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MULHERES CAMPONESAS NA AMAZÔNIA MARANHENSE : sobre Bem Viver, desenvolvimento, conflito e vida. Vanda Pantoja 1 RESUMO: Este texto faz uma análise da relação entre as quebradeiras da coco babaçu da Estrada do Arroz e a empresa Suzano Papel e Celulose no município de Imperatriz. Problematizamos as dificuldades de comunicação entre tais sujeitos tendo em vista as diferentes posições dos mesmos em relação ao entendimento sobre a noção de desenvolvimento. O texto é resultado de levantamento bibliográfico, documental e trabalho de campo. Os resultados apontam para falhas no processo de comunicação devido, entre outras questões, aos limites de entendimento na linguagem utilizada. Tal processo leva a uma assimetria nas demais relações estabelecidas entre os mesmos. Palavras-chave: Quebradeiras de coco. Amazônia Maranhense. Estrada do Arroz. Desenvolvimento. Bem Viver. CAMPONESE WOMEN IN MARANHENSE AMAZÔNIA: On Good Living, development, conflict and life. SUMMARY:This text analyzes the relationship between the babaçu coconut breakers of the Estrada do Arroz and the company Suzano Papel e Celulose in the municipality of Imperatriz. We problematize the difficulties of communication between these subjects in view of their different positions in relation to the understanding of the notion of development. The text is a result of bibliographical, documentary and field work. The results point to failures in the communication process due, among other issues, to the limits of understanding in the language used. This process leads to an asymmetry in the other relations established between them. Keywords: Coconut crackers. Amazônia Maranhense. Rice Road. Development. Well live 1- INTRODUÇÃO Na Estrada do Arroz, zona rural de Imperatriz, residem camponeses. São extrativistas, quebradeiras de coco, caçadores, agricultores, funcionários públicos, operários, aposentados, pequenos comerciantes e algumas famílias que, sem trabalho, são assistidos pelos programas de transferência de renda do Governo Federal, essas pessoas 1 Professor adjunto Universidade Federal do Maranhão, doutora em Antropologia. [email protected]

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MULHERES CAMPONESAS NA AMAZÔNIA MARANHENSE : sobre Bem Viver,

desenvolvimento, conflito e vida.

Vanda Pantoja1

RESUMO: Este texto faz uma análise da relação entre as quebradeiras da coco babaçu da Estrada do Arroz e a empresa Suzano Papel e Celulose no município de Imperatriz. Problematizamos as dificuldades de comunicação entre tais sujeitos tendo em vista as diferentes posições dos mesmos em relação ao entendimento sobre a noção de desenvolvimento. O texto é resultado de levantamento bibliográfico, documental e trabalho de campo. Os resultados apontam para falhas no processo de comunicação devido, entre outras questões, aos limites de entendimento na linguagem utilizada. Tal processo leva a uma assimetria nas demais relações estabelecidas entre os mesmos.

Palavras-chave: Quebradeiras de coco. Amazônia Maranhense. Estrada do Arroz. Desenvolvimento. Bem Viver.

CAMPONESE WOMEN IN MARANHENSE AMAZÔNIA: On Good Living, development, conflict and life.

SUMMARY:This text analyzes the relationship between the babaçu coconut breakers of the Estrada do Arroz and the company Suzano Papel e Celulose in the municipality of Imperatriz. We problematize the difficulties of communication between these subjects in view of their different positions in relation to the understanding of the notion of development. The text is a result of bibliographical, documentary and field work. The results point to failures in the communication process due, among other issues, to the limits of understanding in the language used. This process leads to an asymmetry in the other relations established between them. Keywords: Coconut crackers. Amazônia Maranhense. Rice Road. Development. Well live

1- INTRODUÇÃO

Na Estrada do Arroz, zona rural de Imperatriz, residem camponeses. São

extrativistas, quebradeiras de coco, caçadores, agricultores, funcionários públicos,

operários, aposentados, pequenos comerciantes e algumas famílias que, sem trabalho, são

assistidos pelos programas de transferência de renda do Governo Federal, essas pessoas

