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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ ELLEN SABRINA DE PAULA A APLICABILIDADE OU NÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR NA RELAÇÃO ENTRE AS COOPERATIVAS DE CRÉDITO E SEUS COOPERADOS CURITIBA 2010

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

ELLEN SABRINA DE PAULA

A APLICABILIDADE OU NÃO DO CÓDIGO DE DEFESADO CONSUMIDOR NA RELAÇÃO ENTRE AS COOPERATIVAS DE

CRÉDITO E SEUS COOPERADOS

CURITIBA2010

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A APLICABILIDADE OU NÃO DO CÓDIGO DE DEFESADO CONSUMIDOR NA RELAÇÃO ENTRE AS COOPERATIVAS DE

CRÉDITO E SEUS COOPERADOS

CURITIBA2010

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ELLEN SABRINA DE PAULA

A APLICABILIDADE OU NÃO DO CÓDIGO DE DEFESADO CONSUMIDOR NA RELAÇÃO ENTRE AS COOPERATIVAS DE

CRÉDITO E SEUS COOPERADOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado aoCurso de Direito da Faculdade de CiênciasJurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, comorequisito parcial à obtenção do grau deBacharelado em Direito.Orientador: Professor Silvio André Brambila

Rodrigues

CURITIBA2010

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TERMO DE APROVAÇÃO

ELLEN SABRINA DE PAULA

A APLICABILIDADE OU NÃO DO CÓDIGO DE DEFESADO CONSUMIDOR NA RELAÇÃO ENTRE AS COOPERATIVAS DE

CRÉDITO E SEUS COOPERADOS

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do grau de Bacharel emDireito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ___ de _____________ de 2010.

Prof. Eduardo de Oliveira LeiteCoordenador do Núcleo de Monografias do Curso de Direito

Orientador: Prof. Silvio André Brambila RodriguesUniversidade Tuiuti do Paraná

Prof.Universidade Tuiuti do Paraná

Prof.Universidade Tuiuti do Paraná

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RESUMO

O presente estudo está voltado à análise da aplicabilidade ounão das normas consumeristas às relações mantidas entrecooperativa de crédito e seus cooperados, tendo por base alegislação específica, abordando-se a doutrina e ajurisprudência, não pacificadas, sobre o tema.

Palavras-chave: cooperativa de crédito; cooperado; Código deDefesa do Consumidor; aplicabilidade.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................6

1 CONSIDERAÇÕES SOBRE COOPERATIVAS DE CRÉDITO ...............................8

1.1 CONCEITO E FINALIDADE..................................................................................8

1.2 NATUREZA JURÍDICA DAS COOPERATIVAS ..................................................12

1.3 ATO COOPERATIVO..........................................................................................18

1.4 COOPERATIVAS DE CRÉDITO E O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL.......23

2 CARACTERIZAÇÃO DAS RELAÇÕES DE CONSUMO.......................................29

2.1 CONCEITO DE CONSUMIDOR.........................................................................29

2.1.1 Teoria Finalista.................................................................................................30

2.1.2 Teoria Maximalista ...........................................................................................32

2.2 CONCEITO DE FORNECEDOR .........................................................................33

2.3 CONCEITO DE PRODUTO.................................................................................34

2.4 CONCEITO DE SERVIÇO ..................................................................................35

3 CONTROVÉRSIA SOBRE A INCIDÊNCIA DO CDC ÀS COOPERATIVASDE CRÉDITO .........................................................................................................37

3.1 COOPERATIVA X FORNECEDOR.....................................................................37

3.2 AS COOPERATIVAS DE CRÉDITO NO CONTEXTO DA SÚMULA 297

DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA...........................................................41

3.3 COOPERADO X CONSUMIDOR........................................................................44

3.4 DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL ACERCA DO TEMA ................................49

CONCLUSÃO ...........................................................................................................55

REFERÊNCIAS.........................................................................................................57

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho estará voltado a analisar a aplicação ou não das normas

insertas no Código de Defesa do Consumidor nas relações havidas entre

cooperados e cooperativas de crédito.

Necessário, entretanto, esclarecer, de antemão, que nenhuma outra

modalidade de cooperativa será objeto deste estudo, na medida em que é

justamente a cooperativa de crédito que tem gerado maiores debates na doutrina e

nos tribunais.

As discussões comumente decorrem do fato de que os cooperados, quando

da ocorrência de algum impasse com sua cooperativa, têm o interesse em ver, no

seu caso concreto, a aplicação de determinadas disposições legais que certamente

lhe trariam maiores benefícios se comparadas com as normas insertas no direito

comum.

Dentre as vantagens almejadas pelos cooperados estão, por exemplo, a

inversão do ônus da prova, consagrado pelo artigo 6°, VIII, do Código de Defesa do

Consumidor, bem como o prazo decadencial de cinco anos contra reparação de

danos causados por fato do produto ou de serviço previsto no artigo 27 do mesmo

diploma legal. Tal prazo, se for considerado aplicável o direito comum, seria de

apenas três anos, de acordo com o artigo 206, § 3°, III, do Código Civil, o que

reduziria, de forma significativa, a possibilidade de o cooperado buscar a defesa de

seus direitos.

Portanto, para analisar tal questão da aplicabilidade ou não das normas

insertas no Código de Defesa do Consumidor nas relações havidas entre os

cooperados e as cooperativas de crédito, das quais pertencem na condição de

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associados, buscar-se-á, primeiramente, conceituar as cooperativas de crédito, sua

natureza jurídica, o ato cooperativo, bem como abordar a participação do sistema

financeiro nacional.

Já no segundo capítulo, a ênfase será dada a conceituação de fornecedor e

consumidor, analisando-se as teorias finalista e maximalista. Após, far-se-á uma

reflexão sobre a caracterização de produto e de serviço, tudo à luz do disposto no

Código de Defesa do Consumidor.

No terceiro capítulo, haverá um confronto dos conceitos e definições

constantes dos capítulos anteriores, abordando a possibilidade de a cooperativa de

crédito ser considerada uma fornecedora, assim como de o cooperado ser tratado

como um consumidor.

Também se fará uma abordagem em relação ao entendimento acerca da

Súmula n° 297, do Superior Tribunal de Justiça, segundo a qual as instituição

financeiras se equiparam às cooperativas de crédito, o que, por si só, permite a

incidência das normas consumeristas às relações travadas entre os cooperados e

sua cooperativa.

O presente trabalho culminará com a verificação do posicionamento

doutrinário e jurisprudencial sobre o tema proposto, quando se demonstrará a não

uniformização de entendimentos, razão pela qual não compreende o escopo do

estudo o encerramento das discussões atualmente existentes.

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1 CONSIDERAÇÕES SOBRE COOPERATIVAS DE CRÉDITO

1.1 CONCEITO E FINALIDADE

Para se definir o que são cooperativas, partir-se-á do conceito trazido pela

Lei nº 5.764/71, a qual prevê o cooperativismo como tipo societário, cuja definição

encontra-se assim disposta:

Art. 4º. As cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e naturezajurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas a falência, constituídas paraprestar serviços aos associados, distinguindo-se das demais sociedadespelas seguintes características: (...).

O disposto no artigo 3º da mesma Lei ressalta:

Celebram contrato de sociedade cooperativa as pessoas quereciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para oexercício de uma atividade econômica, de proveito comum, sem objetivo delucro.

Renato Lopes Becho define cooperativa da seguinte forma:

Definimos a cooperativa como sendo a sociedade de pessoas, de cunhoeconômico, sem fins lucrativos, criada para prestar serviços aos seussócios, de acordo com princípios jurídicos próprios e mantendo seus traçosdistintivos intactos1.

De acordo com o conceito praticamente auto-explicativo trazido pela

legislação especial que regula o cooperativismo no Brasil, pode-se dizer, em linhas

gerais, que cooperativa é uma sociedade civil, de cunho econômico, formada por

pessoas que se ajudam mutuamente visando atingir um fim comum, sem o propósito

de obter lucro.

1 BECHO, Renato Lopes. Elementos de Direito Cooperativo. São Paulo: Dialética, 2002.p. 22.

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A propósito da ausência da cooperativa visar o lucro, Pontes de Miranda a

define da seguinte forma: “A sociedade cooperativa é a sociedade em que a pessoa

do sócio passa à frente do elemento econômico e as conseqüências da

pessoalidade da participação são profundas, a ponto de torná-la espécie de

sociedade”2.

O que se percebe de tais ensinamentos, é que um dos elementos mais

característicos da sociedade cooperativa é o fato de não ter como seus objetivos a

aferição de lucro.

Inobstante, é certo que em razão da mutualidade de cooperação, a

cooperativa, mediante a prestação de seus serviços, assume a missão de “melhorar

as condições econômicas de seus associados”, conforme leciona Carlos Valder do

Nascimento3.

Tal escopo de dar aos cooperados uma melhor condição econômica não

parece ser sinônimo de aferição de lucro, mas sim de simples benefício decorrente

da cooperação mútua entre eles.

Acerca da finalidade da cooperativa, cumpre destacar os ensinamentos do

Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, João Batista Brito Pereira:

Como regra, as sociedades possuem objeto social definido, mediante o qualconsignam a atividade que queiram exercer. A sociedade cooperativa,diferentemente, tem por objeto natural viabilizar a atividade de seusassociados. Seu objeto, portanto, é viabilizar a atividade socioeconômica deseus associados, sem se voltar para a exploração de qualquer atividadeeconômica específica, enquanto estrutura organizacional. Sua estrutura,pois está voltada ao atendimento de seus associados4.

2 MIRANDA, Pontes de. Tratado de Direito Privado. 3. ed. Rio de Janeiro: Borsoi, 1972. tomo 49.

p. 429.3 NASCIMENTO, Carlos Valder do. Teoria geral dos atos cooperativos. São Paulo: Malheiros, 2007.

p. 27.4 PEREIRA, João Batista Brito. Cooperativa, uma alternativa. In: ALMEIDA, Marcus Elidius Michelli

de; BRAGA, Ricardo Peake (Coords.). Cooperativas à luz do Código Civil. São Paulo: QuartierLatin, 2006. p. 114.

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Ainda em razão do escopo das sociedades cooperativas, veja-se como

Virgílio Frederico Perius as define:

As cooperativas são sociedades de pessoas e não de capital. A união depessoas constitui a base orgânica da cooperativa em contraposição e atécerta indiferença com a sociedade de capital, na qual as pessoas sevinculam com o intuito de obter lucros sociais, na proporção do capitalinvestido5.

Interessantes, ainda, as considerações feitas por Fábio Ulhoa Coelho,

segundo o qual o valor cobrado pela prestação dos serviços da cooperativa tem o

único intuito de custear suas atividades:

As sociedades cooperativas destinam-se a engatar um elo na cadeia decirculação de produtos ou serviços por meio de intermediação feita semlucro. Ela proporciona a economia de escala, ao reunir esforços de seussócios (também chamados de associados ou cooperativados), sem acresceros preços tanto quanto acresceria um agente econômico intermediário deoutra espécie. Isso porque, por definição, são pessoas jurídicas que nãopodem ter lucro. Precisando apenas absorver seus custos no preço quepratica, a cooperativa viabiliza o escoamento das mercadorias ou aintermediação de serviços de forma mais barata, em proveito de seussócios6.

Poder-se-ia questionar, no particular, o suposto lucro decorrente de

eventuais excessos de receitas para o custeio das atividades. Entretanto, a

expressão lucro não poderia ser utilizada na ordem cooperativista, conforme leciona

Carlos Valder do Nascimento, “A sobra comumente entendida como lucro –

equivocadamente –, é um resíduo da taxa paga a maior pelos associados para

cobertura das despesas administrativas”7.

Sobre o tema, também ensina Vergílio Frederico Perius, inclusive tratando-o

como o “princípio do retorno”:

5 PERIUS, Virgílio Frederico. Das Sociedades Cooperativas. In: KRUEGER, Guilherme; MIRANDA,

André Branco de (Coords.). Comentários à legislação das sociedades cooperativas, tomo 1, p. 31.6 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 3, Contratos,

p. 464.7 NASCIMENTO, Carlos Valder do. Teoria geral dos atos cooperativos. São Paulo: Malheiros, 2007.

p. 28.

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A cooperativa existe para prestar serviços aos sócios (beneficiários eproprietários), não havendo razão para esta lucrar à custa das economiasdos sócios. A eventual diferença entre a receita e a despesa não constituilucro, mas “sobras”, que não foram gastas na prestação de serviços, ouporque a cooperativa operou com boa margem de segurança na coberturados custos, ou porque a cooperativa operou racionalmente. O que acooperativa cobrou a mais deve ser devolvido ou retornado aos associados,na proporção de suas operações, jamais na proporção do valor do capitalinvestido8.

Portanto, embora a existência de lucro não seja uma das finalidades das

cooperativas, trata-se de uma consequência eventual incapaz de afastar a natureza

que é própria a estas sociedades.

Superada tal questão, pode-se dizer que a ausência do lucro como objetivo

das cooperativas está relacionada ao fato de que estas sociedades não são de

capital, mas sim de pessoas.

Uma das diferenças fundamentais entre tais sociedades está relacionada

justamente à finalidade da associação: na sociedade de capital, o interessado é

atraído pela promessa de rentabilidade sobre a importância integralizada; na de

pessoas, é a cooperativa que é procurada pelo pretenso cooperado que tem o intuito

de cooperar com os demais sócios, sempre visando obter, em contrapartida, uma

“maximização de remuneração das atividades profissionais”, conforme observa

Vergílio Frederico Perius9 .

Assim, pode-se dizer que o intuito das cooperativas é promover o

desenvolvimento social e econômico dos cooperados, sem que, para isso, ostente

obter o lucro.

8 PERIUS, Virgílio Frederido. Das sociedades cooperativas. In: KRUEGER, Guilherme; MIRANDA,

André Branco de (Coords.). Comentários à legislação das sociedades cooperativas. Belo Horizonte:Mandamentos, 2007. tomo I, p. 43.

