Nacionalização Do Ensino Catarinense

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    Dorval do NASCIMENTO

    123Revista Brasileira de Histria da Educao, n 21, p. 123-143, set./dez. 2009

    Nacionalizao do ensino catarinensena Primeira Repblica (1911-1920)

    Dorval do Nascimento1*

    Resumo:

    O presente texto discute as medidas adotadas pelos governosestaduais no mbito do ensino, que visavam nacionalizar as

    populaes de origem tnica estrangeira em Santa Catarina,no perodo situado entre a Reforma Orestes Guimares em1911 e o contexto histrico da Primeira Grande Guerra. As

    medidas ociais implicaram posicionamento do Estado ante adiversidade tnica e cultural existente nas reas de imigrao,

    buscando homogeneizar um espao caracterizado por prticasque armavam a diferena cultural.

    Palavras-chave:

    Santa Catarina; Primeira Repblica; nacionalizao;diversidade tnica e cultural.

    * Doutor em histria (Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS). Pro-fessor do Programa de Ps-Graduao em Educao (Universidade do Extremo SulCatarinense UNESC). Pesquisador do grupo de pesquisaIdentitare Investigaoem Identidades e Educao.

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    Nationalization of teaching in SantaCatarina during the First Republic

    (1911-1920)

    Dorval do Nascimento

    Abstract:

    This paper discusses the political measures related to thepedagogy adopted by State governments in Santa Catarina,which intended to nationalize different ethnic groups during the

    period between the Orestes Guimares reformation in 1911 andWorld War I. The ofcial measures implied a clear position of theState facing ethnic and cultural diversity in the areas occupied

    by immigrants in order to homogenize a place characterized bypractices that showed cultural differences.

    Keywords:

    Santa Catarina; First Republic; nationalization; ethnic andcultural diversity.

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    Diversidade, identidade e diferena so conceitos que aparecem cominsistncia no discurso pedaggico contemporneo, expressando umamodicao nas relaes sociais no mundo atual, aquele da modernidadetardia (Giddens, 1991; Hall, 2003). Buscar entender como o diferente eratratado em um outro perodo histrico, o da Primeira Repblica, quandooutras relaes com a diferena cultural foram estabelecidas e um outroimaginrio relativo diversidade era armado, pode nos ajudar a situaras relaes de identidade na contemporaneidade.

    O objetivo desse texto discutir as medidas que foram colocadasem prtica pelos governos estaduais em Santa Catarina e que visavamnacionalizar as populaes de origem estrangeira, especialmente alem,tendo o ensino primrio como principal campo de atuao, no perodosituado entre a Reforma Orestes Guimares em 1911 e os acontecimentosrelacionados Primeira Grande Guerra. O corpusdocumental da pes-quisa so as mensagens dos governadores apresentadas ao CongressoRepresentativo catarinense no perodo citado. conhecido o cuidado queo/a historiador/a da educao deve ter ao lidar com documentos ociais,emanados do poder. Entretanto, na medida em que as fontes documentaisda pesquisa so representaes sociais que chegaram at o pesquisador(Chartier, 2002; Ory, 2004; Pesavento, 1995), cacos do passado, e, nessecaso, representaes que possuem grande dominncia social e cultural,tornam-se importantes, por suas caractersticas, para se reetir sobre asformas adotadas pelo poder estadual para lidar com a diversidade tnica

    e cultural do Estado, o que nos propomos a tratar nas pginas seguintes.Trabalhar-se-, neste texto, com o que Kreutz (in Mller,1994, p. 29)chama de documentao do nacionalizador, porm buscando nas entre-linhas e discusso das fontes representaes sociais que circulavam noperodo estudado e que ajudem na compreenso do fenmeno.

    Tradicionalmente, o tema da nacionalizao do ensino est vinculadoao Estado Novo e as dcadas de 1930 e 1940, quando o Estado brasi-

    leiro intervm nacionalmente nas experincias escolares comunitriasdas reas de imigrao. H inmeros trabalhos publicados sobre o temada nacionalizao no perodo do Estado Novo (Kreutz in Mller 1994,pp. 27-29; Fiori, 1975; Monteiro, 1984). No entanto, a anlise das medi-

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    das de nacionalizao no perodo histrico anterior ao Estado Novo, comotratado neste texto, pode contribuir para uma abordagem de conjunto daproblemtica, anando o instrumental de anlise e o conhecimento desseprocesso histrico.

