40

não querendo isto é literatura. · Fodam-se. [sábado] o sol imprime a pele da cidade uma melodia sai dos pneus dos ônibus rasgando o asfalto escorrendo entre passageiros de mototaxi,

  • Upload
    dokien

  • View
    215

  • Download
    1

Embed Size (px)

Citation preview

Vocês querendo ou não isto é literatura.

Desdedicatória

Esse livro é contra a polícia, o político, seja bom ou mau, o rico, o burguês, o machista, racista, homofóbico, xenófobo, e qualquer escroto, otário, babaca que rasteje nessa terra.

Fodam-se.

[sábado]

o sol imprime a pele da cidadeuma melodia sai dos pneus dos ônibusrasgando o asfalto escorrendo entre passageiros de mototaxi, ciclistas e pedestresFORTALEZA IS BURNINGna praia dos crushs garotas e garotos paqueram no mar mãos submarinasencontram partes submersas submergemalcançam do fundo das águas os altos dos céusFORTALEZA IS BURNINGtrês garotas esquecemdentro de um quarto de motelo ontem,sempre com 17 anos, arianaFORTALEZA IS BURNINGalguém quase morre afogado no futuroalguém atravessa o rio a nado na sabiaguabaalguém abre uma cerveja na barrameninos negros com cabelos loirosdescem as ruas da sapirangapegam um buzu em rumo da praiaFORTALEZA IS BURNING

sarau #1 talles azigon

suor desce o dorso de jogadores de futebolem campinhos do José Walteramigo fazem cafédepois do mais corajosoir comprar pãonaquela padaria por de trás da avenida Cuma pessoa choramesmo com todo excesso de luz solaruma pessoa choranos fones de ouvidopouco importa secasa de velho, dona leda,aviões, katy perry, kondizikacanibal corpso sábado acontecepor todos os ladosFORTALEZA IS BURNING_

sarau #1 talles azigon

[o corpo]

o corponão esse meu corpotão facilmente exposto a uma efusão liricao corpodas camadas sociais menos favorecidassejam pobres ou ricaso corpo que vi estáticoesticadona linha amarela do asfaltocravejado de balas e de fomeo corpo que quase someentre estatísticase assistência socialo corpo fotografado filmadopublicado no jornal impresso TVna rede socialo corpomassacrado esfacelado violentadopelo carrasco chamadoestado_

sarau #1 talles azigon

[um corpo por um acaso]

não é terreiro terreno terra que se invade onde se faz colônia ou feudopra depois vir um sujeito construir fazendaterra improdutivaum corpo em verdade verdade vos digo é o próprio território tupiguaranicheio de goiabas mangas maracujáspara qualquer uma umse lambuzar, chupar, mordereste corpo senhoras e senhoresnão é um cemitérionele não se enterreacaso um dia entre dentro delecresça cresça cresçadepois papoquemelhor, gozefrutifique multipliquenesse corpomais pitangas pitombas carambolase outras frutas essências para um corpo_

sarau #1 talles azigon

[o deus que não é água]

pedra, riacho, chuvacachoeira, pé de ventomata, fogo na mataé um Deus descoloridosendo criador de todas as coisasperde seu tempo gerindo as coisasmedindo, pesandonão caça, não dança não goza com as outras criaturasapenas segura uma balançaoca, feia e malquistaum deus não estéticonecessita da piedade de nós._

sarau #1 talles azigon

[oração não subordinada]

Senhor,juro nunca maisjurar por timinhas duas palmascoladasnunca mais te pedirãoperdãovou te arrancardo meu altardesconsagrarei a tio domingo, o sábado,todas as feirasdarei um golpe no teu Estadoe serei Deus a minha vidainteira._

sarau #1 talles azigon

[ei, negro]

