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Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012 1 MOVIMENTO DE LEIGOS: FORMAS DIFUSAS DE CATOLICIZAÇÃO NA DIOCESE DE GUARAPUAVA QUEIRÓS, Janete (UEPG) CAMPOS, Névio de (UEPG) Este artigo tem como objetivo principal analisar a presença dos leigos no trabalho pastoral-educativo da Diocese de Guarapuava, no período compreendido entre 1965 a 1987. Nessa conjuntura, a Diocese de Guarapuava esteve sob os cuidados de D. Frederico Helmel, o qual foi eleito por Paulo VI como primeiro bispo dessa diocese. Nesse período, D. Helmel organizou a diocese articulando o laicato, a fim de promover uma vivência católica nas unidades territoriais da diocese. Os leigos atuaram em modalidades diferentes, na catequese, na valorização da família, nas pastorais, desempenhando um trabalho educativo em áreas distintas e para públicos específicos. D. Frederico Helmel (1911-1993) nasceu em Lumz am See, Áustria, foi bispo, professor de ciências naturais, ministrando disciplinas como Química e Matemática, e Teologia, no Seminário Maior da Congregação do Verbo Divino, em São Paulo. Em 1965, foi chamado ao Vaticano para assumir o cargo de diretor do Seminário Maior da Congregação. No Início do ano de 1966, foi publicada sua nomeação para 1º bispo da Diocese de Guarapuava. À luz do conceito de campo postulado por Pierre Bourdieu, defendemos que o trabalho educativo, realizado pelos grupos de leigos da Diocese de Guarapuava, organizado pelo bispo, dialoga com a ideia da organização do campo religioso católico. No campo religioso católico, houve a circulação de documentos norteadores da Igreja a respeito do papel do leigo na organização e na tarefa de evangelização dos fiéis católicos. Em relação à estrutura do campo, Bourdieu (2008, p. 50, grifo do autor), campo pode ser definido como:

MOVIMENTO DE LEIGOS: FORMAS DIFUSAS DE … · jovens, pois “[...] estão obrigados não somente a impregnar o mundo de espírito cristão, mas também são chamados a serem testemunhos

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Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012

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MOVIMENTO DE LEIGOS: FORMAS DIFUSAS DE

CATOLICIZAÇÃO NA DIOCESE DE GUARAPUAVA

QUEIRÓS, Janete (UEPG)

CAMPOS, Névio de (UEPG)

Este artigo tem como objetivo principal analisar a presença dos leigos no

trabalho pastoral-educativo da Diocese de Guarapuava, no período compreendido entre

1965 a 1987. Nessa conjuntura, a Diocese de Guarapuava esteve sob os cuidados de D.

Frederico Helmel, o qual foi eleito por Paulo VI como primeiro bispo dessa diocese.

Nesse período, D. Helmel organizou a diocese articulando o laicato, a fim de promover

uma vivência católica nas unidades territoriais da diocese. Os leigos atuaram em

modalidades diferentes, na catequese, na valorização da família, nas pastorais,

desempenhando um trabalho educativo em áreas distintas e para públicos específicos.

D. Frederico Helmel (1911-1993) nasceu em Lumz am See, Áustria, foi bispo,

professor de ciências naturais, ministrando disciplinas como Química e Matemática, e

Teologia, no Seminário Maior da Congregação do Verbo Divino, em São Paulo. Em

1965, foi chamado ao Vaticano para assumir o cargo de diretor do Seminário Maior da

Congregação. No Início do ano de 1966, foi publicada sua nomeação para 1º bispo da

Diocese de Guarapuava.

À luz do conceito de campo postulado por Pierre Bourdieu, defendemos que o

trabalho educativo, realizado pelos grupos de leigos da Diocese de Guarapuava,

organizado pelo bispo, dialoga com a ideia da organização do campo religioso católico.

No campo religioso católico, houve a circulação de documentos norteadores da Igreja a

respeito do papel do leigo na organização e na tarefa de evangelização dos fiéis

católicos.

