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Arquivos em Odontologia Volume 44 Nº 01 Janeiro/Março de 2008 10 Análise por imagens dos contatos oclusais em boca e em verticulador Image analysis of occlusal contacts in the mouth and verticulator Guilherme Campos Vieira 1 , Emerson Hamilton Silva 1 , Marcos Dias Lanza 2 , Lincoln Dias Lanza 3 , Rogeli Tibúrcio Ribeiro da Cunha Peixoto 4 , Luiz Thadeu de Abreu Poletto 5 RESUMO A ocorrência de discrepância qualitativa dos pontos de contato da superfície oclusal dos dentes 24 ao 27 foi pesquisada em dois indivíduos, comparando-se imagens digitalizadas obtidas “in vivo” e em modelos montados em verticulador. Seis modelos parciais, obtidos por meio de moldagem de duplo arco, foram montados em um aparelho verticulador. Um dispositivo para obtenção de fotografia intra-oral com a mesma distância focal e mesmo plano foi desenvolvido e confeccionado. Para o registro dos contatos oclusais foi utilizado papel carbono de espessura de 0,8 mm. As fotografias foram devidamente organizadas, em pranchas, para posterior comparação e avaliação qualitativa. Com base nas comparações feitas e na metodologia utilizada, concluiu-se que o aparelho mecânico usado reproduziu os contatos oclusais em boca, sem alteração de posição. A metodologia de digitalização de imagens possibilitou a comparação qualitativa dos contatos obtidos em boca e no aparelho mecânico. Entretanto, é necessário desenvolver-se mais a técnica de obtenção das fotografias intra-orais para se poder realizar a análise quantitativa. Descritores: Ajuste oclusal. Instrumentação. Fotografia dentária. 1 Mestrando, área de concentração Dentística, FO-UFMG 2 Prof. Associado, Coordenador da área de Prótese, FO-UFMG 3 Prof. Associado, disciplina de Dentística, FO-UFMG 4 Profa. Assistente, disciplina de Dentística, FO-UFMG 5 Prof. Associado, Chefe do Dept. Odontologia Restauradora, FO-UFMG INTRODUÇÃO A restauração indireta é realizada sobre um modelo de trabalho que deverá reproduzir com maior exatidão possível o desenho cavitário e a relação dos contatos oclusais dos arcos superiores e inferiores. Para isso é necessário obter-se modelos usando materiais moldadores e aparelhos mecânicos que os relacione, reproduzindo laboratorialmente as condições inter-oclusais encontradas “in vivo”. A precisão na reprodução e montagem de modelos de trabalho em aparelhos mecânicos proporciona uma reconstrução oclusal favorável, diminuindo o número de ajustes das peças protéticas em boca. 1 Quando modelos são montados em um articulador, é necessária a reprodução fiel das relações interoclusais, porém Buchanan 2 sugere que uma montagem exata dos modelos é uma tarefa impossível e que as causas das imperfeições nas montagens se devem aos contatos oclusais desiguais, defeitos nos modelos, desvios no registro oclusal e flexão da mandíbula. O verticulador é um aparelho não ajustável onde os modelos de hemiarcos superiores e inferiores são relacionados por hastes guias e superfícies planas mantendo a dimensão vertical de oclusão do paciente, dentro do eixo vertical do aparelho. Quando utilizado juntamente com a técnica de moldagem simultânea dos arcos fornece algumas vantagens: diminui a quantidade de material usado tanto na moldagem como na confecção dos modelos em gesso, a montagem é menos trabalhosa e o tempo clínico menor. Esta pesquisa objetivou verificar se ocorre discrepância qualitativa dos pontos de contato da superfície oclusal dos dentes 24, 25, 26, 27, de diferentes indivíduos, ao se comparar fotografias digitalizadas obtidas “in vivo” e de modelos montados em verticulador.

