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D o PARECER JURÍDICO SUCESSÃO DA PRESIDÊNCIA DA CÂMARA DE DEPUTADOS. PERÍODO DE VACÂNCIA. COMPOSIÇÃO DA NOVA MESA DIRETORA. PRESIDENTE VOTADO PARA SUBSTITUIR SEU ANTECESSOR EM VIRTUDE DE RENÚNCIA. MATÉRIA NÃO CONTEMPLADA PELO ART. 57, § 4° DA CF. CONSTITUCIONALIDADE DA CANDIDATURA. QUESTÃO "INTERNA CORPORIS" NÃO PODE PREJUDICAR DIREITO SUBJETIVO. VEDAÇÃO DE "ANALOGIA IN MALAM PARTEM" DE REGRA PROIBITIVA. AUSÊNCIA DE REELEIÇÃO. INAPLICABILIDADE DO ART. 14, § 5° DA CF. Consulta-nos Sua Excelência o Deputado Federal Jarbas Vasconcelos, com pedido de elaboração de PARECER JURÍDICO, sobre a interpretação aplicável ao art. 57, § 40 da Constituição Federal e o direito de candidatura do Senhor Presidente da Câmara dos Deputados, o Excelentíssimo Senhor Deputado Federal Rodrigo Maia, para concorrer ao cargo de "Presidente" nas eleições de fevereiro de 2017 para a nova composição da Mesa da Câmara dos Deputados, para o biênio 2017/2018, após ter sido eleito Presidente, para cumprir "mandato tampão", em virtude da excepcional vacância do mandato anterior, motivada pela renúncia do ex-Presidente eleito no primeiro ano da legislatura. 1 Avenida Angélica, n°2346, Cj. lii, Higienópolis. Sio Paulo - SP. 01228-200 Te]./Fax 011) 3122-2100, E-mail: [email protected] Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infra-estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o número 12350735

MS34574 petição Camara - static.poder360.com.br · 'A Emenda Constitucional n° 50, de 14 de fevereiro de 2006, alterou a redação do §4 0 do artigo 57 para acrescer a palavra

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PARECER JURÍDICOSUCESSÃO DA PRESIDÊNCIA DA CÂMARA DEDEPUTADOS. PERÍODO DE VACÂNCIA. COMPOSIÇÃODA NOVA MESA DIRETORA. PRESIDENTE VOTADOPARA SUBSTITUIR SEU ANTECESSOR EM VIRTUDEDE RENÚNCIA. MATÉRIA NÃO CONTEMPLADA PELOART. 57, § 4° DA CF. CONSTITUCIONALIDADE DACANDIDATURA. QUESTÃO "INTERNA CORPORIS"NÃO PODE PREJUDICAR DIREITO SUBJETIVO.VEDAÇÃO DE "ANALOGIA IN MALAM PARTEM" DEREGRA PROIBITIVA. AUSÊNCIA DE REELEIÇÃO.INAPLICABILIDADE DO ART. 14, § 5° DA CF.

Consulta-nos Sua Excelência o Deputado Federal Jarbas Vasconcelos, compedido de elaboração de PARECER JURÍDICO, sobre a interpretação aplicávelao art. 57, § 40 da Constituição Federal e o direito de candidatura do SenhorPresidente da Câmara dos Deputados, o Excelentíssimo Senhor Deputado FederalRodrigo Maia, para concorrer ao cargo de "Presidente" nas eleições de fevereirode 2017 para a nova composição da Mesa da Câmara dos Deputados, para o biênio2017/2018, após ter sido eleito Presidente, para cumprir "mandato tampão", emvirtude da excepcional vacância do mandato anterior, motivada pela renúncia doex-Presidente eleito no primeiro ano da legislatura.

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HELENO TAVEIRA TORRES

Professor Titular da Faculdade de Direito da Univr,tsidadc de Sio Paulo - USP

ADVOGADO

1. ELEIÇÃO PARA PRESIDENTE DA CÂMARA DE DEPUTADOSEM VIRTUDE DE VACÂNCIA MOTIVADA POR RENÚNCIA DOEX-PRESIDENTE - APLICAÇÃO DO ART. 8 0, § 2° DO RICD

O objeto deste Parecer consiste em avaliar o cabimento da candidatura doatual ocupante do cargo de Presidente da Câmara de Deputados para as eleições dePresidente e Mesa Diretora para o biênio 2017 e 2018, haja vista encontrar-se noexercício de "mandato tampão", cuja eleição deu-se em virtude da vacância docargo (mandato supletivo de vacância), motivada pela renúncia do Presidente quefora eleito com a Mesa Diretora (i), com mandato de 2 anos (ii), no primeiro anoda legislatura (iii). Sendo assim, cumpre interpretar o § 4° do Art. 57 daConstituição (CF) para determinar se a consequência de ser "vedada a reconduçãopara o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente" alcança, porinterpretação extensiva ou analogia, o mandato supletivo de vacância.

Assim prescreve o art. 57, § 40 da Constituição:

14' Cada uma das Casas reunir-se-á em sessões preparatórias, a partir de 10

de fevereiro, no primeiro ano da legislatura, para a posse de seus membrose eleição das respectivas Mesas, para mandato de 2 (dois) anos, vedada arecondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente.`(g.n.)

Esta regra tem aplicação nos limites dos critérios adotados, de modo expressoe taxativo, pelo Art. 57, § 4 da CF, segundo a qual, com aposse dos parlamentares(i), os membros eleitos para a Mesa Diretora (ii), com mandato de 2 anos (iii), noprimeiro ano da legislatura (iv), ficam proibidos de serem reconduzidos "para omesmo cargo", na eleição da Mesa subsequente, ou seja, no segundo biênio dalegislatura em andamento.

'A Emenda Constitucional n° 50, de 14 de fevereiro de 2006, alterou a redação do §4 0 doartigo 57 para acrescer a palavra "dois" ao respectivo algarismo.

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HELENO TAVEIRA TORRES

Pwfrssor Titular da Faculdade de Direito da Universidade de Sio Paulo - USP

ADVOGADO

Portanto, somente pode-se falar em vedação para recondução ao mesmocargo quando atendidos todos os pressupostos assinalados, e nos limites dasituação jurídica que alcança: os membros eleitos para a Mesa Diretora (a), commandato de 2 anos (b), no primeiro ano da legislatura (c).

Normas de "proibição", como é sabido, não comportam interpretaçãoextensiva ou analógica, para alcançar fatos ou situações para além do regulado,porquanto devam ser completas e só possam ser aplicadas nos limites doselementos abarcados no seu texto. Por isso, não é admissível qualquer exercício dehermenêutica jurídica que tenha por finalidade a extensão do alcance do § 40 doart. 57 da CF para outras hipóteses que não se encontram no seu texto.

Como virá demonstrado mais adiante, numa interpretação especficadora, aproibição de "recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamentesubsequente", do § 40 do Art. 57 da CF está condicionada aos seguintespressupostos fáticos: membros eleitos para a Mesa Diretora (a), no primeiro anoda legislatura (b), com mandato de 2 anos (c). Logo, é claríssimo que o mandatosupletivo por vacância em nada se vê contemplado naqueles pressupostos.

No mandato supletivo decorrente de vacância, o Presidente eleito nãocompunha a Mesa Diretora na condição de Presidente (mesmo cargo) (i), nãoexerce mandato de 2 anos (ii), e não foi eleito no primeiro ano da legislaturaPortanto, não se vê qualquer afetação à sua elegibilidade.

A construção dos ordenamentos herdou dos romanos diversas máximas.Dentre outras, a que afirma a prevalência da liberdade diante de tudo o que não seveja expressamente proibido (permittiur quod non prohibetur). A presunção deestar permitido o que não esteja proibido por lei ou pela Constituição, no casoconcreto, é de inequívoca expressão. Não há vedação expressa à candidatura parao "mesmo cargo" na hipótese de mandato supletivo decorrente de vacância.Quando o Constituinte o quis, o fez de modo objetivo, como consta do § 50 do Art.14 da CF, ao regular os casos de reeleição de chefes do executivo.

Qualquer tentativa de impedir a candidatura do atual Presidente por supostovício formal, a pretexto de aplicação do § 40 do Art. 57 da CF, quando este nãoexerceu o mandato de 2 anos, a partir do primeiro ano da legislatura, e fora eleitocom os demais membros para a Mesa, resultará em puro arbítrio. O princípio doEstado Democrático de Direito reclama o respeito aos valores da democracia. O

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mandato supletivo decorrente de vacância não é motivo para alegar a proibição.Diante disso, ter-se-á evidente inconstitucionalidade da decisão, por envolversituação subjetiva prejudicada, o que poderá resultar na nulidade integral de todaa eleição da Mesa, por não se caracterizar em ato "interna corporis" (na tutela doexercício do direito de votar e ser votado para o cargo de Presidente).

Como se vê, o exame da presente matéria constitucional e legislativa reclamadetida compreensão institucional dos fatos que motivaram a eleição do atualPresidente, sob a compreensão das altas responsabilidades que nossa quadrahistórica exigiu da Câmara dos Deputados, ao precipitarem-se os fatos queensejaram o julgamento por quebra do decoro parlamentar do Presidentesubstituído, o que culminou na decisão da Comissão de Ética pela recomendaçãoda cassação do mandato.

E isso ocorreu quando sobreveio a renúncia do então presidente eleito para omandato da Mesa, o que autorizou a declaração de "vacância" do cargo e anecessidade de convocação de novas eleições para o preenchimento, corno"mandato-tampão", do cargo da Presidência.

Conforme o Art. 8°, § 2° do Regimento Interno da Câmara de Deputados -RICD, impõe-se o dever de convocação imediata de eleições quando , declarada aMesa "vaga" em quaisquer dos seus cargos, até 30 de novembro do segundo anode mandato, a saber:

"Art. 8° Na composição da Mesa será assegurada, tanto quanto possível, arepresentação proporcional dos Partidos ou Blocos Parlamentares queparticipem da Câmara, os quais escolherão os respectivos candidatos aoscargos que, de acordo com o mesmo princípio, lhes caiba prover, semprejuízo de candidaturas avulsas oriundas das mesmas bancadas,observadas as seguintes regras: ( ... )

§ 2° Se até 30 de novembro do segundo ano de mandato verificar-se qualquervaga na Mesa, será ela preenchida mediante eleição, dentro de cinco sessões,observadas as disposições do artigo precedente. Ocorrida a vacância depoisdessa data, a Mesa designará um dos membros titulares para responder pelocargo." (n.g.)

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O artigo 238 do Regimento Interno enumera as hipóteses de vacância, asaber: falecimento (i), renúncia (ii) ou perda de mandato (iii). Portanto, o art. 238,II do RICD autorizava a eleição na hipótese de "renúncia". Como se vê abaixo:

"Art. 238. As vagas, na Câmara, verificar-se-ão em virtude de:

1 - falecimento;

Ii - renúncia;

III - perda de mandato."

Destarte, a eleição para o cumprimento do tempo remanescente do mandatode "qualquer vaga" da Mesa da Câmara de Deputados, ao longo dó curso dosrespectivos 2 (dois) anos, justifica-se para eleger novo ocupante para o "mandatodo período de vacância".

Esta exigência de nova eleição deve-se ao fato de não haver previsãoconstitucional para vacância do cargo de Presidente das casas legislativas, com (i)regra que proíba a "reeleição" de quem tenha sucedido parte de mandato, aexemplo daquela que regula os cargos de chefes dos executivos, do Art. 14, § 50

da CF; e (ii) por não ser admitida a substituição ou a sucessão do Presidente peloVice-Presidente, como se verifica no caso do Presidente da República (Art. 79.Substituirá o Presidente, no caso de impedimento, e suceder- lhe-á, no de vaga, oVice-Presidente) ou (iii) ser vedada a continuidade do mandato, com imediataconvocação para eleições, como na situação do Presidente do STF (Art. 12, § 1°,art. 14 e art. 37 do Regimento Interno do STF).

Logo, no ordenamento constitucional são encontráveis regimes de sucessãonos cargos de presidência com modelos distintos entre si, a saber:

1. Regime de substituição ou de sucessão do Presidente pelo Vice-Presidente, sem novas eleições (Art. 79 da CF), sempre que oimpedimento ocorra nos primeiros dois anos do período presidencial;

2. Regime de nova eleição quando houver impedimento do Vice-Presidente,nas funções da Presidência da República, por vacância (Art. 81 da CF),desde que esta ocorra nos últimos dois anos do período presidencial, paraambos os cargos, pelo Congresso Nacional (Art. 81 da CF). Nestes, oseleitos deverão completar o período de seus antecessores ( 2°);

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3. Regime de sucessão do Presidente pelo Vice-Presidente do STFunicamente para convocar novas eleições (Regimento), para dar início a- novo período de mandato;

4. Regime de sucessão na continuidade do mandato, com vedação expressapara participar de reeleição (Art. 14, § 50 da CF);

5. Regime de proibição de recondução para o mesmo cargo da MesaDiretora das Casas Legislativas por quem tenha sido eleito para mandatode 2 anos na composição da Mesa antecedente (Art. 57, § 4° da CF).

Ora, nenhuma destas situações confunde-se com a exigência de nova eleiçãopela vacância do cargo da Presidência da Câmara dos Deputados, dada a ausênciade previsão constitucional.

