Upload
helder-mourao
View
235
Download
1
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Monografia da Dayse
Citation preview
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..............................................................................................................01
Capitulo I: OS CAMINHOS DA SÉTIMA ARTE: HISTÓRIA DO CINEMA..............05
1.1 O cinema na História........................................................................................................05
1.2 O cinema no Brasil............................................................................................................15
1.3 O cinema amazonense......................................................................................................23
Capitulo II MEMÓRIA, HISTÓRIA E ORALIDADE .....................................................28
2.1 História Oral e a Memória ..............................................................................................28
2.2 A Relação Cinema & História..........................................................................................35
2.3 Imaginário e o Cinema.....................................................................................................37
Capitulo III: OS CINEMAS E SUAS EXIBIÇÕES PRESERVADAS NA MEMÓRIA
PARINTINENSE..................................................................................................................41
3.1 Considerações gerais da pesquisa....................................................................................41
3.2 Discussão dos resultados...................................................................................................46
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................55
REFERÊNCIAS......................................................................................................................56
ANEXOS..................................................................................................................................58
APÊNDICES............................................................................................................................84
1
INTRODUÇÃO
A pesquisa historiográfica permite alcançar uma compreensão da história humana. O
historiador não tem outra ambição que examinar bem os fatos e compreendê-los com
exatidão, assim, através da investigação crítica, o historiador procura desvendar, analisar e
preencher as lacunas deixadas pela historiografia tradicional, dando voz aos anônimos. Em
2006, iniciando o curso de licenciatura em História, surgiu o interesse de pesquisar sobre os
cinemas que existiram na cidade de Parintins. Uma vez que o cinema desperta em mim grande
interesse, tive conhecimento da existência de alguns prédios que abrigaram salas de cinema
no município. No entanto, eu imaginava como poderia ter sido a existência de uma sala de
cinema na cidade? E que recordações poderiam ter proporcionado a quem prestigiou as
exibições de filmes, a qual não pude prestigiar?
Assim, surgiu a temática “História e Memória: Os Cinemas em Parintins-Am entre a
década de 1960 a 1980” que tem por objetivo conhecer por meio da memória, os papeis dos
cinemas para os parintinenses, no período em que funcionavam no município salas para
exibições cinematográficas. Com a provável existência de 5 (cinco) cinemas desativados no
registro histórico da cidade, evidencia-se, nesta monografia a análise dos cinemas “Cine
Teatro Brasil”, que passou por modificações na sua nomenclatura, sendo Cine Moderno e
enfim intitulado de “Cine Saul”; e os “ Cines Orientais”, que trabalhavam com as exibições
cinematográficas no período delimitado para a investigação: 1960 aos anos de 1980.
Evidenciou-se conhecer a importância dos cinemas para a história, vida e cotidiano da cidade,
qual a situação econômica que vigorava no período de seu funcionamento? Outra questão a
ser abordada é a relação influenciadora do cinema na vida dos parintinenses, enfocando a
importância do cinema como fonte e sua contribuição para a história, vida e memória do povo
parintinense. Uma vez que, das memórias deixadas pelas salas de cinema, evidenciadas a
2
partir dos relatos orais de alguns de seus freqüentadores, é possível conhecer histórias que
ainda em permanência do anonimato.
Com o auxílio de registros bibliográficos encontrados sobre os edifícios em que
funcionavam as projeções, este trabalho vem dar contribuição a historiografia parintinense,
visto que, o cinema não atendeu a população durante um breve período, mais sim, a várias
gerações que gostariam que este veículo cultural retornasse a funcionar e que as novas
gerações pudessem conhecer sua história e relevância no decorrer do tempo. Assim, com os
referenciais bibliográficos que abordam o cinema partindo de sua história geral, tramitando
pelo espaço brasileiro e amazonense, a pesquisa teve o embasamento necessário sobre a
sétima arte e como esta se delineou no município de Parintins. Com depoimentos orais de
cidadãos que tiveram o privilégio de ter contato com os cinemas, pôde-se conhecer a
importância das memórias referentes a essas salas para a população local, e o que significam
hoje para os que viveram naquelas épocas.
Assim, para a melhor compreensão da realidade investigada esta pesquisa apropria-se
da História Oral, técnica que vem dar suporte aos registros desvendados, assim como, analisar
através destes relatos uma nova perspectiva sobre a trajetória dos cinemas que funcionaram
em Parintins entre as décadas de 60 a 80. Através da descrição oral de homens e mulheres que
prestigiaram as exibições dos filmes e que preservaram em suas memórias o convívio nas
salas de projeção, foi possível desvendar, conhecer e estudar detalhes importantes,
despercebidos e ainda não registrados como/ou através dos documentos escritos. Esta
monografia constará de três capítulos, o primeiro intitula-se “Os Caminhos da Sétima Arte:
História do Cinema” onde será abordado o desenvolvimento do cinema no decorrer da
História Mundial, no Brasil e no âmbito amazonense. Com este capítulo, inicia-se a temática
que mostrará o papel do cinema na vida humana, sua relação na sociedade, o interesse
despertado pelas produções fílmicas.
3
O segundo capítulo intitula-se “Memória, História e Oralidade” com esse título será
abordada relevância da memória na construção deste trabalho.
O capítulo III, intitulado “O intercâmbio cinematográfico: Os cinemas na memória
dos parintinense”, cujo propósito é uma breve análise sobre como se delineou a história dos
cinemas na cidade de Parintins, através da memória dos parintinenses. A respeito do resgate
da memória buscaram-se, por meio de relatos dos mais velhos ou mesmo adultos que
vivenciaram o período, encontrar subsídios para o registro dos acontecimentos que giravam
em torno dos cinemas dando a eles a oportunidade de expressar todo o acontecimento vivido e
que muitas vezes torna-se negligenciado ou sufocado pelos documentos escritos. Sobre o
trabalho cinematográfico realizado na cidade, a abordagem é feita através de obras de autores
locais fundamentando assim a temática.
Ficará registrado esse momento histórico para que outros interessados na história e
cultura parintinense possam encontrar nos relatos orais subsídios para que o cinema não fique
somente reservado na memória do povo, correndo riscos de cair no esquecimento, mais que,
possa ser uma realidade no cotidiano da população, visto que, existe na atualidade um grande
anseio de colocar em funcionamento um prédio destinado a exibição de filmes.
Em suma, esta monografia ressalta o valor do cinema na cidade de Parintins, cuja
importância tornou-se significativa para vidas dos comunitários modificando todo um modo
de vida existente entre eles. O cinema tornou-se movimentador de sonhos, diversão, cultura
em meio a uma sociedade simples e pacata. Entretanto, o que muitos não esperavam que os
prédios de cinema fossem desativados, não mais funcionando para o atendimento dos
moradores da cidade de Parintins, repentinamente, sem explicações satisfatórias. E, na
tentativa de dar resposta aos questionamentos, de muitos moradores que viram suas aspirações
acabadas inesperadamente a presente monografia torna-se relevante a sociedade cientifica e
pertinente, não apenas por recontar a trajetória dos cinemas mais conhecidos que funcionam
4
no município, mas por possibilitar que os marginalizados pela história tenham a possibilidade
de recontar através de suas visões a história em que vivenciaram, contribuindo desta maneira,
para o engrandecimento da história de Parintins com o registro através da História Oral de
Vida e fontes bibliográficas, criando um relacionamento recíproco com a comunidade, para
que sua memória não se torne perdida pelo tempo.
5
CAPÍTULO IOS CAMINHOS DA SÉTIMA ARTE: HISTÓRIA DO CINEMA
1.1 O cinema na História
Fazer uma abordagem sobre cinema é falar sobre uma indústria produtora de sonhos
que ao longo da história vem deixando traços marcantes na vida de diferentes pessoas. Nesse
sentido, os pressupostos metodológicos que embasam este início de trabalho é o método de
abordagem dedutivo, pois a questão fundamental da dedução está na relação lógica que deve
ser estabelecida entre as proposições apresentadas, afim de não comprometer a validade da
conclusão" (MEZZAROBA; MONTEIRO,2003, p.65), considerando que os princípios da
arte cinematográfica aconteceram primeiramente nas grandes metrópoles e que
posteriormente refletiu em alguns lugares, ou seja, em pequenas cidades, no caso a cidade de
Parintins. Todavia, para esse registro historiográfico se buscou fontes bibliográficas como
metodologia, enfim, um procedimento histórico.
Partindo da premissa de que o cinema é um campo aberto de reflexões e memórias,
para a compreendermos a representação desta indústria na vida e memória dos moradores
parintinenses, é necessário algumas ponderações sobre o cinema em si e sua trajetória no
decorrer do tempo.
Assim, nesta abordagem sobre cinema verificamos que este constitui-se de elementos
que denotam sua influência. O cinema possui um aparato tecnológico adequado para
documentação, encenação e relatos históricos, proporcionando construções de sonhos, visões
de mundo, fazendo o expectador entrar em contato com as visões do outros indivíduos
situando e relacionando suas concepções com os demais. A mensagem de um filme faz o
6
indivíduo perceber outras realidades e se reporte a elas, assim como crie vínculos afetivos e
sinta-se parte de algo maior e mais complexo. Na busca de suas definições, verificamos que o
cinema é:
[...] a forma contemporânea da arte: a da imagem sonora em movimento. Nele, a câmera capta uma sociedade complexa, múltipla e diferenciada, combinando de maneira totalmente nova,música, dança, literatura, escultura, pintura, arquitetura, história e, pelos efeitos especiais,criando realidades novas, insólitas, numa imaginação plástica infinita que só tem correspondente nos sonhos. (CHAUÍ, 2001, p.333)
O cinema tem grande influência na vida das pessoas. As lembranças arquivadas,
resultantes da experiência com o cinema transformam as salas de exibição como “lugares de
memória”, ou seja, espaços onde a memória se cristaliza e materializa tornando-se referência
para uma sociedade ou uma classe social.
Surgindo no final do século XIX, o cinema e o filme, não resultaram de um processo
repentino. O cinema surge como veículo de propagação dos interesses da burguesia. É o que
nos diz Jean-Claude Bernadet (1980, p.127):
Dessa época, fim do século XIX, início deste, datam a implantação da luz elétrica, a do telefone, do avião, etc., etc., e, no meio dessas máquinas todas, o cinema será um dos trunfos maiores do universo cultural. A burguesia pratica a literatura, o teatro, a música, etc., evidentemente, mas estas artes já existiam antes dela. A arte que ela cria é o cinema.
Entretanto, num processo de desenvolvimento e movimentação da imagem, por volta
do século XVIII pessoas já projetavam colocar a imagem em movimento através de máquinas.
Pode-se citar como exemplo o teatro de sombras dos chineses, a “câmara obscura”
renascentista e a lanterna mágica, instrumentos precursores do cinema realizado no final do
século XIX.
7
Em 1832, o cientista belga Joseph Plateau, criou o fenacistoscópio, primeiro aparelho
a produzir a ilusão de movimento num desenho. Plateau colocou dois discos em dois
diferentes eixos. Fez um desenho de um objeto ao longo da borda de um dos discos e no outro
disco fez orifícios. Ao serem girados na mesma velocidade, ambos os discos davam a
impressão de que os desenhos se moviam para quem olhasse através dos orifícios feitos no
disco1.
Ainda no final do século XIX, inventores franceses, ingleses e americanos tentaram
descobrir modos de fazer e projetar filmes; depois de vários fracassos, o sucesso veio para
vários deles, quase ao mesmo tempo.
Em 1887, Thomas Edison começou a trabalhar em um aparelho para fazer com que
as fotografias parecessem mover-se e só obteve sucesso dois anos depois, quando um norte-
americano, Hannibal Goodwin, desenvolveu, um filme à base de celulóide transparente que
era resistente, mas flexível. Esta base podia ser coberta por uma película de produtos
químicos sensíveis à luz. Podia-se tirar uma série de fotos com esse filme, que se movia
rapidamente dentro da câmara. George Eastman, um pioneiro na fabricação de equipamento
fotográfico, produziu o filme.
Utilizando o filme de Eastman, Edison e seu assistente William Dickson inventaram
o cinetoscópio. Era uma espécie de gabinete onde 15 metros de filme rodavam em carretéis; a
pessoa olhava através de um visor para o interior do gabinete e podia ver as fotos em
movimento. Em 1894 o cinetoscópio era exibido em Nova York, Londres e Paris e surgiram
então novos inventores que, se utilizando dos mesmos princípios daquele aparelho,
desenvolveram câmaras e equipamentos de projeção mais aperfeiçoados.
1 Informações extraídas do site: http://www.edukbr.com.br/artemanhas/cinema_orig1.asp
8
Em dezembro de 1895, pela primeira vez um filme foi projetado publicamente em
uma tela, por meio de um invento chamado cinematógrafo2. Esta projeção foi realizada pelos
irmãos Lumière e aconteceu num café parisiense. Foram cenas simples, entre elas a de um
trem chegando a uma estação. Porém, a imagem do trem, mesmo sem ruídos, deixou na
platéia a impressão de ser real. Houve a divulgação que de acordo com Bernardet:
Consta que, já em 1896, Lumiére formou várias dezenas de fotógrafos cinematográficos, equipou-os e mandou-os a vários países europeus. Sua tarefa consistia tanto em tomar novas vistas como em exibir vistas que eles traziam de Paris. Neste mesmo ano de 1896, aparece o filme Coroação do czar Nicolau lI, filmado em Moscou e considerado como o pai da reportagem cinematográfica.(1980, p.136)
A projeção de imagens foi se aperfeiçoando, filmes curtos foram tomando inovações
em diferentes países europeus, conquistando ainda mais adeptos a arte que então se
desenvolvia. Toda a repercussão do cinema se desenvolvia a cada filme exibido. A novidade
do filme encontrou na ilusão o sucesso para seu desenvolvimento, conforme nos afirma Jean-
Claude Bernardet:
Só podia ser uma ilusão. É aí que residia a novidade: na ilusão. Ver o trem na tela como se fosse verdadeiro. Parece tão verdadeiro - embora a gente saiba que é de mentira - que dá para fazer de conta, enquanto dura o filme, que é de verdade. Um pouco como num sonho: o que a gente vê e faz num sonho não é real, mas isso só sabemos depois, quando acordamos. Enquanto dura o sonho, pensamos que é verdade. Essa ilusão de verdade, que se chama impressão de realidade, foi provavelmente a base do grande sucesso do cinema. O cinema dá a impressão de que é a própria vida que vemos na tela, brigas verdadeiras, amores verdadeiros (1980, p.125).
Segundo Jean-Claude Bernardet o que permite que o cinema conquiste um
público cada vez maior é a ilusão de que o filme reflete a vida real transportando essa vida
para a tela do cinema. Mesmo que se tenha a consciência de que a imagem cinematográfica é
fixa e inerte, que o cinema não passa de uma ilusão óptica, enquanto vai passando o filme
2 Cinematógrafo: aparelho inventado pelos irmãos Louis e Auguste Lumiere.
9
tem-se a impressão de que as cenas são reais, as ilusões adquirem vida própria e a fantasia se
consolida na tela.3. Assim, como as repercussões da imagem em movimento, em poucos
meses, todas as grandes cidades européias tinham filmes em exibição. De maneira geral, os
filmes eram feitos de um tamanho padrão, pois, deste modo, um filme feito num país podia
ser exibido em outro. Como o cinema era mudo, não havia problema de diferença de idiomas,
era só trocar a legenda.
Em 1898, o cinema passou a contar histórias; eram pequenas cenas filmadas numa
seqüência. Por vários motivos o cinema exerceu uma grande influência nas sociedades
Ocidentais na primeira metade do século XX, principalmente nos Estados Unidos, onde se
tornou o mais popular dos meios de comunicação de massa, obtendo no início, um grande
apoio das classes populares. Em meio a transformação em sociedade industrial,
predominantemente urbana os Estados Unidos encontrou no cinema um meio de
entretenimento celebrado entre as massas. As primeiras grandes salas de cinema surgiram no
ambiente de estratificação das novas cidades americanas, onde houve a separação de classes o
que acabou por colocar a grande camada de imigrantes na periferia, constituindo a classe
baixa, sendo que esses imigrantes trouxeram grandes conhecimentos em artes
cinematográficas, propondo assim o cinema como entretenimento de seu grupo.
No entanto, foi o diretor de cinema norte-americano quem primeiro fez um filme
usando as técnicas cinematográficas atuais de contar uma história. Seu filme mais importante
foi O Grande Roubo do Trem, em 1903, um filme de apenas 11 minutos, descrevendo um
roubo de trem e a perseguição e captura dos assaltantes. Este filme foi um grande sucesso nos
Estados Unidos, levando os americanos a criarem os nickelodeons4 em 1905: o nome vem do
preço do ingresso, um níquel (nickel) de cinco centavos de um dólar, e da palavra odeon, de
3 BERNARDET, Jean-Claude. O que é cinema. 4. ed. São Paulo: Brasiliense. 1980.
4 Os nickelodeons também eram conhecidos como “poeiras”, por serem grandes galpões, nem sempre limpos e sem nenhum conforto.
10
origem grega, que significa teatro. Os nickelodeons foram os primeiros cinemas públicos; a
maioria deles eram armazéns transformados em cinemas, freqüentados em sua maioria por
trabalhadores e pelos imigrantes, que não sabiam ler ou escrever. O modo de se vestir, o
desconforto, o comportamento dos imigrantes dentro dos armazéns onde eram feitas as
exibições acabavam por tornar proibitiva uma mistura de categorias. Posteriormente, o cinema
passou a ser também uma forma de lazer da burguesia americana, no entanto, sofrendo uma
série de mudanças em suas estruturas.
Nos primeiros anos da década de 1900, a maioria dos filmes americanos era feita em
Nova York, mas logo viram que Los Angeles possuía clima e natureza mais favoráveis para a
produção de filmes. Em 1911, foi construído pelo fornecedor de filmes Carl Laemmele, o
primeiro estúdio em um distrito chamado Hollywood. Este distrito desenvolveu uma
verdadeira fábrica de “estrelas”, seriam estas, pessoas que incorporariam personagens
marcantes na história do cinema.
Carl Laemmele passou do fornecimento à produção de filmes que engrandeceriam
atores e atrizes, favorecendo e distribuindo riqueza à indústria cinematográfica. Laemmele
criou a Independ Motion Picture Company (IMP), a Universal Pictures entre outros estúdios
que foram aparecendo tornando Hollywood conhecida como a capital mundial do cinema.
Os primeiros atores do cinema não eram identificados pelo nome na tela; preferiam
manter-se no anonimato. Ser ator de cinema era ser considerado um artista muito inferior ao
do teatro. Entretanto, quando a famosa estrela teatral, Sarah Bernhardt, apareceu em um filme,
trabalhar no cinema passou a ser uma profissão respeitável. Charles Chaplin, Buster Keaton,
Theda Bara e Rodolfo Valentino foram entre outros, artistas famosos do cinema mudo.
A partir de 1912, os americanos tentaram ampliar seu mercado de trabalho, atraindo
a classe média para o cinema. Começaram então a filmar peças e romances mais conhecidos e
contrataram grandes nomes do teatro.
11
Durante a 1ª Guerra Mundial, a produção européia quase parou por falta de matéria
prima e de energia, mas os europeus queriam muito ver filmes, principalmente alegres, e
assim os americanos aproveitaram-se da situação e entraram no mercado europeu.
Por volta de 1920, a maioria dos estúdios como a Columbia, a Metro, a Warner e a
Universal tinham preocupação com os grandes lucros; os chefes dos estúdios eram homens de
negócio e não artistas e assim houve uma queda grande de criatividade. Por isso, a maioria
das inovações ocorridas nesta década se deu na Europa. A Alemanha ficou conhecida pela
brilhante utilização da técnica fotográfica: introduziu o uso do subjetivo nos filmes,
possivelmente sua maior contribuição. Enquanto isso, os soviéticos tornaram-se os pioneiros
em novas técnicas de montagem.
