Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    1/52

     

    CENTRO UNIVERSITÁRIO METODISTA DO IPA

    RAPHAEL TREVISOL DE OLIVEIRA

    O CAVALEIRO DAS TREVAS DA IMPRENSA

    Uma leitura sobre a mídia por trás do manto do Batman

    Porto Alegre

    2012 

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    2/52

     

    RAPHAEL TREVISOL DE OLIVEIRA 

    O CAVALEIRO DAS TREVAS DA IMPRENSA

    Uma leitura sobre a mídia por trás do manto do Batman

    Monografia apresentada como requisito parcial para a

    conclusão do curso e obtenção do título de bacharel em

    Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, do

    Centro Universitário Metodista, do IPA.

    Porto Alegre

    2012

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    3/52

     

    RAPHAEL TREVISOL DE OLIVEIRA 

    O CAVALEIRO DAS TREVAS DA IMPRENSA

    Uma leitura sobre a mídia por trás do manto do Batman

    Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para a obtenção do grau de

    Bacharel no Curso de Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo do Centro

    Universitário Metodista do IPA.

    Porto Alegre, Novembro de 2012

    Prof.Mariceia Benetti

    Coordenadora do Curso

    Apresentado à banca examinadora integrada pelos professores:

     ________________________ ________________________

    Orientadora Professora Drª. Mariceia Benneti

    Professora Mª. Luciana Kraemer Centro Universitário Metodista do IPA

    Centro Universitário Metodista do IPA

     ________________________

    Professor Léo Flores Vieira Nunez

    Centro Universitário Metodista do IPA

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    4/52

     

    AGRADECIMENTOS

    À Bob Kane, Bill Finger, Frank Miller, Christopher Nolan e à todos que deram vida

    de alguma forma ao Batman e seu universo de maneira inspiradora.Aos que os conhecimentos serviram de inspiração para esse trabalho sem imaginar a

    sua contribuição e importância. Alexandre Ottoni e Deive Pazos ou Jovem Nerd e Azaghal.

    Affonso Solano, Diogo Braga e Roberto Duque Estrada os Matadores de Robôs Gigantes e à

    Thiago Borbolla, o Borbs.

    Aos meus amigos, conhecidos e desconhecidos que demonstraram interesse no

    trabalho instantaneamente ao ouvir a palavra “Batman” sem nem mesmo saber sobre o que se

    tratava.

    E especialmente ao meu pai, cujo gosto por quadrinhos infelizmente descobri tarde

    demais.

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    5/52

     

    RESUMO

    O trabalho em questão é a realização de um estudo sobre a mídia retratada nas histórias emquadrinhos (HQs), através da HQ: Batman  –   O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller. Para

    delimitar a pesquisa, o objetivo escolhido foi identificar qual o modelo de mídia que ganhavisibilidade na HQ de Frank Miller e de que forma(s) o jornalismo colabora na construção da percepção pública sobre o personagem Batman e a violência em Gotham, cidade fictícia dahistória. Para chegar à análise do objeto, foi realizada uma pesquisa sobre a história das HQs,o personagem Batman e também sobre teorias do jornalismo. Após apresentado o referencial,a metodologia utilizada para a análise é a Semiótica através do método de Umberto Ecoconhecido como Leitor-Modelo. A análise pelo método de Eco explana três fases deinterpretação, a leitura dicionário, enciclopédia e a do leitor-modelo. Com a união doreferencial e da metodologia foram analisadas quatro cenas da HQ envolvendo tanto o

     personagem quanto a mídia buscando confirmar a hipótese de que a mídia influencia tambémos contadores de histórias em quadrinhos além do público em geral.

    Palavras-chave: HQs, Batman, Mídia, Imprensa, TV, percepção, influência, leitor-modelo.

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    6/52

     

    ABSTRACT

    The paper in question is a study on the media portrayed in comics using: Batman - The DarkKnight Returns (TDKR) by Frank Miller. To delimit the search, the chosen objective was to

    identify which model of media gaining visibility in the comic TDKR and in what form(s)Journalism collaborates in building the public perception of the character Batman andviolence in Gotham, the history’s fictional city. To get to the object of analysis, we conducted

    a survey on the history of comics, the Batman character itself and also about theories of journalism. After the presented framework, the methodology used for the analysis is themethod of Semiotics by Umberto Eco known as Model-reader. The analysis by the method ofEco explains three stages of interpretation, reading dictionary, encyclopedia and the modelreader. With the union of reference and methodology were analyzed four scenes of TDKRinvolving both of character and media seeking to confirm the hypothesis that the media alsoinfluences the storytellers in comics than the general public.

    Keywords: Comics, Batman, Media, Press, TV, perception, influence, model reader.

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    7/52

     

    SUMÁRIO 

    1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 09

    1.1 O POTENCIAL DE GOTHAM PARA A PESQUISA EM COMUNICAÇÃO .............. 10

    1.2 JUSTIFICATIVA .............................................................................................................. 11 

    2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................. 13

    2.1 A HISTÓRIA DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS E SEUS SUPER-

    HERÓIS................................................................................................................................... 13

    2.2 O NASCIMENTO E A IMPORTÂNCIA DO HOMEM MORCEGO ............................ 18

    2.3 UMA BREVE LEITURA DE O CAVALEIRO DAS TREVAS ..................................... 24

    2.4 BATJORNALISMO E A MÍDIA ..................................................................................... 26 

    3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................................... 31

    3.1 TÉCNICAS DE COLETA E DE ANÁLISE DE DADOS................................................ 34 

    4 ANÁLISE ............................................................................................................................ 35

    4.1 DICIONÁRIO ................................................................................................................... 35

    4.2 ENCICLOPÉDIA .............................................................................................................. 36

    4.3 TRECHOS SELECIONADOS ......................................................................................... 37

    4.4 LEITOR MODELO .......................................................................................................... 47 

    5 CONCLUSÃO .................................................................................................................... 50 

    REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 53

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    8/52

     

    Ou você morre como herói ou vive o bastante para se tornar um vilão. 

    Harvey Dent 

    Batman - O Cavaleiro das Trevas (2008)

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    9/52

    9

    1 INTRODUÇÃO

    A imprensa tem uma forma característica de narrar os fatos do cotidiano. Para

    retratar situações que viram notícia, especialmente na televisão, a reportagem se utiliza da

    escolha de personagens. No jargão jornalístico, personagem é o indivíduo entrevistado que

    representa um grupo de pessoas com características, dificuldades, problemas, histórias

    semelhantes. Não raro, acabam se tornando estereótipos de questões abordadas. Mas o feitiço

    também vira contra o feiticeiro. A imprensa ocasionalmente é retratada de forma estereotipada

     pela ficção: filmes, seriados para TV, livros, histórias em quadrinhos. Em 2008, estreava nos

    cinemas Batman  –   O Cavaleiro das Trevas, escrito e dirigido por Christopher Nolan. O

    cineasta americano colocou um sorriso na cara de muitos fãs do homem-morcego que há anos

    não viam uma história do personagem no cinema tão bem feita. Para satisfação deste

    estudante de jornalismo, a obra adicionou um ingrediente diferenciado em relação aos filmes

    anteriores ao tornar Batman uma figura pública. E esta publicização foi feita através da

    imprensa. Um exemplo é quando o promotor de justiça da cidade de Gotham, Harvey Dent,

    convoca uma coletiva de imprensa para entregar o Batman à policia. Em quatro minutos de

    cena o filme revela várias peculiaridades sobre os formatos de apresentação da notícia emtelevisão. Este elemento narrativo acabou despertando o interesse pelo estudo. Como age a

    imprensa da cidade fictícia de Gotham e como ela constrói a imagem do personagem que

    encarna um dilema moral que aparece frequentemente no noticiário: qual o limite ético para

    enfrentar a violência urbana?

    Mas são nas histórias em quadrinhos (HQs) do Batman que a presença da mídia se

    faz mais visível, e é utilizada até mesmo para criar romances como o de Bruce Wayne com a

    Repórter de Gotham Vicky Vale. Foi Frank Miller, em 1987, quem criou a maior HQ doBatman já feita do personagem e utiliza o ponto de vista da imprensa, mais especificamente

    da televisão, para construir a opinião pública sobre o personagem. Um dos diferenciais dessa

    história é a crítica implícita que o autor faz à mídia, mais especificamente às coberturas

     jornalísticas da época, vistas por ele como pobres e sensacionalistas. As coberturas da mídia

    eram feitas especialmente nos casos de violência e em cima dos altos índices de criminalidade

    de Gotham transformando as notícias em relatos de guerra onde a população parecia não fazer

    nada para impedir esse cenário.

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    10/52

    10

    1.1 O POTENCIAL DE GOTHAM PARA A PESQUISA EM COMUNICAÇÃO 

    A maioria dos autores que estuda Batman e os personagens do seu universo

    realizaram pesquisas sobre os seus perfis psicológicos levantando teorias filosóficas de como

    funciona a mente dos personagens ou realizando estudos sobre a história deles e suas

    influências. Exemplo são os livros que serviram como inspiração e bibliografia para esse

    trabalho como o Dicionário do Morcego  do jornalista e fã de Batman, Silvio Ribas, e

    Batman e a Filosofia de William Irwin, Mark White e Robert Arp com excelentes discussões

    além de grandes teorias sobre o personagem. Outro livro que serviu de pretexto para o estudo

    do personagem, mas dessa vez por outro motivo, é o gerador da maior polemica da história

    das histórias em quadrinhos, o livro Sedução do Inocente, do alemão  Fredric Wertham

    lançado na década de 50 que praticamente excomungava as HQs e lançou polêmica sobre a

    relação entre Batman e Robin. Porém, nenhum desses estudos trata diretamente da imprensa

    nas histórias de Batman apesar de ser um tema já bastante abordado. Qual a influência da

    mídia nas ações dos personagens e no comportamento do público? Quais são os elementos

    utilizados pela mídia para colocar a violência como destaque em sua programação? O objetivo

    desse estudo é identificar qual o modelo de imprensa que ganha visibilidade na HQ de Frank

    Miller, Batman  –   O Cavaleiro das Trevas e de que forma(s) o jornalismo colabora naconstrução da percepção pública sobre o personagem Batman e a violência em Gotham.

