CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM
MÉDICO- CIRÚRGICA
Morte em Contexto Hospitalar:
Vivências dos Enfermeiros
Ana Maria Tuna Dos Santos Serra Jorge Pereira
Orientador: Doutor Paulo Alexandre Ferreira,
Professor Adjunto da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra.
Co- Orientadora: Mestre Maria Salomé Relvão Sacadura, Enfermeira Chefe no
Centro Hospitalar do Médio Tejo.
Dissertação apresentada à Escola Superior de Enfermagem de Coimbra
para obtenção do grau de Mestre em
Enfermagem Médico-Cirúrgica
Coimbra, março de 2013
PENSAMENTO
A morte é algo constante na vida,
É um obstáculo que todos
Iremos encontrar, ela nos busca no mais ilimitado lugar,
No espaço mais cintilante ou mais nublado do infinito.
Estamos certos que um dia todos temos
que avançar, há que nos prepararmos para partirmos com dignidade.
Autor: Ana Maria Pereira
AGRADECIMENTOS
Seguimos um percurso longo e árduo para a conclusão deste trabalho. Terminada esta
missão, não poderia cessar este importante capítulo da minha vida sem agradecer a
todos aqueles que de alguma forma contribuíram para que este trabalho não ficasse a
meio de uma viagem que foi longa trabalhosa e difícil. As vacilações, as inquietações,
as amarguras e o desânimo que tantas vezes represaram e refrearam o progredir do
trabalho só puderam ser superados com o auxílio e fortalecimento de todos os que me
acompanharam e me convenceram a prosseguir até à sua conclusão.
Foi um esforço que não só dependeu de nós mas de todos aqueles que se cruzaram no
nosso caminho e nos ajudaram.
Para o meu orientador, Professor Doutor Paulo Alexandre Ferreira, pela sua dedicação,
orientação, simpatia e estímulo que manteve ao longo deste trabalho o nosso muito e
sincero obrigado.
À Sra. Enfermeira Chefe e Mestre Salomé Sacadura pela sua e sempre pronta
disponibilidade, ajudando-me a crescer, a ultrapassar todos os obstáculos, bem como
pelo incentivo e paciência que me foi transmitindo. A ela o nosso e verdadeiro obrigado.
Gostaria de agradecer a todos os participantes do estudo, pois sem a colaboração e boa
vontade de todos não seria possível a sua realização.
Para terminar um grande bem-haja a toda nossa família que assumiu um carácter de
incondicional apoio, compreensão e ajuda, pois sem eles não seria possível estarmos a
acabar esta etapa académica.
Muito em especial queria deixar aqui expresso o nosso agradecimento à Ana Rita,
minha filha que me ajudou arduamente na finalização deste trabalho.
Para terminar agradecer ao Sr. António Júlio meu marido pela sua companhia, paciência
e compreensão que foi demonstrando ao longo desta etapa da nossa vida.
Também ainda, a todos aqueles que direta ou indiretamente nos ajudaram neste caminho
que parecia não ter fim…………………………….. A TODOS, MUITO OBRIGADA!
LISTA DE SIGLAS
cit. – citado
CHMT- Centro Hospitalar do Médio Tejo
DL – Decreto de Lei
DGS- Direção Geral de Saúde
E – Entrevista
ERS – Entidade Reguladora da Saúde
EPE – Entidade Pública Empresarial
Nº - Número
O2 – Oxigénio
p. – página
REPE - Regulamento do Exercício Profissional dos Enfermeiros
SA – Sociedade Anónima
s.d. – sem data
Sr. – Senhor
Sra. – Senhora
SFAP - Sociedade Francesa de Acompanhamento e Cuidados Paliativos
RESUMO
A enfermagem, enquanto profissão, tem como essência o conceito de Cuidar, devendo
estar presente em todas as fases do ciclo de vida, incluindo o fim de vida. A dignidade
da Pessoa é uma referência conceptual do enfermeiro que, na procura da excelência do
cuidar deve desenvolver competências relacionais que lhe permitam assistir o
doente/família numa fase terminal.
Atendendo à natureza do fenómeno em estudo “Fim de vida, perceção e vivência de
quem cuida” e ao facto de se tratar de uma temática pouco explorada, optou-se por um
estudo de natureza qualitativo com abordagem fenomenológica, onde se pretende
conhecer como os enfermeiros gerem a sua presença junto da pessoa/família em fim de
vida.
Para o efeito, o enquadramento teórico abrange o conceito de cuidar em Enfermagem
em fim de vida numa perspectiva deontológica e de competência relacional, a
problemática da morte, caracterizando os doentes em fim de vida, as fases de adaptação
do doente terminal, as fases de adaptação da família e o sofrimento que lhe está
inerente, bem como dos que prestam cuidados.
A recolha de informação decorreu de Maio a Setembro de 2012, sendo realizada através
de entrevista semiestruturada com recurso e gravação áudio e posterior transcrição. Os
participantes (8 enfermeiros) foram selecionados de forma intencional tendo em conta
os critérios de inclusão, as considerações éticas e operacionais inerentes à investigação,
bem como os princípios da saturação de dados.
O tratamento da informação baseou-se nas etapas processuais de Colaizzi(1978), que
preconiza o retorno aos participantes no sentido de validar as transcrições.
Neste estudo emergiram seis temas que se dividiram em vários subtemas, revelando-se
muito importantes para a compreensão da problemática tendo em conta o objetivo geral
que é: “Compreender como os enfermeiros vivenciam o processo de morte da Pessoa e
Família em fim de vida”.
As principais conclusões centram-se nos fatos de os enfermeiros, identificarem os
doentes em fim de vida com base no diagnóstico, na informação clínica, na sua
experiência, na comunicação não-verbal e na falência das funções orgânicas,
valorizando a importância do apoio afetivo e relacionamento humano na prestação de
cuidados. Adotando estratégias para minimizar o sofrimento e promover o bem-estar,
realçando, a gestão terapêutica no alívio da dor, a importância da relação de ajuda e a
interação enfermeiro/família. Bem como identificam alguns constrangimentos inerentes
à prestação de cuidados aos doentes/família em fim de vida.
Mediante as características da abordagem utilizada a sua extrapolação não é possível
sendo que as conclusões apenas se referem a estes participantes.
Palavras-chave: Enfermagem, Cuidar, Fim de vida, Doente, Família.
ABSTRACT
Nursing as a profession is based on the concept of caring that should be present in all
stages of life, including its end. The person’s dignity is a conceptual reference to the
nurse who, pursuing the excellence of caring, should develop relational skills that
enable the assistance of the patience/family in a terminal stage of life.
Due to the nature of the research “The End of Life, Perception and Experience of the
One who Cares” and due to the fact that it is an underexplored theme, one has opted for
a study of quality nature with phenomenological approach, in which one tries to
acknowledge how nurses manage their presence close to the person/family in terminal
stage.
To that end, the theoretical framework covers the concept of caring in nursing people in
a terminal stage of life from a deontological perspective, relational skills and the
problem of death by characterizing the patience in a terminal stage, the adaptation
stages of the terminal patient, the stages of adaptations of one’s family and the suffering
implied, as well as the ones that care for the terminal patients.
The data has been gathered between May and September 2012 with a semi structured
interview that’s been audio taped and its posterior transcription. The participants (8
nurses) have been intentionally selected according to the inclusion criteria, ethical and
operational considerations concerning the research, as well as the data saturation
principles.
The data treatment was based on the Colaizzi(1978) processual stages that advocate the
feedback to the participants to validate their transcriptions.
In this study six themes emerged and were subdivided into several subthemes,
presenting themselves to be very important to the understanding of the issue at matter
and the general objective of “understanding how nurses experience the process of death
of the terminal patient and his/her family.
The most important conclusions are focused on the fact that nurses identify the terminal
stage patients based on diagnosis, clinical information, on their experience, on non-
verbal communication and organic function failure, maximizing the importance of
affection in their support and human relations in the caring process. Nurses also adopt
strategies to minimize suffering and promote wellness, especially in the therapeutic
management of pain relief and the importance of the support relations and interaction
nurse/family. Besides that, nurses also identify some constraints inherent in the
provision of care to the terminal patient and his/her family.
Due to the characteristics of the approach used in the research, its conclusions can not
be extrapolated and only refer to these participants.
Key Words: Nursing, Caring, The End of Life, Patient, Family.
ÍNDICE DE DIAGRAMAS
Diagrama 1- Etapas da análise segundo Colaizzi ........................................................... 73
Diagrama 2- Preocupação pela falta do espaço físico ..................................................... 76
Diagrama 3- Exemplificação de um técnico especializado............................................. 77
Diagrama 4- Princípios éticos da profissão ..................................................................... 77
Diagrama 5- Humanização dos cuidados ........................................................................ 77
Diagrama 6- Síntese dos temas e subtemas..................................................................... 79
Diagrama 7- Síntese da investigação e respetiva metodologia ...................................... 82
Diagrama 8- Síntese estrutural empírica do fenómeno em estudo .................................. 91
Diagrama 9- Reconhecimento humano de fim de vida ................................................... 93
Diagrama 10- Valorização dos cuidados....................................................................... 100
Diagrama 11- Estratégias para minimizar o sofrimento e promover o conforto ........... 109
Diagrama 12- Sentimentos no cuidar ............................................................................ 115
Diagrama 13- Sentimentos marcantes intrínsecos do profissional ............................... 125
Diagrama 14- Melhorar a humanização dos cuidados ao doente/família ..................... 130
ÍNDICE DE GRÁFICOS
Gráfico 1- Distribuição dos participantes de acordo com a idade .................................. 86
Gráfico 2- Distribuição da amostra segundo o estado civil ............................................ 87
Gráfico 3- Distribuição da população de acordo com o grau académico ....................... 87
Gráfico 4- Distribuição da amostra segundo os anos de exercício profissional ............. 88
Gráfico 5- Distribuição da amostra segundo os anos de exercício profissional no local
onde decoronde decorreu o estudo .................................................................................. 88
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 19
PARTE I – Enquadramento Teórico
1-CUIDAR EM ENFERMAGEM ............................................................................... 25
1.1-A PROBLEMÁTICA DA MORTE .............................................................. 28
1.1.1-Caracterização do doente em fim de vida .................................. 28
1.1.2-Os cinco estadios do doente terminal ......................................... 30
1.1.3-O sofrimento da pessoa e família face ao fim de vida ............... 32
1.2-CUIDAR EM FIM DE VIDA ....................................................................... 33
1.2.1-Direito da pessoa em fim de vida ................................................ 37
1.2.2-Deveres do Enfermeiro ................................................................ 38
1.2.3-Relação de ajuda .......................................................................... 39
1.2.4-Humanização do cuidar ............................................................... 43
1.2.5-Mecanismos de defesa e estratégias de adaptação dos que
prestaprestam cuidados ....................................................................... 46
1.3- APOIO À FAMÍLIA DO DOENTE EM FASE TERMINAL..................... 47
1.3.1-Necessidades da família no doente em fim de vida ................... 48
1.4- CARACTERIZAÇÃO DO CONTEXTO DA PESQUISA ......................... 49
PARTE II – Enquadramento Metodológico
1-ENQUADRAMENTO DA METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO ................. 55
1.1-PROBLEMÁTICA E JUSTIFICAÇÃO DO TEMA .................................... 56
1.2-QUESTÃO E OBJETIVOS DE INVESTIGAÇÃO ..................................... 57
1.3-TIPO DE ESTUDO....................................................................................... 59
1.4-PARTICIPANTES ........................................................................................ 62
1.5-INSTRUMENTO DE COLHEITA DE INFORMAÇÃO ............................ 64
1.5.1-Guião da Entrevista ..................................................................... 68
1.6-CONSIDERAÇÕES ÉTICAS E FORMAIS ................................................ 69
1.7-TRATAMENTO E ANÁLISE DA INFORMAÇÃO ................................... 72
1.7.1 -Método Fenomenológico Segundo Colaizzi (1978) ................... 73
PARTE III - Apresentação e Análise da Informação
1-APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DA INFORMAÇÃO ......................................... 85
1.1-CARATERIZAÇÃO SOCIOPROFISSIONAL DOS PARTICIPANTES ... 85
2-ANÁLISE E DISCUSSÃO DA INFORMAÇÃO: TEMAS EMERGENTES ...... 90
2.1-RECONHECIMENTO HUMANO DE FIM DE VIDA............................... 92
2.2-VALORIZAÇÃO DOS CUIDADOS ........................................................... 99
2.3-ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PARA MINIMIZAR O
SofrSOFRIMENTO E PROMOVER O BEM-ESTAR DO DOENTE E
famiFAMÍLIA ................................................................................................... 108
2.4 - SENTIMENTOS NO CUIDAR EXTRÍNSECOS AO PROFISSIONAL 114
2.5-SENTIMENTOS MARCANTES INTRÍNSECOS DO PROFISSIONAL 124
2.6-MELHORAR A HUMANIZAÇÃO DOS CUIDADOS AO DOENTE/
famFAMÍLIA .................................................................................................... 129
PARTE IV – Considerações Finais
1-CONCLUSÕES ........................................................................................................ 139
2-CONTRIBUTOS, SUGESTÕES E LIMITAÇÕES ............................................. 143
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 147
APÊNDICES
APÊNDICE I - Compilação da análise da informação traduzida nos temas, subtemas
com os respetivocom os respetivos exemplos de declarações significativas
APÊNDICE II - Guião da Entrevista
APÊNDICE III - Transcrição de uma entrevista
APÊNDICE IV - Pedido de Autorização para Recolha de Dados
APÊNDICE V - Consentimento Informado
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
19
INTRODUÇÃO
Compreender o modo como o Enfermeiro, enquanto ser Humano se envolve
profissionalmente na perspetiva da Morte da Pessoa de quem cuida é o principal motivo
de interesse desta dissertação. A dignidade da Pessoa é uma referência conceptual do
Enfermeiro que na procura da excelência do cuidar deve desenvolver competências
relacionais que lhe permitam assistir o doente/família numa fase terminal.
A morte encarada como algo irracional, ilógico e incompreensível é difícil de assimilar
e todos nós temos dificuldade em aceitar a ideia de morrer e de vivenciar a morte do
Outro. Neste contexto Frias (2001) refere que os profissionais de saúde, nomeadamente
os enfermeiros, sentem-se desarmados perante a angústia das pessoas em fim de vida,
com os quais têm dificuldade em estabelecer uma relação de ajuda. Menciona ainda,
que os enfermeiros parecem estar pouco preparados para assistir, entender e ajudar as
pessoas no seu processo de doença. A família, por sua vez precisa de ajuda para aliviar
o sofrimento, a dor, ou a angústia do seu familiar em fim de vida.
Sabemos que a problemática da morte não se encontra suficientemente estudada e que
consiste numa área de interesse crescente na investigação em Enfermagem, que é
também por nós partilhada. Twycross, (2003) referencia a importância da investigação
para quem deseja aperfeiçoar os cuidados aos doentes que se aproximam da morte. Foi
esse, igualmente, o nosso interesse ao propormo-nos efetuar o presente estudo, realizado
no contexto da prática do exercício profissional dos enfermeiros de uma Unidade de
internamento na qual desempenhamos funções. Move-nos o desejo de contribuir para
clarificar a forma como os enfermeiros gerem a sua presença junto da pessoa /família
em fim de vida, sendo precisamente essa a nossa questão de investigação.
Trata-se de um estudo qualitativo, descritivo fenomenológico com entrevistas
semiestruturadas, com análise e tratamento da informação segundo Colaizzi, aplicado a
oito enfermeiros do serviço de especialidades Médicas do Centro Hospitalar do Médio
Tejo da Unidade Hospitalar de Torres Novas. Julgamos estar em consonância com
Watson (1988, in Frias, 2003) que refere que cada vez mais existem investigadores a
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
20
colocarem-se na perspetiva de que a enfermagem deve explorar a sua herança
comprometendo-se com os seus valores e explorar métodos de investigação consistentes
com a sua natureza.
Como objetivo geral pretendemos:
Compreender como os enfermeiros vivenciam o processo de morte dos doentes e
família em fim de vida.
Como específicos:
Compreender como os enfermeiros identificam as necessidades dos doentes;
Compreender como os enfermeiros identificam as necessidades da família da
pessoa em fim de vida;
Identificar como os enfermeiros se disponibilizam para apoiar a família no
processo de luto;
Conhecer a importância que os enfermeiros atribuem aos cuidados que prestam à
pessoa em fim de vida;
Perceber o nível de investimento efetuado pelos enfermeiros na área da formação
que lhe permite desenvolvimento das suas competências relacionais.
A elaboração desta dissertação “Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos
Enfermeiros”, é uma iniciativa pessoal sugerida no âmbito da frequência do Curso de
Mestrado e Pós Licenciatura em Especialização Médico-cirúrgica, tendo como
referência base a vivência como enfermeira no CHMT da unidade de Torres Novas,
serviço de Especialidades Médicas.
Sempre nos suscitou interesse a última etapa da vida humana, mais especificamente as
questões éticas e relacionais com as pessoas em fim de vida e com as suas famílias. O
curso deu-nos possibilidade de aprofundar os nossos conhecimentos teóricos dando-nos
oportunidade de refletir sobre o cuidar da pessoa/família em situação de crise e de
assumir o processo cuidativo destes doentes de uma forma mais estruturada, respeitando
a dignidade da pessoa, a sua vontade e as suas decisões. Com este trabalho que agora
propomos como dissertação de mestrado, assente na reflexão pessoal sobre o exercício
profissional, e na empatia que estabelecemos com as preocupações, as angústias e o
sofrimento de muitos doentes e famílias em situações comoventes de fim de vida, aos
quais os cuidados curativos apenas podem mitigar a sua dor.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
21
A decisão da elaboração deste trabalho foi, também, a tentativa de contribuir para
melhorar a qualidade dos cuidados às pessoas/família, indo ao encontro das suas
necessidades e dos seus direitos.
O presente estudo encontra-se estruturado em quatro partes. Numa primeira parte
procedemos a uma breve contextualização do tema, tendo como base uma revisão
bibliográfica, que contextualiza teoricamente o problema, definindo teorias, conceitos e
palavras-chave. Numa segunda parte, expomos o enquadramento metodológico, onde
são descritas, todas as vertentes da investigação. Na terceira parte reservada à
apresentação, análise e discussão dos achados e por último as considerações finais
constituem a quarta parte deste trabalho.
Um estudo desta natureza, deve contribuir para uma caracterização do problema no
contexto da prática de enfermagem, podendo servir de ponto de partida para futuros
trabalhos neste âmbito. Colocam-se também algumas expectativas nos resultados deste
estudo, no sentido que ele possa contribuir para uma reflexão dos profissionais com a
possibilidade de partilha harmoniosa e natural das experiências e conhecimentos que os
enfermeiros possuem, para que os beneficiados sejam a profissão e os destinatários dos
cuidados prestados pelos seus profissionais.
De forma a melhor contextualizar o estudo, passamos então a clarificar conceitos
relacionados com o tema, bem como fazer uma breve caracterização do serviço no
capítulo que se segue.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
PARTE I – Enquadramento Teórico
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
25
1-CUIDAR EM ENFERMAGEM
Cuidar é uma das expressões associadas ao Homem desde a sua existência, que sendo
antiga, está atual e plena de sentido, desde sempre o Homem teve necessidade de cuidar
e de cuidados.
As palavras, cuidar e cuidado são hoje em dia, banalizadas e vagas, utilizadas em
variados contextos, com as mais variadas conotações. Na saúde, é frequente falar-se de
cuidados médicos, cuidados de enfermagem, sistema de cuidados, instituições de
cuidados. O cuidado é uma atenção particular que se dedica à pessoa, e limitando o
conceito ao campo da saúde, “Prestar cuidados ou cuidar designa essa atenção especial
que se vai dar a uma pessoa que vive uma situação particular, com vista a ajudá-la, a
contribuir para o seu bem-estar, a promover a sua saúde” (Hesbeen, 2000, p.10).
Foi Florence Nightingale quem primeiro salientou o cuidar, como sendo um ato rodeado
de humanidade e profundidade, sentindo, uma necessidade de criar uma profissão
voltada para cuidar de pessoas (Sampaio, 2011).
Ao falarmos de cuidar, constatamos que ele requer um compromisso pessoal, moral e
social, pressupondo um estar com a pessoa como um outro eu. Cuidar significa ajudar a
pessoa a ser, ou seja reconhecer e utilizar o seu potencial humano, que lhe permite lidar
com os problemas da vida no seu contexto que lhe é presente (Watson, 1979).
Pressupõe ver o indivíduo na sua globalidade, como pessoa detentora de sentimentos,
emoções e necessidades físicas, psicológicas e espirituais, prestando os cuidados
atendendo a todas essas mesmas necessidades (Pacheco, 2002).
O verdadeiro cuidar não depende do contexto em que é exercido, mas do encontro e da
caminhada em comum entre o profissional cuidador e a pessoa, tendo intenção de
ajudar, e essa ajuda é prestada em ambos os sentidos, quer para o cuidador quer para a
pessoa ajudada: “ser prestador de cuidados exige, fundamentalmente, um espírito
profundo e genuinamente humano, manifestado pela preocupação com o respeito pelo
outro, e pelas ações pensadas e criadas por uma determinada pessoa” (Hesbeen, 2001,
p.17).
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
26
Para se cuidar tem que haver interesse pelo outro, atendendo às suas dificuldades na
vida, reconhecendo a sua individualidade, a sua unicidade face à doença, tendo como
base os valores humanistas altruístas, revelando o desejo de ajudar, de ser útil e de
aliviar o sofrimento dos outros.
O respeito pela identidade de cada um é a base para a construção da relação de
confiança (SFAP, 2000).
Sendo uma atividade partilhada por outros profissionais da saúde, na medida em que
todos os membros de uma equipa devem valorizar a atitude do verdadeiro cuidar, este
reveste aspetos próprios da enfermagem. Neste sentido, Reich (1995, in Pacheco, 2002),
sublinha que nos cuidados de saúde, a atenção do cuidar é talvez mais evidente na
enfermagem. Assim, “Cuidar é o ideal moral da enfermagem, pelo que o seu objetivo é
proteger, melhorar, e preservar a dignidade humana” (Watson, 2002, p.55).
Cuidar em enfermagem é essencial, quando entendido como um processo pelo qual o
enfermeiro promove a qualidade de vida da pessoa humana.
O enfermeiro, no seu papel de satisfação das necessidades humanas básicas do
indivíduo, família ou comunidade, deve possuir sólidos conhecimentos científicos e
técnicos. Pacheco (2002) refere que o “cuidar” tem que considerar duas categorias – “ a
competência técnica e a sensibilidade afetiva”, e estas nunca devem ser separadas.
Desta forma, o cuidador tem que ser detentor de capacidades técnicas e conhecimentos
científicos, mas também de humanismo, sendo sensível às suas necessidades enquanto
ser humano. Deve ser capaz de “desenvolver atitudes de conforto e encorajamento,
mesmo quando a cura já não é possível e, neste caso, ajudar a pessoa a viver melhor até
ao momento da sua morte”, utilizando as capacidades técnicas e científicas na prestação
de cuidados globais à pessoa (Pacheco, 2002, p.34).
No contexto deste trabalho, trata-se de um cuidar da pessoa em fim de vida, enfatizando
a problemática da dor e do sofrimento.
Cuidar do doente em fim de vida, requer o conhecimento por parte dos profissionais de
saúde em que o objetivo dos cuidados nem sempre é o de curar, mas o de cuidar.
O processo de cuidar permite traçar com a pessoa cuidada e/ou família um horizonte
para onde ela pretenda caminhar, indo por vezes, até à morte serena. Neste caminho é
necessário tecer laços de confiança baseados no respeito pela pessoa, recorrendo à
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
27
conjugação de pelo menos oito elementos: calor, escuta, disponibilidade,
simplicidade, humildade, autenticidade, humor e compaixão (Hesbeen, 2000).
Cuidar…esta arte que precede todas as outras, sem a qual não seria possível existir,
está na origem de todos os conhecimentos e na matriz de todas as culturas (Sampaio,
2011).
Rossa (2007) diz-nos que para cuidarmos necessitamos de respeitar os cinco “C” da
palavra Cuidar: Compaixão (como sendo o modo de se relacionar com o outro);
Competência (a forma de atuar do profissional); Confidência (nas pessoas e sistemas
de saúde); Consciência (que opera nos valores éticos e morais) e compromisso
(suporte da pessoa que é cuidada).
O cuidar vai além do tratar, do que é palpável, tendo em conta o potencial de cada
pessoa tem, para crescer e desenvolver-se.
O enfermeiro é o elemento da equipa de saúde que mantém uma relação mais intima
com o doente e a família não só por permanecer nos serviços durante um período mais
longo, mas também porque presta cuidados mais diretos onde as suas ações
influenciam, positiva ou negativamente, a vida das pessoas que são alvo dos seus
cuidados. Daí o dever de orientar a prática no sentido de que as pessoas que sofrem no
dia-a-dia, não sintam que têm de sofrer também o prejuízo da substituição do cuidar
pelo tratar (Rossa, 2007).
O conceito de cuidar, esteve desde sempre ligado à prática de enfermagem como sendo
a sua essência e a “mais velha prática da história do mundo” (Sampaio, 2011). Ainda
hoje se ouve expressões como “velar”, “cuidar”, “tomar conta” representando um
conjunto de atos que têm por função manter a vida.
Para Frias (2001) o cuidar em enfermagem está relacionado com a resposta humana
intersubjetiva às condições de saúde-doença e das interações pessoa-ambiente, cuidar é
“ atenção individual para”, “ preocupação com”,” responsabilidade individual por” “ou
providenciar para”. Ainda o mesmo autor realça as dimensões morais e éticas, ao
considerar o cuidado humano como um processo interpessoal de pessoa a pessoa, que
implica um compromisso moral. Este ideal moral reporta para a questão ética que
pressupõe um determinado conceito de Homem, com um fim em si mesmo, e conduz à
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
28
questão da moral, do “dever ser” e do crescimento espiritual que deve promover,
preservar e fortalecer.
1.1-A PROBLEMÁTICA DA MORTE
Noutros tempos, a morte da pessoa era um acontecimento social. Envolvia os familiares,
amigos, vizinhos e pode-se, por isso, dizer que era uma “morte pública”. Atualmente, na
sequência dos avanços técnico-científicos e até das modificações sociais, a morte troca a
casa pelo hospital.
Segundo Casmarrinha (2008), a morte é um fenómeno que está presente ao longo da
vida humana, estando simultaneamente próxima e distante. A vivência da morte muda
de sociedade para sociedade, de cultura para cultura, de família para família e de pessoa
para pessoa. Cada pessoa reage de forma diferente à morte e está dependente da
multiplicidade de fatores que se conjugam e se diferenciam entre si. Porém também se
relacionam, principalmente, com os aspetos espaço temporais, socioculturais, pessoais e
educacionais.
A morte ao longo da história é vista como um fenómeno natural, embora atualmente,
tenha deixado de ser encarada dessa forma, passando a ser vista como um fenómeno
contrário à vida.
No entender de Pacheco (2002), esta nova conceção surgiu devido aos constantes
desenvolvimentos tecnológicos e científicos. Estes desenvolvimentos permitem o
tratamento e a superação de várias doenças, mas apesar de tantos avanços, a morte ainda
é vista como um problema que não tem solução, ou seja é uma cessação irreversível.
1.1.1-Caracterização do doente em fim de vida
Segundo Baron e Féliu (1996), parece não haver critério universal que possa definir ou
caracterizar esta pessoa doente. De fato, o que parece existir são algumas definições
inexatas relativamente ao período evolutivo da doença que a pessoa está a viver. Para os
mesmos autores fim de vida é aquela pessoa que apresenta um estado clínico que
provoca uma expetativa de morte a curto prazo.
Serrão (1990) afirma que a pessoa em fim de vida é aquela para quem a ciência e a
tecnologia não têm meios para suspender a morte.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
29
Segundo Báron e Féliu (1996) um doente em fim de vida é aquele que apresenta um
estado clínico que provoca expectativa de morte a curto prazo.
O mesmo autor salienta que definir um doente em fim de vida, não é fácil, alistando os
seguintes critérios:
Ter uma doença de causa evolutiva;
Estar em estado geral grave;
Ter uma perspetiva de vida não superior a dois meses;
Estar em falência de órgãos/sistemas;
Os tratamentos terem ineficácia comprovada e haver ausência de tratamentos
alternativos;
Ter complicações irreversíveis.
É comum que se use de forma indiscriminada os termos doente em fim de vida, doente
terminal ou moribundo.
Apesar de se utilizar esses conceitos de forma indiscriminada, há subjacente a todos
eles, um ser humano que ama, sente, pensa e que se encontra a viver os últimos
momentos da sua vida, rodeados ou não de seres com quem partilha uma relação
afetiva.
Segundo Twycross (2003), aqueles que se aproximam do fim da vida sentem
habitualmente um aumento ou uma renovação das suas necessidades de: afirmação e
aceitação; perdão e reconciliação; descoberta do significado e direção, necessitando
muitas vezes de auxílio espiritual e procurando resposta para o significado do
sofrimento e da dor, para um sistema de valores, para o significado da vida, para os seus
sentimentos de culpa na procura de Deus e da vida depois da morte.
Casmarrinha (2008) no seu estudo, alerta as todos quanto tem a oportunidade de ler o
seu trabalho para o fato desta etapa da vida acarretar um grande impacto emocional no
doente e respetiva família. É um período de manifestação de sentimentos, de
despedidas, de conclusões, de encerrar de ciclos carecendo, por isso, de alguma
privacidade e serenidade. Mas antes de tudo isto o doente poderá passar por todos ou
alguns estadios.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
30
1.1.2-Os cinco estadios do doente terminal
Toda esta etapa de vida provoca um grande impacto na pessoa e respetiva família. É um
período de expressão de sentimentos, de conclusões, de encerrar de ciclos, carecendo,
por isso de alguma intimidade e tranquilidade. No entanto com o desenrolar da doença,
o doente vai atravessando vários períodos de alteração que podem ser uma melhoria de
sintomas, uma certa estabilização bem como períodos de agravamento e progressão.
Casmarrinha (2008) identificou cinco estadios que o doente terminal vivência, são
estadios de duração variável que podem surgir simultaneamente, linearmente ou tendem
a sofrer um retrocesso mas que depois seguem um processo de evolução psíquica de
reparo para a morte.
Fase de negação e isolamento
Esta fase caracteriza-se por uma recusa temporária da realidade. O doente não se
encontra preparado para falar da informação que lhe foi fornecida, no entanto já
começou a assimilar. Segundo Abiven (2001) a primeira entrevista num doente em fase
terminal permite frequentemente entender a negação da sua doença na qual o doente faz
questão em se manter.
Nesta fase o doente passa por estados de agitação, ansiedade, insegurança e
perturbações do sono. Muitas são as vezes que negam a sua gravidade, mesmo quando
se encontra perante o agravamento dos sintomas da doença.
De acordo com Ferreira (2004) é uma fase onde o enfermeiro deve não contradizer o
paciente diretamente, deve manter sempre um canal de comunicação aberto com o
paciente e não deve evitá-lo. Se o doente começar a falar em termos realísticos sobre a
sua doença, o enfermeiro deve ouvi-lo com atenção.
Fase de raiva/revolta
Na perspetiva de Kubler - Ross (1998, p.55) “quando não é possível manter firme o
primeiro estádio de negação, ele é suprido por sentimentos de raiva, de revolta, de
inveja e de ressentimento”. O doente começa a confrontar-se com a morte e adota
comportamentos de raiva e ira, lamentando-se pela sua má sorte.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
31
Que segundo Marques (1994, cit. Lopes, 2002):
“ se o doente ultrapassa o estado de negação e começa a confrontar-se com a
morte, reage da forma típica com raiva e exprime a sua ira perante a sua má sorte. (…)o
doente tem tendência a deslocar e projetar a sua raiva contra o médico que não diagnosticou
a tempo a sua doença, os enfermeiros que não são suficientemente rápidos a responder aos
seus pedidos(…), contra Deus que lhe impõe a sentença de morte”.
Cabe ao enfermeiro o saber escutar e até, às vezes, superar alguma raiva irracional,
sabendo que o alívio proveniente do facto de tê-la exteriorizado contribuirá para melhor
aceitar as horas finais segundo referencia no seu trabalho (Kubler – Ross, 1998).
Fase da Negociação
Nesta fase o doente vai aceitando progressivamente o facto de estar prestes a morrer,
mas procura a todo o custo o prolongamento do tempo de vida que ainda lhe resta,
procurando a diminuição da dor e melhores cuidados.
Refere Ferreira (2004) que o enfermeiro não deve prometer mais tempo de vida, caso o
doente conte a sua negociação ao enfermeiro, este deve ouvi-lo sem o julgar e sem lhe
dar qualquer garantia.
Fase da Depressão
Nesta fase o doente consciencializa-se das consequências reais da sua doença,
apoderando-se dele um período de depressão.
Para Kubler-Ross (1969, cit. Lopes, 2002) define dois tipos de depressão característicos
do doente em fim de vida:
A depressão reativa pode ocorrer quando o doente se apercebe da sua impotência, que
se encontra relacionada com a perda de esperança perante a gravidade da sua doença.
A depressão preparatória dá-se aquando da experiência de perda iminente, de todos os
objetos amados, com o intuito de facilitar a aceitação.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
32
Fase de Aceitação
Esta é uma fase que por norma é tranquila, em que o doente aguarda serenamente a sua
morte, pois já aceitou. Ele/ doente teve a oportunidade nas fases anteriores de exprimir
os seus sentimentos, medos, angústias e problemas, consegue agora aceitar a sua
situação deixando de estar deprimido, o que não significa que haja resignação.
Nesta última fase, o doente aceitou a morte como algo inevitável e, o enfermeiro que
conseguir o mesmo será aquele que lhe poderá dar conforto nos últimos momentos. O
enfermeiro deverá prestar a assistência à família, e estes deverão permanecer ao lado do
doente, mantendo um contacto físico até à morte (Ferreira, 2004).
1.1.3-O sofrimento da pessoa e família face ao fim de vida
Os familiares do doente em fase terminal encontram-se em sofrimento pela eminência
da morte, tal como o próprio doente, pois encontram-se fragilizados sofrendo a angústia
da separação.
Sentimentos de ansiedade, desalento e instabilidade emocional são algumas das reações
que a família desenvolve, podendo mesmo chegar a evidenciar estado de depressão
grave, a desenvolver sentimentos de incapacidade e auto culpabilização, tendo receio de
não conseguir controlar as suas emoções junto do doente.
Todas as famílias passam por sentimentos de angústia e tristeza perante a
inevitabilidade da morte do parente próximo. Cada família vive esse tempo de forma
própria e adotará os seus próprios mecanismos de defesa que dependem da analogia
mantida com o doente. Assim a família vai fazendo de forma adequada o luto
antecipatório, que pode ocorrer desde que têm conhecimento da evolução inevitável da
doença.
A SFAP (2000, p.91) cita que o “Trabalho de luto é o processo humano, doloroso mas
dinâmico, que permite ao individuo, adaptar-se à perda e à separação”, para fazer o luto
cada pessoa encontra, nela mesma os recursos necessários, sendo os recursos exteriores
(amigos ou profissionais de saúde) um recurso suplementar, que nem sempre é
necessário.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
33
Para além de lidar com o sofrimento do doente, o profissional de saúde tem de apoiar a
família e gerar também o seu próprio sentimento, a angústia e o medo (Lopes, 2002).
1.2-CUIDAR EM FIM DE VIDA
A principal finalidade do processo de cuidar é o crescimento e desenvolvimento daquele
que é cuidado, embora também, o enfermeiro se sinta bem e cresça interiormente.
Moura (2011 p.162) no livro que escreveu, transmite a importância do cuidar em
qualquer etapa da vida e em particular na etapa final onde afirma “neste momento, em
que a cura já não é possível, torna-se necessário estabelecer uma verdadeira relação de
ajuda com o doente, de forma a possibilitar o máximo de bem-estar e plenitude no
tempo que lhe resta de vida”.
Numa perspetiva de cuidar o doente em fim de vida, compreendemos que o cuidar é
uma palavra que funde pensamento, sentimento e ação-saber e ser, mas para que seja
bem-sucedido, é necessário que o enfermeiro conheça os seus próprios problemas
existenciais, que se ocupe de si para que possa ter espaço para o outro.
Segundo Hesbeen (2000), os cuidados de enfermagem são a atenção particular prestada
por uma enfermeira ou por um enfermeiro a uma pessoa ou aos seus familiares com
vista a ajudá-los na sua situação. Englobam tudo o que os profissionais fazem, dentro
das suas competências, para prestar cuidados às pessoas. Pela sua natureza, permitem
sempre fazer alguma coisa por alguém a fim de contribuir para o seu bem-estar,
qualquer que seja o seu estado.
Para Hesbeen (2000) aquele que cuida é um “perito-metodólogo”, perito no sentido de
poder enquadrar o que é factível e, por ser vetor de esperança, enriquecendo o
horizonte, aumentando os caminhos possíveis.
A essência da prática de cuidado respeita a todos os profissionais da equipa
pluridisciplinar, “um encontro e um acompanhamento no quadro de um projeto de vida
com sentido e portador de esperança”.
