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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
MORALIDADES E IMPLICAÇÕES EM TORNO AO CONCEITO DE VÍTIMA EM
CASOS DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER. ANÁLISE DE UM CASO ARGENTINO
DESDE UMA PERSPECTIVA FEMINISTA
Matilde Quiroga Castellano1
Resumo: Se pretende refletir sobre os discursos morais que giram em torno ao conceito de "vítima"
em casos que envolvem violência contra a mulher dentro do sistema patriarcal e como eles afetam e
interferem nos processos judiciais e na aplicação das penas. Principalmente o discursos analisados
estão localizados nos organismos de justiça e seus representantes (delegados, juízes, jurados
populares, etc.), mas também entendendo que os mesmos não são alheios aos discursos sociais que
circulam na comunidade. A reflexão pretendida será feita tomando como exemplo um caso de
femicidio argentino, que envolveu violações aos direitos humanos da mulher. O femicidio referido é
o que tem como vitima fatal a Paola Acosta, quem foi morta pelo pai de sua filha (quem sofreu
intento de femicidio) em setembro de 2014. Serão base da analise a sentença judicial e extratos de
algumas das principais publicações num jornal com edição virtual, que fez um relato cronológico do
caso e apreciações em relação sentença judicial. As discussões que giram em torno à temática
apresentada serão propostas desde uma óptica feminista, incluindo referencial teórico das áreas de
antropologia da violência e antropologia da moral, por sua vez será feito o enquadramento
legislativo pertinente ao caso.
Palavras-chave: Gênero. Violência contra as mulheres. Vítima. Moralidades. Justiça.
Gostaria de iniciar este trabalho com um breve relato de como foram surgindo estas
reflexões em torno a pensar e repensar o conceito de “vítima” em situações de violência contra a
mulher, e como esta possibilidade me levou finalmente a perceber que esse conceito, tão utilizado
no cotidiano, guardava relação com questões morais e exigia ser problematizado.
Durante o exercício de minha profissão de Assistente Social, tive a oportunidade de
trabalhar na assistência de vítimas de tráfico de pessoas, a maioria delas mulheres que tinham sido
traficadas com fins de exploração sexual. Durante o quase ano que trabalhei nesta tarefa houve
alguns meses em que tive que assumir, junto com uma colega psicóloga, a coordenação do Refugio
"8 de Março", Refugio que a Província de Córdoba mantinha nesse momento destinado a vítimas de
1 Formada em "Licenciatura en Trabajo Social" pela Universidad Nacional de Córdoba, Argentina. Trabalhou
profissionalmente na assistência e prevenção de vítimas de trafico de pessoas, na "Secretaria de Asistencia y Prevención
de la Trata de Personas", "Ministerio de Gobierno y Seguridad" da Provincia de Córdoba, Argentina. Conta com ampla
e diversa formação e participação em diferentes eventos acadêmicos, multidisciplinares, locais e internacionais, que
discutiram gênero na Argentina, Brasil e Cuba. Participou como analista de artigos do Projeto “Avaliação do Prêmio
Construindo a Igualdade de Gênero no Brasil” coordenado pelo NIGS (Núcleo de Identidades de Gênero e
Subjetividades). Atualmente Mestranda em Antropologia Social no PPGAS da UFSC, pesquisa moralidades e justiça
com mulheres vitimas de situações de violência de gênero. Pesquisadora do LEVIS (Laboratório (Núcleo) de Estudos
das Violências), orientanda do Prof. Dr. Theophilos Rifiotis.
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tráfico de pessoas. Ao longo dessa experiência, junto com o cumprimento das outras tarefas que
demandava a Secretaria2, consegui-me aproximar mais ao cotidiano das pessoas que a Secretaria
assistia e comecei a perceber que existiam certas situações que me incomodavam. Em primeiro
lugar a denominação geral para referir-se a essas pessoas era "as vítimas", assim circulavam sem
discussão alguma as frases “hoje temos que comprar a comida para as vítimas”, “a área de
assistência tem que planificar o que as vítimas vão fazer no verão”, “vocês tem que trazer três
vítimas para ir ao controle odontológico”, etc.
