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Nanoespumas de Ni-Cu funcionalizadas com óxidos/hidróxidos de cobalto para supercondensadores do tipo redox Guilherme Filipe Reis Jerónimo Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Química Orientadores Professora Maria de Fátima Grilo da Costa Montemor Doutora Sónia Cristina da Conceição Matos Eugénio Júri Presidente: Professor Carlos Manuel Faria de Barros Henriques Orientador: Professora Maria de Fátima Grilo da Costa Montemor Vogal: Rodrigo Della Noce Outubro 2016

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Nanoespumas de Ni-Cu funcionalizadas com

óxidos/hidróxidos de cobalto para

supercondensadores do tipo redox

Guilherme Filipe Reis Jerónimo

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Química

Orientadores

Professora Maria de Fátima Grilo da Costa Montemor

Doutora Sónia Cristina da Conceição Matos Eugénio

Júri

Presidente: Professor Carlos Manuel Faria de Barros Henriques

Orientador: Professora Maria de Fátima Grilo da Costa Montemor

Vogal: Rodrigo Della Noce

Outubro 2016

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Agradecimentos

A concretização desta dissertação de mestrado só foi possível graças a todas as

pessoas que ajudaram directa ou indirectamente a sua realização.

Queria agradecer, desde de já, à minha orientadora Professora Maria de Fátima

Montemor, pela ajuda, incentivo e grande preocupação durante todo o trabalho.

À Professora e Co-orientadora Sónia Eugénio por toda a paciência, orientação,

disponibilidade e ajuda na realização desta dissertação.

Quero ainda agradecer ao Doutor Rodrigo Della Noce por todo o apoio, disponibilidade

e empenho.

Queria agredecer a todo o grupo de investigadores e trabalhadores do GECEA por todo

apoio companhia, amizade e entreajuda.

Aos meus pais pelo incentivo, apoio e pelo seu interesse no sucesso deste projecto,

sem eles teria sido impossível realizar este trabalho.

Aos meus irmãos Duarte e Beatriz que além da sua amizade e ajuda, deram-me

também muita força de vontade para finalizar esta etapa.

A todos os meus amigos, familiares e professores, um grande Obrigado por toda a

ajuda e preocupação no meu sucesso académico.

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Abstract

The increasing of energy consumption, the lack of petrol resources and the

intermittency of energy production from renewable sources makes energy storage an important

issue, in order to, create a sustainable future. Electrochemical supercapacitors are a technology

that can help solve most of these problems. However, it’s still necessary some research to

create supercapacitors with high energy densities, without damaging their excellent power

density performance and ciclabilty. In this sense, the study of redox supercapacitors and this

project arises.

Nickel-copper nanofoams were produced by cathodic electrodeposition. These foams

increase the surface area of active material. They were functionalized with Co(OH)2 by pulsed

potenciostatic electrodeposition, one can reach high capacitances. The optimal conditions for

deposition obtained are 1650 cycles and -1500 mV of potential. Afterwards, a thermal treatment

was executed oxidizing the Co(OH)2 into Co3O4.

The supercapacitor electrodes are characterized by electrochemical tests such as cyclic

voltammetry and charge-discharge curves. The electrodes Co(OH)2 e Co3O4 show a specific

capacitance of 987 F/g and 785 F/g, respectively. The stability of the electrodes was also

studied, performing 3000 charge-discharge cycles. Co(OH)2 shows a capacitance retention of

81% and Co3O4 a retention of 66%, after 3000 cycles. Finally, physical tests were performed

using SEM/EDX, XRD and Raman techniques. They allow us to have surface morphology

knowledge of the samples, as well as, their crystalline structure and chemical composition.

Keywords: Redox Supercapacitors; Electrodeposition; Ni-Cu Nanofoams; Cobalt

oxydes/hydroxides

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Resumo

O aumento do consumo de energia nos próximos anos, a escassez dos recursos

petrolíferos e a intermitência da produção de energia através de fontes renováveis torna a área

do armazenamento de energia preponderante para a criação de um futuro sustentável. O

supercondensador electroquímico é uma tecnologia que poderá responder a todas estas

necessidades. No entanto, é necessário ainda alguma investigação e desenvolvimento de

modo a tornar os supercondensadores uma tecnologia com elevadas densidades de energia,

sem afectar a sua excelente densidade de potência e ciclabilidade. É neste sentido que surgem

os supercondensadores redox e este projecto/dissertação.

Foram produzidas nanoespumas de Ni-Cu através de electrodeposição catódica. Estas

espumas têm como objectivo o aumento da área superficial do material activo. As

nanoespumas de Ni-Cu são funcionalizadas com Co(OH)2, este permite atingir grandes

capacitâncias. Os parâmetros óptimos de deposição obtidos são 1650 ciclos e -1500mV de

potencial. Posteriormente, foi executado um tratamento térmico oxidando o Co(OH)2 a Co3O4.

Os eléctrodos de supercondensadores produzidos são caracterizados por testes

electroquímicos como a Voltametria Cíclica e as Curvas de Carga-Descarga. Os eléctrodos de

Co(OH)2 e Co3O4 apresentam uma capacitância de 987F/g e 785 F/g, respectivamente. Foi

ainda estudada a estabilidade através da exposição dos eléctrodos a 3000 ciclos de Carga-

Descarga. O Co(OH)2 apresenta uma retenção de 81% e o Co3O4 uma retenção de 66%, após

os 3000 ciclos. Por fim, foram realizados testes físicos através das técnicas de SEM/EDX, XRD

e Raman. Estes testes permitem a visualização da morfologia das amostras bem como a sua

estrutura cristalina e composição química.

Palavras-Chave: Supercondensadores Redox; Electrodeposição; Espumas de Ni-Cu;

óxido/hidróxido de Cobalto; Capacitância

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Lista de Figuras

Figura 1 –Classificação dos sistemas de armazenamento de energia eléctrica.

Adaptado de [2].

Figura 2 – Gráfico de Ragone para vários sistemas de armazenamento de energia [3].

Figura 3 – Ilustração esquemática de um sistema de armazenamento por bombagem

hidroeléctrica [4].

Figura 4 – Representação esquemática de um sistema de armazenamento de energia

térmico. Adaptado de [5].

Figura 5 - Pilha de combustível mostrando o fornecimento contínuo de reagentes

(hidrogénio no ânodo e oxigénio no cátodo) e as reacções redox na pilha [11].

Figura 6 - Representação de um supercondensador electroquímico, ilustrando o

armazenamento de energia de dupla camada na interface electrólito/eléctrodo. Adaptado de

[14].

Figura 7 - Representação do mecanismo de pseudocapacitância redox de um

supercondensador electroquímico [15]

Figura 8 – Quotas de mercado das diferentes aplicações dos supercondensadores nos

anos de 2014 e 2020. Adaptado de [19].

Figura 9 – Representação da deposição através do molde dinâmico negativo. Adaptado

de [40]

Figura 10 – Representação do corte transversal do eléctrodo produzido constituído por

3 diferentes partes.

Figura 11 – Imagens das duas células electroquímicas utilizadas: (a) de

electrodeposição, montagem de 2 eléctrodos (área activa - 1.65 cm2), (b) de teste, montagem a

3 eléctrodos, (área activa – 1 cm2)

Figura 12 – Processo de electrodeposição galvanostática pulsada Potencial em função

do tempo [29].

Figura 13 - Comparação ilustrativa das curvas de carga e descarga de um

supercondensador convencional ( Curva A, linear), e de um supercondensador redox (curva B,

não Linear).

Figura 14 – Imagens de microcopia óptica das amostras 3 e 5 com ampliação de

9,60x.

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Figura 15 – Voltamogramas e curvas de carga-descarga a), a1); b),b1); c),c1); d), d1); e),

e1); f) ,f1); g), g1); das Amostras 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7, respectivamente, num electrólito de KOH 1M

a uma velocidade de varrimento de 50mV/s e uma densidade de corrente de 1A/g;

Figura 16 – a) Voltamograma do Co(OH)2 sobre a espuma de Ni-Cu num electrólito de

1 KOH a uma velocidade de varrimento de 50mV/s; b) Voltamograma do Co3O4 sobre a

espuma de Ni-Cu realizado nas mesmas condições.

Figura 17 – a); b) Voltametria cíclica obtida a diferentes velocidades de varrimento para

o Co(OH)2 e Co3O4, respectivamente, usando um electrólito de 1M de KOH;

Figura 18 - a) e b) Curvas de carga-descarga a 1, 2, 4 e 10 A/g do eléctrodo de

Co(OH)2 e do Co3O4; c) Variação da capacitância com a corrente aplicada para

electrodeposição catódica do Co(OH)2 e Co3O4 sobre espumas de Ni-Cu d) Variação da

capacitância em função do número de ciclos.

Figura 19 – Imagens SEM de: (a) espuma de Ni-Cu depositada sobre substrato de aço

inox e Co(OH)2 depositado sobre a espuma de Ni-Cu (b) Co(OH)2 depositado sobre a espuma

de Ni-Cu, 1650 ciclos, -1500 mV de potencial (condições óptimas) , (c) Co(OH)2 depositado

sobre espuma de Ni-Cu, 1650 ciclos -1700mV de potencial (d) Co(OH)2 depositado sobre

espuma de Ni-Cu após ciclagem.

Figura 20 – Imagens SEM dos eléctrodos de Co3O4 (a) antes e (b) após ciclagem.

Figura 21 – Imagem SEM e respectivo espectro de raio-X dos elementos do eléctrodo

de Co(OH)2 depositado sobre a espuma de Ni-Cu.

Figura 22 – Espectro Raman do Co(OH)2, Co(OH)2 após testes de ciclagem, Co3O4

antes e após testes de ciclagem na região de 0 a 1250 cm-1

Figura 23 – Difractogramas de Co(OH)2 depositado sobre a) aço inoxidável e b)

espuma de Ni-Cu.

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Lista de Acrónimos

Co3O4 – Óxido de Cobalto

Co(OH)2 – Hidróxido de Cobalto

CoO(OH) –Óxido Hidróxido de Cobalto

EDLC – Electric Double-Layer Capacitor ( Supercondensador de Dupla Camada)

EDX – Energy Dispersive X- Ray Spectroscopy ( Espectroscopia de Raio-X)

Ni-Cu – Níquel – Cobre

Ni/MH – Níquel/ Hidreto metálico

Pb/ Ácido – Chumbo/Ácido

PHS – Pumped-Hydro System (Sistema de armazenamento Hidroeléctrico)

SEM – Surface Electron Microscopy (Microscópico electrónico de superfície)

XRD – X-Ray Diffraction (Difracção de Raio-X)

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ÍNDICE

1. Introdução .............................................................................................................................. 1

2. Sistemas não-electroquímicos de armazenamento de energia ............................................ 5

2.1. Sistemas Mecânicos...................................................................................................... 5

2.1.1. Armazenamento por bombagem hidroeléctrica (Pumped-Hydro Storage) ........... 5

2.1.2. Ar comprimido ....................................................................................................... 6

2.2. Sistemas Termoquímicos .............................................................................................. 6

3. Sistemas de armazenamento de energia Electroquímicos ................................................... 9

3.1. Baterias ......................................................................................................................... 9

3.1.1. Baterias de chumbo/ácido (Pb/ácido) ................................................................... 9

3.1.2. Baterias de Lítio ..................................................................................................... 9

3.1.3. Baterias de Niquel/ Hidreto Metálico ................................................................... 10

3.2. Pilhas de Combustível ................................................................................................. 11

3.3. Supercondensadores .................................................................................................. 12

3.3.1. EDLC ................................................................................................................... 12

3.3.2. Pseudocondensadores ou supercondensadores redox ...................................... 13

4. Eléctrodos para supercondensadores redox ...................................................................... 19

4.1. Óxidos/hidróxidos de metais de transição .................................................................. 19

4.2. Espumas metálicas ..................................................................................................... 21

5. Electrodeposição ................................................................................................................. 23

6. Métodos ............................................................................................................................... 25

6.1. Introdução .................................................................................................................... 25

6.2. Materiais e Soluções ................................................................................................... 25

6.3. Células electroquímicas .............................................................................................. 26

6.4. Preparação dos eléctrodos ......................................................................................... 27

6.5. Técnicas experimentais electroquímicas .................................................................... 28

6.5.1. Electrodeposição ................................................................................................. 28

6.5.2. Voltametria cíclica ............................................................................................... 28

6.5.3. Curvas de carga-descarga .................................................................................. 29

6.6. Técnicas de caracterização e equipamentos .............................................................. 30

6.6.1. Microscopia electrónica de varrimento e espectroscopia de raios-X de dispersão

de energia ............................................................................................................................ 30

6.6.2. Espectroscopia Raman ....................................................................................... 30

6.6.3. Difracção de raios-X (XRD) ................................................................................. 31

7. Resultados e Discussão ...................................................................................................... 33

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7.1. Optimização das condições de deposição .................................................................. 33

7.1.1. Variação do número de ciclos ............................................................................. 33

7.1.2. Variação do potencial de deposição ................................................................... 34

7.2. Testes Electroquímicos ............................................................................................... 35

7.2.1. Voltametria Cíclica ............................................................................................... 35

7.2.2. Caracterização Electroquímica ........................................................................... 38

8. Caracterização Físico-Química ........................................................................................... 45

8.1. SEM ............................................................................................................................. 45

8.1.1. EDX ..................................................................................................................... 47

8.2. Espectroscopia Raman ............................................................................................... 48

8.3. XRD ............................................................................................................................. 50

9. Conclusões .......................................................................................................................... 51

10. Trabalho Futuro ............................................................................................................... 53

11. Bibliografia ....................................................................................................................... 55

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1.INTRODUÇÃO

Actualmente, assiste-se a uma escassez das principais fontes de energia não-

renováveis, principalmente dos recursos petrolíferos. A maior responsabilidade e consciência

ambiental, incutida cada vez mais na nossa sociedade, têm resultado na procura e

desenvolvimento de soluções energéticas renováveis mais eficientes. Neste contexto, os

sistemas de armazenamento de energia surgem como assuntos de enorme interesse

tecnológico e económico.

