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N. 29 JULHO DE 2020 1 n. 29 DJE de Julho 2020

N. JULHO DE - STF · (art. 226, § 7º), além de encontrar especial tutela no direito de previdência social (art. 201, II)4 e no direito de assistência social (art. 203, I)5. O

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  • N. 29 JULHO DE 2020

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    n. 29 DJE de

    Julho 2020

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    TE SE S E FUNDAMENTOS BOLE TIM DE ACÓRDÃOS PUBLICADOS

    Este Boletim contém resumos de decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal.

    Elaborado a partir de acórdãos publicados no mês de referência, e cujo julgamento tenha sido noticiado no Informativo STF, o periódico traz os principais fundamentos e conclusões dos julgados.

    A fidelidade deste trabalho ao conteúdo efetivo das decisões, embora seja uma das metas almejadas, apenas poderá ser aferida pela leitura integral do inteiro teor publicado no Diário da Justiça Eletrônico.

    SUMÁRIO

    DIREITO ADMINISTRATIVO

    AGENTES PÚBLICOS ................................................................................... 5 CARGOS PÚBLICOS

    TRANSFORMAÇÃO

    AGENTES PÚBLICOS .................................................................................... 5 CONCURSO PÚBLICO

    TESTE DE APTIDÃO FÍSICA – REPERCUSSÃO GERAL

    AGENTES PÚBLICOS .................................................................................... 7 CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA

    REGRAMENTO JURÍDICO – REPERCUSSÃO GERAL

    AGENTES PÚBLICOS .................................................................................... 8 SISTEMA REMUNERATÓRIO

    AUXÍLIO MORADIA

    ATO ADMINISTRATIVO ............................................................................... 8 ANULAÇÃO, REVOGAÇÃO E CONVALIDAÇÃO

    DECADÊNCIA – REPERCUSSÃO GERAL

    CONTRATOS ADMINISTRATIVOS ................................................................... 9 EXECUÇÃO DE CONTRATOS

    PRORROGAÇÃO ANTECIPADA

    DIREITO CONSTITUCIONAL

    DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS ........................................................... 13 DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

    DIREITO AO VOTO

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    DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS ..................................................... 13 DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

    DIREITO DE PROPRIEDADE

    ORGANIZAÇÃO DO ESTADO ....................................................................... 14 UNIÃO

    COMPETÊNCIA LEGISLATIVA PRIVATIVA

    ORGANIZAÇÃO DO ESTADO ....................................................................... 15 UNIÃO

    COMPETÊNCIA LEGISLATIVA PRIVATIVA

    ORGANIZAÇÃO DO ESTADO ....................................................................... 15 ESTADOS FEDERADOS

    COMPETÊNCIA LEGISLATIVA CONCORRENTE

    ORGANIZAÇÃO DOS PODERES ................................................................... 16 PODER LEGISLATIVO

    PROCESSO LEGISLATIVO

    ORGANIZAÇÃO DOS PODERES ................................................................... 17 PODER JUDICIÁRIO

    PRECATÓRIOS – REPERCUSSÃO GERAL

    ORGANIZAÇÃO DOS PODERES ................................................................... 18 PODER JUDICIÁRIO

    PRECATÓRIOS – REPERCUSSÃO GERAL

    ORGANIZAÇÃO DOS PODERES ................................................................... 19 PODER JUDICIÁRIO

    CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ)

    ORGANIZAÇÃO DOS PODERES ................................................................... 20 PODER JUDICIÁRIO

    TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO, TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO E JUÍZES DO TRABALHO

    ORGANIZAÇÃO DOS PODERES ................................................................... 20 FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA

    MINISTÉRIO PÚBLICO – REPERCUSSÃO GERAL

    ORGANIZAÇÃO DOS PODERES ................................................................... 22 FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA

    MINISTÉRIO PÚBLICO

    ORDEM SOCIAL........................................................................................ 22 EDUCAÇÃO, CULTURA E DESPORTO

    EDUCAÇÃO

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    DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

    PRÁTICA DE ATO INFRACIONAL .................................................................. 23 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

    DISPOSIÇÕES GERAIS

    DIREITO ELEITORAL

    ELEIÇÕES ................................................................................................ 25 SISTEMA ELEITORAL

    REPRESENTAÇÃO PROPORCIONAL

    ELEIÇÕES ................................................................................................ 27 SISTEMA ELEITORAL

    REPRESENTAÇÃO PROPORCIONAL

    PARTIDOS POLÍTICOS ................................................................................ 32 ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DOS PARTIDOS POLÍTICOS

    CRIAÇÃO E REGISTRO DOS PARTIDOS POLÍTICOS

    DIREITO PENAL

    CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO ............................................................... 33 ROUBO E EXTORSÃO

    ART. 157 — ROUBO

    DIREITO PROCESSUAL PENAL

    PROCESSO EM GERAL ............................................................................... 34 PRINCÍPIOS E GARANTIAS PROCESSUAIS

    PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO À AUTOINCRIMINAÇÃO – REPERCUSSÃO GERAL

    PROCESSOS EM ESPÉCIE............................................................................ 36 PROCESSO COMUM

    PROCEDIMENTO RELATIVO AOS PROCESSOS DA COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI

    DIREITO TRIBUTÁRIO

    TRIBUTOS ............................................................................................... 37 IMPOSTOS

    IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS DE QUALQUER NATUREZA – REPERCUSSÃO GERAL

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    DIREITO ADMINISTRATIVO

    AGENTES PÚBLICOS

    CARGOS PÚBLICOS

    TRANSFORMAÇÃO

    Não ofende a Constituição Federal (CF) a lei estadual que, ao regulamentar situação jurídica consolidada anteriormente à CF/1988: a) assegura aos trabalhadores de ex-autarquia, quando da sua conversão em sociedade de economia mista, o direito de optar retroativamente pelo regime jurídico mais favorável para fins de contagem de tempo de serviço para aposentadoria; e b) reconhece como servidores autárquicos todos os empregados não detentores dessa condição, porque admitidos anteriormente à conversão da empresa pública em autarquia, desde que essa regulamentação não modifique, de forma retroativa, o regime jurídico desses trabalhadores, mas apenas outorgue segurança jurídica a situação preexistente à CF/1988.

    Trata-se de regulamentação da relação jurídica mantida entre a Administração Pública e seus funcionários antes mesmo da conversão do regime jurídico. Reveste-se, portanto, de natureza administrativa, a afastar a competência privativa da União.

    Ademais, não há ofensa à exigência constitucional de concurso público para a admissão de servidor e de empregado público, pois é situação jurídica já reconhecida pela legislação estadual anterior à CF/1988. Não se trata, portanto, de ingresso originário no serviço público na vigência da CF/1988, preservada a incolumidade do princípio do concurso público.

    Ademais, o Supremo Tribunal Federal tem homenageado a prevalência do princípio da segurança jurídica sobre o

    1 Precedente: MS 22.357, rel. min. Gilmar Mendes, P.

    2 CF/1988: “Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 1º O casamento é

    princípio da legalidade no reconhecimento da regularização de admissões no âmbito da Administração Pública, estabilizadas e convalidadas pelo decurso do tempo, beneficiando particulares de boa-fé.1

    Por sua vez, a autoridade da coisa julgada, nas relações jurídicas de trato continuado, opera sob a cláusula rebus sic stantibus. O reconhecimento da condição de ex-autárquicos aos antigos servidores da empresa pública, enquanto medida endereçada a dirimir controvérsias e a assegurar igualdade entre empregados na mesma situação, constitui elemento suficiente para delimitar os efeitos de coisa julgada formada em sentido contrário.

    ADI 807 e ADI 3.037, red. p/ o ac. min. Rosa Weber, DJE de 31-7-2020. (Informativo 929, Plenário)

    ___________________________________

    AGENTES PÚBLICOS

    CONCURSO PÚBLICO

    TESTE DE APTIDÃO FÍSICA – REPERCUSSÃO GERAL

    É constitucional a remarcação do teste de aptidão física de candidata aprovada nas provas escritas que esteja grávida à época de sua realização, independentemente da previsão expressa em edital do concurso público.

    O teste de aptidão física para a candidata gestante pode ser remarcado, pois há direito subjetivo que promove a igualdade de gênero, a busca pela felicidade, a liberdade reprodutiva e outros valores encartados pelo constituinte como ideário da nação brasileira.

