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    Coletnea de ManuaisTcnicos de Bombeiros

    COMBATE A INCNDIOEM HABITAO PRECRIA

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    COLETNEA DE MANUAI STCNI COS DE BOMBEI ROS

    MANUAL DE COMBATE AINCNDIO EM HABITAO

    PRECRIA

    1 Edi o2006

    Vol ume28

    MCIHP

    PMESP CCB

    Os direitos autorais da presente obrapertencem ao Corpo de Bombeiros daPolcia Militar do Estado de So Paulo.Permitida a reproduo parcial ou total

    desde que citada a fonte.

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    COMISSO

    COLETNEA DE MANUAIS TCNICOS DE BOMBEIROS

    Comandante do Corpo de Bombeiros

    Cel PM Antonio dos Santos Antonio

    Subcomandante do Corpo de Bombeiros

    Cel PM Manoel Antnio da Silva Arajo

    Chefe do Departamento de Operaes

    Ten Cel PM Marcos Monteiro de Farias

    Comisso coordenadora dos Manuais Tcnicos de Bombeiros

    Ten Cel Res PM Silvio Bento da Silva

    Ten Cel PM Marcos Monteiro de Farias

    Maj PM Omar Lima Leal

    Cap PM Jos Luiz Ferreira Borges

    1 Ten PM Marco Antonio Basso

    Comisso de elaborao do Manual

    Cap PM Armando Csar Guilherme

    Cap PM Wagner Silvrio de Souza

    Cap PM Fbio Rogrio Possatti Betini

    1 Ten PM Alexandre Doll de Moraes

    1 Ten PM Valdizar Nascimento de Souza

    1 Ten PM Marcos Almir de Albuquerque Oliveira

    Comisso de Reviso de Portugus

    1 Ten PM Fauzi Salim Katibe

    1 Sgt PM Nelson Nascimento Filho

    2 Sgt PM Davi Cndido Borja e Silva

    Cb PM Fbio Roberto Bueno

    Sd PM Vitanei Jesus dos Santos

    Sd PM Carlos Alberto Oliveira

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    PREFCIO - MTB

    No incio do sculo XXI, adentrando por um novo milnio, o Corpo de Bombeiros

    da Polcia Militar do Estado de So Paulo vem confirmar sua vocao de bem servir, por

    meio da busca incessante do conhecimento e das tcnicas mais modernas e atualizadas

    empregadas nos servios de bombeiros nos vrios pases do mundo.

    As atividades de bombeiros sempre se notabilizaram por oferecer uma

    diversificada gama de variveis, tanto no que diz respeito natureza singular de cada uma

    das ocorrncias que desafiam diariamente a habilidade e competncia dos nossos

    profissionais, como relativamente aos avanos dos equipamentos e materiais especializados

    empregados nos atendimentos.

    Nosso Corpo de Bombeiros, bem por isso, jamais descuidou de contemplar a

    preocupao com um dos elementos bsicos e fundamentais para a existncia dos servios,

    qual seja: o homem preparado, instrudo e treinado.

    Objetivandoconsolidar os conhecimentos tcnicos de bombeiros, reunindo, dessa

    forma, um espectro bastante amplo de informaes que se encontravam esparsas, o

    Comando do Corpo de Bombeiros determinou ao Departamento de Operaes, a tarefa de

    gerenciar o desenvolvimento e a elaborao dos novos Manuais Tcnicos de Bombeiros.

    Assim, todos os antigos manuais foram atualizados, novos temas foram

    pesquisados e desenvolvidos. Mais de 400 Oficiais e Praas do Corpo de Bombeiros,

    distribudos e organizados em comisses, trabalharam na elaborao dos novos Manuais

    Tcnicos de Bombeiros - MTB e deram sua contribuio dentro das respectivas

    especialidades, o que resultou em 48 ttulos, todos ricos em informaes e com excelente

    qualidade de sistematizao das matrias abordadas.

    Na verdade, os Manuais Tcnicos de Bombeiros passaram a ser contemplados na

    continuao de outro exaustivo mister que foi a elaborao e compilao das Normas do

    Sistema Operacional de Bombeiros (NORSOB), num grande esforo no sentido de evitar a

    perpetuao da transmisso da cultura operacional apenas pela forma verbal, registrando e

    consolidando esse conhecimento em compndios atualizados, de fcil acesso e consulta, de

    forma a permitir e facilitar a padronizao e aperfeioamento dos procedimentos.

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    O Corpo de Bombeiros continua a escrever brilhantes linhas no livro de sua

    histria. Desta feita fica consignado mais uma vez o esprito de profissionalismo e

    dedicao causa pblica, manifesto no valor dos que de forma abnegada desenvolveram e

    contriburam para a concretizao de mais essa realizao de nossa Organizao.

    Os novos Manuais Tcnicos de Bombeiros - MTB so ferramentas

    importantssimas que vm juntar-se ao acervo de cada um dos Policiais Militares que

    servem no Corpo de Bombeiros.

    Estudados e aplicados aos treinamentos, podero proporcionar inestimvel

    ganho de qualidade nos servios prestados populao, permitindo o emprego das

    melhores tcnicas, com menor risco para vtimas e para os prprios Bombeiros, alcanando

    a excelncia em todas as atividades desenvolvidas e o cumprimento da nossa misso de

    proteo vida, ao meio ambiente e ao patrimnio.

    Parabns ao Corpo de Bombeiros e a todos os seus integrantes pelos seus novos

    Manuais Tcnicos e, porque no dizer, populao de So Paulo, que poder continuar

    contando com seus Bombeiros cada vez mais especializados e preparados.

    So Paulo, 02 de Julho de 2006.

    Coronel PM ANTONIO DOS SANTOS ANTONIO

    Comandante do Corpo de Bombeiros da Polcia Militar do Estado de So Paulo

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    INDICE DOS TPICOS

    INTRODUO:...................................................................................................................................... 7

    1 CARACTERSTICAS DAS FAVELAS.................................................................... 13

    1.1 O incio e crescimento das favelas...................................................................................13

    1.2 Infra-estrutura das favelas..............................................................................................141.2.1 Rede pblica de esgotos: ...........................................................................................................161.2.2 Energia eltrica..........................................................................................................................171.2.3 gua encanada...........................................................................................................................171.2.4 Coleta de lixo.............................................................................................................................171.2.5 Densidade demogrfica e caracterizao dos moradores...........................................................181.2.6 Sistema virio ............................................................... ............................................................. 211.2.7 Localizao................................................................................................................................21 1.2.8 Construes ...............................................................................................................................211.2.9 Aglomerados em rea urbana ....................................................................................................241.2.10 Aglomerados em rea Rural ....................................................................................................25

    1.3 Conceituando o termo favela.......................................................................................26

    2 DEFINIES ...........................................................................................................283 CONCEITOS BSICOS........................................................................................... 31

    3.1 Definio de fogo ..............................................................................................................31

    3.2 Definio de incndio:......................................................................................................31

    3.3 Componentes do fogo: ..................................................................................................... 313.3.1 Combustvel:..............................................................................................................................32 3.3.2 Comburente: ......................................................... ................................................................... .. 353.3.3 Calor:.........................................................................................................................................35 3.3.4 Reao em cadeia: ........................................................... .......................................................... 36

    3.4 Transmisso de energia ...................................................................................................363.4.1 Propagao do calor...................................................................................................................363.4.2 Formas de propagao do calor .......................................................................... ....................... 363.4.3 Propagao do fogo ............................................................. ...................................................... 38

    3.5 Evoluo de um incndio.................................................................................................383.5.1 Fase inicial.................................................................................................................................393.5.2 Fase de aquecimento..................................................................................................................393.5.3 Fase de extino.........................................................................................................................41

    3.6 A carga de incndio..........................................................................................................42

    3.7 Efeitos da Fumaa............................................................................................................423.7.1 Gases resultantes da combusto.................................................................................................44

    3.7.2 Riscos mais comuns da fumaa .................................................................. ............................... 483.7.3 Princpios da movimentao da fumaa ....................................................................................493.7.4 Movimentao da fumaa em prdios baixos............................................................................503.7.5 Movimentao da fumaa em prdios altos...............................................................................513.7.6 A influncia da ventilao .............................................................. ........................................... 51

    3.8 Efeitos do calor no homem ..............................................................................................523.8.1 Queimaduras..............................................................................................................................52 3.8.2 Desidratao .................................................................... .......................................................... 523.8.3 Morte .......................................................... ............................................................... ................ 52

    3.9 Mtodos de Extino do Incndio...................................................................................53

    4 COMBATE A INCNDIOS .....................................................................................54

    4.1 Fases do atendimento emergncia ...............................................................................544.1.1 Fase preventiva..........................................................................................................................554.1.2 Fase assistencial.........................................................................................................................56

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    4.1.3 Fase recuperativa ............................................................ ........................................................... 564.1.4 Fase de socorro..........................................................................................................................57

    4.2 Procedimentos iniciais na fase de socorro......................................................................584.2.1 Deslocamento para o local do combate a incndio em habitao precria ................................ 584.2.2 Estacionamento da viatura e sinalizao....................................................................................584.2.3 Posto de Comando (SICOE)......................................................................................................604.2.4 Segurana do local.....................................................................................................................60

    4.3 Procedimentos durante o combate ao incndio ............................................................. 624.3.1 Anlise da Situao....................................................................................................................624.3.2 Salvamento e resgate ..................................................................... ............................................ 644.3.3 Isolamento .................................................................................................................................684.3.4 Confinamento ............................................................................................................................684.3.5 Extino do incndio .................................................................... ............................................. 684.3.6 Ventilao:.................................................................................................................................70 4.3.7 Proteo de Salvados.................................................................................................................714.3.8 Rescaldo ....................................................................................................................................72

    4.4 Procedimentos gerais na ocorrncia...............................................................................734.4.1 Comunicaes operacionais.......................................................................................................734.4.2 Pessoal empregado ....................................................................................................................734.4.3 Viaturas empregadas..................................................................................................................744.4.4 Materiais e equipamentos operacionais ..................................................................... ................ 744.4.5 Apoio de rgos afins................................................................................................................754.4.6 Conferncia dos materiais..........................................................................................................774.4.7 Elaborao do relatrio..............................................................................................................77

    4.5 Exemplo Prtico ...............................................................................................................78

    5 CONTROLE DOS RESULTADOS .......................................................................... 79

    6 BIBLIOGRAFIA....................................................................................................... 80

    7 ANEXOS.................................................................................................................... 84

    7.1 Anexo I - Lista de siglas e abreviaturas .........................................................................847.2 Anexo II - Roteiro de PPI................................................................................................86

    7.3 Anexo III - PPI Planilha de Levantamento de Dados................................................... 87

    7.4 Anexo IIII Caractersticas das linhas de ataque ........................................................88

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    ndice das tabelas.

