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Número 3 Maio de 2009 Mensal Mundo National Geographic entra em Guantanamo e traz relatos inéditos Literatura na Primeira Pessoa Patrícia Reis em conversa intimista revela a sua visão sobre a sua carreira Especial RD do Congo vive a maior crise humanitária do mundo. Conheça a realidade do país. Parceiros na arte de instruir o mundo, cinema e lit- eratura digladiam-se pela preferência do público. Nos últimos anos a sétima arte tem levado a melhor, mas a verdade é que a literatura está muitas vezes por detrás dos maiores sucessos de bilheteira. ‘Ensaio sobre a Cegueira’, ‘Romeu e Julieta’ e o ‘Conde de Monte Cristo’ são os maiores sucessos.

Mundo Contemporâneo - Edição 3

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Mundo Contemporâneo - Edição 3

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Número 3 Maio de 2009 Mensal

Mundo

National Geographicentra em Guantanamoe traz relatos inéditos

Literatura na Primeira Pessoa

Patrícia Reis em conversaintimista revela a sua visãosobre a sua carreira

Especial

RD do Congo vive a maiorcrise humanitária do mundo. Conheça a realidade do país.

Parceiros na arte de instruir o mundo, cinema e lit-eratura digladiam-se pela preferência do público. Nos

últimos anos a sétima arte tem levado a melhor, mas a verdade é que a literatura está muitas vezes por

detrás dos maiores sucessos de bilheteira.‘Ensaio sobre a Cegueira’, ‘Romeu e Julieta’ e o

‘Conde de Monte Cristo’ são os maiores sucessos.

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Barack Obama é talvez o rosto visível de uma nova era, de um novo mundo que os Estados Unidos da América estão ansiosos por descobrir, um mundo que ora os ama, ora os odeia.

No monopólio desde o final da Segunda Guerra Mundial, muitas têm sido as batalhas travadas, tanto ao nível económico como ao nível político, cientifico, tecnológico, militar e cultural.

Mas serão os Estados Unidos capazes de estender a mão a que um dia os feriu com o gume da sua espada?

O Presidente, Barack Obama, mostrou já estar disposto a esquecer litígios passados e, por isso, lançou no prazo de apenas uma semana, duas propostas que prometem mudar o panorama estratégico mundial. Irão e Cuba foram os escolhidos. Eternos inimigos dos norte-americanos, estes dois países mostraram já abertura a um diálogo entre titãs.

No entanto, muitos outros problemas continuam em aberto com a Coreia do Norte a mostrar-se impenetrável e os ataques piratas na Somália

EDITORIAL

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a deixar marcas profundas no mundo.

O mundo outrora governado pelos ditos homens de “pele branca e olhos azuis”, o mundo outrora regido pelas normas impostas pelas grandes potências mundiais. No entanto, a realidade é hoje bem diferente. As superpotências tornaram-se apenas superpotências, importantes aliados na luta contra um futuro inconstante e fugaz.

A verdade é que pode estar iminente o fim de uma era de liderança, para começar o importante compromisso com a aliança. Será a pensar nisso que os Estados Unidos começam a mover peças no eterno jogo de xadrez que nos governa?

Editorial

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INDICE

Portugal4 Caso Freeport sem fim à vista6 O Acordo da discórdia

MUNDO7 Bento XVI em Israel8 Ataques piratas na Somália10 Os Bastidores de Guantanamo12 Perniciosa Gripe14 A crise anda de automóvel

Literatura NA PRIMEIRA PESSOA16 Patrícia Reis - Entrevista

CULTURA20 A febre das séries23 Green Day regressam24 Semana Académica UALG ‘0926 Mundo Contemporâneo Sugere...

ESPECIAL28 “Não li mas vou ver o filme!”30 O lado oculto do Mundo

32 O Mundo ao contrário

DESPORTO34 Bruno Mestre e Rui Duarte: Olhanense36 Uma máquina de títulos: FCP40 J. Agostinho desapareceu há 25 anos

42 A FECHAR

FICHA TECNICA

Propietária: Profª Doutora Aurízia AnicaDirectora: Isa MestreSub-Director: Fábio LimaRedactores Principais: Adriano Narcisoe David MarquesDirector de Arte: Fábio Lima

INDICE

Pág. 30 No coração de Àfrica está situado o país que vive a maior crise humanitária do mundo, a Rep. Democrática do Congo.

Pág. 20 Séries televisivas tornam-se mercado cada vez mais apetecível.Conheça a “Febre das Séries”.

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Portugal e Mundo: Adriano Narciso, Isa Mestre e Rita CaeiroCultura: Grethel Ceballos e Manuela VazDesporto: Fábio Lima e David Marques

Pág. 28 “Não li mas vou ver o filme” dá o mote para uma análise aos hábitos de leitu-ra portugueses, e a inflúência do cinema no afastamento dos leitores.

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PORTUGAL

O novo Ferrari F-60

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Caso Freeport sem fim à vista

O caso Freeport tem vindo a mostrar uma complexidade que o coloca já como sucessor do caso mais longo até hoje no sistema judicial português, o Processo Casa Pia.

As investigações começaram em 2004, quando o actual primeiro-

ministro português, José Sócrates, era ainda membro da oposição do governo de Durão Barroso. Na cal-ha estão suspeitas de envolvimento do político no processo de aprova-ção do projecto, que apresentava muitas lacunas a níveis ambien-tais. Para isso, Manuel Pedro, sócio da empresa de consultoria Smith & Pedro, teria pago ao di-rigente do governo várias tranches de dinheiro (uma delas no valor de

2.5 milhões de euros) para que o processo de aprovação se tornasse menos moroso. Uma das testemu-nhas afirma até que “Manuel Pedro disse-o abertamente, referindo-se de forma directa ao nome de José Sócrates. Ele vangloriava-se de ter feito isso”.

Um dos últimos avanços no caso conta com a exibição de uma gravação veiculada pela TVI na qual Charles Smith fala com um administrador do Freeport e com um ex-funcionário da Charles & Pedro sobre o primeiro-ministro,

dizendo que este ‘é corrupto’. En-tretanto feito arguido no processo, o empresário escocês confessou a investigadores ingleses que o vídeo é verdadeiro e que não sa-bia que estava a ser gravado. Até ao momento os dois sócios da em-presa, Smith e Manuel Pedro, de consultoria são os únicos arguidos do caso.

José Sócrates tem revelado uma grande capacidade de argu-mentação e de aproveitamento desta situação durante todo pro-cesso e depois de avançadas para a

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Foto: www.tvi24.iol.pt

PORTUGAL

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esfera publica as acusações de que provavelmente o seu nome estaria apontado pelas autoridades ingle-sas como suspeito neste processo, revelou à comunicação social que nada o desviará do seu caminho, ‘não é desta forma que me vencem’. Acrescenta ainda que o conjunto de acusações que lhe são feitas, tanto por grupos partidários como por órgãos da comunicação social, são uma verdadeira ‘campanha negra’ para o deitarem abaixo e para con-seguirem ganhar votos nas eleições deste ano. São já alguns os órgãos da comunicação social e jornalis-tas alvos de processos vindos do

político português.Numa retrospectiva feita pelo

semanário Expresso aos casos que pautaram a carreira do primeiro-ministro, como foi, por exemplo, o da sua licenciatura na Universi-dade Independente abordado pela comunicação social em 2007, che-gou-se à conclusão que o político se desenvencilhou da polémica falando exaustivamente do as-sunto. José Sócrates prefere falar sobre aquilo de que é acusado do que se remeter ao silêncio. E isso tem sido visto também no decurso deste processo que o coloca como suspeito de receber ‘luvas’ para fa-cilitar a aprovação da construção do Freeport de Alco-chete, que gerou no ano de 2005 mui-tas polémicas no que diz respeito ao impacto ambien-tal que poderia ter. Prova desta von-tade de falar sobre o caso são as con-vocações que fez à imprensa para esclarecer dúvidas sobre avanços no processo, um co-municado emitido no dia 23 de Janei-ro de 2009 no qual o primeiro-min-istro português se mostra indignado e repudiado pelas notícias avançadas pelo jornal Sol e pela TVI. O comu-nicado conta com sete pontos nos

quais José Sócrates fala sobre a reunião cujo assunto foi o Free-port na qual estiveram presentes ‘o Secretário de Estado do Ambiente, a Câmara Municipal de Alcochete e promotores do empreendimento Freeport’. Um dos últimos pon-tos foca-se na afirmação de que o projecto só foi aprovado porque cumpria todos os pressupostos am-bientais. É consensual no seio do partido a perseverança que torna Sócrates num líder. Para muitos, mais facilmente o chefe do gov-erno ‘se se afundará no pântano do que fugirá dele’.

ADRIANO NARCISO

José Socrates é suspeito de ter aceite “luvas” pela Freeport

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PORTUGAL

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O Acordo da DiscórdiaPortugal adia entrada em vigor do Novo Acordo Ortográfico

Na passada Terça-feira, dia 5 de Maio, estava prevista a implementação do novo

acordo ortográfico em Portugal e em Cabo-Verde que ficou marcada na visita que o Primeiro-Ministro português fez em Março ao arqui-pélago. Contudo, Manuel Veiga, ministro da cultura cabo-verdiano, afirmou à Agência Lusa que a data foi alterada para o segundo semes-tre deste ano.

Segundo Manuel Veiga, apesar da data estar marcada para este mês o adiamento deve-se ao facto de al-guns Estados-Membros admitirem que há necessidade de aglomerar mais consensos e decisões à volta deste assunto, não só em Cabo-Verde como em Portugal, Angola e Moçambique.

Relembrou ainda que existem três países da CPLP, Cultura da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, que não ratificaram o acordo – Angola, Moçambique e Guiné-Bissau – e por esse motivo não afirma qualquer data especí-fica.

A data para a entrada em vigor

do projecto só deverá ser conhe-cida no dia da reunião dos min-istros da CPLP que está marcada em Junho na capital portuguesa, para que seja conjunta com outros países, uma vez que Manuel Veiga defende que desta forma o acordo terá muito mais força do que se entrar em vigor apenas em Cabo-Verde.

Ao referir-se a Portugal, o min-istro da cultura de Cabo-Verde de-clara que também não entrará em vigor na data anteriormente esta-belecida devido à necessidade que as autoridades portuguesas têm em debater melhor este assunto.

Manuel Veiga, termina afirman-do que aproveitará este adiamento para promover um estudo sobre o peso da Cultura na economia ca-bo-verdiana, com os objectivos de obter indicadores económicos para apresentar a empresários, produ-tores, agentes culturais e socie-dade civil; de adquirir uma noção mais clara da importância da cul-tura como geradora de emprego e de rendimentos e determinar que peso tem no Produto Interno Bruto

(PIB), uma vez que existe tanta gente a promover a sua cultura.

Ainda este mês irá até Cabo-Verde uma delegação da União Europeia (UE) com o objectivo de discutir com o Ministério da Cul-tura os termos de referência e o fi-nanciamento do estudo.

Recorde-se que já no decorrer deste ano, José António Pinto Ri-beiro, ministro português da cultura garantira que o acordo ortográfico entraria em vigor “seguramente em 2009”. Mas, na verdade, a entrada do novo acordo poderá não estar para tão breve, sendo que esta está ainda dependente de questões que passam por dar um prazo de apli-cação e adaptação às novas regras durante vários anos.

Adaptação essa que promete não ser fácil, a julgar pelas críticas provenientes de cidadãos portu-gueses que acreditam que o novo acordo ortográfico é apenas uma forma de “abrasileirar” a língua, entre outras críticas proferidas por vozes dissonantes.

RITA CAEIRO

Foto: www.baixaki.com.br

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Bento XVI caminhará pelaTerra Santa no trilho dos fiéis

Naquela que será a sua 12ª viagem internacional du-rante o papado, Bento

XVI visita Israel de 8 a 15 de Maio, num percurso que conta com idas à Jordânia e também aos Territórios Palestinianos.

Com esta visita Bento XVI as-sinala mais um marco relevante na igreja católica tornando-se no terceiro papa da era con-temporânea a visitar a Terra Santa, somente precedido de Paulo IV, em 1964, e João Paulo II, no ano 2000.

O lema desta viagem é o de que Bento XVI seguirá os passos de Jesus na Terra Santa, num passado marcado por importantes e complexos acontecimentos históricos.

