16
CANCIONEIRO POPULAR MÚSICA CAIPIRA 38 A músicacaipira era,na primeira metade do séc. XX, na atual Diadema, muito conhecida e tocada, sejaem festas de casamento, em festas de São João ou em qualquer outro encontro, conforme lembranças de antigos moradores,como exemplificamosabaixo. A senhora Maria Luiza GarroneOliveira, moradora de Piraporinhadesde 1935, disse: "No passado tinha muita moda caipira,tocada por violeiros. Nas olarias à noite, de vezem quandoas pessoas sereuniame tocavam cavaquinho e viola maseramuito ruim porqueninguém sabia tocare cantardireito." A senhoraSylvia Ramos EsquiveI,moradora da Vila Conceição, atual centro de Diadema,desde 1939, tambémobservou: "Aqui não moravaquase ninguém, não existiam lugares que fizessemmúsicas como nos sarause também ninguém tinha rádio. Quando muito tinha alguma cantoria com sanfonae viola." O rádio ainda não haviachegado àscasas dosmoradores desta localidade, fato que começou a ocorrer na década de 1950.Enquantoisso a música caipira predominava. A partir de então,muitos outros estilos passaram a serouvidos pelos moradores devidoa chegada do rádio,da televisão depois, e tambémpela vinda de muitos migrantes, trazendo entreoutrascoisas, a suamúsica. Na música caipira produzida por moradorespodemosdestacar a dupla Zé Toureiro e Noca e o cantor e compositor Torrinha. A dupla veio de Minas Gerais para Diadema em 1952, entre 1960 e 1962 seapresentaram na Rádio Independência, de São Bernardo do Campo, passando depois para a Rádio Nacional de SãoPaulo, seapresentando na Alvorada Cabocla por mais de 10 anos. Infelizmente não tiveram músicas gravadas. Torrinha, paulista de Borborema, começou a fazer dupla de música caipira por volta de 1945. Com seu parceiro Canhotinho compuseram e gravaram a música mais premiada de sua carreira que foi Divino Espírito Santo.Com ela ganharamem 1955 o Troféu Roquete Pinto, como melhor música do ano e em 1959 o prêmio Chico Viola. Depois, entre 1960 e

MÚSICA CAIPIRA - diversitas.fflch.usp.brdiversitas.fflch.usp.br/files/09- Cancioneiro popular.pdf · tura Municipal, levou à produção de um CD coletivo, lançado em 1997. Neste

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: MÚSICA CAIPIRA - diversitas.fflch.usp.brdiversitas.fflch.usp.br/files/09- Cancioneiro popular.pdf · tura Municipal, levou à produção de um CD coletivo, lançado em 1997. Neste

CANCIONEIRO POPULAR

MÚSICA CAIPIRA

38

A música caipira era, na primeira metade do séc. XX, na atual Diadema,muito conhecida e tocada, seja em festas de casamento, em festas de SãoJoão ou em qualquer outro encontro, conforme lembranças de antigosmoradores, como exemplificamos abaixo.

A senhora Maria Luiza Garrone Oliveira, moradora de Piraporinha desde1935, disse: "No passado tinha muita moda caipira, tocada por violeiros. Nasolarias à noite, de vez em quando as pessoas se reuniam e tocavam cavaquinhoe viola mas era muito ruim porque ninguém sabia tocar e cantar direito."

A senhora Sylvia Ramos EsquiveI, moradora da Vila Conceição, atualcentro de Diadema, desde 1939, também observou: "Aqui não morava quaseninguém, não existiam lugares que fizessem músicas como nos saraus etambém ninguém tinha rádio. Quando muito tinha alguma cantoria comsanfona e viola."

O rádio ainda não havia chegado às casas dos moradores desta localidade,fato que começou a ocorrer na década de 1950. Enquanto isso a música caipirapredominava. A partir de então, muitos outros estilos passaram a ser ouvidospelos moradores devido a chegada do rádio, da televisão depois, e também pelavinda de muitos migrantes, trazendo entre outras coisas, a sua música.

Na música caipira produzida por moradores podemos destacar a duplaZé Toureiro e Noca e o cantor e compositor Torrinha. A dupla veio deMinas Gerais para Diadema em 1952, entre 1960 e 1962 se apresentaramna Rádio Independência, de São Bernardo do Campo, passando depoispara a Rádio Nacional de São Paulo, se apresentando na Alvorada Caboclapor mais de 10 anos. Infelizmente não tiveram músicas gravadas.