Afortunadamente, ao mesmo tempo em que trabalhava ali, estava participando de um grupo
de pesquisa sobre violência de gênero na minha universidade, o que me serviu como um espaço de
supervisão da prática profissional e para discutir minhas inquietudes com outras profissionais,
principalmente da área de serviço social e da psicologia. Dentro de esse equipo de pesquisa também
participavam profissionais da área de atendimento em situações de violência contra a mulher, e
essas profissionais também estavam vivenciando algum desconforto em relação a categoria de
“vítima”.
Depois de trazer a discussão para o equipo fomos aos poucos enxergando que colocar as
pessoas, e, sobretudo as mulheres com as que trabalhávamos na categoria de “vítimas” tinha várias
implicações e envolvia diferentes julgamentos morais. Assim, quem era denominada como “vítima”
devia se adequar na verdade a uma idéia moral de “vítima perfeita” ou "boa vítima" sem
possibilidade de fuga alguma desse papel se queria continuar nesse estatuto. Isso significava que
elas deviam ser vítimas sempre, vítimas às 24 horas do dia e portanto atuar de uma maneira
submissa, tranqüila, sem grandes mudanças de ânimos (não estar irritadas, nem bravas por
exemplo), sem exigências nem reclamações, basicamente num rol de obediência e de passividade
invisível, etc. Isto tinha como conseqüência que todas as atividades ou "escolhas" que “as vítimas”
do Refugio faziam eram reguladas desde as autoridades da Secretaria e submetidas a avaliações
morais (verificando se eram pertinentes ao "estatuto de boa vitima"), esquecendo o fato de que “as
vítimas” são essencialmente pessoas e tem a possibilidade e direito de ter qualquer comportamento
que qualquer outra pessoa pode ter. O mais grave e preocupante destas situações, além dos
julgamentos e eventuais “disciplinamentos” por sair-se da caixinha de “vítima perfeita”, foi uma
progressiva anulação de sua capacidade de agência (Ortner, 2012) o que atrapalhava completamente
sua recuperação e atentava contra o que se trabalhava em relação a capacidade de construir e de ter
2 "Secretaria de Asistencia y Prevención de la Trata de Personas" dependente do "Ministerio de Gobierno y Seguridad"
da Provincia de Córdoba, Argentina.
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uma nova vida depois do acontecido. Alem disso, esta situação provocou em várias ocasiões a
aparição de discursos que colocavam uma sombra de dúvida sobre eventos dos que estas mulheres
diziam ter sido vítimas (de trafico de pessoas, ou exploração sexual, por falar de alguns casos).
Por citar só um exemplo das situações as que me refiro vou relatar o caso de uma das jovens
que morava no Refugio. Era estrangeira, adolescente menor de idade e tinha sido colocado sob a
tutela da Secretaria e incorporada ao sistema de assistência por ordem judicial depois de ter sido
resgatada de uma denúncia de situação de exploração laboral e abuso sexual. Segundo a denúncia
foi trazida de seu país de origem para trabalhar numa loja, e terminou além de trabalhando na loja,
trabalhando na casa dos donos como empregada doméstica em todas as horas em que não
trabalhava na loja, sem salário (com moradia e pouca comida) e sendo abusada sexualmente pelo
dono cada vez que a mulher dele viajava para comprar mercadoria. A jovem conseguiu ser
resgatada porque uma moça que entrou a trabalhar na loja fez a denuncia. Depois de toda essa
situação, já sob a tutela da Secretaria, a jovem decidiu junto com o equipo de assistência (uma
assistente social, uma psicóloga e uma advogada) começar a escola, lugar aonde sempre ia
acompanhada por custódias policiais de civil (o que era exigido por protocolo, em função de sua
seguridade). Ali se "apaixonou" por um colega (da mesma idade), e pretendeu “namorar”, toda essa
situação que em outras circunstâncias teria sido “normal” para uma jovem de 16-17 anos, despertou
suspeitas do seguinte tipo “mas ela não foi abusada?, como vai querer namorar?”, “se ela esta
seduzindo seu colega deve ter seduzido o dono da loja”, “se ela esta tão bem e contente deve ser
porque nunca foi abusada”, etc.
Logo desta breve introdução à temática gostaria de estruturar este trabalho da seguinte
forma: no próximo apartado desenvolverei alguns eixos principais da normativa argentina em
relação à violência contra a mulher aos fins de contextualizar as possibilidades legais em torno ao
delito de femicidio e posteriormente relatarei o caso do femicidio de Paola Acosta que servirá de
fonte principal de análise desde uma perspectiva feminista. As categorias de análise próprias da
perspectiva serão desenvolvidas num outro apartado, finalmente esboçarei algumas considerações
finais.