    A reforma de 1911 e a nacionalizao do ensino

    O ensino pblico catarinense foi objeto de uma ampla reforma nogoverno de Vidal Ramos, que assumiu o governo de Santa Catarina em 28de setembro de 1910 tendo um plano de ao que se resumia em Viaoe Educao (Fiori, 1975, p. 91; Santa Catatina, 1911). A Constituiorepublicana de 1891 estabelecia a competncia concomitante entre go-verno federal e estadual em matria de educao. Prevalecia, porm, naprtica, a interpretao vinda desde o ato adicional de 1834, segundoa qual competia a Unio responsabilizar-se pela escola secundria esuperior, enquanto, aos estados, caberia a administrao e ampliao daescola primria e tcnico-prossional (Nagle, 1997, p. 266).

    As aes de governo iniciaram-se com a reorganizao da EscolaNormal e a adoo de uma srie de leis e regulamentos que implemen-taram um efetivo sistema de ensino pblico. Desde o incio do sculo,as elites republicanas catarinenses armavam o desejo de reorganizar oensino a partir do modelo adotado pela provncia de So Paulo em 1893

    com o Governo Bernardino de Campos (Fiori, 1975, pp. 92-94; Nbrega,2000). Os governantes paulistas, desde a proclamao da Repblica, in-vestiram em um sistema de ensino modelar, estabelecendo a escola comosinnimo de progresso e modernidade republicanos. Em vista dessesinvestimentos, que visavam manuteno e ampliao da hegemoniado estado na federao, o ensino paulista tornou-se o modelo que denea instaurao de reformas do ensino pblico em vrias unidades da Unio

    (Carvalho, 2000, p. 225). A contratao do professor paulista OrestesGuimares, colocado disposio do governo catarinense pelo governodo estado de So Paulo, estreitou os vnculos entre a reforma do ensinoem Santa Catarina e as aes que se haviam tomado em So Paulo.

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    Um dos centros principais da reforma de 1911 foi a criao de umnovo tipo de instalao escolar, os grupos escolares, amplas construesbem iluminadas e arejadas que se constituam em espao adequado parao novo tipo de ensino que a reforma considerava ideal: ensino simult-neo, graduado, em turmas homogneas, com lies que se originavamdo chamado mtodo intuitivo ou lies de coisas. A partir de 1911,com a reforma do Colgio Municipal de Joinville e sua transformaoem grupo escolar, se construram grupos escolares nos principais centrosurbanos de Santa Catarina. O Quadro 1 demonstra o esforo do governoestadual em estabelecer os grupos escolares como novo lcus do ensinomoderno que a reforma procurava divulgar. Havia, at 1917, gruposescolares em Joinville, Laguna, Florianpolis, Lages, Itaja e Blumenau.

    Quadro 1: Grupos escolares (SC)ANO NMERO MATRCULA1911 01 2401912 03 571

    1913 07 2.0121914 07 2.2331915 07 2.0671916 07 1.9661917 07 2.2611918 09 3.7301919 10 3.8111920 11 3.663

    1921 11 3.5831922 11 3.7401923 11 3.590

    Fonte: Santa Catarina. Mensagens dos governadores apresentadas ao Congresso Repre-sentativo: 1911-1914, 1915, 1916, 1917, 1918, 1920, 1921, 1922, 1923, 1924.

    A repercusso da reforma sobre as populaes de origem estrangeirano estado foi, entretanto, bastante limitada. Em relao problemtica

    da assimilao de populaes de origem europeia no estado, a aodos grupos escolares teve repercusso basicamente nos municpios deJoinville e Blumenau, sem atingir a maior parte dos ncleos de descen-

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    dentes, que eram majoritariamente rurais. Mesmo em Joinville, o grupoescolar dava continuidade s aes implementadas por Orestes Guimaresque, quando diretor do colgio municipal, adotou o ensino simultneoda lngua portuguesa e alem, visto assim ser necessrio por se compora matricula de quase dois teros de crianas que primitivamente desco-nheciam o idioma ptrio (Santa Catarina..., 1908, p. 20).

    A maior parte da populao do estado que tinha acesso ao ensinohabitava no meio rural, inclusive os descendentes de imigrantes, e seservia, quando podia, de uma rede de escolas extremamente diversicada,denominadas, neste texto, de comunitrias e municipais (Kreutz, 2000;Dallabrida, 2003, 2005; Otto, 2006). Desde escolas mantidas pela prpriacomunidade, com ou sem subveno estatal, escolas municipais, escolasmantidas pelas parquias evanglica ou catlica, at escolas subvencio-nadas por rgos dos governos italiano, alemo ou polons, existiam umconjunto extremamente representativo de escolas, e mesmo majoritriono perodo em que estamos tratando, que a reforma no atingiu ou, pelomenos, atingiu muito modestamente. Nessas escolas, dependendo docaso, mas certamente na grande maioria delas, o ensino era ministradoem lngua estrangeira e a partir de contedos que valorizavam as carac-tersticas dos pases de origem dos alunos, em especial os contedos degeograa e histria.

