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FABIO DIAS DE LIMA MÚSICA E ESPORTE ESCOLAR: ESTREITAS RELAÇÕES SÃO PAULO 2007

MÚSICA E ESPORTE ESCOLAR: ESTREITAS RELAÇÕES · Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da ... segundo pesquisa. 1 efetuada pela OMS (Organização

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FABIO DIAS DE LIMA

MÚSICA E ESPORTE ESCOLAR: ESTREITAS RELAÇÕES

SÃO PAULO

2007

FÁBIO DIAS DE LIMA

MÚSICA E ESPORTE ESCOLAR: ESTREITAS RELAÇÕES

Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar. Orientador: Profª. Ms. Thelma Polato

SÃO PAULO 2007

DIAS DE LIMA, Fábio

Música e Esporte Escolar: Estreitas relações. São Paulo, 2007.

18 p.

Monografia (Especialização) – Universidade de Brasília. Centro de Ensino a Distância, 2007.

1. Palavra chave 2. Palavra chave 3. Palavra chave.

FÁBIO DIAS DE LIMA

MÚSICA E ESPORTE ESCOLAR: ESTREITAS RELAÇÕES

Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar pela Comissão formada pelos professores:

Presidente: Professor Mestre ou Doutor NOME DO ORIENTADOR

Universidade de ...

Membro: Professor Mestre ou Doutor NOME DO LEITOR

Universidade de ...

SÃO PAULO (SP), 04 de julho de 2007.

Dedicatória A Deus. A meus pais, pelo apoio e compreensão que sempre dispensaram a mim. Aos meus amigos que me incentivaram a continuar este trabalho e não desistir quando as dificuldades surgiram.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos aqueles que de alguma maneira fizeram uso de seu tempo para orientar-me, à minha orientadora, profª. Thelma Polato, que ajudou-me com toda dedicação e atenção apesar de seus inúmeros afazeres Agradeço também a todos os funcionários da Universidade de Brasília que sempre me atenderam com respeito e atenção, mesmo que por telefone ou e-mail.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Tabela 1 – Atividades preferenciais dos alunos em tempo livre.................................................13 Tabela 2 - Quantidade média de horas que um aluno assiste Tv por dia...................................14 Tabela 3 - Quantidade média de horas que um aluno ouve música por dia...............................14 Tabela 4 – Estilos musicais apreciados pelos alunos.................................................................15

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................1 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.........................................................................................4 3 MÉTODO..........................................................................................................................12 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO .....................................................................................13 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS (OU CONCLUSÃO)..............................................................16

REFERÊNCIAS....................................................................................................................18

INTRODUÇÃO

Podemos hoje, em nossos dias, verificar a grande quantidade de estilos musicais existentes, e, segundo pesquisa1 efetuada pela OMS (Organização Mundial de Saúde), o jovem, em tempo livre é o maior “consumidor musical” presente em nosso contexto social. Dentre as atividades preferenciais deste grupo, em seu tempo livre, figuram: ouvir música 36%, estar na companhia de amigos 29%, assistir TV 27%, freqüentar bares e discotecas 25% e ler 15%. A partir desta informação, e de minhas reflexões sobre as concretas possibilidades de ação educativa e emancipatória no âmbito da Educação Física, formulei a seguinte questão de pesquisa: Seria possível uma ação emancipatória, através da Educação Física Escolar, especificamente no ensino de determinados esportes, na qual a música (componente indispensável de representações de determinadas culturas2), não aparecesse apenas como complementar, mas sim como “motor propulsor”, uma vez ser ela um elemento extremamente valorizado entre os jovens? Gostaríamos aqui, de apresentar não só resultados de uma simples pesquisa, mas sim, uma proposta de trabalho que possa enriquecer e construir novas discussões a respeito do que vem sendo desenvolvido na área de educação física escolar, especificamente no ensino de atividades esportivas.

Quando pensamos sobre a importância da música na vida dos jovens, não podemos deixar de analisar o conteúdo implícito e explícito das músicas apreciadas pelos mesmos, pois certamente, o contexto social em que vivem reflete diretamente na sua preferência musical. Diariamente, somos bombardeados por uma quantidade exacerbada de informações, que nos chegam na maioria das vezes através de mídia3. A televisão, o rádio, e até mesmo a Internet (rede mundial de computadores) entre outros, passam a ser potentes divulgadores de “modismos”, incluindo assim em seu acervo, a divulgação de determinadas músicas, destinadas às massas populares de consumo.

...a comunicação é uma “dupla via”, e não uma via de “mão única”, na qual as mensagens caminham exclusivamente do emissor ao receptor. Assim quando falamos em meios de comunicação de massa, por exemplo (TV,

1 Refiro-me ao estudo encomendado pela OMS para avaliar a vulnerabilidade dos jovens às drogas, divulgada parcialmente, em 06 de maio de 2001 p.p., pela Folha de São Paulo. O Estudo, entre outros fatores, aponta para a necessidade da implementação de uma política de lazer a fim de combater a violência e o uso de drogas. 2 É reconhecida a relação entre Educação Física e atividades musicais: atividades rítmicas e expressivas, dança, folclore, capoeira, ginástica, nado sincronizado, etc. 3 Mídia: aportuguesamento de “media” plural do latim “medium”, que significa “meio”.