    Para responder essas perguntas e chegar ao objetivo o estudo será organizado a partir

    de um referencial teórico sobre a história das HQs e do personagem Batman. Depois, durante

    o capitulo “Batjornalismo e a Mídia” iremos buscar uma definição de mídia a partir dos

    estudos do autor John Thomson e a utilização da violência como uma forma de linguagem por

    Elizabeth Rondelli. A construção de personagem e as teorias jornalísticas utilizadas serão

    abordadas a partir do ponto de vista de Eliza Casadei, Ivannoska Gurgel, Stephania Padovani,Antonio Hohlfeldt, François Jost e Beatriz Marocco.

    Já que falamos de uma HQ, um recurso visual e com uma interação que demanda

     basicamente criatividade do leitor em dar vida à cena, talvez o método mais adequado para

    realizar tal análise no trabalho seja o Leitor-Modelo de Umberto Eco e para isso utilizaremos

    os trabalhos de Lucia Santaella e Jauranice Cavalcanti. O autor italiano diz em seus estudos

    que o texto demanda uma participação de seu destinatário. Uma participação que vai desde a

    camada mais rasa do leitor que só percebe a obra pelo que ela literalmente é e a mais profunda

    onde o universo que envolve o objeto de estudo é considerado e as referências externas e

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    11/52

    11

    internas são incorporadas pelo leitor para absorver o conteúdo na posição de leitor-modelo.

    Isso tudo ele estava apenas se referindo a textos, talvez em HQs a análise vá ainda mais a

    fundo.

    1.2 JUSTIFICATIVA

    As histórias em quadrinhos tem uma forte ligação com o jornalismo. A popularização

    das HQs se deu graças à publicação dos mesmos em periódicos, no final do século XIX. Hoje

     já é possível perceber, não ainda como tendência, o uso do formato para retratar um fato

     jornalístico. Um dos exemplos mais recentes é o caso do show de Bob Dylan em São Paulo. O

    cantor norte americano em sua passagem pelo Brasil fez um requerimento inusitado. Sem

    fotógrafos e imprensa no seu show. Como se pode visualizar na figura 1, uma das soluções

    encontradas pelo jornal Folha de São Paulo, foi retratar o show em forma de quadrinho. Para

    isso o veículo convidou o quadrinista gaúcho Rafael Grampá, que havia ido ao show, para

    desenhar um retrato da sua perspectiva sobre aquela noite. Por outro lado, ambientes que

    costumam cercar o mundo jornalístico também são temas para as histórias em quadrinhos. O

     jovem Tim-Tim, por exemplo. Criado pelo belga Georges Prosper Remi, com o pseudônimo

    de Hergê, talvez seja o melhor repórter das histórias em quadrinhos e quem sabe do mundo. Não é simples coincidência também que Clark Kent enquanto não está trajando o

    colant azul e vermelho do Super-Homem para salvar o mundo, é jornalista no Planeta Diário

    da fictícia Metrópolis. Ou então Peter Parker e seu trabalho como o único fotojornalista capaz

    de registrar em fotos as ações dele mesmo como Homem-Aranha. É o que também conta a

    obra já citada e considerada como a maior das histórias em quadrinhos, Batman - O

    Cavaleiro das Trevas, objeto de estudo desse trabalho, que faz uso da narrativa de telejornais

     para contar a história de maneira singular. A importância e a influência das HQs são o maiormotivador dessa pesquisa que retrata tanto a busca de um fã em se tornar um leitor-modelo de

    uma obra quanto a análise de um jornalista sobre o porquê a imprensa é retratada de maneira

    estereotipada na ficção.

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    12/52

    12

    Figura 01: Quadrinho de Rafael Grampá para a Folha de São Paulo sobre o show de Bob

    Dylan que teve a entrada de jornalistas e fotógrafos vetada.

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    13/52

    13

    2 REFERENCIAL TEÓRICO

    2.1 A HISTÓRIA DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS E SEUS SUPER-HERÓIS

    O formato conhecido hoje das HQs, com desenhos e balões com diálogos teve

    origem nas tirinhas de jornal. Em 1895, as histórias de um garoto amarelo chamado Yellow

    Kid, criação do norte-americano Richard Outcault, surgia com o título de At the Circus in

    Hogan’s Alley. As tiras saíam nas edições dominicais, primeiro em preto e branco, mas a

     partir de cinco de maio do mesmo ano, em páginas coloridas do jornal estadunidense New

    York World, e duraram até 1898. Mas segundo o jornalista e fã de histórias em quadrinhos

    Silvio Ribas, também há quem diga que o pai do primeiro personagem de histórias em

    quadrinhos é brasileiro, só não foi reconhecido (RIBAS, 2005). Em 1869, o italiano radicado

    no Brasil, Angelo Agostini, escrevia histórias no formato de charges sobre um personagem

    chamado Nhô Quim para a revista Vida Fluminense, e em 1883 ele também publicou uma

    saga com 75 capítulos chamada As Aventuras de Zé Caipora. Não muito depois, em 1905

    surgia a primeira história em quadrinhos brasileira, destinada ao público infantil e criada por

    Luís Bartolomeu e Renato de Castro: O Tico Tico. Independentemente da paternidade das

    histórias em quadrinhos, o período que abrange o final do século XIX e o começo do séculoXX foi o marco inicial para a nona arte. Quarenta anos depois, teria os super-heróis

    aparecendo nas histórias e tomando conta das bancas.

    Esses super-heróis, como Batman e Super-Homem, surgiram no que se chama hoje

    de Era de Ouro dos quadrinhos, o período inicial de sucesso das HQs que ocorreu entre a

    década de 30 e de 50. Em 1935, o major Malcolm Wheeler-Nicholson, conhecido por escrever

    romances e contos para revistas  pulps1 na época, após ver o surgimento de uma revista de

    tamanho gigante que reimprimia as famosas tiras de jornal, resolveu criar uma das primeiraseditoras especializadas em histórias em quadrinhos dos Estados Unidos: a National Allied

    Publications. Foi a partir dela que nasceu a DC Comics, uma das maiores do ramo hoje, e

    detêm os direitos das histórias de Batman, Super-Homen, Lanterna Verde, Flash e muitos

    outros heróis. Segundo Trindade (2010) enquanto a maioria das editoras vivia de títulos que

    traziam apenas reimpressões de tiras, Wheeler-Nicholson lançou a revista New Fun, em

    1  Revistas Pulps eram publicações surgidas no começo do século XX e em grande maioria dedicadas a

    histórias de ficção científica sendo várias escritas pelo grande escritor Isaac Asimov.

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    14/52

    14

    fevereiro de 1935, a qual trazia material inédito e foi a primeira do ramo a trazer anúncios.

    Pouco tempo depois, haveria o lançamento de dois novos títulos, a New Comics e a Detective

    Comics, onde em 1937 surgiria o Batman. O maior problema enfrentado pelo major na época

    era a relutância dos donos de bancas de jornal em estocar material de uma editora

    desconhecida e sem público ainda. Essa relutância fez o empresário quase declarar falência e

    ser obrigado a aceitar o dono da gráfica onde imprimia as revistas como sócio na época, que

    futuramente viria a ser o novo dono da empresa tirando o major de cena.

    O primeiro período de grande sucesso das HQs, quando as vendas iam bem e as

     bancas estavam cheias de exemplares de uma enorme variedade de títulos, veio juntamente

    com a Segunda Guerra Mundial. Elas conquistaram um espaço não como apenas tiras de

     jornal, mas um meio de entretenimento de massa e uma maneira de contar histórias que existe

    e é renovada até hoje. Com a guerra também veio o esforço de apoio militar do governo por

    meio da mídia, incluindo nesse esforço as histórias em quadrinhos, um meio barato de

    investir, de divulgação e de esperança para a população e os soldados que participavam da

    guerra. Um personagem importante a surgir nessa época como parte desse esforço foi o

    Capitão América da Timely Comics, que se tornaria a Marvel Comics futuramente, e que na

    capa de sua primeira revista trazia o capitão invadindo o bunker de Hitler como meio de

    acabar com a guerra. Um dos motivos para as HQs se tornarem tão populares nesse períodoera justamente o preço. As revistas publicadas tanto pela National Comics como pelas outras

    empresas que surgiram na época custavam apenas 10 centavos de dólar, isso desde a primeira

    revista lançada em fevereiro de 1935. Esse era talvez a forma de entretenimento mais barata

    na época e acesso a literatura, além de ser um meio para distrair os soldados com um

    entretenimento barato, de fácil acesso e motivacional. O preço das revistas em quadrinhos à

    10 cents durou por um longo período de tempo, o primeiro aumento registrado foi somente

    em junho de 1962 quando passou a custar 12 centavos de dólar. Ou seja, o material que estavaem ascensão de público, permaneceu 27 anos com o mesmo valor. Mas as histórias em

    quadrinhos antes do período de guerra também teve outro background  que contribuía pela

     procura da população por uma maneira de entretenimento barato. O mundo inteiro ainda

    estava sentindo os efeitos da grande depressão causada pela crise de 1929 durante a década de

    30, onde os super-heróis surgiram e tentavam resgatar uma esperança para a população.

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    15/52

    15

    Figura 02: Capas das primeiras aparições de Super-Homem, Batman e Capitão América na

    Era de Ouro.