1 Professor adjunto Universidade Federal do Maranhão, doutora em Antropologia. [email protected]

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têm em comum uma memória camponesa. Muitas delas não têm mais relação com o

trabalho na terra, mas mantêm um modo de vida muito característico de populações

camponesas e interioranas. Tais traços podem ser percebidos nos gostos alimentares, nas

formas de morar, na prática de criar animais no quintal, assim como no gosto por cultivar

hortas e pequenas árvores frutíferas nas áreas próximas às casas. Outro traço que

caracteriza os povoados da Estrada do Arroz como populações de memória camponesa,

ainda que tal memória esteja em processo de acomodação com outros saberes, é o

conhecimento sobre um tempo especifico, tempo de plantar, de colher, além de saberes,

especialmente entre os velhos, sobre medicina tradicional e manipulação de ervas.

A relação com o sagrado também é bastante peculiar às populações de tradição

camponesa, pois os povoados, cerca de dez, cultuam santos e santas do Catolicismo

Popular e possuem um calendário festivo ao longo do ano que permite que se visitem e

celebrem juntos. A relação com os representantes do sagrado são de muito respeito, em

especial os padres são figuras muito importantes e de muito prestigio no local, sendo

consultados em situação de decisão que envolve os povoados.

Mas não apenas isso nos indica que os moradores da estrada do arroz são

camponesas, a produção do espaço dos povoados está relacionada aos processos de

ocupação da terra pelo capital na Amazônia Brasileira como um todo e na Amazônia

Maranhense em particular. De acordo com Asselin (1982), a partir da grilagem e da

espoliação. Na Amazônia maranhense um marco desse processo é a implantação do

Programa Grande Carajás no início da década de 1990, sobre o tema há uma relevante

literatura que deve ser apreciada para que possamos entender os processos recentes de

ocupação dessa parte da Amazônia pelo capital.

Tendo em vista as mudanças na estrutura agrária e a ocupação de territórios na

Amazônia pelo capital nosso objetivo e compreender como se relacionam quebradeiras de

coco e empresa Suzano Papel e Celulose, ambas territorializadas na Estrada do arroz. Para

alicerçar nossa análise faremos uso das reflexões teóricas sobre desenvolvimento de

Ribeiro (2008), e Bem Viver de Acosta (2016), além de levantamento documental. As

incursões a campo serviram como base para grande parte do corpo do texto, as

informações foram coletadas por meios de participações em reuniões, entrevistas,

participação em momentos de trabalho das mulheres tanto nos babaçuais quanto nos

barracões das associações.

O texto é parte dos resultados do projeto de pesquisa Território, Desenvolvimento e

Cultura: as quebradeiras de coco babaçu da Estrada do Arroz, Imperatriz-MA, a pesquisa é

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ligada ao Núcleo de Estudos Sociedade e Cultura na Amazônia Oriental – NESCAO. O

projeto objetiva compreender as alterações socioespaciais ocorridas na zona rural do

município de Imperatriz conhecida como Estrada do Arroz a partir da aquisição de territórios

e implantação de uma unidade industrial de produção de celulose desde meados de 2000

pela multinacional Suzano Papel e Celulose. Ao longo da estrada, que em 2016 foi nomeada

de Rodovia Padre Josimo Tavares, há cerca de dez povoados2, as memórias dos habitantes

locais relatam que habitam a região desde a década de 1940, não se sabemos ao certo

quando os mesmo passaram a ser povoados. Sabe-se, no entanto, que as pessoas sempre

se reproduziram lidando com a terra a água e as matas.

2 - DESENVOLVIMENTO

Os primeiros moradores da Estrada, região conhecida há época como “terras do

frade” (FRANKLIN, 2005), eram camponeses migrantes de outras paragens do Maranhão

que procuravam por terras livres para plantar e viver, o processo de ocupação se deu,

segundo a historiografia local, na década de 1940 com a chegada de famílias de migrantes

que se estabeleceram no local como agricultores. As histórias das famílias das quebradeiras

Raimunda Reis do povoado São Felix e de Zuleide Souza do povoado Coquelândia ilustram

como se deu o processo de ocupação da região.

