84
72 Na verdade Alexander não inventou nada novo, apenas sistematizou as informações e criou um método de trabalho. Segundo Pignatelli (2004) arquiteto passou a ter a função de traduzir para o projeto as necessidades de espaço identificadas no processo. O método Clustr também foi uma forma de aplicar novos instrumentos metodológicos que auxiliem o projeto arquitetônico. Este método enfoca a questão da organização espacial das diferentes atividades que podem ser executadas dentro de um espaço, levando em consideração o grau de distancia que distingue cada atividade entre si. Baseia-se na tradução de modelos matemáticos das relações espaciais que se estabelecem entre as atividades pertinentes a um espaço. (PIGNATELLI, 2004) O método de Clustr consiste em quantificar em uma matriz os graus de proximidade física dos espaços de atividade de cada função com as outras, e diferenciar a estrutura das relações entre as áreas representadas em um diagrama de Venn 8 (PIGNATELLI, 2004). Na verdade esse método examina as relações entre os espaços de atividade de cada tarefa e o quanto cada uma interfere na outra (intersecções), quantificando os espaços vazios, circulação, entre os equipamentos e mobiliário da moradia. Portas (1969) criou um método de análise por função e atividades, onde se reconhecia e definia o conteúdo de cada função ou atividade, descrevendo também o usuário do espaço. Foram levantados os equipamentos e mobiliário necessário 8 O diagrama de Venn pode ser explicado como a relação entre dois conjuntos, nos quais pode haver alguns (mas não todos) elementos em comum. Informação disponivel em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Diagrama_de_Venn

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Na verdade Alexander não inventou nada novo, apenas sistematizou as

informações e criou um método de trabalho. Segundo Pignatelli (2004) arquiteto

passou a ter a função de traduzir para o projeto as necessidades de espaço

identificadas no processo.

O método Clustr também foi uma forma de aplicar novos instrumentos

metodológicos que auxiliem o projeto arquitetônico. Este método enfoca a questão

da organização espacial das diferentes atividades que podem ser executadas

dentro de um espaço, levando em consideração o grau de distancia que distingue

cada atividade entre si. Baseia-se na tradução de modelos matemáticos das

relações espaciais que se estabelecem entre as atividades pertinentes a um

espaço. (PIGNATELLI, 2004)

O método de Clustr consiste em quantificar em uma matriz os graus de

proximidade física dos espaços de atividade de cada função com as outras, e

diferenciar a estrutura das relações entre as áreas representadas em um diagrama

de Venn8 (PIGNATELLI, 2004).

Na verdade esse método examina as relações entre os espaços de atividade de

cada tarefa e o quanto cada uma interfere na outra (intersecções), quantificando os

espaços vazios, circulação, entre os equipamentos e mobiliário da moradia.

Portas (1969) criou um método de análise por função e atividades, onde se

reconhecia e definia o conteúdo de cada função ou atividade, descrevendo também

o usuário do espaço. Foram levantados os equipamentos e mobiliário necessário

8 O diagrama de Venn pode ser explicado como a relação entre dois conjuntos, nos quais pode haver alguns (mas não todos) elementos em comum. Informação disponivel em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Diagrama_de_Venn

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para diferentes atividades e o espaço requerido para execução das mesmas, e

condições de conforto térmico e iluminação. Com o intuito de levantar as atividades

executadas em uma moradia, Portas (1969) elaborou a tabela 3 onde lista 53

atividades separadas em 16 sub-grupos. Esse levantamento é muito importante

para o dimensionamento da habitação, já que tenta mostrar todas as atividades

domésticas, assim o arquiteto é capaz de projetar espaços que sejam capazes de

atender a todas, ou pelo menos a maioria delas.

Algumas das atividades da listagem da tabela 3 sofreram modificações , seja pelo

fato de máquinas auxiliarem no trabalho, ou algumas alterações nos hábitos,

costumes e disponibilidade de espaço.

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LISTA DAS FUNÇÕES E ATIVIDADES DA HABITAÇÃO

ATIVIDADE DESIGNAÇÃO DO GRUPO

1 dormir ou descanso dormir

fazer a cama descanso pessoal

tratar de doentes ou crianças

vestir-se arrumar-se

arrumar roupas e etc...

2 receber, conservar alimentos Alimentação

preparar, lavar e cortar alimentos preparação

cozinhar

preparar pratos

lavar louça e talheres

arrumar a cozinha e a mesa

eliminar detritos

3 por a mesa Alimentação

servir os alimentos refeições correntes

4 comer Alimentação

levantar da mesa refeições formais

5 conversar, jogar estar

descanso, leitura, escrita individual reunião tempo livre

ouvir rádio, ver TV, ouvir discos

atividades de bricolagem, tocar música, etc.

atender telefone

6 receber e acompanhar desde e até a entrada estar

atividades diversas como em (5) receber

7 atividade lúdica recreio - crianças

vigilância e tratamento

8 trabalhos escolares e outros estudo - recreio - jovens

reunir os amigos - como em (5)

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9 estudo ou trabalho - escritório trabalho - recreio - jovens

trabalho oficina (reparações, bricolagem, etc.)

trabalho artesanal (tecelagem costura, Etc.)

10 passar, limpar Tratamento de roupas

arrumar roupas a) passar a ferro

costurar à mão ou a maquina b) costura

11 lavagem manual tratamento de roupas

lavagem mecânica lavagem

12 Secagem natural ou forçada tratamento de roupas

secagem

13 lavar mãos e rosto higiene pessoal

banhar-se ou dar banho em crianças

excreções

vestir-se, fazer toalete, barbear-se

fazer curativos

fazer exercícios físicos

14 descansar, reunião, solário permanência em exterior

cuidar de flores ou animais

jogos ao ar livre

15 introdução na casa, espera comunicação-separação

independência de grupos ou zonas

comunicação direta ou só audiovisual de zonas

16 guardar roupas de casa ou pessoais Arrumação

guardar calçados armazenamento

guardar gêneros alimentícios

guardar produtos de limpeza e combustíveis

guardar meio de transporte privado (carros e motos)

Tabela 3 - Quadro de atividades domésticas. Fonte: elaborado pela autora a partir de quadro disponível em PORTAS, 1969 p. 20

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Ao se observar a tabela 3, é interessante ressaltar que a função de alguns espaços

como os dormitórios variam de acordo com a idade do usuário, a criança usa o

espaço para brincar o adolescente passa a usar para estudar e receber os amigos

e o adulto para trabalhar.

O programa de Portas pode ser transposto para plantas, onde existem as

dimensões dos espaços necessários para acomodar e usar os equipamentos

básicos para um dormitório, seja de criança, casal ou individual, salas, cozinha,

banheiro, e outros, e o espaço necessário para utilização destes (espaço de

atividade). A partir destes dados seria possível chegar a um tamanho mínimo para

qualquer ambiente. Portas (1969) diz que o dimensionamento dos espaços está

diretamente relacionado com o tipo de divisão, os equipamentos necessários e

com a representatividade que esse ambiente tem na área útil da habitação. Com a

união de todos esses dados, chega a modelos que ele considera ideais para o

tamanho de todos os ambientes de uma casa.

Alexander Klein, arquiteto russo radicado na Alemanha, elaborou um estudo sobre

uma metodologia cientifica a ser aplicada na questão da habitação. Klein se

preocupou principalmente com os problemas econômicos e tipológicos ligados a

moradia. Elaborou o projeto de construções standard, respeitando aspectos

climáticos como insolação e ventilação, e pela primeira vez foi tentada uma

coordenação modular e pré-fabricação. A estandardização entendida pelos

racionalistas, como Klein, era a garantia de um mínimo, não apenas quantitativo

quanto qualitativo, na produção de elementos modulares aplicados a moradias

sociais (KLEIN, 1980).

O método de valorização da planta de Klein se baseia em três operações.

Primeiramente é feito um questionário onde se tenta descobrir de forma objetiva os

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números relativos da habitação, são conseguidos coeficientes que permitem

estabelecer um grau de eficiência desde o ponto de vista da redução da superfície

quanto da habitabilidade. Em segundo lugar Klein reduz os projetos a uma mesma

escala, com um mesmo número de camas ele elabora uma série de opções em

planta relativamente homogêneas, respeitando parâmetros dimensionais (espaços

de atividade) que incidem sobre o esquema distributivo. Em terceiro lugar vem o

método gráfico de Alexander Klein, onde ele se utiliza das duas primeiras

operações para chegar a um método gráfico. Método este que permite que para

cada planta de uma habitação se possa observar o desenvolvimento das

circulações e superfícies livres de móveis. Dessa forma, segundo Klein (1980), se

poderia analisar a eficácia de uma planta antes da execução do projeto.

“Assim por exemplo, trajetos de circulações breves mas intrincadas ocasionam um desgaste de energias físicas (...) os cruzamentos de circulação impossibilitam o desenvolvimento simultâneo e sem interferências das principais atividades que se realizam na habitação: cozinhar – comer, dormir – lavar-se, trabalhar – descansar. Os espaços de comunicação demasiado grandes e os percursos muito compridos que se derivam de uma distribuição desfavorável da planta provocando um aumento da superfície.” (KLEIN 1980, p.33 )

Espaços mínimos residenciais dependem de uma eficiência máxima do uso dos

espaços. Portanto o tamanho, posição dos móveis e circulações otimizadas são

essenciais para se viabilizar a diminuição das áreas. A partir do momento que os

móveis são os menores possíveis, a circulação é o único espaço que pode ser

diminuído, desde que não atrapalhe os espaços das atividades.

Klein utiliza seu procedimento para reduzir o standard das habitações. Cita

constantemente as expressões vivenda mínima e mínimo de vivenda, mas deixa

sempre aberta a possibilidade de uma redução posterior do espaço a partir de uma

concepção de moradia mais articulada com as suas funções e que tenha

considerado as complexas relações entre o interior e exterior. Klein (1980, p. 33)

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acredita que qualquer redução do standard mínimo deveria ser compensada com

equipamentos de lazer e serviços, o que aconteceu em muitos dos conjuntos

habitacionais modernistas.

Abalos (2003) vê o trabalho de Klein como um importante instrumento para se

chegar a tão sonhada casa mínima. Ao sistematizar a questão do

dimensionamento da moradia, contribui de forma cientifica a solução do problema

habitacional.

“Os trabalhos de Alexander Klein sobre habitação mínima, os CIAM dedicados ao Existenzminimun, com suas comparações de plantas e superfícies, são o triunfo desta redução cientifica do espaço. O esquema metodológico de Klein é um compendio perfeito do projeto positivista da casa.(...) A habitação, para Klein, transformou-se em um problema da industria, que como tal, deve ser estudado com o mesmo espírito que se aplica a qualquer processo industrial: Contribuições cientificas ao problema da habitação.” (Abalos 2003. pg. 74)

2.2.5 Os ambientes da casa mínima

Para o projeto de uma habitação mínima o arquiteto deveria conhecer bem o uso

de cada ambiente essencial da moradia, seus móveis e equipamentos

indispensáveis. Na realidade os usos dos espaços e as necessidades sofrem

alterações de acordo com a cultura, poder aquisitivo, tipo de família, faixa etária, e

outros. A seguir mostra-se uma pequena descrição dos ambientes de uma

habitação.

O espaço da cozinha foi um que sofreu as maiores transformações por isso foi tão

estudada. A chegada dos novos eletrodomésticos, a diminuição das refeições

feitas em casa e os alimentos semi-preparados simplificaram a vida da dona de

casa, mudando as necessidades espaciais. Interessante perceber que com essas

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mudanças todas, o status da cozinha também se transformou, passou de uma área

que era ocupada, nas casas burguesas, quase que exclusivamente pelos

empregados, para uma zona de permanência e socialização dos proprietários, em

parte pelo fato da diminuição na quantidade de empregados domésticos

disponíveis.

A cozinha é um espaço extremamente complexo por abrigar uma série de

processos diferentes, como a cocção, preparação, armazenamento, a lavagem das

louças e o servir, muitas vezes até a refeição é feita na cozinha. Para se chegar a

um desenho de espaço mínimo para cozinha em primeiro lugar deve-se saber

exatamente o número de equipamentos mínimos necessários para que se possam

executar todas as tarefas.

Muitas vezes, o espaço destinado à cozinha, acumula a função de cuidar das

roupas, que abrange o lavar, o secar e o passar. Esse ambiente da casa também

sofreu grandes mudanças com a chegada das máquinas de lavar e secar roupas. A

grande maioria dos conjuntos habitacionais modernistas e edifícios construídos

hoje na Europa, têm lavanderias coletivas em alguma parte de uso comum do

prédio.

A cozinha representa um espaço de função altamente especializada na casa

moderna, ao contrário do que acontecia antigamente, já que servia para se fazer as

refeições, cozinhar e até mesmo como dormitório dos empregados. A cozinha

passou a ser um espaço muito bem equipado, e a racionalização de todos os

equipamentos proporcionou uma redução do espaço necessário. Foi a

reorganização da cozinha que mostrou ser possível graças aos novos

equipamentos, móveis racionais e o espaço bem organizado uma diminuição da

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área, aspecto muito importante no desenvolvimento de habitações mínimas

(TEIGE, 2002).

A cozinha de Frankfurt foi o resultado de uma série de pesquisas realizadas com

mulheres para saber seus desejos, e seus comportamentos durante os processos

e atividades realizados na cozinha, além de pesquisar os fabricantes de móveis e

materiais de cozinha. A partir destes dados conseguiu-se montar diagramas de

circulação para as cozinhas e localização ótima dos equipamentos. Essa série de

estudos acabou por resultar na inserção destes tipos de cozinhas em milhares de

apartamentos de conjuntos habitacionais de Frankfurt (KOPP, 1990, p. 56).

