4
Editorial Informativo do Sindicato dos Bancários/ES - Coordenador Geral: Jonas Freire Santana - Diretor de Imprensa: Carlos Pereira de Araújo - Editoras: Bruna Mesquita Gati - MTb 3049-ES, Elaine Dal Gobbo MTb 2381-ES e Ludmila Pecine dos Santos - MTb 2391-ES Estagiária: Júlia Zumerle - Diagramação: Jorge Luiz (MTb 041/96) - nº 114 - março/abril-2018 - [email protected] - Tiragem: 10.000 exemplares Mulher 24 HORAS 4 A organização das mulheres além das fronteiras Não vamos parar VEJA NESTA EDIÇÃO Além das fronteiras territo- riais, mulheres de todo o mundo permanecem em luta por respeito, igualdade de oportunidades, justiça e pelo direito à vida. São séculos de enfrentamento que garantiram direi- tos civis e políticos, como a conquis- ta do voto feminino. Mas há ainda muito preconceito, desigualdade e violência a derrubar. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a cada ano 66 mil mulheres são assassinadas no mundo e mu- lheres e meninas são 70% das víti- mas de tráfico humano. A América Latina e o Caribe são as regiões com os mais altos ín- dices de violência contra as mulhe- res. Todo dia, 12 latino-americanas e caribenhas são mortas. Em 2016, 2.089 mulheres foram assassinadas simplesmente pelo fato de serem MULHERES! No Brasil, a cada 11 minutos uma mulher é estuprada, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). O Espírito Santo é o 6° Estado com maior índice de feminicídio, segun- do o Atlas da Violência, do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA). Contra o machismo, expresso em tantas formas de violência e desi- gualdade, as mulheres se unem. Em 2017, as mexicanas gritaram contra o feminicídio, as norte-americanas quebraram o silêncio contra o assé- dio, as mulheres negras ampliaram sua luta contra o racismo, as lésbicas, bissexuais, transexuais e travestis lu- taram por visibilidade e centenas de mulheres se reuniram no 3° Encon- tro Latino Americano de Mulheres (ELLA). Organizadas como traba- lhadoras, como mulheres, é preciso permanecer juntas para romper as barreiras e avançar na conquista por direitos, pelo fim da violência e pelo direito à vida. 2 O assédio contra mulheres gestantes dentro dos bancos AUTOR DESCONHECIDO Mulher 24 Horas - 114 -FEV. MARÇO - 2018.indd 1 07/03/2018 17:40:03

Mulher - Sindibancários ESbancos. “Já ouvi relatos de piadas maldosas. Por exemplo, quando uma mulher sentava na cadeira de uma colega grávida ou de licença maternidade, alguns

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • Editorial

    Informativo do Sindicato dos Bancários/ES - Coordenador Geral: Jonas Freire Santana - Diretor de Imprensa: Carlos Pereira de Araújo - Editoras: Bruna Mesquita Gati - MTb 3049-ES, Elaine Dal Gobbo MTb 2381-ES e Ludmila Pecine dos Santos - MTb 2391-ES Estagiária: Júlia Zumerle - Diagramação: Jorge Luiz (MTb 041/96) - nº 114 - março/abril-2018 - [email protected] - Tiragem: 10.000 exemplares

    Mulher 24 HORAS

    4

    A organização das mulheres além das fronteiras

    Não vamos parar

    VEJA NESTA EDIÇÃO

    Além das fronteiras territo-riais, mulheres de todo o mundo permanecem em luta por respeito, igualdade de oportunidades, justiça e pelo direito à vida. São séculos de enfrentamento que garantiram direi-tos civis e políticos, como a conquis-ta do voto feminino. Mas há ainda muito preconceito, desigualdade e violência a derrubar. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a cada ano 66 mil mulheres são assassinadas no mundo e mu-lheres e meninas são 70% das víti-mas de tráfico humano.

    A América Latina e o Caribe são as regiões com os mais altos ín-dices de violência contra as mulhe-res. Todo dia, 12 latino-americanas e caribenhas são mortas. Em 2016, 2.089 mulheres foram assassinadas simplesmente pelo fato de serem MULHERES! No Brasil, a cada 11 minutos uma mulher é estuprada, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). O Espírito Santo é o 6° Estado com maior índice de feminicídio, segun-do o Atlas da Violência, do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA).

