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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................ .............................................................. 01 Capitulo I: OS CAMINHOS DA SÉTIMA ARTE: HISTÓRIA DO CINEMA..............05 1.1 O cinema na História...................................................... ..................................................05 1.2 O cinema no Brasil........................................................ ....................................................15 1.3 O cinema amazonense.................................................... ..................................................23 Capitulo II MEMÓRIA, HISTÓRIA E ORALIDADE .................................................... .28 2.1 História Oral e a Memória ...................................................... ........................................28 2.2 A Relação Cinema & História...................................................... ....................................35

Monografia História Do Cinema

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Monografia da Dayse

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Page 1: Monografia História Do Cinema

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..............................................................................................................01

Capitulo I: OS CAMINHOS DA SÉTIMA ARTE: HISTÓRIA DO CINEMA..............05

1.1 O cinema na História........................................................................................................05

1.2 O cinema no Brasil............................................................................................................15

1.3 O cinema amazonense......................................................................................................23

Capitulo II MEMÓRIA, HISTÓRIA E ORALIDADE .....................................................28

2.1 História Oral e a Memória ..............................................................................................28

2.2 A Relação Cinema & História..........................................................................................35

2.3 Imaginário e o Cinema.....................................................................................................37

Capitulo III: OS CINEMAS E SUAS EXIBIÇÕES PRESERVADAS NA MEMÓRIA

PARINTINENSE..................................................................................................................41

3.1 Considerações gerais da pesquisa....................................................................................41

3.2 Discussão dos resultados...................................................................................................46

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................55

REFERÊNCIAS......................................................................................................................56

ANEXOS..................................................................................................................................58

APÊNDICES............................................................................................................................84

Page 2: Monografia História Do Cinema

1

INTRODUÇÃO

A pesquisa historiográfica permite alcançar uma compreensão da história humana. O

historiador não tem outra ambição que examinar bem os fatos e compreendê-los com

exatidão, assim, através da investigação crítica, o historiador procura desvendar, analisar e

preencher as lacunas deixadas pela historiografia tradicional, dando voz aos anônimos. Em

2006, iniciando o curso de licenciatura em História, surgiu o interesse de pesquisar sobre os

cinemas que existiram na cidade de Parintins. Uma vez que o cinema desperta em mim grande

interesse, tive conhecimento da existência de alguns prédios que abrigaram salas de cinema

no município. No entanto, eu imaginava como poderia ter sido a existência de uma sala de

cinema na cidade? E que recordações poderiam ter proporcionado a quem prestigiou as

exibições de filmes, a qual não pude prestigiar?

Assim, surgiu a temática “História e Memória: Os Cinemas em Parintins-Am entre a

década de 1960 a 1980” que tem por objetivo conhecer por meio da memória, os papeis dos

cinemas para os parintinenses, no período em que funcionavam no município salas para

exibições cinematográficas. Com a provável existência de 5 (cinco) cinemas desativados no

registro histórico da cidade, evidencia-se, nesta monografia a análise dos cinemas “Cine

Teatro Brasil”, que passou por modificações na sua nomenclatura, sendo Cine Moderno e

enfim intitulado de “Cine Saul”; e os “ Cines Orientais”, que trabalhavam com as exibições

cinematográficas no período delimitado para a investigação: 1960 aos anos de 1980.

Evidenciou-se conhecer a importância dos cinemas para a história, vida e cotidiano da cidade,

qual a situação econômica que vigorava no período de seu funcionamento? Outra questão a

ser abordada é a relação influenciadora do cinema na vida dos parintinenses, enfocando a

importância do cinema como fonte e sua contribuição para a história, vida e memória do povo

parintinense. Uma vez que, das memórias deixadas pelas salas de cinema, evidenciadas a

Page 3: Monografia História Do Cinema

2

partir dos relatos orais de alguns de seus freqüentadores, é possível conhecer histórias que

ainda em permanência do anonimato.

Com o auxílio de registros bibliográficos encontrados sobre os edifícios em que

funcionavam as projeções, este trabalho vem dar contribuição a historiografia parintinense,

visto que, o cinema não atendeu a população durante um breve período, mais sim, a várias

gerações que gostariam que este veículo cultural retornasse a funcionar e que as novas

gerações pudessem conhecer sua história e relevância no decorrer do tempo. Assim, com os

referenciais bibliográficos que abordam o cinema partindo de sua história geral, tramitando

pelo espaço brasileiro e amazonense, a pesquisa teve o embasamento necessário sobre a

sétima arte e como esta se delineou no município de Parintins. Com depoimentos orais de

cidadãos que tiveram o privilégio de ter contato com os cinemas, pôde-se conhecer a

importância das memórias referentes a essas salas para a população local, e o que significam

hoje para os que viveram naquelas épocas.

Assim, para a melhor compreensão da realidade investigada esta pesquisa apropria-se

da História Oral, técnica que vem dar suporte aos registros desvendados, assim como, analisar

através destes relatos uma nova perspectiva sobre a trajetória dos cinemas que funcionaram

em Parintins entre as décadas de 60 a 80. Através da descrição oral de homens e mulheres que

prestigiaram as exibições dos filmes e que preservaram em suas memórias o convívio nas

salas de projeção, foi possível desvendar, conhecer e estudar detalhes importantes,

despercebidos e ainda não registrados como/ou através dos documentos escritos. Esta

monografia constará de três capítulos, o primeiro intitula-se “Os Caminhos da Sétima Arte:

História do Cinema” onde será abordado o desenvolvimento do cinema no decorrer da

História Mundial, no Brasil e no âmbito amazonense. Com este capítulo, inicia-se a temática

que mostrará o papel do cinema na vida humana, sua relação na sociedade, o interesse

despertado pelas produções fílmicas.

Page 4: Monografia História Do Cinema

3

O segundo capítulo intitula-se “Memória, História e Oralidade” com esse título será

abordada relevância da memória na construção deste trabalho.

O capítulo III, intitulado “O intercâmbio cinematográfico: Os cinemas na memória

dos parintinense”, cujo propósito é uma breve análise sobre como se delineou a história dos

cinemas na cidade de Parintins, através da memória dos parintinenses. A respeito do resgate

da memória buscaram-se, por meio de relatos dos mais velhos ou mesmo adultos que

vivenciaram o período, encontrar subsídios para o registro dos acontecimentos que giravam

em torno dos cinemas dando a eles a oportunidade de expressar todo o acontecimento vivido e

que muitas vezes torna-se negligenciado ou sufocado pelos documentos escritos. Sobre o

trabalho cinematográfico realizado na cidade, a abordagem é feita através de obras de autores

locais fundamentando assim a temática.

Ficará registrado esse momento histórico para que outros interessados na história e

cultura parintinense possam encontrar nos relatos orais subsídios para que o cinema não fique

somente reservado na memória do povo, correndo riscos de cair no esquecimento, mais que,

possa ser uma realidade no cotidiano da população, visto que, existe na atualidade um grande

anseio de colocar em funcionamento um prédio destinado a exibição de filmes.

Em suma, esta monografia ressalta o valor do cinema na cidade de Parintins, cuja

importância tornou-se significativa para vidas dos comunitários modificando todo um modo

de vida existente entre eles. O cinema tornou-se movimentador de sonhos, diversão, cultura

em meio a uma sociedade simples e pacata. Entretanto, o que muitos não esperavam que os

prédios de cinema fossem desativados, não mais funcionando para o atendimento dos

moradores da cidade de Parintins, repentinamente, sem explicações satisfatórias. E, na

tentativa de dar resposta aos questionamentos, de muitos moradores que viram suas aspirações

acabadas inesperadamente a presente monografia torna-se relevante a sociedade cientifica e

pertinente, não apenas por recontar a trajetória dos cinemas mais conhecidos que funcionam

Page 5: Monografia História Do Cinema

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no município, mas por possibilitar que os marginalizados pela história tenham a possibilidade

de recontar através de suas visões a história em que vivenciaram, contribuindo desta maneira,

para o engrandecimento da história de Parintins com o registro através da História Oral de

Vida e fontes bibliográficas, criando um relacionamento recíproco com a comunidade, para

que sua memória não se torne perdida pelo tempo.

Page 6: Monografia História Do Cinema

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CAPÍTULO IOS CAMINHOS DA SÉTIMA ARTE: HISTÓRIA DO CINEMA

1.1 O cinema na História

Fazer uma abordagem sobre cinema é falar sobre uma indústria produtora de sonhos

que ao longo da história vem deixando traços marcantes na vida de diferentes pessoas. Nesse

sentido, os pressupostos metodológicos que embasam este início de trabalho é o método de

abordagem dedutivo, pois a questão fundamental da dedução está na relação lógica que deve

ser estabelecida entre as proposições apresentadas, afim de não comprometer a validade da

conclusão" (MEZZAROBA; MONTEIRO,2003, p.65), considerando que os princípios da

arte cinematográfica aconteceram primeiramente nas grandes metrópoles e que

posteriormente refletiu em alguns lugares, ou seja, em pequenas cidades, no caso a cidade de

Parintins. Todavia, para esse registro historiográfico se buscou fontes bibliográficas como

metodologia, enfim, um procedimento histórico.

Partindo da premissa de que o cinema é um campo aberto de reflexões e memórias,

para a compreendermos a representação desta indústria na vida e memória dos moradores

parintinenses, é necessário algumas ponderações sobre o cinema em si e sua trajetória no

decorrer do tempo.

Assim, nesta abordagem sobre cinema verificamos que este constitui-se de elementos

que denotam sua influência. O cinema possui um aparato tecnológico adequado para

documentação, encenação e relatos históricos, proporcionando construções de sonhos, visões

de mundo, fazendo o expectador entrar em contato com as visões do outros indivíduos

situando e relacionando suas concepções com os demais. A mensagem de um filme faz o

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6

indivíduo perceber outras realidades e se reporte a elas, assim como crie vínculos afetivos e

sinta-se parte de algo maior e mais complexo. Na busca de suas definições, verificamos que o

cinema é:

[...] a forma contemporânea da arte: a da imagem sonora em movimento. Nele, a câmera capta uma sociedade complexa, múltipla e diferenciada, combinando de maneira totalmente nova,música, dança, literatura, escultura, pintura, arquitetura, história e, pelos efeitos especiais,criando realidades novas, insólitas, numa imaginação plástica infinita que só tem correspondente nos sonhos. (CHAUÍ, 2001, p.333)

O cinema tem grande influência na vida das pessoas. As lembranças arquivadas,

resultantes da experiência com o cinema transformam as salas de exibição como “lugares de

memória”, ou seja, espaços onde a memória se cristaliza e materializa tornando-se referência

para uma sociedade ou uma classe social.

Surgindo no final do século XIX, o cinema e o filme, não resultaram de um processo

repentino. O cinema surge como veículo de propagação dos interesses da burguesia. É o que

nos diz Jean-Claude Bernadet (1980, p.127):

Dessa época, fim do século XIX, início deste, datam a implantação da luz elétrica, a do telefone, do avião, etc., etc., e, no meio dessas máquinas todas, o cinema será um dos trunfos maiores do universo cultural. A burguesia pratica a literatura, o teatro, a música, etc., evidentemente, mas estas artes já existiam antes dela. A arte que ela cria é o cinema.

Entretanto, num processo de desenvolvimento e movimentação da imagem, por volta

do século XVIII pessoas já projetavam colocar a imagem em movimento através de máquinas.

Pode-se citar como exemplo o teatro de sombras dos chineses, a “câmara obscura”

renascentista e a lanterna mágica, instrumentos precursores do cinema realizado no final do

século XIX.

Page 8: Monografia História Do Cinema

7

Em 1832, o cientista belga Joseph Plateau, criou o fenacistoscópio, primeiro aparelho

a produzir a ilusão de movimento num desenho. Plateau colocou dois discos em dois

diferentes eixos. Fez um desenho de um objeto ao longo da borda de um dos discos e no outro

disco fez orifícios. Ao serem girados na mesma velocidade, ambos os discos davam a

impressão de que os desenhos se moviam para quem olhasse através dos orifícios feitos no

disco1.

Ainda no final do século XIX, inventores franceses, ingleses e americanos tentaram

descobrir modos de fazer e projetar filmes; depois de vários fracassos, o sucesso veio para

vários deles, quase ao mesmo tempo.

Em 1887, Thomas Edison começou a trabalhar em um aparelho para fazer com que

as fotografias parecessem mover-se e só obteve sucesso dois anos depois, quando um norte-

americano, Hannibal Goodwin, desenvolveu, um filme à base de celulóide transparente que

era resistente, mas flexível. Esta base podia ser coberta por uma película de produtos

químicos sensíveis à luz. Podia-se tirar uma série de fotos com esse filme, que se movia

rapidamente dentro da câmara. George Eastman, um pioneiro na fabricação de equipamento

fotográfico, produziu o filme.

Utilizando o filme de Eastman, Edison e seu assistente William Dickson inventaram

o cinetoscópio. Era uma espécie de gabinete onde 15 metros de filme rodavam em carretéis; a

pessoa olhava através de um visor para o interior do gabinete e podia ver as fotos em

movimento. Em 1894 o cinetoscópio era exibido em Nova York, Londres e Paris e surgiram

então novos inventores que, se utilizando dos mesmos princípios daquele aparelho,

desenvolveram câmaras e equipamentos de projeção mais aperfeiçoados.

1 Informações extraídas do site: http://www.edukbr.com.br/artemanhas/cinema_orig1.asp

Page 9: Monografia História Do Cinema

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Em dezembro de 1895, pela primeira vez um filme foi projetado publicamente em

uma tela, por meio de um invento chamado cinematógrafo2. Esta projeção foi realizada pelos

irmãos Lumière e aconteceu num café parisiense. Foram cenas simples, entre elas a de um

trem chegando a uma estação. Porém, a imagem do trem, mesmo sem ruídos, deixou na

platéia a impressão de ser real. Houve a divulgação que de acordo com Bernardet:

Consta que, já em 1896, Lumiére formou várias dezenas de fotógrafos cinematográficos, equipou-os e mandou-os a vários países europeus. Sua tarefa consistia tanto em tomar novas vistas como em exibir vistas que eles traziam de Paris. Neste mesmo ano de 1896, aparece o filme Coroação do czar Nicolau lI, filmado em Moscou e considerado como o pai da reportagem cinematográfica.(1980, p.136)

A projeção de imagens foi se aperfeiçoando, filmes curtos foram tomando inovações

em diferentes países europeus, conquistando ainda mais adeptos a arte que então se

desenvolvia. Toda a repercussão do cinema se desenvolvia a cada filme exibido. A novidade

do filme encontrou na ilusão o sucesso para seu desenvolvimento, conforme nos afirma Jean-

Claude Bernardet:

Só podia ser uma ilusão. É aí que residia a novidade: na ilusão. Ver o trem na tela como se fosse verdadeiro. Parece tão verdadeiro - embora a gente saiba que é de mentira - que dá para fazer de conta, enquanto dura o filme, que é de verdade. Um pouco como num sonho: o que a gente vê e faz num sonho não é real, mas isso só sabemos depois, quando acordamos. Enquanto dura o sonho, pensamos que é verdade. Essa ilusão de verdade, que se chama impressão de realidade, foi provavelmente a base do grande sucesso do cinema. O cinema dá a impressão de que é a própria vida que vemos na tela, brigas verdadeiras, amores verdadeiros (1980, p.125).

Segundo Jean-Claude Bernardet o que permite que o cinema conquiste um

público cada vez maior é a ilusão de que o filme reflete a vida real transportando essa vida

para a tela do cinema. Mesmo que se tenha a consciência de que a imagem cinematográfica é

fixa e inerte, que o cinema não passa de uma ilusão óptica, enquanto vai passando o filme

2 Cinematógrafo: aparelho inventado pelos irmãos Louis e Auguste Lumiere.

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tem-se a impressão de que as cenas são reais, as ilusões adquirem vida própria e a fantasia se

consolida na tela.3. Assim, como as repercussões da imagem em movimento, em poucos

meses, todas as grandes cidades européias tinham filmes em exibição. De maneira geral, os

filmes eram feitos de um tamanho padrão, pois, deste modo, um filme feito num país podia

ser exibido em outro. Como o cinema era mudo, não havia problema de diferença de idiomas,

era só trocar a legenda.

Em 1898, o cinema passou a contar histórias; eram pequenas cenas filmadas numa

seqüência. Por vários motivos o cinema exerceu uma grande influência nas sociedades

Ocidentais na primeira metade do século XX, principalmente nos Estados Unidos, onde se

tornou o mais popular dos meios de comunicação de massa, obtendo no início, um grande

apoio das classes populares. Em meio a transformação em sociedade industrial,

predominantemente urbana os Estados Unidos encontrou no cinema um meio de

entretenimento celebrado entre as massas. As primeiras grandes salas de cinema surgiram no

ambiente de estratificação das novas cidades americanas, onde houve a separação de classes o

que acabou por colocar a grande camada de imigrantes na periferia, constituindo a classe

baixa, sendo que esses imigrantes trouxeram grandes conhecimentos em artes

cinematográficas, propondo assim o cinema como entretenimento de seu grupo.

No entanto, foi o diretor de cinema norte-americano quem primeiro fez um filme

usando as técnicas cinematográficas atuais de contar uma história. Seu filme mais importante

foi O Grande Roubo do Trem, em 1903, um filme de apenas 11 minutos, descrevendo um

roubo de trem e a perseguição e captura dos assaltantes. Este filme foi um grande sucesso nos

Estados Unidos, levando os americanos a criarem os nickelodeons4 em 1905: o nome vem do

preço do ingresso, um níquel (nickel) de cinco centavos de um dólar, e da palavra odeon, de

3 BERNARDET, Jean-Claude. O que é cinema. 4. ed. São Paulo: Brasiliense. 1980.

4 Os nickelodeons também eram conhecidos como “poeiras”, por serem grandes galpões, nem sempre limpos e sem nenhum conforto.

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origem grega, que significa teatro. Os nickelodeons foram os primeiros cinemas públicos; a

maioria deles eram armazéns transformados em cinemas, freqüentados em sua maioria por

trabalhadores e pelos imigrantes, que não sabiam ler ou escrever. O modo de se vestir, o

desconforto, o comportamento dos imigrantes dentro dos armazéns onde eram feitas as

exibições acabavam por tornar proibitiva uma mistura de categorias. Posteriormente, o cinema

passou a ser também uma forma de lazer da burguesia americana, no entanto, sofrendo uma

série de mudanças em suas estruturas.

Nos primeiros anos da década de 1900, a maioria dos filmes americanos era feita em

Nova York, mas logo viram que Los Angeles possuía clima e natureza mais favoráveis para a

produção de filmes. Em 1911, foi construído pelo fornecedor de filmes Carl Laemmele, o

primeiro estúdio em um distrito chamado Hollywood. Este distrito desenvolveu uma

verdadeira fábrica de “estrelas”, seriam estas, pessoas que incorporariam personagens

marcantes na história do cinema.

Carl Laemmele passou do fornecimento à produção de filmes que engrandeceriam

atores e atrizes, favorecendo e distribuindo riqueza à indústria cinematográfica. Laemmele

criou a Independ Motion Picture Company (IMP), a Universal Pictures entre outros estúdios

que foram aparecendo tornando Hollywood conhecida como a capital mundial do cinema.

Os primeiros atores do cinema não eram identificados pelo nome na tela; preferiam

manter-se no anonimato. Ser ator de cinema era ser considerado um artista muito inferior ao

do teatro. Entretanto, quando a famosa estrela teatral, Sarah Bernhardt, apareceu em um filme,

trabalhar no cinema passou a ser uma profissão respeitável. Charles Chaplin, Buster Keaton,

Theda Bara e Rodolfo Valentino foram entre outros, artistas famosos do cinema mudo.

A partir de 1912, os americanos tentaram ampliar seu mercado de trabalho, atraindo

a classe média para o cinema. Começaram então a filmar peças e romances mais conhecidos e

contrataram grandes nomes do teatro.