Torrinha, paulista de Borborema, começou a fazer dupla de músicacaipira por volta de 1945. Com seu parceiro Canhotinho compuseram egravaram a música mais premiada de sua carreira que foi Divino EspíritoSanto. Com ela ganharam em 1955 o Troféu Roquete Pinto, como melhormúsica do ano e em 1959 o prêmio Chico Viola. Depois, entre 1960 e

Page 2: MÚSICA CAIPIRA - diversitas.fflch.usp.brdiversitas.fflch.usp.br/files/09- Cancioneiro popular.pdf · tura Municipal, levou à produção de um CD coletivo, lançado em 1997. Neste

1975, apresentou pela Rádio Record, o programa Terra Brasileira. Mudou-se para Diadema em 1960, onde permaneceu até falecer em 1988. Deixoumuitas músicas gravadas, por isso foi possível selecionarmos duas delas paraeste roteiro.

lavadeiras (Gravado em 1960)

(Autoria: Boca e Torrinha)

Quando lá no céu trovejaTenho dó das lavadeiras

De bacia na cabeçaSobe o morro de carreira

As lavadeiras do morro, ai, ai,Vêm descendo lá do altoPra lavar a roupa suja

Das grã-finas do asfaltoQuando lá no céu trovejaTenho dó das lavadeiras

De bacia na cabeçaSobe o morro de carreiraQuando lá no morro, ai, ai,Tenho dó da freguesiaE também das lavadeirasQue não ganham pra família

Roupa na tábua e começa a esfregarPassa o sabão e põe pra quararEnsaboa de novo e põe no varalDepois de passada vai entregar

39

Sacy Pererê (Gravado em 19591

(Auroria: Torrinha e Piracicaba - CD: 1Orrinha & Canhotinho - Inrerpreração: Torrinha e

Canhorinho - Gravadora: Luar do Serrão. 1998)

o Sacy Pererê de uma perna sóPitou no pito da minha vó

O Sacy Pererê meu avô me diziaQue aparece de noite

Page 3: MÚSICA CAIPIRA - diversitas.fflch.usp.brdiversitas.fflch.usp.br/files/09- Cancioneiro popular.pdf · tura Municipal, levou à produção de um CD coletivo, lançado em 1997. Neste

E pra gente assobiaÉ um pretinho invisívelQue a gente não viaPitava no pito do tio Benedito

E ninguém percebiaO Sacy Pererê de uma perna só

Pitou no pito da minha vóO Sacy Pererê é moleque levado

Ele ascende um pitoCom o fogo apagadoNa taipa do fogoEle fica sentadoEsbarra na brasaE o povo da casa

Ele deixa assombradoO Sacy Pererê de uma perna só

Pitou no pito da minha vóO Sacy Pererê mexe com a vizinhança

Ele anda a cavalo

E na crina faz trançaCorre com a perna sóE ninguém não alcançaQuando vê criançadaEle dá gargalhada e assusta as criançasO Sacy Pererê de uma perna sóPi..,.." n,.. ni..,.. rl" minh" vA

40

Page 4: MÚSICA CAIPIRA - diversitas.fflch.usp.brdiversitas.fflch.usp.br/files/09- Cancioneiro popular.pdf · tura Municipal, levou à produção de um CD coletivo, lançado em 1997. Neste

LIRA MUSICAL DIADEMA / BANDA SINFÔNICA DIADEMA

Criada em 18 de maio de 1968 pela Prefeitura Municipal de Diadema,a Lira Musical esteve presente em muitas cerimônias cívicas, inaugurações,escolas do município, além de representá-Io em concursos e cooperar emfestividades de outras cidades. Em 1974 passou a existir também a LiraMusical Infanto Juvenil de Diadema, composta Lira.

No início da década de 1990, a Lira ficou muito reduzida, chegando adesaparecer a Infanto Juvenil.

Em 1998 foi reformulada passando a constituir-se na Banda Sinfônicade Diadema. Recebeu novos componentes, novo repertório e significativoinvestimento. A Casa da Música foi criada para oferecer formação musicale aperfeiçoamento em vários instrumentos.

