267
CONTRIBUIÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES ESTADUAIS DE PESQUISA AGROPECUÁRIA CONHECIMENTO, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO PARA O FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR Hur Ben Corrêa da Silva e Flaviane de Carvalho Canavesi Org s '

Mont Conhecimento Tecnologia e Inovação para o ... · Melhorias dos sistemas de produção e da base genética da cultu-ra da mandioca no Paran ... por produtores familiares do

Embed Size (px)

Citation preview

CONTRIBUIÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES ESTADUAIS DE PESQUISA AGROPECUÁRIA

CONHECIMENTO, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

PARA O FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR

Hur Ben Corrêa da Silva e Flaviane de Carvalho Canavesi

CON

HEC

IMEN

TO, T

ECN

OLO

GIA

E IN

OVA

ÇÃO

PA

RA

O F

OR

TALE

CIM

ENTO

DA

AG

RIC

ULT

UR

A F

AM

ILIA

R

mda.gov.br

Ministério doDesenvolvimento Agrário

Ministério daCiência, Tecnologia

e Inovação

CONTRIBUIÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES ESTADUAIS DE PESQUISA AGROPECUÁRIA

CONHECIMENTO, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

PARA O FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR

Hur Ben Corrêa da Silva e Flaviane de Carvalho Canavesi

CON

HEC

IMEN

TO, T

ECN

OLO

GIA

E IN

OVA

ÇÃO

PA

RA

O F

OR

TALE

CIM

ENTO

DA

AG

RIC

ULT

UR

A F

AM

ILIA

R

mda.gov.br

Ministério doDesenvolvimento Agrário

Ministério daCiência, Tecnologia

e Inovação

CONTRIBUIÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES ESTADUAIS DE PESQUISA AGROPECUÁRIA

CONHECIMENTO, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

PARA O FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR

Hur Ben Corrêa da Silva e Flaviane de Carvalho Canavesi Org s������� �

CON

HEC

IMEN

TO, T

ECN

OLO

GIA

E IN

OVA

ÇÃO

PA

RA

O F

OR

TALE

CIM

ENTO

DA

AG

RIC

ULT

UR

A F

AM

ILIA

R

mda.gov.br

Ministério doDesenvolvimento Agrário

Ministério daCiência, Tecnologia

e Inovação

'

CONTRIBUIÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES ESTADUAIS DE PESQUISA AGROPECUÁRIA

CONHECIMENTO, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

PARA O FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR

Hur Ben Corrêa da Silva e Flaviane de Carvalho Canavesi

CON

HEC

IMEN

TO, T

ECN

OLO

GIA

E IN

OVA

ÇÃO

PA

RA

O F

OR

TALE

CIM

ENTO

DA

AG

RIC

ULT

UR

A F

AM

ILIA

R

mda.gov.br

Ministério doDesenvolvimento Agrário

Ministério daCiência, Tecnologia

e Inovação

Conhecimento, tecnologia e inovação para o fortalecimento da agricultura familiarCONTRIBUIÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES ESTADUAIS DE PESQUISA AGROPECUÁRIA

Conhecimento, tecnologia e inovação para o fortalecimento da agricultura familiarCONTRIBUIÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES ESTADUAIS DE PESQUISA AGROPECUÁRIA

1ª Edição

Hur Ben Corrêa da Silva Flaviane de Carvalho Canavesi

(Organizadores)

BrasíliaMinistério do Desenvolvimento Agrário

2014

DILMA ROUSSEFF

Presidenta da República

MIGUEL S. ROSSETTO

Ministro de Estado do Desenvolvimento Agrário

LAUDEMIR ANDRÉ MULLER

Secretário Executivo do Ministério do Desenvolvimento Agrário

VALTER BIANCHINI

Secretário de Agricultura Familiar

ARGILEU MARTINS DA SILVA

Diretor do Departamento de Assistência

Técnica e Extensão Rural

HUR BEN CORRÊA DA SILVA

Coordenador Geral de Relações Institucionais

e Gestão do Sibrater

Ficha catalográficaElaborada pelo Centro de Documentação Ivan Otero Ribeiro/CPDA/UFRRJ

C749Conhecimento, tecnologia e inovação para o fortalecimento da agricultura familiar: contribuições das organizações estaduais de pesquisa agropecuária / Hur Ben Corrêa da Silva, Flaviane de Carvalho Canavesi (organizadores). – Brasília: Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2014. 267 p.

Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-8354-004-5

1. Conhecimento. 2. Tecnologia. 3. Agricultura familiar. 4. Pesquisa. 5. ATER. I. Silva, Hur Ben Corrêa da. II. Canavesi, Flaviane de Carvalho. III. Título.

CDD - 630.

Bibliotecária: Silvia Alves de Andrade CRB-7ª/RJ 5070

Copyright 2014 MDA

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO (MDA)www.mda.gov.br

SECRETARIA DE AGRICULTURA FAMILIAR

SBN – Quadra 1 – Bloco D – Palácio do Desenvolvimento – 7º andar CEP 70057-900 – Brasília/DFTelefone: (61) 2020 0910 - www.mda.gov.br

Projeto Gráfico

Alessandro Ribeiro

Diagramação

Cleiton Parente e Marcela Nunes

Edição de Texto

Kelly Kareline Cordova

1ª EdiçãoTiragem: 2.000 exemplares

Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que citada a fonte.

Agradecimentos

Agradecemos aos pesquisadores e às pesquisadoras, às suas equipes e às par-cerias que contribuíram enviando seus resumos expandidos. Para o conjun-to desta publicação, o pronto atendimento a esta solicitação foi importante para disponibilizarmos os conhecimentos produzidos ao longo do trabalho.

Agradecemos também ao apoio e empenho dados pelo Consepa, refletindo sobre o potencial das pesquisas realizadas pelas Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária.

Ao MCTI/CNPq, pela parceria.

A toda a equipe da Coordenação de Inovação e Sustentabilidade do Dater/SAF/MDA, da qual fazem parte os organizadores – Hur Ben Corrêa da Silva (coordenador) e Flaviane de Carvalho Canavesi –, Cesar Reinhardt, Chris-tianne Belinzoni, Denise Cavalcanti, Alexandra Ferreira Pedroso, Jean Pier-re Passos Medaets, Thaís do Carmo Ferreira dos Santos e Manoel Mendon-ça, cujo empenho está expresso neste documento.

E a todos(as) consultores(as), servidores(as) e gestores(as) que contribuíram para que o Edital MDA/SAF/MCT/Secis/FNDCT/Ação Transversal I/CNPq – Nº 24/2008 pudesse ser lançado, permitindo apoiar 51 projetos, dos quais alguns resumos expandidos com os principais resultados aqui se encontram.

Valter BianchiniSecretário de Agricultura Familiar

Siglas

Agerp – Agência Estadual de Pesquisa Agropecuária e de Extensão Rural do MaranhãoAgraer/MS – Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural do Mato Grosso do SulAPTA/SP – Agência Paulista de Tecnologia dos AgronegóciosATER – Assistência Técnica e Extensão RuralCNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e TecnológicoConsepa – Conselho Nacional dos Sistemas Estaduais de Pesquisa AgropecuáriaDater – Departamento de Assistência Técnica e Extensão RuralDipap-PI – Diretoria de Pesquisa Agropecuária e Desenvolvimento Rural EBDA – Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S.A.Emater/AL – Instituto de Inovação para o Desenvolvimento Rural Sustentável de AlagoasEmater/GO – Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária Emdagro/SE – Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuáriaEmepa/PB – Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba Empaer/MT – Empresa Mato-Grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão RuralEmparn – Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte Epagri/SC – Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina Epamig – Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas GeraisFepagro/RS – Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária FNDCT – Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e TecnológicoIncaper/ES – Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão RuralIapar – Instituto Agronômico do ParanáIPA/PE – Instituto Agronômico de PernambucoMCTI – Ministério da Ciência, Tecnologia e InovaçãoMDA – Ministério do Desenvolvimento AgrárioOepas – Organizações Estaduais de Pesquisa AgropecuáriaPesagro/Rio – Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de JaneiroPnater – Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão RuralSAF – Secretaria de Agricultura FamiliarSecis – Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão SocialUnitins/TO – Fundação Universidade do Tocantins

Apresentação

Prefácio

PARTE 1 - REFLEXÕES SOBRE A GERAÇÃO DO CONHECIMEN-TO NA AGRICULTURA FAMILIAR

O papel das Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária (Oepas) para o fortalecimento da agricultura familiar

Florindo Dalberto

Itinerários de produção e socialização do conhecimento na pes-quisa agropecuária e extensão tecnológica para a agricultura de base familiar

Joaquim A. P. Pinheiro

PARTE 2 - ALGUMAS EXPERIÊNCIAS

Formulação de estratégias para o desenvolvimento da piscicultu-ra no Território da Cidadania do Sertão do Apodi/RN, com base em uma Unidade Padrão de Produção de Tilápias em Gaiolas

Ana Célia Araújo Barbosa

Desempenho produtivo de espécies florestais nas regiões semi-árida e litorânea do Rio Grande do Norte

Manoel de Souza Araujo

Uso de mudas micropropagadas de cultivares de bananeira (Musa spp.) resistentes ao Mal-de-Sigatoka e Mal-do-Panamá para transição agroecológica na agricultura familiar do Rio Grande do Norte

Maria Cléa Santos Alves, Ana Julia Rebouças Pereira de Medeiros, Edilma da Costa Pereira e Maria de Fátima Batista Dutra

Sumário

71

65

59

61

41

21

19

1517

Controle biológico da mosca-minadora do melão, Liriomyza trifo-lii (Diptera: Agromyzidae), em áreas de agricultores familiares no Rio Grande do Norte

José Robson da Silva, José Roberto Postali Parra, Tiago Cardoso da Costa Lima, André Luiz Guedes de Sousa, Elton Lúcio de Araújo, Evi-lásio Dantas de Faria, Fernanda Aspazia Rodrigues de Araújo, Fran-cisco Cipriano de Paula Segundo

Eficiência do uso da terra na associação de culturas para produ-ção de biodiesel em sistemas de produção familiar

José Simplício de Holanda, Flávio de Oliveira Basílio, Miguel Ferreira Neto e Tarcísio Batista Dantas

Utilização de fungos entomopatógenos para o controle da Traça das Crucíferas em áreas com uso abusivo de defensivos e em sis-temas de cultivo de base ecológica

Elizabeth Araújo de Albuquerque Maranhão

Sistemas de cultivo agroecológicos para produção de inhame na Paraíba

Elson Soares dos Santos, Edson Cavalcante Matias, Maildon Martins Barbosa e José Teotônio de Lacerda

Sistema alternativo para tutoramento da cultura do inhame (Dioscorea cayennensis)

Elson Soares dos Santos, Edson Cavalcante Matias, Maildon Martins Barbosa e José Teotônio de Lacerda

Características de crescimento e produtivas de cultivares de mandioca em base agroecológica na Paraíba

Elson Soares dos Santos, Edson Cavalcante Matias, Maildon Martins Barbosa e José Teotônio de Lacerda

Características morfológicas de seis cultivares de mandioca cultivadas em sistema agroecológico na Paraíba

Elson Soares dos Santos117

109

101

93

87

81

75

Cultivo agroecológico da mandioca cultivar Toninha para pro-dução de forragem no Agreste Paraibano

Elson Soares dos Santos, Valdemir Ribeiro Cavalcante e Selma Soares dos Santos

Desempenho de zebuínos submetidos à alimentação com man-dioca no Agreste Paraibano

Elson Soares dos Santos, Valdemir Ribeiro Cavalcante, Selma Soares dos Santos e Paulo Leonardo Correia Guedes

Capacitação técnica para produção de inhame e mandioca em base agroecológica na Mata Paraibana e no Agreste

Elson Soares dos Santos, Valdemir Ribeiro Cavalcante, Selma Soares dos Santos, Paulo Leonardo Correia Guedes, Rômulo Pontes Freitas de Albuquerque, Saulo Vilarim de Farias Leite, Nielson Gonçalves Cha-gas e Maria do Carmo dos Santos Lima

Difusão e transferência de tecnologias agroecológicas de inha-me e mandioca na Paraíba

Elson Soares dos Santos, Edson Cavalcante Matias, Maildon Martins Barbosa e José Teotônio de Lacerda

Inseminação artificial em bovinos para fortalecimento da agri-cultura familiar

Paula Fernanda Barbosa de Araújo Lemos

Desenvolvimento e validação de um modelo de produção orgâ-nica de leite, para agricultura familiar, em bases agroecológi-cas, resguardando a biodiversidade local

Farouk Zacharias

Identificação dos pontos de contaminação do leite, com vistas à elaboração de procedimentos-padrão de higiene para proprieda-des de agricultura familiar localizadas nos Territórios da Cidada-nia do Rio Grande do Sul.

Cristine Cerva

167

163

157

145

139

131

123

Sanidade animal de rebanhos leiteiros em propriedades de agricultura familiar localizadas em Territórios da Cidadania do Rio Grande do Sul

Alexander Cenci

Condicionantes, estratégias, organização e agroindustrializa-ção nos sistemas de produção familiares com a cadeia do leite no Território Sudoeste do Paraná

Norma Kiyota

Caracterização de sistemas de produção tradicionais e agroe-cológicos de erva-mate de agricultores familiares, nas regiões Centro-Sul do Paraná e Norte Catarinense

Francisco Paulo Chaimsohn

Sistema de produção de leite de búfala em base agroecológica

José Lino Martinez

Melhorias dos sistemas de produção e da base genética da cultu-ra da mandioca no Paraná

Mário Takahashi

Instalação de redes de inovação tecnológica para a melhoria de sistemas de produção familiares no Território Norte Pioneiro do Paraná

Dimas Soares Júnior

Avaliação de fruteiras de clima temperado em unidades de di-fusão tecnológica situadas em diferentes regiões de Santa Cata-rina

Marco Antonio Dalbó

Envolvimento, validação, geração e difusão no processo de de-senvolvimento tecnológico da agricultura orgânica de base fa-miliar do Espírito Santo

Jacimar Luis Souza

217

213

207

205

197

191

185

173

Estratégia de desenvolvimento tecnológico e social local para melhoria nos agroecossistemas produtores de hortaliças e grãos da Região Centro-Serrana do Espírito Santo

Maria da Penha Angeletti

Desenvolvimento sustentável e vigilância ambiental em pro-priedades rurais de agricultura familiar, com a equação de situ-ações de risco da ocorrência de doenças infectocontagiosas no noroeste do Estado do Rio de Janeiro

C. H. C. Costa, P. C. Romijn, J. G. Pinheiro, L. M. S. Kimura, R. F. Nasci-mento, H. Magalhães, W. M. Gonçalves, L. M. P. Bruno, A. M. P. Bruno, L. Carvalho, M. W. Santos e A. S. Lopes

Sistemas de produção de morango para agricultores familiares para diversificação da produção e como nova alternativa de ren-da na região central de Minas Gerais

Juliana Carvalho Simões

Desenvolvimento de um sistema silviagrícola em uma comu-nidade de agricultores familiares da Zona da Mata de Minas Gerais

Flávio Pereira Silva

Variedades de abacaxi cultivadas em diferentes espaçamentos por produtores familiares do Projeto Jaíba e Gorutuba

Maria Geralda Vilela Rodrigues259

255

247

241

231

- 15 -

Apresentação

Esta publicação faz parte de uma das estratégias de comunicação da Co-ordenação de Inovação e Sustentabilidade do Departamento de Assistên-cia Técnica e Extensão Rural (Dater) da Secretaria de Agricultura Familiar (SAF) do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para promover a divulgação de resultados de pesquisas realizadas com o apoio deste Minis-tério por meio do Edital MDA/SAF/MCT/Secis/FNDCT/Ação Transversal I/CNPq – Nº 24/2008.

Em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tec-nológico (CNPq) foram apoiados, nos últimos anos, 627 projetos voltados para produção de tecnologias, de conhecimentos apropriados e de inova-ção tecnológica para a agricultura familiar, contribuindo para a promoção da sustentabilidade econômica, ambiental e social por meio da adoção de produtos, processos e gestão tecnológicos visando potencializar a inserção nos mercados e a geração de rendas agrícola e não agrícola.

Especificamente neste edital – um dos instrumentos utilizados pelo MDA para o apoio ao desenvolvimento tecnológico no fortalecimento da agricul-tura familiar –, foram beneficiados 49 projetos das Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária (Oepas). Isso se deve ao apoio expresso pelo MDA no fortalecimento dessas instituições no bojo dos conhecimentos gerados no campo. Além de projetos apoiados por via de Edital, com os resultados aqui apresentados, o MDA aplicou, entre 2011 e 2014, um montante de R$ 14.000.000,00, segundo dados da CPIP/SAF, de 21 de março de 2014, en-tre ações de ATER, tecnologia, insumos e formação.

Pretendemos com esta divulgação parcial de resultados na execução de projetos, promover um rico e intenso processo de integração entre ATER, pesquisa e agricultores familiares e suas organizações, reafirmando nos-so compromisso.

Miguel Soldatelli RossettoMinistro de Estado do Desenvolvimento Agrário

- 17 -

Prefácio

A extensão rural brasileira, no pós-período de declínio na década de 1990, passou por uma efervescente reconstrução participativa que culminou na Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Pnater) tornada lei em 2010. A extensão rural então, debilitada por mais de uma década, pas-sou a contar com estruturas e orçamento respondendo às demandas cres-centes para o desenvolvimento rural baseado no fortalecimento da agricul-tura familiar. Tal fato demandou repensar o modelo difusionista, bastante marcante no nascimento e desenvolvimento da extensão no Brasil, passando a considerar as metodologias participativas e a perspectiva do desenvolvi-mento rural sustentável como princípios. Este novo contexto fez com que houvesse a necessidade de aportes de recursos tanto para a formação dos agentes de Assistência Técnica e Extensão Rural quanto para a geração e dis-ponibilização de conhecimentos conectados a essa nova realidade, sob ino-vações metodológicas distantes do marco referencial difusionista.

Isso posto, a parceria do MDA com o Conselho Nacional de Desenvolvimen-to Científico e Tecnológico (CNPq) vem apoiando projetos voltados para produção de tecnologias, de conhecimentos apropriados e de inovação tecnológica para a agricultura familiar, com intuito de contribuir para a promoção da sustentabilidade econômica, ambiental e social, por meio da adoção de produtos, processos e gestão tecnológicos visando potencializar a inserção nos mercados e a geração de rendas agrícola e não agrícola.

No edital que deu origem a esta publicação, as Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária (Oepas) foram beneficiadas, entendidas como instituições importantes no bojo dos conhecimentos gerados no campo. Da mesma forma, também foram apoiados projetos em universidades bra-sileiras que hoje representam 107 Núcleos de Agroecologia em atividade, cujos resultados serão expressos em publicações posteriores.

Para a elaboração deste documento, foi solicitado aos pesquisadores que tiveram projetos apoiados pelo Edital MDA/SAF/MCT/Secis/FNDCT/Ação Transversal I/CNPq – Nº 24/2008 o envio de resumos expandidos de pes-quisas realizadas no período entre 2008 (ano de lançamento do edital) e 2012 (data do encerramento dos últimos projetos).

- 18 -

Esse edital teve como objeto apoiar projetos voltados para a produção de tecnologias, de conhecimentos apropriados e de inovação tecnológica para a agricultura familiar que pudessem contribuir para a promoção da susten-tabilidade econômica, ambiental e social, por meio da adoção de produtos, processos e gestão tecnológicos para a conquista de melhores condições de inserção nos mercados e na geração de rendas agrícola e não agrícola.

Foi direcionado exclusivamente para apoio a projetos ligados a pesquisado-res nas Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária (Oepas). Por este edital foram apoiados 56 projetos em 11 das 18 Oepas existentes, dos quais 49 foram executados.

Esses projetos também foram submetidos a uma avaliação ex post por parte da Coordenação de Inovação e Sustentabilidade para mensurar os princi-pais resultados do ponto de vista da disponibilização de conhecimentos, das mudanças institucionais, da estruturação e do fortalecimento das Oe-pas para a geração de conhecimento que fortaleça a agricultura familiar e integre ATER e pesquisa.

Assim, uma avaliação de projetos apoiados via Edital MDA/SAF/MCT/Se-cis/FNDCT/Ação Transversal I/CNPq – Nº 24/2008 é apresentada no artigo assinado pelo consultor Joaquim Pinheiro.

Uma reflexão sobre o papel das Oepas na produção do conhecimento para a agricultura familiar é trazida pelo presidente do Conselho Nacional dos Sistemas Estaduais de Pesquisa Agropecuária (Consepa), Florindo Dalberto.

Os resumos expandidos com os resultados de pesquisas nas regiões onde foram desenvolvidas e os respectivos contatos das equipes de pesquisa nas Oepas compõem a segunda parte desta publicação.

Esperamos que as experiências aqui compartilhadas possam, além de dis-ponibilizar informações e conhecimentos para extensionistas, pesquisado-res e agricultores familiares, contribuir para o incremento da articulação entre esses atores rumo a uma transição agroecológica, objeto central dos esforços desta Secretaria para a promoção da inovação e sustentabilidade na agricultura familiar.

Valter BianchiniSecretário de Agricultura Familiar

1P A R T E

Reflexões sobre a geração do conhecimento

na agricultura familiar

- 21 -

O papel das Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária (Oe-pas) para o fortalecimento da agricultura familiar1

Florindo Dalberto2

O presente artigo tem o propósito de contextualizar o papel das Organi-zações Estaduais de Pesquisa Agropecuária (Oepas) na geração de tecno-logias para o segmento da agricultura familiar (AF), elencando algumas das suas principais contribuições em produtos e serviços tecnológicos. Ainda, sugere desafios e estratégias das instituições estaduais para fazer frente, com sucesso, aos desafios dinâmicos do desenvolvimento da agri-cultura brasileira.

1. Introdução

A agricultura brasileira, principalmente a realizada em estabelecimentos familiares, tem contribuído substancialmente para o mercado domésti-co, produzido alimentos a preços relativamente baixos, colaborando para o controle da inflação (GONÇALVES, 2002; ALVES et al., 2013). Esse papel, aliás, assemelha-se ao exercido em outros períodos históricos, como na in-dustrialização e urbanização do país durante a fase desenvolvimentista do século passado. Aliada à produção de alimentos para o autoconsumo, tal contribuição da agricultura familiar guarda elevada importância estratégi-ca nas políticas de segurança alimentar. Daí a necessidade de incluí-la, com seu devido protagonismo, na agenda de pesquisa agropecuária, a fim de incorporar ganhos de produtividade e qualidade permitidos pela inovação tecnológica, bem como oferecer eficiência econômica e adequada perfor-mance ambiental.

O processo de inovação tecnológica é dependente da contínua busca e apli-cação de novos conhecimentos. Na agricultura, adicionalmente, é requeri-da a adaptação das inovações às condições agroecológicas e socioeconômi-cas específicas das regiões onde ocorre a produção. Portanto, o desenvolvi-mento de inovações para o agronegócio depende de uma robusta estrutura de pesquisa regional, capaz de tornar as tecnologias aplicáveis localmente, respeitando condições sociais e ambientais específicas para a sustentabi-

1 A elaboração deste artigo teve a colaboração de Tiago Pellini, pesquisador e coordenador da Área Técnica de Socioeconomia do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), e de Talize Alves Garcia Fernandes, ex-secretária executiva do Conselho Nacional dos Sistemas Estaduais de Pesquisa Agropecuária (Consepa). Também colaborou, com sugestões à versão final, Danilo Rheinheimer dos Santos, presidente da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro-RS).2 Presidente do Consepa e diretor-presidente do Iapar

- 22 -

lidade dos sistemas produtivos. E, para tornar ainda mais complexo esse contexto, as peculiaridades culturais e socioeconômicas das regiões geo-gráficas – em que diferentes processos de colonização podem determinar distintas necessidades de inovação por parte dos produtores rurais – e a estratificação fundiária requerem o desenvolvimento de soluções viáveis para os diferentes segmentos de produtores (DALBERTO; PELLINI, 2013). É justamente nesse contexto que está a essência da missão das Oepas, ou seja, atuar em P&D e na validação de tecnologia agropecuária no âmbito local e regional, por meio de uma estrutura de bases físicas, equipes e proje-tos com suficiente capilaridade para permitir sua maior proximidade com usuários específicos.

A argumentação central do artigo é no sentido de revelar a natureza es-sencial das instituições estaduais de pesquisa agropecuária: atuar na sis-tematização de informações tecnológicas, relacionando-as com os diver-sos estratos de produtores e domínios específicos de recomendação. Em paralelo, expõem-se os presentes desafios das Oepas para aprimorar sua complexa interação com outros organismos de P&D e instituições relacio-nadas à transferência de tecnologia para a agropecuária e para as cadeias do agronegócio Nesse contexto destacam-se o Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Informação (SNCTI), constituído por universidades, institutos de pesquisa e agências financiadoras de C&T e, mais particular e direta-mente, o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA), que congrega a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e as 17 institui-ções estaduais representadas pelo Conselho Nacional dos Sistemas Estadu-ais de Pesquisa Agropecuária (Consepa).

As seções que seguem relacionam brevemente a importância da agricul-tura familiar na economia, elencam aspectos históricos da formação ins-titucional da estrutura da pesquisa agropecuária brasileira e destacam algumas contribuições das Oepas no desenvolvimento agrícola, caracte-rizando seus principais ativos e sua estrutura de pesquisa. Na conclusão, reitera-se o papel estratégico das organizações estaduais de pesquisa para a agricultura brasileira e a permanente necessidade de manter os sistemas estaduais fortalecidos e atuantes para um desenvolvimento rural que seja inclusivo aos diferentes segmentos de agricultores e regiões.

- 23 -

2. A importância econômica e social da Agricultura Familiar

A agricultura familiar, segundo o Censo Agropecuário de 2006 (IBGE, 2006), emprega quase 75% da mão de obra no campo e detém pouco menos de 85% dos estabelecimentos agropecuários. Embora ocupe menos de 25% da área total, responde por 38% do valor da produção agropecuária nacional. Destaca-se na produção de feijão (70%), mandioca (87%), leite (58%) e milho (46%) e possui expressiva participação nos rebanhos de suínos (59%) e aves (50%), produtos importantes para garantir a segurança alimentar do País.

Guilhoto et al. (2007) estimaram a participação da AF na composição do PIB, conforme mostra a Figura 1, indicando forte ligação das cadeias indus-triais da avicultura, da suinocultura, dos lácteos, do fumo e do processa-mento de alguns produtos vegetais com o agronegócio familiar.

Figura 1 – Participação da agricultura familiar e empresarial na composição do PIB agropecuário

Fonte: GUILHOTO et al. (2007).

% PIB Familiar e Patronal

PIB - Familair

0% 50% 100% 0

2,6

6,4

3,1

7,85,8

2,3

4,3

2,71,0

1,3

3,0

7,3

2,32,6

1,8

2,0

0,4

5 10

Bilhoes de reais(valores de 2005)PIB - Patronal

PIB do Setor Rural Familiar

Outros pecuária 49 51

Leite

Suínos 59

55 45

41

Aves 48

82 18

594343

41

37

31

28

23

13

8 92

87

77

72

69

63

59

575741

28

96

7252

Bovinos

Fumo

Mandioca

FeijãoTrigoMilho

Arroz

Frutas e hortaliças

CaféSoja

Outros cultivos

Cana

Algodão

- 24 -

3. A pesquisa agropecuária numa perspectiva histórica

Numa perspectiva histórica, é útil dividir a pesquisa agropecuária no Brasil em dois períodos distintos, um anterior à década de 1970 e, outro, a partir dos anos 1970 (BEINTEMA et al., 2001). O primeiro período inicia-se tendo como protagonistas os institutos imperiais do final do século XIX. Também naquele século é que se materializaram as estruturas estaduais que evo-luíram para uma rede de unidades de pesquisa agropecuária. Assim, em 1859-60 o imperador criou cinco Institutos de Pesquisa nas províncias da Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Sergipe, tendo êxi-to os Institutos Imperiais de Agricultura no Rio de Janeiro (IIFA) e na Bahia (IIBA), concentrando-se no trabalho com café e cana-de-açúcar. No final do século XIX a produção de café foi deslocada do Rio de Janeiro para o estado de São Paulo e, por pressão dos cafeicultores, foi criada em 1887 a Estação Imperial Agronômica de Campinas, renomeada em 1891 como Instituto Agronômico de Campinas (IAC), denominação que permanece até hoje.

Ainda no primeiro período, mas já na República, vários outros Institutos de Pesquisa foram criados sob a coordenação do Ministério da Agricultu-ra nos anos 1920, entre os quais: a Estação Experimental de Campos, em 1910, hoje pertencente à estrutura da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro-Rio); a Estação de Sementes Alfredo Chaves, em 1919, no município de Veranópolis (RS), hoje parte da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro); o Instituto Biológico de São Paulo (IB), em 1927; e o Instituto de Pesquisa Agropecuária (IPA), em Per-nambuco, em 1935.

Com o advento do Estado Novo, em 1937, o Ministério da Agricultura criou o Centro Nacional de Ensino e Pesquisa Agrícola (CNEPA). Em 1943, o en-sino foi separado da pesquisa e experimentação, e essas últimas foram consolidadas em uma agência, o Serviço Nacional de Pesquisa Agronômica (SNPA), composto por três unidades centrais e uma rede de estações expe-rimentais agrupadas em cinco regiões.

Em 1962, esse Serviço foi reorganizado, constituindo, juntamente com o Departamento Nacional de Produção Animal, o Departamento de Pesquisa e Experimentação (DPEA). A partir de nova reorganização, em 1967, passou a chamar-se Escritório de Pesquisa e Experimentação (EPE), sendo poste-riormente transformado no Departamento Nacional de Pesquisa e Experi-mentação Agropecuária (DNPEA) em 1971, tendo o direcionamento de suas

- 25 -

atividades na promoção das exportações de produtos agrícolas brasileiros. Após avaliações realizadas pelo Ministério da Agricultura no DNPEA, deci-diu-se em 1972 pela criação de uma empresa pública, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que assumiu os Institutos de Pesqui-sa e as Estações Experimentais que estavam sob a coordenação do DNPEA.

Essa reorganização, na década de 1970, dá início ao segundo período. É quando surge a Embrapa, em 1974, e são criados diversos órgãos estadu-ais: no Paraná, o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), em 1972; em Mi-nas Gerais, a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), em 1974; em Santa Catarina, a Empresa Catarinense de Pesquisa Agrope-cuária (Empasc, atual Epagri) e, no Espírito Santo, o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), em 1975; no Rio de Janeiro, a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janei-ro (Pesagro), em 1976; na Paraíba, Empresa Estadual de Pesquisa Agrope-cuária da Paraíba (Emepa), em 1978; e, no Rio Grande do Norte, a Empre-sa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn), em 1979. A agenda de pesquisa dessas instituições inicialmente atendeu à deman-da por informações básicas para a agricultura estadual, que não tinham referências técnicas precisas, tais como sobre adubação e correção de so-los, teste e recomendação de cultivares, teste de eficiência de defensivos agrícolas e sistemas motomecanizados de preparo do solo. Isso habilitou os técnicos e agricultores à prescrição e adoção das tecnologias preconizadas pelo modelo de modernização da Revolução Verde. Numa fase posterior, que se entende ao presente, estabeleceu-se uma pauta de atividades de P&D que abordava os sistemas agrícolas de produção, além da eficiência agro-nômica, as possibilidades de diversificação e redução de riscos, o resultado econômico e a adequada proteção dos recursos solo e água.

- 26 -

4. As principais contribuições das Oepas à agropecuária brasileira

As Oepas têm uma diversificada agenda de pesquisa, que envolve uma am-pla gama de áreas do conhecimento, com destaque para as seguintes:

Nesta parte, são destacadas algumas linhas de atuação institucional e re-sultados tecnológicos circunscritos às Oepas. Parte das referências aqui apresentadas foi organizada pelo pesquisador do Instituto de Economia Agrícola (IEA) José Sidnei Gonçalves (in memoriam) para o Consepa e enca-minhada por Talize Alves Garcia Fernandes ao autor.

Todas as variedades de café plantadas no Brasil foram desenvolvidas pela pesquisa estadual. E em função dessa contribuição tecnológica, expressivos incrementos de emprego e renda foram viabilizados no País, dado que foi triplicada a produtividade. No caso do café arábica, sua expansão se deu no Vale do Paraíba fluminense, adentrando São Paulo, passando pelo norte do Paraná e atingindo o Cerrado Mineiro. A base técnica dessa expansão e a consolidação desse complexo produtivo reestruturador da economia e da sociedade brasileira teve contribuição relevante de resultados da pesquisa estadual, envolvendo variedades e outras técnicas que colocam o Brasil na liderança mundial nessa cadeia, como o maior exportador. O café, que antes seguia a trilha da terra roxa, recebeu nos anos 1950 importante contribui-ção em termos de diversas variedades que permitiram a ocupação dos solos podzolizados, considerados menos férteis. Por sua vez, para o café robusta (o Brasil é, atualmente, o segundo maior produtor de café robusta do mundo), a cultura tomou grande impulso no país a partir de 1993, quando foram lança-das três variedades clonais no estado do Espírito Santo, que é o maior produ-tor brasileiro deste café. Essas variedades, além de mais produtivas e de maior

• Genética e melhoramento • Biotecnologia • Meio ambiente

• Manejo e conservação do solo • Sementes • Genômica

• Fitossanidade/Fitopatologia • Sanidade animal • Botânica

• Nutrição de plantas • Entomologia • Fruticultura

• Nutrição animal • Pedologia • Sensoriamento remoto

• Forragens e rações • Qualidade dos alimentos

- 27 -

uniformidade de plantas e de tamanho de grão, comparativamente à tradicio-nal, possuem período de colheita diferenciado – precoce, médio e tardio –, per-mitindo, assim, melhor utilização da mão de obra familiar na colheita e maior oferta do produto. Elas têm contribuído para um aumento médio de cerca de 200% na produtividade e na qualidade do produto brasileiro, bem como têm permitido a expansão da cultura nos estados do norte e nordeste do país.

A produção de café em sistemas de plantio adensados, cujo modelo tecno-lógico foi desenvolvido pelo Iapar, viabiliza mudanças estruturais impor-tantes, permitindo elevada renda e geração de oportunidades de trabalho. Propriedades familiares que plantam café em cultivos adensados obtêm elevada produtividade e qualidade superior da bebida, geram três vezes mais renda e cinco vezes mais emprego por unidade de área, ou seja, os novos cultivos de cafés ampliam a perspectiva de desenvolvimento com justiça social, como multiplicação de propriedades familiares rentáveis.

O sistema de Alerta Geada do Iapar para proteção das lavouras de café é tido como referência nacional em agrometeorologia operacional e está dis-ponível na página do Iapar na internet (<www.iapar.br>), com emissão de boletins diários atualizados (entre 1º de maio e 31 de agosto); via linha te-lefônica de discagem gratuita, com mensagem gravada atualizando a pre-visão diariamente (telefone 43 3391-4500); ampla divulgação aos meios de comunicação e, ainda, lista de e-mails cadastrados em <[email protected]>. Após as fortes geadas ocorridas em julho de 2000, levantamentos comprovaram os benefícios do Sistema, demonstrando que foram evitadas perdas em torno de 20 milhões de reais na cafeicultura, por meio da prote-ção de lavouras com até dois anos de campo (IAPAR, 2010).

Outra atividade na qual as organizações públicas estaduais de pesquisa agropecuária ocupam posição de liderança em ciência e tecnologia nacio-nal, em razão de sua competência técnica, é a citricultura. A produção de citros brasileira destaca-se como segmento de ponta no panorama mundial, sendo essa construção resultado de políticas públicas estaduais de pesquisa e desenvolvimento persistentes no tempo. Com isso, houve a troca de todo o plantel de variedades por outras desenvolvidas nos laboratórios estaduais, com maior produtividade e rendimento industrial, além de alargarem o período de colheita e serem dotados de resistência a doenças limitantes. Há que se destacar a superação de limitações fitossanitárias, que tinham o potencial de dizimar os pomares citrícolas, como tristeza dos citros, cancro cítrico, declínio dos citros e, mais recentemente, a clorose variegada dos

- 28 -

citros. Foram os resultados do trabalho das organizações estaduais de pes-quisa que permitiram manter a potencialidade produtiva nacional, e nos laboratórios estaduais é que foram desenvolvidos os projetos genomas que colocam o Brasil na liderança mundial da fronteira do conhecimento ge-nético. O complexo citrícola brasileiro é líder em termos de competitivida-de no mercado internacional – tanto assim que os norte-americanos, para proteger a produção da Flórida de sucos cítricos, precisam manter elevadas barreiras tarifárias ao suco brasileiro – graças à capacidade de inovação da pesquisa estadual, associada à capacidade empresarial e à ação proativa na construção do mercado externo para seus produtos.

Um fato emblemático da importância da pesquisa estadual é a cultura co-mercial de frutas cítricas no Paraná. Essa atividade foi retomada no final da década de 1980 graças ao empenho de pesquisadores do Iapar, que de-senvolveram variedades resistentes ao cancro cítrico. Antes, desde a déca-da de 1960, o estado estava impedido, pelo Ministério da Agricultura, de plantar citros de forma comercial. Essa barreira foi rompida graças a uma articulação técnico-política que envolveu o Governo do Estado e os institu-tos de pesquisa, permitindo a expansão da citricultura e a constituição de importantes polos de produção no norte e noroeste do Paraná.

Numa atividade predominantemente familiar – a bovinocultura de leite –, o desenvolvimento do potencial genético de produção leiteira, com a in-trodução de raças melhoradoras, como a holandesa, e seu cruzamento com outras mais adaptadas à variabilidade da diversidade edafoclimática brasileira, foi resultado de intenso esforço da pesquisa agropecuária esta-dual. Deve-se salientar que as características socioculturais são elemento determinante no sucesso dos sistemas de produção leiteira, exigindo uma forte ação adaptativa de tecnologia, com testes em sistemas de produção locais, para se conseguir avanços significativos em termos de desempenho global de produtividade e qualidade. Nesse processo, a disponibilização da base genética melhoradora da pesquisa estadual, em associação com as or-ganizações de criadores, revela-se condicionante de mudanças estruturais visando a competitividade da cadeia de produção de leite.

Ainda como demonstração da expressão nacional dos resultados da pes-quisa estadual nos grandes complexos da produção animal, a introdução e o desenvolvimento da genética da moderna pecuária zebuína no Brasil foi apoiada pela pesquisa agropecuária estadual, em suporte às organizações privadas de desenvolvimento de raças bovídeas. Os rebanhos melhorados

- 29 -

de zebuínos das organizações estaduais de pesquisa formam um patrimô-nio de inestimável valor estratégico para a pecuária nacional. O fato de o Brasil ter o maior rebanho comercial do mundo decorre da qualidade das pastagens disponíveis em termos de variedades e técnicas de manejo e da qualidade genética do rebanho. A produtividade e qualidade da produção de carne advêm da interação derivada de cruzamentos com raças europeias de carne marmorizada, propiciando ao Brasil a posição de liderança tecno-lógica mundial da produção de carne a pasto, uma vantagem competitiva para ampliação das exportações brasileiras. Ainda, em sanidade animal, existe uma inestimável estrutura de pesquisa e desenvolvimento de mé-todos avançados de diagnoses e diagnóstico das organizações estaduais de pesquisa agropecuária que são uma garantia da inserção competitiva brasileira no mercado internacional de produtos de origem animal. Pelo padrão de suas unidades laboratoriais de referência, com qualidade com-patível com as exigências internacionais, além do desenvolvimento de es-tudos em zoonoses e problemas fitossanitários limitantes, as organizações estaduais de pesquisa agropecuária alicerçam o complexo produtor de pro-teína animal no Brasil.

A pesquisa agropecuária estadual detém resultados de reflexos nacionais inequívocos, na pesquisa em milho, arroz e feijão. No caso do milho, a di-versificação de cultura e a sua disseminação por todas as regiões brasilei-ras com incrementos de produtividade de 350% desde os anos 1940 teve im-portante protagonismo da pesquisa agropecuária estadual. No momento atual, ainda que predominantemente a base genética do milho utilizada na produção brasileira seja oriunda das empresas multinacionais de semen-tes, a pesquisa pública estadual tem um papel relevante na validação de tecnologias regionais e para a propriedade familiar. Além disso, foi resul-tante do esforço da pesquisa agropecuária estadual, a viabilização de outra safra de milho fora do plantio tradicional das águas, o denominado milho safrinha, que ampliou as possibilidades da produção nacional.

Os arrozais irrigados do sul do Brasil foram desenvolvidos pela excelência da pesquisa pública estadual, que resultou em níveis de produtividade e qualidade compatíveis com aqueles observados nas maiores nações rizí-colas mundiais. Nos sistemas irrigados das demais unidades da federação, também houve um intenso ganho de produtividade, fruto de variedades locais, em especial decorrentes da necessidade de selecionar materiais resistentes a diferentes raças de brusone, doença limitante da produção.

- 30 -

Por outro lado, nos plantios de sequeiro e de várzea úmida, a superioridade dos materiais e das inovações resultantes da pesquisa agropecuária estadu-al está presente em todas as zonas de produção nacionais.

O resultado de pesquisa em feijão pela pesquisa agropecuária estadual tem destaque em âmbito nacional. Exemplo disso é o feijão tipo carioquinha, ge-rado em São Paulo pelo IAC no final dos anos 1960 e irradiado amplamente no território brasileiro. Esse material foi trabalhado pelas unidades esta-duais de pesquisa agropecuária, produzindo variações importantes para características locais, além de técnicas de cultivo que elevaram seu poten-cial produtivo. Na mesma linha, as variedades de feijões desenvolvidas pelo Iapar, que são adaptadas às diversas regiões paranaenses, atraem interesse e avançam sendo cultivadas em outras áreas do Brasil. Isso porque trazem características culinárias que atendem ao mercado e características técni-cas que respondem às necessidades específicas dos produtores em relação a exigências de fertilidade, tolerância a doenças, épocas para semeadura, potencial produtivo e mesmo para a diminuição do uso de agroquímicos.

Os inoculantes, que na atualidade são amplamente difundidos e recomen-dados em substituição aos fertilizantes nitrogenados na cultura da soja e de outras leguminosas, tiveram participação fundamental da pesquisa estadual. Estima-se que o uso da fixação biológica de nitrogênio permita uma economia de R$ 9 bilhões para o Brasil, devido ao seu custo muito in-ferior em relação aos fertilizantes nitrogenados. Em 1950, na antiga Seção de Microbiologia Agrícola (Semia), da Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul, hoje Centro de Fixação Biológica do Nitrogênio, da Fun-dação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), iniciou-se a pesquisa para a seleção de estirpes e a produção de inoculantes, principalmente para soja (FREIRE; VERNETTI, 1999). Destaca-se que o Laboratório de Mi-crobiologia da Fepagro é o único no Brasil autorizado a realizar análises de qualidade para controle oficial de inoculantes junto ao Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), trabalho que vem sendo prestado desde 1975.

Contudo, um dos aspectos notórios do trabalho das Oepas no que se refe-re à contribuição à AF é a abordagem sistêmica dos sistemas de produção agropecuária. Para ilustrá-la, relata-se a seguir a experiência das Redes de Propriedades de Referência, realizadas no Programa de Pesquisa em Siste-mas de Produção (PSP) do Iapar. Em seu esforço de desenvolver metodolo-gias para as etapas básicas de seu trabalho de investigação em sistemas de

- 31 -

produção (tipologia, diagnóstico, validação de tecnologias e validação de sistemas), o PSP adotou as Redes de Propriedades de Referências, desenvol-vidas pelo Institut l’Élevage desde 1981, aproveitando um programa de coo-peração entre o Brasil e a França que vigorava em 1988. Houve a instalação de duas Redes de propriedades em regime experimental em 1994, seguida da implantação de uma proposta mais abrangente em 1998, envolvendo o Iapar e o Instituto Emater-PR, no Projeto Paraná 12 Meses, com aporte de recursos financeiros do Banco Mundial.

Uma Rede de Referências é um conjunto de propriedades representativas de determinado sistema de produção familiar predominante na região, que após processo de otimização visando ampliação de sua eficiência e susten-tabilidade, conduzido por agricultores e técnicos, serve como referência técnico-econômica para as outras unidades por ela representadas. Seus ob-jetivos específicos são os seguintes:

• levantar demandas de pesquisa a partir de diagnósticos nas propriedades;

• realizar testes, ajustes e validação de tecnologias;

• ofertar opções técnicas que ampliem a eficiência dos sistemas de produção;

• disponibilizar informações e propor métodos para orientar os agriculto-res na gestão do empreendimento agropecuário;

• servir como polo de difusão e capacitação de técnicos e agricultores; e

• subsidiar formulação de políticas de promoção da agricultura familiar.

As etapas do trabalho das Redes de Referências são apresentadas na Fi-gura 2. Inicialmente se realiza um estudo prévio da região de trabalho, com caracterização dos recursos naturais e das condições socioeconômi-cas. Esse é seguido pela tipologia dos agricultores familiares, levando em conta as atividades econômicas mais importantes na geração de renda em suas propriedades e sua categoria social, permitindo a identificação dos principais sistemas de produção, utilizando critérios tais como a fre-quência absoluta dos estabelecimentos, a área total, o pessoal ocupado (equivalente-homem), o valor bruto da produção e o potencial produtivo para o desenvolvimento regional. Nessa etapa os dados censitários de-sempenham um papel primordial.

- 32 -

Figura 2 – Metodologia de trabalho na Rede de Referência

Fonte: Consepa, 2005.

De posse dessas informações, uma comissão regional, composta por repre-sentantes do governo e de beneficiários do projeto, seleciona os sistemas de produção que irão integrar as Redes. Nos estabelecimentos agropecuários escolhidos é efetuado um diagnóstico expedito, com base em informações fornecidas pelos agricultores e por observações feitas por extensionistas locais, tendo como objetivo a planificação das atividades de validação de inovações tecnológicas. Conforme indicado na Figura 2, o objetivo das “Re-des” é a obtenção de referências técnicas adequadas às condições socio-econômicas dos agricultores, servindo também para o embasamento das ações de difusão de tecnologias e provimento de subsídios para políticas públicas. Trabalhos com Redes de Referências são também relatados para os estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina (CONSEPA, 2005). Com o apoio do Consepa foram realizadas capacitações em Redes de Referências na Emparn, Idaterra, Agenciarural e Incaper.

Os resultados expostos nesta seção exemplificam a contribuição da pes-quisa pública estadual, sendo algumas dentre um grande número de ações com reflexos relevantes na dinâmica econômica local ou regional.

DIFUSÃO

Diagnóstico

CaracterizaçãoRegional Tipificação

Escolha dosSistemas

Seleção dasPropriedades

Planejamento

Referências(Sistemas e Modulares)

• Políticas públicas• Pesquisa• Extensão

SUBSÍDIOS

- 33 -

5. As organizações estaduais no contexto do SNPA

O surgimento da Embrapa foi uma decorrência das realidades político-eco-nômica e institucional dos anos 1970 no país, em que prevalecia a abundân-cia de recursos financeiros e centralização decisória das políticas públicas. Durante os anos 1970 e 1980 a Embrapa estimulou a criação de empresas estaduais de pesquisa agropecuária seguindo o seu modelo organizacio-nal, as quais constituíram, com ela e sob sua coordenação, inicialmente o Sistema Cooperativo de Pesquisa Agropecuária (SCPA) e, posteriormente, o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA).

No final dos anos 1980 e no início dos 90, como consequência das mudan-ças na Constituição de 1988, que deu aos estados e municípios maior par-ticipação na distribuição dos recursos arrecadados pelo governo federal, o montante de recursos financeiros que a Embrapa repassava às empre-sas estaduais foi reduzido substancialmente. Isso foi exacerbado em de-corrência da crise fiscal brasileira, e os problemas dos sistemas estaduais acirraram-se nos anos 1990, levando ao desaparecimento de várias dessas entidades. À medida que a crise do SNPA se aprofundava, as Oepas que conseguiram sobreviver sofreram processos de rearranjos institucionais, uma vez que os estados tiveram dificuldades em manter as instituições es-taduais, ante a escassez de recursos. De um total de 21 sistemas estaduais especializados em pesquisa agropecuária, que existiam no final dos anos 1970, permanecem atualmente 18 entidades, sendo apenas seis delas vol-tadas exclusivamente à pesquisa agropecuária, com as demais formando parte de sistemas mais amplos, que englobam atividades de extensão rural, fomento, ensino ou fiscalização agropecuária.

Em 1993 foi criado o Conselho Nacional das Entidades Estaduais de Pes-quisa Agropecuária (Consepa), com o objetivo de buscar o fortalecimento dos sistemas estaduais. Hoje é composto por 18 Oepas (Figura 3): Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn); Empresa Es-tadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba (Emepa); Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig); Empresa de Pesquisa Agropecuá-ria do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro-Rio); Agência Paulista de Tecnolo-gia dos Agronegócios (APTA); Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Sul (Fepagro); Instituto Agronômico do Paraná (Iapar); Fundação Universidade do Tocantins (Unitins); Agência Goiana de Assis-tência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater-GO); Em-presa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (Emdagro); Instituto

- 34 -

de Inovação para o Desenvolvimento Rural Sustentável de Alagoas (Ema-ter-AL); Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA); Empresa Mato-Grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer-MT); Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri); Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA); Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper); Agência Estadu-al de Pesquisa Agropecuária e de Extensão Rural do Maranhão (Agerp) e Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural de Mato Grosso do Sul (Agraer).

Figura 3 – As Oepas em 2014

Fonte: Consepa.

A G R Í

COLA

Pesquisa e Desenvolvimento

Inovação para o Desenvolvimento Rural Sustentável de Alagoas

Pesagro-Rio

EMDAGROEMPRESA DE DESENVOLVIMENTO

AGROPECUÁRIO DE SERGIPE

- 35 -

O Quadro 1 apresenta, em termos quantitativos, informações sobre a infra-estrutura de pesquisa compreendida pelo conjunto das Oepas.

Quadro 1 – As Oepas em números

Fonte: Consepa.

Obs.: O sistema APTA, de SP, compreende o Instituto Agronômico (IAC), o Instituto de Zootecnia (IZ), o Ins-tituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), o Instituto Biológico (IB), o Instituto de Economia Agrícola (IEA) e o Instituto de Pesca (IP).

Esses números indicam que os sistemas estaduais, juntos, representam aproximadamente uma estrutura semelhante à de mais uma Embrapa, a qual compreende 47 centros nacionais, temáticos e ecorregionais de pes-quisa, 2.427 pesquisadores e 9.800 funcionários.

Instituições (em 17 estados) 21

Total de funcionários 10.200

Total de pesquisadores 2.032

Graduados 408

Mestres 706

Doutores 918

Estações e fazendas experimentais 239

Laboratórios 298

Projetos de pesquisa e inovação tecnológica 2.800

Número de experimentos 9.685

Bibliotecas 34

Orçamento anual (bilhão de reais) 1,1

- 36 -

Contudo, diferentemente da Embrapa, cuja estratégia de atuação é prin-cipalmente por centros com atuação e resultados de alcance nacional, as estruturas estaduais de pesquisa atuam em proximidade com as questões locais e regionais. Possuem maior capilaridade, o que as habilita a uma ar-ticulação estreita com entidades e aderência à realidade local. Essa forma de atuação também resulta em maior competência para promover o de-senvolvimento local e para gerar modelos tecnológicos próprios. Resulta, ainda, em capacidade de envolver os segmentos que fazem parte do setor agrícola na priorização dos programas de pesquisa e adoção do enfoque sistêmico na condução da pesquisa.

Destacam-se como pontos fortes das Oepas:

capilaridade e conhecimento histórico da realidade regional;facilidade de articulação com o agronegócio local;compreensão dos sistemas de agricultura familiar e interação com suas organizações;conhecimento do patrimônio genético local;integração tecnológica aos programas estaduais de desenvolvimento da agricultura;integração com os sistemas estaduais de extensão rural; diversidade institucional adequada às condições locais.

Tais características credenciam as instituições estaduais a atuar diante das novas exigências do desenvolvimento local, que incluem novos conceitos sobre o espaço rural, o qual deve ser transformado a fim de criar condições dignas para os que ali habitam. Esse desenvolvimento só pode ser alcança-do como produto da ação articulada entre os diversos segmentos atuantes no município ou região; e é nessa articulação e nesse desenvolvimento que se torna ainda mais relevante o papel da pesquisa agropecuária estadual. O desenvolvimento dos espaços rurais demandam soluções próprias e especí-ficas que só as instituições que vivenciam o cotidiano local têm a percepção para buscar as respostas para esses desafios. É nesse contexto que se há de examinar a importância institucional e funcional das Oepas, em projetar novos, mais avançados e sustentáveis padrões de agricultura no País.

Essa forma de atuação das Oepas também resulta:

na maior competência para promover o desenvolvimento local;na maior capacitação para promover o desenvolvimento sustentável;no efetivo envolvimento do segmento produtivo no desenvolvimento dos programas de pesquisa; e

- 37 -

na capacidade de gerar modelos tecnológicos próprios, que garantam a autonomia tecnológica dos estados.

6. Considerações finais

O conhecimento local e a reconhecida competência dos seus quadros tor-nam as Oepas especialmente habilitadas para detectar e solucionar os pro-blemas das atividades agropecuárias. Dada a diversificação da agricultura familiar brasileira, em termos sociais, culturais e ambientais, essa capaci-dade de suplantar um paradigma setorial e trabalhar localmente, de forma multidisciplinar, é uma virtude das Oepas. Essas organizações se diferen-ciam por não realizar pesquisa apenas de forma prescritiva, mas também por avaliar a adaptabilidade das tecnologias levando em conta a realidade dos agricultores nas suas diversas dimensões, tal como foi ressaltado na introdução deste trabalho.

As Oepas, pela sua singular capilaridade, constituem-se em estruturas particularmente efetivas para, por um lado, identificar, sistematizar e so-lucionar a grande diversidade de problemas de tecnologia agropecuária e, por outro, desenvolver as potencialidades dos sistemas de produção locais. Portanto, complementam-se com a Embrapa no papel de prover, de forma continuada, inovações tecnológicas ao agronegócio nacional.

Apesar das sucessivas reordenações institucionais no decorrer da história, as Oepas contribuíram com a construção de grande parte do patrimônio científico e tecnológico em agricultura no país, e são na atualidade man-tenedoras de importantes ativos da pesquisa agropecuária, considerando infraestrutura física de laboratórios e estações experimentais, gestão de recursos genéticos/germoplasma e capital humano altamente qualificado. Essa condição possibilita, paralelamente ao desenvolvimento de pesquisas relevantes localmente, a execução de projetos com abrangência territorial ampla, tais como experimentos em rede.

Os principais problemas e desafios que as Oepas enfrentam na atualidade referem-se à crise fiscal dos estados, que repercute em falta de investimen-to em pesquisa; à retração do apoio financeiro federal, em termos de fluxo contínuo; à obsolescência de equipamentos e instalações; à dificuldade de renovação e reciclagem dos quadros de pessoal; e, ainda, à necessidade de modernização das estruturas organizacionais.