    Contra o machismo, expresso em tantas formas de violência e desi-gualdade, as mulheres se unem. Em 2017, as mexicanas gritaram contra o feminicídio, as norte-americanas quebraram o silêncio contra o assé-dio, as mulheres negras ampliaram sua luta contra o racismo, as lésbicas, bissexuais, transexuais e travestis lu-taram por visibilidade e centenas de mulheres se reuniram no 3° Encon-tro Latino Americano de Mulheres (ELLA). Organizadas como traba-lhadoras, como mulheres, é preciso permanecer juntas para romper as barreiras e avançar na conquista por direitos, pelo fim da violência e pelo direito à vida.

    2

    O assédio contra mulheres gestantes dentro

    dos bancos

    AUTOR DESCONHECIDO

    Mulher 24 Horas - 114 -FEV. MARÇO - 2018.indd 1 07/03/2018 17:40:03

  • Desafios de ser mãe no sistema financeiro

    2

    Mulher 24 HORAS

    A maternidade, motivo de felicidade para muitas mulheres, pode vir acompanhada de incertezas e angústias quando se trata do mercado de trabalho.

    Nos bancos não é diferente, como relatam bancárias capixabas. Elizabete (nome fictício), empregada de um banco privado, está grávida e afirma que a cobrança por metas, que afeta todos os bancários e bancárias, atinge ainda mais as gestantes.

    “Na minha primeira gravidez, não tinha meta individual e mesmo assim foi difícil. Agora tem e está mais complicado. A grávida preci-sa de cuidados médicos. Às vezes, tenho que tirar atestado e quando retorno tenho que me virar para atingir a meta, apesar dos dias que precisei me ausentar. Nos sentimos sufocadas”, destaca.

    A bancária Daiana (nome fic-tício), de um banco público, também fala da pressão às gestantes. Ela afirma que nas entrevistas para promoção in-terna é comum perguntar às mulheres se têm filhos ou pretendem ter. “Dispu-tei a vaga para assistente e estava em tratamento para engravidar. Não me fizeram essa pergunta e achei melhor não falar nada. Depois, soube pela ge-rente que uma colega não passou por-que estava grávida. Preferiram a mim, que não era gestante”, recorda.

    MEDO DE PERDER O EMPREGO

    Além da possibilidade de não ser promovida, o medo de perder o emprego devido à gravidez está

    presente na vida de muitas trabalha-doras. De acordo com a diretora do Sindibancários/ES, Lindalva Firme, práticas de assédio contra mulheres, gestantes ou não, são comuns nos bancos. “Já ouvi relatos de piadas maldosas. Por exemplo, quando uma mulher sentava na cadeira de uma colega grávida ou de licença maternidade, alguns gestores fala-vam: ‘Cuidado! Não senta aí porque tem esperma!’”, relembra.

    DE AGÊNCIA EM AGÊNCIA

    Outra forma de preconceito contra a mulher ocorre no retorno da licença maternidade. “A bancária acaba não voltando para sua agên-cia, pois já foi substituída. Ela fica de agência em agência cobrindo férias. Colocar alguém no lugar da mulher que retorna da licença é, para o banco, uma forma de se livrar dessa bancária, que possivelmente terá que se ausentar do trabalho para levar o filho ao médico, por exemplo”, relata

    Marlene (nome fictício), empregada de um banco privado.

    DESIGUALDADE

    Essas situações mostram que a desigualdade de gênero impera nos bancos. “O banco está descumprin-do o seu próprio papel social quando ignora o ato de gerar a vida e des-respeita as mulheres que são prota-gonistas desse processo. Temos que enfrentar essa realidade de assédio e desigualdade”, diz a diretora do Sindibancários Evelyn Flores.

    A reforma trabalhista legali-zou contratações precárias, como autônomo exclusivo, trabalho intermitente e terceirização nas atividades fim. Isso pode impac-tar na permanência da mulher no

    emprego após o fim da estabili-dade. Alguns bancos sinalizaram que na licença-maternidade po-dem aderir a essas modalidades na hora de substituir as mulheres. “Combater a reforma será uma

    das prioridades na Campanha Nacional 2018. É hora de forta-lecer nossa unidade para impedir retrocessos”, convoca Cláudia Garcia de Carvalho, diretora do Sindicato.

    Reforma trabalhista e os possíveis impactos para as trabalhadoras gestantes

    “Disputei a vaga para assistente e estava em

    tratamento para engravidar. Depois, soube pela gerente que uma colega não passou

    porque estava grávida. Preferiram a mim,

    que não era gestante”

    Mulher 24 Horas - 114 -FEV. MARÇO - 2018.indd 2 07/03/2018 17:40:04

  • “É preciso se articular de outras maneiras, agregar mulheres ao movimento e mostrar

    que é possível transformar a realidade. É sofrido, mas é possível.”

