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A partir de um cálculo criado pela Cetesb, é possível se ter uma estimativa do quanto cada veículo emite de CO² na atmosfera por quilômetro rodado. De acordo com o estudo, os veículos movidos a gasolina, com adição de 22% de etanol, emitem 217 gramas de CO² por quilômetro rodado. Se o carro for movido exclusivamente a álcool hidratado, os níveis de poluição têm uma sensível queda, de 175 gramas de CO² por quilômetro, ou seja, 20% menos agressivo ao meio ambiente. Já veículo pesado movido a diesel emite 770 gramas de CO² por quilômetro rodado ou 3,14 quilos a cada quilo de diesel consumido. ! Esta linearidade é considerada insustentável, e a resposta é procurar mimetizar a natureza. O problema não é o lixo, mas o tipo, a forma e quantidade como produzimos. Hoje, nós fazemos o lixo, mas deixamos de ter de nos preocupar com o que lhe acontece a seguir. O tipo de lixo mudou, com tantos plásticos, embalagens, pilhas e tantas outras coisas sintéticas que não são biodegradáveis; o consumo aumentou, consequentemente, também a quantidade de lixo por pessoa; a durabilidade caiu. E, finalmente, muitos materiais usam substâncias que agridem a Natureza. Para melhorar o metabolismo, e reduzir a “pegada ecológica”, temos que pensar em alternativas que transformem os resíduos. Para isto, pode-se falar em 5 Rs Mas para que estes Rs façam sentido, é necessário Repensar e assim, o resíduo passa a ser valorizado! A preservação do meio ambiente é hoje uma das grandes questões globais. Diante de um modelo econômico de consumo e extração predatória e desequilibrada, consequentemente, e infelizmente, o que esperamos para o futuro do nosso mundo está longe de um desenvolvimento sustentável. E se persistirmos assim, o que será deixado para as futuras gerações? O modelo de sociedade de consumo que sustentamos se caracteriza pela insatisfação, onde quem tem mais quer sempre mais, aliando o excesso à prestígio e glamour. Assim, este modelo representa muita extração de recursos naturais, maior produção de lixo, e mais gasto de energia com a produção. É, sem dúvida, um modelo que precisa ser mudado imediatamente. Introdução All the ants on the planet, taken together, have a biomass greater than that of humans. Ants have been incredibly industrious for millions of years. Yet their productiveness nourishes plants, animals, and soil. Human industry has been in full swing for little over a century, yet it has brought about a decline in almost every ecosystem on the planet. Nature doesn’t have a design problem. People do. (BRAUNGART e MCDONOUGH, 2002) Na arquitetura também devemos contribuir com construções e soluções mais sustentáveis. O arquiteto deve refletir no momento da escolha dos materiais, na forma de construção, devendo ter consciência de sua responsabilidade no esgotamento dos recursos naturais. Problemática 50% de todos os recursos consumidos em todo planeta são usados na construção civil. (EDWARDS e HYETT) os 6 bilhões de habitantes do planeta dispõem, hoje, de 800 milhões de veículos motorizados e a perspectiva, é de 1 bilhão de automóveis para 2030. símbolo de um bem de consumo movido por recursos energéticos que depreciam o meio ambiente. boa parte do aumento de CO² na atmosfera se deve à combustão nas grandes cidades, resultando, assim, em conseqüências como o aquecimento global. Grande problema do abandono Sexta-feira, 26 outubro de 2007 jornal O Estado de S. Paulo Segundo organizações ambientais, um veículo “aposentado” equivale a uma tonelada de sucata, e depositar o material em lugar inapropriado é uma ameaça. No Brasil, a preocupação com a reciclagem de veículos é incipiente. Há várias resoluções que obrigam as indústrias a dar uma destinação final a quatro de cada cinco pneus fabricados e a refinar de novo 30% do óleo vendido. Enquanto isso, países como a Suécia já têm formas de amenizar o problema. Lá o comprador de um zero-quilômetro paga uma taxa de reaproveitamento, e o valor é devolvido ao último proprietário quando o veículo é reciclado. Na Alemanha, uma parceria entre a VW e a Bayer resultou numa fábrica para desmonte e recuperação de peças. Proposta do trabalho Tendo em vista a nossa responsabilidade sobre o que acontece com o nosso planeta, e no intuito de introduzir novas perspectivas de mudanças para o metabolismo das cidades, vemos