32
ELISÂNGELA EVA APARECIDA DE FREITAS O TRABALHO DE “MARCOS RIBEIRO”: TRANSCURSO POÉTICO - FILOSÓFICO DE UM ARTISTA DE GUARULHOS COMO PONTE PARA MINHA AUTO-REFLEXÃO CENTRO UNIVERSITÁRIO METROPOLITANO DE SÃO PAULO - UNIMESP GUARULHOS 2008

Monografia sobre Marcos Ribeiro Ecce Ars

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

ELISÂNGELA EVA APARECIDA DE FREITAS

O TRABALHO DE “MARCOS RIBEIRO”:

TRANSCURSO POÉTICO - FILOSÓFICO DE UM

ARTISTA DE GUARULHOS COMO PONTE PARA

MINHA AUTO-REFLEXÃO

CENTRO UNIVERSITÁRIO METROPOLITANO DE SÃO PAULO -

UNIMESP

GUARULHOS – 2008

Page 2: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

ELISÂNGELA EVA APARECIDA DE FREITAS

O TRABALHO DE “MARCOS RIBEIRO”:

TRANSCURSO POÉTICO - FILOSÓFICO DE UM

ARTISTA DE GUARULHOS COMO PONTE PARA

MINHA AUTO-REFLEXÃO

Monografia apresentado à

UNIMESP – FIG para obtenção de

certificado de Conclusão de Curso

de Licenciatura de Educação

Artística sob a orientação do

Profº Dr. Gazy Andraus

CENTRO UNIVERSITÁRIO METROPOLITANO DE SÃO PAULO -

UNIMESP

GUARULHOS – 2008

Page 3: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao artista

Marcos Ribeiro pela inspiração e

a todos que lerem com atenção e respeito

Page 4: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador e mestre Gazy Andraus, por todo apoio

durante esse tempo.

Ao Marcos Ribeiro, pela compreensão, paciência e toda sua

dedicação para um trabalho inspirador.

Page 5: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

“A arte progressiva pode ajudar as pessoas,

não somente sobre as forças objetivas em ação

na sociedade na qual elas vivem, mas também sobre as características

intensamente sociais de suas vidas interiores. No final das contas, isso

pode impulsionar as pessoas para emancipação social”

[Salvador Dali]

Page 6: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

RESUMO

Como estudante de artes, e moradora de Guarulhos, tenho percebido que há uma

necessidade em haver uma maior valorização do artista na região em que vivo. Por essa

razão a presente dissertação visa valorizar seus trabalhos, apresentando uma visão

artística do guarulhense Marcos Ribeiro, que une à arte surrealista, alguns aportes

filosóficos, a dedicação às poesias, além de possuir uma visão crítica sobre a arte

contemporânea.

Marcos Ribeiro tem como tema figurativo principal os olhos, como forma de um mundo

paralelo, em que a anormalidade surge criando um universo irreal de sua imaginação.

Além disso, o autor discorre acerca de suas influências artísticas durante o curso de

artes realizado na UNIMESP. Todo esse apanhado tece considerações acerca da

importância do caminho educacional e profissional de um artista, bem como a limitação

regional a que se circunscreve o artista, como no caso, Marcos Ribeiro, e culmina em

auxiliar ma minha própria reflexão pessoal, como ser humano, mas também como

profissional na área da educação.

Palavras-chave: memorial – arte – surrealismo – autodidatismo – Guarulhos

Page 7: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

Ficha Catalográfica

FREITAS, Elisângela Eva Aparecida de

O trabalho de “Marcos Ribeiro”: Transcurso poético –

filosófico de um artista de Guarulhos como ponte para minha

auto reflexão / Elisângela Eva Aparecida de Freitas; orientador:

Dr. Gazy Andraus. -

São Paulo: Unifig, Departamento de Educação Artística, 2008.

30 f.; 30 cm

TCC - Unimesp-Fig, Departamento de Educação Artística.

Page 8: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

SUMÁRIO

Introdução ................................................................................................................... 09

CAPÍTULO 1

A TRAJETÓRIA DE MARCOS COM A ARTE

1.1 Primeiro contato .................................................................................................... 12

CAPÍTULO 2

AS INFLUÊNCIAS QUE DESPERTARAM MARCOS RIBEIRO

2.2 Pensamentos filosóficos que influenciou Marcos ................................................. 14

2.3 Nietzsche, inspiração de Marcos Ribeiro................................................................15

CAPÍTULO 3

O SURREALISMO DE MARCOS RIBEIRO

3.1 O Interesse Surreal e as suas obras como ponto de partida ..................................... 21

3.2 A Poesia ................................................................................................................ 26

CAPÍTULO 4

DAS OBRAS À REFLEXÃO

4.1 Auto reflexão como referência de um artista de Guarulhos .................................... 28

Considerações finais ................................................................................................... 29

Referências Bibliográficas .......................................................................................... 30

Page 9: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

9

Introdução

Neste trabalho será apresentado um memorial referente ao artista e educador

guarulhense como parte da minha auto-reflexão.

É importante ressaltar as qualidades de um artista que possui um pensamento

surrealista-filosófico como as de Marcos Ribeiro cujo trabalho me impulsionou a

reflexão à vida acadêmica.

A princípio meu percurso do curso de artes era completamente diferente do que

imaginava. Sem conhecimento mais abalizado, imaginava que ao fazer minha matrícula

no curso de Educação Artística iria aprender a desenhar, mostrando meus trabalhos

realizados ao longo dessa trajetória acadêmica e que eu pudesse ensinar, futuramente

aos alunos a desenvolver sua criatividade através dos desenhos.