    A família, mercê de ser a base da sociedade, tem especial proteção do Estado [Constituição Federal (CF), art. 226]2. Diante

    civil e gratuita a celebração. § 2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. § 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade

    http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=85726http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=753368006http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=753368003http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo929.htm#Regime%20jur%C3%ADdico:%20op%C3%A7%C3%A3o%20retroativa%20e%20transmuta%C3%A7%C3%A3o%20%E2%80%93%203

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    disso, a CF se posicionou expressamente a favor da proteção à maternidade (art. 6º)3 e assegurou direito ao planejamento familiar (art. 226, § 7º), além de encontrar especial tutela no direito de previdência social (art. 201, II)4 e no direito de assistência social (art. 203, I)5.

    O constituinte expressamente vedou qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas que obstaculize o planejamento familiar (CF, art. 226, § 7º), assim como assegurou o acesso às informações e meios para sua efetivação e impôs o dever de propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito.

    O direito à saúde, tutelado expressamente no art. 6º da CF, requer uma especial proteção no presente caso, vez que a prática de esforços físicos incompatíveis com a fase gestacional pode colocar em risco a saúde da gestante ou mesmo do bebê.

    Além disso, a ampla acessibilidade a cargos, empregos e funções públicas é assegurada expressamente em nosso sistema constitucional (CF, art. 37, I)6, como corolário do princípio da isonomia, da participação política e o da eficiência administrativa. Sendo assim, a remarcação

    familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. § 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. § 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. § 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. § 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. § 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.”

    3 CF/1988: “Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.”

    do teste de aptidão física, como único meio possível de viabilizar que a candidata gestante à época do teste continue participando do certame, estende-lhe oportunidades de vida que se descortinam para outros, oportunizando o acesso mais isonômico a cargos públicos. O princípio da isonomia, nesse caso, se resguarda na necessidade de a candidata apresentar, superado o estado gravídico, a mesma aptidão física exigida para os demais candidatos, obtendo a performance mínima.

    A remarcação do teste de aptidão física realiza com efetividade os postulados constitucionais, atingindo os melhores resultados com recursos mínimos, pois o certame tem prosseguimento com os demais candidatos, mas não descuida do cânone da impessoalidade. Desse modo, a continuidade do concurso em geral, com reserva de vagas em quantidade correspondente ao número de candidatas gestantes, permite que Administração Pública gerencial desde logo supra sua deficiência de contingente profissional, escopo último do concurso, assim como permite que os candidatos aprovados possam ser desde logo nomeados e empossados, respeitada a ordem de classificação.

    4 CF/1988: “Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a: (...) II – proteção à maternidade, especialmente à gestante;”

    5 CF/1988: “Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I – a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;”

    6 CF/1988: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: I – os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei;”

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    O adiamento fundamentado no estado gestacional se estende pelo período necessário à superação dessa circunstância. As condições e os prazos devem ser determinados pela Administração Pública, preferencialmente em edital, resguardada a discricionariedade do administrador público e o princípio da vinculação às cláusulas editalícias. Mesmo inexistindo previsão para esse tipo de remarcação em edital, o direito da candidata gestante não é afastado, já que fundado em valores constitucionais maiores cuja juridicidade se irradia por todo o ordenamento jurídico. Por essa mesma razão, ainda que houvesse previsão expressa em sentido contrário, o direito à remarcação do teste de aptidão estaria assegurado para a candidata gestante.

    Vale ressaltar que, em regra, a mera previsão em edital do requisito criado pelo administrador público não exsurge o reconhecimento automático de sua juridicidade.

    Por fim, a gravidez não se insere na categoria de “problema temporário de saúde” de que trata o Tema 335 de repercussão geral. É que a condição de gestante goza de proteção constitucional reforçada, por ter o constituinte estabelecido expressamente a proteção à maternidade, à família e ao planejamento familiar.

    RE 1.058.333, rel. min. Luiz Fux, DJE de 27-7-2020, repercussão geral, Tema 973. (Informativo 924, Plenário)

    ___________________________________

    7 Precedentes: RE 775.801 AgR, rel. min. Edson Fachin, 1ª T; e ARE 897.969 AgR, rel. min. Gilmar Mendes, 2ª T.

    8 CF/1988: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...) IX – a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional

    AGENTES PÚBLICOS

    CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA

    REGRAMENTO JURÍDICO – REPERCUSSÃO GERAL

    Servidores temporários não fazem jus a 13º salário e férias remuneradas acrescidas do terço constitucional, salvo (I) expressa previsão legal e/ou contratual em sentido contrário, ou (II) comprovado desvirtuamento da contratação temporária pela Administração Pública, em razão de sucessivas e reiteradas renovações e/ou prorrogações7.

    A contratação de servidores públicos por tempo determinado, para atender à necessidade temporária de excepcional interesse público, prevista no art. 37, IX, da Constituição Federal (CF)8, submete-se ao regime jurídico-administrativo (CF, art. 39, §3º9), e não à Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

    Assim, o direito a 13º salário e férias remuneradas, acrescidas do terço constitucional, não decorre automaticamente da contratação temporária, demandando previsão legal ou contratual expressa a respeito.

    RE 1.066.677, red. p/ o ac. min. Alexandre de Moraes, DJE de 1º-7-2020, repercussão geral, Tema 551. (Informativo 984, Plenário Virtual)

    ___________________________________

    interesse público;” 9 CF/1988: “Art. 39. A União, os Estados, o Distrito

    Federal e os Municípios instituirão, no âmbito de sua competência, regime jurídico único e planos de carreira para os servidores da administração pública direta, das autarquias e das fundações públicas. (...) § 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir.”

    http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incidente=3957697&numeroProcesso=630733&classeProcesso=RE&numeroTema=335http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=753327328http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incidente=5220068&numeroProcesso=1058333&classeProcesso=RE&numeroTema=973http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo924.htm#Concurso%20p%C3%BAblico%20e%20remarca%C3%A7%C3%A3o%20de%20teste%20de%20aptid%C3%A3o%20f%C3%ADsicahttp://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?idDocumento=12150229http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?idDocumento=9709933http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=753145917http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incidente=5240485&numeroProcesso=1066677&classeProcesso=RE&numeroTema=551http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo984.htm#Clipping%20das%20sess%C3%B5es%20virtuais

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    AGENTES PÚBLICOS

    SISTEMA REMUNERATÓRIO

    AUXÍLIO MORADIA

    É constitucional a limitação temporal do benefício do auxílio moradia concedido para membros do Ministério Público da União lotados em localidades com condições de moradia particularmente difíceis ou onerosas [Lei Complementar (LC) 75/1993, art. 227, VIII10].

    O fundamento para pagamento do referido auxílio não deve levar em consideração apenas a localidade. A razão de ser da norma é incentivar a lotação dos postos de trabalho em locais de difícil acesso até que ocorra a adaptação do servidor ao local inicial e presumidamente considerado inóspito.

    Ademais, o art. 227 da LC 75/1993 revela-se verdadeira moldura de uma garantia institucional que permite ao procurador-geral da República (PGR), em determinados casos, estabelecer a razoabilidade na situação de fato.

    Assim, a limitação do prazo para pagamento constitui legítima atuação do PGR, com a finalidade precípua de indenizar a despesa realizada com moradia pelos membros que optaram por residir e trabalhar nas localidades alcançadas por essa vantagem.

    Caso contrário, se não fosse possível a limitação temporal do pagamento do auxílio, estar-se-ia diante de uma parcela de natureza eminentemente remuneratória, integrante, ad eternum, dos vencimentos

    10 LC 75/1993: “Art. 227. Os membros do Ministério Público da União farão jus, ainda, às seguintes vantagens: (...) VIII – auxílio-moradia, em caso de lotação em local cujas condições de moradia sejam particularmente difíceis ou onerosas, assim definido em ato do Procurador-Geral da República;"

    11 ADCT: “Art. 8º É concedida anistia aos que, no período de 18 de setembro de 1946 até a data da promulgação da Constituição, foram atingidos, em decorrência de motivação exclusivamente política, por atos de exceção, institucionais ou complementares,

    dos procuradores que optassem por permanecer em tais comarcas, hipótese que não se coaduna com o regramento de subsídio previsto pela Constituição Federal.

    MS 26.415, red. p/ o ac. min. Gilmar Mendes, DJE de 29-7-2020. (Informativo 970, 2ª Turma)

    ___________________________________

    ATO ADMINISTRATIVO

    ANULAÇÃO, REVOGAÇÃO E CONVALIDAÇÃO

    DECADÊNCIA – REPERCUSSÃO GERAL

    No exercício de seu poder de autotutela, poderá a Administração Pública rever os atos de concessão de anistia a cabos da Aeronáutica relativos à Portaria 1.104, editada pelo ministro de Estado da Aeronáutica em 12 de outubro de 1964, quando se comprovar a ausência de ato com motivação exclusivamente política, assegurando-se ao anistiado, em procedimento administrativo, o devido processo legal e a não devolução das verbas já recebidas.

