Multiplos Sentidos Do Conhecimento Tradicional

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As autoras discutem as várias interpretações sobre o conhecimento tradicional, especificamente quanto ao patrimônio cultural e propriedade intelectual.

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    Revista Brasileira de Cincia, Tecnologia e Sociedade, v.2, n.1, p.73-85, jan/jun 2011.

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    OS MLTIPLOS SENTIDOS DO CONHECIMENTO TRADICIONAL: UM CONCEITO EM CONSTRUO

    Maria Raquel da Cruz Duran1

    Camila Carneiro Dias Rigolin2

    RESUMO: Pretendemos compreender as diferentes interpretaes que o termo conhecimento tradicional desempenha no aspecto especfico das relaes entre conhecimento tradicional, patrimnio cultural e propriedade intelectual. O patrimnio cultural envolve a preservao e a exaltao de um povo ou nao como o todo, manuteno da identidade e de cuidados de incorporao expanso do conceito de cultura. J os direitos de propriedade intelectual envolvem tanto os direitos autorais e de propriedade industrial quanto queles referentes a aquisies de vegetais e direito de aprimoramento deles e, portanto, o manejo tcnico sustentvel da natureza. Especificamente, analisaremos tal proposta a partir de duas dimenses: a) a construo do significado do conhecimento tradicional, em que duas redes distintas de atores competem pelo estabelecimento da sua perspectiva como norteadora dos futuros instrumentos normativos; b) a anlise do conhecimento tradicional frente ao conhecimento cientfico e os embates que tais comparaes provocam na confeco de um quadro regulatrio internacional.

    Palavras-chave: conhecimento tradicional, patrimnio cultural, propriedade intelectual, conhecimento cientfico.

    THE MULTIPLE MEANINGS OF TRADITIONAL KNOWLEDGE: A CONCEPT IN CONSTRUCTION

    ABSTRACT: We aim to understand the different interpretations that the term "traditional knowledge" plays in the specific aspect of relations between traditional knowledge, cultural heritage and intellectual property. Cultural heritage involves the preservation and exaltation of a people or nation as a whole, maintenance and care of the identity of incorporation to the expansion of the concept of culture. As for the intellectual property rights involving both copyright and industrial property as those related to

    1 Mestranda no Programa de Ps-Graduao em Cincia, Tecnologia e Sociedade da Universidade

    Federal de So Carlos. E-mail: [email protected]. 2 Doutora em Poltica Cientfica e Tecnolgica pela UNICAMP. Docente do Programa de Ps-Graduao

    em Cincia, Tecnologia e Sociedade da Universidade Federal de So Carlos. E-mail: [email protected].

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    acquisitions of plant improvement and the right of them, and therefore sustainable management of technical nature. Specifically, we analyze this proposal from two dimensions: a) the construction of the significance of traditional knowledge, in which two distinct networks of actors compete for establishing their perspective as guiding future regulatory instruments, b) analysis of traditional knowledge against the scientific knowledge and the conflicts that lead to such comparisons in the making of an international regulatory framework.

    KEYWORDS: traditional knowledge, cultural heritage, intellectual property, scientific knowledge.

    Introduo: os mltiplos sentidos do conhecimento tradicional

    Com o objetivo de investigar os significados do termo conhecimento tradicional na esfera da regulao internacional, tencionando traar um panorama de suas redes formuladoras seus interesses, contedos, contextos, atores, porta-vozes, aliados, possveis mecanismos de tradues e translaes, suas associaes e seus ns este trabalho consiste em uma breve apresentao dos mltiplos sentidos que o conhecimento tradicional abarca, enquanto conceito em construo, sendo parte das pesquisas resultantes do tema de dissertao, exposto como objetivo central, acima.

    Os termos conhecimento tradicional, populao tradicional, comunidade tradicional, cultura tradicional so colocados em torno dos modos de vida de algumas sociedades, desencadeando definies no consensuais. Parafraseando Rigolin (2009), sociedades tradicionais so grupos humanos culturalmente diferenciados em seu modo de vida, principalmente em suas formas de cooperao social e de relacionamento com a natureza, refletindo tanto povos indgenas quanto alguns grupos da populao nacional que desenvolvem especificidades adaptativas, de acordo com o nicho ecolgico em que habitam.