é um dever moral não entrar na políciaser carne de milíciavirar mais um otárioei, bixa vai virar policia?aquele sujeitonem aí pra tique te acha macaca de picadeirofardado te fodee não é gostoso bala acoplada nas costas dos irmãosnão vale o gozoei, sapatão vai cair na dançaassassinos, estupradoresmachistastenha nojo e preguiçateu suor vira sanguelágrima de uma outra mulher qualquerei, pobreo braço direito do estadoainda só bate bate batecarrasco, capitães do mato adoram se dizer “De Deus”mais é aquele Deus só de unsaquela divindade das guerrasdas bruxas queimadasque decretou povos americanos e africanos sem almaa estrutura de um poemanão é a estrutura de um fuzilmas e o se o fosse você vai disparar contra quem?contra os polícia, os soldado, os milicaos mortos de fomesalário baixomoral altaausência total de dignidade, compaixão, amor._

sarau #1 talles azigon

[se os homens me querem hétero, sou gay]

se os homens me querem monogâmico, sou todo poligâmico no corpo e no afeto. se os homens me querem sério e discreto, sou todo indiscrição, plumas, expressão, explosão. se os homens me querem calado, sou um mostro palavroso. se os homens me querem pacífico e doméstico, sou todo hostil, violento, sempre puxando fôlego para um próximo revide.para fazer emergir Atlântida, primeiro é preciso explodir e imergir o mundo dos homens._

sarau #1 talles azigon

[o baile dos garotos]

eles todos:muito complicadoscom seus shorts, bermudas, calças, saiassem roupa, as pernas, os peloscaçoam de mimme beijam, me amam, somemascendem num céu de presença deságuam num mar de palavrasriem das histórias que contoe dos poemas que façopara o prazer delesde inventar os sorrisos que não me deram,e eu fiz, mesmo assimdesenham, dançam, contam, vendem roupas, desdenham, se despempulam pela janela do quartoZasz!- até nunca mais- adios, caro poetabeijo só serve se vai de uma boca a outraperna é feita pra cruzar com a minhauns tudo negamoutros tudo dãouns morrem de amoresoutros só tem nãono lugar do coração(a esses, perdoema rima é pobreo poeta tambémporémse foi ditofoi sincero)

sarau #1 talles azigon

caso eu parta para além-mundo quero fila para receber meu tchauexercício prático da matéria mais estuda por eles:despedida- moço, meu corpo não cabe na tua vida- mas o suspiro cabe, ah se!nem sei o que digase não disse ainda estar por vireu os amoah! os amo sim,_

sarau #1 talles azigon

[as mães perdem seus meninos]

quando esses pintam a bocae saem por de dentro da noitedançando os faróis da cidadecom luzes coloridas piscantesos meninos perdem suas mãesquando já não meninos essas não dizem amémos meninos e as mães se perdem de siquando ambos crescem e crescer é um estado de estar perdidoe depois todos os faróis se apagam como apagam-se os sonhos e as vidasdas mães e dos meninos._

sarau #1 talles azigon

[trânsito]

não existe mão ou contramãono trânsito da minha almasinais vermelhos só para o egoísmosinais verdes para novos amigos e antigos amoresfotosensores de sonhos e desejosmultas... por excesso de ausêncianão existe mãoou contramãono trânsito da minha alma_

sarau #1 talles azigon

[a garganta enforcada]

pela fibra ótica.a palavra continua presa.tu olhas as fotosdesenhas enredosnão mais possíveiscom o cérebrolápisou, te entorpecesde ilusãoquem diluiu o amor não foram as horasnão foi o atraso do ônibuso mal entendidoos amigos incômodosas desavenças políticas as contas atrasadas os desencaixamentostraçar até o outrocom pedrisco de britaum caminho de tempoe deixar perecero percursointeiropois secou a vontade.só quando seca a vontadeo amor destrambelha_

sarau #1 talles azigon

[maraponga. 5h da manhã]

as torres novasda igreja velhaanunciam que os moradorescontinuam sem fé.precisam de Deuses._

