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COLETÂNEA DE LAMENTAÇÕES SEM TÍTULOS OU TEXTÕES DE FACEBOOK – USE-OS COMO QUISER. Ms. MADDOX 1 Ms. Lua Lamberti de Abreu Dra. Roberta Stubs Dra Eliane Maio Eis aqui rastros ficcionais de possíveis textos, imagens de uma página de facebook inexistente, um trending topics twitter do ano 3.000 D.C e os assuntos mais comentados no momento, a selfie do instagram. São construções ficcionais sobre lamentações que cercam os corpos ativistas LGBT, negritudes, periferia, entre outras dissidências. São espasmos moleculares, pequenos desabafos que sacodem, mesmo que em pequena escala, os terrenos da norma. 1 Cleberson Diego Gonçalves – MADDOX.

Ms. MADDOX Ms. Lua Lamberti de Abreu Dra. Roberta Stubs ... · vitimistas. Não era isso que você dizia debaixo dos meus lençóis. E nada disso você jamais me disse na rua, no

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COLETÂNEA DE LAMENTAÇÕES SEM TÍTULOS OU TEXTÕES DE FACEBOOK – USE-OS COMO QUISER.

Ms. MADDOX1

Ms. Lua Lamberti de Abreu Dra. Roberta Stubs

Dra Eliane Maio Eis aqui rastros ficcionais de possíveis textos, imagens de uma página

de facebook inexistente, um trending topics twitter do ano 3.000 D.C e

os assuntos mais comentados no momento, a selfie do instagram. São

construções ficcionais sobre lamentações que cercam os corpos

ativistas LGBT, negritudes, periferia, entre outras dissidências. São

espasmos moleculares, pequenos desabafos que sacodem, mesmo que

em pequena escala, os terrenos da norma.

1 Cleberson Diego Gonçalves – MADDOX.

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Trending topics twitter Datado de 06/06/06 – ano 3006 D.C

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Sem Título Ao vasculhar o mundo, as pessoas encontram coisas carregadas de histórias,

memórias, objetos. Encontram a si mesmo, sua identidade, desejos, narrativas, e

criam a partir desses embates subjetividades e modos de subjetivações afetivas

onde reverberam outros modos de contar aquilo que vivem, viveram e/ou

construíram. Esse texto se instaura como um incomodo meu com as diversas

leituras de mundo relacionadas a arte, educação e espaços de criação para a

criticidade e descolonialidade de um pensamento. Mesmo tendo transitado pelos

conceitos de territorialidade, urgências abjetas, cuir/kuir/queer e contrassexuais,

bem como pelas questões raciais, feministas, identitárias, curriculares, dissidentes,

poéticas marginais e atravessamentos possíveis, essa escrita traz um medo do

presente para com o futuro. Essa ferida latejante vem de breves linhas traçadas por

Deleuze (2006) em suas Conversações: “todos sabem que essas instituições estão

condenadas, num prazo mais ou menos longo” (p.108). Na precariedade, essas

instituições encontram em suas ruínas novos modos de renascer, embasamentos

civis fascistas, radicais e extremistas. A higienização para essa nova sociedade

começa com a vida que habita as margens, vidas precárias; A morte e dizimação do

corpo periférico é o pilar que sustenta o desejo desse momento apocalíptico.

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Sem Título

Embora tudo pareça um exercício imaginativo, a realidade nos abraça em seu

aspecto material, físico e somático, exigindo que algo seja enunciado. A voz, o corpo,

a presença imaterial, as semioses, enfim, um contigente de signos e significados

que formam gritos, sussurros e evocam algo. Mas a título de que? Sem um título

(mas com um corpo), pensamos o que ocupa esse espaço/nada/vazio, quase/niilista

e talvez nonsense, monstruoso, absurdo e nada pragmático. Sem Título é o nome,

muitas vezes, dado à muitas obras de arte, e certamente, essa decisão de não

nomear as coisas, atua como um ponto de passagem numa realidade cheia de

percalços e lamentos contemporâneos, revirando a história/memória desse país e se

re/criando como um looping. Muitas são as questões que reverberam sobre nós:

“Meninos vestem azul, meninas vestem rosa!”, “índios devem ser socializados!”,

“cotas raciais é racismo!”, e assim por diante. Que título damos para algo assim?

