195
CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM MÉDICO- CIRÚRGICA Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros Ana Maria Tuna Dos Santos Serra Jorge Pereira Orientador: Doutor Paulo Alexandre Ferreira, Professor Adjunto da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. Co- Orientadora: Mestre Maria Salomé Relvão Sacadura, Enfermeira Chefe no Centro Hospitalar do Médio Tejo. Dissertação apresentada à Escola Superior de Enfermagem de Coimbra para obtenção do grau de Mestre em Enfermagem Médico-Cirúrgica Coimbra, março de 2013

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM

MÉDICO- CIRÚRGICA

Morte em Contexto Hospitalar:

Vivências dos Enfermeiros

Ana Maria Tuna Dos Santos Serra Jorge Pereira

Orientador: Doutor Paulo Alexandre Ferreira,

Professor Adjunto da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra.

Co- Orientadora: Mestre Maria Salomé Relvão Sacadura, Enfermeira Chefe no

Centro Hospitalar do Médio Tejo.

Dissertação apresentada à Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

para obtenção do grau de Mestre em

Enfermagem Médico-Cirúrgica

Coimbra, março de 2013

Page 2: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
Page 3: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

PENSAMENTO

A morte é algo constante na vida,

É um obstáculo que todos

Iremos encontrar, ela nos busca no mais ilimitado lugar,

No espaço mais cintilante ou mais nublado do infinito.

Estamos certos que um dia todos temos

que avançar, há que nos prepararmos para partirmos com dignidade.

Autor: Ana Maria Pereira

Page 4: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
Page 5: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

AGRADECIMENTOS

Seguimos um percurso longo e árduo para a conclusão deste trabalho. Terminada esta

missão, não poderia cessar este importante capítulo da minha vida sem agradecer a

todos aqueles que de alguma forma contribuíram para que este trabalho não ficasse a

meio de uma viagem que foi longa trabalhosa e difícil. As vacilações, as inquietações,

as amarguras e o desânimo que tantas vezes represaram e refrearam o progredir do

trabalho só puderam ser superados com o auxílio e fortalecimento de todos os que me

acompanharam e me convenceram a prosseguir até à sua conclusão.

Foi um esforço que não só dependeu de nós mas de todos aqueles que se cruzaram no

nosso caminho e nos ajudaram.

Para o meu orientador, Professor Doutor Paulo Alexandre Ferreira, pela sua dedicação,

orientação, simpatia e estímulo que manteve ao longo deste trabalho o nosso muito e

sincero obrigado.

À Sra. Enfermeira Chefe e Mestre Salomé Sacadura pela sua e sempre pronta

disponibilidade, ajudando-me a crescer, a ultrapassar todos os obstáculos, bem como

pelo incentivo e paciência que me foi transmitindo. A ela o nosso e verdadeiro obrigado.

Gostaria de agradecer a todos os participantes do estudo, pois sem a colaboração e boa

vontade de todos não seria possível a sua realização.

Para terminar um grande bem-haja a toda nossa família que assumiu um carácter de

incondicional apoio, compreensão e ajuda, pois sem eles não seria possível estarmos a

acabar esta etapa académica.

Muito em especial queria deixar aqui expresso o nosso agradecimento à Ana Rita,

minha filha que me ajudou arduamente na finalização deste trabalho.

Para terminar agradecer ao Sr. António Júlio meu marido pela sua companhia, paciência

e compreensão que foi demonstrando ao longo desta etapa da nossa vida.

Também ainda, a todos aqueles que direta ou indiretamente nos ajudaram neste caminho

que parecia não ter fim…………………………….. A TODOS, MUITO OBRIGADA!

Page 6: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
Page 7: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

LISTA DE SIGLAS

cit. – citado

CHMT- Centro Hospitalar do Médio Tejo

DL – Decreto de Lei

DGS- Direção Geral de Saúde

E – Entrevista

ERS – Entidade Reguladora da Saúde

EPE – Entidade Pública Empresarial

Nº - Número

O2 – Oxigénio

p. – página

REPE - Regulamento do Exercício Profissional dos Enfermeiros

SA – Sociedade Anónima

s.d. – sem data

Sr. – Senhor

Sra. – Senhora

SFAP - Sociedade Francesa de Acompanhamento e Cuidados Paliativos

Page 8: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
Page 9: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

RESUMO

A enfermagem, enquanto profissão, tem como essência o conceito de Cuidar, devendo

estar presente em todas as fases do ciclo de vida, incluindo o fim de vida. A dignidade

da Pessoa é uma referência conceptual do enfermeiro que, na procura da excelência do

cuidar deve desenvolver competências relacionais que lhe permitam assistir o

doente/família numa fase terminal.

Atendendo à natureza do fenómeno em estudo “Fim de vida, perceção e vivência de

quem cuida” e ao facto de se tratar de uma temática pouco explorada, optou-se por um

estudo de natureza qualitativo com abordagem fenomenológica, onde se pretende

conhecer como os enfermeiros gerem a sua presença junto da pessoa/família em fim de

vida.

Para o efeito, o enquadramento teórico abrange o conceito de cuidar em Enfermagem

em fim de vida numa perspectiva deontológica e de competência relacional, a

problemática da morte, caracterizando os doentes em fim de vida, as fases de adaptação

do doente terminal, as fases de adaptação da família e o sofrimento que lhe está

inerente, bem como dos que prestam cuidados.

A recolha de informação decorreu de Maio a Setembro de 2012, sendo realizada através

de entrevista semiestruturada com recurso e gravação áudio e posterior transcrição. Os

participantes (8 enfermeiros) foram selecionados de forma intencional tendo em conta

os critérios de inclusão, as considerações éticas e operacionais inerentes à investigação,

bem como os princípios da saturação de dados.

O tratamento da informação baseou-se nas etapas processuais de Colaizzi(1978), que

preconiza o retorno aos participantes no sentido de validar as transcrições.

Neste estudo emergiram seis temas que se dividiram em vários subtemas, revelando-se

muito importantes para a compreensão da problemática tendo em conta o objetivo geral

que é: “Compreender como os enfermeiros vivenciam o processo de morte da Pessoa e

Família em fim de vida”.

Page 10: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

As principais conclusões centram-se nos fatos de os enfermeiros, identificarem os

doentes em fim de vida com base no diagnóstico, na informação clínica, na sua

experiência, na comunicação não-verbal e na falência das funções orgânicas,

valorizando a importância do apoio afetivo e relacionamento humano na prestação de

cuidados. Adotando estratégias para minimizar o sofrimento e promover o bem-estar,

realçando, a gestão terapêutica no alívio da dor, a importância da relação de ajuda e a

interação enfermeiro/família. Bem como identificam alguns constrangimentos inerentes

à prestação de cuidados aos doentes/família em fim de vida.

Mediante as características da abordagem utilizada a sua extrapolação não é possível

sendo que as conclusões apenas se referem a estes participantes.

Palavras-chave: Enfermagem, Cuidar, Fim de vida, Doente, Família.

Page 11: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

ABSTRACT

Nursing as a profession is based on the concept of caring that should be present in all

stages of life, including its end. The person’s dignity is a conceptual reference to the

nurse who, pursuing the excellence of caring, should develop relational skills that

enable the assistance of the patience/family in a terminal stage of life.

Due to the nature of the research “The End of Life, Perception and Experience of the

One who Cares” and due to the fact that it is an underexplored theme, one has opted for

a study of quality nature with phenomenological approach, in which one tries to

acknowledge how nurses manage their presence close to the person/family in terminal

stage.

To that end, the theoretical framework covers the concept of caring in nursing people in

a terminal stage of life from a deontological perspective, relational skills and the

problem of death by characterizing the patience in a terminal stage, the adaptation

stages of the terminal patient, the stages of adaptations of one’s family and the suffering

implied, as well as the ones that care for the terminal patients.

The data has been gathered between May and September 2012 with a semi structured

interview that’s been audio taped and its posterior transcription. The participants (8

nurses) have been intentionally selected according to the inclusion criteria, ethical and

operational considerations concerning the research, as well as the data saturation

principles.

The data treatment was based on the Colaizzi(1978) processual stages that advocate the

feedback to the participants to validate their transcriptions.

In this study six themes emerged and were subdivided into several subthemes,

presenting themselves to be very important to the understanding of the issue at matter

and the general objective of “understanding how nurses experience the process of death

of the terminal patient and his/her family.

Page 12: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

The most important conclusions are focused on the fact that nurses identify the terminal

stage patients based on diagnosis, clinical information, on their experience, on non-

verbal communication and organic function failure, maximizing the importance of

affection in their support and human relations in the caring process. Nurses also adopt

strategies to minimize suffering and promote wellness, especially in the therapeutic

management of pain relief and the importance of the support relations and interaction

nurse/family. Besides that, nurses also identify some constraints inherent in the

provision of care to the terminal patient and his/her family.

Due to the characteristics of the approach used in the research, its conclusions can not

be extrapolated and only refer to these participants.

Key Words: Nursing, Caring, The End of Life, Patient, Family.

Page 13: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

ÍNDICE DE DIAGRAMAS

Diagrama 1- Etapas da análise segundo Colaizzi ........................................................... 73

Diagrama 2- Preocupação pela falta do espaço físico ..................................................... 76

Diagrama 3- Exemplificação de um técnico especializado............................................. 77

Diagrama 4- Princípios éticos da profissão ..................................................................... 77

Diagrama 5- Humanização dos cuidados ........................................................................ 77

Diagrama 6- Síntese dos temas e subtemas..................................................................... 79

Diagrama 7- Síntese da investigação e respetiva metodologia ...................................... 82

Diagrama 8- Síntese estrutural empírica do fenómeno em estudo .................................. 91

Diagrama 9- Reconhecimento humano de fim de vida ................................................... 93

Diagrama 10- Valorização dos cuidados....................................................................... 100

Diagrama 11- Estratégias para minimizar o sofrimento e promover o conforto ........... 109

Diagrama 12- Sentimentos no cuidar ............................................................................ 115

Diagrama 13- Sentimentos marcantes intrínsecos do profissional ............................... 125

Diagrama 14- Melhorar a humanização dos cuidados ao doente/família ..................... 130

Page 14: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1- Distribuição dos participantes de acordo com a idade .................................. 86

Gráfico 2- Distribuição da amostra segundo o estado civil ............................................ 87

Gráfico 3- Distribuição da população de acordo com o grau académico ....................... 87

Gráfico 4- Distribuição da amostra segundo os anos de exercício profissional ............. 88

Gráfico 5- Distribuição da amostra segundo os anos de exercício profissional no local

onde decoronde decorreu o estudo .................................................................................. 88

Page 15: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

ÍNDICE

INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 19

PARTE I – Enquadramento Teórico

1-CUIDAR EM ENFERMAGEM ............................................................................... 25

1.1-A PROBLEMÁTICA DA MORTE .............................................................. 28

1.1.1-Caracterização do doente em fim de vida .................................. 28

1.1.2-Os cinco estadios do doente terminal ......................................... 30

1.1.3-O sofrimento da pessoa e família face ao fim de vida ............... 32

1.2-CUIDAR EM FIM DE VIDA ....................................................................... 33

1.2.1-Direito da pessoa em fim de vida ................................................ 37

1.2.2-Deveres do Enfermeiro ................................................................ 38

1.2.3-Relação de ajuda .......................................................................... 39

1.2.4-Humanização do cuidar ............................................................... 43

1.2.5-Mecanismos de defesa e estratégias de adaptação dos que

prestaprestam cuidados ....................................................................... 46

1.3- APOIO À FAMÍLIA DO DOENTE EM FASE TERMINAL..................... 47

1.3.1-Necessidades da família no doente em fim de vida ................... 48

1.4- CARACTERIZAÇÃO DO CONTEXTO DA PESQUISA ......................... 49

PARTE II – Enquadramento Metodológico

1-ENQUADRAMENTO DA METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO ................. 55

1.1-PROBLEMÁTICA E JUSTIFICAÇÃO DO TEMA .................................... 56

1.2-QUESTÃO E OBJETIVOS DE INVESTIGAÇÃO ..................................... 57

1.3-TIPO DE ESTUDO....................................................................................... 59

Page 16: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

1.4-PARTICIPANTES ........................................................................................ 62

1.5-INSTRUMENTO DE COLHEITA DE INFORMAÇÃO ............................ 64

1.5.1-Guião da Entrevista ..................................................................... 68

1.6-CONSIDERAÇÕES ÉTICAS E FORMAIS ................................................ 69

1.7-TRATAMENTO E ANÁLISE DA INFORMAÇÃO ................................... 72

1.7.1 -Método Fenomenológico Segundo Colaizzi (1978) ................... 73

PARTE III - Apresentação e Análise da Informação

1-APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DA INFORMAÇÃO ......................................... 85

1.1-CARATERIZAÇÃO SOCIOPROFISSIONAL DOS PARTICIPANTES ... 85

2-ANÁLISE E DISCUSSÃO DA INFORMAÇÃO: TEMAS EMERGENTES ...... 90

2.1-RECONHECIMENTO HUMANO DE FIM DE VIDA............................... 92

2.2-VALORIZAÇÃO DOS CUIDADOS ........................................................... 99

2.3-ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PARA MINIMIZAR O

SofrSOFRIMENTO E PROMOVER O BEM-ESTAR DO DOENTE E

famiFAMÍLIA ................................................................................................... 108

2.4 - SENTIMENTOS NO CUIDAR EXTRÍNSECOS AO PROFISSIONAL 114

2.5-SENTIMENTOS MARCANTES INTRÍNSECOS DO PROFISSIONAL 124

2.6-MELHORAR A HUMANIZAÇÃO DOS CUIDADOS AO DOENTE/

famFAMÍLIA .................................................................................................... 129

PARTE IV – Considerações Finais

1-CONCLUSÕES ........................................................................................................ 139

2-CONTRIBUTOS, SUGESTÕES E LIMITAÇÕES ............................................. 143

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 147

APÊNDICES

Page 17: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

APÊNDICE I - Compilação da análise da informação traduzida nos temas, subtemas

com os respetivocom os respetivos exemplos de declarações significativas

APÊNDICE II - Guião da Entrevista

APÊNDICE III - Transcrição de uma entrevista

APÊNDICE IV - Pedido de Autorização para Recolha de Dados

APÊNDICE V - Consentimento Informado

Page 18: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
Page 19: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

19

INTRODUÇÃO

Compreender o modo como o Enfermeiro, enquanto ser Humano se envolve

profissionalmente na perspetiva da Morte da Pessoa de quem cuida é o principal motivo

de interesse desta dissertação. A dignidade da Pessoa é uma referência conceptual do

Enfermeiro que na procura da excelência do cuidar deve desenvolver competências

relacionais que lhe permitam assistir o doente/família numa fase terminal.

A morte encarada como algo irracional, ilógico e incompreensível é difícil de assimilar

e todos nós temos dificuldade em aceitar a ideia de morrer e de vivenciar a morte do

Outro. Neste contexto Frias (2001) refere que os profissionais de saúde, nomeadamente

os enfermeiros, sentem-se desarmados perante a angústia das pessoas em fim de vida,

com os quais têm dificuldade em estabelecer uma relação de ajuda. Menciona ainda,

que os enfermeiros parecem estar pouco preparados para assistir, entender e ajudar as

pessoas no seu processo de doença. A família, por sua vez precisa de ajuda para aliviar

o sofrimento, a dor, ou a angústia do seu familiar em fim de vida.

Sabemos que a problemática da morte não se encontra suficientemente estudada e que

consiste numa área de interesse crescente na investigação em Enfermagem, que é

também por nós partilhada. Twycross, (2003) referencia a importância da investigação

para quem deseja aperfeiçoar os cuidados aos doentes que se aproximam da morte. Foi

esse, igualmente, o nosso interesse ao propormo-nos efetuar o presente estudo, realizado

no contexto da prática do exercício profissional dos enfermeiros de uma Unidade de

internamento na qual desempenhamos funções. Move-nos o desejo de contribuir para

clarificar a forma como os enfermeiros gerem a sua presença junto da pessoa /família

em fim de vida, sendo precisamente essa a nossa questão de investigação.

Trata-se de um estudo qualitativo, descritivo fenomenológico com entrevistas

semiestruturadas, com análise e tratamento da informação segundo Colaizzi, aplicado a

oito enfermeiros do serviço de especialidades Médicas do Centro Hospitalar do Médio

Tejo da Unidade Hospitalar de Torres Novas. Julgamos estar em consonância com

Watson (1988, in Frias, 2003) que refere que cada vez mais existem investigadores a

Page 20: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

20

colocarem-se na perspetiva de que a enfermagem deve explorar a sua herança

comprometendo-se com os seus valores e explorar métodos de investigação consistentes

com a sua natureza.

Como objetivo geral pretendemos:

Compreender como os enfermeiros vivenciam o processo de morte dos doentes e

família em fim de vida.

Como específicos:

Compreender como os enfermeiros identificam as necessidades dos doentes;

Compreender como os enfermeiros identificam as necessidades da família da

pessoa em fim de vida;

Identificar como os enfermeiros se disponibilizam para apoiar a família no

processo de luto;

Conhecer a importância que os enfermeiros atribuem aos cuidados que prestam à

pessoa em fim de vida;

Perceber o nível de investimento efetuado pelos enfermeiros na área da formação

que lhe permite desenvolvimento das suas competências relacionais.

A elaboração desta dissertação “Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos

Enfermeiros”, é uma iniciativa pessoal sugerida no âmbito da frequência do Curso de

Mestrado e Pós Licenciatura em Especialização Médico-cirúrgica, tendo como

referência base a vivência como enfermeira no CHMT da unidade de Torres Novas,

serviço de Especialidades Médicas.

Sempre nos suscitou interesse a última etapa da vida humana, mais especificamente as

questões éticas e relacionais com as pessoas em fim de vida e com as suas famílias. O

curso deu-nos possibilidade de aprofundar os nossos conhecimentos teóricos dando-nos

oportunidade de refletir sobre o cuidar da pessoa/família em situação de crise e de

assumir o processo cuidativo destes doentes de uma forma mais estruturada, respeitando

a dignidade da pessoa, a sua vontade e as suas decisões. Com este trabalho que agora

propomos como dissertação de mestrado, assente na reflexão pessoal sobre o exercício

profissional, e na empatia que estabelecemos com as preocupações, as angústias e o

sofrimento de muitos doentes e famílias em situações comoventes de fim de vida, aos

quais os cuidados curativos apenas podem mitigar a sua dor.

Page 21: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

21

A decisão da elaboração deste trabalho foi, também, a tentativa de contribuir para

melhorar a qualidade dos cuidados às pessoas/família, indo ao encontro das suas

necessidades e dos seus direitos.

O presente estudo encontra-se estruturado em quatro partes. Numa primeira parte

procedemos a uma breve contextualização do tema, tendo como base uma revisão

bibliográfica, que contextualiza teoricamente o problema, definindo teorias, conceitos e

palavras-chave. Numa segunda parte, expomos o enquadramento metodológico, onde

são descritas, todas as vertentes da investigação. Na terceira parte reservada à

apresentação, análise e discussão dos achados e por último as considerações finais

constituem a quarta parte deste trabalho.

Um estudo desta natureza, deve contribuir para uma caracterização do problema no

contexto da prática de enfermagem, podendo servir de ponto de partida para futuros

trabalhos neste âmbito. Colocam-se também algumas expectativas nos resultados deste

estudo, no sentido que ele possa contribuir para uma reflexão dos profissionais com a

possibilidade de partilha harmoniosa e natural das experiências e conhecimentos que os

enfermeiros possuem, para que os beneficiados sejam a profissão e os destinatários dos

cuidados prestados pelos seus profissionais.

De forma a melhor contextualizar o estudo, passamos então a clarificar conceitos

relacionados com o tema, bem como fazer uma breve caracterização do serviço no

capítulo que se segue.

Page 22: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
Page 23: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

PARTE I – Enquadramento Teórico

Page 24: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
Page 25: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

25

1-CUIDAR EM ENFERMAGEM

Cuidar é uma das expressões associadas ao Homem desde a sua existência, que sendo

antiga, está atual e plena de sentido, desde sempre o Homem teve necessidade de cuidar

e de cuidados.

As palavras, cuidar e cuidado são hoje em dia, banalizadas e vagas, utilizadas em

variados contextos, com as mais variadas conotações. Na saúde, é frequente falar-se de

cuidados médicos, cuidados de enfermagem, sistema de cuidados, instituições de

cuidados. O cuidado é uma atenção particular que se dedica à pessoa, e limitando o

conceito ao campo da saúde, “Prestar cuidados ou cuidar designa essa atenção especial

que se vai dar a uma pessoa que vive uma situação particular, com vista a ajudá-la, a

contribuir para o seu bem-estar, a promover a sua saúde” (Hesbeen, 2000, p.10).

Foi Florence Nightingale quem primeiro salientou o cuidar, como sendo um ato rodeado

de humanidade e profundidade, sentindo, uma necessidade de criar uma profissão

voltada para cuidar de pessoas (Sampaio, 2011).

Ao falarmos de cuidar, constatamos que ele requer um compromisso pessoal, moral e

social, pressupondo um estar com a pessoa como um outro eu. Cuidar significa ajudar a

pessoa a ser, ou seja reconhecer e utilizar o seu potencial humano, que lhe permite lidar

com os problemas da vida no seu contexto que lhe é presente (Watson, 1979).

Pressupõe ver o indivíduo na sua globalidade, como pessoa detentora de sentimentos,

emoções e necessidades físicas, psicológicas e espirituais, prestando os cuidados

atendendo a todas essas mesmas necessidades (Pacheco, 2002).

O verdadeiro cuidar não depende do contexto em que é exercido, mas do encontro e da

caminhada em comum entre o profissional cuidador e a pessoa, tendo intenção de

ajudar, e essa ajuda é prestada em ambos os sentidos, quer para o cuidador quer para a

pessoa ajudada: “ser prestador de cuidados exige, fundamentalmente, um espírito

profundo e genuinamente humano, manifestado pela preocupação com o respeito pelo

outro, e pelas ações pensadas e criadas por uma determinada pessoa” (Hesbeen, 2001,

p.17).

Page 26: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

26

Para se cuidar tem que haver interesse pelo outro, atendendo às suas dificuldades na

vida, reconhecendo a sua individualidade, a sua unicidade face à doença, tendo como

base os valores humanistas altruístas, revelando o desejo de ajudar, de ser útil e de

aliviar o sofrimento dos outros.

O respeito pela identidade de cada um é a base para a construção da relação de

confiança (SFAP, 2000).

Sendo uma atividade partilhada por outros profissionais da saúde, na medida em que

todos os membros de uma equipa devem valorizar a atitude do verdadeiro cuidar, este

reveste aspetos próprios da enfermagem. Neste sentido, Reich (1995, in Pacheco, 2002),

sublinha que nos cuidados de saúde, a atenção do cuidar é talvez mais evidente na

enfermagem. Assim, “Cuidar é o ideal moral da enfermagem, pelo que o seu objetivo é

proteger, melhorar, e preservar a dignidade humana” (Watson, 2002, p.55).

Cuidar em enfermagem é essencial, quando entendido como um processo pelo qual o

enfermeiro promove a qualidade de vida da pessoa humana.

O enfermeiro, no seu papel de satisfação das necessidades humanas básicas do

indivíduo, família ou comunidade, deve possuir sólidos conhecimentos científicos e

técnicos. Pacheco (2002) refere que o “cuidar” tem que considerar duas categorias – “ a

competência técnica e a sensibilidade afetiva”, e estas nunca devem ser separadas.

Desta forma, o cuidador tem que ser detentor de capacidades técnicas e conhecimentos

científicos, mas também de humanismo, sendo sensível às suas necessidades enquanto

ser humano. Deve ser capaz de “desenvolver atitudes de conforto e encorajamento,

mesmo quando a cura já não é possível e, neste caso, ajudar a pessoa a viver melhor até

ao momento da sua morte”, utilizando as capacidades técnicas e científicas na prestação

de cuidados globais à pessoa (Pacheco, 2002, p.34).

No contexto deste trabalho, trata-se de um cuidar da pessoa em fim de vida, enfatizando

a problemática da dor e do sofrimento.

Cuidar do doente em fim de vida, requer o conhecimento por parte dos profissionais de

saúde em que o objetivo dos cuidados nem sempre é o de curar, mas o de cuidar.

O processo de cuidar permite traçar com a pessoa cuidada e/ou família um horizonte

para onde ela pretenda caminhar, indo por vezes, até à morte serena. Neste caminho é

necessário tecer laços de confiança baseados no respeito pela pessoa, recorrendo à

Page 27: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

27

conjugação de pelo menos oito elementos: calor, escuta, disponibilidade,

simplicidade, humildade, autenticidade, humor e compaixão (Hesbeen, 2000).

Cuidar…esta arte que precede todas as outras, sem a qual não seria possível existir,

está na origem de todos os conhecimentos e na matriz de todas as culturas (Sampaio,

2011).

Rossa (2007) diz-nos que para cuidarmos necessitamos de respeitar os cinco “C” da

palavra Cuidar: Compaixão (como sendo o modo de se relacionar com o outro);

Competência (a forma de atuar do profissional); Confidência (nas pessoas e sistemas

de saúde); Consciência (que opera nos valores éticos e morais) e compromisso

(suporte da pessoa que é cuidada).

O cuidar vai além do tratar, do que é palpável, tendo em conta o potencial de cada

pessoa tem, para crescer e desenvolver-se.

O enfermeiro é o elemento da equipa de saúde que mantém uma relação mais intima

com o doente e a família não só por permanecer nos serviços durante um período mais

longo, mas também porque presta cuidados mais diretos onde as suas ações

influenciam, positiva ou negativamente, a vida das pessoas que são alvo dos seus

cuidados. Daí o dever de orientar a prática no sentido de que as pessoas que sofrem no

dia-a-dia, não sintam que têm de sofrer também o prejuízo da substituição do cuidar

pelo tratar (Rossa, 2007).

O conceito de cuidar, esteve desde sempre ligado à prática de enfermagem como sendo

a sua essência e a “mais velha prática da história do mundo” (Sampaio, 2011). Ainda

hoje se ouve expressões como “velar”, “cuidar”, “tomar conta” representando um

conjunto de atos que têm por função manter a vida.

Para Frias (2001) o cuidar em enfermagem está relacionado com a resposta humana

intersubjetiva às condições de saúde-doença e das interações pessoa-ambiente, cuidar é

“ atenção individual para”, “ preocupação com”,” responsabilidade individual por” “ou

providenciar para”. Ainda o mesmo autor realça as dimensões morais e éticas, ao

considerar o cuidado humano como um processo interpessoal de pessoa a pessoa, que

implica um compromisso moral. Este ideal moral reporta para a questão ética que

pressupõe um determinado conceito de Homem, com um fim em si mesmo, e conduz à

Page 28: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

28

questão da moral, do “dever ser” e do crescimento espiritual que deve promover,

preservar e fortalecer.

1.1-A PROBLEMÁTICA DA MORTE

Noutros tempos, a morte da pessoa era um acontecimento social. Envolvia os familiares,

amigos, vizinhos e pode-se, por isso, dizer que era uma “morte pública”. Atualmente, na

sequência dos avanços técnico-científicos e até das modificações sociais, a morte troca a

casa pelo hospital.

Segundo Casmarrinha (2008), a morte é um fenómeno que está presente ao longo da

vida humana, estando simultaneamente próxima e distante. A vivência da morte muda

de sociedade para sociedade, de cultura para cultura, de família para família e de pessoa

para pessoa. Cada pessoa reage de forma diferente à morte e está dependente da

multiplicidade de fatores que se conjugam e se diferenciam entre si. Porém também se

relacionam, principalmente, com os aspetos espaço temporais, socioculturais, pessoais e

educacionais.

A morte ao longo da história é vista como um fenómeno natural, embora atualmente,

tenha deixado de ser encarada dessa forma, passando a ser vista como um fenómeno

contrário à vida.

No entender de Pacheco (2002), esta nova conceção surgiu devido aos constantes

desenvolvimentos tecnológicos e científicos. Estes desenvolvimentos permitem o

tratamento e a superação de várias doenças, mas apesar de tantos avanços, a morte ainda

é vista como um problema que não tem solução, ou seja é uma cessação irreversível.

1.1.1-Caracterização do doente em fim de vida

Segundo Baron e Féliu (1996), parece não haver critério universal que possa definir ou

caracterizar esta pessoa doente. De fato, o que parece existir são algumas definições

inexatas relativamente ao período evolutivo da doença que a pessoa está a viver. Para os

mesmos autores fim de vida é aquela pessoa que apresenta um estado clínico que

provoca uma expetativa de morte a curto prazo.

Serrão (1990) afirma que a pessoa em fim de vida é aquela para quem a ciência e a

tecnologia não têm meios para suspender a morte.

Page 29: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

29

Segundo Báron e Féliu (1996) um doente em fim de vida é aquele que apresenta um

estado clínico que provoca expectativa de morte a curto prazo.

O mesmo autor salienta que definir um doente em fim de vida, não é fácil, alistando os

seguintes critérios:

Ter uma doença de causa evolutiva;

Estar em estado geral grave;

Ter uma perspetiva de vida não superior a dois meses;

Estar em falência de órgãos/sistemas;

Os tratamentos terem ineficácia comprovada e haver ausência de tratamentos

alternativos;

Ter complicações irreversíveis.

É comum que se use de forma indiscriminada os termos doente em fim de vida, doente

terminal ou moribundo.

Apesar de se utilizar esses conceitos de forma indiscriminada, há subjacente a todos

eles, um ser humano que ama, sente, pensa e que se encontra a viver os últimos

momentos da sua vida, rodeados ou não de seres com quem partilha uma relação

afetiva.

Segundo Twycross (2003), aqueles que se aproximam do fim da vida sentem

habitualmente um aumento ou uma renovação das suas necessidades de: afirmação e

aceitação; perdão e reconciliação; descoberta do significado e direção, necessitando

muitas vezes de auxílio espiritual e procurando resposta para o significado do

sofrimento e da dor, para um sistema de valores, para o significado da vida, para os seus

sentimentos de culpa na procura de Deus e da vida depois da morte.

Casmarrinha (2008) no seu estudo, alerta as todos quanto tem a oportunidade de ler o

seu trabalho para o fato desta etapa da vida acarretar um grande impacto emocional no

doente e respetiva família. É um período de manifestação de sentimentos, de

despedidas, de conclusões, de encerrar de ciclos carecendo, por isso, de alguma

privacidade e serenidade. Mas antes de tudo isto o doente poderá passar por todos ou

alguns estadios.

Page 30: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

30

1.1.2-Os cinco estadios do doente terminal

Toda esta etapa de vida provoca um grande impacto na pessoa e respetiva família. É um

período de expressão de sentimentos, de conclusões, de encerrar de ciclos, carecendo,

por isso de alguma intimidade e tranquilidade. No entanto com o desenrolar da doença,

o doente vai atravessando vários períodos de alteração que podem ser uma melhoria de

sintomas, uma certa estabilização bem como períodos de agravamento e progressão.

Casmarrinha (2008) identificou cinco estadios que o doente terminal vivência, são

estadios de duração variável que podem surgir simultaneamente, linearmente ou tendem

a sofrer um retrocesso mas que depois seguem um processo de evolução psíquica de

reparo para a morte.

Fase de negação e isolamento

Esta fase caracteriza-se por uma recusa temporária da realidade. O doente não se

encontra preparado para falar da informação que lhe foi fornecida, no entanto já

começou a assimilar. Segundo Abiven (2001) a primeira entrevista num doente em fase

terminal permite frequentemente entender a negação da sua doença na qual o doente faz

questão em se manter.

Nesta fase o doente passa por estados de agitação, ansiedade, insegurança e

perturbações do sono. Muitas são as vezes que negam a sua gravidade, mesmo quando

se encontra perante o agravamento dos sintomas da doença.

De acordo com Ferreira (2004) é uma fase onde o enfermeiro deve não contradizer o

paciente diretamente, deve manter sempre um canal de comunicação aberto com o

paciente e não deve evitá-lo. Se o doente começar a falar em termos realísticos sobre a

sua doença, o enfermeiro deve ouvi-lo com atenção.

Fase de raiva/revolta

Na perspetiva de Kubler - Ross (1998, p.55) “quando não é possível manter firme o

primeiro estádio de negação, ele é suprido por sentimentos de raiva, de revolta, de

inveja e de ressentimento”. O doente começa a confrontar-se com a morte e adota

comportamentos de raiva e ira, lamentando-se pela sua má sorte.

Page 31: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

31

Que segundo Marques (1994, cit. Lopes, 2002):

“ se o doente ultrapassa o estado de negação e começa a confrontar-se com a

morte, reage da forma típica com raiva e exprime a sua ira perante a sua má sorte. (…)o

doente tem tendência a deslocar e projetar a sua raiva contra o médico que não diagnosticou

a tempo a sua doença, os enfermeiros que não são suficientemente rápidos a responder aos

seus pedidos(…), contra Deus que lhe impõe a sentença de morte”.

Cabe ao enfermeiro o saber escutar e até, às vezes, superar alguma raiva irracional,

sabendo que o alívio proveniente do facto de tê-la exteriorizado contribuirá para melhor

aceitar as horas finais segundo referencia no seu trabalho (Kubler – Ross, 1998).

Fase da Negociação

Nesta fase o doente vai aceitando progressivamente o facto de estar prestes a morrer,

mas procura a todo o custo o prolongamento do tempo de vida que ainda lhe resta,

procurando a diminuição da dor e melhores cuidados.

Refere Ferreira (2004) que o enfermeiro não deve prometer mais tempo de vida, caso o

doente conte a sua negociação ao enfermeiro, este deve ouvi-lo sem o julgar e sem lhe

dar qualquer garantia.

Fase da Depressão

Nesta fase o doente consciencializa-se das consequências reais da sua doença,

apoderando-se dele um período de depressão.

Para Kubler-Ross (1969, cit. Lopes, 2002) define dois tipos de depressão característicos

do doente em fim de vida:

A depressão reativa pode ocorrer quando o doente se apercebe da sua impotência, que

se encontra relacionada com a perda de esperança perante a gravidade da sua doença.

A depressão preparatória dá-se aquando da experiência de perda iminente, de todos os

objetos amados, com o intuito de facilitar a aceitação.

Page 32: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

32

Fase de Aceitação

Esta é uma fase que por norma é tranquila, em que o doente aguarda serenamente a sua

morte, pois já aceitou. Ele/ doente teve a oportunidade nas fases anteriores de exprimir

os seus sentimentos, medos, angústias e problemas, consegue agora aceitar a sua

situação deixando de estar deprimido, o que não significa que haja resignação.

Nesta última fase, o doente aceitou a morte como algo inevitável e, o enfermeiro que

conseguir o mesmo será aquele que lhe poderá dar conforto nos últimos momentos. O

enfermeiro deverá prestar a assistência à família, e estes deverão permanecer ao lado do

doente, mantendo um contacto físico até à morte (Ferreira, 2004).

1.1.3-O sofrimento da pessoa e família face ao fim de vida

Os familiares do doente em fase terminal encontram-se em sofrimento pela eminência

da morte, tal como o próprio doente, pois encontram-se fragilizados sofrendo a angústia

da separação.

Sentimentos de ansiedade, desalento e instabilidade emocional são algumas das reações

que a família desenvolve, podendo mesmo chegar a evidenciar estado de depressão

grave, a desenvolver sentimentos de incapacidade e auto culpabilização, tendo receio de

não conseguir controlar as suas emoções junto do doente.

Todas as famílias passam por sentimentos de angústia e tristeza perante a

inevitabilidade da morte do parente próximo. Cada família vive esse tempo de forma

própria e adotará os seus próprios mecanismos de defesa que dependem da analogia

mantida com o doente. Assim a família vai fazendo de forma adequada o luto

antecipatório, que pode ocorrer desde que têm conhecimento da evolução inevitável da

doença.

A SFAP (2000, p.91) cita que o “Trabalho de luto é o processo humano, doloroso mas

dinâmico, que permite ao individuo, adaptar-se à perda e à separação”, para fazer o luto

cada pessoa encontra, nela mesma os recursos necessários, sendo os recursos exteriores

(amigos ou profissionais de saúde) um recurso suplementar, que nem sempre é

necessário.

Page 33: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

33

Para além de lidar com o sofrimento do doente, o profissional de saúde tem de apoiar a

família e gerar também o seu próprio sentimento, a angústia e o medo (Lopes, 2002).

1.2-CUIDAR EM FIM DE VIDA

A principal finalidade do processo de cuidar é o crescimento e desenvolvimento daquele

que é cuidado, embora também, o enfermeiro se sinta bem e cresça interiormente.

Moura (2011 p.162) no livro que escreveu, transmite a importância do cuidar em

qualquer etapa da vida e em particular na etapa final onde afirma “neste momento, em

que a cura já não é possível, torna-se necessário estabelecer uma verdadeira relação de

ajuda com o doente, de forma a possibilitar o máximo de bem-estar e plenitude no

tempo que lhe resta de vida”.

Numa perspetiva de cuidar o doente em fim de vida, compreendemos que o cuidar é

uma palavra que funde pensamento, sentimento e ação-saber e ser, mas para que seja

bem-sucedido, é necessário que o enfermeiro conheça os seus próprios problemas

existenciais, que se ocupe de si para que possa ter espaço para o outro.

Segundo Hesbeen (2000), os cuidados de enfermagem são a atenção particular prestada

por uma enfermeira ou por um enfermeiro a uma pessoa ou aos seus familiares com

vista a ajudá-los na sua situação. Englobam tudo o que os profissionais fazem, dentro

das suas competências, para prestar cuidados às pessoas. Pela sua natureza, permitem

sempre fazer alguma coisa por alguém a fim de contribuir para o seu bem-estar,

qualquer que seja o seu estado.

Para Hesbeen (2000) aquele que cuida é um “perito-metodólogo”, perito no sentido de

poder enquadrar o que é factível e, por ser vetor de esperança, enriquecendo o

horizonte, aumentando os caminhos possíveis.

A essência da prática de cuidado respeita a todos os profissionais da equipa

pluridisciplinar, “um encontro e um acompanhamento no quadro de um projeto de vida

com sentido e portador de esperança”.

O cuidado de enfermagem inscreve-se nesta perspetiva de cuidado. Contudo, a utilidade

da distinção da prática de enfermagem das outras práticas de cuidados está na sua

relação com certos meios que podem parecer mais específicos.

Page 34: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

34

Além daquilo que permite aos Enfermeiros exercer plenamente a sua prática de cuidado

em todas as suas dimensões, com meios por vezes muitos técnicos e, outras vezes que

são o menos, estes profissionais têm a oportunidade de oferecer mais serenidade à

pessoa cuidada e aos que lhe são próximos, a partir de uma multiplicidade de “pequenas

coisas (Hesbeen, 2000).

O ideal e o verdadeiro valor do cuidar é sem dúvida um ponto de partida, um local, uma

atitude, que terá de se tornar um desejo, uma intenção, um compromisso e um

julgamento consciente que se reflete em atos concretos e objetivos. O cuidar, como

ideal moral, vai para além do ato, ultrapassando o ato específico de um enfermeiro

individualmente e produz atos coletivos da profissão de enfermagem que tem

consequências e repercussões importantes para o ser humano.

O cuidar pode ser demonstrado e praticado eficazmente apenas de forma interpessoal. O

processo humano intersubjetivo mantém patente um valor comum de humanidade;

ensina-nos como sermos humanos através da nossa identificação com os outros, pelo

que o humanismo de um reflete-se no outro, na sua alteridade.

Segundo Watson (2002) cuidar requer elevada consideração e reverência pela pessoa e

pela vida humana, valores não paternalistas que estão relacionados com a autonomia

humana e liberdade de escolha.

O mesmo autor, afirma que a mente e as emoções da pessoa são janelas da sua alma. O

cuidar pode ser físico, processual, objetivo e factual, mas ao nível mais elevado, as

respostas humanas da enfermagem no cuidar, as transações humanas no cuidar, e a

presença do enfermeiro na relação, transcende o mundo físico e material, confinam no

tempo e no espaço, e estabelecem contacto com o mundo emocional e subjetivo da

pessoa como o caminho para o eu interior e para um sentimento mais elevado do eu.

Para Hesbeen (2000), tecer laços de confiança, equivale a dizer “creio que este

prestador de cuidados pode ajudar-me respeitando quem eu sou”. O que, à partida, pode

dizer respeito a um prestador de cuidados pode, progressivamente, implicar toda uma

“equipa”.

