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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR
CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE TRANSPORTES
AVALIAO DE DESEMPENHO OPERACIONAL DE TERMINAIS
PORTURIOS DE CARGA UNITIZADA: UMA APLICAO DAS REDES DE
PETRI COLORIDAS
BRUNO DE ATHAYDE PRATA
ORIENTADOR: Prof. Dr. Joo Bosco Furtado Arruda
CO-ORIENTADOR: Prof. Dr. Giovanni Cordeiro Barroso
FORTALEZA - CE
JANEIRO / 2006
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR
CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE TRANSPORTES
BRUNO DE ATHAYDE PRATA
Monografia apresentada disciplina Projeto de Graduao da Coordenao do Curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Cear como requisito parcial para obteno do grau de Engenheiro Civil.
FORTALEZA - CE
JANEIRO / 2006
AVALIAO DE DESEMPENHO OPERACIONAL DE TERMINAIS
PORTURIOS DE CARGA UNITIZADA: UMA APLICAO DAS REDES DE
PETRI COLORIDAS
Bruno de Athayde Prata
MONOGRAFIA SUMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAO DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR COMO REQUISITO PARCIAL PARA OBTENO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.
Aprovada por:
________________________________________ Prof. Joo Bosco Furtado Arruda, PhD.
________________________________________ Prof. Giovanni Cordeiro Barroso, Ps - D. Sc.
________________________________________ Profa. Suelly Helena de Arajo Barroso, D. Eng.
FORTALEZA, CE - BRASIL
JANEIRO / 2006
i
AGRADECIMENTOS
Agradeo a Universidade Federal do Cear, instituio que possibilitou minha
formao como engenheiro e que, acima de tudo, me ensinou a enxergar um pouco mais
a realidade. Sinto-me realizado por ter tido a oportunidade de estudar na Universidade
supracitada e sempre levarei um pouco dela comigo pelo resto de minha vida.
Agradeo a todos os servidores da UFC que nas coordenaes, nos
departamentos, nos laboratrios, nas pr-reitorias, nas bibliotecas, nos consultrios e
nos restaurantes universitrios, deram fundamental suporte s minhas atividades
estudantis. Sem o apoio destas pessoas, minha vida acadmica teria sido completamente
invivel.
Agradeo ao Ncleo de Pesquisa em Logstica, Transporte e Desenvolvimento
pelo acolhimento que me propiciou ingresso to profundo nos ramos da Engenharia de
Transportes, Pesquisa Operacional e Logstica.
Agradeo ao professor Joo Bosco Furtado Arruda por todos os ensinamentos
concedidos e, sobretudo, pela viso humanista e sistmica que ele sempre me passou
nos momentos de orientao e nas horas de aula. Grande parte do que sei hoje, e do que
estou continuamente aprendendo, se deve ao aprendizado concedido pelo professor
Bosco, pessoa de minha mais intensa admirao, gratido e estima. Sou grato ao
professor Bosco tambm pela concesso do microcomputador e do espao fsico que
possibilitaram a elaborao deste trabalho.
Agradeo ao professor Giovanni Cordeiro Barroso pela considerao, pelo
respeito, pela valiosa amizade e pela vasta gama de lies que com ele aprendi. Sua
simplicidade e sua competncia foram, e continuam a ser, inestimveis modelos para
minha formao como indivduo. Agradeo tambm ao professor Giovanni pelo apoio,
em termos de software, de hardware e de acervo bibliogrfico, que viabilizaram o pleno
desenvolvimento desta monografia.
ii
Agradeo ao professor Ernesto Ferreira Nobre Jnior, pessoa que, ao longo da
minha carreira acadmica, mais confiou em meu potencial e mais me estimulou a
prosseguir com seu entusiasmo. Seu otimismo, sua ateno e sua amizade foram
ingredientes imprescindveis para minha formao tcnica e acadmica, portanto sinto-
me orgulhoso de ter compartilhado de sua companhia. O aprendizado propiciado por ele
nas diversas disciplinas ministradas, assim como nos momentos de orientao,
consolidou minha formao como engenheiro de maneira singular.
Agradeo ao professor Mrio ngelo pela ateno, pela imensa considerao
que ele sempre teve para com a minha pessoa, pelo grande aprendizado que ele me
propiciou nas disciplinas de Engenharia de Trfego e de Transporte Urbano e,
sobretudo, pela sua amizade.
Agradeo ao professor Macrio pelas inesquecveis e, sobretudo, espetaculares
aulas de Teoria das Estruturas e de Otimizao, bem como pela considerao e pela
amizade. O Professor Macrio um exemplo de docente e me orgulho de ter sido seu
aluno.
Agradeo ao professor Felipe Loureiro, pessoa pela qual nutro grande admirao
e estima, primeiramente por ter proferido uma palestra no incio de meu curso que me
cativou a me especializar na rea de Engenharia de Transportes e, principalmente, pela
ateno, pela considerao e pelos fundamentais ensinamentos que ele me transmitiu na
fabulosa disciplina de Planejamento dos Transportes.
Agradeo professora Suelly Barroso pela proeminente contribuio
metodolgica na concepo deste trabalho, pelos inmeros conhecimentos concedidos
em sala de aula e pela grande considerao que ela sempre teve para com a minha
pessoa.
Agradeo aos professores Ciro, Walmick e Mateus pelas formidveis e
memorveis aulas de Clculo, Fsica e Clculo Numrico, pois estas aulas consolidaram
de maneira singular o embasamento de minha formao como engenheiro.
iii
Agradeo a Fbio Abreu e a Mrcio Carvalho, engenheiros da
CEARPORTOS, pelo auxlio estratgico na coleta de dados no terminal porturio do
Pecm. Sou muito grato aos amigos Diego e Nauri pelo fundamental apoio na coleta de
dados. Ao meu grande amigo Ciro, pelo apoio inestimvel logstico, um agradecimento
especial.
Agradeo aos colegas de NUPELTD Expedito, Venescau, Carlos Andr, Emlio,
Ins, Eduardo Praa, Mosio, Alysson, Filipe, Thas, Diego e Nauri pelo aprendizado e,
principalmente, pelo convvio.
Agradeo a todos os colegas de faculdade, especialmente aos meus grandes
amigos (em ordem alfabtica): Alexandre, Carlildson, Carlos Eduardo, Ciro,
Crislayberg, David Hermann, Ednardo, Eloneide, rico George, Gildemir, Hber, Joo
Csar, Leonardo, Lindemberg, Luiz Alberto, Magno, Osvaldo, Paulo Igor e Teresa pelo
convvio que tornou os cinco anos de graduao memorveis.
Agradeo e homenageio o amigo de faculdade Eglaczio que, subitamente, nos
deixou.
Agradeo aos meus grandes amigos Caio e Regis pelo apoio, pelo aprendizado e,
principalmente, pela estima.
Agradeo ao meu tio Archimedes Fortes Avelino pelo inestimvel apoio, pelos
conselhos e pelos inmeros conhecimentos de matemtica, fsica e engenharia
concedidos nestes ltimos cinco anos.
Agradeo aos meus pais Benedito Jos Nogueira Prata e Helena Badar de
Athayde Prata por moldarem o meu carter de maneira singular e por me apoiarem com
tamanho afinco ao longo dos meus anos de vida.
Agradeo a Nadja Paulino Pessoa, por tudo.
iv
A mais bela de todas as coisas
quando os fracos e desencorajados
levantam suas cabeas e deixam de crer na
fora de seus opressores.