Por ultimo, e sem pretender fazer neste momento um percurso pelos diferentes momentos do
movimento feminista nem suas discussões centrais, considero importante destacar que entendo esta
perspectiva como ferramenta política e epistemológica de grande utilidade, em termos de
possibilidade crítica e propiciadora de uma problematização das categorias estabelecidas e
naturalizadas que são utilizadas para entender e descrever os fenômenos sociais.
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Normativa internacional e argentina em relação à violência contra a mulher
Ao nível normativo é possível identificar alguns Sistemas em que se organizam as
regulamentações que legislam em relação à violência contra as mulheres.
Dentro do Sistema de Nações Unidas encontramos a “Convenção sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher” (CEDAW) e seu Protocolo Facultativo, que
foram ratificados pelo Brasil e Argentina entre outros países. Que define em seu artigo 1° que
“"discriminação contra a mulher" significará toda distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e
que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício pela
mulher, independentemente de seu estado civil, com base na igualdade do homem e da mulher, dos
direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural e civil
ou em qualquer outro campo.”
Dentro do Sistema Interamericano ocupa um lugar fundamental a “Convenção
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher- Convenção de Belém
do Pará”. A mesma entende que “a violência contra a mulher abrange a violência física, sexual e
psicológica:
a. ocorrida no âmbito da família ou unidade doméstica ou em qualquer relação interpessoal, quer o
agressor compartilhe, tenha compartilhado ou não a sua residência, incluindo-se, entre outras
formas, o estupro, maus-tratos e abuso sexual;
b. ocorrida na comunidade e cometida por qualquer pessoa, incluindo, entre outras formas, o
estupro, abuso sexual, tortura, tráfico de mulheres, prostituição forçada, seqüestro e assédio sexual
no local de trabalho, bem como em instituições educacionais, serviços de saúde ou qualquer outro
local; e
c. perpetrada ou tolerada pelo Estado ou seus agentes, onde quer que ocorra.”
O sistema nacional, no caso Argentino, conta com duas leis que regulam a violência contra
as mulheres: a primeira no tempo foi a Lei 26.4853 "Ley de Protección Integral para Prevenir,
Sancionar y Erradicar la Violencia contra las Mujeres em los âmbitos en que desarrollen sus
relaciones interpersonales" e uma lei que produz uma reforma ao Código Penal Argentino, a Lei
26.791, conhecida popularmente como “lei do femicidio”, e que na verdade aparece para se
constituir como agravante.
3 A Lei 26.485 de "Protección Integral a las Mujeres" foi promulgada no ano 2009.
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A primeira Lei define no artigo 4° como “violencia contra las mujeres toda conducta, acción
u omisión, que de manera directa o indirecta, tanto en el ámbito público como en el privado, basada
en una relación desigual de poder, afecte su vida, libertad, dignidad, integridad física, psicológica,
sexual, económica o patrimonial, como así también su seguridad personal. Quedan comprendidas
las perpetradas desde el Estado o por sus agentes”.
Por outro lado, acho importante colocar textualmente as modificações feitas ao Código
Penal pela Lei 26.791, que servirão para a posterior análise:
“ARTICULO 1° — Sustitúyanse los incisos 1º y 4° del artículo 80 del Código Penal que quedarán
redactados de la siguiente forma:
Artículo 80: Se impondrá reclusión perpetua o prisión perpetua, pudiendo aplicarse lo dispuesto en
el artículo 52, al que matare:
1°. A su ascendiente, descendiente, cónyuge, ex cónyuge, o a la persona con quien mantiene o ha
mantenido una relación de pareja, mediare o no convivencia.
4°. Por placer, codicia, odio racial, religioso, de género o a la orientación sexual, identidad de
género o su expresión.
ARTÍCULO 2° — Incorpóranse como incisos 11 y 12 del artículo 80 del Código Penal los
siguientes textos:
11. A una mujer cuando el hecho sea perpetrado por un hombre y mediare violencia de género.
12. Con el propósito de causar sufrimiento a una persona con la que se mantiene o ha mantenido
una relación en los términos del inciso 1°.”
Se bem esta ultima lei é considerada de grande avançada e muito importante em termos
jurídicos, baseada no estudo de vários casos que apareceram na media por sua gravidade poderia
afirmar que parece bem difícil de aplicar.