Parece-nos, pois, que tecer laços de confiança baseados no respeito pela pessoa e que

permitam caminhar com ela necessita da conjugação de, pelo menos, oito elementos

fundamentais no ato de cuidar:

Page 35: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

35

O calor, que permite que o beneficiário dos cuidados perceba o prestador de

cuidados como um ser caloroso, que não é hostil nem distante, que tem a

palavra, o sorriso, o olhar adequados e personalizados;

A escuta, que permite acolher a palavra do outro e que se pretende de ajuda,

graças à expressão das suas inquietações ou do seu sofrimento;

A disponibilidade, que permite ao prestador de cuidados mostrar que está ali,

presente a tal pessoa. Revela uma atenção particular. Permite escutar

serenamente – não de maneira artificial e apressada entre duas tarefas, por vezes

entre duas portas -, responder às perguntas, identificar as inquietações;

A simplicidade, que se caracteriza tanto por um comportamento como pelo

recurso a uma linguagem acessível. Os ares de sabedoria e as palavras

exageradamente complicadas podem dar uma imagem séria mas não facilitam o

estabelecimento de uma relação de confiança;

A humildade, que revela um profissional consciente dos seus limites, que tem a

ambição de prestar ajuda sem ter a pretensão de tudo dominar e de tudo saber

sobre a pessoa e que não quer exercer, no paciente e nos seus familiares, uma

forma de supremacia ligada ao seu estatuto profissional, o de “quem sabe”. Esta

forma de superioridade que se pretende impressionante é, muitas vezes,

percebida como insuportável, como infantilizam-te e alienante;

A autenticidade, que revela um profissional que exerce a sua profissão com

verdade para consigo e, por conseguinte, com verdade na relação que mantém

com os outros;

O humor, que permite não tornar pesada uma situação, mesmo dramática ou

difícil, revelando um prestador de cuidados capaz de recuar, relativizando as

coisas e identificando, tanto quanto possível, os aspetos positivos, insólitos ou

interessantes para o futuro.

A compaixão, que permite ao prestador de cuidados partilhar o sofrimento do

outro, carregar uma parte do fardo, aligeirando assim o fardo carregado pelo

doente e pelos seus familiares (Hesbeen, 2000).

Entendemos por “cuidar” o prestar atenção global, individual e continuada a um doente,

nunca esquecendo que ele é antes de tudo uma pessoa. A pessoa doente é sempre vista

como o centro da atenção de quem cuida e, por isso, nunca são esquecidos todos os

cuidados físicos, psicológicos ou espirituais de que precisa, para além dos cuidados de

Page 36: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

36

saúde exigidos pela doença em si, e que podem ser tão individuais e particulares quanto

possível, para cada uma das pessoas alvo do cuidar.

Pacheco (2004) refere que sempre houve necessidade da pessoa se cuidar a si própria,

cuidar dos outros ou ser cuidada e naturalmente foram criados laços de interdependência

entre as pessoas, uma vez que os homens sempre precisaram de se ajudar uns aos

outros.

Esta ajuda entre as pessoas ganha uma importância vital quando a pessoa atravessa

determinadas crises na sua vida. Para aqueles que se preocupam em tratar, muitas vezes

esquecendo o cuidar, o alvo dos seus cuidados é a doença, sendo a pessoa doente vista

apenas como um conjunto de órgãos que podem deixar de funcionar corretamente.

A presença de quem cuida não é apenas física e meramente profissional, mas sim a

presença de uma pessoa humana, capaz de escutar, compreender e ajudar. Cuidar é um

verdadeiro encontro com o outro, é estar inteiramente para o outro numa relação de

proximidade e de ajuda, caracterizada pela abertura, pela compreensão e pela confiança

(Pacheco, 2004).

Segundo o mesmo autor, cuidar é considerar a pessoa como um fim em si mesma, e não

apenas como um meio para fins científicos, técnicos ou institucionais, o que exige ser

sensível aos sentimentos da outra pessoa, manifestar interesse por ela, respeitá-la e

demonstrar atenção, compreensão, consideração e afeto.

O verdadeiro cuidar não implica desvalorizar a ciência médica e a técnica mas, pelo

contrário, utilizá-las para prestar cuidados globais e únicos à pessoa, não desvalorizando

em momento algum nenhuma das necessidades da pessoa doente, incluindo aquelas

para as quais se torna necessária a intervenção técnica.

Deste modo devem ser sempre consideradas as duas categorias do cuidar – a

competência técnica e a sensibilidade afetiva – que não podem, nem devem nunca,

existir separadamente.

Watson (2002) afirma que cuidar é, ainda, desenvolver atitudes de conforto e

encorajamento, mesmo quando a cura já não é possível e, neste caso, ajudar a pessoa a

viver melhor até ao momento da sua morte.

Page 37: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

37

1.2.1-Direito da pessoa em fim de vida

A pessoa em fim de vida perceciona a sua situação, pois está prestes a um confronto

com uma realidade muito próxima. É uma situação que será influenciada pelos aspetos

culturais, pela sua personalidade, pelo tipo de aprendizagens anteriores que teve e pelas

mensagens que obtém dos profissionais. Assim, cabe a cada elemento da equipa tomar

consciência das mensagens que transmite no processo de cuidar e dos direitos de que a

pessoa dispõe. Pelo que o profissional de saúde, tem o dever de fazer valer os direitos

da Pessoa em fim de vida, porque, esta Pessoa é um ser único com necessidades,

valores, convicções, que tem simultaneamente deveres e também direitos. Pires (1995)

descreve-os como:

Direito de ser tratado como um ser humano até morrer;

Direito de ser aliviado na dor;

Direito de participar nas decisões relativas aos cuidados que lhe são prestados;

Direitos de contar, com uma constante atenção médica e com uma continuidade

de cuidados, mesmo que os objetivos de cura devam ser mudados para objetivos

de suporte;

Direito de ser tratado por pessoas sensíveis, motivadas, competentes, que tentem

compreender as necessidades de quem se encontra a morrer e encontrem

satisfação pessoal na ajuda que lhe dão em relação à morte;

Direito de ser tratado por pessoas capazes de conservar sentimento de confiança,

qualquer que seja as mudanças que possam advir;

Direito a que lhe respondam honestamente às suas questões;

Direito a não ser enganado;

Direito de conservar um sentimento de esperança qualquer que seja a sua

mudança que possa via a acontecer.

Direito de exprimir à sua maneira os seus sentimentos e emoções, face à sua

própria morte;

Direito de conservar a sua individualidade e de não ser julgado pelas suas

decisões que podem ser contrárias às convicções dos outros;

Direito a discutir e a aprofundar a sua experiência religiosa e espiritual, qualquer

que seja o significado que ela tem para os outros;

Direito para a aceitação da morte, a receber a ajuda da família e que esta também

receba ajuda;

Page 38: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

38

Direito a não morrer só;

Direito de esperar que a dignidade do seu corpo seja respeitada após a sua morte;

Direito de morrer em paz e com dignidade.

O direito de morrer com dignidade implica que todos os direitos anteriormente descritos

sejam cumpridos. Morrer com dignidade, é manter até ao fim a sua identidade, de ser

único que é, é ser tido em consideração por aqueles que o rodeiam e não ser abandonado

ao destino que lhe está reservado, numa solidão imensa e profunda.

1.2.2-Deveres do Enfermeiro

A vida humana e o sentido da existência da vida giram em torno de valores como o

respeito pela vida e pela qualidade dessa mesma vida. A ação dos enfermeiros juntos

dos doentes em fim de vida é o de assegurar o direito primordial da pessoa morrer com

dignidade. Pois “morrer” é bem mais do que um direito. É um facto universal, talvez se

possa afirmar, como o acontecimento mais universal da vida humana.

Sob a perspetiva ética e deontológica, cabe ao enfermeiro o dever de acompanhar o

doente nas diferentes etapas da fase terminal.

Segundo o Estatuto da Ordem dos enfermeiros e de acordo com o código deontológico

do enfermeiro, no artigo 87º são descritos os deveres de respeito pelo doente em fim de

vida. É dever do enfermeiro:

Defender e promover o direito do doente à escolha do local e das pessoas que

deseja que o acompanhem na fase terminal da vida;

Respeitar e fazer respeitar as manifestações de perda expressas pelo doente em

fase terminal, pela família ou pessoas que lhe sejam próximas;

Respeitar e fazer respeitar o corpo após a morte.

A morte de uma pessoa é muito mais do que algo biológico, tal como o campo de ação

do enfermeiro não reside apenas no corpo mas na pessoa com tudo o que ela encerra:

valores, crenças, sentimentos, convicções, hábitos. Daí, os problemas éticos que se

colocam aos enfermeiros e que “ iluminam a sua ação levam a que”, todos os outros

artigos do Código Deontológico da Enfermagem, devam ser tidos em conta, sobretudo

os que se relacionam com os valores humanos, os direitos à vida, o direito ao cuidado,

Page 39: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

39

que preconizam o respeito pela intimidade e a humanização dos cuidados (Vieira, 2000,

p.32).

1.2.3-Relação de ajuda

O enfermeiro é o elemento da equipa que mantém uma relação mais íntima com o

doente/família, não só por permanecer nos serviços de saúde durante um período longo,

mas também porque é ele que presta mais cuidados diretos.

Refere Pacheco (2004) é o enfermeiro que está mais próximo do doente, é geralmente o

enfermeiro que melhor conhece e compreende o doente na sua singularidade.

O mesmo autor salienta ainda que o diálogo, a atenção e o acompanhamento assumem

uma grande importância quando o doente se encontra em fim de vida.

Segundo Timby (2007), um relacionamento, associação entre duas ou mais pessoa,

ocorre durante o período em que são prestados cuidados de enfermagem, estabelecendo-

se, assim, uma relação entre o enfermeiro e o doente.

A atuação do enfermeiro é sem sombra de dúvida o cuidar do doente, e nestas situações

deve consistir essencialmente numa verdadeira relação de ajuda. Esta relação deve ser

pautada por um respeito e uma atenção constante, que nunca se deve limitar à simples

presença física, mas sim baseada numa verdadeira escuta e na congruência. Resumida

num leque de sentimentos genuínos.

Segundo Pinto (1991) os profissionais de saúde nomeadamente os enfermeiros sentem-

se desarmados perante a angústia das pessoas em fim de vida, com os quais têm

dificuldade em estabelecer uma relação de ajuda.

Outro autor fala-nos de que relação de ajuda não implica necessariamente uma presença

constante mas sim uma presença atenta, o que significa que todas as atitudes do

enfermeiro deverão ser orientadas para a escuta, para a empatia e para a congruência.

Para Phaneuf (2005, p.12), a relação de ajuda consiste num “processo que visa

essencialmente a tomada a cargo de si própria pela pessoa cuidada, e não pela

enfermeira. Salienta ainda a importância do enfermeiro que “age sobre a confiança que

consegue suscitar (…), sobre as trocas que decorrem entre elas, sobre o que ela retém do

seu ensino, sobre a ajuda que ela consegue fazer-lhe aceitar e em suma sobre a evolução

desta pessoa para a melhoria do seu estado”

Page 40: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

40

Ainda a mesma autora, “a relação de ajuda bem aplicada, dá aos cuidados uma eficácia

e uma qualidade humana que lhe confere, ao mesmo tempo que um carácter de

profissionalismo, uma melhor visibilidade do que faz a enfermeira” (p.13).

O estabelecimento de uma “relação feita de escuta e de compreensão é, com efeito, um

verdadeiro bem, uma dádiva da enfermeira para a pessoa cuidada para a ajudar a

ultrapassar as suas dificuldades. E esta relação é fértil, evidentemente, visto que é

portadora de alívio da ansiedade, de libertação de certas emoções, de serenidade e de

amor pelo outro” (idem, p.322).

Um aspeto muito importante nesta relação, é que o enfermeiro não pode considerar a

pessoa como inferior só por se encontrar doente. Para que a relação surja, é necessário

que as pessoas envolvidas se respeitem e se reconheçam como seres iguais.

A afetividade é um aspeto muito importante nesta relação, permitindo que surja uma

relação de confiança entre o enfermeiro e o utente.

A relação não deve ser usada somente como instrumento de cura, mas também como

ajuda para a autorrealização da pessoa a quem se presta cuidados. A manifestação das

qualidades humanas, como a autenticidade, respeito e compreensão, são muito

importantes para que a relação de ajuda surja.

Na relação de ajuda, o enfermeiro deve integrar o sofrimento da pessoa com quem está,

para mais facilmente estabelecer esta relação. Este tipo de relação, tem como objetivo

“favorecer no outro o crescimento, o desenvolvimento, a maturidade, um melhor

funcionamento e uma maior capacidade de enfrentar a vida” (idem, p.324).

A relação de ajuda é considerada como terapêutica.

Segundo Phaneuf (2005), os cuidados físicos ou a satisfação de certas necessidades de

base podem ser preliminares ou complementares ao estabelecimento de uma relação de

ajuda (p.325).

Os objetivos da relação de ajuda têm por base ajudar a pessoa cuidada a:

“Colocar a sua dificuldade em palavras a fim de que ela possa perceber-se como

uma interveniente ativa na sua própria situação;

Aceitar a dor ou as dificuldades de uma situação com mais serenidade;

Page 41: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

41

Ver o seu problema mais claramente, de maneira mais realista, nas suas justas

proporções, e modificar as suas perspetivas sobre o assunto, em caso de

necessidade;

Apresentar à enfermeira o seu problema como se lhe coloca, enquanto ser único

nas condições que lhe são particulares;

Compreender e comunicar às pessoas que ajuda as diferentes ligações entre os

acontecimentos da sua vivência e as diferentes relações de força que se exercem

entre as pessoas chave da sua vida para chegar a uma melhor compreensão de

um problema ou de um conflito;

Exprimir os seus sentimentos e as suas opiniões, mesmo se são negativos;

Libertar a sua tensão;

Sentir-se escutada, aceite tal como é, e compreendida, para que em seguida seja

capaz de se aceitar a ela própria tal como é;

Abrir-se aos outros e sentir-se mais à vontade para comunicar;

Ter em conta os outros e tornar-se consciente das suas responsabilidades;

Estabelecer uma relação significante com uma enfermeira que servirá de

trampolim para o estabelecimento de outras relações interpessoais;

Desenvolver uma autoimagem mais positiva;

Modificar certos comportamentos que prejudicam a sua adaptação;

Encontrar um sentido para a sua dificuldade;

Adaptar-se a uma situação à qual não se poderia adaptar sem ajuda;

Conhecer os recursos pessoais de que dispõe para resolver as suas dificuldades;

Ver a vida de forma mais confiante e mais positiva, e a formular objetivos de

vida, suas dificuldades na sua vida e resolvê-las se possível;

Enfrentar a morte com dignidade e serenidade” (idem, p.327).

Segundo Phaneuf (2005), as principais atitudes ou habilidades próprias da relação de

ajuda “encontram-se numa certa conceção do ser humano em que o respeito pela

dignidade da pessoa, pela sua liberdade e pela sua autonomia é primordial (p.334),

sendo elas: a aceitação; o respeito e a empatia.

A aceitação é “um sentimento de abertura à experiência do outro, ao seu sofrimento e à

sua maneira de ser sem exigência de mudança, o que constitui a primeira condição para

o estabelecimento de uma relação de ajuda.” (idem, p.337).

Page 42: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

42

Para uma melhor aceitação, deve-se pensar na dignidade da pessoa como ser humano;

pensar no passado da pessoa e em como também pode ajudar; acreditar que a pessoa

pode evoluir; tomar consciência das dificuldades vividas pela pessoa/família e

reconhecer os seus sentimentos reais.

O respeito é a “qualidade pela qual a pessoa que ajuda reconhece a enorme dignidade e

o enorme valor da pessoa ajudada apesar da sua aparência física, do seu carácter, dos

seus comportamentos e dos seus hábitos de vida. O respeito caracteriza-se por:

• Uma atitude de deferência e de consideração positiva;

• Reconhecimento de que a pessoa ajudada é capaz de demonstrar coragem, de suportar

a adversidade, de evoluir e de mudar o seu modo de vida, e, conforme o caso, de se

responsabilizar por si, de modificar os seus comportamentos e de tomar as suas próprias

decisões” (idem, p.340).

No que respeita à empatia, esta é caracterizada por ser “um profundo sentimento de

compreensão da pessoa que ajuda e que percebe a dificuldade da pessoa ajudada, como

se ela penetrasse no seu universo, como se ela se colocasse no seu lugar para se dar

conta do que ela vive e da forma como o vive, e que lhe leva o reconforto de que tem

necessidade, mas sem se identificar com o seu vivido e sem ela própria viver as

emoções” (idem, p.347).

Existem vários meios de manifestar a empatia, sendo eles:

• “O comportamento não verbal ajustado ao estado de alma da pessoa ajudada;

• O tocar que exprime a compreensão, a vontade de reconfortar a pessoa;

• As palavras que exprimem a vontade de partilhar a dificuldade;

• A utilização das respostas-reflexo para mostrar a sua compreensão sobre o que vive a

pessoa;

• Um tom de voz sincronizado com as emoções do momento” (idem, p.349).

Para uma relação de ajuda mais eficaz, é muito importante que exista autenticidade e a

congruência.

A autenticidade corresponde à “capacidade da pessoa que ajuda de permanecer

sinceramente ela própria no decurso da relação com a pessoa ajudada” (idem, p. 359).

Page 43: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

43

No que respeita à congruência, esta é definida como a “maneira de ser da enfermeira,

que manifesta uma certa consistência entre o que ela sente, que ela pensa, o que ela diz

e o que ela faz, e entre o seu comportamento verbal e o seu comportamento não verbal”

(idem, p.365).

A confrontação pode ser utilizada como um instrumento de crescimento pessoal para a

pessoa ajudada, sendo definida como “maneira de proceder na relação de ajuda que leva

a pessoa ajudada, sem agressividade, nem negativismo, a tomar consciência dos seus

procedimentos, do ilogismo e do irrealismo dos seus dizeres ou das suas ações, ou ainda

da distância que existe entre as suas palavras e o seu agir, e entre o que ela faz e os

objetivos de vida que determina para si.

Na relação de ajuda, além da escuta, o toque, o olhar e o silêncio são muito importantes.

O toque é considerado um dos meios de contacto mais direto, sendo através dele que o

profissional pode captar e dar informações, receber e transmitir mensagens. Quando

utilizado no momento oportuno, o toque apresenta extrema importância e valor

terapêutico, porque raramente deixa indiferente a pessoa que necessita de ajuda,

podendo ser o último modo de contacto, quando não se sabe o que dizer. Em relação ao

olhar, a sua importância revela-se quando, ao olhar para o utente, fazemos com que este

sinta que existe para nós.

1.2.4-Humanização do cuidar

Para que possamos prestar uma adequada assistência de enfermagem aos doentes em

fase terminal, não basta apenas competência técnica de alto nível. É preciso que haja

profissionais sensíveis ao sofrimento humano, capazes de se envolverem de forma

positiva com quem sofre, dispostos ao diálogo, respeitadores da liberdade,

reconhecedores da dignidade do ser humano nas circunstâncias mais adversas. Pois, se

humanamente é impossível vencer a morte, devemos descobrir algo para amenizar e dar

sentido à experiência de perda (Thomas, 2004).

Para que os enfermeiros sejam agentes de humanização é importante que sejam

possuidores de uma identidade pessoal dinâmica e em constante auto - atualização, que

apresentem valores e crenças individuais mas que sejam capazes de se adaptar às

situações que lhe vão surgindo, desenvolvendo as suas capacidades intelectuais,

Page 44: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

44

praticando a sua relação interpessoal com a pessoa doente, aceitando o seu quadro de

valores, crenças e desejos individuais.

Atualmente, um dos objetivos maiores no processo de saúde é a Humanização dos

cuidados, e cada vez mais, à nossa sociedade, se exige e sente-se a necessidade de

humanização.

Quando se fala em atendimento humanizado, pensa-se num processo, cujo o objetivo é

facilitar a pessoa que se encontra vulnerabilizada, a enfrentar positivamente os desafios

pelos quais está vivenciando naquele dado momento.

Estanque (2011) na sua tese de mestrado realça a importância do fim de vida da pessoa

humana, tratando-se de uma fase da vida, com um valor inestimável, que não é inferior

a nenhuma outra fase da vida humana, reivindicando-se por isso, uma maior

humanização do processo de morrer.

Segundo Pinto (1996), humanizar é tornar humano, cuidar a pessoa como pessoa, dar-

lhe atenção e responder de uma forma positiva a toda a sua esperança, quando confiou

nos serviços de saúde e a eles recorreu para reencontrar-se na plenitude da sua

realização pessoal.

O conceito de prestar cuidados ou cuidar designa a atenção especial que se vai dar a

uma pessoa que vive uma situação particular com vista a ajudá-la, a contribuir para o

seu bem-estar, a promover a sua saúde (Hesbeen, 2000).

Para que esse cuidado seja possível, torna-se necessário olhar para si e para o outro, na

tentativa de que o autoconhecimento colabore positivamente no cuidado de cada ser.

Deste modo, ao enfermeiro, é pedido que preste cuidados de enfermagem humanizados

que visem o bem-estar físico e psicológico ou seja o reencontro com o seu equilíbrio

(Cabral, 2001). O mesmo autor afirma que a primeira regra e que deve estar na base da

humanização é o respeito pelo ser humano que cada um de nós é. É o encontro entre

cuidador e o ser cuidado, na intenção da criação de um elo empático que norteará as

ações para o cuidado.

Assim Martin (2004, in Pessini e Bertachini, 2004) desenvolveu a ideia de que as

considerações éticas vão fundamentar as ações para o cuidado seguindo quatro

princípios ou valores: a autonomia, a beneficência, não-maleficência e a justiça. O

mesmo autor acredita que a ética tem vasta contribuição no processo de humanização

Page 45: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

45

hospitalar fundamentando-se racionalmente na defesa do resgate à dignidade humana no

que se refere ao cuidado hospitalar.

O autor anteriormente citado ainda relata que os valores predominantes em um ambiente

tecnocientífico do hospital, são o conhecimento científico e a eficiência técnica, e o

principal alvo da atenção do profissional da saúde passa a ser a doença e sua cura.

Almeida (2009), fala-nos do termo humanização que é algo aplicado aquelas situações

em que, além de valorizar o cuidado em suas dimensões técnicas e cientificas,

reconhecem-se os direitos do doente, respeita-se a sua individualidade, a sua dignidade,

a sua autonomia, e a sua subjetividade, sem esquecer de reconhecimento do profissional

também enquanto ser humano, ou seja, pressupõe uma relação sujeito/sujeito.

À medida que nos aproximamos das relações do cuidado para verificar as suas

dimensões/significados, nos deparamos com o sentido de que se existe um ser a ser

cuidado existirá um indivíduo que cuida.

Para que haja um avanço nas discussões sobre o cuidado, torna-se necessário que o

enfermeiro adote a postura de colocar-se no lugar do ser que é cuidado para poder

vislumbrar de uma forma mais aproximada quais são suas reais necessidades, e que o

contexto familiar e institucional seja reorganizado, garantindo conforto, resolutividade e

atendimento humanizado para os protagonistas do cuidado, seres que cuidam e seres

que são cuidados.

Waldow (1998) defende que quando se fala em cuidado já está embutida a

humanização, afinal, o cuidado é oferecido a seres humanos.

“Humanizar o cuidar é dar qualidade à relação profissional da saúde-paciente. É

acolher as angústias do ser humano diante da fragilidade de corpo, mente e espírito. Destaca-

se nesse contexto a presença solidária do profissional com habilidade humana e científica.

Diante de um cotidiano desafiador pela indiferença crescente, a solidariedade e o atendimento

digno com calor humano são imprescindíveis. Ser sensível à situação do outro, criando um

vínculo, graças a uma relação dialogal, para perceber o querer ser atendido com respeito,

numa relação de diálogo e de necessidades compartilhadas”.(apud Pessini e Bertachini, 2004,

p.4).

Muitas são as situações em que os profissionais da saúde e nomeadamente os

enfermeiros se encontram em situações em que podem ser designados como

profissionais da doença, em que a maior preocupação é tratar /curar a sintomatologia do

indivíduo, esquecendo-se que por detrás daquela história clínica está um ser humano

com toda a sua família, suas crenças, religião, princípios, o que não pode ser descurado

Page 46: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

46

e que muitas são as vezes a pessoa e a família, não entendem o que está a ocorrer na

naquele momento necessitando muito de serem ouvidos, quanto aos seus medos,

receios, incertezas. Isso é uma forma de desumanização. O paciente fica fragmentado,

despersonalizado quando são identificados por sua patologia, pelo número da sua cama

ou mesmo do quarto e seus nomes entram em desuso. Em nome de um cuidado voltado

à ciência e à eficiência, o corpo e o saber sobre o corpo são abandonados, em detrimento

de uma alta tecnologia e pouco conhecimento sobre o que sente, ao ser cuidado.

1.2.5-Mecanismos de defesa e estratégias de adaptação dos que prestam cuidados

Neves (2000) aponta que em trabalhos realizados os enfermeiros desenvolvem muitas

vezes, mecanismos de defesa. Apontando seis mecanismos de defesa que passo a

descrever:

A mentira - o enfermeiro fala de inflamação no lugar do cancro ou de abcesso

em vez de tumor. Este mecanismo permite ao enfermeiro sair da situação

geradora da angústia, mas é muito prejudicial para o doente.

Fugir para a frente - o enfermeiro mantém uma esperança artificial quando o

doente não acredita nisso.

A racionalização - utilização de termos técnicos complicados, o enfermeiro fica

tranquilo por não mentir ao doente e pensa ser menos violento para ele. Evita,

assim, envolver-se emocionalmente com o doente.

O evitamento - o enfermeiro encara o doente apenas como um objeto técnico

dos seus cuidados, evitando qualquer tipo de relacionamento.

A identificação projetiva - o enfermeiro identifica-se de tal modo com o utente

que deixa de conseguir diferenciar os seus sentimentos dos do doente.

Sabemos pois, que cada enfermeiro encara a morte de forma distinta. O

desenvolvimento de confiança, nas suas capacidades e nas suas competências, o

sentimento dos evidentes e reconhecidos benefícios às pessoas dos doentes e à

sociedade, a retribuição afetiva da parte de alguns doentes e de alguns familiares, torna

possível que os enfermeiros atinjam um nível de maturidade, no qual pode reconhecer

que os seus momentos de sofrimento e de angústia se transformaram em fatores

enriquecedores do seu percurso profissional e até pessoal.

Page 47: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

47

Daí, competência e o aperfeiçoamento profissional se encontrarem regulamentados, no

artigo 78º do Código Deontológico do Enfermeiro, como um dos valores universais a

considerar.

1.3- APOIO À FAMÍLIA DO DOENTE EM FASE TERMINAL

Um profissional de saúde é acima de tudo um ser humano. Desta forma, é detentor de

emoções e sentimentos que interferem com a prestação de cuidados ao doente e família.

Para uma prestação de cuidados de excelência, é essencial que o profissional reconheça

e faça uma adequada gestão dos seus sentimentos. Por se revelar um assunto de difícil

abordagem, existe uma forte tendência para reprimir todas as emoções, conduzindo a

sentimentos de incapacidade e frustração na prática diária dos profissionais de saúde

(Lima e Simões, 2007).

Considerando o indivíduo inserido num seio familiar, é função do enfermeiro intervir

junto deste, valorizando de igual forma os seus sentimentos. Assim, Jardim (2006,

p.199), afirma que:

“O despedir-se da pessoa falecida, (…) o desejo intenso de querer que a pessoa continue

ali, (…) o ressentimento de nunca contar o quanto a amava, o pesar de querer estar junto

mesmo que não a possa ver (…). São vivências que qualquer pessoa em luto experiencia.

(…). Até que um dia muda qualquer coisa, algo dentro da pessoa faz querer encontrar de

novo o seu caminho. E a própria pessoa enlutada começa, muito devagarinho, a pensar

que vale a pena viver (…)”.

Cabe ao enfermeiro o dever de uma intervenção ativa face à família, não só durante o

internamento da pessoa doente, mas também no período pós-morte. Assim sendo,

Ferreira (1999) afirma que o papel do enfermeiro é crucial no apoio à família no

restabelecimento do equilíbrio e na assimilação da perda sofrida. Os principais

problemas observados nos familiares são as perturbações cognitivas, afetivas e

comportamentais que por sua vez, acarretam alterações na vida pessoal, social e

profissional (Ferreira, 1999; Cerqueira, 2004).

Segundo Lima (2006), o enfermeiro deve reunir esforços para integrar a família da

pessoa em fase terminal na equipa de saúde para que, como no domicílio, a morte no

hospital seja um acontecimento familiar. Para que tal suceda, este deverá criar as

condições físicas necessárias, para que a família possa permanecer junto do seu familiar,

durante o tempo que desejar. Para além disso, deverá encontrar estratégias que

Page 48: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

48

permitam encorajar a família a assistir e mesmo a participar nos cuidados prestados ao

doente, incentivando-a, por exemplo, a colaborar nos cuidados de higiene e

alimentação. De uma maneira geral, o enfermeiro deverá proporcionar um ambiente

calmo, cuidado, demonstrando uma atitude individualizada, mesmo no meio da

dinâmica hospitalar.

1.3.1-Necessidades da família no doente em fim de vida

No sentido de auxiliar o indivíduo e a família no processo de luto, Jardim (2006) propõe

como objetivos: prevenir as reações de perturbações do processo de luto; reduzir a

vulnerabilidade emocional; ajudar no reajustamento face à perda; potenciar os

elementos adaptativos que cada pessoa apresenta e que muitas vezes desconhece;

promover a expressão de emoções e sentimentos e ajudar a reconhecer a natureza das

dimensões da perda.

Com o propósito de conseguir os melhores resultados possíveis é fundamental

considerar a perspetiva de Ferreira (1999), cada elemento da família é único e encara a

perda do ente querido de forma singular. Daqui decorre a necessidade da adoção de

comportamentos e ações de enfermagem individualizados, considerando cada caso em

especial e não a utilização de frases feitas e de procedimentos estereotipados. No

entanto, é recomendado atender a alguns cuidados gerais face aos familiares em luto,

tais como:

Sensibilizar a família para as vantagens dos seus cuidados à pessoa

doente, o que poderá facilitar a aceitação posterior da perda;

Aceitar os rituais e costumes da família para lidar com a morte;

Providenciar um ambiente adequado à livre expressão de sentimentos;

Dar tempo à família para se descobrir a si própria e aos seus recursos;

Perceber qual o papel que o doente ocupava na família;

Utilizar uma linguagem acessível;

Auxiliar no reconhecimento da natureza das dimensões da perda.

Potenciar os elementos adaptativos que cada pessoa apresenta e que

muitas vezes desconhece;

Propor grupos de apoio adequados a cada situação;

Desenvolver um trabalho pluridisciplinar.

Page 49: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

49

A relação interpessoal enfermeiro/família é sem dúvida determinante para a qualidade

dos cuidados prestados ao doente, uma vez que tal com diz Colliére (1989), é esta

relação que se torna o eixo dos cuidados, no sentido em que é simultaneamente o meio

de conhecer o doente e de compreender o que ele tem, ao mesmo tempo que detém em

si próprio um valor terapêutico.

1.4- CARACTERIZAÇÃO DO CONTEXTO DA PESQUISA

Neste subcapítulo faremos uma breve caracterização do local onde decorreu o estudo,

que consideramos necessária de forma a contextualizar a nossa pesquisa e a facilitar o

conhecimento da instituição pelos leitores.

De acordo com Quivy e Champenhoudt (1998), o campo de análise do estudo deve ser

claramente circunscrito num espaço, geográfico, social e temporal. Fortin (1999)

acrescenta ainda que é o investigador quem define o meio onde o estudo será

conduzido, justificando a sua escolha.

De acordo com o objetivo da investigação e a problemática em estudo, o nosso campo

de análise incidiu sobre o Serviço de Especialidades Médicas de uma Unidade

Hospitalar da Região Centro do país, nomeadamente do CHMT, EPE – Unidade de

Torres Novas.

A opção pela Unidade de Torres Novas e pelo serviço em si deve-se ao fato de ser esse

o local onde exercemos a nossa atividade profissional e por conseguinte, conhecermos

melhor esta realidade e suas necessidades, o que facilita também uma melhor gestão do

tempo no decurso do estudo. Pensamos ser um passo inovador, na medida em que até

agora nunca foi realizado um estudo destas características, constituindo como uma

mais-valia, não só como desenvolvimento pessoal do investigador mas também para o

desenvolvimento da profissão no contexto da prática, na medida em que os resultados

deste estudo poderão contribuir para a reflexão necessária para a melhoria dos cuidados

de enfermagem em que todos nos sentimos empenhados.

Enquadramento histórico

O atual edifício foi inaugurado em Outubro de 2000, com excelentes condições para a

prestação de cuidados de saúde.

Page 50: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

50

O Grupo Hospitalar do Médio Tejo, criado pela Portaria n.º209/2000,de 6 de Abril,

uniu então os designados Hospitais Distritais de Torres Novas, Tomar e Abrantes, os

quais embora mantendo a sua natureza de pessoas coletivas públicas com autonomia

administrativa e financeira, passaram a estar sujeitos a uma coordenação comum. Esta

junção, nasceu da necessidade de rentabilizar recursos humanos, financeiros e técnicos,

promovendo a complementaridade.

Em 2001, a Portaria n.º1277, de 13 de Novembro extinguiu os três hospitais distritais e

integrou-os numa única instituição, com uma gestão comum e integrada. O Centro

Hospitalar do Médio Tejo.

Posteriormente, em Dezembro de 2002, o DL n.º 301/2002 transformou o Centro

Hospitalar em sociedade anónima de capitais exclusivamente públicos, com a

designação de Centro Hospitalar do Médio Tejo, SA.

A última alteração é feita em Dezembro de 2005, através do DL n.º 233/2005, que

transforma os 3 hospitais SA existentes, em Entidade Publica Empresarial (EPE).

De acordo com a Entidade Reguladora da Saúde (ERS, 2011, p.13) os hospitais EPE,

são considerados estabelecimentos públicos, dotados de personalidade jurídica,

autonomia administrativa, financeira e patrimonial e natureza empresarial.

Enquadramento na região

O CHMT, engloba uma área composta por 15 concelhos, servindo uma população de

cerca de 266 mil habitantes. Até há bem pouco tempo, os concelhos de Tomar, Ferreira

do Zêzere e Ourém, eram servidos pela Unidade de Tomar, e os Concelhos de Torres

Novas, Alcanena, Entroncamento, Golegã e Vila Nova da Barquinha, eram servidos

pela Unidade de Torres Novas.

A Unidade de Abrantes era a mais abrangente em termos de área e de população que

servindo para além do concelho de Abrantes os concelhos de Constância, Sardoal,

Gavião, Vila de Rei, Mação e Ponte de Sôr.

Presentemente, o Centro Hospitalar encontra-se em fase de restruturação, com a

centralização e desenvolvimento de Serviços, estando a urgência Médico Cirúrgica

baseada na Unidade Hospitalar de Abrantes.

Page 51: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

51

Tal como noutras instituições de saúde, o Centro Hospitalar possui um quadro

conceptual onde estão definidos os princípios e valores que norteiam a forma de estar e

de agir dos seus profissionais.

Missão do CHMT e Quadro de Referência de Enfermagem no Serviço de

Especialidades Médicas

A Missão do CHMT inserta no seu regulamento interno, refere que esta organização se

diferencia no seu desenvolvimento de Serviços eficientes e inovadores de diagnóstico e

no tratamento em ambulatório. Diferencia-se ainda pela universalidade e acessibilidade

a três unidades estrategicamente colocadas na região do Vale do Tejo, pelo seu

compromisso com o doente, assumindo-se como um Centro de elevada competência na

organização assistencial e uma referência no esforço de investigação, desenvolvimento

e inovação na prestação de cuidados de saúde.

Na unidade de Torres Novas o Serviço de Especialidades Médicas situa-se no 5º piso e

é assim denominado porque, integra para além da especialidade de Medicina Interna a

especialidade de Pneumologia. Os doentes podem ser caraterizados como sendo adultos,

idosos a vivenciar processos de saúde/doença crítica/crónica, paliativa e incapacitante

com vista à promoção da saúde, prevenção e tratamento da doença, readaptação

funcional e reinserção social, ou acompanhamento do processo de morte e de morrer.

A equipa de enfermagem estabeleceu no seu quadro de referência o modelo conceptual

da prestação de cuidados preconizado pela Ordem dos Enfermeiros para o

desenvolvimento dos padrões de qualidade em enfermagem. O quadro de referência

reflete o código deontológico e preconiza-se uma prática consentânea com a melhoria

contínua dos cuidados e com o desenvolvimento das competências dos enfermeiros de

cuidados gerais e especializados.

A estrutura física do serviço permite a prestação dos cuidados de enfermagem de acordo

com o rigor técnico exigido, mas as atividades de apoio emocional estão comprometidas

por falta de uma área mais reservada para o efeito.

O sistema de informação é o aplicativo SAPE parametrizado com a Classificação

Internacional da prática de enfermagem, o qual permite a manutenção de um sistema de

classificação de doentes.

Page 52: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

52

O método de distribuição utilizado é o método de enfermeiro responsável, favorecedor

de uma conceção holística do cuidar.

Terminada a contextualização do estudo e a breve caracterização do serviço, passamos

às opções metodológicas que nortearam a nossa investigação, o que constitui um novo

capítulo do nosso trabalho.

Page 53: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

PARTE II – Enquadramento

Metodológico

Page 54: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
Page 55: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

55

1-ENQUADRAMENTO DA METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO

Um trabalho de investigação utiliza na metodologia um conjunto de normas, critérios e

princípios que têm como objetivo orientar a pesquisa, selecionar e elaborar técnicas para

o esclarecimento do problema em estudo.

Tendo delimitado o problema e feito a visão pessoal do fenómeno, vamos descrever a

metodologia que utilizamos, tendo em conta que “ o investigador determina os métodos

que utilizará para obter as respostas às questões de investigação colocadas ou às

hipóteses formuladas (…) define a população e escolha dos instrumentos mais

apropriados para efetuar a colheita de dados” Fortin (1999, p.34).

Torna-se, por isso, evidente que durante a fase metodológica do processo de

investigação, se determinam os métodos a utilizar para chegar às respostas das questões

de investigação delimitadas.

A fase metodológica é um dos aspetos mais importantes para um trabalho de

investigação. Assim, os resultados finais do estudo dependerão do tipo de estudo e da

forma como se vão colher os dados necessários (Sampaio, 2011).

Neste sentido, há que assegurar a qualidade e a fiabilidade dos resultados da

investigação, sendo necessário escolher um desenho de investigação adequado, ter uma

boa definição dos participantes e seleção apropriada da colheita de dados.

Metodologia é de acordo com Gil (1989, p.89) “ um processo racional para chegar ao

conhecimento ou à demonstração da verdade onde a sua ordem de assuntos tenha uma

sequência lógica, ou seja, a metodologia é a arte de dirigir o espírito na investigação da

verdade”.

A metodologia como nos afirma Dias (1999, p.65) é “uma mais valia para a execução

de estudos científicos”, mesmo para o aumento significativo da produção científica.

Complementando esta ideia, Quivy e Champenhoudt, (1992, p.56) refere que:

“É através da metodologia que se confrontam as questões de investigação a serem

verificadas com os dados observados, englobando assim um conjunto de operações

Page 56: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

56

através das quais o modelo de análise é submetido ao teste dos factos e confrontado com os

dados observados”

Tendo por base o exposto, a finalidade deste capítulo é a apresentação dos

procedimentos adotados para a concretização desta investigação, que inclui a

justificação do tema, abordagem do contexto do estudo, objetivos e tipo de estudo,

participantes do estudo, instrumento de colheita de informação, procedimentos formais

e éticos, e por último o processo de análise da informação utilizado.

1.1-PROBLEMÁTICA E JUSTIFICAÇÃO DO TEMA

Segundo Lakatos e Markoni (2003, p.218) tema é o “(…) assunto que se deseja provar

ou desenvolver” na investigação. O tema desta investigação consiste em analisar as

vivências dos enfermeiros dentro de um determinado contexto quando cuidam da

Pessoa/ Família em fim de vida.

As motivações para a escolha do mesmo, assentam principalmente em questões pessoais

e académicas, já anteriormente referidas e na possibilidade deste estudo, através do

conhecimento por ele gerado, poder contribuir para melhorar a prática de cuidados aos

doentes/família em fim de vida

Por outro lado, quando se decide traçar uma pesquisa faz-se com base numa dúvida que

o investigador gostaria de clarificar, ou num problema para o qual considera ser

relevante encontrar uma solução. Esta dúvida apresenta-se sob a forma de uma questão

ou pergunta de partida e tem como objetivo servir como “fio condutor” da

investigação/pesquisa.

Neste sentido tem um papel fulcral na base da sustentação para a delineação da

pesquisa, tendo que obedecer a certas características, como apresentar-se sob a forma de

“um enunciado interrogativo claro e não equívoco que precisa os conceitos-chave,

especifica a população alvo e sugere uma investigação empírica.” (Fortin, 1999, p.76).

Tendo também, e segundo o mesmo autor, que ter em conta determinados aspetos como

a clareza, exequibilidade, pertinência e as suas dimensões metodológicas e éticas.

Diante da pessoa em fim de vida, quando já se sabe que não há cura, muitas vezes

extremamente sofrível, os profissionais de saúde devem assistir, servir, confortar. Assim

Page 57: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

57

quando há necessidade de ajudar alguém nessa fase, seja de forma terapêutica ou

humana, tem que haver preparação eficaz para lidar com a morte.