- 38 -

Com a criação, pela Lei nº 12.897, de 18 de dezembro de 2013, da Agência Na-cional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater) – organização em âmbito federal com a missão de: i) realizar assistência técnica ao produtor rural em todas as etapas da produção e ii) atuar de forma integrada com a pesquisa para a transferência de tecnologia –, o espaço para a aplicabilida-de da pesquisa das Oepas se torna maior e mais relevante, ou seja, em fun-ção da sua dimensão, capilaridade e aparato de transferência tecnológica já estruturado e consolidado, e da sua inerente sinergia com os serviços de assistência técnica e extensão rural, as Oepas terão papel fundamental na operacionalização da Anater.

Considerando sua trajetória na pesquisa agropecuária nacional e os novos papéis que se apresentam, as Oepas são estratégicas no fortalecimento da agricultura, em particular da AF. Assim, as organizações estaduais devem, portanto, ser incluídas com apropriado grau de importância na agenda das políticas públicas voltadas ao desenvolvimento rural.

Referências

ALVES, Eliseu Roberto de Andrade; SOUZA, Geraldo Silva e; GOMES, Eliane Gonçalves (Ed.). Contribuição da Embrapa para o desenvolvimento da agrope-cuária no Brasil. Brasília: Embrapa, 2013. 291p.

BEINTEMA, N. M.; AVILA, A. F. D.; PARDEY, P. G. P&D agropecuário: política, investimentos e desenvolvimento institucional. Washington, D.C.: IFPRI, Embrapa and Fontagro, 2001. 116p.

CONSEPA – Conselho Nacional dos Sistemas Estaduais de Pesquisa Agro-pecuária. Redes de referências: um dispositivo de Pesquisa & Desenvolvimen-to para apoiar a promoção da agricultura familiar. Campinas: Consepa, 2005. 44p.

DALBERTO, F.; PELLINI, T. A contribuição da C&T para o desenvolvimento do agronegócio: a trajetória da pesquisa no Instituto Agronômico do Para-ná (Iapar) e seus principais resultados. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE POLÍTICA ECONÔMICA: A CONTRIBUIÇÃO DA CIÊNCIA E DA TECNO-LOGIA PARA O DESENVOLVIMENTO DO AGRONEGÓCIO, 25., 2013, Viço-sa. Anais... Viçosa: UFV, 2013.

FREIRE, J. R. J; VERNETTI, F. J. A pesquisa com soja, a seleção de rizóbio e a produção de inoculantes no Brasil. Pesquisa Agropecuária Gaúcha, Porto Alegre: Fepagro, v. 5, n. 1, 1999.

- 39 -

GONÇALVES, J.  S. Benefícios da pesquisa agrícola estadual. São Paulo: IEA, 2002. Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/out//LerTexto.php?codTex-to=325>. Acesso em: 12 mar. 2014.

GUILHOTO, J. J.; ICHIHARA, S. M.; SILVEIRA, F. G. D.; DINIZ, B. P. C.; AZZO-NI, C. R.; MOREIRA, G. R. A importância da agricultura familiar no Brasil e em seus estados. Brasília: NEAD, 2007.

IAPAR – Instituto Agronômico do Paraná. Ciência, tecnologia e inovação na agropecuária do Paraná. Londrina: Iapar, 2010. 66p. (Iapar. Documento, 33).

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA. Censo Agropecuário de 2006: agricultura familiar – primeiros resultados. Rio de Janeiro: IBGE, 2006. 267p.

SUGAMOSTO, M.; ARAUJO, A. G.; RODRIGUES, A.; LIBARDI, D.; MIRANDA, G. M.; TORRENS, J. C.; MARQUES, L.; DORETTO, M.; WAVRUK, P.; PELLINI, T. Identificação das inovações tecnológicas desenvolvidas pela agricultura fa-miliar: subsídios e diretrizes para uma política pública. Curitiba: Ipardes; Iapar; Deser, 2006. v. 1.

- 41 -

Itinerários de produção e socialização do conhecimento na pes-quisa agropecuária e extensão tecnológica para a agricultura de base familiar1

Joaquim A. P. Pinheiro2

RESUMO: O artigo analisa resultados de projetos de pesquisa e extensão tecnológica e itinerários de produção de tecnologias, de conhecimentos apropriados e de inovação tecnológica para a agricultura de base familiar. Esses projetos foram apoiados pelo Ministério do Desenvolvimento Agrá-rio, em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, por meio de edital público. Busca-se compreender como a pesquisa realizada em unidades experimentais ou em propriedades de agricultores familiares se desenvolve com a participação de agricultores familiares, como atua em parceria com a Ater na mediação da produção de conhecimento e como a divulgação e apropriação de resultados é realizada por esses atores.

1. Introdução

O presente trabalho analisa um instrumento de política pública cujo objetivo é motivar processos de produção do conhecimento, por meio de projetos de pesquisa e extensão tecnológica para o fortalecimento da agricultura de base familiar, importante setor socioeconômico para o desenvolvimento rural.

Ainda nos tempos atuais, a produção de conhecimento realizada pela pesquisa agropecuária privilegia majoritariamente empreendimentos agrícolas baseados na grande propriedade rural com uso intensivo de insumos industrializados, tecnologias de engenharia genética e uso de máquinas. Em outro sentido, a produção de conhecimento para a agri-cultura de base familiar foi desconsiderada, apesar da sua importância para a segurança alimentar mundial, a preservação dos alimentos tradi-cionais, a proteção da agrobiodiversidade e o uso sustentável dos recur-sos naturais, além de representar uma oportunidade para impulsionar as economias locais (FAO, 2014).

1 Este artigo é resultado parcial da consultoria realizada para o Projeto de Cooperação Técnica BRA/11/009 – PNUD/SAF firmado entre o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e a Secretaria da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA2 Engenheiro agrônomo, doutorando em Sociologia pela Universidade de Brasília – UNB. Pesquisador da área de Estudos Sociais de Ciência e Tecnologia – ESCT.

- 42 -

O artigo analisa resultados de projetos de pesquisa e extensão tecnológica e itinerários de produção de tecnologias, de conhecimentos apropriados e de inovação tecnológica para a agricultura de base familiar. Esses projetos foram apoiados pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio de edital público.

São analisados, neste trabalho, projetos apoiados por um instrumento de qualificação da PnAter: o Edital MDA/SAF/MCT/SECIS/FNDCT/Ação Transversal I/CNPq – Nº 24/2008 de seleção pública de propostas de pesqui-sa e extensão tecnológica para produção de tecnologias, de conhecimentos apropriados, de inovação tecnológica para a agricultura familiar. Mediante apoio financeiro, o Edital teve como objetivo “promover a sustentabilidade econômica, ambiental e social por meio da adoção de produtos, processos e gestão tecnológicos para a conquista de melhor inserção nos mercados e na geração de rendas agrícola e não agrícola”. O objetivo do artigo é avaliar como a pesquisa realizada em unidades experimentais em propriedades de agricultores familiares e em estações experimentais articulam a parti-cipação desse público, e a interface com a Extensão Rural que atua como mediadora na produção do conhecimento e na apropriação de resultados pelos agricultores. A base de dados refere-se aos 49 projetos apoiados pelo referido Edital e executados especificamente por pesquisadores e pesquisa-doras das Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária (Oepas).

A metodologia de avaliação consistiu na análise preliminar dos projetos e relatórios finais de pesquisa de todos os projetos disponibilizados pelo CNPq, visitas de campo a pesquisadores, extensionistas e agricultores de seis projetos selecionados utilizando como critérios a contribuição do pro-jeto para a promoção da sustentabilidade econômica, ambiental e social da agricultura familiar, a contribuição para a relação pesquisa agropecuária e extensão rural e a participação de agricultores familiares na elaboração, execução e avaliação do desenvolvimento dos projetos.

Cenário da pesquisa agropecuária nas Oepas

Estudo realizado para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e Em-brapa (EMBRAPA, 2006) aponta para a situação de dificuldade das Oepas em razão da descontinuidade no repasse de recursos, da redução no orça-

- 43 -

mento para a pesquisa pelos governos estaduais ao longo dos anos 2001 a 2006 e da ausência de política de ciência e tecnologia em muitos Estados. O estudo revelou ainda um descompasso entre a missão de pesquisa e o aten-dimento a duas clientelas diferenciadas: a agricultura de base familiar e o agronegócio. A avaliação dos resultados dos projetos apoiados constatou a permanência desse quadro.

Neste sentido, diante da dificuldade dos pesquisadores das Oepas em obter apoio financeiro dentro de suas instituições para executar seus projetos, principalmente aqueles voltados para a agricultura familiar e a agroecolo-gia, o Edital apresentou-se como uma oportunidade de financiamento de pesquisa. O Gráfico 1 apresenta a distribuição das pesquisas por Oepas e Unidade da Federação onde se encontram. Foram apoiados projetos em 12 das 18 Oepas existentes no Brasil. Observa-se maior concentração de pro-jetos na Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig). Isso ocorreu principalmente em razão de muitos de seus pesquisadores serem recém-ingressos e o Edital ter sido uma oportunidade de apoio a novos pro-jetos. Outro fato foi a política de apoio a projetos de pesquisa da Epamig, baseada em autofinanciamento a partir da busca de pesquisadores por apoio externo de órgãos, instituições ou empresas financiadoras de proje-tos. Além disso, o foco do Edital foi direcionado à apresentação de proposta para a sustentabilidade ambiental, ao relacionamento com a extensão ru-ral e à agricultura familiar, garantindo uma estratégia de estímulo a pro-jetos inovadores.

- 44 -

Gráfico 1 – Distribuição dos projetos por Oepas e Unidade da Federação apoiados pelo Edital MDA/SAF/

MCT/SECIS/FNDCT/Ação Transversal I/CNPq – nº 24/2008

O Edital não restringiu a apresentação de projetos somente a pesquisado-res com grau de doutor, o que fez com que 36% dos projetos fossem apre-sentados por pesquisadores com grau de mestre, segundo mostra o gráfico 2. Comprovou-se, pela análise dos projetos, relatórios finais de pesquisa e visita in loco, que o rigor metodológico foi garantido, independente da titu-lação dos coordenadores dos projetos. Além disso, verificou-se a realização de pesquisas inovadoras por pesquisadores mestres que associaram o rigor científico à participação de técnicos de Ater e de agricultores familiares no desenvolvimento das pesquisas, como será analisado adiante.

IAC/APTA (SP) 6%

EMEPA (PB) 4%

IAPAR (PR) 11%

IAPAR (PR) 10%

PESAGRO (RJ) 2%

IPA (PE) 10%

EBDA (BA) 6%

AGRAER (MS) 4%

INCAPER (ES) 6%

EPAGRI (SC) 6%

EPAMIG (MG)35%

- 45 -

Gráfico 2 – Titulação de coordenadores de projetos de pesquisa

Outro aspecto identificado na análise geral foi a diversidade dos projetos apoiados. Optou-se pelo recurso metodológico de agrupá-los em três cate-gorias de análise: validação, transferência de tecnologias e mista (conjun-tamente validação e transferência de tecnologias). Tal agrupamento por ca-tegoria permitiu destacar, de um lado, aqueles projetos de pesquisa experi-mental, ou seja, de validação de técnicas e métodos e, de outro, projetos de transferência de tecnologia. Para uma elucidação conceitual, Dereti (2009) aponta a validação tecnológica como sendo o processo metódico e contro-lado de determinação da indissociabilidade de aplicação de tecnologia e de segurança de sua confiabilidade de um produto, serviço ou processo, sob diferentes circunstâncias de aplicação. Em outro sentido, destaca que a transferência de tecnologia é o “conjunto de ações articuladas visando à incorporação de recursos de ordem instrumental, que possibilitem aumen-tos de produção e de produtividade, considerando-se variáveis econômi-cas em conjunção com fatores sociais, ambientais, a situação anterior e os impactos posteriores à sua adoção” (DERETI, 2009, p. 35). O gráfico abaixo mostra a distribuição dos projetos em relação a esses dois grupos, além de

GRADUAÇÃO 2%

MESTRADO36%

DOUTORADO62%

- 46 -

apresentar aqueles que articulam a validação e a transferência de tecnolo-gias num mesmo projeto.

Gráfico 3 – Processo de produção e acesso a conhecimento e a tecnologias

A validação (pesquisa experimental) e a transferência de tecnologia (socia-lização de resultados) foram conjugadas em 35% dos projetos, que realiza-ram pesquisas e posterior socialização de resultados por meio de cursos, dias de campo, viagens de intercâmbios, seminários, reuniões e visitas téc-nicas. Em 22% dos projetos foi feita a validação, com implementação de unidades experimentais ou em estações de pesquisa; e em 43% foi feita a transferência de tecnologia, com a realização de eventos de socialização de conhecimento e de tecnologias.

A análise dos projetos a partir de Linhas Temáticas, definidas no Edital (Tabela 1), possibilitou o agrupamento e a verificação da participação per-centual dos projetos por grandes temas. Observa-se que foram apresenta-dos projetos majoritariamente para agroecologia e agriculturas de base

22%

35%

43%

Validação de tecnologia

Validação/Transferência

Transferência de tecnologia

- 47 -

ecológica (27%) e Mais Alimentos3 (33%). Em agroecologia e agriculturas de base ecológica destacaram-se trabalhos de manejo e transição agroecoló-gica, agricultura orgânica e controle biológico de doenças. Na Linha Mais Alimentos destacaram-se cadeias produtivas como a do leite, perfazendo a metade dos projetos apresentados, seguido de frutas, café e mandioca. Houve ainda apresentação de projetos na Linha de sistema produtivos (12%) e sistemas agroflorestais (8%). Nas demais Linhas o número foi me-nor: recursos hídricos, com 2%, e mudas, sementes e variedades, também com 2% dos projetos.

Percebeu-se, pela análise dos objetos dos projetos e suas metodologias, que o objetivo do Edital foi alcançado – qual seja, fomentar projetos de pes-quisa e extensão tecnológica com foco na sustentabilidade ambiental e na agricultura familiar –, tanto pelos projetos com abordagem agroecológica e agricultura orgânica, como pelos projetos direcionados para a agricultura de base familiar.

Tabela 1 – Projetos apoiados por linha temática

3 Política pública criada pelo Governo Federal para estimular ganhos de produção e produtividade nas cadeias produtivas.

Linhas temáticas N° %

Agroecologia e agriculturas de base ecológica 13 27%

Agregação de valor 2 4%

Convivência com o semiárido 1 2%

Gestão de sistemas produtivos 6 12%

Alternativas energéticas 2 4%

Mais Alimentos 16 33%

Manejo sustentável 2 4%

Sistemas agroflorestais 4 8%

Recursos hídricos 1 2%

Mudas, sementes e variedades 1 2%

Sem identificação 1 2%

Total 49 100%

- 48 -

Participação de técnicos de Ater e de agricultores nos projetos

Outro aspecto de destaque na análise dos trabalhos é a participação de téc-nicos de Ater. A separação entre pesquisa e extensão tecnológica é evidente ao analisar os tipos e os percentuais de participação no desenvolvimento dos projetos de pesquisa, conforme mostrado no Gráfico 4.

Gráfico 4 – Participação dos técnicos de Ater nos projetos

Observa-se que na maioria dos projetos a participação dos técnicos de Ater restringiu-se à mobilização e seleção de agricultores que participariam do projeto (35%), ao apoio à pesquisa na parte logística e de infraestrutura (14%), ao acompanhamento da pesquisa como técnicos de campo (6%), ou na exe-cução técnica da implementação de unidades demonstrativas ou experimen-tais (2%). Em 25% dos projetos a participação de técnicos de Ater deu-se como público capacitado. Por fim, um número reduzido de projetos envolveu os técnicos no desenvolvimento das pesquisas (8%), nas diversas etapas do pro-jeto, quais sejam: proposição de problema e questão de pesquisa, definição de objetivos, definição de metodologia e de análise os dados.

2%

8%

14%

6%

2%

8%

25%

35%

Mobilização e seleçãode agricultores

Apoio á pesquisa

Acompanhamento e execução da pesquisa

Execução técnica

Desenvolvimento dapesquisa

Capacitação de técnicos

Não especificado

Unidade de treinamento

- 49 -

Quanto à participação de agricultores familiares, a análise dos projetos realizou-se a partir de duas categorias: como beneficiários e como atores. A atuação como beneficiários reconhece os agricultores como público ao qual a pesquisa é direcionada, no entanto os agricultores não intervieram na elaboração e execução da pesquisa como sujeitos do processo, nem seus conhecimentos resultantes da prática de trabalho foram reconhecidos no projeto. Sua atuação foi a cessão de áreas experimentais, como mão de obra ou beneficiários dos resultados da pesquisa por meio de acesso à informa-ções geradas. Compõem o grupo majoritário de projetos. Observou-se que a maior parte foi de capacitação de agricultores (39%), nas quais estavam inclusos cursos, intercâmbios, dias de campo ou outras formas de repas-se do conhecimento produzido. Outro tipo de participação foi a cessão de áreas para implantação de unidades demonstrativas/experimentais (20%). A conjugação dos dois grupos, capacitação e cessão de áreas, representa-ram 21% do total de projetos. O gráfico abaixo apresenta a distribuição per-centual das formas de participação dos agricultores familiares no projeto.

Gráfico 5 – Análise da participação de agricultores familiares no projeto

39%

21%

20%

10%

8%

2%

Capacitação

Capacitação e cessão de área

Cessão de área

Desenvolvimento da pesquisa

Não especificado

Entrevistas

- 50 -

A participação de agricultores como atores destaca a intervenção ativa, a participação com poder decisório na elaboração e no desenvolvimento, por meio da análise crítica dos processos e resultados. Representou 8% dos projetos. Nessas formas de participação, os saberes do agricultor foram reconhecidos e incorporados no trabalho de pesquisa e extensão tecnoló-gica, por meio da definição da demanda de pesquisa, de poder intervir no desenvolvimento, da atuação na análise de dados gerados, na avaliação e apropriação dos resultados e na recriação de conhecimento a partir das informações produzidas pelos projetos.

Itinerários de pesquisas

Nos projetos, a participação de agricultores familiares e técnicos de Ater na produção do conhecimento foi diferenciada, conforme analisado. Muitos se caracterizaram por pesquisas desenvolvidas em estações experimentais ou em propriedades de agricultores e posterior repasse a esse público, por meio da transferência de tecnologia. Outro tipo de pesquisa observado foi a devolução dos resultados no processo de pesquisa, mas ainda caracte-risticamente de validação experimental sem a participação protagonista dos agricultores.

Serão comentados a seguir aspectos qualitativos das pesquisas a partir de itinerários de pesquisa selecionados que apresentaram dificuldades e possibilidades da pesquisa de campo com a participação de agricultores familiares e de técnicos de Ater. Percebeu-se, a partir de visitas e entrevis-tas, que, de diferentes modos, os pesquisadores abordaram em suas me-todologias os desafios e as possibilidades da validação articulada à trans-ferência de tecnologias para agricultores de base familiar. A maioria dos selecionados incorporaram a participação dos agricultores para coleta de dados, ou seja, partiram de suas realidades para desenvolver tecnologias e produzir conhecimento.

O trabalho da pesquisadora Ana Cristina Pinto Juhász (Epamig) é um caso interessante, por apresentar os desafios de desenvolver pesquisa de cam-po em unidades familiares. O objetivo do projeto foi avaliar a viabilidade econômica do plantio de uma cultivar e um híbrido de girassol e, com isso, averiguar e recomendar aos agricultores familiares, a melhor tecnologia a ser adotada no norte de Minas Gerais. A pesquisadora aponta, no relatório final da pesquisa, atrasos na implantação do experimento de campo devido à perda de período de plantio, em decorrência da demora na contratação

- 51 -

do projeto de pesquisa. Tal problema interferiu no levantamento de dados, fazendo com que duas safras fossem avaliadas no experimento, e não três, como proposto no projeto. Outra dificuldade foi a indisponibilidade de im-plementos agrícolas adaptados aos cultivos no momento necessário, o que provocou atraso nos tratamentos experimentais, além da dificuldade de acesso às propriedades que tinham unidades experimentais. Relata ainda que houve desinteresse de agricultores em implantar o experimento em suas propriedades, apesar da mediação de técnicos da Empresa de Pesqui-sa Agropecuária e Extensão Rural de Minas Gerais (EmAter-MG). Informa a pesquisadora que durante o desenvolvimento da pesquisa surgiram al-guns problemas, como a desistência de agricultores, sendo necessária a sua substituição por outros com interesse em participar, e ataque de pássaros a plantas do experimento. A pesquisa foi concluída, apesar das dificuldades relatadas para o seu desenvolvimento em condições de campo.

A avaliação do trabalho aponta, em termos analíticos, para os desafios de desenvolver pesquisa de campo em unidades familiares, nas quais nem sempre haverá soluções perfeitas e adequadas para os problemas que sur-girem. Esta é a realidade do próprio agricultor, que responde com a criativi-dade aos problemas e à precariedade de recursos com os quais se defronta. Este aprendizado também é necessário ao pesquisador e o desafia a resol-ver problemas na pesquisa de campo sem comprometer a cientificidade do experimento. O caso analisado retoma as condições disponibilizadas para as Oepas pelos governos estaduais, conforme inicialmente indicado. Por fim, a negação de agricultores em aceitar a implantação de experimen-tos em suas unidades de produção pode remeter a diversos aspectos, como a indisponibilidade de terras e sua relação com o pesquisador e com os extensionistas, entre outros aspectos, os quais não é possível identificar a partir das informações disponibilizadas no relatório final de pesquisa.

Os trabalhos de Dimas Soares Júnior e Francisco Paulo Chaimsohn utili-zaram a metodologia sistemas de produção, abordagem de investigação e extensão rural consolidada como programa de pesquisa no Instituto Agro-nômico do Paraná (Iapar).

O trabalho de Dimas Soares Júnior tem como objetivo “descrever os siste-mas de produção familiares predominantes no Território Norte Pioneiro do Paraná, identificando as melhores alternativas de melhoria nas suas ati-vidades e o uso de fatores de produção para aumentar sua rentabilidade, viabilidade e estabilidade”. Utiliza metodologia de Redes de Propriedades

- 52 -

de Referências, modalidade de pesquisa de validação e transferência de tecnologias, realizada em propriedades estudadas e acompanhadas com enfoque sistêmico. O pesquisador e sua equipe de trabalho realizaram a seleção dos sistemas produtivos para análise e de agricultores participan-tes da pesquisa, com apoio da EmAter-PR, caracterizaram e tipificaram os sistemas de produção, elaboraram diagnósticos das unidades de produção e produziram o planejamento de atividades para o desenvolvimento das propriedades analisadas. A implementação dessas proposições seriam posteriormente acompanhadas por técnicos de Ater e seriam referências técnicas, econômicas e ambientais para os agricultores circunvizinhos. A metodologia de Redes de Referência requer uma estreita e contínua relação com a Extensão Rural. No entanto, observou-se um comprometimento da metodologia, dada a não participação no projeto da unidade técnica local da EmAter-PR, que teria a responsabilidade de acompanhar os planos de melhoria do sistema de produção elaborados na pesquisa para proprieda-de familiares participantes das Redes de Referência. Os motivos foram a reduzida equipe local e a grande demanda de acompanhamento dos agri-cultores por Ater.

O trabalho de Francisco Paulo Chaimsohn, também desenvolvido a partir da metodologia de sistemas de produção, teve como objeto a erva-mate, cultura desenvolvida nas florestas de araucária por agricultores de base familiar e que, por essa característica, colabora para a conservação dessa vegetação. O objetivo foi “caracterizar os sistemas tradicionais de produ-ção de erva-mate por agricultores familiares das regiões centro-sul do Pa-raná e norte catarinense, identificando suas principais potencialidades e limitações, e contribuir para a construção de um processo de Identificação Geográfica, de forma a agregar valor à erva-mate nativa produzida em sis-temas que visem a conservação da Floresta de Araucária”. A pesquisa sur-giu de uma reunião técnica sobre produção e mercado de erva-mate como alternativa de renda e conservação ambiental em sistemas de produção de agricultura familiar. O evento teve a participação de técnicos de extensão rural, pesquisadores e agricultores familiares, que constituíram a maioria dos participantes. O objetivo da reunião foi definir estratégias de trabalho para o desenvolvimento da atividade ervateira, incluindo ações de pesqui-sa, extensão e assistência técnica, organização da produção e comercializa-ção. O desenvolvimento da pesquisa foi realizado em cultivos de erva-mate cedidos por agricultores para as análises. Os produtos do projeto foram uma publicação com os resultados de pesquisa que contribuíram para o

- 53 -

fortalecimento da Indicação Geográfica4 da erva-mate, a socialização dos conhecimentos produzidos com os agricultores participantes da pesquisa por meio de uma viagem de intercâmbio às unidades experimentais im-plantadas no Paraná e um seminário de apresentação dos principais resul-tados da pesquisa para agricultores, técnicos e pesquisadores. Observou-se a qualificação da produção e o fortalecimento da agricultura familiar com produção diferenciada e de qualidade superior de erva-mate, bem como a incorporação do conhecimento produzido pelos técnicos de Ater, que reali-zaram a transferência de tecnologias por iniciativa própria.

A partir de modos diferentes, os projetos de pesquisadores do Instituto Ca-pixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) indicam rumos para articular a extensão rural como mediadora da relação entre o saber popular e o conhecimento científico. Os projetos de pesquisa tiveram em comum a abordagem sobre a transição agroecológica, além de a proble-mática de pesquisa ter surgido de questões identificadas pelos pesquisadores a partir da relação com os agricultores, e o rigor científico no delineamento experimental, de modo destacado nas pesquisas em que as unidades experi-mentais foram implementadas em propriedades de agricultores. Essas são as diferenças iniciais que se desdobrarão na metodologia da pesquisa e nas diferentes formas de participação dos agricultores familiares. A seguir será realizada a análise dos projetos do Incaper, com foco na relação que desen-volveram entre a realidade do agricultor, a extensão rural e a pesquisa.

O trabalho de Jacimar Luis de Souza teve como objetivo “aprimorar tecnologi-camente a agricultura orgânica no Estado do Espírito Santo, visando ampliar a oferta e a competitividade dos alimentos orgânicos no mercado”. A questão de pesquisa foi identificada a partir de observação da realidade dos agricul-tores. Ele elaborou a metodologia de investigação e conduziu a pesquisa em estação experimental. A estratégia de socialização do conhecimento foi a reali-zação de visitas de agricultores familiares e estudantes aos experimentos, com apresentação de resultados de pesquisas já realizadas. Outra característica foi a devolução de resultados da pesquisa por meio de palestras, assessorias, li-vros, socialização de tecnologias geradas – como a distribuição de sementes para agricultores durante as visitas –, folders, cartilhas, entre outros.

4 Indicação Geográfica é a apropriação coletiva por uma população dos atributos geográficos de um produto. A Lei 9279/96 considera Indicação Geográfica a procedência, a denominação de origem que se tornou conhecida como centro de produção, fabricação ou extração de determinado produto ou prestação de determinado serviço.

- 54 -

Nos trabalhos de Alex Fabian Rabelo Teixeira e Maria da Penha Angelet-ti, os agricultores e técnicos de Ater participaram intensivamente, com a apropriação, pelo agricultor, do processo de pesquisa, delineada pelos pes-quisadores a partir de modelo experimental, mas com participação intensi-va do agricultor na discussão dos resultados experimentais. Os resultados de pesquisa e a apropriação do conhecimento foram imediatamente incor-porados ao processo produtivo do agricultor, visto que os experimentos fo-ram implementados em sua unidade de produção familiar.

O projeto de Alex Fabian Rabelo Teixeira teve como objetivo “dinamizar e socializar a transição agroecológica entre os agricultores familiares do Território Juparanã, Espírito Santo”. Por meio da articulação pesquisa e extensão rural, o pesquisador propôs: i) o redesenho de propriedades fa-miliares para serem unidades demonstrativas de cultivos agroecológicos; ii) a realização de pesquisa experimental participativa e iii) a socialização e divulgação de experiências desenvolvidas pelos agricultores familiares no processo de transição agroecológica. A pesquisa consistiu na substi-tuição da adubação mineral por compostos orgânicos e leguminosa em lavoura de café conilon em produção. O experimento foi implantado em unidade de produção familiar, cujo agricultor participou da execução da pesquisa, opinando sobre combinações para tratamentos, seleção de plantas, entre outros, além de participar da análise dos resultados. Outro aspecto foi a utilização dos conhecimentos produzidos diretamente em seu cultivo de café. A outra parte do trabalho – o redesenho de uma pro-priedade familiar para ser unidade demonstrativa de cultivos agroecoló-gicos – teve intensa participação da família agricultora, que se apropriou dos conhecimentos na atividade de Ater e replicou os resultados em sua prática produtiva.

O trabalho de Maria da Penha Angeletti, cujo objetivo é “melhorar os agro-ecossistemas produtores de hortaliças e grãos através da construção parti-cipativa de uma base tecnológica local e regional associada a trabalhos de desenvolvimento humano e social”, aprofundou a participação dos agri-cultores e técnicos de Ater no desenvolvimento da pesquisa, incorporando a experiência de trabalho na reflexão da pesquisa experimental. Com isso houve a construção de uma práxis, por meio do diálogo entre o conheci-mento prático dos técnicos de Ater e agricultores e o conhecimento cientí-fico do pesquisador. Houve qualificação do conhecimento com simultânea transferência de tecnologia.

- 55 -

O reconhecimento de saberes de agricultores e técnicos de Ater deu-se pela discussão e análise dos resultados de pesquisa, reconhecidos como coau-tores do trabalho e incluídos seus nomes em artigos e resumos divulgados por meio de comunicações e publicações apresentadas em eventos científi-cos, resultantes da pesquisa.

A socialização de resultados ocorreu por meio de visita de agricultores, téc-nicos de Ater e estudantes às propriedades familiares que adotaram o sis-tema plantio direto proposto a partir da pesquisa. Outra forma inovadora utilizada na transferência de tecnologias foi a apresentação de resultados de pesquisa em calendários produzidos pelo Sindicato de Trabalhadores Rurais de Santa Maria do Jequitibá (ES) e distribuídos para agricultores de base familiar. Estes penduravam os calendários nas paredes de suas casas e, ao observarem os dias, observavam também as fotografias do experi-mento e despertavam o interesse pelas tecnologias representadas. A partir daí, buscavam informações e desafiavam-se a experimentá-las em seus cul-tivos. A pesquisadora, por sua vez, acompanhava a experimentação que os agricultores realizavam em seus plantios e discutia com eles os resultados alcançados, com o aprofundamento da socialização dos resultados e um processo contínuo de qualificação do conhecimento produzido.

Considerações finais

A análise dos projetos do Edital MDA/SAF/MCT/SECIS/FNDCT/Ação Trans-versal I/CNPq – Nº 24/2008 indica as possibilidades para uma mudança de cenário da validação e transferência de tecnologias para a agricultura familiar a partir da relação com a extensão rural e da participação dos agri-cultores. Instrumentos de apoio a esse tipo de pesquisa, como o do referido Edital, estimulam a mudança de paradigma de construção do conhecimen-to científico agropecuário a partir do direcionamento para a agricultura de base familiar e da relação dialógica com os saberes das práticas produtivas e organizativa dos agricultores e a experiência de técnicos de Ater.

Por outro lado, o desenvolvimento da validação de tecnologias para a agri-cultura de base familiar ainda necessita de maior apoio institucional e metodológico, como aqui analisado nas dificuldades de realização da pes-quisa coordenada por Ana Cristina Pinto Juhász. Os desdobramentos do trabalho de Dimas Soares Júnior evidenciam o que o documento da PnAter destaca como reflexo do afastamento do Estado e a ainda pouca oferta de serviços públicos de Ater ao meio rural, o que restringe “as possibilidades

- 56 -

de acesso das famílias rurais ao conhecimento, aos resultados da pesqui-sa agropecuária e a políticas públicas em geral, o que contribui para am-pliar a diferenciação a exclusão social no campo” (PNATER, 2004, p. 5). O trabalho de Francisco Paulo Chaimsohn aponta o potencial de pesquisas para a agricultura familiar surgidas de demandas de agricultores e com ga-rantia de socialização de resultados com a participação da extensão rural. O trabalho de Jacimar Luis de Souza mostra possibilidades de socialização de resultados de pesquisa, mesmo conduzida em estações experimentais. Os trabalhos de Alex Fabian Rabelo Teixeira e Maria da Penha Angeletti inovam ao desenvolverem estratégias de pesquisa experimental participa-tiva e socialização de conhecimento que incorporam a premissa da PnAter de que “deverão ser privilegiadas atividades de pesquisa-ação participati-vas, investigação-ação participante e outras metodologias e técnicas que contemplem o protagonismo dos beneficiários e o papel de agricultores-ex-perimentadores” (PNATER, 2004, p. 11).

Tais resultados apontam um longo caminho a percorrer, mas a participa-ção do Estado por meio de instrumentos de políticas públicas de apoio à pesquisa e à extensão tecnológica para a agricultura familiar e à promoção da sustentabilidade ambiental, como o Edital MDA/SAF/MCT/SECIS/FN-DCT/Ação Transversal I/CNPq – Nº 24/2008, é fundamental para as mu-danças de paradigma e para implementar a diretriz da PnAter de “estimu-lar a participação da Ater nos processos de geração de tecnologias e inova-ções organizacionais, em relação sistêmica com instituições de ensino e de pesquisa, de modo a proporcionar um processo permanente e sustentável de fortalecimento da agricultura familiar” (PNATER, 2004, p. 6).

- 57 -

Referências

DERETI, R. M. Transferência e validação de tecnologias agropecuárias a partir de instituições de pesquisa. Desenvolvimento e Meio Ambiente, Curiti-ba: UFPR, n. 19, p. 29-40, 2009.

EMBRAPA. Estudo sobre o papel das Organizações Estaduais de Pesquisa Agro-pecuária (Oepas): resumo executivo. Brasília: Centro de Gestão e Estudos Es-tatégicos, 2006. 10p.

FAO. Ano Internacional da Agricultura Familiar. 2014. Disponível em: <http://www.fao.org/family-farming-2014/home/pt/>. Acesso em: 12 fev. 2014.

FREIRE, P. Criando métodos de pesquisa alternativa: aprendendo a fazê--la melhor através da ação. In: BRANDÃO, Carlos Rodrigues (Org.). Pesquisa participante. São Paulo: Brasiliense, 1981.

MDA. Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural. Brasília, 2003. Disponível em: <http://comunidades.mda.gov.br/portal/saf/arquivos/view/Ater/PnAter.pdf>. Acesso em: 31 mar. 2010.

OLIVEIRA, R. D.; OLIVEIRA, M. D. Pesquisa social e ação educativa: conhe-cer a realidade para poder transformá-la. In: BRANDÃO, Carlos Rodrigues (Org.). Pesquisa participante. São Paulo: Brasiliense, 1981.

- 59 -

2P A R T E

Algumas experiências

- 61 -

Formulação de estratégias para o desenvolvimento da piscicultura no Território da Cidadania do Sertão do Apodi/RN, com base em uma Unidade Padrão de Produção de Tilápias em Gaiolas

Ana Célia Araújo Barbosa1

As estatísticas oficiais demonstram que a tilapicultura no Brasil cresceu de 12.000 para 133.000 toneladas entre os anos de 1995 e 2009. Em termos mundiais, relata-se um crescimento da produção de tilápia de aproximada-mente 2,8 milhões de toneladas em 2008. A tilapicultura em tanques-rede/gaiolas, sistema intensivo que permite altas produções, foi a propulsora do crescimento dessas cifras, e acarretou diferentes alterações na cadeia de produção, uma vez que para ela são necessárias rações específicas e mate-rial genético compatível com a criação.

As potencialidades existentes no RN, aliadas à necessidade de se produzir proteína de baixo custo e acessível para a população, norteiam diferentes ações para o desenvolvimento da atividade em todo o território estadual. O foco dessas ações é direcionado para a valorização do capital humano e social, considerados elementos essenciais a uma perspectiva de desenvolvi-mento sustentável, que tem na atividade econômica do setor pesqueiro uma possibilidade concreta de melhoria da qualidade de vida da população.

As ações desse projeto foram realizadas tendo como ponto de partida as atividades da Associação dos Aquicultores de Apodi (Aquapo).

Metodologia

1. Capacitação

Com um efetivo de 217 pescadores, 12 municípios participaram desses even-tos, sendo oito deles do Território do Apodi. Nos dias de campo foram apre-sentadas aos participantes as principais técnicas envolvidas na atividade de cultivo, para que eles tivessem uma visão geral do sistema produtivo: peixamento, transferências, biometrias, arraçoamento e despesca.

Nos cursos teóricos foram abordados todos os itens do processo produtivo, desde os sistemas de cultivo até a comercialização. No decorrer dos cursos

1 Pesquisadora da Emparn. Contato: [email protected]

- 62 -

aplicou-se um questionário aos participantes, com o intuito de caracterizar o perfil socioeconômico deles. Verificou-se que eles são profissionalmente ativos, e a maior parcela tem renda mensal de até um salário mínimo. Grande parte exerce atividades paralelas numa tentativa de complementa-ção da renda mensal. Com relação à escolaridade, 42,8% são analfabetos e a maioria possui apenas o ensino fundamental incompleto.

Figura 1 – Curso teórico Figura 2 – Dia de campo

2. Expansão da atividade

Em função do desenho geográfico da região e considerando as distâncias entre os municípios, constituiu-se uma microrregião formada por 3 (três) municípios – Campo Grande, Upanema e Caraúbas – para dar sequência à implantação de novas unidades de produção de tilápia. O Município de Caicó, apesar de não estar situado no Território do Apodi, solicitou asses-soria técnica para uma unidade de produção e, com recursos próprios, está com seu primeiro cultivo em andamento.

Antes de iniciar esse processo, os municípios foram visitados e foram dis-cutidas com as prefeituras locais as parcerias possíveis para o desenvol-vimento da atividade. Paralelamente, coletas de água dos reservatórios foram realizadas a fim de se conhecer suas características e potencialida-des para o cultivo de tilápias, tais como qualidade e grau de produtividade (riqueza em alimento natural).

3. Instalação da unidade de processamento

Com área total de 120 m2, a sala de processamento é constituída de uma área externa, para recepção, lavagem e separação do pescado oriundo dos cultivos; área de processamento propriamente dita, com mesa de beneficia-

- 63 -

mento, bancadas para pesagem e embalagem do produto, com capacida-de para o trabalho de seis pessoas e produção de 1.500 kg num período de três horas. Uma máquina de fabricar gelo, com capacidade para produzir 150 kg/dia, constitui mais uma fonte de renda para a associação.

Figura 3 – Processo de evisceração

Resultados alcançados

A implementação do projeto para os pequenos produtores e pescadores permitiu, após capacitados técnica e gerencialmente, a viabilização da pis-cicultura de forma contínua, além de incentivar a atividade nas diferentes regiões e fortalecer a economia local. A Aquapo, foco principal do projeto, conta com um efetivo de onze membros, produz atualmente 4.800 kg/mês de tilápias, com uma previsão de produção de mais de 7.000 kg/mês para o ano de 2014. Parte da sua produção é beneficiada em forma de filé e comer-cializada (200 kg/mês) com a prefeitura local para a alimentação escolar. Com a instalação da sala de processamento, todo o processo de acabamen-to do produto foi substancialmente melhorado, permitindo também o trei-namento e a inserção da mão de obra feminina. Abastece, além do mercado local, alguns municípios vizinhos. A associação entrou para o programa da Incubadora do Agronegócio de Mossoró, em Mossoró/RN, em parceria com a Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), e terá toda a sua produção rastreada com dados precisos sobre o seu manejo e qualidade. O projeto em apreço foi apresentado à sociedade, pela mídia local, por meio de entrevistas em rádio e jornal televisivo e, na mídia nacional, no progra-ma “Globo Rural”.

Considerações finais

Ao concluir o projeto, podem-se tecer as seguintes considerações:

1. O trabalho contribuiu para estimular a produção de tilápias em gaiolas no Território do Apodi e em municípios vizinhos, os quais se organizaram

- 64 -

e passaram a desenvolver a atividade em diferentes níveis de produção.

2. A cadeia produtiva local do peixe teve avanços em seus eixos de pesquisa, desenvolvimento e transferência de tecnologia; infraestrutura e proces-samento; bem como distribuição e comercialização.

3. A continuidade e o fortalecimento da piscicultura na região, como um todo, deverá ser uma grande alavanca de desenvolvimento social e econômico, possibilitando o aproveitamento efetivo dos bens naturais locais e respei-tando o meio ambiente. Para isso, a atividade deve ser planejada conside-rando as características das comunidades das áreas em que for implantada, harmonizando o processo produtivo com a cultura local e o ambiente, tor-nando-se uma alternativa viável ao desenvolvimento sustentável.

- 65 -

Desempenho produtivo de espécies florestais nas regiões semiári-da e litorânea do Rio Grande do Norte

Manoel de Souza Araujo1

RESUMO: Neste estudo, várias espécies florestais foram avaliadas nos di-versos ecossistemas do RN. Em clones de híbridos de eucalipto estabeleci-dos em Parnamirim, registraram-se, aos nove anos de idade, índices de so-brevivência variando de 85 a 100% e a maior produtividade de 656,5 m³/ha no clone 16. Vários clones ultrapassaram o DAP mínimo considerado para serraria, 17 cm. O sabiá expressou melhor seu potencial produtivo no lito-ral, com volumes de madeira de 332,6 m3/ha e 285,5 m³/ha, em Canguareta-ma e Parnamirim, respectivamente, no espaçamento de 1 x 1 m. Nesses lo-cais obtiveram-se até 9.722 troncos/ha e 8.611 troncos/ha com DAP≥5,0 cm, aptos para estacas. No semiárido registraram-se volumes de madeira abai-xo de 100 m³/ha e produção de estacas inferior a 5.300 unidades/ha, regis-trando-se as maiores produtividades na Chapada do Apodi. Em ambiente degradado pela atividade ceramista, no município de Cruzeta, a algarobei-ra foi a mais produtiva, destacando-se das outras espécies com produção de madeira de 516,4 m³/ha e IMA de 43,0 m³/ha.ano-1, aos 12 anos de idade. Na espécie nim indiano obtiveram-se índices de sobrevivências ≥ 95%, tanto no semiárido quanto no litoral úmido. A maior produtividade volumétri-ca, 200,0 m³.ha-1, foi registrada em São Gonçalo do Amarante e a menor, 93,0 m³.ha-1, na região semiárida de Caicó. Em função dos resultados alcan-çados com essas espécies florestais, já se observam iniciativas de recompo-sição de áreas degradadas e produção de madeira para fins diversos nas pe-quenas e médias propriedades familiares nos diversos ecossistemas do RN.

Palavras-chave: espécies florestais, reflorestamento, áreas degradadas, produção madeireira.

Introdução

A necessidade de racionalizar o uso dos recursos naturais exige um melhor aproveitamento dos ag roecossistemas. Nesse contexto, a identificação e seleção de espécies de usos múltiplos é estratégia preponderante na sus-tentabilidade dos sistemas de produção (GOLFARI; CASER, 1977; ARAÚJO,

1 Engenheiro Florestal, M. Sc. Pesquisador da Emparn. Contato: Av. Elisa Branco Pereira dos Santos, s/n – Parque das Nações (Coophab) – Cx. Postal 188 – CEP 59158-160 – Parnamirim (RN). E-mail: [email protected] – site: www.emparn.rn.gov.br – Tel. (84)3232-5858 – Fax (84) 3232-5868.

- 66 -

1993). Atualmente, o eucalipto é a essência florestal mais plantada no Bra-sil, graças ao seu rápido crescimento, ao elevado rendimento e à multiplici-dade de usos de sua madeira. Desde que seja utilizada a espécie ou material genético bem adaptado, não existem limitações ao seu cultivo (GOMES, 1977). O sabiazeiro, por sua vez, é leguminosa de uso múltiplo, produzindo estacas, lenha, forragem, e encontra-se adaptada aos diversos ecossistemas do Nordeste brasileiro (MENDES, 1989). Desde a época colonial que o ativo florestal nativo do RN vem sendo explorado como lenha, carvão, estacas, moirões, escoras, produtos não madeireiros e abertura de espaços para empreendimentos rurais e urbanos. É expressivo o consumo de madeira como energia nos setores caieiro, salineiro, cerâmico, fábricas de confeitos, padarias, indústrias de sabão, margarina, doces, queijeiras, churrascarias, e no uso domiciliar rural e urbano, assumindo destacado papel na matriz energética potiguar, chegando a 31,4% do consumo do Estado.

Segundo levantamentos de Campello et al. (1997), naquele ano, a deman-da de madeira como fonte de energia pelos segmentos caieiro, cerâmico e domiciliar rural/urbano da região do Apodi/Açu, somada ao consumo in-dustrial de Mossoró, foi de 1.794.204 st/ano. O consumo do setor cerâmico, aliado ao domiciliar-rural na região do Seridó foi de 1.969.330 st/ano. O Ser-tão Central do Estado, incluindo o Agreste, teve um consumo de 161.899 st/ano. Já o setor industrial e o polo cerâmico da Grande Natal consumiram 1.140.837 st/ano. Em face do significativo aumento de consumidores de ma-deira após 1993, pressupõe-se que o consumo atual, nas diversas regiões do Estado, seja significativamente maior. Neste trabalho objetivou-se avaliar e difundir resultados sobre o desempenho produtivo de espécies florestais em áreas de caatinga e zona costeira úmida, visando à expansão da base florestal do Rio Grande do Norte, com foco na restauração de áreas degra-dadas em pequenas propriedades.

Resultados e discussão

Conforme o Gráfico 1, nos clones de eucalipto avaliados na região de Parna-mirim (RN), aos 9 anos de idade, foram registrados valores de sobrevivên-cia variando de 85 a 100%, e a maior produtividade obtida foi no clone 16, com 656.5 m³/ha. Nessa idade, vários clones ultrapassaram o DAP (Diâme-tro a Altura do Peito) mínimo exigido para serraria, 17 cm.

- 67 -

Gráfico 1 – Médias de produtividade madeireira de clones de híbridos de

eucalipto aos 9 anos de idade na região de Parnamirim (RN)

Ensaios de sabiá foram estabelecidos em diferentes densidades de plantio e ecossistemas do RN para avaliar sua adaptabilidade, ritmo de crescimento e desempenho produtivo. Obteve-se na região litorânea úmida, produtivi-dade variando de 306,3  m3/ha no espaçamento de 1  x  1  m a 147,9  m³/ha no espaçamento de 3 x 3 m, aos 7 anos de idade, em Canguaretama. Nos ensaios do semiárido, em função de pluviometria menor e solos menos fér-teis, registrou-se, na mesma idade, volumes de madeira abaixo de 100 m³/ha, sendo os melhores resultados obtidos na Chapada do Apodi (Quadro 1).

Em estudo conduzido com três espécies florestais em solo degradado pela atividade ceramista no município de Cruzeta, região do Seridó, Quadro 2, a algarobeira destacou-se das concorrentes quanto a sobrevivência e parâme-tros dendrométricos, aos 12 anos de idade. O volume de madeira produzido por esta espécie nas condições locais foi de 13,4 vezes ao apresentado pela leucena e de 25,7 vezes ao obtido no turco. Neste contexto, pode-se afirmar que a algarobeira é a espécie mais indicada para revegetar áreas degrada-das na região pela grande capacidade de recobertura de solo e produção de madeira como fonte de energia e redução da supressão da vegetação nativa.

700

600

500

400

300

200

100

01 2 3 4 5 6 7 8 9 10 111213141516171819 20

Sobrevivência (%)

Volume (m3/ha)

- 68 -

Quadro 1 – Rendimento volumétrico de madeira de sabiá em diferentes

localidades e espaçamentos de plantio aos 7 anos de idade no Semiário RN

*: Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem pelo teste de Scott-Knott (1974) para um nms = 0,05. Fator de forma empírico = 0,53.

Quadro 2 – Médias de sobrevivência, parâmetros dendrométricos e rendimento relativo de espécies

florestais em áreas degradadas pela atividade ceramista aos 12 anos de idade em Cruzeta – RN

O nim indiano, com perspectiva de futuro para o RN em termos de produção de madeira, vem sendo avaliado pela Emparn em diferentes ecossistemas do Estado. Embora sua grande resistência à seca, os resultados obtidos até 7 anos de idade indicam que seu maior desempenho produtivo vem acon-tecendo na região litorânea, com volume sólido de madeira de 200 m³/ha e incremento médio anual de 28,5 m³/ha.ano-1 em São Gonçalo do Amarante. No semiárido, sua maior expressão de produção foi no município de Pedro Avelino, com 130,2 m³/ha na idade avaliada e 18,6 m³/ha.ano-1 (Quadro 3).

EspaçamentoCanguaretama

(m³/há)

Gov. Dix-sept Rosado(m³/há)

Apodi(m³/ha)

S. José do Seridó

(m³/ha)

P. Avelino(m³/ha)

Litoral Semiárido

1 x 1 m 306,3 a* 69,0 a 80,2 a 65,6 a 56,1 a

2 x 1 m 198,7 b 67,5 a 60,2 b 46,4 b 38,2 b

3 x 1 m 166,4 b 48,2 b 55,9 b 44,0 b 37,8 b

2 x 2 m 197,0 b 46,8 b 44,8 b 47,2 b 36,2 b

3 x 2 m 155,7 b 25,0 c 46,8 b 32,2 c 30,6 b

3 x 3 m 147,9 b 23,3 c 41,6 b 29,0 c 24,1 b

Espécie Sobrev. (%)

Altura (m)

DAP (cm)

ABP (m²/ha)

V. Sol. (m³/há)

IMA (m³/

ha.ano-1)

Rendimento Relativo (%)

Algaroba 92,0 a 12,6 a 7,2 a 81,3 a 516,4 a 43,0 a 2.569

Leucena 39,3 b 7,7 b 7,4 a 10,0 b 38,5 b 3,2 b 192,5

Turco 24,8 c 4,5 c 4,2 b 9,1 b 20,1 c 1,7 b 100

- 69 -

Quadro 3 – Dados de sobrevivência, de crescimento, produtividade e de rendimento relativo de nim

indiano em diferentes localidades do Rio Grande do Norte, aos 7 anos de idade

Conclusões

Pelos resultados auferidos nos diversos ensaios, o eucalipto pode ser culti-vado em áreas degradadas do litoral úmido do RN para recobertura flores-tal e atendimento da demanda por produtos madeireiros da região. O sabiá e o nim indiano podem ser plantados nas diversas regiões edafoclimáticas do estado, sendo que o seu melhor desempenho foi observado no litoral úmido. A algarobeira mostrou-se apta para restauração de áreas degrada-das e fins madeireiros na região semiárida do Seridó potiguar.

Esses resultados vêm sendo divulgados pela Emparn por meio de publicações e em seus eventos de difusão de tecnologias, bem como mediante programas de distribuição de mudas das espécies avaliadas, junto à agricultura familiar, para recomposição de áreas degradadas e produção de madeira para uso na propriedade rural e obtenção de renda adicional. Nesse contexto, observa-se expressivo interesse dos proprietários rurais por sementes, técnicas de pro-dução de mudas, plantio e manejo de povoamentos florestais.

Local Sobrev. (%)

Altura (m)

DAP (cm)

ABP m²/ha

V.Sólido m³/ha

IMA m³/ha/ano

Rend. Relativo

%

São Gonçalo do Amarante 100 11,0 19,0 36,3 200,0 28,5 215,0

Pedro Avelino 95 8,5 11,3 32,6 130,2 18,6 140,0

Cruzeta 100 9,0 16,4 24,3 119,5 17,1 128,5

Caicó 100 7,0 13,0 26,4 93,0 13,3 100

Média 98,6 8,7 15,1 28,1 125,2 17,9 -

- 70 -

Referências

ARAÚJO, M. de S. Avaliação de espécies de eucalipto na região de Umbuzeiro, PB. 1993. 65p. Dissertação (Mestrado)–UFV, Viçosa, 1993.

CAMPELLO, F. B. et al. Indicadores socioeconômicos do setor florestal na Região Nordeste. In: SEMINÁRIO SOBRE MANEJO FLORESTAL, 4., 1997. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Projeto de Desenvolvimento Florestal para o Nordeste (Projeto IBAMA/PNUD/BRA/93-033).

GOLFARI, L.; CASER, R. C. Zoneamento ecológico da região Nordeste para expe-rimentação florestal. Belo Horizonte: Centro de Pesquisa Florestal da Região do Cerrado, 1977. 119p.

GOMES, J. M. Teste de procedências de eucalipto na região de Viçosa, Minas Gerais. 1977. 67p. Dissertação (Mestrado)–UFV, Viçosa, 1977.

MENDES, B. V. Sabiá (Mimosa caesalpiniaefolia Benth): valiosa forrageira ar-bórea e produtora de madeira das caatingas. Mossoró: Esam, 1989. (Esam. Coleção Mossoroense, Série B, n. 660).

PNUD; FAO; IBAMA. Diagnóstico florestal do Rio Grande do Norte. Natal: Go-verno do Estado do Rio Grande do Norte, 1993. 51p. Projeto PNUD/FAO/Ibama/RN.

- 71 -

Uso de mudas micropropagadas de cultivares de bananeira (Musa spp.) resistentes ao Mal-da-Sigatoka e Mal-do-Panamá para transi-ção agroecológica na agricultura familiar do Rio Grande do Norte

Maria Cléa Santos Alves1

Ana Julia Rebouças Pereira de Medeiros2

Edilma da Costa Pereira3

Maria de Fátima Batista Dutra4

Introdução

O cultivo da banana configura uma importante atividade agrícola no RN, já apropriada pela agricultura familiar, sendo um instrumento para o desen-volvimento sustentável dessa modalidade agrícola. O Estado do Rio Grande do Norte possui uma área de 5.311 hectares com cultivos de banana, com uma produtividade média de 27,7 t/ha (IBGE, 2012). A adoção de princípios agroecológicos em ações de pesquisa e extensão focadas na agricultura fa-miliar é o meio mais eficiente para a promoção da equidade socioeconô-mica, tendo por base, também, o uso sustentável dos recursos naturais e a manutenção das características sociais regionais. Assim, esses princípios podem ser empregados à bananicultura na agricultura familiar, visando alcançar a diversidade, produtividade, estabilidade, resistência, adaptabi-lidade, equidade e autonomia. O uso de cultivares elites de bananeira pode contribuir para a fitossanidade das lavouras, pois evita o emprego inten-sivo de defensivos químicos, sem perdas de produtividade, e com isso res-tringe o impacto do manejo do agroecossistema no ambiente. Atualmente, existem diversas cultivares de bananeira resistentes a doenças registradas no Ministério da Agricultura. Em 2007, a Empresa de Pesquisa Agropecuá-ria do Rio Grande do Norte S.A. (Emparn) implantou um jardim clonal com sete cultivares resistentes às duas doenças da bananeira de maior ocorrên-cia no RN, a saber: o Mal-do-Panamá e o Mal-da-Sigatoka Amarela. No Rio Grande do Norte, o uso de mudas de cultivares resistentes é pouco difundi-do na agricultura familiar. Portanto, procurou-se promover a apropriação de mudas micropropagadas como prática de manejo agroecológico adapta-da às condições do Rio Grande do Norte, a fim de fomentar a bananicultura pelos agricultores familiares.

1 Pesquisadora da Emparn e coordenadora do projeto. Contato: [email protected] Técnico de nível superior.3 Técnico de nível superior.4 Técnico de nível superior.