A produção de energia de uma forma sustentável e ambientalmente inofensiva

manifesta-se como um tópico muito atrativo para os cientistas e investigadores. Verifica-se

assim um crescimento na investigação de tecnologias alternativas para a produção de energia

eléctrica, como a conversão de energia solar, eólica ou biomassa. O aumento de

produção/consumo de energia eléctrica a partir de fontes renováveis implica no entanto um

armazenamento de energia mais eficiente [1]. Por outro lado, o crescimendo do número de

veículos eléctricos e híbridos impõe a procura de soluções de sistemas de armazenamento de

energia de mais eficientes e adequados a estas aplicações.

O armazenamento de energia é responsável pela diminuição do desequilíbrio entre a

oferta e a procura de energia na rede eléctrica causado pela intermitência das fontes de

energia renovável. A diminuição desse desequilíbrio melhora a estabilidade e qualidade

(tensão e frequência) da rede eléctrica.

Actualmente, existem vários sistemas de armazenamento de energia eléctrica que

podem ser divididos em duas categorias: processos não electroquímicos e processos

electroquímicos (Figura 1). Os sistemas de armazenamento não electroquímicos podem ainda

dividir-se em 2 sub-categorias: sistemas mecânicos e térmicos. Os sistemas de

armazenamento electroquímico dividem-se em três classes: hidrogénio, baterias e

supercondensadores.

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Figura 1 –Classificação dos sistemas de armazenamento de energia eléctrica. Adaptado de [2].

O desempenho dos dispositivos de armazenamento de energia eléctrica é avaliado por

dois parâmetros: a densidade de energia e a densidade de potência. A densidade de energia

(expressa em Wh/kg), significa a quantidade de energia que um sistema consegue armazenar

por unidade de massa, enquanto a densidade de potência (W/kg) exprime a velocidade com

que um sistema consegue carregar e descarregar. A comparação destes dois parâmetros é

representada no diagrama de Ragone (Figura 2). Esta representação fornece os limites de

potência e energia disponíveis em baterias, pilhas de combustível, condensadores e

supercondensadores.

Figura 2 – Gráfico de Ragone para vários sistemas de armazenamento de energia [3].

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3

O gráfico de Ragone (Figura 2) mostra que as pilhas de combustível são sistemas de

elevada energia, enquanto os supercondensadores são sistemas de elevada potência. As

baterias são sistemas intermédios em termos de densidade energética e de potência. É ainda

notório que existe uma zona de sobreposição (de energia e potência) entre as baterias e os

supercondensadores e entre as baterias e as pilhas de combustível.Os supercondensadores

possuem baixas densidades de energia variando de 0,1 até 10 W/kg, enquanto que as baterias

de lítio (baterias de elevada densidade de energia) e as pilhas de combustível possuem

densidades de energia médias de 100 Wh/kg. Os supercondensadores possuem densidades

de potência que podem atingir os 1x106 W/kg. No entanto ainda nenhum sistema

electroquímico conseguiu igualar a performance do motor de combustão de interna. Estes

possuem densidades de energia até 3000 Wh/kg e densidades de potência de 300 W/kg. A

pesquisa e desenvolvimento de novos sistemas electroquímicos vem tentar igualar as

qualidades desse sistema.

A presente dissertação tem como objectivo, o estudo de novos materiais de eléctrodos

de supercondensadores formados por nanoespumas metálicas funcionalizadas. O trabalho

foca-se no estudo da funcionalização de nanoespumas de níquel-cobre através da deposição

do hidróxido/óxido de cobalto de modo a garantir uma maior densidade energética dos

supercondensadores. A deposição do material activo ocorre por electrodeposição

potenciostática pulsada, que consiste na aplicação de impulsos muito curtos (milissegundos)

de potencial. O objectivo é depositar uma camada fina de material activo sem modificar a

microestrutura do eléctrodo, fornecida pela nanoespuma metálica, aproveitando assim a

elevada área superficial do suporte usado. É ainda realizada uma análise electroquímica e

física ao material de eléctrodo. A análise electroquímica avalia o desempenho, densidade de

carga armazenada e resposta a muitos ciclos consecutivos de carga-descarga (ciclagem/

testes de estabilidade). Estas propriedades são avaliadas através dos testes de voltametria

cíclica e curvas de carga-descarga. Por outro lado, a análise física-química permite a

caracterização da estrutura e composição química através de técnicas como o difracção de

Raios-X (XRD), microscopia electrónica de varrimento (SEM), espectroscopia de raios-X por

dispersão de energia (EDX) e espectroscopia de micro-Raman.

Os objetivos específicos da presente dissertação são:

A investigação e desenvolvimento de novos materiais para eléctrodos de

supercondensadores de modo a melhorar a capacitância deste tipo de sistema de

armazenamento electroquímico.

O estudo da deposição de óxidos/hidróxidos de cobalto sobre nanoespumas de níquel-

cobre.

A caracterização electroquímica e físico-química dos eléctrodos de modo a avaliar o seu

desempenho, densidade de carga armazenada e ciclabilidade e relacionar o seu

comportamento com a sua morfologia e composição química.

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4

Esta dissertação divide-se em 8 capítulos. Os primeiros capítulos são de âmbito mais

teórico, no primeiro capítulo é feito um enquadramento geral do tema da dissertação e da

importância do armazenamento de energia. No capítulo 2 e 3 são apresentados os diversos

sistemas de armazenamento de energia não-electroquímicos e electroquímicos. No capítulo 4

são descritos os eléctrodos para supercondensadores, propriedades do material activo e do

substrato electrodepositado. No capítulo 5 é apresentado o processo de electrodeposição, os

seus fundamentos teóricos, vantagens e desvantagens. De seguida, no capítulo 6 descrevem-

se todos os métodos do trabalho experimental, desde a electrodeposição aos testes

electroquímicos e físico-químicos. Posteriomente, a discussão e os resultados são

apresentados no capítulo 7. Por fim, no capítulo 8 são apresentadas as conclusões e

perspetivas de trabalho futuro.

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5

2.SISTEMAS NÃO-ELECTROQUÍMICOS DE

ARMAZENAMENTO DE ENERGIA

2.1.Sistemas Mecânicos

Os métodos de armazenamento de energia eléctrica por via mecânica utilizam a

energia potencial de um fluido (gás ou líquido) em movimento para produzir energia eléctrica. O

processo consiste em fazer passar um fluído através de uma turbina, colocando-a em

movimento. A turbina, por sua vez, está acoplada a um gerador que transforma energia

mecânica em energia eléctrica.

2.1.1.Armazenamento por bombagem hidroeléctrica (Pumped-Hydro

Storage)

A tecnologia de bombagem hidroeléctrica explora a energia potencial da água de um

rio ou canal para produzir energia eléctrica podendo também ser utilizado como método de

armazenamento, fornecendo energia à rede eléctrica durante picos de maior consumo. Este

método consiste em mover água entre dois reservatórios que se encontram a diferentes alturas

e que estão ligados por uma tubagem que passa por uma turbina. Nos períodos de maior

consumo, a água do reservatório mais elevado é libertada e, por acção da gravidade,

encaminhada pela tubagem até às pás da turbina produzindo energia eléctrica (Figura 3),

sendo depois recolhida no reservatório inferior. Nos períodos de menor consumo, normalmente

à noite, a energia excedente da rede é utilizada para bombear de novo a água para o

reservatório superior.

As principais vantagens deste sistema são: a rápida resposta, elevada eficiência (90 %

aproximadamente) e ausência de resíduos ou poluição. No entanto, a construção destes

sistemas é dispendiosa e tem um grande impacto ambiental, pois é necessário construir uma

barragem para criar os reservatórios, o que irá bloquear cursos de água e inundar áreas que

anteriormente estavam secas, destruindo a fauna e flora local, causando uma grande

mudança na paisagem. Outra desvantagem é o facto de quando a água do reservatório

elevado é totalmente usada ser necessário esperar que esta seja bombeada de novo de um

reservatório para o outro. Este problema pode ser ultrapassado através de um bom

planeamento dos picos de consumo da rede.

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Figura 3 – Ilustração esquemática de um sistema de armazenamento por bombagem

hidroeléctrica [4].

2.1.2.Ar comprimido

A tecnologia de ar comprimido permite o armazenamento de energia através da

energia potencial de um gás comprimido e baseia-se nas leis fundamentais da física sobre a

compressão e expansão de um gás. Quando existe excesso de produção de electricidade, seja

pela elevada oferta ou pela baixa procura, esta pode ser armazenada através da compressão

do ar, transformando a energia eléctrica em energia potencial. Nos picos de consumo ou no

caso de existir uma deficiente produção de energia eléctrica, o ar comprimido armazenado é

expandido através de turbinas produzindo electricidade que pode ser injectada rapidamente na

rede eléctrica. O gás comprimido é normalmente armazenado em cavernas de sal, estas

cavernas são à prova de fugas e a sua grande dimensão permite armazenar grandes

quantidades de ar. O gás usado para compressão é o ar pois é o gás mais barato e abundante.

Este sistema permite armazenar temporariamente energia eléctrica produzida por fontes

renováveis intermitentes, como a eólica ou a solar, e recuperá-la quando for mais oportuno e

vantajoso. No entanto, como em qualquer outro sistema de armazenamento, as perdas são um

factor inevitável. Outra das grandes desvantagens deve-se ao uso de gás natural no processo

de expansão do ar comprimido. O uso de gás natural serve para evitar o congelamento da

turbina devido ao grande arrefecimento que ocorre aquando da expansão do ar.

2.2.Sistemas Termoquímicos

As tecnologias de armazenamento de energia eléctrica através da energia térmica

baseiam-se nas características termoquímicas dos fluidos. Existem 3 características que

permitem o armazenamento de energia por estes processos: o calor sensível, o calor latente e

a energia de reacção. O calor sensível diz respeito à mudança de temperatura do meio e é

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medido através do calor específico (Cp) que é a quantidade de calor necessária para aumentar

um grau Kelvin num grama de composto, tendo unidades de J.g-1

.K-1

. O calor latente refere-se

ao calor de mudança de fase, normalmente usado para a vaporização ou fusão. A entalpia de

mudança de fase (ΔHvap ou ΔHfus) mais o calor específico (Cp) é igual à capacidade de

armazenamento do material, para um certo intervalo de temperatura. A energia de reacção

refere-se à quantidade de energia que é absorvida e libertada quando se dá um deslocamento

no equilíbrio reaccional, através da mudança da temperatura e/ou pressão. Esta característica

é associada a uma entalpia de reacção (ΔHr) e pode ser calculada para as mais diversas

reacções.

A Figura 4, ilustra um exemplo de um sistema de armazenamento de energia térmico.

Neste sistema é bombeada, durante o dia, uma mistura salina fria a 260ºC até à torre de

energia solar. O sal é aquecido, na torre, até 550ºC e é usado para produzir vapor num

permutador de calor. O vapor produzido é transferido para a turbina de modo a gerar

electricidade. O sal aquecido, em excesso, é bombeado para o tanque de armazenamento. O

sal quente armazenado serve para gerar electricidade em períodos de maior carência

energética ou quando não existe luz solar. Este é um exemplo simples do uso das

propriedades térmicas como o calor sensível dos sais e o calor latente do vapor de água no

armazenamento de energia.

Figura 4 – Representação esquemática de um sistema de armazenamento de energia térmico. Adaptado de [5].

Esta tecnologia garante elevadas eficiências e baixas perdas, o seu preço atractivo é

outra das suas grandes vantagens. Os sistemas que usam o calor sensível têm a vantagem

deste ser um método barato, mas a sua densidade de energia é muito baixa. No caso da

mudança de fase, esta pode ser a vaporização ou a fusão de um composto, este método

garante densidades de energia muito maiores (cerca de 10x superior) quando comparadas com

o calor sensível. O fluído mais usado para absorver energia é a água por ser barata e

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8

prontamente acessível, no entanto, o uso de outros materiais como a sílica-gel garante uma

capacidade de armazenamento superior. As desvantagens deste tipo de tecnologia são o seu

custo, as propriedades e estabilidade dos materiais.

Cada aplicação necessita de um design específico de modo a corresponder as

condições limite e aos requisitos. A investigação e desenvolvimento deste tipo de técnica

focam-se no material (meio de armazenamento para diferentes intervalos de temperatura) e

isolantes térmicos, na integração do sistema e nos parâmetros do processo.

