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1674 MUDANÇAS RECENTES NO LICENCIAMENTO AMBIENTAL EM MINAS GERAIS RECENT CHANGES IN THE ENVIRONMENTAL LICENSING IN MINAS GERAIS Ana Caroline Pimenta Costa Camisasca¹ Rômulo Soares Barbosa² Vânia Olímpia Barbosa Silva³ Unimontes ¹Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social [email protected] Unimontes ²Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social [email protected] Unimontes ³Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social [email protected] RESUMO A degradação ambiental deixa lastro em locais acometidos por injustiças ambientais, estando em pontos isolados que camuflam a real situação afim de não exporem atividades escusas. O ra- cismo ambiental é definido como sendo injustiças ambientais e sociais que atingem populações vulneráveis. O observamos através de atitudes que causem impacto racial, independente de sua origem. Configura-se através da expulsão de pessoas de baixa renda de suas propriedades, para que grandes projetos se apossem destes locais. Como forma de controle dos usos ambientais, o licenciamento ambiental se posiciona diante da sociedade e do Estado como controle social sobre os danos ambientais dos empreendimentos econômicos. Um empreendedor, ao planejar a criação de um empreendimento, deve solicitar licença ambiental ao órgão competente, para desenvolver atividades sem agredir meio ambiente. A DN Copam 74/04, que determina normas

MUDANÇAS RECENTES NO LICENCIAMENTO AMBIENTAL … RECENTES... · de tanta poluição advinda, principalmente, das chaminés das gigantescas indústrias. Isto porque o desenvolvimento

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MUDANÇAS RECENTES NO LICENCIAMENTO AMBIENTAL EM MINAS GERAIS

RECENT CHANGES IN THE ENVIRONMENTAL LICENSING IN MINAS GERAIS

Ana Caroline Pimenta Costa Camisasca¹

Rômulo Soares Barbosa²

Vânia Olímpia Barbosa Silva³

Unimontes¹Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social

[email protected]

Unimontes²Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social

[email protected]

Unimontes³Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social

[email protected]

RESUMO

A degradação ambiental deixa lastro em locais acometidos por injustiças ambientais, estando em pontos isolados que camufl am a real situação afi m de não exporem atividades escusas. O ra-cismo ambiental é defi nido como sendo injustiças ambientais e sociais que atingem populações vulneráveis. O observamos através de atitudes que causem impacto racial, independente de sua origem. Confi gura-se através da expulsão de pessoas de baixa renda de suas propriedades, para que grandes projetos se apossem destes locais. Como forma de controle dos usos ambientais, o licenciamento ambiental se posiciona diante da sociedade e do Estado como controle social sobre os danos ambientais dos empreendimentos econômicos. Um empreendedor, ao planejar a criação de um empreendimento, deve solicitar licença ambiental ao órgão competente, para desenvolver atividades sem agredir meio ambiente. A DN Copam 74/04, que determina normas

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para o custeio de análises de pedido de licenciamento ambiental, foi revogada pela DN Copam 217/17, que passou a vigorar em março de 2018. Tal deliberação reforça a necessidade e a importância de maior conhecimento e de gestão estratégica do território sob o ponto de vista econômico e ambiental. Metodologicamente, buscou-se identifi car e analisar documentos e notícias divulgados na mídia sobre o tema em questão e suas alterações. Palavras-Chave: Licenciamento ambiental; Racismo ambiental; Alterações.

INTRODUÇÃO

Pensando-se o meio ambiente desde a Revolução Industrial, é possível perceber que não havia um cuidado preservacionista em relação à sua qualidade e prosperidade. Cultuando o crescimento econômico a qualquer custo, a saúde da população e a qualidade do meio ambiente foram ignoradas.

Com toda essa prática de desinteresse pela manutenção do ambiente, a sociedade se mobilizou junto com o Estado para tentar reverter tal situação. Foi quando, em 1972, em Es-tocolmo, iniciou- se o debate por um mundo melhor, com a discussão do desenvolvimento sustentável. Vindo a se consolidar em 1992, no Rio de Janeiro. Barbieri aponta que um dos pré-requisitos para se alcançar o desenvolvimento sustentável é a participação total do público, nas tomadas de decisão (BARBIERI, 1997, p. 128 apud CARNEIRO, 2005, p. 66).