O cuidado de enfermagem inscreve-se nesta perspetiva de cuidado. Contudo, a utilidade
da distinção da prática de enfermagem das outras práticas de cuidados está na sua
relação com certos meios que podem parecer mais específicos.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
34
Além daquilo que permite aos Enfermeiros exercer plenamente a sua prática de cuidado
em todas as suas dimensões, com meios por vezes muitos técnicos e, outras vezes que
são o menos, estes profissionais têm a oportunidade de oferecer mais serenidade à
pessoa cuidada e aos que lhe são próximos, a partir de uma multiplicidade de “pequenas
coisas (Hesbeen, 2000).
O ideal e o verdadeiro valor do cuidar é sem dúvida um ponto de partida, um local, uma
atitude, que terá de se tornar um desejo, uma intenção, um compromisso e um
julgamento consciente que se reflete em atos concretos e objetivos. O cuidar, como
ideal moral, vai para além do ato, ultrapassando o ato específico de um enfermeiro
individualmente e produz atos coletivos da profissão de enfermagem que tem
consequências e repercussões importantes para o ser humano.
O cuidar pode ser demonstrado e praticado eficazmente apenas de forma interpessoal. O
processo humano intersubjetivo mantém patente um valor comum de humanidade;
ensina-nos como sermos humanos através da nossa identificação com os outros, pelo
que o humanismo de um reflete-se no outro, na sua alteridade.
Segundo Watson (2002) cuidar requer elevada consideração e reverência pela pessoa e
pela vida humana, valores não paternalistas que estão relacionados com a autonomia
humana e liberdade de escolha.
O mesmo autor, afirma que a mente e as emoções da pessoa são janelas da sua alma. O
cuidar pode ser físico, processual, objetivo e factual, mas ao nível mais elevado, as
respostas humanas da enfermagem no cuidar, as transações humanas no cuidar, e a
presença do enfermeiro na relação, transcende o mundo físico e material, confinam no
tempo e no espaço, e estabelecem contacto com o mundo emocional e subjetivo da
pessoa como o caminho para o eu interior e para um sentimento mais elevado do eu.
Para Hesbeen (2000), tecer laços de confiança, equivale a dizer “creio que este
prestador de cuidados pode ajudar-me respeitando quem eu sou”. O que, à partida, pode
dizer respeito a um prestador de cuidados pode, progressivamente, implicar toda uma
“equipa”.
Parece-nos, pois, que tecer laços de confiança baseados no respeito pela pessoa e que
permitam caminhar com ela necessita da conjugação de, pelo menos, oito elementos
fundamentais no ato de cuidar:
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
35
O calor, que permite que o beneficiário dos cuidados perceba o prestador de
cuidados como um ser caloroso, que não é hostil nem distante, que tem a
palavra, o sorriso, o olhar adequados e personalizados;
A escuta, que permite acolher a palavra do outro e que se pretende de ajuda,
graças à expressão das suas inquietações ou do seu sofrimento;
A disponibilidade, que permite ao prestador de cuidados mostrar que está ali,
presente a tal pessoa. Revela uma atenção particular. Permite escutar
serenamente – não de maneira artificial e apressada entre duas tarefas, por vezes
entre duas portas -, responder às perguntas, identificar as inquietações;
A simplicidade, que se caracteriza tanto por um comportamento como pelo
recurso a uma linguagem acessível. Os ares de sabedoria e as palavras
exageradamente complicadas podem dar uma imagem séria mas não facilitam o
estabelecimento de uma relação de confiança;
A humildade, que revela um profissional consciente dos seus limites, que tem a
ambição de prestar ajuda sem ter a pretensão de tudo dominar e de tudo saber
sobre a pessoa e que não quer exercer, no paciente e nos seus familiares, uma
forma de supremacia ligada ao seu estatuto profissional, o de “quem sabe”. Esta
forma de superioridade que se pretende impressionante é, muitas vezes,
percebida como insuportável, como infantilizam-te e alienante;
A autenticidade, que revela um profissional que exerce a sua profissão com
verdade para consigo e, por conseguinte, com verdade na relação que mantém
com os outros;
O humor, que permite não tornar pesada uma situação, mesmo dramática ou
difícil, revelando um prestador de cuidados capaz de recuar, relativizando as
coisas e identificando, tanto quanto possível, os aspetos positivos, insólitos ou
interessantes para o futuro.
A compaixão, que permite ao prestador de cuidados partilhar o sofrimento do
outro, carregar uma parte do fardo, aligeirando assim o fardo carregado pelo
doente e pelos seus familiares (Hesbeen, 2000).
Entendemos por “cuidar” o prestar atenção global, individual e continuada a um doente,
nunca esquecendo que ele é antes de tudo uma pessoa. A pessoa doente é sempre vista
como o centro da atenção de quem cuida e, por isso, nunca são esquecidos todos os
cuidados físicos, psicológicos ou espirituais de que precisa, para além dos cuidados de
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
36
saúde exigidos pela doença em si, e que podem ser tão individuais e particulares quanto
possível, para cada uma das pessoas alvo do cuidar.
Pacheco (2004) refere que sempre houve necessidade da pessoa se cuidar a si própria,
cuidar dos outros ou ser cuidada e naturalmente foram criados laços de interdependência
entre as pessoas, uma vez que os homens sempre precisaram de se ajudar uns aos
outros.
Esta ajuda entre as pessoas ganha uma importância vital quando a pessoa atravessa
determinadas crises na sua vida. Para aqueles que se preocupam em tratar, muitas vezes
esquecendo o cuidar, o alvo dos seus cuidados é a doença, sendo a pessoa doente vista
apenas como um conjunto de órgãos que podem deixar de funcionar corretamente.
A presença de quem cuida não é apenas física e meramente profissional, mas sim a
presença de uma pessoa humana, capaz de escutar, compreender e ajudar. Cuidar é um
verdadeiro encontro com o outro, é estar inteiramente para o outro numa relação de
proximidade e de ajuda, caracterizada pela abertura, pela compreensão e pela confiança
(Pacheco, 2004).
Segundo o mesmo autor, cuidar é considerar a pessoa como um fim em si mesma, e não
apenas como um meio para fins científicos, técnicos ou institucionais, o que exige ser
sensível aos sentimentos da outra pessoa, manifestar interesse por ela, respeitá-la e
demonstrar atenção, compreensão, consideração e afeto.
O verdadeiro cuidar não implica desvalorizar a ciência médica e a técnica mas, pelo
contrário, utilizá-las para prestar cuidados globais e únicos à pessoa, não desvalorizando
em momento algum nenhuma das necessidades da pessoa doente, incluindo aquelas
para as quais se torna necessária a intervenção técnica.
Deste modo devem ser sempre consideradas as duas categorias do cuidar – a
competência técnica e a sensibilidade afetiva – que não podem, nem devem nunca,
existir separadamente.
Watson (2002) afirma que cuidar é, ainda, desenvolver atitudes de conforto e
encorajamento, mesmo quando a cura já não é possível e, neste caso, ajudar a pessoa a
viver melhor até ao momento da sua morte.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
37
1.2.1-Direito da pessoa em fim de vida
A pessoa em fim de vida perceciona a sua situação, pois está prestes a um confronto
com uma realidade muito próxima. É uma situação que será influenciada pelos aspetos
culturais, pela sua personalidade, pelo tipo de aprendizagens anteriores que teve e pelas
mensagens que obtém dos profissionais. Assim, cabe a cada elemento da equipa tomar
consciência das mensagens que transmite no processo de cuidar e dos direitos de que a
pessoa dispõe. Pelo que o profissional de saúde, tem o dever de fazer valer os direitos
da Pessoa em fim de vida, porque, esta Pessoa é um ser único com necessidades,
valores, convicções, que tem simultaneamente deveres e também direitos. Pires (1995)
descreve-os como:
Direito de ser tratado como um ser humano até morrer;
Direito de ser aliviado na dor;
Direito de participar nas decisões relativas aos cuidados que lhe são prestados;
Direitos de contar, com uma constante atenção médica e com uma continuidade
de cuidados, mesmo que os objetivos de cura devam ser mudados para objetivos
de suporte;
Direito de ser tratado por pessoas sensíveis, motivadas, competentes, que tentem
compreender as necessidades de quem se encontra a morrer e encontrem
satisfação pessoal na ajuda que lhe dão em relação à morte;
Direito de ser tratado por pessoas capazes de conservar sentimento de confiança,
qualquer que seja as mudanças que possam advir;
Direito a que lhe respondam honestamente às suas questões;
Direito a não ser enganado;
Direito de conservar um sentimento de esperança qualquer que seja a sua
mudança que possa via a acontecer.
Direito de exprimir à sua maneira os seus sentimentos e emoções, face à sua
própria morte;
Direito de conservar a sua individualidade e de não ser julgado pelas suas
decisões que podem ser contrárias às convicções dos outros;
Direito a discutir e a aprofundar a sua experiência religiosa e espiritual, qualquer
que seja o significado que ela tem para os outros;
Direito para a aceitação da morte, a receber a ajuda da família e que esta também
receba ajuda;
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
38
Direito a não morrer só;
Direito de esperar que a dignidade do seu corpo seja respeitada após a sua morte;
Direito de morrer em paz e com dignidade.
O direito de morrer com dignidade implica que todos os direitos anteriormente descritos
sejam cumpridos. Morrer com dignidade, é manter até ao fim a sua identidade, de ser
único que é, é ser tido em consideração por aqueles que o rodeiam e não ser abandonado
ao destino que lhe está reservado, numa solidão imensa e profunda.
1.2.2-Deveres do Enfermeiro
A vida humana e o sentido da existência da vida giram em torno de valores como o
respeito pela vida e pela qualidade dessa mesma vida. A ação dos enfermeiros juntos
dos doentes em fim de vida é o de assegurar o direito primordial da pessoa morrer com
dignidade. Pois “morrer” é bem mais do que um direito. É um facto universal, talvez se
possa afirmar, como o acontecimento mais universal da vida humana.
Sob a perspetiva ética e deontológica, cabe ao enfermeiro o dever de acompanhar o
doente nas diferentes etapas da fase terminal.
Segundo o Estatuto da Ordem dos enfermeiros e de acordo com o código deontológico
do enfermeiro, no artigo 87º são descritos os deveres de respeito pelo doente em fim de
vida. É dever do enfermeiro:
Defender e promover o direito do doente à escolha do local e das pessoas que
deseja que o acompanhem na fase terminal da vida;
Respeitar e fazer respeitar as manifestações de perda expressas pelo doente em
fase terminal, pela família ou pessoas que lhe sejam próximas;
Respeitar e fazer respeitar o corpo após a morte.
A morte de uma pessoa é muito mais do que algo biológico, tal como o campo de ação
do enfermeiro não reside apenas no corpo mas na pessoa com tudo o que ela encerra:
valores, crenças, sentimentos, convicções, hábitos. Daí, os problemas éticos que se
colocam aos enfermeiros e que “ iluminam a sua ação levam a que”, todos os outros
artigos do Código Deontológico da Enfermagem, devam ser tidos em conta, sobretudo
os que se relacionam com os valores humanos, os direitos à vida, o direito ao cuidado,
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
39
que preconizam o respeito pela intimidade e a humanização dos cuidados (Vieira, 2000,
p.32).
1.2.3-Relação de ajuda
O enfermeiro é o elemento da equipa que mantém uma relação mais íntima com o
doente/família, não só por permanecer nos serviços de saúde durante um período longo,
mas também porque é ele que presta mais cuidados diretos.
Refere Pacheco (2004) é o enfermeiro que está mais próximo do doente, é geralmente o
enfermeiro que melhor conhece e compreende o doente na sua singularidade.
O mesmo autor salienta ainda que o diálogo, a atenção e o acompanhamento assumem
uma grande importância quando o doente se encontra em fim de vida.
Segundo Timby (2007), um relacionamento, associação entre duas ou mais pessoa,
ocorre durante o período em que são prestados cuidados de enfermagem, estabelecendo-
se, assim, uma relação entre o enfermeiro e o doente.
A atuação do enfermeiro é sem sombra de dúvida o cuidar do doente, e nestas situações
deve consistir essencialmente numa verdadeira relação de ajuda. Esta relação deve ser
pautada por um respeito e uma atenção constante, que nunca se deve limitar à simples
presença física, mas sim baseada numa verdadeira escuta e na congruência. Resumida
num leque de sentimentos genuínos.
Segundo Pinto (1991) os profissionais de saúde nomeadamente os enfermeiros sentem-
se desarmados perante a angústia das pessoas em fim de vida, com os quais têm
dificuldade em estabelecer uma relação de ajuda.
Outro autor fala-nos de que relação de ajuda não implica necessariamente uma presença
constante mas sim uma presença atenta, o que significa que todas as atitudes do
enfermeiro deverão ser orientadas para a escuta, para a empatia e para a congruência.
Para Phaneuf (2005, p.12), a relação de ajuda consiste num “processo que visa
essencialmente a tomada a cargo de si própria pela pessoa cuidada, e não pela
enfermeira. Salienta ainda a importância do enfermeiro que “age sobre a confiança que
consegue suscitar (…), sobre as trocas que decorrem entre elas, sobre o que ela retém do
seu ensino, sobre a ajuda que ela consegue fazer-lhe aceitar e em suma sobre a evolução
desta pessoa para a melhoria do seu estado”
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
40
Ainda a mesma autora, “a relação de ajuda bem aplicada, dá aos cuidados uma eficácia
e uma qualidade humana que lhe confere, ao mesmo tempo que um carácter de
profissionalismo, uma melhor visibilidade do que faz a enfermeira” (p.13).
O estabelecimento de uma “relação feita de escuta e de compreensão é, com efeito, um
verdadeiro bem, uma dádiva da enfermeira para a pessoa cuidada para a ajudar a
ultrapassar as suas dificuldades. E esta relação é fértil, evidentemente, visto que é
portadora de alívio da ansiedade, de libertação de certas emoções, de serenidade e de
amor pelo outro” (idem, p.322).
Um aspeto muito importante nesta relação, é que o enfermeiro não pode considerar a
pessoa como inferior só por se encontrar doente. Para que a relação surja, é necessário
que as pessoas envolvidas se respeitem e se reconheçam como seres iguais.
A afetividade é um aspeto muito importante nesta relação, permitindo que surja uma
relação de confiança entre o enfermeiro e o utente.
A relação não deve ser usada somente como instrumento de cura, mas também como
ajuda para a autorrealização da pessoa a quem se presta cuidados. A manifestação das
qualidades humanas, como a autenticidade, respeito e compreensão, são muito
importantes para que a relação de ajuda surja.
Na relação de ajuda, o enfermeiro deve integrar o sofrimento da pessoa com quem está,
para mais facilmente estabelecer esta relação. Este tipo de relação, tem como objetivo
“favorecer no outro o crescimento, o desenvolvimento, a maturidade, um melhor
funcionamento e uma maior capacidade de enfrentar a vida” (idem, p.324).
A relação de ajuda é considerada como terapêutica.
Segundo Phaneuf (2005), os cuidados físicos ou a satisfação de certas necessidades de
base podem ser preliminares ou complementares ao estabelecimento de uma relação de
ajuda (p.325).
Os objetivos da relação de ajuda têm por base ajudar a pessoa cuidada a:
“Colocar a sua dificuldade em palavras a fim de que ela possa perceber-se como
uma interveniente ativa na sua própria situação;
Aceitar a dor ou as dificuldades de uma situação com mais serenidade;
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
41
Ver o seu problema mais claramente, de maneira mais realista, nas suas justas
proporções, e modificar as suas perspetivas sobre o assunto, em caso de
necessidade;
Apresentar à enfermeira o seu problema como se lhe coloca, enquanto ser único
nas condições que lhe são particulares;
Compreender e comunicar às pessoas que ajuda as diferentes ligações entre os
acontecimentos da sua vivência e as diferentes relações de força que se exercem
entre as pessoas chave da sua vida para chegar a uma melhor compreensão de
um problema ou de um conflito;
Exprimir os seus sentimentos e as suas opiniões, mesmo se são negativos;
Libertar a sua tensão;
Sentir-se escutada, aceite tal como é, e compreendida, para que em seguida seja
capaz de se aceitar a ela própria tal como é;
Abrir-se aos outros e sentir-se mais à vontade para comunicar;
Ter em conta os outros e tornar-se consciente das suas responsabilidades;
Estabelecer uma relação significante com uma enfermeira que servirá de
trampolim para o estabelecimento de outras relações interpessoais;
Desenvolver uma autoimagem mais positiva;
Modificar certos comportamentos que prejudicam a sua adaptação;
Encontrar um sentido para a sua dificuldade;
Adaptar-se a uma situação à qual não se poderia adaptar sem ajuda;
Conhecer os recursos pessoais de que dispõe para resolver as suas dificuldades;
Ver a vida de forma mais confiante e mais positiva, e a formular objetivos de
vida, suas dificuldades na sua vida e resolvê-las se possível;
Enfrentar a morte com dignidade e serenidade” (idem, p.327).
Segundo Phaneuf (2005), as principais atitudes ou habilidades próprias da relação de
ajuda “encontram-se numa certa conceção do ser humano em que o respeito pela
dignidade da pessoa, pela sua liberdade e pela sua autonomia é primordial (p.334),
sendo elas: a aceitação; o respeito e a empatia.
A aceitação é “um sentimento de abertura à experiência do outro, ao seu sofrimento e à
sua maneira de ser sem exigência de mudança, o que constitui a primeira condição para
o estabelecimento de uma relação de ajuda.” (idem, p.337).
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
42
Para uma melhor aceitação, deve-se pensar na dignidade da pessoa como ser humano;
pensar no passado da pessoa e em como também pode ajudar; acreditar que a pessoa
pode evoluir; tomar consciência das dificuldades vividas pela pessoa/família e
reconhecer os seus sentimentos reais.
O respeito é a “qualidade pela qual a pessoa que ajuda reconhece a enorme dignidade e
o enorme valor da pessoa ajudada apesar da sua aparência física, do seu carácter, dos
seus comportamentos e dos seus hábitos de vida. O respeito caracteriza-se por:
• Uma atitude de deferência e de consideração positiva;
• Reconhecimento de que a pessoa ajudada é capaz de demonstrar coragem, de suportar
a adversidade, de evoluir e de mudar o seu modo de vida, e, conforme o caso, de se
responsabilizar por si, de modificar os seus comportamentos e de tomar as suas próprias
decisões” (idem, p.340).
No que respeita à empatia, esta é caracterizada por ser “um profundo sentimento de
compreensão da pessoa que ajuda e que percebe a dificuldade da pessoa ajudada, como
se ela penetrasse no seu universo, como se ela se colocasse no seu lugar para se dar
conta do que ela vive e da forma como o vive, e que lhe leva o reconforto de que tem
necessidade, mas sem se identificar com o seu vivido e sem ela própria viver as
emoções” (idem, p.347).
Existem vários meios de manifestar a empatia, sendo eles:
• “O comportamento não verbal ajustado ao estado de alma da pessoa ajudada;
• O tocar que exprime a compreensão, a vontade de reconfortar a pessoa;
• As palavras que exprimem a vontade de partilhar a dificuldade;
• A utilização das respostas-reflexo para mostrar a sua compreensão sobre o que vive a
pessoa;
• Um tom de voz sincronizado com as emoções do momento” (idem, p.349).
Para uma relação de ajuda mais eficaz, é muito importante que exista autenticidade e a
congruência.
A autenticidade corresponde à “capacidade da pessoa que ajuda de permanecer
sinceramente ela própria no decurso da relação com a pessoa ajudada” (idem, p. 359).
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
43
No que respeita à congruência, esta é definida como a “maneira de ser da enfermeira,
que manifesta uma certa consistência entre o que ela sente, que ela pensa, o que ela diz
e o que ela faz, e entre o seu comportamento verbal e o seu comportamento não verbal”
(idem, p.365).
A confrontação pode ser utilizada como um instrumento de crescimento pessoal para a
pessoa ajudada, sendo definida como “maneira de proceder na relação de ajuda que leva
a pessoa ajudada, sem agressividade, nem negativismo, a tomar consciência dos seus
procedimentos, do ilogismo e do irrealismo dos seus dizeres ou das suas ações, ou ainda
da distância que existe entre as suas palavras e o seu agir, e entre o que ela faz e os
objetivos de vida que determina para si.
Na relação de ajuda, além da escuta, o toque, o olhar e o silêncio são muito importantes.
O toque é considerado um dos meios de contacto mais direto, sendo através dele que o
profissional pode captar e dar informações, receber e transmitir mensagens. Quando
utilizado no momento oportuno, o toque apresenta extrema importância e valor
terapêutico, porque raramente deixa indiferente a pessoa que necessita de ajuda,
podendo ser o último modo de contacto, quando não se sabe o que dizer. Em relação ao
olhar, a sua importância revela-se quando, ao olhar para o utente, fazemos com que este
sinta que existe para nós.
1.2.4-Humanização do cuidar
Para que possamos prestar uma adequada assistência de enfermagem aos doentes em
fase terminal, não basta apenas competência técnica de alto nível. É preciso que haja
profissionais sensíveis ao sofrimento humano, capazes de se envolverem de forma
positiva com quem sofre, dispostos ao diálogo, respeitadores da liberdade,
reconhecedores da dignidade do ser humano nas circunstâncias mais adversas. Pois, se
humanamente é impossível vencer a morte, devemos descobrir algo para amenizar e dar
sentido à experiência de perda (Thomas, 2004).
Para que os enfermeiros sejam agentes de humanização é importante que sejam
possuidores de uma identidade pessoal dinâmica e em constante auto - atualização, que
apresentem valores e crenças individuais mas que sejam capazes de se adaptar às
situações que lhe vão surgindo, desenvolvendo as suas capacidades intelectuais,
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
44
praticando a sua relação interpessoal com a pessoa doente, aceitando o seu quadro de
valores, crenças e desejos individuais.
Atualmente, um dos objetivos maiores no processo de saúde é a Humanização dos
cuidados, e cada vez mais, à nossa sociedade, se exige e sente-se a necessidade de
humanização.
Quando se fala em atendimento humanizado, pensa-se num processo, cujo o objetivo é
facilitar a pessoa que se encontra vulnerabilizada, a enfrentar positivamente os desafios
pelos quais está vivenciando naquele dado momento.
Estanque (2011) na sua tese de mestrado realça a importância do fim de vida da pessoa
humana, tratando-se de uma fase da vida, com um valor inestimável, que não é inferior
a nenhuma outra fase da vida humana, reivindicando-se por isso, uma maior
humanização do processo de morrer.
Segundo Pinto (1996), humanizar é tornar humano, cuidar a pessoa como pessoa, dar-
lhe atenção e responder de uma forma positiva a toda a sua esperança, quando confiou
nos serviços de saúde e a eles recorreu para reencontrar-se na plenitude da sua
realização pessoal.
O conceito de prestar cuidados ou cuidar designa a atenção especial que se vai dar a
uma pessoa que vive uma situação particular com vista a ajudá-la, a contribuir para o
seu bem-estar, a promover a sua saúde (Hesbeen, 2000).
Para que esse cuidado seja possível, torna-se necessário olhar para si e para o outro, na
tentativa de que o autoconhecimento colabore positivamente no cuidado de cada ser.
Deste modo, ao enfermeiro, é pedido que preste cuidados de enfermagem humanizados
que visem o bem-estar físico e psicológico ou seja o reencontro com o seu equilíbrio
(Cabral, 2001). O mesmo autor afirma que a primeira regra e que deve estar na base da
humanização é o respeito pelo ser humano que cada um de nós é. É o encontro entre
cuidador e o ser cuidado, na intenção da criação de um elo empático que norteará as
ações para o cuidado.
Assim Martin (2004, in Pessini e Bertachini, 2004) desenvolveu a ideia de que as
considerações éticas vão fundamentar as ações para o cuidado seguindo quatro
princípios ou valores: a autonomia, a beneficência, não-maleficência e a justiça. O
mesmo autor acredita que a ética tem vasta contribuição no processo de humanização
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
45
hospitalar fundamentando-se racionalmente na defesa do resgate à dignidade humana no
que se refere ao cuidado hospitalar.
O autor anteriormente citado ainda relata que os valores predominantes em um ambiente
tecnocientífico do hospital, são o conhecimento científico e a eficiência técnica, e o
principal alvo da atenção do profissional da saúde passa a ser a doença e sua cura.
Almeida (2009), fala-nos do termo humanização que é algo aplicado aquelas situações
em que, além de valorizar o cuidado em suas dimensões técnicas e cientificas,
reconhecem-se os direitos do doente, respeita-se a sua individualidade, a sua dignidade,
a sua autonomia, e a sua subjetividade, sem esquecer de reconhecimento do profissional
também enquanto ser humano, ou seja, pressupõe uma relação sujeito/sujeito.
À medida que nos aproximamos das relações do cuidado para verificar as suas
dimensões/significados, nos deparamos com o sentido de que se existe um ser a ser
cuidado existirá um indivíduo que cuida.
Para que haja um avanço nas discussões sobre o cuidado, torna-se necessário que o
enfermeiro adote a postura de colocar-se no lugar do ser que é cuidado para poder
vislumbrar de uma forma mais aproximada quais são suas reais necessidades, e que o
contexto familiar e institucional seja reorganizado, garantindo conforto, resolutividade e
atendimento humanizado para os protagonistas do cuidado, seres que cuidam e seres
que são cuidados.
Waldow (1998) defende que quando se fala em cuidado já está embutida a
humanização, afinal, o cuidado é oferecido a seres humanos.
“Humanizar o cuidar é dar qualidade à relação profissional da saúde-paciente. É
acolher as angústias do ser humano diante da fragilidade de corpo, mente e espírito. Destaca-
se nesse contexto a presença solidária do profissional com habilidade humana e científica.
Diante de um cotidiano desafiador pela indiferença crescente, a solidariedade e o atendimento
digno com calor humano são imprescindíveis. Ser sensível à situação do outro, criando um
vínculo, graças a uma relação dialogal, para perceber o querer ser atendido com respeito,
numa relação de diálogo e de necessidades compartilhadas”.(apud Pessini e Bertachini, 2004,
p.4).
Muitas são as situações em que os profissionais da saúde e nomeadamente os
enfermeiros se encontram em situações em que podem ser designados como
profissionais da doença, em que a maior preocupação é tratar /curar a sintomatologia do
indivíduo, esquecendo-se que por detrás daquela história clínica está um ser humano
com toda a sua família, suas crenças, religião, princípios, o que não pode ser descurado
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
46
e que muitas são as vezes a pessoa e a família, não entendem o que está a ocorrer na
naquele momento necessitando muito de serem ouvidos, quanto aos seus medos,
receios, incertezas. Isso é uma forma de desumanização. O paciente fica fragmentado,
despersonalizado quando são identificados por sua patologia, pelo número da sua cama
ou mesmo do quarto e seus nomes entram em desuso. Em nome de um cuidado voltado
à ciência e à eficiência, o corpo e o saber sobre o corpo são abandonados, em detrimento
de uma alta tecnologia e pouco conhecimento sobre o que sente, ao ser cuidado.
1.2.5-Mecanismos de defesa e estratégias de adaptação dos que prestam cuidados
Neves (2000) aponta que em trabalhos realizados os enfermeiros desenvolvem muitas
vezes, mecanismos de defesa. Apontando seis mecanismos de defesa que passo a
descrever:
A mentira - o enfermeiro fala de inflamação no lugar do cancro ou de abcesso
em vez de tumor. Este mecanismo permite ao enfermeiro sair da situação
geradora da angústia, mas é muito prejudicial para o doente.
Fugir para a frente - o enfermeiro mantém uma esperança artificial quando o
doente não acredita nisso.
A racionalização - utilização de termos técnicos complicados, o enfermeiro fica
tranquilo por não mentir ao doente e pensa ser menos violento para ele. Evita,
assim, envolver-se emocionalmente com o doente.
O evitamento - o enfermeiro encara o doente apenas como um objeto técnico
dos seus cuidados, evitando qualquer tipo de relacionamento.
A identificação projetiva - o enfermeiro identifica-se de tal modo com o utente
que deixa de conseguir diferenciar os seus sentimentos dos do doente.
Sabemos pois, que cada enfermeiro encara a morte de forma distinta. O
desenvolvimento de confiança, nas suas capacidades e nas suas competências, o
sentimento dos evidentes e reconhecidos benefícios às pessoas dos doentes e à
sociedade, a retribuição afetiva da parte de alguns doentes e de alguns familiares, torna
possível que os enfermeiros atinjam um nível de maturidade, no qual pode reconhecer
que os seus momentos de sofrimento e de angústia se transformaram em fatores
enriquecedores do seu percurso profissional e até pessoal.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
47
Daí, competência e o aperfeiçoamento profissional se encontrarem regulamentados, no
artigo 78º do Código Deontológico do Enfermeiro, como um dos valores universais a
considerar.
1.3- APOIO À FAMÍLIA DO DOENTE EM FASE TERMINAL
Um profissional de saúde é acima de tudo um ser humano. Desta forma, é detentor de
emoções e sentimentos que interferem com a prestação de cuidados ao doente e família.
Para uma prestação de cuidados de excelência, é essencial que o profissional reconheça
e faça uma adequada gestão dos seus sentimentos. Por se revelar um assunto de difícil
abordagem, existe uma forte tendência para reprimir todas as emoções, conduzindo a
sentimentos de incapacidade e frustração na prática diária dos profissionais de saúde
(Lima e Simões, 2007).
Considerando o indivíduo inserido num seio familiar, é função do enfermeiro intervir
junto deste, valorizando de igual forma os seus sentimentos. Assim, Jardim (2006,
p.199), afirma que:
“O despedir-se da pessoa falecida, (…) o desejo intenso de querer que a pessoa continue
ali, (…) o ressentimento de nunca contar o quanto a amava, o pesar de querer estar junto
mesmo que não a possa ver (…). São vivências que qualquer pessoa em luto experiencia.
(…). Até que um dia muda qualquer coisa, algo dentro da pessoa faz querer encontrar de
novo o seu caminho. E a própria pessoa enlutada começa, muito devagarinho, a pensar
que vale a pena viver (…)”.
Cabe ao enfermeiro o dever de uma intervenção ativa face à família, não só durante o
internamento da pessoa doente, mas também no período pós-morte. Assim sendo,
Ferreira (1999) afirma que o papel do enfermeiro é crucial no apoio à família no
restabelecimento do equilíbrio e na assimilação da perda sofrida. Os principais
problemas observados nos familiares são as perturbações cognitivas, afetivas e
comportamentais que por sua vez, acarretam alterações na vida pessoal, social e
profissional (Ferreira, 1999; Cerqueira, 2004).
Segundo Lima (2006), o enfermeiro deve reunir esforços para integrar a família da
pessoa em fase terminal na equipa de saúde para que, como no domicílio, a morte no
hospital seja um acontecimento familiar. Para que tal suceda, este deverá criar as
condições físicas necessárias, para que a família possa permanecer junto do seu familiar,
durante o tempo que desejar. Para além disso, deverá encontrar estratégias que
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
48
permitam encorajar a família a assistir e mesmo a participar nos cuidados prestados ao
doente, incentivando-a, por exemplo, a colaborar nos cuidados de higiene e
alimentação. De uma maneira geral, o enfermeiro deverá proporcionar um ambiente
calmo, cuidado, demonstrando uma atitude individualizada, mesmo no meio da
dinâmica hospitalar.
1.3.1-Necessidades da família no doente em fim de vida
No sentido de auxiliar o indivíduo e a família no processo de luto, Jardim (2006) propõe
como objetivos: prevenir as reações de perturbações do processo de luto; reduzir a
vulnerabilidade emocional; ajudar no reajustamento face à perda; potenciar os
elementos adaptativos que cada pessoa apresenta e que muitas vezes desconhece;
promover a expressão de emoções e sentimentos e ajudar a reconhecer a natureza das
dimensões da perda.
Com o propósito de conseguir os melhores resultados possíveis é fundamental
considerar a perspetiva de Ferreira (1999), cada elemento da família é único e encara a
perda do ente querido de forma singular. Daqui decorre a necessidade da adoção de
comportamentos e ações de enfermagem individualizados, considerando cada caso em
especial e não a utilização de frases feitas e de procedimentos estereotipados. No
entanto, é recomendado atender a alguns cuidados gerais face aos familiares em luto,
tais como:
Sensibilizar a família para as vantagens dos seus cuidados à pessoa
doente, o que poderá facilitar a aceitação posterior da perda;
Aceitar os rituais e costumes da família para lidar com a morte;
Providenciar um ambiente adequado à livre expressão de sentimentos;
Dar tempo à família para se descobrir a si própria e aos seus recursos;
Perceber qual o papel que o doente ocupava na família;
Utilizar uma linguagem acessível;
Auxiliar no reconhecimento da natureza das dimensões da perda.
Potenciar os elementos adaptativos que cada pessoa apresenta e que
muitas vezes desconhece;
Propor grupos de apoio adequados a cada situação;
Desenvolver um trabalho pluridisciplinar.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
49
A relação interpessoal enfermeiro/família é sem dúvida determinante para a qualidade
dos cuidados prestados ao doente, uma vez que tal com diz Colliére (1989), é esta
relação que se torna o eixo dos cuidados, no sentido em que é simultaneamente o meio
de conhecer o doente e de compreender o que ele tem, ao mesmo tempo que detém em
si próprio um valor terapêutico.
1.4- CARACTERIZAÇÃO DO CONTEXTO DA PESQUISA
Neste subcapítulo faremos uma breve caracterização do local onde decorreu o estudo,
que consideramos necessária de forma a contextualizar a nossa pesquisa e a facilitar o
conhecimento da instituição pelos leitores.
De acordo com Quivy e Champenhoudt (1998), o campo de análise do estudo deve ser
claramente circunscrito num espaço, geográfico, social e temporal. Fortin (1999)
acrescenta ainda que é o investigador quem define o meio onde o estudo será
conduzido, justificando a sua escolha.
De acordo com o objetivo da investigação e a problemática em estudo, o nosso campo
de análise incidiu sobre o Serviço de Especialidades Médicas de uma Unidade
Hospitalar da Região Centro do país, nomeadamente do CHMT, EPE – Unidade de
Torres Novas.
A opção pela Unidade de Torres Novas e pelo serviço em si deve-se ao fato de ser esse
o local onde exercemos a nossa atividade profissional e por conseguinte, conhecermos
melhor esta realidade e suas necessidades, o que facilita também uma melhor gestão do
tempo no decurso do estudo. Pensamos ser um passo inovador, na medida em que até
agora nunca foi realizado um estudo destas características, constituindo como uma
mais-valia, não só como desenvolvimento pessoal do investigador mas também para o
desenvolvimento da profissão no contexto da prática, na medida em que os resultados
deste estudo poderão contribuir para a reflexão necessária para a melhoria dos cuidados
de enfermagem em que todos nos sentimos empenhados.
Enquadramento histórico
O atual edifício foi inaugurado em Outubro de 2000, com excelentes condições para a
prestação de cuidados de saúde.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
50
O Grupo Hospitalar do Médio Tejo, criado pela Portaria n.º209/2000,de 6 de Abril,
uniu então os designados Hospitais Distritais de Torres Novas, Tomar e Abrantes, os
quais embora mantendo a sua natureza de pessoas coletivas públicas com autonomia
administrativa e financeira, passaram a estar sujeitos a uma coordenação comum. Esta
junção, nasceu da necessidade de rentabilizar recursos humanos, financeiros e técnicos,
promovendo a complementaridade.
Em 2001, a Portaria n.º1277, de 13 de Novembro extinguiu os três hospitais distritais e
integrou-os numa única instituição, com uma gestão comum e integrada. O Centro
Hospitalar do Médio Tejo.
Posteriormente, em Dezembro de 2002, o DL n.º 301/2002 transformou o Centro
Hospitalar em sociedade anónima de capitais exclusivamente públicos, com a
designação de Centro Hospitalar do Médio Tejo, SA.
A última alteração é feita em Dezembro de 2005, através do DL n.º 233/2005, que
transforma os 3 hospitais SA existentes, em Entidade Publica Empresarial (EPE).
De acordo com a Entidade Reguladora da Saúde (ERS, 2011, p.13) os hospitais EPE,
são considerados estabelecimentos públicos, dotados de personalidade jurídica,
autonomia administrativa, financeira e patrimonial e natureza empresarial.
Enquadramento na região
O CHMT, engloba uma área composta por 15 concelhos, servindo uma população de
cerca de 266 mil habitantes. Até há bem pouco tempo, os concelhos de Tomar, Ferreira
do Zêzere e Ourém, eram servidos pela Unidade de Tomar, e os Concelhos de Torres
Novas, Alcanena, Entroncamento, Golegã e Vila Nova da Barquinha, eram servidos
pela Unidade de Torres Novas.
A Unidade de Abrantes era a mais abrangente em termos de área e de população que
servindo para além do concelho de Abrantes os concelhos de Constância, Sardoal,
Gavião, Vila de Rei, Mação e Ponte de Sôr.
Presentemente, o Centro Hospitalar encontra-se em fase de restruturação, com a
centralização e desenvolvimento de Serviços, estando a urgência Médico Cirúrgica
baseada na Unidade Hospitalar de Abrantes.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
51
Tal como noutras instituições de saúde, o Centro Hospitalar possui um quadro
conceptual onde estão definidos os princípios e valores que norteiam a forma de estar e
de agir dos seus profissionais.
Missão do CHMT e Quadro de Referência de Enfermagem no Serviço de
Especialidades Médicas
A Missão do CHMT inserta no seu regulamento interno, refere que esta organização se
diferencia no seu desenvolvimento de Serviços eficientes e inovadores de diagnóstico e
no tratamento em ambulatório. Diferencia-se ainda pela universalidade e acessibilidade
a três unidades estrategicamente colocadas na região do Vale do Tejo, pelo seu
compromisso com o doente, assumindo-se como um Centro de elevada competência na
organização assistencial e uma referência no esforço de investigação, desenvolvimento
e inovação na prestação de cuidados de saúde.