Em relação à estrutura do campo, Bourdieu (2008, p. 50, grifo do autor),

campo pode ser definido como:

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Essa estrutura não é imutável e a topologia que descreve um estado de posições sociais permite fundar uma análise dinâmica da conservação e da transformação da estrutura da distribuição das propriedades ativas e, assim, do espaço social. É isso que acredito expressar quando descrevo o espaço social global como um campo, isto é, ao mesmo tempo, como um campo de forças, cuja necessidade se impõe aos agentes que nele se encontram envolvidos, e como um campo de lutas, no interior do qual os agentes se enfrentam, com meios e fins diferenciados conforme sua posição na estrutura do campo de forças, contribuindo assim para a conservação ou a transformação de sua estrutura.

Conforme a citação acima, o mundo social é compreendido por Bourdieu como

um espaço social global, no qual os indivíduos participam de vários campos, disputando

o controle dos capitais pertinentes a cada um deles, bem como se contrapondo a outros

espaços sociais. O mundo social é composto por inúmeros campos, sendo que em cada

um existe a disputa pelo poder, pois todos estão recortados pelo próprio poder.

O mundo social é composto por inúmeros campos, sendo que em cada um

existe a disputa pelo poder conforme o objeto em questão. No caso específico da

instituição católica, a disputa se dá no campo religioso e a conquista pelo poder procura

legitimar o agente que tem mais reconhecimento. O campo religioso refere-se como

sendo o espaço da mensagem de Deus, pois “[...] todo campo religioso é o lugar de uma

luta pela definição, isto é, a delimitação das competências [...] a cura dos corpos e das

almas [...]” (BOURDIEU, 1990, p. 120). Conforme a definição de “campo”, no caso do

campo religioso também existe a luta pela legitimidade da visão religiosa, isto ocorre

devido à concorrência dos agentes no “campo”.

O reconhecimento da visão de mundo católica é a expressão do habitus

religioso incorporado pelos indivíduos, isto é, na terminologia de Bourdieu (1989, p.

61) “[...] o habitus, como indica a palavra, é um conhecimento adquirido e também um

haver, um capital [...]; a hexis, indica a disposição incorporada, quase postural”.

D. Frederico apostou no trabalho dos leigos, a fim de expandir os ensinamentos

da educação católica aos fiéis da recém criada diocese. No quadro 1 apresentamos um

breve histórico dos grupos de leigos atuantes na diocese no período em análise.

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Quadro 1 – Movimentos Leigos da Diocese de Guarapuava. (continua) Criação Nome Característica

1930 Apostolado da Oração Objetivo: a oração. Esse grupo está presente em

todas as paróquias sob a orientação de um

sacerdote.

Promovem cursos de costura, ensino religioso,

assistência médica, moral e religiosa.

1958 Legião de Maria Objetivo: trabalho espiritual e social. Procuram

levar a mensagem evangélica aos católicos.

1966 Pastoral Vocacional Objetivo e finalidade: coordenar e assistir os

vocacionados.

1967 Movimento Familiar Cristão Objetivo: preparação dos noivos para o

matrimônio, ministrando cursos de preparação.

Grupo constituído de casais da diocese.

1968 Cursilhos de Cristandade Objetivo: despertar lideranças cristãs, promover a

ação religiosa e comunitária.

1970 Treinamento de Líderes

Cristãos - TLC

Objetivo: influência de lideranças jovens. Curso

breve de três dias, posteriormente, com reuniões.

1973 Serra clube Objetivo: prestar auxílio financeiro aos

seminaristas no seu preparo para o sacerdócio.

1975 Curso de Evangelização,

Integração e Ação Apostólica

Objetivo e finalidade: destina-se à pessoas que

dispõe de menos tempo, é um encontro nos

mesmos moldes do cursilho. Divide-se em grupos

(CEIA) masculino, feminino e juvenil.

Sem data Conferências Vicentinas e

Damas de Caridade

Objetivo: dedicam-se ao trabalho em prol da

saúde. São grupos que nasceram do espírito de São

Vicente de Paula.

Sem data Grupo GEN Objetivo: juventude. São jovens que se reúnem

periodicamente, e procuram viver o ideal cristão

Fonte: adaptado de Boletim Diocesano (1978); Marcondes (1987).

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A partir da leitura do quadro 1, os leigos constituíram grupos distintos,

dedicados a diferentes estilos de atividades, que visavam manter os valores do

catolicismo entre os católicos, em regiões distintas da diocese. Com públicos diferentes,

cada um organizou sua linha de ação, conforme as especificidades de cada grupo,

compreendendo o universo da oração, formação de líderes católicos, preparação aos

sacramentos e cuidados com a demanda de sacerdotes na própria diocese.