Essa discussão surge da necessidade de uma conscientização mundial no que tange a continuidade da vida humana na terra, pois a qualidade do ar apresenta-se comprometida diante de tanta poluição advinda, principalmente, das chaminés das gigantescas indústrias. Isto porque o desenvolvimento econômico sobressai à preservação do meio ambiente.

Com esta movimentação realizada em Estocolmo, consolidada em 1992, no Rio de Ja-neiro, e reafi rmada também no Rio de Janeiro em 2012, os compromissos dos chefes de Estado de todo planeta foram reunidos em documentos que possibilitaram o comprometimento de cada um. A emissão de gases por grandes indústrias e a destinação incorreta do lixo ou de objetos já descartados, são alguns dos problemas sofridos pela humanidade.

Quem mais sofre com este abandono social são as populações de menor renda, popu-lações negras, indígenas. O desonroso “Memorando Summers”, citado por Henri Acselrad em sua obra, Justiça Ambiental e Cidadania, atinge diretamente essas populações, pois transfere as indústrias mais poluentes para os países menos desenvolvidos, onde o controle é menor e as populações, em tese, aceitam mais facilmente os efeitos negativos da degradação ambiental.

Esse tipo de injustiça é embasado na discussão de justiça ambiental que é um diálogo entre movimento ambiental e de atingidos por externalidades, através da implantação de mega empreendimentos. O movimento da Justiça Ambiental inicia-se na década de 1980 e afi rma que a natureza é um espaço comum de recursos expostos a distintos projetos, interesses, formas de apropriação e uso material e simbólico.

Contextualizando, Anthony Giddens, também na obra Justiça Ambiental e Cidadania, Acselrad (2004), sustenta que a poluição não é necessariamente democrática e que a conse-

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quência de se ignorar as desigualdades sociais por detrás dos problemas ambientais permite a adoção de soluções que não asseguram igual proteção ambiental para todos (IORIS, 2009). As injustiças ambientais são facilmente localizadas e mensuradas.

Ao analisar as consequências de toda degradação ambiental, é possível observar os focos onde mais acontecem essas injustiças. Às vezes, em pontos isolados que camufl am a real situação afi m de não exporem as atividades escusas. Diante disso, é factível que a poluição, os confl itos ambientais, os impactos ambientais não estejam às claras sendo dever da população, constatar e agir, de maneira organizada, de forma que não atinja seus direitos.

Conceituando o racismo ambiental, Pacheco (2007) diz que são às injustiças sociais e ambientais que recaem de forma implacável sobre etnias e populações mais vulneráveis. E completa que, não observamos o racismo ambiental apenas através de atitudes racistas, como também aquelas que causem impacto racial, independente de sua origem.

Em sua obra Planeta Favela, Mike Davis estimou um número maior de habitantes nas áreas urbanas que nas rurais. Com esse êxodo, o número das favelas aumenta assustadoramente. Isso a nível mundial, uma vez que no Brasil essa já era uma realidade. O racismo ambiental é a estampa da desigualdade, da exclusão e da negação da cidadania que o modelo de desenvolvi-mento hegemônico nos impõe (DAVIS, 2006 apud PACHECO, 2008).

O racismo ambiental se confi gura através da expulsão de pessoas de baixa renda de suas propriedades, para que grandes projetos se apossem destes locais. Ao perderem seus espaços para esses grandes projetos, essas pessoas fi cam a mercê da boa sorte ou das ações praticadas pelos Estados ou empreendedores, colocando-as em locais de risco como favelas, entornos das fábricas que são contaminados pelos lixões a céu aberto.

O Mapa da injustiça ambiental e saúde no Brasil volta seu olhar para as comunidades e populações atingidas pelos confl itos ambientais. É a partir de suas exposições que as denúncias são relatadas e investigadas. O que muito envergonha a nós brasileiros, é que a invasão aos territórios e as áreas de reservas, ou o desmatamento de vastas áreas para construção de grandes projetos, não é feita majoritariamente por estrangeiros e sim, por empreendedores brasileiros, que se enriquecem às custas da injustiça ambiental e da nossa natureza.