Depois de especificar este marco legal, como já expliquei com anterioridade, apresentarei a
continuação o caso do femicidio contra Paola Acosta. Cabe destacar que o mesmo foi amplamente
difundido nos jornais locais, nacionais e nas redes sociais, já que provocou uma espécie de choque
social a partir da violência exercida além de contra Paola Acosta sobre sua pequena filha M.4
O femicidio de Paola Acosta5
4 É preciso esclarecer que durante a busca das duas vitimas foram expostos os dois nomes completos das mesmas, mas
que a partir de ter encontrado à criança com vida, por uma questão de sigilo jurídico por ser menor de idade, seu nome
aparece abreviado com a letra M. 5 Tive acesso as duas sentenças que julgaram este caso.
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O crime contra Paola Acosta, de 36 anos de idade, e a tentativa de assassinato de sua filha
M., de um ano e nove meses, foi um caso que manteve a Córdoba em vigília por quase 80 horas.
Mãe e filha desapareceram entre a noite da quarta 17 de setembro de 2014 e só foram encontradas
na manha do domingo 21 de aquele mês, num esgoto de um bairro da cidade. Segundo a autopsia
Paola tinha morrido entre 48 e 96hs antes de se produzir o achado do corpo. M. apresentava várias
feridas e sobreviveu “de milagre” (depois de 10 dias de internação) já que pela insalubridade do
lugar onde foi encontrada as feridas tinham-se infectado. O suspeito e finalmente condenado pelo
crime, de nome Gonzalo Lizarralde, tinha ido à noite da quarta 17 a conhecer por primeira vez à
menina e levar a primeira mensalidade da pensão alimentícia depois de várias instancias judiciais
(DNA por ordem do judiciário que provou a filiação, e ordem judicial de pagar a pensão) como
resultado do processo que tinha iniciado Paola em sua contra. O femicidio incluiu uma troca de
promotor por demoras na busca das duas vítimas, além de várias especulações mediáticas e nas
redes sociais em relação à suposta inocência do acusado e avaliações morais em relação a se a filha
era produto de uma relação estável ou encontros sexuais esporádicos e supostos interesses
econômicos de Paola. Desde esse primeiro momento foi ficando claro mediaticamente que alem do
ajuizamento do autor dos crimes, haveria um julgamento em relação as ações da vitima.
Depois das inúmeras provas avaliadas pelos juízes e jurados populares em outubro de
2015, sentença n° 46, da "Cámara Undécima del Crimen", se resolveu declarar culpável a
Lizarralde por “homicidio calificado por alevosia” contra Paola e “homicídio calificado por el
vinculo y por alevosia em grado de tentativa” contra M., com a pena de prisão perpetua6.
Em relação esta primeira sentença, Frascaroli (presidenta do tribunal) “sostiene que fue
calificado por alevosía porque el victimario "preordena (el crimen) de modo tal de evitar la reacción
de la víctima o de un tercero y así poder dar muerte a la primera con mayores chances de lograr el
resultado querido, a ocultas de cualquier auxilio exterior, frente à víctimas desprevenidas e
indefensas: la madre por su diferencia de tamaño comparado con el del matador y porque cargaba
6 Cabe destacar que a sentença foi apelada, e finalmente em marco de 2017 o Tribunal Superior de Justicia da Provincia
de Córdoba resolveu mediante sentença Nº 56 o seguinte : "II. Hacer lugar parcialmente al recurso presentado por el
querellante particular, Hernán Faerher, con asistencia técnica del Dr. Juan Carlos Sarmiento, en contra de la citada
sentencia. En consecuencia, corresponde modificar la calificación legal dispuesta para el hecho atribuido al imputado
Gonzalo Martín Lizarralde quien deberá responder como autor de los delitos de homicidio calificado cometido con
alevosía y mediando violencia de género (arts. 45, 80 inc. 2º, 2º supuesto y 11 del Código Penal) en contra de Paola
Soledad Acosta y homicidio calificado por el vínculo y cometido con alevosía, en grado de tentativa (arts. 45 y 42, art.
80 inc. 1º, 2º supuesto, e inc. 2º, 2º supuesto del Código Penal) en contra de su hija M.L., todo en concurso real (art. 55
del Código Penal), manteniéndose para su tratamiento penitenciario la pena de prisión perpetua. Sin costas por el éxito
obtenido en esta sede (art. 550/551 CPP).