Professores e estudantes da Bauhaus construíram uma casa experimental para a

Exposição Bauhaus de 1923 , a Haus am Horn ou Versuchshaus projetada por

George Muche, onde a cozinha, Bauhaus Kuche (fig. 11), era conseqüência de

estudos ergonômicos e funcionais.

Essa casa foi planejada com o que havia de mais moderno para poupar o tempo

para o trabalho doméstico. Essa habitação foi concebida “como um objeto

sachlich”9 (FRAMPTON, 1997 p. 152) e se tornou uma Wohnmaschine (máquina

de viver). Esta casa era uma criação genuinamente “bauhausiana”, o primeiro

exemplo prático do novo modo de vida na Alemanha (DROSTE, 2006 p. 105).

Essa casa foi pensada de forma a ter uma circulação mínima, quase não havia

corredores, todo o programa é distribuído ao redor de uma sala (fig. 12) de estar

iluminada por janelas altas como se pode perceber na fachada presente na figura

13.

9 Sachlich é algo funcional e prático em alemão.

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Fig. 11 Cozinha da Haus am Horn FONTE: http://arqandutopie.blogspot.com/2007/04/casa-versuchshaus.html. Acessado em 01/09/2007

Fig. 12. Sala com pé direito mais alto que o resto da residência. Fonte: DROSTE, 2006 p. 108

Fig. 13 Fachada da casa Haus am Horn, volume mais alto mostra as janelas altas que iluminam a sala. Fonte: http://eng.archinform.net/medien/00001637.htm Acessado em: 06.12.2007 A casa era constituída por um dormitório para senhora, outro para o senhor e um

para as crianças, todos esses espaços são ligados por portas, fazendo com que a

circulação aconteça dentro dos quartos. O cômodo destinado ao banho, diferente

do espaço do vaso sanitário, ficava entre os dormitórios do Sr. e Sra.. Sala de

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jantar ao lado da cozinha e próxima ao sanitário. A única janela na altura dos olhos

estava situada em um nicho (nische), do lado direito da planta da figura 14.

Fig. 14 Planta da Haus am Horn Fonte: DROSTE, 2006 p. 108

Segundo Droste (2006 p. 105) a casa sofreu duras criticas, principalmente em

relação a fachada (fig. 13), que foi comparada com caixa de bombom e estação no

pólo Norte. Já as novas idéias para o interior, como cozinha, sala de banho, quarto

de crianças e sala de jantar tiveram melhor aceitação do público. A grande

importância da exposição foi tornar público o trabalho da Bauhaus, pela primeira

vez fotografias de seus produtos foram apresentadas pela imprensa.

Outra experiência importante foi o estudo do “Rationalisirte Hausarbeit” (trabalho

doméstico racionalizado) onde cozinha e anexo foram construídos por Bruno Taut

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em 1927, onde é previsto o lugar de todos os eletrodomésticos e utensílios. Os

percursos foram otimizados para que se andasse o mínimo possível durante a

execução das tarefas domésticas (KOPP, 1993).

Antes da cozinha de Frankfurt, outras mulheres já tinham tentado planeja-las. Em

1841, Catherine Esther Beecher, publica o primeiro trabalho onde as atividades

domésticas são analisadas, ela “ensina” a cozinhar, lavar, decorar a casa, escolher

frutas e legumes. Em “Treatise on Domestic Economy” Catherine sugere formas de

se organizar uma cozinha, desde a questão do armazenamento até a logística do

trabalho doméstico (FOLZ, 2003). Segundo Gidion (1969) Beecher fala das novas

responsabilidades da mulher na sociedade americana e trata de economia

doméstica como profissão, e que as mulheres deveriam ser valorizadas pelo

trabalho executado. O esquema de Beecher de distribuição dos trabalhos e

armazenagem podem ser vistos na fig. 15. Ela determina local especifico para

armazenamento, lavagem das louças, secagem das louças, armazenamento de

farinha, bancada de trabalho, e forno separado da área de preparo por portas de

correr.

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Já na década de 1920, Christine Fredericks, propõe o estudo dos espaços da

habitação, particularmente os esquemas de circulação. Fredericks demonstra como

uma organização racional dos móveis e eletrodomésticos pode economizar tempo

e deslocamentos.

Teige (2002) monta uma tabela (tabela 4) com a diferença das áreas de alguns

“modelos” de cozinhas e a relação com o número de refeições servidas por cada

um, e como se pode observar, a cozinha de um trem que é projetada de forma

racional alcança uma maior eficiência na preparação de refeições.

fig. 15 A cozinha de Beecher Fonte: GIEDION, 1969, p. 517

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Tipo Área m² Media de refeições diárias

Apartamentos urbanos durante o século XIX ca. 25 4-10

Apartamentos pequenos e médios ca. 11,50 2-6

Standard Americano 8,91 2-6

Standard Belga 8,65 2-6

Standard Stuttgart 8,60 2-6

Standard Frankfurt – 1ª fase 6,43 2-6

Standard Frankfurt – 2ª fase 5,50 2-6

Standard Berlim (R² = cozinha) 4,50 2-6

Cozinha em carro restaurante de trem 3,78 100-150

Tabela 4 – Tabela das áreas da cozinhas Fonte: Tabela feita pela autora com base em Teige 2002, p. 220

As inúmeras epidemias ocorridas ainda no século XIX mostraram a importância da

higiene pessoal e fez com que o espaço do banheiro tivesse uma nova conotação,

a de saúde. A popularização dos novos hábitos de limpeza tornou o banheiro um

símbolo de status. Hoje em dia o espaço do banheiro se transformou em um local

para relaxar além da função tradicional de higiene pessoal, o que tem agregado

novos elementos aos equipamentos básicos existentes.

Os banheiros, nas primeiras moradias de aluguel eram comuns aos moradores,

isso é, eram divididos entre os habitantes do andar, com o tempo passaram a ser

privativos até mesmo nos apartamentos pequenos. Segundo Teige (2002) os

equipamentos que faziam parte dos banheiros eram, uma banheira com chuveiro,

lavatório, bidê, toucador (espécie de penteadeira) com espelho e prateleira,

ganchos para toalhas e afins, e cesto de roupa suja.

Como diz Giedion (1969 p. 682) até os anos 1900 banheiros eram apenas

acessíveis às classes mais privilegiadas. O banheiro até hoje é um dos ambientes

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mais caros de uma construção. Os revestimentos, pisos, louças, metais,

acessórios, tubos e conexões são materiais de custo elevado, portanto na

habitação de baixa renda quanto menos e menores forem os banheiros mais se

economiza no orçamento da obra.

O grande marco na evolução dos banheiros foram os sistemas de abastecimento

de água e coleta de esgoto, até então os espaços destinados a banheiros não

tinham grande utilidade (GIEDION, 1969, p. 686). Após o estabelecimento destas

facilidades o banheiro mudou seu status, se tornando parte importante no projeto

da habitação.

Segundo Giedion (1969, p.706) o banheiro sempre teve um lay-out estandardizado,

isto é, tem equipamentos básicos e essenciais, como vaso sanitário, bidê (ducha

higiênica), banheira (no Brasil apenas o chuveiro) e lavatório. Esses quatro

equipamentos constituem um banheiro, a inexistência de qualquer um deles

descaracteriza o espaço.

A grande questão é porque não produzi-lo em massa, para simplificar as

instalações e barateá-lo? A tendência modernista de eliminar ornamentos dos

móveis e da arquitetura, “contaminou” também o design das peças dos banheiros,

facilitando a produção em grande escala das peças sanitárias.

O primeiro banheiro pré-fabricado foi patenteado em 1931 (fig. 16) esse primeiro

modelo era dividido em painéis que eram montados por diferentes operários,

pedreiros, gesseiros e encanadores (GIEDION, 1969, p. 707). Outro modelo da

mesma época já chegava montado a obra e içado por guindaste e encaixado na

construção sem a necessidade de operários com diferentes especialidades para a

montagem, as ligações só precisavam ser parafusadas as unidades de junção

(fig.17).

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fig. 16 Primeiro banheiro pré-fabricados Fonte: GIEDION, 1969, p. 708

fig. 17 módulos pré-fabricados a serem encaixados na construção Fonte: GIEDION, 1969, p. 517

Buckminster Fuller criou em 1938 um banheiro pré-fabricado onde todas as peças,

inclusive os acessórios estavam incorporados a uma “casca” que forma uma

unidade estrutural como pode ser visto na fig. 18.

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As salas eram espaços de uso comum, onde toda a família se encontrava, recebia

visitas, lia, descansava, as vezes servia de sala de jantar, era sempre o maior

cômodo da casa (TEIGE, 2002). A sala não tem funções tão definidas como outros

cômodos da habitação.

Os dormitórios passaram a ser espaços pequenos e individuais, apenas para

dormir, contrário do que era a residência burguesa, onde os quartos eram os

maiores cômodos nos apartamentos, fruto de uma época que o dormir era parte de

um ritual. O dormitório da casa moderna deveria ter uma cama e criado mudo,

armário de roupas ficariam em um espaço destinado apenas a eles (TEIGE, 2002).

Como se observa na figura 19 Portas fez um levantamento dos móveis essenciais

do dormitório, suas dimensões e espaços necessários para sua utilização e

circulação.

fig. 18 módulos pré-fabricados de banheiro Fonte: GIEDION, 1969, p. 517

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Fig. 19 – Desenhos dos espaços de atividades e móveis de dormitórios de casal, de solteiro e de criança. Fonte: PORTAS, 1969 p. 23

Espaços para armazenamento são muito importantes em uma habitação onde área

tem que ser maximamente aproveitada. Na parte íntima devemos prever espaço

para o armazenamento de roupas, roupas de cama e banho, produtos de higiene e

outros. Na cozinha gêneros alimentícios, utensílios domésticos, louças, produtos

de limpeza e outros.

A casa mínima tem uma série de parâmetros como o mínimo dimensional, mínimo

de conforto ambiental e mínimo custo, que podem classificar a habitação como tal.

Mas na realidade esses parâmetros são relativos à cultura, costumes, localização

geográfica e método construtivo.

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2.3. INDUSTRIALIZAÇÃO

2.3.1 Como a Industrialização afetou a sociedade no inicio do século XX

O movimento Moderno nasceu das mudanças tecnológicas, econômicas e sociais

acontecidas na Europa a partir do século XVIII, momento denominado como 1ª

Revolução Industrial. Em um primeiro momento a historia da arquitetura moderna

se confunde com a história da industrialização.

Os primeiros efeitos da Revolução Industrial na construção civil foram a troca dos

materiais naturais pelos artificiais (industrializados) e dos materiais heterogêneos e

imprecisos por materiais homogêneos com qualidade assegurada e testados em

laboratório. (CORBUSIER, 1977)

Corbusier (1977) ressalta a importância da economia nos atos da sociedade, e que

o equilíbrio desta depende, entre outras coisas, de uma população satisfeita com a

moradia. A economia rege a construção, e, portanto a industrialização se tornou

um grande aliado, só que as pessoas ainda não tinham o habito de viver em casas

construídas em série e nem todos os arquitetos estavam adaptados a essa nova

forma de projetar.

“A lei da economia rege imperativamente nossos atos e nossos conceitos só são realizados por ela. O problema da casa é um problema da época. O equilíbrio das sociedades depende dele. O primeiro dever da arquitetura, em uma época de renovação, consiste em revisar os valores e os elementos constitutivos da casa. (...) A grande indústria deve ocupar-se da edificação e estabelecer em série os elementos da casa. Há que criar o estado de espírito da série. O estado de espírito de construir casas em série. O estado de espírito de habitar casas em série. O estado de espírito de conceber casas em série” (CORBUSIER, 1977, p.187)

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No final do século XIX, assiste-se na Alemanha uma espécie de segunda fase da

revolução industrial, cujos símbolos foram o aparecimento do telefone (1876), da

lâmpada elétrica (1879), do motor a explosão (1885), e já no inicio do século XX o

avião (1903). Por toda a Europa se percebeu uma aproximação das relações

comerciais pelo fato da facilitação dos transportes. O comércio passou a ter grande

importância já que passou a atingir mercados internacionais, por conseqüência há

uma maior dependência entre eles.

A sociedade sofreu importantes mudanças após a implementação do Fordismo em

1914. O inventor Henry Ford criou toda uma idéia revolucionária não apenas na

questão da produção industrial, como a instalação de linhas de produção que

agilizavam todo o processo, mas criou uma nova forma de vida para um novo

homem. Ford decompôs a montagem de um carro em 84 diferentes operações,

levando um terço do tempo usual para montar um automóvel. A grande idéia de

Henry Ford foi transformar o automóvel, até então artigo de luxo, em um objeto

possível de ser consumido pelas camadas menos abastadas da população

(GIEDION, 1969, p. 116).

Como diz Harvey (2005) o que havia de especial em Ford era o reconhecimento de

que produção de massa significa consumo de massa e a conseqüência disto é uma

nova sociedade democrática, racionalizada, modernista e populista. Nesse

contexto foram criados novos padrões de consumo que alteraram os costumes

dessa nova sociedade capitalista.

Já no inicio do século XX, a Holanda institui que a industrialização passa a ser um

problema do governo. Em 1918 o engenheiro J. van der Waerden apresentou uma

proposta de estandardização para a indústria da habitação no congresso holandês.

Foi proposto o limite do número de pavimentos (9 andares) usando dimensões e

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elementos estandardizados, além de se ter uma central de controle da distribuição

de materiais de construção e mão-de-obra (GRINBERG, 1982).