De visita ao local que continua a ser o berço de cristãos, judeus e muçulma-nos, Bento XVI viverá oito dias de profunda dedicação ao cristianismo, prevendo-se que proferirá durante esse tempo vinte e sete discursos e homilias, repartidos pelos encontros com fiéis, líderes religiosos e autoridades políticas regionais.

Na verdade, o Vaticano já afirmou que esta é uma for-ma de encarar o Papa como um “peregrino” que viaja com o propósito de espalhar a mensagem da paz numa terra devastada em tempos passados por contínuos con-flitos. É precisamente com o propósito de servir este ob-jectivo que o Sumo Pontífice se encontrará com o Rei da Jordânia, o Presidente e o Primeiro-Ministro israelitas e o Presidente da Palestina.

Para além destes encontros, o ponto alto da visita do Papa à Terra Santa será a visitação do Muro Oci-dental e a visita ao Mausoléu do Yad Vashem, em Jerusalém, para prestar homenagem às vítimas do Holocausto.

Numa altura em que a igreja católica perde algum terreno na Eu-ropa, Bento XVI voltará a espalhar

as sementes do cristianismo, numa das mais importantes deslocações de sempre.

Compreenda o trilho de Bento XVI, seguindo, através da infogra-fia em anexo, a evolução das rela-ções do Vaticano com Israel.

ISA MESTRE

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MUNDO

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Ataques na Costa da Somália

Os ataques piratas na costa somali repetem-se desde a década de 90 e parece não

haver uma forma de pôr um freio nesta situação que tem vindo a fra-gilizar o país social, política e eco-nomicamente.

O grande motor deste tipo de ataques surgiu com a Guerra Civil, iniciada nos anos 80 (1986). Os piratas são acima de tudo ex-pes-cadores, indivíduos pertencentes a clãs de senhores da guerra que dividem o país em facções e até especialistas em electrónica. Cerca de um milhar de homens armados usam-se de pequenas embarcações para interceptar navios e petro-leiros de diversas nacionalidades.

Nos últimos anos a actividade destes grupos armados tem vindo a intensificar-se e as consequências são inevitáveis: o custo dos fretes são muito elevados, muitos dos mantimentos enviados por orga-nizações ligadas à ajuda humani-tária, como é o caso do Programa Alimentar Mundial da ONU,

nunca chegam ao seu destino e são milhares as vítimas da fome. Para além disso tem sido vital um apoio recorrente de várias nações que facultam navios de guerra que facilitem o descarregamento nos portos somalis. Este auxílio ganhou um novo fôlego no verão do ano passado com a formação de um grupo, a Combined Task Force 150, do qual fazem parte países como os Estados Unidos da América, Canadá, Portugal, Ale-manha, França, Grã-Bretanha e Turquia. Esta coligação exerce a sua principal actividade no Golfo de Aden, zona onde os ataques são mais frequentes e violentos.

Com o sucesso desta resolução, o Conselho de segurança da ONU decidiu apelar aos países membros que ajudassem nesta causa através do uso dos seus navios. Desde aí a apreensão de embarcações piratas tem vindo a aumentar de dia para dia. A índia tem sido o país com maior número de barcos apreendi-dos.

No dia três de Maio deste ano, a fragata Nivose, uma embarcação que faz parte de uma operação da União Europeia para proteger o tráfego de mercantes no Golfo de Áden capturou onze suspeitos de

Foto: www.naval.com.br

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O novo Ferrari F-60

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Foto: Reuters

pirataria, numa colaboração com a guarda costeira das ilhas Sey-chelles. Mas, não obstante a acção da comunidade internacional junto à costa somali, os ataques continu-am a ser uma realidade. Três dias depois da captura dos piratas pela embarcação europeia, um grupo de piratas sequestrou um navio de origem alemã com onze ocu-pantes romenos, não existindo até ao momento qualquer pedido de resgate ou informações acerca do estado de saúde dos reféns. O se-questro sucedeu-se a cerca de 120 quilómetros do Iémen e neste mo-mento são dezanove as embarca-ções em poder dos piratas somalis. A acção portuguesa nesta zona tem vindo a dar os seus frutos. No dia dois de Maio a fragata Corte Real impediu um ataque pirata a um pe-troleiro proveniente das Bahamas. Foram apreendidos explosivos e armas escondidos na embarcação. A fragata estava incluída numa missão de reconhecimento quando detectou a tentativa de sequestro. Ao avistarem o helicóptero da fra-gata lusa os piratas fugiram em lanchas, acabando por ser apanha-dos.

Neste momento são várias as áreas que servem de apoio aos gru-pos de piratas. Entre elas conta-se uma grande concentração em Ca-lula, Eyl, Harardhere e Hobyo.

Até ao momento, os suspeitos de pirataria têm sido julgados no Quénia, França ou em Puntland, região semi-autónoma da Somália. De facto, o sistema judicial so-mali, por causa destes confrontos entre clãs no país, está totalmente fragmentado e desta forma todo o tipo de processos criminais nunca são resolvidos no país. Em 2004, durante as eleições presidenciais, Abdullahi Yusuf Ahmed foi eleito chefe de Estado em Nairobi, capital

do Quénia, uma vez que Mogadís-cio era controlado por chefes trib-ais, os apelidados ‘Senhores da guerra’ que governam todo o país, embora o governo, encabeçado por Ali Mohammed Ghedi, ainda este-ja activo ainda que sem qualquer influencia dado o não reconheci-mento pelos chefes tribais.

Durante a cimeira franco-es-panhola, realizada em Abril deste ano, o Presidente francês Nicolas Sarkozy e o presidente do gover-no espanhol, José Luís Zapatero, anunciaram a vontade em realizar-se uma conferência internacional

sobre a Somália. Segundo Zap-atero, esta conferencia deverá ‘dar uma resposta alargada, não apenas ao nível da segurança e militar, à pirataria, que afecta os nossos dois países e outros. Uma resposta inte-gral, política, de segurança, civil, para o futuro do país’. Só desta forma poderá ser resolvido o prob-lema que assola o país do oriente africano uma vez que, este surto de ataques piratas não é mais que uma consequência do ambiente negati-vo em que o país mergulhou.

ADRIANO NARCISO

O capitão Richard Phillips foi recebido nos EUA como um héroi

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Os Bastidores de Guantánamo

Documentário do National Geographic mostra comofunciona a prisão de máxima segurança de Guantánamo.

Pela primeira vez na história, o National Geographic Chan-nel (NGC) conseguiu acesso

exclusivo ao interior do estabeleci-mento prisional de Guantánamo, que saiu da obscuridade do sigilo para ser exibido ao mundo. Uma aventura insólita!

Cercada de polêmicas

Herdada pelos E.U.A, no fim da guerra com os espanhóis em 1988, a base naval de Guantánamo, situada em Cuba, é tida por muitos como punição por uma vida crimi-nosa, ou, talvez, como um encar-ceramento sem explicação. Para a maioria dos reclusos é um inferno de torturas. Para certa Miss Univer-so é um local “relaxante, calmo e lindo, uma experiência inesquecív-el”. É, ainda considerada, para al-guns como prova válida que se faz justiça. Bush encarou-a como uma

“arma com grades para condenar a ameaça terrorista”, e para Obama significa mais um capítulo que terá de acabar no livro da administra-ção Bush. Porém, para a grande pluralidade de pessoas é um mod-elo contra a democracia e os dire-itos humanos.

A célebre prisão marcou a história do séc. XXI, após ter re-cebido a primeira leva de prision-eiros, em 2002, catalogados como “os assassinos mais atrozes, peri-gosos e bem treinados do planeta”. Guantánamo está cercada de con-trovérsias em torno da luta norte-americana contra o terrorismo.

O que acontecia por detrás da vedação foi um dos segredos mais ocultos até agora. A vida no inte-rior da prisão deixou de ser segre-do depois que, no mês de abril em Portugal, o NGC exibiu o docu-mentário «Bastidores: Guantána-mo», transmitido em vários locais

do planeta.

Quotidiano da prisão

O NGC “envergou” o uniforme laranja - mecânica, e mostrou, no documentário, tanto como funcio-na a prisão de segurança máxima, como detalhes da vida quotidiana de presos e guardas.

A equipa do NGC, que em Agosto de 2008 conviveu com os detidos da base durante três sema-nas, examina a luta diária da au-toridade imposta pelos militares sobre os prisioneiros, muitos deles privados da liberdade durante anos sem terem sido incriminados for-malmente.

Através de um corredor, con-stantemente vigiado, as câmaras registaram as vozes dos prisionei-ros, que se comunicam entre eles em árabe e aos berros. No entanto, foram proibidas as entrevistas com

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Cena do filme The Road to Guantanamo (2006)

detidos, tal como a filmagem dos seus rostos. As imagens recolhidas foram analisadas pela equipa de segurança militar norte-americana, segundo o NGC. Algum material foi censurado porque violava a se-gurança nacional americana, refere ainda o canal.

São várias as personagens in-tervenientes neste documentário, no qual, a reacção aos guardas por parte dos prisioneiros (alguns dos quais ameaçam suicidar-se), é complementada com testemunhos de ex-presos. Entre eles, encon-tra-se Abdul Salam Zaeef, o “em-baixador” dos talibãs no Paquistão quando os EUA invadiram o Afe-ganistão, e que após a sua chegada à prisão, em 2002, era conhecido entre os guardas como “o rei de Guantánamo”. Zaeef declara, no documentário, que quando lhe per-mitiram deixar a prisão, ordenaram que assinasse que era membro da Al Qaeda e um criminoso.”Disse a eles que preferia ficar” - explicou.

O programa segue também os passos da sargenta Jane Smith,

uma guarda que fica confundida com as críticas que a prisão recebe, e do encarregado de treinar os no-vos guardas, o Sargento-Major do Exército William Jones.

Documentar a realidade

As celas, os 2.000 guardas en-carregues de zelar pela sua segu-rança e seu treino especial, a vida mecânica dos seus 260 prisionei-ros, seus problemas e as historias guardadas em cada um dos cantos das suas celas, chegam até nós por meio deste documentário. Capta-mos a esperança dos que esperam abandonar seu estado de culpabili-dade, o testemunho dos que um dia se sentiram prisioneiros por uma falsa acusação e a crueldade dos que se resignaram da sua condição a base de desesperados e fracassa-dos intentos de amotinação. Tudo sob a atenta vigilância deste lugar, que quebra dia após dia com tudo o estabelecido na Convenção de Genebra sobre as leis de protecção de prisioneiros.

“Se o National Geographic Channel não nos tivesse mandado para o terreno, nunca teríamos feito este documentário. Acho que esta história tem que ser preservada e espero que estas imagens ajudem”, disse John Else (realizador do doc-umentário).

Uma produção que tem como objectivo principal mostrar uma visão imparcial desta controversa prisão, a realidade que existe por trás das notícias, em que soldados cumprem a função de carcereiros e um país inteiro discute que direitos devem ser concedidos aos inimi-gos.

Deste modo, rende-se homena-gem aos últimos latidos de vida duma das prisões mais conhecida por suas formas de implementar justiça e pelos nomes, os rostos e as lágrimas daqueles que deixaram nos seus barrotes grande parte das suas vidas como culpados da “guerra do terror” e mártires do outro lado da justiça. Só estes con-hecem a verdade dos seus delitos.

GRETHEL CEBALLOSFoto: www.sapo.pt

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Perniciosa GripeComeçou no sul do México,

numa suinicultura próxima de La Gloria, no dia 18 de Março e já voou para quase todo o mundo. Chama-se Vírus A (H1N1), bap-tizado tecnicamente de Gripe A e convencionalmente de Gripe Suí-na e presume-se que ainda só não atingiu África, o continente mais flagelado por doenças no mundo.

Temendo uma cada vez mais provável generalização rápida da doença, a Organização Mundial de Saúde subiu, no passado dia 29, o grau de emergência – com escala de 1 a 6 – para 5, que notifica iminên-cia pandémica. Alguns especialis-tas acreditam que uma epidemia idêntica à que vitimou 50 milhões

de pessoas em 1918 pode repetir-se em pleno século XXI. Argumen-tam que, embora a letalidade seja mais reduzida e os recursos, que garantem a circunscrição da doen-ça, sejam mais eficazes, o eventual contágio em massa poderá vitimar, à semelhança, um grande número de pessoas.

Até ao momento, já foram con-firmados cerca de 2500 casos de pessoas contagiadas com Gripe A – 2350 fora da Europa. Entre os países mais afectados destacam-se México, com 1200 casos confir-mados, Estados Unidos, com 900, Canadá, com número que ascende aos 200 e Espanha, que conta com quase 90.