- 72 -

Metodologia

O uso de mudas micropropagadas resistentes a doenças (SOUZA; JUN-GHANS, 2006) na agricultura familiar foi adotado como padrão, a fim de permitir o acesso do agricultor a novas tecnologias. Foram empregadas me-todologias que uniram análise e experiência dos agroecossistemas familia-res, por meio de um diagnóstico participativo, utilizando levantamento de dados socioambientais e econômicos em três territórios regionais do RN: Açu-Mossoró, Chapada do Apodi e Mato Grande. Por meio desse levanta-mento foram selecionadas as unidades produtivas para implantação de uma nova variedade de bananeira originada de um programa de melhora-mento genético. A variedade Pacovan Ken foi selecionada por apresentar boa aceitação por parte dos agricultores. Essa variedade tem como princi-pal característica resistência às doenças: Sigatoka-Negra, Sigatoka-Amare-la e Mal-do-Panamá.

As mudas disponibilizadas foram multiplicadas pelo processo de micro-propagação, no laboratório de biotecnologia da Emparn. O processo de cultura de tecidos vegetais é um instrumento para o desenvolvimento da agricultura. Comparado ao método tradicional fornece clones em maior número, idênticos à planta matriz. Outra vantagem é o período de tempo reduzido para produzir grandes quantidades de mudas. Mudas clonadas in vitro proporcionam plantas livres de vírus e outros patógenos, propiciando a propagação de mudas com alto grau de fitossanidade.

Sendo assim, as mudas micropropagadas in vitro foram utilizadas para a implantação das unidades demonstrativas e unidades produtivas. As uni-dades demonstrativas serviram de amostragem para os agricultores, per-mitindo assim a visualização das práticas de manejo adotadas para ma-nutenção do bananal de mudas multiplicadas em laboratório, bem como a precocidade e uniformização da produção, possibilitando ao agricultor programar sua colheita. A implantação dessas unidades viabilizou, por meio da transferência de conhecimentos, tecnologias de sistema de pro-dução que permitem uma atividade econômica sustentável, pela adoção de processos biotecnológicos que podem ser utilizados pela agricultura familiar. O processo para execução do projeto começou com a seleção e o treinamento de recursos humanos necessários ao desenvolvimento dos trabalhos de micropropagação realizados no Laboratório de Biotecnologia da Emparn. As etapas posteriores ocorreram de forma gradativa, até que fosse obtido um número suficiente de mudas para implantação das unida-

- 73 -

des demonstrativas e produtivas. A realização de eventos de transferência de tecnologia (dias de campo, visitas, feiras) proporcionou ao agricultor o conhecimento do material genético e a apropriação das práticas de mane-jo, adaptando-as às condições locais, além de sensibilizar grupos poucos familiarizados com essa tecnologia.

Resultados e conclusões

A partir da obtenção de mudas micropropagadas de bananeira em unida-des demonstrativas, foram obtidos os dados que se encontram no Quadro 1. A produtividade superou, no caso de Apodi, a média estadual, bastante im-portante quando se trata de um material avaliado com manejo diferencia-do, permitindo assim uma atuação continuada em busca de informações por parte do agricultor.

A apropriação do uso de cultivares resistentes a doenças na cultura da ba-naneira permitiu que o agricultor familiar desenvolvesse uma lavoura livre de doenças, com o bananal isento de defensivos agrícolas, garantindo maior precocidade e produtividade, produção mais limpa de alimentos, como tam-bém a preservação e recuperação de recursos naturais. A partir da produção de mudas no Laboratório de Biotecnologia da Emparn, tornou-se possível a produção em maior escala e o acesso dos pequenos produtores a esse produ-to, direcionando desta maneira para futuras políticas públicas.

Quadro 1– Produção de bananas em diferentes locais, em 1º ciclo de cultivo

Locais Produção t/ha

Ipanguassu (estação experimental) 25,5

Assu (produtor) 17,6

Apodi (estação experimental) 41,3

- 74 -

Referências

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Produção agrícola municipal 2012: culturas permanentes. Brasília: IBGE, 2012.

SOUZA, A. S.; JUNGHANS, T. G. (Ed.). Introdução à micropropagação de plantas . Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, 2006.

Figura 1 – Dia de campo Figura 2 – Multiplicação in vitro

de mudas de bananeira

- 75 -

Controle biológico da mosca-minadora do melão, Liriomyza trifolii (Diptera: Agromyzidae), em áreas de agricultores familiares no Rio Grande do Norte

José Robson da Silva1

José Roberto Postali Parra2

Tiago Cardoso da Costa Lima3

André Luiz Guedes de Sousa4

Elton Lúcio de Araújo5

Evilásio Dantas de Faria6

Fernanda Aspazia Rodrigues de Araújo7

Francisco Cipriano de Paula Segundo 8

1. Introdução

As moscas-minadoras do gênero Liriomyza são pragas de grande relevância para a indústria de olericultura e plantas ornamentais. Três espécies do gênero se destacam por sua alta polifagia e capacidade de conquistar novas áreas: L.  trifolii (Burgess, 1880), L.  sativae (Blanchard, 1938) e L. huidobren-sis (Blanchard, 1926), todas com origem no continente americano, mas que atualmente causam prejuízos econômicos em todo o mundo (MURPHY; LASALLE, 1999). Em razão de sérios problemas de seleção de populações re-sistentes de Liriomyza a vários inseticidas e do impacto desses produtos aos inimigos naturais das moscas-minadoras (HOSSAIN; POEHLING, 2006), cresce o interesse pela aplicação de um manejo que minimize o desequilí-brio gerado por práticas tradicionais, sendo o controle biológico umas das opções a ser integrada (LIU et al., 2009).

O presente resumo contempla resultados obtidos nas diferentes etapas do projeto de controle biológico da mosca-minadora: (a) implantação do siste-ma de criação em laboratório do parasitoide de L.  sativae, Opius scabriven-tris (Nixon, 1955); (b) capacitação de agricultores familiares relacionados ao sistema de criação, identificação dos inimigos naturais da mosca-minadora e liberação de parasitoides em fazendas produtoras de melão e (c) compara-tivo entre o controle químico tradicional e o controle biológico de L. sativae.1 Pesquisador Emparn, coordenador do projeto. Contato: [email protected] Esalq/USP3 Esalq/USP4 Bolsista CNPq EXP5 Ufersa6 Emater/RN7 Emater/RN8 COEX – produtor

- 76 -

Resultados e discussão

a) Implantação do sistema de criação do parasitoide de mosca-mi-nadora, O. scabriventris

O sistema de criação do parasitoide O. scabriventris sobre L. sativae foi insta-lado na sede da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte S.A. (Emparn) na cidade de Parnamirim (RN).

O sistema de criação manteve a qualidade dos insetos produzidos após 1,5 ano, de acordo com os dados de razão sexual, peso e viabilidade pupal de L. sativae obtidos (Tabela 1).

As dificuldades encontradas para esse sistema de criação concentram-se na manutenção das plantas hospedeiras. Foram exigidos cuidados para o controle de fungos (oídio), pulgões e ácaro rajado. Em geral, problemas com doenças e pragas são relatados para criação de insetos mantidos em hospe-deiros naturais (ETZEL; LEGNER, 1999). Em razão da grande diversidade de parasitoides de Agromyzidae, estes podem se tornar problemas, contami-nando a criação de Liriomyza quando as plantas com larvas se encontram na casa de vegetação.

Tabela 1 – Razão sexual, peso de 50 pupas e viabilidade pupal de L. sativae ao se iniciar a criação

em laboratório e após 1,5 ano1

1 Não houve diferença estatística a P < 0,05 (Regressão logística).

2 Não houve diferença estatística a P < 0,05 (Anova).

b) Capacitação de agricultores familiares

No total, 23 técnicos e produtores foram capacitados em duas etapas: labora-tório e campo. Um dos principais pontos positivos assinalados pelo grupo na etapa de laboratório foi a identificação dos inimigos naturais, como tesouri-nhas, crisopídeos e outros parasitoides de mosca-branca e mosca-minadora.

A participação dos técnicos e produtores no XXIII Congresso Brasileiro de Entomologia, realizado em Natal (RN), permitiu a eles entrarem em contato

Período Razão sexual1 Peso (50 pupas)2 Viabilidade pupal1

Inicial 0,55 ± 0,05 31,7 ± 0,05 mg 91,5 ± 4,2%

Após 1,5 ano 0,52 ± 0,07 30,9 ± 0,06 mg 92,9 ± 3,9%

- 77 -

com pesquisadores de todo o país. Foi uma excelente oportunidade para o grupo poder aprender com profissionais de diversas áreas da entomologia em um mesmo local.

Com o conhecimento prévio de identificação das pragas e dos inimigos na-turais, a fase de campo permitiu ao público capacitado conhecer em que parte das plantas buscar cada espécie, inclusive as horas mais favoráveis do dia. A apropriação dessas técnicas é essencial para o monitoramento de insetos pragas na área, fazendo com que o produtor utilize o método de controle apenas quando necessário. A demonstração do método de libera-ção do parasitoide O. scabriventris permitiu fechar o ciclo da capacitação, demonstrando as formas de aplicação do método.

c) Comparativo entre o controle químico tradicional e o controle biológico de L. sativae

Duas liberações de parasitoides foram realizadas, cada uma com 2.000 adultos de O. scabriventris (Figura 1). A primeira ainda sob a manta (19 DAP) e a segunda com 37 DAP. Um maior parasitismo natural foi observado na área de controle biológico (CB) (70%) em relação à área de controle químico (CQ) (50%).

A existência de uma alta diversidade de inimigos naturais de moscas-mi-nadoras é fator importante que pode auxiliar no êxito de programas de controle biológico dessa praga. Considerando-se os parasitoides, mais de 140 espécies já foram registradas associadas a Liriomyza (LIU et al., 2009). Esse grande potencial natural é reduzido em grande parte devido ao mane-jo tradicional com alta pressão de produtos químicos, como foi verificado no presente projeto. O esperado, com a inclusão da liberação de parasitoi-des e consequente redução do número de aplicações de inseticidas, é que a comunidade de insetos benéficos vá aos poucos se restabelecendo. Dessa forma, com o tempo, pode-se inclusive reduzir o número de parasitoides liberados em decorrência da ação dos inimigos naturais presentes na área.

Não houve diferença de produtividade e de teor de açúcar médio dos frutos entre os dois tipos de manejo aplicados.

- 78 -

Figura 1 – Liberação de parasitoides, O. scabriventris, com uso de recipiente plástico sob manta de

“TNT” em meloeiro, Baraúna (RN)

O controle biológico de moscas-minadoras com uso de parasitoides de-monstrou potencial de aplicação na cultura do meloeiro. O alto índice de parasitismo natural destaca a necessidade de aumentar os esforços para conservação desses insetos benéficos. Para isso, torna-se necessária a ado-ção de diferentes estratégias que conduzam à redução do uso de produtos químicos na cultura.

- 79 -

Referências

ETZEL, L. K.; LEGNER, E. F. Culture and colonization. In: BELLOWS, T. S.; FISHER, T. W. Handbook of biological control. London: Academic Press, 1999. chap. 7, p. 125-197.

HOSSAIN, M. B.; POEHLING, H. M. Non-target effects of three bioratio-nale insecticides on two endolarval parasitoids of Liriomyza sativae (Dipt., Agromyzidae). Journal of Applied Entomology, v. 130, p. 360-367, 2006.

LIU, T. X.; KANG, L.; HEINZ, K. M.; TRUMBLE, J. Biological control of Liriomy-za leafminers: progress and perspective. CAB Reviews, v. 4, p. 1-16, 2009.

MURPHY, S. T.; LASALLE, J. Review article: balancing biological control strategies in the IPM of new world invasive Liriomyza leafminers in field vegetable crops. Biocontrol News and Information, v. 20, p. 91-104, 1999.

- 81 -

Eficiência do uso da terra na associação de culturas para produ-ção de biodiesel em sistemas de produção familiar

José Simplício de Holanda1

Flávio de Oliveira Basílio2

Miguel Ferreira Neto3

Tarcísio Batista Dantas4

O uso indiscriminado de combustíveis fósseis tem comprometido as fontes de reserva de petróleo no mundo e tem causado impactos negativos sobre o clima, com o aquecimento global, tendo como consequência fenômenos climáticos cada vez mais frequentes e severos, que justificam pesquisas com o intuito de diminuir ou substituir os combustíveis fósseis por bio-combustíveis.

Gazzoni (2005) afirma que é imprescindível a busca de fontes alternativas e renováveis de geração de energia. O biodiesel enquadra-se como biocom-bustível limpo, renovável e confiável, podendo fortalecer a economia do país, gerando mais empregos e agregando valores às oleaginosas (BIODIE-SEL BRASIL, 2005).

A amêndoa de coco está entre as potenciais matérias-primas para produ-ção de biodiesel (PARENTE, 2003), cuja meta, a longo prazo, é a obtenção de 5.000 kg/ha/ano de bio-óleo, sendo desejáveis as espécies com teor de óleo acima de 40% (BRASIL, 2006).

Objetivos

Avaliar a viabilidade técnico-econômica da associação de coqueiro híbrido com girassol, mamona, pinhão manso, amendoim e soja.

Elevar a eficiência do uso da terra na produção de biocombustível, tortas para ração animal e resíduos para adubação orgânica.

Material e método

Um experimento foi conduzido em pomar de coqueiro híbrido com doze anos de idade, em Neossolo Quartzarênico do Município de Nísia Floresta (RN), localizado nas coordenadas 06°06’19,3’’ de latitude sul, 035°09’14,9’’ de longitude oeste do meridiano de Greenwich e a 59 m de altitude.

1 Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte EMPARN. Contato: [email protected] Universidade Federal Rural do Semi-Árido/Ufersa.3 Universidade Federal Rural do Semi-Árido/Ufersa.4 Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn).

- 82 -

O delineamento experimental foi de blocos casualizados com seis trata-mentos em consórcio (coqueiro híbrido + girassol – C1; coqueiro híbrido + mamona – C2; coqueiro híbrido + amendoim – C3; coqueiro híbrido + soja– C4; coqueiro híbrido + pinhão-manso – C5 e pinhão-manso + girassol – C6) e seis cultivos solteiros (girassol – S1; mamona – S2; amendoim – S3; soja – S4; pinhão-manso – S5 e coqueiro híbrido solteiro– S6) com três repetições. As parcelas dos tratamentos em cultivos consorciados foram constituídas por uma área de 768 m² com 12 coqueiros espaçados de 8,0 x 8,0 m em quadrado.

Os cultivos solteiros e com pinhão-manso consorciado com girassol foram plantados em uma área de 240 m² por parcela. O experimento foi conduzi-do durante dois anos, de abril de 2009 a agosto de 2011 e as culturas aduba-das conforme recomendação de laboratório.

Foram realizadas oito colheitas de coco maduro por ano e registrados o equi-valente em noz, copra e rendimento de óleo, e calculada a eficiência do uso da terra (EUT). Os resultados de bio-óleo acumulados por sistema foram ava-liados e submetidos a análise de variância com teste F (P<0,05) seguido do contraste de médias pelo Tukey ao nível de (P<0,05) de probabilidade.

Resultados e discussão

Não houve diferença considerável nas produções de óleo de coco, o que confirma que o consórcio não traz prejuízo para a produção do coqueiro. Nos cultivos isolados, a produtividade média do óleo de amendoim foi su-perior às demais; não houve diferença significativa entre as produtivida-des de óleo de mamona, girassol e pinhão/girassol, que por sua vez foram maiores que as de óleo de soja e pinhão-manso (Tabela 1).

Os sistemas mais promissores para produção de óleo, identificados nesta pesquisa com potencial produtivo acima de 3.000  kg/ha/ano, correspon-dem aos consórcios coco x girassol e coco x amendoim e ao cultivo do amendoim solteiro (Figuras 1 a 3), enquadrando-se nas recomendações de Parente (2003) e do Plano Nacional de Agroenergia (BRASIL, 2006).

Considerando-se a eficiência do uso da terra (Tabela 1), verificaram-se van-tagens nas associações, sobressaindo-se o consórcio coco x amendoim, que se destacou com ganho de 81% na eficiência de uso da terra em 2011. A se-gunda opção seria coqueiro x girassol, com ganho de 78%, e uma terceira opção compreende o consórcio coco x soja, sendo que a soja, em cultivo associado ao coqueiro, produziu apenas 37% (251 kg de óleo) do registra-

- 83 -

Figura 3 – Consórcio

coqueiro x girassol

Figura 1 – Amendoim isolado Figura 2 – Consórcio

coqueiro x amendoim

do em cultivo solteiro ou isolado, cujo total foi de 675 kg/ha/ano de óleo. Considerando que o consórcio não interfere na produção do coqueiro, os sistemas coco x girassol e coco x amendoim podem ser apontados como os de maior potencial para o incremento da produção de óleo.

Por outro lado, o adicional de resíduos das culturas trabalhadas é impor-tante, pois apresenta um potencial de uso na alimentação animal como valor agregado de coprodutos, fortalecendo o desempenho das associações coco x girassol, coco x amendoim e coco x soja.

Pelo comportamento, a mamona não apresenta condição de ser explorada em associação com o coqueiro, pois a cultivar plantada (BRS Energia) apre-sentou um crescimento fenológico exagerado, o que também foi observado no pinhão-manso.

Na avaliação da fertilidade do solo nos sistemas pesquisados, em todas as situações de cultivo houve aumento no fósforo extraível do solo, variando de duas a próximo de dez vezes o valor inicial, destacando-se a associa-ção coco x girassol como a de maior teor no solo. O potássio, como um dos nutrientes mais consumidos pelas plantas, também teve elevação no solo para todos os cultivos associados em relação ao início do experimento. A adubação dirigida à combinação coco x amendoim proporcionou o maior valor de potássio trocável no solo, seguido pela associação coco x girassol.

- 84 -

Tabela 1 – Eficiência do uso da terra na produção de óleo no cultivo de

oleaginosas em sistemas isolados ou consorciados. Nísia Floresta (RN), 2011

1Girassol – S1, Mamona – S2, Amendoim – S3, Soja – S4, Pinhão-manso – S5 e Pinhão-manso + Girassol – S6.

SistemaProdução média – kg/ha/ano Relação Eficiência Uso da Terra

Coco Consórcio Total Coco Consórcio Soma

Coco 2008 2008 1,00 - 1,00

CocoGirassol 3203 230 3433 1,59 0,19 1,78

CocoMamona 2940 282 3222 1,46 0,17 1,63

CocoAmendoim 3387 475 3862 1,67 0,14 1,81

CocoSoja 2749 251 3000 1,40 0,37 1,77

CocoPinhão 2494 61 2555 1,24 0,10 1,34

Pinhão Girassol Pinhão Girassol

PinhãoGirassol 542 665 1207 0,93 0,55 1,48

Pinhão 585 585 1,00 1,00

Girassol 1216 1216 1,00

Mamona Amendoim SojaRelação

Eficiência Uso da Terra

Mamona 1606 1,00 1,00

Amendoim 3466 1,00 1,00

Soja 675 1,00 1,00

Síntese da Análise de Variância da Produção de óleo

Coco Culturas Isoladas1

Teste – F (P<0,05) 2,13 25,81

D.M.S. – Tukey (P<0,05) 1625 kg/ha 446 kg/ha

C.V. % 21,19 18,41

Média Geral 2797 kg/ha 884 kg/ha

- 85 -

Conclusões

Não houve diferença significativa na produção de óleo de coco entre os sis-temas testados, o que favorece a associação das oleaginosas sem prejuízo para o coqueiro.

Os consórcios coco x amendoim e coco x girassol apresentaram maior efi-ciência no uso da terra e foram os mais promissores, com produção média de óleo de até 3.647 kg/ha/ano.

A presença do consórcio nas entrelinhas do coqueiro trouxe benefícios tan-to pela contribuição na produção de óleo como pela tendência de aumento da produção do coqueiro ao usufruir da adubação dirigida ao consórcio.

A mamona e o pinhão-manso não se adequaram à consorciação com o co-queiro adulto.

Nas associações coco x girassol e coco x amendoim, o fósforo disponível no solo foi superior ao do coqueiro em monocultivo, ao término do experi-mento. O potássio no solo, na associação coco x amendoim foi superior ao dos demais sistemas trabalhados.

Referências

BIODIESEL BRASIL. O que é Biodiesel? 2005. Disponível em: <http://www.biodiesel BR.com>. Acesso em: 18 nov. 2009.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Plano Nacio-nal de Agroenergia 2006-2011. 2. ed. Brasília, DF: Embrapa Informação Tec-nológica; Secretaria de Produção e Agroenergia/MAPA, 2006.

GAZZONI, D. L. As políticas públicas de biocombustíveis e o mercado de oleagino-sas. 2005. Disponível em: <http//www.iea.usp.br>. Acesso em: 23 ago. 2010.

PARENTE, E. J. S. Biodiesel: uma aventura tecnológica num país engraçado. 1. ed. Fortaleza: Unigrafica, 2003.

- 87 -

Utilização de fungos entomopatógenos para o controle da Traça das Crucíferas em áreas com uso abusivo de defensivos e em sistemas de cultivo de base ecológica

Elizabeth Araújo de Albuquerque Maranhão1

O desenvolvimento de sistemas de produção de base ecológica, alternativos à utilização intensiva de agrotóxicos, insumos inorgânicos e práticas com baixa sustentabilidade, vêm despertando cada vez mais interesse no cenário agrícola mundial. A produção orgânica de hortaliças no Estado de Pernambuco vem crescendo de maneira significativa nas mesorregiões da Mata e do Agreste, correspondendo a cerca de 10% de toda a produção de hortaliças do estado e gerando numerosos empregos diretos e indiretos. Os Municípios de Vitória de Santo Antão, localizado na Zona da Mata Sul do Estado de Pernambuco, e Camocim de São Félix, na região do Agreste, são considerados importantes polos de produção de hortaliças folhosas e de crucíferas, respectivamente. No entanto, a produção dessas hortaliças caracteriza-se pelo uso abusivo de insumos, particularmente de adubos e pesticidas agrícolas, com consequências danosas para a qualidade dos alimentos e do meio ambiente. A ocorrência de pragas é um dos principais fatores limitantes à produção, tanto no sistema convencional de cultivo como no de base ecológica. Dentre as pragas que atacam as crucíferas destaca-se a Plutella xylostella (L.), referida como causadora de elevados prejuízos em brassicas de modo geral, causando danos que, por serem irreversíveis, impõem que as medidas de controle devam ser adotadas ainda no início da infestação. Entre os fatores que contribuem para a ocorrência desse inseto em níveis populacionais elevados estão: plantio escalonado e simultâneo de várias espécies de crucíferas; características biológicas inerentes à praga, como ciclo biológico curto, grande capacidade migratória e alto potencial biótico; uso indiscriminado de inseticidas para o seu controle. O emprego prático dos fungos entomopatógenos adquiriu um interesse crescente em todo o mundo, revelado pelo considerável número de produtos comerciais disponíveis e em desenvolvimento, fazendo com que a utilização desses microrganismos, integrada a outros métodos de controle, seja capaz de manter a população de insetos pragas abaixo do nível de dano, promovendo menores índices de perdas e maior proteção ao agroecossistema. Nesse contexto, o objetivo geral deste projeto foi promover o controle biológico da traça-das-crucíferas mediante a utilização de fungos

1 Pesquisadora IPA/PE. Contato: [email protected].

- 88 -

entomopatógenos como parte de um programa visando o uso racional das práticas de controle fitossanitário e a preservação ambiental.

Por meio da “armadilha de Galleria”, foram identificadas e isoladas duas espécies de Hifomicetos entomopatógenos em amostras de solo coletadas em áreas produtoras de crucíferas de 12 municípios da Zona da Mata e do Agreste de Pernambuco. Os fungos entomopatógenos foram detectados em 16 das 60 amostras de solo manipuladas, o que representa 23,33% do total, demonstrando baixa frequência e abundância desses fungos nos solos da região pesquisada. Metarhizium anisopliae foi um pouco mais frequente, sendo identificado e isolado em 30,17% das amostras de solo, seguida de Beauveria bassiana que apresentou uma frequência de 10%. Foram obtidos 11 isolados de M. anisopliae e 6 isolados de B. bassiana que passaram a integrar a coleção de fungos entomopatógenos do IPA.

Os isolados de B. bassiana (9) e M. anisopliae (9), testados na concentração de 1x108  conídios  ml-1 em condições de laboratório, apresentaram patogenicidade a lagartas de segundo e terceiro estádios de P. xylostella. As taxas de mortalidade, 7 dias após o tratamento, variaram de 24 a 74% para M. anisopliae e de 21 a 76% para B. bassiana, destacando-se os isolados IPAMa-207 (74,28%), IPAMa-216 (72,86%), IPABb-205 (76,06%) e IPABb-226 (71,83%), como mostra a Figura 1.

- 89 -

Figura 1. Patogenicidade de isolados de Metarhizium anisopliae (A) e Beauveria bassiana (B) para

larvas de segundo e terceiro estádios de Plutella xylostella em condições de laboratório. Vitória de

Santo Antão (PE), 2009-2010

100,00

90,00

80,00

70,00

60,00

50,00

40,00

30,00

20,00

10,00

0,00

cdcd

cd cd

d

bc

ab

a a

Ma0

06/0

9-So

Ma0

05/0

9-So

Ma0

04/0

9-So

Ma0

03/0

9-So

Ma0

02/0

9-So

Ma0

01/0

9-So

Bb01

2/08

-So

IPA

Ma-

216

IPA

Ma-

207

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Isolados de Metarhizium anisopliae

C.V(%)=14.60

Mor

talid

ade

(%)

eT

A

100,00

90,00

80,00

70,00

60,00

50,00

40,00

30,00

20,00

10,00

0,003 4 5

Isolados de Beauveria bassiana

1 2 6 7 8 9 10

C.V(%)=13.35

IPA

Bb-

226

IPA

Bb-

205

Bb0

12/0

8-So

Bb0

06/0

9-So

Bb0

05/0

9-So

Bb0

04/0

9-So

Bb0

03/0

9-So

Bb0

02/0

9-So

Bb0

01/0

9-So

Mor

talid

ade

(%)

c ccd

cd

d

bc

aba

a

eT

B

- 90 -

A eficácia (E%) de inseticidas biológicos, calculada a partir da fórmula de Abbott, para o controle de P. xylostella em plantas de couve cultivadas em ambiente protegido, demonstrou que tanto as formulações comerciais (Boveril®, Metarril SC® e Xentari®) quanto os isolados fúngicos utilizados (IPABb-205 e IPAMa-207) apresentaram eficácia de controle acima de 50%. O tratamento considerado padrão (Xentari® – B. thuringiensis var. aizawai) apresentou o melhor desempenho (E% = 72,44) não diferindo estatisticamente (P<0,05) dos demais inseticidas biológicos que apresentaram eficácias que variaram de 64,74% a 68,30% (Tabela 1; Figura 2).

Tabela 1 – Número médio de larvas e eficácia de bioinseticidas usados no controle de P. xylostella

em folhas de couve, cultivar Manteiga da Georgia, sob condições de telado. Vitória de Santo

Antão (PE), 2010

a Dados referentes a média do número de larvas em cinco folhas por parcela e em três repetições.b Médias com a mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.c Calculada por meio da fórmula de Abbott (1925).

TratamentosAmostragensa Media ± Desv. E%c

I II III Padrãob

01- Boveril® 2.7 2.5 2.4 2.56 ± 0.17 a 65.93

02- Metarril SC® 3.1 2.6 2.3 2.64 ± 0.40 a 64.74

03- IPABb-205 2.7 2.5 1.9 2.38 ± 0.45 a 68.30

04- IPAMa-207 2.9 2.3 2.1 2.44 ± 0.44 a 67.41

05- Xentari® (padrão) 2.7 2.1 1.3 2.07 ± 0.70 a 72.44

06- Testemunha 5.7 7.6 9.3 7.53 ± 1.83 b -

- 91 -

Figura 2 – Evolução da população de Plutella xylostella em plantas de couve

da cultivar Manteiga da Georgia sob condições de telado. Vitória de Santo Antão (PE), 2010

A população da traça-das-crucíferas (Plutella xylostella) apresentou uma queda acentuada no ano de 2010, chegando a ficar ausente no campo nas principais regiões produtoras de crucíferas do Estado de Pernambuco. Essa situação perdurou até meados do mês de outubro de 2011, fazendo com que não fosse possível a realização das atividades de campo previstas no Projeto.

Com relação aos cursos de capacitação para os agricultores familiares, as comunidades de agricultores familiares envolvidas neste projeto foram selecionadas com ajuda dos técnicos da Extensão Rural e foram as seguintes: 1 – Comunidade de Figueira, no Município de Vitória de Santo Antão; 2  –  Comunidade de Mocotó, no Município de Vitória de Santo Antão; 3  –  Comunidade de Palmeiras, no Município de Camocim de São Félix; 4 – Comunidade de Brejinho, no Município de Camocim de São Félix. Inicialmente foram feitas visitas em cada uma das comunidades para verificar a área de cultivo e, em reunião com os agricultores, explicar-lhes os objetivos do Projeto. Após esse contato inicial, foi ministrado o primeiro módulo dos cursos de capacitação nas comunidades envolvidas, sobre práticas agroecológicas, visando a sensibilização dos agricultores acerca da importância e dos benefícios da preservação ambiental. Em algumas ocasiões, os produtores interagiam e pediam a palavra para dar sua opinião sobre a importância de preservar o meio ambiente (Figura 3).

10,09,08,07,06,05,04,03,02,01,00,0

3 41 2

Núm

ero

méd

io d

e la

rvas

Amostragens

Boveril Metarril IPA-Bb205 IPA-Ma207 Xentari Test

- 92 -

Figura 3 – Agricultores familiares da comunidade de Palmeiras durante o curso sobre práticas

agroecológicas (A) e participação de agricultora durante curso de capacitação na comunidade de

Palmeiras (B)

O segundo módulo, que trataria do manejo ecológico da traça-das-crucíferas, utilizando as Unidades Demonstrativas como material didático, não foi ministrado devido à ausência do inseto-alvo em campo (P. xylostella) desde 2010. Mesmo assim, foram realizadas apresentações sobre o Controle Biológico de Pragas em Cultivos Hortícolas.

O objetivo principal do trabalho foi: a) conscientização dos agricultores acerca da preservação do meio ambiente; b) diminuição da contaminação ambiental; c) produção de alimentos mais saudáveis; d) melhoria da qualidade de vida dos agricultores.

Os resultados obtidos neste projeto leva-nos a corroborar a afirmativa de que o solo representa um grande potencial para a obtenção de fungos entomopatógenos que podem vir a ser utilizados em programas de controle biológico de pragas. Ao mesmo tempo, demonstra a importância da continuidade dessa linha de pesquisa para as outras regiões fisiográficas do estado, a fim de aumentar o número de isolados na coleção de fungos entomopatógenos que possam ser testados contra outros insetos pragas de importância econômica, bem como conhecer a distribuição ecológica desses microrganismos nos solos do Estado de Pernambuco.

- 93 -

Sistemas de cultivo agroecológicos para produção de inhame na Paraíba

Elson Soares dos Santos1

Edson Cavalcante Matias2

Maildon Martins Barbosa3

José Teotônio de Lacerda4

RESUMO: O objetivo deste trabalho foi validar sistemas de cultivo do inha-me (Dioscorea spp.) para a agricultura familiar desenvolvida nas mesorre-giões da Mata Paraibana e do Brejo. Os campos foram instalados em áreas experimentais, nos municípios de Sapé e Mari, PB, nos anos de 2009 e 2010. Foram implantados quatro sistemas de cultivo constituídos de sistemas de plantio (camalhões e matumbos), espaçamentos (1,20 x 0,60 m, 1,20 x 0,50 m, 1,20 x 0,60 m), tutoramento (alternativo e tradicional com varas), adubação orgânica, cultivares (São Tomé [Dioscorea alata] e Da Costa [Dioscorea sp.]). Os sistemas de cultivo em camalhões, com espaçamentos mais adensados como 0,80  x  0,50  m (25.000  plantas/ha), 0,80  x  0,40  m (31.250  plantas/ha), 1,00 x 0,50 m (20.000 plantas/ha), 1,00 x 0,40 m (25.000 plantas/ha), tutora-mento alternativo (espaldeira com um fio de arame) e adubação orgânica cons-tituem alternativas viáveis e sustentáveis para cultivo do inhame na Paraíba.

Palavras-chave: Dioscorea, agroecologia, manejo sustentável, preserva-ção ambiental.

1. Introdução

O inhame (Dioscorea spp.) é uma planta de clima tropical que apresenta bom desenvolvimento vegetativo e produtivo nas mesorregiões da Mata Parai-bana e do Brejo, sendo cultivada, no Brasil, principalmente nos estados da Paraíba, de Pernambuco, da Bahia, de Alagoas e do Maranhão, que são os maiores produtores (SANTOS et al., 2011; SANTOS, 2012). A exploração dessa dioscoreácea, no Nordeste brasileiro, é secular e constitui uma alternativa econômica muito promissora e aceitável pelos agricultores familiares.

1 Coordenador do Projeto. Eng. Agrônomo, MSc. Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. Contato: [email protected] Eng. Agrônomo, MSc. Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. Contato: [email protected] Eng. Agrônomo, Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. Contato: [email protected] Eng. Agrônomo, MSc. Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. Contato: [email protected].

- 94 -

Essa espécie produz grande quantidade de tubérculos de alta qualidade nutritiva, ricos em vitaminas do complexo B, carboidratos (amido princi-palmente), que constituem alimentos básicos para a população. Todavia, sua produtividade continua baixa em função de diversos fatores, como baixa fertilidade dos solos, manejo inadequado, uso de tecnologias em-píricas e falta de um sistema de cultivo eficiente que proporcione maior produtividade e qualidade dos tubérculos produzidos e maior retorno econômico (SANTOS, 1996).

O objetivo deste trabalho foi validar quatro sistemas de cultivo visando dis-ponibilizar técnicas agronômicas e tecnologias agroecológicas para o cul-tivo do inhame, como suporte básico para o fortalecimento da agricultura familiar, nos territórios da Mata Paraibana e do Brejo.

Material e métodos

Os campos experimentais (Unidades Demonstrativas) foram instalados nos municípios de Sapé e Mari (PB), nos anos de 2009 e 2010, em área de 10.000 m2, em LUVISSOLOS CRÔMICOS, com horizonte moderado, de tex-tura média.

O preparo do solo foi realizado por meio de aração e gradagem com ante-cedência ao plantio, em torno de 60 a 90 dias, incorporando plantas dani-nhas e restos de culturas que servem para melhorar as características de fertilidade do solo.

O plantio foi realizado no mês de março, utilizando-se tubérculos-sementes das cultivares Da Costa e São Tomé. Foram implantados quatro sistemas de cultivo: 1 – cultivo em camalhões, espaçamento 1,20 x 0,60 m, tutoramento alternativo (espaldeira), adubação orgânica, cultivar São Tomé (Dioscorea alata L.); 2 – cultivo em camalhões, espaçamento 1,20 x 0,60 m, tutoramen-to tradicional (com varas), adubação orgânica, cultivar São Tomé (Dioscorea alata L.); 3 – cultivo em camalhões, espaçamento de 1,20 x 0,60 m, tutora-mento tradicional (com varas), adubação orgânica, cultivar Da Costa; 4 – cultivo em matumbos, espaçamento 1,20x 0,60 m, tutoramento tradicional (com varas), adubação orgânica, cultivar Da Costa.

O controle de plantas daninhas foi efetuado por meio de capinas com enxa-da. Não ocorreu incidência de pragas e doenças em nível significativo, dis-

- 95 -

pensando-se o controle fitossanitário. A ocorrência de manchas irregulares e circulares nas folhas e hastes da cultura do inhame não provocou danos na folhagem nem na produção.

A colheita foi realizada em outubro, sendo mensuradas as variáveis: pro-dutividade, comprimento e diâmetro de tubérculos comerciais e sementes, incidência de doenças fúngicas causadas por Curvularia eragrostisdis e Phy-tophytora, incidência de tubérculos afetados por nematoides da casca preta (Scutellonema bradys) e meloidoginoses (Meiloidogyne incognita). No segun-do ano foram implantados os sistemas de cultivo apenas com a cultivar São Tomé, por indisponibilidade de sementes da cultivar Da Costa.

Os dados obtidos referentes às variáveis determinadas foram submetidos a análise estatística de acordo com Gomes (1985).

Resultados e discussão

Os resultados de produtividade comercial (PC), comprimento (CT) e diâme-tro (DT) de tubérculos, produtividade de sementes (PS) e produtividade to-tal (PT) de inhame em diferentes sistemas de cultivo, no Município de Sapé (PB), nos anos de 2009 e 2010, estão apresentados na Tabela 1. No primeiro ano, as médias de produtividade comercial foram estatisticamente seme-lhantes nos sistemas de cultivo avaliados, cuja média foi de 16.869 kg/ha. Entretanto, as quantidades de sementes obtidas nos sistemas de cultivo 1 e 2, com a cultivar São Tomé (5.527 e 5.064 kg/ha), superaram significativa-mente as obtidas com a cultivar Da Costa (1.678 e 2.054 kg/ha). Esse resulta-do foi atribuído à qualidade da semente de inhame Da Costa utilizada, em função de sua indisponibilidade em quantidade e qualidade superior na época de plantio.

O comprimento dos tubérculos São Tomé, média dos sistemas de cultivo 1 e 2, foi de 25,19 cm e o diâmetro de 9,97 cm. Já para os tubérculos Da Cos-ta, média dos sistemas de cultivo 3 e 4, o comprimento foi de 33,75 cm e o diâmetro de 8,75 cm. Esses dados conferem às cultivares avaliadas um bom tamanho, fatores importantes na avaliação qualitativa do tubérculo comercial destinado ao mercado.

Com relação ao aspecto fitossanitário, não houve incidência de nematói-des da casca-preta e meloidoginoses afetando os tubérculos comerciais e sementes nos sistemas de cultivo 1 e 2. Nos sistemas de cultivo 3 e 4, com a

- 96 -

cultivar Da Costa, registrou-se alta incidência de nematóide da casca-preta (41,67% e 31,25%, respectivamente) e meloidoginoses (14,38% e 9,17%, res-pectivamente), fato atribuído à qualidade da semente utilizada no plantio. Portanto, recomenda-se seleção rigorosa no momento de aquisição da se-mente destinada ao plantio.

No segundo ano, todos os sistemas de cultivo foram avaliados com a cul-tivar São Tomé. Verifica-se que o sistema 4 (cultivo em camalhão, no espa-çamento 1,20 x 0,50 m, tutoramento com varas), apresentou a maior pro-dutividade de tubérculos comerciais, de 25.069 kg/ha, sendo superior aos demais sistemas de cultivo avaliados. Em segundo lugar, destacou-se o sis-tema 2 (cultivo em matumbos, no espaçamento 1,20 x 0,50 m, tutoramento com varas), que apresentou produtividade de 22.153 kg/ha. Percebe-se que a desvantagem desses sistemas é o uso de varas, cuja obtenção provoca drás-ticos danos às matas e ao meio ambiente, sendo, portanto, recomendada a substituição, nesses sistemas de cultivo, pelo alternativo com espaldeira vertical com um fio de arame, que proporciona resultados satisfatórios de crescimento e desenvolvimento vegetativo das plantas e de produtividade, além de evitar o desbravamento de matas para a obtenção de varas, e não afetar o equilíbrio do ecossistema. As quantidades de sementes obtidas nos sistemas de cultivo variaram de 3.819 a 5.625 kg/ha.

Quanto ao aspecto fitossanitário, não houve incidência de nematóides da casca-preta e meloidoginoses afetando os tubérculos comerciais e semen-tes nos sistemas de cultivo, fato explicado pela resistência da cultivar São Tomé aos nematóides.

- 97 -

Tabela 1 – Produtividade comercial (PC), comprimento (CT) e diâmetro (DT) de tubérculos, produti-

vidade de sementes (PS) e produtividade total (PT) de inhame em diferentes sistemas de cultivo, no

Município de Sapé (PB), nos anos de 2009 e 2010

(*) Somente a cultivar São Tomé, conforme proposto em metodologia.

Nas colunas, médias seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si, pelo

teste de Tukey a 5% de probabilidade (** Significativo a 1% de probabilidade).

Os resultados obtidos de produtividade, comprimento e diâmetro de tu-bérculos comerciais e produtividade de sementes de inhame São Tomé em diferentes sistemas de cultivo, no ano de 2009, em Mari (PB), encontram-se na Tabela 2. Observa-se que o sistema de cultivo 3 (inhame Da Costa em camalhão com tutoramento alternativo) proporcionou maior produtivida-de de inhame – 18.866 kg/ha, sendo 17.072 kg/ha de tubérculos comerciais e 1.794 kg/ha de sementes –, seguido do sistema de cultivo 1 (inhame São Tomé em camalhão com tutoramento alternativo) – com produtividade de 16.602 kg/ha, sendo 11.885 kg/ha de tubérculos comerciais e 4.716 kg/ha de sementes – e do 4 (inhame São Tomé em matumbos com tutoramento tra-dicional) – com produtividade total de 16.088 kg/ha, sendo 14.410 kg/ha de tubérculos comerciais e 1.678 kg/ha de sementes. Esses resultados indicam que o sistema de cultivo em camalhão e tutoramento alternativo substitui

Ano Sistemas de cultivo

PC(kg/ha)

CT (cm)

DT (cm)

PS(kg/ha)

PT(kg/ha)

2009

1 14.265 a 27,27 c 10,29 a 5.527 a 19.792 a

2 13.889 a 26,10 c 9,64 ab 5.064 a 18.953 a

3 12.992 a 36,07 a 9,05 bc 1.678 b 14.670 b

4 12.008 a 31,43 b 8,45c 2.054 b 14.063 b

Média 13.288 30,21 9,36 3.581 16.869

F 1,04ns 17,81** 20,77** 26,25** 9,09**

CV(%) 25,72 12,28 6,41 37,66 19,89

DMS 3.775 4,10 0,66 1.489 3.706

2010(*)

1 16.562 30,70 9,48 3.819 20.381

2 22.153 31,18 9,94 5.278 27.431

3 18.611 31,29 9,64 5.625 24.236

4 25.069 31,66 9,88 3.854 28.923

Média 20.599 31,21 9,74 4.644 25.243

CV(%) 18,30 1,27 2,19 20,31 14,99

- 98 -

favoravelmente o sistema tradicional praticado pelo agricultor familiar, é ecologicamente aceitável e economicamente viável, devendo ser imediata-mente adotado pelos agricultores envolvidos com essa atividade.

Tabela 2 – Produtividade comercial (PC), comprimento (CT), diâmetro (DT) de tubérculos e produti-

vidade de sementes (PS) de inhame em diferentes sistemas de cultivo, em Mari (PB), no ano de 2009

Nas colunas, médias seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

** Significativo a 1% de probabilidade, ns não significativo.

Quanto ao aspecto fitossanitário, nos sistemas de cultivos 1 e 2 praticamen-te não houve incidência de tubérculos afetados por nematóides, registran-do-se 1,72% e 0,10% para tubérculos afetados por meloidoginose e 0,31% e 0,10% para tubérculos afetados por nematóide da casca-preta, cujo resulta-do deve-se à alta resistência da cultivar São Tomé ao ataque de nematóides. Já nos sistemas 3 e 4, observou-se alta incidência de nematóides, da ordem de 13,13% e 54,38% para meloidoginose e 43,33% e 43,96% para nematóide da casca-preta, devendo-se, principalmente, à qualidade da semente utili-zada no plantio obtida de intermediários, sem rigor na seleção do produto adquirido para o estabelecimento da cultura.

Sistemas de cultivo

PC(kg/ha)

CT(cm)

DT(cm)

PS(kg/ha)

1 16.602 ab 26,08 b 8,57 a 4.716 a

2 14.627 b 28,58 a 8,45 a 4.319 a

3 18.866 a 28,78 a 8,43 a 1.794 b

4 16.088 b 25,93 b 8,38 a 1.678 b

Média 16.546 27,35 8,46 3.127

F 8,22** 8,89** 0,16ns 44,03**

CV(%) 12,84 6,57 8,16 26,96

DMS 2.346 1,99 0,76 931

- 99 -

Conclusão

Os sistemas de cultivo do inhame em camalhões, com espaçamentos mais adensados, como 0,80  m  x  0,50  m (25.000  plantas/ha), 0,80  m  x  0,40  m (31.250 plantas/ha), 1,00 m x 0,50 m (20.000 plantas/ha), 1,00 m x 0,40 m (25.000 plantas/ha), e tutoramento alternativo com espaldeira com um fio de arame e adubação orgânica constituem uma alternativa viável e susten-tável para o cultivo do inhame.

Referências

GOMES, F. P. Curso de estatística experimental. 11. ed. rev. e ampl. Piracicaba: Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”; Nobel, 1985. 466p.

SANTOS, E. S. dos. Inhame (Dioscorea spp.): aspectos básicos da cultura. João Pessoa, PB: Emepa-PB; Sebrae, 1996. 158p. il.

SANTOS, E. S. dos. Manejo agroecológico na produção familiar de inhame e mandioca para uso na alimentação humana e animal. João Pessoa: Emepa-PB; MCT/CNPq/MDA/SAF/FNDCT, 2012. 94p. il. (Relatório Final).

SANTOS, E. S. dos; MATIAS, E. C.; BARBOSA, M. M. Inhame: cultivo agroeco-lógico. João Pessoa: Emepa-PB, 2011. 60p.

- 101 -

Sistema alternativo para tutoramento da cultura do inhame (Dioscorea cayennensis)

Elson Soares dos Santos1

Edson Cavalcante Matias2

Maildon Martins Barbosa3

José Teotônio de Lacerda4

RESUMO: O objetivo deste trabalho foi difundir o sistema de tutoramento alternativo por meio de espaldeira com um fio de arame, como alternativa agroecológica em potencial para o cultivo do inhame (Dioscorea spp.) na base da agricultura familiar. O campo experimental (Unidade Demons-trativa) foi desenvolvido em uma área de 4.968 m2 de inhame São Tomé, sem sistemas de camalhões, no espaçamento de 1,20  m  x  0,60  m, com uma densidade populacional de 6.900 plantas, distribuídas em 15  leirões de 460 plantas. Os resultados obtidos foram considerados satisfatórios no âmbito da agricultura familiar em base agroecológica. Para o tutoramento da cultura do inhame recomenda-se o sistema alternativo com espaldeira, com um fio de arame em substituição ao uso de varas tradicionalmente uti-lizadas pelos agricultores. O sistema alternativo não causa nenhum dano ao ambiente nem afeta o crescimento, o desenvolvimento e a produtivida-de da cultura, enquanto o tradicional utiliza enorme quantidade de varas, em média 15 mil varas/hectare, com reposição a intervalo de dois anos, tor-nando-se agressivo ao meio ambiente.

Palavras-chave: Dioscorea, agroecologia, preservação ambiental, tutoramento.

Introdução

As modificações provocadas pelo homem no ambiente estão acarretando desastre ecológico, com progressivo desaparecimento de espécies vegetais e extinção de animais que vivem nas matas e florestas. Nesse contexto, tor-na-se necessária a conscientização do homem sobre a importância dos re-cursos naturais e do ambiente como fatores de produção, geração de ame-

1 Coordenador do Projeto. Eng. Agrônomo, MSc. Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. Contato: [email protected] Eng. Agrônomo, MSc. Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. Contato: [email protected] Eng. Agrônomo, Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. Contato: [email protected] Eng. Agrônomo, MSc. Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. Contato: [email protected].

- 102 -

nidades e de equilíbrio ecológico. A intensidade do processo de destruição das reservas florestais é resultado da ação direta do homem e de sua má utilização. De acordo com Carvalho & Viana (1998), a extensão dos efeitos negativos, resultantes desse processo, aponta para a necessidade de uma política de preservação e conservação dos recursos naturais, de forma a assegurar às futuras gerações a utilização dos mesmos recursos potenciais hoje em disponibilidade.

A exploração da cultura do inhame (Dioscorea sp.) sempre tem requerido grande quantidade de varas utilizadas como tutores para a orientação do crescimento das plantas, por se tratar de uma espécie trepadeira e de caule herbáceo. Como essas varas são cortadas nas matas, ocorre um desmata-mento intencionado provocando um desequilíbrio dos ecossistemas regio-nais e locais. É importante salientar que o desmatamento é um fato que deflagra uma cadeia de consequências ecológicas, afetando diretamente os recursos biológicos, sobretudo a fauna e os ecossistemas (SANTOS et al., 2011; SANTOS, 2012).

No enfoque sistêmico de sustentabilidade do negócio agrícola do inhame e de preservação das reservas florestais, no Brasil e no mundo, sugerimos o uso do sistema alternativo de espaldeira, com um fio de arame para orien-tar o crescimento das plantas no cultivo do inhame, recomendado por Santos (1996, 2011), como uma alternativa para evitar o desbravamento de matas em razão da enorme quantidade de varas cortadas anualmente para esse cultivo. Para se ter uma ideia, no Estado da Paraíba, com uma área plantada de inhame de aproximadamente 6.000 hectares e densidade de plantio, no espaçamento de 1,2 m x 0,60 m, de 13.889 plantas por hectare, são necessárias, para tutoramento tradicional, 13.889  varas por hectare, totalizando 83  milhões e 334  mil varas, com reposição bienal ou trienal, provocando um enorme dano ao ecossistema.

O objetivo deste trabalho foi difundir o sistema alternativo de tutoramento por meio de espaldeira com um fio de arame, como alternativa agroecoló-gica em potencial para o cultivo do inhame na base da agricultura familiar.

Material e métodos

O campo experimental (Unidade Demonstrativa) foi desenvolvido em uma área de 4.968 m2 de inhame São Tomé, em sistemas de camalhões, no

- 103 -

espaçamento de 1,20  x  0,60  m, com uma densidade populacional de 6.900 plantas, distribuídas em 15 camalhões de 460 plantas.

Foi adotado o sistema de tutoramento alternativo com espaldeira com um fio de arame, que consiste em linhas de 50 m, no máximo, de estacas de sa-biá de 2 a 2,20 m de comprimento, distanciadas de 8,5 a 10,0 m, localizadas entre duas fileiras de plantas de inhame, para tornar o sistema mais eco-nômico. A linha de arame da espaldeira a 1,40 m do solo proporciona resul-tado satisfatório de crescimento e desenvolvimento vegetativo da planta.

Foram realizadas capinas manuais, com auxílio de enxada, para manter a cultura sempre livre da competição de plantas daninhas. A cultura apre-sentou bom comportamento vegetativo. Em função da deficiência hídrica no ano de 2010, o plantio foi efetuado em 15 de julho de 2010.

Foram cultivadas 5.000 plantas distribuídas em quinze camalhões. A pro-dutividade de tubérculos comerciais e de sementes foi determinada em dez plantas de cada camalhão, enquanto o comprimento e o diâmetro desses tubérculos foram determinados calculando a média de tubérculos colhidos das plantas amostradas.

A colheita foi realizada em 3 e 4 de janeiro de 2011. Para determinação do peso do tubérculo de inhame foi utilizada uma amostra aleatória de 10 plantas provenientes de 10 camalhões colhidos.

Resultados e discussão

Na Tabela 1, verifica-se que as médias de produtividade, nas quinze amos-tras, variaram de 4.167 a 25.000 kg/ha, com uma média geral de 8.148 kg/ha. As amostras 3, 4, 7 e 11 apresentaram médias de produtividade acima de 16.000 kg/ha, consideradas satisfatórias nas condições em que o trabalho foi realizado. O comprimento dos tubérculos variou de 21,00 a 30,66 cm, com uma média de 24,84 cm, e o diâmetro, de 7,10 a 10,26 cm, com uma média de 8,83 cm. Esses resultados indicam que em condições climáticas normais e plantio com sementes de boa qualidade genética, física e fitos-sanitária, associado ao manejo adequado da cultura, se obtêm altas produ-tividades de inhame em sistema alternativo de tutoramento das plantas, utilizando espaldeira com um fio de arame, conforme recomendado por Santos et al. (2011). É importante relatar que o sistema de espaldeira com estaca ou similar e com um fio de arame ou similar pode substituir com

- 104 -

inúmeras vantagens o sistema de varas tradicionalmente utilizado pelos agricultores. A utilização de varas é contraditória à preservação ambiental, devendo-se, portanto, adotar o sistema alternativo sugerido (Figura 1).

Figura 1 – Sistema de tutoramento da cultura do inhame: A) tradicional –

com varas e B) alternativo – com espaldeira (estaca e arame)

Foto A Foto B

- 105 -

Tabela 1 – Produtividade (PROD), comprimento (COMP) e diâmetro (DIAM) de tubérculos comerciais

e de sementes e produtividade total (PRODT) de inhame cultivar São Tomé em base agroecológica

DP – desvio-padrão

A produtividade total de tubérculos comerciais e de sementes variou de 11.111 a 33.333 kg/ha, com uma média de 20.278 kg/ha. A alta amplitude de variação nos dados de produtividade foi atribuída ao baixo índice pluvio-métrico ocorrido no ano de 2010, no Município de Sapé (PB), no período de janeiro a março, época de plantio, e à qualidade física da semente, afetada pelo retardamento do plantio, que se realizou em 15 de julho de 2010.

Amostras

Tubérculos comerciais Tubérculos-sementesPRODT (kg/ha)PROD

(kg/ha)COMP

(cm)DIAM

(cm)PROD

(kg/ha)COMP

(cm)DIAM

(cm)

1 4.167 22,00 8,10 6.944 14,66 6,33 11.111

2 9.722 23,00 8,76 8.333 15,83 5,66 18.056

3 16.667 22,30 8,73 5.556 15,33 5,46 22.222

4 25.000 29,00 8,66 8.333 15,66 5,96 33.333

5 12.500 28,66 10,26 9.722 17,50 7,16 22.222

6 5.556 21,00 7,10 6.944 14,33 6,30 12.500

7 19.444 29,00 7,96 12.500 12,50 6,80 31.944

8 13.889 21,50 8,43 9.722 13,83 5,83 23.611

9 12.500 30,66 8,03 6.944 16,83 7,50 19.444

10 9.722 22,00 9,23 9.722 13,83 6,60 19.444

11 18.056 27,66 9,16 6.944 17,83 7,73 25.000

12 8.333 24,33 8,63 8.333 17,00 7,06 16.667

13 8.333 22,33 8,76 6.944 14,66 7,80 15.278

14 6.944 25,33 10,50 8.333 13,83 6,60 15.278

15 11.111 23,83 10,13 6.944 16,83 7,53 18.056

Média 12.130 24,84 8,83 8.148 15,36 6,69 20.278

DP 5.497 3,17 0,89 1.672 1,53 0,74 6.144

CV(%) 46,91 13,21 10,47 21,24 10,33 11,44 31,37

- 106 -

Considerando que no período de setembro a dezembro o déficit hídrico na região é o principal fator limitante da produtividade de inhame, a Unida-de Demonstrativa recebeu uma irrigação “salvação”, que foi indispensável para a obtenção dos resultados e para possibilitar aos agricultores familia-res conhecimentos sobre o manejo de água e de alternativas agronômicas para diminuir os riscos decorrentes de estiagens prolongadas.