As aplicações do armazenamento de energia eléctrica através da energia térmica

podem ser domésticas ou industriais. As aplicações domésticas são o aquecimento de água,

aquecimento da casa ou ar-condicionado. No sector industrial, a principal aplicação é a

integração energética dado que este sistema melhora a eficiência dos processos retirando

calor onde não é necessário e fornecendo-o a outra parte do processo. O armazenamento

térmico ajuda a integração energética de fontes intermitentes (eólica e solar) num sistema

fechado, como o de uma casa. Isto aplica-se tanto para curto prazo na produção de água

quente para uso doméstico ou a longo prazo para armazenamento de calor para uso

residencial ou industrial. Este sistema pode ainda ser acoplado com a tecnologia de

armazenamento de ar comprimido aumentando em 20% o armazenamento de energia através

do aproveitamento do calor criado na compressão do ar.

Espera-se que o uso industrial desta tecnologia aumente nos próximos anos seja para

centrais solares ou para aproveitamento de calor na indústria dado que o preço dos

combustiveis muito provavelmente irá subir e a eficiência energética será a chave para a

competitividade.

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3.SISTEMAS DE ARMAZENAMENTO DE ENERGIA

ELECTROQUÍMICOS

Os sistemas de armazenamento electroquímicos podem dividir-se em 3 categorias:

baterias, hidrogénio e supercondensadores.

3.1.Baterias

Actualmente, existem diversos tipos de baterias no mercado, cujas diferenças se

devem especialmente aos tipos de eléctrodos e electrólitos usados, e não propriamente ao

mecanismo de funcionamento. As baterias são compostas por um eléctrodo positivo e um

eléctrodo negativo, imersos num electrólito e separados por um separador. Genericamente, as

baterias convertem energia química em energia eléctrica através de reacções de

electroquímicas. O seu desempenho, eficiência e tempo de vida são afectadas pelo tempo de

armazenamento da bateria, condições de carga/descarga e temperatura de operação. As

baterias mais usadas em todo o mundo para aplicações móveis ou estacionárias são: baterias

de chumbo/ácido, baterias de lítio e baterias de níquel/hidreto metálico.

3.1.1.Baterias de chumbo/ácido (Pb/ácido)

As baterias Pb/Ácido são as mais usadas em todo mundo, em aplicações movéis e

estacionárias. A principal vantagem desta bateria é a sua grande densidade de potência, ou

seja, estas baterias conseguem fornecer grandes correntes num curto espaço de tempo. O seu

baixo custo, fiabilidade e pouca manutenção constituem outras vantagens importantes. Por

outro lado, a baixa densidade de energia, a toxicidade e a poluição causada pelo chumbo são

desvantagens a ter em conta. A baixa densidade de energia significa que estas baterias não

conseguem armazenar muita energia.

As baterias Pb/Ácido podem ser usadas em aplicações estacionárias ou móveis.

Estacionárias - quando armazenam energia de uma rede eléctrica ou sistemas de back-up para

luzes emergência. As aplicações móveis são essencialmente como baterias para veículos

eléctricos ou como baterias de ignição em automóveis. O preço deste tipo de baterias pode

variar muito dependendo do tipo de aplicação, no entanto, esta bateria é uma alternativa mais

económica quando comparada com as baterias de níquel ou de lítio.

3.1.2.Baterias de Lítio

O termo “Baterias de Lítio” refere-se a uma grande família de baterias. Todas as

baterias de lítio usam um processo conhecido como intercalação, neste processo os iões de

lítio são incorporados no eléctrodo. A carga e descarga da bateria ocorre pelo movimento dos

iões de lítio. Durante a fase da carga os iões movem-se do eléctrodo positivo para o negativo e

no sentido oposto durante a descarga. Existem diferentes tipos de baterias de lítio disponíveis

actualmente. Elas diferem na composição eléctrodos.

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As principais vantagens deste tipo são: a elevada densidade de energia, o seu elevado

tempo de vida útil e ao não conterem metais pesados tornam o seu manuseamento mais

seguro. As grandes desvantagens deste tipo de baterias são a sua instabilidade, questões de

segurança, o custo e o facto de o lítio ser considerado um metal crítico devido as baixas

reservas de lítio. Este tipo de bateria sofre de grande instabilidade o que causa problemas de

segurança pois podem sofrer sobreaquecimento ou sobrecarga que podem resultar em

incêndio ou explosão. As baterias de lítio possuem muito boa ciclabilidade, isto é podem

carrefar e descarregar várias vezes. No entanto são susceptiveis de envelhecimento que não é

causado apenas pelo passar do tempo, mas também pela quantidade de ciclos de carga e

descarga.O acumular destes ciclos baixam a performance e o tempo de vida da bateria. Outra

das grandes desvantagens é o seu custo. As escassas reservas de lítio tornam esta bateria,

tipicamente, 40% mais cara que as baterias de Niquel/MH, este factor é preponderante dado o

seu uso em equipamentos produzidos em larga escala.

3.1.3.Baterias de Niquel/ Hidreto Metálico

As baterias de Niquel/Hidreto Metálico ou Ni/MH são baterias que usam eléctrodos

hidretos metálicos (normalmente ligas de Lantânio ou outras terras raras) e níquel. Estas

baterias têm uma maior densidade de energia e de potência que as de Pb/ácido e um grande

tempo de vida podendo operar até 3000 ciclos de carga-descarga. Não possuem resíduos

perigosos e operam num largo intervalo de temperaturas. As suas principais desvantagens são

a baixa eficiência e o auto-descarregamento, se ficarem guardadas por muito tempo baixam a

sua performance. Possuem ainda problemas de resistividade a nível do eléctrodo de Ni. Estas

baterias custam cerca de metade das baterias de Litío, no entanto as escassas reservas de

Lantânio (terra rara) podem levar ao aumento do seu preço. Os veículos híbridos são a

principal aplicação desta tecnologia.

De seguida apresenta-se na Tabela 1 as principais caracteristicas dos tipos de bateria

mais usados actualmente.

Tabela 1 – Valores de densidade de energia, potência e número de ciclos para os principais tipos de bateria [6-10].

Tipo de Bateria Densidade de energia

(Wh/kg) Densidade de

potência (W/kg) Nº de Ciclos

Pb/Ácido 33 – 42 180 500 – 800

Lítio 100 – 265 250 –340 400 – 1200

Ni/MH 50- 80 250 –1000 500 – 3000

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3.2. Pilhas de Combustível

As pilhas de combustivel pertencem aos sistemas de armazenamento de energia

electroquímicos de Hidrogénio, esta tecnologia usa o Hidrogénio (ânodo) como fonte de

energia (reagente). Na realidade, o hidrogénio não é uma fonte de energia, mas sim um

transportador de energia. O hidrogénio é usado para múltiplos propósitos, como matéria-prima

e como intermediário para produção de produtos químicos, refinação de petróleo, e tratamento

metálico. É também usado para converter petróleo pesado em fracções leves (hydrocracking)

[4]. As suas aplicações no sector do transporte e como combustível em pilhas de combustível

representam ainda uma fracção muito pequena das suas aplicações.

As pilhas de combustível operam com base na electrólise da água [Figura 5]. A energia

eléctrica é produzida pela oxidação do hidrogénio no ânodo e pela redução normalmente de O2

atmosférico no cátodo, produzindo água de acordo com as seguintes equações [3]:

No ânodo: No cátodo:

Eq. 1 Eq.2

Reacção global:

Figura 5 - Pilha de combustível mostrando o fornecimento contínuo de reagentes (hidrogénio no ânodo e oxigénio no cátodo) e as reacções redox na pilha [11].

Como pode ser observado na reacção global das pilhas de combustível (Eq. 3) a

presença de O2 atmosférico torna esta tecnologia muito barata e acessível. Além disso, o

hidrogénio possui a maior densidade de energia por quilograma, ou seja, o hidrogénio

consegue armazenar a mais elevada energia por unidade de peso [12]. O hidrogénio é ainda

Eq.3

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12

um composto não-poluente e renovável, estas características tornam esta tecnologia amiga do

ambiente e permitem baixar a dependência de combustíveis fósseis. No entanto, o elevado

custo do hidrogénio é ainda uma das grandes desvantagens, não pela falta de abundância,

mas por ser muito difícil de gerar, manusear e armazenar. De modo a facilitar o seu transporte

é necessário liquefazer o hidrogénio, este processo é ainda muito dispendioso tornando o

hidrogénio um composto excessivamente caro [13].

As principais aplicações das pilhas de combústivel são: transporte, aplicações

estacionárias e móveis. No entanto, o transporte é a sua principal aplicação visto que já podem

ser adquiridos alguns veículos que têm propulsão através de pilhas de combustível. Esta

tecnologia revela muito potencial, mas ainda não encontrou o seu lugar no mercado.

3.3. Supercondensadores

Os supercondensadores dividem-se em 2 tipos: EDLC (supercondensadores de dupla

camada) e pseudocondensadores ou supercondensadores redox. Os supercondensadores são

uma tecnologia electroquímica de armazenamento de energia sendo que a grande densidade

de potência e a extensa ciclabilidade as suas principais vantagens. A versatilidade desta

tecnologia tem vindo a suscitar cada vez mais investigação e desenvolvimento.

Nos EDLCs, o armazenamento da carga é feito através da carga-descarga da dupla

camada eléctrica formada na interface eléctrodo/electrólito. Nos supercondensadores redox, a

carga é armazenada através de reacções farádicas reversiveis. Este facto permite uma maior

densidade de energia. A grande desvantagem associada a este tipo de sistemas deve-se à

perda de condutividade face a muitos ciclos consecutivos de carga e descarga. Por outro lado

a quantidade de energia que conseguem armazenar é inferior à de outros sistemas

electroquímicos, como as baterias ou os processos baseados em hidrogénio [12].

3.3.1.EDLC

Os EDLCs são supercondensadores electroquímicos baseados na adsorção física de

iões, sem qualquer reacção electroquímica, contrariamente ao que acontece nas baterias. A

performance dos EDLCs é baseada na atracção electrostática dos iões do electrólito ao

eléctrodo, ocorrendo separação de cargas na interface electrólito/eléctrodo, Figura 6. Os iões

são adsorvidos de forma reversível em eléctrodos porosos, formando uma dupla camada

eléctrica na interface electrólito/eléctrodo. Como o processo de adsorção é reversível e não

envolve mudança física do material dos eléctrodos. Os EDLCs podem suportar até milhões de

ciclos de carga/descarga, sendo esta uma das suas principais vantagens [12].

A capacitância de um EDLC depende da área superficial dos eléctrodos. O material de

eléctrodo mais usado é o carbono activado, porque possui uma área superficial muito elevada,

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13

e uma porosidade bem definida, que dependendo da sua morfologia pode atingir mais de 2000

m2g

-1. Os eléctrodos de carbono têm também uma elevada estabilidade química, o seu baixo

custo, e facilidade de adquirir a forma/estrutura desejada [12].

Figura 6 - Representação de um supercondensador electroquímico, ilustrando o

armazenamento de energia de dupla camada na interface electrólito/eléctrodo. Adaptado de [14].

3.3.2.Pseudocondensadores ou supercondensadores redox

Os supercondensadores redox são equipamentos de armazenamento de energia

electroquímicos.

Conway[43]

identificou 3 tipos de mecanismos pseudocapacitivos, responsáveis pelo

armazenamento de carga em óxidos/hidróxidos de metais transição: 1- Deposição a potencial

baxio/subpotencial; 2- Pseudocapacitância Redox (mecanismo de armazenamento do Co(OH)2

e Co3O4 ); 3- Pseudocapacitância por intercalação.

1- A deposição a potencial baixo ocorre quando iões metálicos formam uma

monocamada adsorvida na superfície de outro metal abaixo do seu potencial

redox. Um exemplo clássico é a Chumbo (Pb) na superfície de um eléctrodo de

ouro (Au).

2- A pseudocapacitância redox ocorre quando iões são adsorvidos, na superfície ou

perto dela, num material com uma transferência de carga pseudocapacitiva

semelhante. Verifica-se este tipo de mecanismo no armazenamento de carga nos

Co(OH)2 e Co3O4 . As reacções que ocorrem nestes materiais são reacções

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14

Faradaicas, isto é reacções não electroestáticas, baseadas em reacções redox. As

reacções redox ocorrem pela troca/transferência de cargas ao longo da superfície

dos eléctrodos, em vez da separação electrostática de cargas.

Figura 7 - Representação do mecanismo de pseudocapacitância redox de um

supercondensador electroquímico [15]

3- O processo de intercalação ocorre quando iões são intercalados em diversas

camadas de um material redox activo. Ocorre também a transferência de carga

faradaica sem mudança de fase cristalina.

Estes 3 mecanismos ocorrem através de diferentes processos físicos com diferentes tipos de

materiais; a semelhança entre os diferentes processos electroquímicos deve-se à relação entre

potencial e a extensão de carga que se desenvolve como resultado dos processos de

adsorção/desadsorção na interface eléctrodo/electrólito ou na superfície interna do material.