    Tabela 1 - Evoluo populacional de favelados no municpio de So Paulo. ........................13

    Tabela 2 - Diviso regional da Sup. Habit. Pop, (HABI) da PMSP. Fonte: Censo DemogrficoIBGE 2000. Elaborao CEM .........................................................................................15

    Tabela 3 - Aglomerados Urbanos - Fonte IBGE Censo 2000. ...............................................24

    Tabela 4 - Aglomerados Urbanos - Fonte IBGE Censo 2000. ...............................................24

    Tabela 5 - Aglomerados Rurais - Fonte: IBGE Censo 2000 ..................................................25

    Tabela 6 - Aglomerados Rurais - Fonte: IBGE Censo 2000 ..................................................25

    Tabela 7 - Efeito do Monxido de Carbono no organismo humano. ......................................45

    Tabela 8 - Efeitos dos gases resultantes da combusto no organismo humano. ..................46

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    ndices de Figuras

    Figura 1 - Aglomerado urbano. ................................................................................................7

    Figura 2 - Favela Helipolis - Fonte: SEHAB/HABI..................................................................8

    Figura 3 - Favela Itaoca. Fonte: SEHAB-HABI ........................................................................8

    Figura 4 - Favela em encosta de morro. ................................................................................10

    Figura 5 - Bombeiros a postos. Acervo do Grupo de trabalho ...............................................11

    Figura 6 - Mapa de Favelas no Municpio de So Paulo - Fonte: SEHAB/HABI....................12

    Figura 7 - Vista de uma favela paulistana..............................................................................14

    Figura 8 - Favela paulistana. Fonte: acervo particular. ..........................................................16

    Figura 9 - Favela em beira de crrego. Fonte: PMESP/CB ...................................................16

    Figura 10 - Favela Jardim Damasceno. Fonte: SEHAB/HABI ...............................................16

    Figura 11 - Instalaes eltricas clandestinas Fonte: SEHAB/HABI 1999. .........................17

    Figura 12 - Favela do Jardim Damasceno. Fonte: SEHAB/HABI...........................................18

    Figura 13 Densidade demogrfica. Fonte: PMESP/CB ......................................................18

    Figura 14 - Favela paulistana. ...............................................................................................19

    Figura 15 - Favela Peinha. Fonte: SEHAB/HABI. ..................................................................19

    Figura 16 - Densidade demogrfica. Fonte: Jacques NML Fotno..........................................20

    Figura 17 - Corredor de favela. Fonte:...................................................................................21

    Figura 18 - Favela sito Rua Marselhesa, 630 - Vila Clementino - ..........................................22

    Figura 19 - Favela em fase de urbanizao. Fonte: PMESP/CB...........................................23

    Figura 20 - Favela Santa Rita de Cssia - Fonte: SEHAB/HABI ...........................................26

    Figura 21 Incndio em cabos eltricos. ..............................................................................36

    Figura 22 - Incndio em propagao. Fonte: PMESP/CB......................................................37

    Figura 23-Resultado de Incndio em ncleo de submoradias, aps propagar-se .................37

    Figura 24 - Curva de Incndio em funo do tempo e temperatura.......................................41

    Figura 25 - Estgios de desenvolvimento de um incndio.....................................................41

    Figura 26 - Materiais retirados do interior de um ncleo de submoradias durante incndio.Fonte: PMESP/CB..........................................................................................................42

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    Figura 27 - Fumaa expelida durante incndio em ncleo de submoradias. Fonte:PMESP/CB. ....................................................................................................................43

    Figura 28 - Mecanismo de Extino do Fogo - Fonte: IT 02/2004 - .......................................53

    Figura 29-Viatura Auto Bomba. Acervo do grupo de trabalho. ..............................................54

    Figura 30-Ao contra incndio beira de crrego. Fonte: PMESP/CB.Erro! Indicador nodefinido.

    Figura 31-Extino de incndios em ncleo de submoradias. Fonte: PMESP/CB. .......... Erro!Indicador no definido.

    Figura 32 - Ao de combate a incndios em encosta. Fonte: PMESP/CB.Erro! Indicadorno definido.

    Figura 33-Vias estreitas do ncleo de submoradias. .............................................................55

    Figura 34 - Bombeiros caminham entre moradias. Fonte: PMESP/CB..................................56

    Figura 35 - Exemplos de corredores estreitos em ncleos de submoradias. Fonte: acervoparticular. ...........................................................................Erro! Indicador no definido.

    Figura 36 Favela Peinha. Exemplo de obstculo. Fonte SEHAB/HABI.Erro! Indicador nodefinido.

    Figura 37 - Bombeiro caminha entre escombros. ..................................................................57

    Figura 38 - Bombeiros a postos em viatura AB. Acervo do grupo de trabalho. .....................57

    Figura 39 - Estacionamento de viatura. Fonte: PMESP/CB...................................................58

    Figura 40 - Viatura recebendo apoio de outra viatura. Fonte: PMESP/CB. ...........................59

    Figura 41 - Cordo de isolamento. Fonte: PMESP/CB. .........................................................60

    Figura 42-Viatura ABP em deslocamento. Acervo do grupo de trabalho...............................61

    Figura 43 - Fogo em habitao precria. ...............................................................................62

    Figura 44-Estratgia ofensiva ...................................................Erro! Indicador no definido.

    Figura 45-Estratgia defensiva. ................................................Erro! Indicador no definido.

    Figura 46-Incndio na Favela do Buraco Quente. 2000. Fonte: J.F. Dirio. Imagemvencedora do primeiro lugar do World Press Photo 2005 na categoria noticias gerais. Oautor o reprter fotogrfico do Grupo Estado J.F.Dirio. .............................................64

    Figura 47-Bombeiro equipado para penetrao e explorao. ..............................................65

    Figura 48-Guarnio de bombeiros da viatura AB ....................Erro! Indicador no definido.

    Figura 49-Proteo de salvados. ...........................................................................................71

    Figura 50 - Rescaldo. Fonte: acervo do grupo de trabalho....................................................72

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    Figura 51-Bombeiros efetuando rescaldo. Fonte: Manual de Fundamentos, Cap. 9 .............72

    Figura 52-Comunicao por gestos.......................................................................................73

    Figura 53-Bombeiro coletando dados da ocorrncia. Fonte: .................................................76

    Figura 54- Bombeiros em sala de aula. Fonte: Acervo do grupo de trabalho ........................79

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    IINNTTRROODDUUOO::

    Numa anlise superficial de dados estatsticos brasileiros1, chama ateno aprevalncia da populao urbana sobre a rural a partir de 1960. De um paspredominantemente agrrio, com a maior parte da populao residente no campo, o

    Brasil definitivamente ingressou no caminho sem volta de ver suas grandes cidadestransformarem-se em plos de atrao demogrfica.

    Em verdade, tal fenmeno no ocorreu somenteem solo ptrio, mas em dimenses mundiais,poder-se-ia dizer, resumidamente, que amigrao para centros urbanos se deu em razoda modernizao das tcnicas agrcolas emsubstituio mo de obra humana e animal edo crescimento da indstria e do comrcio nasgrandes cidades.

    Figura 1 - Aglomerado urbano.

    Fonte: Ana Paula Bruno

    O fluxo migratrio sobrecarregou a infra-estrutura das cidades em decorrncia doaumento populacional, e uma das principais conseqncias desse fenmeno foi escassez de moradias que, em meados da primeira dcada do sculo XX, j acusavaum dficit habitacional estimado em 6,6 milhes de moradias. Segundo o Ministriodas Cidades2, no ramo da construo civil as empresas privadas s atendiam a 30%do mercado, pois os 70% restantes da populao no tinham renda nem para secandidatar ao crdito disponvel para habitao. Dados da mesma poca e fonteindicavam que em So Paulo e Rio de Janeiro 50% da populao residente moravamilegalmente.

    De acordo com a CEPAL Comisso Econmica para Amrica Latina e Caribe - noincio do sculo XXI as condies de pobreza e desigualdade social na Amrica Latinafaziam com que 44% de sua populao vivesse em favelas ou subrbios com estruturaprecria e condies mnimas de sobrevivncia3.

    Dados do IBGE4 indicam que 70% dos domiclios em favelas concentram-se nosmaiores municpios do pas. Em 2001, 1.269 prefeituras brasileiras (23%) declararamque havia favelas e outros tipos de submoradias em seu municpio, porm dosmunicpios que declararam algum tipo de cadastro de favelas, apenas 13% afirmaram

    possuir. Por esses dados pode-se afirmar que o total de favelas cadastradas no Brasil de 16.433 com 2.362.708 domiclios. Destes domiclios, 1.654.736 (70%) estolocalizados nos 32 maiores municpios do pas (com mais de 500 mil habitantes).Todos os 32 grandes municpios declararam que havia favelas em seu territrio.

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    A regio Sudeste possui 1.405.009domiclios distribudos nas 6.106favelas cadastradas. Na regio, 23%(379 de 1.668) dos municpiosdisseram haver favelas.Percentualmente, porm, a Regio

    Sul aquela em que maismunicpios declararam possuir estetipo de situao habitacional (30%deles). A regio possui 7.077 favelascadastradas - mais do que oSudeste - mas o nmero dedomiclios situados nestes locais bem menor (290.645). O Centro-Oeste a regio em que,percentualmente, menos municpiosdizem ter favelas (10%).