    Contudo, a abrangncia da definio ou a indefinio dos termos expostos um dos fatores que demonstram o ambiente controvertido em que estes esto situados.

    O emprego do termo populaes tradicionais propositalmente abrangente. Contudo, essa abrangncia no deve ser tomada por confuso conceitual. Definir as populaes tradicionais pela adeso tradio seria contraditrio com os conhecimentos antropolgicos atuais. Defini-las como populaes que tm baixo impacto sobre o ambiente, para depois afirmar que so ecologicamente sustentveis,

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    seria mera tautologia. Se as definirmos como populaes que esto fora da esfera do mercado, ser difcil encontr-las hoje em dia. (CUNHA, 2009, p. 278)

    O conceito de conhecimento tradicional emergiu nos ltimos trinta anos devido crescente preocupao da humanidade com o meio ambiente e a percepo de que existem sociedades capazes de utilizar e conservar, ao mesmo tempo, os recursos naturais. Conforme o explicitado, se a sociedade tradicional aquela que reproduz um modelo de vida social e ambiental diferenciados, deriva desta noo a conceituao de conhecimento tradicional. Tais caractersticas se atrelaram forma de transmisso de conhecimento entre suas geraes e ao sentimento de no-pertencimento destas sociedades a uma cultura dominante3.

    Destarte, podemos observar a proximidade entre as fundamentaes acerca da sociedade tradicional e do conhecimento tradicional, afinal, o conhecimento tradicional entendido como um [...] conhecimento desenvolvido e acumulado por diversos povos e comunidades, tanto indgenas, como quilombolas, seringueiros, ribeirinhos, pescadores [...] (WANDSCHEER, 2008, p. 19), ou como [...] o conhecimento, inovaes e prticas das populaes indgenas e comunidades locais contidos em estilos de vida tradicional, assim como as tecnologias pertencentes a estas comunidades (CDB, 1992).

    apreendido como tradicional pela forma como transmitido e utilizado pelos povos que o produzem, e que lhe injetam significado, assim chamado tambm por sua particularidade de ser construdo na estreita relao tanto entre homens e natureza, quanto entre geraes e, portanto, dessemelhante forma como produzido o conhecimento cientfico.

    Dentro deste enfoque socioambiental, fundamental ressaltar que povos tradicionais no so sinnimos de populaes atrasadas. Esses povos, por desenvolverem uma relao de conservadorismo com a natureza, so vistos por muitos como uma antecipao da sociedade do prximo sculo, pois se o homem no se tornar um conservacionista, colocar em risco a sua prpria vida. (PINHEIRO et al, 2006, p. 213)

    Alm disso, h uma significao de conhecimento tradicional enquanto um saber local, ou seja, um saber que:

    [...] refere-se a um produto histrico que se reconstri e se modifica, e no a um patrimnio intelectual imutvel, que se transmite de gerao a gerao. Nesse sentido, alis, no cabem as objees feitas aplicao de Direitos de Propriedade Intelectual a conhecimentos

    3 Disponvel em: . Acessado dia 10/02/2011.

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    tradicionais com o argumento de que, por definio, conhecimentos tradicionais no tm a caracterstica da novidade. (CUNHA, 1999, p. 156)

    Do mesmo modo, os variados problemas que algumas palavras trazem em suas ligaes com este tipo de conhecimento local, tradicional, alternativo, entre outras - indicam certa dificuldade de coloc-lo em um lugar de atuao:

