Moradas Ou Castelo Interior

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  • 8/12/2019 Moradas Ou Castelo Interior

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    Santa Teresa de Jesus

    CASTELO INTERIOR

    Este tratado, chamado Castelo interior, escreveu Teresa de Jesus, freira de nossa Senhora doCarmo, para suas irms filhas, as freiras Carmelitas !escal"as#

    JHS

    $# %oucas coisas, das &ue me tem mandado a o'edi(ncia, se tornaram to dificultosas paramim como escrever a)ora coisas de ora"o* primeiro, por&ue me parece &ue oSenhor no me d+ nem esprito nem dese-o para o fa.er* depois, por ter a ca'e"a,

    h+ tr(s meses, com um .um'ido e fra&ue.a to )rande, &ue, at/ so're ne)0ciosur)entes, escrevo a custo# 1as, entendendo &ue a for"a da o'edi(ncia costumafacilitar coisas &ue parecem impossveis, a vontade determina2se a fa.(2lo de muito'om )rado, ainda &ue a nature.a se afli-a muito* por&ue o Senhor no me deutanta virtude, para &ue o pele-ar com a enfermidade contnua e com muitas evariadas ocupa"3es se possa fa.er sem )rande contradi"o sua# 4a"a2o Ele, &ue temfeito outras coisas mais dificultosas para me fa.er merc(, e em cu-a miseric0rdiaconfio#

    5# Creio 'em &ue pouco mais hei2de sa'er di.er do &ue -+ disse em outras coisas, &ue me

    mandaram escrever, antes temo &ue ho2de ser &uase sempre as mesmas6 por&ue,como os p+ssaros a &uem ensinam a falar, no sa'em mais do &ue lhes ensinam oueles ouvem, e isto repetem muitas ve.es, assim sou eu ao p/ da letra# Se o Senhor&uiser &ue eu di)a al)o de novo, Sua 1a-estade o far+ ou ser+ servido tra.er2me 7mem0ria o &ue de outras ve.es disse, e &ue at/ com isto me contentaria, por t(2lato m+ &ue fol)aria em atinar com al)umas coisas, &ue di.em &ue estavam 'emditas, caso se tivessem perdido# Se nem mesmo isso me der o Senhor, com mecansar e acrescentar o mal de ca'e"a, por o'edi(ncia, ficarei com lucro, em'ora do&ue disser, no se tire nenhum proveito8

    9# E assim come"o a cumpri2la ho-e, dia da Santssima Trindade, ano de $:;;, neste

    mosteiro de S# Jos/ do Carmo em Toledo, onde estou presentemente, su-eitando2meem tudo o &ue disser ao parecer de &uem mo manda escrever, &ue so pessoas de)randes letras# Se al)uma coisa disser &ue no v+ conforme ao &ue ensina a SantaI)re-a Cat0lica Romana, ser+ por i)nor# !isse2me &uem me mandou escrever, &ue estas freiras destes mosteiros de Nossa Senhorado Carmo t(m necessidade de &ue al)u/m lhes declare al)umas d?vidas de ora"o,e lhe parecia &ue melhor entendem as mulheres a lin)ua)em umas das outras# Com

    o amor &ue me t(m, lhes faria mais ao caso o &ue eu lhes dissesse e, por esta ra.o,

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    entendia ter al)uma import

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    outras em 'aiDo, outras aos lados* e, no centro e meio de todas estas, tem a maisprincipal onde se passam as coisas mais secretas entre !eus e a alma#

    B mister &ue fi&ueis esclarecidas por esta compara"o* talve. se-a !eus servido &ue eu possapor ela dar2vos a entender al)uma coisa das merc(s &ue Ele fa. 7s almas e as

    diferen"as &ue h+ entre elas, at/ onde eu tiver entendido &ue / possvel* &ue, todas,ser+ impossvel entend(2las al)u/m, pois so muitas, e &uanto mais &uem / to ruimcomo eu= %ois ser2vos2+ )rande consolo, &uando o Senhor vos fi.er essas merc(s,sa'er &ue / coisa possvel e, a &uem Ele as no fi.er, para louvarem Sua )rande'ondade# Assim como no nos fa. dano considerar as coisas &ue h+ no c/u e o &uenele )o.am os 'em2aventurados, antes nos ale)ramos e procuramos alcan"ar o &ueeles )o.am, to pouco nos far+ dano ver &ue / possvel, neste desterro, comunicar2seum to )rande !eus a uns vermes to cheios de mau odor e am+2los com uma'ondade to 'oa e uma miseric0rdia to sem medida# Tenho por certo &ue, a &uemfi.er dano entender &ue / possvel fa.er !eus esta merc( neste desterro, &ue estar+muito falha de humildade e de amor do pr0Dimo* por&ue, se assim no /, comopodemos deiDar de nos ale)rar de &ue !eus fa"a estas merc(s a um irmo nosso e de&ue Sua 1a-estade d( a entender Suas )rande.as se-a a &uem for, pois isso noimpede &ue no2las fa"a a n0s8 ue al)umas ve.es ser+ s0 para as mostrar, comodisse do ce)o a &uem deu vista &uando Lhe per)untaram os Ap0stolos se era ce)opor seus pecados ou de seus pais# E assim acontece fa.er merc(s, no por serem maissantos do &ue a&ueles a &uem as no fa., mas para &ue se conhe"a Sua )rande.a,como vemos em S# %aulo e na 1adalena e para &ue O louvemos em Suas criaturas#

    ># %oder+ di.er2se &ue parecem coisas impossveis e &ue / 'om no escandali.ar os fracos#1enos se perde em &ue estes no o creiam, do &ue em deiDarem de aproveitar

    a&ueles a &uem !eus as fa. e de se consolar e despertar a amar mais a uem fa.tantas miseric0rdias, sendo to )rande Seu poder e ma-estade* tanto mais &ue sei&ue falo com &uem no corre este peri)o, por&ue sa'em e cr(em &ue d+ !eus aindamuito maiores provas de amor# Eu sei &ue os &ue nisto no crerem, no o vero poreDperi(ncia* por&ue !eus / muito ami)o de &ue Lhe no ponham taDa e medida aSuas o'ras, e assim, irms, nunca isto aconte"a 7s &ue o Senhor no levar por estecaminho#

    :# %ois, voltando a nosso formoso e deleitoso castelo, temos de ver como poderemos entrarnele#

    %arece &ue di)o al)um disparate* por&ue, se este castelo / a alma, claro &ue no se trata deentrar, pois se / ele mesmo, pareceria desatino di.er a al)u/m &ue entrasse numaposento estando -+ dentro# 1as haveis de entender &ue vai muito de estar a estar*&ue h+ muitas almas &ue ficam 7 volta do castelo, onde esto os &ue o )uardam, e&ue se lhes no d+ nada de entrar, nem sa'em o &ue h+ na&uele to precioso lu)ar,nem &uem est+ dentro, nem mesmo &ue depend(ncias tem# J+ tereis visto, em al)unslivros de ora"o, aconselhar a alma a &ue entre dentro de si* / isto mesmo#

    # !i.ia2me h+ pouco um )rande letrado, &ue as almas, &ue no t(m ora"o so como umcorpo paraltico ou tolhido &ue, em'ora tenha p/s e mos, no os podem meDer* eso assim6 h+ almas to enfermas e to ha'ituadas 7s coisas eDteriores, &ue no h+

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    rem/dio nem parece &ue possam entrar dentro de si mesmas* por&ue / tal o costumede tratarem sempre com as sevandi-as e alim+rias &ue esto 7 roda do castelo, &ue

    -+ &uase se tornaram como elas e, sendo de nature.a to rica e podendo ter a suaconversa"o nada menos do &ue com !eus, no t(m rem/dio# E se estas almas noprocuram entender e remediar sua )rande mis/ria, ficaro feitas em est+tuas de sal

    por no voltarem a ca'e"a para si mesmas, assim como ficou a mulher de Lot porvoltar a ca'e"a para tr+s#

    ;# %or&ue, tanto &uanto eu posso entender, a porta para entrar neste castelo / a ora"o erefleDo, no di)o mais mental &ue vocal* lo)o &ue se-a ora"o, h+2de ser comconsidera"o* por&ue na&uela em &ue no se adverte com uem se fala e o &ue sepede e &uem / &ue pede e a uem, no lhe chamo eu ora"o, em'ora muito meneieos l+'ios# E, se al)umas ve.es o for, mesmo sem este cuidado, ser+ por&ue se teve emoutras* mas, &uem tivesse por costume falar com a 1a-estade de !eus como falariaa um seu escravo, &ue nem repara se di. mal, mas o &ue lhe vem 7 'oca e decorou,por&ue -+ o fe. outras ve.es, no o tenho por ora"o e pre.a a !eus nenhum cristoa tenha desta sorte# ue entre v0s, irms, espero em Sua 1a-estade no haver+ talora"o, pelo costume &ue h+ de tratardes de coisas interiores, e &ue / muito 'ompara no cairdes em semelhante 'rute.a#

    F# No falemos, pois, com estas almas tolhidas, &ue, se no vem o mesmo Senhor mandar2lhes &ue se levantem 2 como a&uele &ue havia 9G anos &ue estava -unto 7 piscina2,t(m muito m+ ventura e correm )rande peri)o* mas sim com outras almas &ue, porfim, entram no castelo* por&ue, ainda &ue este-am muito metidas no mundo, t(m'ons dese-os e al)umas ve.es, ainda &ue de lon)e em lon)e, encomendam2se a NossoSenhor e consideram &uem so, ainda &ue sem muita demora# Al)uma ve. ou outra,

    num m(s, re.am cheias de mil ne)0cios, o pensamento &uase de ordin+rio nisso,por&ue, como esto to ape)adas a eles, o cora"o se lhes vai para onde est+ o seutesouro# %rop3em al)umas ve.es, para consi)o mesmos, desocuparem2se, e -+ /)rande coisa o pr0prio conhecimento e o ver &ue no vo 'em encaminhadas paraatinar com a porta# Enfim, entram nas primeiras depend(ncias do r/s2do2cho* masentram com elas tantas sevandi-as, &ue no lhes deiDam ver a formosura do castelonem sosse)ar6 muito fa.em -+ em ter entrado#

    H# %arecer2vos2+, filhas, &ue estou impertinente, pois, por 'ondade do Senhor, no soisdestas# aveis de ter paci(ncia, por&ue, a no ser assim, no sa'erei dar a entender,como eu as tenho entendido, al)umas coisas interiores de ora"o, e ainda assimpre.a ao Senhor &ue atine a di.er al)uma coisa, por&ue / 'em dificultoso o &ue eu&uereria dar2vos a entender, se no houver eDperi(ncia# Se a houver, vereis &ue omenos &ue se pode fa.er / tocar no &ue, pre.a ao Senhor, no nos to&ue a n0s porSua miseric0rdia#

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    CAPTULO +. Trata de "uo feia coisa * a alma "ue est$ em pecado mortal) e como "uis (eusdar a entender algo disto a uma pessoa. Trata tam'*m alguma coisa so're o pr,priocon#ecimento. (i! como se #o&de entender estas moradas.