A falácia do desenvolvimento, aliada à oferta de empregos temporários, tenta persuadir comunidades inteiras, com o discurso do progresso. Fazendo-se acreditar que a destruição de hoje pode ser a construção do amanhã, e assim perpetuam as classes paupérrimas e vulnerá-veis.

Para Pacheco (2010), a negação dos direitos humanos, a condenação à pobreza e o desrespeito ao meio ambiente não são em absoluto democráticos. Assim como a própria luta de classes não o é. Afi rma que se tornam ainda mais complexos por valores racistas que fazem parte do imaginário social e cultural, naturalizados que são pelo senso comum.

A partir dessas considerações iniciais, o objetivo do presente artigo é analisar as recen-tes mudanças acometidas no licenciamento ambiental em Minas Gerais. Metodologicamente, buscou-se identifi car e analisar documentos e notícias divulgados na mídia sobre o tema em questão e suas alterações. O licenciamento ambiental é um atestado de preservação ao meio ambiente. É um requisito que assegura a implantação de um empreendimento em local adequa-do e propício.

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Este artigo, além da introdução e das considerações fi nais, está estruturado em 02 se-ções. Na primeira seção discute-se o licenciamento ambiental. A seguir, na segunda seção, são abordadas as mudanças no licenciamento ambiental.

O LICENCIAMENTO AMBIENTAL

Como forma de controle dos usos ambientais, o licenciamento ambiental se posiciona diante da sociedade e do Estado como um controle social sobre os riscos e danos ambientais dos empreendimentos econômicos. Contextualizando, o processo de licenciamento ambiental é um ato administrativo exigido pelo órgão do governo para todo e qualquer empreendimento que se utiliza dos recursos naturais ou cause passivos ao meio ambiental (PRAÇA, 2009).

A década de 1980 é marcada, tanto pelo discurso da justiça ambiental quanto pela insti-tucionalização e regulamentação da questão ambiental, dos ajustes ambientais que se balizaram pela criação de leis e resoluções, em específi co, a Lei nº 6.938/81, que estabeleceu a Política Nacional de Meio Ambiente – PNMA e a Resolução do CONAMA 001/86, que versa sobre a obrigatoriedade de Estudo de Impacto Ambiental – EIA, para algumas atividades econômicas.

Contudo, em Minas Gerais, o início da estruturação às questões ambientais se deu em 1977, com o Decreto nº. 18.466 que instituiu a Comissão de Política Ambiental – COPAM, órgão consultivo e deliberativo da política ambiental mineira, criado em 1977, que conta, desde sua criação, com a participação de representantes de associações ambientalistas, associações empresariais e órgãos públicos (CARNEIRO, 2005, p. 66).

O COPAM é tido como um órgão apaziguador, que negocia, não impõe, ameniza os confl itos. Coloca o empresário e as comunidades atingidas dentro do processo. Um órgão que foi desenvolvido com o setor produtivo dentro dele, e com a premissa de que além do preser-vacionismo deve-se fazer valer a negociação. Com isso, gera grande credibilidade frente aos governos federais.

A partir daí os arranjos ambientais no âmbito de Minas Gerais sofreram alterações quan-to à estrutura no processo de regularização ambiental. Em 2003, uma nova proposta é submeti-da ao processo de licenciamento ambiental, incidindo novas regras para os agentes sociais.

Com essa nova proposta, fi ca estabelecida a descentralização dos processos de licencia-mento ambiental onde o poder decisório em relação às licenças e penalidades, é delegado para as unidades regionais do COPAM, sendo criadas dez unidades regionais colegiadas- URC’s, que atuam nas SUPRAM’s- Superintendências Regionais de Meio Ambiente e Desenvolvimen-to Social, que são o braço executivo das URC’s. Estas, por sua vez, são órgãos deliberativos e normativos, que analisam planos, projetos e atividades de proteção ambiental, adequando-os às normas.

Um empreendedor, ao planejar a criação de um empreendimento, deve solicitar a licen-ça ambiental ao órgão competente, para desenvolver suas atividades de maneira que não agrida o meio ambiente. Tal licença é concedida mediante o cumprimento de condicionantes, as quais garantirão o pleno funcionamento do empreendimento.

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O licenciamento ambiental tem natureza de procedimento administrativo e é uma exi-gência legal do Estado em relação a atividades causadoras ou potencialmente causa-doras de impactos ambientais (ZHOURI, 2005).