    La difcil decisin de reconocer el saber tradicional, bien como medicinas, bien como sistemas mdicos o bien como cincias, h sido mediada en los ltimos aos por um trmino ms amplio y en principio menos comprometedor: conocimientos tradicionales. Supone que las sociedades tradicionales han adquirido conocimientos relacionados con la supervivncia, los modos de produccin, las expresiones artsticas y tcnicas que se utilice en la vida cotidiana; Snchez y cols. (2001) sugieren una primeira aproximacin: Una aproximacin conceptual al conocimiento tradicional constituye un reto difcil, abarca un extenso campo, a veces ambguo... En la literatura antropolgica como conocimiento tradicional se h asignado secularmente el correspondiente a las sociedades grafas, en las que los conocimientos se transmiten de manera oral, en oposicin a las sociedades que poseen la escritura. (ZULUAGA, 2006, p. 167)

    De acordo com a Medida Provisria n. 2.186 16, de 23 de agosto de 2001, o conhecimento tradicional definido como algo associado gentica, desenvolvido por comunidade indgena ou local. J para CUNHA (2002) a juno entre a cultura e a distribuio geogrfica de um povo que propiciam a produo do que chamamos conhecimento tradicional. Na concepo do Instituto Indgena Brasileiro para Propriedade Intelectual (INBRAPI), conhecimento tradicional um conhecimento holstico, coletivo, cosmolgico e inventivo, e para o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renovveis (IBAMA), populao tradicional uma comunidade cuja subsistncia est pautada no extrativismo de bens naturais renovveis, prtica culturalmente constituda (PINHEIRO et al, 2006).

    Na Conveno 169 (p.213), que tem como finalidade versar sobre povos indgenas e tribais, da Organizao Internacional do Trabalho (OIT), a utilizao da palavra povos contribui para outro campo de batalha envolvendo o conhecimento tradicional, o dos direitos dos povos: por seu reconhecimento e por justia social. Alm deste tema de poltica cultural, que perpassa as esferas de discusso do conhecimento tradicional, h o do patrimnio cultural intangvel (ARANTES NETO, 2005), que considera domnio pblico a multiplicidade de culturas, seus modos de ser, fazer e saber.

    Neste rol de identificaes do conhecimento tradicional esto inseridos alguns equvocos que partem de dvidas em relao aproximao verdadeira do bom

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    selvagem ecolgico com as preocupaes ocidentais com o meio ambiente, ou seja, seu grau de compromisso com a conservao da natureza. Outro engano afirmar que as [...] organizaes no governamentais e as ideologias estrangeiras so responsveis pela nova conexo entre a conservao da biodiversidade e os povos

    tradicionais (ALMEIDA; CUNHA, 2009, p. 277).

    O modo de lidar com os povos, onde estes conhecimentos tradicionais so produzidos, assinala a atitude delimitada acima. Iniciativas de resgate dos patrimnios imateriais indgenas, questionamento da autenticidade destes saberes coletivos perante o seu comportamento de produo de objetos culturais para o mercado (CUNHA, 2009), tudo isso est presente na acepo deste termo, que [...] marca muito mais uma posio poltica do que, de fato, uma disposio de separao na

    prtica, como se tem comprovado no cotidiano dos inventrios (BELAS, 2006, p. 271).

    As mltiplas formas de tratamento do conhecimento tradicional sero enfocadas na prxima seo, tendo em vista alguns atores centrais deste questionamento, cujo posicionar delimita tambm o modo de lidar com os povos.

    A disposio de uma dubiedade: jogos de poder

    Inmeras dvidas acerca de como tratar o conhecimento tradicional compem a construo de seu significado. Alm daquelas que apontamos na primeira seo, referentes como descrever este conhecimento (local, tradicional, alternativo, entre outros) h outra questo que atinge o exame deste saber em ser ou no ser conhecimento.

    Foucault, em concordncia com Nietzsche, dizia que o conhecimento enquanto conceito fruto de uma construo histrica, algo fabricado num contexto temporal e espacial especfico e que, portanto, seria uma inveno do homem (AMANAJS, 2006). Tal teoria, que une conhecimento inveno humana e construo histrica de um conceito, teve como Era fundamental a Idade Moderna, poca de surgimento e/ou desenvolvimento do campo semntico em que o Grande Divisor (Natureza X Cultura / Indivduo X Sociedade / Dado X Construdo / Cincia e Tecnologia X Sociedade) tem sua concepo contemplada, pois o homem moderno mantm uma postura diferente de seu antecessor, o homem medieval, que identificava o mundo como pronto e acabado, fruto da criao divina, independente das influncias que o homem poderia lhe conferir (DUARTE, 2001).