Hino de Diodema (letra: Francisco das Chagas Fonseca)

(Composição vencedora de concurso público promovido pela Câmara Municipal de Diadema em1979 - Música: Gilberto Gagiiardi - Execução: Ura Musical Diadema - Discos Copacabana - 1979)

41De atalaia de fé e ttabalho

que os de Anchieta cobriram de glórianuma "entrada no chão de Ramalho,Alvorece, Diadema, tua história.De Martim a bravura e a nobrezade Bernardo e de André o valor,são legados de honra e grandeza,de heroismo, de arrojo e de amor.

Salve, flamante Diadema (Estribilho)da Régia Terra Paulista!

Seja 'Justiça" o teu lema,para a suprema conquista.Caldeamento de raças gigantes:

de nativas, valentes cortes,e de audazes, viris bandeirantes,são teus filhos garbosos e fortes.

Aureolada de brio profundo,do Direito empunhando o bastão,

esgrimiste o teu verbo fecundo,

Page 5: MÚSICA CAIPIRA - diversitas.fflch.usp.brdiversitas.fflch.usp.br/files/09- Cancioneiro popular.pdf · tura Municipal, levou à produção de um CD coletivo, lançado em 1997. Neste

na batalha da emancipação.

{Estribilho}

De um Natal sob a luz sobranceiraque jamais da memória se extinga,despontaste "Urbe Livre" e altaneira,

Flor dos campos de Piratininga."Que Floresça Diadema!" Eis o gritoque reboou, de recesso em recesso,

e que te há de impelir ao infinito,abraçada à verdade e ao progresso.

{Estribilho}

Da "União" e da "Fé" traz as coresteu formoso e gentil Pavilhãoe, ao exaltar os teus dons e primores,fulge ao sol teu sagrado brasão.

Hás de sempre lutar decidida,

Com denodo e soberbo perfil,por teu solo e tua gente querida,por São Paulo e por nosso Brasil42

Page 6: MÚSICA CAIPIRA - diversitas.fflch.usp.brdiversitas.fflch.usp.br/files/09- Cancioneiro popular.pdf · tura Municipal, levou à produção de um CD coletivo, lançado em 1997. Neste

FORRá

A vinda, a partir dos anos 60, de considerável número de migrantes daregião nordeste do país, devido ao desenvolvimento industrial na região doGrande ABC, também trouxe para o cotidiano local seus traços culturais. Amúsica nordestina passou a ser ouvida com freqüência nas casas, nos bares,nas festas de rua em Oiadema. Atualmente algumas casas de baile, como oClube Pereira do Vale, que atraem com sucesso os moradores, dedicamespaços para a preservação da música nordestina, com destaque para o for-ro, e muitos migrantes e seus descendentes organizaram em Oiadema gru-pos de forrá.

Através da música viajam à sua terra, à sua infância, aos familiares eamigos que tiveram ou que permaneceram. Assim, ao mesmo tempo querememoravam as origens e reafirmavam a identidade, elaboravam outroprojeto de vida, urbana e operária, carregado do sentido de conseguir criaros filhos com dignidade e comprar uma casa, voltar... talvez. Conforme oCenso do IBGE de 1980, 30% da população de Oiadema era provenientedos estados do nordeste brasileiro. Atualmente a maioria dos migrantesnordestinos em Oiadema está acima dos 40/50 anos de idade e seus filhosadotaram outros estilos como o rock, o rap e o pagode.

43

Sou fo~zeiro e do forró não obro mão

(Interpretação e execução: Grupo Leire Moça - Gravação em fita demo - 1999)

Sou forrozeiro, forrozeiro, forrozeiroSou forrozeiro de cabeça e coração

Sou forrozeiro, forrozeiro, forrozeiroEu danço o ano inteiroE do forró não abro mão

E no embalo do chiado da chinelaE a moçada balançando no salão

Quando eu agarro na cintura da morenaManeira feita uma penaSolta nessa multidãoDois prá lá, dois pra cáDá uma viradinha para completar

Page 7: MÚSICA CAIPIRA - diversitas.fflch.usp.brdiversitas.fflch.usp.br/files/09- Cancioneiro popular.pdf · tura Municipal, levou à produção de um CD coletivo, lançado em 1997. Neste

Dois prá lá, dois pra cáDá uma abaixadinha pro forró continuar

Dois prá lá, dois pra cá

Dá uma abaixadinha para completarDois prá lá, dois pra cáDá uma viradinha pro forró continuarAh, que molejo da moléstia ai ai