Na unidade de Torres Novas o Serviço de Especialidades Médicas situa-se no 5º piso e
é assim denominado porque, integra para além da especialidade de Medicina Interna a
especialidade de Pneumologia. Os doentes podem ser caraterizados como sendo adultos,
idosos a vivenciar processos de saúde/doença crítica/crónica, paliativa e incapacitante
com vista à promoção da saúde, prevenção e tratamento da doença, readaptação
funcional e reinserção social, ou acompanhamento do processo de morte e de morrer.
A equipa de enfermagem estabeleceu no seu quadro de referência o modelo conceptual
da prestação de cuidados preconizado pela Ordem dos Enfermeiros para o
desenvolvimento dos padrões de qualidade em enfermagem. O quadro de referência
reflete o código deontológico e preconiza-se uma prática consentânea com a melhoria
contínua dos cuidados e com o desenvolvimento das competências dos enfermeiros de
cuidados gerais e especializados.
A estrutura física do serviço permite a prestação dos cuidados de enfermagem de acordo
com o rigor técnico exigido, mas as atividades de apoio emocional estão comprometidas
por falta de uma área mais reservada para o efeito.
O sistema de informação é o aplicativo SAPE parametrizado com a Classificação
Internacional da prática de enfermagem, o qual permite a manutenção de um sistema de
classificação de doentes.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
52
O método de distribuição utilizado é o método de enfermeiro responsável, favorecedor
de uma conceção holística do cuidar.
Terminada a contextualização do estudo e a breve caracterização do serviço, passamos
às opções metodológicas que nortearam a nossa investigação, o que constitui um novo
capítulo do nosso trabalho.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
PARTE II – Enquadramento
Metodológico
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
55
1-ENQUADRAMENTO DA METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO
Um trabalho de investigação utiliza na metodologia um conjunto de normas, critérios e
princípios que têm como objetivo orientar a pesquisa, selecionar e elaborar técnicas para
o esclarecimento do problema em estudo.
Tendo delimitado o problema e feito a visão pessoal do fenómeno, vamos descrever a
metodologia que utilizamos, tendo em conta que “ o investigador determina os métodos
que utilizará para obter as respostas às questões de investigação colocadas ou às
hipóteses formuladas (…) define a população e escolha dos instrumentos mais
apropriados para efetuar a colheita de dados” Fortin (1999, p.34).
Torna-se, por isso, evidente que durante a fase metodológica do processo de
investigação, se determinam os métodos a utilizar para chegar às respostas das questões
de investigação delimitadas.
A fase metodológica é um dos aspetos mais importantes para um trabalho de
investigação. Assim, os resultados finais do estudo dependerão do tipo de estudo e da
forma como se vão colher os dados necessários (Sampaio, 2011).
Neste sentido, há que assegurar a qualidade e a fiabilidade dos resultados da
investigação, sendo necessário escolher um desenho de investigação adequado, ter uma
boa definição dos participantes e seleção apropriada da colheita de dados.
Metodologia é de acordo com Gil (1989, p.89) “ um processo racional para chegar ao
conhecimento ou à demonstração da verdade onde a sua ordem de assuntos tenha uma
sequência lógica, ou seja, a metodologia é a arte de dirigir o espírito na investigação da
verdade”.
A metodologia como nos afirma Dias (1999, p.65) é “uma mais valia para a execução
de estudos científicos”, mesmo para o aumento significativo da produção científica.
Complementando esta ideia, Quivy e Champenhoudt, (1992, p.56) refere que:
“É através da metodologia que se confrontam as questões de investigação a serem
verificadas com os dados observados, englobando assim um conjunto de operações
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
56
através das quais o modelo de análise é submetido ao teste dos factos e confrontado com os
dados observados”
Tendo por base o exposto, a finalidade deste capítulo é a apresentação dos
procedimentos adotados para a concretização desta investigação, que inclui a
justificação do tema, abordagem do contexto do estudo, objetivos e tipo de estudo,
participantes do estudo, instrumento de colheita de informação, procedimentos formais
e éticos, e por último o processo de análise da informação utilizado.
1.1-PROBLEMÁTICA E JUSTIFICAÇÃO DO TEMA
Segundo Lakatos e Markoni (2003, p.218) tema é o “(…) assunto que se deseja provar
ou desenvolver” na investigação. O tema desta investigação consiste em analisar as
vivências dos enfermeiros dentro de um determinado contexto quando cuidam da
Pessoa/ Família em fim de vida.
As motivações para a escolha do mesmo, assentam principalmente em questões pessoais
e académicas, já anteriormente referidas e na possibilidade deste estudo, através do
conhecimento por ele gerado, poder contribuir para melhorar a prática de cuidados aos
doentes/família em fim de vida
Por outro lado, quando se decide traçar uma pesquisa faz-se com base numa dúvida que
o investigador gostaria de clarificar, ou num problema para o qual considera ser
relevante encontrar uma solução. Esta dúvida apresenta-se sob a forma de uma questão
ou pergunta de partida e tem como objetivo servir como “fio condutor” da
investigação/pesquisa.
Neste sentido tem um papel fulcral na base da sustentação para a delineação da
pesquisa, tendo que obedecer a certas características, como apresentar-se sob a forma de
“um enunciado interrogativo claro e não equívoco que precisa os conceitos-chave,
especifica a população alvo e sugere uma investigação empírica.” (Fortin, 1999, p.76).
Tendo também, e segundo o mesmo autor, que ter em conta determinados aspetos como
a clareza, exequibilidade, pertinência e as suas dimensões metodológicas e éticas.
Diante da pessoa em fim de vida, quando já se sabe que não há cura, muitas vezes
extremamente sofrível, os profissionais de saúde devem assistir, servir, confortar. Assim
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
57
quando há necessidade de ajudar alguém nessa fase, seja de forma terapêutica ou
humana, tem que haver preparação eficaz para lidar com a morte.
Como profissionais de saúde, não descontextualizados da sociedade em que vivemos, e
com base na nossa experiência pessoal e profissional enquanto prestadores de cuidados,
somos confrontados frequentemente com os nossos medos e carências de conhecimento
no cuidar das pessoas e famílias em fim de vida. Desta forma, sentimo-nos desarmados
perante a angústia das pessoas em fim de vida, com as quais temos dificuldades em
estabelecer uma relação de ajuda.
Segundo Neto et al. (2004) a doença terminal transporta um conjunto de problemas, que
determinam o sofrimento da pessoa humana e influenciam a sua qualidade de vida.
Todo o contexto de doença e tratamento, influencia a situação emocional, económica e
social do doente e, também, da sua família. As necessidades da pessoa em fim de vida
são múltiplas, e incluem aspetos quer de ordem física, quer de ordem psicológica, social
e espiritual. Não é nada fácil lidar com o sofrimento humano, perante a dependência, a
dor e a fragilidade das pessoas.
Nesta perspetiva e de acordo com Golander (1996), é de extrema importância criar
conhecimento sólido, que guie as intervenções de enfermagem para a qualidade dos
cuidados e ajude a compreender as vivências humanas relativamente à saúde e à doença.
Diante da dor, sofrimento e morte no seu quotidiano de trabalho, o enfermeiro, de um
modo geral, sente necessidade de suporte e apoio para enfrentar o sofrimento humano,
havendo uma desejável postura profissional, sem medo de demonstrar os seus
sentimentos, que aponta abertura de um novo caminho, para uma nova consciência do
exercício em enfermagem, com a possibilidade de vivenciar os seus próprios
sentimentos.
1.2-QUESTÃO E OBJETIVOS DE INVESTIGAÇÃO
O ponto de partida para qualquer investigação consiste em procurar um domínio de
interesse e formular uma pergunta preliminar de investigação. Assim sendo, uma
pergunta de investigação e segundo Fortin (1999), é um enunciado interrogativo, escrito
no presente, que inclui a população estudada, especificando os aspetos a estudar, e o seu
enunciado determina os métodos a utilizar para obter a sua resposta.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
58
Surge então a questão de investigação: “Como é que os enfermeiros do serviço de
Especialidades Médicas, que participaram no estudo gerem a sua presença junto da
pessoa/família em fim de vida?”.
Apresentada a justificação do tema e a questão de investigação, abordamos
seguidamente os objetivos e o tipo de estudo.
Depois de elaborada a questão de investigação definiram-se objetivos congruentes, no
sentido de delinear a pretensão do alcance do estudo, bem como explanar aquilo que o
estudo se propõe realizar e os aspetos que pretende analisar. Esta ideia é partilhada por
Fortin (2009), quando diz que o objetivo é um enunciado que indica claramente o que o
investigador tem intenção de fazer no decurso do estudo, devendo indicar de forma
clara, qual é o fim que o investigador persegue.
Como o nosso trabalho pretendemos analisar as vivências dos Enfermeiros quando
cuidam da Pessoa/família em fim de vida, que como fenómeno humano, só pode ser
vivenciado por aqueles que vivem essa mesma experiência.
Apresentamos como objetivo geral deste trabalho de investigação, o seguinte:
Compreender como os enfermeiros vivenciam o processo de morte dos
doentes/família em fim de vida.
Como objetivos específicos:
Compreender como os enfermeiros identificam as necessidades dos doentes;
Compreender como os enfermeiros identificam as necessidades da família da
Pessoa em fim de vida;
Identificar como os enfermeiros se disponibilizam para apoiar a família no
processo de luto;
Conhecer a importância que os enfermeiros atribuem aos cuidados que prestam à
pessoa em fim de vida;
Perceber o nível de investimento efetuado pelos enfermeiros na área da formação
que lhe permite desenvolvimento das suas competências relacionais.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
59
1.3-TIPO DE ESTUDO
Uma vez apresentados os objetivos, que se pretendem, alcançar, e a questão de
investigação, passar-se-á a mencionar o tipo de estudo, pois as opções metodológicas e
o seu desenho desempenham um papel fundamental no desenvolvimento de um estudo
de investigação. Quando se investiga um problema a escolha e o tipo de estudo é
bastante importante pois descreve a estrutura a utilizar para atingir os objetivos (Fortin,
2003).
Na perspectiva de Fortin:
“o método de investigação qualitativo implica o interesse de uma compreensão absoluta e
ampla do fenómeno a estudar. O investigador observa, descreve, interpreta e aprecia o
meio e o fenómeno tal como se apresentam, sem procurar controlá-los. A abordagem
qualitativa pretende descrever ou interpretar mais do que avaliar” (2009).
Neste sentido, Ponte (2009) salienta que a fenomenologia propõe uma abordagem direta
dos fenómenos, a partir das pessoas, sem teorias sobre a sua explicação causal.
Na opinião de Quivy e Campenhoudt (2008) definir a metodologia a adotar é essencial
para tomar decisões que permitam encontrar respostas à problemática da investigação,
neste sentido, a reflexão sobre as metodologias existentes foi essencial para que a
escolha do método de investigação fosse a mais adequada ao presente estudo, sendo que
a opção metodológica deveria ser qualitativa.
Esta metodologia de investigação, tem como princípio orientador o modo como o
mundo social é experienciado, interpretado e estruturado pelos sujeitos que vivem uma
determinada experiência (Bogdan e Biklen, 1994).
Dentro do mesmo contexto, Fortin (2009), menciona que a abordagem qualitativa,
baseia-se em procurar entender a significação das descrições que as pessoas fazem da
sua experiência, facto que se adequa à natureza, à complexidade, e à subjetividade do
tema e do objeto em análise - vivências dos enfermeiros no cuidado à pessoa e família
em fim de vida.
De acordo com o referido, Streubert e Carpenter (2002) referem que os enfermeiros
devem adotar esta metodologia quando pretendem descrever e compreender as
experiências humanas, sendo que a informação é apresentada na forma de palavras ou
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
60
imagens, em vez da forma de números, assumindo a palavra escrita particular
importância.
Os métodos qualitativos encorajam os procedimentos analíticos que permitem perceber
a noção de «significado» e de «sentido» do objeto para as pessoas. Os estudos de
natureza qualitativa têm a qualidade de serem inegáveis, quando interessa perceber a
perspetiva individual sobre um assunto, porque as palavras têm um sabor mais intenso e
concreto, e que é mais convincente do que uma página cheia de números.
São estudos com ênfase no holismo e com maior potencial para revelarem a
complexidade do fenómeno. Focam-se no fenómeno, integrado num contexto
específico, o que de facto se articula perfeitamente com o que pretendemos.
A opção pela investigação qualitativa relacionou-se então, com a necessidade de darmos
ênfase à experiência vivida pelos participantes, às suas perceções, ideias, juízos e
pressupostos. Os estudos qualitativos podem ser realizados tendo em conta vários tipos
de aproximação ao objeto em análise. A aproximação do tipo fenomenologia pareceu-
nos a abordagem mais adequada, no sentido em que a fenomenologia trabalha com
instrumentos de recolha de dados do tipo entrevista, com rara intenção de apenas as
codificar, capturando na interface com o entrevistado e na contínua interpretação do seu
conteúdo a essência das ideias que caracterizam o fenómeno. Procura aquilo que é
constante no fenómeno para uma compreensão prática do mesmo (Miles e Huberman,
1994).
Os estudos descritivos tal como o próprio nome indica, descrevem as características,
propriedades ou relações existentes no grupo ou da realidade em que foi realizada a
pesquisa, concentra-se principalmente nas descrições de experiências dos participantes.
No caso concreto deste estudo foi imperativo descrever características do grupo
profissional de enfermagem na situação de cuidadores de doentes oncológicos em fase
terminal.
Carmo e Ferreira (2008) referem que a investigação descritiva implica estudar,
compreender e explicar a situação atual do objeto de investigação.
Fortin (1999, p.148) refere que um estudo fenomenológico
“visa compreender um fenómeno para extrair a sua essência do ponto de vista daqueles
que vivem ou viveram essa experiência (…) o estudo fenomenológico toma o individuo
como unidade de referência, descrevendo o universo perceptual de pessoas que vivem uma
experiência que interessa à prática clínica, e o trabalho do investigador consiste em se
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
61
aproximar desta experiência, em descreve-la nas palavras dos participantes na
investigação, em explicitá-la da forma mais fiel possível e em comunicá-la”.
Ainda o mesmo autor, menciona que os estudos fenomenológicos são muitos utilizados
nas várias disciplinas e sobretudo o mais popular entre os enfermeiros. A grande
maioria dos estudos efetuados sob o ângulo da fenomenologia consiste na explicação de
diversas experiências saúde - doença e de diversas experiências de cuidados A
fenomenologia possibilita olhar as coisas como elas se manifestam, aos nossos olhos.
Também Streubert e Carpenter (2006) salientam a importância da fenomenologia que
possibilita aos investigadores o enquadramento para descobrir como é viver a
experiência. Assim sendo, Ponte (2009) salienta que a preocupação da fenomenologia é
a descrição do fenómeno, e não a sua explicação.
Ainda Morse (2007) lembra que, a fenomenologia tenta revelar o significado essencial
da experiência humana, sendo a abordagem fenomenológica adequada para a
investigação em enfermagem.
Nesta perspetiva a abordagem fenomenológica coloca-nos mais perto de
compreenderemos as experiências vividas e as pessoas em toda a sua complexidade e
profundidade, ou seja através da fenomenologia é possível conhecer o universo mais
profundo da experiência humana. O fato de cada pessoa compreender o significado da
sua própria vivência e de transmitir, poderá ter implicações positivas, contribuindo para
o desenvolvimento da enfermagem e consequentemente para uma melhoria das práticas
(Streubert e Carpenter, 2002).
Tendo em conta estas considerações optamos, por um estudo qualitativo descritivo e
fenomenológico na medida em que tem por objetivo estudar as pessoas nos seus
contextos naturais recolhendo dados que emergem naturalmente e se propõe estudar as
experiências vivenciadas através da compreensão da estrutura, da essência, contexto da
experiência subjetiva do indivíduo.
Como esta investigação se contextualiza num estudo do tipo qualitativo, tendo como
abordagem metodológica a fenomenologia e existindo diferentes decursos
interpretativos, para os procedimentos de análise da informação, adotámos o método de
interpretação fenomenológico proposto por Colaizzi (1978). Este método de
investigação é uma metodologia qualitativa, adequada e rigorosa, para estudar o sentido
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
62
da experiência humana, nas diferentes relações que estabelecem com o mundo
(Streubert e Carpenter, 2002).
Após a definição do tipo de estudo a realizar e justificadas as opções metodológicas,
bem como o método a utilizar para a análise da informação, segue-se outra fase do
processo de investigação, que é a dos participantes do estudo.
1.4-PARTICIPANTES
Após a escolha da metodologia, bem como o contexto do estudo, é igualmente
importante a seleção dos participantes.
Nesta etapa recorremos novamente à questão de investigação como fio condutor do
estudo, a qual nos permitiu tomar decisões relativas aos critérios de seleção dos
participantes.
É uma etapa importante na elaboração do processo de pesquisa, uma vez que, são os
participantes que transmitem a informação, que constitui o suporte da investigação e dá
resposta à questão de investigação, permitindo alcançar os objetivos formulados.
Para Streubert e Carpenter (2002), os investigadores qualitativos geralmente não
designam os indivíduos que participam no seu estudo por sujeitos, mas sim por
participantes ou informantes, uma vez que, na investigação qualitativa as pessoas têm
um envolvimento ativo no estudo, o que permite uma melhor compreensão das suas
vivências.
Atendendo também a que “os conhecimentos sobre os indivíduos só são possíveis com a
descrição da experiência humana tal como ela é vivida e tal com ela é definida pelos
seus próprios atores” (Polit e Hungler, 1995, p. 270), a importância da amostra está na
riqueza dos dados, que descrevem as experiências individuais de cada participante.
De acordo com o referido, as pessoas que irão participar neste estudo irão designar-se
participante.
Na medida em que, os estudos qualitativos se interessam pelo estudo do fenómeno em
profundidade, o critério subjacente à seleção da amostra populacional reside na
qualidade do informante e não propriamente na quantidade (Gauthier, 2003).
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
63
Neste tipo de estudo a escolha dos participantes deve ser realizada tendo por base
critérios de seleção que promovam uma relação íntima dos participantes com a
experiência que se quer descrever e analisar.
Como também refere Streubert e Carpenter (2002), os indivíduos são selecionados para
participar na investigação qualitativa de acordo com a sua experiência, em primeira
mão, interação social ou fenómeno de interesse. Os participantes não devem ser pois
selecionados aleatoriamente, mas em função do conteúdo da informação. O mesmo
autor salienta ainda que, para definir os participantes é importante atender a critérios de
elegibilidade, critérios esses que são utilizados pelos investigadores para designar
atributos específicos, através dos quais os participantes são escolhidos para participar no
estudo.
Numa abordagem fenomenológica, os participantes são aqueles que verdadeiramente
vivem a experiência, dando origem a descrições finas, densas e fiéis do que
experienciam. O que permite que se revele a realidade do ponto de vista das pessoas que
a vivem (Fortin, 2003). O mesmo autor referencia ainda a importância e valor dos
participantes se encontrarem motivados a participar no estudo, de modo a transmitir a
suas vivências de forma clara, precisa, com boa capacidade de expressão.
Os participantes no estudo foram enfermeiros do serviço de Especialidades Médicas do
CHMT da Unidade de Torres Novas, que participaram voluntariamente, tendo sido
selecionados intencionalmente segundo os critérios que passamos a descrever:
Enfermeiros que trabalham há mais de 5 anos naquele serviço.
Enfermeiros com mais de 30 anos de idade.
Disponibilizar-se para partilharem as suas vivências enquanto cuidam da
pessoa em fim de vida.
Terem vivido a experiência da morte de uma pessoa significativa.
Aceitarem a gravação áudio da entrevista.
Para justificarmos a experiência baseada em anos de serviço, recorremos a Benner
(2001) a qual defende que os requisitos de perícia no desempenho da atividade
profissional sustentam-se na experiência e na educação. Acrescenta que de acordo com
o modelo o “Aquisição de Perícia”, de Dreyfus, (modelo adaptado à Enfermagem que
ajuda o enfermeiro a entender as diferenças entre o enfermeiro experiente e o
principiante), a pessoa passa através de 5 níveis de proficiência: principiante,
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
64
principiante avançado, competente, proficiente e perito. A passagem de um nível a outro
pressupõe alterações em dois aspetos. Aumento da confiança em aspetos abstratos,
levando à utilização de experiências passadas e mudança na perceção e entendimento da
exigência de uma determinada situação.
Segundo Streubert e Carpenter (2002) a escolha dos participantes, deve recair em
pessoas que pelo seu papel, postura, experiência e capacidade de expressão garantam a
qualidade da informação a recolher.
Quanto ao número de participantes, de acordo com Fortin (2009), é determinado pela
saturação da informação recolhida, até que deixe de surgir informação nova e relevante
na colheita de dados.
Fortalecendo esta ideia Strauss e Corbin (2008, p.208) referem que a recolha de dados
continua “ (…) até que todas as categorias estejam saturadas; ou seja, não surge nenhum
dado novo ou importante e as categorias estão bem desenvolvidas em termos de
propriedade e de dimensões.”
Depois da explanação da escolha dos participantes, apresentamos seguidamente o
processo de colheita de informação e o respetivo instrumento de colheita.
1.5-INSTRUMENTO DE COLHEITA DE INFORMAÇÃO
O método de recolha de informação constitui uma etapa importante para o
desenvolvimento de investigação, ela é uma técnica que visa obter informação
relativamente ao objetivo do estudo, através de uma observação direta e/ou do registo de
dados (Fortin, 1999). Existindo na investigação qualitativa, uma variedade de
estratégias disponíveis para a obtenção de dados consoante a pesquisa que se pretende
desenvolver, sendo a entrevista uma das mais frequentes, e a eleita nesta pesquisa,
sendo esta uma das técnicas de recolha de dados mais utilizada em investigação
qualitativa. Também Quivy e Campenhoudt (1992) defendem que os métodos de
entrevista distinguem-se pela aplicação dos processos fundamentais de comunicação e
de interação humana, processos esses que permitem ao investigador retirar das suas
entrevistas informações e elementos de reflexão ricos e matizados, caracterizando-se
por um contacto direto entre o investigador e o entrevistado. Também a flexibilidade
que a entrevista permite, é uma das características que a torna tão atrativa, permitindo
entrar no mundo da outra pessoa, se bem que processo em si (a transcrição das
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
65
entrevistas e sua análise), consuma bastante tempo, não deixando no entanto de ser
excelente fonte de dados.
As entrevistas também variam quanto ao seu de grau estrutural, tal como referem Fortin,
Grenier e Nadeau (1999). Deste modo a entrevista pode ser, estruturada,
semiestruturada ou não-estruturada e acrescentam que este tipo de entrevistas são
utilizadas quando existem pouco conhecimentos sobre o fenómeno e o investigador visa
acumular a maior parte da informação de modo a abranger os diversos aspetos destes.
Ao termos em conta que a seleção das técnicas que podem ser usadas na investigação
têm de ser adequadas ao problema e aos objetivos do estudo, julgamos que a entrevista
semiestruturada seria aquela que mais se adequava.
A entrevista semiestruturada segundo Fortin (2009, p.376), é utilizada quando se
pretende “(…) compreender a significação de um acontecimento ou de um fenómeno
vividos pelos participantes.”. Nomeadamente nos casos em que se deseja obter
informações particulares sobre um tema. Fundamentados neste autor decidimos optar
pela entrevista semiestruturada.
Este tipo de entrevista permitiu-nos uma determinada flexibilidade para nos centrarmos
e aprofundarmos a nossa área temática, bem como para podermos clarificar ou explorar
o que pretendíamos.
Para iniciarmos a nossa recolha de informação elaboramos um guião (Apêndice II) que
tem como principal função servir de fio condutor à entrevista, facilitando a recolha de
informação útil de forma a orientar as respostas para o tema a abordar. Já que, e de
acordo com Stake (2007) o entrevistador qualitativo deverá possuir uma pequena lista
de perguntas orientadas para os problemas, indicando que há preocupação de cumprir os
objetivos. O propósito para a maior parte dos entrevistadores não é obter simples
respostas de sim ou não, mas a descrição de um episódio, uma ligação entre fator, ou
mesmo uma explicação, algo que ocorreu com precisão e rigor.
Ainda para Ponte (2009) referencia que “neste tipo de entrevista, o entrevistador
determina uma lista de temas a abordar, formula questões respeitantes a estes temas e
apresenta-se ao respondente numa ordem que ele julga apropriado”(p.376).
Mais ainda e segundo Quivy e Champenhoudt (2008) o guião de uma entrevista
semiestruturada é o suporte da entrevista, que deve levar a pessoa interrogada a
exprimir-se de forma muito livre, acerca dos temas sugeridos por um número restrito de
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
66
perguntas relativamente amplas, de forma a deixar um campo aberto a respostas
diferentes daquelas que o investigador poderia prever. Dado o fato de se pretender
abordar as vivências dos enfermeiros quando cuidam da pessoa/família em fim de vida,
através da entrevista semiestruturada, e devido à proximidade com o participante,
consegue-se despertar sentimentos e emoções que permitem um discurso aberto sobre as
suas vivências, dando enfase à riqueza das expressões vividas para uma melhor e maior
recolha de informação. Ao longo deste processo procuramos manter uma completa
concentração e a participação rigorosa no processo das nossas entrevistas aumentando
assim o rigor, a confiança e a autenticidade dos dados. Tal como nos refere Carpenter e
Streubert (2002), em que o investigador deve concentrar-se nas respostas, ouvir
atentamente e evitar interrogar os participantes, tratando-os com respeito e sinceridade
face à experiência partilhada.
Também Ponte (2009) no seu artigo de investigação realça a relação entre o
investigador e as pessoas que participam no trabalho de investigação, tem que se basear
na cooperação e participação. As pessoas não se podem sentir questionadas, avaliadas,
porque poderão condicionar as suas respostas não revelando exaustivamente o
significado da experiência para si. Dando continuidade ao estudo e antes de
procedermos à implementação definitiva do instrumento de colheita de informação e
para testar a sua aplicação foi necessário realizar um pré-teste, permitindo-nos assim:
Desenvolver algumas competências relativamente à utilização desta técnica;
Treinar a utilização do gravador áudio e cassete áudio como suporte para o
registo das entrevistas;
Prever a duração de cada entrevista;
Testar a validação das perguntas.
O pré-teste possibilitou ainda testar o equipamento áudio para registo das entrevistas.
Conforme Fortin (1999, p.53), “(…) esta etapa é de todo indispensável e permite
corrigir ou modificar a entrevista, resolver problemas e imprevistos a verificar a redação
e a ordem das questões”.
A concretização das entrevistas foi feita de acordo com a disponibilidade dos
entrevistados e tentamos que cada entrevista, como preconiza Patton (1990) e Quivy e
Champenhoudt (1992), fosse uma situação única e particular. Tivemos a preocupação
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
67
de possibilitar aos participantes a liberdade e espontaneidade necessárias para criar um
ambiente interativo, descontraído e facilitador da comunicação.
Assim, e por considerarmos que o estabelecimento da relação entrevistador/entrevistado
é um fator importante no desenvolvimento da entrevista, começamos por abordar
diversos pontos:
Identificação do entrevistador;
Tema e objetivos da investigação;
Importância do contributo do entrevistado para a realização do trabalho;
Caráter estritamente confidencial e anonimato das informações prestadas.
As entrevistas decorreram maioritariamente segundo a ordem preconizada no guião,
tendo-se deixado, no entanto, espaço para que o entrevistado falasse livremente e com
as palavras que desejasse sobre as vivências que para ele, eram mais significativas. Por
vezes foi necessário encaminhar a entrevista para os objetivos definidos, centrando-os
na problemática em estudo.
A salientar que todas as questões constantes no guião da entrevista foram aplicadas a
todos os participantes, sendo cada entrevista realizada com as necessárias adaptações às
distintivas características de comunicação de cada um deles, no sentido de fomentar a
descrição das suas experiências, permitindo uma exploração da temática de uma forma
mais profunda.
As entrevistas foram efetuadas nos meses de Maio, Junho e Setembro, no local de
trabalho dos enfermeiros, com um acordo prévio do dia e hora, com uma duração de 45
minutos, sensivelmente. Durante as entrevistas, foi possível explorar e clarificar os seus
discursos (Patton, 1990), procurando manter um clima favorável à expressão das suas
vivências, evitando qualquer juízo de valor.
O levantamento dos dados foi efetuado através de entrevistas áudio-gravadas, após
consentimento informado dos participantes (Apêndice V), respeitando os princípios
éticos e orientadores da entrevista. Dentro deste âmbito e embora já tenham decorridos
largos anos é de salientar a referência de estes dois autores, Bogdan e Biklen (1994) que
aconselham o uso do gravador quando as entrevistas são extensas, dado o fato estas
entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra, após audição atenta de cada uma
delas. O processo de transcrição foi moroso, uma vez que cada entrevista foi ouvida
várias vezes de forma a detetar possíveis erros de transcrição. Foram transferidas e
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
68
preservadas em suporte informático, bem como realizada cópia escrita para facilitar o
rápido acesso.
Ao finalizarmos o processo de recolha de informação ainda tivemos em conta e de
acordo com Streubert & Carpenter (2002) a saturação que se refere à repetição de
informação descoberta e confirmação de dados previamente colhidos.
Assim sendo, podemos afirmar que a saturação foi alcançada pela repetição constante
de informação obtida.
Para terminar, já posteriormente à entrevista, aferimos com os participantes se tem algo
mais a acrescentar e agradecemos a sua disponibilidade e participação.
No subcapítulo seguinte iremos, debruçarmo-nos sobre os procedimentos formais e
éticos que são imprescindíveis em qualquer investigação.
1.5.1-Guião da Entrevista
Um guião de entrevista, como o próprio nome indica, abrange questões orientadoras
para a colheita de informação que se pensa, poderem dar resposta às questões de
investigação.
Segundo Quivy e Champenhoudt (1998), o guião de uma entrevista semiestruturada é o
seu suporte, devendo levar a pessoa interrogada a exprimir-se de forma muito
espontânea, acerca dos temas sugeridos por um número restrito de perguntas
relativamente amplas, de forma a deixar um campo aberto a respostas diferentes
daquelas que o investigador poderia prever.
Normalmente os investigadores que realizam a pesquisa, também são os que concebem
os guiões e realizam as entrevistas, o que permite a memorização do guião. Segundo
Guerra (2005) tal facto, permite seguir o discurso do entrevistado sem a preocupação
com a ordem das questões, introduzindo as “ideias” quando oportuno, permitindo assim
transformar a entrevista numa conversa fluida e informal. Tomando em conta os
objetivos do estudo, elaboramos um Guião de Entrevista (Apêndice II), ao qual
recorremos para efetuar a colheita de informação. O nosso guião está dividido em
quatro áreas: a primeira consta da identificação da entrevista. Neste campo encontra-se
a numeração atribuída à entrevista, a data e a hora de início e fim da mesma.
Considerando os critérios de seleção dos participantes incluímos espaço para referenciar
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
69
a idade o tempo de exercício profissional e o tempo de exercício no Serviço e ainda
outras variáveis como o sexo e estado civil que serviram para melhor caraterização dos
enfermeiros participantes
A segunda parte orienta para as formalidades iniciais, explicação do estudo, tipo de
entrevista, solicitação do consentimento verbal e escrito, realçando o caráter de
confidencialidade, e pedido de autorização para efetuar gravação. Numa terceira área
reservada ao corpo da entrevista encontram-se as questões orientadoras e pontos a
indagar. Para terminar o guião elaboramos uma última fase que designamos de balanço,
na qual se possibilita ao entrevistado dar mais contributos para o estudo, bem como
agendar a data de validação da interpretação da informação seguindo a metodologia de
Colaizzi(1978), onde este autor preconiza voltar aos participantes para validar a
informação recolhida e se for caso disso recolher novos dados.
No pré-teste efetuado verificámos a pertinência do guião, não sendo necessário proceder
a alterações do mesmo. O pré-teste permitiu também constatar que apesar da nossa
inexperiência neste campo, ter sido relativamente fácil a condução das entrevistas.
A entrevista de pré-teste, foi realizada com a colaboração de uma enfermeira que não
reunindo critérios para participar no estudo não deixou de ser uma mais-valia para
podermos validar este instrumento. Assim, a sua realização proporcionou-nos treino e
experiência, que consideramos importante nos resultados obtidos. Com a realização
desta entrevista prévia pretendeu-se:
Testar a clareza e a validade das perguntas;
Treinar a manipulação do gravador;
Desenvolver competências relativamente à utilização da técnica da entrevista.
1.6-CONSIDERAÇÕES ÉTICAS E FORMAIS
Qualquer que seja o estudo ou a estratégia que utiliza, o investigador deve ter presente,
questões de ordem ética e legal. Com a evolução científica, surgem novos dilemas
éticos, e a sua complexidade a cada dia que passa acompanha esta vertiginosa evolução.
O profissionalismo, assim como, as práticas de enfermagem, exigem diariamente
tomadas de decisão éticas e morais em situações que temos de enfrentar.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
70
A ética “é a ciência da moral e a arte de dirigir a conduta (…) é o conjunto de
permissões e de interdições que têm um enorme valor na vida dos indivíduos e em que
estes se inspiram para guiar a sua conduta.” Fortin (1999) é com base nessa premissa
que se desenrola a praxis de enfermagem.
Relativamente ao nosso estudo, houve uma responsabilidade tanto pessoal como
profissional, de modo a assegurar que este respeitasse tanto do ponto de vista ético
como moral, os direitos humanos. Fortin (1999), realça que o Ser Humano como objeto
de estudo não pode correr o risco de ver violado o respeito dos seus direitos/liberdades
individuais. Ainda dentro do mesmo contexto, seja qual for a natureza do estudo de
investigação os princípios éticos da autonomia, da beneficência, da não maleficência e
da justiça devem ser respeitados e devem orientar todos os momentos da investigação
(Martins, 2008), princípios que tivemos sempre em conta e presente ao longo desta
investigação.
Voltando aos participantes e após seleção segundo critérios já anteriormente referidos
foi-lhes explicada a natureza, finalidade, revelando-lhes o interesse do estudo e
benefícios que daí poderiam advir (Bogdan e Biklen, 1994).
Ao realizarmos a nossa investigação, tivemos sempre em linha de conta os cinco
princípios fundamentais éticos que devem ser respeitados pelo investigador, tais como:
O direito à autodeterminação: proporcionámos aos participantes a liberdade de
aceitar ou de não participar no estudo;
Direito à intimidade: tentámos proteger a privacidade dos participantes não
ultrapassando a intimidade que livremente determinaram como sendo possível
de partilhar;
O direito ao anonimato e à confidencialidade: respeitámos este direito uma vez
que não associámos a identidade às respostas;
O direito à proteção contra o desconforto e o prejuízo: alertámos de que se
sentissem incomodados com as perguntas poderiam desistir de participar em
qualquer altura sem qualquer prejuízo para a sua pessoa;
Direito a um tratamento justo e equitativo: respeitámos este direito na medida
em que informámos todos os participantes sobre a natureza, o fim e a duração da
investigação.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
71
Sendo assim, foram cumpridos todos os requisitos éticos, sem que tivesse sido
necessário, por parte do investigador, recorrer a alguma tomada de decisão ética que não
fossem as delimitadas no início do estudo. Respeitámos os princípios éticos, de forma a
proteger os direitos e liberdades das pessoas que participaram no estudo. A investigação
não suscitou dúvidas em termos da sua verdadeira finalidade, a qual foi devidamente
esclarecida aos participantes. Foi expresso que os contributos individuais seriam para
acrescer conhecimento em enfermagem que poderia possibilitar o bem do grupo e da
comunidade.
Ao elegermos a entrevista como instrumento de colheita de dados consideramos todas
as circunstâncias eventualmente geradoras de desconforto e atuámos no sentido de as
minimizar. Esta possibilidade é referenciada por Fortin (1999), o qual refere que o
desconforto pode ser físico (cansaço, cefaleias), psicológico e social (ansiedade, stress,
constrangimento), económico e temporal (tempo disponibilizado para a participação no
estudo) cessando quando cessa a entrevista.
Relativamente à confidencialidade dos dados, pensamos que esta foi respeitada pois no
texto não existem referências aos participantes que os possam identificar. Tivemos
ainda em conta o que nos expressa Fortin (1999), que o princípio da beneficência e
justiça – constituem em manter a confidencialidade e o anonimato bem como tratar
todos com respeito e dignidade. Assim como, ao longo de todo o processo de
investigação deve ser salvaguardada de forma absoluta a confidencialidade dos achados
e estes deverão ser tratados de modo a manter o anonimato dos participantes (Martins,
2008).
Mantendo todos os princípios éticos já anteriormente referidos foi explicado aos
participantes que no estudo não seriam identificados, pois os nomes seriam substituídos
por um código com uma letra e um número e seria omitida a informação que pudesse
possibilitar a sua identificação. Assim, desta forma ao processo de análise da
informação, atribuímos uma sigla composta por uma letra E e o respetivo número que
representa a entrevista.
Dado que os participantes eram enfermeiros a exercer as suas funções no Centro
Hospitalar do Médio Tejo e de forma a respeitar os procedimentos formais e éticos, foi
solicitada a autorização formal dirigida ao Sr. Presidente do Conselho de Administração
do Centro Hospitalar do Médio Tejo, para realização do estudo, assim como o pedido de
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
72
autorização para a realização das entrevistas, no serviço de Especialidades Médicas da
Unidade de Torres Novas, conforme (Apêndice IV).
