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NATALI SCHAUFFERT GARCIA
o L1VRO DIDATICO
Monografia apresentada comoavalia~ao final do Curso de P6SMGraduayao em Lingua Portuguesada Universidade Tuiuti do Paranapara obten~ao do titulo deespecialista.Orientadora: Denize Araujo
CURITIBA
2000
SUMARIO
CAPiTULO 1-INTRODUc;:AO 1
1.1 JUSTIFICATIVA.. . 1
1.2 PROBLEMA ..
1.3 HIP6TESE. ...
. 2
. 2
CAPiTULO 11- 0 LlVRO DIDATICO 6
2.1 TIPOS DE L1VROS DIDATICOS .
2.2 MODALIDADES DE TRABALHO .
2.3 0 L1VRO DIDATICO NO ENSINO DE 1.° GRAU ...
. 7
. .7
. 8
2.4 0 PROFESSOR E 0 L1VRO DIDATICO ... . 15
3 CONClUSAO 29
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 31
iv
CAPiTULO I
INTRODUGAO
1.1 JUSTIFICATIVA
Atrav8S do desenvolvimento da monografia "0 Livre Didatico" procura-
se a aprendizado teorico sabre a dificil proposta pedagogica de um conteiido
correto e atualizado do livro didatico, selecionado do vasto campo de
conhecimento em que S8 insere, par criterios rigor050s, para fins de formayao
escolar, apresentado sob forma didalica adequada aos processos cognitivos
pr6prios a sala de aula e as circunstfmcias sociais e culturais em que insere a
escola.
Procura-se atrav8S deste estudo identificar S8 0 livre didatico bern
elaborado segue os propositos e pressupostos metodologicos, como tambem se
existem considerac;:oes pedag6gicas a respaito de atividades especiais, sugest6es
pertinentes e atualizadas de leituras complementares para 0 professor. 0
professor ao ler urn livra didatico, e tambem 0 seu manual do professor,
certamente aprendera coisas novas e sentir-se-a estimulado a refJetir mais
profundamente sobre a sua pratica pedag6gica. Mas essa pesquisa conclui que 0
livro didatico possui graves erros conceituais, espantosa desatualizaC;8o de
conteudo e de metodologia e inaceitavel induC;8oa preconceitos.
1.2 PROBLEMA
o professor, em sala de aula, muitas vezes nao sabe como lidar com a
livro didatico, por nao conhece-Io suficiente. 0 aluno nao tem conhecimento sobre
a livro didatico, nao existe nenhuma discussao entre aluno e professor sabre a
necessidade de S8 adotar urn livre, e tarnbam 0 professor e a autor do livre
didatico nao S8 entendem quanta a defini9c31o de para quem 0 livro didatico deve
estar voltado, S8 para 0 professor ou para 0 aluno. A quantidade de livros
didaticos colocada no mercado brasileiro nao signifiea qualidade, e 8im
quantidade, e esta e a realidade brasileira do livro didatico. Existem varias
discuss6es sabre esse tema mas nenhuma conclusao sabre qual e a forma
correta de trabalhar com a livro didatico.
1.3 HIPOTESE
Se a livro didatico pade ser a suporte para a ensinar e a aprender e
integra qualquer planejamento de ensino voltado para 0 sucesso, entao a fun~o
do livro didatico como suporte do ensino esta diretamente relacionada ao conceito
de:
- Suporte - aquilo que sustenta algo;
- Suporte - aquilo em que algo se firma ou assenta;
- Suporte - material que serve de base.
A partir deste conceito, poder-se-ia dizer que 0 livre didatico e aquilo
que au quem externamente sustenta 0 ato de aprender e ensinar, aquila em que
ou em quem 0 ate de aprender e ensinar se assenta, aquilo que ou quem serve
de base para 0 ate de ensinar e aprender.
Na medida em que 0 professor esteja preparado para entender, avaliar
e indicar 0 livro didatico podera entao contribuir para a reintepretaryao dos
objetivos de en sino constantes da proposta curricular.
Se 0 livro didatico tern fun<;6es bern definidas, entao a grande fun<;ao edar apoio ao estudante para que este possa complementar, solidificar e aumentar
suas informat;;oes. Para isso, 0 livro didatico deve se dirigir ao aluno e nao ao
professor, deve ser de facil compreensao, ter uma estrutura 16gica denlro do
assunto tratado.
o mercado brasileira da editorat;;ao do livra didatico e muito maior que
em qualquer pais desenvolvido, impossivel sup~r que tenhamos urn numero tao
grande de autores em condit;;oes de produzir livros de boa qualidade de um
genero tao cornplexo e dificil como e a livro didatico. Mas e razoavel dizer que
mais uma vez vale 0 dito popular de que quantidade nao e qualidade.
A justificativa do projeto de lei do Senado nD 54 de 1997, e que a
compra de livres didaticos, quer pelas familias, quer pelo poder Publico no Brasil,
tern sido onerada pelo desperdicio. Livros destacaveis, atualizayao e
modifica<;6es de pequena escala e condi<;6es inadequadas de apresenta<;ao e
acabamento tern levado 0 Estado e as familias a despenderem mais recursos do
que seria razoavel. Com iSso, nos distanciamos ainda mais da democratiz8t;;aO de
oportunidades educacionais, numa sociedade onde sabidamente, nao pelo merito,
mas pelas possibilidades financeiras, uns tern muito mais chances do que outros
para iniciar e prosseguir na trajetoria educacional.
Questionamos esta justificativa do Estado com as seguintes perguntas:
- pode um livro didatico ser "descartavel"?
- quando se fala de pequenas modificag6es, lembramos que nossa
lingua portuguesa e muito rica e que um simples ponto e vlrgula, ou
um travessao altera substancialmente 0 senti do da frase.
- quais as normas em vigor para a publicagao do livro didatico?