    Com a descoberta de inmeras tcnicas e instrumentos, possibilitando o conhecimento de um novo mundo, o homem moderno [...] volta seu olhar para baixo e para a frente: para si mesmo, edificador da realidade, e para o amanh, quando as

    coisas havero de ser outras (DUARTE, p.81). Inicia-se ento a preocupao do homem em relao ao futuro, ligando este ao esforo e trabalho humanos, decorre da a noo de progresso.

    Concomitantemente a ascenso das noes de progresso, de devir, de movimento, o que significava a reposio constante das conquistas, das vontades - o

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    que desencadeia na condio descartvel do racional/tcnico - a tomada do homem como centro do mundo, detentor do poder de modificar a natureza em prol de seu melhor viver, atribui-se supremacia razo humana, e com ela o progresso da cincia, da tcnica, da arte (VATTIMO, 1996).

    Nomes como Descartes, Galileu, Bacon, precedem os iluministas e a revoluo industrial, smbolos maiores dessa reestruturao nomeada modernidade. A dicotomia identificada nas teorias de Descartes com seu mtodo da dvida sistemtica, entre homem e mundo, corpo e mente4, a possibilidade de comparao do ser humano e do mundo a uma mquina, nos permite identificar a sociedade moderna como um sistema objetivo a ser compreendido pelo indivduo.

    Nesta inovadora maneira de pensar o sujeito e o conhecimento desenvolvido por ele, como aquele que: a) idealizado pela razo, que valoriza somente as idias claras e distintas; b) expulsa a subjetividade e a incerteza do vocabulrio humano para o entender a si e aos outros; c) proporciona a separao dos saberes, que antes se complementavam, em gavetas de saber especfico, excluindo a estes a possibilidade da inter-relao, fechando-os em disciplinas ou matrias distintas; d) expulsa dos domnios da cincia tudo aquilo que no fosse quantificvel, em busca da funo e da essncia das coisas, tal qual teorizou Galileu; entre outras caractersticas. Ou seja, Esse pensamento, entre outras coisas, torna impossvel compreender a vida do Ser-a

    na sua peculiar historicidade e a reduz ao momento da certeza de si, evidncia do

    sujeito ideal da cincia; elimina-se, pois, o que o Ser-a tem de puramente subjetivo,

    enquanto no redutvel ao sujeito do objeto (VATTIMO, 1996, p. 30-1).

    A razo tinha como principal funo dar ao homem o conhecimento da natureza para que suas relaes com os outros homens e com a natureza fossem mediadas por ela, em prol de um melhor convvio, do melhor habitar, da eficcia dessas aes. Substitudas s crenas, em explicaes mticas e supersticiosas, foi-se construindo nos sculos XVIII e XIX, a devoo magia da cincia.

    A racionalizao religiosa e a desmagificao do mundo tornam-se prerrogativas para a produo e reproduo do capitalismo, enquanto sistema econmico scio-cultural, representativo efeito da supremacia da razo humana, bem como de seu domnio em muitas vertentes do viver em sociedade, opere a necessidade de uma educao humana para a prtica sistemtica capitalista nos mltiplos aspectos que se estende: trabalho, lazer, convvio social, intelectual, entre outros (PIERUCCI, 1992).