Em uma tarde quente de Janeiro de 2019 converso com quebradeira de coco e

presidente da Associação das Quebradeiras de Coco do Povoado São Felix, Raimunda

Fernandes Reis de 52 anos. A mãe de Raimunda migrou do município de Pindaré, no

Maranhão, junto com outros familiares no início da década de 1940, nessa época havia

muita terra livre para plantar e trabalhar, mas como sua mãe tinha migrado sem o marido

dedicou-se mais a quebra do coco e menos à roça fato que, segundo ela, explica a razão da

família nunca ter possuído terras na região, mesmo sendo comum que cada família que

chegasse demarcasse livremente seus lotes de roça.

Zuleide Souza 47 anos partilhou comigo suas memórias em uma manhã chuvosa de

Março, ela é presidente da Associação e Casa de Beneficiamento de Coco

Babaçu/Barroquinas no povoado Coquelândia, suas lembranças também remetem à vida

camponesa, onde plantar e coletar coco eram as principais atividades econômicas dos

moradores da Estrada. A família de Zuleide migrou do município de Colinas no Maranhão,

também na década de 1940, e quando chegou começou a “botar” roça. Plantavam arroz,

2 Na ordem entre os municípios de Imperatriz e Cidelândia ao longo da Estrada do Arroz há os povoados de

Imbiral, Bacaba dos Ferreiras, Esperantina I, Esperantina II, São José da Matança, Açaizal, Olhos D’água dos Martins, Coquelândia, São Felix e Petrolina.

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feijão, milho, macaxeira e abóbora, a mãe de Zuleide aprendeu logo a quebrar coco, sendo

esta a atividade econômica da família desde então. As memórias de Zuleide nos remetem

também aos processos de mudança na estrutura agrária da Estrada, ela menciona que

muitas pessoas tiveram que vender suas terras para fazendeiros que “começaram” a chegar

“de repente”, esse processo afetou sua família que, compulsoriamente, teve que vender

suas terras.

Quando começou a criar gado muita gente vendeu as terras até muitas vezes sem querer, por causa de fazendeiro, fazendeiro começou a perseguição, tinha vez que vaqueiro abria a cerca pra gado entrar pra dentro da roça quando os donos não queriam vender a suas terras, meu pai mesmo teve que vender (Entrevista Zuleide Souza, março, 2019).

Importante pontuar das memórias de Raimunda é o fato de haver abundancia de

terra para cultivo há época, e mesmo em situações de terras privadas, sempre havia um

trabalho camponês paras ser executado. As relações de troca via dinheiro eram bastante

escassas, pois parte dos itens de necessidade básica eram produzidos via trabalho na roça,

mesmo as pessoas que não possuíam terras trabalhavam em terras de outros proprietários

locais arrendando ou pagando pelo aluguel da terra com parte da produção.

Conversas com moradores de qualquer povoado da Estrada irão remeter ao trabalho

com a terra, por isso afirmamos a presença da memória camponesa, pois descendem de

uma geração que tinha na terra a forma principal de reprodução material e simbólica.

É, a roça era a coisa. Alcancei minha mãe também apanhando muito algodão. Naquela época se mexia muito com algodão. Quando minha mãe chegou aqui tinha muita lavoura de algodão (Entrevista Raimunda Fernandes Reis, Janeiro, 2019).

Plantava-se tomate, milho, arroz e algodão, parte da produção era consumida no

local e outra parte era comercializada em Imperatriz por meio da venda para atravessadores

que com transporte próprio conseguiam trazer até a cidade. A Amêndoa do coco babaçu

também era comercializada com Imperatriz via atravessadores e parte era transformada em

azeite e sabão pelas próprias quebradeiras, o que acontece até os dias de hoje.