    Mas não somente de super-heróis combatendo as forças do Eixo viviam as histórias

    em quadrinhos durante a Era de Ouro. Revistas de faroeste, aventuras na selva como as de

    Tarzan e histórias infantis com os personagens da Disney enchiam as bancas na época e

    vendiam bem. Mas passado o período de guerra, a Era de Ouro dos quadrinhos chegava ao

    fim. Porém, a história das HQs também é marcada por outras três épocas até agora. As eras de

    Prata, Bronze e a Moderna.A transição entre as eras de Ouro e de Prata foi marcada por dois momentos

    importantes. O grande procura e os novos experimentos realizados com materiais atômicos

    que criou uma tensão de uma guerra nuclear entre EUA e União Soviética envolvendo a

    utilização de material atômico nuclear como fonte de energia de abastecimento para diversas

    cidades e também na criação de armas que acabou se tornando tema de diversas histórias. Já o

    outro momento foi a publicação de um livro que fez com que os quadrinhos passassem por

    talvez seu pior período na história. Em 1954, o psiquiatra alemão naturalizado norte-americano Frederic Whertam publicou um polêmico livro chamado Seduction Of The

    Innocent , baseado em suas análises e depoimentos de jovens da época. Ribas (2005) ainda

    afirma que:

    “Ele acusava as revistas de induzirem à delinquência juvenil, à perversidade sexual e

    aos sentimentos antiamericanos, além de levar a uma certa preguiça mental. (...) Otexto foi um dos principais fundamentadores da histeria moralista dos anos 50,também conhecida por “caça às bruxas”. (RIBAS, Silvio. 2005, p.220)

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    16/52

    16

    Um dos pontos mais debatidos no livro e gerador de maior polêmica é a constatação

    do autor de uma relação homossexual entre Batman e Robin nas histórias dos anos 40 e 50.

    Com a recente criação do Subcomitê sobre Delinquência Juvenil do Senado dos Estados

    Unidos em 1953, os editores de histórias em quadrinhos foram submetidos a códigos de ética

    e censura que regulamentavam e auditavam o conteúdo das HQs e que impactou fortemente

    nas vendas. Segundo Trindade (2010):

     No fim, as editoras se uniram e voluntariamente criaram o Código de Ética dosQuadrinhos (em inglês Comics Code Authority), o qual controlaria o conteúdo das

     publicações. (...) Dessa forma, uma época singular chegou ao fim de um modo umtanto quanto melancólico. A Era de Prata se avizinhava...(TRINDADE, Levi.2010o, p.8) 

    Com a queda de interesse das pessoas nos quadrinhos devido ao conteúdo mais fraco causado

     pela censura em todos os tipos e formatos de HQs, a DC Comics  decidiu por reformular

    alguns de seus personagens para tentar sair desse período de depressão, e foi em 1956 com a

    nova versão do herói Flash que as HQs entraram em uma nova era. A classificação como Era

    de Prata  foi adotada, segundo o produtor cinematográfico e historiador de quadrinhos,

    Michael Uslan, quando um leitor comentou na sessão de cartas da revista  Justice League of

     America  42, em 1966, que com o relançamento de heróis de décadas passadas pela DC as

     pessoas chamariam isso de “Anos Sessenta de Prata”. Esse período foi marcado pelos

    relançamentos de personagens da DC como o Lanterna Verde, Gavião Negro, Elécktron e

    também com o surgimento da Liga da Justiça da América  para tomar o lugar da antiga

    Sociedade da Justiça. Outro tema que marcou a época foi o conceito de universos paralelos

    criado pela DC para explicar o que aconteceu com os heróis e as histórias antigas publicadas

    na Era de Ouro. Também enchiam as prateleiras das bancas nessa época as histórias de ficção

    científica e outras baseadas em seriados televisivos dos anos 60 como Star Trek e 

    Frankstein Jr. Diversas editoras surgiram nessa época com personagens que duravam em

    média um ou dois anos. No entanto, outro movimento surgiu nessa época, o do quadrinho

    underground . Ainda de acordo com Levi Trindade (2010p, p. 10) “Enquanto a maioria dos

    gibis tratava de temas fantasiosos e irreais, as revistas independentes focavam em temas

    adultos e refletiam o movimento da contracultura da época.”. Já o final desse período   foi

    marcado por diversos fatores segundo historiadores. O aumento de preço registrado em 1969

    quando as HQs saíram da marca de 12 cents, a troca de profissionais entre as principaiseditoras e também a publicação da história que conta a morte da personagem Gwen Stacy,

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    17/52

    17

    namorada de Peter Parker na revista Amazing Spider-Man em junho de 1973, o que marcou

    também o retorno de temas mais sérios e adultos para as HQs de super-heróis.

    Findada a Era de Prata, durante os anos 70 e meados de 80 é a vez da Era de Bronze

    tomar posto na história das HQs. Durante esse período as revistas com temas mais

    diferenciados com as de faroeste, guerras e os romances entraram em decadência e muitas

    foram canceladas. Já as principais empresas como a Marvel e a DC Comics estavam lutando

     para retomar a temática adulta e por vezes sombria nas suas HQs e o marco principal dessa

    temática aconteceu quando ambas empresas publicaram histórias em duas de suas principais

     publicações, o Homem-Aranha  da Marvel e o Lanterna Verde  na DC, sobre o uso de

    drogas pesadas por personagens secundários, mas que teriam problemas ainda com o temido

    Código de Ética dos quadrinhos.

    Essa seria a primeira vez, desde os anos 50, que uma revista seria publicada sem o selo

    da censura. Outro fato importante para as histórias em quadrinhos e que aconteceu durante a

    Era de Bronze foi a criação da primeira mega saga. Em comemoração aos 50 anos da DC

    Comics, a editora decidiu criar um evento em suas histórias que colocaria fim nas terras

     paralelas criadas na Era de Prata e ajudaria a colocar ordem na casa da editora deixando todos

    os heróis e vilões em um único universo. Essa saga recebeu o nome de Crise das Infinitas

    Terras. O sucesso de vendas foi enorme, assim como o de crítica dos fãs, o que fez do eventoum marco na história das HQs e representar o fim e começo de mais uma era. 

    Figura 03: Os títulos Lanterna Verde e Homem-Aranha foram os primeiros a trazer o uso de

    drogas pelos jovens como tema de suas historias e o Mega Evento da DC, Crisis. 

    Com o final de Crise nas Infinitas Terras, a maxissérie em 12 partes da DC, começou

    também um novo período para as HQs. Esse período conhecido com Era Moderna  dos

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    18/52

    18

    quadrinhos apresentou o surgimento de vários estúdios e editoras independentes de

    quadrinhos que resultou na ida de artistas das principais editoras para elas devido a maior

    liberdade de criação. Essa época nas histórias de super-heróis teve grande importância para o

     personagem Batman. As principais histórias do personagem como O Cavaleiro das Trevas, A

    Piada Mortal, A Queda do Morcego, Morte em família e Ano Um surgiram nesse espaço de

    tempo recriando o ar sombrio do cavaleiro das trevas e fazendo com que a década de 80 fosse

    quase inteira dominada pelo Homem Morcego. Outra importante história que definiu o

     período foi a maxissérie Watchmen de Alan Moore e Dave Gibbons, publicada entre 1986 e

    1988 que se tornou um dos maiores sucessos editoriais da DC até hoje. A história ainda

    recebe formatos de aniversário e de luxo para os fãs e em 2012 ganha um  prequel  onde vai

    contar os acontecimentos anteriores à história original. A Era Moderna é o período atual das

    HQs e ficou caracterizado também pelas constantes e grandiosas sagas criadas pelas editoras

    após o sucesso de Crise nas Infinitas Terras o que fez com que muitos leitores acabassem por

    abandonar as revistas mensais e procurarem apenas as publicações especiais. Em 2011 a DC

    também passou por um reboot  completo em suas revistas onde zerou todas as numerações de

    todas as revistas publicadas para contar novamente a origem e os primeiros anos de todos os

    heróis. Essa manobra editorial foi chamada de Os Novos 52 que reduziu justamente para 52 o

    número de revistas publicadas pela editora. Dessas publicações, 11 títulos são pertencentes aouniverso de Batman reforçando a importância do personagem tanto para a editora quanto para

    as histórias em quadrinhos.

    2.2 O NASCIMENTO E A IMPORTÂNCIA DO HOMEM-MORCEGO

    O personagem Batman surgiu em 1939, criado por Bob Kane para a revista  Detective

    Comics. O personagem veio como o segundo super-herói da editora da  National Comics, que já tinha emplacado a HQ do Super-Homem um ano antes.

    Kane veio com a ideia de um herói mascarado chamada  Bird-Man que possuía asasmecânicas fixadas em seus braços. Ele levou, então, seu personagem para seu amigoe respeitado escritor Bill Finger, o qual sugeriu que uma revista como a  DetectiveComics deveria ter algo mais no estilo noir , ao invés de um homem-pássaro voador.De volta à prancheta, Bob Kane mudou o nome do herói para Batman, transformousuas asas numa longa capa, acrescentou um capuz e luvas, tentando aproximá-lo dosheróis pulps que gostava quando criança. (TRINDADE, 2010o, p.7)

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    19/52

    19

    O herói veio como um contraponto ao kryptoniano Super-Homem. Era mais obscuro, não

    tinha superpoderes e parecia inicialmente um detetive fantasiado que teria sua história e

     psicologia desenvolvida ao longo de 70 anos.

    Batman é o carro chefe de sua editora a  DC Comics, do grupo Time-Warner ,acompanhado de perto pelo alienígena Super-Homem. O homem de aço é, alias, oamigo que serve de contraponto ideal do Homem-morcego, opondo visual e caráter,

     passando pela dualidade das cidades onde cada um mora: a obscura Gotham e aradiante Metrópolis. (RIBAS, 2005, p.9) 

    Segundo Ribas (2005), o Cavaleiro das Trevas nasceu da influência de outras figuras já

    consagradas como Zorro, Drácula, Sherlock Holmes, e o Sombra. Inclusive em uma das

    versões do surgimento do Batman nas histórias em quadrinhos conta que no momento da

    morte dos pais de Bruce Wayne, eles saiam de uma sessão de cinema do filme A  Marca do

    Zorro, referenciando as influências da criação do herói. Porém Ribas (2005) também diz que

    há quem considere os verdadeiros pais do morcego, quando se fala em influências, Mary

    Roberts Rinechart, autora do livro A Escada Circular (1908) e os romances policiais de Lew

    Merril dos anos 30 que serviram de inspiração para toda a obra de Bob Kane.