    $# Antes de passar adiante, &uero di.er2vos &ue considereis o &ue ser+ ver este castelo toresplandecente e formoso, esta p/rola oriental, esta +rvore de vida &ue est+ plantadanas mesmas +)uas vivas da ida, &ue / !eus, &uando cai em pecado mortal# No h+trevas mais tene'rosas, nem coisa to escura e ne)ra &ue ela o no este-a muitomais# asta sa'er &ue, estando at/ o mesmo Sol, &ue lhe dava tanto resplendor eformosura no centro da sua alma, todavia / como se ali no estivesse, paraparticipar dKEle, apesar de ser to capa. de )o.ar de Sua 1a-estade, como o cristalo / para nele resplandecer o sol# Nenhuma coisa lhe aproveita* e da&ui vem &uetodas as 'oas o'ras &ue fi.er, estando assim em pecado mortal, so de nenhum frutopara alcan"ar )l0ria* por&ue, no procedendo da&uele princpio &ue / !eus, do &ualvem &ue a nossa virtude / virtude, e apartando2nos dKEle, no pode a o'ra ser

    a)rad+vel a Seus olhos* por&ue, enfim, o intento de &uem fa. um pecado mortal,no / contentar a !eus, seno dar pra.er ao dem0nio o &ual, como / as mesmastrevas, assim a po're alma fica feita uma mesma treva#

    5# Eu sei de uma pessoa a &uem Nosso Senhor &uis mostrar como ficava uma alma &uandopecava mortalmente# !i. a&uela pessoa &ue lhe parece &ue, se o entendessem, noseria possvel &ue al)u/m pecasse, ainda &ue se pusesse nos maiores tra'alhos &uese possam pensar para fu)ir das ocasi3es# E assim, deu2lhe um )rande dese-o de &uetodos o entendessem# Assim vo2lo d( a v0s, filhas, de ro)ar a !eus pelos &ue estoneste estado, todos feitos uma escurido, e tais so suas o'ras* por&ue, assim comoduma fonte muito clara, claros so os arroio.itos &ue dela manam, assim / uma

    alma &ue est+ em )ra"a, pois da&ui lhe vem serem suas o'ras to a)rad+veis aosolhos de !eus e dos homens, por&ue procedem desta fonte de vida, onde a alma est+como uma +rvore plantada* nem ela teria frescura e fruto, se no lhe viesse dali* /isto &ue a sustenta e fa. com &ue no se&ue, e &ue d( 'om fruto# Assim a alma &ue,por sua culpa se aparta desta fonte e se transplanta a outra de uma ne)rssima +)uae de muito mau odor, tudo o &ue dela sai / a mesma desventura e su-idade#

    9# B de considerar a&ui &ue a fonte e a&uele Sol resplandecente &ue est+ no centro da alma,no perde seu resplendor e formosura, &ue est+ sempre dentro dela, e no h+ coisa&ue lhe possa tirar a sua formosura# 1as, se so're um cristal &ue est+ ao sol, se

    pusesse um pano muito ne)ro, claro est+ &ue, em'ora o sol d( nele, a sua claridadeno far+ o seu efeito no cristal#

    ># almas remidas pelo San)ue de Jesus Cristo= Entendei2vos e tende d0 de v0s mesmas=Como / possvel &ue, entendendo isto, no procureis tirar este pe. deste cristal8Olhai &ue, se a vida se vos aca'a, -amais tornareis a )o.ar desta lu.# Jesus= O &ue/ ver uma alma apartada dela= Como ficam os po'res aposentos do castelo= uepertur'ados andam os sentidos, &ue / a )ente &ue vive neles= E as pot(ncias, &ue soos alcaides, mordomos e mestres2salas, com &ue ce)ueira, com &ue mau )overno=Enfim, como onde est+ plantada a +rvore / o dem0nio, &ue fruto pode dar8

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    :# Ouvi uma ve. a um homem espiritual, &ue no se espantava do &ue fa.ia &uem est+ empecado mortal, mas sim do &ue no fa.ia# !eus, por Sua miseric0rdia, nos livre deto )rande mal, &ue no h+ coisa, en&uanto vivemos, &ue mere"a este nome de mal,seno esta* pois acarreta males eternos para sempre# B disto, filhas, &ue devemosandar temerosas e o &ue temos de pedir a !eus em nossas ora"3es* por&ue, se Ele

    no )uarda a cidade, em vo tra'alharemos, pois somos a pr0pria vaidade#

    !i.ia a&uela pessoa &ue tinha aproveitado duas coisas da merc( &ue !eus lhe fe.6 uma, umtemor )randssimo de O ofender, e assim sempre Lhe andava suplicando no adeiDasse cair, vendo to terrveis danos* a se)unda, um espelho para a humildade,vendo &ue, coisa 'oa &ue fa"amos, no tem seu princpio em n0s mesmos, masna&uela fonte onde est+ plantada esta +rvore das nossas almas, e neste Sol &ue d+calor 7s nossas o'ras# !isse &ue se lhe representou isto to claro &ue, em fa.endoal)uma coisa 'oa ou vendo2a fa.er, acudia ao seu princpio e entendia como, semesta a-uda, no podamos nada* e da&ui lhe procedia ir lo)o a louvar a !eus, e,ha'itualmente, no se lem'rava de si em coisa 'oa &ue fi.esse#

    # No seria tempo perdido, irms, o &ue )ast+sseis a ler isto, nem eu a escrev(2lo, sefic+ssemos com estas duas coisas, &ue os letrados e entendidos muito 'em sa'em*mas a nossa i)nor

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    alma &ue tenha ora"o, pouca ou muita6 &ue no a tolha nem a aperte# !eiDe2aandar por estas moradas, em cima, em 'aiDo e aos lados, pois !eus lhe deu to)rande di)nidade* no se o'ri)ue a estar muito tempo num s0 aposento= Oh= mas se/ no pr0prio conhecimento= E &uo necess+rio / isto Mve-am se me entendem,mesmo a&uelas &ue o Senhor tem na mesma morada em &ue Ele est+, pois 2 por

    mais elevada &ue este-a a alma 2, no lhe cumpre outra coisa, nem poder+, ainda&ue &ueira &ue a humildade sempre fa'rica o seu mel, como a a'elha na colmeia*sem isto, tudo vai perdido# 1as consideremos &ue a a'elha no deiDa de sair e voarpara tra.er flores* assim a alma no pr0prio conhecimento6 creia2me e voe al)umasve.es a considerar a )rande.a e a ma-estade do seu !eus# A&ui achar+ a sua'aiDe.a, melhor &ue em si mesma, e mais livre das sevandi-as, &ue entram nasprimeiras moradas, &ue so as do pr0prio conhecimento* ainda &ue, como di)o, /)rande miseric0rdia de !eus &ue a alma se eDercite nisto, pois tanto se peca poreDcesso como por defeito, 2 costuma2se di.er2# E creiam2me &ue, com a virtude de!eus, praticaremos muito melhor a virtude do &ue muito presas 7 nossa terra#

    H# No sei se fica 'em dado a entender, por&ue / coisa to importante este conhecermo2nos,&ue no &uereria &ue nisso houvesse nunca relaDa"o, por muito su'idas &ueeste-ais nos c/us* pois, en&uanto estamos nesta terra, no h+ coisa &ue mais nosimporte &ue a humildade# E assim volto a di.er &ue / muito 'om e muito melhortratar de entrar primeiro no aposento onde se trata disto, &ue voar aos demais,por&ue este / o caminho* e, se podemos ir pelo se)uro e plano, para &ue havemos de&uerer asas para voar8 1as procure2se como aproveitar mais nisto* e a meu ver,

    -amais aca'amos de nos conhecer se no procurarmos conhecer a !eus* olhando 7Sua )rande.a, acudamos 7 nossa 'aiDe.a* e olhando 7 Sua pure.a, veremos nossasu-idade* considerando a Sua humildade, veremos como estamos lon)e de ser

    humildes#

    $G# + dois proveitos nisto6 o primeiro, est+ claro &ue uma coisa 'ranca parece muito mais'ranca ao p/ duma ne)ra e, ao contr+rio, a ne)ra ao p/ da 'ranca# O se)undo /,por&ue o nosso entendimento e nossa vontade se tornam mais no'res e maisdispostos para todo o 'em, &uando, 7s voltas consi)o mesmos, tratam com !eus# Ese nunca samos do nosso lodo de mis/rias, / coisa muito inconveniente# Assim comodi.amos dos &ue esto em pecado mortal &uo ne)ras e de mau odor so seuscursos de +)ua, assim a&ui Mainda# &ue no so como a&ueles, !eus nos livre, &ueisto / s0 compara"o, metidos sempre na mis/ria da nossa terra, nunca o cursosair+ do lodo de temores, de pusilanimidade e co'ardia6 de olhar a se me olham, se

    me no olham* se indo por este caminho, me suceder+ mal* se ousarei come"ara&uela o'ra, se ser+ so'er'a* se / 'om &ue uma pessoa to miser+vel trate de coisato alta como a ora"o* se me ho2de ter por melhor no indo pelo caminho de todaa )ente* &ue no so 'ons os eDtremos, mesmo em virtude* &ue, como sou topecadora, ser+ cair de mais alto* no irei talve. por diante e farei dano aos 'ons*uma como eu no precisa de sin)ularidades#

    $$# Oh= valha2me !eus, filhas, &uantas almas deve o dem0nio ter feito perder muito por estemeio= Tudo isto lhes parece humildade e outras muitas coisas &ue pudera di.er, vemde nunca aca'armos de nos entender* rende2se o pr0prio conhecimento, e, se nunca

    samos de n0s mesmos, no me espanto, &ue isto e mais se possa temer# %or isso di)o,

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    filhas, &ue ponhamos os olhos em Cristo, nosso em, e ali aprenderemos averdadeira humildade, e em seus santos, e eno'recer2se2+ o entendimento 2 comodisse 2, e no ficar+ o pr0prio conhecimento rasteiro e co'arde* pois &ue, em'oraesta se-a a primeira morada, / muito rica e de to )rande pre"o e, se se escapa dassevandi-as &ue nela h+, no se ficar+ sem passar adiante# Terrveis so os ardis e

    manhas do dem0nio para &ue as almas no se conhe"am a si mesmas nem entendamSeus caminhos#

    $5# !estas primeiras moradas posso eu dar sinais muito certos, por eDperi(ncia# %or isso di)o&ue no considerem poucos aposentos, seno um milho deles* por&ue, de muitasmaneiras, entram a&ui almas, umas e outras com 'oa inten"o# 1as, como odem0nio sempre a tem to m+, deve terem cada um muitas le)i3es de dem0nios acom'ater para &ue no passem de uns a outros# Como a po're alma no o entende,por mil maneiras nos en)ana, o &ue no pode fa.er -+ tanto 7s &ue esto mais pertoonde est+ o Rei A&ui, por/m, como ainda esto em'e'idas no mundo e en)olfadasem seus contentos e desvanecidas com suas honras e pretens3es, no t(m for"a osvassalos da alma M&ue so os sentidos e pot(ncias naturais &ue !eus lhe deu, efacilmente estas almas so vencidas, em'ora andem com dese-os de no ofender a!eus, e fa"am 'oas o'ras# As &ue se virem neste estado precisam de recorrerami?de, como puderem, a Sua 1a-estade, tomar a Sua 'endita 1e porintercessora e a Seus santos, para &ue pele-em por elas, pois os seus criados poucafor"a t(m para se defender# E, na verdade, em todos os estados / necess+rio &ue elanos venha de !eus# Sua 1a-estade no2la d( por Sua miseric0rdia, amen#

    $9# ue miser+vel / a vida em &ue vivemos= %or&ue, em outra parte, disse muito do dano&ue nos fa., filhas, no entender 'em isto da humildade e do pr0prio conhecimento,

    nada mais vos di)o a&ui, ainda &ue se-a o &ue mais importa, e pra.a a !eus tenhadito al)uma coisa &ue vos aproveite#

    $># aveis de notar &ue, nestas primeiras moradas, ainda no che)a &uase nada da lu. &uesai do pal+cio onde est+ o Rei* por&ue, em'ora no este-am o'scurecidas e ne)rascomo &uando a alma est+ em pecado, esto de al)uma maneira o'scurecidas parapoderem ver &uem est+ nelas e no por culpa do aposento 2 no me sei dar aentender 2, mas por&ue entraram com a alma tantas coisas m+s de co'ras e v'orase coisas pe"onhentas &ue no a deiDam reparar na lu.# B como se al)u/m entrasseem um lu)ar aonde entra muito sol e levasse terra nos olhos, &ue &uase os nopudesse a'rir# O aposento est+ claro, mas ela no o )o.a pelo impedimento destasferas e alim+rias &ue lhe fa.em cerrar os olhos para no ver seno a elas#

    Assim me parece deve ser uma alma &ue, em'ora no este-a em mau estado, est+ to metidaem coisas do mundo e to em'e'ida com sua fa.enda ou honra ou ne)0cios 2 comodisse 2 &ue, ainda &ue de facto e verdade &ueira ver e )o.ar da Sua formosura, no adeiDam nem parece &ue possa desem'ara"ar2se de tantos impedimentos# E conv/mmuito, para entrar nas se)undas moradas, &ue procure dar de mo 7s coisas ene)0cios no necess+rios, cada um conforme 7 seu estado* / coisa &ue lhe importatanto para che)ar 7 morada principal, &ue, se no come"a a fa.er isto, o tenho porimpossvel* e at/ mesmo o estar sem muito peri)o na&uela em &ue est+, em'ora -+

    tenha entrado no castelo, por&ue entre coisas to pe"onhentas, uma ve. ou outra /

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    impossvel &ue deiDem de lhe morder#