    A Constituição Federal (CF), no art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT)11, assim como os diplomas que versam sobre a anistia, não contempla aqueles militares que não foram vítimas de punição, demissão, afastamento de suas atividades profissionais por atos de motivação estritamente política, a exemplo dos cabos da Aeronáutica que foram licenciados com fundamento na legislação disciplinar ordinária por alcançarem o tempo legal de serviço militar (Portaria 1.104-GM3/1964).

    aos que foram abrangidos pelo Decreto Legislativo n. 18, de 15 de dezembro de 1961, e aos atingidos pelo Decreto-Lei n. 864, de 12 de setembro de 1969, asseguradas as promoções, na inatividade, ao cargo, emprego, posto ou graduação a que teriam direito se estivessem em serviço ativo, obedecidos os prazos de permanência em atividade previstos nas leis e regulamentos vigentes, respeitadas as características e peculiaridades das carreiras dos servidores públicos civis e militares e observados os respectivos regimes jurídicos.”

    http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=753348167http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo970.htm#LC%2075/1993:%20aux%C3%ADlio-moradia%20e%20prazo%20de%20concess%C3%A3o%20%E2%80%93%202

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    Essa portaria, por si só, não constitui ato de exceção, sendo necessária a comprovação, caso a caso, da ocorrência de motivação político-ideológica para o ato de exclusão das Forças Armadas e a consequente concessão de anistia política.

    O decurso do lapso temporal de cinco anos não é causa impeditiva bastante para inibir a Administração Pública de revisar determinado ato, haja vista que a ressalva da parte final da cabeça do art. 54 da Lei 9.784/199912 autoriza a anulação do ato a qualquer tempo, uma vez demonstrada, no âmbito do procedimento administrativo, com observância do devido processo legal, a má-fé do beneficiário.

    Assim, no exercício de seu poder de autotutela, a Administração Pública poderá exercer o controle de legalidade e rever seus próprios atos a qualquer tempo, principalmente se forem praticados em descompasso com a boa-fé e com os princípios e as regras que conformam a ordem constitucional, devendo, nesses casos, prevalecer o princípio da supremacia do interesse público.

    Ademais, esse poder de autotutela da Administração está em consonância com as Súmulas 34613 e 47314 do Supremo Tribunal Federal.

    As situações flagrantemente inconstitucionais não devem ser consolidadas pelo transcurso do prazo decadencial previsto no art. 54 da Lei 9.784/1999, sob pena de subversão dos princípios, das regras e dos preceitos previstos na CF15.

    O princípio da segurança jurídica, da óptica objetiva, obsta a retroação da lei,

    12 Lei 9.784/1999: “Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé. § 1º No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento. § 2º Considera-se exercício do direito de anular qualquer medida de autoridade administrativa que importe impugnação à validade do ato.”

    tutelando o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Do ângulo subjetivo, a segurança jurídica vela pela confiança legítima, buscando preservar fatos pretéritos de evoluções interpretativas, bem como conservar efeitos jurídicos de atos considerados inválidos por qualquer razão. Em outras palavras, a confiança legítima destina-se a resguardar as expectativas criadas por indivíduos em relação a atos estatais.

    Entretanto, o dever de guardar o princípio da segurança jurídica pressupõe que o ato administrativo que se busca preservar não tenha sido consumado em desacordo com a CF, sob pena de subverter-se o primado da supremacia constitucional.

    Com efeito, diante de inequívoca inconstitucionalidade do ato de declaração de condição de anistiado, a Administração há de exercer seu poder-dever de anular seus próprios atos, sem que isso importe em desrespeito ao princípio da segurança jurídica.

    RE 817.338, rel. min. Dias Toffoli, DJE de 30-7-2020, repercussão geral, Tema 839. (Informativo 956, Plenário)

    ___________________________________

    CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

    EXECUÇÃO DE CONTRATOS

    PRORROGAÇÃO ANTECIPADA

    A prorrogação antecipada de contrato administrativo, para os setores rodoviário, ferroviário e aeroportuário da Administração Pública federal, pode ocorrer pela inclusão de investimentos não previstos

    13 Súmula 346/STF: “A administração pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos.”

    14 Súmula 473/STF: “A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.”

    15 Precedentes: MS 30.016 AgR, rel. min. Dias Toffoli, P; MS 29.265 AgR, rel. min. Rosa Weber, 1ª T; MS 28.279, rel. min. Ellen Gracie, P.

    http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=753361371http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incidente=4585518&numeroProcesso=817338&classeProcesso=RE&numeroTema=839http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo956.htm#Anula%C3%A7%C3%A3o%20de%20anistia%20e%20prazo%20decadencial%20%E2%80%93%202http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=6272897http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=12873242http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=622343

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    em instrumento contratual vigente de concessão rodoviária ou ferroviária e, em especial, para o setor ferroviário, no contrato de parceria cujo prazo de vigência, na data da manifestação da parte interessada, esteja entre cinquenta e noventa por cento do prazo originariamente estipulado16.

    A prorrogação de contrato administrativo não pode ser burla à regra da licitação. Nesse sentido, não se pode alterar o objeto do contrato prorrogado, não se pode permitir alteração de volume de objeto contratado a tornar outro livre de seleção prévia.

    Com a prorrogação antecipada, permite-se a realização imediata de investimentos em estruturas públicas, mas sem o emprego de recursos públicos. Ela pode ser mais vantajosa para o poder público porque: a) possibilita a realização de novos investimentos, de forma imediata, em infraestruturas públicas, que teriam de ser adiados até o final da vigência das concessões; b) permite que tais investimentos sejam realizados sem o aporte de recursos públicos (subsídios), ou, tampouco, de aumento de tarifário; e c) garante que os bens incorporados à

    16 Lei 13.448/2017: “Art. 4º Para os fins desta Lei, considera-se: I – prorrogação contratual: alteração do prazo de vigência do contrato de parceria, expressamente admitida no respectivo edital ou no instrumento contratual original, realizada a critério do órgão ou da entidade competente e de comum acordo com o contratado, em razão do término da vigência do ajuste; II – prorrogação antecipada: alteração do prazo de vigência do contrato de parceria, quando expressamente admitida a prorrogação contratual no respectivo edital ou no instrumento contratual original, realizada a critério do órgão ou da entidade competente e de comum acordo com o contratado, produzindo efeitos antes do término da vigência do ajuste; III – relicitação: procedimento que compreende a extinção amigável do contrato de parceria e a celebração de novo ajuste negocial para o empreendimento, em novas condições contratuais e com novos contratados, mediante licitação promovida para esse fim. (...) Art. 6º A prorrogação antecipada ocorrerá por meio da inclusão de investimentos não previstos no instrumento contratual vigente, observado o disposto no art. 3º desta Lei. § 1º A

    prestação do serviço público sejam revertidos ao patrimônio público.

    Essa modalidade de extensão do prazo dos contratos de concessão: a) predica autorização legislativa, que materialize o interesse público subjacente à antecipação dos investimentos, em razão do princípio da legalidade administrativa; b) limita-se ao período em que o concessionário terá para amortizar os novos investimentos realizados, estando totalmente desvinculada do prazo previsto para eventual prorrogação contratual; e c) depende de prévia alteração no respectivo instrumento contratual ou no instrumento contratual original.

    Ademais, é incongruente com a natureza da prorrogação contratual a ideia de sua formalização em momento antecedente ao término do contrato, como também é incongruente com sua natureza a garantia indissolúvel de sua realização já no instrumento contratual.

    As condições para a prorrogação devem ser disciplinadas no contrato de concessão, configurando-se como cláusula essencial, marcada pela discricionariedade da Administração Pública e na supremacia do interesse público.

    prorrogação antecipada ocorrerá apenas no contrato de parceria cujo prazo de vigência, à época da manifestação da parte interessada, encontrar-se entre 50% (cinquenta por cento) e 90% (noventa por cento) do prazo originalmente estipulado. § 2º A prorrogação antecipada estará, ainda, condicionada ao atendimento das seguintes exigências por parte do contratado: I – quanto à concessão rodoviária, a execução de, no mínimo, 80% (oitenta por cento) das obras obrigatórias exigíveis entre o início da concessão e o encaminhamento da proposta de prorrogação antecipada, desconsideradas as hipóteses de inadimplemento contratual para as quais o contratado não tenha dado causa, conforme relatório elaborado pelo órgão ou pela entidade competente; II – quanto à concessão ferroviária, a prestação de serviço adequado, entendendo-se como tal o cumprimento, no período antecedente de 5 (cinco) anos, contado da data da proposta de antecipação da prorrogação, das metas de produção e de segurança definidas no contrato, por 3 (três) anos, ou das metas de segurança definidas no contrato, por 4 (quatro) anos.”