Como profissionais de saúde, não descontextualizados da sociedade em que vivemos, e

com base na nossa experiência pessoal e profissional enquanto prestadores de cuidados,

somos confrontados frequentemente com os nossos medos e carências de conhecimento

no cuidar das pessoas e famílias em fim de vida. Desta forma, sentimo-nos desarmados

perante a angústia das pessoas em fim de vida, com as quais temos dificuldades em

estabelecer uma relação de ajuda.

Segundo Neto et al. (2004) a doença terminal transporta um conjunto de problemas, que

determinam o sofrimento da pessoa humana e influenciam a sua qualidade de vida.

Todo o contexto de doença e tratamento, influencia a situação emocional, económica e

social do doente e, também, da sua família. As necessidades da pessoa em fim de vida

são múltiplas, e incluem aspetos quer de ordem física, quer de ordem psicológica, social

e espiritual. Não é nada fácil lidar com o sofrimento humano, perante a dependência, a

dor e a fragilidade das pessoas.

Nesta perspetiva e de acordo com Golander (1996), é de extrema importância criar

conhecimento sólido, que guie as intervenções de enfermagem para a qualidade dos

cuidados e ajude a compreender as vivências humanas relativamente à saúde e à doença.

Diante da dor, sofrimento e morte no seu quotidiano de trabalho, o enfermeiro, de um

modo geral, sente necessidade de suporte e apoio para enfrentar o sofrimento humano,

havendo uma desejável postura profissional, sem medo de demonstrar os seus

sentimentos, que aponta abertura de um novo caminho, para uma nova consciência do

exercício em enfermagem, com a possibilidade de vivenciar os seus próprios

sentimentos.

1.2-QUESTÃO E OBJETIVOS DE INVESTIGAÇÃO

O ponto de partida para qualquer investigação consiste em procurar um domínio de

interesse e formular uma pergunta preliminar de investigação. Assim sendo, uma

pergunta de investigação e segundo Fortin (1999), é um enunciado interrogativo, escrito

no presente, que inclui a população estudada, especificando os aspetos a estudar, e o seu

enunciado determina os métodos a utilizar para obter a sua resposta.

Page 58: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

58

Surge então a questão de investigação: “Como é que os enfermeiros do serviço de

Especialidades Médicas, que participaram no estudo gerem a sua presença junto da

pessoa/família em fim de vida?”.

Apresentada a justificação do tema e a questão de investigação, abordamos

seguidamente os objetivos e o tipo de estudo.

Depois de elaborada a questão de investigação definiram-se objetivos congruentes, no

sentido de delinear a pretensão do alcance do estudo, bem como explanar aquilo que o

estudo se propõe realizar e os aspetos que pretende analisar. Esta ideia é partilhada por

Fortin (2009), quando diz que o objetivo é um enunciado que indica claramente o que o

investigador tem intenção de fazer no decurso do estudo, devendo indicar de forma

clara, qual é o fim que o investigador persegue.

Como o nosso trabalho pretendemos analisar as vivências dos Enfermeiros quando

cuidam da Pessoa/família em fim de vida, que como fenómeno humano, só pode ser

vivenciado por aqueles que vivem essa mesma experiência.

Apresentamos como objetivo geral deste trabalho de investigação, o seguinte:

Compreender como os enfermeiros vivenciam o processo de morte dos

doentes/família em fim de vida.

Como objetivos específicos:

Compreender como os enfermeiros identificam as necessidades dos doentes;

Compreender como os enfermeiros identificam as necessidades da família da

Pessoa em fim de vida;

Identificar como os enfermeiros se disponibilizam para apoiar a família no

processo de luto;

Conhecer a importância que os enfermeiros atribuem aos cuidados que prestam à

pessoa em fim de vida;

Perceber o nível de investimento efetuado pelos enfermeiros na área da formação

que lhe permite desenvolvimento das suas competências relacionais.

Page 59: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

59

1.3-TIPO DE ESTUDO

Uma vez apresentados os objetivos, que se pretendem, alcançar, e a questão de

investigação, passar-se-á a mencionar o tipo de estudo, pois as opções metodológicas e

o seu desenho desempenham um papel fundamental no desenvolvimento de um estudo

de investigação. Quando se investiga um problema a escolha e o tipo de estudo é

bastante importante pois descreve a estrutura a utilizar para atingir os objetivos (Fortin,

2003).

Na perspectiva de Fortin:

“o método de investigação qualitativo implica o interesse de uma compreensão absoluta e

ampla do fenómeno a estudar. O investigador observa, descreve, interpreta e aprecia o

meio e o fenómeno tal como se apresentam, sem procurar controlá-los. A abordagem

qualitativa pretende descrever ou interpretar mais do que avaliar” (2009).

Neste sentido, Ponte (2009) salienta que a fenomenologia propõe uma abordagem direta

dos fenómenos, a partir das pessoas, sem teorias sobre a sua explicação causal.

Na opinião de Quivy e Campenhoudt (2008) definir a metodologia a adotar é essencial

para tomar decisões que permitam encontrar respostas à problemática da investigação,

neste sentido, a reflexão sobre as metodologias existentes foi essencial para que a

escolha do método de investigação fosse a mais adequada ao presente estudo, sendo que

a opção metodológica deveria ser qualitativa.

Esta metodologia de investigação, tem como princípio orientador o modo como o

mundo social é experienciado, interpretado e estruturado pelos sujeitos que vivem uma

determinada experiência (Bogdan e Biklen, 1994).

Dentro do mesmo contexto, Fortin (2009), menciona que a abordagem qualitativa,

baseia-se em procurar entender a significação das descrições que as pessoas fazem da

sua experiência, facto que se adequa à natureza, à complexidade, e à subjetividade do

tema e do objeto em análise - vivências dos enfermeiros no cuidado à pessoa e família

em fim de vida.

De acordo com o referido, Streubert e Carpenter (2002) referem que os enfermeiros

devem adotar esta metodologia quando pretendem descrever e compreender as

experiências humanas, sendo que a informação é apresentada na forma de palavras ou

Page 60: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

60

imagens, em vez da forma de números, assumindo a palavra escrita particular

importância.

Os métodos qualitativos encorajam os procedimentos analíticos que permitem perceber

a noção de «significado» e de «sentido» do objeto para as pessoas. Os estudos de

natureza qualitativa têm a qualidade de serem inegáveis, quando interessa perceber a

perspetiva individual sobre um assunto, porque as palavras têm um sabor mais intenso e

concreto, e que é mais convincente do que uma página cheia de números.

São estudos com ênfase no holismo e com maior potencial para revelarem a

complexidade do fenómeno. Focam-se no fenómeno, integrado num contexto

específico, o que de facto se articula perfeitamente com o que pretendemos.

A opção pela investigação qualitativa relacionou-se então, com a necessidade de darmos

ênfase à experiência vivida pelos participantes, às suas perceções, ideias, juízos e

pressupostos. Os estudos qualitativos podem ser realizados tendo em conta vários tipos

de aproximação ao objeto em análise. A aproximação do tipo fenomenologia pareceu-

nos a abordagem mais adequada, no sentido em que a fenomenologia trabalha com

instrumentos de recolha de dados do tipo entrevista, com rara intenção de apenas as

codificar, capturando na interface com o entrevistado e na contínua interpretação do seu

conteúdo a essência das ideias que caracterizam o fenómeno. Procura aquilo que é

constante no fenómeno para uma compreensão prática do mesmo (Miles e Huberman,

1994).

Os estudos descritivos tal como o próprio nome indica, descrevem as características,

propriedades ou relações existentes no grupo ou da realidade em que foi realizada a

pesquisa, concentra-se principalmente nas descrições de experiências dos participantes.

No caso concreto deste estudo foi imperativo descrever características do grupo

profissional de enfermagem na situação de cuidadores de doentes oncológicos em fase

terminal.

Carmo e Ferreira (2008) referem que a investigação descritiva implica estudar,

compreender e explicar a situação atual do objeto de investigação.

Fortin (1999, p.148) refere que um estudo fenomenológico

“visa compreender um fenómeno para extrair a sua essência do ponto de vista daqueles

que vivem ou viveram essa experiência (…) o estudo fenomenológico toma o individuo

como unidade de referência, descrevendo o universo perceptual de pessoas que vivem uma

experiência que interessa à prática clínica, e o trabalho do investigador consiste em se

Page 61: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

61

aproximar desta experiência, em descreve-la nas palavras dos participantes na

investigação, em explicitá-la da forma mais fiel possível e em comunicá-la”.

Ainda o mesmo autor, menciona que os estudos fenomenológicos são muitos utilizados

nas várias disciplinas e sobretudo o mais popular entre os enfermeiros. A grande

maioria dos estudos efetuados sob o ângulo da fenomenologia consiste na explicação de

diversas experiências saúde - doença e de diversas experiências de cuidados A

fenomenologia possibilita olhar as coisas como elas se manifestam, aos nossos olhos.

Também Streubert e Carpenter (2006) salientam a importância da fenomenologia que

possibilita aos investigadores o enquadramento para descobrir como é viver a

experiência. Assim sendo, Ponte (2009) salienta que a preocupação da fenomenologia é

a descrição do fenómeno, e não a sua explicação.

Ainda Morse (2007) lembra que, a fenomenologia tenta revelar o significado essencial

da experiência humana, sendo a abordagem fenomenológica adequada para a

investigação em enfermagem.

Nesta perspetiva a abordagem fenomenológica coloca-nos mais perto de

compreenderemos as experiências vividas e as pessoas em toda a sua complexidade e

profundidade, ou seja através da fenomenologia é possível conhecer o universo mais

profundo da experiência humana. O fato de cada pessoa compreender o significado da

sua própria vivência e de transmitir, poderá ter implicações positivas, contribuindo para

o desenvolvimento da enfermagem e consequentemente para uma melhoria das práticas

(Streubert e Carpenter, 2002).

Tendo em conta estas considerações optamos, por um estudo qualitativo descritivo e

fenomenológico na medida em que tem por objetivo estudar as pessoas nos seus

contextos naturais recolhendo dados que emergem naturalmente e se propõe estudar as

experiências vivenciadas através da compreensão da estrutura, da essência, contexto da

experiência subjetiva do indivíduo.

Como esta investigação se contextualiza num estudo do tipo qualitativo, tendo como

abordagem metodológica a fenomenologia e existindo diferentes decursos

interpretativos, para os procedimentos de análise da informação, adotámos o método de

interpretação fenomenológico proposto por Colaizzi (1978). Este método de

investigação é uma metodologia qualitativa, adequada e rigorosa, para estudar o sentido

Page 62: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

62

da experiência humana, nas diferentes relações que estabelecem com o mundo

(Streubert e Carpenter, 2002).

Após a definição do tipo de estudo a realizar e justificadas as opções metodológicas,

bem como o método a utilizar para a análise da informação, segue-se outra fase do

processo de investigação, que é a dos participantes do estudo.

1.4-PARTICIPANTES

Após a escolha da metodologia, bem como o contexto do estudo, é igualmente

importante a seleção dos participantes.

Nesta etapa recorremos novamente à questão de investigação como fio condutor do

estudo, a qual nos permitiu tomar decisões relativas aos critérios de seleção dos

participantes.

É uma etapa importante na elaboração do processo de pesquisa, uma vez que, são os

participantes que transmitem a informação, que constitui o suporte da investigação e dá

resposta à questão de investigação, permitindo alcançar os objetivos formulados.

Para Streubert e Carpenter (2002), os investigadores qualitativos geralmente não

designam os indivíduos que participam no seu estudo por sujeitos, mas sim por

participantes ou informantes, uma vez que, na investigação qualitativa as pessoas têm

um envolvimento ativo no estudo, o que permite uma melhor compreensão das suas

vivências.

Atendendo também a que “os conhecimentos sobre os indivíduos só são possíveis com a

descrição da experiência humana tal como ela é vivida e tal com ela é definida pelos

seus próprios atores” (Polit e Hungler, 1995, p. 270), a importância da amostra está na

riqueza dos dados, que descrevem as experiências individuais de cada participante.

De acordo com o referido, as pessoas que irão participar neste estudo irão designar-se

participante.

Na medida em que, os estudos qualitativos se interessam pelo estudo do fenómeno em

profundidade, o critério subjacente à seleção da amostra populacional reside na

qualidade do informante e não propriamente na quantidade (Gauthier, 2003).

Page 63: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

63

Neste tipo de estudo a escolha dos participantes deve ser realizada tendo por base

critérios de seleção que promovam uma relação íntima dos participantes com a

experiência que se quer descrever e analisar.

Como também refere Streubert e Carpenter (2002), os indivíduos são selecionados para

participar na investigação qualitativa de acordo com a sua experiência, em primeira

mão, interação social ou fenómeno de interesse. Os participantes não devem ser pois

selecionados aleatoriamente, mas em função do conteúdo da informação. O mesmo

autor salienta ainda que, para definir os participantes é importante atender a critérios de

elegibilidade, critérios esses que são utilizados pelos investigadores para designar

atributos específicos, através dos quais os participantes são escolhidos para participar no

estudo.

Numa abordagem fenomenológica, os participantes são aqueles que verdadeiramente

vivem a experiência, dando origem a descrições finas, densas e fiéis do que

experienciam. O que permite que se revele a realidade do ponto de vista das pessoas que

a vivem (Fortin, 2003). O mesmo autor referencia ainda a importância e valor dos

participantes se encontrarem motivados a participar no estudo, de modo a transmitir a

suas vivências de forma clara, precisa, com boa capacidade de expressão.

Os participantes no estudo foram enfermeiros do serviço de Especialidades Médicas do

CHMT da Unidade de Torres Novas, que participaram voluntariamente, tendo sido

selecionados intencionalmente segundo os critérios que passamos a descrever:

Enfermeiros que trabalham há mais de 5 anos naquele serviço.

Enfermeiros com mais de 30 anos de idade.

Disponibilizar-se para partilharem as suas vivências enquanto cuidam da

pessoa em fim de vida.

Terem vivido a experiência da morte de uma pessoa significativa.

Aceitarem a gravação áudio da entrevista.

Para justificarmos a experiência baseada em anos de serviço, recorremos a Benner

(2001) a qual defende que os requisitos de perícia no desempenho da atividade

profissional sustentam-se na experiência e na educação. Acrescenta que de acordo com

o modelo o “Aquisição de Perícia”, de Dreyfus, (modelo adaptado à Enfermagem que

ajuda o enfermeiro a entender as diferenças entre o enfermeiro experiente e o

principiante), a pessoa passa através de 5 níveis de proficiência: principiante,

Page 64: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

64

principiante avançado, competente, proficiente e perito. A passagem de um nível a outro

pressupõe alterações em dois aspetos. Aumento da confiança em aspetos abstratos,

levando à utilização de experiências passadas e mudança na perceção e entendimento da

exigência de uma determinada situação.

Segundo Streubert e Carpenter (2002) a escolha dos participantes, deve recair em

pessoas que pelo seu papel, postura, experiência e capacidade de expressão garantam a

qualidade da informação a recolher.

Quanto ao número de participantes, de acordo com Fortin (2009), é determinado pela

saturação da informação recolhida, até que deixe de surgir informação nova e relevante

na colheita de dados.

Fortalecendo esta ideia Strauss e Corbin (2008, p.208) referem que a recolha de dados

continua “ (…) até que todas as categorias estejam saturadas; ou seja, não surge nenhum

dado novo ou importante e as categorias estão bem desenvolvidas em termos de

propriedade e de dimensões.”

Depois da explanação da escolha dos participantes, apresentamos seguidamente o

processo de colheita de informação e o respetivo instrumento de colheita.

1.5-INSTRUMENTO DE COLHEITA DE INFORMAÇÃO

O método de recolha de informação constitui uma etapa importante para o

desenvolvimento de investigação, ela é uma técnica que visa obter informação

relativamente ao objetivo do estudo, através de uma observação direta e/ou do registo de

dados (Fortin, 1999). Existindo na investigação qualitativa, uma variedade de

estratégias disponíveis para a obtenção de dados consoante a pesquisa que se pretende

desenvolver, sendo a entrevista uma das mais frequentes, e a eleita nesta pesquisa,

sendo esta uma das técnicas de recolha de dados mais utilizada em investigação

qualitativa. Também Quivy e Campenhoudt (1992) defendem que os métodos de

entrevista distinguem-se pela aplicação dos processos fundamentais de comunicação e

de interação humana, processos esses que permitem ao investigador retirar das suas

entrevistas informações e elementos de reflexão ricos e matizados, caracterizando-se

por um contacto direto entre o investigador e o entrevistado. Também a flexibilidade

que a entrevista permite, é uma das características que a torna tão atrativa, permitindo

entrar no mundo da outra pessoa, se bem que processo em si (a transcrição das

Page 65: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

65

entrevistas e sua análise), consuma bastante tempo, não deixando no entanto de ser

excelente fonte de dados.

As entrevistas também variam quanto ao seu de grau estrutural, tal como referem Fortin,

Grenier e Nadeau (1999). Deste modo a entrevista pode ser, estruturada,

semiestruturada ou não-estruturada e acrescentam que este tipo de entrevistas são

utilizadas quando existem pouco conhecimentos sobre o fenómeno e o investigador visa

acumular a maior parte da informação de modo a abranger os diversos aspetos destes.

Ao termos em conta que a seleção das técnicas que podem ser usadas na investigação

têm de ser adequadas ao problema e aos objetivos do estudo, julgamos que a entrevista

semiestruturada seria aquela que mais se adequava.

A entrevista semiestruturada segundo Fortin (2009, p.376), é utilizada quando se

pretende “(…) compreender a significação de um acontecimento ou de um fenómeno

vividos pelos participantes.”. Nomeadamente nos casos em que se deseja obter

informações particulares sobre um tema. Fundamentados neste autor decidimos optar

pela entrevista semiestruturada.

Este tipo de entrevista permitiu-nos uma determinada flexibilidade para nos centrarmos

e aprofundarmos a nossa área temática, bem como para podermos clarificar ou explorar

o que pretendíamos.

Para iniciarmos a nossa recolha de informação elaboramos um guião (Apêndice II) que

tem como principal função servir de fio condutor à entrevista, facilitando a recolha de

informação útil de forma a orientar as respostas para o tema a abordar. Já que, e de

acordo com Stake (2007) o entrevistador qualitativo deverá possuir uma pequena lista

de perguntas orientadas para os problemas, indicando que há preocupação de cumprir os

objetivos. O propósito para a maior parte dos entrevistadores não é obter simples

respostas de sim ou não, mas a descrição de um episódio, uma ligação entre fator, ou

mesmo uma explicação, algo que ocorreu com precisão e rigor.

Ainda para Ponte (2009) referencia que “neste tipo de entrevista, o entrevistador

determina uma lista de temas a abordar, formula questões respeitantes a estes temas e

apresenta-se ao respondente numa ordem que ele julga apropriado”(p.376).

Mais ainda e segundo Quivy e Champenhoudt (2008) o guião de uma entrevista

semiestruturada é o suporte da entrevista, que deve levar a pessoa interrogada a

exprimir-se de forma muito livre, acerca dos temas sugeridos por um número restrito de

Page 66: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

66

perguntas relativamente amplas, de forma a deixar um campo aberto a respostas

diferentes daquelas que o investigador poderia prever. Dado o fato de se pretender

abordar as vivências dos enfermeiros quando cuidam da pessoa/família em fim de vida,

através da entrevista semiestruturada, e devido à proximidade com o participante,

consegue-se despertar sentimentos e emoções que permitem um discurso aberto sobre as

suas vivências, dando enfase à riqueza das expressões vividas para uma melhor e maior

recolha de informação. Ao longo deste processo procuramos manter uma completa

concentração e a participação rigorosa no processo das nossas entrevistas aumentando

assim o rigor, a confiança e a autenticidade dos dados. Tal como nos refere Carpenter e

Streubert (2002), em que o investigador deve concentrar-se nas respostas, ouvir

atentamente e evitar interrogar os participantes, tratando-os com respeito e sinceridade

face à experiência partilhada.

Também Ponte (2009) no seu artigo de investigação realça a relação entre o

investigador e as pessoas que participam no trabalho de investigação, tem que se basear

na cooperação e participação. As pessoas não se podem sentir questionadas, avaliadas,

porque poderão condicionar as suas respostas não revelando exaustivamente o

significado da experiência para si. Dando continuidade ao estudo e antes de

procedermos à implementação definitiva do instrumento de colheita de informação e

para testar a sua aplicação foi necessário realizar um pré-teste, permitindo-nos assim:

Desenvolver algumas competências relativamente à utilização desta técnica;

Treinar a utilização do gravador áudio e cassete áudio como suporte para o

registo das entrevistas;

Prever a duração de cada entrevista;

Testar a validação das perguntas.

O pré-teste possibilitou ainda testar o equipamento áudio para registo das entrevistas.

Conforme Fortin (1999, p.53), “(…) esta etapa é de todo indispensável e permite

corrigir ou modificar a entrevista, resolver problemas e imprevistos a verificar a redação

e a ordem das questões”.

A concretização das entrevistas foi feita de acordo com a disponibilidade dos

entrevistados e tentamos que cada entrevista, como preconiza Patton (1990) e Quivy e

Champenhoudt (1992), fosse uma situação única e particular. Tivemos a preocupação

Page 67: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

67

de possibilitar aos participantes a liberdade e espontaneidade necessárias para criar um

ambiente interativo, descontraído e facilitador da comunicação.

Assim, e por considerarmos que o estabelecimento da relação entrevistador/entrevistado

é um fator importante no desenvolvimento da entrevista, começamos por abordar

diversos pontos:

Identificação do entrevistador;

Tema e objetivos da investigação;

Importância do contributo do entrevistado para a realização do trabalho;

Caráter estritamente confidencial e anonimato das informações prestadas.

As entrevistas decorreram maioritariamente segundo a ordem preconizada no guião,

tendo-se deixado, no entanto, espaço para que o entrevistado falasse livremente e com

as palavras que desejasse sobre as vivências que para ele, eram mais significativas. Por

vezes foi necessário encaminhar a entrevista para os objetivos definidos, centrando-os

na problemática em estudo.

A salientar que todas as questões constantes no guião da entrevista foram aplicadas a

todos os participantes, sendo cada entrevista realizada com as necessárias adaptações às

distintivas características de comunicação de cada um deles, no sentido de fomentar a

descrição das suas experiências, permitindo uma exploração da temática de uma forma

mais profunda.

As entrevistas foram efetuadas nos meses de Maio, Junho e Setembro, no local de

trabalho dos enfermeiros, com um acordo prévio do dia e hora, com uma duração de 45

minutos, sensivelmente. Durante as entrevistas, foi possível explorar e clarificar os seus

discursos (Patton, 1990), procurando manter um clima favorável à expressão das suas

vivências, evitando qualquer juízo de valor.

O levantamento dos dados foi efetuado através de entrevistas áudio-gravadas, após

consentimento informado dos participantes (Apêndice V), respeitando os princípios

éticos e orientadores da entrevista. Dentro deste âmbito e embora já tenham decorridos

largos anos é de salientar a referência de estes dois autores, Bogdan e Biklen (1994) que

aconselham o uso do gravador quando as entrevistas são extensas, dado o fato estas

entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra, após audição atenta de cada uma

delas. O processo de transcrição foi moroso, uma vez que cada entrevista foi ouvida

várias vezes de forma a detetar possíveis erros de transcrição. Foram transferidas e

Page 68: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

68

preservadas em suporte informático, bem como realizada cópia escrita para facilitar o

rápido acesso.

Ao finalizarmos o processo de recolha de informação ainda tivemos em conta e de

acordo com Streubert & Carpenter (2002) a saturação que se refere à repetição de

informação descoberta e confirmação de dados previamente colhidos.

Assim sendo, podemos afirmar que a saturação foi alcançada pela repetição constante

de informação obtida.

Para terminar, já posteriormente à entrevista, aferimos com os participantes se tem algo

mais a acrescentar e agradecemos a sua disponibilidade e participação.

No subcapítulo seguinte iremos, debruçarmo-nos sobre os procedimentos formais e

éticos que são imprescindíveis em qualquer investigação.

1.5.1-Guião da Entrevista

Um guião de entrevista, como o próprio nome indica, abrange questões orientadoras

para a colheita de informação que se pensa, poderem dar resposta às questões de

investigação.

Segundo Quivy e Champenhoudt (1998), o guião de uma entrevista semiestruturada é o

seu suporte, devendo levar a pessoa interrogada a exprimir-se de forma muito

espontânea, acerca dos temas sugeridos por um número restrito de perguntas

relativamente amplas, de forma a deixar um campo aberto a respostas diferentes

daquelas que o investigador poderia prever.

Normalmente os investigadores que realizam a pesquisa, também são os que concebem

os guiões e realizam as entrevistas, o que permite a memorização do guião. Segundo

Guerra (2005) tal facto, permite seguir o discurso do entrevistado sem a preocupação

com a ordem das questões, introduzindo as “ideias” quando oportuno, permitindo assim

transformar a entrevista numa conversa fluida e informal. Tomando em conta os

objetivos do estudo, elaboramos um Guião de Entrevista (Apêndice II), ao qual

recorremos para efetuar a colheita de informação. O nosso guião está dividido em

quatro áreas: a primeira consta da identificação da entrevista. Neste campo encontra-se

a numeração atribuída à entrevista, a data e a hora de início e fim da mesma.

Considerando os critérios de seleção dos participantes incluímos espaço para referenciar

Page 69: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

69

a idade o tempo de exercício profissional e o tempo de exercício no Serviço e ainda

outras variáveis como o sexo e estado civil que serviram para melhor caraterização dos

enfermeiros participantes

A segunda parte orienta para as formalidades iniciais, explicação do estudo, tipo de

entrevista, solicitação do consentimento verbal e escrito, realçando o caráter de

confidencialidade, e pedido de autorização para efetuar gravação. Numa terceira área

reservada ao corpo da entrevista encontram-se as questões orientadoras e pontos a

indagar. Para terminar o guião elaboramos uma última fase que designamos de balanço,

na qual se possibilita ao entrevistado dar mais contributos para o estudo, bem como

agendar a data de validação da interpretação da informação seguindo a metodologia de

Colaizzi(1978), onde este autor preconiza voltar aos participantes para validar a

informação recolhida e se for caso disso recolher novos dados.

No pré-teste efetuado verificámos a pertinência do guião, não sendo necessário proceder

a alterações do mesmo. O pré-teste permitiu também constatar que apesar da nossa

inexperiência neste campo, ter sido relativamente fácil a condução das entrevistas.

A entrevista de pré-teste, foi realizada com a colaboração de uma enfermeira que não

reunindo critérios para participar no estudo não deixou de ser uma mais-valia para

podermos validar este instrumento. Assim, a sua realização proporcionou-nos treino e

experiência, que consideramos importante nos resultados obtidos. Com a realização

desta entrevista prévia pretendeu-se:

Testar a clareza e a validade das perguntas;

Treinar a manipulação do gravador;

Desenvolver competências relativamente à utilização da técnica da entrevista.

1.6-CONSIDERAÇÕES ÉTICAS E FORMAIS

Qualquer que seja o estudo ou a estratégia que utiliza, o investigador deve ter presente,

questões de ordem ética e legal. Com a evolução científica, surgem novos dilemas

éticos, e a sua complexidade a cada dia que passa acompanha esta vertiginosa evolução.

O profissionalismo, assim como, as práticas de enfermagem, exigem diariamente

tomadas de decisão éticas e morais em situações que temos de enfrentar.

Page 70: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

70

A ética “é a ciência da moral e a arte de dirigir a conduta (…) é o conjunto de

permissões e de interdições que têm um enorme valor na vida dos indivíduos e em que

estes se inspiram para guiar a sua conduta.” Fortin (1999) é com base nessa premissa

que se desenrola a praxis de enfermagem.

Relativamente ao nosso estudo, houve uma responsabilidade tanto pessoal como

profissional, de modo a assegurar que este respeitasse tanto do ponto de vista ético

como moral, os direitos humanos. Fortin (1999), realça que o Ser Humano como objeto

de estudo não pode correr o risco de ver violado o respeito dos seus direitos/liberdades

individuais. Ainda dentro do mesmo contexto, seja qual for a natureza do estudo de

investigação os princípios éticos da autonomia, da beneficência, da não maleficência e

da justiça devem ser respeitados e devem orientar todos os momentos da investigação

(Martins, 2008), princípios que tivemos sempre em conta e presente ao longo desta

investigação.

Voltando aos participantes e após seleção segundo critérios já anteriormente referidos

foi-lhes explicada a natureza, finalidade, revelando-lhes o interesse do estudo e

benefícios que daí poderiam advir (Bogdan e Biklen, 1994).

Ao realizarmos a nossa investigação, tivemos sempre em linha de conta os cinco

princípios fundamentais éticos que devem ser respeitados pelo investigador, tais como:

O direito à autodeterminação: proporcionámos aos participantes a liberdade de

aceitar ou de não participar no estudo;

Direito à intimidade: tentámos proteger a privacidade dos participantes não

ultrapassando a intimidade que livremente determinaram como sendo possível

de partilhar;

O direito ao anonimato e à confidencialidade: respeitámos este direito uma vez

que não associámos a identidade às respostas;

O direito à proteção contra o desconforto e o prejuízo: alertámos de que se

sentissem incomodados com as perguntas poderiam desistir de participar em

qualquer altura sem qualquer prejuízo para a sua pessoa;

Direito a um tratamento justo e equitativo: respeitámos este direito na medida

em que informámos todos os participantes sobre a natureza, o fim e a duração da

investigação.

Page 71: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

71

Sendo assim, foram cumpridos todos os requisitos éticos, sem que tivesse sido

necessário, por parte do investigador, recorrer a alguma tomada de decisão ética que não

fossem as delimitadas no início do estudo. Respeitámos os princípios éticos, de forma a

proteger os direitos e liberdades das pessoas que participaram no estudo. A investigação

não suscitou dúvidas em termos da sua verdadeira finalidade, a qual foi devidamente

esclarecida aos participantes. Foi expresso que os contributos individuais seriam para

acrescer conhecimento em enfermagem que poderia possibilitar o bem do grupo e da

comunidade.

Ao elegermos a entrevista como instrumento de colheita de dados consideramos todas

as circunstâncias eventualmente geradoras de desconforto e atuámos no sentido de as

minimizar. Esta possibilidade é referenciada por Fortin (1999), o qual refere que o

desconforto pode ser físico (cansaço, cefaleias), psicológico e social (ansiedade, stress,

constrangimento), económico e temporal (tempo disponibilizado para a participação no

estudo) cessando quando cessa a entrevista.

Relativamente à confidencialidade dos dados, pensamos que esta foi respeitada pois no

texto não existem referências aos participantes que os possam identificar. Tivemos

ainda em conta o que nos expressa Fortin (1999), que o princípio da beneficência e

justiça – constituem em manter a confidencialidade e o anonimato bem como tratar

todos com respeito e dignidade. Assim como, ao longo de todo o processo de

investigação deve ser salvaguardada de forma absoluta a confidencialidade dos achados

e estes deverão ser tratados de modo a manter o anonimato dos participantes (Martins,

2008).

Mantendo todos os princípios éticos já anteriormente referidos foi explicado aos

participantes que no estudo não seriam identificados, pois os nomes seriam substituídos

por um código com uma letra e um número e seria omitida a informação que pudesse

possibilitar a sua identificação. Assim, desta forma ao processo de análise da

informação, atribuímos uma sigla composta por uma letra E e o respetivo número que

representa a entrevista.

Dado que os participantes eram enfermeiros a exercer as suas funções no Centro

Hospitalar do Médio Tejo e de forma a respeitar os procedimentos formais e éticos, foi

solicitada a autorização formal dirigida ao Sr. Presidente do Conselho de Administração

do Centro Hospitalar do Médio Tejo, para realização do estudo, assim como o pedido de

Page 72: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

72

autorização para a realização das entrevistas, no serviço de Especialidades Médicas da

Unidade de Torres Novas, conforme (Apêndice IV).

Após a enumeração dos aspetos éticos inerentes a um estudo desta natureza, sucede-se a

abordagem do processo que utilizamos na análise da informação, de forma qualitativa,

tendo a mesma como objetivo principal a preservação do que é único em cada

experiência de vida do participante, de forma a possibilitar uma compreensão do

fenómeno em estudo, o que abordaremos no próximo subcapítulo.

1.7-TRATAMENTO E ANÁLISE DA INFORMAÇÃO

Inerente à concretização de qualquer trabalho de investigação, a recolha de dados

assume-se como fundamental à programação das ações a desenvolver para a sua

implementação.

É uma das etapas mais valorizadas na investigação, porque é a partir da análise da

informação que se dá sentido aos dados colhidos. É uma etapa vital que se reveste de

alguma complexidade e morosidade.

O método de análise da informação em estudos fenomenológicos, consiste em

interpretar as descrições do fenómeno estudado, com o intuito de descobrir a essência

das experiências vivenciadas pelos participantes. Servindo-se da linguagem como meio

de conhecer a estrutura dos fenómenos experienciados.

De acordo com Polit, Beck e Hungler (2004), na enfermagem são usados com alguma

frequência três métodos de análise de informação para a fenomenologia descritiva: os

métodos de Colaizzi, Van Kaan e Giorgi, cujos resultados são a descrição dos

significados de uma experiência, através da identificação dos temas essenciais.

No presente estudo a etapa de análise de informação dos dados teve início nas

entrevistas dos participantes com leitura repetida e contínua das transcrições das

mesmas, tendo em conta que o nosso objetivo à análise dos dados recolhidos, é

conservar o que é único em cada experiência vivenciada pelos participantes, permitindo

uma compreensão do fenómeno em estudo tal como refere Streubert e Carpenter (2002).

Para a realização da análise de informação, e após várias leituras e consulta de outros

autores, decidimos enveredar, pelas etapas processuais de interpretação metodológica,

propostas por Colaizzi (1978), por serem aquelas que no nosso entender, permitem a

Page 73: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

73

análise fenomenológica descritiva de uma forma mais concreta e objetiva assim como

por permitirem o retorno aos participantes para a validação da descrição do fenómeno.

Neste processo interpretativo, o objetivo baseia-se na obtenção de “declarações

significativas”, isto é, temas ou sínteses contidas nas descrições e reveladoras da

estrutura do fenómeno Colaizzi (1978).

1.7.1 -Método Fenomenológico Segundo Colaizzi (1978)

Neste estudo de natureza fenomenológica, optámos pelo processo interpretativo

segundo a abordagem de Colaizzi(1978). Este método, supõe que as descrições das

experiências vividas dos informantes, já foram recolhidas e transportadas para uma nova

escrita, devendo os seus passos ser vistos como típicos e não como definitivos, devendo

a sua sequência ser flexível (Queirós, 2001). É um método com grande popularidade

devido à clareza com que é formulado (Moreira, 2002).

Esta orientação utiliza preferencialmente como meio de colheita dos achados a

entrevista, tendo muitas vezes de serem longas e repetidas para facilitar a descrição das

experiências (Boyd, 2001).

De acordo com Streubert e Carpenter (2002, p.57), são nove as etapas processuais para

a análise dos dados e dever-se-ão seguir segundo o diagrama 1, abaixo apresentado.

Diagrama 1- Etapas da análise segundo Colaizzi(1978)

Fonte: Desenhado pelo Autor

1 - Descreva o fenómeno de interesse

2 - Colha as descrições dos participantes

3 - Leia todas as descrições do fenómeno feitas pelos participantes

4 - Retome as transcrições originais e a extrai as declarações

significantes

5 - Tente soletrar o significado da cada

declaração significante

6 - Organize os significados agregados

formalizados em grupos de temas

7 - Escreva uma descrição exaustiva

8 - Regresse aos participantes para validar a descrição

9 - Se novos dados forem revelados durante a validação,incorpóreos na descrição exaustiva

Page 74: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

74

Moreira (2002) no seu livro “O Método Fenomenológico na Pesquisa”, referencia este

método apenas com sete passos ao todo. O mesmo autor assegura que apesar da ordem

das etapas descritas, elas devem ser vistas de forma flexível pelo investigador,

dependendo de como ele se aproxima do fenómeno.

Abordamos de seguida, cada etapa do método de Colaizzi(1978), de forma mais

aprofundada. Como nos diz Ludke e André (1986), recorrendo à interpretação tenta-se ir

mais a fundo, desvelando mensagens implícitas. Desta forma procuramos no decurso de

cada etapa processual do método explicar os procedimentos que fomos realizando no

nosso estudo complementando com alguns exemplos. É de referir ainda que entendemos

que esta é uma forma translucida que encontramos para demonstrar o nosso percurso

nesta etapa do estudo, no sentido de mostrar o rigor do mesmo.

O método fenomenológico de Colaizzi (1978) nasceu no contexto da psicologia

Fenomenológica e é talvez um dos mais conhecidos, entre outros, dentro de todos os

métodos existentes na literatura. A enorme popularidade deste método deve-se, sem

dúvida à transparência com que é organizado (Moreira, 2002).

Este método supõe que as descrições das experiências vividas dos participantes já foram

coletadas e transpostas na forma escrita, o qual aconteceu no nosso estudo. Daí

podermos constatar que a descrição de fenómeno de interesse já foi descrita

anteriormente, assim com a recolha e transcrição das entrevistas, etapas um e dois de

Colaizzi(1978)

Daí passarmos a descrever em pormenor os restantes passos. Para Colaizzi(1978) citado

por Moreira (2002) adverte que os passos seguintes (sete ao todo) devem ser vistos

como típicos, mas não definitivos. Como os passos costumam na prática se sobrepor,

eles e sua sequência devem ser vistos de forma flexível e livre pelo pesquisador,

dependendo da circunstância em que ele se aproxima de fenómeno em estudo. Os

passos e a sua sequência são descritos abaixo.

Ler todas as descrições do fenómeno feitas pelos participantes.

No presente estudo, após a colheita da informação e a sua posterior transcrição e

impressão, procederam-se a leituras sucessivas cada vez mais minuciosas dos discursos

das entrevistas de forma a adquirir uma compreensão indutiva e uma visão global sobre

o fenómeno em estudo.

Page 75: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

75

Deste modo, a nossa primeira leitura baseou-se numa leitura atenta de todas as

entrevistas de forma a possibilitar uma familiarização com experiências relatadas, com o

intuito de apreender o sentido e significado dos discursos numa perspetiva global.

Posteriormente procedeu-se a leituras escrupulosas de cada entrevista em particular.

Trata-se de uma fase cujo objetivo é alcançar o sentido global, ou seja, não abrange uma

análise ordenada, mas sim descreve uma ideia geral da experiência de cada participante.

Assim se pode afirmar que o investigador coloca-se na atitude de redução

fenomenológica como afirma Husserl (s.d), “(…) requer a suspensão das atitudes,

crenças, teorias, e coloca em suspenso o conhecimento das coisas do mundo exterior a

fim de concentrar-se na pessoa exclusivamente e na experiência em foco, porque esta é

a realidade para ela.” Tendo presente esta conduta, destituímos qualquer conhecimento

sobre o fenómeno em estudo. Depois de ultrapassada esta etapa passamos à seguinte.

Retornar às transcrições originais e extrair as declarações significativas.

Nesta etapa e segundo Colazzi (1978), voltamos às entrevistas, relemo-las de forma

tranquila, passiva, vagarosa, e identificando as transcrições de significado nas

transcrições, assinalando-as com uma barra na vertical (/), sempre que verificamos uma

mudança de sentidos nas descrições dos participantes, identificando assim as

declarações significativas. No final desta etapa, adquirimos uma série de declarações

significativas, expostas na linguagem comum dos participantes.

Trata-se de um procedimento que segundo refere Moreira (2002) diz respeito

diretamente ao fenómeno investigado conhecido como “extração de assertivas

significativas”.

Estas declarações significativas foram novamente revistas de forma a garantir que as

mesmas refletiam os objetivos do estudo e as perspetivas dos participantes. Tendo como

principio e segundo Hulsserl (s.d.) que a “ volta às coisas mesmas”, interessando-se

pelo puro fenómeno tal como se torna presente e se mostre à consciência. Ao longo de

todo este processo manteve-se o rigor quanto à extração das declarações significativas

das narrativas de forma a garantir o rigor interpretativo. Após cumprida nova etapa

passaremos a descrever a seguinte.

Page 76: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

76

Tentar soletrar o significado de cada declaração significante.

Nesta etapa o objetivo é transformar a linguagem quotidiana, expressa pelos

participantes, numa linguagem mais rigorosa para um discurso científico, como se pode

verificar nos diagramas 2,3, 4 e 5. É conhecida como “formulação de sentidos”. Colazzi

(1978) adverte que este passo encerra um momento criativo, pois o investigador deve

passar daquilo que os participantes dizem para o que isso significa. Segundo Giorgi e

Sousa (2010), cabe ao investigador neste passo, (…) intuir e descrever os significados

contidos nas descrições dos sujeitos, com a ajuda da redução fenomenológica e da

variação livre imaginária.

No fundo não se pretende dizer por outras palavras o que os participantes descrevem. O

intuito é aclarar e articular o sentido vivido dos participantes com o fenómeno em

estudo. Daí que o investigador tenha que usar a sua intuição. É uma etapa que permite

ao investigador aclarar sentidos, que muitas das vezes se encontram implícito nas

declarações significativas.