    $:# %ois &ue seria, filhas, se 7s &ue -+ esto livres destes trope"os, como n0s, e entr+mos -+muito mais adentro de outras moradas secretas do castelo, se por nossa culpatorn+ssemos a sair para estas 'arafundas, como por nossos pecados deve haver

    muitas pessoas a &uem !eus fa. merc(s, e por sua culpa se lan"am nesta mis/ria8A&ui estamos livres &uanto ao eDterior* no interior, pra.a ao Senhor &ue oeste-amos e &ue Ele nos livre# @uardai2vos, filhas minhas, de cuidados alheios# Olhai&ue em poucas moradas deste castelo deiDam de com'ater os dem0nios# B verdade&ue em al)umas t(m for"a os )uardas para pele-ar, &ue so as pot(ncias 2 comocreio ter dito 2* mas / muito necess+rio no nos descuidarmos para entender seusardis e no nos en)ane o dem0nio feito an-o de lu.* pois h+ uma multido de coisascom &ue ele nos pode fa.er dano, pouco a pouco, e, at/ &ue o fa"a, no oentendemos#

    $# J+ vos disse de outra ve. &ue ele / como uma lima surda, &ue / preciso entend(2lo nosprincpios# uero di.er al)uma coisa para vo2lo dar melhor a entender#

    !+ ele a uma irm v+rios mpetos de penit(ncia, e a esta lhe parece &ue no tem descansoseno &uando se est+ atormentando# Este princpio / 'om* mas, se a prioresamandou &ue no fa"am penit(ncias sem licen"a e o dem0nio lhe fa. parecer &ue acoisa to 'oa 'em se pode atrever, e 7s escondidas se d+ a tal vida &ue vem a perdera sa?de e no poder fa.er o &ue manda a sua Re)ra, -+ vedes em &ue vai parar tal'em#

    !+ a outra um .elo de perfei"o muito )rande# Isto / muito 'om* mas poder+ vir da&ui, &ue&ual&uer faltita das irms lhe pare"a uma )rande &ue'ra e assim vir2lhe o cuidadode ver se as fa.em, e de recorrer 7 prioresa* e at/, 7s ve.es, poder+ ser ela no ver assuas pr0prias faltas pelo )rande .elo &ue tem da Reli)io* como as outras no v(emo interior, e v(em o cuidado eDterior, poderia ser &ue o no tomassem tanto a 'em#

    $;# O &ue a&ui pretende o dem0nio no / pouco* / esfriar a caridade e o amor de umas paracom as outras, o &ue seria )rande dano# Entendamos, minhas filhas, &ue a perfei"overdadeira / amor de !eus e do pr0Dimo e, com &uanto mais perfei"o )uardarmosestes dois mandamentos, seremos mais perfeitas# Toda a nossa Re)ra e Constitui"3esno servem para outra coisa, seno de meios para )uardar isto com mais perfei"o#

    !eiDemo2nos de .elos indiscretos, &ue nos podem fa.er muito dano# Cada uma olhepara si mesma#

    %or&ue noutra parte vos falei lar)amente so're isto, no me alon)arei#

    $F# Importa tanto este amor de umas para com as outras, &ue eu nunca &uereria &ue delevos es&uec(sseis* por&ue, de andar olhando nas outras a umas ninharias &ue 7sve.es no ser+ imperfei"o, mas, como sa'emos pouco, talve. o lan"aremos 7 piorparte, pode a alma perder a pa. e ainda in&uietar a das outras# ede como custariacaro a perfei"o= Tam'/m poderia o dem0nio tra.er esta tenta"o para com a

    prioresa e seria mais peri)osa# %ara isto / mister muita discri"o6 por&ue, se forem

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    coisas &ue vo contra a Re)ra e Constitui"o, / preciso &ue nem sempre se lancem 7'oa parte, mas sim avis+2la* e, se no se emendar, ao %relado6 isto / caridade# Etam'/m para com as irms, se fosse al)uma coisa )rave* deiDar passar tudo commedo de &ue se-a tenta"o, seria a mesma tenta"o# 1as / preciso ponderar muitoMno nos en)ane o dem0nio no o tratar umas com as outras, pois disso pode o

    dem0nio tirar )rande proveito e come"ar o costume da murmura"o* mas apenastrat+2lo com &uem h+2de aproveitar, como -+ disse# A&ui, )l0ria a !eus, no h+ tantaocasio para isso, por&ue se )uarda to contnuo sil(ncio* mas / 'om &ue este-amosde so'reaviso#

    SE@N!AS 1ORA!AS

    CAPTULO -/CO. Trata do muito "ue importa a perse0erana para c#egar 1s 2ltimas

    moradas) e a grande guerra "ue d$ o dem,nio) e "uanto con0*m no errar o camin#ono princ3pio para acertar. ($ um meio "ue e4perimentou ser muito efica!.

    $# A)ora, ve-amos &uais sero as almas &ue entram nas se)undas moradas e o &ue fa.emnelas# uereria di.er2vos pouco, por&ue -+ disse 'astante em outras partes e ser+impossvel deiDar de tornar a di.er outra ve. muito so're isso, por&ue no melem'ra nada do &ue -+ foi dito* se o pudesse )uisar de diferentes maneiras, 'em sei&ue no vos enfastiareis, como nunca nos cansamos dos livros &ue tratam disto,apesar de serem muitos#

    5# B esta morada a dos &ue -+ come"aram a ter ora"o e entendido &uanto lhes importa nose ficarem nas primeiras moradas, mas no t(m ainda determina"o para deiDar deestar nela muitas ve.es, por&ue no deiDam as ocasi3es, o &ue / )rande peri)o# 1as

    -+ / )rande miseric0rdia &ue, mesmo por pouco tempo, procurem fu)ir das co'ras ecoisas pe"onhentas e entendam &ue / 'om deiD+2las#

    Estes, em parte, t(m muito mais tra'alho &ue os primeiros, ainda &ue no tenham tantoperi)o* pois parece &ue -+ os entendem, e h+ )rande esperan"a &ue entrem maisadentro# !i)o &ue t(m mais tra'alho, por&ue os primeiros so como mudos &ue noouvem, e assim passam melhor o tra'alho de no falar* mas no o passariam assim,

    seno muito maior, os &ue ouvissem e no pudessem falar# 1as, nem por isso / maisde dese-ar o tra'alho dos &ue no ouvem, por&ue enfim, )rande coisa / entender o&ue nos di.em# Assim estes entendem os chamamentos &ue lhes fa. o Senhor, por&uevo entrando mais perto onde est+ Sua 1a-estade, / muito 'om vi.inho e to)rande a Sua miseric0rdia e 'ondade &ue, mesmo estando n0s em nossopassatempo, ne)0cios, contentamentos e 'a)atelas do mundo, e at/ caindo elevantando2nos em pecados Mpor&ue estas alim+rias so to pe"onhentas e peri)osasua companhia e 'uli"osas &ue, s0 por maravilha deiDaro de trope"ar nelas paracair, com tudo isto, tem em tanto este Senhor nosso &ue O amemos e procuremos aSua companhia &ue, uma ve. ou outra, no deiDa de nos chamar para &ue nosacer&uemos dKEle# E / esta vo. to doce, &ue se desfa. a po're alma por no fa.er

    lo)o o &ue lhe manda* e assim 2 como di)o 2 / muito mais tra'alho do &ue no O

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    ouvir#

    9# No di)o &ue estas vo.es e chamamentos se-am como outros &ue direi depois, mas so compalavras &ue se ouvem a )ente 'oa, ou serm3es ou com o &ue se l( em 'ons livros eoutras muitas coisas &ue tendes ouvido, com as &uais !eus chama* ou enfermidades,

    tra'alhos e tam'/m com uma ou outra verdade &ue Ele ensina na&ueles instantesem &ue estamos em ora"o &ue, se-a &uo frouDamente &uiserdes, os tem !eus emmuito# E v0s, irms, no tenhais em pouco esta primeira merc(, nem vosdesconsoleis, ainda mesmo &ue no respondais lo)o ao Senhor# em sa'e Sua1a-estade a)uardar muitos dias e anos, em especial &uando v( perseveran"a e 'onsdese-os# Esta perseveran"a / a&ui o mais necess+rio, por&ue com ela -amais se deiDade )anhar muito# 1as / terrvel a viol(ncia &ue a&ui usam os dem0nios de milmaneiras, com mais tormento da alma &ue na morada anterior* por&ue ali, estavamuda e surda, pelo menos ouvia muito pouco e resistia menos, como &uem tem, emparte, perdida a esperan"a de vencer* a&ui est+ o entendimento mais vivo e aspot(ncias mais h+'eis* e so os )olpes e a artilharia de tal modo, &ue a alma nopode deiDar de ouvir# %or&ue a&ui / o representarem os dem0nios estas co'ras dascoisas do mundo e fa.erem os seus contentos &uase eternos, a estima em &ue nele se/ tido, os ami)os e parentes, a sa?de &ue se pode perder nas coisas de penit(nciaMpois sempre come"a a alma &ue entra nesta morada a dese-ar fa.er al)uma, eoutras mil maneiras de impedimentos#

    ># Jesus, &ue 'arafunda a &ue p3em a&ui os dem0nios e as afli"3es da po're alma, &ue nosa'e se h+2de passar adiante ou voltar ao primeiro aposento= B &ue a ra.o, poroutra parte, representa2lhe o en)ano &ue / pensar &ue tudo isto vale al)uma coisaem compara"o do &ue pretende# A f/ ensina2lhe o &ue / &ue lhe cumpre fa.er* a

    mem0ria representa2lhe em &ue vo parar todas estas coisas, tornando2lhe presentea morte, e al)umas s?'itas, dos &ue muito )o.aram destas coisas &ue viu* &uodepressa so es&uecidos de todos, como viu pisar de'aiDo da terra al)uns &ueconheceu em )rande prosperidade 2 e at/ mesmo ter ela passado so're suassepulturas muitas ve.es 2 e pensar &ue na&uele corpo esto fervilhando muitosvermes e muitas outras coisas &ue podem ocorrer* a vontade inclina2se a amarA&uele em &uem tem visto to inumer+veis coisas e mostras de amor, e &uereriapa)ar al)uma* em especial, p3e2se2lhe diante como nunca se aparta dela esteverdadeiro Amador, acompanhando2a, dando2lhe vida e ser# Lo)o o entendimentoacode dando2lhe a entender &ue no pode encontrar melhor ami)o, ainda &ue vivamuitos anos* &ue todo o mundo est+ cheio de falsidade, e estes contentos &ue lhe

    representa o dem0nio, esto cheios de tra'alhos e cuidados e contradi"3es* e lhe di.&ue est+ certo &ue, fora deste castelo, no encontrar+ se)uran"a nem pa.* &ue sedeiDe de andar por casas alheias, pois a sua est+ cheia de 'ens, se a &uiser )o.ar*&ue nin)u/m acha tudo &ue h+ mister seno em sua casa, em especial tendo tal0spede, &ue a far+ senhora de todos os 'ens* se ela &uiser no andar+ perdida,como o filho pr0di)o, comendo man-ar de porcos#

    :# Ra.3es so estas para vencer os dem0nios# 1as, 0 Senhor e !eus meu= Os costumes dascoisas de vaidade e o ver &ue toda a )ente trata disso, estra)a tudo= %or&ue est+ tomorta a f/, &ueremos mais o &ue vemos do &ue a&uilo &ue ela nos di.# E, na

    verdade, no vemos seno eDcessiva m+ ventura nos &ue se deiDam ir atr+s destas

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    coisas visveis# 1as isso fi.eram estas coisas pe"onhentas &ue tratamos* comoal)u/m &ue / mordido por uma v'ora se empe"onha e incha todo, assim a&ui, seno nos acautelamos* claro est+ &ue para sarar so precisas muitas curas* e )randemerc( nos fa. !eus, se no morremos disso# B certo &ue a alma passa a&ui )randestra'alhos, em especial se o dem0nio entende &ue ela tem disposi"3es de sua condi"o

    e costumes para ir muito adiante6 todo o inferno se -untar+ para fa.(2la tornar asair para fora#

    # Ah= Senhor meu=, a&ui / mister a ossa a-uda, pois, sem ela, no se pode fa.er nada# %orossa miseric0rdia no consintais &ue esta alma se-a en)anada para deiDar o &uecome"ou# !ai2lhe lu. para ver como est+ nisto todo o seu 'em e para se apartar dasm+s companhias# @randssima coisa / tratar com os &ue tratam disto e ache)ar2se,no s0 aos &ue vir nestes aposentos em &ue est+, mas tam'/m aos &ue entender &ue

