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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES FACULDADE DE EDUCAÇÃO AS DIFICULDADES E POSSIBILIDADES DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO DE UMA ESCOLA MULTIANUAL DA ILHA GRANDE ANDREIA CHIESORIN BAGANHA

Monografia-AS DIFICULDADES E POSSIBILIDADES DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO DE UMA ESCOLA MULTIANUAL DA ILHA GRANDE

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Page 1: Monografia-AS DIFICULDADES E POSSIBILIDADES DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO DE UMA ESCOLA MULTIANUAL DA ILHA GRANDE

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

AS DIFICULDADES E POSSIBILIDADES DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO DE UMA ESCOLA MULTIANUAL DA ILHA GRANDE

ANDREIA CHIESORIN BAGANHA

Angra dos Reis

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2012

Andreia Chiesorin Baganha

AS DIFICULDADES E POSSIBILIDADES DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO DE UMA ESCOLA MULTIANUAL DA ILHA GRANDE

Trabalho de Conclusão de Curso de Pedagogia para obtenção do título de Graduação da Faculdade do Estado do Rio de Janeiro.

ORIENTADOR: Profª

Angra dos Reis

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2012

ANDREIA CHIESORIN BAGANHA

AS DIFICULDADES E POSSIBILIDADES DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO DE UMA ESCOLA MULTIANUAL DA ILHA GRANDE

Monografia de conclusão de curso apresentada à Faculdade de Educação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ.

COMISSÃO EXAMINADORA:

______________________________________

Prof.

______________________________________

Prof.

Angra dos Reis, 31 de agosto de 2012.

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AGRADECIMENTOS

A Deus por ter me dado forças para seguir esses quatro anos e meio, por ter me

carregado no seu colo em todos os momentos difíceis, por estar comigo quando me senti

sozinha, Obrigada por mais essa conquista!

Aos meus amados filhos, minhas dádivas humanas: Mariana, Eduardo e Lucas, pela

compreensão, companhia e motivações, sobretudo naqueles momentos difíceis.

A minha querida mãe, Regina, quem me incentivou durante toda minha vida na busca do

conhecimento, obrigada por toda sua dedicação, gostaria que você estivesse aqui presente

nesse momento tão sonhado por nós duas.

Ao meu marido, Ivanir, pela sua paciência e apoio durante todo o meu curso e

principalmente no processo de construção dessa pesquisa.

Ao meu pai, Jessé, por ter me ensinado a importância da educação.

Aos meus irmãos Cesar e Elisa que me incentivaram nessa conquista.

As minhas amigas, Camila e Mônica, pelas incontáveis vezes em que estiveram do meu

lado, animando e confortando os momentos difíceis e compartilhando alegremente das

conquistas.

Aos meus amigos Barbara e Celio por todas as calorosas acolhidas em sua casa.

A professora Priscila, por me receber em sua escola e em sua vida com tanto carinho.

As coordenadoras do Programa Escola Ativa do município de Angra dos Reis, Luciana e

Maria de Lourdes, pelo carinho com que se propuseram a contribuir com a pesquisa.

A tutora Elaine Jacques pela orientação na construção desse trabalho.

A todos que em algum momento dessa conquista estiveram ao meu lado.

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DEDICATÓRIA

“Educar é mostrar a vida a quem ainda não a viu. O educador diz: “Veja!”- e ao falar,

aponta. O aluno olha na direção apontada e vê o que nunca viu. O seu mundo se expande.

Ele fica mais rico interiormente. E, ficando mais rico interiormente, ele pode sentir mais

alegria – que é a razão pela qual vivemos. Vivemos para ter alegria e para dar alegria. O

milagre de educação acontece quando vemos um mundo que nunca se havia visto.”

Rubem Alves

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RESUMO

Essa pesquisa objetiva conhecer, analisar e refletir sobre o profissional envolvido na educação em escolas multianuais na Ilha Grande em Angra dos Reis. Conhecer a realidade desse profissional, sua formação, seus desafios diante da heterogeneidade encontrada em uma classe multianual, fator que utilizado pelo profissional de modo positivo poderá desencadear as relações e interações de maneira cooperativa entre os alunos, analisando as práticas, metodologias e procedimentos pedagógicos utilizados por ele para a construção do conhecimento em seus alunos de modo dinâmico e criativo, refletindo as possibilidades de uma escola multianual oferecer aos seus alunos uma educação que desenvolva uma aprendizagem significativa e de qualidade. A pesquisa que será realizada será um estudo de caso e terá como objeto de estudo a particularidade das escolas multianuias da Ilha Grande, e em particular o estudo de um profissional educadora de uma unidade escolar desta ilha, procurando retratar a realidade encontrada de maneira completa e profunda, conhecendo o seu “como” e seus “porquês”, evidenciando sua identidade própria, através da observação, entrevistas semi-estruturadas, análise dos dados coletados.

Palavras-chave: Classes multianuais; heterogeneidade; possibilidades.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................................8

1 ESCOLAS MULTIANUAIS......................................................................................11

1.1Que organização escolar é essa?.................................................................................11

1.2 Contextos históricos...................................................................................................12

1.2.1 A educação do campo no Brasil ............................................................................17

1.3 Escola ativa ...............................................................................................................18

1.3.1 Finalidades do programa escola ativa ....................................................................20

1.3.2 Metodologia do programa escola ativa (elementos estruturantes) …....................20

1.3.3 Formação continuada do programa escola ativa ....................................................21

2 AS ESCOLAS MULTIANUAIS EM ANGRA DOS REIS ...................................23

2.1 As escolas das ilhas e do sertão do município..………………………………….…23

2.2 Programa escola ativa no município..........................................................................24

2.3 A Ilha Grande............................................................................................................25

2.3.1 As escolas multianuais da Ilha Grande ..................................................................25

2.3.2 Escola Municipal Thomaz Henrique Mac Cormick ..............................................27

2.3.3 A comunidade envolvida .......................................................................................29

3 DIFICULDADES E POSSIBILIDADES DO EDUCADOR MULTIANUAL......31

3.1O estudo de caso…………………………………………………………….………31

3.2 Uma vocação que nasce com a gente misteriosamente.............................................32

3.3 A classe multianual pesquisada.................................................................................36

3.4 Conhecendo o cotidiano multianual..........................................................................37

3.4.1Planejamento pedagógico........................................................................................38

3.4.2Planejamento Semanal – 20/08 a 24/08...................................................................39

3.5 Dificuldades encontradas...........................................................................................41

3.6 Possibilidades construídas.........................................................................................44

CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................47

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................49

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INTRODUÇÃO

No Brasil as escolas multianuais representam 64% das escolas brasileiras do

ensino fundamental de 1º a 5º ano, localizadas no campo, sendo as escolas do campo mais

da metade do número de escolas de ensino fundamental de 1º a 5º ano no Brasil (Censo

Escolar 2002), os motivos para essa modalidade de organização escolar existir, se dá,

pelo difícil acesso, baixa densidade demográfica dos locais em que está inserida. Muitos

educadores acreditavam que com o desenvolvimento da sociedade as escolas multianuais

iriam desaparecer, porém elas continuam a ser uma realidade no contexto brasileiro,

sofrendo criticas bastantes severas, pela precariedade na estrutura física, pela falta de

capacitação profissional para lidar com a heterogeneidade presente nas turmas e

principalmente pela falta de propostas pedagógicas que atendam às suas especificidades.

Entretanto, essa modalidade de organização escolar vem sendo ainda utilizada

com êxito em todos os países da Europa, e vem sendo adotada também nos Estados

Unidos e no Canadá, pesquisas apontam que no mundo 30% das escolas tem três ou

menos salas de aula. Avaliações realizadas em alunos dessa modalidade nesses países

mostram que o rendimento escolar dos alunos de escolas multianuais é igual e às vezes

até superior aos dos alunos de classes seriada. Já os dados obtidos por pesquisas feitas

pela UNESCO e o Banco Mundial sobre o desempenho das escolas multianuais nos

países pobres da África e da Ásia apontam que assim como no Brasil os alunos que

estudam em classes multianuais tem rendimento inferior aos alunos de classes seriadas, o

que justifica o preconceito existente aqui no Brasil com as escolas multianuais, pois

apresentam um nível de educação muito inferior ao que é ofertado pelas escolas de

classes seriadas.

No Brasil as escolas multianuais se tornaram um grave problema para educação

do país, o maior índice de repetência, evasão e abandono provem das escolas multianuais,

por vários motivos, entre eles o difícil acesso, a oferta da educação só é realizada até o 5º

ano do ensino fundamental, concluído essa etapa da educação o aluno tem que parar seu

processo de ensino aprendizagem ou ir para outra região que ofereça a continuidade do

ensino, o que muitas vezes não acontece por fatores econômicos, não conseguindo

concluir nem seu ensino básico.

Sobre as escolas multianuais, Mota (2004, p.53-66) diz:

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Estas possuem condições precárias, tanto físicas quanto pedagógicas. Apresentam dificuldades no acesso e continuidade dos estudos, provocadas, principalmente, pela distância e deslocamento até os lugares das aulas, a estrutura do local da escola, falta de professores, constante rotatividade dos docentes e baixa autoestima dos educandos.

Para o professor as dificuldades são inúmeras, muitos não vão apenas para sala de

aula, é necessário acumular funções dentro da escola, assumem o papel de gestor,

merendeira, falta interesse da secretaria de educação em auxiliar e apoiar o profissional

que está envolvido nessas unidades de ensino, falta apoio pedagógico, falta de

capacitação para lidar com a heterogeneidade encontrada no contexto multianual, os

livros didáticos, instrumento fundamental do professor, não atende as necessidades da

realidade encontrada nessas localidades.

Diante das dificuldades encontradas nas escolas multianuais e em meio às

discussões sobre a extinção dessa forma organizativa escolar, são pensadas estratégias

específicas para esse contexto escolar, uma dessas estratégias é o Projeto Escola Ativa,

inspirado no Projeto Escuela Nueva, da Colômbia, para atender as escolas multianuais da

região rural, com investimento em pesquisas de métodos e técnicas apropriados. O

Projeto Escola Ativa objetiva melhorar o rendimento escolar das escolas multianuais,

através de novos recursos pedagógicos que estimulem a construção do conhecimento dos

alunos e a capacitação do professor. MOLINARI (2009) descreve que a proposta

realizada pelo programa para as escolas rurais de Buenos Aires para resolver o problema

de organização de tempo e da diversidade encontrada nas turmas multianuais, teve êxito

em 26 unidades escolares, o programa constitui em utilizar o que antes era considerado

um obstáculo e transformá-lo em uma vantagem pedagógica.

O estudo em grupos de alunos com diferentes níveis de conhecimento e idade é o

que também ocorre na Escola da Ponte, em Portugal, descrita por Alves (2001, p.41)

[...] è preciso imaginar o delicioso “portuguesh” que se fala em Portugal para sentir a música segura e tranqüila da fala da menina. [...] Não temos classes separadas, 1º ano, 2ºano, 3ºano... Também não temos aulas, em que o professor ensina a matéria. Aprendemos assim: formamos grupos com interesse comum por um assunto, reunimo-nos com a professora e ela, conosco, estabelece um programa de trabalho de 15 dias, dando-nos orientação sobre o que deveremos pesquisar e os locais onde pesquisar.

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Conhecendo o contexto das escolas multianuais da Ilha Grande, através desse

estudo sobre as especificidades dessas classes multianuais nesse contexto, esperamos que

essa pesquisa possa contribuir para uma reflexão profunda sobre as dificuldades que a

educadora pesquisada encontra em suas práticas pedagógicas, assim como nos aponte as

possibilidades que a realização de um trabalho pedagógico consciente da heterogeneidade

existente nessa modalidade, possa contribuir para a construção de uma educação de

qualidade.

Essa pesquisa está organizada e estruturada em três capítulos, quais sejam: no

primeiro capitulo abordaremos as questões das escolas multianuais no cenário

educacional brasileiro e mundial, a necessidade da oferta de ensino para as áreas de difícil

acesso, a educação do campo, as ações e investimentos do poder público para essa

modalidade organizacional escolar, o programa Escola Ativa iniciativa do governo para

minimizar os problemas existentes nas classes multianuais relacionados a capacitação

profissional e metodologia especifica que atenda as especificidades dessa modalidade

organizacional.