No entanto, sabe-se que tanto o mecanismo EDLC e a pseudocapacitância podem

ocorrer no mesmo supercondensador. Normalmente, existe um que se sobrepõe ao outro. O

mecanismo de pseudocapacitância redox pode ser obtido através do uso de óxidos/hidróxidos

de metais de transição. Estes materiais são usados devido aos seus múltiplos estados de

oxidação e boa reversibilidade redox. Estas propriedades são muito importantes pois levam ao

aumento da densidade de energia dos supercondensadores e a uma boa ciclabilidade. Este

processo permite alcançar maiores densidades de energia, o que resulta numa quantidade de

energia armazenada significativamente maior por unidade de área do que no caso dos EDLC.

No entanto, são raros os materiais nos quais este mecanismo consegue ser efectivamente

usado [12].

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15

Outra das razões do actual sucesso dos supercondensadores deve-se à sua

capacidade de carregarem e descarregarem muito rapidamente, podendo alcançar uma

densidade de potência de 10 kW/kg. Pra além do mais podem operar em meio aquoso,

incluindo electrólitos neutros, o que constitui uma forte vantagem do ponto de vista ambiental.

Estes sistemas conseguem fornecer maiores densidades de energia que os EDLC,

mas como ocorrem mudança física nos eléctrodos durante a carga e descarga eles têm uma

durabilidade e uma densidade de potência relativamente mais baixas que os EDLC.

Neste projecto é usado o hidróxido de Cobalto (Co(OH)2) como material

pseudocapacitivo. A escolha do composto usado será descrita no sub-capítulo Eléctrodos para

supercondensadores.

Devido à quantidade de energia armazenada estar associada à área superficial do

eléctrodo, quanto maior a sua área maior será a energia armazenada. O uso de estruturas

porosas e condutoras como nanoespumas metálicas permite aumentar a área exposta e por

consequência a capacitância do equipamento. Os valores de capacitância específica são

geralmente dados em Farads por grama [12]. Na tabela 2 são apresentadas algumas das

vantagens e desvantagens dos dois tipos supercondensadores.

Tabela 2 – Principais vantagens e desvantagens dos Supercondensadores EDLC e

Pseudocondensadores

EDLC PseudoCondensadores

Mecanismo não Faradaico

Opera numa janela alargada de potencial

Elevada densidade de potência

Baixa resistência

Reversibilidade infinita

Envolve processos Faradaicos

Opera em janelas de potencial mais curtas

(limitações electroquímicas)

Limitações cinéticas para altas potências

Grande reversibilidade

Permite maior capacidade e densidade de

energia.

Na Tabela 3 verifica-se que as baterias e as pilhas de combústivel possuem

densidades de energia de 300 - 1500 Wh/kg e densidades de potência que variam entre 0,001

e 10 W/kg, por outro lado os supercondensadores possuem densidades de energia mais baixas

e densidades de potência mais altas que variam entre 1000 e 3300W/kg. Os

supercondensadores possuem ainda um extenso tempo de vida dado o número de ciclos que

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16

estes aparelhos podem operar sem necessitarem de manutenção. Para certas aplicações, a

temperatura de operação pode também ser um factor decisivo na escolha do equipamento de

armazenamento [16].

Tabela 3 - Tabela resumo das principais caracteristicas dos sistemas electroquimicos de armazenamento de energia [17, 18].

Densidade de

energia (Wh/kg)

Densidade de

Potência

(W/kg)

Nº de ciclos Temperatura de

operação (C)

Baterias 10 - 300 150 - 800 500 - 3000 -20 – 60

Supercondensadores 1-10 1000-3300 >100000 - 40 – 70

Pilhas de combustível 200 - 1300 0,001 – 10 <150 25 – 90

Actualmente, os supercondensadores podem ser usados num vasto campo de

aplicações (Figura 6), desde o transporte, que parece ser um dos mercados mais promissores

até aplicações de consumo generalizado. Esta tecnologia é ideal para aplicações que

requerem cargas rápidas. As funcionalidades dos supercondensadores estão a ser exploradas

exaustivamente em aplicações automóveis, seja na nova tecnologia de travagem regenerativa

ou acoplados a baterias, formando uma tecnologia híbrida usada frequentemente em veículos

eléctricos. Para além disso, encontram também aplicação em produtos de consumo

generalizado como fontes de energia de reserva (back-up), microcomputadores, relógios,

brinquedos, telemóveis, sistemas de segurança e alarmes e detectores de fumo. Os

supercondensadores podem ser usados como sistemas de reserva de energia em sistemas de

alimentação ininterrupta (UPS). Eles conseguem fornecer energia instantaneamente, ajudando

a prevenir o mau funcionamento de aplicações onde a interrupção de energia é critíca. São

adequados para fornecer energia no start-up ou durante picos de carga, pois conseguem

fornecer elevadas quantidades de energia num curto espaço de tempo.

Actualmente, o uso de grandes supercondensadores é realmente muito promissor com

muitos protótipos e projectos de demonstração, podendo cobrir um largo intervalo de energia

armazenada. A maior preocupação é agora de natureza económica devido ao elevado custo

associado a equipamentos de supercondensadores, dado que o investimento inicial não

consegue ser recuperado, mesmo através da poupança energética e de outras vantagens

associadas com as aplicações desta tecnologia. Apesar do investimento inicial ser elevado, os

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17

supercondensadores apresentam uma boa relação custo-eficiência pois têm tempos de vida

muito longos e não necessitam de manutenção durante o seu tempo útil.

Figura 8 – Quotas de mercado das diferentes aplicações dos supercondensadores nos anos de 2014 e 2020. Adaptado de [19].

As principais empresas de supercondensadores no mundo são: a Maxwell, Silicon

Laboratories Inc. e a Evans nos Estados Unidos da América; a NEC Tokin, Panasonic e Nippon

Chemi-Con no Japão; a Eocnd da Rússia; a SAFT de França; Skeleton Tecnologies da

Estónia; CAP-XX da Austrália e a NESSCap da Coreia do Sul. Estas empresas disponibilizam

uma grande quantidade de supercondensadores, variando os materiais capacitivos e

propriedades de cada um, dado que são necessários características especificas para cada uma

das aplicações.

O crescimento médio no mercado dos supercondensadores nos últimos 10 anos é de

25% e a maioria das análises prevê um crescimento de 30% nos próximos 10 anos [20]. O

desenvolvimento dos supercondensadores e pilhas de combustível aponta para a competição,

(ou até mesmo substituição) das baterias em diversas áreas. É expectável que o mercado dos

sistemas electroquímicos de armazenamento de energia venha a crescer, no entanto estará

muito sensível a variações no custo.

De modo a assegurar a vantagem competitiva dos supercondensadores sobre as

tecnologias contemporâneas como as baterias, são necessárias melhorias significativas na sua

densidade energética. Actualmente, os esforços para a resolução deste desafio têm-se

centrado no desenvolvimento de novos electrólitos que permitam um aumento da voltagem

operacional e novos materiais activos com elevada capacitância específica. É neste último

tópico que se insere esta tese de mestrado cujo foco é a produção de novos eléctrodos

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18

formados por um material activo, depositado sobre um suporte poroso. A inovação desta

abordagem consiste no suporte poroso que fornece uma estrutura completamente nova e bem

definida, na qual a porosidade fornece uma maior área especifica bem como um menor peso

ao eléctrodo.

Embora existam desenvolvimentos extremamente promissores, encurtar a diferença de

densidades energéticas entre baterias e supercondensadores, sem sacrificar a ciclabilidade e o

tempo de vida dos supercondensadores, tem provado ser uma tarefa muito difícil. A longo

prazo verificam-se também problemas de durabilidade que derivam da decomposição dos

materiais do eléctrodo e do electrólito. Especificamente durante os ciclos de carga e descarga,

os materiais pseudocapacitivos (neste caso, óxidos/hidróxidos de cobalto) podem sofrer

alterações volumétricas ou de composição que afectam a integridade das estruturas dos

eléctrodos e causam a degradação da sua performance após longos períodos de operação. A

decomposição do electrólito é também um assunto significativo, este prevalece a maiores

voltagens de operação podendo ocorrer na superfície de eléctrodos, causando o bloqueio dos

poros e oferencendo maiores resistências. A corrosão de colectores de corrente de aluminio ou

aço inox é também um desafio significativo que pode ser ultrapassado pelo tratamento da

superfície de modo a aumentar a sua estabilidade.

O custo decrescente dos supercondensadores é essencial para assegurar a sua

atractividade à escala comercial. Apesar das diversas desvantagens dos supercondensadores

electroquímicos quando comparados com as baterias, verifica-se que a redução do custo bem

como a melhoria da sua performance e estabilidade são uma necessidade. O desenvolvimento

e aplicação de novos electrólitos, materiais para eléctrodos e colectores de corrente com

performance melhorada a custo reduzido irão aumentar a atractividade desta tecnologia

emergente. O futuro passa também por conjugar as qualidades das baterias com as dos

supercondensadores, pois as primeiras conseguem fornecer uma grande densidade energética

e os últimos conseguem tempo de vida ilimitado, excelente aceitação de carga e excelente

performance de descarga a baixas temperaturas [21].

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19

4.ELÉCTRODOS PARA SUPERCONDENSADORES

REDOX

4.1.Óxidos/hidróxidos de metais de transição

O desempenho e eficiência dos sistemas de armazenamento de energia eléctrica por

via electroquímica depende fortemente do material activo dos eléctrodos. Apesar dos

numerosos esforços na investigação e desenvolvimento de novos materiais, estes apresentam

quase sempre uma capacitância insuficiente e uma baixa estabilidade cíclica, maioritariamente

devido à reversibilidade incompleta de algumas reacções electroquímicas e ao

desenvolvimento de uma resposta resistiva ao longo do tempo.

Existem 3 grandes tipos de materiais para eléctrodos de supercondensadores: os

materiais de carbono, os polímeros condutores e os óxidos/hidróxidos metálicos. Os

óxidos/hidróxidos metálicos, armazenam energia electrostaticamente e através de reacções

faradaicas (oxidação-redução) [22], conseguindo por isso fornecer maiores densidades de

energia que os materiais de carbono e maior estabilidade que os polímeros.

No caso dos supercondensadores redox, os óxidos/hidróxidos dos metais de transição

têm sido estudados exaustivamente, devido às suas propriedades pseudocapacitivas. O óxido

de ruténio (RuO2) foi um dos primeiros materiais estudados para esta aplicação, este apresenta

elevadas capacitâncias, reportadas 720 e 1300 F/g [22, 23], boa conductividade, excelente

reversibilidade electroquímica e é ainda capaz de suportar altas taxas e muitos ciclos. No

entanto, o seu custo, falta de abundância e tóxicidade faz com que este óxido metálico tenha

sido posto de parte.

Actualmente, os óxidos de manganês e os óxidos/hidróxidos de cobalto são os

materiais pseudocapacitivos mais testados. Apesar da elevada capacitância do RuO2, as

desvantagens associadas a este composoto impedem a sua comercialização em

supercondensadores. Como alternativa os óxidos de manganês (MnOx) surgiram como uma

alternativa barata, ambientalmente segura e capaz de fornecer elevadas capacitâncias. A

capacitância dos óxidos de Manganês provém sobretudo da pseudocapacitância. Apesar da

sua natureza redox como mecanismo de armazenamento de energia estes materiais

apresentam voltamogramas rectangulares, normalmente associados a mecanismos de

armazenamento não-faradaicos.

Para os eléctrodos de supercondensadores de cobalto como Co3O4 e Co(OH)2, os

factores preponderantes que fazem com que estes dois compostos estejam sujeitos a um

amplo estudo são a elevada densidade de energia [23, 24] e o baixo custo. O Co(OH)2 é

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20

também um material atractivo devido à sua estrutura em camada e ao grande espaço

existente entre camadas, garantindo uma grande área superficial e uma alta taxa de

inserção/desinserção de iões que ocorre durante a seguinte reacção[24]:

Co(OH)2 + OH– ↔ CoOOH + H2O + e

– Eq. 4

Foi reportado que um filme flexivel de nanoflocos de Co(OH)2 electrodepositado

galvanostaticamente sobre uma rede de aço inox obteve uma capacitância de 609 F/g. É de

notar que é possivel atingir capacitâncias superiores às atingidas pelo RuO2. No entanto a

maioria dos resultados é obtida numa janela de potencial reduzida, o que não favorece grandes

densidades de energia.

Os eléctrodos de Co3O4 e Co(OH)2 aparentam exibir um excelente comportamento

redox reversivel, grande área superficial, boa condutividade, performance constante ao longo

do tempo, e boa estabilidade contra a corrosão. Devido a todas estas vantagens estes

materiais têm sido considerados como boas alternativas para materiais de eléctrodos. Foi

reportada uma capacitância de 118 F/g para substratos de cobre revestidos por peliculas finas

de Co3O4, G. Wang et al. [22] reporta uma capacitância de 165 F/g para o Co3O4 depositado a

partir de CoCl2. Um eléctrodo preparado pelo método de sol-gel resultou numa capacitância de

291 F/g [22]. Actualmente, o desenvolvimento de nanoestruturas tem concentrado muita

atenção, nanofios de Co3O4 depositados sobre espumas de níquel apresentam uma

capacitância de 746 F/g a uma corrente de 5 mA/cm2. Filmes de Co3O4 preparados por

electrodeposição, apresentam uma capacitância de 235 F/g a uma velocidade de varrimento de

20mV/s. As densidades de energia e potência deste destes filmes foram de 4 Wh/kg e 1,33

kW/kg, respectivamente.

