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Mostrar Cristo ao Mundo

Discursos, Homilias, Meditações e Mensagens

BENTO XVI

Editorial A.O.

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Copyright dos originais:Libreria Editrice Vaticana

Organização

António José Coelho, S.J.

Na capa:Bento XVI assinando uma encíclica

© Agência Lusa

Capa:Virgílio Cunha

Paginação:Editorial A. O.

Impressão e Acabamentos:Sersilito – Empresa Gráfica, Lda.

Depósito Legal nº???????????????

ISBN978-972-39-0760-5

Setembro de 2012

Com todas as licenças necessárias

©SECRETARIADO NACIONALDO APOSTOLADO DA ORAÇÃORua S. Barnabé, 32 – 4710-309 BRAGATel.: 253 689 440 * Fax: 253 689 441www.apostoladodaoracao.pt/[email protected]

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INTRODUÇÃO

Card. Gianfranco RavasiPresidente do Pontifício Conselho para a Cultura

Há duas palavras de matriz latina usadas pelo vocabulário teológico para definir a missão do pastor na Igreja. Há an-tes de mais o termo «magistério» que se funda em magister, o «mestre», mas também o «senhor» da cultura clássica. Na sua raiz está contido o advérbio magis, «mais»: denota, portan-to, uma função de «superioridade», isto é, de guia, um pouco como faz o «bom/belo» pastor descrito por Jesus no quarto Evangelho: «Ele caminha diante das ovelhas, elas seguem-no porque conhecem a sua voz» (João 10, 4). A voz do pastor ressoa forte e clara, o seu cajado indica o «caminho justo» e «dá segurança» (Salmo 23, 3-4) e o rebanho prossegue ao lon-go daquele traçado, escutando a palavra do guia. É por isto que no Cenáculo, na última tarde da sua vida terrena, Cristo declara explicitamente: «Vós chamais-Me Mestre e Senhor e dizeis bem, porque o sou» (João 13, 13). Mas Jesus pronuncia esta frase enquanto está de joelhos e a lavar os pés aos discípulos, num gesto extremo de serviço. Eis, então, o outro vocábulo, «ministério», que se funda sobre o la-tim minister, o «servo», um termo que tem como raiz o advér-bio minus, «menos»: o verdadeiro pastor, de facto, deve dar-se pelo seu rebanho, antes, «dá a própria vida pelas ovelhas» (João 10, 11). E o mote autobiográfico de Cristo é emblemático: «O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a própria vida em resgate por muitos» (Marcos 19, 45).

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6 Introdução

Eis porque, no título tradicional do Bispo de Roma, Vigá-rio de Jesus Cristo, se entrelaçam, por uma parte, a designa-ção de «Sumo Pontífice da Igreja Universal» na sua função de «sucessor do príncipe dos apóstolos», Pedro, mas, por outra, também a definição de «Servo dos servos de Deus». Ora, nas páginas deste volume cruzam-se exactamente as duas linhas fundamentais do pastor da Igreja Bento XVI, o seu magistério e o seu ministério. A grande recolha de textos papais aqui presente oferece, de facto, um intenso retrato do Pontífice como «mestre», segundo os três géneros fundamen-tais do seu ensinamento. Há, antes de mais, a selecção de de-zoito discursos que são precisamente, depois das encíclicas, uma forma alta de magistério. Eles alargam-se ao longo de múltiplos percursos ideais, que vão desde o confronto com a cultura contemporânea e suas crises à entrada no nó muitas vezes quente da relação com a sociedade, através do nexo entre fé e política, para fixar-se também no horizonte do diálogo inter-religioso e intercultural. O Papa debruça-se sobre territórios da ciência e da bioética, mas conduz-nos também sobre as sendas altas da verdade e da busca de valores últimos e supremos, sem contudo ignorar o vale, onde se confrontam e encontram perspectivas diferentes com dramas sociais e económicos e onde os jovens lançam os seus apelos e não encontram resposta, sendo demasiado empe-nhativo o desafio educativo para a precedente geração dos pais e dos professores. Estamos, portanto, diante de um verdadeiro arco-íris temático que toca as grandes instâncias da sociedade e da cultura contemporânea, às quais Bento XVI mostra o rosto e a palavra de Cristo como «radiosa estrela da manhã» de uma nova era (Apocalipse 22, 16).