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    “A Administração não está obrigada a prorrogar os contratos de prestação de serviços contínuos, ainda que dentro das hipóteses e nas situações autorizadas pela Lei 8.666/1993. Isso porque, como dito, a validade da prorrogação depende das vantagens propiciadas por ela. Ora, a análise das vantagens ou desvantagens da prorrogação equivale à análise da sua conveniência e da oportunidade, o que toca ao núcleo da discricionariedade, uma vez que os agentes dispõem de margem de liberdade para realizar tal juízo. Registre-se que os agentes administrativos não agem com liberdade absoluta. Se a prorrogação for manifesta e objetivamente vantajosa, aos agentes administrativos não cabe pura e simplesmente recusá-la, em detrimento do interesse público. De toda maneira, a prorrogação, além de discricionária, é ato bilateral, que depende da vontade do contratado. À Administração não é permitido impor ao contratado a prorrogação de contrato.”17

    A prorrogação do prazo contratual está inserida no espaço de discricionariedade da Administração Pública. A ela cabe analisar e concluir sobre a oportunidade e a conveniência da prorrogação, observados os limites legais e sempre em consonância com os princípios e normas constitucionais. Por outro lado, a prorrogação indefinida do contrato é burla às determinações legais e constitucionais quanto à licitação obrigatória para adoção do regime de concessão e permissão para exploração de serviços públicos.

    Especificamente quanto ao instituto da prorrogação dos contratos de concessão qualificados no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), nos setores rodoviários e ferroviários, são previstas duas hipóteses: a) prorrogação de contratos na iminência do término de seu prazo original; e b) prorrogação antecipada mediante a realização de novos investimentos.

    17 NIEBUHR, Joel de Menezes. Licitação pública e contrato administrativo. 3. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2013. p. 774.

    Para que ocorra, além de outras condicionantes, deve-se comprovar a prestação de serviço adequado, consistente no cumprimento, pelo período antecedente de cinco anos contado da data da proposta de antecipação da prorrogação, das metas de produção e de segurança definidas no contrato, por três anos, ou das metas de segurança definidas no contrato, por quatro anos.

    Nesse sentido, serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas. É aquele que atende, quanto ao objeto contratado, os índices de cumprimento dos princípios legais considerando-se o serviço prestado e a sua adequação aos critérios estabelecidos concretamente, conforme as circunstâncias de cada caso.

    Cabe, portanto, ao órgão ou à entidade competente realizar estudo técnico prévio para fundamentar, objetiva e expressamente, a vantagem da prorrogação do contrato de parceria e acolher, no caso, a possibilidade do elastecimento do prazo contratual sem a necessidade de realização de licitação.

    A análise sobre a conveniência e a oportunidade da prorrogação antecipada do contrato de concessão pelo poder público considera a necessária exigência de elevação dos níveis de eficiência na prestação do serviço, pois se impõe a inclusão de investimentos não previstos no instrumento contratual vigente.

    Nesse sentido, o interesse público é diretriz a ser seguida pelo Estado-administrador e Estado-legislador. “Ao Estado cabe não somente a ordenação normativa do ‘interesse público’ mas também a soberana indicação do seu conteúdo. O interesse público constitui interesse de que todos compartilham. A finalidade dos atos administrativos deve vir

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    informada pelo interesse público. A expressão ‘interesse público’ evoca, imediatamente, a figura do Estado e, mediatamente, aqueles interesses que o Estado ‘escolheu’ como os mais relevantes, por consultarem aos valores prevalecentes na sociedade. Há uma aproximação terminológica entre interesse público e interesse geral. O interesse público não é a soma de interesses particulares, sendo certo que a Administração é competente para definir interesse público naquilo que não constitui domínio reservado ao legislador. O interesse público invoca a presença do Estado-administrador ou do Estado-legislador, devendo estar presente tanto no momento da elaboração da lei como no de sua execução pelo administrador público. O interesse público ‘inspira o legislador e vincula a autoridade administrativa em toda sua atuação.”18

    Por isso, os princípios da Administração Pública devem sempre nortear o procedimento de avaliação da conveniência e da oportunidade de prorrogação da concessão pública, assim como a elaboração dos termos aditivos de prorrogação do contrato.

    Disso ressai que o aditivo de prorrogação não deve ampliar o objeto do contrato de concessão, ainda que a pretexto de atender ao interesse público, sob pena de se vulnerar o princípio da licitação.

    A esse respeito, “igualmente imutável é o próprio objeto material da concessão, isto é, o tipo de serviço concedido, no que se inclui a modalidade técnica genérica segundo a qual será prestado. Assim, o concessionário de serviço de iluminação pública a gás não pode ser compelido a modificar-lhe o sistema de prestação para iluminação por energia elétrica. A concessão de geração de energia elétrica não impõe para o concessionário a obrigação de modificá-la

    18 PEREIRA, Leonardo da Cunha. A Fazenda Pública em juízo. 4. ed. São Paulo: Dialética, 2006. p. 32.

    19 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 33. ed. São Paulo: Malheiros, 2016. p. 741.

    para geração de energia atômica, se o concedente desejar a mudança do sistema de geração de energia”19.

    Entretanto, a imutabilidade do objeto da concessão não impede alterações no contrato para adequar-se às necessidades econômicas e sociais decorrentes da dinâmica do serviço público concedido e do longo prazo contratual estabelecido, observados o equilíbrio econômico-financeiro do contrato e os princípios constitucionais pertinentes.

    “[O]s contratos de concessão são incompletos e dinâmicos, seja devido ao elevado volume de informações, seja por conta de seu longo prazo, e de todas as evoluções das necessidades sociais relacionadas ao seu objeto experimentadas durante esse longo período, seja em razão do elevado custo para a construção do modelo concessionário. Como dito, são pactos que precisam ser compreendidos como contratos abertos, pois convivem e se nutrem de grande quantidade de informação diariamente recebida. Os deveres, obrigações e direitos do contrato de concessão não são estáticos, fechados e exaustivos (limites que certamente implicarão sua ruptura com o passar do tempo), mas sim evolutivos. Merecem ser aplicados na condição de realidade sociocultural apta a conviver com o novo e a aprimorar-se por meio de soluções legítimas (assim reconhecidas pelo Direito).”20

    ADI 5.991 MC, rel. min. Cármen Lúcia, DJE de 6-7-2020. (Informativo 967, Plenário)

    ___________________________________

    20 MOREIRA, Egon Bockmann; e MILANO, Célio Lucas. Contratos públicos de longo prazo: a segurança jurídica advinda da certeza da mudança. Revista de direito público da economia RDPE, ano 9, n. 34, abr./jun. 2011. Publicação trimestral. p. 180.

    http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=753178437http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo967.htm#Prorroga%C3%A7%C3%A3o%20de%20contrato%20de%20concess%C3%A3o%20de%20ferrovia%20e%20servi%C3%A7o%20adequado

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    DIREITO CONSTITUCIONAL

    DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS

    DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

    DIREITO AO VOTO

    Norma que determina que, na votação eletrônica, o registro de cada voto deverá ser impresso e depositado, de forma automática e sem contato manual do eleitor, em local previamente lacrado (art. 59-A da Lei 9.504/1997, incluído pela Lei 13.165/201521) representa ameaça ao direito do eleitor ao sigilo do voto e à livre escolha do candidato.

    A implementação do sistema eletrônico de votação foi valiosa contribuição para assegurar a lisura dos procedimentos eleitorais, pois mitigou os riscos de fraudes e manipulação de resultados e representou importante avanço na consolidação democrática brasileira.

    No entanto, o modelo híbrido de votação adotado pelo art. 59-A da Lei 9.504/1997 não mantém a segurança conquistada, traz riscos ao sigilo do voto e representa verdadeira ameaça à livre escolha do eleitor, em virtude da potencialidade de identificação.