Brecht
v
SUMRIO
Lista de Figuras viii
Lista de Tabelas ix
Lista de Nomenclaturas e Abreviaes x
Resumo xi
Abstract xii
1. INTRODUO 1
1.1 Consideraes iniciais 1
1.2 Justificativa do tema abordado 1
1.3 Definio do problema 2
1.4 Objetivos 2
1.4.1 Objetivo geral 2
1.4.2 Objetivos especficos 3
1.5 Metodologia 3
1.6 Estrutura do trabalho 5
2. TERMINAIS PORTURIOS DE CARGAS UNITIZADAS 6
2.1 Introduo 7
2.1.1 Definio de um porto 7
2.1.2 Histrico e evoluo do conceito de porto 8
2.1.2.1 Portos de 1. gerao 9
2.1.2.2 Portos de 2. gerao 9
2.1.2.3 Portos de 3. gerao 10
2.1.2.4 Portos de 4. gerao 10
2.2.Portos voltados para o desenvolvimento 10
2.2.1 As dimenses em um porto enquanto equipamento-suporte do
desenvolvimento econmico-regional 10
2.2.2 Como (re) definir o papel de um porto no mundo hodierno
globalizado 12
2.3.Aspectos relacionados s cargas 14
2.3.1 Caractersticas da carga 14
2.3.1.1 Tipo da carga 15
2.3.1.2 Natureza da carga 15
vi
2.3.2 Embalagem e marcao 17
2.3.3 Unitizao 18
2.3.3.1 Pallets 18
2.3.3.2 Contineres 19
2.3.3.3 Outros tipos de unitizao 21
2.4.A operao de terminais porturios de cargas unitizadas 21
2.4.1 Lgica da operao 21
2.4.2 Equipamentos 22
2.4.3 Multimodalidade e intermodalidade 24
2.4.4 Mo-de-obra porturia 25
2.5.A avaliao de desempenho de terminais porturios de cargas unitizadas 26
2.5.1 Indicadores de desempenho operacional 26
2.5.2 Modelagem matemtica e desempenho operacional 29
3. REDES DE PETRI COLORIDAS 31
3.1 Conceitos bsicos 32
3.1.1 Sistemas a eventos discretos 32
3.1.2 Apresentao das redes de Petri 34
3.1.3 Redes de Petri com restries de tempo 37
3.2 Apresentao informal s redes de Petri coloridas 38
3.3 Apresentao formal s redes de Petri coloridas 46
3.4 Multi-conjuntos 47
4. MODELO DE AVALIAO DE DESEMPENHO OPERACIONAL DE
TERMINAIS PORTURIOS DE CARGA UNITIZADA 48
4.1 Concepo do modelo 49
4.2 Descrio do Terminal Porturio do Pecm 49
4.2.1 Consideraes gerais 49
4.2.2 Descrio da infra-estrutura 50
4.2.3 Descrio dos equipamentos 53
4.2.4 Lgica operacional 54
4.2.5 Descrio da operao 55
4.3 Sistema modelado 57
4.4 Validao do modelo 60
4.4.1 Discusso conceitual 60
vii
4.4.2 Avaliao do modelo 63
4.4.3 Anlise das propriedades comportamentais da rede 64
4.5 Simulao de cenrios, anlise e discusso dos resultados obtidos 65
5. CONCLUSES 68
5.1 Introduo 68
5.2 Relevncia, originalidade e resultados do modelo 68
5.2.1 Importncia do modelo desenvolvido 68
5.2.2 Originalidade da modelagem apresentada 69
5.2.3 Resultados obtidos pelo modelo 69
5.3 Limitaes do modelo proposto 70
5.4 Proposies para estudos futuros 71
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 73
Anexos
ANEXO I CDIGO FONTE DO MODELO DESENVOLVIDO 78
viii
LISTA DE FIGURAS Figura 2.1 Dimenses envolvidas com um porto voltado para o desenvolvimento
scioeconmico 11
Figura 2.2 Ilustrao de tipos de pallets 18
Figura 2.3 Estrutura operacional de um tpico terminal de contineres 22
Figura 2.4 Portiner em operao 23
Figura 2.5 Trator de terminal (TT) 23
Figura 2.6 Empilhadeira iando continer vazio 24
Figura 3.1 Exemplo do disparo de uma transio 35
Figura 3.2 RdP descrevendo a alocao de recursos do sistema (marcao inicial M0) 40
Figura 3.3 RPC descrevendo a alocao de recursos do sistema (marcao inicial M0) 42
Figura 3.4 Viso esquemtica do jantar dos filsofos 44
Figura 3.5 Modelo, do jantar dos filsofos, baseado em redes de Petri ordinrias 45
Figura 3.6 Modelo, do jantar dos filsofos, baseado em redes de Petri coloridas 45
Figura 4.1 Operao de contineres do Terminal Porturio do Pecm modelada por uma
rede de Petri colorida 57
Figura 4.2 Relao utilidade versus validade de um modelo 63
ix
LISTA DE TABELAS Tabela 2.1 Classificao dos portos em geraes 8
Tabela 2.2 Dimenses de alguns tipos de contineres 19
Tabela 2.3 Tipos de contineres e descries 20
Tabela 3.1 Analogia entre redes de Petri e linguagens de programao 42
Tabela 4.1 Ponte de acesso aos peres 51
Tabela 4.2 Per de produtos siderrgicos e carga geral 51
Tabela 4.3 Per 2 per de granis lquidos e gases liquefeitos 52
Tabela 4.4 Per dos rebocadores 52
Tabela 4.5 Equipamentos utilizados no Terminal Porturio do Pecm 53
Tabela 4.6 Legenda dos lugares da rede apresentada na Figura 4.1 58
Tabela 4.7 Legenda das transies da rede apresentada na Figura 4.1 58
Tabela 4.8 Descrio das cores da rede apresentada na Figura 4.1 59
Tabela 4.9 Descrio das variveis da rede apresentada na Figura 4.1 59
Tabela 4.10 Taxas de utilizao dos equipamentos empregados no cenrio 1 66
Tabela 4.11 Anlise de sensibilidade da varivel quantidade de caminhes no desempenho
do sistema 67
x
LISTA DE NOMENCLATURAS E ABREVIAES
ANTAQ Agncia Nacional de Transportes Aquavirios
CEARPORTOS Companhia de Integrao Porturia do Cear
CPNTools Editor de redes de Petri coloridas, de domnio pblico,
desenvolvido e distribudo pela Universidade de Aarhus
(Dinamarca).
FCL Full container load
FEU Forty Feet Equivalent Unit
FLO/FLO Float-on/Float-off
LCL Less than container load
LO/LO Lift-on/Lift-off
RA/RA Rail-on/Rail-off
RA/RO Rail-Road
RdP Redes de Petri
RO/RO Roll-on/Roll-off
RPAN Redes de Petri de Alto Nvel
RPC Redes de Petri Coloridas
RPT Redes de Petri Temporais
SED Sistemas a Eventos Discretos
TEU Twenty Feet Equivalent Unit
UNCTAD United Nations Conference on Trade and Development
xi
Resumo da monografia submetida ao Curso de Engenharia Civil/UFC como parte dos
requisitos para obteno do ttulo de Engenheiro Civil.
AVALIAO DE DESEMPENHO OPERACIONAL DE TERMINAIS
PORTURIOS DE CARGA UNITIZADA: UMA APLICAO DAS REDES DE
PETRI COLORIDAS
Bruno de Athayde Prata
Janeiro / 2006
Orientador: Prof. Joo Bosco Furtado Arruda, Ph.D.
Co-Orientador: Prof. Giovanni Cordeiro Barroso, Ps D.Sc.
O presente trabalho decorre de uma pesquisa que buscou a proposio de um
modelo matemtico de avaliao de desempenho operacional de terminais porturios de
carga unitizada, vistos como Sistemas a Eventos Discretos. Sendo assim, o objetivo
deste trabalho foi elaborar um modelo de avaliao de desempenho operacional em
terminais porturios, baseado nas redes de Petri coloridas, tendo como principal varivel
de deciso o tempo total de deslocamento das cargas unitizadas em um porto e suas
implicaes no tamanho da frota dos equipamentos de transporte utilizados. Este
modelo foi aplicado ao caso do Terminal Porturio do Pecm, Cear. Realizaram-se
levantamentos de campo com o intuito de caracterizar a lgica operacional do Porto do
Pcem, assim como coletar informaes inerentes aos tempos operacionais dos
equipamentos do terminal em questo. Utilizou-se o programa CPNtools, editor e
simulador de redes de Petri coloridas, para implementao, simulao e anlise do
modelo proposto. As anlises realizadas permitiram observar que o modelo assemelha-
se realidade modelada, sendo requeridos alguns aperfeioamentos para sua melhor
representao. As simulaes realizadas permitiram avaliar que o terminal supracitado
est operando de forma ineficiente, no que tange frota de caminhes alocada para a
movimentao de contineres. Como concluses, pode-se destacar que as redes de Petri
coloridas so uma tcnica de grande valia para modelagem, simulao e anlise de
terminais de carga.
Palavras chaves: Logstica porturia, redes de Petri coloridas, Avaliao de desempenho porturio.
xii
Abstract monograph submitted to Civil Engineering Course as a partial fulfillment of
the requirements for the degree of Civil Engineer.
ASSESSING PERFORMANCE OF CONTAINER TERMINALS: A COLORED
PETRI NETS APPROACH
Bruno de Athayde Prata
2006 / January
Advisor: Prof. Joo Bosco Furtado Arruda, Ph.D.
Co- Advisor: Prof. Giovanni Cordeiro Barroso, Ps D.Sc.
This work is a result of an under-graduate research with the aim to propose a
mathematical model to assess performance of container terminals, based on Discrete
Events Theory. The objective of this work was create a model, using colored Petri nets,
where the principal decision variable was the goods transit time in the port and the
implications of that variable in the fleet size of transportation equipments. This model
was applied to the case of the Port of Pecm. In the accomplished surveys, the logic of
the system operations was described and data were gathered about the transport
operational times in the terminal. Software CPNtools, editor and simulator of colored
Petri nets, was used for the implementation, simulation and analysis of the proposed
model. The analysis made possible to observe that the model works, in an acceptable
way, as a reflection of the reality modeled but also that it requires some adjustments for
a real-world best representation. Simulations were made to evaluate the operational
efficiency of the studied port. As conclusions, one can observe that the colored Petri
nets are a feasible and useful technique for the modeling, simulation and analysis of port
terminals, mainly those specialized in container operations.
Key words: Port logistics, colored Petri nets, Port evaluation techniques.
1
CAPTULO 1
INTRODUO 1.1 CONSIDERAES INICIAIS
A princpio, pode-se imaginar que estudar a operao de um porto uma
atividade com foco pontual; no entanto, tal anlise muito mais abrangente do que
inicialmente se imagina. Um porto que opera de forma eficiente e eficaz pode induzir o
desenvolvimento na regio onde est inserido, captando novos clientes e mantendo os j
existentes, de modo a facilitar o escoamento da produo local.
Segundo Souza (2002), os portos so elementos de entrada e sada de quase todo
o comrcio exterior, sendo considerados elos logsticos estratgicos para integrao de
uma nao economia globalizada. A competitividade da economia depende, em
grande medida, da eficincia e do baixo custo das atividades porturias.
O atraso na modernizao do sistema porturio, portanto, compromete todo o
esforo do pas para melhorar a competitividade dos seus produtos e equilibrar a
balana comercial. Logo, para atingir altos nveis de eficincia operacional, um
planejamento rgido das atividades logsticas deve ser realizado nos terminais porturios
de modo a reduzir ao mximo os custos logsticos e os tempos de permanncia das
embarcaes.
De acordo com Santos e Martins (1998) apud Souza (2002), em uma pesquisa
realizada pela Confederao Nacional dos Transportes, constatou-se que o Brasil perde
cerca de US$ 5 bilhes anuais considerando-se todas as ineficincias de seus portos.
Deste modo, a avaliao de desempenho mostra-se fundamental para a caracterizao de
um terminal porturio, bem como para o diagnstico de possveis problemas
encontrados na sua operao.
1.2 JUSTIFICATIVA DO TEMA ABORDADO
O desempenho de um sistema logstico impacta significativamente os custos
logsticos associados a um produto ou servio, refletindo o nvel de servio ofertado ao
2
cliente. Conforme Ballou (2001), um sistema logstico eficiente permite a uma regio
geogrfica explorar suas vantagens competitivas pelo direcionamento de seus esforos
produtivos queles produtos com ela mais compatveis, implicando na maior exportao
desses produtos para outras regies.