Após concluída a etapa anterior iniciamos a transformação das declarações

significativas, identificadas na linguagem dos participantes, para uma linguagem mais

rigorosa para um discurso científico, com o objetivo de aclarar o sentido vivido pelos

participantes com o fenómeno em estudo. Nos quatro diagramas seguintes vamos dar a

conhecer alguns exemplos do processo de transformação das declarações significativas

ao qual Colaizzi(1978) define como “formulação de sentidos”, usando enxertos de

algumas entrevistas às quais o mesmo autor denomina de: “Convencionalmente

chamadas de protocolos”( Moreira, 2002, p.20).

“Acontece que o doente vem a morrer

ali na enfermaria naquela confusão

toda, pelo que havia de haver um

espaço mais sossegado, mais isolado

(...) mais privacidade nesta fase e que

não a tem” (E5)

"Não tenho uma sala para poder

conversar(...) não temos espaço de

conforto para a família, as pessoas

estão a chorara no corredor,

desesperam no corredor(...)":(E2)

Participante refere

preocupação pela falta de

espaço físico apropriado

para uma "Boa morte"

Diagrama 2- Preocupação pela falta do espaço físico

Page 77: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

77

Diagrama

Diagrama 3- Exemplificação de um técnico especializado

Diagrama 4- Princípios éticos da profissão

Diagrama 5- Humanização dos cuidados

"(...)mais acompanhada mais sistemática, que de fato

nós no internamento não temos esse apoio psicológico

que de fato era pertinente(...)."(E4)

"(...) não temos o tal apoio psicológico que

deveríamos ter(...) não temos sensibilidade para

percebermos se a pessoa está deprimida (...)."(E5)

A participante expressa a

importância de um técnico

especializado, um psicólogo

"A facilitar a entrada das visitas, Também temos essa

facilidade (...), proporcionar, as visitas ficarem mais

tempo (...)." até mesmo alimentos (...) que a pessoa gosta

que a família possa trazer, objetos que a pessoa tenha

ligação especial que os familiares." (E3)

"(...)se o desejo da pessoa ter alguém presente é tentar

que isso seja possível, nomeadamente contactar família,

avisar que o doente se encontra pior se quiser vir (...)

satisfazer esse desejo da pessoa ou do próprio familiar

quando o manifestou (...)."(E5)

O participante procura

minimizar o sofrimento da

pessoa e família usando os

princípios éticos da profissão

"Tento valorizar essencialmente o conforto, a ausência

de dor e o acompanhamento. Procuro sempre que possível

que a família esteja junto do doente." (E1)

" Valorizo o conforto(...) prestar-lhe os cuidados conforme

ele se sinta bem, e conforme ele se sinta confortável, porque

o que é conforto para mim poderá não ser para ele(...)." (E4)

O participante busca a

humanização dos cuidados que

presta à pessoa e família

Page 78: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

78

Após termos dado a conhecer alguns exemplos do processo de transformação das

declarações significativas segundo o método de Colaizzi(1978) passamos ao passo

seguinte onde os significados são agregados em temas que vão dar origem a subtemas.

Organizar os significados agregados formalizados em grupos de temas

Nesta etapa da análise, o investigador aplicando a variação livre e imaginativa integra,

organiza os sentidos formulados em “conjunto de temas”. Em seguida testa esses

conjuntos de temas contra as entrevistas originais de forma válida. Isto é atingido

perguntando se existe algo nas entrevistas originais que não é levado em conta nos

conjuntos de temas e também se estes propõem algo que não esteja nas entrevistas

(Moreira, 2002). O Diagrama 6 mostra o conjunto de temas e subtemas que foram

extraídos das entrevistas realizadas aos participantes, após análise e reflexão das

mesmas de acordo com o método utilizado.

Page 79: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

79

Estratégias para minimizar

o sofrimento e promover o

bem estar (doente

/família)

Melhorar a humanização

dos cuidados ao

doente/família

-Interação Enfº/família:

Diminui a ansiedade e

promove a confiança.

Consciência da utilização,

importância da relação de ajuda

- Formação (cuidados Paliativos)

-Melhorar a organização dos

recursos humanos.

-Articulação do trabalho em equipa

multidisciplinar

- Melhorar as condições físicas.

TE

MA

S

SU

BT

EM

AS

Síntese dos Temas e Subtemas

Diagrama 6- Síntese dos temas e subtemas

Reconhecimento Humano

de fim de vida

Valorização dos cuidados

- Diagnóstico/informação

clinica

- Diminuição/falência das

funções orgânicas

- Experiência Profissional;

- Expressão facial/verbalização

- Conforto e bem-estar.

-Apoio afetivo e

relacionamento humano.

-Apoio familiar.

-Gestão Terapêutica/ Alivio da

dor

Sentimentos no cuidar

extrínsecos ao profissional

Sentimentos marcantes

intrínsecos do profissional

- Falta de apoio psicológico e

condições físicas.

- Falta de disponibilidade de

tempo

- Medo/ angústia

- Dificuldade em aceitar a morte

-O momento da morte e a

despedida da família

-Dificuldade na aceitação da

morte na idade jovem

Page 80: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

80

Escrever uma descrição exaustiva

Nesta etapa do método de Colaizzi(1978) todos os resultados obtidos até agora são

integrados em uma descrição exaustiva do tópico investigado, num esforço realizado

para formular a descrição exaustiva do fenómeno investigado. Neste sentido esta

descrição diz respeito à análise global da problemática em que se realizou, onde

constamos a compilação da análise da informação traduzida na estrutura essencial com

temas, subtemas e respetivos exemplos de declarações significativas (Apêndice I).

Relativamente à estrutura geral descritiva da interpretação da experiência vivida pelos

participantes, é constituída por aspetos fundamentais relativos a experiências do mesmo

género, daí que possam existir uma ou mais estruturas para o mesmo fenómeno em

estudo. Pelo que procuramos nunca coagir os dados para que estes pudessem resultar

numa única estrutura. Também para Giorgi e Sousa (2010) “ As estruturas podem ser

entendidas como as essências e as suas relações, (…) a estrutura reflete as partes

essências e as relações entre elas”.

Neste estudo, os achados dirigiram-se apenas para uma estrutura essencial descritiva do

fenómeno – As vivências dos enfermeiros quando cuidam da Pessoa/Família em fim de

vida. Para podermos dar por terminado esta análise e segundo o método de

Colaizzi(1978) voltamos a estar presente com os participantes.

Regressar aos participantes para validar a descrição, se novos dados

incorporá-los na descrição exaustiva

Segundo Ribeiro (2008), “ A validade e fidelidade dos dados qualitativos dependem

principalmente da perícia, sensibilidade, e integridade do investigador.” Destas três

características, procuramos investir na sensibilidade e integridade, dado a perícia ser um

bem que se conquista com o decorrer do tempo, algo que não possuímos ainda.

Tal como já foi referido anteriormente esta oitava etapa de interpretação metodológica

de Colaizzi(1978) preconiza o regresso aos participantes como forma de validação da

descrição efetuada do fenómeno e se novos dados aparecerem deveram ser revelados e

Page 81: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

81

transcritos nas descrições exaustivas. Assim, de forma a cumprir esta etapa e

consequentemente certificar a credibilidade desta investigação retornamos a cada

participante, numa simples entrevista com o objetivo de ser auscultado sobre a

adequação dos resultados, permitindo rever e discutir a descrição exaustiva do

fenómeno com a finalidade de determinar se as descrições do mesmo se relacionavam e

traduziam a sua experiência. As entrevistas decorreram sem intercorrências, tudo se

encontrava em concordância com as ideias/sentimentos dos participantes, não referindo

novos dados ou outras informações.

Terminada a abordagem referente à metodologia, onde tentámos transmitir como em

termos de metodologia decorreu todo o estudo, com o objetivo de assegurar a

cientificidade da mesma. No entanto para um melhor entendimento de todo o processo,

o diagrama 7 representa uma síntese.

Page 82: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

82

Diagrama 7- Síntese da investigação e respetiva metodologia

- Metodologia de Natureza Qualitativa

- Abordagem fenomenológica

-Metodo fenomenológico segundo Colaizzi(1978):

1 - Descrever o fenómeno de intesse

2 - Colher as descrições dos participantes

3 - Ler todas as descrições do fenómeno feitas pelos participantes

4 - Retornar às transcrições originais e extrair asdeclarações significativas

5 - Tentar soletrar o significado de cda declaração significante

6 - Organizar os significados agregados formalizados em grupos de temas

7 - Escrever uma descrição exaustiva

8 - Regressar aos participantes para validar a descrição

9 - Se novos dado forem revelados incorporá-los na descrição exaustiva.

Objeto do estudo

As vivências dos enfermeiros quando cuidam da Pessoa /familia em fim de visa

Objetivos:

Geral:

- Compreender como os enfermeiros vivenciam o processo de morte dos doentes/familía em fim de vida

Especificos:

- Compreende como os enfermeiros identificam as necessidades dos doentes

- Comprrender como os enfermeiros identificam as necessidades da família da pessoa

-Identificar como os enfermeiros se disponibilizam para apoiar a familia no processo de luto

- Conhcecer a importância que os enfermeiros atribuem aos cuidados que prestam á pessoa

- Perceber o nível de investimernto efetuado pelos enfermeiros na área da formação que lhe permite desenvolvimento nas suas competências relacionais

Participantes

- Enfermeiros que trabalham há mais de 5 anos naquele serviço

- Enfermeiros com mais de 30 anos

-Disponibilizar-se para partilharem as suas vivências enquanto cuidam da pessoa em fim de vida

- Terem vivido a experiência da morte de uma pessoa significativa

- Aceitarem a gravação áudio da entrevista

Questão da investigação

Como é que os enfermeiros gerem a sua presença junto da pessoa/família em fim de vida?

Page 83: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

PARTE III –

Apresentação e Análise da Informação

Page 84: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
Page 85: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

85

1-APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DA INFORMAÇÃO

Findada a etapa da colheita de dados foi necessário efetuar a análise e interpretação dos

mesmos, de acordo com a metodologia utilizada, Fortin (2009), refere que é nesta etapa

que está incluída a colheita de dados, e onde se faz a organização e o tratamento dos

resultados. Tendo por base os resultados obtidos nas 8 entrevistas realizadas para o

estudo, começamos por apresentar a caracterização dos participantes em causa.

1.1-CARATERIZAÇÃO SOCIOPROFISSIONAL DOS PARTICIPANTES

No quadro seguinte apresentou-se algumas características Sociodemográficas e

profissionais dos participantes.

Quadro 1- Caracterização dos Participantes

Código da

Entrevista

Género

Idade

Estado

civil

Grau

Académico

Tempo

Exercício

Profissional

(anos)

Tempo Exercício

Profissional no

serviço de

Especialidades

Médicas (anos)

E1

44 Divorciada Licenciatura 20 11

E2

30 Casada Licenciatura 7 6

E3

36 Divorciada Licenciatura 15 9

E4

36 Casada Especialista 8 7

E5

41 Divorciada Licenciatura 19 10

E6

59 Casada Licenciatura 37 10

E7

31 Casada Especialista 9 8

E8

42 Casada Licenciatura 20 12

Page 86: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

86

Os participantes foram representados de acordo com as seguintes categorias: idade,

género, estado civil, grau académico, anos de exercício profissional e anos de serviço

onde o estudo se desenrolou.

Distribuição dos participantes segundo o género

Quanto ao género os participantes do estudo foram todos do sexo feminino. Esta

característica pode ser justificada, pelo fato de existir mais enfermeiras do que

enfermeiros no ativo, tal como afirma Pereira (2006) e enfermagem foi sempre

desenvolvida no seio de uma profissão predominantemente feminina.

Distribuição da amostra segundo a idade

Gráfico 1- Distribuição dos participantes de acordo com a idade

Em relação à faixa etária, esta situa-se entre os 30 e 60 anos de idade. De referenciar

que duas destas enfermeiras tem entre 30 e 35 anos e mais outras duas se encontram na

faixa etária logo a seguir ou seja entre os 36 e os 40 anos, outra três encontram-se entre

os 41 e 45 anos e apenas uma se encontra entre os 56 e 60 anos. Podemos ainda referir

que a média de idades é de 39,9 anos.

Idade

[30-35]

[36-40]

[41-45]

[46-50]

[51-55]

[56-60]

Page 87: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

87

Distribuição da amostra segundo o estado civil

Gráfico 2- Distribuição da amostra segundo o estado civil

Quanto ao estado civil é possível constatar que cinco das enfermeiras que participaram

no estudo são casadas, três são divorciadas, não havendo nesta amostra enfermeiras

solteiras.

Distribuição da amostra segundo o grau académico

Gráfico 3- Distribuição da população de acordo com o grau académico

No que concerne ao grau académico este engloba seis enfermeiras com licenciatura e

duas com a especialidade de reabilitação não havendo nesta amostra enfermeiras com o

grau académico de bacharelato.

Estado civil

Casado

Solteiro

Divorciado

Grau académico

6

0

2

Page 88: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

88

Distribuição da amostra segundo os anos de exercício profissional

Gráfico 4- Distribuição da amostra segundo os anos de exercício profissional

Quanto à atividade profissional dos entrevistados podemos constatar pelos dados do

gráfico que o número de anos de exercício profissional varia entre os 5 e 40 anos. É de

salientar que apenas uma enfermeira se encontra entre os 36 anos e os 40 anos.

Distribuição da amostra segundo os anos de exercício profissional no serviço

onde o estudo se desenrolou

Gráfico 5- Distribuição da amostra segundo os anos de exercício profissional no

local onde decorreu o estudo

Anos de exercício profissional

[5-10]

[11-15]

[16-20]

[21-25]

[26-30]

[31-35]

[36-40]

Anos de exercício Profissional/local onde

decorreu o estudo

[5-7]

[8-11]

[12-15]

Page 89: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

89

Ao terminarmos a caracterização dos participantes neste estudo podemos concluir que

50% das enfermeiras se encontram neste serviço pelo menos há 8 anos.

Page 90: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

90

2-ANÁLISE E DISCUSSÃO DA INFORMAÇÃO: TEMAS EMERGENTES

A escolha da abordagem e do método de investigação teve em consideração a natureza

do problema, o objetivo equacionado e a questão de investigação.

Começamos por procurar caracterizar a natureza do fenómeno que pretendíamos

estudar. Caracterizamos o objeto de estudo como (1) uma realidade humana complexa

que engloba um sistema de relações, (2) uma estrutura dinâmica, e (3) um fenómeno de

natureza processual. Não tivemos, por essa razão, qualquer dúvida em enquadrar a

natureza do fenómeno em estudo no método qualitativo, visto que este é caracterizado

por diversos autores (Martinez, 1989; Bogdan & Biklen, 1994, Lessard-Hebért et al,

1994, Streubert & Carpenter, 1995; Silverman, 2005), como um método centrado no

processo e dirigido à descoberta de estruturas psicológicas ou sociais, de sistemas

dinâmicos ou rede de relações. É ainda um método centrado na fenomenologia, que

segundo refere Moreira (2002), este enfoca fenómenos subjetivos na crença, verdades

essenciais acerca da realidade baseadas na experiência vivida. Ainda o mesmo autor no

seu livro “o método fenomenológico na Pesquisa” salienta que na aplicação do método,

o fenómeno é algo tipo de experiência vivida, comum aos diversos participantes,

constituir-se-ão na essência dessa experiência vivida. Dai que também procuramos a

importância das experiências tal como elas se apresentam, e não o que possamos pensar,

ler ou dizer acerca delas. O mesmo autor salienta ainda que, o que interessa é a

experiência vivida no mundo do dia-a-dia da pessoa. Pelo que fomos ao encontro destas

realidades vividas através de entrevistas semiestruturadas, aplicadas a enfermeiros

criteriosamente selecionados. Baseámo-nos no método de Colaizzi (1978) para a sua

análise. Extraímos citações significativas as quais foram agregadas em temas e

subtemas fundamentados com base nos autores consultados. A interpretação efetuada

foi posteriormente validada pelos enfermeiros. Assim começamos por expor uma

representação esquemática do fenómeno em estudo, que tal como nos refere Loureiro

(2006, p.29), consiste na “organização estrutural dos elementos essenciais do fenómeno

de modo a facilitar a sua compreensão “. Deste modo o diagrama 8 mostra-nos a

estrutura essencial do fenómeno, tal com foi por nós compreendido.

Page 91: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

91

Diagrama 8- Síntese estrutural empírica do fenómeno em estudo

Fim de vida.

Percepção e

Vivência de

quem cuida

Reconhecimento

humano de fim de

vida

Sentimentos

marcantes

intrínsecos

ao

profissional

Sentimentos

no cuidar

extrínsecos ao

profissional

Valorização

dos

cuidados

Melhorar a

humanização

dos cuidados

ao doente e

família

Estratégias

para minimizar

o sofrimento e

promover o

bem estar

Diagnóstico/infor

mação clinica

Diminuição/falência

das funções orgânicas

Experiência

profissional

Expressão

facial/Verbalização Apoio afetivo e

relacionamento

humano

Gestão

terapêutica/alívio da

dor

Conforto e bem

estar

Apoio

familiar

Dificuldade na

aceitação da morte

na idade jovem

O momento da morte

e a despedida da

família

Medo/angústia/

dificuldade em

aceitar a morte

Falta de

disponibilidade de

tempo

Falta de apoio

psicológico

Falta de condições

físicas

Interação enfº/

família: diminui a

ansiedade e promove

a confiança

Consciência da

utilização, importância

da relação de ajuda

Formação (cuidados

Paliativos)

Melhorar as

condições físicas

Articulação do

trabalho em equipa

multidisciplinar

Melhorar a organização

dos recursos humanos

Page 92: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

92

Após a visualização do diagrama 8, e antes da apresentação de cada tema e porque se

trata de um estudo sobre vivências dos enfermeiros consideramos pertinente abordar

ainda o significado deste conceito.

Sabemos à partida que o termo vivência é muito vago e abrangente, podendo ser usado

em vários contextos. De acordo com Frias (2003), a vivência não é somente resultado de

uma situação vivida, existindo um espaço entre o vivido e a vivência que é ocupado pela

interpretação e/ou significado que a pessoa lhe atribui, concebendo-a como uma

construção de sentido que deve ser compreendida em si mesma.

Daí que, e neste sentido, entendemos que as experiências podem ser iguais para

diferentes pessoas, resultando em vivências cujos significados e interpretações podem

ser completamente distintas. É desta singularidade que resulta a complexidade e a

riqueza do ser humano. É também nesta dicotomia que reside a essência deste trabalho.

Passemos então à análise e discussão da informação. No decurso da análise, as

declarações significativas que provêm da informação fornecida pelos participantes, são

apresentadas à medida que os temas vão sendo exposto e analisados, encontrando-se

transcritos tal como foram verbalizados. Também para uma melhor visualização dos

mesmos, consideramos pertinente ao logo deste capítulo apresentar alguns diagramas

explicativos do fenómeno estudado.

Passaremos então a dar a conhecer o primeiro tema que emergiu da análise.

2.1-RECONHECIMENTO HUMANO DE FIM DE VIDA

O reconhecimento humano de fim de vida algo que muitas vezes, ouvimos dos

profissionais de saúde, e lemos, na literatura em torno deste assunto, sem sabermos ao

certo o significado que lhe estão a atribuir.

Afinal, quem é a pessoa em fim de vida?

Segundo Baron e Féliu (1996), parece não haver critério universal que possa definir ou

caracterizar esta pessoa doente, algo que também podemos constatar neste estudo onde

não ouve por parte dos participantes uma definição exata ou concreta. De fato, o que

parece existir são algumas definições inexatas relativamente ao período evolutivo da

doença que a pessoa está a viver. Para os mesmos autores fim de vida é aquela pessoa

que apresenta um estado clínico que provoca uma expetativa de morte a curto prazo.

Falta de

condições

físicas

Page 93: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

93

Também Serrão (1990) afirma que a pessoa em fim de vida é aquela para quem a

ciência e a tecnologia não têm meios para suspender a morte. Muitas são as opiniões

acerca do tema e também muitas incertezas. Assim, afinal a que se pode chamar” fim de

vida”? Refere-se às últimas horas, dias, semanas ou inclusive meses de vida? A

ambiguidade da frase é óbvia e implica dificuldades ao utilizá-la. Muito mais

importante que a ambiguidade é a perspetiva negativa e a passividade com que

frequentemente se aborda o problema. O conceito “fim de vida” tem implícita a ideia de

que tudo está terminado, e que não há tempo ou oportunidade para fazer mais alguma

coisa, e que qualquer iniciativa de tratamento curativo é injustificada.

Segundo Crespo (2009) a definição de pessoa em fim de vida, não tem sido tarefa fácil,

sendo um conceito impreciso, até porque a própria vida já é por si mesma terminal.

Assim, considera que é aquele que na evolução da sua doença, não responde mais a

nenhuma medida terapêutica conhecida e aplicada sem condições de cura (…). Quanto

aos nossos participantes e numa primeira abordagem ao tema, estes identificam quatro

estados que os podem levar a reconhecer tal situação, como podemos verificar pelo

diagrama 9.

Diagrama 9- Reconhecimento humano de fim de vida

Fonte: Desenhado pelo autor

Reconhecimento Humano de fim de

vida

Diagnóstico / informação clínica

Diminuição/ falência das

funções orgânicas

Experiência profissional

Expressão facial/verbaliza

ção

Page 94: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

94

Diagnóstico e Informação clínica

Querido (2005) faz referência a pessoa em fim de vida como um processo que inicia-se

com a confirmação de que a pessoa é “portadora de doença incurável”, uma expressão

que faz parte da linguagem comum e diária dos profissionais de saúde que lidam com

doentes oncológicos, denunciador de uma prática vocacionada para tratar a doença e

não a pessoa com doença. Segundo a autora, podemos afirmar que a pessoa entra em

fase terminal quando a doença entra numa fase incurável e de evolução progressiva, há

uma ineficácia marcada dos tratamentos, a esperança de vida é relativamente curta, e

existe uma perda de esperança na recuperação. Igualmente na página 29 deste trabalho

encontramos afirmações análogas referidas por outro autor. Quanto ao estudo podemos

constatar que as declarações significativas transcritas em baixo se encontram em

consonância com o que é dito e referido por estes autores.

“Pelos dados do processo do doente e normalmente pela informação que o

médico dá” (E3).

“ O médico costuma informar que o doente está em fase terminal (…) não é para

investir (…) para manter só níveis de conforto (…)”(E3).

“Através do diagnóstico que vem descrito no diário clínico, ou por informação

colhida por exames, alguma informação transmitida pelos profissionais de saúde,

médicos, enfermeiros e pelo estado geral do utente, dá-nos também uma

ideia”(E4).

Diminuição/falência das funções orgânicas

Outro subtema emergido foi a diminuição/falência das funções orgânicas, referido por

Báron e Féliu (1996), entre outros critérios que segundo eles caracterizam o doente em

fim de vida. Ainda Neto (2006), dez anos mais tarde também aponta como numerosos

problemas ou sintomas intensos, múltiplo, multifatoriais e em permanente mudança são

algo de potencial indicador de doente em fim de vida. Como podemos constatar nas

transcrições abaixo.

“(…) essencialmente pelo estado geral do doente,(…)muitas vezes já em estado

comatoso ou asténico,(…),já em falência à resposta terapêutica, (…)os exames

(…)também se vê e se sabe interpretar alguns,(...) TAC ,a monitorização cardíaca,

saturações, pressões arteriais, frequências cardíacas, traçados(…)” (E1).

“A avaliação é feita em termos objetivos, sinais vitais, (…) o estado nutricional, a

nível de sintomas que o doente já possa trazer, o fáceis e até em termos de

terapêutica, associar até o estado geral do doente (…), decorrente de tratamentos

que o utente tem vindo a ser submetido, como o quimioterapia a

radioterapia(…)”(E4).

Page 95: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

95

Dentro ainda do mesmo tema os participantes salientaram a importância da experiência

profissional para poderem definir com alguma precisão e rigor, a pessoa, quando se

encontra em fim de vida, como veremos de seguida.

Experiência Profissional

Embora a experiência não constitua em si uma aprendizagem, a aprendizagem não pode

passar sem a experiência. Refere Dominicé (1989, p.61), que sem a experiência, a

aprendizagem será “formal, abstrata e muitas vezes inútil”. De facto, e de acordo com

Amiguinho (1992), existe uma relação estreita entre a formação e os saberes

experienciais que as pessoas conseguem mobilizar ao “formar-se”.

Também para Nóvoa (1991, p.23) a formação não se constrói por acumulação (cursos,

conhecimentos, ou de técnicas), mas sim através de um trabalho de reflexividade crítica

sobre as práticas e de reconstrução contínua de uma identidade individual. Daí a

importância do investir da pessoa e dar um estatuto ao saber da experiência. Pelo que as

declarações significativas transcritas em baixo vêm reforçar a opinião dos autores que

tem vindo a ser referidos neste subtema.

“(…) sim a experiência, tem-me vindo a dar mais sensibilidade e a perceber

melhor o estádio do doente(…)”(E2).

“(…) e também pela experiência que vamos tendo ao longo dos anos, no inicio da

carreira temos mais dificuldade em perceber e até mesmo em termos de noção e

perspicácia(…) com o decorrer dos anos podemos até (…) percebermos o estado

da doença”(E4).

Também num estudo realizado na área da formação em enfermagem em contexto de

trabalho, Costa (1998), refere-se à experiência com o mesmo sentido de abrangência,

assegurando que esta se constrói ao longo do curso da vida, através das vivências das

diversas situações do dia-a-dia que podem acarretar à necessidade de resolução de

problemas de toda a natureza, igualmente dois dos participante transmitiu-nos essa ideia

ao referirem que:

“A experiência é importante ajuda-nos a lidar com as situações e ao mesmo tempo

a evitar que elas nos deixem tantas marcas porque o sentimento de impotência é

muito grande e se nós já tivermos certa experiência termos lidado com situações

idênticas ajudam-nos também a lidar com a situação no momento, que era o que

não me tinha acontecida na altura”(E5).

Page 96: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

96

“È o reflexo que vamos tendo ao longo dos anos de trabalho (…) tem a haver com

a experiência profissional que temos com o doente no dia a dia e não logo quando

iniciamos a nossa carreira (…) não existe maturidade suficiente não existe

sensibilidade (…)”(E6).

Assim, a formação experiencial é deste modo, uma formação refletida que surge do

contacto direto com a realidade/ contexto em que a pessoa se forma, porque experiencia,

vive, trabalha e se relaciona com o meio (Costa, 1998). Com tudo isto podemos realçar

a importância da experiência profissional como uma competência tal como afirma

Pereira (2008) no seu livro “Comunicação de más noticias e gestão do luto” em que

admite, que a experiência e o contexto de trabalho são produtos de competências, na

medida em que o próprio ato de cuidar em enfermagem, onde se inscreve a competência

da comunicação, se transforma num processo de reflexão e pesquisa. Salienta ainda o

mesmo autor que em enfermagem se torne urgente, que a rotina dê lugar à produção de

cuidados planeados e refletidos, o que implica um percurso de formação contínua,

dinamizado e construído nos e com os contextos de trabalho. Ainda Benner (2001) no

estudo que realizou refere no seu livro que, é ao longo do tempo que uma enfermeira

adquire a “ experiência”, e que o conhecimento clínico se mistura com os

conhecimentos práticos simples e os teóricos brutos e se desenvolve.

A mesma salienta que as enfermeiras experientes podem lembrar-se rapidamente das

situações clínicas que modificaram as suas abordagens aos cuidados a proporcionar aos

doentes. O estudo também certifica algo de semelhante quando um participante

referencia que:

“(…) até a minha experiência faz com que eu queira investir mais nessa pessoa

mas em certa altura conhecendo a doença que o doente tem, e pequenas coisas que

vão acontecendo percebo(…), tudo isto me tem vindo a ser adquirido ao longo dos

anos pelas vivências/ experiências (…)” (E2).

Penso que a experiência é algo de infinito, pelo que muito se podia extrapolar. Dando

continuidade aos resultados e dentro ainda do mesmo tema abordaremos em seguida o

subtema expressão facial/verbalização que é algo que não deixa de ser igualmente

adquirida através da experiência de cada um.

Page 97: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

97

Expressão Facial/Verbalização

Os participantes também reconhecem a pessoa em fim de vida através das sua relação

humana baseando-se no pressuposto de que o Homem é feito de e para a relação.

Neste contexto, das relações enfermeiro/doente as competências e as perícias de

comunicação são fatores determinantes no processo de comunicação/interação e por isso

torna-se importante que os enfermeiros aprendam, desenvolvam e sobretudo

implementem nas suas práticas perícias de comunicação nas interações comunicativas

mais complexas e delicadas, partindo do pressuposto que quando um doente está em

sofrimento torna-se muito difícil comunicar com ele, se não for para ouvir a sua queixa

e reconfortá-lo.

Sendo assim o sofrimento de quem morre pode ser minorado pelos que cuidam,

simplesmente pelo olhar, pela forma de estar, pela empatia, pela disponibilidade, pela

proximidade, pelo toque pleno de respeito e ternura, como podemos verificar pelas

declarações significativas que se encontram abaixo transcritas.

“ (…) é a facto do doente não se sentir desprezado estarmos próximos deles(…),

Dar-lhes apoio estarmos simpáticas, sorrir é muito importante e se for preciso

chorar também se chora, virar a cara não é o ideal”(E2).

“ (…) o ambiente mais sossegado com menos ruido com menos luz, tudo um pouco,

podermos fornecer até coisas que eles gostem, que queiram, sempre que solicitem

a nossa presença a gente estar presente”(E1).

Pelo que pensar nas práticas de enfermagem, numa lógica de pensamento crítico, ético e

holístico, envolve o reconhecimento da importância da comunicação no campo das

relações interpessoais (Saraiva, 2003). Esta relação existe num sistema aberto e como

tal é penetrável por múltiplos fatores que a podem configurar. Os estudos da

comunicação humana assentam na ideia de que o Homem não pode deixar de

comunicar.

Pelo que a comunicação humana, especialmente a que se processa frente a frente, é

sobretudo não-verbal (Sá e Machado, 2006). Este tipo de comunicação é citado como

forma de perceber a situação final do doente como se pode verificar nas declarações

significativas abaixo transcritas.

“ (…) vai deteriorando a seu estado geral, vai ficando com um fácies mais triste

(…) mais revoltados”(E4).

“ (…)avaliação do processo e a avaliação física do utente, a nível do estado

nutricional, a nível de sintomas que o utente já possa trazer, o fáceis (…)” (E4).

Page 98: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

98

“ (…) olhar triste, deprimente, basta um toque e um simples olhar para nós

compreendermos e sabermos (…) não é o morrer de ausência de sinais vitais é o

que a pessoa foi e o que vai começando a ser ao longo da doença (…)”(E6).

Daí e tal como refere Phaneuf (2005) a comunicação não verbal é uma troca sem

palavras, que cobre um largo espectro de expressões corporais e de comportamentos que

transcendem, acompanham e suportam as relações verbais entre as pessoas e contribuem

para o seu significado. O profissional de enfermagem através do olhar pode ler

expressões do rosto do doente, as quais por vezes indicam o que o este não consegue

dizer ou se esforça por esconder.

Anteriormente transcrevemos alguns testemunhos que vão de encontro à expressão

facial agora passaremos a mostrar como os comportamentos também são observados e

interpretados como momentos únicos e finais da pessoa em fim de vida.

“(…) alguns deles se despedem, e programam ou parecem que programam ou

planeiam que naquele momento querem-se despedir(…)”(E2).

“(…) outros tentam fazer alguma coisa com a família, tentam ultimar coisas,

alguns objetivos de vida,(…) alguma coisa que tinham planeado antes de

morrer(…) alguns despedem-se verbalizando mesmo que já conseguiram aquilo

que queriam(…) verem uma visita um filho um irmão(…) despediram-se

desencadearam um ultimo momento de crise e morreram”(E2).

“(…) também a informação que o próprio doente nos vai transmitindo não só o

que verbaliza mas as atitudes que vai demonstrando(…)”(E5).

Mas Stefanelli e Carvalho (2005) ainda vai mais longe quando afirma que a linguagem

não-verbal envolve o corpo com as suas qualidades fisiológicas, físicas e gestuais.

Igualmente Lazure (1994), aponta que numa relação frente-a-frente, entre enfermeiro e

doente, o corpo, a face, os gestos, por si, permitem ao observador perspicaz perceber a

interioridade mais profunda do ser humano, sem a necessidade de interpretações

intermináveis. Assim pode-se concluir que a observação, como estratégia, tem um

enorme poder na relação entre enfermeiro e doente, como podemos constatar pela

declaração significativa abaixo transcrita, onde é visível a marca emocional do

observador.

“Ele olhava-me a pedir socorro (…) ficou-me sempre na memória o olhar desse

doente que me olhava nos olhos a pedir ajuda (…) ainda hoje recordo com

angustia”(E6).

Page 99: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

99

Outros autores, Santos e Shiratori (2008), referem que a necessidade de compreender a

expressão não verbal emitida pelo doente, reforça a aproximação da equipa de

enfermagem com este. E ao realizar essa aproximação o enfermeiro faz um estudo das

reais necessidades do doente e facilita desta maneira a elaboração de um plano

terapêutico, contribuindo para a realização de um cuidado abrangente e sistematizado.

Daí que o comportamento não-verbal do enfermeiro será a primeira fase, pela riqueza de

sinais não-verbais emitidos, o doente ao percepcioná-lo, sentir-se-á mais apoiado e

capaz de se envolver na relação, revelar as suas necessidades, verbalizando os seus

sentimentos, emoções e necessidades, como podemos verificar nas transcrições abaixo.

“(…) os doentes que aceitam e tem noção do final são capazes de verbalizar que

está próximo do fim que se encontram a piorar, (…) tem algum tipo de desejo

nomeadamente de verem alguém, querer a presença do padre(…) dizerem e terem

a noção que a vida está a chegar ao fim(…)”(E5).

“(…) eles falam acerca disso, falam-nos que o dia está para chegar, que não

estão preparados para isso dos seus receios (…) dos objetivos que ainda tem para

cumprir, que não cumpriram, do que fizeram, quais foram as suas vivências, ai

ficamos a saber que a pessoa se está a preparar para morrer”(E7).

Riley (2004) corrobora com o anteriormente referido, pois afirma que na prestação de

cuidados de enfermagem existe uma enorme exposição do indivíduo e,

consequentemente, este é alvo de um olhar mais atento e intenso por parte do

enfermeiro como forma de deteção de sinais e de vigilâncias com fins terapêuticos ou

preventivos, tal como os participantes, referem aquando questionados, pela pergunta,

como é que sabem que a pessoa de quem cuidam está a morrer? Eles evocam o fato da

própria expressão facial ou mesmo a verbalização.

Dando sequência à nossa análise, iremos abordar o segundo tema.

2.2-VALORIZAÇÃO DOS CUIDADOS

A última fase da vida, impõe e exige uma atenção especial e aumentada a todos os

níveis. Ao nível dos cuidados, ao nível dos atos técnicos e até ao nível dos afetos. Ao

cuidar da pessoa em fase terminal existe preocupação de proporcionar ao outro bem-

estar físico e emocional, como podemos constatar nos subtemas que podemos ler no

diagrama 10.

Page 100: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

100

Diagrama 10- Valorização dos cuidados

Fonte: Desenhado pelo autor

Muitos autores referem que o cuidado no final de vida, encontra-se quase sempre

associado ao conforto e ao alívio do sofrimento. Pelo que também os participantes

partilham da mesma opinião, onde o conforto e bem-estar foi um subtema extraído da

análise da informação que passaremos desde já a abordar.

Conforto e bem-estar

Este subtema encontra-se de acordo com o que refere Sapeta (2011) no seu livro.

Salientando que “os resultados terapêuticos pretendidos nesta fase são,

privilegiadamente, fixados na busca de conforto e de bem-estar, alívio do sofrimento

físico, psicológico e espiritual, e em que toda a ação terapêutica deverá estar centrada

nas necessidades individuais manifestadas pelo doente e pelos familiares”. Quanto aos

participantes estes apontam como valorização dos cuidados o subtema conforto e o

bem-estar como se pode verificar pelas declarações significativas abaixo transcritas.

“Tento valorizar essencialmente o conforto, a ausência de dor e o

acompanhamento. Procuro sempre que possível que a família esteja junto do

doente” (E1).

Valorização dos cuidados

Conforto e bem estar

Apoio afetivo e relacionamento

humano

Apoio familiar

Gestão Terapêutica/ Alívio da dor

Page 101: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

101

“O conforto e o relacionamento humano não precisa de mais nada (…) em que a

olhos nuos se vê que o doente está a precisar muito de nós é o conforto (…) é dar

uma mão amiga é estar junto do doente (…) ” (E6).

“Valorizo o conforto (…) prestar-lhe os cuidados conforme ele se sinta bem, e

conforme ele se sinta confortável, porque o que é conforto para mim poderá não

ser para ele (…) ” (E4).

Também Báron e Feliu (1996) expressam que as ações desenvolvidas pelos

enfermeiros se centralizam, no alívio dos sintomas e promoção do bem-estar, como

temos vindo a constatar pelas declarações significativas. Os cuidados a esses doentes

devem ter “ um olhar voltado para a pessoa”, significando, estar para e com ela, e tentar

para o fato de que é preciso prever as necessidades que, aos pouco, vão surgindo,

conforme a progressão da doença, perceber a subjetividade e a individualidade do ser

doente e promover necessidades com um cuidado holístico (Gomes, 2010). Este

comportamento implica que se abandone o esforço médico de querer curar o que é

progressivo e incurável, que se centrem todos os esforços no alívio do sofrimento físico,

psicológico, espiritual ou social, apoiando tanto o doente como a sua família (Moreira,

2001). Comportamento este que nos pareceu estar presente nos participantes como

podemos confirmar através das declarações significativas transcritas abaixo:

“ Se o doente estiver dispneico tentar também providenciar ou alertar para que se

faça algo para que minimize esse desconforto (…) ” (E1).

“ (…) Todos os cuidados que envolvam o conforto, se a pessoa tem calor se a

pessoa tem fome. Em termos físicos o conforto, depois há todos aqueles cuidados

em termos sociais e psicológicos (…) o doente não se sentir desprezado, estarmos

próximos dele (…) permitir que os doentes tenham as suas famílias as pessoas

significativas a cuidar deles (…) ” (E2).

“ (…) É a pessoa sentir-se não é melhor mas menos mal, com conforto não ter

dor, o atuar sobre uma dificuldade respiratória tentar diminuir-lhe esse sofrimento

(…)é a qualidade da dignidade de ela morrer pelo menos com o mínimo de

desconforto possível”(E5).

“ A nível de conforto, e falando dos cuidados de higiene este tem que ser efetuados

com alguma calma com alguma serenidade, tentarmos planear com ele mesmo não

tendo muito tempo (…) o que acha ou o que é melhor para si (…) ”(E7).

Como podemos verificar pela análise das entrevistas e pelos resultados que temos vindo

a obter podemos dizer que é uma preocupação constante dos participantes em

proporcionar bem-estar ao doente/família.

É importante salientar que, por trás de cada Pessoa/Doente, há um sujeito humano, que

“prepara” pessoalmente a sua experiência de doença e a incorpora, de alguma forma, à

Page 102: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

102

sua biografia. Impõe-se, então, examinar tal experiência e tal pessoa de uma forma

integral, que não elimine a identidade e a dimensão subjetiva. Por outras palavras, é

necessário considerá-lo e trata-lo como pessoa que é, testemunho esse que podemos

enquadrar na análise da informação pelas declarações significativas transcritas abaixo.

“ (…) às vezes o levantar-se para o cadeirão por exemplo, escolher a fase que ele

se sinta melhor, e negociar com ele o tempo que deve ficar no cadeirão mesmo de

forma a ele estar confortável”(E4).

“O respeitar quando ele querem ser alimentados, o que eles querem também,

facilidade de lhes dar daquilo que é possível ou pedir à família quando há

possibilidade. A mobilização (…) doentes que não querem ser mobilizados (…)

percecionar o que eles querem, porque em determinados momentos somos

demasiados autoritários (…) impomos cuidados (…) o doente pode nem sempre os

não aceitar (…) e nós nem sempre exploramos essa situação (…) ”(E2).

No entanto também o inverso se passa, quando um dos participantes verbaliza nas suas

declarações que:

“Impomos cuidados, e o doente pode nem sempre os aceitar e nós não deixamos

margem para ele verbalizar(…), que não os aceita, nós nem sempre exploramos

essa situação, se o doente quer”(E2).

Também é relevante o testemunho de outro participante em que o conforto é importante

no entanto existe no desenrolar do processo de cuidar algo menos ético. Como podemos

constatar pela transcrição abaixo:

“ (…) essencialmente dar-lhes o conforto na medida que os doentes querem, e

percecionar o que eles querem, porque por vezes em determinados momentos

somos demasiados autoritários(…)” (E2).

Dando continuidade ao estudo e dentro do mesmo tema, deixando para trás o conforto,

também o apoio afetivo e o relacionamento humano foram outro dos subtemas que

emergiram da análise da informação que passaremos de imediato a abordar.