A abundância de terras livres tornava o trabalho com o coco babaçu também

bastante comum entre as mulheres da Estrada, pode-se dizer que coletar coco era uma

prática comum entre elas e os demais membros da família, com exceção dos homens

adultos já a quebra era, e ainda é, uma prática de mulheres. Quando as terras de babaçuais

eram livres as mulheres não precisavam deslocar o coco para fora dos babaçuais, a quebra

era feita no local da coleta, e trazia-se para casa apenas a amêndoa. Na atualidade com os

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babaçuais em terras privadas e a necessidade de negociações e/ou permissões do dono da

terra para que seja feita a coleta do coco, as quebradeiras precisam retirar o coco das áreas

para quebrar em outro local, pois os fazendeiros alegam que os cacos do coco machucam

os pés do gado. Dessa forma, adicionou-se mais uma etapa no trabalho com o babaçu, que

é o deslocamento do mesmo até um local adequado para quebrar.

Em alguns povoados esse deslocamento pode ser mais uma árdua etapa de trabalho

ou mesmo inviabilizar o manejo com o coco pelas mulheres, pois dependendo da estação

do ano, da distancia entre o babaçual e o local de quebra e da presença ou não de

tecnologias de transporte a coleta do coco pode não se realizar. No Povoado de São Felix

as quebradeiras não têm transporte próprio, por essa razão o trabalho das mesmas

necessita envolver alguns homens adultos que aceitam carregar os sacos com coco nas

costas até a Associação, na ausência desses homens, as mulheres dependem de

dispositivos mais difíceis como a disposição do fazendeiro/dono das terras deslocar os

cocos em carro, por esta razão nesse povoado a presença masculina no trabalho com o

coco babaçu é indispensável. Em Coquelândia as quebradeiras da Associação saem

coletivamente para ajuntar o coco, e quando tem quantidade suficiente elas fretam uma

carreta para transportar o coco até o barracão.

A mudança na estrutura agrária alterou as formas de acesso à terra e aos demais

recursos naturais e modificou sobremaneira a organização socioespacial dos povoados da

Estrada do Arroz. Novas demandas surgem a partir da introdução de novos sujeitos e de

mudanças nas formas de trabalho, a Estrada entra no circuito da restruturação produtiva e

passa a ser entendida como lugar de produção de celulose e não mais de alimentos de

primeira necessidade como no passado recente. A vida dos camponeses, em especial das

mulheres camponesas, necessita de novo movimento.

É no inicio dos anos 2000 que Raimunda Reis, depois de participar de uma reunião

no povoado Coquelândia, tem acesso às discussões que passariam a fazer parte de sua

vida até a atualidade. Surgia em 2001 a Associação das Mulheres Quebradeiras de Coco da

Estrada do Arroz/AMQCBEA envolvia os povoados de São Felix, Coquelândia, Olho D’água,

Açaizal, São José da Matança, Esperantina e Bacaba. Em se tratando de modelo de

organização que envolve mulheres e o trabalho com o coco babaçu, esta é a primeira

experiência, até então as mulheres do povoado tinham se envolvido em grupos de

discussão de natureza religiosa, a exemplo dos Clubes de Mães. No estatuto de fundação

do grupo datado de novembro de 2001, o artigo terceiro trata das finalidades da AMQCBEA:

a) Promover a participação e a organização das trabalhadoras rurais, para que

reconheçam sua força, conquistem seus direitos enquanto cidadãs; compartilhe

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suas historias e assim desabroche uma nova mulher e a libertação comece a

acontecer.

b) Discutir os problemas específicos, saúde, sexualidade, trabalho, educação e

lazer da mulher trabalhadora rural.

c) Desenvolver ações no sentido de esclarecer e formar consciência para a

preservação da natureza e seus recursos naturais.

d) Encaminhar denuncia de crimes contra a natureza e contra a mulher.

e) Discutir questões relacionadas ao mundo da mulher, conhecer-se mulher e seu

papel na formação da sociedade.

