

    Figura 2.1: Dimenses envolvidas com um porto voltado para o desenvolvimento socioeconmico.

    Fonte: Arruda e Bastos (2001a).

    A dimenso social deve maximizar a qualidade de vida dos indivduos residentes

    no entorno do porto. A dimenso tecnolgica diz respeito interao do terminal

    porturio com suas infra-estruturas e equipamentos. A dimenso econmica deve

    garantir o desenvolvimento regional, induzindo investimentos e o pleno emprego das

    potencialidades do porto. A dimenso financeira deve primar pela definio de polticas

    que gerem economias de escala na operao do terminal. A dimenso geopoltica diz

    respeito concorrncia regional ou continental entre portos. A dimenso comercial deve

    promover o terminal porturio como um produto, atravs de macio emprego de

    marketing. Por fim, a dimenso organizacional deve primar pela harmonia entre as

    dimenses supracitadas, objetivando a eficincia do porto em nvel operacional e

    macroeconmico.

  • 12

    2.2.2 Como (re)definir o papel de um porto no mundo hodierno globalizado? A partir da dcada de 80, com a ascenso do neoliberalismo, cresce a

    interdependncia econmica entre as naes, e este processo de inter-relao culmina

    com a globalizao da economia mundial. Em uma economia globalizada, eleva-se a

    interao comercial entre os pases e os produtos passam a vencer grandes distncias

    com maior facilidade. Tanto um bem de consumo valioso, como um automvel, quanto

    um produto de baixo valor, como uma caneta, cruzam continentes para se inserirem em

    mercados externos.

    No ambiente de uma economia globalizada, a competitividade elevada, pois os

    custos tm de ser reduzidos ao extremo para que a comercializao de um produto logre

    xito em mercados internos e externos. Esta competitividade tem suas vantagens e

    desvantagens. Como primordial vantagem da competitividade, pode-se citar a maior

    variedade de produtos disponveis ao consumidor em geral, a um menor custo de

    aquisio. A grande desvantagem da competitividade o desemprego gerado pela busca

    contnua de reduo de custos, oriundo do intenso processo de modernizao do

    maquinrio industrial e da terceirizao de servios.

    Tendo em vista o contexto exposto acima e dada a funo de um porto como

    interface primordial de uma regio, tanto com os mercados ao seu entorno quanto com

    os mercados mais longnquos, como definir, ou redefinir, o papel de tal infra-estrutura

    de transportes no atual mundo globalizado?

    Pode-se dizer, em linhas gerais, que um porto deve buscar maximizar os

    benefcios sociais oriundos da globalizao da atividade econmica e minimizar os

    impactos negativos (sociais, econmicos e ambientais) desta sobre os diversos atores de

    nossa sociedade. Um porto deve, ento, procurar atingir a excelncia operacional de

    modo a reduzir os custos de transporte e, conseqentemente, os preos de venda dos

    produtos movimentados e, ao mesmo tempo, configurar-se como um instrumento de

    desenvolvimento, beneficiando no somente a produo industrial e a prestao de

    servios, como tambm o setor primrio.

  • 13

    Nos pases em desenvolvimento, os terminais porturios ainda no se

    estruturaram de modo a atingir tais nveis de eficincia e, sobretudo, de abrangncia.

    Tais portos apresentam, ainda, uma srie de problemas que prejudicam sua

    produtividade e atrao de novos clientes: carncia de mo-de-obra especializada,

    controle insuficiente das operaes porturias, plataformas logsticas restritas e

    ineficiente de integrao entre os terminais porturios com os diversos modais de

    transporte.

    Conforme Arruda e Bastos (2001b), partindo-se do princpio que os portos

    podem ser (re)estruturados, tal (re)estruturao deve ser compreendida pelos quesitos

    citados a seguir:

    (i) Inter-relao entre transportes e economia.

    Os portos no devem ser vistos, pelos olhos do poder pblico, apenas como

    plos de movimentao de mercadorias, mas serem estruturados de tal forma que

    propiciem efetivamente o desenvolvimento econmico na sua rea de influncia.

    Partindo das diretrizes de um processo de planejamento regional, onde estejam

    definidos os objetivos mais gerais da economia da regio onde o porto se insere, devem

    ser definidas as estratgias e linhas de ao para que os terminais porturios contribuam

    incisivamente para a consecuo de tais objetivos.

    (ii) Integrao horizontal e vertical da atividade econmica, a partir de empreendimentos ncoras.

    Conforme tendncia j comentada na evoluo histrica do conceito de porto, a

    partir dos portos de 2a gerao, percebeu-se a importncia de agregar s atividades

    bsicas do terminal porturio, atividades do setor industrial ou de servios, tais como a

    siderurgia e a indstria petroqumica. Deste modo, o porto dotado de um complexo

    industrial poder exportar produtos de valor agregado, em quantidade e diversidade, e

    no meramente matrias primas.

    (iii) Autoridade pblica com pessoal dinmico e qualificado, e com nfase na

    captao e manuteno de clientes dos trs setores da economia;

  • 14

    A gerao e a manuteno da eficincia porturia ser possvel somente se o

    porto for gerido por um corpo tcnico altamente qualificado, que combine as novas

    tendncias gerenciais com a experincia prtica. O empirismo deve ser erradicado da

    gesto porturia, dando lugar a uma gesto calcada em critrios tcnicos. Para a

    captao e a conservao de clientes necessria a formulao de polticas que

    promovam o porto como um produto composto por um conjunto de servios capaz de

    benefcios para os seus usurios atuais e potenciais.

    (iv) Organizao espacial como induo das (e resposta s) atividades dos trs setores da economia;

    O papel do porto, no territrio onde se insere, deve ser revisto. As infra-

    estruturas e o uso do solo devem ser planejados de modo a propiciar no somente uma

    maior acessibilidade dos setores pblico e privado s atividades porturias, como

    tambm minimizar as influncias negativas do complexo porturio ao meio ambiente.