rádio, jornal, etc.), ou nas “novas tecnologias de comunicação” (Internet, vídeo), estamos na verdade falando de meios de informação...A mídia está em toda parte. Outdoor, rádio, jornal, videocassete, revista, tv aberta e por assinatura, internet, cd-rom. O aparelho de televisão faz parte da mobília da casa, o mesmo em breve talvez acontecerá com o computador pessoal. Cada vez mais parte integrada ao cotidiano, por intermédio de seu discurso apoiado numa linguagem, a mídia nos transmite informações, alimenta nosso imaginário e constrói uma interpretação do mundo. Mas também é preciso considerar que muitas dessas informações possuem apenas a forma do espetáculo e do entretenimento, distante de preocupações educativas. O que a mídia propicia, num primeiro momento, é um grande mosaico sem estrutura lógica aparente, composto de informações desconexas, em geral descontextualizadas e recebidas individualmente, não instaurando portanto um processo de comunicação. (BETTI, 1998)

Betti nos deixa claro em sua exposição, que a mídia é um grande veiculador de informações, porém, muitas destas, não possuem conteúdos educativos, e aí está a nossa grande preocupação. Tratar a música como sendo um componente pedagógico e emancipatório, pode representar um ganho pedagógico significativo, tendo em vista que a mesma, conforme dados citados anteriormente, é veiculada e “consumida” em grandes escalas. A presença marcante da mídia em nossas vidas se dá como conseqüência das diversas transformações de ordem social, cultural, política e econômica que ocorreram nos últimos anos. Foi na década de setenta que estas transformações atingiram profundidade e velocidade, sendo que diversos autores, entre eles (Húngaro (1999) e Antunes (1999 a e b)) entendem-nas diretamente ligadas à profunda crise mundial gerada a partir das mudanças ocorridas no padrão de acumulação, que viriam a promover significativas alterações em todo “tecido social”. Húngaro (1999), analisando as referidas alterações, identifica modificações no padrão Taylorista/Keynesiano de acumulação, vigente até aproximadamente meados da década de setenta, quando seu esgotamento tornou-se visível, e começou a ser substituído gradativamente pelo padrão fundado na chamada flexibilização, ou acumulação flexível, trazendo consigo novas formas produtivas (como o toyotismo), novas relações globais (globalização), a financeirização (crescimento fantástico da especulação financeira), a revolução informacional (passagem de indústria eletromecânica para eletrônica), e uma desterritorialização do capital, ou seja, ele passa a não ter fronteiras, principalmente a partir da formação dos megablocos transnacionais. Antunes (1999), ressalta com relação à produção, em decorrência das novas tecnologias, “... um

crescente aumento da economia de trabalho vivo, (acentuando o desemprego)4. Para o autor, estes fenômenos sociais servem de exemplos para a identificação das mudanças sócio-econômicas e esclarece: observamos o grande aumento da urbanização, o crescimento de

atividade de serviços, a difusão da educação formal, a mudança do perfil demográfico das

populações e a individualização do lazer”. (p.03).

Húngaro (1999) relaciona diretamente as transformações do modelo produtivo às alterações políticas que ocorrem no mundo contemporâneo, como:

...fortalecimento de uma oligarquia financeira transnacional, uma descaracterização da clássica oposição, capital vs. trabalho (já que o capital deixa de ter pátria), o enfraquecimento do movimento operário (já que cresce cada vez mais o desemprego em função de novas tecnologias), tudo isso acompanhado pelo surgimento dos chamados movimentos sociais (movimento dos sem-terra, movimento gay, etc.). Somado a isto temos ainda a crise de sistemas sociais; sistemas estes que foram fundamentais para o fortalecimento dos direitos sociais: o socialismo e a social democracia.

Tendo em vista os aspectos culturais, as transformações foram influenciadas fundamentalmente pela indústria cultural. Surge uma indústria de entretenimento, baseada no espetáculo, que influencia os padrões de expressão cultural utilizando-se como meios, os meios de informação de massa (rádio, TV, revistas, etc.), sendo estes os responsáveis por difundir comportamentos, hábitos, e a moda.

Tais transformações aliadas à influência da indústria cultural, entre outros fatores, promoveram significativas diferenças no modo de ver, pensar, e agir do homem contemporâneo, constatado através de suas práticas cotidianas, seus valores, etc. Certamente o lazer, assim como várias outras esferas da vida humana, sofreram e continuam a sofrer alterações em detrimento das transformações já citadas.

O lazer na atualidade é compreendido como uma importante reivindicação social, necessária, ao desenvolvimento integral do ser humano; distinto das posições que o considerava apenas como meio para o descanso, a recuperação da força de trabalho ou simplesmente como espaço de consumo de produtos, criando um mundo de necessidades artificiais. Independente das transformações de diversas ordens que venham se apresentando, o lazer continua a ser uma questão de cidadania, de participação cultural, potencialmente constituído de valores democráticos e humanistas, tão necessários à instauração de uma nova cultura, em uma ordem social diversa.

4 Para um aprofundamento nas questões envolvendo as metamorfoses e as formas de produção, bem, como suas conseqüências sobre o trabalho e o tecido social, ver Antunes (1999 a e b).