As médias de produtividade, comprimento e diâmetro de tubérculos-se-mentes de inhame cultivar São Tomé, obtidas no ano de 2010, demonstram altas produtividades de sementes, variando de 5.556 a 12.500 kg/ha, com-primento de 12,50 a 17,83 cm e diâmetro da ordem de 5,46 a 7,73 cm. No total das amostras avaliadas a média de produtividade foi de 8.148 kg/ha de tubérculos-sementes, comprimento de 15,36 cm e diâmetro de 6,69 cm. Essa produtividade possibilita ao agricultor familiar 38.024 plantas de inhame nos cultivos subsequentes, tornando-se um excelente negócio agrícola a partir do segundo ano.

Conclusões

1. Os resultados obtidos são considerados satisfatórios no âmbito da agri-cultura familiar em base agroecológica. Para o tutoramento da cultura do inhame recomenda-se o sistema alternativo com espaldeira, com um fio de arame em substituição ao uso de varas tradicionalmente utilizado pelos agricultores.

2. Pela enorme quantidade de varas utilizadas no cultivo do inhame, em média 15 mil varas/hectare com reposição a intervalo de dois anos, pode--se dizer que o sistema tradicional é agressivo ao meio ambiente, podendo ser substituído pelo sistema alternativo, que não causa nenhum dano ao ambiente nem afeta o crescimento, o desenvolvimento e a produtividade da cultura.

- 107 -

Referências

CARVALHO, O.; VIANA, O. Ecodesenvolvimento e equilíbrio ecológico: algu-mas considerações sobre o Estado do Ceará. Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 29, n. 2, p. 129-141, abr./jun. 1998.

SANTOS, E. S. dos. Inhame (Dioscorea spp.): aspectos básicos da cultura. João Pessoa, PB: Emepa-PB; Sebrae, 1996. 158p. il.

SANTOS, E. S. dos. Manejo agroecológico na produção familiar de inhame e mandioca para uso na alimentação humana e animal. João Pessoa: Emepa-PB, MCT/CNPq/MDA/SAF/FNDCT, 2012. 94p. il. (Relatório Final).

SANTOS, E. S. dos; MACÊDO, L. de S.; MATIAS, E. C.; MELO, A. S. de. Contri-buição tecnológica para a cultura do inhame no Estado da Paraíba. João Pes-soa, PB: Emepa-PB/MAA-Pronaf, 1998. 84p. (Emepa-PB. Documentos, 23).

SANTOS, E. S. dos; MATIAS, E. C.; BARBOSA, M. M. Inhame: cultivo agroeco-lógico. João Pessoa, PB: Emepa, 2011. 60p.

- 109 -

Características de crescimento e produtivas de cultivares de man-dioca em base agroecológica na Paraíba

Elson Soares dos Santos1

Edson Cavalcante Matias2

Maildon Martins Barbosa3

José Teotônio de Lacerda4

RESUMO: O objetivo deste trabalho foi avaliar as características de seis cultivares de mandioca visando à produtividade de raízes para produção de farinha e parte aérea para produção de forragem. O campo experimen-tal foi desenvolvido no Município de Sapé (PB), na mesorregião da Mata Paraibana, em LUVISSOLOS CRÔMICOS, no período de 2009 a 2011. Foram selecionadas seis cultivares – Toninha, Landy, Pitangueira, Rosinha, Ver-de-Rosa e Rama-Verde – procedentes da região. Os resultados permitiram verificar que as cultivares Toninha, Landi, Pitangueira, Rosinha e Verde-Ro-sa apresentaram características de crescimento e produtivas expressivas, demonstrando sua potencialidade genética para produção de partes aéreas e raízes. A cultivar Verde-Rosa apresenta parte aérea em superabundân-cia, material de alto valor nutritivo para produção de forragem e uso na alimentação de bovinos. Os genótipos avaliados, em função de suas carac-terísticas de crescimento e produção de raízes e parte aérea, podem ser uti-lizados para os futuros trabalhos de seleção e melhoramento das cultivares de mandioca para produção simultânea de raízes e parte aérea. Não foi detectada incidência de podridão-radicular nos genótipos testados, sendo todos promissores para exploração comercial pelos agricultores da Mata Paraibana e Agreste.

Palavras-chave: Manihot esculenta, agroecologia, crescimento de plantas, produção.

1 Coordenador do Projeto. Eng. Agrônomo, MSc. Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. Contato: [email protected] Eng. Agrônomo, MSc. Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. Contato: [email protected] Eng. Agrônomo, Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. Contato: [email protected] Eng. Agrônomo, MSc. Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. Contato: [email protected].

- 110 -

Introdução

A cultura da mandioca (Manihot esculenta Crantz) apresenta importância social e econômica marcante como fonte de carboidratos para mais de 700 milhões de pessoas, essencialmente nos países em desenvolvimento, podendo ser destinada também para a indústria e proporcionar renda bá-sica para os agricultores. Esta planta é cultivada extensivamente no Brasil, principalmente, na Região Nordeste, por pequenos produtores rurais. Des-taca-se pela rusticidade e adaptabilidade aos diferentes ecossistemas, o que possibilita seu cultivo em todas as regiões brasileiras (SANTOS et al., 2011; SANTOS, 2012). Assim, é muito importante avaliar suas características de crescimento e produtivas para auxiliar na seleção de variedades ideais para os agroecossistemas produtores.

Apesar da importância que representa como fonte alimentar para a popu-lação humana e animal, de renda básica para os agricultores familiares, de emprego para os trabalhadores rurais, sua produtividade continua baixa. A baixa produtividade é atribuída à fragilidade dos sistemas de produção ainda desenvolvidos empiricamente nas regiões. Nesse foco, é fundamen-tal melhorar os sistemas de produção da cultura tradicionalmente adota-dos pelos agricultores com a incorporação de tecnologias apropriadas, vi-sando ao incremento da produtividade, maior retorno econômico, geração de emprego e renda, preservação ambiental e melhoria da qualidade de vida dos agricultores familiares.

O objetivo deste trabalho foi avaliar características de crescimento e pro-dutivas de seis cultivares de mandioca em base agroecológica nos agroe-cossistemas produtores da Mata Paraibana e do Agreste.

Material e métodos

O campo experimental (Unidade Demonstrativa − UD) foi desenvolvido nos municípios de Sapé e Mari (PB), situados na mesorregião da Mata Pa-raibana, em LUVISSOLOS CRÔMICOS, de textura média, no período de 2009 a 2011.

O preparo do solo foi realizado por meio de aração e gradagem. O plantio foi feito em covas com 0,20 m de profundidade, usando-se manivas-semen-tes dos diferentes materiais de 20 cm de comprimento, plantadas horizon-talmente, no espaçamento de 1,20 x 0,60 m, em sistema de fileiras simples,

- 111 -

correspondente a uma densidade populacional de 13.888 plantas/ha. As va-riedades de mandioca foram provenientes de regiões produtoras da Paraíba.

A Unidade Demonstrativa foi instalada em uma área de 2.000 m2, sendo dividida em seis talhões de 2.500 m2, onde foram instalados os sistemas de cultivo com seis cultivares (Toninha, Landy, Pitangueira, Rosinha, Verde--Rosa e Rama-Verde) procedentes da região.

O plantio foi realizado no período de 6 a 14 de março de 2009, utilizando manivas-sementes rigorosamente selecionadas, com tamanho de 20  cm. Foram efetuadas adubações orgânicas utilizando esterco de curral. Os tra-tos culturais foram efetuados por meio de capinas manuais para manter a cultura sempre limpa e com bom desenvolvimento vegetativo das plantas. Não ocorreu infestação de pragas em nível significativo, dispensando-se os tratamentos fitossanitários. Durante o crescimento e desenvolvimento ve-getativo das plantas foram efetuadas inspeções sistemáticas à UD implan-tada, com a finalidade de efetuar observações fenológicas necessárias para a obtenção dos dados experimentais.

Durante o ciclo da cultura foram mensuradas as seguintes variáveis: altura de planta (cm), comprimento do caule (cm), diâmetro do caule (cm), diâmetro da copa (cm), profundidade da copa (cm) e número de ápices/planta. As deter-minações foram realizadas aos 120, 150, 180, 210 e 240 dias após o plantio. Por ocasião da colheita foram mensuradas as variáveis: produtividade de raízes (em kg), peso médio de raízes (kg/planta), produtividade da parte aérea (em kg), número de raízes, comprimento e diâmetro de raízes, incidência de pragas, incidência da podridão-radicular causada pelo fungo Phytophthora dreschleri.

Os dados obtidos foram analisados estatisticamente por meio de análise de variância e comparação de médias pelo teste de Tukey a 5% de probabilida-de, segundo Gomes (1985).

Resultados e discussão

As características de crescimento de plantas de seis cultivares de mandio-ca foram organizadas na Tabela 1. Foram significativas as diferenças en-tre cultivares sobre altura de plantas, em todas as idades avaliadas. Aos 210 dias de idade, a cultivar Rama-Verde apresentou maior crescimento e desenvolvimento vegetativo do que as demais, em termos de altura de plan-ta, seguida das cultivares Rosinha e Verde-Rosa.

- 112 -

Quanto ao comprimento do caule, aos 120, 150 e 180 dias, houve compor-tamento diferente entre cultivares. Aos 210 e 240 dias, todas as cultivares foram semelhantes, com médias variando de 0,88 a 1,22 m. Esse resultado é atribuído à estabilização do crescimento da planta a partir dessas idades. Para diâmetro do caule, houve diferenças significativas entre cultivares em todas as idades até os 240 dias após o plantio.

Os diâmetros da copa variaram em todas as idades das plantas. Aos 210 dias, a cultivar Rama-Verde apresentou o maior diâmetro da copa (2,22 m), superando todas as demais, seguida da Verde-Rosa, com diâmetro médio da copa de 1,01 m. Esses resultados expressam a potencialidade dessas culti-vares em produzir parte aérea em superabundância, material de alto valor nutritivo para produção de forragem e uso na alimentação animal.

Foram significativas as diferenças entre cultivares na profundidade de copa, destacando-se a cultivar Rama-Verde com o melhor resultado.

O número de ápice por planta variou entre cultivares. Aos 240 dias, o núme-ro de ápice por planta da cultivar Rama-Verde superou o das demais culti-vares, expressando sua força genética na característica produção de ramos vegetativos e produção de forragem para uso na alimentação de bovinos.

- 113 -

Tabela 1 − Características de crescimento de plantas de seis cultivares de mandioca em sistema

de cultivo agroecológico nas condições ambientais do Município de Sapé (PB), na mesorregião da

Mata Paraibana

Continua

Características CultivarIdade da planta (dias após o plantio)

120 150 180 210 240

AP (m)

Toninha 0,70 ab 0,93 cd 1,10 e 1,34 c 1,47 b

Landy 0,59 b 0,92 d 1,15 de 1,36 c 1,56 ab

Pitangueira 0,78 a 1,12 bc 1,34 cd 1,46 c 1,67 a

Rosinha 0,73 ab 1,28 b 1,55 bc 1,73 b -

Verde-Rosa 0,79 a 1,26 b 1,61 b 1,87 b -

Rama-Verde 0,82 a 1,58 a 2,01 a 2,38 a -

CC (m)

Toninha 1,35 b 0,46 bc 0,73 b 1,00 a 1,09 a

Landy 2,09 a 0,55 b 0,77 b 1,09 a 1,18 a

Pitangueira 1,44 b 0,28 d 0,65 b 0,80 a 1,10 a

Rosinha 2,16 a 0,75 a 1,06 a 1,22 a 1,31 a

Verde-Rosa 1,54 ab 0,42 bc 0,79 ab 1,17 a 1,19 a

Rama-Verde 1,37 b 0,39 cd 0,72 b 0,88 a 0,98 a

DC (m)

Toninha 1,12 a 1,24 b 1,21 c 1,68 b 1,94 b

Landy 1,09 a 1,24 b 1,34 bc 1,83 b 1,92 b

Pitangueira 1,48 a 1,79 a 1,93 a 2,26 a 2,34 ab

Rosinha 1,38 a 1,57 ab 1,70 ab 2,22 a 2,42 a

Verde-Rosa 1,27 a 1,58 ab 1,86 a 2,42 a 2,67 a

Rama-Verde 1,21 a 1,76 a 2,04 a 2,49 a 2,58 a

DCo(M)

Toninha 0,59 c 0,57 d 0,70 b 0,56 c 0,47 b

Landy 0,55 c 0,62 cd 0,67 b 0,69 c 0,74 ab

Pitangueira 0,75 a 0,76 bc 1,04 a 0,79 bc 0,90 a

Rosinha 0,75 a 0,87 b 0,98 a 0,81 bc -

Verde-Rosa 0,71 ab 0,71 bcd 0,87 ab 1,01 b -

Rama-Verde 0,62 bc 1,19 a 1,07 a 2,22 a -

PCo (m)

Toninha 0,56 ab 0,48 c 0,38 d 0,34 b 0,38 a

Landy 0,39 c 0,37 c 0,37 d 0,27 b 0,38 a

Pitangueira 0,64 ab 0,84 b 0,69 bc 0,65 b 0,58 a

Rosinha 0,52 bc 0,53 c 0,50 cd 0,52 b -

Verde-Rosa 0,63 ab 0,84 b 0,82 b 0,70 b -

Rama-Verde 0,69 a 1,19 a 1,29 a 1,50 a -

- 114 -

AP – Altura de planta; CC – Comprimento do caule; DC – Diâmetro do caule; DCo – Diâmetro da copa; PCo –

Profundidade da copa; NA/P - Número de ápices/planta. Para cada variável, as médias, nas colunas, não diferem significativamente entre si, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

As características de produção foram apresentadas na Tabela 2. Diferenças significativas entre cultivares foram verificadas somente no comprimento e peso médio de raiz, concluindo-se que as cultivares avaliadas apresenta-ram semelhanças nas características número de raízes por planta, diâme-tro de raiz, produtividade raiz/planta e produtividade raiz.

O comprimento de raiz variou de 26,36 a 36,55 cm, destacando-se as cultiva-res Pitangueira, Landi e Verde-Rosa com maiores tamanhos. O peso médio de raiz variou de 0,381 a 0,677 kg. As cultivares Landi, Verde-Rosa e Rosinha apresentaram os maiores pesos médios de raiz.

O número médio de raízes foi de 7,3, o diâmetro médio de raiz foi de 6,70 cm e a produtividade de raiz por planta foi de 3,48 kg. Embora sem diferenças significativas, as cultivares apresentaram altas produtividades de raízes, variando de 41.088 a 57.292  kg/ha, aos 12 meses de idade, e tolerância à podridão-radicular, a principal doença verificada na região, uma vez que não foi detectada incidência de podridão-radicular nos genótipos testados.

Tabela 1 − Características de crescimento de plantas de seis cultivares de mandioca em sistema

de cultivo agroecológico nas condições ambientais do Município de Sapé (PB), na mesorregião da

Mata Paraibana

NA/P

Toninha 1,00 b 1,30 c 1,50 b 2,10 b 1,90 c

Landy 1,00b 1,50 bc 1,70 b 4,10 b 5,40 bc

Pitangueira 2,20 a 3,20 ab 4,00 b 4,90 b 6,20 bc

Rosinha 1,00 b 1,90 bc 2,80 b 2,70 b 2,90 bc

Verde-Rosa 1,00 b 2,10 bc 3,90 b 6,80 b 8,10 b

Rama-Verde 1,80 a 4,30 a 8,70 a 14,30 a 16,60 a

Características CultivarIdade da planta (dias após o plantio)

120 150 180 210 240

Continuação

- 115 -

Tabela 2 − Número de raízes/planta (NR/P), comprimento de raiz (CR), diâmetro de raiz (DR),

produtividade raiz/planta (PR/P), produtividade raiz (PR), peso médio de raiz (PMR) e podridão

radicular (PRadic) de cultivares de mandioca no Município de Sapé (PB), na mesorregião

da Mata Paraibana

Nas colunas, as médias seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si, pelo teste de

Tukey a 5% de probabilidade (** Significativo a 1% de probabilidade, ns Não significativo).

Conclusões

As cultivares Toninha, Landi, Pitangueira, Rosinha e Verde-Rosa apresen-tam características de crescimento e produtivas expressivas, demonstran-do sua potencialidade genética para produção de partes aéreas e raízes.

A cultivar Verde-Rosa apresenta parte aérea em superabundância, mate-rial de alto valor nutritivo para produção de forragem e uso na alimenta-ção de bovinos.

Os genótipos avaliados, em função de suas características de crescimento e produção de raízes e parte aérea, podem ser utilizados para os futuros trabalhos de seleção e melhoramento das cultivares de mandioca para pro-dução simultânea de raízes e parte aérea.

Não foi detectada incidência de podridão-radicular nos genótipos testados, sendo todos promissores para exploração comercial pelos agricultores da Mata Paraibana e do Agreste.

Cultivar NR/P CR(cm)

DR(cm)

PR/P(kg)

PR(kg/ha)

PMR(kg)

PRadic(%)

Toninha 8,7 a 26,36 c 7,80 a 3,62 a 50.347 a 0,409 b 0,0

Landy 6,0 a 34,46 ab 7,26 a 3,83 a 53.241 a 0,677 a 0,0

Pitangueira 7,7 a 36,55 a 6,25 a 3,38 a 46.875 a 0,449 b 0,0

Rosinha 6,3 a 28,73 bc 6,42 a 2,96 a 41.088 a 0,497 ab 0,0

Verde-Rosa 7,4 a 33,66 ab 6,31 a 4,12 a 57.292 a 0,562 ab 0,0

Rama-Verde 7,9 a 28,79 bc 6,16 a 2,96 a 41.088 a 0,381 b 0,0

Média 7,3 31,42 6,70 3,48 48.321 0,496 -

F 2,26 ns 7,18** 0,62 ns 1,77 ns 1,77 ns 6,06** -

CV(%) 31,48 16,49 43,99 35,34 35,34 31,02 -

DMS 2,78 6,25 3,55 1,48 20.583 2,78 -

Características CultivarIdade da planta (dias após o plantio)

120 150 180 210 240

- 116 -

Referências

GOMES, F. P. Curso de estatística experimental. 11. ed. rev. e ampl. Piracicaba: Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”; Nobel, 1985. 466p.

SANTOS, E. S. dos. Manejo agroecológico na produção familiar de inhame e mandioca para uso na alimentação humana e animal. João Pessoa: Emepa-PB, MCT/CNPq/MDA/SAF/FNDCT, 2012. 94p. il. (Relatório Final).

SANTOS, E. S. dos; MATIAS, E. C.; BARBOSA, M. M. Mandioca: cultivo agro-ecológico e uso na alimentação humana e animal. João Pessoa, PB: Emepa, SAF/MDA/SECIS/MCT/CNPq, 2011. 90p.

- 117 -

Características morfológicas de seis cultivares de mandioca culti-vadas em sistema agroecológico na Paraíba

Elson Soares dos Santos1

RESUMO: O objetivo deste trabalho foi determinar as características mor-fológicas de seis variedades de mandioca avaliadas para os territórios pro-dutores paraibanos. O campo experimental (Unidade Demonstrativa) foi desenvolvido no Município de Sapé (PB), na mesorregião da Mata Parai-bana, em LUVISSOLOS CRÔMICOS, com horizonte moderado, de textura média, no período de 2009 a 2011. Os resultados permitiram concluir que: as cultivares Toninha, Landi, Pitangueira, Rosinha, Verde-Rosa e Rama-Ver-de avaliadas, em função de suas excelentes características morfológicas, podem ser utilizadas em futuros trabalhos de seleção e melhoramento de variedades de mandioca para produção simultânea de raízes e parte aérea, visando à alimentação humana e animal. A cultivar Rama-Verde apresenta altura de planta, diâmetro e profundidade de copa e número de ápices/planta superior às demais cultivares avaliadas, demonstrando uma supe-rabundância de ramos vegetativos e folhas, características indicadoras da sua seleção para produção de forragem e uso na alimentação de bovinos, no Agreste Paraibano.

Palavras-chave: Manihot esculenta, análise morfológica, genótipos, seleção, diferenciação fenotípica.

Introdução

A mandioca (Manihot esculenta Crantz), da família Euphorbiaceae, é cultivada extensivamente no Brasil, principalmente na Região Nordeste, em função de sua rusticidade e papel social que representa para as populações de baixa renda, tendo grande adaptabilidade aos diferentes ecossistemas, o que possi-bilita seu cultivo praticamente em todas as regiões brasileiras. É uma planta produtora de raízes e parte aérea em abundância (ramos e folhas) de alto valor nutritivo. As raízes são ricas em carboidratos e na sua quase totalidade são transformadas em farinha para o consumo humano e aproximadamen-te 20% da parte aérea é aproveitada para os novos plantios.

1 Coordenador do Projeto. Eng. Agrônomo, MSc. Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. Contato: [email protected].

- 118 -

Apesar da importância da mandioca como fonte alimentar para a população humana e animal, sua produtividade continua baixa em função de vários fatores, dentre eles materiais genéticos produtivos e resistentes à podridão radicular (SANTOS, 2012; GUEDES et al., 2007). Então são fundamentais es-tudos de seleção e melhoramento de novas cultivares de mandioca que apre-sentem características morfológicas, de crescimento e produtivas comprova-das para a obtenção de altas produtividades de raízes e partes aéreas.

É bom lembrar que a descrição morfológica das variedades de mandioca é muito importante, pois a mesma variedade pode apresentar-se com nomes diferentes na região onde é cultivada e também se observam variedades distintas com o mesmo nome em diferentes regiões. A caracterização mor-fológica das variedades de mandioca visa a diferenciação fenotípica entre elas, contribuindo para reduzir essas duplicações de nomes (BORGES et al., 2002; FUKUDA; Guevara, 1998; FUKUDA, 2011; SANTOS et al., 2011).

O objetivo deste trabalho foi determinar as características morfológicas de seis variedades de mandioca avaliadas para produção de raízes e parte aérea, visando a diferenciação fenotípica dos genótipos selecionados na re-gião produtora dos territórios da Mata Paraibana e do Agreste.

Material e métodos

O campo experimental (Unidade Demonstrativa) foi desenvolvido no Mu-nicípio de Sapé (PB), situado na mesorregião da Mata Paraibana, em LU-VISSOLOS CRÔMICOS, com horizonte moderado, de textura média, no período de 2009 a 2011.

O preparo do solo foi realizado por aração e gradagem cruzada. O plantio foi realizado em covas com 0,20 m de profundidade, usando-se manivas--sementes dos diferentes materiais de 20 cm de comprimento, plantadas horizontalmente, no espaçamento de 1,20 x 0,60 m, em sistema de fileiras simples, correspondente a uma densidade populacional de 13.888 plantas/ha. As variedades de mandioca foram provenientes de regiões produtoras da Paraíba.

A Unidade Demonstrativa foi instalada em uma área de 20.000 m2, dividi-da em seis talhões de 2.500 m2, onde foram testados os sistemas de cultivo com seis cultivares (Toninha, Landy, Pitangueira, Rosinha, Verde-Rosa e Ra-ma-Verde) procedentes da região.

- 119 -

O plantio foi realizado no período de 6 a 14 de março 2009 utilizando mani-vas-sementes rigorosamente selecionadas, com tamanho de 20 cm. Foram efetuadas adubações orgânicas utilizando esterco de curral. Os tratos cul-turais foram efetuados por meio de capinas manuais. Não houve registro de pragas e doenças, dispensando os tratamentos fitossanitários. Durante o crescimento e desenvolvimento vegetativo das plantas foram efetuadas inspeções sistemáticas e realizadas as observações fenológicas necessárias à obtenção dos dados experimentais.

Resultados e discussão

As características morfológicas dos seis materiais genéticos avaliados estão apresentadas na Tabela 1, cujos dados podem ser utilizados em futuros tra-balhos de seleção e melhoramento de genótipos de mandioca, na Paraíba.

- 120 -

Tabe

la 1

− Ca

ract

eríst

icas

mor

foló

gica

s de s

eis v

arie

dade

s de m

andi

oca

aval

iada

s par

a os

terr

itóri

os p

rodu

tore

s par

aiba

nos

Cara

cter

ísti

cas

Land

iTo

ninh

aPi

tang

ueir

aRo

sinh

aVe

rde-

Rosa

Ram

a Ve

rde

Cor

da fo

lha

adul

taVe

rde

Verd

eVe

rde

Verd

eVe

rde

Verd

eCo

r do

bro

to te

rmin

alVe

rde

Verd

e-ro

saPu

rpúr

eoVe

rde-

róse

oVe

rde

Verd

eN

úmer

o de

lóbu

los

75

77

77

Form

a do

lóbu

loLa

nceo

lada

Lanc

eola

daLa

nceo

lada

Lanc

eola

daLa

nceo

lada

Lanc

eola

daCo

mpr

imen

to d

o ló

bulo

16,5

cm

12 c

m21

,5 c

m19

,5 c

m18

,518

cm

Larg

ura

do ló

bulo

4,0

cm3,

7 cm

4,2

cm6,

4 cm

5,0

cm3,

8 cm

Sinu

osid

ade

Não

tem

Não

tem

Não

tem

Não

tem

Não

tem

Não

tem

Com

prim

ento

do

pecí

olo

28,5

cm

20 c

m30

,5 c

m30

,5 c

m30

,0 c

m29

,2 c

mCo

r do

pec

íolo

Verd

e cl

aro

Purp

urin

aVe

rde

Róse

oVe

rde-

róse

oVe

rde-

róse

oSu

perf

ície

da

pelíc

ula

da r

aiz

Rugo

saRu

gosa

Rugo

saRu

gosa

Rugo

saRu

gosa

Cor

da p

elíc

ula

da r

aiz

Bran

caBr

anca

Bran

caBr

anca

Bran

caBr

anca

Des

taqu

e da

pel

ícul

a da

rai

zFá

cil

Fáci

lFá

cil

Fáci

lFá

cil

Fáci

lCi

ntas

nas

raí

zes

Aus

ente

Aus

ente

Aus

ente

Aus

ente

Aus

ente

Aus

ente

Cor

do r

amo

term

inal

Verd

eVe

rde-

róse

oVe

rde-

clar

oVe

rde

Verd

e-ró

seo

Verd

ePr

oem

inên

cia

da c

icat

riz

folia

rM

edia

naM

edia

naM

edia

naM

edia

naM

edia

naM

edia

naCo

r da

pol

paBr

anca

Bran

caBr

anca

Bran

caBr

anca

Bran

caFo

rma

da r

aiz

Cilín

dric

aCi

líndr

ica

Cilín

dric

aCi

líndr

ica

Cilín

dric

aCi

líndr

ica

Cor

do c

aule

Bran

co-v

erde

Purp

úreo

Purp

urin

aCi

nza

Cinz

aVe

rde

cinz

aA

ltur

a de

pla

nta

1,56

1,47

1,67

1,91

2,13

2,75

Diâ

met

ro d

o ca

ule

(cm

)3,

63,

74,

02,

73,

53,

7D

iâm

etro

da

copa

(m)

0,69

0,56

0,79

0,81

1,01

2,22

Prof

undi

dade

da

copa

(m)

0,29

0,34

0,65

0,52

0,70

1,50

Núm

ero

de á

pice

/pla

nta

5,4

1,96,

22,

98,

116

,6Pe

so d

a ra

iz0,

667

0,40

90,

449

0,49

70,

562

0,38

1

- 121 -

Os aspectos visuais das plantas avaliadas de cada cultivar podem ser obser-vados na Figura 1. A cultivar Rama-Verde apresenta altura de planta, diâ-metro de copa e profundidade de copa e número de ápices/planta superio-res às demais cultivares avaliadas, demonstrando uma superabundância de ramos vegetativos e folhas, bem como alta produção de raízes, podendo ser utilizada integralmente na alimentação de bovinos, principalmente na época seca do ano, quando se registram altos índices de escassez de pasta-gens na região.

Figura 1 − Cultivares de mandioca de excelente comportamento vegetativo e produtivo avaliadas no Mu-

nicípio de Sapé (PB), para produção de farinha e forragem

Figura 1 – Landi

Figura 1 – Pitangueira

Figura 1 – Toninha

Figura 1 – Verde-Rosa

Figura 1 – Rosinha

Figura 1 – Rama-Verde

- 122 -

Conclusões

As cultivares Toninha, Landi, Pitangueira, Rosinha, Verde-Rosa e Rama-Ver-de avaliadas, em função de suas excelentes características morfológicas, podem ser utilizadas em futuros trabalhos de seleção e melhoramento de variedades de mandioca para produção simultânea de raízes e parte aérea, visando à alimentação humana e animal.

A cultivar Rama-Verde apresenta altura de planta, diâmetro e profundi-dade de copa e número de ápices/planta superiores às demais cultivares avaliadas, demonstrando uma superabundância de ramos vegetativos e fo-lhas, características indicadoras da sua seleção para produção de forragem e uso na alimentação de bovinos, no Agreste Paraibano.

Referências

BORGES, M. de F.; FUKUDA, W. M. G.; ROSSETTI, A. G. Avaliação de varieda-des de mandioca para consumo humano. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, DF, v. 37, n. 11, p. 1559-1565, nov. 2002.

FUKUDA, W. M. G.; CAVALCANTI, J.; FUKUDA, C.; COSTA, I. R. S. Variabi-lidade genética e melhoramento da mandioca (Manihot esculenta Crantz). Recursos genéticos e melhoramento de plantas para o Nordeste brasileiro. Dis-ponível em: <http://www.cpatsa.embrapa.br/catalogo/livrorg/mandioca.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2011.

FUKUDA, W. M. G.; GUEVARA, C. L. Descritores morfológicos e agronômicos para a caracterização de mandioca (Manihot esculenta Crantz). Cruz das Al-mas: Embrapa-CNPMF, out. 1998. 37p.

GUEDES, P. L. C.; LEMOS, P. F. B. de A.; ALBUQUERQUE, R.  P. de F.; COS-TA, R. F. da; CHAGAS, N. G.; CAVALCANTE, V. R.; CUNHA, A. P. Produção de forragem de mandioca para alimentação de bovinos leiteiros no Agreste Paraibano. Revista Tecnologia & Ciência Agropecuária [on-line], João Pessoa, v. 1, n. 2, p. 53-59, 2007.

SANTOS, E. S. dos. Manejo agroecológico na produção familiar de inhame e mandioca para uso na alimentação humana e animal. João Pessoa: Emepa-PB, MCT/CNPq/MDA/SAF/FNDCT, 2012. 94p. il. (Relatório Final).

SANTOS, E. S. dos; MATIAS, E. C.; BARBOSA, M. M. Mandioca: cultivo agro-ecológico e uso na alimentação humana e animal. João Pessoa: Emepa-PB, SAF/MDA/SECIS/MCT/CNPq, 2011. 90p.

- 123 -

Cultivo agroecológico da mandioca cultivar Toninha para produção de forragem no Agreste Paraibano

Elson Soares dos Santos1

Valdemir Ribeiro Cavalcante2

Selma Soares dos Santos3

RESUMO: O objetivo deste trabalho foi avaliar o comportamento pro-dutivo de variedades de mandioca visando à produtividade de forragem (partes aérea e raízes) para alimentação de bovinos leiteiros no Agreste Paraibano. Foi realizada Unidade Demonstrativa com a cultura da man-dioca para produção de forragem na Estação Experimental de Alagoinha, em Alagoinha (PB), no Agreste Paraibano, no ano de 2009/2010. Foram implantados 6 hectares de mandioca divididos em seis lotes de 1 hectare para produção de forragem e utilização em dias de campo. Os resulta-dos permitiram concluir que: a mandioca cultivar Toninha, em função de suas excelentes características morfológicas e produtivas, deve ser plantada pelos agricultores familiares paraibanos, em escala comercial, visando à produção de farinha para uso na alimentação humana e apro-veitamento da parte aérea para produção de forragem e uso na alimenta-ção animal. O cultivo da mandioca constitui uma alternativa alimentar potencial para reduzir os efeitos da sazonalidade da produção das pasta-gens na época da seca, que vêm comprometendo o desenvolvimento cor-poral dos bovinos no Agreste Paraibano.

Palavras-chave: Manihot esculenta, agroecologia, manejo sustentável, pro-dução de parte aérea.

1 Coordenador do Projeto. Eng. Agrônomo, MSc. Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. Contato: [email protected] Eng. Agrônomo, MSc. Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. Contato: [email protected] Zootecnista da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. – (Emepa-PB). Contato: [email protected].

- 124 -

Introdução

No Nordeste brasileiro um dos problemas que limita o sucesso da explo-ração de bovinos é a sazonalidade da produção forrageira das pastagens, durante a estação seca. Nessa época a escassez de forragens, associada ao seu baixo valor nutritivo, compromete o desenvolvimento corporal dos animais; dessa forma, a alimentação passa a depender da disponibilidade de volumosos conservados, fenos, silagens, capim picado e restos de cultu-ras. Durante o período chuvoso há alimento em abundância e de boa qua-lidade, mas durante a seca o alimento é escasso e de qualidade inferior, com conteúdo de proteína bruta na forragem insuficiente para atender às exigências nutricionais dos animais em pleno crescimento.

Na inexistência de forragens verdes ou conservadas há, entretanto, a pos-sibilidade do uso de culturas alternativas de elevados teores proteicos e energéticos, como a mandioca. O uso da mandioca na alimentação animal em regiões tropicais e subtropicais apresenta grande potencial, em conse-quência da sua facilidade de cultivo, adaptabilidade a diversos tipos de solo e relativa resistência a períodos de estiagem.

Essa cultura é plantada extensivamente no Brasil, e suas raízes constituem importante fonte para a alimentação humana. Mas a parte aérea é sistema-ticamente perdida no campo, durante a colheita das raízes, aproveitando--se em torno de 20% do total das ramas produzidas para o replantio. Tra-balhos de pesquisa sobre o valor desse material têm mostrado que a parte aérea total contém 16 a 18% de proteína, enquanto só a folha pode atingir 28 a 32% (CARVALHO, 1997).

O objetivo deste trabalho foi avaliar o comportamento produtivo de varie-dades de mandioca visando à produtividade de forragem (parte aérea e raí-zes) para alimentação de bovinos leiteiros no Agreste Paraibano.

Material e métodos

Foi realizada Unidade Demonstrativa com a cultura da mandioca para pro-dução de forragem na Estação Experimental de Alagoinha, pertencente à Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. (Emepa-PB), no Agreste Paraibano. Foram implantados e conduzidos 6 hectares de man-dioca divididos em 6 lotes de 1 hectare para produção de forragem e utili-zação em dias de campo.

- 125 -

O preparo do solo foi realizado por aração e gradagem. O plantio foi reali-zado em covas com 0,20 m de profundidade, usando-se manivas-sementes dos diferentes materiais de 20 cm de comprimento, plantadas horizontal-mente, no espaçamento de 1,00 m x 0,60 m, em sistema de fileiras simples, correspondente a uma densidade populacional de 16.667 plantas/ha. A va-riedade de mandioca plantada foi a Toninha, proveniente da Paraíba.

Os tratos culturais foram efetuados por meio de capinas manuais. Durante o crescimento das plantas foram efetuadas inspeções sistemáticas com a finalidade de efetuar observações fenológicas necessárias para as compro-vações científicas e resultados de produção, produtividade e incidência de pragas e doenças.

A colheita foi manualmente aos 14 meses após o plantio, sendo determina-das características de crescimento (altura da planta, em m; comprimento e diâmetro do caule, em m; diâmetro da copa, em cm; número de ápices/planta) e produção (produtividade de raízes e de parte aérea, em t/ha, peso médio de raízes, em kg/planta), incidência de pragas e doenças.

Resultados e discussão

Na Tabela 1 encontram-se os dados fenológicos da cultura da mandioca cultivar Toninha em sete idades distintas da planta. Nas idades de 90 a 270 dias, a cultura apresentou crescimento e desenvolvimento vegetativo su-perior a todas as plantações dos agricultores familiares da região, que vêm sendo afetadas por diversos fatores. Para a obtenção de resultados satisfa-tórios alguns fatores devem ser controlados, como baixa fertilidade do solo, manejo inadequado praticado pelos agricultores familiares, utilização de sementes não selecionadas, plantio de sementes fora do padrão recomen-dado, baixo nível técnico dos agricultores, preparo do solo inadequado, en-tre outros. Os resultados obtidos foram atribuídos aos efeitos positivos do manejo agroecológico adequado, associado ao bom preparo do solo, área em repouso durante três anos, seleção rigorosa do material propagativo e às condições de solo e clima apropriadas durante o ciclo da cultura.

Aos 270 dias após o plantio, Tabela 2, o cultivo agroecológico da mandioca apresentou bons resultados de produtividade de raízes (20.466 kg/há) e de par-te aérea (15.097 kg/ha), totalizando 35.563 kg/ha de raízes e parte aérea para produção de forragem. Esses resultados foram obtidos com a cultura em pleno

- 126 -

crescimento e desenvolvimento das raízes, pois em idades posteriores foram obtidas produtividades superiores, em torno de 30 a 35 t/ha de raízes.

Em função dos resultados obtidos recomenda-se para os agricultores do Agreste Paraibano o cultivo da mandioca sob manejo agroecológico ade-quado, com variedades de mandioca de boa produtividade de raízes e de parte aérea, simultaneamente, para produção de forragem. Ressalte-se que o cultivo agroecológico de mandioca para produção de forragem é uma tecnologia que oferece bons resultados, pois possibilita uma pecuária pro-dutiva, sustentável e em equilíbrio com a natureza. O cultivo da mandioca constitui uma alternativa alimentar potencial para reduzir os efeitos da sazonalidade da produção das pastagens na época da seca, associada a sua degradação progressiva provocada pela má conservação e pelo uso inade-quado, que vêm comprometendo o crescimento e o desenvolvimento cor-poral dos bovinos no Agreste Paraibano.

Tabela 1 − Parâmetros de crescimento da mandioca cultivar Toninha em diferentes idades após o

plantio (Médias de 60 repetições)

De acordo com a curva de crescimento de mandioca até aos 210 dias, nas condições ambientais do Município de Alagoinha (PB), no ano de 2009/2010, verifica-se que as plantas cresceram de forma paraboloide em função de sua idade, mas somente atingiriam o ponto de colheita em torno de 12 a 14 meses após o plantio. Esses dados demonstram que as plantas de mandioca apresentaram bom crescimento e desenvolvimento vegetativo, parâmetros indicadores de elevada produtividade da cultura.

VariáveisIdade da planta (dias após o plantio)

90 120 150 180 210 240 270

Altura da planta (m) 1,28 1,61 1,78 2,01 2,21 2,29 2,33

Comprimento do caule (m) - 0,59 0,78 1,19 1,54 1,83 1,9

Diâmetro do caule (cm) 2,69 2,39 2,42 2,53 2,53 2,57 2,54

Diâmetro da copa (m) - 0,95 0,88 0,85 0,86 0,88 0,82

Profundidade da copa (cm) - 1,02 1 0,82 0,67 0,46 0,44

Número de ápices/planta 1 1 2 3 4 7 6

Incidência de pragas 0 0 0 0 0 0 0

Incidência de doenças 0 0 0 0 0 0 0

- 127 -

Neste estudo, a mandioca cultivar Toninha atingiu uma altura estimada de 2,05 m na idade de 253 dias após o plantio. O coeficiente de determinação R2 indica que 99,5% da variação da altura da planta são explicadas pela função quadrática e somente 0,5% é atribuído a fatores do acaso (Figura 1).

Figura 1 − Curva de crescimento da mandioca em função da idade da planta. Município de Alagoi-

nha, PB, 2009/2010. (Médias de 60 repetições)

No Município de Alagoinha, foram verificados 309 casos de podridões ra-diculares (0,37%), portanto, considerado um nível insignificante, em uma área de aproximadamente seis hectares, com densidade populacional em torno de 83.328 plantas. O fator que mais influenciou na ocorrência de po-dridões radiculares foi o excesso de umidade em alguma parte da área cul-tivada, pela ação intensa das chuvas ocorridas na região.

A escolha da área, o preparo do solo adequado, o uso de sementes de quali-dade, o manejo apropriado da cultura e a utilização de cultivares tolerantes à podridões são os fatores mais importantes para controlar a incidência dessas doenças na cultura. As pragas mosca-das-galhas e mosca-branca foram verificadas nas plantações de mandioca, porém sua incidência não acarretou prejuízos econômicos à cultura.

2,5

2,0

1,5

1,0

0,5

0,090 120 150 180 210 240 270

Y= 0,1248 + 0,0152x - 0,00003X2

R= 0,9951 Pmax(2,05:2,53)

Idade da planta (dias após o plantio)

Altu

ra d

e pl

anta

s (m

)

- 128 -

Tabela 2 − Produtividade de raízes e parte aérea de mandioca cultivar Toninha em cultivo agroecoló-

gico. Alagoinha, PB, 2009/2010. (Médias de cinco repetições)

Conclusões

A mandioca cultivar Toninha, em função de suas excelentes características de crescimento e produtivas, deve ser plantada pelos agricultores familia-res paraibanos, em escala comercial, visando à produção de forragem para uso na alimentação animal.

O cultivo da mandioca constitui uma alternativa alimentar potencial para reduzir os efeitos da sazonalidade da produção das pastagens na época da seca, que vêm comprometendo o desenvolvimento corporal dos bovinos no Agreste Paraibano.

Variáveis Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3 Amostra 4 Média

Número de plantas 136 130 138 143 137

Número de raízes/planta 11 12 12 13 12

Comprimento de raiz (cm) 27,56 29,95 27,24 25,48 27,56

Diâmetro de raiz (cm) 5,39 5,09 5,09 5,22 5,20

Produtividade de raiz (kg/ha) 20.097 20.325 20.494 20.947 20.466

Peso de raiz/planta (kg) 1,447 1,463 1,476 1,508 1,474

Peso médio de raiz (kg) 0,127 0,115 0,123 0,114 0,120

Produtividade terço superior (kg/ha) 7.410 7.804 6.575 7.128 7.229

Produtividade do caule (kg/ha) 8.557 10.003 6.220 6.696 7.869

Produtividade total parte aérea (kg/ha) 15.961 17.807 12.794 13.824 15.097

Produtividade parte aérea/planta (kg) 1,149 1,282 0,921 0,995 1,087

Nº plantas afetadas por podridão-radicular 0 0 0 0 0

- 129 -

Referências

CARVALHO, O.; VIANA, O. Ecodesenvolvimento e equilíbrio ecológico: algu-mas considerações sobre o Estado do Ceará. Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 29, n. 2, p. 129-141, abr./jun. 1998.

SANTOS, E. S. dos. Manejo agroecológico na produção familiar de inhame e mandioca para uso na alimentação humana e animal. João Pessoa, PB: Eme-pa, MCT/CNPq/MDA/SAF/FNDCT, 2012. 94p. il. (Relatório Final).

SANTOS, E. S. dos; MATIAS, E. C.; BARBOSA, M. M. Mandioca: cultivo agro-ecológico e uso na alimentação humana e animal. João Pessoa, PB: Emepa, SAF/MDA/SECIS/MCT/CNPq, 2011. 90p.

- 131 -

Desempenho de zebuínos submetidos à alimentação com mandioca no Agreste Paraibano

Elson Soares dos Santos1 Valdemir Ribeiro Cavalcante2

Selma Soares dos Santos3

Paulo Leonardo Correia Guedes4

RESUMO: O objetivo deste trabalho foi avaliar o desempenho de zebuínos de exploração leiteira submetidos a diferentes estratégias de alimentação alternativa no Agreste Paraibano, visando à definição de um sistema de alimentação para atender às necessidades de mantença dos animais, na época seca. O experimento foi desenvolvido na Estação Experimental de Alagoinha, em Alagoinha (PB), no ano de 2010. Foram utilizadas bezerras da raça Guzerá e Sindi submetidas à alimentação com o uso parcial e inte-gral da mandioca, com duração de 98 dias. A parte aérea e as raízes de man-dioca na formulação de rações constituem excelente alternativa para a ali-mentação de bovinos, em função do seu alto valor nutritivo e energético. Para uma boa eficiência alimentar e maior ganho de peso é importante o balanceamento proteico, energético e mineral da ração. Os animais devem ter acesso a volumoso de boa qualidade. Na estação seca, um sistema alter-nativo de alimentação com o uso parcial ou integral da mandioca (parte aérea e raízes), do capim-elefante e da cana-de-açúcar atende às necessida-des de mantença dos bovinos, em semiconfinamento, evitando numerosos prejuízos econômicos à pecuária da região.

Palavras-chave: Manihot esculenta, alimentação alternativa, produção de forragem, constituintes bromatológicos.

Introdução

A atividade pecuária no Agreste Paraibano vem sendo bastante afetada pelos efeitos da sazonalidade das pastagens na época seca. Nessa época, caracterizada pelos baixos índices pluviométricos, a escassez de forragens associada ao seu baixo valor nutritivo tem comprometido o crescimento e

1 Coordenador do Projeto. Eng. Agrônomo, MSc. Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. Contato: [email protected] Eng. Agrônomo, MSc. Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. Contato: [email protected] Zootecnista da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. (Emepa-PB). Contato: [email protected] Zootecnista da Embrapa/Emepa-PB. Contato: [email protected].

- 132 -

o desempenho dos bovinos, com reflexo na produtividade de carne e leite para alimentação e nutrição humana.

O sucesso do desempenho dos bovinos nessa região depende de boa ali-mentação e manejo adequado. Então, para diminuir os efeitos da sazona-lidade das pastagens, a mandioca integral (raízes e parte aérea) constitui um alimento energético e proteico que pode ser utilizado na alimentação dos bovinos, principalmente em épocas de indisponibilidade de pastagem em quantidade e qualidade. O uso de mandioca na alimentação animal em regiões tropicais e subtropicais apresenta grande potencial, devido à sua facilidade de cultivo, adaptabilidade aos diversos tipos de solo, relativa re-sistência a períodos de estiagem, além de utilizar pouca tecnologia e apre-sentar elevados teores energéticos (raízes) e proteicos (parte aérea).

O objetivo deste trabalho foi testar diferentes estratégias de alimentação para bovinos de dupla aptidão e verificar o desempenho dos animais nas condições ambientais do Agreste Paraibano, visando à definição de um sis-tema de alimentação para atender às necessidades de mantença dos ani-mais, na época seca, bem como avaliar o valor nutritivo de rações à base de mandioca (parte aérea e raízes) e sua viabilidade de substituição parcial e total da ração tradicionalmente utilizada na alimentação dos bovinos nessa mesorregião.

Material e métodos

O experimento foi desenvolvido na Estação Experimental de Alagoinha, no Município de Alagoinha (PB), no ano de 2010. Foram utilizadas bezerras da raça Guzerá e Sindi submetidas à alimentação com o uso parcial e integral da mandioca.

O delineamento experimental foi de blocos casualizados com cinco trata-mentos e seis repetições. Os blocos foram organizados obedecendo aos cri-térios de idade e peso do animal. Cada bloco foi composto de cinco parcelas cada, constituída por um animal. Foram utilizadas 20 bezerras desmama-das da raça Guzerá e 20 da raça Sindi, do plantel da Emepa-PB.

Os tratamentos foram: 1 − ração contendo 100% de mandioca integral (par-te aérea + raízes); 2 − ração contendo 75% de mandioca + 25% de ração tra-dicional; 3 − ração contendo 50% de mandioca + 50% de ração tradicional; 4 − ração contendo 25% de mandioca + 75% de ração tradicional; 5 − ração

- 133 -

tradicional. A ração tradicional foi composta de 70% de capim-elefante pi-cado + 29,5% de cana-de-açúcar + 0,5 kg de farelo de trigo.

Os animais foram mantidos, em regime de confinamento, em baias individu-ais de alvenaria, piso de cimento, com bebedouro e cocho de cimento liso, du-rante 112 dias, tendo sempre à disposição água e sal mineral à vontade. O for-necimento das rações foi feito, à vontade, em cochos individuais e cobertos e o consumo controlado por meio das quantidades fornecidas menos as sobras. Esses animais foram inicialmente submetidos a um período pré-experimental, com duração de duas semanas, para adaptação às dietas experimentais.

No período experimental, com duração de quatorze semanas (98 dias), fo-ram medidos os consumos individuais de rações e ganhos de peso, com pesagens a cada duas semanas, sendo o jejum absoluto (16 horas) adotado apenas na primeira e última pesagem. As amostras de alimentos ministra-dos aos animais foram colhidas semanalmente para determinação da com-posição química, de acordo com os métodos propostos por AOAC (1970). Realizaram-se as análises no Laboratório de Nutrição Animal do Centro de Ciências Agrárias da UFPB.

Neste estudo foram avaliados os parâmetros zootécnicos: peso inicial e a cada 14 dias de idade, ganhos de peso médio diário e total, consumo de ra-ção, conversão alimentar e composição químico-bromatológica das dietas. Os dados dos parâmetros estudados foram analisados estatisticamente por análise de variância e comparação de médias pelo teste de Tukey a 5%.

Resultados e discussão

Na Tabela 1 verifica-se que os teores de matéria seca da parte aérea e raízes da mandioca foram de 91,80% e 91,64%, respectivamente, semelhantes aos obtidos por Sampaio (1995). Os teores de proteína bruta, fibra em detergen-te neutro e fibra em detergente ácido da parte aérea da planta foram supe-riores aos determinados nas raízes, e os demais constituintes foram bem próximos. O teor de proteína bruta obtido nas raízes de mandioca foi de 2,61%, inferior ao obtido por Guedes et al. (2007), que encontraram teores de 3,38 a 5,72% em diferentes variedades de mandioca, mas foi superior aos encontrados por Sampaio (1995), que relatou teores entre 1 e 2,5%.

O teor de fibra em detergente neutro das raízes de mandioca variedade To-ninha foi de 24,33% e da parte aérea de 63,08%, com média de 43,71%. Para

- 134 -

fibra em detergente ácido o teor encontrado nas raízes de mandioca dessa variedade foi de 8,45% e da parte aérea de 33,98%, com uma média de 21,22%.

Foram constatadas diferenças significativas entre tratamentos sobre os componentes bromatológicos avaliados, à exceção de matéria seca e umi-dade (Tabela 2).

A utilização de resíduos industriais da mandioca para a formulação de die-tas para bovinos pode ser uma boa opção para a pecuária, já que os resul-tados obtidos por diversos pesquisadores (PRADO et al., 2000; GUEDES et al., 2007) têm demonstrado a possibilidade de substituição parcial ou total de fontes energéticas tradicionais pela mandioca e seus resíduos industriais, sem afetar o desempenho dos animais (TAKAHASHI, 2005; GUEDES et al., 2007). O uso da mandioca na alimentação de bovinos constitui uma alter-nativa promissora para a mantença dos animais, em épocas carentes de ali-mentos forrageiros, pois no período seco as pastagens diminuem bastante suas capacidades de suporte, diminuindo em quantidade e qualidade, princi-palmente em relação à proteína. Diversos autores indicam o aproveitamento da mandioca na alimentação dos animais domésticos (PRADO et al., 2000; MARQUES; CALDAS NETO, 2002; TAKAHASHI, 2005; GUEDES et al., 2007).

Tabela 1 − Composição dos constituintes bromatológicos das partes da planta de mandioca

TratamentosConstituintes bromatológicos (%)

MS UMD CNZ MO PB GB FDN FDA

Parte aérea 91,80 8,20 5,23 94,77 10,92 1,33 63,08 33,98

Raízes 91,64 8,36 2,66 97,34 2,61 0,37 24,33 8,45

Média 91,72 8,28 3,95 96,06 6,77 0,85 43,71 21,22

- 135 -

Tabela 2 − Matéria seca (MS), umidade (UD), cinzas (CZ), matéria orgânica (MO), proteína bruta

(PB), gordura bruta (GB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA) das

dietas à base de mandioca utilizadas na alimentação dos bovinos Guzerá e Sindi

Médias seguidas da mesma letra, nas colunas, não diferem significativamente entre si, pelo teste de Tukey a

5% de probabilidade (* e ** Significativo a 5% e 1% de probabilidade, respectivamente).

Neste trabalho (Tabela 3), os animais que receberam dietas com 50% de man-dioca integral (parte aérea e raiz) + 50% ração básica (70% capim-elefante picado + 29,5% cana-de-açúcar + 0,5% farelo de trigo) e 25% mandioca inte-gral + 75% ração básica apresentaram melhor ganho de peso, em ambas as raças. Esses resultados apontam que a parte aérea e as raízes da mandioca constituem excelente alternativa para a alimentação dos bovinos no Agres-te Paraibano, principalmente, na época seca. A raiz da mandioca é rica em energia, porém pobre em proteínas, devendo ser oferecida aos ruminantes suplementada com outras fontes proteicas, como farelos de soja, farelos de algodão, feno de leguminosas, a parte aérea da mandioca. Entretanto, para uma boa eficiência alimentar e maior ganho de peso corporal é de extrema importância o balanceamento proteico, energético e mineral da ração. Os animais devem ter acesso ao volumoso de boa qualidade.

Na estação seca, um sistema de alimentação alternativo com mandioca (parte aérea e raiz), capim-elefante e cana-de-açúcar atende às necessida-des de mantença dos bovinos, em semiconfinamento, evitando numerosos prejuízos econômicos à pecuária da região.

TratamentosConstituintes bromatológicos (%)

MS UMD CNZ MO PB GB FDN FDA

1 90,89 a 9,12 a 4,75 c 95,26 a 3,81 ab 0,57 b 27,82 c 14,56 c

2 90,84 a 9,16 a 5,26 c 94,75 a 4,16 a 0,56 b 33,25 bc 19,60 bc

3 91,42 a 8,59 a 5,64 bc 94,36 ab 3,93 ab 0,49 b 54,47 ab 27,91 b

4 91,83 a 8,17 a 8,02 ab 91,99 bc 3,85 ab 0,82 b 62,77 a 40,04 a

5 91,89 a 8,11 a 8,76 a 91,24c 3,53 b 1,40 a 76,09 a 49,86 a

F 4,41* 4,42* 9,98** 9,99** 3,49* 12,54** 15,49** 37,01**

CV(%) 0,45 4,78 15,10 1,05 5,46 23,94 17,47 13,62

DMS 1,11 1,11 2,63 2,63 0,57 0,49 23,89 11,12

- 136 -

Tabela 3 − Ganho de peso médio diário de bezerras desmamadas Guzerá

e Sindi submetidas a diferentes rações com mandioca

RB − Ração tradicional com 70% capim-elefante picado, 29,5% cana-de-açúcar e 0,5% farelo de trigo.

Conclusões

A parte aérea e as raízes de mandioca constituem uma excelente alternati-va para a alimentação de bovinos, em função do seu alto valor nutritivo e energético, principalmente em época de escassez de pastagens de boa qua-lidade e em quantidade para atender à necessidade alimentar dos bovinos.

Para uma boa eficiência alimentar e maior ganho de peso é importante o balanceamento proteico, energético e mineral da ração. Os animais devem ter acesso a volumoso de boa qualidade.

Na estação seca, um sistema alternativo de alimentação com mandioca (parte aérea e raízes), capim-elefante e cana-de-açúcar atende às necessida-des de mantença dos bovinos, em semiconfinamento, evitando numerosos prejuízos econômicos à pecuária da região.

RaçõesGanho de peso médio diário (g)

Guzerá Sindi

100% mandioca integral 312,76 281,22

75% mandioca + 25% RB 335,71 273,57

50% mandioca + 50% RB 358,67 322,04

25% mandioca + 75% RB 402,04 327,14

Ração básica (RB) 340,82 309,29

- 137 -

Referências

ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS (AOAC). Official me-thods of analysis of the Association of Official Analytical Chemists. 11th edition. Washington, DC: Association of Official Analytical Chemists, 1970.