O Licenciamento Ambiental é dividido em três etapas. Primeiro, é expedida a Licença Prévia – LP, que é concedida no início do projeto. A segunda etapa é a Licença de Instalação – LI e a terceira etapa é a Licença de Operação – LO. Sendo concedida esta terceira, o empre-endimento pode dar início às suas atividades.

Há uma tendência à formação de senso comum, onde o resultado alcançado é aquele já esperado pelo empreendedor. A ausência de profi ssionais capacitados, da área social, faz com que a análise dos projetos seja superfi cial, não levando em conta as comunidades que vivem nas áreas atingidas. No processo de licenciamento ambiental, o Estado privilegia o interesse do ca-pital e um agravante é a difi culdade de mobilização da sociedade atingida pelo empreendimento para participar das plenárias que legitimam o processo e, também, de entenderem a linguagem técnica dos pareceres.

De acordo com Praça, 2009:

O processo de elaboração dos pareceres obedece ao seguinte roteiro: os técnicos da SUPRAM, ao receberem os documentos do processo, sejam, RCA, PCA ou EIA/RIMA, analisam o empreendimento in loco, para maiores esclarecimentos. Após esse procedimento, os técnicos ‘sintetizam’ a realidade posta pelo empreendimento, atra-vés de variáveis sociais e ambientais, já que a lógica do licenciamento ambiental somente se faz inteligível a partir do comparativo dessas variáveis (PRAÇA, 2009).

Quando o empreendedor elabora um parecer informando os objetivos do projeto, ge-ralmente não informa tudo o que será feito ou explorado. Em alguns processos, para conseguir a licença ambiental, a atividade é muitas vezes camufl ada para facilitar todo o trâmite, sem a necessidade de uma análise mais profunda, ambientalmente falando, do empreendimento.

O processo de reestruturação do licenciamento ambiental em Minas Gerais efetivou-se em duas frentes: na integração dos órgãos executivos do COPAM e na descentralização da tomada de decisão, transferindo essa responsabilidade do COPAM para as URC’s (PRAÇA, 2009). Nessa transferência quase não se observou a participação e o conhecimento das comu-nidades atingidas. Com isso, confi rma-se a injustiça ambiental e se percebe a inversão do papel do Estado ao proporcionar a democratização dos interesses ambientais do seu território.

No ano de 2015, o então governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, participou de um debate na cidade de Belo Horizonte, cujo tema “Mineração hoje no Brasil e no mundo: tendências, desafi os e oportunidades” levou para discussão a morosidade do processo de licen-ciamento ambiental em Minas Gerais e a proposta de uma simplifi cação do processo. Na opor-tunidade, Pimentel citou a burocracia que se instalava no desenvolvimento dos processos, onde diversos laudos aguardavam análise e atrasavam as atividades de grandes e pequenos projetos.

Diante disso, a nova deliberação normativa nº 217 veio para simplifi car o desenrolar dos trâmites. A descentralização das responsabilidades dos órgãos competentes para os municípios

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foi de extrema importância para tornar o processo mais ágil. A aplicação de prazo para que o processo de licenciamento seja expedido também foi uma premissa levantada pelo governador, como forma de agilizar o processo.

Através de pesquisa no site da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvi-mento Sustentável- SEMAD, no portal ‘Meio Ambiente MG’, viu-se que, em Minas Gerais, as atribuições do licenciamento ambiental são exercidas, de acordo com as competências estabe-lecidas no Decreto Estadual nº 47.042, de 06 de setembro de 2016, pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD), por meio de suas unidades adminis-trativas: as Superintendências Regionais de Meio Ambiente (Supram’s), distribuídas por nove regiões do Estado, e a Superintendência de Projetos Prioritários (Suppri).

O Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam), por meio de suas Câmaras Técnicas (CT’s), tem atribuição de deliberar sobre as licenças ambientais, de acordo com o disposto no Decreto Estadual nº 46.953, de 23 de fevereiro de 2016.

A Deliberação Normativa DN Copam 74/04, que determina normas para o custeio de análises de pedido de licenciamento ambiental, foi revogada pela DN Copam 217/17, que passou a vigorar em março de 2018. Tal deliberação reforça a necessidade e a importância de maior conhecimento e de gestão estratégica do território sob o ponto de vista econômico e ambiental.