A industrialização afetou de forma peculiar a construção civil, devido ao rápido

crescimento das cidades. Passou-se a ter uma necessidade crescente por

habitações, mas o desenvolvimento da indústria da construção propriamente dita,

não acompanhava o ritmo do resto das indústrias.

Enquanto se discutia a pré-fabricação na Europa, as casas japonesas eram

construídas a séculos, de forma pré-fabricada, utilizando sofisticados sistemas de

coordenação modular10, cujos similares só apareceriam na Europa no século XIX.

As casas tradicionais japonesas eram bem iluminadas e arejadas, mas por

assimilação de subprodutos da industrialização e aumento vertiginoso da

população urbana, o povo japonês começou a se mudar para apartamentos

apertados com piores condições de conforto (TRAMONTANO, 1994).

2.3.2 Como os arquitetos se posicionaram em relação à industrialização.

Em 1924, Gropius (apud BRUNA 2002) já tratava da questão da industrialização da

construção defendendo-a como uma vantagem para a arquitetura, e que os

elementos estandardizados abririam novas portas para uma nova gama de

possibilidades de projeto.

”é um engano supor que a arquitetura será desprestigiada devido à industrialização da construção. Pelo contrário, a estandardização dos elementos construtivos exercerá um efeito benéfico ao conferir um caráter

10 Coordenação modular é quando os diferentes componentes de uma obra arquitetônica são projetados um em função do outro, isso quer dizer um caixilho é projetado para que encaixe perfeitamente no seu devido lugar, havendo um mínimo de perdas.

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unificado às novas habitações e bairros. Não há motivo para temer uma monotonia semelhante à dos subúrbios industriais ingleses, à condição de cumprir o requisito básico de normalizar somente os elementos construtivos, variando o aspecto exterior dos edifícios armados com eles.” (GROPIUS apud BRUNA 2002, p. 25)

A partir da industrialização, onde os materiais de construção foram

estandardizados a produção arquitetônica passou a ser muito mais variada, mesmo

estando dentro de um mesmo estilo, Guidion (1954) destaca as ilimitadas

possibilidades da indústria em desenvolvimento, no final do século XIX e XX.

Segundo Gropius (2004) o uso de peças industrializadas não deveria uniformizar

as construções, as diferenças ficariam a cargo da criatividade dos arquitetos. A

indústria seria responsável por fabricar uma série de componentes diferentes, fruto

de uma maior flexibilização das linhas de produção, que se adequariam as

exigências de cada obra. Como em um brinquedo LEGO, onde existe um número

limitado de peças e ilimitadas formas de montá-las.

Os arquitetos encaram a industrialização de formas diferentes, alguns deles como

uma forma de se conseguir uma estandardização da moradia, outros como um

subterfúgio técnico para resolver um problema urgente de déficit quantitativo e

outros, como forma de se construir a um menor custo possível. Muitos não

pensavam em qualidade, mas apenas em quantidade e velocidade de produção

transformando a casa em um bem de consumo. Como no trecho abaixo se pode

ver a visão de Abalos (2003) sobre a forma com que alguns arquitetos modernos

trataram a industrialização estabelecendo um paralelo com a indústria

automobilística.

“A casa passa a ser um objeto produzido em série, a imagem e semelhança do Ford T, o grande paradigma da industrialização. Não encontramos nada disso em Mies van der Rohe, porém sua busca é, antes, distante dos interesses do conjunto dos arquitetos modernos, em sua investigação sobre

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o Existenzminimun, para a otimização de tipos estandardizados de habitação.” (Abalos 2003. pg. 21)

O arquiteto holandês Berlage foi um dos defensores da estandardização pelo fato

de ser importante por causa da integração de argumentos sociais e estéticos.

Berlage (apud GRINBERG, 1982) foi o primeiro a falar da estandardização, não

como medida emergencial na construção rápida de moradias, e sim como uma

nova forma de se construir em massa com melhores preços.

2.3.3 Industrialização da construção

A Alemanha desenvolveu massivamente sua indústria no século XX. No inicio dos

anos 1900 só havia uma alternativa para que resolvessem o problema habitacional,

sair direto da construção artesanal de tijolos para uma produção industrial. Gropius

(apud GIEDION, 1954) se apegou aos princípios da industrialização em meados de

1909. Ele tinha consciência de que a produção de uma moradia nunca poderia ser

tão eficiente quanto a de um carro, porque necessita sempre de detalhes

responsáveis pela personalização do espaço, por esse motivo a produção em

massa de casas estandardizadas não seria solução para o problema da habitação.

A industrialização da moradia deveria se limitar à produção em massa de

componentes standards que permitissem alterações tanto na forma quanto no

planejamento das residências.

Há certa dificuldade em se determinar a diferença entre industrialização da

construção, pré-fabricação e mecanização. Paulo Bruna (2002) diz que a pré-

fabricação é apenas parte do processo amplo e complexo da industrialização, que

envolve organização da produção, montagem, controle e etc. A pré-fabricação

acontece no canteiro de montagem e deveria ser entendida apenas como uma

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racionalização do sistema de construção, que se mantém essencialmente artesanal

como organização. A mecanização é a racionalização das energias gastas na

produção (gruas, betoneiras, etc) uso de máquinas que aliviam o trabalho do

homem.

A industrialização da construção exige que haja um ritmo e volume constante de

obras para que se torne economicamente viável. Empreiteiras de obras com alto

nível de industrialização acabam por ter sua linha de produção sem flexibilidade,

isto é, usam o mesmo processo anos a fio por não haver condição de mudar a

linha em curtos períodos de tempo, havendo uma defasagem técnica.

Neste contexto nota-se a existência de dois tipos de industrialização. A de Ciclo

aberto, que é quando a empresa produz componentes para mais de uma firma, o

que acaba por estandardizar a produção e a de Ciclo fechado, que consiste em

fabricar elementos pré-fabricados para uma obra especifica, é a idéia presente nas

propostas para habitação mínima dos arquitetos vanguardistas do primeiro pós-

guerra (BRUNA, 2002).

Em 1931 Gropius cria para Hirsch Kupfer e Messingwerk A. G. uma casa mínima

com elementos industrializados e com possibilidade de ser ampliada, como se

pode observar na planta na fig. 20. Esta era constituída por painéis de madeira

autoportantes, revestidas internamente com placas de fibro-cimento e

externamente com chapas corrugadas de cobre. O projeto não foi executado por

causa da ascensão do nazismo, mas Gropius continuou suas experiência nos EUA,

e criou um sistema construtivo com painéis chamado de “General Panel System”

(em madeira) e em 1947 conseguiu, que uma indústria produzisse todos os

componentes para essas habitações.

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Fig. 20 - Casa mínima para Hirsch Kupfer e Messingwerk A. G. Fonte: BENEVOLO 2006 fig. 607 p. 501

O projeto das Package House System, que usavam o General Panel System,

tinham a armação dos painéis em madeira revestida com tábuas de mesmo

material e eram de fácil manejo. Cada elemento era baseado em uma modulação

com 3 pés e 4 polegadas (aproximadamente 1m), e o comprimento era sempre

múltiplos desta medida. O resultado mostrou que essa modulação era

extremamente flexível permitindo qualquer tipo de combinação. O projeto dessas

casas uni familiares isoladas permitiam ampliações futuras.

O diferencial do sistema de painéis das Packeges Houses da General Panel

Corporation era que o mesmo painel poderia ser usado nas paredes, tetos,

telhados e piso, essa flexibilidade foi possível graças as junções muito eficientes

que poderiam funcionar em qualquer plano (GIEDION, 1954).

Na figura 21 pode-se constatar o encaixe das travessas que constituem a armação

das casas, que funcionam tanto na vertical quanto na horizontal, e a modulação de

1m x 1m. Nas figuras 22 e 23 pode-se apreciar dois diferentes estágios da

montagem da casa, onde na fig. 22 acontece a montagem das paredes e na fig. 23

a montagem do forro.

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Fig. 21 - Esquema do Sistema das Package House System. Fonte: GIEDION, 1954 p. 193

Fig. 22 - Montagem casa do Sistema das Package House System. Fonte: GIEDION, 1954 p. 199

Fig. 23 - Montagem casa do Sistema das Package House System. Fonte: GIEDION, 1954 p. 199

A planta do sistema foi feita de forma a permitir ampliações, pode-se ter 1, 2 ou 3

dormitórios. Na figura 24 nota-se as diferentes formas que a casa assume com o

diferente número de quartos. Toda a área standard se mantém fixa, que

corresponde a um dormitório sala, banheiro, cozinha, depósito e terraço. As áreas

molhadas ficam condensadas em um mesmo lado da construção.

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Fig. 24 - Planta do projeto da casa do Sistema das Package House System. Fonte: GIEDION, 1954 p. 200

O General Panel System foi estudado cuidadosamente por Konrad Wachsmann

por muitos anos em Nova Iorque, incluindo o processo total de construção e os

equipamentos mecânicos e elétricos envolvidos no processo, fato que permitiu um

menor número de máquinas a serviço do sistema. O sistema foi testado na

Califórnia e se mostrou eficiente, mas demorou até ser reconhecido como produto

a ser comercializado (GIEDION, 1954).

Como diz Bruna (2002), para que a industrialização funcione os componentes

devem ser substituíveis por outros de outras marcas, e que possam assumir

diferentes funções dentro de uma mesma obra, e ser combinados, formando

diferentes combinações, resumindo os elementos devem ser flexíveis, isto é, ter a

possibilidade de serem montados de diversas formas.

Outro aspecto que é muito importante para o êxito da industrialização é que os

componentes deveriam ser resultados do trabalho de arquitetos, engenheiros e

produtores, para que essas peças pudessem ser coordenadas umas com as

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outras. Arquitetos deveriam estar presentes no processo de criação das peças e na

definição das dimensões para que no final funcionassem como módulos inseridos

no projeto.

A partir da segunda Guerra com a necessidade de sistematização da produção, o

módulo11 vem para resolver o problema dos componentes da construção. A idéia

era chegar a uma dimensão básica dos principais elementos da construção

(BRUNA, 2002, P.65-68).

A coordenação modular segundo Bruna (2002) foi a tentativa de se criar uma

normalização dos elementos da construção, essencial para a industrialização da

construção, limitando os tamanhos dos componentes e criando módulos. Um dos

conceitos implícitos em módulo é o fator numérico, estabelecendo uma relação

entre números, como uma constante, na verdade esse é o principio do Modulor

criado por Le Corbusier em 1948.

André Wogenscky, assistente de Corbusier em seu escritório (apud CORBUSIER,

1976) diz que, além do Modulor ser essencial para o projeto da moradia, tem sua

serventia no projeto de móveis e equipamentos voltados ao uso do homem,

funcionando como um referencial ergonômico.

Le Corbusier (1976) diz que para o projeto de conjuntos habitacionais mais

especificamente, é necessário que se trabalhe sobre uma base única de medidas

relacionadas ao homem e sempre trabalhando nas três dimensões. O Modulor une

os sistemas métricos e de polegadas facilitando a pré-fabricação de componentes

11 O conceito de módulo é antigo já na arquitetura Helênica, Clássica (Vitruvius) e Palladiana o

módulo é uma unidade de proporção. Modulus (latim) = pequena medida

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para a construção em todo o mundo, à um preço relativamente baixo com uma

enorme variedade de formas, proporções e soluções. A pré-fabricação modulada

permitiu que a casa fosse acessível a um maior número de pessoas, respeitando a

individualidade. Mesmo a casa industrializada sendo universal tem características

bem definidas relativas que podem ser adequadas a cada povo e região.

A industrialização da construção sofreu grande preconceito por parte do mercado e

dos técnicos, pela falsa idéia de que seria responsável pela uniformização das

construções. Mas na realidade a produção industrializada dos componentes é

apenas um facilitador, para que haja uma maior rapidez, menos desperdício e

menor custo final da obra.

2.4 A FAMÍLIA E A SOCIEDADE NO SÉCULO XX

Durante o século XX a estrutura familiar mudou muito, principalmente pelo fato da

mulher entrar para o mercado de trabalho e conquistar sua independência

financeira. Essa “revolução” das relações familiares é retratada por Berquó no

trecho abaixo:

“ a queda acentuada da fecundidade, o aumento da longevidade, a crescente inserção da mulher no mercado de trabalho, a liberdade sexual, a fragilidade cada vez maior das uniões, o individualismo acentuado, etc, são tendências que vem atuando no sentido de alterar o tamanho, a estrutura e a função da família” (BERQUÓ, apud TRAMONTANO. 2004)

Segundo Gausa (apud TRAMONTANO,1997) as maiores mudanças

comportamentais são resultado das mudanças na estrutura familiar, conseqüência

do surgimento de casais sem filhos ou com número reduzido, casais

homossexuais, famílias mono parentais e o envelhecimento da população.

Vivemos em uma sociedade cheia de diferentes perfis, com uma série de modos

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de vida distintos que, muitas vezes não são considerados pelos profissionais

responsáveis pelo ramo da habitação coletiva. Estes projetam segundo Pignatelli

(2004), baseados em um modelo sociológico fixo, uma família composta de marido,

mulher e filhos, que são um padrão de referência de comportamento e são

considerados um sistema de valores estáveis.

Os diferentes “tipos” de famílias existentes hoje em dia, tem exigências espaciais e

de programa diferentes de uma família tradicional. Até mesmo a família tradicional

que tem um membro que trabalha dentro de casa necessita de uma organização

espacial diferente.

Como diz Pignatelli (2004) a família é o lugar institucional da socialização primaria,

portanto onde se reproduzem os valores convencionais, a casa é o lugar físico

onde essa atividade diária acontece. Uma das principais funções da família é

passar modelos culturais (costumes, conhecimento, hábitos, formas de

organização, política, etc) através das gerações, outra é a de proporcionar

segurança. A casa, espaço com o qual estamos acostumados é um ponto de

referência, na verdade é uma das fontes de afirmação de nossa identidade

psicológica.