Após a enumeração dos aspetos éticos inerentes a um estudo desta natureza, sucede-se a
abordagem do processo que utilizamos na análise da informação, de forma qualitativa,
tendo a mesma como objetivo principal a preservação do que é único em cada
experiência de vida do participante, de forma a possibilitar uma compreensão do
fenómeno em estudo, o que abordaremos no próximo subcapítulo.
1.7-TRATAMENTO E ANÁLISE DA INFORMAÇÃO
Inerente à concretização de qualquer trabalho de investigação, a recolha de dados
assume-se como fundamental à programação das ações a desenvolver para a sua
implementação.
É uma das etapas mais valorizadas na investigação, porque é a partir da análise da
informação que se dá sentido aos dados colhidos. É uma etapa vital que se reveste de
alguma complexidade e morosidade.
O método de análise da informação em estudos fenomenológicos, consiste em
interpretar as descrições do fenómeno estudado, com o intuito de descobrir a essência
das experiências vivenciadas pelos participantes. Servindo-se da linguagem como meio
de conhecer a estrutura dos fenómenos experienciados.
De acordo com Polit, Beck e Hungler (2004), na enfermagem são usados com alguma
frequência três métodos de análise de informação para a fenomenologia descritiva: os
métodos de Colaizzi, Van Kaan e Giorgi, cujos resultados são a descrição dos
significados de uma experiência, através da identificação dos temas essenciais.
No presente estudo a etapa de análise de informação dos dados teve início nas
entrevistas dos participantes com leitura repetida e contínua das transcrições das
mesmas, tendo em conta que o nosso objetivo à análise dos dados recolhidos, é
conservar o que é único em cada experiência vivenciada pelos participantes, permitindo
uma compreensão do fenómeno em estudo tal como refere Streubert e Carpenter (2002).
Para a realização da análise de informação, e após várias leituras e consulta de outros
autores, decidimos enveredar, pelas etapas processuais de interpretação metodológica,
propostas por Colaizzi (1978), por serem aquelas que no nosso entender, permitem a
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
73
análise fenomenológica descritiva de uma forma mais concreta e objetiva assim como
por permitirem o retorno aos participantes para a validação da descrição do fenómeno.
Neste processo interpretativo, o objetivo baseia-se na obtenção de “declarações
significativas”, isto é, temas ou sínteses contidas nas descrições e reveladoras da
estrutura do fenómeno Colaizzi (1978).
1.7.1 -Método Fenomenológico Segundo Colaizzi (1978)
Neste estudo de natureza fenomenológica, optámos pelo processo interpretativo
segundo a abordagem de Colaizzi(1978). Este método, supõe que as descrições das
experiências vividas dos informantes, já foram recolhidas e transportadas para uma nova
escrita, devendo os seus passos ser vistos como típicos e não como definitivos, devendo
a sua sequência ser flexível (Queirós, 2001). É um método com grande popularidade
devido à clareza com que é formulado (Moreira, 2002).
Esta orientação utiliza preferencialmente como meio de colheita dos achados a
entrevista, tendo muitas vezes de serem longas e repetidas para facilitar a descrição das
experiências (Boyd, 2001).
De acordo com Streubert e Carpenter (2002, p.57), são nove as etapas processuais para
a análise dos dados e dever-se-ão seguir segundo o diagrama 1, abaixo apresentado.
Diagrama 1- Etapas da análise segundo Colaizzi(1978)
Fonte: Desenhado pelo Autor
1 - Descreva o fenómeno de interesse
2 - Colha as descrições dos participantes
3 - Leia todas as descrições do fenómeno feitas pelos participantes
4 - Retome as transcrições originais e a extrai as declarações
significantes
5 - Tente soletrar o significado da cada
declaração significante
6 - Organize os significados agregados
formalizados em grupos de temas
7 - Escreva uma descrição exaustiva
8 - Regresse aos participantes para validar a descrição
9 - Se novos dados forem revelados durante a validação,incorpóreos na descrição exaustiva
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
74
Moreira (2002) no seu livro “O Método Fenomenológico na Pesquisa”, referencia este
método apenas com sete passos ao todo. O mesmo autor assegura que apesar da ordem
das etapas descritas, elas devem ser vistas de forma flexível pelo investigador,
dependendo de como ele se aproxima do fenómeno.
Abordamos de seguida, cada etapa do método de Colaizzi(1978), de forma mais
aprofundada. Como nos diz Ludke e André (1986), recorrendo à interpretação tenta-se ir
mais a fundo, desvelando mensagens implícitas. Desta forma procuramos no decurso de
cada etapa processual do método explicar os procedimentos que fomos realizando no
nosso estudo complementando com alguns exemplos. É de referir ainda que entendemos
que esta é uma forma translucida que encontramos para demonstrar o nosso percurso
nesta etapa do estudo, no sentido de mostrar o rigor do mesmo.
O método fenomenológico de Colaizzi (1978) nasceu no contexto da psicologia
Fenomenológica e é talvez um dos mais conhecidos, entre outros, dentro de todos os
métodos existentes na literatura. A enorme popularidade deste método deve-se, sem
dúvida à transparência com que é organizado (Moreira, 2002).
Este método supõe que as descrições das experiências vividas dos participantes já foram
coletadas e transpostas na forma escrita, o qual aconteceu no nosso estudo. Daí
podermos constatar que a descrição de fenómeno de interesse já foi descrita
anteriormente, assim com a recolha e transcrição das entrevistas, etapas um e dois de
Colaizzi(1978)
Daí passarmos a descrever em pormenor os restantes passos. Para Colaizzi(1978) citado
por Moreira (2002) adverte que os passos seguintes (sete ao todo) devem ser vistos
como típicos, mas não definitivos. Como os passos costumam na prática se sobrepor,
eles e sua sequência devem ser vistos de forma flexível e livre pelo pesquisador,
dependendo da circunstância em que ele se aproxima de fenómeno em estudo. Os
passos e a sua sequência são descritos abaixo.
Ler todas as descrições do fenómeno feitas pelos participantes.
No presente estudo, após a colheita da informação e a sua posterior transcrição e
impressão, procederam-se a leituras sucessivas cada vez mais minuciosas dos discursos
das entrevistas de forma a adquirir uma compreensão indutiva e uma visão global sobre
o fenómeno em estudo.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
75
Deste modo, a nossa primeira leitura baseou-se numa leitura atenta de todas as
entrevistas de forma a possibilitar uma familiarização com experiências relatadas, com o
intuito de apreender o sentido e significado dos discursos numa perspetiva global.
Posteriormente procedeu-se a leituras escrupulosas de cada entrevista em particular.
Trata-se de uma fase cujo objetivo é alcançar o sentido global, ou seja, não abrange uma
análise ordenada, mas sim descreve uma ideia geral da experiência de cada participante.
Assim se pode afirmar que o investigador coloca-se na atitude de redução
fenomenológica como afirma Husserl (s.d), “(…) requer a suspensão das atitudes,
crenças, teorias, e coloca em suspenso o conhecimento das coisas do mundo exterior a
fim de concentrar-se na pessoa exclusivamente e na experiência em foco, porque esta é
a realidade para ela.” Tendo presente esta conduta, destituímos qualquer conhecimento
sobre o fenómeno em estudo. Depois de ultrapassada esta etapa passamos à seguinte.
Retornar às transcrições originais e extrair as declarações significativas.
Nesta etapa e segundo Colazzi (1978), voltamos às entrevistas, relemo-las de forma
tranquila, passiva, vagarosa, e identificando as transcrições de significado nas
transcrições, assinalando-as com uma barra na vertical (/), sempre que verificamos uma
mudança de sentidos nas descrições dos participantes, identificando assim as
declarações significativas. No final desta etapa, adquirimos uma série de declarações
significativas, expostas na linguagem comum dos participantes.
Trata-se de um procedimento que segundo refere Moreira (2002) diz respeito
diretamente ao fenómeno investigado conhecido como “extração de assertivas
significativas”.
Estas declarações significativas foram novamente revistas de forma a garantir que as
mesmas refletiam os objetivos do estudo e as perspetivas dos participantes. Tendo como
principio e segundo Hulsserl (s.d.) que a “ volta às coisas mesmas”, interessando-se
pelo puro fenómeno tal como se torna presente e se mostre à consciência. Ao longo de
todo este processo manteve-se o rigor quanto à extração das declarações significativas
das narrativas de forma a garantir o rigor interpretativo. Após cumprida nova etapa
passaremos a descrever a seguinte.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
76
Tentar soletrar o significado de cada declaração significante.
Nesta etapa o objetivo é transformar a linguagem quotidiana, expressa pelos
participantes, numa linguagem mais rigorosa para um discurso científico, como se pode
verificar nos diagramas 2,3, 4 e 5. É conhecida como “formulação de sentidos”. Colazzi
(1978) adverte que este passo encerra um momento criativo, pois o investigador deve
passar daquilo que os participantes dizem para o que isso significa. Segundo Giorgi e
Sousa (2010), cabe ao investigador neste passo, (…) intuir e descrever os significados
contidos nas descrições dos sujeitos, com a ajuda da redução fenomenológica e da
variação livre imaginária.
No fundo não se pretende dizer por outras palavras o que os participantes descrevem. O
intuito é aclarar e articular o sentido vivido dos participantes com o fenómeno em
estudo. Daí que o investigador tenha que usar a sua intuição. É uma etapa que permite
ao investigador aclarar sentidos, que muitas das vezes se encontram implícito nas
declarações significativas.
Após concluída a etapa anterior iniciamos a transformação das declarações
significativas, identificadas na linguagem dos participantes, para uma linguagem mais
rigorosa para um discurso científico, com o objetivo de aclarar o sentido vivido pelos
participantes com o fenómeno em estudo. Nos quatro diagramas seguintes vamos dar a
conhecer alguns exemplos do processo de transformação das declarações significativas
ao qual Colaizzi(1978) define como “formulação de sentidos”, usando enxertos de
algumas entrevistas às quais o mesmo autor denomina de: “Convencionalmente
chamadas de protocolos”( Moreira, 2002, p.20).
“Acontece que o doente vem a morrer
ali na enfermaria naquela confusão
toda, pelo que havia de haver um
espaço mais sossegado, mais isolado
(...) mais privacidade nesta fase e que
não a tem” (E5)
"Não tenho uma sala para poder
conversar(...) não temos espaço de
conforto para a família, as pessoas
estão a chorara no corredor,
desesperam no corredor(...)":(E2)
Participante refere
preocupação pela falta de
espaço físico apropriado
para uma "Boa morte"
Diagrama 2- Preocupação pela falta do espaço físico
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
77
Diagrama
Diagrama 3- Exemplificação de um técnico especializado
Diagrama 4- Princípios éticos da profissão
Diagrama 5- Humanização dos cuidados
"(...)mais acompanhada mais sistemática, que de fato
nós no internamento não temos esse apoio psicológico
que de fato era pertinente(...)."(E4)
"(...) não temos o tal apoio psicológico que
deveríamos ter(...) não temos sensibilidade para
percebermos se a pessoa está deprimida (...)."(E5)
A participante expressa a
importância de um técnico
especializado, um psicólogo
"A facilitar a entrada das visitas, Também temos essa
facilidade (...), proporcionar, as visitas ficarem mais
tempo (...)." até mesmo alimentos (...) que a pessoa gosta
que a família possa trazer, objetos que a pessoa tenha
ligação especial que os familiares." (E3)
"(...)se o desejo da pessoa ter alguém presente é tentar
que isso seja possível, nomeadamente contactar família,
avisar que o doente se encontra pior se quiser vir (...)
satisfazer esse desejo da pessoa ou do próprio familiar
quando o manifestou (...)."(E5)
O participante procura
minimizar o sofrimento da
pessoa e família usando os
princípios éticos da profissão
"Tento valorizar essencialmente o conforto, a ausência
de dor e o acompanhamento. Procuro sempre que possível
que a família esteja junto do doente." (E1)
" Valorizo o conforto(...) prestar-lhe os cuidados conforme
ele se sinta bem, e conforme ele se sinta confortável, porque
o que é conforto para mim poderá não ser para ele(...)." (E4)
O participante busca a
humanização dos cuidados que
presta à pessoa e família
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
78
Após termos dado a conhecer alguns exemplos do processo de transformação das
declarações significativas segundo o método de Colaizzi(1978) passamos ao passo
seguinte onde os significados são agregados em temas que vão dar origem a subtemas.
Organizar os significados agregados formalizados em grupos de temas
Nesta etapa da análise, o investigador aplicando a variação livre e imaginativa integra,
organiza os sentidos formulados em “conjunto de temas”. Em seguida testa esses
conjuntos de temas contra as entrevistas originais de forma válida. Isto é atingido
perguntando se existe algo nas entrevistas originais que não é levado em conta nos
conjuntos de temas e também se estes propõem algo que não esteja nas entrevistas
(Moreira, 2002). O Diagrama 6 mostra o conjunto de temas e subtemas que foram
extraídos das entrevistas realizadas aos participantes, após análise e reflexão das
mesmas de acordo com o método utilizado.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
79
Estratégias para minimizar
o sofrimento e promover o
bem estar (doente
/família)
Melhorar a humanização
dos cuidados ao
doente/família
-Interação Enfº/família:
Diminui a ansiedade e
promove a confiança.
Consciência da utilização,
importância da relação de ajuda
- Formação (cuidados Paliativos)
-Melhorar a organização dos
recursos humanos.
-Articulação do trabalho em equipa
multidisciplinar
- Melhorar as condições físicas.
TE
MA
S
SU
BT
EM
AS
Síntese dos Temas e Subtemas
Diagrama 6- Síntese dos temas e subtemas
Reconhecimento Humano
de fim de vida
Valorização dos cuidados
- Diagnóstico/informação
clinica
- Diminuição/falência das
funções orgânicas
- Experiência Profissional;
- Expressão facial/verbalização
- Conforto e bem-estar.
-Apoio afetivo e
relacionamento humano.
-Apoio familiar.
-Gestão Terapêutica/ Alivio da
dor
Sentimentos no cuidar
extrínsecos ao profissional
Sentimentos marcantes
intrínsecos do profissional
- Falta de apoio psicológico e
condições físicas.
- Falta de disponibilidade de
tempo
- Medo/ angústia
- Dificuldade em aceitar a morte
-O momento da morte e a
despedida da família
-Dificuldade na aceitação da
morte na idade jovem
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
80
Escrever uma descrição exaustiva
Nesta etapa do método de Colaizzi(1978) todos os resultados obtidos até agora são
integrados em uma descrição exaustiva do tópico investigado, num esforço realizado
para formular a descrição exaustiva do fenómeno investigado. Neste sentido esta
descrição diz respeito à análise global da problemática em que se realizou, onde
constamos a compilação da análise da informação traduzida na estrutura essencial com
temas, subtemas e respetivos exemplos de declarações significativas (Apêndice I).
Relativamente à estrutura geral descritiva da interpretação da experiência vivida pelos
participantes, é constituída por aspetos fundamentais relativos a experiências do mesmo
género, daí que possam existir uma ou mais estruturas para o mesmo fenómeno em
estudo. Pelo que procuramos nunca coagir os dados para que estes pudessem resultar
numa única estrutura. Também para Giorgi e Sousa (2010) “ As estruturas podem ser
entendidas como as essências e as suas relações, (…) a estrutura reflete as partes
essências e as relações entre elas”.
Neste estudo, os achados dirigiram-se apenas para uma estrutura essencial descritiva do
fenómeno – As vivências dos enfermeiros quando cuidam da Pessoa/Família em fim de
vida. Para podermos dar por terminado esta análise e segundo o método de
Colaizzi(1978) voltamos a estar presente com os participantes.
Regressar aos participantes para validar a descrição, se novos dados
incorporá-los na descrição exaustiva
Segundo Ribeiro (2008), “ A validade e fidelidade dos dados qualitativos dependem
principalmente da perícia, sensibilidade, e integridade do investigador.” Destas três
características, procuramos investir na sensibilidade e integridade, dado a perícia ser um
bem que se conquista com o decorrer do tempo, algo que não possuímos ainda.
Tal como já foi referido anteriormente esta oitava etapa de interpretação metodológica
de Colaizzi(1978) preconiza o regresso aos participantes como forma de validação da
descrição efetuada do fenómeno e se novos dados aparecerem deveram ser revelados e
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
81
transcritos nas descrições exaustivas. Assim, de forma a cumprir esta etapa e
consequentemente certificar a credibilidade desta investigação retornamos a cada
participante, numa simples entrevista com o objetivo de ser auscultado sobre a
adequação dos resultados, permitindo rever e discutir a descrição exaustiva do
fenómeno com a finalidade de determinar se as descrições do mesmo se relacionavam e
traduziam a sua experiência. As entrevistas decorreram sem intercorrências, tudo se
encontrava em concordância com as ideias/sentimentos dos participantes, não referindo
novos dados ou outras informações.
Terminada a abordagem referente à metodologia, onde tentámos transmitir como em
termos de metodologia decorreu todo o estudo, com o objetivo de assegurar a
cientificidade da mesma. No entanto para um melhor entendimento de todo o processo,
o diagrama 7 representa uma síntese.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
82
Diagrama 7- Síntese da investigação e respetiva metodologia
- Metodologia de Natureza Qualitativa
- Abordagem fenomenológica
-Metodo fenomenológico segundo Colaizzi(1978):
1 - Descrever o fenómeno de intesse
2 - Colher as descrições dos participantes
3 - Ler todas as descrições do fenómeno feitas pelos participantes
4 - Retornar às transcrições originais e extrair asdeclarações significativas
5 - Tentar soletrar o significado de cda declaração significante
6 - Organizar os significados agregados formalizados em grupos de temas
7 - Escrever uma descrição exaustiva
8 - Regressar aos participantes para validar a descrição
9 - Se novos dado forem revelados incorporá-los na descrição exaustiva.
Objeto do estudo
As vivências dos enfermeiros quando cuidam da Pessoa /familia em fim de visa
Objetivos:
Geral:
- Compreender como os enfermeiros vivenciam o processo de morte dos doentes/familía em fim de vida
Especificos:
- Compreende como os enfermeiros identificam as necessidades dos doentes
- Comprrender como os enfermeiros identificam as necessidades da família da pessoa
-Identificar como os enfermeiros se disponibilizam para apoiar a familia no processo de luto
- Conhcecer a importância que os enfermeiros atribuem aos cuidados que prestam á pessoa
- Perceber o nível de investimernto efetuado pelos enfermeiros na área da formação que lhe permite desenvolvimento nas suas competências relacionais
Participantes
- Enfermeiros que trabalham há mais de 5 anos naquele serviço
- Enfermeiros com mais de 30 anos
-Disponibilizar-se para partilharem as suas vivências enquanto cuidam da pessoa em fim de vida
- Terem vivido a experiência da morte de uma pessoa significativa
- Aceitarem a gravação áudio da entrevista
Questão da investigação
Como é que os enfermeiros gerem a sua presença junto da pessoa/família em fim de vida?
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
PARTE III –
Apresentação e Análise da Informação
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
85
1-APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DA INFORMAÇÃO
Findada a etapa da colheita de dados foi necessário efetuar a análise e interpretação dos
mesmos, de acordo com a metodologia utilizada, Fortin (2009), refere que é nesta etapa
que está incluída a colheita de dados, e onde se faz a organização e o tratamento dos
resultados. Tendo por base os resultados obtidos nas 8 entrevistas realizadas para o
estudo, começamos por apresentar a caracterização dos participantes em causa.
1.1-CARATERIZAÇÃO SOCIOPROFISSIONAL DOS PARTICIPANTES
No quadro seguinte apresentou-se algumas características Sociodemográficas e
profissionais dos participantes.
Quadro 1- Caracterização dos Participantes
Código da
Entrevista
Género
Idade
Estado
civil
Grau
Académico
Tempo
Exercício
Profissional
(anos)
Tempo Exercício
Profissional no
serviço de
Especialidades
Médicas (anos)
E1
44 Divorciada Licenciatura 20 11
E2
30 Casada Licenciatura 7 6
E3
36 Divorciada Licenciatura 15 9
E4
36 Casada Especialista 8 7
E5
41 Divorciada Licenciatura 19 10
E6
59 Casada Licenciatura 37 10
E7
31 Casada Especialista 9 8
E8
42 Casada Licenciatura 20 12
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
86
Os participantes foram representados de acordo com as seguintes categorias: idade,
género, estado civil, grau académico, anos de exercício profissional e anos de serviço
onde o estudo se desenrolou.
Distribuição dos participantes segundo o género
Quanto ao género os participantes do estudo foram todos do sexo feminino. Esta
característica pode ser justificada, pelo fato de existir mais enfermeiras do que
enfermeiros no ativo, tal como afirma Pereira (2006) e enfermagem foi sempre
desenvolvida no seio de uma profissão predominantemente feminina.
Distribuição da amostra segundo a idade
Gráfico 1- Distribuição dos participantes de acordo com a idade
Em relação à faixa etária, esta situa-se entre os 30 e 60 anos de idade. De referenciar
que duas destas enfermeiras tem entre 30 e 35 anos e mais outras duas se encontram na
faixa etária logo a seguir ou seja entre os 36 e os 40 anos, outra três encontram-se entre
os 41 e 45 anos e apenas uma se encontra entre os 56 e 60 anos. Podemos ainda referir
que a média de idades é de 39,9 anos.
Idade
[30-35]
[36-40]
[41-45]
[46-50]
[51-55]
[56-60]
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
87
Distribuição da amostra segundo o estado civil
Gráfico 2- Distribuição da amostra segundo o estado civil
Quanto ao estado civil é possível constatar que cinco das enfermeiras que participaram
no estudo são casadas, três são divorciadas, não havendo nesta amostra enfermeiras
solteiras.
Distribuição da amostra segundo o grau académico
Gráfico 3- Distribuição da população de acordo com o grau académico
No que concerne ao grau académico este engloba seis enfermeiras com licenciatura e
duas com a especialidade de reabilitação não havendo nesta amostra enfermeiras com o
grau académico de bacharelato.
Estado civil
Casado
Solteiro
Divorciado
Grau académico
6
0
2
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
88
Distribuição da amostra segundo os anos de exercício profissional
Gráfico 4- Distribuição da amostra segundo os anos de exercício profissional
Quanto à atividade profissional dos entrevistados podemos constatar pelos dados do
gráfico que o número de anos de exercício profissional varia entre os 5 e 40 anos. É de
salientar que apenas uma enfermeira se encontra entre os 36 anos e os 40 anos.
Distribuição da amostra segundo os anos de exercício profissional no serviço
onde o estudo se desenrolou
Gráfico 5- Distribuição da amostra segundo os anos de exercício profissional no
local onde decorreu o estudo
Anos de exercício profissional
[5-10]
[11-15]
[16-20]
[21-25]
[26-30]
[31-35]
[36-40]
Anos de exercício Profissional/local onde
decorreu o estudo
[5-7]
[8-11]
[12-15]
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
89
Ao terminarmos a caracterização dos participantes neste estudo podemos concluir que
50% das enfermeiras se encontram neste serviço pelo menos há 8 anos.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
90
2-ANÁLISE E DISCUSSÃO DA INFORMAÇÃO: TEMAS EMERGENTES
A escolha da abordagem e do método de investigação teve em consideração a natureza
do problema, o objetivo equacionado e a questão de investigação.
Começamos por procurar caracterizar a natureza do fenómeno que pretendíamos
estudar. Caracterizamos o objeto de estudo como (1) uma realidade humana complexa
que engloba um sistema de relações, (2) uma estrutura dinâmica, e (3) um fenómeno de
natureza processual. Não tivemos, por essa razão, qualquer dúvida em enquadrar a
natureza do fenómeno em estudo no método qualitativo, visto que este é caracterizado
por diversos autores (Martinez, 1989; Bogdan & Biklen, 1994, Lessard-Hebért et al,
1994, Streubert & Carpenter, 1995; Silverman, 2005), como um método centrado no
processo e dirigido à descoberta de estruturas psicológicas ou sociais, de sistemas
dinâmicos ou rede de relações. É ainda um método centrado na fenomenologia, que
segundo refere Moreira (2002), este enfoca fenómenos subjetivos na crença, verdades
essenciais acerca da realidade baseadas na experiência vivida. Ainda o mesmo autor no
seu livro “o método fenomenológico na Pesquisa” salienta que na aplicação do método,
o fenómeno é algo tipo de experiência vivida, comum aos diversos participantes,
constituir-se-ão na essência dessa experiência vivida. Dai que também procuramos a
importância das experiências tal como elas se apresentam, e não o que possamos pensar,
ler ou dizer acerca delas. O mesmo autor salienta ainda que, o que interessa é a
experiência vivida no mundo do dia-a-dia da pessoa. Pelo que fomos ao encontro destas
realidades vividas através de entrevistas semiestruturadas, aplicadas a enfermeiros
criteriosamente selecionados. Baseámo-nos no método de Colaizzi (1978) para a sua
análise. Extraímos citações significativas as quais foram agregadas em temas e
subtemas fundamentados com base nos autores consultados. A interpretação efetuada
foi posteriormente validada pelos enfermeiros. Assim começamos por expor uma
representação esquemática do fenómeno em estudo, que tal como nos refere Loureiro
(2006, p.29), consiste na “organização estrutural dos elementos essenciais do fenómeno
de modo a facilitar a sua compreensão “. Deste modo o diagrama 8 mostra-nos a
estrutura essencial do fenómeno, tal com foi por nós compreendido.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
91
Diagrama 8- Síntese estrutural empírica do fenómeno em estudo
Fim de vida.
Percepção e
Vivência de
quem cuida
Reconhecimento
humano de fim de
vida
Sentimentos
marcantes
intrínsecos
ao
profissional
Sentimentos
no cuidar
extrínsecos ao
profissional
Valorização
dos
cuidados
Melhorar a
humanização
dos cuidados
ao doente e
família
Estratégias
para minimizar
o sofrimento e
promover o
bem estar
Diagnóstico/infor
mação clinica
Diminuição/falência
das funções orgânicas
Experiência
profissional
Expressão
facial/Verbalização Apoio afetivo e
relacionamento
humano
Gestão
terapêutica/alívio da
dor
Conforto e bem
estar
Apoio
familiar
Dificuldade na
aceitação da morte
na idade jovem
O momento da morte
e a despedida da
família
Medo/angústia/
dificuldade em
aceitar a morte
Falta de
disponibilidade de
tempo
Falta de apoio
psicológico
Falta de condições
físicas
Interação enfº/
família: diminui a
ansiedade e promove
a confiança
Consciência da
utilização, importância
da relação de ajuda
Formação (cuidados
Paliativos)
Melhorar as
condições físicas
Articulação do
trabalho em equipa
multidisciplinar
Melhorar a organização
dos recursos humanos
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
92
Após a visualização do diagrama 8, e antes da apresentação de cada tema e porque se
trata de um estudo sobre vivências dos enfermeiros consideramos pertinente abordar
ainda o significado deste conceito.
Sabemos à partida que o termo vivência é muito vago e abrangente, podendo ser usado
em vários contextos. De acordo com Frias (2003), a vivência não é somente resultado de
uma situação vivida, existindo um espaço entre o vivido e a vivência que é ocupado pela
interpretação e/ou significado que a pessoa lhe atribui, concebendo-a como uma
construção de sentido que deve ser compreendida em si mesma.
Daí que, e neste sentido, entendemos que as experiências podem ser iguais para
diferentes pessoas, resultando em vivências cujos significados e interpretações podem
ser completamente distintas. É desta singularidade que resulta a complexidade e a
riqueza do ser humano. É também nesta dicotomia que reside a essência deste trabalho.
Passemos então à análise e discussão da informação. No decurso da análise, as
declarações significativas que provêm da informação fornecida pelos participantes, são
apresentadas à medida que os temas vão sendo exposto e analisados, encontrando-se
transcritos tal como foram verbalizados. Também para uma melhor visualização dos
mesmos, consideramos pertinente ao logo deste capítulo apresentar alguns diagramas
explicativos do fenómeno estudado.
Passaremos então a dar a conhecer o primeiro tema que emergiu da análise.
2.1-RECONHECIMENTO HUMANO DE FIM DE VIDA
O reconhecimento humano de fim de vida algo que muitas vezes, ouvimos dos
profissionais de saúde, e lemos, na literatura em torno deste assunto, sem sabermos ao
certo o significado que lhe estão a atribuir.
Afinal, quem é a pessoa em fim de vida?
Segundo Baron e Féliu (1996), parece não haver critério universal que possa definir ou
caracterizar esta pessoa doente, algo que também podemos constatar neste estudo onde
não ouve por parte dos participantes uma definição exata ou concreta. De fato, o que
parece existir são algumas definições inexatas relativamente ao período evolutivo da
doença que a pessoa está a viver. Para os mesmos autores fim de vida é aquela pessoa
que apresenta um estado clínico que provoca uma expetativa de morte a curto prazo.
Falta de
condições
físicas
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
93
Também Serrão (1990) afirma que a pessoa em fim de vida é aquela para quem a
ciência e a tecnologia não têm meios para suspender a morte. Muitas são as opiniões
acerca do tema e também muitas incertezas. Assim, afinal a que se pode chamar” fim de
vida”? Refere-se às últimas horas, dias, semanas ou inclusive meses de vida? A
ambiguidade da frase é óbvia e implica dificuldades ao utilizá-la. Muito mais
importante que a ambiguidade é a perspetiva negativa e a passividade com que
frequentemente se aborda o problema. O conceito “fim de vida” tem implícita a ideia de
que tudo está terminado, e que não há tempo ou oportunidade para fazer mais alguma
coisa, e que qualquer iniciativa de tratamento curativo é injustificada.
Segundo Crespo (2009) a definição de pessoa em fim de vida, não tem sido tarefa fácil,
sendo um conceito impreciso, até porque a própria vida já é por si mesma terminal.
Assim, considera que é aquele que na evolução da sua doença, não responde mais a
nenhuma medida terapêutica conhecida e aplicada sem condições de cura (…). Quanto
aos nossos participantes e numa primeira abordagem ao tema, estes identificam quatro
estados que os podem levar a reconhecer tal situação, como podemos verificar pelo
diagrama 9.
Diagrama 9- Reconhecimento humano de fim de vida
Fonte: Desenhado pelo autor
Reconhecimento Humano de fim de
vida
Diagnóstico / informação clínica
Diminuição/ falência das
funções orgânicas
Experiência profissional
Expressão facial/verbaliza
ção
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
94
Diagnóstico e Informação clínica
Querido (2005) faz referência a pessoa em fim de vida como um processo que inicia-se
com a confirmação de que a pessoa é “portadora de doença incurável”, uma expressão
que faz parte da linguagem comum e diária dos profissionais de saúde que lidam com
doentes oncológicos, denunciador de uma prática vocacionada para tratar a doença e
não a pessoa com doença. Segundo a autora, podemos afirmar que a pessoa entra em
fase terminal quando a doença entra numa fase incurável e de evolução progressiva, há
uma ineficácia marcada dos tratamentos, a esperança de vida é relativamente curta, e
existe uma perda de esperança na recuperação. Igualmente na página 29 deste trabalho
encontramos afirmações análogas referidas por outro autor. Quanto ao estudo podemos
constatar que as declarações significativas transcritas em baixo se encontram em
consonância com o que é dito e referido por estes autores.
“Pelos dados do processo do doente e normalmente pela informação que o
médico dá” (E3).
“ O médico costuma informar que o doente está em fase terminal (…) não é para
investir (…) para manter só níveis de conforto (…)”(E3).
“Através do diagnóstico que vem descrito no diário clínico, ou por informação
colhida por exames, alguma informação transmitida pelos profissionais de saúde,
médicos, enfermeiros e pelo estado geral do utente, dá-nos também uma
ideia”(E4).
Diminuição/falência das funções orgânicas
Outro subtema emergido foi a diminuição/falência das funções orgânicas, referido por
Báron e Féliu (1996), entre outros critérios que segundo eles caracterizam o doente em
fim de vida. Ainda Neto (2006), dez anos mais tarde também aponta como numerosos
problemas ou sintomas intensos, múltiplo, multifatoriais e em permanente mudança são
algo de potencial indicador de doente em fim de vida. Como podemos constatar nas
transcrições abaixo.
“(…) essencialmente pelo estado geral do doente,(…)muitas vezes já em estado
comatoso ou asténico,(…),já em falência à resposta terapêutica, (…)os exames
(…)também se vê e se sabe interpretar alguns,(...) TAC ,a monitorização cardíaca,
saturações, pressões arteriais, frequências cardíacas, traçados(…)” (E1).
“A avaliação é feita em termos objetivos, sinais vitais, (…) o estado nutricional, a
nível de sintomas que o doente já possa trazer, o fáceis e até em termos de
terapêutica, associar até o estado geral do doente (…), decorrente de tratamentos
que o utente tem vindo a ser submetido, como o quimioterapia a
radioterapia(…)”(E4).
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
95
Dentro ainda do mesmo tema os participantes salientaram a importância da experiência
profissional para poderem definir com alguma precisão e rigor, a pessoa, quando se
encontra em fim de vida, como veremos de seguida.
Experiência Profissional
Embora a experiência não constitua em si uma aprendizagem, a aprendizagem não pode
passar sem a experiência. Refere Dominicé (1989, p.61), que sem a experiência, a
aprendizagem será “formal, abstrata e muitas vezes inútil”. De facto, e de acordo com
Amiguinho (1992), existe uma relação estreita entre a formação e os saberes
experienciais que as pessoas conseguem mobilizar ao “formar-se”.
Também para Nóvoa (1991, p.23) a formação não se constrói por acumulação (cursos,
conhecimentos, ou de técnicas), mas sim através de um trabalho de reflexividade crítica
sobre as práticas e de reconstrução contínua de uma identidade individual. Daí a
importância do investir da pessoa e dar um estatuto ao saber da experiência. Pelo que as
declarações significativas transcritas em baixo vêm reforçar a opinião dos autores que
tem vindo a ser referidos neste subtema.
“(…) sim a experiência, tem-me vindo a dar mais sensibilidade e a perceber
melhor o estádio do doente(…)”(E2).
“(…) e também pela experiência que vamos tendo ao longo dos anos, no inicio da
carreira temos mais dificuldade em perceber e até mesmo em termos de noção e
perspicácia(…) com o decorrer dos anos podemos até (…) percebermos o estado
da doença”(E4).
Também num estudo realizado na área da formação em enfermagem em contexto de
trabalho, Costa (1998), refere-se à experiência com o mesmo sentido de abrangência,
assegurando que esta se constrói ao longo do curso da vida, através das vivências das
diversas situações do dia-a-dia que podem acarretar à necessidade de resolução de
problemas de toda a natureza, igualmente dois dos participante transmitiu-nos essa ideia
ao referirem que:
“A experiência é importante ajuda-nos a lidar com as situações e ao mesmo tempo
a evitar que elas nos deixem tantas marcas porque o sentimento de impotência é
muito grande e se nós já tivermos certa experiência termos lidado com situações
idênticas ajudam-nos também a lidar com a situação no momento, que era o que
não me tinha acontecida na altura”(E5).
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
96
“È o reflexo que vamos tendo ao longo dos anos de trabalho (…) tem a haver com
a experiência profissional que temos com o doente no dia a dia e não logo quando
iniciamos a nossa carreira (…) não existe maturidade suficiente não existe
sensibilidade (…)”(E6).
Assim, a formação experiencial é deste modo, uma formação refletida que surge do
contacto direto com a realidade/ contexto em que a pessoa se forma, porque experiencia,
vive, trabalha e se relaciona com o meio (Costa, 1998). Com tudo isto podemos realçar
a importância da experiência profissional como uma competência tal como afirma
Pereira (2008) no seu livro “Comunicação de más noticias e gestão do luto” em que
admite, que a experiência e o contexto de trabalho são produtos de competências, na
medida em que o próprio ato de cuidar em enfermagem, onde se inscreve a competência
da comunicação, se transforma num processo de reflexão e pesquisa. Salienta ainda o
mesmo autor que em enfermagem se torne urgente, que a rotina dê lugar à produção de
cuidados planeados e refletidos, o que implica um percurso de formação contínua,
dinamizado e construído nos e com os contextos de trabalho. Ainda Benner (2001) no
estudo que realizou refere no seu livro que, é ao longo do tempo que uma enfermeira
adquire a “ experiência”, e que o conhecimento clínico se mistura com os
conhecimentos práticos simples e os teóricos brutos e se desenvolve.
A mesma salienta que as enfermeiras experientes podem lembrar-se rapidamente das
situações clínicas que modificaram as suas abordagens aos cuidados a proporcionar aos
doentes. O estudo também certifica algo de semelhante quando um participante
referencia que:
“(…) até a minha experiência faz com que eu queira investir mais nessa pessoa
mas em certa altura conhecendo a doença que o doente tem, e pequenas coisas que
vão acontecendo percebo(…), tudo isto me tem vindo a ser adquirido ao longo dos
anos pelas vivências/ experiências (…)” (E2).
Penso que a experiência é algo de infinito, pelo que muito se podia extrapolar. Dando
continuidade aos resultados e dentro ainda do mesmo tema abordaremos em seguida o
subtema expressão facial/verbalização que é algo que não deixa de ser igualmente
adquirida através da experiência de cada um.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
97
Expressão Facial/Verbalização
Os participantes também reconhecem a pessoa em fim de vida através das sua relação
humana baseando-se no pressuposto de que o Homem é feito de e para a relação.