O pós-guerra e as variadas produções cinematográficas marcam os anos 20
americano, onde grandes nomes da comédia como Charles Chaplin, Harold Lloyd e Buster
Keaton se destacam. No espaço europeu os ensaios vanguardistas de Man Ray e Luis Bunuel
marcam o cenário artístico francês no pós-guerra e a sociedade alemã vivenciava a era de ouro
do seu expressionismo. O cinema soviético torna-se num centro criativo, após anos de filmes
de propaganda. Os expoentes máximos da criatividade cinematográfica soviética são
encontradas nas obras de Sergei Eisentein. Outra indústria cinematográfica de destaque na
época é a indiana. A Índia vivia dez anos bastante positivos, produzindo cerca de 100 filmes
por ano.
Nesse período, a moda no mundo capitalista e o comportamento social,
principalmente da juventude, foram ditados pelo cinema. Foi o primeiro período em que a
cultura norte-americana se impôs sobre o mundo. As mulheres copiavam as roupas e os
trejeitos das atrizes famosas, como Gloria Swanson, Greta Garbo e Mary Pickford. O cinema
passou a influenciar o comportamento das massas, e mais que influenciar, serviu de veículo
para a expansão cultural norte-americana.
12
Em meados da década de 1920, foi criado um sistema que coordenava, com sucesso,
o som de um disco com o projetor. Em 1922 foi lançado o primeiro filme totalmente a cores,
“Toll of the Sea”; em 1926 é a vez de “Don Juan”, que chegou acompanhado por efeitos
sonoros e música. Poucos filmes usaram som antes de 1900; eles dependiam de uma ligação
mecânica a um fonógrafo e era difícil sincronizar o som com a ação passada na tela.
Depois passou a ser usado um filme silencioso, com música e efeitos sonoros
gravados em disco. Até que a Warner produziu em 1927, o filme O Cantor de Jazz (The Jazz
Singer) com Al Jolson, um ator branco que se caracterizou como um negro. Não era para ser
falado, teria só efeitos sonoros e músicas. Porém, durante o processo de sonorização, Jolson
pegou o microfone e disse o que costumava falar em seus shows: "Vocês ainda não ouviram
nada". O incidente convenceu, os diretores da Warner a substituir os quadros legendados do
filme por diálogos falados. Al dublou quatro cenas e as canções, entre elas a canção “Blue
Skies”.
Nos primeiros anos, o filme sonoro constituiu um retrocesso: o cinema mudo estava
no auge e com alta qualidade, enquanto os falados eram grosseiros e inseguros. Muitos astros
e estrelas também tiveram problemas: suas vozes não se adaptavam ao cinema falado, ou pelo
sotaque ou por serem, às vezes, muito agudas. Em 1929, ocorre a primeira edição do prêmio
“Oscar”.
No início da década de 30, nos Estados Unidos, eram os filmes musicais, os de
gangsteres e os filmes de terror que faziam um grande sucesso. Os métodos de som foram
aprimorados, os atores começaram a dar mais atenção à voz, os estúdios de cinema buscaram
no teatro atores mais expressivos, os autores foram coagidos a determinar os personagens
através de palavras e os escritores de cartões (intertítulos) foram descartados, e a partitura
musical tornou-se muito importante, pois o som permitiu também o nascimento do gênero
musical, surgindo estrelas como Maurice Chevalier, Fred Astaire e Ginger Rogers.
13
Nesse período se produziu os primeiros filmes coloridos: em 1933, o desenho
animado Flowers and Trees da Walt Disney, e o longa-metragem Becky Sharp, de 1935.
Nesta mesma década, surgiram movimentos que tinham como objetivo lutar contra a
dominação do cinema americano: foi a época do surrealismo cinematográfico, representado
por Luís Buñel, nos filmes Cão Andaluz (1938) e A Idade do Ouro (1930).
Ainda em 1939, Orson Wells, o menino prodígio do rádio e do teatro, foi chamado
para ir a Hollywood. Ele dirigiu filmes que marcaram a história do cinema e mostraram o
caminho certo para os filmes sonoros, Cidadão Kane e Soberba. Neles foram usadas novas
técnicas fotográficas, uma nova iluminação com sombras e a câmara acentuava o personagem
e seus gestos. Wells também revolucionou o uso da trilha sonora: anteriormente, as partituras
que serviam apenas como acompanhamentos do filme passaram então a ser feitas para os
filmes, refletindo mudanças no clima da história e para unir as cenas.
Grandes astros e estrelas surgiram nesta época e esta década terminou triunfalmente
com o filme E o Vento Levou, dirigido por Victor Fleming, com Clark Gable e Vivien Leigh,
nos papéis principais. Foi o mais longo feito até aquela época.
Na década de 40, a 2ª Guerra Mundial contribuiu com o surgimento na Itália de um
estilo conhecido como neo-realismo, onde usavam cenários naturais e atores não
profissionais. Eram filmes realistas, que mostravam as misérias da guerra e o problema da
volta à paz. Surgiu então Roberto Rossellini, com Roma- a Cidade Aberta (1945) e Vitorio de
Sica, com Ladrão de Bicicletas, seguidos por Antonioni e Fellini.
Na França, o acontecimento mais importante do pós-guerra foi o aparecimento de um
grupo de jovens e talentosos diretores que iniciaram a "nouvelle vague". Tratavam da vida
moderna francesa e colocavam os jovens como ponto central dos filmes; estes tinham um
custo baixo e o estilo individual de seu diretor. Era um cinema de qualidade, comercial e de
14
conteúdo existencialista. Seus representantes mais famosos foram: Jean Luc Goddard e
François Truffant.
Esta quantidade variada de estilos espalhou-se pelo mundo chegando também à
Europa Socialista, que apresentou uma grande renovação cinematográfica, em 1960.
O cinema nas décadas seguintes fica um pouco parado; a televisão tinha tirado
grande parte de seu público. Mas no fim da década de 80, o cinema americano ressurge com o
filme de Steven Spielberg, ET. O filme arrecada milhões, o cinema ganha características mais
populares e os produtores que tinham trocado o cinema pela televisão retornam sua produção,
com o auxílio da propaganda e das novas tecnologias.
Segundo Tapajós, a partir de uma máquina curiosa, passatempo de cientistas e
pesquisadores, no decorrer de mais de cem anos de realizações e progressos, o cinema se
distingue das outras formas de arte por suas características próprias e distintas das outras
áreas, bipolarizou-se em duas direções nítidas e demarcadas: o cinema-arte e o cinema-
indústria, se transformando num imenso e complexo sistema industrial “cujos tentáculos
penetram em todos os países do mundo” 5 .
O cinema é produzido dentro dos interesses de mercado, se atrelando ao gosto
particular de cada pessoa da platéia por determinado tipo de gênero. Abrangendo as relações
entre produtoras e distribuidores de filmes, a indústria cinematográfica realiza um processo
desde a criação de um filme, é necessário investimentos realizados por meio de alianças
comerciais, tendo um custo alto ou baixo, dependendo da visão objetivada do diretor do filme,
além do mais, produção e divulgação de um filme requer publicidade e salas de exibição
apropriadas para a sua projeção.
5 TAPAJÓS, Renato. Cem anos de cinema. p.5
15
O cinema se integra primeiramente a um conjunto de interesses pessoais e
comerciais, e suas exibições fílmicas trazem múltiplas mensagens e temáticas que ficam
armazenadas na memória a quem é transmitido.
Deste modo, a história do cinema é necessariamente a história de uma indústria, e
também a história de uma arte. Movimenta mercado, economia, cultura e sonhos da
população. Sua primeira sessão pública, paga pela platéia data o nascimento do cinema como
uma indústria.
1.2 O cinema no Brasil
O cinema ganhou dimensões mundiais, movimentando diversas sociedades com suas
produções de diferentes temáticas destinas ao todo tipo de público. Não obstante, o Brasil
também acolheu a indústria cinematográfica com todas as suas extensões advindas dos
diversos países e culturas do globo. A história do cinema brasileira é marcada por variadas
características, influências internacionais e adequações a realidade nacional. Segundo Jean-
Claude Bernardet:
O Brasil era fundamentalmente um país exportador de matérias-primas e importador de produtos manufaturados. As decisões, principalmente políticas e econômicas, mas também culturais, de um país exportador de matérias-primas, são obrigatoriamente reflexas. Para a opinião pública, qualquer produto que supusesse uma certa elaboração tinha de ser estrangeiro, quanto mais o cinema. O mesmo se dava com as elites, que tentando superar sua condição de elite de um país atrasado, procuravam imitar a metrópole. As elites intelectuais, como que vexadas por pertencer a um país desprovido de tradição cultural e nutridas por ciências e artes vindas de países mais cultos, só nessas reconheciam a autêntica marca de cultura (BERNARDET, 1978, p. 20).
O cinema chega ao Brasil no mesmo ano das primeiras projeções. Se instalando no
Rio de Janeiro, teve suas primeiras filmagens realizadas em 1898.
16
Inicialmente tendo pouca repercussão devido à falta de energia produzida
industrialmente o cinema ter destaque em 1907 com a instalação desse tipo de energia. Nesse
ano, os filmes brasileiros baseavam-se em assuntos naturais. O trabalho cinematográfico
contava com os estrangeiros com experiência na sétima arte. O cinema brasileiro tem entre os
anos de 1908 a 1911, a sua conhecida “idade de ouro”, caracterizado pelas produções fílmicas
relativas à reconstituição de crimes marcantes a sociedade da época como, por exemplo, o
filme de Antônio Leal intitulado “Os estranguladores”. O cinema brasileiro foi tardio ao
costume nacional devido ao atraso da instalação de eletricidade nas cidades, inclusive no Rio
de Janeiro, que era a capital da federação na época. Com a instalação da energia
industrializada no espaço urbano carioca, as salas de exibição disseminaram, com a venda de
filmes estrangeiros, no entanto, os brasileiros passaram a produzir filmes a partir de 1908 e
assim, durante três ou por volta de quatro anos, o Rio de Janeiro conheceu um período que se
pode considerar a período aurífero ou Era do ouro do Cinema Brasileiro.
Com o desenvolvimento da indústria cinematográfica nas potências mundiais o
período de ouro do cinema brasileiro é enfraquecido. Conforme afirma Paulo Emílio Salles
Gomes:
Os dez primeiros anos de cinema no Brasil são paupérrimos. As salas fixas de projeção são poucas, e praticamente limitadas a Rio e São Paulo, sendo que os numerosos cinemas ambulantes não alteravam muito a fisionomia de um mercado de pouca significação. A justificativa principal para o ritmo extremamente lento com que se desenvolveu o comércio cinematográfico de 1896 a 1906 deve ser procurada no atraso brasileiro em matéria de eletricidade. A utilização, em março de 1907, da energia produzida pela usina Ribeirão das Lages teve conseqüências imediatas para o cinema no Rio de Janeiro. Em poucos meses foram instaladas umas vinte salas de exibição, sendo que boa parte delas na recém construída Avenida Central, que já havia desbancado a velha Rua do Ouvidor como centro comercial, artístico mundano e jornalístico da Capital Federal (1980, p. 41).
Foram produzidos a partir de 1912 cerca de seis curtas-metragem de enredo, a cada
ano através dos produtores como Francisco Serrador, Antônio Leal e os irmãos Botelho. O
cinema entra em crise durante os anos de 1912 a 1922, devido à repercussão do cinema norte-
17
americano que dominava o mercado mundial. Assim, o Brasil se limitou a produzir
documentários sobre empresas, filmagens encomendadas por famílias da elite para
casamentos ou batizados, cine-jornais, ou pequenos filmes baseados em clássicos da literatura
da época.
Por volta de 1925, as grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Porto
Alegre e Belo Horizonte realizam grandes produções com qualidade. Nos anos 30, surgem os
clássicos do cinema mudo brasileiro em meio ao filme falado que ganhava destaque no
mundo. Em busca da identidade nacional, o cinema brasileiro consagra nomes como, por
exemplo, o produtor Mário Peixoto (O limite), Humberto Mauro (Ganga Bruta), entre outros.
Durante as décadas de 1930 e 1940, a produção limitava-se a propagação da comédia
popularesca, vulgar e musicais conhecidas como chanchadas, que demonstrou características
do cenário humano do Rio de Janeiro, então capital federal e modelo para as outras cidades.
Segundo Catani e Souza:
Na década de 40 o cinema enfrentou grandes dificuldades, pois muitos filmes foram criados, mas conseqüentemente poucos obtiveram sucesso. A produção de filmes era focada em comédias populares, vulgar e freqüentemente musical. Essa época foi caracterizada pelas chanchadas, “no Brasil comédia significa o pior tipo delas, qual seja, a chanchada: É o disparate vulgar combinado a um pouco de sexo e de frases de duplo sentido”. Influência do baixo teatro, da burleta e do radiologismo mais ruim. (1983, p. 59)
Os estúdios Brasil Vita Filmes, de Carmem Santos e Cinédia de Ademar Gonzaga
foram os principais estúdios em atividade no período. Atores como Mesquitinha, Oscarito e
Grande Otelo, lançados pelas chanchadas cariocas fizeram a aproximação do filme com o
público brasileiro. A década de 30 foi apontada por uma produção sob a égide da produtora
Cinédia, já os anos 40 conta com a supremacia da Atlântida, buscando ampliar temas
brasileiros.
18
Após a era de ouro, surgem as chanchadas da Atlântida, outro marco importante à
indústria cinematográfica brasileira. Com a produtora Atlântida, a fabricação de filmes
musicais e de chanchada foi possível por cerca de vinte anos, contradizendo o cinema
estrangeiro que anterior a este período predominava ao interesse estrangeiro. Nesta fase, o Rio
de Janeiro influenciava através dos filmes, ou seja, o comportamento, fluxo contínuo que
encontrou na chanchada uma possibilidade de solidificação mais complementada do que
anteriormente na caricatura ou no teatro de variedades.
Conforme Rocha (2003), um dos marcos da História do cinema brasileiro foi a
companhia cinematográfica Vera Cruz que fez parte de um projeto estético-cultural mais
amplo, que previa para São Paulo a vitalização da vida cultural, conduzida pela burguesia
industrial, buscando uma hegemonia na vida política e cultural do país.. Seus estúdios foram
construídos em São Bernardo do Campo (São Paulo) na década de 1950. A companhia Vera
Cruz produzia industrialmente seus filmes com qualidade técnica, bons equipamentos, que
compunham-se de dramas universais, adotando os estilos da indústria de Hollywood, ou seja,
o objetivo era obedecer as lógicas e qualidade da indústria de cinema Hollywoodiano. Assim,
foi lançado um star-system, conjunto de estrelas, composto por Tônia Carrero, Marisa Prado,
Eliana Lage, Anselmo Duarte, Jardel Filho, entre outros. O estúdio Vera Cruz fracassou
devido ao alto custo dos seus filmes, a falta de uma distribuidora própria, dificuldades de
escoamento de suas produções ao mercado e salas de cinema brasileiras. O Cangaceiro, filme
de Lima Barreto foi o principal produto comercial do estúdio Vera Cruz, que ganhou Cannes6,
inaugurando o gênero de cangaço.
Surgiu uma geração de realizadores independentes, paralelamente aos estúdios e em
aversão a eles, tanto na sua vertente paulista quanto carioca, que certificaria o prosseguimento
dos filmes de pretensões artísticas. Entre estes, destaca-se a produção de Walter Hugo Khouri
6 Cannes: Festival de cinema realizado em Cannes na França.
19
e Nelson Pereira dos Santos. O primeiro deu seguimento ao cinema de pretensões
universalistas da Vera Cruz, realizando dramas psicológicos nos moldes do cinema clássico, o
segundo enveredou por um cinema de tom neo-realista, fugindo aos padrões dos estúdios ao
filmar Rio 40º e Rio, Zona Norte. Nelson Santos adquire papel de destaque no cinema
brasileiro, fundando aqui o cinema moderno, aproximando-se da geração de jovens críticos e
realizadores, e compondo com eles o Cinema Novo, o mais importante movimento do cinema
brasileiro e momento de plena maturidade artística e cultural do nosso cinema.
Catani ainda salienta que a década de 60 traz como característica a derrocada do
gênero chanchada pela própria imposição da televisão e advento do Cinema Novo (1983, p.
03). Os cinco primeiros anos da década de 1960 são dominados, pelo conjunto de filmes
realizados no espaço baiano: Bahia de todos os santos e o Pagador de Promessas se destacam,
o primeiro pelo pioneirismo de sua função, e o segundo pelo equilíbrio de sua fatura. Em
1961 surge Glauber Rocha que estreou com o filme Barravento e a seguir realizou o filme
Deus e o Diabo na terra do Sol.
Com o surgimento do Cinema Novo, movimento notadamente do Rio de Janeiro que
envolve de forma pouco diferenciada tudo o que se fez de melhor no moderno cinema
brasileiro, ocorre, nesse período, a premiação de diretores como Glauber Rocha, Paulo César
Sarraceni, Joaquim Pedro de Andrade, Ruy Guerra, Carlos Diegues, Walter Lima Jr entre
outros.
O estilo “boca do lixo” surgido na década de 1970 traz novas tendências ao cinema
brasileiro aproveitando a lei que exigia a exibição de filmes nacionais.
Os filmes dessa época eram de baixo custo orçamentário, de ingressos baratos,
podendo ser patrocinados e financiados até pelos mais simples brasileiros. Os filmes que
caracterizaram esse período são os de faroestes (bang bang), sobre cangaços, kung-fus,
melodramas e aventuras de segunda linha, revelando atores como David Cardoso, Tony
20
Vieira e Jean Garret. Os filmes boca-do-lixo eram especializados em porno-chanchada, filmes
de humor que tinham toques de erotismo, sem serem pornográficos. Nesse período, os
cinemas em Parintins exibiam filmes como os Trapalhões, prestigiados pelo público infantil
como também pelos adultos. A decadência do cinema boca-do-lixo começou com o filme
Império dos Sentidos, de arte, com cenas explícitas, ou seja, pornográficas. A partir dele,
vários outros foram liberados e o mercado foi dominado por produções pornô estrangeiras.
Outra causa foi a diminuição da fiscalização da lei de obrigatoriedade de passar filmes
nacionais.
Sobre o período cinematográfico nos anos 70 e 80, Salvyano Cavalcanti de Paiva
(1989), afirma que o cinema alimentava-se das verbas do Instituto Nacional do Cinema e da
Embrafilme. Essa época foi caracterizada pelas pornochanchadas, que eram uma mistura de
erotismo com uma qualidade não tão boa. Com o golpe de 1964 e o início da ditadura militar
e uma crise que atingiu severamente o mercado caiu o número de produções. Até os famosos
“Trapalhões” estavam perdendo público. Mas, foi nesta época que os filmes coloridos
expulsaram da tela os rivais preto-e-branco. Ao se falar da Embrafilme7, Almeida e Butcher,
(2003, p. 21) afirmam que, durante 20 anos, a Embrafilme foi o grande motor do cinema no
Brasil (excluindo os filmes produzidos pela pornochanchada carioca e pela chamada “Boca de
Lixo” de São Paulo). Seu modelo se baseava na concentração das etapas de produção e
distribuição dos filmes brasileiros, com uma grande influência na exibição.
As metas de expansão de mercado pretendidas pela Embrafilme fracassaram não
proporcionando estabilidade do cinema brasileiro no mercado interno. As crises foram
invariáveis, possibilidades de atuação da Embrafilme como distribuidora e exibidora foram
fechadas por questões políticas. Segundo Carlos Augusto Calil em palestra promovida pela
Educine em Julho de 2002, a empresa ficou fadada ao fracasso por esta restrição de seu
campo de atuação:
7 (Empresa Brasileira de Filmes S/A). surge no cenário do cinema brasileiro sob a égide da ditadura militar, através do Decreto-Lei n862 de 12 de Setembro de 1969
21
A década de 80 foi a década que o cinema brasileiro colecionou todas as crises possíveis. A primeira crise, de cunho político, a de sucessão de Roberto Farias, que queria continuar como diretor geral. O diretor da distribuidora, Gustavo Dahl, se candidatou, o cinema brasileiro, que estava unido em torno desta gestão, rompeu-se em dois, o grupo do Gustavo Dahl e o grupo do Roberto Farias, isso significou que um grupo neutralizaria o outro e a política estava tomando o lugar principal na vida dos cineastas. Quando chega o Ministro Viriato Portela, assumindo no governo Figueiredo, ele se deparou com o fato de ter uma classe dividida, portanto ele procurou o chamado tércios, tese clássica em teoria política, o tércios foi chamado do Itamaraty para administrar a Embrafilme. O Celso Amorim achou que o melhor que tinha a fazer era chamar os dois e dar, a cada um deles, um projeto para que eles tivessem os ânimos acalmados durante um certo tempo. E contratou junto a Roberto Farias, nada menos que Pra Frente Brasil e junto a Gustavo Dahl, Tensão no Rio. (2002 p. ).