    O Quadro 2, ainda que incompleto, nos d uma ideia aproximada daimportncia que possua essa rede diversicada de escolas comunitrias

    e municipais.A escola pblica primria, existente nos pequenos municpios e narea rural, eram escolas isoladas, que funcionavam em locais imprpriose acanhadas, com ensino individual ou mtuo e grupos heterogneos dealunos. Esse tipo de escola, majoritria no conjunto de matrculas dasescolas estaduais, foi pouco afetado pela reforma, ainda que tivesse porobjetivo tambm a homogeneizao do ensino. Em 1922 havia 8.297

    alunos matriculados na zona urbana, exceto alunos da Escola Normal,contra 22.655 matriculados em escola da zona rural (Santa Catarina,1923, p. 28). No fechamento de seu governo, quando faz uma avaliaodo quadrinio 1910-1914, o governador Vidal Ramos reconhece que

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    para as escolas isoladas os benefcios da reforma sero evidentementemais demorados. E acrescenta de um momento para outro no se lhespodem dar installaes convenientes nem professores reconhecidamentecapazes (Santa Catarina, p. 156). Em sua mensagem de 1912, em queapresentada a reforma ao Congresso Representativo, Vidal Ramos jus-tica a fundao de grupos escolares nas cidades principais e, ainda quearme que no se deveria descuidar das escolas isoladas destinadas aservir centros pouco populosos, os benefcios da reforma demorariama alcan-las (p. 44).

    Quadro 2: Matrculas1em escolas estaduaise escolas comunitrias e municipais

    ANO ESCOLAS ESTADUAIS ESCOLAS COMUNITRIAS E MUNICIPAIS1914 8.874 18.4181915 10.011 -1916 10.413 18.0811917 12.306 -

    1918 14.932 -Fonte: Santa Catarina. Mensagens dos governadores apresentadas ao Congresso Repre-sentativo de 1915 a 1920.

    As diculdades com as instalaes das escolas isoladas, para seremsuperadas, requereriam um conjunto de investimentos que os governantesestaduais armavam, a cada ano, no possuir. Assim, em 1921, HerclioLuz prev que seriam necessrios cerca de trinta anos para que as escolasisoladas estivessem tambm convenientemente installadas em prpriosestaduaes e arma ainda que Falta-nos, porm, cuidar da installao dasescolas isoladas. Verdade que so em nmero superior a quinhentas, e queo provelas a todas, de prompto, de edifcio apropriado representa despesaa que o Estado no se poderia abalanar (Santa Catarina, 1921, p. 27).

    1. importante ressaltar que esses dados e os seguintes se referem a matrculas e no frequncia. As taxas de frequncia das escolas estaduais, pelo que se depreendedasMensagens, cavam entre 65 e 75%, conforme o perodo. No h informaesdisponveis sobre a frequncia em escolas comunitrias e municipais.

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    Outra diculdade recorrente referia-se ao nmero de professores in-sucientes para as escolas isoladas, o que fazia com que houvesse muitasvezes escolas criadas, porm vagas. Em 1912, por exemplo, de 213 escolasisoladas existentes, estavam preenchidas 178, restando 35 vagas (SantaCatarina, 1913, p. 29). O problema que os professores considerados id-neos pelos dirigentes estaduais, isto , conhecedores do novo mtodo deensino que se implantava, formados na Escola Normal ou escolas comple-mentares, com experincia nos grupos escolares, se recusavam a trabalharno interior, longe de sua cidade e em situao precria de sobrevivncia.

    Para as escolas ruraes, no s dessas zonas [Oeste e Planalto], como tambm

    dos outros municpios, por ora, em regra, s podemos contar com professores

    no diplomados, como demonstra o facto de, nas 466 escolas isoladas presen-

    temente providas, incluindo nellas as que cam em vrias sedes de municpios,

    haver apenas 72 docentes com curso feito na Escola Normal, isto , apenas 15%

    do nmero total de professores (Santa Catarina, 1921, pp. 24-25).

    As escolas isoladas, ainda que precrias, eram a maior rede de es-colas pblicas existentes no estado, como ca demonstrado no quadro aseguir, ao se comparar o nmero de matrculas nas escolas estaduais e,dentre elas, nas escolas isoladas.