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Durante a 1ª Guerra Mundial, a produção européia quase parou por falta de matéria

prima e de energia, mas os europeus queriam muito ver filmes, principalmente alegres, e

assim os americanos aproveitaram-se da situação e entraram no mercado europeu.

Por volta de 1920, a maioria dos estúdios como a Columbia, a Metro, a Warner e a

Universal tinham preocupação com os grandes lucros; os chefes dos estúdios eram homens de

negócio e não artistas e assim houve uma queda grande de criatividade. Por isso, a maioria

das inovações ocorridas nesta década se deu na Europa. A Alemanha ficou conhecida pela

brilhante utilização da técnica fotográfica: introduziu o uso do subjetivo nos filmes,

possivelmente sua maior contribuição. Enquanto isso, os soviéticos tornaram-se os pioneiros

em novas técnicas de montagem.

O pós-guerra e as variadas produções cinematográficas marcam os anos 20

americano, onde grandes nomes da comédia como Charles Chaplin, Harold Lloyd e Buster

Keaton se destacam. No espaço europeu os ensaios vanguardistas de Man Ray e Luis Bunuel

marcam o cenário artístico francês no pós-guerra e a sociedade alemã vivenciava a era de ouro

do seu expressionismo. O cinema soviético torna-se num centro criativo, após anos de filmes

de propaganda. Os expoentes máximos da criatividade cinematográfica soviética são

encontradas nas obras de Sergei Eisentein. Outra indústria cinematográfica de destaque na

época é a indiana. A Índia vivia dez anos bastante positivos, produzindo cerca de 100 filmes

por ano.

Nesse período, a moda no mundo capitalista e o comportamento social,

principalmente da juventude, foram ditados pelo cinema. Foi o primeiro período em que a

cultura norte-americana se impôs sobre o mundo. As mulheres copiavam as roupas e os

trejeitos das atrizes famosas, como Gloria Swanson, Greta Garbo e Mary Pickford. O cinema

passou a influenciar o comportamento das massas, e mais que influenciar, serviu de veículo

para a expansão cultural norte-americana.

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Em meados da década de 1920, foi criado um sistema que coordenava, com sucesso,

o som de um disco com o projetor. Em 1922 foi lançado o primeiro filme totalmente a cores,

“Toll of the Sea”; em 1926 é a vez de “Don Juan”, que chegou acompanhado por efeitos

sonoros e música. Poucos filmes usaram som antes de 1900; eles dependiam de uma ligação

mecânica a um fonógrafo e era difícil sincronizar o som com a ação passada na tela.

Depois passou a ser usado um filme silencioso, com música e efeitos sonoros

gravados em disco. Até que a Warner produziu em 1927, o filme O Cantor de Jazz (The Jazz

Singer) com Al Jolson, um ator branco que se caracterizou como um negro. Não era para ser

falado, teria só efeitos sonoros e músicas. Porém, durante o processo de sonorização, Jolson

pegou o microfone e disse o que costumava falar em seus shows: "Vocês ainda não ouviram

nada". O incidente convenceu, os diretores da Warner a substituir os quadros legendados do

filme por diálogos falados. Al dublou quatro cenas e as canções, entre elas a canção “Blue

Skies”.

Nos primeiros anos, o filme sonoro constituiu um retrocesso: o cinema mudo estava

no auge e com alta qualidade, enquanto os falados eram grosseiros e inseguros. Muitos astros

e estrelas também tiveram problemas: suas vozes não se adaptavam ao cinema falado, ou pelo

sotaque ou por serem, às vezes, muito agudas. Em 1929, ocorre a primeira edição do prêmio

“Oscar”.

No início da década de 30, nos Estados Unidos, eram os filmes musicais, os de

gangsteres e os filmes de terror que faziam um grande sucesso. Os métodos de som foram

aprimorados, os atores começaram a dar mais atenção à voz, os estúdios de cinema buscaram

no teatro atores mais expressivos, os autores foram coagidos a determinar os personagens

através de palavras e os escritores de cartões (intertítulos) foram descartados, e a partitura

musical tornou-se muito importante, pois o som permitiu também o nascimento do gênero

musical, surgindo estrelas como Maurice Chevalier, Fred Astaire e Ginger Rogers.

Page 14: Monografia História Do Cinema

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Nesse período se produziu os primeiros filmes coloridos: em 1933, o desenho

animado Flowers and Trees da Walt Disney, e o longa-metragem Becky Sharp, de 1935.

Nesta mesma década, surgiram movimentos que tinham como objetivo lutar contra a

dominação do cinema americano: foi a época do surrealismo cinematográfico, representado

por Luís Buñel, nos filmes Cão Andaluz (1938) e A Idade do Ouro (1930).

Ainda em 1939, Orson Wells, o menino prodígio do rádio e do teatro, foi chamado

para ir a Hollywood. Ele dirigiu filmes que marcaram a história do cinema e mostraram o

caminho certo para os filmes sonoros, Cidadão Kane e Soberba. Neles foram usadas novas

técnicas fotográficas, uma nova iluminação com sombras e a câmara acentuava o personagem

e seus gestos. Wells também revolucionou o uso da trilha sonora: anteriormente, as partituras

que serviam apenas como acompanhamentos do filme passaram então a ser feitas para os

filmes, refletindo mudanças no clima da história e para unir as cenas.

Grandes astros e estrelas surgiram nesta época e esta década terminou triunfalmente

com o filme E o Vento Levou, dirigido por Victor Fleming, com Clark Gable e Vivien Leigh,

nos papéis principais. Foi o mais longo feito até aquela época.

Na década de 40, a 2ª Guerra Mundial contribuiu com o surgimento na Itália de um

estilo conhecido como neo-realismo, onde usavam cenários naturais e atores não

profissionais. Eram filmes realistas, que mostravam as misérias da guerra e o problema da

volta à paz. Surgiu então Roberto Rossellini, com Roma- a Cidade Aberta (1945) e Vitorio de

Sica, com Ladrão de Bicicletas, seguidos por Antonioni e Fellini.

Na França, o acontecimento mais importante do pós-guerra foi o aparecimento de um

grupo de jovens e talentosos diretores que iniciaram a "nouvelle vague". Tratavam da vida

moderna francesa e colocavam os jovens como ponto central dos filmes; estes tinham um

custo baixo e o estilo individual de seu diretor. Era um cinema de qualidade, comercial e de

Page 15: Monografia História Do Cinema

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conteúdo existencialista. Seus representantes mais famosos foram: Jean Luc Goddard e

François Truffant.

Esta quantidade variada de estilos espalhou-se pelo mundo chegando também à

Europa Socialista, que apresentou uma grande renovação cinematográfica, em 1960.

O cinema nas décadas seguintes fica um pouco parado; a televisão tinha tirado

grande parte de seu público. Mas no fim da década de 80, o cinema americano ressurge com o

filme de Steven Spielberg, ET. O filme arrecada milhões, o cinema ganha características mais

populares e os produtores que tinham trocado o cinema pela televisão retornam sua produção,

com o auxílio da propaganda e das novas tecnologias.

Segundo Tapajós, a partir de uma máquina curiosa, passatempo de cientistas e

pesquisadores, no decorrer de mais de cem anos de realizações e progressos, o cinema se

distingue das outras formas de arte por suas características próprias e distintas das outras

áreas, bipolarizou-se em duas direções nítidas e demarcadas: o cinema-arte e o cinema-

indústria, se transformando num imenso e complexo sistema industrial “cujos tentáculos

penetram em todos os países do mundo” 5 .

O cinema é produzido dentro dos interesses de mercado, se atrelando ao gosto

particular de cada pessoa da platéia por determinado tipo de gênero. Abrangendo as relações

entre produtoras e distribuidores de filmes, a indústria cinematográfica realiza um processo

desde a criação de um filme, é necessário investimentos realizados por meio de alianças

comerciais, tendo um custo alto ou baixo, dependendo da visão objetivada do diretor do filme,

além do mais, produção e divulgação de um filme requer publicidade e salas de exibição

apropriadas para a sua projeção.

5 TAPAJÓS, Renato. Cem anos de cinema. p.5

Page 16: Monografia História Do Cinema

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O cinema se integra primeiramente a um conjunto de interesses pessoais e

comerciais, e suas exibições fílmicas trazem múltiplas mensagens e temáticas que ficam

armazenadas na memória a quem é transmitido.

Deste modo, a história do cinema é necessariamente a história de uma indústria, e

também a história de uma arte. Movimenta mercado, economia, cultura e sonhos da

população. Sua primeira sessão pública, paga pela platéia data o nascimento do cinema como

uma indústria.

1.2 O cinema no Brasil

O cinema ganhou dimensões mundiais, movimentando diversas sociedades com suas

produções de diferentes temáticas destinas ao todo tipo de público. Não obstante, o Brasil

também acolheu a indústria cinematográfica com todas as suas extensões advindas dos

diversos países e culturas do globo. A história do cinema brasileira é marcada por variadas

características, influências internacionais e adequações a realidade nacional. Segundo Jean-

Claude Bernardet:

O Brasil era fundamentalmente um país exportador de matérias-primas e importador de produtos manufaturados. As decisões, principalmente políticas e econômicas, mas também culturais, de um país exportador de matérias-primas, são obrigatoriamente reflexas. Para a opinião pública, qualquer produto que supusesse uma certa elaboração tinha de ser estrangeiro, quanto mais o cinema. O mesmo se dava com as elites, que tentando superar sua condição de elite de um país atrasado, procuravam imitar a metrópole. As elites intelectuais, como que vexadas por pertencer a um país desprovido de tradição cultural e nutridas por ciências e artes vindas de países mais cultos, só nessas reconheciam a autêntica marca de cultura (BERNARDET, 1978, p. 20).

O cinema chega ao Brasil no mesmo ano das primeiras projeções. Se instalando no

Rio de Janeiro, teve suas primeiras filmagens realizadas em 1898.

Page 17: Monografia História Do Cinema

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Inicialmente tendo pouca repercussão devido à falta de energia produzida

industrialmente o cinema ter destaque em 1907 com a instalação desse tipo de energia. Nesse

ano, os filmes brasileiros baseavam-se em assuntos naturais. O trabalho cinematográfico

contava com os estrangeiros com experiência na sétima arte. O cinema brasileiro tem entre os

anos de 1908 a 1911, a sua conhecida “idade de ouro”, caracterizado pelas produções fílmicas

relativas à reconstituição de crimes marcantes a sociedade da época como, por exemplo, o

filme de Antônio Leal intitulado “Os estranguladores”. O cinema brasileiro foi tardio ao

costume nacional devido ao atraso da instalação de eletricidade nas cidades, inclusive no Rio

de Janeiro, que era a capital da federação na época. Com a instalação da energia

industrializada no espaço urbano carioca, as salas de exibição disseminaram, com a venda de

filmes estrangeiros, no entanto, os brasileiros passaram a produzir filmes a partir de 1908 e

assim, durante três ou por volta de quatro anos, o Rio de Janeiro conheceu um período que se

pode considerar a período aurífero ou Era do ouro do Cinema Brasileiro.

Com o desenvolvimento da indústria cinematográfica nas potências mundiais o

período de ouro do cinema brasileiro é enfraquecido. Conforme afirma Paulo Emílio Salles

Gomes:

Os dez primeiros anos de cinema no Brasil são paupérrimos. As salas fixas de projeção são poucas, e praticamente limitadas a Rio e São Paulo, sendo que os numerosos cinemas ambulantes não alteravam muito a fisionomia de um mercado de pouca significação. A justificativa principal para o ritmo extremamente lento com que se desenvolveu o comércio cinematográfico de 1896 a 1906 deve ser procurada no atraso brasileiro em matéria de eletricidade. A utilização, em março de 1907, da energia produzida pela usina Ribeirão das Lages teve conseqüências imediatas para o cinema no Rio de Janeiro. Em poucos meses foram instaladas umas vinte salas de exibição, sendo que boa parte delas na recém construída Avenida Central, que já havia desbancado a velha Rua do Ouvidor como centro comercial, artístico mundano e jornalístico da Capital Federal (1980, p. 41).

Foram produzidos a partir de 1912 cerca de seis curtas-metragem de enredo, a cada

ano através dos produtores como Francisco Serrador, Antônio Leal e os irmãos Botelho. O

cinema entra em crise durante os anos de 1912 a 1922, devido à repercussão do cinema norte-

Page 18: Monografia História Do Cinema

17

americano que dominava o mercado mundial. Assim, o Brasil se limitou a produzir

documentários sobre empresas, filmagens encomendadas por famílias da elite para

casamentos ou batizados, cine-jornais, ou pequenos filmes baseados em clássicos da literatura

da época.

Por volta de 1925, as grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Porto

Alegre e Belo Horizonte realizam grandes produções com qualidade. Nos anos 30, surgem os

clássicos do cinema mudo brasileiro em meio ao filme falado que ganhava destaque no

mundo. Em busca da identidade nacional, o cinema brasileiro consagra nomes como, por

exemplo, o produtor Mário Peixoto (O limite), Humberto Mauro (Ganga Bruta), entre outros.

Durante as décadas de 1930 e 1940, a produção limitava-se a propagação da comédia

popularesca, vulgar e musicais conhecidas como chanchadas, que demonstrou características

do cenário humano do Rio de Janeiro, então capital federal e modelo para as outras cidades.

Segundo Catani e Souza:

Na década de 40 o cinema enfrentou grandes dificuldades, pois muitos filmes foram criados, mas conseqüentemente poucos obtiveram sucesso. A produção de filmes era focada em comédias populares, vulgar e freqüentemente musical. Essa época foi caracterizada pelas chanchadas, “no Brasil comédia significa o pior tipo delas, qual seja, a chanchada: É o disparate vulgar combinado a um pouco de sexo e de frases de duplo sentido”. Influência do baixo teatro, da burleta e do radiologismo mais ruim. (1983, p. 59)

Os estúdios Brasil Vita Filmes, de Carmem Santos e Cinédia de Ademar Gonzaga

foram os principais estúdios em atividade no período. Atores como Mesquitinha, Oscarito e

Grande Otelo, lançados pelas chanchadas cariocas fizeram a aproximação do filme com o

público brasileiro. A década de 30 foi apontada por uma produção sob a égide da produtora

Cinédia, já os anos 40 conta com a supremacia da Atlântida, buscando ampliar temas

brasileiros.

Page 19: Monografia História Do Cinema

18

Após a era de ouro, surgem as chanchadas da Atlântida, outro marco importante à

indústria cinematográfica brasileira. Com a produtora Atlântida, a fabricação de filmes

musicais e de chanchada foi possível por cerca de vinte anos, contradizendo o cinema

estrangeiro que anterior a este período predominava ao interesse estrangeiro. Nesta fase, o Rio

de Janeiro influenciava através dos filmes, ou seja, o comportamento, fluxo contínuo que

encontrou na chanchada uma possibilidade de solidificação mais complementada do que

anteriormente na caricatura ou no teatro de variedades.

Conforme Rocha (2003), um dos marcos da História do cinema brasileiro foi a

companhia cinematográfica Vera Cruz que fez parte de um projeto estético-cultural mais

amplo, que previa para São Paulo a vitalização da vida cultural, conduzida pela burguesia

industrial, buscando uma hegemonia na vida política e cultural do país.. Seus estúdios foram

construídos em São Bernardo do Campo (São Paulo) na década de 1950. A companhia Vera

Cruz produzia industrialmente seus filmes com qualidade técnica, bons equipamentos, que

compunham-se de dramas universais, adotando os estilos da indústria de Hollywood, ou seja,

o objetivo era obedecer as lógicas e qualidade da indústria de cinema Hollywoodiano. Assim,

foi lançado um star-system, conjunto de estrelas, composto por Tônia Carrero, Marisa Prado,

Eliana Lage, Anselmo Duarte, Jardel Filho, entre outros. O estúdio Vera Cruz fracassou

devido ao alto custo dos seus filmes, a falta de uma distribuidora própria, dificuldades de

escoamento de suas produções ao mercado e salas de cinema brasileiras. O Cangaceiro, filme

de Lima Barreto foi o principal produto comercial do estúdio Vera Cruz, que ganhou Cannes6,

inaugurando o gênero de cangaço.

Surgiu uma geração de realizadores independentes, paralelamente aos estúdios e em

aversão a eles, tanto na sua vertente paulista quanto carioca, que certificaria o prosseguimento

dos filmes de pretensões artísticas. Entre estes, destaca-se a produção de Walter Hugo Khouri

6 Cannes: Festival de cinema realizado em Cannes na França.

Page 20: Monografia História Do Cinema

19

e Nelson Pereira dos Santos. O primeiro deu seguimento ao cinema de pretensões

universalistas da Vera Cruz, realizando dramas psicológicos nos moldes do cinema clássico, o

segundo enveredou por um cinema de tom neo-realista, fugindo aos padrões dos estúdios ao

filmar Rio 40º e Rio, Zona Norte. Nelson Santos adquire papel de destaque no cinema

brasileiro, fundando aqui o cinema moderno, aproximando-se da geração de jovens críticos e

realizadores, e compondo com eles o Cinema Novo, o mais importante movimento do cinema

brasileiro e momento de plena maturidade artística e cultural do nosso cinema.

Catani ainda salienta que a década de 60 traz como característica a derrocada do

gênero chanchada pela própria imposição da televisão e advento do Cinema Novo (1983, p.

03). Os cinco primeiros anos da década de 1960 são dominados, pelo conjunto de filmes

realizados no espaço baiano: Bahia de todos os santos e o Pagador de Promessas se destacam,

o primeiro pelo pioneirismo de sua função, e o segundo pelo equilíbrio de sua fatura. Em

1961 surge Glauber Rocha que estreou com o filme Barravento e a seguir realizou o filme

Deus e o Diabo na terra do Sol.

Com o surgimento do Cinema Novo, movimento notadamente do Rio de Janeiro que

envolve de forma pouco diferenciada tudo o que se fez de melhor no moderno cinema

brasileiro, ocorre, nesse período, a premiação de diretores como Glauber Rocha, Paulo César

Sarraceni, Joaquim Pedro de Andrade, Ruy Guerra, Carlos Diegues, Walter Lima Jr entre

outros.

O estilo “boca do lixo” surgido na década de 1970 traz novas tendências ao cinema

brasileiro aproveitando a lei que exigia a exibição de filmes nacionais.

Os filmes dessa época eram de baixo custo orçamentário, de ingressos baratos,

podendo ser patrocinados e financiados até pelos mais simples brasileiros. Os filmes que

caracterizaram esse período são os de faroestes (bang bang), sobre cangaços, kung-fus,

melodramas e aventuras de segunda linha, revelando atores como David Cardoso, Tony

Page 21: Monografia História Do Cinema

20

Vieira e Jean Garret. Os filmes boca-do-lixo eram especializados em porno-chanchada, filmes

de humor que tinham toques de erotismo, sem serem pornográficos. Nesse período, os

cinemas em Parintins exibiam filmes como os Trapalhões, prestigiados pelo público infantil

como também pelos adultos. A decadência do cinema boca-do-lixo começou com o filme

Império dos Sentidos, de arte, com cenas explícitas, ou seja, pornográficas. A partir dele,

vários outros foram liberados e o mercado foi dominado por produções pornô estrangeiras.

Outra causa foi a diminuição da fiscalização da lei de obrigatoriedade de passar filmes

nacionais.

Sobre o período cinematográfico nos anos 70 e 80, Salvyano Cavalcanti de Paiva

(1989), afirma que o cinema alimentava-se das verbas do Instituto Nacional do Cinema e da

Embrafilme. Essa época foi caracterizada pelas pornochanchadas, que eram uma mistura de

erotismo com uma qualidade não tão boa. Com o golpe de 1964 e o início da ditadura militar

e uma crise que atingiu severamente o mercado caiu o número de produções. Até os famosos

“Trapalhões” estavam perdendo público. Mas, foi nesta época que os filmes coloridos

expulsaram da tela os rivais preto-e-branco. Ao se falar da Embrafilme7, Almeida e Butcher,

(2003, p. 21) afirmam que, durante 20 anos, a Embrafilme foi o grande motor do cinema no

Brasil (excluindo os filmes produzidos pela pornochanchada carioca e pela chamada “Boca de

Lixo” de São Paulo). Seu modelo se baseava na concentração das etapas de produção e

distribuição dos filmes brasileiros, com uma grande influência na exibição.