LAZER E JUVENTUDE

Antes de centralizarmos nossa discussão abordando a temática “música” como componente cultural nota-se a necessidade de discorrermos sobre temas “periféricos” que se mostram interligados ao tema norteador deste estudo. O lazer é identificado aqui como peça fundamental e indispensável para compreender a importância qualitativa da música na vida dos jovens. Desde já, queremos deixar claro que não é objetivo deste estudo, abordar e discutir as inúmeras conceituações de lazer existentes, a fim de buscarmos pontos de ruptura ou de unidade entre elas. Porém, a adoção de um conceito de lazer torna-se necessário para uma melhor compreensão dos temas que serão apresentados. Conceituar o lazer com o rigor científico necessário significa, antes de mais nada, deixar para trás algumas marcas e pré-conceitos arraigados em nossos modos de pensar e agir, estabelecidos e fundados pelas formas de organização social vigentes. As inúmeras discussões existentes não permitem uma idéia clarificada da conceituação de lazer; porém nos possibilitam compreender quão complexo e abrangente esta temática se revela. Segundo Marcelinno (1996, p.8) dois aspectos são indispensáveis para caracterizar o lazer:

“O lazer considerado como atitude será caracterizada pelo tipo de relação verificada entre o sujeito e a experiência vivida, basicamente a satisfação provocada pela atividade”. O lazer ligado ao aspecto tempo considera as atividades desenvolvidas no tempo liberado do trabalho, ou no “tempo livre”, não só das obrigações profissionais, mas também das familiares sociais e religiosas.

Ao abordar os termos tempo livre e tempo liberado utilizados por Marcellino, estamos na verdade tentando caracterizar a existência de um “espaço de tempo” na vida cotidiana, desprovido de obrigações, sejam elas familiares, sociais ou religiosas. Porém:

“Considerado do ponto de vista histórico, tempo algum pode ser entendido como livre de coações ou normas de conduta social. Talvez fosse mais correto falar em tempo disponível. Mesmo assim, permanece a questão da consideração do lazer como esfera permitida e controlada da vida social, o que provocaria a morte do lúdico, e a ocorrência do lazer marcada pelas mesmas características alienantes verificadas em outras áreas da atividade humana. (Ibid., p. 8, 9)

Sendo assim, seria engano entender o lazer como algo distinto e não relacionado a outras atividades da esfera humana. Ao contrário disso, o tempo, livre de atividades compromissadas e obrigatórias, é que permite a caracterização de atividades de lazer.

Marcellino nega a existência do lazer, a partir do momento em que afirma que o mesmo não possa estar livre de coações ou normas de conduta social. Entretanto, não podemos deixar de considerar que vivemos numa sociedade capitalista, onde a base fundante das relações sociais é o trabalho. O ato de trabalhar ocupa a maior parte de nosso tempo diário; na maioria dos casos trabalha-se 6 horas ou mais, durante 5 a 6 dias por semana. Somos “naturalmente” obrigados a trabalhar, não mais para viver, mas por questão de sobrevivência e cumprimento de obrigações socialmente impostas.

Padilha nos diz que: (...) na totalidade dos autores que estudam este tema, tanto na compreensão do lazer como na do tempo livre, o trabalho está sendo suposto, ele existe como obrigação. O lazer corresponde à ocupação de uma parte do tempo, liberado periodicamente do trabalho, seja num fim de semana, nas férias ou na aposentadoria. Então, baseando-se nessas conceituações, pode-se afirmar que não há lazer se não há trabalho ou qualquer outra obrigação, ou seja, a libertação das obrigações é uma condição para o lazer, o qual acaba sendo tomado por alguns autores como atividade “residual” (2000, p. 59-60).

Este trecho acima citado confirma a nossa afirmação de que o lazer é algo “permitido” em nossa sociedade. Pode-se dizer ainda mais, além de permitido ele é moldado, pois não estamos livres de determinantes econômicos, sociais, políticos e culturais. Temos que ter em mente que, nossas relações (experiências) com o mundo não são homogêneas, sendo assim, aquilo que pode ser considerado lazer para mim, pode não ser lazer para o meu vizinho. Existem diferenças de classes sociais e elas não devem ser negadas, o que nos leva a compreensão de que as atividades de lazer, muitas vezes não podem ser escolhidas, ou seja, as mesmas são limitadas pela esfera social que nos faz. Podemos facilmente comprovar que muitas atividades de lazer são ideologicamente controladoras. Um grande exemplo é citar as empresas que oferecem a seus funcionários serviços de lazer, fazendo com que a vida de cada um deles seja invadida, adestrando-os de acordo com os interesses da empresa, em seus momentos de descanso, ocupando cada vez mais o seu tempo liberado.

O lazer é visto como um favor, como um presente oferecido pelas “boas empresas” aos seus funcionários. A percepção deste aspecto do lazer vinculado à empresa é muito relevante para o estabelecimento da “contaminação” do tempo livre da

grande maioria dos trabalhadores por parte dos interesses institucionalizados do capital. Além disso, fica mais evidente a vigência de uma visão funcionalista de lazer. (Ibid. p. 65).