    -+ entraram nos mais interiores* por&ue lhe ser+ )rande a-uda, e tanto poder+conversar com estes, &ue ali a metam consi)o# Este-a sempre de so'reaviso para nose deiDar vencer* por&ue, se o dem0nio a v( com uma )rande determina"o de &ue,antes perder+ a vida, o descanso e tudo o &ue ele lhe oferece, do &ue voltar aoprimeiro aposento, muito mais depressa a deiDar+# Se-a varo e no dos &ue sedeitavam a 'e'er de 'ru"os, &uando iam para a 'atalha, no me lem'ro com &uem,mas determine2se6 vai pele-ar com todos os dem0nios e no h+ melhores armas do&ue as da Cru.#

    ;# Ainda &ue de outras ve.es tenha dito isto, importa tanto, &ue o torno a di.er a&ui* / &ueno se lem're &ue h+ re)alos nisto &ue principia, por&ue / maneira muito 'aiDa decome"ar a construir to precioso e )rande edifcio* e, se come"am so're areia, darocom tudo em terra* nunca deiDaro de andar des)ostosos e tentados# %or&ue no so

    estas moradas onde chove o man+* esto mais adiante, onde tudo sa'e ao &ue umaalma &uer, por&ue no &uer seno o &ue !eus &uer# B coisa muito en)ra"ada &ueainda este-amos com mil em'ara"os e imperfei"3es e as virtudes &ue ainda nosa'em andar, pois s0 h+ pouco come"aram a nascer, e mesmo pra.a a !eus &ueeste-am come"adas* e no temos ver)onha de &uerer )ostos na ora"o e de nos&ueiDarmos de aride.8 Nunca isto vos aconte"a, irms* a'ra"ai2vos com a cru. &uevosso Esposo tomou so're Si e entendei &ue esta deve ser a vossa empresa# A &uemais puder padecer, &ue pade"a mais por Ele e ser+ a &ue melhor se li'erta# O resto,como coisa acess0ria, se vo2lo der o Senhor, dai2Lhe muitas )ra"as#

    F# %arecer2vos2+ &ue, para os tra'alhos eDteriores, estais 'em determinadas, con&uanto vosre)ale !eus no interior# Sua 1a-estade sa'e melhor, o &ue nos conv/m* no temosde Lhe aconselhar o &ue nos h+2de dar, poi# pode com ra.o di.er2nos &ue nosa'emos o &ue pedimos# Toda a pretenso de &uem come"a a ter ora"o Me no voses&ue"a isto, pois importa muito h+2de ser tra'alhar e determinar2se e dispor2se,com &uanta dili)(ncia puder, a fa.er conformar a sua vontade com a de !eus* e 2como direi depois 2, estai 'em certas &ue nisto consiste toda a maior perfei"o, &uese pode alcan"ar no caminho espiritual# uem mais perfeitamente tiver isto, maisrece'er+ do Senhor e mais adiante estar+ neste caminho# No penseis &ue h+ a&uimuitas al)aravias nem coisas no sa'idas e compreendidas6 nisto consiste todo onosso 'em# %ois, se erramos no princpio, &uerendo lo)o &ue o Senhor fa"a a nossa

    vontade e &ue nos leve como ima)inamos, &ue firme.a pode levar este edifcio8

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    %rocuremos fa.er o &ue est+ em nossa mo e )uardemo2nos das sevandi-aspe"onhentas* &ue muitas ve.es &uer o Senhor &ue ha-a securas e nos persi)am mauspensamentos e nos afli-am, sem os podermos afastar de n0s, e at/ al)umas ve.espermite &ue nos mordam, para &ue n0s nos sai'amos melhor )uardar depois e paraver se nos pesa muito de O ter ofendido#

    H# %or isso, no vos desanimeis, se al)uma ve. cairdes, para deiDar de ir por diante* pois,dessa mesma &ueda, tirar+ !eus 'em, como fa. a&uele &ue vende a me.inha &ue,para provar se / 'oa, 'e'e o veneno primeiro# Se no vssemos em outra coisa anossa mis/ria e o )rande dano &ue nos fa. o andarmos dissipados, s0 esta luta &ue sepassa para nos tornarmos a recolher, 'astava# %oder+ haver maior mal do &ue nonos acharmos em nossa pr0pria casa8 ue esperan"a podemos ter de encontrarsosse)o em outras coisas, se nas pr0prias no podemos sosse)ar8 1as to )randes everdadeiros ami)os e parentes, com &uem em'ora no o &ueiramos, semprehavemos de viver, como so as nossas pot(ncias, parece fa.erem2nos )uerra, como&ue sentidas da &ue lhes fi.eram os nossos vcios# %a., pa., minhas irms, disse oSenhor e admoestou os Seus Ap0stolos tantas ve.es# %ois, crede2me &ue, se no atemos e no a procuramos em nossa casa, no a acharemos na dos estranhos# Aca'e2se -+ esta )uerra* pelo San)ue &ue Ele derramou por n0s o pe"o eu aos &ue nocome"aram a entrar em si* e os &ue -+ come"aram, &ue nada se-a 'astante para osfa.er voltar atr+s# Olhem &ue / pior a recada &ue a &ueda* -+ v(em sua perda*confiem na miseric0rdia de !eus e nada em si mesmas, e vero como Sua 1a-estadeleva a alma de umas moradas a outras e a mete na&uela terra onde estas feras no apodem tocar nem cansar* mas ela as su-eita a todas e fa. tro"a delas, e )o.a demuitos mais 'ens do &ue poderia dese-ar, ainda mesmo nesta vida, di)o#

    $G# %or&ue 2 como disse ao principio 2, escrevi como vos haveis de comportar nestaspertur'a"3es &ue a&ui apresenta o dem0nio, e como come"ar a recolher2se no h+2de ir 7 for"a de 'ra"os, mas sim com suavidade, para &ue o possais estar maiscontinuamente, s0 direi a&ui &ue, a meu parecer, fa. muito ao caso tratar compessoas eDperimentadas* por&ue em coisas &ue / necess+rio fa.er, podereis pensar&ue h+ )rande &ue'ra# Contanto &ue no se deiDe este come"o de recolhimento, tudo)uiar+ o Senhor em nosso proveito, em'ora no encontremos &uem nos ensine* &uepara este mal de deiDar a ora"o, no h+ rem/dio, se no se torna a come"ar, seno&ue, pouco a pouco, a alma vai perdendo cada dia mais, e ainda pra.a a !eus &ue oentenda#

    $$# %oderia al)uma pensar &ue, se to )rande mal / voltar atr+s, melhor ser+ nunca come"ar,mas antes iscar2se fora do castelo# J+ vos disse ao princpio,2 e o mesmo Senhor o di.&ue, &uem anda no peri)o, nele perece e &ue a porta para entrar neste castelo / aora"o# Ora, pensar &ue havemos de entrar no C/u e no entrar em n0s,conhecendo2nos e considerando nossa mis/ria e o &ue devemos a !eus e pedindo2Lhe muitas ve.es miseric0rdia, / desatino# O mesmo Senhor di.6 PNin)u/m su'ir+ ameu %ai, seno por 1imQ# No sei se disse assim, creio &ue sim* e P&uem 1e v( a1im v( a 1eu %aiQ# %ois, se nunca olhamos para Ele, nem consideramos o &ue Lhedevemos e a morte &ue sofreu por n0s, no sei como O podemos conhecer nem fa.ero'ras em Seu servi"o# %or&ue a f/, sem elas, e sem irem unidas ao valor dos

    merecimentos de Jesus Cristo, nosso em, &ue valor pode ter8 E &uem nos

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    despertar+ a amar este Senhor8

    %ra.a a Sua 1a-estade nos d( a entender o muito &ue Lhe cust+mos e como o servo no /mais &ue o Senhor* e &ue precisamos fa.er o'ras para )o.ar da Sua )l0ria* para isto/ necess+rio orar para no andar sempre em tenta"o#

    TERCEIRAS 1ORA!AS

    CAPTULO 5. Trata da pouca segurana "ue podemos ter en"uanto se 0i0e neste desterro)ainda "ue o estado se6a ele0ado. 7 como con0*m andar com temor. Cont*m algunstemas muito 'ons.

    $# A&ueles &ue, pela miseric0rdia de !eus, venceram estes com'ates e com perseveran"aentraram nas terceiras moradas, &ue lhes diremos, seno P'em2aventurado o varo&ue teme o SenhorQ8 No foi pouco fa.er Sua 1a-estade com &ue entenda eua)ora, nesta altura, em &ue costumo ser rude nestes casos, o &ue &uer di.eremvern+culo este versculo# %or certo, com ra.o o chamaremos 'em2aventurado,pois, se no volta atr+s, ao &ue podemos entender, leva caminho se)uro na suasalva"o# A&ui vereis, irms, &uanto importa vencer as 'atalhas passadas* poistenho por certo &ue nunca deiDa o Senhor de o pr em se)uran"a de consci(ncia, o&ue no / pe&ueno 'em# !i)o em se)uran"a, e disse mal, pois no a h+ nesta vida, epor isso entendei sempre o &ue di)o6 se no voltar a deiDar o caminho come"ado#

    5# 1uito )rande mis/ria / viver em vida &ue sempre temos de andar como &uem teminimi)os 7 porta, &ue no pode comer nem dormir sem armas, e sempre emso'ressalto, com receio de &ue, por al)uma parte, possam arrom'ar esta fortale.a# meu Senhor e meu em= Como &uereis &ue se dese-e vida to miser+vel, se no /possvel deiDar de &uerer e pedir &ue nos tireis dela, se no / com esperan"a deperd(2la por 0s ou )ast+2la em osso servi"o, e so'retudo entender &ue / ossavontade8 Se o /, !eus meu, morramos convosco, como disse S# Tom/, por&ue no /outra coisa seno morrer muitas ve.es o viver sem 0s e com estes temores de &uepode ser possvel perder2os para sempre# %or isso di)o, filhas, &ue a 'em2aventuran"a &ue temos de pedir / estar -+ em se)uran"a com os 'em2aventurados*

    pois com estes temores, &ue satisfa"o pode ter a&uele &ue a tem toda em contentara !eus8 E considerai &ue esta, e muito maior, tinham al)uns santos &ue caram em)raves pecados* e no temos a certe.a de &ue nos dar+ !eus a mo para sair deles efa.er a penit(ncia &ue esses fi.eram Msu'entende2se o auDlio particular#

    9# Certo /, minhas filhas, &ue estou com no pouco temor escrevendo isto, pois no sei comoo escrevo nem como vivo, &uando disso me lem'ro muitas, muitas ve.es# %edi2Lhe,minhas filhas, &ue Sua 1a-estade viva sempre em mim* por&ue, se no for assim,&ue se)uran"a pode ter uma vida to mal )asta como a minha8 E no vos pese oentender &ue isto / assim, como al)umas ve.es o tenho visto em v0s, &uando vo2lodi)o, e procede de &ue &uis/reis &ue tivesse sido muito santa e tendes ra.o*tam'/m eu o &uisera# 1as, &ue hei2de fa.er, se o perdi somente por minha culpa8=

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    E no me &ueiDarei de !eus &ue deiDou de me dar 'astantes a-udas, para &ue secumprissem vossos dese-os# No posso di.er isto sem l+)rimas e )rande confuso dever &ue escrevo para a&uelas &ue me podem ensinar a mim# !ura o'edi(ncia temsido= %ra.a ao Senhor &ue, pois se fa. por Ele, se-a para &ue vos aproveiteis deal)uma coisa e para &ue Lhe pe"ais &ue perdoe a esta miser+vel atrevida# 1as 'em

    sa'e Sua 1a-estade &ue s0 posso presumir da Sua miseric0rdia* e, -+ &ue no possodeiDar de ser a &ue tenho sido, no tenho outro rem/dio, seno acolher2me a ela econfiar nos m/ritos de Seu 4ilho e da ir)em, Sua 1e, cu-o h+'ito indi)namentetra)o, e v0s tra.eis tam'/m# Louvai2O, minhas filhas, pois verdadeiramente o soisdesta Senhora* e assim no tendes de vos afrontar &ue eu se-a ruim, pois tendes to'oa 1e# Imitai2A e considerai &ual deve ser a )rande.a desta Senhora, e o 'em deA ter por %adroeira, pois no 'astaram meus pecados e ser a &ue sou, para emnada deslustrar esta sa)rada Ordem#

    ># 1as, duma coisa vos aviso6 &ue nem por ser tal e ter to 'oa 1e, estais se)uras, &uemuito santo era !avid, e -+ vedes o &ue foi Salomo* nem fa"ais caso doencerramento e penit(ncia em &ue viveis, nem vos asse)ureis por tratardes semprecom !eus e eDercitar2vos na ora"o to continuamente e estardes to retiradas dascoisas do mundo e t(2las, a vosso parecer, a'orrecidas# B 'om tudo isto, mas no'asta 2 como disse para deiDarmos de temer* e assim meditai este versculo e tra.ei2o na mem0ria muitas ve.es6 Peatus vir, &ui timet !ominumQ#