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Análise por imagens dos contatos oclusais em boca eem verticulador

Image analysis of occlusal contacts in the mouth andverticulator

Guilherme Campos Vieira1, Emerson Hamilton Silva1, Marcos Dias Lanza2, Lincoln Dias Lanza3, Rogeli TibúrcioRibeiro da Cunha Peixoto4, Luiz Thadeu de Abreu Poletto5

RESUMOA ocorrência de discrepância qualitativa dos pontos de contato da superfície oclusal dos dentes 24 ao

27 foi pesquisada em dois indivíduos, comparando-se imagens digitalizadas obtidas “in vivo” e em modelosmontados em verticulador. Seis modelos parciais, obtidos por meio de moldagem de duplo arco, foram montadosem um aparelho verticulador. Um dispositivo para obtenção de fotografia intra-oral com a mesma distânciafocal e mesmo plano foi desenvolvido e confeccionado. Para o registro dos contatos oclusais foi utilizadopapel carbono de espessura de 0,8 mm. As fotografias foram devidamente organizadas, em pranchas, paraposterior comparação e avaliação qualitativa. Com base nas comparações feitas e na metodologia utilizada,concluiu-se que o aparelho mecânico usado reproduziu os contatos oclusais em boca, sem alteração deposição. A metodologia de digitalização de imagens possibilitou a comparação qualitativa dos contatos obtidosem boca e no aparelho mecânico. Entretanto, é necessário desenvolver-se mais a técnica de obtenção dasfotografias intra-orais para se poder realizar a análise quantitativa.Descritores: Ajuste oclusal. Instrumentação. Fotografia dentária.

1Mestrando, área de concentração Dentística, FO-UFMG2Prof. Associado, Coordenador da área de Prótese, FO-UFMG3Prof. Associado, disciplina de Dentística, FO-UFMG4Profa. Assistente, disciplina de Dentística, FO-UFMG5Prof. Associado, Chefe do Dept. Odontologia Restauradora, FO-UFMG

INTRODUÇÃOA restauração indireta é realizada sobre

um modelo de trabalho que deverá reproduzir commaior exatidão possível o desenho cavitário e arelação dos contatos oclusais dos arcos superiorese inferiores. Para isso é necessário obter-semodelos usando materiais moldadores e aparelhosmecânicos que os relacione, reproduzindolaboratorialmente as condições inter-oclusaisencontradas “in vivo”. A precisão na reproduçãoe montagem de modelos de trabalho em aparelhosmecânicos proporciona uma reconstrução oclusalfavorável, diminuindo o número de ajustes daspeças protéticas em boca.1 Quando modelos sãomontados em um articulador, é necessária areprodução fiel das relações interoclusais, porémBuchanan2 sugere que uma montagem exata dosmodelos é uma tarefa impossível e que as causasdas imperfeições nas montagens se devem aos

contatos oclusais desiguais, defeitos nos modelos,desvios no registro oclusal e flexão da mandíbula.

O verticulador é um aparelho não ajustávelonde os modelos de hemiarcos superiores einferiores são relacionados por hastes guias esuperfícies planas mantendo a dimensão verticalde oclusão do paciente, dentro do eixo vertical doaparelho. Quando utilizado juntamente com atécnica de moldagem simultânea dos arcos fornecealgumas vantagens: diminui a quantidade dematerial usado tanto na moldagem como naconfecção dos modelos em gesso, a montagem émenos trabalhosa e o tempo clínico menor. Estapesquisa objetivou verificar se ocorre discrepânciaqualitativa dos pontos de contato da superfícieoclusal dos dentes 24, 25, 26, 27, de diferentesindivíduos, ao se comparar fotografias digitalizadasobtidas “in vivo” e de modelos montados emverticulador.

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MATERIAIS E MÉTODOSSeleção dos Indivíduos

Foram avaliados alunos da graduação doquinto ao oitavo período (n= 60) e selecionados doisindivíduos que, ao exame clínico, apresentaramdentição completa, sem terceiros molares irrompidos,com dentes posteriores hígidos, guia canina bilateral,contatos oclusais nos dentes 24 ao 27 e queapresentaram abertura de boca de no mínimo 45 mmentre a borda incisal dos incisivos superiores einferiores. Não apresentavam interferência no arcode fechamento em relação cêntrica, caracterizandomáxima intercuspidação cêntrica. Cada indivíduoconsentiu em participar sem restrições autorizandoatravés do termo de consentimento livre e esclarecidoe os aspectos éticos relacionados a esta pesquisaforam avaliados e aprovados pelo Comitê de Éticaem Pesquisa da UFMG - COEP (Parecer n.: ETIC099/06).