Como nos parece impossível entender o lazer liberto de imposições e valores capitalistas, cabe a nós já que temos esta consciência, e aí está a palavra chave “consciência” - pensar um lazer que propicie momentos de ruptura desta nossa vida frenética. Isto não quer dizer que propomos à nossa libertação do capital através do lazer, mas que podemos, se conscientes de nossas condições, identificar também através dele (lazer) as contradições sociais que nos cercam. O que na verdade quero explicitar é que as contradições existem, e que só o lazer obviamente, não pode dar conta de solucioná-las, mas deve ser entendido como algo essencial para a vida humana, tendo em vista os benefícios que pode nos proporcionar. Em algumas regiões da periferia de São Paulo as atividades e espaços de lazer e para o lazer estão cada vez mais restritos. Além da violência e vários outros problemas que inundam o cotidiano de quem vive na periferia, ou seja, nos bairros mais afastados do centro de São Paulo, nota-se uma grande precariedade dos poucos espaços públicos de lazer existentes, que estão cada vez mais esquecidos e ignorados pelos órgãos competentes e responsáveis pela manutenção e preservação dos mesmos. Não é primordial aqui falarmos sobre políticas públicas, mas a falta de espaços públicos de lazer também contribui para que o jovem se veja cada vez mais impossibilitado de atuar ativamente na sociedade. Este jovem busca muitas vezes no seu dia-a-dia, atividades que lhe tragam satisfação, e esta busca significa conquistar a oportunidade de atuar no micro-sistema que lhe cerca, porém, cada vez mais, as oportunidades que lhe permitiriam este “direito” se estreitam. Segundo Vasconcelos5 um:

Mapeamento inédito da cidade de São Paulo, encomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para avaliar a vulnerabilidade dos jovens às drogas, mostra que os serviços públicos de lazer e cultura úteis para reduzir o ócio e inibir o vício, não beneficiam a população mais carente: os adolescentes da periferia.

Os centros esportivos e de treinamento, as bibliotecas, os parques e os teatros estão concentrados nas regiões de alta renda, bem distante dos jovens que vivem nas áreas extremas da cidade e que estão mais expostos ao crime. (2001, p. 1, grifo meu):

5 Frederico Vasconcelos (Reportagem local do Jornal Folha de São Paulo)

Nota-se que há uma distribuição não igualitária dos espaços de lazer na cidade, que caracteriza uma injusta discriminação social, onde ideologicamente, “retira-se” de quem menos possui. Dentre os vários espaços públicos de lazer abandonados na periferia, podemos citar:

(...)na zona sul, no Jardim Mitsutani, o Conjunto Cafuringa (atacante do Fluminense nos anos 70) tem espaços, campos de futebol e de areia, quadra de futebol de salão e dois vestiários. Mas tem muito lixo, vidraças quebradas, pichações e famílias morando no que foram os vestiários. Apesar do mau estado, às segundas e quintas funciona ali uma escolinha de futebol. “A quadra era arrumadinha, e o campo de areia tinha até areia. Tinha parquinho para as crianças, vestiário e até davam achocolatado no final da tarde. Hoje está desse jeito ai”, lamenta Dênis de Souza, 17, ex-aluno da escolinha. Em Guaianazes (zona leste), com apenas um palmo de água suja, pichadas e com rachaduras, as duas piscinas do Centro Esportivo Gerdy Gomes abrigam sapo. Nos vestiários só há dois chuveiros quentes e não há descarga. A prefeitura admite o estado de abandono. (MARIA6, 2001, p. 1)

Estes exemplos vêm apenas confirmar a situação de determinados espaços públicos de lazer e de cultura, distantes das áreas centrais da cidade.

Adotando então tais comprovações, podemos evidenciar uma frase anteriormente citada por nós, onde dizíamos que: “... nossas relações (experiências) com o mundo não são

homogêneas, sendo assim, aquilo que pode ser considerado lazer para mim, pode não ser lazer

para o meu vizinho”. Conclui-se parcialmente que, as atividades culturais e de lazer vivenciadas por jovens da periferia e por jovens de áreas mais centralizadas, possivelmente não serão as mesmas.

A fim de ilustrar nossas elucidações, utilizaremos um trecho de uma música dos Racionais Mcs, importante grupo paulista de Rap7 amplamente conhecido por jovens da periferia de São Paulo. O grupo Racionais Mcs promove através de seu trabalho de composição, a denúncia dos contrastes sociais, e a violência estabelecida pelos modelos socio-economicos vigentes.

(...) Malicioso e realista, sou eu Mano Browm Me dê quatro motivos para não ser Olhe o meu povo nas favelas e vai perceber Daqui eu vejo uma caranga Toda equipada e um tiozinho guiando Com seus filhos ao lado Estão indo ao parque

6 Estanislau Maria (Reportagem local do Jornal Folha de São Paulo ) 7 A sigla Rap é a abreviatura de rythm and poetry (ritmo e poesia). Estilo de música em que um DJ e um ou mais rappers se apresentam cantando sobre uma base instrumental a letra falada ou declamada.

