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FORTALEZA-CE, SEGUNDA-FEIRA, 18 de dezembro de 2006 FORTALEZA 8 1) Que os promotores requisitem informações da Administração Pública dessa Comarca, referente à instalação e funcionamento dos Conselhos Tutelares e Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, inclusive no que diz respeito aos recursos materiais colocados à disposição dos mesmos; 2) Que, se constatada a inexistência ou precariedade dos mencionados Conselhos, que Vossa Excelência adote providências no sentido de obrigar os Municípios a criá-los e dotá-los de estrutura material mínima para funcionamento; 3) Que requisite informações a respeito das verbas recebidas e destinadas pelos Municípios para o custeio de programas protetivos e assistenciais destinados a crianças e adolescentes em situação de risco, a fim de propiciar a fiscalização do correto emprego de tais recursos; 4) Que requisite a realização de uma pesquisa, em prazo razoável, no âmbito das Secretarias de Ação Social de cada Município, para efetuar a prospecção da existência de crianças e adolescentes em situação de exploração sexual e trabalho infantil, tanto na área urbana, quanto rural, inclusive quanto à situação de suas respectivas famílias, a fim de que as informações colhidas sirvam de base para o encaminhamento de políticas públicas consistentes com a realidade municipal; 5) Que requisite a realização de campanhas educativas permanentes, voltadas para proprietários e freqüentadores de postos de gasolina, restaurantes e bares, com o fito de sensibilizá-los para a problemática do consumo de substâncias entorpecentes e intoxicantes por parte de crianças e adolescentes, bem como para a necessidade de coibir a exploração sexual dos mesmos, a fim de erradicar tais práticas nocivas; 6) Que procure realizar audiências públicas periódicas, com a presença de autoridades civis, militares, eclesiásticas e setores representativos da sociedade local, para discutir os problemas relativos à infância e adolescência; 7) Que as medidas adotadas por Vossa Excelência sejam comunicadas a esta Procuradoria Geral de Justiça mediante ofício, com cópias dos atos promovidos. O QUE RECOMENDOU O MP Municípios terão de fazer diagnóstico JORNALISMO PROPOSITIVO ] Não só denunciar. Propor, também. Um dos objetivos da série de matérias do O POVO sobre o problema da exploração sexual/comercial de crianças e adolescentes nas estradas do Ceará é apontar alternativas possíveis para erradicar a grave situação. Preocupado com as denúncias feitas pelo jornal, a Procuradoria Geral da Justiça (PGJ) recomendou uma série de ações aos promotores Demitri Túlio da Redação Os prefei- tos das ci- dades do interior cearense e de Fortale- za terão de fazer um diagnósti- co sobre a situação da exploração sexu- al/comercial de crianças e ado- lescentes e trabalho infantil. A recomendação foi feita pelo procurador Geral da Justiça, Manuel Lima Soares Filho, que orientou os promotores a faze- rem a exigência legal nos muni- cípios. A decisão do Ministério Público Estadual é resultado de um encontro dos repórteres do O POVO com o promotor Mar- cus Renan, assessor da PGJ, e o procurador-chefe. Baseado na investigação jor- nalística dos repórteres do O POVO, que percorreram 25 cida- des do Ceará - situadas ao longo das BRs-116, 222 e 020 , o procu- rador elaborou e enviou às co- marcas dos 184 municípios a re- comendação nº 07/2006. Entre as considerações que funda- mentam o documento, está “a necessidade de uma atuação permanente e constante do Mi- nistério Público na seara da in- fância e juventude”. Em princípio, os promoto- res vão requisitar, através de ofício, o que foi recomendado pelo procurador-chefe Manoel Soares. Segundo Marcus Renan, o artigo 129 da Constituição Brasileira garante ao Ministério Público o poder da cobrança e, caso os prefeitos não cumpram, poderão ser acionados por meio de ação civil pública e também responder por crime de desobediência. A série de reportagens Docu- mento BR - a situação de crian- ças e adolescentes exploradas nas rodovias do Brasil, iniciada on- tem, mostrou que a maioria dos municípios visitados não possui sequer informações sistematiza- das sobre o problema. Ficou con- statado, após a apuração, que é quase impossível traçar ações para enfrentar a grave situação sem se conhecer o tamanho do problema. Como um prefeito po- de, por exemplo, definir progra- mas, participar de projetos, exi- gir do Estado e Governo Federal repasse de verbas e ordenar o or- çamento municipal, além de atender diretamente o problema, sem um diagnóstico. É daí que parte a iniciativa da PGJ. Sobre os recursos destinados ao trabalho com a infância, Ma- nuel Soares pediu que fossem solicitadas informações “a res- peito das verbas recebidas e destinadas pelos municípios pa- ra o custeio de programas pro- tetivos e assistenciais destina- dos a crianças e adolescentes em situação de risco, a fim de propiciar a fiscalização do cor- reto emprego” do dinheiro. No item 3 do documento, o procurador “requisita a reali- zação de uma pesquisa, em prazo razoável, no âmbito das secretarias de Ação Social de cada município, para efetuar a prospecção da existência de crianças e adolescentes em si- tuação de exploração sexual e trabalho, tanto na área urbana quanto rural, inclusive quanto à situação de suas respectivas famílias, para que as informa- ções colhidas sirvam de base para o encaminhamento de po- líticas públicas consistentes com a realidade municipal”. O procurador geral também recomendou aos promotores que informem oficialmente à PGJ as condições de instalação e funcionamento dos Conselhos Tutelares. Caso se constate a ine- xistência ou precariedade dos órgãos que se “adote providênci- as no sentido de obrigar os mu- nicípios a criá-los e dotá-los de estrutura material mínima” para que desenvolva o trabalho pre- visto em lei. FAC-SÍMILE do documento assinado por Manuel Lima Soares Filho Fonte: Recomendação nº 07/2006 da Procuradoria Geral da Justiça REPÓRTERES do O POVO percorreram três BRs , visitaram 25 municípios cearenses e constataram a situação de exploração sexual de crianças e adolescentes FOTOS FCO FONTENELE MUNICÍPIOS não possuem informações sistematizadas sobre o problema LEIAAMANHÃ Redes de proteção enfrentam dificuldades para atuar