MoldagensForam realizadas três moldagens parciais

de duplo arco por indivíduo, para que desta forma,

cada paciente fosse montado em triplicata.

Moldagens ParciaisOs hemiarcos superior e inferior

esquerdos foram moldados pela técnica de duploarco resultando em um acoplamento na máximaintercuspidação e na mesma dimensão vertical deoclusão do paciente. Utilizou-se material demoldagem à base de poliéter (Impregum Soft –3M/Alemanha) e moldeira plástica de dupla face(Moldex – Ângelus/Brasil). O conjunto moldeira-molde foi lavado com solução de hipoclorito desódio a 0,1 %. O vazamento foi realizado comgesso especial tipo IV (Fuji-Rock – GC – Belgium)devidamente proporcionado e manipulado deacordo com o fabricante. Foram usados 20 g degesso para 4 mL de água para cada hemiarco. Amoldagem e a marcação no lado oposto (direito),no dente 14, foi realizada, para certificar a posiçãocorreta de fechamento mandibular. Cadamoldagem foi inspecionada, após a remoção, portransmissão de luz através dos contatos oclusais(Figura 1)

A B CFigura 1 - (A) Moldeira e material de moldagem em posição e marcação em máxima intercuspidação. (B)Inspeção da moldeira e moldagem de duplo arco, por meio de transmissão de luz. (C) Conjunto moldeira–molde–modelos após os vazamentos de gesso superior e inferior. Notar a união dos modelos na região anterior.

Montagem dos Modelos ParciaisPreviamente à montagem, as hastes

superior e inferior do aparelho foram vaselinadase aplicou-se fita adesiva (3M) de 20 mm deespessura para contenção do gesso de montagem.A fixação do conjunto moldeira-molde-modelos nahaste inferior do aparelho foi realizada aplicandogesso pedra tipo III (Asfer – SP/Brasil), tomando-se o cuidado de manter a linha média da moldeirano longo eixo da linha de união dos dois braços doaparelho. Após a presa final do gesso (45 min), a

parte superior do conjunto foi fixada no braçosuperior do aparelho utilizando o mesmo tipo degesso (Figura 2-A).

Câmera Intra-OralA câmera intra-oral utilizada foi a

Intracam 2002 (Activeware Projetos e Produtos/Brasil) com cartão de memória de 64 MB paradigitalização das imagens, ligada ao monitor de 7polegadas (Coby Eletronic - N.Y./U.S.A.)(Figura 2-B).

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Figura 2 - A: vista lateral do conjunto: moldeira–molde–modelos montados. B: câmera e monitor de 7 polegadasmontados e prontos para a tomada fotográfica.

Suporte Guia da Câmera Intra-OralPara realizar a análise comparativa das

imagens obtidas tanto “in vivo” quanto nos modelosmontados no aparelho, desenvolveu-se um suportepara estabilizar a objetiva da câmera intra-oraldurante a execução das fotografias dos dentes 24 a27, padronizando as imagens quanto à distância eposição.

Para isto foi necessário esculpir umacréscimo de cera n° 7 na parte ativa da câmara,esta extensão em cera representou o comprimentodo hemiarco a ser fotografado. Para a confecçãoda moldagem da ponta ativa da câmera foi utilizadaa técnica de mufla e contra-mufla com o uso desilicone de condensação (Zetaplus®/Itália) que, apósser manipulado conforme orientações do fabricante,foi colocada na porção inferior e lateral da pontaativa até o plano de abertura da câmera. Após apresa final do material, com auxílio de uma lâminade bisturi número 15, foram realizados quatro cortesem forma de V, em ambos os lados, na porçãosuperior da moldagem. Isolou-se os materiais