No segundo capitulo descreveremos o contexto em que a escola e o educador

pesquisado estão inseridos. A lei que regulamenta a oferta dessa modalidade de

organização escolar no município, os dados sobre as classes multianuais existentes no

município. Apresentaremos também o contexto caiçara da Ilha Grande, as escolas

multianuais existentes na Ilha, como também a Escola Thomaz Henrique Marc Cormick,

a escola multianual e a comunidade envolvida nessa pesquisa.

No terceiro e último capitulo serão apresentados os dados, informações, relatos,

recolhidos durante a pesquisa de campo. Para esse estudo recolhemos informações sobre

a educadora pesquisada, sua trajetória acadêmica, profissional. Descreveremos as

observações realizadas na escola, em sua classe multianual, suas atividades propostas na

semana de 20 de agosto de 2012 a 24 de agosto de 2012, da pesquisa.

Essa investigação pretende analisar com uma reflexão critica a realidade vivida

pela educadora pesquisada em sua classe multianual na Ilha Grande.

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1 ESCOLAS MULTIANUAIS

Essa pesquisa se inicia com uma breve apresentação dessa modalidade

organizacional escolar, escolas multianuais, que espaço escolar é esse? Quem são os

envolvidos nessa modalidade escolar? Como e onde surgiram as primeiras classes

multianuais? Descreveremos o contexto histórico educacional em que surgiram as classes

multianuais, assim como as ações governamentais que envolvem as questões da educação

do campo e por consequência as classes multianuais, os investimentos em programas e

formação continuada para os profissionais envolvidos nessa organização escolar, como o

Programa Escola Ativa, iniciativa do governo federal, inspirado no programa Escuela

Nueva, da Colômbia, para capacitar o profissional envolvido nas classes multianuais.

1.1 Que organização escolar é essa?

Para muitos uma realidade desconhecida, uma organização escolar distante do que

eles estão acostumados a vivenciar, com várias salas de aula, um educador para cada ano

escolar, uma equipe pedagógica com orientador, coordenador e diretor, as escolas

multianuais ou classes multianuais são bem diferentes dessa realidade, sendo

consideradas por alguns autores como “arremedo de escola e não escola propriamente

dita” (FONSECA, 1989, p.20), elas estão presentes no cenário brasileiro e mundial,

distante de serem extintas como alguns autores e educadores gostariam que acontecesse.

As Escolas multianuais conhecidas como multisseriadas (optamos pela adequação

do termo multisseriadas para multianuais por causa da mudança em nosso sistema de

séries para anos escolares) são espaços escolares que possuem apenas uma sala de aula

aonde o processo de ensino aprendizagem dos primeiros anos escolares é oferecido para

crianças de várias faixas etárias, em diferentes anos escolares, por um único educador

(unidocência1), esse além da função de educador tem também outras funções, como

diretor, orientador, faxineiro, merendeiro. Essas escolas surgiram para viabilizar a

educação nas regiões de difícil acesso, com número pequeno de alunos, em comunidades

com poucos recursos econômicos, que tem nessas escolas a única possibilidade de

escolarização nos primeiros anos escolares.

1 A unidocência ocorre quando um único educador é responsável pela condução do desenvolvimento de uma classe multisseriada. Embora possa acontecer de uma escola ou classe ser multisseriada e ter mais de um educador, as escolas multisseriadas do campo contam, na quase totalidade dos casos,com apenas um educador, o que torna unidocência e multisseriação termos equivalentes. (BRASIL. MEC, 2007b, p. 25).

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As dificuldades encontradas na maioria das escolas multianuais são inúmeras, o

acesso, o transporte, o nível socioeconômico das comunidades, a falta de capacitação

profissional dos educadores, o descaso dos órgãos públicos, a falta de políticas

educacionais, a falta de metodologias e práticas pedagógicas direcionadas para trabalhar

com essa modalidade de organização escolar.

Apesar das dificuldades, a diversidade existente nessa modalidade organizacional

a torna, no atual cenário da educação, uma fonte rica de pesquisa para o trabalho

pedagógico voltado em uma nova concepção de educação, que considera o sujeito o

principal personagem na construção do seu conhecimento, valorizando a troca de

experiências, a interdisciplinaridade, respeitando a heterogeneidade e principalmente

levando para dentro dos saberes formais os saberes populares.

Sobre as escolas multianuais Rosa (2008, p.228) diz:

A classe multisseriada é organizada, na maioria das vezes, pelo número reduzido de alunos para cada série, o que a caracteriza como mais do que uma simples classe. Ela representa um tipo de escola que é oferecida a determinada população e remete diretamente a uma reflexão sobre a concepção de educação com que se pretende trabalhar.

Por serem na sua maioria oferecida em regiões rurais, as escolas multianuais, são

relacionadas na maioria dos textos, com a Educação do Campo2, mas são oferecidas não

somente em áreas rurais, como veremos nessa pesquisa, essa modalidade de organização

escolar pode ser encontrada nas regiões litorâneas, ribeirinhas e até mesmo em áreas

urbanas.

1.2 Contexto histórico

A oferta de educação com essa organização escolar tem seus primeiros registros

em países da Europa do século XIX, as Classes Multianuais surgiram da necessidade de

levar a educação, em locais de difícil acesso, segundo AZEVEDO (2010, p.2), “Era um

2 A Educação do Campo, tratada como educação rural na legislação brasileira, tem um significado que incorpora os espaços da floresta, da pecuária, das minas e da agricultura, mas os ultrapassa ao acolher em si os espaços pesqueiros, caiçaras, ribeirinhos e extrativistas. O campo, nesse sentido mais do que um perímetro não-urbano, é um campo de possibilidades que dinamizam a ligação dos seres humanos com a própria produção das condições da existência social com as realizações da sociedade humana (BRASIL. MEC, 2002, p. 4-5).

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meio de se oferecer educação aos alunos que moravam em pequenos vilarejos

europeus.”.

Na França no século XIX, AZEVEDO (2010) diz que podemos encontrar algumas

escolas com o modelo organizacional semelhante ao denominado atualmente de

multianuais, a educação oferecida nessas classes não tinha a preocupação de oferecer uma

educação qualitativa, mas sim como afirma PONCE (2005), essa oferta de educação para

as classes baixas era uma maneira de permanecerem em seu “status quo”, para o autor a

educação oferecida nessa modalidade de organização escolar, não era consistente,

PONCE (2005) ressalta que autores como Pestalozzi, Besedow, Filangierri, entre outros

de sua época, defendiam que a educação oferecida deveria levar em conta a classe

socioeconômica envolvida no processo de ensino aprendizagem, em sua pesquisa o autor

descreve algumas semelhanças da organização escolar oferecida na França do século XIX

com as atuais classes multianuais, PONCE (2005, p.139) “[...] existia um só educador,

que estava encarregado de ensinar muitos alunos de idades bastante distintas, o que

provocava graves dificuldades de ordem técnica”.

No Brasil segundo AZEVEDO (2010) as primeiras evidências dessa modalidade

organizacional escolar surgem ainda no período imperial, quando a Instrução Elementar

orientou a aplicação do método mútuo nas escolas.

Sobre o método mútuo Larroyo (1970, p.620) diz:

O “ensino mútuo” é um método em que os próprios alunos mutuamente se transmitem o conhecimento. Divide-se em grupos que ficam sob direção imediata dos alunos mais adiantados, os quais instruem seus colegas na leitura, escrita, cálculo e catecismo, do mesmo modo como foram ensinados pelo mestre horas antes. Estes alunos auxiliares são denominados monitores. Cada um deles tem de dez a vinte discípulos, que tomam assento num banco, ou como propunha BELL, formem um semicírculo diante do monitor. Além dos monitores, há na classe um “inspetor” encarregado de vigiar os monitores. O ensino praticado numa sala espaçosa e convenientemente distribuído facilita a tarefa escolar que o educador planejou e explicou previamente aos monitores. Um severo sistema de castigo e prêmios mantém a disciplina entre os alunos. O mestre se assemelha a um chefe de fábrica que a tudo vigia e que intervém nos casos difíceis. Não dá lições senão a monitores e aos jovens que desejam converter-se em educadores.

Tal método foi idealizado por André Bell (1753-1832) e José Lancaster (1771-

1838) em Londres, com o intuito de expandir a educação pública elementar na Inglaterra,

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para suprir as necessidades da industrialização e da falta de educadores para essa

expansão.

Esse método chegou ao Brasil em 15 de outubro de 1827, na Assembleia Geral

Legislativa, onde foi criada uma lei que determinava a oferta do ensino elementar, a

criação de escolas de primeiras letras em todas as cidades, vilas e lugares com população

numerosa do Império.

Sobre isso afirma Ferri (1994, p.29):

O Brasil não teve, durante três séculos, nenhuma preocupação com o ensino elementar, uma vez que expulsos os jesuítas e não tendo vingado as “aulas régias”, o país proclama sua independência sem estabelecer nenhum sistema de ensino, embora já estivesse previsto na Constituição de 1824, artigo 179, a instrução pública para todos.

A partir da lei as escolas com oferta do ensino elementar, ler, escrever e contar

tiveram o descaso do governo geral e o método mútuo foi desaparecendo do cenário

educacional brasileiro.

Na Proclamação da República, na 1ª Constituição da República brasileira, os

ideais republicanos, exigiram a obrigatoriedade e gratuidade do ensino básico para toda a

população, no entanto essa atingiu somente as zonas urbanas, deixando as zonas rurais,

carentes da oferta de ensino público, portanto a oferta de educação não chegou a massa

populacional que nesse período se encontrava mais no campo do que nas cidades.

Verificamos que a obrigatoriedade não se fez presente nesse período, em DEMARTINI

(1989, p.7) que observou “(...) estipulava-se que a obrigatoriedade não se estendia aos

que residissem a uma distância maior de dois quilômetros da escola pública, para

meninos, e de um quilômetro para menina.”.

Duas são as preocupações que afetam o cenário educacional no país, nesse

período, primeiro a grande evasão do homem do campo para as cidades, com o desejo de

procurar melhores condições de vida o homem do campo sai das áreas rurais e tenta se

fixar nas grandes cidades, e a segunda grande preocupação como aborda FERRI (1994) é

o analfabetismo, o Brasil passa a liderar a lista de países com maior índice de

analfabetismo, o país possui em 1890 segundo o censo 85,21% de iletrados, 82,63%

excluindo os menores de 5 anos PAIVA (1987), e nesse cenário a educação passa a ser

uma necessidade emergencial, FERRI (1994) observa que antes da Lei Saraiva de 1882,

incorporada na constituição de 1891, quando o saber, os conhecimentos formais se

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tornaram instrumento de ascensão social, saber ler e escrever se tornaram requisito para a

pratica da cidadania do voto, antes disso o analfabetismo não era marginalizado.

Paiva (1987, p.83), diz:

Até o final do império não se havia colocado em dúvida a capacidade do analfabeto; esta era a situação usual da maioria da população e a instrução não era condição para que o indivíduo participasse da classe dominante ou das principais atividades do país. “Nesse tempo”, o não saber ler não afetava o bom senso, a dignidade, o conhecimento, a perspicácia, a inteligência do indivíduo; não o impedia de ganhar dinheiro, ser chefe de família, exercer o pátrio poder, ser tutor.

Diante desse cenário o sistema educacional brasileiro começou a se preocupar

com a oferta do ensino básico para a população rural, para FERRI (1994) outro motivo

também teve forte influência nessa valorização da oferta para as áreas rurais,

especialmente na região sul, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina a imigração

europeia se fez presente nas áreas rurais, vindas de uma cultura letrada, criaram suas

próprias escolas para seus filhos, ministravam o ensino de sua língua materna e de sua

cultura.

Sobre a imigração europeia Paiva, (1987, p.65), diz:

Oriundos de países onde a instrução elementar universalizada era um objetivo e onde a educação escolar desempenhava importante papel para a ascensão social, o imigrante criava um clima de maiores exigências com respeito à instrução.

A criação dessas escolas pelos imigrantes europeus se tornou uma ameaça a

integridade nacional, preocupando os educadores e autoridades educacionais da época.