Apoio afetivo e relacionamento humano

Neste subtema onde a Pessoa é vista como Pessoa onde a humanização desses mesmos

cuidados se encontra presente. Levou-nos a que Benner (2001) nos explicasse, que o

envolvimento emotivo pode ser muito útil para o próprio enfermeiro. Desta forma,

torna-se pertinente o emergir de cuidados que além de tentarem preservar a integridade

Page 103: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

103

corporal, mantenham íntegra a dignidade de cada PESSOA; estamo-nos a referir aos

cuidados paliativos (Alves et al, 2004).

Daí que cuidar da pessoa no final da sua vida é um desafio complexo, sobretudo para os

profissionais de Enfermagem. Estes estabelecem com o doente e família uma relação

privilegiada, uma vez que são eles que permanecem mais próximos, podendo identificar

de forma eficaz as suas necessidades e partilhar dos seus momentos mais íntimos, como

podemos reconhecer pelas declarações significativas abaixo reproduzidas.

“Eu tive ai doentes lhe não lhe dei senão um ombro amigo (…) ” (E6).

“ (…)com a presença também de familiares ,se por ele for desejado(…) podermos

fornecer até coisas que eles gostem, que queiram, sempre que solicitem a nossa

presença a gente estar presente”(E1).

“ (…), Normalmente ofereço tudo o que o hospital pode dar a uma família, se for

possível permanecer junto do doente durante a noite(…), mostro disponibilidade e

vontade para o familiar ficar perto do doente (…)”(E6).

Assim, reúnem-se elementos que lhes permitem ajudar o doente e sua família, neste

momento da vida tão doloroso e controverso. Também Lima (2006), refere que os

enfermeiros devem olhar para o doente no términus da sua vida como uma pessoa na

sua globalidade, respeitar a sua intimidade e privacidade e nunca demonstrar através do

olhar ou expressões faciais a imagem da sua deterioração ou da sua finitude. Devem

sobretudo estar ao lado do doente não só fisicamente, mas demonstrando uma atitude

ética de compaixão, algo que também é salientado pelos participantes nas suas

declarações significativas as quais se comprova com o testemunho abaixo.

“ (…) Dar-lhes apoio estarmos simpáticas, sorrir é muito importante, e se for

preciso chorar com eles também se chora, virar a cara não é o ideal” (E2).

“ (…) É a aproximação do doente logo à entrada a minha apresentação como

pessoa humana o relacionamento humano o mais importante a empatia.” (E6).

“ (…) Se eu dou carinho e o afeto aos meus cães, também dou a uma pessoa numa

fase terminal, eu acho que o relacionamento humano para mim é essencial. Acho

que um doente precisa muito de carinho e muito afeto, por muito que nós por vezes

digamos que não há tempo (…)”(E6).

Através do estudo parece-nos que este tem vindo a revelar tal como refere Lima (2006)

que estes cuidados têm como objetivo primordial proporcionar a melhor qualidade de

vida possível aos doentes e suas famílias, recorrendo para isso ao tratamento da

sintomatologia, à comunicação com o doente e ainda ao apoio à família. Algo de

controverso numa declaração significativa de um participante quando este afirma:

Page 104: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

104

“Mas o tempo também é uma limitação enorme. O tempo limita-me a tudo. O

tempo na instituição limita-me a eu não ter contato com a família do doente” (E6).

Após a abordagem deste subtema e para terminarmos o tema valorização dos cuidados

iremos debruçar- nos sobre o apoio à família.

Apoio à família

Ao apoiarmos o doente e a família num momento em que experimentam grande

sofrimento constituiu um dos maiores desafios que a prática quotidiana coloca aos

profissionais de enfermagem. É preciso pois entender que a morte nem sempre é

significado de fracasso ou insucesso e sim algo que faz parte de um ciclo natural da

vida.

Tal como refere Twycross (2003), o apoio à família é parte integrante dos cuidados à

pessoa em fim de vida. Uma família satisfeita aumenta as possibilidades de o doente

estar satisfeito daí, e segundo Lima (2006) referir, que o enfermeiro deve reunir

esforços para integrar a família da pessoa em fim de vida na equipa de saúde para que,

como no domicílio, a morte no hospital seja um acontecimento familiar.

Assim, e com o propósito de conseguir os melhores resultados possíveis é fundamental

considerar a perspetiva de Ferreira (1999), em que cada elemento da família é único e

encara a perda do seu ente querido de forma singular. Dai decorrer a necessidade da

adoção de comportamentos e ações de enfermagem individualizados, considerando cada

caso em especial e não a utilização de frases feitas e de procedimentos estereotipados.

É do conhecimento geral que a enfermagem, está direcionada à preservação da vida,

procurando o alívio do sofrimento das pessoas nestas situações, dando todo conforto,

não só à pessoa em fim de vida mas também proporcionando consolo aos seus

familiares. A família, é considerada por Waldow (2006) como uma variável importante

no contexto hospitalar. Muitas são as vezes que também esta necessita de cuidados por

parte dos profissionais, encontram-se ansiosas, em função da gravidade da situação,

necessitando de apoio. Na realidade, na maioria das vezes a família, também precisa de

ser cuidada, e o enfermeiro expressa isso através do seu comportamento. Se a

organização valoriza o cuidado, os doentes e familiares reconhecem-no e comportam-se

de forma bastante tranquila, pois sentem-se seguros respeitados, informados e sabem

que serão tratados com dignidade e consideração. Mais ainda se o profissional de saúde

Page 105: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

105

envolver a família nos cuidados e procurar que esta seja mais ativa e mais presente, irá

ajudar a família, a diminuir a ansiedade e a melhorar a sua confiança.

Da análise que fizemos, podemos assegurar que os nossos participantes testemunharam

essa preocupação, tendo em linha de conta o apoio necessário e humanizado a dar às

famílias, Podemos assim constatar pelas declarações significativas que abaixo se

encontram inseridas.

“ (…), Tentar envolver a família que é muito importante, uma vez que o apoio da

família nesta fase terminal ou fim de vida é muito importante para a pessoa” (E4).

“ (…) Há muito poucos a querem envolver-se, porque nós temos o cartão de

acompanhante servem para estarem presentes para participarem numa higiene

para participarem em certa atividades com o doente (…) muitas vezes a família se

afasta (…) a família vê em nós profissionais que estão e que cuidam (…) ” (E1).

O apoio à família passa também pela disponibilidade que possamos demonstrar, pela

própria postura que se adota no momento, pela própria comunicação que se tem, pela

empatia que se estabelece e ainda pela facilidade que se dá à família de estar presente

junto ao seu familiar. Esta última situação é bastante notória no estudo e pode-se

constatar pelas declarações descritas em baixo.

“A facilitar a entrada das visitas, também temos essa facilidade (…),proporcionar,

as visitas ficarem mais tempo (…)”.”Até mesmo alimentos (…) que a pessoa gosta

que a família possa trazer, objetos que a pessoa tenha alguma ligação especial que

os familiares possam trazer” (E3).

“ (…) Se o desejo da pessoa ter alguém presente é tentar que isso seja possível,

nomeadamente contactar família, avisar a família que o doente se encontra pior se

querem vir (…) satisfazer esse desejo da pessoa ou do próprio familiar quando o

manifestou (…) ” (E5).

“ (…) que o doente possa solicitar que se possa fazer, também, fazer aquilo que

nos é pedido desde que isso não vá interferir com nada que está prescrito ou que

seja contra indicado naquela situação” (E5).

Ainda na bibliografia encontramos Lazarus citado por Curry (1995) a referir que, os

familiares próximos deveriam ter livre acesso ao doente assim como Sapeta (2011)

salienta que a presença mais assídua e constante da família, permitirá, acompanhar o

agravamento da situação, preparando-a para a separação e para o luto.

No campo de estudo, existe um impresso designado de cartão de acompanhante com o

objetivo de o familiar poder estar presente no acompanhamento da Pessoa em fim de

vida. Um participante fez questão de referir a sua existência, como podemos verificar

pelo testemunho abaixo transcrito.

Page 106: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

106

“ (…) Temos o cartão de acompanhante que servem para estarem presentes para

participarem em certas atividades com o doente, para se aperceberem melhor da

situação do seu ente querido(…)”(E5).

Os participantes persistem em fazerem referência à importância da presença da família

como momentos de estabilidade quer para a pessoa quer mesmo para a família, como

podemos constatar pelas declarações abaixo transcritas.

“ (…) é a dificuldade que eles tem em lidar com a situação(…), mas o sentirem que

a gente favorece a presença, o sentir que a gente está presente, se for necessário

alguma coisa, acho que os deixa mais tranquilo”(E1).

“ (…) é o cuidado social é permitir que os doentes tenham as famílias as pessoas

significativas a cuidar deles (…)”(E2).

“(…), acho que todas as pessoa deviam estar com alguém de família, acho que

era muito importante que a família se envolvesse mais na fase final”(E8).

“(…), se a gente conseguir conversar com a família e perceber também o que eles

pretendem de nós, se calhar também é mais fácil nós arranjarmos maneira de a

família estar junto do doente”(E8).

Numa outra perspetiva muitas são as famílias que não conseguem estar presentes, ou

por falta de disponibilidade, ou por dificuldades de aceitação como podemos constatar

nas transcrições seguintes.

“(…), ao conversar com a família nós às vezes conseguimos perceber se a família

está interessada em participar nos últimos momentos ou se também é difícil para

eles aceitarem e conseguirem estar ao pé do familiar, nem toda a gente se sente

preparada para estar junto de um familiar que vai partir”(E8).

“Acho que a família muitas vezes até não quer tanto, quanto a gente pensa

(…)”(E1).

“(…), há pessoas que até não querem, querem ficar com uma recordação daquele

familiar, uma recordação que não a vê-lo morrer(…)”(E3).

Depois de salientarmos a importância no acompanhamento do doente nesta fase final de

vida, analisámos criteriosamente as declarações relacionadas com a vivência dos

enfermeiros perante um dos sintomas mais relevantes para o sofrimento da pessoa em

fim de vida mesmo quando comparado à expectativa da morte. Subtema que vamos

retratar já de seguida.

Page 107: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

107

A gestão terapêutica e o alívio da dor

A gestão terapêutica e o alívio da dor são outros dos subtemas valorizados pelos

participantes na valorização dos cuidados. O sofrimento pode desempenhar papel

importante na qualidade de vida do paciente. Daí, ignorar o sofrimento é tão desastroso

como ignorar a dor não fazendo sentido tratar uma sem a outra. A dor é um fenómeno

preceptivo complexo, subjetivo e multidimensional, e nesta perspetiva a Direção Geral

de Saúde (DGS) elaborou o Plano Nacional de Luta Contra a Dor, que considera a dor

como quinto sinal vital, sendo avaliada através de escalas de dor, de modo a torná-la

objetiva.

Essa avaliação é uma atividade que faz parte das competências dos enfermeiros e por

conseguinte indispensável à excelência dos cuidados de saúde, bem visível na mente

dos participantes, onde parece ser uma preocupação constante quando cuidam do doente

em fim de vida, como se verifica pelas declarações significativas que se encontram

transcritas logo a baixo.

“O protocolo de atuação da dor (…) facilitava, em algumas situações” (E2).

“Para já o alivio da dor, tentar que a pessoa não tenha dor, proporcionar um

ambiente calmo (…)”(E3).

“ Quanto à terapêutica saber se ele tem dores ou não e também gerir com a equipa

o que também funciona melhor”(E7).

Ela (dor) é um desafio quer para a pessoa, quer para os profissionais de saúde,

principalmente quando se trata de dor crónica. Melzack (1987) reforça ainda que a dor é

um desafio para o doente, uma vez que se deve encontrar meios médicos, científicos e

financeiros para controlar ou prevenir, da melhor forma possível a sua dor.

Também Sapeta (2011) no seu livro faz várias referências ao estudo que efetuou, que

vão ao encontro do mesmo pensamento e atuação dos participantes neste estudo, quando

ela nos diz: “(…) nos sintomas presentes, em geral, tem um soro de manutenção, O2 e

pouco mais.” “Observei que posicionam de modo a aliviar a dispneia, alternam

decúbitos, (…) prestam cuidados à boca, (…) observam dor ou gemido, solicitam

autorização para administrar analgésico e fazem-no autorizados.” Elementos esses que

são testemunhados nas declarações significativas que se encontram reproduzidas abaixo.

“(…)se tiver analgesia prescrita administro(…) se não tiver solicito ao médico(…)

depois poderá haver outro tipo de prescrições(…) massagem, posicionamento uma

administração de oxigénio(…) alguma coisa que o doente possa solicitar(…)”(E5).

Page 108: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

108

“ (…) só me lembro das farmacológicas, embora saiba que hajam outras técnicas,

outras que se possam fazer mas só temos disponíveis as farmacológicas ou

posicionamentos se o doente referir dor naquela posição.”(E1).

“ Houve uma doente recentemente por exemplo os bochechos, os cuidados de

higiene oral eram muito importantes ela adorava.”(E2).

“Privilegiar a terapêutica subcutânea, quando se privilegia hoje em dia a

endovenosa, (…) , evitar picá-los, fazer terapêutica subcutânea, essencialmente

reduzir o sofrimento (…).”(E2).

Ao terminarmos este tema em que os participantes enquadraram os cuidados mais

valorizados dentro de quatro subtemas em que todos são importantes para uma melhoria

de cuidados e promoção de uma morte digna. Iremos apresentar outro dos temas não

menos relevante para o estudo em questão.

Os participantes revelaram que para minimizarem o sofrimento o promoverem o bem

estar daqueles que se encontra numa fase final da vida, tendo consigo uma família cheia

de, sentimentos, medos, ansiedade e preocupações, adotam no seu dia a dia estratégias

que iremos retratar já de seguida.

2.3-ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PARA MINIMIZAR O SOFRIMENTO E

PROMOVER O BEM-ESTAR DO DOENTE E FAMÍLIA

É indiscutível o papel relevante que os enfermeiros desempenham junto dos doentes e

família que vivenciam o processo de luto por morte anunciada. É uma fase da vida que

todos temos que abraçar mas que dificilmente conseguimos sozinhos, pelo que se torna

importante haver alguém por perto e atento às emoções, com conhecimentos e

sensibilidade para ajudar aqueles que se encontram nesta situação difícil e delicada

como é a privação da vida e a perspectiva de perda de um ente querido. Situações que

levaram os participantes do estudo a apontarem as estratégias que utilizam para

minimizar o sofrimento da pessoa e promover o seu bem-estar e daqueles que lhe são

próximos.

O diagrama 11 mostra-nos o tema e os subtemas que emergiram da análise da

informação colhida.

Page 109: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

109

Diagrama 11- Estratégias para minimizar o sofrimento e promover o conforto

Fonte: Desenhado pelo autor

Interação enf º/família: diminui ansiedade e promove a confiança

Dando início ao primeiro subtema que emergiu da nossa análise podemos constatar que

interação enfermeiro/família é uma das estratégias que eles adotam para minimizar o

sofrimento e promover a bem-estar do doente e família diminuindo a ansiedade e

promovendo a confiança.

Partindo do conhecimento comum de todos, o enfermeiro é o elemento da equipa

multidisciplinar que permanece mais tempo junto do doente, normalmente o elemento

da equipa de saúde mais solicitado pela família, quando se trata de pôr questões, dar

sugestões, pedir orientações e apoio emocional. Colliére (1989) fala-nos da importância

da relação interpessoal enfermeiro/família como se pode ler no primeiro parágrafo da

página 49. O estudo revela que essas preocupações estão patentes na mente e na postura

diária dos participantes tal como podemos ler nas declarações significativas abaixo.

“(…) temos que enfrentar mais estas situações, irmos mais juntos daqueles que são

mais significativos, da família, não termos medo de falar com as pessoas(…) não

direi facilmente porque nunca é fácil estas coisas(…) mas podem ir aceitando este

processo (…) faz com que a enfermeira se empenhe no processo de luto da

família(…) faz parte das nossas competências (…)”(E2).

Estratégias para minimizar o sofrimento e

promover o bem estar

(doente/família)

Interação Enfº/família:

diminui a ansiedade e promove a confiança

Consciência da utilização,

importância da relação de ajuda

Page 110: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

110

“(…) , eles tentam sempre saber até às vezes a medicação que estão a fazer,

exames que mesmo assim vão fazendo, em que eles vão perguntando e nós vamos

dando resposta.”(E1).

“ (…) mas o sentirem que a gente favorece a presença, o sentir que a gente está

presente, se for necessário alguma coisa, acho que os deixa um pouco tranquilos

(…)”(E1).

“Penso que trabalhamos bem, que quanto à família damos tudo o que temos ao

nosso alcance a nossa resposta aos familiares é positiva, respeitamos os

sentimentos daquela família”(E6).

Daí e segundo Pacheco (2002), uma família angustiada e insegura pode transmitir ao

doente o mesmo tipo de sentimentos, pelo que o apoio e o acompanhamento dos

familiares do doente em fim de vida, deve também, ser uma preocupação da equipa

multidisciplinar que cuida do doente. É real de fato, que os participantes através das

suas declarações significativas procuram minimizar o sofrimento do doente e família

com atitudes iguais ou semelhantes, referenciadas pelos autores, promovendo o bem

estar tal como se pode comprovar nas transcrições das declarações significativas que se

seguem.

“Um doente em fase terminal nem sempre está com a situação familiar e ele

próprio estabilizado. (…)o doente deixa de conversar fica prostrado, deixa de

interagir(…) fica desorientado nestes momentos nós temos que acompanhar a

família, porque a família não compreende estas situações nós temos o dever de

lhes explicar(…) para que eles também facilmente poderem

compreender(…)”(E2).

“(…) procuro facilitar a proximidade entre as pessoas significativas e o doente, e

depois existe um conjunto de necessidades um apoio psicológico uma pessoa com

quem conversar, uma partilha(…)”(E2).

É do conhecimento geral que os familiares necessitam de ser informados e de receber

uma informação pormenorizada, verdadeira, de modo a poderem acompanhar o mais

próximo possível a situação clínica do seu familiar. Esta informação detalhada da

situação clínica do doente constitui um direito seu e da família, como descreve Pires

(1995) nos direito do doente, que podemos consultar na página… deste trabalho, em que

o doente tem “direito a que lhe respondam honestamente às suas questões”: Deve, por

isso ser facilitada em todas as situações, em linguagem adequada e inteligível tal como

nos refere (Sapeta, 2011). Ainda a mesma autora fala-nos da gestão da informação

desde a mais simples à mais complexa como uma dimensão importante na interação

enfermeiro/família. Pelo que neste estudo podemos verificar que é uma preocupação e

uma prática diária presente dos participantes, verificada através das expressões

significativas que podemos ler em seguida.

Page 111: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

111

“(…)alguns familiares tentam desabafar connosco , gostam de dar uma palavra a

quem cuida procurando saber sempre mais do diagnóstico, tentam saber sempre

mais alguma coisa, saber se há mais alguma coisa a fazer ou se não há(…)”(E3).

“Conversando com as pessoas procurando saber o que elas pretendem de nós para

as podermos ajudar nesta ultima fase”(E8).

“(…), temos vários tipos de famílias umas que recusam e nem querem falar sobre

isso, outras sim, querem ser informadas(…), encaminhamo-las para o médico para

lhes ser dado informações clínicas(…), e nós damos-lhe sobre a parte de

enfermagem(…)”(E4).

Ainda Sancho (1998), certifica que os familiares têm necessidade de expressar as suas

emoções negativas: tristeza, raiva, temores, etc., sem que os seus temores e a ansiedade

sejam desvalorizados, tal como Pereira e Lopes (2002), relatam que as famílias, se não

necessitam de ajuda para satisfazer as suas necessidades fisiológicas, necessitam

certamente de apoio emocional. Parecendo-nos que da análise, os participantes

demonstram uma relação interpessoal estabelecida com os familiares composta pela

transmissão de carinho, ajuda e confiança, como se pode verificar no testemunho abaixo

transcrito.

“(…) como equipa acabamos sempre por favorecer, ou tentar arranjar um espaço

zinho, ou tentar privatizar a zona um pouco mais isolada, dar algum conforto à

família para estar sentada, mais junto(…)” (E1).

“(…) não é preciso ter um dia inteiro, às vezes também dar um conforto ao doente

e família se agente de vez enquanto passar e disser como é que ele está? Está tudo

bem? Como é que está? Precisa de alguma coisa? Às vezes também só cinco

minutinhos de vez enquanto, acaba por ser o suficiente (…) para diminuir um

pouco a ansiedade(…)”(E6).

Também outro autor, Diogo (2000) referindo Melo e Valle (1995), afirma que o apoio

emocional é uma das medidas terapêuticas mais eficazes no relacionamento

interpessoal. O apoio pode estar presente em todo o contacto. Ainda Marques (1994)

citado por Pereira e Lopes (2002), diz-nos que uma boa comunicação efetiva e

emocional com a família ajuda a prevenir os quadros de depressão, isolamento,

ansiedade e o duelo psicológico, daí designarmos o nosso subtema por: Interação Enf º

/família: Diminui ansiedade e promove a confiança.

Igualmente Sapeta (2011) no seu estudo faz alusão à gestão de sentimentos como

determinantes no efeito terapêutico, em que a interação promove a confiança, fato que

este estudo também revela ser importante para os cuidados a ter com a pessoa/família

em fim de vida. Dado que para os familiares o mais importante é o bem-estar do doente,

Page 112: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

112

e saber que é bem cuidado. Testemunho esse que foi referenciado e que se constata com

a declaração significativa que se seguem.

“(…) alguns deles sentem uma inquietação na segurança de quem cá fica (…) é

necessário que eles fiquem mais tempo(…) para eles terem a noção que os

cuidados que lhes vamos garantir são seguros(…) isto é uma necessidade da

família que gosta de ficar cá de noite , ou quer ficar até à meia noite(…) os

familiares ficam com um certo alivio”(E2).

Também Martins (2000) referiu que num estudo de vários autores a necessidade dos

familiares de se assegurarem é de que o doente se encontre confortável e com bons

cuidados.

Afirma ainda Bernardo (2003), que o tom carinhoso usado na relação com o doente

demonstra preocupação e interesse do enfermeiro. Parece-nos que o demonstrado

através deste ato também é entendido como uma resposta de afeto pelos familiares.

Cândido (2001), salienta que a família tem necessidade de ser compreendida e apoiada

pelos profissionais de saúde, e para eles o mais importante é saber que o doente está o

mais confortável possível, que tem o melhor tratamento e que este é acarinhado pelo

pessoal do hospital.

Mais ainda, Pereira e Lopes (2002) referenciam, o cuidado social é um conceito

multidimensional e interativo, relacionado com as transações que o indivíduo estabelece

com o meio, referido por o mesmo participante em dois momentos distintos, como

podemos ler nas transcrições abaixo.

“ (…) é o cuidado social é permitir que os doentes tenham as famílias as pessoas

significativas a cuidar deles (…)”(E2).

“(…) procuro facilitar a proximidade entre as pessoas significativas e o doente e

depois existe um conjunto de necessidades um apoio psicológico uma pessoa com

quem conversar, uma partilha(…)”(E2).

Muito importante ainda e segundo Sheafer (1981 apud Carmarrinha, 2008) é perceção

que a pessoa tem de que aqueles que o rodeiam, são atenciosos e prestativos e de que

com eles pode partilhar pensamentos e sentimentos íntimos.

Tal como Sancho (1998) refere, os familiares têm necessidade de estar todo o tempo

possível com o seu ente querido e de participar nos cuidados. É um direito que assiste o

doente como podemos verificar na página 37 onde se encontram descritos por Pires

(1995) todos esses direitos. A melhor forma de ajudar é estar sempre ao lado do doente,

manter uma presença constante mesmo que este não se aperceba da sua presença.

Page 113: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

113

Também Twycross (2003) referindo a importância dos cuidados paliativos afirma que

quando for necessário, devem conseguir-se acomodações para um familiar passar a

noite (…), testemunho este que também é enumerado nas expressões significativas que

podemos ler abaixo. Pareceu-nos ser notório no estudo as mesmas sensibilidades e

sentimentos dos participantes.

“(…) isto é uma necessidade da família que gosta de ficar cá de noite, ou quer

ficar até à meia noite(…)”(E2).

“(…) já tivemos experiências de doentes que ficaram com familiares na

enfermaria(…)”(E1).

“(…) permanecer junto do doente durante a noite, se o familiar verbalizar vontade

de vir para junto do doente ou o doente necessitar da sua presença eu telefono,

mostro disponibilidade e vontade(…)” (E6) .

A importância de todos estes cuidados leva a que os enfermeiros estabeleçam uma

relação de confiança entre a pessoa e família, nomeadamente uma relação de ajuda que

leva a uma elevada consciencialização da utilização da mesma. Subtema que o estudo

apurou e que vamos abordar de seguida.

Consciência da Utilização, Importância da Relação de Ajuda

A atuação do enfermeiro é sem sombra de dúvida o cuidar do doente e família, e nestas

situações deve consistir essencialmente numa verdadeira relação de ajuda. Esta relação

deve ser pautada por um respeito e uma atenção constante, que nunca se deve limitar à

simples presença física, mas sim baseada numa verdadeira escuta e na congruência.

Resumida de num leque de sentimentos genuínos. Tal como Pacheco (2004, p.130),

considera que a ajuda do enfermeiro ao doente em fim de vida, “deve basear-se numa

escuta – e não num simples ouvir, na empatia e não na simples simpatia; na congruência

e nunca na falta de autenticidade”. Similarmente os participantes, confirmam

transversalmente pelas declarações significativas que se podemos encontrar transcritas

abaixo.

“(…) tentar visualizar a pessoa/família (…) necessitam de uma atenção diferente,

até mesmo em termos de comunicação (…) mais calma atenta(…) uma atenção

diferente para os familiares(…)”(E3).

“(…) dar um conforto ao doente e família se a gente de vez enquanto passar e

disser como ele está?, como é que está?, como é que se está a sentir?, está tudo

bem?, precisa de alguma coisa?(…).”(E1).

Page 114: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

114

“Ir ao encontro das famílias, saber as suas necessidades e preocupações (…)se

pretendem estar mais tempo junto do doente. ouvi-las (…) alguns tentam desabafar

connosco, gostam de dar uma palavra a quem cuida(…)”(E3).

“(…) o relacionamento humano para mim é essencial(..) um doente precisa de

carinho e muitos afetos(…)”(E6).

Tal como para Lazure (1994, p.13) a relação de ajuda “é uma relação na qual o que

ajuda fornece ao cliente certas condições de que ele necessita para satisfazer as suas

necessidades básicas”. Testemunho que vimos nos relatos abaixo.

“(…) tento disponibilizar tudo o que esteja ao meu alcance tentando dar aquilo

que eles precisam doente/família numa forma de relação de ajuda(…)a gente

poder fazer por eles naqueles últimos momentos”(E3).

“Respeitar o que eles querem (…) dar-lhes daquilo que é possível ou pedir à

família quando há possibilidades (…)”(E2).

“(…) eles nesta fase careciam de mais, precisavam que nós estivéssemos até

constantemente junto a eles estou consciente da necessidade de ajuda que neste

momento é tão preciosa para a pessoa e família, a tão nossa designada relação de

ajuda(…)”(E4).

Para outro autor como Watson (2002) a relação de ajuda é a essência, meio poderoso de

intervenção e um elemento decisivo e inquestionável no cuidar em enfermagem. Mas,

Phaneuf (2005), salienta que a relação de ajuda é uma técnica particular significativa,

dado que a pessoa que ajuda está completamente voltada para o outro, para a sua

situação e para o seu sofrimento, definindo-a como “uma troca tanto verbal como não

verbal”. A Relação de Ajuda trata de uma troca que fortalece os laços de afeto entre as

pessoas, constituindo parte integrante da arte de “Cuidar ”. No caso do doente/família

em fim de vida, a relação de ajuda é imprescindível, no sentido de o ajudar a viver e a

morrer o mais serenamente possível. Momento este que leva os profissionais de saúde, e

neste caso aos participantes do estudo a revelarem sentimentos no seu ato de cuidar,

tema emergente que passamos abordar de imediato.

2.4 - SENTIMENTOS NO CUIDAR EXTRÍNSECOS AO PROFISSIONAL

O enfermeiro vai procurando e tomando ao longo dos seus anos de experiência

conhecimento dos modos de lidar com a vivência de situações de cuidados, a partir do

seu impulso e necessidade de minimizar o impacto da experiência emocional. A

enfermagem tem na sua essência o cuidado global à pessoa humana em todas as fases da

sua existência. Sendo assim, o fim de vida do indivíduo encontra-se inserido nesse

Page 115: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

115

mesmo cuidado, porém, é necessário reconhecer a sua especificidade, as suas

particularidades e tudo o que implica e significa.

Assim sendo, cuidar em fim de vida, é um dos aspetos que mais preocupa os

profissionais de enfermagem. Lidar com a morte e ajudar a morrer, exige competências

aos mais variados níveis e exige técnicos bem preparados e conscientes da necessidade

desta preparação. Não temos dúvidas que muitas são as dificuldades a vários níveis

vivenciados pelos enfermeiros, que, para conseguir lidar com as vivências emotivas dos

cuidados terão que aprender a defender-se cada vez mais das suas emoções. O diagrama

12 traduz essas dificuldades vivenciadas pelos participantes do estudo, quando cuidam

da Pessoa e família em fim de vida.

Diagrama 12- Sentimentos no cuidar

Fonte: Desenhado pelo autor

Falta de Apoio Psicológico

Extraímos da análise a falta de apoio psicológico com um dos sentimentos verbalizados,

onde parece ser determinante na opinião dos participantes essa necessidade, tal como

menciona Souza et al. (2009, in Borges, 2012), a morte de um doente causa grande

impacto na identidade pessoal e profissional de toda equipe envolvida no seu cuidado,

em especial para o enfermeiro. O modo como ele compreende o conceito de morte, bem

como a forma que relaciona este conceito, com o seu próprio existir e as suas vivências

pessoais de perdas anteriores dentro e fora do âmbito profissional, são aspetos que

influirão na sua atuação diante da morte, necessitando quer no antes, durante ou após de

Sentimentos no cuidar

extrínsecos ao profissional

Falta de apoio

psicológico

Falta de condições

físicas

Falta de disponibilidade

de tempo

Page 116: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

116

um apoio especializado, dado que o enfermeiro antes de o ser, ele é um ser humano com

características iguais a todos com os mesmos sentimentos e emoções. É comprovado

pelos registos abaixo que traduzem rigorosamente o que os participantes disseram.

“(…)até porque não temos o tal apoio psicológico que deveríamos ter ,também

não temos e às vezes não temos sensibilidade para percebermos se a pessoa está

deprimida, se a pessoa fala pouco ou temos que a estimular muito e muitas vezes,

não temos capacidade em tempo para verificar as emoções da pessoa(…) isso era

muito importante”(E2).

“(…) não temos o tal apoio psicológico que deveríamos ter (…) não temos

sensibilidade para percebermos se a pessoa está deprimida(…)”(E5).

“(…) mais acompanhada mais sistemática, que de fato nós no internamento não

temos esse apoio psicológico que de fato era pertinente(…)”(E4).

Os participantes revelam ainda a preocupação deste apoio ser extensivo à pessoa e

família, como se verifica nas transcrições das entrevistas.

“(…) julgo que o nosso serviço perde por não ter o apoio psicológico ao doente e

família não temos um apoio psicológico especifico os psicólogos aqui somos

nós(…) deveríamos ter muito mais apoio a esse nível (…) corremos o risco muitas

das vezes não estarmos ao alcance do que a família precisa” (E2).

“(…) não temos psicóloga (…) nós enfermeiras tentamos dar o nosso máximo, não

tenho nenhum curso de psicologia a minha psicologia aquela que a vida me tem

ensinado(…) uma presença de uma psicóloga que deveria estar ao lado destes

doentes e família”(E6).

Ao longo das suas vivências o profissional vai-se deparando com inúmeros obstáculos

que lhe vão sendo muitas vezes difíceis de ultrapassar mas não impossíveis, também

aqui os obstáculos surgem o emergem tal como emergiu um subtema intitulado de, falta

de condições físicas algo que também não será totalmente impossível de alcançar.

Falta de Condições Físicas

A falta de condições físicas nem sempre corresponde aos ideais de humanização que os

doentes em fim de vida necessitam e condicionam a própria prestação de cuidados.

Pacheco refere (2002) que é crescente o número de doentes incuráveis cuja fase

terminal é longa, e que procuram cada vez as instituições para terminar os seus dias,

sendo poucas aquelas que se encontram especificamente preparadas para os receber e

cuidar adequadamente. Também Coutinho (2005) partilha da mesma opinião quando

salienta a importância das condições físicas e organizacionais para a prestação de

cuidados humanizados tendo em vista excelência do cuidar. Ainda Pinto (1996), refere

Page 117: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

117

que a humanização dos espaços concebe um ambiente não apenas limpo, mas agradável

para facultar uma atitude positiva, quer no doente que espera, quer no profissional que

assiste.

Sabemos que, as condições físicas oferecidas no hospital estão longe da filosofia dos

cuidados paliativos. É difícil, com a crescente ocupação do espaço, arranjar-se um local

reservado para a família partilhar sentimentos e emoções e que permita a reserva da sua

privacidade mantendo longe dos olhares curiosos de estranhos o seu sofrimento. Os

enfermeiros deparam-se sem um local propício ao desenvolvimento da relação de ajuda

e a personalização da unidade do doente nem sempre pode ser garantida.

O estudo revela que há falta de condições físicas para prover as condições necessárias à

humanização dos cuidados à pessoa e família em fim de vida, e que esta é sem dúvida

uma “lacuna” do serviço. Esta situação constrangedora, mas não impeditiva da

evidência de competências de relação foi referida nas entrevistas das quais extraímos as

seguintes declarações significativas.

“ Acontece que o doente vem a morrer ali na enfermaria naquela confusão toda,

pelo que havia de haver um espaço mais calmo mais sossegado, mais isolado (…)

mais privacidade nesta fase e que não a tem”(E1).

“Não tenho uma sala para poder conversar (…) não temos espaço de conforto à

família, as pessoas estão a chorar no corredor, desesperam no corredor (…)”(E2).

Estas declarações sugerem uma inibição dos direitos que assistem ao doente em fim de

vida como é possível verificar na página 37, onde Pires (1995) enuncia os direitos

destes doentes.

É nossa convicção que o trabalho nos hospitais está vocacionado para o diagnóstico e

tratamento das doenças. Os profissionais estão cada vez mais vocacionados na defesa da

vida e no manuseamento de alta tecnologia, consomem a maior parte do seu tempo a

lutar contra a morte, e só poucos consciencializam a importância do acompanhamento e

dignificação da morte.

Desta forma, responder a algumas questões torna-se complicado, Costa (1998) refere,

“Qual será então o papel do hospital nesta situação? Deverá este limitar-se a

diagnosticar e aplicar tratamentos, ou deverá também oferecer um lugar acolhedor que

assegure a segurança do doente e onde a morte também tem o seu lugar? Não deverá

Page 118: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

118

garantir uma morte digna? Não deverá ter em conta também o sofrimento da família que

passa pela vivência de ter um familiar a morrer?”

Responder a estas questões reporta-nos para um problema social, enraizado numa

cultura do hospital de agudos, onde o doente em fim de vida tem que recorrer quando

está debilitado, ou quando a família já não consegue dar resposta em domicílio.

Mas este tema não acaba aqui porque os nossos participantes no estudo vão ainda mais

além, apontam para a falta de disponibilidade de tempo algo que lutam diariamente

dificultando assim os cuidados à pessoa e família.

Falta De Disponibilidade De Tempo

Conscientes de que lidar com o doente em fim de vida não é tarefa fácil o profissional

de saúde tem tendência para evitar o doente demorando o mínimo de tempo possível na

sua presença, refugia-se na falta de tempo para justificar o envolvimento que reconhece

como necessário. A falta de tempo é uma das principais desculpas para não cuidar desse

doente de uma forma holística. O enfermeiro receia não ter as competências relacionais

devidas e prefere priorizar outras funções.

“… para não ser tão afetado, o profissional de saúde tenta manter uma certa distancia,

diminuir as visitas, responder com frases feitas, conselhos fáceis e autoritários no sentido de

tornar a relação o mais profissional possível para que a emoção não se sobreponha ao

racional” (Lopes, 2005, p.95).

Também Pinto (1996) afirma que são quatro, as sensações do profissional de saúde

perante o doente em fase terminal:

“A sensação do fracasso (ter-se-ia o doente salvo noutras condições? Será que a

assistência foi a melhor? Será que tudo foi feito?);

A sensação do espelho ou projeção (fá-lo imaginar-se a si próprio com uma

situação idêntica, preferindo afastar-se para não ter de enfrentar o problema);

A sensação de pudor (fá-lo pensar que é bom deixar o doente só, uma vez que

ele está a viver o momento mais importante da sua vida e não deve ser

perturbado na sua relação com os valores, filosofias ou crenças que marcaram a

sua vida);

Page 119: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

119

A sensação de mistério (fá-lo percorrer fantasias intelectuais sobre a morte, e

sente o peso das contradições, deixando o doente sozinho com o problema…)”.

É muito importante vencer estas sensações enumeradas por Pinto (1996), para que seja

possível prestar cuidados de qualidade ao doente em fim de vida de forma a dar-lhe um

maior conforto e acompanhá-lo nesta última etapa. Podemos realmente verificar pelas

declarações extraídas do estudo que encontramos participantes onde as suas sensações

se enquadram no que é referido pelo autor acima citado.

Mas a morte assusta-me muito porque não sou capaz de definir nem encontrar

estádio para ela (…) assusta-me muito eu sou daquelas enfermeiras que me ponho

atrás de um biombo para ver se vejo alguma coisa mas ainda não consegui ver

nada, mas um dia vou ver”(E6).

Outra das declarações vai de encontro especificamente ao subtema que é a falta de

disponibilidade que muitas vezes como referem os autores é uma forma de fugir à

situação em presença.

“(…) nem sempre nós nos sentimos confortáveis naquela posição(…) isso mexe

com os sentimentos nossos, com uma série de outros fatores que muitas vezes nos

desculpamos com a falta de tempo real para fugirmos um bocadinho àquela

situação, porque interfere com muitos sentimentos(…)”(E5).

Numa outra perspetiva os participantes apontam para que a falta de disponibilidade de

tempo se deve à falta de recurso humanos tal como refere Rafael (1994) a falta de tempo

prende-se com vários fatores um dos quais e, na maior parte das vezes, o número de

profissionais são insuficientes nos locais de trabalho. Tal como é referenciado pelos

participantes nas declarações transcritas abaixo.

“Não há tempo porque a exigência a que somos diariamente confrontados não é

compatível com o numero de enfermeiros (…)”(E6).

“(…) a nível dos recurso humanos(…) a estrutura física é essencial mas mais

ainda são os recursos humanos”(E7).

“(…) pelo que temos vindo a constatar, a diminuir o numero de enfermeiros na

prestação de cuidados cada vez ser mais difícil de prestar cuidados adequados às

necessidades daqueles doentes”(E5).

Reforça ainda esta afirmação através das palavras de Neves (2005, p.23) quando diz

que “o deficiente rácio de enfermeiros existentes nalgumas situações é um dos fatores

condicionantes para a humanização dos cuidados de excelência. Preocupação presente

como podemos ler nas descrições abaixo.

Page 120: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

120

“(…) nós temos um trabalho, onde trabalhamos com o sistema de classificação de

doentes, mas as horas do trabalho em si não visualizam os cuidados do doente

oncológico (…) e não temos de fato disponibilidade (…) saber que a colega está a

falar com uma família muito importante, ou com um doente especial, (…) que nem

sempre esta disponibilidade é permitida temos muitos doentes muitos registos

muita medicação, pouco recurso humanos e às vezes é muito limitante”(E2).

“(…) a nossa disponibilidade de tempo é restrita(…) se nos solicitarem a presença

durante algum tempo nós temos outros doentes para cuidar e não vamos conseguir

fazer aquilo que seria correto(…)”(E5).

“(…) também não temos , a gente não consegue ficar com 7 ou 8 doentes numa

tarde por exemplo e tirar meia hora ou uma hora (…) para estar ao pé da família é

muito complicado, não temos condições nem tempo(…)”(E1).

Assim e para se poder minimizar estas dificuldades torna-se necessário uma

organização e uma gestão do tempo adequada, de modo a poder atender a todos os

cuidados necessários.

No campo em que se realizou o estudo efetua-se diariamente a classificação de doentes

por níveis de dependência em cuidados de enfermagem, sendo os doentes distribuídos

equitativamente pelos enfermeiros. A taxa de utilização dos enfermeiros é elevada, e as

atividades especiais que contemplam o apoio psicológico são as que mais facilmente

são relegadas para segundo plano. Os enfermeiros têm consciência das suas limitações e

julgam que é o sistema que não dá visibilidade a essas necessidades, quando ele dá,

residindo o problema na exiguidade dos recursos, uma vez que as horas de cuidados

necessários são sempre superiores às horas de cuidados prestados. As declarações

significativas abaixo referenciadas dão conta da sua frustração.