GUEDES, P. L. C.; LEMOS, P. F. B. de A.; ALBUQUERQUE, R. P. de F.; COS-TA, R. F. da; CHAGAS, N. G.; CAVALCANTE, V. R.; CUNHA, A. P. Produção de forragem de mandioca para alimentação de bovinos leiteiros no Agreste Paraibano. Revista Tecnologia & Ciência Agropecuária, João Pessoa, v. 1, n. 2, p. 53-59, 2007.

MARQUES, J. A.; CALDAS NETO, S. F. Mandioca na alimentação animal: parte aérea e raiz. Campo Mourão: Centro Integrado de Ensino Superior, 2002. 28p.

PRADO, I. N.; MARTINS, A. S.; ALCALDE, C. R; ZELOULA, L. M.; MARQUES, J. A. Desempenho de novilhas alimentadas com ração contendo milho ou casca de mandioca como fonte energética e farelo de algodão ou levedura como fonte proteica. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, MG, v. 1, n. 29, p. 278-287, 2000.

SAMPAIO, A. O. A mandioca na alimentação animal. Informativo da Fazen-da Paschoal Gomes, v. 3, n. 6, p. 4, 1995.

TAKAHASHI, M. Mandioca e seus resíduos industriais na terminação de bovinos. Revista ABAM, Paranavaí, PR, v. 3, n. 12, p. 15-16, dez. 2005.

- 139 -

Capacitação técnica para produção de inhame e mandioca em base agroecológica na Mata Paraibana e no Agreste1

Elson Soares dos Santos1

Valdemir Ribeiro Cavalcante2

Selma Soares dos Santos3

Paulo Leonardo Correia Guedes4

Rômulo Pontes Freitas de Albuquerque5

Saulo Vilarim de Farias Leite6

Nielson Gonçalves Chagas7

Maria do Carmo dos Santos Lima8

RESUMO: O objetivo deste trabalho é capacitar agricultores familiares en-volvidos com as culturas do inhame e da mandioca nas regiões produtoras, na Paraíba, na busca de aumento da produtividade e melhoria da qualidade dos tubérculos e raízes para utilização na alimentação humana e animal, bem como em prol de melhores negócios e maiores retornos socioeconômicos e ecológicos. A capacitação dos agricultores foi realizada por meio de dias de campo com apresentações dos avanços tecnológicos disponíveis, orientações em visitas técnicas in loco, cursos e palestras técnicas realizadas. Para auxiliar nessas ações foram distribuídas publicações técnicas sobre inhame e mandio-ca, elaboradas de forma objetiva, estruturada, em linguagem simples e aces-sível, para maior compreensão pelos agricultores. Como influência direta do projeto e do trabalho participativo constata-se mudança na reação de alguns agricultores, que passam a adotar sistemas de tutoramento, pulverizações com produtos naturais, adubações orgânicas e outras técnicas agroecológicas eficientes que compõem o sistema de produção utilizado nas Unidades De-monstrativas desenvolvidas. O estímulo do uso de técnicas mais modernas e sustentáveis é fundamental para tornar a agricultura com inhame e mandioca nas regiões produtoras mais competitivas, com maior fluxo de comercializa-ção, geradora de emprego e de maiores lucros para os agricultores.

Palavras-chave: Difusão, mudança tecnológica, agroecologia, agricultura familiar.

1 Coordenador do Projeto. Eng. Agrônomo, MSc. Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. Contato: [email protected] Eng. Agrônomo, MSc. Emepa-PB. Contato: [email protected] Zootecnista da Emepa-PB. Contato: [email protected] Zootecnista da Embrapa/Emepa-PB. Contato: [email protected] Zootecnista da Emepa-PB. Contato: [email protected]).6 Veterinário da Emepa-PB. Contato: [email protected] Eng. Agrônomo, MSc. Emepa-PB. Contato: [email protected] Eng. Agrônoma, Emepa-PB. Contato: [email protected].

- 140 -

Introdução

No Estado da Paraíba, as culturas do inhame e da mandioca apresentam grande importância socioeconômica como fontes alimentares para a po-pulação e de renda para os agricultores familiares e pessoas envolvidas nos negócios dessas lavouras. Entretanto, suas produtividades continuam baixas. Mesmo com a disponibilidade dos avanços tecnológicos e da assis-tência técnica, o baixo nível técnico dos agricultores tem contribuído for-temente para a fragilidade dos sistemas produtivos, que insistem nos siste-mas de cultivo tradicionais, resultando em baixa produtividade, qualidade inferior do produto, fluxo negativo de comercialização e baixo retorno eco-nômico, provocando desmotivação dos agricultores da atividade agrícola (SANTOS et al., 2011a; SANTOS et al., 2011b; SANTOS, 2012).

Para reverter esse quadro é fundamental promover a capacitação técnica dos agricultores familiares como receptores da tecnologia, visando incor-porar novas tecnologias na pequena e média produção, compatíveis com a realidade, eficientes, de baixo custo e em consonância com os princípios da preservação ambiental.

A capacitação para o setor agrícola deve ser visto como um instrumento essencial para a difusão e transferência dos conhecimentos técnicos e das tecnologias geradas para os agricultores familiares, na busca de melhores resultados de produção no setor. Essa prática pode potencializar as ações dos agricultores, tendo grande importância a participação dos atores e agentes que compõem o sistema. A capacitação dos produtores rurais é uma das atividades relevantes para o sucesso da agricultura familiar, mas deve seguir associada à existência de uma base de recursos humanos qua-lificados para realizá-la e conduzi-la durante o ciclo da cultura econômica.

O objetivo desse programa é capacitar agricultores familiares envolvidos com as culturas do inhame e da mandioca nas regiões produtoras, na Paraíba, na busca de aumento da produtividade e melhoria da qualidade dos tubérculos e raízes para utilização na alimentação humana e animal, bem como em prol de melhores negócios e maiores retornos socioeconômicos e ecológicos.

Material e métodos

A capacitação dos agricultores familiares foi realizada por meio das se-guintes ações: dias de campo com apresentações dos avanços tecnológicos

- 141 -

disponíveis, orientações em visitas técnicas in loco, cursos e palestras téc-nicas realizadas. Para auxiliar nessas ações foram distribuídas publicações técnicas sobre inhame e mandioca elaboradas de forma objetiva, estrutu-rada, em linguagem simples e acessível, para maior compreensão pelos agricultores familiares dos territórios de abrangência do projeto.

Participaram a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural da Para-íba, associações de produtores rurais de diversos municípios paraibanos, empresas particulares, professores e estudantes universitários, técnicos, pesquisadores e produtores rurais.

Resultados e discussão

Com a execução deste projeto, mais de 800 pessoas −  entre agricultores, técnicos da extensão rural de empresas públicas e privadas, professores e alunos universitários e pesquisadores − participaram dos eventos de capa-citação técnica realizados no período de 2009 a 2010 na Paraíba.

No processo de capacitação promovido foi disponibilizado um pacote de conhecimentos tecnológicos fundamental para o desenvolvimento das cul-turas do inhame e da mandioca, envolvendo alimentação com mandioca para bovinos leiteiros respaldado nas seguintes recomendações técnicas: manejo adequado das culturas, adubação orgânica, manejo agroecológico de pragas e doenças de plantas, espaçamentos e densidades populacionais, tutoramento alternativo do inhame, controle de plantas daninhas, contro-le de fitonematóides e novas cultivares, além de um volume de conheci-mentos agronômicos e zootécnicos relevantes para a sustentabilidade das culturas do inhame e da mandioca nas regiões produtoras.

Foram realizadas várias palestras de capacitação técnica sobre a cultura da mandioca para os agricultores dos territórios das mesorregiões da Mata Paraibana, do Brejo, do Agreste e de Borborema. Vários temas importantes sobre plantio, condução, manejo sustentável, colheita, comercialização e usos de raízes e parte aérea na alimentação humana e animal foram dis-cutidos. Produtores rurais, técnicos da Emepa-PB, da Emater/PB e outras pessoas interessadas participaram dos eventos.

Os estudos desenvolvidos neste projeto resultaram em edições de livros e fôlderes organizados, objetivos e ilustrados, que contribuíram para a socia-lização do conhecimento entre agricultores familiares e criadores, dentre

- 142 -

os quais se destacaram: Cultivo do inhame na base da agricultura familiar; Cultivo da mandioca na base da agricultura familiar; Uso da mandioca na ali-mentação de bovinos. Os resultados obtidos são positivos e causaram im-pactos importantes nessas regiões, principalmente com os treinamentos efetivados e a distribuição gratuita de manivas-sementes para o início de uma plantação de mandioca em base agroecológica de 15 hectares no pri-meiro ano e perspectiva de 60 hectares no segundo ano, para beneficiar 128 famílias no Assentamento “Maria Preta” no Agreste Paraibano.

Palestra sobre o uso de mandioca na alimenta-ção animal para técnicos e agricultores

do Agreste Paraibano

Palestra sobre a cultura do inhame em base agroecológica, em Sapé-PB,

na Mata Paraibana

Palestra sobre o uso de mandioca na alimenta-ção animal para técnicos e agricultores

do Agreste Paraibano

Mais de 500 produtores rurais, técnicos, pesqui-sadores, intermediários e políticos participam de capacitação sobre manejo agroecológico na

produção familiar de inhame

Distribuição de semente de seis cultivares de mandioca selecionadas para agricultores

familiares do Agreste Paraibano

Dia de campo no Agreste Paraibano. Difusão e transferência de tecnologias

agroecológica para agricultores da região.

- 143 -

Durante a execução do projeto foram beneficiados diretamente trabalha-dores rurais, agricultores familiares e fornecedores de material de consu-mo (Tabela 1). O número de famílias e de pessoas beneficiadas no primeiro momento é pequeno, mas com a melhoria dos sistemas de produção em base agroecológica das culturas do inhame e da mandioca nas mesorregi-ões da Mata Paraibana e do Agreste, com abrangência do Brejo e Borbore-ma, esse número será aumentado significativamente, ao longo dos anos. Por esses motivos, ações serão implementadas na agricultura familiar des-sas regiões, mesmo após o encerramento do projeto.

Os dados foram obtidos por meio de fichas de controle de prestação de ser-viços de terceiros, por controle de frequência dos participantes nas diver-sas palestras realizadas, curso, treinamentos, dias de campo e fornecedores de sementes e de materiais de consumo.

Tabela 1 − Resultados obtidos durante a execução do projeto (2009-2011)

Itens Quantidade

Número de famílias beneficiadas diretamente 128

Número de pessoas diretamente beneficiadas 512

Número de famílias indiretamente beneficiadas 10

Número de pessoas indiretamente beneficiadas 40

Número de comunidades tradicionais beneficiadas 2

Número de municípios atingidos ou atendidos pelo projeto 21

Número de emprego sem vínculo empregatício gerado 20

Número de pessoas que participaram de capacitação técnica 850

- 144 -

Conclusões

A difusão e transferência tecnológica, a capacitação e atualização dos agri-cultores familiares são ferramentas fundamentais para o desenvolvimento sustentável da agricultura familiar nos territórios da Mata Paraibana, do Brejo, do Agreste e de parte da Borborema.

Como influência direta do projeto e do trabalho participativo constata-se mudança na reação de alguns agricultores, que passam a adotar sistemas de tutoramento, pulverizações com produtos naturais, adubações orgânicas e outras técnicas agroecológicas eficientes que compõem o sistema de pro-dução utilizado nas Unidades Demonstrativas desenvolvidas. O estímulo do uso de técnicas mais modernas e sustentáveis é fundamental para tor-nar a agricultura com inhame e mandioca, nas regiões produtoras da Pa-raíba, mais competitivas, com maior fluxo de comercialização, geradora de emprego e maiores lucros para os agricultores familiares.

Referências

SANTOS, E. S. dos. Manejo agroecológico na produção familiar de inhame e mandioca para uso na alimentação humana e animal. João Pessoa: Emepa-PB, MCT/CNPq/MDA/SAF/FNDCT, 2012. 94p. il. (Relatório Final).

SANTOS, E. S. dos; MATIAS, E. C.; BARBOSA, M. M. Inhame: cultivo agroeco-lógico. João Pessoa: Emepa-PB, 2011a. 60p.

SANTOS, E. S. dos; MATIAS, E. C.; BARBOSA, M. M. Mandioca: cultivo agroe-cológico e uso na alimentação humana e animal. João Pessoa: Emepa, SAF/MDA/SECIS/MCT/CNPq, 2011b. 90p.

- 145 -

Difusão e transferência de tecnologias agroecológicas de inhame e mandioca na Paraíba

Elson Soares dos Santos1

Edson Cavalcante Matias2

Maildon Martins Barbosa3

José Teotônio de Lacerda4

RESUMO: O objetivo deste estudo foi disponibilizar técnicas agronômi-cas e tecnologias agroecológicas para exploração das culturas do inhame e da mandioca, como suporte básico para o fortalecimento da agricultura familiar na Mata Paraibana e no Brejo, assim como fortalecer a pecuária leiteira do Agreste e de parte do território da Borborema, estimulando a geração de emprego e renda no meio rural e a melhoria da qualidade de vida dos agricultores. As ações participativas (produtores rurais, técnicos da extensão, técnicos de empresas privadas, pesquisadores, associações de agricultores, assentamentos) de difusão e transferência de tecnologias são importantes para a melhoria dos sistemas agropecuários, proporcionando meios eficientes e eficazes para promover aumento de produtividade das culturas e maiores lucros para os agricultores, bem como contribuir para a preservação ambiental.

Palavras-chave: Transferência tecnológica, agroecologia, agricultura fami-liar, pecuária leiteira.

Introdução

Os conhecimentos adquiridos e as tecnologias geradas pela pesquisa, ao longo dos anos, só terão sentido se disponibilizados a outros de forma su-ficientemente eficaz. Nesse contexto, a difusão de tecnologia constitui a força e a responsabilidade na transmissão das tecnologias geradas. O papel que exerce a difusão e transferência tecnológica na agricultura familiar é incontestavelmente importante. Normalmente, quando o produtor rural se encontra desassistido da extensão rural, é evidente o desagregamento

1 Coordenador do Projeto. Eng. Agrônomo, MSc. Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. Contato: [email protected] Eng. Agrônomo, MSc. Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. Contato: [email protected] Eng. Agrônomo, Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. Contato: [email protected] Eng. Agrônomo, MSc. Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. Contato: [email protected].

- 146 -

dos cultivos praticados por cada um, manifestando um desconhecimento total; mas, quando procura ou se integra ao sistema de extensão rural, é significativa a intensidade das culturas plantadas e o incremento da produ-tividade, proporcionando maior retorno econômico e melhoria do padrão de vida dos agricultores familiares, motivando-os a continuarem na ativi-dade (SANTOS, 2012; FRANCO, 2002).

Para a consecução dos objetivos e das metas do projeto foram realizadas, no período de 2009 a 2011, diversas ações de difusão e transferência de tec-nologias visando contribuir para o desenvolvimento sustentável das cultu-ras do inhame e da mandioca, nas regiões do Agreste e da Mata Paraibana. Foram realizados diversos programas de rádio baseados em entrevistas, di-versas palestras in loco transferindo informações e discutindo ideias sobre manejo, tratos culturais, colheita, mercado e comercialização. Também fo-ram realizadas as seguintes ações: dias de campo, visitas in loco, noticiários em meio eletrônico, relatório técnico e publicações para ampla difusão dos avanços tecnológicos disponíveis para uso direto pelos agricultores fami-liares. Foram distribuídas publicações técnicas sobre inhame e mandioca, elaboradas de forma objetiva, estruturada, em linguagem simples e acessí-vel, para maior compreensão pelos agricultores familiares dos territórios de abrangência do projeto. As ações tiveram grande repercussão, ajudando a fortalecer as commodities dessas culturas no setor agrícola dos territórios da zona da Mata Paraibana e do Agreste, com abrangência da Borborema e de outros territórios paraibanos interessados.

No processo de difusão e transferência de tecnologias para os agricultores fa-miliares, todas as instituições parceiras no projeto − Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural da Paraíba (Emater-PB), Associação dos Produtores Rurais do Litoral Sul da Paraíba (Asprolisul-PB) e Associação dos Produtores de Leite de Guarabira (Apleg) − tiveram atuação efetiva, gerenciando a parti-cipação e a inserção dos agricultores familiares no projeto, inclusive promo-vendo a organização de eventos técnicos. A Assessoria de Grupo Especializa-da Multidisciplinar em Tecnologia e Extensão (Agente) também contribuiu na consecução dos objetivos e das metas do projeto, promovendo ciclo de palestras técnicas nos Assentamentos Maria Preta (em Araçagi, PB) e Senhor do Bonfim (em Alagoinha, PB), no Agreste Paraibano.

Nesta seção, são abordadas as principais tecnologias para as culturas do inhame e da mandioca, com foco no manejo agroecológico na produção familiar dessas culturas para uso na alimentação humana e animal. Com

- 147 -

isso, acredita-se estar contribuindo para o fortalecimento da agricultura familiar paraibana e estimulando maiores negócios de mercado.

O objetivo deste estudo foi disponibilizar técnicas agronômicas e tecnolo-gias agroecológicas eficientes para a exploração econômica das culturas do inhame e da mandioca, como suporte básico para o fortalecimento da agri-cultura familiar, na Mata e no Brejo Paraibano, e da pecuária leiteira do Agreste Paraibano e de parte do território da Borborema, além de fomentar oportunidades de negócios, estimulando o empreendedorismo nessas re-giões, com geração de ocupação no meio rural e melhoria da qualidade de vida dos agricultores familiares.

Material e métodos

A difusão e transferência de tecnologias agroecológicas foram realizadas por meio de dias de campo, visitas in loco, noticiários em meio eletrônico, publicações para ampla difusão dos avanços tecnológicos disponibilizados para uso direto pelos agricultores familiares, cursos técnicos, palestras téc-nicas e pelo programa Prosa Rural da Embrapa.

As ações realizadas tiveram como propósito promover suporte básico para a otimização da produtividade das culturas do inhame e da mandioca, esti-mulando o processo organizativo e a participação efetiva dos agricultores familiares, de técnicos da extensão rural, de professores e estudantes uni-versitários, bem como de pessoas interessadas na exploração dessas cultu-ras e da bovinocultura leiteira no âmbito da agropecuária paraibana.

Resultados e discussão

Dentro do enfoque de sustentabilidade da agropecuária paraibana, essen-cialmente das mesorregiões da Mata Paraibana, do Brejo, do Agreste e da Borborema, foram validadas mais de dez tecnologias agroecológicas para as culturas do inhame e da mandioca, e o sistema alternativo de alimenta-ção para bovinos leiteiros, que foram disponibilizados para os agricultores familiares e criadores dessas regiões.

Foram realizadas difusão e transferência das tecnologias agroecológicas dispo-níveis para as culturas do inhame e da mandioca por diversos meios, e os re-sultados vêm sendo considerados satisfatórios, tendo em vista, principalmente,

- 148 -

que os agricultores dessas regiões estão satisfeitos e motivados para con-tinuar na atividade agrícola com essas culturas. Mas eles pedem mais as-sistência técnica, capacitação e contribuições tecnológicas capazes de pro-porcionar incrementos de produtividade e melhores retornos econômicos para a melhoria da sua qualidade de vida.

Como indicadores para verificação do cumprimento das metas, todas as tecnologias foram descritas de forma clara e objetiva. Referem-se a cul-tivares, espaçamentos de plantio e densidades populacionais, adubação orgânica, manejo agroecológico das culturas do inhame e da mandioca, tutoramento alternativo do inhame, controle ecológico de fitonematóides do inhame, controle alternativo de pragas e doença fúngicas, produção or-gânica de tubérculos-sementes de inhame, cortadeira manual de manivas--sementes, produção de forragem.

Para a transferência das tecnologias das culturas do inhame e da mandio-ca e da alternativa alimentar de bovinos leiteiros, além de conhecimentos agronômicos e zootécnicos e tecnologias agroecológicas, foram organiza-dos cinco documentos técnicos (dois livros e três fôlderes), distribuídos para produtores e técnicos, diretamente e por meio da participação efetiva da Emater-PB, com escritórios de Assistência Técnica nos 223 municípios do estado, das empresas públicas e privadas que trabalham com agropecu-ária, das universidades e dos estudantes universitários.

Essas tecnologias já vêm causando impactos importantes nos territórios da Mata Paraibana, do Brejo e do Agreste. Entretanto, há necessidade de maiores contribuições para a agricultura familiar nessas regiões, visando a melhoria dos sistemas produtivos praticados pelos agricultores familiares. Nos Quadros 1 e 2, apresenta-se uma descrição resumida das tecnologias disponibilizadas para uso direto pelos agricultores.

- 149 -

Quadro 1 − Tecnologias apropriadas para o cultivo do inhame (Dioscorea spp.)

Título da tecnologia Descrição resumida Beneficiários

Indicação de cultivares de inhame (Dioscorea spp.)

Inhame Da Costa (Dioscorea sp.) e São Tomé (Dioscorea alata)

Agricultores familiares

Espaçamentos ideais

Plantios em camalhões: 1,20 x 0,60 m, 1,20 x 0,50 m, 1,20 x 0,40 m, 1,00 x 0,50 m, 1,00 x 0,40 m, 0,80 x 0,50 m, 0,80 x 0,40 m. Plantios em matumbos: 1,20 x 0,80 m ou 1,00 x 0,80 m.

Agricultores familiares

Novo sistema alternativo (espaldeiramento) de orientação do crescimento da planta de inhame

Usar estacas de sabiá de 2 a 2,20 m, enterrando-se 0,50 m no solo, de 8 a 10 m, em linhas de, no máximo, 50 m, e um fio de arame 12 liso galvanizado a 1,4 m de altura do solo, posto sobre um prego inclinado em cada estaca. Linhas de arame entre duas fileiras de plantio. Usar barbante ou similar até o arame para orientar o crescimento das plantas.

Agricultores familiares

Adubação orgânica ideal para o cultivo do inhame de sequeiro e irrigado

12,5 t/ha de esterco de curral ou 4,0 t/ha de esterco de aves. Usar os resíduos orgânicos dentro da cova de plantio, bem misturados com o solo.

Agricultores familiares

- 150 -

Controle alternativo de nematoides do inhame

Incorporação de Crotalaria spectabilis, mucuna-preta (Stizolobium aterrimum), feijão-de-porco (Canavalia ensiformis), cravo-de-defunto (Tagetes erecta) e manipueira promove controle eficiente de fitonematoides do solo e infecção nas raízes. Cortar as plantas na floração com roçadeira e incorporar com grade, ao solo. Realizar o plantio do inhame 30 dias depois.

Agricultores familiares

Sistema alternativo para produção de semente de inhame por superadensamento

Plantar tubérculos-sementes sadios de 50 a 100 g da cultivar Da Costa, no espaçamento 20 m x 20 cm (250.000 plantas/ha) ou 25 m x 25 cm (160.000 plantas/ha), em canteiros de 1,20 m de largura e comprimento variável. Realizar adubação orgânica uniforme nos canteiros. O ponto de colheita ocorre de seis a oito meses.

Agricultores familiares

Indicação de sistema de camalhão para o cultivo do inhame (Dioscorea spp.) em áreas adequadas

Em condições favoráveis o sistema de cultivo em camalhão é mais rápido e econômico em relação ao plantio em matumbos, e protege a cultura contra os efeitos provocados pelas erosões e encharcamentos do solo ocasionado pelas chuvas. Os camalhões devem ser construídos em direção perpendicular ao declive do terreno, para evitar a erosão e perda de solo. Este método melhora a drenagem superficial do solo e permite um rápido movimento das águas superficiais.

Agricultores familiares

Título da tecnologia Descrição resumida Beneficiários

- 151 -

Manejo adequado de pragas na cultura do inhame de sequeiro

O controle da lagarta-da-folhagem (Pseudoplusia oo) é recomendado logo no início do aparecimento da praga (no primeiro estágio larval). Pode ser feito com a aplicação de 0,3 a 0,5 l/ha do inseticida biológico Bacillus thuringiensis, que atua de forma seletiva e não afeta o meio ambiente. Repetir a aplicação a intervalo de 15 dias, dependendo do nível de reinfestação.

Agricultores familiares

Controle alternativo de doenças fúngicas da cultura do inhame (Dioscorea spp.)

A queima-da-folhagem ou “pinta-preta” causada pelo fungo Curvularia eragrostidis provoca formação de manchas mais ou menos circulares e necróticas nas folhas da planta. No início do ciclo vegetativo, sua infecção pode destruir a folhagem e comprometer a produção. O uso de plantas medicinais com propriedades antibióticas desponta como alternativa ecológica potencial de aplicação em um programa integrado de controle de doenças de plantas. Extratos de alho Allium sativum foram testados na forma de pulverizações semanais na concentração de 5% no controle dessa doença.

Agricultores familiares

Título da tecnologia Descrição resumida Beneficiários

- 152 -

Quadro 2 − Tecnologias apropriadas para o cultivo de mandioca (Manihot esculenta Crantz)

ConclusõesTítulo da tecnologia Descrição resumida Beneficiários

Indicação de cultivares de mandioca (Manihot esculenta Crantz) para as mesorregiões da Mata Paraibana e do Agreste

Para as condições da Mata Paraibana, do Brejo e do Agreste as cultivares Toninha, Landi, Pitangueira, Rosa, Verde-Rosa, Rama Verde, Osso Duro e Bahia Preta são promissoras quanto às características de produtividade e tolerância às podridões radiculares.

Agricultores familiares

Espaçamentos e densidades populacionais ideais para a cultura da mandioca na Paraíba

Recomendam-se os espaçamentos 1,20 x 0,60 m (13.889 plantas/ha), 1,20 x 0,50 m (16.667 plantas/ha), 1,00 x 0,60 m (16.667 plantas/ha) e 1,00 x 0,50 m (20.000 plantas/ha) por propiciarem bom desenvolvimento vegetativo das plantas e elevadas produtividades.

Agricultores familiares

Indicação de sistema de camalhão para o cultivo da mandioca em áreas adequadas

Em condições favoráveis o sistema de cultivo em camalhão é mais rápido e econômico em relação ao plantio em covas, além de melhorar a drenagem superficial do solo e permitir um rápido movimento das águas superficiais. Os camalhões devem ser construídos em direção perpendicular ao declive do terreno, para evitar a erosão e perda de solo.

Agricultores familiares

- 153 -

Indicação de uma cortadeira manual de manivas-sementes de mandioca com rendimento e segurança para o operador

A cortadeira manual de manivas-sementes apresenta muitas vantagens em relação ao método tradicional com uso de objetos cortantes, como facas e facões. Suas vantagens: reduzir os riscos de acidentes; rendimento operacional superior aos métodos convencionais; padroniza as manivas-sementes; não esmaga os lados cortados, propiciando melhor enraizamento; pode ser deslocada facilmente para qualquer lugar, visto pesar em torno de 10 kg e ser desmontável; não necessita de energia elétrica; baixo custo de fabricação e excelente rendimento operacional; montagem e desmontagem fáceis.

Agricultores familiares

Indicação de genótipos de mandioca (Manihot esculenta Crantz) para produção de forragem

Os genótipos Rama Verde e Verde-Rosa são promissores para produção de forragem no Agreste Paraibano, em termos de tolerância às podridões radiculares e produção de forragem simultânea de raízes e parte aérea.

Agricultores familiares

Título da tecnologia Descrição resumida Beneficiários

- 154 -

Sistema alternativo de alimentação de bovinos leiteiros com mandioca integral no Agreste Paraibano

No Agreste Paraibano, na falta de forragens verdes ou conservadas, existe a possibilidade do uso de culturas alternativas de elevados teores proteicos e energéticos, como a mandioca. O uso da mandioca na alimentação de bovinos apresenta grande potencial, pela sua facilidade de cultivo, adaptabilidade a diversos tipos de solo e relativa resistência a períodos de estiagem. As raízes contêm 1 a 6% de proteína e 20 a 30% de amido, e a parte aérea, 13 a 25% de proteína. Para a mantença dos bovinos pode ser recomendada a dieta composta de mandioca integral (raízes e parte aérea), capim-elefante picado, cana-de-açúcar e farelo de trigo. Para boa eficiência alimentar e ganho de peso é importante o balanceamento proteico, energético e mineral da ração. Os animais devem ter acesso a volumoso de boa qualidade.

Agricultores familiares

Título da tecnologia Descrição resumida Beneficiários

- 155 -

As ações participativas (produtores rurais, técnicos da extensão, técnicos de empresas privadas, pesquisadores, associações de agricultores, assentamen-tos) de difusão e transferência de tecnologias são importantes para a melho-ria dos sistemas agropecuários, proporcionando meios eficientes e eficazes para promover aumento de produtividade das culturas e maiores lucros para os agricultores, bem como contribuir para a preservação ambiental.

Referências

FRANCO, C. F. de O. Dinâmica da difusão de tecnologia da agricultura bra-sileira. In: SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE AS CULTURAS DO INHAME E DO TARO, 2., 2002, João Pessoa. Anais..., João Pessoa, PB: Emepa-PB, 2002. v. 2, p.199-209.

SANTOS, E. S. dos. Manejo agroecológico na produção familiar de inhame e mandioca para uso na alimentação humana e animal. João Pessoa: Emepa, MCT/CNPq/MDA/SAF/FNDCT, 2012. 94p. il. (Relatório Final).

- 157 -

Inseminação artificial em bovinos para fortalecimento da agricultura familiar

Paula Fernanda Barbosa de Araújo Lemos1

Introdução

Nos últimos anos houve o fortalecimento da produção agrícola familiar, caracterizada pela participação direta da família na organização e execu-ção das atividades locais, sendo que, em algumas regiões, essa atividade constitui a base do desenvolvimento do agronégocio.

A agricultura familiar reúne aspectos importantes: a família, o trabalho, a produção e as tradições culturais, portanto, pode ser considerada como aquela que, ao mesmo tempo em que é proprietária, assume os trabalhos no estabelecimento. Essa classificação é independente da área disponível para cada produtor, da renda obtida na atividade, do nível tecnológico praticado ou mesmo do destino que a produção recebe. Entre os agricultores familia-res, a pecuária de leite é uma das principais atividades desenvolvidas, estan-do presente em 36% dos estabelecimentos classificados como de economia familiar, além de responder por 52% do Valor Bruto da Produção total.

O leite tem uma grande importância para o Brasil, não só do ponto de vis-ta econômico como também do ponto de vista social. A atividade leiteira tem um importante papel na sustentabilidade das propriedades agrícolas familiares, tanto no autoconsumo como na geração de renda. Além disso, a consolidação de uma bacia leiteira pode proporcionar uma série de melho-rias para a qualidade de vida das famílias, como manutenção das estradas, facilidade de transporte, acesso à saúde e educação, consolidação dos co-mércios locais, emergências de pequenos núcleos urbanos, valorização da terra e fixação das famílias no campo.

A busca por sistemas de criação de gado de leite mais produtivos e compatí-veis com as condições ambientais, que garantam aos produtores melhoria na produção, renda e satisfação pela atividade, com sua consequente fixa-ção no campo, é uma preocupação dos pesquisadores, técnicos e produto-res da bovinocultura.

Para que a atividade leiteira seja rentável, faz-se necessária a existência de uma eficiência reprodutiva satisfatória na propriedade. Essa eficiência

1 Médica Veterinária – Doutora em Ciência Veterinária. Pesquisadora III/Emepa-PB. Rodovia Abelardo Jurema, PB 008, Km 7, Jacarapé III – João Pessoa/PB. Contato: [email protected].

- 158 -

está, por sua vez, ligada diretamente a fatores relacionados com a nutri-ção, a dificuldade de detecção do estro e, também, as enfermidades puer-perais e metabólicas.

O manejo reprodutivo é sem dúvida um dos segmentos mais importantes na produção animal. Este repercute, diretamente, nos índices de produti-vidade dos rebanhos, sendo um dos principais enfoques na bovinocultura. Ao observar a ineficiência na maioria dos sistemas de produção, deve-se dar atenção diferenciada à identificação do estro e ao índice de prenhez, principalmente das vacas primíparas, visto que isto representa um ponto de estrangulamento no sistema produtivo.

A inseminação artificial (IA) consiste na mais antiga biotécnica reprodutiva e a que mais rápido pode contribuir para o melhoramento genético dos re-banhos. É relativamente fácil de ser aplicada, e é a biotécnica da reprodução mais utilizada atualmente em rebanhos de todo o mundo. Entretanto, para que se obtenha sucesso em programas de inseminação artificial, são neces-sários alguns cuidados, como a utilização de machos de boa qualidade, um bom controle sanitário e mão de obra especializada (MIES FILHO, 1987).

Objetivos

Estimular o desenvolvimento da bovinocultura leiteira, pela produção e disse-minação de animais de elevado padrão zootécnico, incrementando produtivi-dade e viabilizando a rentabilidade econômica, bem como ampliar a relevante função social, em especial na melhoria do padrão alimentar das famílias.

Metodologia

O projeto foi realizado nos municípios de Umbuzeiro, Gado Bravo, Santa Cecília, Aroeiras e Natuba, na Estação Experimental João Pessoa, localizada no município de Umbuzeiro-PB, pertencente à Empresa Estadual de Pes-quisa Agropecuária da Paraíba (Emepa-PB).

Para seleção dos produtores, foram realizadas reuniões com a Associação dos Produtores dos municípios, os prefeitos e os secretários da Agricultura nos municípios assistidos. Foram realizadas visitas às propriedades para avaliação dos seguintes aspectos: níveis de especialização das unidades de produção; adequação do genótipo do rebanho; funcionalidade das instala-

- 159 -

ções; participação do produtor em atividades associativistas e cooperati-vas; utilização de mão de obra; qualidade do leite, do suporte forrageiro e dos recursos hídricos. além do nível de aceitação do produtor pelas inova-ções tecnológicas.

A seleção das fêmeas baseou-se no estado sanitário, no reprodutivo e no escore condição corporal. Foram descartados animais com histórico desfa-vorável e realizados exames de tuberculose e brucelose.

Para realizar as inseminações artificiais foram utilizados sêmens de touros das raça Gir, Guzerá e Sindi, com idade entre 4 e 8 anos. Os animais foram submetidos aos exames de tuberculose e brucelose, receberam uma alimen-tação suplementar e foram submetidos ao exame clínico-andrológico. O sê-men foi coletado, processado e criopreservado nas dependências das Esta-ções Experimentais João Pessoa e Alagoinha. Para obtenção dos ejaculados, empregou-se o método de eletroejaculação, sendo os touros devidamente contidos em troncos apropriados, imobilizando-os e protegendo-os de possí-veis lesões traumáticas. Para recepção dos ejaculados nas coletas foram utili-zados cones plásticos acoplados a tubo coletor. Imediatamente após a coleta, o tubo coletor foi colocado em banho-maria a 37ºC, sendo mantido nessa condição durante todo o processo de avaliação do aspecto físico do sêmen.

Estabelecidos os ajustes empregados nas unidades assistidas, as fêmeas selecionadas tiveram o estro e a ovulação sincronizados por meio do uso de dispositivo intravaginal à base de progesterona + 2 ml de benzoato de estradiol, por um período de oito dias. Após esse período, retirou-se o dispo-sitivo e aplicaram-se 2 ml de D-Cloprostenol + 0,5 ml de Hormônio Folículo Estimulante (FSH). No nono dia aplicou-se 1 ml de benzoato de estradiol, no décimo dia do protocolo realizaram-se as inseminações artificiais sem observação do estro, ou seja, Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF).

O diagnóstico de gestação foi realizado por palpação retal e exame ultras-sonográfico, usando-se aparelho dotado de transdutor linear de 7,5 MHz, após 45 dias da IATF.

Resultados e discussão

Foram selecionadas 111 unidades de produção que foram beneficiadas com as biotécnicas reprodutivas, nos municípios de Aroeiras, Gado Bravo, San-ta Cecíla e Umbuzeiro.

- 160 -

Os municípios estão inseridos no Vale do Paraíba e possuem grande po-tencial na produção de leite, porém os produtores ainda não despertaram para as novas tecnologias que agregam maior valor, qualidade e melhor produtividade do leite. A grande maioria dos produtores de leite trabalha com as pastagens convencionais, com gado tradicional, sem seleção e com monta natural.

Para realização das inseminações foram coletadas e processadas 1.500 do-ses de sêmen dos reprodutores das raças Gir, Guzerá e Sindi, porém algu-mas partidas não estavam com os padrões mínimos recomendados pelo Colégio Brasileiro de Reprodução Animal (1998), ou seja, motilidade esper-mática mínima de 30%, vigor espermático mínimo de 3 (1 a 5), espermato-zoides mínimos 10 x 106/dose, defeitos maiores máximo de 20% e defeitos totais (maiores e menores) máximo de 30%.

A correta manipulação do sêmen também é um fator fundamental num programa de inseminação artificial eficiente. Para isso é necessário traba-lhar com inseminadores capacitados e qualificados.

Para a inseminação artificial em tempo fixo (IATF), Bó et al. (2005) reco-mendam o uso de doses que tenham acima de 30% de motilidade ao des-congelamento. Contudo, consideram que não há dados na literatura que determinem os padrões mínimos de sêmen para uso na IATF.

Para realização das inseminações artificiais em tempo fixo foram utiliza-das 702 fêmeas mestiças observando-se o índice de concepção de 49,43% (347/702). Considerando-se os dados gerados, encontram-se em conformi-dade com os reportados por Bó et al. (2003), que indicam taxas de concep-ção entre 37 a 54% para vacas sincronizadas e realizando IATF.

A IATF representa uma importante ferramenta de gestão dos rebanhos por viabilizar a utilização da inseminação artificial sem observação de estro, diminuindo o impacto do anestro pós-parto e, por consequência, propor-cionando o aumento das taxas de serviço das propriedades, fatores deter-minantes de um maior ganho econômico e genético.

Inúmeras causas podem ser apontadas para a amplitude de resultados e/ou índices insatisfatórios nos programas de IATF, destacando-se os fatores inerentes à fêmea bovina, como o anestro pós-parto e a baixa condição cor-poral ao início dos protocolos, além dos diversos fatores inerentes à quali-dade das amostras seminais utilizadas nos programas, como os padrões de

- 161 -

movimento espermático, a integridade da membrana plasmática e a dose inseminante praticada.

A precocidade do diagnóstico de gestação permite o direcionamento do rebanho a um tratamento nutricional diferenciado às fêmeas comprova-damente prenhes, racionalizando o manejo alimentar, bem como anteci-pando o conhecimento da resposta dos índices de fertilidade mediante a biotécnica utilizada.

Considerações finais

O projeto incluiu um conjunto de ações que visaram multiplicar rapida-mente a genética do zebu no Estado da Paraíba. Tal ação foi realizada pela democratização de recursos genéticos, por meio da inseminação artificial em tempo fixo, com sêmen de reprodutores pertencentes à Emepa-PB, pro-movendo aos produtores o acesso à inseminação artificial e o melhoramen-to genético, além de contribuir para acelerar a disseminação de animais geneticamente superiores, no âmbito das comunidades rurais que vislum-bram ser inseridas no agronegócio paraibano do leite.

Com base nos resultados obtidos, pode-se concluir que quaisquer ações que visem à melhoria da família rural brasileira resultam na melhoria da quali-dade de vida. O ponto de estrangulamento da agricultura familiar no nosso país é a falta de ações, e também de educação continuada. A solução está na validação de tecnologias acessíveis e adaptadas aos níveis tecnológicos encontrados em cada propriedade rural, respeitando a individualidade e a experiência de cada produtor. Para isso é necessário interagir com a família, procurando, por meio do diálogo, estimulado pelo profissional extensionis-ta, resolver os pontos divergentes, sejam eles no âmbito técnico ou no social.

- 162 -

Referências

BÓ, G.; CUTAIA, L.; CHESTA, P.; BALLA, E.; PICINATO, D.; PERES, L.; MA-RAÑA, D.; AVILÉS, M.; MENCHACA, A.; VENERANDA, G.; BARUSELLI, P. Implementación de programas de inseminación artificial em rodeos de cría de Argentina. In: SIMPOSIO INTERNACIONAL DE REPRODUCIÓN ANIMAL, 6., 2005. Proceedings, IRAC, Argentina, p.  97-128, 2005. Colégio Brasileiro de Reprodução Animal, Belo Horizonte.

BÓ, G. A.; BARUSELLI, P. S.; MARTINEZ, M. F. Pattern and manipulation of follicular development in Bos indicus cattle. Animal Reproduction Science, v. 78, p. 307-326, 2003.

MIES FILHO, A. Inseminação artificial. 6. ed. Porto Alegre: Sulina, 1987. 750 p.

- 163 -

Desenvolvimento e validação de um modelo de produção orgânica de leite, para agricultura familiar, em bases agroecológicas, resguardando a biodiversidade local

Farouk Zacharias1

O projeto teve como principal referência norteadora para suas ações a Es-tação Experimental de Aramari (EEA) da Empresa Baiana de Desenvolvi-mento Agrícola S.A. (EBDA), localizada no Município de Aramari, que abri-ga um modelo de produção orgânica de leite, atualmente já certificado pelo Instituto Biodinâmico (IBD).

De acordo com o previsto na metodologia, todo o processo foi voltado para a agricultura familiar, que na própria missão da EBDA é o público prioritário.

As tecnologias desenvolvidas na Estação começaram no decorrer do proje-to e continuam sendo avaliadas de forma participativa com os agricultores familiares e as comunidades envolvidas, com a colaboração dos extensio-nistas e pesquisadores da Empresa.

Entre as ações iniciais trabalhou-se a questão metodológica em comunida-des do entorno da EEA e, posteriormente, nos Territórios de Cidadania do Litoral Sul e Baixo Sul (Itabuna, Coaraci e Camamu), com o uso de uma me-todologia participativa, entrevistas semiestruturadas e aplicação de ques-tionários, quando do diagnóstico rápido de comunidades (DRP).

A sistematização e análise desses dados permitiram identificar as deman-das dessas comunidades nos aspectos produtivos, sociais e econômicos, sendo hierarquizadas, para a elaboração de projetos executivos e/ou orien-tando os produtores e associações para o uso das Políticas Públicas existen-tes capazes de atender às suas demandas.

1 Pesquisador EBDA. Contato: [email protected].

- 164 -

Foto: Reunião com os pesquisadores integrantes do projeto para

definição das comunidades a serem diagnosticadas e os critérios de seleção

Sistemas Agroflorestais (SAF)

Sob a perspectiva da sustentabilidade, foi implantado na EEA uma área de SAF com fruteiras. As mudas foram plantadas obedecendo a um manejo agroecológico: coroamento das mudas, tratos culturais da vegetação espon-tânea e forrageiras cultivadas para incorporação, adubação com o uso de esterco, cinzas, pó de rocha e calcário dolomítico, além de biofertilizantes na adubação foliar e preparados homeopáticos, para controle de pragas.

Foto: SAF – Fruteiras com cobertura morta e adubação verde, na EEA

Dentre as fruteiras instaladas na EEA, as plantas cítricas (laranja, tange-rina, limão e lima), a graviola, o caju, o jenipapo e a pitanga tiveram um melhor desempenho, o que pode ser um indicativo para instalação de SAFs nessa região.

- 165 -

Este SAF serviu também como unidade didática para treinamento da equi-pe do projeto, tendo resultado na instalação de unidades adicionais nos Territórios da Cidadania do Litoral Sul e Baixo Sul, de acordo com as de-mandas e interesses discutidos com as comunidades.

Controle de formigas cortadeiras

Tendo em vista o controle das formigas cortadeiras dentro dos princípios agroecológicos, foram avaliados os seguintes produtos: manipueira fresca, sulfato de cobre e preparado homeopático de formigas.

Dentre essas alternativas destacou-se o preparado homeopático, que desor-ganizou as colônias, reduzindo suas atividades.

Foto: Formigueiro desorganizado pela ação do preparado homeopático

Avaliação comparativa de eficiência de bovinos e bubalinos

Aproveitando a experiência da EBDA na EEA, em que os bubalinos têm mostrado vantagens em relação aos bovinos nas áreas de manejo geral e sanitário, além da produção com baixo custo, devida à melhor conversão alimentar, decidiu-se testá-los com os agricultores familiares dos Territó-rios de Cidadania do Litoral Sul e Baixo Sul, onde os bovinos apresentam alguns problemas de manejo, sobretudo relacionados à área de sanidade.

As unidades instaladas como previa o projeto em duas propriedades de agricultores familiares, de acordo com as definições das comunidades em que elas se encontram, têm sido acompanhadas mesmo após o seu térmi-no, e os produtores têm mostrado satisfação com a espécie (facilidade de manejo, prolificidade, menos problemas sanitários e menor custo com a

- 166 -

alimentação). Esses resultados são indicativos de que o búfalo é um animal importante para a produção de leite a pasto pelos agricultores familiares dos Territórios de Cidadania citados.

Foto: Búfalas jovens da raça Murrah, para as unidades

Levantamento da biodiversidade, proteção de nascentes e matas ciliares da EEA

Foram realizados levantamentos da fauna e flora, com a captura de ani-mais e identificação de espécies botânicas, durante o período seco e chu-voso, bem como a identificação e o plano de proteção das nascentes, matas ciliares e áreas degradadas, visando à sua conservação.

Dentre os resultados desse trabalho foi possível obter a mensuração par-cial de alguns parâmetros que expressam a sustentabilidade dos modelos de produção agroecológica, entre eles uma maior variabilidade botânica da flora, bem como um aumento da população dos elementos da fauna da área na qual esse modelo de produção foi instalado.

Trata-se de ações de pesquisa que não se esgotam com este projeto, mas que deixam como principal produto uma metodologia para a construção e avalia-ção de modelos de produção autossustentáveis, em produção de base familiar.

- 167 -

Identificação dos pontos de contaminação do leite, com vistas à elaboração de procedimentos-padrão de higiene para propriedades de agricultura familiar localizadas nos Territórios da Cidadania do Rio Grande do Sul

Cristine Cerva1

Para a realização do projeto foram acompanhados procedimentos de pro-dução de leite em 125 propriedades de agricultura familiar incluídas em dois Territórios da Cidadania do Rio Grande do Sul. No Território Zona Sul, os municípios participantes foram São Lourenço do Sul e Santa Vitória do Palmar. No Território Noroeste Colonial, foram incluídas propriedades de Tenente Portela, Barra do Guarita, Derrubadas, Miraguaí e Vista Gaúcha.

O objetivo da pesquisa foi detectar pontos de contaminação do leite produ-zido nas propriedades, por quatro bactérias que causam doenças em hu-manos: Salmonella sp, Campylobacter jejuni, Listeria monocytogenes e Esche-richia coli patogênica. Assim, foram coletadas amostras de leite e aplicados questionários referentes às práticas e aos procedimentos de produção de leite e outras atividades desenvolvidas nas propriedades.

O estudo detectou fatores de risco de contaminação microbiológica do lei-te, durante a produção, e objetivou colaborar para a diminuição desta con-taminação para obtenção de um produto higiênico, seguro e competitivo no mercado.

Em março, junho e julho de 2009 ocorreram visitas aos municípios de Te-nente Portela, São Lourenço do Sul e Santa Vitória do Palmar, no Rio Gran-de do Sul, para realizar reuniões com lideranças locais dos produtores, ar-ticuladores do Território da Cidadania Noroeste Colonial e Zona Sul, inte-grantes da Emater e representantes das prefeituras dos municípios. Nessas ocasiões houve a apresentação da proposta do projeto e do desenho do pla-no de trabalho com os componentes das equipes formadas. Ficou acordado que os municípios iriam cooperar com pessoal, veículos e outros itens que porventura fossem necessários para o desenvolvimento do projeto.

Também nos meses de junho e julho de 2009 ocorreram novas reuniões nos mesmos três municípios, a fim de apresentar a proposta aos produto-res para que pudessem optar pela participação ou não no projeto. Houve

1 Médica veterinária, Mestre em Zootecnia, Pesquisadora Nível III da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária do RS (Fepagro) junto ao Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor (IPVDF). Contato: <[email protected]>.

- 168 -

enorme interesse por parte dos produtores em aderir ao projeto, sendo ne-cessário ampliar o número de propriedades originalmente planejadas.

Em julho, agosto e setembro de 2009 os produtores de agricultura familiar que aderiram ao projeto receberam a visita da equipe de pesquisadores, momento em que foram aplicados os questionários e coletadas as amostras de leite. As equipes eram formadas por integrantes da Fepagro e demais pessoas disponibilizadas pelas cooperativas locais, técnicos da Emater e voluntários dos municípios visitados. Foram utilizados dois veículos da Fe-pagro e outros veículos pertencentes às entidades municipais.

De 13 a 16 de julho de 2009, ocorreram visitas e coletas em 9 (nove) proprie-dades de agricultura familiar, incluídas no projeto, no Município de Santa Vitória do Palmar.

De 20 a 22 de julho de 2009, em São Lourenço do Sul, foram visitadas 13 (treze) propriedades leiteiras para coleta de leite e aplicação de questionário.

De 3 a 8 de agosto, foram feitas coletas em 9 (nove) propriedades em Te-nente Portela, 15 (quinze) em Miraguaí, 13 (treze) em Barra do Guarita e 31 (trinta e uma) em Derrubadas.

De 13 a 17 de setembro de 2009, mais 20 (vinte) propriedades em Tenente Por-tela e 15 (quinze) em Vista Gaúcha receberam a visita das equipes do projeto.

Foram coletadas ao todo 523 (quinhentas e vinte e três) amostras de leite em 125 (cento e vinte e cinco) propriedades de agricultura familiar.

As amostras de leite coletadas foram devidamente armazenadas a -20ºC. A partir de 2010 começaram a ser extraídos os DNAs bacterianos das amos-tras de leite e a serem processados e analisados para presença de Salmo-nella sp, Campylobacter jejuni, Listeria monocytogenes e Escherichia coli pa-togênica, mediante a técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR), em que foi pesquisada a presença de material genético dessas quatro bactérias. Das amostras analisadas, 147 foram positivas para a presença de pelo me-nos um dos patógenos (27,89%).

A bactéria Salmonella spp. foi a espécie mais detectada com 21,03%, segui-da da Escherichia coli patogênica, com 12,99%, Campylobacter jejuni, com 2,48%, e Listeria monocytogenes, com 1,9%. Comparando as duas regiões do Rio Grande do Sul, não houve diferença na frequência de Campylobacter jejuni e Listeria monocytogenes. Entretanto, a frequência de amostras com Salmonella sp e Escherichia coli patogênica foi mais alta na região norte.

- 169 -

Os fatores de risco de contaminação do leite foram avaliados. Análise de regressão múltipla demonstraram diferenças entre as duas regiões. Na região sul, onde o índice de contaminação foi mais baixo, quatro fatores foram incluídos na equação, que contribuíram com 86% do risco, sen-do eles: frequência de limpeza da ordenhadeira (limpeza semanal como fator de risco quando comparado a limpeza diária), área de estocagem do leite (área sem azulejo na parede como fator de risco comparado com área com azulejo), sistema de manejo das vacas (semi-intensivo como fa-tor de risco quando comparado a sistema extensivo) e produção de leite (produção menor que 10.000 litros de leite por mês como fator de risco). Na região Noroeste Colonial, um fator contribuiu com 10,69% do risco, sendo a não realização de desinfecção dos tetos antes da ordenha como fator de risco.

Em dezembro de 2012, no dia 3, foi feita visita a São Lourenço do Sul. No dia 4, ao município de Santa Vitória do Palmar. Nos dias 18 e 19, produto-res de Barra do Guarita, Derrubadas, Miraguaí e Vista Gaúcha reuniram--se em Tenente Portela para receber a visita dos integrantes do projeto. Nessas visitas foram feitas reuniões e palestras com os produtores partici-pantes do projeto, para que fossem repassados os dados gerados durante o estudo e entregue o Manual de boas práticas na produção de leite em pro-priedades de agricultura familiar estabelecidas no Rio Grande do Sul. Nesse Manual, foram abordados, além da Instrução Normativa 51 que trata do regulamento técnico de identidade e qualidade do leite cru refrigerado, assuntos referentes a procedimentos de ordenha, testes de avaliação do leite, manejo com os animais e seus dejetos, qualidade da água utilizada na produção, controle de pragas na propriedade, higiene dos ambientes, dos utensílios e das pessoas envolvidas na produção do leite. O objetivo das palestras e do Manual foi minimizar os riscos de contaminação do produto, garantindo a segurança alimentar dos consumidores, incluindo as famílias produtoras.

Avaliação em relação às inovações tecnológicas e metodológicas geradas

O Manual de boas práticas na produção de leite, produzido para os produto-res participantes do projeto, e as palestras a eles apresentadas propuseram algumas práticas antes não conhecidas. As famílias foram alertadas para

- 170 -

as doenças que podem ser contraídas com a ingestão de leite contaminado, e orientadas a realizarem procedimentos de higiene durante a produção, para que essa possível contaminação fosse reduzida.

Sugeriram-se alguns tratamentos caseiros e comerciais para a água de poço e de fontes naturais não cloradas, pois estudos já comprovaram que a água é um dos grandes contaminantes durante a produção de leite nas propriedades.

Nível de participação social

Inicialmente, o projeto previa incluir no estudo 12 propriedades dos Terri-tórios da Cidadania do Rio Grande do Sul, propondo-se a escolher 3 proprie-dades em cada um dos quatro Territórios: Zona Sul, Médio Alto Uruguai, Noroeste Colonial e Região Central. Entretanto, o interesse foi tão grande por parte dos produtores, que foi preciso escolher apenas dois dos quatro Territórios da Cidadania (Zona Sul e Noroeste Colonial), pois a adesão nes-ses dois alcançou 125 propriedades, não sendo possível trabalhar com um número maior de produtores.

Os proprietários de agricultura familiar cooperaram ativamente com a permissão de coleta de seus animais e dos dados das propriedades.

Depois de finalizadas as provas laboratoriais das amostras de leite e a aná-lise dos resultados, em um primeiro momento foram marcados encontros com as lideranças locais (inspetorias veterinárias, técnicos das Emater e das prefeituras e articuladores dos Territórios da Cidadania) para discus-são dos resultados. Em seguida, foram realizadas palestras com os produ-tores participantes para o repasse dos resultados, discussão das questões ligadas à higiene do leite e entrega do Manual de boas práticas na produção de leite, direcionado para as propriedades participantes.

Relevância do trabalho para o público da agricultura familiar

Relatos dos produtores faziam crer que havia uma deficiência de informa-ção sobre os procedimentos a serem adotados para produção de leite de maneira mais higiênica.

Ao final do projeto, os produtores receberam a informação da qualidade

- 171 -

microbiológica de seu produto e de como melhorar essa qualidade, criando oportunidades de competitividade de inserção no mercado local, possibili-tando aumento de renda familiar.

A melhora da qualidade microbiológica do leite também diz respeito à se-gurança alimentar das famílias, já que boa parte da população local conso-me leite sem pasteurização e queijos à base de leite cru.

Principais mudanças institucionais ocorridas

Após as últimas reuniões realizadas, foi percebida uma preocupação maior por parte das lideranças locais, como cooperativas de leite e Emater, em focar os trabalhos para obter resultados de melhoria da qualidade do leite, pois o projeto conseguiu demonstrar que a contaminação está presente e disseminada no produto, causando preocupação no setor.