    Figura 2 - Favela Helipoli s - Fonte:SEHAB/HABI

    Nas Regies Metropolitanas, 79%dos governos municipais informaramque possuam favelas ouassemelhados; em 56% deles h

    cadastro deste tipo de moradia. Na Regio daBaixada Santista, todos os municpios

    declararam possuir favelas e na RegioMetropolitana de So Paulo, oito dos 39municpios declararam que no possuemfavelas.

    No ranking nacional, a cidade de So Pauloocupa o primeiro lugar em concentrao defavelas (612), seguida do Rio do Janeiro (513),Fortaleza (157), Guarulhos (136), Curitiba (122),Campinas (117), Belo Horizonte (101), Osasco(101), Salvador (99) e Belm (93). O mapa da

    figura 1 de 1999 informa a proliferao de favelas no Municpio de So Paulo, onde possvel destacar a grande concentrao de favelas na Zona Sul e Norte.

    A proliferao de favelas no Estado de So Paulo trouxe um incremento nasestatsticas de incndios, principalmente na Capital, localidade de maior nmero defavelas cujas medidas preventivas tm pouco seno nenhum alcance na preveno desinistros.

    Figura 3 - Favela Itaoca. Fonte: SEHAB-HABI

    O Manual de desastres da Defesa Civil

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    enquadra os incndios em favelas dentro dosincndios urbanos e rurais, no captulo dos desastres de natureza social, por estaremrelacionados com o baixo nvel de desenvolvimento scio-cultural das populaesvulnerveis a estes incndios e no ttulo dos desastres relacionados com os

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    ecossistemas urbanos e rurais, porque a intensidade desses incndios fortementedependente do arranjo arquitetnico e urbanstico dos cenrios dos desastres, quedificulta o seu rpido controle e extino.

    As dificuldades no controle e na extino de incndios em favelas ocorrem,principalmente, devido a: a estrutura em que esto construdas, a grande concentrao

    de material celulsico combustvel e a deficincia ou mesmo inexistncia da rede dehidrantes. Os barracos so construdos lado a lado, sem obedecer a nenhuma disposioarquitetnica, so cortados por vielas estreitas e tortuosas, que dificultam a aproximao ea manobra dos trens de combate aos incndios.

    Normalmente os incndios em favelas so causados por:

    Inexistncia de medidas de segurana contra sinistros6;

    Abundncia de material combustvel, especialmente de material

    celulsico, sem um mnimo de espaamento entre os provveis focos de incndios,

    facilitando a propagao do fogo de forma generalizada;

    Sobrecargas nas instalaes eltricas, provocando

    superaquecimento das fiaes, curtos-circuitos e produo de fascas, provocado,

    sobretudo, pelo uso rotineiro de gambiarras e ligaes clandestinas que contribui para

    agravar o problema;

    Ao se examinar as causas profundas dos incndios, verifica-se que h estreitorelacionamento com:

    O baixo nvel de desenvolvimento social e cultural das

    populaes vulnerveis.

    O baixo senso de percepo de riscos dos estratos

    populacionais vulnerveis e, conseqentemente, uma falta de posicionamento poltico,

    sobre o nvel de risco aceitvel, por parte da sociedade.

    A baixa prioridade relacionada com os estudos dos cenrios

    provveis destes sinistros, com o objetivo de reduzir a vulnerabilidade dos

    ecossistemas urbanos e rurais aos incndios.

    Os incndios urbanos, atingindo reas de favelizao, ocorrem com grandefreqncia, em todos os continentes do Mundo. Nos pases desenvolvidos, compredominncia de climas frios ou temperados, os incndios urbanos originados nosaparelhos de calefao central ocorrem com relativa freqncia, especialmente noincio da estao invernosa. O recrudescimento dos incndios, nesta poca do ano,relaciona-se com uma manuteno deficiente dos aparelhos de calefao, ao trminoda estao estival.

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    Os incndios tambm so freqentes e intensos em pases como o Japo, os EstadosUnidos e a China, onde a grande maioria das unidades habitacionais construda commadeira e rica em materiais celulsicos de fcil combusto.

    A ocorrncia de incndios generalizados em bairros superpovoados, especialmente osmais antigos, proporcionalmente maior e decorre do pouco espaamento que existe

    entre as unidades residenciais. Nas favelas e nos bairros perifricos da China e dandia, as unidades residenciais so contguas ou com espaamentos inferiores a doismetros. No Brasil, os incndios urbanos em bairros pobres, onde predominam cortiose reas faveladas, ocorrem com relativa freqncia e costumam ser muito intenso e de

    difcil controle.

    comum observar Bombeiro valer de suasexperincias e de seus conhecimentos adquiridos aolongo de suas gloriosas carreiras para enfrentar o

    desafio de salvar vidas e extinguir os incndios emhabitaes precrias. Como tambm comumobservar Bombeiro transmitir seus conhecimentos aosintegrantes das guarnies, especialmente aos mais

    jovens, contando apenas com a histria de suasocorrncias.

    Figura 4 - Favela em encosta de morro .

    Fonte SEHAB/HABI.

    A complexidade de se trabalhar na extino deincndio, no salvamento e no resgate de vidas em ncleos de submoradias localizadas

    no municpio de So Paulo, cujas caractersticas serviram de base para se estabeleceros parmetros mnimos de atuao dos bombeiros e tm trazido uma srie dedificuldades s guarnies, norteou o comando do Corpo de Bombeiros a determinarestudos para a elaborao deste manual, de forma a ser aplicvel a todas as equipesde bombeiros em prontides que possam vir a atuar em ocorrncias de incndios emhabitao precria.

    A base de estudos foi encontrada nos manuais de fundamentos, manuais tcnicos debombeiros, estudos de simulados realizados em favelas do municpio de So Paulo,trabalhos consagrados em monografias, e em muitos outros, de maneira que estemanual aplica-se a todos os bombeiros do Estado, pois na maioria das vezes, as

    habitaes precrias apresentam caractersticas idnticas, no importando selocalizada na Baixada Santista ou no Vale do Paraba, no Interior ou em algumaRegio Metropolitana do Estado.

    Desta forma, as informaes aqui contidas permeiam os objetivos deste Manualpossibilitando aos bombeiros a eficincia no combate a incndios em habitaesprecrias de forma a:

    1) Analisar e interpretar o diagnstico sobre as favelas de modo agarantir a mnima condio de segurana para a sua atuao;

    2) Garantir os conhecimentos tcnicos e tticos que auxiliem oatendimento de ocorrncias de combate a incndio em habitaoprecria.

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    3) Propiciar pleno controle sobre os principais riscos integridadefsica das pessoas e planejar aes preventivas com base nosprincpios educacionais.

    4) Possibilitar que se estabelea o plano ttico para a atuaooperacional nesses locais, definindo responsabilidades, acionando

    recursos e apoios para a ocorrncia.Resta aos bombeiros a tarefa dedebelar os incndios tocorriqueiros no cotidianopaulistano; assim, conhecendoesse cenrio e considerando aprobabilidade crescente de umainterveno, apresenta-se esteManual Tcnico de Bombeirosobre Combate a Incndio em

    Habitao Precria.

    Figura 5 - Bombeiros a postos. Acervodo Grupo de trabalho

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    Figura 6 - Mapa de Favelas no Municpio de So Paulo - Fonte: SEHAB/HABI

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    1 CARACTERSTICAS DAS FAVELAS

    No presente captulo, ser estudado a formao e as caractersticas das favelas naRegio Metropolitana de So Paulo7. Muito embora a aplicao deste manual estende-se a todas as guarnies de bombeiros do Estado de So Paulo, importante

    caracterizar as submoradias existentes na Grande So Paulo, com a certeza de que opadro de construo, habitao e riscos aplicam-se a todo o territrio paulista, assimcomo as premissas de preveno e as tticas e tcnicas de combate aos incndiosinseridos neste manual:

    O municpio de So Paulo apresenta dados detalhados sobre as favelas das ltimasdcadas, alm de informaes censitrias sobre o crescimento de favelas, que podemser encontrados na Secretaria de Habitao; para os demais municpios da regiometropolitana a fonte de dados mais abrangente continua sendo o Censo Demogrficodo IBGE8.

    1.1 O incio e crescimento das favelas

    As primeiras favelas na cidade de So Paulo apareceram na dcada de 1940,constitudas basicamente de madeiras: na Moca (favela do Oratrio), Lapa (na ruaGuaicurus), Ibirapuera, Barra Funda (favela Ordem e Progresso) e Vila Prudente (nazona leste, existente at hoje). Em 1973/74 a populao favelada paulistana noalcanava 72 mil pessoas, cerca de 1% da populao municipal.

    Tabela 1-Evoluo populacional de favelados no Municpio de So Paulo.

    Fontes: (1) Fundao SEADE: 1973, 1987; (2) IBGE: Censo Demogrf ico 1980, 1991, 2000; (3) PMSP /

    COBES. Equipe de Estudos e Pesquisas. Favelas no Municpio de So Paulo. 1973,1980; (4) PMSP. SEHAB.HABI. Div. Tc. de Planejamento. Coord. Inf. Tc. e Pesquisas. Censo das Favelas do Municpio de SoPaulo. 1987; (5) Estimativa CEM; (6) Dados interpolados geometricamente.

    Em 1980, a populao favelada municipal j alcanara 439.721 pessoas, 5,2% dapopulao municipal e pela primeira vez, os dados do Censo Demogrfico computamos favelados como categoria especfica.

    Novo Censo de Favelas, realizado pela Prefeitura Municipal em 1987, encontrou ototal de 812.764 moradores em favelas no municpio, 8,9% da populao municipal,em mais de 150 mil domiclios. Em 1991, dados do Censo Demogrfico fornecem 585favelas, com 146.892 domiclios e 711.032 pessoas.