Cursando e desenvolvendo as variadas linguagens em artes, pude perceber que tudo era

apenas imaginação da minha própria cabeça, não passando de uma “doce ilusão”.

Ao visitar uma exposição no Museu de Arte de São Paulo-MASP, percebi que não tinha

conhecimento sobre a visão artística, apenas o que era passado na televisão ou em livros

didáticos que lia por interesse próprio.

Alguns professores do Centro Universitário Metropolitano de São Paulo - UNIMESP

ensinaram-me a entender o significado dessas linguagens artísticas e alguns contextos

históricos da arte, assim como diversas técnicas na prática.

Faço essa afirmação, que além de desenvolver minha própria criatividade, aumentou

ainda mais meu senso-crítico.

Com um convite a uma exposição da professora Sálua Guimarães, tive a oportunidade

de conhecer várias obras de um artista de Guarulhos. Até então não conhecia seus

trabalhos e nem imaginava que poderia mudar algumas ideias que tinha sobre a filosofia

Page 10: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

1010

e a arte surrealista. Observando atentamente cada obra, ficava pensando como poderia

ter feito pinturas tão perfeitas e difíceis a serem compreendidas.

Mesmo sem saber qual era a intenção de seus trabalhos, me instigou uma vontade

enorme de conhecê-lo.

Com um convite via e-mail consegui através de uma amiga da própria universidade, a

oportunidade de conhecer Marcos Ribeiro pessoalmente e descobri algo surpreendente

sobre o surrealismo e o saber “pensar”, refletindo e compreendendo o mundo através de

suas ideologias filosóficas.

Todo esse contexto aponta a importância do surrealismo junto com suas poesias à

expressão do sentimento para o comportamento humano, que causa “um certo”

estranhamento nas pessoas.

Com um estudo mais aprofundado, busquei explicar o significado de suas ideias para:

a) Incursionar numa auto-reflexão de meu trajeto por meio referencial que me

influencia, apontando a relevância das ideias do pintor e do autor Marcos

Ribeiro;

b) Questionar a sua relação à arte contemporânea, mas não focalizando apenas

nesse assunto e o fato de atuar profissionalmente tanto na arte como de um

professor de licenciatura artística.

Para conseguir realizar o trabalho sobre as obras de Marcos Ribeiro, fiz algumas

entrevistas pessoalmente, utilizando como meio de comunicação o e-mail, e para

entender as ideias filosóficas que ele implantou na maioria de seus trabalhos junto com

o surrealismo busquei referências bibliográficas.

Portanto, é um trabalho que consta de 4 capítulos, sendo que o primeiro apresenta a

trajetória de sua vida, desde o primeiro contato com a obra de arte à vida acadêmica

onde abriu vários caminhos à reflexão.

Page 11: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

1111

No segundo capítulo exemplifico as influências de Marcos Ribeiro onde realiza seus

trabalhos para o comportamento humano que é no caso a filosofia. No terceiro capítulo

será falado de suas obras e sua poesia, e o último capítulo relatarei minha reflexão da

trajetória de vida, meu interesse pelos seus trabalhos e o que me ajudou através da arte

de Marcos Ribeiro.

Page 12: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

1212

1. TRAJETÓRIA DE MARCOS COM A ARTE

1.1 Primeiro contato

“É mais útil um pensador dizer pouco e

não nos levar a lugar algum;

do que um erudito dizer

muito e nos conduzir a lugares fechados.”

Marcos Ribeiro

Marcos Ribeiro nasceu em Guarulhos no dia 04 de Dezembro de 1969, já aos 9 anos

de idade desenhava com muita precisão. Interessado, procurava desenhos que

chamavam sua atenção, e na escola era o centro das atenções dos professores.

Aos 20 anos estudou técnicas de desenho para seu aperfeiçoamento, na escola livre

de artes “Pró-Art”, passou algum tempo estudando os artistas clássicos como

Caravaggio, Constable, da Vinci, dentre outros, visitava museus para observar cada

detalhe das pinturas dos velhos mestres. Durante esse período dedicou-se à pintura

acadêmica, enquanto se interessava por literatura clássica e poesias.

Trabalhou na FIG em 2005, (atual UNIMESP/UNIFIG) durante dois anos e meio, e

através desse trabalho teve muitos contatos com professores, no curso de artes, do

qual foi convidado a participar de uma exposição coletiva onde para sua surpresa foi

eleito e homenageado. Não aguentando tanta pressão, se desligou da Universidade,

sendo que para se sustentar pintou durante muito tempo quadros no centro de São

Paulo.

Neste período não tinha poética (segundo ele), pintava “academicamente”.

No ano de 2004 resolveu cursar artes e ao mesmo tempo foi cursar Letras que durou

apenas um ano. A partir desse curso teve contato com filosofia, literatura e poesia no

qual se envolveu. Com a arte desenvolveu ainda mais as técnicas relacionadas ao

Page 13: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

1313

curso, conhecendo um professor de psicologia que o inspirou e motivou: Valter A.

Rodrigues, além de outro, o professor Jardel Cavalcante que também virou um

grande amigo filosófico.

Quando o professor Valter apresentou na sala de aula a negação da própria

psicologia, Marcos Ribeiro ficou intrigado por um professor formado na área negar

a própria.