O atraso na modernizao do sistema porturio, portanto, compromete todo o
esforo do pas para melhorar a competitividade dos seus produtos e equilibrar a
balana comercial. Logo, para atingir altos nveis de eficincia operacional, um
planejamento rgido das atividades logsticas deve ser realizado nos terminais porturios
de modo a reduzir ao mximo os custos logsticos e os tempos de permanncia das
embarcaes.
O porto do Pecm um equipamento logstico de importncia estratgica para o
Estado do Cear, pois ele se constitui como uma das principais portas de escoamento,
para o mercado externo, dos produtos locais, dentre os quais podem ser destacados os
produtos agrcolas (ARRUDA e BASTOS, 2001a).
Os portos brasileiros, em contraste com o que ocorre com os portos das naes
desenvolvidas, ainda no se capacitaram para atingir elevados nveis de eficincia
logstica. Deste modo, tornam-se necessrios os esforos que contribuam para a
maximizao da eficincia operacional dos terminais porturios do Brasil.
1.3 DEFINIO DO PROBLEMA
Dentro de tal conjuntura, temos o seguinte problema de pesquisa: como avaliar o
desempenho operacional de um terminal porturio de cargas unitizadas, tendo em vista
a quantidade de contineres a ser movimentada e os equipamentos empregados no
terminal, de modo a obter-se uma maior compreenso do sistema avaliado?
1.4 OBJETIVOS 1.4.1 Objetivo geral
Elaborar um modelo de avaliao de desempenho operacional em ptios
porturios, baseado nas redes de Petri coloridas, tendo como principal varivel de
deciso o tempo total de deslocamento das cargas unitizadas em um porto e suas
3
implicaes no tamanho da frota dos equipamentos de transporte utilizados. Este
modelo ser aplicado ao caso do Terminal Porturio do Pecm, Cear.
1.4.2 Objetivos especficos Como objetivos especficos do presente trabalho, podem ser ressaltados:
i) Determinar a lgica da operao de cargas unitizadas no Terminal Porturio do
Pecm, permitindo a avaliao de desempenho operacional do sistema com base no
estado da arte tanto dos instrumentos de aferio daquele desempenho como da
utilizao das redes Petri coloridas;
ii) Simular a aplicao do modelo de movimentao de contineres, no mbito do
Terminal Porturio do Pecm;
iii) Analisar as propriedades estruturais do modelo desenvolvido, permitindo uma maior
compreenso da realidade modelada;
iv) Mensurar, em termos da reduo do tempo de ciclo, os benefcios resultantes da
aplicao do modelo em vrios cenrios de simulao, comparativamente infra-
estrutura operacional atualmente vigente no Terminal Porturio do Pecm;
v) Determinar as taxas de ocupao dos equipamentos empregados nos cenrios
operacionais.
1.5 METODOLOGIA A metodologia foi composta de seis etapas, apresentadas a seguir.
(i) Reviso bibliogrfica
A reviso de literatura da presente pesquisa consistiu no levantamento de obras
que abordassem as redes de Petri e suas aplicaes, traando paralelos entre estas e o
problema da operao de terminais porturios de cargas unitizadas. Tambm foi
levantado o estado da arte sobre o planejamento e a operao de portos.
(ii) Caracterizao do sistema a modelar
Foi levantada, junto Autoridade Porturia CEARPORTOS, a lgica de
operao do Terminal Porturio do Pecm, assim como as caractersticas operacionais
4
dos equipamentos empregados na movimentao de cargas unitizadas e dados acerca de
situaes reais de embarque e desembarque de mercadorias.
(iii)Concepo do modelo
Foram estabelecidos os eventos mais significativos a serem modelados no
sistema de movimentao de cargas unitizadas do Terminal Porturio do Pecm, assim
como a suas relaes de causa e efeito.
(iv) Aplicao e anlise do modelo
A aplicao e a anlise do modelo idealizado consistiram nas seguintes
atividades:
a) Implementao computacional do modelo;
b) Anlise das propriedades do modelo;
c) Simulao de cenrios operacionais;
d) Validao e calibrao do modelo;
e) Apresentao e discusso dos resultados.
O modelo foi implementado no software CPNTools, editor de redes de Petri
coloridas, de domnio pblico, desenvolvido e distribudo pela Universidade de Aarhus
(Dinamarca). Aps a fase de implementao, foram analisadas as propriedades do
modelo. Foram simulados diversos cenrios operacionais visando a avaliao de
desempenho do Terminal Porturio do Pecm. A anlise do modelo e a simulao de
cenrios permitiram a validao e a calibrao do modelo proposto. Por fim, foram
apresentados e discutidos os resultados obtidos.
(v) Elaborao de Relatrio
Esta etapa da metodologia consistiu na redao da monografia propriamente
dita. A fase de elaborao escrita foi realizada ao longo de todo trabalho,
concomitantemente s demais atividades propostas.
5
(vi) Defesa do trabalho
Por fim, a monografia foi apresentada, sendo avaliada por uma banca
examinadora.
1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO
A monografia composta por cinco captulos, descritos a seguir. O primeiro
captulo constitui a introduo do trabalho. O segundo captulo descreve o estado da arte
sobre terminais porturios de cargas unitizadas, com foco na avaliao de desempenho
operacional. No terceiro captulo, so apresentadas as redes de Petri coloridas. O quarto
captulo apresenta o modelo de avaliao de desempenho operacional de terminais
porturios de carga unitizada baseado em redes de Petri coloridas, assim como delineia
e discute os resultados obtidos na anlise do modelo e na simulao de cenrios. Por
fim, no quinto captulo, so apresentadas as principais concluses acerca do trabalho,
bem como sugestes e recomendaes para estudos futuros.
6
CAPTULO 2
TERMINAIS PORTURIOS DE CARGAS UNITIZADAS
At as ltimas dcadas do sculo XX, os portos eram vistos como meros
terminais de carga que interligavam dois ou mais modais de transporte. Contudo, dado o
processo de globalizao da atividade econmica, ocorrido a partir dos anos 80, os
portos deixaram de ser vistos como simples instrumentos de transbordo e passaram a ser
tratados como elementos estratgicos para a participao de pases no mercado
internacional. A excelncia da operao porturia tornou-se imprescindvel para o xito
das cadeias produtivas, contribuindo, ainda mais, para o desenvolvimento scio-
econmico regional.
No estgio atual da economia globalizada, os pases, tanto desenvolvidos quanto
aqueles ainda em estgio de desenvolvimento, necessitam planejar o escoamento de
importao/exportao de produtos agrcolas e industrializados de modo a obter uma
balana comercial favorvel. Dentro de tal conjuntura, os portos exercem papel
fundamental na economia de uma nao, sendo um dos principais canais de acesso de
uma regio aos mercados nacionais e internacionais.
Este captulo apresenta o estado da arte acerca de terminais porturios,
restringindo a anlise movimentao de cargas unitizadas e enfatizando questes
inerentes ao planejamento e operao de tais facilidades. A estrutura do captulo ser
dividida em cinco sees, explicitadas a seguir.
Na primeira seo feita uma sucinta introduo ao tema abordado, sintetizando
a evoluo do conceito de porto. Na segunda seo, evidencia-se a importncia dos
terminais porturios no contexto econmico regional. A terceira seo apresenta as
caractersticas de cargas movimentadas por portos e as formas de unitizao correntes.
Na quarta seo so discutidos os aspectos inerentes operao do sistema porturio.
Por fim, na quinta seo, aborda-se a avaliao de desempenho de terminais porturios.
7
2.1 INTRODUO 2.1.1 Definio de um porto
Um sistema de transportes composto pelos indivduos e bens transportados,
pelos veculos que proporcionam estes deslocamentos e pelas redes onde ocorrem os
fluxos de transporte. As redes onde ocorrem os fluxos de transportes so conjuntos de
trechos interligados por ns.
Os trechos de uma rede so as vias que propiciam o deslocamento de qualquer
que seja o modo, ou seja, rodovias, dutovias, ferrovias, hidrovias, aerovias, dentre
outras. Por n, entende-se o encontro de duas ou mais vias em uma rede de transportes;
os ns so compreendidos, basicamente, por intersees de vias e terminais de um ou
mais modais de transporte.
Os portos so terminais onde se encontram diversos segmentos de uma
complexa rede de transportes. Na sua concepo mais simples, um porto um n
compreendido pela interseo de hidrovias, rodovias, ferrovias, aerovias e dutovias que
recebe tanto cargas quanto indivduos. No entanto, neste texto, aborda-se apenas o
transporte de cargas.
A concepo, a construo e a operao de um porto podem implicar em um
elevado custo de oportunidade para qualquer municpio, estado ou nao, se tais etapas
no forem tecnicamente otimizadas. Por ser um investimento de grande porte e incluir a
participao e interao de diversos modais de transporte, um terminal porturio deve
movimentar uma grande quantidade de cargas para ter viabilidade financeira e
econmica. Como conseqncia disto, um porto deve ser um terminal multimodal e
intermodal.
Um porto normalmente um elemento de conexo entre o modal hidrovirio
com os demais modais. A existncia do modal aerovirio na retrorea imediata de um
porto menos freqente, mas h uma tendncia atual de se construirem aeroportos
especializados em cargas nas retroreas porturias, quando as restries ambientais ou
de outra natureza so removveis. A interao fsica entre os modos hidrovirio e
dutovirio j to evidenciada quanto a interao entre o modal hidrovirio e os modos
8
rodovirio e ferrovirio. Neste trabalho, o conceito de intermodalidade em portos
enfatizar os modais hidrovirio, ferrovirio e rodovirio.
2.1.2 Histrico e evoluo do conceito de porto No incio da dcada de 90, o UNCTAD (United Nations Conference on Trade
and Development) agrupou os portos de acordo com sua estratgia de desenvolvimento,
sua poltica comercial e sua organizao gerencial e espacial, sendo ento definidas trs
geraes de portos.