    :# J+ no sei o &ue di.ia, pois distra2me muito e, em me lem'rando de mim, &ue'ram2se2me as asas para di.er coisa 'oa# E assim o &uero deiDar por a)ora#

    oltando ao &ue comecei a di.er das almas &ue entraram nas terceiras moradas, e no lhes

    fe. o Senhor pe&uena merc(, mas sim muito )rande em terem vencido as primeirasdificuldades# !estas, pela 'ondade do Senhor, creio &ue h+ muitas no mundo* somuito dese-osas de no ofender a Sua 1a-estade, e at/ mesmo dos pecados veniaisse )uardam, e ami)as de fa.er penit(ncia* t(m suas horas de recolhimento, )astam'em o tempo, eDercitando2se em o'ras de caridade com os pr0Dimos, muitoconcertadas no falar e vestir e )overno de casa, as &ue a t(m# !ecerto &ue / estadopara dese-ar, e parece &ue nada h+ para &ue se lhes ne)ue a entrada at/ 7 ?ltimamorada, nem lha ne)ar+ o Senhor, se elas &uiserem# ue 'ela disposi"o esta para&ue lhes fa"a toda a merc(#

    # Jesus= e &uem dir+ &ue no &uer um to )rande 'em, em especial havendo -+ passadopelo mais tra'alhoso8 Nin)u/m# Todas di.emos &ue o &ueremos* mas, como ainda/ mister mais para &ue de todo o Senhor possua a alma, no 'asta di.(2lo, comono 'astou ao mance'o &uando o Senhor lhe per)untou se &ueria ser perfeito#!esde &ue comecei a falar destas moradas, tra)o2o diante de mim* por&ue somosassim ao p/ da letra, e o mais normal / virem da&ui as )randes securas na ora"o,ainda &ue tam'/m ha-a outras causas* e deiDo uns tra'alhos interiores intoler+veis&ue t(m muitas almas 'oas, e muito sem culpa sua, dos &uais sempre o Senhor astira com muito lucro, e das &ue t(m melancolia e outras enfermidades# Enfim, emtodas as coisas temos de deiDar 7 parte os -u.os de !eus# Se)undo tenho para mim,o mais ha'itual, / o &ue disse* por&ue, como estas almas v(em &ue por coisa

    al)uma fariam um pecado, e muitas nem ainda venial deli'erado, e &ue )astam

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    'em sua vida e fa.enda, no podem levar 7 paci(ncia &ue se lhes cerre a porta parano entrar aonde est+ o nosso Rei, por cu-os vassalos se t(m e o so# 1as, c+ naterra, ainda &ue tenha muitos vassalos o rei, nem todos entram at/ 7 sua c

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    Senhor, &ue sa'es a verdade, para &ue nos conhe"amos#

    CAPTULO +. Prossegue no mesmo e trata das securas na orao e do "ue poderia suceder) aseu parecer) e como * mister pro0ar&nos e "ue o Sen#or pro0a aos "ue esto nestasmoradas.

    $# Eu tenho conhecido al)umas almas, e creio &ue posso di.er 'astantes, das &ue che)aram aeste estado e vivido muitos anos nesta rectido e concerto, alma e corpo* ao &ue sepode entender# E depois disto, &uando -+ parece haviam de estar senhores domundo, ao menos 'em desen)anados dele, prova2os Sua 1a-estade em coisas nomuito )randes, e andam com tanta in&uieta"o e aperto de cota"o, &ue a mim metra.em tonta e at/ muito temerosa# %ois, dar2lhes conselho, no / rem/dio por&ue,como h+ tanto &ue tratam de virtudes, parece2lhes &ue podem ensinar a outros e&ue lhes so'ra ra.o sentindo a&uelas coisas#

    5# Enfim, eu no achei rem/dio nem acho para consolar semelhantes pessoas, a no sermostrar )rande sentimento da sua pena Me na verdade, tem2se pena de as versu-eitas a tanta mis/ria, e no contradi.er suas ra.3es* por&ue todas as concertamem seu pensamento, &ue / por !eus &ue as sentem e assim no v(m a entender &ue /imperfei"o# E / outro en)ano para )ente to aproveitada# ue o sintam, no / deespantar, em'ora, a meu parecer, havia de passar depressa o sentimento de coisassemelhantes# %or&ue muitas ve.es &uer !eus &ue Seus escolhidos sintam essamis/ria e aparta um pouco o Seu favor e no / preciso mais para &ue, de verdade,nos conhe"amos 'em depressa# E lo)o se entende esta maneira de os provar6 para

    &ue eles compreendam a sua falta muito claramente* e, 7s ve.es, d+2lhes mais penaver &ue, sem estar na sua mo, sentem as coisas da terra e no muito pesadas, do&ue da&uilo mesmo de &ue t(m pena# Isto tenho2o eu por )rande miseric0rdia de!eus* e ainda &ue / falta, / muito vanta-osa para a humildade#

    9# Nas pessoas &ue di)o, no / assim, seno &ue canoni.am 2 como disse 2 em seuspensamentos estas coisas, e assim &uereriam &ue os outros as canoni.assem# uerodi.er al)umas delas, para &ue nos entendamos e nos provemos a n0s mesmas, antes&ue nos prove o Senhor* pois seria 'em )rande coisa estarmos aperce'idas e termo2nos entendido primeiro#

    ># A uma pessoa rica, sem filhos nem para &uem ela &ueira a fa.enda, vem2lhe uma &ue'rade ri&ue.a* mas no / de maneira &ue, do &ue lhe fica, lhe possa faltar o necess+riopara si e para sua casa, e ainda de so'ra# Se esta andasse com tanto desassosse)o ein&uieta"o como se no lhe ficasse um po para comer, como h+2de pedir2lhe NossoSenhor &ue deiDe tudo por Ele8 A&ui come"a a di.er &ue o sente, por&ue o &uerpara os po'res# %or mim, creio &ue !eus mais &uer &ue me conforme com o &ue Sua1a-estade fa. e, em'ora procure fa.(2la, a&uiete a minha alma e no esta caridade#E -+ &ue o no fa., por no a ter elevado o Senhor a tanto, se-a muito em 'oa hora*mas entenda &ue lhe falta esta li'erdade de esprito e com isto se dispor+ para &ue oSenhor lha d(, por&ue lha pedir+#

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    Tem uma pessoa 'em de &ue comer, e at/ de so'ra* oferece2se2lhe o poder ad&uirir maisfortuna6 tom+2la, se lha derem, se-a em muito 'oa hora* mas procur+2la, e depois dea ter, procurar mais e mais, tenha to 'oa inten"o &ue &uiser Me deve ter por&ue,como disse, so estas pessoas de ora"o e virtuosas, no ha-a medo &ue su'am 7smoradas mais perto do Rei#

    :# !este modo acontece, &uando se lhes oferece al)uma coisa, pela &ual os despre.em ou lhestirem um pouco na honra* pois, em'ora lhes fa"a !eus merc( de &ue muitas ve.es osofram 'em Mpor&ue / muito ami)o de favorecer a virtude em p?'lico, para &ue nopade"a a mesma virtude em &ue so tidos* e mesmo ser+ por&ue O t(m servido, pois/ muito 'om este nosso em, l+ lhes fica uma tal in&uieta"o, &ue no se podemvaler, nem aca'a de se aca'ar to depressa# alha2me !eus= No so estes os &ue, h+tanto tempo, consideram como padeceu o Senhor e &uo 'om / padecer e at/ odese-am8 uereriam a todos to concertados como eles tra.em suas vidas, e pra.a a!eus &ue no pensem &ue a pena &ue t(m / pela culpa alheia e a fa"am merit0riaem seu pensamento#

    # %arecer2vos2+, irms, &ue falo fora de prop0sito e no convosco, pois estascoisas a&ui noas h+, por&ue nem temos fa.enda, nem a &ueremos, nem a procuramos, nem topouco al)u/m nos in-uria# %or isso as compara"3es no aludem ao &ue se passa* mastira2se delas outras muitas coisas &ue podem acontecer, as &uais no seria 'omassinalar, nem h+ para &u(# %or estas entenderes se estais 'em desprendidas do &uedeiDastes por&ue se oferecem coisitas, ainda &ue no 'em desta sorte, em &ue vospodereis muito 'em provar e conhecer se estais senhoras das vossas paiD3es# Ecrede2me &ue no est+ o ne)0cio em ter h+'ito de reli)io ou no, seno emprocurar eDercitar as virtudes e render a nossa vontade 7 de !eus em tudo e &ue

    oconcerto da nossa vida se-a o &ue Sua 1a-estade dela ordenar e no &ueiramos&ue se fa"a a nossa vontade mas sim a Sua# Se no tivermos che)ado at/ a&ui,tenhamos 2 como disse 2 humildade, &ue / o un)uento para as nossas feridas*por&ue, se a temos deveras, ainda &ue tarde al)um tempo, vir+ o cirur)io, &ue /!eus, a sarar2nos#

    ;# As penit(ncias &ue fa.em estas almas so to concertadas como a sua vida# uerem2namuito para servir a Nosso Senhor com ela, e tudo isto no / mau* assim t(m )randediscri"o em fa.er penit(ncias, para no causar dano 7 sa?de# No tenhais medo &uese matem, por&ue a sua ra.o est+ muito em si* no est+ ainda o amor para pr departe a ra.o# 1as &ueria eu &ue a tiv/ssemos para no nos contentarmos com estamaneira de servir a !eus, sempre passo a passo, &ue nunca aca'amos de andar estecaminho# E, como a nosso parecer sempre andamos e nos cansamos 2 por&ue crede&ue / um caminho custoso 2, -+ ser+ 'em 'om &ue no nos percamos# 1as, parece2vos, filhas, &ue se indo duma terra a outra pud/ssemos che)ar em oito dias, seria'om andar um ano por ventos, neves, chuvas e maus caminhos8 No valeria maispass+2lo de urna ve.8 %or&ue tudo isto h+ e peri)os de serpentes# Oh= &ue 'onssinais poderia eu dar disto# E pra.a a !eus &ue tenha passado da&ui, &ue 'astantesve.es me parece &ue no#

    F# Como vamos com tanto senso, tudo nos ofende, por&ue tudo tememos* e assim, no

    ousamos passar adiante, como se n0s pud/ssemos che)ar a estas moradas e outros

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    estivessem a caminho# %ois, como isto no / possvel, esforcemo2nos, irms minhas,por amor do Senhor* deiDemos nossa ra.o e temores em Suas mos* es&ue"amosesta fra&ue.a natural &ue muito nos pode ocupar# O cuidado destes corpos tenham2no os prelados, e l+ se avenham* n0s tenhamo2lo s0 de caminhar depressa para vereste Senhor* pois, em'ora o re)alo &ue possais ter / pouco ou nenhum, o cuidado da

    sa?de nos poderia en)anar, &uanto mais &ue no se ter+ mais por isso, eu o sei# Etam'/m sei &ue no est+ o ne)0cio no &ue toca ao corpo, &ue isto / o menos* pois ocaminhar &ue di)o, / com uma )rande humildade* por&ue, se 'em e entendestes,creio estar a&ui o mal das &ue no vo adiante e nos pare"a &ue temos andadopoucos passos e assim o -ul)uemos, e os &ue andam nossas irms nos pare"am muitopressurosos, e no s0 dese-emos, mas procuremos &ue nos tenham pela mais ruim detodas#

    H# E, com isto, este estado / eDcelentssimo* e, se assim no /, toda a nossa vida estaremosnele e com mil penas e mis/rias# %or&ue, como no nos deiDamos a n0s mesmas, /muito tra'alhoso e pesado, por&ue vamos muito carre)adas com esta terra da nossamis/ria, &ue no levam os &ue so'em aos aposentos &ue faltam# Nestes, no deiDa oSenhor de pa)ar como -usto, e ainda como misericordioso, pois d+ sempre muitomais do &ue merecemos, dando2nos contentamentos muito maiores &ue os &uepodemos ter nos re)alos e distrac"3es desta vida# 1as no penso &ue d( muitos)ostos, a no ser al)uma ve., para nos convidar a ver o &ue se passa nas demaismoradas, para &ue nos disponhamos a entrar nelas#