Os objetivos da AMQCBEA eram bastante amplos e nos informam um pouco sobre

as dificuldades de acesso às políticas públicas para as trabalhadoras rurais da Estrada;

apesar de não mencionar o coco babaçu em nenhuma das finalidades da Associação, a

moeda de troca para ingressar e permanecer no grupo era a amêndoa do coco; para entrar

se pagava a quantidade de 5 quilos e para se manter no mesmo a mensalidade era 2 quilos

de amêndoa.

A experiência não funcionou tão bem, algumas associadas reconhecem hoje que

houve falta de comunicação e muitas dificuldades para manter uma agenda de diálogos.

Dentro dos povoados os encontros até aconteciam, mas não conseguiam se articular com

os outros povoados. Apesar do Estatuto mencionar a existência de uma sede da Associação

no povoado de Coquelândia, as mulheres afirmam a não existência dessa sede, atestam

que o que houve foram tentativas de ter espaços de encontro em cada povoado, São Felix,

por exemplo, conseguiu ter um espaço de reuniões em terreno cedido pelo Clube de Mães.

Mas as mulheres dos sete povoados envolvidos nessa associação não foram as

primeiras trabalhadoras rurais/quebradeiras de coco a se organizar na Estrada do Arroz,

ainda na década de 1990, julho de 1998, foi lavrada a ata de fundação de Associação das

Quebradeiras de Coco do Povoado de Petrolina, as mulheres quebradeiras organizaram

uma associação que funciona até os dias atuais. O contexto de fundação dessa associação

está relacionado aos impactos da presença da empresa CELMAR S.A nas imediações do

povoado, presença que alterou as formas de trabalho das mulheres quebradeiras desse

povoado, elas encontraram na formalização da associação um meio para continuar tendo

acesso aos babaçuais que há época ficaram em terras compradas pela CELMAR.

Além de guardarem uma memória de relação com a terra, os moradores da estrada

têm em comum na atualidade o fato de estarem próximo de um dos maiores

empreendimentos industriais na historia recente da região, a unidade industrial da empresa

Suzano Papel e Celulose inaugurada em 2013.

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A notícia da chegada do empreendimento alterou as formas de organização

socioespacial da cidade de Imperatriz, entreposto comercial de médio porte, que em razão

de sua localização, se tornou de 1960 para cá um importante lugar de prestação de serviços

e comércio e desde então se firma como uma cidade importante com capacidade de

abastecer municípios próximos tanto do Pará como do Tocantins. As repercussões

socioespaciais advindas com a territorialização da Suzano em Imperatriz, em especial no

meio urbano, ainda estão por ser verificadas, alguns trabalhos nos dão pistas desses efeitos

a exemplos das pesquisas de Oliveira (2017) e Torres (2014).

Até a notícia da chegada do grande empreendimento, por volta 2008, a estrada do

Arroz era apenas o lugar de morada de populações extrativistas e camponesas que

utilizavam a terra, já cercada por fazendeiros para a criação de gados há pelo menos três

décadas, para sobreviver, apesar disso ainda lidavam com atividades ligadas à agricultura,

pesca, caça e outros pequenos serviços sazonais e informais na cidade de imperatriz.

A chegada da unidade industrial chega à reboque da notícia que prometia

modernidade e progresso, discurso levado à cabo por agentes do poder público e pela mídia

local que faziam crer que Imperatriz viveria tempos de desenvolvimento (PANTOJA &

PEREIRA, 2019). Por algum tempo a cidade viveu sob o efeito de ser sede de um grande

empreendimento: especulação imobiliária, forte processo de atração de migrantes em busca

de trabalho, além de expansão da mancha urbana municipal foram alguns desses efeitos.