(vaselina sólida) com auxílio de um pincel. Uma novaporção de material de moldagem foi acondicionadana ponta ativa (contra-mufla), a fim de fazer umacópia da porção superior do equipamento. Após aobtenção da cópia da ponta ativa em gesso, seguiu-se à confecção do molde de acetato de 3 mm deespessura sobre este modelo. Foram colados doistubos metálicos de 2 mm de diâmetro e 10 mm decomprimento perpendiculares à cópia e pregadossobre 2 botões planos. Desta forma, com o modeloposicionado acima da base na máquina plastificadoraa vácuo - Bio-Art® se obteve melhor adaptação doacetato. Para o recorte do acetato foi utilizado bisturin°15, aquecido ao rubro em lamparina a álcool.Posteriormente, foram realizados acabamentos combroca para acrílico removendo arestas ou bordascortantes, verificando a adaptação do suporte guia àponta da máquina fotográfica intra-oral. Na posiçãoreferente à superfície oclusal dos dentes 24 a 27 foiverificada a ausência de material que pudesse afetara visualização das superfícies oclusais que poderiamimpedir a realização da fotografia (Figura 3).

Figura 3 - A: vista lateral do material de moldagem colocado na porção inferior e lateral da ponta ativa até o plano deabertura da câmera e os cortes em forma de V em ambos os lados, na porção superior da moldagem. B: moldagem daporção superior do equipamento. Uma nova porção de material de moldagem foi acondicionada na ponta ativa a fim defazer uma cópia da porção superior (contra-mufla). C: modelo revestido de acetato. D: cópia da câmera intra-oral esuporte-guia de acetato com a respectiva abertura.

A B C D

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Placa de Acetato PersonalizadaPara que o suporte-guia da câmera intra-

oral permanecesse no mesmo plano e na mesmadistância focal, foi confeccionada para cada indivíduouma placa em acetato de 3 mm de espessura para ohemiarco superior esquerdo a ser fotografado. Apósa obtenção da placa de acetato, foi recortada de modoa remover toda superfície oclusal e tomando-se ocuidado de deixar a placa em contato com assuperfícies lisas, vestibular e palatina no contornode todos os dentes. A fixação do suporte-guia dacâmera intra-oral à placa de acetato personalizadose deu com auxílio de tiras de acrílico com 1 mm x 2mm, de comprimento variável, conforme acapacidade de abertura de boca e a distância focalideal para em cada paciente. As tiras foram anexadascom acrílico autopolimerizável GC (GC PatternResin/Japan) aplicado com auxílio de um pincel n° 2,série 308 (Figura 4).

Figura 4- Fixação das tiras de acrílico ao molde deacetato com acrílico de presa rápida.

Marcação dos Contatos OclusaisA marcação dos pontos de contatos oclusais,

“in vivo” e nos modelos foi realizada com fita decarbono de 8 microns de espessura (Bausch/Alemanha). O paciente foi posicionado na cadeiraodontológica em 90 graus, de tal modo que o planode Camper estivesse paralelo ao solo e instruído afechar a boca até obter a máxima intercuspidação.Os pacientes foram previamente treinados para arealização deste procedimento. Os dentes foramsecos com gaze esterilizada e seringa de ar/águapara permitir que a tinta do papel carbono marcasseos pontos de contato de forma nítida e sem borrões.A marcação foi realizada pelo mesmo operador, emum único fechamento evitando sobreposição demarcas. A marcação nos modelos foi realizada sobrea bancada lisa e plana. A tira de papel carbono foiinterposta entre os modelos com auxílio da pinça deMüller e o aparelho foi fechado uma única vez,

deslizando sobre os dois eixos-guias no sentidovertical, tendo o cuidado de fazer o apoio dos dedosna porção superior do arco. Logo após as marcaçõesdos contatos foram realizadas as fotografias.