Antes de iniciarmos nossa discussão acerca da ação educativa do laicato, dos

grupos já supracitados, precisamos explicitar alguns pontos-chave, apontados nos

documentos eclesiais, que fizeram parte das orientações advindas dos documentos

oficiais da Igreja Católica.

Na Exortação Apostólica de João Paulo II (1920-2005) Christifideles laici, de

1988, documento este que tratou da vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo,

o Papa apontou para a necessidade do trabalho pastoral executado pelos leigos na defesa

dos valores católicos diante da realidade atual mundial. Sustentou nesse documento a

importância dos leigos nas atividades formativas:

[...] é que os fiéis leigos escutem o chamamento de Cristo para trabalharem na sua vinha, para tomarem parte viva, consciente e responsável na missão da Igreja, nesta hora magnífica e dramática da história, no limiar do terceiro milênio. Novas situações, tanto eclesiais como sociais, econômicas, políticas e culturais, reclamam hoje, com uma força toda particular, a ação dos fiéis leigos. Se o desinteresse foi sempre inaceitável, o tempo presente torna-o ainda mais culpável. Não é lícito a ninguém ficar inativo. (JOÃO PAULO II, Exortação Apostólica, 1989, p. 11 – grifos do autor).

Essa necessidade da participação dos leigos na Igreja, já fora discutida no

Concílio Vaticano II (1962-1965). No entanto, a Exortação Apostólica foi um

documento específico, destinada as características do laicato na vinha do Senhor1. Uma

questão interessante refere-se ao papel dos jovens como protagonistas da ação

evangelizadora. O Sínodo quis prestar uma atenção especial aos jovens, pois, esses são

importantes no desenvolvimento da Igreja do futuro. Nesse sentido, são chamados para 1 O termo foi retirado do evangelho de (MT 20, 6-7). Na parábola, os trabalhadores não tinham sido contratados para o trabalho na vinha, então Deus disse-lhes: “ide vós também para minha vinha”. Na Exortação Apostólica de João Paulo II Christifideles laici, a parábola foi utilizada de forma análoga, para reforçar o aspecto da importância do leigo na Igreja, ou seja, da relevância do trabalho educativo desenvolvido pelo leigo na instituição católica.

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se unirem ao trabalho pastoral da Igreja, pois demonstram o espírito cristão.

(EXORTAÇÃO APOSTÓLICA, 1989, p. 129).

No Concílio Vaticano II, a discussão referente aos leigos foi exposta na

Constituição Pastoral Gaudium et Spes. Ao tratar dos leigos, esses devem participar

ativamente em todas as atividades da Igreja. O documento mostra-se categórico aos

jovens, pois “[...] estão obrigados não somente a impregnar o mundo de espírito cristão,

mas também são chamados a serem testemunhos de Cristo em tudo, no meio da

comunidade humana”. (GAUDIUM ET SPES, 1970, p. 52)2.

Aguiar (1996) na sua tese A Pedagogia da formação dos Leigos Católicos,

observa que nos primórdios da experiência cristã, com o projeto de Jesus de Nazaré, não

havia distinção entre clero e leigos, todos participavam do mesmo modo na

comunidade. O termo leigo, etimologicamente, vem de “laikós”, que deriva de “Laos”,

que significa povo. O sufixo “ikós” refere-se a categoria de pessoas opostas dentro do

povo. O uso do termo pela primeira vez foi com Papa Clemente de Roma,

aproximadamente no ano 95. A distinção entre leigos e clero, foi realizada pela

primeira vez com Clemente de Alexandria, já no século II. A partir desse momento,

instauraram-se dois estilos de Igreja, com funções diferentes: a Igreja-comunidade, sem

distinção de funções, e a Igreja-sociedade, com dimensão hierárquica. Foi então, a partir

dessas duas vertentes, que no século IV, surgem conotações de sagrado e profano, clero

– sagrado, leigos – profanos.

Aguiar (1996) contextualiza como teólogos, filósofos e pensadores contribuíram

para o engajamento e discussão sobre a pertença dos leigos na Igreja do século XX.