    Assim como a Era de Ouro dos quadrinhos, a época de lançamento do personagem

    Batman também fazia parte do período de recuperação pós-crise financeira com a quebra da

     bolsa de valores de Nova York em 1929 que havia abalado todos os mercados mundiais. O

    final do período de longa depressão econômica era fértil para a literatura barata dos romances

     policiais e para a proliferação do crime na vida real, o que contribui para o surgimento do

    herói. Também era um período de tensão de guerra. Enquanto nos Estados Unidos Bob Kane

    lançava a Detecti ve Comics #27  onde surgiu a primeira história do personagem Batman, na

    Europa Adolf Hittler expandia os domínios alemães até setembro do mesmo ano quando

    invadiu a Polônia, culminando na II Guerra Mundial. De acordo com Trindade (2010), aSegunda Guerra Mundial eclodiu e os quadrinhos passaram a retratar os super-heróis lutando

    contra as forças do Eixo. “No geral os gibis venderam muito bem nessa fase, seja por seus

     preços baixíssimos ou por apresentar às massas histórias retratando o triunfo do bem sobre o

    mal.” (TRINDADE, 2010o, p.8) 

    Segundo Ribas (2005) as primeiras histórias de Batman exageravam na violência,

    mostrando um herói justiceiro que usava armas de fogo para combater criminosos. Porém

    logo depois ele largaria as armas e passaria a utilizar o seu maior e principal poder, a dedução.A origem do personagem foi contada na revista Detective Comics #33  , sete edições após a sua

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    20/52

    20

     primeira aparição na publicação. Batman é o alterego de Bruce Wayne. Bilionário de Gotham

    que viu seus pais serem assassinados, ainda quando era criança, ao saírem de um cinema (ou

    teatro, de acordo com algumas versões da história). O garoto de apenas oito anos teve sua

    custódia dada ao mordomo da família, Alfred Pennyworth que o criou e virou uma espécie de

    mentor.

    Bruce “morre” com seus pais, assassinados por tiros à queima-roupa disparados porum ladrão nas ruas. O que sobrou foi a personificação de sua vingança. Convicto desua tarefa, ele acaba arrastando sem esforço para seu lado outros descontentes com ocaos, como o comissário de policia James Gordon, os auxiliares diretos Alfred,Harold e Sasha, batgirls, robins e demais pseudônimos para identidades secretas.(RIBAS, 2005, p.11) 

    O assassinato dos pais de Bruce é o momento onde ele jura, sobre o corpo de seus pais

    vinga-los combatendo o crime de todas as formas, e assim, impedir que inocentes sofram.

    Desde os 14 anos de idade, ele busca levar seu corpo e mente ao limite da perfeição, indo às

    melhores faculdades e buscando especialistas que pudessem lhe ajudar na sua formação para

    combater o crime. Após 12 anos nessa busca pela perfeição, Bruce Wayne encontra a sua

    maneira de combater o crime. na história Batman  –  Ano Um, uma releitura mais detalhada da

    origem do herói após uma fracassada tentativa de combater o crime, Bruce está derrotado nasala de sua mansão, ensanguentado quando um morcego arrebenta sua janela. É o morcego

    que dá a ele a ideia. “Já vi essa criatura antes... em algum lugar. Ela me aterrorizou quando

    criança... me aterrorizou...Sim pai. Eu me tornarei um morcego.” (MILLER, 2011, p.32)

    O antes a que Bruce se refere é um dia enquanto ainda era criança, antes da morte de

    seus pais, quando ele cai em um buraco no jardim de casa ao perseguir um coelho (alguns fãs

    de Batman acreditam ser uma clara alusão ao livro Alice no País das Maravilhas de Lewis

    Carroll). Dentro desse buraco que mais tarde viria ser descoberto como batcaverna, o menino

    é afugentado por morcegos até seu pai vir resgata-lo, e se torna o medo que ele decide abraçar

     para afugentar seus inimigos.

    Batman surge como um vigilante noturno e solitário, mas acabou ganhando muita

    companhia combatendo o crime ao longo dos anos. Na década de 40 surge o primeiro

    ajudante. O personagem Dick Grayson foi inserido nas histórias do homem-morcego e

    apresentado como primeiro Robin e também o primeiro ajudante adolescente nas histórias de

    super-heróis, ou “ sidekiks” como são conhecidos. Para Ribas (2005, p.212) Robin “Foi criado

     para suavizar a imagem soturna de Batman para, assim, atrair o público mais jovem,

    sobretudo crianças.”. Dick Grayson é o primeiro Robin e que   depois cresce, vai para a

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    21/52

    21

    faculdade, assume a identidade secreta de Asa Noturna e ganha revista própria. Além dele, até

    hoje existem mais 3 Robins na cronologia oficial. O segundo, Jason Todd, é morto espancado

    com um pé de cabra pelo coringa na história Morte em Família. A morte do personagem foi

    decidida pelos leitores que deviam ligar para um número de telefone dado na história. Após

    Jason Todd quem assume o posto é Tim Drake, um jovem que descobre a identidade secreta

    de Batman e r esolve ajudá-lo na luta contra o crime, mas que depois sede lugar a outro

     personagem. A salteadora.

    O último e mais recente Robin é o jovem de 12 anos, Damian Wayne. Filho que Bruce

    teve com Talia Al Gul e que foi treinado pela Liga das Sombras, um dos clãs onde Bruce

    também havia sido treinado. Talia deixa o menino sob custódia de Bruce que nem sabia da

    existência do filho e ele acaba adotando a identidade de Robin depois de um tempo. O

    “batsquad ” como é conhecido os outros heróis que surgiram inspirados por Batman, tem  ele

    como mentor ou estão enquadrados dentro do universo do personagem incluem Batgirl,

    Batwoman, Mulher Gato, Oráculo, Asa Noturna e diversos outros.

    Ainda de acordo com Ribas (2005), as histórias de Batman incluem batalhas solitárias

    e em equipe, o caos de uma cidade arrasada por terremotos e epidemias e até as dores da

    abstinência de drogas. Os enredos do cavaleiro das trevas já o colocaram em coma profundo,

    crises existenciais, duelos com fantasmas reais e imaginários. Durante os mais de 70 anos do personagem, Bruce também “morreu”, ficou paralítico e foi preso sob injusta acusação de

    assassinato. E é claro, saiu dos quadrinhos para ganhar espaço em todas as outras mídias.

    Livros, filmes, grupos musicais, desenhos animados, videogames e brinquedos. Na década de

    60 surgiu o famoso seriado televisivo do Batman (1966-1968), com Adam West e Burt Ward

    nos papéis de Batman e Robin respectivamente, o que serviu para incrementar ainda mais a

     popularidade do personagem e também consolidar vários estereótipos e fazer com que

    Batman se tornasse um sinônimo de comédia na época. Demorou bastante tempo até o personagem recuperar o tom sombrio novamente fora das HQs. Em 1989, o diretor Tim

    Burton realiza a adaptação para o cinema de Batman que retoma o clima sombrio e obscuro

     para Gotham e para o personagem, um alívio para os fãs.

    Batman hoje possui 8 filmes, 11 títulos mensais nas HQs, 1 musical na Brodway, mais

    de 36 jogos de videogame e segundo Ribas (2005), já em 2005 havia duas revistas em

    quadrinhos na lista das 10 mais valiosas do mundo, a Detective Comics 27 de 1939 e a

    Batman 1 de 1940 que valiam 350 mil e 110 mil dólares respectivamente. O cavaleiro das

    trevas foi e continua sendo um mito no universo dos quadrinhos e da cultura pop mundial. 

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    22/52

    22

    Figura 04:  Batman Ano Um, quando Bruce Wayne decide incorporar o morcego como

    símbolo. 

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    23/52

    23

    2.3 UMA BREVE LEITURA DE O CAVALEIRO DAS TREVAS

    Batman - O Cavaleiro das Trevas é o título em português dado para a obra de Frank

    Miller lançada em 1986, The Dark Knight Returns. Essa história do homem morcego foi

    dividida em quatro partes e lançada em março do mesmo ano. Ela não faz parte da cronologia

    oficial do personagem, acontece em um universo alternativo da DC já que Frank Miller não

    fazia parte da equipe criativa mensal de Batman e foi convidado exclusivamente para escrever

    e ilustrar essa revista. O convite veio, pois o personagem precisava de um novo fôlego, afinal

    ele já era quase um cinquentão ainda combatendo o crime. Batman estava próximo de

    completar meio século de publicações nos quadrinhos desde a Detective Comics 27  e

     precisava retomar as boas tiragens de vendas, o agrado dos fãs e da critica.

    Apesar de não fazer parte da cronologia oficial do personagem, o autor utiliza de todo

    o plano de fundo existente nas histórias em quadrinhos do Batman para ambientar a sua

    versão. Pegando esse gancho, Frank Miller mostra a vida de Bruce Wayne com 50 anos de

    idade. Dez após ter aposentado o manto de Batman em razão da morte de Jason Todd 2, o

    segundo Robin. Em contra ponto a aposentadoria do herói, Gotham agora está passando por

    um período de alta criminalidade onde as gangues dominam e governam a cidade nãooficialmente.

    “A minissérie em quatro edições se passa numa Gotham futurística e caótica, onde

    os criminosos e mutantes fazem a festa. Nessa época Batman já é um homem velhoe cansado que está aposentado. Quando resolve voltar à ativa, a opinião pública sedivide: as tribos urbanas se mostram cada vez mais perigosas e uma delas chega a seapossar da imagem do herói.” (RIBAS, 2005. P.104)

    E é essa divisão de opinião que se transforma no grande trunfo da história, pelo menos para os estudantes de jornalismo e fãs de Batman. Frank Miller decide por utilizar uma

    narrativa jornalística para contar grande parte da história. Não escrevendo matérias e

     publicando em tirinhas de jornal, mas a opinião pública é vista através dos telejornais de

    Gotham, programas de entrevistas, debates, e até na previsão do tempo. Tudo relacionado

    com o retorno do Batman e a sua influência na cidade.

    2

      Jason Todd morreria na cronologia oficial das histórias em quadrinhos apenas em 1988, na históriaMorte em Família, já mencionada nesse trabalho anteriormente. Alguns fãs acreditam que O Cavaleiro das

    Trevas foi o responsável pela escolha futura da morte de Robin.