Durante os anos seguintes, notou-se uma nova tendncia na organizao dos
grandes portos de todo o mundo e constatou-se o surgimento de uma nova gerao de
portos, conhecida como portos de 4a. gerao. Na Tabela 2.1 apresentada uma
definio geral de cada gerao de terminais porturios, assim como algumas das suas
caractersticas.
Tabela 2.1: Classificao dos portos em geraes
Gerao Definio geral e algumas caractersticas
1a.
Interface entre dois modos de transporte - No existe desenvolvimento estratgico especfico - Atividades tradicionais de manuseio e armazenagem no-organizadas - Atividades localizadas nas docas - Justaposio das transaes dos portos - Supremacia do suprimento - Pouca ateno dada s necessidades dos usurios
2a.
Centro de transporte, atividades industriais e comrcio - Surgimento e expanso do desenvolvimento estratgico - Atividades de transformao (indstrias pesadas), servios de navios - Ampliao da zona porturia - Incio de uma comunidade porturia - Relacionamento ocasional entre o porto e sua cidade adjacente
3a.
Centro de transporte integrado com plataforma logstica para o comrcio internacional- Desenvolvimento estratgico orientado ao mercado - Distribuio de mercadorias, atividades logsticas, centro de distribuio - Sistema de Informao (EDI) utilizado pelo porto - Racionalizao do espao do porto - Comunidade porturia unificada e ativa, coordenao das atividades - Forte relacionamento entre porto e cidade
4a.
Portos em rede - Estratgia para tornar-se um membro da rede mundial, diversificao das atividades - Parceria com operadores na organizao dos servios logsticos - Uso das redes EDI integradas entre os portos - Participao em pesquisa de locais para portos visando possvel desenvolvimento e integrao - Cooperao entre as comunidades porturias
Fonte: ISEMAR (1997).
9
2.1.2.1 Portos de 1a gerao Os portos de 1a gerao so caracterizados, principalmente, pela sua funo de
mera interface entre o modal hidrovirio e os modais terrestres. Nesta gerao de
terminais porturios, as operaes eram focadas nas docas, realizadas de forma, muitas
vezes, desprovida de qualquer planejamento, efetuada por mo-de-obra bruta.
Os portos eram usualmente localizados dentro das grandes urbes, demonstrando
total falta de planejamento estratgico por parte da gesto porturia. O crescimento
urbano em torno da rea porturia foi desenfreado e, muitas vezes, evidenciava-se a
deteriorao da atividade residencial nessas regies.
Dada suas desorganizaes espacial e operacional, as autoridades gestoras dos
portos de 1a gerao pouco se importavam com a satisfao dos clientes, esperando que
estes se adequassem s caractersticas do terminal. A carga predominante era a carga
geral, evidenciando-se a supremacia do suprimento.
2.1.2.2 Portos de 2a gerao A partir de 1945, diversas tendncias importantes puderam ser discernidas no
que tange movimentao de carga nos portos mundiais. Conforme Oram e Backer
(1971), a primeira e mais importante tendncia ps-guerra foi a introduo de
equipamentos mecnicos na movimentao de cargas.
Este pode ser considerado o marco da 2a gerao de portos: os navios no podem
esperar, a movimentao de mercadorias deve ser a mais rpida possvel. A
mecanizao foi imprescindvel para aumentar a produtividade dos servios porturios
e, conseqentemente, satisfazer necessidade de reduo de custos.
A rea do porto se expande e estes passam a se localizar mais afastados das
atividades urbanas, fato que enfraqueceu o relacionamento dos portos com as cidades.
No entanto, os portos de 2a gerao se destacaram por fomentar o surgimento de
atividades do setor industrial e de servios atreladas ao espao porturio, evidenciando o
desenvolvimento estratgico da gesto dos portos.
10
2.1.2.3 Portos de 3a gerao A principal caracterstica dos terminais porturios de 3a gerao que estes
deixam de ser encarados simplesmente como elementos de uma rede de transportes e
passam a ser vistos como locais de excelncia logstica, consolidando-se como
elementos de suma importncia para a gesto da cadeia de suprimentos.
O porto passa a ter uma viso orientada para o mercado, onde abordagens
mercadolgicas e de comrcio exterior caracterizam o porto como um produto que deve
estar apto a gerar benefcios para os seus clientes atuais e potenciais.
As atividades porturias passam a ser cada vez mais racionalizadas: os
equipamentos tornam-se gradativamente mais eficientes, o leiaute passa a ser
continuamente planejado e a gesto porturia evidencia-se como mais incisiva e
permanente. Os portos de 3a gerao so monitorados e controlados por robustos
sistemas de informao logstica que garantem uma operao cada vez mais otimizada.
2.1.2.4 Portos de 4a gerao Dada a vital importncia dos portos para as economias regionais, notou-se que
estes no deviam competir entre si, mas sim formar coalizes de modo a estruturar uma
rede mundial. Este o conceito dos portos de 4a gerao: terminais dotados de agilidade
gerencial e operacional que, interligados por sistemas de informaes, tornam-se
plataformas logsticas integradas.
O conceito de terminal porturio de 4a gerao recente, sendo uma realidade
apenas em terminais extremamente organizados. O tema pode ser aprofundado em
Paixo e Marlow (2003) e Marlow e Paixo Casaca (2003).
2.2 PORTOS VOLTADOS PARA O DESENVOLVIMENTO 2.2.1 As dimenses em um porto enquanto equipamento-suporte do
desenvolvimento econmico regional
Segundo Oram e Baker (1971), nada causa um impacto mais direto nas despesas
de um pas dotado de costa martima do que a velocidade de atendimento de navios em
seus portos.
11
Diante do exposto, pode-se perceber que um porto tem como funo receber e
distribuir cargas, fazendo o melhor uso possvel da intermodalidade para este devido
fim. Pode-se dizer que, devido a um porto ser um elemento prestador de servios,
movimentar mercadorias uma funo em nvel microeconmico; contudo, em nvel
macroeconmico, este desempenho bem mais abrangente.
Conforme Arruda e Bastos (2001a), um porto possui uma srie de dimenses
mais amplas que, se exploradas adequadamente, podem propiciar o desenvolvimento
integrado na rea de influncia do terminal. Na Figura 2.1 so explicitadas as dimenses
subjacentes a um terminal porturio de terceira gerao.
Figura 2.1: Dimenses envolvidas com um porto voltado para o desenvolvimento socioeconmico.
Fonte: Arruda e Bastos (2001a).
A dimenso social deve maximizar a qualidade de vida dos indivduos residentes
no entorno do porto. A dimenso tecnolgica diz respeito interao do terminal
porturio com suas infra-estruturas e equipamentos. A dimenso econmica deve
garantir o desenvolvimento regional, induzindo investimentos e o pleno emprego das
potencialidades do porto. A dimenso financeira deve primar pela definio de polticas
que gerem economias de escala na operao do terminal. A dimenso geopoltica diz
respeito concorrncia regional ou continental entre portos. A dimenso comercial deve
promover o terminal porturio como um produto, atravs de macio emprego de
marketing. Por fim, a dimenso organizacional deve primar pela harmonia entre as
dimenses supracitadas, objetivando a eficincia do porto em nvel operacional e
macroeconmico.
12
2.2.2 Como (re)definir o papel de um porto no mundo hodierno globalizado? A partir da dcada de 80, com a ascenso do neoliberalismo, cresce a
interdependncia econmica entre as naes, e este processo de inter-relao culmina
com a globalizao da economia mundial. Em uma economia globalizada, eleva-se a
interao comercial entre os pases e os produtos passam a vencer grandes distncias
com maior facilidade. Tanto um bem de consumo valioso, como um automvel, quanto
um produto de baixo valor, como uma caneta, cruzam continentes para se inserirem em
mercados externos.
No ambiente de uma economia globalizada, a competitividade elevada, pois os
custos tm de ser reduzidos ao extremo para que a comercializao de um produto logre
xito em mercados internos e externos. Esta competitividade tem suas vantagens e
desvantagens. Como primordial vantagem da competitividade, pode-se citar a maior
variedade de produtos disponveis ao consumidor em geral, a um menor custo de
aquisio. A grande desvantagem da competitividade o desemprego gerado pela busca
contnua de reduo de custos, oriundo do intenso processo de modernizao do
maquinrio industrial e da terceirizao de servios.
Tendo em vista o contexto exposto acima e dada a funo de um porto como
interface primordial de uma regio, tanto com os mercados ao seu entorno quanto com
os mercados mais longnquos, como definir, ou redefinir, o papel de tal infra-estrutura
de transportes no atual mundo globalizado?
Pode-se dizer, em linhas gerais, que um porto deve buscar maximizar os
benefcios sociais oriundos da globalizao da atividade econmica e minimizar os
impactos negativos (sociais, econmicos e ambientais) desta sobre os diversos atores de
nossa sociedade. Um porto deve, ento, procurar atingir a excelncia operacional de
modo a reduzir os custos de transporte e, conseqentemente, os preos de venda dos
produtos movimentados e, ao mesmo tempo, configurar-se como um instrumento de
desenvolvimento, beneficiando no somente a produo industrial e a prestao de
servios, como tambm o setor primrio.
13
Nos pases em desenvolvimento, os terminais porturios ainda no se
estruturaram de modo a atingir tais nveis de eficincia e, sobretudo, de abrangncia.
Tais portos apresentam, ainda, uma srie de problemas que prejudicam sua
produtividade e atrao de novos clientes: carncia de mo-de-obra especializada,
controle insuficiente das operaes porturias, plataformas logsticas restritas e
ineficiente de integrao entre os terminais porturios com os diversos modais de
transporte.
Conforme Arruda e Bastos (2001b), partindo-se do princpio que os portos
podem ser (re)estruturados, tal (re)estruturao deve ser compreendida pelos quesitos
citados a seguir:
(i) Inter-relao entre transportes e economia.
Os portos no devem ser vistos, pelos olhos do poder pblico, apenas como
plos de movimentao de mercadorias, mas serem estruturados de tal forma que
propiciem efetivamente o desenvolvimento econmico na sua rea de influncia.
