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C AIO F ERNANDO A BREU M ORANGOS MOFADOS

Morangos Mofados

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Amostra do Livro Morangos Mofados do Escritor Caio F. de Abreu

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Page 1: Morangos Mofados

C A I O F E R N A N D O A B R E U

M O R A N G O S

M O F A D O S

1-ª reimpressão

Page 2: Morangos Mofados

S U M Á R I O

HOJE NÃO É DIA DE ROCK por Heloisa Buarque de Holanda . . . . . . . . . . . . . . .7NOTA DO AUTOR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13

O mofo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21

Diálogo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .23Os sobreviventes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .25O dia que Urano entrou em Escorpião . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .30Pela passagem de uma grande dor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .36Além do ponto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45Os companheiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .49Terça-feira gorda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .56Eu, tu, ele . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .60Luz e sombra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .67

Os morangos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .73

Transformações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .74Sargento Garcia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .79Fotografias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .95

18 x 24: Gladys . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .953 x 4: Liége . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .99

Pêra, uva ou maçã? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .103Natureza viva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .110Caixinha de música . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .115

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O dia que Júpiter encontrou Saturno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .124Aqueles dois . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .132

Morangos mofados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .141

Uma carta de Caio Fernando Abreu conta o processo de criação de Morangos mofados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .151

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NOTA D O AU TO R

Por saber que textos, como as pessoas, são vivos e semprepodem melhorar na sua contínua transformação, submetiMorangos mofados a uma severa revisão de forma. Nada emseu conteúdo ou estrutura foi modificado, mas a pontua-ção foi retrabalhada, novos parágrafos foram abertos oueliminados etc. O resultado me parece mais limpo, menosliterário no mau sentido, mais claro e quem sabe defini-tivo. Trabalhando pelo menos doze anos distanciado daemoção cega da criação (a primeira edição foi de 1982),depurar estes morangos foi como voar sobre uma rede desegurança. Só espero não ter errado o salto.

Caio Fernando Abreu Porto Alegre, 1995

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À memória deJohn LennonElis ReginaHenrique do ValleRômulo Coutinho de Azevedoe todos meus amigos mortos

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A Caetano Veloso.E paraMaria Clara Jorge (Cacaia)Sonia Maria Barbosa (Sonia de Oxum Apará)e todos meus amigos vivos

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Quanto a escrever, mais vale um cachorro vivo.

Clarice Lispector: A hora da estrela

Achava belo, a essa época, ouvir um poeta dizer queescrevia pela mesma razão por que uma árvore dá frutos.Só bem mais tarde viera a descobrir ser um embusteaquela afetação: que o homem, por força, distinguia-sedas árvores, e tinha de saber a razão de seus frutos,cabendo-lhe escolher os que haveria de dar, além deinvestigar a quem se destinavam, nem sempre ofere-cendo-os maduros, e sim podres, e até envenenados.

Osman Lins: Guerra sem testemunhas

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O mofo

Dejadme en este campo llorando.

Federico García Lorca: “¡Ay!”

O monstro de fogo e fumaçaroubou minha roupa branca.O ar é sujoe o tempo é outro.

Henrique do Valle: “Monstro de fumaça”

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D I Á L O G O

Para Luiz Arthur Nunes

A: Você é meu companheiro.B: Hein?A: Você é meu companheiro, eu disse.B: O quê?A: Eu disse que você é meu companheiro.B: O que é que você quer dizer com isso?A: Eu quero dizer que você é meu companheiro. Só isso.B: Tem alguma coisa atrás, eu sinto.A: Não. Não tem nada. Deixa de ser paranóico.B: Não é disso que estou falando.A: Você está falando do quê, então?B: Eu estou falando disso que você falou agora.A: Ah, sei. Que eu sou teu companheiro.B: Não, não foi assim: que eu sou teu companheiro.A: Você também sente?B: O quê?A: Que você é meu companheiro?B: Não me confunda. Tem alguma coisa atrás, eu sei.A: Atrás do companheiro?B: É.A: Não.

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B: Você não sente?A: Que você é meu companheiro? Sinto, sim. Claro que eu sinto. E você,não?B: Não. Não é isso. Não é assim.A: Você não quer que seja isso assim?B: Não é que eu não queira: é que não é.A: Não me confunda, por favor, não me confunda. No começo era claro.B: Agora não?A: Agora sim. Você quer?B: O quê?A: Ser meu companheiro.B: Ser teu companheiro?A: É.B: Companheiro?A: Sim.B: Eu não sei. Por favor, não me confunda. No começo era claro. Temalguma coisa atrás, você não vê?A: Eu vejo. Eu quero.B: O quê?A: Que você seja meu companheiro.B: Hein?A: Eu quero que você seja meu companheiro, eu disse.B: O quê?A: Eu disse que eu quero que você seja meu companheiro.B: Você disse?A: Eu disse?B: Não. Não foi assim: eu disse.A: O quê?B: Você é meu companheiro.A: Hein?(ad infinitum)

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