A forma da habitação faz parte da vida das pessoas e de sua forma de viver, é um

espelho onde se podem ver os costumes e relações humanas. Na verdade,

segundo PIGNATELLI (2004) analisando as casas do passado poderia se “ler”

muitas informações sobre a vida de nossos antepassados.

O movimento Moderno testemunhou as mudanças que a sociedade vinha

sofrendo, como por exemplo, a emancipação da mulher, igualdade de direitos

políticos e novas relações de trabalho, e tentou criar um homem padrão para

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resolver os problemas emergenciais da carência de habitações. A habitação foi

transformada no modelo de salvação da sociedade.

“O movimento Moderno, que tinha o habitar como ponto de partida e de sedimentação de sua reflexão, fez do habitat um arquétipo universal baseado em uma concepção biológica do individuo. A lógica do método empregado levava a uma padronização do conjunto dos espaços da vida social – edifício, bairro, cidade, território.” (TRAMONTANO, 1997, p. 7)

Houve uma mudança estrutural nas relações interpessoais a nível familiar. Passa a

não ser mais tão comum uma figura central que provém o sustento da família,

agora todos os integrantes desta contribuem com a receita mensal, diluindo as

referências hierárquicas dando aos filhos e a mulher uma maior autonomia. Como

todos costumam trabalhar, há menos tempo para se cuidar das tarefas domésticas,

por esse motivo há a necessidade de se repensar os espaços, que passam a ser

mais voltados ao lazer, os afazeres da casa são simplificados e auxiliados por

eletrodomésticos facilitando a vida da “dona de casa” (TRAMONTANO, 1997).

A evolução dos meios de comunicação vem contribuindo para que não se note

tantas diferenças comportamentais entre grandes cidades do mundo, as diferenças

culturais vem se diluindo no meio de uma avalanche de informações. As pessoas

estão vivendo cada vez mais sozinhas e usando a tecnologia para se comunicar

virtualmente.

Tramontano (1997) descreve sua visão da sociedade do século XX:

“ ... metrópole do século 21: seu habitante parece ser um individuo que vive, principalmente sozinho, que se agrupa eventualmente em formatos familiares diversos, que se comunica à distancia com as redes a qual pertence, que trabalha em casa mas exige equipamentos públicos para o encontro com o outro, que busca sua identidade através do contato com a informação.” (TRAMONTANO,1997, p. 7)

Com o fim da era da sociedade industrial, não havia mais a necessidade de uma

separação funcional dos ambientes, mudam-se as relações de trabalho e volta-se a

trabalhar em casa, como nas oficinas das cidades medievais. A evolução da

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informática permitiu que cada vez mais pessoas viessem a trabalhar em casa,

meios de comunicação mais eficientes tornaram muitos dos deslocamentos físicos

desnecessários.

Ainda hoje vivemos em habitações que foram projetadas para a necessidade da

população do século XIX, separado em área social, intima e de serviço, percebe-se

que a sociedade muda seus costumes, mas a casa tradicional ainda persiste no

ideal das pessoas. Segundo Pignatelli (2004) a habitação demora muito a seguir as

modificações da sociedade, normalmente reproduz os modelos ultrapassados e

não costumam buscar tipologias inovadoras e mais adequadas à nova realidade.

Os lofts, por exemplo, foram um movimento espontâneo de um segmento da

sociedade que resolveu por conta própria mudar a forma de morar, e os arquitetos

vieram atrás da tendência que surgiu sem auxilio técnico (TRAMONTANO, 1993).

A organização e distribuição dos espaços da habitação estão profundamente

ligadas às exigências biológicas (comer, dormir, descansar, hábitos de higiene) e

psicológicas (que é a relação do ser com o espaço) dos indivíduos e grupos que a

utilizam. A diversidade das formas das casas nas diferentes culturas evidencia a

variação da apropriação dos espaços (PIGNATELLI 2004).

Não exatamente falando do caso do projeto da unidade habitacional, mas Pignatelli

(2004 p. 39 - 40) fala que o espaço autentico, é onde as pessoas se sentem bem,

são os espaços que são da forma que deveriam ser, não tem nada supérfluo e

nada faltando e não oprime o usuário. Exemplos negativos citados pela autora são

Brasília e Chandigarth, por coincidência cidades planejadas, onde a população

perde o poder de se apropriar do espaço. A autenticidade na arquitetura é algo que

se conquista tecendo uma intricada relação através do tempo, entre necessidades,

espaços e culturas.

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A arquitetura é a única manifestação artística que hospeda funções práticas

(espaço para as atividades cotidianas) e comportamentos humanos (como o

espaço é utilizado). Muitas vezes o arquiteto não conhece a fundo o

comportamento de uma sociedade, havendo necessidade, ainda na fase de

projeto, de uma fase analítica onde se levarão em conta contribuições de várias

disciplinas, como psicologia, antropologia, e outros (PIGNATELLI 2004).

Quando um arquiteto projeta uma casa para uma determinada família, faz

inúmeras reuniões para levantar informações sobre os desejos e hábitos de seu

cliente. No caso de um conjunto habitacional seria muito difícil ouvir todas as

reivindicações de todos os futuros moradores, por isso é muito importante que o

arquiteto se alie a profissionais de outras áreas para que possa ter uma

interpretação mais realista do público para o qual está projetando.

Fazer arquitetura é organizar o espaço para que funções sócio-biologicas sejam

executadas de acordo com os costumes da cultura local. A arquitetura tem a

função de satisfazer às necessidades do usuário (PIGNATELLI 2004).

O programa, que está ligado as necessidades práticas e psicológicas das famílias,

guia o projeto, dá diretrizes de uso dos ambientes e sua distribuição. Em teoria o

programa deveria ser fruto de um rol de informações e dados que deveriam ser

interpretados e avaliados, só assim o programa seria estipulado e em uma última

fase passar pela avaliação do cliente, do usuário e do arquiteto (PIGNATELLI

2004).

Deveriam ser feitas análises sociológicas antes de se fazer o programa. Os

diferentes componentes da família deveriam ser estudados em relação a idade,

sexo, etc. As atividades desenvolvidas na habitação deveriam ser identificadas, e

medidas em relação a grau de independência entre elas e possível coordenação

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em tempo e espaço das mesmas, grau de relação entre as atividades e

possibilidade de usar o mesmo espaço (sobreposição de funções). O levantamento

ainda deve incluir as características ambientais requeridas por cada atividade

(iluminação, ventilação), o tipo de separação entre elas (painéis, desníveis,

paredes, etc.) e por último, os efeitos psicológicos derivados de cada atividade

(PIGNATELLI 2004).

A maioria das necessidades primárias acontece dentro da residência, dormir,

comer, coabitar, cuidar dos filhos, cuidar da higiene do corpo, o abastecimento, o

descanso, o estudo, a reflexão, os jogos e as relações sociais. E os ambientes das

casas deveriam proporcionar tudo isso para seus habitantes (PIGNATELLI 2004).

O ser humano costuma ter rituais cotidianos variáveis nas diferentes fases da vida,

portanto o uso do espaço é modificado em quantidade e qualidade conforme a

idade do usuário. Um bebê vive boa parte de seu tempo em seu quarto, já a

criança de 4 ou 5 anos já expande seus horizontes brincando pela casa. Pignatelli

(2004) separa a vida de um homem em 7 ciclos descritos na tabela 5, onde

conforme a idade aumenta, os ciclos passam a ser mais longos, já que as

mudanças de comportamento são menores.

Interessante ressaltar que com os avanços da medicina cada vez mais temos um

maior número de idosos com uma boa mobilidade e com necessidades especificas.

Por esse motivo o desenho universal12 vem ganhando espaço nas discussões

sobre elaboração de projetos de moradia.

12 “O propósito do Universal Design é simplificar a vida das pessoas de todas as idades e habilidades, projetando produtos, meios de comunicação e ambientes usáveis por muitas pessoas, com pouco ou nenhum custo.” Disponível em: http://www.serpro.gov.br/acessibilidade/duniversal.php Acessado em 07.12.2007

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Ciclo Idade

Nascimento 0-1

Infância 2-6

Adolescência 7-15

Cortejo 16-24

Reprodução 25-35

Maturidade 36-65

Velhice 65 adiante

Tabela 5 – Quadro dos ciclos de vida Fonte: PIGNATELLI, 2004 P. 151 Pignatelli (2004) criou tabela 6 abaixo, para indicar uma metodologia de análise da

habitação de acordo com sete faixas etárias. As casas em branco não significa que

não há utilização, e sim que o espaço tem interesse reduzido ou limitado pela faixa

etária.

As informações sobre o uso do espaço nas diferentes fases da vida são muito

importantes para o projeto da habitação, esta deve atender desde o recém nascido

até o idoso, se adaptando as diferentes necessidades através dos tempos.

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Espa

ço 0 - 1 2 - 6 7 - 15 16 - 24 25 - 35 36 - 65 65 ...

Dor

mitó

rio

uso constante

Necessidade de privacida-de

Uso para relações sexuais

Necessidade de privacida-de contra a invasão dos filhos

Uso pro-longado, necessi-dade tranqüili-dade / enfermidade

Ban

heiro

uso limitado

Necessidade privacida-

de

Renovado interesse pelo cuidado pessoal

Estú

dio

começa a estudar

uso prolonga- do do espaço e necessida-de de privacida-de

renovado o interesse pela leitura e aprendiza-do

S. d

e Ja

ntar

uso durante varias horas do dia

Hab

itaçã

o/ a

cas

a

T.V. T.V. uso prolonga-do para jogos, reuniões, entretenimento, etc

uso prolonga-do e somente com pequenos grupos

T.V.

Vara

nda/

ja

rdim

Uso limitado

Interesse pela jardi-nagem

Observa-ção da natureza

Coz

inha

uso prolonga-do

Escr

itório

inicio dos trabalhos manuais e técnicos

crescente interesse pelos Hobbies

Tabela 6 – Quadro da distribuição de atividades pelas diferentes fases da vida. Fonte: Quadro reproduzido pela autora a partir de informações de Pignatelli 2004 p. 154-155

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Tem-se feito pouca pesquisa sobre as novas necessidades de espaço das

populações urbanas. Continua-se a viver em espaços divididos em social, íntimo e

serviço que já não atendem as necessidades de uma nova forma de vida. Hoje em

dia não há mais tanta oferta de empregados domésticos, e o dono da casa passa a

assumir as tarefas de manutenção da casa. O reflexo disso é o desaparecimento

dos dormitórios de empregados, e o fim da separação entre áreas sociais e de

serviços, com a integração da cozinha com a sala.

Hoje em dia temos diferentes categorias de famílias, ou não-familias, pessoas com

diferentes necessidades espaciais, sejam relativas ao programa ou até mesmo ao

dimensionamento. Julienne e Mandon (apud TRAMONTANO, 1997) dizem que

deveríamos ter a “implantação de um mercado livre de tipologias” que viabilizasse

um tipo para cada grupo com suas peculiaridades. As construtoras deveriam

identificar esses novos nichos de mercado e construir, por exemplo, residências

para idosos seguindo os padrões do desenho universal.

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3. PROJETOS DE HABITAÇÃO MÍNIMA DE 1900 A 1960

3.1 INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO

O capítulo II desta dissertação tem como objetivo aprofundar o estudo de projetos

de habitações mínimas executados entre 1900 e 1960, por meio da analise dos

projetos Weissenhof (Stuttgart), Siemensstadt (Berlim), Narkomfin (Moscou) e

Unidade de Habitação de Marselha (Marselha). O período escolhido corresponde à

consolidação do modernismo, quando o tema da habitação mínima foi muito

estudado tornando-se motivo de congressos internacionais, como o CIAM de 1929,

e exposições de arquitetura, como o Weissenhof (Stuttgart).

Para introduzir os conjuntos a serem analisados fez-se um apanhado geral do que

estava se estudando e criando em relação a célula habitacional durante o período

escolhido. Como seria impossível retratar toda a produção deste período que

corresponde a aproximadamente 60 anos, foram escolhidos alguns projetos mais

emblemáticos.

A análise e levantamento de projetos de habitação mínima do século XX será feita

de acordo com os seguintes parâmetros: soluções espaciais; dimensionamento e

diferenças de projetos nos diferentes paises estudados; programas da moradia

com ou sem auxilio de equipamentos de uso coletivo. O dimensionamento dos

cômodos será feito com informações das plantas disponíveis, onde não houver

escala gráfica ou numérica as camas serão a referencia de medida, partindo do

pressuposto que as camas tenham 2,0m de comprimento.

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3.1.1 Werkbund

No inicio do século XX a Alemanha estava em destaque em relação à arquitetura.

Em primeiro lugar, a Alemanha não tinha grandes tradições arquitetônicas como a

França e a Inglaterra. Em segundo vivia uma industrialização recente e as

estruturas sociais estavam muito ligadas ao passado. Essa relativa falta de

precedentes facilitou a entrada de pessoas com idéias inovadoras, como artistas

de vanguarda e teóricos, no comando de postos diretivos em uma sociedade em

transformação (BENEVOLO, 2006, p. 374). Benévolo (2006, p. 476) ainda ressalta

que o Werkbund era uma instituição estatal e portanto financiada pelo governo.

As experiências no campo da habitação na Alemanha foram muito importantes

para a qualificação dos espaços de morar de baixo custo. Um dos movimentos de

grande importância surgidos no inicio do século XX foi o Deutscher Werkbund que

limitou seu campo de atividade ao domínio das artes e da arquitetura (KOPP,

1990).