9 Idem, p. 31.

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1.2 NATUREZA JURÍDICA DAS COOPERATIVAS

As Cooperativas se apresentam de forma relevante no desenvolvimento

social e econômico do país, sendo reguladas por legislação especial própria, qual

seja, a Lei nº 5.764/71.

No entanto, dispõe o artigo 1.093 do Código Civil:

Art. 1.093. A sociedade cooperativa reger-se-á pelo disposto no presenteCapítulo, ressalvada a legislação especial.

A expressão “ressalvada a legislação especial” deve ser interpretada no

sentido que as disposições contidas na Lei nº 5.764/71 não foram revogadas com a

entrada em vigor do Código Civil de 2002, sendo que, em sendo conflitantes, devem

prevalecer às normas previstas no Código Civil, segundo entendimento de Ricardo

Peake Braga:

Assim, a expressão “ressalvada a legislação especial” deve ser entendidaapenas no sentido de que a legislação especial continua em vigor. Todavia,em caso de conflito, deverão prevalecer as normas do presente capítulo doCódigo Civil10.

Nesse sentido também se posiciona Fábio Ulhoa Coelho:

As Cooperativas serão regidas por normas do Código Civil (arts. 1.093 a1.096) e, no que não as contrariar, pelas da lei especial da política nacionalde cooperativismo (Lei nº 5.764/71 – LCoop). Em caso de a matéria não seencontrar regida em nenhuma dessas normas, submete-se às aplicáveis àsociedade simples11.

10 BRAGA, Ricardo Peake. Sociedades Cooperativas no novo Código Civil. In: ALMEIDA, Marcus

Elidius Michelli de; BRAGA, Ricardo Peake (Coords.). Cooperativas à luz do Código Civil. SãoPaulo: Quartier Latin, 2006. p. 23-24.

11 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 3, Contratos,p. 465.

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Porém, não se pode olvidar que o cooperativismo é uma forma societária

peculiar, com princípios e legislação própria, e o simples fato de ter natureza civil

não retira suas características.

O Código Civil classificou as sociedades em duas espécies: empresária e

simples, sendo considerada empresária aquela que tem por objeto o

desenvolvimento de atividade própria de empresário, que vem definida no artigo

966, do Código Civil, ao passo que são consideradas simples todas as demais

sociedades.

Ressalte-se que o Código Civil definiu expressamente as cooperativas como

sociedade simples, conforme se verifica do disposto no parágrafo único do artigo

982, in verbis:

Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária asociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria deempresário sujeito a registro (art. 926); e simples, as demais.Parágrafo único – Independente de seu objeto, considera-se empresária asociedade por ações; e, simples, a cooperativa.

Entretanto, há vozes que defendem a impropriedade com que o legislador

tratou a questão da natureza jurídica das cooperativas.

Karina Amariz Pires assim aborda esta questão:

Deste modo, a natureza civil atribuída às sociedades cooperativas deve-seao fato de seu objetivo estar voltado para a prestação de serviços aosassociados. É de se notar que as sociedades prestadoras de serviços, deregra, guardam natureza de sociedade civil, uma vez que é atividaderegulada pelo Direito Civil e não pelo Direito Comercial12.

Continuando, Karina Amariz Pires esclarece que “com o advento do Novo

Código Civil, a inserção das sociedades cooperativas no “Livro II – Do Direito de

12 PIRES, Karina Amariz. Enquadramento sindical dos empregados de cooperativas de crédito e

outros temas correlatos. In: LEITE, Jaqueline Rosadine de Freitas; SENRA, Ricardo Belízio deFaria (Coords.). Aspectos jurídicos da cooperativas de crédito. Belo Horizonte: Mandamentos,2005. p. 192-193.

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Empresa” não importa em afirmar que a cooperativa tem natureza exclusivamente

civil, de modo a dizer que não existe autonomia do direito cooperativo”13.

A atribuição da natureza de sociedade simples às cooperativas foi

considerada, para alguns doutrinadores, um retrocesso legislativo, por entenderem

que pelas características peculiares inerentes ao cooperativismo, as quais as

diferenciam de todas as outras sociedades, deveriam ter natureza de cooperativa, e

não natureza civil, como quis o legislador.

Nesse sentido se posiciona Nilson Reis Júnior:

Sendo assim, dúvida não resta de que a sociedade cooperativa deveráadotar as normas pertinentes à sociedade simples.Contudo, a novel codificação desconsiderou por completo o avançoconquistado pelo movimento cooperativista no sentido de adquirir naturezaprópria, ao atribuir à cooperativa a natureza de sociedade simples.Diante disso, entendemos que o Código Civil, nesse aspecto, retroagiu notempo ao não reconhecer a natureza jurídica própria da cooperativa. É quea fase atual do cooperativismo requer um texto moderno e compatível como sistema, nos moldes das leis européias sobre o assunto14.

Ainda sobre a impropriedade da natureza civil atribuída às sociedades

cooperativas, Ênio Meinen se posiciona no sentido de que elas não perderam sua

natureza de cooperativa, pelo simples fato de terem sido classificadas como

sociedade simples:

Fazendo, por pertinência, uma rápida alusão ao novo Código Civil, verifica-se que este, a par de reafirmar algumas das características acima listadas(art. 1.094), e submeter as cooperativas - ressalvando a lei Cooperativista(parte final dos arts. 1093 e 1096) – à disciplina das chamadas SociedadesSimples (art. 982, parágrafo único, “in fine”, e parte inicial dos arts. 1093 e1096, sugere novidades de impacto na comparação com a Lei 5.764/71.

Ainda que um apanhado literal o possa sugerir (elevando, além do devido, oteor do parágrafo único, in fine, do art. 982), desde logo revelamos nossa

13 PIRES, Karina Amariz. Enquadramento sindical dos empregados de cooperativas de crédito e

outros temas correlatos. In: LEITE, Jaqueline Rosadine de Freitas; SENRA, Ricardo Belízio deFaria (Coords.). Aspectos jurídicos da cooperativas de crédito. Belo Horizonte: Mandamentos,2005. p. 193.

14 REIS JÚNIOR, Nilson. O cooperativismo no Código Civil. In: KRUEGER, Guilherme; MIRANDA,André Branco de (Coords.). Comentários à legislação das sociedades cooperativas. Belo Horizonte:Mandamentos, 2007. tomo II, p. 78.

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convicção, baseados, de resto, no parágrafo único do art. 983 (1ª parte), naparte final do art. 1093 e no art. 1159, de que CCB não converte ascooperativas em Sociedade Simples. O que o novíssimo diploma assentadoem preceitos abstratos e genéricos (instrumento de “partida”, matrizflexível), segundo o professor Miguel Reale – propõe é um alinhamentoparcial com esse tipo societário, visando a uma classificação referencialpadrão, uma segregação mínima (ainda que por semelhança – no caso dassociedades simples e das cooperativas o elo é a natureza civil) dosdiferentes tipos societários, já que a todos eles se pretende remeter (comoque compondo um catálogo). A Lei Cooperativista – que, ademais, éposterior à concepção do projeto da vindoura Lei Civil (de 1965) –, enfim,sobrevive e, com ela, a natureza singularíssima das sociedadesCOOPERATIVAS15.

As cooperativas são norteadas pelos princípios expostos na Lei nº 5.764/71,

os quais as diferenciam das demais sociedades, como se verá adiante.

Uma das características mais marcantes das sociedades cooperativas é seu

caráter intuito personae, já que são formadas por uma organização de pessoas, as

quais livremente aderem ao sistema cooperativo, onde cada qual prestará serviço à

sociedade, de forma mútua, buscando atingir a finalidade da sociedade, que é

comum a todos, porém sem objetivo de lucro.

Cooperativa e cooperado estão intimamente ligados, sendo os associados

que direcionam os rumos que à sociedade irá tomar, de modo que cada associado

tem direito a um voto, independentemente do número de cotas integralizadas.

O lucro não integra os objetivos das cooperativas, tendo em vista que os

cooperados não investem na sociedade com a intenção de trazer maior rentabilidade

ao seu capital, mas pelo contrário, buscam, através dos serviços prestados pela

sociedade, elevar sua posição econômica e social.

Nesse sentido, leciona Vergílio Frederico Perius:

A intenção dos sócios não é visar a lucros. As cooperativas, historicamente,nasceram para combater a lucros na distribuição dos bens, colocando-os apreço justo. O sócio ingressa com o fim exclusivo não de obter umdividendo máximo de seu capital investido, mas para utilizar os serviços da

15 MEINEN, Ênio. Marco regulatório e modelo estrutural de cooperativismo de crédito. In: MEINEN,

Ênio; DOMINGUES, Jefferson Narcolini; DOMINGUES, Jane Aparecida Stefanes (Coords.).Cooperativas de crédito no Direito brasileiro. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2002. v. 1, p. 23.

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sociedade, com a intenção de elevar seu status econômico. Duas regrassão aplicadas para evitar o lucro: juros módicos e proibição de retorno aossócios, quando houver resultados nas operações com terceiros. Essesresultados são contabilizados em um fundo social indivisível16.

Em tais ensinamentos, resta clara a função social das cooperativas de

crédito, na medida em que, disponibilizando serviços aos cooperados, mediante um

custo inferior ao comumente praticado pelas instituições financeiras bancárias,

permitem que estas não atuem de forma a afastar seus clientes, os quais teriam

razões ainda maiores para se associar às cooperativas de crédito.

Outra característica importante das cooperativas é a sua finalidade, qual

seja, prestar serviços aos associados, de modo que seu objetivo é o mesmo dos

sócios, o que a diferencia em muito das demais sociedades. Tal fato deriva de

alguns procedimentos adotados pelas cooperativas, como por exemplo, em relação

às sobras originadas das operações, as quais não são distribuídas de acordo com o

capital, mas sim de acordo com a participação operacional de cada sócio.

Também está relacionado aos objetivos comuns da cooperativa e de seus

cooperados o fato de que as cooperativas buscam sempre o menor custo aos

associados do que o habitualmente oferecido no mercado.

Cumpre ressaltar outra diferença que decorre da pessoalidade das

cooperativas, que está na impossibilidade de transferência das cotas-partes, as

quais inclusive não podem ser herdadas17.

Diante das considerações acima expostas, verificam-se relevantes

características das cooperativas, diferenciando-as das demais sociedades, sejam

16 PERIUS, Virgílio Frederido. Das sociedades cooperativas. In: KRUEGER, Guilherme; MIRANDA,

André Branco de (Coords.). Comentários à legislação das sociedades cooperativas. Belo Horizonte:Mandamentos, 2007. tomo I, p. 33.

17 Idem, p. 41.

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elas civis ou comerciais. Tais características, dentre inúmeras outras, estão

expressamente contidas nos incisos do artigo 4º da Lei 5.764/71, in verbis:

Art. 4º. As cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e naturezajurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas a falência, constituídas paraprestar serviços aos associados, distinguindo-se das demais sociedadespelas seguintes características:I - adesão voluntária, com número ilimitado de associados, salvoimpossibilidade técnica de prestação de serviços;II - variabilidade do capital social representado por quotas-partes;III - limitação do número de quotas-partes do capital para cada associado,facultado, porém, o estabelecimento de critérios de proporcionalidade, seassim for mais adequado para o cumprimento dos objetivos sociais;IV - inacessibilidade das quotas-partes do capital a terceiros, estranhos àsociedade;V - singularidade de voto, podendo as cooperativas centrais, federações econfederações de cooperativas, com exceção das que exerçam atividade decrédito, optar pelo critério da proporcionalidade;VI - quorum para o funcionamento e deliberação da Assembléia Geralbaseado no número de associados e não no capital;VII - retorno das sobras líquidas do exercício, proporcionalmente àsoperações realizadas pelo associado, salvo deliberação em contrário daAssembléia Geral;VIII - indivisibilidade dos fundos de Reserva e de Assistência TécnicaEducacional e Social;IX - neutralidade política e indiscriminação religiosa, racial e social;X - prestação de assistência aos associados, e, quando previsto nosestatutos, aos empregados da cooperativa;XI - área de admissão de associados limitada às possibilidades de reunião,controle, operações e prestação de serviços.

Pode-se concluir que mesmo diante da natureza civil atribuída às

sociedades cooperativas pelo Código Civil, elas não perderam a sua natureza de

cooperativa. Tal assertiva se sustenta em razão das particularidades inerentes a

elas, as quais se destacam por serem sociedades totalmente diferentes das demais,

com características e regramentos próprios.

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1.3 ATO COOPERATIVO

Com o intuito de demonstrar qual a legislação aplicável às relações

entabuladas entre as cooperativas e seus cooperados, cumpre esclarecer de que

forma elas ocorrem.

O artigo 79, da Lei 5.764/71, dispõe sobre ato cooperativo da seguinte

forma:

Art. 79. Denominam-se atos cooperativos os praticados entre ascooperativas e seus associados, entre estes e aquelas e pelas cooperativasentre si quando associados, para a consecução dos objetivos sociais.Parágrafo único. O ato cooperativo não implica operação de mercado,nem contrato de compra e venda de produto ou mercadoria.

De acordo com o dispositivo acima transcrito, configura-se ato cooperativo a

relação que tenha em um polo uma cooperativa e no outro um cooperado, ou entre

cooperativas quando associadas, desde que vinculado à finalidade contida nos

estatuto social, não implicando em operação de mercado.

Veja-se o conceito de ato cooperativo trazido por Fabrício Klein:

Assim, o ato cooperativo, seja em sede de disposição legal ou conforme asdefinições doutrinárias, é aquele praticado entre as cooperativas e seusassociados para a realização dos objetivos sociais principais ousubsidiários, isento de lucro e intermediação, excluindo-se as operações demercado, os contratos de compra e venda e sendo facultada a associaçãointercooperativas18.

Da análise do conceito acima, pode-se dizer que os atos cooperativos

expressam a vontade dos associados na consecução de seu negócio-fim, já que são

donos do próprio negócio, influindo diretamente na tomada das decisões.