    AnoPopulaototal

    Pop.Subnormal(2)

    Populaofavelada

    % Pop.favelada

    PerodoTaxa decresc. aa- favelas

    Taxa decresc. aa- total

    1973 6.560.547(1)

    - 71.840(3)

    1,1% - - -

    1980 8.558.841(2)

    375.023 4,4% 1973-80 20,16% 3,00%

    1987 9.210.668(1)

    530.822(6)

    812.764(4)

    8,8% 1980-87 8,97% 0,82%

    3

    1991 9.644.122(2)

    647.400 891.673(5)

    9,2% 1987-91 1,03% 0,51%

    2000 10.338.196(2)

    896.005 1.160.597(5)

    11,2% 1991-00 2,97% 0,78%

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    Em 1992, de acordo com a Prefeitura, a cidade teria mais de um milho de favelados,distribudos em 1805 assentamentos, ou 11.3% da populao municipal. Entre 1987 e

    1992 formaram-se 236 novos aglomerados e 36foram removidos. Em 1993, a FIPE (FundaoInstituto de Pesquisas Econmicas) realizounova contagem de favelas e computou-se 1,9

    milhes de favelados, 19,8% da populaomunicipal em 378.683 domiclios.

    Figura 7 - Vista de uma favela paulis tana.

    Fonte: Acervo parcicular

    A diferena entre os indicadores decorre dametodologia empregada no clculo, onde, por

    exemplo, o IBGE no considera favela o aglomerado com menos de 51 barracos;porm, os dados estatsticos apenas comprovam o que transeunte que anda por So

    Paulo nota a olho nu: o aumento considervel de barracos e de favelados, as caladasinvadidas por barracos e sem-tetos, os terrenos pblicos ou privados invadidos, oadensamento indiscriminado de bairros clandestinos e as construes severticalizando com seus barracos, antes em madeiras, sendo gradativamentesubstitudos por moradias de alvenaria em um, dois ou trs pavimentos toscos.

    Contudo, as distintas fontes atestam o aumento da populao favelada: pelo IBGE, ataxa de crescimento dos favelados foi de 7,07% ao ano, entre 1980 e 1991, uma taxabem maior que a taxa de crescimento da populao total no perodo, que foi de 1,16%ao ano. Parece ser consenso entre os estudiosos do tema que foi nas trs ltimasdcadas do sculo, sobretudo na dcada de 90, que as favelas se espalharam notecido urbano e se adensaram.

    Segundo notcia veiculada em O Estado de So Paulo9 , um dos bairros maisluxuosos e tradicionais da cidade, o Morumbi, zona sul, convive com uma realidadecruel: a populao favelada representa 47,7% do total de moradores. As ruas quedividem os dois mundos so tnues e, cada vez mais, os imveis de alto padro seaproximam dos barracos.

    Apenas como exemplo, no bairro do Morumbi, em So Paulo, coexisstem trs favelasem meio s suntuosas residncias. A maior a do Real Parque, onde moram cerca de16 mil pessoas - trs mil em apartamentos do Cingapura. Na comunidade do

    Panorama, so cerca de dois mil habitantes. A menor a de Porto Seguro, com 1,5 milmoradores. A regio se localiza numa das reas mais valorizadas do bairro - o JardimMorumbi, onde a populao carente que mora no Bairro do Morumbi, em So Paulo-SP, corresponde a 1,83% do total de moradores das favelas da capital.

    1.2 Infra-estrutura das favelas

    Para anlise deste item, conta-se com informaes do Censo Demogrfico de 1991 e

    da pesquisa FIPE-SEHAB de 1993. Embora as estimativas para o total populacionaldifiram bastante, por razes relativas ao conceito e a forma de mensurao, osresultados dos quesitos de moradia e infra-estrutura se aproximam, no chegando amudar a anlise e concluses.

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    HABI CENTRO LESTE NORTE SUDESTE SUL

    Nde favelas 29 294 395 193 1.107

    %domiclios com gua 98,3 96,1 93,9 97,7 96,1

    %domiclios com esgoto 12,7 35,7 50,2 58,3 54,1

    %domiclios com coleta de lixo 38,0 91,3 82,0 84,5 79,0

    %pessoas analfabetas 17,2 15,7 15,2 14,8 15,0

    %chefe de 0 a 3 anos de estudo 39,8 38,3 37,5 38,4 38,7

    %chefe de 0 a 3 SM 77,0 74,0 74,0 71,2 72,8

    %chefe de 3 a 5 SM 13,7 17,1 18,1 17,8 18,7

    %chefe de 5 a 10 SM 5,4 6,8 7,8 9,0 7,7

    %pessoas de 0 a 14 anos 38,5 35,6 36,1 34,4 35,3

    %pessoas de 65 anos ou mais 1,2 1,8 1,8 1,9 1,5

    Tabela 2-Diviso regional da Sup. Habit. Pop, (HABI) da PMSP. Fonte: Censo Demogrfico IBGE 2000.Elaborao CEM

    O abastecimento de gua no municpio paulistano de 97,4% com abastecimento

    adequado. A energia eltrica atende a 99,9% dos domiclios. Na periferia existem 20mil casas com abastecimento por poo, sendo 17 mil no anel perifrico. As condiesde saneamento do municpio central so melhores que as da regio metropolitanacomo um todo, mas quase 7% dos domiclios da capital tm instalaes sanitriascoletivas (6,31%) ou no as tem (0,57%). A situao dos domiclios no anel perifrico mais precria, com 7,7% das suas casas com instalao sanitria coletiva.

    Os destinos dos dejetos e as condies sanitrias pioram visivelmente do centro paraa periferia. No anel perifrico 8% das casas utilizam fossa negra e 7,5% jogam osdejetos diretamente em valas e vias hdricas. So Paulo apresenta-se assim com umaestrutura urbana fragmentada: vo existir espaos fortemente segregados, onde a

    presena seja da populao de alta renda e alta qualificao profissional, seja dapopulao de baixa renda e precria qualificao profissional, pouco permeada porelementos de outras camadas sociais. Na periferia domina a pobreza e a falta de infra-estrutura, com algumas reas onde j penetra uma classe mdia. E nesta periferiaonde se localizam preferencialmente as favelas.

    O dano ambiental provocado pelo aglomerado considervel: ocasiona poluio dosmananciais, deteriorao da cobertura vegetal, aumento da eroso, etc. Levantamentode 1990 mostra que 50,7% das favelas, com 71,9% dos domiclios favelados situam-se margem de crregos; destas, 6,8% das favelas, com 17,9% dos domiclios faveladosda capital, so sujeitos a inundaes peridicas. Este dado mostra o risco especfico

    para a populao favelada; o risco para a comunidade como um todo, de perda dacapa vegetal, de contaminao dos mananciais e de impermeabilizao do solo ainda maior; os danos vida humana e aos patrimnios mveis dos favelados soextremamente altos se considerar os riscos de incndios a que esto sujeitas.

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    Um olhar de perto capta as especificidades de uma favela: casas menores muitasvezes em madeira, densidade domiciliar maior, saneamento precrio, lixo e entulho

    amontoados, caminhos tortuosos e estreitos que dificultamo acesso e abandono do local, ausncia de reascoletivas, situao em reas de fundo de vale ou degrande declividade ou beira de crrego, maior

    proximidade entre as moradias com aberturas quefacilitam a propagao do calor e das chamas,construes precrias em alvenarias e com alta carga deincndio que dificulta os trabalhos de extino do fogo.

    Figura 8 - Favela paulistana. Fonte: acervo part icu lar.

    Os dados apresentados sero importantes nas anlisesoperacionais dos comandantes de socorro por ocasio doplanejamento e emprego das tticas de combate ao fogo,haja vista que qualquer bombeiro poder ser surpreendidona ocorrncia e se acidentar das mais diversas formas,

    tais como: cair em crregos (ver figura 5) com alta contaminao de dejetos, sofrerdescarga eltrica, intoxicar-se com a fumaa, sofrer queimaduras por contato comobjetos em chamas lanados durante o incndio, etc.

    1.2.1 Rede pblica de esgotos:

    A maior parte das favelas lana o esgotodomstico diretamente no solo ou emcrregos: metade das moradias, segundo ocenso do IBGE e 3/4, segundo dados daFIPE, muito embora o percentual dedomiclios ligados rede pblica deesgotos tenha crescido de menos de 1%em 1973 para 26% em 1991.

    Figura 9 - Favela em beira de crrego . Fonte:PMESP/CB

    A melhora domiciliar dos servios degua e luz nas favelas, no inibiu apresena de fossas e crregos queservem de coletores de lixos e seconstituem de srios obstculos aostrabalhos das guarnies de bombeiros,com riscos substanciais integridadefsica, principalmente, aquelesvinculados a quedas.

    Figura 10 - Favela jardim Damasceno. Fonte:SEHAB/HABI

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    1.2.2 Energia eltrica

    Segundo os dados de 1991, 99,6% das casas faveladas possui energia eltrica. Onmero de residncias sem medidor alto (46,2%), embora, no anel perifrico, apenas

    15,6% das casas no tinham medidor. Por este dado nota-se a grande incidncia deligaes clandestinas, os famigerados gatos, o que por si s j fator de risco desobrecarga na rede e conseqente queima de equipamentos eletro-eletrnicos,podendo ignizar os materiais combustveis presentes no local ou ser causa dechoques eltricos s guarnies.

    Nem sempre o corte de energia no bairroatingir a toda a rea incendiada, pois asligaes clandestinas podem ter origemde diversas fontes ou redes. Portanto, osbombeiros devem precaver-se de

    acidentes com descargas usando oequipamento de proteo individual.

    Figura 11 - Instalaes eltricas clandestinasFonte: SEHAB/HABI 1999.

    1.2.3 gua encanada

    A gua encanada tambm chegou sfavelas de forma clandestina: se, em 1980, apenas 15% das casas possuam guaencanada, os resultados do Censo de 1991 mostram que esta porcentagem subiu para89,6%. A gua encanada fornecida pelo servio pblico de gua potvel era de 22,6%

    em 1980. Em 1991, representava 85,2% (dados do Censo), e 64,2% em 1993,segundo os dados da FIPE. A diferena entre a pesquisa de 1993 e o Censo de 1991deve ser conseqncia do IBGE computar apenas os resultados de favelas com maisde 51 unidades.