Obtenção das Fotografias - GruposExperimentais

Para a obtenção das imagens, a ponta ativada câmera foi posicionada dentro do suporte guia deacetato. Foi realizada uma fotografia para cadaelemento dental do hemiarco. As fotografias foramorganizadas por pacientes e por aparelho, sendo ogrupo controle as fotografias obtidas intra-oralmente.As montagens foram realizadas em triplicata paracada aparelho do mesmo paciente, sendoidentificadas da seguinte forma: indivíduo 1 = A,indivíduo 2 = S; Grupo controle = intra-oral (IO): AIO, S IO; Grupo verticulador = VERT: A VERT 1, 2e 3 / S VERT 1, 2 e 3 e o numero indicador do dente:24, 25, 26, 27.

As fotografias foram transferidas para umcomputador através de software compatível com acâmera intra-oral (OWfree-Versão 1.05.51 – LSsistemas – Brasil) e transferidos para um arquivo dosoftware Word (Microsoft®) em forma de pranchas(1 e 2).

RESULTADOSAs fotografias intra-orais e dos aparelhosverticuladores obtidas foram colocadas em pranchas(1 e 2). Cada coluna corresponde a um elemento dentalfotografado e cada linha representa uma montagem nomesmo aparelho verticulador (Figuras 5 e 6).

Figura 5 - Indivíduo 1 = A

Dente 24: as imagens indicaram precisão nareprodução dos contatos oclusais quandocomparadas ao grupo IO.

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Dente 25: ocorreu precisão noposicionamento dos contatos, porém, com menorintensidade.

Dente 26: maior intensidade do toque nasvertentes triturantes das cúspides disto-vestibularespode ser visualizada, presença do contato na vertentetriturante da cúspide mésio-vestibular, porém commenor intensidade.

Dente 27: precisão na distribuição doscontatos, com boa distribuição e intensidade.

Figura 6 - Indivíduo 2 = S

Dente 24: as imagens indicam precisão nareprodução dos contatos oclusais quandocomparadas com as do grupo IO.

Dente 25: distribuição dos contatos, comintensidades variáveis, grande semelhança emrelação às montagens.

Dente 26: contatos com maior intensidadedos toques e muita semelhança entre os modelos.

Dente 27: ocorreu precisão na distribuiçãodos contatos em relação ao grupo controle-IO.

DISCUSSÃOCom a evolução dos materiais moldadores,

a utilização da técnica indireta para a confecção depeças protéticas sofreu um incremento nos últimosanos. O método indireto é uma técnica que exige dooperador destreza, paciência e meticulosidade narealização de cada passo clínico ou laboratorial. Demodo geral, técnicas com menos passos clínicospossibilitam menor chance de erro. Para operadorestreinados, a moldagem de duplo arco possibilita aobtenção de modelos relacionados em máximaintercuspidação e na dimensão vertical de oclusãodo paciente. Isto é, sem dúvida, um ganho real detempo. A possibilidade da verificação clínica daposição de mordida do paciente pode certificar a

efetividade da moldagem. Nesta pesquisa dois dentesantagonistas do hemiarco oposto foram marcados,estando o paciente ocluindo na posição de máximaintercuspidação. Após a aplicação da moldeiraconferia-se a coincidência das marcas. Uma vezcoincidentes, considerava-se que o pacientereproduzia o mesmo arco de fechamento. Após aremoção da moldagem também avaliava-se apresença ou não de perfurações no moldeprovenientes da intercuspidação. Estesprocedimentos simples e rápidos parecem efetivose os resultados obtidos confirmaram que realmentea posição final do arco de fechamento foi reproduzida.

Analisando-se os contatos demarcados emboca para os dois pacientes e aqueles obtidos noverticulador pode-se notar que não houvemovimentação para anterior ou posterior doscontatos independente do dente analisado. Oscontatos de aresta longitudinal com crista marginalfacilitam a visualização da manutenção da posiçãode contato para os dentes analisados. Como sabido,estes contatos são responsáveis pela estabilizaçãode parada e equilíbrio no sentido mésio-distal.

Realmente, há dificuldade em se diferenciarum borrão do carbono de um ponto de contato. Istose deve ao processo de obtenção da marcação comcarbono. Embora tenha sido utilizado uma fita de 8microns, a textura do esmalte em relação ao modelode gesso, a umidade em boca e a ausência dela nosmodelos parecem ser os responsáveis principaisdestes achados.