Outras informações relevantes para caracterização do trabalho

O projeto teve o alcance esperado, pois conseguiu fornecer resultados e in-formações aos produtores de leite de agricultura familiar, para que estes tenham os conhecimentos necessários para trabalhar com condições de higiene compatíveis com sua realidade, e que consigam obter um produto seguro e competitivo no mercado.

Além da informação gerada e repassada aos produtores, a Cooperfamiliar, uma cooperativa de Tenente Portela, interessou-se em publicar o Manual de boas práticas na produção de leite em propriedades de agricultura familiar estabelecidas no Rio Grande do Sul. Esse Manual tem um alcance além dos municípios envolvidos no projeto, levando informação a mais famílias pro-dutoras de leite.

- 172 -

Referências

CERVA, C. Manual de boas práticas na produção de leite em propriedades de agricultura familiar estabelecidas no Rio Grande do Sul. Fepagro-RS, 2013. Disponível em: <http://www.fepagro.rs.gov.br/upload/20130730144014ma-nual__boas_praticas_leite.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2014.

CERVA, C. Food safety issues in raw milk produce: determination of risk factors associated to bacterial DNA contamination. Tropical Animal Health and Production, 2013. No prelo.

- 173 -

Sanidade animal de rebanhos leiteiros em propriedades de agricultura familiar localizadas em Territórios da Cidadania do Rio Grande do Sul

Alexander Cenci1

1. Introdução

A bovinocultura de leite é uma atividade tradicional e de grande importância social e econômica para a agricultura familiar, tendo em vista a capacidade de ocupação da força de trabalho da família e a geração de renda permanente.

Em comparação com as demais cadeias produtivas do setor agropecuário, a cadeia produtiva do leite, no Brasil, apresenta mudanças significativas, principalmente a partir da década de 1990, quando ocorre um aumento considerável da produção de leite, acompanhado da concentração da pro-dução e redução do número de produtores (GOMES; LEITE, 2001).

Alguns aspectos relacionados à conjuntura nacional e internacional da produção de leite que contribuíram para essas mudanças são o aumen-to da concorrência no setor agroindustrial de produtos lácteos; a queda na produção mundial de leite, devido aos anos consecutivos de estiagens na Austrália e Nova Zelândia; a redução significativa dos subsídios sobre produtos lácteos na União Europeia; o aumento do consumo de leite no Brasil e a redução da produção na Argentina, devido a ajustes internos (BREITENBACH, 2008).

Em nível nacional, percebe-se um aumento na produção de leite em novas fronteiras. Nesse sentido são relevantes dois aspectos: as mudanças mer-cadológicas e tecnológicas do setor lácteo, e a política fundiária dos últi-mos governos. Sobre o primeiro aspecto, destaca-se a mudança no perfil de consumo do leite fluido no Brasil, que migrou significativamente do leite pasteurizado para o leite longa vida. Essa situação viabilizou a expansão das bacias leiteiras para regiões mais distantes do grande polo consumidor de lácteos no Brasil, que é a Região Sudeste. O segundo aspecto diz respei-to à política agrária, seja por assentamentos de reforma agrária e projetos de colonização, seja por ocupação privada desordenada, possibilitando o desenvolvimento de sistemas de agricultura familiar nessas regiões e, por consequência, a implantação da produção leiteira (VILELA et al., 2001).

1 Médico veterinário, Mestre em Extensão Rural, Pesquisador da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), no Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor (IPVDF) em Eldorado do Sul (RS). Contato: [email protected].

- 174 -

O RS possui condições naturais favoráveis ao desenvolvimento da bovi-nocultura de leite. Esse aspecto, somado à expansão da cana-de-açúcar no Centro-Oeste brasileiro – que vem provocando a saída de muitos produto-res da atividade leiteira nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás –, está incentivando várias empresas processadoras de leite a se instalarem no Estado do RS, fazendo com que as que já existem ampliem ainda mais suas bases industriais (BREITENBACH, 2008).

Cabe salientar que o produtor de leite, em geral, opera em um mercado onde existe um grande número de agentes produzindo e pouca margem para diferenciação do produto final. Nesse tipo de situação, individualmen-te, o produtor não tem possibilidade de influenciar no preço de venda do produto, o que possibilita às empresas processadoras exercer seu poder de barganha, pagando preços baixos pela matéria-prima, que constitui um custo considerável nas indústrias de laticínios (CARVALHO, 2005).

Na viabilização da produção leiteira, em especial aquela desenvolvida em sistemas de agricultura familiar, diversos aspectos relacionados a organi-zação dos produtores, capacitação de recursos humanos, crédito, assistên-cia técnica e comercialização dos produtos precisam ser abordados. Nos sistemas de manejo com os animais, fatores ligados a sanidade do rebanho, alimentação, higiene no processamento, conforto aos animais e melhora-mento genético também são fundamentais.

No tema da sanidade do rebanho, os custos diretos e indiretos, causados por enfermidades a que os animais estão susceptíveis, influenciam nega-tivamente na renda obtida pelas famílias com a atividade leiteira. Entre esses custos estão a diminuição da produção de leite, decorrente de enfer-midades, incluindo aqui os problemas de ordem reprodutiva (repetição de cio, aumento do intervalo entre os partos, abortos e mortalidade pré e peri-natal), bem como gastos desnecessários com medicamentos.

Em trabalho realizado por pesquisadores da Embrapa Cerrados (VELOSO et al., 2001) em propriedade leiteira de agricultura familiar localizada no Município de Planaltina (DF), verificou-se o uso exagerado e em doses inadequadas, de di-versos medicamentos, cujos gastos equivaliam a 15,42% dos custos de produção.

Em outra pesquisa, desenvolvida pela Embrapa Pecuária Sudeste (BONA-DIO et al., 2005) no Estado de SP, verificou-se que a presença de vetores de doenças, como carrapatos e roedores, diminuiu os índices de bem-estar social no âmbito dos estabelecimentos rurais.

- 175 -

Cabe ressaltar, também, que o gado leiteiro é susceptível a diversas doenças infectocontagiosas e parasitárias, muitas das quais com potencial zoonó-tico, como a brucelose, tuberculose, leptospirose, raiva, entre outras, que merecem a devida atenção, para evitar prejuízos à saúde animal e humana.

Nesse sentido, o presente projeto teve por objetivo verificar aspectos rela-cionados à sanidade animal de rebanhos leiteiros de propriedades de agri-cultura familiar localizadas em Territórios da Cidadania do RS. O levan-tamento e a análise do perfil sanitário desses animais visaram avaliar a ocorrência de enfermidades que acometem o rebanho das propriedades e sugerir ações para seu adequado manejo sanitário.

2. Metodologia

A pesquisa teve como público beneficiário agricultores familiares vincula-dos às cooperativas de produtores dos municípios de São Lourenço do Sul e Santa Vitória do Palmar, localizadas no Território Sul (RS), e às coopera-tivas de produtores localizadas nos municípios de Tenente Portela, Barra do Guarita, Vista Gaúcha, Derrubadas e Miraguaí, localizadas no Território Noroeste Colonial do RS.

Inicialmente, realizaram-se reuniões com representantes das cooperativas locais e dos escritórios municipais da Emater para explanar as proposições da pesquisa e organizar as ações a serem realizadas. Nessas reuniões foram identificadas, entre os sócios das cooperativas, as propriedades que se ca-racterizavam como de agricultura familiar, às quais foram encaminhados convites para adesão voluntária às atividades da pesquisa.

Na sequência ocorreram reuniões com os agricultores interessados em par-ticipar, em que se apresentaram os objetivos e a forma de execução. O total de propriedades que aderiram ao projeto foi de 179 (cento e setenta e nove).

Em seguida, agendaram-se visitas às propriedades visando a aplicação de questionário e coleta de amostras do rebanho leiteiro.

O questionário aplicado durante as visitas teve por objetivo levantar informa-ções acerca do contexto geral das propriedades, para possibilitar o estabeleci-mento de relações entre suas características e o perfil sanitário do rebanho.

Para a coleta de materiais dos rebanhos foi realizada a identificação indi-vidual dos animais por meio de brincos. As informações sobre os animais,

- 176 -

bem como os respectivos materiais coletados deles, foram registradas em planilha específica.

As amostras do rebanho consistiram em coleta de sangue para obtenção do soro, realizada por punção da veia jugular ou da veia e/ou artéria coccígea; coleta de leite antes da ordenha dos animais, sendo coletados leite do con-junto das quatro tetas; e coleta de fezes realizada diretamente da ampola retal dos animais.

Os exames laboratoriais com amostras de soro, fezes e leite foram reali-zados pelos laboratórios do Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor (IPVDF) em Eldorado do Sul (RS).

As amostras de soro foram submetidas a exames laboratoriais para quatro enfermidades causadoras de problemas reprodutivos nos bovinos: Rinotra-quíte Infecciosa Bovina (IBR), por meio da prova de SN (Soroneutraliza-ção) para BoHV1 (Herpesvírus Bovino do Tipo1); Diarreia Viral Bovina (BVD), por meio da prova de SN (Soroneutralização) para BVDV (Vírus da Diarreia Viral Bovina); Leptospirose, mediante o Teste de Aglutinação Microscópi-ca (TAM) para Leptospira spp.; e Neosporose, pelo teste de ELISA (Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay), contra Neospora caninum.

As amostras de fezes foram processadas, para a avaliação da situação epi-demiológica da presença de Helmintos, pela técnica de Contagem de Ovos por Gramas de Fezes (OPG) e pela Técnica de Sedimentação, para identifi-cação de ovos de Trematódeos.

As amostras de leite foram processadas para identificar agentes infeccio-sos causadores de mastite, por meio de exames bacteriológicos e verifica-ção da resistência deles a antibióticos, pelo antibiograma.

Os resultados obtidos nas análises laboratoriais e nos questionários apli-cados foram tabulados e apresentados nas atividades de capacitação de agricultores e técnicos, realizadas nos municípios, juntamente com as su-gestões de manejo sanitário do rebanho.

3. Resultados e discussões

A pesquisa constatou que entre as atividades desenvolvidas nas proprieda-des analisadas, a atividade leiteira foi citada como principal fonte de renda para a sustentação da família em 63% dos casos; 20% informaram que a

- 177 -

atividade leiteira é uma importante fonte de renda, pois contribui com cerca de 50% da renda da família; 11%, que a família possui outras fontes de renda principais, sendo o leite apenas uma atividade secundária; e 6%, que a renda do leite não é importante, pois contribui muito pouco para a renda da família.

A atividade leiteira é desenvolvida nas propriedades entre 6 e 20 anos, em 63% dos casos; em 21% dos casos, a atividade é desenvolvida na propriedade há mais de 20 anos; e 15% das propriedades desenvolvem atividade leiteira há menos de 5 anos.

No que se refere ao rebanho, a média foi de 24 animais por propriedade, com predominância da raça Holandesa (45%), seguida pela raça Jersey (35%), sem raça definida (12%), raça Pardo Suíça (5%) e raça Zebuína (1%).

Quanto à origem dos animais, 44% dos proprietários informaram que a maioria deles são de reposição da propriedade e alguns comprados de ter-ceiros; 31%, que os animais são totalmente de reposição da propriedade; 16%, que a maioria é comprada de terceiros e alguns de reposição da pro-priedade; e 6%, que os animais são totalmente comprados de terceiros.

No que se refere ao manejo reprodutivo, 40% das propriedades utilizam In-seminação Artificial e Monta Natural (repasse com Touro) conjuntamente; em 37% dos casos, utiliza-se somente Inseminação Artificial; e em 22% dos casos, utiliza-se somente Monta Natural (Touro).

Quanto ao manejo da ordenha, ela é mecânica, tipo “balde ao pé”, em 73% das propriedades; realizada manualmente, em 20% dos casos; e do tipo me-cânica canalizada até o resfriador em 6%. A ordenha é realizada em galpão com piso de concreto em 63% das propriedades; em galpão de chão batido em 14%; e em sala de ordenha em 12% dos casos. Em 49% das propriedades nunca foi realizado o CMT (Califórnia Mastite Teste); sendo este realizado quando se observa algum problema, em 16% dos casos; semanalmente, em 15%; mensalmente, em 13%; e quinzenalmente, em 7% dos casos.

Além da vacinação contra Febre Aftosa, obrigatória nas propriedades pelo status sanitário atual do RS, as principais vacinas utilizadas nas propriedades são contra as seguintes enfermidades: Brucelose (55%), Carbúnculo Hemático (35%), Leptospirose (11%), IBR/BVD (8%), Clostridioses (5%) e Raiva (5%). Quanto à utilização de serviços veterinários, 89% das propriedades informaram que se procura serviço veterinário somente quando é preciso; 7% delas não utilizam serviço veterinário; e 2% possuem assistência técnica veterinária periódica.

- 178 -

Na realização dos exames sorológicos, os resultados dos exames laborato-riais revelaram que em 61% das propriedades foram encontrados anticor-pos contra BoHV-1 e BVDV nos rebanhos. Das amostras processadas, 27% foram positivas para anticorpos contra BoHV-1 e BVDV.

A Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (IBR), também chamada de Vulvovagini-te Pustular Infeciosa das Vacas ou Balanopostite Infecciosa dos Touros, é uma doença que afeta os rebanhos bovinos, podendo provocar problemas reprodutivos, inflamação na vulva/vagina, repetição de cio e abortos nas fêmeas, inflamação do pênis nos machos e nascimento de bezerros fracos. Também pode ocasionar problemas respiratórios, conjuntivites e encefali-tes. A doença pode ser transmitida pelo contato entre os animais, através das secreções, pela monta natural por touro contaminado ou pela insemi-nação artificial com sêmen contaminado.

A Diarréia Viral Bovina (BVD) é uma doença viral que afeta os rebanhos e é causada pelo Vírus da Diarréia Viral Bovina (BVDV). A doença pode causar diarréia e problemas respiratórios. Nas fêmeas, pode causar problemas re-produtivos, como retorno ao cio, aborto e nascimento de terneiros fracos. Se uma fêmea se infectar entre o 2º e o 4º mês da gestação, pode transmitir o vírus para o feto, que nascerá persistentemente infectado (PI), transmi-tindo o vírus pelo resto da vida. Esses animais PI são os principais dissemi-nadores da doença no rebanho e podem desenvolver uma outra enfermida-de chamada Doença das Mucosas.

A Diarréia Viral Bovina pode ser transmitida pelo contato entre os animais, através das secreções, pela monta natural por touro contaminado ou pela inseminação artificial com sêmen contaminado.

Para o controle da doença em rebanhos com resultados positivos no tes-te para IBR e BVD, casos de aborto, problemas reprodutivos e com aquisi-ção de animais de outras propriedades, recomenda-se vacinar os animais. A vacinação deve ser feita nas novilhas antes da cobertura e nas vacas anu-almente. Deve-se também usar touros ou sêmen negativos nos exames so-rológicos para IBR e BVD.

Na amostragem do teste para Leptospirose, os resultados dos exames la-boratoriais realizados revelaram que em 34% das propriedades testadas encontraram-se anticorpos contra pelo menos um sorovar de Leptospira spp. Das amostras processadas, 17% foram positivas para anticorpos contra pelo menos um sorovar de Leptospira spp.

- 179 -

A leptospirose afeta diversas espécies de animais, incluindo os bovinos, e também pode ser transmitida aos seres humanos. Nos bovinos o aborto é o principal problema causado pela leptospirose. A infecção ocorre princi-palmente pelo contato em ambiente contaminado pela urina de diversos animais domésticos ou selvagens, em especial onde existe a presença de ratos. Ressalta-se também que animais contaminados podem disseminar a Leptospira no ambiente por longo tempo.

A vacinação é a forma mais eficiente de prevenir a doença, mesmo as vaci-nas comerciais não possuindo todos os sorovares de Leptospira spp.

Recomenda-se vacinar todos os animais do rebanho, com intervalos máxi-mos de 6 meses entre as aplicações.

Na amostragem do teste para Neosporose os resultados dos exames labo-ratoriais realizados revelaram que em 70% das propriedades foram encon-trados anticorpos contra Neospora caninum. Das amostras processadas, 37% foram positivas para anticorpos contra Neospora caninum.

O principal problema da Neosporose em bovinos é o aborto e o nascimento de terneiros fracos. O envolvimento dos bovinos no ciclo do parasita ain-da não foi totalmente esclarecido, mas sabe-se que os bovinos podem se contaminar mediante a ingestão de água ou alimentos contaminados pe-las fezes de cães infectados com o protozoário. Porém, a transmissão mais importante, no caso dos bovinos, é aquela que ocorre por meio das vacas contaminadas para o feto durante a prenhez.

Atualmente ainda não existe no mercado vacina para a prevenção dessa enfermidade. Para o controle da doença no rebanho é indicado o descarte dos animais que forem positivos aos testes laboratoriais e evitar que cães comam a placenta e os fetos abortados, de modo a impedir que o ciclo do parasita se complete. Também é importante evitar a presença de cães no manejo com as vacas de leite.

Nos exames parasitológicos para detecção de Helmintos, Souza (2012a) constatou que no caso dos Tricostrongilídeos foi identificado que 13% das amostras apresentaram contagem de ovos por grama de fezes (OPG) até 250, e 4% apresentaram contagem de OPG acima de 250; 83% dos animais testados não apresentavam ovos de Tricostrongilídeos nas fezes. Em rela-ção à presença de oocistos de Eimeria spp., 75% dos animais foram negati-vos; 20% apresentaram presença de até 250 oocistos por grama de fezes, e

- 180 -

5% apresentaram contagem acima de 250. Praticamente todas as proprieda-des visitadas indicaram fazer uso periódico de endectocida em todas as cate-gorias de bovinos e não remeter amostras para diagnóstico de endoparasitos.

Nesse levantamento, foi verificado que 17% dos animais testados podem ser-vir como fonte de excreção e contaminação de nematódeos gastrointestinais.

É sabido que, por serem naturalmente mais resistentes, vacas adultas não são alvos tradicionais de monitoramentos de endoparasitos, no entanto, esta categoria pode servir como reservatório ou fonte de infecção para ou-tras mais susceptíveis, principalmente em pequenas propriedades, onde não existe manejo específico por categoria.

Na pesquisa de Trematódeos, Souza (2012b) informa que, entre os animais do Território Sul, 20% foram positivos para ovos de Fasciola spp., não sendo identificados ovos de nenhuma outra espécie de trematódeo. Nos animais do Território Noroeste Colonial, 2,5% foram positivos para ovos de Fasciola spp., enquanto 2% para Dicrocoelium spp. Não foi observada coinfecção en-tre Fasciola spp. e Dicrocoelium spp. em nenhuma amostra. Praticamente, nenhuma propriedade visitada relatou usar fasciolicida ou remeter amos-tras para diagnóstico laboratorial desses endoparasitas.

A marcada diferença na frequência de animais positivos na pesquisa de Trematódeos entre as duas regiões pode estar correlacionada a suas carac-terísticas fisiogeográficas, visto que no Território Sul, onde predominam áreas baixas e úmidas, foi identificada maior presença de positivos para Fasciola spp. e ausência de Dicrocoelium spp. Já no Território Noroeste Co-lonial, onde se encontram áreas mais secas, foi identificada uma menor frequência de positivos para Fasciola spp. e presença de Dicrocoelium spp.

A fasciolose é considerada uma das mais importantes parasitoses de ru-minantes, apresentando distribuição mundial. Nos bovinos, interfere no ganho de peso e na produção leiteira. Somam-se ainda significativas perdas na indústria da carne, devido à condenação do fígado. É importante sa-lientar que a presença de trematódeos em pequenas propriedades leiteiras, além de representar prejuízos ao rebanho, é um risco como zoonose.

O exame bacteriológico do leite, conforme Copolla et al. (2010), revelou pre-sença de Staphylococcus aureus em 43,1% das amostras; de Staphylococcus sp. coagulase negativa (SCN) em 10,35% das amostras; e de Staphylococcus hyi-cus em 2,3% das amostras; sendo isolados outros microrganismos em 12,5%

- 181 -

das amostras, identificados como Streptococcus sp., bacilos Gram-positivos e bacilos Gram-negativos.

Os resultados dos antibiogramas revelam que 52,6% das amostras de S. au-reus foram resistentes a pelo menos um dos antimicrobianos testados. O antibiótico que apresentou maior percentual de isolados resistentes foi a Penicilina G (43,85%), seguida pela Amoxicilina em (29,8%) e Tetraciclina (19,3%). No entanto, Enrofloxacina e Gentamicina apresentaram taxas de resistência muito baixas (3,5% e 1,75%, respectivamente)

A mastite está entre as principais enfermidades dos bovinos relacionadas a produção leiteira, sendo um dos grandes desafios para os países produtores de leite. A doença é considerada endêmica, acarretando baixa eficiência na produção de leite, e sendo considerada a doença de gado leiteiro economi-camente mais importante.

Os resultados ressaltam a importância do exame microbiológico do leite para identificar os patógenos causadores da mastite e destacam a necessi-dade da utilização racional de antimicrobianos. Esses fatores são fundamen-tais para estabelecer medidas de manejo e controle sanitário adequadas às propriedades de agricultura familiar que desenvolvem atividade leiteira, a fim de reduzir suas perdas econômicas e melhorar a qualidade da produção.

A pesquisa também verificou a perspectiva de futuro da atividade leiteira nas propriedades, sendo que 78% das propriedades informaram que pretendem aumentar a produção no próximo período; 21% delas pretendem manter a produção atual e 1% pretende sair da atividade, o que revela que a atividade leiteira ainda representa uma perspectiva de futuro para as famílias.

4. Considerações finais

Entre as constatações realizadas durante o desenvolvimento do trabalho, cabe reforçar a importância da atividade de bovinocultura de leite nos sistemas de produção de base familiar para a geração de renda da ampla maioria das famílias residentes no meio rural das regiões pesquisadas.

Apesar das dificuldades relacionadas ao baixo preço pago ao produtor pelo litro de leite e aos altos custos da produção, o valor mensal oriundo da ati-vidade leiteira possibilita a sobrevivência financeira da agricultura fami-liar nos municípios.

- 182 -

Cabe destacar também a importância do papel das cooperativas para a or-ganização dos agricultores familiares. Tendo em vista que, muitas vezes, o sistema de base familiar na atividade leiteira não é atrativo para as grandes indústrias, devido ao volume relativamente baixo de leite produzido, as co-operativas são fundamentais para estabelecer o papel de mediadoras dos interesses dos produtores.

O trabalho desenvolvido pelos escritórios municipais da Emater, sem os quais praticamente não seria possível realizar assistência técnica aos pro-dutores, mesmo tendo que atender um número elevado de propriedades, o que dificulta o estabelecimento de um trabalho mais aprofundado, tem possibilitado um aumento gradual da organização dos sistemas produtivos nas propriedades.

A bovinocultura de leite no RS é um sistema produtivo bastante heterogê-neo, tanto na quantidade de leite produzido, como nas condições de produ-ção. As diferenças de tamanho e características das propriedades, somadas às diferentes características dos rebanhos, à tipificação de sistemas produ-tivos e aos aspectos socioculturais, remetem à importância de desenvolver processos que atendam aos diferentes sistemas existentes.

Ao mesmo tempo, os sistemas produtivos encontrados demonstram sinais de ineficiências técnicas e econômicas, as quais precisam ser superadas para avançar na qualidade do produto e na lucratividade por parte do produtor.

Aspectos relacionados ao manejo sanitário, em particular, são importantes também, devido ao contato estreito entre os membros da família e os ani-mais durante as rotinas de trabalho, tendo em vista que muitas das enfer-midades que podem acometer os animais são consideradas zoonoses.

Aqui cabe ressaltar em especial as questões relacionadas ao Programa Na-cional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose (PNCEBT). Conforme constatado durante a execução da pesquisa, esse tema é motivo de grande preocupação e dúvidas sobre seu funcionamento por parte dos produtores.

A preocupação é em parte devida aos custos para a implantação do pro-grama, mas principalmente devido à insegurança financeira em caso do descarte dos animais que forem reagentes positivos aos testes do PNCEBT.

Nesse aspecto é fundamental que as autoridades que atuam no sistema de defesa sanitária animal realizem uma discussão profunda com as famílias sobre a importância de prevenir essas enfermidades, bem como viabilizem

- 183 -

as condições financeiras para ressarcimento do valor dos animais que ve-nham a ser descartados.

Outro aspecto preocupante da realidade das famílias dos agricultores diz respeito ao problema da penosidade da atividade leiteira e ao tema da su-cessão nas propriedades. Tendo em vista que a atividade leiteira envolve o conjunto de pessoas da família durante praticamente os 365 dias do ano, esse fator é desestimulante para o ingresso de novas pessoas nessa ativida-de, em especial os jovens, que veem em outras oportunidades de trabalho algo menos desconfortável e com maior possibilidade de lazer. Esse aspec-to vem contribuindo para o agravamento do tema da sucessão das proprie-dades rurais.

Por fim, destacamos a importância da continuidade de trabalhos que abor-dem o tema da sanidade dos rebanhos, somado aos demais temas que com-põem os sistemas produtivos, para o fortalecimento da agricultura fami-liar, com o objetivo de fomentar o desenvolvimento de maneira sustentável em nosso país.

Referências

BONADIO, L. F. et al. Impacto social de inovações tecnológicas na agricultura familiar: tecnologias para produção de leite. São Carlos: Embrapa Pecuária Sudeste, 2005. 44p.

BREITENBACH, R. Estruturas de mercado de fatores e governança na cadeia produtiva do leite: um estudo de caso do município de Ajuricaba-RS. 2008. 114f. Dissertação (Mestrado em Extensão Rural)–Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, 2007.

CARVALHO, M. P. Relação cooperativa x relação competitiva entre produto-res e indústrias. In: MARTINS, P. C.; CARVALHO, M. P. A cadeia produtiva do leite em 40 capítulos. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2005.

COPPOLA, M. M.; FENALTE, M. P.; DASSO, M. G.; CENCI, A. Prevalência de Staphylococcus aureus em amostras de leite oriundas de pequenas proprie-dades leiteiras da região Noroeste do Rio Grande do Sul e sua suscetibi-lidade a antimicrobianos. In: MOSTRA CIENTÍFICA DA UFPEL, 2., 2010, Pelotas. Anais XIX CIC... , 2010.

- 184 -

GOMES, A. T.; LEITE, J. L. O relacionamento na cadeia agroindustrial do lei-te para os novos tempos. In: GOMES, A. et al. O agronegócio do leite no Brasil. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2001.

SOUZA, U.; WEBSTER, A.; CENCI, A.; CERVA, C.; DASSO, M.; MARTINS, J. R.; RECK, J. Frequência de nematódeos intestinais e Eimeria spp. em bovi-nos leiteiros do Noroeste Colonial do Rio Grande do Sul. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PARASITOLOGIA VETERINÁRIA, 17., 2012, São Luís, MA. Anais... São Luís, 2012 (a). Trabalho PH021, p. 95.

SOUZA, U.; WEBSTER, A.; CENCI, A.; CERVA, C.; DASSO, M.; MARTINS, J. R.; RECK, J. Pesquisa de trematódeos em fezes de bovinos leiteiros em duas re-giões fisiogeográficas do Rio Grande do Sul. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PARASITOLOGIA VETERINÁRIA, 17., 2012, São Luís, MA. Anais... São Luís, 2012 (b). Trabalho PH038, p. 99.

VELOSO, R. F. et al. Avaliação técnica e financeira da atividade produção de leite em uma fazenda familiar. Planaltina, DF: Embrapa Cerrados, 2001. 59p.

VILELA, D.; BRESSAN, M.; CUNHA, A. S. (Ed.). Cadeia de lácteos no Brasil: res-trições ao seu desenvolvimento. Brasília: MCT/CNPq; Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2001. 484p.

- 185 -

Condicionantes, estratégias, organização e agroindustrialização nos sistemas de produção familiares com a cadeia do leite no Território Sudoeste do Paraná

Norma Kiyota1

1. Introdução

A relevância da atividade leiteira para o Território Sudoeste do Paraná é indiscutível, tanto para a melhoria de renda das famílias rurais, quanto para o desenvolvimento do território como um todo.

Assim, o projeto “Condicionantes, estratégias, organização e agroindustria-lização nos sistemas de produção familiares com a cadeia leite no Territó-rio Sudoeste do Paraná” (KIYOTA, 2007) foi elaborado e executado sob a coordenação do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) em parceria com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), o Instituto Parana-ense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e o Centro de Apoio ao Pequeno Produtor (CAPA), com o objetivo de analisar a atividade leiteira nos diferentes sistemas de produção e destinações de seu produto.

O Território Sudoeste do Paraná caracteriza-se pela predominância da agricultura familiar, que corresponde a 43.777 do total de 49.934 estabele-cimentos rurais. Destes, 29.932 têm a atividade leiteira em seu sistema de produção, com 189.405 cabeças de vaca produzindo o total de 405.552mil li-tros de leite (IBGE, 2006).

Mesmo sendo um importante produtor, o Território Sudoeste do Paraná apresenta carência na produção de leite de qualidade. Grande parte dos produtores, mesmo tendo a atividade leiteira como principal fonte de ren-da, apresenta produção de leite de baixo padrão, que remunera, em média, por litro, R$ 0,10 a menos que o leite acima do padrão (PARANÁ, 2007).

A agricultura familiar caracteriza-se pela diversificação de suas atividades, assim, o estudo de uma atividade sem desconectá-la das outras integrantes de um mesmo sistema de produção permite o aumento da eficiência do sistema como um todo. Desse modo, a combinação da produção de leite com grãos ou agroindústria, além de agregar valor ao produto através da

1 Agrônoma, mestre em Administração (UFLA) e doutora em Desenvolvimento Rural (UFRGS). Pesquisadora da área de Socioeconomia do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar). Contato: [email protected].

- 186 -

agroindustrialização, confere ao agricultor maior independência e flexibi-lidade econômica, oriundas do ajuste entre as atividades.

O trabalho em sistemas de produção pode apresentar muitas dificuldades, mas estas podem ser contornadas com o desenvolvimento de projetos inte-rinstitucionais capazes de aliar o desenvolvimento e a validação de novas tecnologias e a difusão destas para os agricultores. Assim, a metodologia deste trabalho foi baseada na abordagem sistêmica das propriedades ru-rais para a maximização das relações entre os componentes do sistema, visando a sustentabilidade ambiental, econômica e social.

Além da parceria institucional, este projeto também contou com a inte-gração de diferentes projetos, como o Projeto Redes de Referências para a Agricultura Familiar e o Projeto de Pesquisa Científica e Tecnológica “Sementes e brotos da transição: inovação, poder e desenvolvimento em áreas rurais do Brasil” (Edital MCT/CNPq 15/2007 – Universal) com o acrônimo “Ipode”.

O Projeto Redes de Referências para a Agricultura Familiar, coordenado pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) em conjunto com o Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), prefeituras e organizações não governamentais, realiza o levantamento de indicadores da realidade dos agricultores e, a partir de uma perspectiva criada pelo an-seio destes, elabora propostas para a viabilização dos objetivos.

Por outro lado, o Projeto “Sementes e brotos da transição: inovação, poder e desenvolvimento em áreas rurais do Brasil – Ipode” tem o objetivo de:

[...] analisar comparativamente as práticas, processos e formas de organi-zação que são utilizados pelos agricultores e demais atores do meio rural em cinco estados do Brasil, para construir alternativas viáveis e sustentá-veis para sua sobrevivência material imediata e sua reprodução social como unidades de produção, assim como verificar quais são seus efeitos sobre as economias locais do território (SCHNEIDER, 2007).

Para atingir tal objetivo, o Projeto Ipode propôs diversos estudos de casos nas regiões Sul e Nordeste do Brasil; desse modo, a coordenadora deste pro-jeto também coordenou um dos subgrupos do Projeto Ipode responsável pelo tema “Inovação, agregação de valor e empreendedorismo: o caso das agroindústrias familiares”.

- 187 -

Assim, a complementariedade dos esforços oriundos das diferentes insti-tuições permitiu que ocorresse a potencialização dos resultados espera-dos originalmente no projeto, ampliando a atuação tanto na difusão de tecnologia quanto na produção científica.

2. Formação de agricultores, técnicos e pesquisadores

Considerando a metodologia baseada no enfoque sistêmico, já utilizada pelo Projeto Redes de Referências para a Agricultura Familiar, foram ti-pificadas 38 unidades de produção, possibilitando a seleção de 22 delas, com os seguintes sistemas de produção: leite + grãos, especializado em leite, leite + fruticultura, grãos + fruticultura, leite + grãos + fumicultura e leite + agroindústria.

Após a reunião com todas as famílias envolvidas no projeto, com a apresen-tação de algumas famílias que já participavam dele há mais tempo, houve debate e troca de experiências entre técnicos e agricultores. Posteriormen-te, os trabalhos continuaram individualmente com cada família, aprofun-dando o diagnóstico de cada unidade, realizando algumas intervenções no processo produtivo e de gestão, com a implantação de algumas unidades de teste e validação e o acompanhamento dos dados técnicos e socioeconômi-cos dessas unidades de produção.

A partir do levantamento de demandas, realizado com a participação dos agricultores e técnicos envolvidos, foram realizadas as seguintes ativida-des de formação:

• curso sobre as forragens anuais e perenes mais bem adaptados à região;• dia de campo sobre manejo de pastagens e alimentação de bovinos de leite;• curso sobre integração lavoura-pecuária e pastagens;• dia de campo sobre manejo das bezerras e qualidade do leite;• curso sobre silagem de planta inteira e grão úmido de milho.

Os cursos e dias de campo propiciaram mais de 230 participações de agri-cultores e técnicos. Estes assumiram o compromisso de multiplicar os co-nhecimentos adquiridos, com o apoio de pesquisadores, técnicos e agricul-tores responsáveis pelos conteúdos das atividades de formação.

Além disso, foram elaboradas duas publicações técnicas – Qualidade do lei-te na Região Sudoeste do Paraná e Silagem de milho na atividade leiteira do

- 188 -

Sudoeste do Paraná –, que foram entregues para os agricultores e técnicos que participaram desses cursos e dias de campo e em outros processos de formação que ocorreram posteriormente.

3. Contribuição à comunidade científica

Os estudos contemplados pelo projeto resultaram em documentos apre-sentados em eventos científicos e publicações. Estes versaram diferentes temas, refletindo a formação multidisciplinar da equipe de pesquisadores e técnicos do projeto, com ênfase na agroindústria familiar de pequeno por-te, na organização do trabalho em sistemas de produção, no uso e manejo dos solos, no plantio direto e na sucessão geracional na agricultura fami-liar. Assim, os trabalhos foram os seguintes:

• “A agroindústria familiar como uma estratégia de produção de novidades na agricultura: uma análise comparativa entre Sul e Nordeste do Brasil”, no Seminário Inovação, Poder e Desenvolvimento em Áreas Rurais do Brasil (2010), e como resumo expandido, no IV Encontro da Rede de Es-tudos Rurais (2010).

• “Organização do trabalho familiar em sistemas de produção com bovino-cultura de leite no Território Sudoeste do Paraná”, no VIII Congresso da Sociedade Brasileira de Sistema de Produção (2010).

• “Agroindústrias familiares rurais de produtos lácteos no Sudoeste do Pa-raná”, no 48º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Adminis-tração e Sociologia Rural – Sober (2010).

• “Qualidade da relação de uso e manejo dos solos em unidades de produção familiares na Região Sudoeste do Paraná”, na II Reunião Paranaense de Ciência do Solo (2011).

• “Sucessão familiar como estratégia de reprodução social: o caso do Condo-mínio Pizzolatto no Sudoeste do Paraná”, no 49º Congresso da Sober (2011).

• “Diagnóstico de atributos químicos de solos sob plantio direto em proprie-dades agrícolas familiares do Sudoeste do Paraná”, no XXXIII Congresso Brasileiro de Ciência do Solo (2011).

A partir dos debates ocorridos nos eventos, o artigo “Estratégia de sucessão geracional na agricultura familiar: o caso do Condomínio Pizzolatto” foi

- 189 -

publicado na Revista Informe GEPEC, v. 16, n. 1, de 2012, e o artigo “A agroin-dústria familiar como uma estratégia de produção de novidades na agricul-tura: uma análise comparativa entre Sul e Nordeste do Brasil” está no prelo, como capítulo do livro Sementes e brotos da transição: inovação, poder e desen-volvimento em áreas rurais do Brasil a ser publicado pela Editora da UFRGS.

4. Relevância para a agricultura familiar

Apesar do término da vigência do projeto, este ainda tem continuidade através das atividades dos diferentes profissionais das instituições parti-cipantes do projeto e do Projeto Redes de Referências para a Agricultura Familiar.

As famílias envolvidas diretamente com o projeto estão inserindo alterna-tivas que diminuem seus custos de produção, aumentam a produtividade e a qualidade de seus produtos e auxiliam na gestão da unidade de produção.

Algumas famílias pertencentes a associações ou comunidades rurais em que há alguma família inserida no projeto também estão recebendo infor-mações em processos de capacitação pontuais, por meio dos técnicos que participaram das capacitações e, também, pela troca de informações com as famílias participantes.

As publicações técnicas sobre a atividade leiteira ampliaram os resulta-dos do projeto, por chegar a técnicos e agricultores não atendidos direta-mente pelo projeto.

A parceria entre as instituições participantes foi consolidada para a conti-nuidade do processo de acompanhamento dos estabelecimentos e outros projetos de pesquisa.

Os estudos realizados com as famílias inseridas no projeto, em temas como organização do trabalho, agroindústria familiar rural, diversificação da renda, diversificação dos meios de vida, sucessão geracional, produção de novidades e inovação, qualidade do leite, forragens, uso e manejo dos solos, etc., estão sendo valorizados pela comunidade científica em geral e pelas instituições e organizações da região. Além disso, esses estudos auxiliam no levantamento de novos temas para a pesquisa na região; assim, os temas priorizados neste projeto relativos à agricultura familiar estão tendo conti-nuidade em outros projetos.

- 190 -

Referências

KIYOTA, Norma. Condicionantes, estratégias, organização e agroindustriali-zação nos sistemas de produção familiares com a cadeia leite no Território Su-doeste do Paraná. 2007. (Edital MDA/SAF/MCT/SECIS/FNDCT/Ação Trans-versal I/CNPq – Nº 24/2008).

PARANÁ. SECRETARIA DO ESTADO DA AGRICULTURA E DO ABASTECI-MENTO. Bovinocultura de leite – Paraná no contexto do Brasil. Silva, R. A. (Co-ord.). 2007. Disponível em: <www.pr.gov.br/seab>. Acesso em: 21 out. 2008.

SCHNEIDER, Sérgio. Projeto de pesquisa científica e tecnológica “Sementes e brotos” da transição: inovação, poder e desenvolvimento em áreas rurais do Brasil. 2007. (Edital MCT/CNPq 15/2007 – Universal).

- 191 -

Caracterização de sistemas de produção tradicionais e agroecológicos de erva-mate de agricultores familiares, nas regiões Centro-Sul do Paraná e Norte Catarinense

Francisco Paulo Chaimsohn1

1. Introdução

A erva-mate (Ilex paraguariensis, St. Hil.) é uma espécie nativa do sul do Brasil, do Uruguai e do Paraguai, de grande importância socioeconômica para essas regiões. A indústria ervateira produz vários tipos de chimarrão, chá-mate verde, chá-mate preto, chá-mate queimado e várias formas de chá-mate solúvel instantâneo, todos de propriedades tonificantes e estimu-lantes, devido à presença de cafeína, teobromina e teofilina.

Uma das formas de valorização econômica e de proteção do conhecimento e dos processos de produção e transformação locais é a Indicação Geográfi-ca (IG). A erva-mate produzida e transformada nas regiões Centro-Sul e Sul do Paraná e Norte Catarinense é um produto com histórico diferenciado e pode ser mais bem reconhecido pelos mercados consumidores.

O estudo apresentado neste artigo afirma que a diferenciação da erva-ma-te está intimamente ligada aos processos de produção, a partir dos ervais nativos presentes nessas regiões e que compõem as matas de araucárias.

A construção da Indicação Geográfica para a erva-mate nessas regiões tem, portanto, um embasamento inicial. Entretanto, a concretização dessa pos-sibilidade está diretamente ligada, além da mobilização dos atores sociais e econômicos ao redor da proposta, à execução de estudos econômico-his-tórico-geográficos estruturadores.

Consideramos que, no caso da erva-mate, a Identificação Geográfica tem como foco a afirmação de que se trata de um ‘produto da agricultura fa-miliar, que contribui para conservação da floresta de araucária’ e suas normas devem ser construídas coletivamente, incluindo todos os atores sociais do território em questão (agricultor familiar, técnicos e indústria).

1 Pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar). Contato: Rod. Celso Garcia Cid, km 375 – Caixa Postal 481 – CEP 86001-970 – Londrina-Paraná-Brasil – Fone: 55 (43) 3376-2418 – FAX: 55 (43) 3376-2107 – www.iapar.br.

- 192 -

2. Desdobramentos

A partir dos resultados e processos de discussão do projeto, iniciou-se um estudo para promover ações de apoio à estruturação da Indicação Geográfi-ca (IG) – Indicação de Procedência (IP) no Planalto Norte Catarinense para produtos derivados da erva-mate. O projeto “Ações de apoio à estruturação da Indicação Geográfica Planalto Norte Catarinense para produtos da erva--mate” é coordenado pela Epagri (SC) e tem apoio do MAPA.

No Estado do Paraná, estamos iniciando um processo de discussão para ela-boração de projeto similar, com o objetivo de promover ações de apoio à es-truturação da IG na Região Centro-Sul do Paraná, o qual será embasado nos resultados do Projeto. Além dos resultados, que embasam tecnicamente o processo de estruturação da IG em Santa Catarina e no Paraná, o Projeto nos permitiu criar uma rede de parceiros que facilita e dinamiza tal processo.

A caracterização biofísica está sendo aprofundada, por meio da dissertação de mestrado “Ciclagem de nutrientes em sistemas agroflorestais de produ-ção de erva-mate, na Região Centro-Sul do Paraná”, desenvolvida pelo colega Neuri Carneiro Machado, que tem como objetivo geral determinar e caracte-rizar a disponibilidade de nutrientes, mediante a ciclagem em sistemas agro-florestais (SAFs) de produção de erva-mate na Região Centro-Sul do Paraná.

Embora não tenha sido iniciado, planejamos desenvolver atividade de pes-quisa relativa ao manejo da cobertura florestal, com a finalidade de deter-minar níveis ótimos de sombreamento da erva-mate, que favoreçam sua produção de folhas e a conservação da biodiversidade de espécies nativas da Floresta de Araucária.

3. Inovações tecnológicas e metodológicas geradas

O projeto foi desenvolvido utilizando-se o enfoque sistêmico, constituído das seguintes etapas: seleção das propriedades e dos agricultores parcei-ros, tipologia e diagnóstico, caracterização socioeconômica e biofísica dos sistemas de produção tradicionais e agroflorestais de erva-mate, difusão e transferência de informações.

Esse procedimento metodológico propiciou caracterizar tais sistemas, con-siderando-se os tipos de agricultores e as características edafoclimáticas e fitossociológicas do ambiente nos quais estão inseridos, permitindo a ex-

- 193 -

trapolação de resultados para sistemas de produção similares (no aspecto socioeconômico e biofísico).

4. Nível de participação social

O projeto foi desenvolvido em parceria com instituições governamentais e não governamentais e teve a participação direta de 21 famílias de agricul-tores parceiros.

5. Relevância para a agricultura familiar

A exploração da erva-mate é de grande importância socioeconômica para milhares de agricultores familiares nas regiões Centro-Sul do Paraná e Norte de Santa Catarina, além de constituir-se em uma das principais cau-sas de conservação da Floresta de Araucária nessas regiões.

Entretanto, as ações do projeto, evidenciaram que os sistemas tradicionais e agroflorestais de erva-mate estão sendo degradados e “desconstruídos”, em função do avanço de cultivos anuais, notadamente a soja, nessas regi-ões. Anteriormente (até quando o projeto estava sendo executado), o baixo preço da erva-mate desestimulava os agricultores a manterem esses siste-mas. Atualmente, a elevação do preço do produto acentua tais ameaças em função da coleta intensiva e da perda de matrizes e material genético.

O que garantirá a conservação e a “reconstrução” desses sistemas será uma política de valorização sustentável e a distribuição mais equitativa e justa das riquezas geradas pela erva-mate, que inclui a valoração de ou-tros aspectos, além do monetário, como os valores culturais, históricos, sociais e ambientais.

6. Mudanças institucionais ocorridas

Consolidação da parceria entre o Iapar, a Epagri e outras instituições go-vernamentais e não governamentais para o desenvolvimento de ações con-juntas de pesquisa e desenvolvimento no Paraná e em Santa Catarina.

- 194 -

7. Outras informações relevantes

Além de reuniões periódicas, foram realizadas as seguintes atividades de difusão e transferência de informações, com a participação de técnicos e agricultores parceiros e outros convidados:

• Visita técnica às propriedades parceiras do Paraná (23 a 27 de agosto de 2010) – Rebouças, São Mateus do Sul, Cruz Machado e Bituruna. O evento teve como objetivos: a) apresentar resultados parciais de atividades do Projeto; b) contribuir para que os parceiros conheçam os diferentes siste-mas de produção tradicionais de erva-mate, nos quais são desenvolvidas as atividades do Projeto; c) implementar o intercâmbio e a discussão de informações de agricultores e técnicos, referentes ao Projeto.

• Seminário do Projeto “Caracterização de sistemas de produção tradicio-nais e agroecológicos de erva-mate de agricultores familiares nas regiões Centro-Sul do Paraná e Norte Catarinense” (22 e 23 de maio de 2013) – Centro de Treinamento da Epagri.

• Participação em eventos e apresentação de palestras e trabalhos técnico--científicos:

• Apresentação do trabalho “Construção de indicação geográfica de erva--mate nas regiões Centro-Sul do Paraná e Norte Catarinense”, no I Semi-nário de Pesquisas da Floresta Nacional de Três Barras, ICMBio/Embra-pa-CNPF, Três Barras, 7 de maio de 2009.

• Apresentação do trabalho “Caracterización de sistemas tradicionales de yerba mate en las regiones centro sur de Paraná y norte de Santa Cata-rina, Brasil”, no 5º Congreso Sudamericano de la Yerba Mate, Misiones, Argentina, 5 e 6 de maio de 2011.

• Oficina para discussão e consolidação de diretrizes e recomendações téc-nicas para boas práticas de manejo para o extrativismo sustentável orgâ-nico em populações nativas de erva-mate (Ilex paraguariensis), Guarapu-ava, 18 a 19 de setembro de 2012. O evento teve como objetivo consolidar um protocolo mínimo contendo diretrizes técnicas para adoção de boas práticas para o extrativismo sustentável orgânico da espécie, em conjun-to com pesquisadores, técnicos governamentais e não governamentais, rede de serviços (ATER e órgãos ambientais) e representantes dos produ-tores (cooperativas, associações, sindicatos, etc.).

- 195 -

• Apresentação do trabalho “Sistemas tradicionales y agroforestales de yerba mate (Ilex paraguarienses) en Paraná y Santa Catarina, Brasil”, no Terceiro Congresso Latino- Americano de Iufro (Unión Internacional de Organizaciones de Investigación Forestal), Iufro/Centro Agronómico Tropical de Investigación y Enseñanza (Catie), San José, Costa Rica, 12 a 15 de junho de 2013.

Publicação do livro Sistemas de produção tradicionais e agroflorestais de er-va-mate no Centro-Sul do Paraná e Norte Catarinense. Contribuições para a construção do processo de Indicação Geográfica (Editores: Francisco Paulo Chaimsohn e Adriano Martinho de Souza).

- 197 -

Sistema de produção de leite de búfala em base agroecológica

José Lino Martinez1

Introdução

A bovinocultura leiteira é um sistema predominante na região Centro-Sul do Estado do Paraná, que em função da forte demanda do mercado consu-midor da região metropolitana de Curitiba chega a importar leite de outros estados e até de outros países.

Tem sido verificado, recentemente, um incremento no interesse de alguns segmentos da sociedade por alimentos produzidos sem o emprego de insu-mos modernos, tais como: adubos químicos altamente solúveis, sementes geneticamente modificadas, hormônios antibióticos etc.

Os búfalos apresentam características que possibilitam o estabelecimento de um sistema de produção em base agroecológica. Esses animais são ca-pazes de transformar forrageiras de baixa qualidade em alimentos de alto valor nutritivo (leite e carne) nos diversos climas e solos de todas as regiões do país em condições de criação extensiva.

Assim sendo, este trabalho objetivou adaptar, desenvolver e integrar tec-nologias para a bubalinocultura leiteira no Sul do Paraná, segundo a con-ceituação estabelecida como agricultura agroecológica, contemplando fa-tores ligados a solo, planta e animal, avaliando-se também o desempenho econômico do sistema.

Material e métodos

O trabalho foi conduzido na Estação Experimental da Lapa, pertencente ao Ins-tituto Agronômico do Paraná. O período avaliado foi de janeiro de 2010 a de-zembro de 2011. O local apresenta clima Cfb (Köeppen) e o solo é classificado como cambissolo álico. A área destinada ao experimento era formada por 15 ha de pastagens, 8 ha para produção de silagem e 2 ha para a produção de grãos. As pastagens eram formadas por pastagens perenes de verão, manejadas em paste-jo rotativo. Para a manutenção da fertilidade das áreas destinadas à produção de milho foram cultivados e incorporados ao solo adubos verdes de inverno.

1 Pesquisador Iapar. Contato: [email protected].

- 198 -

O rebanho constituiu-se de um touro e quinze vacas da raça Murrah ma-nejados em regime de semiestabulação. Durante o período de lactação, de maio a dezembro, além de acesso às pastagens os animais receberam sila-gem de milho, e durante a ordenha foi fornecido milho moído com mistura mineral. As vacas foram ordenhadas manualmente uma vez por dia, pela manhã, sendo deixado um teto para a mamada dos bezerros.

Foram coletados, tabulados e analisados dados relacionados aos seguin-tes parâmetros:

a) Solos: foram coletadas anualmente amostras (0-20 cm de profundida-de) em diversos pontos das glebas utilizadas no projeto, sendo encami-nhadas ao laboratório de solos do Iapar para processamento, visando ob-ter dados relacionados aos teores de matéria orgânica e macronutrientes das glebas ocupadas.

b) Pastagens, adubos verdes e lavouras: levantamento dos rendimentos quali-quantitativos das áreas e da ocorrência de plantas invasoras. As amostragens das glebas foram realizadas de acordo as características do material implantado.

c) Animais: registrou-se a produção quali-quantitativa de leite. O desem-penho reprodutivo, a variação no peso dos animais (jovens e adultos) e os dados relacionados à sanidade animal foram registrados de acordo com a ocorrência dos eventos.

d) Custo de produção: os cálculos foram feitos empregando-se planilha ele-trônica (SisSeg) desenvolvida pela Embrapa. Foram registradas e tabuladas as informações necessárias para a obtenção dos indicadores de desempe-nhos técnicos e econômicos do sistema de produção.

Resultados e discussão

Os resultados são apresentados contemplando os aspectos relacionados ao solo, à produção, às plantas forrageiras, ao desempenho animal e à avalia-ção econômica da atividade.

Com a substituição, na propriedade, dos adubos químicos pela adubação verde e pelo esterco dos animais, observamos que as pastagens permitiram apenas uma lotação média de 1,5 cabeças por ha. A produtividade das áreas destinadas a produção de milho para silagem apresentou queda superior a

- 199 -

50% ao longo do trabalho. No último ano de avaliação colhemos ao redor de 10.000 kg/ha de forragem verde de milho. Apesar do uso da adubação verde e dos dejetos obtidos do rebanho, essas ferramentas não foram sufi-cientes para a manutenção da produtividade das áreas.

A alimentação dos animais, baseada no pasto, atendeu às necessidades nutricionais do rebanho. Os problemas de saúde dos animais foram pou-co expressivos, e o emprego de produtos fitoterápicos solucionou grande parte dos problemas verificados no rebanho. Outro ponto que merece ser destacado foi eficiência reprodutiva dos animais. A taxa de natalidade foi de aproximadamente 90%.

Os resultados de produção individual e qualidade do leite em 2011 são mos-trados no Quadro 1:

Quadro1 – Dados médios referentes à produção de leite (kg/vaca/dia), % de gordura, % de proteína,

células somáticas (x105/ml) e unidades formadoras de colônias bacterianas (x105/ml), ano 2011

Apesar de a produção de leite não ser expressiva, quando comparada à de gado bovino leiteiro, a qualidade do produto permite elevado rendimento indus-trial, sendo possível produzir um quilo de queijo com 6,2 kg de leite de búfala.

Os dados mostraram que o custo de produção do leite orgânico de búfalas foi elevado ao redor de R$ 3,00/litro (segundo ano de avaliação/2011). Há que se observar, em relação à produção de leite de búfalas, alguns aspectos que divergem da produção de leite de bovinos. Em primeiro lugar as bú-falas apresentam, em função de sua fisiologia, duração da lactação mais curta. Outro aspecto a ser ressaltado é a produtividade leiteira das búfalas, que é menor do que a de bovinos leiteiros, mesmo animais mestiços.

Apesar de não possuirmos informações sobre os indicadores de produtivi-

Característica Média Desvio Padrão

Produção de leite (kg/búfala/dia) 6,55 ± 1,30

Gordura ( % ) 5,34 ± 0,76

Proteína ( % ) 3,71 ± 0,45

Células somáticas (x105/ml) 0,57 ± 0,31

Unid. form. de colônias bacterianas (x105/ml) 1,09 ± 0,64

- 200 -

dade da terra e da mão de obra para sistemas de produção de leite de buba-linos em base convencional, podemos inferir que houve redução desses parâmetros no sistema orgânico de produção de leite de bubalinos pelos dados obtidos. No que tange à produtividade da terra, acreditamos que o advento de novas tecnologias que possibilitem a manutenção da fertilidade de solos eleve a produtividade das áreas de pastagens e de lavoura, possi-bilitando trabalhar com uma taxa de lotação maior, melhorando a produ-tividade do sistema e, consequentemente, a sustentabilidade agronômica, ecológica e econômica.

Conclusões

No período avaliado e para as condições edafoclimáticas da unidade expe-rimental onde as atividades foram conduzidas podemos concluir que:

• O emprego de adubos verdes e de dejetos dos animais do experimento não foram suficientes para a manutenção da fertilidade dos solos.

• Observamos queda de rendimento nas áreas de lavoura para produção de forragem conservada.

• Os indicadores zootécnicos, produtivos e reprodutivos obtidos mostraram que houve boa adaptação dos bubalinos ao manejo agroecológico.

• O manejo sanitário pautado pelo emprego de fitoterápicos foi eficiente no controle das parasitoses.

• O custo de produção do leite foi elevado em função da baixa produtivida-de do sistema.

• Devido à complexidade do sistema de produção, o período de avaliação do projeto foi insuficiente para proceder aos ajustes necessários no processo produtivo, de forma que melhorasse o rendimento leiteiro e, como conse-quência, a viabilidade econômica.

Relevância do projeto para a agricultura familiar na inovação de produtos e processos e contribuição na orientação de políticas públicas

A produção de leite constitui-se numa atividade agrícola importante, em função do valor nutritivo do produto e do papel socioeconômico que de-sempenha, dado o envolvimento de muitos produtores nessa atividade.