O processo do licenciamento ambiental deve considerar o cuidado tanto com a natu-reza quanto com as populações e comunidades que vivem inseridas na natureza.

[...] o licenciamento ambiental constitui-se como um conjunto amplo de formas de intervenção social e de práticas que são, antes de tudo, apreendidas no cotidiano das relações sociais, em espaços informalmente regulados por uma complexa rede de agentes e organizações que operam em diversas escalas (BRONZ, 2016).

O licenciamento ambiental é amparado por várias fontes e legislações, como pela Constituição Federal. Nesta, o artigo 1º inciso 3º versa que, a República Federativa do Brasil, formada pela União indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamento a dignidade da pessoa humana.

O artigo 23, no que tange a competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, traz nos incisos VI e VII, respectivamente, que estes devem proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas preservando as fl orestas, a fauna e a fl ora.

Ainda sobre a competência da União, dos Estados e do Distrito Federal, o artigo 24 da Constituição Federal impõe que devem legislar concorrentemente sobre:

VI - fl orestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;

VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico; § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a

estabelecer normas gerais. § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência

suplementar dos Estados. § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência

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legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. § 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a efi cácia da lei

estadual, no que lhe for contrário.O artigo 30, expressa o que compete aos municípios, que é legislar sobre assuntos de

interesse local e suprir as legislações federal e estadual, no que for preciso.O artigo 225 traz que: todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,

bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1o. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente

causadora de signifi cativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;

A lei nº 6.803 de 02 de julho de 1980, a qual dispõe sobre as diretrizes básicas para o zoneamento industrial nas áreas críticas de poluição, traz no seu artigo 9º que: o licenciamento para implantação, operação e ampliação de estabelecimentos industriais, nas áreas críticas de poluição, dependerá da observância do disposto nesta Lei, bem como do atendimento das normas e padrões ambientais defi nidos pelo IBAMA, pelos organismos estaduais e municipais competentes. (redação incluída pela Lei 7.804/89)

O artigo 10, § 3º complementa que, além dos estudos normalmente exigíveis para o estabelecimento de zoneamento urbano, a aprovação das zonas a que se refere o parágrafo anterior (polos petroquímicos, cloroquímicos, carboquímicos e instalações nucleares) será precedida de estudos especiais de alternativas e de avaliações de impacto, que permitam estabelecer a confi abilidade da solução a ser adotada.

A lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981, a qual dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fi ns e mecanismos de formulação e aplicação, traz em seu artigo 9° que, são instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:

III - a avaliação de impactos ambientais; IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras;E traz em seu artigo 10 que: a construção, instalação, ampliação e funcionamento de

estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva ou potencialmente poluidores, bem como os capazes sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento (...).

O decreto 99.274 de 06 de junho de 1990, o qual regulamenta a Lei nº 6.902, de 27 de abril de 1981, e a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, dispõem, respectivamente sobre a criação de Estações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental e sobre a Política Nacional do Meio Ambiente traz, em seu artigo 17, que a construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos ou atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, bem assim os empreendimentos capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento do órgão estadual competente integrante do SISNAMA, sem prejuízo de outras licenças legalmente exigíveis.

A resolução CONAMA nº 237, de 19 de dezembro de 1997, dispõe sobre a revisão e complementação dos procedimentos e critérios utilizados para o licenciamento ambiental. E em

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seu artigo 3º discorre que, a licença ambiental para empreendimentos e atividades considerados efetiva ou potencialmente causadoras de signifi cativa degradação do meio dependerá de prévio estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto sobre o meio ambiente (EIA/ RIMA), ao qual dar-se-á publicidade, garantida a realização de audiências públicas, quando couber, de acordo com a regulamentação.

ZHOURI (2005) discute que o processo de licenciamento deveria assegurar o cumpri-mento da legislação e das normas em vigor e, também, a participação maciça da sociedade civil nas decisões. Porém, esse processo apresenta duas vertentes de opiniões. Uma defende que o licenciamento é um entrave para o desenvolvimento econômico do país. Outra, que o licencia-mento é um instrumento de avaliação ambiental.