“(…) penso que existe mas não é implementado no nosso serviço um tipo de

classificação de doentes de forma a que ficasse visível que aquele utente carecia

de mais tempo (…) mais disponibilidade para(…)”(E4).

“(…) nós temos um trabalho, onde trabalhamos com o sistema de classificação de

doentes, mas as horas do trabalho em si não visualizam os cuidados do doente

oncológico (…) e não temos de fato disponibilidade (…) saber que a colega está a

falar com uma família muito importante, ou com um doente especial, (…)”(E2).

Este subtema levou-nos a encontrar alguns estudos sobre esta problemática. Assim,

Adamski e Hagen (1999) no seu estudo evidenciaram que uma das maiores razões de

insatisfação/sentimentos do enfermeiro reside na sua “alegada” falta de tempo para

dedicar-se ao cuidado ao doente/família.

Também Sweeney (in Leal, 2006, p.47) refere que a falta de tempo como um problema,

onde os enfermeiros têm de decidir se presta cuidados ou se elaboram os registos de

Page 121: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

121

enfermagem. Ainda Pereira (2008) no seu livro realça a importância de os próprios

profissionais de saúde – centrados na maioria dos casos, na tecnologia e neste caso nos

registos informáticos, esquecendo e deixando para segundo plano a relação interpessoal

– começarem a valorizar cada vez mais esta vertente muito importante na intervenção

junto dos doentes.

A falta de tempo é referenciada pelos participantes tendo como causas principais a

realização de muitos registos, esses computorizados, muita medicação além da escassez

de recursos humanos que já foi referenciado Daí focalizar-nos, quanto aos registos, que

são outro dos aspetos que preocupam os participantes no estudo como se pode apurar

pelas declarações significativas.

“(…)é uma situação diferente, pelo que nem sempre esta disponibilidade é

permitida temos muitos doentes, muitos registos, muita medicação, poucos

recursos humanos e às vezes é muito limitante”(E2).

“(…) em termos familiares eramos muito bem reconhecidas o nosso trabalho, do

que agora(…) conheciam-me melhor(…) agora é mais uma (…) sabiam o nosso

nome reconheciam o nosso trabalho(…) com o processo de informática(…)

passamos muito tempo ao computador(…)”(E3).

“(…)método de trabalho utilizado, em termos de registos que é muito complicado,

em termos de entradas, em termos de altas(…) em termos de registos tem que estar

efetuados(…)”(E3).

“(…) a falta de tempo o que nos exigem e as burocracias são enormes, o plano a

nossa escrita(…) no computador (…)”(E6).

Sabemos que também a falta de tempo se deve em parte à carga de trabalho que o

enfermeiro enfrenta no seu dia-a-dia. E com a introdução da informática no campo da

saúde proporcionou e continua a proporcionar muitos progressos tecnológicos, porém, é

importante ressaltar que estes não substituem os cuidados humanos.

Não podemos esquecer que a classe de enfermagem tem, ao longo dos tempos

reclamado por uma maior independência no exercício das suas funções, pelo que a

execução de registos de enfermagem, são uma parte integrante na prestação de

cuidados, um marco histórico adquirido em prol do bem-estar do doente e da qualidade

dos cuidados prestados. São pois os registos de enfermagem o testemunho que perdura

no tempo, são uma forma de comunicar numa equipa, é o meio de individualização dos

cuidados prestados aos utentes, mas são também eles que facultam proteção legal e dão

visibilidade aos cuidados prestados pelos enfermeiros.

Page 122: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

122

Por estes motivos a evolução dos registos é real. Hoje promove-se a qualidade destes, só

que a sua existência é uma generalidade praticamente concomitante ao ato de

enfermagem, se existem foi um facto conquistado ao longo de décadas.

Assim sendo, a importância dos registos adquiriu uma preocupação real para os

enfermeiros pois estes têm de obedecer a certas regras para que se tornem válidos.

Partindo de que a elaboração dos registos encontra-se legislada no decreto de lei N.º

437/91 que regulamenta a carreira de enfermagem, no decreto de lei N.º162/96 que

constitui o Regulamento do Exercício Profissional dos Enfermeiros (REPE) e no

decreto de lei N.º104/98 (Ordem dos Enfermeiros). Tendo assim a elaboração dos

registos, enquadramento legal contemplado na lei portuguesa. Esses registos que se

iniciaram manualmente e que hoje com a evolução dos tempos foram sendo

introduzidos informaticamente no campo da saúde, proporcionaram e continua a

proporcionar muitos progressos tecnológicos, porém, é importante ressaltar que estes

não substituem os cuidados humanos.

Referimos pois que introdução do computador no trabalho do enfermeiro só faz sentido

se o binómio tempo e informação forem otimizados. O computador não deve de modo

algum representar mais um arranjo, uma ocupação, que o afaste dos doentes. Mas

parece pela declaração significativa abaixo descrita ela nos transmite algo que parece

estar a acontecer.

“Além da falta de tempo que temos para estarmos com o doente e família os

cuidados realizados a “correr “vira-se o doente e volta-se a vem-se para o

computador (…)”(E6).

No entanto e de modo algum o enfermeiro pode ignorar a necessidade de

informatização dos seus processos de trabalho, sobre o modo de aqueles diminuírem a

complexidade para que possa dispor de mais tempo para ações ajustadas à sua formação

técnico-científica.

No entanto, as opiniões e os estudos são muito controversos quanto ao benefício ou não

do uso do sistema informatizado na enfermagem.

Évora (1998) referencia que o maior benefício na utilização dos sistemas

computacionais mencionados está relacionado com a distribuição do tempo, pois traz

como consequência maior disponibilidade para a atenção direta ao paciente. Mas no

Page 123: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

123

entanto no estudo encontramos um depoimento que nos traduz o contrário com

podemos constatar.

“ (…) a informatização (…) vem de certa forma retirar horas para podermos

cuidar dos doentes(…)”(E6).

Pelo que e na perspetiva de outros autores tal como Guimarães et al. (1989), se fala que

ainda existe muita discussão com respeito à possibilidade de desumanização da

assistência de enfermagem devido à introdução de serviços informatizados.

Porém, outros autores mencionam o fato, como um meio facilitador e de apoio, pois

permite a reintegração do enfermeiro com suas reais funções, favorecendo seu

desempenho na assistência técnica e humanizada junto ao paciente.

Voltando ao estudo pareceu-nos que o uso do sistema informático poderá eventualmente

comprometer os cuidados de enfermagem, no que diz respeito à relação inter pessoal,

enfermeiro/doente/família no contexto de um doente em fim de vida.

Podemos verificar através de uma declaração significativa de um participante quanto o

sistema informático é uma prioridade no cuidar, o que não me parece ser aceitável, o

enfermeiro após ter adquirido tantas conquistas e uma maior autonomia/maior liberdade

de ação, que com a chegada do computador venha a perder essas vantagens, ao ter que

deixar para um segundo plano a sua função maior que é o cuidado.

“(…) temos que saber usar os instrumentos(…) mete-nos ali umas intervenções

mas ditas chaves, que nós somos obrigadas a cumprir se não cumpro tenho não

conformidade, estão e o doente (…) devia ser o centro(…) neste momento está de

lado(…)”(E6).

Igualmente Santos (2009) na sua tese referencia que a vida humana, o bem-estar, a

qualidade de vida dos doentes ficam para um segundo plano, por outras palavras,

sobrando algum tempo liberta-se o enfermeiro para “olhar” os seus doentes.

Ainda o mesmo autor fala-nos que os enfermeiros passaram a assumir funções

administrativas, com base na teoria clássica de administração, afastando-o do seu

doente. O enfermeiro ao ocupar-se com atividades relacionada com a operacionalização

da técnica/administrativa da unidade de internamento, resta-lhe pouco tempo para se

preocupar com os cuidados diretos ao doente. Ocorrem num contexto de pressa, de falta

de tempo, da escassez de pessoal, trabalhando em situações de stress, regista mal os

cuidados que presta ao doente.

Page 124: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

124

Reportando-se a esta problemática, Filho (1997, p.66), salienta:

“(…), a maior parte do que é dito e feito pela enfermagem fica fora de qualquer documentação

escrita e, dessa forma, no esquecimento, pois informação que não é registada é informação

que ,seguramente será perdida e, sendo perdida, não será contabilizada; não podendo ser

contabilizada, mais dificilmente será reconhecida. Esta aspeto demonstra a negligência da

enfermagem para com a sua própria prática, pela constatação da insuficiente documentação

ou registos das experiências ocorridas no decorre da jornada de trabalho”.

Terminada a análise deste tema, sentimentos extrínsecos do profissional, revelados

pelos participantes, iremos focalizarmo-nos noutro não menos importante que

passaremos em seguida a abordar.

2.5-SENTIMENTOS MARCANTES INTRÍNSECOS DO PROFISSIONAL

Todos temos a noção de que as vivências são importantes ao longo da vida e que

influenciam constantemente os comportamentos. De fato, quando os enfermeiros são

confrontados com a morte, na sua vida profissional, é inevitável ficarem alheios a esta

problemática, pois antes de profissionais, também são pessoas.

Tal como Moura (2011) no seu livro verbaliza que a morte é por nós experimentada

sempre numa grande angústia e uma grande dificuldade em ajudar o doente a morrer

(…) este experimenta um processo psicológico carregado de dramatismo.

Perante este fato, não se deve deixar de investir na racionalidade pois o mundo de

sentimentos é imprevisível e vulnerável. É importante tomar consciência das emoções

para que possam ser geridas, caso contrário pode surgir o risco de agir apenas

emocionalmente, sem intervenção da razão, o que pode levar a comportamentos menos

adequados às situações.

O diagrama 13 mostra-nos os sentimentos verbalizados pelos participantes nestes

momentos difíceis que é a morte de alguém.

Page 125: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

125

Diagrama 13- Sentimentos marcantes intrínsecos do profissional

Fonte: Desenhado pelo autor

Muito já foi referido neste estudo, certo é que o enfermeiro ao ver o sofrimento do

outro, perante a morte, também sofre, e para poder garantir o máximo de qualidade de

vida a pessoa em fim de vida deve saber o seu agir perante o momento da morte. Daí

que a capacidade de pensar, refletir sobre as situações vividas nos cuidados, ter

consciência do sentir, e do agir é uma competência de gestão emocional. Tal como os

profissionais de enfermagem ainda se sentem muito inseguros em lidar com a morte, já

que na sua formação académica, só os ensina para o dever de cuidar e curar, e não os

preparam para atuar frente a morte da pessoa, dificultando assim todo processo, vivido

pelo próprio. Já Saraiva (2009) fala que os profissionais de enfermagem se confrontam

com a morte nos seus contextos de trabalho, necessitando de adquirir conhecimentos e

desenvolver capacidades e competências de forma a encarar e gerir a morte do outro que

nos é semelhante. Segundo Sanches (2007), há uma dificuldade muito grande em lidar

com a morte, como um processo natural do viver, e com isso os profissionais acabam

por entrar em desespero adotando mecanismos de defesa como aqueles que são

referidos na página 46 do nosso estudo. Comecemos então por abordar não um

Sentimentos marcantes intrínsecos

do profissional

Medo/ angústia/ Dificuldade em aceitar a morte

O momento da morte e a

despedida da família

Dificuldade na aceitação da

morte na idade jovem

Page 126: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

126

mecanismo de defesa mas sim, um dos sentimentos revelados pelos participantes que

leva a tais mecanismos.

Medo/ Angústia/Dificuldade em aceitar a morte

O medo e a angústia foram os sentimentos mais marcantes que recolhemos da análise da

informação no que diz respeito às vivências dos participantes. Para Santos (2009) a

morte é uma parte da vida, na qual os seres humanos ainda não têm preparo suficiente

de encará-la com algo natural. Como se pode mostrar pela declaração de um

participante quando este verbaliza:

“Ainda hoje depois de muita experiência e situações tenho dificuldade em lidar

com a morte porque continuo a achar que não morremos mas sim acontece uma

transformação”(E6).

Numa outra perspectiva e segundo Mercadier (2004), o ficar junto de quem morre é de

tal modo difícil, que os prestadores de cuidados preferem não assistir à morte de

alguém. Fato que se pode rever nas declarações abaixo.

“(…) uma forma de fugir(…) tentar resolver facilmente, propondo rapidamente

para cuidados paliativos, não sei até que ponto poderíamos reunir condições para

manter junto de nós o doente até aos seus últimos dias”(E3).

“(…)nem sempre nós nos sentimos confortáveis naquela posição e termos a

capacidade de lhe dar o apoio e o conforto(…) fugimos um bocadinho (…)

interfere com muitos sentimentos (…). Quem tem dificuldade em aceitar a morte

também tem alguma dificuldade em cuidar do doente que está a morrer (…)”(E5).

“Sim sim foge-se um bocado não sei quais os motivos que levam a fugir ainda não

avaliei bem esse aspeto(…)”(E6).

Tendo em conta a fuga dos profissionais encontramos um participante que nos confirma

a fuga mas ao mesmo tempo realça algo de positivo.

“No que respeita ao doente temos um bom relacionamento, mesmo a malta jovem

que acaba hoje o curso trás uma maneiras até choram sem querer e fogem”(E6).

É sem sombra de dúvida o enfermeiro aquele profissional de saúde que mais é afetado

com, sentidas e profundas dificuldades que se prendem sobretudo com o défice de

preparação para lidar com estas situações. É importante que os enfermeiros tenham

consciência dos seus limites inerentes à prestação de cuidados, que nem sempre têm

meios para alterar a situação da pessoa e que isso não coloca em causa as suas

capacidades enquanto profissional. Assim é fundamental que os enfermeiros tenham a

Page 127: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

127

perceção que os cuidados prestados foram os que estavam ao seu alcance, para

conseguirem manter o seu equilíbrio emocional, algo que podemos constatar nas

declarações significativas, onde o participante na primeira transcrição teve muita

dificuldade em dar resposta à pessoa mas, que no seu entender foi até aos seus limites

pelo que acha ter cumprido o seu papel como pessoa humana. No segundo o

participante conclui que a sua presença foi bastante positiva.

“Um doente que me pede ajuda e eu não consegui aproximar-me dele, ele a dizer-

me que ia morrer (…) estive muito doente assustou-me muito (…) o sr. olhava-me

nos olhos eu tive medo, a pedir socorro chegou ao fim e eu não consegui(…),

penso que fiz o meu papel como pessoa humana fui até ao fim dos meus

limites”(E6).

“(…) acompanhei de perto a situação (…) quando elas estavam mesmo nos últimos

minutos estive junto da filha e marcou-me bastante (…) e o fato de eu ter lá ficado

junto delas foi bom(…)”(E3).

Esta última declaração vem abrir-nos caminho para o subtema seguinte, a vivência da

morte e a despedida da família.

O momento da morte e a despedida da família

O profissional como já foi anteriormente referido, antes de ser enfermeiro é pessoa que

retém com ele, sentimentos emoções. Vivências, que por vezes não consegue ultrapassar

determinados obstáculos, mesmo por muita preparação que tenha. Como sabemos e

todos temos consciência disso que a morte até hoje nunca deixou ninguém indiferente,

pelo que são momentos difíceis que levam a cada um de nós a pensar, acerca dos nossos

procedimentos algo que deveria ser partilhado em equipa. Se a morte é algo de difícil de

partilhar, quando a família se encontra presente mais difícil se torna para o profissional

que cuida, ele tem que cuidar daquele que está a morrer e daquele que se encontra a

sofrer, algo muito mais complexo e de difícil posição. São sentimentos que levam

muitas vezes o profissional a apresentar uma postura neutra mas com alguma

sensibilidade evitando extravasar os seus sentimentos para não aumentar o sofrimento

daqueles que ali se encontram. O estudo também revelou umas dessas situações.

“(…) acompanhei de perto a situação e estive presente (…)nos últimos minutos

estive junto a ela junto da filha e marcou-me bastante(…) é complicado a gente

acaba também por passar para o lado das filhas(…) somos filhas somos mães,

acabamos por vivenciar e pensar, poderia ser a minha mãe, poderia ser eu que

estava no lugar dela(…)”(E3).

Page 128: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

128

Numa outra perspetiva onde a despedida da vida e a partida para a morte se conclui com

a chegada do familiar, onde é “arrepiante” tal situação tal como foram expressas nas

declarações abaixo descritas.

“(…) capazes de verbalizar que está próximo do fim(…) que muitas vezes estão à

espera de alguém(…) querem a presença do padre ou familiar ou de alguém que

lhe seja próximo(…)”(E5).

“(…)ele estava prestes a morrer por todo o conjunto de situação e estava a

aguardar que o filho viesse e foi só quando o filho veio que ele, despediu-se e

morreu de uma forma pacifica(…)”(E5).

“(…) o doente dizer que é o ultimo dia de vida (…) alguns deles se despedem,

programam ou parecem que programa ou planeiam (…) querem-se

despedir(…)”(E2).

“ Estou-me a lembrar das minhas experiências mais significativas, e uma delas foi

recentemente, foi depois de verem um familiar, despediram-se desencadearam um

ultimo momento de crise e morreram.”(E2).

“(…) os doentes estão sempre à espera da família para se despedirem, que é uma

coisa que eu noto despedimento aqui no elo de ligação entre pai e filho, mãe e

irmã ,tudo tem um elo de ligação que profundamente me choca e isso meche muito

comigo(…)”(E6).

Qualquer seja a idade a morte na nossa cultura é encarada com uma situação negativa,

penosa, triste, que aos pouco se vai interiorizando e percebendo que é inevitável. No

entanto quando a morte acontece em idade mais jovem os profissionais de saúde sentem

um acréscimo de dificuldade na sua aceitação o que emergiu da nossa análise e que

passamos a descrever.

Dificuldade na aceitação da morte na idade jovem (pessoas dos 30- 65 anos)

A morte é um evento bastante presente no quotidiano dos enfermeiros como temos

vindo a constatar pelos vários depoimentos descritos, no entanto, observa-se certa

dificuldade dos profissionias, não apenas em aceitar a morte numa perspetiva natural

mas sobretudo quando ela acontece nas idades mais jovens como se constata no estudo

onde o subtema seguinte vem retratar a dificuldade na aceitação da morte na idade

jovem.

“Alguns mais jovens, tenho mais dificuldade em aceitar (…)”(E2).

“(…) foi uma situação muito rápida(…) era uma doente nova(…)tinha uns filhos

com 20 e poucos anos, foi assim uma situação, que embora soubessem o que a mãe

tinha não estava a pensar que fosse uma situação tão rápida isto foi difícil para

mim lidar com esta situação visto eles serem tão novos e a Sra. também” (E8).

Page 129: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

129

É algo que a própria literatura confirma quando, Zorzo (2004) referencia que os

profissionais de enfermagem estão necessitando de suporte emocional e educacional

para lidarem com a morte de forma mais harmoniosa e assistirem às reais necessidades

principalmente nos que diz respeito a pessoas mais jovens que estão em iminência de

morte, pois isso sensibiliza mais os profissionais de enfermagem.

Terminamos aqui o penúltimo tema onde foi retratado os sentimentos intrínsecos

marcantes dos participantes do estudo onde a morte é de difícil aceitação por parte dos

mesmos onde as vivências são marcantes e diárias, onde a morte jovem é marcante. Mas

o fato de a morte ser algo de difícil “manuseamento” não deixa de ser algo muito

importante mas sim bastante relevante para que, os profissionais de saúde melhorem a

sua postura, para uma melhor humanização dos seus cuidados tal como vamos ver no

subcapítulo seguinte.

2.6-MELHORAR A HUMANIZAÇÃO DOS CUIDADOS AO DOENTE/FAMÍLIA

Falar de humanização nos cuidados de saúde é referir-se a uma relação humana capaz

em toda a prestação de cuidados, sendo uma exigência necessária para quem cuida de

pessoas (Rodrigues, 2003). É necessário um verdadeiro ambiente humano e

humanizante que passa pela capacidade de estabelecer relações com os colegas, com os

profissionais de saúde e com o doente/família.

O último tema encontrado emergiu da existência de uma pergunta aberta cujo principal

objetivo foi dar oportunidade a cada participante de exprimir os seus sentimentos,

opiniões, sugestões de melhoria, algo que pudesse contribuir para a melhoria da

qualidade de cuidados, a todos os doentes/família em fim de vida. Pelo que sintetizámos

no seguinte diagrama 14 os contributos expressos os quais evidenciam a sua

preocupação na procura permanente da excelência do cuidar.

Page 130: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

130

Diagrama 14- Melhorar a humanização dos cuidados ao doente/família

Fonte: Desenhado pelo autor

Num primeiro tema emergiu a necessidade de aquisição de formação específica na área

por parte de todos os participantes.

Formação (cuidados paliativos)

Cuidar em fim de vida é um dos aspetos que mais preocupa os profissionais de

enfermagem. Lidar com a morte e ajudar a morrer, exige competências aos mais

variados níveis técnicos bem preparados e conscientes da necessidade desta preparação.

A morte desencadeia emoções, como sejam medo, frustração e ansiedade o que dificulta

o atendimento das necessidades destas pessoas, consequentemente, a construção do

cuidado de enfermagem. Pelo que é de extrema importância formar os profissionais de

saúde para dar resposta a esses doentes/família. Cuidar do outro em fim de vida merece

um aprofundamento de conhecimentos, bem como uma preparação com base no

desenvolvimento pessoal do ser humano. Também este estudo não fugiu à regra pelo

que a informação recolhida, revela a preocupação dos participantes em adquirirem

formação para poderem cuidar, com melhor qualidade os seus doentes/família em fim

de vida, como se pode constatar pelas declarações significativas.

Melhorar a humanização

dos cuidados ao doente/família

Formação (Cuidados Paliativos)

Melhorar as condições

físicas

Articulação do trabalho em

equipa multidisciplinar

Melhorar a organização

dos recursos humanos

Page 131: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

131

“Havia de haver enfermeiros mais vocacionados para esta área ou que as pessoas

investissem um pouco na formação (…) para poderem acompanhar melhor

(…)”(E1).

“(…) formação era benéfico fazermos mais(…) formação mais uniforme em que

todas pudéssemos responder ao doente da mesma forma(…)”(E2).

“(…) houvesse mais formação se partisse de um ou dois elementos da equipa até ir

fazer formação ao exterior e depois dar formação no serviço(…)de forma a

estarmos ainda mais preparadas para lidarmos com estas situações que são muito

difíceis(…)”(E4).

“(…)é uma área que precisava de ser mais trabalhada(…) por falta de formação

por falta de estarmos mais atentos a estas situações(…)”(E4).

“(…) se calhar nós temos que nos empenhar mais neste assunto. Sugiro formações

sobre cuidados paliativos”(E8).

Estudos realizados vêm fundamentar a opinião destes participantes, tal como referencia

Magalhães (2009), um estudo que foi feito na América que evidenciou uma

considerável inadequação na formação de enfermeiros sobre cuidar em fim de vida,

demonstrando a necessidade destes profissionais em formação básica adquirir

conhecimentos específicos para cuidar estes doentes. Também Frias (2001) no seu

estudo faz referência que no dia-a-dia da prática profissional os enfermeiros

confrontam-se com o fim de vida das pessoas que cuidam e vão tomando consciência

que o modelo de formação o qual foram preparados não dá resposta às necessidades

interpessoais. Ainda Sapeta (2011) menciona que o detentor de maior formação em

cuidados paliativos, os ajudou a diminuir as dificuldades, a introduzir mudanças

importantes na orientação dos cuidados e sentem-se mais seguros. Muitos reconhecem

que a formação ao longo da vida e a experiência acumulada os ajudou a encontrar outro

sentido e outra filosofia de vida, hierarquizando os seus valores pessoais de modo

distinto.

Outro dos subtemas que emergiram da pergunta aberta foi, articulação do trabalho em

equipa multidisciplinar com algo de importante para humanizar os cuidados.

Testemunho que passaremos a desenvolver seguidamente.

Articulação do trabalho em equipa multidisciplinar

O subtema emergido foi a articulação do trabalho em equipa sugerido pelos

participantes para melhorar a humanização dos cuidados a prestar a esses

doentes/família, assim e pelas declarações significativas, que o trabalho em equipa é

Page 132: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

132

uma “lacuna” na prestação de cuidados à pessoa em fim de vida, mais uma vez o

enfermeiro se sente o único profissional com a necessidade do doente entre mãos,

fazendo o que lhe é possível e tentando debelar a ansiedade daquele que precisa de

ajuda especializada. Tal como a relação médico/enfermeiro por vezes se torna escassa.

Mesmo no seio da equipa de enfermagem por vezes o trabalho em equipa não se

encontra bem definido, parece haver falta de sincronização e uma comunicação ineficaz,

como comprovam as declarações significativas abaixo.

“(…) penso que a nossa relação como equipa não é boa devíamo-nos aceitar

melhor (…) muitas das vezes não conseguimos partilhar(…) é que através de

pequenas partilhas vamos deixando um conhecimento(…) e só assim é que a gente

vai conseguir melhorar”(E2).

“(…) mesmo em relação entre equipa também fosse muito importante nós

melhorarmos a relação entre profissionais(…) quando pedimos apoio a um médico

ele não se afastar, e também nós próprias definirmos estas situações(…)”(E3).

“(…) não é muito fácil nós falarmos nestas questões, temos muitas dificuldades em

falar por vezes partilhamos as nossas vivências com alguns colegas mas não

conseguimos abertura para a equipa toda(…) cada vivência do enfermeiro é uma

vivência única(…)”(E2).

É bom lembrar o que Sapeta (2011), menciona, em que os cuidados ao doente em fim

de vida devem resultar sempre do trabalho de uma equipa multidisciplinar, sua atividade

deve acontecer de modo interdisciplinar, isto é, de complementaridade nas funções e

competências de cada um. Todos são essenciais e necessárias na satisfação das

necessidades do doente e família, numa abordagem holística.

“(…) raramente conseguimos ter acesso à informação que o médico deu à família,

que é uma grande falha.(…) não temos esse feed- back não sei até que ponto não

poderíamos estar presente quando o médico fala com a família(…)”(E3).

“Penso é que nos falta muitas vezes a nível da equipa multidisciplinar não é tanto

a nível da equipa de enfermagem (…) falta aqui a parte médica havia de haver

reuniões com os médicos (…) falta muito e também a família estar presente. Ou

seja a presença de equipa multidisciplinar”(E7).

Depois de referirmos a necessidade de formação, e de melhorar o trabalho em equipa no

sentido de humanizar os cuidados, iremos abordar um outro subtema que nos ajuda a

atingir tal objetivo, o qual trata, da organização dos recursos Humanos.

Page 133: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

133

Melhorar a organização dos recursos humanos

Neste subtema os participantes referem que, melhorar a organização dos recursos

humanos seria uma mais-valia para podermos cuidar destes doentes/família de uma

forma mais humanizada. Não só um maior número de enfermeiros mas sim uma melhor

gestão na distribuição desses enfermeiros aquando dos cuidados muitos específicos ao

doente/família em fim de vida. Esta visibilidade é comprovada pelas declarações

significativas.

“(…) quando nós detetássemos que existia uma situação vivida e que carecia de

mais tempo aquele enfermeiro ficava com menos doentes distribuídos de forma

prestar todo o apoio”(E4).

“Penso é que quando temos um doente em fase terminal devíamos nos organizar

para que a distribuição de doentes permitisse uma maior disponibilidade da

enfermeira que fique com o doente”(E6).

“(…) não devíamos ficar com outros doentes. São momentos em que a pessoa deve

estar calma ter disponibilidade (…)”(E7).

A restruturação do Centro Hospitalar, gera incertezas de segurança profissional e a crise

financeira do país dificulta a admissão de pessoal de enfermagem, havendo curtos

períodos em que o absentismo afeta a disponibilidade de recursos e aumenta a

sobrecarga de trabalho, o que poderá justificar a declaração significativa que se segue.

“(…) pelo que temos vindo a constatar, a diminuir o numero de enfermeiros na

prestação de cuidados cada vez vai ser mais difícil de prestar cuidados adequados

às necessidades daqueles doentes”(E5).

E porque estamos a chegar ao términus da nossa análise não poderíamos de descurar

este último subtema que nos parece também ser de grande importância para a

humanização dos cuidados, onde as condições físicas podem influenciar o cuidar em

fim de vida como já anteriormente foi referido.

Melhorar as condições físicas

Tendo sempre presente a humanização dos cuidados, algo que os participantes

evidenciaram ao longo da informação, pelo que, também o espaço físico foi considerado

como condicionante para a humanização desses mesmos cuidados. Sendo

salientado/apontado como fator para melhorar a humanização desse cuidados, sabemos

pois, que o meio físico em que são prestados cuidados ao doente em fim de vida é um

fator importante para a qualidade destes cuidados. Na realidade portuguesa a maioria

Page 134: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

134

destes doentes estão no hospital de agudos tal acontece no estudo, onde a estrutura física

é desenvolvida para dar resposta unicamente a situações onde o internamento se

pretende curto, com horários rígidos e limitação do número de visitas. O enfermeiro tem

que gerir este espaço para que o cuidado a estes doentes seja personalizado, mas de

acordo com o espaço físico e regras institucionais, algo que se passa também neste

estudo pelo que podemos verificar com as declarações significativas dos participantes.

“(…)o maior erro é a estrutura física, não podemos proporcionar um ambiente

calmo nos últimos dias, a presença da família”(E3).

“(…) não temos um quarto privado que possibilite privacidade à família no

momento do luto, dispor de alguma forma das pessoas auto estimularem-se e nós

próprias fomentarmos essas estimulações(…)”(E2).

“(…) seria importante que houvesse uma sala própria como eu já referi para

prestar esse apoio ao utente e família, para eu o utente estivesse mais recatado se

assim o desejasse(…)”(E4).

“(…) realçando a nossa boa prestação de cuidados mas não posso de salientar a

falta de estrutura física, como um quarto onde o doente possa ter a sua família

junto com privacidade e intimidade, nós damos o conforto ao doente mas em

termos arquitetónicos não temos conforto para o doente.(…) acrescento que nos

falta tudo apenas temos boas enfermeiras de resto não temos nada para o doente

poder morrer com uma morte digna”(E6).

Igualmente Coutinho (2005) salienta a importância das condições físicas e

organizacionais para permitir uma prestação de cuidados humanizados tendo em vista a

excelência. Também o estudo revela por parte dos participantes a importância das

condições físicas para uma melhoria de cuidados proporcionando à pessoa e família

uma morte mais digna ou seja uma morte acompanhada pela família, pelo que morrer

sozinho é sem sombra de dúvida em ato de desumanização por parte dos profissionais

de saúde. A declaração abaixo vem demonstrar que há uma inquietação a este nível,

para que tal não aconteça.

“Eu acho que estes doentes deviam estar sozinhos num espaço, em que pudessem

estar com a família (…) não abandonados (…) haver um local especifico para

estes doentes”(E8).

Também Pinto (1996), refere que a humanização dos espaços gere um ambiente não

apenas limpo, mas agradável para facilitar uma atitude positiva, quer no doente que

espera, quer no profissional que serve, no entanto o espaço físico apropriado no campo

de estudo parece não existir mas, existem por parte dos participantes um esforço no

Page 135: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

135

sentido de mesmo assim proporcionar melhorias como podemos constatar quando um

dos participantes exprime referindo.

“(…) só quando há um quarto de isolamento livre a gente aproveita de resto é

mais difícil”(E8).

Ao chegarmos ao términus da análise de informação, reconhecemos a complexidade do

estudo e salientamos o difícil papel dos enfermeiros na conciliação de saberes e de

desenvolvimento de competência que lhes permitem dar resposta às necessidades do

doente /família em fim de vida.

Finda a etapa de análise, consideramos pertinente apresentar as conclusões do nosso

estudo.

Page 136: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
Page 137: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

PARTE IV – Considerações Finais

Page 138: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
Page 139: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

139

1-CONCLUSÕES

A inquietação sentida em relação à prática de enfermagem com o doente/família em fim

de vida acompanhou este estudo desde a sua fase inicial, e tomando uma forma mais

consciente porque os participantes do estudo nos ajudaram, com o seu precioso

testemunho a enquadrar as diversas óticas desta problemática que nos acompanha

enquanto enfermeiros.

Ao longo da realização deste estudo, foi-nos possível refletir acerca das vivências dos

enfermeiros que cuidam do doente/família em fim de vida, o que os preocupa, o que

valorizam, as suas dificuldades, o significado da doença, as relações familiares, a

“importância” do doente no seio familiar.

As reflexões feitas e mais concretamente as conclusões a que chegámos e que de

seguida apresentaremos, permitem-nos concluir que atingimos os objetivos a que nos

propusemos:

1º Os enfermeiros identificam os doentes em fim de vida com base no diagnóstico e na

informação clínica, com base na sua experiência, na comunicação não verbal e na

falência das funções orgânicas o que está de acordo com as referências bibliográficas

consultadas.

2º Valorizam a importância do apoio afetivo e relacionamento humano na prestação de

cuidados e salientam a importância de minimizar ou erradicar a dor

3º Como estratégias para minimizar o sofrimento e promover o bem-estar, realçam a

gestão terapêutica no alívio da dor, a importância da relação de ajuda e a interação

enfermeiro/família.

4º - Os enfermeiros identificam constrangimentos extrínsecos condicionantes da

prestação de cuidados aos doentes/família em fim de vida e que são:

Estrutura física pouco humanizada

Falta de apoio psicológico

Falta de disponibilidade de tempo

Page 140: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

140

5º Os sentimentos intrínsecos presentes são consubstanciados na dificuldade em aceitar

a morte, sobretudo a morte prematura, em presenciar o momento da morte e da

despedida da família.

6º Os enfermeiros expressam que os cuidados ao doente família poderiam ser

melhorados se houvesse maior preocupação na sua formação em cuidados paliativos, se

a estrutura física dos serviços proporcionasse um ambiente mais humanizado para as

necessidades do doente/família, se a dotação de recursos humanos se adequasse mais ao

tempo necessário para o apoio presencial que o doente família requer para a preparação

e aceitação da morte e se a equipa de enfermagem e a equipa multidisciplinar se

organizasse melhor em termos da necessidades dos doentes.

O estudo possibilitou compreender, a partir dos dados empíricos que, para aliviar o

sofrimento dos doentes em fase final de vida, os enfermeiros desenvolvem um processo

de acompanhamento específico, integral, dinâmico, sistemático e interativo, que

engloba duas fases distintas, mas simultâneas - uma fase em que identificam e avaliam o

sofrimento do doente e outra fase, na qual, o ajudam a viver com o menor sofrimento e

o maior bem-estar possíveis os últimos dias de vida, bem como o ajudam a morrer, de

forma serena e digna. Ao longo destas duas fases os enfermeiros desenvolvem

atividades de avaliação, de relação, de suporte, de informação e de execução. Neste

processo de acompanhamento, o enfermeiro o doente e a família envolvem-se numa

relação profunda em que a cooperação, a concretização de objetivos comuns, a partilha

de emoções, de afetos e de experiências de vida contribui para que ambos se

desenvolvam e se transformem, tornando-se seres mais próprios e mais aptos a lidar

com o sofrimento e com a morte. A presença inteira do enfermeiro e a relação profunda

estabelecida entre ambos emergem como os principais instrumentos para o alívio do

sofrimento. Momentos esses que muitas das vezes não se tornam possíveis segundo

declarações significativas, por falta de disponibilidade em tempo e recursos humanos.

Partindo do princípio que este acompanhamento exige do enfermeiro competências

científicas, técnicas, humanas e relacionais, a experiência de muitos anos e o contacto

diário com o sofrimento e a morte de doentes em final de vida parecem contribuir

fortemente para o desenvolvimento dessas competências.

Os enfermeiros participantes reconhecem a sua vivência emocional, tais como a

angústia, que pode ajudá-los a modificar a sua forma de agir; o medo experienciado

Page 141: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

141

durante o cuidar, que constitui uma reação emocional que está associada à identificação

com a prática de cuidados; a ansiedade que está presente durante o cuidar; e a

dificuldade em aceitar a morte particularmente quando é uma morte mais jovem.

No entanto, este processo de acompanhamento de enfermagem apresenta-se nesta

unidade como algo complexo e difícil, não só pela natureza dos cuidados, mas por uma

série de condicionalismos alguns dos quais já anteriormente referidos, que dificultam o

trabalho do enfermeiro e que o impedem, por vezes, de um cuidado ao doente mais

global e eficaz.

Os participantes verbalizaram neste estudo a necessidade de formação pessoal e em

equipa, e de recursos humanos em número suficiente para fomentar a humanização de

cuidados, falta de disponibilidade em tempo originada segundo os mesmos por

“excesso” de registos, e ainda a não existência de um psicólogo na equipa

multidisciplinar.

Dentro dos recursos institucionais, os enfermeiros participantes consideram relevante

para o “cuidar” a existência de características específicas, no que diz respeito à estrutura

física do serviço. A falta de quartos individuais e a falta de um espaço privado e

humanizado para apoio psicológico foram as principais deficiências referidas.

Ao longo das entrevistas/colheita de informação podemo-nos perceber da importância

de propiciar aos enfermeiros um espaço para entrar em contacto com os sentimentos

evocados pelo quotidiano de dor, perdas, morte e separações. Prevaleceu a impressão de

que, para vários profissionais entrevistados, a entrevista pôde ser um momento único no

sentido de possibilitar o contacto com questões e sentimentos antes não verbalizados.

Ao analisar a informação colhida deparámo-nos com afirmações carregadas de tristeza,

insegurança e falta de apoio por parte daqueles que trabalham com o doente família em

fim de vida.

Cuidar de doentes/família em fim de vida sabemos nós que não é, nem nunca será tarefa

fácil, mas sim, dolorosa, angustiante, fazendo emergir questões existenciais do ser

humano, justifica-se a necessidade de um trabalho de equipa mais coeso e dinâmico que

proporcione aos seus elementos um suporte efetivo no trabalho e uma aprendizagem

constante, fundamentada e sólida, o que foi confirmado pelos participantes.

Page 142: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

142

O enfermeiro tem um papel socialmente reconhecido que gera expetativas e

responsabilidades, mas é também uma pessoa, um ser com sentimentos e emoções que o

podem trair, nomeadamente se não existir o suporte institucional adequado.

Page 143: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

143

2-CONTRIBUTOS, SUGESTÕES E LIMITAÇÕES

Como é habitual, os resultados de um estudo abrem novos caminhos e levantam novas

interrogações. Assim, gostaríamos de expressar algumas sugestões.

No contexto clínico da pesquisa

Consideramos pertinente implementar ações de sensibilização e formação em serviço

sobre como cuidar do doente/família em fim de vida, com a participação dos vários

elementos da equipa, nomeadamente enfermeiros e assistentes operacionais. Assim

como momentos formais regulares e devidamente planeados, onde o profissional de

saúde pudesse comunicar e analisar o que sente, partilhar as suas angústias, mágoas e

receios. Outra ainda, e dentro do mesmo âmbito que me parece fulcral prende-se com a

importância da implementação de reuniões periódicas no seio das equipas, onde a

discussão de situações reais e a partilha de experiências poderiam beneficiar os

profissionais envolvidos e a prestação de cuidados ao doente internado e à família.

Para podermos cuidar com qualidade, não necessitamos apenas de termos um currículo

de grande qualificação, nem sermos intitulados de bons profissionais, é necessário e

primordial a existência e gestão de recursos humanos suficientes, pelo que através do

nosso estudo sugerimos nomeadamente uma melhor gestão na distribuição diária/turno

dos doentes por enfermeiros, ou seja a distribuição se faça de acordo com as

necessidades dos doentes/família e não com o rácio de doente/enfermeiro e muitas das

vezes não olhar ao número de horas de cuidados que a classificação nos apresenta mais

sim olhar ao doente, aquela família, às necessidades existências no momento. Isto é

olhar o doente/família num seu todo e não às horas que estão registadas no papel. As

horas muitas vezes não traduzem as necessidades do doente/família, são situações muito

subjetivas ocasionadas no momento, onde tem que haver perspicácia e bom senso do

enfermeiro que gere os recursos humanos mas também da restante equipa.

Dando continuidade às nossas sugestões e ainda dentro do âmbito dos cuidados porque

para haver bons cuidados não é só necessário haver bons profissionais mas a estrutura

Page 144: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

144

física do serviço também é essencial para a humanização desses mesmos cuidados, daí

que no serviço onde foi desenrolado o estudo também é sugerido por nós alguns

melhoramentos no que diz respeito à privacidade do doente/família. Existência de uma

sala com uma mesa redonda onde os enfermeiros pudessem falar com a família num

ambiente mais íntimo e seguro, onde a aproximação fosse feita numa perspetiva mais

humanizada evitando que a inter relação família/enfermeiro se desenrola-se no corredor,

como podemos comprovar nas declarações significativas.

Também a existência de quartos individuais para este fim, onde a privacidade passasse a

existir.

No contexto da vertente formativa

Em relação à formação pré-graduada (licenciatura em enfermagem) esta deveria ser

mais aprofundada quer a nível de cuidados aos doentes, apoio à família, e estratégias de

conforto em fim de vida, pois como podemos constatar pelos estudos, os participantes

revelam que quando iniciam o seu percurso profissional deparam-se com inúmeras

dificuldades em cuidar destes doentes/família em fim de vida. As escolas deveriam dar

alguns contributos mais específicos nesta área.