Que essa moreninha tem temO forrozeiro que se preza não se acalma

E não se apressa se empurrado por alguémE o forrozeiro que se preza não se acalma

E não se enfeza se empurrado por alguém.Sou forrozeiro, forrozeiro, forrozeiro

Sou forrozeiro de cabeça e coração

Sou forrozeiro, forrozeiro, forrozeiro,Eu danço o ano inteiro e do forró não abro mão

44

Page 8: MÚSICA CAIPIRA - diversitas.fflch.usp.brdiversitas.fflch.usp.br/files/09- Cancioneiro popular.pdf · tura Municipal, levou à produção de um CD coletivo, lançado em 1997. Neste

ROCK

Entendido como meio de expressão, revolta e anseio de liberdade da juventu-

de dos anos 50, o rock veio pelas décadas seguintes servindo à contestação, seja

pela sua musicalidade, seja pela letra de suas músicas, embora também surgissem

poesias menos incisivas. Atualmente o rock brasileiro tem vários estilos, que vão

do pop-rock da Jovem Guarda, passando pelo rock experimental, pelo rock pro-

gressivo, pelo punk nacional, até a mistura de vários estilos e referências culturais

que atualmente podem ser ouvidos na banda Mangue-Beat.

Em Diadema o rock também se destacou como expressão da população

mais jovem. Aqui as bandas de rock tornaram-se mais numerosas e presen-

tes nos bares, nas casas e nos eventos culturais da cidade nos anos 80 e 90.

Em 1988 e 1989 ocorreram encontros de bandas organizadospelaPre-

feitura Municipal. A grande maioria delas constituía, na ocasião, bandas

covers, depois foram construindo suas interpretações e, em 1995, um novo

encontro revelou a produção de várias bandas de rock em Diadema. A reu-

nião delas em torno do Projeto Diadema Rock, em conjunto com a Prefei-

tura Municipal, levou à produção de um CD coletivo, lançado em 1997.

Neste mesmo ano o programa de rádio local, a Hora do Rock (MIC FM:

94,3mhz), catalogou cerca de quarenta bandas da cidade.

45

Fundamento do País(Lerra: Richard R. Nogueira - Música e inrerpreração: Banda Paranóia Nuclear)

Setembro(Letra: Wanderson Mendonça - Música e interpretação: Banda Neghócios à Parte - Toca

Studio e BSR Studio - 1997)

Só Hipocrisia não Basta

(Letra: Mário Deganelli - Música: Márcio Gomes - Interpretação: Banda AI-5)

Entenda-me, não quero machucar mais

o que restou de mim.Entediado sim, mas exaustoExato como o dia em que descobriQue ser hipócrita só não basta.

Page 9: MÚSICA CAIPIRA - diversitas.fflch.usp.brdiversitas.fflch.usp.br/files/09- Cancioneiro popular.pdf · tura Municipal, levou à produção de um CD coletivo, lançado em 1997. Neste

46

Detenha-me, se eu não for capaz

De ir até o fim.De tentar não basta,Se você não me ajudarDeus, tire-me a hipocrisia agoraDê-me um pouco de sofrimentoFundamento do País

Estamos num país realista,

Com pessoas capitalistas,Todos a morrer, todos a perder,

E o culpado, é você.Estamos num país sem moral,E somos tratados como um animal,

Todos a perder, todos a feder,

E o culpado, é você.

Estamos num país idiota,Com pessoas que se julgam patriotas,Estamos num país sem moral,E somos tratados como um animal.

Todos a morrer, todos a perder,

E o culpado, é você.

SetembroErrado achando certoSem o tempo de acertarSetembro a vida passouE alguém levou você de mim

Hoje o tempo já passouNão esqueço teu olharNem do mundo que avisou e

Que cuidou de mimlevantando as mãos pro céu

Gritando aos deusesDescobria o que é amor

Ha! Ha! Ah! Ah!Toda vez que entrar setembroE a vida passar por uma rosa

Eu vou trazer aqui

Page 10: MÚSICA CAIPIRA - diversitas.fflch.usp.brdiversitas.fflch.usp.br/files/09- Cancioneiro popular.pdf · tura Municipal, levou à produção de um CD coletivo, lançado em 1997. Neste

RAP

Grupos juvenis com influências do Movimento HIP-HOP começarama surgir em Oiadema, de forma mais acentuada, no início dos anos 90. Omovimento reúne a dança, a música, a poesia e as artes gráficas, articuladasa um eixo central: a contestação às problemáticas urbanas, raciais e pós-modernas a partir de situações e experiências vividas concretamente.