18 KLEIN, Fabrício. O apoio e o estímulo ao cooperativismo na Constituição Federal. In: KRUEGER,

Guilherme; MIRANDA, André Branco de (Coords.). Comentários à legislação das sociedadescooperativas. Belo Horizonte: Mandamentos, 2007. tomo I, p. 203.

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É através do ato cooperativo que a sociedade formaliza seus negócios

jurídicos, preponderantemente necessários para a consecução de seu objetivo

estatutário, segundo ensinamentos de Carlos Valder do Nascimento:

Assim, fins e objetivos fundem-se na realização de atividades preconizadaspela estrutura estatutária, mediante a prática do ato cooperativo dotado decaracterística peculiar em termos de sua natureza intrínseca. Assim, avontade da sociedade cooperativa exterioriza-se pelo ato cooperativo, quesintetiza a formalização dos negócios jurídicos, constitutivos de direitos eobrigações contraídas pela mesma, em face dos efeitos jurídicos por eleproduzidos19.

Ocorre que duas correntes se formaram acerca dos atos Cooperativos: a

restritiva e a ampla.

A primeira entende que ato cooperativo é aquele realizado tão somente

entre cooperativa e cooperado ou entre cooperativas quando associadas, por

acreditar que o artigo 79, da Lei 5.764/71, deve ser interpretado de forma literal;

enquanto que a segunda (ampla), sustenta que tal interpretação deve ser feita

sistematicamente, caracterizando-se sempre ato cooperativo quando a cooperativa

praticar atos sem fins lucrativos, vinculados à finalidade contida no estatuto social,

mesmo que haja a participação de terceiros.

De acordo com a teoria ampla, a interpretação de uma norma jamais pode

ser feita de forma gramatical, devendo ser analisado o contexto jurídico no qual ela

está inserida.

Nesse sentido Fábio Martins Bonilha Curi:

Realmente, ao ler o artigo de forma literal, temos a sensação de quesomente se configura o ato cooperativo se não houver a participação deterceiros. Tal hermenêutica, entretanto, não deve ser utilizada, pois ainterpretação de uma norma jamais pode ser feita de forma literalgramatical, já que, no mínimo, temos de analisá-la de acordo com o sistema

19 NASCIMENTO, Carlos Valder do. Teoria geral dos atos cooperativos. São Paulo: Malheiros, 2007.

p. 70.

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jurídico em que está incluída, levando em consideração princípios ediretrizes do sistema jurídico20.

Inobstante a discussão doutrinária, o STJ tem demonstrado ser fiel à teoria

restritiva do ato cooperativo:

(...) Deveras, a caracterização de atos como cooperativos deflui doatendimento ao binômio consecução do objeto social da cooperativa erealização de atos com seus associados ou com outras cooperativas, nãose revelando suficiente o preenchimento de apenas um dos aludidosrequisitos.Ademais, o ato cooperativo típico não implica operação de mercado, ex vido disposto no parágrafo único, do artigo 79, da Lei 5.764/71.Conseqüentemente, as aplicações financeiras, por constituírem operaçõesrealizadas com terceiros não associados (ainda que, indiretamente, embusca da consecução do objeto social da cooperativa), consubstanciam"atos não-cooperativos", cujos resultados positivos devem integrar a basede cálculo do imposto de renda.Recurso especial da Fazenda Nacional provido. Acórdão submetido aoregime do artigo 543-C, do CPC, e da Resolução STJ 08/2008.(REsp. 58.265/SP, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Seção, julgado em09/12/2009, DJe 01/02/2010)

Note-se da decisão supra, que o STJ entende que o fato de a cooperativa

fazer aplicações financeiras com as sobras de caixa não é considerado como ato

cooperativo, na medida em que tal conduta não está relacionada à finalidade a que

as cooperativas se destinam, pois notadamente que as aplicações tem como

intenção a aferição de lucro. Entretanto, ainda que assim não fosse, observa-se da

mesma ementa que somente poderia ser considerado como ato cooperativo aquele

praticado entre cooperativa e seus associados ou com outras cooperativas. Nota-se,

portanto, que dois requisitos foram relacionados como necessários para a

configuração do ato cooperativo: “consecução do objeto social da cooperativa e

realização de atos com seus associados ou com outras cooperativas”, sendo que a

presença de apenas um desses requisitos caracteriza o ato como não cooperativo.

20 CURI, Fábio Martins Bonilha. Uma possibilidade de desenvolvimento da democracia no âmbito

econômico. In: KRUEGER, Guilherme (Coord.). Cooperativas na ordem econômica constitucional:teoria e direito. Belo Horizonte: Mandamentos, 2008. tomo I, p. 129.

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Portanto, ainda que o julgado em análise esteja relacionado à matéria tributária,

pode-se dizer que o STJ filia-se à teoria restritiva do ato cooperativo, sendo que os

atos praticados com terceiros, ainda que visando a “consecução do objetivo social

da cooperativa”, são considerados como atos não cooperativos.

A propósito, da análise de outra decisão do STJ, permite-se concluir estar

pacificado o entendimento, segundo o qual o artigo 79, da Lei n° 5.764/71, deve ser

interpretado de forma literal ou restrita, senão observe-se da ementa abaixo:

TRIBUTÁRIO - COOPERATIVAS DE TRABALHO MÉDICO EASSEMELHADOS - PIS E COFINS - ATOS PRATICADOS COM NÃO-ASSOCIADOS: INCIDÊNCIA - PRECEDENTES.1. É legítima a incidência do PIS e da COFINS, tendo como base de cálculoo faturamento das cooperativas de trabalho médico, conceito que restoudefinido pelo STF como receita bruta de mercadorias, de mercadorias eserviços e de serviços de qualquer natureza, por ocasião do julgamento daADC 01/DF e mais recentemente, dos Recursos Extraordinários346.084/PR, 357.950/RS, 358.273/RS e 390.840/MG, dentre outros.2. De igual maneira, na linha da jurisprudência da Suprema Corte, oadequado tratamento tributário ao ato cooperativo, a que se refere o art.146, III, “c”, da Carta Magna e o tratamento constitucional privilegiado a serconcedido ao ato cooperativo não significam ausência de tributação.3. Reformulação do entendimento da Relatora nesse particular.4. A partir dessas premissas, e das expressas disposições das Leis5.764/71 e LC 70/91, e ainda do art. 111 do CTN, não pode o PoderJudiciário atuar como legislador positivo, criando isenção sobre os valoresque ingressam na contabilidade da pessoa jurídica e que, posteriormente,serão repassados a seus associados, relativamente às operaçõespraticadas com terceiros.5. Apenas sobre os atos cooperativos típicos, assim entendidos comoaqueles praticados na forma do art. 79 da Lei 5.764/71 não ocorre aincidência de tributos, consoante a jurisprudência consolidada do STJ.6. Recursos especiais não providos.(REsp. 1081747/PR, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgadoem 15/10/2009, DJe 29/10/2009) (grifo nosso)

Portanto, enquanto não houver definição exata acerca do conceito de ato

cooperativo por parte do legislador, a tendência, ao menos perante o STJ, é de que

a interpretação a ser dada ao artigo 79, da Lei n° 5.764/71, deva ser a restritiva.

Entretanto, o STF já reconheceu a existência de repercussão geral, sendo

que tal questão encontra julgamento no Recurso Extraordinário n° 598.085-RG/RJ,

conforme se observa da ementa abaixo:

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Trata-se de recurso extraordinário interposto contra acórdão assimementado: “TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. COOPERATIVA DETRABALHO MÉDICO. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS A TERCEIROS NÃOABRANGIDA PELA DEFINIÇÃO DE ATO COOPERATIVO. INCIDÊNCIADA COFINS. APELAÇÃO E REMESSA PROVIDAS. 1. Denominam-seatos cooperativos os praticados entre cooperativas e seus associados,entre estes e aquelas e pelas cooperativas entre si quando associadospara a consecução dos objetivos sociais (Lei nº 5.764/71, art. 79,caput). 2. Não se enquadrando a prestação de serviços a terceiros nadefinição de atos cooperativos, possível a incidência da COFINS nosexatos termos em que determina a Lei nº 9.718/98, tida por constitucionalpor esta Corte (Argüição de Inconstitucionalidade na AMS nº1999.01.00.096053-2/MG, Relator designado Juiz CARLOS MOREIRAALVES, Corte Especial, maioria, DJ II 24 SET 2001, p. 135). 3. Apelação eremessa providas (...) (fl. 156). Neste RE, fundado no art. 102, III, a, daConstituição Federal, alegou-se ofensa aos arts. 146, III, c, 150, II, 174, §2°, e 195, I, V, § 4º e § 6°, e 246, da mesma Carta, sob os seguintesargumentos, em suma: [i] isenção em favor das sociedades cooperativasprevista no art. 6° da LC 70/91, relativamente à COFINS, não poderia tersido revogada pela MP 1.858/99, por ofensa ao princípio da hierarquia dasleis e aos dispositivos constitucionais (arts. 146, III, c, e 174 da CF) quepreceituam tratamento tributário adequado e apoio ao cooperativismo; [ii]prazo nonagesimal de anterioridade deve ser observado a partir de cadareedição da medida provisória. É o breve relatório. Decido. O Plenário destaCorte, em 20/8/2008, ao apreciar Questão de Ordem suscitada no RE540.410/RS, Rel. Min. Cezar Peluso, decidiu estender a aplicação do art.543-B do Código de Processo Civil aos recursos cujo tema constitucionalapresente repercussão geral reconhecida pelo Plenário, ainda queinterpostos contra acórdãos publicados antes de 3 de maio de 2007. Nocaso, o recurso extraordinário versa sobre matéria cuja repercussãogeral já foi reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal (RE 598.085-RG/RJ, Rel. Min. Eros Grau). Isso posto, determino, com fundamentono art. 328, parágrafo único, do RISTF, a devolução destes autos aoTribunal de origem para que seja observado o disposto no art. 543-Bdo CPC, visto que no presente extraordinário discute-se questão queserá apreciada no RE 598.085-RG/RJ. Publique-se. Brasília, 20 de outubrode 2009. Ministro Ricardo Lewandowski - Relator – 1 (RE 454249,Relator(a): Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/10/2009, publicadoem DJe-204 Divulg. 28/10/2009 – Public. 29/10/2009) (grifo nosso)

Portanto, pode-se dizer que, em que pese o entendimento estar pacificado

no STJ, a matéria será apreciada pelo STF, cuja decisão deverá servir como

fundamento para que às demais demandas que versem sobre o mesmo tema sejam

aplicadas às disposições contidas no artigo 543-B, do CPC.

Ao que se percebe, portanto, a questão em debate está próxima de ser

pacificada na esfera do Poder Judiciário.

Entretanto, caso o legislador cumpra o seu dever constitucional e venha a

conceituar o ato cooperativo de forma diversa da que atualmente o é, certamente

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que toda a construção jurisprudencial, poderá ter que ser novamente revisada

visando sua atualização.

1.4 COOPERATIVAS DE CRÉDITO E O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

As cooperativas de crédito estão inseridas no sistema financeiro por força do

disposto no artigo 17, da Lei nº 4.595, de 31.12.1964:

Art. 17. Consideram-se instituições financeiras, para os efeitos dalegislação em vigor, as pessoas jurídicas públicas ou privadas, que tenhamcomo atividade principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicaçãode recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ouestrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiros.Parágrafo único. Para os efeitos desta lei e da legislação em vigor,equiparam-se às instituições financeiras as pessoas físicas que exerçamqualquer das atividades referidas neste artigo, de forma permanente oueventual.”

Conforme se verifica, as cooperativas de crédito passaram a ser legalmente

consideradas instituições financeiras por exercerem atividades atinentes à “coleta,

intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, em

moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiros”.

Todavia, cumpre observar que o sistema financeiro tem diversas formas de

instituições, de modo que se deve observar cada uma delas de acordo com suas

particularidades, visando impedir o desvirtuamento de cada instituto.

Nesse sentido, leciona Marco Aurélio Bellato Kaluf:

A denominada Lei de Reforma Bancária é categórica em incluir ascooperativas de crédito no âmbito das instituições financeiras. Contudo,cabe avaliar que a inclusão no rol de instituições financeiras autorizadas afuncionar no país não interfere na natureza própria que é definida na LeiCooperativista (art. 4º). Nesse sentido quedam-se simplistas quaisquerconsiderações ou julgamentos baseados em meras equiparações ouanalogias às instituições financeiras em geral. Vale ressaltar que o SistemaFinanceiro Nacional é formado por diversas modalidades de instituiçõesfinanceiras, com objetos que vão desde a captação de depósitos até a

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compra e venda de ações. Nesse sentido, mediante um plexo de objetos osmais variados, a que se curvar o aplicador do Direito às peculiaridades dasdiversas situações que surgem do emaranhado de relações dessasdiferentes instituições financeiras21.

Segundo os ensinamentos de Jane Aparecida Stefanes Domingues, o fato

das cooperativas de crédito estarem inseridas no sistema financeiro não

descaracteriza seu aspecto societário, pois deve-se observar as normas baixadas

pelo Conselho Monetário Nacional dentro da lei cooperativista, e apenas para fins de

autorização de funcionamento e fiscalização, haja vista que as cooperativas apenas

administram os recursos dos seus cooperados, não havendo intermediação:

O enquadramento como Instituição Financeira, enquadramento dado peloCMN às cooperativas de crédito, advém justamente do conceito deinstituição financeira, que significa intermediação financeira de dinheiropróprio ou de terceiros através das operações ativas e passivas.Embora as cooperativas de crédito apenas administrem e não intermediemos recursos próprios dos associados através das operações ativas epassivas para efeitos da Lei 4.595/64, foram enquadradas como InstituiçãoFinanceira privada não bancária do subsistema operativo captadora dedepósito à vista.Ocupando esta Classificação dentro do SFN, não fica descaracterizado seuaspecto societário e forma de constituição pela Lei 5764/71, devemosobservar as normas baixadas pelo CMN, dentro da prescrição da leiinstituidora da cooperativa, ou seja, para fins de autorização defuncionamento e fiscalização22.