O óxido de Cobalto, Co3O4 apresenta a forma de uma espinela como estrutura

cristalina, estes compostos têm como forma geral AB2O4 e são muito importantes para os

Sistemas de armazenamento de energia, pois são estruturas muito compactas, estáveis e

apresentam grande área superficial. Os hidróxidos de metais de transição divalentes como o

Co2+

, tendem a formar estruturas lamelares que normalmente consistem em estruturas

octaédricas [22].

Em suma, eléctrodos de Co(OH)2 podem dar capacitâncias muito maiores que Co3O4.

No entanto a reduzida janela de potencial condiciona a aplicação prática destes materiais em

sistemas de armazenamento. Devido a todas as vantagens apresentadas pelo hidróxido de

cobalto optou-se por escolhê-lo como o material electroactivo mais adequado a usar nos

eléctrodos no presente projecto.

Page 35: Nanoespumas de Ni-Cu funcionalizadas com óxidos/hidróxidos ... · ix Lista de Figuras Figura 1 –Classificação dos sistemas de armazenamento de energia eléctrica. Adaptado de

21

4.2.Espumas metálicas

Actualmente, as estruturas metálicas porosas têm vindo a despertar grande interesse

para aplicação como suporte do material activo em eléctrodos de supercondensadores

redoxdevido à sua morfologia e à sua grande área específica, sendo estes os principais

requisitos em estruturas catalíticas ou em equipamentos de armazenamento de energia. Estas

propriedades são essenciais principalmente em supercondensadores.

O uso de um suporte metálico poroso pretende aumentar a área superificial do

eléctrodo e a quantidade de material electroactivo depositado, tendo como objectivo um maior

armazenamento de energia. Espumas metálicas nanoestruturadas (NMFs) são tipicamente

estruturas 3D de poros interconectados com paredes nano-ramificadas que exibem,

normalmente, porosidade acima dos 50% e uma grande variação na distribuição do tamanho

dos poros. Estas estruturas permitem a rápida difusão de espécies activas pelo material e

fornecem um aumento da área superficial para as reacções electroquímicas, que são de

extrema importância nos eléctrodos de supercondensadores redox. Além disso, elas combinam

estas propriedades com as características intrínsecas dos metais, como a boa condução

eléctrica e térmica [27].

Neste projecto é utilizada uma NMF bimetálica de níquel-cobre (Ni-Cu). Esta NMF é

produzida por electrodeposição segundo os parâmetros definidos anteriormente [27]. As NMFs

de Ni-Cu fornecem assim um substrato leve e com uma grande área superficial permitindo

alcançar o objectivo de aumentar a sua densidade de energia do supercondensador redox.

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5.ELECTRODEPOSIÇÃO

A electrodeposição é um processo electroquímico que permite a deposição de filmes

em substratos condutores. A electrodeposição de óxidos/hidróxidos metálicos pode ocorrer

através de um processo anódico ou catódico. Neste projecto foi utilizado o processo anódico,

este envolve a oxidação dos iões metálicos em solução até um estado de oxidação onde estes

reagem instantaneamente com a água produzindo um depósito insoluvel [16]. A reacção de

formação do Co(OH)2 envolve a electrogeração de uma base perto do eléctrodo de trabalho

devido à presença de nitratos na solução. A basicidade perto do eléctrodo de trabalho deve-se

à produção de iões hidróxido pela redução dos iões nitrato, como se pode ver na Eq. 5:

NO3- + H2O + 2e

- ↔ NO2

- + 2OH

- Eq.5

A produção de hidróxido perto da superfície aumenta o pH no local fazendo com que os

iões metálicos em solução reagam com os iões hidróxido, precipitando como óxido ou hidróxido

do metal. processo de precipitação ocorre sem alteração do estado de oxidação do metal de

acordo com a Eq. 6:

Co2+

+2OH- ↔ Co(OH)2 Eq.6

Existem diversos métodos para a fabricação de estruturas metálicas altamente

porosas. Entre eles, a electrodeposição é o método conveniente para produzir nanoestruturas,

já que é relativamente barato, pode sofrer “scale-up” com relativa facilidade e opera à

temperatura ambiente.

A electrodedposição é uma técnica muito versátil para a produção de materiais porosos

e pode originar diversas morfologias, simplesmente mudando os parâmetros de deposição. Em

particular, pode utilizar-se as bolhas de hidrogénio, que muitas vezes ocorre simultaneamente

com a deposição do metal, como um template dinâmico para a deposição de estruturas

porosas. Este processo torna-se assim um método simples e de um único passo para produção

de NMFs. NMFs são tipicamente depositadas em substratos metálicos de alta conductividade,

isto constitui uma vantagem para a fabricação de eléctrodos para supercondensadores dado

que o material activo é depositado num colector de corrente. [27]

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O conceito foi primeiramente estabelecido por Shin and Liu [28]. Estes autores

mostraram que espumas metálicas de cobre e estanho, com uma estrutura dendritica nano-

ramificada podem ser produzidas por electrodeposição por aplicação de uma elevada corrente

catódica e que a sua morfologia está relacionada com a nucleação e evolução de hidrogénio

durante a deposição. As bolhas de hidrogénio que se formam durante a deposição do metal

actuam com um molde dinâmico negativo (negative dynamic template) forçando o metal a

crescer nos espaços vazios entre as bolhas, formando assim uma estrutura porosa, Figura 9. A

porosidade do filme formado pode ser controlada através dos parâmetros de deposição e da

composição do electrólito [27].

Figura 9 – Representação da deposição através do molde dinâmico negativo. Adaptado

de [40]

No presente trabalho, espumas de niquel-cobre altamente porosas foram

eletrodepositadas em substratos de aço inoxidável usando molde dinâmico de bolhas de

hidrogénio para aplicação em eléctrodos para supercondensadores, Figura 9. O aço inoxidável

foi escolhido como substrato pois é o material apropriado para colectar corrente devido ao seu

custo relativamente baixo, boa condutividade e alta resistência à corrosão.

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6.MÉTODOS

6.1.Introdução

Neste projecto de dissertação foi desenvolvido e caracterizado um eléctrodo para

aplicação em supercondensadores redox que consiste em hidróxido de cobalto (Co(OH)2)

sobre uma espumas metálica de níquel-cobre (Ni-Cu) depositada sobre um substrato de aço

inoxidável (Figura 10). As espumas são depositadas através de um processo anteriormente

optimizado [27]. O Co(OH)2 foi electrodepositado sobre a espuma metálica sob um regime

pulsado catódico, tendo-se estudado e optimizado as condições de deposição. As melhores

amostras foram sujeitas a um tratamento térmico. As propriedades dos eléctrodos formados

pelos dois materiais foram caracterização por métodos físico-químicos (SEM, EDX, Raman e

XRD) e electroquímicos (voltametria ciclica e cronopotenciometria (curvas de carga descarga)).

Figura 10 – Representação do corte transversal do eléctrodo produzido constituído por 3 diferentes partes.

6.2.Materiais e Soluções

As espumas de Ni-Cu foram electrodepositadas em substratos de aço inoxidável AISI

304 (Goodfellow), cuja composição química se encontra descrita na Tabela 4.

Tabela 4 - Composição do aço inoxidável AISI 304 Goodfellow

Elementos da liga (fracção

mássica %m/m) Elementos vestigiais (fração mássica %m/m)

Crómio

(Cr) Níquel (Ni)

Carbono

(C)

Manganês

(Mn) Silicio (Si) Fósforo (P) Enxofre (S)

18 10 0,08 2,00 1,00 0,045 0,03

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Todas as soluções foram preparadas a partir de reagentes p.a. (pro analysis) da

Sigma-Aldrich e com água destilada. A composição dos electrólitos utilizados para os

processos de electrodeposição das espumas de Ni-Cu e do Co(OH)2 encontra-se descrita na

Tabela 5. O pH da solução de cobalto foi ajustado a partir da adição de 0,05M KOH.

Tabela 5 - Composição dos electrólitos usados na electrodeposição

Electrodeposição Composição do electrólito

Espumas de Ni-Cu 0,5 M NiSO4.7 H2O + 1,5 M H2SO4 +1 M HCl + 0,01 M CuSO4.

Co(OH)2 0,05M Co(NO3)2.6H2O + 0,05M KNO3 (pH 6,3)

Na Tabela 6 estão identificadas as soluções electrolíticas utilizadas nos testes

electroquímicos.

Tabela 6 - Composição dos electrólitos utilizados nos testes electroquímicos

Técnica Electrólito

Voltametria Ciclica 1M de KOH

Curvas de Carga-Descarga 1M de KOH

6.3.Células electroquímicas

Foram utilizadas duas células electroquímicas diferentes: uma para a electrodeposição

e outra para os testes electroquímicos, concebidas para a utilização dos eléctrodos de trabalho

(chapas rectangulares).

A célula de electrodeposição consiste num recipiente rectangular com (5 cm de

comprimento x 3,5 cm de largura x 6 cm de altura) e a outra consiste num recipiente cilindrico

(7 cm de altura e 5 cm de diâmetro), ambos abertos no topo e com capacidade para cerca 100

ml de solução electrolítica. A diferença entre ambas as células deve-se ao tamanho do orificio

lateral que define a área activa do eléctrodo de trabalho. A célula de electrodeposição das

espumas e do Co(OH)2 tem um orificio lateral de 1,65cm2, enquanto que nos ensaios

electroquímicos foi utilizada a célula cilindrica com uma orificio lateral de 1cm2.

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Na electrodeposição das espumas foi usada uma montagem com 2 eléctrodos. O

eléctrodo auxiliar consiste numa placa de grafite (8 cm altura x 3,5 cm de largura) e o eléctrodo

de trabalho é a chapa rectangular de aço inox (Figura 11 a)). Na electrodeposição do cobalto e

ensaios electroquímicos foi utilizada uma montagem de 3 eléctrodos, os eléctrodos auxiliar e

de referência são introduzidos pelo topo da célula enquanto o eléctrodo de trabalho é fixo com

uma garra sobre o orificio lateral Figura 11 b)). Neste caso, o eléctrodo auxiliar é composto por

uma folha de platina quadrada com 2,5cm de lado. O eléctrodo de referência usado é o ESC

(eléctrodo saturado de calomelanos) colocado no interior de uma ponte salina.

Figura 11 – Imagens das duas células electroquímicas utilizadas: (a) de electrodeposição, montagem de 2 eléctrodos (área activa - 1.65 cm

2), (b) de teste, montagem a 3 eléctrodos,

(área activa – 1 cm2)

6.4.Preparação dos eléctrodos

O eléctrodo de trabalho é constituido por uma chapa de aço inoxidável cortada em

secções rectangulares de 2,0 cm x 2,5 cm. As chapas são polidas em lixas de carboneto de

silício (SiC) 600, lavadas com água destilada, sujeitas a ultrassons em acetona durante 5

minutos e depois secas com ar comprimido. Os eléctrodos de trabalho foram pesados, na

balança Santorius MC5 (0,001 mg), entre as etapas de deposição, de modo a conhecermos a

quantidade de material depositado.

As amostras óptimas foram submetidas a um tratamento térmico na estufa Memert

modelo Universal UN30 a 250ºC durante 2 horas.

(b) (a)

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6.5.Técnicas experimentais electroquímicas

6.5.1.Electrodeposição

A electrodeposição de filmes de Ni-Cu foi realizada galvanostaticamente por 3 minutos

aplicando uma densidade de corrente de 1.8 A/cm2 [27] e usando uma fonte de alimentação do

tipo Sorensen LH110.

O processo de electrodeposição do Co(OH)2 foi realizado em regime pulsado usando

um potencial negativo cujo gráfico esquemático se encontra representado na Figura 12. Neste

regime, foi aplicado um potencial inicial (Ei) e final (Ef) com pulsos de 50 milisegundos, o tempo

de medição foi de 30 ms. O potencial inicial foi de 0 mV para todas as amostras e o potencial

final variou entre -900 e -1700 mV. O número de pulsos (n) foi também ajustado entre 1100 e

1650.

Figura 12 – Processo de electrodeposição galvanostática pulsada Potencial em função do tempo [29].

6.5.2.Voltametria cíclica

A voltametria cíclica (VC) é uma técnica electroanalitica de execução experimental

relativamente simples e que permite a identificação das reacções electroquímicas que ocorrem

na superficie dos materiais. É classificada como uma técnica electroquimica dinâmica, uma vez

que permite varrer um intervalo de potenciais, ciclicamente, enquanto se regista a resposta da

corrente gerada a partir das reacções electroquímicas do sistema. Neste estudo, os

voltamogramas foram realizados numa célula de 3 eléctrodos ligada a um potencióstato

Voltalab PGZ100, com velocidades de varrimento entre 10 e 200 mV/s no intervalo de

potenciais de -1100 mV e 750 mV, em electrólito 1M de KOH.