    A precariedade das escolas isoladas e sua pequena difuso peloestado, ainda que importante, em contraste com a rede de escolas comu-

    nitrias e municipais, dicultava a oferta aos descendentes de imigrantesde um ensino em lngua nacional que fosse vantajoso em relao queleoferecido no idioma da ptria de origem. O oferecimento de escolas p-blicas, em concorrncia com as escolas particulares/comunitrias, poderiaoferecer uma vantagem para as comunidades imigrantes, forando a suanacionalizao, com o apelo da gratuidade e a possibilidade dos alunosaprenderem a lngua portuguesa2, cada vez mais necessria nas relaes

    2. Trabalhando com a nacionalizao do ensino em relao s escolas alems no RioGrande do Sul, Lcio Kreutz analisa a abertura de escolas pblicas nas reas de

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    comerciais e sociais, o que no ocorreu a no ser a partir da PrimeiraGrande Guerra, como veremos.

    Quadro 3: Escolas isoladas (1907-1920) (SC)

    PERODONMERO DE

    ESCOLASCRIADAS

    NMERO DEESCOLAS

    PROVIDAS

    MATRCULASEM ESCOLAS

    ISOLADAS

    TOTAL DEMATRCULASEM ESCOLASESTADUAIS

    1907 - 144 6.080 -1908 - 155 6.707 -1909 - 178 7.792 -

    1910 - 187 8.014 -1912 - - 11.721 -1914 - 189 6.394 8.8741915 189 188 7.687 10.0111916 - - - 10.4131917 259 205 9.138 12.3061918 - 269 11.537 16.8021919 382 16.069 20.892

    1920 433 21.728 26.734Fonte: Santa Catarina. Mensagens dos governadores apresentadas ao Congresso Repre-sentativo de 1911 a 1923.

    A reforma de 1911, promovida por Vidal Ramos, modernizou oensino catarinense, adequando-o s necessidades das elites republicanasestaduais, e ainda que buscasse atacar, segundo Neide Almeida Fiori, o

    problema do analfabetismo em geral e da assimilao dos grupos tnicosestrangeiros (1975, p. 95), as aes governamentais nesse ltimo quesitoforam de pequena monta at a ecloso da Primeira Grande Guerra. Nesseepisdio, a presena de populaes de origem estrangeira no estado,especialmente alems, ao se tornar um problema poltico nacional de-sencadeou uma srie de medidas que levou o estado a intervir nas reascoloniais e em seu ensino.

    colonizao como estratgia do Estado para a nacionalizao daquelas populaes(Kreutz, 1994).

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    Medidas nacionalizadoras no contexto da PrimeiraGrande Guerra

    O torpedeamento do vapor brasileiro Paranpor submarinos ale-mes e o rompimento de relaes diplomticas do Brasil com a Alemanhaem 11 de abril de 1917 despertou, em Santa Catarina, manifestaes dearmao da brasilidade em um estado de composio populacionalmultitnica. Como resultado das imigraes da segunda metade do s-culo XIX, formou-se, em Santa Catarina, diversos ncleos originrios de

    populao estrangeira que, nesse perodo, guardavam ainda vnculos coma ptria de origem, atravs do uso da lngua e demais tradies culturais,inclusive populaes de origem alem, mais numerosas no Vale do Itaja enorte do estado. A situao de beligerncia com a Alemanha, consolidadacom a declarao de guerra em 26 de outubro de 1917, levantou suspei-es no centro do pas em relao lealdade da populao catarinensee de seu governo aos ideais nacionais ou mesmo as possibilidades que

    a Alemanha teria de consolidar uma base de operaes no sul do Brasil.O ento governador de Santa Catarina, Felippe Schmidt, em sua men-sagem ao Congresso Representativo, de 14 de agosto de 1917, repercuteos acontecimentos que se seguiram para Santa Catarina ante a declaraode rompimento da neutralidade brasileira, quando desencadeou-se emSanta Catharina uma verdadeira campanha de diffamao, robustecendo-se o que l fra se dizia, que ramos um Estado fra da Federao, sem o

    sentimento de nacionalidade, sem amor e sem ligaes ao Brazil (SantaCatarina, 1917, p. 4). As suspeitas recaram tambm sobre o governadore alguns de seus auxiliares, de origem alem, apontados como ao ser-vio da raa germnica contra os interesses do Brazil (p. 6). A origemdas suspeies sobre a lealdade de Santa Catarina e seus vnculos coma Alemanha, alm da presena de uma importante populao de origemalem, parece ter sido os relatrios enviados ao governo central e divul-

    gados pela imprensa sobre a situao do estado, pelo capito de corvetaDurval Guimares, no comando do destrierAlagoas, enviado a SantaCatarina, e que, alm dos relatos, efetuou diligncias na cidade de Brus-que em busca de armas e munies, o que desencadeou um conito com

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    o governo estadual. De qualquer maneira, a situao poltica resultante dapresena de populaes de origem alem em Santa Catarina, no contextode uma guerra contra a Alemanha, com todas as diculdades advindasdessa situao, estava colocada e modicava radicalmente a postura eas aes do governo estadual em relao a essas populaes.

