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MINISTÉRIO PÚBLICO DO RIO GRANDE DO NORTE 30ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE NATAL Defesa das Pessoas Portadoras de Deficiência e Idosos Central do Cidadão do Praia Shopping – Av. Eng. Roberto Freire, 8790 Ponta Negra EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA 20ª OU 21ª VARA CÍVEL ESPECIALIZADA DA COMARCA DE NATAL/RN, A QUEM COUBER POR DISTRIBUIÇÃO LEGAL: O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, através de sua 30ª Promotoria de Justiça, no uso de suas atribuições que lhe são conferidas pelas disposições incursas nos artigos 1.177, inciso III e 1.178, incisos I e II, todos do Código de Processo Civil e artigo 74 da Lei Federal nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, na defesa das pessoas portadoras de deficiência e idosos da Comarca de Natal, vem promover AÇÃO DE INTERDIÇÃO COM PEDIDO DE CURATELA PROVISÓRIA EM ANTECIPAÇÃO DA TUTELA a favor de RAULINO CLIMÉRIO DE OLIVEIRA, brasileiro, natural de ___________, ____________ (estado civil), idoso, residente na Rua Tenente Sá Barreto, nº ______, Quintas, nesta capital, pelas razões de fato e de direito que passa a aduzir:

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO RIO GRANDE DO NORTE30ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE NATALDefesa das Pessoas Portadoras de Deficiência e Idosos

Central do Cidadão do Praia Shopping – Av. Eng. Roberto Freire, 8790 Ponta Negra

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA 20ªOU 21ª VARA CÍVEL ESPECIALIZADA DA COMARCA DE NATAL/RN, A QUEMCOUBER POR DISTRIBUIÇÃO LEGAL:

O MINISTÉRIO PÚBLICO DOESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, através de sua 30ª Promotoria de Justiça,no uso de suas atribuições que lhe são conferidas pelas disposições incursas nosartigos 1.177, inciso III e 1.178, incisos I e II, todos do Código de Processo Civil eartigo 74 da Lei Federal nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, na defesa das pessoasportadoras de deficiência e idosos da Comarca de Natal, vem promover

AÇÃO DE INTERDIÇÃO COM PEDIDO DE CURATELA PROVISÓRIA EM ANTECIPAÇÃO

DA TUTELA

a favor de RAULINO CLIMÉRIO DE OLIVEIRA, brasileiro, natural de___________, ____________ (estado civil), idoso, residente na Rua Tenente SáBarreto, nº ______, Quintas, nesta capital, pelas razões de fato e de direito quepassa a aduzir:

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I - DOS FATOS:

A 30ª Promotoria de Justiça da Comarca de Natal, através de reclamação formuladapela Sra. Maria da Glória Costa de Oliveira, no dia 13 de agosto de 2004, tomouconhecimento de que o idoso Raulino Climério de Oliveira está sendo vítima de umagiota conhecido por “Bomba”. Há aproximadamente dois anos, o Sr. Raulino Climério de Oliveira recebe de“Bomba” dinheiro emprestado a juros e este fica com o cartão da conta bancária doidoso. Em virtude deste fato, apesar de ser aposentado da Marinha, com proventosde R$ 1.200,00 (um mil e duzentos reais), o Sr. Raulino Climério de Oliveira vive emcondições precárias, ficando sem dinheiro para atender às suas necessidades básicas.Atualmente, tendo em vista que o idoso entrega toda a sua aposentadoria para“Bomba”, as suas despesas são custeadas por sua filha, Sra. Maria do Carmo Costade Oliveira, que tem uma renda de apenas um salário mínimo. Além disso, o idosoestá se desfazendo de seus bens, já tendo vendido sua cama e cômoda. Na tentativa de impedir os prejuízos que o agiota vem causando, a Sra. Maria doCarmo Costa de Oliveira, filha do Sr. Raulino Climério de Oliveira, chegou a bloquearo cartão junto ao banco, mas, posteriormente, o próprio idoso compareceu à agênciae determinou o desbloqueio. Quando perguntado pelas filhas sobre os seus gastos, oSr. Raulino Climério de Oliveira diz apenas que “o dinheiro é meu e dou a quemquiser”.

Assim, considerando que o comportamento do Sr. Raulino Climério de Oliveira nospermite classificá-lo como pródigo, não tendo o mesmo condições de administrarseus próprios bens, faz-se necessária a propositura da presente ação de interdição, afim de impedir a ocorrência de danos ao seu patrimônio.

II – CONSIDERAÇÕES SOBRE A LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO

O Sr. Raulino Climério de Oliveiratem 79 (setenta e nove) anos de idade, incidindo, portanto, o artigo 74 do Estatutodo Idoso, que prescreve:

“Art. 74. Compete ao Ministério Público:

(...)