Criado em 1907 por Muthesius, Naumann e Schmidt, que tinha como primeiros

membros 12 artistas independentes e 12 firmas de produtos artesanais foi uma

tentativa de aliar o setor da criação com o da produção, criando móveis, objetos

utilitários, dentre outros. Para o Werkbund deveria ser criado um estilo para sua

própria época e não copiar ou imitar estilos do passado.

O movimento era deveras heterogêneo e por esse motivo não estava totalmente de

acordo com a idéia de Muthesius do design para a produção industrial.

(FRAMPTON, 1997 P.132). Logo começaram discussões padronização versus

liberdade de projeto; economia versus arte (BENEVOLO, 2006 p.376).

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Durante a Exposição Deutsche Werkbund em Colônia em 1914, Muthesius fala dos

10 pontos do Werkbund:

“Nos pontos 1 e 2 argumentava que a arquitetura e o design industrial só podem tornar – se importantes pelo desenvolvimento e refinamento dos tipos (Typisierung), e, nos pontos 3-10, abordava a necessidade nacional de produtos de alto nível, que desse modo pudessem ser facilmente vendidos no mercado mundial. No ponto 9, que dizia respeito a produção em série, lia-se uma pré-condição para a exportação é a existência de empresas grandes e eficientes, cujo gosto seja impecável. Os objetos individuais criados por artistas não cobririam nem mesmo a demanda na Alemanha. (...) Essencialmente, a arquitetura tende para o típico. O tipo descarta o extraordinário e estabelece a ordem.” (FRAMPTON, 1997 P.134)

O Werkbund foi uma forma de “encarar” as artes, arquitetura e design com a visão

da “era da máquina”, aliando a arte e indústria. Os integrantes do movimento

acreditavam que os novos meios da indústria seriam capazes de permitir novos

desenvolvimentos artísticos.

A tipificação foi o centro das preocupações do Werkbund, o que tornou possível a

reprodução infinita de um mesmo produto, que foi o mote da industrialização. Essa

tipificação mostrou à população as vantagens, principalmente em relação a custo,

de se ter um produto produzido em série com qualidade igual e preços mais

acessíveis.

A formação de Water Gropius se dá em meio ao Werkbund e da arquitetura

industrial alemã. Já em 1910 inicia o projeto de uma reforma da produção artística,

e durante a guerra se transforma em uma reforma do ensino artístico. Com o apoio

do Grão-duque de Saxônia-Weimar assume a direção da Sachsische Hochschule

fur bildende Kunst (Universidade da Saxônia de artes plásticas) e da Sachsische

Kunstgewerbeschule (Escola da Saxônia de artes e ofícios) de Weimar. Depois a

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Bauhaus surge da fusão destes dois institutos com um programa baseado no

Werkbund (ARGAN, 2005, p. 41).

O Werkbund era uma instituição estatal e portanto era financiada pelo governo

3.1.2 Neues Bauen

Baseado no Werkbund , surge na Alemanha logo após a 1ª Guerra em 1919, o

movimento Neues Bauen (nova construção). O Neues Bauen teve grande

representatividade no cenário da construção civil, buscando soluções para os

novos problemas surgidos com a Revolução Industrial do século XIX. A revolução

política, econômica e social ocorrida na URSS serviu de base para essa nova

arquitetura.

Os arquitetos da Neues Bauen levavam em conta as condições de vida e

aspirações dos usuários, portanto podia-se dizer que para eles “o moderno não era

um estilo e sim uma causa” (KOPP, 1990). Para eles o problema habitacional não

era apenas uma questão de suprir uma demanda, independente da qualidade, o

intuito era humanizar a moradia.

A nova arquitetura (“Neues Bauen”) foi uma forma de liberação social, uma nova

forma de viver mais comunitária e menos centrada nos problemas da família

(KOPP, 1990). Já se começava a ver a sociedade como um todo, o individualismo

perdeu espaço para essa nova visão de conjunto.

Bruno Taut (apud KOPP, 1990) acentuou a importância da habitação na

arquitetura, o que foi um dos pontos importantes do “Neues Bauen”, ao contrário

dos arquitetos tradicionais, que só se preocupavam com as obras monumentais.

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Bruno Taut diz que a maioria do que era construído na Alemanha, no entre

guerras, eram prédios de habitação com uso de fundos públicos que pertenciam à

população, fato que evidenciava a importância deste tipo de construção. Na

verdade ficou claro que a necessidade era de edifícios destinados à moradia e não

grandes equipamentos de uso público como prédios culturais e institucionais.

Os arquitetos do “Neues Bauen” concordavam que a arquitetura deveria se tornar

uma ciência com o objetivo de melhorar a vida da população e transformar a

sociedade. É claro que essas transformações não eram vistas da mesma forma por

todos os arquitetos do movimento (KOPP, 1990). Como diz Teige (2002) a

arquitetura não poderia mais ser considerada como arte, esta passou a ser guiada

pelas necessidades práticas da vida.

A mudança na forma de se enxergar e vivenciar a arquitetura foi muito importante

para uma nova concepção do projeto. Na verdade a arquitetura passou a ser mais

acessível, deixando de ser exclusividade das classes sociais mais elevadas.

Um dos problemas centrais do “Neues Bauen” foi a tentativa de se chegar a um

ideal do que seria necessário para uma existência mínima (Existenzminimum). Mas

essa noção de mínimo não era ligada exclusivamente a questões financeiras e

econômicas, tinha o intuito de se chegar a um mínimo com qualidade. Ernest May

(KOPP, 1990) era veemente quando dizia que o “Neues Bauen” lutava contra a

moradia dita econômica, econômica no sentido de miserável, que tornava a vida de

seus ocupantes desconfortável e insalubre. Ernest May defendia também que as

casas fossem pequenas sim, mas habitáveis, e além do mais, que os aluguéis

fossem compatíveis com a renda de seu público. Por esse motivo estas moradias

não deviam ser construídas pela iniciativa privada, por visarem o lucro a qualquer

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custo, e sim com dinheiro público, o que poderia assegurar certo controle do

mercado imobiliário. O Governo estando responsável pela construção de habitação

de baixa renda, em tese, deveria se preocupar com a qualidade do projeto e da

construção, mas muitas vezes trata a questão habitacional como um simples

problema de quantidade, cumprindo metas a qualquer custo, mesmo que acarrete

prejuízo futuro, como problemas sociais decorrentes da baixa qualidade da

moradia.

Os arquitetos do “Neues Bauen” eram entusiastas dos aspectos técnicos, práticos

e funcionais do projeto, relegando a questão estética de seus trabalhos, a forma

continuava sendo importante, mas como resultado de um processo racional. Como

diz Kopp (1990) o programa, a parte funcional do projeto, é a expressão de uma

análise socioeconômica das necessidades da população, é claro que, para os

arquitetos dessa nova arquitetura, essas necessidades eram as do homem do

futuro que eles idealizavam.

O “Neues Bauen” começa a desaparecer em 1932, vítima da crise econômica

americana deflagrada em 1929 que afetou todo mundo. O nível de desemprego

cresce absurdamente e o número de habitações construídas na Alemanha, por

exemplo, cai para menos da metade, além da diminuição das áreas e do conforto.

Nesse período passou-se a destinar a cada moradia um pequeno pedaço de terra

para que se pudessem cultivar algumas culturas de subsistência, uma pequena

compensação para uma população que vivia em péssimas condições (KOPP,

1990).

As exposições de habitação foram na realidade verdadeiros campos de provas,

onde os modelos eram construídos de verdade, como diz Aymonino (1973) “se

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trata de um manifesto construído”. O principal exemplo disso é o Weissenhof em

Stuttgat (model housing colony -1925) uma das marcas mais significantes deixada

pelo Neues Bauen, onde 17 arquitetos (Bruno Taut, Max Taut, Peter Behrens,

Victor Bourgeois, Le Corbusier, Richard Döcker, Josef Frank, Ludwig Hilberseimer,

Walter Gropius, Mier van der Rohe, Jacobus Johannes Pieter Oud, Hans Poelzig,

Adolf Rading, Hans Scharoun, Adolf Gustav Schneck, Mart Stam) foram chamados

para construir 33 edificações, todas construídas com materiais modernos e usando

ao máximo, técnicas construtivas que incluíssem elementos industrializados (Teig,

2002).

A exposição não tinha apenas o intuito de mostrar uma nova arquitetura, mas sim

uma nova forma de vida expressa pela arquitetura, espaços mobiliados e um novo

tipo de decoração. As formas eram geométricas básicas, sem ornamentação, uma

arquitetura para ser usada e não admirada. As plantas são flexíveis, isto é, o

projeto permite adaptações feitas pelos moradores, e o projeto é elaborado

combinado com a decoração. Muitas das novidades desta exposição estavam

dentro das unidades habitacionais, muitos novos equipamentos e mobiliário

racional, como cozinhas planejadas, como a de Frankfurt, foram apresentadas

durante o evento.

As edificações para a exposição foram construídas com o que havia de mais

moderno na época, estrutura metálica, lajes térmicas, elementos pré-fabricados,

onde todas essas novas técnicas construtivas foram expostas para apreciação do

público.

Todas as construções tinham lajes planas como cobertura, estuque branco nas

fachadas e amplas janelas, aspectos que foram duramente criticados, as lajes por

não serem adequadas ao clima e não respeitarem as tradições germânicas, e as

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grandes aberturas que seriam desagradáveis durante o inverno. (SCHOENAUER,

2000)

3.1.3 Ernest May

Ernest May foi uma figura importante na produção habitacional na Alemanha, e seu

trabalho teve repercussão em toda a Europa. Como diretor do departamento de

construção de Frankfurt, estabeleceu um plano de construção de habitações para

10 anos. Como na época, inicio do século XX, boa parte dos terrenos vazios estava

na mão da iniciativa privada, e os custos destes estavam além do orçamento do

governo, a solução foi construir conjuntos habitacionais nas regiões mais distantes

do centro da cidade, no máximo 45 minutos, essas eram as cidades satélites.

Estas deveriam ser separadas da área central da cidade por cinturões verdes,

planejadas para serem verdadeiros reservatórios de ar fresco para a cidade (Teig,

2002), semelhante ao conceito das Cidades Jardim inglesas de Howard.

O programa de May consistia em construir pequenas unidades uni familiares de

baixo custo, continuando a idéia das cidades-jardim inglesas. May acreditava que a

casa uni familiar era a forma ideal de morar. Em pró de seu ideal procurou formas

baratas de se construir usando ao máximo a estandardização, chegando a um

modelo de moradias uni - familiares construídas em fileiras, como casas

geminadas. Na época os apartamentos de vários pisos não eram comuns mesmo

sendo mais econômicos. Posteriormente por pressão, May concordou em construir

edifícios multi-familiares, reconhecendo que esses apartamentos poderiam ter uma

melhor ventilação e insolação do que as casas em fileiras (TEIG, 2002).

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Em 1914 já existiam muitos assentamentos baseados no principio da

individualização da casa, esse tipo de experiência acabou por reforçar a idéia de

que era impossível se sustentar a casa uni - familiar tanto por motivos estéticos

quanto econômicos e técnicos. O fator principal contra a residência uni - familiar foi

o aumento do custo do solo e infra-estrutura (AYMONINO, 1973).

As conquistas habitacionais de Ernest May foram muito bem sucedidas até a crise

econômica do final dos anos 1920. A falta de verba fez com que o número de

moradias produzidas caísse de 4.000 para 3.650 unidades, fato que aumentou o

preço dos imóveis disponíveis deixando de fora a população mais carente. A

solução encontrada foi a diminuição da área das unidades, Ernest May (apud

Teige, 2002. p. 207-208) estabeleceu que o mínimo para uma família média (um

casal sem filhos) seria de 40m², mas logo em 1936 passou a ser necessário

construir habitações com 36m², e algumas com 30m².

Algumas inovações no projeto de habitações coletivas foram feitas em Frankfurt,

como lavanderias coletivas e salas de secagem (drying rooms), e em alguns casos

foram construídos centros culturais. Outra inovação foram os apartamentos

projetados para solteiros, boa parte dessas novidades era em relação às áreas de

uso coletivo dos apartamentos.

Nas normas de construção de Frankfurt, uma habitação mínima deveria, no caso

de um casal sem filhos, ter um dormitório e uma sala, mas na prática existia um só

ambiente. A norma dizia que para uma família o apartamento deveria ter três

cômodos e uma área de 44m², mas era comum acomodar famílias pobres em

apartamentos com um ou dois cômodos (TEIGE, 2002).

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O método construtivo usado nas casas uni-familiares neste período era o

Plattenbauweise sistema que usava grandes painéis (20 cm de espessura) de

concreto armado que vinham com acabamento da fábrica, eram de fácil montagem

e só havia necessidade de acabamento feito na obra nas junções. Esses painéis

tinham um excelente coeficiente de isolamento térmico, equivalente ao de uma

parede de tijolos de 45cm (TEIGE, 2002).

3.1.4 Viena

Em 21 de dezembro de 1923 o governo da cidade de Viena aprovou uma

resolução que autorizava a construção de 5.000 apartamentos por ano, em 1927

elevou o número para 30.000. A característica marcante destes conjuntos

habitacionais era a verticalização e a presença de pátios que serviam de espaço de

lazer para seus moradores, os famosos Hof13 vienenses.

Esses apartamentos construídos pelo governo, entre 1923 e 1926, tinham área que

variava entre 38m2 e 48m2. A partir de 1927 começaram a ser construídas

habitações de três tipos; unidades de 21m² com o intuito de abrigar pessoas

sozinhas que era constituído de um ambiente só, com banheiro e vestíbulo com um

forno a gás; unidades de 40m² com sala de estar e dois dormitórios, banheiro e

cozinha; e unidades de 57m² com três dormitórios, banheiro e cozinha.