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en brazos a su pequeña hija; esta, porque era incapaz de valerse por sus propios medios" além disso
Frascaroli adicionou: "Todo lo dicho nos aleja de esa mujer vulnerable, sumisa, dominada, víctima
de una desigualdad de poder y nos coloca frente a una mujer fuerte, decidida, pero atacada
sorpresiva y alevosamente, en un momento en que seguramente ni imaginó que algo podía
sucederle durante su encuentro con Lizarralde"7. Esta última frase e o fato de Paola ter acudido à
justiça para lutar pelos direitos de sua filha foram os principais argumentos para interpretar que o
crime não envolvia uma situação desigual de poder, portanto não envolvia violência de gênero.
Categorias de análise fundamentais desde uma perspectiva feminista
Em primeiro lugar, se retomamos os três Sistemas jurídicos apresentados no apartado que
descreve as normativas: o Sistema de Nações Unidas (CEDAW), o Sistema Interamericano
(Convenção de Belém do Pará) e o Sistema Nacional; nenhum deles descreve que a mulher vitima
de violência tem que ter determinadas características pessoais ou físicas para que seja considerada
tal circunstância. Se esta descrevendo em todas as oportunidades situações que guardam uma
estreita relação com o lugar da mulher na sociedade, que em nossos contextos latino americanos
fica evidenciado na quantidade de casos como estes, as diferencias de salário que existem, o acesso
diferenciado a saúde a educação, o menor acesso à terra e moradia, etc.
No mesmo sentido, Maqueda de Abreu entende em relação à violência contra as mulheres
“es consecuencia de una discriminación intemporal que tiene su origen en una estructura social de
naturaleza patriarcal”. (Maqueda Abreu, 2006 apud Soldevila, 2014, p. 32). O que nos esta falando
de um sistema, uma estrutura, de um coletivo social (e não de sujeitos afetados individualmente por
esta condição) dentro do qual se desenvolvem as relações humanas.
Segundo o Diccionario de estudios de género y feminismos8 (2009) o patriarcado “puede
definirse como un sistema de relaciones sociales sexopoliticas basadas en diferentes instituciones
públicas y probadas y en la solidaridad interclases e intragénero instaurada por los varones9, quienes
como grupo social y en forma individual y colectiva oprimen a las mujeres también en forma
7 http://www.lavoz.com.ar/ciudadanos/el-crimen-de-paola-no-fue-femicidio-porque-no-hubo-relacion-desigual-de-
poder 8 Cabe destacar que diferentes feministas de diversas áreas têm participado na definição das palavras contempladas no
dicionário, é que no final de cada palavra aparece o nome da autora que teorizou sobre cada uma delas. 9 O termo “varones” é utilizado em espanhol em geral por estudos e escritos feministas em oposição e crítica ao termo
“homens” que tem sido utilizado historicamente como o ser humano universal.
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individual y colectiva, y se apropian de su fuerza productiva y reproductiva, de sus cuerpos y sus
productos, sea con medios pacíficos o mediante el uso de la violencia. (Fontenla, 2009, p. 258-260).
A utilidade que tem o uso do termo patriarcado para Arruza (2010), sem pretender entrar na
discussão entre as diferentes posições que existem ao torno da utilidade do mesmo, é identificar que
estamos nos referindo a um sistema de relações humanas, sociais, matérias, culturais de dominação,
opressão e desigualdade que não correspondem a escolhas feitas desde individualidades, nem são
questões excepcionais. Além disso, a autora adiciona que “nos países capitalistas não existe mais
um sistema patriarcal que seja autônomo do capitalismo. Relações patriarcais continuam a existir,
mas não são parte de um sistema separado” (Arruza, 2010, p. 37).
A partir de todas estas definições é importante explicitar que ao entender o patriarcado e o
capitalismo como dois sistemas interdependentes, como duas faces da mesma moeda, em que se
produzem e se reproduzem as relações sociais, devemos entender então que qualquer um deles não
pode deixar de existir se o outro permanece existindo.