    $G# %arecer2vos2+ &ue contentamentos e )ostos / tudo o mesmo, para &ue eu fa"a estadiferen"a nos nomes# A mim parece2me &ue a h+ e muito )rande* 'em me possoen)anar# !irei o &ue nisto entender nas &uartas moradas &ue v(m depois destas*

    por&ue, como se h+2de declarar al)o dos )ostos &ue ali d+ o Senhor, fica melhor, eainda &ue pare"a sem proveito, poder+ ser de al)um, para &ue, entendendo o &ue /cada coisa, possais* esfor"ar2vos a se)uir o melhor* e / de muito consolo para asalmas &ue !eus leva at/ ali, e confuso para &uem lhe parece -+ ter tudo, e, se so*humildes, mover2se2o a dar )ra"as# Se h+ al)uma falta disto, dar2lhes2+ umdes)osto interior fora de prop0sito* pois, no est+ a perfei"o nos )ostos, nem nopr/mio, seno em &uem mais ama e em &uem melhor opera com -usti"a e verdade#

    $$# !ireis6 %ara &ue serve tratar destas merc(s interiores e dar a entender como so, se isto /verdade, como /8 Eu no o sei* per)unte2se a &uem mo mandou escrever &ue eu noestou o'ri)ada a discutir com os superiores, mas a o'edecer* nem seria 'em fa.(2lo#O &ue vos posso di.er com verdade, / &ue, &uando eu no as tinha, nem ainda sa'iapor eDperi(ncia, nem pensava sa'(2lo em minha vida Me com ra.o, &ue )randecontentamento fora para mim sa'er ou por con-ecturas entender &ue a)radava a!eus em al)um modo, &uando lia em livros destas merc(s e consolos &ue fa. oSenhor 7s almas &ue O servem, isso me dava )randssimo pra.er e era motivo paraminha alma dar )randes louvores a !eus# %ois, se a minha, com ser to ruim, fa.iaisto, as &ue so 'oas e humildes O louvaro muito mais* e por uma s0 &ue O louveuma ve., est+ muito 'em &ue se di)a, a meu parecer, e &ue entendamos ocontentamento e deleites &ue perdemos por nossa culpa# uanto mais &ue, se so de!eus, v(m carre)ados de amor e fortale.a, com &ue se pode caminhar mais sem

    tra'alho e ir crescendo nas o'ras e virtudes# No penseis &ue importa pouco &ue

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    isto no falhe da6 nossa parte, pois, &uando no / nossa a falta, -usto / o Senhor, eSua 1a-estade vos dar+, por outros caminhos, o &ue vos tira por este, pelo &ue Sua1a-estade sa'e, pois so mui ocultos Seus se)redos* pelo menos, ser+ isso o &uemais nos conv/m, sem d?vida nenhuma#

    $5# O &ue me parece nos faria muito proveito 7&uelas &ue pela 'ondade do Senhor estoneste estado M&ue, como disse, no lhes fa. pouca miseric0rdia, por&ue esto muitoperto de ir mais lon)e, / eDercitarem2se muito na prontido da o'edi(ncia# Emesmo &ue no se-am reli)iosos, seria )rande coisa 2 como o fa.em muitas pessoas 2ter a &uem recorrer para no fa.er em nada a sua vontade, &ue / o &ueha'itualmente nos causa dano* e no 'uscar al)u/m do seu humor, como di.em, &uev+ sempre com muito tento em tudo, mas sim, procurar &uem este-a muitodesen)anado das coisas do mundo, pois, de )rande modo, aproveita tratar com&uem -+ conhece o mundo para nos conhecermos e, por&ue al)umas coisas &ue nosparecem impossveis vendo2se em outros to possveis e a suavidade com &ue aslevam, anima muito e parece &ue, com seu voo, nos atrevemos a voar, como fa.em osfilhos das aves &uando os ensinam# Ainda &ue no d(em )rande voo, pouco a poucoimitam os seus pais# !e )rande modo aproveita isto, eu o sei#

    %or mais determinadas &ue este-am em no ofender o Senhor, semelhantes pessoasprocedero com acerto, no se metendo em ocasi3es de O ofender* por&ue, comoesto perto das primeiras moradas, com facilidade podero voltar a elas, por&ue asua fortale.a no est+ fundada em terra firme, como os &ue esto -+ eDercitados empadecer* estes conhecem as tempestades do mundo, e &uo pouco t(m a temer ou adese-ar seus contentamentos* e seria possvel, com uma )rande perse)ui"o,voltarem de novo a eles# O dem0nio 'em as sa'e urdir para lhes fa.er mal, e poderia

    suceder &ue, indo com 'om .elo, &uerendo impedir pecados alheios, no pudessemresistir ao &ue a isto so'reviesse#

    $9# Olhemos as nossas faltas e deiDemos as alheias, pois / muito pr0prio de pessoas toconcertadas espantarem2se de tudo* e porventura de &uem nos espantamos, 'empoderamos aprender no principal# Na compostura eDterior e na maneira de tratar,levamos2lhe vanta)em* e no / isto o &ue tem mais import

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    grande pro0eito para "uem se recreia muito na orao.

    $# %ara come"ar a falar das &uartas moradas, 'em necess+rio / o &ue fi., &ue foiencomendar2me ao Esprito Santo e suplicar2Lhe &ue, da&ui em diante, fale pormim, para di.er al)uma coisa das &ue ficam por di.er, de maneira &ue o entendais*por&ue come"am a ser coisas so'renaturais, e / dificultosssimo d+2las a entender, seSua 1a-estade no o fa., como fe.,6 h+ cator.e anos, pouco mais ou menos, &uandoescrevi em outra parte at/ onde eu havia entendido# Ainda &ue me parece &ue tenhoa)ora um pouco mais de lu. destas merc(s &ue o Senhor fa. a al)umas almas, /diferente o sa'(2las di.er# 4a"a2o Sua 1a-estade, se da h+2de se)uir2se al)umproveito* e se no, no#

    5# Como estas moradas -+ esto mais perto de onde est+ o Rei, / )rande a sua formosura e h+coisas to delicadas para ver e entender, &ue o entendimento no / capa. de poderachar maneira de di.er se&uer al)uma coisa &ue venha to a-ustada, &ue no fi&ue

    'em o'scura para os &ue no tenham eDperi(ncia* pois, &uem a tem, muito 'ementender+, em especial se -+ / muita#

    %arecer+ &ue, para che)ar a estas moradas, se dever+ ter vivido nas outras muito tempo* eem'ora o normal se-a &ue se tenha estado na &ue aca'amos de di.er, no / re)racerta, como tereis ouvido muitas ve.es* por&ue o d+ o Senhor, &uando &uer e como&uer e a &uem &uer, como 'ens Seus, e no fa. a)ravo a nin)u/m#

    9# Nestas moradas, poucas ve.es entram as coisas pe"onhentas e, se entram, no fa.em dano,antes deiDam lucro# E tenho por muito melhor &uando entram e do )uerra neste

    estado de ora"o* por&ue poderia o dem0nio en)anar, 7 volta dos )ostos &ue !eusd+, se no houvesse tenta"3es, e fa.er muito mais dano do &ue &uando as h+, e no)anhar tanto a alma, pelo menos apartando todas as coisas &ue a ho2de fa.ermerecer, e deiDando2a num em'evecimento ha'itual# %or&ue, &uando oem'evecimento / ha'itual em um ser, no o tenho por se)uro nem me parecepossvel estar assim sempre num mesmo ser o esprito do Senhor neste desterro#

    ># %ois falando no &ue disse &ue diria a&ui, da diferen"a &ue h+ entre contentamentos naora"o e )ostos, contentamentos, me parece a mim, se pode chamar aos &uead&uirimos com a nossa medita"o e peti"3es a Nosso Senhor, &ue procedem donosso natural, ainda &ue, enfim, a-uda para isso !eus, pois h+2de2se entenderem

    tudo &uanto dissermos &ue nada podemos sem Ele* mas nascem da mesma o'ravirtuosa &ue fa.emos e parece &ue o )anhamos com nosso tra'alho, e com ra.o nosd+ contentamento o termo2nos empre)ado em coisas semelhantes# 1as se oconsiderarmos 'em, os mesmos contentos teremos em muitas coisas &ue podemsuceder na terra# Assim, numa )rande fa.enda &ue de repente adv/m a al)u/m, over de s?'ito uma pessoa &ue muito amamos ter acertado num ne)0cio importanteou numa coisa )rande, de &ue todos nos di.em 'em* se a al)uma pessoa lhedisserem &ue morreu seu marido ou irmo ou filho e o v( che)ar vivo# Eu viderramar l+)rimas dum )rande contentamento e at/ mesmo me tem acontecidoal)umas ve.es# %arece2me a mim &ue, assim como estes contentamentos sonaturais, assim / nos &ue nos do as coisas de !eus* em'ora de linha)em mais

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    no're, ainda &ue a&ueles tam'/m no eram de todo maus# Enfim come"am no &ue /natural em n0s e aca'am em !eus#

    Os )ostos come"am em !eus e sente2os a nature.a, e )o.a tanto deles como )o.am os &uedisse e muito mais# 0 Jesus=, e &ue dese-o tenho de sa'er declarar2me nisto= %or&ue

    entendo, a meu parecer, mui conhecida diferen"a e no alcan"a o meu sa'er o dar2me a entender* fa"a2o o Senhor#

    :# A)ora me lem'ro dum versculo &ue di.emos em %rima, ao fim do ?ltimo salmo, &ue aoterminar o versculo di.6 PCum dilatasti cor meumQ# A &uem tiver muitaeDperi(ncia, isto lhe 'asta para ver a diferen"a &ue vai de um ao outro* a &uem noa tiver, / preciso mais# Os contentos &ue dissemos no dilatam o cora"o, antesha'itualmente parece &ue o apertam um pouco, em'ora com )rande contentamentode ver o &ue se fa. por !eus* mas v(m umas l+)rimas de afli"o, &ue de al)umamaneira parece as move a paiDo# Eu sei pouco destas paiD3es da alma 2 &ue talve.

    me desse a entender 2, mas, como sou muito rude, no sei o &ue procede dasensualidade e o &ue procede do nosso natural# Sa'eria declar+2lo se, assim comopassei por isso, o entendesse# @rande coisa / o sa'er e as letras para tudo#

    # O &ue tenho de eDperi(ncia deste estado, di)o destes re)alos e contentos na medita"o, /&ue, se come"ava a chorar por causa da %aiDo, no podia aca'ar at/ &ue se me&ue'rava a ca'e"a* se o fa.ia por meus pecados, era o mesmo# @rande merc( mefa.ia Nosso Senhor, e no &uero a)ora eDaminar &ual / melhor, se um se outro#Apenas &uereria sa'er di.er a diferen"a &ue h+ entre um e outro# %ara estas coisasvo al)umas ve.es estas l+)rimas e estes dese-os a-udados do natural e conformeest+ a disposi"o* mas enfim, como disse, v(m a parar em !eus, ainda &ue se-am

    naturais# E so para ter em muito, se houver humildade, para entender &ue no se /melhor por isso* por&ue no se pode entender se todos so efeitos do amor* e&uando forem, so dados por !eus#

    Na maior parte t(m estas devo"3es as almas das moradas anteriores, por&ue andam &uasede contnuo com tra'alho do entendimento, empre)adas em discorrer com oentendimento e em medita"o* e vo 'em, por&ue no lhes foi dado mais, ainda &ueacertariam em ocupar2se um pouco em fa.er actos e em louvores de !eus e em seale)rarem da Sua 'ondade e &ue se-a uem /, e em dese-ar Sua honra e )l0ria# Istocomo puderem, por&ue desperta muito a vontade# E este-am de so'reaviso, &uando

    o Senhor lhes der isto* no o deiDem para aca'ar a medita"o como se tem porcostume#

    ;# %or&ue me alar)uei muito em di.er isto em outras partes, no o direi a&ui# S0 &uero &ueeste-ais advertidas &ue, para aproveitar muito neste caminho e su'ir 7s moradas&ue dese-amos, no est+ a coisa em pensar muito, seno em amar muito* e assim, o&ue mais vos despertar ao amor, isso deveis fa.er# Talve. no sai'amos o &ue / amar,e no me espantarei muito* por&ue no est+ no maior )osto, mas sim na maiordetermina"o de dese-ar contentar a !eus em tudo e procurar, tanto &uantopudermos, no O ofender, e ro)ar2Lhe &ue v+ sempre por diante a honra e )l0ria deSeu 4ilho e o aumento da I)re-a Cat0lica# Estes so os sinais do amor, e no penseis&ue consiste em no pensar outra coisa, e &ue, se vos distras um pouco, vai tudo