Eufóricos, brinquedos eletrônicos Automaticamente eu imagino A molecada lá da área como é que tá Provavelmente correndo para lá e para cá Jogando bola Descalços nas ruas de terra Brincam do jeito que dá Gritando palavrão É o jeito deles Eles não têm videogame Às vezes nem televisão Mas todos eles têm São Cosme e Damião A única proteção (Racionais MCs, música: Fim de semana no parque)

Segundo Herschmann8: (...) as representações promovidas pelos rappers9 sugerem um Brasil hierarquizado e autoritário. Revelam, assim, os conflitos diários enfrentados pelas camadas menos privilegiadas da população: repressão e massacres policiais; a dura realidade dos morros, favelas e subúrbios; a precariedade e a ineficiência dos meios de transportes coletivos; racismo e assim por diante. (2000, p.40)

Apenas complementando as idéias de Herschmann, concluímos que todos estes agravantes, sem dúvida alguma, hierarquizam também as formas de lazer buscadas pelos jovens, como foi denunciado pela música “Fim de semana no parque” dos Racionais MCs.

Apesar da música citada não promover propostas para a amenização ou solução dos problemas impostos, a mesma caracteriza-se pela tentativa de conscientizar as camadas mais carentes da população sobre suas privações enquanto classe social.

CULTURA E JUVENTUDE:

QUAIS RELAÇÕES PODEM SER ESTABELECIDAS? Vivemos num país composto por uma extraordinária pluralidade de raças e povos, característica esta, que torna o Brasil um grande berçário cultural. Para se ter idéia de minha afirmação, basta caminhar pela Avenida Paulista (centro comercial da Cidade de São Paulo),

8 Micael Herschmann é pesquisador do Núcleo de Estudos e Projetos de Comunicação (Nepcom), professor de Cultura Brasileira da Escola de Comunicação da UFRJ e um dos editores da revista Lugar Comum. Estudos de Mídia, Cultura e Democracia. É autor dos livros Lance de Sorte, O futebol e o jogo do bicho na Belle Époque carioca (com Kátia Lerner) e Missionários do progresso. Médicos, engenheiros e educadores no Rio de Janeiro-1870-1937 (com Simone Kropf e Clarice Nunes), e organizador das coletâneas A invenção do Brasil moderno (com Carlos Alberto M. Pereira), Abalando os anos 90 – funk e hip-hop e linguagens da violência (com Carlos Alberto M. Pereira, Elizabeth Rondelli e Karl E. Schollhammer). 9 Rappers: aqueles que cantam ou compõem o rap.

apenas alguns minutos, num dia de semana. A grande variedade de povos que podem ser observadas é extraordinária.

Podemos afirmar que, a manifestação das diversas culturas destas raças e povos em nosso meio social, é algo dinâmico e ininterrupto, ou seja, sem que percebamos, ou até mesmo sem optar por elas, acabamos por incorporá-las em nosso dia-a-dia. O futebol, por exemplo, é uma manifestação cultural de outro país, porém, a mesma nos é tão familiar que parece ser criação nossa, de nosso povo, algo legitimamente brasileiro.

O hip hop, assim como o futebol, também é uma manifestação cultural estrangeira e tem sido veiculada e incorporada no Brasil não apenas como movimento cultural, mas como forma de mobilização social.

O termo hip hop, que significa numa tradução literal, movimentar os quadris ( to hip, em inglês) e saltar (to hop), foi criado pelo DJ Africa Bambaataa, em 1968, para nomear os encontros dos dançarinos de break, DJs (disc-jóqueis) e MCs (mestres de cerimônias) nas festas de rua no bairro do Bronx, em Nova York. Bambaataa percebeu que a dança seria uma forma eficiente e pacífica de expressar os sentimentos de revolta e de exclusão, uma maneira de diminuir as brigas de gangues do gueto e, consequentemente, o clima de violência. Já em sua origem, portanto, a manifestação cultural tinha um caráter político e o objetivo de promover a conscientização coletiva. O uso dessa expressão ganhou o mundo, novas dimensões, e hoje, no Brasil, designa basicamente uma manifestação cultural das periferias das grandes cidades, que envolve distintas representações artísticas de cunho contestatório. (Rocha; Domenich; Casseano, 2001, p.17,18).

O “movimento” hip hop é composto por quatro elementos indispensáveis: grafite10, break11, MC12 e DJ13. O termo “movimento”, associado ao termo hip hop, é assim utilizado por vários estudiosos a fim de proporcionar uma análise mais abrangente de sua ação social.

Além dos elementos básicos que compõem o movimento hip hop, podemos ainda destacar o Rap, já citado anteriormente, e um vestuário específico: calças e blusas largas, bonés, tênis de grifes específicas, que geralmente são “consumidos” por aqueles que dizem fazer parte deste movimento.

10 Grafite: pintar ou desenhar (com spray ou tinta) muros, painéis, túneis etc., com logotipos ou desenhos relacionados com o movimento hip hop. Utiliza letras tortas ou engarrafadas que fazem com que, muitas vezes, apenas os grafiteiros entendam o que está escrito. 11 Break: dança de solo, praticada em rodas, como a capoeira. Os movimentos são quebrados e assemelham-se, basicamente, aos gestos de robôs. 12 MC: abreviatura de master of ceremony (mestre de cerimônias). Rappers que cantam e animam os bailes. 13 DJ: abreviatura de disc-jóquei. No universo do Rap, é aquele que faz os efeitos sonoros da música, como os scratches, que são os efeitos produzidos pelo atrito entre a agulha do toca-discos e o próprio disco.

A música como componente cultural têm sido muito utilizada com o intuito de denunciar os inúmeros contrastes sociais existentes. O Rap não é o único estilo musical a apresentar este tipo de manifestação, porém, têm sido um dos principais ícones deste movimento denunciativo.