como ação válida e pertinente pensar no reuso de materiais. nature’s own ecosystems have an essentially circular metabolism in which every output which is discharged by an organism also becomes an input which renews and sustains the continuity of the whole living environment of which it is a part. (GIRARDET:2003) Neste sentido, a abordagem deste trabalho se foca nos materiais provenientes de automóveis em desuso, procurando verificar o que já foi produzido e, então, pensar em algumas possibilidades de reuso para suas diversas partes integrantes, com especial atenção para a aplicação na arquitetura. Acreditamos que o lixo não pode mais ser encarado como tal, sendo descartado e ignorado. Mais do que isto, devemos enxergá-lo como um material em potencial, podendo ser reutilizado e transformado para ganhar novas funções, dependendo apenas da criatividade. Assim, a aplicação das peças do automóvel na arquitetura é só um exemplo de como podemos gerar novos usos. we see a world of abundance, not limits. In the midst of a great deal of talk about reducing the human ecological footprint, we offer a different vision. What if humans designed products and systems that celebrate an abundance of human creativity, culture, and productivity? That are so intelligent and safe, our species leaves an ecological footprint to delight in, not lament? (BRAUNGART e MCDONOUGH, 2002) Projetar para desmontar Um aspecto que não pode ser deixado de lado, é que não se pode mais pensar na fabricação de carros como antigamente. Na União Européia se instituiu uma lei, em primeiro de Janeiro de 2007, que exige que, após o fim do uso do veículo, seus fluidos sejam extraídos e depois disso seja doado aos semelhantes 85% do seu peso atual. Essa lei se chama ELV (End of Life Vehicles) e passará a exigir, em 2008, a reciclagem de 95% do carro. Segundo a revista Guia 4 rodas, teremos então 1 bilhão de automóveis pelo mundo. As empresas estão tomando ciência destas necessidades. Hoje se fala em projetar para desmontar. Os carros mais antigos, como por exemplo o fusca, são recicláveis, já que tem vidro, plástico e aço, mas muitas vezes o custo para essa reciclagem é muito alto, não compensando. Assim, quando se faz um projeto já tendo em vista seu desmonte, reuso e reciclagem, tudo fica muito mais fácil e barato. Além disso, o plástico é um material empregado no automóvel que muitas vezes não é empregado para ser reciclado, o que dificulta a reciclagem. A estratégia das empresas do setor automobilístico tem sido conceber produtos de menor impacto ambiental através de novas formas de projetar, como o eco-design, com produtos mais eficientes e que permitem uso racional de materiais e energia e componentes. No Brasil a construção de carros recicláveis depende da iniciativa de cada montadora. É preciso ter em conta que a complexidade do automóvel, produto múltiplo composto em média de cerca de 20 mil produtos, autopeças e materiais, mantém- se por toda a sua vida e mesmo após, o que obriga a pensar soluções alternativas e diversas para cada uma de suas partes constituintes, da produção à recuperação de suas matérias-primas. Assim a gestão da relação do automóvel com o meio ambiente pressupõe o acompanhamento e análise de todo o seu ciclo de vida. Quando um veículo atinge o fim de sua vida útil, por exemplo, há partes que ainda podem ser reutilizadas ou recuperadas. CONSIDERAR: o grande volume de resíduos que o automóvel representa a grande diversidade de materiais presentes em seus componentes a toxidade de alguns elementos químicos desses componentes a extensão e globalização de sua cadeia produtiva o crescimento mundial de seu mercado consumidor a rápida evolução recente de suas tecnologias e de seus materiais Descontaminação Deve se ter consciência que o carro velho, ou também chamado veículo em fim de vida (VFV) é um resíduo perigoso se não devidamente tratado. “Na verdade, um carro velho, ou VFV, deve ser descontaminado e desmantelado. Estas operações, que devem ser realizadas por empresas autorizadas, garantem a proteção do ambiente e o encaminhamento correto dos diferentes resíduos, potenciando assim a reutilização e a reciclagem.” Os carros velhos são considerados resíduos perigosos por terem neles óleos (do motor, dos travois, etc.), baterias iniciadores pirotécnicos (nos “Airbags”) e compostos de chumbo, mercúrio e