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7Introdução

Eis, então, o segundo género de magistério papal, o que se exprime através das homilias e meditações: são recolhidas doze, no interior do arco cronológico quinquenal 2005-2010. Aqui é precisamente mais directa a ligação com a Palavra de Deus e, portanto, com o Evangelho, com a liturgia, com o testemunho da fé. Perfilam-se também os lugares e os tempos nos quais estes anúncios ressoam: enviam a santuários como Lourdes, à Sagrada Família de Barcelona ou à Terra Santa, ou a celebrações destinadas a âmbitos específicos como sejam os que sofrem, os sacerdotes ou então os peregrinos. Aqui temos o respirar mais explícito da fé, há o fulgurar da glória de Deus, infunde-se a semente da esperança, é a apresentação de Cristo como «caminho, verdade e vida» para o crente que vive no mundo, tendo alta a chama do seu crer, esperar e amar. O tríptico textual conclui-se, enfim, com dez mensagens, que são repartidas fundamentalmente em dois registos maio-res. Por um lado, há o tema da paz que é desenvolvido segun-do tantas e diferentes iridescências, sendo precisamente um dos grandes símbolos bíblicos da era messiânica e, como tal, parábola da salvação plena de humanidade e do cosmos e não só da redenção social. Por outro lado, ao contrário, apresenta--se a alma profunda de um dos tempos «fortes» da via eclesial, o quaresmal. Tem-se, assim, a possibilidade de encontrar na fé, na caridade, na pobreza, na fraternidade, na liberdade interior, na justiça as vias mestras do caminho espiritual e existencial do cristão. Discursos, mensagens e homilias são, portanto, a expres-são significativa do «magistério» de Bento XVI. Encarnam, todavia, através das suas coordenadas históricas concretas, também o ministério petrino do Papa, o qual deve «confir-mar os irmãos» (Lucas 22, 32), seja na fé, seja nas vicissitudes

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8 Introdução

da vida. Foi o que fez Cristo, que à mesma mesa eucarística Se apresenta «estando no meio de vós como aquele que ser-ve» (Lucas 22, 27) e logo depois Se encaminha para o horto dramático do Gólgota. Nesta luz, as palavras de Bento XVI são muitas vezes colocadas em contextos de ministério so-fredor, onde exactamente aparece o minus, aquele tornar-se menos também no contraste, na incompreensão, na recusa: pensamos nas reacções ao já célebre discurso de Ratisbona, de 12 de Setembro de 2006, ou então na impossibilidade de entrar no interior da universidade «La Sapienza» de Roma, em Janeiro de 2008, para pronunciar diante dos estudantes o discurso destinado a eles, ou ainda nas polémicas conexas com a remissão da excomunhão aos quatro bispos lefebvria-nos e à carta de Bento XVI, de 10 de Março de 2009, relativa ao assunto. O «ministério», contudo, manifesta-se também nos en-contros directos com tantas multidões nos lugares e diante de etnias diversas, nas palavras de consolação e de estímulo, na mansidão da figura deste Papa também diante de suspeitas que – como aconteceu em Paris ou Inglaterra – se dissolveram num diálogo sereno e intenso. Nas páginas que se seguirão de tudo isto se oferece testemunho. O leitor poderá no fim des-cobrir, num modo autêntico, o retrato humano e espiritual deste Pontífice, a sua visão de fé, o seu cruzar com a cultura actual, a sua paixão pelas expectativas da sociedade na qual vivemos. Mas sobretudo brilhará, exactamente como se diz no título, o seu amor íntimo por Cristo e o seu desejo de O «mostrar» ao mundo. Aliás, como já afirmava no século XIX o filósofo Soren Kierkegaard no seu Diário, «a única relação que se pode ter com Cristo e a sua grandeza é a contemporaneidade. Relacio-

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9Introdução

nar-se com um defunto é uma relação estética: a sua vida per-deu o aguilhão, não julga a minha vida, permite-me só admirá--lo..., não me constringe a julgar em sentido definitivo... Que o Cristianismo te foi anunciado significa, ao contrário, que tu deves tomar posição diante de Cristo. Ele é a decisão de toda a tua existência».

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PRIMEIRA MENSAGEMDE SUA SANTIDADE BENTO XVI

NO FINAL DA CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICACOM OS CARDEAIS ELEITORES

NA CAPELA SISTINA

Quarta-feira, 20 de Abril de 2005

Venerados Irmãos Cardeais Caríssimos Irmãos e Irmãs em Cristo Vós todos, homens e mulheres de boa vontade!