Diversos grupos, de distintos estilos musicais, vêm se mostrando potentes denunciadores destes contrastes. Para ilustrarmos nossa afirmação, segue abaixo a letra de uma música do Grupo “O Rappa14”.

senhora e senhores estamos aqui pedindo uma ajuda por necessidade pois “temo” irmão doente em casa qualquer trocadinho é bem recebido vou agradecendo antes de mais nada aqueles que não puderem contribuir deixamos também o nosso muito obrigado pela boa vontade e atenção dispensada vamo agradecendo antes de mais nada bom dia passageiros é o que lhes deseja a miséria s. a. que acabou de chegar..... (O Rappa, música: Miséria S. A )

O grupo O Rappa, especificamente nesta música, consegue expressar de maneira esclarecedora a situação de miséria vivida por milhares de pessoas em nosso país. Não apenas a letra desta música, mas a própria forma como a mesma é cantada, denuncia tal situação. Adotar neste momento um conceito de cultura parece ser indispensável para refletirmos sobre as inúmeras relações que poderiam ser estabelecidas entre cultura e juventude. Não era intenção deste trabalho conceituar tal termo, tendo em vista a existência de inúmeras definições sobre o tema, muitas delas, extremamente densas e complexas, outras, apresentam particularidades impares de cada autor que as define. Nenhuma das definições encontradas até então conseguiram expressar em palavras, o conceito de cultura que se enquadrasse no corpo deste trabalho. Sabemos que esta afirmação pode parecer pretensiosa, mas seria necessária uma definição de cultura que apresentasse engajamento, que representasse mudança, assim como a juventude e a música representam em nosso atual contexto histórico.

14 Este grupo vem se destacando entre os inúmeros grupos do “rock” nacional, pelo conteúdo apresentado nas letras de suas músicas.

Após dias de pesquisa, encontramos uma definição que se mostrava clara e objetiva, permitindo-nos particularmente, definir uma direção, pela qual a cultura deveria caminhar.

Cultura é uma dimensão do processo social, da vida de uma sociedade. Não diz respeito apenas a um conjunto de práticas e concepções, como por exemplo se poderia dizer de arte. Não é apenas uma parte da vida social como por exemplo se poderia falar da religião. Não se pode dizer que cultura seja algo independente da vida social, algo que nada tenha a ver com a realidade onde existe. Entendida dessa forma, cultura diz respeito a todos os aspectos da vida social, e não se pode dizer que ela exista em alguns contextos e não em outros. Cultura é uma construção histórica, seja como concepção, seja como dimensão do processo social. Ou seja, a cultura não é algo natural, não é uma decorrência de leis físicas ou biológicas. Ao contrário, a cultura é um produto coletivo da vida humana. Isso se aplica não apenas à percepção da cultura, mas também à sua relevância, à importância que passa a ter. Aplica-se ao conteúdo de cada cultura particular, produto da história de cada sociedade. Cultura é um território bem atual das lutas sociais por um destino melhor. É uma realidade e uma concepção que precisam ser apropriadas em favor do progresso social e da liberdade, em favor da luta contra a exploração de uma parte da sociedade por outra, em favor da superação de opressão e da desigualdade. (Santos, p. 44, 45, grifo meu)

A música como componente, as bases deste conceito de cultura acima apresentado. Apresentam seu valor contestatório, de conscientização cultural especificamente o Rap e alguns outros estilos musicais como construto coletivo da vida humana, apresentam em si mesmos, clamam por uma vida melhor em favor das populações menos favorecidas, que lutam e sonham por uma sociedade justa, por igualdade de direitos e condições de vida. O jovem das periferias se sente acuado e ameaçado, os espaços públicos de lazer existentes, estão sendo cada vez mais, tomados pela violência, pela insegurança e principalmente pelo grande descaso das autoridades responsáveis por eles. Por estes e outros motivos, os jovens estão apresentando cada vez mais, a característica de permanecerem mais tempo dentro de suas casas. Durante as nossas pesquisas, em diálogo com alguns alunos, os mesmos puderam nos afirmar que as ruas próximas de suas residências estão cada vez mais vazias, poucas crianças e adolescentes ainda permanecem brincando fora de suas casas, e muitos, dos famosos “campinhos” de futebol, são agora, ou terrenos invadidos, ou pontos de tráfico de drogas. As brincadeiras de rua, segundo eles, estão sendo substituídas pelo rádio e pela Televisão. A mídia está cada vez mais presente na vida dos jovens, não porque os mesmos optam por isto, mas por circunstâncias que os obrigam a familiarizar-se com tal fato. Tenho certeza que para muitas crianças, o fato de permanecerem dentro de suas residências a maior parte do dia seja algo “natural”, pois elas ao

nascerem, passaram a ser influenciadas diretamente por este modo particular de vida em sociedade, e “naturalmente” incorporaram ao seu eu particular, ao seu modo de pensar e de agir, este modo de vida. Porém, mesmo que muitos valores sejam impostos aos indivíduos pela estrutura alienante da cotidianidade, esta mesma estrutura nos permite criar mecanismos de superá-la. A música certamente pode ser um elemento cultural que propicie momentos de ruptura desta estrutura alienante, tendo em vista os conteúdos de cunho contestatório apresentado pelas mesmas. Pelo fato de ser um elemento da cultura extremamente valorizado entre os jovens, poderíamos propor, ou pensar inúmeras possibilidades de utilizá-la como instrumento educativo. Porém, para darmos consistência a esta proposta, apresentaremos em seguida, dados coletados em uma pesquisa desenvolvida numa escola da rede estadual de ensino do Estado de São Paulo, que possam denunciar as estreitas relações existentes entre música e juventude.