cádmio. Assim, é fundamental o correto transporte do VFV e uma descontaminação cuidadosa. Reciclagem É a re-introdução dos resíduos no processo produtivo. Os resíduos podem ser sólidos, líquidos ou gasosos, e são re-elaborados dentro de um processo produtivo que envolve gastos de energia e pode até gerar resíduos. Portanto, a reciclagem é considerado o último recurso no reaproveitamento dos matérias. Algumas partes dos automóveis já são recicladas e se transformam em novos produtos. Segundo reportagem da revista Época: Carros Recicláveis, cada vez mais empresas descobrem quanta matéria prima valiosa pode ser extraída de peças usadas nos automóveis, dando origem a novos produtos como ferramentas, solas de sapato, pisos e até sacos de lixo. Nesse processo, até as peças trocadas em simples revisões de rotina estão sendo utilizadas. Desde de 1993 é obrigação dos fabricantes de pneus, lubrificantes e baterias reciclar ou dar um destino final adequado a esses produtos. 1- Bateria 2- Óleos 3- Sistema de freio - Tambores e discos de freio - Partes metálicas 3- Sistema de exaustão - Escapamento - Catalisadores 4- Sistema de suspensão e rodagem - Pneus - Rodas de ferro - Rodas de liga leve (alumínio) - Amortecedores - Molas - Bandejas - Guarda-pó Pneus Recauchutagem, regeneração da borracha, geração de energia (fornos de cimento e usinas termoelétricas), no asfalto modificado com borracha . Óleo As companhias de óleos devem coletar o que for retirado dos automóveis e fazer novo refino, para que o fluido possa ser reutilizado como matéria-prima em outros lubrificantes. Vidro Com exceção dos laminados, os vidros também podem ser reciclados, na fabricação de novos vidros ou então na indústria cerâmica para os produtos vidrados. Aço É 100% reciclável. Retornam para as indústrias de aço para se transformarem em novos produtos. Plástico As peças acima de 100 g devem ter a receita gravada em sua superperfície. O termoplástico pode ser triturado e fundido inúmeras vezes, mas o policarbonato dos faróis, é difícil de ser aproveitado e é resistente à fusão. Reuso Pensar em um mundo sem lixo é impossível. Mesmo a natureza produz lixo, por exemplo, quando os animais morrem e ficam abandonados em decomposição. Porém, com o tempo, este “lixo” acaba servindo de comida para outros animais e micróbios, ou seja, o lixo de uns se tornam a matéria prima dos outros. Assim, a natureza se revela como um exemplo de metabolismo que reusa seu dejeto. Cradle to cradle, ver o lixo como matéria-prima/recurso No entanto, o metabolismo da maioria das cidades modernas, em contraste, é essencialmente linear, com recursos sendo lançados no sistema urbano sem muita preocupação sobre sua origem ou sobre o destino dos dejetos, resultando no descarte de muitos detritos incompatíveis com o sistema natural. (GIRARDET:2003) Reciclar requer um gasto de energia. Às vezes pode se tornar desvantajoso, do ponto de vista energético, quando este gasto de energia da reciclagem se equipara ou supera ao que seria gasto para se produzir uma nova peça, isto sem contar o desperdício de material durante o processo. Além disso, assim afirmado por Mcdonough e Braungart, o processo de reciclagem pode reintroduzir aditivos nocivos, além daqueles existentes em um produto convencional. AÇO ALUMÍNIO CHUMBO PLÁSTICO TECIDO BORRACHA VIDRO poluição Nesse contexto, não podemos deixar de lado uma questão crucial: o uso e desuso do automóvel. Segundo Richard Rogers, em “Cidades para um pequeno planeta”, o automóvel foi o principal responsável pela deterioração da coesa estrutura social da cidade. Apesar de ser mais ecologicamente correto usar meios de transporte coletivos, como o metrô, ou mesmo caminhar ou andar de bicicleta, as cidades não foram planejadas para funcionar para tal. São Paulo é um exemplo vivo disso. Uma das maiores cidades do mundo, vive diariamente com trânsito, caos e uma qualidade do ar muito longe da desejável. Sem mencionar o estresse e ruído causado pelos automóveis, caminhões, etc. O transporte público é insuficiente, e andar de bicicleta é inviável e perigoso. Claro que devemos pensar em soluções mais sustentáveis, criando infra-estrutura adequada e incentivos para o uso do transporte coletivo, mas não podemos pensar que as pessoas deixarão de usar seus automóveis. Ter um carro é mais do que funcional, já se tornou uma questão cultural, um