Calil afirma que os dois filmes Pra Frente Brasil e Tensão no Rio desgastaram
profundamente a Embrafilme, um derrubou o outro, Pra Frente Brasil quando lançado, foi
considerado uma profunda inconveniência para o governo militar, o SNI8, pediu a demissão
do diretor geral da Embrafilme, pois o regime exigia divulgar o governo por meio dos filmes,
o que não aconteceu. Em Pra frente Brasil era percebido a insatisfação a respeito do governo
militar. E Tensão no Rio, que é de um ano depois, Celso Amorim já tinha saído da presidência
da empresa de filmes, e quem está na Embrafilme sofreu este extraordinário desgaste de um
filme excessivamente caro e excessivamente sem caráter. Estes dois filmes advém
diretamente da crise de sucessão da Embrafilme e que levaram a empresa a uma crise política
e econômica sem precedentes.
A partir dos anos 90, na contemporaneidade, Beatriz Costa (2002), afirma que o
cenário cinematográfico mudou completamente se comparado as últimas décadas. Com baixo
custo, as produções decolaram, pois o cinema brasileiro recebeu apoio das Leis de Incentivo à
produção, onde retomou os filmes nacionais nas salas de cinema. As empresas do governo
federal e entidades públicas como a Petrobrás e BNDES9 realizando parcerias com televisões,
como, por exemplo, a Rede Globo, fizeram com que o cinema resgatasse seu público
8 Sistema Nacional de Informações, criado pelo governo militar.9 Empresa pública criada em 1952, e tem o objetivo financiar, em longo prazo, empreendimentos que contribuam para desenvolvimento econômico social do país
22
explodindo os recordes de boas produções. Paulo Sérgio Almeida e Pedro Butcher (2003,
p.7), relatam que:
Desde 1995, o BNDES vem investindo no cinema nacional, apoiando filmes de ficção em longa-metragem e documentários de vários formatos - priorizando, no caso das obras não ficcionais, aquelas com duração compatível com as grades de programação das emissoras de televisão e relacionamentos com a cultura brasileira.
Com o contribuição da Globo Filmes, o cinema brasileiro passou a ter maior
audiência, ganhando números elevados de bilheteria. Paulo Emílio (2004), relata que por trás
dos maiores filmes de bilheteria, existem grandes celebridades com Renato Aragão, Xuxa e
Padre Marcelo Rossi. São pessoas que estão em contato contínuo com a mídia televisiva. E
que dos dez filmes mais vistos em 2003 e 2004, sete são comédias e os outros são dramas
históricos sobre figuras nacionais, como Olga e Cazuza, que acabou caindo a gosto do público
com um sucesso estrondoso nas bilheterias.
O Brasil tem investido bastante em longas-metragens que tem desencadeado sucesso
no território nacional e passando a ser premiados no âmbito internacional. Exemplo disso são
os filmes Central do Brasil e Tropa de Elite. As produções cinematográficas brasileiras tem
buscado cada vez mais a identidade nacional, evidenciando a cultura brasileira, libertando-se
da grande influência internacional que caracterizou os primeiros anos de sua implantação no
Brasil. Em Parintins, a população teve contado com muitos filmes produzidos por brasileiros e
estrangeiras nas décadas de 1960 a 1980. Um detalhe importante desse período é o regime
militar que inicia em 1964, que faz com que muitos filmes fossem fiscalizados, retirando
deles qualquer sinal de manipulação de idéias contra o governo.
1.4 O cinema amazonense
23
Estando em proliferação no mundo, tendo representação no espaço brasileiro e
ganhando maior dimensão nos variados pontos do território nacional, o cinema chega e se
estabelece no Amazonas. Território constituído de belezas raras, biodiversidade, paisagens
naturais exuberantes, recebeu o cinematógrafo em 11 de abril de 1897, na cidade de Manaus.
A primeira exibição se deu no Teatro Amazonas, marco do ciclo gomífero. Conforme COSTA
( 2006, p. 94):
A chegada do cinematógrafo a Manaus, entretanto, em 11 de abril de 1897, não rebuliçou a cidade, como era de se esperar. O novo invento dos irmãos Lumière passou quase despercebido. Ao ser-lhe atribuído o status de “arte nobre”, fazendo-o penetrar pelo recém inaugurado templo cultural da elite manauara - o Teatro Amazonas - o cinema desencontrou-se de seu público predileto, as camadas populares, que lotavam as praças e cafés dos centros urbanos para ver o maravilhoso aparelho das “figuras que se mexem”. O local escolhido e os preços proibitivos afastaram o grande público para outros centros de diversões mais atrativos e menos dispendiosos.
Na região amazonense, a produção cinematográfica inicia-se em 1907, por meio da
empresa Fontenelle & Cia que se instituirá, a partir de 1912, na maior proprietária de salas de
cinema de Manaus. A primeira sala de cinema surge ainda em 1907, conforme Costa:
A inauguração do Casino Julieta, a 21 de maio de 1907, introduziu mudanças importantes na exibição cinematográfica. Construído como teatro, desejado como café cantante,o Julieta acabou por transformar-se na primeira sala de projeção fixa da cidade, onde o cinema construiu seu ninho para não mais levantar vôo. (2006, p. 102)
Entre as variadas salas de cinemas que funcionaram na cidade de Manaus, podemos
citar o Cine Guarany, que segundo COSTA apud AGUIAR (2002, p.130):
O Cine Guarany fazia parte da vida cultural de Manaus, mas sua trajetória de vida artística foi de constantes mudanças. Outrora, fora batizado como Cassino Julieta em 21 de maio de 1907, momento em que a cidade de Manaus vivia as loucuras e excessos da Belle Époque do Ciclo da Borracha e quando a elite extrativista fazia sua festa (COSTA, 1983, p.5)
24
Em 1908, o Salão Amazonas foi inaugurado como uma nova sala de cinema de
qualidade reconhecida, sendo fechado sete meses depois. Novas casas de diversões surgem
em meio a crise gomífera fazendo concorrência com os cinemas. Em 1909 surgem o Recreio
Amazonense, o Cinema Avenida e o Teatro Alhambra sendo que o último funcionou de
dezembro de 1909 à metade de 1913, exibindo filmes brasileiros e amazonenses,
posteriormente iniciou soirées infantis das 7 às 8 da noite.
Apareceram em 1912 o Cinema Rio Branco, o Polytheama, o
Cinema Olympia e o Cinema Rio Negro. Surge o Odeon em 1913,
glamoroso, cheio de ostentação, mostrando o ambiente do cinema como
um fantástico mundo de sonhos. Dos cinemas inaugurados somente o
Cine Guarany, o Polytheama e o Odeon conseguiram funcionar por mais
tempo, chegaram à década de 70, gerenciados pela Empresa Fontenelle &
Cia. Na década de 20, além dos cinemas Alcazar (Guarany), Polytheama e
Odeon - surgiram outras salas com presença marcante por longos anos, o
Cine-Teatro Manaus, o Cine Popular e o Cine Glória, e no final de 1921,
surge o primeiro cineclube, o Cine-Teatro Manaus, criação dos padres
salesianos no Colégio Dom Bosco, fechando as portas nos anos 40. Em
1926, foi inaugurado no Alto de Nazaré, o Cinema Popular, que foi o
primeiro cinema fora do centro da cidade chegando aos anos 70, mudou
de nome, passando a se chamar Cine-Pop, exibindo filmes em 16 mm. Em
1928, nova sala na periferia da cidade é criada, o Cine Glória, no bairro do
mesmo nome. Tem projeção nos anos 50, quando exibe também filmes
em 16 mm. Outros cinemas ainda foram inaugurados na cidade de
Manaus, mostrando o apreço da população pela sétima arte.
25
No cenário da produção cinematográfica surge Silvino Santos, jovem que saiu de
Portugal com apenas catorze anos de idade, e chega a Belém-Pará em 1899, se deslocando a
Manaus em 1910 onde se estabelece, passando a trabalhar com a fotografia, pré-requisito para
o conhecimento cinematográfico.
Desperta seu interesse pela sétima arte por meio de uma situação peculiar: um dos
maiores acionistas da empresa Peruvian Amazon Rubber Company, o empresário J. C. Arana
sofre a acusação de causar massacres contra povos nativos da região. Sendo processado pelas
cortes de justiça de Londres, J. C Arana necessitava mostrar a sua versão da história ou seja,
a sua “verdade”. Assim, o empresário encontrou no cinema o meio para a construção e
exibição da sua verdade, montando um filme que mostraria a realidade da região, favorecendo
a divulgação do s pensamento e, para isso, contou com a ajuda de Silvino Santos que precisou
se deslocar até a Europa, mais precisamente a Paris, para aprender a manusear as máquinas de
cinema. Desse modo, Silvino Santos realizou um processo de aprendizagem nos estúdios da
empresa Pathé-Frères e nos laboratórios dos irmãos Lois e Auguste Lumière para assim
realizar e exibir, em 1913, o documentário sobre a empresa Peruvian Amazon Rubber
Company no Putumayo, defendendo as idéias e intenções do empresário J.C. Arana.
Assim, Silvino Santos, tornou-se documentarista e realizou centenas de pequenos
filmes. Seu trabalho principal foi No paiz das amazonas (1922), designado a divulgar o
Estado amazonense durante as festividades comemorativas do centenário da Independência,
no Rio de Janeiro, sendo assim, reconhecido e premiado com a Medalha de Ouro daquele
evento. Depois de toda uma vida dedicada ao cinema no Amazonas, Silvino Santos que
também trabalhava a longos anos para o empresário J. G. Araújo, falece em Manaus, em maio
de 1970, deixando doze documentários produzidos na primeira produtora de cinema local, a
Amazônia Cine Films (1918-1920), dez curtas e três longas com exibição nacional e
internacional. Silvino Santos, pioneiro do cinema na Amazônia, foi sócio de Joaquim
26
Gonçalves de Araújo. Produziu ainda três dezenas de filmes “domésticos”, registrando a vida
do empresário J. G. Araújo em Portugal e no Amazonas.
Silvino Santos viveu, muitos anos no anonimato devido ao declínio da era gomífera
e, conseqüentemente, dos negócios de seu patrão. No entanto,na década de 1960,
precisamente em 1969, por ocasião de I Festival Norte de Cinema Brasileiro, realizado em
Manaus Silvino é redescoberto.
Em meio ao período do regime militar, O I Festival Norte de Cinema Brasileiro
resultava de forte agitação cultural iniciada com a década de 1960, distinguida por intensas
discussões nos campos da política e das artes. A agitação cultural brotava do cineclubismo,
como resistência cultural ao regime, onde os grandes diretores eram revelados e objeto de
polêmicas, suscitando novos candidatos a cineastas. Tão logo, a poucos dias de Manaus,
estava Parintins, exibindo filmes que mostravam características de outras culturas, pois o
trabalho cinematográfico amazonense estava ainda em desenvolvimento.
Com relação às produções cinematográficas, surgem em Manaus, Carniça do
cineasta Normandy Litaif, premiado durante o I Festival de Cinema Amador do Amazonas
(1966), Harmonia dos contrastes de Ivens Lima, que rivalizou com Claustro escuro, o
trabalho de Litaif, e Almir Pereira, em 1966, em 16 mm, e que nunca mais fizeram uso da
câmera. Os jovens cineclubistas Felipe Lindoso, Roberto Kahané, Raimundo Feitosa, Aldísio
Filgueiras, Djalma Batista e Domingos Demasi, do Grupo de Estudos Cinematográficos
começaram a pontificar nos dois festivais de cinema. Desse modo, o cineclubismo estimulou
também a produção de Cinéfilo (1966-1968), uma revista de cinema do crítico José Gaspar.
O romance A selva, de Ferreira de Castro, foi adaptado para o cinema em 1972 por
Márcio Souza, um dos teóricos do “Cinema amazônico”. Sob liderança do cinéfilo10 Joaquim
Marinho havia um grande projeto que visava a criação de um pólo de cinema em Manaus, em
10 Amante do cinema, que nutre uma grande paixão pela sétima arte
27
meio aos primeiros anos de estabelecimento da Zona Franca, que recebia bastantes
investimentos para desenvolver a indústria, logo assim, Joaquim Marinho objetivava atrai
financiamentos para a indústria cinematográfica amazonense. No entanto, o projeto cultural
não teve continuidade, fazendo o sonho ficar quase inerte.
Por volta de 1970 a 1990, a produção fílmica ficcional e de alguns documentários
recebem a colaboração do Estado, que financia e dá logística aos filmes da região. Nesse meio
de trabalho conjunto entre governo e produtores, surgem, por exemplo, os longas-metragens11
Ajuricaba, o rebelde da Amazônia (1976), do carioca Osvaldo Caldeira, e o premiado Mater
dolorosa (1980) do amazonense Roberto Evangelista.
Em 1987, o governo promoveu também o Primeiro Festival Internacional de Cinema
Amazônico e, em 2001, criou a Amazon Film Comission, que produziu frutos como Tainá I e
II. Em 2004, realizou o Amazonas Film Festival – Filme de Aventura. O Estado do
Amazonas, como também a região amazônica foram utilizados inicialmente como cenário
para o cinema documentalista com produções destinadas a propaganda favorecendo o turismo.
Muitos produtores buscam na Amazônia suas mais belas e exóticas paisagens para servir de
cenário a produções fictícias que criam mundos com criaturas dotadas de exageros na visão
dos diretores, principalmente estrangeiros. Considera-se a Amazônia, em particular, as áreas
do Estado do Amazonas como lugares propícios para o desenvolvimento de grandes
produções cinematográficas. Recentemente, o filme Avatar de James Cameron exibiu
imagens amazônicas e isso rendeu muitos olhares a região.
CAPÍTULO II
MEMÓRIA, HISTÓRIA E ORALIDADE
2.1 História Oral e a Memória
11 Filme de longa duração
28
Neste capítulo, temos como técnica de pesquisa a História Oral que vem dar
complemento a historiografia, revelando os pormenores e dando evidência ao estudo dos
marginalizados da história, pois,
“Que é, então, a história oral ? É um procedimento válido de investigação no trabalho do historiador e, num sentido secundário, das formas de historiografia criada por esta investigação. [...] A história oral são as memórias e recordações de gente viva sobre s, passado.” (SITTON,1989:12)
E, mesmo considerando a técnica da Historia Oral, esta monografia está alicerçada
com fontes bibliográficas da oralidade. Mediante o trabalho de pesquisa que visa a busca do
conhecimento sobre os cinemas Cine Saul e Cine Oriental, recorremos aos registros que
existem sobre tal temática, no entanto, ocasionalmente nos deparamos com a ausência de
documentos a respeito do cinema em Parintins que respondam as questões pertinentes em
nosso meio. Os documentos escritos são necessários para analisar uma investigação, porém,
nem todas as vezes os encontramos disponíveis ao nosso alcance, e o historiador é instigado a
buscar novos meios para construir sua pesquisa. Abordando essa questão, o historiador
Lucien Febvre apud Le Goff (1949, p. 428), um dos fundadores da Escola dos Anales afirma
que:
A história fez-se, sem dúvida, com documentos escritos. Quando há. Mas pode e deve fazer-se sem documentos escritos, se não existirem... Faz-se com tudo o que a engenhosidade do historiador permite utilizar para fabricar o seu mel, quando faltam as flores habituais: com palavras, sinais, paisagens e telhas; com formas de campo e com más ervas; com eclipses da lua e arreios; com peritagens de pedras, feitas por geólogos e análises de espadas de metal, feitas por químicos. Em suma, com tudo o que, sendo próprio do homem, dele depende, lhe serve, o exprime, torna significante a sua presença, atividade, gostos e maneiras de ser.
Na ausência de fontes escritas, o historiador deve procurar em tudo que puder extrair
respostas, o que quer que represente a ação humana, como por exemplo, relatos pessoais,
cartas, utensílios que possam dar informações. A história vivida nos traz inúmeras
informações sobre o homem, e não se deve restringir apenas a fontes escritas como se estas
29
fossem as únicas, mas que o homem é a maior fonte de informações para a História, através
da sua própria vivência. A história de vida do homem mantém uma ligação mútua com o
conhecimento científico, e o historiador deve trabalhar para o aprimoramento da ciência
histórica, edificando-a com vários direcionamentos críticos, contribuindo para a realização de
uma verdadeira “Nova História”.
Pelo exposto, observa-se que a história de vida do homem, ainda não escrita, pode
nos fornecer ricas informações através da sua memória, que armazena conhecimentos
importantes para o universo histórico. As informações presentes na memória de cada
individuo só pode ser conhecida e compartilhada através de relatos orais.
Para o sucesso deste trabalho, a História Oral se tornou indispensável, sendo que,
poucos registros escritos abordam sobre os cinemas que funcionaram na cidade, e a carência
do conhecimento sobre tais lugares pôde ser diminuída graças à memória pessoal e coletiva de
pessoas que conheceram o espaço e os conteúdos existentes nos cinemas que funcionavam
entre as décadas de 1960 aos anos de 1980. Deste modo,
a história oral é uma história construída em torno de pessoas. Ela lança a vida para dentro da própria história e isso alarga seu campo de ação. [...] Traz a história para dentro da comunidade e extrai a história de dentro da comunidade. Ajuda os menos privilegiados, e especialmente os idosos, a conquistar dignidade e autoconfiança. Propicia o contato – e, pois, a compreensão – entre classes sociais e entre gerações. E para cada um dos historiadores e outros que partilhem das mesmas intenções, ela pode dar um sentimento de pertencer a determinado lugar e a determinada época. Em suma, contribui para formar seres humanos mais completos. Paralelamente, a história oral propõe um desafio aos mitos consagrados da história, ao juízo autoritário inerente a sua tradição. E oferece os meios para uma transformação radical no sentido social da história. (THOMPSON,1992, p.44)
Vemos, através das ponderações de Thompson que a História Oral permite dar voz
aos marginalizados pela história, que muitas vezes foram negligenciados pelos documentos
oficiais, como os idosos, as lavadeiras, prostitutas, negros, etc, que, segundo a historiografia
30
oficial, não teriam muito a contribuir para o entendimento do processo histórico. Assim, esses
homens e mulheres através de seus relatos orais contribuem para que se conheça o outro lado
da história até então desconhecido. E o pesquisador oral deve está atento aos seus relatos,
manter uma relação de respeito e confiança, para que mais tarde ao transcrever sua entrevista,
ele possa confrontar com o que foi dito pela fonte, ou fazer perguntas sobre o que não ficaram
satisfatórias. Deste modo, ele poderá confrontar-se com situações que não esperava e perceber
que houveram contradições históricas, ocorrendo muitas vezes na mudanças de perspectiva da
pesquisa.