MUDANÇAS NO LICENCIAMENTO AMBIENTAL

Recentemente, foram publicadas novas regras para o licenciamento ambiental em Minas Gerais, mais especifi camente em 06 de março de 2018. Tais regras consolidam várias alterações importantes promovidas na legislação nos últimos anos e revogam a DN COPAM 74/04 e ou-tras cinquenta normas esparsas que regulamentavam o licenciamento.

De acordo com Leonardo Lamego, sócio coordenador da área ambiental e minerá-ria do escritório Azevedo Sette Advogados, em notícia do dia 02 de março de 2018, a nova Deliberação Normativa é a DN COPAM 217, que foi publicada no dia 08 de dezembro de 2017, regulamentando a lei estadual 21.972/16 e fazendo alterações signifi cativas quanto ao processo de licenciamento e regularização ambiental no âmbito do Estado de Minas Gerais. Dentre os aspectos e alterações trazidos pela norma, surgem novas modalidades no processo de licenciamento ambiental. Quais sejam:

O Licenciamento Ambiental Trifásico (LAT), onde a Licença Prévia - LP, a • Licença de Instalação - LI e a Licença de Operação - LO são concedidas em etapas sucessi-vas, ao empreendedor. Tal licenciamento se encaixa para empreendimentos de grande porte ou com potencial poluidor elevado.

O Licenciamento Ambiental Concomitante (LAC): onde serão analisadas as • mesmas etapas previstas no LAT, com a expedição concomitantemente de duas ou mais li-cenças;

O Licenciamento Ambiental Simplifi cado (LAS): realização de etapa única • por meio da apresentação do RAS- Relatório Ambiental Simplifi cado, onde descreve o em-preendimento e as respectivas medidas de controle ambiental.

O LAS/CADASTRO - Licenciamento Ambiental Simplifi cado por Cadastro • que traz as informações relativas à atividade junto ao órgão ambiental.

Conforme se caracteriza o empreendimento ou a atividade, caso seu impacto ambien-tal seja moderado, o licenciamento pode ser enquadrado no mais simples, com fase única. Na DN 74/04, os únicos critérios para avaliação eram o porte do empreendimento e o seu potencial poluidor, já na DN 217/17 o critério locacional passa a ser mensurado.

Na nova deliberação normativa existem tabelas explicativas sobre o grau do impacto

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ambiental do empreendimento e a classe a que ele pertence, conforme é possível visualizar nas Tabelas 1 e 2 a seguir:

TABELA 1- Classe para enquadramento no grau poluidor CLASSE POR PORTE E POTENCIAL POLUIDOR/DEGRADADOR

1 2 3 4 5 6

CRITÉRIOS 0LAS-

CADASTROLAS-

CADASTRO LAS-RAS LAC1 LAC2 LAC2

LOCACIONAIS DE 1LAS-

CADASTRO LAS-RAS LAC1 LAC2 LAC2 LATENQUADRAMEN-

TO 2 LAS-RAS LAC1 LAC2 LAC2 LAT LAT

TABELA 2- Critérios para enquadramento CRITÉRIOS LOCACIONAIS DE ENQUADRAMENTO PESOLocalização prevista em Unidade de Conservação de Proteção Integral, nas hipóteses previstas em lei 2Supressão de vegetação nativa em áreas prioritárias para conservação, considerada de importância biológica “extrema” ou “especial”, exceto árvores isoladas 2Supressão de vegetação nativa, exceto árvores isoladas 1Localização prevista em zona de amortecimento de Unidade de Conservação de Proteção Integral, ou na faixa de 3km do seu entorno quando não houver zona de amortecimento estabelecida por Plano de Manejo; excluídas as áreas urbanas

1Localização prevista em Unidade de Conservação de Uso Sustentável, exceto APA 1Localização prevista em Reserva da Biosfera, excluídas as áreas urbanas 1Localização prevista em corredor ecológico formalmente instituído, conforme previsão legal 1Localização prevista em áreas designadas com Sítios Ramsar 2Localização prevista em área de drenagem a montante de trecho de curso d’água enquadrado em classe especial

1Captação de água especial em área de confl ito por uso de recursos hídricos 1Localização prevista em área de alto ou muito alto grau de potencialidade de ocorrência de cavida-des, conforme dados ofi ciais do CECAV-ICMBio

1

Com base na análise das tabelas, é possível identifi car que o critério locacional é uma importante ferramenta de defi nição da modalidade do licenciamento ambiental e um meio de proteção ambiental, por provocar uma maior preocupação nos empreendedores em relação à escolha do local a ser implantado o empreendimento. Prevalecendo a preferência

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por locais de menor impacto ambiental, onde o processo de licenciamento também tende a ser simplifi cado.