ideário da sociedade capitalista, que, como um bem, representa glamour, status. A mudança deste pensamento é complexa e necessita de um trabalho de conscientização. Ter um carro é muito fácil nos dias de hoje, sendo produzido em larga escala e subsidiado, apresentando um preço acessível. Sem contar uma série de financiamentos e facilidades oferecidos às pessoas de classes mais baixas. Além disso, as pessoas trocam de carro com muita mais freqüência, gerando uma quantidade enorme de carros velhos jogados fora, gerando mais lixo. Garagem mantém 800 ônibus apodrecendo em SP : Após a descontaminação necessária, passamos a observar as diversas partes do carro, e seus respectivos materiais, para então perceber o que pode ser reusado e reciclado. o que já está sendo reciclado nos automóveis: Alúminio pode ser reciclado para se transformar em novos produtos, com menor gasto de energia. Reduzir Reciclar Recuperar Regenerar Reutilizar + Repensar Podemos encontrar bons exemplos de iniciativas que buscam aderir a este pensamento de reutilização de materiais muitas vezes considerados inúteis pela população. Particularmente, destacamos o caso do Rural Studio, cuja produção serve tanto como fonte de inspiração como também de ensinamento, para passarmos a enxergar os potenciais que os diversos materiais ao nosso redor têm. Em suas obras, a liberdade criativa ressalta-se quando transformam objetos descartados em materiais para construção. Em Alabama, encontramos uma construção que utiliza painéis de pára-brisas, que originalmente pertenciam a antigos automóveis Chevrolet Caprice. Aí podemos encontrar também vigas de uma antiga igreja, um tambor de uma máquina de lavar como luminária(for a light fixture), borracha de antigos pneus no piso das escadas, e até mesmo varas de um beaver dam (for framing love seats). Para eles, as duas idéias se casam, assim afirma Emily McGlohn quando diz que If it’s scrap, and it’s lying around, we’ll probably use it. Up-cycled Um projeto inusitado feito completamente materiais industriais descartados, incluindo garrafas, barris de óleo e carcaças de carros. O uso de pneus envolve diversas soluções criativas, em aplicações bastante diversificadas, tais como: barreira em acostamentos de estradas; elemento de construção em parques e playgrounds; quebra-mar; obstáculos para trânsito e, até mesmo; recifes artificiais para criação de peixes. No exemplo de construções de Earthship encontramos o uso de pneus preenchidos com terra batida para paredes, garantindo o conforto térmico. Outro grande exemplo é uma concha acústica temporária feita de capotas, painéis e portas de carros. Projetada por Black Rock Arts Foundation, localizada no parque PANHANDLE de São Francisco, Califórnia, 2007. BIBLIOGRAFIA BRAUNGART, Michael e MCDONOUGH, William. Cradle to cradle. GIRARDET, Herbert. Creating sustainable cities. MEDINA, Heloísa. Eco-Design na Indústria Automobilística: O conceito de carro urbano. Cetem, Rio de Janeiro, 2003 EDWARDS, Brian e HYETT, Paul. Rough Guide to Sustainability. ROGERS, Richard. Cidades para um pequeno planeta. SITIOGRAFIA http://www.mudeomundo.com.br/ - cálculo de emissão de CO² http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq028/arq028_00.asp http://www.reciclaveis.com.br – carros recicláveis http://www.csmonitor.com/2004/1110/p11s02-lihc.html - rural studio http://tecnociencia.jor.br/tecnico/arqautor/diversos/earthship.swf - earthship http://www.core77.com/blog/archive/200707.asp - bandshell http://www.blackrockarts.org/ - bandshell http://www.panhandlebandshell.com/ - bandshell http://possessedproducts.com/index.php?paged=2 Propostas projetuais Brises horizontais feitos pela reutilização de pára choques Abertura zenital com fechamento feito pela reutilização do capô do carro. Contribui para a iluminação e ventilação natural. Abertura zenital com fechamento feito pela reutilização do vidro traseiro do carro. Contribui para a iluminação e ventilação natural. Painéis para melhorar a acústica de um auditório feitos pela reutilização de pára-brisas de carros N S A R Exemplos reais CARRO Universidade de São Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo AUT 221 - Arquitetura, Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Professora Denise Duarte Felipe Asato Araki 5143941 [email protected] Nicole Sneider Unger 5144010 [email protected] R E P E N