    Palavra de Mulher

    Sérg

    io C

    ard

    oso

    3

    Mulher 24 HORAS

    Integrante do Fórum de Mulheres do Espírito Santo, Thais Rodrigues fala sobre a articulação feminina nos países latino-americanos na luta pelo fim da violência e os desafios para a união das mulheres em âmbito mundial.

    Quais são, atualmente, as principais formas de organiza-ção das mulheres?

    As mulheres têm se orga-nizado em coletivos locais, como o Fórum de Mulheres do ES. Há sempre um grupo puxando o mo-vimento, pautando e agregando mais mulheres. Elas estão se unin-do cada vez mais.

    Essa articulação das mulhe-res tem ultrapassado fronteiras?

    Na América Latina a articula-ção entre as mulheres está bem traça-da. Mas há um empenho em estender esse diálogo entre as mulheres a nível mundial. Participei do 3° Encontro La-tino Americano de Mulheres - ELLA, que aconteceu em dezembro de 2017 na Colômbia, onde discutimos essa questão.

    Nós, mulheres latinas, so-mos muito parecidas, apesar de pertencermos a grupos tão di-versos. O fato de nos entender-mos, por ter uma língua em co-mum predominante, já facilita muito.

    E é muito importante ter essa troca, compreender as questões da vio-lência contra a mulher, que vão além das fronteiras, entender como as mu-lheres de outros países lidam com isso e trazer essas experiências para nossa luta. O ELLA foi um importante es-paço para essa troca de vivências e há outros movimentos como esse aconte-cendo. Essa mobilização tem sido um dos grandes avanços dos últimos anos.

    Mulheres de países como Ve-nezuela e Colômbia já se reúnem, pois transitar entre esses países não

    Mulheres latinas se unem e avançam na luta por direitos

    é difícil. A Guatemala e o Paraguai também chamam atenção por terem grupos fortes e organizados.

    A organização do 8M – Dia da Mulher, por exemplo, está sendo feita em conjunto. Estamos em contato com mulheres de várias regiões do Brasil e da América Latina. Acabei descobrin-do coletivos que não fazia ideia que existiam. Nessa troca, conseguimos en-tender, por exemplo, as especificidades da luta até mesmo daqui, do Brasil.

    Quais os desafios para a articulação das mulheres mun-dialmente?

    São vários, a começar pela lín-gua. Mas iniciamos esse movimento na América Latina e seguimos na

    tentativa de chegar aos outros con-tinentes. A América do Norte, por exemplo, tem outras questões. São processos diferentes, as mulheres têm uma articulação de comunica-ção diferente, e tudo o que é dife-rente agrega.

    Quais são as principais bandeiras de luta das mulheres nos últimos anos ?

    As lutas das mulheres em todo mundo têm diversos pontos em co-mum. O feminicídio é algo que está gritante em todos os lugares, e há regi-ões da América Latina em que os nú-

    meros são assustadores. Outra forma de violência, que não é comum no Brasil, mas que na Venezuela, Colôm-bia e México é muito latente, é a mu-tilação de corpos, principalmente de meninas entre 13 e 14 anos.

    Além do enfrentamento a es-sas formas de violência, há outras questões em comum, como a luta contra o racismo às mulheres ne-gras, contra a coisificação da mu-lher, por igualdade no trabalho e a luta das mães negras periféricas. O direito ao aborto ainda é uma questão mundial também.

    Qual a importância do 08 de Março para a luta femi-nista?

    As articulações não come-çam e não crescem por causa do 08 de Março, mas ficam mais visíveis nessa data. As mulheres estão articuladas o ano inteiro.

    Mas o 08 de Março é a nossa data, fruto de muita luta. É importante para mostrar que estamos nos articulando e crescendo, e conseguimos ter mais visibilidade sobre alguns temas, como o aborto. Muitas mulheres morreram no passado e esse dia simboliza esse movimento de luta que se perpetua.

    Mas o importante não é ape-nas o 08 de Março, e sim tudo que há em torno dele. É preciso se ar-ticular de outras maneiras, agregar mulheres ao movimento e mostrar que é possível transformar a realida-de. É sofrido, mas é possível.