Na Estrada do arroz os efeitos chegam mobilizando todos os povoados, sobretudo os

mais próximos fisicamente da unidade industrial, a axemplo do povoado Bacaba localizado a

quatro quilômetros da unidade industrial, com discursos de desenvolvimento, progresso e

prosperidade via chegada do trabalho formal. A notícia da vinda de uma grande empresa

mobilizou os moradores e os surpreendeu, antes acostumados a trabalhar dentro de uma

lógica do controle do tempo e da produção de alguns itens básicos da alimentação

passaram a crer em emprego formal como solução para problemas como ausência de

políticas públicas em questões básicas como saúde e educação, a vinda da empresa (não

se sabia qual) significava a oportunidade de acesso aos benefícios que a mesma prometia

trazer. E de fato trouxe. A estrada do Arroz foi toda asfaltada com início das obras em 2010.

Os empregos, informais e terceirizados até vieram, mas não passaram da fase de

implantação e logo se foram levando as esperanças por dias melhores. O que ficou foi muita

lamentação pois:

a) As formas trabalho foram alteradas, criou-se a ilusão do emprego formal, o que

tirou muitos trabalhadores das formas de trabalho tradicional, como caça e pesca e

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agricultura, colaborando para a interrupção de formas de saber específicas que

faziam/fazem parte da memória social do grupo;

b) O acesso aos recursos naturais ficou mais escasso, as áreas de caça e pesca

ficaram comprometidas já que as terras adquiridas pela empresa sofrem intensa vigilância,

nas quais não se pode entrar (área de reserva), os moradores reclamam que a água ficou

escassa em seus poços e que suas plantações sofrem com fuligem da empresa que se

dispersa por longa distancia por meio do vento;

c) Acirraram-se algumas rivalidades já existentes entre os povoados e criou-se

outras. Esse ponto é de extrema importância, pois tais dificuldades de comunicação entre os

povoados os deixam fragilizados frente às negociações com a empresa;

d) Novas demandas surgiram, a exemplo da necessidade de organização em

associações para se ter acesso aos lotes para plantar em terras da empresa ou mesmo para

acessar alguns serviços prestados pela mesma, a exemplo das quebradeiras de coco que

enfrentam dificuldades em se adaptar aos modelos de organização com estatutos, atas de

reunião, freqüência a cartórios e outras questões que envolvem uma linguagem

desconhecida para as mesmas.

Desejo me aprofundar um tanto nessa última questão pois esse tem sido um ponto

de observação em nossas incursões a campo. A linguagem não é um recurso acessado de

forma igual por todos. Ribeiro (2008) comenta que no campo do desenvolvimento a língua

em geral e a linguagem em particular são grandes barreiras para a comunicação, pois para

que possam cooperar as mesmas precisam se entender e

Competência comunicativa não e um recurso igualmente distribuído dentro das redes de desenvolvimento. Quem fala, para quem, através de que mídia, e em quais circunstâncias construídas são elementos vitais de qualquer processo de comunicação (RIBEIRO, 2008, p, 120)

A relação entre quebradeiras de coco e empresa é intermediada por funcionários

específicos que fazem a comunicação entre povoados/associações e gerencia local da

empresa, esses funcionários são pessoas que funcionam como estratégicas pois além de

amenizarem os descompassos da linguagem entre os sujeitos envolvidos, empresa e

quebradeiras, são pessoas com grande aceitação nos povoados pois antes de se ligarem a

empresa eram envolvidos em movimentos sociais e já transitavam entre os grupos de

trabalhadores. Nesse ponto, Castro (2017) ao citar Burkle (1999) chama atenção para a

importância das estratégias de relacionamento que as empresas mantêm com as

comunidades afetadas por grandes empreendimentos, sendo a seleção dos profissionais

que irão lidar com as pessoas um ponto fundamental desse processo.

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No entanto, nem todos os problemas da comunicação se resolvem com contratação

de pessoas “certas”, para os povoados há demandas difíceis, que precisam de muito tempo

para ser internalizadas. Participar ativamente de reuniões do Conselho de

Desenvolvimento3, organizar reuniões nas associações, organizar estatutos e registrá-los

em cartórios, escrever atas, ofícios, fazer balanços e relatórios de atividades, muitas dessas

demandas funcionam como instrumentos de prestação de contas das associações para com

a empresa, sempre com a possibilidade de que se a prestação de contas não for feita os

processos podem parar. Além disso, precisam ter manejo com computadores, aparelhos

celular, impressora e demais instrumentos tecnológicos que tardiamente chegaram ao

conhecimento dessas mulheres, em muitos casos nem chegaram.