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6.5.3.Curvas de carga-descarga

As curvas de carga-descarga são muito utilizadas na caracterização de

supercondensadores, permitindo o cálculo da sua capacidade específica. À semelhança da VC,

nas curvas de carga-descarga caracteriza-se o comportamento electroquimico da superficie

dos materiais e obtêm-se através da técnica de cronopotenciometria. A técnica permite medir

quantitativamente a actividade electroquímica em função do potencial. Aplicando uma

densidade de corrente constante mede-se o tempo que o électrodo de trabalho demora a

atingir um determinado potencial. Através dos dados obtidos é possível calcular a capacitância

específica de cada amostra através da eq.7.

E

Eq. 7

Nesta equação, I corresponde à corrente em Ampéres, t ao tempo de descarga em

segundos, m a massa em gramas e ΔE a janela de potencial obtida através dos testes de

voltametria ciclica, em Volts.

Existe ainda uma característica que influencia o cálculo da quantidade de energia

armazenada, esta relaciona-se com a simetria das curvas de carga e descarga e tem o nome

de Eficiência Colômbica. A figura 13 ilustra as diferenças entre as curvas de carga e descarga

de um supercondensador convencional (curva A, linear) e de um supercondensador redox

(curva B, não Linear). No entanto, existem algumas excepções, alguns óxidos metálicos como

o RuO2 e os Óxidos de Manganês (MnOx) apresentam curvas carga-descarga semelhantes às

de um supercondensador convencional.

A eficiência colômbica é dada pela razão entre a diferença de potenciais ΔU e a

diferença de cargas ΔQ. Para uma curva simétrica (curva A) a eficiência colômbica é igual a 1,

para curvas não lineares (curva B) a capacitância deve ser multiplicada pela eficiência

colômbica de forma a obtermos uma capacitância real.

Figura 13 - Comparação ilustrativa das curvas de carga e descarga de um supercondensador convencional ( Curva A, linear), e de um supercondensador redox (curva B, não Linear).

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As curvas de carga-descarga foram obtidas numa célula de 3 eléctrodos ligada a um

potencióstato Voltalab PGZ100, aplicando uma densidade de corrente igual na carga e

descarga (com sinal negativo) e esta é dependente da massa de Co(OH)2. Foram utilizadas

condições de 1, 2, 4 e 10 A/g, utilizando um electrólito de 1M KOH, numa janela de potencial

limitada pela voltametria ciclica. Isto é a voltametria ciclica indica a janela de potencial na qual

as curvas de carga descarga devem operar. Tipicamente são efectuadas 3 curvas CD

consecutivas de modo a avaliar a reprodutibilidade dos resultados. A análise e cálculo da

capacitância são efectuadas a partir da segunda curva carga descarga.

Foram também realizados testes de ciclagem às amostras de Co(OH)2 e de Co3O4.

Estes testes consistem em submeter as amostras a 3000 ciclos de carga-descarga e uma

corrente de 20 A/g de modo a avaliar a longa exposição do eléctrodo ao electrólito e a sua

estabilidade e performance ao serem submetidos a múltiplas cargas e descargas.

6.6.Técnicas de caracterização e equipamentos

No presente estudo, foi caracterizado o Co(OH)2 electrodepositado sobre nanoespumas

de Ni-Cu através de várias técnicas de caracterização físico-químicas. Após o tratamento

térmico com o objectivo de oxidar o Co(OH)2 a Co3O4, o material foi também caracterizado. A

morfologia e a composição química foram estudadas através de microscopia electrónica de

varrimento (SEM, scanning electron microscopy) e espectroscopia de raios-X de dispersão de

energia (EDX). Para identificação de fases cristalinas foi utilizada a difração de raio-X (XRD), o

Raman foi usado para identificar os compostos presentes nas amostras.

6.6.1.Microscopia electrónica de varrimento e espectroscopia de raios-X

de dispersão de energia

As análises de microscopia electrónica de varrimento foram efectuadas num

equipamento FEG-SEM, Analytical JEOL 7001F e foram usadas para caracterizar a morfologia

da superficie dos eléctrodos. As análises de EDX foram realizadas num equipamento Bruker

Quantax acoplado ao SEM, para identificar a composição química dos eléctrodos.

6.6.2.Espectroscopia Raman

A espectroscopia Raman foi realizada usando o equipamento LabRAM HR Evolution

Raman com um microscópio integrado BX41 (Olympus, Tóquio, Japão). Um laser de estado

sólido a operar a 532 nm foi focado na superficie das células, usando uma lente/objectiva de

50x. O espectro foi obtido com um tempo de aquisição de 10 – 25 s e 6 acumulações (número

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de medidas em cada ponto). O sistema foi calibrado a 1cm-1

antes de qualquer medição,

usando uma amostra de silicone. Foi usado um espectro com 600 linhas/mm que fornece uma

resolução de 2 cm-1

, a dimensão da abertura do foco foi estabelecida a 100nm.

6.6.3.Difracção de raios-X (XRD)

A difracção de raio X é uma técnica que permite conhecer a estrutura cristalina do

material. Foi usado um difractómetro Bruker D8 Advance, com uma configuração de Bragg–

Brentano e radiação Cu (0.154056 nm). Os difractogramas foram obtidos para ângulos 2 entre

10 e 70 º com um incremento de 0,05.

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7.RESULTADOS E DISCUSSÃO

7.1.Optimização das condições de deposição

De modo a responder aos objectivos propostos foram optimizados os parâmetros de

electrodeposição do Co(OH)2 sobre as espumas de Ni-Cu. Pretende-se obter um filme de

elevada área superficial, fino, homogéneo, reprodutível e com a maior capacidade de

armazenamento de energia possível. Os parâmetros optimizados foram o número de ciclos e o

potencial de deposição. Variou-se o número de ciclos e o potencial de deposição para atingir o

resultado desejado.

O processo de optimização é constituído por três fases: variação do nº de ciclos a

potencial constante, variação do potencial com nº de ciclos constante e a escolha das

condições óptimas de electrodeposição através dos testes electroquímicos e da capacitância

das amostras.

7.1.1.Variação do número de ciclos

Foi definido um potencial inicial de -1500mV no qual se variou o número de ciclos entre

1100 e 1650 ciclos.

Tabela 7 - Tabela Variação do número de ciclos a potencial constante

Amostra Nº de Ciclos Potencial (mV) Massa de Co(OH)2

(mg/cm2)

1 1500 -1500 0,284

2 1600 -1500 0,146

3 1650 -1500 0,179

4 1100 -1500 0,382

A pequena variação do número de ciclos leva a que a massa depositada seja

praticamente igual, variando apenas em algumas microgramas, Tabela 7. Com a variação do

número de ciclos não se registam grandes alterações na morfologia do filme de Co(OH)2

depositado. A pequena variação do número de ciclos faz com que a massa de Co(OH)2

depositada seja dificil de controlar e reproduzir.

Foi escolhido 1650 ciclos como o número de ciclos a usar dado que este permite a

maior deposição de material activo e por consequência a maior capacidade. A cobertura

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uniforme da superfície da espuma e a obtenção de um filme fino são outras propriedades

fornecidas por este número de ciclos.

7.1.2.Variação do potencial de deposição

Tabela 8 - Tabela da variação do potencial com número de ciclos constante.

Amostra Nº de Ciclos Potencial (mV) Massa de Co(OH)2

(mg/cm2)

5 1650 -1600 0,438

6 1650 -1700 0,459

7 1650 -2000 0,562

Foi também optimizado o potencial de deposição usando um número de ciclos

constante de 1650 [Tabela 8]. O potencial variou entre -1500 e -2000mV. A electrodeposição

potenciostática pulsada permite utilizar potenciais de deposição mais negativos pois como os

pulsos são muito curtos a espuma sofre pouco tempo de exposição, fazendo com que a

libertação de hidrogénio não seja tão eficiente, ou seja, as bolhas de hidrogénio não têm tanto

tempo para se formar garantindo uma deposição mais uniforme.

No entanto, verificou-se que para potenciais mais negativos que -1500 mV dá-se

sobredeposição de material sobre as espumas, havendo formação de aglomerados/placas de

Co(OH)2, Figura 14 – Amostra 5. O uso de potenciais tão negativos tem um efeito indesejado

sobre as amostras dado que a sobredeposição do Hidróxido de Cobalto leva à aglomeração do

material cobrindo os poros da nanoespuma de Ni-Cu e levando à diminuição da área superficial

disponivel como pode ser verificado pela Figura 12 na amostra 5. É de esperar uma maior

capacidade nas amostras 1, 2, 3 e 4 que, mesmo com menor Co(OH)2 depositado têm uma

deposição mais homogénea, (Figura 14 – Amostra 3) permitindo conjugar as vantagens

fornecidas pela nanoespuma com elevada capacidade característica do material activo.

Figura 14 – Imagens de microcopia óptica das amostras 3 e 5 com ampliação de 9,60x.

Amostra 3 Amostra 5

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7.2.Testes Electroquímicos

As condições óptimas de deposição foram escolhidas recorrendo aos testes

electroquímicos, voltametria cíclica e curvas de carga-descarga. A escolha dos parâmetros de

deposição recai sobre a amostra que apresenta maior capacidade de armazenamento por

quantidade de material activo.

7.2.1.Voltametria Cíclica

Na Figura 15 são apresentados os testes electroquímicos realizados às amostras que

sofreram optimização das condições de deposição. A capacitância das amostras foi calculada

através da equação da capacitância (Eq.7). É usada uma condição de 1 A/g de densidade de

corrente de material activo na definição da corrente aplicada nos testes de carga-descarga e

uma velocidade de varrimento de 50mV/s nos testes de voltametria ciclica.

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Figura 15 – Voltamogramas e curvas de carga-descarga a), a1); b),b1); c),c1); d), d1); e), e1); f) ,f1); g), g1); das Amostras 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7, respectivamente, num electrólito de KOH 1M a

uma velocidade de varrimento de 50mV/s e uma densidade de corrente de 1A/g;

A Tabela 9 apresenta os resultados obtidos nos testes electroquímicos. Estes dados

são necessários para o cálculo da capacitância específica. É possível verificar que a amostra

que obteve a maior capacitância foi a amostra 3. Esta apresenta um tempo de descarga de

1836 segundos e uma janela de potencial de 1,05 Volts. Através da equação da capacitância

[Eq.7] é possível concluir que a amostra 3 tem uma capacitância de 1749 F/g. Fusalba et al.

[30] reportaram uma capacitância de 609 F/g para filmes de Co(OH)2 depositados

galvanostaticamente sobre uma rede de aço inox. Gao et al. [22] obtiveram uma capacitânica

de 746 F/g para Co3O4 depositado sobre espumas de níquel o valor da capacitância. Quando

comparado com a bibliografia verificamos que a amostra 3 apresenta uma elevada

capacitância, no entanto a sua eficiência colômbica é de apenas 81%. As amostras 6 e 7

apresentam também capacitâncias elevadas, superiores a 900 F/g. Estas amostras foram

electrodepositadas com potenciais mais negativos e possuem capacitâncias superiores às

amostras 1, 2 e 4, pode-se concluir assim que a massa de material activo depositado tem

maior influência sobre a capacidade de armazenamento que a área superficial.

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Tabela 9 - Registo das propriedades obtidas na deposição do filme

Amostra Massa de Co(OH)2

(mg/cm2)

Tempo de descarga (s) ΔE (V) Capacitância

específica (F/g)

1 0,284 708 0,8 885

2 0,146 918 0,95 966

3 0,179 1836 1,05 1749

4 0,382 941 1,2 785

5 0,438 1000 1,35 741

6 0,459 1112 0,96 1158

7 0,562 1210 1,25 968

Posto isto, os parâmetros de electrodeposição óptimos são 1650 ciclos e -1500mV de

potencial. É ainda possível constatar que a variação do número de ciclos não corresponde à

variação na massa depositada, pois menos ciclos levaram a uma maior quantidade depositada

como se pode verificar pela Tabela 9 nas amostras 1, 2 e 3. A pequena quantidade de material

depositado, na ordem das microgramas, faz com que a reprodutibilidade das condições de

deposição constitua um dos principais desafios deste projecto. Uma diferença de 100 ciclos

pode representar apenas uma diferença de apenas 0,03 mg nas amostras.

7.2.2.Caracterização Electroquímica

De seguida é apresentada a caracterização electroquímica das amostras. É feita uma

comparação entre as características e propriedades do filme de Co(OH)2 e depois do

tratamento térmico. É de referir que o tratamento térmico foi efectuado em amostras

depositadas com as condições óptimas, escolhidas acima. O tratamento térmico efectuado teve

como objectivo oxidar o Co(OH)2 em Co3O4. Para a caracterização electroquímica foram

utilizados os testes de voltametria cíclica e as curvas de carga e descarga num electrólito de

1M de KOH, usando um eléctrodo saturado de calomelanos (SCE) como eléctrodo de

referência.

As Figuras 16a) e 16b) apresentam voltamogramas típicos do eléctrodo composto por

Co(OH)2 sobre as espumas de Ni-Cu e do eléctrodo que se pensa ser composto por Co3O4

sobre a espuma de Ni-Cu, obtido por tratamento térmico, respectivamente. Ambos os

voltamogramas apresentam vários picos correspondentes a reacções de oxidação e redução, o

que indica a natureza pseudo-capacitiva dos materiais.