Sem título é sem espaço, sem lugar para tantas dores que carregamos nas costas.

Eu tive que me citar no texto. Quando vão me citar?

Nunca?

Eu tive que me citar no texto, ou vou sumir nas prateleiras da universidade.

Jamais vão me citar?

Ou ler o que eu escrevo?

Porque compartilham tanto meus posts de facebook? Seria improvável não citarem

minha tese? Nunca?

Vou ter que me citar no texto.

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Ou vou desaparecer.

Obs: Desabafo de um autor da pós graduação lamentando o apagamento

acadêmico. Data improvável.

Passo pano, não senhor/a!

Parece tão fácil expurgar o macho abusador da roda, do rolê, dos meios sociais,

quando ele não é alguém próximo, da sua roda, do seu rolê. A exposição e o boicote,

políticos e fundamentais como estratégias de denúncia, funcionam em suas medidas

locais, mesmo muitas vezes não se desdobrando em algo maior. Mas, e quando a

denúncia que chega é do coleguinha do lado? O que fazer? Chamar pra conversar?

Pedir explicações? O que essa pessoa pode fazer para se redimir? Existe alguma

alternativa? E quem foi abusada, o que pensa disso? Como eu posso não passar

pano para esse amigo com marcador de abuso e violência? Será inocência acreditar

que a pessoa pode mudar? Que foi só um descuido? Que ele não sabia? E isso, no

fim das contas, faz alguma diferença para as vítimas? Eu não sei a melhor forma. E

eu não quero a minha imagem sendo vinculada aos machos escrotos que podem ou

não estar ao meu redor. Não consigo evitar a sensação de que os afetos entre essa

pessoa e o grupo ficam abalados, a gente sente a dor, o incômodo, a vergonha. Só

que nada disso justifica a omissão, e aí fica essa dúvida cruel: expõe o amigo, ajuda

o amigo, corta laços com o amigo? Se alguém souber uma forma funcional e positiva

de lidar, por favor, compartilhem. Eu não consigo superar o ranço de saber que esse

“amigo” é, na verdade, uma pessoa violenta. Não ter sido comigo não apaga seu ato

de abuso e nem deslegitima as falas das vítimas. É tudo tão complicado...

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Segura minha mão

Não sei mais como falar disso sem beirar um suposto vitimismo, mas se for assim,

que seja. As pessoas não sabem como é cruel isso. Ouvir que você não é desejável,

ou querida, ou atraente, tem suas dores, mas quero saber mais da relação em que

tudo isso é afirmado, ou seja, a pessoa se interessa sim por você, mas não é em

público, não é em âmbito formal ou social. Não quero ser amada só dentro do meu

quarto, eu não preciso disso. E, no final das contas, o queridão vai falar que é

porque ele quem não quer nada sério, nenhum relacionamento, não sou eu, é ele.

Mas é ele mesmo que sai de mãos dadas na rua com outro. Outro branco, outro cis,

outro magro, outro jovem. Poderia ser eu, se eu fosse essa pessoa. Mas eu não sou.

Eu, aqui entendida como qualquer “eu” que desvie um pouquinho dos padrões

estéticos e sociais, não tenho vez. Nunca é a minha vez de estar lá, de mãos dadas.

Porque o problema é com ele, aparentemente só com ele e comigo, uma vez que ele

e outros parece não haver problema algum. A gente ouve que é porque essas

pessoas não sabem lidar, somos areia de mais para os caminhõezinhos deles, e

talvez seja mesmo, temos que saber nosso valor. O que fica cada vez mais difícil

quando os caminhõezinhos não passam de caminhonetas velhas e com aquela

preguiça de fazer duas viagens para buscar aquilo que parece demais para si.

Contentamo-nos em saber que esses amores não são pra nós, e isso é violento.

Estão ceifando nossas possibilidades afetivas, e quando reclamamos, ainda somos

vitimistas. Não era isso que você dizia debaixo dos meus lençóis. E nada disso você

jamais me disse na rua, no bar, na sorveteria, no cinema. Porque nesses lugares o

problema não é você. O problema sou eu com você. E nessa eterna briga de “eus” e

“você”, nós acabamos sempre por nós mesmas.

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Referencias Sem.