    A democracia exige mecanismos que garantam a plena efetividade de liberdade de escolha dos eleitores no momento da

    21 Lei 9.504/1997: “Art. 59-A. No processo de votação eletrônica, a urna imprimirá o registro de cada voto, que será depositado, de forma automática e sem contato manual do eleitor, em local previamente lacrado. Parágrafo único. O processo de votação não será concluído até que o eleitor confirme a correspondência entre o teor de seu voto e o registro impresso e exibido pela urna eletrônica. (Incluído pela Lei 13.165, de 2015)”

    22 CF/1988: “Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I – plebiscito; II – referendo; III – iniciativa popular. (...) Art. 60. (...) § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: (...) II – o voto direto, secreto, universal e periódico;”

    votação, condicionando a legítima atividade legislativa do Congresso Nacional na adoção de sistemas e procedimentos de escrutínio eleitoral que preservem, de maneira absoluta, o sigilo do voto [Constituição Federal (CF) arts. 14, caput, e 60, § 4º, II22].

    Em razão disso, foi deferida a medida cautelar, com efeitos ex tunc, para suspender a eficácia do art. 59-A da Lei 9.504/1997, incluído pelo art. 2º da Lei 13.165/2015.

    ADI 5.889 MC, red. p/ o ac. min. Alexandre de Moraes, DJE de 29-7-2020. (Informativo 905, Plenário)

    ___________________________________

    DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

    DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

    DIREITO DE PROPRIEDADE

    São constitucionais os dispositivos do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) que condicionam a renovação do certificado de registro de veículo ao recolhimento de tributos, encargos e multas de trânsito (CTB, arts. 124, VIII, 128 e 131, § 2º23).

    A circulação de veículo pressupõe o atendimento de certas formalidades legais. Então, tem-se a renovação da licença ano a ano. O objetivo do fenômeno é, justamente, comprovar o preenchimento de requisitos estabelecidos em lei. Entre estes está a

    23 CTB/1997: “Art. 124. Para a expedição do novo

    Certificado de Registro de Veículo serão exigidos os seguintes documentos: (...) VIII – comprovante de quitação de débitos relativos a tributos, encargos e multas de trânsito vinculados ao veículo, independentemente da responsabilidade pelas infrações cometidas; (...) Art. 128. Não será expedido novo Certificado de Registro de Veículo enquanto houver débitos fiscais e de multas de trânsito e ambientais, vinculadas ao veículo, independentemente da responsabilidade pelas infrações cometidas. Art. 131. (...) § 2º O veículo somente será considerado licenciado estando quitados os débitos relativos a tributos, encargos e multas de trânsito e ambientais, vinculados ao veículo, independentemente da responsabilidade pelas infrações cometidas.”

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13165.htm#art2http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13165.htm#art2http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?idDocumento=753346843http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo905.htm#ADI%20e%20sigilo%20do%20voto

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    liquidação de débitos relativos a tributos, encargos e multas de trânsito, sempre vinculados ao automóvel.

    Não se trata de limitar o direito de propriedade [Constituição Federal (CF), art. 5º, XXII24), tampouco de coação política com o propósito de arrecadar o que devido, mas de dados inerentes às sucessivas renovações do certificado de registro do veículo junto ao órgão competente.

    É inconstitucional o estabelecimento de sanção por parte do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN).

    Essa autorização prevista no CTB contraria o princípio da reserva legal. As penalidades devem estar previstas em lei em sentido formal e material.

    Portanto, foi declarada a inconstitucionalidade do parágrafo único do art. 161 do CTB e da expressão “ou das resoluções do CONTRAN” constante do caput do art. 161 do CTB25.

    ADI 2.998, red. p/ o ac. min. Ricardo Lewandowski, DJE de 31-7-2020. (Informativo 937, Plenário)

    ___________________________________

    24 CF/1988: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXII – é garantido o direito de propriedade;”

    25 CTB/1997: “Art. 161. Constitui infração de

    trânsito a inobservância de qualquer preceito deste Código, da legislação complementar ou das resoluções do CONTRAN, sendo o infrator sujeito às penalidades e medidas administrativas indicadas em cada artigo, além das punições previstas no Capítulo XIX. Parágrafo único. As infrações cometidas em relação às resoluções do CONTRAN terão suas penalidades e medidas administrativas definidas nas próprias resoluções.”

    26 ADI 3.533, rel. min. Eros Grau, P; ADI 3.343, red. p/ o ac. min. Luiz Fux, P; ADI 2.299, rel. min. Roberto Barroso, P.

    ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

    UNIÃO

    COMPETÊNCIA LEGISLATIVA PRIVATIVA

    É inconstitucional lei estadual que veda a cobrança de tarifa mínima por prestação de serviços de água, luz e telefone.

    Trata-se, respectivamente, de serviços públicos de titularidade dos Municípios e da União, aos quais compete legislar sobre a matéria. Nessa hipótese, não cabe interferência dos outros entes federados nas relações jurídico-contratuais entre o ente concedente e seus concessionários26.

    O serviço de fornecimento de água é de titularidade dos entes municipais, como resulta do art. 30, I, da CF27, pois quanto a eles predomina o interesse local28.

    Já em relação aos serviços de telefonia e de energia elétrica, a Carta da República confere à União a competência para explorá-los29 e, em paralelo, a Carta Magna estabelece a competência privativa da União para legislar acerca de tais matérias30.

    A Constituição atribui ao poder público o dever de prestar os serviços públicos, diretamente ou mediante regime de concessão ou permissão, bem como o de

    27 CF/1988: “Art. 30. Compete aos Municípios: I – legislar sobre assuntos de interesse local;”

    28 ADI 3.661, rel. min. Cármen Lúcia, P. 29 CF/1988: “Art. 21. Compete à União: (...) XI –

    explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais; XII – explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão: (…) b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos.”

    30 CF/1988: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (…) IV – águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;”

    http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=753360980http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo937.htm#Multa%20de%20tr%C3%A2nsito%20e%20exerc%C3%ADcio%20do%20direito%20de%20propriedadehttp://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=363391http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=629771http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=751630862http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=622697

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    legislar sobre os direitos dos usuários destes serviços e sobre a política tarifária.31

    Tal dispositivo constitucional deve ser interpretado no sentido de que a pessoa política responsável pela prestação do serviço é também a responsável pela edição das normas indicadas no parágrafo único do art. 175.

    Como o dever de legislar sobre a política tarifária dos serviços de água é do Município e o de legislar sobre a política tarifária dos serviços de energia e telecomunicações é da União, não poderia lei estadual vedar a cobrança de tarifa mínima pela prestação de qualquer um deles.

    Embora a lei impugnada tenha o intuito de proteger o usuário de cobranças entendidas como abusivas pelo legislador estadual, não pode ter sua matéria vinculada ao direito do consumidor. A relação entre o usuário e o prestador do serviço público foi pensada como categoria própria pelo Constituinte, que recomendou à lei que tratar das concessões sempre dispor sobre os direitos dos usuários.32

    Diante disso, foi declarada a inconstitucionalidade da Lei 13.755/2002 do Estado do Paraná.

    ADI 2.790, rel. min. Gilmar Mendes, DJE de 3-7-2020. (Informativo 984, Plenário Virtual)

    ___________________________________

    ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

    UNIÃO

    COMPETÊNCIA LEGISLATIVA PRIVATIVA

    É inconstitucional a lei estadual que estabeleça medidas para evitar a intoxicação

    31 CF/1988: “Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos. Parágrafo único. A lei disporá sobre: I – o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão; II –

    dos trabalhadores por substâncias químicas presentes em tintas e anticorrosivos e condicione o uso de revestimento e pinturas anticorrosivas à comprovação de atoxidade à saúde do trabalhador e ao meio ambiente.

    O interesse local na preservação da saúde pública não legitima os entes subnacionais a expedir normas de segurança do trabalho e proteção da saúde do trabalhador, que pertencem à competência privativa da União33, nos termos do art. 22, I, da Constituição Federal (CF)34.

    Diante disso, foi declarada a inconstitucionalidade da Lei 4.735/2006 do Estado do Rio de Janeiro.

    ADI 3.811, rel. min. Gilmar Mendes, DJE de 1º-7-2020. (Informativo 984, Plenário Virtual)

    ___________________________________

    ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

    ESTADOS FEDERADOS

    COMPETÊNCIA LEGISLATIVA CONCORRENTE

    É inconstitucional a lei estadual que, ao tratar de cultivo comercial e atividades com organismos geneticamente modificados, apenas remete a regência da matéria à legislação federal.

    A norma revela a renúncia do mencionado ente ao exercício da competência constitucionalmente prevista. Esvazia o que preconiza a Constituição Federal (CF) no tocante às competências material e legislativa.

    Se a Assembleia Constituinte estabeleceu haver interesse dos Estados no tocante à saúde, produção e consumo, proteção e

    os direitos dos usuários; III – política tarifária; IV – a obrigação de manter serviço adequado.”