Sobre essas preocupações Demartini (1989, p.16) descreve:

Aqui e ali, por todos os cantos, onde a imigração tem penetrado, núcleos de estrangeiros se têm formado, conservando se alheios ao nosso país. Não havendo escolas nossa, fundam eles as suas, recebem de além Atlântico, todos os objetos necessários e subvenção remuneradora, estudam sua língua, a história e a geografia de sua pátria, conservam suas tradições e seus costumes (...). Estes fatos, profundamente alarmante, só de há pouco tempo para cá conseguiu chamar a nossa atenção, sem que tenhamos, entretanto, procurado dar remédio a essa gravíssima anomalia.

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Com o êxodo rural, o analfabetismo e as escolas estrangeiras a atenção pela

Educação do Campo foi maior, devemos lembrar que a atenção pela Educação do Campo

não era para oferecer um ensino de qualidade, pensando em acabar de vez com o

analfabetismo, na realidade a maior massa populacional nessa época estava no campo e

vivia alheia aos coronéis e fazendeiros, o voto era um direito somente dos que sabiam ler

e escrever, e foi nesse cenário que o sistema educacional brasileiro decidiu investir em

escolas para a oferta da Educação do Campo, construíram escolas nas regiões das grandes

fazendas, onde no geral o fazendeiro era o político da região, sendo assim com a

construção da escola, garantiam o voto da população local.

Não havia problemas sérios de frequência das crianças, para o fazendeiro a escola

era uma maneira de atrair mão de obra, a falta ocorria por causa do trabalho, a exploração

do trabalho infantil pelos fazendeiros era o que forçava a ausência delas, mas isso não

influenciava o ensino, o educador tinha que mostrar resultados positivos, oferecia aulas

de reforço, aulas extras, sua carreira dependia dos resultados das avaliações feitas por

autoridades locais, esses por sua vez adquiriam total controle do educador, afinal o

educador só conseguiria uma promoção para uma escola na cidade se sua avaliação com

os alunos fosse satisfatória.

Demartini (1985, p.71) diz:

Havia, entre os educadores, uma grande preocupação em trabalhar “direito”, para poderem de esta forma ser promovido, saírem das escolas isoladas em que lecionavam. Nesta época, o normalista que quisesse ser educador tinha que começar sua carreira em escolas mais distantes, que atendiam populações rurais, e as histórias de vida mostram, de maneira explicita ou não, que eles só ficavam nas escolas rurais até o momento em que conseguiam uma nomeação ou transferência para escolas urbanas.

A partir de então a educação do campo passou a ter uma atenção maior no âmbito

educacional, no inicio do século XX a Educação do Campo ganha propostas pedagógicas

mais concretas, mas ainda é preciso muitas ações para que as escolas multianuais deixem

de lado o rotulo de “arremedo de escola”.

No atual panorama mundial essa modalidade de organização escolar ainda esta

difundida na sociedade, podemos encontrar as classes multianuais em países como, a

Grécia, Suíça, Paquistão, Colômbia, Canadá, Estados Unidos, Londres, sobre esse país,

salienta AZEVEDO (2010 p.2), “Na Universidade de Londres existe um grupo de

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pesquisa que se ocupa exclusivamente dessas escolas, desenvolvendo propostas

pedagógicas que atendam às suas especificidades”.

O Brasil deve investir em pesquisas para novas propostas pedagógicas nessa área

que apontem novas possibilidades, é necessário a valorização do educador, a capacitação

do mesmo para trabalhar seja na Educação do Campo como na Educação urbana.

1.2.1 A educação do campo no Brasil

No início do século XXI a Educação do Campo ganhou atenção nas ações

governamentais para a educação, SILVA e COSTA (2006, p.68) atribuem esse interesse,

“[...] Educação do Campo vem sendo construído em um grande movimento educativo

que está acontecendo no campo, tendo como protagonistas os movimentos sociais e

sindicais, no contexto da luta pela terra [...]”.

A articulação entre os movimentos sociais e sindicais com as autoridades

governamentais envolvidas na construção da proposta político pedagógica para a

Educação do Campo gerou inúmeras realizações, como a Constituição Federal de 1988, a

LDB - lei nº. 9.394/96, e as Diretrizes Operacionais para a Educação do Campo (Brasil.

MEC, 2002), a Educação do Campo passa a ter a atenção devida por anos de descaso.

As Diretrizes Operacionais para Educação do Campo apresentam 16 artigos, neles

os princípios e procedimentos para a valorização das especificidades das escolas do

campo, porem essas Diretrizes não tratam das classes multianuais, aspecto que predomina

nas escolas do campo.

Sobre o artigo das Diretrizes Operacionais que trata da formação dos educadores,

Azevedo (2010, p.92-93) diz:

Ao tratar da formação dos educadores para atuar nas escolas do campo, as Diretrizes Operacionais estabelecem que sejam respeitados a diversidade, a identidade, os valores e as especificidades dos sujeitos educacionais, enfatizando que há a necessidade de estudos a respeito dessa diversidade e do efetivo protagonismo das crianças, dos jovens e dos adultos do campo na construção da qualidade social da vida individual e coletiva de cada Região do país, o que não tem sido possível de acontecer nos padrões em que atualmente funcionam as escolas rurais.

Page 18: Monografia-AS DIFICULDADES E POSSIBILIDADES DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO DE UMA ESCOLA MULTIANUAL DA ILHA GRANDE

18

As Diretrizes são um marco para a Educação do Campo que segundo

FERNANDES (2002, p.91-92) são complemento da educação urbana, precisando ser

pensadas e “compreendidas como espaços singulares e plurais, autônomos e interativos,

com suas identidades culturais e modos de organização diferenciados”, para o autor a

aprovação das Diretrizes representa o avanço para a construção da identidade da

Educação do Campo.

Em 2003 é criado pelo MEC um Grupo Permanente para dar continuidade às

discussões referentes à Educação do Campo, esse grupo coordenou a elaboração de

referencias para a política nacional da Educação do Campo (BRASIL. MEC, 2004), nesse

mesmo contexto o MEC criou o SECAD3, passando as discussões sobre a Educação do

Campo oficialmente para os Estados, por meio de Seminários Estaduais de Educação e

Diversidade no Campo, criando programas governamentais para atender as

especificidades da Educação do Campo, como o programa Escola Ativa que atende as

escolas que tem suas classes organizadas com turmas multianuais.

1.3 Escola ativa

O programa Escola Ativa foi implantado no Brasil com o objetivo de minimizar a

ausência de uma metodologia especifica para atender as escolas multianuais, esse

programa tem como modelo metodológico do programa Escuela Nueva implementado

nas escolas rurais com turmas multianuais na Colômbia em 1975, servindo de modelo

não só para o Brasil, mas para vários países da America Latina, América Central e

America do Norte.

Segundo estudos realizados a metodologia da Escuela Nueva pressupõe que o

aluno é o sujeito ativo no processo de ensino aprendizagem, portanto esse processo deve

estar associado a sua vida e ao seu cotidiano, a metodologia contempla uma elaboração

curricular com componentes que atuem no processo ensino aprendizagem respeitando o

contexto vivido pelo sujeito em sua comunidade.

O programa Escola Ativa, como foi chamado no Brasil, foi implantado a partir

dos anos 1990. Em 1996 técnicos do Projeto Nordeste, do Ministério da Educação e dos

estados de Minas Gerais e Maranhão fora convidados para participarem de um curso

3 Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade

Page 19: Monografia-AS DIFICULDADES E POSSIBILIDADES DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO DE UMA ESCOLA MULTIANUAL DA ILHA GRANDE

19

sobre a socialização da experiência formulada por um grupo de educadores colombianos,

convite feito pelo Banco Mundial. Após essa iniciativa, em outubro de 1996, sete estados

do Nordeste decidiram aderir ao Programa Escola Ativa, essa decisão surgiu de uma

reunião promovida pela Direção-Geral do Projeto Nordeste aonde se reuniram os

Secretários de Educação e diretores de ensino dos Estados da Região Nordeste.

Após o fim do Projeto Nordeste, em 1999, o programa se vinculou ao

FUNDESCOLA4 sendo desenvolvido nas regiões que compõem a ZAP5, esse processo

desencadeou-se em cinco fases, chegando as outras regiões que não compunham o ZAP

na sua quarta fase.

O método, como já foi mencionado, pressupõe um processo de ensino

aprendizagem que valorize a autonomia do aluno, sendo ele sujeito ativo na construção

do seu conhecimento, respeitando as diversidades encontradas nas escolas do campo, o

educador deve receber capacitação para atender as especificidades da escola, promovendo

em suas práticas pedagógicas atividades que privilegie a autoaprendizagem e o trabalho

em grupo.

Sobre a Escola Ativa para classes multianuais, BRASIL (2005a, p. 10):

Concebendo a Escola Ativa como política pública para classes multisseriadas, os estados e municípios garantem uma escola que tem o compromisso com o sucesso de seus alunos, mostrando que é possível promover a equidade, respeitando a diversidade cultural, regional e comunitária em sua essência e na sua organização.

O Programa Escola Ativa é a única iniciativa do governo brasileiro, voltada para

as escolas do campo que são organizadas em classes multianuais, embora as classes

multianuais sejam criticadas e marginalizadas por autores e educadores, sabendo que as

dificuldades encontradas são muitas, essa iniciativa é a esperança para quem este

envolvido nessa modalidade organizacional escolar, da garantia de uma educação de

qualidade para todos.

1.3.1Finalidades do programa escola ativa

4 Fundo de Fortalecimento da Escola5 Zona de Atendimento Prioritário

Page 20: Monografia-AS DIFICULDADES E POSSIBILIDADES DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO DE UMA ESCOLA MULTIANUAL DA ILHA GRANDE

20

A finalidade do programa Escola Ativa é oferecer e garantir o acesso e permanência

das crianças no ensino básico nas classes multianuais, valorizando e reconhecendo a

diversidade local proporcionando um ensino igualitário de condições para todos.

O Programa Escola Ativa procura através da valorização da experiência

extraescolar com o trabalho interdisciplinar dos conteúdos, estabelecer a relação entre os

conhecimentos formais aprendidos na escola e os conhecimentos que os alunos trazem do

seu cotidiano fora da escola.

A proposta pedagógica do programa para as escolas tem o objetivo de oferecer

condições para trabalhar a heterogeneidade da classe multianual, a relação escola

comunidade, valorizando a cultura local, promovendo uma reflexão sobre a visão

tradicional e preconceituosa sobre a Educação do Campo e as Classes Multianuais,

destacando a necessidade de formação continuada do profissional educador para atuar nas

classes multianuais.

1.3.2 Metodologia do programa escola ativa (elementos estruturantes)

O Programa Escola Ativa propõe estratégias pedagógicas para auxiliar o educador

em sala de aula, com atividades práticas que organizam o trabalho pedagógico nas classes

multianuais.

São algumas propostas encontradas BRASIL (2010, p. 30,31):

Para melhor circulação de informações entre os alunos, é necessário que se trabalhe alternadamente com grupos envolvendo todos os anos, de forma que os alunos possam exercitar diferentes possibilidades de cooperação, comparação e troca de experiências e conhecimentos.

Que cada grupo tenha um monitor, escolhido pelo grupo, que auxiliará o educador quando esse estiver em outro grupo, coordenando o desenvolvimento das atividades.

O educador necessita ressignificar suas práticas pedagógicas, deixando a prática centrada em aulas expositivas e o quadro de giz, para coordenar, orientar, expor, propor, dirigir e acompanhar as atividades dos alunos nos próprios grupos. Se o educador realizar suas intervenções no tempo certo, observará as necessidades dos alunos e considerará o ritmo de aprendizagem de cada aluno.

Que o educador estimule os alunos para o desenvolvimento da responsabilidade e autonomia. O desenvolvimento da autonomia ocorre tanto na realização de tarefas individuais quanto coletivas, pois nos dois casos é necessário que o

Page 21: Monografia-AS DIFICULDADES E POSSIBILIDADES DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO DE UMA ESCOLA MULTIANUAL DA ILHA GRANDE

21

aluno assuma a responsabilidade de planejar, desenvolver e executar tarefas.