sarau #1 talles azigon

{little boy and fat man]

os monstro atômicos dos estados unidos voando os céus do Japãocontaminado a terra do ex território mexicanoLittle boy and Fat Manas bombas atômicas americanapais e produtos de outrastantas eternas bombasa bomba atômica do medoa bomba atômica da fomea bomba atômica do consumoa bomba atômica do preconceito a bomba atômica do Estadoa bomba atômica das multinacionais a bomba atômica do agronegócio a bomba atômica da mídia Little Boy and Fat man210 mil mortos Little Boy and Fat manhoje já esquecidos, ninguém falaLittle Boy and Fat mannovos deuses da evolução, da modernidadeLittle Boy, tem de crescerFat man, engordar cair mais e mais vezes assim destruir todos nósLittle Boy and Fat manaedes agepity dos estados unidosLittle Boy and Fat manpai e filho do capitalismoLittle Boy and Fat mancantoras pops vendendo coreografias Little Boy and Fat manLittle Boy and Fat manLittle Boy and Fat man_

sarau #1 talles azigon

[as razões]

porque os que comem acham certo matar os que não comemporque jovens brancos com suas guitarrasandado de táxi pela cidadeacham mais que justo dependurar um neguinho no poste porque as moças que frequentam salões querem as vadiazinhas da periferia frequentando porõesporque por simples prazerpor burrice enorme por falta de humanoa polícia quer brincar de ping pong com as cabeças do povo da gente,mas treme de medo se erra o tiro escapulido, enganado na cabeça da filha do barãoaí é prisão, total despreparoporque a fé não consegue limpar a consciêncianem a bunda de ninguémpor isso revolve-se contra os homens que dão a bundade consciências limpasporque a Nestlé diz: água não é para todosporque diz a Texaco; ar não é para todosporque a Monsanto afirma: terra não é para todosporque o Europeu estuprou a bisavó de minha vóe ninguém disse nadaporque somos jovens e jovens é escutar lixo popdançar desvairado nas madrugadas alucinadasonde os chacais devoram vorazes toda nossa juventudeporque Hitler não morreuporque é mais fácil um miserável destituído de todas suas carnespassar no buraco de uma agulha que um rico renunciar seus luxos luxúria porque os meninos não lavam seus pratosporque as meninas não podem sair para lavar os pratos dos meninosporque quando acabaros poetas é que são loucos_

sarau #1 talles azigon

[qual é o valor do teu coração?]

faturas, moedas, sujeira, sapatos espalhados ao chãodesde a época do rock rolla poesia é minhaquebrado os cacos e a rima daninharebeldes limpinhos que pagam cartãogeração tecnocrata alimentados com miojoe sardinha em latanão salvaremos o mundo sem salvação._

sarau #1 talles azigon

[take]

menino, você dançaria essa música comigomenino, não quero te deprimirmas vou te contardepois que você sai de casa a vida é encher garrafasé isso ou se morre de sedeé isso ou água da torneira com gelocaso você tenha lembrado de pagar a conta da águasenta, te conto como eravocê diz como édois desespero numa mesma moedanada bem.os garotos brancos da aldeota, caso você seja legal com eles, te levam pra casa e te dão LSDos garotos brancos da aldeota são tão solitários e precisam da genteformação de platéia, likes, comments nas fotos.nada há de ser igual ao rock indie contemporâneo pouca revoluçãomuito ressentimentofeito pra gente dançar enquanto consome bebida três vezes mais caravocê dançaria comigo, menino?depois cairia no chão comigo?tiraria a roupa comigo?faria a bondade de me fazer esquecer?_

sarau #1 talles azigon

[o amor adiado, amigo]

igual ao bug, deixado para o próximo milênioentre outras tragédias iminentescalendários de povos extintos que se findamcorpos celeste colidindo com a terraos homens prometem tragédiasdo modo que você promete teu corpoe nada acontecenem ano novonem corpo novonem gozo novo._