Esse professor o fez entender as ideologias de Spinoza, e a partir desse interesse

estudou cada vez mais para entender a filosofia, conhecendo então grandes filósofos

que inspiram em seus trabalhos.

Autodidata começou a desenhar e pintar quadros surreais, após ter conhecido os

professores da universidade, aprofundou muito mais seu conhecimento sobre o

surrealismo, já que lia há algum tempo algumas bibliografias por interesse próprio,

Marcos Ribeiro também desenvolveu ainda mais seu processo criativo. Essa é uma

das primeiras obras da fase acadêmica, que foi exposta no primeiro semestre quando

cursou arte na FIG (Atual UNIMESP), na semana de arte de 2004 (fig. 1).

Fig.1 tinta á óleo

Page 14: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

1414

2. AS INFLUÊNCIAS QUE DESPERTARAM MARCOS RIBEIRO

“A arte deve antes de tudo e em primeiro lugar embelezar a

vida, fazer com que nós próprios nos tornemos suportáveis e, se

possível, agradáveis uns aos outros[...]

[...] deve proceder desse modo especialmente em vista das

paixões e das dores e angústias da alma.”

Friedrich Nietzsche

2.2 Pensamentos filosóficos que influenciou Marcos

Quando o então professor da UNIFIG, Valter A. Rodrigues, apresentou a filosofia de

Spinoza, Marcos Ribeiro se envolveu profundamente às ideologias de Spinoza,

Nietzsche além de outros grandes filósofos. Começou a entender que a filosofia é uma

outra forma criada pelo homem para entrar em fusão com o absoluto.

Para Marcos, a filosofia tem como ponto de partida á dúvida, o voltar a ser criança para

novamente perguntar o porquê de tudo. Filosofia que temos acesso pelos grandes

filósofos, que ao contrário dos lideres religiosos não nos ensinam verdades, mas como

procurá-las, fazem desmontar nossos próprios pensamentos para criar o novo, livre de

poluição, destruir o mundo que construíram para nós, para sermos os criadores de um

mundo renovado. Onde só um há um mestre a ser seguido: a nossa própria alma. Ser

filósofo é fugir do rebanho e se tornar uma ave, para ver tudo de cima. Para assim dizer

o que Goethe disse quando pisou em Roma: “enfim vou Nascer1”. Agora sou um livre

pensador.

A questão que Marcos se refere ao Spinoza é a relativa ao Panteísmo, ou seja, para ele

não existe um Deus, pois tudo que acontece é pela lei da natureza, assim como ele

atribui em suas obras. Ele não segue um método, sua arte flui dentro do seu eu interior.

1 DALI, Salvador. Diário de um Gênio, Paz e vida

Page 15: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

1515

Segundo Marcos Ribeiro: “Eu escrevo e pinto minhas obras, assim como o céu chove,

pois ninguém nasce feio ou bonito por que escolhe”2.

Spinoza concebeu a forma mais completa e elaborada do panteísmo, em que Deus é

naturante, a natureza é naturata (natureza gerada ou criada). O universo não só é a

emanação e manifestação de Deus, mas sua própria realização, na ordem de todas as

coisas (Silva)3.

As características do trabalho de Marcos Ribeiro são inspiradas em suas filosofias e

suas filosofias são inspiradas em suas poesias, sempre dando continuidade a todo legado

que os gênios deixaram para a humanidade, como exemplo, os clássicos.

2.3 Nietzsche, inspiração de Marcos Ribeiro

Após ter conhecido os pensamentos de Spinoza e ter um envolvimento mais

aprofundado com a filosofia, Marcos Ribeiro conheceu as ideologias de Friedrich

Nietzsche no qual se apaixonou, para questionar e entender o significado sobre os

valores que a sociedade impõe.

Marcos Ribeiro comenta em sua entrevista que Nietzsche foi influenciado por

Schopenhauer, um filósofo que busca um espírito livre, sem moral, mas Nietzsche se

afasta do filósofo por adquirir um pensamento muito pessimista. No entanto, Nietzsche

argumenta muitas vezes em suas filosofias o que é certo ou errado, mal ou bem, além de

ser um homem que não crê em Deus, pois tenta se superar a si próprio diante de

qualquer problema. É um filósofo que mesmo sofrendo, busca valores para viver feliz,

2 Entrevista pessoal, fornecido no dia 05 de Março de 2008 ás 16h02min na UNIMESP.

3 Cláudio Willer: Adaptação de palestra apresentada no Congresso Internacional: O SURREALISMO:

ATUALIDADE E SUBVERSÃO, Araraquara,2001.

Page 16: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

1616

dentro de sua filosofia.

Marcos Ribeiro acha espetacular tudo que ele faz através do pensamento de Nietzsche,

onde cria sempre a superação da vida, por isso seu pensamento é criar seus próprios

valores, sem se importar com que os outros pensam a respeito dele, superando suas

angústias e seus medos através dos trabalhos poético-surrealista.

Quando Marcos Ribeiro, cita várias vezes que Nietzsche é sua inspiração significa que

abriu em sua mente novos horizontes, explicando também o motivo do qual virou ateu,

esse artista não tem poesias e pinturas voltada apenas para o filósofo, mas tem alguns

trechos que fazem entender as ideologias de Nietzsche.

Marcos Ribeiro escreveu um postado explicando o motivo do qual virou ateu:

“Sou ateu”. Não acredito em Deus, diabo, inferno, paraíso, macumba,

exu, encosto, reencarnação, e todo tipo de muleta para suportar e

justificar as angústias da existência humana.