1. Graça e paz em abundância para todos vós (cf. 1 Pd 1, 2)! Nesta hora, convivem no meu coração dois sentimentos con-trastantes. Por um lado, um sentimento de incapacidade e de humana perturbação pela responsabilidade que ontem me foi confiada, como Sucessor do Apóstolo Pedro nesta Sede de Roma, à frente da Igreja universal. Por outro, sinto viva em mim uma profunda gratidão a Deus, que, como nos faz cantar a liturgia, não abandona o seu rebanho mas o guia através dos tempos, sob a direcção de quantos Ele mesmo elegeu vigários do seu Filho e constituiu pastores (cf. Prefácio dos Apóstolos I). Caríssimos, este reconhecimento íntimo por um dom da di-vina misericórdia prevalece, apesar de tudo, no meu coração. E considero este facto uma graça especial que me foi obtida pelo meu venerado Predecessor, João Paulo II. Tenho a impressão de sentir a sua mão forte que estreita a minha; parece que vejo

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12 Primeira mensagem do Santo Padre Bento XVI

os seus olhos sorridentes e que ouço as suas palavras, dirigidas neste momento particularmente a mim: «Não tenhas medo!».

A morte do Santo Padre João Paulo II, e os dias que se se-guiram, foram para a Igreja e para todo o mundo um tempo extraordinário de graça. O grande sofrimento pelo seu desa-parecimento e a sensação de vazio que deixou em todos foram suavizados pela acção de Cristo ressuscitado, que se manifes-tou durante longos dias na geral onda de fé, de amor e de solidariedade espiritual que teve o ponto mais alto nas suas solenes exéquias. Podemos dizê-lo: os funerais de João Paulo II foram uma experiência verdadeiramente extraordinária na qual se sentiu de certa forma o poder de Deus que, através da sua Igreja, deseja formar, de todos os povos, uma grande família, me-diante a força unificadora da Verdade e do Amor (cf. Lumen gentium, 1). Na hora da morte, conformado com o seu Mestre e Senhor, João Paulo II coroou o seu longo e fecundo Ponti-ficado, confirmando na fé o povo cristão, reunindo-o à sua volta e fazendo com que toda a família humana se sentisse mais unida. Como não nos sentirmos amparados por este testemunho? Como não sentir o encorajamento derivado deste aconteci-mento de graça? 

2. Contra qualquer previsão minha, a Providência divina, através do voto dos venerados Padres Cardeais, chamou-me a suceder a este grande Papa. Nesta hora penso de novo em tudo o que aconteceu na região de Cesareia de Filipe, há dois mil anos. Parece que ouço as palavras de Pedro: «Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo», e a solene afirmação do Senhor: «Tu és

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13Primeira mensagem do Santo Padre Bento XVI

Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja... dar-te-ei as chaves do Reino do Céu» (Mt 16, 15-19). Tu és o Cristo! Tu és Pedro! Parece-me reviver a mesma cena evangélica. Eu, sucessor de Pedro, repito com temor as palavras decididas do pescador da Galileia e ouço também, com ínti-ma emoção, a promessa tranquilizante do divino Mestre. Se é enorme o peso da responsabilidade que recai sobre os meus pobres ombros, é certamente desmedido o poder divino com o qual posso contar: «Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a mi-nha Igreja» (Mt 16, 18). Ao escolher-me para Bispo de Roma, o Senhor quis-me para seu Vigário, quis-me «pedra» sobre a qual todos possam apoiar-se com segurança. Peço-Lhe que auxilie as minhas poucas forças, para que eu seja corajoso e fiel Pastor do seu rebanho, sempre dócil às inspirações do seu Espírito. Preparo-me para empreender este ministério muito pecu-liar, o ministério «petrino», ao serviço da Igreja universal, com humilde abandono nas mãos da Providência de Deus. É em primeiro lugar a Cristo que renovo a minha total e confiante adesão: «In Te, Domine, speravi; non confundar in aeternum!». A vós, Senhores Cardeais, de ânimo agradecido pela con-fiança que depositastes em mim, peço que me apoieis com a oração e a constante, activa e sábia colaboração. Peço também a todos os Irmãos no Episcopado que me acompanhem com a oração e com conselhos, para que eu possa ser verdadeiramente o Servus servorum Dei. Assim como Pedro e os outros Após-tolos constituíram, por vontade do Senhor, um único Colégio apostólico, assim o Sucessor de Pedro e os Bispos, sucessores dos Apóstolos, como o Concílio recordou com vigor (cf. Lumen gentium, 22), devem estar intimamente unidos entre si. Esta co-munhão colegial, apesar da diversidade dos papéis e das funções do Romano Pontífice e dos Bispos, está ao serviço da Igreja e da