Municípios terão de fazer diagnósticoum encontro dos repórteres do OPOVOcom o promotor Mar-cus Renan, assessor da PGJ, e o procurador-chefe. Baseado na investigação jor-nalística

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Page 1: Municípios terão de fazer diagnósticoum encontro dos repórteres do OPOVOcom o promotor Mar-cus Renan, assessor da PGJ, e o procurador-chefe. Baseado na investigação jor-nalística

FORTALEZA-CE, SEGUNDA-FEIRA,18 de dezembro de 2006FORTALEZA8

1) Que os promotores requisiteminformações da Administração Públicadessa Comarca, referente à instalaçãoe funcionamento dos ConselhosTutelares e Municipal dos Direitos daCriança e do Adolescente, inclusive noque diz respeito aos recursos materiaiscolocados à disposição dos mesmos;

2) Que, se constatada a inexistênciaou precariedade dos mencionadosConselhos, que Vossa Excelência adoteprovidências no sentido de obrigar osMunicípios a criá-los e dotá-los deestrutura material mínima parafuncionamento;

3) Que requisite informações arespeito das verbas recebidas edestinadas pelos Municípios para ocusteio de programas protetivos eassistenciais destinados a crianças eadolescentes em situação de risco, afim de propiciar a fiscalização docorreto emprego de tais recursos;

4) Que requisite a realização de umapesquisa, em prazo razoável, no âmbitodas Secretarias de Ação Social de cadaMunicípio, para efetuar a prospecçãoda existência de crianças e adolescentesem situação de exploração sexual etrabalho infantil, tanto na área urbana,

quanto rural, inclusive quanto àsituação de suas respectivas famílias, afim de que as informações colhidassirvam de base para oencaminhamento de políticas públicasconsistentes com a realidade municipal;

5) Que requisite a realização decampanhas educativas permanentes,voltadas para proprietários efreqüentadores de postos de gasolina,restaurantes e bares, com o fito desensibilizá-los para a problemática doconsumo de substânciasentorpecentes e intoxicantes por partede crianças e adolescentes, bem comopara a necessidade de coibir aexploração sexual dos mesmos, a fimde erradicar tais práticas nocivas;

6) Que procure realizar audiênciaspúblicas periódicas, com a presença deautoridades civis, militares,eclesiásticas e setores representativosda sociedade local, para discutir osproblemas relativos à infância eadolescência;

7) Que as medidas adotadas porVossa Excelência sejam comunicadas aesta Procuradoria Geral de Justiçamediante ofício, com cópias dos atospromovidos.