A minha dúvida começou a partir da leitura de Nietzsche,

especificamente ao ler uma frase do livro Ecce Homo, eis a frase: “A

gramática é uma convenção”, foi aí que comecei a pensar: tem pêlo

nesse ovo! Porque, se a gramática é uma convenção, logo deus é uma

palavra, uma idéia que se convencionalizou ao longo dos tempos.

Depois minha dúvida foi reforçada por Freud, com o que ele diz sobre

a construção do espírito, de como se constrói a subjetividade de uma

criança, e como as coisas que foram colocadas nas nossas mentes, nos

acompanham até a idade adulta, ficou óbvio que Deus é apenas uma

idéia.

Dando continuidade às próprias palavras ao artista Marcos Ribeiro, mesmo sendo ateu

foi a partir de uma leitura do filósofo Nietzsche, que ele que começa a questionar a

existência de Deus como sendo uma idéia que foi atribuída durantes anos até os dias de

hoje. Suas dúvidas se reforçam pelos argumentos de Freud, pois a construção do

“espírito” foi colocada pelos homens, desde o nascimento, até nossa morte, “como uma

tradição”.

Assim, depois dessas revelações fui pesquisar mais, e em O anticristo,

A Gaia Ciência e Humano demasiado Humano de Nietzsche, ficou

mais claro como se cria nas massas uma verdade a ser seguida sem

nenhuma contestação.

Page 17: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

1717

Mas não parei por aí, na história, no declínio do Império Romano, é

nítido que o Imperador Constantino ao fundar a primeira igreja cristã

(sem ser cristão) não passou de uma jogada política, uma ultima

desesperada tentativa de manter o poder, poder que com a queda do

Império foi transferida para Igreja Católica Apostólica Romana, que

governou o mundo no longo período da Idade Média, ou Idade das

Trevas, com as caças às bruxas, a santa inquisição, ou seja, quem era

contra as ideias da igreja virava carvão na fogueira. A antropologia também mostra como foi criado mito após mito, até

chegarmos nestes de hoje.

Com algumas pesquisas que Marcos Ribeiro pesquisou e analisou, ele afirma que a

história antiga da igreja foi construída como império justamente com uma jogada

política, por interesses próprios e tudo que ocorria de errado ou argumentos contra as

ideologias da própria igreja era considerado um pecado mortal, sendo julgado de forma

cruel, até chegar à morte. Isso mostra que o conceito da religião foi criado de forma

utópica, para Marcos. Tudo isso contribui para um pensamento de um artista

questionador, que não aceita dogmas sem buscar explicações e contestações.

E foram tantos que provaram e disseram: Hei, acordem papai Noel

não existe, como foi o caso de Bertrand Russell, Michel Foucault,

Sartre entre tantos outros, como por exemplo, no tratado anônimo de

séculos atrás, o Tratado dos três impostores: Moisés, Maomé e Jesus

Cristo, os três que se apresentaram a desesperados e ignorantes como

o filho de Deus, o caminho a ser seguido, a luz, a verdade, a vida, o

salvador de todos, não se tratam de dementes – diz o tratado –

megalomaníacos e charlatões sem nenhum escrúpulo?

Não menos diferentes do Papa, bispo Macedo, Chico Xavier ou os

ditos filhos de Ogum, Iansã, Oxum e sei lá mais o que?

Que se dizem ser procuradores de tais superiores imaginários e

entidades, para um único propósito, dinheiro! Santo, Dai-me dinheiro!

[SIC]

Marcos de fato argumenta que muitos enganadores exploraram a fé do povo e exploram

até hoje por tais desesperos, por um simples motivo: interesses alheios (apesar de que

não haja nenhum indício de que, ao menos Chico Xavier tenha logrado êxito financeiro,

pois é sabido que seu auxílio às pessoas não era cobrado).

Page 18: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

1818

Hoje, sem precisar estar preso ao cordão umbilical da superstição, não

virei cético, niilista ou pessimista, amo a vida, acredito no humano,

num mundo melhor, continuo respeitando meu próximo, acredito no

amor, no romantismo, na arte e melhor, aceito a vida e sei que se sofro

é responsabilidade minha não do diabo e, somente eu posso encontrar

a saída e que o sofrimento não é exclusividade da minha vida, mas de

todos humanos, inclusive os crentes.

Deixa claro Marcos Ribeiro que é ateísta, mas não propõe nenhum confronto e nem está

atacando as crenças, ou seja, não questiona em hipótese alguma a fé de ninguém: o seu

ateísmo é apenas o modo de como ele vê a vida, fazendo uma apologia à liberdade do

pensamento para as próprias verdades. E tudo que ocorre de errado a ele é mera

responsabilidade de seus próprios atos.

Na pior das hipóteses, se existe o inferno sei que irei encontrar todos

que viveram por lá, pois como disse Nietzsche: No fundo, não existiu

mais que um cristão, e esse morreu na cruz.

O homem é condenado à morte por ter nascido, se fosse pelo pecado

original, o que eu teria de a ver com isso?

Qual a minha parcela de culpa por Adão ter comido a maçã da Eva?

Por que Deus então criaria o sexo?

Se o homem é imagem e semelhança de Deus, logo Deus também tem

sexo. E ali no jardim do Éden, Adão e Eva, nus, não seria óbvio que a

sexualidade se afloraria?

Será que Deus não imaginou isto? Afinal, Deus não sabe o futuro?