O fato das cooperativas de crédito estarem inseridas no Sistema Financeiro

Nacional fez surgir algumas controvérsias no que diz respeito à atividade por ela

desenvolvida, levando a interpretações que equiparam as operações entre

cooperativa e associado com as havidas entre banco e cliente. No entanto, pode-se

dizer que se tratam de figuras distintas, uma vez que o tratamento legal dispensado

às cooperativas não é o mesmo que o atinente aos bancos.

21 KALUF, Marco Aurélio Bellato. A responsabilidade do associado perante a cooperativa de crédito.

In: LEITE, Jaqueline Rosadine de Freitas; SENRA, Ricardo Belízio de Faria (Coords.). Aspectosjurídicos da cooperativas de crédito. Belo Horizonte: Mandamentos, 2005. p. 228-229.

22 DOMINGUES, Jane Aparecida Stefanes. As cooperativas de crédito no Sistema FinanceiroNacional. In: MEINEN, Ênio; DOMINGUES, Jefferson Narcolini; DOMINGUES, Jane AparecidaStefanes (Coords.). Cooperativas de crédito no Direito brasileiro. Porto Alegre: Sagra Luzzatto,2002. v. 1, p. 42.

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Ênio Meinen, sustenta que as relações entre cooperativa e cooperado não

podem ser equiparadas às relações entre bancos e seus clientes, por entender que

as sociedades cooperativas ostentam uma natureza sui generis, com características

peculiares:

A cooperativa de crédito, com efeito, como as cooperativas dos demais ramos,ostenta natureza jurídica sui generis, caracterizando-se precipuamente porsua finalidade e pela nítida configuração de sociedade de pessoas. Estaparticularidade impede, e.g., que os pactos realizados entre a cooperativa eseus associados sejam interpretados de forma idêntica aos contratos entrebancos e seus clientes, dado que naquele ajuste se identifica uma relaçãode mutualidade (interna – do dono com a sua própria entidade),particularidade que não se reproduz no último caso (onde a relação éexterna/mercantil, envolvendo partes entre si estranhas). Na cooperativa,reitere-se, não se persegue o lucro (já que o excedente, por força de lei esegundo diretrizes assembleares, tem de ser devolvido, direta ouindiretamente, para quem o gerou, diminuindo as tarifas e os juros pagos noperíodo – em outras palavras, os encargos pactuados nos contratos nãosão os efetivamente recolhidos). No empreendimento cooperativo, viabiliza-se tão só o exercício de atividade econômica de proveito comum aosparticipantes23.

Tal ensinamento permite dizer que as cooperativas de crédito possuem

forma jurídica e finalidade distinta dos bancos e das demais empresas de crédito, de

modo que as cooperativas visam ao mutualismo dos associados, promovendo-lhes a

melhoria socioeconômica, sem finalidade de lucro, constituindo sociedade de

pessoas, enquanto que os bancos e as das demais empresas de crédito são

sociedades de capital, que visam essencialmente à lucratividade.

No mesmo sentido se posiciona Armando Campos:

Não se pode, nem por isso, confundir cooperativas de crédito com bancos,pois, apenas por serem igualmente instituições financeiras, não seconfundem por sua natureza jurídica, as sociedades cooperativas sãosociedades de pessoas, regidas por lei específica, que lhes define aestrutura, de natureza civil, enquanto os segundos são sociedades decapital, regidos pela lei das sociedades anônimas, e os objetivos de ambas

23 MEINEN, Ênio. Cooperativas de crédito: raízes. evolução e particularidades. In: MEINEN, Ênio;

DOMINGUES, Jefferson Narcolini; DOMINGUES, Jane Aparecida Stefanes (Coords.).Cooperativas de crédito no Direito brasileiro. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2002. v. 1,p. 17-18.

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as entidades jurídicas guardam entre si inquestionável distância, einconfundíveis diferenças de propósitos24.

Segundo Ênio Meinen, a própria Lei 4.595/64, no § 1º do artigo 18, fez a

devida distinção entre bancos, sociedades de crédito, financiamento e investimento,

caixas econômicas e cooperativas de crédito, visando evitar confusão entre os

tratamentos jurídicos dispensados a cada uma delas:

A vinculação, em parte (apenas no campo de suas operações), ao órgãonormativo comum do sistema financeiro nacional, todavia, não converte ascooperativas em bancos, nem as faz confundir com outras instituiçõesfinanceiras. Tanto é assim que a própria Lei 4.595/64 – Lei Bancária –, no §1º do art. 18, cuida de fazer a devida separação entre bancos, sociedadesde crédito, financiamento e investimento, caixas econômicas e cooperativasde crédito. Essa segregação, por sinal, é ainda mais nítida ao teor do art.192, VII, da Constituição Federal (dispositivo de conteúdo confuso e tímido,que, além do efeito negativo imediato – impede que, por lei ou atoadministrativo, as cooperativas sejam discriminadas em relação aos bancos– não encerra qualquer outra conseqüência útil)25.

Cumpre ressaltar o disposto no artigo 25 da Lei nº 4.595/64, que determina

às instituições financeiras, excetuadas as cooperativas de crédito, a instituição sob a

forma de sociedades anônimas.

Art. 25. As instituições financeiras privadas, exceto as cooperativas decrédito, constituir-se-ão unicamente sob a forma de sociedade anônima,devendo a totalidade de seu capital com direito a voto ser representada porações nominativas.”

Além disso, a própria Lei nº 5.764/71 veda as cooperativas de crédito de se

utilizarem da expressão banco:

Art. 5°. As sociedades cooperativas poderão adotar por objeto qualquergênero de serviço, operação ou atividade, assegurando-se-lhes o direitoexclusivo e exigindo-se-lhes a obrigação do uso da expressão "cooperativa"em sua denominação.Parágrafo único. É vedado às cooperativas o uso da expressão "Banco”.

24 CAMPOS, Armando. Responsabilidade civil de administradores das cooperativa de crédito. In:

LEITE, Jaqueline Rosadine de Freitas; SENRA, Ricardo Belízio de Faria (Coords.). Aspectosjurídicos da cooperativas de crédito. Belo Horizonte: Mandamentos, 2005. p. 59.

25 MEINEN, Ênio. Marco regulatório e modelo estrutural de cooperativismo de crédito. In: MEINEN,Ênio; DOMINGUES, Jefferson Narcolini; DOMINGUES, Jane Aparecida Stefanes (Coords.).Cooperativas de crédito no Direito brasileiro. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2002. v. 1, p. 25-26.

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A Lei Complementar nº 130/2009, que dispõe sobre o Sistema Nacional de

Crédito Cooperativo, define o objetivo das cooperativas de crédito da seguinte

forma:

Art. 2º. As cooperativas de crédito destinam-se, precipuamente, a prover,por meio da mutualidade, a prestação de serviços financeiros a seusassociados, sendo-lhes assegurado o acesso aos instrumentos do mercadofinanceiro.§ 1º A captação de recursos e a concessão de créditos e garantias devemser restritas aos associados, ressalvadas as operações realizadas comoutras instituições financeiras e os recursos obtidos de pessoas jurídicas,em caráter eventual, a taxas favorecidas ou isentos de remuneração.

Denota-se, do texto legal supra, que enquanto que no sistema bancário o

objetivo é essencialmente o lucro, nas cooperativas de crédito o intuito é estimular a

poupança e prestar assistência financeira aos cooperados.

Verifica-se que as cooperativas têm regramento próprio, diferente do

tratamento legal dispensado aos bancos, as quais através do mutualismo prestam

serviços somente aos seus associados, enquanto que os bancos colocam seus

serviços à disposição de toda a coletividade, buscando tão somente a lucratividade.

Inobstante, vale destacar algumas peculiaridades das cooperativas de

crédito, a saber: são consideradas instituições financeiras não bancárias, enquanto

que os bancos são instituições bancárias. São sociedades de pessoas, já os bancos

são sociedades de capital. Tem por objetivo prestar serviços aos associados,

porquanto que os bancos visam à lucratividade. O número de cooperados é

ilimitado, diferentemente do que ocorre com as instituições bancárias, pois o número

de acionistas é limitado. Controle democrático, tendo em vista que cada associado

tem direito a um voto, enquanto nas instituições bancárias cada ação dá direito a um

voto. Nas assembléias o quorum é igual ao número de cooperados, já nos bancos o

quorum é baseado no capital. Nas cooperativas o retorno é proporcional ao valor

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das operações, enquanto que nas instituições bancárias o dividendo é proporcional

ao valor das ações. Por fim, nas cooperativas as atividades são restritas aos

cooperados, enquanto que nos bancos as atividades são livres26.

Diante do estudo realizado, pode-se dizer que embora bancos e cooperativas

de crédito estejam inseridos no sistema financeiro nacional, as diferenças entre as

suas finalidades, formas de vínculo, constituição, natureza e até mesmo a

denominação, não permitem confundir estas duas espécies distintas de instituições.

26 DOMINGUES, Jane Aparecida Stefanes; DOMINGUES, Jefferson Narcolini. Não aplicabilidade do

Código de Defesa do Consumidor nas relações entre cooperativas de crédito. In: MEINEN, Ênio;DOMINGUES, Jefferson Narcolini; DOMINGUES, Jane Aparecida Stefanes (Coords.).Cooperativas de crédito no Direito brasileiro. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2002. v. 2, p. 90.

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2 CARACTERIZAÇÃO DAS RELAÇÕES DE CONSUMO

2.1 CONCEITO DE CONSUMIDOR

O Código de Defesa do Consumidor surgiu com o intuito de buscar um

equilíbrio nas relações entre desiguais.

Todavia, a dificuldade encontrada para a aplicação desta legislação está no

fato de se estabelecer quem são os sujeitos por ela tutelados.

O artigo 2º o CDC conceitua consumidor, como sendo “toda pessoa física ou

jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”.

Da simples leitura do referido artigo, verifica-se que o legislador buscou

delimitar o conceito de consumidor. Entretanto, a expressão “destinatário final”,

apresenta certa dificuldade para aplicação deste conceito, de modo que a doutrina e

a jurisprudência buscam dirimir essa controvérsia, a fim de esclarecer o significado

da referida expressão.

Para alguns doutrinadores, destinatário final é aquele que tão somente retira

o bem da cadeia de produção, mesmo que seja para utilizá-lo como insumo, ou até

mesmo com objetivo de lucro. Por outro lado, há entendimentos de que, para ser

considerado destinatário final, não pode haver o consumo intermediário, ou seja,

com objetivo de revenda, de obter lucro, é necessário ser destinatário fático e

econômico do bem ou serviço.

Para Rizzatto Nunes, aquele que adquire produto como intermediário do

ciclo de produção não é considerado consumidor:

Evidentemente, se alguém adquire produto não como destinatário final, mascomo intermediário do ciclo de produção, não será considerado consumidor.Assim, por exemplo, se uma pessoa – física ou jurídica – adquire calças

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para revendê-las, a relação jurídica dessa transação não está sob a égideda Lei nº 8.078/9027.

Diante da divergência para se conceituar destinatário final, criaram-se duas

teorias, a finalista e a maximalista, conforme se verá adiante.

2.1.1 Teoria Finalista

Para os adeptos da teoria finalista, é considerado consumidor o destinatário

fático e econômico do bem ou serviço.

Cláudia Lima Marques conceitua a teoria finalista da seguinte forma:

Destinatário final seria aquele destinatário fático e econômico do bem ouserviço, seja ele pessoa jurídica ou física. Logo, segundo esta interpretaçãoteleológica, não basta ser destinatário fático do produto, retirá-lo da cadeiade produção, levá-lo para o escritório ou residência – é necessário serdestinatário final econômico do bem, não adquiri-lo para revenda, nãoadquiri-lo para uso profissional, pois o bem seria novamente um instrumentode produção cujo preço será incluído no preço final do profissional que oadquiriu. Neste caso, não haveria a exigida “destinação final” do produto oudo serviço, ou, como afirma o STJ, haveria consumo intermediário, aindadentro das cadeias de produção e de distribuição.Esta interpretação restringe a figura do consumidor àquele que adquire(utiliza) um produto para uso próprio e de sua família, consumidor seria onão profissional, pois o fim do CDC é tutelar de maneira especial um grupoda sociedade que é mais vulnerável28.

Os finalistas interpretam o conceito de consumidor de forma limitada, pois

para eles a tutela especial prevista no CDC deve ser concedida para aquele

indivíduo que é a parte vulnerável nas relações contratuais e não para um público

em geral, devendo se delimitar quem de fato é consumidor.

27 NUNES, Rizzatto. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. 2. ed. São Paulo: Saraiva,

2005.p. 88.28 MARQUES, Cláudia Lima. Campo de Aplicação do CDC. In: BENJAMIN, Antônio Herman V.;

MARQUES, Cláudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe (Coords.). Manual de Direito doConsumidor. 2. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 71.