- e como estao sendo fiscalizadas estas normas?
Assim, pode-se verificar ser injusto criticar somente 0 professor, a livro
didatico ou mesmo a aluno como responsaveis pel a fracasso escolar, pais
devemos ter uma visao global da situagao da publicayao do livro didatico no Brasil
atual.
Este trabalho tem como objetivo geral a pesquisa sabre a livro didatico
de primeiro grau, se ele realmente esta cumprindo a seu papel de suporte ao
ensino e tem como objetivo especifico responder a pergunta: "0 livre didatico nao
e didatico?" Qual a realidade local e nacional da praticidade e assimilagao do
professor/aluno, no livro didatico? Tema de alta indagagao, pois 0 livro didatico
deveria servir de suporte para 0 professor, mas, isso nao vem acontecendo
porque, ao utiliza-Io como apoio, 0 professor acaba se alienando visto que se
acomoda ao que vem pronto e nao se questiona a respeito de como poderia obter
maior participayao do aluno.
Para uma analise sobre 0 assunto temos tambem que verificar as
formas de elaboragao do material didatico, e efetuarmos perguntas como:
- 0 professor sabe avaliar um livro didatico?
- quais as rnaneiras/topicos para avaliar urn livro didatico?
- todos as livros colocados no mercado sao didaticos?
- 0 que 0 livre didatico deve indicar para: a professor e 0 aluno?
CAPiTULO II
o LlVRO oloATICO
E conveniente que 0 professor, no principia do ano, junto aD
planejamento de curso, escolha cuidadosamente, urn livro para ser adotado em
ciasse, como auxiliar de estudos de seus alunos.
Certamente que, com a adoc;aodesse livro, nao deve haver submissao
ao mesma, nem mera repetigBo em aula, de suas paginas. Neste case, seria
dispensavel a presenva do professor. Nao deve haver tarn bam, par parte do
professor, aquela atitude tao generalizada e que tanto confunde 0 alune de
alheamento ao livro, dando a entender que tudo 0 que consta no livro esta errado
ou nac e bern assim e 56 a palavra do professor asta carta.
o livre dave ter uma utilizac;ao conveniente para servir de orientador,
de auxiliar nas praticas e exercicios. IS50 porque e indispens8vel a adogao de urn
bom livro, para orienta9ao dos estudos dos alunos e planejamento do professor.
2.1 TIPOS DE LlVROS DIDATICOS
Diego Gonzales, em sua Didactica General, aponta quatro tipos de livro
did<itico:
a) livro-texto ou livro de ensina, devendo canter a materia a ser
lecionada;
b) livre de trabalho, que S8 destina a estimular e a dirigir 0 aluno em
trabalhos livres e criadores. Apresenta problemas, mostra
experiencias, provoca observa90es, induz a forma~o de cole96es e
a realiz8980 de rever a definic;ao, divisao, desenhos, exercicios etc.
Sao as workbooks dos american os;
c) livro de vivencias, que busca identificar 0 leitor com as cenas
relatadas, sempre de fundo educativo. Procura realizar urn
ensinamento vivo de amor a natureza, ao proximo etc;
d) livro de instruc;ao programada, escrito com base na instrur;ao
programada. Essa modalidade de livro S8 aproxima bastante do
livre de trabalho, 56 que e mais completo, urna vez que tambem
conduz 0 educando a aprender novos conhecimentos e auto-
avaliar-se.
2.2 MODALIDADES DE TRABALHO
a) tratado ou compendio, que contem os principais conhecimentos
referentes a um setor do conhecimento ou de uma disciplina' -,-....",SIOADf\\~~ ~~ ~
::::I BIBLIOTECA :::
'~
b) monografia, que estuda em profundidade um assunto bem restrito de
urn setor de conhecimento;
c) simposium, que eontsm trabalhos de varios autores sabre urn
mesma assunto, mas de pontcs de vista au de setores diferentes;
d) textos seleeionados, publica9iio tipo antologia, reunindo
contribuic;6es de diversos autores, tratando partes diferentes de
urna mesma disciplina.
Urn born livro didatico par raz6es econbmicas do aluno, poderia
procurar atender as quatro modalidades de trabalho aeima expostas.
Deve, tambem permitir 0 avan9Q nos estudos de um aluno mais
adiantado e interessado na materia. Mais ainda, representa urna seguranC;:8 para
o aluno que passe a ter ende estudar, mesma quando tenha de faltar as aulas.
Diz PLANCHARD, em sua Pedagogia Contemporanea, que 0 livro pode inieiar 0
aluno no trabalho intelectual e tentar a sua Iiberta9iio cultural quando ele aprender
a recorrer aos livros e a consultar bibliografia. Declara mais: que 0 livro didatico
pode libertar tambem 0 aluno do professor desde que 0 aluno chegue a aprender
par si e a recapitular 0 que ja foi estudado.
2.3 0 LlVRO DIDATICO NO ENSINO DE l' GRAU
o livre didatico e urn importante material, apropriado para transrnissao
de conhecirnentos, criado pela necessidade de modernizar 0 en sino. Os livros
geralrnente sao apenas urn dentre os componentes de uma situagao de
aprendizagem. 0 livre didatico, enquante instrumente educacional, permite a
passagem da cultura escrita, pOis transmite aos alunos uma lingua oficial na
forma de seu padrao cutto.
"0 livre did.tico e parte do arsenal de instrumentos que compoem a
institui~o escolar, parte asta, par sua vez, da polftica educacional, que S9 insere
num contexte historico e social" (CANDAU, 1991).
Assim, naD surpreende que uma das melhores defini<;oes sabre 0 livra
did.tico e suas fun~oes, em 1961, foi 0 texto de Renato FLEURY(1961): "0 livro
didatico e uma sugestao e naD uma recaita". Nao pode portanto, substituir 0
professor.