    Em meio a estas mudanas, o contato com outras formas sociais e culturais por volta dos sculos XV XVIII expandiu-se. (LAPLANTINE, 1988) Em comparao com outras formas de conhecimento, ao longo de sculos de relaes entre culturas e sociedades diversas, a criao de uma separao conceitual entre dois padres centrais de conhecimento foi promovida: o cientfico e o tradicional. De forma que

    4 Na obra de Antonio Damsio O erro de Descartes, este autor prope demonstrar (...) anatmica e

    fisiologicamente, no apenas que a diviso mente/corpo ilusria e sem sentido, como ainda que todo

    conhecimento, por mais racional e abstrato que seja, tem sua origem nos processos sensveis do corpo

    humano, isto , em nosso sentimento, na sua mais plena acepo (DUARTE JR., 2001, p. 131).

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    [...] Para os conhecimentos cientficos, o modelo linear, ou seja, estabelece que toda causa tem um efeito e assim se consuma. J no caso dos conhecimentos tradicionais, o modelo caracterizado por ciclos, ou seja, a causa simultaneamente o efeito e vice-versa e, alm disso, preciso que no efeito haja uma autoproduo para que a circularidade se mantenha. (PINHEIRO et al, 2006, p.222)

    Portanto, o conhecimento cientfico se caracteriza pela visualizao do mundo como um todo mecnico, em que a anlise das partes deste todo permite a compreenso do conjunto que as integra, tendo como inteno dominar e transformar o mundo por meio do entendimento dele (SANTOS, 1996). Por outro lado, no conhecimento tradicional no h separao entre parte e todo, enfim, a lgica formadora deste sistema de saber totalmente diferente, pois tudo est integrado.

    De manera opuesta a la construccin moderna de la naturaleza com sus estrictas separaciones entre lo biofsico y los mundos humanos y supranaturales, comnmente se aprecia como muchos antroplogos lo han mostrado que los modelos locales en contextos no occidentales a menudo establecen vnculos de continuidad entre estos tres mbitos. Talvez uno de los aspectos mejor establecidos actualmente en los modelos culturales de la naturaleza de muchas sociedades es que no se basan en una dcotomia naturaleza-sociedad (o cultura). Los modelos particulares en las culturas amaznicas incluyen a los seres humanos y seres de La naturaleza en una misma dimensin en donde mantienen relaciones de intercambio y reciprocidad. Como h mostrado Descola (2002), los seres que nosotros llamamos naturales como plantas y animales estn dotados de atributos idnticos a los de los humanos, poseen un alma, se les atribuyen comportamientos morales, son capaces de experimentar emociones y pueden intercambiar mensajes com sus pares, es decir, el hombre y las otras especies. La naturaleza es el objeto de una relacin social que a menudo es expresada a travs del lenguaje del parentesco [...]. (BOLVAR, 2006, p. 90-1)

    Embora saibamos que, dentro das definies do que seja o conhecimento cientfico e sua metodologia existem teorias que no partem do mecanicismo como premissa (vide Thomas Kuhn, 1992), entendemos que no este o atributo que garante o carter de cientificidade do mtodo, mas sim a possibilidade de demonstrao e de reproduo de um fenmeno, a partir de sua decodificao. Ou seja, o conhecimento cientfico codificado, pois se apreende e se reproduz formalmente, e o tradicional tcito, pois pela vivncia e insero geogrfica/ambiental em certo territrio, comunidade, espao-tempo que o consente existir.

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    Sendo o conhecimento parte do patrimnio de uma sociedade, medida que o patrimnio organiza as bases da sociedade da qual emerge, podemos notar uma desvalorizao do conhecimento tradicional e uma valorizao do conhecimento cientfico. Porm, no o conhecimento o foco das crticas e elogios

    [...] e sim o detentor, a comunidade local que desvalorizada no processo de apropriao desse saber em sua sistematizao pelo mtodo cientfico (...). Desqualific-lo desta maneira , tambm, desqualificar a fonte e no o conhecimento em si, para que este ganhe o ar de senso comum e com isso possibilite a apropriao e a espoliao das sociedades tradicionais. (PINHEIRO et al, 2006, p. 245)

    No entanto, h quem articule que os conhecimentos tradicionais e os conhecimentos cientficos no integram lgicas diferentes, mas sim nveis de aplicao distintos, premissas diferentes sobre o que existe no mundo:

