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5 DE MARÇO DE 2009 v85 Paul Mckenna, hipnoterapeuta O que quer dizer quando fala em psicotecnologia? É um termo para explicar que o cérebro funciona como um computador, em que o software pode ser reprogramado, em função do foco da nossa aten- ção: traçamos o nosso caminho de vida, a partir do ponto para onde o dirigirmos. O que tem isso de novo em relação às terapias convencionais? Elas explicam as causas e os processos dos problemas mas podem levar anos até os resolve- rem. O programa de mudança, que consiste em focar-se na imagem do que se quer, dominar as emoções e atingir o potencial no aqui-e-agora, funciona para sete em cada dez pessoas. E as mudanças são permanentes? Depende. Por isso é que fiz os CDs, para consolidar os resultados obtidos. As pessoas podem mudar em sete dias ou em sete minutos, mas há tam- bém quem leve mais tempo. Basta que se disponibilize, não tem que acreditar neste modelo de felicidade. Como lida com as vozes críticas? Estou-me nas tintas. Sei que milhões de pessoas se renderam ao meu método e continuo a expandi-lo pelo mundo. Boa parte da classe médica está do meu lado. Podia reformar-me já hoje, se quisesse. O que é que gostaria de ter na sua lápide? «O homem que contribuiu para um mundo me- lhor.» Ou então «o homem que deu mais ao mundo do que tirou dele». ENTREVISTA ‘As pessoas podem mudar em sete dias’ As lições do britânico, de 45 anos, autor de Mude a Sua Vida em Sete Dias (Lua de Papel), que acaba de ser lançado em Portugal e vai já na terceira edição o cheiro a incenso convidam a desacelerar, a ouvir o som do silêncio, a prestar atenção aos movimentos da respiração. «Trabalhava, no mínimo, doze horas por dia e até gostava muito do que fazia, mas não tinha tempo para nada.» Praticante há sete anos, Rita passou dois meses em Mysore, no Sul da Índia, a aprender filosofia e técnicas de Ashtanga e optou por especializar-se em ioga para grávidas e bebés. «Ganhei uma nova consciência do corpo, a necessidade de dormir bem, comer a horas. Senti um ape- lo para estar mais comigo e com os outros», confessa. A mudança obrigou a reajustes no orçamento familiar. Organizada nas despe- sas, faz listas para tudo e há um ano que não compra uma peça de roupa. Mesmo assim, sente-se feliz com a sua decisão, que contou com o apoio do marido. Ao contrário do que possa parecer, a de- cisão de mudar de paradigma em nome da realização pessoal pode afigurar-se mais complexa no caso de quem tem uma carreira confortável e sem preocupações de sobrevi- vência e segurança. «É no meio da vida que se repensa a forma de viver no tempo que ainda se tem», afirma Isabel Freire de Andra- de, 42 anos, psicóloga e coach de directores de grandes empresas. À semelhança do que sucede na economia, há um ponto a partir do qual o modelo vigente entra em falência e é preciso reinventá-lo. Nos programas a que se submetem (ao longo de seis meses, em média), os seus clientes procuram «um propósito, porque o dinheiro e o poder já não bastam». Os anseios mais comuns resu- mem-se a «ter mais tempo livre, menos an- siedade e mais qualidade no relacionamento com os outros». Mariana Saraiva, 35 anos, actual coordena- dora do Banco de Bens Doados, iniciou a sua aventura no mundo do voluntariado após um episódio que não vai esquecer. Estava em casa a ver televisão com o filho mais velho, de 5 anos, e voltou a ouvir: «Mãe, o que é que tu fazes?» Ela respondeu que fazia anúncios como os da TV. «Fizeste este?», inquiriu Nuno. «Não.» Novo round: «E este?» «Tam- bém não», voltou a dizer. A certa altura, a antiga gestora de contas publicitárias perce- beu que não era aquilo que queria para a sua vida, até porque mal via os filhos. Hoje vai buscá-los à escola, conhece os amigos deles e todos os dias tem um «momento para brin- car» com eles. SALTOS QUÂNTICOS Quando o desconforto é superior à segu- rança e ao socialmente correcto, a aposta consiste em mergulhar de cabeça, não na areia, mas em águas profundas. Financei- ramente autónomo desde os 20 anos, Mi- guel Sottomayor, 35, era um bancário bem remunerado, que gostava do que fazia, em Vila do Conde. Não vivia só para o trabalho e até era bem sucedido nos amores. O que o levou, aos 30 anos e em plena ascensão profissional, a deixar tudo, para ser padre? A resposta está em Deus, e no seu «chama- mento», afirma o seminarista. Recuemos cinco anos, a Fevereiro de 2004, quando Cada um pode, individual e voluntariamente, mudar a vida, a personalidade, zelar pela saúde e tentar o êxito é um produto da modernidade’ Moisés Espírito Santo, sociólogo especializado em estudo das religiões FOTO: D.R.