Em Portugal, apesar de algu-mas suspeitas de pessoas even-tualmente contagiadas, apenas um caso foi confirmado. José Torgal, professor catedrático de Saúde Pública na Universidade Nova de Lisboa e Director do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, considera a situação muito preo-cupante e exteriorizou – em Con-gresso sobre “Pandemias na era da globalização”, em Coimbra – a necessidade de se criar uma vacina a curto prazo, argumentando que, se tal não ocorrer, «a previsão mais optimista é que haverá em Portugal dois a três milhões de pessoas com gripe, o que significa que serão 75 mil pessoas a perder a vida».

Foto: Commons.wikimedia.org

por David Marques

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O novo Ferrari F-60

MUNDO

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Perniciosa Gripe Sintomas de possível infecção pelo vírus A (H1N1) – Ministério da Saúde:

_ Febre;

_ Sintomas respiratórios (tosse, nariz entupido);

_ Dor de garganta;

_ Possibilidade de ocorrência de outros sintomas;

_ Dores corporais ou musculares;

_ Dor de cabeça;

_ Arrepios;

_ Fadiga;

_ Vómitos ou diarreia (embora não sendo típicos na Gripe sazonal, têm sido verificados em alguns dos casos recentes de infecção pelo novo vírus da Gripe A (H1N1).

Foto: Commons.wikimedia.org

por David Marques

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MUNDO

Foto: Wiki Commons

A crise anda de automóvel

Crise, crise e mais crise. Esta é certamente a pa-lavra mais utilizada em

qualquer actividade que envolva meios económicos. E para não fugir à regra, o sector automóv-el acaba por ter uma queda de vendas na ordem dos 17,2% no primeiro trimestre deste ano em relação ao período homólogo do ano passado.

Resultados preocupantes

A Associação Europeia de Construtores Automóveis (ACEA) divulgou dados preocu-pantes no passado mês sobre a evolução da venda de automóveis no primeiro trimestre de 2009, com quedas a ascenderem aos 65% na Irlanda e aos 42,4% em Portugal. Dos vinte países em análise, apenas dois – Alemanha e Polónia – registaram um incre-mento nas vendas, 18% e 1,3%, respectivamente. Em compara-ção com o mesmo período no ano

transacto, foram vendidos menos 700 mil veículos, aproximada-mente.

A queda de vendas de carros novos em Portugal foi a maior en-tre os países da antiga União Eu-ropeia a 15, o que se traduz numa variação trimestral negativa de 42,5%, com 31 780 unidades ma-triculadas.

Em termos de marcas, a maior queda registou-se na Nissan, com uma diferença de 29,5 pontos per-centuais em relação ao primeiro trimestre do período transacto. Das marcas em análise, nenhuma delas conseguiu valores positivos, sendo que a Suzuki foi aquela que teve valores menos negativos, com apenas 1,7% de decréscimo de vendas, pese embora esta seja a marca que menos veículos ven-deu. De entre as marcas que mais dinheiro movimenta, a Volkswa-gen mantém a primeira posição nas vendas, com descida de 7,1%. Segue-se o grupo PSA (Peugeot e Citroën) e logo depois a Ford.

ARAN exige apoios estatais

Em face dos dados apresen-tados, a Associação Nacional do Ramo Automóvel entregou uma carta ao Primeiro-Ministro José Sócrates para alertar para a situa-ção grave que se vive no ramo. «Nunca é de mais explicar que a situação do sector automóvel está deveras crítica, assistindo-se ao encerramento diário de empresas e não se vislumbrando qualquer al-teração nos anos mais próximos», sustenta a ARAN.

A ARAN admite estar em con-tacto com o Governo para apressar as medidas de combate a esta crise no sector, mas considera-a previ-sível, estando a acontecer também em outros países da União Europe-ia. Mesmo assim, exigem «medidas no sentido de dinamizar o mercado face aos índices de confiança nega-tivos que existentes de momento». Medidas que já foram aplicadas na Alemanha e que surtiram efeitos, como se comprova no aumento das vendas por terras germânicas.

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MUNDO

A crise anda de automóvel

Construtores combatem crise

Sem compradores mas com força para combater a crise, os construtores vão aos poucos to-mando medidas. Em alguns as soluções passam por despedir fun-cionários, como aconteceu na Gen-eral Motors. A empresa americana que detém marcas como Cadillac, Chevrolet, Daewoo, Opel ou Saab, enfrenta uma crise enorme e nem os apoios da Administração Obama, cerca de cinco mil milhões de dólares, chegam para controlar as despesas. Num último fôlego para evitar a falência, a General Motors tem em mão duas propostas, uma de venda da Opel e outra que in-clui participações na produção da GM na América Latina, ambas fei-tas pela FIAT. A marca italiana já se alienou à Chrysler para evitar a falência do construtor america-no, numa operação “patrocinada” pela Administração dos EUA. A ideia da Fiat é de criar uma nova sociedade que reagruparia o ramo automóvel (marcas Fiat, Lancia e Alfa Romeo) assim como a parte que vai deter na Chrysler e as ac-tividades europeias da GM, e de introduzir o conjunto em bolsa. A partir desta fusão sairia o segundo grupo automóvel com maior vol-ume de negócios à escala global, apenas suplantado pelo gigante nipónico Toyota, e superando a ri-val Volkswagen.

Ainda nos EUA, a Ford, im-pulsionada pelas medidas impos-tas pela Administração Obama, irá deixar de produzir veículos com-pactos e passará a produzir veícu-los iguais para todos os mercados, algo que tem tido bastante sucesso nas marcas nipónicas, sucesso de vendas nos Estados Unidos. De acordo com o CEO da centenária empresa, a época dos «grandes camiões e os SUVs» dará lugar aos veículos de menores dimen-

sões e mais amigos do ambiente, para os quais a Ford «não teve, até agora, uma proposta consis-tente».

A Renault, pela voz de Ri-cardo Oliveira, director de co-municação em Portugal afirma que «não estávamos à espera de uma queda destas. Reduzir cus-tos, vamos de certeza, mas não cortar pessoas. Temos de fazer o máximo possível com o mínimo de investimento». Ainda em Por-tugal, uma das maiores sustenta-doras do PIB nacional, a Autoeu-ropa tem vivido tempos difíceis, com tentativas de adaptar as novas realidades do mercado à sustentabilidade dos funcionári-os, evitando desta forma o seu despedimento. Mesmo assim, a empresa sediada em Palmela é aquela que melhor se tem dado com a crise, tendo uma queda de 17% nos lucros no primeiro se-mestre, face ao mesmo período no ano passado. Para os tempos que se avizinham, a Autoeuropa afirma que «o objectivo do novo sistema de produção Volkswa-gen é exactamente implementar processos 100 por cento estan-dardizados em todas as funções, quer sejam directas ou indirec-tas». O gestor da empresa afirma também que se for encontrada uma solução de flexibilidade na organização dos tempos de tra-balho «não faz sentido a dispen-sa de trabalhadores da Volkswa-gen Autoeuropa com contrato a termo certo».

Alemanha imune à crise?

A Alemanha, o maior mer-cado automóvel da Europa, teve dados positivos no primeiro tri-mestre deste ano, muito por cul-pa das medidas aplicadas pelo governo da Chanceler Angela Merkel. Num país com grande

tradição automóvel, os alemães são o 3º país com maior densidade de estradas no mundo inteiro. Na ver-dade, o mercado automóvel tende a ser muito importante.

Volkswagen, BMW, Porsche, Mercedes ou Audi são algumas das marcas que seguem a máxima dos carros germânicos, qualidade de construção e condução. Com um acréscimo de 18% nas vendas, o que representa um total de 868,100 mil automóveis vendidos, o mercado alemão colhe os frutos da medida lançada em Fevereiro pelo governo de Merkel. Esta medida consistia na troca de veículos com mais de nove anos de uso por modelos novos, mediante um abatimento no preço de 2500 euros. O programa foi tão bem sucedido que o governo alemão anunciou já que irá aplicar mais 3,5 mil milhões de euros na promoção deste projecto.

Ainda no mercado alemão, a Volkswagen surge como ‘cabeça de cartaz’, sendo também a marca que mais vende na Europa. Apesar da descida de 7,4% no último trimestre, a empresa alemã aplaude o resultado tendo em conta o «contexto altamente desfavorável ao sector».

FÁBIO LIMA

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LITERATURA NA PRIMEIRA PESSOA

ESCRITORA, JORNALISTA E EDITORA, PATRÍCIA REIS É JÁ CONSIDERADA POR MUITOSCOMO “UMA DAS MAIS ORIGINAIS VOZES” DA ACTUAL LITERATURA PORTUGUESA

Foto: Ram

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ENTREVISTA

Encarada por muitos como “uma das mais originais vozes da actual literatura portuguesa”, Patrícia Reis é hoje o espelho de uma mulher “que escreve sobre as pessoas e sobre as emoções que as relacionam com o mundo”, uma mulher atenta, perspicaz e inquieta, uma mãe de dois filhos que vê na escrita uma

das suas grandes paixões. Nascida em 1970, a escritora, jornalista e editora garante não se recordar de viver sem livros, sem estar

rodeada de histórias. Prova de que o seu nome é indissociável de uma carreira no mundo das letras é o seu invejável percurso

jornalístico, que conta com nomes como o semanário O Independente, onde se iniciou no mundo do jornal-ismo, Expresso, Público, Semanário Económico, as revistas Time, Sábado, Marie Claire, Elle, e finalmente a revista Egoísta, da qual é editora.

Dinâmica e multifacetada, a autora de Beija-me (2006), Cruz das Almas (2004), Amor em Segunda Mão (2006) e Morder-te o Coração (2007) divide-se entre a paixão pelas letras, o Atelier de Design e Conteúdos e a vida empresarial.

Repleta de simpatia, aberta e audaz, Patrícia Reis acredita na ideia de que “é urgente ensinar as pessoas a ler”, sobretudo “ a ler sem preconceitos”. Venha conhecer o universo da escritora que considera a literatura portuguesa “uma excelente viagem”…

PATRÍCIA REIS

Onde e quando sentiu que surgia em si o ímpeto para a escrita?

Não me recordo de viver sem livros, sem estar rodeada de histórias de encantar, de piratas e outras maravilhas. Assim que aprendi a escrever, comecei as minhas histórias. Primeiro poemas – muito maus! – e depois pequenas histórias que funcionavam como remakes do meu dia-a-dia. Depois nunca mais parei. Escrevo todos os dias. Por razões diferentes: por questões profissionais, no blogue (www.vaocombate.blogs.sapo.pt), nos diferentes emails que troco com amigos que estão noutras paragens, por estar a meio de um conto ou livro ou ter de mandar uma crónica (tenho uma crónica semanal no Semanário Económico). Escrever

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ficção todos os dias não me é possível. A escrita não nasce todos os dias a esse nível, mas por vezes acontece ter momentos em que a ficção surge de rajada e não tenho como controlar o impulso.

Como caracterizaria a sua prosa? Crê encaixar-se na linha de autores da sua geração, como é o caso de José Luís Peixoto, Filipa Melo, Gonçalo M. Tavares, entre outros?

Se Deus existir não existirá uma linha de autores de determinada geração, é um rótulo demasiado limitador. A minha escrita não está relacionada com a do José Luís Peixoto ou com a do Gonçalo M. Tavares. São universos distintos. Tenho amizade e respeito por ambos. São escritores que, de certa

forma, reinventaram a literatura portuguesa, ao nível da escrita, dos temas a abordar, das fórmulas narrativas. A Filipa Melo tem um único romance publicado, do qual gosto muito, mas não sei o que virá a seguir. Eu procuro ter a minha voz e não ser um sucedâneo de ninguém. Julgo que é o que todos os escritores fazem: procurar uma voz única, ter um modus operandi de contar uma história passível de ser reconhecido e apreciado pelo autor. Não sei se o consigo. Vou trabalhando. O tempo o dirá. Sobretudo, os leitores farão uma avaliação porque quem nos confere esse estatuto, o de escritores, é o leitor, não são os críticos, os editores, os amigos ou familiares.

