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A garantia dada pelo Swiss Made cravado num relógio não se limita aos mecanismos
de excelência. Para as marcas suíças todos os pormenores contam na criação de uma
peça única, a começar nas correias de pele concebidas de acordo com os mais altos
padrões de qualidade.
REPORTAGEM
Oambiente não é muito diferente da-quele a que estamos habituados aencontrar nas manufacturas suíças.O edifício de aspecto e cores quase
clínicas, as batas impecáveis, as pinças espalha-das pelas bancadas que seguem uma ordem lógi-ca e os vultos debruçados a trabalhar delicada-mente cada detalhe de uma peça – a imagem emtudo se assemelha aos tradicionais ateliers da alta-relojoaria.
Estamos apenas a quinze minutos do centrode Genebra, numa zona dominada pelas facha-das das mais variadas espécies de indústrias,identificadas por placas estrategicamente coloca-das ao longo das ruas. É em Meyrin que tam-bém está instalada a Multicuirs, uma empresaque reconhece que parte do seu sucesso se deve
à localização geográfica ideal, com proximidadea um dos principais centros de venda – Genebra,para muitos a capital responsável pela pontuali-dade mundial.
Há duas décadas que nestes ateliers se pro-duzem as correias de vinte dos principais nomesda alta-relojoaria – falamos de Casas como aCartier, a Piaget, a Patek Philippe ou a Aude-mars Piguet. Nomes incontornáveis, com maisou menos tradição no sector relojoeiro, que emcomum partilham a exigência em todos os mo-mentos e nos diferentes processos de fabrico deum relógio.
São esses valores, enraizados também na es-trutura e na filosofia da Raymond Weil, que fize-ram com que há dez anos esta casa suíça se juntasse ao rol de clientes da Multicuirs.
t e x t o Vand a Jo r g e > f o t o s Nuno C o r r e i a – A c o n v i t e d a R a ymond We i l
Correias Swiss Made no pulsoMulticuirs
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Exigência em todos os momentos
e nos diferentes processos de
fabrico de um relógio. São esses
valores, enraizados também na
estrutura e na filosofia da
Raymond Weil, que fizeram com
que há dez anos este nome suíço
se juntasse ao rol de clientes
da Multicuirs.
Em média, são produzidas todos os dias qual-quer coisa como duas mil correias, entre todas asmarcas aqui representadas. Na contagem não es-tão incluídas as peças verdadeiramente especiais eexclusivas, realizadas num atelier à parte dosrestantes, e apenas confinado a essa missão. Cadaum dos nomes gravados nas peças traz consigoinstruções próprias e exige formas específicas defabrico; contudo, e apesar da singularidade de ca-da marca, na Multicuirs os princípios são inal-teráveis. «Temos clientes muito diferentes, uns dealta-gama e outros de uma gama mais baixa, masnão nos podemos dar ao luxo de fazer uma coisamuito boa e outra menos boa», diz Patrick Lin.«É o swiss made» reforça o director-geral da Mul-ticuirs; «a exigência pela qualidade do produto,pelos melhores acabamentos, o respeito pelo de-talhe e os nossos padrões éticos vêem-se na formacomo trabalhamos. Para nós, o mais importanteé o produto final ser perfeito, e ter 100% de qua-lidade» garante.
Os segredos da qualidadeÉ Patrick Lin quem nos guia nesta visita; há seisanos que este é um trajecto quase diário para si.A primeira paragem é na sala do stock. Organi-zadas por cor e pelo tipo de acabamento (semi-mate, mate ou brilhante), existem mais de duasmil referências diferentes, devidamente identifi-cadas nas prateleiras que enchem a sala. Quandoentrámos, duas funcionárias ocupavam-se da ta-
refa de identificar os materiais que acabavam dechegar. Faz parte dos procedimentos: assim quedão entrada, os materiais são sujeitos a um pri-meiro controlo de qualidade e só depois sãoidentificados. Pelas prateleiras sucedem-se pelesde serpente, de piton, de jacaré, de porco, de bú-falo, de cabra, de vitelo, de vaca e uma pele cu-riosa que o responsável pela empresa nos deixatocar e se apressa a explicar: «é de uma raia».