    Em O pensamento selvagem (1962) Lvi-Strauss defende que saber tradicional e conhecimento cientfico repousam ambos sobre as mesmas operaes lgicas e, mais, respondem ao mesmo apetite de saber. Onde residem ento as diferenas patentes em seus resultados? As diferenas, afirma Lvi-Strauss, provm dos nveis estratgicos distintos a que se aplicam. O conhecimento tradicional opera com unidades perceptuais, o que Goethe defendia contra o iluminismo vitorioso. Opera com as assim chamadas qualidades segundas, coisas como cheiros, cores, sabores... No conhecimento cientfico, em contraste, acabaram por imperar definitivamente unidades conceituais. A cincia moderna hegemnica usa conceitos, a cincia tradicional usa percepes. (CUNHA, 2009, p. 303)

    Aps esta breve contextualizao do conhecimento visto como uma inveno histrica construda num tempo e espao especficos, sendo ele tradicional ou cientfico, tcito ou codificado, e da caracterizao de ambos pela comparao, podemos afirmar que:

    [...] os conhecimentos tradicionais esto para o cientifico como religies locais para as universais. O conhecimento cientfico se afirma, por definio, como verdade absoluta, at que outro paradigma o venha a sobrepujar, como mostrou Thomas Kuhn. Essa universalidade do conhecimento cientfico no se aplica aos saberes tradicionais muito mais tolerantes -, que acolhem frequentemente com igual confiana ou ceticismo explicaes divergentes, cuja validade entendem seja puramente local. (CUNHA, 2009, p. 301)

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    Em meio aos diversos sentidos que alimentam a constituio do conhecimento tradicional realaremos, enquanto padro interpretativo, duas redes principais de anlise deste: propriedade intelectual e patrimnio cultural. Para cada julgamento, vincula-se um diferente entendimento a respeito dos contornos ideais de proteo legal desta forma de conhecimento.

    Pode-se dizer, grosso modo, que a primeira interpretao corresponde aos dispositivos de proteo da propriedade intelectual, estando voltada para a aceitao da diversidade biolgica e cultural, em que o conhecimento tradicional um produto da manifestao cultural, e assim seu [...] reconhecimento tambm deve abranger a diversidade cultural, admitindo outros modos de vida e de construo social (WANDSCHEER, 2008, p. 120-1) e por isso precisa ser garantido por justia aos seus colaboradores. J a segunda corrente, do patrimnio cultural, situa o conhecimento tradicional como um bem universal e, portanto, no patentevel por apenas um indivduo, pois quando h esta concesso a particulares - conforme a lei de propriedade industrial - ocorre uma violao do direito destas comunidades, tanto porque os impedem de utilizar seus bens, quanto porque os exclui dos benefcios que a sua utilizao possa trazer.

    Todavia, a viso do conhecimento tradicional disposta nos exemplos citados atesta no apenas a polaridade entre dois discursos diferentes o utilitarista e o no-utilitarista mas tambm a distoro de um pelo outro ou a impreciso que um demonstra no outro. Assim sendo:

    Vale salientar que quando se fala em Proteo aos Conhecimentos Tradicionais busca-se sempre compartimentaliz-lo, por exemplo, em relao discusso sobre Proteo e Acesso aos Conhecimentos Tradicionais Associados. O que existe subentendido nesta iniciativa, um fator de inteno excludente, pois esta proteo no abrange os demais conhecimentos tradicionais, mas somente aqueles associados aos recursos genticos. Ento, permanece a pergunta: a quem interessa os recursos genticos? s feirantes do Ver-o-Peso, s mulheres andirobeiras do Maraj ou bioindstria farmacutica? (PINHEIRO et al, 2006, p. 41)

    Compartimentar o conhecimento tradicional significa no apenas diluir sua definio e assim, sua fora, mas tambm impor restries de uso a seus prprios saberes referentes biodiversidade, devido ao interesse de patenteamento destes saberes. Exemplos desta prtica sobram, como o caso da ayahuasca5, pois