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    24/52

    24

    Bruce cansado de ver o crescimento da criminalidade em Gotham é chamado pela

    memória do assassinato de seus pais e a visão do morcego a se tornar novamente o Batman e

    limpar a cidade dos criminosos. Apesar de Bruce estar fora de forma e velho, Gotham precisa

    novamente do cavaleiro das trevas. Junto com a volta de Batman, a sua galeria de vilões

    também retorna. Pelo menos os mais icônicos, Harvey Dent que era conhecido como o vilão

    Duas Caras, tem o tratamento médico para a reconstrução de seu rosto e psicológico custeado

     por Bruce Wayne, mas mesmo Dent não acredita que seja possível curá-lo e continua agindo

    criminalmente. Coringa também se faz presente, após o desaparecimento de Batman há 10

    anos, ele não via mais sentido em continuar sua vida de criminoso e entrou em estado

    catatônico, porém com o retorno do herói o sorriso volta a aparecer no rosto do vilão junto

    com seu propósito de vida e crimes. Com a volta do Batman, os noticiários e programas

    televisivos bombardeiam a população com conteúdo sobre o herói. Discussões, entrevistas,

    críticas e matérias de todos os tipos envolvendo o cavaleiro das trevas fazem parte

    diariamente da vida das pessoas que acabam criando imagens e mitos sobre Batman baseados

    no que vêem.

    Apesar de todos os vilões clássicos da história, ainda com o acréscimo de novos como

    o líder da gangue dos mutantes cuja luta com o cavaleiro das trevas na lama marca de vez o

    retorno de Batman como um ideal e o surgimento de um novo Robin. O verdadeiro confrontode Batman é com a sociedade que está relaxada e com o governo que abraça a criminalidade e

    a corrupção. O símbolo máximo disso é a batalha entre o cinquentão Bruce vestindo não mais

    um traje, e sim uma armadura e o Super-Homem, transformado em um agente do governo. A

    luta é arranjada para acontecer no mesmo local onde os pais de Bruce morreram, os acessos

    são bloqueados pela polícia, a imprensa proibida de cobrir qualquer acontecimento na área e

    especula uma manobra para capturar o Batman no que seria o embate definitivo de ideologias

    e não um espetáculo de luta apenas. Os dois confrontantes não estão ali como heróis, mas osideais por trás de cada um. Batman utilizando todos os seus artifícios dá uma surra no

    Kryptoniano, e também planeja a sua morte na batalha, mostrando-se como Bruce Wayne,

     para que assim todos que o apoiavam e os membros de gangue que ele converteu para aliados

     possam seguir a sua cruzada sombria contra o crime. A notícia da morte de Batman e a

    revelação de sua identidade secreta marcariam uma nova era para a cidade de Gotham, porém

    Bruce finge sua morte por ataque cardíaco usando uma droga durante a luta com Super-

    Homem que faz com que seu coração volta a bater alguns dias depois. Batman agora volta

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    25/52

    25

    agir no silêncio e com a ajuda dos novos membros recrutados, sem dar pista novamente de seu

    retorno ou de vida. Batman volta a ser um cavaleiro das trevas.

    2.4 O BATJORNALISMO E A MÍDIA

    Como já foi visto, em Batman  –   O Cavaleiro das Trevas  a imprensa televisiva é

    muito utilizada na história, seja como recurso narrativo ou como parte da trama. Frank Miller

    também utiliza a HQ para fazer uma crítica à imprensa do período da Era Reagan 3, conforme

    declarou no texto de abertura da edição comemorativa dos 20 anos da publicação original de

    sua obra. Para o autor, essa época foi rica para produzir histórias em quadrinhos devido à

    explosão do índice de criminalidade, ameaças, e eventos cobertos e produzidos pela mídia.

    O Cavaleiro das Trevas é, obviamente, uma história do Batman. Em grande parte, procurei usar a escalada da criminalidade ao meu redor para retratar um mundo que precisava de um gênio obsessivo, hercúleo e razoavelmente maníaco para por ascoisas em ordem. Mas isso era apenas metade do serviço. Eu não guardei meuveneno mais poderoso para o Coringa ou pro Duas-Caras, mas para as insípidas eapelativas figuras da mídia que cobriam de forma tão pobre os gigantescos conflitosdaquela época. O que essas pessoas insignificantes fariam se gigantes andassemsobre a terra? Que tratamento elas dariam a um herói poderoso, exigente einclemente?(MILLER, Frank. 2011, p.9) 

    Miller (2011) refere-se à imprensa como um sinônimo de mídia, mas para poder

    analisar melhor os efeitos de “um gigante andando sobre a terra” e o tratamento que seria

    dado ao “herói poderoso, exigente e inclemente” é necessário descobrir de que mídia estamos

    falando.

    De acordo com Thompson (1998), pode-se considerar a mídia como um poder

    simbólico e que teve o surgimento como tal na segunda metade do século XV, juntamente

    com o desenvolvimento das técnicas de impressão. “O advento da indústria gráfica

    representou o surgimento de centros e redes de poder simbólico que geralmente escapavam ao

    controle da igreja e do estado.” (THOMPSON, John. 1998, p.54). O estado e a igreja

    utilizavam essas técnicas em benefício próprio, mas não tinha um controle sobre o seu

    alcance. Porém, em menos de um século, as técnicas de impressão foram aperfeiçoadas o

    suficiente para serem exploradas comercialmente. Os livros e manuscritos que simbolizavam

    3  A era Reagan corresponde ao período de mandato do presidente norte americano Ronald Reagan, de

    1981 a 1989 marcado principalmente pelos altos índices de criminalidade.

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    26/52

    26

    o conhecimento de poucos letrados na época eram de difícil acesso, mas a partir dos avanços

    nas técnicas de impressão eles começaram a ser replicados e vendidos alcançando um número

    maior de pessoas. Febvre e Martin (apud THOMPSON, 1998) estimam que antes de 1500,

    cada edição de uma obra tinha em média 500 cópias. No intervalo de um século, até 1600,

    algo entre 150 e 200 mil edições foram produzidas com uma média de mil cópias por edição,

    ou seja, quase 200 milhões de cópias foram produzidas no período. Com a enorme reprodução

    de material surgiram editoras e consequentemente uma indústria editorial. Para Thompson

    (1998), o surgimento de novas redes de poder dessa vez “se baseavam principalmente nos

     princípios de produção mercantil e que eram por isso mesmo relativamente independentes do

     poder político e simbólico controlado pela igreja e pelo estado.” (THOMPSON, John. 1998,

     p.57). De certa forma, a mídia surge como uma forma de poder diferente do econômico,

     político e do coercitivo, aquele que faz uso da força física, mas semelhante ao poder da igreja.

    O poder simbólico nasce da produção, transmissão e recepção do significado das formas

    simbólicas que de acordo com Thompson (1998, p.24), “podem provocar reações, liderar

    respostas de determinado teor, sugerir caminhos e decisões, induzir a crer e a descrer, apoiar

    os negócios do estado ou sublevar as massas em revolta coletiva.”.  

    Frank Miller critica tanto o poder que a mídia tem para induzir o público a tomar

    decisões, quanto o conteúdo transmitido diariamente através da televisão. Para Jost (2010)uma mídia só se constitui verdadeiramente como tal, a partir do momento em que passa de

    novidade técnica para o estágio de elaboração de programas e conteúdo. Para o autor, a

    televisão é sem dúvida a única mídia que mobiliza a atenção de todas as outras diariamente

    com sua programação. Para ele, apesar dessa mobilização a mídia televisiva é desvalorizada e

    um dos motivos para que isso aconteça é a confusão entre média (mídia) e medium (meio).

    “Condena-se a televisão (mídia), porque assistir passivamente às imagens (meio)seria uma atividade menos dignificante que outras. (...) A questão é frequentementealudida em proveito de uma amálgama entre os conteúdos e a mídia, comotestemunha o relatório Kriegel sobre a violência na televisão (2002), que toma como

     ponto de partida a condenação dos programas demasiado violentos ou pornográficos. (JOST, François. 2010, p.29)

    A história da HQ é contada em vários momentos através da televisão e do destaque da

    cobertura feita pela mídia sobre o cotidiano violento das cidades americanas a partir do

     personagem Batman. Ao analisar um fenômeno semelhante no Brasil, a antropóloga Elizabeth

    Rondelli notou que durante as duas últimas décadas no país a violência tem ocupado lugar de

    destaque em todos os meios de comunicação. Para Rondelli (2000), a cobertura jornalística

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    27/52

    27

    dada à criminalidade é destacada pela mídia e que gera debates, nos últimos anos tem sido

    aquela em que a polícia esteve envolvida. Nesse caso, onde o Batman esteve envolvido.

    Rondelli (2000, p. 155), também acredita que a valorização dada a esse tipo de notícia tenha

    uma finalidade de utilidade pública. Pra ela, “(...) a mídia além de enquadrar a violência

    segundo os requisitos e de acordo com as suas necessidades de rotina produtiva, oferece-a a

    visão, ao conhecimento e ao julgamento de outros sujeitos sociais.”, de uma maneira a se

    tornar um “dispositivo que pauta a violência na agenda diária da constituição dos discursos e

    ou sujeitos sociais.” (RONDELLI, Elizabeth. 2000, p.156).

    Cada notícia dessas contada pela imprensa é como uma história. Possui um início,

    meio e fim. Às vezes o fim não aconteceu ainda e será acompanhado pelos jornalistas, mas

    não deixa de ser uma história. O jornalismo conta histórias transmitindo informação de um

    grupo ou pessoa detentor dessa mensagem, para um grupo ou pessoa que vai receber a

    mensagem, chamado receptor de acordo com o pesquisador Mauro Wolf. Wolf (2003 p.144)

    “(...) muitas vezes, a repartição efetiva da opinião pública se regula  pela opinião reproduzida

     pelos mass media  e se adapta a ela segundo um esquema de conjecturas que se auto

    modificam.”, o termo mass media  na frase representa um emissor, seja um grupo, um

    indivíduo ou alguém que produz conteúdo, informações, ideologias e teorias. Já o receptor das

    mensagens ou do conteúdo limita-se somente a incorporar esse conhecimento e utiliza-locomo seu sem responder diretamente ao emissor. O autor francês Pierre Bourdieu (1997)

    também aborda a questão do emissor de maneira semelhante. Para ele os jornalistas têm

    “óculos” especiais a partir dos quais veem certas coisas e não outras e que operam uma

    seleção e uma construção do que é selecionado. “O principio de seleção é a busca do

    sensacional, do espetacular. A televisão convida à dramatização, no duplo sentido: põe em

    cena, em imagens, um acontecimento e exagera-lhe a importância, a gravidade, e o caráter

    dramático, trágico.” (BOURDIEU, Pierre. 1997, p.25). Uma das maiores críticas implícitas naHQ é ao mostrar Bruce Wayne zapeando a sua televisão e só encontrando exploração à

    violência das ruas e o crime cotidiano.