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14 Primeira mensagem do Santo Padre Bento XVI

unidade na fé, da qual depende em grande medida a eficiência da acção evangelizadora no mundo contemporâneo. Por con-seguinte, também eu desejo prosseguir nesta vereda pela qual caminharam os meus venerados predecessores, preocupado em proclamar ao mundo inteiro a presença viva de Cristo.

3. Tenho diante de mim, em particular, o testemunho do Papa João Paulo II. Ele deixa uma Igreja mais corajosa, mais livre, mais jovem; uma Igreja que, segundo o seu ensinamento e exemplo, olha com serenidade para o passado e não tem medo do futuro. Com o Grande Jubileu foi introduzida no novo milénio, levando nas mãos o Evangelho, aplicado ao mundo actual, através da autorizada repetida leitura do Con-cílio Vaticano II. Com razão o Papa João Paulo II indicou o Concílio como «bússola» com a qual a Igreja se pode orientar no vasto oceano do terceiro milénio (cf. Carta Apostólica Novo millennio ineunte, 57-58). Também no seu Testamen-to espiritual ele anotava: «Estou convencido que ainda será concedido às novas gerações auferir das riquezas que este Concílio do século XX nos concedeu» (17.III.2000). Por conseguinte, também eu, ao preparar-me para o ser-viço que é próprio do sucessor de Pedro, desejo afirmar com vigor a vontade decidida de prosseguir no compromisso de vi-vência do Concílio Vaticano II, no seguimento dos meus pre-decessores e em fiel continuidade com a bimilenária tradição da Igreja. Celebrar-se-á precisamente este ano o 40º aniversá-rio da conclusão da Assembleia conciliar (8 de Dezembro de 1965). Com o passar dos anos, os documentos conciliares não perderam actualidade; pelo contrário, os seus ensinamentos revelam-se particularmente pertinentes em relação às novas situações da Igreja e da actual sociedade globalizada.

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15Primeira mensagem do Santo Padre Bento XVI

4. De maneira mais do que nunca significativa, o meu Pon-tificado começa no momento em que a Igreja está a viver o Ano especial dedicado à Eucaristia. Como não tirar desta pro-videncial coincidência um elemento que deve caracterizar o ministério ao qual fui chamado? A Eucaristia, coração da vida cristã e fonte da missão evangelizadora da Igreja, não pode deixar de constituir o centro permanente e a fonte do serviço petrino que me foi confiado. A Eucaristia torna constantemente presente Cristo ressus-citado, que continua a oferecer-Se a nós, chamando-nos a par-ticipar da mesa do seu Corpo e do seu Sangue. Da comunhão plena com Ele brotam todos os outros elementos da vida da Igreja, em primeiro lugar a comunhão entre todos os fiéis, o compromisso de anúncio e testemunho do Evangelho, o fer-vor da caridade para com todos, especialmente para com os mais pobres e pequeninos. Por conseguinte, neste ano deverá ser celebrada com par-ticular relevo a Solenidade do Corpus Domini. Além disso, a Eucaristia estará no centro, em Agosto, na Jornada Mundial da Juventude em Colónia, que terá como tema: «A Eucaristia: fonte e ápice da vida e da missão da Igreja». Peço a todos que intensifiquem nos próximos meses o amor e a devoção a Jesus Eucaristia e que exprimam de modo corajoso e claro a fé na presença real do Senhor, sobretudo mediante a solenidade e a dignidade das celebrações. Peço isto de modo especial aos sacerdotes, nos quais penso neste momento com grande afecto. O Sacerdócio ministerial nasceu no Cenáculo, juntamente com a Eucaristia, como mui-tas vezes realçou o meu venerado Predecessor João Paulo II. «A existência sacerdotal deve, a título especial, tomar “forma eucarística”», escreveu na sua última Carta para a Quinta-Feira

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16 Primeira mensagem do Santo Padre Bento XVI

Santa (n. 1). Para esta finalidade contribui, antes de mais, a devota celebração quotidiana da sua santa Missa, centro da vida e da missão de cada Sacerdote.