Neste contexto, das relações enfermeiro/doente as competências e as perícias de
comunicação são fatores determinantes no processo de comunicação/interação e por isso
torna-se importante que os enfermeiros aprendam, desenvolvam e sobretudo
implementem nas suas práticas perícias de comunicação nas interações comunicativas
mais complexas e delicadas, partindo do pressuposto que quando um doente está em
sofrimento torna-se muito difícil comunicar com ele, se não for para ouvir a sua queixa
e reconfortá-lo.
Sendo assim o sofrimento de quem morre pode ser minorado pelos que cuidam,
simplesmente pelo olhar, pela forma de estar, pela empatia, pela disponibilidade, pela
proximidade, pelo toque pleno de respeito e ternura, como podemos verificar pelas
declarações significativas que se encontram abaixo transcritas.
“ (…) é a facto do doente não se sentir desprezado estarmos próximos deles(…),
Dar-lhes apoio estarmos simpáticas, sorrir é muito importante e se for preciso
chorar também se chora, virar a cara não é o ideal”(E2).
“ (…) o ambiente mais sossegado com menos ruido com menos luz, tudo um pouco,
podermos fornecer até coisas que eles gostem, que queiram, sempre que solicitem
a nossa presença a gente estar presente”(E1).
Pelo que pensar nas práticas de enfermagem, numa lógica de pensamento crítico, ético e
holístico, envolve o reconhecimento da importância da comunicação no campo das
relações interpessoais (Saraiva, 2003). Esta relação existe num sistema aberto e como
tal é penetrável por múltiplos fatores que a podem configurar. Os estudos da
comunicação humana assentam na ideia de que o Homem não pode deixar de
comunicar.
Pelo que a comunicação humana, especialmente a que se processa frente a frente, é
sobretudo não-verbal (Sá e Machado, 2006). Este tipo de comunicação é citado como
forma de perceber a situação final do doente como se pode verificar nas declarações
significativas abaixo transcritas.
“ (…) vai deteriorando a seu estado geral, vai ficando com um fácies mais triste
(…) mais revoltados”(E4).
“ (…)avaliação do processo e a avaliação física do utente, a nível do estado
nutricional, a nível de sintomas que o utente já possa trazer, o fáceis (…)” (E4).
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
98
“ (…) olhar triste, deprimente, basta um toque e um simples olhar para nós
compreendermos e sabermos (…) não é o morrer de ausência de sinais vitais é o
que a pessoa foi e o que vai começando a ser ao longo da doença (…)”(E6).
Daí e tal como refere Phaneuf (2005) a comunicação não verbal é uma troca sem
palavras, que cobre um largo espectro de expressões corporais e de comportamentos que
transcendem, acompanham e suportam as relações verbais entre as pessoas e contribuem
para o seu significado. O profissional de enfermagem através do olhar pode ler
expressões do rosto do doente, as quais por vezes indicam o que o este não consegue
dizer ou se esforça por esconder.
Anteriormente transcrevemos alguns testemunhos que vão de encontro à expressão
facial agora passaremos a mostrar como os comportamentos também são observados e
interpretados como momentos únicos e finais da pessoa em fim de vida.
“(…) alguns deles se despedem, e programam ou parecem que programam ou
planeiam que naquele momento querem-se despedir(…)”(E2).
“(…) outros tentam fazer alguma coisa com a família, tentam ultimar coisas,
alguns objetivos de vida,(…) alguma coisa que tinham planeado antes de
morrer(…) alguns despedem-se verbalizando mesmo que já conseguiram aquilo
que queriam(…) verem uma visita um filho um irmão(…) despediram-se
desencadearam um ultimo momento de crise e morreram”(E2).
“(…) também a informação que o próprio doente nos vai transmitindo não só o
que verbaliza mas as atitudes que vai demonstrando(…)”(E5).
Mas Stefanelli e Carvalho (2005) ainda vai mais longe quando afirma que a linguagem
não-verbal envolve o corpo com as suas qualidades fisiológicas, físicas e gestuais.
Igualmente Lazure (1994), aponta que numa relação frente-a-frente, entre enfermeiro e
doente, o corpo, a face, os gestos, por si, permitem ao observador perspicaz perceber a
interioridade mais profunda do ser humano, sem a necessidade de interpretações
intermináveis. Assim pode-se concluir que a observação, como estratégia, tem um
enorme poder na relação entre enfermeiro e doente, como podemos constatar pela
declaração significativa abaixo transcrita, onde é visível a marca emocional do
observador.
“Ele olhava-me a pedir socorro (…) ficou-me sempre na memória o olhar desse
doente que me olhava nos olhos a pedir ajuda (…) ainda hoje recordo com
angustia”(E6).
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
99
Outros autores, Santos e Shiratori (2008), referem que a necessidade de compreender a
expressão não verbal emitida pelo doente, reforça a aproximação da equipa de
enfermagem com este. E ao realizar essa aproximação o enfermeiro faz um estudo das
reais necessidades do doente e facilita desta maneira a elaboração de um plano
terapêutico, contribuindo para a realização de um cuidado abrangente e sistematizado.
Daí que o comportamento não-verbal do enfermeiro será a primeira fase, pela riqueza de
sinais não-verbais emitidos, o doente ao percepcioná-lo, sentir-se-á mais apoiado e
capaz de se envolver na relação, revelar as suas necessidades, verbalizando os seus
sentimentos, emoções e necessidades, como podemos verificar nas transcrições abaixo.
“(…) os doentes que aceitam e tem noção do final são capazes de verbalizar que
está próximo do fim que se encontram a piorar, (…) tem algum tipo de desejo
nomeadamente de verem alguém, querer a presença do padre(…) dizerem e terem
a noção que a vida está a chegar ao fim(…)”(E5).
“(…) eles falam acerca disso, falam-nos que o dia está para chegar, que não
estão preparados para isso dos seus receios (…) dos objetivos que ainda tem para
cumprir, que não cumpriram, do que fizeram, quais foram as suas vivências, ai
ficamos a saber que a pessoa se está a preparar para morrer”(E7).
Riley (2004) corrobora com o anteriormente referido, pois afirma que na prestação de
cuidados de enfermagem existe uma enorme exposição do indivíduo e,
consequentemente, este é alvo de um olhar mais atento e intenso por parte do
enfermeiro como forma de deteção de sinais e de vigilâncias com fins terapêuticos ou
preventivos, tal como os participantes, referem aquando questionados, pela pergunta,
como é que sabem que a pessoa de quem cuidam está a morrer? Eles evocam o fato da
própria expressão facial ou mesmo a verbalização.
Dando sequência à nossa análise, iremos abordar o segundo tema.
2.2-VALORIZAÇÃO DOS CUIDADOS
A última fase da vida, impõe e exige uma atenção especial e aumentada a todos os
níveis. Ao nível dos cuidados, ao nível dos atos técnicos e até ao nível dos afetos. Ao
cuidar da pessoa em fase terminal existe preocupação de proporcionar ao outro bem-
estar físico e emocional, como podemos constatar nos subtemas que podemos ler no
diagrama 10.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
100
Diagrama 10- Valorização dos cuidados
Fonte: Desenhado pelo autor
Muitos autores referem que o cuidado no final de vida, encontra-se quase sempre
associado ao conforto e ao alívio do sofrimento. Pelo que também os participantes
partilham da mesma opinião, onde o conforto e bem-estar foi um subtema extraído da
análise da informação que passaremos desde já a abordar.
Conforto e bem-estar
Este subtema encontra-se de acordo com o que refere Sapeta (2011) no seu livro.
Salientando que “os resultados terapêuticos pretendidos nesta fase são,
privilegiadamente, fixados na busca de conforto e de bem-estar, alívio do sofrimento
físico, psicológico e espiritual, e em que toda a ação terapêutica deverá estar centrada
nas necessidades individuais manifestadas pelo doente e pelos familiares”. Quanto aos
participantes estes apontam como valorização dos cuidados o subtema conforto e o
bem-estar como se pode verificar pelas declarações significativas abaixo transcritas.
“Tento valorizar essencialmente o conforto, a ausência de dor e o
acompanhamento. Procuro sempre que possível que a família esteja junto do
doente” (E1).
Valorização dos cuidados
Conforto e bem estar
Apoio afetivo e relacionamento
humano
Apoio familiar
Gestão Terapêutica/ Alívio da dor
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
101
“O conforto e o relacionamento humano não precisa de mais nada (…) em que a
olhos nuos se vê que o doente está a precisar muito de nós é o conforto (…) é dar
uma mão amiga é estar junto do doente (…) ” (E6).
“Valorizo o conforto (…) prestar-lhe os cuidados conforme ele se sinta bem, e
conforme ele se sinta confortável, porque o que é conforto para mim poderá não
ser para ele (…) ” (E4).
Também Báron e Feliu (1996) expressam que as ações desenvolvidas pelos
enfermeiros se centralizam, no alívio dos sintomas e promoção do bem-estar, como
temos vindo a constatar pelas declarações significativas. Os cuidados a esses doentes
devem ter “ um olhar voltado para a pessoa”, significando, estar para e com ela, e tentar
para o fato de que é preciso prever as necessidades que, aos pouco, vão surgindo,
conforme a progressão da doença, perceber a subjetividade e a individualidade do ser
doente e promover necessidades com um cuidado holístico (Gomes, 2010). Este
comportamento implica que se abandone o esforço médico de querer curar o que é
progressivo e incurável, que se centrem todos os esforços no alívio do sofrimento físico,
psicológico, espiritual ou social, apoiando tanto o doente como a sua família (Moreira,
2001). Comportamento este que nos pareceu estar presente nos participantes como
podemos confirmar através das declarações significativas transcritas abaixo:
“ Se o doente estiver dispneico tentar também providenciar ou alertar para que se
faça algo para que minimize esse desconforto (…) ” (E1).
“ (…) Todos os cuidados que envolvam o conforto, se a pessoa tem calor se a
pessoa tem fome. Em termos físicos o conforto, depois há todos aqueles cuidados
em termos sociais e psicológicos (…) o doente não se sentir desprezado, estarmos
próximos dele (…) permitir que os doentes tenham as suas famílias as pessoas
significativas a cuidar deles (…) ” (E2).
“ (…) É a pessoa sentir-se não é melhor mas menos mal, com conforto não ter
dor, o atuar sobre uma dificuldade respiratória tentar diminuir-lhe esse sofrimento
(…)é a qualidade da dignidade de ela morrer pelo menos com o mínimo de
desconforto possível”(E5).
“ A nível de conforto, e falando dos cuidados de higiene este tem que ser efetuados
com alguma calma com alguma serenidade, tentarmos planear com ele mesmo não
tendo muito tempo (…) o que acha ou o que é melhor para si (…) ”(E7).
Como podemos verificar pela análise das entrevistas e pelos resultados que temos vindo
a obter podemos dizer que é uma preocupação constante dos participantes em
proporcionar bem-estar ao doente/família.
É importante salientar que, por trás de cada Pessoa/Doente, há um sujeito humano, que
“prepara” pessoalmente a sua experiência de doença e a incorpora, de alguma forma, à
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
102
sua biografia. Impõe-se, então, examinar tal experiência e tal pessoa de uma forma
integral, que não elimine a identidade e a dimensão subjetiva. Por outras palavras, é
necessário considerá-lo e trata-lo como pessoa que é, testemunho esse que podemos
enquadrar na análise da informação pelas declarações significativas transcritas abaixo.
“ (…) às vezes o levantar-se para o cadeirão por exemplo, escolher a fase que ele
se sinta melhor, e negociar com ele o tempo que deve ficar no cadeirão mesmo de
forma a ele estar confortável”(E4).
“O respeitar quando ele querem ser alimentados, o que eles querem também,
facilidade de lhes dar daquilo que é possível ou pedir à família quando há
possibilidade. A mobilização (…) doentes que não querem ser mobilizados (…)
percecionar o que eles querem, porque em determinados momentos somos
demasiados autoritários (…) impomos cuidados (…) o doente pode nem sempre os
não aceitar (…) e nós nem sempre exploramos essa situação (…) ”(E2).
No entanto também o inverso se passa, quando um dos participantes verbaliza nas suas
declarações que:
“Impomos cuidados, e o doente pode nem sempre os aceitar e nós não deixamos
margem para ele verbalizar(…), que não os aceita, nós nem sempre exploramos
essa situação, se o doente quer”(E2).
Também é relevante o testemunho de outro participante em que o conforto é importante
no entanto existe no desenrolar do processo de cuidar algo menos ético. Como podemos
constatar pela transcrição abaixo:
“ (…) essencialmente dar-lhes o conforto na medida que os doentes querem, e
percecionar o que eles querem, porque por vezes em determinados momentos
somos demasiados autoritários(…)” (E2).
Dando continuidade ao estudo e dentro do mesmo tema, deixando para trás o conforto,
também o apoio afetivo e o relacionamento humano foram outro dos subtemas que
emergiram da análise da informação que passaremos de imediato a abordar.
Apoio afetivo e relacionamento humano
Neste subtema onde a Pessoa é vista como Pessoa onde a humanização desses mesmos
cuidados se encontra presente. Levou-nos a que Benner (2001) nos explicasse, que o
envolvimento emotivo pode ser muito útil para o próprio enfermeiro. Desta forma,
torna-se pertinente o emergir de cuidados que além de tentarem preservar a integridade
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
103
corporal, mantenham íntegra a dignidade de cada PESSOA; estamo-nos a referir aos
cuidados paliativos (Alves et al, 2004).
Daí que cuidar da pessoa no final da sua vida é um desafio complexo, sobretudo para os
profissionais de Enfermagem. Estes estabelecem com o doente e família uma relação
privilegiada, uma vez que são eles que permanecem mais próximos, podendo identificar
de forma eficaz as suas necessidades e partilhar dos seus momentos mais íntimos, como
podemos reconhecer pelas declarações significativas abaixo reproduzidas.
“Eu tive ai doentes lhe não lhe dei senão um ombro amigo (…) ” (E6).
“ (…)com a presença também de familiares ,se por ele for desejado(…) podermos
fornecer até coisas que eles gostem, que queiram, sempre que solicitem a nossa
presença a gente estar presente”(E1).
“ (…), Normalmente ofereço tudo o que o hospital pode dar a uma família, se for
possível permanecer junto do doente durante a noite(…), mostro disponibilidade e
vontade para o familiar ficar perto do doente (…)”(E6).
Assim, reúnem-se elementos que lhes permitem ajudar o doente e sua família, neste
momento da vida tão doloroso e controverso. Também Lima (2006), refere que os
enfermeiros devem olhar para o doente no términus da sua vida como uma pessoa na
sua globalidade, respeitar a sua intimidade e privacidade e nunca demonstrar através do
olhar ou expressões faciais a imagem da sua deterioração ou da sua finitude. Devem
sobretudo estar ao lado do doente não só fisicamente, mas demonstrando uma atitude
ética de compaixão, algo que também é salientado pelos participantes nas suas
declarações significativas as quais se comprova com o testemunho abaixo.
“ (…) Dar-lhes apoio estarmos simpáticas, sorrir é muito importante, e se for
preciso chorar com eles também se chora, virar a cara não é o ideal” (E2).
“ (…) É a aproximação do doente logo à entrada a minha apresentação como
pessoa humana o relacionamento humano o mais importante a empatia.” (E6).
“ (…) Se eu dou carinho e o afeto aos meus cães, também dou a uma pessoa numa
fase terminal, eu acho que o relacionamento humano para mim é essencial. Acho
que um doente precisa muito de carinho e muito afeto, por muito que nós por vezes
digamos que não há tempo (…)”(E6).
Através do estudo parece-nos que este tem vindo a revelar tal como refere Lima (2006)
que estes cuidados têm como objetivo primordial proporcionar a melhor qualidade de
vida possível aos doentes e suas famílias, recorrendo para isso ao tratamento da
sintomatologia, à comunicação com o doente e ainda ao apoio à família. Algo de
controverso numa declaração significativa de um participante quando este afirma:
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
104
“Mas o tempo também é uma limitação enorme. O tempo limita-me a tudo. O
tempo na instituição limita-me a eu não ter contato com a família do doente” (E6).
Após a abordagem deste subtema e para terminarmos o tema valorização dos cuidados
iremos debruçar- nos sobre o apoio à família.
Apoio à família
Ao apoiarmos o doente e a família num momento em que experimentam grande
sofrimento constituiu um dos maiores desafios que a prática quotidiana coloca aos
profissionais de enfermagem. É preciso pois entender que a morte nem sempre é
significado de fracasso ou insucesso e sim algo que faz parte de um ciclo natural da
vida.
Tal como refere Twycross (2003), o apoio à família é parte integrante dos cuidados à
pessoa em fim de vida. Uma família satisfeita aumenta as possibilidades de o doente
estar satisfeito daí, e segundo Lima (2006) referir, que o enfermeiro deve reunir
esforços para integrar a família da pessoa em fim de vida na equipa de saúde para que,
como no domicílio, a morte no hospital seja um acontecimento familiar.
Assim, e com o propósito de conseguir os melhores resultados possíveis é fundamental
considerar a perspetiva de Ferreira (1999), em que cada elemento da família é único e
encara a perda do seu ente querido de forma singular. Dai decorrer a necessidade da
adoção de comportamentos e ações de enfermagem individualizados, considerando cada
caso em especial e não a utilização de frases feitas e de procedimentos estereotipados.
É do conhecimento geral que a enfermagem, está direcionada à preservação da vida,
procurando o alívio do sofrimento das pessoas nestas situações, dando todo conforto,
não só à pessoa em fim de vida mas também proporcionando consolo aos seus
familiares. A família, é considerada por Waldow (2006) como uma variável importante
no contexto hospitalar. Muitas são as vezes que também esta necessita de cuidados por
parte dos profissionais, encontram-se ansiosas, em função da gravidade da situação,
necessitando de apoio. Na realidade, na maioria das vezes a família, também precisa de
ser cuidada, e o enfermeiro expressa isso através do seu comportamento. Se a
organização valoriza o cuidado, os doentes e familiares reconhecem-no e comportam-se
de forma bastante tranquila, pois sentem-se seguros respeitados, informados e sabem
que serão tratados com dignidade e consideração. Mais ainda se o profissional de saúde
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
105
envolver a família nos cuidados e procurar que esta seja mais ativa e mais presente, irá
ajudar a família, a diminuir a ansiedade e a melhorar a sua confiança.
Da análise que fizemos, podemos assegurar que os nossos participantes testemunharam
essa preocupação, tendo em linha de conta o apoio necessário e humanizado a dar às
famílias, Podemos assim constatar pelas declarações significativas que abaixo se
encontram inseridas.
“ (…), Tentar envolver a família que é muito importante, uma vez que o apoio da
família nesta fase terminal ou fim de vida é muito importante para a pessoa” (E4).
“ (…) Há muito poucos a querem envolver-se, porque nós temos o cartão de
acompanhante servem para estarem presentes para participarem numa higiene
para participarem em certa atividades com o doente (…) muitas vezes a família se
afasta (…) a família vê em nós profissionais que estão e que cuidam (…) ” (E1).
O apoio à família passa também pela disponibilidade que possamos demonstrar, pela
própria postura que se adota no momento, pela própria comunicação que se tem, pela
empatia que se estabelece e ainda pela facilidade que se dá à família de estar presente
junto ao seu familiar. Esta última situação é bastante notória no estudo e pode-se
constatar pelas declarações descritas em baixo.
“A facilitar a entrada das visitas, também temos essa facilidade (…),proporcionar,
as visitas ficarem mais tempo (…)”.”Até mesmo alimentos (…) que a pessoa gosta
que a família possa trazer, objetos que a pessoa tenha alguma ligação especial que
os familiares possam trazer” (E3).
“ (…) Se o desejo da pessoa ter alguém presente é tentar que isso seja possível,
nomeadamente contactar família, avisar a família que o doente se encontra pior se
querem vir (…) satisfazer esse desejo da pessoa ou do próprio familiar quando o
manifestou (…) ” (E5).
“ (…) que o doente possa solicitar que se possa fazer, também, fazer aquilo que
nos é pedido desde que isso não vá interferir com nada que está prescrito ou que
seja contra indicado naquela situação” (E5).
Ainda na bibliografia encontramos Lazarus citado por Curry (1995) a referir que, os
familiares próximos deveriam ter livre acesso ao doente assim como Sapeta (2011)
salienta que a presença mais assídua e constante da família, permitirá, acompanhar o
agravamento da situação, preparando-a para a separação e para o luto.
No campo de estudo, existe um impresso designado de cartão de acompanhante com o
objetivo de o familiar poder estar presente no acompanhamento da Pessoa em fim de
vida. Um participante fez questão de referir a sua existência, como podemos verificar
pelo testemunho abaixo transcrito.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
106
“ (…) Temos o cartão de acompanhante que servem para estarem presentes para
participarem em certas atividades com o doente, para se aperceberem melhor da
situação do seu ente querido(…)”(E5).
Os participantes persistem em fazerem referência à importância da presença da família
como momentos de estabilidade quer para a pessoa quer mesmo para a família, como
podemos constatar pelas declarações abaixo transcritas.
“ (…) é a dificuldade que eles tem em lidar com a situação(…), mas o sentirem que
a gente favorece a presença, o sentir que a gente está presente, se for necessário
alguma coisa, acho que os deixa mais tranquilo”(E1).
“ (…) é o cuidado social é permitir que os doentes tenham as famílias as pessoas
significativas a cuidar deles (…)”(E2).
“(…), acho que todas as pessoa deviam estar com alguém de família, acho que
era muito importante que a família se envolvesse mais na fase final”(E8).
“(…), se a gente conseguir conversar com a família e perceber também o que eles
pretendem de nós, se calhar também é mais fácil nós arranjarmos maneira de a
família estar junto do doente”(E8).
Numa outra perspetiva muitas são as famílias que não conseguem estar presentes, ou
por falta de disponibilidade, ou por dificuldades de aceitação como podemos constatar
nas transcrições seguintes.
“(…), ao conversar com a família nós às vezes conseguimos perceber se a família
está interessada em participar nos últimos momentos ou se também é difícil para
eles aceitarem e conseguirem estar ao pé do familiar, nem toda a gente se sente
preparada para estar junto de um familiar que vai partir”(E8).
“Acho que a família muitas vezes até não quer tanto, quanto a gente pensa
(…)”(E1).
“(…), há pessoas que até não querem, querem ficar com uma recordação daquele
familiar, uma recordação que não a vê-lo morrer(…)”(E3).
Depois de salientarmos a importância no acompanhamento do doente nesta fase final de
vida, analisámos criteriosamente as declarações relacionadas com a vivência dos
enfermeiros perante um dos sintomas mais relevantes para o sofrimento da pessoa em
fim de vida mesmo quando comparado à expectativa da morte. Subtema que vamos
retratar já de seguida.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
107
A gestão terapêutica e o alívio da dor
A gestão terapêutica e o alívio da dor são outros dos subtemas valorizados pelos
participantes na valorização dos cuidados. O sofrimento pode desempenhar papel
importante na qualidade de vida do paciente. Daí, ignorar o sofrimento é tão desastroso
como ignorar a dor não fazendo sentido tratar uma sem a outra. A dor é um fenómeno
preceptivo complexo, subjetivo e multidimensional, e nesta perspetiva a Direção Geral
de Saúde (DGS) elaborou o Plano Nacional de Luta Contra a Dor, que considera a dor
como quinto sinal vital, sendo avaliada através de escalas de dor, de modo a torná-la
objetiva.
Essa avaliação é uma atividade que faz parte das competências dos enfermeiros e por
conseguinte indispensável à excelência dos cuidados de saúde, bem visível na mente
dos participantes, onde parece ser uma preocupação constante quando cuidam do doente
em fim de vida, como se verifica pelas declarações significativas que se encontram
transcritas logo a baixo.
“O protocolo de atuação da dor (…) facilitava, em algumas situações” (E2).
“Para já o alivio da dor, tentar que a pessoa não tenha dor, proporcionar um
ambiente calmo (…)”(E3).
“ Quanto à terapêutica saber se ele tem dores ou não e também gerir com a equipa
o que também funciona melhor”(E7).
Ela (dor) é um desafio quer para a pessoa, quer para os profissionais de saúde,
principalmente quando se trata de dor crónica. Melzack (1987) reforça ainda que a dor é
um desafio para o doente, uma vez que se deve encontrar meios médicos, científicos e
financeiros para controlar ou prevenir, da melhor forma possível a sua dor.
Também Sapeta (2011) no seu livro faz várias referências ao estudo que efetuou, que
vão ao encontro do mesmo pensamento e atuação dos participantes neste estudo, quando
ela nos diz: “(…) nos sintomas presentes, em geral, tem um soro de manutenção, O2 e
pouco mais.” “Observei que posicionam de modo a aliviar a dispneia, alternam
decúbitos, (…) prestam cuidados à boca, (…) observam dor ou gemido, solicitam
autorização para administrar analgésico e fazem-no autorizados.” Elementos esses que
são testemunhados nas declarações significativas que se encontram reproduzidas abaixo.
“(…)se tiver analgesia prescrita administro(…) se não tiver solicito ao médico(…)
depois poderá haver outro tipo de prescrições(…) massagem, posicionamento uma
administração de oxigénio(…) alguma coisa que o doente possa solicitar(…)”(E5).
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
108
“ (…) só me lembro das farmacológicas, embora saiba que hajam outras técnicas,
outras que se possam fazer mas só temos disponíveis as farmacológicas ou
posicionamentos se o doente referir dor naquela posição.”(E1).
“ Houve uma doente recentemente por exemplo os bochechos, os cuidados de
higiene oral eram muito importantes ela adorava.”(E2).
“Privilegiar a terapêutica subcutânea, quando se privilegia hoje em dia a
endovenosa, (…) , evitar picá-los, fazer terapêutica subcutânea, essencialmente
reduzir o sofrimento (…).”(E2).
Ao terminarmos este tema em que os participantes enquadraram os cuidados mais
valorizados dentro de quatro subtemas em que todos são importantes para uma melhoria
de cuidados e promoção de uma morte digna. Iremos apresentar outro dos temas não
menos relevante para o estudo em questão.
Os participantes revelaram que para minimizarem o sofrimento o promoverem o bem
estar daqueles que se encontra numa fase final da vida, tendo consigo uma família cheia
de, sentimentos, medos, ansiedade e preocupações, adotam no seu dia a dia estratégias
que iremos retratar já de seguida.
2.3-ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PARA MINIMIZAR O SOFRIMENTO E
PROMOVER O BEM-ESTAR DO DOENTE E FAMÍLIA
É indiscutível o papel relevante que os enfermeiros desempenham junto dos doentes e
família que vivenciam o processo de luto por morte anunciada. É uma fase da vida que
todos temos que abraçar mas que dificilmente conseguimos sozinhos, pelo que se torna
importante haver alguém por perto e atento às emoções, com conhecimentos e
sensibilidade para ajudar aqueles que se encontram nesta situação difícil e delicada
como é a privação da vida e a perspectiva de perda de um ente querido. Situações que
levaram os participantes do estudo a apontarem as estratégias que utilizam para
minimizar o sofrimento da pessoa e promover o seu bem-estar e daqueles que lhe são
próximos.
O diagrama 11 mostra-nos o tema e os subtemas que emergiram da análise da
informação colhida.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
109
Diagrama 11- Estratégias para minimizar o sofrimento e promover o conforto
Fonte: Desenhado pelo autor
Interação enf º/família: diminui ansiedade e promove a confiança
Dando início ao primeiro subtema que emergiu da nossa análise podemos constatar que
interação enfermeiro/família é uma das estratégias que eles adotam para minimizar o
sofrimento e promover a bem-estar do doente e família diminuindo a ansiedade e
promovendo a confiança.
Partindo do conhecimento comum de todos, o enfermeiro é o elemento da equipa
multidisciplinar que permanece mais tempo junto do doente, normalmente o elemento
da equipa de saúde mais solicitado pela família, quando se trata de pôr questões, dar
sugestões, pedir orientações e apoio emocional. Colliére (1989) fala-nos da importância
da relação interpessoal enfermeiro/família como se pode ler no primeiro parágrafo da
página 49. O estudo revela que essas preocupações estão patentes na mente e na postura
diária dos participantes tal como podemos ler nas declarações significativas abaixo.
“(…) temos que enfrentar mais estas situações, irmos mais juntos daqueles que são
mais significativos, da família, não termos medo de falar com as pessoas(…) não
direi facilmente porque nunca é fácil estas coisas(…) mas podem ir aceitando este
processo (…) faz com que a enfermeira se empenhe no processo de luto da
família(…) faz parte das nossas competências (…)”(E2).
Estratégias para minimizar o sofrimento e
promover o bem estar
(doente/família)
Interação Enfº/família:
diminui a ansiedade e promove a confiança
Consciência da utilização,
importância da relação de ajuda
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
110
“(…) , eles tentam sempre saber até às vezes a medicação que estão a fazer,
exames que mesmo assim vão fazendo, em que eles vão perguntando e nós vamos
dando resposta.”(E1).
“ (…) mas o sentirem que a gente favorece a presença, o sentir que a gente está
presente, se for necessário alguma coisa, acho que os deixa um pouco tranquilos
(…)”(E1).
“Penso que trabalhamos bem, que quanto à família damos tudo o que temos ao
nosso alcance a nossa resposta aos familiares é positiva, respeitamos os
sentimentos daquela família”(E6).
Daí e segundo Pacheco (2002), uma família angustiada e insegura pode transmitir ao
doente o mesmo tipo de sentimentos, pelo que o apoio e o acompanhamento dos
familiares do doente em fim de vida, deve também, ser uma preocupação da equipa
multidisciplinar que cuida do doente. É real de fato, que os participantes através das
suas declarações significativas procuram minimizar o sofrimento do doente e família
com atitudes iguais ou semelhantes, referenciadas pelos autores, promovendo o bem
estar tal como se pode comprovar nas transcrições das declarações significativas que se
seguem.
“Um doente em fase terminal nem sempre está com a situação familiar e ele
próprio estabilizado. (…)o doente deixa de conversar fica prostrado, deixa de
interagir(…) fica desorientado nestes momentos nós temos que acompanhar a
família, porque a família não compreende estas situações nós temos o dever de
lhes explicar(…) para que eles também facilmente poderem
compreender(…)”(E2).
“(…) procuro facilitar a proximidade entre as pessoas significativas e o doente, e
depois existe um conjunto de necessidades um apoio psicológico uma pessoa com
quem conversar, uma partilha(…)”(E2).
É do conhecimento geral que os familiares necessitam de ser informados e de receber
uma informação pormenorizada, verdadeira, de modo a poderem acompanhar o mais
próximo possível a situação clínica do seu familiar. Esta informação detalhada da
situação clínica do doente constitui um direito seu e da família, como descreve Pires
(1995) nos direito do doente, que podemos consultar na página… deste trabalho, em que
o doente tem “direito a que lhe respondam honestamente às suas questões”: Deve, por
isso ser facilitada em todas as situações, em linguagem adequada e inteligível tal como
nos refere (Sapeta, 2011). Ainda a mesma autora fala-nos da gestão da informação
desde a mais simples à mais complexa como uma dimensão importante na interação
enfermeiro/família. Pelo que neste estudo podemos verificar que é uma preocupação e
uma prática diária presente dos participantes, verificada através das expressões
significativas que podemos ler em seguida.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
111
“(…)alguns familiares tentam desabafar connosco , gostam de dar uma palavra a
quem cuida procurando saber sempre mais do diagnóstico, tentam saber sempre
mais alguma coisa, saber se há mais alguma coisa a fazer ou se não há(…)”(E3).
“Conversando com as pessoas procurando saber o que elas pretendem de nós para
as podermos ajudar nesta ultima fase”(E8).
“(…), temos vários tipos de famílias umas que recusam e nem querem falar sobre
isso, outras sim, querem ser informadas(…), encaminhamo-las para o médico para
lhes ser dado informações clínicas(…), e nós damos-lhe sobre a parte de
enfermagem(…)”(E4).
Ainda Sancho (1998), certifica que os familiares têm necessidade de expressar as suas
emoções negativas: tristeza, raiva, temores, etc., sem que os seus temores e a ansiedade
sejam desvalorizados, tal como Pereira e Lopes (2002), relatam que as famílias, se não
necessitam de ajuda para satisfazer as suas necessidades fisiológicas, necessitam
certamente de apoio emocional. Parecendo-nos que da análise, os participantes
demonstram uma relação interpessoal estabelecida com os familiares composta pela
transmissão de carinho, ajuda e confiança, como se pode verificar no testemunho abaixo
transcrito.
“(…) como equipa acabamos sempre por favorecer, ou tentar arranjar um espaço
zinho, ou tentar privatizar a zona um pouco mais isolada, dar algum conforto à
família para estar sentada, mais junto(…)” (E1).
“(…) não é preciso ter um dia inteiro, às vezes também dar um conforto ao doente
e família se agente de vez enquanto passar e disser como é que ele está? Está tudo
bem? Como é que está? Precisa de alguma coisa? Às vezes também só cinco
minutinhos de vez enquanto, acaba por ser o suficiente (…) para diminuir um
pouco a ansiedade(…)”(E6).
Também outro autor, Diogo (2000) referindo Melo e Valle (1995), afirma que o apoio
emocional é uma das medidas terapêuticas mais eficazes no relacionamento
interpessoal. O apoio pode estar presente em todo o contacto. Ainda Marques (1994)
citado por Pereira e Lopes (2002), diz-nos que uma boa comunicação efetiva e
emocional com a família ajuda a prevenir os quadros de depressão, isolamento,
ansiedade e o duelo psicológico, daí designarmos o nosso subtema por: Interação Enf º
/família: Diminui ansiedade e promove a confiança.
Igualmente Sapeta (2011) no seu estudo faz alusão à gestão de sentimentos como
determinantes no efeito terapêutico, em que a interação promove a confiança, fato que
este estudo também revela ser importante para os cuidados a ter com a pessoa/família
em fim de vida. Dado que para os familiares o mais importante é o bem-estar do doente,
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
112
e saber que é bem cuidado. Testemunho esse que foi referenciado e que se constata com
a declaração significativa que se seguem.
“(…) alguns deles sentem uma inquietação na segurança de quem cá fica (…) é
necessário que eles fiquem mais tempo(…) para eles terem a noção que os
cuidados que lhes vamos garantir são seguros(…) isto é uma necessidade da
família que gosta de ficar cá de noite , ou quer ficar até à meia noite(…) os
familiares ficam com um certo alivio”(E2).
Também Martins (2000) referiu que num estudo de vários autores a necessidade dos
familiares de se assegurarem é de que o doente se encontre confortável e com bons
cuidados.
Afirma ainda Bernardo (2003), que o tom carinhoso usado na relação com o doente
demonstra preocupação e interesse do enfermeiro. Parece-nos que o demonstrado
através deste ato também é entendido como uma resposta de afeto pelos familiares.
Cândido (2001), salienta que a família tem necessidade de ser compreendida e apoiada
pelos profissionais de saúde, e para eles o mais importante é saber que o doente está o
mais confortável possível, que tem o melhor tratamento e que este é acarinhado pelo
pessoal do hospital.
Mais ainda, Pereira e Lopes (2002) referenciam, o cuidado social é um conceito
multidimensional e interativo, relacionado com as transações que o indivíduo estabelece
com o meio, referido por o mesmo participante em dois momentos distintos, como
podemos ler nas transcrições abaixo.
“ (…) é o cuidado social é permitir que os doentes tenham as famílias as pessoas
significativas a cuidar deles (…)”(E2).
“(…) procuro facilitar a proximidade entre as pessoas significativas e o doente e
depois existe um conjunto de necessidades um apoio psicológico uma pessoa com
quem conversar, uma partilha(…)”(E2).
Muito importante ainda e segundo Sheafer (1981 apud Carmarrinha, 2008) é perceção
que a pessoa tem de que aqueles que o rodeiam, são atenciosos e prestativos e de que
com eles pode partilhar pensamentos e sentimentos íntimos.
Tal como Sancho (1998) refere, os familiares têm necessidade de estar todo o tempo
possível com o seu ente querido e de participar nos cuidados. É um direito que assiste o
doente como podemos verificar na página 37 onde se encontram descritos por Pires
(1995) todos esses direitos. A melhor forma de ajudar é estar sempre ao lado do doente,
manter uma presença constante mesmo que este não se aperceba da sua presença.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
113
Também Twycross (2003) referindo a importância dos cuidados paliativos afirma que
quando for necessário, devem conseguir-se acomodações para um familiar passar a
noite (…), testemunho este que também é enumerado nas expressões significativas que
podemos ler abaixo. Pareceu-nos ser notório no estudo as mesmas sensibilidades e
sentimentos dos participantes.
“(…) isto é uma necessidade da família que gosta de ficar cá de noite, ou quer
ficar até à meia noite(…)”(E2).
“(…) já tivemos experiências de doentes que ficaram com familiares na
enfermaria(…)”(E1).
“(…) permanecer junto do doente durante a noite, se o familiar verbalizar vontade
de vir para junto do doente ou o doente necessitar da sua presença eu telefono,
mostro disponibilidade e vontade(…)” (E6) .
A importância de todos estes cuidados leva a que os enfermeiros estabeleçam uma
relação de confiança entre a pessoa e família, nomeadamente uma relação de ajuda que
leva a uma elevada consciencialização da utilização da mesma. Subtema que o estudo
apurou e que vamos abordar de seguida.