    (v) Conexes de transportes martimos e terrestres de alto grau de acessibilidade ao Porto.

    A consonncia entre o porto e as infra-estruturas de transporte no seu entorno,

    como, por exemplo, conexes martimas, rodovirias e ferrovirias, de fundamental

    importncia para a eficincia porturia, pois propicia uma reduo nos tempos de

    operao e, conseqentemente, dos custos de transporte. O incremento da acessibilidade

    do porto pode contribuir para a expanso da sua rea de influncia, possibilitando,

    inclusive, a captao de novos clientes.

    2.3 ASPECTOS RELACIONADOS S CARGAS

    Aps a caracterizao da macro-funo dos terminais porturios, necessrio

    abordar suas caractersticas fsicas e operacionais. O primeiro passo a ser dado nessa

    direo apresentar os tipos de carga e as formas de unitizao e embalagem, pois a

    operao do terminal ser funo das caractersticas das mercadorias a serem

    movimentadas.

    2.3.1 Caractersticas da carga

    Segundo Handabaka (1994), as caractersticas da carga podem ser definidas de

    acordo com o seu tipo e sua natureza, conforme segue:

  • 15

    2.3.1.1 Tipo da carga O tipo da carga diz respeito s caractersticas fsicas das mercadorias que

    influem predominantemente na definio da forma de acondicionamento (embalagem e

    armazenagem) destas e na escolha dos modos e equipamentos empregados no seu

    transporte e na sua movimentao. No que se refere ao tipo, as cargas podem ser

    classificadas em:

    (i) Carga geral. A carga geral, tambm conhecida como carga solta, consiste em itens avulsos,

    dotados ou no de embalagem, que so embarcados separadamente. Exemplos de carga

    geral so embrulhos, pacotes, fardos, sacos, caixas, tambores, peas, bobinas, toras de

    madeira e pedras de granito.

    (ii) Carga unitizada.

    A carga unitizada consiste no agrupamento de itens individuais tais como caixas,

    pacotes ou outras cargas avulsas em unidades como pallets e contineres, que permitem

    o embarque de grandes quantidades de mercadoria simultaneamente.

    Devido ao enfoque dado, neste captulo, s operaes de cargas unitizadas, o

    conceito de unitizao ser discutido com maior profundidade em um outro ponto deste

    texto.

    (iii) Carga a granel.

    A carga a granel consiste no transporte de grandes quantidades de mercadorias

    mensuradas em unidades de massa ou de volume. As cargas a granel podem ser

    divididas em dois tipos: granis slidos e granis lquidos. Como exemplos de granis

    slidos podem-se citar os cereais, as sementes e os minrios. Como exemplos de granis

    lquidos, podem-se citar os leos e gases combustveis e as bebidas.

    2.3.1.2 Natureza da carga A natureza da carga se refere s caractersticas fsicas e qumicas das

    mercadorias que, por suas peculiaridades, influem na definio da forma de

    acondicionamento (embalagem e armazenagem) destas e na escolha dos modos de

  • 16

    transportes e equipamentos empregados na sua movimentao. No que se refere

    natureza, as cargas podem ser classificadas em:

    (i) Perecveis.

    As cargas perecveis consistem nas mercadorias que tm caractersticas tais

    como sabor, odor ou cor alteradas drasticamente quando manuseadas e transportadas

    sem condies especiais. As cargas perecveis so, usualmente, produtos alimentcios,

    como, por exemplo, frutas, legumes, carnes, laticnios e flores.

    (ii) Frgeis

    As cargas frgeis consistem nas mercadorias que tm sua integridade fsica

    comprometida ao serem manuseadas e transportadas sem a devida proteo a choques

    mecnicos e a vibraes. Como exemplos de produtos frgeis, pode-se citar produtos

    eletrnicos, flores e instrumentos de preciso.

    (iii)Perigosas

    As cargas perigosas consistem nas mercadorias que, devido a serem explosivas,

    combustveis, oxidantes, venenosas, radioativas ou corrosivas, pem em risco, quando

    so manuseadas e transportadas, a integridade de seres vivos ou de outras cargas,

    necessitando de cuidas especiais nessas operaes. Como exemplos dessas cargas pode-

    se citar os fogos de artifcio e o leo diesel.

    (iv) Volumosas

    As cargas volumosas consistem nas mercadorias que, devido a apresentarem

    dimenses especiais ou elevado fator de estiva, necessitam de condies especiais para

    sua movimentao e transporte.

    (v) Pesadas

    As cargas pesadas consistem nas mercadorias que, devido a apresentarem pesos

    elevados, ou baixo fator de estiva, necessitam de condies especiais para sua

    movimentao e transporte.

  • 17

    2.3.2 Embalagem e marcao Conforme Handabaka (1994), as cargas, estejam elas armazenadas ou em

    trnsito, podem encontrar-se sujeitas aos seguintes inconvenientes:

    (i) Efeitos mecnicos do movimento dinmico (impactos, quedas, choques, oscilaes e

    vibraes);

    (ii) Tenso esttica por meio da presso (empilhamento);

    (iii)Fatores climticos (calor, frio, umidade);

    (iv) Incndio e gua;

    (v) Furto; e

    (vi) Contaminao (roedores, odores, poluio de diferentes tipos).

    Pode-se perceber que manusear e transportar produtos sem qualquer tipo de

    proteo especfica seria uma prtica que prejudicaria a qualidade e a serventia dos bens

    de consumo, no atendendo s exigncias do consumidor final. Como proteger as

    caractersticas da carga e preservar a qualidade das mercadorias nela contidas?