sarau #1 talles azigon

[dentro da gente]

tem um rio que não acabae quando no peitoreverberam as cordas caem as lágrimas- menina bonita não chora- água de olho de menino, não precipitamentira, sinhôlágrima é a chuva mais finadesce no rostoacalmando a pele em brasaé a sensação de alívio pós desespero quando a gente volta pra casadepois, de chorar tudoo mundo tão cinzao grito no escuroágua fósforo acende luz tímidapra gente sorrir,pra mostrar os dentesmesmo sem motivo aparentecomo seprecisasse de motivosa folha que voadesrespeitando as leis do infinito_

sarau #1 talles azigon

[já já]

vai cairuma bomba sobre a cidademinha Deusa, que Bomba!!!!!verdebomba sobre a cidadede São Paulodas capitais sem saldestemperada jovemcom cheirocom sexocom berrotal bomba não dispensadançanão dispensa praianão dispensa árvoreanda de bicicletavai de metrôàs vezes chega depois das 4dorme na ruamas sorri quando rola uma rodade beijos na bocabendita seja vós bomba do futuroexplodida mil vezes milde não em nãoenchendo nosso bico de esperançade basta em bastaaparando as desgraças papocou há algumas gerações passadasbomba rasga-lataoca, tola, conservada vai chover milhões delaspor passarelas bulímicasvai doirar pintarmonte de almas anêmicas_

sarau #1 talles azigon

[já já]

você chegaescorregando nas escadas, falando mal do calor evidente da cidaderejeitando comidadesfazendo os meus horáriospedindo espaço na grade curricular do meu cursocomo se não fosse euum rio correndocomo se não fosse euum dia se abrindocomo se não fosse eua tarde descendocomo se não fosse euposte de luz florindona jaula do teu enganode me ter tão de repente fácilacreditas no meu sufrágiode romper por ti os planosnem erailusão só acontece por dentrose eu não percebesse o por fora_

sarau #1 talles azigon

[quero parir um poema que alimente a vida]

poema antinjúria, antidesolação um poema feito esses meninos que jogam bola no campinhoe tomam banho nas bicas quando choveum poema que pula catracaspois em si já será passe livre para o mundoum poema que ocupe escolase dilua casas de detençõesfazendo-nas desnecessáriasum poema que ame em árabe e em francêsum poema que saiba os idiomas das periferiasdo Curió e de Beirute esse poema há de dizer Ave Maria, Laura, Rita, Francisca Ave todas as mulheres pois vossos corpos são vossos corposnão há outra informação mais importante, senhoras. Nesse poema os matemáticos transarão com os poetasos químicos com os historiadoresas cientistas com as professoras de literaturaquando meu poema triscar o chão das catedraisos desertos verdes de soja transgênicos serão reflorestados recultivados pelas minhas amigas e amigos sem-terrase todas aquelas bandeiras que carregamos nas passeatashá de de ser um pesadelo distanteum poema desses que só fale e alimentea vida._

sarau #1 talles azigon

[nota afetiva]

Tinha a vida ganhamesmo assimnão me ganhou.-

[educação patrimonial] quanta gente vai morrerpra fazer nosso natal?-

[Janeiro esticado na cama]

teu corpo de férias,o meu não.-

[Improvável que você me ame]fala: pedra, conta de luz, máquinaventiladornão diz meu nome-

[Transporte público]

Garoto, pegue seu ônibusMas deixe meus olhos.-

[a vida não se repete]um dia é bomoutro dia é bad.