    Surpreendentemente, a proporo de moradias ligadas rede pblica de gua potvelera maior nas favelas que no anel perifrico como um todo, onde 75% das casasestavam ligadas SABESP.

    1.2.4 Coleta de lixo

    O problema do lixo um dos mais srios em favelas devido a grande densidadedemogrfica (em torno de 400 habitantes por hectare) e o traado irregular das vielas,dificultam os servios tradicionais de coleta. Quando se visita uma favela verificacontaineres cheios de lixo extravasando; porm, o favelado, em princpio, no foi

    excludo da melhoria da coleta: seem 1973, apenas 15,1% das casastinham coleta pblica regular, estaproporo subiu para 63,8% em1991(88,4% pela FIPE, em 1993).

    Em So Paulo, a coleta regularcostuma se dar trs vezes porsemana. Na favela, serianecessria menor periodicidade.

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    Na favela Ladeira dos Funcionrios, no Rio de Janeiro, por exemplo, h coleta diriaem dois horrios. Foi a forma encontrada para garantir a limpeza de uma reaextremamente densa.

    Figura 12 - Favela do Jardim Damasceno. Fonte: SEHAB/HABI.

    Nota-se que o lixo e o entulho marcam a paisagem das favelas paulistana e o lixo

    acumulado sempre ser considerado um grave fator de risco as atividades dosbombeiros, tanto pelo princpio de incndio, quanto pelo resduo txico provocado pelaexposio s fumaas.

    1.2.5 Densidade demogrfica e caracterizao dosmoradores

    A densidade demogrfica das favelas paulistanas foi calculada, em 1987, em 446,2habitantes por hectare, bem mais alta que a do municpio como um todo, que era de70,8 em 1987 e 115,9 em 1996, resultando em um tapete horizontal sem infra-estrutura adequada, num urbanismo de m qualidade com grandes riscos de

    acidentes, enchentes e incndios.

    Na composio racial dos moradores em favela, predominam a cor preta ou parda,na maioria, migrantes de regies pobres do Brasil. A proporo de pretos e pardos nasfavelas alcana 53%, quando para o municpio como um todo era de 29,8% em 1991,e para o anel perifrico era de 41,4%. Entre os chefes de famlia favelados em 1991,mais de 80 % no so naturais do municpio. Esta proporo superior do municpiocomo um todo (59,8%) e do anel perifrico (65,7%). Esses migrantes so oriundosprincipalmente do Nordeste: entre a populao favelada, em 1991, 73,7% dosmigrantes eram procedentes do Nordeste; em 1996, a proporo alcanou 69,4%.

    Assim, os favelados so primordialmente migrantes, embora no sejam migrantesrecentes e a proporo de migrantes nas favelas estar diminuindo. O tempo depermanncia nas favelas aumenta o que contribui para uma mudana no perfilpopulacional. Hoje no raro se encontrar duas ou mesmo trs geraes morandonuma favela.

    Convm esclarecer que a proporo de

    migrantes diminuiu na dcada de 90,para o municpio como um todo. Em1991, 26,6% da populao estava emSo Paulo h menos de cinco anos; jem 1996, apenas 5,1%.

    Figura 13 Densidade demogrfica. Fonte:PMESP/CB

    Quanto renda, observa-se que eladecresce ao se comparar os trs

    subconjuntos: total municipal, anel perifrico e favela. A renda mdia da populao

    acima dos 10 anos era de 4,49 salrios mnimos para a populao municipal em 1991,enquanto que a da populao residente no anel perifrico foi de 3,34 salrios mnimose a da populao favelada no alcanava 2 salrios mnimos (1,96). Representando apopulao no extremo inferior da hierarquia dos rendimentos, na favela havia 36,8%da populao com menos de dois salrios mnimos. A populao favelada paulistana

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    caracteriza-se, dessa forma, por ser a mais pobre em termos de rendimentomonetrio. Qualquer que seja a localizao da favela na trama urbana, os faveladosso igualmente pobres.

    Em relao escolaridade, os dados evidenciam uma profunda diferena de perfilentre os residentes na favela, no anel perifrico e no municpio como um todo. A

    proporo de analfabetos na favela elevada: 26% em 1991, quando no anelperifrico foi de 13,5% e na populao municipal, de 10,5%.

    Em relao ao perfil scio-ocupacional dos chefes, observa-se uma profunda diferenaentre os trs universos de anlise: a proporo doschamados subproletrios (domsticos, ambulantes,biscateiros) nitidamente maior entre chefes favelados(13% entre os chefes ocupados, quando no anel perifricoera de 6,9% e no municpio como um todo, de 5,4%).

    Figura 14 - Favela paulis tana.

    Fonte: acervo particular.

    De outro lado, surpreende a cifra que 63,3% da populaoocupada favelada possui carteira de trabalho assinada, percentual maior que nomunicpio como um todo (62%) e semelhante ao do anel perifrico (64%).

    Entre favelados de So Paulo e dos municpios do ABCDM, a renda e escolaridadeassemelham-se, mas vai existir forte diversidade quanto ao tipo de ocupao. Entre oschefes ocupados da capital, 13% pertenciam ao subproletariado e 39% ao proletariadosecundrio; no ABCDM, so 5,6% do subproletariado e 56% do proletariadosecundrio.

    O espao da favela tem uma relao de integrao com o espao do entorno, noconstituem um mundo social parte. Aexistncia de favelas parece ser a expressoespacial das notrias desigualdades quemarcam a sociedade brasileira, nela esto osmais jovens, os no brancos, e os de menorescolaridade.

    Figura 15 - Favela Peinha. Fonte: SEHAB/HABI.

    Entretanto, seu aumento no pode seratribudo a um aumento equivalente depobreza e de migrao.

    Segundo Rocha (1998), a proporo de pobres na metrpole em 1990 era de 22%, e ade indigentes, 4,7% em 1990, semelhantes s propores encontradas em 1981. Seas favelas no esto crescendo por migrao; se a pobreza, embora grande, tambmno est crescendo na mesma proporo, como, porque e de que forma crescem asfavelas? H indcios fortes apontando para a mobilidade residencial dentro da prpriarea metropolitana.

    Como se viu, a favela hoje local menos precrio que h duas dcadas. habitadapor trabalhadores empregados, no por lumpens; tem certa infra-estrutura, suas casasso predominantemente de alvenaria, enfim, integram-se ao espao urbano, seusmoradores so trabalhadores pobres que produzem e consomem e que no

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    encontram na metrpole local acessvel de moradia no mercado formal. Sobra paraeles, a ocupao de terras pblicas ou privadas.

    Figura 16 - Densidade demogrfi ca. Fonte: Jacques NML Fotno .

    Concluindo, o favelado integra a camada com rendimentos mais pobres, menorescolaridade e maior proporo de subproletrios no municpio, mas sua populaotem emprego formal em proporo equivalente populao municipal. A populaofavelada no um enclave separado. Incorpora-se ao mundo econmico.

    Os favelados so consumidores de produtos industriais novos ou usados, econsumidores de servios. O contraste entre a pobreza do aspecto exterior e a relativa

    abundncia de objetos no ambiente interno espantoso: alm do fogo, o refrigeradoraparece em 76% dos domiclios favelados, a televiso colorida em 32%, a TV preta ebranca em 56%. Mesmo mquina de lavar roupa, microondas, mquina de lavar pratose computador j aparecem nas casas das favelas; da se encontrar nas favelas altacarga de incndios provenientes de mveis e eletros-domsticos.

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    1.2.6 Sistema virio

    Alm da densidade, na favela h um estranho sistemavirio composto por ruas estreitas e tortuosas, vielas ebecos, escadas improvisadas, estranhos ngulos noscaminhos de pedestres, becos sem sada, enfim, umsistema onde o automvel no tem lugar, o que, semdvidas, constitui-se de riscos extremos aos serviosde combate a incndios.

    Figura 17 - Corredor de favela. Fonte:

    Acervo do grupo de t rabalho

    1.2.7 Localizao

    Enquanto a paisagem das favelas cariocas predomina o morro, nas favelas paulistasso comuns construes de barracos sob pontes e viadutos, s margens de crregos,ao longo de avenidas e estradas de ferro e em terrenos baldios, pblicos ouparticulares. O mapa da figura 6 mostra o aglomerado urbano de submoradias nacidade de So Paulo onde se pode constatar a maior presena de favelas na Zona Sulda capital.

    A Secretaria de Habitao mantm um mapa digitalizado com a localizao de todasas favelas da cidade, que pode ser acessado pelo seguinte endereo eletrnico:http://www.prefeitura.sp.gov.br.

    No municpio de So Paulo as favelas concentram-se nas zonas sul e norte (videfigura 1), principalmente nas reas de proteo ambiental, junto s represas, na zonasul, e nas encostas da serra da Cantareira, no norte. Os quadrantes sul e norteagregam 72,2% das moradias faveladas municipais. 10

    No espao metropolitano as favelas concentram-se de forma heterognea: na capital(61%), no ABCDM (Santo Andr, So Bernardo, So Caetano, Diadema e Mau)(22,4%), em Osasco (6,1%) e em Guarulhos (4,9%). Foram constitudas, em geral, porocupaes espontneas, mas tambm existem a partir de ocupao coletivaorganizada. Divergem quanto aos aspectos de infra-estrutura e dos domiclios.Divergem fortemente quanto tipologia espacial.

    No geral existem quatro tipos de favelas: as com predominncia de ocupaesagrcolas (na periferia metropolitana), as chamadas superiores, com presena declasse mdia e empregados de nvel superior (apenas duas reas, em So Paulo, noButant), as favelas proletrias (com predominncia de proletariado secundrio,sobretudo no ABCD, Mau, Osasco e Guarulhos) e as populares (compredominncia de subproletariado, muito presentes na capital).

    1.2.8 Construes

    A maioria das moradias novas so casas de madeira, com coberturas de telhas defibro-cimento, amianto ou folhas de zinco, fixadas com pregos ou parafusosdiretamente sobre as estruturas, tambm, de madeira, com um ou dois cmodos, nomximo.