E descabe qualquer possibilidade de analogia, para criar, de forma nãoautorizada pela Constituição, impedimento de candidatura do atual Presidente daCâmara dos Deputados.

Veja-se o caso do Art. 14, § 5° da CF, que autoriza a reeleição. In Verbis:

1 5' O Presidente da República, os Governadores de Estado e do DistritoFederal, os Prefeitos e guem os houver sucedido, ou substituído no curso dosmandatos poderão ser reeleitos para um único período subsequente.(Redação dada pela Emenda Constitucional n° 16, de 1997)"

Esta regra traz condições muito objetivas. Primeira, restringe o âmbitopessoal de aplicação apenas a: Presidente da República, Governadores e osPrefeitos. Segunda, como os "Vices" (Presidente, Governadores e Prefeitos) sãotodos eleitos majoritariamente, podem suceder ou substituir o Chefe do Executivono curso do mandato. Terceira, este período não impede que o substituto ousucessor seja candidato ao mandato seguinte, restrição que só vale para o posteriormandato (poderão ser reeleitos para um único período subsequente).

É induvidoso que qualquer analogia entre o texto do art. 57, § 4° da CF e oArt. 14, § 5° da CF somente poderia prevalecer para beneficiar o Presidente atual,como "analogia in bonam partem". E isso porque está expressamente autorizadoque "quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos" (condição)"poderão ser reeleitos para um único período subsequente" (consequência). Veda-se, aqui, apenas a reeleição subsequente.

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ADVOGADO

Da disposição do Art. 14, § 5° da CF não poderia derivar qualquer forma de"analogia in malam partem". Por uma, porque é defeso o uso de analogia em casosde normas proibitivas e das excepcionais. Por duas, porque o mandato de quem"substitui" ou "sucede" também foi obtido por "eleição", no Art. 14, § 5° da CF.Por três, porque o texto autoriza a eleição subsequente, logo, não poderia serconvertido em "proibição" para a condição de "quem houver sucedido, ousubstituído, no curso do mandato". E por quatro, essa condição só tem cabimentopor estar expressamente declarada, o que não se verifica no Art. 57, § 40 da CF.

Ante à falta de regra expressa que proíba a "reeleição" de quem tenhaassumido parcela de mandato, corno na hipótese de "vacância" (Art. 8°, § 2° e Art.238 do RICD), não se aplica o impedimento de candidatura para o mesmo cargo(de Presidente) para a composição da próxima Mesa da Câmara dos Deputados.

Neste particular, convém relembrar a clássica lição de Emilio Betti, acercada proibição de recurso à analogia nos casos de "regras excepcionais", como a queadmite a eleição para mandato supletivo decorrente de vacância (Art. 80, § 20 eArt. 238 do RICD), da qual é defeso estender proibição de candidatura ao ocupantedo cargo, eleito em situação excepcional e não contemplada na regra proibitiva do.Art. 57, § 40 da CF. A "morte", "renúncia" ou "perda do mandato" do Presidente,enquanto causas da declaração de vacância, são eventos excepcionais nãoabarcados pela regra proibitiva de candidaturas do Art. 57, § 4° da CF.

Eis, precisamente, o caso versado neste Parecer, o qual trata do exame dedispositivo constitucional restritivo (Art. 57, § 40 da CF) - proibição decandidatura para o mesmo cargo da Mesa por membro eleito no primeiro ano dalegislatura para mandato de 2 anos - que não pode operar efeitos em face de umanorma que rege caso jurídico singular e atípico, ou seja, sob a égide de um iussingular.' Norma de poder regulamentar que regula caso excepcional (Art. 8°, § 2°e Art. 238 do RICD) não pode ser alçada à condição de restritiva de direito dassituações regulares previstas na Constituição.

2 Cf. BETTI, Emilio. Interpretação das leis e dos atos jurídicos - Teoria geral edogmática. Tradução de Karina Jannini. São Paulo: Martins Fontes, 2007, p. 111 a 117.

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Não é sequer moralmente tolerável a alegação de vedação a candidatura antehipótese fática absolutamente excepcional. O ordinário é admitir a candidatura dequalquer membro eleito e empossado na condição de Deputado Federal, do que sóse excetua candidatura para o mesmo cargo da Mesa por membro eleito noprimeiro ano da legislatura para mandato de 2 anos (Art. 57, § 40 da CF). Fazê-lo, equivale a sancionar, punir, quem se apresentou, em momento de crise, commelhores condições de legitimidade e apoio para prosseguir na missão da vagapresidencial. Deveras, isso nunca foi querido ou tolerado pela Constituição.

A garantia da norma de proibição (Art. 57, § 4° da CF) operar efeitosestritamente nos limites dos critérios adotados, afastada qualquer extensão aoscasos excepcionais não previstos (Art. 8°, § 2° e Art. 238 do RICD), por razões desegurança jurídica (previsibilidade e confiança legítima), veda o recursointerpretativo da "analogia in pejus" (ou "analogia in malam partem") paraprejudicar situação subjetiva do titular de direito (candidatura à vaga dePresidente) que cumpre mandato supletivo decorrente de vacância.

Não é diversa a lição de Tomás Cano Campos, Professor Titular de DireitoAdministrativo da Universidad Complutense de Madrid:

"La prohibición de analogia in peius tiene su fundamento en el principio delegalidad de Ias infracciones y sanciones, en cuyo contenido y fundamentoconviene detenerse un momento para analizar Ia justificación de este aserto.

Dicho principio, habitualmente expresado con el aforismo nullum crimen,nulia poena sine lege, adquiere su formulación más acabada en ei âmbitopenal, para pasar de ali al campo dei Derecho administrativo sancionador,erigiéndose en uno de los limites constitucionales más importantes de Iapotestad sancionadora de Ia Administración."3

CANO CAMPOS, Tomás. La analogía en ei Derecho Administrativo Sancionador. In:NETO, Diogo de Figueiredo Moreira (coordenador). Uma avaliação das tendênciascontemporâneas do direito administrativo. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 580.

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Destarte, a eleição para cumprir o "mandato do período de vacância", naforma do Art. 80, § 20 e Art. 238 do MCD, situação de todo excepcional, em nada

e se confunde ou se encontra abarcada pela regra proibitiva de candidaturas para o"mesmo cargo" no segundo biênio da legislatura, quando da sucessão da MesaDiretora das Casas Legislativas (Art. 57, § 4° da CF). É vedada a analogia in malampartem como mecanismo de integração de norma proibitiva. A norma que regulaa eleição em caso de vacância (Art. 8°, § 2 0 e Art. 238 do RICD) presta-se,unicamente, para recompor o cargo "vago", para conclusão do período residual dos2 (dois) anos do mandato da Mesa. A excepcionalidade é seu signo primordial. OPresidente eleito para o "mandato do neríodo de vacância" cumore funcãotransitória. Por conseguinte, não vincula o detentor do cargo às restrições dotratamento conferido pelo Art. 57, § 4° da CF, que se limita aos cargos integrantesda Mesa eleita para o período de 2 (dois) anos.

Essa matéria foi examinada em Parecer da Comissão de Constituição eJustiça e Cidadania da Câmara dos Deputados - CCJ, que apreciou o contextosingular no qual estava imersa a Mesa daquela Casa Legislativa, a motivar novaseleições, até porque vedada a substituição do parlamentar pelo Vice-Presidente,porquanto defeso ao Vice-Presidente exercer ambos os cargos.

In verbis:

"b. Das causas transitórias de substituição:

b. 1.- O Regimento Interno não acolheu a tese da sucessão do Presidente peloPrimeiro-Vice Presidente. Ele apenas substitui o Presidente, mas não osucede. Para a sucessão, há necessidade de eleição, apenas dispensada nosdois últimos meses do mandato, quando isso caberá à Mesa, numa espécie deeleição indireta entre seus membros.

b.2.- A substituição decorre da impossibilidade momentânea de o titularexercer o cargo plenamente. Nesse caso, há o exercício de dois cargossimultaneamente. Uma substituição que se alonga por tempo indeterminadoperde sua essência, a transitoriedade, tornando-se uma acumulação nãorazoável e isso, por várias razões:

1.- a acumulação de cargos, mesmo que transitória, é tida sempre comoexceção. A Constituição Federal, em seu artigo 37, XVI, em regra, veda a

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acumulação de cargos. A Lei 8.112/90, prevê em seu artigo 9°, parágrafoúnico, a excepcionalidade da ocupação interina de mais de um cargo deconfiança. Essa prudência encontra escopo nos princípios constitucionais daeficiência, finalidade e supremacia do interesse público.

Ii.- O acúmulo dos cargos de Presidente e 1° Vice-Presidente da Câmara portempo indeterminado pode causar concentração indesejável de poder em umaúnica autoridade. O Deputado Waldir Maranhão atualmente ocupa os cargosde Presidente e 1° Vice-Presidente da Câmara dos Deputados e, também, ocargo de 1° Vice-Presidente do Congresso Nacional. Em eventualsubstituição do Senador Renan Calheiros, ocuparia simultaneamente quatrocargos (Presidente e 1° Vice na Câmara e Presidente e 1° Vice no Congresso).

III.- A substituição prevista no art. 18 do Regimento não tem o condão detornar, constitucionalmente, o '1° Vice-Presidente no exercício daPresidência' em "Presidente da Câmara dos Deputados". Assim, a Câmarados Deputados, enquanto permanecer essa situação de transitoriedade, restarásub-representada, pois somente ao Presidente desta Instituição competeintegrar a linha sucessória da Presidência da República (CF/88, art. 80), oConselho da República (CF/88, art. 89, II) e o Conselho de Defesa Nacional(CF/88, art. 91, II).

TV.- O Regimento Interno não admite que um parlamentar assuma doiscargos da Mesa por tempo indefinido. Apenas o permite excepcionalmente,quando a vacância ocorrer no término do mandato.

V.- No presente caso, há excepcionalidade das circunstâncias fático-jurídicasrelativas ao Presidente afastado. Não pode o Presidente da Repúblicaresponder por ação criminal. Havendo ações contra o Presidente da Câmaraafastado, precisará vencer dois obstáculos para retornar: a) concluir taisprocessos, e ser absolvido, nos próximos oito meses, prazo de seu mandatona Mesa; b) conseguir, nesse mesmo prazo, inverter a unanimidade dadecisão do STF, de afastamento, em maioria no sentido da reversão dadecisão. Quando do julgamento do Caso Donadon, o STF considerou acircunstância temporal que incompatibilizava a possibilidade de seu retorno.VI.- A substituição por tempo indefinido fere o princípio daproporcionalidade partidária, de estatura constitucional. A possibilidade de o

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Fwfessor Titular da Faculdade de Direito da Universidade de Sio Paulo - USP

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Deputado Waldir Maranhão exercer dois cargos até o final do mandato daMesa revela que quase 40% (quarenta por cento) do mandato do Presidenteseria exercido por um substituto. Durante todo esse tempo, um partido ficariahiper-representado, em detrimento, do outro, titular daquela Presidência. ,4

(n.g.)

Um dos principais objetivos almejados pela CCJ com a propositura deeleições era "garantir, em tese, a reversibilidade da decisão pelo STF", de modo aassegurar o direito de retorno do titular afastado, numa solução equivalente ao dosubstituto. Como alude o Parecer da CCJ:

"Em interpretação sistêmica, assim, diante das circunstâncias excepcionaisdo caso, é possível um pleito suplementar para a escolha do Presidente daCâmara dos Deputados, que ocupará a presidência enquanto estiver vigentea decisão da Suprema Corte, garantindo-se a reassunção do cargo peloDeputado Eduardo Cunha, em eventual suspensão dos efeitos da liminar.O novo Presidente titularizará tudo que caberia ao substituto do Presidenteafastado, acrescido das competências inerentes à singularidade do cargo daPresidência.` (n.g.)

Após afastamento do então Presidente, pela renúncia apresentada peloDeputado Eduardo Cunha no dia 07/07/2016, houve imediata convocação daeleição, no dia 14 subsequente, quando foi eleito o Deputado Rodrigo Maia, paraexercer a Presidência da Câmara dos Deputados até fevereiro de 2017, em carátertransitório, na condição de "mandato do período de vacância".

Parecer da Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados,de maio de 2016. Acessado em http://www1.fo1ha.uo1.com.br/poder/2O 16/05/1771019-parecer-da-ccj -diz-ser-necessaria-eleicao-para-a-presidencia-da-carnara.shtml, em 10/11/2016.

Parecer Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados, demaio de 2016. Acessado em http://www 1 .folha.uoLcom.br/poder/20 16/05/177101 9-parecer-da-ccj-diz-ser-necessaria-eleicao-para-a-presidencia-da-carnara.shtml, em 10 de novembro de 2016.

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HELENO TAVEIRA TORRES

Professor Titular da Faculdade de Direito da Universidade de Sio Paulo - USP

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A vacância, corno faz ver José Afonso da Silva, é qualidade do cargo, não doindivíduo, pela perda do seu titular. A saber:

"(...) "Vacância" é estado do cargo; isto é, o cargo considera-se vago quandofica sem titular. Então, é necessário preenchê-lo dando-lhe novo titular. Adiferença entre "impedimento" e "vacância" é palpável. Aquele é um estado,uma situação, da pessoa; refere-se ao titular do cargo. Esta é uma situação,um estado, do cargo. Aquele é um afastamento temporário do titular (licença,doença, férias, suspensão). Esta, um afastamento definitivo (perda do cargopor cassação, renúncia ou morte).