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31

Especificamente em relação à teoria finalista, o Superior Tribunal de Justiça

demonstra-se ser adepto a ela:

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. SOCIEDADE EMPRESÁRIA. CONSUMIDOR.DESTINATÁRIO FINAL ECONÔMICO. NÃO OCORRÊNCIA. FORO DEELEIÇÃO. VALIDADE. RELAÇÃO DE CONSUMO E HIPOSSUFICIÊNCIA.NÃO CARACTERIZAÇÃO.1 - A jurisprudência desta Corte sedimenta-se no sentido da adoção dateoria finalista ou subjetiva para fins de caracterização da pessoajurídica como consumidora em eventual relação de consumo, devendo,portanto, ser destinatária final econômica do bem ou serviço adquirido(REsp. 541.867/BA).2 - Para que o consumidor seja considerado destinatário econômicofinal, o produto ou serviço adquirido ou utilizado não pode guardarqualquer conexão, direta ou indireta, com a atividade econômica porele desenvolvida; o produto ou serviço deve ser utilizado para oatendimento de uma necessidade própria, pessoal do consumidor.3 - No caso em tela, não se verifica tal circunstância, porquanto oserviço de crédito tomado pela pessoa jurídica junto à instituiçãofinanceira de certo foi utilizado para o fomento da atividadeempresarial, no desenvolvimento da atividade lucrativa, de forma que asua circulação econômica não se encerra nas mãos da pessoa jurídica,sociedade empresária, motivo pelo qual não resta caracterizada, incasu, relação de consumo entre as partes.4 - Cláusula de eleição de foro legal e válida, devendo, portanto, serrespeitada, pois não há qualquer circunstância que evidencie situação dehipossuficiência da autora da demanda que possa dificultar a propositura daação no foro eleito.5 - Conflito de competência conhecido para declarar competente o JuízoFederal da 12ª Vara da Seção Judiciária do Estado de São Paulo.(STJ, CC 92.519/SP, Rel. Ministro Fernando Gonçalves, Segunda Seção,julgado em 16/02/2009, DJe 04/03/2009) (grifo nosso)

E mais:

COMPETÊNCIA. RELAÇÃO DE CONSUMO. UTILIZAÇÃO DEEQUIPAMENTO E DE SERVIÇOS DE CRÉDITO PRESTADO POREMPRESA ADMINISTRADORA DE CARTÃO DE CRÉDITO. DESTINAÇÃOFINAL INEXISTENTE.– A aquisição de bens ou a utilização de serviços, por pessoa naturalou jurídica, com o escopo de implementar ou incrementar a suaatividade negocial, não se reputa como relação de consumo e, sim,como uma atividade de consumo intermediária.Recurso especial conhecido e provido para reconhecer a incompetênciaabsoluta da Vara Especializada de Defesa do Consumidor, para decretar anulidade dos atos praticados e, por conseguinte, para determinar a remessado feito a uma das Varas Cíveis da Comarca.(REsp. 541.867/BA, Rel. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Rel. p/ AcórdãoMinistro Barros Monteiro, Segunda Seção, julgado em 10/11/2004, DJ16/05/2005 p. 227) (grifo nosso)

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32

Pode-se dizer, portanto, que o STJ, de forma pacífica, aplica a teoria

finalista, a qual prevalece sobre a maximalista, abordada na sequência.

2.1.2 Teoria Maximalista

De acordo com a teoria maximalista, para ser considerado destinatário final,

basta que seja destinatário fático, não importando se há ou não objetivo de lucro. É

suficiente, portanto, que o bem seja retirado da cadeia de produção.

Os maximalistas vêem o CDC como um regulamento de todo o mercado de

consumo, e não apenas uma legislação para proteger o consumidor não-

profissional29.

Oportuno observar a conceituação preconizada pela doutrina acerca da

teoria em análise:

A definição do art. 2º deve ser interpretada o mais extensamente possível,segundo esta corrente, para que as normas do CDC possam ser aplicadasa um número cada vez maior de relações no mercado. Consideram que adefinição do art. 2º é puramente objetiva, não importando se a pessoa físicaou jurídica tem ou não fim de lucro quando adquire um produto ou utiliza umserviço. Destinatário final seria o destinatário fático do produto, aquele que oretira do mercado e o utiliza , consome, por exemplo, a fábrica de toalhasque compra algodão para reutilizar e a destrói30.

Em que pese o posicionamento favorável de alguns doutrinadores acerca da

teoria maximalista, esta não seria a interpretação mais adequada para a

conceituação do consumidor, conforme tem entendido o Superior Tribunal de

Justiça, nos termos dos ensinamentos anteriormente expostos.

29 MARQUES, Cláudia Lima. Campo de Aplicação do CDC. In: BENJAMIN, Antônio Herman V.;

MARQUES, Cláudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe (Coords.). Manual de Direito doConsumidor. 2. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 71.

30 Idem.

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33

2.2 CONCEITO DE FORNECEDOR

Para a caracterização da relação de consumo, faz-se necessário a

existência de dois sujeitos, quais sejam, consumidor e fornecedor, de modo que não

há que se falar relação consumerista sem a existência de um deles, haja vista a

aplicação relacional destes conceitos, conforme leciona Cláudia Lima Marques:

O campo de aplicação do CDC ou a relação de consumo (contratual eextracontratual) é sempre entre um consumidor e um fornecedor, é umcampo de aplicação relacional. Neste sentido, podemos afirmar que opróprio conceito de consumidor é um conceito relacional, conceito pensadoconstitucionalmente para uma relação entre diferentes, para a proteção dosdiferentes31.

Em seu artigo 3º, o CDC conceitua fornecedor da seguinte forma:

Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, quedesenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção,transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização deprodutos ou prestação de serviços.

O conceito de fornecedor trazido pelo CDC é claro, de modo que a

expressão “toda pessoa física ou jurídica” demonstra que a intenção do legislador foi

de abranger toda e qualquer relação que envolva qualquer pessoa, seja ela “física

ou jurídica, pública ou privada, bem como os entes despersonalizados”,

desmerecendo maiores considerações.

Todavia, para se caracterizar a relação de consumo, é necessário que a

atividade desenvolvida ocorra de forma regular ou meramente eventual, porém

sempre com caráter comercial.

Vale dizer que para a caracterização da figura do fornecedor, não basta que

um determinado comerciante, que, de acordo com seu estatuto social, atua em

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determinado seguimento, simplesmente pratique uma atividade relacionada a

seguimento diverso. Necessário se faz que esta atividade, relacionada a seguimento

diverso, tenha caráter comercial, ou seja, busque o lucro do comerciante.

Visando tornar lúcida a diferença entre mera atividade comercial, oportuno o

exemplo trazido pelo jurista Rizzatto Nunes32, o qual menciona que a simples venda

de um equipamento que integra o ativo imobilizado de uma empresa que atua no

ramo têxtil, em razão da substituição por outro mais moderno, não possui caráter

comercial, pois o que foi almejado com a venda não foi o lucro do comerciante.

Situação diversa ocorre, por exemplo, se a venda de computadores pela

empresa têxtil passar a se tornar uma atividade regular e, consequentemente,

lucrativa, ainda que não integre os objetivos sociais constantes do seu estatuto.

Nesta ocasião, o comerciante seria considerado fornecedor.

Desse modo, pode-se dizer que será considerado fornecedor aquele que

exerce atividade necessariamente comercial, podendo ser regular ou eventual.

2.3 CONCEITO DE PRODUTO

Os parágrafos do artigo 3º do CDC diferenciam os critérios para o

fornecimento de produtos e serviços. Veja-se o conceito de produto, trazido no

parágrafo primeiro:

§ 1º Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.

31 MARQUES, Cláudia Lima. Campo de Aplicação do CDC. In: BENJAMIN, Antônio Herman V.;

MARQUES, Cláudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe (Coords.). Manual de Direito doConsumidor. 2. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 68.

32 NUNES, Luis Antonio Rizzatto. Curso de direito do consumidor. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.p. 86-87.

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Da análise do dispositivo acima transcrito, verifica-se que o legislador quis

abranger todo e qualquer fornecimento de produto colocado no mercado, de modo

que assim dispôs expressamente no texto legal.

Tal dispositivo permite dizer que será considerado produto todo aquele

colocado no mercado de consumo, independentemente de ser móvel ou imóvel,

material ou imaterial.

Cumpre esclarecer, entretanto, que para se caracterizar o fornecimento de

produtos, é necessário que a atividade desenvolvida seja tipicamente profissional,

bem como seja oferecida no mercado de forma habitual.

Nesse sentido, ensina Cláudia Lima Marques:

Quanto ao fornecimento de produtos, o critério caracterizador é desenvolveratividades tipicamente profissionais, como a comercialização, a produção, aimportação, indicando também a necessidade de certa habitualidade, comoa transformação, a distribuição de produtos. Essas características vãoexcluir da aplicação das normas do CDC todos os contratos firmados entredois consumidores, não profissionais, que são relações puramente civis àsquais se aplica o CC/2002. A exclusão parece-me correta, pois o CDC, aocriar direito para os consumidores, cria deveres, e amplos, para osfornecedores33.

Portanto, percebe-se que não será considerada como fornecimento de

produto a atividade não profissional, a qual será regida pelo direito civil.

2.4 CONCEITO DE SERVIÇO

A norma do § 2º, do artigo 3º do CDC, define serviço da seguinte forma:

§ 2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, decrédito e securitária, salvo as decorrentes de caráter trabalhista.

33 MARQUES, Cláudia Lima. Campo de Aplicação do CDC. In: BENJAMIN, Antônio Herman V.;

MARQUES, Cláudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe (Coords.). Manual de Direito doConsumidor. 2. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 82.

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36

Fornecimento de serviços, consoante dispõe o § 2º, do artigo 3º do CDC, é

qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, ou seja, aquela colocada à

disposição de quem queira ela contratar, desde que exercida de forma habitual e

reiterada.

Cumpre esclarecer que a expressão “mediante remuneração”, não se refere

a preço, mas sim qualquer espécie de cobrança ou repasse, seja de forma direta ou

indireta, conforme observa Rizzatto Nunes34.

Em se tratando de fornecimento de serviços, leciona Cláudia Lima Marques:

Quanto ao fornecimento de serviços, a definição do art. 3º do CDC foi maisconcisa e, portanto, de interpretação mais aberta: menciona-se apenas ocritério de desenvolver atividades de prestação de serviços. Mesmo o § 2ºdo art. 3º define serviço como “qualquer atividade fornecida no mercado deconsumo, mediante remuneração”, não especificando se o fornecedornecessita ser um profissional, bastando que esta atividade seja habitual ereiterada35.

Pode-se dizer que são dois os requisitos necessários para configurar a

prestação de serviço: que sejam colocados no mercado de consumo de forma

habitual e reiterada.

34 NUNES, Rizzatto. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. 2. ed. São Paulo: Saraiva,

2005.p. 111.35 MARQUES, Cláudia Lima. Campo de Aplicação do CDC. In: BENJAMIN, Antônio Herman V.;

MARQUES, Cláudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe (Coords.). Manual de Direito doConsumidor. 2. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 82.

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37

3 CONTROVÉRSIA SOBRE A INCIDÊNCIA DO CDC ÀS COOPERATIVAS DECRÉDITO

3.1 COOPERATIVA X FORNECEDOR

O fim colimado pelas sociedades cooperativas é atender aos interesses dos

seus associados, com o escopo de elevar a posição social e econômica destes,

porém sem intentar lucro, limitando-se ao fornecimento de bens e serviços aos

cooperados.

Se o objetivo da cooperativa é atender aos interesses de seus associados e

estes os da sociedade, reciprocamente, questiona-se se poderia ser a cooperativa

considerada uma fornecedora. Tal questão ainda não foi sedimentada nem na

doutrina, nem na jurisprudência.

Todavia, o conceito de fornecedor trazido pelo Código de Defesa do

Consumidor em seu artigo 3º é categórico ao preceituar que “fornecedor é toda

pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os

entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem,

criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou

comercialização de produtos ou prestação de serviços”.

No entanto, sabe-se que ao mesmo tempo em que o cooperado é o

destinatário dos serviços prestados pela cooperativa, desta é sócio, sendo que nesta

condição, em conjunto com os demais associados, decide os rumos que a

sociedade irá tomar, através de seu poder de voto, atuando diretamente na

administração e fiscalização da cooperativa.

Em razão dessa relação cooperado/cooperativa, denominada ato

cooperativo, nos termos do artigo 79, da Lei 5.764/71, é que surge a controvérsia

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sobre a caracterização ou não do conceito de fornecedor, já que tal ato ocorre no

âmbito interno das cooperativas.

A propósito, os ensinamentos de Walmor Franke:

Nas cooperativas, o fim visado pelo empreendimento se identifica com o daclientela associada. Diz-se, por isso, que nas cooperativas as relações entrecliente e empreendimento se desenvolvem de conformidade com o principiode identidade.(...)Nas cooperativas de crédito, que operam em regime de mutualidade pura, ofornecedor e o tomador do dinheiro se confundem no volume dasoperações, formando urna unidade dentro de um mesmo contextocooperativo.(...)Em todos esses casos, o fim da cooperativa se identifica com o de suaclientela, funcionando a sociedade como instrumento de satisfação dasnecessidades domésticas e empresariais dos cooperados36.

Seguindo o mesmo posicionamento, vem Fábio Martins Bonilha Curi:

Tal conclusão gera efeito imediato e de suma importância, qual seja, o deque nas relações realizadas que caracterizam ato cooperativo não hárelação de consumo, não incidindo, portanto as normas do Código deDefesa do Consumidor. É evidente que tais normas incidem em terceiros,quando a relação estiver sendo realizada por eles, os quais de maneiranenhuma realizam ato cooperativo, já que nos parece que a lei adota oprincípio da unilateralidade do ato cooperativo. Assim, quando falamos, porexemplo, de uma entrega de produtos da cooperativa para o cooperado emuma cooperativa de consumo, não pode esse cooperado alegar regras dedireito do consumidor37.

De acordo com tais ensinamentos, ato cooperativo não se configuraria

serviço, por se referir às relações internas entre cooperativa e cooperado, não

havendo, via de consequência, a prestação de serviço no sentido em que se refere o

Código de Defesa do Consumidor.

36 FRANKE, Walmor. Direito das sociedades cooperativas. São Paulo: Saraiva, 1973. p. 16-17.37 CURI, Fábio Martins Bonilha. Uma possibilidade de desenvolvimento da democracia no âmbito

econômico. In: KRUEGER, Guilherme (Coord.). Cooperativas na ordem econômica constitucional:teoria e direito. Belo Horizonte: Mandamentos, 2008. tomo I, p. 134-135.