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    Em favelas mais antigas asconstrues assemelham-se s daperiferia com casas de alvenaria,sem revestimento, em constanteconstruo e ampliao. J emfavelas mais estruturadas, o

    mimetismo entre elas e as casasdas ruas prximas impressiona.

    Figura 18 - Favela si to Rua Marselhesa, 630 -Vila Clementino -

    So Paulo / SP. Fonte: UNIFESP

    Uma favela urbanizada dificilmenteconsegue assegurar um sistema de ventilao e iluminao adequadas e nemsanitrias, muito menos de sistemas de contra incndios. Cada moradia consideradaresidncia unifamiliar e, como tal, no abrangida pelas exigncias contra incndiosestabelecidas pela norma em vigor. O problema grave e no se esgota com a

    colocao de infra-estrutura mnima que promova a proteo adequada contraincndios, pois cada conglomerado urbano est em constante mutao e muitaspermanecem na ilegalidade.

    O que continua catastrfica a generalizao de um princpio de incndio que sepropaga de um barraco a outro com uma grande velocidade, tornando difcil aodos bombeiros no trabalho de controle e extino do sinistro.

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    Figura 19 - Favela em fase de u rbanizao. Fonte: PMESP/CB.

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    1.2.9 Aglomerados em rea urbana

    Localidade Casa isolada ou

    cond. residencial

    Casa em conj popular

    aglomerado

    Casa em

    aglomerado

    subnormal

    Apto isolado ou de

    condomnio

    Brasil 20.835.460 1.729.773. 1.437.860 2.466.343

    Sudeste 10.679.276 669.232 775.941 1.604.588

    So Paulo 5.914.333 383.075 339.606 694.495

    Tabela 3 - Aglomerados Urbanos - Fonte IBGE Censo 2000.

    Tabela 4 - Aglomerados Urbanos - Fonte IBGE Censo 2000.

    Localidade Apto conjunto residencial

    popular

    Apto aglomerado subnormal cmodo

    Brasil 486.506 17.289 184.037

    Sudeste 292.080 12.767 97.120

    So Paulo 136.856 1.038 48.675

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    1.2.10 Aglomerados em rea Rural

    Localidade Casa isolada ou

    condomnio

    Casa em conj popular Casa ou apto

    subnormal

    Apto isolado ou de

    condomnio

    Brasil 7.265.978 146.417 120.241 13.131

    Sudeste 1.629.105 33.583 10.421 1.444

    So Paulo 494.713 17.083 6.079 448

    Tabela 5 - Aglomerados Rurais - Fonte: IBGE Censo 2000

    Tabela 6 - Aglomerados Rurais - Fonte: IBGE Censo 2000

    Localidade Apto conjunto residencial

    popular

    Apto aglomerado subnormal cmodo

    Brasil 23.120 376 8.184

    Sudeste 12.912 29 1.911

    So Paulo 12.459 14 697

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    1.3 Conceituando o termo favela

    Com relao ao termo favelapode-se afirmar que a palavra tem origem controversa. Umadas explicaes apresentadas pelos historiadores a de que favela era o nome de umaplanta da caatinga nordestina. Como consta que os combatentes de Canudos no regresso

    ao Rio de Janeiro construram barracos na encosta do morro localizado atrs do Ministrioda Guerra, para aguardar o pagamento dos soldos, e tal acampamento se assemelhou aosarmados nas proximidades doArraial de Canudos, por issopassaram a ser conhecido pelomesmo nome: Morro daFavela.

    Figura 20 - Favela Santa Rita de Cssia -Fonte: SEHAB/HABI

    O dicionrio Aurlio11 conceituafavela como conjunto dehabitaes popularestoscamente construdas (por viade regra em morros),desprovidas de recursoshiginicos.

    Segundo a SECRETARIA DA HABITAO DE SO PAULO (1988), "entende-se por favelaum conjunto de moradias construdas de madeira, zinco, lata, papelo e mesmo alvenaria,caracterizada por sua inadequao e precariedade, em geral distribudasdesorganizadamente em terrenos cuja propriedade individual do lote, no legalizada paraaqueles que o ocupam, possuindo no mnimo, duas unidades habitacionais no mesmo lote".

    J o IBGE considera favela um aglomerado subnormal e, como tal, a comunidade precisapossuir vrias caractersticas. Uma delas ter no mnimo 51 casas. A maioria das unidadeshabitacionais da rea tambm no pode possuir ttulo de propriedade ou documentaorecente (obtida aps 1980). necessrio ainda que tenha pelo menos uma das seguintescaractersticas: urbanizao fora dos padres (vias de circulao estreitas e de alinhamentoirregular, alm de construes no regularizadas por rgos pblicos); e precariedade de

    servios pblicos (a maioria das casas no conta com redes oficiais de esgoto e deabastecimento de gua e no atendida por iluminao domiciliar). IBGE aglomerado subnormal favela.

    O que caracteriza um aglomerado sub normal, uma ocupao desordenada que, quandoda sua implantao, no houve a posse de terra ou ttulo de propriedade12.

    A fim de no atribuir nenhum sentido pejorativo aos habitantes e nem dar preferncia parauma ou outra conceituao,o termofavela, que se evitar, doravante, utilizar neste manual,ser tratado como ncleo de submoradias e o termo barracocomo habitao precria.

    Assim, conhecendo esse cenrio e considerando a probabilidade crescente da intervenode bombeiros em prestar servios prprios apresenta-se este Manual Tcnico de Bombeirosobre Combate a Incndios em Habitao Precria.

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    Para efeito deste manual entende-se como habitao precria a que integra ncleo desubmoradias, que em sua criao no observou os padres urbansticos e o zoneamentomunicipal, nem se valeram dos parmetros estabelecidos pela construo civil convencional.

    Esclarecendo um pouco mais esse conceito, no se preocupou com a habitao precriaisolada, cujas tcnicas de combate a incndio padro so suficientes, mas necessariamente,

    com aquelas que integram os ncleos de submoradias, que se constituem de residnciascontguas com mais de 50 habitaes precrias. Tambm no houve a preocupao comedificaes que na sua construo seguiram os padres urbansticos e o zoneamentomunicipal, nem tampouco com edificaes que foram construdas originariamente dentro dosparmetros estabelecidos pela construo civil convencional, mesmo que com o decorrer dotempo tais edificaes tenham vindo a se deteriorar e at poderiam receber o adjetivo deprecria. Para essas, outros manuais e procedimentos auxiliaro as equipes de bombeiros.

    Desse modo, o objeto deste manual o aglomerado de moradia que foi construdo de modoimprovisado, catico e no necessariamente de alvenaria.

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    2 DEFINIES

    Para ampliar os conceitos bsicos sobre o combate a incndio recomenda-se a consulta aNOB n 03; porm, para maior praticidade, transcrevem-se abaixo os conceitos maisaplicveis ao assunto deste MTB.

    - REA DE RISCO: rea onde existe a possibilidade de ocorrncia de eventosadversos.- BENS SINISTRADOS: qualquer objeto possuidor de valor econmico,danificado em parte ou totalmente pela ao de sinistro.- BUSCA:ato de buscar; pesquisar ou investigar pessoa ou bem em situaode risco ou vitimados. Faz parte das operaes de salvamento.- CADERNO DE TREINAMENTO: um compndio que contm explicaessobre cada ao descrita no Procedimento Operacional Padro, de formadetalhada e demonstra como tais aes devem ser executadas. Sua elaborao necessria quando o Procedimento Operacional Padro estabelece

    procedimentos que complementam aes no previstas no Manual deFundamentos.- CALOR: o processo de transferncia de energia de um corpo a outroexclusivamente devido a diferena de temperatura entre eles.- CALOR ESPECFICO: a capacidade trmica por unidade de massa docorpo.- CARGA DE INCNDIO:quantidade de material combustvel existente no localpassvel de alimentar o incndio e propiciar sua propagao.- COMANDANTE DE REA: Oficial intermedirio (1oou 2o tenente) designadoou de servio na rea de atuao do Grupamento.- COMANDANTE DE GUARNIO:Praa (sargento) designado ou de servio

    no comando de guarnio em diferentes viaturas do CB.- COMANDANTE DE OPERAES DE AES DO CORPO DEBOMBEIROS: Oficial designado ou de servio, que assume o comando daoperao no local do sinistro.- CONVECO: o processo de transferncia de energia na forma de caloratravs do movimento de matria e ocorre tipicamente em fluidos. Se uma certaporo de um fluido aquecida, sua densidade diminui e, com isso, eleva-se porefeito do campo gravitacional e substituda por fluido mais frio da vizinhana.Assim, formam-se as correntes de conveco.- CONDUO: o processo de transferncia de energia na forma de calor queocorre atravs de um meio material, sob o efeito de diferenas de temperatura,

    sem transporte de matria. O excesso de movimento (interno) dos constituintesmicroscpios da regio aquecida do meio se propaga regio no aquecidaenquanto perdurar a diferena de temperatura entre elas.- CONDIES DE RISCO: Situao a que ficam expostas pessoas epatrimnio possibilidade de eventualmente ocorrer um fato sinistro.- CONFINAMENTO: conjunto de tcnicas para impedir a propagao doincndio, dentro do prprio prdio, de um ambiente para outro (um andar paraoutro em primeiro lugar e secundariamente de uma sala para outra).- CONTIGIDADE DAS EDIFICAES: Situao em que diversas construesso edificadas justapostas, ou seja, sem afastamento entre si.- DEFESA CIVIL: conjunto de aes preventivas, de socorro, assistencial erecuperativa, com o propsito de evitar ou minimizar o desastre, procurando,simultaneamente, preservar o moral da populao e restabelecer a normalidade