A vacância dá-se por urna das formas de perda do cargo que se verifica poruma das formas de perda do mandato, quais sejam: cassação, extinção,declaração de vacância do cargo e ausência do país na forma do art. 83.6

Importante recordar que esta eleição para a Presidência da Câmara dosDeputados teve origem em liminar do Supremo Tribunal Federal, haja vista aimputação da pena de "suspensão" pelo Conselho de Ética ao Deputado EduardoCunha, mas igualmente reconhecida pelo STF.

A decisão do Pleno do STF, Relator Min. Teori Zavascki, a saber:

6 SILVA, Jose Afonso da. Comentário contextual a Constituição. São Paulo: Malheiros,2005, p. 479. Cf. FERREIRA, Luis Pinto, Comentários à Constituição brasileira. São Paulo:Saraiva, 1992. v. 3, p. 55.

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"CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. MEDIDA CAUTELARDE SUSPENSÃO DO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO (ART. 319, VI, DO CPP),A ABRANGER TANTO O CARGO DE PRESIDENTE DA CÂMARA DOSDEPUTADOS QUANTO O MANDATO PARLAMENTAR. CABIMENTODA PROVIDÊNCIA, NO CASO, EM FACE DA SITUAÇÃO DE FRANCAEXCEPCIONALIDADE. COMPROVAÇÃO, NA HIPÓTESE, DAPRESENÇA DE MÚLTIPLOS ELEMENTOS DE RISCOS PARA AEFETIVIDADE DA JURISDIÇÃO CRIMINAL E PARA A DIGNIDADEDA PRÓPRIA CASA LEGISLATIVA. ESPECIFICAMENTE EMRELAÇÃO AO CARGO DE PRESIDENTE DA CÂMARA, CONCORREPARA A SUSPENSÃO A CIRCUNSTÂNCIA DE FIGURAR OREQUERIDO COMO RÉU EM AÇÃO PENAL POR CRIME COMUM,COM DENÚNCIA RECEBIDA PELO SUPREMO TRIBUNALFEDERAL, O QUE CONSTITUI CAUSA INIBITÓRIA AO EXERCÍCIODA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. DEFERIMENTO DA MEDIDASUSPENSIVA REFERENDADO PELO PLENÁRIO." (g.n.)

A eleição foi realizada em plena normalidade e eleito o Deputado RodrigoMaia, para cumprir típico "mandato-tampão" de Presidente da Câmara dosDeputados, de julho de 2016 até fevereiro de 2017. Vale relembrar que a assunçãodo cargo deu-se em virtude da vacância, motivada pela renúncia ao cargo da Mesa,pelo então Presidente, a autorizar a aplicação do art. 238, II do RICD.

AC 4.070. Ref/DF. Relator: Mm. Teori Zavaseki. Supremo Tribunal Federal. TribunalPleno, j. em 05/05/2016.

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2. O REGIME CONSTITUCIONAL DE SUCESSÃO DAPRESIDÊNCIA DA CÂMARA DOS DEPUTADOSINTELIGÊNCIA DO ART. 57, § 40 DA CF

O início de cada legislatura exige a composição da Mesa Diretora, integradacomo expressão da complexa representação pluripartidária, como órgão máximoda Casa Legislativa, para sua direção administrativa e política'. Portanto, os cargosda Mesa dirigente são compostos de modo a assegurar equilíbrio das forçaspolíticas, distribuídos que são segundo a proporção partidária, afora os casos doschamados "candidatos avulsos", como tem sido cada vez mais costumeiro.

Ressalta-se aqui o aspecto mais autêntico da composição da Mesa Diretorada Casa Legislativa, que é a individualização dos cargos, vedada qualquerocupação que não seja pela eleição integral (dos membros de todos os cargos),mantida a individualização dos seus membros segundo a distribuição dos cargosentre as representações partidárias e lideranças.

José Cretelia Jr., corretamente, define Mesa como "o Presidente e osSecretários de uma Assembleia, de um colegiado, bem como o conjunto de outroscargos`. Portanto, somente estes integrantes da Mesa, quando eleitos, na sua

8 Regimento Interno: "Art. 14. À Mesa, na qualidade de Comissão Diretora, incumbe adireção dos trabalhos legislativos e dos serviços administrativos da Câmara.

§ ] 'A Mesa compõe-se de Presidência e de Secretaria, constituindo-se, a primeira, doPresidente e de dois Vice-Presidentes e, a segunda, de quatro Secretários."

Sobre o terna, discorre José Cretelia Jr.: "Na terminologia técnica do direitoconstitucional, que se entende por Mesa? Qual o seu conceito? Consultamos a respeito dois dentreos dicionarista clássicos da língua, Antônio de Morais Silvam ed. 1813, e Caldas Aulete, 3"edição, 1948. O primeiro dos lexicógrafos citados define e exemplifica o vocábulo assim: 'Mesaé a junta de pessoas à roda de uma mesa, as pessoas que a compõem: v.g. a Mesa destaIrmandade.' O segundo dicionarista conceitua Mesa corno 'o conjunto formado pelo Presidente,Secretários e Vogais de uma corporação ou associação: a mesa da Câmara de Deputados; a mesada Santa Casa da Misericórdia'. Para o dicionarista J.T. da Silva Bastos, no Dicionário da línguaportuguesa, Lisboa, 1928, Mesa é o 'conjunto do Presidente e Secretários de urna Assembleia'.(...)". CRETELLA Jr., José. Comentários à Constituição brasileira de 1988. Rio de Janeiro:Forense Universitária, 1992, p. 2687.

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composição plúrima, sujeitam-se à respectiva proibição de reeleger-se para omesmo cargo na Mesa subsequente.

A Mesa é um órgão coletivo, eleito integralmente para mandato de dois anos,com equilíbrio das forças políticas representativas no Parlamento. Sua eleição,porém, não se confunde com aquele de um órgão colegiado ordinário. A "Mesa",apesar dessa organização coletiva, tem os seus cargos marcados pelaindividualidade, de tal modo que a nenhum é dado ocupar ou substituir, ainda queprovisoriamente, cargo alheio. Sequer o Vice-Presidente pode substituir oPresidente, em continuidade.

Dado esse modelo peculiar, faz-se necessário compreender o sentido objetivoda eventual sucessão dos cargos de membro da Mesa eleita, conforme determina oart. 57, § 40 da Constituição (com a redação lhe foi dada pela EmendaConstitucional n°. 50/2006):

40 Cada uma das Casas reunir-se-á em sessões preparatórias, a partir de 10

de fevereiro, no primeiro ano da legislatura, para a posse de seus membros eeleição das respectivas Mesas, para mandato de 2 (dois) anos, vedada arecondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subseqüente."' °(n.g.)

Este parágrafo cuida da posse dos parlamentares para legislaturas (é) eeleição da Mesa (ii), para preenchimento dos cargos que a integram (1), commandato de dois anos (2), ao mesmo tempo que proíbe a "recondução para omesmo cargo" na eleição imediatamente subsequente (3).

Considerado o pressuposto da Mesa como órgão completo e eleito de formaintegral, que tem por fundamento o equilíbrio das forças políticas que convergempara o Parlamento, a vedação de recondução para o mesmo cargo, prevista no art.57, § 4° da CF, necessariamente, restringe-se ao membro que esteja exercendomandato da Mesa eleita.

10 A Emenda Constitucional n° 50, de 14 de fevereiro de 2006, alterou a redação do §4°do artigo 57 para acrescer a palavra "dois" ao respectivo algarismo.

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A interpretação do § 40 do art. 57 da CF tem como sujeitos passivos da suaeficácia apenas aqueles parlamentares (i) que foram votados e eleitos paracomposição de Mesa (ii), no primeiro ano da legislatura (iii) para mandato de doisanos (iv). Logo, ser eleito para compor a "Mesa", no primeiro ano da legislatura,para mandato de 2 anos é a condição material suficiente para autorizar aconsequente proibição de candidatar-se para ocupar o mesmo cargo na Mesasubsequente. Esta limitação, porém, não se estende, de forma transparente eobjetiva, para proibir a elegibilidade do ocupante de cargo em caráter transitório,corno o "mandato supletivo decorrente de vacância".

A vedação da reeleição para o mesmo cargo da Mesa Diretora, para o qualcada um dos seus ocupantes foram eleitos, com mandato de dois anos, ex vis doart. 57, § 4° da CF, é regra cogente que tem a finalidade de inibir a continuidadeda Mesa com idêntica composição, em um, alguns ou em todos os cargos. Estaregra, como é de evidência claríssima, não trata de "vacância" de cargos, pormorte, renúncia ou perda do cargo, que torne o parlamentar eleito impossibilitadode exercer suas funções junto à Mesa (Art. 8°, § 2° e art. 238 do RTCD).

Por se tratar de matéria tipicamente "interna corporis", o Regimento Internoda Câmara dos Deputados prescreve que a eleição da Mesa e do cargo dePresidente ocorrem na 2" sessão preparatória da 1a sessão legislativa de cadalegislatura. A Mesa assume unidade naquele momento. E o candidato então eleitoserá membro e titular do cargo ocupado de modo direto e pessoal, vedada qualquersucessão ou substituição.

Este o sentido do artigo 5°, caput, do Regimento Interno da Câmara dosDeputados. Confira-se, in verbis:

"Seção II Da Eleição da Mesa

Art. 50 Na segunda sessão preparatória da primeira sessão legislativa decada legislatura, no dia ]0 de fevereiro, sempre que possível sob a direçãoda Mesa da sessão anterior, realizar-se-á a eleição do Presidente, dosdemais membros da Mesa e dos Suplentes dos Secretários, para mandato dedois anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleiçãoimediatamente subsequente. ("Caput" do artigo com redação dada pelaResolução n° 19, de 2012)"

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A Constituição de 1988, no § 40 do Art. 57, restringe a recondução demembros da Mesa eleita, com mandato de dois anos, para o mesmo cargo, quandoda eleição para o segundo biênio da mesma legislatura. Logo, não se estende a"mandato do período de vacância". Ou seja, não admite migração entre cargos oumesmo a substituição (excetuada aquela provisória) ou a sucessão por Vice-Presidente ou outro cargo.

Queda-se afirmada a finalidade do art. 57, § 40 da CF, ao coibir acontinuidade dos mesmos membros da Mesa, nos mesmos cargos, ao longo dosdois biênios da legislatura.' Diante disso, semelhante efeito somente podepersistir quando se tratar da recondução daqueles eleitos para o mandato de doisanos para composição da Mesa precedente 12, votados no primeiro ano delegislatura.

Com a vacância do cargo de Presidente, por morte, renúncia ou perda domandato parlamentar, tem-se fato jurídico e consequências jurídicasabsolutamente distintas, dado o caráter de transitoriedade da eleição, reguladapelos Art. 8°, § 2° e Art. 238 do RICD. Daí ser necessária a imediata eleição para

11 "CONSTITUCIONAL. EMENDA CONSTITUCIONAL ESTADUAL N° 20/96.ALTERA DISPOSITIVO PARA ASSEGURAR A REELEIÇÃO DOS MEMBROS DA MESADA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA. AUSÊNCIA DO 'PERlCULUM IN MORA'. HIPÓTESEEM QUE NÃO SE ENQUADRA NO ART. 27, § 10 DA CF. ESSA NÃO VEDA A HIPÓTESEDA EC 20/96. INCIDÊNCIA DO ART. 57, § 40 DA CF. HÁ PRECEDENTES. LIMINARINDEFERIDA." ADI 2.262 MC/MA. Relator: Min. Nelson Jobim. Supremo Tribunal Federal.Tribunal Pleno, j. 06/09/2000.

12 Em similar sentido, diz Luiz Henrique Cascelli de Azevedo: "O §4° do artigo 57 tratadas sessões preparatórias para a posse dos parlamentares e eleição das Mesas Diretoras, cujosmembros têm um mandato de dois anos. O dispositivo ainda proíbe a recondução para o mesmocargo na eleição imediatamente subsequente'. Registre-se, de qualquer modo, que oentendimento dentro das Casas Legislativas, contrariando a melhor interpretação, é o de que aproibição de reeleição para a Mesa se dá apenas para a mesma legislatura, permitindo-se,portando, que os membros das Mesas no último biênio da Legislatura possam se candidatar paraas vagas das Mesas no Congresso que ainda será instalado se forem reeleitos para um novomandato parlamentar." AZEVEDO. Luiz Henrique Cascelli de. In: CANOTILHO, J.J. Gomes(coord.). MENDES, Gilmar Ferreira Mendes (coord). et ai. Comentários a constituição do Brasil.São Paulo: Saraiva, 2013, p. 1087.

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preenchimento do cargo vacante, de modo a assegurar o funcionamento eficientedas atividades da Mesa, sem que isso se confunda com sua composição original.São fatos jurídicos diversos, portanto. Logo, o "mandato do período de vacância"não se confunde com o de sucessão das Mesas das respectivas casas legislativas.