Assim, a metodologia adotada como planejamento de todo o estudo utilizou todos os
procedimentos necessários propostos pela História Oral definida por José Carlos Sebe Bom
Meihy, que nos demonstra que:
Em vista deste conjunto de procedimentos, pode-se aventurar uma definição de História Oral como um conjunto de procedimentos que vão desde o planejamento do projeto, a definição da colônia [“um grupo amplo que tenha uma ‘comunidade de destino’], a eleição das redes [subdivisões significativas da “colônia”], o estabelecimento de uma pergunta de corte [um dilema comum, importante e explicativo da experiência coletiva, um recurso básico de unidade dos depoimentos, questão que deve estar presente em todas as entrevistas], a elaboração das entrevistas, a feitura dos textos e a devida guarda, a conferência e a devolução do documento à comunidade que o gerou. No caso de caber análises [...] dependerão do término da fase anterior. (1996, p 54)
Após a pesquisa bibliográfica para teorização do tema escolhido, foi elaborado um
roteiro com perguntas sobre alguns temas e questões ligadas aos cinemas Cine Saul e Cine
Oriental. As perguntas do roteiro visaram nortear a Colônia, ou seja, o grupo de pessoas,
moradores da cidade de Parintins, que poderiam nos fornecer informações sobre a temática
através de relatos rememorados de sua vivência nos anos de 1960 a 1980. Os roteiros também
direcionaram conversas informais que antecederam os depoimentos orais de 4 (quatro)
pessoas com certo grau de conhecimento e experiências a respeito do cinema que
31
concordaram através da assinatura da Carta de Cessão ceder seus depoimentos, marcando as
datas e lugares convenientes para a realização das entrevistas, que foram desempenhadas e
priorizaram a liberdade para o depoente expor suas memórias e concepções.
No processo de coleta de depoimentos orais, utilizou-se um gravador marca Sony-
Ericsson e uma máquina fotográfica digital juntamente com o roteiro de perguntas. Posterior a
efetivação das entrevistas, a transcrição literal e a textualização dos depoimentos orais foram
necessárias para análise das informações de acordo com os objetivos do projeto e para
averiguar a comprovação ou não das hipóteses levantadas.
Com a coleta de depoimentos orais, buscaram-se as lembranças de maior significado
ao entrevistado também de acordo com os objetivos almejados O rememorar apresentou
algumas confusões de lembranças, um começo de divagação. No entanto, ainda que o
rememorar do período de interesse do estudo tenha tido obscuridades (presente e passado se
misturam), pôde-se ter os dados necessários para o desenvolvimento da monografia.
A base em relatos orais tornou possível a visualização de caracteres do período
década de 1960 a 1980 e perceber que significativas mudanças ocorreram no âmbito da
sociedade parintinense. Os relatos orais nos demonstraram lembranças de uma época em que
Parintins tinha outro contexto e ainda as transformações nos diversos âmbitos da cidade que
não pode deixar de ser notada. Deste modo, a memória tornou-se fundamental para o
conhecimento sobre os cinemas parintinenses, pois,
A memória fornece o suporte necessário para que os aspectos multiformes da realidade possam ser percebidos pelos sujeitos que compõem uma formação social, como um conjunto de informações, conhecimentos e experiências logicamente articulados. (RIBEIRO, 1999, p. 43)
32
Sem as memórias dos moradores, a trajetória do cinema cairia no esquecimento. Não
podemos compreender o presente sem nos reportamos ao passado, a memória nos propicia
essa viagem para a compreensão das mudanças ocorridas
Portanto, a temática Memória vem a contribuir vertiginosamente para a compreensão
da história dos cinemas Cine Saul e Cine Oriental, pois conforme Le Goff: “A memória é um
elemento essencial do que se costuma chamar identidade, individual ou coletiva, cuja busca é
uma das atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje, na febre e na
angústia” (1990, p. 477).
Os estudos sobre memória são bases de grandes discussões nos campos das ciências. A
preocupação em preservar a recordação têm cada vez mais força e, com a investigação da
temática através da oralidade tem-se em vista relacionar a memória com a constituição das
identidades, ligando o passado e o presente e a suas formas de relações, o processo de
formação das memórias sociais na cidade. As lembranças contribuem para que grupos sociais
possam expor e re-expor suas histórias, transformar ou até mesmo solidificar ações devido ao
seu claro movimento, criando uma reciprocidade entre entrevistador e entrevistado, e
registrando os frutos deixados pelos cinemas.
Alguns autores preocupam-se com a perda de informações que só se encontram
presentes na memória, como por exemplo, Marcia D’Alessio que afirma que: “os estudos de
memória respondem a uma necessidade de busca de identidades ameaçadas”. A salvação da
memória então consistiria em registrar todo tipo de recordação, lembrança existente na
sociedade partindo das recordações pessoais para as da totalidade (D’ALESSIO, l995, p. 1)12.
E, nesta abordagem sobre memória, notamos um conjunto de questões que a temática
proporciona, entre as quais as suas próprias definições. Tomando base nas teorizações de
estudiosos do assunto verificamos a abrangência da memória no campo da ciência, sendo que
12 D’ALESSIO, Marcia. Estudos de memória e transformações na historiografia. Trabalho apresentado no Seminário Nacional de História/ANPUH. Recife, l995.
33
a memória abrange campos da ciência histórica, psicológica, antropológica, sociológica, entre
outras áreas do conhecimento.
Maurice Halbwachs (1990), ao fazer considerações acerca da memória, coloca em
estudo as recordações pessoais e do grupo social, denominadas por ele como memória
individual (autobiográfica) e memória coletiva (histórica). Aparentemente distintas, as
memórias individual e coletiva se relacionam sendo que memória individual remete as
lembranças pessoais, frutos das experiências de vida individual enquanto a memória coletiva
coloca essas experiências individuais dentro de um grupo onde no senti de contribuir para a
manutenção da memória conforme a necessidade do grupo. Ou seja, a memória coletiva é
constituída pelas memórias individuais e a memória do indivíduo depende de sua relação com
a sociedade à sua volta. Assim, ambas as memórias se complementam.
No retorno ao seu próprio passado, o indivíduo, volta e meia, necessita ter base nas
lembranças alheias, recordações estabelecidas pelo grupo social, como se fizesse um
“empréstimo” de lembranças coletivas. Desse modo, o indivíduo passa a fazer parte do grupo
que também necessita de suas recordações pessoais mesclando as lembranças consideradas
nacionais, como por exemplo, memórias registradas em jornais ou testemunhos daqueles que
deles participaram diretamente. A memória individual apóia-se na memória coletiva, assim
sendo, nossa história pessoal faz parte da história em geral.
Outra questão a respeito da memória é a sua sociabilidade. Devido seu caráter de dar
voz aos excluídos, é através da memória social que se pode ter conhecimento das mudanças
ocorridas nas sociedades. Le Goff destaca, por exemplo, as tribos que não conheciam a escrita
e que era através da memória dos mais velhos puderam transmitir suas tradições pelos relatos
orais passados de pai para filhos. Caso não houvesse essa transmissão nós não teríamos
conhecimento de muitas culturas existente ao longo da história, daí sua importância histórica
e temporal já que consegue resistir ao tempo.
34
Existem também memórias propensas ao esquecimento, sobretudo as lembranças
ruins ao qual o indivíduo ou grupo decide esquecer. Muitas vezes, essas memórias não se
encontram tão disponível as pesquisas orais. Recordar fatos negativos traz muita dor aos que
lembram (como aconteceu com os judeus presos em campos de concentrações), sendo muito
difícil relembrar o que aconteceu, naquele período possibilitando assim um bloqueio em suas
memórias, ou mesmo um enfraquecimento da memória social. Porém, também existem os que
desejam narrar suas memórias para demonstrar suas situações difíceis e motivar a não
repetição do fato ocorrido.
A contemporaneidade também coloca em destaque as memórias digitais, e isso
coloca dificuldades na preservação das memórias individuais e coletivas, visto que, o avanço
da tecnologia ficou dificulta os ensinamentos ou tradições orais, sendo que a maioria dos
jovens passam boa parte do seu tempo em lan house, frente ao computador, gravam seus
compromisso em agendas eletrônicas entre outros recurso possuidores de memória virtual, o
que torna-se difícil o conhecimento do cotidiano através dos relatos orais.
Nisso, o termo memória nos transmite muitos direcionamentos, no entanto, ao
conhecermos sobre o cinema na cidade de Parintins, buscamos nas pessoas, ou melhor, na
sociedade, as memórias reveladoras do assunto.
2.2 A Relação Cinema & História
O cinema representa um marco na vida dos moradores da cidade de Parintins. Os
filmes projetados nas salas de exibição instigavam diferentes sentimentos e visões de mundo
aos expectadores. Sobre as variadas mensagens que um filme pode transmitir, abordaremos a
História nos domínios do cinema, como uma produção é vista, trabalhada e analisada pelos
historiadores.
35
Um dos requisitos básicos na investigação histórica é a criticidade. Por meio da
crítica é que historiadores analisam não apenas a aparência, mas a essência do objeto de
estudo. O filme transmite a história segundo a visão do diretor que o arquiteta, como se esta
idéias fosse a sua “verdade”. Nisso, historiadores freqüentam as salas de cinema, apreciam as
produções e também vivenciam a realidade transmitida pelo filme. No entanto, por seu
conhecimento, são analíticos a estrutura do filme, e desse modo, dedicam-se a avaliar o teor
de um filme, e se este pode ou não ser considerado fonte histórica.
A esse respeito, a discussão que deu enfoque a questão da fonte histórica, surge nas
décadas de 1960 e 1970 onde se deu destaque a importância da diversificação das fontes a
serem utilizadas na pesquisa histórica. A "Nova História" identificou novos itens e métodos,
para a ampliação quantitativa e qualitativa dos domínios já tradicionais da história. A história
das mentalidades ganhou um impulso maior no âmbito da Nova História, enriquecendo o
estudo e a explicação das sociedades através das representações feitas pelos homens em
determinados momentos históricos. Foi essa mesma concepção que impulsionou um campo
ainda mais vasto de reflexão, o da história do imaginário. O termo documento teve mais
conteúdo e ampliação pela Nova História, e, sobretudo destacou a necessidade da crítica do
documento.
Segundo Jacques Le Goff, “há que tomar a palavra ‘documento’ no sentido mais
amplo, documento escrito, ilustrado, transmitido pelo som, a imagem ou de qualquer outra
maneira” (SAMARAN apud LE GOFF, 1990, p.540). Assim, pesquisa histórica consolidada
pela Nova História privilegia o cinema como fonte, apreendido em sua especificidade, e, à
incorporação dos problemas trazidos pela recente historiografia por aquele que se dedica à
análise estética.
O questionamento que permeia o relacionamento História e Cinema diz respeito ao
que a imagem reflete, ou seja, se a imagem transmite realidade ou representação. A esse
36
respeito, indaga-se o potencial manipulador de um filme, pois, no exercício da investigação
dos fatos e no ensino, o historiador se depara com a complexidade do objeto cinema, como
fonte, pois há a pré-concepção de que o filme, o cinema traz fantasia, ilusão, irrealidade ao
estudo da história.
A contribuição que o filme pode oferecer a história advém das diversas formas de
reprodução da sociedade, ou seja, quando um filme retrata um fato, costumes e características
de determinada sociedade ou época, estes ficam registrados e a história pode analisar se
correspondem adequadamente a realidade, não esquecendo que a idéia de “verdade” é
subjetiva. No entanto, se não identificarmos, por meio da análise dos filmes, o discurso que a
obra cinematográfica levanta sobre o meio social a qual está inserido, apontando para seus
equívocos, improbabilidades e conflitos, o cinema perde a sua efetiva dimensão de fonte
histórica.
Através da avaliação do cinema por meio da História, vemos a significância da
sétima arte para a sociedade mostrando a importância das produções fílmicas como
recuperação de características e visões de mundo das sociedades e também como reprodução
da realidade tendo base na ficção e seu relacionamento com o documental, pois, é de suma
importância para a compreensão do processo histórico e como este é entendido e reproduzido
nos roteiros fílmicos, se a realidade dos fatos é manipulada ou apresentada adequadamente,
para assim o filme ser utilizado como fonte.
Deste modo, o filme passa a adquirir um estatuto de fonte preciosa para a História a
fim de se ter a compreensão dos comportamentos, das concepções de mundo, identidades,
ideologias, e dos valores de uma sociedade ou de um momento histórico.
2.3 Imaginário e o Cinema
37
O cinema influencia no modo vivendis da sociedade, transmite através dos filmes
representações de sociedades, nações, localidades, etc. Entretanto, após a abordagem da
história do cinema situamos a história dentro do universo do cinema, para assim
compreendermos a função do cinema na trajetória de vida dos moradores da cidade de
Parintins.
A indústria cinematográfica fabrica produções fílmicas que retratam vários
segmentos e temáticas relativos à existência, concepções, conhecimentos, práticas, crenças
entre outros componentes ligados a vida humana. O filme é a imagem em movimento, e essas
imagens refletem a visão de quem produz a obra fílmica como também acarreta influências no
expectador que assiste. A respeito da imagem, Durand (1999) apud Aumont (2000) afirma
que:
A imagem é sempre modelada por estruturas profundas, ligadas ao exercício de uma linguagem, assim como à vinculação a uma organização simbólica (a uma cultura, a uma sociedade); mas a imagem é também um meio de comunicação e de representação do mundo, que tem s, lugar em todas as sociedades humanas.(1999, p. 131)
Assim, a imagem é criada constantemente no imaginário individual ou coletivo e
reportada ao filme que mostra representações, que “[...] tem como objeto principal identificar
a forma como em diferentes lugares e momentos uma realidade social é construída, pensada,
dada a ler”. (CHARTIER, 1990, p. 40)
Refletindo o cinema, sua trajetória oficialmente iniciada no final do século XIX, nos
deparamos com muitas questões, começando pela primeira impressão que a exibição
transmite. Imagina-se a primeira sessão pública executada pelos irmãos Louis e Auguste
Lumière; a pessoa que se assenta na cadeira ou poltrona da sala de exibição; apagam-se as
luzes, e no escuro surge a luz do telão branco onde as imagens começam a “ganhar vida”, e os
38
olhos do expectador captam as figuras em s, subconsciente onde variadas representações se
misturam a percepções, e nas imagens do filme, como por exemplo, um trem fazendo sua rota
pelos trilhos, o expectador se reporta ao cenário visualizado, sentindo o aconchego da
poltrona do veículo fazendo assim, o processo de integração do cenário. O filme termina, e o
expectador volta ao cenário inicial, a sua realidade concreta. Nessa breve fantasia, vemos que
o filme nos introduz ao seu contexto, fazendo o conjunto de imagens se tornarem por
determinado tempo de duração a realidade. Deste modo,
O cinema, não oferecendo nenhuma presença real, é constituído de representantes, de significantes imaginários, no duplo sentido – usual e técnico – da palavra: ‘o cinema faz com que a percepção surja maciçamente, mas para logo deixá-la cair em sua própria ausência, que é, entretanto, o único significante presente’ ”(METZ, 1977, apud AUMONT, 2000, p. 119).
O cinema nos leva a reflexão. Não apenas a análise de suas idéias, mas também a sua
forma de “refletir”. Há o retorno da imagem, como Narciso vendo seu semblante refletido nas
águas, o homem tendo um espelho. Porém, nesse espelho, é visualizada a imagem que cada
um gostaria de ver refletida, o imaginário infinito e variável em cada um. E esse espelho vem
a ser o cinema.
A exibição de um filme causa um frenesi, excitação diante da situação exibida na
tela. Muitas vezes no coloca no lugar da personagem. Conforme a temática do filme, o
expectador, muitas vezes, se apropria de características da personagem, o ator ou a atriz
passam ser modelo para quem assiste. Das grandes produções fílmicas, Hollywood constrói s,
glamour tendo base nos grandes astros do cinema, homens e mulheres que através de
personagens, inspiram tendências, moda, comportamentos entre outras influências. De acordo
com Morin13:
13 Ver MORIN, Edgar. As estrelas: mito e sedução no cinema. Rio de Janeiro: José Olympio, p. 8-9 e p.50.
39
Ao apogeu na tela, corresponde o apogeu, da vida mitico-real das estrelas de Hollywood. Sublimes, excêntricas [...] vivem muito longe, muito acima dos mortais. [...] São mais do que objetos de admiração. São [...] motivo de culto. ( s.d ,p.8-9)
Desse modo, os astros de Hollywood são divinizados, admirados pelos apreciadores
do cinema, pois, como o próprio autor evidencia, Hollywood é o cenário maravilhoso onde a
vida mítica é real e a vida real, mítica [...] um Shangri-lá californiano, onde corre o elixir da
imortalidade (MORIN, s.d, p.50). Entendemos assim que os profissionais que encenam os
grandes roteiros ficam marcados, imortalizados pelas personagens que desempenham. Os
desejos de uma pessoa podem encontrar na personagem de cinema um reflexo do seu próprio
“eu”, sendo que o expectador se identifica com o ator que desempenha o papel no filme.
A imaginação flui dentro do universo do cinema. A experiência do filme desenvolve
um estado de êxtase, isso é devido a busca de uma “saída de si”, libertação da rotina, o tempo
livre dedicado ao cinema favorece uma construção de realidade diferente da vivenciada pelo
apreciador do cinema. O término de uma sessão significa a volta a vida rotineira, e o êxtase do
filme contribui para amenizar a angústia causada pelo cotidiano. Essa consciência de saber o
que é real e o que pode se tornar real caracteriza a influência do imaginário na vida do
expectador.
O filme é apreendido como criador e arquivo da memória, pois, muitas reproduções
designam características e experiências coletivas e individuais transformadas em imagens e
sons, abordando caracteres do imaginário da sociedade que o vê e o determina, e quando se
fala em filme, não se reserva apenas ao longa-metragem ficcional, mas também ao
documentário entre outras filmagens.
No entanto, o filme corre o risco de tentar explicar tudo, de dar ao espectador a
imagem já digerida, facilmente entendida, sem a liberdade de interpretação, convencendo de
40
que o mundo é de tal maneira como é foi apontado e narrado no filme, sua versão é definitiva
não há lugar para a dúvida, para o inacabado.
41
CAPÍTULO III
“OS CINEMAS E SUAS EXIBIÇÕES PRESERVADAS NA MEMÓRIA
PARINTINENSE”
3.1 Considerações gerais da pesquisa
Para a análise e discussão dos resultados da pesquisa a partir das peculiaridades de
Parintins, considerando que o método de abordagem é o dedutivo, chegamos enfim as
particularidades cinematográficas deste município. Daí, os procedimentos históricos,
principalmente a História do ponto de vista dos Analles, ou seja, a História vista de baixo,
considerando os anônimos da história, dando ênfase a narrativa de pessoas com a
oportunidade de apresentar sua biografia e assim desvendar os meandros e obscuridades
existentes na História.
O município de Parintins é constituído de vários atrativos com relação a sua cultura,
folclore, artes e religiosidade. Nas primeiras ruas da cidade nos deparamos com prédios,
igrejas antigas e residências que transpiram muitas histórias dos seus antigos moradores.
Reportamo-nos ao passado, e observamos um cenário parintinense dotado de
diferenças típicas, como por exemplo, mentalidades e linguagens dessemelhantes da atual
realidade. As práticas sociais também eram diferentes. Havia outras opções de lazer as quais
não encontramos no tempo presente. Em uma época peculiar, os parintinenses desfrutavam da
tranqüilidade do espaço ainda em processo de urbanização. Homens e mulheres faziam o
curso para o trabalho nos mercados, feiras, pequenas lojas entre outros ofícios que existiam no
período. Dentre as formas de sair do rotineiro trajeto e aproveitar os momentos para a
diversão individual ou coletiva estava o cinema. Conforme nos relata o senhor Raimundo José
da Silva Neto, 52 anos, contabilista, um dos depoentes colaboradores para a pesquisa:
42
Naquela época Parintins ainda era bem menos desenvolvida né, uma cidade ainda que a gente via que era Parintins ainda era bem pequena e os divertimentos na época eram realmente os cinemas. Os cinemas que existiam os cinemas como o Cine Oriental mesmo né,e o Cine Moderno na época, depois o Cine Saul, são os dois cinemas realmente que divertiam a população parintinense, e era o que tinha de divertimento na época era esses dois cinemas, que, mais o pessoal se divertiam na época não muita né não tinha tanto divertimento, então o pessoal dava mais valor no cinema da época a gente ia muito ao cinema, eu pelo menos gostava muito do cinema.