5. Alimentados e sustentados pela Eucaristia, os católicos não podem deixar de se sentir estimulados a procurar aquela uni-dade plena que Cristo desejou ardentemente no Cenáculo. O Sucessor de Pedro deve ocupar-se de modo muito especial des-te último anseio do Mestre divino. De facto, a ele foi confiada a tarefa de confirmar os irmãos (cf. Lc 22, 32). Por conseguinte, com plena consciência, no início do seu ministério na Igreja de Roma, na qual Pedro derramou o seu sangue, o actual sucessor assume como primeiro compromisso o de trabalhar sem poupar energias na reconstituição da plena e visível unidade de todos os seguidores de Cristo. Esta é a sua ambição, este é o seu premente dever. Ele está consciente de que para isto não são suficientes as manifestações de bons sentimentos. São necessários gestos concretos que entrem nos corações e despertem as consciências, levando cada um àquela conversão interior que é o pressuposto de qualquer progresso no caminho do ecumenismo. O diálogo teológico é necessário; o aprofundamento das motivações históricas de opções feitas no passado também é indispensável. Mas o que é mais urgente é aquela «purificação da memória», tantas vezes recordada por João Paulo II, a única que pode predispor os ânimos para o acolhimento da plena verdade de Cristo. É diante d’Ele, supremo Juiz de cada ser vivo, que cada um de nós se deve apresentar, na auto-cons-ciência de que um dia Lhe deve prestar contas de tudo o que fez ou não fez em relação ao grande bem da plena e visível unidade de todos os seus discípulos.

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17Primeira mensagem do Santo Padre Bento XVI

O actual Sucessor de Pedro deixa-se interpelar em primeira pessoa por esta exigência e está disposto a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para promover a causa fundamental do ecumenismo. No seguimento dos seus predecessores, ele está plenamente determinado a cultivar todas as iniciativas que possam parecer oportunas para promover os contactos e o en-tendimento com os representantes das diversas Igrejas e Co-munidades eclesiais. Aliás, também lhes envia, nesta ocasião, a saudação mais cordial em Cristo, único Senhor de todos.

6. Neste momento, recordo a inolvidável experiência vivida por todos nós por ocasião da morte e dos funerais do saudoso João Paulo II. Em volta dos seus despojos mortais, colocados na terra nua, reuniram-se os Chefes das Nações, pessoas de todas as camadas sociais e sobretudo jovens, num inesquecível abraço de afecto e de admiração. Para ele olhou com confiança todo o mundo. Pareceu a muitos que aquela intensa participa-ção, noticiada até aos confins do planeta pelos meios de comu-nicação social, era como um comum pedido de ajuda dirigido ao Papa, da parte da humanidade de hoje que, perturbada por incertezas e temores, se interroga sobre o seu futuro. A Igreja de hoje deve reavivar em si mesma a consciência da tarefa de repropor ao mundo a voz d’Aquele que disse: «Eu sou a luz do mundo. Quem Me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida» (Jo 8, 12). Ao empreender o seu ministério, o novo Papa sabe que a sua tarefa é fazer resplandecer aos olhos dos homens e das mulheres de hoje a luz de Cristo: não a sua, mas a verdadeira luz do próprio Cristo. Com esta consciência dirijo-me a todos os que seguem outras religiões ou que simplesmente procuram uma resposta para as interrogações fundamentais da existência e ainda não

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18 Primeira mensagem do Santo Padre Bento XVI

a encontraram. Dirijo-me a todos com simplicidade e afecto, para garantir que a Igreja quer continuar a ter com eles um diá logo aberto e sincero, na busca do verdadeiro bem do ho-mem e da sociedade. Peço instantemente a Deus a unidade e a paz para a família humana e afirmo a disponibilidade de todos os católicos para a cooperação para um autêntico desenvolvimento social, res-peitador da dignidade de cada ser humano. Não pouparei esforços nem dedicação para prosseguir o prometedor diálogo iniciado pelos meus venerados predeces-sores com as diversas civilizações, porque da compreensão re-cíproca surgem as condições de um futuro para todos. Penso em particular nos jovens. A eles, interlocutores privilegiados do Papa João Paulo II, dirijo o meu abraço afectuoso na expectativa, se Deus quiser, de me encontrar com eles em Colónia, por ocasião da próxima Jornada Mun-dial da Juventude. Convosco, amados jovens, futuro e es-perança da Igreja e da humanidade, continuarei a dialogar, ouvindo as vossas expectativas com a intenção de vos ajudar a encontrar sempre mais em profundidade o Cristo vivo, o eternamente jovem.