Zhouri (2005) explana muito bem que, o debate ambiental contemporâneo apresenta uma tendência a descuidar das relações de poder que permeiam os confl itos que tangenciam a apropriação do meio ambiente e suas formas de uso. No licenciamento ambiental é possível perceber que a realidade vivenciada é a realidade da falta de direitos. A comunidade atingida é reconhecida como um entrave aos projetos empreendedores e não como integrantes de um processo ambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em busca do crescimento econômico, o Brasil se viu pressionado e persuadido pelo discurso do progresso. A promessa de um desenvolvimento alcançado pelo crescimento eco-nômico trouxe uma pseudoesperança de ‘dias melhores’ para as populações.

Com a nova norma alguns empreendimentos foram dispensados da exigência de li-cença ambiental, outros passaram a obter tal exigência, inclusive para sua renovação. Essas mudanças se estabeleceram a fi m de alterar alguns quesitos que exigiam menos ou mais do empreendedor. Estas formas de controle e proteção do meio ambiente expressam o quão é necessário o envolvimento de todos para que as responsabilidades sejam cumpridas e efeti-vadas.

Com a nova deliberação, o empreendedor se viu diante de uma maior responsabili-dade quanto ao cumprimento das normas, devendo se inteirar das novas exigências. A im-plantação de novos prazos tornou o processo mais ágil, porém trouxe para o empreendedor uma maior obrigação quanto às responsabilidades e resoluções de questões relacionadas aos respectivos processos de licenciamento.

A alteração do licenciamento ambiental surge com o propósito de ser mais democrático e menos burocrático. Ocorre então sua descentralização com sua regionalização, onde são criadas as SUPRAM’s regionais, as URC’s. Em um primeiro momento acredita-se na possibi-lidade de participação maior da sociedade, em uma democratização. Mas na prática, o que se percebe é que hoje em dia ocorre uma desrregulação ambiental, uma desconstrução do que foi construído nos anos 80 e 90.

Após todo arcabouço institucional que foi construído, as leis, as normas, as instituições construídas a partir dos anos 80, vê-se um desmantelamento do sistema ambiental crescente com projetos a qualquer custo, sem análises precisas e primordiais.

O Estado de Minas Gerais aprova uma lei que acelera o licenciamento ambiental, o torna mais permissivo, com ampla liberação das licenças, menos empecilhos, menos barreiras para os grandes empreendimentos, deixando o meio ambiente vulnerável a falhas na fi scaliza-ção, falhas de monitoramento.

A fl exibilização do licenciamento ambiental representa riscos para o controle social do licenciamento, na concessão de licenças para empreendimentos que podem oferecer sé-

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rios riscos ambientais. O governo do Estado de Minas Gerais acredita que o processo do licenciamento ambiental seja um entrave ao crescimento econômico, e na verdade não o é, pois representa garantia de proteção ao meio ambiente. O seu discurso sobre as mudanças no licenciamento traz consigo uma ideia de desburocratização, quando querem convencer de que, para promover o desenvolvimento e crescimento econômico, é preciso dar fl exibilidade à lei.

REFERÊNCIAS

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BRONZ, Deborah. Nos bastidores do licenciamento ambiental: uma etnografi a das práti-cas empresariais em grandes empreendimentos. Rio de Janeiro. Contra Capa. 2016

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https://www.defatoonline.com.br

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IORIS, Antônio Augusto Rossotto. O Que é Justiça Ambiental. Reino Unido. 2009

PACHECO, Tania. O Mapa da injustiça ambiental e saúde e o direito à cidade, ao campo, à vida. 2010

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PRAÇA, Lidia. Reestruturação do Sistema de Licenciamento Ambiental em MinasGerais: Uma Análise da Unidade Regional Colegiada - Norte de Minas. 2009. 147f. Disser-tação (Mestrado em Desenvolvimento Social) – Unimontes, Montes Claros, 2009.

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