Tem sido um desafio, uma espécie de violência epistêmica (CASTRO-GÓMEZ,

2005) para com essas mulheres tratar essas questões, pois são trabalhadoras que não

tiveram acesso à instrução formal.

O analfabetismo é uma grande barreira dentro do campo do desenvolvimento, principalmente para aqueles projetos que defendem participação local. O planejamento é o coração da iniciativa racional de desenvolvimento. Ele depende do estabelecimento de regras e instruções escritas que precisam ser seguidas – se é que eficiência, objetivos burocráticos e prestação de contas devem ser atingidos. Os projetos são os artefatos que sumarizam a necessidade de controle sobre tempo, pessoas e recursos. Práticas contábeis, definições legais, planos, objetivos racionais e o uso de tecnologias altamente dependentes do compartilhamento do mesmo horizonte cultural e de certos níveis se educação formal (RIBEIRO, 2008, 121).

Minhas observações com o grupo de quebradeiras poe em evidencia a questão da

desencontro entre lógica da escrita, posta em prática pela empresa e lógica da oralidade

manipulada pela mulheres. Os processos de trabalho na associação que envolve saberes

adquiridos por meios de instrução formal são sempre as tarefas mais difíceis de serem

realizadas, desde os processos de preparação das reuniões que necessariamente envolvem

marcar datas, fazer pautas e fazer circular comunicados às associadas, quando as mulheres

conseguem se organizar não conseguem cumprir pautas, propor resoluções e registrar em

atas as questões debatidas.

Assim, a avaliação que elas mesmas têm de si é que andam em círculos, não

conseguem ser propositivas e não cumprem os prazos estipulados pela empresa via

Conselho. No entanto, quando é dia de descer aos babaçuais para juntar o coco tudo

parece meio confuso nas primeiras horas que antecedem o encontro de todas em lugar pré-

3 Os Conselhos Comunitários de Desenvolvimento foram criados pela Suzano em 2015 e envolvem

representantes do poder público, lideranças locais e representantes da iniciativa privada. Em Imperatriz quebradeiras de coco dos povoados Coquêlandia, São Felix e Petrolina fazem parte do Conselho. Além de quebradeiras das reservas extrativistas de Ciriaco e Mata Grande.

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determinado para tanto, até o último instante não se tem certeza de quantas irão aparecer,

quando tudo finalmente se resolve e a caminhada rumo aos babaçus inicia, acaba-se todas

as dúvidas, todas sabem suas funções e desempenham sem que nada precise ser dito,

quem vai a frente com o facão cortando o mato que cobre os pés das palmeiras,

descobrindo se há coco, cortando e verificando se o mesmo “presta”4, essa quebradeira é

muito respeitada pois seu saber não é ainda compartilhado com todas, logo atrás vem dois

ou três grupos de mulheres responsáveis por juntar o coco e colocá-los em sacolas5 depois

de cheias as mesma são empilhadas ao pé de uma palmeira para que seja transportada até

o barracão onde o coco será quebrado para retirada na amêndoa6.

A necessidade de ser desenvolvido é de acordo com ACOSTA (2016) um fantasma

que ronda o mundo desde meados do século XX, o núcleo central da ideia de

desenvolvimento, entendido como progresso expresso através do crescimento econômico

linear, não se apresentou enquanto realidade e várias alternativas foram pensadas para

rever a razão de sua não realização, no entanto, segundo o autor, as críticas ao

desenvolvimento apenas apontaram outros adjetivos para o termo sem questionar seu

significado central e sua incapacidade de realização devido a não alteração das bases em

que se criou tal discurso.