Suas fun90es consistem em padronizar e delimitar a materia;
apresentar aos docentes metodos e processos julgados como eficientes pelos
seus autores, para melhorar as resultados do ensina; e colocar 80 alcance dos
alunos estampas, desenhos, mapas e textos de dificil acesso ou muito raros.
S8 a mudanr;:asocial e continua e rapida, rapidas e continuas devem
ser as adapta<;6es Gulturais, funcionando 0 livra como urn laborat6rio de ideias
que possibilita a jogo complexo das associac;:6es,a analise do universo cultural, 0
confronto de diferentes pontos de vista. Par meio da palavra escrita, au seja, 0
livro didatico podemos nao somente adquirir cultura como tambem modifica-Ia,
recria-Ia, amplia-Ia.
A grande capacidade humana e recriar. 0 repasse do patrimonio
cultural e tambem uma func;aoespecifica e fundamental da escola e a livro e um
grande carregador de patrimonio e pode se prestar a urn rico exercicio de
discussao e troca.
10
Alem disso, ensinar a tar exige 0 cantata. 0 livre e fonte, par pi or que
seja, e objeto de consulta, e inlormayiio e ponto de vista.
o livre didatico portanto nao constitui urn tim em si mesma, mas deve
estar a servigo do professor e do aluno.
Devemos eli minar, au pelo menes reduzir a possibilidade do livra ser
mera instrumento de massific8980 desumana e fazer deste urn instrumento de
diversificayiio, de individualiza<;:ao cultural, de atua<;:ao de cada ser humano, de
acordo com as potencialidades e necessidades que ests apresenta.
Na escota, a livro passa a ser mais urn instrumento de trato com a
realidade, na formag8o de padr6es de born g05tO literario dos alunos,
desenvolvimento de habilidades como analise literaria e leitura expressiva e
tambem 0 usa da palavra escrita em redac;6es e pequenos contos. Essa
multiplicidade de tarelas requer 0 eslor<;:o conjugado de todos os prolessores,
independentemente da area de conhecimento ou da serie escolar em que
trabalham.
Vamos destacar mais algumas fun90es que os livres podem
desempenhar como instrumento de educac;ao:
a) dao organizac;ao ao curso, suprindo os conteudos basicos e
proporcionando material comum para aprendizagem dos alunos;
b) a utilizac;ao diaria do livre na escola contribui para 0
desenvolvimento da capacidade de ler do aluno, possibilitando 0
aumento do vocabulario, leitura com rapidez, mais compreensao do
que se Ie e mais faciJidade em seguir instruyOes escritas.
11
Os motivDs que marcam a preseny8 dos livros didaticos nas escolas,
segundo Maria Laura P.B. FRANCO sao:
• estao de acordo com as pro pastas curriculares;
• facilitam a trabalho do professor;
• ajudam na elaborac;ao de provas;
• facilitam 0 trabalho de grupo;
• sao tontes de consulta para maioria dos alunos.
o livro didatico e urn instrumento real, na situ8c;ao concreta de sala de
aula. Portanto, nao S8 trata, simplesmente, de nega-Io, abolindo-o au
modificando-o de uma s6 vez. Ele e muito util. No entanto, e preciso usa-Io com
competencia.
o primeiro passo e recoloca-Io em seu lugar, au seja, 0 livro didatico
deve tsr papel acess6rio na situagao onde a elemento fundamental e a relay80
professor-aluno.
Ao estudarmos as auto res que S8 dedicaram a analise do canteudo do
livre didatico, notamos que ha aqueles que estao preocupados em analisar a
fundamentac;ao pedagogica, psicologica, lingOfstica dos textos e as que se
preocupam em revelar valores, preconceitos e concepc;6es ideologicas contidas
no livre didatico.
Entre os autores que discutem os aspectos psicopedagogicos e
lingOfsticos, ha uma enfase visfvel na teoria cognitivo-estrutural, em detrimento da
linha behavorista ate recentemente predominante.
12
Essa teorizac;ao fornece criterios mais cientificos para avaliar e criticar
as contslIdos dos livros didaticos, que par sua vez ainda nao absorveram em sua
organiz8C;8o e formas de transmissaa do conhecimento as novas ensinamentos
de PIAGET, CHOMSKY, FERREIRO e oulros. Os livros did<iticos apresentam,
alem de conteudos correspondentes a objetivos cognitivos, conteudos nem
sempre aparentes, mas ainda assim, identifrcaveis, que correspondem a padr6es
de comportamentos, valores e expectativas culturais representativas do dominic
dos objetivos afetivos (FARIA, 1989).
Varias pesquisas foram feitas no sentido de analise crftica dos textos e
conteudos que os livros didaticos apresentam. Uma delas foi realizada par urn
grupo de pesquisadores da Universidade Federal Fluminense junto aos alunos de
10 Grau, as quais consideram:
a) textos soltos e incompletos;
b) incoerencias entre 0 texto e ilustrar;6es;
c) erras, tracas ou omissao de palavras;
d) textos que tratam de realidades sociais extremamente diferentes das
dos alunos;
e) uso de palavras e conceitos desconhecidos sem explicar assuntos
novos;
f) cobranc;a da compreensao do texto mediante exercicios cujas
respostas se encontram prontas, bastando copra-las;
g) explica¢es longas mas que enrolam, enrolam e nao dizem nada.