A história do cinema em Parintins é tem um início bastante antigo, pouco conhecido
pela população parintinense. Segundo Edda Meirelles da Silva (2008, p.161), “várias pessoas
tentaram entrar nesse ramo, todavia, Antônio Sérgio da Silva que instalou seus equipamentos
cinematográficos, [...] foi o pioneiro da sétima arte em Parintins. A época era de cinema
mudo”. Não se sabe a datação do início das exibições cinematográficas em Parintins, no
entanto SILVA (2008, p. 161-162) ainda contribui apresentando informações sobre a
trajetória dos cinemas em Parintins, conforme:
Jonas Teixeira, em sociedade com o telegrafista Gerson abriu outra casa de projeção. Dessa vez, o prédio passou a funcionar num prédio conhecido como casa dos Serrulha. Os técnicos não sabiam trabalha muito bem com os projetores e, de vez em quando, as imagens surgiam na tela de cabeça para baixo[...] No final das contas compreendíamos todos os enredos, tornando-nos freqüentadores assíduos e amantes do cinema. Depois a jovem Elza Portal e Silva, em 1948, entrou no ramo, mas a essa altura já era cinema falado. O prédio onde passavam as películas pertencia a Pichita Cohen, um local muito freqüentado pela população.Mais tarde, o Sr. Henrique Melo inaugurou uma sala grande, localizada próxima à praça da Prefeitura, num prédio de sua propriedade. Era um cinema muito concorrido, os melhores filmes da época passavam lá. Não sabemos a razão de o mesmo ter acabado, uma vez que o público sempre prestigiou. Finalmente, um grupo de empresários, composto pelos Srs. Elias Assayag, hebraico, Dantona, italiano e Emílio Silva, português, em sociedade, construíram um prédio num terreno bem localizado, na esquina da rua da Silva Meirelles com a João Melo. Uma obra soberba, orgulho dos parintinenses [...]Gentil Belém, [...]sugeria que o nome fosse “Cine Babel”, em razão de o grupo ser constituído de pessoas de várias raças, mas ficou “Cine Teatro Brasil”.
Assim surgia o Cine Brasil, cinema idealizado por três homens mas que
proporcionava alegria a população parintinense, exibindo grandes clássicos do cinema
mundial como E o vento levou e Casablanca. São notórios os efeitos causados pelo contato
com as salas de exibição. A empolgação com os filmes dos anos dourados brasileiros, o
43
sucesso das estrelas de cinema internacionais, a diversão com os filmes da chanchada, por
meio de personagens marcantes como Oscarito. Assim, muitos parintinenses prestigiavam os
filmes exibidos pelo Cine Teatro Brasil.
Entre as décadas de 1960 e 1980, os parintinenses prestigiaram a sétima arte através
de prédios com características peculiares. Em algumas fontes bibliográficas de autoria
parintinense, soube-se que nesse período havia dois cinemas em funcionamento: Cine Saul e
Cine Oriental. Ao indagarmos sobre qual desses cinemas funcionava a mais tempo e o senhor
Raimundo José da Silva Neto que freqüentava nos anos da década de 1970 nos informa que:
O cine Saul [...] acho que sim, ele era, Cine Saul por que antes era o Cine Moderno, na época, Cine Moderno não,Cine era o Cine [...] como é o nome, se , não me engano,[...] não era Cine Moderno, era Cine Brasileiro,uma coisa assim, [...] Cine Brasil. Acho que pra mim foi um dos primeiros que Parintins possuiu,na época como cinema né, por certo tempo eu gostava mais do Cine Oriental.
O relato do senhor Raimundo Silva demonstra o Cine Saul como um o antigo Cine
Teatro Brasil, o que é confirmado por Silva (2008, p. 163) ao revelar que outro empresário
procurou investir no cinema, fazendo funcionar no mesmo prédio do Cine Brasil um outro
cinema:o “Saul”, nome este em referencia ao seu novo dono o empresário José Saul.
Posteriormente passou a funcionar o Cine Oriental em outro ponto da cidade.
O Cine Saul é detalhado pelo depoente que evidencia até sua localização “ali na João
Melo, [...] esquina com a João Melo e a Faria Neto, onde é hoje [...]é o Show dos calçados”,
fazendo uma ligação o passado e presente mostrando que no mesmo local onde hoje é um
comércio, já abrigou um lugar de grande importância para ele, a qual só restou as lembranças.
O lugar representa o interesse do depoente, mesmo que hoje tenha outra estrutura, o espaço
44
sempre vai representar o Cine Saul. A respeito da relação passado/presente, Le Goff14 afirma
que:
Toda a história é bem contemporânea, na medida em que o passado é apreendido no presente e responde, portanto, aos seus interesses, o que não é só inevitável, como legítimo. Pois que a história é duração, o passado é ao mesmo tempo passado e presente. (1992 p. 51).
O senhor Raimundo Silva também busca em suas recordações o período em que
freqüentava o Cine Saul, período em que vivia a fase de transição entre a infância e a
adolescência, relembra a imagem do Cine Saul, pois, este cinema além de ser caracterizado
por sua estrutura física bela; suas sessões diárias também marcaram momentos importantes,
emoções individuais e coletivas de quem freqüentou seu espaço, como o próprio colaborador
em questão, que nos relata com tristeza, a demolição do prédio:
[...] o prédio, o cine Saul mesmo que era, eles demoliram, foi demolido [...] como ele era na época né,hoje já ta tudo diferente, demoliram. Quem conheceu, na época, hoje olha pra lá só lembrança, só lembrança, do prédio que era, era um prédio estilo naquele estilo bem antigo né, e hoje se vê uma coisa que muito diferente, quem lembra hoje já passa por lá diz que nunca existiu o Cine Saul pra estrutura que tinha era assim.
Com esta narração percebe-se que é difícil a crença de ter existido um cinema no
ponto em que já funcionou o Cine Teatro Brasil e que posteriormente se tornou o Cine Saul.
Como o próprio depoente retrata, ao olhar para o prédio atual, quem não tem conhecimento da
existência do cinema nessa área nem imagina a ocorrência desse fato. Esta descrença se firma
pela estrutura que o prédio possuía, conforme o depoente evidencia:
Era diferente, era bem diferente, ele tinha uns pilares [...] tipo aqueles prédios romanos, muito bonitos os pilares e aquilo ali foi demolido, e ficou, eu acho, não sei muitas pessoas na época foram contra a demolição daquele prédio ali deveria
14 LE GOFF, Jacques. História e Memória. Tradução Bernardo Leitão, et all. 2° Ed. Campinas: UNICAMP, 1992.
45
ser um marco histórico pra Parintins, e eles demoliram aquilo ali e não se sabe qual foi a idéia que os donos tiveram, mais se até hoje existisse aquele prédio, pra mim seria uma fonte histórica pra Parintins,entendeu, aquele prédio, por que era muito bonito,era muito bonito o prédio, quem conheceu, sabe.
Esta exposição do entrevistado demonstra que o cinema, mesmo não funcionando na
atualidade, serviria de “fonte” para a história local, um lugar de memória não apenas
preservado na memória de cada pessoa, mas também no espaço urbano parintinense. Nesse
sentido, pode-se visualizar no relato do depoente que o cinema seria, para ele como também
para os demais, muito além do que um prédio de projeção fílmica, mas, sobretudo um
patrimônio, uma vez que,
O patrimônio é o resultado de uma dialética entre o homem e seu meio, entre a comunidade e seu território. Ele não é apenas constituído pelos objetos do passado oficialmente reconhecidos, mas também por tudo que liga o homem ao seu passado, ou seja, tudo que os seres humanos atribuem ao legado material e imaterial de sua nação.
Ao evidenciar que o Cine Saul poderia ser uma “fonte”, o senhor Raimundo
demonstra que caso o cinema funcionasse, ou mesmo, fosse conservado, este lugar poderia ser
um patrimônio, “marco” da história parintinense. Porém, os que vivenciaram a experiência
das salas de cinemas indagam a demolição do cine Saul. Conforme afirma SILVA (2008,
p.163):
[...] Um prédio majestoso que deveria ser tombado pela administração municipal, não foi preservado. Hoje quando visitamos a cidade, constatamos que não só o Cine-Teatro, mas outras obras que embelezaram Parintins não existem mais, tornando a cidade sem memória [...].
Outro cinema que funcionou em Parintins entre os anos de 1960 a 1980 foi o Cine
Oriental. A respeito do Cine Oriental, foi fundado no dia 26 de dezembro de 1964 pelo senhor
Alberto Kasunori Kimura, nipônico apaixonado por fotografias.
46
Localizado sito a rua Faria Neto, próximo a rua Senador Álvaro Maia, o Cine
Oriental inicialmente se resumia, a princípio, em um salão apenas. Posteriormente foi
ganhando investimentos em sua estrutura física, dando mais conforto e comodidade à
população que prestigiava os filmes.
A estrutura física do prédio compreendia a 10 metros de largura por 33 metros de
fundo, sendo espaço composto primeiramente por 150 cadeiras, depois o número aumentou
450 assentos. O Cine Oriental possuía inicialmente uma máquina de projeção de 16
milímetros, com o tempo, passou a ter outras máquinas devido sua ampliação, e assim projetar
com uma máquina de 35 milímetros movida a carvão15. (FILHO, 2007)
O público vivia dividido entre os dois cinemas.
3.2 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A temática “História e Memória: Os Cinemas em Parintins-Am entre a década de
1960 a 1980” teve algumas de suas hipóteses confirmadas. Na busca de conhecer a
importância da sétima arte na vida dos moradores parintinenses observamos variadas questões
sobre a permanência dos cinemas Cine Teatro Brasil, Cine Saul e Cine Oriental na memória
individual e coletiva, através das informações obtidas pelos relatos orais sobre o período em
que funcionaram os prédios cinematográficos.
As hipóteses levantadas sobre o funcionamento dos cinemas surgiram da necessidade
de conhecimento da relevância dos cinemas que favoreceram o fim deste entretenimento de
grande valor a memória, história e cultura local. Sobre as pressuposições baseadas em O
espaço do cinema representava a fuga do cotidiano; Parintins teria disposição de poucas
opções de entretenimento? A manutenção dos cinemas era dificultada pelo alto custo de seus
componentes?Entretenimento foi privatizado com a expansão da imagem televisiva?Outros
15 FILHO, Alberto Kimura.O Cinema em Parintins. Parintins, UEA, s/d, 2007. Os primeiros passos do Cine Oriental. Entrevista concedida a Maria de Jesus Muniz de Souza.p.27-28.
47
fatores teriam contribuído para a desativação de um local onde memórias tão significativas se
contribuíram?Como por exemplo, a aparição das locadoras de vídeos VHS; todas as questões
pertinentes ao conhecimento dos cinemas como locais de importância significativa a
população parintinense também instigou a investigação devido a conversas informais que
demonstraram informações sobre o funcionamento e decadência das salas de cinema de
Parintins, e as memórias, os momentos vivenciados nas salas de projeção preservam-se em
cada ex-frequentador.
Para se ter o conhecimento sobre os fatores que geraram a desativação dos cinemas
“Saul” e “Oriental” é imprescindível visualizar a representação desses cinemas aos
parintinenses que deles apreciaram.
Partindo do depoimento do senhor Raimundo Barbosa Batalha, 55 anos, antigo
freqüentador do Cine Oriental. O depoente nos relata suas idas ao cinema e sua relação
pessoal com o prédio:
A gente ia, mais a gente gostava mais de ir no Cine Oriental. Eu ia com a minha namorada que agora é minha esposa. Era um movimento muito bom, todo final de semana. funcionava todo dia. Só que eu assistia no final de semana, que era meu dia de folga, né.Sábado. (Raimundo Barbosa Batalha, 55 anos)
Devido o senhor Raimundo trabalhar em outros dias da semana, o cinema era
reservado ao dia de Sábado. O depoente relatou sua freqüência às sessões e como esta refletiu
em sua vida, uma vez que sua relação amorosa se construiu também no ambiente do cinema.
Nisso, o cinema ao mesmo tempo em que exibe várias histórias de diferentes filmes, também
contribui para que seus espectadores construam suas próprias histórias em seu ambiente.
Continuando sua colaboração, percebemos a emoção deste parintinense em relatar os
momentos vividos dentro do ambiente do cinema. Pois, o mesmo evidencia que “ficava
emocionado em viver aquele filme que assistia naquela época [...] era muito legal”. Mesmo
48
com a dificuldade de expressar os sentimentos e sensações que vivenciou no cinema, o senhor
Raimundo menciona o Cine Oriental com grande entusiasmo, recordando as técnicas usadas
pelo cinema para chamar a atenção do povo parintinense. A mais marcante memória que o
entrevistado relatou foi a respeito de uma das músicas utilizadas pelo cinema para a sua
“anunciação”, conforme nos informa o senhor Raimundo Batalha:
Quando tocava aquela musica a gente tava, a gente morava ali na Raimundo Almada né, Itaguatinga. Quando tocava aquela musica sempre dava uma emoção na gente, antes de, quando antes de começar o cinema né, tocava uma musica assim. Anunciando que já ia começar o filme. [...] chega tocava no coração da gente. [...] Era muito legal. Chama a atenção do povo. (Raimundo Barbosa Batalha, 55 anos)
As memórias do entrevistado também trazem suas preferências fílmicas. Os filmes
refletem muitas visões e deixam personagens marcantes e estilos são adotados como
preferência através da analise pessoal de cada filme e enredo. O senhor Raimundo nos relata
os filmes e personagens que estão marcados em sua memória:
Naquela época era o. Charles [...] Charplim. É, Charles Chaplin. Naquela época, era o Bang Bang. Preto em branco, naquela época, era naquela época era a nossa diversão. Charles Chaplin,né. Era tudo legendado. Era tudo legendado, mais era legal. (Raimundo Barbosa Batalha)
Assim, o senhor Raimundo Barbosa demonstra sua preferência pelo cinema mudo,
em imagem preta e branca, cujo ícone desse estilo fílmico é o humorista Charles Chaplin, que
encantou e encanta gerações que assistem seus filmes. O depoente ainda fala sobre a
paralisação das exibições com melancolia. Sobre o fim do cinema, o senhor Raimundo
Batalha pondera que “o dono faleceu e não tinha outra pessoa pra continuar [...] acabou
fechando [...] Triste”. Percebe-se que o funcionamento do cinema, para o depoente, estava
profundamente ligado a presença do dono, idealizador do Cine Oriental, como se a ausência
49
do mesmo não desse motivo para o cinema funcionar. O ex freqüentador, ele relembra como o
cinema atraía a população:
Contribuía pra cultura. [...] Corria naquela época corria muito dinheiro. O preço do ingresso [...] Eles faziam aquelas promoção. Colocavam os cartaz na frente. Pra chamar atenção da juventude, adolescente, naquela época, o pessoal gostava. De ingresso. Ai a vez era 100 cruzeiro naquela época, eles baixavam pra 50 cruzeiros naquela época, gostavam muito, e era muito divertido. (Raimundo Barbosa Batalha, 55 anos)
Com a realização de promoções no preço do ingresso, o cinema Oriental duplica seu
público o que leva a criação do Cine Oriental segundo, conhecido como “buraco quente”
devido seu espaço ser pequeno, e quando lotava, tornava o ambiente abafado.
Ex freqüentadora do Cine Oriental, a senhora Ilza de Azevedo Batalha, 52 anos, dona
de casa, revela suas memórias a respeito do cinema, afirmando que sente muita falta do Cine
Oriental, cinema a qual ela mais estimava, principalmente por que este cinema tocava sua
emoção através das músicas que alertavam a abertura do prédio para as sessões. Conforme
nos relata a entrevistada:
[...] eles colocavam uma música que até hoje quando o Parintins sai, eles colocam sabe, sei lá aquela musica me chamava a atenção, eu achava tão legal,tão.. não sei nem te explicar bem só sei que , gostava, bem a partir das 5 horas já começa a tocar a musica e aquilo me atraia sabe, me chamava atenção, eu gostava. Era no Cine Oriental que tocava essa música. (Ilza de Azevedo Batalha)
Logo, se percebe que, assim como o senhor Raimundo Barbosa, a senhora Ilza de
Azevedo encontra na música do Cine Oriental as emoções vivenciadas no cinema,
evidenciando como este local traz inúmeras recordações de seu funcionamento. A depoente
demonstrou grande insatisfação com o fechamento dos cinemas. A respeito da visão que ela
possuía sobre o cinema, a senhora Ilza coloca que o “cinema representava, uma diversão, por
que nesse tempo pelo menos a gente que trabalhava não tinha outra diversão, ia ao cinema
50
pelo menos pra se distrair”. Desse modo, a entrevista nos afirma que sua freqüente ida ao
cinema era em função de se divertir, sair da rotina, sendo que a mesma trabalhava e
necessitava de lazer.
Ao questionar se ela tinha algum conhecimento sobre o que poderia ter contribuído
para a desativação dos cinemas em Parintins, a senhora Ilza Batalha informa que na época as
pessoas comentavam sobre vários pontos de vista, ela própria tem suas concepções baseadas
nos acontecimentos do período, conforme menciona:
Olha acho que depois que começaram a chegar as televisões ai pronto o pessoal foram se afastando. [...]é, com certeza depois que começou a chegar a televisão, pronto o pessoal.[...] abandonaram o cinema né pra assitir só em casa a televisão. Acho que foi por isso que fechou tanto fazia um como o outro. Todos os dois fecharam, foi o tempo que os donos morreram né, [...]Não faz muito, muito tempo, que eles morreram não sei te dizer o ano, mas não faz muito muito tempo [...]Televisão, é a televisão depois DVD, pronto, então abandonaram não tinha como os donos sustentar né foi o jeito fechar.(Ilza de Azevedo Batalha)
Pode-se observar que a depoente afirma duas causas para o não funcionamento do
cinema: a televisão, como nova opção de entretenimento familiar; e o falecimento dos donos,
que seriam os maiores conhecedores das máquinas cinematográficas. A senhora Ilza de
Azevedo Batalha lembra-se das diversas sessões que participou como expectadora, e garante
que lá no Cine Oriental ficaram muitos momentos felizes de sua vida. Ainda contribuindo
com a confirmação das hipóteses, temos as considerações do senhor Raimundo José da Silva
Neto, 52 anos, que também fala dos dois cinemas:
Então os cinemas que existiam, que era o Cine Saul “Cine Moderno” e depois Cine Oriental [...] eles terminaram, porque até mesmo assim, , acho por que devido, depois com o desenvolvimento, veio a televisão entendeu,depois que apareceu, a televisão já foi caindo mais o cinema porque todos os filmes que passavam no cinema a televisão começou também a mostrar,então geralmente o pessoal já não ia mais pagar ou então sair de casa pra assistir no cinema,e isso foi, digamos assim, tornou-se mais difícil pro cinema, foi se acabando, se acabando e pra mim isso ai foi mais a televisão fez com que os cinemas fechassem as portas na época.
51
Muitos parintinenses optaram pelo entretenimento particular, reservando também do
pagamento da entrada (ingresso) do cinema. A televisão que entre a década de 1960 a 1980
teve proliferação pelo Brasil foi ganhando espaço nas famílias parintinenses, mesmo que, no
início da década de 60 ainda era raramente encontrada na sociedade parintinense, ela foi se
expandindo, até a década de 80 já havia muitas famílias com preferência pela imagem
televisiva. Nesse sentido, é que CÂMARA ( s/d, p.58 ) afirma que:
O surgimento de novas mídias nas últimas décadas também atingiu as salas de exibição [...] tratando as facilidades das novas tecnologias encontramos de forma ampliada à proliferação das salas particulares de cinema [...].
Deste modo, a televisão tornou-se a sala de cinema particular, ou seja, sem a
necessidade de sair do próprio ambiente familiar.