2.1 Breve exame sobre interpretação histórica da proibição de reconduçãopara o mesmo cargo da Mesa Diretora

É intuitivo que os modelos metodológicos do Direito influem sobre os"métodos de interpretação", corno bem assinala Gustavo Zagrebelsky» 3 Nestesentir, a interpretação segundo a vontade do legislador (mens legislatoris),acomoda-se com o método positivista que assumia o direito como manifestação devontade do legislador (a exemplo do conceito de lei em Hobbes, 14 para quem a leiseria "o comando de quem detém o poder legislativo"). Neste âmbito, ainterpretação histórica, por antonomásia, equivale ao método histórico. 15

3 Nas palavras de Zagrebelsky: "En efecto, todo método, de per si, remite a una ciertaconcepción ontológica dei derecho: por ejempio, Ia interpretación exegética remite a la idea deiderecho corno expresión de una voluntad legislativa perfecta y completamente declarada; Iainterpretación según ia intención dei legislador, a ia idea positivista dei derecho como (mera)voluntad de aquél; ia interpretación sistemática, a Ia idea dei derecho corno sistema; Iainterpretación histórica, ala idea dei derecho como hecho de fonnación histórica; Ia interpretaciónsociológica, ai derecho como producto social; Ia interpretación según cánones dejusticia racional,ai derecho natural" (ZAGREBELSKY, Gustavo. El derecho dúctil. Madrid: Trotta, 1995. p. 135).

14 Para um exame da metodologia em Hobbes, ver: SKINNER, Quentin. Razão e retóricana filosofia de Hobbes. Trad. Vera Ribeiro. São Paulo: Unesp/Cambridge, 1999.

15 A interpretação dita "histórica" é repleta de variantes, quanto ao modelo derecomposição da chamada "mens legislatoris". Basta pensar que, a busca da intenção legislativasomente foi admitida, pela primeira vez em todo o direito inglês, em uma única decisão da Câmarados Lordes de 1992, a Pepper (Her Majesty 's Inspector of Taxes) v Hart [1992], na qual seentendeu que a Corte teria o direito de examinar os registros dos debates parlamentares, paraorientar o julgamento, e que os privilégios parlamentares não se aplicariam em certas hipóteses,especialmente em leis de natureza tributária. Para um exame crítico, veja-se: Waidron, Jeremy. Adignidade da legislação. Trad. de Luís Carlos Borges. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 30 ess. Essa formulação de uma interpretação do direito segundo a história das normas, de fato, foisempre vista com reservas, como observa Walter Wilhelm: "L'analisi dei metodo 'giuridico-

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A verdade é que, na práxis jurídica contemporânea, o método histórico nãogalgou grande relevo, haja vista os contextos diversos entre o momento daprodução dos textos e aquele quando se tem sua aplicação.

A adoção de um método "sistemático" traz consigo a atitude de quem optapor aplicar o Direito segundo o conceito de "sistema". Lourival Vilanova preferiareferir-se à noção de positivismo metódico" como aquele que cabe nos limites dodireito positivo exclusivo. Usamos o positivismo jurídico métodico-axiológico,como aquele modelo sistêmico, mas axiologicamente aberto, coerente com osvalores do Estado Democrático de Direito, capaz de prover segurança jurídica.

Assim, preferível adotar o método sistemático e, na sua condução, utilizar-seda "interpretação histórica" como medida auxiliar, ou seja, complementar daatividade, é algo perfeitamente possível e até mesmo desejável. É o que justifica areferência que se faz abaixo à Constituição de 1967 e aos debates da ComissãoConstituinte de 1988.

A vedação à reeleição para os cargos das Mesas do Legislativo só ingressouem nossa ordem constitucional com a Emenda Constitucional n° 1/1969 àConstituição de 1967. In verbis:

"Art. 30. A cada uma das Câmaras compete elaborar seu regimento interno,dispor sôbre sua organização, polícia e provimento de cargos de seusserviços. ( ... )

h) será de dois anos o mandato para membro da Mesa de qualquer dasCâmaras, proibida reeleição." (n.g.)

storico-naturale' ha mostrato che questa teoria della prima scienza giuridica in gran parte eraimpegnata in una concezione logificata cd in una terminologia da scienza naturale, avendo comecontenuto le lince fondamentali delia dottrina giuridica e dei metodo giuridico dapprimasviluppati sisternaticamente" (WJLHELM, Walter. Metodologia giuridica nel secolo XIX . Trad.P. L. Lucchini. Milano: Giuffrè, 1974. vol. 32, p. 113).

6 VILANOVA, Lourival. Causalidade e relação no direito. 4. ed. São Paulo: Ed. RT,2000. p. 264.

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Apesar do período militar na qual foi editada, esta disposição passou a serinterpretada como representativa dos melhores anseios democráticos, ao obstar a

• perpetuação da composição da Mesa imediatamente precedente. Entretanto,comparada com a que se tem na Constituição atual, o disposto no art. 30, "h", eraregra mais rigorosa, ao impedir a "reeleição" para qualquer cargo da Mesa", aotempo que o § 40 do art. 57 veda a "a recondução para o mesmo cargo na eleiçãoimediatamente subsequente", o que autoriza "reeleição" para outros cargos dacomposição da Mesa.

De se ver, o § 40 do art. 57 da CF de 1988 trouxe maior flexibilidade, parapermitir aos parlamentares a reeleição para a Mesa, ainda que em cargos diversosdaqueles ocupados anteriormente na mesma legislatura`.

Esta vedação à recondução no mesmo cargo na eleição imediatamenteseguinte foi debatida nos trabalhos da Comissão de Redação da AssembleiaNacional Constituinte, especificamente na 4' Reunião Ordinária, mas semqualquer referência à hipótese excepcional da "vacância" da presidência. A saber:

17 "A nós sempre pareceu, pelos princípios, que 'reeleição' significa 'recondução aomesmo cargo para o qual se elegeu' - logo, a proibição se referia ao cargo ocupado anteriormente.Não foi a tese que prevaleceu, por entender-se que estava proibida recondução a qualquer cargoda Mesa." SILVA, Jose Afonso da. Comentário contextual a Constituição. São Paulo: Malheiros,2005, p. 429-430.

18 O Anteprojeto da Constituição de 1988 (Anteprojeto Afonso Arinos) dispunhasinteticamente acerca do Poder Legislativo e não versava sobre a temática relativa às Mesas dasCasas do Congresso:

"DO PODER LEGISLATIVOArt. 88 - O número de Deputados á Assembléia Legislativa correspondera ao triplo da

representação do Estado na câmara dos Deputados e, atingido o número de trinta e seis, seráacrescido de tantos quantos forem os Deputados federais acima de doze.

Art. 89—O mandato dos Deputados será de quatro anos, salvo dissolução da AssembléiaLegislativa.

Art. 90 - A Constituição Estadual disporá sobre os casos e as formas de iniciativalegislativa popular e de referendo no Estado e no Município. Art. 91 - Aplicam-se aos Deputadosestaduais as regras desta Constituição sobre imunidades, prerrogativas processuais, subsídios,perda do mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas."

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"O SR. CONSTITUINTE JARBAS PASSARINHO: - Sr. Presidente, Srs.Constituintes e particularmente nosso eminente relator, tenho a impressão deque o que vou levantar é questão pacífica, porque se trata praticamente deomissão. Começaria, se o Presidente me permitir, pelo art. 57, dasdisposições permanentes, que no seu § 50 diz: 'Cada uma das Casas reunir-se-á em sessões preparatórias, a partir de 1° de fevereiro, no primeiro ano dalegislatura, para a posse de seus membros e eleição das respectivas Mesas,vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamentesubsequente.' A Constituição atual fala num mandato de dois anos. Estasilencia, que pode dar a impressão, portanto, de que o mandato pode ser dequatro anos. Então, a proposta é de que se acrescente aqui: '...eleição dasrespectivas Mesas, por dois anos, vedada a recondução... 'Esta é a proposta.

O SR PRESIDENTE (Ulysses Guimarães): - Todos ouviram. O que acham?

O SR. CONSTITUINTE JAMIL HADDAD: - Sr. Presidente, eu haviatambém atentado para esse detalhe e iria fazer urna proposta, mas acho que aproposta do Senador Jarbas Passarinho já resolve o problema. A minhaproposta seria a seguinte: 'O mandato dos membros das Mesas do SenadoFederal e da Câmara dos Deputados será de dois anos. E entraria esteparágrafo: 'Na segunda metade da legislatura, a eleição das respectivasMesas far-se-á igualdade no dia 1° de fevereiro.' É apenas urna questãoredacional, mas o intuito é o mesmo.

O SR. PRESIDENTE (Ulysses Guimarães): - Corno ficaria a parte final?

O SR. CONSTITUINTE JAMIL HADDAD: - O intuito do Senador JarbasPassarinho é o mesmo. Quer dizer, é uma questão de redação e que fique bemclaro que não será permitida a reeleição da Mesa por um período superiora dois anos.

O SR. CONSTITUINTE JARBAS PASSARINHO: - E o texto diz emseguida: '..vedada a recondução para o mesmo cargo na eleiçãoimediatamente subsequente'. Então, estaria garantido. O caso é escrever ou'por dois anos' ou 'por mandato de dois anos'. Qual seria a redação?

O SR. CONSTITUINTE NELSON JOBIM: - Sr. Presidente, parece que oSenador Jarbas Passarinho tem razão. O dispositivo foi redigido prevendo-se

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um mandato de dois anos. O que se quer evitar? Que a Mesa eleita noprimeiro ano da legislatura seja reeleita para o terceiro e o quarto ano da

* legislatura. Mas não se quer proibir que a Mesa eleita no terceiro ano dalegislatura possa ser reeleita no primeiro ano da legislatura seguinte, paranão condicionar a legislatura seguinte à arte da legislatura anterior. Este éo sentido do texto quando diz 'no primeiro ano da legislatura, para a posse deseus membros, eleição das respectivas Mesas, vedada a recondução para omesmo cargo na eleição imediatamente subseqüente'. Ou seja, subseqüenteao quê? À eleição realizada no primeiro ano da legislatura. Então, tenho aimpressão de que a solução do Senador Jarbas Passarinho resolve o problema.E isso mostra realmente que este texto foi redigido para um mandato de doisanos, caso contrário não teria sentido.

O SR. PRESIDENTE (Ulysses Guimarães): - Se todos estiverem de acordo...

O SR. CONSTITUINTE BONIFÁCIO DE ANDRADA - Sr. Presidente, e ahipótese de um mandato de um ano com recondução? Não está posto naConstituição. Como está aí a matéria vai ser regulamentada pelo RegimentoInterno da Câmara e do Senado Federal. Entendi esse dispositivo comodeixando para o Regimento a disposição sobre a matéria, porque há dentroda Casa quem defenda o mandato de um ano com uma recondução. É umamaneira de as Mesas - estamos falando teoricamente, não é o caso das atuaisMesas —ficarem mais subordinadas ao plenário. Com dois anos, elas ficammenos subordinadas ao plenário, administrativamente. De modo que a tesede um ano com recondução é uma tese que devemos pesar.

O SR. PRESIDENTE (Ulysses Guimarães): - Bom, todos sabem da propostaJarbas Passarinho, com o parecer favorável do relator. A despeito dasponderações do nobre Constituinte Bonifácio de Andrada, indago se estão deacordo? (Pausa) Está aprovado."19

19 http://www.senado.gov.br/publicacoes/anais/constituinte/redacao.pdf, acessado em 08de novembro de 2016.

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Como se pode confirmar, o que os constituintes desejavam foi bem expressopor Jamil Haddad: "não será permitida a reeleição da Mesa por um períodosuperior a dois anos". Jarbas Passarinho concorda e indaga: "O caso é escrever ou'por dois anos ' ou 'por mandato de dois anos'. Qual seria a redação?" E diz NelsonJobiin: "O que se quer evitar? Que a Mesa eleita no primeiro ano da legislaturaseja reeleita para o terceiro e o quarto ano da legislatura." Portanto, nunca secogitou de outra hipótese de proibição de eleição de membros para novacomposição da Mesa que não fosse apenas daqueles que compunham a Mesaprecedente, votados em conjunto e eleitos para um período de dois anos.

Com esta reprodução dos debates na Comissão Constituinte quer-seevidenciar que nunca foi tratada, na sua elaboração, a hipótese de eleição para"mandato no período de vacância". E mais, que toda a preocupação centrava-se naproibição de recondução dos membros eleitos para a Mesa, por dois anos, para obiênio seguinte da mesma legislatura.

Está muito bem delineado que a proibição de "recondução" dosparlamentares eleitos para os mandatos como integrantes da Mesa, por 2 anos, noinício da legislatura não abrange a eleição para "mandato do período de vacância",cujo preenchimento presta-se unicamente a assegurar o desempenho das funçõesdo cargo na continuidade da Mesa até a eleição subsequente. Fato, portanto, quenão está vedado para que aquele ocupante possa candidatar-se à eleição, no mesmoou em outro cargo, para composição da Mesa no biênio subsequente.

Nessa linha, Celso Ribeiro Bastos, igualmente, com sua costumeira precisãoe clareza, leciona que somente é possível falar-se em vedação à reeleição quandoo candidato procede à sua segunda composição da Mesa e, para tanto, é necessárioque tenha exercido, de antemão, a primeira composição da Mesa como sua própria.