    Mulher 24 Horas - 114 -FEV. MARÇO - 2018.indd 3 07/03/2018 17:40:04

  • Rivais ou iguais?

    4

    Mulher 24 HORAS

    Mala Direta PostalBásica

    9912258789/2014-DR/ESSINDIBANCÁRIOS-ES

    ... CORREIOS ...

    Mulher 24 HORAS

    Envie suas sugestões, poesiase comentários para o [email protected]

    Mulheresantenadas

    @

    @

    Em João Neiva, na agên-cia Bradesco, o quadro funcional é composto apenas por mulheres. São cinco bancárias que estabe-leceram entre si um laço afetivo a partir do entendimento de que a união feminina é uma ferramen-ta fundamental para a harmonia no local de trabalho, sobretudo nas agências bancárias, tradicio-nalmente regidas por um ritmo intenso de produção, pressão ex-cessiva e cobrança de metas.

    Dentre as ações adotadas pelas bancárias está o auxílio nas tarefas diárias de trabalho umas das outras e a preocupação com a qualidade de vida do grupo, que escolheu adotar um cardápio ali-mentar saudável e compartilhado no dia a dia da agência. As fun-cionárias contam, inclusive, que os laços de amizade foram for-talecidos para além do trabalho, estendendo-se para as famílias.

    O cuidado das mulheres umas com as outras e seu reco-nhecimento como semelhantes traz como benefícios, além da melhora prática no clima de trabalho, uma extensa carga de aprendizagem emocional e social, fortalecendo o senso de solidariedade e desconstruindo essa falsa afirmativa de que as mulheres são naturalmente ri-vais. E então, vamos juntas?

    É possível se fortalecer juntas

    ARTE FEMININA E ARTE FEMINISTA - Estão abertas até 25 de março as inscrições para o Curso Mulheres Artistas: da Arte Feminina à Arte Feminista. Ele ocorrerá nos dias 31/03 e 07/04 (sábados), no Sesc Glória. As inscrições podem ser feitas no local de realização do curso pelo valor de R$ 20,00.

    Quem nunca se divertiu can-tando “Desejo a todas inimigas vida longa...Beijinho no ombro que o re-calque passa longe”? ou ainda não se lembra de um triângulo amoroso de novela em que duas mulheres se “escalpelam” por um grande amor?

    São situações cotidianas que alimentam a ideia de que as mulheres são naturalmente rivais e competitivas entre si, um compor-tamento re-forçado in-clusive no mercado de trabalho.

    Essa é uma con-cepção fal-sa, que gera um clima de separa-ção entre as mulheres, impedindo que elas se reconheçam como pertencentes de um mesmo grupo e possam, assim, se unir para lutar por demandas co-muns”, critica a diretora do Sindica-to Rita Lima.

    Nos bancos, essa rivalida-de é estimulada e usada a favor dos lucros da instituição financei-ra, principalmente nas privadas, como Bradesco, Itaú e Santander. “Temos que estar o tempo todo muito bem arrumadas, há um es-

    tímulo excessivo à vaidade por conta do padrão de beleza e ves-timenta exigidos pelo banco e, ob-viamente, isso gera comparações”, explica a diretora Lindalva Firme.

    “Às vezes as bancárias se sentem no direito de cobrar uma das outras ou se incomodam quan-do nem todas cumprem essas exi-gências, desqualificando quem não se encaixa nesses padrões. Em mui-tos locais de trabalho não há uma relação de companheirismo entre as mulheres”, diz Lindalva.

    Esse sentimento de disputa aumenta conforme vão sendo indi-vidualizadas as metas. “Antigamente a produção era coletiva, por seg-

    mento. Ago-ra, é indivi-dual e isso f o m e n t a essa compe-titividade. E as mulheres, por estarem na linha de frente dos cargos de atendimen-

    to, acabam sendo muito cobradas e influenciadas por essa competição”, reafirma a diretora do Sindicato.

    Essas situações se refletem na falta de mobilização das mulheres para lutar por seus direitos, daí a im-portância de construir laços de identi-dade entre elas e suas lutas. “Somos vítimas dos mesmos tipos de opres-são, e temos que fortalecer umas às outras, não criticar. É preciso substituir essas relações de rivalidade por outras de solidariedade”, conclui Lindalva.

    Na música, no cinema, na vizinhança ou no trabalho, mulheres são incentivadas a olhar umas para as outras com desconfiança

    Mulher 24 Horas - 114 -FEV. MARÇO - 2018.indd 4 07/03/2018 17:40:05