A depoente Helena Silva, também forneceu, memórias e valiosas informações sobre
um dos cinemas que funcionavam por volta de 1960 a 1980. Sendo sobrinha de Adelaide
Kimura, esposa do senhor Alberto Kasunori Kimura, dono do Cine Oriental, ela relata que por
motivos pessoais, veio a Parintins para morar com os tios, donos do cinema, e passou a
trabalhar na operação de máquinas cinematográficas. Sobre o funcionamento do Cine
Oriental, a depoente afirma que:
Eram dois. Cine Oriental primeiro e Cine Oriental segundo. Primeiro o Cine Oriental primeiro, depois é [...] Assim: porque tinha muita procura naquela época, pois o cinema tava no auge. Então era muitas pessoas, muita gente, então a minha tia, ela organizou outro que não era bem um cinema era uma fábrica, mais eles organizaram, uma fábrica de guaraná, hoje aquele terreno ele é do filho da minha tia, do Ademar (Helena Silva)
Conforme a senhora Helena, existia primeiramente 1 (um) Cine Oriental. Mas devido
a grande procura, a lotação do prédio, dona Adelaide mandou organizar outro Cine Oriental, o
segundo prédio, localizado na mesma rua, porém situado na esquina, que, segundo o relato da
depoente, era uma fábrica de guaraná pertencente a família. Nisso, constituiu-se dois Cinemas
52
Orientais: o Cine Oriental Primeiro e o Cine Oriental Segundo, o último satiricamente
denominado “buraco quente”, devido seu espaço ser menor e a sua constante lotação, o que
deixava o ambiente abafado.
Helena Silva narrou as características do Cine Oriental, das máquinas de projeção, e
como era a imagem transmitida no telão destinado a exibição dos filmes, a qual ela menciona
que:
A imagem ela era cinemascope, tinha uns filmes pelo cinemascope, que era aquelas telas maiores, e, mais a maioria era cinemascope mesmo.[...]colorido[...]por que antes era em preto e branco quando era aquelas fitas de 16 mm, depois que passou pra 33, 36 mm melhorou[...]é porque antes era 16 mm que era, era preto e branco mesmo, era menor a tela e sabe que com a evolução da tecnologia e tudo né aquelas coisas vão se modificando, e nos anos 70 houve uma mudança muito grande com relação ao cinema, então quando as fitas vinham elas já eram em 33, [...] era colorido, a tela bem maior, ficou muito diferente, melhor mesmo(Helena Silva)
Buscando a confirmação ou negação de umas das hipóteses levantadas pela
investigação, relativa à falta de profissionais capacitados em artes cinematográficas, ou seja, a
carência de pessoas com conhecimentos no manuseio das máquinas de projeção, a depoente
Helen Silva, a respeito do Cine Oriental, afirma que:
Olha faltava. Por que quando o cinema fechou, ele fechou duas vezes. Quando ele fechou foi na época que [...] prima casou primeiro, depois , casei, ai profissionais não tinha. Pra ele tornar a funcionar a minha tia teve que chamar minha prima. então era muito complicado, a gente casa, passa a ter a nossa família,e tudo, e lá o marido as vezes não quer, não deixa, mais mesmo assim a minha prima foi e voltou a funcionar, [...]. (Helena Silva, 52 anos)
Os cinemas necessitavam de pessoas que soubessem manipular as máquinas que
eram mecânicas ou manuais. Pelo depoimento da senhora Helena Silva, percebe-se a
necessidade de profissionais cinematográficos para o próprio funcionamento dos Cines
Orientais. Logo, a ausência desses conhecedores dificultaria as exibições, e o cinema, de
grande valia a população iria acabar sendo desativado. O que ocorreu posteriormente. Porém,
outros aspectos devem ser levados em conta, relativo aos cinemas que proporcionaram
53
diversão ao povo de Parintins. Entre eles está a possível ausência de incentivo cultural por
parte das autoridades, Helena Silva assinala que:
Tinha condições. eu acredito que sim, que Parintins é uma cidade folclórica, conhecida mundialmente, não é verdade?Pela cultura e porque que não no cinema? Por que tá faltando o olho de alguém, uma iniciativa, e esse alguém, pra mim no meu ver seria assim mesmo do Poder Executivo, no caso, então chamaria, quem é o dono? Ir chamar, vamos ver o porquê que o cinema fechou [...]. (Helena Silva, 52 anos)
A depoente acredita que o funcionamento do cinema em Parintins pode ser uma
realidade. Pelo exposto em seu relato, vemos a ligação que a senhora Helena Silva faz a
respeito da cidade de Parintins no passado com relação ao presente, ou seja, a atual cultura
evidenciada pelo município através do Festival Folclórico, umas vez que a festa traz inúmeros
investimentos para a cidade, o que é salientado pela depoente. Nessa relação, a senhora
Helena coloca que investimentos também poderiam ser aplicados ao funcionamento de
cinemas, e como o Festival Folclórico, estes locais também movimentariam a cultura de
Parintins. Mas, como a própria colaboradora expõe, é necessário incentivos, principalmente
de órgãos públicos ligados a cultura.
Entre outras questões como a da estrutura dos prédios de cinema, foi constatado
pelos depoimentos que os cinemas possuíam boa estrutura física, no entanto, tinhas suas
peculiaridades. O Cine Saul é lembrando como um grande monumento, de belos traços, com
uma área interna ampla, conforme nos é relatado:
Ele era amplo, ele era bem grande também, ele era bem grande, mais só com os ventiladores, o Cine Saul não possuía o ar refrigerado, como possuía o Cine Oriental né, era no ventilador na época e as cadeiras de madeira, entendeu? de madeira. (Raimundo José da Silva Neto, 52 anos)
O depoente considera que o Cine Saul tinha um espaço e tamanho amplos, fazendo
comparação com o Oriental ele evidenciou que os donos do Cine Oriental investiam bastante
54
em conforto, exemplo disso é o ar refrigerando, climatizando de maneira agradável o
ambiente da sala de exibição, conforme:
O Cine Oriental ele depois, por certo tempo, a dona começou a digamos assim a expandir mais dentro do cinema, colocar é, colocar refrigeração dentro, o ar refrigerado as poltronas todas acolchoadas, ela procurou assim dar mais conforto as pessoas que assistiam o filme né, já no cine Saul já não vi isso ai, eram cadeiras boas mas com menos conforto do que no Cine Oriental, pra mim o Cine Oriental ele deu mais conforto para as pessoas que gostavam, que eram amantes do cinema, que eram até hoje, quem quiser digamos assim dar uma olhada no salão até hoje existe,, acredito que ainda existem aquelas cadeiras lá, por que os donos morreram, e aquilo fechou e as máquinas ainda existem lá, acredito que existem as maquinas lá né, não devem tá muito boas por que com certeza não tem manutenção, não tem pessoas que tomem de conta das máquinas. (Raimundo José da Silva Neto)
Os dois cinemas são estimados por suas características físicas, pelas películas que
exibiam e as memórias dos bons momentos de diversão que proporcionam aos parintinenses.
Assim, sua importância reside num fato: o cinema faz parte da história, não apenas da história
cultural e social, mas como da história de cada pessoa que vivencia ou vivenciou o cinema.
55
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Parintins vivenciou uma época de grande importância a população, onde foi
proporcionado diversão, encontros de amigos, namoros, emoções a cada pessoa que
freqüentou o espaço do Cine Saul ou do Cine Oriental. Memórias de grandes momentos
vividos, filmes que marcaram vidas, inspiraram moda e influenciaram mentalidades. O
Cinema, hoje, reservado na memória coletiva propiciou histórias, memórias e cultura sendo
testemunho de uma época peculiar da história de Parintins.
As grandes mudanças na sociedade parintinense com relação à cultura e sociedade
são visíveis. O auge do cinema foi um período em que a cidade estava em processo de
urbanização. Era então uma cidade com pouca opção de lazer, porém, processou-se o
desenvolvimento, novas tendências, o fechamento da Fabril Juta, a repercussão do Festival
Folclórico, novos estilos de vida e os cinemas fecharam suas portas. Ao locais onde
funcionaram os cinemas se reportam as memórias dos momentos vividos no ambiente do
cinema, e a melancolia de que estes não funcionam, uma vez que para os colaboradores da
pesquisa, a época de sua experiência nos cines Brasil, Saul e Orientais não voltarão, e mesmo
que funcionasse outro cinema na contemporaneidade, o que foi vivenciado logo não se
repetirá. Os cinemas estão vivos na memória de cada parintinense.
A questão do fechamento dos cinemas que existiam em Parintins, nos remete a perda
de uma referência para a população da cidade. Dentre os cinemas analisados a falta de
conhecimento e proteção patrimonial do Cine Saul fez a cidade acabar perdendo um rico
patrimônio cultural representado pelo prédio e sua história. É necessário que se destinem
recursos para recuperação do Cine Oriental e profissionais qualificados para analisar,
recuperar e difundir o conhecimento cinematográfico para as novas gerações, uma vez que, o
56
cinema faz parte da história da cidade, e sua importante memória deve ser preservada e
perpetuada.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, S. Paulo; BUTCHER, Pedro. Cinema desenvolvimento e mercado. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2003.
AUMONT, Jacques. A imagem. Campinas: Papirus, 2000.
BERNARDET, Jean-Claude. Brasil em tempo de cinema. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
BOUDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: FERREIRA, Marieta de Moraes & AMADO, Janaína (coord.). Usos e Abusos da história oral. 2ed. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1998.
CALIL, Carlos Augusto. Cinema e Mercado dos Anos 70 aos Anos 80. História Recente do Cinema Brasileiro. São Paulo: Educine, 06 jul. 2002. 2 cassetes sonoros.
CAMARA, Antônio da Silva. Por que os cinemas não morreram?. Sociologia Ciencia&Vida .São Paulo: Editora Escala, n.2, p.50-59.
CATANI, Afrânio Mendes; SOUZA, José Inácio de Melo. A Chanchada no Cinema
Brasileiro. São Paulo: Brasiliense, 1983. (Col. Tudo é História; v.76).
CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre praticas e representações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990.
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. Unidade 8; O mundo da prática, Cap. 3; O universo das artes. Ática, São Paulo. 2001. p. 333
COSTA, Beatriz. Produção no cinema finalmente decola. Disponível em: http://www.cinemando.com.br . Acesso em 10 mai 2006.
COSTA, Selda Vale da. O Cinema na Amazônia & A Amazônia no Cinema. Revista de Economia Política de las Tecnologias de la Información y Comunicación. Dossiê Especial Cultura e Pensamento, Vol. II - Dinâmicas Culturais, p. 94 a 113. Dec. 2006. Disponível em <www.eptic.com.br>
DURAND, Gilbert. O imaginário: ensaio acerca da ciência e das filosofias da imagem. Rio de Janeiro: DIFEL,1999.
GOMES, Paulo Emílio Salles. Cinema: Trajetória no Subdesenvolvimento. 2.ed. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1980 (Col. Cinema; v.8).
HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo, Editora Vértice, 1990.
57
LE GOFF, Jacques. “Memória”. In: História e Memória. Campinas: Ed. UNICAMP, 1990, p. 423-483.
METZ, Christian. Significação no cinema. São Paulo: Perspectiva,1977.
MEIHY, José Carlos. Manual de História Oral. 4ª ed. São Paulo, SP: Ed. Loyola, 1996.
MEZZAROBA, O.; MONTEIRO, C. S. Manual de Metodologia da Pesquisa no Direito.São Paulo: Saraiva, 2003.
MICHALISZYN, Mario Sergio. Orientações e normas para elaboração de projetos, monografias e artigos científicos / Mario Sergio michaliszyn, Ricardo tomasini. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. PAIVA, Salvyano Cavalcanti. Cinema, década de 70 e 80. Disponível em: http://cine7080.vilabol.uol.com.br. Acesso em 14 mai. 2006.
POLLAK, Michel. Memória e Identidade Social. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 5, n. 10, 1992, p. 200-215.
______. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 2, n.3, 1989, p. 3-15.ROCHA, Glauber. Revisão critica do cinema brasileiro. São Paulo: Cosac e Naify, 2003.
RIBEIRO. Paulo Rodrigues. Estudos Regionais: Paisagem, Memória e Identidade. IN: Fragmentos de Cultura. Goiânia: UCG, 1999.
ROSENSTONE, Robert. História em imagens, história em palavras: reflexões sobre as possibilidades de plasmar a história em imagens. In: O Olho da História: revista de história contemporânea. Salvador, v.1, n. 5. 1998. p. 105-116.
ROUSSO, Henri. A memória não é mais o que era. In: FERREIRA, Marieta de Moraes & AMADO, Janaína (coord.). Usos e Abusos da história oral. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1998.
SILVA, Edda Meirelles da Silva. Ecos da Saudade. Manaus: Edições do Autor, 2008.376 p.
SAUNIER, Tonzinho, Memórias dos acontecimentos Históricos. Manaus: Editora Valer / Governo do Estado do Amazonas, 2003.
THOMPSON, P. A voz do passado: história oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
Fontes Orais: Entrevistas (histórias de vidas) de pessoas que vivenciaram o cinema em Parintins nos anos de 60 a anos 80.
Iconografias (Fotos)
58
ANEXOS
59
FOTOS
Figura 1: Cine Teatro Saul
Fonte: Portal da Prefeitura Municipal de Parintins (2010)
Figura 2: Cine Oriental Primeiro
60
Fonte: Helena Silva (2010)
Figura 3:Cine Oriental Segundo
Fonte: Helena Silva (2010)
Figura 2:Filmes em faixa -Três Home em conflitos
Fonte: Helena Silva (2010)
61
Roteiro de Entrevista
1. Nome:
2. Idade:
3. Nasceu em Parintins?
4. Desde que momento passou a freqüentar o cinema?
5. Qual (is) cinema (s) freqüentou? Com que freqüência assistia às sessões?
6. O preço do ingresso era acessível? O (A) senhor (a) trabalhava neste período?
7. Lembra de algum funcionário do cinema?
8. A(s) sala(s) de exibição era(m) bem visitada (s)?
9. Lembra do nome de algum filme que assistiu no cinema?
10. Qual o tipo de filmes que prefere?
11. Os filmes eram exibidos todos os dias? Quais tipos de filmes eram exibidos?
12. Em qual (is) dia(s) as sessões eram mais bem participadas?
13. O cinema lotava normalmente ou raramente?
14. Como se sentia ao assistir os filmes exibidos?
15. Preferiria assistir a um filme na Televisão ou no cinema?
16. O que mais lhe atraia no cinema? O que esperava encontrar quando ia assistir a um
filme?
17. Como definiria o cinema?
18. Considera importante o funcionamento dos cinemas para a cidade? Acha que contribui
para a cultura local? Considera o cinema como uma forma de cultura?
19. A estrutura do prédio era adequada para as projeções?
20. O que levou a desativação do cinema?
21. O que pensa sobre a desativação dos cinemas em Parintins?
22. Gostaria que funcionasse algum cinema atualmente?
62
Entrevista Cinema 1
Data: 03/04/2010
Entrevistado: Raimundo Barbosa Batalha.
Idade: 55 anos
Naturalidade: Parintins
Eu passei no ano de 1978 e 79. 78 e 79. Era o Cine Oriental. No final de semana.
Final de semana. Trabalhava na Fabril Juta. Lembro que era 50,50 cruzeiros naquela época,
naquela época. Mais ou menos. Era, parece, um japonês. Não lembro o nome dele agora. Cine
Oriental e Cine Saul. No mesmo período. Não. A gente ia mais, a gente gostava mais de ir no
Cine Oriental. Não, eu ia com a minha namorada que agora é minha esposa. Era só uma.
Enchia. Era um movimento muito bom, todo final de semana. Não, funcionava todo dia.
De segunda a segunda. Só que eu assistia no final de semana, que era meu dia de
folga.Sábado. Naquela época era o. Charles.Charplim. É, Charles Chaplin. Naquela época, era
o Bang Bang. Preto em branco, naquela época. Gostava. Era, era,naquela época era a nossa
diversão. Era o, que acabou de falar, o Charles. Charles Chaplin. E, não falava no cinema
não?Era tudo legendado? Era tudo legendado. Era tudo legendado, mais era legal. No filme.
Cinema. achei legal. Por que ali no quando, ali na, quando estudava nesse ano que passou,eles
passaram esse mesmo vídeo, me lembrei, eu estudava ali no Ryota,nós fomos uma vez, ver
uma noite lá já assistimos esse filme. Cinema. Por causa da emoção. Por causa do trabalho,
que eles faziam, daquela movimentação com as máquinas e tal. Era tipo um mais era muito
legal. A emoção de ta lá, parecia grande, assim a máquina. Emoção. É. Ficava emocionado
em viver aquele filme que assistia naquela época era muito legal. O cinema é uma, é um,
cinema assim acho que é muito legal, uma diversão. Não tem mais o Cine Oriental, mas nem
o Cine Saul, não tem mais. Contribuía pra cultura. Fazia. Corria naquela época corria muito
63
dinheiro. O preço do ingresso, o pessoal a.. Eles faziam aquelas promoção. Colocavam os
cartaz na frente. Pra chamar atenção da juventude, adolescente, naquela época, o pessoal
gostava. Ai a vez era 100 cruzeiro naquela época, eles baixavam pra 50 cruzeiros naquela
época, gostavam muito, e era muito divertido. Era bom. Ele era bastante assim meio, prédio
muito legal sim. E dava muita gente, muitas pessoas, confortável, muito confortável, o pessoal
ia e ficava a vontade assistindo o cinema e quando tocava aquela musica a gente tava, a gente
morava ali na Raimundo Almada, Itaguatinga, Quando tocava aquela musica sempre dava
uma emoção na gente, antes de , quando antes de começar o cinema, tocava uma musica
assim. anunciando que já ia começar o filme. Não lembro mais ou menos, mais chega tocava
no coração da gente. Era muito legal. Chamava a atenção do povo.
Fechou por que naquela época não tinha quase televisão, era bem difícil ter televisão
era só que tinha. Ah depois, era só preto branco naquela época. Naquela época que tinha era
preto e branco, preto e branco, agora não, agora tem televisão, já tem fita de filme, acabou, foi
caindo, foi caindo foi..ai acabou. Preferiram já assistir em casa do que o cinema.
Não, não acho que não foi por causa tanto do ingresso. Acho que por causa que,
porque o velho, velho faleceu. Ah, quem era dono do cinema, que era dono do filme,do do
filme. E não teve ninguém pra continuar o trabalho e foi acabando devagar ai tinha naquela
época tinha também o que vendia picolé, o Brasa, era na frente, picolé, era uma sala de
picolé,que vendia dava muito movimento lá e ai, contribuía por cinema com picolé, por que a
gente comprava ai A gente fazia aquelas, a gente fazia aquelas filas pra comprar, cada um
comprava s, picolé, comprava seus, bombom, naquela época. Tinha pipoca? Pipoca. Aquela
rua lá do Cine Oriental lá era muito movimentada no final de semana. Só tinha um. Era
de1978 e 79. No auge já. Ai o dono faleceu e não tinha outra pessoa pra continuar. Acabou
fechando. Triste. Quando desse. quem sabe a gente não ia?é.. seria muito bom. Já nem é pra
mim, pros filhos assistirem. , queria, mais infelizmente não..
64
Entrevista Cinema 2
Data: 03/04/2010
Horário: 18:00 horas
Nome: Ilza de Azevedo Batalha.
Idade: 52 anos.
Naturalidade: Nhamundá, mora em Parintins.
Estou desde mil [...] desde 1981. , tinha meus 15 a 16 anos, ia ao cinema. Não. eu ia ,
e mais dois colegas. Olha, nesse tempo era a Noviça rebelde que passava, e aquele, o
Invulnerável; Invulnerável. Em preto em branco tudo em dublagem. Dublagem. Mais era o
Cine Oriental. É, Só tinha um prédio que era o Cine Oriental, tinha o outro também que se
chamava o Cine Saul. Olha não to bem lembrada do valor do ingresso né
Mais era razoável dava pra gente [...] Só final de semana,dia de sábado ou então, domingo.
Passava todos os dias. É, , trabalhava, trabalhava na Fabril Juta nesse tempo. É, a maioria... É.
Nesse tempo era a Fabril Juta que[...] É movimentava ai a cidade. Não o dono se chamava o s,
Kimura. é.Kimura. Ele que era do dono do Cine Oriental. Era bem participada. É porque
nesse tempo era só o que existia né de divertimento. É. Era só o cinema e jogo, quem gostava
de ir ao jogo, assistia ao jogo ia ao jogo, quem gostava de ir ao cinema ia ao cinema né, que
começava às 5 horas da tarde a primeira sessão né, existia duas sessão nesse tempo. Das 5 as
6 e meia e das 7 as 8. Enchia que não tinha outra diversão, era só mesmo o cinema. Com
certeza; Da noite. , gostava daquele Grande kids, Que passava também, era muito legal esse
filme. Era preto e branco também. tudo era em peto em branco, tudo em dublagem. É com
certeza. Era de assim, de ação, de briga mesmo.