As metas de expansão de mercado pretendidas pela Embrafilme fracassaram não

proporcionando estabilidade do cinema brasileiro no mercado interno. As crises foram

invariáveis, possibilidades de atuação da Embrafilme como distribuidora e exibidora foram

fechadas por questões políticas. Segundo Carlos Augusto Calil em palestra promovida pela

Educine em Julho de 2002, a empresa ficou fadada ao fracasso por esta restrição de seu

campo de atuação:

7 (Empresa Brasileira de Filmes S/A). surge no cenário do cinema brasileiro sob a égide da ditadura militar, através do Decreto-Lei n862 de 12 de Setembro de 1969

Page 22: Monografia História Do Cinema

21

A década de 80 foi a década que o cinema brasileiro colecionou todas as crises possíveis. A primeira crise, de cunho político, a de sucessão de Roberto Farias, que queria continuar como diretor geral. O diretor da distribuidora, Gustavo Dahl, se candidatou, o cinema brasileiro, que estava unido em torno desta gestão, rompeu-se em dois, o grupo do Gustavo Dahl e o grupo do Roberto Farias, isso significou que um grupo neutralizaria o outro e a política estava tomando o lugar principal na vida dos cineastas. Quando chega o Ministro Viriato Portela, assumindo no governo Figueiredo, ele se deparou com o fato de ter uma classe dividida, portanto ele procurou o chamado tércios, tese clássica em teoria política, o tércios foi chamado do Itamaraty para administrar a Embrafilme. O Celso Amorim achou que o melhor que tinha a fazer era chamar os dois e dar, a cada um deles, um projeto para que eles tivessem os ânimos acalmados durante um certo tempo. E contratou junto a Roberto Farias, nada menos que Pra Frente Brasil e junto a Gustavo Dahl, Tensão no Rio. (2002 p. ).

Calil afirma que os dois filmes Pra Frente Brasil e Tensão no Rio desgastaram

profundamente a Embrafilme, um derrubou o outro, Pra Frente Brasil quando lançado, foi

considerado uma profunda inconveniência para o governo militar, o SNI8, pediu a demissão

do diretor geral da Embrafilme, pois o regime exigia divulgar o governo por meio dos filmes,

o que não aconteceu. Em Pra frente Brasil era percebido a insatisfação a respeito do governo

militar. E Tensão no Rio, que é de um ano depois, Celso Amorim já tinha saído da presidência

da empresa de filmes, e quem está na Embrafilme sofreu este extraordinário desgaste de um

filme excessivamente caro e excessivamente sem caráter. Estes dois filmes advém

diretamente da crise de sucessão da Embrafilme e que levaram a empresa a uma crise política

e econômica sem precedentes.

A partir dos anos 90, na contemporaneidade, Beatriz Costa (2002), afirma que o

cenário cinematográfico mudou completamente se comparado as últimas décadas. Com baixo

custo, as produções decolaram, pois o cinema brasileiro recebeu apoio das Leis de Incentivo à

produção, onde retomou os filmes nacionais nas salas de cinema. As empresas do governo

federal e entidades públicas como a Petrobrás e BNDES9 realizando parcerias com televisões,

como, por exemplo, a Rede Globo, fizeram com que o cinema resgatasse seu público

8 Sistema Nacional de Informações, criado pelo governo militar.9 Empresa pública criada em 1952, e tem o objetivo financiar, em longo prazo, empreendimentos que contribuam para desenvolvimento econômico social do país

Page 23: Monografia História Do Cinema

22

explodindo os recordes de boas produções. Paulo Sérgio Almeida e Pedro Butcher (2003,

p.7), relatam que:

Desde 1995, o BNDES vem investindo no cinema nacional, apoiando filmes de ficção em longa-metragem e documentários de vários formatos - priorizando, no caso das obras não ficcionais, aquelas com duração compatível com as grades de programação das emissoras de televisão e relacionamentos com a cultura brasileira.

Com o contribuição da Globo Filmes, o cinema brasileiro passou a ter maior

audiência, ganhando números elevados de bilheteria. Paulo Emílio (2004), relata que por trás

dos maiores filmes de bilheteria, existem grandes celebridades com Renato Aragão, Xuxa e

Padre Marcelo Rossi. São pessoas que estão em contato contínuo com a mídia televisiva. E

que dos dez filmes mais vistos em 2003 e 2004, sete são comédias e os outros são dramas

históricos sobre figuras nacionais, como Olga e Cazuza, que acabou caindo a gosto do público

com um sucesso estrondoso nas bilheterias.

O Brasil tem investido bastante em longas-metragens que tem desencadeado sucesso

no território nacional e passando a ser premiados no âmbito internacional. Exemplo disso são

os filmes Central do Brasil e Tropa de Elite. As produções cinematográficas brasileiras tem

buscado cada vez mais a identidade nacional, evidenciando a cultura brasileira, libertando-se

da grande influência internacional que caracterizou os primeiros anos de sua implantação no

Brasil. Em Parintins, a população teve contado com muitos filmes produzidos por brasileiros e

estrangeiras nas décadas de 1960 a 1980. Um detalhe importante desse período é o regime

militar que inicia em 1964, que faz com que muitos filmes fossem fiscalizados, retirando

deles qualquer sinal de manipulação de idéias contra o governo.

1.4 O cinema amazonense

Page 24: Monografia História Do Cinema

23

Estando em proliferação no mundo, tendo representação no espaço brasileiro e

ganhando maior dimensão nos variados pontos do território nacional, o cinema chega e se

estabelece no Amazonas. Território constituído de belezas raras, biodiversidade, paisagens

naturais exuberantes, recebeu o cinematógrafo em 11 de abril de 1897, na cidade de Manaus.

A primeira exibição se deu no Teatro Amazonas, marco do ciclo gomífero. Conforme COSTA

( 2006, p. 94):

A chegada do cinematógrafo a Manaus, entretanto, em 11 de abril de 1897, não rebuliçou a cidade, como era de se esperar. O novo invento dos irmãos Lumière passou quase despercebido. Ao ser-lhe atribuído o status de “arte nobre”, fazendo-o penetrar pelo recém inaugurado templo cultural da elite manauara - o Teatro Amazonas - o cinema desencontrou-se de seu público predileto, as camadas populares, que lotavam as praças e cafés dos centros urbanos para ver o maravilhoso aparelho das “figuras que se mexem”. O local escolhido e os preços proibitivos afastaram o grande público para outros centros de diversões mais atrativos e menos dispendiosos.

Na região amazonense, a produção cinematográfica inicia-se em 1907, por meio da

empresa Fontenelle & Cia que se instituirá, a partir de 1912, na maior proprietária de salas de

cinema de Manaus. A primeira sala de cinema surge ainda em 1907, conforme Costa:

A inauguração do Casino Julieta, a 21 de maio de 1907, introduziu mudanças importantes na exibição cinematográfica. Construído como teatro, desejado como café cantante,o Julieta acabou por transformar-se na primeira sala de projeção fixa da cidade, onde o cinema construiu seu ninho para não mais levantar vôo. (2006, p. 102)

Entre as variadas salas de cinemas que funcionaram na cidade de Manaus, podemos

citar o Cine Guarany, que segundo COSTA apud AGUIAR (2002, p.130):

O Cine Guarany fazia parte da vida cultural de Manaus, mas sua trajetória de vida artística foi de constantes mudanças. Outrora, fora batizado como Cassino Julieta em 21 de maio de 1907, momento em que a cidade de Manaus vivia as loucuras e excessos da Belle Époque do Ciclo da Borracha e quando a elite extrativista fazia sua festa (COSTA, 1983, p.5)

Page 25: Monografia História Do Cinema

24

Em 1908, o Salão Amazonas foi inaugurado como uma nova sala de cinema de

qualidade reconhecida, sendo fechado sete meses depois. Novas casas de diversões surgem

em meio a crise gomífera fazendo concorrência com os cinemas. Em 1909 surgem o Recreio

Amazonense, o Cinema Avenida e o Teatro Alhambra sendo que o último funcionou de

dezembro de 1909 à metade de 1913, exibindo filmes brasileiros e amazonenses,

posteriormente iniciou soirées infantis das 7 às 8 da noite.

Apareceram em 1912 o Cinema Rio Branco, o Polytheama, o

Cinema Olympia e o Cinema Rio Negro. Surge o Odeon em 1913,

glamoroso, cheio de ostentação, mostrando o ambiente do cinema como

um fantástico mundo de sonhos. Dos cinemas inaugurados somente o

Cine Guarany, o Polytheama e o Odeon conseguiram funcionar por mais

tempo, chegaram à década de 70, gerenciados pela Empresa Fontenelle &

Cia. Na década de 20, além dos cinemas Alcazar (Guarany), Polytheama e

Odeon - surgiram outras salas com presença marcante por longos anos, o

Cine-Teatro Manaus, o Cine Popular e o Cine Glória, e no final de 1921,

surge o primeiro cineclube, o Cine-Teatro Manaus, criação dos padres

salesianos no Colégio Dom Bosco, fechando as portas nos anos 40. Em

1926, foi inaugurado no Alto de Nazaré, o Cinema Popular, que foi o

primeiro cinema fora do centro da cidade chegando aos anos 70, mudou

de nome, passando a se chamar Cine-Pop, exibindo filmes em 16 mm. Em

1928, nova sala na periferia da cidade é criada, o Cine Glória, no bairro do

mesmo nome. Tem projeção nos anos 50, quando exibe também filmes

em 16 mm. Outros cinemas ainda foram inaugurados na cidade de

Manaus, mostrando o apreço da população pela sétima arte.

Page 26: Monografia História Do Cinema

25

No cenário da produção cinematográfica surge Silvino Santos, jovem que saiu de

Portugal com apenas catorze anos de idade, e chega a Belém-Pará em 1899, se deslocando a

Manaus em 1910 onde se estabelece, passando a trabalhar com a fotografia, pré-requisito para

o conhecimento cinematográfico.

Desperta seu interesse pela sétima arte por meio de uma situação peculiar: um dos

maiores acionistas da empresa Peruvian Amazon Rubber Company, o empresário J. C. Arana

sofre a acusação de causar massacres contra povos nativos da região. Sendo processado pelas

cortes de justiça de Londres, J. C Arana necessitava mostrar a sua versão da história ou seja,

a sua “verdade”. Assim, o empresário encontrou no cinema o meio para a construção e

exibição da sua verdade, montando um filme que mostraria a realidade da região, favorecendo

a divulgação do s pensamento e, para isso, contou com a ajuda de Silvino Santos que precisou

se deslocar até a Europa, mais precisamente a Paris, para aprender a manusear as máquinas de

cinema. Desse modo, Silvino Santos realizou um processo de aprendizagem nos estúdios da

empresa Pathé-Frères e nos laboratórios dos irmãos Lois e Auguste Lumière para assim

realizar e exibir, em 1913, o documentário sobre a empresa Peruvian Amazon Rubber

Company no Putumayo, defendendo as idéias e intenções do empresário J.C. Arana.

Assim, Silvino Santos, tornou-se documentarista e realizou centenas de pequenos

filmes. Seu trabalho principal foi No paiz das amazonas (1922), designado a divulgar o

Estado amazonense durante as festividades comemorativas do centenário da Independência,

no Rio de Janeiro, sendo assim, reconhecido e premiado com a Medalha de Ouro daquele

evento. Depois de toda uma vida dedicada ao cinema no Amazonas, Silvino Santos que

também trabalhava a longos anos para o empresário J. G. Araújo, falece em Manaus, em maio

de 1970, deixando doze documentários produzidos na primeira produtora de cinema local, a

Amazônia Cine Films (1918-1920), dez curtas e três longas com exibição nacional e

internacional. Silvino Santos, pioneiro do cinema na Amazônia, foi sócio de Joaquim

Page 27: Monografia História Do Cinema

26

Gonçalves de Araújo. Produziu ainda três dezenas de filmes “domésticos”, registrando a vida

do empresário J. G. Araújo em Portugal e no Amazonas.

Silvino Santos viveu, muitos anos no anonimato devido ao declínio da era gomífera

e, conseqüentemente, dos negócios de seu patrão. No entanto,na década de 1960,

precisamente em 1969, por ocasião de I Festival Norte de Cinema Brasileiro, realizado em

Manaus Silvino é redescoberto.

Em meio ao período do regime militar, O I Festival Norte de Cinema Brasileiro

resultava de forte agitação cultural iniciada com a década de 1960, distinguida por intensas

discussões nos campos da política e das artes. A agitação cultural brotava do cineclubismo,

como resistência cultural ao regime, onde os grandes diretores eram revelados e objeto de

polêmicas, suscitando novos candidatos a cineastas. Tão logo, a poucos dias de Manaus,

estava Parintins, exibindo filmes que mostravam características de outras culturas, pois o

trabalho cinematográfico amazonense estava ainda em desenvolvimento.

Com relação às produções cinematográficas, surgem em Manaus, Carniça do

cineasta Normandy Litaif, premiado durante o I Festival de Cinema Amador do Amazonas

(1966), Harmonia dos contrastes de Ivens Lima, que rivalizou com Claustro escuro, o

trabalho de Litaif, e Almir Pereira, em 1966, em 16 mm, e que nunca mais fizeram uso da

câmera. Os jovens cineclubistas Felipe Lindoso, Roberto Kahané, Raimundo Feitosa, Aldísio

Filgueiras, Djalma Batista e Domingos Demasi, do Grupo de Estudos Cinematográficos

começaram a pontificar nos dois festivais de cinema. Desse modo, o cineclubismo estimulou

também a produção de Cinéfilo (1966-1968), uma revista de cinema do crítico José Gaspar.

O romance A selva, de Ferreira de Castro, foi adaptado para o cinema em 1972 por

Márcio Souza, um dos teóricos do “Cinema amazônico”. Sob liderança do cinéfilo10 Joaquim

Marinho havia um grande projeto que visava a criação de um pólo de cinema em Manaus, em

10 Amante do cinema, que nutre uma grande paixão pela sétima arte

Page 28: Monografia História Do Cinema

27

meio aos primeiros anos de estabelecimento da Zona Franca, que recebia bastantes

investimentos para desenvolver a indústria, logo assim, Joaquim Marinho objetivava atrai

financiamentos para a indústria cinematográfica amazonense. No entanto, o projeto cultural

não teve continuidade, fazendo o sonho ficar quase inerte.

Por volta de 1970 a 1990, a produção fílmica ficcional e de alguns documentários

recebem a colaboração do Estado, que financia e dá logística aos filmes da região. Nesse meio

de trabalho conjunto entre governo e produtores, surgem, por exemplo, os longas-metragens11

Ajuricaba, o rebelde da Amazônia (1976), do carioca Osvaldo Caldeira, e o premiado Mater

dolorosa (1980) do amazonense Roberto Evangelista.

Em 1987, o governo promoveu também o Primeiro Festival Internacional de Cinema

Amazônico e, em 2001, criou a Amazon Film Comission, que produziu frutos como Tainá I e

II. Em 2004, realizou o Amazonas Film Festival – Filme de Aventura. O Estado do

Amazonas, como também a região amazônica foram utilizados inicialmente como cenário

para o cinema documentalista com produções destinadas a propaganda favorecendo o turismo.

Muitos produtores buscam na Amazônia suas mais belas e exóticas paisagens para servir de

cenário a produções fictícias que criam mundos com criaturas dotadas de exageros na visão

dos diretores, principalmente estrangeiros. Considera-se a Amazônia, em particular, as áreas

do Estado do Amazonas como lugares propícios para o desenvolvimento de grandes

produções cinematográficas. Recentemente, o filme Avatar de James Cameron exibiu

imagens amazônicas e isso rendeu muitos olhares a região.

CAPÍTULO II

MEMÓRIA, HISTÓRIA E ORALIDADE

2.1 História Oral e a Memória

11 Filme de longa duração

Page 29: Monografia História Do Cinema

28

Neste capítulo, temos como técnica de pesquisa a História Oral que vem dar

complemento a historiografia, revelando os pormenores e dando evidência ao estudo dos

marginalizados da história, pois,

“Que é, então, a história oral ? É um procedimento válido de investigação no trabalho do historiador e, num sentido secundário, das formas de historiografia criada por esta investigação. [...] A história oral são as memórias e recordações de gente viva sobre s, passado.” (SITTON,1989:12)

E, mesmo considerando a técnica da Historia Oral, esta monografia está alicerçada

com fontes bibliográficas da oralidade. Mediante o trabalho de pesquisa que visa a busca do

conhecimento sobre os cinemas Cine Saul e Cine Oriental, recorremos aos registros que

existem sobre tal temática, no entanto, ocasionalmente nos deparamos com a ausência de

documentos a respeito do cinema em Parintins que respondam as questões pertinentes em

nosso meio. Os documentos escritos são necessários para analisar uma investigação, porém,

nem todas as vezes os encontramos disponíveis ao nosso alcance, e o historiador é instigado a

buscar novos meios para construir sua pesquisa. Abordando essa questão, o historiador

Lucien Febvre apud Le Goff (1949, p. 428), um dos fundadores da Escola dos Anales afirma

que:

A história fez-se, sem dúvida, com documentos escritos. Quando há. Mas pode e deve fazer-se sem documentos escritos, se não existirem... Faz-se com tudo o que a engenhosidade do historiador permite utilizar para fabricar o seu mel, quando faltam as flores habituais: com palavras, sinais, paisagens e telhas; com formas de campo e com más ervas; com eclipses da lua e arreios; com peritagens de pedras, feitas por geólogos e análises de espadas de metal, feitas por químicos. Em suma, com tudo o que, sendo próprio do homem, dele depende, lhe serve, o exprime, torna significante a sua presença, atividade, gostos e maneiras de ser.

Na ausência de fontes escritas, o historiador deve procurar em tudo que puder extrair

respostas, o que quer que represente a ação humana, como por exemplo, relatos pessoais,

cartas, utensílios que possam dar informações. A história vivida nos traz inúmeras

informações sobre o homem, e não se deve restringir apenas a fontes escritas como se estas

Page 30: Monografia História Do Cinema

29

fossem as únicas, mas que o homem é a maior fonte de informações para a História, através

da sua própria vivência. A história de vida do homem mantém uma ligação mútua com o

conhecimento científico, e o historiador deve trabalhar para o aprimoramento da ciência

histórica, edificando-a com vários direcionamentos críticos, contribuindo para a realização de

uma verdadeira “Nova História”.

Pelo exposto, observa-se que a história de vida do homem, ainda não escrita, pode

nos fornecer ricas informações através da sua memória, que armazena conhecimentos

importantes para o universo histórico. As informações presentes na memória de cada

individuo só pode ser conhecida e compartilhada através de relatos orais.