É claro que Moisés, quando inventou a criação desse modo, quis

simbolizar o fruto proibido que seria o sexo, ou então, que mal teria

comer uma simples maçã, a ponto desse pequeno ato condenar

milhões de pobres, almas a viverem no inferno do mundo e depois no

inferno eterno? Por não terem seguido os rígidos mandamentos

políticos judaicos, e posteriormente cristãos?

E assim perdura até hoje: a palavra, a verdade. Incontestável,

inquestionável.

Um manual para aproveitadores, tiranos e facínoras ficarem

milionários e manterem a ordem (basta ler na história como foi

construído o império do Vaticano).

Hoje, na era do capitalismo desenfreado e midiático, é simples ganhar

dinheiro à custa do sofrimento alheio, basta ter o talento da

argumentação e da retórica e aprender a selecionar os aforismos

bíblicos.

O artista Marcos Ribeiro levanta várias questões sobre as crenças religiosas, a proibição

imposta pelos exploradores. Milhares de pessoas seguem à risca “certos mandamentos

Page 19: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

1919

do que é certo ou errado, o pecado universal, induzindo-os a aceitar ou crer as

argumentações para manter suas economias”. Eis aí a importância do trabalho de um

artista, nesse caso, Marcos Ribeiro: seu olhar travestido em suas obras (desenhos,

pinturas e poesias) reflete uma visão crítica e pessoal, que pode, ao menos, auxiliar

outros na questão de buscar uma consciência mais reflexiva. Eis a importância da

educação pela arte (e pelo pensamento do artista). Mas Ribeiro ainda continua:

[...] Se isso é um absurdo, então, quem criou Deus? Essa pergunta

nem o mais sábio dos teólogos saberiam responder, somente os ateus:

Quem criou Deus? Óbvio, o homem! Nietzsche explica que o homem

precisa de ilusões para viver. Isso é natural, afinal, sabermos que

nascemos para morrer, que somos cadáveres adiados como diria

Fernando Pessoa, aterroriza qualquer um que se conscientiza de sua

finitude, mas colocar os pés no chão ao invés de viver no sono

dogmático de paraíso, inferno, castigo, pecado e aceitar que tudo que

vive tem começo, meio e fim e que o sofrimento faz parte da vida e

assim aproveitar cada minuto da melhor maneira possível, com

humanismo, ética, paixão, romance, arte, o mundo seria mais

habitável, porque se acreditar em Deus traz benefícios. O Brasil que

mais de 90% da população se diz crente; não seria um dos mais

violentos, um dos mais desiguais, um dos mais preconceituosos, um

dos mais corruptos nesse grande paradoxo entre o que se jura acreditar

e o que se faz na prática.

O artista finaliza que todo esse processo ilusório é natural, mas para ele natural mesmo é

aceitar o sofrimento aproveitando cada segundo de suas vidas, levando em conta a

paixão, o romance, à arte, a ética sem precisar está amarrado às doutrinas religiosas.

Critica finalizando que o Brasil tem mais do que a metade de seguidores de uma

religião, mas infelizmente com um índice enorme de violência, preconceitos e corruptos

que a religião muitas vezes é apresentada apenas na aparência. Assim, Marcos Ribeiro

reafirma sua posição como artista e questionador.

Um trabalho que chama atenção é uma escultura que tem relação com o filósofo. Com

ela, Ribeiro compactua com a frase de Nietzsche “Deus está Morto” (fig. 2).

Page 20: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

2020

Fig.2 O deus dos ateus-Escultura em madeira e arame

Uma escultura que conclui que Cristo não ressuscitou, mas morreu como qualquer outro

homem, simbolizando um esqueleto humano na cruz, e a ideia que Deus está morto,

apenas vive por conveniência, mas morto pelo capitalismo.

O artista Marcos Ribeiro menciona Nietzsche como o além-do-homem para explicar

que é um filósofo que não liga para a morte, e nem doenças, pois tudo na vida é um

processo natural. Segundo Marcos Ribeiro: “A cada dia tento chegar ao nível de

superação, já superei alguns traumas de infância, alguns medos do escuro que tenho,

mas a maior delas é superar a arte”4. Outro fator importante dos trabalhos de Marcos

Ribeiro é a observação das influências do filósofo Nietzsche onde tem indícios para

uma crítica à arte contemporânea, Marcos fez uma paródia dos 10 mandamentos, onde

utiliza metáforas para explicar sua contextualização. Cita o Nome de Duchamp nesses

mandamentos porque enxerga que a arte contemporânea se tornou metafísica:

“1. Eu sou DUCHAMP, teu Deus [Elo. hím], que te fiz sair da terra

Da França, da casa dos escravos. Não terás outros deuses em desafio a

Mim [o Deus de Beuys].

4 Entrevista pessoal, fornecido no dia 15 de Setembro de 2008 ás 20h15min a UNIMESP.

Page 21: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

2121

2.Não farás imagens, pintadas ou esculpida [em hebraico péshel],

referindo-se a arte, nem semelhança alguma do que há em cima nos

céus, nem embaixo na terra, nem nas

águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes prestará culto, por

que eu, Duchamp, teu Deus, sou Deus zeloso ["Deus que exige

devoção exclusiva" ou ‘Deus ciumento’;

em hebraico El qan.ná e em grego Theós zelotes], e que puno o erro

dos pais nos filhos até sobre a terceira geração e sobre a quarta

geração dos que me odeiam, mas que uso de benevolência para com

até a milésima geração dos que me amam e que guardam os meus

mandamentos.

