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Movimentos, tendências e conceitos da arquitetura e urbanismo contemporâneo Arq. Caio Nogueira H. Cordeiro

Movimentos, tendências e conceitos da arquitetura e ... · cenografia; mas quando -popular ou erudita -aquele que a ideou, pára e ... Movimentos, tendências e conceitos da arquitetura

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Movimentos, tendências e conceitos da arquitetura e urbanismo contemporâneo

Arq. Caio Nogueira H. Cordeiro

Il Campo (Siena - Itália)

A rigor, não existe uma História da Arquitetura isolada da história da civilização, mas uma história da aventura humana que produz arte ao construir seu habitat.

É neste entrelaçamento entre a produção material e a representação humana traduzida em arte, sobre as condições dadas à sua época, que reside a dimensão histórica da arquitetura e sua transcendência ao longo do tempo para as gerações sucedentes.

“ mi mayor interés está principalmente concentrado en el propósito de mostrar susrelaciones recíprocas con las actividadeshumanas y la semejanza de métodos que se emplean hoy día, lo mismo en construcción, pintura, urbanística y la ciencia.” (1)

(1) Siegfried Giedion: Spacio, Tiempo y Arquitectura (1940 / 1966)

Movimentos, tendências e conceitos da arquitetura e urbanismo contemporâneo

Arquiteto do século XIX, trabalhando em sua prancheta

É impossível dissociar a teoria ou a própria obra artística, produtos do pensamento, do espírito humano, das condicionantes de seu tempo.

Nessas condições, o entrelaçamento entre as duas categorias: Teoria e História é fundamental para a compreensão do fenômeno arquitetônico.

Para Marx, a História não é uma compilação de fatos memoráveis que se sucedem ao longo do tempo e determinam resultados sobre as gerações posteriores, mas

“A sucessão de diferentes gerações cada uma das quais explora os materiais, os capitais e as forças de produção a ela transmitidas pelas gerações anteriores; ou seja, de um lado prossegue em condições completamente diferentes a atividade precedente, enquanto, de outro lado, modifica as circunstâncias anteriores através de uma atividade totalmente diversa”. (2)

(2) Karl Marx & Friedrich Engels: A Ideologia Alemã (1845 / 1846)

Movimentos, tendências e conceitos da arquitetura e urbanismo contemporâneo

(3)Lucio Costa : Considerações sobre arte contemporânea

(1952), in Lucio Costa - Registro de um vivência.

“Enquanto satisfaz apenas às exigências técnicas e funcionais, não é ainda arquitetura; quando se perde em intenções meramente formais e decorativas, tudo não passa de cenografia; mas quando - popular ou erudita - aquele que a ideou, pára e hesita ante a simples escolha de um espaçamento de pilares ou da relação entre a altura e a largura de um vão, e se detém na obstinada procura da justa medida entre cheios e vazios, na fixação dos volumes e subordinação deles a uma lei, e se demora atento ao jogo dos materiais e seu valor expressivo, -quando tudo isso se vai pouco a pouco somando em obediência não só aos mais severos preceitos da técnica construtiva, mas, também àquela intenção superior que seleciona, coordena e orienta em determinado sentido toda essa massa confusa e contraditória de pormenores, transmitindo assim ao conjunto ritmo, expressão, unidade e clareza, - o que confere à obra o seu caráter de permanência: isto sim, é arquitetura.” (3)

Movimentos, tendências e conceitos da arquitetura e urbanismo contemporâneo

Movimentos, tendências e conceitos da arquitetura e urbanismo contemporâneo

Gênese: A Crise da Cidade Liberal – Londres (Séc. XIX)

A história da formação desta cidade é a mesma da indústria moderna. Seus antecedentes históricos coincidem com a expulsão do homem do campo, a acumulação do capital mercantil e o rompimento com as estruturas feudais baseadas nas corporações de ofício e no trabalho servil.

A cidade como produto histórico é o pano de fundo da sociedade burguesa. Se é na empresa industrial que se explora o trabalho assalariado e se forma a mais-valia, é a cidade que vai permitir a instalação da indústria, concentrando no espaço e no tempo as diversas funções contidas no processo produtivo

Movimentos, tendências e conceitos da arquitetura e urbanismo contemporâneo

Gênese: Dualidade - Arte e Técnica (Séc. XIX)

A Revolução Industrial cria uma nova realidade para a arquitetura: revoluciona a cidade, estabelece novas formas de cálculo e representação do espaço, permite o surgimento de novos materiais, cria novos métodos de construção e novos problemas a serem resolvidos.