II – promover e acompanhar as ações de alimentos, deinterdição total ou parcial, de designação de curadorespecial, em circunstâncias que justifiquem a medida e oficiarem todos os feitos em que se discutam os direitos de idososem condições de risco.” (negrito acrescido).

No caso em apreço, pretende-se a interdição de pessoa que, em virtude de suascondições mentais, está sofrendo graves prejuízos financeiros causados pela condutade um agiota que aproveita-se da situação para locupletar-se, havendo, assim, umapatente ofensa à dignidade do idoso. Portanto, é imperativa a atuação do Ministério

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Público para que possa cumprir com seu dever de cuidar dos interesses dointerditando.

III - CONSIDERAÇÕES ACERCA DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

Na exata lição da ilustre civilista MARIA HELENA DINIZ, “a curatela é o encargopúblico, cometido por lei, a alguém para reger e defender uma pessoa e administraros bens de maiores que, por si sós, não estão em condições de fazê-lo, em razão deenfermidade ou deficiência mental (In Curso de Direito Civil Brasileiro, v. 5, Direitode Família, 11. ed. São Paulo, Saraiva, 1996, p. 433).

Acerca do instituto da curatela, dispõe o art. 1.767 do Código Civil:

Art. 1.767 – Estão sujeitos à curatela:I- aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental,

não tiverem o necessário discernimento para atosda vida civil;

II- Aqueles que, por outra causa duradoura, nãopuderem exprimir a sua vontade;

III- Os deficientes mentais, os ébrios habituais e osviciados em tóxicos;

IV- Os excepcionais sem o completo desenvolvimentomental;

V- os pródigos.

No caso em tela, o interditando consente que outra pessoa fique com o seu cartãode conta bancária e utilize toda a sua aposentadoria, deixando a si mesmo numasituação de escassez de recursos financeiros, com dificuldades para atendernecessidades básicas, como alimentação e vestuário. É evidente que uma pessoa queage dessa maneira, sujeitando-se a viver da ajuda de uma filha que ganha umsalário mínimo, quando possui uma aposentadoria de R$ 1.200,00 (um mil eduzentos reais), não tem condições de administrar seus bens, devendo serconsiderado como pródigo, a fim de que seja interditado e possa viver dignamente,sujeitando o seu patrimônio à administração de um curador.

Na clássica lição de CLÓVIS BEVILÁQUA pródigo “é aquele que, desordenadamente,gasta e destrói a sua fazenda, reduzindo-se à miséria por sua culpa.” (apud MiguelMaria Serpa Lopes. Curso de direito civil. 7ª ed., Rio de Janeiro: Freitas Bastos,1989, v. 1, p. 276).Os limites da interdição do pródigo são estabelecidos pelo art. 1.782 do Código Civil,

que estatui o seguinte:

Art. 1.782. A interdição do pródigo só o privará de, semcurador, emprestar, transigir, dar quitação, alienar,hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, emgeral, os atos que não sejam de mera administração.

Na situação objeto desta ação, além dos atos mencionados no aludido dispositivo legal, faz-senecessário que o Sr. Raulino Climério de Oliveira receba seus proventos de aposentadoriaatravés de curador a quem incumbirá ter a posse do cartão de conta bancária e aadministração dos valores, porquanto os fatos já narrados nesta exordial demonstram que osprejuízos ao interditando são causados principalmente por meio da utilização de seu cartãopor outrem. Desse modo, a proteção ao patrimônio do interditando somente pode ser

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efetivada com a sua privação de uso do cartão, devendo todas as movimentações em suaconta bancária ser realizadas pelo curador.

Em relação aos idosos, a família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar aspessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo suadignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida (artigo 230), pois oenvelhecimento é um direito personalíssimo e sua proteção é um direito social( artigo 8º do Estatuto do Idoso).

Portanto, se faz necessário a proteção ao idoso, especialmente nos casosem que seja incapaz para a prática de atos na vida civil, necessitando serinterditado, encontrando-se, por hora, em verdadeira situação de risco.

IV- DA CURATELA PROVISÓRIA

Considerando que o Sr. Raulino Climério de Oliveira é incapaz de cuidar de seusbens e que está, sendo seriamente prejudicado pela entrega de sua aposentadoria aum agiota, comprometendo a sua própria sobrevivência, é imperiosa a antecipaçãoda tutela ao final pleiteada, com a nomeação de curador provisório ao interditando,com poderes para administrar seus bens e gerir sua vida. O art. 273, incisos I e II, da Lei Instrumental Civil, assim dispõe:

“Art. 273 - O juiz poderá, a requerimento da parte,antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutelapretendida no pedido inicial, desde que, existindoprova inequívoca, se convença da verossimilhança daalegação e : I - haja fundado receio de dano irreparável oude difícil reparação, ou II - fique caracterizado o abuso de direito de defesaou o manifesto propósito protelatório do réu “( g.n.)