Harraway (2004) traz uma discussão interessante citando a Hartmann, em relação a quando
se intenta colocar uma supremacia de “importância” de um sobre outro (capitalismo- patriarcado)
na luta por direitos. Esta discussão, muitas vezes chamada de “eterna”, tem cercado e continua
fazendo-o às profissões que trabalham historicamente com a “questão social” e fazem críticas
profundas ao sistema capitalista como sistema de opressão, particularmente dentro do Serviço
social, estas discussões aparecem com grande ênfase. “Hartmann tentou explicar a parceria do
patriarcado e do capital e a incapacidade dos movimentos trabalhistas socialistas, dominados por
homens, em priorizar o sexismo. Hartmann utilizou o conceito de sistema de sexo-gênero de Rubin
para reclamar a compreensão do modo de produção de seres humanos nas relações sociais
patriarcais através do controle masculino da capacidade de trabalho das mulheres. No debate
estimulado pela tese de Hartmann, Iris Young criticava a abordagem “dualista” do capital e do
patriarcado que eram vistos então como aliados na opressão de classe e gênero” (Hartman e Young
apud Harraway, 2004, p. 42).
Como acabei de dizer, em muitas profissões surge esta discussão (aparece bastante no
serviço social), e em várias oportunidades se termina escolhendo entre uma “luta” ou outra, sem
conseguir enxergar que correspondem as duas fases mencionadas, o que nos traz grandes
retrocessos e demoras principalmente na conquista de direitos para as mulheres.
Voltando a questão da violência contra as mulheres, neste sistema de dominação tão claro e
presente, que permeia todas as relações dentro de uma sociedade, dificilmente existam canais
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normativos que consigam dar “solução final” às situações vivenciadas pelas mulheres. Assim
Aguiar (2000), manifesta que “A violência contra mulheres e a impunidade, como legítima defesa
da honra masculina, consiste em outra indicação de relações patriarcais” (Aguiar, 2000, p. 305).
Para o caso do femicidio contra Paola Acosta pode-se interpretar que esta "honra masculina" do
femicida Lizarralde se encontrava em perigo com a presencia de Paola e as demandas em relação a
sua filha em comum, já que ficou claro durante o juízo como o homem ocultou por todos os meios e
até de sua atual mulher o fato do vinculo com Paola como assim sua paternidade. Este fato foi
interpretado pelo tribunal como uns dos motivos principais para o femicidio, já que ha existência de
Paola e M. em perigo os planos de vida que Lizarralde tinha.
Por outro lado, Saffioti (2001) incorpora a idéia de “agentes sociais subalternos” que
participam de “cúmplices” (cúmplice que Bourdieu (2000) parece enxergar principalmente entre “as
vítimas” da dominação masculina), desempenhando as ações na ausência “do patriarca”. Muitas
vezes essa justiça que deveria ao menos reparar a ausência de igualdade aparece reforçando
estereótipos e julgamentos sobre a vitima que acabam fazendo com que esta seja a culpada. O que
me retrotrai a vários dos casos (acontecidos em Campinas nas décadas de 50 e 60) apresentados por
Correa (1983) no livro "Morte em Família". Os casos descritos envolvem homens que feriram ou
mataram suas companheiras e que alegam como justificativa a defesa de sua honra. Embora se
esteja falando de outro momento histórico, considero que guardam estreita vigência, pelo tipo de
crime e, como estou tratando neste artigo, pelo tipo de julgamento que envolvem. Correa analisa
que nos casos em que é possível a apresentação das vitimas como distantes de ser mulheres fracas, e
mas bem como fortes a sentença permitiu uma dúvida em relação ao crime cometido e em geral foi
aceita a possibilidade de argumentação de legitima defesa em favor do acusado de tê-la matado. A
mesma situação foi verificada pela autora nos casos em que a vitima era apresentada como uma
mulher "não honesta", sempre esse tipo de argumento acabavam reduzindo a pena ou o delito
configurado era menos grave.
Contudo, é plausível de ser entendido, que as situações de violência contra as mulheres, a
mais grave delas o femicidio, como o padecido por Paola Acosta, aparecem sempre que alguma
delas pretende fugir da dominação, são as possibilidades de fuga (em outros termos as
possibilidades e direito de viver sua própria vida) o que coloca as mulheres em algum grau de
vulnerabilidade em relação a ser vítimas de situações de violência.
Ramalho recupera que “em trabalhos produzidos ao longo das duas últimas décadas, Nancy
Fraser tem vindo a demonstrar como o binarismo do público e do privado na moderna teoria crítica,
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designadamente no pensamento de Habermas, acaba por continuar a conceber o cuidado do sustento
como “feminino” e a cidadania plena como “masculina” apenas. (Fraser apud Ramalho, 2001, p.