    32 ADI 5.575, rel. min. Luiz Fux, P. 33 ADI 2.609, rel. min. Dias Toffoli, P; ADI 1.893, rel.

    min. Carlos Velloso, P. 34 CF/1988: “Art. 22. Compete privativamente à

    União legislar sobre: I – direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;”

    http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=753169386http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo984.htm#Clipping%20das%20sess%C3%B5es%20virtuaishttp://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=753145852http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo984.htm#Clipping%20das%20sess%C3%B5es%20virtuaishttp://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=748605100http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=9975891http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=266794

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    responsabilidade por danos ao meio ambiente (CF, art. 24, VI, VIII e XII)35, descabe ao ente federado recusar-se ao implemento das providências pertinentes pelos meios próprios.

    A União deve estabelecer normas gerais; os Estados devem atender a peculiaridades regionais. Assim, o Estado não pode se recusar a cumprir o dever constitucional de providenciar a implementação, harmoniosa e atenta aos interesses regionais, de valores consagrados na CF. Subverte-se, consequentemente, até mesmo a elaboração de políticas públicas específicas à realidade local.

    O atendimento às necessidades regionais é condição de viabilidade da Federação. A banalização de normas estaduais remissivas fragiliza a estrutura federativa descentralizada, consagrando monopólio da União, sem atentar para nuances locais.

    ADI 2.303, rel. min. Marco Aurélio, DJE de 23-7-2020. (Informativo 914, Plenário)

    ___________________________________

    ORGANIZAÇÃO DOS PODERES

    PODER LEGISLATIVO

    PROCESSO LEGISLATIVO

    O regime de urgência previsto no art. 62, § 6º, da Constituição Federal (CF)36 – que

    35 CF/1988: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...) VI – florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; (...) VIII – responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; (...) XII – previdência social, proteção e defesa da saúde;”

    36 CF/1988: “Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. (...) § 6º Se a medida provisória não for apreciada em até quarenta e cinco dias contados de sua publicação, entrará em regime de urgência, subsequentemente, em cada uma das Casas do Congresso Nacional,

    impõe o sobrestamento das deliberações legislativas das Casas do Congresso Nacional – refere-se apenas às matérias passíveis de regramento por medida provisória. Excluem-se do bloqueio, em consequência, as propostas de emenda à Constituição e os projetos de lei complementar, de decreto legislativo, de resolução e, até mesmo, de lei ordinária, desde que veiculem temas pré-excluídos do âmbito de incidência das medidas provisórias (CF, art. 62, § 1º, I, II e IV37).

    Os membros do Congresso Nacional dispõem, em caráter exclusivo , de legitimidade ativa ad causam para provocar a instauração do controle jurisdicional sobre o processo de formação das leis e das emendas à CF. Assiste-lhes, sob tal perspectiva, irrecusável direito subjetivo de impedir que a elaboração dos atos normativos, pelo Poder Legislativo, incida em desvios inconstitucionais. Por essa razão, pode insurgir-se até mesmo contra decisões que, emanadas da Presidência da Casa legislativa, hajam resolvido questões de ordem pertinentes ao iter procedimental concernente à atividade legislativa do Parlamento.

    Por sua vez, o Poder Judiciário, quando intervém para assegurar as franquias constitucionais e garantir a integridade e a supremacia da CF, desempenha, de maneira plenamente legítima, as atribuições que lhe conferiu a própria CF, ainda que essa

    ficando sobrestadas, até que se ultime a votação, todas as demais deliberações legislativas da Casa em que estiver tramitando.”

    37 CF/1988: “Art. 62. (...) § 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: I – relativa a: a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito eleitoral; b) direito penal, processual penal e processual civil; c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros; d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º; II – que vise a detenção ou sequestro de bens, de poupança popular ou qualquer outro ativo financeiro; (...) IV – já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e pendente de sanção ou veto do Presidente da República.”

    http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=753309027http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo914.htm#Compet%C3%AAncia%20concorrente%20e%20omiss%C3%A3o%20de%20ente%20federado

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    atuação institucional se projete na esfera orgânica do Poder Legislativo.

    Nesse sentido, ao Poder Judiciário, no desempenho das funções que lhe são inerentes, cabe impedir que o exercício compulsivo da competência extraordinária de editar medida provisória culmine por introduzir, no processo institucional brasileiro, em matéria legislativa, verdadeiro cesarismo governamental, provocando, desse modo, graves distorções no modelo político e gerando sérias disfunções comprometedoras da integridade do princípio constitucional da separação de poderes.

    Assim, a fórmula interpretativa do art. 62, § 6º, da CF constitui reação legítima ao inadmissível controle hegemônico, pelo presidente da República, do poder de agenda do Congresso Nacional, pois tem a virtude de devolver às Casas legislativas esse mesmo poder de agenda, que traduz prerrogativa institucional das mais relevantes, capaz de permitir à instituição parlamentar – livre da indevida ingerência de práticas de cesarismo governamental pelo chefe do Executivo (representadas pelo exercício compulsivo da edição de medidas provisórias) – o poder de selecionar e de apreciar, de modo inteiramente autônomo, as matérias que considere revestidas de importância política, social, cultural, econômica e jurídica para a vida do País, o que ensejará – na visão e na perspectiva do Poder Legislativo (e não na vontade unilateral do presidente da República) – a formulação e a concretização, pelo Parlamento, de uma pauta temática própria.

    MS 27.931, rel. min. Celso de Mello, DJE de 8-7-2020. (Informativo 870, Plenário)

    ___________________________________

    38 Enunciado da Súmula Vinculante 17: “Durante o período previsto no parágrafo 1º do artigo 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios que nele sejam pagos.”

    39 CF/1988: “Art. 100. (...) § 5º É obrigatória a inclusão, no orçamento das entidades de direito público, de verba necessária ao pagamento de seus

    ORGANIZAÇÃO DOS PODERES

    PODER JUDICIÁRIO

    PRECATÓRIOS – REPERCUSSÃO GERAL

    O enunciado da Súmula Vinculante 1738 não foi afetado pela superveniência da Emenda Constitucional (EC) 62/2009, de modo que não incidem juros de mora no período de que trata o § 5º do art. 100 da Constituição Federal (CF)39. Havendo o inadimplemento pelo ente público devedor, a fluência dos juros inicia-se após o “período de graça”.

    O período previsto no art. 100, § 5º, da Constituição (precatórios apresentados até 1º de julho, devendo ser pagos até o final do exercício seguinte) costuma ser chamado de “período de graça constitucional”. Cabe destacar que a EC 62/2009 não revogou o dispositivo que fundamentou a edição da Súmula Vinculante 17, apenas alterou sua numeração (transferiu do § 1º para o § 5º).

    No interregno previsto no art. 100, § 5º, da CF, não cabe a imposição de juros de mora, pois o ente público não está inadimplente. Caso não haja o pagamento integral dentro do prazo, os juros de mora passam a correr apenas a partir do término do “período de graça”.

    Ademais, segundo o princípio da unidade da Constituição, o texto deve ser interpretado em sua totalidade, de forma a extirpar antinomias (contradições) entre seus preceitos.

    Sendo assim, a incidência de juros de mora desde a inscrição do precatório até seu efetivo adimplemento vai na contramão do que estabelece o § 5º do art. 100, que prevê a possibilidade de pagamento até o fim do exercício financeiro seguinte para os créditos inscritos até 1º de julho.

    débitos, oriundos de sentenças transitadas em julgado, constantes de precatórios judiciários apresentados até 1º de julho, fazendo-se o pagamento até o final do exercício seguinte, quando terão seus valores atualizados monetariamente. (Redação dada pela Emenda Constitucional 62/2009)”

    http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=753202986http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo870.htm#Interpreta%C3%A7%C3%A3o%20do%20art.%2062,%20%C2%A7%206%C2%BA,%20da%20CF%20e%20limita%C3%A7%C3%A3o%20do%20sobrestamento%20%E2%80%93%203

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    Ora, se o § 5º do art. 100 dispõe que o pagamento dos créditos apresentados até 1º de julho pode ocorrer até o fim do exercício financeiro seguinte, a mora do ente público somente ocorre se o adimplemento se der após esse prazo.

    Conclui-se, portanto, que o § 12 do art. 100 da CF40 deve ser analisado conjuntamente com o § 5º, de forma que os juros de mora só poderão incidir se ultrapassado o prazo constitucional para pagamento do precatório41.