Concorda-se com os achados de Parker etal. (1997)4 e Cox (2005)3 na preferência dospacientes por moldagens parciais ao invés demoldagens totais sem levar em consideração aspossibilidades de distorção dos modelos ocasionadospor posicionamento inadequado da moldeira ou flexãoda mandíbula. Estas dificuldades técnicas, associadasà grande demanda de tempo clínico para o ajusteem boca, leva ao descrédito da técnica que – quandoassociada a fatores econômicos e de tempo -acarreta na busca por aparelhos mais simples, tipocharneira, na clínica privada. Ainda comocomplementação, deve-se frisar que é comum nosdias atuais o profissional apenas moldar e enviar osmodelos para o laboratório onde é realizado ovazamento e a montagem. Sem dúvida, pode-secreditar este procedimento às “vantagens” oferecidaspelos materiais à base de borracha.

A obtenção de registros inter-oclusais comcera ou mesmo materiais borrachóides para aintercuspidação dos modelos, ultrapassa os conceitosbásicos de oclusão. Desta forma, não se transfere a

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inclinação latero-lateral da maxila (Curva de Wilson).A obtenção do registro interoclusal com qualquermaterial rígido ou borrachóide interfere na dimensãovertical de oclusão do paciente.

Ceyhan et al. (2003)5 & Lane et al. (2003)6

avaliaram os resultados clínicos de restaurações e oconforto dos pacientes quanto à obtenção de modelostotais e parciais. Sendo que as últimas foram obtidaspela técnica do duplo arco. Em relação aos pacientes,a resposta unânime foi que se necessitassem de umnovo procedimento moldador prefeririam moldagensparciais em detrimento às totais pelo menordesconforto, gosto mais agradável e menor gasto detempo. Também clinicamente não houve diferençassignificativas entre a precisão das restaurações emconsideração a adaptação marginal, os contatosproximais, a estética e aos contatos oclusais emmáxima intercuspidação.

Parker et al. (1997)4 também avaliarammodelos obtidos pela técnica de duplo arco emoldagens totais obtidas com polivinil-siloxano,hidrocolóides, polissulfetos e poliéter. Os modelosobtidos pela técnica do duplo arco apresentaramprecisão significantemente maior que os modelostotais.

Para Wilson & Werrin (1983)7 e Cox(2005)3, a moldagem de duplo arco possibilita aooperador moldar o dente preparado, os adjacentes eos antagonistas, em posição de máximaintercuspidação, minimizando os efeitos de variaçõesclínicas, como a flexão da mandíbula e a intrusãodental, além dos erros de moldagem. Na avaliaçãooclusal de coroas fabricadas a partir de modelostotais concluíram que estas apresentaramcaracterísticas inferiores às de duplo arco levando-se em consideração hiperoclusão, interferênciaslaterais e protrusivas.

Apesar destes resultados, pode-se talvezafirmar que esta técnica ainda é pouco utilizada noBrasil, apesar de se ter a fabricação nacional destamoldeira a um custo relativamente baixo em relaçãoà importada.

Nesta pesquisa não se comparou a precisãode restaurações, mas a de reprodução dos contatosoclusais em boca e as obtidas em aparelho mecânico.Também foram utilizadas moldagens duplo arco compoliéter em moldeiras descartáveis Moldex®.

Também aqui os dois pacientes, alunos docurso de Odontologia, preferiram as moldagensparciais, corroborando estes achados em relação àpreferência dos pacientes pela moldagem parcial emrelação ao conforto, paladar e tempo clínico menor.