Que os alunos e o educador articulem todos os elementos da metodologia a fim de viabilizar desenvolvimento das atividades de forma mais significativas.

Outras estratégias são utilizadas pelo Programa Escola Ativa, como os elementos

estruturantes da metodologia, tais elementos viabilizam o desenvolvimento das atividades

auxiliando o educador no desenvolvimento do ensino em classes multianuais.

O caderno de ensino aprendizagem utilizado pelo programa, são livros específicos

por disciplinas (português, matemática, história, geografia, ciência e alfabetização)

desenvolvidos exclusivamente para o uso em classes multianuais. Sua estrutura possui

atividades básicas, atividades prática e atividades de compromisso, essas atividades

favorecem a pesquisa e a problematização, possibilitando a construção do conhecimento

no coletivo e no individual, estimulando a cooperação, o dialogo, a reflexão e o

compartilhamento de ideias. O Cantinho da aprendizagem é outro elemento estrutural do

programa, oferecendo ao aluno espaços de pesquisas nos quais são utilizados vários

materiais como livros, plantas, informações, objetos socioculturais relacionados com a

cultura local, devendo ser utilizado de maneira interdisciplinar.

O Colegiado estudantil é a representação do estudante no Conselho Escolar

fortalecendo assim a gestão democrática e a participação dos alunos e da comunidade nas

decisões da escola, sendo a comunidade incluída como elemento estruturante no

programa por ser considerada fundamental no processo de ensino aprendizagem do aluno.

Diante de sua proposta metodológica e dos elementos estruturantes, o Programa

Escola Ativa busca compreender a infância como constituída de diferentes estágios de

desenvolvimento e não como sequencia de anos escolares.

1.3.3 Formação continuada

O Programa Escola Ativa oferece o curso de Formação Continuada para os

educadores envolvidos em classes multianuais, que devem ocorrer em cada estado e no

Distrito Federal, sob a responsabilidade de uma IPES6, o profissional denominado no

6 IPES- Instituições Públicas de Ensino Superior.

Page 22: Monografia-AS DIFICULDADES E POSSIBILIDADES DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO DE UMA ESCOLA MULTIANUAL DA ILHA GRANDE

22

programa como professor-formador será selecionado pelo IPES, para cada módulo do

curso, um professor-formador será responsável por uma turma de até 50 cursistas.

O curso de Formação Continuada segundo BRASIL (2010, p.39-40) será

organizado seguindo as seguintes orientações:

Carga horária de 240 horas, dividido em 6 módulos de 40 horas.;

Planejamento da formação de cada módulo; Apresentação, ao final de cada módulo, pelos cursistas, de uma

proposta da formação a ser desenvolvida com os educadores da rede, no módulo;

Realização da formação dos educadores, imediatamente após formação dos professores-multiplicadores, em cada módulo;

Apresentação, por parte do professor-multiplicador, a partir do 2º módulo, do relatório da formação dos educadores das escolas inseridas no Programa;

Em cada módulo de formação deve ser garantido o estudo dos conteúdos definidos para o módulo.

O Curso de Formação Continuada será dividido em seis módulos que deverá

contemplar os conteúdos: Metodologia do Programa Escola Ativa, Alfabetização e

Letramento, Introdução à Educação do Campo, Práticas Pedagógicas na Educação de

Campo, Gestão Educacional no Campo e a Tecnologia na Educação do Campo, todos os

6 módulos deverão possuir 40 horas totalizando 240 horas de curso.

O Curso de Formação Continuada é fundamental para o educador envolvido na

Educação do Campo em classes multianuais, buscando capacitar o educador para que seu

papel consista em promover situações de envolvimento e compromisso dos alunos com a

construção do conhecimento.

2 AS ESCOLAS MULTIANUAIS DE ANGRA DOS REIS

Page 23: Monografia-AS DIFICULDADES E POSSIBILIDADES DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO DE UMA ESCOLA MULTIANUAL DA ILHA GRANDE

23

Nesse capitulo descreveremos o contexto em que as escolas da Ilha Grande estão

inseridas, as leis que regulamentam a oferta da educação Básica nessas escolas

multianuais, o quantitativo de classes multianuais, alunos e profissionais envolvidos no

programa escola ativa no município. Conheceremos o contexto singular em que estas

escolas estão inseridas, assim como a escola observada nessa pesquisa, a Escola

Municipal Thomaz Henrique Mac Cormick e a comunidade envolvida nessa unidade

escolar, para analisar as dificuldades e possibilidades da educadora que atua nessa escola

precisamos conhecer o contexto em que ela esta inserida.

2.1 As escolas multianuais das ilhas e do sertão do município

As Classes Multianuais do município de Angra dos Reis são reguladas

possibilitando a oferta da Educação Básica em classes multianuais segundo BRASIL

(1996, p.9):

A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar.

As escolas com classes multianuais seguem o Regime das Escolas Públicas

Municipais de Angra dos Reis, oferecido pela Secretaria Municipal de Educação, Ciência

e Tecnologia, o ensino da educação básica é obrigatório, com duração de 9 anos,

iniciando-se aos 6 anos de idade, tendo como objetivo a formação básica do cidadão,

BRASIL (1996). O Regime contempla também a organização das turmas pelo número de

alunos, assim a classe multianual poderá ser organizada sempre que a quantidade de

alunos não passar de vinte no total.

Essa modalidade de organização escolar multianual em Angra dos Reis existe há

bastante tempo, essa educação é oferecida nas Ilhas e no sertão, localizados na região do

município. Em 1991 a SECT7 recebeu a parceria da Faculdade de Educação (ESE), da

Universidade Federal Fluminense (UFF), essa parceria objetivava contribuir para a

melhoria da qualidade de ensino nas escolas multianuais do município, as atividades

oferecidas aos profissionais envolvidos nas classes multianuais propunham leituras

flexivas, troca de experiências, discussões teóricas e exemplos de atividades para ser

desenvolvido em sala de aula. Em 1995 o grupo de profissionais envolvidos nas classes 7 SECT: Secretaria Municipal de Educação, Ciência e Tecnologia.

Page 24: Monografia-AS DIFICULDADES E POSSIBILIDADES DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO DE UMA ESCOLA MULTIANUAL DA ILHA GRANDE

24

multianuais decidiu junto com a coordenação da SECT que a parceria não era mais

necessária, pois consideravam que o grupo já tinha obtido “uma certa” autonomia. Em

1996 muitas escolas começaram a trabalhar com temas geradores, resgatando a tradição

da Educação Popular, fundamentada no paradigma teoria-prática-teoria, dentro desse

projeto existia espaço de discussão: reuniões de multianuais, encontros de mini-polo, e o

serviço de coordenação.

Segundo dados oferecidos pela SECT, atualmente, a Educação do Campo é

oferecida para 19 escolas, localizadas nas Ilhas e no sertão da região, com classes

multianuais, algumas com mais de uma classe multianual, totalizando 24 classes

multianuais, são 397 crianças matriculadas em classes multianuais no município, com 63

profissionais envolvidos, sendo eles, a tutora e a coordenadora da Secretaria de Educação,

diretores e educadores das unidades escolares. Todos os profissionais envolvidos com a

educação do campo fazem parte atualmente do Programa Escola Ativa.

2.2 Programa escola ativa no município

O programa Escola Ativa foi implantado no município a partir de dezembro de

2009, visando auxiliar o profissional envolvido nas classes multianuais das escolas nas

Ilhas e do sertão, com metodologias que atendam as diversidades encontradas nessa

organização escolar.

A implantação do programa Escola Ativa no município esta sob a coordenação da

Tutora do Programa Escola Ativa, em parceria com a equipe de coordenadora das ilhas e

do sertão e da coordenação de Gestão Educacional da Secretaria de Educação do

município, responsáveis pela orientação oferecida para os profissionais envolvidos,

promovendo palestras, grupos de trabalho e exposição oral por meio de diálogos

constantes, reflexões e troca de experiências das práticas pedagógicas vivenciadas pelos

profissionais educadores nas classes multianuais.

O Programa Escola Ativa conta com a presença de professores, diretores de ilhas

e sertões, pedagogos e coordenadores. O curso de Formação Continuada do Programa

Escola Ativa oferecido no município proporciona a seus participantes uma rica

aprendizagem através de filmes, debates, palestras, relatos de experiências, estudo de

casos ampliando as reflexões e questões referentes a Educação do Campo e a modalidade

de classes multianuais.

Page 25: Monografia-AS DIFICULDADES E POSSIBILIDADES DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO DE UMA ESCOLA MULTIANUAL DA ILHA GRANDE

25

2.3 A Ilha Grande

Um paraíso brasileiro, a Ilha Grande possui 86 praias de diferentes características,

enseadas, rios, lagoas, cachoeiras, planícies, montanhas e picos espalhados em 193 km2,

localizada em Angra dos Reis no Rio de Janeiro, possui uma vegetação exuberante,

formada por mata atlântica, mangue e restinga.

A Ilha Grande possui 13 praias com comunidade pesqueira, e algumas famílias

espalhadas na costa da Ilha trabalham e moram em casas de veraneio. As comunidades da

Ilha Grande estão localizadas nas praias da Baia da Ilha Grande, do lado de dentro, na

parte de fora da Ilha Grande, mar aberto, não há muitas comunidades, pois o acesso é

mais difícil por ser no mar aberto.

A principal comunidade da Ilha Grande é a Vila do Abraão, com

aproximadamente 3.000 habitantes, nela se concentram a maior parte da infraestrutura da

Ilha Grande, como, subprefeitura, corpo de bombeiro, posto de correio, depois da Vila de

Abraão na outra ponta da Ilha Grande a praia de Proveta é a segunda com maior número

de habitantes, são aproximadamente 2.000 habitantes, segundo o IBGE (2010), a Praia

Grande de Araçatiba com aproximadamente 1.000 habitantes, as demais praias possuem

um número de habitantes inferior a 500 habitantes.

As comunidades da Ilha Grande na sua maioria vivem da atividade da pesca

artesanal e do turismo.

2.3.1 As escolas multianuais da Ilha Grande

Nas 10 principais praias estão localizadas as escolas da Ilha Grande, em 8 escolas o

número de alunos é menor que 20 para o 1º segmento do Ensino Fundamental, e as

classes são multianuais, algumas escolas possuem mais de uma classe multianual. Dados

oferecidos pela coordenadoria regional do Programa Escola Ativa nos revelam o número

de alunos atendidos pelas 8 escolas do 1º segmento do Ensino Fundamental, são 153

crianças matriculadas nas unidades escolares, em 12 classes multianuais.

As escolas multianuais da Ilha Grande e sua localização informada pela SECT (2012)

são:

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26

Escola Municipal Airton Senna – Praia Vermelha - 1 classe multianual ( pré ao 5º ano) –

13 alunos;

Escola Municipal Brasil dos Reis – Praia de Matariz – 2 Classes multianual ( pré e 1º ano,

3º, 4º e 5º ano) – 32 alunos;

Escola Municipal General Silvestre Travassos – Praia Grande de Araçatiba – 2 classes

multianuais (pré e 1º ano, 3º, 4º e 5º ano) - 22 alunos;

Escola Municipal Joaquim Alves de Brito – Praia do Bananal – 1 classe multianual ( pré

ao 5º ano) – 6 alunos;

Escola Municipal Júlio Honorato – Praia da Freguesa de Santana – 1 classe multianual

(pré ao 5º ano) – 11 alunos;

Escola Municipal Monsenhor Pedro de Carvalho – Enseada das Estrelas – 3 classes

multianuais ( pré e 1º ano, 2º e 3º ano, 4º e 5º ano) – 46 alunos;

Escola Municipal Osório M. Correa – Praia do Aventureiro – 1 classe multianual ( pré ao

5º ano ) – 6 alunos e

Escola Municipal Thomaz Henrique Mac Cormick - Praia da Longa – 1 classse

multianual ( pré ao 5º ano ) – 17 alunos.

As 8 escolas multianuais oferecem a comunidade local ensino fundamental do pré

ao 5º ano, depois as crianças precisam do “barco da escola”, (nome dado pelas

comunidades da Ilha aos barcos que fazem o transporte dos alunos de uma praia para

outra) para irem para as escolas que oferecem o 2º segmento do Ensino Básico,

localizadas na Vila do Abraão, Praia Grande de Araçatiba e na Praia de Proveta.