Partindo das diretrizes de um processo de planejamento regional, onde estejam
definidos os objetivos mais gerais da economia da regio onde o porto se insere, devem
ser definidas as estratgias e linhas de ao para que os terminais porturios contribuam
incisivamente para a consecuo de tais objetivos.
(ii) Integrao horizontal e vertical da atividade econmica, a partir de empreendimentos ncoras.
Conforme tendncia j comentada na evoluo histrica do conceito de porto, a
partir dos portos de 2a gerao, percebeu-se a importncia de agregar s atividades
bsicas do terminal porturio, atividades do setor industrial ou de servios, tais como a
siderurgia e a indstria petroqumica. Deste modo, o porto dotado de um complexo
industrial poder exportar produtos de valor agregado, em quantidade e diversidade, e
no meramente matrias primas.
(iii) Autoridade pblica com pessoal dinmico e qualificado, e com nfase na
captao e manuteno de clientes dos trs setores da economia;
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A gerao e a manuteno da eficincia porturia ser possvel somente se o
porto for gerido por um corpo tcnico altamente qualificado, que combine as novas
tendncias gerenciais com a experincia prtica. O empirismo deve ser erradicado da
gesto porturia, dando lugar a uma gesto calcada em critrios tcnicos. Para a
captao e a conservao de clientes necessria a formulao de polticas que
promovam o porto como um produto composto por um conjunto de servios capaz de
benefcios para os seus usurios atuais e potenciais.
(iv) Organizao espacial como induo das (e resposta s) atividades dos trs setores da economia;
O papel do porto, no territrio onde se insere, deve ser revisto. As infra-
estruturas e o uso do solo devem ser planejados de modo a propiciar no somente uma
maior acessibilidade dos setores pblico e privado s atividades porturias, como
tambm minimizar as influncias negativas do complexo porturio ao meio ambiente.
(v) Conexes de transportes martimos e terrestres de alto grau de acessibilidade ao Porto.
A consonncia entre o porto e as infra-estruturas de transporte no seu entorno,
como, por exemplo, conexes martimas, rodovirias e ferrovirias, de fundamental
importncia para a eficincia porturia, pois propicia uma reduo nos tempos de
operao e, conseqentemente, dos custos de transporte. O incremento da acessibilidade
do porto pode contribuir para a expanso da sua rea de influncia, possibilitando,
inclusive, a captao de novos clientes.
2.3 ASPECTOS RELACIONADOS S CARGAS
Aps a caracterizao da macro-funo dos terminais porturios, necessrio
abordar suas caractersticas fsicas e operacionais. O primeiro passo a ser dado nessa
direo apresentar os tipos de carga e as formas de unitizao e embalagem, pois a
operao do terminal ser funo das caractersticas das mercadorias a serem
movimentadas.
2.3.1 Caractersticas da carga
Segundo Handabaka (1994), as caractersticas da carga podem ser definidas de
acordo com o seu tipo e sua natureza, conforme segue:
15
2.3.1.1 Tipo da carga O tipo da carga diz respeito s caractersticas fsicas das mercadorias que
influem predominantemente na definio da forma de acondicionamento (embalagem e
armazenagem) destas e na escolha dos modos e equipamentos empregados no seu
transporte e na sua movimentao. No que se refere ao tipo, as cargas podem ser
classificadas em:
(i) Carga geral. A carga geral, tambm conhecida como carga solta, consiste em itens avulsos,
dotados ou no de embalagem, que so embarcados separadamente. Exemplos de carga
geral so embrulhos, pacotes, fardos, sacos, caixas, tambores, peas, bobinas, toras de
madeira e pedras de granito.
(ii) Carga unitizada.
A carga unitizada consiste no agrupamento de itens individuais tais como caixas,
pacotes ou outras cargas avulsas em unidades como pallets e contineres, que permitem
o embarque de grandes quantidades de mercadoria simultaneamente.
Devido ao enfoque dado, neste captulo, s operaes de cargas unitizadas, o
conceito de unitizao ser discutido com maior profundidade em um outro ponto deste
texto.
(iii) Carga a granel.
A carga a granel consiste no transporte de grandes quantidades de mercadorias
mensuradas em unidades de massa ou de volume. As cargas a granel podem ser
divididas em dois tipos: granis slidos e granis lquidos. Como exemplos de granis
slidos podem-se citar os cereais, as sementes e os minrios. Como exemplos de granis
lquidos, podem-se citar os leos e gases combustveis e as bebidas.
2.3.1.2 Natureza da carga A natureza da carga se refere s caractersticas fsicas e qumicas das
mercadorias que, por suas peculiaridades, influem na definio da forma de
acondicionamento (embalagem e armazenagem) destas e na escolha dos modos de
16
transportes e equipamentos empregados na sua movimentao. No que se refere
natureza, as cargas podem ser classificadas em:
(i) Perecveis.
As cargas perecveis consistem nas mercadorias que tm caractersticas tais
como sabor, odor ou cor alteradas drasticamente quando manuseadas e transportadas
sem condies especiais. As cargas perecveis so, usualmente, produtos alimentcios,
como, por exemplo, frutas, legumes, carnes, laticnios e flores.
(ii) Frgeis
As cargas frgeis consistem nas mercadorias que tm sua integridade fsica
comprometida ao serem manuseadas e transportadas sem a devida proteo a choques
mecnicos e a vibraes. Como exemplos de produtos frgeis, pode-se citar produtos
eletrnicos, flores e instrumentos de preciso.
(iii)Perigosas
As cargas perigosas consistem nas mercadorias que, devido a serem explosivas,
combustveis, oxidantes, venenosas, radioativas ou corrosivas, pem em risco, quando
so manuseadas e transportadas, a integridade de seres vivos ou de outras cargas,
necessitando de cuidas especiais nessas operaes. Como exemplos dessas cargas pode-
se citar os fogos de artifcio e o leo diesel.
(iv) Volumosas
As cargas volumosas consistem nas mercadorias que, devido a apresentarem
dimenses especiais ou elevado fator de estiva, necessitam de condies especiais para
sua movimentao e transporte.
(v) Pesadas
As cargas pesadas consistem nas mercadorias que, devido a apresentarem pesos
elevados, ou baixo fator de estiva, necessitam de condies especiais para sua
movimentao e transporte.
17
2.3.2 Embalagem e marcao Conforme Handabaka (1994), as cargas, estejam elas armazenadas ou em
trnsito, podem encontrar-se sujeitas aos seguintes inconvenientes:
(i) Efeitos mecnicos do movimento dinmico (impactos, quedas, choques, oscilaes e
vibraes);
(ii) Tenso esttica por meio da presso (empilhamento);
(iii)Fatores climticos (calor, frio, umidade);
(iv) Incndio e gua;
(v) Furto; e
(vi) Contaminao (roedores, odores, poluio de diferentes tipos).
Pode-se perceber que manusear e transportar produtos sem qualquer tipo de
proteo especfica seria uma prtica que prejudicaria a qualidade e a serventia dos bens
de consumo, no atendendo s exigncias do consumidor final. Como proteger as
caractersticas da carga e preservar a qualidade das mercadorias nela contidas?
A embalagem a resposta para tal indagao. Por embalagem, entende-se o
conjunto de elementos destinados a proteger a carga durante as atividades de manuseio,
transporte e armazenagem, de modo a permitir que as mercadorias mantenham suas
caractersticas iniciais a um nvel satisfatrio para o usurio. As embalagens, deste
modo, caracterizam-se como elementos primordiais nas atividades logsticas.
A marcao constitui a identificao de cada unidade de carga, visando fornecer,
aos operadores logsticos, informaes relacionadas ao contedo, ao peso, origem, ao
destino, forma adequada de armazenagem, forma adequada de manuseio e aos
cuidados especiais requeridos pela carga marcada.
Dentre os principais tipos de marca, pode-se ressaltar a marca de embarque
padro, a marca de informao e os smbolos pictricos. Com a modernizao das
tecnologias de informao, os cdigos de barras tornaram-se marcaes de suma
relevncia para a agilidade das atividades logsticas.
18
2.3.3 Unitizao O manuseio de carga geral possui a inconvenincia de demandar muito tempo e
mo-de-obra para sua realizao, alm de, em determinadas circunstncias, no prover a
carga de proteo adequada a intempries, vibraes e choques mecnicos. O advento
da unitizao, no incio do sculo XX, foi um marco na tecnologia dos transportes,
permitindo a movimentao e o transporte de cargas de uma forma mais gil e segura.
Segundo Martins e Silva (2001), a unitizao o acondicionamento da carga
geral em algum tipo de estrutura, de forma a permitir a movimentao das unidades de
carga acopladas a equipamentos rodovirios, ferrovirios ou hidrovirios, podendo ser
iadas a bordo sem as carretas, sendo empilhadas umas sobre as outras em clulas no
navio, permitindo e facilitando a estivagem.
No que se refere ao transporte martimo, existem diversos tipos de unitizao,
dentre os quais podem ser destacados os pallets e os contineres, abaixo descritos.
2.3.3.1 Pallets Conforme Martins e Silva (2001), o pallet um estrado plano, construdo
principalmente de madeira, podendo ser tambm de alumnio, ao, plstico, fibra,
polipropileno ou papelo, com caractersticas adequadas a facilitar a unitizao,
armazenagem e o transporte de pequenos volumes. Podem ser descartveis, utilizados
em apenas uma viagem (one way), ou para uso constante. A adoo de cada tipo
depende da logstica escolhida, que envolve um estudo sobre custos e o seu retorno.
A altura dos pallets deve permitir a entrada de garfo de empilhadeira, mas no
deve ser excessiva para no roubar espao nos compartimentos de carga. A seguir, na
Figura 2.2, so ilustrados dois tipos de pallets.
Figura 2.2: Ilustrao de tipos de pallets.
Fonte: Martins e Silva (2001)
19
O pallet permite uma grande flexibilidade, no que se refere ao transporte porta a
porta, sem a necessidade de desconsolidao da carga. comum nos grandes
supermercados a disposio de mercadorias diretamente sobre pallets.