Consciência da Utilização, Importância da Relação de Ajuda
A atuação do enfermeiro é sem sombra de dúvida o cuidar do doente e família, e nestas
situações deve consistir essencialmente numa verdadeira relação de ajuda. Esta relação
deve ser pautada por um respeito e uma atenção constante, que nunca se deve limitar à
simples presença física, mas sim baseada numa verdadeira escuta e na congruência.
Resumida de num leque de sentimentos genuínos. Tal como Pacheco (2004, p.130),
considera que a ajuda do enfermeiro ao doente em fim de vida, “deve basear-se numa
escuta – e não num simples ouvir, na empatia e não na simples simpatia; na congruência
e nunca na falta de autenticidade”. Similarmente os participantes, confirmam
transversalmente pelas declarações significativas que se podemos encontrar transcritas
abaixo.
“(…) tentar visualizar a pessoa/família (…) necessitam de uma atenção diferente,
até mesmo em termos de comunicação (…) mais calma atenta(…) uma atenção
diferente para os familiares(…)”(E3).
“(…) dar um conforto ao doente e família se a gente de vez enquanto passar e
disser como ele está?, como é que está?, como é que se está a sentir?, está tudo
bem?, precisa de alguma coisa?(…).”(E1).
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
114
“Ir ao encontro das famílias, saber as suas necessidades e preocupações (…)se
pretendem estar mais tempo junto do doente. ouvi-las (…) alguns tentam desabafar
connosco, gostam de dar uma palavra a quem cuida(…)”(E3).
“(…) o relacionamento humano para mim é essencial(..) um doente precisa de
carinho e muitos afetos(…)”(E6).
Tal como para Lazure (1994, p.13) a relação de ajuda “é uma relação na qual o que
ajuda fornece ao cliente certas condições de que ele necessita para satisfazer as suas
necessidades básicas”. Testemunho que vimos nos relatos abaixo.
“(…) tento disponibilizar tudo o que esteja ao meu alcance tentando dar aquilo
que eles precisam doente/família numa forma de relação de ajuda(…)a gente
poder fazer por eles naqueles últimos momentos”(E3).
“Respeitar o que eles querem (…) dar-lhes daquilo que é possível ou pedir à
família quando há possibilidades (…)”(E2).
“(…) eles nesta fase careciam de mais, precisavam que nós estivéssemos até
constantemente junto a eles estou consciente da necessidade de ajuda que neste
momento é tão preciosa para a pessoa e família, a tão nossa designada relação de
ajuda(…)”(E4).
Para outro autor como Watson (2002) a relação de ajuda é a essência, meio poderoso de
intervenção e um elemento decisivo e inquestionável no cuidar em enfermagem. Mas,
Phaneuf (2005), salienta que a relação de ajuda é uma técnica particular significativa,
dado que a pessoa que ajuda está completamente voltada para o outro, para a sua
situação e para o seu sofrimento, definindo-a como “uma troca tanto verbal como não
verbal”. A Relação de Ajuda trata de uma troca que fortalece os laços de afeto entre as
pessoas, constituindo parte integrante da arte de “Cuidar ”. No caso do doente/família
em fim de vida, a relação de ajuda é imprescindível, no sentido de o ajudar a viver e a
morrer o mais serenamente possível. Momento este que leva os profissionais de saúde, e
neste caso aos participantes do estudo a revelarem sentimentos no seu ato de cuidar,
tema emergente que passamos abordar de imediato.
2.4 - SENTIMENTOS NO CUIDAR EXTRÍNSECOS AO PROFISSIONAL
O enfermeiro vai procurando e tomando ao longo dos seus anos de experiência
conhecimento dos modos de lidar com a vivência de situações de cuidados, a partir do
seu impulso e necessidade de minimizar o impacto da experiência emocional. A
enfermagem tem na sua essência o cuidado global à pessoa humana em todas as fases da
sua existência. Sendo assim, o fim de vida do indivíduo encontra-se inserido nesse
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
115
mesmo cuidado, porém, é necessário reconhecer a sua especificidade, as suas
particularidades e tudo o que implica e significa.
Assim sendo, cuidar em fim de vida, é um dos aspetos que mais preocupa os
profissionais de enfermagem. Lidar com a morte e ajudar a morrer, exige competências
aos mais variados níveis e exige técnicos bem preparados e conscientes da necessidade
desta preparação. Não temos dúvidas que muitas são as dificuldades a vários níveis
vivenciados pelos enfermeiros, que, para conseguir lidar com as vivências emotivas dos
cuidados terão que aprender a defender-se cada vez mais das suas emoções. O diagrama
12 traduz essas dificuldades vivenciadas pelos participantes do estudo, quando cuidam
da Pessoa e família em fim de vida.
Diagrama 12- Sentimentos no cuidar
Fonte: Desenhado pelo autor
Falta de Apoio Psicológico
Extraímos da análise a falta de apoio psicológico com um dos sentimentos verbalizados,
onde parece ser determinante na opinião dos participantes essa necessidade, tal como
menciona Souza et al. (2009, in Borges, 2012), a morte de um doente causa grande
impacto na identidade pessoal e profissional de toda equipe envolvida no seu cuidado,
em especial para o enfermeiro. O modo como ele compreende o conceito de morte, bem
como a forma que relaciona este conceito, com o seu próprio existir e as suas vivências
pessoais de perdas anteriores dentro e fora do âmbito profissional, são aspetos que
influirão na sua atuação diante da morte, necessitando quer no antes, durante ou após de
Sentimentos no cuidar
extrínsecos ao profissional
Falta de apoio
psicológico
Falta de condições
físicas
Falta de disponibilidade
de tempo
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
116
um apoio especializado, dado que o enfermeiro antes de o ser, ele é um ser humano com
características iguais a todos com os mesmos sentimentos e emoções. É comprovado
pelos registos abaixo que traduzem rigorosamente o que os participantes disseram.
“(…)até porque não temos o tal apoio psicológico que deveríamos ter ,também
não temos e às vezes não temos sensibilidade para percebermos se a pessoa está
deprimida, se a pessoa fala pouco ou temos que a estimular muito e muitas vezes,
não temos capacidade em tempo para verificar as emoções da pessoa(…) isso era
muito importante”(E2).
“(…) não temos o tal apoio psicológico que deveríamos ter (…) não temos
sensibilidade para percebermos se a pessoa está deprimida(…)”(E5).
“(…) mais acompanhada mais sistemática, que de fato nós no internamento não
temos esse apoio psicológico que de fato era pertinente(…)”(E4).
Os participantes revelam ainda a preocupação deste apoio ser extensivo à pessoa e
família, como se verifica nas transcrições das entrevistas.
“(…) julgo que o nosso serviço perde por não ter o apoio psicológico ao doente e
família não temos um apoio psicológico especifico os psicólogos aqui somos
nós(…) deveríamos ter muito mais apoio a esse nível (…) corremos o risco muitas
das vezes não estarmos ao alcance do que a família precisa” (E2).
“(…) não temos psicóloga (…) nós enfermeiras tentamos dar o nosso máximo, não
tenho nenhum curso de psicologia a minha psicologia aquela que a vida me tem
ensinado(…) uma presença de uma psicóloga que deveria estar ao lado destes
doentes e família”(E6).
Ao longo das suas vivências o profissional vai-se deparando com inúmeros obstáculos
que lhe vão sendo muitas vezes difíceis de ultrapassar mas não impossíveis, também
aqui os obstáculos surgem o emergem tal como emergiu um subtema intitulado de, falta
de condições físicas algo que também não será totalmente impossível de alcançar.
Falta de Condições Físicas
A falta de condições físicas nem sempre corresponde aos ideais de humanização que os
doentes em fim de vida necessitam e condicionam a própria prestação de cuidados.
Pacheco refere (2002) que é crescente o número de doentes incuráveis cuja fase
terminal é longa, e que procuram cada vez as instituições para terminar os seus dias,
sendo poucas aquelas que se encontram especificamente preparadas para os receber e
cuidar adequadamente. Também Coutinho (2005) partilha da mesma opinião quando
salienta a importância das condições físicas e organizacionais para a prestação de
cuidados humanizados tendo em vista excelência do cuidar. Ainda Pinto (1996), refere
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
117
que a humanização dos espaços concebe um ambiente não apenas limpo, mas agradável
para facultar uma atitude positiva, quer no doente que espera, quer no profissional que
assiste.
Sabemos que, as condições físicas oferecidas no hospital estão longe da filosofia dos
cuidados paliativos. É difícil, com a crescente ocupação do espaço, arranjar-se um local
reservado para a família partilhar sentimentos e emoções e que permita a reserva da sua
privacidade mantendo longe dos olhares curiosos de estranhos o seu sofrimento. Os
enfermeiros deparam-se sem um local propício ao desenvolvimento da relação de ajuda
e a personalização da unidade do doente nem sempre pode ser garantida.
O estudo revela que há falta de condições físicas para prover as condições necessárias à
humanização dos cuidados à pessoa e família em fim de vida, e que esta é sem dúvida
uma “lacuna” do serviço. Esta situação constrangedora, mas não impeditiva da
evidência de competências de relação foi referida nas entrevistas das quais extraímos as
seguintes declarações significativas.
“ Acontece que o doente vem a morrer ali na enfermaria naquela confusão toda,
pelo que havia de haver um espaço mais calmo mais sossegado, mais isolado (…)
mais privacidade nesta fase e que não a tem”(E1).
“Não tenho uma sala para poder conversar (…) não temos espaço de conforto à
família, as pessoas estão a chorar no corredor, desesperam no corredor (…)”(E2).
Estas declarações sugerem uma inibição dos direitos que assistem ao doente em fim de
vida como é possível verificar na página 37, onde Pires (1995) enuncia os direitos
destes doentes.
É nossa convicção que o trabalho nos hospitais está vocacionado para o diagnóstico e
tratamento das doenças. Os profissionais estão cada vez mais vocacionados na defesa da
vida e no manuseamento de alta tecnologia, consomem a maior parte do seu tempo a
lutar contra a morte, e só poucos consciencializam a importância do acompanhamento e
dignificação da morte.
Desta forma, responder a algumas questões torna-se complicado, Costa (1998) refere,
“Qual será então o papel do hospital nesta situação? Deverá este limitar-se a
diagnosticar e aplicar tratamentos, ou deverá também oferecer um lugar acolhedor que
assegure a segurança do doente e onde a morte também tem o seu lugar? Não deverá
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
118
garantir uma morte digna? Não deverá ter em conta também o sofrimento da família que
passa pela vivência de ter um familiar a morrer?”
Responder a estas questões reporta-nos para um problema social, enraizado numa
cultura do hospital de agudos, onde o doente em fim de vida tem que recorrer quando
está debilitado, ou quando a família já não consegue dar resposta em domicílio.
Mas este tema não acaba aqui porque os nossos participantes no estudo vão ainda mais
além, apontam para a falta de disponibilidade de tempo algo que lutam diariamente
dificultando assim os cuidados à pessoa e família.
Falta De Disponibilidade De Tempo
Conscientes de que lidar com o doente em fim de vida não é tarefa fácil o profissional
de saúde tem tendência para evitar o doente demorando o mínimo de tempo possível na
sua presença, refugia-se na falta de tempo para justificar o envolvimento que reconhece
como necessário. A falta de tempo é uma das principais desculpas para não cuidar desse
doente de uma forma holística. O enfermeiro receia não ter as competências relacionais
devidas e prefere priorizar outras funções.
“… para não ser tão afetado, o profissional de saúde tenta manter uma certa distancia,
diminuir as visitas, responder com frases feitas, conselhos fáceis e autoritários no sentido de
tornar a relação o mais profissional possível para que a emoção não se sobreponha ao
racional” (Lopes, 2005, p.95).
Também Pinto (1996) afirma que são quatro, as sensações do profissional de saúde
perante o doente em fase terminal:
“A sensação do fracasso (ter-se-ia o doente salvo noutras condições? Será que a
assistência foi a melhor? Será que tudo foi feito?);
A sensação do espelho ou projeção (fá-lo imaginar-se a si próprio com uma
situação idêntica, preferindo afastar-se para não ter de enfrentar o problema);
A sensação de pudor (fá-lo pensar que é bom deixar o doente só, uma vez que
ele está a viver o momento mais importante da sua vida e não deve ser
perturbado na sua relação com os valores, filosofias ou crenças que marcaram a
sua vida);
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
119
A sensação de mistério (fá-lo percorrer fantasias intelectuais sobre a morte, e
sente o peso das contradições, deixando o doente sozinho com o problema…)”.
É muito importante vencer estas sensações enumeradas por Pinto (1996), para que seja
possível prestar cuidados de qualidade ao doente em fim de vida de forma a dar-lhe um
maior conforto e acompanhá-lo nesta última etapa. Podemos realmente verificar pelas
declarações extraídas do estudo que encontramos participantes onde as suas sensações
se enquadram no que é referido pelo autor acima citado.
Mas a morte assusta-me muito porque não sou capaz de definir nem encontrar
estádio para ela (…) assusta-me muito eu sou daquelas enfermeiras que me ponho
atrás de um biombo para ver se vejo alguma coisa mas ainda não consegui ver
nada, mas um dia vou ver”(E6).
Outra das declarações vai de encontro especificamente ao subtema que é a falta de
disponibilidade que muitas vezes como referem os autores é uma forma de fugir à
situação em presença.
“(…) nem sempre nós nos sentimos confortáveis naquela posição(…) isso mexe
com os sentimentos nossos, com uma série de outros fatores que muitas vezes nos
desculpamos com a falta de tempo real para fugirmos um bocadinho àquela
situação, porque interfere com muitos sentimentos(…)”(E5).
Numa outra perspetiva os participantes apontam para que a falta de disponibilidade de
tempo se deve à falta de recurso humanos tal como refere Rafael (1994) a falta de tempo
prende-se com vários fatores um dos quais e, na maior parte das vezes, o número de
profissionais são insuficientes nos locais de trabalho. Tal como é referenciado pelos
participantes nas declarações transcritas abaixo.
“Não há tempo porque a exigência a que somos diariamente confrontados não é
compatível com o numero de enfermeiros (…)”(E6).
“(…) a nível dos recurso humanos(…) a estrutura física é essencial mas mais
ainda são os recursos humanos”(E7).
“(…) pelo que temos vindo a constatar, a diminuir o numero de enfermeiros na
prestação de cuidados cada vez ser mais difícil de prestar cuidados adequados às
necessidades daqueles doentes”(E5).
Reforça ainda esta afirmação através das palavras de Neves (2005, p.23) quando diz
que “o deficiente rácio de enfermeiros existentes nalgumas situações é um dos fatores
condicionantes para a humanização dos cuidados de excelência. Preocupação presente
como podemos ler nas descrições abaixo.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
120
“(…) nós temos um trabalho, onde trabalhamos com o sistema de classificação de
doentes, mas as horas do trabalho em si não visualizam os cuidados do doente
oncológico (…) e não temos de fato disponibilidade (…) saber que a colega está a
falar com uma família muito importante, ou com um doente especial, (…) que nem
sempre esta disponibilidade é permitida temos muitos doentes muitos registos
muita medicação, pouco recurso humanos e às vezes é muito limitante”(E2).
“(…) a nossa disponibilidade de tempo é restrita(…) se nos solicitarem a presença
durante algum tempo nós temos outros doentes para cuidar e não vamos conseguir
fazer aquilo que seria correto(…)”(E5).
“(…) também não temos , a gente não consegue ficar com 7 ou 8 doentes numa
tarde por exemplo e tirar meia hora ou uma hora (…) para estar ao pé da família é
muito complicado, não temos condições nem tempo(…)”(E1).
Assim e para se poder minimizar estas dificuldades torna-se necessário uma
organização e uma gestão do tempo adequada, de modo a poder atender a todos os
cuidados necessários.
No campo em que se realizou o estudo efetua-se diariamente a classificação de doentes
por níveis de dependência em cuidados de enfermagem, sendo os doentes distribuídos
equitativamente pelos enfermeiros. A taxa de utilização dos enfermeiros é elevada, e as
atividades especiais que contemplam o apoio psicológico são as que mais facilmente
são relegadas para segundo plano. Os enfermeiros têm consciência das suas limitações e
julgam que é o sistema que não dá visibilidade a essas necessidades, quando ele dá,
residindo o problema na exiguidade dos recursos, uma vez que as horas de cuidados
necessários são sempre superiores às horas de cuidados prestados. As declarações
significativas abaixo referenciadas dão conta da sua frustração.
“(…) penso que existe mas não é implementado no nosso serviço um tipo de
classificação de doentes de forma a que ficasse visível que aquele utente carecia
de mais tempo (…) mais disponibilidade para(…)”(E4).
“(…) nós temos um trabalho, onde trabalhamos com o sistema de classificação de
doentes, mas as horas do trabalho em si não visualizam os cuidados do doente
oncológico (…) e não temos de fato disponibilidade (…) saber que a colega está a
falar com uma família muito importante, ou com um doente especial, (…)”(E2).
Este subtema levou-nos a encontrar alguns estudos sobre esta problemática. Assim,
Adamski e Hagen (1999) no seu estudo evidenciaram que uma das maiores razões de
insatisfação/sentimentos do enfermeiro reside na sua “alegada” falta de tempo para
dedicar-se ao cuidado ao doente/família.
Também Sweeney (in Leal, 2006, p.47) refere que a falta de tempo como um problema,
onde os enfermeiros têm de decidir se presta cuidados ou se elaboram os registos de
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
121
enfermagem. Ainda Pereira (2008) no seu livro realça a importância de os próprios
profissionais de saúde – centrados na maioria dos casos, na tecnologia e neste caso nos
registos informáticos, esquecendo e deixando para segundo plano a relação interpessoal
– começarem a valorizar cada vez mais esta vertente muito importante na intervenção
junto dos doentes.
A falta de tempo é referenciada pelos participantes tendo como causas principais a
realização de muitos registos, esses computorizados, muita medicação além da escassez
de recursos humanos que já foi referenciado Daí focalizar-nos, quanto aos registos, que
são outro dos aspetos que preocupam os participantes no estudo como se pode apurar
pelas declarações significativas.
“(…)é uma situação diferente, pelo que nem sempre esta disponibilidade é
permitida temos muitos doentes, muitos registos, muita medicação, poucos
recursos humanos e às vezes é muito limitante”(E2).
“(…) em termos familiares eramos muito bem reconhecidas o nosso trabalho, do
que agora(…) conheciam-me melhor(…) agora é mais uma (…) sabiam o nosso
nome reconheciam o nosso trabalho(…) com o processo de informática(…)
passamos muito tempo ao computador(…)”(E3).
“(…)método de trabalho utilizado, em termos de registos que é muito complicado,
em termos de entradas, em termos de altas(…) em termos de registos tem que estar
efetuados(…)”(E3).
“(…) a falta de tempo o que nos exigem e as burocracias são enormes, o plano a
nossa escrita(…) no computador (…)”(E6).
Sabemos que também a falta de tempo se deve em parte à carga de trabalho que o
enfermeiro enfrenta no seu dia-a-dia. E com a introdução da informática no campo da
saúde proporcionou e continua a proporcionar muitos progressos tecnológicos, porém, é
importante ressaltar que estes não substituem os cuidados humanos.
Não podemos esquecer que a classe de enfermagem tem, ao longo dos tempos
reclamado por uma maior independência no exercício das suas funções, pelo que a
execução de registos de enfermagem, são uma parte integrante na prestação de
cuidados, um marco histórico adquirido em prol do bem-estar do doente e da qualidade
dos cuidados prestados. São pois os registos de enfermagem o testemunho que perdura
no tempo, são uma forma de comunicar numa equipa, é o meio de individualização dos
cuidados prestados aos utentes, mas são também eles que facultam proteção legal e dão
visibilidade aos cuidados prestados pelos enfermeiros.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
122
Por estes motivos a evolução dos registos é real. Hoje promove-se a qualidade destes, só
que a sua existência é uma generalidade praticamente concomitante ao ato de
enfermagem, se existem foi um facto conquistado ao longo de décadas.
Assim sendo, a importância dos registos adquiriu uma preocupação real para os
enfermeiros pois estes têm de obedecer a certas regras para que se tornem válidos.
Partindo de que a elaboração dos registos encontra-se legislada no decreto de lei N.º
437/91 que regulamenta a carreira de enfermagem, no decreto de lei N.º162/96 que
constitui o Regulamento do Exercício Profissional dos Enfermeiros (REPE) e no
decreto de lei N.º104/98 (Ordem dos Enfermeiros). Tendo assim a elaboração dos
registos, enquadramento legal contemplado na lei portuguesa. Esses registos que se
iniciaram manualmente e que hoje com a evolução dos tempos foram sendo
introduzidos informaticamente no campo da saúde, proporcionaram e continua a
proporcionar muitos progressos tecnológicos, porém, é importante ressaltar que estes
não substituem os cuidados humanos.
Referimos pois que introdução do computador no trabalho do enfermeiro só faz sentido
se o binómio tempo e informação forem otimizados. O computador não deve de modo
algum representar mais um arranjo, uma ocupação, que o afaste dos doentes. Mas
parece pela declaração significativa abaixo descrita ela nos transmite algo que parece
estar a acontecer.
“Além da falta de tempo que temos para estarmos com o doente e família os
cuidados realizados a “correr “vira-se o doente e volta-se a vem-se para o
computador (…)”(E6).
No entanto e de modo algum o enfermeiro pode ignorar a necessidade de
informatização dos seus processos de trabalho, sobre o modo de aqueles diminuírem a
complexidade para que possa dispor de mais tempo para ações ajustadas à sua formação
técnico-científica.
No entanto, as opiniões e os estudos são muito controversos quanto ao benefício ou não
do uso do sistema informatizado na enfermagem.
Évora (1998) referencia que o maior benefício na utilização dos sistemas
computacionais mencionados está relacionado com a distribuição do tempo, pois traz
como consequência maior disponibilidade para a atenção direta ao paciente. Mas no
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
123
entanto no estudo encontramos um depoimento que nos traduz o contrário com
podemos constatar.
“ (…) a informatização (…) vem de certa forma retirar horas para podermos
cuidar dos doentes(…)”(E6).
Pelo que e na perspetiva de outros autores tal como Guimarães et al. (1989), se fala que
ainda existe muita discussão com respeito à possibilidade de desumanização da
assistência de enfermagem devido à introdução de serviços informatizados.
Porém, outros autores mencionam o fato, como um meio facilitador e de apoio, pois
permite a reintegração do enfermeiro com suas reais funções, favorecendo seu
desempenho na assistência técnica e humanizada junto ao paciente.
Voltando ao estudo pareceu-nos que o uso do sistema informático poderá eventualmente
comprometer os cuidados de enfermagem, no que diz respeito à relação inter pessoal,
enfermeiro/doente/família no contexto de um doente em fim de vida.
Podemos verificar através de uma declaração significativa de um participante quanto o
sistema informático é uma prioridade no cuidar, o que não me parece ser aceitável, o
enfermeiro após ter adquirido tantas conquistas e uma maior autonomia/maior liberdade
de ação, que com a chegada do computador venha a perder essas vantagens, ao ter que
deixar para um segundo plano a sua função maior que é o cuidado.
“(…) temos que saber usar os instrumentos(…) mete-nos ali umas intervenções
mas ditas chaves, que nós somos obrigadas a cumprir se não cumpro tenho não
conformidade, estão e o doente (…) devia ser o centro(…) neste momento está de
lado(…)”(E6).
Igualmente Santos (2009) na sua tese referencia que a vida humana, o bem-estar, a
qualidade de vida dos doentes ficam para um segundo plano, por outras palavras,
sobrando algum tempo liberta-se o enfermeiro para “olhar” os seus doentes.
Ainda o mesmo autor fala-nos que os enfermeiros passaram a assumir funções
administrativas, com base na teoria clássica de administração, afastando-o do seu
doente. O enfermeiro ao ocupar-se com atividades relacionada com a operacionalização
da técnica/administrativa da unidade de internamento, resta-lhe pouco tempo para se
preocupar com os cuidados diretos ao doente. Ocorrem num contexto de pressa, de falta
de tempo, da escassez de pessoal, trabalhando em situações de stress, regista mal os
cuidados que presta ao doente.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
124
Reportando-se a esta problemática, Filho (1997, p.66), salienta:
“(…), a maior parte do que é dito e feito pela enfermagem fica fora de qualquer documentação
escrita e, dessa forma, no esquecimento, pois informação que não é registada é informação
que ,seguramente será perdida e, sendo perdida, não será contabilizada; não podendo ser
contabilizada, mais dificilmente será reconhecida. Esta aspeto demonstra a negligência da
enfermagem para com a sua própria prática, pela constatação da insuficiente documentação
ou registos das experiências ocorridas no decorre da jornada de trabalho”.
Terminada a análise deste tema, sentimentos extrínsecos do profissional, revelados
pelos participantes, iremos focalizarmo-nos noutro não menos importante que
passaremos em seguida a abordar.
2.5-SENTIMENTOS MARCANTES INTRÍNSECOS DO PROFISSIONAL
Todos temos a noção de que as vivências são importantes ao longo da vida e que
influenciam constantemente os comportamentos. De fato, quando os enfermeiros são
confrontados com a morte, na sua vida profissional, é inevitável ficarem alheios a esta
problemática, pois antes de profissionais, também são pessoas.
Tal como Moura (2011) no seu livro verbaliza que a morte é por nós experimentada
sempre numa grande angústia e uma grande dificuldade em ajudar o doente a morrer
(…) este experimenta um processo psicológico carregado de dramatismo.
Perante este fato, não se deve deixar de investir na racionalidade pois o mundo de
sentimentos é imprevisível e vulnerável. É importante tomar consciência das emoções
para que possam ser geridas, caso contrário pode surgir o risco de agir apenas
emocionalmente, sem intervenção da razão, o que pode levar a comportamentos menos
adequados às situações.
O diagrama 13 mostra-nos os sentimentos verbalizados pelos participantes nestes
momentos difíceis que é a morte de alguém.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
125
Diagrama 13- Sentimentos marcantes intrínsecos do profissional
Fonte: Desenhado pelo autor
Muito já foi referido neste estudo, certo é que o enfermeiro ao ver o sofrimento do
outro, perante a morte, também sofre, e para poder garantir o máximo de qualidade de
vida a pessoa em fim de vida deve saber o seu agir perante o momento da morte. Daí
que a capacidade de pensar, refletir sobre as situações vividas nos cuidados, ter
consciência do sentir, e do agir é uma competência de gestão emocional. Tal como os
profissionais de enfermagem ainda se sentem muito inseguros em lidar com a morte, já
que na sua formação académica, só os ensina para o dever de cuidar e curar, e não os
preparam para atuar frente a morte da pessoa, dificultando assim todo processo, vivido
pelo próprio. Já Saraiva (2009) fala que os profissionais de enfermagem se confrontam
com a morte nos seus contextos de trabalho, necessitando de adquirir conhecimentos e
desenvolver capacidades e competências de forma a encarar e gerir a morte do outro que
nos é semelhante. Segundo Sanches (2007), há uma dificuldade muito grande em lidar
com a morte, como um processo natural do viver, e com isso os profissionais acabam
por entrar em desespero adotando mecanismos de defesa como aqueles que são
referidos na página 46 do nosso estudo. Comecemos então por abordar não um
Sentimentos marcantes intrínsecos
do profissional
Medo/ angústia/ Dificuldade em aceitar a morte
O momento da morte e a
despedida da família
Dificuldade na aceitação da
morte na idade jovem
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
126
mecanismo de defesa mas sim, um dos sentimentos revelados pelos participantes que
leva a tais mecanismos.
Medo/ Angústia/Dificuldade em aceitar a morte
O medo e a angústia foram os sentimentos mais marcantes que recolhemos da análise da
informação no que diz respeito às vivências dos participantes. Para Santos (2009) a
morte é uma parte da vida, na qual os seres humanos ainda não têm preparo suficiente
de encará-la com algo natural. Como se pode mostrar pela declaração de um
participante quando este verbaliza:
“Ainda hoje depois de muita experiência e situações tenho dificuldade em lidar
com a morte porque continuo a achar que não morremos mas sim acontece uma
transformação”(E6).
Numa outra perspectiva e segundo Mercadier (2004), o ficar junto de quem morre é de
tal modo difícil, que os prestadores de cuidados preferem não assistir à morte de
alguém. Fato que se pode rever nas declarações abaixo.
“(…) uma forma de fugir(…) tentar resolver facilmente, propondo rapidamente
para cuidados paliativos, não sei até que ponto poderíamos reunir condições para
manter junto de nós o doente até aos seus últimos dias”(E3).
“(…)nem sempre nós nos sentimos confortáveis naquela posição e termos a
capacidade de lhe dar o apoio e o conforto(…) fugimos um bocadinho (…)
interfere com muitos sentimentos (…). Quem tem dificuldade em aceitar a morte
também tem alguma dificuldade em cuidar do doente que está a morrer (…)”(E5).
“Sim sim foge-se um bocado não sei quais os motivos que levam a fugir ainda não
avaliei bem esse aspeto(…)”(E6).
Tendo em conta a fuga dos profissionais encontramos um participante que nos confirma
a fuga mas ao mesmo tempo realça algo de positivo.
“No que respeita ao doente temos um bom relacionamento, mesmo a malta jovem
que acaba hoje o curso trás uma maneiras até choram sem querer e fogem”(E6).
É sem sombra de dúvida o enfermeiro aquele profissional de saúde que mais é afetado
com, sentidas e profundas dificuldades que se prendem sobretudo com o défice de
preparação para lidar com estas situações. É importante que os enfermeiros tenham
consciência dos seus limites inerentes à prestação de cuidados, que nem sempre têm
meios para alterar a situação da pessoa e que isso não coloca em causa as suas
capacidades enquanto profissional. Assim é fundamental que os enfermeiros tenham a
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
127
perceção que os cuidados prestados foram os que estavam ao seu alcance, para
conseguirem manter o seu equilíbrio emocional, algo que podemos constatar nas
declarações significativas, onde o participante na primeira transcrição teve muita
dificuldade em dar resposta à pessoa mas, que no seu entender foi até aos seus limites
pelo que acha ter cumprido o seu papel como pessoa humana. No segundo o
participante conclui que a sua presença foi bastante positiva.
“Um doente que me pede ajuda e eu não consegui aproximar-me dele, ele a dizer-
me que ia morrer (…) estive muito doente assustou-me muito (…) o sr. olhava-me
nos olhos eu tive medo, a pedir socorro chegou ao fim e eu não consegui(…),
penso que fiz o meu papel como pessoa humana fui até ao fim dos meus
limites”(E6).
“(…) acompanhei de perto a situação (…) quando elas estavam mesmo nos últimos
minutos estive junto da filha e marcou-me bastante (…) e o fato de eu ter lá ficado
junto delas foi bom(…)”(E3).
Esta última declaração vem abrir-nos caminho para o subtema seguinte, a vivência da
morte e a despedida da família.
O momento da morte e a despedida da família
O profissional como já foi anteriormente referido, antes de ser enfermeiro é pessoa que
retém com ele, sentimentos emoções. Vivências, que por vezes não consegue ultrapassar
determinados obstáculos, mesmo por muita preparação que tenha. Como sabemos e
todos temos consciência disso que a morte até hoje nunca deixou ninguém indiferente,
pelo que são momentos difíceis que levam a cada um de nós a pensar, acerca dos nossos
procedimentos algo que deveria ser partilhado em equipa. Se a morte é algo de difícil de
partilhar, quando a família se encontra presente mais difícil se torna para o profissional
que cuida, ele tem que cuidar daquele que está a morrer e daquele que se encontra a
sofrer, algo muito mais complexo e de difícil posição. São sentimentos que levam
muitas vezes o profissional a apresentar uma postura neutra mas com alguma
sensibilidade evitando extravasar os seus sentimentos para não aumentar o sofrimento
daqueles que ali se encontram. O estudo também revelou umas dessas situações.
“(…) acompanhei de perto a situação e estive presente (…)nos últimos minutos
estive junto a ela junto da filha e marcou-me bastante(…) é complicado a gente
acaba também por passar para o lado das filhas(…) somos filhas somos mães,
acabamos por vivenciar e pensar, poderia ser a minha mãe, poderia ser eu que
estava no lugar dela(…)”(E3).
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
128
Numa outra perspetiva onde a despedida da vida e a partida para a morte se conclui com
a chegada do familiar, onde é “arrepiante” tal situação tal como foram expressas nas
declarações abaixo descritas.
“(…) capazes de verbalizar que está próximo do fim(…) que muitas vezes estão à
espera de alguém(…) querem a presença do padre ou familiar ou de alguém que
lhe seja próximo(…)”(E5).
“(…)ele estava prestes a morrer por todo o conjunto de situação e estava a
aguardar que o filho viesse e foi só quando o filho veio que ele, despediu-se e
morreu de uma forma pacifica(…)”(E5).
“(…) o doente dizer que é o ultimo dia de vida (…) alguns deles se despedem,
programam ou parecem que programa ou planeiam (…) querem-se
despedir(…)”(E2).
“ Estou-me a lembrar das minhas experiências mais significativas, e uma delas foi
recentemente, foi depois de verem um familiar, despediram-se desencadearam um
ultimo momento de crise e morreram.”(E2).
“(…) os doentes estão sempre à espera da família para se despedirem, que é uma
coisa que eu noto despedimento aqui no elo de ligação entre pai e filho, mãe e
irmã ,tudo tem um elo de ligação que profundamente me choca e isso meche muito
comigo(…)”(E6).
Qualquer seja a idade a morte na nossa cultura é encarada com uma situação negativa,
penosa, triste, que aos pouco se vai interiorizando e percebendo que é inevitável. No
entanto quando a morte acontece em idade mais jovem os profissionais de saúde sentem
um acréscimo de dificuldade na sua aceitação o que emergiu da nossa análise e que
passamos a descrever.
Dificuldade na aceitação da morte na idade jovem (pessoas dos 30- 65 anos)
A morte é um evento bastante presente no quotidiano dos enfermeiros como temos
vindo a constatar pelos vários depoimentos descritos, no entanto, observa-se certa
dificuldade dos profissionias, não apenas em aceitar a morte numa perspetiva natural
mas sobretudo quando ela acontece nas idades mais jovens como se constata no estudo
onde o subtema seguinte vem retratar a dificuldade na aceitação da morte na idade
jovem.
“Alguns mais jovens, tenho mais dificuldade em aceitar (…)”(E2).
“(…) foi uma situação muito rápida(…) era uma doente nova(…)tinha uns filhos
com 20 e poucos anos, foi assim uma situação, que embora soubessem o que a mãe
tinha não estava a pensar que fosse uma situação tão rápida isto foi difícil para
mim lidar com esta situação visto eles serem tão novos e a Sra. também” (E8).
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
129
É algo que a própria literatura confirma quando, Zorzo (2004) referencia que os
profissionais de enfermagem estão necessitando de suporte emocional e educacional
para lidarem com a morte de forma mais harmoniosa e assistirem às reais necessidades
principalmente nos que diz respeito a pessoas mais jovens que estão em iminência de
morte, pois isso sensibiliza mais os profissionais de enfermagem.
Terminamos aqui o penúltimo tema onde foi retratado os sentimentos intrínsecos
marcantes dos participantes do estudo onde a morte é de difícil aceitação por parte dos
mesmos onde as vivências são marcantes e diárias, onde a morte jovem é marcante. Mas
o fato de a morte ser algo de difícil “manuseamento” não deixa de ser algo muito
importante mas sim bastante relevante para que, os profissionais de saúde melhorem a
sua postura, para uma melhor humanização dos seus cuidados tal como vamos ver no
subcapítulo seguinte.
2.6-MELHORAR A HUMANIZAÇÃO DOS CUIDADOS AO DOENTE/FAMÍLIA
Falar de humanização nos cuidados de saúde é referir-se a uma relação humana capaz
em toda a prestação de cuidados, sendo uma exigência necessária para quem cuida de
pessoas (Rodrigues, 2003). É necessário um verdadeiro ambiente humano e
humanizante que passa pela capacidade de estabelecer relações com os colegas, com os
profissionais de saúde e com o doente/família.
O último tema encontrado emergiu da existência de uma pergunta aberta cujo principal
objetivo foi dar oportunidade a cada participante de exprimir os seus sentimentos,
opiniões, sugestões de melhoria, algo que pudesse contribuir para a melhoria da
qualidade de cuidados, a todos os doentes/família em fim de vida. Pelo que sintetizámos
no seguinte diagrama 14 os contributos expressos os quais evidenciam a sua
preocupação na procura permanente da excelência do cuidar.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
130
Diagrama 14- Melhorar a humanização dos cuidados ao doente/família
Fonte: Desenhado pelo autor
Num primeiro tema emergiu a necessidade de aquisição de formação específica na área
por parte de todos os participantes.
Formação (cuidados paliativos)
Cuidar em fim de vida é um dos aspetos que mais preocupa os profissionais de
enfermagem. Lidar com a morte e ajudar a morrer, exige competências aos mais
variados níveis técnicos bem preparados e conscientes da necessidade desta preparação.
A morte desencadeia emoções, como sejam medo, frustração e ansiedade o que dificulta
o atendimento das necessidades destas pessoas, consequentemente, a construção do
cuidado de enfermagem. Pelo que é de extrema importância formar os profissionais de
saúde para dar resposta a esses doentes/família. Cuidar do outro em fim de vida merece
um aprofundamento de conhecimentos, bem como uma preparação com base no
desenvolvimento pessoal do ser humano. Também este estudo não fugiu à regra pelo
que a informação recolhida, revela a preocupação dos participantes em adquirirem
formação para poderem cuidar, com melhor qualidade os seus doentes/família em fim
de vida, como se pode constatar pelas declarações significativas.