N S A R CARRO R E P E N - USP Finais 20… · reciclagem de 95% do carro. Segundo a revista Guia 4 rodas, teremos então 1 bilhão de automóveis pelo mundo. As empresas estão tomando

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Page 1: N S A R CARRO R E P E N - USP Finais 20… · reciclagem de 95% do carro. Segundo a revista Guia 4 rodas, teremos então 1 bilhão de automóveis pelo mundo. As empresas estão tomando

A partir de um cálculo criado pela Cetesb, é possível se ter uma estimativa do quanto cada veículo emite de CO² na atmosfera por quilômetro rodado. De acordo com o estudo, os veículos movidos a gasolina, com adição de 22% de etanol, emitem 217 gramas de CO² por quilômetro rodado. Se o carro for movido exclusivamente a álcool hidratado, os níveis de poluição têm uma sensível queda, de 175 gramas de CO² por quilômetro, ou seja, 20% menos agressivo ao meio ambiente. Já veículo pesado movido a diesel emite 770 gramas de CO² por quilômetro rodado ou 3,14 quilos a cada quilo de diesel consumido.!

Esta linearidade é considerada insustentável, e a resposta é procurar mimetizar a natureza.

O problema não é o lixo, mas o tipo, a forma e quantidade como produzimos.

Hoje, nós fazemos o lixo, mas deixamos de ter de nos preocupar com o que lhe acontece a seguir. O tipo de lixo mudou, com tantos plásticos, embalagens, pilhas e tantas outras coisas sintéticas que não são biodegradáveis; o consumo aumentou, consequentemente, também a quantidade de lixo por pessoa; a durabilidade caiu. E, fi nalmente, muitos materiais usam substâncias que agridem a Natureza.

Para melhorar o metabolismo, e reduzir a “pegada ecológica”, temos que pensar em alternativas que transformem os resíduos. Para isto, pode-se falar em 5 Rs

Mas para que estes Rs façam sentido, é necessário Repensare assim, o resíduo passa a ser valorizado!

A preservação do meio ambiente é hoje uma das grandes questões globais. Diante de um modelo econômico de consumo e extração predatória e desequilibrada, consequentemente, e infelizmente, o que esperamos para o futuro do nosso mundo está longe de um desenvolvimento sustentável. E se persistirmos assim, o que será deixado para as futuras gerações?

O modelo de sociedade de consumo que sustentamos se caracteriza pela insatisfação, onde quem tem mais quer sempre mais, aliando o excesso à prestígio e glamour. Assim, este modelo representa muita extração de recursos naturais, maior produção de lixo, e mais gasto de energia com a produção. É, sem dúvida, um modelo que precisa ser mudado imediatamente.

Introdução

All the ants on the planet, taken together, have a biomass greater than that of humans. Ants have been incredibly industrious for millions of years. Yet their productiveness nourishes plants, animals, and soil. Human industry has been in full swing for little over a century, yet it has brought about a decline in almost every ecosystem on the planet. Nature doesn’t have a design problem. People do. (BRAUNGART e MCDONOUGH, 2002)

Na arquitetura também devemos contribuir com construções e soluções mais sustentáveis. O arquiteto deve refl etir no momento da escolha dos materiais, na forma de construção, devendo ter consciência de sua responsabilidade no esgotamento dos recursos naturais.

Problemática

50% de todos os recursos consumidos em todo planeta são usados na construção civil. (EDWARDS e HYETT)

os 6 bilhões de habitantes do planeta dispõem, hoje, de 800 milhões de veículos motorizados e a perspectiva, é de 1 bilhão de automóveis para 2030.

símbolo de um bem de

consumo movido por recursos energéticos que depreciam o meio ambiente.

boa parte do aumento de CO² na atmosfera se deve à combustão nas grandes cidades, resultando, assim, em conseqüências como o aquecimento global.

Grande problema do abandonoSexta-feira, 26 outubro de 2007jornal O Estado de S. Paulo

Segundo organizações ambientais, um veículo “aposentado” equivale a uma tonelada de sucata, e depositar o material em lugar inapropriado é uma ameaça.

No Brasil, a preocupação com a reciclagem de veículos é incipiente. Há várias resoluções que obrigam as indústrias a dar uma destinação fi nal a quatro de cada cinco pneus fabricados e a refi nar de novo 30% do óleo vendido.

Enquanto isso, países como a Suécia já têm formas de amenizar o problema. Lá o comprador de um zero-quilômetro paga uma taxa de reaproveitamento, e o valor é devolvido ao último proprietário quando o veículo é reciclado. Na Alemanha, uma parceria entre a VW e a Bayer resultou numa fábrica para desmonte e recuperação de peças.