A escola da Vila do Abraão, Escola Municipal Brigadeiro Nóbrega, oferece o 1º e

2º segmento do ensino fundamental para sua comunidade e das praias próximas, algumas

crianças embarcam no barco que as leva até a Vila do Abraão às 06 horas da manhã,

demorando até uma hora para chegarem à escola da Vila do Abraão. As Comunidades

que são atendidas na escola da Vila do Abraão são: Praia Enseada das Estrelas, Praia da

Freguesia de Santana (essas duas praias possuem escolas multianuais para o Ensino

Básico do pré até o 5º ano), Saco do Céu, Praia do Japariz, Praia do Abraãozinho, Praia

de Palmas e todas as crianças que moram na costeira próxima são atendidas na escola da

Vila do Abraão, são 470 crianças atendidas do pré até o 9º ano do Ensino Fundamental.

Na escola da Praia Grande de Araçatiba, Escola Municipal General Silvestre

Travassos, são atendidas as comunidades das praias do Saco do Bananal até a Praia

Vermelha, são mais de cinco comunidades atendidas pela escola da Praia Grande de

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27

Araçatiba, no 2º segmento do Ensino Fundamental, o 1º segmento do Ensino

Fundamental só atende as crianças da comunidade local, sendo duas classes multianuais,

com 11 alunos cada classe, são atendidas 127 crianças do pré até o 9º ano.

A Escola Municipal Pedro Soares está localizada na Praia de Proveta, atende do

pré até o 9º ano do ensino fundamental, oferecendo o 2º segmento para as crianças da

comunidade local e da Praia do Aventureiro, são 203 crianças atendidas pela escola. A

praia de Proveta é a única comunidade que possui a oferta do Ensino Médio pelo Estado

do Rio de Janeiro para os adolescentes da Ilha Grande.

As escolas da Ilha Grande possuem 931 crianças matriculadas do pré ao 9º ano do

Ensino Fundamental, essas crianças começam sua formação acadêmica nas pequenas

escolas de sua comunidade em sua maioria nas classes multianuais, algumas precisam

andar de uma comunidade a outra pelas trilhas dentro da mata para chegarem a suas

escolas, outras são transportadas pelos “Barcos das Escolas”, muitas acordam 5 horas da

manhã e esperam o barco que sai do Cais de Angra dos Reis às 6 horas levando os

educadores as suas respectivas escolas.

2.3.2 A Escola Municipal Thomaz Henrique Mac Cormick

A Escola Municipal Thomaz Henrique Mac Cormick está localizada na Praia da

Longa na Ilha Grande em Angra dos Reis, foi fundada a mais de trinta (30) anos, recebeu

esse nome para homenagear o fazendeiro Thomaz Henrique Mac Cormick doador da

terra para a construção da escola, conforme consta nos documentos da escola.

A escola fica de frente a beira-mar, ao lado da única igreja católica da

comunidade, próxima a um estaleiro de barcos. Sua localização é boa, fica centralizada

na comunidade, oferecendo acesso a todas as crianças da comunidade.

Possui uma construção que abriga duas salas de aula, biblioteca, secretaria,

despensa, depósito, refeitório, cozinha, dois sanitários para os alunos, alojamento para os

professores e funcionários. No geral sua conservação é boa, devido ao trabalho de

conscientização realizado com as crianças e a comunidade visando a preservação do

próprio espaço escolar.

Andrade (2011, p.1) diz:

Page 28: Monografia-AS DIFICULDADES E POSSIBILIDADES DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO DE UMA ESCOLA MULTIANUAL DA ILHA GRANDE

28

A conscientização, através de ações para preservação do espaço escolar, permite mudança de comportamento e atitudes imediatas que serão por certo lembradas por toda a vida e assim até cobradas das demais pessoas que participam da comunidade escolar.

A escola oferece o 1º segmento do Ensino Fundamental, pré até 5º ano, para 17

crianças em uma classe multianual, com uma professora que também atua na função de

diretora, dois zeladores e uma merendeira, a equipe técnica pedagógica é formada por

uma coordenadora educacional e uma orientadora educacional eventuais, que são também

atualmente as coordenadoras do Programa Escola Ativa, programa o qual a escola

também está envolvida.

Não tivemos acesso ao Projeto Político e Pedagógico (PPP) da escola, mas ao

Plano de Gestão Escolar elaborado pela Professora e Diretora pesquisada e especialistas

de ensino, construído em 2011/2012, esse plano inclui todos os dados e informações,

diretrizes e normas do trabalho pedagógico e administrativo realizado na escola.

No Plano de Gestão Escolar da escola em questão, a concepção de uma escola

autônoma, participativa e democrática é imprescindível para o desenvolvimento do

processo ensino-aprendizagem, para a administração da estrutura e do funcionamento e

na relação que a escola estabelece com a sociedade.

A proposta pedagógica da escola tem fundamentação teórica na concepção

dialógica de Freire (2008, p.97):

A educação autentica, repitamos, não se faz de A para B ou A sobre B, mas para A com B, mediatizados pelo mundo. Mundo que impressiona e desafia a uns e a outros, originando visões ou pontos de vista sobre ele. Visões impregnadas de anseios, de dúvidas, de esperanças ou desesperanças que implicitam temas significativos, à base dos quais se constituirá o conteúdo programático da educação.

Fundamentado na concepção dialógica de Freire, o Plano de Gestão Escolar

aponta suas metas, ações e resultados esperados para que a Escola Municipal Thomaz

Henrique Mac Cormick, consiga alcançar seus objetivos de desenvolver a consciência

critica frente às mudanças da sociedade, preparando os alunos para continuarem a

aprender, desenvolvendo a autoestima, as inteligências múltiplas e as capacidades deles.

Algumas metas são propostas no Plano de Gestão Escolar da Escola Thomaz

Henrique Mac Cormick como o trabalho consonante com a metodologia do Programa

Escola Ativa, a implantação de projetos escolares, o uso dos bens da natureza com

Page 29: Monografia-AS DIFICULDADES E POSSIBILIDADES DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO DE UMA ESCOLA MULTIANUAL DA ILHA GRANDE

29

sustentabilidade, a conscientização e implantação da cidadania e da dimensão política, o

envolvimento e interação da comunidade, formar cidadãos críticos e conscientes do seu

papel como cidadão do mundo, respeitando o próximo, em seus bens materiais e morais,

entre outras.

Essas metas segundo o Plano de Gestão Escolar da Escola serão alcançadas

através de ações como a implantação dos projetos de Meio Ambiente, Conservação do

Patrimônio, artesanatos, reciclagem, conscientizando através de reuniões a comunidade

escolar e local sobre a necessidade de encontrar caminhos adequados e prazerosos para a

concretização do processo ensino aprendizagem, construindo assim um ambiente

estimulador e agradável, através de uma pedagogia voltada para o educando e não para os

conteúdos, avaliando e controlando a qualidade do ensino.

A escola procura através da sensibilidade docente, esclarecer a comunidade

envolvida às metas e objetivos a serem alcançados, é com o trabalho conjunto entre

equipe escolar e comunidade, que a Escola Thomaz Henrique Mac Cormick sonha em

oferecer a suas crianças na sua classe multianual uma educação de qualidade.

2.3.3 A Comunidade envolvida

A comunidade da Praia da Longa tem aproximadamente 200 moradores, que

vivem da pesca artesanal e do cultivo mexilhões, apresenta a cultura caiçara. Como em

outras comunidades da Ilha Grande, a Praia da Longa não possui centro comercial,

agencias bancarias, correios, posto de saúde, os moradores necessitam se locomover com

barco para outras praias ou para o continente em busca de mercadorias, atendimento

médico, o que torna o contexto da comunidade da Praia da Longa diferenciado e precário

pela dificuldade de acesso aos bens de consumo tradicionais, as políticas públicas nas

áreas da educação e da saúde.

Os moradores mais velhos, nascidos e criados na comunidade, na sua maioria não

concluíram seus estudos, alguns aprenderam a escrever apenas seu nome, há falta de

interesse na literatura, na prática de escrever.

O contexto apresentado pelas comunidades da Ilha Grande, principalmente pela

comunidade da Praia da Longa, faz pensar e refletir sobre a relação que a educação tem

que estabelecer com essa realidade diferenciada em que o aluno esta inserido.

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30

3 DIFICULDADES E POSSIBILIDADES DO EDUCADOR MULTIANUAL

Essa pesquisa tem como objetivo a reflexão e analise sobre as dificuldades e

possibilidades que um profissional educador encontra em uma classe multianual de uma

escola na Ilha Grande, para realizar essa pesquisa e provocar tais reflexões sobre essa

modalidade organizacional de educação decidimos realizar um estudo de caso.

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31

3.1 O estudo de caso

Nesse capitulo final serão colocados as observações, relatos e analises realizadas

nesse estudo de caso.

Segundo Rodrigo (2008, p.3):

Evidencia-se como um tipo de pesquisa que tem sempre um forte cunho descritivo. O pesquisador não pretende intervir sobre a situação, mas dá-la a conhecer tal como ela lhe surge. Pode utilizar vários instrumentos e estratégias. Entretanto, um estudo de caso não precisa ser meramente descritivo, pode ter um profundo alcance analítico, pode interrogar a situação, pode confrontar a situação com outras já conhecidas e com as teorias existentes, pode ajudar a gerar novas teorias e novas questões para futura investigação.

A partir do levantamento de informações, através de observação e entrevista semi-

estruturada, sobre o profissional da educação, sua formação acadêmica, sua trajetória

profissional, a comunidade em que vive, seguindo pela descrição da realidade encontrada

de maneira completa e profunda, enfatizando a complexidade da relação do profissional

educador com a escola multianual da Ilha Grande, seu envolvimento com os alunos, com

a comunidade em que a escola multianual esta inserida.

Segundo WenzelL(1994, p.34):

Investigar a prática do professor é tentar ir além da aparência desta, procurando desvelar seu real conteúdo, conhecendo sua produção e os meios utilizados (planejamento, condução, currículo, etc.) para produzi-la bem como a competência do educador.

Além da observação da prática e método pedagógico utilizado pelo profissional

educador, consideramos também o ambiente em que o educador e as crianças estão

inseridos, pois a partir da valorização do ambiente em que a prática pedagógica é

construída, possibilitamos desenvolver um planejamento pedagógico que respeite a

realidade da criança.

As observações realizadas para essa pesquisa sobre as atividades propostas e

realizadas pela professora pesquisadas foram feitas de maneira a não intervir no cotidiano

escolar das crianças.

Como afirma Martins (2004, p.295):

Page 32: Monografia-AS DIFICULDADES E POSSIBILIDADES DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO DE UMA ESCOLA MULTIANUAL DA ILHA GRANDE

32

A presença de pesquisadores, muitas vezes disfarçada, pode envolver os observados, pode manipulá-los de acordo com seus interesses e objetivos, introduzindo tensões, provocando rupturas.

Este estudo se propôs a observar e analisar a prática docente da professora da

classe multianual da Escola Municipal Thomaz Henrique Mac Cormick, localizada em

uma comunidade pesqueira da Praia da Longa na Ilha Grande, cuja característica

heterogenia da classe, seu contexto socioeconômico e cultura, a localização da escola, o

cotidiano da comunidade local, tornam esse estudo singular e importante para o

conhecimento dessa modalidade organizacional escolar nesse contexto, contribuindo para

o desenvolvimento de uma postura critica e reflexiva sobre as dificuldades e

possibilidades encontradas nessa classe multianual.

3.2 Uma vocação que nasce com a gente misteriosamente

Iniciamos nosso estudo de caso com o relato da educadora pesquisada sobre sua

vida, sua formação acadêmica, sobre as questões que a fizeram tomar a decisão de ser

educadora.

Sobre a vocação Alves (2003,p.107) diz:

A vocação nasce com a gente misteriosamente. Ela é o nosso caso de amor com algo que se faz. A diferença entre quem trabalha por profissão e quem trabalha por vocação: o primeiro trabalha por ganho; o segundo seria capaz de pagar para poder fazer o seu trabalho. Trabalha como quem faz amor, como quem brinca.