13
As pesquisas e estudos que vern sendo desenvolvidas no pais vern
demonstrando que, de modo geral, as livros didaticos disponfveis deixam muito a
desejar. Em grande parte essas deficiencias S8 devem a problema de conteudo
errado, insuficiente, demasiado, inapropriado; a problemas de estrategia au
processo, lalla de uma proposta, teoria ou postura psicopedagegica; e a latta
sistematica de avaliac;ao dos livros dentro de contextos reais nos quais deveriam
sar utilizados com sucesso. 0 fracasso do processo escolar, par Qutro lado,
demonstra que a livro didatico tern contribuido muito pouco para a melhoria da
qualidade do ensino.
o livro de Maria BONAZZI e Umberto ECO(1972) traz a analise do
conteudo do livre didatico, utilizando texles lilerarios e desmascarando 0 arcaismo
e a carga ideologica. "Mentiras que parecem verctades" reune textos de manuais
italianos de iniciayao em leitura que expressam uma replica de imitayao
contestayao:
A imitaqao observtwe/ na montagem da obra m30 reverencia os mode/osoriginais, levando antes a leitura risivel de uma parddia denunciando"imbecilidades solenes" que nos inculcaram nas esco/as abusando daingenuidade do leitor infantil. Sob esse aspecto, para 0 leitor brasileiro naosera dificil associar as textos ifafianas as imbecilidades escalares nacionais(FERACINE, 1990).
Na obra de Maria de Lurdes Chagas Deire NOSELLA, apresenta-se
uma vi sao irreal contida nos textos de leitura do 1°. Grau. A autora esta
consciente de quanto os adultos podem realizar tarefas antieducativas sobre os
educadores ao tratarem assuntos de uma "cultura erudita" espelho da pr6pria
ideologia dominante, atraves dos textos. Em seu trabalho, a autora examinou
cerca de 20.000 paginas de livros didaticos do 10Grau. Acresce.p:~\I'8.a:,,:O livro_~J-;'\ J( l'q.-' c"'~ ~'" BIBLIOTECA -s.,••.•~•••.•.~••••••s•••••
14
didatico e introduzido nas escolas com a func;ao prec[pua de veicular a ideologia
dominante" (FREITAG, 1989),
Ao analisarmos a obra "Ideologia no Livro Didatico" > percebemos que a
autora, examinando titulos varios da 2.a a 4.a series do 1.° Grau, considera 0
conceito "Trabalho" apresentado em livros didcHicos, reprodutor da ideologia
burguesa ignoranda a classe operaria. Considera tambem que 0 professor deve
S8 preocupar em articular os conteudos de maneira sabia, conhecendo sua
clientela e reflelindo sobre a contradir;80 discurso versus vivencia. "Educar etransmitir ideias, conhecimentos que atraves de uma pratica podem transformar
au conservar a realidade. A educac;ao, portanto, e mediac;ao entre leeria e
pratica"(FURLANI, 1988),
Atraves dos conteudos eseolares sao transmitidos os mais variados
valores, que na maior parte das vezes, sao eonservadores a respeito dos varios
elementos da vida social. Sao preeoneeitos com os quais nem sempre
eoneordamos. Os livros didatieos estao repletos, implieita ou explieitamente,
desses conteudos ideol6gicos.
Que 0 eonteudo nao 56 traduz a ideologia do autor como ajuda a
formar a ideologia do leitor pareee nao haver duvidas. Pesquisas de mereado
elaboradas na UNICAMP nos dao uma visao de como sao apresentados os
eonteudos nos livros didatieos de algumas areas de ensino no 1.° Grau. Em
Estudos Soeiais constatau-se que embora a conteudo seja frequentemente
omissa e ate mesma deformadar, 78,6% dos professores, entrevistadas par
Eloisa de Mattos Hofling, seguem exclusivamente 0 livro didatico, Na area de
CiEmcias, ao aluno nao e solicitado a pensar de forma criativa, pois nao coleta
15
dadas, elabora conclus5es, deve apenas memorizar 0 conteudo. Varias pesquisas
apontam nessa direC;Bo e assim continuando paraee dificil que a escola comum
possa ajudar a formar futuros cientistas ou ate mesmo, seres com capacidade de
pensamento critico. Na area de Portugues, as livros trazem textes literarios para
serem lidos pelos alunos, seguidos de exercfcios destin ados a avaliar a
compreensao da leitura ou ensinar noc;oes de gramaticas e literatura. Na seleg8.o
do conteudo veiculado parecem estar total mente ausentes criterios definidos. Nac
existe nenhum criterio conhecido para estabelecer a adequayao de urn texto a
uma determinada serie escolar, quando S8 trata do grau de dificuldade e interesse
apresentado pelo texto.
Portanto, existem criticas e mais criticas quanta aos conteudos dos
livros didaticos. Mas por isso vamos aboli-Io? Nao. 0 interessante seria planejar
uma a<;ao, conhecer a realidade e transforma-Ia, mesmo que tenhamos adisposi,ao um instrumento considerado insignificante e cheio de falhas, 0 qual
podera tarnar-se rico, se 0 professor sauber como utiliza-Io.
Assim, importa que os professores estejam preparados para exercer a
docencia, estejam cientes de que quanto mais se preparam em termos de
conteudos e habilidades, tanto maiores serao suas possibilidades de exercer a
profissao da melhor forma possivel.
2.4 0 PROFESSOR E 0 LlVRO oloATICO
Tem-se question ado muito 0 papel do livro didatico como agente
especifico do ensino. WEste e 0 principal recurso utilizado pelo professor,
16
determinando desde 0 programa a ser cumprido ate as atividades diarias de sala
de aula" (OLIVEIRA, 1984; PIMENTA, 1985).