O Karl Marx Hof (fig. 25) foi um importante conjunto habitacional construído entre

1927 e 1930 por Karl Ehn em Viena. São 1.400 apartamentos, para 5.000

habitantes com apartamentos entre 30m² e 60m² de área. Como o próprio nome do

13 Pátio em alemão.

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conjunto diz, Hof em alemão pátio, havia uma área ajardinada interna ao edifício

como se pode ver na figura 26.

Havia toda uma infra-estrutura de apoio, lavanderias, jardins de infância, centro de

convivência para jovens, biblioteca, consultórios de dentistas, consultórios

médicos, farmácia, correio e banheiros públicos com chuveiros. A idéia era que

todos esses equipamentos coletivos tivessem sua manutenção custeada apenas

pelos aluguéis. Interessante ressaltar que a verba para a construção destes

conjuntos habitacionais era derivada dos impostos relativos a construções

executadas pela iniciativa privada.

Fig.25 Karl Marx Hof Fonte: www.greatbuildings.com/buildings/Karl_Marx_Hof.html Acessado em: 29.11.2007

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Na descrição de Aymonino (1973) os Hof Vienenses tinham fachadas despojadas

com certo aspecto de fortaleza. Em relação ao dimensionamento, e programa

mínimo das unidades, era respeitado o que vinha sendo proposto nos outros

paises da Europa, na verdade era uma visão das Cidades Jardim Inglesas, filtradas

através das realizações alemãs das Siedlung.

“A organização (programa) e as dimensões de cada habitação operária não se diferenciam muito dos exemplos análogos no resto do continente (europeu). A galeria continua sendo o instrumento que serve a muitas habitações de dimensões reduzidas com poucas escadas, colocando-as em relação com um mínimo de serviços indispensáveis (torneira de água corrente e vasos sanitários). O bloco fechado com pátios é o organismo arquitetônico fundamental, com fachadas voltadas a rua pública e mostrando-se ao pátio interior.”(AYMONINO, 1973, p. 21)

Fig.26 Karl Max Hof vista do pátio interno para a rua. Fonte: http://www.greatbuildings.com/cgi-bin/gbi.cgi/Karl_Marx_Hof.html/cid_20051213_kmm_img_8144.html Acessado em: 29.11.07

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Nenhum dos conjuntos construídos em Viena poderia ser considerado um modelo

de habitação para todos, muito diferente do pretendido pelo movimento moderno.

Esses conjuntos não partilhavam do ideal moderno de que estes eram apenas uma

solução para a questão isolada do abrigo.

3.1.5 Le Corbusier

Le Corbusier foi um grande ícone da arquitetura e urbanismo que elaborou

importantes estudos e projetos relativos à habitação mínima e industrializada. De

1914 adiante tenta desenvolver um ideal de célula de habitação econômica que

fosse possível de ser produzida em série.

3.1.5.1 Máquina de Morar

A construção passou a ser industrializada e em série, segundo Kopp (1990) as

casas passam a ser construídas como os automóveis, acreditando em uma

diminuição dos custos da moradia, similar com o que aconteceu com os carros.

Deste principio surge a idéia de máquina de morar de Le Corbusier (KOPP, 1990).

Quando Le Corbusier propõe transformar a habitação em uma “máquina de morar”

põe em prática todos os aspectos que permitiriam uma produção em série,

funcional e racional. Esse tipo de moradia rompeu seus vínculos com a sociedade

do local, passando a ser “universal” (PIGNATELLI, 2004).

A idéia de “máquina de morar” seria uma universalização da moradia, uma

globalização dos usos e costumes. Na teoria seria muito interessante para a

industrialização, já que se poderiam estandardizar os componentes da construção.

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Mas na realidade é muito complicado passar por cima das peculiaridades de cada

povo, de cada cultura.

A idéia de Le Corbusier de que a casa deveria ser construída em série como uma

máquina foi extremamente criticada na época, mas segundo Rossi (apud

BENEVOLO, 2006) essa foi a definição precisa e a mais revolucionaria da

arquitetura moderna. Esse pensamento foi inovador para a época porque ainda

não se vivia sobre os efeitos da globalização. A evolução dos meios de

comunicação passou a promover uma maior integração entre as diversas culturas

mundiais.

O edifício racional não faz com que o homem seja tirado de sua realidade para

vivenciar uma nova concepção de vida, a máquina de morar, Argan (2005, p. 125)

diz que a racionalidade da edificação é fruto da “racionalidade da consciência”, isto

é, o homem adaptando sua moradia as suas novas necessidades.

3.1.5.2 Unidade de Habitação de Marselha

A Unité d’habitation de Marseille foi um verdadeiro ícone da construção de habitações

no mundo. Le Corbusier recebeu a incumbência deste projeto em 1945, do

Ministério da Reconstrução que deu máxima liberdade ao arquiteto, que pode pela

primeira vez expressar todas as suas idéias sobre o habitat moderno

(CORBUSIER, 1971).

Na Unité existem apartamentos de vários tamanhos e para atender desde solteiros

até famílias com mais de seis filhos. O resultado final foi fruto de estudos teóricos

formulados durante 20 anos. O edifício usou peças pré-fabricadas com armação

independente que permite ampliações das unidades, tem instalações de serviços

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comuns e leva em consideração a orientação do sol para tirar proveito de um

melhor conforto ambiental (CORBUSIER, 1971).

A Unidade de Habitação de Marselha é a síntese dos ideais modernistas, foi

executada com elementos industrializados, partiu das medidas de um homem

standard, o Modulor, e tentava resolver ao máximo as funções domésticas fora do

apartamento.

3.1.5.3 Casa Domino

Em 1915 Corbusier desenvolve a casa Domino, que era um conjunto de casas

construídas de acordo com o principio da produção em massa e industrialização

em larga escala, acabando com a construção artesanal. Foi um importante símbolo

da idéia de “máquina de morar”.

A casa Domino foi o projeto de casas construídas em série com esqueletos de

concreto, como se pode ver na fig. 27. O baixo custo do concreto e do aço na

época permitia seu uso em larga escala. As armações rígidas eram colocadas em

cima do solo por uma empresa, depois os muros e divisórias eram rapidamente

montados, esse serviço todo não demandava mão de obra especializada. A altura

entre as lajes era pensada junto com a altura dos armários, portas e janelas,

respeitando a uma mesma modulação de 1m x 1m, segundo análise da planta (fig.

28). Diferente do usual, a parte de carpintaria era montada antes das paredes, e

ditava o alinhamento das mesmas (CORBUSIER, 1977).

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Fig. 27 Maison Domino Fonte: http://www.arch.columbia.edu/DDL/cad/A4535/SUM95/domino/domino.html Acessado em: 12.12.2007

Fig. 28 - Planta do pavimento dos dormitórios da Maison Domino Fonte: Le Corbusier 1910 – 1965 p. 24

Na planta acima, figura 28 pode-se observar o segundo pavimento da casa

Domino, onde estão localizados os quatro quartos e banheiro. As divisões entre os

cômodos são feitas com painéis fixos, como citado anteriormente. Muitos destes

painéis eram montados antes da alvenaria de vedação ser construída. As duas

paredes laterais da casa são cegas para que se possam construir casas de ambos

os lados.

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3.1.5.4 Casa Citrohan

A casa Citrohan (para não dizer Citroen) é pensada como um carro, um ônibus ou

cabine de barco, e é uma reação contra a velha casa que, segundo Le Corbusier

(1977) fazia mau uso do espaço. As necessidades da época são identificadas e

passam a exigir soluções condizentes.

Em um panorama onde as necessidades da época são preço e custo baixos,

surgiu a idéia da casa como máquina de morar ou ferramenta. Com o aumento do

preço da construção, as pretensões arquitetônicas foram reduzidas pela metade e

a quantidade de casas também. O modernismo vinha com uma nova concepção de

casas, não apenas em relação a programa quanto à fachada (forma) e a população

tinha certo preconceito por essa simplificação proposta pelos arquitetos modernos,

como se simplicidade fosse sinônimo de pobreza (CORBUSIER, 1977).

Fig.29 Maison Citrohan, Stuttgart, 1927 Fonte: www1.uol.com.br/bienal/4bia/salas/irp_raum01.htm

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Na figura 29 tem-se uma noção da volumetria da casa Citrohan. Nas figuras 30,31

e 32 pode-se observar os três pavimentos da habitação. No primeiro piso estão a

sala, parte dela com pé direito duplo, cozinha, banheiro e quarto de empregada. No

segundo andar há um banheiro, o quarto do casal e um pequeno salão (boudoir)

com vista para a sala. No último piso há dois quartos pequenos, algo em torno de

2,0 m x 2,5 m, dois lavatórios, um vaso sanitário (não foi possível saber se há ou

não chuveiro neste andar) e o solarium.

Fig. 30 - Casa Citrohan planta 1º pavimento Fonte: Lê Corbusier 1910 – 1965 p. 25

Fig.31 - Casa Citrohan planta 2º pavimento Fonte: Lê Corbusier 1910 – 1965 p. 25

Fig.32 - Casa Citrohan planta 3º pavimento Fonte: Lê Corbusier 1910 – 1965 p. 25

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3.1.5.5 Casa Monol

A casa Monol (FIG.33) é uma célula de cimento amianto, feita com placas de 7mm

de espessura, formando fileiras de 1 metro de altura que se enchem de materiais

brutos (entulho, pedras, pedriscos), no lugar de tijolos e materiais comuns de

vedação, envolvendo esse entulho com argamassa, que deixa espaços vazios

nesse enchimento, que dão a essas paredes um caráter de isolamento térmico

importante. Os pisos e forros são feitos de chapas onduladas de cimento amianto

uma verdadeira escora que recebe uma capa de concreto. As chapas arqueadas

são também isolantes térmicas. As janelas são colocadas junto com a montagem

das paredes, a casa usa um corpo único de pedreiros (CORBUSIER, 1977).

3.1.5.6 Inmuebles Villas

Inmuebles Villas foi uma nova proposta de edifícios residenciais urbanos com 120

apartamentos, onde cada unidade tem um terraço jardim, não importa que altura

este esteja do chão. Em conformidade com a tendência, esse edifício teria serviços

comuns como lojas de alimentos cooperativas, pista de Cooper e solarium

(BENEVOLO, 2006).

Com o projeto das Immuebles Villas (prédios-vilas) feito em 1922, Le Corbusier

quis dar a forma a uma habitação modelo, fosse um novo sistema de casas

urbanas. Este é um avanço da idéia de célula habitacional, iniciada com a Casa

Fig. 33 Casa Monol Fonte. BOESIGER, 1994, P. 11

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Citrohan (1920-1922), onde pela primeira vez se tentou resolver o espaço

residencial partindo de uma elevada concepção técnica baseada na facilidade de

reprodução do modelo.

Essa habitação é o resumo dos ideais “corbusianos” de espaço doméstico,

condensando tudo em um paralelepípedo de dimensões mínimas. Os

apartamentos são sobrepostos, com entradas independentes, são na verdade

pequenas casas duplex com pé direito duplo. No interior das unidades percebem-

se pequenos espaços destinados aos serviços minimamente calculados para um

melhor aproveitamento e grandes espaços coletivos que são o lugar central do

espaço habitável. A comunicação entre as diversas células de habitação é feita

por uma passarela aberta sobre o pátio. Muitos conceitos dos Immuebles Villas são

usados como princípios por Le Corbusier na Unité d’habitation de Marseille

(CORNOLDI, 1999).

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Fig. 34 - Plantas do primeiro e segundo pavimento de uma unidade da Inmuebles Vilas Fonte CORBUSIER 1971 p. 26 O grande diferencial deste projeto é o fato de ser praticamente uma reprodução do

espaço de uma habitação uni familiar isolada em um bloco de apartamentos. O

programa é muito semelhante ao da casa Citrohan, sala com pé direito duplo na

área de estar, terraço, cozinha, banheiro e quarto de empregada no primeiro piso e

no segundo pavimento estão os três quartos e banheiro (fig. 34).

Nas figuras 35 e 36 é mostrado como a distribuição dos espaços internos

repercutem na fachada. Fica bem visível a parte da sala com pé direito duplo onde

há a grande vidraça, e a parte do terraço onde há a grande reentrância. Observa-

se também o coroamento diferenciado do edifício, onde ocorrem os equipamentos

de uso coletivo, como solário, pista de Cooper e outros.

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Fig.35 - Fachada da Inmuebles Vilas Fonte CORBUSIER 1971 p. 26

Fig.36 - Fachada da Inmuebles Vilas Fonte CORBUSIER 1971 p. 26

Na vista interior do apartamento (fig 37) do Inmuebles Vilas se pode ter uma noção

do espaço usado em três dimensões. Na parte de cima da figura 37 tem-se a

noção do pé direito duplo, e na parte de baixo da fig. 37 pode-se ter uma idéia da

distribuição dos espaços do primeiro pavimento.

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Fig. 37 Vista do interior da Inmuebles Vilas Fonte CORNOLDI 1999 p. 202

3.1.6 Japão

A tradicional casa japonesa, a parte do movimento inglês das cidades jardim,

também exerceu grande influência no projeto das habitações modernas. Nesse

meio tempo a evolução dos equipamentos, principalmente a calefação central,

permitiu que o projeto da moradia abandonasse a fórmula inglesa e adotasse o

modelo mediterrâneo e asiático, com terraços, balcões, varandas e fachadas

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abertas. O fato de ser possível climatizar os ambientes trouxe uma maior

flexibilidade no desenho da habitação.