Os seus romances visam recorrentemente a temática

ESCRITORA, JORNALISTA E EDITORA, PATRÍCIA REIS É JÁ CONSIDERADA POR MUITOSCOMO “UMA DAS MAIS ORIGINAIS VOZES” DA ACTUAL LITERATURA PORTUGUESA

Foto: Ram

on Mello

Texto_ Isa Mestre Fotografia_ Ramon Mello

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LITERATURA NA PRIMEIRA PESSOA

do amor. ‘Em Morder-te o Coração’ e ‘Amor em Segunda Mão’ oferece-nos o retrato de pessoas desorientadas que buscam um sentido que apenas encontram no outro. Que mensagem pretende transmitir ao mundo através da sua escrita?

Eu escrevo sobre pessoas e sobre as emoções que as relacionam com o mundo. Não escrevo ficção científica, apesar de ter, em tempos, apreciado e consumido o género com alguma avidez. Não há nada mais importante do que as pessoas e elas são a estrutura, o osso, da

minha escrita. O amor é quase inevitável e recorrente. A maioria dos livros é sobre isso. Desde tempos primordiais. Não há como contornar esse sentimento que nos une ou desune, que nos alegra ou fustiga. Hoje vivemos uma vertigem de comunicação que faz com que as relações das pessoas estejam envoltas em características muito interessantes. A ideia do compromisso para a vida parece ter terminado. As pessoas não se sentem obrigadas a casar, a ter filhos, a percorrer um padrão mitificado pelos nossos pais ou avós. Há imensas nuances na forma como nos relacionamos e isso é muito apelativo à imaginação de

qualquer autor. Acabo sempre por concluir que a maioria das pessoas procura uma ideia melhor de si e uma ideia melhor do amor. Afinal, talvez seja isso, o tal banalizado amor, que nos une e nos torna humanos.

É escritora, jornalista e editora. É diariamente difícil conciliar estas três profissões?

Não, difícil é conciliar uma profissão, dois filhos, um marido, duas gatas, um pai doente, uma mãe pré reformada, um irmão sem destino definido... Conciliar é um verbo de todos os dias e de todas as pessoas que estão activas. Costumo dizer que roubo tempo de vida para escrever ficção e é verdade que o faço, fora de horas, quando a casa está silenciosa e os meus filhos dormem. A minha profissão é vivida em pleno, com alguma adrenalina já que tenho um atelier de design e conteúdos (www.004.pt) e a vida empresarial é uma verdadeira loucura, sobretudo em tempo de crise. No âmbito do atelier, criei um dos meus projectos de eleição, uma revista trimestral, chamada Egoísta (www.egoista.pt) que vai fazer dez anos e que tem mais de 30 prémios internacionais. É uma revista de curtas ficções e de divulgação de trabalho artístico, plástico e fotográfico. Permite-me, também, publicar e editar os melhores escritores da actualidade, portugueses ou estrangeiros.

Foi já caracterizada como “uma das mais originais vozes da actual literatura portuguesa”. Sente de alguma forma o peso do seu sucesso?

O sucesso, se tiver peso, é na conta bancária e a minha é muito leve e despojada. Não me sinto uma escritora de sucesso. Escrevo. Faço-o com a maior honestidade

Foto: Ram

on Mello

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ENTREVISTA

possível. Espero que as pessoas gostem. Não ganho fortunas com a literatura, não me parece que venha a ganhar. O vil metal, como se costuma dizer, não é a minha motivação. O protagonismo também não. Não faço lançamentos dos meus livros e não apareço em festas ou em revistas de coração, sou uma pessoa muito pacata e caseira que gosta de contar histórias. Se as minhas histórias tocarem alguém, fico feliz. Ganho o dia. Vejo tudo isto de forma muito simples. Um dia posso deixar de escrever. Não deixarei de ler.

Acredita na ideia de que “saber ler é tão difícil como saber escrever”?

Não, acredito que é urgente ensinar as pessoas a ler. A ler sem preconceitos. Cada um pode ser um naipe enorme de leitores. Não precisamos de ler a literatura russa para sermos cultos. Isso é ridículo. Há milhões de livros pelo mundo: é preciso procurar autores, apreciá-los, ler com gosto, perceber que um livro é viajar sem sair do sítio. Se para mim isso sucede com um livro de José Eduardo Agualusa ou Inês Pedrosa, para outra pessoa pode funcionar com Nicholas Sparks ou outro autor. O que importa é ler. O resto é uma treta. Eu li ficção científica e livros policiais com enorme prazer. Um dos grandes romances portugueses da actualidade é um romance policial, chama-se “Longe de Manaus” e é de Francisco José Viegas.

Ao fim de alguns anos de vida literária, quem é a Patrícia Reis que revê na sua escrita?

Não revejo nada. Nunca volto aos meus livros, a não ser que mo peçam. E se isso acontece sinto que aquele livro que escrevi,

que está nas minhas mãos, me totalmente estrangeiro. Não tenho saudosismos, não volto atrás. Escrevi, revi, entreguei. O livro já não é meu. É de quem o apanhar.

Consegue enquanto escritora dissociar-se da obra, ou funde-se algumas vezes naquilo que escreve?

Lucien Freud diz que “todos os retratos são auto retratos”, ele que sendo neto do grande Freud, deve ter a sua razão. Prefiro, contudo, a frase de um grande escritor português, Vergílio Ferreira, que dizia: “o livro é um biombo atrás do qual a gente se despe”. Todos os livros têm um pouco do autor e do mundo que o rodeia. O escritor é um larápio dos outros. Nada mais do que isso.

Em duas palavras como caracterizaria a literatura portuguesa?

A literatura portuguesa em três palavras: uma excelente viagem.

Que podemos esperar de Patrícia Reis no futuro? Existe algum projecto que gostaria de trazer a público?

Acabei há dias uma novela que se passa em Lisboa e na Figueira da Foz. Chama-se “Antes de ser Feliz”. Ainda não a arrumei na minha cabeça, mas fui feliz ao escrevê-la e isso é dizer quase tudo. Depois? O futuro a Deus pertence, diz-se por cá.

ISA MESTRE

Mundo Contemporâneo Sugere...

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CULTURA

O novo Ferrari F-60

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Desde os policiais à CSI ou NCIS; ao jogo de espio-nagem em 24 ou Alias –

A Vingadora; a vida no mundo da medicina em Anatomia de Grey ou em Dr. House; as fugas pela liberdade em Prison Break; ou os relatos de uma vida em luxúria de Californication ou Secret Diary of a Call Girl; tudo parece ser tema para se fazer uma série. Umas mais longas – The Simpsons já conta com 20 temporadas – out-ras mais curtas – Drive ficou-se por seis episódios -, num mercado que parece ser actualmente um fenómeno global. Com milhões de espectadores, as mais bem suce-didas séries da actualidade param os EUA… Note-se que CSI mobi-liza semanalmente 17 milhões de espectadores, apenas nos Estados Unidos!

Desenhos animadosabrem hostilidades

‘Felix The Cat’ foi a primeira série a ser transmitida no mundo, no dia 9 de Novembro de 1919. A qualidade visual era primitiva, im-agens a preto e branco granuladas, animações fracas, e sem som, sen-do as falas apresentadas em caixas - do tipo banda desenhada. Mas com o passar dos tempos, a quali-dade das televisões melhorou, os meios técnicos também, e em 1928 ‘Felix the Cat’ estreou na estação americana W2XBS, na primeira emissão televisiva analógica. Em 1922, a série ‘Little Rascals’ foi a primeira com personagens reais, tendo tido um enorme sucesso na época. Foi também nesta altura que a famosa série ‘Looney Tunes’ se estreou, sendo mesmo a série de

maior longevidade, tendo apenas terminado em 2006, ao cabo de 50 temporadas e mais de um milhar de episódios. Na década de 40 surgiu a também muito bem sucedida série ‘Tom and Jerry’, que durou perto de 40 anos. Actualmente, a cultura dos desenhos animados continua a fazer sucesso, com ‘The Simpsons’ a ser a maior referência.

Televisão a cores impulsiona

Com o surgimento da televisão, pela estação americana NBC, as séries televisivas generalizaram-se. The Twilight Zone, Alfred Hitchcock Presents, Wanted: Dead or Alive, Popeye, Zorro ou Ad-ventures of Superman são alguns dos títulos que surgiram nos anos

Fenómeno à escala global, as séries televisivas estão a atrair cada vez mais espectadores. Damos a conhecer a história daquele que promete ser um dos mais fenómenos de sucesso da década.

por Fábio Lima

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CULTURA

50. Na década de 60 a ficção científica em Star Trek ou Doc-tor Who fizeram as delícias dos espectadores. Os temas policiais começaram a surgir, com The Fugitive ou The FBI.

Na década de 80, Michael Knight e o seu carro KITT fiz-eram furor pelo mundo, tendo-se tornado num dos símbolos de sempre das séries televisivas. Knight Rider conta actualmente com um remake, que está a ser exibido pela NBC. The A-Team ou Seinfeld foram outros títulos em destaque neste período, onde a qualidade das imagens e do som em nada tinha a ver com a altura em que surgiu a televisão a cores.

Friends marca uma década

No Outono de 1994 surge aquela que terá sido a série de

maior sucesso de sempre: Friends. Apoiados numa música dos já ex-tintos Beatles, os produtores desta série fizeram dela uma marca nas vidas de muitas pessoas, que não passavam sem os seus 30 minutos de Friends.

No mesmo ano de Friends, surgiu também ER - “Serviço de Urgência”, que curiosamente ter-minou a sua exibição neste ano de 2009, ao fim de 15 temporadas e 15 anos de exibição. Começava aqui uma tendência para se caracterizar a vida da classe médica, que viria a ser retratada anos mais tarde na arrogância de Dr. House ou na per-severança de Anatomia de Grey.

Os anos 90 ficam também mar-cados pela comédia perspicaz de Mr. Bean, os jogos mafiosos em Os Sopranos, ou até mesmo os de-senhos animados que marcaram a infância de muitos jovens: Dragon Ball Z.

Séries sobre tudo e para todos

Na viragem de século, num ápice todas as companhias televi-sivas resolveram apostar forte na criação de ficção deste género e

Foto: www.tv.com

Foto: Mundo Contemporâneo

Estes seis amigos fizeram ‘Friends’ ser o maior sucesso de sempre

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CULTURA

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actualmente há séries para todos os gostos, sendo que estão constante-mente a surgir novos nomes. 24 com Kiefer Sutherland, estreada em 2001, tem sido um dos grandes sucessos da presente década, a ide-ia inovadora de fazer uma tempo-rada corresponder a um dia na vida real, o formato de várias janelas no ecrã a mostrar em tempo real o que é feito em vários locais deu a esta série uma notoriedade excep-cional. Já mais recente-mente, Prison Break criou um fenómeno estranho no mercado cada vez mais amplo das séries televisivas. Com pouco mais de 2 milhões de es-pectadores no

país de origem, Estados Unidos, pelo mundo fora é a série mais vis-ta e aquela que mais é falada. Em jeito de comparação, as investiga-ções forenses de CSI prendem 18 milhões de pessoas a cada semana, não sendo sequer uma das 10 mais vistas no resto do mundo.

De resto, nos Estados Unidos as séries que envolvam investigações policiais são as que mais cativam

os espectadores. Logo após de CSI surge

Criminal Minds e, uns degraus

abaixo, aparece a série onde a

actriz lusa Dan-iela Ruah represen-

ta o papel da Agente Especial Kensi Blye, NCIS. Cold Case ou

The Mentalist são outras das séries policiais mais vis-

tas por terras do Tio Sam. Fora da órbita dos crimes, Desperate Housewives e a já extinta Sex and City marcam um merca-do (quase) exclusivo para o público feminino.

Outro mercado muito explorado, e muito bem sucedido, é aquele que retrata a vida de equi-pas médicas. House MD, Grey’s Anatomy, ER ou Private Practice são algumas das mais vistas. Mas o que será que leva tantos espe-ctadores a ficar cola-dos ao ecrã durante uma hora para ver a ar-rogância e inteligên-cia de House? Para se comoverem com as histórias de vida em Grey’s Anatomy? Ou para viverem tão intensamente a vida

de uma equipa de urgências hos-pitalares? Um escape para a rotina diária, talvez. Mas, na verdade, o que é verdadeiramente importante é que estas séries acabam por dar lições de vida a cada episódio.

E em Portugal?