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    do convvio social. Em princpio, as aes de defesa iniciam-se pelo Municpio,seguindo-lhe o Estado e a Unio.- EMERGNCIA: situao crtica e fortuita que representa perigo vida, aomeio ambiente e ao patrimnio, decorrente de atividade humana ou fenmeno danatureza que obriga a uma rpida interveno operacional.- EXTINO: conjunto de tcnicas para interromper a combusto e, por

    conseqncia a destruio causada pelo incndio.- HABITAO PRECRIA (BARRACO): construo de pequeno porte,edificado com diversos tipos de materiais disponveis e utilizado para finsresidenciais.- INCNDIO: fogo que escapa ao controle do homem, causando resultadosindesejveis (danos materiais, leses e morte).- INFRA-ESTRUTURA: Disposio de meios e condies previamenteplanejadas, prevendo as necessidades de determinada populao.- ISOLAMENTO: conjunto de tcnicas para impedir a propagao do incndiode um prdio para outro vizinho.- ITINERRIO: Trajeto percorrido por um trem de socorro at o local de uma

    emergncia, quer na ida ou no regresso do atendimento.- LEVANTAMENTO DE RISCO: Relacionamento prvio das condies dedeterminados locais onde possam, eventualmente, estarem sujeitos ocorrnciade sinistro.- LIMITE MNIMO DE INFLAMABILIDADE: A QUANTIDADE MNIMA DEGS COMBUSTVEL (OU VAPOR) QUE, MISTURADO COM O AR,FORMA UMAMISTURA INFLAMVEL.- LIMITE MXIMO DE INFLAMABILIDADE: A QUANTIDADE MXIMA DEGS COMBUSTVEL (OU VAPOR) QUE,MISTURADO COM O AR,FORMA UMAMISTURA INFLAMVEL.- MAPEAMENTO DE RISCO: Estudo desenvolvido pela UOp em conjunto comuma determinada empresa, seguido da quantificao e otimizao da capacidadede reao disponvel de ambas as partes ou oriunda de outras empresas quandonecessrio, que possibilite o alcance de um xito ideal ou estabelecido, quandodas situaes de emergncia.- MIGRAO:Deslocamento desordenado de pessoas, normalmente famlias,para outras regies com fins de melhorias econmicas e sociais.- NCLEO DE SUBMORADIA (FAVELA): Conjunto de aglomerado comdiversos domiclios, casebres ou cortios, na sua maioria carente de infra-estrutura e localizada em terrenos no pertencentes aos moradores.- OCORRNCIA DE BOMBEIROS: evento que requer a interveno

    especializada de bombeiros, em forma de trem de socorro, socorristas e outrasprovidncias.- PIRLISE: definida como sendo um processo simultneo de mudana daespcie qumica causada pelo calor.13- PLANO PARTICULAR DE INTERVENO: Procedimento particular deatendimento de emergncia em locais previamente definidos, elaborado pela UOpdo CB, podendo ser em conjunto com alguma empresa ou rgo pblico.- POSICIONAMENTO DAS VIATURAS:distribuio estratgica de viaturas, nolocal de ocorrncia, que possibilite a interveno do Corpo de Bombeiros demaneira mais eficaz, integrado ao apoio de outros rgos.- PROTEO DE SALVADOS (SALVATAGEM): conjunto de tcnicas

    adotadas com o objetivo de reduzir os danos causados pelas aes de combate aincndio. Estas tcnicas devem ser adotadas antes, durante e depois do ato decombate incndio.

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    - RADIAO: o processo de transferncia de energia por ondaseletromagnticas. Assim, pode ocorrer tambm no vcuo. As radiaesinfravermelhas, em particular, so chamadas ondas de calor, embora todas asradiaes do espectro eletromagntico transportem energia. Um meio materialpode ser opaco para uma determinada radiao e transparente para outra. Ovidro comum, por exemplo, transparente luz visvel e opaca s radiaes

    infravermelhas. Aqui se pode compreender a necessidade de diferentes cores nasroupas de inverno e de vero e como funcionam as estufas.- RESCALDO: conjunto de tcnicas para evitar a reignio do incndio eeliminar fatores de risco nos locais sinistrados, como paredes prestes a cair.- SALVAMENTO:conjunto de tcnicas que, neste contexto, servem para salvarvidas.- SICER:Sigla que significa Salvamento, Isolamento, Confinamento, Extino eRescaldo. Este mnemnico ajuda o comandante das operaes a planejartaticamente o combate ao incndio. Sendo que h uma ordem de prioridade nasigla na seguinte seqncia.- TTICA DE BOMBEIROS: o emprego das tcnicas de bombeiros

    existentes, de forma lgica e organizada, para obter o resultado esperado noatendimento operacional. Comea com o preparo dos homens no que se refere sua instruo individual ou coletiva e na distribuio e preparo do material decombate.- TREM DE SOCORRO: conjunto formado por duas ou mais viaturasespecializadas, pertencentes ao Corpo de Bombeiros e outros rgos, equipadase tripuladas com o objetivo de executar atividades que, por sua natureza, sejamde sua competncia.- VENTILAO: conjunto de tcnicas que tem como objetivo controlar afumaa produzida em um incndio, impedindo que a mesma provoquepropagao e facilitando o acesso e visibilidade do local de incndio.- ZONA INFLAMVEL: o intervalo compreendido entre o Limite Mnimo eMximo de Inflamabilidade.- ZONA FRIA: o local imediatamente anexo a rea morna, onde o alcancedos efeitos danosos da emergncia no existem. nesta rea que estar o postode comando, como tambm todos os suportes necessrios para controle daemergncia, tendo acesso permitido somente as pessoas e autoridades que temrelao com a ocorrncia, mas no atuaro diretamente na interveno.- ZONA MORNA: o local imediatamente anexo a rea quente, onde o alcancedos efeitos danosos da emergncia so minorados, propiciando assim, que sejamlocados os equipamentos e pessoal para o suporte da rea quente. Estabelece-se

    nessa rea um corredor de controle de acesso e sada de pessoal e materiais.- ZONA QUENTE: o local imediatamente circunvizinho a emergncia, que seestende at um limite que previna os efeitos da emergncia s pessoas e/ouequipamentos fora desta rea. O acesso ao seu interior deve ser limitado paraaquelas pessoas que especificamente vo atender a emergncia.

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    3 CONCEITOS BSICOS

    As operaes de combate a incndio nos ncleos de submoradias devem ser precedidas deum planejamento prvio consubstanciado no Plano Particular de Interveno (PPI)14. Neledevem constar, dentre outros, os principais riscos existentes na rea de atuao das UOp,

    com as respectivas caractersticas, vias de acesso, possveis locais de estacionamento deviaturas de bombeiros e os pontos mais crticos dos ncleos de habitaes precrias.

    Salienta-se, ainda, que o bombeiro deve ter os conhecimentos bsicos necessrios aodesempenho da misso para o qual est se dedicando, tais como comportamento do fogo eda fumaa, meios de propagao do calor, riscos possveis no meio inspito de um local emchamas, etc, alm de conhecer as principais tticas e as tcnicas bsicas de extino deincndio, antes de se aventurar a compor uma guarnio para o combate ao fogo emhabitao precria.

    Na origem da construo, geralmente a habitao precria de madeira, mas com o passar

    do tempo tende-se a consolidar, em algumas partes ou totalmente, a alvenaria. Este dado importante, pois edificaes de madeira, por exemplo, significam maior carga incndio,maior velocidade de combusto e maior dificuldade de combate por parte das equipes debombeiros.

    As habitaes precrias que integram ncleo de submoradias tendem a ter uma rea muitopequena, o que tambm deve ser considerado pela equipe de bombeiros, pois num espaopequeno pode haver moradias com vrias famlias. Normalmente a habitao precriapossui somente um pavimento, mas no raro vermos construes com dois ou maispavimentos. Como visto, a densidade populacional em um ncleo de submoradias elevada.

    A fim de que o bombeiro entenda o ordenamento e esteja apto a se esmerar na prpriainstruo convm lembrar que os Manuais Tcnicos de Bombeiros (MTB) absorveram asnormas contidas nos cadernos de treinamento dos Procedimentos Operacionais Padro(POP) e integram, com os manuais de Fundamento e de Fabricantes, um conjunto demanuais derivados das Normas Operacionais de Bombeiros (NOB).

    Assim, neste captulo sero abordados os conceitos bsicos que possam nortear as aesdos bombeiros no combate a incndios em geral e em habitaes precrias em particular.Este captulo tratar de alguns conceitos sobre incndio, aplicveis ao combate emhabitaes precrias.

    3.1 Definio de fogo

    O fogo pode ser definido como um fenmeno fsico-qumico onde se tem lugar uma reaode oxidao com emisso de calor e luz.

    3.2 Definio de incndio:

    Incndio pode ser definido como sendo o fogo indesejvel, qualquer que seja suadimenso15.

    3.3 Componentes do fogo:

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    Devem coexistir quatro componentes para que ocorra o fenmeno do fogo:

    3.3.1 Combustvel:

    Combustvel qualquer substncia capaz de produzir calor por meio da reao qumica. Asdiferentes composies qumicas dos materiais vo fazer com que o fogo, tambm, semanifeste diferente; porm, h ocasies em que materiais iguais podem queimar de mododiferente, isso em funo da sua superfcie especfica (o material o mesmo, mas diferem

    quanto rea de sua superfcie), das condies de exposio ao calor, da oxigenao(concentrao de oxignio no ambiente) e da umidade contida no material.

    A maioria dos materiais slidoscombustveis possui uma forma padro para sua ignio.Em primeiro lugar, o material slido precisa ser aquecido para produzir vaporescombustveis que, ao se misturam com o oxignio, at formar a mistura inflamvel(explosiva), e na presena de uma pequena chama (mesmo fagulha ou centelha) ou emcontato com uma superfcie aquecida acima de 500C, d surgimento a primeira chama(ignio) na superfcie do slido, a qual fornece mais calor, aquecendo mais materiais e,assim, sucessivamente.

    Nos materiais slidos, a rea especifica um fator importante para determinar sua razo dequeima (a quantidade do material queimado por uma unidade de tempo). Est associado quantidade de calor gerado e elevao da temperatura do ambiente. Um material slidocom igual massa e com rea especfica diferente, por exemplo, de 1 m2e 10 m2, queima emtempos inversamente proporcionais; porm, libera a mesma quantidade de calor. Noentanto, a temperatura atingida no segundo caso ser bem maior.