    A embalagem a resposta para tal indagao. Por embalagem, entende-se o

    conjunto de elementos destinados a proteger a carga durante as atividades de manuseio,

    transporte e armazenagem, de modo a permitir que as mercadorias mantenham suas

    caractersticas iniciais a um nvel satisfatrio para o usurio. As embalagens, deste

    modo, caracterizam-se como elementos primordiais nas atividades logsticas.

    A marcao constitui a identificao de cada unidade de carga, visando fornecer,

    aos operadores logsticos, informaes relacionadas ao contedo, ao peso, origem, ao

    destino, forma adequada de armazenagem, forma adequada de manuseio e aos

    cuidados especiais requeridos pela carga marcada.

    Dentre os principais tipos de marca, pode-se ressaltar a marca de embarque

    padro, a marca de informao e os smbolos pictricos. Com a modernizao das

    tecnologias de informao, os cdigos de barras tornaram-se marcaes de suma

    relevncia para a agilidade das atividades logsticas.

  • 18

    2.3.3 Unitizao O manuseio de carga geral possui a inconvenincia de demandar muito tempo e

    mo-de-obra para sua realizao, alm de, em determinadas circunstncias, no prover a

    carga de proteo adequada a intempries, vibraes e choques mecnicos. O advento

    da unitizao, no incio do sculo XX, foi um marco na tecnologia dos transportes,

    permitindo a movimentao e o transporte de cargas de uma forma mais gil e segura.

    Segundo Martins e Silva (2001), a unitizao o acondicionamento da carga

    geral em algum tipo de estrutura, de forma a permitir a movimentao das unidades de

    carga acopladas a equipamentos rodovirios, ferrovirios ou hidrovirios, podendo ser

    iadas a bordo sem as carretas, sendo empilhadas umas sobre as outras em clulas no

    navio, permitindo e facilitando a estivagem.

    No que se refere ao transporte martimo, existem diversos tipos de unitizao,

    dentre os quais podem ser destacados os pallets e os contineres, abaixo descritos.

    2.3.3.1 Pallets Conforme Martins e Silva (2001), o pallet um estrado plano, construdo

    principalmente de madeira, podendo ser tambm de alumnio, ao, plstico, fibra,

    polipropileno ou papelo, com caractersticas adequadas a facilitar a unitizao,

    armazenagem e o transporte de pequenos volumes. Podem ser descartveis, utilizados

    em apenas uma viagem (one way), ou para uso constante. A adoo de cada tipo

    depende da logstica escolhida, que envolve um estudo sobre custos e o seu retorno.

    A altura dos pallets deve permitir a entrada de garfo de empilhadeira, mas no

    deve ser excessiva para no roubar espao nos compartimentos de carga. A seguir, na

    Figura 2.2, so ilustrados dois tipos de pallets.

    Figura 2.2: Ilustrao de tipos de pallets.

    Fonte: Martins e Silva (2001)

  • 19

    O pallet permite uma grande flexibilidade, no que se refere ao transporte porta a

    porta, sem a necessidade de desconsolidao da carga. comum nos grandes

    supermercados a disposio de mercadorias diretamente sobre pallets.

    2.3.3.2 Contineres A primeira notcia que se tem de utilizao de um tipo de continer em

    transporte de carga vem da revista National Geographic, no ano de 1911, atravs de uma

    foto de seu iamento para bordo.

    Os contineres so modulados, sendo mais usados os cofres de 20 x 8 x 8, que

    tem suas dimenses utilizadas como o mdulo padro adotado internacionalmente, o

    chamado Twenty Feet Equivalent Unit (TEU), ou Unidade Equivalente a 20 ps. Os

    contineres de dimenses diferentes destas podem ser referidos a este mdulo padro,

    utilizando-se suas unidades em TEU.

    Outro mdulo padro bastante utilizado o Forty Feet Equivalent Unit (FEU),

    ou Unidade Equivalente a 40 ps, clula com dimenses 40 x 8 x 8. Na Tabela 2.2

    so apresentadas dimenses tpicas de contineres, padronizadas pela ISO.

    Tabela 2.2: Dimenses de alguns tipos de contineres

    Comprimento Largura Altura Srie do continer Ps Metros Ps Metros Ps Metros

    1A 40 12,19 8 2,44 8 2,44 1AA 40 12,19 8 2,44 8,5 2,59 1C 20 6,05 8 2,44 8 2,44 1CC 20 6,05 8 2,44 8,5 2,59 Fonte: Goebel, (1996).

    Os contineres so identificados atravs de marcas, nmeros, definio de

    espao e peso que podem comportar, proprietrio e informaes do contedo da carga.

    Estas caractersticas de identificao do aos contineres vantagens como segurana,

    controle, inviolabilidade, rapidez e reduo de custos no transporte.

    O advento das tecnologias de informao, como, por exemplo, scanner, cdigo

    de barras e identificao por rdio freqncia, realou ainda mais os benefcios do

    transporte de cargas via contineres, permitindo um maior controle das operaes

    logsticas de manuseio, transporte e armazenagem das clulas unitizadas.

  • 20

    No que se refere utilizao de sua capacidade, o continer pode ser classificado

    em: (i) Full container load (FCL): continer carregado com toda sua capacidade; e (ii)

    Less than container load (LCL): continer carregado com parte da sua capacidade.

    Muitos so os tipos de contineres utilizados no transporte de cargas. A seguir,

    na Tabela 2.3, apresentada uma sntese dos principais tipos de contineres empregados

    na atualidade, bem como suas caractersticas.