    RE 1.169.289, red. p/ o ac. min. Alexandre de Moraes, DJE de 1º-7-2020, repercussão geral, Tema 1.037. (Informativo 984, Plenário Virtual)

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    ORGANIZAÇÃO DOS PODERES

    PODER JUDICIÁRIO

    PRECATÓRIOS – REPERCUSSÃO GERAL

    Surge constitucional expedição de precatório ou requisição de pequeno valor para pagamento da parte incontroversa e autônoma do pronunciamento judicial transitada em julgado, observada a importância total executada para efeitos de dimensionamento como obrigação de pequeno valor.

    40 CF/1988: “Art. 100. (...) § 12. A partir da promulgação desta Emenda Constitucional, a atualização de valores de requisitórios, após sua expedição, até o efetivo pagamento, independentemente de sua natureza, será feita pelo índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança, e, para fins de compensação da mora, incidirão juros simples no mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de poupança, ficando excluída a incidência de juros compensatórios.”

    41 Precedentes: AI 764.975 ED, rel. min. Luiz Fux, 1ª T; e ARE 1.192.550 AgR, red. p/ o ac. min. Alexandre de Moraes, 1ª T.

    42 CF/1988: “Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos

    De acordo com o art. 100, § 8º, da Constituição Federal (CF)42, é “vedada a expedição de precatórios complementares ou suplementares de valor pago, bem como o fracionamento, repartição ou quebra do valor da execução para fins de enquadramento de parcela do total ao que dispõe o § 3º deste artigo”.

    A vinda do preceito ao mundo jurídico buscou atender não só a necessidade de liquidação do valor devido ao término de dezoito meses, não ocorrendo a projeção no tempo mediante precatório complementar ou suplementar, como também a impossibilidade de, com fracionamento do quantitativo a ser satisfeito, vir a ser enquadrada parte dele na disposição do citado § 3º43, a afastar do sistema de precatório as obrigações definidas em lei como de pequeno valor.

    A seu turno, é desarrazoado impedir a busca da satisfação imediata da parte do título judicial não mais passível de ser alterada, colocando-se na mesma vala daquela que continua sob o exame do Judiciário.

    A expressão “sentenças transitadas em julgado” contida no § 5º44 do art. 100 da CF não significa, nas situações de impugnação parcial mediante embargos, necessidade de trânsito em julgado do pronunciamento

    adicionais abertos para este fim. (...) § 8º É vedada a expedição de precatórios complementares ou suplementares de valor pago, bem como o fracionamento, repartição ou quebra do valor da execução para fins de enquadramento de parcela do total ao que dispõe o § 3º deste artigo.”

    43 CF/1988: “Art. 100. (...) § 3º O disposto no caput deste artigo relativamente à expedição de precatórios não se aplica aos pagamentos de obrigações definidas em leis como de pequeno valor que as Fazendas referidas devam fazer em virtude de sentença judicial transitada em julgado.”

    44 CF/1988: “Art. 100. (...) § 5º É obrigatória a inclusão, no orçamento das entidades de direito público, de verba necessária ao pagamento de seus débitos, oriundos de sentenças transitadas em julgado, constantes de precatórios judiciários apresentados até 1º de julho, fazendo-se o pagamento até o final do exercício seguinte, quando terão seus valores atualizados monetariamente.”

    http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=753146129http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incidente=5568791&numeroProcesso=1169289&classeProcesso=RE&numeroTema=1037http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo984.htm#Clipping%20das%20sess%C3%B5es%20virtuaishttp://stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?numero=764975&classe=AI-EDhttp://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?idDocumento=752740879

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    judicial na totalidade, desconhecendo-se parte autônoma já preclusa.

    RE 1.205.530, rel. min. Marco Aurélio, DJE de 1º-7-2020, repercussão geral, Tema 28. (Informativo 984, Plenário Virtual)

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    ORGANIZAÇÃO DOS PODERES

    PODER JUDICIÁRIO

    CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ)

    É inconstitucional a norma administrativa que veda a análise judicial de pedidos de prorrogação de prazo de medida cautelar de interceptação de comunicação telefônica, telemática ou de informática durante o plantão judiciário, ressalvada a hipótese de risco iminente e grave à integridade ou à vida de terceiros (Resolução 59/2008 do CNJ, art. 13, § 1º45).

    45 Resolução 59/2008 do CNJ: “Art. 13. Durante o Plantão Judiciário as medidas cautelares sigilosas apreciadas, deferidas ou indeferidas, deverão ser encaminhadas ao Serviço de Distribuição da respectiva comarca, devidamente lacradas. § 1º Não será admitido pedido de prorrogação de prazo de medida cautelar de interceptação de comunicação telefônica, telemática ou de informática durante o plantão judiciário, ressalvada a hipótese de risco iminente e grave à integridade ou à vida de terceiros, bem como durante o Plantão de Recesso previsto art. 62 da Lei 5.010/66. (Redação dada pela Resolução 84, de 06.07.09)”

    46 CF/1988: “Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição. § 1º A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça.”

    47 CF/1988: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I – direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;”

    48 CF/1988: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XII – é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal; (...) XXXV – a

    Essa norma desrespeita a competência constitucional dos Estados para legislar sobre a organização judiciária [Constituição Federal (CF), art. 125, §1º46] – sobre plantão judicial, inclusive – e a competência privativa da União para legislar sobre processo penal (CF, art. 22, I47), bem como contraria os princípios da reserva legal e da inafastabilidade de jurisdição (CF, art. 5º, XII e XXXV48).

    Ao editar a Resolução 59/2008, o CNJ pretendeu estabelecer a uniformização, a padronização e os requisitos rígidos na utilização dos dados obtidos durante interceptações telefônicas.

    Todavia, ao criar requisitos não previstos em lei (no caso, a Lei 9.296/1996, que regulamenta o inciso XII, parte final, do art. 5º da CF), a referida norma ultrapassou a competência prevista no art. 103-B da CF49, que atribui ao CNJ o controle da atuação

    lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;”

    49 CF/1988: “Art. 103-B. (...) § 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura: I – zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências; II – zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder Judiciário, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da competência do Tribunal de Contas da União; III – receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços notariais e de registro que atuem por delegação do poder público ou oficializados, sem prejuízo da competência disciplinar e correicional dos tribunais, podendo avocar processos disciplinares em curso, determinar a remoção ou a disponibilidade e aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa; IV – representar ao Ministério Público, no caso de crime contra a administração pública ou de abuso de autoridade; V – rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes e membros de tribunais julgados há menos de um ano; VI – elaborar semestralmente relatório estatístico

    http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=753145920http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incidente=5684509&numeroProcesso=1205530&classeProcesso=RE&numeroTema=28http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo984.htm#Clipping%20das%20sess%C3%B5es%20virtuaishttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5010.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5010.htmhttps://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/atos-normativos?documento=99https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/atos-normativos?documento=99

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    administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais de seus membros.

    O CNJ não pode editar normas processuais nem mesmo procedimentais da atuação jurisdicional do magistrado, tampouco pode editar resoluções para estabelecer normas processuais ou procedimentais de sua atuação finalística50.

    Portanto, foi declarada a inconstitucionalidade do § 1º do art. 13 da Resolução 59/2008 do CNJ.

    ADI 4.145, red. p/ o ac. min. Alexandre de Moraes, DJE de 31-7-2020. (Informativo 899, Plenário)

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    ORGANIZAÇÃO DOS PODERES

    PODER JUDICIÁRIO

    TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO, TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO E JUÍZES

    DO TRABALHO

    O disposto no art. 114, I, da Constituição Federal (CF)51 não abrange causas ajuizadas para discussão de relação jurídico-estatutária entre o poder público dos entes da Federação e seus servidores.

    Cabe desconsiderar qualquer espaço para uma leitura interpretativa do inciso I do art. 114 da CF que admita a Justiça do Trabalho como competente para julgar causas que alcancem relações jurídicas laborais, figurando em um dos polos a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e no outro os seus servidores ocupantes de cargos criados por lei, de provimento efetivo ou em comissão, incluídas autarquias e fundações públicas.

    sobre processos e sentenças prolatadas, por unidade da Federação, nos diferentes órgãos do Poder Judiciário; VII – elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias, sobre a situação do Poder Judiciário no País e as atividades do Conselho, o qual deve integrar mensagem do Presidente do Supremo Tribunal Federal a ser remetida ao Congresso Nacional, por ocasião da

    As relações laborais entre os entes federativos e seus servidores somente são dotadas de juridicidade para a expressão “relações de trabalho” se forem observadas como relações puramente de Direito Administrativo, isto é, como decorrentes, não de contrato civil de trabalho, mas de estatuto jurídico específico.