3.Tomarás o nome de Duchamp, teu Deus, em vão [ou "dum modo

fútil", blasfêmia], pois Deus considera impune aquele que tomar seu

nome em vão.

4.Lembra-te do dia da Bienal, para o santificar. Dois anos trabalharás,

e farás todo o teu trabalho; mas no segundo ano é o da bienal [em

hebraico, bietnaluh] de Duchamp, teu Deus. Nesse dia não farás

trabalho algum, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo,

nem a tua serva, nem o teu animal, nem o estrangeiro que está dentro

das tuas portas. 5.Honra a teu pai e a tua mãe Lygia Clarck e Hélio Oiticica, a fim de

que os teus dias se prolonguem sobre o solo de Duchamp.

6.Não assinarás [ou cometer arte, em hebraico lo ars it assins].

7.Não cometerás adultério [em hebraico lo tin.àf]. Amar a arte de

Caravaggio.

8.Furtarás as idéias dos grandes artistas e cometerás o pastiche.

9.Não levantarás falso testemunho contra teu próximo artista

contemporâneo.

10.Cobiçaras [em hebraico, lo thahh.módh] a arte do teu próximo, a

privada do teu próximo, o guarda-chuva, o fusca, o touro, o jumento, e

qualquer coisa que pertença a antiarte do teu próximo”5.

5 http:// ateismofilosofico.blogspot.com

Page 22: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

2222

3. O SURREALISMO DE MARCOS RIBEIRO

“A mente adora imagens cujo significado é desconhecido,

uma vez que o próprio significado da mente é desconhecido”.

René Magritte

3.1 O Interesse Surreal e as suas obras como ponto de partida

Marcos Ribeiro sempre se interessou pelos artistas clássicos, pintando desde a tradição

clássica á técnicas da arte moderna, mas seu principal tema é o surrealismo em que

sempre demonstrou afinidade, antes de cursar Artes na UNIMESP (antiga FIG.),

Marcos já fazia pinturas surrealistas. Curioso, lia livros sobre o surrealismo para

entender seu significado, após ter observado as pinturas dos grandes artistas como

Salvador Dali e Magritte, Marcos comenta que teve o “eterno acaso dos encontros”,

(frase inspirada pelo filósofo Spinoza), ou seja, a imagem desses artistas o afetou como

se fosse uma mistura de dois corpos, fazendo com que Marcos tivesse necessidade de

fazer a arte surrealista.

O surrealismo foi criada em Paris em 1917, pelo escritor Apollinaire,

no entanto só em 1924, no Manifesto do surrealismo, que foi lançado

o movimento surrealista pelo escritor André Breton e seu amigo

Philippe Soupault [...].

[...] Breton usou a palavra surrealismo para descrever as práticas

literárias e artísticas dele próprio e de seus amigos (BRADLEY, 1999,

p. 6-7).

Marcos Ribeiro cita também como referência em seus trabalhos surrealista o

psicanalista Sigmund Freud:

A obra de Freud forneceu a Breton e ao surrealismo um contexto e um

vocabulário com os quais poderiam conduzir suas investigações

acerca do automatismo na fala, na escrita, e na produção de imagens.

O trabalho sobre os sonhos e o desenvolvimento psicossexual do

indivíduo embasavam a busca surrealista por uma parte ligada ao

inconsciente [...]

Page 23: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

2323

[...] A escrita e a fala automatizadas do surrealismo imitavam os

métodos que Freud empregava para levar um paciente a lhe contar

seus sonhos [...] essas estratégias inconscientes eram conscientemente

adotadas pelos surrealistas como um modo de pintar o inconsciente

nos quadros e assim encontrar o equivalente pictórico da poesia

automática (BRADLEY, 1999, p.31).

[...] Para Freud, as imagens oníricas serem em sua maioria sexuais

encantou os jovens surrealistas [...] Breton menciona, Arnim,

Holderlin e Novalis como espírito revolucionário, em que nada seria

por trás desses românticos o ponto fundamental para atingir a meta

que aspirava ao surrealismo: potencializar o poder criativo do homem

para conseguir a revolução interior que permitiria, finalmente,

experimentar a liberdade espiritual. Os meios para abordar o mundo

interior a psicanálise já os oferecia (Coleção gênios da arte, 2007, p.

33-34).

Marcos Ribeiro tem uma constante busca por perguntas que não trazem respostas

conclusivas. Devido a este fato, o surrealismo de Ribeiro transcende o imaginário,

abrindo as portas que integram o consciente com inconsciente. Seus trabalhos artísticos

fazem imaginar o segmento das obras de Salvador Dali e magritte.

Ainda segundo Marcos Ribeiro:

“O trabalho de Salvador Dali chama atenção pela incrível

combinação de imagens excêntricas como a deformação e onírico na

maioria de suas obras, tendo como método-paranóico-crítico” 6.

Esta é uma obra de Marcos Ribeiro que desperta um interesse grandioso, ao olhar

atentamente ao fundo de sua pintura verifica-se uma paisagem e ao mesmo tempo o

artista Salvador Dali (Fig.3).

6 Entrevista pessoal, fornecido no dia 05 de Março de 2008 às 16h25min na UNIMESP.

Page 24: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

2424

Fig.3 Olhar paranóico-crítico - tinta a óleo

Tal método, segundo Ribeiro, tratou de formalizar, de maneira concreta, os fenômenos

delirantes e as associações, até conseguir o triunfo da idéia obsessiva.