2.3.3.2 Contineres A primeira notcia que se tem de utilizao de um tipo de continer em
transporte de carga vem da revista National Geographic, no ano de 1911, atravs de uma
foto de seu iamento para bordo.
Os contineres so modulados, sendo mais usados os cofres de 20 x 8 x 8, que
tem suas dimenses utilizadas como o mdulo padro adotado internacionalmente, o
chamado Twenty Feet Equivalent Unit (TEU), ou Unidade Equivalente a 20 ps. Os
contineres de dimenses diferentes destas podem ser referidos a este mdulo padro,
utilizando-se suas unidades em TEU.
Outro mdulo padro bastante utilizado o Forty Feet Equivalent Unit (FEU),
ou Unidade Equivalente a 40 ps, clula com dimenses 40 x 8 x 8. Na Tabela 2.2
so apresentadas dimenses tpicas de contineres, padronizadas pela ISO.
Tabela 2.2: Dimenses de alguns tipos de contineres
Comprimento Largura Altura Srie do continer Ps Metros Ps Metros Ps Metros
1A 40 12,19 8 2,44 8 2,44 1AA 40 12,19 8 2,44 8,5 2,59 1C 20 6,05 8 2,44 8 2,44 1CC 20 6,05 8 2,44 8,5 2,59 Fonte: Goebel, (1996).
Os contineres so identificados atravs de marcas, nmeros, definio de
espao e peso que podem comportar, proprietrio e informaes do contedo da carga.
Estas caractersticas de identificao do aos contineres vantagens como segurana,
controle, inviolabilidade, rapidez e reduo de custos no transporte.
O advento das tecnologias de informao, como, por exemplo, scanner, cdigo
de barras e identificao por rdio freqncia, realou ainda mais os benefcios do
transporte de cargas via contineres, permitindo um maior controle das operaes
logsticas de manuseio, transporte e armazenagem das clulas unitizadas.
20
No que se refere utilizao de sua capacidade, o continer pode ser classificado
em: (i) Full container load (FCL): continer carregado com toda sua capacidade; e (ii)
Less than container load (LCL): continer carregado com parte da sua capacidade.
Muitos so os tipos de contineres utilizados no transporte de cargas. A seguir,
na Tabela 2.3, apresentada uma sntese dos principais tipos de contineres empregados
na atualidade, bem como suas caractersticas.
Tabela 2.3: Tipos de contineres e descries. Tipo Descrio
dry box
Totalmente fechado, com portas nos fundos, sendo o mais utilizado e adequado para o transporte da maioria das cargas gerais secas existentes. Pode ter 20 ou 40.
ventilated
Semelhante ao dry box, porm com pequenas aberturas no alto das paredes laterais, podendo tambm t-las na parte inferior das paredes, para permitir a entrada de ar, para transporte de cargas que requerem ventilao, como caf e cacau.
reefer
Tambm semelhante ao dry box, totalmente fechado, com portas nos fundos, apropriado para embarque de cargas perecveis congeladas ou refrigeradas, que precisam ter a sua temperatura controlada, como carnes, sorvetes, frutas e verduras. Pode ser integrado com motor prprio para refrigerao, cuja nica desvantagem a perda de espao ocupado pelo motor. Tambm pode ser isolado (insulated), sem motor prprio, tendo na parede da frente duas aberturas (vlvulas) para entrada e sada de ar, que injetado por meio externo. O continer reefer tem para controle de temperatura um grfico de registro (Partlow Chart) e pode atingir at -25 C.
bulk conteiner
Similar ao dry box, totalmente fechado, tendo aberturas no teto (escotilhas) para o seu carregamento e uma escotilha na parede do fundo e na parte inferior para o descarregamento, sendo apropriado para transporte de granis slidos, como produtos agrcolas
open top
Continer sem teto, que fechado com lonas para transporte de cargas que apresentam dificuldades para embarque pela porta dos fundos e necessitam de um acesso especial, embora tambm possua a porta normal nos fundos. Prprio para mercadorias que excedam a altura do continer, cujas cargas no poderiam ser estufadas num continer dry box tradicional.
half height
Continer open top, sem teto, porm de meia altura 4 ou 43, fechado com lonas e cabeceira basculante, adequado para embarque de minrios, cuja carga extremamente densa e se embarcada em um open top, este no poderia ser utilizado integralmente em seu volume, representando uma ocupao de espao indevida no navio.
open side
Com apenas trs paredes, sem uma parede lateral, este continer apropriado para mercadorias que apresentam dificuldades de embarque pela porta dos fundos, ou que excedam um pouco a largura do equipamento ou ainda para agilizao de sua estufagem.
flat rack
Continer plataforma, sendo uma combinao do open top e do open side, sem as paredes laterais e sem teto, com cabeceiras fixas, ou dobrveis, adequado para cargas pesadas e grandes, que excedam um pouco as suas dimenses.
plataform
Continer plataforma sem paredes e sem teto, tendo apenas o piso apropriado para cargas de grandes dimenses ou muito pesadas.
tank Continer tanque prprio para transporte de lquidos em geral, perigosos ou no.
Fonte: Martins e Silva (2001).
21
Para fins de dimensionamento de equipamentos, considera-se que a capacidade
de carga de um TEU seja de 16 a 20 toneladas e, de um FEU, de 25 a 28 toneladas. Um
FEU no possui o dobro da capacidade de um TEU, pois os materiais empregados
atualmente na composio dos contineres no conseguem resistir aos momentos
fletores oriundos de grandes carregamentos.
2.3.3.3 Outros tipos de unitizao Conforme Goebel (1996), existem dois outros tipos de unitizao significativos
no transporte martimo: as marino-slings e os big-bags.
As marino-slings so cintas de material sinttico, que formam uma rede, com
dimenses padronizadas, geralmente utilizadas para sacaria. Podem transportar at
1500kg de mercadoria e, dependendo do embarque, seguem com a carga at o destino
ou apenas at o poro do navio, quando so retiradas.
Os big-bags so sacos de material sinttico dotados de fundo circular ou
quadrado, geralmente utilizados, em substituio da sacaria, para o manuseio de
produtos industrializados em gros e ps. Permitem o reaproveitamento e a sua
capacidade geralmente superior dos marino-slings, entretanto seu custo superior ao
destes e, por isso, em operaes de comrcio exterior, geralmente, no embarcam
juntamente com a carga.
2.4 A OPERAO DE TERMINAIS PORTURIOS DE CARGAS
UNITIZADAS
2.4.1 Lgica da operao Conforme o exposto por Yun e Choi (1999), um Sistema Terminal de
Contineres (STC) composto de trs subsistemas: entradas, ptios de contineres e
beros. Os equipamentos de movimentao neste sistema so basicamente portineres,
transtineres, tratores de terminal, empilhadeiras e carretas.
As tarefas bsicas na operao de um STC consistem no recebimento, entrega,
carregamento e descarregamento de contineres. Estas operaes ocorrem
simultaneamente e interativamente (Yun e Choi, 1999):
22
(i) Operao de recebimento: transportar contineres para exportao, trazidos por
caminhes vindos de fora do porto, at os equipamentos de movimentao vertical;
(ii) Operao de entrega: erguer contineres para importao atravs de equipamentos
de movimentao vertical, colocando-os em caminhes ou trens estacionados no
ptio de contineres que levaro as cargas para fora do porto;
(iii)Operao de carregamento: erguer contineres para exportao atravs de
equipamentos de movimentao vertical, colocando-os em tratores de terminal
localizados no ptio de contineres e transportando-os at o bero, onde sero
embarcados atravs de equipamentos de embarque e desembarque;
(iv) Operao de descarregamento: descer contineres para importao do navio atravs
de equipamentos de embarque e desembarque, colocando-os em tratores de terminal
com a finalidade de transportar as cargas at o ptio de contineres.
2.4.2 Equipamentos A estrutura operacional de um tpico STC ilustrada na Figura 2.3:
1 2 3 B E R O
P T I O
Figura 2.3: Estrutura operacional de um tpico terminal de contineres.
Conforme o apresentado na figura acima, existem trs tipos de equipamentos
empregados na movimentao de cargas entre o bero e o ptio ou armazm. So eles:
23
1. Equipamentos de Embarque e desembarque:
Para retirada e colocao de cargas unitizadas nos navios, so necessrios
equipamentos de grande porte, como, por exemplo, portineres, guindastes mveis
sobre pneus, guindastes de bordo, dentre outros. Na Figura 2.4 ilustrado um
equipamento de embarque e desembarque.
Figura 2.4: Portiner em operao.
Fonte: Magalhes (2003)
2. Equipamentos de manuseio:
Os equipamentos de embarque e desembarque colocam as cargas unitizadas em
veculos que as transportaro para o ptio. Estes veculos podem ser caminhes ou
tratores de terminal. Na Figura 2.5 ilustrado um equipamento de manuseio.
Figura 2.5: Trator de terminal (TT).
Fonte: Magalhes (2003) 3. Equipamentos de movimentao vertical:
Os caminhes ou tratores de terminal transportam as clulas at o ptio, onde
estes sero armazenados na forma de pilhas. Para realizar tal organizao, so
requeridos equipamentos de movimentao vertical ou empilhamento, dentre os quais
podemos citar os transtineres, as empilhadeiras e os reach stackers. Na Figura 2.6
ilustrada a operao de uma empilhadeira.
24
Figura 2.6: Empilhadeira iando continer vazio.
Fonte: Magalhes (2003)
2.4.3 Multimodalidade e intermodalidade Na operao de terminais porturios, dois conceitos so requeridos para a
consecuo de agilidade e flexibilidade nas atividades de manuseio e transporte:
multimodalidade e intermodalidade. Por multimodalidade entende-se o emprego de
mltiplos modos de transporte e o verbete intermodalidade remete idia de interseo
de dois ou mais modos de transporte. Estes dois conceitos so comentados a seguir.