- 201 -

Nos centros consumidores de maior porte, como as capitais das regiões Sul e Sudeste, tem sido observado um crescente interesse por laticínios produ-zidos a partir de leite de bubalinos. Nesses locais, também tem aumentado o interesse de alguns segmentos da sociedade por alimentos orgânicos. Isto posto, observa-se que a exploração da bubalinocultura leiteira, particular-mente empregando-se o manejo orgânico, é uma atividade com potencial elevado como alternativa de renda para a agricultura familiar, o que justi-ficaria as iniciativas de fomento a essa atividade, ressaltando-se que a pro-dução de alimentos orgânicos muitas vezes possibilita uma melhor remu-neração aos produtores. Por outro lado, cabe destacar que a manutenção da produção agropecuária para atender a uma população crescente, sem contribuir para a elevação da degradação ambiental, deve ser encarada como prioridade por todos que atuam no meio rural.

A exploração leiteira constitui um sistema de produção bastante complexo, uma vez que envolve aspectos ligados a solo, planta e animal. A adoção do manejo orgânico pelos produtores apresenta muitos desafios, visto que há uma série de restrições ao uso de insumos convencionais, como adubos quí-micos, herbicidas, medicamentos alopáticos, etc. Essas limitações, sem um conjunto de bons produtos e tecnologias alternativas que substituam aqueles insumos, inviabilizam, do ponto de vista biológico, a unidade de produção e, como consequência, tornam a propriedade insustentável financeiramente.

Do ponto de vista do animal, o presente trabalho mostrou a viabilidade da exploração de bubalinos em um sistema de produção de leite em base agroecológica. Considerando o manejo simplificado da alimentação, da sa-nidade e das instalações, e os resultados obtidos em relação à produção de leite e à eficiência reprodutiva, observa-se que o búfalo é um animal perfei-tamente adaptado a esse tipo de sistema de produção.

Em relação à manutenção da fertilidade de solos e, consequentemente, da produtividade das áreas de pastagens e de lavoura, com a supressão do uso de adubos químicos altamente solúveis, há necessidade de desenvolver no-vos trabalhos, envolvendo-se técnicos de diferentes áreas (solos, nutrição de plantas, fitotecnia, etc.), para o devido equacionamento da queda de pro-dutividade das áreas destinadas à produção de alimentos para os animais.

Uma vez solucionados os aspectos relacionados às técnicas e tecnologias voltadas para a produção orgânica de leite, a atuação de profissionais da assistência técnica devidamente treinados para atender aos produtores

- 202 -

será imprescindível. Reforçamos tal afirmação, tendo em conta que, para a ob-tenção de resultados satisfatórios nas propriedades orgânicas, o conjunto de técnicas e processos muitas vezes excedem o que é demandado por unidades convencionais. Outro ponto a destacar é a racionalização da mão de obra, uma vez que a demanda muitas vezes aumenta em uma unidade orgânica.

Com produtividade menor, o custo de produção do leite se eleva. Os produ-tores deverão estar bem organizados para a comercialização; por exemplo, em cooperativas, para que obtenham o preço justo por um produto diferen-ciado que será transformado em laticínios de alta qualidade.

- 203 -

Referências

AROEIRA, L. J. M; STOCK, L. A.; ASSIS, A. G.; MORENS, M. J. F; ALVES, A. A. Viabilidade da produção orgânica de leite no Brasil. In: REUNIÃO ANU-AL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 43., 2006, João Pessoa. Anais... João Pessoa, 2006. CD-ROM.

INSTRUÇÃO NORMATIVA 46. Disponível em: <http://www.organicsnet.com.br/2011/10/6221/ Instrucao Normativa 46.pdf>. Acesso em: 25 jul. 2012.

MARTINEZ, J. L. Avaliação de sistemas de produção de búfalos no litoral do Paraná – Relatório do projeto. Iapar, 2008. (Documento Interno – dados não publicados).

NASCIMENTO C.; MOURA CARVALHO, L. O. Criação de búfalos: alimen-tação, manejo, melhoramento e instalações. Brasília: Embrapa-SPI, 1993. 403 p.

PAUL, S. S. Nutrient requirements of buffaloes. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 48., 2012, Belém. Anais... Belém, 2012. Simpósio sobre Bovinos e Bubalinos. 36 p.

SCIVITTARO, W. B.; MURAOKA, T.; BOARETTO, A. E. Dinâmica de adubos verdes no sistema solo-planta. Pelotas-RS: Centro de Pesquisa Agropecuária de Clima Temperado, 2004. 28 p. (Documentos 127).

SOARES, J. P. G.; AROEIRA, L. J. M.; FONSECA, A. H. da; SANAVRIA, A.; FA-GUNDES, G. M.; SILVA, J. B. da. Produção orgânica de leite: desafios e pers-pectivas. In: SIMLEITE – SIMPÓSIO NACIONAL DE BOVINOCULTURA LEITEIRA, 3., 2011, Curitiba. [I SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE BOVINO-CULTURA LEITEIRA]. Anais... Curitiba: UFPR, 2011.

YAMAGUCHI, L. C. T.; CARNEIRO, A.,V.; MARTINS, P. do C. Sistemas para análise de custos da atividade leiteira segmentados em setores de produção e serviços (SisSeg). Juiz de Fora: Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Leite, 2007. 26 p. (Documentos 123).

- 205 -

Melhorias dos sistemas de produção e da base genética da cultura da mandioca no Paraná

Mário Takahashi1

O projeto teve como objetivos gerais desenvolver práticas de cultivo susten-táveis, aliadas principalmente à conservação do solo, além de novas culti-vares de mandioca.

Os principais resultados alcançados foram o desenvolvimento e o lança-mento de duas cultivares de mandioca: IPR União, destinado ao proces-samento industrial, com elevado teor de matéria seca e adaptada a solos de baixa fertilidade; e a IPR Upira, destinada ao consumo in natura, que apresenta bom padrão de cozimento e elevado conteúdo de carotenóides.

Embora o lançamento tenha ocorrido em 2013, o projeto proporcionou condições determinantes para a realização dos ensaios finais em várias regiões do Estado, seja nas estações experimentais do Iapar, seja em pro-priedades de agricultores.

Adaptações para um sistema de “plantio direto” também foram incremen-tadas pelo projeto, principalmente com relação à adaptação de máquinas, ao manejo das plantas daninhas e à adubação diferenciada. Vale lembrar que a mandioca não proporciona boa cobertura do solo, o que favorece pro-blemas com erosão, e nessa situação a adaptação do plantio direto assume grande importância.

A adaptação das máquinas poderá ser adotada também pela agricultura familiar, pois já existem plantadeiras a tração animal de baixo custo.

As ações de difusão realizadas durante o período compreenderam dias de campo em Nova Londrina, Marechal Cândido Rondon, Cerro Azul e Morre-tes, municípios localizados no Estado do Paraná, além de reportagens em jornais e televisão, principalmente com a divulgação das duas novas cultiva-res de mandioca. Mudas dessas cultivares foram distribuídas em vários mu-nicípios, em parceria com o Instituto Emater, as secretarias municipais de agricultura, as associações de agricultores e os agricultores independentes.

1 Pesquisador da área de fitotecnia. Instituto Agronômico do Paraná (Iapar). Contato: Rod. Celso Garcia Cid, km 375 – Caixa Postal 481 – CEP 86001-970 – Londrina-Paraná-Brasil – Fone: 55 (43) 3376-2418 – Fax: 55 (43) 3376-2107 – www.iapar.br.

- 206 -

As mudas também foram encaminhadas para vários municípios fora do Paraná. Esta ação poderá identificar a adaptação dessas cultivares e poste-riormente ampliar a difusão.

Muitas associações de agricultores que participam dos programas federais de aquisição de alimentos mostraram-se interessados pela cultivar de mesa IPR Upira, mas não puderam ser atendidos, devido à baixa capacidade do Iapar em multiplicar o material de propagação. Numa ação em parceria com as entidades que receberam lotes iniciais de mudas, poderemos au-mentar a disseminação das cultivares, inclusive para outras regiões do país.

- 207 -

Instalação de redes de inovação tecnológica para a melhoria de sistemas de produção familiares no Território Norte Pioneiro do Paraná

Dimas Soares Junior1

O projeto buscou inserir o dispositivo de redes de unidades produtivas ru-rais no conjunto de ações desenvolvidas sob a perspectiva territorial em um dos quatro Territórios da Cidadania apoiados no Estado do Paraná, o Território Norte Pioneiro.

Assim, a definição dos sistemas de produção para estudo (Especializado em Café, Leite + Café, Morango + Café, Olericultura + Café e Grãos + Leite) to-mou por base a pauta de prioridades propostas pelos atores sociais envolvi-dos nas articulações que deram origem à constituição do Território.

O trabalho compreendeu então a realização de uma tipologia inicial de 57 unidades produtivas e o diagnóstico técnico, econômico, social e ambiental de 21 famílias colaboradoras, selecionadas para a continuidade das ações, representativas do cinco sistemas de produção definidos.

O tratamento das informações obtidas foi realizado privilegiando uma leitura estratégica do sistema, considerando assim seus aspectos internos, pontos fortes e fracos, e externos, ameaças e oportunidades.

A análise das informações fundamentou a elaboração de planos individu-ais para cada uma das 21 unidades produtivas integrantes do projeto. Tais planos sintetizam um conjunto de propostas viáveis para o desenvolvimen-to dos sistemas de produção estudados, de larga aderência regional.

Para a avaliação da condição atual de fertilidade aparente, coletaram-se 379 amostras de solo nas camadas de 0-0,1  m; 0,1-0,2  m e 0,2-0,4  m em diversos pontos de cada área homogênea e de cada sistema. Os atributos químicos avaliados mostraram variações entre os sistemas produtivos, de-monstrando que são indicadores sensíveis às mudanças de uso e manejo do solo. O sistema Olericultura + Café apresentou o solo com melhor qua-lidade química, principalmente pela reposição de nutrientes e aporte de matéria orgânica, contribuindo para uma melhor fertilidade.

1 Pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar). Contato: Rod. Celso Garcia Cid, km 375 − Caixa Postal 481 − CEP 86001-970 − Londrina-Paraná-Brasil − Fone: 55 (43) 3376-2418 − FAX: 55 (43) 3376-2107 − www.iapar.br .

- 208 -

O alumínio trocável ocorre em todos os sistemas e deve ser neutralizado, principalmente no sistema Leite + Café, onde é mais restritivo. No sistema Grãos + Leite devem-se manter os níveis de nutrientes e nos outros sistemas devem-se estabelecer estratégias para repor os nutrientes extraídos, erodi-dos e lixiviados ao longo dos anos. Os resultados obtidos fundamentaram o planejamento das propriedades no tocante aos seus aspectos de manejo de solo e são indicativos das restrições nos padrões de fertilidade aparente observados nos sistemas familiares de produção praticados no Território.

Os resultados obtidos no acompanhamento econômico das unidades pro-dutivas colaboradoras do projeto ao longo do primeiro ano de aplicação dos planos propostos são sintetizados na Tabela 1 a seguir:

- 209 -

Tabela 1 – Caracterização dos sistemas estudados e indicadores econômicos obtidos. Território Norte Pioneiro. Safra 2009/2010

1

SISTEMA ESTUDADO

caféLeite

+ café

morango +

café

Olericult. +

café

Grãos +

leite

DIMENSÃO DA EXPLORAÇÃO

área toral 5,26 17,73 9,81 8,75 40,53

superfície agrícola útil (SAU) 4,57 14,57 8,49 6,75 33,90

TRABALHO

UTH Familiar 2,3 2,9 3,2 2,3 3,0

UTH Assalarida 0,3 0,0 0,6 0,3 0,3

UTH Total 2,6 2,9 3,8 2,6 3,3

SAu/UTH 1,77 4,95 2,23 2,59 10,16

MEDIDAS DE PERFORMANCE GLOBAL

Renda da operação agrícola (SAU) 2033 473 4235 3024 868

Remuneração MO/mês/UTH 320 123 1003 656 358

Remuneração MO Familiar/mês/UTH 218 111 678 580 340

Remuneração Capital Próprio (%) 20 15 27 39 11

Lucro/SAU 1419 290 3297 2559 391 1 Valores monetários expressos em reais deflacionados para julho/2011 pelo IGP/DI.

Considerando-se as medidas de performance global, observa-se que o sis-tema grãos + leite, muito embora apresente a segunda maior renda bruta total, é somente o antepenúltimo no cômputo geral dos indicadores de per-formance2, ficando na condição de melhor performance o sistema morango + café, o qual não apresenta desempenho superior aos demais somente no tocante à remuneração do capital próprio.

2 O cômputo geral das medidas de performance global foi feito ranqueando-se o desempenho de cada sistema no tocante a cada um dos cinco indicadores considerados na análise. Feito tal ranking, atribuiu-se então entre cinco e um pontos para o sistema de melhor e pior desempenho, respectivamente, calculando-se ao final a soma dos pontos obtidos.

- 210 -

O sistema leite + café é claramente aquele de desempenho econômico mais fragilizado, apresentando os piores resultados em todos os indicadores apurados, exceto na remuneração do capital próprio, quando fica quatro pontos percentuais acima do sistema grãos + leite.

Todos os sistemas remuneraram positivamente o capital investido, apre-sentando lucro positivo por unidade de SAU, destacando-se, além do já cita-do sistema morango + café, os sistemas olericultura + café e café. Contudo, após o cálculo da remuneração dos capitais variáveis e fixos (exceto a ter-ra), próprios e de terceiros, somente os sistemas morango + café e olericul-tura + café continuariam com excedentes para remunerar a mão de obra familiar em valores superiores ao salário mínimo vigente no período (R$ 510,00/mês).

Uma vez que o café é o produto comum em quatro dos cinco sistemas es-tudados, o aumento de renda em tais sistemas é em maior ou menor grau dependente da qualidade do produto, de tal sorte que a melhoria dos pro-cessos de colheita e pós-colheita foi uma das ações propostas nos planos de propriedade, melhoria essa que passa por identificar em detalhe as causas do problema da baixa qualidade diagnosticado.

Assim, foram coletadas, junto a 11 dos 17 cafeicultores colaboradores do projeto na safra 2009/2010, 25 amostras de café colhidas no estágio cereja e preparadas pelos produtores na forma de café natural (CN) ou como cereja descascado (CD). Nos cafés beneficiados determinou-se a granulometria, a presença de defeitos e a qualidade de bebida (Tabela 2). A composição quí-mica foi avaliada por meio da determinação de proteínas, açúcares totais e redutores, compostos fenólicos, ácidos clorogênicos e cafeína.

- 211 -

Tabela 2 – Classificação das bebidas e tipo dos cafés avaliados

Amostra N° Defeitos Tipo Bebida Amostra N° Defeitos Tipo Bebida

1 19 4 Dura 13 240 7 Rio2 65 5 Dura 14 29 4 Dura3 410 8 Dura verde 15 35 4 Dura4 292 7 Dura verde 16 97 6 Dura5 68 5 Rio 17 144 6 Dura Verde6 61 5 Rio 18 213 7 Dura Verde7 307 7 Rio 19 85 5 Rio8 19 3 Dura 20 61 5 Dura Verde9 71 5 Rio 21 21 3 Dura10 15 3 Dura 22 46 4 Rio11 257 7 Dura Verde 23 98 6 Dura12 96 6 Rio 24 61 5 Dura

25 90 6 Rio

Os grãos ardidos, verdes e pretos foram os principais defeitos encontra-dos nas amostras. Entre todos os defeitos, os grãos pretos e ardidos foram encontrados em maior número, resultados de grãos colhidos imaturos e de secagem deficiente. Em várias amostras foi observado número muito baixo de defeitos, principalmente nas amostras de café CD, sugerindo que com boas práticas de colheita e secagem é possível obter cafés de qualidade nessa região. Em consequência da presença de defeitos, foi possível encon-trar cafés de alta qualidade, com tipo 3, e cafés de baixíssima qualidade, com tipo 8.

Das 25 amostras avaliadas pela classificação da prova de xícara, 16 amos-tras foram classificadas como bebida dura e nove amostras restantes fo-ram consideradas bebida rio. Dentre as bebidas duras, seis apresentaram intenso sabor verde/fermentado e, portanto, terão seu valor depreciado devido à presença de sabores e odores indesejáveis. Entre as amostras de café bebida rio observou-se que tanto amostras com baixo como com alto número de defeitos apresentaram gosto rio, sem uma nítida associação en-tre essa qualidade de bebida e a presença de defeitos.

A presença desses defeitos indica que cuidados na colheita, para evitar grãos verdes e pretos, e cuidados na secagem, para controlar a formação de grãos ardidos, devem ser praticados a fim de se obterem cafés de bom aspecto e, consequentemente, bebida de boa qualidade.

- 212 -

Observou-se grande variabilidade na presença de defeitos e na composição dos cafés nas amostras das propriedades de agricultores familiares. Várias amostras apresentaram boa granulometria, tipo e boa qualidade de bebida. No entanto, foram encontrados defeitos (preto, verde e ardido) em gran-de número de amostras. Pela determinação dos compostos indicadores de maturação, constatou-se a presença de grãos imaturos, e a qualidade de bebida refletiu a composição química do café.

A identificação e quantificação dos defeitos e a qualidade de bebida, apoia-da na composição química do café, são subsídios para direcionar as ações futuras para a cafeicultura familiar no Território. Com base nesses resul-tados será possível interferir nos processos de pós-colheita e em condições de adubação que levem a melhor formação de grãos, evitando os defeitos prejudiciais ao aspecto físico e à qualidade de bebida do café.

Os resultados do projeto, desde as etapas iniciais de implantação, foram objeto de ações de comunicação, difusão e transferência de tecnologia, sen-do veiculados na forma de trabalhos apresentados em congressos e artigo técnico científico.

Contudo, o tempo de maturação de tais resultados e a concretização das po-tencialidades de melhoria dos sistemas vislumbradas no desenvolvimento dos trabalhos naturalmente ultrapassam o período de duração do presente projeto, não podendo prescindir do esforço contínuo dos organismos de pesquisa e extensão rural e de sua permanente articulação com os organis-mos de representação territorial.

Assim sendo, acredita-se que o projeto em questão, com seus erros, acertos, produtos e lacunas, constituiu mais uma etapa de um longo processo de aprendizado institucional.

- 213 -

Avaliação de fruteiras de clima temperado em unidades de difusão tecnológica situadas em diferentes regiões de Santa Catarina

Marco Antonio Dalbó1

1. Objetivos

• Observar o comportamento de diferentes cultivares e seleções dos pro-gramas de melhoramento genético de videira, pessegueiro e ameixeira em diferentes regiões climáticas de Santa Catarina para fins de indica-ção de cultivares para plantio e avaliações básicas para lançamento de novas cultivares.

• Instalar unidades de observação para apoio às atividades de difusão e treinamento de produtores rurais na área de fruticultura.

2. Metodologia

Foram instaladas unidades de observação e difusão de tecnologias para a produção de fruteiras de clima temperado em cinco regiões de Santa Ca-tarina: Meio-Oeste (Videira), Oeste (Coronel Freitas), Planalto Norte (Ca-noinhas), Planalto Sul (Lages) e Litoral Sul (Urussanga). Em cada unidade (0,5 ha) foi implantada uma coleção de variedades de uva, sendo duas rús-ticas para mesa, quatro finas de mesa e 12 rústicas para suco/vinho. Parte do vinhedo consiste numa unidade de produção com uma única variedade, de escolha do produtor onde existe um experimento de teste de porta-en-xertos para cada região. Já as coleções de variedades de pêssego e ameixa são diferentes em cada local, selecionando-se as que se adaptam ao clima da região, incluindo tradicionais e variedades oriundas de programas de melhoramento genético.

3. Resultados principais

Em 2009 foi plantada a maior parte das mudas nas unidades selecionadas, sendo que o restante foi plantado em 2010. Apesar de certo atraso, pode-se dizer que todas as unidades foram implantadas sem comprometimentos sérios para a obtenção de resultados. Houve a oportunidade também de

1 Pesquisador Epagri-SC, coordenador do projeto. contato: [email protected]

- 214 -

instalar uma unidade adicional, não prevista no projeto, na propriedade do senhor Agenor Zilli, no município de Descanso (SC). Nesse caso houve ape-nas fornecimento de mudas para teste, sem outros investimentos do projeto.

O período de três anos constituiu fator limitante para se alcançarem resul-tados conclusivos com espécies perenes. Dessa maneira, durante o período de vigência do projeto, foi possível obter apenas resultados preliminares, mas as condições são amplamente satisfatórias para que se lhe dê conti-nuidade. Desse modo, as avaliações continuarão sendo feitas nos anos se-guintes, e as unidades serão bases para ações de difusão de tecnologia e treinamentos para agricultores.

Em termos de resultados de pesquisa, destacamos os seguintes:

• Pêssego: as observações na unidade de Urussanga ajudaram no lança-mento das cultivares Mondardo e Julema. Nas unidades do oeste (Coro-nel Freitas e Descanso), foi possível identificar três genótipos de nectari-neira altamente promissores, oriundos do programa de melhoramento da Epagri. Todos são muito precoces e amadurecem antes que qualquer variedade atualmente em cultivo na região. A indicação veio dos agri-cultores envolvidos, que as selecionaram também por características de aparência e sabor. Agora entrarão em testes de maior escala para vali-dação e possível lançamento. Duas delas estão sendo multiplicadas para instalação de pomares comerciais. Foi feito o lançamento da cultivar Zilli, que é uma mutação única no mundo, por apresentar polpa de duas cores. Embora não tivesse sido previsto de início, foram as atividades do projeto que permitiram obter dados para o seu lançamento.

• Ameixa: os resultados ainda são inconclusivos.

• Uva: foi possível obter produções consistentes nas unidades de Coronel Freitas, Videira e Lages. Como as diferenças de altitude são marcantes nesses locais, foi possível observar diferenças consideráveis de época de maturação. Por exemplo, a diferença na época de colheita da cultivar Ni-ágara, entre Coronel Freitas e Lages, foi de quase 45 dias, o que evidencia a potencialidade da exploração de condições climáticas diferentes das zonas tradicionais para produzir fora dos períodos de pico de produção e obter melhores preços para o produtor. Um destaque, por exemplo, é a produção de uva Niágara sob cobertura plástica em Lages (SC), que se mostrou viável sem uso de agroquímicos, e com colheita depois da safra normal das regiões tradicionais.

- 215 -

Outro resultado importante, embora preliminar, veio dos ensaios com porta-enxertos. Nesses ensaios, foram avaliados alguns porta-enxertos tro-picais que se mostraram resistentes ao declínio da videira, causado pela pérola-da-terra e por fungos de solo, que é um problema muito grave na Região Sul. Embora os resultados sejam de apenas dois anos, não houve antecipação da brotação da cultivar copa pelo uso de um porta-enxerto tropical, como o IAC 572, em relação ao porta-enxerto Paulsen 1103, tradi-cionalmente utilizado. Esse era um fator de preocupação, pelo fato de que aumentaria os riscos de danos por geadas, de modo que os produtores esta-vam esperando esses resultados antes de decidir pela sua utilização. Dessa maneira, viabiliza-se o controle do declínio e morte de plantas de videira, problema bastante sério em algumas regiões do sul do país.

Em termos de atividades de difusão e treinamento de técnicos e produto-res, foram realizados vários encontros. Alguns foram formalizados e re-gistrados e outros ocorriam por ocasião da instalação das unidades, com reuniões informais com técnicos e produtores.

No período de execução do projeto foram realizados dois treinamentos e dois dias de campo, na unidade de Coronel Freitas, para técnicos e agri-cultores da região. Também foi realizado um dia de campo na unidade de Videira. Nessas duas unidades, além de elas terem sido instaladas mais rapidamente, houve maior facilidade para envolver técnicos da extensão rural e produtores da região, e, em função de seu interesse, foi mais fácil organizar esses encontros. Nas outras unidades estão sendo programados alguns eventos posteriores ao projeto, uma vez que levou um tempo maior para que as plantas atingissem a plena produção.

4. Perspectivas futuras

Será dada continuidade a todas as unidades do projeto, algumas por serem incluídas em projetos específicos (SC Rural) e outras pelas atividades nor-mais dos técnicos da Epagri. As unidades montadas pelo projeto constitu-íram instrumentos preciosos para auxiliar atividades de difusão de tecno-logias e treinamento de produtores. Portanto, está prevista a continuidade na obtenção de dados e também o uso das unidades para capacitação de técnicos e agricultores de cada região. Dessa maneira, os objetivos do pro-jeto serão totalmente atingidos, mesmo que num prazo mais longo que a duração deste projeto.

- 217 -

Envolvimento, validação, geração e difusão no processo de desenvolvimento tecnológico da agricultura orgânica de base familiar do Espírito Santo

Jacimar Luis de Souza1

Introdução

No âmbito do subprograma de Agroecologia do Incaper, mantém-se uma área experimental de agricultura orgânica, implantada no Centro Regio-nal de Desenvolvimento Rural, município de Domingos Martins (ES), desde 1990. A relação dessa área com os agricultores familiares e suas representa-ções, ao longo desses 23 anos, dá-se de uma forma estreita e muito interati-va, sendo atualmente considerada Unidade de Referência em Agroecologia (URA) para o Estado do Espírito Santo e para todo o Brasil.

Grande parte do desenvolvimento científico e tecnológico (geração de tec-nologia de produto e de indicadores técnicos) e grande parte do envolvi-mento do Incaper com os agricultores de base familiar, na produção de alimentos orgânicos no Estado do Espírito Santo, ocorrem no âmbito desse Centro Regional, mais especificamente nos campos experimentais dessa área de agricultura orgânica (Figura 1), nestes últimos 23 anos (1990 a 2013). Assim, essa unidade tem contribuído para o aprimoramento dos sistemas orgânicos de muitos agricultores, da mesma forma que tem sido aperfei-çoada pelos conhecimentos recebidos destes, por meio da participação sistêmica dos produtores familiares em atividades como: aulas práticas de campo em cursos e treinamentos sobre agroecologia; excursões e visitas técnicas individuais de agricultores; estágio de alunos, na maioria filhos de agricultores, que estudam em escolas de alternância do Mepes e em Escolas Famílias Agrícolas (EFAs); multiplicação e fornecimento de materiais or-gânicos (sementes e propágulos) para agricultores orgânicos, entre outros.

1 Pesquisador do Incaper, Coordenador do projeto. Contato: [email protected]

- 218 -

Figura 1: Vista parcial da área experimental de agricultura orgânica

Domingos Martins, Incaper, 2013.

Metodologias e resultados

Este projeto permitiu conduzir ações experimentais, tanto de continuidade como ações novas, inseridas em 9 subprojetos conduzidos no período de 2009 a 2011, conforme relatados a seguir:

Subprojeto 1: Geração de indicadores técnicos de produtividade, fertili-dade de solos, eficiência energética e sequestro de carbono em sistemas orgânicos de produção

Neste projeto foram implantados diversos campos experimentais para avaliar o comportamento produtivo de espécies em sistema orgânico de produção no período entre 19 a 21 anos. Tal recorte temporal serviu para complementar dados gerados anteriormente a este período. Foram estu-dados os efeitos acumulados das adubações orgânicas sobre as caracterís-ticas do solo, após 20 anos, comprovando o elevado poder de melhoria da fertilidade proporcionada por esse sistema de produção. Foram analisados o conteúdo e o acúmulo de CO2 equivalente, que apresentaram elevações durante os 20 anos acumulados nesse sistema.

Subprojeto 2: Avaliação de cultivos orgânicos em alamedas formadas com Leucena

A implantação das linhas de leucena foi feita no ano de 2008, formando alamedas, para o cultivo de hortaliças e milho verde. As plantas de leucena têm sido podadas e sua biomassa distribuída sobre o solo, imediatamente

- 219 -

antes do preparo de solo de cada plantio comercial. A Figura 2 mostra a área do experimento com um campo de repolho cultivado em alamedas de leucena. Melhoraram-se a fertilidade do solo e a nutrição das plantas, com aumento do rendimento comercial das espécies cultivadas em alamedas formadas por leucena, aumentando o teor de K do solo acima de 20% e fixando mais de 50 kg de N ha-1.

Figura 2 – Imagem da área experimental do Talhão 09 (Rep. 2),

do subprojeto de cultivos em alamedas de leucenaIncaper, 2010.

Subprojeto 3: Sistema Plantio Direto de hortaliças e grãos em cultivo orgânico

Este trabalho foi implantado no Talhão 05, numa área de 624  m2, e os tratamentos foram aplicados em faixas de solo de 78 m2, com 4 m de lar-gura e 19,5 m de comprimento, distribuídas em 2 repetições espaciais. A Figura 3 mostra imagens da área experimental, com campo de repolho, do consórcio de aveia e tremoço para formação de palhada e colheita de pontos amostrais para avaliação de repolho. Comprovou-se parcialmente a eficiência do Sistema Plantio Direto em cultivo orgânico, elevando a produtividade, com redução de custo com capinas, entretanto sem alte-rar o estoque de carbono no solo nos 3 anos, devido à adubação de base com composto orgânico.

- 220 -

Figura 3 − Imagens da área experimental do Talhão 05, com cultivo de repolho sobre palhada de

aveia/tremoço, do subprojeto de Sistema Plantio DiretoIncaper, 2010.

Subprojeto 4: Efeitos de diferentes níveis de nitrogênio em composto, as-sociados à adubação verde, sobre o desenvolvimento e a sanidade de plan-tas em cultivo orgânico

Este trabalho foi executado no Talhão 07 da área experimental de agri-cultura orgânica, em parcelas de solo marcadas e isoladas com placas de cimento, nas dimensões de 3 m por 6 m (18 m2), avaliando-se efeitos acumu-lados dos sistemas de adubação. A Figura 4 ilustra diversas atividades ex-perimentais no período de 2008/09 a 2011 neste subprojeto. Comprovou-se que maiores teores de nitrogênio em composto proporcionam elevação do rendimento comercial em 30%, para as culturas de repolho e milho verde. Também se verificaram melhorias no rendimento das culturas de repolho e milho pelo uso da adubação verde em pré-cultivo.

- 221 -

Figura 4 − Imagens da área experimental do Talhão 07, com palhada

de crotalária recém-roçada, cultivo de repolho, palhada de tremoço e parcelas com plantas de repo-

lho com diferenciados tons de verde, indicando variações de níveis de N foliarIncaper, 2010.

Subprojeto 5: Eficiência da biofertilização líquida, via solo, sobre a nu-trição e o desenvolvimento das culturas do tomate, gengibre e pepino em sistema orgânico

Os experimentos com tomate e pepino japonês, constantes deste subpro-jeto foram implantados em área de cultivo protegido. Os experimentos com gengibre foram realizados em campo aberto. Foram avaliadas doses crescentes de biofertilizante líquido enriquecido, composto da mistura de 100 kg de composto orgânico, 50 kg de mamona picada e 20 kg de cinza ve-getal, para 700 litros de água, fermentado aerobicamente, oxigenado com minicompressor de aquário (Figura 5).

- 222 -

Figura 5 − Biofertilizante enriquecido, recém-preparado, para uso

nos tratamentos de adubação em coberturaIncaper, 2010.

Experimento 1: Biofertilização líquida, via solo, no cultivo orgânico do tomate em estufa

Foram realizados dois plantios experimentais com a cultura do tomate, nos anos de 2009/10 e 2011 (Figura 6).

Figura 6: Plantio experimental de tomate orgânico em ambiente protegido

(1º ano = 2009/10), mostrando a marcação das parcelas de biofertilização

Incaper, 2010.

- 223 -

Experimento 2: Biofertilização líquida, via solo, no cultivo orgânico do pepino japonês em estufa

Foram realizados quatro plantios experimentais com essa cultura, em am-biente protegido (Figura 7), nos anos de 2008, 2009 e 2010.

Figura 7 − Plantio experimental de pepino japonês orgânico em ambiente

protegido, mostrando a marcação das parcelas de biofertilização

Incaper, 2010.

Experimento 3: Biofertilização líquida, via solo, no cultivo orgânico do Gengibre

O primeiro experimento foi realizado no ano de 2009/10 (11/11/2009), com aplicações quinzenais de biofertilizante, a partir dos 56 dias, nas seguin-tes datas: 6/1/2010, 5/2/2010, 20/2/2010, 3/3/2010, 18/3/2010, 4/4/2010, 22/4/2010, 7/5/2010, 28/5/2010 e 8/6/2010. A colheita foi realizada em 26/7/2010. A Figura 8 mostra um campo experimental onde foi realizado o primeiro ano deste trabalho, no Talhão 03 da área experimental.

- 224 -

Figura 8: Marcação das parcelas no campo

experimental de gengibre – Talhão 03, 2010

Incaper, 2011.

Subprojeto 6: Multiplicação e validação de seleções massais de sementes e propágulos orgânicos em nível de propriedade

Dando continuidade ao processo de multiplicação de sementes e propágu-los orgânicos já empregados na Unidade de Referência em Agroecologia, que se desenvolve desde 1990, durante os 3 anos deste projeto foram multi-plicados e distribuídas as seguintes sementes e quantidade, por espécie. As quantidades de sementes e propágulos distribuídos por agricultor foram: Tomate (1 g por variedade); Alho (2 kg); Batata (2 kg); Milho (1 kg); Feijão (1 kg); Gengibre (3 kg) e Taro (3 kg). Além do processo de distribuição indivi-dualizado, que ocorre frequentemente durante os meses do ano, foram dis-tribuídos kits em dias de campo em 2009 e 2010. A Figura 9 ilustra diversos momentos do processo de multiplicação, seleção e distribuição realizado de 2009 a 2011.

- 225 -

Figura 9 − Imagens de sementes e propágulos orgânicos, multiplicados e distribuídos na Unidade

de Referência em Agroecologia do Incaper, de 2009 a 2011

Subprojeto 7: Avaliação e demonstração de máquinas e implementos para manejo de palhas e plantio direto na agricultura orgânica

Este trabalho foi executado no Talhão 02, da Unidade de Referência em Agroecologia, avaliando seis sistemas de manejo de palhadas de adubos verdes em pré-plantio e três sistemas de plantio com plantadeiras para plantio direto na palha. O experimento foi implantado com espécies de verão (Crotalária, Milho, Girassol e Consórcio). A área do experimento foi de 1.536 m2, com parcelas de 16 m por 24 m para cada espécie. Dentro des-sas parcelas, foram plotadas parcelas menores de 7 m por 2,5 m, para os 6 sistemas de manejo de palhas e parcelas de 7 m por 5 m para os 3 tipos de plantadeiras, ambas em 3 repetições.

Verificou-se que os melhores desempenhos de trabalho foram obtidos com os dois tipos de rolo-faca, que reduziram o tempo de acamamento dos adu-bos verdes para plantio direto e o gasto de mão de obra, além de propor-cionarem boas taxas de cobertura de solo, muito similares aos sistemas manuais com foice e roçadeira costal. As roçadeiras de microtrator e trator apresentaram eficiências operacionais, mas proporcionaram baixa taxa de cobertura do solo para o plantio direto. Verificou-se também que o tipo

- 226 -

de palha não interferiu na eficiência dos tipos de plantadeira, sendo que o plantio com matraca mostrou-se muito eficaz, comparado às plantadeiras de microtrator e trator com 1 e 2 linhas. A plantadeira de 2 linhas mostrou--se mais adequada, por reduzir o tempo de trabalho e a mão de obra, em relação ao sistema manual com matraca e com plantadeira de 1 linha.

Subprojeto 8: Envolvimento acadêmico, complementação educacional e capacitação técnica de filhos de agricultores familiares, estudantes de escolas de alternância

Cada escola fez a identificação e seleção dos alunos no início de cada ano, compondo uma programação de estágios para os meses de março a dezembro. Nos anos de 2009 e 2010 foram realizados estágios sema-nais, de alunos de 4 Escolas Famílias Agrícolas (EFAs), da rede Mepes, de São João de Garrafão, Olivânia, Alfredo Chaves e Castelo, de forma que foram recebidos 2 alunos de cada escola por mês (máximo de 8 alunos por mês). Ao longo desses dois anos, foram estagiados 95 alunos, filhos de agricultores familiares.

Subprojeto 9: Envolvimento, difusão de tecnologias, troca de saberes e capacitação de agricultores e técnicos na produção orgânica

As estratégias de envolvimento, difusão e capacitação realizadas estão des-critas adiante.

a) Reuniões de planejamento e avaliação: Foram realizadas 2 reuniões anuais de planejamento e avaliação nos anos de 2009 e 2011, com os parceiros e outros representantes de entidades envolvidas, no Centro Regional do In-caper, onde se situa a Unidade de Referência em Agroecologia, com visitas ao campo experimental, discutindo sobre o sistema de produção, propondo novos temas para pesquisa e avaliando-se os resultados alcançados.

b) Excursões técnicas mensais: A previsão de excursões técnicas mensais não foi concretizada, sendo possível realizar 7 excursões durante 2009 a 1011.

c) Dias de campo: Realizou-se um dia de campo no mês de julho de 2009 e outro no mês de agosto de 2011, momentos em que foram demonstradas práticas da agricultura orgânica, tecnologias avaliadas e geradas pelo pro-jeto, bem como divulgadas e lançadas publicações editadas pelo Incaper. A Figura 10 apresenta imagens do dia de campo de 2009, e a Figura 11, do dia de campo de 2011, os quais contaram com aproximadamente 300 e 250 agricultores e técnicos, respectivamente, representantes de 30 municípios do Estado do Espírito Santo.

- 227 -

Figura 10 − Imagens do dia de campo realizado no ano de 2009 Incaper, 2011.

Figura 11 − Imagens do dia de campo realizado no ano de 2011, para lançamento do livro e divulgação de tecnologias dos 20 anos

de investigação científica na área

Visando a promoção e divulgação da atividade, foram criadas logomarcas, divulgadas em placas, selos, rótulos e sacola retornável distribuída aos par-ticipantes dos dias de campo, conforme as ilustrações da Figura 12.

- 228 -

Figura 12 − Imagens de logomarcas, placas, selos e rótulos utilizados

no projetoIncaper, 2011.

d) Cursos de nivelamento e de capacitação:

Cursos para técnicos − Foram realizados dois cursos de capacitação de téc-nicos do Incaper e de instituições parceiras do projeto. No ano de 2009 par-ticiparam 35 treinandos, e no ano de 2010 foram 25 treinandos.

Cursos para agricultores − Foram realizados dois cursos para agricultores, no ano de 2009, com 20 participantes, e em 2011, com 15 participantes.

e) Publicações editadas: As publicações editadas de 2009 a 2011 estão relata-das na forma de referências bibliográficas, em ordem cronológica, confor-me a seguir. Destacam-se o livro sobre os 20 anos de pesquisa e tecnologias na área e a cartilha sobre agroecologia e agricultura orgânica (destinada a técnicos e agricultores) custeada por este projeto, ilustrados na Figura 13.

- 229 -

Figura 13 − Acima: Livro sobre os 20 anos de pesquisa e tecnologias, lançado

em 2011. Abaixo: Cartilha para técnicos e agricultores, lançada em 2012,

mostrando o apoio do CNPq na contracapa

Incaper, 2012.

Conclusões

Os resultados indicaram o alcance da grande maioria das metas previstas, que podem ser resumidas assim:

1) Foram caracterizadas as médias das produtividades das hortaliças, do milho e do feijão, nos anos de 2009 a 2011, na Unidade de Referência em Agroecologia do Incaper, acumuladas após 21 anos, revelando produtivida-des competitivas para o mercado.

2) Foi caracterizada a fertilidade acumulada dos solos submetidos a mane-jo orgânico na Unidade de Referência em Agroecologia do Incaper, após 21 anos, comprovando elevado poder de melhoria da fertilidade do sistema.

3) Comprovou-se que a prática da agricultura orgânica tem potencial para fixar, em média, 16 toneladas de CO2-equivalente por hectare, num período de 3 anos.

4) O cultivo orgânico de hortaliças em alamedas pode aumentar o rendi-mento comercial das culturas e incrementar o aporte de nitrogênio e car-bono no sistema.

5) O emprego do Plantio Direto no sistema orgânico de produção beneficia a produtividade das culturas e reduz custos com capinas, mas não suple-menta o estoque de carbono no solo, já realizado pela adubação orgânica com composto.

- 230 -

6) O uso de compostos com maiores teores de nitrogênio e o emprego da adubação verde em pré-cultivo aumentam o rendimento comercial das cul-turas do milho verde e repolho.

7) Não foi verificada a elevação da produtividade nas culturas de tomate, pepino e gengibre com a utilização da adubação em cobertura com biofer-tilizante líquido enriquecido com N e K, pelo fato de os solos estarem com altos níveis de fertilidade.

8) Foram distribuídas aos agricultores orgânicos, em 3 anos, sementes e propágulos orgânicos, nas seguintes quantidades por espécie: 300 g de se-mentes de tomate var. roquesso e 300 g da var. cereja; 600 kg de bulbilhos de alho; 600 kg de batata; 300 kg de milho; 300 kg de feijão; 900 kg de gen-gibre e 900 kg de taro.

9) Comprovou-se a eficiência dos dois tipos de rolo-faca, que, além de re-duzirem muito o tempo de acamamento dos adubos verdes para plantio direto e o gasto de mão de obra, proporcionaram taxas de cobertura de solo adequadas, muito similares aos sistemas manuais com foice e roça-deira costal.

10)Apesar de eficiências operacionais das roçadeiras de microtrator e de trator, estas proporcionaram baixa taxa de cobertura do solo para o plantio direto. O tipo de palha não interferiu na eficiência dos tipos de plantadeira, sendo que o plantio com matraca mostrou-se muito eficaz, comparado às plantadeiras de microtrator com 1 e 2 linhas. A plantadeira de 2 linhas foi a mais adequada, pois reduziu o tempo de trabalho, e por consequência o consumo de mão de obra, em relação ao sistema manual com matraca e com plantadeira de 1 linha.

11) Foram estagiados 95 alunos, filhos de agricultores familiares, de quatro Escolas Famílias Agrícolas dos municípios de Santa Maria de Jetibá, An-chieta, Alfredo Chaves e Castelo, no período de 2009 a 2011.

12) Foram realizados 2 dias de campo com 550 agricultores, ministrados 2 cursos de nivelamento para 60 técnicos, 3 cursos para 35 agricultores fa-miliares parceiros do projeto, realizadas 7 excursões técnicas e editadas 17 publicações, com destaque para um livro sobre 20 anos de tecnologias e uma cartilha sobre agroecologia e agricultura orgânica.

- 231 -

Estratégia de desenvolvimento tecnológico e social local para melhoria nos agroecossistemas produtores de hortaliças e grãos da Região Centro-Serrana do Espírito Santo

Maria da Penha Angeletti1

RESUMO: O projeto foi desenvolvido no período de fevereiro de 2009 a fevereiro de 2012, nos municípios de Santa Maria de Jetibá, Laranja da Ter-ra, Domingos Martins e Afonso Cláudio. Iniciativa pioneira, com o objetivo de promover melhorias nos agroecossistemas produtores de hortaliças e grãos, mediante a introdução, adaptação e ou validação dos princípios do Sistema Plantio Direto como prática de manejo conservacionista; a intro-dução do yacon (Smallanthus sonchifolius Poepp. & Endl.) como opção de di-versificação de culturas; a promoção de ações de desenvolvimento humano e social e unificação de esforços de pesquisa e extensão rural. Uma rede de atores começou a ser formada proporcionando um ambiente de familiari-dade com as tecnologias em desenvolvimento e gerando possibilidade de maior receptividade e apropriação após as recomendações.

Introdução

Na Região Centro-Serrana do Espírito Santo, os agrossistemas produtores de olerícolas estão em estabelecimentos familiares que, em sua maioria, adotam as práticas convencionais de agricultura, com uso intensivo do solo, da água, de tecnologias de produto e de máquinas para preparo do solo. Há pouco uso de práticas conservacionistas e/ou recuperadoras do solo, da água, da qualidade do ar e da biodiversidade. O arraste de terras de cultivo morro abaixo, as lavouras em monocultivo com solo descoberto, são parte da paisagem rural regional. Nesses sistemas, os custos de pro-dução são elevados e a sustentabilidade da agricultura familiar pode ser comprometida, o que é agravado pelas incertezas tecnológicas diante do quadro atual de mudanças climáticas.

Nesse contexto, o sistema plantio direto na palha − SPD ou SPDP − pode representar uma opção de saudável revitalização dos agroecossistemas. O SPD é caracterizado pela aplicação de três princípios: (1) não revolvimen-to do solo; (2) sua cobertura permanente e a (3) rotação de culturas na área, incluindo espécies de plantas produtoras de biomassa para a cobertura do solo (CANALLI et al., 2010). Muito mais do que um conjunto de tecnologias, hoje é considerado uma estratégia global de agricultura sustentável (OLI-VEROS, 2008; SÁ et al., 2010; MELLO, 2012).1 Pesquisadora coordenadora do Incaper. Contato: [email protected]

- 232 -

É um sistema que concilia uma produção economicamente viável com a preservação e recuperação do ambiente; além do alcance social, uma vez que seu conceito é aplicável em todos os sistemas de produção agropecuá-ria e nas mais variadas realidades fundiárias. Este resultado positivo só é alcançado quando se adotam todos os conceitos envolvidos no SPD (RALIS-CH et al., 2010). O SPD reduz perdas de solo por erosão, mantém os orga-nismos do solo protegidos da incidência direta de sol e de variações extre-mas de temperatura e umidade, aumentando a biodiversidade funcional e diminuindo a intensidade do trabalho dos agricultores (DAROLT e NETO, 2004, citado por BITTENCOURT, 2008). Em Unaí (MG), a introdução do uso do SPD possibilitou a valorização da terra e da mão de obra familiar, além do aumento de produtividade (OLIVEIRA et al., 2009).

Para construir com os agricultores novas opções de manejo, é útil adotar um processo de avaliação desenvolvido nas condições locais onde se realiza a produção agrícola, considerando-se as dificuldades e variáveis que determi-nam as estratégias dos agricultores, de modo que a concepção, a avaliação e a apropriação desses sistemas sejam pensadas de modo participativo e den-tro do contexto do processo de desenvolvimento econômico e social desses agricultores (OLIVEIRA et al., 2009). Recomendam-se os métodos de pesqui-sa participativa porque permitem articular o conhecimento dos técnicos e cientistas com os saberes e as demandas dos agricultores. Pesquisadores e extensionistas, dentro dessa perspectiva, atuariam em conjunto com os agri-cultores, caracterizando um novo paradigma para a pesquisa, a extensão e o desenvolvimento (CHAVES; CAPORAL, 2012).

Com base em demandas identificadas na prática de ater e em oficinas de diagnóstico (INCAPER, 2007), foi construída uma proposta de pesquisa em inovação, para os sistemas da agricultura familiar da Região Centro-Serra-na do Espírito Santo, executada no período de fevereiro de 2009 até abril de 2012. Esforços foram aplicados na construção participativa de um processo de desenvolvimento tecnológico local e regional, com o objetivo de promo-ver melhorias nos agroecossistemas produtores de hortaliças e grãos me-diante (1) a introdução, adaptação e/ou validação dos princípios do Sistema Plantio Direto como prática de manejo sustentável; (2) a introdução do ya-con (Smallanthus sonchifolius Poepp. & Endl.) como opção de diversificação de culturas e alimento diferenciado promotor de saúde da família; e (3) a promoção de ações de desenvolvimento humano e social e de unificação de esforços de pesquisa e extensão rural.

- 233 -

Metodologia

O projeto foi executado nos municípios de Santa Maria de Jetibá, Laranja da Terra, Domingos Martins e Afonso Cláudio e contou com a parceria das seguintes entidades: Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santa Maria de Jetibá; Escola Municipal Agrícola de Afonso Cláudio; Secretaria de Desen-volvimento Rural de Domingos Martins; Associação dos Pequenos Produ-tores Rurais de Laranja da Terra; Centro de Educação Técnica Fé e Alegria, e em colaboração com a Escola Família Agrícola São João do Garrafão.

Estratégia 1: Desenvolvimento Humano, Social e Ambiental

Ações para atender demanda de formação de conhecimentos para estimu-lar o repensar das práticas de agricultura convencional, a adoção de prá-ticas de Agricultura de Conservação (rotação de culturas, adubação verde e os princípios do Sistema Plantio Direto) e a otimizar o uso dos recursos naturais e dos fatores de produção.

Estratégia 2: O Plantio Direto na Palha como Caminho de Melhoria Con-tínua e Duradoura nos Agroecossistemas

Ações para geração, adaptação e validação local dos princípios do SPDP, formação de conhecimentos técnico-científicos, criação de ambiente fami-liar e receptivo a mudanças tecnológicas.

Estratégia 3: Educação para a Segurança Alimentar

Fomento do uso de sementes de milho variedade e de variedades locais/regionais de feijão nos sistemas de rotação em SPD; uso de indutores de resistência no manejo de plantas nos experimentos, nas unidades de ob-servação e nas experiências, como prevenção de problemas fitossanitários e redução do uso de agrotóxicos; uso de yacon como alimento nutracêutico e com efeitos medicinais.

Estratégia 4: Diversificação Agropecuária

Introdução do yacon como opção de produto agroecológico com potencial para feiras e mercados locais, e de geração de agrobiodiversidade nas pro-priedades familiares.

Foram aplicados recursos metodológicos diversificados para alcançar os objetivos propostos, como pode ser observado no Quadro 1.

- 234 -

Item Descrição Quantidade

1 Levantamento/identificação de experiências sustentáveis de iniciativa local 04

2 Reuniões e Palestras: tema Sistema Plantio Direto na Palha 18

3 Pesquisa: Experimento rotação de culturas em Sistema Plantio Direto, com acompanhamento conjunto dos técnicos e agricultores 02

4Pesquisa: Experimento de avaliação de plantas de cobertura de primavera/verão para formação de palhada, com acompanhamento conjunto dos técnicos e agricultores

01

5Pesquisa: Experimento de avaliação de plantas de cobertura de outono/inverno para formação de palhada, com acompanhamento conjunto dos técnicos e agricultores

01

6 Unidades de Observação: Plantas de cobertura para formação de palhada, com acompanhamento conjunto dos técnicos e agricultores 06

7 Unidades de Observação: Yacon como opção de diversificação, com acompanhamento conjunto dos técnicos e agricultores 04

8Unidades de Observação: Manejo e rotação de culturas em Sistema Plantio Direto, com acompanhamento conjunto dos técnicos e agricultores

04

9 Visitas coletivas às Unidades de Observação e Experimentos (por agricultores, técnicos, líderes de organizações sociais e autoridades) 10

10Ações de fomento de sementes para promover o uso de plantas de cobertura do solo como rotação de culturas no SPD (para agricultores familiares de organizações sociais, para escolas)

18

11 Encontro Técnico sobre Plantio Direto na Palha 01

12Horas-aula em 2010 − Curso Pós-Técnico em Agroecologia com tema Sistema Plantio Direto (incluindo teoria e a prática nos experimentos e unidades de observação em Sistema Plantio Direto)

14

13 Horas-aula em Escola Agrícola de Ensino Fundamental com tema Yacon e Práticas de Agricultura Sustentável 12

14Ações de promoção do yacon como alimento nutracêutico, em feira-livre e supermercados de Afonso Cláudio, visando formação de consumidores – alunos da Escola Agrícola Municipal

04

15 Criação de banner para campanha promocional de yacon em feira-livre e supermercados 01

16 Visita de técnicos e agricultores a propriedades familiares cultivadas no Sistema Plantio Direto, no Estado do Paraná 01

17Ação de fomento de mudas de yacon produzidas em Unidade de Observação e distribuição à Escola Agrícola e aos alunos/pais de alunos agricultores familiares

01(500 mudas)

18Cocriação de calendário anual temático sobre Sistema Plantio Direto (no âmbito do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santa Maria de Jetibá)

Quadro 1 − Metas realizadas

- 235 -

Foram realizados experimentos no Centro de Educação Técnica Fé e Ale-gria (Cetefa), município de Laranja da Terra, e em propriedade familiar na comunidade Barcelos, Aracê, Domingos Martins, para estudo de sistemas de manejo e rotação de culturas em SPD; estudo de plantas de cobertura de primavera/verão em cultivo solteiro (Crotalaria juncea, Crotalaria spec-tabilis, Crotalaria ochroleuca, Canavalia ensiformis, Cajanus cajan, Dolichos lablab, Pennisetum glaucum); estudo de plantas de cobertura de outono/in-verno em cultivo solteiro (Avena strigosa variedade Iapar 61 e 2 variedades de agricultores familiares; Raphanus sativus, Lollium multiflorum, Vicia Sa-tiva, Helianthus annuus, Pisum sativum subesp. Arvense, Secale cereale, Avena sativa, Lupinus angustifolius).

Nos experimentos de plantas de cobertura, as espécies foram escolhidas considerando também o potencial de dupla aptidão, para uso em outras atividades na propriedade familiar, como alimentação animal (bovinos, aves), produção de flores/pólen para alimentação de abelhas, atrativo pai-sagístico para o agroturismo, além de função atrativa para inimigos natu-rais, principalmente no inverno, com o objetivo de agregar função e au-mentar o potencial de impacto positivo nos agroecossistemas.

Paralelamente à realização de experimentos, foram conduzidas unidades de observação de rotação de culturas em SPD como estratégia de partici-pação de extensionistas e agricultores, com seus saberes e habilidades na identificação de desafios, limitações e potenciais da aplicação prática do sistema em nível local. Os procedimentos técnicos para introdução dos princípios do sistema plantio direto na palha em unidades de observação, em nível de agricultores e escolas, foram adaptados das recomendações da Emater-PR (MARX et al., 2000) e dos conhecimentos adquiridos em visitas a agricultores familiares (PR) que praticam o SPD.

Como estratégia para formação de palhada optou-se por milho verde + fei-jão de porco ou milho grão + feijão de porco, no caso de primavera/verão, sendo o feijão de porco de conhecimento comum, devido ao uso pelos agri-cultores. Para a formação de palhada em rotação de outono/inverno usou--se as recomendações de SP e MG, enquanto não se tem as recomendações da pesquisa local/regional.

A opção pelo uso de produtos dessecantes foi dependente da prática de cada agricultor para manejo das plantas espontâneas, sendo recomendado o manejo das plantas de cobertura com roçadeira costal manual. Com o

- 236 -

passar do tempo, a formação da cobertura de palha e consequente dimi-nuição da ocorrência e da competição do mato, o agricultor pode se tornar independente desses insumos.

Resultados, discussões e conclusões

O número de parceiros e colaboradores e o número de ações realizadas foram maiores do que o previsto no projeto inicial.

Devido ao tempo necessário para os estudos de plantas de cobertura e rota-ção de culturas em SPD, foi necessária a continuidade das ações de pesqui-sa após o fim do projeto, com uma segunda fase e novo projeto financiado pelo Incaper, Governo do Estado do Espírito Santo, finalizando os traba-lhos de campo em setembro de 2013. As primeiras recomendações com ba-ses científicas serão realizadas em 2014.

Observa-se, após a conclusão dos projetos, a continuidade desta linha de pesquisa no Incaper, visando a construção de uma base científica e tecno-lógica consistente, com mais profissionais envolvidos e submissão de nova proposta em edital para avanço tecnológico por meio de estudos com mis-turas de plantas de cobertura e aprofundamentos nos sistemas de rotação de culturas, incluindo espécies de maior valor econômico.