Dada a importancia do livro como instrumento de ensina, sle deve ser
tratado como estando a servigo de uma relag80 entre professor e aluno. Ele epensado como instrumento com dupla funy8o: a de transmitir urn dado conteudo e
de possibilitar a pn§tica do ensine.
o livro em si, mal trabalhado, ao inves de levantar questoes que levem
o aluno a pensar pode bitolar e impedir a troca, a discussao e 0 aprofundamento
dos temas.
o professor e sempre urn elemento essencial nas situag6es de
aprendizagem, nao podendo jamais ser substituido pelo livra didatico, nem este
dever tornar-S8 exclusivo nas aulas, com prejuizQ da explicayao de recursos
tambem valiosos.
as livres didaticos sao escolhidos porque facilitam a trabalho de
professor, ajudam na elaborac;iio de avalial'oes, facilitam trabalho de grupo e sao
fonte de consulta para a maioria dos alunos. Portanto, 0 livro didatico e um
elemento facilitador da aprendizagem.
o que se tem visto e que 0 livro didatico nao e considerado como um
elemento de democratizac;ao do ensino. Os alunos passam a te-Io como unico
recurso, onde falta a extrapolac;ao de conhecimento, desenvolvimento de
habilidades voltadas para 0 conhecimento da realidade, para a capacidade de
refietir criticamente sobre ela e para situar;ao social transformadora. "[... ]Livro
didatico, um instrumento que pode auxiliar 0 professor e 0 aluno no processo da
l7
agaD educativa. Mera instrumento que par si 56 naG provoca transformac;6es"
(MACHADO, 1982)
No ens ina escolar, a professor e 0 emissor principal, pOis ele e 0
respons8vel pela transmissao de urn determinado conteudo a uma determinada
turma de alunos. Ele faz usa do livra didatico para auxilia-Io nesse processo de
comunic8<;ao de mensagens. Par vezes chega a fazer do conteudo dos livros
didaticos 0 seu pr6prio conteudo.
Par isso, 0 livra didatico nao e urn fim em si mesma, mas urn
complemento aD trabalho global dos professores e alunos, e urn meio de
comunic8c;ao atraves do qual a aluno recebe a mensagem escolar.
o livra didatico naG deve ser tratado como instrumento descartavel no
processo de ens ina. Ele e urn instrumento importante, desde que tern a
possibilidade de registrar e manter registrada, com fidelidade e permanencia, a
mensagem. 0 que esta escrito permanece escrito; nao e tao perecivel quanto a
mem6ria viva. Atraves do livro, 0 educando tera a possibilidade de consultar
quantas vezes quiser, ou necessitar, ° conteudo ensinado na sala de aula.
Portanto, 0 livro didatico e uma pec;a importante no processo de
comunicac;ao escolar. Cabe ao professor saber como utiliza-Io. 0 que acontece eque, para 0 professor, e muito comodo a adoC;ao de livros que contenham
modelos, exercicios diretivos e ilustrayoes que explicam 0 conteudo. Sem esforyo
nenhum as tarefas sao cumpridas e com alto indice de acertos. Mas 0 resultado
desse tipo de ensino e a memorizayao, deixando de lado a compreensao, 0
espirito critico e a transformaC;ao. S6 0 professor, que as custas de urn intense e
16
prolong ado condicionamento acredita que aprender e decorar e nao pensar, nao
criticar, pade aceitar urn livro alienante e alienado.
Para a grande maieria de professores, a ausemcia do livro significa urn
desnorteamento. Ele e, antes de tudo, uma resposta a inseguran9-3 do professor,
que pode conduzir a aula a partir do livre. As proprias quest6es destinadas aos
alunos ja vern respondidas no manual.
E preciso, contudo, encarar a aprendizagem como urn processo, e
dentre as varias teorias de aprendizagem que procuram explicar como S8 da esse
processo, vejamos a que diz PIAGET(1972): A aprendizagem e um processo que
S8 da de forma gradativa a partir de tracas do individuo com 0 meio. Nao importa
S8 0 aprendiz e adulto au jovem 0 processo e 0 mesma e S8 caracteriza pelo
alongamento das estruturas menta is, que conjugando a novo com a ja conhecido,
incorpora-o dando-Ihe um sentido proprio
. No trabalho do professor em sala de aula tem-se percebido no uso de livros
didaticos, urn enfoque que, longe de se preocupar em transformar a
aprendizagem em alga mais significativo, proporciona nos alunos a aquisiC;80 nao
critica dos conhecimentos e de autornatismos.
o conhecimento dos conteudos veiculados pelos livros representa uma
etapa num processo de refiexao rnais amplo sobre a sociedade em geral, a
instituic;ao escolar em particular, e as suas rnutuas relac;oes. Segundo essa
perspectiva "0 livro didatico tern sido utilizado para situar a escola face a
transforma90es socia is" a ~ideologia subjacente aos textos" e aDs valores rnais
enfatizados pelos manuais escolares"(FREITAG, 1989).
Par autro lada, Ana Lucia G. de FARIA cansidera que:
19
o livre didtltico como urna das manifestaqoes da ide%gia da classedominante, pode ser considerado mentiroso, arcaico e fa/so. A ide%giaburguesa, atraves do livro dkJtJtico, contribui para justifiear e manter arealidade, reproduzindo-B. A contradiqBo realidade-discurso encontrada nolivre didatico e propria da ide%gia burguesa, e urna influencia antidialeticasabre 0 pensamento. 0 que ocorre e que a ide%gia dominante considera aproduqao intelectual au!onoma e desconhece a base material como instanciadeterminante. Atraves do livro didatico permanece a manutenc;ao deinteresses da c/asse dominante ignorando os interesses da c/asse opercuia(FARIA. 1989).
Notamos que urn material que deveria trazer conteudos para 0
desenvolvimento da aprendizagem, esla recheado de ideologias e falhas. Ah~m
disso, 0 livro didatico nao e vista como instrumento auxiliar de trabalho, mas como
autoridade, criterio absoluto de verdade, 0 padrao de excelencia a ser adotado em
sala de aula e e urn otimo instrumento para 0 professor que nao prepara aula,
acomodado e inseguro.
Na sala de aula, uma das estrategias do professor poderia ser a
utilizac;ao de diversos Itvros didaticos e tambern outros materiais impressas e
estes serem acervo de pesquisa e aprofundamento de conhecimentos da classe,
mesmo que haja livro roteiro.