As mudanças ocorridas envolvem, desde a escala da nova cidade (o tamanho do problema), até a execução de novos edifícios e infra-estrutura urbana para atender as novas necessidades da população.

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Gênese: Intervenção Urbana - Plano Haussman (Paris, Séc. XIX)

Obras viárias: Urbanização de terrenos periféricos e abertura de novas artérias nos velhos bairros, com a reconstrução de edifícios;

Construção de 95km de ruas no centro e 70km na perifieria;

Ruas mais largas e retilíneas, integrado a um conjunto de estações ferroviárias; preserva monumentos, servindo como ponto de fuga das novas avenidas.

A construção ao longo das novas ruas é disciplinada.

Ampliam-se os limites da cidade até o muro, pensando-se em anexar à cidade uma faixa de 250 m, para construção de vias rápidas;

São integradas a Paris 11 comunas, elevando para 20 o número de arrondissements.

São criados parques públicos.

Movimentos, tendências e conceitos da arquitetura e urbanismo contemporâneo

Gênese: Nasce o Arranha-céu (Chicago, Séc. XIX)

São características do arranha-céu o padrão construtivo que se utilizava de estruturas em aço, apoiadas sobre um sistema de fundações em pedra.

O arranha-céu é um símbolo da cultura americana e reflete, ao mesmo tempo, arrojo, poder, praticidade, multiplicação dos lucros e da especulação imobiliária.

Para a existência do arranha-céu, foram desenvolvidos equipamentos, como o elevador (a vapor, depois hidráulico e, por fim, elétrico), o sistema anti-incêndio, o correio pneumático, etc.

Tacoma Building – Holabird & Roche (1889)

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Gênese: O Classicismo do fim do século (Séc. XIX)

�A nova tecnologia e as novas funções do edifício fizeram nascer uma nova tipologia muito mais limpa e honesta que os padrões da arquitetura eclética que ocorria na Europa. Posteriormente, após a Exposição Colombiana de 1893, ocorre a chamada traição de Burnham, que é convencido pelos julgadores da Costa Leste (Nova Inglaterra) a adotar uma linguagem classicista aos edifícios construídos.

�Desde então, o estilo, mesmo que incompleto e alegórico, passou a fazer parte do vocabulário arquitetônico de Chicago, como em Nova Iorque e outras grandes cidades americanas.

Pennsylvania Station – Mc Kim, Mead & White (1902-1911) Exposição Colombiana de Chicago – John W. Burnham (1894)

Nas diversas frentes que se abrem para a formulação de uma nova arquitetura e de uma nova arte, para uma nova sociedade, desponta a figura de Le Corbusier, mestre do racionalismo francês.

Para Le Corbusier, a forma artística é resultado lógico do “problema bem formulado”: os navios a vapor, os aviões, cuja forma corresponde exatamente à função, são belos como o Partenon. LeCorbusier encontrará a fórmula: o homem como medida de todas as coisas, a medida humana, o Modulor.

Charles-Edouard Jeanneret – Le Corbusier (1867/1965)

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O Modernismo na Arquitetura: Le Corbusier

Em seu livro Vers une Architeture (Em direção a uma Arquitetura), Le Corbusier anuncia os 5 pontos da nova arquitetura:

As colunas livres (pilotis), criando espaços abertos sob o edifício;

A planta livre a partir da liberalização das paredes internas e externas da estrutura;

Os vãos de janelas, conseqüência da liberação estrutural da alvenaria da fachada;

A composição livre da fachada, conseqüência da estrutura em esqueleto.

O teto- jardim, solução construtiva que abre uma nova dimensão para o edifício.