    5 A ayahuasca, Banisteriopsis caapi, planta utilizada em cerimnias religiosas e de sade, para

    diagnosticar e tratar doenas, encontrar espritos e ver o futuro, por diversos povos amaznicos, foi

    patenteada por Loren Miller nos Estados Unidos pelo US Patent and Trademark Office (USPTO). Ocorre,

    no entanto, que Miller obteve esta planta a partir de cultivos indgenas do Equador, e para obteno da

    patente alegou caractersticas fsicas diferenciadas e uma possvel aplicao para o tratamento do

    cncer. Pesquisas neste sentido nunca foram concretizadas por Miller e nem pela sua empresa

    International Plant Medicine Corp. Isso fez com que a COICA (Coordinadora de las Organizaciones

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    A informao como principal item de proteo no reconhecida e nem protegida em todas as suas formas de manifestao, pois os casos de conhecimentos coletivos tradicionais e indgenas no possuem guarida legal. Informaes que no encontram proteo neste sistema individual de apropriao de informao. (WANDSCHEER, 2008, p. 73)

    O conhecimento desenvolvido pelos povos tradicionais engloba inmeros setores: msicas, danas, lendas, pinturas, artesanato em geral, formas de lidar com a natureza que ultrapassam aquelas referentes apenas aos saberes genticos, aproveitados pelo discurso utilitarista (SANTILLI, 2005). Nesta lgica de apropriao mercadolgica, o conhecimento tradicional est limitado ao que chamamos de conhecimento tradicional associado biodiversidade, ou apenas CTA.

    O Artigo 9, inciso II do Anteprojeto de Lei de Acesso ao Material Gentico e seus Produtos demonstra tal acomodao do Brasil em sua significao de conhecimentos tradicionais associados:

    Conhecimentos tradicionais associados: Todo o conhecimento, inovao ou prtica individual coletiva dos povos indgenas, comunidades locais e quilombolas associados s propriedades, usos e caractersticas da diversidade biolgica, dentro de contextos culturais que podem ser identificados como indgenas, locais ou quilombolas, ainda que disponibilizados fora desses contextos, tais como em banco de dados, inventrios culturais, publicaes e no comrcio. (BELAS, 2006, p. 273)

    Esta definio encerra as discusses apresentadas sobre os sentidos que o termo conhecimento tradicional abarca, bem como suas incongruncias. Nela podemos observar no apenas o tratamento generalizante dos saberes em foco, como tambm a polaridade entre tratar os conhecimentos tradicionais como uma noo de complementaridade entre o material e o imaterial, ao mesmo tempo em que a diferencia.

    Todavia, ao abrir mo da biodiversidade ou do conhecimento tradicional sobre ela, em prol do lucro de exportao da matria prima, este lucro no grande, mas sim pequeno, por conta da baixa tecnologia presente no produto. Ento, por que

    Indgenas de La Cuenca Amaznica) junto com a Coaliation for Amazon Peoples and Their Environment e

    o Centre for International Environment Law, requisitassem junto ao USPTO o reexame da patente

    concedida para Miller. E em 03.11.1999, o USPTO rejeitou a patente de Miller. Isso ocorreu porque Miller

    no conseguiu comprovar nenhuma diferena entre a planta equatoriana e a sua, o que deixou o

    escritrio de patentes norte-americano sem alternativa para manter o privilgio de utilizao da planta. (WANDSCHEER, 2008, p. 70-1).

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    continuar esta prtica, sendo que por vezes o recurso natural fica escasso at mesmo para a prpria comunidade tradicional que o utiliza h anos?

    Concluso

    No contorno das significaes acerca do conhecimento tradicional h mais indefinies do que definies, e que estas no so meramente problemas conceituais. Embora existam atores interessados em transformar esta realidade entre os quais poderamos citar por um lado os pases megabiodiversos6, as populaes tradicionais, a UNESCO, a CDB, diversas organizaes no governamentais como, por exemplo, a World Wildlife Fund (WWF), o Instituto Socioambiental (ISA) e a Amazonlink; h tambm alguns atores cujo posicionamento para a manuteno, criao e efetivao de legislaes que legitimam tal realidade, por serem de maioria votante, tais como os pases que compem o G-87 e, centralmente os Estados Unidos da Amrica e as indstrias farmacuticas.