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Ainda, se o ato cooperativo é aquele realizado visando os fins sociais da

cooperativa, dentre os quais não está o lucro, não se poderia considerar a

cooperativa como uma fornecedora.

Nesse sentido, o parágrafo único, do artigo 79, da Lei 5.764/71, é expresso

ao definir que “o ato cooperativo não implica operação de mercado, nem contrato de

compra e venda de produto ou mercadoria”.

Segundo Paulo Roberto Cardoso Braga, em razão do ato cooperativo não

implicar em operação de mercado, nem contrato de compra e venda de produto ou

mercadoria, não se poderia falar em remuneração, a teor do que dispõe o § 2º, do

artigo 3º do CDC e, por consequência, não haveria a prestação de serviço:

E fornecedor de produto ou serviço. A cooperativa se enquadraria nesteconceito? Entendemos que também não, notadamente porque o § 2º do art.3º determina que o serviço que o CDC visa proteger é o serviço realizadomediante remuneração. Na cooperativa, tornamos a repetir, mesmo talvezsendo enfadonhos: o ato cooperativo não é operação de mercado, nemconfigura contrato de compra e venda. O ato cooperativo não produz renda(art. 111 da Lei Cooperativista). Eventual resultado positivo da cooperativaem decorrência da prática dos atos cooperativos se transformaram emsobras que serão devolvidas aos cooperados por decisão tomada pelosmesmos em assembléia geral38.

A descaracterização da cooperativa como uma fornecedora, em síntese,

encontra respaldo nos seguintes argumentos: os serviços prestados pelas

cooperativas, quando adstritos aos seus associados, configuram ato interno, o que

importa dizer que não são oferecidos no mercado de consumo, nem tão pouco há

intuito lucrativo, o que inviabilizaria sua caracterização como fornecedora39.

38 BRAGA, Paulo Roberto Cardoso. Inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor às

cooperativas de crédito. In: LEITE, Jaqueline Rosadine de Freitas; SENRA, Ricardo Belízio deFaria (Coords.). Aspectos jurídicos da cooperativas de crédito. Belo Horizonte: Mandamentos,2005. p. 299.

39 DOMINGUES, Jane Aparecida Stefanes. Código de Defesa do Consumidor e as sociedadescooperativas. In: MEINEN, Ênio; DOMINGUES, Jefferson Narcolini; DOMINGUES, Jane AparecidaStefanes (Coords.). Cooperativas de crédito no Direito brasileiro. Porto Alegre: Sagra Luzzatto,2002. v. 1, p. 67-68.

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Entretanto, os que consideram a cooperativa uma fornecedora, aduzem que

os argumentos acima expostos não têm o condão de afastar a aplicabilidade das

normas consumeristas, pelo simples fato de que quem adquire o produto e/ou o

serviço seja um cooperado daquela sociedade.

Nesse sentido já decidiu o Superior Tribunal de Justiça:

(...) A condição de cooperada garante à devedora que a cooperativaconceda-lhe financiamentos, mas não exclui da incidência do Código deDefesa do Consumidor a respectiva contratação que, a não ser por aquelacondição, nada difere das situações que encontraria em outras instituiçõesfinanceiras, hoje sob a sua fiscalização (Súmula 297/STJ). (REsp. nº998.782/DF, Rel. Min. Fernando Gonçalves, Quarta Turma, julgado em18/08/2009, DJe 31/08/2009)

Favorável a esta tese, se posiciona Fábio Henrique Podestá:

(...) fica evidente que a cooperativa e os cooperados enquadram-se nadicção legal permissiva pela aplicação do Código de Defesa doConsumidor, pouco importando se o adquirente do produto ou aquele quese utiliza dos serviços seja denominado cooperado, não só porque talqualidade em nada se manifesta incompatível com a de consumidor (art. 2º,par. Único, do CDC), como igualmente e a bem da exegese fiel do referidoCódigo cuida-se de expressamente excluir somente as relações de carátertrabalhista em se tratando de prestação de serviços entre sujeitos darelação de consumo (art. 3º, par. 2º, do CDC)40.

Quanto à ausência de finalidade lucrativa das cooperativas, a fim de

descaracterizá-la como fornecedora, para Fábio Henrique Podestá não merece

respaldo, segundo o qual, as cooperativas de algum modo são remuneradas

indiretamente, pois a remuneração não envolve um conceito meramente oneroso ou

gratuito, bastando que o objetivo final da aquisição do produto ou utilização do

serviço tenha direcionamento econômico:

Não impressiona também o argumento de que a ausência de finalidadelucrativas das cooperativas excluiria a aplicação do CDC, pois sabe-semuito bem que a falta de remuneração não envolve um conceito meramente

40 PODESTÁ, Fábio Henrique. Sociedades cooperativas e relações de consumo. In: ALMEIDA,

Marcus Elidius Michelli de; BRAGA, Ricardo Peake (Coords.). Cooperativas à luz do Código Civil.São Paulo: Quartier Latin, 2006. p. 149.

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oneroso ou gratuito nos moldes da classificação da teoria geral doscontratos, vale dizer, não se desconhecendo que as cooperativas de algummodo são remuneradas indiretamente, basta que a causa final da aquisiçãodo produto ou utilização do serviço envolva um direcionamento econômico,útil para o consumidor, visando determinada disponibilidade, sem ignorar aconfiguração de sua vulnerabilidade (art. 4º, inciso I, do CDC)41.

Portanto, repita-se que há divergência doutrinária sobre a caracterização da

cooperativa como fornecedora, ao passo que, dependendo da linha de raciocínio

seguida, poder-se-á ter como presente um dos requisitos necessários para a

caracterização da relação de consumo entre cooperativa e seu cooperado.

3.2 AS COOPERATIVAS DE CRÉDITO NO CONTEXTO DA SÚMULA 297 DO

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Conforme estabelece o § 1º do art. 18, da Lei 4.595, de 31.12.1964, as

cooperativas de crédito estão inseridas no sistema financeiro nacional, sendo

consideradas uma das espécies de instituição financeira42.

Tal assertiva, em razão do disposto no § 2º do artigo 3º do CDC, o qual

estabelece que serão considerados serviços as atividades de natureza bancária,

41 PODESTÁ, Fábio Henrique. Sociedades cooperativas e relações de consumo. In: ALMEIDA,

Marcus Elidius Michelli de; BRAGA, Ricardo Peake (Coords.). Cooperativas à luz do Código Civil.São Paulo: Quartier Latin, 2006. p. 151.

42 Art. 18. As instituições financeiras somente poderão funcionar no País mediante préviaautorização do Banco Central da República do Brasil ou decreto do Poder Executivo, quandoforem estrangeiras.§ 1º Além dos estabelecimentos bancários oficiais ou privados, das sociedades de crédito,financiamento e investimentos, das caixas econômicas e das cooperativas de crédito ou a seçãode crédito das cooperativas que a tenham, também se subordinam às disposições e disciplinadesta lei no que for aplicável, as bolsas de valores, companhias de seguros e de capitalização, associedades que efetuam distribuição de prêmios em imóveis, mercadorias ou dinheiro, mediantesorteio de títulos de sua emissão ou por qualquer forma, e as pessoas físicas ou jurídicas queexerçam, por conta própria ou de terceiros, atividade relacionada com a compra e venda de açõese outros quaisquer títulos, realizando nos mercados financeiros e de capitais operações ouserviços de natureza dos executados pelas instituições financeiras.

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financeira, de crédito e securitária, sustenta ainda mais a tese dos doutrinadores que

entendem pela aplicabilidade do CDC às relações entre cooperativa e associado.

Com a edição da Súmula 297 do Superior Tribunal de Justiça, que dispõe

que “o Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras” se

encerraram às discussões que permeavam sobre a extensão do disposto no § 2º do

artigo 3º do CDC. Vale dizer que com o advento na mencionada súmula, pacificou-

se o entendimento segundo o qual às instituições financeiras são aplicáveis as

normas contidas no CDC.

Todavia, em se tratando das cooperativas de crédito, algumas controvérsias

ainda perduram, pois para alguns doutrinadores, o simples fato da cooperativa estar

inserida no sistema financeiro nacional não permite a aplicação das normas

consumeristas, por ser uma espécie de sociedade sui genere.

De acordo com tal posicionamento, não se pode equiparar as cooperativas

de crédito a uma simples instituição financeira, já que as relações com seus

associados não parecem guardar identidade com as relações mantidas nas demais

espécies de instituições financeiras.

A propósito os ensinamentos de Armando Campos:

Com efeito, em que pese figurarem como instituições financeiras denatureza bancária, há fatores jurídicos que as diferenciamsubstancialmente, mormente no que respeita aos objetivos da sociedade.De fato, os bancos e demais casas bancárias têm por fim exclusivo aobtenção de lucro em contrapartida ao capital mobilizado àquele fim; ascooperativas de crédito, por seu turno, reúnem pessoas que destinampequenas quotas-partes de capital ou serviços para o exercício da atividadeeconômica. De proveito comum do quadro social, sem que a entidade tenhaobjetivo de lucro próprio. Os associados das cooperativas de créditousufruem dos seus serviços e operações financeiras, como instrumento defacilitação de suas atividades econômicas particulares, tratando-se, pois, ascooperativas de crédito, de entidade auxiliar dos seus associados, que são,ao mesmo tempo, donos e usuários, e colocam-se na posição de clientes no

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43

processo operacional. Daí a nítida diferença dos dois tipos de instituiçãofinanceira43.

Nessa mesma linha os ensinamentos de João Caetano Muzzi Filho:

O fato de se incluírem no rol das instituições financeiras não retira dascooperativas de crédito sua essência societária de cooperativa, aocontrário, somente faculta a estas o pleno exercício de seu papel.Tenha-se, portanto, que as sociedades cooperativas de crédito, constituídasdentro das regras do cooperativismo, são incluídas, jurídico-economica-mente, como instituições financeiras não bancárias, mas especificamentecomo forma de facultar o exercício de suas atividades – sob fiscalização doBACEN, eis que lidam com dinheiro. Quanto à natureza jurídico-societária,são sim cooperativas, que se regem e se regulam por lei própria e especial,a Lei n. 5.764/7144.

Segundo Paulo Roberto Cardoso Braga, a Súmula 297 não tem efeitos em

relação às cooperativas de crédito, pois os precedentes que deram ensejo a sua

edição não tratavam de relações atinentes às sociedades cooperativas de crédito,

mas sim às instituições financeiras bancárias. Estas, por sua vez, guardam

substancial diferença em relação às instituições financeiras não bancárias, como é o

caso das cooperativas de crédito:

Pelo que vimos ficou claro a impossibilidade de estender os efeitos daSúmula n. 297 por total ausência de substratos jurídicos que embasaram aedição da citada súmula pelo STJ, precedentes estes, oriundos dediscussões envolvendo bancos e clientes, discussões estas que nãoenvolveram cooperativas de crédito e tampouco as particularidades dasrelações cooperativas, do ato cooperativo e seus desdobramentos45.

Entretanto, o Superior Tribunal de Justiça tem defendido o entendimento,

segundo o qual, pelo fato de as cooperativas de crédito, por força de determinação

43 CAMPOS, Armando. Responsabilidade civil de administradores das cooperativa de crédito. In:

LEITE, Jaqueline Rosadine de Freitas; SENRA, Ricardo Belízio de Faria (Coords.). Aspectosjurídicos da cooperativas de crédito. Belo Horizonte: Mandamentos, 2005. p. 60.

44 MUZZI FILHO, João Caetano. O ISSQN e as cooperativas de crédito. In: LEITE, JaquelineRosadine de Freitas; SENRA, Ricardo Belízio de Faria (Coords.). Aspectos jurídicos dacooperativas de crédito. Belo Horizonte: Mandamentos, 2005. p. 170.

45 BRAGA, Paulo Roberto Cardoso. Inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor àscooperativas de crédito. In: LEITE, Jaqueline Rosadine de Freitas; SENRA, Ricardo Belízio deFaria (Coords.). Aspectos jurídicos da cooperativas de crédito. Belo Horizonte: Mandamentos,2005. p. 316.

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legal, serem equiparadas a instituições financeiras, aplicam-se as disposições

contidas no CDC nas relações entre cooperativas e seus cooperados. Neste sentido,

veja-se a ementa redigida a partir do julgamento proferido no Agravo Regimental do

Recurso Especial n° 1.059.324/PR, a qual tem sido utilizada em decisões

monocráticas como precedentes do STJ46:

RECURSO ESPECIAL. AGRAVO REGIMENTAL. COOPERATIVA DECRÉDITO. EQUIPARAÇÃO ÀS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS.APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.- As cooperativas de crédito são equiparadas às instituições financeiras,aplicando-lhes o Código de Defesa do Consumidor. Precedentes. AgravoRegimental improvido.(AgRg no REsp 1059324/PR, Rel. Min. Sidnei Beneti, Terceira Turma, DJe06.11.2009)

Desse modo, vislumbra-se que a doutrina analisada e o entendimento

esposado pelo STJ divergem sobre a extensão da Súmula n° 297/STJ.

Enquanto a doutrina se posiciona no sentido de que não se pode concluir

pela aplicabilidade do CDC nas relações entre cooperados e cooperativas de crédito

pelo simples fato de que estas são equiparadas a instituições financeiras, a

jurisprudência do STJ, por sua vez, posiciona-se em sentido oposto, não havendo,

portanto, entendimento pacificado acerca do mesmo tema.

3.3 COOPERADO X CONSUMIDOR

Se o cooperado não adquire ou utiliza produtos ou serviços da cooperativa,

tecnicamente falando, diante da relação interna cooperativa-cooperado, não se

poderia afirmar a presença do consumidor, nos termos do artigo 2º, do CDC.

46 A exemplo do REsp. 1.160.412/RS, Publ. 04/12/2009, e o REsp. 764.949/MG, Publ. 19/02/2010.

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Vale dizer que se o cooperado adquire produtos ou serviços da sociedade

da qual ele é sócio, parece se confundirem as figuras de fornecedor e consumidor, já

que a mesma pessoa estaria nos dois pólos da relação, ainda que em um deles

como integrante de uma pessoa jurídica.