A possibilidade de deferimento de antecipação de tutela é perfeitamente compatívelcom o processo de interdição, consoante aresto a seguir transcrito:

“Interdição. Curatela Provisória. Admissibilidade.Proteção preventiva da pessoa e dos bens dointerditando, recomendável ao início da ação,havendo suspeitas e indícios de que o requeridonão detém plena capacidade de entendimento”(Bol. AASP 1.988/39j).

Ad argumentandum, é de bom alvitre citar a brilhante e didática explanação deHUMBERTO THEODORO JÚNIOR1 a respeito dos princípios que norteiam a aplicaçãodo Instituto em comento, senão vejamos:

1 JÚNIOR, Humberto Theodoro, in “Código de Processo Civil Anotado”, 2ª ed. Ver. Ampl. Atual., Forense,Rio de Janeiro: 1996, p. 124

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“Verossimilhança: em esforço propedêutico, que sequadre com o espírito do legislador, é a aparência deverdade, o razoável, alcançando, em interpretaçãolato sensu o próprio fumus boni iuris e,principalmente, o periculum in mora.

Prova Inequívoca: é aquela clara, evidente, queapresenta grau de convencimento tal que a seurespeito não se possa levantar dúvida razoável,equivalendo, em última análise, a verossimilhança daalegação, mormente no tocante ao direito subjetivoque a parte queira preservar.”

Não há de olvidar-se presentes os dois princípios enunciados, uma vez que, éverossímil a necessidade de proteção imediata para uma pessoa idosa que permiteque outrem se aproprie de seus rendimentos, sujeitando-se a viver em precáriascondições financeiras, incumbindo ao Ministério Público buscar a prestaçãojurisdicional célere, cogente, adequando perfeitamente as exigências da tutelapretendida, bem assim, presentes os motivos que ensejariam, analogicamente, acautelaridade, com fincas no periculum in mora e no fumus boni iuris.

Por seu turno, com base nos documentos acostados, está mais do que veemente aqualidade de pródigo do interditando, o que o impossibilita de ter plena capacidadede gerir a sua vida e seus bens, de forma independente.

O próprio Estatuto, em seu artigo 82, além de referir que para a defesa dosinteresses e direitos protegidos por aquela lei, são admissíveis todas as espécies deação pertinentes, já previu, em seu artigo 83 e parágrafos, também que na ação quetenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não-fazer, o juiz concederáa tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem oresultado prático equivalente ao adimplemento. E mais, sendo relevante ofundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia doprovimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou apósjustificação prévia, na forma do artigo 273 do Código de Processo Civil.

Por outro lado, a própria Lei Federal nº 8.842/94, que dispõe sobre a políticanacional do idoso, em seu artigo 10, §2º, já explicita a possibilidade de se nomear,em Juízo, um curador especial àquele idoso que, comprovadamente, temdemonstrado a sua incapacidade fática de gerir seus bens, sendo seu representantede direito material enquanto perdurar a situação de risco que se encontra.

Lançadas às premissas necessárias a antecipação do pedido de tutela, podemosavançar no escopo obviado nesta demanda, qual seja a nomeação de curadorprovisório ao interditando na pessoa de ______________________, cujo endereçoé _____________________, restando a mesma responsável pelo recebimento dasua aposentadoria e/ou proventos, gerenciamento de seus bens, devendo,mensalmente, ser feito a devida prestação de contas.

V - DO PEDIDO

Diante do exposto, requer o Ministério Público a Vossa Excelência:

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a) a concessão de liminar de antecipação dos efeitos da tutela, com a nomeaçãode curador provisório ao interditando na pessoa de _______________, cujoendereço é _____________________________, a fim de determinar que ointerditando seja privado de, sem curador, emprestar, transigir, dar quitação,alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, em geral, os atosque não sejam de mera administração (art. 1.782 do Código Civil), bem comoreceber seus proventos de aposentadoria somente através de curador a quemincumbirá a administração dos respectivos valores;

b) concedida a antecipação da tutela, que seja oficiado ao Banco __________,agência ____________, para a adoção das medidas necessárias aorecebimento da aposentadoria do interditando através de curador;

c) a citação do interditando para que, em dia a ser designado, seja efetuado o seuinterrogatório;

d) a realização de exame pericial no interditando; e) seja julgado procedente o pedido, confirmando-se a antecipação da tutela, para

interditar o Sr. RAULINO CLIMÉRIO DE OLIVEIRA, como pródigo, nomeando-lhecurador, em caráter definitivo, na pessoa de _____________________,limitando os atos praticados pelo interditando, nos termos formulados no item“a”;

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos,especialmente, a documental, a pericial e a testemunhal, cujo rol segue em anexo.

Dá-se ao presente pedido o valor de R$ 260,00 (duzentos e sessenta reais).

Pede deferimento.

Natal (RN), 07 de outubro de 2004

IADYA GAMA MAIO,Promotora de Justiça

ROL DE TESTEMUNHAS

1. __________________________

2. __________________________

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