A educadora pesquisada tem 31 anos de idade, nasceu e cresceu na Ilha Grande,

na Praia da Longa, onde atualmente exercer sua profissão de educadora, passou sua

infância inteira na Ilha Grande, e relata que sua formação acadêmica teve inicio na

mesma escola em que atua como educadora, seu primeiro contato com uma classe

multianual, foi como aluna.

A educadora pesquisada diz:

Minha sala era assim: 4 alunos do C.A, 3 no 2º ano, 6 na 3º ano, 2 no 4º ano e 5 no 5º ano. A professora dava mais atenção para os alunos do 5º ano, pois eram os que mais faziam perguntas, enquanto os outros ficavam fazendo o dever nas folhinhas mimeografadas.

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Lembra se também:

A primeira coisa que a professora fazia quando entrava na sala era a repartição do quadro. Sempre o 4º e 5º ano faziam atividades iguais. Lembro-me muito bem que quando era realizada uma atividade (com a explicação da professora), com os anos iniciais e era pedido uma resposta; sempre os que estavam nos anos seguintes respondiam, e era exatamente assim que a professora falava: “ Menino(a), agora é hora de você ficar quieto, deixa esse grupinho responder!”. Quando essa fala era dirigida para mim, confesso que ficava arrasada, sentia uma vontade grande de responder, afinal sabia o que estava sendo pedido.

Sua formação acadêmica seguiu, e no 2º segmento do Ensino Fundamental, como

todas as outras crianças da Ilha Grande, viajava todos os dias de manhã para a Praia de

Proveta, naquela época a escola da Praia Grande de Araçatiba não oferecia o 2º segmento

do Ensino Fundamental, alguns alunos viajavam quase duas horas e meia com o “Barco

da Escola”, cursou até a metade do 9º ano e mudou-se para o continente, Angra dos Reis,

após concluir o Ensino Fundamental ingressou no Curso Normal do Colégio Estadual

Doutor Artur Vargas (C.E.A.V), na época a professora pesquisada nos conta que era

necessário fazer uma prova de seleção, essa era aplicada somente para os alunos vindos

de outras unidades escolares.

A professora pesquisada concluiu o Curso Normal, em 1999, e foi convidada para

ser professora em uma escola da Ilha Grande, na Praia do Sitio Forte, e por coincidência

ou não, seu primeiro trabalho como professora foi em uma classe multianual, utilizando

as palavras da própria educadora “Como era fascinada por alfabetização escolhi a turma

do 1º ciclo8.”.

Sobre essa primeira experiência como educadora de uma classe multianual a

professora pesquisada relata:

No primeiro dia de aula, percebi que as “coisas” não eram tão normais, como pensava. Na minha turma a faixa etária era entre 6 à 17 anos. Logo pensei: “O que fazer com essa diversidade de idades, ideias, opiniões...” Sempre quando parava para planejar atividades regressava a minha fase enquanto aluna de uma classe multianual.

8 Os ciclos organizam o tempo escolar de acordo com as fases de crescimento do ser humano. Eles podem ser divididos em etapas referentes à primeira infância (3 a 6 anos), à infância (7 a 9 anos), à pré-adolescência (10 e 11 anos) e à adolescência (12 a 14 anos). Ou ainda em ciclos de dois ou quatro anos. (Escola Nova)

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Corria atrás do coordenador procurando dinâmicas para a turma objetivando o entrosamento dos alunos e o melhor desempenho. Trabalhava o tempo todo em grupo, ora fazia as separações por “series”, ora misturava, colocando monitores (os próprios alunos) a fim de um auxilio na sala e a valorização da auto estima. O quadro foi um recurso quase não usado. Preocupava-me muito em não utilizar a seguinte expressão: “Agora, o C.A, a 1ª e 2ª,...” Lembro-me o quanto era ruim ouvir isso como aluna. Causava ansiedade em todos e criava-se um clima de rivalidade na turma. Foi um período rico de experiência que me mobiliza até hoje.

Sua primeira experiência em uma escola da Ilha Grande não foi só a experiência

da multianual, a educadora ainda tinha outro desafio, a Educação Especial, a professora

pesquisada nos conta que em sua classe havia pelo menos 15 alunos especiais, devido a

cultura local de vários casamentos consanguíneos9, a diversidade encontrada na sua

primeira classe multianual, fez com que a educadora refletisse várias vezes sobre suas

práticas pedagógicas.

Um dia no meio de uma aula, tamanha era a minha aflição dentro da sala de aula com quatro series que abaixei a cabeça e pensei: “Como estou ensinando? Será que minhas intervenções estão atendendo as necessidades dos meus alunos? O que devo fazer, será que estou no ritmo certo?”.

A partir daquele momento de reflexão critica sobre sua prática pedagógica

naquela classe, a educadora, procurou os meios necessários para trabalhar aquela

diversidade ali encontrada, FREIRE (1996, p. 38) diz que “A prática docente critica,

implicante do pensar certo, envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o

que pensar sobre o fazer.”

Lecionou durante dois anos na escola da Ilha Grande com a mesma turma, a

educadora nos conta que ao refletir sobre sua prática pedagógica naquela turma procurou

os meios necessários para suprirem a necessidade da diversidade ali vivenciada.

A educadora pesquisada lembra:

Daquele momento em diante fiquei menos aflita quando junto com a turma listamos o que era necessário, ou seja, qual era o desejo da

9 O casamento consanguíneo é o casamento entre parentes próximos, como entre primos, entre irmãos, e entre outros parentes da família vizinhos. Este tipo de casório pode gerar filhos com problemas genéticos, o município potiguar de Serrinha dos Pintos foi descoberto este tipo de matrimônio conhecido por síndrome de spoan.(Wikipédia)

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turma. Foi daí que percebi que a maioria necessitava de uma harmonia entre os conteúdos diferentes que ali eram passados.

Quando terminou seu contrato na escola da Ilha Grande, a educadora cursou o

curso de Libras10 e também o curso de soroban11 o que a tornou apta para trabalhar com

Educação Especial sendo convidada, em 2003, para lecionar na Escola Municipal para

Deficientes Visuais, no continente, trabalhou em uma turma EJA/BV (Educação de

Jovens e Adultos com Baixa Visão), composta por 8 alunos, sendo 5 com baixa visão, 2

com problemas mentais e baixa visão e uma surda cega. Cada aluno possuía um nível de

entendimento e comprometimento diferenciado. Novamente a educadora se encontrou

com a heterogeneidade. Trabalhou durante dois anos, aliando seu trabalho, ao Curso

Superior de Pedagogia da UFF (Universidade Federal Fluminense) e a maternidade.

Trabalhou também no CAPE (Centro de Atendimento a Pacientes Especiais) como

tradutora de braile do material didático para cegos, não aguentou por muito tempo a

distância da sala de aula.

Ela nos diz:

Não estava feliz, apesar da sala, do ar condicionado, da música para trabalhar relaxada, minha vontade era voltar para sala de aula, eu queria ouvir as crianças, queria de novo o contato com elas.

Concluiu seu curso Superior de Pedagogia em 2007, quando foi mãe pela segunda

vez e decidiu por motivos financeiros retornar para a Praia da Longa na Ilha Grande,

local onde nasceu. Em 2008 a educadora conseguiu passar no Concurso Público para

Docente do município e escolheu lecionar na escola onde havia estudado quando criança.

Em 2010 foi convidada para ser professora e diretora da Escola Municipal Airton

Senna da Silva na comunidade da Praia vermelha na Ilha Grande, lecionou apenas 1 ano

nessa escola, sendo transferida novamente para a Escola Municipal Thomaz Henrique

10 Libras: Língua Brasileira de Sinais11O Soroban é um aparelho de cálculo usado já há muitos anos no Japão pelas escolas, casas comerciais e engenheiros, como máquina de calcular de grande rapidez, de maneira simples. Na escrita de números reside a principal vantagem, que recomenda o sistema sorobã como método ideal de cálculo para deficientes visuais. Com alguma habilidade o deficiente visual pode escrever números no sorobã com a mesma velocidade ou até mesmo mais rápido que um vidente escreve a lápis no caderno. O Sorobã está dividido em dois retângulos: um largo com 4 rodinhas em cada eixo e, outro estreito com apenas 1 rodinha. Serve de separação entre os retângulos uma tabuinha chamada régua, que tem, de 3 em 3 eixos um ponto em relevo, tendo seis ao todo. É junto da régua que se escreve e que se lê os algarismos. Para se calcular com o Sorobã, coloca-se o mesmo sobre uma mesa de modo que o retângulo largo fique mais próximo de quem vai calcular. (INTERVOX)

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Mac Cormick, na Praia da Longa, em 2011, onde atua até hoje como professora e diretora

para onde desejou retornar durante toda sua jornada como educadora.

Enquanto lecionava na classe especial, as lembranças da classe multianual da Ilha Grande não saiam dos meus planos, o que eu mais queria era voltar a trabalhar lá assim que eu terminasse a faculdade.

Sua formação acadêmica e sua capacitação profissional, somada, as experiências

vividas pela professora durante esses 12 anos de profissão, refletem nas práticas

pedagógicas utilizadas pela educadora em sua classe multianual, analisadas nessa

pesquisa.

3.3 A Classe multianual pesquisada

A Classe multianual da Escola Municipal Thomaz Henrique Mac Cormick,

envolvida nessa pesquisa, possui 17 alunos, atende do pré ao 5º ano, alguns anos

escolares possuem apenas 1 aluno, em outros até 8 alunos, a faixa etária atendida é do 6

anos aos 11 anos de idade, todas as crianças são moradoras da comunidade da Praia da

Longa.

A classe multianual da Escola Municipal Thomaz Henrique Mac Cormick é

formada pela pré- escola (6 anos de idade) com 2 alunos, o 1º ano (7 anos de idade) com

2 alunos, o 2º ( 8 anos de idade) com 2 alunos, o 3º ano ( 9 anos de idade ) com 2 alunos,

o 4º ano ( 10 anos de idade) com 8 alunos e o 5º ano (11 anos de idade) com 1 aluno.

As crianças da classe multianual pesquisadas são crianças simples, caiçaras,

aprendem a lidar com as “coisas” do mar muito cedo, sabem pescar com linha, sonham

com o mundo além do mar que todos os dias esta diante de seus olhos. Alguns meninos

tem a certeza que o mar é seu destino e que aos 14 ou 15 anos vão acabar dentro de um

barco pescando, os mais audaciosos querem estudar mais um pouco para serem

marinheiros particulares e pilotarem as lanchas dos ricos. As meninas querem estudar,

para lerem as músicas da igreja, algumas para serem professoras igual a professora

pesquisada, outras preferem nem sonhar porque acham que jamais vão sair da sua

comunidade.

A realidade cotidiana vivida pelas crianças da classe multianual observada é muito

diferente da vivida pelas crianças no continente, sua vida tem outro ritmo, seus olhos são

vivos pra natureza que as rodeia, ainda recebem benção de seus avós, passam a maior

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parte do dia de pé no chão, ou melhor, na terra, não brincam de carrinho, sua brincadeira

é nos barcos, muitos ainda constroem seus brinquedos, não porque não tenham condições,

mas porque sobra tempo e é sempre divertido. A praia é seu quintal, o mar é o meio de

sobrevivência, e a diversão que eles conhecem desde cedo.

3.4 Conhecendo o cotidiano multianual

A pesquisa realizada para conhecer o trabalho pedagógico da educadora em sua

classe multianual teve duração de uma semana, as observações realizadas para essa

pesquisa tiveram inicio no dia 21 de agosto de 2012, exatamente no dia do aniversario da

educadora. Durante uma semana observamos sua rotina pedagógica.