A propósito, os ensinamentos de Paulo Roberto Cardoso Braga:

Neste ponto de diferenciação contratual é imperioso termos em mente oconceito da sociedade cooperativa, a sua operacionalização.A cooperativa de crédito é representante, a mandatária do cooperado.Como dito alhures é a longa manus do cooperado na busca por um créditomais justo. O cooperado na cooperativa é o dono e o usuário dos serviçosao mesmo tempo47.

Com enfoque à suposta relação de consumo entre cooperativa e cooperado,

Jane Aparecida Stefanes Domingues e Jefferson Nercolini Domingues assim se

posicionam:

Inexiste a possibilidade jurídica para utilizar-se da aplicação do Código deDefesa do Consumidor na relação associado X cooperativa, porque acooperativa por ser de pessoas representa o interesse destes associados.Em se tratando de cooperativismo, regido pela lei 5.764/71, todos oscooperados são, em verdade, os proprietários, os donos da cooperativa. Écediço que, o objetivo geral do cooperativismo é o bem comum de todos osassociados, que nesta sociedade não há o lucro, mas sim o rateio dassobras e prejuízos por todos. Tais aspectos, peculiares ao cooperativismo,demonstram cabalmente que não se trata de relação de consumo e simde mutualidade. A relação cooperativista é distinta das relações deconsumo que são provenientes dos atos de comércio, da intermediação dolucro. Não é de hoje que o despreparo jurídico acerca do cooperativismotem levado a pedidos juridicamente impossíveis em relação à matéria48.

Ainda, em decorrência dos posicionamentos supra mencionados, ao que

parece o cooperado não poderia ser considerado consumidor, ao passo que é dono

47 BRAGA, Paulo Roberto Cardoso. Inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor às

cooperativas de crédito. In: LEITE, Jaqueline Rosadine de Freitas; SENRA, Ricardo Belízio deFaria (Coords.). Aspectos jurídicos da cooperativas de crédito. Belo Horizonte: Mandamentos,2005. p. 300.

48 DOMINGUES, Jane Aparecida Stefanes; DOMINGUES, Jefferson Narcolini. Não aplicabilidade doCódigo de Defesa do Consumidor nas relações entre cooperativas de crédito. In: MEINEN, Ênio;DOMINGUES, Jefferson Narcolini; DOMINGUES, Jane Aparecida Stefanes (Coords.).Cooperativas de crédito no Direito brasileiro. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2002. v. 2 p. 90-91.

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do negócio. Ato contínuo, o cooperado tem ampla liberdade na tomada das decisões

da cooperativa, já que são os próprios associados que direcionam os rumos da

sociedade, através de seu poder de voto. Portanto, não estaria configurada a

vulnerabilidade do cooperado em relação à cooperativa.

Tal assertiva se sustenta pelo fato de que o CDC surgiu com o intuito de

equilibrar as relações de consumo em que uma das partes se encontre em posição

de desigualdade e, no caso dos cooperados, não parece existir a sobreposição da

cooperativa em detrimento destes.

Nesse sentido os ensinamentos de Ênio Meinen:

O CDC, como se sabe, visa equilibrar as relações de consumo envolvendopartes entre si estranhas (do ponto de vista jurídico) e em posiçõesdesiguais. Ora, no relacionamento entre cooperativas e associados, há umaverdadeira unidade, em que as partes são as mesmas (confundem-se),figurando a sociedade como mera extensão dos seus cooperados. Inexistetambém a posição de inferioridade ou de hipossuficiência, uma vez que oassociado é o DONO da cooperativa, e não seu CLIENTE!49.

A respeito do tema, Paulo Roberto Cardoso Braga leciona:

A sociedade cooperativa é criada pelo cooperado, é dirigida por ele ou poralguém que o mesmo elegeu. Suas regras, normas estatuto social sãoaprovados pelos cooperados, diretamente em assembléia geral quando a leie o estatuto assim determinam (e consequentemente com a participação detodos os associados) ou indiretamente pelos órgãos de administração (cujosmembros são cooperados eleitos pelos cooperados dentre cooperados)50.

Ainda, Jane Aparecida Stefanes Domingues e Jefferson Nercolini

Domingues assim se manifestam especificamente em relação às cooperativas de

crédito:

49 MEINEN, Ênio. Cooperativismo no Sistema Financeiro Nacional. In: KRUEGER, Guilherme;

MIRANDA, André Branco de (Coords.). Comentários à legislação das sociedades cooperativas.Belo Horizonte: Mandamentos, 2007. tomo II, p. 241.

50 BRAGA, Paulo Roberto Cardoso. Inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor àscooperativas de crédito. In: LEITE, Jaqueline Rosadine de Freitas; SENRA, Ricardo Belízio deFaria (Coords.). Aspectos jurídicos da cooperativas de crédito. Belo Horizonte: Mandamentos,2005. p. 301.

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A relação associado e cooperativa de crédito é de auto-regulação. Asdiretrizes de administração, quem administra e como se administra, sãotomadas em assembléia geral através de voto, pelo associado.O voto regula a administração da cooperativa, o associado quando passa afazer parte de uma cooperativa de crédito, está com certeza dentro de suaprópria casa, e tem poderes de fiscalização, desde o atendimento até afinalização do serviço prestado, opina desde as taxas até que produto deveser oferecido51.

No entanto, em sentido contrário se manifesta Fábio Henrique Podestá, o

qual sustenta que o fato dos associados assumirem dupla qualidade, sendo

considerados sócios e clientes ao mesmo tempo, reforça ainda mais a sua qualidade

de consumidor, já que por ser um cliente da sociedade assume a condição de

consumidor, não só por ser destinatário final, mas também por sua condição de

vulnerabilidade52.

Ademais, na cooperativa de crédito se percebe que o produto seria o

dinheiro, na medida em que aquela sociedade busca uma melhoria da situação

socioeconômica dos seus associados, os quais também têm o mesmo objetivo,

conforme expõe Jane Aparecida Stefanes Domingues e Jefferson Nercolini

Domingues:

Então vejamos, o “produto“ de uma cooperativa de crédito é dinheiro, e aadministração deste capital é a razão da sociedade, de modo a empregá-locorretamente para o bem comum de todos os cooperados, eis que acooperativa visa o fornecimento de autodesenvolvimento e sustentabilidadefinanceira ao associado.Este objetivo também faz parte de seus Estatutos Sociais, deste modo,conclui-se que a principal característica da sociedade é a inexistência de uminteresse próprio, distinto do de seus membros, o interesse é coletivo, quevai ao encontro do próprio objetivo do Código de Defesa do Consumidor,pois sua natureza societária visa a salvaguardar o interesse coletivo. Não épor outra razão que a posição de sócio vem definida com uma posiçãodúplice, de sócio e proprietário a um só tempo.

51 DOMINGUES, Jane Aparecida Stefanes; DOMINGUES, Jefferson Narcolini. Não aplicabilidade do

Código de Defesa do Consumidor nas relações entre cooperativas de crédito. In: MEINEN, Ênio;DOMINGUES, Jefferson Narcolini; DOMINGUES, Jane Aparecida Stefanes (Coords.).Cooperativas de crédito no Direito brasileiro. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2002. v. 1, p. 94.

52 PODESTÁ, Fábio Henrique. Sociedades cooperativas e relações de consumo. In: ALMEIDA,Marcus Elidius Michelli de; BRAGA, Ricardo Peake (Coords.). Cooperativas à luz do Código Civil.São Paulo: Quartier Latin, 2006. p. 153.

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Da análise até aqui, vislumbra-se que a aplicação do CDC neste tipo desociedade concretamente gerará conflito individual dentro da sociedade,alguns poderão aproveitar-se da sociedade para tentar levar vantagem, porse tratar de relação cooperativista, a qual tem natureza e finalidade muitodistinta do ato de comércio e das relações de consumo53.

Se em uma cooperativa de crédito o produto é o dinheiro e este é

empregado em atividades econômicas dos cooperados, ao que parece, estes não

poderiam ser considerados consumidores, se levada em consideração a teoria

finalista.

Entretanto, é certo que há vozes na doutrina especializada que entendem

que o fato de apanhar dinheiro em uma instituição financeira deve ser considerado

como ato de consumo, pois o produto pode ser tido como bem de consumo. Nesse

sentido, note-se os ensinamentos de Rizzatto Nunes:

Na realidade, o exemplo singelo que aqui relatamos tem a grande virtude deelucidar a questão: a Lei n. 8.078 regula o pólo de consumo, isto é,pretende controlar os produtos e serviços oferecidos, postos à disposição,distribuídos e vendidos no mercado de consumo e que foram produzidospara ser vendidos, independentemente do uso que se vá deles fazer.Quer se use o produto (ou o serviço) para fins de consumo (a caneta doaluno), quer para fins de produção (a caneta idêntica do professor), arelação estabelecida na compra foi de consumo, aplicando-se integralmenteao caso as regras do CDC.(...)Dessa maneira, repita-se, toda vez que o produto e/ou serviço puderem serutilizados como de consumo, incidem na relação as regras do CDC. Valepara a caneta do exemplo supra, mas vale também para a água e aeletricidade que se fornece e para o dinheiro que é emprestado por umbanco, porque tais bens são utilizados tanto por consumidores como porfornecedores54.

53 DOMINGUES, Jane Aparecida Stefanes; DOMINGUES, Jefferson Narcolini. Não aplicabilidade do

Código de Defesa do Consumidor nas relações entre cooperativas de crédito. In: MEINEN, Ênio;DOMINGUES, Jefferson Narcolini; DOMINGUES, Jane Aparecida Stefanes (Coords.).Cooperativas de crédito no Direito brasileiro. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2002. v. 1, p. 91.

54 NUNES, Rizzatto. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. 2. ed. São Paulo: Saraiva,2005. p. 94.

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Pelo que se vê, embora muitos consumeristas acenem com a aplicabilidade

do CDC, a maior parte da doutrina especializada na relação cooperativa –

cooperado, assim não pensa.

3.4 DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL ACERCA DO TEMA

Diante das considerações até então delineadas, verifica-se a notável

controvérsia doutrinária acerca da aplicabilidade ou não das normas consumeristas

às relações travadas entre cooperativa e cooperado.

Outrossim, na jurisprudência também não há entendimento pacificado sobre

o tema.

A propósito, em julgamento realizado em 22 de maio de 2009, o

Desembargador Relator Laertes Ferreira Gomes, quando analisou o Agravo de

Instrumento nº 0574871-6 do TJPR, entendeu por inaplicável o CDC quando as

partes envolvidas forem cooperativa e associado, conforme se verifica da

fundamentação da decisão:

(...) A Cooperativa de crédito presta idênticos serviços à instituiçãofinanceira, porém, o que as distingue, é que esta visa lucro e aquela o lucroauferido retorna aos cooperados e os atos cooperados têm natureza própriae legislação específica, ou seja, a relação contratual entre cooperado e oente cooperativo, é realizada por meio dos recursos financeiros que sãoobtidos do patrimônio comum aos membros cooperados e não da captaçãode recursos financeiros de terceiros, razão pela qual não se enquadram noconceito de fornecedor e consumidor.(...) Assim, com fundamento no art.557, §1º-A, do CPC, dou provimento ao agravo de instrumento para revogarparcialmente a decisão agravada para indeferir a inversão do ônus da provadiante da inaplicabilidade do CDC à hipótese dos autos, conformeentendimento assente desta Câmara, na esteira dos Tribunais Superiores.

Segundo o posicionamento supra, a ausência de finalidade lucrativa impede

que as relações entre cooperativa e cooperado sejam equiparadas às havidas entre

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instituições financeiras e seus clientes, porquanto nestas a finalidade exclusiva é o

lucro.

Ademais, do mesmo julgado se extrai que os recursos utilizados pelas

cooperativas são dos próprios cooperados, não havendo a captação de recursos de

terceiros, o que descaracteriza por completo a aplicação dos conceitos de

consumidor e fornecedor, necessários para a aplicação da legislação consumerista.

Por sua vez, quando do julgamento da Apelação Cível nº 381010-0 pelo

TJPR, precisamente em 31/01/2007, o Desembargador Jurandir Souza Junior, na

qualidade de relator, afirmou que as relações decorrentes do ato cooperativo não

são consideradas como de consumo, uma vez que o associado não é consumidor,

mas sim titular da sociedade. Eis trecho da fundamentação de seu voto, o qual foi o

condutor do acórdão:

As relações jurídicas decorrentes do "ato cooperativo" não estão sujeitas àsregras da legislação especial relativa às relações de consumo - CDC, pois oassociado não é consumidor, mas sim um dos titulares da sociedade, comquotas de capital e direito a voto, sendo aquela mera prestadora de serviçossem visar lucro ao próprio ente cooperativo.(...).A autonomia do Direito Cooperativo decorre intrinsecamente de sua própriapeculiaridade como sistema diacrônico, que busca sua identidade ao longode sua evolução. Apresenta-se, ademais, como sistema reformista, quepretende atingir, como valores máximos, a solidariedade e a ajuda mútua,aspirando, como principal objetivo de ordem filosófica, o aperfeiçoamentomoral do homem, na sua mais elevada acepção ética.