No nosso ‘cantinho à beira-mar plantado’, o consumo de séries resume-se a telenovelas que nos enchem o prime-time, novelas re-pletas de temas recorrentes que no final de contas acabam por ter sem-pre o mesmo desfecho e propósito. Porém, começam já a surgir em Portugal séries de qualidade… Conta-me como foi ou T2 para 3 são os maiores exemplos. T2 para 3 retrata a vida de três universitários, que dividem um apartamento e têm que viver os problemas habituais da vida de um estudante que saiu da égide dos pais e passa a viver com mais independência - e re-sponsabilidade, também. O grande sucesso alcançado fez com que a série fosse vendida para 10 países, e este ano encontra-se nomeada para os prémios “Rose D’Or”, na categoria de melhor programa de televisão a nível europeu, na classe de multiplataforma - televisão (RTP), Internet e telemóvel.

‘Conta-me como foi’ - base-ado na série espanhola ‘Cuéntame cómo pasó’ - retrata a vida de uma família na década de 60, durante o Estado Novo. São enfatizadas as peripécias das crianças, as difi-culdades da época, e todos marcos sociais – revoltas estudantis e so-ciais. Sendo um retrato fiel é ha-bitualmente considerada uma série que leva uns a “aprender e outros a recordar”. Muito bem acolhida pela crítica, esta série tem direito a prime-time ao Domingo na RTP1.

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CULTURA

O verdadeiro Punk está de volta

5 anos depois do lançamento do último álbum de originais, ‘American

Idiot’, os americanos Green Day regressam aos escaparates, com o álbum ‘21st Century Breakdown’. É já no dia 15 de Maio que o novo álbum estará à venda.

Dividido em três actos, intitulados Heroes and Cons , Charlatans and Saints e Horseshoes and Handgrenades, o novo registo da banda nova-iorquina promete manter a imagem deixada nos anteriores álbuns. O primeiro dos três volumes conta com 18 faixas.

À imagem de ‘American Idiot ‘, ‘21st Century Breakdown’ comporta uma mensagem

política. “Muitas pessoas nasceram numa época infeliz, a era de George W. Bush”, referiu Armstrong à Rolling Stone. “Agora há optimismo, com Obama, [mas] tenham cuidado. Não olhem para o tipo como a resposta a todas as vossas preces. Continuam a ter que ser participativos”. De forma geral, os temas em análise serão a crise económica e a hipocrisia religiosa.

O single de avanço “Know Your Enemy” está disponível nas maioria das rádios desde dia 24 de Abril, tendo sido bastante bem acolhido pela crítica.

Espera-se então a chegada do dia 15 para que os fãs da banda possam satisfazer a sua

curiosidade e ouvir as novas músicas.

De modo a promover o novo álbum, mas também para satisfazer o desejo de milhares de fãs por todo o mundo, a banda composta por Billie Joe Armstrong, Mike Dirnt e Tré Cool tem já agendadas várias datas por todo o mundo. Portugal não falha na agenda do grupo Punk, com data marcada para dia 28 de Setembro, no Pavilhão Atlântico. Nove anos depois da última aparição, os Green Day poderão matar saudades do público luso. Bilhetes já estão à venda, com preços entre 32 e 45 euros.

FÁBIO LIMA

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CULTURA

bastante interessante, havendo de tudo um pouco. No dia 7, as Tu-nas abriram a festa dos estudantes. O dia 8 é preenchido pela banda algarvia O Ludo, pelo rock elec-trónico de Slimmy e o mais dese-jado da noite, Dj Tiesto. No palco secundário actuam os You Should Go Ahead. O dia 9 é invadido pelo Hip-Hop, tendo Mind da Gap e Da Weasel como seus representantes, Freddy Luck por sua vez toca no Palco Rua.

Com um espírito super descon-traído, popular e divertido, assim é caracterizado o dia 10 que conta com a presença de Fio Dental, Quim Barreiros e as habituais músicas provocadoras, no palco secundário haverá a presença d’A Banda da Rua. O dia 11 é exclusivamente dedicado a bandas algarvias, tendo Nome e Íris no palco principal e Killing Electrónica, vencedores do Concurso MUSICALGARVE 2009, no espaço RUA. No dia 12 é a vez de o rock subir ao palco principal com Bunnyranch e Tara Perdida enquanto Green Machine apresenta-se no palco RUA. Dia 13 é um dia, sem dúvida, dançável e diferente tendo o ska de Kumpa-nia Algazarra, o magic dance de Blasted Mechanism e o trance de Olive Tree Dance (RUA) como re-

sponsáveis principais impulsiona-dores. Klepth, David Fonseca e Doismileoito (palco RUA) no dia 14, são ideais para passarmos um momento mais calmo e recarregar-mos as energias para o dia seguinte que conta com o som de Mesa, a loucura de Buraka Som Sistema e o soul de La Resinance. Para ter-minar em grande, no último dia haverá um tributo aos históricos ABBA com Platinum ABBA, o som electro/pop de 2 Many Dj’s, o house viciante de Pete Tha Zouk e o punk-ska de Skalibans no palco RUA.

Para quem acha que depois dos concertos ainda tem energia para aguentar mais umas horin-has a dançar, a tenda electrónica encontra-se disponível com uma programação aliciante: dia 7 temos Agadir e Gutty, dia 8 Just, Ben Wild chega-nos dia 9, seguido de Christian F no dia seguinte, Miguel Neto continua a festa dia 11 e dia 12 promete ser animado com MrK-ool (RuaFM & Kadoc), dia 13 con-tamos com Step_Line Project vs Max Drum, Dia 14 Funkysystem, seguindo-se Dia 15 com Dezpera-dos e terminando assim a XXIV SA com Daniel D, dia 16.

MANUELA VAZ24

Foto: skynetblogs.be

«Onde há clima para ...»

É este o tema escolhido para a XXIV Semana Académica que teve início na quinta-

feira, dia 7 de Maio, com a famosa Serenata e termina dia 17 com o tão esperado baile de finalistas.

O País das Maravilhas irá con-tar com diversos tipos de activi-dades pretendendo agradar assim a “gregos e troianos”.

As actividades desportivas do Pais das Maravilhas começaram dia 3 com o Duatlo na Praia de Faro e Bicicleta e Corrida no Ludo, aproveitando assim o belíssimo tempo que se faz sentir no Algarve. Dia 9 podemos contar com um Torneio de Paintball, na zona do Ludo, e um Workshop de Tai Chi. A etapa Circuito Golfe AAUALG chega dia 10 e realiza-se em Castro Marim. Os dias que se seguem são repletos de actividades divertidas na praia de Faro, tais como Fute-bol de Praia (dia 12), Voleibol de Praia Masculino e a Etapa Circuito Surf/BodyBoard AAUALG, dia 13, o Voleibol de Praia Feminino, dia 14. O Râguebi de Praia surge dia 15 e, por fim, dia 17 termina com um passeio pedestre na ilha de Tavira e o parque de lazer na mata da Conceição.

Este ano, em termos de con-certos há uma diversidade musical

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Foto: AAUALG

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CULTURA

Espectáculos a não perder

Música

Gilberto MauroAcústico / Progressivo / Experimental

Joel Xavier & Randy Brecker - «Saravá»Instrumental/ Jazz/ Fusão

ACDCRock/Hard Rock

Mayra AndradeMúsica Cabo-Verdiana

Data: 21/05Local: Teatro Municipal, PortimãoHora: 21h30Preços: 55-60€

Data: 26/05Local: CCB, LisboaHora: 21h00Preços: 5-25€

Data: 03/06Local: Estádio de Alvalade, LisboaHora: 19h30Preços: 55-60€

Data: 13/06Local: Teatro das Figuras, FaroHora: 22h00Preços: 20-22€

Teatro

Gota D’ ÁguaTeatro das Figuras 23 De Maio; 21H30

Premiado em várias categorias, o musical Gota D’Água, de Chico Buarque, chega pela primeira vez a Portugal.

Em 1975, Chico Buarque e Paulo Pontes adaptaram a tragédia Medeia de Eurí-pedes à realidade brasile-ira. Passados 30 anos, o espectáculo volta a cativar o público com uma abor-dagem inovadora, uma linguagem moderna e novos arranjos musicais. Um espectáculo classificado pela imprensa brasileira, de obra-prima.

Preços:1ª plateia, normal: 30 €2ª plateia, normal: 25 €

Primeiro AmorTeatro das Figuras 27 De Maio; 21H30

«... Uma história de amor? Sim, e não só. Entre o cemi-tério e um banco de jardim, entre altas urtigas e bostas de vaca, entre uma casa e outra casa ele relata como as coisas realmente se pas-saram entre ele e Lulu...»

Um homem relata sua história. A história é sempre igual. Desde o princípio do verbo que tem sido assim. A ironia da vida. As contrarie-dades do amor. A impreterív-el morte. Nunca houve outros assuntos. Jamais haverá outra história. Seja deste ou de outro homem.«A vida. O amor. A morte. O medo. O riso. O desespero. A perversidade. A repetição.»

CD TOP 5

Flamenco Souleriade Pitingo

Pitingo, a revelação da música flamenca em 2009, cruza de forma soberba os ritmos e cores do Flamenco com grandes temas Pop e Soul. O resultado resume-se numa palavra: Olé!

Fado Ruas - Lisboarium & Tourists (2CD) de Mísia

Lisbonarium guia-nos numa viagem por ruas lisboetas. Tourists é um encontro com o mundo e suas culturas, mas com alma fadista.

Envolverde John Legend

No seu terceiro álbum, o talentoso músico traz um repertório consistente e uma sonoridade mais electrónica. Canções cativantes, num álbum que fala de amor e relacionamentos.

Together through Lifede Bob Dylan

Sentimental e impulsivo, mostra um Dylan que não se preocupa com os pormeno-res da produção musical actual. Nunca antes a sua voz foi tão marcada pela ir-ritação, destruição e desejo.

Quiet Nightsde Diana Krall

Após uma prolongada ausên-cia dos estúdios de gravação Diana Krall apresenta “Quiet Nights” um álbum que reúne grandes êxitos da Bossa Nova e alguns dos mais belos standards da música Americana.

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MUNDO CONTEMPORÂNEO SUGERE

LiteraturaInstruções paraSalvar o Mundo

De Rosa Montero.Uma fábula de modernidade, um reviver das angústias do quotidiano de todos nós, do caos, da fragilidade da vida e da fragmentação em que vivemos. É assim que Rosa Montero traz a público o seu último romance dando-nos a conhecer a dor de um viúvo que perde a mulher e encontra um espaço onde tudo parece neces-sitar de salvação: o mundo.

Da Mão para a Boca

De Paul Auster.Um romance de vida, a história do menino que começou a trabalhar num petroleiro e acabou com uma caneta nas mãos a encantar o mundo com a sua escrita. Neste romance auto-biográfico existe o Paul Auster que o público nunca teve oportunidade de conhecer, existe o fracasso e a dúvida, tantas vezes escondidos do público. Existe a frontalidade de um homem que escreve para não morrer.

Folclore Íntimo

De Valter Hugo Mãe.Folclore Íntimo, editado pela Cos-morama, é a mais recente compila-ção do percurso poético do vence-dor do prémio Saramago. Depois de se afirmar na prosa com Remorso de Baltazar Serapião, Valter Hugo Mãe procura encantar o público através desta colectânea de poemas repletos de qualidade e talento.

CinemaAnjos e Demónios À Noite, no Museu 2

Exterminador Implacável:A Salvação

De Ron Howard, com Tom Hanks, Ayelet Zurer e Ewan McGregor.País: EUAGénero: ThrillerDistribuidora: Columbia TriStar WarnerEstreia a 14 de Maio de 2009

De Shawn Levy, com Ben Stiller, Robin Williams e Owen Wilson.País: EUA e Canadá Género: Comédia e AcçãoDistribuidora: Castello LopesEstreia a 21 de Maio de 2009

De McG, com Christian Bale, Anton Yelchin e Bryce Dallas Howard.País: EUA, Alemanha e Reino UnidoGénero: Ficção Científica, AcçãoDistribuidora: Columbia TriStar WarnerEstreia a 4 de Junho de 2009

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ESPECIALFoto: w

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Cinema e Literatura, par-ceiros na arte de criar e entreter, na árdua tarefa de

construir uma cultura global e de instruir, dividem ainda um desejo comum: reunir a preferência do público. Apesar da partilha inces-sante deste desejo, as relações en-tre o cinema e a literatura são já antigas e nem sempre amistosas.

De um lado a arte daqueles que constroem mundos com as pala-vras, daqueles que batalham soz-inhos em busca da imaginação do leitor, em busca do adjectivo certo e da metáfora perfeita.