Assim podemos descrever esta linguagem:

"Os RAP (Rhychm and Poetry) formalizado pela música, trata-se deum ritmo que é cantado sobre uma base instrumental, sendo que asletras (poesias) são faladas ou declamadas pelos 'mestres de cerimônia- MC's', acompanhadas pela sonoridade oferecida pelos 'disck-jockeys- DJ's' (garotos e garotas) (...) Junto à música adenda-se a dança - o

Break, consistindo numa modalidade de expressão corporal efetuadaa partir de movimentos robotizados, quebradiços e acrobáticos, querequer de seus praticantes uma refinada coordenação motora eplasticidade. No Brasil, esta forma de expressão vai aos poucos incor-porando outras referências tais como os movimentos na arte da capo-eira. A tríade se complementa com a prática do grafite, linguagemartística pela qual rappers ou breakers buscam se destacar daindiferenciação, anonimato e impessoalidade do cotidiano modernoe anunciam suas presenças no tecido urbano." (ALME.lDA, Elmir.Subúrbio, Política Cultural e Identidades Coletivas Juvenis: media-ções de Diadema, Dissertação de Mestrado; SP: Faculdade de Educa-ção, Universidade de São Paulo, 1996, p. 263/264/265.

Apoiados pela prefeitura municipal desde 1995, conquistaram um es-paço para ser um pólo aglutinador dos grupos, o Centro Cultural Canhema,onde são realizadas também oficinas para desenvolvimento das linguagensartísticas que utilizam.

Massacre de Soweto(Autores: Arnaldo e José Edson - Interpretação: Grupo Viela 4 - Gravação em fita demo - 1996)

Massacre de Soweto já ficou para trásPessoas boas que se foram não voltarão jamais (refrão)E os negros não viviam em pazEscravizados pelos brancos, que se julgavam os tais

Page 11: MÚSICA CAIPIRA - diversitas.fflch.usp.brdiversitas.fflch.usp.br/files/09- Cancioneiro popular.pdf · tura Municipal, levou à produção de um CD coletivo, lançado em 1997. Neste

48

Praticando genoddio por motivos banais

Consideravam os negros como se fossem animaisStephen Biko - este sim - que era nosso irmão

Morreu espancado na cela da prisãoSem poder pedir socorro ou perdão do que não fez

O negro naquele tempo como hoje não tem vez

Eles tomaram nossa terra, a nossa dignidadeOs brancos se diziam julgadores da verdade

Para os brancos os negros não eram nadaNão tinham o direito de reunir a própria raça

(Refrão)

Os negros de Soweto só queriam a pazMas os brancos invasores não eram nada liberais

Extermínio de negros por próprios policiaisSe sentiam valentes com suas credenciais

Discriminados, eis não tinham ambiçãoSó havia esperança de mudar a naçãoLutando para viver, não tinham compensaçãoPara os negros escorraçados não havia opçãoO negro sempre estava errado com suas opiniões

Se fosse interrogado, comprovavam infraçõesEle era julgado sem poder se defenderSonhando com liberdade, sem sentido para viver

(Refrão)

Escute o que Viela Quatro agora tem a lhe falarExemplo de humanidade para sempre existiráE para você que não é otário mas tem medo de falarM.Cidadão e Kid M. agora vão relatar que George Bush

Enviou as sanções a favor do povo negroE contra a escravidãoNão contente com isso, Deklerke disse em vão"- O negro não tem alma, inteligência e coração."

E para desmentir, Viela Quatro irá dizer:- Racistas hipócritas, por que não vão aprender

Que o Rap é nossa música e a mensagem irá valerQue somos todos irmãos, você tem que entenderQue a luta não acabou e o nosso lema é vencer

Page 12: MÚSICA CAIPIRA - diversitas.fflch.usp.brdiversitas.fflch.usp.br/files/09- Cancioneiro popular.pdf · tura Municipal, levou à produção de um CD coletivo, lançado em 1997. Neste

Vencer a desigualdade que se enconrra no poder.