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    perdido#

    F# Eu tenho andado nisto, nesta 'arafunda do pensamento, 'em apertada al)umas ve.es, ehaver+ pouco mais de &uatro anos &ue vim a entender, por eDperi(ncia, &ue opensamento Mou ima)ina"o, para &ue melhor se entenda no / o entendimento#

    %er)untei2o a um letrado e disse2me &ue, efectivamente, era assim, o &ue foi paramim )rande contentamento# %or &ue, como o entendimento / uma das pot(ncias daalma, tornava2se2me duro estar ele to vol?vel, 7s ve.es, pois normalmente voa opensamento to r+pido, &ue s0 !eus o pode atar &uando assim nos ata, de maneira&ue parece estarmos de al)um modo desatados deste corpo# Eu via, a meu parecer,as pot(ncias da alma empre)adas em !eus e estarem recolhidas com Ele e, poroutra parte, o pensamento alvorotado6 tra.ia2me tonta#

    H# Senhor, tende em conta o muito &ue passamos neste caminho por falta de sa'er= E o mal/ &ue, como no pensamos ser preciso sa'er mais do &ue pensarem 0s, nem

    sa'emos per)untar aos &ue sa'em, nem entendemos &ue ha-a &ue per)untar, epassam2se terrveis tra'alhos, por&ue no nos entendemos* e o &ue no / mau, seno'om, pensamos &ue / )rande culpa# !a&ui procedem as afli"3es de muita )ente &uetrata de ora"o e o &ueiDarem2se de tra'alhos interiores, pelo menos )rande parteem )ente &ue no tem letras, e v(m as melancolias e o perderem a sa?de e at/ odeiDarem2na de todo, por&ue no consideram &ue h+ dentro um mundo interior* eassim, como no podemos deter o movimento dos c/us, &ue anda 7 pressa com todaa velocidade, to2pouco podemos deter o nosso pensamento, e lo)o metemos todas aspot(ncias da alma com ele e nos parece &ue estamos perdidas e mal )asto o tempoem &ue estamos diante de !eus# E a alma est+ porventura toda unida a Ele nasmoradas muito pr0Dimas e o pensamento nos arredores do castelo, padecendo com

    mil animais fero.es e pe"onhentos e merecendo com este sofrimento* e assim, nemnos h+2de pertur'ar nem o havemos de deiDar, &ue / o &ue pretende o dem0nio# E,na maior parte, todas as in&uieta"3es e tra'alhos v(m deste no nos entendermos#

    $G# Ao escrever isto, estou considerando o &ue se passa na minha ca'e"a, o )rande rudo &uenela h+, como disse ao princpio, pelo &ue se me tornou &uase impossvel poder fa.ero &ue me mandavam escrever# No parece seno &ue nela esto muitos rioscaudalosos e, por outra parte, &ue estas +)uas se despenham* muitos passarinhos esilvos, no nos ouvidos, mas na parte superior da ca'e"a, onde di.em estar a partesuperior da alma# E eu estive nisto muito tempo, por me parecer &ue o )randemovimento do esprito para cima su'ia com velocidade# %ra.a a !eus me lem're,nas moradas mais adiante, de di.er a causa disto, pois a&ui no fica 'em, e no ser+muito &ue o Senhor ha-a &uerido dar2me este mal de ca'e"a para melhor oentender, por&ue, com toda esta 'arafunda &ue nela vai, no me estorvava a ora"onem o &ue estou di.endo, mas antes a alma est+ muito inteira em sua &uietude eamor e dese-os de claro conhecimento#

    $$# %ois, se na parte superior da ca'e"a est+ a parte superior da alma, como no a pertur'a8Isso / o &ue no sei, mas sei &ue / verdade o &ue di)o# !+ pena &uando no / ora"ocom suspenso, pois ento, at/ &ue passe, no se sente nenhum mal* mas )rande malseria se, por este impedimento, eu deiDasse tudo# E assim no / 'em &ue nos

    pertur'emos com os pensamentos, nem deles nada se nos d(, por&ue, se v(m do

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    dem0nio, cessar+ com isto* e se /, como /, da mis/ria &ue nos ficou de pecado deAdo, com outras muitas, tenhamos paci(ncia e soframo2lo por amor de !eus, poistam'/m estamos su-eitas a comer e dormir, sem nos podermos escusar, o &ue /)rande tra'alho#

    $5# Reconhe"amos a nossa mis/ria, e dese-emos ir aonde nin)u/m nos menospre.e* poisal)umas ve.es me lem'ro de ter ouvido isto &ue di.ia a Esposa dos Cantares, everdadeiramente no encontro em toda a vida coisa onde, com mais ra.o, isto sepossa di.er* por&ue todos os menospre.os e tra'alhos &ue pode haver na vida, nome parece &ue che)uem a estas 'atalhas interiores# ual&uer desassosse)o e )uerrase pode sofrer# achando pa. onde vivemos, 2 como -+ disse 2* mas, &ue &ueiramos vira descansar dos mil tra'alhos &ue h+ no mundo, &ue &ueira o Senhor preparar2noso descanso e &ue em n0s mesmas este-a o estorvo, no pode deiDar de ser muitopenoso e &uase insuport+vel# %or isso, levai2nos Senhor, aonde no nosmenospre.em estas mis/rias, &ue parecem al)umas ve.es estarem a fa.er esc+rnioda alma=

    Ainda nesta vida a li'erta disto o Senhor, &uando che)ar 7 ?ltima morada, como diremos, se!eus for servido#

    $9# Nem a todas daro tanta pena estas mis/rias, nem as acometero, como a mim mefi.eram muitos anos por ser to ruim, &ue parece &ue eu mesma me &ueria vin)arde mim# E, como coisa to penosa para mim, penso &ue talve. o se-a assim para v0se no fa"o seno di.(2lo de um ca'o ao outro, para ver se al)uma ve. acerto dar2vosa entender como / coisa for"osa e no vos tra)a in&uietas e aflitas, mas deiDemosandar esta taramela do moinho e moamos nossa farinha, no deiDando de tra'alhar

    com a vontade e o entendimento#

    $># + mais e menos neste estorvo, conforme a sa?de e os tempos# %ade"a a po're alma,ainda &ue no tenha culpa* pois outras teremos pelas &uais / de ra.o &ue tenhamospaci(ncia# E, por&ue no 'asta o &ue lemos e nos aconselham, no fa"amos casodestes pensamentos* para n0s, &ue pouco sa'emos, no me parece tempo perdidotodo o &ue )asto em declarar mais e em consolar2vos neste caso* mas, at/ &ue oSenhor nos &ueira dar lu., pouco aproveita# 1as / preciso e &uer Sua 1a-estade&ue tomemos conhecimento e entendamos do &ue fa. a fraca ima)ina"o, o natural,e o dem0nio, no deitemos a culpa 7 alma#

    CAPTULO +. Prossegue no mesmo e declara por uma comparao o "ue so gostos e como se#o&de alcanar no os procurando.

    $# alha2me !eus= Onde me meti= J+ tinha es&uecido o &ue tratava, por&ue os ne)0cios e asa?de me fa.em deiD+2lo na melhor altura# E, como tenho pouca mem0ria, ir+ tudodesconcertado por no o poder tornar a ler# E mesmo talve. se-a tudo desconcerto&uanto di)o* ao menos / o &ue sinto#

    %arece2me &ue fica dito das consola"3es espirituais, como al)umas ve.es vo envoltos com as

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    nossas paiD3es, tra.em consi)o uns alvorotos de solu"os, e at/ ouvi a pessoas &ue selhes aperta o peito e mesmo lhes v(m movimentos eDteriores, a &ue no podem ir 7mo* e / tal a for"a, &ue lhes fa. sair san)ue do nari., e coisas assim penosas# !istono sei di.er nada, por&ue no passei por isso, mas deve ficar consola"o* por&ue,como di)o, tudo vai pararem dese-ar contentar a !eus e )o.ar da Sua 1a-estade#

    5# Os &ue eu chamo )ostos de !eus 2 &ue em outra parte chamei ora"o de &uietude somui de outra maneira, como entendereis as &ue os tendes eDperimentado, pelamiseric0rdia de !eus# 4a"amos de conta, para o entender melhor, &ue vemos duasfontes com dois tan&ues &ue se enchem de +)ua, &ue no acho coisa mais a prop0sitopara declarar al)umas coisas de esprito &ue isto de +)ua# Como sei pouco, e oen)enho no a-uda e sou to ami)a deste elemento, tenho olhado para ele com maisadvert(ncia, &ue para outras coisas* pois em todas as &ue criou to )rande !eus, tos+'io, deve haver muitos se)redos de &ue nos podemos aproveitar, e assim fa.em os&ue os entendem, em'ora eu creia &ue, em cada coisinha &ue !eus criou, h+ mais do&ue se entende, ainda &ue se-a uma formi)uita#

    9# Estas dois tan&ues enchem2se de +)ua de diferentes maneiras* para uma, vem de maislon)e, por muitos a&uedutos e artifcios* a outra est+ feita na mesma nascente da+)ua e vai2se enchendo sem nenhum rudo# E se o manancial / caudaloso como estede &ue falamos, depois de cheio o tan&ue, se)ue um )rande arroio* no / precisoartifcio* nem mesmo se aca'a o edifcio dos a&uedutos, &ue sempre est+ correndodali +)ua#

    A diferen"a est+ em &ue a +)ua &ue vem por a&uedutos, a meu parecer, so os contentos &uetenho dito &ue se tiram da medita"o* por&ue os tra.emos com os pensamentos,

    a-udando2nos das criaturas na medita"o e cansando o entendimento* e como vem,afinal, com as nossas dili)(ncias, fa. rudo &uando houver al)uma enchente deproveitos &ue tra. 7 alma, como fica dito#

    ># A esta outra fonte, vem a +)ua da sua mesma nascente, &ue / !eus* e assim, como e&uando Sua 1a-estade &uer e / servido de fa.er al)uma merc( so'renatural, Eleprodu. esta +)ua com )randssima pa. e &uieta"o e suavidade no mui interior den0s mesmos, eu no sei at/ onde, nem como, nem mesmo a&uele contento e deleite sesente como os de c+ no cora"o 2 di)o no seu princpio, &ue depois tudo enche 2* vai2se derramando esta +)ua por todas as moradas e pot(ncias, at/ che)ar ao corpo* por

    isso disse e &ue come"a em !eus e aca'a em n0s* e / certo, como ver+ &uem o tivereDperimentado, todo o homem interior )o.a deste )osto e suavidade#

    :# Estava eu a)ora vendo 2 ao escrever isto 2, &ue no versculo &ue di.6 P!ilatasti cor meumQ,disse &ue se dilatou o cora"o* e 2 como di)o 2 no me parece &ue se-a coisa &uenasce do cora"o, mas sim de outra parte ainda mais interior, como uma coisaprofunda# %enso &ue deve ser o centro da alma, como depois entendi e direi no fim,&ue certo /, ve-o se)redos em n0s mesmos &ue me tra.em espantada muitas ve.es# E&uantos mais deve haver= Senhor meu e !eus meu, &ue )randes so ossas)rande.as= E andamos por c+ como uns pastorinhos tontos, parecendo2nos &ueenDer)amos al)uma coisa de 0s e deve ser tanto como nada, pois em n0s mesmosh+ )randes se)redos &ue no entendemos# !i)o tanto como nada, para o muito,

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    muitssimo &ue h+ em 0s* e no por&ue no se-am muito )randes as )rande.as &uevemos, mesmo no &ue podemos alcan"ar das ossas o'ras#

    # oltando ao versculo, o &ue ele me pode a&ui aproveitar, a meu parecer, / a&ueladilata"o* pois parece &ue, assim &ue se come"a a produ.ir a&uela +)ua celestial

    deste manancial &ue di)o, do profundo de n0s mesmos, parece &ue se vai dilatando ealar)ando todo o nosso interior e produ.indo uns 'ens &ue no se podem di.er, nemmesmo a alma sa'e entender o &ue / a&uilo &ue ali se lhe d+# Sente uma fra)r

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    prepara"o para isto / o dese-o de padecer e de imitar ao Senhor e no o ter )ostos,n0s &ue, enfim, O temos ofendido# uarto,, por&ue Sua 1a-estade no est+o'ri)ado a dar2nos )ostos, como o est+ a dar2nos a @l0ria se )uardarmos os Seusmandamentos, pois, sem isto, nos poderemos salvar, e Ele sa'e melhor &ue n0s o &uenos conv/m e &uem O ama de verdade# Assim / coisa certa, eu sei2o, e conhe"o

    pessoas &ue vo, pelo caminho do amor como se deve ir, s0 para servir a seu Cristocrucificado, &ue no s0 no Lhe pedem )ostos nem os dese-am, mas Lhe suplicam&ue no lhos d( nesta vida# Isto / verdade# A &uinta, por&ue tra'alharemos de'alde,pois, como no se h+2de tra.er esta +)ua por a&uedutos como a precedente, se omanancial no a &uer produ.ir, pouco aproveita &ue nos cansemos# uero di.er&ue, por mais medita"o &ue tenhamos e por mais &ue nos apo&uentemos etenhamos l+)rimas, no / por a&ui, &ue esta +)ua vem# S0 se d+ a &uem !eus &uer e,muitas ve.es, &uando mais descuidada est+ a alma#

    $G# Suas somos, irms* fa"a de n0s o &ue &uiser, leve2nos por onde for servido# Creio 'em&ue, a &uem de verdade se humilhar e desape)ar Mdi)o de verdade, por&ue no o h+2de ser s0 em nosso pensamento, &ue muitas ve.es nos en)ana, seno &ue este-amosdesape)adas de todo, no deiDar+ o Senhor de nos fa.er esta merc(, e outras muitas&ue no sa'eremos dese-ar# Se-a Ele para sempre 'endito# Amen#

    CAPTULO 9. Trata do "ue * orao de recol#imento. a maior parte das 0e!es) a d$ o Sen#orantes da orao acima dita. (i! seus efeitos e os "ue ficam da orao anterior em "uetratou dos gostos "ue d$ o Sen#or.