Vale recordar aqui artigo publicado no Jornal Folha de São Paulo, emdezembro de 1998, em defesa das candidaturas do então Deputado Michel Temere do Senador Antonio Carlos Magalhães, respectivamente, Presidentes da Câmarade Deputados e do Senado Federal, para recandidatarem-se na legislatura de 1999,corno ocorreu e foram reeleitos para as presidências. Ouçamos o saudoso ProfessorCelso Ribeiro Bastos:

"Assim, passemos à análise da questão do direito dos atuais presidentes daCâmara e do Senado de recandidatar-se aos mesmos cargos na sessão

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legislativa de 1999. Estabelece a Constituição que o Poder Legislativo éexercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara e do Senado,e que cada legislatura terá duração de quatro anos (parágrafo único do art.44). A Carta é, corno se nota, explícita, fixando para cada legislatura o prazocerto de quatro anos. Estabelece, mais adiante, a Carta (parágrafo 40 do art.57): 'Cada uma das Casas reunir-se-á em sessões preparatórias, a partir de 1°de fevereiro, no primeiro ano da legislatura, para a posse de seus membros eeleição das respectivas Mesas, para mandato de dois anos, vedada arecondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente'.Assim, dada posse aos novos membros do Congresso, inicia-se nova votaçãopara eleição das respectivas Mesas. Os eleitos, aqui, contarão com o mandatocerto de dois anos. O mandato parlamentar será de quatro anos. No caso dossenadores, o mandato dá direito a um total de oito anos -o que representa,portanto, um período de duas legislaturas.

A leitura afoita do texto permite o entendimento de que a expressão 'vedadaa recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente'estaria a proibir a recondução do parlamentar consecutivamente. Ateleologia do parágrafo não vai a esse ponto. Ela se restringe a regular odireito de eleição dentro de urna mesma legislatura, o que fica claro pelaparte inicial, que fixa a data de 1 °de fevereiro do primeiro ano da legislaturacomo momento para a eleição das Mesas.

Findo o prazo de dois anos, contados a partir dessa data, é que surge apossibilidade de recondução. E é essa a recondução proibida pelo texto.Findos mais dois anos, encerra-se a legislatura e, consequentemente, aregulação do parágrafo 401 que nada dispõe que ultrapasse a mesmalegislatura; cada início seu equivale a um período inteiramente novo na vidacongressual e profissional dos parlamentares.

Até mesmo no Senado tal ocorre; a diferença é que o mandato senatorial dádireito à permanência em duas legislaturas consecutivas. Mas ainda aqui estápresente a ruptura representada pela mudança de legislatura; o senador podeocupar um cargo na Mesa na primeira legislatura do seu mandato e umsegundo no exercício da segunda legislatura, ainda que, temporalmente, odesempenho dessas funções possa ser consecutivo. Não é dessa hipótese que

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o parágrafo 4° cuida. Ele não leva em conta as reconduções quando elas sedão em legislaturas diferentes.

A cláusula proibitória constitucional limita-se a proibir a recondução namesma legislatura. Um deputado, para iniciar sua segunda legislatura, temde reeleger-se, o que implica obter um mandato novo. Se se fosse dartratamento diferente para os reeleitos, estar-se-ia discriminando, semlegitimidade alguma, entre novos e 'velhos' deputados. Cada eleição,portanto, gera um novo direito de ocupar cargo na Mesa, por umalegislatura. É o que expressamente dispõe o regimento interno da Câmara(parágrafo 1 do art. 5): 'Não se considera recondução a eleição para omesmo cargo em legislaturas diferentes, ainda que sucessivas'.

O mesmo, no fundo, ocorre com o Senado, com a única diferença de que aquio mandato já traz o direito de ocupar uma segunda legislatura, e o surgimentodesta faz ressurgir seu direito de ser regulado pelo parágrafo 4°, do que advémo direito a novo cargo na Mesa, esteja o senador na primeira parte dalegislatura ou na segunda.

Portanto, tanto o deputado federal Michel Temer como o senador AntonioCarlos Magalhães reúnem as condições para recandidatar-se, no início dalegislatura de 1999, a seus atuais cargos." 2° (n.g.)

A cita foi longa, mas justificada pela semelhança que guarda com o caso oraem análise e com as semelhantes conclusões. Deveras, a apuração histórica davedação de recondução para o mesmo cargo na Mesa da legislatura subsequente,prevista no art. 57, § 4° da CF, não tem o condão de alcançar a eleição paraocupação transitória do cargo de Presidente, como aquela da vacância em virtudede renúncia do cargo pelo então titular, o que se impõe pela ausência desubstituição ou de sucessão equivalente aos casos do Presidente da República (Art.79 da CF), haja vista a impossibilidade de o Vice-Presidente assumir as funções.

20 BASTOS, Celso Ribeiro. Interpretação correta das normas. In: Folha de São Paulo.São Paulo, 05 dez./1998.

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2.2 A proibição de recondução para o mesmo cargo de membro eleito para aMesa Diretora na Jurisprudência

Sobre a recondução para o mesmo cargo entre diferentes legislaturas,Alexandre de Moraes lembra que, por muito tempo, perdurou no SupremoTribunal Federal a interpretação de que haveria vedação do texto constitucionalapenas dentro da mesma legislatura 21 . O STF considerava o § 4" do art. 57 da CFregra aplicável apenas à composição das Mesas do Congresso Nacional, e não acompreendia como uma espécie de "princípio constitucional" ou regra inerente à"federação". Desse modo, firmou-se vasta jurisprudência para admitir apossibilidade de as constituições estaduais autorizarem a recondução de membrosdas Mesas do Legislativo, como se vê da ADI n° 793/RO.

Colecionamos abaixo algumas decisões do STF, a saber:

"CONSTITUCIONAL. ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA ESTADUAL:MESA DIRETORA: RECONDUÇÃO PARA O MESMO CARGO.Constituição do Estado de Rondônia, art. 29, inc. 1, alínea b, com a redaçãoda Emenda Const. Estadual n° 3/92. C.F., art. 57, § 4°. TRIBUNAL DECONTAS: CONSELHEIRO: NOMEAÇÃO: REQUISITO DE CONTARMENOS DE SESSENTA E CINCO ANOS DE IDADE. Constituição doEstado de Rondônia, art. 48, § 1°, 1, com a redação da Emenda Const.Estadual n° 3/92. C.F., art. 73, § l, 1. 1. - A norma do § 4°do art. 57 da C.F.que, cuidando da eleição das Mesas das Casas Legislativas federais, veda arecondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subseqüente, nãoé de reprodução obrigatória nas Constituições dos Estados-membros,porque não se constitui num princípio constitucional estabelecido. II. -Precedente do STF: Rep 1.245-RN, Oscar Corrêa, RTJ 119/964. III. - Osrequisitos para nomeação dos membros do Tribunal de Contas da União,inscritos no art. 73, § 1°, da C.F., devem ser reproduzidos, obrigatoriamente,na Constituição dos Estados-membros, porque são requisitos que deverão ser

21 MORAES, Alexandre de. MELLO. Constituição do Brasil interpretada: e legislaçãoconstitucional. 6" ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 1.115.

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observados na nomeação dos conselheiros dos Tribunais de Contas dosEstados e Conselhos de Contas dos Municípios. C.F., art. 75. IV. - Açãodireta de inconstitucionalidade julgada procedente, em parte."22In verbis destacamos trecho do voto do Relator Mm. Carlos Veiloso:"A norma do §4° do art. 47 não constitui um princípio constitucional. Ela é,na verdade, simples regra aplicável à composição das Mesas do Congressonacional, norma própria, aliás, do regimento interno das Câmaras. Oeminente Ministro Oscar Corrêa, relator da Rep. 1 .245-RNm demonstrou, noseu voto, que a regra da proibição da recondução para o mesmo cargo, queestava inscrita na alínea f do parág. único do art. 30 da Constituição pretéritae se inscreve no §4° do art. 57 da Constituição vigente, não constituíaprincípio essencial a que os Estados-membros deviam obedecer,compulsoriamente. (Rep. 1 .245/RN, RD 119/964). É que as regras quedizem respeito à composição das Mesas das Assembleias Legislativas nãosão essências à federação. A Constituição Federal, ao dispor, expressamente,sobre as Assembleias Legislativas dos Estados-membros, estabelecendoregras sobre a sua composição, no art. 27 e §, silenciou-se quanto à eleiçãode suas Mesas. A regra, portanto, do §4° do art. 57 da Constituição Federalnão se constitui, por isso mesmo, numa norma constitucional de reproduçãoobrigatória nas Constituições estaduais.

Dir-se-á que a regra inscrita no §4° do art. 57 da Constituição Federal éconveniente e oportuna. Penso que sim. As Assembleias Legislativas dosEstados-membros e as Câmaras Municipais deviam inscrevê-las nos seusregimentos, ou as Constituições estaduais deviam copiá-la. A conveniência,no caso, entretanto, não gera inconstitucionalidade, mesmo porque não sepode afirmar que a não proibição da recondução fosse desarrazoada. É dizer,o princípio da razoabilidade não seria invocável, no caso.

22 ADI 793 RO. Relator: Mm. Carlos Velloso. Supremo Tribunal Federal. Tribunal Pleno,j. 03/04/1997.

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Ademais, é bastante significativo o fato de o Supremo Tribunal Federal, sobo pálio de urna Constituição que consagrava um federalismo centripetista, talé o caso da Constituição pretérita, ter decidido no sentido de que a normaigual, que se inscrevia na alínea f do paráf. único do art. 30 da Constituiçãode 1967, não se incluía entre os princípios a que os Estados-membros deviamobedecer compulsoriamente: Rep. 1.245-RN, Relator o Ministro OscarCorrêa, RD 119/964."

Na mesma linha, têm-se ainda os seguintes precedentes do STF23:

"Ação direta de inconstitucionalidade. Ataque à expressão 'permitida areeleição' contida no inciso II do artigo 99 da Constituição do Estado do Riode Janeiro, no tocante aos membros da Mesa Diretora da AssembléiaLegislativa. - A questão constitucional que se coloca na presente ação diretafoi reexaminada recentemente, em face da atual Constituição, pelo Plenáriodesta Corte, ao julgar a ADIN 793, da qual foi relator o Sr. MinistroCARLOS VELLOSO. Nesse julgamento, decidiu-se, unanimemente,citando-se como precedente a Representação n 1.245, que 'a norma do § 40do art. 57 da C.F. que, cuidando da eleição das Mesas das Casas Legislativasfederais, veda a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamentesubseqüente, não é de reprodução obrigatória nas Constituições dos Estados-

23 Cf. informativo STF n° 55. "Indeferida a suspensão de eficácia de norma constante deemenda à Constituição do Estado do Amapá, que permite a reeleição dos membros da MesaDiretora da Assembléia Legislativa. Afastando, por maioria de votos, a incidência da parte finaldo art. 25, caput, da CF ('Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis queadotarem, observados os princípios desta Constituição.'), o Tribunal entendeu que a regra do art.57, § 4°, da CF - que prevê a eleição das Mesas da Câmara e do Senado 'para mandato de doisanos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subseqüente' - não seimpõe, ao primeiro exame, à observância obrigatória dos Estados-membros. Considerou-se,ademais, que o deferimento cautelar inverteria o risco apontado pelo autor da ação direta (Partidoda Frente Liberal). Precedentes citados: Rp 1245-RN (RTJ 119/964); ADIn 792-RJ (Pleno,18.11.92); ADIn 793-RO (RTJ 153/105)."

http://www.stf.jus.br//arquivo/informativo/documento/informativo5s .htm#REP 1245,acessado em 09 de novembro de 2016.

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membros, porque não se constitui num princípio constitucional estabelecido'.Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente. ,14

"Assembléia Legislativa. Permissão de reeleição dos Membros da MesaDiretora (art. 95, 1 e § 30 do art. 100, ambos da Constituição do Amapá, coma redação dada pela Emenda n° 7, de 31-10-1996). Relevância jurídica dopedido comprometida em face do decidido, em situação análoga, na ADI793-RO (DJ 28-5-93) e indesejável inversão do risco decorrente da eventualconcessão da liminar como ressaltado na Ação Direta n° 792 (DJ 23-11-92),onde também se contestava a possibilidade de recondução, para o mesmocargo, perante o art. 57, § 40, da Carta Federal. Medida cautelar, por maioriaindeferida."25

"A GRA VO DE INSTR UMENTO. CONSTITUCIONAL. REPRESENTA ÇÃODE INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI MUNICIPAL. MANDATO DOSMEMBROS DE MESA DA CÂMARA LEGISLATIVA. ART. 57, § 4o, DACONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. NORMA CUJA REPRODUÇÃOPELOS ESTADOS-MEMBROS NÃO SE MOSTRA OBRIGATÓRIA.PRECEDENTES. AGRAVO AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO.Relatório ( ... )

6. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou-se no sentido deque os preceitos contidos na primeira parte e na parte final do § 40 do art. 57da Constituição da República, não são normas de reprodução obrigatóriapelas Constituições estaduais. Confira-se, a propósito, o voto do MinistroMoreira Alves, Relator da Medida Cautelar na Ação Direta deInconstitucionalidade n. 2.371: 'Esta Corte, já na vigência da atualConstituição' assim, nas ADJN's 792 e 793 e nas ADIMEC's 1.528, 2.262 e2.292, as duas últimas julgadas recentemente', tem entendido, na esteira da

24 ADI 792/RJ. Rei. Mm. Moreira Alves. Supremo Tribunal Federal. Tribunal Pleno, j.26/05/1997.

25 ADI 1528 MC/AP. Rei. Mm. Octavio Gallotti. Supremo Tribunal Federal. TribunalPleno, j. 27/11/1996.

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orientação adotada na Representação n° 1.245 com referência ao artigo 30,parágrafo único, letra 'f, da Emenda Constitucional n° 1/69, que o § 40 doartigo 57, que veda a recondução dos membros das Mesas das Casaslegislativas federais para os mesmos cargos na eleição imediatamentesubseqüente, não é princípio constitucional de observância obrigatória pelosEstados-membros. Com maior razão, também não é princípio constitucionalde observância obrigatória pelos Estados-membros o preceito, contido naprimeira parte desse mesmo § 40 do artigo 57 da atual Carta Magna, que sóestabelece que cada uma das Casas do Congresso Nacional se reunirá, emsessões preparatórias, a partir de 1° de fevereiro, no primeiro ano dalegislatura, para a posse de seus membros e a eleição das respectivas Mesas,sem nada aludir' e, portanto, sem estabelecer qualquer proibição a respeito 'àdata dessa eleição para o segundo biênio da legislatura' (Tribunal Pleno, DJ7.3.2001).