Proposta do trabalhoTendo em vista a nossa responsabilidade sobre o que acontece com o nosso

planeta, e no intuito de introduzir novas perspectivas de mudanças para o metabolismo das cidades, vemos como ação válida e pertinente pensar no reuso de materiais.

nature’s own ecosystems have an essentially circular metabolism in which every output which is discharged by an organism also becomes an input which renews and sustains the continuity of the whole living environment of which it is a part. (GIRARDET:2003)

Neste sentido, a abordagem deste trabalho se foca nos materiais provenientes de automóveis em desuso, procurando verifi car o que já foi produzido e, então, pensar em algumas possibilidades de reuso para suas diversas partes integrantes, com especial atenção para a aplicação na arquitetura.

Acreditamos que o lixo não pode mais ser encarado como tal, sendo descartado e ignorado. Mais do que isto, devemos enxergá-lo como um material em potencial, podendo ser reutilizado e transformado para ganhar novas funções, dependendo apenas da criatividade. Assim, a aplicação das peças do automóvel na arquitetura é só um exemplo de como podemos gerar novos usos.

we see a world of abundance, not limits. In the midst of a great deal of talk about reducing the human ecological footprint, we offer a different vision. What if humans designed products and systems that celebrate an abundance of human creativity, culture, and productivity? That are so intelligent and safe, our species leaves an ecological footprint to delight in, not lament? (BRAUNGART e MCDONOUGH, 2002)

Projetar para desmontarUm aspecto que não pode ser deixado de lado, é que não se pode mais

pensar na fabricação de carros como antigamente. Na União Européia se instituiu uma lei, em primeiro de Janeiro de 2007, que exige que, após o fi m do uso do veículo, seus fl uidos sejam extraídos e depois disso seja doado aos semelhantes 85% do seu peso atual. Essa lei se chama ELV (End of Life Vehicles) e passará a exigir, em 2008, a reciclagem de 95% do carro. Segundo a revista Guia 4 rodas, teremos então 1 bilhão de automóveis pelo mundo.

As empresas estão tomando ciência destas necessidades. Hoje se fala em projetar para desmontar. Os carros mais antigos, como por exemplo o fusca, são recicláveis, já que tem vidro, plástico e aço, mas muitas vezes o custo para essa reciclagem é muito alto, não compensando. Assim, quando se faz um projeto já tendo em vista seu desmonte, reuso e reciclagem, tudo fi ca muito mais fácil e barato. Além disso, o plástico é um material empregado no automóvel que muitas vezes não é empregado para ser reciclado, o que difi culta a reciclagem.

A estratégia das empresas do setor automobilístico tem sido conceber produtos de menor impacto ambiental através de novas formas de projetar, como o eco-design, com produtos mais efi cientes e que permitem uso racional de materiais e energia e componentes. No Brasil a construção de carros recicláveis depende da iniciativa de cada montadora.

É preciso ter em conta que a complexidade do automóvel, produto múltiplo composto em média de cerca de 20 mil produtos, autopeças e materiais, mantém-se por toda a sua vida e mesmo após, o que obriga a pensar soluções alternativas e diversas para cada uma de suas partes constituintes, da produção à recuperação de suas matérias-primas. Assim a gestão da relação do automóvel com o meio ambiente pressupõe o acompanhamento e análise de todo o seu ciclo de vida. Quando um veículo atinge o fi m de sua vida útil, por exemplo, há partes que ainda podem ser reutilizadas ou recuperadas.

CONSIDERAR:o grande volume de resíduos que o automóvel representa a grande diversidade de materiais presentes em seus componentes a toxidade de alguns elementos químicos desses componentes a extensão e globalização de sua cadeia produtiva o crescimento mundial de seu mercado consumidor a rápida evolução recente de suas tecnologias e de seus materiais

DescontaminaçãoDeve se ter consciência que o carro velho, ou também chamado veículo em

fi m de vida (VFV) é um resíduo perigoso se não devidamente tratado. “Na verdade, um carro velho, ou VFV, deve ser descontaminado e desmantelado. Estas operações, que devem ser realizadas por empresas autorizadas, garantem a proteção do ambiente e o encaminhamento correto dos diferentes resíduos, potenciando assim a reutilização e a reciclagem.” Os carros velhos são considerados resíduos perigosos por terem neles óleos (do motor, dos travois, etc.), baterias iniciadores pirotécnicos (nos “Airbags”) e compostos de chumbo, mercúrio e cádmio. Assim, é fundamental o correto transporte do VFV e uma descontaminação cuidadosa.