Para o sucesso deste trabalho, a História Oral se tornou indispensável, sendo que,

poucos registros escritos abordam sobre os cinemas que funcionaram na cidade, e a carência

do conhecimento sobre tais lugares pôde ser diminuída graças à memória pessoal e coletiva de

pessoas que conheceram o espaço e os conteúdos existentes nos cinemas que funcionavam

entre as décadas de 1960 aos anos de 1980. Deste modo,

a história oral é uma história construída em torno de pessoas. Ela lança a vida para dentro da própria história e isso alarga seu campo de ação. [...] Traz a história para dentro da comunidade e extrai a história de dentro da comunidade. Ajuda os menos privilegiados, e especialmente os idosos, a conquistar dignidade e autoconfiança. Propicia o contato – e, pois, a compreensão – entre classes sociais e entre gerações. E para cada um dos historiadores e outros que partilhem das mesmas intenções, ela pode dar um sentimento de pertencer a determinado lugar e a determinada época. Em suma, contribui para formar seres humanos mais completos. Paralelamente, a história oral propõe um desafio aos mitos consagrados da história, ao juízo autoritário inerente a sua tradição. E oferece os meios para uma transformação radical no sentido social da história. (THOMPSON,1992, p.44)

Vemos, através das ponderações de Thompson que a História Oral permite dar voz

aos marginalizados pela história, que muitas vezes foram negligenciados pelos documentos

oficiais, como os idosos, as lavadeiras, prostitutas, negros, etc, que, segundo a historiografia

Page 31: Monografia História Do Cinema

30

oficial, não teriam muito a contribuir para o entendimento do processo histórico. Assim, esses

homens e mulheres através de seus relatos orais contribuem para que se conheça o outro lado

da história até então desconhecido. E o pesquisador oral deve está atento aos seus relatos,

manter uma relação de respeito e confiança, para que mais tarde ao transcrever sua entrevista,

ele possa confrontar com o que foi dito pela fonte, ou fazer perguntas sobre o que não ficaram

satisfatórias. Deste modo, ele poderá confrontar-se com situações que não esperava e perceber

que houveram contradições históricas, ocorrendo muitas vezes na mudanças de perspectiva da

pesquisa.

Assim, a metodologia adotada como planejamento de todo o estudo utilizou todos os

procedimentos necessários propostos pela História Oral definida por José Carlos Sebe Bom

Meihy, que nos demonstra que:

Em vista deste conjunto de procedimentos, pode-se aventurar uma definição de História Oral como um conjunto de procedimentos que vão desde o planejamento do projeto, a definição da colônia [“um grupo amplo que tenha uma ‘comunidade de destino’], a eleição das redes [subdivisões significativas da “colônia”], o estabelecimento de uma pergunta de corte [um dilema comum, importante e explicativo da experiência coletiva, um recurso básico de unidade dos depoimentos, questão que deve estar presente em todas as entrevistas], a elaboração das entrevistas, a feitura dos textos e a devida guarda, a conferência e a devolução do documento à comunidade que o gerou. No caso de caber análises [...] dependerão do término da fase anterior. (1996, p 54)

Após a pesquisa bibliográfica para teorização do tema escolhido, foi elaborado um

roteiro com perguntas sobre alguns temas e questões ligadas aos cinemas Cine Saul e Cine

Oriental. As perguntas do roteiro visaram nortear a Colônia, ou seja, o grupo de pessoas,

moradores da cidade de Parintins, que poderiam nos fornecer informações sobre a temática

através de relatos rememorados de sua vivência nos anos de 1960 a 1980. Os roteiros também

direcionaram conversas informais que antecederam os depoimentos orais de 4 (quatro)

pessoas com certo grau de conhecimento e experiências a respeito do cinema que

Page 32: Monografia História Do Cinema

31

concordaram através da assinatura da Carta de Cessão ceder seus depoimentos, marcando as

datas e lugares convenientes para a realização das entrevistas, que foram desempenhadas e

priorizaram a liberdade para o depoente expor suas memórias e concepções.

No processo de coleta de depoimentos orais, utilizou-se um gravador marca Sony-

Ericsson e uma máquina fotográfica digital juntamente com o roteiro de perguntas. Posterior a

efetivação das entrevistas, a transcrição literal e a textualização dos depoimentos orais foram

necessárias para análise das informações de acordo com os objetivos do projeto e para

averiguar a comprovação ou não das hipóteses levantadas.

Com a coleta de depoimentos orais, buscaram-se as lembranças de maior significado

ao entrevistado também de acordo com os objetivos almejados O rememorar apresentou

algumas confusões de lembranças, um começo de divagação. No entanto, ainda que o

rememorar do período de interesse do estudo tenha tido obscuridades (presente e passado se

misturam), pôde-se ter os dados necessários para o desenvolvimento da monografia.

A base em relatos orais tornou possível a visualização de caracteres do período

década de 1960 a 1980 e perceber que significativas mudanças ocorreram no âmbito da

sociedade parintinense. Os relatos orais nos demonstraram lembranças de uma época em que

Parintins tinha outro contexto e ainda as transformações nos diversos âmbitos da cidade que

não pode deixar de ser notada. Deste modo, a memória tornou-se fundamental para o

conhecimento sobre os cinemas parintinenses, pois,

A memória fornece o suporte necessário para que os aspectos multiformes da realidade possam ser percebidos pelos sujeitos que compõem uma formação social, como um conjunto de informações, conhecimentos e experiências logicamente articulados. (RIBEIRO, 1999, p. 43)

Page 33: Monografia História Do Cinema

32

Sem as memórias dos moradores, a trajetória do cinema cairia no esquecimento. Não

podemos compreender o presente sem nos reportamos ao passado, a memória nos propicia

essa viagem para a compreensão das mudanças ocorridas

Portanto, a temática Memória vem a contribuir vertiginosamente para a compreensão

da história dos cinemas Cine Saul e Cine Oriental, pois conforme Le Goff: “A memória é um

elemento essencial do que se costuma chamar identidade, individual ou coletiva, cuja busca é

uma das atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje, na febre e na

angústia” (1990, p. 477).

Os estudos sobre memória são bases de grandes discussões nos campos das ciências. A

preocupação em preservar a recordação têm cada vez mais força e, com a investigação da

temática através da oralidade tem-se em vista relacionar a memória com a constituição das

identidades, ligando o passado e o presente e a suas formas de relações, o processo de

formação das memórias sociais na cidade. As lembranças contribuem para que grupos sociais

possam expor e re-expor suas histórias, transformar ou até mesmo solidificar ações devido ao

seu claro movimento, criando uma reciprocidade entre entrevistador e entrevistado, e

registrando os frutos deixados pelos cinemas.

Alguns autores preocupam-se com a perda de informações que só se encontram

presentes na memória, como por exemplo, Marcia D’Alessio que afirma que: “os estudos de

memória respondem a uma necessidade de busca de identidades ameaçadas”. A salvação da

memória então consistiria em registrar todo tipo de recordação, lembrança existente na

sociedade partindo das recordações pessoais para as da totalidade (D’ALESSIO, l995, p. 1)12.

E, nesta abordagem sobre memória, notamos um conjunto de questões que a temática

proporciona, entre as quais as suas próprias definições. Tomando base nas teorizações de

estudiosos do assunto verificamos a abrangência da memória no campo da ciência, sendo que

12 D’ALESSIO, Marcia. Estudos de memória e transformações na historiografia. Trabalho apresentado no Seminário Nacional de História/ANPUH. Recife, l995.

Page 34: Monografia História Do Cinema

33

a memória abrange campos da ciência histórica, psicológica, antropológica, sociológica, entre

outras áreas do conhecimento.

Maurice Halbwachs (1990), ao fazer considerações acerca da memória, coloca em

estudo as recordações pessoais e do grupo social, denominadas por ele como memória

individual (autobiográfica) e memória coletiva (histórica). Aparentemente distintas, as

memórias individual e coletiva se relacionam sendo que memória individual remete as

lembranças pessoais, frutos das experiências de vida individual enquanto a memória coletiva

coloca essas experiências individuais dentro de um grupo onde no senti de contribuir para a

manutenção da memória conforme a necessidade do grupo. Ou seja, a memória coletiva é

constituída pelas memórias individuais e a memória do indivíduo depende de sua relação com

a sociedade à sua volta. Assim, ambas as memórias se complementam.

No retorno ao seu próprio passado, o indivíduo, volta e meia, necessita ter base nas

lembranças alheias, recordações estabelecidas pelo grupo social, como se fizesse um

“empréstimo” de lembranças coletivas. Desse modo, o indivíduo passa a fazer parte do grupo

que também necessita de suas recordações pessoais mesclando as lembranças consideradas

nacionais, como por exemplo, memórias registradas em jornais ou testemunhos daqueles que

deles participaram diretamente. A memória individual apóia-se na memória coletiva, assim

sendo, nossa história pessoal faz parte da história em geral.

Outra questão a respeito da memória é a sua sociabilidade. Devido seu caráter de dar

voz aos excluídos, é através da memória social que se pode ter conhecimento das mudanças

ocorridas nas sociedades. Le Goff destaca, por exemplo, as tribos que não conheciam a escrita

e que era através da memória dos mais velhos puderam transmitir suas tradições pelos relatos

orais passados de pai para filhos. Caso não houvesse essa transmissão nós não teríamos

conhecimento de muitas culturas existente ao longo da história, daí sua importância histórica

e temporal já que consegue resistir ao tempo.

Page 35: Monografia História Do Cinema

34

Existem também memórias propensas ao esquecimento, sobretudo as lembranças

ruins ao qual o indivíduo ou grupo decide esquecer. Muitas vezes, essas memórias não se

encontram tão disponível as pesquisas orais. Recordar fatos negativos traz muita dor aos que

lembram (como aconteceu com os judeus presos em campos de concentrações), sendo muito

difícil relembrar o que aconteceu, naquele período possibilitando assim um bloqueio em suas

memórias, ou mesmo um enfraquecimento da memória social. Porém, também existem os que

desejam narrar suas memórias para demonstrar suas situações difíceis e motivar a não

repetição do fato ocorrido.

A contemporaneidade também coloca em destaque as memórias digitais, e isso

coloca dificuldades na preservação das memórias individuais e coletivas, visto que, o avanço

da tecnologia ficou dificulta os ensinamentos ou tradições orais, sendo que a maioria dos

jovens passam boa parte do seu tempo em lan house, frente ao computador, gravam seus

compromisso em agendas eletrônicas entre outros recurso possuidores de memória virtual, o

que torna-se difícil o conhecimento do cotidiano através dos relatos orais.

Nisso, o termo memória nos transmite muitos direcionamentos, no entanto, ao

conhecermos sobre o cinema na cidade de Parintins, buscamos nas pessoas, ou melhor, na

sociedade, as memórias reveladoras do assunto.

2.2 A Relação Cinema & História

O cinema representa um marco na vida dos moradores da cidade de Parintins. Os

filmes projetados nas salas de exibição instigavam diferentes sentimentos e visões de mundo

aos expectadores. Sobre as variadas mensagens que um filme pode transmitir, abordaremos a

História nos domínios do cinema, como uma produção é vista, trabalhada e analisada pelos

historiadores.

Page 36: Monografia História Do Cinema

35

Um dos requisitos básicos na investigação histórica é a criticidade. Por meio da

crítica é que historiadores analisam não apenas a aparência, mas a essência do objeto de

estudo. O filme transmite a história segundo a visão do diretor que o arquiteta, como se esta

idéias fosse a sua “verdade”. Nisso, historiadores freqüentam as salas de cinema, apreciam as

produções e também vivenciam a realidade transmitida pelo filme. No entanto, por seu

conhecimento, são analíticos a estrutura do filme, e desse modo, dedicam-se a avaliar o teor

de um filme, e se este pode ou não ser considerado fonte histórica.

A esse respeito, a discussão que deu enfoque a questão da fonte histórica, surge nas

décadas de 1960 e 1970 onde se deu destaque a importância da diversificação das fontes a

serem utilizadas na pesquisa histórica. A "Nova História" identificou novos itens e métodos,

para a ampliação quantitativa e qualitativa dos domínios já tradicionais da história. A história

das mentalidades ganhou um impulso maior no âmbito da Nova História, enriquecendo o

estudo e a explicação das sociedades através das representações feitas pelos homens em

determinados momentos históricos. Foi essa mesma concepção que impulsionou um campo

ainda mais vasto de reflexão, o da história do imaginário. O termo documento teve mais

conteúdo e ampliação pela Nova História, e, sobretudo destacou a necessidade da crítica do

documento.

Segundo Jacques Le Goff, “há que tomar a palavra ‘documento’ no sentido mais

amplo, documento escrito, ilustrado, transmitido pelo som, a imagem ou de qualquer outra

maneira” (SAMARAN apud LE GOFF, 1990, p.540). Assim, pesquisa histórica consolidada

pela Nova História privilegia o cinema como fonte, apreendido em sua especificidade, e, à

incorporação dos problemas trazidos pela recente historiografia por aquele que se dedica à

análise estética.

O questionamento que permeia o relacionamento História e Cinema diz respeito ao

que a imagem reflete, ou seja, se a imagem transmite realidade ou representação. A esse

Page 37: Monografia História Do Cinema

36

respeito, indaga-se o potencial manipulador de um filme, pois, no exercício da investigação

dos fatos e no ensino, o historiador se depara com a complexidade do objeto cinema, como

fonte, pois há a pré-concepção de que o filme, o cinema traz fantasia, ilusão, irrealidade ao

estudo da história.

A contribuição que o filme pode oferecer a história advém das diversas formas de

reprodução da sociedade, ou seja, quando um filme retrata um fato, costumes e características

de determinada sociedade ou época, estes ficam registrados e a história pode analisar se

correspondem adequadamente a realidade, não esquecendo que a idéia de “verdade” é

subjetiva. No entanto, se não identificarmos, por meio da análise dos filmes, o discurso que a

obra cinematográfica levanta sobre o meio social a qual está inserido, apontando para seus

equívocos, improbabilidades e conflitos, o cinema perde a sua efetiva dimensão de fonte

histórica.

Através da avaliação do cinema por meio da História, vemos a significância da

sétima arte para a sociedade mostrando a importância das produções fílmicas como

recuperação de características e visões de mundo das sociedades e também como reprodução

da realidade tendo base na ficção e seu relacionamento com o documental, pois, é de suma

importância para a compreensão do processo histórico e como este é entendido e reproduzido

nos roteiros fílmicos, se a realidade dos fatos é manipulada ou apresentada adequadamente,

para assim o filme ser utilizado como fonte.

Deste modo, o filme passa a adquirir um estatuto de fonte preciosa para a História a

fim de se ter a compreensão dos comportamentos, das concepções de mundo, identidades,

ideologias, e dos valores de uma sociedade ou de um momento histórico.

2.3 Imaginário e o Cinema

Page 38: Monografia História Do Cinema

37

O cinema influencia no modo vivendis da sociedade, transmite através dos filmes

representações de sociedades, nações, localidades, etc. Entretanto, após a abordagem da

história do cinema situamos a história dentro do universo do cinema, para assim

compreendermos a função do cinema na trajetória de vida dos moradores da cidade de

Parintins.

A indústria cinematográfica fabrica produções fílmicas que retratam vários

segmentos e temáticas relativos à existência, concepções, conhecimentos, práticas, crenças

entre outros componentes ligados a vida humana. O filme é a imagem em movimento, e essas

imagens refletem a visão de quem produz a obra fílmica como também acarreta influências no

expectador que assiste. A respeito da imagem, Durand (1999) apud Aumont (2000) afirma

que:

A imagem é sempre modelada por estruturas profundas, ligadas ao exercício de uma linguagem, assim como à vinculação a uma organização simbólica (a uma cultura, a uma sociedade); mas a imagem é também um meio de comunicação e de representação do mundo, que tem s, lugar em todas as sociedades humanas.(1999, p. 131)

Assim, a imagem é criada constantemente no imaginário individual ou coletivo e

reportada ao filme que mostra representações, que “[...] tem como objeto principal identificar

a forma como em diferentes lugares e momentos uma realidade social é construída, pensada,

dada a ler”. (CHARTIER, 1990, p. 40)

Refletindo o cinema, sua trajetória oficialmente iniciada no final do século XIX, nos

deparamos com muitas questões, começando pela primeira impressão que a exibição

transmite. Imagina-se a primeira sessão pública executada pelos irmãos Louis e Auguste

Lumière; a pessoa que se assenta na cadeira ou poltrona da sala de exibição; apagam-se as

luzes, e no escuro surge a luz do telão branco onde as imagens começam a “ganhar vida”, e os

Page 39: Monografia História Do Cinema

38

olhos do expectador captam as figuras em s, subconsciente onde variadas representações se

misturam a percepções, e nas imagens do filme, como por exemplo, um trem fazendo sua rota

pelos trilhos, o expectador se reporta ao cenário visualizado, sentindo o aconchego da

poltrona do veículo fazendo assim, o processo de integração do cenário. O filme termina, e o

expectador volta ao cenário inicial, a sua realidade concreta. Nessa breve fantasia, vemos que

o filme nos introduz ao seu contexto, fazendo o conjunto de imagens se tornarem por

determinado tempo de duração a realidade. Deste modo,

O cinema, não oferecendo nenhuma presença real, é constituído de representantes, de significantes imaginários, no duplo sentido – usual e técnico – da palavra: ‘o cinema faz com que a percepção surja maciçamente, mas para logo deixá-la cair em sua própria ausência, que é, entretanto, o único significante presente’ ”(METZ, 1977, apud AUMONT, 2000, p. 119).

O cinema nos leva a reflexão. Não apenas a análise de suas idéias, mas também a sua

forma de “refletir”. Há o retorno da imagem, como Narciso vendo seu semblante refletido nas

águas, o homem tendo um espelho. Porém, nesse espelho, é visualizada a imagem que cada

um gostaria de ver refletida, o imaginário infinito e variável em cada um. E esse espelho vem

a ser o cinema.

A exibição de um filme causa um frenesi, excitação diante da situação exibida na

tela. Muitas vezes no coloca no lugar da personagem. Conforme a temática do filme, o

expectador, muitas vezes, se apropria de características da personagem, o ator ou a atriz

passam ser modelo para quem assiste. Das grandes produções fílmicas, Hollywood constrói s,

glamour tendo base nos grandes astros do cinema, homens e mulheres que através de

personagens, inspiram tendências, moda, comportamentos entre outras influências. De acordo

com Morin13:

13 Ver MORIN, Edgar. As estrelas: mito e sedução no cinema. Rio de Janeiro: José Olympio, p. 8-9 e p.50.

Page 40: Monografia História Do Cinema

39

Ao apogeu na tela, corresponde o apogeu, da vida mitico-real das estrelas de Hollywood. Sublimes, excêntricas [...] vivem muito longe, muito acima dos mortais. [...] São mais do que objetos de admiração. São [...] motivo de culto. ( s.d ,p.8-9)

Desse modo, os astros de Hollywood são divinizados, admirados pelos apreciadores

do cinema, pois, como o próprio autor evidencia, Hollywood é o cenário maravilhoso onde a

vida mítica é real e a vida real, mítica [...] um Shangri-lá californiano, onde corre o elixir da

imortalidade (MORIN, s.d, p.50). Entendemos assim que os profissionais que encenam os

grandes roteiros ficam marcados, imortalizados pelas personagens que desempenham. Os

desejos de uma pessoa podem encontrar na personagem de cinema um reflexo do seu próprio

“eu”, sendo que o expectador se identifica com o ator que desempenha o papel no filme.

A imaginação flui dentro do universo do cinema. A experiência do filme desenvolve

um estado de êxtase, isso é devido a busca de uma “saída de si”, libertação da rotina, o tempo

livre dedicado ao cinema favorece uma construção de realidade diferente da vivenciada pelo

apreciador do cinema. O término de uma sessão significa a volta a vida rotineira, e o êxtase do

filme contribui para amenizar a angústia causada pelo cotidiano. Essa consciência de saber o

que é real e o que pode se tornar real caracteriza a influência do imaginário na vida do

expectador.

O filme é apreendido como criador e arquivo da memória, pois, muitas reproduções

designam características e experiências coletivas e individuais transformadas em imagens e

sons, abordando caracteres do imaginário da sociedade que o vê e o determina, e quando se

fala em filme, não se reserva apenas ao longa-metragem ficcional, mas também ao

documentário entre outras filmagens.

No entanto, o filme corre o risco de tentar explicar tudo, de dar ao espectador a

imagem já digerida, facilmente entendida, sem a liberdade de interpretação, convencendo de

Page 41: Monografia História Do Cinema

40

que o mundo é de tal maneira como é foi apontado e narrado no filme, sua versão é definitiva

não há lugar para a dúvida, para o inacabado.