Adolf Loos (apud Teig, 2002) diz que se poderia considerar moderno quase tudo da

casa japonesa. A casa japonesa não tem paredes portantes, a cobertura é

suportada por pilares e vigas, com muita luz, divisórias móveis e persianas de

correr, que não são restritas às divisões internas, fazendo parte também da

vedação externa. Não existem janelas, pelo fato das persianas de correr, fixas

horizontalmente, servirem tanto de porta como de janela. As paredes externas são

feitas de materiais translúcidos ou transparentes. O espaço interno é bem flexível,

podendo ser tanto um salão único quanto uma série de pequenos espaços. A casa

japonesa é normalmente sem móveis, móveis inúteis não são tolerados, não

existem cadeiras, nem mesas e nem camas, se come e dorme no chão em

tatames. A existência apenas de mobiliário essencial torna o espaço mais fluido.

Segundo Waswo (2002, p. 63) a imagem da arquitetura japonesa criada pelos

arquitetos do ocidente não são condizentes com a realidade, eles se remetem a

moradias de alto padrão e não as pequenas habitações populares no Japão.

A multi-funcionalidade dos cômodos na casa japonesa chamou a atenção dos

arquitetos modernistas, entre eles Walter Gropius. Não apenas o caráter indefinido

em relação à função das salas de tatame, mas também a escassez de móveis e a

standardização de componentes da moradia, como os painéis deslizantes, os

tatames, armários e outros (WASWO 2002, p. 62).

Muitos profissionais da arquitetura e reformistas sociais, segundo Waswo (2002,

p.62), diziam que essa multi-funcionalidade era uma reminiscência do feudalismo e

deveria ser eliminada. Diziam que comer e dormir no mesmo ambiente era anti-

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higiênico, que a família toda dormindo em um mesmo espaço prejudicava a

privacidade, e a mudança constante do mobiliário de cada cômodo deixava de ser

uma vantagem e passava a ser irracional.

Por iniciativa do governo, os projetos de habitação passaram a ter um espaço que

era uma mistura de cozinha e sala de jantar, a dining- kitchen (sala de jantar –

cozinha) ou DK (WASWO 2002, p. 62). A difusão desse espaço, que separava o

dormir da preparação e consumo dos alimentos, fez com que houvesse a

necessidade de móveis no estilo ocidental, para que fosse compensada a falta de

espaço. Além do mais a evolução dos eletrodomésticos, que tiveram grande

importância no crescimento da economia japonesa após a segunda guerra,

encheram a casa do japonês de objetos. O hábito de sentar no chão e dormir em

tatames quase desapareceu segundo Waswo (2002, p. 62-63).

Na década de 1980 o DK se tornou LDK (living-dining-kitchen), o espaço destinado

a salas de jantar e estar mais cozinha tinha piso não mais de tatame14, agora eram

de madeira, carpete, e outros. Esse espaço agora continha móveis, como sofás,

mesas e cadeiras. Ao invés de 4 salas de tatame, apenas uma no pavimento

térreo, 2 cômodos no pavimento superior com piso de madeira, camas,

escrivaninhas e cadeiras. A sala de tatame tinha funções variadas durante o dia,

essa sim mantinha os costumes japoneses, piso de tatame e poucos objetos, com

a possibilidade de se transformar em quarto de dormir durante a noite (WASWO

2002, p. 63).

14 O tatame tradicional e de palha de arroz prensada revestida com esteira de junco e faixa preta lateral.

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As “modernizações” nos projetos de moradias no Japão começaram na década de

1920. Ocorreram pequenas mudanças como à criação de corredores de

distribuição para os quartos, mas apenas em residências de alto padrão,

adaptações à necessidade de luz e ventilação naturais e instalações sanitárias

(WASWO 2002, p. 64).

Após a segunda guerra, e a grande destruição dos estoques de habitação, é que

começou efetivamente a mudar a forma de morar dos japoneses A maior parte das

moradias era construída em madeira, pelo fato de serem mais leves e sofrerem

menos com os terremotos freqüentes, mas por outro lado mais suscetíveis a

incêndios. Durante os duros bombardeios sofridos no final da segunda guerra

houve muita destruição das cidades no Japão, havendo a necessidade de uma

maciça reconstrução (WASWO 2002, p. 64). Na fig. 38 pode se observar o número

reduzido de edifícios que resistiram aos bombardeios americanos no final da

segunda guerra na cidade de Tókyo.

Fig. 38 Tokyo após bombardeio de 10/03/1945 Fonte: http://www.japanfocus.org/images/463-1.jpg. Acessado em : 17/11/2007.

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A grande destruição das cidades japonesas durante os bombardeios da Segunda

Guerra, fizeram com que as pessoas pensassem mais em relação às técnicas

construtivas usadas na construção de casas. As tradicionais casas japonesas em

madeira se mostraram deveras susceptíveis a incêndios, portanto frágil.

Segundo Waswo (2002, p. 65) assim como na Europa, o Japão começou suas

reformas habitacionais de forma a melhorar as condições físicas da moradia, para

melhorar as condições de saúde da população, e também melhorar o

comportamento15 dentro das casas.

A planta da figura 39 representa bem o estilo da classe média baixa japonesa de

morar no inicio do século XX. Waswo (2002, p. 65) fala da importância em separar

o espaço íntimo da família e o do pai, que era também o local onde se recebia

15 Comportamento nesse caso é em relação à falta de privacidade e problemas morais decorrentes do uso de um mesmo quarto por toda a família.

Fig. 39 Casa de 5 cômodos no Japão na década de 1920.Os números 6, 4.5 e 2 são referentes ao número de tatames de cada ambiente, que são uma referencia de dimensionamento para o japonês. Fonte: WASWO, 2002, p. 66

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visitas importantes. No exemplo da fig. 39, 30% do espaço total da moradia são

destinados a receber, que corresponde a entrada (entry) e sala de visitas (guest

room).

A existência de um quarto de empregada era muito comum, já que famílias de

classe média normalmente tinham serviçais, este ficava entre a entrada e a

cozinha. Esta era no nível do chão diferente do resto da casa que estava a 0,61 m

do mesmo.

A área para a família era extremamente limitada, algo em torno de 10 m² (6

tatames16), neste espaço se comia e dormia, com exceção do pai que dormia na

sala de visitas, a mãe dividia seu futon17 com o filho mais novo. A divisão entre

esses dois espaços era feita por painéis deslizantes, que não tinham bom

isolamento acústico. Não havia espaço para banho, apenas vaso sanitário e

lavatório, banhos eram tomados em banheiros públicos (WASWO, 2002, p. 66).

O fato de a família inteira dividir o mesmo espaço era extremamente perigoso para

a saúde (fácil propagação de doenças), além da falta de privacidade e

promiscuidade. O costume de se dormir toda a família no mesmo espaço não era

exclusividade das famílias mais pobres, as mais ricas compartilhavam do costume.

Mas as informações que vinham do ocidente em relação à salubridade do habito

16 A referencia de medida nas moradias japonesas normalmente á a quantidade de tatames, estes medem algo em torno de 182,88 cm. X 91,44 cm

17 Futon é um tipo de colchão usado pelos japoneses para dormir. Estes tem em torno de 5cm de espessura, recheados de algodão e cobertos com tecido.

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começou a provocar reações da sociedade, passou a se questionar o costume e

começou-se a pensar em eliminá-lo (WASWO, 2002, p. 68).

A privacidade foi um conceito adquirido pelo povo japonês apenas no inicio do

século XX, enquanto que na Europa isso tinha se iniciado no século XVIII

(WASWO, 2002, p. 68).

Após a Segunda Guerra o Japão teve promulgada uma nova constituição, e

passou a ser uma monarquia parlamentarista, nos moldes ingleses. Importantes

reformas de cunho democrático foram executadas a partir de 1946, causando um

período de instabilidade, logo sucedido por uma fase de crescimento econômico

favorecido pela Guerra da Coréia (1950 -1951). Em 1945 a hierarquia familiar foi

democratizada, mulheres e homens passaram a ter os mesmos direitos, e um dos

novos direitos relativos à moradia era o de privacidade. (WASWO, 2002, p. 69). Em

1951 foi devolvida a soberania ao Japão, mas ainda proibido reconstruir sua força

militar. Em 1969 os Americanos abandonaram as bases militares que tinham em

território japonês (LAROUSSE, 1995, p.3310).

O que começou a ser considerado como ideal para a moradia, foi à existência de

um quarto para os pais e quartos separados para cada um dos filhos para que o

senso de autonomia começasse cedo. As divisões entre os dormitórios deveriam

ser de alvenaria e não mais de painéis deslizantes, para que se tivesse maior

privacidade, e entradas independentes por meio de corredores ou hall de acesso.

Outro ponto importante foi separar o local de comer do de dormir, segundo Waswo

(2002, p. 69) fato que dava mais dignidade ao trabalho doméstico e à dona de

casa. O espaço social da casa, antes restrito ao pai, agora poderia ser usado por

todos os integrantes da família.

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Essas novas iniciativas com relação à distribuição espacial começaram a ser

implementadas com sucesso nos edifícios produzidos pela JHC18 nos anos 1950.

As plantas dos apartamentos foram fruto de estudos ergonômicos, onde os

espaços eram calculados e projetados para atender as necessidades dos

moradores. . Os conjuntos habitacionais do JHC não tinham nenhuma

preocupação com lazer dos moradores (WASWO, 2002, p. 81).

Em 1951 o governo Japonês escolhe uma unidade protótipo conhecida como 51-C.

O estudo do professor Yoshitake, da Universidade de Tókio, visava estandardizar a

habitação moderna. Os edifícios, seguiam os moldes das siedlungen alemãs,

edifícios de 3 ou 4 pisos em laminas, sem grande atenção aos espaços coletivos

abertos. Houve evoluções do modelo 51-C, surgindo o 2DK, ainda em 1951, e

posteriormente o 3DK, que são os legítimos standards de hoje, onde existem 2

cômodos com tatames para dormir, um para a cozinha e refeições e um pequeno

compartimento para se fazer a higiene pessoal ( TRAMONTANO, 1994).

A Dining-kitchen japonesa era uma adaptação da cozinha da década de 1920

pensada pela Bauhaus, com armários racionalizados e superfícies de trabalho.

Esse modelo se provou ser um sucesso e foi usado até os anos 1970, tanto em

projetos com dinheiro público quanto privado. Após os anos 1970 o modelo living

dining + kitchen (LD+K) passou a ser adotado, mesmo que para que esse novo

conceito fosse criado houvesse a necessidade da diminuição da entrada, fato que

foi motivo de críticas.

A idéia de que cada filho tivesse seu quarto para que a individualidade fosse

estimulada logo cedo não foi possível de ser executada nos grandes centros. O

18 Japan Housing Corporation

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melhor que se conseguiu em pró da privacidade e individualidade foi dividir os

quartos em feminino e masculino.

No pós-guerra muitos apartamentos com dois cômodos mais cozinha (2DK) foram

produzidos. Durante meados da década de 1960, quando a escassez de

habitações estava mais branda, começaram a produzir os 3DK, onde havia um

cômodo a mais e uma DK mais espaçosa, que servia com mais conforto a

realização das refeições. Mas neste período se desenvolveu outro tipo de crise,

jovens casais de baixa renda com um ou dois bebês que não tinham moradias que

se adaptavam as suas necessidades.

Os primeiros 2DK tinham em media 40,13m², 16% menor que as moradias

produzidas antes da 2ª guerra. Na década de 1950 os tamanhos das unidades

evoluíram positivamente, em 1955 eram 42,92m², em 1965 eram 49,98m² e em

1973 eram 59,92m² (WASWO, 2002, p.73).

O exemplo da fig. 40 é o primeiro modelo de 2DK proposto pelos arquitetos

japoneses, e a fig. 41 apresenta o 2DK da JHC, com sutis diferenças na dining –

kitchen e no tamanho da varanda. Os dois quartos tem a mesma quantidade de

tatames, 4,5 e 6. A principal diferença, no 2DK da JHC, é que há local para se

tomar banho dentro do apartamento. Nas unidades produzidas pelo governo áreas

para banho foram aparecer apenas próximas aos anos 1970.

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Fig. 40 Primeiro modelo do 2DK de 1951 Fonte: WASWO, 2002, p.72

Fig. 41 Modelo do 2DK usados pelo JHC em 1955 Fonte: WASWO, 2002, p.74

Nas figuras 42 e 43 mostram respectivamente evoluções dos modelos 2DK e 3DK.

Os quadriláteros vermelhos delimitam os 2 cômodos, no caso do 2DK e os 3 no

3DK. O quadrilátero azul delimita as dining-kitchen.

Fig. 42 Planta do 2DK produzido em 1975 Fonte: WASWO, 2002, p. 83

Fig. 43 Planta do 3 DK produzido em 1975 Fonte: WASWO, 2002, p. 83

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No final do século XX do estilo japonês de morar restou uma sala de tatame e suas

portas de correr, os outros cômodos, segundo Waswo (2002, p. 124), passaram a

ser de acordo com os padrões ocidentais de costumes e seus móveis. A autora

acredita que em algumas gerações as salas em estilo japonês venham a

desaparecer.

A maior adaptação da sociedade japonesa a uma nova forma de morar, segundo

Waswo (2002, p. 126) foi o fato de não mais se sentar no chão. O fato do povo

japonês passar a usar móveis teve um custo espacial, os espaços não tinham sido

projetados para abrigar mobiliário, se tornando entulhados19.

A partir dos anos 1980 começou-se a corrigir a distorção entre a área necessária e

a disponível. Segundo Waswo (2002, p. 128) o tamanho das habitações no Japão

cresceu 54% entre 1963 e 1998, diminuindo a diferença relativa à área entre o

Japão e os paises da Europa ocidental.