ReciclagemÉ a re-introdução dos resíduos no

processo produtivo. Os resíduos podem ser sólidos, líquidos ou gasosos, e são re-elaborados dentro de um processo produtivo que envolve gastos de energia e pode até gerar resíduos. Portanto, a reciclagem é considerado o último recurso no reaproveitamento dos matérias.

Algumas partes dos automóveis já são recicladas e se transformam em novos produtos. Segundo reportagem da revista Época: Carros Recicláveis, cada vez mais empresas descobrem quanta matéria prima valiosa pode ser extraída de peças usadas nos automóveis, dando origem a novos produtos como ferramentas, solas de sapato, pisos e até sacos de lixo. Nesse processo, até as peças trocadas em simples revisões de rotina estão sendo utilizadas.

Desde de 1993 é obrigação dos fabricantes de pneus, lubrifi cantes e baterias reciclar ou dar um destino fi nal adequado a esses produtos.

1- Bateria2- Óleos3- Sistema de freio- Tambores e discos de freio- Partes metálicas3- Sistema de exaustão- Escapamento- Catalisadores4- Sistema de suspensão e rodagem- Pneus- Rodas de ferro- Rodas de liga leve (alumínio)- Amortecedores- Molas- Bandejas- Guarda-pó

PneusRecauchutagem, regeneração da borracha, geração

de energia (fornos de cimento e usinas termoelétricas), no asfalto modifi cado com borracha .

ÓleoAs companhias de óleos devem coletar o que for

retirado dos automóveis e fazer novo refi no, para que o fl uido possa ser reutilizado como matéria-prima em outros lubrifi cantes.

VidroCom exceção dos laminados, os vidros também

podem ser reciclados, na fabricação de novos vidros ou então na indústria cerâmica para os produtos vidrados.

AçoÉ 100% reciclável. Retornam para as indústrias de

aço para se transformarem em novos produtos.

PlásticoAs peças acima de 100 g devem ter a receita gravada

em sua superperfície. O termoplástico pode ser triturado e fundido inúmeras vezes, mas o policarbonato dos faróis, é difícil de ser aproveitado e é resistente à fusão.

ReusoPensar em um mundo sem lixo é impossível. Mesmo a natureza produz lixo,

por exemplo, quando os animais morrem e fi cam abandonados em decomposição. Porém, com o tempo, este “lixo” acaba servindo de comida para outros animais e micróbios, ou seja, o lixo de uns se tornam a matéria prima dos outros.

Assim, a natureza se revela como um exemplo de metabolismo que reusa seu dejeto. Cradle to cradle, ver o lixo como matéria-prima/recurso

No entanto,

o metabolismo da maioria das cidades modernas, em contraste, é essencialmente linear, com recursos sendo lançados no sistema urbano sem muita preocupação sobre sua origem ou sobre o destino dos dejetos, resultando no descarte de muitos detritos incompatíveis com o sistema natural. (GIRARDET:2003)

Reciclar requer um gasto de energia. Às vezes pode se tornar desvantajoso, do ponto de vista energético, quando este gasto de energia da reciclagem se equipara ou supera ao que seria gasto para se produzir uma nova peça, isto sem contar o desperdício de material durante o processo. Além disso, assim afi rmado por Mcdonough e Braungart, o processo de reciclagem pode reintroduzir aditivos nocivos, além daqueles existentes em um produto convencional.

AÇO

ALUMÍNIO

CHUMBO

PLÁSTICO

TECIDO

BORRACHA

VIDRO

poluição

Nesse contexto, não podemos deixar de lado uma questão crucial: o uso e desuso do automóvel. Segundo Richard Rogers, em “Cidades para um pequeno planeta”, o automóvel foi o principal responsável pela deterioração da coesa estrutura social da cidade.

Apesar de ser mais ecologicamente correto usar meios de transporte coletivos, como o metrô, ou mesmo caminhar ou andar de bicicleta, as cidades não foram planejadas para funcionar para tal. São Paulo é um exemplo vivo disso. Uma das maiores cidades do mundo, vive diariamente com trânsito, caos e uma qualidade do ar muito longe da desejável. Sem mencionar o estresse e ruído causado pelos automóveis, caminhões, etc. O transporte público é insufi ciente, e andar de bicicleta é inviável e perigoso.