Page 42: Monografia História Do Cinema

41

CAPÍTULO III

“OS CINEMAS E SUAS EXIBIÇÕES PRESERVADAS NA MEMÓRIA

PARINTINENSE”

3.1 Considerações gerais da pesquisa

Para a análise e discussão dos resultados da pesquisa a partir das peculiaridades de

Parintins, considerando que o método de abordagem é o dedutivo, chegamos enfim as

particularidades cinematográficas deste município. Daí, os procedimentos históricos,

principalmente a História do ponto de vista dos Analles, ou seja, a História vista de baixo,

considerando os anônimos da história, dando ênfase a narrativa de pessoas com a

oportunidade de apresentar sua biografia e assim desvendar os meandros e obscuridades

existentes na História.

O município de Parintins é constituído de vários atrativos com relação a sua cultura,

folclore, artes e religiosidade. Nas primeiras ruas da cidade nos deparamos com prédios,

igrejas antigas e residências que transpiram muitas histórias dos seus antigos moradores.

Reportamo-nos ao passado, e observamos um cenário parintinense dotado de

diferenças típicas, como por exemplo, mentalidades e linguagens dessemelhantes da atual

realidade. As práticas sociais também eram diferentes. Havia outras opções de lazer as quais

não encontramos no tempo presente. Em uma época peculiar, os parintinenses desfrutavam da

tranqüilidade do espaço ainda em processo de urbanização. Homens e mulheres faziam o

curso para o trabalho nos mercados, feiras, pequenas lojas entre outros ofícios que existiam no

período. Dentre as formas de sair do rotineiro trajeto e aproveitar os momentos para a

diversão individual ou coletiva estava o cinema. Conforme nos relata o senhor Raimundo José

da Silva Neto, 52 anos, contabilista, um dos depoentes colaboradores para a pesquisa:

Page 43: Monografia História Do Cinema

42

Naquela época Parintins ainda era bem menos desenvolvida né, uma cidade ainda que a gente via que era Parintins ainda era bem pequena e os divertimentos na época eram realmente os cinemas. Os cinemas que existiam os cinemas como o Cine Oriental mesmo né,e o Cine Moderno na época, depois o Cine Saul, são os dois cinemas realmente que divertiam a população parintinense, e era o que tinha de divertimento na época era esses dois cinemas, que, mais o pessoal se divertiam na época não muita né não tinha tanto divertimento, então o pessoal dava mais valor no cinema da época a gente ia muito ao cinema, eu pelo menos gostava muito do cinema.

A história do cinema em Parintins é tem um início bastante antigo, pouco conhecido

pela população parintinense. Segundo Edda Meirelles da Silva (2008, p.161), “várias pessoas

tentaram entrar nesse ramo, todavia, Antônio Sérgio da Silva que instalou seus equipamentos

cinematográficos, [...] foi o pioneiro da sétima arte em Parintins. A época era de cinema

mudo”. Não se sabe a datação do início das exibições cinematográficas em Parintins, no

entanto SILVA (2008, p. 161-162) ainda contribui apresentando informações sobre a

trajetória dos cinemas em Parintins, conforme:

Jonas Teixeira, em sociedade com o telegrafista Gerson abriu outra casa de projeção. Dessa vez, o prédio passou a funcionar num prédio conhecido como casa dos Serrulha. Os técnicos não sabiam trabalha muito bem com os projetores e, de vez em quando, as imagens surgiam na tela de cabeça para baixo[...] No final das contas compreendíamos todos os enredos, tornando-nos freqüentadores assíduos e amantes do cinema. Depois a jovem Elza Portal e Silva, em 1948, entrou no ramo, mas a essa altura já era cinema falado. O prédio onde passavam as películas pertencia a Pichita Cohen, um local muito freqüentado pela população.Mais tarde, o Sr. Henrique Melo inaugurou uma sala grande, localizada próxima à praça da Prefeitura, num prédio de sua propriedade. Era um cinema muito concorrido, os melhores filmes da época passavam lá. Não sabemos a razão de o mesmo ter acabado, uma vez que o público sempre prestigiou. Finalmente, um grupo de empresários, composto pelos Srs. Elias Assayag, hebraico, Dantona, italiano e Emílio Silva, português, em sociedade, construíram um prédio num terreno bem localizado, na esquina da rua da Silva Meirelles com a João Melo. Uma obra soberba, orgulho dos parintinenses [...]Gentil Belém, [...]sugeria que o nome fosse “Cine Babel”, em razão de o grupo ser constituído de pessoas de várias raças, mas ficou “Cine Teatro Brasil”.

Assim surgia o Cine Brasil, cinema idealizado por três homens mas que

proporcionava alegria a população parintinense, exibindo grandes clássicos do cinema

mundial como E o vento levou e Casablanca. São notórios os efeitos causados pelo contato

com as salas de exibição. A empolgação com os filmes dos anos dourados brasileiros, o

Page 44: Monografia História Do Cinema

43

sucesso das estrelas de cinema internacionais, a diversão com os filmes da chanchada, por

meio de personagens marcantes como Oscarito. Assim, muitos parintinenses prestigiavam os

filmes exibidos pelo Cine Teatro Brasil.

Entre as décadas de 1960 e 1980, os parintinenses prestigiaram a sétima arte através

de prédios com características peculiares. Em algumas fontes bibliográficas de autoria

parintinense, soube-se que nesse período havia dois cinemas em funcionamento: Cine Saul e

Cine Oriental. Ao indagarmos sobre qual desses cinemas funcionava a mais tempo e o senhor

Raimundo José da Silva Neto que freqüentava nos anos da década de 1970 nos informa que:

O cine Saul [...] acho que sim, ele era, Cine Saul por que antes era o Cine Moderno, na época, Cine Moderno não,Cine era o Cine [...] como é o nome, se , não me engano,[...] não era Cine Moderno, era Cine Brasileiro,uma coisa assim, [...] Cine Brasil. Acho que pra mim foi um dos primeiros que Parintins possuiu,na época como cinema né, por certo tempo eu gostava mais do Cine Oriental.

O relato do senhor Raimundo Silva demonstra o Cine Saul como um o antigo Cine

Teatro Brasil, o que é confirmado por Silva (2008, p. 163) ao revelar que outro empresário

procurou investir no cinema, fazendo funcionar no mesmo prédio do Cine Brasil um outro

cinema:o “Saul”, nome este em referencia ao seu novo dono o empresário José Saul.

Posteriormente passou a funcionar o Cine Oriental em outro ponto da cidade.

O Cine Saul é detalhado pelo depoente que evidencia até sua localização “ali na João

Melo, [...] esquina com a João Melo e a Faria Neto, onde é hoje [...]é o Show dos calçados”,

fazendo uma ligação o passado e presente mostrando que no mesmo local onde hoje é um

comércio, já abrigou um lugar de grande importância para ele, a qual só restou as lembranças.

O lugar representa o interesse do depoente, mesmo que hoje tenha outra estrutura, o espaço

Page 45: Monografia História Do Cinema

44

sempre vai representar o Cine Saul. A respeito da relação passado/presente, Le Goff14 afirma

que:

Toda a história é bem contemporânea, na medida em que o passado é apreendido no presente e responde, portanto, aos seus interesses, o que não é só inevitável, como legítimo. Pois que a história é duração, o passado é ao mesmo tempo passado e presente. (1992 p. 51).

O senhor Raimundo Silva também busca em suas recordações o período em que

freqüentava o Cine Saul, período em que vivia a fase de transição entre a infância e a

adolescência, relembra a imagem do Cine Saul, pois, este cinema além de ser caracterizado

por sua estrutura física bela; suas sessões diárias também marcaram momentos importantes,

emoções individuais e coletivas de quem freqüentou seu espaço, como o próprio colaborador

em questão, que nos relata com tristeza, a demolição do prédio:

[...] o prédio, o cine Saul mesmo que era, eles demoliram, foi demolido [...] como ele era na época né,hoje já ta tudo diferente, demoliram. Quem conheceu, na época, hoje olha pra lá só lembrança, só lembrança, do prédio que era, era um prédio estilo naquele estilo bem antigo né, e hoje se vê uma coisa que muito diferente, quem lembra hoje já passa por lá diz que nunca existiu o Cine Saul pra estrutura que tinha era assim.

Com esta narração percebe-se que é difícil a crença de ter existido um cinema no

ponto em que já funcionou o Cine Teatro Brasil e que posteriormente se tornou o Cine Saul.

Como o próprio depoente retrata, ao olhar para o prédio atual, quem não tem conhecimento da

existência do cinema nessa área nem imagina a ocorrência desse fato. Esta descrença se firma

pela estrutura que o prédio possuía, conforme o depoente evidencia:

Era diferente, era bem diferente, ele tinha uns pilares [...] tipo aqueles prédios romanos, muito bonitos os pilares e aquilo ali foi demolido, e ficou, eu acho, não sei muitas pessoas na época foram contra a demolição daquele prédio ali deveria

14 LE GOFF, Jacques. História e Memória. Tradução Bernardo Leitão, et all. 2° Ed. Campinas: UNICAMP, 1992.

Page 46: Monografia História Do Cinema

45

ser um marco histórico pra Parintins, e eles demoliram aquilo ali e não se sabe qual foi a idéia que os donos tiveram, mais se até hoje existisse aquele prédio, pra mim seria uma fonte histórica pra Parintins,entendeu, aquele prédio, por que era muito bonito,era muito bonito o prédio, quem conheceu, sabe.

Esta exposição do entrevistado demonstra que o cinema, mesmo não funcionando na

atualidade, serviria de “fonte” para a história local, um lugar de memória não apenas

preservado na memória de cada pessoa, mas também no espaço urbano parintinense. Nesse

sentido, pode-se visualizar no relato do depoente que o cinema seria, para ele como também

para os demais, muito além do que um prédio de projeção fílmica, mas, sobretudo um

patrimônio, uma vez que,

O patrimônio é o resultado de uma dialética entre o homem e seu meio, entre a comunidade e seu território. Ele não é apenas constituído pelos objetos do passado oficialmente reconhecidos, mas também por tudo que liga o homem ao seu passado, ou seja, tudo que os seres humanos atribuem ao legado material e imaterial de sua nação.

Ao evidenciar que o Cine Saul poderia ser uma “fonte”, o senhor Raimundo

demonstra que caso o cinema funcionasse, ou mesmo, fosse conservado, este lugar poderia ser

um patrimônio, “marco” da história parintinense. Porém, os que vivenciaram a experiência

das salas de cinemas indagam a demolição do cine Saul. Conforme afirma SILVA (2008,

p.163):

[...] Um prédio majestoso que deveria ser tombado pela administração municipal, não foi preservado. Hoje quando visitamos a cidade, constatamos que não só o Cine-Teatro, mas outras obras que embelezaram Parintins não existem mais, tornando a cidade sem memória [...].

Outro cinema que funcionou em Parintins entre os anos de 1960 a 1980 foi o Cine

Oriental. A respeito do Cine Oriental, foi fundado no dia 26 de dezembro de 1964 pelo senhor

Alberto Kasunori Kimura, nipônico apaixonado por fotografias.

Page 47: Monografia História Do Cinema

46

Localizado sito a rua Faria Neto, próximo a rua Senador Álvaro Maia, o Cine

Oriental inicialmente se resumia, a princípio, em um salão apenas. Posteriormente foi

ganhando investimentos em sua estrutura física, dando mais conforto e comodidade à

população que prestigiava os filmes.

A estrutura física do prédio compreendia a 10 metros de largura por 33 metros de

fundo, sendo espaço composto primeiramente por 150 cadeiras, depois o número aumentou

450 assentos. O Cine Oriental possuía inicialmente uma máquina de projeção de 16

milímetros, com o tempo, passou a ter outras máquinas devido sua ampliação, e assim projetar

com uma máquina de 35 milímetros movida a carvão15. (FILHO, 2007)

O público vivia dividido entre os dois cinemas.

3.2 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A temática “História e Memória: Os Cinemas em Parintins-Am entre a década de

1960 a 1980” teve algumas de suas hipóteses confirmadas. Na busca de conhecer a

importância da sétima arte na vida dos moradores parintinenses observamos variadas questões

sobre a permanência dos cinemas Cine Teatro Brasil, Cine Saul e Cine Oriental na memória

individual e coletiva, através das informações obtidas pelos relatos orais sobre o período em

que funcionaram os prédios cinematográficos.

As hipóteses levantadas sobre o funcionamento dos cinemas surgiram da necessidade

de conhecimento da relevância dos cinemas que favoreceram o fim deste entretenimento de

grande valor a memória, história e cultura local. Sobre as pressuposições baseadas em O

espaço do cinema representava a fuga do cotidiano; Parintins teria disposição de poucas

opções de entretenimento? A manutenção dos cinemas era dificultada pelo alto custo de seus

componentes?Entretenimento foi privatizado com a expansão da imagem televisiva?Outros

15 FILHO, Alberto Kimura.O Cinema em Parintins. Parintins, UEA, s/d, 2007. Os primeiros passos do Cine Oriental. Entrevista concedida a Maria de Jesus Muniz de Souza.p.27-28.

Page 48: Monografia História Do Cinema

47

fatores teriam contribuído para a desativação de um local onde memórias tão significativas se

contribuíram?Como por exemplo, a aparição das locadoras de vídeos VHS; todas as questões

pertinentes ao conhecimento dos cinemas como locais de importância significativa a

população parintinense também instigou a investigação devido a conversas informais que

demonstraram informações sobre o funcionamento e decadência das salas de cinema de

Parintins, e as memórias, os momentos vivenciados nas salas de projeção preservam-se em

cada ex-frequentador.

Para se ter o conhecimento sobre os fatores que geraram a desativação dos cinemas

“Saul” e “Oriental” é imprescindível visualizar a representação desses cinemas aos

parintinenses que deles apreciaram.

Partindo do depoimento do senhor Raimundo Barbosa Batalha, 55 anos, antigo

freqüentador do Cine Oriental. O depoente nos relata suas idas ao cinema e sua relação

pessoal com o prédio:

A gente ia, mais a gente gostava mais de ir no Cine Oriental. Eu ia com a minha namorada que agora é minha esposa. Era um movimento muito bom, todo final de semana. funcionava todo dia. Só que eu assistia no final de semana, que era meu dia de folga, né.Sábado. (Raimundo Barbosa Batalha, 55 anos)

Devido o senhor Raimundo trabalhar em outros dias da semana, o cinema era

reservado ao dia de Sábado. O depoente relatou sua freqüência às sessões e como esta refletiu

em sua vida, uma vez que sua relação amorosa se construiu também no ambiente do cinema.

Nisso, o cinema ao mesmo tempo em que exibe várias histórias de diferentes filmes, também

contribui para que seus espectadores construam suas próprias histórias em seu ambiente.

Continuando sua colaboração, percebemos a emoção deste parintinense em relatar os

momentos vividos dentro do ambiente do cinema. Pois, o mesmo evidencia que “ficava

emocionado em viver aquele filme que assistia naquela época [...] era muito legal”. Mesmo

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48

com a dificuldade de expressar os sentimentos e sensações que vivenciou no cinema, o senhor

Raimundo menciona o Cine Oriental com grande entusiasmo, recordando as técnicas usadas

pelo cinema para chamar a atenção do povo parintinense. A mais marcante memória que o

entrevistado relatou foi a respeito de uma das músicas utilizadas pelo cinema para a sua

“anunciação”, conforme nos informa o senhor Raimundo Batalha:

Quando tocava aquela musica a gente tava, a gente morava ali na Raimundo Almada né, Itaguatinga. Quando tocava aquela musica sempre dava uma emoção na gente, antes de, quando antes de começar o cinema né, tocava uma musica assim. Anunciando que já ia começar o filme. [...] chega tocava no coração da gente. [...] Era muito legal. Chama a atenção do povo. (Raimundo Barbosa Batalha, 55 anos)

As memórias do entrevistado também trazem suas preferências fílmicas. Os filmes

refletem muitas visões e deixam personagens marcantes e estilos são adotados como

preferência através da analise pessoal de cada filme e enredo. O senhor Raimundo nos relata

os filmes e personagens que estão marcados em sua memória:

Naquela época era o. Charles [...] Charplim. É, Charles Chaplin. Naquela época, era o Bang Bang. Preto em branco, naquela época, era naquela época era a nossa diversão. Charles Chaplin,né. Era tudo legendado. Era tudo legendado, mais era legal. (Raimundo Barbosa Batalha)

Assim, o senhor Raimundo Barbosa demonstra sua preferência pelo cinema mudo,

em imagem preta e branca, cujo ícone desse estilo fílmico é o humorista Charles Chaplin, que

encantou e encanta gerações que assistem seus filmes. O depoente ainda fala sobre a

paralisação das exibições com melancolia. Sobre o fim do cinema, o senhor Raimundo

Batalha pondera que “o dono faleceu e não tinha outra pessoa pra continuar [...] acabou

fechando [...] Triste”. Percebe-se que o funcionamento do cinema, para o depoente, estava

profundamente ligado a presença do dono, idealizador do Cine Oriental, como se a ausência

Page 50: Monografia História Do Cinema

49

do mesmo não desse motivo para o cinema funcionar. O ex freqüentador, ele relembra como o

cinema atraía a população:

Contribuía pra cultura. [...] Corria naquela época corria muito dinheiro. O preço do ingresso [...] Eles faziam aquelas promoção. Colocavam os cartaz na frente. Pra chamar atenção da juventude, adolescente, naquela época, o pessoal gostava. De ingresso. Ai a vez era 100 cruzeiro naquela época, eles baixavam pra 50 cruzeiros naquela época, gostavam muito, e era muito divertido. (Raimundo Barbosa Batalha, 55 anos)

Com a realização de promoções no preço do ingresso, o cinema Oriental duplica seu

público o que leva a criação do Cine Oriental segundo, conhecido como “buraco quente”

devido seu espaço ser pequeno, e quando lotava, tornava o ambiente abafado.

Ex freqüentadora do Cine Oriental, a senhora Ilza de Azevedo Batalha, 52 anos, dona

de casa, revela suas memórias a respeito do cinema, afirmando que sente muita falta do Cine

Oriental, cinema a qual ela mais estimava, principalmente por que este cinema tocava sua

emoção através das músicas que alertavam a abertura do prédio para as sessões. Conforme

nos relata a entrevistada:

[...] eles colocavam uma música que até hoje quando o Parintins sai, eles colocam sabe, sei lá aquela musica me chamava a atenção, eu achava tão legal,tão.. não sei nem te explicar bem só sei que , gostava, bem a partir das 5 horas já começa a tocar a musica e aquilo me atraia sabe, me chamava atenção, eu gostava. Era no Cine Oriental que tocava essa música. (Ilza de Azevedo Batalha)

Logo, se percebe que, assim como o senhor Raimundo Barbosa, a senhora Ilza de

Azevedo encontra na música do Cine Oriental as emoções vivenciadas no cinema,

evidenciando como este local traz inúmeras recordações de seu funcionamento. A depoente

demonstrou grande insatisfação com o fechamento dos cinemas. A respeito da visão que ela

possuía sobre o cinema, a senhora Ilza coloca que o “cinema representava, uma diversão, por

que nesse tempo pelo menos a gente que trabalhava não tinha outra diversão, ia ao cinema

Page 51: Monografia História Do Cinema

50

pelo menos pra se distrair”. Desse modo, a entrevista nos afirma que sua freqüente ida ao

cinema era em função de se divertir, sair da rotina, sendo que a mesma trabalhava e

necessitava de lazer.