Indica que teólogos e filósofos, como Pe. Ives Congar; Karl Rahner; Mons J. Lecercq,

Jacques Maritain; Gabriel Marcel, entre outros, fizeram explanações sobre a pertença do

leigo na Igreja. Assim, no pontificado de Pio XII (1939-1958), a Encíclica sobre o corpo

místico de Cristo, foi um marco de reflexões na eclesiologia. Posteriormente, com os

papas sucessores, novos documentos pontifícios discutiram o tema dos leigos, além da

realização de congressos, como o I e II Congresso do Apostolado dos leigos, realizado

em 1951 e 1957. Referente ao primeiro momento dos leigos vivenciado na Europa,

afirma-se que esses se organizaram e atuaram em jornais, colégios, escolas paroquiais, 2 Utilizamos a nona edição do documento, de 1970.

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configurando-se como organização católica. Concomitantemente, as fraternidades e

associações também dispunham de leigos. Desse modo, a Igreja Católica, procurou

nessas organizações “[...] substituir as antigas estruturas [...] as obras tinham um caráter

defensivo e a pastoral, como eixo as devoções”. (AGUIAR, 1996, p. 26).

Na Diocese de Guarapuava, alguns grupos de leigos já existiam antes do bispado

de D. Frederico como os Vicentinos e o Apostolado da oração, ambos os grupos criados

em 1930, e a Legião de Maria, de 1958.

Nas fotos abaixo, podemos ilustrar o momento histórico da atuação desses

grupos na diocese.

Figura 1 - Apostolado da Oração. Fonte: Foto nº 09 - Arquivo da Catedral Nossa Senhora de Belém.

Na foto, de 1930, podemos observar a presença do laicato na paróquia de

Guarapuava, que na conjuntura pertencia à Diocese de Ponta Grossa, com os padres

Teodoro Matessi e Paulo Tschorn.

Na próxima imagem, verificamos a presença dos homens leigos, na época,

constituído como grupo dos Vicentinos.

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Figura 2 - Vicentinos da Paróquia. Fonte: Foto nº 08 – Arquivo da Catedral Nossa Senhora de Belém. Nota: Foto de 1930, com os padres Teodoro e Paulo.

As fotos remetem-se ao período do século XX. Assim, indicamos que os leigos

já participavam das atividades evangelizadoras na paróquia de Guarapuava, estruturados

em grupos isolados, um compreendendo mulheres, com o grupo do Apostolado da

Oração e Legião de Maria, e o outro, homens, com os Vicentinos.

O ano de 1978 foi um marco importante na divulgação das atividades dos

grupos, pois com a criação do Boletim Diocesano, informativo da diocese, o laicato

pode divulgar suas atividades educativas de forma mais eficiente entre os católicos.

Com o reconhecimento do discurso exposto no Boletim, sendo esse legitimado pela

comunidade de fiéis, os leigos passaram a ser reconhecidos, ou seja, a sua função na

instituição passou a ser vista como parte integrante da organização da igreja,

responsável pela prática evangelizadora, que não deixa de ser uma prática educativa.

Isso fortaleceu o elo entre a comunidade e a Igreja, aproximando-os da experiência

religiosa, da visão de mundo católica, de forma informativa e formativa.

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Entre as atividades dos leigos, a diocese investiu na formação educativa através

dos Cursilhos de Cristandade. Gomes (2009, p. 27-28) analisa o Movimento de

Cursilhos de Cristandade no Brasil, durante o período da ditadura militar, entre 1964 a

1980. Esse movimento da Igreja Católica surgiu na Espanha, com D. Juan Hervás, em

1940, instalando-se no Brasil em 1962. Esse grupo foi contrário à Teologia da

Libertação. O método utilizado para aplicar os ideais católicos foram os cursos. A

conduta de vida dos católicos, devotos a sua crença, influenciariam os outros espaços

sociais, como escola, trabalho, família, etc. Utilizavam como recurso nos cursos a

atividade musical. As canções faziam parte desses movimentos, pois ajudavam os

católicos a memorizar a doutrina. Na Espanha, após a reflexão da doutrina, os cursos

eram finalizados por meio do canto “De colores”. Essa canção faz parte da cultura

folclórica da Espanha, datada a partir do século XVI. Mesmo De colores sendo apenas

uma canção folclórica, não tendo relação com os cursilhos, tornou-se hino dos

movimentos, principalmente na America Latina.