Observou-se que a aplicação dos princípios do SPD operada pelos agricul-tores por meio de unidades de observação e de experiências em meio real, dentro das condições concretas de propriedades familiares, fora das fazen-das experimentais, permitiu identificar desafios e problemas comuns no ma-nejo das tecnologias, o que sintoniza com o que afirmam Samek e Friedrich (2006), segundo os quais o manejo das tecnologias do sistema plantio direto pelos agricultores possibilitou que os demais agricultores pudessem adotar as técnicas validadas pelo trabalho conjunto pesquisador-agricultor.

Os desafios e/ou problemas identificados no âmbito da pesquisa, da ATER, de agricultores familiares e suas representações, na adaptação local/regio-nal do SPD foram: iniciativa pioneira que enfrenta a falta de conhecimen-tos, de informações e experiências práticas locais; resistência de agriculto-res, técnicos e entidades; falta de capacitação técnica; não disponibilidade no comércio local e regional de sementes das plantas de cobertura, que chegam de outros estados a um custo muito elevado; não disponibilidade

- 237 -

de equipamentos e máquinas para trabalhar o SPD em região de topogra-fia acentuada; dificuldade de se encontrar serviços de preparo de solo com uso de subsolador, além dos desafios técnicos e operacionais normais no estabelecimento do SPD. Semelhante ao que afirma Darolt (1998, citado por MAPA, 2009), observou-se, como entraves do plantio direto encontrados por “pequenos agricultores” do Brasil, a dificuldade em adaptar-se ao sis-tema pela tradição cultural no uso da aração (mudança de mentalidade), além da falta de conhecimento e informação, bem como a falta de recursos financeiros para investimentos e custeio.

Uma rede de atores começou a ser formada, proporcionando um ambiente de familiaridade com os princípios do SPD, e com as tecnologias em desen-volvimento, e a formação de novos conhecimentos, o que poderá gerar a possibilidade de maior receptividade e apropriação de informações após as recomendações tecnológicas.

Houve a participação direta de 24 agricultores aplicando os princípios, incluin-do unidades de observação e experiências com plantas de cobertura de solo.

Observou-se um papel diferenciado do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santa Maria de Jetibá como promotor de credibilidade, adesão, consoli-dação e expansão das experiências e unidades de observação no SPD, seme-lhante ao que relata Ahrens (2007), que identificou como ator importante no sucesso da pesquisa participativa o agricultor-promotor. A parceria en-tre STRSMJ e Incaper continuou após o projeto, sendo que o STR investe recursos com pessoal, compra de sementes e adubos, como ajuda de custo em novas experiências e unidades de observação, enquanto não se dispõe dos recursos de um novo projeto. A parceria entre pesquisa e ATER local também continua, com evolução na forma de ação conjunta.

No município de Laranja da Terra, a parceria pesquisa e ATER local e agri-cultores continua, por meio de unidade de observação de rotação de cul-turas (culturas olerícolas, grãos e plantas de cobertura), agora no 3º ano agrícola, e de experiências com plantas de cobertura para formação de palhadas nas entrelinhas de lavouras de café. Depende de novos recursos de projeto para continuidade com qualidade. A Unidade tem um impacto muito positivo sobre a comunidade, que pode observar os avanços obtidos, devido à localização na beira de estrada, destacando-se o aumento do uso de subsolador no preparo do solo.

- 238 -

Considera-se que um desafio tão importante quanto a continuidade das ações de pesquisa é a formação de novas referências na agricultura fami-liar local/regional, a partir da identificação de agricultores familiares/li-deranças que, como sinaliza Sabourin (2001), apresentam capacidade para alterar as normas de produção utilizadas e transmitidas no seio da família e com facilidade para exercer influência sobre a comunidade e os demais agricultores do entorno.

Nesse sentido, fortalecer o potencial de aprendizagem coletiva local, o despertar da consciência, a formação contínua de conhecimentos para os técnicos, a integração dos saberes, a formação de agentes multiplicadores--promotores e o envolvimento de novos atores são metas a se buscar nesse processo simultâneo de desenvolvimento tecnológico e social, o que tam-bém é apontado por Epagri (2004), trabalhando para mudar a forma de praticar a agricultura e de pensar o desenvolvimento rural, em comunida-des de agricultores familiares produtores de hortaliças, em Santa Catarina.

Referências

AHRENS, D. C.; SKORA NETO, F.; RIBEIRO, M. de F. S.; COSTA, A.; PEIXO-TO, R. T. G.; MILLÉO, R. D. S.; BENASSI, D. A.; CAMPOS, A. C.; GOMES, E. P.; OLIVEIRA, C. F. de. Reflexões sobre a pesquisa participativa. Resumos do II Congresso Brasileiro de Agroecologia. Passo Fundo. Rev. Bras. Agroecologia, v. 2, n. 1, p. 89-92, fev. 2007.

BITTENCOURT, H. V. H. Culturas de cobertura de inverno na implantação de sistema de plantio direto sem uso de herbicidas. 2008. 68 p. Dissertação (Mes-trado em Agroecossistemas)−Universidade Federal de Santa Catarina, Cen-tro de Ciências Agrárias, Florianópolis, 2008.

CANALLI, L. B.; SÁ, J. C. de M.; SANTOS, J. B dos; FERREIRA, A. O.; BRIEDIS, C.; TIVET, F. Proposta de um protocolo para validação e certificação da qua-lidade do SPDP relacionada à redução de emissões de CO2. In: ENCONTRO NACIONAL DE PLANTIO DIRETO NA PALHA, 12., 2010. Resumos... Ponta Grossa: FEBRAPDP, 2010. p. 85-94.

CHAVES, A. G. C.; CAPORAL, F. R. Pesquisa e extensão: a necessidade de in-corporar a participação do agricultor. Boletim SBCS, Viçosa, v. 37, n. 1, p. 32-37, jan./abr. 2012.

- 239 -

EPAGRI. Sistema de plantio direto de hortaliças: o cultivo do tomateiro no Vale do Rio do Peixe, SC, em 101 respostas dos agricultores. Florianópolis: Epagri, 2004. 53 p. (Boletim Didático, 57).

INCAPER. Relatório de Oficina do PROATER ELDR Santa Maria de Jetibá Re-gional Centro Serrana. Santa Maria de Jetibá: ELDR SMJ, out. 2007. 11 p.

MAPA – Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Agricultura Inteligente: sistema plantio direto na palha alia sustentabilidade à preser-vação ambiental. Terra Brasil, Brasília, ano 2, n. 3, p. 4-14, set. 2009.

MARX, E. F.; SILVA, J. C. C. da; BASTIANI, T. F. Sistema de semeadura plantio direto para iniciantes. Curitiba: Emater, 2000. 32 p. (Produtor, 36).

MELLO, I. Plantio direto na palha – A evolução para uma estratégia global. Fundação Agrisus – Agricultura Sustentável. Artigo n. 7. [2012?] Disponível em: <http://www.agrisus.org.br/artigos.asp?cod=101>. Acesso em: 30 jan. 2012.

OLIVEIRA, M. N. de; XAVIER, J. H. V.; SILVA, F. A. M. da; SCOPEL, E.; ZOBY, J. L. F. Efeitos da introdução do sistema plantio direto de milho por agricul-tores familiares do município de Unaí, MG (Cerrado brasileiro). Pesquisa Agropecuária Tropical, v. 39, n. 1, p. 51-60, jan./mar. 2009.

OLIVEROS, L. F. C. Emissões de CO2 do solo sob preparo convencional e plantio direto em Latossolo Vermelho do Rio Grande do Sul. 2008. 80 f. Dissertação (Mestrado em Ciência do Solo)−Centro de Ciências Rurais. Universidade Fe-deral de Santa Maria, Santa Maria, 2008. Disponível em: <http://w3.ufsm.br/ppgcs/disserta%E7%F5es%20e%20teses/Disserta%E7%E3o%20Luis%20Fernando%20Chavez%20-%2008.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2012.

RALISCH, R.; AQUINO, A. M. de; CAMPIOLO, S.; ALMEIDA, E.; BRUNO, J. L.; TRAMONTINA, D. C. Plano piloto para a validação e certificação da biodiversidade no sistema plantio direto na palha. In: ENCONTRO NACIO-NAL DE PLANTIO DIRETO NA PALHA, 12., 2010. Resumos... Ponta Grossa: FEBRAPDP, 2010. p. 157-164.

SÁ, J. C. de M.; CANALLI, L. B.; SANTOS, J. B. dos; TIVET, F.; BRIEDIS, C.; FER-REIRA, A. de O. Sistema plantio direto como estratégia para acumular car-bono no solo e reduzir as emissões de gases do efeito estufa. In: ENCONTRO NACIONAL DE PLANTIO DIRETO NA PALHA, 12., 2010. Resumos... Ponta Grossa: FEBRAPDP, 2010. p. 59-68.

SABOURIN, E. Aprendizagem coletiva e construção social do saber local:

- 240 -

o caso da inovação na agricultura familiar da Paraíba. Estudos Sociedade e Agricultura, v. 16, p. 37-61, abr. 2001.

SAMEK, J. M.; FRIEDRICH, N. M. Sistema plantio direto com qualidade. Lon-drina: Iapar; Foz do Iguaçu: Itaipu Binacional, 2006. 212 p.

- 241 -

Desenvolvimento sustentável e vigilância ambiental em proprieda-des rurais de agricultura familiar, com a equação de situações de risco da ocorrência de doenças infectocontagiosas no noroeste do Estado do Rio de Janeiro

C. H. C. Costa1

P. C. RomijnJ. G. Pinheiro

L. M. S. KimuraR. F. Nascimento

H. MagalhãesW. M. Gonçalves

L. M. P. BrunoA. M. P. Bruno

L. CarvalhoM. W. Santos

A. S. Lopes

Resumo: As enfermidades infectocontagiosas e parasitárias que acarretam maiores prejuízos econômicos ao produtor familiar, especialmente as princi-pais zoonoses, foram enfocadas, visando sua prevenção, seu controle, trata-mento ou erradicação. Foram colhidas 227 amostras biológicas de animais mortos por doenças ou abatidos em matadouros e os principais agravos diag-nosticados foram: Fasciolose, Tuberculose, broncopneumonias, Cisticercose, Raiva, Varíola Bovina, encefalites não rábicas, hepatite tóxica por Crotalaria sp., Actinogranuloma, Leucose esporádica, Carbúnculo Sintomático, Granu-loma helmíntico, Tristeza Parasitária, abscesso faringiano, cirrose hepática, Hemoncose e outras enfermidades inespecíficas, como peritonite, pericardite e nefrite. Foram ministradas palestras e orientações técnicas aos produtores, visando medidas de controle e prevenção das enfermidades identificadas.

Objetivo

Identificar rebanhos e criações de propriedades de agricultura familiar afetados por enfermidades infectocontagiosas e fatores que interferem no controle sanitário, fornecendo subsídios aos criadores para a adoção de medidas sanitárias cabíveis, promovendo a redução de perdas econômicas e o desenvolvimento sustentável.

1 Pesquisador da Pesagro-Rio, coordenador do Projeto. Contato: [email protected].

- 242 -

Metodologia

A primeira fase constituiu-se de entrevistas com agricultores familiares nos municípios escolhidos (Miracema, Santo Antônio de Pádua, Laje do Muriaé e Itaperuna), e a montagem de um protocolo de monitoramento e coleta de materiais nas propriedades participantes e matadouro. A segunda fase envolveu a realização de exames laboratoriais das amostras biológicas co-letadas. Por fim, a última etapa correspondeu à orientação técnica quanto a prevenção, controle e tratamento dos agravos diagnosticados. Durante todo o período foram desenvolvidas ações de vigilância quanto ao risco da ocorrência de Raiva e o controle populacional do morcego hematófago Des-modus rotundus quando necessário. Todas as atividades foram mapeadas, com georreferenciamento do local das enfermidades.

Resultados

Tendo em vista a pequena quantidade de materiais oriunda dos produtores familiares monitorados, expandiu-se a coleta de amostras para outros pro-dutores familiares dos municípios estudados, como também para mata-douros de Miracema, Santo Antonio de Pádua e Itaperuna. No total, foram coletadas 227 amostras, oriundas de 145 animais, sendo 145 materiais para exames histopatológicos (peças de necropsias e de matadouro), 45 mate-riais para o diagnóstico de Raiva, 15 amostras para exame bacteriológico, 15 amostras para pesquisa de Babesia bovis (em encéfalos negativos para o diagnóstico de Raiva) e 7 amostras para exame parasitológico.

As principais enfermidades diagnosticadas foram: Fasciolose (47), Tubercu-lose (38), Broncopneumonias (14), Cisticercose (6), Raiva (5), Varíola Bovina (3), encefalites não rábicas (3), Hepatite Tóxica por Crotalaria sp. (2), Actino-granuloma (1), Leucose esporádica (1), Carbúnculo Sintomático (1), Granu-loma helmíntico (1), Tristeza Parasitária (1), Abscesso Faringiano (1), Cirro-se Hepática (1), Hemoncose (1) e outras enfermidades inespecíficas, como peritonite, pericardite, nefrite, entre outras. Alguns animais examinados apresentaram mais de um agravo.

- 243 -

Discussão

Desde a sua criação, em 1976, a Pesagro-Rio vem colaborando em proje-tos de pesquisa que visam à melhoria das condições de vida do pequeno produtor, desenvolvendo, adaptando e introduzindo tecnologias próprias para o desenvolvimento sustentável local. Pelo grande número de zoono-ses identificadas, os possíveis desdobramentos do trabalho ora realizado se aplicam a uma maior integração dos serviços de Medicina Veterinária com a Saúde Pública municipal e regional, e direcionada à agropecuária fami-liar. As orientações quanto a prevenção das zoonoses devem ser levadas à população em geral, com ênfase aos alunos das escolas.

As enfermidades diagnosticadas, em sua grande maioria, dispõem de tec-nologia já pronta para sua prevenção e controle, no entanto o agricultor familiar tem dificuldades em introduzi-las devido a suas limitações econô-micas. Disponibilizar um centro de pesquisa diagnóstica e técnicos médicos veterinários para o pequeno produtor com certeza atende à demanda rural e evidenciará enfermidades em muitas áreas silenciosas. Essa metodologia não é nova, mas a falta de infraestrutura laboratorial ativa e a ausência de in-centivo à notificação podem encobertar surtos de enfermidades relevantes.

O pequeno produtor não tem o hábito de notificar doenças no seu quadro inicial, optando por tentar ele mesmo medicar seus animais, só solicitando a intervenção de um médico veterinário quando, a seu ver, o quadro assu-miu proporções muito graves.

O trabalho ora realizado pode ser considerado um incentivo relevante ao agricultor familiar para manter-se no campo, uma vez que teria à sua dis-posição orientação técnica especializada gratuita.

Dentre as pesquisas da Pesagro-Rio relativas à sustentabilidade associada à saúde animal, o trabalho realizado serviu para evidenciar a importância das zoonoses e de sua vigilância, o que o Centro de Pesquisa em Sanidade Animal Geraldo Manhães Carneiro vem realizando cada vez com mais ade-quação aos agricultores familiares, os mais expostos a seus riscos, devido ao convívio intenso com sua criação, associado à falta de orientações ade-quadas por parte de profissionais qualificados, decorrente das dificuldades sociais e econômicas pelos quais passam. Novos projetos neste âmbito es-tão sendo priorizados pela Pesagro-Rio.

- 244 -

Vale destacar que a identificação de mais de 30% dos animais apresen-tando Fasciolose não foi surpreendente. A importância da realização de exames periódicos para detectar a presença de parasitoses em geral, mas em especial a Fasciolose, que em muito prejudica o desempenho do gado leiteiro, aponta para a necessidade da continuidade das pesquisas. A Fas-ciolose vem aumentando dramaticamente sua prevalência na Região Noro-este Fluminense. Em 2010, no Matadouro Municipal de Miracema, foram condenados 19% dos fígados dos animais abatidos, devido ao parasitismo por Fasciola hepatica. No Brasil, estudos indicaram a ocorrência de casos confirmados em humanos no Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Bahia, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Portanto, faz-se necessária a execução de estudos epidemiológicos em hu-manos, principalmente nas propriedades foco da doença, e a realização de campanhas sanitárias junto aos pequenos produtores, que são os mais ex-postos devido à sua convivência direta com os animais parasitados e com o ambiente contaminado.

A pasteurização do leite reduz em muito a transmissão de zoonoses como a Tu-berculose para o consumidor. Entretanto, pequenos produtores rurais e seus familiares permanecem com alto risco de infecção, devido ao seu contato di-reto e permanente com animais infectados ou seus produtos, o que foi eviden-ciado pelo presente trabalho, com 26% dos animais examinados acometidos.

A constatação da Cisticercose no rebanho bovino de alguns produtores é indicativa de causas como más condições de saneamento básico, e tem como consequência o consumo de carnes não inspecionadas e a ocorrência de teníase humana. Ações sanitárias e educativas podem contribuir para a redução drástica destes casos.

Em pelo menos uma propriedade o produtor apresentou lesões compatí-veis com Varíola Bovina. Essa zoonose embora não seja letal, incapacita temporariamente o trabalhador e os animais afetados, devido a lesões ex-tremamente dolorosas nas mãos do ordenhador e nas tetas das vacas, cau-sando prejuízos econômicos.

- 245 -

Conclusões

• As enfermidades detectadas de maior interesse econômico e de saúde pú-blica foram a Fasciolose, Tuberculose, Raiva, Cisticercose e Varíola Bovina.

• É necessário intensificar as campanhas de educação sanitária junto aos agricultores, especialmente sobre o risco de contrair Tuberculose, enfer-midade com alto potencial infeccioso para humanos, através de leite e carnes contaminados.

• A Fasciolose deve ser vista como uma doença emergente, devido a sua prevalência sobre os animais, o que eleva o risco de transmissão para humanos.

• Para identificação e erradicação da Brucelose é necessário estabelecer um programa de substituição de animais contaminados, pois, dessa for-ma, os pequenos produtores permitiriam o acesso a seus rebanhos para realização de exames.

- 246 -

Referências

BAMBERG, A. C. et al. Levantamento de fasciolose hepática em bovinos abatidos na região sul do Rio Grande do Sul em 2004 e 2005. Congrega URCAMP, 2007.

BOTELHO, Gilberto. J. et al. Prevalência da Fasciola hepatica em cinco muni-cípios do Extremo Sul Catarinense. Rev. Ciênc. Agrovet., Lages, 2002.

CORREA, Franklin Riet et al. Doenças de ruminantes e equinos. São Paulo: Varella, 2001. v. 2.

NARI, A.; FIEL, C. Enfermidades parasitárias de importância econômica em bovinos: bases epidemiológicas para su prevención y control. 1. ed. Montevi-deo, Uruguay: Hemisferio Sur, 1994.

OLIVEIRA, A. A. et al. Estudo da prevalência e fatores associados à Fasciolo-se no Município de Canutama, Estado do Amazonas, Brasil. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v. 16, n. 4, p. 251-259, dez. 2007.

PORTO, R. G. et al. Pecuária familiar: a emergência de uma categoria social no Sul do Brasil. Rev. Econ. Sociol. Rural, v. 48, n. 2, 2010.

SANTOS, A. J. Patologia especial dos animais domésticos (mamíferos e aves). Rio de Janeiro: Interamericana Ltda., 1979. 576 p.

SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE. Detecção de casos humanos de Fasciola hepatica no Estado do Amazonas. Boletim Eletrônico Epidemiológico, ano 5, n. 5, p. 1-5, 2005.

UNGAR, M. C.; GERMANO, M. I. S. et al. O valor dos registros de matadouros para saúde pública. Revista Científica da Fac. de Vet. da USP, v. 14, p. 91-97, 1990.

- 247 -

Sistemas de produção de morango para agricultores familiares para diversificação da produção e como nova alternativa de renda na região central de Minas Gerais

Juliana Carvalho Simões1

Introdução

A região central de Minas Gerais tem demonstrado resultados extremamen-te promissores para o cultivo do morangueiro, apresentando bons níveis de produtividade e adaptabilidade às condições ambientais da região. Alguns trabalhos foram conduzidos na região pela Epamig, avaliando-se variedades, época de plantio, tipos de cobertura do solo e sistemas de irrigação. Os tra-balhos demonstraram a viabilidade técnica e econômica da cultura, o que possibilita sua produção por pequenos agricultores familiares.

Atualmente encontra-se em fase final de vigência, na Epamig, um projeto do CNPq (Edital CT-Agronegócio/CNPq nº 04/2006) com implantação de Unidades Demonstrativas de morango em diferentes arranjos produtivos locais. A região central de Minas Gerais é uma das contempladas, possuin-do algumas dessas unidades implantadas em áreas de agricultores familia-res. O presente projeto será então uma continuidade desse trabalho, bus-cando difundir a cultura em uma área ainda não atingida (município de Três Marias) e encontrar alternativas para o manejo de forma sustentável.

A cultura do morangueiro tem um importante caráter social, pois absorve um elevado contingente de mão de obra em todas as suas operações (RABE-LO; BALARDIN, 1993). As propriedades produtoras, na sua grande maioria, são de agricultores familiares que se dedicam ao cultivo do morango, en-volvendo todos os membros da família nas atividades.

A busca de alternativas de novas culturas para inserção na agricultura familiar contribuirá para a diversidade de cultivos, potencializando a di-versificação dos produtos alimentares e promovendo o aumento da renda familiar por meio da venda dos morangos, contribuindo para o combate à pobreza. Além desses aspectos, a diversificação da produção e o aumento de renda favorecerão a permanência das famílias no meio rural.

1 Pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais. Contato: [email protected].

- 248 -

O manejo da cultura do morangueiro, desde a implantação até a pós-colhei-ta, com normas e técnicas sustentáveis, procurando equacionar os diferen-tes problemas mediante uma visão multidisciplinar, poderá proporcionar o manejo equilibrado da cultura, mudando o atual cenário de produção, no qual se utiliza um grande número de defensivos químicos. O cultivo do morango em sistema orgânico tem obtido produções competitivas, com-paradas ao sistema convencional. Os custos no sistema orgânico são sig-nificativamente menores, fazendo com que o retorno econômico final seja superior, sem contar a melhoria das características biológicas do sistema produtivo e a possibilidade de o agricultor familiar utilizar recursos dispo-níveis em sua propriedade e/ou em sua comunidade.

Para Gliessman (2000), os modelos convencionais de produção agrícola, que a um alto custo energético objetivam a maximização da produção, são os que causam maiores impactos ambientais. Atualmente, a incorporação de elementos, tais como a necessidade de aumentar a sustentabilidade produtiva dos sistemas e a pressão dos grupos consumidores esclarecidos da sociedade contemporânea, tem forçado a reavaliação de tais modelos convencionais de produção e, com isso, a proposição de sistemas mais sus-tentáveis e causadores de menor impacto ambiental (QUIRINO et al., 1997).

As cultivares atualmente disponíveis para cultivo no Brasil são poucas, em grande parte por causa da carência de pesquisas no âmbito das instituições federais e estaduais. A produtividade média da cultura do morangueiro nos últimos anos apresenta-se muito abaixo da capacidade genética das cultivares, uma vez que elas não foram desenvolvidas para as condições brasileiras e sim para aquelas dos países que originaram esses materiais.

A percepção da sociedade é que o cultivo do morangueiro utiliza agrotóxicos em demasia, contribuindo para a degradação ambiental e contaminação dos agricultores e consumidores com resíduos de produtos químicos, alguns dos quais inclusive não rotulados para a cultura. Apesar de existirem trabalhos mostrando a viabilidade do cultivo orgânico do morango, conforme mostra-do por Abreu (1999), o sistema convencional ainda é predominante. A identi-ficação de cultivares tolerantes às doenças mais importantes é essencial para que se reduza a necessidade de utilização de defensivos agrícolas. Assim, a avaliação de cultivares mais bem adaptadas e com maior produtividade gera inúmeros benefícios na cadeia produtiva do morango: de um lado, os produ-tores ficam menos expostos a produtos químicos potencialmente perigosos para a saúde e têm perspectivas de auferir maiores lucros com sua explo-

- 249 -

ração econômica; de outro, os consumidores levam para suas casas frutos in natura ou produtos alimentícios industrializados, cujas qualidade e sani-dade são significativamente maiores. Nesse processo, o ambiente como um todo é beneficiado, contribuindo para a preservação da qualidade da água e do solo e também mantendo as populações dos inimigos naturais das pragas e dos organismos antagonistas de doenças em níveis adequados para a sua manutenção nos ecossistemas agrícolas.

Outro aspecto bastante importante é a introdução da cultura em locais que ainda não a conhecem como alternativa de cultivo. Para isso são necessá-rios trabalhos participativos que envolvam os atores componentes das co-munidades e que venham demonstrar a viabilidade de produzir morango em suas propriedades, como forma de diversificação da produção e aumen-to de renda. Com isso, diversas mudanças podem ocorrer no meio rural, devido à garantia de emprego e renda, como a manutenção de comunida-des tradicionais, que poderiam eventualmente estar querendo buscar nas cidades novas formas de sobrevivência.

A inserção do morango como nova alternativa de cultivo para agricultores familiares apresenta como aspecto favorável a produção de mais alimentos. A demonstração, pelos atores envolvidos no projeto, da viabilidade de um manejo mais sustentável que vise a redução do uso de insumos externos, ga-rantindo qualidade de vida ao produtor, qualidade ao ambiente e ao alimen-to produzido, será um facilitador para a adoção de novas técnicas de cultivo. Além disso, abre uma nova perspectiva para inserção de produtos diferencia-dos no mercado, possibilitando o aumento da renda por esses agricultores.

Metodologia

Uma Unidade demonstrativa (UD) de cultivo do morangueiro foi implan-tada na Fazenda Experimental de Santa Rita, pertencente à Epamig, em Prudente de Morais (MG), em maio de 2009. Durante a safra de 2009, essa UD gerou oportunidades aos pequenos agricultores do entorno de Sete La-goas de visitarem e receberem informações relativas ao cultivo do moran-go. Nessas mesmas oportunidades a participação desses agricultores foi de grande importância para a troca de experiências, para enriquecer o projeto e dar novas alternativas para a solução de problemas identificados no dia a dia do acompanhamento da cultura.

- 250 -

Paralelamente à implantação da UD na Fazenda Experimental da Epamig, outra UD foi implantada na propriedade rural pertencente à Associação Comunitária do Bonfim e Adjacências (Asbon), localizada no Município de Três Marias (MG). Todas as etapas contaram com a participação dos atores envolvidos no projeto, cuja tomada de decisões envolveu o grupo familiar, desde o plantio dos adubos verdes, em outubro de 2008, a incorporação desses, em abril de 2009, até maio de 2009, quando foi realizado o plantio das mudas de morangueiro. Todas essas atividades foram realizadas em eventos, como dias de campo e visitas de outros produtores das comunida-des agrícolas da região. Um desses eventos foi realizado no dia 29 de maio, e constou da programação da “V Semana do Alimento Orgânico”, promovida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), sendo divulgado em todo o Estado de Minas Gerais, com a explanação da coor-denadora do presente projeto, sobre o cultivo do morangueiro em sistema orgânico de produção e os objetivos do trabalho. Na mesma oportunidade, a técnica da Emater, Érika Carvalho, que acompanha também as UDs da Fazenda Experimental da Epamig, em Prudente de Morais, e os agriculto-res da região, explanou sobre as caldas utilizadas para controle de pragas e doenças, enquanto realizou o seu preparo em atividade prática. Na sequ-ência, o técnico agrícola Dalton César, da Epamig, demonstrou, na prática, a técnica para colocação do muching sobre os canteiros, com o objetivo de proteger os frutos do contato direto com o solo. Em outro dia de campo, realizado em 17 de setembro de 2009, em pleno pico de produção, o técnico da Emater de Três Marias e a coordenadora Juliana Simões, da Epamig, apresentaram a relação entre o custo e a produção da UD instalada na As-bom, como pode ser observado na Tabela 1.

Extensionistas rurais, principalmente os agrônomos da Emater-MG, fo-ram capacitados como multiplicadores para a condução do morangueiro e participaram de todas as etapas do projeto, juntamente com os produ-tores da Associação Comunitária do Bonfim e Adjacências (Asbon) e os pesquisadores e técnicos agrícolas da Epamig, que se envolveram não so-mente nos eventos, mas também em outras etapas, como avaliação das análises de solo, controle de pragas e doenças e demais etapas de condu-ção das lavouras. A Assessoria de Comunicação da Epamig e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) também participaram na divulgação do trabalho. Para o bom andamento dos trabalhos foi de fundamental importância o apoio da Chefia Administrativa da Unidade Regional Epamig Centro-Oeste.

- 251 -

Principais resultados obtidos

O desenvolvimento do projeto possibilitou a agregação de novas regiões produtoras de morangos. A Região Centro-Oeste, anteriormente conheci-da como uma bacia leiteira, tentou reerguer-se no setor agropecuário, mas infelizmente passou a ser considerada como “região do vazio econômico”. Atualmente, vem crescendo, ainda que timidamente, um arranjo produtivo local de agricultura orgânica, com conscientização gradativa, de produto-res e consumidores, em aspectos socioculturais e ecológicos. A introdução da cultura do morango foi adotada como um produto diversificador da pro-dução orgânica da região, onde está localizada a Fazenda Experimental da Epamig em Prudente de Morais.

A Tabela 1, referente à relação entre o custo e a produção, aqui apresentada, demonstra resultados satisfatórios para os associados da Asbom, com um custo de produção de R$ 6,52 por kg de morangos produzidos, obtendo uma margem de lucro de R$ 3,47 por kg, visto que o preço praticado no mercado no ano de 2010 era de R$ 9,99 o kg de morangos certificados como orgânicos.

Os técnicos locais dos municípios onde as UDs foram instaladas, principal-mente os agrônomos da Emater, foram capacitados como multiplicadores para a condução do morangueiro, com a aplicação das práticas culturais indicadas pelos pesquisadores da Epamig, visando atingir a inserção de maior número de produtores familiares, conduzindo de forma correta o cultivo do morangueiro, durante os dois anos em que o referido projeto esteve vigorando.

- 252 -

Tabela 1 − Relação entre o custo e a produção do morangueiro cultivado em 500m2 na propriedade rural

pertencente à Associação Comunitária do Bonfim e Adjacências (Asbon), localizada no Município de Três

Marias (MG) no ano de 2010

Especificações Unid. Quant.Valor (R$) Índice de

Custo % ÉpocasUnitário Total

A – Insumos    

Mudas unid. 2500 0,29 725,00 11,34 Maio

Calcário dolomítico kg 300 0,06 18,00 0,28 Maio

Esterco de Curral kg 1000 0,10 100,00 1,56 Maio

Adubo Yorim kg 100 2,90 290,00 4,53 Maio

Composto Orgânico kg 1800 0,15 270,00 4,22 Maio

Lona (Muching) M 1 433,00 433,00 6,77 Maio

Calda Sulfocálcia litro 1 13,50 13,50 0,21 Maio

FTE kg 1,8 1,00 1,80 0,03 Maio

Adubo Foliar Orgânico litro 2 26,00 52,00 0,81 Maio

Energia Élétrica valor 6 40,00 240,00 3,75 Maio

Rótulos unid. 3333,33 0,20 666,67 10,42 Maio

Embalagens unid. 3333,33 0,15 500,00 7,82 Maio

Subtotal   3.309,97 51,76  

B − Serviços    

Preparo da Área H/h 50 3,00 150,00 2,35 Maio

Aração/Gradagem H/Tr 2 50,00 100,00 1,56 Maio

Preparo de Canteiros H/h 50 3,00 150,00 2,35 Maio

Plantio H/h 20 3,00 60,00 0,94 Maio

Muching H/h 20 3,00 60,00 0,94 Junho

Tratos Culturais H/h 180 3,00 540,00 8,44 Maio/Set.

Irrigação H/h 180 3,00 540,00 8,44 Maio/Set.

Colheita/Classificação H/h 120 3,00 360,00 5,63 Maio/Set.

Transporte Verba 1 1.000,00 1.000,00 15,64 Maio/Set.

         

Subtotal   2.960,00 46,28  

             

C − Reserva Técnica

Valor % 2,0 1 125,40 1,96 Maio/Set.

TOTAL GERAL ( A + B + C ) 6.395,37 100,00 xxxxxxx

- 253 -

INVESTIMENTOS (R$)

SISTEMA DE IRRIGAÇÃO SISTEMA ELÉTRICO TOTAL

R$ 1.187,27 R$ 180,00 R$ 1.367,27

Pre o praticado no mercado /Kg R$ 9,99 Encargos financeiros 2,00%

Necessidade de produção Kg 652,98

Custo de Produ ‹o /Kg R$ 6,52

Margem de Lucro/Kg R$ 3,47

RECEITA LÍQUIDA R$ 3.466,7

Referências

ABREU, A. C. Cultivo orgânico: relatório final do projeto Terra Viva. In: SIM-PÓSIO NACIONAL DO MORANGO SOBRE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO E PROCESSAMENTO, 1., 1999, Pouso Alegre. Anais... Caldas: EPAMIG, 1999. p. 113-114.

GLIESSMAN, S. R. Agroecologia: processos agroecológicos em agricultura sustentável. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFR-GS), 2000. 653 p.

QUIRINO, T. R.; RODRIGUES, G. S.; IRIAS, L. J. M. Ambiente, sustentabilidade e pesquisa: tendências da pesquisa brasileira até 2005. Jaguariúna, SP: Em-brapa – CNPMA, 1997. 21 p.

RABELO, J. A.; BALARDIN, R. S. A cultura do morangueiro. 2. ed. Florianópo-lis, SC: Empresa Brasileira de Difusão de Tecnologia de Santa Catarina S.A. (Epagri), 1993.

- 255 -

Desenvolvimento de um sistema silviagrícola em uma comunidade de agricultores familiares da Zona da Mata de Minas Gerais

Flávio Pereira Silva1

Descrição do problema

O Estado de Minas Gerais possui excelente comércio de produtos florestais e agrícolas; concentra o maior parque siderúrgico brasileiro alimentado por carvão vegetal, possui cerca de 13.500 indústrias de base florestal, em que a madeira de reflorestamento é produto de extrema importância so-cioeconômica. O estoque de madeira disponível em MG é insuficiente para o abastecimento do seu parque industrial, e algumas indústrias operam abaixo de sua capacidade produtiva, por falta de madeira. A Zona da Mata Mineira é constituída, em sua maioria, por pequenas propriedades rurais de economia familiar e apresenta condições ecológicas propícias ao culti-vo de eucalipto e da Acacia mangium, mas carece de sistemas de produção agrícola compatível com as características dessas propriedades. O déficit de madeira existente no estado poderá ser amenizado por meio do plan-tio das citadas espécies florestais em propriedades de economia familiar da Zona da Mata, com o emprego do sistema silviagrícola, resultando na produção de madeira, diminuição da pressão sobre as florestas naturais remanescentes, ocupação de áreas marginalizadas e aumentando a renda das comunidades carentes dessa região.

Solução alternativa proposta para o problema

Ao contrário da substituição das culturas agrícolas tradicionalmente cul-tivadas no sistema de monocultivos, o desenvolvimento de um sistema sil-viagrícola nessa região proporcionou aos agricultores familiares a obten-ção de maior número de produtos numa mesma área cultivada, por meio do consórcio de culturas agrícolas com espécies florestais, que resultaram em maior fertilidade e proteção do solo e garantia de maior flexibilidade na venda dos seus produtos.

1 Coordenador do projeto EPAMIG. Contato: [email protected].

- 256 -

Objetivos do projeto

O projeto objetivou sensibilizar agricultores familiares do Território da Serra do Brigadeiro, técnicos da Emater e Sindicato dos Trabalhadores Ru-rais do Município de Ervália para os benefícios econômicos e ambientais do sistema silviagrícola; desenvolver o sistema demonstrativo em uma pro-priedade de agricultura familiar; avaliar as produtividades de diferentes clones de eucalipto Acacia mangium, arroz e feijão; comparar os teores de nutrientes do solo, antes e após o estabelecimento do sistema e transferir os conhecimentos gerados aos pequenos produtores rurais, por meio de um dia de campo e de dezenas de artigos publicados em jornais impressos daquela região e na mídia nacional, via internet.

Metodologia empregada

O projeto foi desenvolvido na propriedade de um pequeno agricultor de ele-vada liderança regional, em uma área de 11.956 m2, situada na comunidade rural de Caatinga, localizada às margens da antiga estrada Ervália-Muriaé. O sistema silviagrícola contemplou o consórcio de quatro clones de eucalipto Acacia mangium com uma safra de arroz de sequeiro e duas safras de feijão carioquinha (feijão das águas e da seca). As espécies florestais foram planta-das em parcelas de 9 m de largura e comprimento variável, constituídas por 4 fileiras de plantas no espaçamento de 3 x 3 metros.

O componente agrícola foi estabelecido em parcelas de 10 m de largura, comprimento variável, constituídas por 18 fileiras de plantas estabelecidas no espaçamento de 0,45 x 0,45 metros.

Resultados obtidos

A safra de arroz apresentou produtividade de 2.819,07 kg de grãos e incorporou ao solo 33.670,39 kg/ha de biomassa verde, enquanto a safra de feijão das águas apresentou produtividade de 536,50  kg de grãos e incorporou 4.643,62  kg/ha de biomassa verde. A safra de feijão da seca apresentou produtividade de 838,91 kg de grãos e incorporou 2.613,99 kg/ha de biomassa verde.

As avaliações das espécies florestais, aos 24 meses de idade, revelaram boa adaptação ecológica, apresentando taxas de sobrevivência acima de 90% e crescimento volumétrico entre 4,29 e 17,77 m3/ha.

- 257 -

Sistema silviagrícola com os componentes florestal e agrícola (arroz), em desenvolvimento

As análises dos teores de nutrientes do solo antes e após o estabelecimen-to do sistema mostraram um incremento, por hectare, de 2,2 kg de P2O5; 2,0 kg de K2O; 88 kg de ca+2 e uma diminuição de 28,8 kg de Mg.

Vista parcial do sistema silviagrícola estabelecido no campo

Conclusões e recomendações

Os resultados obtidos durante os 36 meses de cultivos do sistema silviagrí-cola permitiram concluir que:

• o sistema silviagrícola consorciando espécies florestais com arroz de se-queiro, cultivar relâmpago, no primeiro ano, seguido de dois cultivos de fei-jão carioquinha, cultivar majestoso, no segundo ano, e transformação da área em sistema silvipastoril a partir do terceiro ano, é economicamente

- 258 -

viável para os pequenos agricultores familiares do Território da Serra do Brigadeiro, proporcionando-lhes melhor aproveitamento, rentabilidade e diversificação da sua produção agrícola, melhoraria na fertilidade natural dos solos da sua propriedade; maior agregação de valor aos seus produtos; produção de um maior número de produtos por unidade de área cultiva-da; maior flexibilização na venda dos seus produtos, além de garantir o emprego de sua mão de obra familiar durante todo o ano;

• a produtividade obtida com a cultura do arroz de sequeiro, cultivar re-lâmpago, permitiu inferir ser possível pagar todos os custos de implanta-ção do sistema silviagrícola, ficando todos os demais produtos advindos do sistema como margem de lucro líquida;

Participação efetiva da comunidade em eventos de transferência das

tecnologias geradas no sistema silviagrícola

• o sistema silviagrícola consorciando arroz de sequeiro, seguido por dois cultivos de feijão carioquinha, cultivar majestoso, representou um gran-de avanço no nível socioeconômico dos agricultores familiares daquele território e permitiu melhorar a fertilidade do solo cultivado, aumentan-do os teores iniciais de P2O5, K2O; ca+2 e diminuição nos teores de Mg;

• o sistema silviagrícola desenvolvido em Ervália apresentou boa aceitação entre os agricultores familiares da região da Serra do Brigadeiro, propor-cionado a eles melhoria no nível socioeconômico.

- 259 -

Variedades de abacaxi cultivadas em diferentes espaçamentos por produtores familiares do Projeto Jaíba e Gorutuba

Maria Geralda Vilela Rodrigues1

Justificativa

As dificuldades enfrentadas pelos fruticultores do Norte de Minas têm le-vado os produtores a procurarem alternativas em um movimento salutar de quebra da monocultura. As instituições de pesquisa e extensão têm-se mobilizado para levar aos produtores opções que viabilizem principalmen-te as pequenas propriedades rurais, como o cultivo do abacaxi. Apesar do avanço das pesquisas na multiplicação in vitro e na aclimatização (ambien-te protegido) das mudas do abacaxizeiro, são raros os estudos na fase de aclimatação (enviveiramento), a qual pode comprometer qualquer resul-tado obtido nas etapas anteriores, sendo especialmente crítica para novas cultivares (BERILLI et al., 2011).

Este trabalho foi implantado no Norte de Minas Gerais, sob irrigação, obje-tivando avaliar o rendimento e a qualidade dos frutos de diferentes varie-dades de abacaxi, cultivadas em diferentes densidades de plantio, visando a indústria e o mercado in natura. As unidades de avaliação e validação fo-ram instaladas em áreas de pequenos produtores, assentados nos períme-tros irrigados da Codevasf, com repasse direto da tecnologia de produção.

Metodologia

O trabalho constituiu-se da avaliação de três variedades de abacaxi (Im-perial, Vitória, Pérola), em três densidades de plantio (D1, D2 e D3), que resultou em nove tratamentos, com quatro repetições, em DBC. A “Pérola” foi utilizada como referência, a “Imperial” e a “Vitória” são variedades lançadas pela Embrapa e pelo Incaper, respectivamente, resistentes à fu-sariose. As densidades de plantio D1 (90 x 40 x 30 cm), D2 (90 x 40 x 35 cm) e D3 (90 x 40 x 40 cm) resultaram em 51.282, 43.956 e 38.462 plantas por ha, respectivamente.

Foi prevista a instalação de cinco unidades, porém a baixa qualidade das

1 Pesquisadora coordenadora do projeto Epamig. Contato: [email protected].

- 260 -

mudas provenientes de cultura de tecidos resultou em perdas e foram ins-taladas quatro. Uma dessas foi instalada em área da Epamig e as outras três em áreas de produtores familiares definidos pela Emater, sendo duas no Projeto Jaíba e uma no Projeto Gorutuba.

No viveiro, as mudas foram plantadas em canteiros elevados, no espaça-mento de 30 x 30 cm, em junho de 2010. As mudas utilizadas no plantio das três áreas do Projeto Jaíba permaneceram no viveiro até maio de 2011 (11 meses). Uma menor parte apresentou crescimento lento e permaneceu no viveiro até março de 2012 (21 meses), utilizadas para implantação da unidade do Gorutuba.

Resultados e discussão

A desuniformidade das mudas inviabilizou a instalação das unidades em um mesmo momento. Em maio de 2011 (11 meses após enviveiradas) fo-ram implantadas as três unidades do Projeto Jaíba. No plantio, a “Pérola” apresentou maior altura, seguida pela “Vitória” e pela “Imperial” (Tabela 1). Segundo Berilli et al. (2011), as diferenças de crescimento inicial das mudas refletem no desenvolvimento durante a aclimatação, sendo que as meno-res apresentam crescimento inferior, com amplificação das diferenças no decorrer do período da aclimatação.

Tabela 1 – Altura das plantas (cm) no momento do transplantio (maio de 2011) e oito meses após o

transplantio (janeiro de 2012)

1 Lote 136, Área D do Projeto Jaíba, produtora Júlia. 2 Lote 735, Área A do Projeto Jaíba, produ-tor Elieser. 3 Lote 068, Área D do Projeto Jaíba, área da Epamig.

Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste Tukey (5%).

VariedadesAltura média

logo após o transplantio

Altura média oito meses após o transplantio

Produtor 11 Produtor 22 Epamig3

Pérola 46,9 A 54,91 A 85,14 A 81,27 A

Imperial 41,9 B 35,72 B 53,07 B 56,29 B

Vitória 38,9 C 36,42 B 52,48 B 50,83 B

CV (%) 11,68 13,01 12,11 12,63

DMS 3,28 5,58 7,79 8,03

- 261 -

Em janeiro de 2012 (oito meses após o transplantio) avaliou-se a altura das plantas das três áreas do Projeto Jaíba e observou-se efeito apenas de varie-dade (Tabela 1). A “Pérola” manteve a superioridade observada no plantio, com plantas mais altas nas três áreas, sendo essa diferença ampliada de 14% para 36%. Nos lotes do produtor 2 e da Epamig as plantas apresenta-ram mais de 80 cm, portanto aptas para a indução floral. A “Pérola” do pro-dutor 1, assim como a “Imperial” e a “Vitória” nas três áreas, tinham entre 30 e 56 cm, não aptas à indução. Portanto, a “Pérola” de cultura de tecidos apresentou crescimento mais rápido que as demais no viveiro, e manteve esse padrão após o transplantio. O tempo entre o plantio e o ponto de indu-ção floral foi semelhante ao gasto pelas mudas convencionais. O reduzido crescimento da “Vitória” e da “Imperial” em relação à “Pérola” deve-se a diferenças entre os genótipos, já a “Pérola” foi mais vigorosa nas três áreas.

A partir dos oito meses, o produtor 1 do Projeto Jaíba alegou dificuldades em conduzir a área e maior interesse pelo próprio bananal, que entrava na primeira colheita. Na sequência fez três aplicações de glifosate, inviabili-zando a área. As mudas plantadas no Projeto Gorutuba, que apresentaram dificuldade de desenvolvimento desde o viveiro, não enraizaram bem e o produtor também desistiu, porém resgatou algumas e com estas fez novo plantio. Ao contrário do produtor 1 do Jaíba, o produtor do Gorutuba pre-tende continuar com a atividade.

Em maio de 2012 (11 meses após o transplantio) a “Pérola” foi autoinduzida nas duas unidades remanescentes. Fez-se indução floral dessa variedade, já que as demais estavam pequenas. A indução floral da “Imperial” e da “Vitó-ria” foi realizada em setembro de 2012 (15 meses). Godim e Azevedo (2002), trabalhando com a indução floral de abacaxi cv. SNG-3, observaram que, se realizada aos oito meses, antecipa a colheita, mas os frutos apresentam baixa qualidade. A indução tardia (10 a 12 meses) favoreceu a massa dos frutos, reduziu a acidez e elevou os sólidos solúveis.

Como a “Pérola” foi induzida quatro meses antes das demais, foi colhida também antes (Tabela 2). Assim como superou as demais em crescimento (Tabela 1), superou em produção de mudas (Tabela 2). O objetivo dessa pri-meira geração é a produção de mudas (são matrizes).

- 262 -

Tabela 2 − Resumo da análise de variância para ciclo de produção

(meses entre o transplantio e a colheita) e produção de mudas das variedades de abacaxizeiro plan-

tadas em diferentes espaçamentos – Epamig

1 Dados transformados por raiz (x+0,5) uma vez que havia muitas leituras com valor zero.2 Médias não transformadas. Médias seguidas pelas mesmas letras nas colunas não diferem entre si pelo teste Tukey (5%).

A “Pérola” produziu frutos com pedúnculo mais longo e com maior diâme-tro, o que favorece a sustentação dos frutos, já que estes também apresen-taram maior massa (Tabela 3). Os frutos de “Pérola” foram mais compridos, porém não foram os de maior diâmetro, o que lhes conferiu formato me-nos esférico que o das demais variedades, confirmado pela maior relação comprimento/diâmetro. A maior coroa (massa e comprimento) do fruto foi

observada na “Vitória”.

Para o rendimento (t/ha) da cultura houve efeito dos dois fatores. Por pro-

Causas de variação

Ciclo(meses)

Número de filhotes:

dados transformados1

(médias não transformadas)2

Número de filhotes-

rebentão: dados transformados1

(médias não transformadas)2

Número de rebentões:

dados transformados1

(médias não transformadas)2

Variedades1 – Pérola 17,01 B 2,82 A (7,49)2 1,79 A (2,73)2 1,04 A (0,64)2

2 – Imperial 20,87 A 2,33 B (4,92)2 1,25 B (1,07)2 1,20 A (1,01)2

3 - Vitória 20,74 A 1,63 C (2,30)2 1,03 C (0,62)2 0,71 B (0,00)2

Teste F 272,453** 54,497** 56,874** 12,254**

DensidadesTeste F 0,492NS 0,795NS 0,423NS 0,190NS

Var x DensTeste F 1,815NS 0,846NS 1,465NS 0,368NS

Média 19,49 2,25 (4,90)2 1,38 (1,53)2 0,96 (0,50)2

Desvio 2,00 0,58 0,37 0,28

CV (%) 2,273 12,422 12,832 24,261

- 263 -

Tabe

la 3

− R

esum

o da

aná

lise d

e var

iânc

ia p

ara

cara

cter

izaç

ão d

os fr

utos

e re

ndim

ento

(t/h

a) d

a pr

oduç

ão d

as v

arie

dade

s

(1 –

Pér

ola,

2 –

Impe

rial

, 3 –

Vitó

ria)

de a

baca

xize

iro

plan

tada

s em

dife

rent

es es

paça

men

tos

Méd

ias s

egui

das p

elas

mes

mas

letr

as n

as co

luna

s não

dife

rem

entr

e si p

elo

test

e Tuk

ey (5

%).

Caus

as

de

vari

ação

Pedú

ncul

o do

frut

oFr

uto

sem

coro

aCo

roa

do fr

uto

Polp

a

Rend

imen

to(t

/ha)

Com

prim

ento

(cm

)D

iâm

etro

(mm

)M

assa

(kg)

Com

prim

ento

(cm

)D

iâm

etro

(cm

)

Rela

ção

Com

prim

ento

/di

âmet

ro

Mas

sa(g

)Co

mpr

imen

to(c

m)

SS(°

Brix

)PH

1 - P

55,4

1 A22

,33

A1,1

2 A

19,6

4 A

9,56

B2,

11 A

56,9

1 B12

,34

B11

,04

C4,

07 A

B49

,41 A

2 - I

42,2

9 B

18,8

3 C

0,56

C10

,02

B9,

04 C

1,12

B53

,62

B13

,31 B

14,3

4 B

4,16

A23

,68

C

3 - V

39,7

0 C

20,8

7 B

0,79

B10

,82

B10

,21 A

1,03

B10

3,28

A19

,05

A16

,27

A4,

00 B

35,4

6 B

Test

e F

153,

33**

16,3

5**

40,9

2**

175,

22**

24,4

6**

168,

92**

42,3

7**

17,5

4**

27,9

9**

9,36

**40

,473

**

40,4

9 A

35,6

1 AB

32,4

4 B

Test

e F

2,04

NS

1,81N

S2,

04N

S0,

73N

S0,

92N

S0,

22N

S1,0

8NS

0,76

NS

0,97

NS

0,01

NS

4,14

5*

Test

e F

1,61N

S0,

65N

S1,6

1NS

0,70

NS

1,34N

S0,

36N

S2,

41N

S1,3

3NS

1,36N

S0,

50N

S0,

488N

S

Méd

ia46

,05

20,8

00,

8413

,75

9,64

1,44

73,5

315

,1913

,88

4,08

37,3

2

Des

vio

7,63

1,96

0,27

4,71

0,62

0,53

27,4

74,

162,

650,

0912

,42

CV (%

)5,

026,

455,

029,

743,

862

10,8

219

,32

19,3

910

,79

1,89

17,5

40

- 264 -

duzir frutos com a maior massa, o rendimento da “Pérola” foi 52% superior ao da “Imperial” e 28% superior ao da “Vitória” (Tabela 3). O menor espaça-mento (D1) também resultou em maior rendimento (Tabela 3).

A “Pérola” é amplamente cultivada no Brasil (80% da área), sendo a pre-ferida pelo brasileiro para consumo in natura, por apresentar altos te-ores de açúcares e baixa acidez. Tanto a “Imperial” quanto a “Vitória” apresentaram teores de sólidos solúveis superiores aos da “Pérola”; e ambas se equipararam àquela quanto aos valores de pH (Tabela 3). Esses resultados são promissores para a introdução das duas novas varieda-des no mercado interno.

Conclusões

• Alguns produtores preferem permanecer na atividade que já conhecem.

• A densidade de plantio somente interferiu no rendimento.

• A “Pérola” apresenta crescimento superior ao das demais variedades, no viveiro e no campo. Apresenta também maior produção de mudas, frutos maiores e maior rendimento por área.

• A “Imperial” e a “Vitória” são para o mercado interno, já que apresentam características da polpa iguais ou superiores às da “Pérola”, considerado de preferência nacional.

- 265 -

Referências

BERILLI, S. da S. et al. Crescimento de mudas de abacaxizeiro cv. Vitória durante a aclimatação em função do seu tamanho inicial. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, Volume Especial, E. 632-637, 2011.

GODIM, T. M. de S.; AZEVEDO, F. F. de. Diferenciação floral do abacaxizeiro cv. SNG-3 em função da idade da planta e da aplicação do carbureto de cál-cio. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v. 24, n. 2, p. 420-425, 2002.

CONTRIBUIÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES ESTADUAIS DE PESQUISA AGROPECUÁRIA

CONHECIMENTO, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

PARA O FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR

Hur Ben Corrêa da Silva e Flaviane de Carvalho Canavesi

CON

HEC

IMEN

TO, T

ECN

OLO

GIA

E IN

OVA

ÇÃO

PA

RA

O F

OR

TALE

CIM

ENTO

DA

AG

RIC

ULT

UR

A F

AM

ILIA

R

mda.gov.br

Ministério doDesenvolvimento Agrário

Ministério daCiência, Tecnologia

e Inovação

CONTRIBUIÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES ESTADUAIS DE PESQUISA AGROPECUÁRIA

CONHECIMENTO, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

PARA O FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR

Hur Ben Corrêa da Silva e Flaviane de Carvalho Canavesi

CON

HEC

IMEN

TO, T

ECN

OLO

GIA

E IN

OVA

ÇÃO

PA

RA

O F

OR

TALE

CIM

ENTO

DA

AG

RIC

ULT

UR

A F

AM

ILIA

R

mda.gov.br

Ministério doDesenvolvimento Agrário

Ministério daCiência, Tecnologia

e Inovação

CONTRIBUIÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES ESTADUAIS DE PESQUISA AGROPECUÁRIA

CONHECIMENTO, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

PARA O FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR

Hur Ben Corrêa da Silva e Flaviane de Carvalho Canavesi Org s������� �

CON

HEC

IMEN

TO, T

ECN

OLO

GIA

E IN

OVA

ÇÃO

PA

RA

O F

OR

TALE

CIM

ENTO

DA

AG

RIC

ULT

UR

A F

AM

ILIA

R

mda.gov.br

Ministério doDesenvolvimento Agrário

Ministério daCiência, Tecnologia

e Inovação

'

CONTRIBUIÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES ESTADUAIS DE PESQUISA AGROPECUÁRIA

CONHECIMENTO, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

PARA O FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR

Hur Ben Corrêa da Silva e Flaviane de Carvalho Canavesi

CON

HEC

IMEN

TO, T

ECN

OLO

GIA

E IN

OVA

ÇÃO

PA

RA

O F

OR

TALE

CIM

ENTO

DA

AG

RIC

ULT

UR

A F

AM

ILIA

R

mda.gov.br

Ministério doDesenvolvimento Agrário

Ministério daCiência, Tecnologia

e Inovação