No sculo XIX, predominava a filosofia da necessidade de competio entre os
modos de transporte. Contudo, na atual conjuntura, de notrio conhecimento que a
multimodalidade condio indispensvel para reduo dos custos de transporte. Os
modais no devem competir entre si, mas sim fazer uso da multimodalidade, isto ,
combinar vantagens especficas em termos operacionais de modo a otimizar o transporte
de mercadorias.
De acordo com o Parlamento Europeu (2000), por intermodalidade entende-se
um sistema de transportes com base no qual seja possvel integrar pelo menos dois
meios diferentes numa cadeia de transporte porta a porta (ferrovirio-rodovirio-naval-
areo-dutovirio) de forma a garantir uma utilizao mais racional das capacidades de
transporte disponveis e aumentar a qualidade e a eficincia dos servios conexos.
Dentre os principais tipos de intersees entre modos de transporte, podem ser
destacados:
25
(i) RO/RO (Roll-on/Roll-off) ou autrotransbordo: tipo de transbordo no qual veculos
do modal rodovirio so embarcados em navios, possibilitando maior flexibilidade
nas operaes de embarque e desembarque;
(ii) RA/RA (Rail-on/Rail-off) ou ferrotransbordo: tipo de transbordo no qual vages
ferrovirios so embarcados em navios, possibilitando maior flexibilidade nas
operaes de embarque e desembarque;
(iii)RA/RO (Rail-Road) ou transbordo ferro-rodovirio: tipo de transbordo no qual
veculos do modal rodovirio so embarcados em vages ferrovirios, possibilitando
maior flexibilidade nas operaes de embarque e desembarque;
(iv) FLO/FLO (Float-on/Float-off), transbordo por flutuao ou transflutuao:
transbordo caracterstico do transporte martimo no qual balsas so carregadas e
descarregadas por embarcaes de maior porte;
(v) LO/LO (Lift-on/Lift-off) ou transbordo por suspenso: transbordo caracterstico do
transporte martimo no qual veculos de outros modais de transportes so iados e
carregados ou descarregados em embarcaes.
2.4.4 Mo-de-obra porturia Apesar da drstica reduo de mo-de-obra oriunda do intenso processo de
mecanizao ao qual o transporte martimo foi submetido no sculo XX, os operrios
continuam sendo fator imprescindvel na operao de um porto. A mo-de-obra bruta,
constituda essencialmente por estivadores e prticos, est sendo gradativamente
substituda por trabalhadores mais especializados, capazes de operar os equipamentos
porturios e sistemas de informao.
De nada adianta que um porto possua modernos equipamentos, se os seus
operadores no souberem operar os equipamentos ou se no se sentirem estimulados a
oper-los da maneira ideal. No deve haver uma valorizao excessiva da mquina e,
por conseguinte, uma desvalorizao do indivduo, mas sim a busca contnua da
consonncia entre homem e mquina.
26
A modernizao do processo de gesto porturia; caracterstica das ltimas
dcadas do sculo XX, demanda um corpo tcnico cada vez mais especializado
acompanhando as atividades porturias. As atividades humanas em um porto, que
outrora eram essencialmente fsicas, esto sendo cada vez mais substitudas por
atividades intelectuais.
2.5 A AVALIAO DE DESEMPENHO DE TERMINAIS PORTURIOS DE CARGAS UNITIZADAS
2.5.1 Indicadores de desempenho operacional Dado acirrada competio oriunda da globalizao da economia, a operao
ineficiente e ineficaz de sistemas logsticos, tais como os terminais porturios de cargas
unitizadas, no pode mais ser admitida.
necessrio, portanto, que existam informaes disponveis acerca da operao
do sistema porturio, permitindo a avaliao do seu desempenho e, conseqentemente, o
subsdio da tomada de deciso na gesto do terminal. As informaes que permitem a
avaliao operacional de sistemas logsticos so denominadas indicadores de
desempenho ou indicadores operacionais.
Conforme Bogossian (1983), imprescindvel conhecer os indicadores
operacionais que permitam avaliar o nvel de servio prestado por um porto. Os
indicadores operacionais se constituem no mais importante instrumento de avaliao
dos servios porturios, principalmente quando respaldados nas estruturas de custos de
cada modalidade. Estes indicadores so gerados a partir de parmetros de natureza:
(i) Quantitativa: atravs do estabelecimento da produo a ser alcanada em
determinado perodo de tempo;
(ii) Qualitativa: atravs de acompanhamento e observao sistemtica da eficincia
operacional em face dos recursos utilizados;
(iii)Econmica: atravs da determinao dos custos totais de transporte para cada
conjunto de alternativas operacionais.
27
De acordo com Bogossian (1983), os indicadores podem ser classificados
segundo o nvel de abrangncia, considerando as seguintes caractersticas:
(i) Nvel 1 indicadores econmicos.
So parmetros estabelecidos em funo da economia nacional, para a avaliao
do seu desempenho, como, por exemplo, produo esperada e demanda futura. So
importantes consideraes devido aos seus possveis impactos nas condies de
operacionalidade do porto.
(ii) Nvel 2 indicadores dos sistemas globais de transportes.
So aqueles que abrangem o sistema de transportes como um todo, restringindo-
se apenas aos resultados finais, sem consideraes a respeito dos meios de transporte
envolvidos, como, por exemplo, custo de distribuio do produto e tempo total de
viagem (intermodal).
(iii)Nvel 3 indicadores parciais dos sistemas de transportes.
So aqueles que permitem a avaliao do desempenho de cada uma das
modalidades de transporte que compem o sistema, como, por exemplo, taxa de
utilizao do navio, tonelada-milha transportada por ano e taxa de ocupao do bero.
(iv) Nvel 4 indicadores especficos dos componentes de cada modalidade.
So aqueles que permitem avaliar o comportamento de cada elemento
componente de determinada modalidade de transporte, como, por exemplo, nmero de
ciclos de guindaste por hora e tempo de estadia de uma embarcao.
pertinente destacar que, no presente trabalho, a abrangncia do modelo de
avaliao proposto enquadra-se no Nvel 4.
Dentre as principais caractersticas dos indicadores de desempenho dos portos,
podem ser destacadas (ANTAQ, 2003):
(i) Esto expressos em unidades de medida significativas para aqueles que vo utiliz-
los, servindo para fins de avaliao de resultados ou para subsidiar a tomada de
deciso;
28
(ii) So compostos de um nmero ou percentual para indicar a magnitude (quanto) e de
uma unidade de medida que d um significado ao nmero ou percentual (o qu);
(iii)Servem para detectar causas e efeitos de aes operacionais e administrativas;
(iv) Permitem qualificar os servios em cada porto, fazer comparaes evolutivas de
desempenho de cada terminal ou conjunto de beros, a comparao entre terminais e
conjuntos de beros de um mesmo porto, ou entre portos distintos, possibilitando
monitorar a evoluo do processo, com o estabelecimento de benchmarking.
ANTAQ (2003) prope e apresenta uma cartilha que orienta os gestores
porturios a acompanhar o desempenho dos servios dos portos brasileiros.
Infelizmente, grande parte dos portos do Brasil no segue s recomendaes da
ANTAQ e tampouco fazem uso de outras metodologias de avaliao de desempenho.
No que se refere s limitaes dos indicadores de desempenho correntes, pode-
se destacar:
(i) Apesar de propiciarem uma viso geral do desempenho do porto, os indicadores
operacionais no permitem uma compreenso da dinmica operacional do sistema;
(ii) Os indicadores operacionais apenas orientam os gestores do porto no que se refere
caracterizao do servio ofertado pelo terminal, no fornecendo sugestes para a
melhoria do processo;
(iii)Os indicadores operacionais no permitem que sejam idealizadas conjecturas
formais (cenrios) acerca do que pode vir a ocorrer em determinadas circunstncias
futuras.
Deste modo, justifica-se a busca de outras metodologias que permitam a
avaliao de desempenho de terminais porturios, visando uma complementaridade com
os indicadores operacionais preconizados pela literatura.
29
2.5.2 Modelagem matemtica e desempenho operacional Conforme reportam Paixo e Marlow (2003) e Marlow e Paixo Casaca (2003),
os rgos de administrao porturia e as universidades de todo o mundo fazem uso de
diversas metodologias para planejar e gerir as operaes de um porto, dentre as quais
podem ser salientadas: filosofia just-in-time, produo enxuta, gesto da qualidade total,
programao matemtica e simulao.
Psaraftis (1998) apud Rios e Maada (2000) enfatiza a importncia do
desenvolvimento de estudos com aplicao de tcnicas de Pesquisa Operacional em
problemas de movimentao de contineres em ptios porturios. O uso de tcnicas de
simulao tem sido freqentemente aplicado para planejar e gerenciar o sistema
porturio e auxiliar os executivos no processo de tomada de deciso.
Rios e Maada (2000) apontam que vrios estudos j foram realizados visando a
elaborao e a validao de modelos que possam diminuir tempo de operao de
equipamentos e, conseqentemente, o custo operacional de um terminal porturio.
Dentre eles, as tcnicas de modelagem matemtica mostram-se de grande valia para
auxiliar a tomada de deciso na gesto de um porto.
Um porto um sistema complexo que muda de estados ao longo do tempo, ou
seja, trata-se de um sistema dinmico. Os estados dos subsistemas do porto so discretos
e variam ao longo do tempo, condio que dificulta o estabelecimento de equaes
analticas que possam representar o comportamento do porto em operao.
Conforme Degano e Di Febbraro (2001), devido s suas caractersticas, um
terminal intermodal de contineres pode ser representado como um Sistema a Eventos
Discretos (SED), o que permite o projeto e a implementao de estratgias de controle
embutidas no prprio sistema.
Os trabalhos de Yun e Choi (1999), Legato e Mazza (2001) e Fernandes (2001)
apresentam modelos bastante atualizados de simulao em terminais porturios de
contineres. Estes modelos, alm de considerarem a aleatoriedade da operao do
30
sistema porturio, fornecem parmetros importantes para o gerenciamento do terminal,
tais como as taxas de ocupao dos beros e dos equipamentos.