Casa Dominó (1914)

Villa Savoye (França, 1931)

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O Modernismo na Arquitetura: Le Corbusier

Super-quadra (Brasília)

Palácio Gustavo Capanema (Min. Educação – Rio de Janeiro)

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O Modernismo na Arquitetura: Le Corbusier

“A questão que se discute já não é mais, felizmente, relativa à remoção e relocação dos habitantes das favelas para áreas longínquas da cidade. Hoje, o direito àurbanização é um dado adquirido e incontestável, ou seja, a questão já não é mais simplesmente social e política mas deve passar obrigatoriamente por uma dimensão cultural e estética. (...)

Além de fazer parte do nosso patrimônio cultural e artístico, as favelas se constituem através de um processo arquitetônico e urbanístico vernáculo singular, que não somente difere, ou é o próprio oposto, do dispositivo projetual tradicional da arquitetura e urbanismo eruditos, mas também compõe uma estética própria, uma estética das favelas, que é completamente diferente da estética da cidade dita formal e possui características peculiares.

Do caso mais extremo onde a favela era removida e seus habitantes relocados em conjuntos habitacionais cartesianos modernistas, até o caso mais brando atual, onde os arquitetos da dita pós-modernidade passaram a intervir nas favelas existentes visando transformá-las em bairros, a lógica racional dos arquitetos e urbanistas ainda é prioritária e estes acabam por impor a sua própria estética que é quase sempre a da cidade dita formal. Ou seja, a favela deve se tornar um bairro formal para que uma melhor integração da favela ao resto da cidade se torne possível. Mas as favelas já não fazem parte da cidade há mais de um século? “ (3)

(3) Paola Berenstein Jacques in Vitruvius - Arquitextos 013 (junho 2001)

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O Modernismo em Crise: A Estética das Favelas

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O Modernismo em Crise: A Crítica do Cidadão

�Jane Jacobs – (1906-2006)

�Seu primeiro livro, The Death and Life of Great American Cities, publicado em 1961, tornou-se a bíblia das organizações comunitárias e daqueles que ela chamava o povo pedestre “footpeople”.

“A forma da cidade é sempre a forma de um tempo de cidade, e existem muitos tempos na forma da cidade.

No próprio decorrer da vida de um homem, a cidade muda de fisionomia em volta dele, as referências não são as mesmas. Baudelaire escreveu: “a velha Paris já não existe (a forma de uma cidade/ muda mais depressa, ai de nós, que o coração de um mortal)” (4)

(4) Aldo Rossi (1931– 1997): A Arquitetura da Cidade (Pádua: 1966)

Edifício de Habitação (Milão, 1973)Edifício de Habitação (Berlim, 1988)

Hotel Il Palazzo (Fukuoka, Japão, 1998)

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O Modernismo em Crise: Aldo Rossi

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O Modernismo em Crise: Aprender com Las Vegas

Shoppings - SITE (Sculture in the Enviroment) –No sentido horário: Houston (1979); Sacramento (1977); Virgínia (1972); Miami (1979)

Segundo os autores, no Shopping de Houston, “a arquitetura éconsiderada mais como uma matriz para idéias artísticas do que

como objetivo do design. “

AT & T Building – Johnson & Burghe (1978 -82)

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A Cidade Pós-Modernista

Para proteger a continuidade das paredes nas avenidas, já não se permitia que houvesse plazas, como a que ficava em frente ao edifício Seagram (Mies van der Hoe).

Os edifícios deviam avançar até ao limite da implantação, mas se exigia que dessem entradas pelas estações de metrô.

Estabeleceram-se cálculos complicados para garantir a iluminação nas ruas estreitas, evitando-se a solução de tipo zigurat, adotadas no passado.

“O volume do edifício, a estrutura de suporte, os fossos dos elevadores, as instalações, os pés-direitos, e outros assuntos, estão determinados segundo fatores econômicos.

A articulação do volume a um nível formal de uma maneira interessante, e a definição do design do revestimento exterior, são o papel do arquiteto” (5)

(5) Descrição das especificações técnicas e formais do edifício (Marc Angélil e Sarah Graham.

Edifício Humana – Michael Graves

Louisville (1982 – 86)

Edifício dos Serviços Públicos – Michael Graves

Portland (1980 – 82)

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A Cidade Pós-Modernista

Centro de Bridgeport – Richard Meyers & Partners

Connecticut (1984 – 88)

O local da construção não é preenchido por um corpo único, mas sim por uma complicada soma de volumes sutilmente diferenciados pela cor, que se interceptam e se sobrepõem uns aos outros, incorporando um museu pequeno de história, com torre e cúpula .