Melhorar a humanização
dos cuidados ao doente/família
Formação (Cuidados Paliativos)
Melhorar as condições
físicas
Articulação do trabalho em
equipa multidisciplinar
Melhorar a organização
dos recursos humanos
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
131
“Havia de haver enfermeiros mais vocacionados para esta área ou que as pessoas
investissem um pouco na formação (…) para poderem acompanhar melhor
(…)”(E1).
“(…) formação era benéfico fazermos mais(…) formação mais uniforme em que
todas pudéssemos responder ao doente da mesma forma(…)”(E2).
“(…) houvesse mais formação se partisse de um ou dois elementos da equipa até ir
fazer formação ao exterior e depois dar formação no serviço(…)de forma a
estarmos ainda mais preparadas para lidarmos com estas situações que são muito
difíceis(…)”(E4).
“(…)é uma área que precisava de ser mais trabalhada(…) por falta de formação
por falta de estarmos mais atentos a estas situações(…)”(E4).
“(…) se calhar nós temos que nos empenhar mais neste assunto. Sugiro formações
sobre cuidados paliativos”(E8).
Estudos realizados vêm fundamentar a opinião destes participantes, tal como referencia
Magalhães (2009), um estudo que foi feito na América que evidenciou uma
considerável inadequação na formação de enfermeiros sobre cuidar em fim de vida,
demonstrando a necessidade destes profissionais em formação básica adquirir
conhecimentos específicos para cuidar estes doentes. Também Frias (2001) no seu
estudo faz referência que no dia-a-dia da prática profissional os enfermeiros
confrontam-se com o fim de vida das pessoas que cuidam e vão tomando consciência
que o modelo de formação o qual foram preparados não dá resposta às necessidades
interpessoais. Ainda Sapeta (2011) menciona que o detentor de maior formação em
cuidados paliativos, os ajudou a diminuir as dificuldades, a introduzir mudanças
importantes na orientação dos cuidados e sentem-se mais seguros. Muitos reconhecem
que a formação ao longo da vida e a experiência acumulada os ajudou a encontrar outro
sentido e outra filosofia de vida, hierarquizando os seus valores pessoais de modo
distinto.
Outro dos subtemas que emergiram da pergunta aberta foi, articulação do trabalho em
equipa multidisciplinar com algo de importante para humanizar os cuidados.
Testemunho que passaremos a desenvolver seguidamente.
Articulação do trabalho em equipa multidisciplinar
O subtema emergido foi a articulação do trabalho em equipa sugerido pelos
participantes para melhorar a humanização dos cuidados a prestar a esses
doentes/família, assim e pelas declarações significativas, que o trabalho em equipa é
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
132
uma “lacuna” na prestação de cuidados à pessoa em fim de vida, mais uma vez o
enfermeiro se sente o único profissional com a necessidade do doente entre mãos,
fazendo o que lhe é possível e tentando debelar a ansiedade daquele que precisa de
ajuda especializada. Tal como a relação médico/enfermeiro por vezes se torna escassa.
Mesmo no seio da equipa de enfermagem por vezes o trabalho em equipa não se
encontra bem definido, parece haver falta de sincronização e uma comunicação ineficaz,
como comprovam as declarações significativas abaixo.
“(…) penso que a nossa relação como equipa não é boa devíamo-nos aceitar
melhor (…) muitas das vezes não conseguimos partilhar(…) é que através de
pequenas partilhas vamos deixando um conhecimento(…) e só assim é que a gente
vai conseguir melhorar”(E2).
“(…) mesmo em relação entre equipa também fosse muito importante nós
melhorarmos a relação entre profissionais(…) quando pedimos apoio a um médico
ele não se afastar, e também nós próprias definirmos estas situações(…)”(E3).
“(…) não é muito fácil nós falarmos nestas questões, temos muitas dificuldades em
falar por vezes partilhamos as nossas vivências com alguns colegas mas não
conseguimos abertura para a equipa toda(…) cada vivência do enfermeiro é uma
vivência única(…)”(E2).
É bom lembrar o que Sapeta (2011), menciona, em que os cuidados ao doente em fim
de vida devem resultar sempre do trabalho de uma equipa multidisciplinar, sua atividade
deve acontecer de modo interdisciplinar, isto é, de complementaridade nas funções e
competências de cada um. Todos são essenciais e necessárias na satisfação das
necessidades do doente e família, numa abordagem holística.
“(…) raramente conseguimos ter acesso à informação que o médico deu à família,
que é uma grande falha.(…) não temos esse feed- back não sei até que ponto não
poderíamos estar presente quando o médico fala com a família(…)”(E3).
“Penso é que nos falta muitas vezes a nível da equipa multidisciplinar não é tanto
a nível da equipa de enfermagem (…) falta aqui a parte médica havia de haver
reuniões com os médicos (…) falta muito e também a família estar presente. Ou
seja a presença de equipa multidisciplinar”(E7).
Depois de referirmos a necessidade de formação, e de melhorar o trabalho em equipa no
sentido de humanizar os cuidados, iremos abordar um outro subtema que nos ajuda a
atingir tal objetivo, o qual trata, da organização dos recursos Humanos.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
133
Melhorar a organização dos recursos humanos
Neste subtema os participantes referem que, melhorar a organização dos recursos
humanos seria uma mais-valia para podermos cuidar destes doentes/família de uma
forma mais humanizada. Não só um maior número de enfermeiros mas sim uma melhor
gestão na distribuição desses enfermeiros aquando dos cuidados muitos específicos ao
doente/família em fim de vida. Esta visibilidade é comprovada pelas declarações
significativas.
“(…) quando nós detetássemos que existia uma situação vivida e que carecia de
mais tempo aquele enfermeiro ficava com menos doentes distribuídos de forma
prestar todo o apoio”(E4).
“Penso é que quando temos um doente em fase terminal devíamos nos organizar
para que a distribuição de doentes permitisse uma maior disponibilidade da
enfermeira que fique com o doente”(E6).
“(…) não devíamos ficar com outros doentes. São momentos em que a pessoa deve
estar calma ter disponibilidade (…)”(E7).
A restruturação do Centro Hospitalar, gera incertezas de segurança profissional e a crise
financeira do país dificulta a admissão de pessoal de enfermagem, havendo curtos
períodos em que o absentismo afeta a disponibilidade de recursos e aumenta a
sobrecarga de trabalho, o que poderá justificar a declaração significativa que se segue.
“(…) pelo que temos vindo a constatar, a diminuir o numero de enfermeiros na
prestação de cuidados cada vez vai ser mais difícil de prestar cuidados adequados
às necessidades daqueles doentes”(E5).
E porque estamos a chegar ao términus da nossa análise não poderíamos de descurar
este último subtema que nos parece também ser de grande importância para a
humanização dos cuidados, onde as condições físicas podem influenciar o cuidar em
fim de vida como já anteriormente foi referido.
Melhorar as condições físicas
Tendo sempre presente a humanização dos cuidados, algo que os participantes
evidenciaram ao longo da informação, pelo que, também o espaço físico foi considerado
como condicionante para a humanização desses mesmos cuidados. Sendo
salientado/apontado como fator para melhorar a humanização desse cuidados, sabemos
pois, que o meio físico em que são prestados cuidados ao doente em fim de vida é um
fator importante para a qualidade destes cuidados. Na realidade portuguesa a maioria
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
134
destes doentes estão no hospital de agudos tal acontece no estudo, onde a estrutura física
é desenvolvida para dar resposta unicamente a situações onde o internamento se
pretende curto, com horários rígidos e limitação do número de visitas. O enfermeiro tem
que gerir este espaço para que o cuidado a estes doentes seja personalizado, mas de
acordo com o espaço físico e regras institucionais, algo que se passa também neste
estudo pelo que podemos verificar com as declarações significativas dos participantes.
“(…)o maior erro é a estrutura física, não podemos proporcionar um ambiente
calmo nos últimos dias, a presença da família”(E3).
“(…) não temos um quarto privado que possibilite privacidade à família no
momento do luto, dispor de alguma forma das pessoas auto estimularem-se e nós
próprias fomentarmos essas estimulações(…)”(E2).
“(…) seria importante que houvesse uma sala própria como eu já referi para
prestar esse apoio ao utente e família, para eu o utente estivesse mais recatado se
assim o desejasse(…)”(E4).
“(…) realçando a nossa boa prestação de cuidados mas não posso de salientar a
falta de estrutura física, como um quarto onde o doente possa ter a sua família
junto com privacidade e intimidade, nós damos o conforto ao doente mas em
termos arquitetónicos não temos conforto para o doente.(…) acrescento que nos
falta tudo apenas temos boas enfermeiras de resto não temos nada para o doente
poder morrer com uma morte digna”(E6).
Igualmente Coutinho (2005) salienta a importância das condições físicas e
organizacionais para permitir uma prestação de cuidados humanizados tendo em vista a
excelência. Também o estudo revela por parte dos participantes a importância das
condições físicas para uma melhoria de cuidados proporcionando à pessoa e família
uma morte mais digna ou seja uma morte acompanhada pela família, pelo que morrer
sozinho é sem sombra de dúvida em ato de desumanização por parte dos profissionais
de saúde. A declaração abaixo vem demonstrar que há uma inquietação a este nível,
para que tal não aconteça.
“Eu acho que estes doentes deviam estar sozinhos num espaço, em que pudessem
estar com a família (…) não abandonados (…) haver um local especifico para
estes doentes”(E8).
Também Pinto (1996), refere que a humanização dos espaços gere um ambiente não
apenas limpo, mas agradável para facilitar uma atitude positiva, quer no doente que
espera, quer no profissional que serve, no entanto o espaço físico apropriado no campo
de estudo parece não existir mas, existem por parte dos participantes um esforço no
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
135
sentido de mesmo assim proporcionar melhorias como podemos constatar quando um
dos participantes exprime referindo.
“(…) só quando há um quarto de isolamento livre a gente aproveita de resto é
mais difícil”(E8).
Ao chegarmos ao términus da análise de informação, reconhecemos a complexidade do
estudo e salientamos o difícil papel dos enfermeiros na conciliação de saberes e de
desenvolvimento de competência que lhes permitem dar resposta às necessidades do
doente /família em fim de vida.
Finda a etapa de análise, consideramos pertinente apresentar as conclusões do nosso
estudo.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
PARTE IV – Considerações Finais
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
139
1-CONCLUSÕES
A inquietação sentida em relação à prática de enfermagem com o doente/família em fim
de vida acompanhou este estudo desde a sua fase inicial, e tomando uma forma mais
consciente porque os participantes do estudo nos ajudaram, com o seu precioso
testemunho a enquadrar as diversas óticas desta problemática que nos acompanha
enquanto enfermeiros.
Ao longo da realização deste estudo, foi-nos possível refletir acerca das vivências dos
enfermeiros que cuidam do doente/família em fim de vida, o que os preocupa, o que
valorizam, as suas dificuldades, o significado da doença, as relações familiares, a
“importância” do doente no seio familiar.
As reflexões feitas e mais concretamente as conclusões a que chegámos e que de
seguida apresentaremos, permitem-nos concluir que atingimos os objetivos a que nos
propusemos:
1º Os enfermeiros identificam os doentes em fim de vida com base no diagnóstico e na
informação clínica, com base na sua experiência, na comunicação não verbal e na
falência das funções orgânicas o que está de acordo com as referências bibliográficas
consultadas.
2º Valorizam a importância do apoio afetivo e relacionamento humano na prestação de
cuidados e salientam a importância de minimizar ou erradicar a dor
3º Como estratégias para minimizar o sofrimento e promover o bem-estar, realçam a
gestão terapêutica no alívio da dor, a importância da relação de ajuda e a interação
enfermeiro/família.
4º - Os enfermeiros identificam constrangimentos extrínsecos condicionantes da
prestação de cuidados aos doentes/família em fim de vida e que são:
Estrutura física pouco humanizada
Falta de apoio psicológico
Falta de disponibilidade de tempo
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
140
5º Os sentimentos intrínsecos presentes são consubstanciados na dificuldade em aceitar
a morte, sobretudo a morte prematura, em presenciar o momento da morte e da
despedida da família.
6º Os enfermeiros expressam que os cuidados ao doente família poderiam ser
melhorados se houvesse maior preocupação na sua formação em cuidados paliativos, se
a estrutura física dos serviços proporcionasse um ambiente mais humanizado para as
necessidades do doente/família, se a dotação de recursos humanos se adequasse mais ao
tempo necessário para o apoio presencial que o doente família requer para a preparação
e aceitação da morte e se a equipa de enfermagem e a equipa multidisciplinar se
organizasse melhor em termos da necessidades dos doentes.
O estudo possibilitou compreender, a partir dos dados empíricos que, para aliviar o
sofrimento dos doentes em fase final de vida, os enfermeiros desenvolvem um processo
de acompanhamento específico, integral, dinâmico, sistemático e interativo, que
engloba duas fases distintas, mas simultâneas - uma fase em que identificam e avaliam o
sofrimento do doente e outra fase, na qual, o ajudam a viver com o menor sofrimento e
o maior bem-estar possíveis os últimos dias de vida, bem como o ajudam a morrer, de
forma serena e digna. Ao longo destas duas fases os enfermeiros desenvolvem
atividades de avaliação, de relação, de suporte, de informação e de execução. Neste
processo de acompanhamento, o enfermeiro o doente e a família envolvem-se numa
relação profunda em que a cooperação, a concretização de objetivos comuns, a partilha
de emoções, de afetos e de experiências de vida contribui para que ambos se
desenvolvam e se transformem, tornando-se seres mais próprios e mais aptos a lidar
com o sofrimento e com a morte. A presença inteira do enfermeiro e a relação profunda
estabelecida entre ambos emergem como os principais instrumentos para o alívio do
sofrimento. Momentos esses que muitas das vezes não se tornam possíveis segundo
declarações significativas, por falta de disponibilidade em tempo e recursos humanos.
Partindo do princípio que este acompanhamento exige do enfermeiro competências
científicas, técnicas, humanas e relacionais, a experiência de muitos anos e o contacto
diário com o sofrimento e a morte de doentes em final de vida parecem contribuir
fortemente para o desenvolvimento dessas competências.
Os enfermeiros participantes reconhecem a sua vivência emocional, tais como a
angústia, que pode ajudá-los a modificar a sua forma de agir; o medo experienciado
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
141
durante o cuidar, que constitui uma reação emocional que está associada à identificação
com a prática de cuidados; a ansiedade que está presente durante o cuidar; e a
dificuldade em aceitar a morte particularmente quando é uma morte mais jovem.
No entanto, este processo de acompanhamento de enfermagem apresenta-se nesta
unidade como algo complexo e difícil, não só pela natureza dos cuidados, mas por uma
série de condicionalismos alguns dos quais já anteriormente referidos, que dificultam o
trabalho do enfermeiro e que o impedem, por vezes, de um cuidado ao doente mais
global e eficaz.
Os participantes verbalizaram neste estudo a necessidade de formação pessoal e em
equipa, e de recursos humanos em número suficiente para fomentar a humanização de
cuidados, falta de disponibilidade em tempo originada segundo os mesmos por
“excesso” de registos, e ainda a não existência de um psicólogo na equipa
multidisciplinar.
Dentro dos recursos institucionais, os enfermeiros participantes consideram relevante
para o “cuidar” a existência de características específicas, no que diz respeito à estrutura
física do serviço. A falta de quartos individuais e a falta de um espaço privado e
humanizado para apoio psicológico foram as principais deficiências referidas.
Ao longo das entrevistas/colheita de informação podemo-nos perceber da importância
de propiciar aos enfermeiros um espaço para entrar em contacto com os sentimentos
evocados pelo quotidiano de dor, perdas, morte e separações. Prevaleceu a impressão de
que, para vários profissionais entrevistados, a entrevista pôde ser um momento único no
sentido de possibilitar o contacto com questões e sentimentos antes não verbalizados.
Ao analisar a informação colhida deparámo-nos com afirmações carregadas de tristeza,
insegurança e falta de apoio por parte daqueles que trabalham com o doente família em
fim de vida.
Cuidar de doentes/família em fim de vida sabemos nós que não é, nem nunca será tarefa
fácil, mas sim, dolorosa, angustiante, fazendo emergir questões existenciais do ser
humano, justifica-se a necessidade de um trabalho de equipa mais coeso e dinâmico que
proporcione aos seus elementos um suporte efetivo no trabalho e uma aprendizagem
constante, fundamentada e sólida, o que foi confirmado pelos participantes.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
142
O enfermeiro tem um papel socialmente reconhecido que gera expetativas e
responsabilidades, mas é também uma pessoa, um ser com sentimentos e emoções que o
podem trair, nomeadamente se não existir o suporte institucional adequado.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
143
2-CONTRIBUTOS, SUGESTÕES E LIMITAÇÕES
Como é habitual, os resultados de um estudo abrem novos caminhos e levantam novas
interrogações. Assim, gostaríamos de expressar algumas sugestões.
No contexto clínico da pesquisa
Consideramos pertinente implementar ações de sensibilização e formação em serviço
sobre como cuidar do doente/família em fim de vida, com a participação dos vários
elementos da equipa, nomeadamente enfermeiros e assistentes operacionais. Assim
como momentos formais regulares e devidamente planeados, onde o profissional de
saúde pudesse comunicar e analisar o que sente, partilhar as suas angústias, mágoas e
receios. Outra ainda, e dentro do mesmo âmbito que me parece fulcral prende-se com a
importância da implementação de reuniões periódicas no seio das equipas, onde a
discussão de situações reais e a partilha de experiências poderiam beneficiar os
profissionais envolvidos e a prestação de cuidados ao doente internado e à família.
Para podermos cuidar com qualidade, não necessitamos apenas de termos um currículo
de grande qualificação, nem sermos intitulados de bons profissionais, é necessário e
primordial a existência e gestão de recursos humanos suficientes, pelo que através do
nosso estudo sugerimos nomeadamente uma melhor gestão na distribuição diária/turno
dos doentes por enfermeiros, ou seja a distribuição se faça de acordo com as
necessidades dos doentes/família e não com o rácio de doente/enfermeiro e muitas das
vezes não olhar ao número de horas de cuidados que a classificação nos apresenta mais
sim olhar ao doente, aquela família, às necessidades existências no momento. Isto é
olhar o doente/família num seu todo e não às horas que estão registadas no papel. As
horas muitas vezes não traduzem as necessidades do doente/família, são situações muito
subjetivas ocasionadas no momento, onde tem que haver perspicácia e bom senso do
enfermeiro que gere os recursos humanos mas também da restante equipa.
Dando continuidade às nossas sugestões e ainda dentro do âmbito dos cuidados porque
para haver bons cuidados não é só necessário haver bons profissionais mas a estrutura
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
144
física do serviço também é essencial para a humanização desses mesmos cuidados, daí
que no serviço onde foi desenrolado o estudo também é sugerido por nós alguns
melhoramentos no que diz respeito à privacidade do doente/família. Existência de uma
sala com uma mesa redonda onde os enfermeiros pudessem falar com a família num
ambiente mais íntimo e seguro, onde a aproximação fosse feita numa perspetiva mais
humanizada evitando que a inter relação família/enfermeiro se desenrola-se no corredor,
como podemos comprovar nas declarações significativas.
Também a existência de quartos individuais para este fim, onde a privacidade passasse a
existir.
No contexto da vertente formativa
Em relação à formação pré-graduada (licenciatura em enfermagem) esta deveria ser
mais aprofundada quer a nível de cuidados aos doentes, apoio à família, e estratégias de
conforto em fim de vida, pois como podemos constatar pelos estudos, os participantes
revelam que quando iniciam o seu percurso profissional deparam-se com inúmeras
dificuldades em cuidar destes doentes/família em fim de vida. As escolas deveriam dar
alguns contributos mais específicos nesta área.
No contexto da investigação
Consideramos que a combinação da entrevista com a observação em contexto da prática
clínica, de modo a observar o agir quotidiano dos enfermeiros, quando cuidam da
pessoa/família em fim de vida, pode descrever melhor o mundo de significados e
interpretações dos mesmos e, consequentemente, permitir um conhecimento mais
aprofundado, pelo que seria importante a sua inclusão em estudos futuros.
Pensamos que seria relevante o envolvimento de outros participantes, nomeadamente o
doente e a família, pois consideramos que a sua inclusão no estudo tornaria mais rica a
investigação possibilitando ainda fazer um cruzamento da informação.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
145
No contexto do aperfeiçoamento
Entendemos que para cuidar da pessoa/família em fim de vida, os serviços devem estar
dotados de recursos humanos adequados, pelo que sugerimos uma atenção especial por
parte das entidades responsáveis por esta área. Daí nos parecer oportuno sugerir que este
estudo seja facultado à administração do hospital, de forma a torná-lo acessível a quem
se preocupa com a satisfação dos profissionais na área dos cuidados em fim de vida e na
melhoria constante destes cuidados.
A satisfação do doente e da família será sempre a recompensa de todos os trabalhos de
investigação realizados pelos profissionais que convivem diariamente com a doença, a
dor, o sofrimento, a morte e a perda.
Para terminar, gostaríamos de formular mais uma sugestão, com a humilde pretensão,
de que este estudo possa servir de ponto de partida para outros estudos, e se possível,
realizados em parceria.
Considerando a possibilidade de este estudo se encontrar limitado pela falta de
experiência do investigador quer na realização e condução das entrevistas, como na
análise propriamente dita.
Morte em Contexto Hospitalar: Vivências dos Enfermeiros
147
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APÊNDICES
APÊNDICE I
Compilação da análise da informação traduzida nos
temas, subtemas com os respetivos exemplos de
declarações significativas
Tema Subtema Declarações significativas E
stru
tura
Ess
enci
al:
Fim
de
vid
a:
Per
ceçã
o e
viv
ênci
a d
e q
uem
cu
ida
Rec
onh
ecim
ento
Hum
ano
de
fim
de
vid
a
Diagnóstico/
informação clinica
“Pelos dados do processo do doente e normalmente pela
informação que o médico dá” (E3)
“ O médico costuma informar que o doente está em fase
terminal (…) não é para investir (…) para manter só níveis
de conforto (…)”(E3).
“Através do diagnóstico que vem descrito no diário clinico,
ou por informação colhida por exames, alguma informação
transmitida pelos profissionais de saúde, médicos,
enfermeiros e pelo estado geral do utente, dá-nos também
uma ideia”(E4).
Diminuição/falênci
a das funções
orgânicas
“(…) essencialmente pelo estado geral do doente,(…)muitas
vezes já em estado comatoso ou asténico,(…),já em falência
á resposta terapêutica, (…)os exames (…)também se vê e se
sabe interpretar alguns,(...) Tac ,a monitorização cardíaca,
saturações, pressões arteriais, frequências cardíacas,
traçados(…)” (E1).
“A avaliação é feita em termos objetivos, sinais vitais,(…) o
estado nutricional, a nível de sintomas que o doente já possa
trazer, o fáceis e até em termos de terapêutica, associar até
o estado geral do doente (…),decorrente de tratamentos que
o utente tem vindo a ser submetido,, como o quimioterapia a
radioterapia(…)”(E4).
Experiência
profissional
“(…) sim a experiência, tem-me vindo a dar mais
sensibilidade e a perceber melhor o estadio do
doente(…)”(E2)
“(…) e também pela experiência que vamos tendo ao longo
dos anos, no inicio da carreira temos mais dificuldade em
perceber e até mesmo em termos de noção e perspicácia(…)
com o decorrer dos anos podemos até (…) percebermos o
estádio da doença”.(E4)
“È o reflexo que vamos tendo ao longo dos anos de trabalho
(…) tem a haver com a experiência profissional que temos
com o doente no dia a dia e não logo quando iniciamos a
nossa carreira (…) não existe maturidade suficiente não
existe sensibilidade (…)”(E6).
“A experiência é importante ajuda-nos a lidar com as
situações e ao mesmo tempo a evitar que elas nos deixem
tantas marcas porque o sentimento de impotência é muito
grande e se nós já tivermos certa experiência termos lidado
com situações idênticas ajudam-nos também a lidar com a
situação no momento, que era o que não me tinha
acontecida na altura”(E5)
“(…) até a minha experiência faz com que eu queira investir
mais nessa pessoa mas em certa altura conhecendo a doença
que o doente tem, e pequenas coisas que vão acontecendo
percebo(…), tudo isto me tem vindo a ser adquirido ao longo
dos anos pelas vivências/ experiências (…)” (E2)
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verbalização
“(…) é a facto do doente não se sentir desprezado estarmos
próximos deles(…), Dar-lhes apoio estarmos simpáticas,
sorrir é muito importante e se for preciso chorar também se chora, virar a cara não é o ideal”(E2).
“(…) o ambiente mais sossegado com menos ruido com
menos luz, tudo um pouco, podermos fornecer até coisas que
eles gostem, que queiram, sempre que solicitem a nossa
presença a gente estar presente”(E1).
“(…) vai deteriorando a seu estado geral, vai ficando com um fácies mais triste (…) mais revoltados.”(E4)
“(…)avaliação do processo e a avaliação física do utente, a
nível do estado nutricional, a nível de sintomas que o utente
já possa trazer, o fáceis (…).” (E4)
“(…) olhar triste, deprimente, basta um toque e um simples
olhar para nós compreendermos e sabermos (…) não é o
morrer de ausência de sinais vitais é o que a pessoa foi e o
que vai começando a ser ao longo da doença (…).”(E6)
“Ele olhava-me a pedir socorro(…) ficou-me sempre na
memória o olhar desse doente que me olhava nos olhos a
pedir ajuda (…) ainda hoje recordo com angustia.”(E6)
“(…) alguns deles se despedem, e programam ou parecem
que programam ou planeiam que naquele momento querem-
se despedir(…).”(E2)
“(…) outros tentam fazer alguma coisa com a família,
tentam ultimar coisas, alguns objetivos de vida,(…) alguma
coisa que tinham planeado antes de morrer(…) alguns
despedem-se verbalizando mesmo que já conseguiram aquilo
que queriam(…) verem uma visita um filho um irmão(…)
despediram-se desencadearam um ultimo momento de crise
e morreram.”(E2)
“(…) também a informação que o próprio doente nos vai
transmitindo não só o que verbaliza mas as atitudes que vai
demonstrando(…)”(E5)
“(…) os doentes que aceitam e tem noção do final são
capazes de verbalizar que está próximo do fim que se
encontram a piorar, (…) tem algum tipo de desejo
nomeadamente de verem alguém, querer a presença do
padre(…) dizerem e terem a noção que a vida está a chegar
ao fim(…)”(E5).
“(…) eles falam acerca disso, falam-nos que o dia está para
chegar, que não estão preparados para isso dos seus receios
(…) dos objetivos que ainda tem para cumprir, que não
cumpriram, do que fizeram, quais foram as suas vivências,
ai ficamos a saber que a pessoa se está a preparar para
morrer”(E7).
“Pelo fácies do doente (…),às vezes pela própria agonia que
o doente tem” (E8).
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Conforto e
bem estar
“Tento valorizar essencialmente o conforto, a ausência de dor
e o acompanhamento. Procuro sempre que possível que a
família esteja junto do doente.” (E1)
“ Se o doente estiver dispneico tentar também providenciar ou
alertar para que se faça algo para que minimize esse
desconforto(…)”(E1)
“(…) todos os cuidados que envolvam o conforto, se a pessoa
tem calor se a pessoa tem fome. Em termos físicos o conforto,
depois há todos aqueles cuidados em termos sociais e
psicológicos (… ) o doente não se sentir desprezado, estarmos
próximos dele(…)permitir que os doentes tenham as suas
famílias as pessoas significativas a cuidar deles(…)”(E2)
“Valorizo o conforto(…) prestar-lhe os cuidados conforme ele
se sinta bem, e conforme ele se sinta confortável, porque o que
é conforto para mim poderá não ser para ele(…)”(E4).
“(…) é a pessoa sentir-se não é melhor mas menos mal, com
conforto não ter dor, o atuar sobre uma dificuldade
respiratória tentar diminuir-lhe esse sofrimento(…)é a
qualidade da dignidade de ela morrer pelo menos com o
mínimo de desconforto possível”(E5).
“ O conforto e o relacionamento humano, não precisa de mais
nada(…), num estádio de morte em que a olhos nuos se vê que
o doente está a precisar muito de nós mas só a nível de
conforto(…)”(E6).
“ A nível de conforto, e falando dos cuidados de higiene este
tem que ser efetuados com alguma calma com alguma
serenidade, tentarmos planear com ele mesmo não tendo muito
tempo(…) o que acha ou o que é melhor para si (…)”(E7).
“(…) ás vezes o levantar-se para o cadeirão por exemplo,
escolher a fase que ele se sinta melhor, e negociar com ele o
tempo que deve ficar no cadeirão mesmo de forma a ele estar
confortável.”(E4)
“O respeitar quando ele querem ser alimentados, o que eles
querem também, facilidade de lhes dar daquilo que é possível
ou pedir á família quando há possibilidade. A mobilização (…)
doentes que não querem ser mobilizados (…) percecionar o
que eles querem, porque em determinados momentos somos
demasiados autoritários (…) impomos cuidados (…) o doente
pode nem sempre os não aceitar (…) e nós nem sempre
exploramos essa situação (…)”(E2).
“Impomos cuidados, e o doente pode nem sempre os aceitar e
nós não deixamos margem para ele verbalizar(…), que não os
aceita, nós nem sempre exploramos essa situação, se o doente
quer.”(E2)
“(…) essencialmente dar-lhes o conforto na medida que os
doentes querem, e percecionar o que eles querem, porque por
vezes em determinados momentos somos demasiados
autoritários(…)” (E2).
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Apoio afetivo e
relacionamento
Humano
“Eu tive ai doentes lhe não lhe dei senão um ombro
amigo(…)”(E6).
“(…)com a presença também de familiares ,se por
ele for desejado(…) podermos fornecer até coisas
que eles gostem, que queiram, sempre que solicitem a
nossa presença a gente estar presente”(E1).
“(…), Normalmente ofereço tudo o que o hospital
pode dar a uma família, se for possível permanecer
junto do doente durante a noite(…), mostro
disponibilidade e vontade para o familiar ficar perto
do doente (…)”(E6).
“(…) dar-lhes apoio estarmos simpáticas, sorrir é
muito importante, e se for preciso chorar com eles
também se chora, virar a cara não é o ideal”(E2).
“(…) é a aproximação do doente logo á entrada a
minha apresentação como pessoa humana o
relacionamento humano o mais importante a
empatia”(E6).
“(…) se eu dou carinho e o afeto aos meus cães,
também dou a uma pessoa numa fase terminal, eu
acho que o relacionamento humano para mim é
essencial. Acho que um doente precisa muito de
carinho e muito afeto, por muito que nós por vezes
digamos não há tempo(…)”(E6).
“Mas o tempo também é uma limitação enorme. O
tempo limita-me a tudo. O tempo na instituição
limita-me a eu não ter contato com a família do
doente”(E6).
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Apoio à
família
“(…), tentar envolver a família que é muito importante, uma vez que
o apoio da família nesta fase terminal ou fim de vida é muito
importante para a pessoa”(E4).
“(…) há muito poucos a querem envolver-se, porque nós temos o
cartão de acompanhante servem para estarem presentes para
participarem numa higiene para participarem em certa atividades
com o doente(…) muitas vezes a família se afasta (…) a família vê em
nós profissionais que estão e que cuidam(…)”(E1).
A facilitar a entrada das visitas, também temos essa facilidade
(…),proporcionar, as visitas ficarem mais tempo (…)”.”Até mesmo
alimentos (…) que a pessoa gosta que a família possa trazer, objetos
que a pessoa tenha alguma ligação especial que os familiares possa
trazer”(E3).
“(…) se o desejo da pessoa ter alguém presente é tentar que isso
seja possível, nomeadamente contactar família, avisar a família que o
doente se encontra pior se querem vir(…) satisfazer esse desejo da
pessoa ou do próprio familiar quando o manifestou(….)”(E5).
“(…) que o doente possa solicitar que se possa fazer, também, fazer
aquilo que nos é pedido desde que isso não vá interferir com nada
que está prescrito ou que seja contra indicado naquela situação”
(E5).
“ (…) temos o cartão de acompanhante que servem para estarem
presentes para participarem em certas atividades com o doente , para
se aperceberem melhor da situação do seu ente querido(…)”(E5).
“(…) é a dificuldade que eles tem em lidar com a situação(…), mas o
sentirem que a gente favorece a presença, o sentir que a gente está
presente, se for necessário alguma coisa, acho que os deixa mais
tranquilo”(E1).
“ (…) é o cuidado social é permitir que os doentes tenham as
famílias as pessoas significativas a cuidar deles (…)”(E2).
“(…), acho que todas as pessoa deviam estar com alguém de família,
acho que era muito importante que a família se envolvesse mais na
fase final”(E8).
“(…), se a gente conseguir conversar com a família e perceber
também o que eles pretendem de nós, se calhar também é mais fácil
nós arranjarmos maneira de a família estar junto do doente”(E8).
“(…), ao conversar com a família nós ás vezes conseguimos perceber
se a família está interessada em participar nos últimos momentos ou
se também é difícil para eles aceitarem e conseguirem estar ao pé do
familiar, nem toda a gente se sente preparada para estar junto de um
familiar que vai partir”(E8).
“Acho que a família muitas vezes até não quer tanto, quanto a gente
pensa (…)”(E1).
“(…), há pessoas que até não querem, querem ficar com uma
recordação daquele familiar, uma recordação que não a vê-lo
morrer(…)”(E3).
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A gestão
terapêutica e o
alívio da dor
“O protocolo de atuação da dor (…) facilitava,
em algumas situações” (E2).
“Para já o alivio da dor, tentar que a pessoa não
tenha dor, proporcionar um ambiente calmo
(…)”(E3).
“ Quanto à terapêutica saber se ele tem dores ou
não e também gerir com a equipa o que também
funciona melhor”(E7).
“(…)se tiver analgesia prescrita administro(…)
se não tiver solicito ao médico(…) depois poderá
haver outro tipo de prescrições(…) massagem,
posicionamento uma administração de
oxigénio(…) alguma coisa que o doente possa
solicitar(…)”(E5).
“ (…) só me lembro das farmacológicas, embora
saiba que hajam outras técnicas, outras que se
possam fazer mas só temos disponíveis as
farmacológicas ou posicionamentos se o doente
referir dor naquela posição.”(E1).
“ Houve uma doente recentemente por exemplo
os bochechos, os cuidados de higiene oral eram
muito importantes ela adorava.”(E2).
“Privilegiar a terapêutica subcutânea, quando se
privilegia hoje em dia a endovenosa, (…) , evitar
picá-los, fazer terapêutica subcutânea,
essencialmente reduzir o sofrimento (…)”(E2).
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Interação
Enf º
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Diminui
ansiedade
e promove
a
confiança
“(…) , eles tentam sempre saber até ás vezes a medicação que estão a fazer,
exames que mesmo assim vão fazendo, em que eles vão perguntando e nós
vamos dando resposta.”(E1).“
(…) mas o sentirem que a gente favorece a presença, o sentir que a gente está
presente, se for necessário alguma coisa, acho que os deixa um pouco
tranquilos (…)”(E1).
“Penso que trabalhamos bem, que quanto á família damos tudo o que temos ao
nosso alcance a nossa resposta aos familiares é positiva, respeitamos os
sentimentos daquela família”(E6).
“(…) temos que enfrentar mais estas situações, irmos mais juntos daqueles que
são mais significativos, da família, não termos medo de falar com as
pessoas(…) não direi facilmente porque nunca é fácil estas coisas(…) mas
podem ir aceitando este processo (…) faz com que a enfermeira se empenhe no
processo de luto da família(…) faz parte das nossas competências (…)”(E2).
“Um doente em fase terminal nem sempre está com a situação familiar e ele
próprio estabilizado. (…)o doente deixa de conversar fica prostrado, deixa de
interagir(…) fica desorientado nestes momentos nós temos que acompanhar a
família, porque a família não compreende estas situações nós temos o dever de
lhes explicar(…) para que eles também facilmente poderem
compreender(…)”(E2).
“(…) procuro facilitar a proximidade entre as pessoas significativas e o doente,
e depois existe um conjunto de necessidades um apoio psicológico uma pessoa
com quem conversar, uma partilha(…)”(E2).
“(…)alguns familiares tentam desabafar connosco , gostam de dar uma
palavra a quem cuida procurando saber sempre mais do diagnóstico, tentam
saber sempre mais alguma coisa, saber se há mais alguma coisa a fazer ou se
não há(…)”(E3).
“Conversando com as pessoas procurando saber o que elas pretendem de nós
para as podermos ajudar nesta ultima fase”(E8).
“(…), temos vários tipos de famílias umas que recusam e nem querem falar
sobre isso, outras sim, querem ser informadas(…), encaminhamo-las para o
médico para lhes ser dado informações clinicas(…), e nós damos-lhe sobre a
parte de enfermagem(…)”(E4).
“(…) como equipa acabamos sempre por favorecer, ou tentar arranjar um
espaço zinho, ou tentar privatizar a zona um pouco mais isolada, dar algum
conforto á família para estar sentada, mais junto(…)” (E1).
“(…) não é preciso ter um dia inteiro, ás vezes também dar um conforto ao
doente e família se agente de vez enquanto passar e disser como é que ele está?
Está tudo bem? Como é que está? Precisa de alguma coisa? Ás vezes também
só cinco minutinhos de vez enquanto, acaba por ser o suficiente (…) para
diminuir um pouco a ansiedade(…)”(E6).