(Refrão)

Massacre de Soweto já ficou para trásEstudantes que se foram, não voltarão jamais

Massacre de Soweto...Os barracos destruidos, não se erguerão jamaisMassacre de Soweto...Negros valentes que se foram, descansem em paz

João e Morio

(Autor: Jean Pierre Santiago da Costa - Interpretação: Revolucionários mc's - CD: RimaForte - Produzido por: Brava Gente Produções/Di Hum/Trama Produções Artísticas Ltda

- Atelier Studios - São Paulo - 1999)

Isso não é estorinha daqueles livros de contos de fadasMuito menos uma longa e engraçada piadaÉ a vida que levaram João e MariaAo saírem do interior da BahiaPara uma vida em São Paulo melhor encontrarE deixar aquela louca rotina pra lá

Trabalhavam na roça, viviam na fossaComendo o pão que o diabo amassouPorque lá o trabalho é sobre a terra e a renda

Quem trabalha nessas terras são pessoas sofridasE todo mundo na Bahia tem a vida dela

Como mostra na TV, o seriado e novelaO que vemos na TV diariamenteEm muitos casos porém a coisa é bem diferenteO que passa nela própria nem sempre é a verdadeEla traz a informação e junto a falsidadeQuem mostraria a vida de dois nordestinos

Como João e Maria quando eram meninos?

Que em São Paulo então levam uma vida de cãoCom as esperanças que tinham foram para um buracoNuma favela paulistana conquistaram um barracoE agora a questão como João se sente?Será que viverão felizes para sempre?

Page 13: MÚSICA CAIPIRA - diversitas.fflch.usp.brdiversitas.fflch.usp.br/files/09- Cancioneiro popular.pdf · tura Municipal, levou à produção de um CD coletivo, lançado em 1997. Neste

50

Quem saberia lhes dizer? Quem saberia?A pobre situação de João e Maria

Refrão:Oh, oh, não

Eu não pensava em sofrer assimMeu deus do céu o que será de mim?Infelizmente vivem num puta barraco zoado

E pela elite idiota eles são humilhadosEscravizados pelo sistema como nós

Não deixam a gente falar nem querem ouvir nossa vozHumilde trabalhador é o pobre JoãoSegura qualquer bico pois não tem profissãoPeão de obra, faxineiro, até encanadorProfissões bem pesadas que ninguém dá valorSem um trabalho fichado em sua carteira

lembranças do estudo uma triste carreiraPreenchia as fichas, não passava no teste

Nada mais dava certo, eta cabra da pesteForça de vontade não faltava nesses momentos

Depois o dia triste cheio de sofrimentosE Maria então mulher trabalhadoraNa mão esquerda a pá e na direita a vassoura

Mas uma dona-de-casa que luta pelos direitosMas só por ser mulher sofre o preconceitoPra vida de João uma alegriaDaria ao marido a companheira MariaCabia a ela então alimentar-se por doisFaltava comida e o que veio depois

Sete meses se passaram de gravidezMas pela fisionomia pareciam só trêsVários desmaios e sempre passando malMaria urgentemente foi levada ao hospitalE a desgraça de carona veio com o bebêLogo depois do parto acabava de morrerE junto a ele foram as esperanças de JoãoAchando que em São Paulo seria um campeãoCom a vida honesta ele não soube ser firme

Então se entregou para a vida do crime

Page 14: MÚSICA CAIPIRA - diversitas.fflch.usp.brdiversitas.fflch.usp.br/files/09- Cancioneiro popular.pdf · tura Municipal, levou à produção de um CD coletivo, lançado em 1997. Neste

51

Sofrimento doloroso e uma grande agonia

Mais uma maldição sobre essa gente caía

Refrão

João revoltado acabava de perder seu filhoComo se uma estrela perdesse seu brilhoAssassinatos e assaltos cometiam o rapazQue teve a vida dura, dura até demaisUm tipo estranho de lavagem cerebral

De humilde e gentil passou a ser bem brutalAssaltava várias lojas, sempre estava armadoJá tinha para o banco um esquema boladoPessoas que como ele sofreram no passadoJunto a ele estava com o bando formadoEntraram no banco disfarçadamente

Se passando por pessoas que já eram clientesTodos no banco já cheiravam a desconfiançaE num piscar de olhos dominaram a segurançaMas a polícia o prédio todo já estava cercando