7. Pode-se inferir, assim, que se as disposições contidas no art. 57, § 4°, daConstituição, relativas à vedação à reeleição e à data para eleição da Mesalegislativa não são de reprodução obrigatória pelos Estados-membros,tampouco o prazo de duração do mandato dos membros da referida Mesadeverá sê-lo. Nesse sentido, o seguinte julgado na decisão monocráticaproferida no Recurso Extraordinário n. 261.710: 'DECISÃO: Discute-seneste recurso extraordinário a legitimidade dos Municípios para, em sua leiorgânica, determinar prazo do mandato da Mesa da Câmara Municipaldiverso daquele estabelecido no artigo 57, § 4°, da CB/88. 2. O TJ/SP, emação de inconstitucionalidade proposta pela Mesa de Vereadores da CâmaraMunicipal de Palmeira D'Oeste, declarou 'a inconstitucionalidade dodispositivo legal atacado, por afronta ao disposto nos artigos 11 e 144 daConstituição Estadual, e artigo 29 e 57, parágrafo 4°, da Constituição daRepública' [fis. 66-67]. 3. O recorrente alega violação do disposto no artigo29 da Constituição do Brasil. 4. O recurso merece provimento. O Supremoreiteradamente tem decidido que 'a norma inscrita no art. 57, § 40, daConstituição Federal - no ponto em que esta veda a recondução, nas eleiçõesimediatamente subseqüentes, para o mesmo cargo na Mesa Diretora dasCasas do Congresso Nacional - não veicula princípio essencial a que devamobediência as demais unidades da Federação, não se revelando, por isso

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mesmo, tal cláusula, suscetível de reprodução obrigatória nos estatutosfundamentais dos Estados-membros e Municípios' [PET n. 1.653, Relator oMinistro Celso de Mello, DJ de 5.2.99]. 5. No mesmo sentido, a ADI n. 792,Relator o Ministro Moreira Alves, Di de 20.4.01; a ADI n. 793, Relator oMinistro Carlos Velioso, DJ de 16.5.97; e a ADI n. 1.528-MC, Relator oMinistro Octavio Gallotti, DJ de 5.10.01. Dou provimento ao recurso comfundamento no disposto no artigo 557, § 1°-A, do CPC' (Rei. Min. Eros Grau,DJ 12.6.2008). Dessa orientação não divergiu o acórdão recorrido. 8. Peloexposto, nego seguimento a este agravo (art. 557, caput, do Código deProcesso Civil e art. 21, § 1°, do Regimento Interno do Supremo TribunalFederal. Publique-se. Brasília, 24 de março de 2009. Ministra CÁRMENLÚCIA Relatora. ,26

"REPRESENTAÇÃO. ALCANCE DA NORMA DO ART. 30,PARAGRAFO ÚiCO, 'F', NO QUE SE REFERE A APLICAÇÃO AOSESTADOS-MEMBROS. NÃO SE INCLUI ELA ENTRE OS PRINCÍPIOSESSENCIAIS A QUE OS ESTADOS DEVAM OBEDIÊNCIA, ACOMPULSORIAMENTE INDICADOS NO TEXTO CONSTITUCIONALFEDERAL. REPRESENTAÇÃO IMPROCEDENTE."27

Portanto, as diferenças de tratamento que persistem nas constituiçõesestaduais foram admitidas pelo STF, como se este fosse típico conteúdo nãovinculante para que os estados o mantivessem nas eleições das mesas doslegislativos locais. Ao mesmo tempo, o STF passou a admitir como atos de "internacorporis" todos esses aspectos relativos às questões eletivas, do Art. 57, § 4° da CFpara a União, sem qualquer extensão do seu conteúdo para casos estranhos àsucessão entre Mesas. Tampouco vê-se associado com a proibição de sucessão nashipóteses transitórias de eleição na vacância de cargo.

26 AI 654.359. Relator: Mm. Cármen Lúcia. Supremo Tribunal Federal. DecisãoMonocrática. j. em 24/03/2009.

27 Rp 1245. Relator: Mm. Oscar Corrêa. Supremo Tribunal Federal. Tribunal Pleno,julgado em 15/10/1986.

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3. ELEIÇÃO PARA MANDATO DE VACÂNCIA. AUSÊNCIA DEEQUIVALÊNCIA COM SUBSTITUIÇÃO OU SUCESSÃO DOMANDATO DO PRESIDENTE DO STF

Examinado o legítimo direito de elegibilidade para a Mesa Diretora do atualPresidente da Câmara de Deputados, eleito em virtude de vacância por motivo derenúncia (Art. 8°, § 2° e Art. 238 do RICD), o que não se confunde com a vedaçãoà recondução ao cargo da Mesa anterior, do Art. 57, § 4° da CF, verifica-se que umou outro não encontram qualquer paralelo com o regime de substituição ousucessão da Presidência do STF. Logo, não se aproveita, como equiparada ao casoconcreto, a renúncia do então Presidente do STF, o Ministro Joaquim Barbosa.

Assim dispõe o Regimento interno do STF (RISTF), em seu art. 12:

"Art. 12. O Presidente e o Vice-Presidente têm mandato por dois anos,vedada a reeleição para o período imediato.

§ 1° Proceder-se-á à eleição, por voto secreto, na segunda sessão ordinária domês anterior ao da expiração do mandato, ou na segunda sessão ordináriaimediatamente posterior à ocorrência de vaga por outro motivo."

À luz dessa regra, o mandato do Presidente tem duração de 2 anos, vedada areeleição para o período imediato.

Ademais, se houver vacância do cargo, tem-se a convocação de eleição nasegunda sessão ordinária imediatamente posterior à ocorrência de vaga.

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Na Sessão Plenária de 10/10/20 12, os Ministros Joaquim Barbosa 28 e RicardoLewandowski 29 foram eleitos para exercer os cargos de Presidente e Vice-Presidente do STF, para o biênio de 2012/2014.

Em Sessão de 29/05/2014, o M.inistro Joaquim Barbosa pleiteou seuafastamento como Ministro da Corte e como Presidente30.

Conforme os Art. 14 e Art. 37 do RISTF, nas licenças, o Vice-Presidente"substitui" o Presidente. Logo, não houve eleição ou sucessão, mas simplessubstituição. In verbis:

"Art. 14. O Vice-Presidente substitui o Presidente nas licenças, ausências eimpedimentos eventuais. Em caso de vaga, assume a presidência até apossedo novo titular." ( ... )

"Art. 37. Nas ausências ou impedimentos eventuais ou temporários, sãosubstituídos: RISTF: art. 17 (antiguidade).1 - o Presidente do Tribunal pelo Vice-Presidente, e este pelos demais

Ministros, na ordem decrescente de antiguidade;"

Neste caso, de 29/05/2014 até o dia 31 de julho, o Vice-Presidente"substituiu" o Presidente, sem qualquer confusão com o respectivo "mandato" parao referido biênio.

28

http://www.stf.jus.br/arguivo/bib1jotecaJPastasMinjstros/JoagujmBarbosa/DadosDatas/OO8.df,visitado em 11/11/2016.

29

http://www.stf.jus.br/arguivo/bibliotecaJpastasMjnjstros/RicardoLewandowskj/DadosDatas/006.pdf, visitado em 11/11/2016.

30 http://g 1 .globo.comlpolitica/noticia/20 14/05/barbosa-diz-ciue-deixara-supremo-tribunal-federal-no-final-de-j unho.htrnl, visitado em 11/11/2016.

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Em 31/07/2015, foi publicado Decreto de concessão de aposentadoria doMinistro Joaquim Barbosa no Diário Oficial da União, Seção 2, fis. 2.' OPresidente, então, passa a ser o Ministro Ricardo Lewandowski, para darcumprimento ao que dispõe o Art. 12, § 1° e § 8 0 do R1STF, quanto à realização daeleição na segunda sessão ordinária imediatamente posterior à ocorrência devaga. A saber:

"Art. 12. O Presidente e o Vice-Presidente têm mandato por dois anos,vedada a reeleição para o período imediato.

§ 1° Proceder-se-á à eleição, por voto secreto, na segunda sessão ordinária domês anterior ao da expiração do mandato, ou na segunda sessão ordináriaimediatamente posterior à ocorrência de vaga por outro motivo. ( ... )

§ 8° Os mandatos do Presidente e do Vice-Presidente estender-se-ão até aposse dos respectivos sucessores, se marcada para data excedente dobiênio."

Ein. Sessão Plenária de 13/08/2014, o Ministro Ricardo Lewandowski foieleito para o cargo de Presidente daquela Corte para o biênio 2014/2016,32 cujomandato já foi cumprido.

Neste específico caso, tem-se a vacância do cargo de Presidente do STF,devido ao afastamento de seu titular, com substituição pelo Vice-Presidente, e avacância absoluta do cargo a partir de 31/07/2014, com imediata abertura do prazoregimental para eleição para o cargo.

Na situação sob análise, o Deputado Federal Rodrigo Maia, vê-se eleito parasubstituir o Presidente por "vacância", em virtude de "renúncia" (Art. 8°, § 2° e

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http://ww.stf.jus.br/arguivo/bib1iotecaJpastasMinistros/Joagujnarbosa/DadosDatas/ØØ9pdfvisitado em 11/11/2016.

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http://www,stf.jus.br/arciuivo/biblioteca/PastasMinistrosfpicardoLewancjowskj/DadosDatas/007visitado em 11/11/2016.

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Art. 238 do RICD). Essa situação não tem equivalência com o regime desubstituição ou sucessão do Presidente do STF. Ao mesmo tempo, corno nãoexercia cargo na Mesa Diretora, sua eleição para cumprir o restante do prazo dobiênio da Mesa não é suficiente para caracterizar a vedação do Art. 57, § 40 da CF.

Afora isso, a vacância na Mesa da Câmara dos Deputados tampouco temequivalência com a reeleição pelos Vice-Presidentes, Vice-Governadores ou Vice-Prefeitos, confoniie o § 50 do art. 14 da CF, como virá demonstrado a seguir.

4. ELEIÇÃO EM CASO DE VACÂNCIA PARA CUMPRIMENTO DEFRAÇÃO DO MANDATO - O CONCEITO DE "MANDATOTAMPÃO" E SUA EFICÁCIA. IMPOSSIBILIDADE DEANALOGIA COM O ART. 14, § 5° DA CF

É imprópria qualquer equivalência que se faça entre o regime do § 40 do art.57 com aquele regime da reeleição, previsto no § 50 do art. 14 (com a redação lhefoi atribuída pela Emenda Constitucional n°. 16/97), ambos da Constituição, porregularem situações diversas e inconfundíveis.

Quando se trata do Presidente (e do Governador ou do Prefeito), somente éadmitida a substituição ou de sucessão pelo Vice-Presidente (Art. 79. Substituiráo Presidente, no caso de impedimento, e suceder- lhe-á, no de vaga, o Vice-Presidente). Vejamos o teor do art. § 5° do art. 14 da CF, a saber:

"Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelovoto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei,mediante: ( ... )

§ 50 O Presidente da República, os Governadores de Estado e do DistritoFederal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dosmandatos poderão ser reeleitos para um único período subsequente. (Redaçãodada pela Emenda Constitucional n° 16, de 1997)" (n.g.)

No caso do Poder Executivo, os ocupantes de cargos majoritários poderão secandidatar para um único mandato ("um único período subsequente").Entrementes, o § 5° do art. 14 da CF destaca que essa proibição de reeleger-seaplica-se a "quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos".

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No que concerne à composição da Mesa do Legislativo, diversamente, aConstituição silenciou. Não há, no § 40 do art. 57 da CF, a hipótese de a vedaçãoaplicar-se àquele membro da Mesa que, em relação a outrem, "o houver substituídono curso do mandato".

A substituição opera-se quando se dá alguma causa motivada por ausênciasou impedimentos eventuais ou temporários. Neste caso, geralmente a lei designa osubstituto natural a cada cargo ou função, para desempenho temporário dasatividades. E o impedimento, como nos traz Pontes de Miranda, é motivo ocasionale temporário. "é a causa de não poder continuar no exercício, ou de assumi-lo, oque é titular de algum cargo, sem que se dê perda (morte, exoneração, oudemissão) do cargo." 11 . É sempre algo provisório.

A sucessão materializa-se com a vacância do cargo. A lei deve indicar quempossam ser as pessoas habilitadas para ser sucessor do titular do cargo ou funçãopública. 34 É preciso que seja declarada a vacância do cargo. A sucessão pode serfeita com ou sem eleição, segundo disponha a norma de provimento.