Quando chegamos à Escola Municipal Thomaz Henrique Marc Cormick

encontramos uma escola com uma grande área para recreação, cercada de árvores e

flores, suas paredes enfeitadas por cartazes, alguns produzidos pelos próprios alunos

outros pela educadora, mostrava os temas trabalhados pelos alunos naquele mês, nas duas

salas de aulas, uma utilizada para as atividades lúdicas, muito bem organizados estavam

os jogos e materiais usados para as atividades e a outra para a aula, com mesa e cadeiras

para todos os alunos, organizadas em uma fileira, ficando na ponta a mesa da educadora,

os alunos sentam uns de frente para os outros, os pequenos, mas a frente da professora e

os mais velhos na outra ponta, também exibe em suas paredes cartazes e atividades

realizadas pela turma, em uma sala pequena mas receptiva, uma mesinha no canto, três

estantes enfeitadas guardam os livros utilizados pelas crianças, na porta o nome da sala

“Biblioteca Odília Maia Ramos”, ao lado da biblioteca a secretaria e logo após o

refeitório, espaço amplo com lugar para todas as crianças, em suas paredes imagens de

frutas, verduras e legumes, convidam para uma alimentação saudável. A educadora conta

com o apoio de 3 funcionários, pessoas também nascidas na Ilha Grande, a merendeira e

os 2 zeladores.

As crianças chegam as 07h30minh da manhã para o café, após o café elas

começam sua rotina de atividades, primeiro cantam o hino nacional e hasteiam a bandeira

depois fazem uma oração, a maior parte das comunidades da Ilha Grande é Evangélica,

por isso a oração é bem aceita por todos apesar da escola ser um espaço laico a

comunidade local apoia essa iniciativa, após a oração as crianças começam suas

atividades pedagógicas.

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3.4.1 Planejamento pedagógico

A educadora pesquisada prepara um plano de atividades pedagógicas para ser

seguido no mês, a educadora busca os temas referentes ao mês trabalhado, no plano mensal

da educadora no mês da referente pesquisa, agosto, a educadora planejou trabalhar

atividades com os temas: do dia dos pais, dia mundial da saúde e o folclore.

Sobre a importância do preparo das aulas Fusari (2008, p.47) diz:

O preparo das aulas é uma das atividades mais importantes do trabalho do profissional de educação escolar. Nada substitui a tarefa de preparação da aula em si. (...) faz parte da competência teórica do professor, e dos compromissos com a democratização do ensino, a tarefa cotidiana de preparar suas aulas (...)

Além do plano mensal a educadora também faz o planejamento semanal, a

professora fala que é rotineiro a mudança do planejamento, as atividades se desenvolvem

a partir do interesse dos alunos, e por vezes é necessária uma mudança de última hora,

todos os dias a educadora revê se a atividade proposta no planejamento semanal para o

próximo dia vai ser realizada daquela maneira, ou se vai ser necessário trabalhar outros

conteúdos, a educadora todos os dias faz um levantamento de tudo o que foi trabalhado e

como foi aceita a atividade pelas crianças e se o seu objetivo foi alcançado.

3.4.2 Planejamento semanal – 20/08 à 24/08

O planejamento realizado pela educadora na semana pesquisada abordava o tema

folclore. A educadora sempre começa seu planejamento pelos objetivos que deseja

alcançar com seus alunos.

Sobre o traçar dos objetivos de um plano da aula Macetto (1997, p. 3) diz:

Os objetivos indicam aquilo que o aluno deverá ser capaz como consequência de seu desempenho em atividades de uma determinada escola, série, disciplina ou mesmo uma aula.

Os objetivos propostos pelo planejamento semanal na referida semana pela

educadora, objetivava levar o aluno a tomar contato com algumas manifestações da

cultura popular, o reconhecimento e a divulgação da importância do folclore, estimulando

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e desenvolvendo a imaginação e criatividade do aluno, através do habito da pesquisa e do

incentivo ao gosto da leitura, das artes, da música e dança através dos contos folclóricos,

favorecendo a coordenação motora e abordando a lateralidade com o artesanato

folclórico.

As atividades propostas pela educadora pesquisada na semana da pesquisa foram

no primeiro dia a atividade proposta trabalhava com a trava-línguas e parlendas, as

crianças deveriam trabalhar em grupo com uma parlenda e um trava-língua de acordo

com os objetivos traçados por ano escolar, cada grupo apresentou a atividade em forma

de cartaz ou apresentação oral, os conteúdos dessa atividade eram a música, linguagem

oral e escrita.

Ao final da atividade a educadora pesquisada fez suas observações:

A aula foi divertida e senti que os alunos gostaram e pediram que repetisse sempre. Os alunos do pré participaram da apresentação, o que não é sempre que acontece, pois as crianças do pré são mais tímidas. Tenho que proporcionar mais vezes atividades em grupo, dando liderança sempre.

No segundo dia as atividades propostas contemplavam o uso do material dourado

para os alunos da pré–escola, para o 1º e 2º ano a soma lógica do quadradinho

desconhecido, para o 3º, 4º e 5º ano a leitura e interpretação do texto dado pela professora

pesquisada. Após o recreio os alunos realizaram uma atividade com um óculo 3D,

confeccionado pela própria educadora, leram a história “Os verdadeiros amigos da

natureza” utilizando os óculos 3D.

Segundo a educadora pesquisada:

Fantástico o uso dos óculos! As crianças tiveram muita curiosidade e atenção no momento da historia. Os alunos do 1º ano tiveram dificuldade no valor desconhecido. Preciso trabalhar como material dourado. Gustavo excelente na lógica!

No terceiro dia a proposta da atividade no planejamento semanal da professora

pesquisada teve que ser mudado, pois um dos alunos faltaria na próxima sexta-feira,

então a professora resolveu adiantar a atividade proposta para sexta-feira, a atividade

realizada então foi com argila, após a educadora falar com a turma sobre o mestre

Vitalino Pereira dos Santos, nordestino que ao acompanhar a mãe resolveu passar o

tempo produzindo figuras de barro e foi se aperfeiçoando e representando em suas

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esculturas de barro o cotidiano nordestino, logo depois da apresentação do mestre

Vitalino aos alunos, eles mesmos puderam produzir suas próprias figuras de barro.

As observações da educadora pesquisa sobre esse dia:

A atividade realizada nesse dia não foi a confecção da pipa, porque Bruno avisou que sexta – feira vai para o continente para uma consulta medica e decidi realizar a atividade de sexta- feira com argila, atividade que Bruno gosta muito de realizar.A atividade de argila foi muito bem realizada pelos alunos, produziram várias figuras de barro, referenciando as figuras de barro produzidas pelo artista Vitalino Pereira dos Santos, representando o cotidiano nordestino.

A atividade proposta no quarto dia de aula era um campeonato de adivinhas e a

leitura de um conto acumulativo12. A educadora pediu aos alunos no dia anterior que

pesquisassem em casa ou na biblioteca da escola sobre adivinhas, com a pesquisa

realizada os alunos foram divididos em 3 grupos, o resultado era registrado no quadro,

logo após houve a leitura do conto acumulativo.

Observação da educadora sobre a atividade:

Algumas crianças não pesquisaram sobre a adivinha, mas consegui utilizar o que eu tinha e que as outras crianças conseguiram. O campeonato contou com participação de todos, e como já observei a liderança é algo muito bom para ser trabalhado, eles mesmos escolhem seu líder pela vez de quem ainda não foi.

No quinto dia como já foi mencionado a atividade proposta teve uma mudança e

foi realizada a atividade que estava planejada para o terceiro dia, nessa atividade o

cotidiano dos alunos foi para dentro da sala de aula, os alunos conheceram a história da

pipa, o brinquedo tão frequente nas suas brincadeiras, era um brinquedo folclórico muito

antigo, conheceram a história da pipa, e tiveram a atividade prazerosa de confeccionar

sua própria pipa, logo depois foram para fora da sala de aula e no pátio da escola

concretizaram sua experimentação. Depois produziram um texto coletivo.

Observações da educadora sobre a atividade realizada:

12 Contos acumulativos são histórias em que os episódios são sucessivamente encadeados com ações e gestos articulados em longa seriação. Têm características de uma longa parlenda, contada e recontada para divertir as crianças. No Brasil, os contos acumulativos são, na maioria, oriundos de Portugal. Os elementos locais são apenas acréscimos.

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Mudamos a atividade de quarta-feira para hoje devido a ausência do aluno Bruno, as crianças adoram pipa, esse é um brinquedo do cotidiano delas o que proporcionou uma atividade muito prazerosa para todos. Sentimos a falta do Bruno.

Esse foi o planejamento realizado e executado pela educadora na semana que essa

pesquisa foi realizada na escola.

3.5 As Dificuldades encontradas

Algumas dificuldades encontradas pela pesquisa realizada no contexto da classe

multianual da educadora pesquisada são relatadas pela própria educadora, que aponta a

dificuldade do local ser isolado, pois como são observadas na pesquisa, as comunidades

da ilha são pequenas e não possuem centro comercial, nem posto de saúde, nem banco,

sendo necessário a locomoção para o continente. A educadora relata que sempre quando

precisa ir ao continente fazer suas compras, consultar um médico e até mesmo para

receber seu salário, por ser a única professora e não haver substituto, não há como ter

aula e é necessário fechar a escola.

Outra dificuldade relatada pela educadora é o fato de se sentir sozinha, não há

quem procurar para falar sobre os desafios, as conquistas, não há quem criticar seu

trabalho, trocar experiências, esse contato com outros profissionais de classe multianuais

só ocorre nas reuniões promovidas pela formação continuada, se sente solitária em sua

escola, solitária com suas responsabilidades, há o acumulo de funções e tem que resolver

os problemas que vão surgindo do lado educador e do lado gestor, as visitas da

coordenação pedagógica são periódicas e as coordenadoras cuidam de várias escolas ao

mesmo tempo, não conseguindo dar a atenção necessária a uma única escola.

A educadora pesquisada relata:

Preciso trabalhar a leitura individual nos meus alunos, antes havia uma orientadora pedagógica que em suas visitas à escola, pegava meus alunos com dificuldade na leitura para dar uma atenção individual, mas por motivos pessoais essa orientadora não trabalha mais na equipe pedagógica. Não tenho esse tempo, não posso dar atenção a um aluno e deixar a classe sozinha, precisava dessa ajuda, precisava dar atenção individualizada para alguns alunos que tem dificuldades, principalmente com a leitura.

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O contexto socioeconômico e educacional encontrado na comunidade é outra

dificuldade encontrada, a educadora que também é moradora na comunidade em que a

escola esta inserida, conhece todos os moradores da comunidade, e por consequência o

contexto familiar de seus alunos, relata que a maioria das famílias são semianalfabetas ou

analfabetas, não permitindo que a educadora possa contar com a ajuda dos pais no

processo de ensino-aprendizagem, o máximo que ela consegue é fazer com que os pais

mandem seus filhos para escola e cobrem a frequência de seus filhos, mas essa cobrança

ocorre principalmente pelo fator econômico e não educacional, se a criança não tiver

frequência na escola ela perde a bolsa escola, programa do governo o qual vários alunos

participam.

A transferência de alunos na sua escola também é frequente, algumas famílias

trabalham e moram em casas de veranistas, são caseiros, e é comum a desavenças com os

patrões o que acaba levando as famílias a se mudarem, sua classe que no começo do ano

letivo de 2012 possuía 23 alunos atualmente possui 17 alunos, sendo 5 alunos

transferidos, assim como são transferidos para outras escolas, há também a chegada de

alunos no decorrer do ano letivo, alunos vindo de outras escolas que não oferecem a

mesma organização escolar e há a necessidade de adaptação deles a esse processo de

ensino aprendizagem .

A falta de tecnologia na escola também dificulta o processo de ensino e de gestão

para a educadora pesquisada, observamos que não há computador para a mesma utilizar

na secretaria, tão pouco internet. Recentemente a escola ganhou a doação de alguns

computadores que estão em um canto da sala de atividades lúdicas, esperando por um

técnico para a instalação, e consequentemente de um professor de informática para

ensinar os alunos.