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Figura 16 – a) Voltamograma do Co(OH)2 sobre a espuma de Ni-Cu num electrólito de 1 KOH a uma velocidade de varrimento de 50mV/s; b) Voltamograma do Co3O4 sobre a espuma de Ni-

Cu realizado nas mesmas condições.

A figura 15 a) representa o voltamograma típico da deposição do Co(OH)2 sobre as

espumas de Ni-Cu. Nesta figura observam-se 4 picos, 2 picos de oxidação (anódicos, ax) e 2

picos de redução (catódicos,cx) correspondentes. Cada par de picos é atribuído a uma

mudança no estado de oxidação do Co(OH)2. O pico de oxidação (a1) a 0,250 V e o pico de

redução correspondente a -0,15 V é atribuído à transição de Co(II) a Co(III) de acordo com a

equação 8. O segundo pico de oxidação (a2) a 0,50 V e o pico de redução a 0,075V é atribuído

à transição de Co(III) a Co(IV) como sugerido na eq. 9.

Co(OH)2 + OH- ↔ CoOOH + H2O+e

- Eq. 8

CoOOH + OH-

↔ CoO2 +H2O + e- Eq. 9

A figura 16b) apresenta o voltamograma da amostra óptima após tratamento térmico a

250ºC durante 2h o que leva à desidratação e oxidação do Co(OH)2. A remoção da água

quimicamente adsorvida dá-se a 160ºC pela reacção:

Co(OH)2 ⟶ CoO + H2O Eq. 10

O aumento de temperatura leva à oxidação do CoO (Eq.11). À medida que o eléctrodo

é aquecido existe uma perda de peso adicional que é atríbuida à oxidação do cobalto.

6CoO + O2 ⟶(oxidação)

2Co3O4 Eq. 11

Na fig. 15b) observam-se 3 picos de oxidação e 3 de redução. Os picos de oxidação

(a2;a3) a 0,375V e 0,50V e os picos de redução correspondentes a 0,075V e 0,30V são

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40

atribuídos às reacções redox do Co3O4, descritas na Eq.13 e Eq.14. A existência de um 3º pico

de oxidação (a1) a -0,075V e um pico de redução correspondente a -0,225V (c1) dado pela

reacção descrita na Eq.12, deve-se à existência de uma reacção redox entre o Co(OH)2 e o

Co3O4, o que não se verifica para a Figura 16a). Os potenciais redox obtidos e as reacções

sugeridas para os picos redox obtidos nos testes de voltametria são também reportados por

[31].

3Co(OH)2 + 2OH- ↔ Co3O4 + 4H2O + 2e

- Eq. 12

Co3O4 + H2O + OH- ↔ 3 CoOOH + e

- Eq. 13

CoOOH + OH- ↔ CoO2 + H2O + e

- Eq. 14

Outra das diferenças registadas entre a Figura 16 a) e b) é a diminuição na intensidade

da corrente. A corrente no material Co(OH)2 atinge os 0,03 A/cm2 enquanto que no Co3O4

apenas atinge os 0,02 A/cm2. Este fenómeno ocorre devido ao tratamento térmico que induz a

oxidação parcial/total do Co(OH)2. O Co(OH)2, obtido por electrodeposição, apresenta uma

natureza hidratada permitindo assim que ocorram vários fenómenos que proporcionam o

aumento do armazenamento de carga. O Co(OH)2 usa todo o volume do eléctrodo, o

armazenamento de carga por parte do Co3O4 é apenas restrito à superfície [22]. A excelente

capacitância do Co(OH)2 pode ser atribuída à transferência sucessiva de electrões nos locais

redox activos (Co2+

, Co3+

, Co4+

) que é contrabalançada pela transferência de protões que

levam à conversão de OH- a O

2- na estrutura do hidróxido. A transferência de electrões entre e

dentro de partículas de Co(OH)2 e a difusão dos protões são os principais factores que afectam

a performance capacitiva do Co(OH)2 hidratado. No caso do Co3O4, obtido após o tratamento

térmico, o processo redox ocorre maioritariamente à superfície, dando origem a picos redox

menos pronunciados. Por outro lado, o filme de Co3O4 é mais mais compacto resultando numa

condutividade iónica mais baixa.

As figura 17 a) e b) mostram os voltamogramas dos eléctrodos de Co(OH)2 e Co3O4

depositados sobre nanoespumas de Ni-Cu usando 5 velocidades de varrimento diferentes. A

janela de potencial dos eléctrodos é relativamente elevada (1,35V para o Co(OH)2 e 1,30V

para o Co3O4) sendo limitada pelas reacções de evolução de hidrogénio e a evolução de

oxigénio (reacções de instabilidade). As reacções de instabilidade são mais pronunciadas a

velocidades de varrimento mais altas. Este género de teste permite também verificar que para

velocidades de varrimento mais altas as reacções redox têm uma forma muito menos

pronunciada. A velocidades de varrimento iguais ou superiores a 100 mV/s estas reacções

dissipam-se existindo maior resistência (comportamento mais resistivo) por parte do metal, no

entanto a forma das curvas é mantida. A intensidade do eléctrodo de Co(OH)2 é superior à do

Co3O4 existindo ainda 3 reacções redox na figura b) e apenas duas na a) como explicado

acima.

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41

Figura 17 – a); b) Voltametria cíclica obtida a diferentes velocidades de varrimento para o

Co(OH)2 e Co3O4, respectivamente, usando um electrólito de 1M de KOH;

Na Figura 18 a) e b) estão representadas as curvas de carga-descarga para os dois

materiais usando condições de 1, 2, 4 e 10 A/g. Ambas as curvas apresentam um

comportamento simétrico o que indica a boa reversibilidade de ambos os materiais. Os

extremos da janela de potencial de 400 mV a -650 mV são iguais para o Co(OH)2 e Co3O4

depositados sobre a espuma, como indicado na Figura 17. No entanto, o Co(OH)2 apresenta

maiores tempos de carga e descarga para todas as diferentes condições testadas. Com base

nestes resultados foram calculadas as capacitâncias para as diferentes condições, como se

pode verificar pela figura 18 c).

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42

As capacitâncias especificas para as amostras de Co(OH)2 e Co3O4 a diferentes

correntes encontram-se representadas na figura 18 c). Foi usada a fórmula da capacitância

(eq.7) para o cálculo da mesma e as curvas de carga-descarga das Figuras 18 a) e b) para

obter o tempo de descarga e janela de potencial. Foram calculadas as capacitâncias para 1, 2,

4 e 10 A/g. Registam-se maiores capacitâncias para a amostra de Co(OH)2 esta apresenta uma

capacitância de 987 F/g para a condição de 1 A/g. Observa-se uma retenção de 72 % na

capacitância quando é aplicada uma corrente de 10 A/g. A retenção da capacitância é também

muito menor no caso do Co3O4, pois esta apresenta uma capacitância de 785 F/g para uma

corrente de 1 A/g e uma redução de 45% na capacitância para 10 A/g. Estes resultados podem

dever-se à estrutura porosa do eléctrodo, permitindo a fácil penetração do electrólito e

encurtando a distância da difusão dos iões no material, enquanto que o tratamento térmico

pode resultar na compactação dos cristais da amostra tornando a difusão dos iões um

processo mais moroso. A diminuição da capacitância com a corrente, registada para ambos os

materiais pode estar relacionada com a formação de espécies de Co irreversiveis pela

electrodeposição a altas densidades de corrente, estas podem interferir nos processos de

adsorção/desadsorção durante a carga-descarga levando à diminuição da performance

capacitiva dos eléctrodos. [32]

A figura 18 d) mostra a capacitância em função do número de ciclos para o Co(OH)2 e

Co3O4 depositados sobre a espuma. A retenção de capacitância do Co(OH)2 foi de 81% após

3000 ciclos, passando de uma capacitância 838 F/g para 685 F/g. A retenção de capacitância

do Co3O4 foi de 66% após 3000 ciclos. Verifica-se que para o eléctrodo de Co(OH)2 a

diminuição da capacitância acontece apenas após 2000 ciclos, enquanto que no eléctrodo de

Co3O4 a diminuição de capacitância acontece após 500 ciclos. Através de testes de

caracterização físico-química é possível verificar se existem mudanças estruturais nos

eléctrodos após a ciclagem. Pelos resultados obtidos na figura 18 d) é possível constatar que

além do eléctrodo de Co(OH)2 apresentar maior capacitância inicial, possui também maior

estabilidade electroquímica de longo prazo. As vantagens apresentadas pelo eléctrodo de

Co(OH)2 em relação ao de Co3O4 fazem deste o eléctrodo a escolher em futuras aplicações

para supercondensadores, pois além de uma grande capacitância apresenta uma estabilidade

muito alta fazendo com que este inovador género de eléctrodo seja muito promissor em futuras

aplicações para supercondensadores.

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43

Figura 18 - a) e b) Curvas de carga-descarga a 1, 2, 4 e 10 A/g do eléctrodo de Co(OH)2 e do Co3O4; c) Variação da capacitância com a corrente aplicada para electrodeposição catódica do Co(OH)2 e Co3O4 sobre espumas de Ni-Cu d) Variação da capacitância em função do número

de ciclos.;

De forma a sintetizar os principais resultados da caracterização electroquímica é

apresentada uma tabela resumo, Tabela 10.

Tabela 10 – Tabela resumo dos resultados obtidos através da caracterização

electroquímica.

Estes resultados permitem verificar que o eléctrodo de Co(OH)2 apresenta um desempenho

electroquímico superior ao eléctrodo de Co3O4, pelo que o uso do primeiro deve ser prioritário

aquando da escolha de óxidos metálicos para eléctrodos de supercondensadores redox.

Material activo Capacidade (F/g) 1 A/g

Capacidade (F/g) 10 A/g

Retenção de capacidade após ciclagem (%)

Co(OH)2 987 710 81

Co3O4 785 431 66

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45

8.CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA

A caracterização física das amostras foi realizada recorrendo a três técnicas: SEM-

EDX; XRD e espectroscopia Raman. Estas técnicas permitem caracterizar a microestrutura,

estrutura cristalina e composição química dos eléctrodos.

8.1.SEM

A microestrutura da espuma e dos eléctrodos de Co(OH)2 antes e após tratamento

térmico foi observada através da técnica SEM. Esta técnica permite visualizar com grande

resolução a superfície dos eléctrodos podendo assim caracterizá-los e observar as diferenças

existentes entre as várias fases deposição.

A figura 19 a) mostra a morfologia do suporte, a espuma de Ni-Cu. A espuma foi

depositada usando uma corrente de 1,8 A/cm2 e apresenta uma morfologia dendrítica típica

deste tipo de espumas formadas por electrodeposição [27, 36]. A espuma de Ni-Cu é

constituída por pequenas dendrites com um comprimento de 5 – 6 μm, as dendrites possuem

pequenas ramificações que podem atingir os 2 μm, os poros têm um diâmetro com cerca de 25

μm. A estrutura porosa e dendrítica observada favorece o aumento da área superficial dos

eléctrodos.

Na figura 19 b) é possível observar a superfície do eléctrodo após deposição do

Co(OH)2 com os parâmetros óptimos de deposição (1650 ciclos; -1500mV). A microestrutura do

Co(OH)2 é caracterizada por nanoflocos com dimensão aproximada de 100 nm, típicos de

filmes deste material produzidos através de electrodeposição. Esta morfologia garante uma

área superficial muito grande. Na figura 19 b) observa-se ainda uma cobertura uniforme da

superfície da espuma, verifica-se também que os poros da nanoespuma encontram-se abertos

aproveitando a porosidade e a área superficial. Estas propiedades são muito importantes pois

permitem alcançar o objectivo proposto, o aumento da densidade de energia do eléctrodo.

Na figura 19 c) é possível visualizar aglomerados de Co(OH)2, assinalados por círculos

brancos, neste caso foi usado um potencial de -1700mV e 1650 ciclos. Os diferentes

parâmetros de deposição afectam a resposta electroquímica dos eléctrodos. Potenciais mais

negativos depositam mais Co(OH)2 criando aglomerações de material, estas placas possuem

tamanhos que podem variar entre os 15 e os 60 μm, cobrindo os poros da espuma obtendo-se

assim uma resposta electroquímica mais baixa. Para a amostra óptima os poros encontram-se

abertos e os nanoflocos depositados sobre as dendrites das espumas porosas aumentando a

área superficial, o material ao não cobrir toda a superficie permite uma contribuição do depósito

(faradaica) bem como a contribuição do suporte (capacitiva/condutora), a sua grande dimensão

cobre a superfície porosa da espuma levando à diminuição da área activa do eléctrodo e

consequentemente à diminuição da sua capacitância.

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46

Na figura 19 d) apresenta-se a imagem microscópica da amostra de Co(OH)2 após o

teste de ciclagem. É possível verificar que o eléctrodo não sofreu mudanças significativas na

sua morfologia. Ao comparar a figura 19 d) com a b) verifica-se que a superfície do eléctrodo

aparentemente não apresenta grandes modificações estruturais nem degradação do material,

estes são grandes indicios de que a performance do eléctrodo não é afectada, após ser

submetida a um extenso uso.