É podiam ir todos os dias ou nos finais de semana né. Quem pudesse ir na semana ia,
sim quem pudesse ir no final, meio da semana ia né quem deixasse pra ir só no final da
semana, pra quem trabalhava né era só no final de semana. Não era como te falei tinha o da
Noviça Rebelde, tinha aquele que o Raimundo falou, não acertei falar o nome dele o...
65
Charles, é esse daí, e vários outros filmes que , já não to bem lembrada né. É lotava varias
vezes né na semana. Olha se ainda se existisse né era tão legal no final de semana quando a
gente ia ao cinema né, porque esse filmes que passa na televisão, de vez em quando é tudo
repetido,repetido né passa uma semana lá vem o mesmo filme que passou na semana passou
numa semana, final de semana né, , acho assim que se existisse o filme, seria muito legal a
gente ir, no final de semana né, participar. Com a família, mesmo com os filhos né era tão
legal se ainda existisse.
O filme mesmo, por que, gostava porque não tinha outra diversão né. , trabalhava,
quando era final de semana ia ao cinema. Tinha pipoca, tinha picolé. Nesse tempo existia um
bar por nome... Brasa a modo, Bar..Era o único bar, que vendia essas coisas, negócio de
picolé. Parece que ficava bem em frente ao cinema. Não me lembro, dessas coisas, mais ,
acho que nesse tempo não tinha essas coisas não, to lembrada, não , acho que não existia , não
me lembro É. Sentava assim, no meio, gostava nem na frente nem ficar muito atrás também.
É. Cinema representava, representa né, uma diversão uma, uma por que nesse tempo né pelo
menos a gente trabalhava não tinha outra diversão,ia ao cinema pelo menos pra se distrair né,
divertir, certo, Trabalhava na Fabril,de lá , trabalhava em casa de família né, no final de
semana era a única diversão quando não ia ao estádio.que , gostava de assitir jogo quando não
ia ao estádio ia ao cinema. Com certeza, se pudesse ter de novo era tão bom o cinema olha ai
nessas outras cidades como tem, Só na nossa que não. É importante pra cultura com
certeza.Tinha uma boa estrutura, bem limpinho só um salão mesmo cheio de cadeiras era
muito bonito mesmo, muito legal bem confortável? Era bem confortável mesmo, tanto faz-se
um como outro. É mais no cine oriental mais a senhora chegou a ir no Cine Saul. Cheguei a ir
no Cine Saul.A mesma coisa. Bem participado também as pessoas faziam fila pra entrar.
Gostava mais de ir no Cine Oriental. Não sei, só eles colocavam uma música que até hoje
quando o cidade Parintins sai eles colocam sabe, sei lá aquela musica me chamava a atenção, ,
66
achava tão legal,tão.. não sei nem te explicar bem só sei que , gostava, bem a partir das 5
horas já começa a tocar a musica e aquilo me traia sabe, me chamava atenção , gostava. Com
certeza. Era no Cine oriental que tocava essa musica. Olha acho que depois que começaram a
chega as televisões ai pronto o pessoal foram se afastando. Ficar em casa do que ir ao cinema
né, acho que por esse motivo fechou né. é com certeza depois que começou a chegar a
televisão, pronto o pessoal. é. Abandonaram o cinema né pra assitir só em casa a televisão.
acho que foi por isso que fechou tanto fazia um como o outro. todos os dois fecharam, foi o
tempo que os donos morreram né, os filhos...Os donos do cinema morreram. Não faz muito,
muito tempo, que eles morreram não sei te dizer o ano, mas não faz muito tempo. Com
certeza.Televisão, é a televisão depois DVD, pronto, então abandonaram não tinha como os
donos sustentar né foi o jeito fechar. , acho que sim, que tivesse. Seria bom né?Seria bom.
Com certeza Sair um pouco da rotina no fim de semana. Ainda mais se Passasse um filme
legal que a gente gostasse tinha certeza que muita gente deixava um pouquinho de lado a
televisão e ia ao cinema né. Pouca gente sabe que sabe mesmo. Seria importante ter. Só pode
ter né um livros que contam a história. Pelo menos um que tivesse funcionando ai, pelo menos
um, que tivesse funcionando ai, seria bom. Muito obrigada pela entrevista.
67
Entrevista Cinema 3
Nome: Raimundo José da Silva Neto
Idade: 52 anos
Naturalidade: Barreirinha, mora em Parintins desde 1968.
Ah, na época assim, que é quando , cheguei pra Parintins, naquela época Parintins
ainda era bem menos desenvolvida né, uma cidade ainda que a gente via que era Parintins ainda
era bem pequena e os divertimentos na época era realmente os cinemas né, os cinemas que
existiam os cinemas como o Cine Oriental mesmo né,e o Cine Moderno na época, depois o
Cine Saul, são os dois cinemas realmente que divertiam a população parintinense, e era o que
tinha de divertimento na época era esses dois cinemas né, que, mais o pessoal se divertiam na
época não muita né não tinha tanto divertimento, então o pessoal dava mais valor né no cinema
né da época a gente ia muito ao cinema, , pelo menos gostava muito do cinema, então os
cinemas que existiam né que era o Cine Saul e o Cine Moderno e depois Cine Oriental aí
depois que eles terminaram, porque até mesmo assim, , acho por que devido, depois com o
desenvolvimento, veio a televisão depois que apareceu a televisão já foi caindo mais o cinema
porque todos os filmes que digamos assim passavam no cinema a televisão começou também a
mostrar,então geralmente o pessoal já não ia mais pagar ou então sair de casa pra assistir no
cinema,e isso foi, digamos assim, tornou-se mais difícil pro cinema, foi se acabando, se
acabando e pra mim isso ai foi mais a televisão fez com que os cinemas fechassem as portas na
época.
Foi, quando na época primeiro foi o Cine Oriental mesmo, foi Cine Oriental mesmo
que , comecei, o cinema que mais , ia, na época era o Cine Oriental, assisti alguns filmes no
Cine Moderno mais muito pouco,depois passou o Cine Saul também passei a freqüentar, ,
gostava muito de filmes inclusive esses filmes da época era de terror que , gostava,filmes de
68
ação, filme de cowboy assim aqueles filmes na época que hoje a gente não vê mais, , adorava
assistir.
O cine Saul... acho que sim, ele era, Cine Saul por que antes era o Cine Moderno, né
na época, Cine Moderno não,Cine era o Cine né...como é o nome, se , não me engano,... não
era Cine Moderno, era Cine Brasileiro,uma coisa assim, não lembro direito como era antes,
Cine Brasil né, acho que pra mim foi um dos primeiros que Parintins possuiu,na época como
cinema né, por certo tempo , gostava mais do Cine Oriental entend,?
Foi, antes do Cine Oriental, foi,até porque a dona do Cine Oriental ela morr, a pouco
tempo ela morr, em março,ela tá uns 5 ou 6 anos que falec,, quando ela ainda era viva,ainda
funcionou bem,muitos anos o Cine Oriental, e depois que o esposo dela morr,,ainda funcionou
muito o Cine Oriental, , acho que quase 7 ou 8 anos mais ou menos, isso é, praticamente o
Cine Oriental fechou as portas de uma vez. É nessa época, na Década de 70, isso, aí nessa
década de 70, 68 pra 70,e 80,assisti muitos filmes mesmo , ia muito no cinema com certeza.
Não , geralmente gostava de ir com os amigos, colegas, naquela época a gente era todos
pequenos, , Tava de, nessa faixa de, nessa faixa etária de 12 a 13 anos, , era jovem, né
adolescente, a gente ia gostando assim, de tarde, depois que peguei uma idade maior já ia de
noite, mas geralmente a gente ia a tarde, ainda era criança, jovem né, e até fugia muitas vezes
pra ir ao cinema,caso a mamãe não deixava a gente sair mais , gostava de assitir esses filmes né
que passavam, muito legal esses filmes de cowboy, né, , gostava de assistir, muitas vezes fugia
pra ir, até pra ir ao cinema. Não, não , não trabalhava ainda, era dependente dos m,s pais, e ,
não trabalhava ainda, dependia ainda dos m,s pais na época.
Não, Até o cinema fechar, ai , já trabalhava, já não dependia do m, pai, já trabalhava,
já ia por minha conta, , mesmo já iria por minha conta.
Olha, pra época, a gente achava caro assim e tal né, por que em vista de hoje, se fosse
hoje né, não, não era tão caro não, na época não os ingressos achava que eram, na época os
69
ingressos eram de um preço bem acessíveis, na época que , tava, os trabalhos aqui em Parintins
ainda eram muito difíceis né, não era todo mundo que era empregado né, então a gente
dependia dos pais, e pra gente ir no cinema a gente dependia do dinheiro dos pais então nessa
época, mais não era que fosse caro não, era um preço bom sim, dos dois, inclusive dos dois
cinemas.
Olha, a fabrica que tinha aqui, a empresa que tinha aqui mesmo era a conhecida Fabril
Juta, essa ai foi ela imperou muito anos aqui em Parintins, ela d, muito emprego, a muitos pais
de família né, a muitas, a muitos jovens, que trabalhava naquele mundo, a Fabril Juta, tinha
algum comercio também, mais comércios pequenos né, e Parintins na época não possuía, como
até hoje não possui empresas, sabe que Parintins não possui empresas grandes que dá emprego
pra tipo,hoje em dia é aposentado, é pensionista, é trabalho no comércio,é o trabalho bancário,
até hoje os empregos não são tantos né, então era assim, não tinha muito emprego não na época
também,eram bem poucos mesmo,era mais fácil as coisas,mais emprego era difícil,até hoje
ainda ta difícil.Você sabe disso né.
É exatamente, até por que, a Fabril Juta,na época, ela empregava , acredito, ela
empregava mais de 500 ou 600 pais de família na época, era grande, era bem grande a Fabril
Juta,ela era o que erma 3 turnos direto de manha, tarde e noite, ela, Fabril Juta era uma empresa
que gerava dia e noite, então eram por turnos, turno da manha, turno da tarde quem não
trabalhava a tarde,trabalhava da noite e era assim, ela virava dia e noite.
É, , não conheci do Oriental , não conheci o dono, quando ,..quer dizer conheci,
conheci,mas logo, logo, , não tinha conhecimento. Minha esposa que era de lá, nós
freqüentávamos, não tinha muito conhecimento com ele, ele morr, logo, entend, ele
morr,,quando , comecei a freqüentar o Oriental,, comecei a conhecer o pessoal do Oriental, ele
falec, o dono, proprietário né, finado Kimura que chamavam,e depois conheci a dona Dedé,
dona Adelaide também, tia da minha esposa,conheci os filhos dela,o Ademar, a Almerinda, a
70
finada Aldair Kimura,esse pessoal né, parti a começar a me dar com eles e conhecer. Do Cine
Saul, conheci também o s, Saul, o Zé Raimundo, o Zé Antonio irmão dele, aquele pessoal né,
conheci também, funcionários assim do cinema , não me lembro, mais os donos sim , ainda me
lembro bastante.
Ela era funcionária lá do cinema, do Oriental, trabalhou muitos anos desde 70 acredito
até 80 e tal, acho acredito que ela tenha trabalhado.
Com certeza, com certeza os dois cinemas na época eles eram bem freqüentados, até
como , falei,eram as duas diversões que tinha na época né não tinha outra lotava tinha filmes
que tinha filmes tão bons que lotava. Inclusive o Oriental , ainda vi tinha noite que passava 3
sessões só numa noite passava 3 sessões devido lotava e saia aquele pessoal entrava ali, bem
movimentado mesmo, , ainda presenciei isso ai.
Com certeza, com certeza os dois cinemas concorriam,e todos os dois lotavam, eram
bem projetados, por que quando uma passava um tipo de filme que passava no outro, as vezes a
população, a gente olha, na época a gente era novo, borá ver o que ta passando ali, borá ver o
que vai passar naquele outro ali, a gente ficava naquela viu pra ver aonde era melhor os filmes
onde fosse melhor o pessoal ia.
Nessa época aí, faz tempo de 60 pra 70, de 60 até a década 80, mais ou ainda existia o
cinema, não faz muito tempo não que deixou de existir, não faz tanto muito tempo não. Todo
dia, todo dia, todos os dias a tarde, chamava de Matinê, a tarde pras criançadas que iam pras
crianças,e a noite pra adulto, tinha filmes que eram muitas vezes era impróprio pra criança,
então criança não assistia, nessa época, então não é como hoje,a televisão, na televisão qualquer
criança assiste, não naquela época não, quando era filme impróprio as crianças não entravam
mesmo, era bem rígido mesmo. Pra criança é como , to dizendo, esses filmes de cowboy, é de
tira, o pessoal que curumim gosta, que as crianças gostam, filme de era vive, filme de Tarzan,
sabe aqueles filmes é que a criança, os jovem gosta, trapalhões, filme do Teixeirinha, que
71
passava na época também né, muitos filmes que a gente não ver hoje, a gente via antes e a
gente não ver mais passar na televisão, todos já são filmes diferentes, entend,?que é , pelo
menos não vi mais, nem na televisão aqueles filmes que , assistia, , não ah..vi mais né nem na
televisão, filme de ação, aqueles filmes de ação que o pessoal gosta, terror, aqueles filmes de
terror que o pessoal gosta, Drácula, naquela época existia filmes entend, que o pessoal gostava,
esses filmes eram bem freqüentados o pessoal gostava demais, , pelo menos gostava , nunca
perdi uns filmes assim, que , gostava demais.
Qual era o que o senhor mais gostava?
É como , to te dizendo esse filme de Drácula, Drácula, era filme de terror,filme de,
esses filmes, muitos outros filmes que..., aquele Exorcista, até passou na televisão, o Exorcista
que passou, Exorcista um foi um filme que chamou muita atenção na época da população, o
Exorcista é um filme que realmente os cinemas faturaram bastante,por que ele foi campeão de
bilheteria, o Exorcista na época,muito comentário, então as pessoas que conheceram né,até hoje
eles podem comentar e dizer né.
O senhor lembra o ano?
Ah...deixa , ver...olha o, é , não sei te dizer,é mais , acho que foi, esse filme passou
antes dos anos 80, em 78 mais ou menos, 79,mais ou menos esse filme passou aqui em
Parintins entend,?, faz tempo, um bom tempo né
E caso então o cinema ele lotava?
Com certeza, lotava todos os dois, os dois, , tive a oportunidade de presenciar, e assisti
filmes nos dois cinemas e eles realmente lotavam,lotavam, por que eles também dependem do
filme, por exemplo, se fosse um filme como , to te falando se fosse um filme bom que as
pessoas gostassem ele lotava, se fosse um filme ruim muitas vezes não dava muito não, ai as
pessoas já iam pra outro, assim entend,, ficava aquela, aquele impasse entend,, por isso que , te
72
digo,quando a gente ia, ah, mas aquele passa ali ah esse aqui não é legal, ah esse aqui é bom,
era assim na época,era só tinha aquele lá, aqueles dois que concorriam então,o pessoal, e era
perto, próximo um do outro,o pessoal ia lá e voltava,lá e voltava, aquele que fosse melhor claro
ia botar mais gente dentro do cinema né, e era assim que acontecia, muitas vezes é, as vezes o
filme era ruim pouca gente assistia nem toda vez lotar, depende, dependia muito do filme que
passava. Os filmes, é os filmes claro,os filmes mais os colegas que assistiam comigo,que a
gente na época se juntava dois,duas, três pessoas, ai a gente ia junto, com amigos, colegas e
naquela diversão a gente né acabava se conhecendo, conhecendo as outras pessoas lá dentro do
cinema até dentro do cinema a gente conhecia outras pessoas e aquela coisa assim sabe muito
bacana que a gente na época tinha né, a gente fazia amigos lá mesmo dentro do
cinema,conhecia as pessoas e era assim, isso a gente chama a atenção né da gente, a gente ia
participar, a gente gostava mesmo, com os colegas e era assim. Olha, o cinema é em primeiro
lugar, ele é, ele é muito assim, cultural pra mim, o cinema ele é muito cultural por que tinha
muitos filmes que realmente chamavam atenção das pessoas né. Filmes bons, filmes que você
realmente trazia pra casa idéias boas entend,, coisas boas, além da diversão que realmente era
né, tudo isso ai o cinema pra mim se existisse pra mim, até hoje , ainda dava valor ao cinema,
por que realmente eram filmes bons que vinham né, hoje na TV tem muitos filmes que é
realmente até pornográficos, filmes que não se deve a população, não traz cultura e não é como
antigamente, dificilmente os cinemas passavam filmes pornô, então isso aí a gente trazia como
pra casa como a cultura, como a lembrança, muitos filmes que dava pra assitir duas, três vezes
por que quando o filme era bom, , pelo menos, quando o filme era bom, , gostava de assistir 2
até 3 vezes, por que muitas vezes eram filmes que marcavam na gente, até hoje, tem aquele
filme que marca, que marcou pra gente, tem aquele filme Coração de Luto, aquele filme com o
Teixeirinha, marcou até hoje, até hoje quando , escuto aquelas musicas, do Teixeirinha,
Coração de Luto, me dá aquele arrepio, me dá aquela tristeza, por que era um filme muito triste
73
sabe, não sei se muita gente acho que assistiu aquele filme, não sei não assisti mais quem
assistiu na época realmente chorava por que era um filme muito bonito, muito triste, o nome
dele era Coração de Luto, com o Teixeirinha.
É, com certeza, se tivesse um cinema hoje, ainda até hoje funcionando né com certeza
que o jovem eles procuravam a né, eles procurava o cinema, é muitas vezes vai a pessoa, vai
com o namorado, namorada, vai o jovem né, vai a esposa, vai o marido entend,, pra mim, seria ,
acho o cinema ele era uma diversão ainda até hoje pra mim ainda é uma diversão muito boa,
pelos menos se tinha como você sair de casa, entend, tinha como sair de casa com os amigos,
como acabei de falar,com os amigos, com a esposa, namorado, namorada, pra lá uma questão
muito boa,de você passar um momento de lazer, entend,, cinema é isso,, acho interessante, o
cinema é isso pra mim é muito interessante, se existisse hoje se ainda existisse o cinema hoje ,
daria o maior valor por que pelo menos a televisão em casa , não acho que ela passe filmes
muito bons não, pra mim os filmes da época pra mim eram o melhores, do cinema eram
melhor.
Com certeza, é, por que no cinema a gente tinha como escolher os filmes, na televisão
a gente assiste aquilo que a televisão passa, e no cinema não, no cinema eles colocavam, eles
colocavam os pôsteres assim dos filmes, com os nomes dos filmes, como era e o dia que
passava, a gente ia lá e escolhia, quando a gente via que eram filmes bons, se não passassem
naquele dia, a gente esperava pra passar no dia que fosse passar, por isso que , te digo,que no
cinema a gente tinha opção de escolha na televisão não a gente tem que assistir o que a
televisão passar entend,.
Com certeza, com certeza, com certeza absoluta mesmo, por que pra mim o cinema é
cultural, por que além da diversão, traz cultura, traz divertimento, traz lazer pras pessoas.
O cine oriental ele depois, por certo tempo, a dona começou a digamos assim a
expandir mais dentro do cinema, colocar é, colocar refrigeração dentro, o ar refrigerado as
74
poltronas todas acolchoadas, ela procurou assim dar mais conforto as pessoas que assistiam o
filme né, já no cine Saul já não vi isso ai, eram cadeiras boas mas com menos conforto do que
no Cine Oriental, pra mim o Cine Oriental ele d, mais conforto para as pessoas que gostavam,
que eram amantes do cinema, que eram até hoje, quem quiser digamos assim dar uma olhada
no salão até hoje existe,, acredito que ainda existem aquelas cadeiras lá, por que os donos
morreram, e aquilo fechou e as máquinas ainda existem lá, acredito que existem as maquinas lá
né, não devem tá muito boas por que com certeza não tem manutenção, não tem pessoas que
tomem de conta das máquinas, devem tarem todas deixoradas,devem tarem todas pra ver até
desmontadas, Mas acredito que dentro do salão mesmo onde funcionava ainda deva ta bem
ainda bem compacto as cadeiras, devem existir até hoje aquelas cadeiras, no Oriental.