Claro que devemos pensar em soluções mais sustentáveis, criando infra-estrutura adequada e incentivos para o uso do transporte coletivo, mas não podemos pensar que as pessoas deixarão de usar seus automóveis. Ter um carro é mais do que funcional, já se tornou uma questão cultural, um ideário da sociedade capitalista, que, como um bem, representa glamour, status. A mudança deste pensamento é complexa e necessita de um trabalho de conscientização.

Ter um carro é muito fácil nos dias de hoje, sendo produzido em larga escala e subsidiado, apresentando um preço acessível. Sem contar uma série de fi nanciamentos e facilidades oferecidos às pessoas de classes mais baixas. Além disso, as pessoas trocam de carro com muita mais freqüência, gerando uma quantidade enorme de carros velhos jogados fora, gerando mais lixo.

Garagem mantém 800 ônibus apodrecendo em SP

:

Após a descontaminação necessária, passamos a observar as diversas partes do carro, e seus respectivos materiais, para então perceber o que pode ser reusado e reciclado.

o que já está sendo reciclado nos automóveis:

Alúminiopode ser reciclado para se transformar em novos

produtos, com menor gasto de energia.

Reduzir ReciclarRecuperar Regenerar Reutilizar

+ Repensar

Podemos encontrar bons exemplos de iniciativas que buscam aderir a este pensamento de reutilização de materiais muitas vezes considerados inúteis pela população.

Particularmente, destacamos o caso

do Rural Studio, cuja produção serve tanto como fonte de inspiração como também de ensinamento, para passarmos a enxergar os potenciais que os diversos materiais ao nosso redor têm. Em suas obras, a liberdade criativa ressalta-se quando transformam objetos descartados em materiais para construção.

Em Alabama, encontramos uma construção que utiliza painéis de pára-brisas, que originalmente pertenciam a antigos automóveis Chevrolet Caprice. Aí podemos encontrar também vigas de uma antiga igreja, um tambor de uma máquina de lavar como luminária(for a light fi xture), borracha de antigos pneus no piso das escadas, e até mesmo varas de um beaver dam (for framing love seats).

Para eles, as duas idéias se casam, assim afi rma Emily McGlohn quando diz que

If it’s scrap, and it’s lying around, we’ll probably use it.

Up-cycledUm projeto inusitado

feito completamente materiais industriais descartados, incluindo garrafas, barris de óleo e carcaças de carros.

O uso de pneus envolve diversas soluções criativas, em aplicações bastante diversifi cadas, tais como: barreira em acostamentos de estradas; elemento de construção em parques e playgrounds; quebra-mar; obstáculos para trânsito e, até mesmo; recifes artifi ciais para criação de peixes.

No exemplo de construções de

Earthship encontramos o uso de pneus preenchidos com terra batida para paredes, garantindo o conforto térmico.

Outro grande exemplo é uma concha acústica temporária feita de capotas, painéis e portas de carros. Projetada por Black Rock Arts Foundation, localizada no

parque PANHANDLE de São Francisco, Califórnia, 2007.

BIBLIOGRAFIA

BRAUNGART, Michael e MCDONOUGH, William. Cradle to cradle.

GIRARDET, Herbert. Creating sustainable cities.

MEDINA, Heloísa. Eco-Design na Indústria Automobilística: O conceito de carro urbano. Cetem, Rio de Janeiro, 2003

EDWARDS, Brian e HYETT, Paul. Rough Guide to Sustainability.

ROGERS, Richard. Cidades para um pequeno planeta.

SITIOGRAFIA

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Propostas projetuais

Brises horizontais feitos pela reutilização de pára choques Abertura zenital com fechamento feito pela reutilização do capô do carro. Contribui para a iluminação e ventilação natural.

Abertura zenital com fechamento feito pela reutilização do vidro traseiro do carro. Contribui para a iluminação e ventilação natural.

Painéis para melhorar a acústica de um auditório feitos pela reutilização de pára-brisas de carros

N S A R

Exemplos reais

CARRO

Universidade de São PauloFaculdade de Arquitetura e Urbanismo

AUT 221 - Arquitetura, Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Professora Denise Duarte

Felipe Asato Araki 5143941 [email protected]

Nicole Sneider Unger 5144010 [email protected]

R E P E N