ANÁLISE DOS DADOS DE PESQUISA

O estudo aqui apresentado é resultado de uma pesquisa realizada no ano de 2007, na Escola Estadual Ermelino Matarazzo (E.E.E. M).

Para a instrumentalização da coleta de dados foi aplicado um questionário, composto de 14 questões. O mesmo foi aplicado em sala de aula, sob nossa administração, caracterizando os informantes, e as atividades que estes desenvolvem em tempo livre, com a finalidade de estabelecer relações entre suas atividades diárias e a música.

AMOSTRA

O estudo envolveu 50 respondentes da E.E.E.M, localizada na zona leste de São Paulo. Os alunos respondentes são estudantes de 7º e 8º séries do ensino fundamental. Os questionários foram respondidos por 28 jovens do sexo masculino, e 22 jovens do sexo feminino. A idade dos alunos varia entre 13 e 17 anos. Do total de alunos, 96% (n=48) residem no bairro de Ermelino Matarazzo (zona leste de São Paulo – periferia), onde se localiza a escola em que estudam. Apenas 24% (n=12) dos alunos responderam desenvolver alguma atividade profissional, enquanto 76% (n=38) ainda não trabalham. O nível de escolaridade apresentado pelo principal responsável pelos alunos é assim demonstrado:

Apenas 14% (n=7) concluíram o 3º Grau de escolaridade (nível superior), 14% (n=7) compõem o grupo que apresenta o 2º grau concluído, outros 14% (n=7) concluíram o 1º Grau.

Porém, um fato nos chama a atenção, 58% (n=29) não concluíram o 1º Grau, e destes últimos, 38% (n=19) sequer concluíram o primário. Pode-se então afirmar que, o nível de escolaridade destes indivíduos é significativamente baixo. Dos entrevistados 36% (18) afirmaram que sua família possui pelo menos um carro, outros 64% (32) não possuem o bem; o que nos leva a conclusão de que a maior parte das famílias apresenta uma baixa renda mensal.

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS Segue abaixo tabela demonstrativa das atividades desenvolvidas por este grupo em tempo livre. É importante salientar que, os informantes, especificamente nesta questão, puderam escolher mais de uma opção por resposta, pois os mesmos informavam desenvolver diferentes atividades durante o dia, enquanto estavam em tempo livre. Antes de colher tais informações, já havíamos aplicado questionários mais simples, que possibilitavam aos informantes apenas uma opção de escolha, porém, notou-se que desta forma, só obteríamos números exatos, e não respostas reais. A múltipla escolha de opções nos permitiu colher informações mais concisas do fenômeno a ser estudado.

TABELA 1 Atividades preferenciais dos jovens alunos (respondentes) de 7º e 8º séries

da E.E.E.M realizadas em tempo livre.

CATEGORIAS N % Assistir Tv 49 98 Ouvir música 47 94 Conversar com alguém 16 32 Praticar esportes/dançar 14 28 Atividades c/ música. Ex.: tocar instrumentos 10 20 Ler livros, revistas, etc. 9 18 Freqüentar Shoppings 5 10 Freqüentar cinemas, teatros, shows 4 8

As informações nos revelam uma grande aproximação dos jovens em relação à mídia eletrônica, dado este, já esperado. Porém, outras formas de vivência em atividades culturais apresentam baixos índices de apreciação por parte destes adolescentes. Uma das justificativas para este fato é a caracterização da distância entre os locais que poderiam lhes oferecer outras formas e possibilidades de desfrute da cultura, e suas residências. Como já foi denunciado por este trabalho, a periferia apresenta-se distante e isolada em relação aos principais centros de lazer e de cultura da cidade de São Paulo. Este fator, aliado à violência cotidiana, faz com que

os jovens cada vez mais, permaneçam dentro de suas casas e busquem opções de lazer que estejam ao seu alcance. Assistir televisão é a principal forma de preencher o tempo livre deste grupo, 98% dos respondentes (n=49) afirmaram ser esta, uma das suas principais atividades diárias. Ouvir música é a segunda atividade mais apreciada pelo grupo, 94% dos respondentes (n=47) afirmaram ser uma das suas atividades preferenciais. Seguindo esta estrutura, a terceira atividade preferencial do grupo é estabelecer diálogo com alguém, apreciada por 32% dos respondentes (n=16), seguido da atividade de praticar esportes/dançar, com 28% (n=14). Freqüentar cinemas, teatros e shows são as atividades menos freqüentes na vida deste grupo, apenas 8% (n=4) disseram preencher seu tempo livre com estas atividades.

As próximas tabelas (2 e 3 ) apresentam respectivamente, resultados que caracterizam a média de horas que um aluno (respondente) da E.E.E.M assiste televisão e ouve música por dia, tendo em vista serem estas, as principais atividades diárias dos mesmos em tempo livre.