No Brasil, esse movimento chegou em 1962, sendo recepcionado na

Arquidiocese de São Paulo, espalhando-se por todo o país. Como os cursos tornaram-se

difusos para os católicos no Brasil, foi preciso à criação de um órgão que divulgasse e

desse respaldo a essa atividade. Nesse anseio fundou-se o periódico Alavanca, no

Estado de São Paulo. Esse periódico contou com a presidência de Carlos Maria

Montero, brasileiro, então professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

(PUC-SP), e a direção espiritual de Pe. Paulo Cañelles, um dos espanhóis responsáveis

por trazer os cursos de Hervás para o Brasil. (GOMES, 2009, p. 55). Os primeiros

cursilhos foram realizados nas Arquidioceses de Campinas e em São Paulo, sendo

organizados em parceria entre as duas arquidioceses. A partir de 1965, Campinas

organizou sua própria estrutura, montando seu próprio secretariado.

Em 1968, na Diocese de Guarapuava, D. Frederico convidou alguns

representantes da comunidade para participarem de um Cursilho de Cristandade, em São

Paulo, pois nesse Estado existia esse tipo de formação. Posteriormente, a cidade de

Telêmaco Borba – PR, pertencente à Diocese de Ponta Grossa, realizou o seu Cursilho

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contando com a presença de representantes guarapuavanos3. (MARCONDES4, 1987, p.

92). No ano seguinte, em 1969, outras pessoas de Guarapuava participaram do Cursilho

promovido pela Diocese de Ponta Grossa, em Curitiba. Por meio dessas experiências, a

Diocese de Guarapuava conseguiu organizar seu primeiro Cursilho de Cristandade, o

qual ocorreu em 1969. (MARCONDES, 1987).

Sobre essa prática educativa adotada pela diocese na promoção de lideranças,

destacamos que foram convidadas pessoas com representações significativas na cidade,

como por exemplo, donos de cartórios, médicos, advogados, professores e políticos.

Com a ideia já assimilada e em processo de maturação, D. Frederico providenciou a

construção de um espaço próprio para a realização dos Cursilhos, chamado Casa de

Líderes, em dezembro de 1974 (MARCONDES, 1987).

Em maio de 1981, o Boletim Diocesano anunciou a divulgação do primeiro

cursilho em língua alemã no Brasil. (BOLETIM DIOCESANO, mai. 1981, p. 2).

Destacamos a realização desse cursilho, por ser um curso em língua alemã, sendo

idealizado pelo bispo, a fim de subsidiar suporte espiritual aos católicos residentes no

Distrito de Entre Rios, também conhecido como Colônia dos alemães, território este

pertencente à Diocese de Guarapuava. Para a realização do evento, o bispo diocesano

convidou casais cursilhistas de Viena, para a realização de dois cursilhos, um feminino

e outro masculino.

A relevância desse evento em especial, refere-se à conscientização de membros

da comunidade alemã, a qual possuiu e possui influência no desenvolvimento

econômico da região, devido à condição empreendedora da Cooperativa Agrária, no

cultivo de grãos, cevada e trigo.

Outros movimentos de leigos também promoveram eventos, dentre eles

palestras, reuniões, encontros, visitas e cursos voltados ao público de católicos. O MFC

- Movimento Familiar Cristão foi um grupo atuante na formação e preparação religiosa

da família. Esse grupo foi organizado em 1962, sob a liderança do padre Antônio

3 Citamos alguns nomes dos representantes guarapuavanos no Cursilho de Telêmaco Borba: Dr. José Canestraro; Sr. Elias Farah Neto; Sr. Hélio Dalla Vecchia e Sr. Hélio D’Oliveira. 4 Dialogamos com a autora, a fim de evidenciar aspectos relevantes na organização de D. Helmel e os leigos, pois, a obra compreende o primeiro estudo realizado sobre o Jubileu de Ouro de D. Helmel na Diocese (20 anos de ação pastoral).