2.4.1 Aprendizagem dos alunos
Quando e alune vai a escola, dele se espera que aprenda tudo que Ihe
for ensinado pelos professores, ou seja, aprender e estudar tudo 0 que 0
professor Ihe ordenar. Urn professor descomprometido e despreparado diz ao
aluno: "estude 0 capitulo tal para amanha". Ao aluno resta apenas obedecer.
Vemos entao. a lalla de motiva9ao nos alunas que por si s6. mio tern habilidades
de estudo pel a lalla de interesse e pobreza de conteudo. A elicacia das aulas
20
dependem da qualidade como sao apresentados os conteudos a serem
ensinados atraves dos livros didilticos ou mesma fora deles.
Decorar urn texto e bastante diferente de, par exemplo, comparar
informac;6es obtidas num texto au mesmo em textos diferentes. Analisando pianos
de ensina. guias curricula res e materia is afins, percebe-se que a enfase dos
objetivos apresentados e colocada quase sempre na aprendizagem a partir de
textos, uma vez que 0 leitor capaz desse desempenho torna-S8 independente e
aprende a aprender. E duvidoso, entretanto, que os textos colocados a dispcsic;ao
dos alunos facilitem urn estudo independente au mesma conduzam 0 leitor,
futuramente, a independencia como aprendiz. E igualmente duvidoso, ainda, que
as alunos aprenctam sequer a conteucto apresentado em muitos livros didaticos
existentes no mercado.(MOLlNA, 1987).
Ha livros dididicos que, muitas vezes, apresentam exercicios, cujas
respostas dependem apenas da transcri9ao de palavras do texto para outro
espar;o. Estes nao produzem resultados interessantes no sentido de levar 0 aluno
a aprender, e aqui devera entrar a atuar;ao do professor, descobrindo maneiras
de articular 0 que esta sendo ensinado com a realidade critica. Quando 0
professor nao tern essa vi sao, isso se torna problema, porque 0 aluno acerta as
respostas copiando e con segue chegar ao final do ano letivo aparentando um
conhecimento que nao tern, sem mesmo ter desenvolvido habilidades que
necessita, pois tao somente aprendeu a preencher livros.
o que seria aprender? Existem duas possibilidades: a memorizagaa au
a compreensaa. Na memorizayao 0 aluno aprende "de cor", para 0 imediato e nao
para a vida, 0 que aeonteee quando os alunos sao ensinados para uma avalia¢o
2]
conteudista. Na com preen sao, 0 resultado e mais amplo, e a base necessaria
para alcangarmos Qutros objetivos. Nessa SitU8g8o S8 requer que 0 professor
saiba articular a interdisciplinaridade, estabelecer a relag80 entre as pr6prias
atividades de identific8r e compreender. Da compreensao leva-s8 0 aluno areflexao e desta a transformag8o.
Muitos professores, 80 final do ana lativa, decidem trocar 0 livra
dididico em usa, baseados nas evidemcias de que ale deixou a desejar em
materia de resultados de aprendizagem. Pode ocorrer que 0 substituto apresente
os mesmos defeitos do substituido, a que 56 sera percebido, muitas vezes, ap6s
urn ana de usc, repetindo sempre urn cfrculo vicioso.
Percebemos que em muitos cases 0 livro didatico e um problema para
o sistema educacional, quando deveria ser uma fonte rica para transformar ideias
e melhorar a cultura estudantil. Espera-se do professor um preparo adequado,
forga de vontade para lutar em dar 0 melhor de si visando obter alunos aptos,
cidadaos do amanha capazes de transformar a sociedade.
o livro didatico e um veiculo de comunicagao importante dentro do
sistema de ensino: porem nao pode ser assumido acriticamente. Deve ser
selecionado e utilizado de forma crftica para que nao sirva de veiculo de
conteudos, metodos e modos de pensar que estejam em defasagem com a
perspectiva que desejamos adotar. 0 professor deve estar atento aos textos
didaticos e utiliza-Ios de forma crftica para nao ser enganado e para que na~ faga
seus alunos se apropriarem de conteudos errados, ultrapassados e perspectivas
ideologicas preconceituosas. 0 educador deve ter sempre em mente que uma
22
publicada que e verdadeira. Ela necessita passar pelo crivo das criticas dos
educadores.
Em alguns cases, as conte Lidos abordados no livro didatico nao
satisfazem diante daquilo que a ciencia ja produziu e que nossos alunos
necessitam e merecem reeeber. Aqui e acola, encontramos livros didaticos que
simplificam os conteudos de tal forma que nao auxiliam em nada as alunos a
entenderem melhor a mundo, a elevarem seu patamar de compreensao da
realidade. Qutras vezes, esses livros traz8m conteudos secundarios, que ocupam
tempo de ensina do professor e de estudos dos alunos, que poderiam ser
aproveitados em conteudos e atividades essenciais e significativos. Ainda ha
casas de alunos que sao reprovados par causa desses conteudos secundarios,
pais ha professores que, por nao assumirem uma posi~ao critica, exigem que
seus alunos deles se apropriem.
2.4.2 Postura do professor
o livro didatico poderia ser diferente, mas exigi ria um professor
diferente, assim como este professor diferente saberia fazer bom uso ate mesmo
do livro didatico considerado reprodutor da classe dominante. 0 novo professor
preocupar-se-a em conhecer 0 conteudo do livro didatico e com as informa~6es a
serem transmitidas, despertando 0 estudante para refiex6es, para curiosidade
cientifica, pesquisa e leitura. Desenvolvera seu raciocinio a fim de que possa
manipular novas informa~6es, aguyara 0 seu espirito critico e permitira 0
desenvolvimento de sua criatividade.
23
Segundo OLIVEIRA e GUIMARAES(1984) "pode-se afirmar que os
professores tendem S8 constituir em importante for~ de imobilismo social".