    Tabela 2.3: Tipos de contineres e descries. Tipo Descrio

    dry box

    Totalmente fechado, com portas nos fundos, sendo o mais utilizado e adequado para o transporte da maioria das cargas gerais secas existentes. Pode ter 20 ou 40.

    ventilated

    Semelhante ao dry box, porm com pequenas aberturas no alto das paredes laterais, podendo tambm t-las na parte inferior das paredes, para permitir a entrada de ar, para transporte de cargas que requerem ventilao, como caf e cacau.

    reefer

    Tambm semelhante ao dry box, totalmente fechado, com portas nos fundos, apropriado para embarque de cargas perecveis congeladas ou refrigeradas, que precisam ter a sua temperatura controlada, como carnes, sorvetes, frutas e verduras. Pode ser integrado com motor prprio para refrigerao, cuja nica desvantagem a perda de espao ocupado pelo motor. Tambm pode ser isolado (insulated), sem motor prprio, tendo na parede da frente duas aberturas (vlvulas) para entrada e sada de ar, que injetado por meio externo. O continer reefer tem para controle de temperatura um grfico de registro (Partlow Chart) e pode atingir at -25 C.

    bulk conteiner

    Similar ao dry box, totalmente fechado, tendo aberturas no teto (escotilhas) para o seu carregamento e uma escotilha na parede do fundo e na parte inferior para o descarregamento, sendo apropriado para transporte de granis slidos, como produtos agrcolas

    open top

    Continer sem teto, que fechado com lonas para transporte de cargas que apresentam dificuldades para embarque pela porta dos fundos e necessitam de um acesso especial, embora tambm possua a porta normal nos fundos. Prprio para mercadorias que excedam a altura do continer, cujas cargas no poderiam ser estufadas num continer dry box tradicional.

    half height

    Continer open top, sem teto, porm de meia altura 4 ou 43, fechado com lonas e cabeceira basculante, adequado para embarque de minrios, cuja carga extremamente densa e se embarcada em um open top, este no poderia ser utilizado integralmente em seu volume, representando uma ocupao de espao indevida no navio.

    open side

    Com apenas trs paredes, sem uma parede lateral, este continer apropriado para mercadorias que apresentam dificuldades de embarque pela porta dos fundos, ou que excedam um pouco a largura do equipamento ou ainda para agilizao de sua estufagem.

    flat rack

    Continer plataforma, sendo uma combinao do open top e do open side, sem as paredes laterais e sem teto, com cabeceiras fixas, ou dobrveis, adequado para cargas pesadas e grandes, que excedam um pouco as suas dimenses.

    plataform

    Continer plataforma sem paredes e sem teto, tendo apenas o piso apropriado para cargas de grandes dimenses ou muito pesadas.

    tank Continer tanque prprio para transporte de lquidos em geral, perigosos ou no.

    Fonte: Martins e Silva (2001).

  • 21

    Para fins de dimensionamento de equipamentos, considera-se que a capacidade

    de carga de um TEU seja de 16 a 20 toneladas e, de um FEU, de 25 a 28 toneladas. Um

    FEU no possui o dobro da capacidade de um TEU, pois os materiais empregados

    atualmente na composio dos contineres no conseguem resistir aos momentos

    fletores oriundos de grandes carregamentos.

    2.3.3.3 Outros tipos de unitizao Conforme Goebel (1996), existem dois outros tipos de unitizao significativos

    no transporte martimo: as marino-slings e os big-bags.

    As marino-slings so cintas de material sinttico, que formam uma rede, com

    dimenses padronizadas, geralmente utilizadas para sacaria. Podem transportar at

    1500kg de mercadoria e, dependendo do embarque, seguem com a carga at o destino

    ou apenas at o poro do navio, quando so retiradas.

    Os big-bags so sacos de material sinttico dotados de fundo circular ou

    quadrado, geralmente utilizados, em substituio da sacaria, para o manuseio de

    produtos industrializados em gros e ps. Permitem o reaproveitamento e a sua

    capacidade geralmente superior dos marino-slings, entretanto seu custo superior ao

    destes e, por isso, em operaes de comrcio exterior, geralmente, no embarcam

    juntamente com a carga.

    2.4 A OPERAO DE TERMINAIS PORTURIOS DE CARGAS

    UNITIZADAS

    2.4.1 Lgica da operao Conforme o exposto por Yun e Choi (1999), um Sistema Terminal de

    Contineres (STC) composto de trs subsistemas: entradas, ptios de contineres e

    beros. Os equipamentos de movimentao neste sistema so basicamente portineres,

    transtineres, tratores de terminal, empilhadeiras e carretas.

    As tarefas bsicas na operao de um STC consistem no recebimento, entrega,

    carregamento e descarregamento de contineres. Estas operaes ocorrem

    simultaneamente e interativamente (Yun e Choi, 1999):

  • 22

    (i) Operao de recebimento: transportar contineres para exportao, trazidos por

    caminhes vindos de fora do porto, at os equipamentos de movimentao vertical;

    (ii) Operao de entrega: erguer contineres para importao atravs de equipamentos

    de movimentao vertical, colocando-os em caminhes ou trens estacionados no

    ptio de contineres que levaro as cargas para fora do porto;

    (iii)Operao de carregamento: erguer contineres para exportao atravs de

    equipamentos de movimentao vertical, colocando-os em tratores de terminal

    localizados no ptio de contineres e transportando-os at o bero, onde sero

    embarcados atravs de equipamentos de embarque e desembarque;

    (iv) Operao de descarregamento: descer contineres para importao do navio atravs

    de equipamentos de embarque e desembarque, colocando-os em tratores de terminal

    com a finalidade de transportar as cargas at o ptio de contineres.

    2.4.2 Equipamentos A estrutura operacional de um tpico STC ilustrada na Figura 2.3:

    1 2 3 B E R O

    P T I O

    Figura 2.3: Estrutura operacional de um tpico terminal de contineres.

