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1 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ – CCSE – DART LICENCIATURA PLENA EM MÚSICA - Disciplina: MPB Prof. Ricardo Catete [email protected] m APOSTILA V – MPB: A CONSOLIDAÇÃO Rancho Carnavalesco “O Macaco é Outro”, fundado por Hilária Batista de Almeida, a “Tia Ciata” (1854-1924) O Samba O Samba nasceu da influência de ritmos africanos, adaptados para a realidade dos escravos brasileiros e, ao longo do tempo, sofreu inúmeras transformações de caráter social, econômico e musical até atingir as características conhecidas hoje. Descendente do Lundu e do Maxixe começou como dança de roda de origem angolana trazida pelos escravos para a região da Bahia. Também conhecido por umbigada ou batuque , consistia em um dançarino no centro de uma roda, que dançava ao som de palmas, coro e objetos de percussão e dava uma ''umbigada'' em outro companheiro da roda, convidando-o a entrar no meio do círculo. Com a transferência, no meio do século XIX, da mão-de-obra escrava da Bahia para o Vale do Paraíba e, logo após, o declínio da produção de café e a abolição da escravatura, os negros deslocaram-se em direção a capital do país, Rio de Janeiro. Instalados nos bairros cariocas do centro, em cortiços (o mais famoso era o “Cabeça de Porco”), organizavam reuniões em casas onde viviam as famosas “tias

MÚSICA POPULAR BBRASILEIRA - V - SAMBA E MARCHINHAS

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ – CCSE – DARTLICENCIATURA PLENA EM MÚSICA - Disciplina: MPBProf. Ricardo Catete – [email protected]

APOSTILA V – MPB: A CONSOLIDAÇÃO

Rancho Carnavalesco “O Macaco é Outro”, fundado por Hilária Batista de Almeida, a “Tia Ciata” (1854-1924)

O Samba

O Samba nasceu da influência de ritmos africanos, adaptados para a realidadedos escravos brasileiros e, ao longo do tempo, sofreu inúmeras transformações decaráter social, econômico e musical até atingir as características conhecidas hoje.

Descendente do Lundu e do Maxixe começou como dança de roda de origemangolana trazida pelos escravos para a região da Bahia. Também conhecido porumbigada ou batuque , consistia em um dançarino no centro de uma roda, que dançavaao som de palmas, coro e objetos de percussão e dava uma ''umbigada'' em outrocompanheiro da roda, convidando-o a entrar no meio do círculo.

Com a transferência, no meio do século XIX, da mão-de-obra escrava da Bahiapara o Vale do Paraíba e, logo após, o declínio da produção de café e a abolição daescravatura, os negros deslocaram-se em direção a capital do país, Rio de Janeiro.

Instalados nos bairros cariocas do centro, em cortiços (o mais famoso era o“Cabeça de Porco”), organizavam reuniões em casas onde viviam as famosas “tias

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baianas”, como Amélia, Ciata e Prisciliana, nas quais aconteciam asfestas de terreiro, as umbigadas e as marcações de capoeira ao somde batuques e pandeiros. Essas manifestações culturaispropiciariam, conseqüentemente, a incorporação de característicasde outros gêneros cultivados na cidade, como a polca, o maxixe e o

xote. O samba carioca urbano ganha a cara e os ritmos conhecidos.Em 1916-17 foi gravado em disco o primeiro samba chamado ''PeloTelefone''. A música, de autoria reivindicada por Ernesto dos Santos,o “Donga” (1890-1974), geraria polêmica uma vez que, naqueletempo, a composição era feita em conjunto.Essa canção, por exemplo, foi criada numa roda de partido alto, doqual também participaram Mauro de Almeida e José Barbosa daSilva, o “Sinhô” (1888-1930), que se auto-intitulou ''o rei do samba''.

“Tia Ciata”

Após a primeira gravação, o samba conquistaria o mercado fonográfico e, com ainauguração do rádio em 1922, alcançaria as classes médias cariocas. O novo estiloseria, ainda, abraçado e redimensionado por filhos de classe média, como o ex-estudante de Medicina Noel Rosa (1910-1937) e o ex-estudante de Direito, Ary Barroso(1903-1964), por meio de obras memoráveis como ''Feitiço da Vila'' e ''Aquarela doBrasil''. O advento do rádio ainda transformaria nomes como Francisco Alves (1898-1952), Orlando Silva (1915-1978) e Carmen Miranda (1909-1955) em grandes ídolosdo samba.

O Advento do Samba como Canção Carnavalesca

O sucesso de “Pelo Telefone” no carnaval de 1917 mostrou que os festejoscarnavalescos exigiam um certo tipo de música especial e que essa música poderia sero samba. O surpreendente é que ninguém percebera isso antes. Até então,musicalmente, não havia diferença entre um baile de carnaval e outro qualquer. Orepertório era o mesmo: polcas, tangos brasileiros, valsas e até trechos de operetas.Um levantamento dos sucessos carnavalescos do início do século comprova o fato,

como por exemplo, em 1906 o tango-chula “Vem cá mulata” e em 1913 a embolada“Cabôca de Caxangá” de Catulo da Paixão Cearense.As coisas mudaram a partir de “Pelo Telefone” e os compositores despertaram

para o carnaval, e o samba reinou pelos próximos 50 anos seguintes, esse reinado foitão forte que na década de 1930, as músicas de carnaval já ocupavam mais de 40% dorepertório das gravadoras brasileiras.

Para o êxito dessas novas práticas, ajudou, ainda a onda de liberalização decostumes que se espalhou pelo mundo após a primeira Grande Guerra (1914-1918),que no Brasil tornou o carnaval mais democrático, atenuando as barreiras entre ricos,

remediados e pobres, frequentadores, respectivamente, do corso, das batalhas deconfetes e dos desfiles de blocos. Assim, juntamente com todas essas novidades, acanção carnavalesca tornou o carnaval mais animado e, principalmente, mais musical.

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A Marchinha e o Carnaval Brasileiro

Com seu ritmo binário, vivo, saltitante, suas melodias alegres e ao mesmo tempo

sentimentais, suas letras brejeiras, maliciosas, a marchinha invadiu o carnaval nadécada de 1920, passando a dividir a hegemonia da canção carnavalesca com osamba. Ao contrário deste, porém, oriundo das camadas mais humildes da população,ela é uma invenção dos compositores da classe média, ligados ao teatro de revista daépoca, como Eduardo Souto (1882-1942) e José Francisco de Freitas (1897-1956).

Inspiradas nas marchas portuguesas, trazidas pelas companhias teatrais, em emritmos americanos como oone-step e o charleston , as marchinhas seriam, ainda,descendentes da polca-marcha, matriz de todos esses gêneros.

Desfile de Corso no Rio de Janeiro na década de 1920.

BIBLIOGRAFIA:CANCLINI, Néstor García.Culturas Híbridas: estratégias para entrar e sair das modernidades . 4.ªed. 4.ª reimp. São Paulo: Edusp, 2008.DOMINGUES, Diana (org.)A Arte no Século XXI: a humanização das tecnologias . São Paulo: Unesp,1997.MORELLI, Rita C. L.Indústria Fonográfica: um estudo antropológico . 2.ª ed. Campinas: Unicamp,2009.SADIE, Stanley.Dicionário Grove de Música: edição concisa . Rio de Janeiro: Zahar Editor, 1994.VIANNA, Hermano.O Mistério do Samba. 5ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.: UFRJ, 2004.