De outro, a arte dos que apren-deram a projectar nas telas os senti-mentos e as emoções, as vivências e as paixões, dos que aprenderam a chegar ao público, estendendo-lhe a mão e ensinando-lhe a simpli-cidade de que se reveste a sétima arte.

Ao longo das últimas décadas as duas artes têm feito sucesso quase sempre de mãos dadas, mas a verdade é que nos últimos anos o

cinema tem levado a melhor sobre a literatura, afirmando-se já como uma grande potência no terreno dos mass media.

Quem nunca ouviu frases como “Não li, mas quero ver o filme!”?

Na verdade, segundo um estu-do realizado pela Marktest, os por-tugueses lêem cada vez menos, preferindo muitas das vezes as adaptações literárias aos grandes ecrãs. Filmes como O Código Da Vinci, O Nome da Rosa, Amor de Perdição, Viagem ao Centro da Terra ou O Conde de Monte Cristo são apenas alguns dos exemplos de obras literárias que foram adapta-das ao cinema e passaram já na grande tela um pouco por todo o mundo. Vultos da literatura que subitamente se transformaram também em sucessos de bilheteira. Muitos deles grandes clássicos que, até à data do seu lançamento cinematográfico, permaneceram na penumbra, passando desperce-bidos ao vulgo cidadão, deixando a nu fragilidades culturais que se

reflectem sobretudo ao nível da lit-eratura.

Silvino Gonçalves, professor de Literatura no ensino secundário, crê que o desinteresse pelas letras tem origem “numa sociedade cujo molde assenta no consumismo imediato”, uma sociedade que “vive a um ritmo frenético, o qual impede o usufruto e a serenidade necessários para se saborear lenta e calmamente um bom livro”.

Num país em que são publica-dos por ano cerca de quinze mil livros “deveria existir também uma sensibilização para a necessi-dade dos portugueses encararem a nossa literatura enquanto matriz da nossa identidade cultural, e, como tal, preservá-la, descobri-la, re-descobri-la e divulgá-la”, defende o professor.

Todavia, a realidade revela-se bem diferente com 67% dos por-tugueses a assumir não terem lido um único livro nos últimos 12 me-ses, arremessando o país para a “cauda” da Europa.

Não li, mas quero ver o filme!por ISA MESTRE

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NÃO LI, MAS QUERO VER O FILME!

Na liderança do ranking de hábitos de leitura encontram-se a Suécia, Finlândia e Reino Unido, países onde também as actividades culturais adquirem maior relevo.

Muitas são as razões aponta-das pelos portugueses para preterir da literatura em nome de uma agradável ida ao cinema, destacan-do-se de entre elas a falta de tempo e o elevado preço dos livros no mercado.

Silvino Gonçalves admite que os álibis do público acabam por reflectir uma vivência frenética “de uma certa forma optamos ou somos condicionados para uma certa via do “facilitismo” quando se trata de ler de facto. A falta de tempo justifica aos nossos olhos, frequentemente, a opção pela tela ou pela “caixinha mágica”.

Reflexo desta opção são so-bretudo os jovens, encarados como “espelho amplificador desta triste realidade” e que não sentem, por parte da maioria dos pais um in-centivo para a leitura.

“Actualmente os alunos que ingressam no ensino secundário trazem uma bagagem cultural e literária bastante limitada, normal-mente fruto do “ambiente” cultural e da literacia dos seus lares”.

A carência de bagagem literária traduz-se, a curto e médio-prazo, no aparecimento de dificuldades

na aprendizagem “na verdade, a ausência de referenciais sócio-cul-turais sólidos, limita e comprom-ete a capacidade de compreensão e de assimilação dos conteúdos lec-cionados”, contudo, Silvino Gon-çalves encara esta realidade com optimismo, defendendo que, nestes casos “o professor terá como papel inicial e fulcral o de tentar fazer “germinar” estes resquícios de lit-eracia latente”.

Forma de arte em movimento, aventura saudável e escapatória a um dia-a-dia marcado pela rotina, o cinema passou facilmente a in-tegrar o universo do público, tor-nando-se num verdadeiro motor de movimentação de massas.

O facto de, ao assistir a um filme, “o espectador não care-cer necessariamente de um back-ground cultural e literário consoli-dado” é certamente uma das razões que leva os portugueses a “poupar-se” nas leituras para se entregar por completo ao cinema.

No que toca às adaptações de obras literárias ao grande ecrã muitas são as vozes, porém, nem todas convergentes. Desde os que acreditam que a essência do livro jamais poderá ser transmitida para a magia do audiovisual até aos que defendem que os filmes são uma forma de “aculturar” o público me-nos letrado.

Para Silvino Gonçalves, que semeia o gosto pela literatura, “as adaptações são uma forma atrac-tiva e abrangente de levar a um público alargado obras de refer-ência no panorama literário nacio-nal e internacional passado e con-temporâneo”, acrescentado que “filmes como O Nome da Rosa, Cyranno de Bergerac, O Conde de Montecristo, Romeu e Julieta, O Mercador de Veneza, O Senhor dos Anéis ou mais recentemente Ensaio sobre a Cegueira, são certa-mente obras de referência que não perderam da sua essência quando transpostas para a tela mágica do cinema”.

Em constante disputa mas também em eterna cumplicidade, Literatura e Cinema oferecem ao público o que de melhor tem o mundo: “À magia que proporciona o cinema podemos contrapor o gos-to/prazer com que nos presenteia a literatura. São ambos momentos mágicos e de uma certa forma in-timistas. O essencial, e isto é algo que é inato ao próprio conceito de literatura, é que esta não perca a sua essência.”

Pela essência da literatura e em nome da qualidade da arte que se produz no cinema, apenas uma diferença pode distanciá-las: o cin-ema cria imagens, a literatura cria imaginação.

O Conde de Monte CristoDe Kevin Reynolds, com James Cavie-zel, Guy Pearce e Dagmara Dominczyk

O Código Da VinciDe Ron Howard, com Tom Hanks,

Audrey Tautou e Ian McKellen

O Nome da RosaDe Jean-Jacques Annaud, com Sean Con-

nery, F. Murray Abraham e Christian Slater

por ISA MESTRE

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ESPECIALFoto: www.stlouisargus.com

O Lado Oculto Do Mundo

Costuma-se dizer que a riqueza não traz a felici-dade. No coração da África

subsariana encontra-se o país que é a prova exacta disso. Abastado em recursos naturais, nomeadamente em diamantes, ouro e cobalto, a República Democrática do Congo tem mais do que a grande maioria dos países desenvolvidos para ser um país profícuo e auto-sustentáv-el. Porém, essa riqueza tem sido a principal causadora do mais caro e sangrento conflito armado desde a 2ª Grande Guerra.

O início dos anos 60 foi mar-cado pelo aumento da actividade rebelde no Congo e pelo início da guerra civil. Na ressaca da eman-cipação belga, concedida a 30 de Junho de 1960, foram várias a facções que se digladiaram pela busca incessante de um poder que há séculos não lhes pertencia. No início de 1961, o primeiro-ministro Patrice Lumumba é assassinado por rebeldes ao serviço de Moise

Tchombé, líder da província de Catanga que, em troca de arma-mento, prometeu à Bélgica de-fender os seus contínuos interesses mineiros na região por si tutelada. Tchombé, que entretanto subiu ao poder, seria derrubado em finais de 1965 por Mobutu, que depressa instaurou uma ditadura fortemente nacionalista e repressiva. Alguns anos depois, por ordem sua, o país passa a chamar-se Zaire.

O ano de 1994 ficou marcado pelo agudizar do conflito étnico entre Hutus e Tutsis no Ruanda. O presidente Hutu, Juvenal Habyari-mana, com quem Mobutu mantin-ha um pacto que ia muito para além da não-agressão, foi assassinado e iniciou-se o sangrento genocídio ruandês. Estima-se que em pou-cos meses foram mortos entre 800 mil a 1 milhão de tutsis. Com o fim do genocídio, o líder zairense mostrou-se do lado dos seus re-sponsáveis - os Interahamwes – oferecendo-lhes refúgio no leste do

por David Marques

país. Movido pela emoção, Mobutu mal sabia que estava a cavar o fim de um império que ele instaurara havia quase 30 anos. Sentindo-se desprotegidos pelo seu líder, a in-stabilidade cresce no país. Laurent Kabila - líder da oposição, que três décadas antes tivera em Che Gue-vara um precioso mas descartado aliado - reúne apoios por parte do Ruanda e do Uganda, recebendo não só tropas mas também din-heiro e armas. No início de 1997 Mobutu é finalmente destituído pelo regime de Kabila, que toma o seu lugar e volta a rebaptizar o país com o seu antigo nome – Repúbli-ca Democrática do Congo.

Fardos Indesejáveis

Preciosos aliados na luta con-tra o regime de Mobutu, Uganda e Ruanda teimavam em abandonar o leste do território congolês, argu-mentando que as forças rebeldes ainda não estavam seguramente

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O LADO OCULTO DO MUNDO

controladas. De facto, a ajuda na operação de limpeza dos rebeldes hutus trazia consigo outras inten-ções: o aproveitamento do ter-ritório alheio para terem acesso à extracção ilegal de recursos min-erais. O Uganda, que não possui coltan – um minério utilizado na produção e armamento sofisticado e em equipamento aeroespacial – exportou 70 toneladas em 1999. Por sua vez, entre 96 e 97 o Ru-anda exportou uma quantidade 17 vezes superior à sua capacidade produtiva.

Alegando que Kabila estaria a proteger os grupos rebeldes que atacavam os países vizinhos, Ru-anda e Uganda, apoiados pelo Bu-rundi, tentaram depor o presidente congolês. Em seu auxílio actu-aram Zimbabué, Chade, Namíbia e Angola. Era o começo oficial de uma guerra que se prolongaria por quase 5 anos, espalhando miséria e destruição pelo coração de África.

A somar à pressão externa, o crédito que o povo dera ao seu líder após a destituição de Mobutu estava a esgotar-se. Afinal Kabila não era o protótipo de líder liberal

que havia auto-propagandeado. Ao revés, personificava o pior tipo de ditador africano, frio e sanguinário e a suposta democracia, em que os congoleses ambicionavam viver – e que fazia parte do nome da nação – não passava de pura demagogia burocrática.

O Fim De Kabila e aGuerra sem Guerra

Laurent Kabila pagaria cara

a prepotência governativa que caracterizara os anos do seu des-membrado executivo, ao ser mor-to a sangue-frio por um dos seus guarda-costas. Substituído por um governo de transição – ou de suc-essão – encabeçado pelo seu filho Joseph Kabila, em 2002 foi assina-do um acordo de paz fundamental para pôr termo à guerra mais san-guinária das últimas 6 décadas.

Desrespeitada a alínea da paz no acordo assinado há 7 anos, a se-gurança no Congo ainda não passa de mera utopia: entre finais do ano passado e Janeiro, foram mortos quase mil civis às mãos de rebeldes ugandeses.

Flagelado por uma guerra que, mesmo depois de declarado o seu fim, ainda continua a matar aos milhares, a República Democráti-ca do Congo é o país com a terra mais próspera de todo o continen-te africano. O sequioso desejo de poder, a letargia governativa, as acções rebeldes, a corrupção e a ganância pelo que é alheio tardam em afastar o nebuloso espectro que em pouco mais de uma década já tirou a vida a mais de 5 milhões de civis, numa contagem galopante e sem vim à vista.

Foto: MONUC/Marie Frechon

Desalojados dirigem-se para a cidade de Goma depois de mais um confronto entre tropas governamentais e rebeldes

O CONGO NO SÉCULO XXI__ Mais de 1.4 milhões de pessoas encontram-se em campos de refugiados no leste do país;

_ Em 2004, 1,000 pessoas morreram diariamente vítimas de subnutrição ou doenças;

_ Desde Janeiro, mais de 1,200 crianças-soldado foram recuperadas de vários grupos armados na província de Kivu do Norte (leste);

_ Mais de metade das 14,000 pessoas que ocupam um campo de refugiados perto de Goma – capital de Kivu do Norte – são crianças;

_ Perto de 100.000 pessoas ficaram desalojadas nas últimas semanas;

_ 1.400 Milhões de dólares é a quantia que a ONU despende anualmente

_ A ONU conta com mais de 18,000 membros a actuar no terreno.