Do pátio que o acolhe, em frente da fachada principal, semicircular, côncava, que se vira para a cidade, o visitante entra num átrio muito iluminado, cujas rampas e vistas convidam à exploração. Mas, tristemente, revelam apenas um banco.

Movimentos, tendências e conceitos da arquitetura e urbanismo contemporâneo

A Cidade Pós-Modernista

Movimentos, tendências e conceitos da arquitetura e urbanismo contemporâneo

A Cidade Pós-Modernista

Staatsgalerie – James Stirling - Stutgart (1977 – 84)

As idéias pós-modernas e o planejamento urbano combinaram-se muitas vezes de forma genial na construção de museus. O local em que se reúnem testemunhos históricos para falar ao visitante sobre o passado, ou onde obras de arte de vanguarda difundem a sua aura,transmite, como é natural, identidades de uma forma especialmente elegante.

A inserção no espaço urbano se apresenta de forma engenhosa no Staatsgalerie, concebida por James Stirling. Verifica-se uma construção social luxuosa, modelo para uma recuperação urbana bem sucedida.

Movimentos, tendências e conceitos da arquitetura e urbanismo contemporâneo

A Poesia dos Materiais

Pavilhão da Suiça – Expo 2000Peter Zumthor (Hanover)

Numa área de construção de cerca de 3.000 m², foram dispostas estruturas verticais de madeira. A construção dispensou furos na madeira, que teriam impedido uma reutilização.

Em vez de telhado, apenas algumas cadeiras de chapa desviavam a água da chuva, por isso, todo o chão era levemente desnivelado.

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As Cidades Globais: A Espetacularização da Cultura

Museu GuggenheimFrank Gehri

(Bilbao ; 1991 - 1997)

Pirâmide do Louvre - Ieoh Ming Pei(Paris, 1983 - 1989)

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As Cidades Globais: A Espetacularização da Cultura

Pirâmide do Louvre - Ieoh Ming Pei(Paris, 1983 - 1989)

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As Cidades Globais: A Espetacularização da Cultura

Centro Georges Pompidou – Renzo Piano & Richard Rogers(Paris, 1971 - 1977)

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As Cidades Globais: A Espetacularização da Cultura

La Grande Arche de la Défense – Johan Otto von Sprelkelsen(Paris, 1989)

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As Cidades Globais: A Espetacularização da Cultura

Instituto do Mundo Árabe – Jean Nouvel(Paris, 1987 - 88)

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As Cidades Globais: A Espetacularização da Cultura

No sentido horário: Parc de la Villete (Paris – 1982 - a terminar); Monumento aos Jogos Olímpicos (Barcelona - 1972); Opera Bastille(Paris - 1992)

Os equipamentos ganham força como elementos -chave das cidades.

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As Cidades Globais: A Espetacularização da Cultura

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Revitalização de Áreas Portuárias: Battery Park (Nova Iorque)

Movimentos, tendências e conceitos da arquitetura e urbanismo contemporâneo

Revitalização de Áreas Portuárias: Porto Madero (Buenos Aires)

A maior permanência da dimensão plástica da obra arquitetônica pode conferir-lhe uma compreensão distorcida de atemporalidade.

De fato, pode-se ouvir Mozart com o mesmo prazer estético da época de sua composição. Entretanto, a arquitetura, diferente de outras manifestações artísticas, possui um valor utilitário essencial para sua compreensão plena.

Ao ouvir uma música não perguntamos pela sua utilidade. Para que serve? Todavia, observando um edifício, logo nos vem à mente o fato de ser esse uma casa, um templo, um hospital, ou uma escola. Logo identificamos ou queremos descobrir o “para-que-serve”.

“Sob a forma de um edifício ou sob a forma de um espaço urbano, o espaço arquitetônico tem como traço mais importante o fato de constituir um ambiente especialmente condicionado às atividades que abriga”. (6)

(6) Edgar Graeff (1921– 1990): O Edifício (1979)

Museu de Arte Contemporânea (Niterói, Rio -1996)

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A Quebra dos Paradigmas: Estética e Função