No caso dos jacarés, uma das peles mais lu-xuosas, estão organizadas por cores e tamanhos;«trabalhamos com pele de pequenos animais dedois anos, em média com 24 a 25 centímetros»,explica Patrick Lin. Mais à frente, o director-ge-ral vai revelando outros segredos que só quemconhece bem os materiais está apto a reconhecer.«Os vitelos que só bebem leite têm uma pele com
Cada um dos nomes gravados
nas peças traz consigo instru-
ções próprias e exige formas
específicas de fabrico, contudo,
e apesar da singularidade de
cada marca, na Multicuirs
os princípios são inalteráveis.
A Raymond Weil é uma das vinte marcas a produzir as suas
correias na Multicuirs.
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Multicuirs
Multicuirs
uma tonalidade própria e especial e que é o tipode pele ideal para usarmos nas peças especiais. Aqualidade muitas vezes é dada pelo tipo de vidado animal, pela sensação de viver em liberdade.O animal contrariado anda de queixo caído oque cria rugas indesejáveis na pele do pescoço»explica com os dedos a percorrer os veios da peçade pele que tem na mão.
No meio das mais de duas mil referências, háno entanto, clientes que procuram correias quenão estão referenciadas e que é necessário per-sonalizar ao gosto de cada um. Sendo uma daspartes mais exposta dos relógios, seguem-se astendências da moda. Responsáveis da Multicuirsvão todas as estações às principais capitais damoda internacional e trazem para a empresa asinspirações em termos de cores e de materiais; sóde jacaré existem 400 cores diferentes, referen-ciadas na vasta base de dados da empresa.
A precisão do corteNas instalações da Multicuirs trabalham mais de140 pessoas todos os dias. Nos corredores, ofrancês é a língua oficial – mas as 18 nacionali-dades diferentes dos trabalhadores criam uma es-fera social muito própria, só portugueses são cer-
ca de 25 os que aqui trabalham. Encontramo-losprincipalmente no atelier de corte, onde chegampeças inteiras preparadas para serem cortadas deacordo com os moldes de cada marca, «umapeça inteira de jacaré», diz o responsável «permi-te obter oito a nove correias».
A precisão e a perícia com que é feito cadacorte remetem para os processos artesanais comque os mestres relojoeiros montam os mecanis-mos: aqui um gesto em falso pode inutilizar umapeça praticamente inteira.
As correias seguem de bancada em bancada;se tentarmos contabilizar, ao todo são cerca de 70operações diferentes para se obter o produto fi-nal. As operações sucedem-se, numa organizaçãoaparentemente rígida: nas diferentes bancadasreavivam-se as cores e corrigem-se pequenos de-feitos; afinam-se os materiais; à mão, com duasagulhas, e ao longo de quinze minutos, coze-se aparte exterior à parte interior da correia. Nas ban-cadas seguintes, na máquina de lustre, limam-seas partes laterais da correia, um trabalho que exi-ge uma perícia quase inata para perceber a espes-sura exacta de cada modelo. Mais à frente, estãoconcentrados os processos de controlo de quali-dade e, no final, é verificada a homogeneidade decada peça, um processo variável consoante a tex-tura mate, semi-mate ou brilhante. Ao fim dequarenta minutos está concluído o processo, masdiz o director-geral, «se for um pedido de umapeça especial, pode chegar a ser necessário doisdias de trabalho». ET
Responsáveis da Multicuirs vão
todas as estações às principais
capitais da moda internacional
e trazem para a empresa as
inspirações em termos de cores
e de materiais; só de jacaré
existem 400 cores diferentes,
referenciadas na vasta base
de dados da empresa.
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São inúmeras as operações pelas quais uma correia é
submetida até chegar à parte final, em que são coladas e
cosidas com 2 agulhas retirando-se depois o excesso de cola
com uma borracha. Tudo respeitando o ‘peso’ que acarreta
a designação “Swiss Made”.
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