    A necessidade de nacionalizar as populaes de origem estrangeira,desde a ptica do poder, implicou uma mudana na avaliao do papeldo imigrante na economia e cultura nacional (Carvalho, 1989, pp. 10-12;Carvalho, 2000, p. 227). A opo imigrantista, desde ns do sculo XIX,que denotava iluses quanto operosidade do trabalhador branco europeue ideias racistas relacionadas ao aprimoramento do povo brasileiro atravsdo branqueamento regenerador da imigrao, mostrara-se invivel emvista da rebeldia de populaes de origem europeia nas cidades, comonas greves de 1917 e 1918, e na ameaa que culturas estrangeiras sig-nicavam em um momento de armao do nacionalismo e do Estadonacional. Ao mesmo tempo, operavam-se mudanas nas representaesreferentes ao aperfeioamento dos povos, com a educao sendo guin-dada a posio de fator determinante, sobrepujando os fatores raciais(Carvalho, 1989, p. 11). Diante disso, a alfabetizao e a expanso daescola pblica tornaram-se panaceias capazes de resolver os problemasdo pas, especialmente na dcada de 1920, expressando-se nas preocupa-es centrais das reformas do ensino naquele perodo. Entretanto, para osestados do sul do Brasil, o contexto da Primeira Grande Guerra antecipou

    problemticas e medidas em relao nacionalizao que tiveram umaimportncia bastante grande no direcionamento das propostas para oensino na dcada seguinte.

    Mesmo no perodo anterior deagrao do conito de 1914, apresena de alemes no estado colocara diculdades no que se referiaao relacionamento dessas populaes com o Estado nacional, o quedesencadeava preocupaes, muitas vezes expressas na imprensa, sobre

    o chamado perigo alemo e a necessidade de integrar aquelas popula-es. Em 1906, O governador em exerccio, coronel Antonio Pereira daSilva e Oliveira, relata uma visita que fez ao municpio de Blumenau edestaca a conduta dos imigrantes alemes e descendentes. Por toda parte,

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    diz ele, senti pulsar a par do sentimento de patriotismo, vivo interessepor nosso paiz, onde a grandeza do territrio se confunde com a riquezado solo (Santa Catarina, 1906, p. 7). Com isso, diz o coronel, pde daraos seus acompanhantes a oportunidade de avaliarem o interesse queos colonos tomam por tudo quanto nosso, e carem elles aptos paradarem prompto e solemne desmentido a esse phantasma chamado perigoalemo. A armao da brasilidade das populaes de origem alem ea referncia ao perigo alemo indica que o problema da assimilaodaquelas populaes realmente existia.

    Diante desse quadro de diversidade tnica e da necessidade de as-similao das populaes de origem europeia no Estado, os dirigentesestaduais atribuem escola um papel fundamental:

    Por tudo isto, eu creio que a escola, mas creio rmemente, e esta conside-

    rao se refere no s aos indivduos de prognie teutonica, como aos de outras

    raas formadoras do povo catharinense, ser o mais fecundo, o mais poderoso

    factor da assimilao que se vem operando [Santa Catarina, 1919, p. 14].

    Herclio Luz referia-se s medidas nacionalizadoras do ensino quehaviam sido adotadas no contexto da Primeira Grande Guerra. A presenade populaes de origem estrangeira em Santa Catarina, especialmentealem, transformada em um problema poltico nacional, levou as auto-ridades estaduais e federais a tomarem uma srie de medidas adminis-

    trativas e legais visando a sua incorporao ao Estado nacional, tendo aescola como centro estratgico de ao.A partir dessa nova conjuntura poltica nacional, com evidentes

    reexos na situao estadual, os estabelecimentos comunitrios, e, emmenor medida, os municipais, estiveram no foco de ao das autori-dades. O posicionamento do Brasil no conito de 1914-1918 colocouaos governantes a necessidade de intervirem, a partir de sua ptica, nas

    escolas tnicas.