    Conforme o apresentado na figura acima, existem trs tipos de equipamentos

    empregados na movimentao de cargas entre o bero e o ptio ou armazm. So eles:

  • 23

    1. Equipamentos de Embarque e desembarque:

    Para retirada e colocao de cargas unitizadas nos navios, so necessrios

    equipamentos de grande porte, como, por exemplo, portineres, guindastes mveis

    sobre pneus, guindastes de bordo, dentre outros. Na Figura 2.4 ilustrado um

    equipamento de embarque e desembarque.

    Figura 2.4: Portiner em operao.

    Fonte: Magalhes (2003)

    2. Equipamentos de manuseio:

    Os equipamentos de embarque e desembarque colocam as cargas unitizadas em

    veculos que as transportaro para o ptio. Estes veculos podem ser caminhes ou

    tratores de terminal. Na Figura 2.5 ilustrado um equipamento de manuseio.

    Figura 2.5: Trator de terminal (TT).

    Fonte: Magalhes (2003) 3. Equipamentos de movimentao vertical:

    Os caminhes ou tratores de terminal transportam as clulas at o ptio, onde

    estes sero armazenados na forma de pilhas. Para realizar tal organizao, so

    requeridos equipamentos de movimentao vertical ou empilhamento, dentre os quais

    podemos citar os transtineres, as empilhadeiras e os reach stackers. Na Figura 2.6

    ilustrada a operao de uma empilhadeira.

  • 24

    Figura 2.6: Empilhadeira iando continer vazio.

    Fonte: Magalhes (2003)

    2.4.3 Multimodalidade e intermodalidade Na operao de terminais porturios, dois conceitos so requeridos para a

    consecuo de agilidade e flexibilidade nas atividades de manuseio e transporte:

    multimodalidade e intermodalidade. Por multimodalidade entende-se o emprego de

    mltiplos modos de transporte e o verbete intermodalidade remete idia de interseo

    de dois ou mais modos de transporte. Estes dois conceitos so comentados a seguir.

    No sculo XIX, predominava a filosofia da necessidade de competio entre os

    modos de transporte. Contudo, na atual conjuntura, de notrio conhecimento que a

    multimodalidade condio indispensvel para reduo dos custos de transporte. Os

    modais no devem competir entre si, mas sim fazer uso da multimodalidade, isto ,

    combinar vantagens especficas em termos operacionais de modo a otimizar o transporte

    de mercadorias.

    De acordo com o Parlamento Europeu (2000), por intermodalidade entende-se

    um sistema de transportes com base no qual seja possvel integrar pelo menos dois

    meios diferentes numa cadeia de transporte porta a porta (ferrovirio-rodovirio-naval-

    areo-dutovirio) de forma a garantir uma utilizao mais racional das capacidades de

    transporte disponveis e aumentar a qualidade e a eficincia dos servios conexos.

    Dentre os principais tipos de intersees entre modos de transporte, podem ser

    destacados:

  • 25

    (i) RO/RO (Roll-on/Roll-off) ou autrotransbordo: tipo de transbordo no qual veculos

    do modal rodovirio so embarcados em navios, possibilitando maior flexibilidade

    nas operaes de embarque e desembarque;

    (ii) RA/RA (Rail-on/Rail-off) ou ferrotransbordo: tipo de transbordo no qual vages

    ferrovirios so embarcados em navios, possibilitando maior flexibilidade nas

    operaes de embarque e desembarque;

    (iii)RA/RO (Rail-Road) ou transbordo ferro-rodovirio: tipo de transbordo no qual

    veculos do modal rodovirio so embarcados em vages ferrovirios, possibilitando

    maior flexibilidade nas operaes de embarque e desembarque;

    (iv) FLO/FLO (Float-on/Float-off), transbordo por flutuao ou transflutuao:

    transbordo caracterstico do transporte martimo no qual balsas so carregadas e

    descarregadas por embarcaes de maior porte;

    (v) LO/LO (Lift-on/Lift-off) ou transbordo por suspenso: transbordo caracterstico do

    transporte martimo no qual veculos de outros modais de transportes so iados e

    carregados ou descarregados em embarcaes.

    2.4.4 Mo-de-obra porturia Apesar da drstica reduo de mo-de-obra oriunda do intenso processo de

    mecanizao ao qual o transporte martimo foi submetido no sculo XX, os operrios

    continuam sendo fator imprescindvel na operao de um porto. A mo-de-obra bruta,

    constituda essencialmente por estivadores e prticos, est sendo gradativamente

    substituda por trabalhadores mais especializados, capazes de operar os equipamentos

    porturios e sistemas de informao.

    De nada adianta que um porto possua modernos equipamentos, se os seus

    operadores no souberem operar os equipamentos ou se no se sentirem estimulados a

    oper-los da maneira ideal. No deve haver uma valorizao excessiva da mquina e,

    por conseguinte, uma desvalorizao do indivduo, mas sim a busca contnua da

    consonncia entre homem e mquina.

  • 26

    A modernizao do processo de gesto porturia; caracterstica das ltimas

    dcadas do sculo XX, demanda um corpo tcnico cada vez mais especializado

    acompanhando as atividades porturias. As atividades humanas em um porto, que

    outrora eram essencialmente fsicas, esto sendo cada vez mais substitudas por

    atividades intelectuais.

    2.5 A AVALIAO DE DESEMPENHO DE TERMINAIS PORTURIOS DE CARGAS UNITIZADAS

    2.5.1 Indicadores de desempenho operacional Dado acirrada competio oriunda da globalizao da economia, a operao

    ineficiente e ineficaz de sistemas logsticos, tais como os terminais porturios de cargas

    unitizadas, no pode mais ser admitida.

    necessrio, portanto, que existam informaes disponveis acerca da operao

    do sistema porturio, permitindo a avaliao do seu desempenho e, conseqentemente, o

    subsdio da tomada de deciso na gesto do terminal. As informaes que permitem a

    avaliao operacional de sistemas logsticos so denominadas indicadores de

    desempenho ou indicadores operacionais.