Para Acosta três razões nos auxiliam a pensar sobre a incapacidade do

desenvolvimento como proposta: a) ignora as realidades alheias pois é pensando a partir de

uma perspectiva eurocêntrica e dominadora; b) funciona tendo como referencias nações

desenvolvidas, segundo o padrão do modo de produção vigente; c) é impossível ser

alcançado em nível global devido a grande tensão que exerce sobre a natureza.

Acosta (2016) acredita que em nome do desenvolvimento tudo se tolera, devastação

ambiental, negação de outras possibilidades de modos de vida, negação da memória social

do grupo, arquivamentos de sonhos, transformação de tudo em mercadoria e, sobretudo, a

negação da capacidade de sonhar. Quando indago Raimunda sobre como seria o mundo

com babaçuais livres, sem a presença de donos da terra, ela me olha, sorri de mim e

responde que isso não é possível.

Isso não e possível dentro de uma concepção colonizadora, patriarcal e

antropocêntrica marcada pelo modo de produção capitalista e por toda cultura e estilo de

vida que construímos em torno de tal modelo. Somente faz sentido pensar formas de

4 Há uma serie de classificações nativas que atestam se o coco é bom ou não

5 Nesse grupo se usa sacolas sarrapilheiras com capacidade pra 25 quilos.

6 Nesse grupo as mulheres não possuem formas de transporte para o coco, então aguardam que um homem do

povoado, geralmente o marido de uma delas, tenha tempo de ir ao mato buscar as sacolas, em motocicleta, ou carro arranjado de algum fazendeiro próximo.

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organização consideradas arcaicas, atrasadas ou subdesenvolvidas se pensarmos em

modelos e padrões a serem seguidos. Todas essas questões estão colocadas atualmente a

partir da ideia do bem viver: capacidade de imaginar possibilidades outras de organizar e

viver, tendo como ponto inicial a relação de reencontro entre homem e natureza e a

solidariedade como valor central. O bem viver não se caracteriza como proposta

monocultural, muitas podem ser as formas de se organizar, a perspectiva do bem viver está

em constante reconstrução a partir do acúmulo de saberes ancestrais e universais

(ACOSTA, 2016). Isso implica pensar que nossas avaliações sobre modos de vida perdem

seu valor quando pensados enquanto modelos para comparação que ao final devem ser

ajustados aos estilos de vida da elite que, como comenta Acosta, são nosso marco

orientador.

III - CONCLUSÃO

Com isso pretendo pensar que a forma de organização dos povoados da estrada do

Arroz foi profundamente impactada com a chegada da empresa, tal perspectiva não implica

desconhecer os problemas que faziam parte dos povoados antes da mesma instalar, as

relações de trabalhos e o acesso aos recursos naturais também já não eram regidos pelo

valor solidariedade pois o processo de ocupação do território pelo capital remonta à década

de 1970, ainda assim os camponeses tinham certa margem de possibilidade para decidir

sobre suas vidas, mesmo fragilizado o acesso à pesca caça, babaçuais e terras para plantar

ainda fazia parte de um arsenal de escolhas que podia ser realizado. Na atualidade o que

temos é o discurso de uma parceria empresa comunidade que somente se realiza de acordo

com as vontades da empresa, pois de fato não se configura como relação democrática, no

momento que opera dentro de uma lógica de frágil manipulação ou mesmo desconhecida

pelos moradores dos povoados. Os momentos de encontro entre representantes dos

povoados e da empresa parecem funcionar como lugares de decisões partilhadas, mas o

que acontece de fato é que por questões de não partilha de códigos da linguagem esses

momentos funcionam como ratificadores de decisões unilaterais que passam a constar a

partir de então como decisões coletivas.

REFERÊNCIAS

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Page 12: MULHERES CAMPONESAS NA AMAZÔNIA …...MULHERES CAMPONESAS NA AMAZÔNIA MARANHENSE: sobre Bem Viver, desenvolvimento, conflito e vida. Vanda Pantoja1 RESUMO: Este texto faz uma análise

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