Os modelos de plantas 2DK e 3DK não eram fixos, como se pode observar nas

figuras 44, 45, 27 e 28, existem variações com relação a disposição dos ambientes.

Esses modelos tinham fixo apenas o programa e dimensões máximas, restrições

impostas pelo governo para controlar o mercado da construção civil.

Analisando a estrutura da planta, tomando como base os projetos presentes nas

figuras 44 e 45, os espaços destinados a higiene pessoal são fragmentados, o

vaso sanitário esta sempre segregado da área do lavatório e de banho. Toda a

19 A mobília em uma moradia típica ocidental ocupa entre 40% e 50% do espaço da mesma. (WASWO, 2002, p. 128)

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circulação do apartamento é feita pelo espaço destinado a cozinha, e todos os

cômodos são voltados para ela, com exceção de um cômodo de tatame na figura

45. Nos dois modelos de apartamentos, o 2DK e o 3DK, notam-se a existência de

um hall de entrada que resguarda a visão do interior da unidade. Na figura 44 e 45

observa-se que duas das salas de tatame têm ligação entre elas. Interessante a

marcação de locais específicos para armazenamento (storage).

Fig.44 - Modelo Japonês 2DK Fonte: www.yamasa.org/acjs/português/esl.html Acessado em: maio de 2007

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Fig. 45 - Modelo Japonês 3DK Fonte: www.yamasa.org/acjs/português/esl.html Acessado em: maio de 2007

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3.2 ESTUDOS DE CASOS

3.2.1 Siemensstadt (Berlim - 1927)

Em 1927 começaram os trabalhos de Siemensstadt (Berlim), esse

empreendimento foi construido entre os bairros de Charlottenburg e Spandau, no

Nordeste de Berlim, próximo ao distrito industrial Siemens-Schuckert e tinha o

objetivo de ser um conjunto habitacional para os operários de uma das fábricas da

Siemens.

Hans Scharoun fez a implantação do conjunto e os prédios foram projetados por

ele mesmo e pelos arquitetos Hugo Häring, Walter Gropius, Henning, Bartinge F.

Forbat. Todo esse complexo habitacional continha 1.700 apartamentos com áreas

entre 48m² e 72m², e os prédios tinham entre três e quatro pavimentos (TEIGE,

2002).

Esse conjunto de edificações tinha, como era usual na habitação de baixa renda

modernista, infra-estrutura comum, como jardim de infância, centros de saúde,

lojas e até mesmo um sistema exclusivo de calefação (FORSTER, 2006).

A edificação a ser analisada é a de Hans Scharoun. Nas figuras 46 e 47 percebe-

se pelas fachadas as diferentes plantas existentes em um mesmo bloco de

apartamentos e a presença das varandas.

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Na figura abaixo (fig. 48) percebe-se que o apartamento tem seu programa em um

só piso, com sala, pequeno hall de entrada, cozinha (independente da sala),

banheiro, dois dormitórios (casal e solteiro com 2 camas) e varanda. Pela análise

do desenho esse deve ser o maior modelo de planta do Siemensstadt (Berlim) com

72m² e cada pavimento tem duas unidades servidas por uma escadaria. As áreas

destinadas a banheiro e cozinha ficam do mesmo lado da edificação, e separadas

Fig. 47 - Berlim Siemensstadt (Berlim) projeto de Hans Scharoun Fonte: http://www.capitalieuropee.altervista.org/1/132.html Acessado em 05.12.2007

Fig.46 - Berlim Siemensstadt (Berlim) projeto de Hans Scharoun Fonte: http://www.capitalieuropee.altervista.org/1/132.html Acessado em 05.12.2007

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a uma distancia aproximada de 2,75m, espaço da sala de jantar. No caso

analisado, as três peças essenciais do banheiro, vaso sanitário, banheira e

lavatório se encontram no mesmo espaço, diferente de muitos exemplos onde há

um espaço exclusivo para o vaso.

Fig. 48 - Um dos modelos de planta da Siemmenstadt projeto de Hans Scharoun Fonte: TEIGE, 2002 p. 203 Na figura 49 é apresentado o projeto do Siemenstadt digitalizado e com as cotas

referentes as medidas internas dos ambientes, e legenda com o nome dos

cômodos presentes.

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Fig. 49 - Planta do apartamento Siemmenstadt digitalizada FONTE: Elaborado pela autora a partir do desenho da fig. 31.

Um ponto importante a ser levantado é que todos os cômodos da habitação têm

janelas, havendo iluminação e ventilação natural por toda parte. Outro é o fato de

muitos componentes da construção como as lajes e painéis de vedação são

standardizados.

O progresso das reformas relativas à habitação e a evolução do jeito moderno de

morar podem ser observadas nas exibições feitas na Europa. Esses eventos

mostraram ao mundo inovações no campo dos materiais, técnicas construtivas e

uma nova arquitetura (TEIG, 2002).

LEGENDA 1 Sala 2 hall 3 Cozinha 4 Dormitório 1 5 Dormitório 2 6 Dormitório 3

7 Circulação 8 Circulação vertical 9 WC 10 Banheiro 11 Varanda

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3.2.2 Wohnblock Wiessenhof (Stutgart - 1927)

O arquiteto alemão Mies van der Rohe foi responsável pela escolha dos

profissionais e também por uma das edificações do complexo “Weissenhof

(Stuttgart)” construído em Stuttgart para a exposição do “Werkbund”. O Weissenhof

foi um importante show room das inovações pregadas pelo Deutcher Werkbund, foi

uma forma de demonstrar com exemplos construídos as novas possibilidades e

ganhar a confiança do público. A verba para este complexo de edifícios veio do

governo alemão, visto que o Werkbund era uma instituição estatal (BENEVOLO,

2006, p. 476)

Nesse conjunto habitacional Mies Van Der Rohe começa a resolver a questão

entre forma e estrutura, com a ajuda da estrutura metálica, usada pela primeira vez

pelo arquiteto segundo John Zukowsky (1986). As paredes externas são de blocos

de concreto cobertas por estuque. Na realidade o sistema estrutural baseado no

aço permite maior flexibilidade dos espaços.

O projeto de Mies Van der Rohe, é um edifício articulado que permite que não haja

muros no exterior e as divisões internas das unidades são flexíveis, com exceção

da cozinha e banheiro, os espaços não têm função definida, permitindo uma maior

liberdade dos moradores. O único aspecto restritivo são os caixilhos, já que a

posição destes não pode ser alterada de acordo com as vontades de cada

morador, já que compõem a fachada. As janelas são grandes e contínuas

permitindo uma boa penetração da luz solar dentro dos apartamentos. As unidades

foram um exemplo de organização racional dos espaços segundo Giedion (1954).

Na planta abaixo, fig. 50 observa-se apartamento de dois dormitórios, banheiro,

cozinha, varanda, sala e despensa, o que não era muito comum nos projetos de

habitação mínima. Interessante ressaltar que pela observação da planta (fig. 50)

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percebe-se uma grande área destinada ao armazenamento, como toda a área de

corredor ladeada por armários, existência de despensa e armários na sala. No

projeto analisado percebe-se que o corredor faz a ligação da entrada da unidade

com quartos, cozinha, banheiro e sala, área considerável para um apartamento

desse tamanho. Há também uma porta que liga os dois quartos, portanto pode-se

usar um dos dormitórios como passagem, mas há a alternativa de se entrar em um

dos quartos pela sala. Nesse caso todos os ambientes têm iluminação e ventilação

naturais, havendo janelas apenas em duas das faces do apartamento.

Fig. 50 - Planta do conjunto habitacional Weissenhof (Stuttgart) projetado por Mies Van der Rohe Fonte: Benévolo, 2006, p. 461 Na figura 51 pode se observar a planta do Weissenhof digitalizada, com as cotas

das dimensões internas do apartamento. Uma legenda com os nomes dos

cômodos e números correspondentes, esclarece a função de cada espaço.

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Fig. 51 Planta do apartamento Weissenhof digitalizada

FONTE: Elaborado pela autora a partir de Benévolo, 2006, p. 461

Na fig. 52 abaixo, observam-se que as grandes aberturas dos quartos e cozinhas

são iguais e o banheiro tem um módulo menor de janela. Pela fachada pode-se

notar que três dos pavimentos tem apartamentos nos moldes da planta da fig.50.

No último andar e pavimento semi-enterrado as janelas menores evidenciam uma

outra distribuição ou uso dos espaços.

LEGENDA 1. Sala 2. hall 3. Cozinha 4. Dormitório 1 5. Dormitório 2 6. Dormitório 3

8. Circulação 9. Circulação vertical 10. WC 11. Banheiro 12. Varanda

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3.2.3 Narkomfin (Moscou – 1928/1930)

No inicio dos anos 1920 o governo da URSS promoveu uma série de competições

para o desenvolvimento de habitações coletivas. Um importante exemplo de

habitação de dimensões mínimas foi o Conjunto habitacional de Narkomfin

construído em Moscou no final da década de 1920.

Em 1928 o Stroiko, (Comitê de Construções Estatais) cria uma linha de pesquisa,

liderada por Ginzburg, que em 1929 cria um tipo de apartamentos mínimos de

27m² ou 30m², chamados de célula F, situados em grandes blocos com diversos

serviços coletivos. Esses apartamentos eram menores que as unidades da

Siemensstadt de Berlim (48m² a 72m²), mas semelhantes ao que era produzido por

Ernest May (40m² a 30m² ) em Frankfurt.

Segundo Florence (2005) o modelo tradicional da casa burguesa com

apartamentos monofamiliares cede terreno à casas comuns. Este espaço é

concebido por um estilo de vida integralmente comunitária cuja evolução leva ao

Fig. 52 - Fachada do edifício de Mies Van der Rohe para a o Weissenhof (Stuttgart). Fonte: http://archiguide.free.fr/PH/ALL/Stu/StuttgartWeissMies.jpg Acessado em: 05.12.2007

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desaparecimento progressivo dos serviços essenciais como banheiro e cozinha,

sendo substituídos por equipamentos de uso coletivo.

Apenas dois exemplares seguindo as pesquisas da União Soviética foram

construídos, os desenvolvidos por Moisei Ginzburg e Ignaty Milinis entre 1928 e

1930, um deles foi o Conjunto habitacional de Narkomfin em Moscou (fig. 53).

O projeto de Ginzburg mostram uma unidade habitacional composta de 4

construções: o edifício residencial; um conjunto social (uma unidade funcional

comunitária autônoma, equipada com um ginásio e um refeitório, ligados por uma

passagem coberta); uma escola maternal e uma construção auxiliar ligada a

serviços comuns como uma lavanderia, uma oficina de reparos e equipamentos

técnicos (FLORENCE, 2005).

A unidade residencial tem cinco andares sobre pilotis e é constituída por células de

habitação modulares e dotadas de tipologias diferenciadas. As células são servidas

por duas ruas tipo corredor no primeiro e no quarto andar (FLORENCE, 2005). Um

dos chamarizes do projeto, estas “ruas” eram espaços semi-públicos de uso

múltiplo, que inspirou as “ruas” internas e os apartamentos intercalados de Le

Corbusier na Unidade Habitacional de Marselha. Diferente de Le Corbusier, Moisei

Ginzburg e Ignaty Milinis revestiram a lateral dessas ruas internas de vidro, o que

permite que esse espaço seja iluminado com luz natural, o que fica visível na

volumetria da fig. 53, na foto da fachada fig. 54 e na imagem do interior da “rua”

interna na fig. 55 (FORSTER, 2006).

Segundo Florence (2005) o fator tecnológico tem uma função importante. A adoção

de técnicas construtivas experimentais, a estandardização dos elementos

construtivos como pilares, portas, janelas e vigas, fazem desta construção um

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modelo de referencia para o plano de modernização da industria da construção

soviética que está nascendo.

Fig. 53 - Volumetria - Narkomfin (Moscou) semi-collectivized housing complex Fonte: http://www.archi.fr/DOCOMOMO-FR/Narkomfin (Moscou)-fr.htm Acessado em: 30.04.07

Fig. 54 - Narkomfin (Moscou) semi-collectivized housing complex Novinsky boulevard 25 (korpus B) Moscow 1928 - 1930 Fonte: www.maps-moscow.com/index.php?chapter_id=181&data_id=30&do=view_single Acessado em 30.04.07

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Fig. 55 - Foto da “rua” interna Fonte: www.archi.fr/DOCOMOMO-FR/Narkomfin (Moscou)-fr.htm Acessado em: 30.04.07

Fig. 56 Planta - Narkomfin (Moscou) semi-collectivized housing complex Fonte:www.archi.fr/DOCOMOMO-FR/Narkomfin (Moscou)-fr.htm

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Fig. 57 Planta do apartamento Narkomfin digitalizada FONTE: Elaborado pela autora a partir do desenho da fig. 37.

Na figura 56 acima se pode ver um dos modelos de plantas do conjunto de

Narkomfin (Moscou), o tipo analisado é duplex, a sala com pé direito duplo e

cozinha ficam no piso onde acontece a entrada do apartamento e no segundo

ficam os dois dormitórios, banheiro e w.c. Neste caso o lavatório e a banheira ficam

em espaço diferente do vaso sanitário, este tem um cômodo exclusivo. Na figura

57 é apresentada a planta do Narkomfim digitalizada com as medidas internas e

legenda com os nomes dos cômodos.

LEGENDA 1- Sala 2- hall 3- Cozinha 4- Dormitório 1 5- Dormitório 2 6- Dormitório 3

7- Circulação 8- Circulação vertical 9- WC 10- Banheiro 11- Varanda 12- Despensa