7. Mane nobiscum, Domine! Permanece connosco, Senhor! Esta invocação, que forma o tema dominante da Carta apos-tólica de João Paulo II para o Ano da Eucaristia, é a oração que brota espontânea do meu coração, enquanto me preparo para iniciar o ministério ao qual Cristo me chamou. Como Pedro, também eu Lhe renovo a minha incondicionada promessa de fidelidade. Ele é o único a quem pretendo servir, dedicando--me totalmente ao serviço da sua Igreja.

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19Primeira mensagem do Santo Padre Bento XVI

Para confirmar esta promessa invoco a intercessão mater-na de Maria Santíssima, em cujas mãos confio o presente e o futuro da minha pessoa e da Igreja. Intervenham com a sua intercessão também os Santos Apóstolos Pedro e Paulo e todos os Santos. Com estes sentimentos concedo-vos, venerados Irmãos Car-deais, a quantos participam neste rito e a todos os que escu tam através da televisão e da rádio uma especial, afectuosa Bênção.

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ÍNDICE GERAL

Introdução .................................................................................... 5Card. Gianfranco RavasiPresidente do Pontifício Conselho para a Cultura

Primeira mensagem de Sua Santidade Bento XVI no final da conce-lebração eucarística com os Cardeais eleitores na Capela SistinaQuarta-feira, 20 de Abril de 2005 ................................................. 11

DISCURSOS

XX Jornada Mundial da Juventude (Colónia – Alemanha) – Vigília de oração com os jovens na esplanada de MarienfeldSábado, 20 de Agosto de 2005 ........................................................ 23

Discurso aos cardeais, arcebispos e prelados da Cúria Romana na apresentação de votos de NatalQuinta-feira, 22 de Dezembro de 2005 .......................................... 30

Viagem apostólica a Munique, Altötting e Ratisbona – Alemanha. Encontro com os representantes das ciênciasAula Magna da Universidade de Ratisbona. 12 de Setembro de 2006 . 49

Discurso durante o encontro com os participantes no Congresso promovido pela Pontifícia Academia para a VidaSábado, 16 de Setembro de 2006 ..................................................... 66

Discurso aos diplomatas de países muçulmanos acreditados junto à Santa Sé e expoentes de comunidades muçulmanas na ItáliaCastel Gandolfo. 25 de Setembro de 2006 ........................................ 70

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404 Índice geral

Discurso aos cardeais, arcebispos, bispos e prelados da Cúria Ro-mana para a apresentação dos votos de feliz NatalSala Clementina do Palácio Apostólico. Sexta-feira, 22 de Dezembrode 2006 ......................................................................................... 74

Discurso para o encontro na Universidade de Roma «La Sapienza»O texto que o Papa Bento XVI teria lido durante a visita à Universi-dade de Roma «La Sapienza», prevista para o dia 17 de Janeiro, depois anulada em 15 de Janeiro de 2008 .................................................. 91

Viagem apostólica a França por ocasião do 150º aniversário das aparições de Lourdes. Encontro com as autoridades de Estado no Palácio do EliseuParis. Sexta-feira, 12 de Setembro de 2008 ...................................... 104

Viagem apostólica a França por ocasião do 150º aniversário das aparições de Lourdes. Encontro com o mundo da cultura no Col-lège des BernardinsParis. Sexta-feira, 12 de Setembro de 2008 ...................................... 110

XXIII Jornada Mundial da Juventude (Sidney – Austrália) – Vigília no Hipódromo de RandwickSábado, 19 de Julho de 2008 .......................................................... 124

Peregrinação à Terra Santa. Visita ao memorial de Yad VashemJerusalém. Segunda-feira, 11 de Maio de 2009 ................................ 134

Peregrinação à Terra Santa. Encontro com as organizações para o diálogo inter-religiosoAuditório de Notre Dame no Jerusalem Center. Segunda-feira, 11 de Maio de 2009 ................................................................................ 138

Viagem à República Checa. Encontro com as autoridades políticas e civis e com o corpo diplomáticoCastelo de Praga – Sala Espanhola. Sábado, 26 de Setembro de 2009 144