TABELA 2

Quantidade média de horas que um aluno (respondente) de 7º e 8º séries da E.E.E.M assiste televisão por dia.

CATEGORIAS N %

1 Hora 6 12 2 Horas 5 10 3 Horas 8 16 4 Horas 2 4

5 Horas ou + 28 56 Não assiste TV 1 2

TOTAIS 50 100

TABELA 3

Quantidade média de horas que um aluno (respondente) de 7º e 8º séries da E.E.E.M ouve música por dia.

CATEGORIAS N %

1 Hora 6 12 2 Horas 14 28 3 Horas 6 12 4 Horas 3 6

5 Horas ou + 18 36 Não ouve música 3 6

TOTAIS 50 100

Dos 98% dos alunos (n=49) que apresentaram a atividade de assistir televisão como uma de suas preferenciais, 56% (n=28), ocupam 5 ou mais horas diárias com esta atividade. E de 94% dos alunos (n= 47) que apresentaram a atividade de ouvir música como uma de suas preferenciais, 36% (n=18), ocupam 5 ou mais horas diárias desta maneira.

Os motivos pelos quais a mídia eletrônica se apresenta tão marcante na vida destes jovens, já foram anteriormente apresentados, a violência, a falta de espaços públicos de lazer e cultura na periferia, são caracterizados como os principais fatores responsáveis por esta situação. Tendo em vista o nosso interesse sobre a relação música/juventude, apresentaremos abaixo uma 4º tabela, que demonstra a preferencia musical do grupo apresentado. Os respondentes nesta questão puderam optar por mais de um estilo musical apresentado.

TABELA 4 Estilos musicais apreciados

pelos alunos (respondente) de 7º e 8º séries da E.E.E.M.

CATEGORIA N % Samba 22 44 “Rock” 12 24 “Rap” 10 20 Pop 5 10 Regae 2 4 ‘Dance music” 1 2 “Funk” 1 2 Axé 1 2 Forró 1 2 Música clássica 0 0

Os dados referentes a esta questão indicam que 44% dos respondentes (n=22) apresentam o estilo musical samba como sendo o seu preferencial. O “rock” é apreciado por 24% dos respondentes (n=12), seguido do “rap”, apreciado por 20% (n=10) do grupo. A música clássica como pode ter sido observado sequer foi citada. Este fato pode ser analisado como um forte indício de que este estilo musical não faça parte da cultura dos jovens da periferia. Obviamente, porque os mesmos não foram e não são estimulados pelo meio em que vivem a apreciarem e desfrutarem deste estilo musical. Surpreendentemente 66% dos respondentes (n=28) negam que a sua preferência musical seja resultado da influência do meio social em que vivem, ou seja, os mesmos não compreendem que suas preferências pessoais e até mesmo o fato de ocuparem horas de seu tempo livre ouvindo música, são resultados de suas relações

diárias com o mundo. Independente deste fato, o que pode ser comprovadamente observado, é a presença marcante da música na vida dos jovens, dado este que reforça nossa proposta de utilizá-la como instrumento educativo e motivador no ensino dos esportes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a análise e resultado dos dados coletados, o referido trabalho nos permite afirmar que ouvir música é uma das principais atividades do jovem em tempo livre. Dos entrevistados, 94% (n=47), disseram ser esta uma das suas principais atividades diárias, e apenas 6% (n=3) afirmaram não ouvir música. Significativamente 36% (n=18) dos respondentes afirmaram ocupar 5 ou mais horas diárias de seu tempo livre com esta atividade. Os resultados da pesquisa apresentados acima se convergem aos dados que deram origem a este trabalho. Estes dados nos informavam que segundo pesquisa efetuada pela OMS (Organização Mundial de Saúde), o jovem em tempo livre é o maior consumidor musical presente em nosso contexto social, e, dentre as suas atividades preferenciais, a principal é ouvir música.

Queremos deixar claro que, apresentar inúmeras possibilidades de utilização da música na educação física, mais especificamente no ensino dos esportes, não era objetivo primeiro deste trabalho, tendo em vista o distanciamento que esta proposta causaria em relação à proposta inicial. Porém, concluímos a partir da análise dos dados apresentados, que certamente, a música como sendo um elemento da cultura extremamente valorizado entre os jovens, possa estimular e incentivar os mesmos, à prática de determinados esportes que apresentem em suas bases o elemento cultural “música” como sendo indispensável para o seu desenvolvimento.

RESUMO As estreitas relações entre música e o esporte escolar podem dar significado a uma nova proposta de intervenção na educação física escolar, tendo em vista o grande envolvimento e a importância que os jovens entrevistados neste trabalho comprovaram dispensar à música como elemento cultural presente em seu dia-a-dia. Após a aplicação de questionários e a análise das informações coletadas, comprovou-se que uma das principais atividades diárias de alguns alunos de 7ª e 8ª séries de uma escola pública da rede estadual de ensino em seu tempo livre, é ouvir música. Conclui-se, portanto, que utilizar um elemento cultural amplamente valorizado entre os jovens, poderia resultar um ganho significativo nos processos de ensino e aprendizagem de determinados esportes no ambiente escolar.

Palavras Chaves: Esporte Escolar, Música, Educação Física.

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