Uma crtica a estes modelos que eles, apesar de utilizarem programas de
computador que permitem a visualizao da simulao da operao do porto, no
propiciam ao analista do sistema uma viso da estrutura operacional do terminal, bem
como dos seus possveis gargalos.
Degano e Di Febbraro (2001) utilizam um modelo baseado em redes de Petri
para diagnosticar falhas nas atividades de um terminal intermodal de contineres,
apresentando a tcnica supracitada como uma metodologia bastante promissora para
modelar a operao de terminais porturios.
Segundo Palomino (1995), as redes de Petri so um modelo do tipo estado-
evento, onde cada evento possui pr-condies que vo permitir sua ocorrncia e ps-
condies, as quais so, por sua vez, pr-condies de outros eventos posteriores. As
redes de Petri coloridas so uma evoluo deste conceito, facilitando a adio de
informaes ao processo de modelagem.
Costa (2002) apresenta as redes de Petri como uma metodologia para avaliao
de desempenho de sistemas logsticos, destacando, inclusive, a potencialidade da
metodologia supracitada na avaliao de desempenho de terminais porturios.
Conforme Prata et al (2005), o emprego das redes de Petri coloridas permite uma
modelagem mais compacta e abrangente das operaes porturias.
31
CAPTULO 3
REDES DE PETRI COLORIDAS
No ano de 1962, Carl Adam Petri defendeu na Alemanha, na Faculdade de
Matemtica e Fsica da Technical University of Darmstaldt, sua tese de doutorado,
sendo esta intitulada de Kommunikation mit Automaten (ou, em portugus,
Comunicao com Autmatos).
Anos depois, em um perodo situado entre o trmino da dcada de sessenta e
incio da dcada de setenta, Anatol W. Holt, fascinado pela originalidade do trabalho
proposto por Petri, reuniu-se com um grupo de pesquisadores do renomado
Massachussetts Institute of Tecnology MIT, situado nos Estados Unidos da Amrica.
O resultado desta parceria foi a idealizao das bases da teoria das redes de Petri como a
conhecemos hoje.
Desde ento, a teoria das Redes de Petri no tem parado de se expandir.
Pesquisadores do mundo todo tm trabalhado tanto com o desenvolvimento e
aprimoramento desta tcnica, como com sua vasta gama de aplicaes. Modelos
baseados nas redes de Petri so amplamente empregados em diversos campos de
conhecimento, dentre os quais podemos destacar as telecomunicaes, os sistemas de
manufatura e os sistemas de transportes.
Com a ampliao do desenvolvimento e da aplicao das redes de Petri na
modelagem de sistemas, muitos foram os estudos realizados objetivando mitigar as
limitaes da metodologia supramencionada. A concepo das redes de Petri de alto
nvel, dentre as quais se podem destacar as redes de Petri coloridas (RPC), ilustra o
grande progresso terico nesta direo.
As redes de Petri coloridas foram idealizadas por Kurt Jensen, pesquisador da
Universidade de Aarhus, na Dinamarca. Seu artigo, datado do ano de 1981, intitulado
Coloured Petri Nets and the Invariant Method foi um trabalho promissor, que induziu
uma srie de estudos sobre colorao das fichas.
32
Este captulo destina-se a fazer uma breve introduo sobre as redes de Petri
coloridas, buscando enfatizar a aplicabilidade dos conceitos explicitados. A estrutura do
captulo ser dividida em cinco sees, explicitadas a seguir.
Na primeira seo so apresentados conceitos bsicos para compreenso das
redes de Petri coloridas, tais como a teoria de sistemas a eventos discretos e as redes de
Petri ordinrias. Na segunda seo, as redes de Petri coloridas so apresentadas
informalmente e, na terceira seo, elas so apresentadas formalmente. A quarta seo,
por fim, introduz o conceito de multi-conjunto.
3.1 CONCEITOS BSICOS 3.1.1 Sistemas a eventos discretos
Um sistema um conjunto de partes, que interagem entre si, visando a
consecuo de um objetivo comum. De certo modo, este um conceito bastante
relativo, pois a delimitao de um sistema uma atividade subjetiva e depende sempre
de algum referencial. Por mais que se esforce em delinear um sistema, sempre existiro
sistemas que o englobam e sistemas englobados por ele.
De acordo com Palomino (1995), todo sistema apresenta os seguintes
componentes listados a seguir.
(i) Fronteiras: So os limites do sistema, que podem ter existncia fsica ou apenas
uma delimitao imaginaria para efeito de estudo.
(ii) Subsistemas: So os elementos que compem o sistema.
(iii) Entradas (inputs): Representam os insumos ou variveis independentes do sistema.
(iv) Sadas (outputs): Representam os produtos ou variveis dependentes do sistema.
(v) Processamento: Engloba as atividades desenvolvidas pelos subsistemas que
interagem entre si para converter as entradas em sadas.
(vi) Retroao (feedback): a influncia que as sadas do sistema exercem sobre as
suas entradas no sentido de ajust-las ou regul-las ao funcionamento do sistema.
33
Dada a complexidade de qualquer sistema, por menor que seja a delimitao
dada a este por aquele que o analisa, o nmero de variveis envolvidas no seu
funcionamento to grande que realizar uma anlise completa de tal conjunto de partes
pode ser uma tarefa impossvel. Sendo assim, cabe ao analista, aps a delimitao e
concepo do sistema, ponderar sobre quais variveis so mais representativas do
fenmeno que se pretende estudar. Tal conduta remete ao conceito de modelo, ou seja, o
modelo uma representao simplificada do sistema.
Em engenharia, existe uma ampla gama de sistemas nos quais se pode
estabelecer uma relao entre as taxas de variao das suas variveis de estado,
permitindo que tais sistemas sejam modelados por equaes diferenciais. Entretanto,
existem categorias de sistemas cuja complexidade limita ou impossibilita sua
representao analtica.
Conforme Ramadge e Wonham (1989) apud Deifan (1999), os Sistemas a
Eventos Discretos (SED) so sistemas concebidos pelo homem (man made systems) e
cuja dinmica dirigida pela concorrncia de eventos discretos a intervalos irregulares e
desconhecidos.
Segundo Cardoso e Valette (1997), sistemas a eventos discretos so sistemas
modelados de tal sorte que as variveis de estado variam bruscamente em instantes
determinados e que os valores das variveis nos estados seguintes podem ser calculados
diretamente a partir dos valores precedentes sem ter que considerar o tempo entre estes
dois instantes. Neste caso, as equaes diferenciais se mostram ineficientes para
representar o comportamento do sistema, sendo requeridos outros mtodos de anlise.
Exemplos de SED so sistemas de manufatura, redes de computadores, sistemas
de telecomunicaes e sistemas de transportes. Dentre as tcnicas de modelagem de
SED, podem ser destacadas as redes de Petri, os autmatos, a teoria das filas e as
cadeias de Markov. Para um aprofundamento na teoria de Sistemas a Eventos Discretos,
vide Cassandras e Lafortune (1999).
34
3.1.2 Apresentao das redes de Petri Segundo Palomino (1995), as redes de Petri (RdP) so um modelo do tipo
estado-evento, onde cada evento possui pr-condies, que vo permitir sua ocorrncia,
e ps-condies, as quais so, por sua vez, pr-condies de outros eventos posteriores.
A tcnica em questo pode ser vista como uma evoluo do conceito da Teoria
dos Grafos, pois nas RdP existem dois tipos de ns, denominados respectivamente de
Lugar P, e Transio T, e dois tipos de arcos (Pre e Post). Deve-se salientar que
uma rede de Petri um grafo bipartido, ou seja, s existem arcos ligando ns do tipo P a
ns do tipo T e vice-versa.
Formalmente, uma rede de Petri uma qudrupla (Cardoso e Valette,1997):
R = 3.1
em que:
- P um conjunto finito de lugares de dimenso n;
- T um conjunto finito de transies de dimenso m;
- Pre: P x T N a aplicao de entrada (lugares precedentes ou incidncia anterior), com N sendo o conjunto dos nmeros naturais;
- Post: P x T N a aplicao de sada (lugares seguintes ou incidncia posterior).
importante ressaltar que, na literatura, a nomenclatura da rede de Petri
apresentada na equao 3.1 pode ser explicitada por rede de Petri ordinria ou rede de
Petri lugar-transio (RLT). Caso a RdP modele um sistema real, ou seja, possua um
significado fsico, a rede pode ser denotada rede de Petri interpretada e, caso contrrio,
pode ser chamada de rede de Petri no interpretada. Como este um trabalho voltado
para uma aplicao prtica da metodologia em questo na operao de sistemas de
transportes, assume-se, nesse momento, que todos os modelos constantes no texto se
referem a redes interpretadas.
Uma Rede de Petri marcada uma dupla:
N = 3.2
35
em que:
- R uma rede de Petri;
- M uma marcao dada pela aplicao M : P N.
A marcao um nmero inteiro no-negativo associado a cada lugar, sendo
representada por um vetor n-dimensional:
M = (m1, m2, ... mj)T 3.3
em que:
mj = o nmero de fichas do lugar pj.
A rigor, a marcao um vetor coluna, sendo o vetor transposto ao vetor linha
apresentado na equao (3.3). Na prtica, usual ser omitida a denotao de vetor
transposto.
De acordo com Palomino (1995), a marcao num determinado instante
representa o estado da rede de Petri ou, mais precisamente, o estado do sistema descrito
pela RdP; assim, a evoluo do estado do sistema corresponde a uma evoluo da
marcao, a qual causada pelo disparo de transies como veremos posteriormente.
Um exemplo de representao grfica de uma rede de Petri apresentado na Figura 3.1.
(a) (b) Figura 3.1: Exemplo do disparo de uma transio
Fonte: YAMADA et al, 2001.
Os crculos representam os lugares, o retngulo representa a transio, as setas
que saem dos lugares e chegam na transio representam Pre, as setas que saem da
transio e chegam nos lugares representam Post e os discos negros representam as
marcaes. A estas marcaes damos o nome de fichas.