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O MUNDO AO CONTRÁRIO

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O Mundo ao Contrário

Cancro afinal era…árvore

Artyom Sidorkin queixava-se de fortes dores no peito e tossia sangue. Os médicos diagnosticaram-lhe um cancro num dos pulmões e resolveram avançar para a cirurgia o mais cedo possível. Quando se preparava para extrair o tumor, o cirurgião Vladimir Kamashev deparou-se com uma situação insólita. Uma árvore com 5 (!) centímetros germinava em perfeito estado dentro do corpo do jovem russo de 28 anos.

“Talvez tenha inalado sementes de abeto, mas não me lembro”, explicou aliviado o paciente.

Assembleia de secaA presidente da Câmara de Madrid Elvira Rodríguez proibiu o uso de garrafas de água dentro da sala da Assembleia, a fim de evitar que um eventual derrame bloqueie o sistema de votação electrónica. Alguns deputados do PSOE chegaram mesmo a gritar “Queremos água!”. “ Não posso beber até que suas senhorias não autorizem”, replicou prontamente a presidente da Assembleia.Quem pretender beber água terá de sair do local, ou então esperar pela hipótese remota de poder falar na tribuna dos oradores, único local onde é permitido “matar a sede”.

Louvado seja o Senhor

Um tribunal do Rio de Janeiro condenou uma empresa de transportes a pagar 7 mil reais – aproximadamente 2.300 euros – a uma cliente que em Maio de 2007 perdeu o “Encontro de Jovens” com o Papa Bento XVI. A viatura em que seguia foi interceptada pela polícia que, de seguida, constatou que alguns documentos estavam em falta.Letícia Nascimento chegou ao local do evento com seis horas de atraso e, por isso, não foi autorizada a entrar no recinto, o que a levou a apresentar queixa contra a empresa respon-sável. Volvidos quase dois anos da visita papal ao Brasil, o juiz Jerónimo da Silveira deu razão à devota, condenando a empresa por danos morais causados à jovem.

por David Marques

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O MUNDO AO CONTRÁRIO

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Abstinência alimentar purifica

Em França, um casal foi preso por impedir que os seus oito filhos se alimentassem. O

caso foi descoberto quando a polícia encontrou uma das

crianças a rondar uma lixeira próxima de casa. Altamente

debilitadas, duas meninas de 13 e 15 anos nem pesavam 50 quilos no seu conjunto, sendo

que a criança que fez “re-bentar a bomba” distribuía

os seus 1,65m por apenas 32 quilos. O pai, muçulmano

fundamentalista, justificou a medida grotesca com o facto de as crianças necessitarem

de se “purificar”.

Pontaria fatal

Na Flórida (EUA), uma mulher matou acidental-mente o seu filho de 20 anos enquanto praticavam tiro ao alvo. Após o sucedido, Marie Moore escreveu uma carta manifestando o seu arrependimento, suicidan-do-se de seguida. “Tenho muita pena. Tinha de enviar o meu filho para o céu e a mim para o inferno”, ates-tou.

Quem diria

Aconteceu no dia 11 de Abril, no programa Britain’s Got Talent (semelhante ao Ídolos em Portugal), quando Susan Boyle, uma desempregada escocesa de 47 anos sem preocupação com as aparências, irrompeu pelos estúdios cheia de confiança. “Estou a tentar ser cantora profissional”, começou por dizer a concorrente. Em poucos instantes, o escárnio com que foi recebida deu lugar ao espanto de todos, ao interpretar i r re p re e n s i v e l m e n t e o tema “I dreamed a dream”, do musical “Os miseráveis”.“Sem dúvida que esta foi a maior surpresa que tive em três anos de programa”, começou por dizer, positivamente abalado, um dos jurados. É caso para dizer: as aparências iludem.

Louvado seja o Senhor

Um tribunal do Rio de Janeiro condenou uma empresa de transportes a pagar 7 mil reais – aproximadamente 2.300 euros – a uma cliente que em Maio de 2007 perdeu o “Encontro de Jovens” com o Papa Bento XVI. A viatura em que seguia foi interceptada pela polícia que, de seguida, constatou que alguns documentos estavam em falta.Letícia Nascimento chegou ao local do evento com seis horas de atraso e, por isso, não foi autorizada a entrar no recinto, o que a levou a apresentar queixa contra a empresa respon-sável. Volvidos quase dois anos da visita papal ao Brasil, o juiz Jerónimo da Silveira deu razão à devota, condenando a empresa por danos morais causados à jovem.

Obesos pagam a dobrar

Atenção. Se é obeso e pretende voar num avião

pela United Airlines, tenha cuidado, pois pode ter de pagar dois bilhetes se o avião estiver esgotado.

Questionada sobre a na-tureza da medida, a com-panhia norte-americana

defendeu-se, argumentando que no ano passado rece-

beu 700 queixas de pessoas que tiveram de partilhar assento com pessoas com

excesso de peso.

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DESPORTO

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Bruno Mestre e Rui Duarterumo ao bom sucesso

Depois de quinze vitórias, quatro empates e oito der-rotas, continua a existir

em Olhão espaço para o sonho e ambição que prometem comandar a caravela de Jorge Costa rumo ao porto do Bom Sucesso.

Rumo ao Sonho

Actualmente no topo da classi-ficação, ocupando o 1º lugar, com um total de 49 pontos o Olhanense poderá estar a um passo de fazer história, caso consiga carimbar a subida à Liga Sagres.

História essa que Bruno Mestre, o polivalente da equipa de Olhão, e Rui Duarte, capitão da forma-ção rubro - negra acreditam que o Olhanense poderá fazer muito em breve. A convicção de todo o plantel reflecte-se nas palavras do defesa direito que garante que “o Olhanense tem a melhor equipa da segunda liga”, afirmando que a equipa terá certamente argumentos para fazer frente aos adversários,

sendo prova disso “ o facto de termos estado treze jornadas em primeiro lugar, o que diz algo acer-ca do nosso valor”.

A verdade é que, a quatro jorna-das do final da prova, a equipa de Olhão transpira confiança e sereni-dade, e, desvalorizando a pressão em que está envolta garante estar neste momento “sob uma pressão positiva, que nos leva a fazer mais e melhor”.

Bruno Mestre assegura que o plantel tem tido “uma trajectória constante, pois temos bons joga-dores e jogamos a bom nível”, acrescentando ainda que “a tra-jectória positiva se deve sobretudo à mentalidade ganhadora que nos foi incutida desde o início por um treinador que representa para nós um exemplo de ambição e vitória, tendo em conta que, enquanto jogador, conseguiu ganhar quase tudo”.

No entanto, para o jogador da formação Olhanense, os resultados

não se fazem só dentro das quatro linhas e as vitórias são efeito “da adaptação dos métodos de treino à nossa condição de equipa bastante viajada, juntamente com a en-treajuda que existe entre os cole-gas de equipa”.

A culminar, o camisola 16, Rui Duarte, está plenamente confiante no sucesso e acredita com todas as suas forças que o Olhanense ru-mará com destino à Primeira Liga - “Vamos conseguir, tenho a certeza que vamos conseguir e alcançar um feito histórico não só para o clube mas também para todos os jogadores e treinadores”.

Aos adeptos do Olhanense, o capitão rubro-negro promete um Rui Duarte “de entrega total…sempre”, afirmando que “com o Olhanense a lutar por um objectivo que tem mais de trinta anos, o que o clube pode esperar é profission-alismo, entrega e alguma da minha experiência para alcançar este feito histórico”.

Foto: Vidigal

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Foto: Vidigal

DESPORTO

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Duas pérolas à beira-mar

Considerados por muitos pe-dras fulcrais da equipa de Jorge Costa, Bruno Mestre e Rui Duarte são hoje duas pérolas à beira mar, dois jogadores aos quais os sonhos reforçam a vontade de vencer.

Ambos em final de contrato com a equipa de Olhão e após uma época seguida de perto pelos mais atentos ao futebol nacional, o fu-turo pode ainda reservar algumas surpresas.

Talento nos pés e habilidade dentro das quatro linhas são ap-enas algumas das principais car-acterísticas de Rui Duarte, médio que completa este ano trinta e uma primaveras, e que já passou por clubes como: Belenenses, Naval, Leixões e Estrela da Amadora.

Apesar de uma carreira que engloba o nome de alguns clubes sonantes, Rui Duarte afirma que “é um grande orgulho representar uma instituição como o Olhanense, é um clube humilde, cumpridor com os seus atletas e acima de tudo é um clube com grande mística”.

Bruno Mestre, por sua vez, afirma com um sorriso nos lábios, sentir-se bem em terra de pescado-res, assegurando que jamais vol-tará as costas aos desafios - “sou um jogador que quando entra em campo estou determinado a dar tudo o que tenho e posso em prol da equipa”.

Esta época, o defesa direito tem jogado intermitentemente pela for-mação Olhanense, no entanto sem-pre que chamado à equipa de Jorge Costa, Bruno Mestre tem cumpri-do com as suas funções, contabili-zando já dois golos na Liga Vitalis. Segundo Bruno Mestre o segredo para o sucesso está simplesmente no trabalho, afirmando que é “mais fácil ser bem sucedido quando não se descura do trabalho diário”.

Ambicioso e lutador, Bruno

Mestre ainda sonha em “dar o sal-to” para um clube maior, e deixa o aviso que “quem não acredita que pode subir mais, com certeza não conseguirá melhorar”.

Com percursos distintos mas aspirações semelhantes tanto Bru-no Mestre como Rui Duarte se en-contram prestes a terminar o vín-culo com o clube.

Ambos os jogadores afirmam já ter sido contactos pelo clube no sentido de continuar, mas para já o futuro está ainda reservado à in-certeza.

Bruno Mestre, contratado pela formação algarvia na época 2006/2007, certifica que o seu futuro ainda continua na bruma, tendo em conta que “ outros fac-

tores como o facto de a nossa car-reira ser seguida por alguns clubes, nos leva sempre a ponderar nas duas questões: na renovação ou na saída”.

Rui Duarte, que já pertencera ao plantel do Olhanense no ano 1996/1997, partilha da ideia do colega de equipa, afirmando: “Sou ambicioso, quero mais para a minha carreira e isso faz com que pense em dois cenários”.

No entanto, até ao final da época, Bruno Mestre e Rui Duarte afirmam estar completamente con-centrados no objectivo comum do plantel: a subida ao escalão máxi-mo do futebol português.

ISA MESTRE

Rui Duarte, o comandante das tropas olhanenses rumo à Liga Sagres

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Uma máquina de títulos

Quem assistiu (e assiste) à Liga Portuguesa de Fu-tebol facilmente entend-

erá que há uma equipa de outra galáxia, uma equipa que por mais adversidades que surjam, continua a vencer, essa equipa é o Futebol Clube do Porto. Liderados há 27 anos por Pinto da Costa, o clube logrou conquistar tudo aquilo que havia para conquistar. 40 Títulos a nível nacional e seis além fron-teiras, é obra! O grande obreiro de tanto título – que se alonga também às modalidades – é sem sombra para dúvidas o Presidente. Sempre com um tremendo sucesso económico, o FC Porto consegue, ano após ano, fazer fortunas com a venda de jogadores, sem nunca perder a competitividade dentro das quatro linhas. Um espírito gan-hador, uma administração segura e sóbria, sucesso atrás de sucesso,

esta é a radiografia ao clube azul e branco. Polémicas à parte, o FC do Porto é a equipa que melhor perfil tem para vencer.

Equipa talhada para vencer

Bastaria olhar para a quanti-dade de troféus conquistados para se ver que este Futebol Clube do Porto é uma trituradora de títulos. É uma equipa que consegue, ape-sar de tudo o que possa acontecer, levantar-se na adversidade e con-quistar títulos e mais títulos. Na presente temporada, os 4-0 aver-bados em Londres ou as três der-rotas consecutivas que chegaram a colocar em risco a presença nos Oitavos de Final da Champions fizeram o povo da bola ditar a sen-tença do período de sucesso azul e branco, mas como que se uma figura mitológica se tratasse, o FC

Porto levantou-se das suas próprias cinzas e passou mais de dois meses sem conhecer o sabor da derrota.