    A compreensão de que as relações de trabalho referidas no dispositivo constitucional alcançam as relações laborais dos entes da Federação com seus servidores transmutaria as relações de natureza jurídico-estatutária, com todo o seu acervo de características próprias, nas quais pontifica, antes de tudo, o interesse público e a ausência de espaços para considerações de ordem estritamente privada, em relações essencialmente contratuais.

    Assim, não se deve considerar que essa regra da CF incluiu, em seu âmbito material de validade, as relações de natureza jurídico-administrativa dos servidores públicos.

    ADI 3.395, rel. min. Alexandre de Moraes, DJE de 1º-7-2020. (Informativo 984, Plenário Virtual)

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    ORGANIZAÇÃO DOS PODERES

    FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA

    MINISTÉRIO PÚBLICO – REPERCUSSÃO GERAL

    O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública que vise anular ato administrativo de aposentadoria que importe em lesão ao patrimônio público.

    O Ministério Público ostenta legitimidade para a tutela coletiva destinada à proteção do patrimônio público, mormente porque múltiplos dispositivos constitucionais

    abertura da sessão legislativa.” 50 Precedente: ADI 3.367, rel. min. Cezar Peluso, P. 51 CF/1988: “Art. 114. Compete à Justiça do

    Trabalho processar e julgar: I – as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;”

    http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=753361235http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo899.htm#CNJ:%20compet%C3%AAncia%20normativa%20e%20intercepta%C3%A7%C3%A3o%20telef%C3%B4nicahttp://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=753145850http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo984.htm#Clipping%20das%20sess%C3%B5es%20virtuaishttp://stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?numero=3367&classe=ADI

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    evidenciam a elevada importância que o constituinte conferiu à atuação do parquet no âmbito das ações coletivas.

    Nesse sentido, o Ministério Público, por força do art. 127, caput, da Constituição Federal (CF)52, tem entre suas incumbências a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

    Por sua vez, o art. 129 da CF53 explicita as funções institucionais do Ministério Público no sentido de zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados na CF, promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos e exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.

    A tutela coletiva exercida pelo Ministério Público se submete apenas a restrições excepcionais, como, verbi gratia, a norma que veda ao Ministério Público a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas (CF, art. 129, IX), sendo certo que a CF atribui ao parquet ampla atribuição no campo da tutela do patrimônio público, interesse de cunho inegavelmente transindividual, bem como que sua atuação na proteção do patrimônio público não afasta a atuação do próprio ente

    52 CF/1988: “Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.”

    53 CF/1988: “Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: (...) II – zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia; III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; (...) IX – exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.”

    público prejudicado, conforme prevê o art. 129, § 1º, da CF54.

    Destaque-se que o parquet, ao ajuizar ação coletiva para a tutela do Erário, não age como representante da entidade pública, e sim como substituto processual de uma coletividade indeterminada, é dizer, a sociedade como um todo, titular do direito à boa administração do patrimônio público, da mesma forma que qualquer cidadão também poderia fazê-lo por meio de ação popular (CF, art. 5º, LXXIII)55.

    Isso porque o combate em juízo à dilapidação ilegal do Erário configura atividade de defesa da ordem jurídica, dos interesses sociais e do patrimônio público, sendo todas essas funções institucionais atribuídas ao Ministério Público pelos arts. 127 e 129 da CF, de modo que entendimento contrário não apenas afronta a previsão textual da CF, mas também fragiliza o sistema de controle da Administração Pública, visto que deixaria a persecução de atos atentatórios à probidade e à moralidade administrativas basicamente ao talante do próprio ente público no bojo do qual a lesão ocorreu.

    Ademais, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal reconhece a legitimidade do Ministério Público para o ajuizamento de

    54 CF/1988: “Art. 129. (...) § 1º A legitimação do Ministério Público para as ações civis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo o disposto nesta Constituição e na lei.”

    55 CF/1988: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) LXXIII – qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;”

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    ação coletiva destinada à proteção do patrimônio público.56

    RE 409.356, rel. min. Luiz Fux, DJE de 28-7-2020, repercussão geral, Tema 561. (Informativo 921, Plenário)

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    ORGANIZAÇÃO DOS PODERES

    FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA

    MINISTÉRIO PÚBLICO

    É constitucional a Resolução 36/2009 do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) que disciplina e uniformiza rotinas atinentes aos procedimentos de interceptação telefônica no âmbito do Ministério Público.

    Esse ato normativo insere-se na competência do CNMP de disciplinar os deveres funcionais dos membros do Ministério Público [Constituição Federal (CF), art. 130-A, § 2º57], entre os quais o dever de sigilo, e de zelar pela observância dos princípios previstos no art. 37, caput, da CF58, aí incluído o princípio da eficiência.

    A Resolução 36/2009 do CNMP não trata da imposição de uma linha de atuação ministerial – o que poderia violar a independência funcional –, mas apenas de uma padronização formal mínima dos

    56 Precedentes: RE 225.777, red. p/ o ac. min. Dias Toffoli, P; RE 208.790, rel. min. Ilmar Galvão, P.

    57 CF/1988: “Art. 130-A. (...) § 2º Compete ao Conselho Nacional do Ministério Público o controle da atuação administrativa e financeira do Ministério Público e do cumprimento dos deveres funcionais de seus membros, cabendo- lhe: I – zelar pela autonomia funcional e administrativa do Ministério Público, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências; II – zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Ministério Público da União e dos Estados, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da competência dos Tribunais de Contas;”

    58 CF/1988: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios

    pedidos de prorrogação de interceptação telefônica. Ainda que no âmbito de uma mesma apuração, pode haver a atuação de mais de um membro do Ministério Público em momentos distintos. Assim, a existência de um grau mínimo de padronização atende ao princípio da eficiência e é altamente conveniente para a continuidade das investigações.

    ADI 4.263, rel. min. Roberto Barroso, DJE de 30-7-2020. (Informativo 899, Plenário)

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    ORDEM SOCIAL

    EDUCAÇÃO, CULTURA E DESPORTO

    EDUCAÇÃO

    São constitucionais a exigência de idade mínima de quatro e seis anos para ingresso, respectivamente, na educação infantil e no ensino fundamental, bem como a fixação da data limite de 31 de março para que referidas idades estejam completas.

    As Resoluções da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE/CEB) 1/201059 e 6/201060, ao estabelecerem um critério único e objetivo para o ingresso às séries iniciais da educação infantil e do ensino fundamental, não violam

    obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:”

    59 Resolução CNE/CEB 1/2010: “Art. 2º Para o ingresso no primeiro ano do Ensino Fundamental, a criança deverá ter 6 (seis) anos de idade completos até o dia 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula. Art. 3º As crianças que completarem 6 (seis) anos de idade após a data definida no artigo 2º deverão ser matriculadas na Pré-Escola.”

    60 Resolução CNE/CEB 6/2010: “Art. 2º Para o ingresso na Pré-Escola, a criança deverá ter idade de 4 (quatro) anos completos até o dia 31 de março do ano que ocorrer a matrícula. Art. 3º Para o ingresso no primeiro ano do Ensino Fundamental, a criança deverá ter idade de 6 (seis) anos completos até o dia 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula. Art. 4º. As crianças que completarem 6 (seis) anos de idade após a data definida no artigo 3º deverão ser matriculadas na Pré-Escola.”

    http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=753346972http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incidente=2179476&numeroProcesso=409356&classeProcesso=RE&numeroTema=561http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo921.htm#A%C3%A7%C3%A3o%20civil%20p%C3%BAblica:%20les%C3%A3o%20ao%20patrim%C3%B4nio%20p%C3%BAblico%20e%20legitimidade%20do%20Minist%C3%A9rio%20P%C3%BAblicohttp://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=626787http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=241910http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=753356562http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo899.htm#CNMP:%20compet%C3%AAncia%20normativa%20e%20intercepta%C3%A7%C3%A3o%20telef%C3%B4nica

  • N. 29 JULHO DE 2020

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    os princípios da isonomia, da proporcionalidade e do acesso à educação.

    Esse corte etário, apesar de não ser a única solução constitucionalmente possível, insere-se no espaço de conformação do administrador, sobretudo em razão da expertise do CNE e de as resoluções terem sido expedidas com ampla participação técnica e social, em respeito à gestão democrática do ensino público [Constituição Federal (CF), art. 206, VI61].

    Também há de se reconhecer que a fixação do critério etário promove o valor constitucional da segurança jurídica, auxiliando a estrutura