Haveria inumeras possibilidades de urn born professor, usanda urn mau
livre didatico, desenvolver urn excelente ensina e prom over urn extraordinario
aprendizado. Muitos professores, porem, sao simples executores do livro didatico.
A soluj:faoseria investir no prepare do professor atrav8S de cursos de
capacitay80 nos quais ele tenha espayo para descobrir que e capaz de construir
conhecimentos, ser urn elemento alivQ de sua propria aprendizagem, com sede
de querer crescer.
o professor e essencial nas situ8c;oes de aprendizagem, nao podendo
jamais ser substituido pelo livro didatico. nem este deve tomar-se exclusivo nas
aulas, com prejuizo da explora9fio de recursos tambem valiosos. De posse do
conteudo, a materia prima, cabe ao professor escolher seus instrumentos sendo
que 0 livro didatice pede ser urn deles, como tambem pode sar urn recurso
descartado por ele.
o professor pode funcionar como urn elemento de pressao, ainda que
indireta, levando 0 aluno a adotar uma postura critica, menes passiva, perante os
conteudos veiculados pelos livros didaticos, fazendo comparac;ao com a realidade
social rnais ampla. "0 professor qualificado e de born nfvel recorre a outros
materia is didaticos e recursos, como literatura, dicionarios e documentos
constantes das bibliotecas escolares ou retirados de outras bibliotecas publicas
disponiveis" (FREITAG, 1989).
Eo importante que 0 professor conhe9a 0 conteudo do livro, para que
possa usa-Io de varias forrnas no dia-a-dia. 0 livro did:ilico pode ser rnais urn
24
campo para atu8C;80 do professor que lutara em transforma-lo durante seu
trabalho, num livro que eduque e ensine a aluno.
E necessaria que a professor perceba 0 contraste entre 0 conteudo do
livre e a vivencia dos estudantes, para que possa criar novas situ8c;oes de
aprendizagem e permitir que 0 aluno reelabore as novas informac;oes em relaC;8o
aos interesses de sua classe.
o professor qualificado pode tirar muito proveito dos livros que utiliza;
as informagoes contidas nestas obras poderao agir como refon;:o oferecendo os
seguintes conhecimentos: desenvolvimento das habilidades motoras, construyao
de objetos e prepare de materiais. 0 professor, tendo acesso a esla culture
didatica reforgara ainda mais a sua pn3tica diaria, contribuindo para aulas mais
dina micas e proveitosas para as seus alunos.
o professor que faz seu plano de curso, deve tra9ar seus objetivos de
ensino equal e a tipo de cada objetivo (cognitivo, afetivo au motor) e verificar que
recursos disp5e para atingi-Ios e explora-Ios.
Quanta ao desenvolvimento da habilidade de leitura e importante que a
professor procure orientar as diferentes formas de leitura, sempre buscando a
inova~o, exploraC;8o e transformac;8o. Em lugar de trazer resolvidos os
problemas existentes no textc, professor e aluno devem procurar resolve-los. E
preciso evitar ser instrumento de doutrinamento autoritario, assumindo papel de
orientador.
o professor pod era desenvolver a criatividade nos alunos, durante os
anos de ensina no 1.° Grau, utilizando sabiamente as livros didaticos. Par Dutro
25
lado, somente com Ilvros nac S9 desenvolve a criatividade pois e importante a
participayao crftica.
Fala-se muito na qualidade da educa<;iio e essa responsabilidade
pertence primordialmente ao professor, que niio pede prender-se apenas ao livro
didatico. 0 educador deve superar deficilmcias do livre didatico para justificar sua
presen9a em sala de aula.
Assim coloca Geralda Caldeira SOARES: "Um bom livre niio impede 0
professor de explorar as assuntos de acordo com sua criatividade e a realidade
de seus alunos. Pelo contrario eonism urn manual com orientar;ao eficiente no
que S8 refere a objetivQs, metodos e instrUl;:6es para 0 usa do livra do aluno, com
sugest6es de estrategias de enriquecimento e ampliayao das atividades,
bibliografias e informac;6es complementares; nac exclui as expectativas e
curiosidades dos alunos; naD enfatiza a memoria e sim a reflexao; prioriza
sobretudo a utillz8C;80 das situ8c;oes de vida, estimulando questionamentos a
respeito do mundo, condiyao indispensavel para a constru9Bo do conhecimento".
2.4.3 0 professor e a escolha do livre didatico
Ao professor deve ser dado a direito de exercer a sua autonomia para
a escolha e ado~o do livro didatico, sua utiliza9Bo au nBo. A ele tambem deve
ser dada a orienta9BO eficiente para que possa discutir e estabelecer criterios que
auxiliem na conceitua9Bo, analise e utiliza9Bo adequada dos livros.
Barbara FREITAG(1989) relata que:
Os professores nao fazem as suas escolhas baseados com argumentosprop6os, e/aborados com base em entenos decommtes de sua expenenciaproflssional e do seu conhecimento. Ao contra rio, mostrou-se que os
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professores passam a assimilar os con/eudos dos livros didaticos, mesmoquando esses se chocam forma/mente com suas convicqoes mais intimas.
Os educadores precisam tsr a abertura e maturidade suficiente para
escolher seu material de trabalho, precisam ser conhecedores a tim de decidir
qual e 0 melhor e mais adaptavel material para sua sal a de aula. Todos as
professores tern direito de participar de decisao acerea do livro didatico com
firmeza e sabedoria.
A corregBo dos conceitos e 0 minima que S8 pode esperar de urn livre
didatico. Par isso e importante a participa980 ativa do educador. 0 processo de
ensino-aprendizagem e complexo, pais envolve outras areas de conhecimento,
alem daquela tratada especificamente num determinado livre didatico, areas
interligadas dina mica mente entre si. Sem integrac;ao de conhecimento nao havera
born livro didatico.