27 anos a devorar títulos

Jorge Nuno Pinto da Costa é com certeza um nome que ninguém esquece ao falar-se do FCP. Em 1982, impulsionado por um grupo de adeptos decide candidatar-se à Presidência do clube, tornando-se no 33º Presidente dos azuis e bran-cos. Nesse mesmo ano, coincidên-cia ou não, o FC Porto vence pela primeira vez um título em Hóquei em Patins – um desporto predilec-to de Pinto da Costa – e desde en-tão não mais largou os títulos, quer em Portugal, quer na Europa. Dois anos após tomar posse, o clube al-cança a sua primeira final europe-ia, acabando por perdê-la. Porém, não demoraria muito a levantar o

Foto: UEFA

No mês em que se completam 27 anos de Presidência de Pinto da Costa, o FC do Porto volta a ser campeão nacional e na Europa continua a dar cartas. Maso que tem o FCP de tão especial para ser sempre uma equipa ganhadora?

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troféu mais importante da Euro-pa do futebol, a Taça dos Clubes Campeões Europeus, em 1987. Mas a plena glória da Presidência de Pinto da Costa surge na década de 90, com oito títulos nacionais – em 10 possíveis – tendo conquis-tado um feito histórico no futebol luso, o Penta.

Na viragem do século, mais pá-ginas de história se escreveram. Em dois anos as duas mais importantes competições de clubes na Europa foram conquistadas - Taça UEFA em 2003 e Liga dos Campeões em 2004 – juntando a esse conjunto fantástico de títulos, a conquista de 5 títulos nacionais.

Em jeito de comparação, nos 48 anos anteriores à subida ao pod-er de Pinto da Costa, o FC Porto venceu 7 campeonatos nacionais; em 27 sob a égide do portuense venceram 17. É mais que evidente a importância que Pinto da Costa teve na entrada dos Dragões no rumo do sucesso.

Sucesso até nas finanças

«O Futebol Clube do Porto tem sucesso porque sabe comprar bem e vender ainda melhor», é assim que Camilo Lourenço, economista e comentador da RTPN nas questões económicas no futebol, descreve os dragões em termos económicos. Se juntarmos o lucro proveniente das vendas de jogadores nos últi-mos 5 anos, atinge-se a astronómi-ca soma de 250 milhões de euros. A temporada 2007/2008 acabou

por ser a mais rentável, com 69.5 milhões de euros em caixa: An-derson por 31.5 milhões para o Manchester United; o defesa cen-tral Pepe rumou a Madrid por 30 milhões de euros; Hugo Almeida por 4 milhões para os germânicos do Werder Bremen; e por fim, Ri-cardo Costa acompanhou Hugo Almeida para terras alemãs, para o Wolfsburgo pela soma de 4 mil-hões de euros. Muito dinheiro que só se consegue com uma excelente gestão financeira. Camilo Louren-ço vai mais longe, ao afirmar que «os outros clubes não conseguem fazer negócios desta envergadura, porque a sua administração não tem a mesma organização que a de Pinto da Costa».

Na presente temporada, o clube nortenho já lucrou cerca de 15 mil-hões de euros fruto da sua partici-pação na Liga dos Campeões, o que lhe permitirá colmatar o défice

anual de tesouraria que ronda os 18 milhões, tendo apenas que vender uma ou duas peças fundamentais da equipa. Equipa essa que no valor total gasto ronda os 34 mil-hões de euros – apenas o onze mais utilizado. Sendo que uma das mais que prováveis vendas – Bruno Al-ves – segundo os dirigentes por-tistas, só sairá por 30 milhões de euros, o que nos leva à conclusão de que só o passe de um jogador vale mais que o custo inicial da eq-uipa titular que tanto sucesso traz. Indo mais a fundo na questão do dinheiro investido, Cissokho, Fer-nando e Raul Meireles – três peças fundamentais no xadrez de Jesual-do Ferreira – apenas custaram 1.2 milhões de euros no total (400 mil euros cada um), falando-se já que o valor de Cissokho disparou em fle-cha e que grandes clubes europeus já lhe piscam o olho – o Tottenham afirmou-se pronto a dar 6 milhões

“Será o FC Porto capaz de criar bases para manter o sucesso após a saída de Pinto da Costa?

Camilo Lourenço

Foto: Getty Images

Pinto da Costa observa o maior fruto da sua Presidência, o Estádio do Dragão

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“Sinto que os adeptos gostam

de mim, mas tenho de fazer muito mais e ganhar muito mais para ficar na história do FC Porto.

BRUNO ALVES

Foto: UEFA

Pilar da linha defensiva, Bruno Alves transporta consigo a cada jogo a raça portista

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de euros pelo lateral esquerdo – 5.6 milhões de lucro apenas neste jogador. O que significa que para além de ganhar os prémios de participação, o Futebol Clube do Porto conseguiu valorizar os seus activos - leia-se jogadores - com a brilhante participação da presente época.

O famoso economista também afirma que o sucesso do Futebol Clube do Porto pode estar em risco, «a questão que se coloca é se Pinto da Costa está a criar uma estrutura que lhe permita manter esta filosofia ganhadora, se a está a passar para outras pessoas? Será que ele está a criar uma segunda linha capaz de o suceder quando ele deixar a presidência do FC Porto? Visto haver um excesso de poder nas mãos de Pinto da Cos-ta». Só o futuro o dirá, mas com uma presidência com tanto sucesso económico só se podem aprender coisas boas.

O Apito Dourado

Quando se fala em Futebol Clube do Porto e em sucesso, é in-contornável não se falar no grande processo que colocou o Presidente do clube azul e branco no banco dos réus, como arguido num caso de corrupção. Tenha existido cor-rupção ou não nestes anos de Pinto da Costa no FCP, a verdade é que nenhuma das acusações foi com-provada e Pinto da Costa acabou por não ser acusado formalmente de nada. Pinto da Costa sempre se mostrou confiante na sua inocên-cia, afirmando «a todos, deixo-vos um sinal de que não me deixo abater nem tenho medo, de que po-deis estar tranquilos, que mesmo nos tempos actuais, eu não tenho medo. Mesmo no país em que es-tamos, em que figuras como o Pro-curador-Geral da República afirma publicamente que não sabe se tem o telefone sob escuta, mesmo nestes momentos podem contar comigo

porque eu não tenho medo», «Não tenho qualquer peso na consciên-cia. Não tenho dúvidas que vou ser absolvido», disse o presidente dos dragões ao Rádio Clube Português dias depois de o processo o ter en-volvido.

O caso em causa coloca o núme-ro 1 do clube azul num esquema de aliciamento de árbitros para que os resultados beneficiassem o clube que actua no Estádio do Dragão. Sempre com a sua ironia bastante aguçada, Pinto da Costa chegou a afirmar que não teve encontros «nem para combinar árbitros para os jogos do Gondomar nem para “apanhar o Bin Laden”».

Resta agora esperar pelo final do processo, que até agora puniu dirigentes de clubes, mas também árbitros e o ex-Presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profission-al, Valentim Loureiro. A nível de clubes, este caso fez com que o Boavista fosse despromovido para a Liga Vitalis.

Foto: UEFA Foto: UEFA

Cissokho passou, em menos de um ano, de desconhecido a estrela da Liga dos Campeões.

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Agostinho desapareceu há 25 anos

Eddie Merckx descreveu-o como “um sujeito muito simpático e um grande

atleta”. A ilustre Amália Rodri-gues afirmava ter “a cara que eu gosto que as pessoas tenham”. O melhor ciclista português de todos os tempos deixou o ciclis-mo mais pobre há 25 anos.

Do emprego na fazendaao Sporting

Joaquim Agostinho era apenas mais um dos muitos milhares de combatentes que, anualmente, re-gressavam da guerra colonial em África. Com o pouco dinheiro que ganhara pelos serviços prestados à Pátria, o jovem da pacata aldeia de Brejenjas, concelho de Torres Vedras, resolveu prendar-se com uma…pasteleira.

Perto de completar 25 anos, Ag-ostinho percorria diariamente cerca de 35 quilómetros que separavam a sua casa do seu emprego, numa fa-zenda nos arredores de Torres Ve-dras. Talvez por isso, impulsionado pela favorável condição física que as constantes viagens quotidianas de bicicleta lhe haviam facultado, e pelos conselhos dos amigos, re-solveu tentar a sorte numa prova de amadores no Natal de 1967. Ven-ceu a competição com admirável comodidade e João Roque, na altu-ra corredor do Sporting, não mais o largou. Levou-o consigo para o Sporting, onde iniciaria a sua tar-dia mas brilhante carreira.

Antes tarde…

Já ao serviço do clube «leoni-no», e depois de vencer em Abril o Campeonato Regional de Fundo

para Amadores, participa na Volta a Portugal em Agosto de 1968. A estreia, auspiciosa, valeu-lhe um segundo lugar, a selecção para o Campeonato do Mundo de Estrada, em que terminou na 16ª posição (a melhor de sempre para um portu-guês) e a certeza de que as enti-dades do ciclismo estavam perante um «diamante por lapidar».

Entre 1970 e 72, o «Quim das Cambalhotas», como era apelidado devido às frequentes quedas que o vitimavam, venceu três Voltas a Portugal. Conquistou outras duas, em 1969 e em 1973, mas foi penal-izado em ambas por alegado con-sumo de Ritalina, uma substância tolerada em França, mas proibida em território nacional. Foi, ainda, seis vezes Campeão de Portugal, recorde que ainda hoje permanece incólume.

Foto: Diário da R

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DESPORTO

41Durante a mítica vitória no Alpe d’Huez

Agostinho desapareceu há 25 anos

Como um peixe na água no Tour

Mas não foram os seus feitos por cá que o imortalizaram no pelotão internacional. Em 1974 es-teve perto de se tornar o primeiro português a vencer uma das três grandes voltas: não venceu a Volta a Espanha por escassos 11 (!) se-gundos. Por essa altura, Agostinho já era um homem respeitado na elite do ciclismo: Vencera já 4 eta-pas na Volta a França, duas delas em 1971, e em três das suas quatro participações até à data terminara nos dez melhores.

Em suma, foram treze as par-ticipações do emblemático ciclista na Grand Boucle, nas quais termi-nou em terceiro lugar nas edições de 1978 e 79, sendo que no último ano foi o primeiro a chegar ao topo do alpe d’huez, a etapa rainha da prova, deixando os favoritos Ber-nard Hinault e Joop Zoetemelk a mais de três minutos. A sua míti-ca vitória foi imortalizada na 14ª das 21 curvas da escalada, onde consta o seu nome. Três curvas depois, encontra-se, desde 2006, uma escultura em bronze do atleta, a primeira de um ciclista naquele local.

O regresso e a luta pela vida

Press ionado pela família a reti-rar-se, Agostinho esteve ausente da actividade em 1982. Porém, não demorou muito até que o seu es-pírito competitivo recalcado despon-tasse de novo. As-pirando participar pela décima quar-ta vez na Volta a França, disputa a Volta ao Algarve em finais de Abril de 1984. Decorri-das quatro etapas, o emblemático ciclista de 41 anos vestia a camisola amarela para mais uma etapa que teria Quarteira como ponto de chegada. Já com a meta à vista, dois cães introme-teram-se no meio do pelotão que, a alta velocidade, lançava o sprint. Joaquim Agostinho não foi a tem-

po de evitar um deles. Com a meta à vista, o ciclista de Torres Vedras e camisola amarela da Volta ao Algarve preparava-se para cruzar a meta, em Quarteira, quando um cão se colocou no seu caminho. Caiu, levantou-se e cruzou a meta: a última da sua vida.

Com uma fractura craniana com afundamento do parietal direito, o ciclista foi transportado para o Hospital de Faro, de onde foi transferido no mesmo dia, de ambulância, para Lisboa, por não haver serviço operatório de neu-rologia. O tempo esperado até ser executada a cirurgia terá sido, eventualmente, fatal. Operado em estado crítico, Agostinho perman-ece em coma durante dez dias, de onde não mais acorda.

DAVID MARQUES

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Joaquim Agostinho na frente, secundado por Poulidore Van Impe, em mais uma etapa do Tour de 72

Foto: Commons.wikimedia.orgFoto: Diário da R

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A FECHAR

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“E o burro sou eu?”

“Temos o governo que merecemos, temos os partidos que merecemos, temos os sub-sistemas de saúde e educação que merecemos.”

Ramalho Eanes, citando um autor espanhol queresponsabilizava os povos submetidos a regimes.

“A única pessoa importante no parti-do sou eu!”

Alberto João Jardim

“Há 30 anos que desfilam as mesmas caras, se ouvem as mesmas vozes, se lêem as mesmas frases com monótona aridez. O País é domado por um grupo sem prestígio mas com poder”

Baptista-Bastos, “Diário de Notícias”, 29-04-2009