Ao questionar se ela tinha algum conhecimento sobre o que poderia ter contribuído

para a desativação dos cinemas em Parintins, a senhora Ilza Batalha informa que na época as

pessoas comentavam sobre vários pontos de vista, ela própria tem suas concepções baseadas

nos acontecimentos do período, conforme menciona:

Olha acho que depois que começaram a chegar as televisões ai pronto o pessoal foram se afastando. [...]é, com certeza depois que começou a chegar a televisão, pronto o pessoal.[...] abandonaram o cinema né pra assitir só em casa a televisão. Acho que foi por isso que fechou tanto fazia um como o outro. Todos os dois fecharam, foi o tempo que os donos morreram né, [...]Não faz muito, muito tempo, que eles morreram não sei te dizer o ano, mas não faz muito muito tempo [...]Televisão, é a televisão depois DVD, pronto, então abandonaram não tinha como os donos sustentar né foi o jeito fechar.(Ilza de Azevedo Batalha)

Pode-se observar que a depoente afirma duas causas para o não funcionamento do

cinema: a televisão, como nova opção de entretenimento familiar; e o falecimento dos donos,

que seriam os maiores conhecedores das máquinas cinematográficas. A senhora Ilza de

Azevedo Batalha lembra-se das diversas sessões que participou como expectadora, e garante

que lá no Cine Oriental ficaram muitos momentos felizes de sua vida. Ainda contribuindo

com a confirmação das hipóteses, temos as considerações do senhor Raimundo José da Silva

Neto, 52 anos, que também fala dos dois cinemas:

Então os cinemas que existiam, que era o Cine Saul “Cine Moderno” e depois Cine Oriental [...] eles terminaram, porque até mesmo assim, , acho por que devido, depois com o desenvolvimento, veio a televisão entendeu,depois que apareceu, a televisão já foi caindo mais o cinema porque todos os filmes que passavam no cinema a televisão começou também a mostrar,então geralmente o pessoal já não ia mais pagar ou então sair de casa pra assistir no cinema,e isso foi, digamos assim, tornou-se mais difícil pro cinema, foi se acabando, se acabando e pra mim isso ai foi mais a televisão fez com que os cinemas fechassem as portas na época.

Page 52: Monografia História Do Cinema

51

Muitos parintinenses optaram pelo entretenimento particular, reservando também do

pagamento da entrada (ingresso) do cinema. A televisão que entre a década de 1960 a 1980

teve proliferação pelo Brasil foi ganhando espaço nas famílias parintinenses, mesmo que, no

início da década de 60 ainda era raramente encontrada na sociedade parintinense, ela foi se

expandindo, até a década de 80 já havia muitas famílias com preferência pela imagem

televisiva. Nesse sentido, é que CÂMARA ( s/d, p.58 ) afirma que:

O surgimento de novas mídias nas últimas décadas também atingiu as salas de exibição [...] tratando as facilidades das novas tecnologias encontramos de forma ampliada à proliferação das salas particulares de cinema [...].

Deste modo, a televisão tornou-se a sala de cinema particular, ou seja, sem a

necessidade de sair do próprio ambiente familiar.

A depoente Helena Silva, também forneceu, memórias e valiosas informações sobre

um dos cinemas que funcionavam por volta de 1960 a 1980. Sendo sobrinha de Adelaide

Kimura, esposa do senhor Alberto Kasunori Kimura, dono do Cine Oriental, ela relata que por

motivos pessoais, veio a Parintins para morar com os tios, donos do cinema, e passou a

trabalhar na operação de máquinas cinematográficas. Sobre o funcionamento do Cine

Oriental, a depoente afirma que:

Eram dois. Cine Oriental primeiro e Cine Oriental segundo. Primeiro o Cine Oriental primeiro, depois é [...] Assim: porque tinha muita procura naquela época, pois o cinema tava no auge. Então era muitas pessoas, muita gente, então a minha tia, ela organizou outro que não era bem um cinema era uma fábrica, mais eles organizaram, uma fábrica de guaraná, hoje aquele terreno ele é do filho da minha tia, do Ademar (Helena Silva)

Conforme a senhora Helena, existia primeiramente 1 (um) Cine Oriental. Mas devido

a grande procura, a lotação do prédio, dona Adelaide mandou organizar outro Cine Oriental, o

segundo prédio, localizado na mesma rua, porém situado na esquina, que, segundo o relato da

depoente, era uma fábrica de guaraná pertencente a família. Nisso, constituiu-se dois Cinemas

Page 53: Monografia História Do Cinema

52

Orientais: o Cine Oriental Primeiro e o Cine Oriental Segundo, o último satiricamente

denominado “buraco quente”, devido seu espaço ser menor e a sua constante lotação, o que

deixava o ambiente abafado.

Helena Silva narrou as características do Cine Oriental, das máquinas de projeção, e

como era a imagem transmitida no telão destinado a exibição dos filmes, a qual ela menciona

que:

A imagem ela era cinemascope, tinha uns filmes pelo cinemascope, que era aquelas telas maiores, e, mais a maioria era cinemascope mesmo.[...]colorido[...]por que antes era em preto e branco quando era aquelas fitas de 16 mm, depois que passou pra 33, 36 mm melhorou[...]é porque antes era 16 mm que era, era preto e branco mesmo, era menor a tela e sabe que com a evolução da tecnologia e tudo né aquelas coisas vão se modificando, e nos anos 70 houve uma mudança muito grande com relação ao cinema, então quando as fitas vinham elas já eram em 33, [...] era colorido, a tela bem maior, ficou muito diferente, melhor mesmo(Helena Silva)

Buscando a confirmação ou negação de umas das hipóteses levantadas pela

investigação, relativa à falta de profissionais capacitados em artes cinematográficas, ou seja, a

carência de pessoas com conhecimentos no manuseio das máquinas de projeção, a depoente

Helen Silva, a respeito do Cine Oriental, afirma que:

Olha faltava. Por que quando o cinema fechou, ele fechou duas vezes. Quando ele fechou foi na época que [...] prima casou primeiro, depois , casei, ai profissionais não tinha. Pra ele tornar a funcionar a minha tia teve que chamar minha prima. então era muito complicado, a gente casa, passa a ter a nossa família,e tudo, e lá o marido as vezes não quer, não deixa, mais mesmo assim a minha prima foi e voltou a funcionar, [...]. (Helena Silva, 52 anos)

Os cinemas necessitavam de pessoas que soubessem manipular as máquinas que

eram mecânicas ou manuais. Pelo depoimento da senhora Helena Silva, percebe-se a

necessidade de profissionais cinematográficos para o próprio funcionamento dos Cines

Orientais. Logo, a ausência desses conhecedores dificultaria as exibições, e o cinema, de

grande valia a população iria acabar sendo desativado. O que ocorreu posteriormente. Porém,

outros aspectos devem ser levados em conta, relativo aos cinemas que proporcionaram

Page 54: Monografia História Do Cinema

53

diversão ao povo de Parintins. Entre eles está a possível ausência de incentivo cultural por

parte das autoridades, Helena Silva assinala que:

Tinha condições. eu acredito que sim, que Parintins é uma cidade folclórica, conhecida mundialmente, não é verdade?Pela cultura e porque que não no cinema? Por que tá faltando o olho de alguém, uma iniciativa, e esse alguém, pra mim no meu ver seria assim mesmo do Poder Executivo, no caso, então chamaria, quem é o dono? Ir chamar, vamos ver o porquê que o cinema fechou [...]. (Helena Silva, 52 anos)

A depoente acredita que o funcionamento do cinema em Parintins pode ser uma

realidade. Pelo exposto em seu relato, vemos a ligação que a senhora Helena Silva faz a

respeito da cidade de Parintins no passado com relação ao presente, ou seja, a atual cultura

evidenciada pelo município através do Festival Folclórico, umas vez que a festa traz inúmeros

investimentos para a cidade, o que é salientado pela depoente. Nessa relação, a senhora

Helena coloca que investimentos também poderiam ser aplicados ao funcionamento de

cinemas, e como o Festival Folclórico, estes locais também movimentariam a cultura de

Parintins. Mas, como a própria colaboradora expõe, é necessário incentivos, principalmente

de órgãos públicos ligados a cultura.

Entre outras questões como a da estrutura dos prédios de cinema, foi constatado

pelos depoimentos que os cinemas possuíam boa estrutura física, no entanto, tinhas suas

peculiaridades. O Cine Saul é lembrando como um grande monumento, de belos traços, com

uma área interna ampla, conforme nos é relatado:

Ele era amplo, ele era bem grande também, ele era bem grande, mais só com os ventiladores, o Cine Saul não possuía o ar refrigerado, como possuía o Cine Oriental né, era no ventilador na época e as cadeiras de madeira, entendeu? de madeira. (Raimundo José da Silva Neto, 52 anos)

O depoente considera que o Cine Saul tinha um espaço e tamanho amplos, fazendo

comparação com o Oriental ele evidenciou que os donos do Cine Oriental investiam bastante

Page 55: Monografia História Do Cinema

54

em conforto, exemplo disso é o ar refrigerando, climatizando de maneira agradável o

ambiente da sala de exibição, conforme:

O Cine Oriental ele depois, por certo tempo, a dona começou a digamos assim a expandir mais dentro do cinema, colocar é, colocar refrigeração dentro, o ar refrigerado as poltronas todas acolchoadas, ela procurou assim dar mais conforto as pessoas que assistiam o filme né, já no cine Saul já não vi isso ai, eram cadeiras boas mas com menos conforto do que no Cine Oriental, pra mim o Cine Oriental ele deu mais conforto para as pessoas que gostavam, que eram amantes do cinema, que eram até hoje, quem quiser digamos assim dar uma olhada no salão até hoje existe,, acredito que ainda existem aquelas cadeiras lá, por que os donos morreram, e aquilo fechou e as máquinas ainda existem lá, acredito que existem as maquinas lá né, não devem tá muito boas por que com certeza não tem manutenção, não tem pessoas que tomem de conta das máquinas. (Raimundo José da Silva Neto)

Os dois cinemas são estimados por suas características físicas, pelas películas que

exibiam e as memórias dos bons momentos de diversão que proporcionam aos parintinenses.

Assim, sua importância reside num fato: o cinema faz parte da história, não apenas da história

cultural e social, mas como da história de cada pessoa que vivencia ou vivenciou o cinema.

Page 56: Monografia História Do Cinema

55

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Parintins vivenciou uma época de grande importância a população, onde foi

proporcionado diversão, encontros de amigos, namoros, emoções a cada pessoa que

freqüentou o espaço do Cine Saul ou do Cine Oriental. Memórias de grandes momentos

vividos, filmes que marcaram vidas, inspiraram moda e influenciaram mentalidades. O

Cinema, hoje, reservado na memória coletiva propiciou histórias, memórias e cultura sendo

testemunho de uma época peculiar da história de Parintins.

As grandes mudanças na sociedade parintinense com relação à cultura e sociedade

são visíveis. O auge do cinema foi um período em que a cidade estava em processo de

urbanização. Era então uma cidade com pouca opção de lazer, porém, processou-se o

desenvolvimento, novas tendências, o fechamento da Fabril Juta, a repercussão do Festival

Folclórico, novos estilos de vida e os cinemas fecharam suas portas. Ao locais onde

funcionaram os cinemas se reportam as memórias dos momentos vividos no ambiente do

cinema, e a melancolia de que estes não funcionam, uma vez que para os colaboradores da

pesquisa, a época de sua experiência nos cines Brasil, Saul e Orientais não voltarão, e mesmo

que funcionasse outro cinema na contemporaneidade, o que foi vivenciado logo não se

repetirá. Os cinemas estão vivos na memória de cada parintinense.

A questão do fechamento dos cinemas que existiam em Parintins, nos remete a perda

de uma referência para a população da cidade. Dentre os cinemas analisados a falta de

conhecimento e proteção patrimonial do Cine Saul fez a cidade acabar perdendo um rico

patrimônio cultural representado pelo prédio e sua história. É necessário que se destinem

recursos para recuperação do Cine Oriental e profissionais qualificados para analisar,

recuperar e difundir o conhecimento cinematográfico para as novas gerações, uma vez que, o

Page 57: Monografia História Do Cinema

56

cinema faz parte da história da cidade, e sua importante memória deve ser preservada e

perpetuada.

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Fontes Orais: Entrevistas (histórias de vidas) de pessoas que vivenciaram o cinema em Parintins nos anos de 60 a anos 80.

Iconografias (Fotos)

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ANEXOS

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FOTOS

Figura 1: Cine Teatro Saul

Fonte: Portal da Prefeitura Municipal de Parintins (2010)

Figura 2: Cine Oriental Primeiro

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Fonte: Helena Silva (2010)

Figura 3:Cine Oriental Segundo

Fonte: Helena Silva (2010)

Figura 2:Filmes em faixa -Três Home em conflitos

Fonte: Helena Silva (2010)

Page 62: Monografia História Do Cinema

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Roteiro de Entrevista

1. Nome:

2. Idade:

3. Nasceu em Parintins?

4. Desde que momento passou a freqüentar o cinema?

5. Qual (is) cinema (s) freqüentou? Com que freqüência assistia às sessões?

6. O preço do ingresso era acessível? O (A) senhor (a) trabalhava neste período?

7. Lembra de algum funcionário do cinema?

8. A(s) sala(s) de exibição era(m) bem visitada (s)?

9. Lembra do nome de algum filme que assistiu no cinema?

10. Qual o tipo de filmes que prefere?

11. Os filmes eram exibidos todos os dias? Quais tipos de filmes eram exibidos?

12. Em qual (is) dia(s) as sessões eram mais bem participadas?

13. O cinema lotava normalmente ou raramente?

14. Como se sentia ao assistir os filmes exibidos?

15. Preferiria assistir a um filme na Televisão ou no cinema?

16. O que mais lhe atraia no cinema? O que esperava encontrar quando ia assistir a um

filme?

17. Como definiria o cinema?

18. Considera importante o funcionamento dos cinemas para a cidade? Acha que contribui

para a cultura local? Considera o cinema como uma forma de cultura?

19. A estrutura do prédio era adequada para as projeções?

20. O que levou a desativação do cinema?

21. O que pensa sobre a desativação dos cinemas em Parintins?

22. Gostaria que funcionasse algum cinema atualmente?

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Entrevista Cinema 1

Data: 03/04/2010

Entrevistado: Raimundo Barbosa Batalha.

Idade: 55 anos

Naturalidade: Parintins

Eu passei no ano de 1978 e 79. 78 e 79. Era o Cine Oriental. No final de semana.

Final de semana. Trabalhava na Fabril Juta. Lembro que era 50,50 cruzeiros naquela época,

naquela época. Mais ou menos. Era, parece, um japonês. Não lembro o nome dele agora. Cine

Oriental e Cine Saul. No mesmo período. Não. A gente ia mais, a gente gostava mais de ir no

Cine Oriental. Não, eu ia com a minha namorada que agora é minha esposa. Era só uma.

Enchia. Era um movimento muito bom, todo final de semana. Não, funcionava todo dia.

De segunda a segunda. Só que eu assistia no final de semana, que era meu dia de

folga.Sábado. Naquela época era o. Charles.Charplim. É, Charles Chaplin. Naquela época, era

o Bang Bang. Preto em branco, naquela época. Gostava. Era, era,naquela época era a nossa

diversão. Era o, que acabou de falar, o Charles. Charles Chaplin. E, não falava no cinema

não?Era tudo legendado? Era tudo legendado. Era tudo legendado, mais era legal. No filme.

Cinema. achei legal. Por que ali no quando, ali na, quando estudava nesse ano que passou,eles

passaram esse mesmo vídeo, me lembrei, eu estudava ali no Ryota,nós fomos uma vez, ver

uma noite lá já assistimos esse filme. Cinema. Por causa da emoção. Por causa do trabalho,

que eles faziam, daquela movimentação com as máquinas e tal. Era tipo um mais era muito

legal. A emoção de ta lá, parecia grande, assim a máquina. Emoção. É. Ficava emocionado

em viver aquele filme que assistia naquela época era muito legal. O cinema é uma, é um,

cinema assim acho que é muito legal, uma diversão. Não tem mais o Cine Oriental, mas nem

o Cine Saul, não tem mais. Contribuía pra cultura. Fazia. Corria naquela época corria muito

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dinheiro. O preço do ingresso, o pessoal a.. Eles faziam aquelas promoção. Colocavam os

cartaz na frente. Pra chamar atenção da juventude, adolescente, naquela época, o pessoal

gostava. Ai a vez era 100 cruzeiro naquela época, eles baixavam pra 50 cruzeiros naquela

época, gostavam muito, e era muito divertido. Era bom. Ele era bastante assim meio, prédio

muito legal sim. E dava muita gente, muitas pessoas, confortável, muito confortável, o pessoal

ia e ficava a vontade assistindo o cinema e quando tocava aquela musica a gente tava, a gente

morava ali na Raimundo Almada, Itaguatinga, Quando tocava aquela musica sempre dava

uma emoção na gente, antes de , quando antes de começar o cinema, tocava uma musica

assim. anunciando que já ia começar o filme. Não lembro mais ou menos, mais chega tocava

no coração da gente. Era muito legal. Chamava a atenção do povo.

Fechou por que naquela época não tinha quase televisão, era bem difícil ter televisão

era só que tinha. Ah depois, era só preto branco naquela época. Naquela época que tinha era

preto e branco, preto e branco, agora não, agora tem televisão, já tem fita de filme, acabou, foi

caindo, foi caindo foi..ai acabou. Preferiram já assistir em casa do que o cinema.

Não, não acho que não foi por causa tanto do ingresso. Acho que por causa que,

porque o velho, velho faleceu. Ah, quem era dono do cinema, que era dono do filme,do do

filme. E não teve ninguém pra continuar o trabalho e foi acabando devagar ai tinha naquela

época tinha também o que vendia picolé, o Brasa, era na frente, picolé, era uma sala de

picolé,que vendia dava muito movimento lá e ai, contribuía por cinema com picolé, por que a

gente comprava ai A gente fazia aquelas, a gente fazia aquelas filas pra comprar, cada um

comprava s, picolé, comprava seus, bombom, naquela época. Tinha pipoca? Pipoca. Aquela

rua lá do Cine Oriental lá era muito movimentada no final de semana. Só tinha um. Era

de1978 e 79. No auge já. Ai o dono faleceu e não tinha outra pessoa pra continuar. Acabou

fechando. Triste. Quando desse. quem sabe a gente não ia?é.. seria muito bom. Já nem é pra

mim, pros filhos assistirem. , queria, mais infelizmente não..

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Entrevista Cinema 2

Data: 03/04/2010

Horário: 18:00 horas

Nome: Ilza de Azevedo Batalha.

Idade: 52 anos.

Naturalidade: Nhamundá, mora em Parintins.

Estou desde mil [...] desde 1981. , tinha meus 15 a 16 anos, ia ao cinema. Não. eu ia ,

e mais dois colegas. Olha, nesse tempo era a Noviça rebelde que passava, e aquele, o

Invulnerável; Invulnerável. Em preto em branco tudo em dublagem. Dublagem. Mais era o

Cine Oriental. É, Só tinha um prédio que era o Cine Oriental, tinha o outro também que se

chamava o Cine Saul. Olha não to bem lembrada do valor do ingresso né

Mais era razoável dava pra gente [...] Só final de semana,dia de sábado ou então, domingo.

Passava todos os dias. É, , trabalhava, trabalhava na Fabril Juta nesse tempo. É, a maioria... É.

Nesse tempo era a Fabril Juta que[...] É movimentava ai a cidade. Não o dono se chamava o s,

Kimura. é.Kimura. Ele que era do dono do Cine Oriental. Era bem participada. É porque

nesse tempo era só o que existia né de divertimento. É. Era só o cinema e jogo, quem gostava

de ir ao jogo, assistia ao jogo ia ao jogo, quem gostava de ir ao cinema ia ao cinema né, que

começava às 5 horas da tarde a primeira sessão né, existia duas sessão nesse tempo. Das 5 as

6 e meia e das 7 as 8. Enchia que não tinha outra diversão, era só mesmo o cinema. Com

certeza; Da noite. , gostava daquele Grande kids, Que passava também, era muito legal esse

filme. Era preto e branco também. tudo era em peto em branco, tudo em dublagem. É com

certeza. Era de assim, de ação, de briga mesmo.

É podiam ir todos os dias ou nos finais de semana né. Quem pudesse ir na semana ia,

sim quem pudesse ir no final, meio da semana ia né quem deixasse pra ir só no final da

semana, pra quem trabalhava né era só no final de semana. Não era como te falei tinha o da

Noviça Rebelde, tinha aquele que o Raimundo falou, não acertei falar o nome dele o...