    H algumas excees: no caso da madeira, quando apresentada em forma de serragem,com reas especificas grandes, no se queima com a mesma rapidez de uma madeiraapresentada em forma de p. Esta, por sua vez, pode formar uma mistura explosiva com oar, comportando-se desta maneira como um gs que possui velocidade de queima muito

    grande.

    A oxigenaono ambiente outro fator de grande importncia: quando a concentrao deoxignio no ambiente cai para valores abaixo de 14% de volume, a maioria dos materiaiscombustveis existentes no local no mantm a chama na sua superfcie; porm, o materialcontinua a produzir calor que poder causar uma inflamao generalizada ao entrar arfresco no ambiente.

    conveniente frisar que a concepo estrutural da habitao precria influenciar aconcentrao ou no de oxignio no ambiente: em sendo de alvenaria h possibilidade deocorrer baixa concentrao de oxignio no ambiente e conseqente reduo das chamas;

    porm, em sendo de madeira, a probabilidade maior a ocorrncia da queima dasestruturas e o fogo passar se comportar como fogo ao ar livre, com a ocorrncia de grandeslabaredas devido abundncia de oxignio.

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    A durao do fogo limitada pela quantidade de ar e do material combustvel no local. Ovolume de ar existente numa sala de 30 m2 ir queimar 7,5 kg de madeira, portanto o arnecessrio para a alimentao do fogo depender das aberturas existentes na sala, mesmosendo esta localizada numa habitao precria constituda por madeira ou alvenaria.

    Vrios pesquisadores (Kawagoe, Sekine, Lie)16 estudaram o fenmeno do fogo, e a

    equao17

    apresentada por Lie, aplicvel ao objeto deste Manual :

    Onde:

    V' = vazo do ar introduzido;

    a = coeficiente de descarga;

    H'= altura da seo do vo de ventilao abaixo do plano neutro;

    B = largura do vo;

    Vm= velocidade mdia do ar;

    Considerando L o volume de ar necessrio para a queima completa de uma determinadaquantidade de madeira (por Kg), a taxa mxima de combusto ser dada por V/L, isto :

    Da taxa de combusto ou queima, segundo os pesquisadores, pode-se definir a seguinteexpresso representando a quantidade de peso de madeira equivalente, consumida naunidade de tempo:

    onde:

    R = taxa de queima (kg/min);

    C = Constante = 5,5 Kg/mim m5/2;

    Av= HB = rea da seo de ventilao (m2);

    H = altura da seo (m);

    = grau de ventilao (Kawagoe) (m5/2);

    Quando houver mais de uma abertura de ventilao, deve-se utilizar um fator global igual a:

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    A razo de queima em funo da abertura fica, portanto:

    Esta equao diz que o formato da seo tem grande influncia. Por exemplo, para umaabertura de 1,6 m2(2,0 x 0,8 m) teremos:

    Sendo:

    2,0 m a largura R1 = 7,9 kg/min;

    2,0 m a altura R2 =12,4 kg/min;

    Se numa rea de piso de 10 m2existir 500 kg de material combustvel expresso equivalenteem madeira (carga de incndio especfica igual a 50 kg/m) e a razo de queima, devido abertura para ventilao, tiver o valor de R1 e R2, ento a durao da queima serrespectivamente de 40 min e 63 min.

    O clculo acima tem a finalidade de apresentar o princpio para determinao da durao doincndio real, o qual poder embasar o comandante de socorro na definio da ttica etcnica de combate ao incndio em submoradias e planejar o uso racional da gua a ser

    aplicada no local, pois na concepo dessas habitaes, como visto no captulo 1, h umgrande volume de combustvel slido acondicionado em uma pequena rea confinada porparedes, muitas delas constitudas em madeira.

    Ao Bombeiro, a concepo das paredes de fechamento dessas habitaes, influenciar emmuito a deciso de se penetrar ou no no ambiente. As paredes de madeira constituem-seno combustvel que ir alimentar o incndio, as proximidades das habitaes facilitaro arpida propagao do calor e impediro a progresso do bombeiro para o interior do ncleodas submoradias.

    importante lembrar que para habitaes com fechamento em alvenaria, h a possibilidade

    de ocorrer o Backdraft.

    para a queima (kg/min);

    para a queima (kg/h);

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    Os lquidos inflamveis e combustveispossuem mecanismos semelhantes aos slidospara se ignizarem. O lquido, ao ser aquecido, vaporiza-se e o vapor se mistura com ooxignio, formando a "mistura inflamvel" (explosiva) que na presena de uma pequenachama (mesmo fagulha ou centelha) ou em contato com superfcies aquecidas acima de500C, ignizam-se e aparece, ento, a chama na superfcie do lquido, que aumenta avaporizao e a chama. A quantidade de chama fica limitada capacidade de vaporizao

    do lquido.

    Os lquidos inflamveis e combustveis so classificados pelo seu ponto de fulgor que definido como a menor temperatura na qual liberam uma quantidade de vapor que, emcontato com uma chama, produz um lampejo (uma queima instantnea).

    Existe, entretanto, uma outra classe de lquidos denominados instveis ou reativos, cujacaracterstica de se polimerizar, decompor ou condensar violentamente ou ainda, de setornar auto-reativo sob condies de choque, presso ou temperatura, podendo desenvolvergrande quantidade de calor.

    A mistura inflamvel vapor - ar (gs - ar) possui uma faixa ideal de concentrao para setornar inflamvel ou explosiva, e os limites dessa faixa so denominados limite inferior deinflamabilidade e limite superior de inflamabilidade, expressos em porcentagem ou volume.

    Estando a mistura fora desses limites no haver a ignio.

    3.3.2 Comburente:

    Substncia que alimenta a reao qumica, sendo mais comum o oxignio presente no aratmosfrico. A sua composio percentual no ar seco, de 20,99%; os demaiscomponentes so: o nitrognio com 78,03% e outros gases (CO2, Ar, H2,He, Ne, Kr) com

    0,98%.

    3.3.3 Calor:

    Calor uma forma de energia trmica em trnsito entre corpos a diferentes temperaturas18.Ele se distingue das outras formas de energia porque, como o Trabalho, s se manifestanum processo de transformao. O calor, por sua vez, pode ter como fonte a energiaeltrica, a vela acessa sobre objetos combustveis, o cigarro aceso, um palito de fsforoacesso jogado alhures, os queimadores a gs, a frico ou a concentrao da luz solaratravs de uma lente.

    Esta energia pode ser medida por meio de unidades, cujas mais comuns so:a) British Thermal Units (Btu);

    b) Calorias (cal);

    c) Joules (J).

    Esta ltima a unidade adotada pelo Sistema Internacional de Unidades (SI).

    Um Btu a quantidade necessria de calor para fazer elevar a temperatura de umgrama de gua em um grau Fahrenheit.

    Uma caloria a quantidade necessria de calor para elevar a temperatura de umgrama de gua em um grau Celsius.

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    Joule a quantidade de energia trmica fornecida por um Watt em um segundo. UmBtu igual a 1,054 Joules e uma caloria igual a 4,183 Joules. Nem Btu nem caloria soaceitos no Sistema Internacional de Unidades.

    3.3.4 Reao em cadeia:

    O fenmeno qumico da combusto uma reao que se processa em cadeia, aps apartida inicial e mantida pelo calor produzido durante o processamento de reao. Assim,na combusto do carbono para a formao de Dixido de Carbono (C02), h a seguintereao: C + 02= C02+ 97,2 kCal./Mol.

    3.4 Transmisso de energia

    3.4.1 Propagao do calor

    Todos os corpos possuem certa quantidade de energia interna que,constantemente, migram de um para outro enquanto houver diferenasde temperaturas entre eles.

    Desta forma, procuram manuteno de um equilbrio trmico at que,estando com a mesma temperatura, cessem a troca de energia.

    Figura 21 Incndio em cabos eltricos.

    Fonte: PMESP/CB.

    A esse fenmeno de troca de energia (a energia ao passar de umcorpo para outro) d-se o nome de calor. O sentido do calor sempre do corpo de maiortemperatura para o de menor temperatura.

    3.4.2 Formas de propagao do calor

    O calor gerado no processo de combusto dos materiais durante um incndio transmitidopor trs maneiras distintas: conduo, conveco e radiao. Este processo induz osmateriais expostos a expelirem vapores combustveis e a se ignizarem continuamente,enquanto houver no ambiente a presena dos trs elementos essenciais para o fogo(combustvel, comburente e calor), os quais, aliados ao fator da reao em cadeia, manteroo incndio at se esgotarem um ou mais dos elementos presentes.

    Conduo

    A conduo o processo de troca de energia que

    acontece entre os materiais slidos, quando umamolcula aquecida comea a vibrar com mais

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    intensidade do que a molcula vizinha podendo transmitir parte desta vibrao e,conseqentemente, gerar o calor.

    Figura 22 - Incndio em propagao.

    Fonte: PMESP/CB.

    Esse fenmeno acontece mais facilmente quando as molculas esto prximas umas dasoutras (como no caso dos slidos e muito freqente em ncleos de submoradias), pois ocontato entre uma e outra feito diretamente. Importante ressaltar que no processo umamolcula conduziu a energia para a outra sem que nenhuma delas mudasse de lugardentro do corpo. No houve transporte de matria, apenas de energia, gerando o calor porcontato de um material com outro.

    A propagao de calor por este mtodo mais notria; quanto melhor condutor for omaterial (ex. metais), pois o calor se transmite diretamente na matria ou da molcula para

    molcula, isto , sem intervalo entre os corpos.

    Tal fenmeno bastante compreensvel quando se segura uma barra de ferro numa dasextremidades e coloca a outra junto a uma fonte de calor. Passados alguns minutospercebe-se o aumento de temperatura na extremidade em que se segura a barra.

    Figura 23-Resultado de Incndio em ncleo de submoradias, aps propagar-se

    por habitaes precrias . Fonte Klhlmann, G.Guilherme. .

    Radiao

    Neste processo a energia se transfere por meio de ondas eletrom