17).
Ao mesmo tempo Harraway (2000) traz a reflexão que “Por gerações, foi dito às mulheres
que elas são “naturalmente” fracas, submissas, extremamente emocionais e incapazes de
pensamento abstrato. Que estava “em sua natureza” serem mães em vez de executivas, que elas
preferiam entreter visitas em casa a estudar Física das Partículas. Se todas essas coisas são naturais
significa que elas não podem ser mudadas. Fim da história. Volta à cozinha. Proibido ir adiante. Por
outro lado, se as mulheres (e os homens) não são naturais, mas construídos, tal como um ciborgue,
então, dados os instrumentos adequados, todos nós podemos ser reconstruídos. Tudo pode ser
escolhido, desde lavar os pratos até legislar sobre a Constituição. Pressupostos básicos como, por
exemplo, decidir se é natural ter uma sociedade baseada na violência e na dominação de um grupo
sobre outro se tornam repentinamente questionados. Talvez os humanos estejam biologicamente
destinados a fazer guerras e a poluir o ambiente. Talvez não.” (Harraway, 2000, p. 25-26).
Neste contexto de reprodução histórica e cultural de estas supostas verdades, em contextos
capitalistas e patriarcais, os processos de reformas legislativos em termos de direitos para as
mulheres não são acompanhados socialmente, o que se traduz em que qualquer tentativa de
exercício de cidadania plena feminina já coloca a mulher como possível alvo de violência.
Assim no caso trazido para a análise, Paola Acosta, por ter iniciado ações legais para o
reconhecimento de sua filha e sua pretensão de exercer o direito a manutenção da menina, ousou
desafiar as “leis” do patriarcado. Desafio que foi entendido como tal por seu femicida, que se
achando impune a matou e tentou fazer a mesma coisa com sua filha (considero que não é
casualidade que a filha também seja mulher e tinha recebido o mesmo trato que sua mãe, mas não
foi interpretado assim por nenhum dos tribunais que julgaram o caso). Particularmente considero
que o fato de ter recorrido à justiça para lutar pelo reconhecimento de sua filha, longe de evidenciar
como principal um suposto "empoderamento" de Paola Acosta expõe fundamentalmente a relação
desigual de poder que existia entre ela e seu femicida, já que por se só ela não conseguiu garantir o
direito de sua filha, senão que deveu acudir à justiça para tentar ser ouvida num reclamo justo.
Por outro lado, interpreto que Lizarralde achava que contava com certo grau de impunidade,
portanto fazendo uso de um lugar de poder privilegiado, pela maneira em que realizou os atos
criminais e posteriormente por exemplo, se apresentou em reiteradas oportunidades com diferentes
versões do ocorrido àquela noite (na delegacia por exemplo tentou inventar que durante as horas de
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desaparição de Paola e M. ele mesmo tinha sido seqüestrado10). Em palavras de Saffioti (2001) “No
exercício da função patriarcal, os homens detêm o poder de determinar a conduta das categorias
sociais nomeadas, recebendo autorização ou, pelo menos, tolerância da sociedade para punir o que
se lhes apresenta como desvio”. (Saffioti, 2001, p. 115). Círculo que se termina de fechar, ao meu
entender, quando na primeira sentença judicial a pena não corresponde a um “castigo
social/judicial” por femicida, senão que parece mais uma tolerância mascarada para o femicida e
sim um castigo social para o desvio de uma mulher que pretendeu sair da esfera do privado e
apresentar uma demanda por alimentos e reconhecimento da filha. Assim então, quem é finalmente
julgada é a considerada “vítima”, que não se encaixou na idéia moral que se tem desse conceito.
Neste sentido trago para a reflexão se não é novamente o sistema patriarcal operando nas
instituições como a justiça.
Algumas considerações finais
Gostaria de trazer para o analise o considerado por Rifiotis (2015) quem considera
pertinente retomar a noção de judicialização das relações sociais, "como um dispositivo que, ao
mesmo tempo, leva ao reconhecimento e à legitimidade da “violência de gênero” e postula um
tratamento jurídico diferenciado, visando ampliar o acesso à justiça, o que se dá no âmbito de uma
“cultura técnica-política-institucional” atravessada por regimes morais contra os quais a lei objetiva
atua." (Rifiotis, 2015, p. 283). O autor também adverte que "no sistema de justiça penal, a
judicialização implica numa leitura criminalizante e estigmatizada contida na polaridade “vítima-
agressor” (Rifiotis, 2015, p. 265), o que acaba delimitando ambos roles e tipificando em certa
medida o que se espera deles.