Page 66: Monografia História Do Cinema

65

Charles, é esse daí, e vários outros filmes que , já não to bem lembrada né. É lotava varias

vezes né na semana. Olha se ainda se existisse né era tão legal no final de semana quando a

gente ia ao cinema né, porque esse filmes que passa na televisão, de vez em quando é tudo

repetido,repetido né passa uma semana lá vem o mesmo filme que passou na semana passou

numa semana, final de semana né, , acho assim que se existisse o filme, seria muito legal a

gente ir, no final de semana né, participar. Com a família, mesmo com os filhos né era tão

legal se ainda existisse.

O filme mesmo, por que, gostava porque não tinha outra diversão né. , trabalhava,

quando era final de semana ia ao cinema. Tinha pipoca, tinha picolé. Nesse tempo existia um

bar por nome... Brasa a modo, Bar..Era o único bar, que vendia essas coisas, negócio de

picolé. Parece que ficava bem em frente ao cinema. Não me lembro, dessas coisas, mais ,

acho que nesse tempo não tinha essas coisas não, to lembrada, não , acho que não existia , não

me lembro É. Sentava assim, no meio, gostava nem na frente nem ficar muito atrás também.

É. Cinema representava, representa né, uma diversão uma, uma por que nesse tempo né pelo

menos a gente trabalhava não tinha outra diversão,ia ao cinema pelo menos pra se distrair né,

divertir, certo, Trabalhava na Fabril,de lá , trabalhava em casa de família né, no final de

semana era a única diversão quando não ia ao estádio.que , gostava de assitir jogo quando não

ia ao estádio ia ao cinema. Com certeza, se pudesse ter de novo era tão bom o cinema olha ai

nessas outras cidades como tem, Só na nossa que não. É importante pra cultura com

certeza.Tinha uma boa estrutura, bem limpinho só um salão mesmo cheio de cadeiras era

muito bonito mesmo, muito legal bem confortável? Era bem confortável mesmo, tanto faz-se

um como outro. É mais no cine oriental mais a senhora chegou a ir no Cine Saul. Cheguei a ir

no Cine Saul.A mesma coisa. Bem participado também as pessoas faziam fila pra entrar.

Gostava mais de ir no Cine Oriental. Não sei, só eles colocavam uma música que até hoje

quando o cidade Parintins sai eles colocam sabe, sei lá aquela musica me chamava a atenção, ,

Page 67: Monografia História Do Cinema

66

achava tão legal,tão.. não sei nem te explicar bem só sei que , gostava, bem a partir das 5

horas já começa a tocar a musica e aquilo me traia sabe, me chamava atenção , gostava. Com

certeza. Era no Cine oriental que tocava essa musica. Olha acho que depois que começaram a

chega as televisões ai pronto o pessoal foram se afastando. Ficar em casa do que ir ao cinema

né, acho que por esse motivo fechou né. é com certeza depois que começou a chegar a

televisão, pronto o pessoal. é. Abandonaram o cinema né pra assitir só em casa a televisão.

acho que foi por isso que fechou tanto fazia um como o outro. todos os dois fecharam, foi o

tempo que os donos morreram né, os filhos...Os donos do cinema morreram. Não faz muito,

muito tempo, que eles morreram não sei te dizer o ano, mas não faz muito tempo. Com

certeza.Televisão, é a televisão depois DVD, pronto, então abandonaram não tinha como os

donos sustentar né foi o jeito fechar. , acho que sim, que tivesse. Seria bom né?Seria bom.

Com certeza Sair um pouco da rotina no fim de semana. Ainda mais se Passasse um filme

legal que a gente gostasse tinha certeza que muita gente deixava um pouquinho de lado a

televisão e ia ao cinema né. Pouca gente sabe que sabe mesmo. Seria importante ter. Só pode

ter né um livros que contam a história. Pelo menos um que tivesse funcionando ai, pelo menos

um, que tivesse funcionando ai, seria bom. Muito obrigada pela entrevista.

Page 68: Monografia História Do Cinema

67

Entrevista Cinema 3

Nome: Raimundo José da Silva Neto

Idade: 52 anos

Naturalidade: Barreirinha, mora em Parintins desde 1968.

Ah, na época assim, que é quando , cheguei pra Parintins, naquela época Parintins

ainda era bem menos desenvolvida né, uma cidade ainda que a gente via que era Parintins ainda

era bem pequena e os divertimentos na época era realmente os cinemas né, os cinemas que

existiam os cinemas como o Cine Oriental mesmo né,e o Cine Moderno na época, depois o

Cine Saul, são os dois cinemas realmente que divertiam a população parintinense, e era o que

tinha de divertimento na época era esses dois cinemas né, que, mais o pessoal se divertiam na

época não muita né não tinha tanto divertimento, então o pessoal dava mais valor né no cinema

né da época a gente ia muito ao cinema, , pelo menos gostava muito do cinema, então os

cinemas que existiam né que era o Cine Saul e o Cine Moderno e depois Cine Oriental aí

depois que eles terminaram, porque até mesmo assim, , acho por que devido, depois com o

desenvolvimento, veio a televisão depois que apareceu a televisão já foi caindo mais o cinema

porque todos os filmes que digamos assim passavam no cinema a televisão começou também a

mostrar,então geralmente o pessoal já não ia mais pagar ou então sair de casa pra assistir no

cinema,e isso foi, digamos assim, tornou-se mais difícil pro cinema, foi se acabando, se

acabando e pra mim isso ai foi mais a televisão fez com que os cinemas fechassem as portas na

época.

Foi, quando na época primeiro foi o Cine Oriental mesmo, foi Cine Oriental mesmo

que , comecei, o cinema que mais , ia, na época era o Cine Oriental, assisti alguns filmes no

Cine Moderno mais muito pouco,depois passou o Cine Saul também passei a freqüentar, ,

gostava muito de filmes inclusive esses filmes da época era de terror que , gostava,filmes de

Page 69: Monografia História Do Cinema

68

ação, filme de cowboy assim aqueles filmes na época que hoje a gente não vê mais, , adorava

assistir.

O cine Saul... acho que sim, ele era, Cine Saul por que antes era o Cine Moderno, né

na época, Cine Moderno não,Cine era o Cine né...como é o nome, se , não me engano,... não

era Cine Moderno, era Cine Brasileiro,uma coisa assim, não lembro direito como era antes,

Cine Brasil né, acho que pra mim foi um dos primeiros que Parintins possuiu,na época como

cinema né, por certo tempo , gostava mais do Cine Oriental entend,?

Foi, antes do Cine Oriental, foi,até porque a dona do Cine Oriental ela morr, a pouco

tempo ela morr, em março,ela tá uns 5 ou 6 anos que falec,, quando ela ainda era viva,ainda

funcionou bem,muitos anos o Cine Oriental, e depois que o esposo dela morr,,ainda funcionou

muito o Cine Oriental, , acho que quase 7 ou 8 anos mais ou menos, isso é, praticamente o

Cine Oriental fechou as portas de uma vez. É nessa época, na Década de 70, isso, aí nessa

década de 70, 68 pra 70,e 80,assisti muitos filmes mesmo , ia muito no cinema com certeza.

Não , geralmente gostava de ir com os amigos, colegas, naquela época a gente era todos

pequenos, , Tava de, nessa faixa de, nessa faixa etária de 12 a 13 anos, , era jovem, né

adolescente, a gente ia gostando assim, de tarde, depois que peguei uma idade maior já ia de

noite, mas geralmente a gente ia a tarde, ainda era criança, jovem né, e até fugia muitas vezes

pra ir ao cinema,caso a mamãe não deixava a gente sair mais , gostava de assitir esses filmes né

que passavam, muito legal esses filmes de cowboy, né, , gostava de assistir, muitas vezes fugia

pra ir, até pra ir ao cinema. Não, não , não trabalhava ainda, era dependente dos m,s pais, e ,

não trabalhava ainda, dependia ainda dos m,s pais na época.

Não, Até o cinema fechar, ai , já trabalhava, já não dependia do m, pai, já trabalhava,

já ia por minha conta, , mesmo já iria por minha conta.

Olha, pra época, a gente achava caro assim e tal né, por que em vista de hoje, se fosse

hoje né, não, não era tão caro não, na época não os ingressos achava que eram, na época os

Page 70: Monografia História Do Cinema

69

ingressos eram de um preço bem acessíveis, na época que , tava, os trabalhos aqui em Parintins

ainda eram muito difíceis né, não era todo mundo que era empregado né, então a gente

dependia dos pais, e pra gente ir no cinema a gente dependia do dinheiro dos pais então nessa

época, mais não era que fosse caro não, era um preço bom sim, dos dois, inclusive dos dois

cinemas.

Olha, a fabrica que tinha aqui, a empresa que tinha aqui mesmo era a conhecida Fabril

Juta, essa ai foi ela imperou muito anos aqui em Parintins, ela d, muito emprego, a muitos pais

de família né, a muitas, a muitos jovens, que trabalhava naquele mundo, a Fabril Juta, tinha

algum comercio também, mais comércios pequenos né, e Parintins na época não possuía, como

até hoje não possui empresas, sabe que Parintins não possui empresas grandes que dá emprego

pra tipo,hoje em dia é aposentado, é pensionista, é trabalho no comércio,é o trabalho bancário,

até hoje os empregos não são tantos né, então era assim, não tinha muito emprego não na época

também,eram bem poucos mesmo,era mais fácil as coisas,mais emprego era difícil,até hoje

ainda ta difícil.Você sabe disso né.

É exatamente, até por que, a Fabril Juta,na época, ela empregava , acredito, ela

empregava mais de 500 ou 600 pais de família na época, era grande, era bem grande a Fabril

Juta,ela era o que erma 3 turnos direto de manha, tarde e noite, ela, Fabril Juta era uma empresa

que gerava dia e noite, então eram por turnos, turno da manha, turno da tarde quem não

trabalhava a tarde,trabalhava da noite e era assim, ela virava dia e noite.

É, , não conheci do Oriental , não conheci o dono, quando ,..quer dizer conheci,

conheci,mas logo, logo, , não tinha conhecimento. Minha esposa que era de lá, nós

freqüentávamos, não tinha muito conhecimento com ele, ele morr, logo, entend, ele

morr,,quando , comecei a freqüentar o Oriental,, comecei a conhecer o pessoal do Oriental, ele

falec, o dono, proprietário né, finado Kimura que chamavam,e depois conheci a dona Dedé,

dona Adelaide também, tia da minha esposa,conheci os filhos dela,o Ademar, a Almerinda, a

Page 71: Monografia História Do Cinema

70

finada Aldair Kimura,esse pessoal né, parti a começar a me dar com eles e conhecer. Do Cine

Saul, conheci também o s, Saul, o Zé Raimundo, o Zé Antonio irmão dele, aquele pessoal né,

conheci também, funcionários assim do cinema , não me lembro, mais os donos sim , ainda me

lembro bastante.

Ela era funcionária lá do cinema, do Oriental, trabalhou muitos anos desde 70 acredito

até 80 e tal, acho acredito que ela tenha trabalhado.

Com certeza, com certeza os dois cinemas na época eles eram bem freqüentados, até

como , falei,eram as duas diversões que tinha na época né não tinha outra lotava tinha filmes

que tinha filmes tão bons que lotava. Inclusive o Oriental , ainda vi tinha noite que passava 3

sessões só numa noite passava 3 sessões devido lotava e saia aquele pessoal entrava ali, bem

movimentado mesmo, , ainda presenciei isso ai.

Com certeza, com certeza os dois cinemas concorriam,e todos os dois lotavam, eram

bem projetados, por que quando uma passava um tipo de filme que passava no outro, as vezes a

população, a gente olha, na época a gente era novo, borá ver o que ta passando ali, borá ver o

que vai passar naquele outro ali, a gente ficava naquela viu pra ver aonde era melhor os filmes

onde fosse melhor o pessoal ia.

Nessa época aí, faz tempo de 60 pra 70, de 60 até a década 80, mais ou ainda existia o

cinema, não faz muito tempo não que deixou de existir, não faz tanto muito tempo não. Todo

dia, todo dia, todos os dias a tarde, chamava de Matinê, a tarde pras criançadas que iam pras

crianças,e a noite pra adulto, tinha filmes que eram muitas vezes era impróprio pra criança,

então criança não assistia, nessa época, então não é como hoje,a televisão, na televisão qualquer

criança assiste, não naquela época não, quando era filme impróprio as crianças não entravam

mesmo, era bem rígido mesmo. Pra criança é como , to dizendo, esses filmes de cowboy, é de

tira, o pessoal que curumim gosta, que as crianças gostam, filme de era vive, filme de Tarzan,

sabe aqueles filmes é que a criança, os jovem gosta, trapalhões, filme do Teixeirinha, que

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71

passava na época também né, muitos filmes que a gente não ver hoje, a gente via antes e a

gente não ver mais passar na televisão, todos já são filmes diferentes, entend,?que é , pelo

menos não vi mais, nem na televisão aqueles filmes que , assistia, , não ah..vi mais né nem na

televisão, filme de ação, aqueles filmes de ação que o pessoal gosta, terror, aqueles filmes de

terror que o pessoal gosta, Drácula, naquela época existia filmes entend, que o pessoal gostava,

esses filmes eram bem freqüentados o pessoal gostava demais, , pelo menos gostava , nunca

perdi uns filmes assim, que , gostava demais.

Qual era o que o senhor mais gostava?

É como , to te dizendo esse filme de Drácula, Drácula, era filme de terror,filme de,

esses filmes, muitos outros filmes que..., aquele Exorcista, até passou na televisão, o Exorcista

que passou, Exorcista um foi um filme que chamou muita atenção na época da população, o

Exorcista é um filme que realmente os cinemas faturaram bastante,por que ele foi campeão de

bilheteria, o Exorcista na época,muito comentário, então as pessoas que conheceram né,até hoje

eles podem comentar e dizer né.

O senhor lembra o ano?

Ah...deixa , ver...olha o, é , não sei te dizer,é mais , acho que foi, esse filme passou

antes dos anos 80, em 78 mais ou menos, 79,mais ou menos esse filme passou aqui em

Parintins entend,?, faz tempo, um bom tempo né

E caso então o cinema ele lotava?

Com certeza, lotava todos os dois, os dois, , tive a oportunidade de presenciar, e assisti

filmes nos dois cinemas e eles realmente lotavam,lotavam, por que eles também dependem do

filme, por exemplo, se fosse um filme como , to te falando se fosse um filme bom que as

pessoas gostassem ele lotava, se fosse um filme ruim muitas vezes não dava muito não, ai as

pessoas já iam pra outro, assim entend,, ficava aquela, aquele impasse entend,, por isso que , te

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72

digo,quando a gente ia, ah, mas aquele passa ali ah esse aqui não é legal, ah esse aqui é bom,

era assim na época,era só tinha aquele lá, aqueles dois que concorriam então,o pessoal, e era

perto, próximo um do outro,o pessoal ia lá e voltava,lá e voltava, aquele que fosse melhor claro

ia botar mais gente dentro do cinema né, e era assim que acontecia, muitas vezes é, as vezes o

filme era ruim pouca gente assistia nem toda vez lotar, depende, dependia muito do filme que

passava. Os filmes, é os filmes claro,os filmes mais os colegas que assistiam comigo,que a

gente na época se juntava dois,duas, três pessoas, ai a gente ia junto, com amigos, colegas e

naquela diversão a gente né acabava se conhecendo, conhecendo as outras pessoas lá dentro do

cinema até dentro do cinema a gente conhecia outras pessoas e aquela coisa assim sabe muito

bacana que a gente na época tinha né, a gente fazia amigos lá mesmo dentro do

cinema,conhecia as pessoas e era assim, isso a gente chama a atenção né da gente, a gente ia

participar, a gente gostava mesmo, com os colegas e era assim. Olha, o cinema é em primeiro

lugar, ele é, ele é muito assim, cultural pra mim, o cinema ele é muito cultural por que tinha

muitos filmes que realmente chamavam atenção das pessoas né. Filmes bons, filmes que você

realmente trazia pra casa idéias boas entend,, coisas boas, além da diversão que realmente era

né, tudo isso ai o cinema pra mim se existisse pra mim, até hoje , ainda dava valor ao cinema,

por que realmente eram filmes bons que vinham né, hoje na TV tem muitos filmes que é

realmente até pornográficos, filmes que não se deve a população, não traz cultura e não é como

antigamente, dificilmente os cinemas passavam filmes pornô, então isso aí a gente trazia como

pra casa como a cultura, como a lembrança, muitos filmes que dava pra assitir duas, três vezes

por que quando o filme era bom, , pelo menos, quando o filme era bom, , gostava de assistir 2

até 3 vezes, por que muitas vezes eram filmes que marcavam na gente, até hoje, tem aquele

filme que marca, que marcou pra gente, tem aquele filme Coração de Luto, aquele filme com o

Teixeirinha, marcou até hoje, até hoje quando , escuto aquelas musicas, do Teixeirinha,

Coração de Luto, me dá aquele arrepio, me dá aquela tristeza, por que era um filme muito triste

Page 74: Monografia História Do Cinema

73

sabe, não sei se muita gente acho que assistiu aquele filme, não sei não assisti mais quem

assistiu na época realmente chorava por que era um filme muito bonito, muito triste, o nome

dele era Coração de Luto, com o Teixeirinha.

É, com certeza, se tivesse um cinema hoje, ainda até hoje funcionando né com certeza

que o jovem eles procuravam a né, eles procurava o cinema, é muitas vezes vai a pessoa, vai

com o namorado, namorada, vai o jovem né, vai a esposa, vai o marido entend,, pra mim, seria ,

acho o cinema ele era uma diversão ainda até hoje pra mim ainda é uma diversão muito boa,

pelos menos se tinha como você sair de casa, entend, tinha como sair de casa com os amigos,

como acabei de falar,com os amigos, com a esposa, namorado, namorada, pra lá uma questão

muito boa,de você passar um momento de lazer, entend,, cinema é isso,, acho interessante, o

cinema é isso pra mim é muito interessante, se existisse hoje se ainda existisse o cinema hoje ,

daria o maior valor por que pelo menos a televisão em casa , não acho que ela passe filmes

muito bons não, pra mim os filmes da época pra mim eram o melhores, do cinema eram

melhor.

Com certeza, é, por que no cinema a gente tinha como escolher os filmes, na televisão

a gente assiste aquilo que a televisão passa, e no cinema não, no cinema eles colocavam, eles

colocavam os pôsteres assim dos filmes, com os nomes dos filmes, como era e o dia que

passava, a gente ia lá e escolhia, quando a gente via que eram filmes bons, se não passassem

naquele dia, a gente esperava pra passar no dia que fosse passar, por isso que , te digo,que no

cinema a gente tinha opção de escolha na televisão não a gente tem que assistir o que a

televisão passar entend,.

Com certeza, com certeza, com certeza absoluta mesmo, por que pra mim o cinema é

cultural, por que além da diversão, traz cultura, traz divertimento, traz lazer pras pessoas.

O cine oriental ele depois, por certo tempo, a dona começou a digamos assim a

expandir mais dentro do cinema, colocar é, colocar refrigeração dentro, o ar refrigerado as

Page 75: Monografia História Do Cinema

74

poltronas todas acolchoadas, ela procurou assim dar mais conforto as pessoas que assistiam o

filme né, já no cine Saul já não vi isso ai, eram cadeiras boas mas com menos conforto do que

no Cine Oriental, pra mim o Cine Oriental ele d, mais conforto para as pessoas que gostavam,

que eram amantes do cinema, que eram até hoje, quem quiser digamos assim dar uma olhada

no salão até hoje existe,, acredito que ainda existem aquelas cadeiras lá, por que os donos

morreram, e aquilo fechou e as máquinas ainda existem lá, acredito que existem as maquinas lá

né, não devem tá muito boas por que com certeza não tem manutenção, não tem pessoas que

tomem de conta das máquinas, devem tarem todas deixoradas,devem tarem todas pra ver até

desmontadas, Mas acredito que dentro do salão mesmo onde funcionava ainda deva ta bem

ainda bem compacto as cadeiras, devem existir até hoje aquelas cadeiras, no Oriental.