Invadindo de repente e em seguida atirandoEm cima de João e seus colegas de crime

Que também foram atingidos por diversos calibres

E Maria em casa soube da notícia

Que bandidos foram mortos pela ação da políciaAo assaltarem o banco houve um tiroteioMas ela não sabia que João estava no meioEstirado no chão com toda a sua gangEstragos no seu corpo, várias manchas de sangueAté depois de mortos foram maltratados

Agredidos e jogados todos amontoadosPobre Maria está no vácuo da solidãoPerdeu primeiro seu filho. agora JoãoLembrava da fazenda de toda aquela áreaE do seu povo lutando pela reforma agrária

Porque essa vida que levavam o governo tem culpaCom seu sistema otário e suas leis injustasMas esse é o sistema. já estava cienteE assim viveu ela e feliz Dara semDre (bis) I Refrão

Page 15: MÚSICA CAIPIRA - diversitas.fflch.usp.brdiversitas.fflch.usp.br/files/09- Cancioneiro popular.pdf · tura Municipal, levou à produção de um CD coletivo, lançado em 1997. Neste

SAMBA

o samba tem vários estilos. O samba-enredo é característico das escolasde samba e bloco carnavalescos. Em Oiadema atualmente existem quatorzeagremiaçães, relacionadas abaixo com as respectivas datas de fundação:

. Unidos da Vila Alice - 20/5/1986 (existia como bloco desde 1978)

. Unidos da Vila Nogueira -10/1/1985 (desde 1978 teve iniciativas de organização

como bloco e escola chegando a desfilar alguns anos). Estopim da Fiel- 5/1/1979. UnidosdaSerraria-14/11/1987. Unidos da Vila - 1/3/1988 (existia como bloco desde 1987). Raposa do Jardim São Judas - 3/2/1979 (ficou inativa de 1981 a 1988). Unidos por Acaso - 7/5/1995 (existia como bloco desde 1993). Império do Eldorado - 1994 (existia como bloco desde 1987). Unidos da Santa Cruz do Jardim Santa Rita - 7/6/1998

. Acadêmicos Central- 19/4/1997. Tradição Centro Sul- 16/3/1996. Fantasia e Realidade - 8/2/1991. Mocidade Jardim Inamar - 2/3/1990. Primeira do Centro - 2/12/1996

52

Além das escolas existem vários grupos locais dedicados ao samba. Em1988 foi realizada a I Mostra de Pagode de Diadema e no ano seguinte a 11Mostra de Samba e Pagode da cidade, ambas promovidas pela Prefeitura Mu-nicipal. E depois, em 1997, por iniciativa panicular, aconteceu o jOFestivalde Incentivo ao Samba de Diadema, para o qual se inscreveram 57 grupos.

Feira Livre é o título do samba-enredo selecionado para este repertório,que recebeu o troféu Estandarte de Ouro como o melhor samba do carna-val de 1998 em Diadema.

Page 16: MÚSICA CAIPIRA - diversitas.fflch.usp.brdiversitas.fflch.usp.br/files/09- Cancioneiro popular.pdf · tura Municipal, levou à produção de um CD coletivo, lançado em 1997. Neste

Feira Livre

(Samba-enredo do Grêmio Recreativo Escola de Samba Vila Alice no carnaval de 1998 -Autores: Sonia Galvão, Tuka, Nivaldo, Isaías, Luís Cláudio - CD: Carnaval98 - Diadema-Intérpretes: Tukonha, Willian Madrugada, Nivaldo - Stúdio E.8.S.R. - 1997)

53

Vem raiando o dia;Aurora anunciada!A festa vai começarFeira livre em fantasia,Com a Vila Alice vai brilhar!

Num bailado multicor,

Tem corre-correCamelô e curtição.No carrinho da perua:

Frutas, verdurasE muita sedução.Leva tempero, madame!

pra temperar,Na culináriaDá bom paladarE no embalo da foliaNum alegre vai e vem

Tem paquera e gritariaTem melancia e banana nanica

também!Moça bonita enche a sacola de

alegriaFim de feira é poesiaA hora é essa tá barato ria.Ah . aI ", eu to muco..Neste barato coral,Com a feira livre, a Vila Alicev..", hr;nr..r n r..rn..v..\