    O professor e teórico Mauro Wolf colabora novamente com outro pensamento. Para

    ele os “(...) estudos sobre a produção de notícias relacionam a imagem da realidade social,

    fornecida pelos mass media, com a organização e a produção rotineira dos aparelhos

     jornalísticos” (WOLF, 2003 p.182), ou seja, a opinião e a visão sobre a realidade social de um

    indivíduo com função apenas de receptor é construída e possivelmente moldada através das

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    28/52

    28

    mensagens e informações disponibilizadas pelo olhar ou pelos “óculos” dos mass media, a

    imprensa.

    As histórias contadas pela imprensa são uma visão sobre o mundo em que vivemos. E

    toda a história precisa de personagens. Segundo Scott McCloud (apud GURGEL;

    PADOVANI, 2006), seja em que mídia for os criadores sabem que os personagens são um

    elemento fundamental para garantir o envolvimento do público. No jornalismo não é

    diferente.

    O personagem é quem participa da história e muitas vezes, quem conta o ato. Segundo

    Vilas Boas (2002, p.125), o personagem no jornalismo "refere-se ao que é esperado de um

    sujeito e a maneira como ele acredita que sua imagem deve aparecer publicamente", afinal é

    ele quem constrói essa imagem (apesar de passar pelo olhar e avaliação do jornalista, editor e

    todos envolvidos em divulgar a notícia) a partir do seu depoimento e postura. Na maioria das

    vezes esse personagem é anônimo, desconhecido, cuja visibilidade na mídia será única e

    exclusivamente a partir daquela participação em uma reportagem e sua construção será

    completamente baseada no seu depoimento ou importância para a história. Mas e quando o

     personagem é uma figura conhecida, pública? Para Casadei (2010) é aí que se encontra o

     problema da construção de personagens no jornalismo, pois esse personagem já apresenta

    uma série de características e expectativas e será apresentado da maneira mais conveniente para a imprensa.

    Assim, mesmo quando se trata de personalidades públicas, o modo de se contar suavida pode ser bastante diferente a partir do tipo de urdidura de enredo que areportagem coloca. Assim, uma personagem como Sarney pode ser descrita tantocomo “ex- presidente da República” quanto como “apoiador do regime militar”, semque nenhuma destas duas informações seja falsa ou necessária em umareportagem. Escolher uma ou outra (ou as duas) depende quase sempre do tipo deestória que se conta (da problemática da urdidura de enredo) e do tipo de discursoque se quer respaldar. (CASADEI. 2010, p.87)

    Essa não é necessariamente uma maneira de manipular a informação e sim de usar ela

    da maneira mais proveitosa para o jornalista, mas que pode passar uma visão distorcida do

     personagem ao público.

    Esse personagem chega aos olhos da mídia por alguma razão. E aos olhos da massa

    somente após a pré-seleção do jornalista. Essa escolha sobre o que é importante ou não, é

    explicado a partir do conceito de  gatekeeper . A premissa se assemelha a usada por Bourdieu

    (1997) quando se refere aos filtros usados pelos jornalistas para selecionar informações. Wolf

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    29/52

    29

    (2003) diz que essas escolhas de conteúdo são como zonas de filtros controladas por sistemas

    objetivos de regras ou por gatekeepers. Nesse último caso, há um indivíduo, ou um grupo que

    tem o poder de decidir se deixa passar a informação ou se a bloqueia. Se deixa tal personagem

    fazer parte da história ou não.

    Outro conceito semelhante é o newsmaking . Wolf (2003) cita duas perguntas feitas por

    Golding e Elliott que ajudam a melhor exemplificar o conceito. Que imagem os noticiários

    televisivos fornecem do mundo e como se associa essa imagem às exigências quotidianas da

     produção de noticias? Segundo ele essa abordagem se articula em dois limites, a cultura

     profissional do jornalista e a organização do trabalho e do processo produtivo. Cabe ao

     jornalista e as empresas jornalísticas selecionarem o que acontece no cotidiano, no dia-a-dia

    que é capaz de virar notícia. “A seleção implica, pelo menos, o reconhecimento de que um

    acontecimento é um acontecimento, e não uma casual sucessão de coisas cuja forma e cujo

    tipo se subtraem ao registro.” (WOLF, 2003, p.188), ou pelo exemplo dado em todas as

    faculdades de jornalismo, notícia é quando o dono morde o cachorro.

    Se por um lado, há uma abundancia de fatos e histórias acontecendo e cabe ao

     jornalista filtrar o que é, e o que não é notícia, por outro lado existem restrições nas

    organizações de trabalho que acabam por criar convenções e determinações de o que pode e o

    que não pode ser noticiado. Essas restrições estabelecem critérios de relevância que definem anoticiabilidade de um acontecimento. Porém, os critérios acabam por vezes fragmentando um

    fato e transformando apenas uma parte em notícia, descontextualizando a informação sem

    mostrar os acontecimentos que levaram o fato a virar notícia.

    As pesquisas sobre o conteúdo dos telejornais revelam como eles (mas não apenaseles) se diferenciam pela fragmentação da imagem da sociedade, mediante a [...]

     justaposição de acontecimentos-notícias cada um dos quais é apresentado comoauto-suficiente, não explicado nenhum outro acontecimento-noticia. (ROSITI apud

    WOLF, 2003, p.192)

    Já a teoria e o fenômeno do agendamento de notícias estudado por Maxwell McCombs

    na década de 70 também se aplica bastante ao caso estudado. Como cita o autor Antonio

    Hohlfeldt (1997, p.44) “dependendo dos assuntos que venham a ser abordados –  agendados –  

     pela mídia, o público termina, a médio e longo prazos, por incluí-los igualmente em suas

     preocupações.”, fazendo com que as pessoas acabem sendo suscetíveis ao que a mídia julga

    importante e da maneira em que ela julga importante.

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    30/52

    30

    Hohlfeldt (1997) ainda cita um acompanhamento feito por McCombs sobre a

    campanha eleitoral nos EUA que comprovou como a mídia agendou o tema na opinião

     pública e também nos sujeitos envolvidos diretamente com o tema. Segundo ele:

    Verificou-se, então, que a mídia, de fato, havia provocado um forte impacto einfluenciado significativamente o eleitor. A novidade, contudo, é que, mais do queinfluenciar o eleitor (em princípio, o receptor que estava sendo pesquisado),verificou-se que a mídia terminara por influenciar também os próprios candidatos,fazendo com que muitos deles incluíssem em suas agendas temas que, inicialmente,não constavam das mesmas, mas que, ou por terem sido abordados por seusconcorrentes, ou porque foram agendados pela mídia, terminaram por serconsiderados pelas agendas dos candidatos. (HOHLFELDT 1997, P.46)

    Portanto, além do público simplesmente receptor da mensagem, os personagens

    também podem ser afetados pela mídia como no caso das eleições americanas da década de

    70, onde os candidatos incorporaram assuntos ditados pela mídia como importantes em suas

    campanhas. Pessoas se transformam em personagens à medida que ganham importância para

    a história, caso contrário, permanecem como figurantes do ato ou consumidores da história.

    3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

    Analisar uma HQ envolve diversos tipos de interpretação. Além da

    compreensão do texto e a percepção da ilustração, existem elementos não implícitos, mas que

    contribuem para ter mais um ponto de vista sobre a obra. O traço característico de um artista

    específico, as cores utilizadas pelo colorista ou não utilização delas, e também o

    conhecimento do contexto histórico em que a obra se insere. No caso do Batman, são mais de

    70 anos de histórias e uma galeria enorme de escritores, roteiristas e ilustradores ao longo

    desse tempo. As HQs, que também são chamadas de artes-sequenciais, funcionam como

     frames congelados de um filme, cujas transições e “animações” fazem parte da imaginação do

    leitor, o que também permite uma enorme gama de possibilidades para a interpretação dentro

    da história. Dentre as possíveis maneiras de reunir esses elementos, a metodologia escolhida

    foi a análise qualitativa através da semiótica.

    A semiótica poderia ser definida de maneira simplificada como o estudo da

    linguagem e suas interpretações. Porém, somente o significado de linguagem já exige um

    maior aprofundamento. Para a autora do livro “O que é Semiótica?”, Lucia Santaella (1983),

    Quando dizemos linguagem, queremos nos referir a uma gamaincrivelmente intrincada de formas sociais de comunicação e de significação queinclui a linguagem verbal articulada, mas absorve também, inclusive, a linguagem

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    31/52

    31

    dos surdos-mudos, o sistema codificado da moda, da culinária e tantos outros.Enfim: todos os sistemas de produção de sentido aos quais o desenvolvimento dosmeios de reprodução de linguagem propiciam hoje uma enorme difusão.(SANTAELLA, 1983, p.11) 

    É um conceito bem amplo. Amplo no sentido de que envolve praticamente qualquer

    área de desejo da pesquisa, pois tudo é feito através da linguagem, seja ela específica e única

    da área estudada ou universal. Santaella (1983) considerava ainda na década de 80 a semiótica

    como uma ciência que estava nascendo e em processo de crescimento com um território ainda

    não sedimentado, em progresso. A semiótica tem por objetivo “o exame dos modos de

    constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de significação e de

    sentido.” (SANTAELLA, 1983, p.13). Para não confundir a utilização do termo linguagem

    com língua, usasse a nominação signo como forma de referir-se ao objeto de estudo da

    semiótica. Portanto, o estudo dos signos nada mais é do que a análise da produção de

    significado de um objeto linguístico.