Tinha, também, ele era amplo,ele era bem grande também, ele era bem grande, mais

só com os ventiladores,o Cine Saul não possuía o ar refrigerado, como possuía o Cine Oriental

né,era no ventilador na época e as cadeiras de madeira,entend,, de madeira.

Olha Ali ...ali na João Melo, quer dizer João Melo com a Faria Neto, esquina com a

João Melo e a Faria neto, ali onde é hoje ali, aquele aloja, aonde é ..como é o nome ali daquela

loja, onde é o Show dos calçados,ali na esquina, naquela esquina lá era o Cine Saul na época

existia lá.

Ali na rua Faria Neto, no mesmo local também, onde até hoje ta lá só os equipamentos

que existem lá,no mesmo lugar nenhum mudou de lugar, os dois onde eles existiram até hoje

ainda existe os prédios.

Não, o prédio, o cine Saul o prédio mesmo que era foi, eles demoliram né foi

demolido que como você ainda tem alguma foto que mostra como ele era na época né,hoje já ta

tudo diferente, demoliram, Quem conhec, na época, hoje olha pra lá só lembrança, só

lembrança, do prédio que era, era um prédio estilo naquele estilo bem antigo né, e hoje se vê

Page 76: Monografia História Do Cinema

75

uma coisa que muito diferente, quem lembra hoje já passa por lá diz que nunca existiu o Cine

Saul pra estrutura que tinha era assim.

Era diferente, era bem diferente, ele tinha uns pilares tipo assim é romano, aqueles

pilares ele tinha formato tipo aqueles prédios romanos, muito bonitos os pilares e aquilo ali foi

demolido, e ficou, , acho, , não sei muitas pessoas na época foram contra, a demolição daquele

prédio ali deveria ser um marco histórico né pra Parintins, e eles demoliram aquilo ali e não se

sabe qual foi a idéia que os donos tiveram, mais se até hoje existisse aquele prédio,pra mim

seria uma fonte histórica pra Parintins,entend,, aquele prédio, por que era muito bonito,era

muito bonito o prédio, quem conhec, sabe

Ah, o oriental tinha o Oriental mesmo e o oriental segundo que chamavam, o pequeno,

na esquina,bem na esquina também, logo próximo,era o Oriental segundo que chamavam né,,

ainda assisti muitos filmes nesse pequeno Oriental,chamavam Oriental segundo também,

passavam filmes bons lá, lotava também, era menor do que o Oriental mesmo, o cine Oriental

mesmo, era um segundo, uma filial do Cine Oriental que eles na época eles passavam é também

lá no Oriental segundo pra ajudar o primeiro porque é como , tô te falando muitas vezes lotava

o Cine Oriental grande então eles passavam no segundo pra suprir né...

È muitas vezes o mesmo filme passava num e passava no outro pra ajudar entend,?e

era assim e lá cabia menos pessoas é claro, mais chegou, muitas vezes lotava também, lotava

mesmo.

Tinha, no lado, do lado existia o Brasa Bar, , não sei se você conhec,, talvez sim talvez

não, mais quem conhec, sabe que até hoje é quem quiser presenciar no lado do cine oriental

existe lá o Brasa Bar que o dono até hoje ainda é vivo, o Edmilson Seixas ele sempre na época

que existia o cinema também existia esse bar o Brasa naquela época era um dos bares melhores

que Parintins tinha em termos de bons atendimentos,e dá, em termos de picolés, sorvetes eram

gostosos, o pessoal dava o maior...tava no auge, o Brasa Bar era o bar que Parintins, era o

Page 77: Monografia História Do Cinema

76

melhor então existia bem no lado do Oriental o Brasa Bar até hoje ainda existe, mas não

funciona mais entend,.

Com certeza,com certeza, muitas vezes as pessoas saiam e iam direto pra lá tomar

sorvete, refrigerante, é picolé e tudo mais, ele vendia bastante entend,, na época também.

Olha, não, os donos eles não anunciaram que o cinema ia fechar, começando pelo

Oriental, o Oriental como , te falei, primeiro morr, o dono, ele era o chefe, é Alberto Kasunori

Kimura, o nome dele, o nome do dono mesmo sabe. Então Ai então depois que ele morr, a dona

Dedé, finada, Dedé Kimura esposa dele ainda muitos anos ainda tocou pra frente o cinema,

antes dela morrer o cinema já tinha tido aquela decadência, decadência já tinha praticamente

parado, por que era assim, os filmes eram muito caro pra vir os filmes né por que os filmes vem

de São Paulo era muito caro pra chegar pra cá tinha que vir e ser devolvido tinha despesa com

certeza ai depois , te falei depois veio a televisão e o pessoal a não mais freqüentar os cinemas

ai o que acontec,

Com certeza foi isso o cinema foi, o pessoal foram deixando de ir freqüentar o cinema

e como não tendo mais aquele rendimento que poderia ter pra suprir o pagamento dos filmes a

tendência foi que era ter que fechar os cinemas senão o dono não ia ter como pagar os filmes

né. Então o que acontec, foi a mesma coisa acredito no outro, foi a mesma coisa, acontec, o

mesmo caso que o outro, com a vinda da televisão pra mim foi a vinda da televisão que

realmente acabou com os cinemas.

É por que, por exemplo, depois que veio a televisão a gente não ia mais sair de casa

pra ver o filme né não iam mais sair de casa com certeza iam pagar depois de assistir em casa

um filme, então o pessoal eles foram deixando,deixando de participar e a tendência do cinema

foi fechar,tinha que fechar com certeza. Pra mim foi isso ai.

Page 78: Monografia História Do Cinema

77

Não, depois que surgiu a televisão onde passava os filmes as pessoas iam ao cinema

pagar uma coisa que podiam assitir dentro de casa.Pra mim foi isso ai. A decadência um dos

motivos pra fechar foi isso ai foi a televisão

A televisão... ela chegou pra Parintins deixa , ver..em 70 ainda não existia, deve ter

chegado pra Parintins,lá pra 78,77 depois da copa do mundo, depois da copa de 70, começou a

aparecer as televisões, as primeiras televisões de Parintins, é como , tô te dizendo, depois que

aparec, as televisões aí os cinemas foram decaindo,decaindo,decaindo.foi,foi,foi até que chegou

ao ponto de os dois não mais agüentar e não suprir mais ai tiveram que fechar

Colorida, quer dizer, é tinha filmes coloridos e tinha filmes em preto e branco também.

Não era só colorido tinha colorido e em preto e branco tinha filmes que eram em preto e

branco.

Tinha legendado e tinha também dublado, tinha filmes que eram legendados e tinha os

filmes que eram dublados.

Olha, , acho que sim, , era a favor que tivesse por que pelo menos , pelo menos dos

filmes que , gostava talvez passasse algum desses filmes ai, , lembro, de muitas pessoas que

tinha filme que eles gostavam e se tivesse hoje um cinema na cidade que passasse os filmes que

, na época assisti e gostava, , pelo menos gostaria de assistir,preferia deixar a televisão e ir pro

cinema, te juro que faria isso, o cinema Pra mim foi e é um divertimento bacana, muito bom,

onde no cinema conheci vários amigos vários colegas dentro do cinema,e isso motivava muito

incentivava muito a gente,incentiva a juventude que gosta dos filmes.Agora pra atualidade

talvez não sei se era, é ...hoje, , não sei se o cinema hoje em Parintins daria alguma coisa, por

que na capital até hoje o pessoal ainda falam quem mora na capital o cinema ainda dá, ainda

tem cinema na capital, aqui em Parintins, uma cidade pequena , acho talvez hoje não fosse mais

a opção da população, por que muitas pessoas não iriam mais no cinema talvez, prefeririam em

outras diversões. Na época sim por que como , te falei a gente não tinha outra opção, não tinha

Page 79: Monografia História Do Cinema

78

outras opções e os filmes eram realmente bons e a gente ia participar mesmo, não tinha outra

opção, a gente ia mesmo, pra quem lembra,muitas pessoas que ainda lembram, entram numa

idade que freqüentavam sabem o que é o cinema, sabem contar o que era o cinema que passou.

Houve a influência disso ai né, por que, até porque hoje você vê muitos filmes em DVD, você

compra e leva pra casa pra assistir, tá entendendo, muitos filmes mesmo, mais volto a dizer

desses filmes que , assistia no passado no cinema , não vejo, , não vejo. Há também um dos

filmes até tenho aqui em casa, , tenho os DVD, eram aqueles filmes de Kung fu, Bruce Li tudo

mais, adorava filmes de kung fu, adorava esses filmes,, não perdi até hoje. Olha esses filmes

quando passava no Cine Oriental, lotava. Esses filmes de Kung fu Bruce Li revolucionaram

Parintins.

Page 80: Monografia História Do Cinema

79

Entrevista Cinema 4

Data:13 de abril de 2010

Hora: 19:30

Entrevistada: Maria [...] de Souza Silva

Idade: 52anos

Naturalidade: Urucará? Mora em Parintins desde 1975 quando morar na casa da dona do

cinema Cine Oriental.

A partir de 1975, desde ai comecei a..claro que , já conhecia antes né, mais assim

pra conhecer mesmo, pra participar das sessões, a partir desse ano,1975.

porque, é na época, m,s pais não tinham casa em Parintins, e como ela era minha tia,

irmã do m, pai e aí , vim pra morar com ela, ai , morei uns anos...estudei, lá me formei,casei,

dentro nove anos, é.irmã do m, pai, Adelaide de Souza Teixeira Kimura casada com s,

Alberto Kasunori, era japonês. Cine Oriental. [...]: ah,morei nove anos. [...] não, morava,

estudava, e trabalhava como operadora cinematográfica, mesmo de máquina, entende? e os

filmes que passavam eram de que tipos? [...] olha, os filmes eram assim de todos os tipos, na

época assim era muito kung fu,entend, é muito é bang bang, é, muitos filmes brasileiros

também que vinha né, filmes brasileiros, e também tinha filme de romance, de amor, tinha

todos os tipos de filme. [...]: A imagem ela era cinemascope, tinha uns filmes pelo

cinemascope, que era aquelas telas maiores, e, mais a maioria era cinemascope mesmo.

colorido,: colorido né [...]: por que antes era em preto e branco quando era aquelas fitas de 16

mm, depois que passou pra 33, 36 mm melhorou[...]: é porque antes era 16 mm que era, era

preto e branco mesmo entend, era menor a tela e sabe que com a evolução da tecnologia e

tudo né aquelas coisas vão se modificando, e nos anos 70 houve uma mudança muito grande

com relação ao cinema, então quando as fitas vinham elas já eram em 33, entende, era

colorido a tela bem maior, ficou muito diferente, melhor mesmo, [...] olha, segundo

informações assim da família né, o cinema inaugurou dia 24 de dezembro de 1967. [...] é

Page 81: Monografia História Do Cinema

80

funcionava na rua Faria Neto. [...]: só, não eram dois. Cine Oriental primeiro e Cine Oriental

segundo. [...]: não primeiro o Cine Oriental primeiro depois é assim porque tinha muita

procura naquela época, pois o cinema tava no auge, entend,, então era muitas pessoas,muita

gente, então a minha tia ela organizou outro que não era bem um cinema era uma fábrica,

mais eles organizaram, uma fábrica de guaraná, [...]: na mesma rua, no canto...esquerdo?

Direito, é direito [...]: é, na esquina bem na esquina, aonde tem um terreno lá.[...]: hoje aquele

terreno ele é do filho da minha tia, do Ademar [...]:então não funciona mais nada só é mesmo

o terreno. Ademar Kimura..então as máquinas operavam com quanto milímetros. [...]: 16 [...]:

aumentou 33 milímetros. Ia só no Cine Oriental, fazia visita pra minha tia , depois passei a

morar lá, morava, trabalhava, estudava, entende? [...] não, na verdade, fui uma vez, não

conhecia o cine Saul, né , fui uma vez lá, por que assim é, na época era muita concorrência

entre os dois cinemas, então a família que não gostava muito que a gente fosse assim pra não

dar aquela má impressão, por que a gente trabalhava num cinema, e tava freqüentando outro

cinema então , lembro que fui acho que duas vezes, escondida é claro. não tenho muita certeza

mais pelo que as pessoas falam né, o cine Saul já funcionava a muito antes. [...] os filmes que

vinham pro cine oriental os filmes eram bem parecidos, ou passava primeiro no Cine Oriental

ou passava primeiro lá, mais eram bem parecidos mesmo, tipo assim, passavam um kung fu lá

ai passavam um melhor lá no cine oriental eram bem parecido [...]:ele era acessível, os

estudantes tinham prioridade, meia entrada era bem acessível mesmo, podia ir no cinema a

partir de que idade [...]:na época, tinha muito controle sobre isso, sobre isso ai,o cinema

funcionava em dois horários, a tarde era mais criança, e quando era um filme proibido tinha o

cuidado de colocar, tinha o pessoal da, eles ficavam na porta fiscalizando,comissariado de

menores [...]:a primeira sessão as 4 horas,a outra sessão mas geralmente era as 16 horas, as 22

horas, todos os dias, não importava se tinha uma pessoa a gente tinha que passar praquela

pessoa [...]:só tem uma pessoa, ah , não todas as pessoas [...]:se tivesse uma pessoa so essa

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pessoa ia assistir,ela tinha o respeito pelas pessoas [...]:olha só,quando , fui morar com a

minha tia, o m, tio dela tava doente, ele veio a falecer logo em seguida, o Almir estudava em

Belém, a alméria estudava em Belém as pessoas que moravam com elasó a sobrinha e ela [...]

75 abril de 75, ela sabia não sabia nas maquinas nos sabíamos quando o Almir vinha ele

repassava, que é o dono do cinema, ele é eletrônico, qualquer jeito, o s, Jair Mendes, ele

morava quase em frente, não é que ele fosse mecânico, ele ia lá e ajeitava, era só mulher,

depois, depois que a a minha tia trouxe um homem pra ajudar [...]:quando [...]:então o Jair era

como se fosse da família, era assim q funcionava, depois a minha tia contratou minha tia

sempre viajava pra São Paulo [...] Adelaide de Souza Teixeira Kimura [...] 3 pessoas, que

tomavam conta das maquinas era ela, mais 3, casou uma e ela chamou um rapaz pra nos

ajudar lembro, a Bete e a Maria do Carmo, [...]:uma mora em Manaus, a outra mora aqui em

Parintins [...] é as salas de projeção caso era só uma né?só uma bem grande [...]:não era tão

grande não [...]:olha, recebia, quando cheguei lá pra estudar e trabalha, minha tia procurou

assim, climatizar ventuína [...] Sim, teve uma época que os filmes passaram a vir de Santarém,

primeiro passava em Santarém no cinema de Santarém, depois que nós recebíamos aqui para

passar aqui, mas mesmo assim, É muita despesa, e muito compromisso o filme, por que assim

se por um acaso o cinema estragar alguma cena, nós tínhamos, nesse tempo, que pagar [...]

Olha faltava. Por que é quando o cinema fechou,ele fechou duas vezes. Quando ele fechou foi

na época que ,, a minha... prima casou primeiro, depois , casei, ai profissionais não tinha. Pra

ele tornar a funcionar a minha tia teve que chamar minha prima. então era muito complicado,

a gente casa, passa a ter a nossa família,e tudo, e lá o marido as vezes não quer, não deixa,

mais mesmo assim a minha prima foi e voltou a funcionar, depois disso é que como , te falei

que surgiram os mesmos filmes que passavam no cinema passava na Globo e nas outras TVs

e aí ficava complicado [...] É mais no fim de semana que tinha os filmes que as pessoas

gostavam mesmo, não interessava o dia não [...] Os dez mandamentos, o longa metragem, se

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não me lembro, eram 4 horas de projeção, deixa eu ver...viu como eu te amo,passava muitos

filmes de kung fu, era muitos filmes que passavam[...] defino assim com muita tristeza, é, por

que, hoje, vejo: Parintins cresceu, Parintins se desenvolveu, e nós não temos assim um lugar

aonde nós pudéssemos sair né, aos sábados, aos domingos, encontrar um amigo, onde os

amigos se encontravam [...] A gente percebia Mesmo lá de cima dá pra perceber assim a

alegria das pessoas, então , defino assim com muita tristeza mesmo, hoje , vendo assim, tá

fazendo um m ano q , entrei no Cine Oriental e então , faço uma comparação do passado com

o presente, a minha tia de morrer ela tinha uma esperança muito grande, [...] ela gostava muito

daquele cinema, por que o m, tio antes de morrer [...] quando ele morr,, que ela continuasse

aquele cinema era tudo pra ele, e [...] A minha tia antes de morrer, ela gostava muito daquele

cinema [...] Que ela continuasse [...] Ela continuou, mesmo com a idade, ela reabrir o cinema,

ela tava sim reorganizando a estrutura, ela mandou colocar esponja, as metades das cadeiras

estão com esponja por que ela queria dar conforto as pessoas [...] Hoje, o teto tá caindo, chove

no cinema, por que na época o cinema está abandonado, e tu passa lá [...] Quando o Almir

veio aqui, (narrando: estou voltando pra Parintins, você sabe que esse cinema era a vida da

minha mãe) [...] Era mais no fim de semana [...] Não tem uma pessoa pra dirigir [...] não tem

profissionais [...] Por que que o cinema não volta a funcionar [...] Não tem uma pessoa que

possa dirigir [...] Quem ia La botar pra funcionar? [...] Se fosse funcionar o cinema hoje, ou

eu ou a bete ou o Almir mesmo poderia ensinar [...] É muito recurso, é muito alta a energia, o

preço é muito alto pra trazer os filmes de fora [...] As máquinas têm uma despesa muito alta

[...] Um materialzinho, Carvão, positivo e negativo, só em são Paulo que tem [...] Você liga

pra ter aquela tela clara, se não tiver aquilo, não funciona [...] O cinema do jeito que tá, tem

que reformar [...] Tinha condições, acredito que sim, que Parintins é uma cidade folclórica,

conhecida mundialmente, não é verdade?pela cultura e porque que não no cinema? por que tá

faltando o olho de alguém, uma iniciativa, e esse alguém, pra mim no m, ver seria assim

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mesmo do poder executivo,no caso,então chamaria, quem é o dono? Ir chamar, vamos ver o

por que que o cinema fechou [...] acabei de esclarecer [...] Por exemplo, fechou por causa

disso, das piratarias, são responsáveis, o alto custo de um filme, se esse filme extraviar no

caminho, deve ser muito alto, talvez , tenho uma vasta.[...] O povo de Parintins está com sede,

é isso, com uma boa reforma, acredito que o cinema voltaria a funcionar [...] Uma realidade.

Mais a resposta é bem clara, [...] eles não gostam de falar desse assunto, muito complicado

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APÊNDICES

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONASCENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE PARINTINSCURSO DE LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA

CARTA ACEITE PROJETO

Ao docente de Estágio do Curso de Licenciatura Plena em História

Senhor: Rooney Augusto Vasconcelos Barros

Eu, JÉSSICA DAYSE MATOS GOMES, matrícula nº. 0627080028, acadêmica do 7º

período matutino do Curso de Licenciatura Plena em História, venho através deste, vem

comunicar o aceite do docente Rooney Augusto Vasconcelos Barros da Universidade do

Estado do Amazonas –CESP-UEA, como orientador do projeto História e Cinema: a

História dos cinemas em Parintins-AM entre a década de 1960 aos anos de 1990, como

parte integrante da disciplina Prática de Ensino em História III e Estágio Supervisionado.

Atenciosamente,

________________________________ _______________________________

Jéssica Dayse Matos Gomes Rooney Augusto Vasconcelos Barros

Acadêmico Docente Orientador

Parintins, __de junho de 2010

Universidade do Estado do Amazonas – Centro de Estudos Superiores de ParintinsEstrada Odovaldo Novo, s/n, Dejard Vieira – Parintins – Amazonas.CEP: 69152-470 Tel: (92) 3533-6630 –

www.uea.edu.br