    urgente a regulamentao do ensino em escolas particulares, cujo

    nmero bastante avultado, existindo s em Blumenau 117, em Joinville

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    54, em Urussanga 18 e em So Bento 14. O total dessas escolas attinge ao

    numero de 277. Algumas dellas so subvencionadas pelas municipalidades,

    o que no impede que, contra o regulamento da instruco estadual, o ensino

    seja feito em lngua estrangeira. preciso corrigir essa situao, tornando

    obrigatrio o ensino da lngua nacional em todas as escolas, mesmo as no

    subvencionadas, com os programas adoptados nas escolas pblicas estaduaes

    [Santa Catarina, 1917, p. 31].

    Na mesma mensagem, o governador Felippe Schmidt apresenta umquadro com a relao entre escolas estaduais, municipais e comunitrias,chamadas particulares, nos municpios catarinenses, com a evidentepreponderncia das ltimas em diversas localidades.

    Quadro 4: Escolas estaduais, municipais e particulares (1916) (SC)MUNICPIO ESTADUAIS MUNICIPAIS PARTICULARES TOTAL

    Ararangu 10 5 - 15Blumenau 16 - 117 133

    Brusque 2 17 2 21Florianpolis 45 18 18 74

    Itaja 14 14 10 38Joinville 14 - 54 68

    So Bento 1 - 14 15Urussanga 1 - 18 19

    Fonte: Santa Catarina. Mensagem apresentada ao Congresso Representativo do Estadoem 14 de agosto de 1917 pelo Governador Felippe Schmidt (p. 29).

    A apresentao de Blumenau, Joinville, Urussanga e So Bento, pre-sente na fala do governador como os municpios de situao mais delicada,indica que o alvo central das medidas de nacionalizao que se pe emprtica no perodo so as escolas particulares/comunitrias.

    Diante desse quadro e ante a declarao de guerra contra a Alema-nha, o governo estadual intervm nas escolas comunitrias em que no

    se ensinasse a lngua portugueza, cumprindo determinao do governofederal.

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    Cumprindo essa determinao, providenciei para que fossem fechadas,

    no s aquellas escolas onde no se ensinasse a lngua nacional, como todas

    aquellas em que o ensino de nossa lngua no fosse feito de modo efciente.

    Em virtude dessa interpretao foram fechadas cerca de 200 escolas particu-

    lares, que existiam nos municpios de S. Bento, Joinville, Blumenau, Itajahy,

    Brusque, Palhoa, Tubaro e Imaruhy, a maioria das quaes entretanto, ensi-

    nava o portuguez, mas no de modo efciente [Santa Catarina, 1918, p. 40].

    Ainda em 1921, Herclio Luz relata que mandara fechar cinco esco-las particulares no municpio de Blumenau, trs no municpio de Joinvillee uma no de S. Bento (p. 24). O fechamento das escolas signica umrecrudescimento do controle estatal sobre as iniciativas de ensino porparte das comunidades de imigrantes e Igrejas, buscando impor o ensinoda lngua portuguesa e de matrias de contedo cvico nas reas coloniais.

    Entretanto, o fechamento das escolas comunitrias tnicas nas reascoloniais colocava diculdades para o governo estadual na medida emque no possua recursos para abrir as escolas pblicas correspondentes demanda atendida anteriormente em uma rea em que a presena doestado era frgil. Alm da falta de recursos, o governo estadual reclamavada impossibilidade de encontrar pessoal apto para o preenchimento detodas as escolas vagas e das que forem creadas (Santa Catarina, 1918,p. 40). As autoridades estaduais tinham claro, pelo que se depreende dasmensagens, que o fechamento das escolas comunitrias no promoveriaa nacionalizao das populaes de origem estrangeira se no houvessea abertura de escolas pblicas.

    De modo que, onde tenha sido fechada uma escola particular incapaz de

    satisfazer as prescripes legais, ahi se abra uma escola publica provida de

    professor idneo e, mais ainda, de professor que, falando duas lnguas, possa

    entender-se com as crianas e ensinar-lhes suavemente a lngua nacional

    [Santa Catarina, 1920, p. 26].

    Uma estratgia utilizada para atender a essa nova demanda, pelomenos nos municpios maiores, foi a abertura de novas classes anexas

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    aos grupos escolares, tendo sido instaladas, em 1918, cinco classes emcada um dos grupos de Itaja e Joinville e quatro classes no grupo escolarde Blumenau (Santa Catarina, 1918, p. 36). No entanto, essa medida noresolvia o problema do atendimento demanda na zona rural do estado.