Em sua pesquisa sobre classes multianuais nas áreas rurais, Ferri (1994,p.67) aponta

algumas dificuldades encontradas pelo educador de classes multianuais:

a) o professor sente solidão e está, de fato, isolado;b) há dificuldade de atendimento individual aos alunos;c) as crianças têm dificuldade em se adaptarem à 5ª série;d) o professor acumula cargos: é também merendeiro, faxineiro, diretor, secretário;e) existem dificuldades de acesso ao material didático e às bibliotecas;f) atender quatro séries ao mesmo tempo é muito trabalhoso;

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g) as crianças de 1ª série, no processo de alfabetização, são muito prejudicadas, pois não têm a atenção de que necessitam;h) planejar para quatro séries, fazer quatro planos por dia é demais;i) a aprendizagem das crianças parece mais lenta, porque é muito dificultada pelo contexto em que elas vivem. Elas quase não têm acesso a livros, quase nunca saem da comunidade;j) o professor, que não mora na comunidade, não tem tempo de conhecer melhor a comunidade e seus alunos. Se depender de ônibus, quase não tem tempo nem para dar o período de aula, pois precisa utilizar-se do único transporte da região que sai no mesmo horário de aula;l) são crianças muito diferentes entre si. Há crianças de 7, de 13, de 14 anos. Os grupos são muito heterogêneos.

Podemos comparar as dificuldades encontradas por FERRI (1994) nas classes

multianuais na área rural, com as dificuldades relatadas pela educadora pesquisada e

encontradas nessa pesquisa, algumas dificuldades são parecidas, mas devemos analisar e

refletir o contexto local, profissional, cada escola possui sua identidade, seu contexto, que

deve ser analisado com singularidade, dificuldades são encontradas em todas as

modalidades educacionais, encontrar as possibilidades, construí-las de maneira a oferecer

uma educação de qualidade em todas as modalidades educacionais é um trabalho diário, é

um caminhar coletivo entre professores, alunos, comunidade, especialistas da educação e

políticas públicas educacionais que respeitem as diferenças.

3.6 Possibilidades construídas

Através das observações realizadas verificamos a importância do educador estimular

a harmonia entre “o saber e o aluno”, suas práticas pedagógicas devem captar a atenção dos

alunos e desafia-los na construção de seu conhecimento.

Essa pesquisa concluiu que a educadora tem o conhecimento sobre a importância da

educação, percebeu-se que a educadora aplica suas atividades a partir do tema proposto,

utilizando da interdisciplinaridade.

Segundo Saviani (2003, p. 21):

A interdisciplinaridade é indispensável para a implantação de um processo inteligente de construção do currículo de sala de aula, informal, realístico e integrado. Através da interdisciplinaridade o

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conhecimento passa de algo setorizado para um conhecimento integrado onde as disciplinas científicas interagem entre si.

È possível verificar a interdisciplinaridade no processo de ensino-aprendizagem

construído pela educadora em suas atividades, como por exemplo, trabalhando o tema de

folclore em suas aulas a educadora integra disciplinas como geografia, história, artes,

música, matemática e língua portuguesa, para desenvolver a compreensão de seus alunos.

Segundo BRASIL (1999, p. 89):

A interdisciplinaridade não dilui as disciplinas, ao contrário, mantém sua individualidade. Mas integra as disciplinas a partir da compreensão das múltiplas causas ou fatores que intervêm sobre a realidade e trabalha todas as linguagens necessárias para a constituição de conhecimentos, comunicação e negociação de significados e registro sistemático dos resultados.

Outro ponto a ser colocado em nossas observações é a questão de como a

educadora trabalha sua prática pedagógica em sua classe multianual, respeitando a

heterogeneidade encontrada em sua turma, utilizando de sua experiência nesse tipo de

organização escolar, a educadora em seu planejamento procura dentro do tema proposto

para turma, oferecer atividades que estejam de acordo com a faixa etária e com o

desenvolvimento cognitivo de cada ano escolar.

Ao trabalhar suas práticas pedagógicas a educadora pesquisada oferece atividades

em grupo com os alunos, nessa prática a professora pesquisada favorece a troca de

conhecimentos, como Colello (2005) aponta em seus princípios sobre a postura do

professor, que ao lançar mão em sua classe das atividades em grupo, esse possibilita a

seus alunos o desenvolvimento da aprendizagem por meio das relações sociais. Nas

atividades de grupo realizadas pela educadora observamos a interação entre os diferentes

desenvolvimentos cognitivos em sua turma. A educadora propõe “o líder” para os grupos,

as crianças escolhem seus lideres e já acostumados decidem com democracia deixar um

de cada vez ser o líder nas atividades, e com a ajuda dos que “sabem mais” os menores

que ainda estão no inicio da construção de seu conhecimento são auxiliados a serem

lideres, ao sugerir nas suas atividades em grupo a escolha do “líder” entre os alunos, a

educadora também oferece o diálogo entre os alunos, e assim oportuniza o

desenvolvimento da autoestima e da autonomia.

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Para STEIN (2005), o desafio para trabalhar com a diversidade de sala de aula são

muitos, mas acredita que para enfrentá-los o educador precisa lançar mão de estratégias

que possibilitem a construção do desenvolvimento pleno de seus alunos.

Segundo a autora, Stein (2005, p.2):

Alguns caminhos podem ser sugeridos e, a partir deles, o professor poderá criar outros. É importante salientar que nas estratégias sugeridas a ênfase está na importância da comunicação entre os alunos, porque ela favorece a aprendizagem num ambiente em que a troca de experiências é o ponto alto para que ocorra uma aprendizagem significativa partindo da vivência que cada um traz do seu cotidiano.

Sobre a importância que o educador deve dar a realidade do aluno Silva (2001,

p.83) diz:

O professor, por sua vez, deve ser consciente de que é o responsável por mediar a construção de um currículo escolar que esteja identificado com a realidade, resgatando a ideia de que os alunos podem ser produtores de cultura no ambiente que vivem, através da expressão oral e linguagem com enfoque na cultura, no conhecimento do senso comum e no pensamento do professor e do aluno para que não se perca o que se tem de mais precioso: sua identidade.

Segundo ROSA (2008) a homogeneidade é a característica mais esperada pelo

educador, como facilitadora da sua atuação em sala de aula, separando seus alunos por

grau de dificuldade, por nível cognitivo, o educador esta desconsiderando a troca de

experiências, a valorização do individuo e da cultura no processo pedagógico,

Rosa (2008, p.225) afirma que:

Pela abstração do desejo de se trabalhar com alunos iguais, estamos permitindo a exclusão de muitos do processo de ensino e aprendizagem, porque, historicamente, ao se separar por níveis de dificuldades, estamos mais uma vez excluindo aqueles com menores condições sociais e culturais. Mesmo assim, por mais que se busque a homogeneidade, em sua essência, isto não é possível.

A característica principal da classe multianual é a diversidade, por serem

heterogêneas as classes multianuais permite que o educador trabalhe com a diversidade a

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seu favor, o educador deve buscar na interação e na construção de relações das

diferenças, a possibilidade de uma cooperação dentro do espaço escolar.

A educadora pesquisada lança mão dos conteúdos propostos pelo programa de

educação, conteúdos formais, mas não deixa de apresentar a sua classe conteúdos da vida

cotidiana dos seus alunos, o que torna suas atividades interessantes, seus alunos sentem

que seus saberes fora do espaço escolar também são importantes para sua formação como

cidadão de sua comunidade.

Alves (2001, p.52) diz:

Programa é um cardápio de saberes organizado em sequencia lógica, estabelecido por uma autoridade superior invisível, que nunca está com as crianças. Os saberes do cardápio “programa” na são “respostas” as perguntas que as crianças fazem. Por isso as crianças não entendem por que têm de aprender o que lhes está sendo ensinado.

Não sendo uma limitação só das classes multianuais, mas de todo o sistema

educacional, a prática pedagógica, segundo FERRI (1994), prioriza quase que

exclusivamente o ensino da leitura, escrita e as operações matemáticas, isso ocorre

quando o educador em seu planejamento não reconhece as peculiaridades dos alunos, sem

refletir sobre a realidade em que esta trabalhando, tendo dificuldade de reconhecer as

diferenças dentro e fora da sala de aula.

A pesquisa também observou a possibilidade da educadora pesquisada

acompanhar durante 4 anos, o desenvolvimento de seus alunos, essa condição a torna

conhecedora profunda das dificuldades e os avanços de seus alunos no processo de ensino

aprendizagem, proporcionando a educadora avaliar com mais afinco sua prática

pedagógica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse estudo teve como objetivo a analise e reflexão das dificuldades e

possibilidades encontradas por uma educadora em uma classe multianual de uma escola

da Ilha Grande.

A investigação foi iniciada a partir de um estudo bibliográfico sobre as questões

relacionadas ao aparecimento das primeiras evidências de oferta de ensino nessa

modalidade organizacional, a necessidade de levar a educação para as áreas rurais,

distantes, as leis e ações direcionadas a educação de campo, o investimento do governo

Page 47: Monografia-AS DIFICULDADES E POSSIBILIDADES DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO DE UMA ESCOLA MULTIANUAL DA ILHA GRANDE

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no programa escola ativa, visando os profissionais das classes multianuais, nesse breve

inicio, concluímos que durante anos o descaso do poder público com a educação do

campo, fez surgir no cenário educacional, o preconceito com as escolas que oferecem a

educação de campo com classes multianuais.

Diante das dificuldades encontradas nessas escolas, as maiorias dos teóricos e

especialistas educacionais, consideram que a precariedade existente nessas escolas, seja a

distancia, o isolamento, as instalações, a falta de recursos materiais, a falta de capacitação

profissional para atuar nessas escolas, torna essa modalidade organizacional escolar,

somente um recurso para que as comunidades desses locais possam ter oferta de

educação, não conseguem admitir que essa modalidade organizacional escolar possa

oferecer uma educação de qualidade.

Encontramos em vários artigos e textos, sobre o tema em questão, a dificuldade do

profissional envolvido na modalidade multianual em conseguir encontrar uma prática

pedagógica que atenda a heterogeneidade encontrada na multianual, segundo alguns

autores esse problema surgi porque ainda temos uma visão padronizada da educação, a

educação tradicional, compartimentada, com series, livros didáticos, vários professores,

equipe técnico pedagógica, aplicação de aulas planejadas para uma turma só, procuramos

a homogenia na sala de aula, a concepção da educação padronizada está impregnada em

nosso sistema, em nossos currículos escolares, é ainda um entrave para uma concepção

voltado a educação dialógica e libertaria.

Nossa investigação nos proporcionou outra visão das classes multianuais, ou pelo

menos da classe a qual observamos, apesar de reconhecermos algumas dificuldades

citadas nos textos e artigos referentes ao tema, como a distância do continente, a solidão

profissional da educadora, apesar disso, nossa pesquisa encontrou uma escola com boa

estrutura física, reconhecemos alguns elementos estruturantes do Programa Escola Ativa

utilizados pela educadora, como os espaços interdisciplinares, o caderno de ensino-

aprendizagem.

Podemos afirma que a educadora pesquisada possui uma postura critica e

reflexiva sobre suas práticas pedagógicas, não espera as propostas surgirem, ela mesma

vai atrás de suas respostas, não desanima diante do desafio ou do fracasso, não possui

aquela visão compartimentada de educação, a educadora pesquisada assume um trabalho

pedagógico voltado a interdisciplinaridade, busca no cotidiano dos seus alunos propostas

para atividades pedagógicas que estimule neles a vontade de construir seu conhecimento.

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Observamos na educadora pesquisada o compromisso, responsabilidade e

principalmente o amor que a educadora pesquisada tem pela sua vocação, sua dedicação

com seus alunos, sua vontade de oferecer a sua classe multianual uma educação concreta,

uma aprendizagem construída através do diálogo e do respeito.

Concluímos que as possibilidades que são construídas pela educadora em sua

classe multianual, surgem a partir de vários fatores, sua formação acadêmica, a

experiência vivida pela educadora em classes multianuais, sua experiência com o trabalho

em educação especial. A bagagem de experiências da educadora pesquisada reflete na

sua postura diante a heterogeneidade da classe multianual, na sua prática pedagógica

voltada a interdisciplinaridade, em sua relação com a comunidade em que trabalha e com

o compromisso que essa tem com a educação.

Essa pesquisa nos faz refletir sobre nossa postura diante do diferente, nos faz

refletir sobre a necessidade do governo investir em metodologias e práticas pedagógicas

que sejam especificas para cada contexto, e também nos leva a refletir sobre a

necessidade que temos de ter como educadores profissionais pela vocação, que sintam

verdadeiramente amor pelo ato de ensinar.

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