Dalí decidiu simular uma paranóia e interpretar equivocadamente, de

propósito, tudo que via a fim de poder utilizar-se dos equívocos

resultantes como base para a pintura. Frequentemente, os paranóicos

estão convictos de ter visto a mesma coisa muitas vezes, em diferentes

lugares, pois projetam o mundo às próprias imagens mentais [...]

Definiu-o como método paranóico - crítico de Dalí para reordenar o

mundo conforme suas obsessões interiores, tal qual um paranóico. Os

limites entre o real e o imaginário então se tornavam ambíguos, e seus

quadros passaram a representar o espaço do sonho ou do maravilhoso,

um espaço onde tudo que se vê é potencialmente outra coisa.

(BRADLEY, 1999, p. 39-41).

Esta é uma obra de Salvador Dali que frisa o método – paranóico – crítico em que ele

mesmo fantasia, este método envolve várias formas e significados, reproduzindo

imagens do inconsciente. E ao olhar fixamente dá uma dupla imagem de um rosto de

uma mulher e ao mesmo tempo grupos de pessoas (Fig. 4).

Page 25: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

2525

Fig. 4 Paranoic Visage - Pintura de Salvador Dali

No Surrealismo, a fusão do duro e do mole deixa de ser

experimentada como antinomia; o inconsciente e consciente, o sonho

e a vigília fundem-se numa super-realidade (a surrealista) na qual toda

contradição humana fica aceita. No método daliniano, o mole é a

paranoia e o duro, a crítica. É o ponto de encontro da imaginação

delirante com a razão, um conceito que justifica a arte como o espaço

idôneo para a livre expressão da fantasia e a razão, que permite assim

veicular aspectos conscientes e inconscientes, simbólicos e

arquetípicos, da humanidade (Coleção gênios da arte,2005, 52).

[...] Outros fatores da linguagem “daliniana” são identificados com

seis categorias de objetos surrealistas: objetos de funcionamento

simbólico (origem automática); objetos transubstanciados (origem

afetiva); objetos a ser projetados (origem onírica); objetos

embrulhados (fantasias diurnas); objetos mecânicos (fantasias

experimentais), e objetos moldados (origem hipnagógica)

(BRADLEY, 1999, p. 39-41).

Já nos trabalhos de René Magritte, as obras contêm um realismo

mágico, em que há na grande maioria de suas obras, inversões com

atmosfera da realidade. Magritte foi de fato um surrealista, mas

também um pensador. O seu trabalho é sempre complexo e obriga ao

raciocínio, à interpretação e ao estudo. Os quadros de Magritte não

podem ser simplesmente vistos. Precisam ser pensados. Todo o

surrealismo tem um trago de loucura que revela toda a genialidade (Willer, 2001)

7 .

Outro fragmento importantíssimo do artista Marcos Ribeiro como surrealista, é a sua

característica forte que desafia nos admiradores infinitos pontos de interrogações.

7

CLÁUDIO Willer, Adaptação de palestra apresentada no Congresso Internacional: O SURREALISMO:

ATUALIDADE E SUBVERSÃO, Araraquara, 2001.

Page 26: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

2626

Os olhos figuram o tema fundamental em seus trabalhos, pois neles é representado o

elemento obsessivo, trazendo consciência da angústia que habita em nossa mente.

Marcos cria mutações em suas pinturas para fazer o público refletir.

Um dos temas mais importante de seus trabalhos é a obra Fases (olho, vida e morte),

(Fig. 5).

Fig.5 Fases (Olho, vida e morte) tinta a óleo.

Uma das mais surpreendentes dessas imagens que têm o olho como

tema central é a obra Olho vida e morte, que nos remete às tensões

filosóficas de um pintor como Edward Munch, com sua angustiosa

reflexão sobre a vida e a morte.

De dentro do próprio olho de uma pessoa narra-se a trajetória

biológica de uma vida numa fusão de imagens que se compõem e se

decompõem como elementos dessa narrativa. Entre a íris e a pupila do

olho surgem, como que guardadas dentro de um óvulo cósmico, a

fonte primeira da vida, os espermas, o feto já constituído e o próprio

símbolo da destruição: a caveira. O episódio é construído nos fazendo

pensar na idéia shakespeareana de que a vida é um sonho que dura

apenas um piscar de olhos. (Jardel Dias Cavalcanti, 2008).

3.2 A Poesia

Marcos Ribeiro, aponta a importância das pinturas surrealistas junto à suas poesias,

expressa o sentimento ao comportamento humano. Há uma obra chamada “dupla arte”,

que observei em sua exposição, tendo sido uma das obras que admirei muito, cuja

Page 27: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

2727

composição é cheia de detalhes: tratando - se de uma metalinguagem de um lado tem

uma carta com a poesia de Marcos Ribeiro e do outro o livro do Goethe com o tema Os

Sofrimentos do Jovem Werther. Este livro conta a primeira fase romântica da época,

onde sua paixão chamada Charlotte, que se casa com outro homem chamado Alberto. É

uma história infeliz que parte para um suicídio do jovem Werther com um tiro na

própria cabeça. Quando foi publicado na Europa causou vários suicídios naquela época,

motivo pelo qual tentaram proibir sua circulação.

Marcos Ribeiro tenta se suicidar dentro da arte (de forma metafórica), publicando uma

arte - poema (Fig. 6).

Fig.6 Dupla arte –Marcos Ribeiro -60x80.2007.óleo sobre tela

Page 28: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

2828

PALAVRAS

De tudo o que restou, depois do amor promissor.