Quando 0 professor define clara mente os objetivos do ensino, fica
muito mais fadl a escolha a ser feita dos varios meios que utilizara, incluindo-se
ness a escolha os livros mais adequados.
Escolhido 0 livro, ap6s a defini<;ao de objetivos, 0 professor tam bern
tern melhores condi<;6es para integrar 0 livro com outros recursos de ensino e tera
plena conhecimento do papel e da importElncia do livro em cada momenta do
ensino.
Diante de urn emaranhado do problemas que envolve 0 livre didatico,
nao se pode esquecer 0 importante papel que 0 professor desempenha como
elemento mediador na questao da produc;ao e utilizacyao.
E patente, nas declaraqoes dos professores a sua falta de habito de decidirquanto a utilizaqao dos /ivros didaticos. Sua escolha e suas preferencias se
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{ormu/am e se exercem denim das coerqoes e limitac;oes, dentro das quais sesalientam a falta de tempo e de condiqoes para preparar as suas atividadesdocen/es (OLIVEIRA, 1993).
Muitas vezes, quem tern feita a escolha do livro a ser adotado sao as
especialistas, que tern uma visao abstrata da questao e deixam de ouvir a
profissional do dia-a-dia da sala de aula e "as professores decidem dentro de urn
modele de escolha foryada. 0 professor e levado a emitir e formular conceitos e
criterios a partir dos livros que lhe sao colocados a mao e nao dos livros que
talvez gostaria de ter"(OLIVEIRA, 1993).
o professor devera caminhar com seus proprios pes, descobrir que ecapaz, construir conhecimentos. Ha professores que colocam na gaveta montes
de apostilas e naG conseguem, na maioria das vezes, modificar seu trabalho na
sala de aula.
Que deve entao, fazer 0 professor no momento de analisar livros
didaticos para usar em suas aulas? Como deveria entao ser feita a escolha de 'um
livro didatico pelo professor?
BROWe OLMSTED, oferecem algumas indaga90es norteadoras:
a) qual e a reputa<;iio au prestigio do autor?
b) qual e a sua formagao? Que tftulos academicos possui? Que
experiencia tem no assunto de que trata 0 livro, como professor e
como especialista?
c) 0 autor preocupou-se em experimentar 0 livro antes de sua edigao?
d) houve revis6es? Que resultados obteve?
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e) 0 autor fundamentou-se nos ultimos progressos da Psicologia e da
Didatica para preparar a obra?
f) 0 autor e considerado como pessoa imparcial, objetiva e
desapaixonada? Escreveu Qutros trabalhos? Que referencias
existem a respeito?
No momento de analisar os livros did<iticos para escolha e ado,ao, 0
professor precisa lanc;ar mao de criterios claros, numa atitude critica. IS50 nao e
facil, pois , na maieria dos casas, nao Ihe foi ensinado na escola.
3 CONCLUsAo
A questao da qualidade do ensina, no momento, ainda precisa ser
preenchida por professores que saibam, com competencia, utilizar da melhor
forma as recursos didaticos que Ihes sao acessiveis.
Sabemos que cada vez mais 0 livro didatico e tratado pelo professor de
1.° grau como seu plano de aula, com pouca au quase sem nenhuma explora~o
nem criticidade 0 professor passa a assimilar as conteudos dos livros didaticos,
mesma quando esses S8 chocam frontalmente com as suas convic90es mais
intimas.
Pel a presente pesquisa, descobrimos que em nenhum momento esla
sendo abordada explicitamente a questao do livra didatico nos cursos de
formayao de professores. Assim sendo, 0 professor recem farmada naD passui
subsidios basicos e nem criterios para escolher au mesma utilizar livra didatico
algum em sua pratica docente.
Por outro lado, 0 professor que ja tern alguns anos de trabalho, cai no
comodismo de fazer do livro didatico a guia padrao de ensino, apenas
reproduzindo conhecimentos aos seus educandos. Para esse e muito facil udar
aulas", pais e s6 preencher a livro e repeti-Io nas avaliayoes.
Vivemos numa epoca em que muito se clama pela qualidade do ensino
e a segredo dessa qualidade esta no professor. Ser professor e ter compromisso
com a sociedade e consigo mesmo. Uma vez que nos cursos de licenciatura
30
muita ceisa fica para traz, cabe ao profissional, par 5i proprio, buscar, inavar,
reeriar e articular teori8 e pn3tic8.
Transformar 0 livro didatico falho, cheio de ideologias, muitas vezes
nao didatico, e uma maneira inteligente de buscar 0 melhor para as educandos et
conseqClentemente, para uma sociedade rna is crftica e coerente.
Mas tudo issa depende de for~ de vontade do professor, amor ao
trabalho e compromisso. Requer desprendimento, tempo e idealismo.
Com 0 passar dos tempos e atropelos pelo if e vir das diversas
conceP90es e lin has pedagogicas, 0 professor tern deixado de ser educador.
Desapareceu a preocupac;:ao em dar condic;oes de formar no aluno a verdadeira
ciemcia critica, voltada para a cri8<.;ao de uma nova cultura e para a
transforma<;:iio. Diante disso tudo, tambem pela acomoda9ao e perda do idealismo
profissional, 0 professor busca 0 caminho mais facil para seu trabalho. E. comodo
utilizar um livro que dita tudo ° que tem de ser ensinado, sem pesquisa, sem
buscas, criticas, nem transformac;ao, apenas a reprodut;:ao daquilo que esta
escrito, tido como unico recurso didatico utilizado pelo aluno e professor.
o constante aperfeic;oamento do professor, e sem duvida, muito
importante. Ele precisa resgatar espa90 para tal. 0 ir e vir das buscas faz com
que 0 educador apresente-se s6lido e mais aberto as transformac;6es sociais.
Com tal vivencia e experiencia profissional, sabera a educador escolher 0 livre
didatico born e 0 que real mente e didatico.
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