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Koremann. Contudo, no ano de 1967 criou-se a Equipe Diocesana do Movimento

Familiar Cristão, contando com registro no Conselho Estadual, sendo considerado como

entidade de utilidade pública, para fins educativos, conforme o decreto do Executivo

Federal nº 1400 de 25 de setembro de 1962 e publicado em Diário Oficial da União, em

03 de outubro de 1962. (MARCONDES, 1987, p. 103).

Dedicados a defesa da integridade das famílias e conservação dos lares sob a

ótica dos preceitos católicos, esse grupo realizou formações voltadas ao rito cerimonial

do casamento, atuando na preparação específica dos mecanismos referentes ao

matrimônio. Esses encontros foram chamados de Encontro de Corações e Encontro de

Alianças. Em 1967, onze casais do MFC, juntamente com o Bispo D. Frederico

seguiram a Curitiba para um encontro de formação. (LIVRO TOMBO, 1967, p. 20).

Como a Igreja já havia discutido sobre a importância da família no contexto do

mundo moderno, principalmente, o papel da família, dos pais na educação dos filhos, o

MFC agrupou membros da comunidade católica e, começou promover encontros

obrigatórios para os noivos, a fim de fornecer uma relação mais próxima entre noivos e

a vida em aliança, estruturados nos preceitos da doutrina. (LIVRO TOMBO, 1967, p

21).

Tais encontros, realizados na forma de reuniões, cujo tema central era a

formação no eixo da espiritualidade, psicologia, parte jurídica e realização espiritual,

abordavam temas relevantes à formação dos fiéis católicos. No Livro Tombo (1967, p.

21) encontramos registrado o tema das palestras e a especificidade de cada uma. No

encontro realizado em novembro de 1967, o MFC organizou o evento focando sobre os

seguintes temas: 1. Adão e Eva no século XX (Psicologia masculina e feminina), 2.

Deus ajuda ou atrapalha no amor (Espiritualidade matrimonial), 3. Dois numa só carne

(Parte médica), 4. O amor é criador (Realização espiritual e educação) e 5. Vida no lar

(Parte jurídica).

O MFC também produziu material didático para serem trabalhados nos eventos.

Em 1980, o livro chamado Casamento e família e foi destinado aos professores do 2º

grau (atualmente denominado Ensino Médio) e aos casais. No livro, foram reunidos

subsídios didáticos, como orientações e motivações para as aulas. Pode-se dizer que o

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trabalho do leigo foi organizado, visando padronizar uma mesma metodologia,

linguagem, etc.

Com o objetivo de fortalecer os preceitos do catolicismo, o MFC escreveu uma

nota no Boletim Diocesano, de outubro de 1980, a respeito da experiência adquirida

pelos participantes nos encontros do MFC:

Por mais perfeito que nos julguemos, acreditamos sempre em ter algo a aprender, num dom para aprimorar e numa dificuldade a superar. Se o mundo pudesse viver o clima de amor, fraternidade, doação e humildade vivido neste encontro, certamente as distâncias entre irmãos diminuiriam, o perdão seria mais freqüente e a fidelidade cada vez maior. É só errando, perdoando, amando, participando e conhecendo, que diminuiremos a distância entre o HOMEM e DEUS. (BOLETIM DIOCESANO, out. 1980, p. 2 – grifo do autor).

Além dos casais em formação para o matrimônio, D. Frederico investiu na

evangelização dos fiéis do interior. A Criação da Equipe Diocesana levando otimismo

ao interior - EDILOI - foi organizada visando fortificar as capelas e paróquias, tendo em

vista proporcionar às comunidades do interior um envolvimento maior com a vivência

da espiritualidade católica.

A EDILOI foi fundada oficialmente em 03 de julho de 1978. Como observamos

anteriormente, o leigo é chamado a corresponder e colaborar com a Igreja, junto com a

hierarquia. Esse grupo de leigos, composto por adultos e jovens católicos que já

passaram por um curso de formação e conscientização, se propunha em realizar

encontros denominados Domingos Intensivos, sempre que solicitados pelos respectivos

vigários. Tais encontros destinavam-se para os jovens com idade mínima de quinze anos

de ambos os sexos como para os adultos. Sua organização interna era composta por um

casal de adultos e três jovens. (BOLETIM DIOCESANO, jul. 1978, p. 4). A fim de

elucidar a questão de evangelização dos fiéis interioranos, vejamos a ação educativa

desempenhada por esse grupo, em novembro de 1978, as quais foram noticiadas no

Boletim Diocesano.