    Conforme Bogossian (1983), imprescindvel conhecer os indicadores

    operacionais que permitam avaliar o nvel de servio prestado por um porto. Os

    indicadores operacionais se constituem no mais importante instrumento de avaliao

    dos servios porturios, principalmente quando respaldados nas estruturas de custos de

    cada modalidade. Estes indicadores so gerados a partir de parmetros de natureza:

    (i) Quantitativa: atravs do estabelecimento da produo a ser alcanada em

    determinado perodo de tempo;

    (ii) Qualitativa: atravs de acompanhamento e observao sistemtica da eficincia

    operacional em face dos recursos utilizados;

    (iii)Econmica: atravs da determinao dos custos totais de transporte para cada

    conjunto de alternativas operacionais.

  • 27

    De acordo com Bogossian (1983), os indicadores podem ser classificados

    segundo o nvel de abrangncia, considerando as seguintes caractersticas:

    (i) Nvel 1 indicadores econmicos.

    So parmetros estabelecidos em funo da economia nacional, para a avaliao

    do seu desempenho, como, por exemplo, produo esperada e demanda futura. So

    importantes consideraes devido aos seus possveis impactos nas condies de

    operacionalidade do porto.

    (ii) Nvel 2 indicadores dos sistemas globais de transportes.

    So aqueles que abrangem o sistema de transportes como um todo, restringindo-

    se apenas aos resultados finais, sem consideraes a respeito dos meios de transporte

    envolvidos, como, por exemplo, custo de distribuio do produto e tempo total de

    viagem (intermodal).

    (iii)Nvel 3 indicadores parciais dos sistemas de transportes.

    So aqueles que permitem a avaliao do desempenho de cada uma das

    modalidades de transporte que compem o sistema, como, por exemplo, taxa de

    utilizao do navio, tonelada-milha transportada por ano e taxa de ocupao do bero.

    (iv) Nvel 4 indicadores especficos dos componentes de cada modalidade.

    So aqueles que permitem avaliar o comportamento de cada elemento

    componente de determinada modalidade de transporte, como, por exemplo, nmero de

    ciclos de guindaste por hora e tempo de estadia de uma embarcao.

    pertinente destacar que, no presente trabalho, a abrangncia do modelo de

    avaliao proposto enquadra-se no Nvel 4.

    Dentre as principais caractersticas dos indicadores de desempenho dos portos,

    podem ser destacadas (ANTAQ, 2003):

    (i) Esto expressos em unidades de medida significativas para aqueles que vo utiliz-

    los, servindo para fins de avaliao de resultados ou para subsidiar a tomada de

    deciso;

  • 28

    (ii) So compostos de um nmero ou percentual para indicar a magnitude (quanto) e de

    uma unidade de medida que d um significado ao nmero ou percentual (o qu);

    (iii)Servem para detectar causas e efeitos de aes operacionais e administrativas;

    (iv) Permitem qualificar os servios em cada porto, fazer comparaes evolutivas de

    desempenho de cada terminal ou conjunto de beros, a comparao entre terminais e

    conjuntos de beros de um mesmo porto, ou entre portos distintos, possibilitando

    monitorar a evoluo do processo, com o estabelecimento de benchmarking.

    ANTAQ (2003) prope e apresenta uma cartilha que orienta os gestores

    porturios a acompanhar o desempenho dos servios dos portos brasileiros.

    Infelizmente, grande parte dos portos do Brasil no segue s recomendaes da

    ANTAQ e tampouco fazem uso de outras metodologias de avaliao de desempenho.

    No que se refere s limitaes dos indicadores de desempenho correntes, pode-

    se destacar:

    (i) Apesar de propiciarem uma viso geral do desempenho do porto, os indicadores

    operacionais no permitem uma compreenso da dinmica operacional do sistema;

    (ii) Os indicadores operacionais apenas orientam os gestores do porto no que se refere

    caracterizao do servio ofertado pelo terminal, no fornecendo sugestes para a

    melhoria do processo;

    (iii)Os indicadores operacionais no permitem que sejam idealizadas conjecturas

    formais (cenrios) acerca do que pode vir a ocorrer em determinadas circunstncias

    futuras.

    Deste modo, justifica-se a busca de outras metodologias que permitam a

    avaliao de desempenho de terminais porturios, visando uma complementaridade com

    os indicadores operacionais preconizados pela literatura.

  • 29

    2.5.2 Modelagem matemtica e desempenho operacional Conforme reportam Paixo e Marlow (2003) e Marlow e Paixo Casaca (2003),

    os rgos de administrao porturia e as universidades de todo o mundo fazem uso de

    diversas metodologias para planejar e gerir as operaes de um porto, dentre as quais

    podem ser salientadas: filosofia just-in-time, produo enxuta, gesto da qualidade total,

    programao matemtica e simulao.

    Psaraftis (1998) apud Rios e Maada (2000) enfatiza a importncia do

    desenvolvimento de estudos com aplicao de tcnicas de Pesquisa Operacional em

    problemas de movimentao de contineres em ptios porturios. O uso de tcnicas de

    simulao tem sido freqentemente aplicado para planejar e gerenciar o sistema

    porturio e auxiliar os executivos no processo de tomada de deciso.

    Rios e Maada (2000) apontam que vrios estudos j foram realizados visando a

    elaborao e a validao de modelos que possam diminuir tempo de operao de

    equipamentos e, conseqentemente, o custo operacional de um terminal porturio.

    Dentre eles, as tcnicas de modelagem matemtica mostram-se de grande valia para

    auxiliar a tomada de deciso na gesto de um porto.