No contexto da investigação

Consideramos que a combinação da entrevista com a observação em contexto da prática

clínica, de modo a observar o agir quotidiano dos enfermeiros, quando cuidam da

pessoa/família em fim de vida, pode descrever melhor o mundo de significados e

interpretações dos mesmos e, consequentemente, permitir um conhecimento mais

aprofundado, pelo que seria importante a sua inclusão em estudos futuros.

Pensamos que seria relevante o envolvimento de outros participantes, nomeadamente o

doente e a família, pois consideramos que a sua inclusão no estudo tornaria mais rica a

investigação possibilitando ainda fazer um cruzamento da informação.

Page 145: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

145

No contexto do aperfeiçoamento

Entendemos que para cuidar da pessoa/família em fim de vida, os serviços devem estar

dotados de recursos humanos adequados, pelo que sugerimos uma atenção especial por

parte das entidades responsáveis por esta área. Daí nos parecer oportuno sugerir que este

estudo seja facultado à administração do hospital, de forma a torná-lo acessível a quem

se preocupa com a satisfação dos profissionais na área dos cuidados em fim de vida e na

melhoria constante destes cuidados.

A satisfação do doente e da família será sempre a recompensa de todos os trabalhos de

investigação realizados pelos profissionais que convivem diariamente com a doença, a

dor, o sofrimento, a morte e a perda.

Para terminar, gostaríamos de formular mais uma sugestão, com a humilde pretensão,

de que este estudo possa servir de ponto de partida para outros estudos, e se possível,

realizados em parceria.

Considerando a possibilidade de este estudo se encontrar limitado pela falta de

experiência do investigador quer na realização e condução das entrevistas, como na

análise propriamente dita.

Page 146: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
Page 147: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

147

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABIVEN, M.- Para uma morte mais humana – experiência de uma Unidade

Hospitalar de Cuidados Paliativos. 2ª ed. Loures: Lusociência, 2001. ISBN: 972-

8383-25-8.

ADAMSKI, Marguerite Gelcius; HAGEN, Betty R.Using - Technology to create a

professional environment for recruitment and retention. Nursing Administration

Quarterly, Vol.14, nº4,(1999), p.32-37.

ALMEIDA, D.V. - O ensino da humanização nos programas das disciplinas que

compõem os currículos de graduação em enfermagem. Revista portuguesa de bioética.

Coimbra. Vol. 8 (Set. 2009), p.199-225.

AMIGUINHO, Abílio - Viver a formação construir a mudança. Estudo de caso

baseado numa experiência de inovação – Formação. Lisboa: Educa,1992.

ALVES, S. et al.– Cuidados Paliativos. Enfermagem Oncológica. Coimbra: Formasau,

2004, p.138-159.

BARÓN, G; FÉLIU, J. - El Enfermo Terminal In Tratado de Medicina paliativa y

Tratamiento en el enfermo com Cancer. Madrid. Editorial Panamericana, 1996.

BERNARDO, Ana – O Delírio em Cuidados Paliativos. Revista Portuguesa de Clínica

Geral. Carnaxide. ISSN 0870-7103. Nº1 (2003), p.46-53.

BENNER, Patrícia - De iniciado a perito. Coimbra: Quarteto, 2001. 294 p. ISBN 972-

8535-97-X.

BOGDAN, Robert; BIKLEN, Sari – Investigação qualitativa em educação: uma

introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora, 1994. 336 p. ISBN 972-0-

34112-3.

BOYD, Carolyn – Phenomenology, The Method. In: MUNHALL, Patricia – Nursing

Research: A qualitative perspective. 3ª ed. New York: National League for Nursing.

2001, p. 93-122.

Page 148: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

148

CABRAL, Dinora - Humanizar: entre o projeto de vida e o dever profissional, uma

reflexão. Informar, revista de formação contínua em enfermagem. nº24, (Janeiro/Abril

2001), p.14-17.

CÂNDIDO, Mª Filomena – Opinião dos familiares dos doentes internados num serviço

de medicina de um hospital central de Lisboa – Revista Investigação em Enfermagem.

2001:nº 3.

CARMO, Hermano; FERREIRA, Manuela – Metodologia da investigação. 2ºed.

Lisboa: Universidade Aberta, 2008. 375 p. ISBN 978-972-674-231-9.

CASMARRINHA, Manuela – Familiares do doente oncológico em fim de vida dos

sentimentos às necessidades. Porto: Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar,

2008.

CERQUEIRA, Maria M. A. – Luto na família: cuidar dos que ficam. Nursing. Lisboa.

ISSN 0871-6196. Nº 149 (Dez. 2004), p. 28-33.

COLLIÉRE, M.F. - Promover a vida. LIDEL, 1989.

COSTA, Maria Arminda - Enfermeiros. Dos percursos de Formação à produção de

cuidados. Lisboa: Fim de Século Edições, 1998.

COUTINHO, C.- Humanizar é sempre possível. Informar, revista de formação contínua

em enfermagem. Nº 35 (Jul. – Dez. 2005), p.39-42.

CRESPO, Sílvia M. – Histórias de vida e a doença oncológica terminal. Porto:

Instituto de Ciências biomédicas Abel Salazar, 2009. 138 p.

CURRY, Stephen - Identificação das necessidades e das dificuldades das famílias do

doente UCI. Nursing. ISSN 0871-6196. Nº 94, (1995). p.26-30.

DIAS, Jorge de Figueiredo - Comentário Conimbricense do Código Penal – Parte

Especial Tomo I. Coimbra: Coimbra Editora, 1999. ISBN 972-32-0854-7.

DIOGO, Paula – Necessidades de Apoio dos familiares que acompanham a criança com

doença oncológica no internamento – Pensar Enfermagem. Lisboa. ISSN 0873-8904.

Nº4 (2000), p.12-24.

DIRECÇÃO GERAL DE SAÚDE – Programa Nacional de Cuidados Paliativos –

Circular Normativa Nº 14/DGCG de 13/07/2004.

Page 149: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

149

DOMINICÉ, P. - Experience et aprendissage. Faire de necessite versu.Education

Permanente, 1989.

ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE – Relatório sobre “a carta dos direitos

dos utentes”. [em linha]. (2011) [Consult. 10 Jan. 2013] Disponível em

http://www.adeb.pt/destaque/legislação/Relatório_Carta_Direitos_Utentes.pdf.

ESTANQUE,. Carla Maria - A prática de cuidar o doente oncológico em fim de

vida. Uma abordagem na perspectiva dos enfermeiros. Lisboa: Universidade de

Lisboa, 2011. 204p.

ESTATUTO DA ORDEM DOS ENFERMEIROS – DECRETO-LEI nº111/2009.

ÉVORA, Yolanda Dora Martinez- O paradigma da informática em enfermagem.

Ribeirão Preto: USP , 1998. 117 p.

FERREIRA, A.B.H - Novo Aurélio Século XXI: O dicionário da língua portuguesa.

Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

FERREIRA, C.F. - Morrer na Presença de Quem Cuida. Revista Sinais Vitais, (Set.

2004), p.30-33.

FIGUEIRA, Fátima – Valores universais na prática de enfermagem: competência e

aperfeiçoamento. Ordem dos Enfermeiros. Lisboa. Nº15 (2004).

FILHO, Wilson – A prescrição de enfermagem computorizada como instrumento de

comunicação nas relações multiprofissionais e intra equipe de enfermagem: relato de

experiência. Revista Latina-Americana de Enfermagem. Ribeirão Preto. ISSN 0104-

1169. Nº3 (Jul. 1997), p. 63-69.

FORTIN, Marie-Fabienne – Fundamentos e etapas do processo de investigação.

Loures:Lusociência, 2009. 595 p. ISBN 978-989-8075-18-5.

FORTIN, Marie-Fabienne – O processo de investigação: da concepção à realização.

Loures: Lusociência, 1999. 388p. ISBN 972-8383-10-X.

FORTIN, Marie-Fabienne – O processo de investigação: da concepção à

realização.3ªed.Loures: Lusociência, 2003. 388p. ISBN 972-8383-10-X.

FORTIN, M.; CÔTÉ, J. e FILION, F. (2009). Fundamentos e etapas do processo de

investigação. Loures. Lusodidacta.

FORTIN, Marie–Fabienne; GRENIER, Raymond; NADEAU, Marcel (1999) –

Page 150: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

150

Métodos de colheita de dados. In FORTIN, Marie–Fabienne – O processo de

investigação : da concepção à realização. Loures: Lusociência

FRIAS, Cidália – A aprendizagem do cuidar e a morte: um desígnio do enfermeiro

em formação. Lisboa: Faculdade de Ciências e Tecnologias, 2001.

FRIAS, Cidália – A aprendizagem, do cuidar e a morte: um desígnio do enfermeiro

em formação. Loures: Lusociência, 2003.

GAUTHIER, Benoit, - A estrutura da prova, investigação social: da problemática à

colheita de dados, Loures, Lusociência, 2003.

GIL, António Carlos – Métodos e técnicas de pesquisa social – 3ªedição, São Paulo:

Atlas, 1989.

GIORGI, Amedeo; SOUSA, Daniel – Método fenomenológico de investigação em

psicologia. Lisboa: Fim de século edições, 2010. ISBN 978-972-754-273-4.

GOMES, Ana – O cuidador e o doente em fim de vida- família e/ou pessoa

significativa. Enfermaria Global. Murça. ISSN 1695-6141. Nº18 (Fev. 2010), p.1-9.

GUIMARÃES SM, Gus J, Prestes AMP, Zimmer - Prescrição computadorizada de

enfermagem na sala de recuperação pósanestésica do hospital de clínicas de Porto

Alegre. Revista HCPA & Fac Med Univ Fed Rio Gd do Sul. 1989;9(1):3-9.

GOLANDER, Haver - O desenvolvimento da teoria em Enfermagem a partir da

Investigação Qualitativa e Quantitativa. Enfermagem. Lisboa. ISSN: 0871-0775. n° 3

(1996), p. 30-35.

HESBEEN,W. - Cuidar no hospital: Enquadrar os cuidados de enfermagem numa

perspetiva de cuidar. Loures: Lusociência. 2000.

HESBEEN, W.- Qualidade em enfermagem: pensamento e ação na perspetiva do

cuidar. Loures: Lusociência, 2001.

HUSSERL - http://pt.wikipedia.org/wiki/Fenomenologia

JARDIM, Tânia M. de A. – Lidar com a perda: a vida após a morte. Servir. Lisboa: Vol.

54, nº 4 (Jul.-Ago. 2006), p. 199-202. ISSN 0871-2370.

KUBLER-ROSS, Elisabeth – Sobre a morte e o morrer. São Paulo:Livraria Martins

Fontes, Editora Ltda., 1998; 296p. ISBN: 85-336-0963-9.

Page 151: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

151

LAKATOS, E.; MARCONI, M. - Técnicas de pesquisa. São Paulo: Editora Atlas S.A.

2003.

LAZURE, H. – Viver a relação de ajuda: abordagem teórica e prática de um

critério de competência da enfermeira. Lisboa: Lusodidactica, 1994. ISBN: 972-

95399-5-2.

LEAL, Teresa – A CIPE e a visibilidade da enfermagem: mitos e realidades. Loures:

Lusociência, 2006.

LESSARD-HÉBERT, M & et al. - Investigação Qualitativa - Fundamentos e

Práticas. Lisboa: Instituto Piaget. 1994.

LIMA, Patrícia; SIMÕES, Sílvia – O Luto. Suplemento Nursing. (Novembro 2007).

LIMA, M. – O enfermeiro e o doente em fase terminal [Em linha]. 2006. [Consult. 2

Out. 2007]. Disponível em:

WWW:<URL:http://www.oredemenfermeiros.pt/index.print.php?page=72&view=news

:Print&id=280>.

LOPES, M. - O doente oncológico na fase terminal. Lisboa:Climepsi.2002.

LOPES, M. J.- Os clientes e os enfermeiros: construção de uma relação. Rev.Esc

Enferm USP; Nº 39 (2005), p.220-8.

LOURENÇO, Isabel – A espiritualidade no processo terapêutico: realidade e

importância. Coimbra: Quarteto, 2006. 135p. ISBN 989-558-010-x.

LOUREIRO, L. M.- Adequação e rigor na investigação fenomenológica em

enfermagem: criticas estratégias e possibilidades. Referência. Nº2 (2006). ISSN 0874-

02-83, p. 21-25.

LOUREIRO, João Carlos - Saúde no fim de Vida: entre o amor, o Saber e o Direito.

Revista Portuguesa de Bioética. Nº 4 (2008), p. 38-83.

LUDKE, Menga; ANDRÉ, Marli – Pesquisa em Educação: Abordagens qualitativas.

São Paulo: E.P. 1986.

MAGALHÃES, José C. – Cuidar em fim de vida. Lisboa: Coisas de Ler, 2009. 190 p.

ISBN 978-989-8218-07-0.

MARTINS, Catarina – As necessidades dos familiares dos doentes oncológicos –

Revista de Enfermagem Oncológica, 2000.

Page 152: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

152

MARTINEZ, Miguel - Comportamiento Humano; nuevos métodos de investigación;

México: Ed Trillas. 1989.

MARTINS, José Carlos - Investigação em enfermagem: alguns apontamentos sobre a

dimensão ética. Pensar Enfermagem. Nº12 (2008). p.62-66.

MELZACK, Ronald – Desafio da Dor. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1987.

MERCADIER, Catherine. - O trabalho emocional dos prestadores de cuidados em

meio hospitalar: o corpo, âmago da interacção prestador de cuidados - doente.

Loures: Lusociência, 2004. ISBN 972-8383-82-7. 341p.

MILES, M. B.; HUBERMAN, A. M. – Qualitative data analysis. Thousand Oaks:

Sage Publications.1994.

MOREIRA, Isabel - O doente terminal em contexto familiar. Uma análise da

experiência de cuidar vivenciada pela família. Coimbra Formasau. 2001.

MOREIRA, Daniel A. – O Método Fenomenológico na Pesquisa. São Paulo: Pioneira

Thomson, 2002. 152 p.

MORSE, J. – Aspetos essenciais de Metodologia de Investigação Qualitativa.

Coimbra: Formasau, 2007.

MOURA, Maria da Conceição – A inevitabilidade da morte e o cuidar e, fim de

vida: entre a filosofia e a bioética. Lisboa: Coisas de ler, 2011. 219 p. ISBN 978-989-

8218-66-7.

NETO. I. G. – Modelos de controlo de sintomas. Lisboa: Faculdade de Medicina

(Centro de Bioética), 2006.

NEVES, C., PAVAN, E., e LANNEBERE, M. - Desafios da Enfermagem em

Cuidados Paliativos: “Cuidar” ética e praticas. Loures Lusociencia.2000.

NEVES, L.G. - Alguns Constrangimentos atuais à Humanização. Informar, revista de

formação contínua em enfermagem. Ano XI,nº35 (Jul./Dez. 2005), p.23-28.

NETO, I.; Aitken, HH; Paldron,T. - A Dignidade e o Sentido da Vida, Uma Reflexão

sobre a nossa existência. Lisboa: Ed. Pergaminho. 2004.

NÒVOA, António - Concepções e práticas de formação contínua dos professores”.

In Formação continua dos professores: realidades e perspetivas. Aveiro:

Universidade de Aveiro. 1991.

Page 153: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

153

PACHECO, S. - Cuidar a pessoa em fase terminal – perspetivas éticas.2ª ed. Loures:

Lusociência, 2002. ISBN: 972-8383-30-4.

PACHECO, S. - Cuidar a pessoa em fase terminal: Perspectiva ética. 2ª Ed. Loures:

Lusociência.2004. ISBN: 972-8383-30-4.

PATTON, Michael – Qualitative evaluation and research methods. 2ªed.Newburg

Park: Sage Publications, 1990. 532p. ISBN 0-8039-3779-2.

PEREIRA, I.C. - Cuidar: Sentido genérico/Sentido profissional. Revista Servir. Vol. 44,

nº3 (Mai./jun. 2006), p.114-136.

PEREIRA, M. G. e LOPES, C. - O doente oncológico e a sua família. Lisboa:

Climepsi Editores. 2002.

PEREIRA, Maria A. – Comunicação de más notícias em saúde e gestão do luto.

Coimbra: Formasau, 2008. 446 p. ISBN 978-972-8485-92-4.

PESSINI, L. & BERTACHINI, L. - In Humanização e Cuidados Paliativos. São

Paulo: Edições Loyola, 2004.

PHANEUF, M. – Comunicação, entrevista, relação de ajuda e validação. Loures:

Lusociência, 2005. ISBN: 972-8383-84-3.

PINTO, Vitor Feytor – Entre a vida e a morte, a razão da esperança. Servir.Vol.39,nº1

(Jan.-Fev./1991).

PINTO, V. - Humanização e qualidade de vida. Revista Servir. Vol. 44, nº1 (Jan.-Fev.

1996), p.12-20.

PIRES, M. H. - Cuidar em fim de vida. Lisboa: Escola superior de Enfermagem

Francisco Gentil, 1995.

POLIT, D.F. e HUNGLER, B.P. - Fundamentos de Pesquisa em enfermagem. 3ªed.

Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

POLIT, Denise F.; BECK, Cheryl Tatano; HUNGLER, Bernadette P.- Fundamentos

da pesquisa em enfermagem – Métodos, Avaliação e Utilização. 5ª ed. Porto Alegre:

Artes Médicas, 2004. 487p. ISBN 85-7307-984-3.

PONTE, Maria- Fenomenologia- Método de investigação qualitativa. Revista

Portuguesa de Enfermagem. Amadora. ISSN 0873-1586. Nº18 (Abr.-Jun. 2009). p. 29-

32.

Page 154: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

154

PORTUGAL, Ministério da Saúde - Carta dos Direitos e Deveres do Doente. Lisboa:

DGS, 1998.

QUEIRÓS, A. A. - Ética e Enfermagem. Lisboa: Quarteto Editora, 2001.

QUERIDO, Ana. - A esperança em cuidados paliativos. Mestrado em Cuidados

Paliativos, 2005.

QUIVY, R.; CAMPENHOUDT, L. – Manual de investigação em ciências sociais.

Lisboa: Gradiva, 1992. 275p. ISBN 972-662-275-1.

QUIVY, R.; CAMPENHOUDT, L.- Manual de Investigação em Ciências Sociais. 2ª

ed. Lisboa: Gradiva, 1998. 282p. ISBN 972-662-275-1.

QUIVY, R., CHAMPENHOUDT, V. - Manual de Investigação em Ciências Sociais.

Lisboa, Gradiva, 2008.

RAFAEL, P. - Divulgação. A Humanização nos serviços de Saúde. nº30 (Abr., 1994),

p.26-33.

RIBEIRO, José Luís Pais – Metodologia da investigação em Psicologia e saúde. 2ª

ed. Porto: Legis Editora, 2008.170p. ISBN 978-989-8148-16-2

RILEY, J.B. (2004). Comunicação em enfermagem. 4ª ed. Loures: Lusociência, 2004.

RODRIGUES, E. - O outro na perspetiva do cuidar. Boletim do Hospital de São Marcos

Braga. ANO XIX, nº2, (2003), p.95-101.

ROSSA, Maria - A pessoa em fim de vida - vivências dos enfermeiros. Lisboa:

Faculdade Medicina, 2007. 183 p.

SÁ, T.; MACHADO, L. - Comunicar com doentes ventilados: uma função de

enfermagem. Sinais Vitais, nº67, (2006). p.29 - 34.

SAMPAIO, Anita - Cuidar do doente em fase terminal: Vivências e estratégias

adotadas pelos enfermeiros. Porto: Faculdade de Ciências de Saude, 2011. 83 p.

SANCHES, P.G. - Convivendo com a morte e o morrer : o ser-enfermeiro em

unidade de terapia intensiva. Disponível em http://nou-rau.uem.br/nou-rau/document

2007.

SANCHO, Marcos Gómez - Medicina Paliativa: La respuesta a una necesidad.

Madrid: Arán Ediciones S.A.,1998.

Page 155: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

155

SANTOS – O Enfermeiro…e a morte. 2009. [Consult. 2012-05-24]. Disponível

http://WWW.ordemenfermeiros.pt/.

SANTOS, C.C.V.; SHIRATORI, K. - Comunicação não verbal: importância no cuidado

de enfermagem. Enfermería Global, nº12, (2008). Recuperado em 8 de Fevereiro, 2012,

de http://revistas.um.es/eglobal/article/viewfile/912/912.pdf

SAPETA, Paula – Cuidar em fim de vida: o processo de interacção

enfermeiro/doente. Loures: Lusociência, 2011. 307 p. ISBN 978-972-8930-69-1.

SARAIVA, M.C. (2003). O processo de comunicação em ambiente oncológico:

vivências dos enfermeiros e seus significados. Revista Investigação em Enfermagem, 8,

37 - 48.

SARAIVA, D.M.R.F. Atitude do enfermeiro perante a morte. 2009. Disponível em

http://www.forumenfermagem.org/index.php?option=com_content&view=article&id=3

505:atitude-do-enfermeiro-perante-a-morte&catid=205:abril-a-maio -

SERRÃO, Daniel- O doente terminal. Revista Portuguesa de Medicina Geriátrica. Nº28,

vol. III. (1990). p. 35 -38.

SFAP (Sociedade Francesa de Acompanhamento e Cuidados Paliativos) – Desafios de

enfermagem em cuidados paliativos «cuidar»: ética e práticas – Loures:

Lusociência, 2000:18; 237 p.; ISBN 972-8383-17-7;

BORGES, M. S. – Atuação do Enfermeiro diante do processo de morte e morrer do

paciente terminal. São Gonçalo: Universidade Salgado de Oliveira, 2012. p.93.

SILVERMAN, David - Interpreting Qualitative Data, Methods for Analysing Talk,

Text and Interaction. 2ª ed. London: Sage Publications, 2005.

STEFANELLI, M. C. & CARVALHO, E. C.- A comunicação nos diferentes

contextos da enfermagem. São Paulo: Associação Brasileira de Enfermagem, 2005.

STAKE, Robert – A arte de investigação com estudos de caso. Lisboa: Fundação

Calouste Gulbenkian, 2007. 187 p. ISBN 978-97231-118-7-3.

STRAUSS, A.; CORBIN, J. – Pesquisa qualitativa. 2ªed.Porto Alegre: Armed, 2008.

STREUBERT, Helen; CARPENTER, Dona – Investigação qualitativa em

enfermagem: avançado imperativo humanista. Camarate: Lusociência, 2002. 383 p.

ISBN 972-8383-29-0.

Page 156: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

156

STREUBERT, H. J., & CARPENTER, D. R. - Investigação Qualitativa em

Enfermagem: Avançado o Imperativo Humanista. Loures: Lusociência, 2006. ISBN

972-8383-29-0.

S TR EU BER T, H . ;CA RP EN T ER , D. R . - Qualitative research in nursing:

Advancingthe humanistic imperative. Philadelphia: J. B. Lippincott Company, 1995.

TIMBY, B.K. Conceitos e Habilidades Fundamentais no atendimento de

enfermagem. Trad. Margarita Ana Rubin Unicovsky. – 8ª Ed. Porto Alegre: Artmed,

2007.

THOMAS, C. – A enfermagem e a família no processo de morte da criança: evidências

do conhecimento. Revista da sociedade Brasileira de enfermeiros pediatras. São Paulo.

Nº1 (Jul. 2004), p. 11-18.

TWYCROSS, Robert – Cuidados Paliativos. Lisboa: CLIMEPSI Editores, 2003. 184

p. ISBN 972-796-001-4;

WATSON, J – Enfermagem: ciência humana e cuidar: uma teoria da enfermagem.

Loures: Lusociência, 2002.182p.ISBN 972-8383-33-9.

WATSON, J. - Nursing: the philosophy and science of caring. Boston: Little, Brown

and Company, 1979.

WALDOW, Vera Regina – Cuidar: expressão Humanizador da enfermagem.

Petrópolis: Editora Vozes, 2006.190p.ISBN 85-326-3311-0.

VIEIRA, M. - Aspetos Ético-Legais dos Cuidados Paliativos; - Qual o papel do

enfermeiro. Cuidados Paliativos: Dossier Sinais Vitais. (p.29-39.2000), (1ª ed).

Coimbra; Edições Formasau.

ZORZO, J.C.C. – O processo de morte e morrer da criança e do adolescente:

vivências dos profissionais de enfermagem. Disponível em

http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/22/22133/tde-07072004-114012/pt-br.php.

Page 157: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

APÊNDICES

Page 158: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
Page 159: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

APÊNDICE I

Compilação da análise da informação traduzida nos

temas, subtemas com os respetivos exemplos de

declarações significativas

Page 160: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
Page 161: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Tema Subtema Declarações significativas E

stru

tura

Ess

enci

al:

Fim

de

vid

a:

Per

ceçã

o e

viv

ênci

a d

e q

uem

cu

ida

Rec

onh

ecim

ento

Hum

ano

de

fim

de

vid

a

Diagnóstico/

informação clinica

“Pelos dados do processo do doente e normalmente pela

informação que o médico dá” (E3)

“ O médico costuma informar que o doente está em fase

terminal (…) não é para investir (…) para manter só níveis

de conforto (…)”(E3).

“Através do diagnóstico que vem descrito no diário clinico,

ou por informação colhida por exames, alguma informação

transmitida pelos profissionais de saúde, médicos,

enfermeiros e pelo estado geral do utente, dá-nos também

uma ideia”(E4).

Diminuição/falênci

a das funções

orgânicas

“(…) essencialmente pelo estado geral do doente,(…)muitas

vezes já em estado comatoso ou asténico,(…),já em falência

á resposta terapêutica, (…)os exames (…)também se vê e se

sabe interpretar alguns,(...) Tac ,a monitorização cardíaca,

saturações, pressões arteriais, frequências cardíacas,

traçados(…)” (E1).

“A avaliação é feita em termos objetivos, sinais vitais,(…) o

estado nutricional, a nível de sintomas que o doente já possa

trazer, o fáceis e até em termos de terapêutica, associar até

o estado geral do doente (…),decorrente de tratamentos que

o utente tem vindo a ser submetido,, como o quimioterapia a

radioterapia(…)”(E4).

Experiência

profissional

“(…) sim a experiência, tem-me vindo a dar mais

sensibilidade e a perceber melhor o estadio do

doente(…)”(E2)

“(…) e também pela experiência que vamos tendo ao longo

dos anos, no inicio da carreira temos mais dificuldade em

perceber e até mesmo em termos de noção e perspicácia(…)

com o decorrer dos anos podemos até (…) percebermos o

estádio da doença”.(E4)

“È o reflexo que vamos tendo ao longo dos anos de trabalho

(…) tem a haver com a experiência profissional que temos

com o doente no dia a dia e não logo quando iniciamos a

nossa carreira (…) não existe maturidade suficiente não

existe sensibilidade (…)”(E6).

“A experiência é importante ajuda-nos a lidar com as

situações e ao mesmo tempo a evitar que elas nos deixem

tantas marcas porque o sentimento de impotência é muito

grande e se nós já tivermos certa experiência termos lidado

com situações idênticas ajudam-nos também a lidar com a

situação no momento, que era o que não me tinha

acontecida na altura”(E5)

“(…) até a minha experiência faz com que eu queira investir

mais nessa pessoa mas em certa altura conhecendo a doença

que o doente tem, e pequenas coisas que vão acontecendo

percebo(…), tudo isto me tem vindo a ser adquirido ao longo

dos anos pelas vivências/ experiências (…)” (E2)

Page 162: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Tema Subtema Declarações Significativas

Est

rutu

ra E

ssen

cia

l: F

im d

e v

ida

: P

erce

ção

e v

ivên

cia

de

qu

em c

uid

a

Rec

onh

ecim

ento

Hum

ano

de

fim

de

vid

a Expressão

facial/

verbalização

“(…) é a facto do doente não se sentir desprezado estarmos

próximos deles(…), Dar-lhes apoio estarmos simpáticas,

sorrir é muito importante e se for preciso chorar também se chora, virar a cara não é o ideal”(E2).

“(…) o ambiente mais sossegado com menos ruido com

menos luz, tudo um pouco, podermos fornecer até coisas que

eles gostem, que queiram, sempre que solicitem a nossa

presença a gente estar presente”(E1).

“(…) vai deteriorando a seu estado geral, vai ficando com um fácies mais triste (…) mais revoltados.”(E4)

“(…)avaliação do processo e a avaliação física do utente, a

nível do estado nutricional, a nível de sintomas que o utente

já possa trazer, o fáceis (…).” (E4)

“(…) olhar triste, deprimente, basta um toque e um simples

olhar para nós compreendermos e sabermos (…) não é o

morrer de ausência de sinais vitais é o que a pessoa foi e o

que vai começando a ser ao longo da doença (…).”(E6)

“Ele olhava-me a pedir socorro(…) ficou-me sempre na

memória o olhar desse doente que me olhava nos olhos a

pedir ajuda (…) ainda hoje recordo com angustia.”(E6)

“(…) alguns deles se despedem, e programam ou parecem

que programam ou planeiam que naquele momento querem-

se despedir(…).”(E2)

“(…) outros tentam fazer alguma coisa com a família,

tentam ultimar coisas, alguns objetivos de vida,(…) alguma

coisa que tinham planeado antes de morrer(…) alguns

despedem-se verbalizando mesmo que já conseguiram aquilo

que queriam(…) verem uma visita um filho um irmão(…)

despediram-se desencadearam um ultimo momento de crise

e morreram.”(E2)

“(…) também a informação que o próprio doente nos vai

transmitindo não só o que verbaliza mas as atitudes que vai

demonstrando(…)”(E5)

“(…) os doentes que aceitam e tem noção do final são

capazes de verbalizar que está próximo do fim que se

encontram a piorar, (…) tem algum tipo de desejo

nomeadamente de verem alguém, querer a presença do

padre(…) dizerem e terem a noção que a vida está a chegar

ao fim(…)”(E5).

“(…) eles falam acerca disso, falam-nos que o dia está para

chegar, que não estão preparados para isso dos seus receios

(…) dos objetivos que ainda tem para cumprir, que não

cumpriram, do que fizeram, quais foram as suas vivências,

ai ficamos a saber que a pessoa se está a preparar para

morrer”(E7).

“Pelo fácies do doente (…),às vezes pela própria agonia que

o doente tem” (E8).

Page 163: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Tema Subtema Declarações significativas

Est

rutu

ra E

ssen

cia

l: F

im d

e v

ida

: P

erce

ção

e v

ivên

cia

de

qu

em c

uid

a

Val

ori

zaçã

o d

os

Cu

idad

os

Conforto e

bem estar

“Tento valorizar essencialmente o conforto, a ausência de dor

e o acompanhamento. Procuro sempre que possível que a

família esteja junto do doente.” (E1)

“ Se o doente estiver dispneico tentar também providenciar ou

alertar para que se faça algo para que minimize esse

desconforto(…)”(E1)

“(…) todos os cuidados que envolvam o conforto, se a pessoa

tem calor se a pessoa tem fome. Em termos físicos o conforto,

depois há todos aqueles cuidados em termos sociais e

psicológicos (… ) o doente não se sentir desprezado, estarmos

próximos dele(…)permitir que os doentes tenham as suas

famílias as pessoas significativas a cuidar deles(…)”(E2)

“Valorizo o conforto(…) prestar-lhe os cuidados conforme ele

se sinta bem, e conforme ele se sinta confortável, porque o que

é conforto para mim poderá não ser para ele(…)”(E4).

“(…) é a pessoa sentir-se não é melhor mas menos mal, com

conforto não ter dor, o atuar sobre uma dificuldade

respiratória tentar diminuir-lhe esse sofrimento(…)é a

qualidade da dignidade de ela morrer pelo menos com o

mínimo de desconforto possível”(E5).

“ O conforto e o relacionamento humano, não precisa de mais

nada(…), num estádio de morte em que a olhos nuos se vê que

o doente está a precisar muito de nós mas só a nível de

conforto(…)”(E6).

“ A nível de conforto, e falando dos cuidados de higiene este

tem que ser efetuados com alguma calma com alguma

serenidade, tentarmos planear com ele mesmo não tendo muito

tempo(…) o que acha ou o que é melhor para si (…)”(E7).

“(…) ás vezes o levantar-se para o cadeirão por exemplo,

escolher a fase que ele se sinta melhor, e negociar com ele o

tempo que deve ficar no cadeirão mesmo de forma a ele estar

confortável.”(E4)

“O respeitar quando ele querem ser alimentados, o que eles

querem também, facilidade de lhes dar daquilo que é possível

ou pedir á família quando há possibilidade. A mobilização (…)

doentes que não querem ser mobilizados (…) percecionar o

que eles querem, porque em determinados momentos somos

demasiados autoritários (…) impomos cuidados (…) o doente

pode nem sempre os não aceitar (…) e nós nem sempre

exploramos essa situação (…)”(E2).

“Impomos cuidados, e o doente pode nem sempre os aceitar e

nós não deixamos margem para ele verbalizar(…), que não os

aceita, nós nem sempre exploramos essa situação, se o doente

quer.”(E2)

“(…) essencialmente dar-lhes o conforto na medida que os

doentes querem, e percecionar o que eles querem, porque por

vezes em determinados momentos somos demasiados

autoritários(…)” (E2).

Page 164: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Tema Subtema Declarações significativas

Est

rutu

ra E

ssen

cia

l: F

im d

e v

ida

: P

erce

ção

e v

ivên

cia

de

qu

em

cuid

a

V

alo

riza

ção

do

s C

uid

ado

s

V

alo

riza

ção

do

s C

uid

ado

s

Apoio afetivo e

relacionamento

Humano

“Eu tive ai doentes lhe não lhe dei senão um ombro

amigo(…)”(E6).

“(…)com a presença também de familiares ,se por

ele for desejado(…) podermos fornecer até coisas

que eles gostem, que queiram, sempre que solicitem a

nossa presença a gente estar presente”(E1).

“(…), Normalmente ofereço tudo o que o hospital

pode dar a uma família, se for possível permanecer

junto do doente durante a noite(…), mostro

disponibilidade e vontade para o familiar ficar perto

do doente (…)”(E6).

“(…) dar-lhes apoio estarmos simpáticas, sorrir é

muito importante, e se for preciso chorar com eles

também se chora, virar a cara não é o ideal”(E2).

“(…) é a aproximação do doente logo á entrada a

minha apresentação como pessoa humana o

relacionamento humano o mais importante a

empatia”(E6).

“(…) se eu dou carinho e o afeto aos meus cães,

também dou a uma pessoa numa fase terminal, eu

acho que o relacionamento humano para mim é

essencial. Acho que um doente precisa muito de

carinho e muito afeto, por muito que nós por vezes

digamos não há tempo(…)”(E6).

“Mas o tempo também é uma limitação enorme. O

tempo limita-me a tudo. O tempo na instituição

limita-me a eu não ter contato com a família do

doente”(E6).

Page 165: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Tema Subtema Declarações significativas

Est

rutu

ra E

ssen

cia

l: F

im d

e v

ida

: P

erce

ção

e v

ivên

cia

de

qu

em c

uid

a

Val

ori

zaçã

o d

os

Cu

idad

os

Apoio à

família

“(…), tentar envolver a família que é muito importante, uma vez que

o apoio da família nesta fase terminal ou fim de vida é muito

importante para a pessoa”(E4).

“(…) há muito poucos a querem envolver-se, porque nós temos o

cartão de acompanhante servem para estarem presentes para

participarem numa higiene para participarem em certa atividades

com o doente(…) muitas vezes a família se afasta (…) a família vê em

nós profissionais que estão e que cuidam(…)”(E1).

A facilitar a entrada das visitas, também temos essa facilidade

(…),proporcionar, as visitas ficarem mais tempo (…)”.”Até mesmo

alimentos (…) que a pessoa gosta que a família possa trazer, objetos

que a pessoa tenha alguma ligação especial que os familiares possa

trazer”(E3).

“(…) se o desejo da pessoa ter alguém presente é tentar que isso

seja possível, nomeadamente contactar família, avisar a família que o

doente se encontra pior se querem vir(…) satisfazer esse desejo da

pessoa ou do próprio familiar quando o manifestou(….)”(E5).

“(…) que o doente possa solicitar que se possa fazer, também, fazer

aquilo que nos é pedido desde que isso não vá interferir com nada

que está prescrito ou que seja contra indicado naquela situação”

(E5).

“ (…) temos o cartão de acompanhante que servem para estarem

presentes para participarem em certas atividades com o doente , para

se aperceberem melhor da situação do seu ente querido(…)”(E5).

“(…) é a dificuldade que eles tem em lidar com a situação(…), mas o

sentirem que a gente favorece a presença, o sentir que a gente está

presente, se for necessário alguma coisa, acho que os deixa mais

tranquilo”(E1).

“ (…) é o cuidado social é permitir que os doentes tenham as

famílias as pessoas significativas a cuidar deles (…)”(E2).

“(…), acho que todas as pessoa deviam estar com alguém de família,

acho que era muito importante que a família se envolvesse mais na

fase final”(E8).

“(…), se a gente conseguir conversar com a família e perceber

também o que eles pretendem de nós, se calhar também é mais fácil

nós arranjarmos maneira de a família estar junto do doente”(E8).

“(…), ao conversar com a família nós ás vezes conseguimos perceber

se a família está interessada em participar nos últimos momentos ou

se também é difícil para eles aceitarem e conseguirem estar ao pé do

familiar, nem toda a gente se sente preparada para estar junto de um

familiar que vai partir”(E8).

“Acho que a família muitas vezes até não quer tanto, quanto a gente

pensa (…)”(E1).

“(…), há pessoas que até não querem, querem ficar com uma

recordação daquele familiar, uma recordação que não a vê-lo

morrer(…)”(E3).

Page 166: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Tema Subtema Declarações significativas

Est

rutu

ra E

ssen

cia

l: F

im d

e v

ida

: P

erce

ção

e v

ivên

cia

de

qu

em c

uid

a

Val

ori

zaçã

o d

os

Cu

idad

os

A gestão

terapêutica e o

alívio da dor

“O protocolo de atuação da dor (…) facilitava,

em algumas situações” (E2).

“Para já o alivio da dor, tentar que a pessoa não

tenha dor, proporcionar um ambiente calmo

(…)”(E3).

“ Quanto à terapêutica saber se ele tem dores ou

não e também gerir com a equipa o que também

funciona melhor”(E7).

“(…)se tiver analgesia prescrita administro(…)

se não tiver solicito ao médico(…) depois poderá

haver outro tipo de prescrições(…) massagem,

posicionamento uma administração de

oxigénio(…) alguma coisa que o doente possa

solicitar(…)”(E5).

“ (…) só me lembro das farmacológicas, embora

saiba que hajam outras técnicas, outras que se

possam fazer mas só temos disponíveis as

farmacológicas ou posicionamentos se o doente

referir dor naquela posição.”(E1).

“ Houve uma doente recentemente por exemplo

os bochechos, os cuidados de higiene oral eram

muito importantes ela adorava.”(E2).

“Privilegiar a terapêutica subcutânea, quando se

privilegia hoje em dia a endovenosa, (…) , evitar

picá-los, fazer terapêutica subcutânea,

essencialmente reduzir o sofrimento (…)”(E2).

Page 167: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Tema Subtema Declarações Significativas

Est

rutu

ra E

ssen

cia

l: F

im d

e v

ida

: P

erce

ção

e v

ivên

cia

de

qu

em c

uid

a

Est

raté

gia

s p

ara

min

imiz

ar o

so

frim

ento

e p

rom

ov

er o

bem

est

ar (

do

doen

te/f

amíl

ia)

Interação

Enf º

/família:

Diminui

ansiedade

e promove

a

confiança

“(…) , eles tentam sempre saber até ás vezes a medicação que estão a fazer,

exames que mesmo assim vão fazendo, em que eles vão perguntando e nós

vamos dando resposta.”(E1).“

(…) mas o sentirem que a gente favorece a presença, o sentir que a gente está

presente, se for necessário alguma coisa, acho que os deixa um pouco

tranquilos (…)”(E1).

“Penso que trabalhamos bem, que quanto á família damos tudo o que temos ao

nosso alcance a nossa resposta aos familiares é positiva, respeitamos os

sentimentos daquela família”(E6).

“(…) temos que enfrentar mais estas situações, irmos mais juntos daqueles que

são mais significativos, da família, não termos medo de falar com as

pessoas(…) não direi facilmente porque nunca é fácil estas coisas(…) mas

podem ir aceitando este processo (…) faz com que a enfermeira se empenhe no

processo de luto da família(…) faz parte das nossas competências (…)”(E2).

“Um doente em fase terminal nem sempre está com a situação familiar e ele

próprio estabilizado. (…)o doente deixa de conversar fica prostrado, deixa de

interagir(…) fica desorientado nestes momentos nós temos que acompanhar a

família, porque a família não compreende estas situações nós temos o dever de

lhes explicar(…) para que eles também facilmente poderem

compreender(…)”(E2).

