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96 I éPOCA I 15 de setembro de 2014 riar uma superprodução milio- nária é um risco. Não foram poucos os estúdios de cinema, produtoras de televisão e gravadoras que quebraram ou entraram em crise depois de apostar dinheiro demais em atrações que não conseguiram desper- tar o interesse dos fãs. Uma produção que ficasse sete anos em desenvolvi- mento e exigisse um investimento de centenas de milhões de dólares costuma ser uma enorme dor de cabeça para os executivos em qualquer setor do entre- tenimento. Exceto um: a indústria dos games. Com jogos que levam os fãs a reservar o produto meses antes do lan- çamento, por meio de pré-vendas, ou a dormir em filas para conseguir uma cópia na noite de estreia, é natural que os orçamentos cresçam de forma ex- traordinária. Com pouco risco. O aguardado Destiny, lançado na se- mana passada, é o símbolo máximo dessa nova tendência. Em produção desde 2007, esse game de aventura cus- tou cerca de US$ 500 milhões. É o jogo mais caro da história e bateu recordes também em outras áreas. O filme mais caro de todos os tempos, Piratas do Caribe: no fim do mundo, de 2007, cus- tou US$ 300 milhões. O valor investido em Destiny seria suficiente para filmar a aventura em alto-mar com Johnny C Depp, produzir um show da banda ir- landesa U2, lançar um álbum de Michael Jackson, montar um musical do Homem-Aranha na Broadway e fazer um episódio da série de guerra The pa- cific. E ainda sobrariam alguns trocados (leia o quadro ao lado). O mais impressionante? A produto- ra Bungie e a distribuidora Activision, responsáveis por Destiny, já recupera- ram o dinheiro investido. Em menos de 24 horas, mais de US$ 500 milhões em cópias do game foram vendidos a redes de lojas on-line e off-line. A em- presa de análise financeira Cowen es- timou que o game venderá cerca de 15 milhões de cópias ainda neste ano. A US$ 60 por exemplar (R$ 199 no Bra- sil), o faturamento chegará a US$ 900 milhões se os números estiverem cor- retos. Destiny pode ser jogado em apa- relhos Xbox 360, Xbox One, PlayStation 3 e PlayStation 4. Para jogar, é preciso estar conectado à internet. O que torna Destiny um jogo tão es- pecial e tão caro? O visual em compu- tação gráfica é digno de qualquer gran- de produção de cinema. Na versão americana, há dubladores famosos como o ator Peter Dinklage, o anão de Game of Thrones. A Bungie também produziu versões dubladas em outras seis línguas, incluindo português. A tri- lha sonora é outro grande atrativo. A música-tema foi escrita e interpretada por Paul McCartney. A Activision tam- bém não economizou na divulgação. Até outdoors na Times Square, em Nova York, foram comprados para apresentar o lançamento ao público. Toda a divulgação seria inútil se o produto não fosse bom o bastante para atrair o público. Destiny não corre esse risco. A imensidão do universo de com- putação gráfica e a versatilidade do jogo conquistaram os fãs. O jogador é EXPERIêNCIAS DIGITAIS Em produção há sete anos, com um custo estimado em US$ 500 milhões, o game Destiny bateu recordes da indústria de entretenimento Nada é mais caro que um game Felipe Germano SEM LIMITES Um dos cenários de Destiny. O game de ficção científica pode durar centenas de horas Fotos: Divulgação, AFP (2), AP e Getty Images

Nada é mais caro que um game

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Texto publicado na revista Época, sobre a produção de Destiny, game que custando US$ 500 milhões se tornou o mais caro produto de entretenimento da história.

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96 I época I 15 de setembro de 2014

riar uma superprodução milio-nária é um risco. Não forampoucos os estúdios de cinema,

produtoras de televisão e gravadorasque quebraram ou entraram em crisedepois de apostar dinheiro demais ematrações que não conseguiram desper-tar o interesse dos fãs. Uma produçãoque ficasse sete anos em desenvolvi-mento e exigisse um investimento decentenas de milhões de dólares costumaser uma enorme dor de cabeça para osexecutivos em qualquer setor do entre-tenimento. Exceto um: a indústria dosgames. Com jogos que levam os fãs areservar o produto meses antes do lan-çamento, por meio de pré-vendas, ou adormir em filas para conseguir umacópia na noite de estreia, é natural queos orçamentos cresçam de forma ex-traordinária. Com pouco risco.O aguardado Destiny, lançado na se-