    Um porto um sistema complexo que muda de estados ao longo do tempo, ou

    seja, trata-se de um sistema dinmico. Os estados dos subsistemas do porto so discretos

    e variam ao longo do tempo, condio que dificulta o estabelecimento de equaes

    analticas que possam representar o comportamento do porto em operao.

    Conforme Degano e Di Febbraro (2001), devido s suas caractersticas, um

    terminal intermodal de contineres pode ser representado como um Sistema a Eventos

    Discretos (SED), o que permite o projeto e a implementao de estratgias de controle

    embutidas no prprio sistema.

    Os trabalhos de Yun e Choi (1999), Legato e Mazza (2001) e Fernandes (2001)

    apresentam modelos bastante atualizados de simulao em terminais porturios de

    contineres. Estes modelos, alm de considerarem a aleatoriedade da operao do

  • 30

    sistema porturio, fornecem parmetros importantes para o gerenciamento do terminal,

    tais como as taxas de ocupao dos beros e dos equipamentos.

    Uma crtica a estes modelos que eles, apesar de utilizarem programas de

    computador que permitem a visualizao da simulao da operao do porto, no

    propiciam ao analista do sistema uma viso da estrutura operacional do terminal, bem

    como dos seus possveis gargalos.

    Degano e Di Febbraro (2001) utilizam um modelo baseado em redes de Petri

    para diagnosticar falhas nas atividades de um terminal intermodal de contineres,

    apresentando a tcnica supracitada como uma metodologia bastante promissora para

    modelar a operao de terminais porturios.

    Segundo Palomino (1995), as redes de Petri so um modelo do tipo estado-

    evento, onde cada evento possui pr-condies que vo permitir sua ocorrncia e ps-

    condies, as quais so, por sua vez, pr-condies de outros eventos posteriores. As

    redes de Petri coloridas so uma evoluo deste conceito, facilitando a adio de

    informaes ao processo de modelagem.

    Costa (2002) apresenta as redes de Petri como uma metodologia para avaliao

    de desempenho de sistemas logsticos, destacando, inclusive, a potencialidade da

    metodologia supracitada na avaliao de desempenho de terminais porturios.

    Conforme Prata et al (2005), o emprego das redes de Petri coloridas permite uma

    modelagem mais compacta e abrangente das operaes porturias.

  • 31

    CAPTULO 3

    REDES DE PETRI COLORIDAS

    No ano de 1962, Carl Adam Petri defendeu na Alemanha, na Faculdade de

    Matemtica e Fsica da Technical University of Darmstaldt, sua tese de doutorado,

    sendo esta intitulada de Kommunikation mit Automaten (ou, em portugus,

    Comunicao com Autmatos).

    Anos depois, em um perodo situado entre o trmino da dcada de sessenta e

    incio da dcada de setenta, Anatol W. Holt, fascinado pela originalidade do trabalho

    proposto por Petri, reuniu-se com um grupo de pesquisadores do renomado

    Massachussetts Institute of Tecnology MIT, situado nos Estados Unidos da Amrica.

    O resultado desta parceria foi a idealizao das bases da teoria das redes de Petri como a

    conhecemos hoje.

    Desde ento, a teoria das Redes de Petri no tem parado de se expandir.

    Pesquisadores do mundo todo tm trabalhado tanto com o desenvolvimento e

    aprimoramento desta tcnica, como com sua vasta gama de aplicaes. Modelos

    baseados nas redes de Petri so amplamente empregados em diversos campos de

    conhecimento, dentre os quais podemos destacar as telecomunicaes, os sistemas de

    manufatura e os sistemas de transportes.

    Com a ampliao do desenvolvimento e da aplicao das redes de Petri na

    modelagem de sistemas, muitos foram os estudos realizados objetivando mitigar as

    limitaes da metodologia supramencionada. A concepo das redes de Petri de alto

    nvel, dentre as quais se podem destacar as redes de Petri coloridas (RPC), ilustra o

    grande progresso terico nesta direo.

    As redes de Petri coloridas foram idealizadas por Kurt Jensen, pesquisador da

    Universidade de Aarhus, na Dinamarca. Seu artigo, datado do ano de 1981, intitulado

    Coloured Petri Nets and the Invariant Method foi um trabalho promissor, que induziu

    uma srie de estudos sobre colorao das fichas.

  • 32

    Este captulo destina-se a fazer uma breve introduo sobre as redes de Petri

    coloridas, buscando enfatizar a aplicabilidade dos conceitos explicitados. A estrutura do

    captulo ser dividida em cinco sees, explicitadas a seguir.

    Na primeira seo so apresentados conceitos bsicos para compreenso das

    redes de Petri coloridas, tais como a teoria de sistemas a eventos discretos e as redes de

    Petri ordinrias. Na segunda seo, as redes de Petri coloridas so apresentadas

    informalmente e, na terceira seo, elas so apresentadas formalmente. A quarta seo,

    por fim, introduz o conceito de multi-conjunto.

    3.1 CONCEITOS BSICOS 3.1.1 Sistemas a eventos discretos

    Um sistema um conjunto de partes, que interagem entre si, visando a

    consecuo de um objetivo comum. De certo modo, este um conceito bastante

    relativo, pois a delimitao de um sistema uma atividade subjetiva e depende sempre

    de algum referencial. Por mais que se esforce em delinear um sistema, sempre existiro

    sistemas que o englobam e sistemas englobados por ele.

    De acordo com Palomino (1995), todo sistema apresenta os seguintes

    componentes listados a seguir.

    (i) Fronteiras: So os limites do sistema, que podem ter existncia fsica ou apenas

    uma delimitao imaginaria para efeito de estudo.

    (ii) Subsistemas: So os elementos que compem o sistema.

    (iii) Entradas (inputs): Representam os insumos ou variveis independentes do sistema.