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que milhões de pessoas se renderam ao meu método e continuo a expandi-lo pelo mundo. Boa parte da classe médica está do meu lado. Podia reformar-me já hoje, se quisesse. É um termo para explicar que o cérebro funciona como um computador, em que o software pode ser reprogramado, em função do foco da nossa aten- ção: traçamos o nosso caminho de vida, a partir do ponto para onde o dirigirmos. O que quer dizer quando fala em psicotecnologia? E as mudanças são permanentes? ENTREVISTA

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5 DE MARÇO DE 2009 v 85

Paul Mckenna, hipnoterapeuta

O que quer dizer quando fala em psicotecnologia?É um termo para explicar que o cérebro funciona como um computador, em que o software pode ser reprogramado, em função do foco da nossa aten-ção: traçamos o nosso caminho de vida, a partir do ponto para onde o dirigirmos.

O que tem isso de novo em relação às terapias convencionais?Elas explicam as causas e os processos dos problemas mas podem levar anos até os resolve-rem. O programa de mudança, que consiste em focar-se na

imagem do que se quer, dominar as emoções e atingir o potencial no aqui-e-agora, funciona para sete em cada dez pessoas.

E as mudanças são permanentes?Depende. Por isso é que fiz os CDs, para consolidar os resultados obtidos. As pessoas podem mudar em sete dias ou em sete minutos, mas há tam-bém quem leve mais tempo. Basta que se disponibilize, não tem que acreditar neste modelo de felicidade.

Como lida com as vozes críticas? Estou-me nas tintas. Sei

que milhões de pessoas se renderam ao meu método e continuo a expandi-lo pelo mundo. Boa parte da classe médica está do meu lado. Podia reformar-me já hoje, se quisesse.

O que é que gostaria de ter na sua lápide?«O homem que contribuiu para um mundo me-lhor.» Ou então «o homem que deu mais ao mundo do que tirou dele».

ENTREVISTA

‘As pessoas podem mudar em sete dias’As lições do britânico, de 45 anos, autor de Mude a Sua Vida em Sete Dias (Lua de Papel), que acaba de ser lançado em Portugal e vai já na terceira edição

o cheiro a incenso convidam a desacelerar, a ouvir o som do silêncio, a prestar atenção aos movimentos da respiração.

«Trabalhava, no mínimo, doze horas por dia e até gostava muito do que fazia, mas não tinha tempo para nada.» Praticante há sete anos, Rita passou dois meses em Mysore, no Sul da Índia, a aprender filosofia e técnicas de Ashtanga e optou por especializar-se em ioga para grávidas e bebés. «Ganhei uma nova consciência do corpo, a necessidade de dormir bem, comer a horas. Senti um ape-lo para estar mais comigo e com os outros», confessa. A mudança obrigou a reajustes no orçamento familiar. Organizada nas despe-sas, faz listas para tudo e há um ano que não compra uma peça de roupa. Mesmo assim, sente-se feliz com a sua decisão, que contou com o apoio do marido.

Ao contrário do que possa parecer, a de-cisão de mudar de paradigma em nome da realização pessoal pode afigurar-se mais complexa no caso de quem tem uma carreira confortável e sem preocupações de sobrevi-vência e segurança. «É no meio da vida que se repensa a forma de viver no tempo que ainda se tem», afirma Isabel Freire de Andra-de, 42 anos, psicóloga e coach de directores de grandes empresas. À semelhança do que

sucede na economia, há um ponto a partir do qual o modelo vigente entra em falência e é preciso reinventá-lo. Nos programas a que se submetem (ao longo de seis meses, em média), os seus clientes procuram «um propósito, porque o dinheiro e o poder já não bastam». Os anseios mais comuns resu-mem-se a «ter mais tempo livre, menos an-siedade e mais qualidade no relacionamento com os outros».

Mariana Saraiva, 35 anos, actual coordena-dora do Banco de Bens Doados, iniciou a sua aventura no mundo do voluntariado após um episódio que não vai esquecer. Estava em casa a ver televisão com o filho mais velho, de 5 anos, e voltou a ouvir: «Mãe, o que é que tu fazes?» Ela respondeu que fazia anúncios como os da TV. «Fizeste este?», inquiriu Nuno. «Não.» Novo round: «E este?» «Tam-bém não», voltou a dizer. A certa altura, a antiga gestora de contas publicitárias perce-

beu que não era aquilo que queria para a sua vida, até porque mal via os filhos. Hoje vai buscá-los à escola, conhece os amigos deles e todos os dias tem um «momento para brin-car» com eles.

SALTOS QUÂNTICOSQuando o desconforto é superior à segu-rança e ao socialmente correcto, a aposta consiste em mergulhar de cabeça, não na areia, mas em águas profundas. Financei-ramente autónomo desde os 20 anos, Mi-guel Sottomayor, 35, era um bancário bem remunerado, que gostava do que fazia, em Vila do Conde. Não vivia só para o trabalho e até era bem sucedido nos amores. O que o levou, aos 30 anos e em plena ascensão profissional, a deixar tudo, para ser padre? A resposta está em Deus, e no seu «chama-mento», afirma o seminarista. Recuemos cinco anos, a Fevereiro de 2004, quando

‘Cada um pode, individual e voluntariamente, mudar a vida, a personalidade, zelar pela saúde e tentar o êxito é um produto da modernidade’Moisés Espírito Santo, sociólogo especializado em estudo das religiões

FOTO

: D.R

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