    $# So muitos os efeitos desta ora"o* apenas direi al)uns# 1as direi primeiro outra maneirade ora"o &ue come"a &uase sempre antes desta, e, por t(2la dito em outras partes,direi pouco# B um recolhimento &ue tam'/m me parece so'renatural, por&ue no /estar 7s escuras nem cerrar os olhos, nem consiste em coisa al)uma eDterior, posto&ue, sem o &uerer, se fa"a isto de cerrar os olhos e dese-ar soledade* e sem artifcio,parece &ue se vai lavrando o edifcio para a ora"o &ue fica dita* por&ue estessentidos e coisas eDteriores parecem ir perdendo de seu direito, para &ue a alma v+co'rando o seu &ue tinha perdido#

    5# !i.em &ue a alma entra dentro de si e outras ve.es &ue so'e so're si# %or estalin)ua)em no sa'erei eu esclarecer nada, &ue isto tenho de mau6 penso &ue por

    a&uilo &ue eu sei di.er de uma coisa o haveis de entender e talve. se-a s0 claro paramim# 4a"amos de conta &ue estes sentidos e pot(ncias so, como -+ disse, a )entedeste castelo 2 a compara"o &ue tomei para sa'er di.er al)uma coisa2, &ue saramfora e andam com )ente estranha, inimi)a do 'em deste castelo, dias e anos* e &ue,vendo sua perdi"o, -+ se t(m vindo acercando dele, em'ora no che)uem a entrar 2por&ue este costume / coisa dura 2, mas no so -+ traidores e andam ao redor#endo -+ o )rande Rei &ue est+ na morada deste castelo sua 'oa vontade, por Sua)rande miseric0rdia &uer tra.(2los de novo a Si e, como 'om pastor, com um silvoto suave &ue at/ &uase eles mesmos o no ouvem, fa. com &ue conhe"am Sua vo. eno andem to perdidos, mas voltem 7 sua morada# E tem tanta for"a este silvo dopastor, &ue desamparam as coisas eDteriores em &ue andavam alheados e se metem

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    no castelo#

    9# %arece2me &ue nunca o dei a entender como a)ora, por&ue, para 'uscar a !eus no interiorda alma Monde melhor O encontramos e com mais proveito para n0s &ue nascriaturas, como disse Santo A)ostinho &ue a O achou, depois de O ter procurado

    em muitas partes, / )rande a a-uda &uando !eus fa. essa merc(# E no penseis &ueisto / ad&uirido pelo entendimento, procurando pensar &ue t(m dentro de si a !eus,nem pela ima)ina"o, ima)inando2O dentro de si# om / isto, e eDcelente maneirade medita"o, por&ue se funda so're esta verdade6 o estar !eus dentro de n0smesmos* mas no / isto, pois cada um o pode fa.er Mcom o favor do Senhor, 'em seentende# 1as o &ue di)o / de maneira diferente, e al)umas ve.es, antes &ue secomece a pensarem !eus, -+ esta )ente est+ no castelo, &ue no sei por onde nemcomo ouviu o silvo do pastor# E no foi pelos ouvidos, &ue no se ouve nada, massente2se notavelmente um recolhimento suave para o interior, como ver+ &uempassa por isto, &ue eu no o sei aclarar melhor# %arece2me ter lido &ue / como umouri"o ou tartaru)a, &uando se escondem em si mesmos* e devia entend(2lo 'em&uem o escreveu# 1as estes entram em si &uando &uerem* a&ui isto no est+ nonosso &uerer, seno &uando !eus nos &uer fa.er esta merc(# Tenho para mim &ue,&uando Sua 1a-estade a fa., / a pessoas &ue -+ vo dando de mo 7s coisas domundo# No di)o &ue se-a pondo2o por o'ra a&ueles &ue t(m estado, &ue nopodem, mas sim pelo dese-o, pois chama2os particularmente para &ue este-amatentos 7s coisas interiores* e assim creio &ue, se &ueremos dar lu)ar a Sua1a-estade, Ele no dar+ s0 isto a &uem -+ come"ou a chamar para mais#

    ># Louve2O muito &uem reconhecer isto em si, por&ue / muitssimo -usto &ue se entenda amerc(, e a ac"o de )ra"as &ue se d+ por ela far+ com &ue a alma se disponha para

    outras maiores# E / tam'/m disposi"o para poder escutar a !eus, como seaconselha em al)uns livros, procurar no discorrer, mas estar2se atentos a ver o &ueo Senhor opera na alma* e, se Sua 1a-estade no come"ou a em'e'er2nos, noposso aca'ar de entender como se possa deter o pensamento de maneira &ue nofa"a mais dano &ue proveito, ainda &ue isto tenha sido contenda 'em pleiteada entreal)umas pessoas espirituais# Eu por mim confesso a minha pouca humildade6 nuncame deram ra.3es para &ue eu me renda ao &ue di.em# m me ale)ou certo livro dosanto 4rei %edro de Alc

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    pessoas &ue -+ vo dando de mo 7s coisas do mundo# No di)o &ue se-a pondo2opor o'ra a&ueles &ue t(m estado, &ue no podem, mas sim pelo dese-o, pois chama2os particularmente para &ue este-am atentos 7s coisas interiores* e assim creio &ue,se &ueremos dar lu)ar a Sua 1a-estade, Ele no dar+ s0 isto a &uem -+ come"ou achamar para mais#

    ># Louve2O muito &uem reconhecer isto em si, por&ue / muitssimo -usto &ue se entenda amerc(, e a ac"o de )ra"as &ue se d+ por ela far+ com &ue a alma se disponha paraoutras maiores# E / tam'/m disposi"o para poder escutar a !eus, como seaconselha em al)uns livros, procurar no discorrer, mas estar2se atentos a ver o &ueo Senhor opera na alma* e, se Sua 1a-estade no come"ou a em'e'er2nos, noposso aca'ar de entender como se possa deter o pensamento de maneira &ue nofa"a mais dano &ue proveito, ainda &ue isto tenha sido contenda 'em pleiteada entreal)umas pessoas espirituais# Eu por mim confesso a minha pouca humildade6 nuncame deram ra.3es para &ue eu me renda ao &ue di.em# m me ale)ou certo livro dosanto 4rei %edro de Alc

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    o entendimento cesse, ocupa2o de outra maneira e d+ ao conhecimento uma lu. toacima da &ue podemos alcan"ar, &ue o fa. ficar a'sorto* e ento, sem sa'er como,fica muito melhor ensinado do &ue com todas as nossas dili)(ncias &ue mais odeitariam a perder# %ois, se !eus nos deu as pot(ncias para &ue com elastra'alh+ssemos e tudo tem o seu valor, no h+ para &ue t(2las encantadas, mas

    deiD+2las fa.er seu ofcio, at/ &ue !eus as ponha noutro maior#

    ;# O &ue entendo &ue mais conv/m 7 alma a &uem o Senhor &uis meter nesta morada / fa.ero &ue fica dito, e &ue, sem nenhum esfor"o nem rudo, procure atalhar o discorrerdo entendimento, mas no suspend(2lo, nem ao pensamento* mas sim / 'om &ue selem're &ue est+ diante de !eus e uem / este !eus# Se a&uilo mesmo &ue sente emsi o em'e'er, tanto melhor* mas no procure entender o &ue /, por&ue / dom feito 7vontade# !eiDe2a )o.ar sem nenhuma ind?stria, al/m de al)umas palavras amorosaspor&ue, em'ora no procuremos estar a&ui sem pensar em nada, est+2se assimmuitas ve.es, ainda &ue por muito 'reve tempo#

    F# 1as, 2 como disse noutra parte 2, a causa por &ue nesta maneira de ora"o Mfalo na&uelapela &ual comecei esta morada, pois meti com esta ora"o a de recolhimento de &uedevia ter falado primeiro, por&ue / muito menos &ue a dos )ostos de !eus de &uefalei mas &ue / princpio para che)ar a ela* &ue na de recolhimento no se h+2dedeiDar a medita"o, nem o tra'alho do entendimento ### nesta fonte manancial, &ueno vem por alcatru.es, o entendimento se cont/m ou o fa. conter, ao ver &ue noentende o &ue &uer, e assim anda de um lado para outro como tonto &ue em nadatoma assento# uanto 7 vontade, ela est+ to assente em seu !eus, &ue lhe d+ )randepesar o 'ulcio do entendimento* e assim, no h+ &ue fa.er caso dele, pois a far+perder muito do &ue )o.a, mas deiD+2lo e deiDar2se a si nos 'ra"os do amor &ue Sua

    1a-estade lhe ensinar+ o &ue h+2de fa.er na&uele ponto, &ue &uase tudo / achar2seindi)na de tanto 'em e empre)ar2se em ac"o de )ra"as#

    H# %or tratar da ora"o de recolhimento, deiDei os efeitos ou sinais &ue t(m as almas a &uem!eus Nosso Senhor d+ esta ora"o# Assim, entende2se claramente urna dilata"o oualar)amento na alma, tal como se a +)ua, &ue mana duma fonte, no tivesse paraonde correr, mas a mesma fonte fosse duma coisa &ue, &uanto mais +)ua manasse,maior ela se fi.esse6 assim parece acontecer nesta ora"o, e outras muitasmaravilhas &ue !eus fa. na alma, &ue a ha'ilita e vai dispondo para &ue tudo cai'anela# Assim, esta suavidade e dilata"o interior se v( na li'erdade &ue lhe fica parano estar to atada como antes nas coisas do servi"o de !eus, mas sim com muitomais lar)ue.a de esprito# Assim, em no se tolher com temor do inferno, por&ueem'ora lhe fi&ue maior de ofender a !eus, o temor servil perde2se a&ui, fica com)rande confian"a &ue O h+2de )o.ar# J+ no tem o temor &ue costumava ter de fa.erpenit(ncia e de perder a sa?de* -+ lhe parece &ue tudo poder+ em !eus, tem maisdese-os de a fa.er &ue at/ ali# O temor &ue costumava ter aos tra'alhos -+ vai maismoderado, por&ue est+ mais viva a f/ e entende &ue, se os passar por !eus, Sua1a-estade lhe dar+ )ra"a para os sofrer com paci(ncia* e at/ mesmo al)umas ve.esos dese-a, por&ue fica tam'/m uma )rande vontade de fa.er al)uma coisa por !eus#Como vai conhecendo melhor Suas )rande.as, tem2se -+ por mais miser+vel* como

    -+ provou dos )ostos de !eus, v( &ue os do mundo so liDo, vai2se apartando deles,

    pouco a pouco, e / mais senhora de si para o fa.er# Enfim, em todas as virtudes fica

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    no che)a a tanto &ue derru'e o corpo nem fa"a nele al)um sinal eDterior# %or isso,este-am de so'reaviso para &ue, &uando isto sentirem em si, o di)am 7 prelada edistraiam2se &uanto puderem, e ela fa"a com &ue no tenham tantas horas deora"o, seno muito pouco tempo, e procure &ue durmam 'em e comam at