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405Índice geral

Viagem ao Reino Unido. Encontro com as autoridades civisParlamento de Londres. Sexta-feira, 17 de Setembro de 2010 ............ 151

Viagem ao Reino Unido. Encontro com o mundo da educação ca-tólica. Discurso aos professores e religiososCapela do St. Mary’s University College de Twickenham. Sexta-feira,17 de Setembro de 2010 ................................................................. 159

Viagem ao Reino Unido. Encontro com os alunos das escolas ca-tólicas britânicasCampo desportivo do Saint Mary’s University College. Sexta-feira, 17 de Setembro de 2010 ...................................................................... 163

Viagem ao Reino Unido. Vigília de oração para a beatificação do Cardeal John Henry NewmanHyde Park, Londres. Sábado, 18  de Setembro de 2010 .................... 168

Troca de votos natalícios com a Cúria RomanaSegunda-feira, 20 de Dezembro de 2010  ........................................ 174

HOMILIAS E MEDITAÇÕES

Imposição do pálio e entrega do anel do pescador para o início do ministério petrino do Bispo de RomaPraça de São Pedro. Domingo, 24 de Abril de 2005 ......................... 189

Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de CristoBasílica de S. João de Latrão. Quinta-feira, 26 de Maio de 2005 ...... 199

40º aniversário do encerramento do Concílio Vaticano II e soleni-dade da Imaculada Conceição8 de Dezembro de 2005 .................................................................. 203

Missa da Meia-Noite. Solenidade do Natal do SenhorBasílica Vaticana. Sábado, 24 de Dezembro de 2005 ....................... 211

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406 Índice geral

Viagem a França por ocasião do 150º aniversário das aparições de Lourdes. Celebração eucarística na esplanada des InvalidesParis. Sábado, 13 de Setembro de 2008 ........................................... 217

Viagem a França por ocasião do 150º aniversário das aparições de Lourdes. Santa Missa com os doentes Esplanada da Basílica de Nossa Senhora do Rosário, Lourdes. Segun-da-feira, 15 de Setembro de 2008 .................................................... 225

Peregrinação à Terra Santa. Belém, Palestina. Santa Missa – homiliaPraça da Manjedoura. Quarta-feira, 13 de Maio de 2009 ................ 233

Visita pastoral a Turim. Veneração do Santo Sudário. MeditaçãoDomingo, 2 de Maio de 2010 ......................................................... 238

Encerramento do Ano Sacerdotal. Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Santa Missa – homiliaPraça de São Pedro. Sexta-feira, 11 de Junho de 2010 ...................... 243

Viagem ao Reino Unido. Catedral do Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Santa Missa – homiliaCity of Westminster. Sábado, 18 Setembro de 2010 .......................... 253

Viagem ao Reino Unido. Santa Missa com a beatificação do Vene-rável Cardeal John Henry Newman – homiliaBirmingham. Domingo, 19 de Setembro de 2010 ............................. 259

Viagem a Santiago de Compostela e Barcelona. Santa Missa dedi-cada ao altar e à igreja da Sagrada Família – homiliaBarcelona. Domingo, 7 de Novembro de 2010 ................................. 265

MENSAGENS

Mensagem para o Dia Mundial da Paz. 1 de Janeiro de 2006Na verdade, a paz .......................................................................... 275

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407Índice geral

Mensagem para a Quaresma de 2006 ............................................ 287

Mensagem para o Dia Mundial da Paz. 1 de Janeiro de 2007A pessoa humana, coração da paz .................................................... 293

Mensagem para o Dia Mundial da Paz. 1 de Janeiro de 2008Família humana, comunidade de paz .............................................. 307

Mensagem para a Quaresma de 2008 ............................................ 319

Mensagem para o Dia Mundial da Paz. 1 de Janeiro de 2009Combater a pobreza, construir a paz ................................................ 325

Mensagem para a Quaresma de 2009 ............................................ 340

Carta aos Bispos da Igreja Católica a propósito da Remissão da ex-comunhão aos quatro bispos consagrados pelo arcebispo LefebvreVaticano, 10 de Março de 2009 ...................................................... 346

Mensagem para o Dia Mundial da Paz. 1 de Janeiro de 2010Se quiseres cultivar a paz, preserva a criação ..................................... 355

Mensagem para a Quaresma de 2010 ............................................ 371

Índice analítico .............................................................................. 379

Índice de nomes .............................................................................. 401

Índice geral .................................................................................... 403