A concepção do aparelho com dois pinos-

guias e um parafuso para o travamento das hastesgarantem apenas um movimento vertical seminterferências no arco de abertura e fechamentomandibular e o travamento das hastes não permiteque qualquer alteração dimensional do gesso venhaa interferir com a relação interdental obtida namoldagem. A união anterior dos modelos durante ovazamento garante a manutenção dos modelos namesma dimensão vertical de oclusão registrada.Parece que a memória elástica e a estabilidadedimensional devam ser propriedades ótimas para autilização em moldagem de duplo arco, restringindoo emprego do poliéter e o polivinil-siloxano, permitindoque a montagem possa ser feita a qualquer tempoapós a obtenção dos modelos, pela não liberação desub-produtos pelo material moldador.

Embora haja o encarecimento em relaçãoao material moldador, o seu gasto não é tão grande eo barateamento proporcionado pela montagem e pelotempo clínico de cadeira parecem contrabalançar ouaté mesmo sobrepor este gasto. Este procedimentotambém já é relatado por Ceyhan et al. (2003)6 eCox (2005)3.

A técnica de moldagem com duplo arcoexige a necessidade de um operador e pacientetreinados, pois qualquer alteração no arco defechamento leva ao insucesso da técnica.

O padrão dos contatos constatados nosmodelos aqui estudados leva a crer que esta funçãofoi plenamente obtida.

CONCLUSÃOBaseados nos resultados obtidos e na

metodologia utilizada, pôde-se concluir que:- O aparelho mecânico verticulador reproduziu oscontatos oclusais em boca;- digitalização de imagens possibilita a comparaçãoqualitativa dos contatos obtidos em boca e noaparelho mecânico;- Os procedimentos de moldagem, registros,vazamento e montagem em aparelho mecânicoverticulador quando realizados dentro dos critériospadrão, reproduzem os contatos em boca com poucadiscrepância e boa fidelidade.- É necessário maior desenvolvimento da técnica deobtenção das fotografias intra-orais, para se poderrealizar a análise quantitativa.

ABSTRACTThe purpose of this study was to verify the

qualitative discrepancy present on the occlusalsurface contact points of teeth 24, 25, 26, and 27 indifferent patients as compared to in vivo digital

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images and those of models set up in a verticulator.Two patients were selected for this experiment,resulting in six partial models which were, by meansof a double arch mold, mounted on a verticulator. Adevice was designed and manufactured to obtainintra-oral photographs which illustrate the same focaldistance and plane. To register the occlusal contacts,a 0.8 mm thick carbon paper and a specific intra-oral camera were used. The photographs obtainedwere duly organized for later comparison andqualitative assessment. Based on the results and themethodology used, it could be concluded that themechanical device used was effective in reproducingthe occlusal contacts in the mouth. The methodologyof digitalized images allowed for the qualitativecomparisons of those contacts obtained in the mouthand the mechanical device. However, the techniqueof obtaining intra-oral photographs to achieve aquantitative analysis still requires furtherdevelopment.Uniterms: Occlusal adjustment. Instrumentation.Photography.

REFERÊNCIAS

1 – Pereira AH. Limitações do articulador Whip-Mix – Procedimentos técnicos para suascompensações. (Dissertação de mestrado). Bauru.Faculdade de Odontologia de Bauru - USP. 1976.

2 – Buchanan WT. Working cast verification. JProsthet Dent. 1992; 67: 415-6.

3 – Cox JR. A Clinical study comparing marginaland occlusal accuracy of crows fabricates fromdouble-arch and complete-arch impressions. AustDent J. 2005; 50:90-4.

4 – Parker MH, Cameron SM, Hughbanks JC, ReidDE. Comparison of occusal contacts in maximumintercuspation for two impression techniques. JProsthet Dent. 1997; 78:255-9.

5 – Ceyhan JA, Johnson HG, Lepe X. The effect oftray selection, viscosity of impression material, andsequence of pour on the accuracy of dies madefrom dual-arch impressions. J Prosthet Dent. 2003;90:143-9.

6 – Lane AD, Randal RC, Lane NS, Wilson NH. Aclinical trial to compare double-arch and complete-arch impression techniques in the provision ofindirect restaurations. J Prosthet Dent. 2003;89:141-5.

7 – Wilson EG, Werrin SR. Double arch impressionsfor simplified restorative dentistry. J Prosthet Dent.1983; 49:198-202.