-

sarau #1 talles azigon

[o homem com a prancha em punho]

olha para ondacom mais devoção de quese olhasse para amanteela quebra na areiaa todo instanteenquanto a outra arrebenta é no seu coraçãouma mora nos seus olhosa outra mora no seu peitonuma desliza sem demoranoutra derrama-se sobre os seios._

sarau #1 talles azigon

[soneto com ilusão e sem métrica]

há de ter cuidado mortalcom os olhos de quem te olhapois se amor de um instante afloranoutro instante nem vês, foi emboracompões poesias e cançõespara duas mãos pequenasnum descuido de poemaelas enforcam coraçõesfinda os suspiro que destesporém a vida nunca findao sol continuará nascendo no lesteas mãos pequenas, dono dos lábiose dos caprichos, prosseguirá infinitocausando nos homens abalos sísmicos._

sarau #1 talles azigon

[dois meninos se amam]

num canto de murodo bairro do Benficanão poderia ser diferentenesses tempos insanosem que morrer é cotidianohaja cidadão brasileiroatravessando a avenidada universidadepara se deparar com trêspares de pernasentrelaçados, num escândaloamor, o amor é livreé um pivete de pé no chãoque joga bila e solta pipasem medo de morrerde neblina ou serenoamor, o amor é livreé livre o amore faz indecência nos becospisa, deita, rola na gramavibraquanto mais gostos dentro da bocaquanto mais línguas que se enroscamquando mais sexos que se misturamo amor dança um tango,um Jazz, um bluesa última música do Strokestoca no peitouma canção da Galamor, o amor é livree desaprende todos os diaso ciúme, desaprendeessa baboseira todavirou anarquista

sarau #1 talles azigon

quer conhecer o mundonão tem muita granatampouco se importase o interlocutor,é jovem ou senhorde pernas pro aro amor quer mais é amarexplodir em mil estrelascadentescomo um comentaque adentra atmosferae se desadensavamos ao nortevamos ao sulem toda parte, agora e antestambém mais tardehá gentes gritandoe não é de dorporque amor, o amor é livregasguito e fleumáticoe lhe digo amoro amor não é tímidonão éjamais vai deixarde gozar o infinitono meio da ruasob os raios do solsob os olhos da lua._

sarau #1 talles azigon

[termo de ocupação]

depois de ter conhecido meu corpoterreno de todo desejo possível e cabíveldesenhes um mapa primoroso ecompartilhe com os desconhecidos._

sarau #1 talles azigon

[homem de uma terra distante]

que monte de gente fingia desconhecerpor falta de pólvora e barco de chegarnão ouvi notícias das guerras de longede desertos de longede homens de longeque cura doentes e anda sobre águasnão atormentaria meus ouvidosesses fatos extraordináriopois minhas muitas mãestambém curam os doentes e andam sobre águas.olho no reflexo da lagoao momento que a bomba cainada tenho eu com issoamaldiçoo o barco e a pólvorae espero que a Europaafunde num naufrágio._

sarau #1 talles azigon

[não te chamo flor, menino]

anjo, pequeno, criança, amorchamo-te arame farpado, muro alto, cercae nunca te olho de frente, que é pra não doer._

sarau #1 talles azigon

[corpo]

condói-me saber vocêcrente no encontrodos corpos como sefosse uma invasãodos países aliadosa um país inimigodigovocê transa comsua ideia de transamesmo assimcada corposendo um mapadesencontramos-nus-um dia pediu um beijo tirou nossa roupa mandou como numa multinacional quem pode mandaria derramou-se todo em mim no fim decretou como os imperadores decretariam que eu não sabia beijarfoi morar no mundoeu fui morar nos números-mais tardeaprendicartografiassem ocupaçãopermanentesem colonizaçãopros olhospra bocapra poupa dos dedossaber das dobrasdonde ficaos derrapamentosaté ondea língua alcançae a palavra pronunciadadentro do ouvidoatingeouriçando os pelosde depois do umbigo-

sarau #1 talles azigon

[catacumbas]