    (iv) Sadas (outputs): Representam os produtos ou variveis dependentes do sistema.

    (v) Processamento: Engloba as atividades desenvolvidas pelos subsistemas que

    interagem entre si para converter as entradas em sadas.

    (vi) Retroao (feedback): a influncia que as sadas do sistema exercem sobre as

    suas entradas no sentido de ajust-las ou regul-las ao funcionamento do sistema.

  • 33

    Dada a complexidade de qualquer sistema, por menor que seja a delimitao

    dada a este por aquele que o analisa, o nmero de variveis envolvidas no seu

    funcionamento to grande que realizar uma anlise completa de tal conjunto de partes

    pode ser uma tarefa impossvel. Sendo assim, cabe ao analista, aps a delimitao e

    concepo do sistema, ponderar sobre quais variveis so mais representativas do

    fenmeno que se pretende estudar. Tal conduta remete ao conceito de modelo, ou seja, o

    modelo uma representao simplificada do sistema.

    Em engenharia, existe uma ampla gama de sistemas nos quais se pode

    estabelecer uma relao entre as taxas de variao das suas variveis de estado,

    permitindo que tais sistemas sejam modelados por equaes diferenciais. Entretanto,

    existem categorias de sistemas cuja complexidade limita ou impossibilita sua

    representao analtica.

    Conforme Ramadge e Wonham (1989) apud Deifan (1999), os Sistemas a

    Eventos Discretos (SED) so sistemas concebidos pelo homem (man made systems) e

    cuja dinmica dirigida pela concorrncia de eventos discretos a intervalos irregulares e

    desconhecidos.

    Segundo Cardoso e Valette (1997), sistemas a eventos discretos so sistemas

    modelados de tal sorte que as variveis de estado variam bruscamente em instantes

    determinados e que os valores das variveis nos estados seguintes podem ser calculados

    diretamente a partir dos valores precedentes sem ter que considerar o tempo entre estes

    dois instantes. Neste caso, as equaes diferenciais se mostram ineficientes para

    representar o comportamento do sistema, sendo requeridos outros mtodos de anlise.

    Exemplos de SED so sistemas de manufatura, redes de computadores, sistemas

    de telecomunicaes e sistemas de transportes. Dentre as tcnicas de modelagem de

    SED, podem ser destacadas as redes de Petri, os autmatos, a teoria das filas e as

    cadeias de Markov. Para um aprofundamento na teoria de Sistemas a Eventos Discretos,

    vide Cassandras e Lafortune (1999).

  • 34

    3.1.2 Apresentao das redes de Petri Segundo Palomino (1995), as redes de Petri (RdP) so um modelo do tipo

    estado-evento, onde cada evento possui pr-condies, que vo permitir sua ocorrncia,

    e ps-condies, as quais so, por sua vez, pr-condies de outros eventos posteriores.

    A tcnica em questo pode ser vista como uma evoluo do conceito da Teoria

    dos Grafos, pois nas RdP existem dois tipos de ns, denominados respectivamente de

    Lugar P, e Transio T, e dois tipos de arcos (Pre e Post). Deve-se salientar que

    uma rede de Petri um grafo bipartido, ou seja, s existem arcos ligando ns do tipo P a

    ns do tipo T e vice-versa.

    Formalmente, uma rede de Petri uma qudrupla (Cardoso e Valette,1997):

    R = 3.1

    em que:

    - P um conjunto finito de lugares de dimenso n;

    - T um conjunto finito de transies de dimenso m;

    - Pre: P x T N a aplicao de entrada (lugares precedentes ou incidncia anterior), com N sendo o conjunto dos nmeros naturais;

    - Post: P x T N a aplicao de sada (lugares seguintes ou incidncia posterior).

    importante ressaltar que, na literatura, a nomenclatura da rede de Petri

    apresentada na equao 3.1 pode ser explicitada por rede de Petri ordinria ou rede de

    Petri lugar-transio (RLT). Caso a RdP modele um sistema real, ou seja, possua um

    significado fsico, a rede pode ser denotada rede de Petri interpretada e, caso contrrio,

    pode ser chamada de rede de Petri no interpretada. Como este um trabalho voltado

    para uma aplicao prtica da metodologia em questo na operao de sistemas de

    transportes, assume-se, nesse momento, que todos os modelos constantes no texto se

    referem a redes interpretadas.

    Uma Rede de Petri marcada uma dupla:

    N = 3.2

  • 35

    em que:

    - R uma rede de Petri;

    - M uma marcao dada pela aplicao M : P N.

    A marcao um nmero inteiro no-negativo associado a cada lugar, sendo

    representada por um vetor n-dimensional:

    M = (m1, m2, ... mj)T 3.3

    em que:

    mj = o nmero de fichas do lugar pj.

    A rigor, a marcao um vetor coluna, sendo o vetor transposto ao vetor linha

    apresentado na equao (3.3). Na prtica, usual ser omitida a denotao de vetor

    transposto.

    De acordo com Palomino (1995), a marcao num determinado instante

    representa o estado da rede de Petri ou, mais precisamente, o estado do sistema descrito

    pela RdP; assim, a evoluo do estado do sistema corresponde a uma evoluo da

    marcao, a qual causada pelo disparo de transies como veremos posteriormente.

    Um exemplo de representao grfica de uma rede de Petri apresentado na Figura 3.1.

    (a) (b) Figura 3.1: Exemplo do disparo de uma transio

    Fonte: YAMADA et al, 2001.

    Os crculos representam os lugares, o retngulo representa a transio, as setas

    que saem dos lugares e chegam na transio representam Pre, as setas que saem da

    transio e chegam nos lugares representam Post e os discos negros representam as

    marcaes. A estas marcaes damos o nome de fichas.