De tudo o que restou...

O coração que sangra.

A frase escrita na parede, que ainda não tive coragem de apagar.

Lá no fundo a esperança que tudo volte a ser como era antes,

mas ao mesmo tempo a certeza que tudo chegou ao fim é mais forte.

Hora de começar vida nova,

mas ainda estou preso na vida velha.

Os poemas que escrevemos quem sabe um dia servirão para alguma alma que amou,

como nós nos amamos, e quem sabe essa alma não terá mais sorte que

nós.

Nos amamos, cada um a seu modo.Só dava certo quando estávamos

juntos.

Quando separados as diferenças nos fazia agredir um ao outro.

Eu não acreditava nela e ela não acreditava em mim.

Talvez por que amar tanto parecesse mentira.

Ah! O tempo.

Leve o amor para longe de mim.

Amor foi um prazer conhecê-lo,

mas prefiro conviver com seu parente mais próximo:

O vazio.

Page 29: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

3030

4. DAS OBRAS DE MARCOS RIBEIRO À REFLEXÃO

“A arte é contemplação: é o prazer do espírito que penetra a natureza

e descobre que ela também tem uma alma. E a missão mais sublime

do homem , pois é o exercício do pensamento que busca compreender

o universo, e fazer com que os outros o compreendam.”

August Rodin

4.1 Auto-reflexão como referência de um artista de Guarulhos

Ao visitar uma exposição do artista Marcos Ribeiro, estimulou-me extrema

curiosidade, além de uma intensa reflexão em relação aos seus trabalhos. Marcos utiliza

em suas obras artísticas a arte surrealista, as poesias e a filosofia na qual muitas vezes

argumentam o comportamento humano, a vida e a morte.

Mesmo gostando da arte surrealista, Marcos me ensinou a entender o que é o

surrealismo e o significado da filosofia, além de me auxiliar como profissional na área

da educação.

Para mim, as idéias de Ribeiro completam a arte, e me fazem refletir minha própria

trajetória de vida, me possibilitando uma compreensão melhor do mundo. Marcos

Ribeiro de fato despertou em mim uma paixão pela arte surrealista dando a

oportunidade de vivenciar minha própria imaginação: é como se eu estivesse bem longe

do meu corpo, podendo imaginar que estou caminhando sem destino e em lugares

distante, afastada de todos os problemas.

Associado a isso, meu despertar durante o curso de Educação Artistica (que me deu a

conhecer os trabalhos de Ribeiro), têm contribuído para minha inteireza como ser

humano.

Page 30: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

3131

Considerações Finais

Finalizando este trabalho - uma monografia sobre os trabalhos de Marcos Ribeiro que

utiliza o surrealismo -, que causa certo estranhamento nas pessoas, tanto por um

trabalho filosófico bem pessoal, como por uma obra que mescla pintura e poesia.

Por essas questões percebe a importância desta abordagem, salientando sua arte e vida

como ponto estratégico à reflexão, enquanto Ribeiro tem um pensamento voltado para si

mesmo, e como consequência busca com um olhar particular (calcado em outras

influências), o sentido da arte.

Marcos Ribeiro ilustra na maioria de seus trabalhos, os olhos, como forma de um

mundo paralelo, em que a anormalidade surge, criando dessa forma um universo irreal

de sua imaginação: os olhos em suas pinturas são representados como elemento

obsessivo.

Como um artista autodidata, a formação universitária completou ainda mais seu

conhecimento, através de algumas leituras indicadas pelos professores de artes que

chamavam sua atenção.

Suas obras em salas de aula, na disciplina de Educação Artística, ajudam os alunos a

partirem de uma visão mais crítica e com mais argumentos, pois tentarão buscar

respostas através de novos conceitos no conteúdo em arte.

Portanto, expresso através dessa monografia que o artista-educador formado na Fig.

(atual UNIFIG/UNIMESP), Marcos Ribeiro, contribuiu como uma grande referência

para minha formação em artes, conhecendo suas ideologias através de seus próprios

trabalhos.

Page 31: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

3232

O trabalho e vida de Marcos Ribeiro expressam, assim, a arte de um autêntico artista,

que pode e deve ser estudado nas escolas e faculdades de artes, no caso, na de

Guarulhos, por suscitar reflexões e apontar os caminhos de um artista: na arte-educação

este é um ponto importante que precisa ser melhor explorado.

Page 32: Monografia sobre  Marcos Ribeiro Ecce Ars

3333

Referências

BRADLEY, Fiona, Movimento da Arte moderna/ Surrealismo, [tradução

Sérgio

Alcides]. São Paulo, SP: Cosac & Naify, 1999.

COLEÇÃO folha grandes mestres da pintura. SALVADOR Dali. [tradução Martín

Ernesto Russo]. Barueri, SP: Sol, 2007.

COLEÇÃO gênios da arte. SALVADOR Dali. [tradução Mathias de Abreu Lima

Filho]. Barueri, SP: Girassol; Madri: Susaeta Ediciones, 2007.

SILVA, Sidereus Nuncius da.Enciclopédia da Filosofia. Disponível

em:

<http://www.encfil.goldeye.info/panteismo.htm>.-Acesso em 30 de Maio de

2008,

00:15:38.

WILLER, Cláudio. Atualidade e subversão, Araraquara, 2001. Disponível em:

<http://www.triplov.com/surreal/willer_poetica.htm>. Acesso em 22 de Maio de

2008,

16:28:18.