A "vaga" é a perda do cargo, como diz Pontes de Miranda:

"é a perda, considerada em suas consequências negativas. O cargo fica semtitular, ou tem titular provisório. Havendo, em vez impedimento ocasional,temporário, vaga, há o problema técnico le gislativo, se está em elaboraçãoo estatuto do cargo, ou de lege lata, concernente ao provimento dele: ou sejapor alguém, que passe a ser titular para o resto do tempo, ou seja titular quevenha a preencher o cargo, ex novo. Junto a êsse problema, está outro, queé o do processo para essa escolha de titular. Ou se faz pelo mesmo, com que,

33 MIRANDA, Pontes de. Comentários a constituição de 1967: com emenda n. 1 de 1969.Tomo 111 (Arts. 32 a 117). 2. ed. revista. Sao Paulo: Revista dos Tribunais, 1974, p. 295.

Vejamos as lições de José Afonso da Silva: "Ao Vice-Presidente cabe substituir oPresidente, nos casos de impedimento (licença, doença, férias), e suceder-lhe, no caso de vaga, e,além de outras atribuições que lhe forem conferidas por lei complementar, auxiliará o Presidente,sempre que por ele convocado para missões especiais (art. 79, parágrafo único).". SILVA, JoseAfonso da. Curso de direito constitucional positivo. 10. ed. São Paulo: Malheiros, 1995, p. 514.

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de início, se preenchera o cargo; ou se adota outro, mais simples e maisexpedito, que tem a vantagem, a mais, de ser o mais econômico. a soluçãomais simples, mais econômica, e mais do que expedita - instantânea, é a dasubstituição automática, definitiva. Contra ela exsurgem, porém, naexperiência política dos povos, argumentos sérios: o critério para a escolhade chefes do Poder Executivo, ou mesmo dos dois outros Poderes, oLegislativo e o Judiciário, não é necessariamente o mesmo para a escolhados vices-chefes. ,35

Como evidenciado, a substituição nutre-se da eventualidade; a sucessão vê-se acompanhada pela definitividade do preenchimento do cargo ou função36.

Deveras, seja no Poder Legislativo, seja no Poder Executivo, o "mandato-tampão" visa a concluir o mandato iniciado por seu anterior titular, em virtude desituação excepcional ou de vacância. Não é mandato principal, mas exercido emcaráter de supleinentariedade, ainda que votado.

O "mandato tampão" não faz surgir novo mandato originário pelo períodoremanescente e transitório, salvo por disposição expressa de lei ou da Constituição.No caso da Mesa Diretora da Casa Legislativa, esta compreensão ganha ainda maisevidência, na medida em que sua composição é integralmente eleita para umdeterminado período, no caso, de 2 (dois) anos.

A Constituição identificou expressamente o caso do chamado "mandatotampão", limitadamente para os Vice-Presidente, Vice-Governador e Vice-Prefeito, como assunção de "mandato" pelo ocupante do cargo, para vedar acandidatura subsequente ao que venha a ser eleito, para fins de reeleição, nostermos do Art. 14, § 5°, da CF. Esta foi a Emenda Constitucional n°. 16/97.

MIRANDA, Pontes de. Comentários a constituição de 1967: com emenda n. Ide 1969.Torno 111 (Arts. 32 a 117). 2. ed. revista. Sao Paulo: Revista dos Tribunais, 1974, p. 295-296.

16 MIRANDA, Pontes de. Comentários a constituição de 1967: com emenda n. Ide 1969.Tomo 111 (Arts. 32 a 117). 2. ed. revista. Sao Paulo: Revista dos Tribunais, 1974, p. 299.

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O Tribunal Superior Eleitoral ("TSE") possui entendimento consolidado nosentido de que, quando há vacância, nos termos do § 5° do Art. 14 da CF, o"mandato tampão", em conjunto com a interinidade, constituem o exercício defração ou parcela de um mandato pelo candidato. Assim, caso seja eleito e venhaa exercer o cargo na eleição subsequente, ficará impossibilitado de novareeleição, no pleito posterior. A norma do § 5° do art. 14 da Constituição visa aobstar que os chefes do Poder Executivo possam exercer o cargo eletivo durantetrês mandatos, inteiros, interruptos e sucessivos.

Nessa esteira, tem-se os seguintes precedentes da Corte Eleitoral:

"( ... ) Presidente da Câmara Municipal que ocupou interinamente o cargo deprefeito. Primeiro e segundo mandatos. Art. 14, § 5o, da ConstituiçãoFederal. Reeleição. Possibilidade. Resposta positiva. 1. É assente noTribunal Superior Eleitoral que o período de interinidade, no qual opresidente da Câmara Municipal assume o cargo de prefeito em razão davacância dos cargos de prefeito e vice-prefeito e o período que ocupou estecargo em decorrência de eleição suplementar - 'mandato tampão' -,constituem frações de um só mandato, não configurando impedimento parasua reeleição, à luz do art. 14, § 5°. da Constituição Federal. Precedente:REspe no 18.260, rel Min. Nelson Jobim, sessão de 21.11.2000."Registro. Art. 14, § 50, da Constituição Federal. Mandato tampão. [ ... ] 3.O Tribunal Superior Eleitoral já firmou entendimento no sentido de que oexercício do cargo de forma interina e, sucessivamente, em razão demandato tampão não constitui dois mandatos sucessivos, mas sim fraçõesde um mesmo período de mandato. (...).38

Como apontou o então Ministro do TSE Carlos Eduardo Caputo Bastos, naResolução n° 22.809, com fundamento no artigo 14, § 4° da CF: "o candidato que

Res. n°22.701. Relator: Mm. José Delgado. Tribunal Superior Eleitoral, j. 14/02/2008.38 AgR-REspe n° 62796. Relator: Mm. Arnaldo Versiani. Tribunal Superior Eleitoral, j.

07/10/2010.

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exerceu um primeiro mandato no Poder Executivo, denominado 'tampão e foireeleito para um segundo, não pode concorrer no pleito subsequente, sob pena deconfigurar o exercício de três mandatos consecutivos"". Este entendimento temvez limitadamente à reeleição. Não se pode estender, como petição de princípio,para qualquer equivalência com o § 40 do art. 57 da CF, ao não admitir "quem oshouver substituído no curso dos mandatos" como proibição para concorrer amandato de Mesa das casas legislativas federais.

Caso o Constituinte desejasse estender o regime do § 40 do art. 57 da CF aquem substituir algum membro da Mesa no curso dos mandatos, ainda que comeleição, o teria feito expressamente.

A regra do § 50 do art. 14 da CF deixa evidente que os ocupantes dos cargosmajoritários de chefes do Poder Executivo poderão se candidatar, sempre, para umnovo mandato (um único período subsequente). Portanto, o § 50 do art. 14 da CFdestaca corno "direito" a possibilidade de reeleger-se a "quem os houver sucedido,ou substituído no curso dos mandatos". No caso da composição da MesaLegislativa, diversamente, a Constituição, silenciou, no § 40 do art. 57 da CF,quanto a "quem os houver substituído no curso dos mandatos". E onde oConstituinte não proibiu, não cabe ao intérprete, por extensão ou por "analogia inmalam partem ", construir interpretação que tolha direito subjetivo.

Resolução n° 22.809. Consulta n° 1.577. Relator Mm. Carlos Eduardo Caputo Bastos.Tribunal Superior Eleitoral. j. 16/06/2008. Em igual sentido: Agravo Regimental em RecursoEspecial Eleitoral n° 62.796. Relator Mm. Arnaldo Versiani Leite Soares. Tribunal SuperiorEleitoral, j. 07/10/2010: "Registro. Art. 14, § 5°, da Constituição Federal. Mandato tampão. 1. Opartido político coligado não tem legitimidade para ajuizar impugnação ao pedido de registro decandidatura, conforme art. 60, § 40, da Lei n° 9.504/97, acrescentado pela Lei n° 12.034/2009, epacífica jurisprudência do Tribunal. 2. Ainda que coligações e candidato não tenham impugnadoo pedido de registro, tais sujeitos do processo eleitoral podem recorrer contra decisão que deferiupedido de registro, se a questão envolve matéria constitucional, nos termos da ressalva da SúmulaTSE 11° 11. 3. O Tribunal Superior Eleitoral já firmou entendimento no sentido de que o exercíciodo cargo de forma interina e, sucessivamente, em razão de mandato tampão não constitui doismandatos sucessivos, mas sim frações de um mesmo período de mandato. Precedentes: Consultan° 1.505, relator Ministro José Delgado; Recurso Especial Eleitoral n° 18.260, relator MinistroNelson Jobim. Agravo regimental não conhecido em relação ao Partido da Social DemocraciaBrasileira, dada sua ilegitimidade ativa, e não provido em relação aos demais agravantes."

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O "mandato-tampão", como diz Pontes de Miranda, tem a função exclusivade complementação do mandato já iniciado. No caso de vacância, não se podeadmitir equivalência com mandato autônomo. Como afirma o autor, "Não importaquando se deu a vaga. Se vagam os dois cargos, é preciso o Colégio Eleitoral,dentro de trinta dias após a abertura da última va ga, eleger o Presidente daRepública e o Vice-Presidente da República, conforme a lei que se há de edictar,sobre tais eleições indiretas. Os eleitos completam o período dos seusantecessores"40 . Igual concepção é manifestada por André Ramos Tavares, quandoreconhece que "os novos eleitos (para ambos os cargos) deverão apenas completaro período faltante." 41 . Ou por Alexandre de Moraes, ao apontar que "aConstituição Federal é expressa ao determinar que o Vice-Presidente ou qualquerdos eleitos somente complete o período de seus antecessores"".

A distinção entre "sucessão" e "substituição" não passou desapercebida pelaConsultoria da Advocacia Geral da União, no Parecer ASMG/CGU/AGU n°04/2013, ao examinar o regime jurídico do cargo de Vice-Governador, paraconcluir que a proibição para reeleição só se aplica quando o cargo é exercido emsucessãó, não em substituição:

"29. O Vice-Governador só é atingido pela vedação quando efetivamentesuceda, e não quando meramente substitua o Governador. A distinção entresucessão e substituição é nuclear para a compreensão do problema, e pareceser adotada por todas as constituições estaduais que há no Brasil.""

° MIRANDA, Pontes de. Comentários a constituição de 1967: com emenda n. ide 1969.Tomo III (Arts. 32 a 117). 2. ed. revista. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1974, p. 300.

41 TAVARES, Andre Ramos. Curso de direito constitucional. 7. ed. rev. e atual. SãoPaulo: Saraiva, 2009, p. 1263.

42 MORAES, Alexandre de. MELLO. Constituição do Brasil interpretada: e legislaçãoconstitucional. 6. ed. Sao Paulo: Atlas, 2006, p. 1296.

u Parecer ASMG/CGU/AGU/04/20 13, de 17/05/2013. Interessado: Ministro de Estadoda Micro e das Pequenas Empresas. Disponível em:littp://www.agu.gov.br/page/download/index/id/16178796, acessado em 10/112016.

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Esta questão também foi objeto de apreciação pelo STF, no julgamento doRE n° 366.488-3ISP, quanto à possibilidade do então Vice-Governador do Estadode São Paulo Geraldo Alckmin se reeleger para Governador, após ter substituídoe sucedido o então Governador Mano Covas. Os Ministros do STF entenderampela constitucionalidade da reeleição, sob o argumento de que somente na sucessãoé que houve o exercício de mandato próprio do Governador Geraldo Alckmin:

"CONSTITUCIONAL. ELEITORAL. VICE-GOVERNADOR ELEITODUAS VEZES CONSECUTIVAS: EXERCÍCIO DO CARGO DEGOVERNADOR POR SUCESSÃO DO TITULAR: REELEIÇÃO:POSSIBILIDADE. CF, art. 14, § 5°. 1. - Vice-governador eleito duas vezespara o cargo de vice-governador. No segundo mandato de vice, sucedeu otitular. Certo que, no seu primeiro mandato de vice, teria substituído ogovernador. Possibilidade de reeleger-se ao cargo de governador, porque oexercício da titularidade do cargo dá-se mediante eleição ou por sucessão.Somente quando sucedeu o titular é que passou a exercer o seu primeiromandato como titular do cargo. II. - Inteligência do disposto no § 5° do art.14 da Constituição Federal. III. - RE conhecidos e improvidos."

Vejamos o voto proferido pelo Relator do referido acórdão, o Ministro CarlosVelioso, com ênfase na distinção entre substituição e sucessão de cargos:

"A hipótese sob a apreciação é esta: o vice-governador foi eleito por duasvezes para o cargo de vice-governador. No segundo mandato, sucedeu otitular. Poderia ele reeleger-se ao cargo de governador? Porque teria o vice-governador, no seu primeiro mandato, substituído o governador, sustentamos recorrentes que a reeleição seria, no caso, para um terceiro mandato. O art.14, § 5°, da Cl` estabelece que o Presidente da República, os Governadores eos Prefeitos e quem os houver sucedido ou substituído no curso dos mandatospoderão ser reeleitos para um único período subsequente. O vice-governador, portanto, que substitui ou sucede o titular poderá concorrerreeleição ao cargo de governador. Substituição pressupõe impedimento dotitular; sucessão, vacância (CF, art. 79), certo que a reeleição há de serinterpretada relativamente a quem foi eleito para o cargo para o qualpretende disputar nova eleição, vale dizer, reeleger-se. Ora, o vice-governador foi eleito duas vezes para o cargo de vice-governador. No

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primeiro mandato, substituiu o titular; no segundo, sucedeu ao titular. Até aínão fora eleito governador e somente veio a exercer o cargo de governador,na plenitude deste, em sucessão ao titular, quando exercia o segundomandato de vice-governador. Poderia, então, pleitear a reeleição para umsegundo mandato de governador. E foi o que ocorreu. Realmente, oconstituinte não foi feliz no redigir o § 5° do art. 14 da Constituição Federal,na utilização da expressão de "quem os houver sucedido, ou substituído nocurso dos mandatos". (n.g.)