mana passada, é o símbolo máximodessa nova tendência. Em produçãodesde 2007, esse game de aventura cus-tou cerca de US$ 500 milhões. É o jogomais caro da história e bateu recordestambém em outras áreas. O filme maiscaro de todos os tempos, Piratas doCaribe: no fim do mundo, de 2007, cus-tou US$ 300 milhões. O valor investidoem Destiny seria suficiente para filmara aventura em alto-mar com Johnny

c Depp, produzir um show da banda ir-landesa U2, lançar um álbum deMichael Jackson, montar um musicaldo Homem-Aranha na Broadway e fazerum episódio da série de guerra The pa-cific. E ainda sobrariam alguns trocados(leia o quadro ao lado).

O mais impressionante? A produto-ra Bungie e a distribuidora Activision,responsáveis por Destiny, já recupera-ram o dinheiro investido. Em menosde 24 horas, mais de US$ 500 milhõesem cópias do game foram vendidos aredes de lojas on-line e off-line. A em-presa de análise financeira Cowen es-timou que o game venderá cerca de 15milhões de cópias ainda neste ano. AUS$ 60 por exemplar (R$ 199 no Bra-sil), o faturamento chegará a US$ 900milhões se os números estiverem cor-retos. Destiny pode ser jogado em apa-relhos Xbox 360, Xbox One, PlayStation3 e PlayStation 4. Para jogar, é precisoestar conectado à internet.

O que torna Destiny um jogo tão es-pecial e tão caro? O visual em compu-tação gráfica é digno de qualquer gran-de produção de cinema. Na versãoamericana, há dubladores famososcomo o ator Peter Dinklage, o anão deGame of Thrones. A Bungie tambémproduziu versões dubladas em outrasseis línguas, incluindo português. A tri-

lha sonora é outro grande atrativo. Amúsica-tema foi escrita e interpretadapor Paul McCartney. A Activision tam-bém não economizou na divulgação.Até outdoors na Times Square, emNova York, foram comprados paraapresentar o lançamento ao público.

Toda a divulgação seria inútil se oproduto não fosse bom o bastante paraatrair o público. Destiny não corre esserisco. A imensidão do universo de com-putação gráfica e a versatilidade dojogo conquistaram os fãs. O jogador é

experiências digitais

Em produção há sete anos, com um custoestimado em US$ 500 milhões, o gameDestinybateu recordes da indústria de entretenimento

Nada é mais caroque um game

Felipe Germano

sem limitesUm dos cenáriosde Destiny.O game de ficçãocientífica podedurar centenasde horas

Fotos: Divulgação, AFP (2), AP e Getty Images

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O campeão dassuperproduçõesMesmo os lançamentos maiscaros de vários setores daindústria do entretenimentopassam longe do investimentofeito para lançar o game Destiny

convidado a protagonizar uma históriaque agradará aos fãs de ficção científi-ca: depois de encontrar na superfíciede Marte uma esfera gigante chamadade “O viajante”, a humanidade ampliouseus horizontes e começou a exploraro Universo. A prosperidade dura poralguns séculos, até que alienígenas ten-tam destruir a esfera e aniquilam qua-se todos os humanos, deixando apenasuma cidade habitável na Terra. É nelaque vive o personagem principal,acompanhado por um robô que o aju-dará a proteger o planeta. É possívelcumprir as missões sozinho ou atuarcom outros jogadores. A experiênciapode render algumas centenas de ho-ras. Não há filme, álbum ou show ca-paz de oferecer uma experiência deduração semelhante aos fãs. Os gamesdeverão continuar a bater recordes. u

Us$300milhões

Us$20milhõesUs$20milhões

Show mais caroU2 – 360º ToUr

Us$750 mil

Musical mais caroSpiDer-Man: TUrnoff The Dark

Us$ 75 milhões

Álbum mais caroinvincible,michael JacksOn

DeSTinyGame mais caroUs$ 500

milhões

Série mais caraThe pacific

o valor de destiny supera todas essas produções juntas

Filme mais caropiraTaS Do caribe:no fiM Do MUnDo

por episódiopor show

Us$20 milhões

Série mais caraThe pacific

Us$30milhões

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