    Ressaltamos que o Brasil se encontra na dubiedade de posicionamento entre relaes amigveis com as potncias comerciais e a busca pelos direitos de seu patrimnio material e imaterial, enquanto nao soberana8. O fato que, ao possibilitar interpretaes abrangentes, as discusses sobre o conhecimento tradicional causam impreciso no apenas do termo, mas tambm dos sujeitos polticos que a integram. Sem embargo,

    [...] do que vimos, j podemos dar alguns passos nessa direo e afirmar que populaes tradicionais so grupos que conquistaram ou esto lutando para conquista (prtica e simbolicamente) de uma identidade pblica conservacionista que inclui algumas das seguintes caractersticas: uso de tcnicas ambientais de baixo impacto, formas equitativas de organizao social, presena de instituies com

    6 A saber, Brasil, China, Cuba, ndia, Paquisto, Peru, Tailndia, Tanznia, Equador, frica do Sul e,

    desde junho de 2007, Venezuela, o grupo africano e o grupo dos pases menos desenvolvidos (CUNHA, 2009, p.308). 7 O G-8 composto pelos seguintes pases: Estados Unidos da Amrica, Alemanha, Frana, Canad,

    Reino Unido, Japo, Itlia e Rssia. (Fonte: pt.wikipdia.org). 8 Para a concretizao disso h a necessidade de que o governo atue na proteo destas comunidades

    em nvel nacional e no somente internacional. Pois h contradies na atuao governamental em proteo dos conhecimentos tradicionais, como se observa nas polticas internas e externas a partir do ano 2000. No mbito nacional vigora a Medida Provisria 2.186/01 sucessora da 2.052/00 que no protege os povos e seus saberes, estimulando a apropriao individual dos recursos genticos nacionais. No internacional, a Misso Permanente do Brasil enviou um comunicado, em 22/11/2000, para a reunio do conselho do GATT perante a OMC, com uma lista de sugestes para a reviso de alguns tpicos [...] (WANDCHEER, 2008, p.122), entre eles a sugesto da criao de um regime sui generis de proteo aos conhecimentos tradicionais. Por outro lado, [...] a articulao entre o global e o local no caso brasileiro tem servido para criar propostas e respostas s demandas culturais de um universo de

    agentes sociais que se encontra em ampla diversificao, situados em um complexo campo de foras

    sociais (ARANTES NETO, 2005, p. 5-6).

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    legitimidade para fazer cumprir suas leis, liderana local e, por fim, traos culturais que so seletivamente reafirmados e reelaborados. [...] Deve estar claro agora que a categoria de populaes tradicionais ocupada por sujeitos polticos que esto dispostos a conferir-lhe substncia, isto , que esto dispostos a constituir um pacto: comprometer-se a uma srie de prticas conservacionistas, em troca de algum tipo de benefcio e sobretudo de direitos territoriais. Nessa perspectiva, mesmo aquelas sociedades que so culturalmente conservacionistas so, no obstante e em certo sentido, neotradicionais e neoconservacionistas. (CUNHA, 2009, p. 300)

    Para concluir esta seo, podemos dizer que encontramos diversas formas de entendimento acerca de como deve ser a proteo e/ou salvaguarda do conhecimento tradicional. Diversos so os atores que compem as redes que sugerem sistemas de proteo dos conhecimentos tradicionais, tais correntes se confundem e respondem aos interesses e associaes, divididos em dois blocos: propriedade intelectual e patrimnio cultural, o que corrobora o impasse da significao padro para o conhecimento tradicional, conforme o demonstrado.

    Agradecimentos: Agradeo o financiamento da agncia de Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES) para o desenvolvimento desta pesquisa.

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  • Artigo

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