Figura 19 – Imagens SEM de: (a) espuma de Ni-Cu depositada sobre substrato de aço inox e Co(OH)2 depositado sobre a espuma de Ni-Cu (b) Co(OH)2 depositado sobre a espuma de Ni-

Cu, 1650 ciclos, -1500 mV de potencial (condições óptimas) , (c) Co(OH)2 depositado sobre espuma de Ni-Cu, 1650 ciclos -1700mV de potencial (d) Co(OH)2 depositado sobre espuma de

Ni-Cu após ciclagem.

Nas seguintes figuras 20 a) e b) é possível visualizar a morfologia das amostras após o

tratamento térmico a 250ºC durante 2h, antes e após os testes de estabilidade/ciclagem de

3000 ciclos de carga-descarga. Na figura 20 a) é possível visualizar a superfície da amostra

após tratamento térmico a 250 ºC durante 2h. O Co(OH)2 oxidado (após tratamento térmico)

apresenta também uma morfologia flocular, no entanto,verifica-se que o tratamento térmico

resultou em mudanças significativas na morfologia da superfície do eléctrodo. Na figura 20 a) e

b) podemos observar uma estrutura mais suave, na qual se formaram filmes planares paralelos

b (

b)

e

)

c

a

d

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47

ao eléctrodo. Este tipo de morfologia pode estar associada à oxigenação promovida pelo

tratamento térmico. Verifica-se ainda que o tratamento térmico leva a uma cobertura dos poros

da espuma semelhante ao encontrado na figura 19 c) quando os parâmetros de deposição são

superiores aos ideiais.

A ciclagem desta amostra apresenta também alguma degradação do mesmo, vísivel na

Figura 20 a) pelos pontos mais brancos, a degradação do material leva à diminução da

performance do eléctrodo.

Figura 20 – Imagens SEM dos eléctrodos de Co3O4 (a) antes e (b) após ciclagem.

8.1.1.EDX

O EDX é uma técnica analítica que se encontra acoplada ao SEM e permite a análise

de elementos e caracterização química das amostras. Através da Figura 21 é posssível

observar o espectro da amostra dos elementos presentes no eléctrodo de Co(OH)2 após

ciclagem. Os elementos presentes na amostra em maior quantidade são: Co, O, Ni, Cu, como é

expectável. Além destes elementos regista-se também a presença de outros como K, Cl e Ca.

A presença vestigial destes elementos pode dever-se ao electrólito de deposição do Co(OH)2 ,

ao electrólito de Ciclagem (KOH 1 Molar) e ao substrato de aço inoxidável.

a b

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48

Figura 21 – Imagem SEM e respectivo espectro de raio-X dos elementos do eléctrodo de

Co(OH)2 depositado sobre a espuma de Ni-Cu.

8.2. Espectroscopia Raman

A espectroscopia Raman é uma das técnicas mais comuns para caracterizar metais e

hidróxidos metálicos, em termos de estrutura cristalina e defeitos. O espectro Raman de

hidróxidos e óxidos de cobalto encontra-se no intervalo de 100 a 1250 cm-1

. As bandas

características da espuma de Ni-Cu e do suporte de aço inox encontram-se num intervalo de

1500 cm-1

a 4000 cm-1

, estes compostos não serão analisados por esta técnica.

Figura 22– Espectro Raman do Co(OH)2, Co(OH)2 após testes de ciclagem, Co3O4 antes e após testes de ciclagem na região de 0 a 1250 cm

-1

Na Figura 22 estão dispostos os espectros Raman para os eléctrodos de Co(OH)2 e

Co3O4, antes (espectro preto) e após sofrerem os testes de estabilidade (espectro vermelho)

(ver subcapítulo 7.2 Testes Electroquímicos). Na figura 22 a) para o espectro do Co(OH)2

observam-se 2 bandas mais intensas e distintas a 447 cm-1

e 517 cm-1

. Observa-se que o

espectro Raman é dominado por uma banda polarizada a 517 cm-1

como também é reportado

por Yang et al. 2010 [37] esta banda é atribuída à vibração do Co-O, modo de extensão

simétrica. A segunda banda mais intensa a 447 cm-1

é atribuída ao modo de flexão do O-Co-O.

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49

Verifica-se ainda a existência de um 3º pico a 1030 cm-1

, este pico é normalmente menos

intenso e é atribuído aos modos de deformação do OH. Através deste espectro podemos

confirmar que se depositou Co(OH)2 nas amostras. O Co(OH)2 pode ser encontrado em 3

diferentes estruturas classificadas como α-Co(OH)2, β-Co(OH)2 e γ-Co(OH)2, estas estruturas

são isomorfas, ou seja, possuem a mesma fórmula química mas diferentes estruturas

cristalinas. Por esta razão, podem existir diferenças no espectro Raman publicado na literatura,

dependo da fase analisada. O tipo de estrutura analisada neste trabalho irá ser caracterizado

pela técnica de XRD. No entanto, é possível conhecer a estrutura através da observação dos

eléctrodos a olho nu. A estrutura β -Co(OH)2 possui uma coloração rosada enquanto que a

estrutura α-Co(OH)2 apresenta uma coloração azul-esverdeada. Neste projecto como podemos

verificar pela Figura 14, que estamos perante uma estrutura do tipo α-Co(OH)2 já que os

eléctrodos apresentam uma cor verde [38]

Na figura 22 b) observam-se 4 bandas, 3 mais intensas e amplas e 1 menos intensa no

espectro de Co3O4 (a preto). As 3 bandas mais intensas foram registadas a 435 cm-1

, 500 cm-1

e a banda de maior polarização foi registada a 658 cm-1

, a banda de menor intensidade

aparece a 149 cm-1

. As bandas mais intensas foram também identificadas por Tang et al. [35],

a banda 149 cm-1

foi identificada por Yang et al. [37], a diferença de resultados entre os

diferentes autores pode dever-se ao polimorfismo dos materiais ou Segundo [37] devido ao

substrato e método de deposição.

Após ciclagem o espectro Raman do Co(OH)2 e do Co3O4 (a vermelho) apresentam

grandes semelhanças entre si. O espectro do Co(OH)2 possui duas bandas intensas e amplas

a 495 cm-1

e 645 cm-1

. O espectro do Co(OH)2 após tratamento térmico [Co3O4] possui as

bandas mais intensas a 517 cm-1

e 653 cm-1

. A banda característica dos modos de deformação

do OH foi registada a 1013 cm-1

e 1025 cm-1

, para o Co(OH)2 e Co3O4, respectivamente. Estas

bandas foram identificadas por [37, 39] como caracteristicas do composto CoO(OH). A grande

diferença existente entre os espectros antes e após a ciclagem pode ocorrer pela longa

exposição dos eléctrodos ao electrólito de KOH 1M que poderá induzir/ estabelecer alguma

interacção que modifique o material inicial.

Verifica-se ainda uma diminuição na intensidade das bandas, este é reportado na

literatura [35, 37] no caso do Co(OH)2 após ciclagem. Esta característica relaciona-se com

longa exposição a soluções básicas ou ácidas levando a defeitos na amostra. Para a amostra

de Co3O4 a extensa exposição ao electrólito tem um efeito inverso no espectro da amostra visto

que a intensidade é superior após o teste de ciclagem.

Os picos reportados na bibliografia podem não coincidir exactamente com os picos

obtidos no espectro Raman. A diferença pode ser atribuída à natureza nanocristalina do filme,

levando ao alargamento e redução na intensidade das bandas de Raman, como reportado na

literatura [35, 37, 39]

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8.3.XRD

A técnica de caracterização física XRD é normalmente usada para conhecer a estrutura

cristalina das amostras. A figura 23 a) apresenta o difractograma de uma amostra de Co(OH)2

depositado sobre aço inoxidável. A figura 23 b) corresponde ao espectro da amostra de

Co(OH)2 depositado sobre a espuma de Niquel-Cobre. Ambas as figuras apresentam duas

bandas mais intensas. Na figura 23 a) os picos foram registados a 42,75 e 49,7 graus. Estas

bandas são características do suporte de aço inoxidável. Na figura 22 b) os picos registados a

43,45 e 50,75 graus são característicos da espuma de Ni-Cu [27]. É possível distinguir as

diferentes fases das Figuras 23 a) e b) mesmo com as bandas na mesma posição. As

diferenças na intensidade e no ruído dos difractogramas permitem distinguir o difractograma do

suporte de aço inoxidável, da espuma de Ni-Cu. Não foram registados bandas características

do Hidróxido de Cobalto, no entanto, como referido anteriormente a fase de Co(OH)2 presente

nas amostras testadas é a fase α-Co(OH)2 (Figura 14). É possível definir a fase presente nas

amostras através da sua visualização a olho-nu, pois a fase α apresenta uma cor azul-

esverdeada e a β uma cor rosada [38].

Figura 23 – Difractogramas de Co(OH)2 depositado sobre a) aço inoxidável e b) espuma de Ni-Cu.

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51

9.CONCLUSÕES

Este trabalho tem como principal objectivo o estudo e caracterização da

electrodeposição de óxidos/hidróxidos de cobalto sobre nanoespumas de níquel-cobre para

aplicação em eléctrodos de supercondensadores.

A electrodeposição pulsada num regime catódico é um processo relativamente barato e

conveniente para produzir nanoestruturas, no entanto é dificil controlar a massa depositada

principalmente em amostras de tamanho tão reduzido. Para a electrodeposição do hidróxido de

cobalto foi usado um electrólito de nitratos, este influencia a resposta electroquímica e a

morfologia do material depositado

O hidróxido de cobalto foi depositado sobre espumas de Ni-Cu e os parâmetros

óptimos de deposição são -1500 mV e 1650 ciclos. Estas condições permitem obter um filme

fino, homogéneo e com uma capacitância muito elevada. A deposição do hidróxido de cobalto

é fortemente condicionada pelo potencial aplicado. O uso de um potencial mais negativo

(< -1500mV) leva à sobredeposição de material activo originando aglomerados que diminuem a

performance do eléctrodo. Para um número de ciclos inferior ao óptimo (< 1650ciclos) a

homogeneidade do filme é afectada depositando menos que uma monocamada,

desaproveitando a grande área superficial fornecida pela espuma, afectando também a

performance do eléctrodo.

Os parâmetros de deposição foram optimizados e caracterizados em meio alcalino (1M

KOH) de modo a responderem aos objectivos propostos, como eléctrodos pseudocapacitivos

redox. Foram observadas mudanças na morfologia quando se alteraram os parâmetros de

deposição e após o tratamento térmico. A correlação entre o número de ciclos, potencial de

deposição e a capacitância foi investigada e discutida.

As amostras de Co(OH)2 apresentam melhores resultados capacitivos do que as

amostras do que se pensa ser Co3O4. A transformação de Co(OH)2 em Co3O4 através de um

tratamento térmico leva à oxidação e compactação da superfície do eléctrodo. A compactação

do óxido de Cobalto diminui a área activa diminuindo a capacitância/densidade de energia

deste material.

O Co(OH)2 possui uma capacitância de 987 F/g e uma retenção de capacitância, após

3 mil ciclos de 72%. Por outro lado, o Co3O4 possui uma capacitância de 785 F/g e uma

retenção de 55%. Foi usada uma condição de 1A/g de corrente para o cálculo da capacitância

e 20 A/g para os testes de ciclagem.

Ambos os materiais têm comportamentos típicos de bateria/pseudocondensadores,

visto que os seus voltamogramas não apresentam uma estrutura rectangular típica de

condensadores de carbono. O voltamograma do Co(OH)2 possui dois pares de picos que

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52

correspondem a duas reacções redox, enquanto que o Co3O4 apresenta 3 pares, este material

apresenta mais uma reacção redox que o Co(OH)2.

As imagens SEM das amostras permitem visualizar a morfologia dos filmes

electrodepositados, a espuma de Ni-Cu apresenta uma estrutura dendrítica ramificada

enquanto que o Co(OH)2 e o Co3O4 possuem morfologias floculares, ambas são típicas de

filmes depositados por electrodeposição.

A exposição das amostras aos testes de ciclagem, 3 mil ciclos de carga-descarga,

levou os eléctrodos a criarem uma resposta semelhante à do CoO(OH) como se verificou pela

posição das bandas no espectro Raman. A técnica XRD foi utilizada para caracterizar a

estrutura cristalina das amostras, no entanto os seus resultados não foram esclarecedores.

A composição química determinada por EDX revela a presença dos principais

compostos encontrados nas amostras, estes são o Co, Ni, O, Cu.

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53

10.TRABALHO FUTURO

Pelo trabalho e conhecimento adquirido ao realizar este projecto o trabalho futuro a

desenvolver deverá focar os seguintes tópicos:

O teste e caracterização através de outras técnicas de produção de eléctrodos.

Uma caracterização mais detalhada dos eléctrodos tanto a nível electroquímico como

físico.

A caracterização física deve incluir alguns testes que não foram realizados neste projecto.

Os testes a realizar são o BET de modo a determinar a área específica da amostra, e o

BJH para determinar o tamanho dos poros.

O estudo da deposição de outros metais de transição como o Fe, Mn e V sobre as

espumas de Ni-Cu através do mesmo processo (electrodeposição por regime

potenciostático catódico pulsado).

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11.BIBLIOGRAFIA

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