Quadro 2 – Calendário de novembro de 1978 da EDILOI (continua)

DATA LOCALIDADE ESPECIFICIDADE

05/11 Cerro Verde Jovens e adultos

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05/11 Jacutinga Jovens e adultos

05/11 Pinhão Adultos

12/11 Serraria Losso Jovens e adultos

12/11 Cavaco e Cerro Alto Jovens

19/11 Grongoró Adultos

19/11 Guairacá Jovens

26/11 Campina do Simão Adultos

26/11 Gleba 9 Jovens

Fonte: Boletim Diocesano (1978, p. 4).

As localidades que foram beneficiadas com ação da EDILOI nesse período

correspondem a territórios afastados da sede da diocese. Com base nesse quadro,

podemos compreender o objetivo de levar os preceitos do catolicismo aos fiéis dessas

regiões. No mês de novembro de 1978, foram realizados nove Domingos Festivos,

compreendendo uma formação para jovens e adultos, ou seja, a diocese disponibilizou

equipes para trabalhar em regiões diferentes e no mesmo dia de formação. Apenas esse

fato, nos permite afirmar a articulação dos leigos na Diocese de Guarapuava.

Para evidenciar que a EDILOI, em conjunto com o bispo, articulavam meios

precisos na atuação do laicato, em setembro de 1981, D. Frederico se reuniu com a

EDILOI a fim de repensar as estratégias, orientando sobre as metas planejadas para esse

grupo. Por meio das suas visitas pastorais, D. Frederico procurou conhecer a realidade

de seus diocesanos, sendo preciso “[...] despertar nos responsáveis pelo trabalho

pastoral, a necessidade de renovação no seu campo de agir, para melhor atender os

objetivos e as necessidades da Igreja”. (BOLETIM DIOCESANO, ago. 1981, p. 04).

Assim, pretendia oferecer algo a mais em termos de perseverança para que os

participantes dos encontros se inserissem cada vez mais no trabalho educativo da Igreja.

Tratando da organização do campo religioso católico, a Diocese de

Guarapuava dialogou com os documentos norteadores da Igreja, pois conforme citamos

a Exortação Apostólica de João Paulo II, os leigos deveriam fazer parte ativa da Igreja,

cada qual, atuando como representante do ideal católico, desempenhando funções

educativas de auxílio aos bispos na tarefa formativa dos fiéis. O engajamento dos leigos

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na Igreja implicou em uma “força”, expressão essa exposta no documento a Exortação

Apostólica de João Paulo II, que visou abraçar os grupos de leigos no objetivo de

fortalecer a presença da religião católica entre os fiéis, e na própria sociedade.

Em síntese, a presença dos leigos na Diocese de Guarapuava foi um

movimento da Igreja Católica a fim de favorecer uma evangelização mais eficiente. As

ações educativas realizadas pelos leigos correspondem ao emprego de um habitus

católico, no qual, os fiéis realizam suas práticas ritualísticas enfatizando a ética católica,

práticas morais cunhadas pelos preceitos dessa doutrina. A fim de manter o prestígio da

Instituição Católica na região territorial da diocese, as ações educativas foram avaliadas

pelo bispo e seus leigos, pois o fato de repensar a ação educativa do leigo na EDILOI,

bem como das suas estratégias, sinaliza a preocupação da hierarquia em renovar as

práticas educativas, assegurando um trabalho efetivo de formação para os fiéis,

aproximando-os da Igreja.

FONTES ALBÚM DE FOTOGRAFIAS DA CATEDRAL NOSSA SENHORA DE BELÉM n. 1, foto nº 08, 09. BOLETIM DIOCESANO. Ano 1, n. 1, jul. 1978. ______. Ano 3. n. 23, out. 1980. ______. Ano 4. n. 28, mai. 1981 ______. Ano 4. n. 30, ago. 1981 LIVRO TOMBO. 1967, p. 20. ______. 1967, p. 21

REFERÊNCIAS

AGUIAR, Antônio Geraldo de. A Pedagogia de formação dos leigos católicos. 1996. 404 f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1996.

Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012

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