Para sucessão dos cargos do Executivo, a própria Constituição determina asucessão e a substituição (arts. 79 e 80 da CF). Assim advém a vedação expressapara que os sucessores de cargos políticos possam se reeleger uma vez.

A Constituição dotou o Legislativo de regime diverso daquele do § 5° do art.14, haja vista as diferenças existentes entre eleição majoritária e composiçãoMesas parlamentares, regidas pelo § 4° do art. 57 da CF.

Não obstante, no RE n° 158.564/AL, o STF entendeu que a expressão"mesmos cargos deve abranger não apenas os que ostentam a mesma denominação(Presidente, Governador e Prefeito), mas também aqueles que, a despeito dadenominação diversa (Vice-Presidente, Vice-Governador e Vice-Prefeito), têmcorno atribuição ordinária (senão exclusiva) o potencial exercício das funçõespróprias daqueles cargos."44 , revelando que o requisitos são cumulativos.

5. ELEIÇÃO EM CASO DE VACÂNCIA COMO MATÉRIA"INTERNA CORPORIS" DO LEGISLATIVO E SEUS LIMITES

Pelo princípio da separação de poderes e da harmonia que deve reger asrelações entre eles, afirma-se o núcleo essencial do Estado Democrático de Direito.No constitucionalismo brasileiro, o Art. 2° da Constituição assim estabelece seusfundamentos, in verbis: "São Poderes da União, independentes e harmônicos

RE 158.564/AL. Relator: Min. Celso de Mello. Supremo Tribunal Federal. PrimeiraTurma, j. 09/03/1993.

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entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário". Desse modo, para assegurar aa "independência" e a "harmonia" entre os poderes, impõe-se o respeito necessárioao que se qualifica como atos ou processos pertinentes a cada um desses poderes.

Naturalmente, é condenável a interferência de outros poderes nos domíniosdo poder legislativo, mormente quando visa a afetar o processo legislativo decriação de leis ou mesmo de decisão ou da sua gestão política ou administrativa.

Compreendem-se como atos interna corporis aqueles de competênciaexclusiva das casas do Poder Legislativo, relacionados a questões que seencontram direta ou indiretamente conexos com a atividade parlamentar, noâmbito do plenário, das comissões ou de outros órgãos. E, dentre todos, quiçá o demaior unanimidade, seja justamente o ato de escolha da Mesa Diretora e dorespectivo Presidente.

Evidentemente, a imunidade dos atos internos do Poder Legislativo encontralimites no ordenamento constitucional e não se afirma como princípio absoluto.Contudo, impõe-se verificar a presença de motivo extraordinário que justifique suaapreciação pelo Poder Judiciário. E o Supremo Tribunal Federal foi sempre ciosoem assegurar limites para o exame judicial do conteúdo dos atos interna corporis,salvo quando em afronta a "direito subjetivo".

Vejamos:

"A natureza interna corporis da deliberação congressional - interpretaçãode normas do Regimento. Interno do Congresso - desautoriza a via utilizada.Cuida-se de tema imune à análise judiciária. Precedentes do STF.Inocorrência de afronta a direito subjetivo. Agravo regimental parcialmenteconhecido e provido, levando ao não-conhecimento do mandado desegurança." (STF. MS n°21754. Rei. Mm. Francisco Rezek, Tribunal Pleno,DJ 21 fev. 1997, p. 2829).

Para o STF não basta a simples divergência de interpretação. O atoimpugnado, quando possui nítido conteúdo político, não pode ser objeto de examepelo Poder Judiciário, salvo quando implicar lesão a direito subjetivo. E, dentreoutros, o tema da eleição de cargos integrantes da estrutura de organizaçãoparlamentar, constitui caso típico de ato geralmente qualificado como internacorporis, desde que isso não prejudique direito subjetivo, como o direito de

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elegibilidade quando não persista proibição expressa para afastar o direito departicipar do certame.

A Jurisprudência do STF é pacífica na aplicação da imunidade, a saber:

"SUSPENSÃO DE LIMINAR. CRITÉRIOS DE CONVOCAÇÃO DESESSÃO EXTRAORDINÁRIA PARA ELEIÇÃO DA MESADIRETORA. DECISÃO QUE ADENTROU NO JUÍZO DEPERTINÊNCIA DE QUESTÃO INTERNA CORPORIS.COMPROVADA LESÃO À ORDEM PÚBLICA. AGRAVOREGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1— É defeso ao PoderJudiciário questionar os critérios utilizados na convocação de sessãoextraordinária para eleger membros de cargos diretivos, que observou oscritérios regimentais da Casa de Leis, não podendo adentrar no juízo depertinência assegurado àqueles que ocupam cargo eletivo na Câmara deVereadores. II - A convocação de sessão extraordinária pela edilidadeconfigura ato interna corporis, não passível, portanto, de revisão peloPoder Judiciário, maculando-se o princípio da separação dos Poderes,assegurado no art. 2° da Constituição Federal. Exatamente por essa razãoé que a manutenção da decisão causa lesão à ordem pública. 111. , ,41

eleição para suprir vacância e cumprir parcela de tempo no mandato deórgão da Mesa, assim como a deliberação das sessões para prover os cargos daMesa, corno regra, são casos inequívocos de atos interna corporis. Não importa aalegação de divergências quanto ao resultado de interpretação das regras doRegimento Interno. O processo de escolha dá-se sob discricionariedade política,sem qualquer prejuízo a direito subjetivo. Por conseguinte, questão que esteja noslimites internos do Poder Legislativo, restará afastada de sindicabilidade peloPoder Judiciário, em respeito ao princípio constitucional de harmonia eindependência da separação dos Poderes (art. 2° da Constituição).

' SL 846 AgR, Relator Ministro RICARDO LEWANDOWSKI (Presidente), TribunalPleno, DJe 6 out. 2015.

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SÍNTESE CONCLUSIVADiante do exposto, chegamos às seguintes conclusões, aqui, numa síntese das

elaborações já apresentadas.

Numa interpretação especificadora, a proibição de "recondução para omesmo cargo na eleição imediatamente subsequente", do § 40 do Art. 57 da CFestá condicionada aos seguintes pressupostos fáticos: a proibição limita-se aosmembros eleitos para a Mesa Diretora ('a), no primeiro ano da legislatura (b), commandato de 2 anos (c). Logo, é claríssimo que o mandato supletivo por vacânciaem nada se vê. contemplado nesses pressupostos.

No mandato supletivo decorrente de vacância, o Presidente eleito nãocompunha a Mesa Diretora na condição de Presidente (mesmo cargo) (z), nãoexerce mandato de 2 anos (ii), e não foi eleito no primeiro ano da legislatura (ii).

Qualquer tentativa de impedir a candidatura do atual Presidente por supostovício formal, a pretexto de aplicação do § 40 do Art. 57 da CF, quando este nãoexerceu o mandato de 2 anos, a partir do primeiro ano da legislatura, e fora eleitocom os demais membros para a Mesa, resultará em puro arbítrio. O mandatosupletivo decorrente de vacância não é motivo para alegar a referida proibição.Diante disso, ter-se-á evidente inconstitucionalidade da decisão, por envolversituação subjetiva prejudicada, o que poderá resultar na nulidade integral de todaa eleição da Mesa, por não se caracterizar em ato "interna corporis" (na tutela doexercício do direito de votar e ser votado para o cargo de Presidente).

Esta exigência de nova eleição deve-se ao fato de não haver previsãoconstitucional para vacância do cargo de Presidente das casas legislativas, com (i)regra que proíba a "reeleição" de quem tenha sucedido parte de mandato, aexemplo daquela que regula os cargos de chefes dos executivos, do Art. 14, § 50da CF; e (ii) por não ser admitida a substituição ou a sucessão do Presidente peloVice-Presidente, como se verifica no caso do Presidente da República (Art. 79.Substituirá o Presidente, no caso de impedimento, e suceder- lhe-á, no de vaga, oVice-Presidente) ou (iii) ser vedada a continuidade do mandato, com imediataconvocação para eleições, corno na situação do Presidente do STF (Art. 12, § 10,

art. 14 e art. 37 do Regimento Interno do STF).

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O art. 50 do "Regimento Interno da Câmara dos Deputados" estabelece que aeleição dos cargos da Mesa e, dentre estes, o do Presidente, ocorrem na 2' sessãopreparatória da l' sessão legislativa de cada legislatura. A Mesa vê-se formadanaquele momento. E o candidato eleito será o Presidente para aquela legislatura.

Na hipótese de alteração da composição da Mesa, por vacância (art. 238, doRI), quem assuma a vaga não estará sujeito aos impedimentos do § 40 do art. 57da CF e poderá candidatar-se na eleição do segundo biênio.

Por conseguinte, a norma do § 40 do art. 57 da Cl` não trata de "vacância" decargos, por morte, renúncia ou perda do cargo, que torne o parlamentar eleitoimpossibilitado de exercer suas funções junto à Mesa (art. 238 do RI). Daí sernecessário promover imediata eleição para preenchimento do cargo vacante, demodo a assegurar continuidade das atividades da Mesa.

A "morte", "renúncia" ou "perda do mandato" do Presidente da Câmara deDeputados, enquanto causas da declaração de vacância, são eventos excepcionaisnão abarcados pela regra proibitiva de candidaturas do Art. 57, § 4° da CF. Não ésequer moralmente tolerável a alegação de vedação a candidatura ante hipótesefática absolutamente excepcional. O ordinário é admitir a candidatura de qualquermembro eleito e empossado na condição de Deputado Federal, do que só seexcetua candidatura para o mesmo cargo da Mesa por membro eleito no primeiroano da legislatura para mandato de 2 anos (Art. 57, § 4 da CF).

Destarte, a eleição para cumprir o "mandato do período de vacância", naforma do Art. 8°, § 20 e Art. 238 do RICD, situação de todo excepcional, em nadase confunde ou se encontra abarcada pela regra proibitiva de candidaturas para o"mesmo cargo" no segundo biênio da legislatura, quando da sucessão da MesaDiretora das Casas Legislativas (Art. 57, § 4° da CF). É vedada a analogia iii malampartem corno mecanismo de integração de norma proibitiva. A norma que regulaa eleição em caso de vacância (Art. 8°, § 2° e Art. 238 do RICD) presta-se,unicamente, para recompor o cargo "vago", para conclusão do período residual dos2 (dois) anos do mandato da Mesa. A excepcionalidade é seu signo primordial. OPresidente eleito para o "mandato do período de vacância" cumpre funçãotransitória. Por conseguinte, não vincula o detentor do cargo às restrições dotratamento conferido pelo Art. 57, § 4° da CF, que se limita aos cargos integrantesda Mesa eleita para o período de 2 (dois) anos.

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O "mandato-tampão" visa concluir o mandato iniciado por seu anteriortitular. Trata-se de excepcionalidade não abrangida pelo Art. 57, § 4) da CF. Nãoé mandato principal, mas exercido em caráter de suplementariedade, eleito pordeterminação de norma regimental, no caso, o Art. 8°, § 2° do RICD.

A regra do § 50 do art. 14 da CF deixa evidente que os ocupantes dos cargosmajoritários de chefes do Poder Executivo poderão se candidatar, sempre, para umnovo mandato (um único período subsequente). Portanto, o § 50 do art. 14 da CFdestaca corno "direito" a possibilidade de reeleger-se a "quem os houver sucedido,ou substituído no curso dos mandatos". No caso da composição da MesaLegislativa, diversamente, a Constituição silenciou, no § 40 do art. 57 da CF,quanto a "quem os houver substituído no curso dos mandatos". E onde oConstituinte não proibiu, não cabe ao intérprete, por extensão ou por "analogia ininalam partem ", construir interpretação que tolha direito subjetivo.

Em conclusão, o Presidente da Camâra de Deputados, DEPUTADO FEDERALRODRIGO MAIA, tem direito público subjetivo de vir garantida sua candidaturapara disputar o mandato de Presidente da Câmara de Deputados, na próximaeleição da Mesa Diretora, devido à sua condição de eleito para mandato supletivodecorrente de vacância, em virtude da renúncia do presidente anteriormente eleitopara a Mesa do primeiro biênio da Legislatura (Art. 8°, § 2° do RICD). O DeputadoFederal Rodrigo Maia não exerceu o cargo de Presidente com mandato de 2 anos(i), a partir do primeiro ano da legislatura (ii), eleito com os demais membros daMesa (iii). A referida proibição do art. 57, § 4° da CF não se aplica porque ospressupostos fálicos não contemplam o caso de vacância, em virtude de morte,renúncia ou perda de mandato do Presidente (Art. 8°, § 2° e Art. 238 do RICD).

Este é o meu Parecer.

São Paulo - SP, 16 de novembro de 2016.

Prof. Dr. Heleno Taveira Torres

Advogado - OAB/SP n. 194.506

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