“(…) procuro facilitar a proximidade entre as pessoas significativas e o doente,

e depois existe um conjunto de necessidades um apoio psicológico uma pessoa

com quem conversar, uma partilha(…)”(E2).

“(…)alguns familiares tentam desabafar connosco , gostam de dar uma

palavra a quem cuida procurando saber sempre mais do diagnóstico, tentam

saber sempre mais alguma coisa, saber se há mais alguma coisa a fazer ou se

não há(…)”(E3).

“Conversando com as pessoas procurando saber o que elas pretendem de nós

para as podermos ajudar nesta ultima fase”(E8).

“(…), temos vários tipos de famílias umas que recusam e nem querem falar

sobre isso, outras sim, querem ser informadas(…), encaminhamo-las para o

médico para lhes ser dado informações clinicas(…), e nós damos-lhe sobre a

parte de enfermagem(…)”(E4).

“(…) como equipa acabamos sempre por favorecer, ou tentar arranjar um

espaço zinho, ou tentar privatizar a zona um pouco mais isolada, dar algum

conforto á família para estar sentada, mais junto(…)” (E1).

“(…) não é preciso ter um dia inteiro, ás vezes também dar um conforto ao

doente e família se agente de vez enquanto passar e disser como é que ele está?

Está tudo bem? Como é que está? Precisa de alguma coisa? Ás vezes também

só cinco minutinhos de vez enquanto, acaba por ser o suficiente (…) para

diminuir um pouco a ansiedade(…)”(E6).

“(…) alguns deles sentem uma inquietação na segurança de quem cá fica (…) é

necessário que eles fiquem mais tempo(…) para eles terem a noção que os

cuidados que lhes vamos garantir são seguros(…) isto é uma necessidade da

família que gosta de ficar cá de noite , ou quer ficar até á meia noite(…) os

familiares ficam com um certo alivio”(E2).

“ (…) é o cuidado social é permitir que os doentes tenham as famílias as

pessoas significativas a cuidar deles (…)”(E2).

“(…) isto é uma necessidade da família que gosta de ficar cá de noite, ou quer

ficar até á meia noite(…)”(E2).

“(…) já tivemos experiências de doentes que ficaram com familiares na

enfermaria(…)”(E1).

“(…) permanecer junto do doente durante a noite, se o familiar verbalizar

vontade de vir para junto do doente ou o doente necessitar da sua presença eu

telefono, mostro disponibilidade e vontade(…)” (E 6).

Page 168: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Tema Subtema Declarações Significativas

Est

rutu

ra E

ssen

cia

l: F

im d

e v

ida

: P

erce

ção

e v

ivên

cia

de

qu

em c

uid

a

Est

raté

gia

s p

ara

min

imiz

ar o

so

frim

ento

e p

rom

ov

er o

bem

est

ar (

do

doen

te/f

amíl

ia)

Consciência

da

utilização,

Importância

da relação

de ajuda

“(…) dar um conforto ao doente e família se a gente de vez

enquanto passar e disser como ele está?, como é que está?,

como é que se está a sentir?, está tudo bem?, precisa de alguma

coisa?(…)” (E1).

“Ir ao encontro das famílias, saber as suas necessidades e

preocupações(…)se pretendem estar mais tempo junto do

doente. ouvi-las (…) alguns tentam desabafar connosco, gostam

de dar uma palavra a quem cuida(…)”(E3).

“(…) tento disponibilizar tudo o que esteja ao meu alcance

tentando dar aquilo que eles precisam doente/família numa

forma de relação de ajuda(…)a gente poder fazer por eles

naqueles últimos momentos.”(E3).

“Respeitar o que eles querem(…)dar-lhes daquilo que é

possível ou pedir á família quando há possibilidades(…)”(E2).

“(…) eles nesta fase careciam de mais, precisavam que nós

estivéssemos até constantemente junto a eles estou consciente

da necessidade de ajuda que neste momento é tão preciosa para

a pessoa e família, a tão nossa designada relação de

ajuda(…)”(E4).

“(…) tentar visualizar a pessoa/família (…) necessitam de uma

atenção diferente, até mesmo em termos de comunicação (…)

mais calma atenta(…) uma atenção diferente para os

familiares(…)” (E3).

“(…) o relacionamento humano para mim é essencial(..) um

doente precisa de carinho e muitos afetos(…)” (E6).

Page 169: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Tema Subtema Declarações significativas

Est

rutu

ra E

ssen

cia

l: F

im d

e v

ida

: P

erce

ção

e v

ivên

cia

de

qu

em c

uid

a

Sen

tim

ento

s n

o c

uid

ar e

xtr

ínse

cos

ao p

rofi

ssio

nal

Falta de

Apoio

Psicológico

“(…)até porque não temos o tal apoio psicológico que

deveríamos ter ,também não temos e ás vezes não temos

sensibilidade para percebermos se a pessoa está deprimida,

se a pessoa fala pouco ou temos que a estimular muito e

muitas vezes, não temos capacidade em tempo para verificar as emoções da pessoa(…) isso era muito importante”(E2).

“(…) não temos o tal apoio psicológico que deveríamos ter

(…) não temos sensibilidade para percebermos se a pessoa

está deprimida(…)”(E5).

“(…) mais acompanhada mais sistemática, que de fato nós

no internamento não temos esse apoio psicológico que de fato

era pertinente(…)”(E4).

“(…) julgo que o nosso serviço perde por não ter o apoio

psicológico ao doente e família não temos um apoio

psicológico especifico os psicólogos aqui somos nós(…)

deveríamos ter muito mais apoio a esse nível (…) corremos o

risco muitas das vezes não estarmos ao alcance do que a

família precisa” (E2).

“(…) não temos psicóloga (…) nós enfermeiras tentamos dar

o nosso máximo, não tenho nenhum curso de psicologia a

minha psicologia aquela que a vida me tem ensinado(…) uma

presença de uma psicóloga que deveria estar ao lado destes

doentes e família”(E6).

Falta de

Condições

Físicas

“ Acontece que o doente vem a morrer ali na enfermaria

naquela confusão toda, pelo que havia de haver um espaço

mais calmo mais sossegado, mais isolado (…) mais

privacidade nesta fase e que não a tem”(E1).

“Não tenho uma sala para poder conversar (…) não temos

espaço de conforto à família, as pessoas estão a chorar no

corredor, desesperam no corredor (…)”(E2).

Page 170: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Tema Subtema Declarações significativas

Est

rutu

ra E

ssen

cia

l: F

im d

e v

ida

: P

erce

ção

e v

ivên

cia

de

qu

em c

uid

a

Sen

tim

ento

s n

o c

uid

ar e

xtr

ínse

cos

ao p

rofi

ssio

nal

Falta De

Disponibilidade

De Tempo

“Mas a morte assusta-me muito porque não sou capaz de definir nem

encontrar estádio para ela(…) assusta-me muito eu sou daquelas enfermeiras que me ponho atrás de um biombo para ver se vejo alguma

coisa mas ainda não consegui ver nada, mas um dia vou ver”(E6).

“(…) nem sempre nós nos sentimos confortáveis naquela posição(…) isso meche com os sentimentos nossos, com uma série de outros fatores que

muitas vezes nos desculpamos com a falta de tempo real para fugirmos um

bocadinho àquela situação, porque interfere com muitos sentimentos(…)”(E5).

“Não há tempo porque a exigência a que somos diariamente confrontados

não é compatível com o numero de enfermeiros(…)”(E6).

“(…) a nível dos recurso humanos(…) a estrutura física é essencial mas

mais ainda são os recursos humanos”(E7).

“(…) pelo que temos vindo a constatar, a diminuir o numero de

enfermeiros na prestação de cuidados cada vez ser mais difícil de prestar

cuidados adequados ás necessidades daqueles doentes”(E5).

“(…) nós temos um trabalho, onde trabalhamos com o sistema de

classificação de doentes, mas as horas do trabalho em si não visualizam os

cuidados do doente oncológico (…) e não temos de fato disponibilidade (…) saber que a colega está a falar com uma família muito importante, ou

com um doente especial, (…) que nem sempre esta disponibilidade é

permitida temos muitos doentes muitos registos muita medicação, pouco recurso humanos e ás vezes é muito limitante”(E2).

“(…) a nossa disponibilidade de tempo é restrita(…) se nos solicitarem a presença durante algum tempo nós temos outros doentes para cuidar e não

vamos conseguir fazer aquilo que seria correto(…)”(E5).

“(…) também não temos , a gente não consegue ficar com 7 ou 8 doentes

numa tarde por exemplo e tirar meia hora ou uma hora (…) para estar ao

pé da família é muito complicado, não temos condições nem tempo(…)”(E1).

“(…) penso que existe mas não é implementado no nosso serviço um tipo de

classificação de doentes de forma a que ficasse visível que aquele utente carecia de mais tempo (…) mais disponibilidade para(…)”(E4).

“(…) nós temos um trabalho, onde trabalhamos com o sistema de

classificação de doentes, mas as horas do trabalho em si não visualizam os

cuidados do doente oncológico (…) e não temos de fato disponibilidade (…) saber que a colega está a falar com uma família muito importante, ou

com um doente especial, (…)”(E2).

“(…)é uma situação diferente, pelo que nem sempre esta disponibilidade é permitida temos muitos doentes, muitos registos, muita medicação, poucos

recursos humanos e ás vezes é muito limitante”(E2).

“(…)método de trabalho utilizado, em termos de registos que é muito

complicado, em termos de entradas, em termos de altas(…) em termos de

registos tem que estar efetuados(…)”(E3).

“(…) a falta de tempo o que nos exigem e as burocracias são enormes, o

plano a nossa escrita(…) no computador (…)”(E6).

“Além da falta de tempo que temos para estarmos com o doente e família

os cuidados realizados a “correr “vira-se o doente e volta-se a vem-se

para o computador (…)”(E6).

“ (…) a informatização (…) vem de certa forma retirar horas para

podermos cuidar dos doentes(…)”(E6).

“(…) temos que saber usar os instrumentos(…) mete-nos ali umas

intervenções mas ditas chaves, que nós somos obrigadas a cumprir se não cumpro tenho não conformidade, estão e o doente (…) devia ser o

centro(…) neste momento está de lado(…)”(E6).

Page 171: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Tema Subtema Declarações significativas

Est

rutu

ra E

ssen

cia

l: F

im d

e v

ida

: P

erce

ção

e v

ivên

cia

de

qu

em c

uid

a

Sen

tim

ento

s m

arca

nte

s in

trín

seco

s ao

pro

fiss

ion

al

Medo/

angústia/

Dificuldade

em aceitar

a morte

“Ainda hoje depois de muita experiência e situações tenho dificuldade em lidar

com a morte porque continuo a achar que não morremos mas sim acontece uma transformação”(E6).

“(…) uma forma de fugir(…) tentar resolver facilmente, propondo rapidamente

para cuidados paliativos, não sei até que ponto poderíamos reunir condições para manter junto de nós o doente até aos seus últimos dias”(E3).

“Sim sim foge-se um bocado não sei quais os motivos que levam a fugir ainda

não avaliei bem esse aspeto(…)”(E6).

“(…)nem sempre nós nos sentimos confortáveis naquela posição e termos a

capacidade de lhe dar o apoio e o conforto(…) fugimos um bocadinho (…)

interfere com muitos sentimentos (…). Quem tem dificuldade em aceitar a morte também tem alguma dificuldade em cuidar do doente que está a

morrer(…)”(E5).

“No que respeita ao doente temos um bom relacionamento, mesmo a malta

jovem que acaba hoje o curso trás uma maneiras até choram sem querer e

fogem”(E6).

“Um doente que me pede ajuda e eu não consegui aproximar dele a dizer-me

que ia morrer mas eu não consegui (…) assustou-me muito, porque não

conseguir dar aquilo que ele me pediu (…) morreu sem ajuda de ninguém(…)”.”O sr olhava-me nos olhos e eu tenho medo. Ele olhava-me a

pedir socorro (…)e ainda hoje recordo com angústia. Mas no fundo penso que

fiz o meu papel como pessoa humana fui até ao fim dos meus limites”(E6).

“(…) acompanhei de perto a situação (…) quando elas estavam mesmo nos

últimos minutos estive junto da filha e marcou-me bastante (…) e o fato de eu ter lá ficado junto delas foi bom(…)”(E3).

O

momento

da morte e

a

despedida

da família

“(…) acompanhei de perto a situação e estive presente (…)nos últimos minutos estive junto a ela junto da filha e marcou-me bastante(…) é complicado a gente

acaba também por passar para o lado das filhas(…) somos filhas somos mães,

acabamos por vivenciar e pensar, poderia ser a minha mãe, poderia ser eu que estava no lugar dela(…)”(E3).

“(…) capazes de verbalizar que está próximo do fim(…) que muitas vezes estão á espera de alguém(…) querem a presença do padre ou familiar ou de alguém

que lhe seja próximo(…)”(E5).

“ (…) o doente dizer que é o ultimo dia de vida (…) alguns deles se despedem, programam ou parecem que programa ou planeiam (…) querem-se

despedir(…)”(E2).

“ Estou-me a lembrar das minhas experiências mais significativas, e uma delas

foi recentemente, foi depois de verem um familiar, despediram-se

desencadearam um ultimo momento de crise e morreram”(E2).

“(…) acompanhei de perto a situação e estive presente (…)nos últimos minutos

estive junto a ela junto da filha e marcou-me bastante(…) é complicado a gente acaba também por passar para o lado das filhas(…) somos filhas somos mães,

acabamos por vivenciar e pensar, poderia ser a minha mãe, poderia ser eu que

estava no lugar dela(…)”(E3).

“(…)ele estava prestes a morrer por todo o conjunto de situação e estava a

aguardar que o filho viesse e foi só quando o filho veio que ele, despediu-se e morreu de uma forma pacifica(…)”(E5).

Dificuldade

na

aceitação

da morte

na idade

jovem

“Alguns mais jovens, tenho mais dificuldade em aceitar(…)”(E2).

“(…) foi uma situação muito rápida(…) era uma doente nova(…)tinha uns filhos com 20 e poucos anos, foi assim uma situação, que embora soubessem o

que a mãe tinha não estava a pensar que fosse uma situação tão rápida isto foi

difícil para mim lidar com esta situação visto eles serem tão novos e a sra. Também” (E8).

“(…) os doentes estão sempre á espera da família para se despedirem, que é uma coisa que eu noto despedimento aqui no elo de ligação entre pai e filho,

mãe e irmã ,tudo tem um elo de ligação que profundamente me choca e isso

meche muito comigo(…)”(E6).

Page 172: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Tema Subtema Declarações Significativas

E

stru

tura

Ess

enci

al:

Fim

de

vid

a:

Per

ceç

ão

e v

ivên

cia

de

qu

em c

uid

a

Mel

hora

r a

hu

man

izaç

ão d

os

cuid

ados

ao d

oen

te/

fam

ília

Formação

(cuidados

Paliativos)

“Havia de haver enfermeiros mais vocacionados para esta

área ou que as pessoas investissem um pouco na formação

(…) para poderem acompanhar melhor (…)”(E1).

“(…) formação era benéfico fazermos mais(…) formação

mais uniforme em que todas pudéssemos responder ao

doente da mesma forma(…)”(E2).

“(…) houvesse mais formação se partisse de um ou dois

elementos da equipa até ir fazer formação ao exterior e

depois dar formação no serviço(…)de forma a estarmos

ainda mais preparadas para lidarmos com estas situações

que são muito difíceis(…)”(E4).

“(…)é uma área que precisava de ser mais trabalhada(…)

por falta de formação por falta de estarmos mais atentos a

estas situações(…)”(E4).

“(…) se calhar nós temos que nos empenhar mais neste

assunto. Sugiro formações sobre cuidados paliativos”(E8).

Articulação do

trabalho em

equipa

multidisciplinar

“(…) mesmo em relação entre equipa também fosse muito

importante nós melhorarmos a relação entre

profissionais(…) quando pedimos apoio a um médico ele

não se afastar, e também nós próprias definirmos estas

situações(…)”(E2).

“(…) penso que a nossa relação como equipa não é boa

devíamo-nos aceitar melhor (…) muitas das vezes não

conseguimos partilhar(…) é que através de pequenas

partilhas vamos deixando um conhecimento(…) e só assim é

que a gente vai conseguir melhorar”(E2).

“(…) não é muito fácil nós falarmos nestas questões, temos

muitas dificuldades em falar por vezes partilhamos as nossas

vivências com alguns colegas mas não conseguimos

abertura para a equipa toda(…) cada vivência do

enfermeiro é uma vivência única(…)”(E2).

“(…) raramente conseguimos ter acesso á informação que o

médico deu á família, que é uma grande falha.(…) não temos

esse feed- back não sei até que ponto não poderíamos estar

presente quando o médico fala com a família(…) “(E3).

“Penso é que nos falta muitas vezes a nível da equipa

multidisciplinar(…) havia de haver reuniões com os médicos

(…) falta muito e também a família estar presente”(E7).

Page 173: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Tema Subtema Declarações significativas

Est

rutu

ra E

ssen

cia

l: F

im d

e v

ida

: P

erce

ção

e v

ivên

cia

de

qu

em c

uid

a

Mel

hora

r a

hu

man

izaç

ão d

os

cuid

ados

ao d

oen

te/

fam

ília

Melhorar a

organização

dos

recursos

Humanos

“(…) quando nós destetássemos que existia uma situação

vivida e que carecia de mais tempo aquele enfermeiro ficava

com menos doentes distribuídos de forma prestar todo o

apoio”(E4).

“(…) pelo que temos vindo a constatar, a diminuir o numero

de enfermeiros na prestação de cuidados cada vez vai ser

mais difícil de prestar cuidados adequados ás necessidades

daqueles doentes”(E5).

“Penso é que quando temos um doente em fase terminal

devíamos nos organizar para que a distribuição de doentes

permitisse uma maior disponibilidade da enfermeira que

fique com o doente”(E6).

“(…) não devíamos ficar com outros doentes. São momentos

em que a pessoa deve estar calma ter disponibilidade. A

estrutura física é essencial mas mais ainda são os recursos

humanos”(E7).

Melhorar

as

Condições

físicas

“(…)o maior erro é a estrutura física, não podemos

proporcionar um ambiente calmo nos últimos dias, a

presença da família”(E3).

“(…) não temos um quarto privado que possibilite

privacidade á família no momento do luto, dispor de alguma

forma das pessoas auto estimularem-se e nós próprias

fomentarmos essas estimulações(…)”(E2).

“(…) seria importante que houvesse uma sala própria como

eu já referi para prestar esse apoio ao utente e família, para

eu o utente estivesse mais recatado se assim o

desejasse(…)”(E4).

“(…) realçando a nossa boa prestação de cuidados mas não

posso de salientar a falta de estrutura física, como um quarto

onde o doente possa ter a sua família junto com privacidade e

intimidade, nós damos o conforto ao doente mas em termos

arquitetónicos não temos conforto para o doente.(…)

acrescento que nos falta tudo apenas temos boas enfermeiras

de resto não temos nada para o doente poder morrer com

uma morte digna”(E6).

“Eu acho que estes doentes deviam estar sozinhos num

espaço, em que pudessem estar com a família (…) não

abandonados (…) haver um local especifico para estes

doentes”(E8).

“(…) só quando há um quarto de isolamento livre a gente

aproveita de resto é mais difícil”(E8).

Page 174: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
Page 175: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

APÊNDICE II Guião da Entrevista

Page 176: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
Page 177: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Guião da Entrevista

Entrevista ______ Data / /

Inicio ____h____m Fim ___h____m

Identificação do Participante

Idade: Sexo: Estado civil:____

Tempo de exercício profissional_____________

Tempo de exercício profissional no serviço de Especialidades

Médicas______________

Introdução

Fundamentos

e intensões

do

investigador

1. Apresentação da investigação

2. A entrevista

…Objetivos

…O que se espera do entrevistado e a razão da sua

inclusão entre os participantes

…Utilidade da entrevista

…Tempo de antevisão

…Gravação (autorização, escrita e oral / anexo)

…Negociar estratégicas para validação da análise

dos dados

3. Informar sobre o modo de assegurar o anonimato

do entrevistado

4. Informar sobre a oportunidade de interromper a

entrevista.

Observações

Acordar

estratégias

para

validação da

informação

Questões orientadoras

1-Como é que sabe que a pessoa de quem cuida está Observações

Page 178: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Fase de balanço

Sugestões para uma

melhoria e/ou

mudança de atitudes

/postura.

--agradecer a colaboração e disponibilidade do

entrevistado.

--Calendarizar encontro ou formas para a

validação da análise da informação.

Fase Narrativa

a morrer?

Pontos a indagar: experiência,

2-Fale-me das intervenções de enfermagem que

valoriza na prestação de cuidados ao doente.

Pontos a indagar: dor, conforto, terapêutica,

qualidade de vida.

3- Como identifica as necessidades da família?

Pontos a indagar: junto do doente, comunicação,

interesse a presença continua, atitude empática,

estrutura física, apoio social

3.1-Como é que planeia os cuidados de apoio à

família?

Pontos a indagar: disponibilidade, simpatia,

empatia, recursos…

4-Que investimento faz em termos de

desenvolvimento de competências de

relação?

Pontos a indagar: formação em serviço, formação

externa, necessidades

5- Fale-me de uma experiência que mais a marcou

em termos emocionais e quais os sentimentos que

então vivenciou?

Pontos a indagar: família, amigos, sentimentos,

fragilidades….

6-Que sugestões você me aponta ?

Pontos a indagar falhas, melhoria, mudanças.

-Adotar uma

postura de

atenção

-Acatar os

silêncios do

entrevistado

-Pedir

esclarecimen

tos

relacionados

com a

narração

-Requerer

exemplos,

caso se torne

necessário

Page 179: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

APÊNDICE III

Transcrição de uma entrevista (Exemplo)

Page 180: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
Page 181: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

P) Como é que sabe que a pessoa de quem cuida está a morrer?

R) Através do diagnóstico que vem descrito no diário clínico, ou por informação

colhida, por exames, alguma informação transmitida também pelos profissionais de

saúde, médicos, enfermeiros e pelo estado geral do utente, dá-nos também uma ideia.

P) E experiência que vamos tendo ao longo dos anos? Diz-lhe alguma coisa?

R)Sim, exatamente, no início de carreira temos mais dificuldade em perceber, em

termos essa noção e perspicácia, enquanto com o decorrer dos anos é muito mais fácil a

gente conseguir ter essa noção, olhar para o utente em termos de avaliação. É muito

mais fácil a gente, até percebermos qual é até o estádio da sua doença em que está e o

fim de vida.

P) Como faz essa avaliação?

R) A avaliação é feita em termos objetivos, sinais vitais, avaliação do processo e a

avaliação física do utente, a nível do estado nutricional, a nível de sintomas que o utente

já possa trazer, o fáceis e até em termos de terapêutica, associar até o estado geral do

utente com a terapêutica que ele já faz, em termos de analgesia tudo isso poderá dar-nos

já uma indicação de como está o estado do utente.

P) Que sintomas são esses?

R) Sintomas, poderão ser decorrente de tratamentos que o utente tem vindo a ser

submetido, como a quimioterapia a radioterapia, poderão ser sintomas de náuseas,

Entrevista nº 4

Inicio: Agradecimento, apresentação do tema, objetivos e seu consentimento. O

participante leu e assinou.

Local: Tranquilo, ausente de barulhos e sem interrupções.

Data -22/05/2012 com a duração de cerca de 45 min.

Nota: Antes da entrevista foi dito ao participante que a qualquer momento a

poderia suspender.

P – Pergunta

R- Resposta

Page 182: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

vómitos, até diarreia de acordo com a tolerância do utente em relação ao tratamento que

está a fazer, a anorexia, a pessoa começa a ficar com perda de apetite. A pessoa vai

deteriorando o seu estado geral, vai ficando com um fácil mais triste, por vezes eles já

conhecem o diagnóstico, até o próprio fácil mais triste, mais revoltados.

P) Gostaria que me falasse das intervenções de enfermagem que valoriza na prestação

dos seus cuidados.

R) Valorizo o conforto do utente, tento envolver a família que é muito importante, uma

vez que o apoio da família nesta fase terminal ou fim de vida é muito importante

também para o utente. Em termos de intervenções mais abrangentes e já pensando no

estado geral do utente, em termos de apoio psicológico em termos de apoio nutricionista

se fosse necessário, intervenções mais específicas, direcionadas para o conforto.

P) Que conforto é esse? Que medidas?

R)O conforto em termos de apoio emocional, o conforto até conforto, se a pessoa quiser

ficar por exemplo na cama, prestar-lhe os cuidados conforme ele se sentir bem, e

conforme ele se sinta confortável, porque o que é conforto para mim poderá não ser para

ele, às vezes o levantar-se para o cadeirão por exemplo, escolher a fase que ele se sinta

melhor, e negociar com ele o tempo deve ficar no cadeirão mesmo de forma a ele estar

confortável.

P) Falou ai em termos psicológicos, apoio psicológico, que apoio é esse?

R) Apoio será no sentido de podermos ser nós a dar, ou poderá ser através de um

psicólogo, porque por vezes as pessoa tem necessidades e muitas das situações os

utentes não tem família ou sentem-se só ou pessoas que se dão mal com as famílias e até

querem que haja um reencontro, nesta fase final da vida, eles até querem ver essa

família que até então se deram mal, durante anos, e esse apoio seria nesse sentido, de

forma a pessoa a ultrapassar todos os rancores, algum mal estar que a pessoa tenha que

se sinta durante o internamento e durante essa fase final. Podem até não querer ter esse

reencontro, mas ter alguém que os apoie nessa decisão que os apoio nesta fase,

expressarem os seus sentimentos, que eles fazem connosco mas de uma forma mais,

mais acompanhada, mais sistemática, que de fato nós aqui no internamento não temos

esse apoio psicológico, que de fato era pertinente, agente dá mas nem sempre temos

também muito tempo para estarmos junto destes utentes, e prestar todo este apoio que

por vezes eles necessitam.

P) Refere que muitas das vezes não têm esse tempo. Porquê?

R) O tempo pode ser visto como uma fuga, nós dizermos que não temos tempo, mas eu

não estava a falar nesse sentido, uma fuga porque esta fase, também é difícil para nós, e

nós por vezes envolvemo-nos nestas situações e que se nós, não temos tempo e vamos

fazendo outras coisas e não estamos com eles, mas por vezes o tempo é mesmo uma

limitação, porque temos muitas rotinas temos muitos cuidados que nós temos que

Page 183: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

prestar, apesar de termos sempre um tempinho para estarmos com aquele utente e falar

com ele e tentar perceber quais são as suas angustias e as suas preocupações, eles nesta

fase careciam de mais ainda, precisavam que nós tivéssemos até constantemente junto a

eles. No entanto os registo este tipo de intervenções que nós temos que fazer na

enfermagem por vezes são essências para mostrar aquilo que fazemos mas que às vezes

nos tiram um bocadinho desse tempo que eles careciam de fato nesta fase da vida deles.

P) Falou das necessidades, como identifica as necessidades dessas famílias?

R)A identificação da necessidades dessas famílias são muitas das vezes avaliadas

quando estas tem iniciativa própria de virem ao nosso encontro e verbalizam que estão

preocupados às vezes até temos vários tipos de famílias umas que recusam e nem

querem falar sobre isso, outras sim, querem ser informadas querem saber, algumas, até

perguntam quanto tempo vão ter de vida. Depois conforme o tipo de família nós

teremos que identificar de forma diferente, à pessoas que até não nos procuram, estão lá

junto do doente e somos nós que temos que ir ao encontro dessa família, e sim dizer-lhe,

olhe o que é que sabe, vamos encaminhá-lo ao médico para lhe ser dado informações

clinicas, nós damos-lhe sobre a parte de enfermagem, para também estarem a par da

situação e decidirem se querem permanecer junto do utente neste final de vida, há

pessoa que até não querem, querem ficar com uma recordação daquele familiar, uma

recordação que não a vê-lo morrer, à outras que não, que querem estar a agarrar a sua

mão e a apoia-lo naquele momento. Nós temos que ter uma perspicácia e de acordo com

família temos que ser nós e até às vezes chamá-los se vemos que o utente, não tem a

família, que esta não o vem visitar, temos nós próprios que ter essa perspicácia,

tentarmos mobilizar de forma a saber de fato qual é a necessidade delas.

P) Acha que nós em termos de serviço conseguimos dar resposta a essas famílias? Em

termos de equipa em termos de estrutura em termos de serviço? Em termos de tempo?

R) Sim, eu penso que em termos gerais este serviço e esta equipa eu acho que se

encontra muito desperta para esses aspetos pelo menos aquilo que eu tenho conseguido

ver, porque tenta-se proporcionar um espaço próprio para a família estar junto daquele

utente de forma a que eles possam estar mais próximo. Se tivermos um quarto mais

disponível pode-se tentar, por exemplo um quarto de isolamento tentar que a família

fique junto daquele utente para ficar mais recatado e poderem vivenciar conforme eles

acharem o chorar o fazer confidências tudo aquilo que eles acharem pertinente naquela

situação em concreto. Em termos de estrutura de fato poderia haver um espaço não um

espaço para morrer que às vezes ainda é muito utilizado isto mas um espaço onde até

nós pudéssemos falar com a família mais recatada uma salinha onde até o médico

pudesse dar a sua informação clínica, e acabam por vezes por chorar e não ser dada no

corredor, termos um espaço próprio para essas situações, e também um espaço próprio

para este tipo de doente porque nem sempre temos o quarto de isolamento disponível,

embora muitas são as vezes que na própria enfermaria corremos a cortina para dar-mos

alguma privacidade mas nunca é tanta privacidade existem no quarto outros doentes.

Em termos de equipa sim acho que estás desperta, a maior parte das pessoas sim para

Page 184: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

isso, tentam sempre dar apesar do tempo à sempre um tempinho para conseguir estar

com a família que por vezes não é suficiente mas penso que há essa preocupação na

minha maneira de ver.

P) Como planeia os cuidados de apoio a essas famílias? Tendo um número de doente

uma carga horária para cumprir como consegue gerir tais cuidados?

R) Para planear esses cuidados o momento que eu tenho, que me dá mais tempo para ir

ao encontro dessas famílias quando elas não vêm ao meu encontro é a partir das 14.30

minutos, que é uma altura em que já conseguir fazer as minhas rotinas e já consegui ter

as coisas mais orientadas e então ai sim, vou ao encontro dessa família e estou lá algum

tempo por vezes atrasa o resto, mas pronto noto que naquele momento é pertinente e

eles necessitam que eu esteja lá a dar esse apoio, vou junto do utente junto da família

que está a ver o seu familiar presto esse apoio vou buscar cadeiras e sento-os nas

cadeiras se eles tiverem em pé tento baixar-lhe a grade conforme o estado do utente e

coloco-os num ambiente de conforto para eles também, se eles querem dar a mão

coloco-os junto dele puxo a cortina se não estiver corrida e se eles pretenderem, depois

virem cá para fora a falar numa zona mais recatada para lhes dar apoio que eles

necessitam eles falam, ou se eles quiserem mesmo junto do utente procuro dar esse

apoio, mostrar disponibilidade se eles precisarem de alguma coisa tocarem a campainha

nós vimos de imediato. Se a família se encontra ao longo do dia é isso que acontece,

procuro organizar os meus cuidados de forma a ir várias vezes junto deste utente já que

é uma prioridade de fato embora a família esteja junto vou sempre ver se é necessário

alguma coisa e tento prestar esse apoio o máximo que conseguir não descorando o

cuidados a todos os outros utentes mas sempre enviesando os meus cuidados gerindo o

meu tempo de forma a estar o máximo de tempo possível com aquele utente e família

para não se sentirem sozinhos para se sentirem também apoiados.

P) Que investimento faz ou já fez em termos de desenvolvimento nesta área no que diz

respeito ao seu desenvolvimento de competências de relação?

R) Eu por acaso sinto-me confortável junto das famílias e do utente em fim de vida.

P) O que quer dizer com o sentir-se confortável?

R) Consigo confrontar as pessoa não fugindo consigo chegar-me junto das pessoas,

falar com elas apesar que é difícil, temos tido situações que são muito difíceis que a

gente acaba por se envolver e a gente não consegue mesmo fugir, mas consigo sentir-me

confortável no sentido de abordar o utente abordar família, estar ali disponível ir lá ao

encontro eu ao encontro deles não esperar que eles venham ter comigo mas ir eu ao

encontro deles e isso facilita muito essa relação, porque depois os utentes ou família,

acabam por me solicitar mesmo quando não esteja de enfermeira responsável ou assim,

solicitam-me e vem ter comigo porque também já se sentem à vontade e eu também me

sinto à vontade para isso. Claro que ao longo da minha carreira tenho desenvolvido

competências nesta área no inicio mais difícil depois também dado histórias de vida, da

minha história de vida, de situações que eu pacteei obrigaram-me a também fazer o meu

Page 185: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

luto na minha vida pessoal, para conseguir ultrapassar tudo isto, foram fazes ao longa da

minha vida que me fizera também sentir, se bem que há situações que não me sinto

bem, há situações como sejam pessoas jovens a gente acaba sempre por associar às

situações da vida pessoal. Mas, no fundo penso que até me sinto bem a relacionar-me

com estas situações, sinto-me confortável. Desenvolvendo algumas competências.

P) Tem feito algumas formações nesta área?

R)Não, fui a umas jornadas já a algum tempo, mas não nessa área, não.

P) Acha que não tem necessidade de adquirir formação nesta área?

R)Temos sempre necessidade, existem sempre aquelas frases feitas aqueles clichés que

agente acaba por usar e que por vezes podiam ser inoportunos, tento não fazer, mas no

diálogo acabo sempre por utilizar e se calhar se tivesse formação nessa área sentia-me

mais preparada para receber estes utente de uma forma mais holística ser mais

específica nos cuidados ser mais específica nas intervenções de forma mesmo o utente a

ser cuidado mesmo como ele tem direito neste fim de vida.

P) Fale-me de uma experiência que mais a marcou em termos emocionais e quais os

sentimentos que então vivenciou?

R)No serviço já tive várias situações mas uma delas que mais me marcou foi já a alguns

anos, na sala 1,era uma mãe que tinha uns 40 e pouco anos, e consegui eu e uma colega

satisfazer-lhe um desejo que era de comer um gelado, conseguiu-se mobilizar, fazer-se

um pedido conseguiu-se arranjar o gelado através do dietista, ela comeu metade do

gelado, entretanto veio a filha, que era novinha também e a senhora faleceu abraçada à

filha que tinha uns 20 anos, de fato fez-me relembrar o que tinha acontecido, não em

situação igual, mas fui filha e sou, perdi a minha mãe o meu pai e isso fez lembrar o que

de fato se tinha passado mas, além disso me fez pensar que aquela filha gostava muito

da mãe e a mãe da filha, mas que aquela filha ia perder muito com eu perdi e muitas

outras pessoa já perderam, de fato foi uma emoção grande tanto eu como a colega

saímos para um lugar recatado mas choramos, choramos, porque de fato, foram vários

sentimentos ao mesmo tempo, era o sentimento de termos conseguido satisfazer um

desejo da senhora e por outro lado sentir que aquela filha perdeu uma mãe e perdeu

muito e com uma idade, era uma pessoa tão jovem e como as doenças são de fato

fulminante e foi muito rápido e foi uma situação um bocado difícil e na altura não

estava preparada.

P)Que sugestões aponta para o serviço para a equipa, tal como falhas, melhorias,

qualidade……

R) Sugestões iniciando pela parte mais prática, deveria de existir mas penso que existe,

mas não é implementado no nosso serviço um tipo de classificação de doentes de forma

a que ficasse visível que aquele utente carecia de mais tempo que a gente tivesse mais

disponibilidade para estarmos com aquele utente, como isso não se consegue fazer com

Page 186: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

a distribuição que temos que é de Médico-cirúrgica , não se consegue , quando nós

detetássemos que existia uma situação vivida e que carecia de mais tempo aquele

enfermeiro ficava com menos doentes distribuídos de forma prestar todo o apoio, tudo

o que seria possível e que a pessoa tem direito. Em termos de instituição e

infraestruturas estamos numa fase em que não podemos pedir muito mas de fato seria

importante que houvesse uma sala própria como eu já referi para prestar esse apoio ao

utente e família, para que o utente estivesse mais recatado se assim o desejasse, porque

às vezes preferem estar junto dos outros utentes sentem-se mais acompanhados.

Sugestões para a equipa talvez se houvesse mais formação se partisse de um ou dois

elementos da equipa até ir fazer formação ao exterior e depois dar formação no serviço,

uma vez que não é possível irmos todos a um congresso ou para outras formações,

alguém fazer formação em serviço nesse sentido de forma a estarmos ainda mais

preparadas para lidarmos com estas situações que são muito difíceis e também para nós,

embora a equipa esteja desperta para isso mas se houvesse ainda mais apoio nesse

sentido também seria importante.

P) Nós como equipa conseguimos uma comunicação livre aberta fiável sobre estes

doentes? Aquilo que nós transmitimos entre nós acha que nós conseguimos conversar

sobre este tema?

R) Penso que é uma área que precisava de ser mais trabalhada, porque de fato na

transmissão às vezes da informação não se vai muito ao pormenor também

provavelmente por falta de formação por falta de estarmos mais atentos a estas

situações, penso que seria importante trabalhar essa informação entre equipa mesmo na

passagem de turno, mas isso também passaria por termos mais formação e sabermos

precisamente o que iriamos bordar, porque, para sabermos o que é que o utente precisa

nós ,temos que saber o que ele precisa especificamente para podermos planear, também

essas intervenções, e por vezes isso não é passado talvez porque não estamos despertos

para isso ,mas sim era uma situação de fato a ter em conta.

P)Tem alguma informação da família acerca do que sabem, sobre o diagnóstico do

doente, como consegue ter a perceção, o conhecimento que o doente ou a família tem

acerca da sua doença e evolução?

R)O que eu normalmente faço é “ sondar” o utente, se ele sabe do diagnóstico se ele

sabe, se quer falar sobre o assunto e se a família sabe e se ele souber, se quer que a

família saiba ou se está a par. Se a família não souber é tentar marcar um momento para

o médico transmitir essa informação se o médico achar também conveniente que a

família saiba normalmente é isso que acontece, a não ser que o utente diga que não que

não quer que a família saiba, porque há situações, não digo quando há esposa mas em

que a família é de longe só tenha uma sobrinha e podem às vezes não querer que essa

sobrinha saiba da situação por motivos ou porque não se dão muito bem, porque

acontece que há utentes que se dão melhor com um amigo ou com um vizinho e não tem

qualquer afinidade com o pai que já não veem há 30 anos que não se dão bem, mesmo

informações de enfermagem temos que repensar.

Page 187: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Após terminada a entrevista, iniciamos esta ultima fase com um primeiro

agradecimento, fizemos uma breve reflexão sobre o tema, realçando de novo a

confidencialidade dos dados e foi pedido outro encontro para podermos validar os

dados. Voltamos a agradecer deixando no “ar” que posteriormente iram conhecer

os resultados finais do estudo.

Page 188: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
Page 189: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

APÊNDICE IV

Pedido de Autorização para Recolha de Dados

Page 190: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
Page 191: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
Page 192: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
Page 193: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

APÊNDICE V

Consentimento Informado

Page 194: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
Page 195: Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros

Apresentação e Instruções

Sou a Enfermeira, Ana Maria Tuna dos Santos Serra Pereira, estudante do V Curso do

Pós Licenciatura de Especialização em Enfermagem Médico-cirúrgica da Escola

Superior de Enfermagem de Coimbra. Encontro-me a realizar um estudo de

investigação (Tese de Mestrado) com o objetivo de dar resposta à seguinte questão:

“Como é que os enfermeiros gerem a sua presença junto da Pessoa/ Família em fim de

vida “.

O método a utilizar será o método qualitativo descritivo fenomenológico para uma

melhor análise e descrição das respostas em estudo. O método escolhido para a colheita

de dados será a entrevista semiestruturada tendo como tempo médio de aplicação, 30

minutos.

Relativamente aos dados extraídos, são confidenciais e estritamente anónimos, tendo

como finalidade apenas a minha investigação científica.

Ao decidir colaborar neste estudo, deverá marcar com uma cruz no quadrado abaixo

indicado (Consentimento Informado), confirmando desta forma que aceita participar.

Agradeço desde já a sua atenção e colaboração com este estudo.

Consentimento Informado

Declaro, ao colocar uma cruz no quadrado que se encontra no fim da presente

declaração, que aceito participar neste trabalho de investigação da aluna acima citado da

Escola Superior de Enfermagem de Coimbra.

Declaro que, antes de optar por participar, foram-me prestados todos os esclarecimentos

que considerei pertinentes para que a tomada da minha decisão fosse positiva.

Especificamente, fui informado/a do objetivo, da duração esperada e dos procedimentos

de estudo. Assim como do anonimato e da confidencialidade dos dados, tal como o

direito à recusa, quanto à minha participação, e a qualquer momento, e sem trazer

qualquer consequência para mim.

SIM, aceito participar.

Data __ / __/2012 Assinatura:_______________________________