    Para a autora, a origem dessa ciência é divida pelo mundo em estudos semelhantes

    feitos praticamente no mesmo período, durante o final do século XIX, nos Estados Unidos, na

    União Soviética e também na Europa Ocidental. O modelo que ficou mais conhecido e

    também foi adotado por Lucia Santaella para contar as origens da semiótica, foi do cientista,

    lógico e filósofo norte americano Charles S. Peirce. De acordo com a autora, uma das

     principais contribuições de Peirce mostra qualquer produção, realização e expressão humana

    como sendo uma questão semiótica, apesar de isso não significar que ela tenha sido concebida

    como uma ciência onipotente, ou toda suficiente. O cientista ainda dizia que os fenômenos da

    linguística aparecem à consciência do ser humano de três modos ou camadas. A primeiridade,

    secundidade e terceiridade.

    Primeiridade refere-se à camada mais rasa da consciência, imediata e espontânea.

    Santaella (1983) refere-se a essa primeira camada como “qualidade de sentimento e, por isso

    mesmo, é primeira, ou seja, a primeira apreensão das coisas, que para nós aparecem.”

    (SANTAELLA, 1983, p.46), e que serve como incentivo e gancho para a secundidade. O

    sentimento registrado na primeira camada necessita de uma experiência em seu caráter

    factual, da existência da matéria e é essa a definição de secundidade.

    Certamente, onde quer que haja um fenômeno, há uma qualidade, isto é,sua primeiridade. Mas a qualidade é apenas uma parte do fenômeno, visto que, para

    existir, a qualidade tem de estar encarnada numa matéria. A factualidade do existir(secundidade) está nessa corporificação material. (SANTAELLA, 1983, p.47)  

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    32/52

    32

    Terceiridade então realiza a união entre o primeiro e o segundo nível em um

     pensamento de significações, interpretações dos signos vistos. Santaella (1998) diz que a ideia

    mais simples dessa camada de pensamento é a de um signo ou representação que “diz respeito

    ao modo, o mais proeminente, com que nós, seres simbólicos, estamos postos no mundo.”

    (SANTAELLA, 1983, p.51).

    Dentro da semiótica o modelo de análise escolhido foi o modelo proposto pelo

    italiano Umberto Eco, chamado Leitor-Modelo. Foi em Lector in Fabula , obra escrita em

    1979 onde Umberto Eco acrescenta uma sedimentação teórica ao tema e onde esse modelo de

    leitor deixou de ser apenas um tópico de discussão entre intelectuais e se tornou um objeto de

    estudo e ensino. Cavalcanti (2008) no seu artigo “o leitor modelo de eco” explica que Eco

    acreditava que a língua não se reduz a um código, que é necessário haver certa capacidade do

    leitor de pôr em funcionamento certos pressupostos. 

    Quando o autor produz um texto, faz uma hipótese sobre como este serálido, que caminhos o leitor deve percorrer. Faz uma previsão de como será esseleitor. ECO o denomina leitor modelo. Ele deve se mover no nível da interpretaçãoda mesma forma que o autor o fez no nível generativo. (CAVALCANTI. 2008, p.2) 

    Uma importante ressalva que a autora também faz, é que não se espera que esse tipo

    de leitor exista e sim que o texto seja trabalhado de maneira à construí-lo. Há diversasmaneiras de fazer isso, pela escolha da linguagem, a escolha do tipo de enciclopédia exigida

    do leitor ou que deve trabalhar com ele. O importante também é que o leitor não se mantenha

     preso no texto e se permita sair dele. Não desistir da leitura e sim realizar os chamados por

    Eco “passeios inferenciais”. Para ele essas saídas devem ser orientadas pelo texto, enquanto o

    leitor interpreta e atualiza a obra de maneira própria. Isso não quer dizer que o leitor

    transforme o processo de leitura em uma investigação onde ele irá procurar por pistas,

     passeios inferenciais e referências de enciclopédia. Cavalcanti (2008) diz ainda existir a

     possibilidade do leitor fugir do texto e não obedecer às previsões feitas pelo autor. Descobrir

    novas inferências, realizar diferentes análises e descobrir caminhos não pensados, não

    navegados, mas que se sustentam no texto. 

    Ler é, portanto, na perspectiva de ECO, muito mais apreender o que otexto não diz, aquilo que sugere, implícita. Um leitor que tem acesso à gramática dalíngua, ao vocabulário, mas não a outros códigos, tem dificuldades em (re)fazer acaminhada interpretativa. (CAVALCANTI. 2008, p.3) 

    Para Eco, só se pode falar em leitura quando o leitor é capaz de preencher os espaços

    em branco da obra, seja da forma prevista pelo autor ou também de maneira autorizada pelo

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    33/52

    33

     próprio texto. É importante que o leitor faça hipóteses, crie suas teorias e teste elas de maneira

    ilimitada ou enquanto o texto permitir. Toda essa construção é a busca necessária para atribuir

    sentido à obra pelo leitor-modelo. Esse modelo é semelhante aos níveis de análise de Peirce e

    apresenta três camadas de pensamento. A análise dicionário, enciclopédia e o leitor modelo. A

    visão dicionário da obra remete a aquilo que ela é, a primeira impressão da obra. A camada

    enciclopédia refere-se ao universo onde o leitor precisa estar inserido e que facilitará a

    interpretação dos signos. “Na competência enciclopédica do leitor partilhada pela comunidade

    na qual está inserido.” (CAVALCANTI. 2008, p.2). E por  fim, Leitor-Modelo é a etapa onde

    acontece os passeios inferenciais e as interpretações em cima da obra analisada a partir de

    uma ou diversas enciclopédias de conhecimento. 

    3.2 TÉCNICAS DE COLETA E DE ANÁLISE DE DADOS

    A análise será feita a partir da compreensão sobre o Leitor-Modelo de Eco, e foram

    utilizadas as pesquisas bibliográficas, através de obras referentes ao objeto analisado e as

    hipóteses levantadas, e também a pesquisa documental, como o recorte de quatro momentos

    distintos da HQ Batman  –  O Cavaleiro das Trevas (1986). A versão da HQ utilizada foi a

    Edição Definitiva lançada em 2011 que compila além da história original, uma continuação e

    material exclusivo que foi utilizado apena como apoio, pois a análise se baseia na obraoriginal e no seu contexto. Das 203 páginas que compõe a história criada por Frank Miller em

    1986, serão analisadas oito páginas referentes a esses quatro momentos.

    4.ANÁLISE 

    Como já foi visto, o modelo de Eco divide a análise em três partes. Serão duas visões

    gerais da obra, a dicionário  utilizada para um entendimento da HQ como um todo e a

    enciclopédia, que permitirá compreender melhor o universo de referências utilizado nashistórias do Batman. Já o leitor-modelo será aplicado ao conjunto de cenas analisadas,

    individualmente e como um todo. Seguiremos uma sequência cronológica nas cenas

    analisadas que, além de facilitar o entendimento da história, permite acompanhar a evolução

    do posicionamento utilizado pela imprensa nas notícias que envolvem o Batman.

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    34/52

    34

    Figura 05:  Capa original de Batman  –   O Cavaleiro das trevas, 1986 e da edição

    definitiva lançada pela Panini em 2011.

    4.1 DICIONÁRIO 

    Batman  –  O Cavaleiro das Trevas, como citado antes, é uma obra que não está nalinha cronológica do personagem, acontecesse em um universo paralelo às histórias mensais

    do Batman. A história foi encomendada para marcar o cinquentenário do homem morcego e

    tentar retomar as boas vendas das revistas da DC Comics. Escrita e desenhada por Frank

    Miller, arte-finalizada por Klaus Janson e com cores de Lynn Varley, a obra foi lançada em

    1986 e dividida em quatro partes. A história mostra Bruce Wayne com 50 anos de idade, dez

    após ter largado o posto de vigilante fora da lei de Gotham e agora sendo forçado a retomar

    sua cruzada contra o crime de uma cidade em clima de guerra civil, onde as gangues seintitulam donas das ruas e não temem à polícia. Além do conflito urbano, Batman enfrenta

    uma dualidade de visões passada sobre ele pela mídia onde alguns o apoiam e outras

    recriminam seus feitos.

    A HQ também mostra a rivalidade de ideais entre Bruce Wayne e o governo com o

    seu ponto alto na batalha entre Batman e Super-Homem, cada um representando um dos lados

    que de acordo com Ribas (2005) serve para “finalmente definir quem é o maior herói do

    universo DC.” (RIBAS, 2005, p.104). A minissérie tem grande importância para a indústria

    que ganhou novo fôlego após o sucesso imediato da obra e serviu para alavancar o gosto por

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    35/52

    35

    quadrinhos de super-heróis em países como o Brasil, ao ganhar a primeira edição de luxo de

    uma HQ importada. Já para os fãs, é uma história que nunca morre, pois até hoje existe

    material sendo feito em cima da obra. Exemplo desse sucesso é a edição definitiva lançada

     pela Panini em 2011, 25 anos após a primeira publicação e com material exclusivo como o

    roteiro original, estudos de personagem e uma introdução escrita pelo próprio Frank Miller.

    Outro exemplo é o longa de animação baseado na HQ que está sendo lançado diretamente em

    DVD e Blu-ray pela DC dividido em duas partes. A primeira foi lançada em 2012 e a segunda

    está prevista para o primeiro semestre de 2013.

    4.2 ENCICLOPÉDIA 

    O universo que compõe as histórias do cavaleiro das trevas apesar de ser ficcional

     possui referências ao cotidiano do mundo real. A primeira delas está na cidade do herói, a

    fictícia Gotham. A cidade localizada em Nova Jersey é um retrato gótico de Manhattan e sua

    metrópole Nova York. Segundo Ribas (2005, p.142), “(...) o nome da cidade surgiu na revista

    Wow Comics 1, da Fawcet, no inverno de 1940. Até então o Cavaleiro das Trevas morava em

     Nova York, que sempre teve o apelido de Gotham.”, além disso a cidade também é conhecida

     pelos altos índices de criminalidade, cenário que era frequente na metrópole americana nos

    anos 40 quando começaram as histórias do herói mascarado. Gotham possui seu diferencial justamente na proximidade com o real. Ao contrário de Metrópolis, Starlling City, Coast City,

    e as outras cidades fictícias do universo DC, que funcionam somente no contexto dos super-

    heróis dos quadrinhos, Gotham é uma cidade possível e com problemas reais. Entre os

     principais problemas estão a violência, a desigualdade e até as catástrofes naturais como na

    história “Terra de Ninguém”, onde um terremoto destruiu a cidade.