Seguindo o mesmo posicionamento, se manifestou o Desembargador

Hayton Lee Swain Filho do TJPR, no julgamento do Agravo de Instrumento nº

0648638-0, em 18/01/2010:

Pois bem, à vista dos elementos carreados ao instrumento, conclui-se pelaprocedência do recurso. De fato, a relação jurídica firmada entre as partes(cédula de crédito bancário A75031422-2, no valor de R$ 300.000,00, fls.58/66-TJ, e respectivo aditivo, fls. 67/68-TJ), a qual dá suporte à execuçãode título extrajudicial n.º 1.162/2009, da qual se defendem os agravados pormeio dos embargos onde fora proferida a decisão agravada, não se revelade consumo, circunstância que afasta a aplicação do Código de Defesa do

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Consumidor, já que a concessão de crédito entre a Cooperativa e um dosseus cooperados, por ocorrer dentro de sistema associativo, o qual é regidopor normas coletivas estabelecidas pelo ente Cooperativo, configuranegócio jurídico para consecução dos fins sociais cooperativos, e nãorelação de consumo. Disso se conclui que a Cooperativa não se enquadrano conceito de fornecedor (art. 3º, da Lei nº 8.078/90), e nem oscooperados, no conceito de consumidores (art. 2º, da Lei nº 8.078/90), dadaa natureza civil da entidade ser instituída com base em lei, que lhe confere anatureza de ser uma sociedade de pessoas em cujo meio o "intuitopersonae" é tão relevante que se constitui no âmago da possibilidade/capacidade de associar-se para buscar um "benefício comum", havendopresunção de que um cooperado age no interesse do outro, onde aconfiança atinge níveis elevados, e os fins buscados só podem seralterados em assembléia interna. Daí que a cooperativa, além da legislaçãoespecial que rege seus atos – Lei 5.764/71 – citada à fl. 07-TJ, estávinculada a normas estabelecidas pela Assembléia Coletiva dosCooperados, a que pertence a agravante, tendo suas normas e regulamentosestabelecidos por decisões coletivas, democraticamente tomadas emassembléia, no interesse comum, não aceitando tratamento privilegiado,sob pena de prejuízo aos demais associados. Note-se que o atocooperativo, não configura operação mercantil, e nem compra e venda – art.79, Lei 5.764/71 – e, portanto situa o contrato à margem das relações deconsumo, independentemente do nome que se dê ao instrumentocelebrado. Por tudo isso resta afastada a incidência do Código de Defesado Consumidor, ao caso aqui examinado.

Nessa linha, vale destacar as razões expostas pelo Ministro do Superior

Tribunal de Justiça Jorge Scartezzini que, ao proferir o voto-desempate no REsp.

93.291/PR, julgado em 17/05/2005, assim decidiu a questão :

Primeiramente, as cooperativas existem pelos e para os seus associados,que delas utilizam para a consecução de uma finalidade comum. Conformevisto, seus membros são verdadeiramente sócios, e não meros associados.Somente este argumento bastaria para que se colocasse por terra a tese dorecorrido. Todavia, ele gera desdobramentos que valem à pena seremapreciados, senão vejamos:Muitas vezes, a finalidade buscada pelos sócios-cooperados através dacooperativa traduz-se em um implemento de sua atividade particular, comoé o caso da maioria das cooperativas rurais, que se prestam, dentre outrosobjetivos, a disponibilizar serviços econômicos e assistência de interesse deseus associados, agricultores, integrando e orientando suas atividades, bemcomo facilitando a utilização recíproca dos serviços (compra de insumos,assistência técnica, difusão de novas tecnologias, comercialização daprodução e até beneficiamento e industrialização da matéria prima). Emúltima análise, estas empresas visam o desenvolvimento da produtividadede seus associados, já que os benefícios trazidos por esta melhoria soa dointeresse de toda a sociedade cooperativa. Outrossim, os cooperadosrurais, não raramente, utilizam-se dos serviços prestados pela cooperativapara incrementar e viabilizar o seu próprio negócio. Destarte, nestahipótese, não se enquadram no conceito de consumidor, conforme definiçãojá apresentada.Depois, os cooperados não se encontram em uma posição dehipossuficiência perante a cooperativa. Como resta óbvio, ao participar datomada de todas as decisões envolvendo os interesses e futuro da

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empresa, ainda que por representação, os cooperados não ficam à mercêda vontade ou disponibilidade desta, sendo, ao contrário, parte ativa dentrodo sistema cooperativo. Assim, não há justificativa para que um micro-sistema jurídico especializado, criado com a finalidade de equilibrar asrelações entre o mais fraco (consumidor) e o mais forte (fornecedor) sejaaplicado aonde este desequilíbrio não se aplica.Ainda, enquanto que aos fornecedores é vedado a divisão dos riscos doempreendimento com seus consumidores, dentro do sistema cooperativoocorre exatamente o contrário. Todos os cooperados correm os riscos donegócio em conjunto com a cooperativa, e isso pela razão de serem todosaptos a decidir os rumos que os negócios deverão tomar, não sendo merosespectadores das tomadas de decisão da empresa. Destarte, por todos osângulos que se analise a questão, os cooperados não podem equipara-se aconsumidores perante a própria cooperativa (...).

Da decisão acima transcrita, verifica-se que o principal argumento utilizado

para fundamentar a inaplicabilidade do CDC às relações cooperativistas, é o de que

os associados são verdadeiros sócios e não meros associados, os quais decidem os

rumos que a sociedade irá tomar. Consequentemente, não se poderia falar em

hipossuficiência do cooperado em relação à cooperativa, impedindo assim sua

equiparação a consumidor frente à própria cooperativa da qual faz parte.

Entretanto há posicionamentos totalmente contrários aos até então

expostos, considerando que o ato de emprestar dinheiro ao associado não é um ato

cooperativo, mas sim uma operação financeira, não se olvidando de que as

cooperativas de crédito estão inseridas no Sistema Financeiro Nacional, o que, por

si só, levaria a aplicação das normas consumeristas, a teor do que dispõe § 2º do

artigo 3º do CDC.

Nesse sentido, veja-se a ementa da decisão proferida pelo Superior Tribunal

de Justiça, em acórdão de lavra do Ministro Sidnei Beneti:

RECURSO ESPECIAL. AGRAVO REGIMENTAL. COOPERATIVA DECRÉDITO. EQUIPARAÇÃO ÀS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS.APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.- As cooperativas de crédito são equiparadas às instituições financeiras,aplicando-lhes o Código de Defesa do Consumidor.Precedentes.Agravo Regimental improvido. (AgRg no REsp. 1.059.324/PR, Rel. MinistroSidnei Beneti, Terceira Turma, julgado em 27/10/2009, DJe 06/11/2009)

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Segue o mesmo posicionamento outra decisão do Superior Tribunal de

Justiça, agora em acórdão conduzido pelo Ministro Massami Uyeda:

AGRAVO REGIMENTAL - QUESTÕES NÃO ABORDADAS PELOTRIBUNAL DE ORIGEM - AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO -INCIDÊNCIA DOS ENUNCIADOS N. 282 E 356/STF - COOPERATIVA DECRÉDITO - OFERTA DE CRÉDITO AOS ASSOCIADOS - INCIDÊNCIA DOCDC - APLICAÇÃO DO ENUNCIADO N. 83/STJ.I - A matéria constante nos artigos 37 e 79 da Lei nº 5.764/71 não foi objetode debate ou deliberação pelo Tribunal de origem, o que impede,inequivocamente, o pronunciamento desta a. Corte sobre a matéria ante aausência do imprescindível prequestionamento;II - Entendimento pacífico desta Corte no sentido de que cooperativa decrédito, ao ofertar crédito aos associados, integra o sistema financeironacional, de modo que está sujeita às normas da Lei n. 8.078/90, queautoriza a revisão de cláusulas e condições excessivamente onerosas;III - Recurso improvido.(AgRg no Ag 1.037.426/RS, Rel. Ministro Massami Uyeda, Terceira Turma,julgado em 18/09/2008, DJe 03/10/2008)

Veja-se algumas ementas de decisões proferidas pelo Tribunal de Justiça do

Estado do Paraná, as quais tem por fundamento os mesmos argumentos utilizados

pelo Superior Tribunal de Justiça, no sentido de que sendo a cooperativa uma

instituição financeira, deverão incidir as normas consumeristas nas relações com

seus associados:

MONITÓRIOS - PROCEDÊNCIA PARCIAL. APELO DA COOPERATIVA -CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO - CHEQUE ESPECIAL -OPERAÇÃO TIPICAMENTE FINANCEIRA - APLICABILIDADE DOCÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR (...) 1. As cooperativas seequiparam às instituições financeiras, conforme estabelece a Lei nº4.825/65 (artigo 17 c/c artigo 18, § 1º), que regula e estrutura o SistemaFinanceiro Nacional. 2. Não se tratando a operação negocial havida entreas partes de típico ato cooperativo, mas sim de operação financeira, devemincidir as regras previstas no Código de Defesa do Consumidor. (TJPR,Apelação Cível nº 0545980-5, 13ª Câmara Cível, Rel. Luís Carlos Xavier,Rev. Rosana Andriguetto de Carvalho, publ. 29.06.2009)

APELAÇÃO CÍVEL - EMBARGOS À EXECUÇÃO - CONTRATO DEEMPRÉSTIMO - COOPERATIVA DE CRÉDITO - APLICABILIDADE DOCDC - LIMITAÇÃO DOS JUROS REMUNERATÓRIOS - IMPOSSIBILIDADE- JUROS DE MORA - LIMITAÇÃO EM 12% AO ANO, DE OFÍCIO, SEMCAPITALIZAÇÃO MENSAL E AMONTOAMENTO COM COMISSÃO DEPERMANÊNCIA - IMPRESTÁVEL A UTLIZAÇÃO DO CDI PARACORREÇÃO MONETÁRIA. 01. Tendo em vista que a cooperativa de créditoé instituição pertencente ao Sistema Financeiro Nacional, aplica-se oCódigo de Defesa do Consumidor à relação entre cooperativa ecooperativado, cuja operação negocial tem natureza de operação financeira

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e não de mero ato cooperativo. (TJPR, Ap. Cív. 452.296-7, Rel. Des. PauloCezar Bellio, 16ª Câmara Cível, j. em 19.03.2008, DJPR 18.04.2008)

Diante do exposto, verifica-se ser contemporânea a divergência de

entendimento jurisprudencial acerca da aplicação ou não das normas contidas no

CDC às relações entre cooperativa e associado.

No entanto, ainda que não pacificado o entendimento jurisprudencial,

verifica-se que o STJ, através das suas mais recentes decisões55, tem sinalizado

pela aplicação do CDC tão somente em razão de que as cooperativas de crédito são

legalmente equiparadas às instituições financeiras.

55 Embargos de Declaração no REsp. 998.782/DF, Ministro Fernando Gonçalves, Quarta Turma,

julgado em 18/08/2009, DJe 31/08/2009.AgRg no REsp. 1059324/PR, Rel. Ministro Sidnei Beneti, Terceira Turma, julgado em 27/10/2009,DJe 06/11/2009.AgRg no Ag 1037426/RS, Rel. Ministro Massami Uyeda, Terceira Turma, julgado em 18/09/2008,DJe 03/10/2008.

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CONCLUSÃO

Durante os estudos despendidos para a elaboração deste trabalho acadêmico,

que certamente não visa esgotar a matéria sob análise, pode-se fazer algumas

importantes constatações acerca da seguinte dúvida: nas relações havidas entre

cooperados e cooperativa de crédito, aplicam-se ou não as normas contidas no CDC?

Em um primeiro momento, pode-se observar que vários doutrinadores

entendem que a cooperativa não pode ser considerada como fornecedora, na

medida em que há confusão entre a sociedade e seus cooperados, pois as relações

entre eles estão em conformidade com o princípio da identidade.

Ademais, entende-se que pelo fato de o ato cooperativo não implicar operação

de mercado, nem contrato de compra e venda de produto ou mercadoria, não há falar

em lucro, mas apenas eventuais sobras que são devolvidas aos cooperados. Ato

contínuo, não haveria prestação de serviços, a teor do disposto no artigo 3°, do CDC.

Entretanto, há vozes que, em contraponto a tais entendimentos, seguem

caminhos diversos.

Quanto à configuração do cooperado como consumidor, alguns

doutrinadores entendem que não se faz possível, diante do fato de que este, o

consumidor, estaria nos dois polos da relação, por força do já mencionado princípio

da identidade. Ademais, em decorrência do fato de o cooperado ser considerado

como dono da cooperativa, aquela não poderia ser considerado hipossuficiente, o

que afasta a caracterização de consumidor.

Entretanto, tal entendimento também não é uníssono, já que, para alguns,

pelo fato de o cooperado ser um cliente da sociedade, assume a posição de

consumidor, até mesmo pela sua condição de vulnerabilidade.

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Também se discute se pelo fato de a cooperativa de crédito fornecer

dinheiro aos cooperados, e este produto tende a ser destinado a atividades

econômicas destes, não haveria a figura do consumidor, a teor da teoria finalista.

No entanto, alguns defendem que pelo fato de se o produto puder ser

utilizado como de consumo, poderão ser aplicados os dispositivos contidos no CDC.

Frise-se, contudo, que tal entendimento não foi específico em relação às

cooperativas de crédito, mas voltado às instituições financeiras bancárias.

Em relação à Sumula n° 297, do STJ, que determina que o CDC é aplicável

às instituições financeiras, a doutrina majoritária analisada posiciona-se no sentido

de que tal entendimento sumulado não deve ser aplicado às cooperativas de crédito,

na medida em que estas destoam, em inúmeras características, das instituições

financeiras nitidamente bancárias.

Já na esfera jurisprudencial, também não há consenso, sendo que das

decisões analisadas, as mais fundamentadas foram conclusivas no sentido de que

entre cooperativa de crédito e seus cooperados não são aplicáveis as normas

previstas no CDC.

Contudo, as últimas decisões proferidas pelo STJ sobre o tema são no

sentido de que, pelo simples fato de a legislação determinar que as cooperativas de

crédito são equiparadas às instituições financeiras bancárias, aplica-se o CDC nas

relações havidas entre àquelas e seus cooperados.

Diante de tais divergências, este trabalho teve a importância de apontar a

necessidade de que as matérias discutidas sejam mais e melhores estudadas pelos

doutrinadores e pelos tribunais, visando, de forma técnica, pacificar a controvérsia e

uniformizar o entendimento, a fim de que a relação em foco possa ser

definitivamente regulada.

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