Tinha, também, ele era amplo,ele era bem grande também, ele era bem grande, mais
só com os ventiladores,o Cine Saul não possuía o ar refrigerado, como possuía o Cine Oriental
né,era no ventilador na época e as cadeiras de madeira,entend,, de madeira.
Olha Ali ...ali na João Melo, quer dizer João Melo com a Faria Neto, esquina com a
João Melo e a Faria neto, ali onde é hoje ali, aquele aloja, aonde é ..como é o nome ali daquela
loja, onde é o Show dos calçados,ali na esquina, naquela esquina lá era o Cine Saul na época
existia lá.
Ali na rua Faria Neto, no mesmo local também, onde até hoje ta lá só os equipamentos
que existem lá,no mesmo lugar nenhum mudou de lugar, os dois onde eles existiram até hoje
ainda existe os prédios.
Não, o prédio, o cine Saul o prédio mesmo que era foi, eles demoliram né foi
demolido que como você ainda tem alguma foto que mostra como ele era na época né,hoje já ta
tudo diferente, demoliram, Quem conhec, na época, hoje olha pra lá só lembrança, só
lembrança, do prédio que era, era um prédio estilo naquele estilo bem antigo né, e hoje se vê
75
uma coisa que muito diferente, quem lembra hoje já passa por lá diz que nunca existiu o Cine
Saul pra estrutura que tinha era assim.
Era diferente, era bem diferente, ele tinha uns pilares tipo assim é romano, aqueles
pilares ele tinha formato tipo aqueles prédios romanos, muito bonitos os pilares e aquilo ali foi
demolido, e ficou, , acho, , não sei muitas pessoas na época foram contra, a demolição daquele
prédio ali deveria ser um marco histórico né pra Parintins, e eles demoliram aquilo ali e não se
sabe qual foi a idéia que os donos tiveram, mais se até hoje existisse aquele prédio,pra mim
seria uma fonte histórica pra Parintins,entend,, aquele prédio, por que era muito bonito,era
muito bonito o prédio, quem conhec, sabe
Ah, o oriental tinha o Oriental mesmo e o oriental segundo que chamavam, o pequeno,
na esquina,bem na esquina também, logo próximo,era o Oriental segundo que chamavam né,,
ainda assisti muitos filmes nesse pequeno Oriental,chamavam Oriental segundo também,
passavam filmes bons lá, lotava também, era menor do que o Oriental mesmo, o cine Oriental
mesmo, era um segundo, uma filial do Cine Oriental que eles na época eles passavam é também
lá no Oriental segundo pra ajudar o primeiro porque é como , tô te falando muitas vezes lotava
o Cine Oriental grande então eles passavam no segundo pra suprir né...
È muitas vezes o mesmo filme passava num e passava no outro pra ajudar entend,?e
era assim e lá cabia menos pessoas é claro, mais chegou, muitas vezes lotava também, lotava
mesmo.
Tinha, no lado, do lado existia o Brasa Bar, , não sei se você conhec,, talvez sim talvez
não, mais quem conhec, sabe que até hoje é quem quiser presenciar no lado do cine oriental
existe lá o Brasa Bar que o dono até hoje ainda é vivo, o Edmilson Seixas ele sempre na época
que existia o cinema também existia esse bar o Brasa naquela época era um dos bares melhores
que Parintins tinha em termos de bons atendimentos,e dá, em termos de picolés, sorvetes eram
gostosos, o pessoal dava o maior...tava no auge, o Brasa Bar era o bar que Parintins, era o
76
melhor então existia bem no lado do Oriental o Brasa Bar até hoje ainda existe, mas não
funciona mais entend,.
Com certeza,com certeza, muitas vezes as pessoas saiam e iam direto pra lá tomar
sorvete, refrigerante, é picolé e tudo mais, ele vendia bastante entend,, na época também.
Olha, não, os donos eles não anunciaram que o cinema ia fechar, começando pelo
Oriental, o Oriental como , te falei, primeiro morr, o dono, ele era o chefe, é Alberto Kasunori
Kimura, o nome dele, o nome do dono mesmo sabe. Então Ai então depois que ele morr, a dona
Dedé, finada, Dedé Kimura esposa dele ainda muitos anos ainda tocou pra frente o cinema,
antes dela morrer o cinema já tinha tido aquela decadência, decadência já tinha praticamente
parado, por que era assim, os filmes eram muito caro pra vir os filmes né por que os filmes vem
de São Paulo era muito caro pra chegar pra cá tinha que vir e ser devolvido tinha despesa com
certeza ai depois , te falei depois veio a televisão e o pessoal a não mais freqüentar os cinemas
ai o que acontec,
Com certeza foi isso o cinema foi, o pessoal foram deixando de ir freqüentar o cinema
e como não tendo mais aquele rendimento que poderia ter pra suprir o pagamento dos filmes a
tendência foi que era ter que fechar os cinemas senão o dono não ia ter como pagar os filmes
né. Então o que acontec, foi a mesma coisa acredito no outro, foi a mesma coisa, acontec, o
mesmo caso que o outro, com a vinda da televisão pra mim foi a vinda da televisão que
realmente acabou com os cinemas.
É por que, por exemplo, depois que veio a televisão a gente não ia mais sair de casa
pra ver o filme né não iam mais sair de casa com certeza iam pagar depois de assistir em casa
um filme, então o pessoal eles foram deixando,deixando de participar e a tendência do cinema
foi fechar,tinha que fechar com certeza. Pra mim foi isso ai.
77
Não, depois que surgiu a televisão onde passava os filmes as pessoas iam ao cinema
pagar uma coisa que podiam assitir dentro de casa.Pra mim foi isso ai. A decadência um dos
motivos pra fechar foi isso ai foi a televisão
A televisão... ela chegou pra Parintins deixa , ver..em 70 ainda não existia, deve ter
chegado pra Parintins,lá pra 78,77 depois da copa do mundo, depois da copa de 70, começou a
aparecer as televisões, as primeiras televisões de Parintins, é como , tô te dizendo, depois que
aparec, as televisões aí os cinemas foram decaindo,decaindo,decaindo.foi,foi,foi até que chegou
ao ponto de os dois não mais agüentar e não suprir mais ai tiveram que fechar
Colorida, quer dizer, é tinha filmes coloridos e tinha filmes em preto e branco também.
Não era só colorido tinha colorido e em preto e branco tinha filmes que eram em preto e
branco.
Tinha legendado e tinha também dublado, tinha filmes que eram legendados e tinha os
filmes que eram dublados.
Olha, , acho que sim, , era a favor que tivesse por que pelo menos , pelo menos dos
filmes que , gostava talvez passasse algum desses filmes ai, , lembro, de muitas pessoas que
tinha filme que eles gostavam e se tivesse hoje um cinema na cidade que passasse os filmes que
, na época assisti e gostava, , pelo menos gostaria de assistir,preferia deixar a televisão e ir pro
cinema, te juro que faria isso, o cinema Pra mim foi e é um divertimento bacana, muito bom,
onde no cinema conheci vários amigos vários colegas dentro do cinema,e isso motivava muito
incentivava muito a gente,incentiva a juventude que gosta dos filmes.Agora pra atualidade
talvez não sei se era, é ...hoje, , não sei se o cinema hoje em Parintins daria alguma coisa, por
que na capital até hoje o pessoal ainda falam quem mora na capital o cinema ainda dá, ainda
tem cinema na capital, aqui em Parintins, uma cidade pequena , acho talvez hoje não fosse mais
a opção da população, por que muitas pessoas não iriam mais no cinema talvez, prefeririam em
outras diversões. Na época sim por que como , te falei a gente não tinha outra opção, não tinha
78
outras opções e os filmes eram realmente bons e a gente ia participar mesmo, não tinha outra
opção, a gente ia mesmo, pra quem lembra,muitas pessoas que ainda lembram, entram numa
idade que freqüentavam sabem o que é o cinema, sabem contar o que era o cinema que passou.
Houve a influência disso ai né, por que, até porque hoje você vê muitos filmes em DVD, você
compra e leva pra casa pra assistir, tá entendendo, muitos filmes mesmo, mais volto a dizer
desses filmes que , assistia no passado no cinema , não vejo, , não vejo. Há também um dos
filmes até tenho aqui em casa, , tenho os DVD, eram aqueles filmes de Kung fu, Bruce Li tudo
mais, adorava filmes de kung fu, adorava esses filmes,, não perdi até hoje. Olha esses filmes
quando passava no Cine Oriental, lotava. Esses filmes de Kung fu Bruce Li revolucionaram
Parintins.
79
Entrevista Cinema 4
Data:13 de abril de 2010
Hora: 19:30
Entrevistada: Maria [...] de Souza Silva
Idade: 52anos
Naturalidade: Urucará? Mora em Parintins desde 1975 quando morar na casa da dona do
cinema Cine Oriental.
A partir de 1975, desde ai comecei a..claro que , já conhecia antes né, mais assim
pra conhecer mesmo, pra participar das sessões, a partir desse ano,1975.
porque, é na época, m,s pais não tinham casa em Parintins, e como ela era minha tia,
irmã do m, pai e aí , vim pra morar com ela, ai , morei uns anos...estudei, lá me formei,casei,
dentro nove anos, é.irmã do m, pai, Adelaide de Souza Teixeira Kimura casada com s,
Alberto Kasunori, era japonês. Cine Oriental. [...]: ah,morei nove anos. [...] não, morava,
estudava, e trabalhava como operadora cinematográfica, mesmo de máquina, entende? e os
filmes que passavam eram de que tipos? [...] olha, os filmes eram assim de todos os tipos, na
época assim era muito kung fu,entend, é muito é bang bang, é, muitos filmes brasileiros
também que vinha né, filmes brasileiros, e também tinha filme de romance, de amor, tinha
todos os tipos de filme. [...]: A imagem ela era cinemascope, tinha uns filmes pelo
cinemascope, que era aquelas telas maiores, e, mais a maioria era cinemascope mesmo.
colorido,: colorido né [...]: por que antes era em preto e branco quando era aquelas fitas de 16
mm, depois que passou pra 33, 36 mm melhorou[...]: é porque antes era 16 mm que era, era
preto e branco mesmo entend, era menor a tela e sabe que com a evolução da tecnologia e
tudo né aquelas coisas vão se modificando, e nos anos 70 houve uma mudança muito grande
com relação ao cinema, então quando as fitas vinham elas já eram em 33, entende, era
colorido a tela bem maior, ficou muito diferente, melhor mesmo, [...] olha, segundo
informações assim da família né, o cinema inaugurou dia 24 de dezembro de 1967. [...] é
80
funcionava na rua Faria Neto. [...]: só, não eram dois. Cine Oriental primeiro e Cine Oriental
segundo. [...]: não primeiro o Cine Oriental primeiro depois é assim porque tinha muita
procura naquela época, pois o cinema tava no auge, entend,, então era muitas pessoas,muita
gente, então a minha tia ela organizou outro que não era bem um cinema era uma fábrica,
mais eles organizaram, uma fábrica de guaraná, [...]: na mesma rua, no canto...esquerdo?
Direito, é direito [...]: é, na esquina bem na esquina, aonde tem um terreno lá.[...]: hoje aquele
terreno ele é do filho da minha tia, do Ademar [...]:então não funciona mais nada só é mesmo
o terreno. Ademar Kimura..então as máquinas operavam com quanto milímetros. [...]: 16 [...]:
aumentou 33 milímetros. Ia só no Cine Oriental, fazia visita pra minha tia , depois passei a
morar lá, morava, trabalhava, estudava, entende? [...] não, na verdade, fui uma vez, não
conhecia o cine Saul, né , fui uma vez lá, por que assim é, na época era muita concorrência
entre os dois cinemas, então a família que não gostava muito que a gente fosse assim pra não
dar aquela má impressão, por que a gente trabalhava num cinema, e tava freqüentando outro
cinema então , lembro que fui acho que duas vezes, escondida é claro. não tenho muita certeza
mais pelo que as pessoas falam né, o cine Saul já funcionava a muito antes. [...] os filmes que
vinham pro cine oriental os filmes eram bem parecidos, ou passava primeiro no Cine Oriental
ou passava primeiro lá, mais eram bem parecidos mesmo, tipo assim, passavam um kung fu lá
ai passavam um melhor lá no cine oriental eram bem parecido [...]:ele era acessível, os
estudantes tinham prioridade, meia entrada era bem acessível mesmo, podia ir no cinema a
partir de que idade [...]:na época, tinha muito controle sobre isso, sobre isso ai,o cinema
funcionava em dois horários, a tarde era mais criança, e quando era um filme proibido tinha o
cuidado de colocar, tinha o pessoal da, eles ficavam na porta fiscalizando,comissariado de
menores [...]:a primeira sessão as 4 horas,a outra sessão mas geralmente era as 16 horas, as 22
horas, todos os dias, não importava se tinha uma pessoa a gente tinha que passar praquela
pessoa [...]:só tem uma pessoa, ah , não todas as pessoas [...]:se tivesse uma pessoa so essa
81
pessoa ia assistir,ela tinha o respeito pelas pessoas [...]:olha só,quando , fui morar com a
minha tia, o m, tio dela tava doente, ele veio a falecer logo em seguida, o Almir estudava em
Belém, a alméria estudava em Belém as pessoas que moravam com elasó a sobrinha e ela [...]
75 abril de 75, ela sabia não sabia nas maquinas nos sabíamos quando o Almir vinha ele
repassava, que é o dono do cinema, ele é eletrônico, qualquer jeito, o s, Jair Mendes, ele
morava quase em frente, não é que ele fosse mecânico, ele ia lá e ajeitava, era só mulher,
depois, depois que a a minha tia trouxe um homem pra ajudar [...]:quando [...]:então o Jair era
como se fosse da família, era assim q funcionava, depois a minha tia contratou minha tia
sempre viajava pra São Paulo [...] Adelaide de Souza Teixeira Kimura [...] 3 pessoas, que
tomavam conta das maquinas era ela, mais 3, casou uma e ela chamou um rapaz pra nos
ajudar lembro, a Bete e a Maria do Carmo, [...]:uma mora em Manaus, a outra mora aqui em
Parintins [...] é as salas de projeção caso era só uma né?só uma bem grande [...]:não era tão
grande não [...]:olha, recebia, quando cheguei lá pra estudar e trabalha, minha tia procurou
assim, climatizar ventuína [...] Sim, teve uma época que os filmes passaram a vir de Santarém,
primeiro passava em Santarém no cinema de Santarém, depois que nós recebíamos aqui para
passar aqui, mas mesmo assim, É muita despesa, e muito compromisso o filme, por que assim
se por um acaso o cinema estragar alguma cena, nós tínhamos, nesse tempo, que pagar [...]
Olha faltava. Por que é quando o cinema fechou,ele fechou duas vezes. Quando ele fechou foi
na época que ,, a minha... prima casou primeiro, depois , casei, ai profissionais não tinha. Pra
ele tornar a funcionar a minha tia teve que chamar minha prima. então era muito complicado,
a gente casa, passa a ter a nossa família,e tudo, e lá o marido as vezes não quer, não deixa,
mais mesmo assim a minha prima foi e voltou a funcionar, depois disso é que como , te falei
que surgiram os mesmos filmes que passavam no cinema passava na Globo e nas outras TVs
e aí ficava complicado [...] É mais no fim de semana que tinha os filmes que as pessoas
gostavam mesmo, não interessava o dia não [...] Os dez mandamentos, o longa metragem, se
82
não me lembro, eram 4 horas de projeção, deixa eu ver...viu como eu te amo,passava muitos
filmes de kung fu, era muitos filmes que passavam[...] defino assim com muita tristeza, é, por
que, hoje, vejo: Parintins cresceu, Parintins se desenvolveu, e nós não temos assim um lugar
aonde nós pudéssemos sair né, aos sábados, aos domingos, encontrar um amigo, onde os
amigos se encontravam [...] A gente percebia Mesmo lá de cima dá pra perceber assim a
alegria das pessoas, então , defino assim com muita tristeza mesmo, hoje , vendo assim, tá
fazendo um m ano q , entrei no Cine Oriental e então , faço uma comparação do passado com
o presente, a minha tia de morrer ela tinha uma esperança muito grande, [...] ela gostava muito
daquele cinema, por que o m, tio antes de morrer [...] quando ele morr,, que ela continuasse
aquele cinema era tudo pra ele, e [...] A minha tia antes de morrer, ela gostava muito daquele
cinema [...] Que ela continuasse [...] Ela continuou, mesmo com a idade, ela reabrir o cinema,
ela tava sim reorganizando a estrutura, ela mandou colocar esponja, as metades das cadeiras
estão com esponja por que ela queria dar conforto as pessoas [...] Hoje, o teto tá caindo, chove
no cinema, por que na época o cinema está abandonado, e tu passa lá [...] Quando o Almir
veio aqui, (narrando: estou voltando pra Parintins, você sabe que esse cinema era a vida da
minha mãe) [...] Era mais no fim de semana [...] Não tem uma pessoa pra dirigir [...] não tem
profissionais [...] Por que que o cinema não volta a funcionar [...] Não tem uma pessoa que
possa dirigir [...] Quem ia La botar pra funcionar? [...] Se fosse funcionar o cinema hoje, ou
eu ou a bete ou o Almir mesmo poderia ensinar [...] É muito recurso, é muito alta a energia, o
preço é muito alto pra trazer os filmes de fora [...] As máquinas têm uma despesa muito alta
[...] Um materialzinho, Carvão, positivo e negativo, só em são Paulo que tem [...] Você liga
pra ter aquela tela clara, se não tiver aquilo, não funciona [...] O cinema do jeito que tá, tem
que reformar [...] Tinha condições, acredito que sim, que Parintins é uma cidade folclórica,
conhecida mundialmente, não é verdade?pela cultura e porque que não no cinema? por que tá
faltando o olho de alguém, uma iniciativa, e esse alguém, pra mim no m, ver seria assim
83
mesmo do poder executivo,no caso,então chamaria, quem é o dono? Ir chamar, vamos ver o
por que que o cinema fechou [...] acabei de esclarecer [...] Por exemplo, fechou por causa
disso, das piratarias, são responsáveis, o alto custo de um filme, se esse filme extraviar no
caminho, deve ser muito alto, talvez , tenho uma vasta.[...] O povo de Parintins está com sede,
é isso, com uma boa reforma, acredito que o cinema voltaria a funcionar [...] Uma realidade.
Mais a resposta é bem clara, [...] eles não gostam de falar desse assunto, muito complicado
84
APÊNDICES
85
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONASCENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE PARINTINSCURSO DE LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA
CARTA ACEITE PROJETO
Ao docente de Estágio do Curso de Licenciatura Plena em História
Senhor: Rooney Augusto Vasconcelos Barros
Eu, JÉSSICA DAYSE MATOS GOMES, matrícula nº. 0627080028, acadêmica do 7º
período matutino do Curso de Licenciatura Plena em História, venho através deste, vem
comunicar o aceite do docente Rooney Augusto Vasconcelos Barros da Universidade do
Estado do Amazonas –CESP-UEA, como orientador do projeto História e Cinema: a
História dos cinemas em Parintins-AM entre a década de 1960 aos anos de 1990, como
parte integrante da disciplina Prática de Ensino em História III e Estágio Supervisionado.
Atenciosamente,
________________________________ _______________________________
Jéssica Dayse Matos Gomes Rooney Augusto Vasconcelos Barros
Acadêmico Docente Orientador
Parintins, __de junho de 2010
Universidade do Estado do Amazonas – Centro de Estudos Superiores de ParintinsEstrada Odovaldo Novo, s/n, Dejard Vieira – Parintins – Amazonas.CEP: 69152-470 Tel: (92) 3533-6630 –
www.uea.edu.br