“(…) alguns deles sentem uma inquietação na segurança de quem cá fica (…) é
necessário que eles fiquem mais tempo(…) para eles terem a noção que os
cuidados que lhes vamos garantir são seguros(…) isto é uma necessidade da
família que gosta de ficar cá de noite , ou quer ficar até á meia noite(…) os
familiares ficam com um certo alivio”(E2).
“ (…) é o cuidado social é permitir que os doentes tenham as famílias as
pessoas significativas a cuidar deles (…)”(E2).
“(…) isto é uma necessidade da família que gosta de ficar cá de noite, ou quer
ficar até á meia noite(…)”(E2).
“(…) já tivemos experiências de doentes que ficaram com familiares na
enfermaria(…)”(E1).
“(…) permanecer junto do doente durante a noite, se o familiar verbalizar
vontade de vir para junto do doente ou o doente necessitar da sua presença eu
telefono, mostro disponibilidade e vontade(…)” (E 6).
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Consciência
da
utilização,
Importância
da relação
de ajuda
“(…) dar um conforto ao doente e família se a gente de vez
enquanto passar e disser como ele está?, como é que está?,
como é que se está a sentir?, está tudo bem?, precisa de alguma
coisa?(…)” (E1).
“Ir ao encontro das famílias, saber as suas necessidades e
preocupações(…)se pretendem estar mais tempo junto do
doente. ouvi-las (…) alguns tentam desabafar connosco, gostam
de dar uma palavra a quem cuida(…)”(E3).
“(…) tento disponibilizar tudo o que esteja ao meu alcance
tentando dar aquilo que eles precisam doente/família numa
forma de relação de ajuda(…)a gente poder fazer por eles
naqueles últimos momentos.”(E3).
“Respeitar o que eles querem(…)dar-lhes daquilo que é
possível ou pedir á família quando há possibilidades(…)”(E2).
“(…) eles nesta fase careciam de mais, precisavam que nós
estivéssemos até constantemente junto a eles estou consciente
da necessidade de ajuda que neste momento é tão preciosa para
a pessoa e família, a tão nossa designada relação de
ajuda(…)”(E4).
“(…) tentar visualizar a pessoa/família (…) necessitam de uma
atenção diferente, até mesmo em termos de comunicação (…)
mais calma atenta(…) uma atenção diferente para os
familiares(…)” (E3).
“(…) o relacionamento humano para mim é essencial(..) um
doente precisa de carinho e muitos afetos(…)” (E6).
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Falta de
Apoio
Psicológico
“(…)até porque não temos o tal apoio psicológico que
deveríamos ter ,também não temos e ás vezes não temos
sensibilidade para percebermos se a pessoa está deprimida,
se a pessoa fala pouco ou temos que a estimular muito e
muitas vezes, não temos capacidade em tempo para verificar as emoções da pessoa(…) isso era muito importante”(E2).
“(…) não temos o tal apoio psicológico que deveríamos ter
(…) não temos sensibilidade para percebermos se a pessoa
está deprimida(…)”(E5).
“(…) mais acompanhada mais sistemática, que de fato nós
no internamento não temos esse apoio psicológico que de fato
era pertinente(…)”(E4).
“(…) julgo que o nosso serviço perde por não ter o apoio
psicológico ao doente e família não temos um apoio
psicológico especifico os psicólogos aqui somos nós(…)
deveríamos ter muito mais apoio a esse nível (…) corremos o
risco muitas das vezes não estarmos ao alcance do que a
família precisa” (E2).
“(…) não temos psicóloga (…) nós enfermeiras tentamos dar
o nosso máximo, não tenho nenhum curso de psicologia a
minha psicologia aquela que a vida me tem ensinado(…) uma
presença de uma psicóloga que deveria estar ao lado destes
doentes e família”(E6).
Falta de
Condições
Físicas
“ Acontece que o doente vem a morrer ali na enfermaria
naquela confusão toda, pelo que havia de haver um espaço
mais calmo mais sossegado, mais isolado (…) mais
privacidade nesta fase e que não a tem”(E1).
“Não tenho uma sala para poder conversar (…) não temos
espaço de conforto à família, as pessoas estão a chorar no
corredor, desesperam no corredor (…)”(E2).
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Falta De
Disponibilidade
De Tempo
“Mas a morte assusta-me muito porque não sou capaz de definir nem
encontrar estádio para ela(…) assusta-me muito eu sou daquelas enfermeiras que me ponho atrás de um biombo para ver se vejo alguma
coisa mas ainda não consegui ver nada, mas um dia vou ver”(E6).
“(…) nem sempre nós nos sentimos confortáveis naquela posição(…) isso meche com os sentimentos nossos, com uma série de outros fatores que
muitas vezes nos desculpamos com a falta de tempo real para fugirmos um
bocadinho àquela situação, porque interfere com muitos sentimentos(…)”(E5).
“Não há tempo porque a exigência a que somos diariamente confrontados
não é compatível com o numero de enfermeiros(…)”(E6).
“(…) a nível dos recurso humanos(…) a estrutura física é essencial mas
mais ainda são os recursos humanos”(E7).
“(…) pelo que temos vindo a constatar, a diminuir o numero de
enfermeiros na prestação de cuidados cada vez ser mais difícil de prestar
cuidados adequados ás necessidades daqueles doentes”(E5).
“(…) nós temos um trabalho, onde trabalhamos com o sistema de
classificação de doentes, mas as horas do trabalho em si não visualizam os
cuidados do doente oncológico (…) e não temos de fato disponibilidade (…) saber que a colega está a falar com uma família muito importante, ou
com um doente especial, (…) que nem sempre esta disponibilidade é
permitida temos muitos doentes muitos registos muita medicação, pouco recurso humanos e ás vezes é muito limitante”(E2).
“(…) a nossa disponibilidade de tempo é restrita(…) se nos solicitarem a presença durante algum tempo nós temos outros doentes para cuidar e não
vamos conseguir fazer aquilo que seria correto(…)”(E5).
“(…) também não temos , a gente não consegue ficar com 7 ou 8 doentes
numa tarde por exemplo e tirar meia hora ou uma hora (…) para estar ao
pé da família é muito complicado, não temos condições nem tempo(…)”(E1).
“(…) penso que existe mas não é implementado no nosso serviço um tipo de
classificação de doentes de forma a que ficasse visível que aquele utente carecia de mais tempo (…) mais disponibilidade para(…)”(E4).
“(…) nós temos um trabalho, onde trabalhamos com o sistema de
classificação de doentes, mas as horas do trabalho em si não visualizam os
cuidados do doente oncológico (…) e não temos de fato disponibilidade (…) saber que a colega está a falar com uma família muito importante, ou
com um doente especial, (…)”(E2).
“(…)é uma situação diferente, pelo que nem sempre esta disponibilidade é permitida temos muitos doentes, muitos registos, muita medicação, poucos
recursos humanos e ás vezes é muito limitante”(E2).
“(…)método de trabalho utilizado, em termos de registos que é muito
complicado, em termos de entradas, em termos de altas(…) em termos de
registos tem que estar efetuados(…)”(E3).
“(…) a falta de tempo o que nos exigem e as burocracias são enormes, o
plano a nossa escrita(…) no computador (…)”(E6).
“Além da falta de tempo que temos para estarmos com o doente e família
os cuidados realizados a “correr “vira-se o doente e volta-se a vem-se
para o computador (…)”(E6).
“ (…) a informatização (…) vem de certa forma retirar horas para
podermos cuidar dos doentes(…)”(E6).
“(…) temos que saber usar os instrumentos(…) mete-nos ali umas
intervenções mas ditas chaves, que nós somos obrigadas a cumprir se não cumpro tenho não conformidade, estão e o doente (…) devia ser o
centro(…) neste momento está de lado(…)”(E6).
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Medo/
angústia/
Dificuldade
em aceitar
a morte
“Ainda hoje depois de muita experiência e situações tenho dificuldade em lidar
com a morte porque continuo a achar que não morremos mas sim acontece uma transformação”(E6).
“(…) uma forma de fugir(…) tentar resolver facilmente, propondo rapidamente
para cuidados paliativos, não sei até que ponto poderíamos reunir condições para manter junto de nós o doente até aos seus últimos dias”(E3).
“Sim sim foge-se um bocado não sei quais os motivos que levam a fugir ainda
não avaliei bem esse aspeto(…)”(E6).
“(…)nem sempre nós nos sentimos confortáveis naquela posição e termos a
capacidade de lhe dar o apoio e o conforto(…) fugimos um bocadinho (…)
interfere com muitos sentimentos (…). Quem tem dificuldade em aceitar a morte também tem alguma dificuldade em cuidar do doente que está a
morrer(…)”(E5).
“No que respeita ao doente temos um bom relacionamento, mesmo a malta
jovem que acaba hoje o curso trás uma maneiras até choram sem querer e
fogem”(E6).
“Um doente que me pede ajuda e eu não consegui aproximar dele a dizer-me
que ia morrer mas eu não consegui (…) assustou-me muito, porque não
conseguir dar aquilo que ele me pediu (…) morreu sem ajuda de ninguém(…)”.”O sr olhava-me nos olhos e eu tenho medo. Ele olhava-me a
pedir socorro (…)e ainda hoje recordo com angústia. Mas no fundo penso que
fiz o meu papel como pessoa humana fui até ao fim dos meus limites”(E6).
“(…) acompanhei de perto a situação (…) quando elas estavam mesmo nos
últimos minutos estive junto da filha e marcou-me bastante (…) e o fato de eu ter lá ficado junto delas foi bom(…)”(E3).
O
momento
da morte e
a
despedida
da família
“(…) acompanhei de perto a situação e estive presente (…)nos últimos minutos estive junto a ela junto da filha e marcou-me bastante(…) é complicado a gente
acaba também por passar para o lado das filhas(…) somos filhas somos mães,
acabamos por vivenciar e pensar, poderia ser a minha mãe, poderia ser eu que estava no lugar dela(…)”(E3).
“(…) capazes de verbalizar que está próximo do fim(…) que muitas vezes estão á espera de alguém(…) querem a presença do padre ou familiar ou de alguém
que lhe seja próximo(…)”(E5).
“ (…) o doente dizer que é o ultimo dia de vida (…) alguns deles se despedem, programam ou parecem que programa ou planeiam (…) querem-se
despedir(…)”(E2).
“ Estou-me a lembrar das minhas experiências mais significativas, e uma delas
foi recentemente, foi depois de verem um familiar, despediram-se
desencadearam um ultimo momento de crise e morreram”(E2).
“(…) acompanhei de perto a situação e estive presente (…)nos últimos minutos
estive junto a ela junto da filha e marcou-me bastante(…) é complicado a gente acaba também por passar para o lado das filhas(…) somos filhas somos mães,
acabamos por vivenciar e pensar, poderia ser a minha mãe, poderia ser eu que
estava no lugar dela(…)”(E3).
“(…)ele estava prestes a morrer por todo o conjunto de situação e estava a
aguardar que o filho viesse e foi só quando o filho veio que ele, despediu-se e morreu de uma forma pacifica(…)”(E5).
Dificuldade
na
aceitação
da morte
na idade
jovem
“Alguns mais jovens, tenho mais dificuldade em aceitar(…)”(E2).
“(…) foi uma situação muito rápida(…) era uma doente nova(…)tinha uns filhos com 20 e poucos anos, foi assim uma situação, que embora soubessem o
que a mãe tinha não estava a pensar que fosse uma situação tão rápida isto foi
difícil para mim lidar com esta situação visto eles serem tão novos e a sra. Também” (E8).
“(…) os doentes estão sempre á espera da família para se despedirem, que é uma coisa que eu noto despedimento aqui no elo de ligação entre pai e filho,
mãe e irmã ,tudo tem um elo de ligação que profundamente me choca e isso
meche muito comigo(…)”(E6).
Tema Subtema Declarações Significativas
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Fim
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fam
ília
Formação
(cuidados
Paliativos)
“Havia de haver enfermeiros mais vocacionados para esta
área ou que as pessoas investissem um pouco na formação
(…) para poderem acompanhar melhor (…)”(E1).
“(…) formação era benéfico fazermos mais(…) formação
mais uniforme em que todas pudéssemos responder ao
doente da mesma forma(…)”(E2).
“(…) houvesse mais formação se partisse de um ou dois
elementos da equipa até ir fazer formação ao exterior e
depois dar formação no serviço(…)de forma a estarmos
ainda mais preparadas para lidarmos com estas situações
que são muito difíceis(…)”(E4).
“(…)é uma área que precisava de ser mais trabalhada(…)
por falta de formação por falta de estarmos mais atentos a
estas situações(…)”(E4).
“(…) se calhar nós temos que nos empenhar mais neste
assunto. Sugiro formações sobre cuidados paliativos”(E8).
Articulação do
trabalho em
equipa
multidisciplinar
“(…) mesmo em relação entre equipa também fosse muito
importante nós melhorarmos a relação entre
profissionais(…) quando pedimos apoio a um médico ele
não se afastar, e também nós próprias definirmos estas
situações(…)”(E2).
“(…) penso que a nossa relação como equipa não é boa
devíamo-nos aceitar melhor (…) muitas das vezes não
conseguimos partilhar(…) é que através de pequenas
partilhas vamos deixando um conhecimento(…) e só assim é
que a gente vai conseguir melhorar”(E2).
“(…) não é muito fácil nós falarmos nestas questões, temos
muitas dificuldades em falar por vezes partilhamos as nossas
vivências com alguns colegas mas não conseguimos
abertura para a equipa toda(…) cada vivência do
enfermeiro é uma vivência única(…)”(E2).
“(…) raramente conseguimos ter acesso á informação que o
médico deu á família, que é uma grande falha.(…) não temos
esse feed- back não sei até que ponto não poderíamos estar
presente quando o médico fala com a família(…) “(E3).
“Penso é que nos falta muitas vezes a nível da equipa
multidisciplinar(…) havia de haver reuniões com os médicos
(…) falta muito e também a família estar presente”(E7).
Tema Subtema Declarações significativas
Est
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cuid
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te/
fam
ília
Melhorar a
organização
dos
recursos
Humanos
“(…) quando nós destetássemos que existia uma situação
vivida e que carecia de mais tempo aquele enfermeiro ficava
com menos doentes distribuídos de forma prestar todo o
apoio”(E4).
“(…) pelo que temos vindo a constatar, a diminuir o numero
de enfermeiros na prestação de cuidados cada vez vai ser
mais difícil de prestar cuidados adequados ás necessidades
daqueles doentes”(E5).
“Penso é que quando temos um doente em fase terminal
devíamos nos organizar para que a distribuição de doentes
permitisse uma maior disponibilidade da enfermeira que
fique com o doente”(E6).
“(…) não devíamos ficar com outros doentes. São momentos
em que a pessoa deve estar calma ter disponibilidade. A
estrutura física é essencial mas mais ainda são os recursos
humanos”(E7).
Melhorar
as
Condições
físicas
“(…)o maior erro é a estrutura física, não podemos
proporcionar um ambiente calmo nos últimos dias, a
presença da família”(E3).
“(…) não temos um quarto privado que possibilite
privacidade á família no momento do luto, dispor de alguma
forma das pessoas auto estimularem-se e nós próprias
fomentarmos essas estimulações(…)”(E2).
“(…) seria importante que houvesse uma sala própria como
eu já referi para prestar esse apoio ao utente e família, para
eu o utente estivesse mais recatado se assim o
desejasse(…)”(E4).
“(…) realçando a nossa boa prestação de cuidados mas não
posso de salientar a falta de estrutura física, como um quarto
onde o doente possa ter a sua família junto com privacidade e
intimidade, nós damos o conforto ao doente mas em termos
arquitetónicos não temos conforto para o doente.(…)
acrescento que nos falta tudo apenas temos boas enfermeiras
de resto não temos nada para o doente poder morrer com
uma morte digna”(E6).
“Eu acho que estes doentes deviam estar sozinhos num
espaço, em que pudessem estar com a família (…) não
abandonados (…) haver um local especifico para estes
doentes”(E8).
“(…) só quando há um quarto de isolamento livre a gente
aproveita de resto é mais difícil”(E8).
APÊNDICE II Guião da Entrevista
Guião da Entrevista
Entrevista ______ Data / /
Inicio ____h____m Fim ___h____m
Identificação do Participante
Idade: Sexo: Estado civil:____
Tempo de exercício profissional_____________
Tempo de exercício profissional no serviço de Especialidades
Médicas______________
Introdução
Fundamentos
e intensões
do
investigador
1. Apresentação da investigação
2. A entrevista
…Objetivos
…O que se espera do entrevistado e a razão da sua
inclusão entre os participantes
…Utilidade da entrevista
…Tempo de antevisão
…Gravação (autorização, escrita e oral / anexo)
…Negociar estratégicas para validação da análise
dos dados
3. Informar sobre o modo de assegurar o anonimato
do entrevistado
4. Informar sobre a oportunidade de interromper a
entrevista.
Observações
Acordar
estratégias
para
validação da
informação
Questões orientadoras
1-Como é que sabe que a pessoa de quem cuida está Observações
Fase de balanço
Sugestões para uma
melhoria e/ou
mudança de atitudes
/postura.
--agradecer a colaboração e disponibilidade do
entrevistado.
--Calendarizar encontro ou formas para a
validação da análise da informação.
Fase Narrativa
a morrer?
Pontos a indagar: experiência,
2-Fale-me das intervenções de enfermagem que
valoriza na prestação de cuidados ao doente.
Pontos a indagar: dor, conforto, terapêutica,
qualidade de vida.
3- Como identifica as necessidades da família?
Pontos a indagar: junto do doente, comunicação,
interesse a presença continua, atitude empática,
estrutura física, apoio social
3.1-Como é que planeia os cuidados de apoio à
família?
Pontos a indagar: disponibilidade, simpatia,
empatia, recursos…
4-Que investimento faz em termos de
desenvolvimento de competências de
relação?
Pontos a indagar: formação em serviço, formação
externa, necessidades
5- Fale-me de uma experiência que mais a marcou
em termos emocionais e quais os sentimentos que
então vivenciou?
Pontos a indagar: família, amigos, sentimentos,
fragilidades….
6-Que sugestões você me aponta ?
Pontos a indagar falhas, melhoria, mudanças.
-Adotar uma
postura de
atenção
-Acatar os
silêncios do
entrevistado
-Pedir
esclarecimen
tos
relacionados
com a
narração
-Requerer
exemplos,
caso se torne
necessário
APÊNDICE III
Transcrição de uma entrevista (Exemplo)
P) Como é que sabe que a pessoa de quem cuida está a morrer?
R) Através do diagnóstico que vem descrito no diário clínico, ou por informação
colhida, por exames, alguma informação transmitida também pelos profissionais de
saúde, médicos, enfermeiros e pelo estado geral do utente, dá-nos também uma ideia.
P) E experiência que vamos tendo ao longo dos anos? Diz-lhe alguma coisa?
R)Sim, exatamente, no início de carreira temos mais dificuldade em perceber, em
termos essa noção e perspicácia, enquanto com o decorrer dos anos é muito mais fácil a
gente conseguir ter essa noção, olhar para o utente em termos de avaliação. É muito
mais fácil a gente, até percebermos qual é até o estádio da sua doença em que está e o
fim de vida.
P) Como faz essa avaliação?
R) A avaliação é feita em termos objetivos, sinais vitais, avaliação do processo e a
avaliação física do utente, a nível do estado nutricional, a nível de sintomas que o utente
já possa trazer, o fáceis e até em termos de terapêutica, associar até o estado geral do
utente com a terapêutica que ele já faz, em termos de analgesia tudo isso poderá dar-nos
já uma indicação de como está o estado do utente.
P) Que sintomas são esses?
R) Sintomas, poderão ser decorrente de tratamentos que o utente tem vindo a ser
submetido, como a quimioterapia a radioterapia, poderão ser sintomas de náuseas,
Entrevista nº 4
Inicio: Agradecimento, apresentação do tema, objetivos e seu consentimento. O
participante leu e assinou.
Local: Tranquilo, ausente de barulhos e sem interrupções.
Data -22/05/2012 com a duração de cerca de 45 min.
Nota: Antes da entrevista foi dito ao participante que a qualquer momento a
poderia suspender.
P – Pergunta
R- Resposta
vómitos, até diarreia de acordo com a tolerância do utente em relação ao tratamento que
está a fazer, a anorexia, a pessoa começa a ficar com perda de apetite. A pessoa vai
deteriorando o seu estado geral, vai ficando com um fácil mais triste, por vezes eles já
conhecem o diagnóstico, até o próprio fácil mais triste, mais revoltados.
P) Gostaria que me falasse das intervenções de enfermagem que valoriza na prestação
dos seus cuidados.
R) Valorizo o conforto do utente, tento envolver a família que é muito importante, uma
vez que o apoio da família nesta fase terminal ou fim de vida é muito importante
também para o utente. Em termos de intervenções mais abrangentes e já pensando no
estado geral do utente, em termos de apoio psicológico em termos de apoio nutricionista
se fosse necessário, intervenções mais específicas, direcionadas para o conforto.
P) Que conforto é esse? Que medidas?
R)O conforto em termos de apoio emocional, o conforto até conforto, se a pessoa quiser
ficar por exemplo na cama, prestar-lhe os cuidados conforme ele se sentir bem, e
conforme ele se sinta confortável, porque o que é conforto para mim poderá não ser para
ele, às vezes o levantar-se para o cadeirão por exemplo, escolher a fase que ele se sinta
melhor, e negociar com ele o tempo deve ficar no cadeirão mesmo de forma a ele estar
confortável.
P) Falou ai em termos psicológicos, apoio psicológico, que apoio é esse?
R) Apoio será no sentido de podermos ser nós a dar, ou poderá ser através de um
psicólogo, porque por vezes as pessoa tem necessidades e muitas das situações os
utentes não tem família ou sentem-se só ou pessoas que se dão mal com as famílias e até
querem que haja um reencontro, nesta fase final da vida, eles até querem ver essa
família que até então se deram mal, durante anos, e esse apoio seria nesse sentido, de
forma a pessoa a ultrapassar todos os rancores, algum mal estar que a pessoa tenha que
se sinta durante o internamento e durante essa fase final. Podem até não querer ter esse
reencontro, mas ter alguém que os apoie nessa decisão que os apoio nesta fase,
expressarem os seus sentimentos, que eles fazem connosco mas de uma forma mais,
mais acompanhada, mais sistemática, que de fato nós aqui no internamento não temos
esse apoio psicológico, que de fato era pertinente, agente dá mas nem sempre temos
também muito tempo para estarmos junto destes utentes, e prestar todo este apoio que
por vezes eles necessitam.
P) Refere que muitas das vezes não têm esse tempo. Porquê?
R) O tempo pode ser visto como uma fuga, nós dizermos que não temos tempo, mas eu
não estava a falar nesse sentido, uma fuga porque esta fase, também é difícil para nós, e
nós por vezes envolvemo-nos nestas situações e que se nós, não temos tempo e vamos
fazendo outras coisas e não estamos com eles, mas por vezes o tempo é mesmo uma
limitação, porque temos muitas rotinas temos muitos cuidados que nós temos que
prestar, apesar de termos sempre um tempinho para estarmos com aquele utente e falar
com ele e tentar perceber quais são as suas angustias e as suas preocupações, eles nesta
fase careciam de mais ainda, precisavam que nós tivéssemos até constantemente junto a
eles. No entanto os registo este tipo de intervenções que nós temos que fazer na
enfermagem por vezes são essências para mostrar aquilo que fazemos mas que às vezes
nos tiram um bocadinho desse tempo que eles careciam de fato nesta fase da vida deles.
P) Falou das necessidades, como identifica as necessidades dessas famílias?
R)A identificação da necessidades dessas famílias são muitas das vezes avaliadas
quando estas tem iniciativa própria de virem ao nosso encontro e verbalizam que estão
preocupados às vezes até temos vários tipos de famílias umas que recusam e nem
querem falar sobre isso, outras sim, querem ser informadas querem saber, algumas, até
perguntam quanto tempo vão ter de vida. Depois conforme o tipo de família nós
teremos que identificar de forma diferente, à pessoas que até não nos procuram, estão lá
junto do doente e somos nós que temos que ir ao encontro dessa família, e sim dizer-lhe,
olhe o que é que sabe, vamos encaminhá-lo ao médico para lhe ser dado informações
clinicas, nós damos-lhe sobre a parte de enfermagem, para também estarem a par da
situação e decidirem se querem permanecer junto do utente neste final de vida, há
pessoa que até não querem, querem ficar com uma recordação daquele familiar, uma
recordação que não a vê-lo morrer, à outras que não, que querem estar a agarrar a sua
mão e a apoia-lo naquele momento. Nós temos que ter uma perspicácia e de acordo com
família temos que ser nós e até às vezes chamá-los se vemos que o utente, não tem a
família, que esta não o vem visitar, temos nós próprios que ter essa perspicácia,
tentarmos mobilizar de forma a saber de fato qual é a necessidade delas.
P) Acha que nós em termos de serviço conseguimos dar resposta a essas famílias? Em
termos de equipa em termos de estrutura em termos de serviço? Em termos de tempo?
R) Sim, eu penso que em termos gerais este serviço e esta equipa eu acho que se
encontra muito desperta para esses aspetos pelo menos aquilo que eu tenho conseguido
ver, porque tenta-se proporcionar um espaço próprio para a família estar junto daquele
utente de forma a que eles possam estar mais próximo. Se tivermos um quarto mais
disponível pode-se tentar, por exemplo um quarto de isolamento tentar que a família
fique junto daquele utente para ficar mais recatado e poderem vivenciar conforme eles
acharem o chorar o fazer confidências tudo aquilo que eles acharem pertinente naquela
situação em concreto. Em termos de estrutura de fato poderia haver um espaço não um
espaço para morrer que às vezes ainda é muito utilizado isto mas um espaço onde até
nós pudéssemos falar com a família mais recatada uma salinha onde até o médico
pudesse dar a sua informação clínica, e acabam por vezes por chorar e não ser dada no
corredor, termos um espaço próprio para essas situações, e também um espaço próprio
para este tipo de doente porque nem sempre temos o quarto de isolamento disponível,
embora muitas são as vezes que na própria enfermaria corremos a cortina para dar-mos
alguma privacidade mas nunca é tanta privacidade existem no quarto outros doentes.
Em termos de equipa sim acho que estás desperta, a maior parte das pessoas sim para
isso, tentam sempre dar apesar do tempo à sempre um tempinho para conseguir estar
com a família que por vezes não é suficiente mas penso que há essa preocupação na
minha maneira de ver.
P) Como planeia os cuidados de apoio a essas famílias? Tendo um número de doente
uma carga horária para cumprir como consegue gerir tais cuidados?
R) Para planear esses cuidados o momento que eu tenho, que me dá mais tempo para ir
ao encontro dessas famílias quando elas não vêm ao meu encontro é a partir das 14.30
minutos, que é uma altura em que já conseguir fazer as minhas rotinas e já consegui ter
as coisas mais orientadas e então ai sim, vou ao encontro dessa família e estou lá algum
tempo por vezes atrasa o resto, mas pronto noto que naquele momento é pertinente e
eles necessitam que eu esteja lá a dar esse apoio, vou junto do utente junto da família
que está a ver o seu familiar presto esse apoio vou buscar cadeiras e sento-os nas
cadeiras se eles tiverem em pé tento baixar-lhe a grade conforme o estado do utente e
coloco-os num ambiente de conforto para eles também, se eles querem dar a mão
coloco-os junto dele puxo a cortina se não estiver corrida e se eles pretenderem, depois
virem cá para fora a falar numa zona mais recatada para lhes dar apoio que eles
necessitam eles falam, ou se eles quiserem mesmo junto do utente procuro dar esse
apoio, mostrar disponibilidade se eles precisarem de alguma coisa tocarem a campainha
nós vimos de imediato. Se a família se encontra ao longo do dia é isso que acontece,
procuro organizar os meus cuidados de forma a ir várias vezes junto deste utente já que
é uma prioridade de fato embora a família esteja junto vou sempre ver se é necessário
alguma coisa e tento prestar esse apoio o máximo que conseguir não descorando o
cuidados a todos os outros utentes mas sempre enviesando os meus cuidados gerindo o
meu tempo de forma a estar o máximo de tempo possível com aquele utente e família
para não se sentirem sozinhos para se sentirem também apoiados.
P) Que investimento faz ou já fez em termos de desenvolvimento nesta área no que diz
respeito ao seu desenvolvimento de competências de relação?
R) Eu por acaso sinto-me confortável junto das famílias e do utente em fim de vida.
P) O que quer dizer com o sentir-se confortável?
R) Consigo confrontar as pessoa não fugindo consigo chegar-me junto das pessoas,
falar com elas apesar que é difícil, temos tido situações que são muito difíceis que a
gente acaba por se envolver e a gente não consegue mesmo fugir, mas consigo sentir-me
confortável no sentido de abordar o utente abordar família, estar ali disponível ir lá ao
encontro eu ao encontro deles não esperar que eles venham ter comigo mas ir eu ao
encontro deles e isso facilita muito essa relação, porque depois os utentes ou família,
acabam por me solicitar mesmo quando não esteja de enfermeira responsável ou assim,
solicitam-me e vem ter comigo porque também já se sentem à vontade e eu também me
sinto à vontade para isso. Claro que ao longo da minha carreira tenho desenvolvido
competências nesta área no inicio mais difícil depois também dado histórias de vida, da
minha história de vida, de situações que eu pacteei obrigaram-me a também fazer o meu
luto na minha vida pessoal, para conseguir ultrapassar tudo isto, foram fazes ao longa da
minha vida que me fizera também sentir, se bem que há situações que não me sinto
bem, há situações como sejam pessoas jovens a gente acaba sempre por associar às
situações da vida pessoal. Mas, no fundo penso que até me sinto bem a relacionar-me
com estas situações, sinto-me confortável. Desenvolvendo algumas competências.
P) Tem feito algumas formações nesta área?
R)Não, fui a umas jornadas já a algum tempo, mas não nessa área, não.
P) Acha que não tem necessidade de adquirir formação nesta área?
R)Temos sempre necessidade, existem sempre aquelas frases feitas aqueles clichés que
agente acaba por usar e que por vezes podiam ser inoportunos, tento não fazer, mas no
diálogo acabo sempre por utilizar e se calhar se tivesse formação nessa área sentia-me
mais preparada para receber estes utente de uma forma mais holística ser mais
específica nos cuidados ser mais específica nas intervenções de forma mesmo o utente a
ser cuidado mesmo como ele tem direito neste fim de vida.
P) Fale-me de uma experiência que mais a marcou em termos emocionais e quais os
sentimentos que então vivenciou?
R)No serviço já tive várias situações mas uma delas que mais me marcou foi já a alguns
anos, na sala 1,era uma mãe que tinha uns 40 e pouco anos, e consegui eu e uma colega
satisfazer-lhe um desejo que era de comer um gelado, conseguiu-se mobilizar, fazer-se
um pedido conseguiu-se arranjar o gelado através do dietista, ela comeu metade do
gelado, entretanto veio a filha, que era novinha também e a senhora faleceu abraçada à
filha que tinha uns 20 anos, de fato fez-me relembrar o que tinha acontecido, não em
situação igual, mas fui filha e sou, perdi a minha mãe o meu pai e isso fez lembrar o que
de fato se tinha passado mas, além disso me fez pensar que aquela filha gostava muito
da mãe e a mãe da filha, mas que aquela filha ia perder muito com eu perdi e muitas
outras pessoa já perderam, de fato foi uma emoção grande tanto eu como a colega
saímos para um lugar recatado mas choramos, choramos, porque de fato, foram vários
sentimentos ao mesmo tempo, era o sentimento de termos conseguido satisfazer um
desejo da senhora e por outro lado sentir que aquela filha perdeu uma mãe e perdeu
muito e com uma idade, era uma pessoa tão jovem e como as doenças são de fato
fulminante e foi muito rápido e foi uma situação um bocado difícil e na altura não
estava preparada.
P)Que sugestões aponta para o serviço para a equipa, tal como falhas, melhorias,
qualidade……
R) Sugestões iniciando pela parte mais prática, deveria de existir mas penso que existe,
mas não é implementado no nosso serviço um tipo de classificação de doentes de forma
a que ficasse visível que aquele utente carecia de mais tempo que a gente tivesse mais
disponibilidade para estarmos com aquele utente, como isso não se consegue fazer com
a distribuição que temos que é de Médico-cirúrgica , não se consegue , quando nós
detetássemos que existia uma situação vivida e que carecia de mais tempo aquele
enfermeiro ficava com menos doentes distribuídos de forma prestar todo o apoio, tudo
o que seria possível e que a pessoa tem direito. Em termos de instituição e
infraestruturas estamos numa fase em que não podemos pedir muito mas de fato seria
importante que houvesse uma sala própria como eu já referi para prestar esse apoio ao
utente e família, para que o utente estivesse mais recatado se assim o desejasse, porque
às vezes preferem estar junto dos outros utentes sentem-se mais acompanhados.
Sugestões para a equipa talvez se houvesse mais formação se partisse de um ou dois
elementos da equipa até ir fazer formação ao exterior e depois dar formação no serviço,
uma vez que não é possível irmos todos a um congresso ou para outras formações,
alguém fazer formação em serviço nesse sentido de forma a estarmos ainda mais
preparadas para lidarmos com estas situações que são muito difíceis e também para nós,
embora a equipa esteja desperta para isso mas se houvesse ainda mais apoio nesse
sentido também seria importante.
P) Nós como equipa conseguimos uma comunicação livre aberta fiável sobre estes
doentes? Aquilo que nós transmitimos entre nós acha que nós conseguimos conversar
sobre este tema?
R) Penso que é uma área que precisava de ser mais trabalhada, porque de fato na
transmissão às vezes da informação não se vai muito ao pormenor também
provavelmente por falta de formação por falta de estarmos mais atentos a estas
situações, penso que seria importante trabalhar essa informação entre equipa mesmo na
passagem de turno, mas isso também passaria por termos mais formação e sabermos
precisamente o que iriamos bordar, porque, para sabermos o que é que o utente precisa
nós ,temos que saber o que ele precisa especificamente para podermos planear, também
essas intervenções, e por vezes isso não é passado talvez porque não estamos despertos
para isso ,mas sim era uma situação de fato a ter em conta.
P)Tem alguma informação da família acerca do que sabem, sobre o diagnóstico do
doente, como consegue ter a perceção, o conhecimento que o doente ou a família tem
acerca da sua doença e evolução?
R)O que eu normalmente faço é “ sondar” o utente, se ele sabe do diagnóstico se ele
sabe, se quer falar sobre o assunto e se a família sabe e se ele souber, se quer que a
família saiba ou se está a par. Se a família não souber é tentar marcar um momento para
o médico transmitir essa informação se o médico achar também conveniente que a
família saiba normalmente é isso que acontece, a não ser que o utente diga que não que
não quer que a família saiba, porque há situações, não digo quando há esposa mas em
que a família é de longe só tenha uma sobrinha e podem às vezes não querer que essa
sobrinha saiba da situação por motivos ou porque não se dão muito bem, porque
acontece que há utentes que se dão melhor com um amigo ou com um vizinho e não tem
qualquer afinidade com o pai que já não veem há 30 anos que não se dão bem, mesmo
informações de enfermagem temos que repensar.
Após terminada a entrevista, iniciamos esta ultima fase com um primeiro
agradecimento, fizemos uma breve reflexão sobre o tema, realçando de novo a
confidencialidade dos dados e foi pedido outro encontro para podermos validar os
dados. Voltamos a agradecer deixando no “ar” que posteriormente iram conhecer
os resultados finais do estudo.
APÊNDICE IV
Pedido de Autorização para Recolha de Dados
APÊNDICE V
Consentimento Informado
Apresentação e Instruções
Sou a Enfermeira, Ana Maria Tuna dos Santos Serra Pereira, estudante do V Curso do
Pós Licenciatura de Especialização em Enfermagem Médico-cirúrgica da Escola
Superior de Enfermagem de Coimbra. Encontro-me a realizar um estudo de
investigação (Tese de Mestrado) com o objetivo de dar resposta à seguinte questão:
“Como é que os enfermeiros gerem a sua presença junto da Pessoa/ Família em fim de
vida “.
O método a utilizar será o método qualitativo descritivo fenomenológico para uma
melhor análise e descrição das respostas em estudo. O método escolhido para a colheita
de dados será a entrevista semiestruturada tendo como tempo médio de aplicação, 30
minutos.
Relativamente aos dados extraídos, são confidenciais e estritamente anónimos, tendo
como finalidade apenas a minha investigação científica.
Ao decidir colaborar neste estudo, deverá marcar com uma cruz no quadrado abaixo
indicado (Consentimento Informado), confirmando desta forma que aceita participar.
Agradeço desde já a sua atenção e colaboração com este estudo.
Consentimento Informado
Declaro, ao colocar uma cruz no quadrado que se encontra no fim da presente
declaração, que aceito participar neste trabalho de investigação da aluna acima citado da
Escola Superior de Enfermagem de Coimbra.
Declaro que, antes de optar por participar, foram-me prestados todos os esclarecimentos
que considerei pertinentes para que a tomada da minha decisão fosse positiva.
Especificamente, fui informado/a do objetivo, da duração esperada e dos procedimentos
de estudo. Assim como do anonimato e da confidencialidade dos dados, tal como o
direito à recusa, quanto à minha participação, e a qualquer momento, e sem trazer
qualquer consequência para mim.
SIM, aceito participar.
Data __ / __/2012 Assinatura:_______________________________