    A interveno do governo federal no problema criou as condiespara que a rede de escolas pblicas na zona rural fosse ampliada, bus-cando substituir a rede de escolas comunitrias. Atravs do decreton. 13.014, de 4 de maio de 1918, o governo federal auxiliava com recursosnanceiros cada escola que fosse criada nas reas coloniais, no que sedenominava zona de nacionalizao (Fiori, 1975, p. 125). Animadocom esse valioso auxilio, j creei 72 escolas isoladas em linhas e ncleoscoloniaes (Santa Catarina, 1918, p. 41). A necessidade, desde a pticado Estado, de resolver o problema da assimilao das populaes deorigem estrangeira, fez com que o tradicional dualismo de direo doensino fosse parcialmente rompido, ao menos para os estados do sul doBrasil. Como decorrncia da interpretao da constituio de 1891, aUnio cava afastada da realidade escolar com o argumento de que nopoderia intervir no sistema educacional dos estados, em vista do princ-pio do federalismo, enquanto os prprios estados alegavam no possuirrecursos sucientes para ampliar a rede de escolas pblicas primrias etcnico-prossionais (Nagle, 1997, p. 266). A situao poltica causadapelo conito mundial colocou a problemtica da assimilao dos des-cendentes de imigrantes do sul do pas como problema nacional a ser

    resolvido, o que implicou a interveno do governo federal.Mesmo os investimentos do governo estadual cresceram nesse pero-do. De fato, os investimentos estaduais no perodo 1915 1918 tiveramum crescimento de 53% comparado ao perodo 1911 1914 e, no perodo1919-1922, cresceram 102% se comparado gesto anterior (Nbrega,2000, p. 93). O resultado foi o incremento no nmero de escolas pblicasna zona rural como se pode ver pelos dados do Quadro 3. O nmero de

    escolas isoladas passou de 188 em 1915 para 269 em 1918, 382 em 1919e 433 em 1920. Da mesma forma, as matrculas em escolas estaduaispassaram de 10.011 alunos em 1915 para 16.082 em 1918, 20.892 em1919 e 26.734 alunos em 1920. No ano de 1921, o nmero de alunos em

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    escolas municipais e comunitrias era de 14.344 (Santa Catarina, 1922,p. 30), um nmero ainda expressivo, mas que havia sido ultrapassadopelo nmero de alunos matriculados em escolas estaduais.

    Ainda que os recursos estaduais tenham sido tambm importantes, assubvenes nanceiras do governo federal foram utilizadas como um pode-roso instrumento poltico de nacionalizao das reas coloniais. Em 1920,Herclio Luz relatava que havia encontrado, por parte do governo federal,boa vontade e carinho para as coisas que se prendem ao abrasileiramentodesses ncleos, que, entregues durante longos annos aos seus prprios re-cursos, ameaavam tornar-se um kysto ethnico no organismo nacional [...].

    Neste momento acha-se no Rio de Janeiro o Sr. Inspector Federal das

    Escolas Subvencionadas, por quem dirigi ao Sr. Ministro do Interior uma

    succinta exposio do que ainda necessitamos para completa efcincia da

    nacionalizao do ensino. Estou certo que desta como de outras vezes o Sr.

    Ministro agir com o mesmo descortino e patriotismo, proporcionando as

    medidas precisas boa marcha das escolas subvencionadas e augmento destas

    nas zonas coloniaes [Santa Catarina, 1920, pp. 5-6].

    Em virtude dessa subveno, arma, o Estado pde em 1918 manterna zona colonial 148 escolas, numero esse elevado a 168 no anno passado[1919] e no corrente [1920] (p. 26). A rede de escolas subvencionadastornou-se to importante na estratgia de nacionalizao que Orestes

    Guimares, mentor da reforma de 1911, foi deslocado para a funode inspetor federal a partir de 1918, tendo exercido a funo at o seufalecimento em 1931 (Fiori, 1975, p. 125).

    A ao do governo estadual recaiu tambm sobre as escolas munici-pais. Herclio Luz d notcia do decreto n. 1.233, de 3 de abril de 1920,que regulamentou as escolas municipais, o que resultou no fechamentode 10 escolas de Tijucas, que no se adequaram ao regulamento (Santa

    Catarina, 1920, p. 23). E reclama da ao de governantes municipais quetentaram ludibriar, por convenincias locaes, de ordem secundria, aaco dos Governos Federal e Estadual, to harmonicamente empenhadosnesta obra de nacionalizao [...] (p. 5).