    Miller (2011) em seu texto de abertura deixa claro que além de fazer uma história

    sobre o Batman, aproveitou o espaço para criticar a imprensa e o sensacionalismo que ele vianas coberturas televisivas. Para realizar a crítica, utilizou as coberturas dos jornais de assuntos

    que retratavam a criminalidade cotidiana e sua ideia de como Batman poderia fazer parte

    dessas coberturas e de que maneira seria retratado. O autor, apesar de saber a história seria

    considerada um futuro alternativo para o personagem, sem fazer parte da cronologia mensal

    oficial, fez uso do contexto histórico do personagem como os vilões, sua origem e até

     problemas enfrentados fora das histórias em quadrinhos. Exemplo desse contexto são as

    acusações do psiquiatra alemão Fredric Whertam no livro “A Sedução do Inocente”, que

    foram incorporadas a um personagem da HQ, o psicólogo Bartholomew Wolper. O psicólogo

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    36/52

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    37/52

    37

    1ª Cena –  Um retrato do mundo 

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    38/52

    38

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    39/52

    39

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    40/52

    40

    2ª Cena –  Quem é o vigilante mascarado

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    41/52

    41

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    42/52

    42

    3ª Cena –  Os atos do Batman 

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    43/52

    43

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    44/52

    44

    4ª Cena - A Culpa é do Batman 

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    45/52

    45

    4.4 LEITOR MODELO 

    A primeira cena escolhida acontece logo no primeiro capítulo da  graphic novel   e

    mostra Bruce Wayne zapeando pela televisão em sua mansão. Bruce se lembra, após passar

     por um canal transmitindo o filme Zorro, do dia da morte de seus pais. Por todas as emissoras

    que passa somente enxerga a criminalidade retratada nos boletins jornalísticos e um relato

    sobre a previsão do tempo. Se o jornalismo é uma forma de retratar o mundo em que vivemos,

    Gotham está tomada pela violência e essa é a notícia mais importante já que está em todos os

    telejornais. Essa é a primeira visão crítica de Frank Miller sobre a mídia e a imprensa. As

    linguagens da violência externadas na mídia têm sido estudadas pela antropologia, e Rondelli

    (2000, p.147) traz a seguinte contribuição: “Tais imagens apontam para aquilo que

    caracteriza, sobretudo, a existência social neste país: a desigualdade brutal, estrutural, tão

    atávica que passa a ser, de certa maneira, naturalizada.”.

    A autora se refere ao Brasil, mas o cenário de violência se encaixa facilmente ao

    retratado na história no contexto da época. No universo das histórias de Batman existe um

    grande abismo entre Wayne com sua milionária conta bancária e o resto da população que

    vive às margens da pobreza onde a criminalidade acaba sendo tratada como um fenômeno

    natural. Como visto antes no capitulo “O Batjornalismo  e a Mídia”, a autora Elizabeth

    Rondelli também vê a violência pautada diariamente como maneira de agendar discursos e pautar discussões de outras figuras sociais (o telespectador), como uma maneira de fazer com

    o que a população se de conta do problema social. Bruce Wayne, como “receptor” do

    conteúdo que retrata a violência e criminalidade reproduzida pela mídia, é afetado diretamente

    e responde ao estimulo retomando seu manto de cavaleiro das trevas no combate ao crime.

    Outra crítica que parece implícita e que se relaciona a este atavismo exposto por

    Rondelli (2000) é a é a justaposição de assuntos. Há um grande abismo entre um tema e outro:

    a violência junto com o uso da previsão do tempo.Batman ainda não apareceu nos telejornais até essa parte do quadrinho, a única

    menção ao homem morcego ocorre nas primeiras páginas da HQ anunciando que naquele dia

    se comemoraria “o décimo aniversário da última vez que Batman foi avistado.” Não temos

    uma posição da mídia sobre o personagem, mas pode-se começar a construir um perfil sobre a

    imprensa de Gotham, onde a violência é considerada natural e apesar disso, ganha destaque

    em toda a grade de programação.

     Na segunda cena, Batman aparece pela primeira vez nos noticiários sendo descrito

     pelos seus atos. Para alguém que possivelmente não conhecesse o homem morcego, a

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    46/52

    46

     primeira impressão que os jornais passam é de uma criatura com “aspecto de morcego”,

    semelhante ao “Drácula” e que combate o “submundo de Gotham”. Novamente a

    criminalidade tem lugar de destaque nos telejornais. O primeiro jornalista a retratar a volta do

    morcego interrompe o seu informe sobre “os avanços nas técnicas de implante de cabelo”

     para dar a noticia.

    Batman começa a ser construído como um personagem necessário para o

    envolvimento do público na história (nas notícias e não da HQ em si) como já foi visto

    anteriormente. O homem morcego é um justiceiro que combate o crime com as próprias mãos

    e sem se importar com o pensamento da polícia ou dos grupos que fazem a defesa dos  direitos

    humanos. Batman é um reflexo da indignação da população de Gotham que gostaria de

    combater a criminalidade de igual para igual, sem a intimidação imposta pelas gangues à

     polícia e aos cidadãos. Nesse contexto, temos a construção de um herói para o público, mas

    criminoso para a polícia. Uma linha sombria para ser retratada na mídia, pois qualquer

    terminologia, herói ou criminoso, está correta. Só depende da maneira como será empregada e

    o impacto que se quer causar como exemplificado por Eliza Casadei anteriormente.

    A terceira cena serve como reforço para essa posição midiática sobre o homem

    morcego e ao agendamento noticioso agregado a ele e à violência. Tanto o porta voz do

     presidente da república quanto o psicólogo que aparecem no programa televisivo, acreditamque Batman seja uma invenção da mídia. Não que ele não exista, mas que a discussão e a

    valorização do “fenômeno” Batman só existe, pois a imprensa o traz à tona. A opinião das

    duas primeiras pessoas que aparecem na cena é igual ao discurso apresentado pelos

    especialistas na sequencia, uma maneira de mostrar que as pessoas são influenciadas pela

    mídia para criar suas percepções da realidade e dos personagens. Muito semelhante a este

    entendimento é o pensamento de Wolf (2003) de que a opinião pública se regula através da

    opinião reproduzida pelos mass media. Já o último quadro da cena, mostra uma intervençãocaracterística e até estereotipada do jornalista em debates, principalmente os de temas

     políticos, com a afirmação “Você não respondeu exatamente a minha pergunta.”,  que

    funciona como uma sátira e crítica à maneira de conseguir informações da mídia.

     Na quarta cena, temos a ocasião mais próxima a um acontecimento real recente e

    retratado de forma muito semelhante pela imprensa. Essa cena é fechada, começa e termina na

    mesma página e não tem relação direta com o andamento da história, é apenas uma crítica às

    associações feitas pela mídia. A cena começa com Arnold Crimp, um sujeito com distúrbios

  • 8/17/2019 Monografia O Cavaleiro Das Trevas Da Imprensa

    47/52

    47

    mentais que mata quatro pessoas em um cinema pornô sem motivo aparente, porém o fato é

    noticiado como um “atentado a bala inspirado no Batman”.

    A semelhança do trecho com a realidade é maior do que uma simples crítica e é

    atemporal. Em julho de 20124  estreava nos cinemas o último filme da trilogia Batman de

    Christopher Nolan, “Batman  –   O Cavaleiro das Trevas Ressurge”. Durante uma sessão de

    estreia nos Estados Unidos, um homem matou 12 pessoas e feriu outras 59 dentro da sala de

    cinema sem motivos aparente, fato muito semelhante ao retratado na HQ. Logo que a notícia

    se espalhou, muitas pessoas começaram a discutir a influência de Batman na ocasião, alguns

    dizendo que o atirador havia se vestido como o vilão das HQs Coringa para realizar o

    massacre e a mídia acabou fazendo uso dessas opiniões para dar a notícia. A crítica de Frank

    Miller, na época, foi justamente à atribuição de acontecimentos isolados a alguém que estava

    sempre presente na mídia, como o caso do Batman, criando o sensacionalismo. Essa distorção

    dos fatos também pode ser vista como uma maneira de manter o assunto em  pauta e “trazer

    mais lenha à fogueira”. Batman não teve nenhuma influência em ambos os casos, foi acusado

    de responsável pela mídia na HQ e no caso americano acabou tendo a imagem manchada

    durante um tempo. Na HQ toda a construção, até então parcial, em cima do homem morcego

    tratado tanto como “doença social” pelo psicólogo e como “herói” por algumas pessoas e por

    Lana Lane, editora do Planeta Diário é desconsiderada por um jornalista. Uma “análise

    dicionário” realizada por um possível espectador em cima da  notícia e que não conheça o

    Batman, certamente levaria a crer que Batman é um assassino, já que outros cometem crimes

    inspirados nele.

    A análise dos quatro momentos consegue fazer um balanço entre a imagem do

    Batman onde em alguns trechos é tratado como herói e outros como alguém que inspira a

    criminalidade pela mídia, porém a influência no pensamento do público pela mídia é notável.

     Não temos como saber de fato qual a posição do público entrevistado pela mídia na HQ emrelação ao Batman e a criminalidade pautada pela imprensa, mas podemos dizer que a mídia

    representada na HQ assemelha-se ao que hoje vemos nas editorias de policia na TV. Com

    uma espetacularização da violência capaz de criar programas televisivos só para exibir a

    criminalidade e tomar conta de toda a grade de programação. Os noticiários começaram a

    4  Exemplo de matéria sobre o caso do atirador que matou as 12 pessoas dentro da sala de cinema na

    estreia do filme “Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge” com suposta influência do personagem Coringa no

    caso foi feita pelo portal IG com o título “‘Sou o coringa’, teria di