Finalmente, considero oportuno de retomar as discussões motivadas pelas leituras de Fassin
(2010), que me fazem pensar na categoria de “vítima” como uma potência moral, como imperativo
moral absoluto. O que significa isto, em definitiva é que circulam nos espaços sociais que se
traduzem cotidianamente nas instituições do Estado, idéias e valores sobre o que é ser realmente
vítima. Fugindo da atenção o fato de que se esta julgando aos culpáveis dos crimes e não os atos das
vítimas, Paola Acosta poderia ter sido até lutadora de boxe, mas isso não a tira da situação de vítima
10 A notícia que relata este fato aparece publicada na versão digital do jornal “La Voz del Interior” no seguinte link. http://www.lavoz.com.ar/ciudadanos/la-increible-coartada-de-lizarralde
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de esse ato e momento particular; como não tira a nenhum homem de situação de vítima quando
quem lhe roubou o carro era mais baixo ou menos corpulento.
Em palavras de Butler (2002) “hay restricciones crueles y fatales a la desnaturalización”, e
sair-se do permitido, tentando liberar-nos das situações que nos oprimem e dominam como
mulheres cotidianamente, nas nossas sociedades patriarcais têm um custo muito alto para nós
mulheres principalmente.
Depois de estas reflexões, gostaria de perguntar olhando no olho para esses juízes e jurados
populares, os de este caso e os de tantos outros que aparecem diariamente no meu pais e no nosso
continente: é qualquer pessoa que um assassino (femicida) joga no esgoto, ou são as mulheres?
Quais são as vidas que vão parar num esgoto ou num saco de lixo? Não são acaso as vidas que tem
menos valor? Na Argentina morre uma mulher cada 30 horas por violência de gênero, será que elas
também não estão sendo mortas por sua condição de mulher nesta sociedade que as enxerga como
inferiores e com menos direito a vida? Então será que a “condição de vítima” de Paola Acosta é a
que é determinada pelo olhar social (de um jurado, de um vizinho, de uma juíza) ou é cada vez mais
imprescindível entender como o femicida de Lizarralde (que nunca quis fazer declaração alguma) a
enxergava?
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http://www.lavoz.com.ar/ciudadanos/la-increible-coartada-de-lizarralde
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paola-no-fue-femicidio-porque-no-hubo-relacion-desigual-de-poder
Nota intitulada “Según el fallo por el crimen de Paola, el agravante de femicidio no parece
sencillo de aplicar si la víctima no es una mujer sumisa.” 25/10/2015. Disponível no link:
http://www.lavoz.com.ar/opinion/la-violencia-de-genero-y-los-muros
Secção intitulada: “Caso Paola y M.” Disponível no link:
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Nota intitulada: "Las partes clave del fallo el TSJ sobre el femicidio de Paola Acosta".
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fallo-del-tsj-sobre-el-femicidio-de-paola-acosta
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Moralities and implications around the concept of victim in cases of violence against women.
Analysis of an Argentinean case using a feminist perspective.
Abstract: It is intended to reflect on the moral discourses that revolve around the concept of
"victim" in cases that involve violence against women within the patriarchal system and how they
affect and interfere in judicial processes and the enforcement of their sentences. Primarily, the
speeches analyzed are located in judicial bodies and their representatives (delegates, judges, juries,
etc.), but also understanding that they are not alien to the social discourses that circulate in the
community. The reflection will be done taking as an example a case of Argentinean femicide,
which involved violations of women`s human rights. The femicide referred to is the one that has
Paola Acosta as a fatal victim, she was killed by the father of his daughter (who suffered attempted
femicide too) in September 2014. The judicial sentence and extracts from some of the main
publications in a journal with a virtual edition, which made a chronological report of the case and
judgments regarding the judicial sentence, will be the base for the analysis. The discussions that
revolve around the theme presented will be proposed from a feminist perspective, including
theoretical reference of the areas of anthropology of violence and moral anthropology, and also will
include the legislative framework pertinent to the case.
Keywords: gender, violence against women, victim, moralities, justice