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    Alm do fechamento de escolas comunitrias e da abertura de es-colas pblicas, o governo estadual entrou na sala de aula, procurandointervir no currculo escolar de todos os estabelecimentos de ensino

    que no estavam sob seu controle direto. Preocupava-se, em especial,com o fortalecimento de matrias nacionais ausentes das aulas e com apreparao dos professores em ministr-las. O ensino de portugus, degeograa e de histria do Brasil foi tornado obrigatrio em 1917, atravsda lei n. 1.187 (Santa Catarina, 1920, p. 23). Alm disso, o decreto 1.321,de 29 de janeiro de 1920, sujeitou essas escolas ao programa das escolasestaduais em relao a esses contedos, devendo ter o mesmo nmero edurao de aulas para essas matrias de acordo com o horrio ocial. Oensino de portugus, que merecia especial ateno das autoridades, nodeveria ser meramente decorativo, mas, tanto quanto possvel, capaz depermittir que as creanas nellas matriculadas adquiram razovel conhe-cimento do vernculo (pp. 24-25). As aulas de ginstica e os exercciosmilitares tambm deveriam, por lei, serem dados em portugus, alm doque a escriturao escolar no poderia ser feita em lngua estrangeira.

    O controle sobre as condies dos professores de escolas comuni-trias para ministrar os contedos nacionais aludidos anteriormente erarealizado atravs de cursos e exames, como o realizado em 1920, nosquais os professores deveriam demonstrar as suas habilidades de co-nhecimento da realidade geogrca, histrica e legal do Brasil, alm dodomnio na lngua portuguesa (p. 24). Em 1918, no governo de FelippeSchmidt, foram abertos cursos preparatrios para professores de escolascomunitrias em Blumenau, Joinville e Urussanga, a m de ministraro ensino de portuguez, de histria e geographia do Brazil e de educaocvica, aos professores particulares dos municpios cuja maioria da po-pulao de origem estrangeira (Santa Catarina, 1918, p. 39).

    Avaliar a eccia das medidas nacionalizadoras nesse perodo hist-rico situado entre a reforma de 1911 e o m da Primeira Grande Guerrano foi o objetivo deste trabalho. No entanto, evidente que as medidassignicaram uma interveno violenta na organizao do ensino dascomunidades de imigrantes e descendentes e, por decorrncia, em suavida social e cultural. Herclio Luz armava, em 1920, que o problemaestava prestes a ser resolvido:

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    Os nossos problemas capitaes, mesmo os que mais difceis se aguravam,

    vo tendo soluo, sem abalos prejudiciaes vida normal do Estado. Assim, o

    do ensino, que traz consigo o da nacionalizao de uma no pequena populao

    colonial, de origem extrangeira, pode-se considerar resolvido, se uma preju-

    dicial soluo de continuidade no vier perturbar seu apparelhamento [p. 4].

    Entretanto, alguns indcios parecem desmentir o otimismo do go-vernador quanto resoluo do problema. Finda a guerra, serenados osnimos, a rede de escolas comunitrias voltou a crescer. Em 1921 havia163 escolas particulares/comunitrias, alm de 71 escolas municipais,com um total de 14.344 alunos matriculados nas duas redes escolares(Santa Catarina, 1922, p. 30) contra 9.747 alunos em 1919 (Santa Cata-rina, 1920, p. 23). Somente escolas das comunidades de origem alemdo estado, havia 297 em 1931, com 12.346 alunos matriculados (Kreutz,2000, p. 357). A prpria retomada das preocupaes com a nacionaliza-o das populaes de origem estrangeira no estado, no Governo NereuRamos e no Estado Novo, e a violncia das aes adotadas durante acampanha de nacionalizao do ensino, so indcios de que as medidasque estamos tratando neste texto no foram capazes de conter a armaode identidades que se seguiu a esse perodo. De qualquer maneira, asmedidas adotadas no perodo tratado neste texto foram aes que altera-ram o ensino catarinense e a vivncia cultural de inmeras comunidades,com evidentes implicaes para a histria da educao de Santa Catarinae do sul do Brasil.

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    Governador.1922.

    ______.Mensagem apresentada ao Congresso Representativo, em 22 de julhode 1923, pelo Engenheiro Civil Herclio Pedro da Luz, Governador do estadode Santa Catharina. 1923.

    Endereo para correspondncia:Dorval do Nascimento

    Av. Centenrio, 3.980/301 CentroCricima-SC

    CEP 88802-001E-mail: [email protected]

    Recebido em: 2 jul. 2008

    Aprovado em: 22 ago. 2008

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