só de falar a palavra já sinto-me presose pudesse, como poetajá teria fugidopor que as areias dos disertos não estão nesse momento a engolir os meus pés?por que os altos gelados nesse momento não petrificam a agua que resta do meu corpo? nãoele tem é de pagar as passagensfazer rearranjos financeiros para o mês caberprotelar a atividade mais chatanão atender o telefoneplanejar como há de se livra do mais indesejadoele só não morre de cirrosesó não tem uma overdoseporque é muito pobre pra issoé a precariedade de gente engajada nas paalvrasnãos coisas que vem pela internet da pouco energia que ainda pode pagarquão tristequão perigosoé um homem desencantadoainda com esperança demais para pular de uma pontecom perspectiva de menos para saberolho no olho como funciona o realcontra ele nem adiantará soluções mágicaschavões de ‘levante homem vá ganhar a vida’como se a vida fosse um jogo de pokercomo se a vida fosse uma operação matemática_

sarau #1 talles azigon

[novela]

Todo fimpode ser um abismoquando o homem pulapara forados seus própriosprecipícios_

sarau #1 talles azigon

[hey, guy]

kiss medesobedeça seus paismuito mais vida háalém do controle remotonão fique desse lado do sofáum corpo ignotodepois, nem peço muitonão estou a te convidarpra passeatas, bradar na rua contra todasessas coisas sujas não, meu desafio, babyé você hastear outra bandeiraeu sei fazer isso muito bem, tambéme sei que você vai gostardo gosto doce que ficamisturado com salivadepois que eu te beijar._

sarau #1 talles azigon

[tem muito sangue na roupa que a gente veste]

tem muito sangue na comida que gente cometem muito sangue no beck que a gente fumatem muito sangue na cerveja que a gente bebetem muito sangue na coca que a gente sorve ou cheiratem muito sangue no candidato que a gente votatem muito sangue,muito sangueno ar condicionado do shopping que a gente frequentarespinga sangue da piscina daquele clube em que a gente mergulhaa tela do cinema que vamos cospe muito sanguesangue no carro comprado em 68 prestaçõessangue na camisinha que a gente usa quando trepapra não pegar doençatem muito sangue no remédio, no merthiolatetem muito sangue no clipe daquela cantora popque a gente faz coreografiae ajoelhados perante tal sistema aparentemente inescapávelos oceanos pacíficos, atlânticos e índicos, parecem de fatostodos oceanos de sanguetem muito sangue das coisas sérias até as aparentemente amenasna rede social, ou no papel onde fica esse poema tem muito sangueo fluxo do pensamentoprecisa diminuir esse fluxo de muito sangueestancar, estancar, estancaraté cessar o sangue._

há muito sangue dentro do povo que tenta.

sarau #1 talles azigon

Esse livro não foi revisado e não obedece nenhum acordo.

Um livro de poemas tem como vantagem pessoal de ser um objeto vivo, com vontade quase própria, com insinuações, vacilações, esnobamentos só seu. Lê-se um livro de poemas do jeito que se quiser, na hora que se quer, não precisa estar sóbrio para um livro de poemas. Um livro de poemas abre suas pernas para as drogadas, famintas, ensandecidas de paixões. Um livro de poemas atrapalha o tédio e o nojo. Um livro de poemas é um panfleto e não sente remorso disso. Os poemas de um livro de poemas envelhecem e não estão nem aí pra isso. Um livro de poemas não sente pena de ser esquecido, abandonado, inclusive muitas vezes ele mesmo se exila de baixo do sofá, de trás da estante, para reaperecer 5 anos mais velho, lembrando um amor, loucura, que nunca morreu. Um livro de poemas não usa desodorante. Um livro de poemas provavelmente não entra na crocobeach. Um livro de poemas geralmente é coisa de jovem, ou coisa de idoso, recusa a vida de adulto. Um livro de poemas não passa cheque pré datado, nem mesmo faz crediário em sapataria. Um livro de poemas lambe cú e buceta. Um livro de poemas não se contenta em ser apenas somente um livro de poemas._