O QUE RECOMENDOU O MP

Municípios terão de fazer diagnósticoJORNALISMO PROPOSITIVO ] Não só denunciar. Propor,também. Um dos objetivos da série de matérias do O POVO sobre oproblema da exploração sexual/comercial de crianças e adolescentes nas

estradas do Ceará é apontar alternativas possíveis para erradicar a gravesituação. Preocupado com as denúncias feitas pelo jornal, a ProcuradoriaGeral da Justiça (PGJ) recomendou uma série de ações aos promotores

Demitri Túlioda Redação

Os prefei-tos das ci-dades dointeriorcearense ede Fortale-za terão defazer umdiagnósti-co sobre a

situação da exploração sexu-al/comercial de crianças e ado-lescentes e trabalho infantil. Arecomendação foi feita peloprocurador Geral da Justiça,Manuel Lima Soares Filho, queorientou os promotores a faze-rem a exigência legal nos muni-cípios. A decisão do MinistérioPúblico Estadual é resultado deum encontro dos repórteres doO POVO com o promotor Mar-cus Renan, assessor da PGJ, e oprocurador-chefe.

Baseado na investigação jor-nalística dos repórteres do OPOVO, que percorreram 25 cida-des do Ceará - situadas ao longodas BRs-116, 222 e 020 , o procu-rador elaborou e enviou às co-marcas dos 184 municípios a re-comendação nº 07/2006. Entreas considerações que funda-mentam o documento, está “anecessidade de uma atuaçãopermanente e constante do Mi-nistério Público na seara da in-fância e juventude”.

Em princípio, os promoto-res vão requisitar, através deofício, o que foi recomendadopelo procurador-chefe ManoelSoares. Segundo Marcus Renan,o artigo 129 da ConstituiçãoBrasileira garante ao MinistérioPúblico o poder da cobrança e,caso os prefeitos não cumpram,poderão ser acionados pormeio de ação civil pública etambém responder por crimede desobediência.

A série de reportagens Docu-mento BR - a situação de crian-ças e adolescentes exploradas nasrodovias do Brasil, iniciada on-tem, mostrou que a maioria dosmunicípios visitados não possuisequer informações sistematiza-das sobre o problema. Ficou con-statado, após a apuração, que équase impossível traçar açõespara enfrentar a grave situaçãosem se conhecer o tamanho doproblema. Como um prefeito po-de, por exemplo, definir progra-mas, participar de projetos, exi-gir do Estado e Governo Federalrepasse de verbas e ordenar o or-çamento municipal, além deatender diretamente o problema,sem um diagnóstico. É daí queparte a iniciativa da PGJ.

Sobre os recursos destinadosao trabalho com a infância, Ma-

nuel Soares pediu que fossemsolicitadas informações “a res-peito das verbas recebidas edestinadas pelos municípios pa-ra o custeio de programas pro-tetivos e assistenciais destina-dos a crianças e adolescentesem situação de risco, a fim depropiciar a fiscalização do cor-reto emprego” do dinheiro.

No item 3 do documento, oprocurador “requisita a reali-zação de uma pesquisa, emprazo razoável, no âmbito dassecretarias de Ação Social de

cada município, para efetuar aprospecção da existência decrianças e adolescentes em si-tuação de exploração sexual etrabalho, tanto na área urbanaquanto rural, inclusive quantoà situação de suas respectivasfamílias, para que as informa-ções colhidas sirvam de basepara o encaminhamento de po-líticas públicas consistentescom a realidade municipal”.

O procurador geral tambémrecomendou aos promotoresque informem oficialmente àPGJ as condições de instalação e

funcionamento dos ConselhosTutelares. Caso se constate a ine-xistência ou precariedade dosórgãos que se “adote providênci-as no sentido de obrigar os mu-nicípios a criá-los e dotá-los deestrutura material mínima” paraque desenvolva o trabalho pre-visto em lei.

FAC-SÍMILE do documento assinado por Manuel Lima Soares Filho

Fonte: Recomendação nº 07/2006 da Procuradoria Geral da Justiça

REPÓRTERES do O POVO percorreram três BRs , visitaram 25 municípios cearenses e constataram a situação de exploração sexual de crianças e adolescentes

FOTOS FCO FONTENELE

MUNICÍPIOS não possuem informações sistematizadas sobre o problema

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