Narrativas e Histórias Nos Estudos Organizacionais - Msoczky

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    Narrativas e histrias nos estudos organizacionais: um dilogo sobre referncias e prticas

    P

    Narrativas e histrias nos estudos organizacionais:

    um dilogo sobre referncias e prticas

    Narratives and histories in corporative studies: a

    dialogue concerning references and practices

    Maria Ceci Misoczky

    Takeyoshi Imasato

    RESUMO

    Esse artigo se produz com base em um dilogo entre duas prticas depesquisa que utilizam narrativas e histrias, ainda que partindo dereferenciais diferentes. Uma delas emprega a hermenutica, a outra,o construcionismo social. O artigo est organizado, na maior parte dotexto, como um dilogo, em breves momentos como a apresentaode snteses provisrias. Como parte integrante desta temtica, a lin-guagem tambm passa a ser foco de ateno. A organizao, dentrodessa nossa concepo, tratada como uma construo discursiva, eo texto, como um processo em que os significados so emergentes,renegociados, dispersados. O objetivo aqui sistematizar diferentesexperincias de pesquisa que utilizam uma abordagem ainda poucodisseminada no cenrio brasileiro dos estudos organizacionais, almde refletir sobre suas potencialidades. Consideraes feitas pelo ava-liador deste artigo foram tratadas tambm de modo dialgico, com apresena de mais uma voz, e constam ao longo do texto (apenas comorecurso de incluso) em trechos entre parnteses.

    Palabras-chave: Organizao contadora de histrias; Narrativas; Cons-truo social.

    Artigo recebido em 12/6/2004 e aprovado para publicao em 15/10/2005.

    QUEMSOMOS

    ara sermos coerentes com um princpio fundamental do ato de contar hist-rias, precisamos explicitar a autoria. Somos dois autores: uma professora eum jovem mestre, ambos trabalhando no campo dos estudos organizacio-

    nais e tendo compartilhado, por algum tempo, a relao orientadora-orientando.Hoje somos colegas, docentes do Departamento de Cincias Administrativas da

    UFRGS uma professora com mais experincia e um professor iniciando-se na

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    explorao das artes do ofcio. Como se pode perceber, at pelos nossos nomes,possumos referncias culturais bastante diferentes uma fronteiria, fruto docruzamento das misturas tnicas tpicas da nossa regio pampeana com um hn-garo perdido naquelas bandas; o outro descendente direto de japoneses. Alm

    disso, temos idades muito diferentes, interesses de pesquisa tambm diversos.Compartilhamos afinidades. Entre elas, as mais importantes talvez sejam o fasc-nio pela teoria e a preocupao com a reflexividade.

    Identidade! O que qualquer autoria se no identidade! O que so leituras, seno mltiplas identidades, mltiplos conhecer-se em face de um texto que, eleprprio, adquire sua identidade ao desligar-se, no tempo e no espao, de seusautores. Pois isso muito interessante, pelo menos para os fs da hermenutica,mas no resolve nosso problema com relao construo deste texto.

    Uma possibilidade, que exploraremos a seguir, diferenciar os autores e suasidentidades por meio de trechos com marcas de autoria: Ceci e Take.

    UMDILOGOEMTORNODEDIFERENTESCAMINHOSPARACONTARHISTRIAS

    Ceci Eu me interessei pela linguagem durante o meu curso de doutorado.Queria estudar o processo de formao de polticas pblicas, e no continuar a

    faz-lo como tem sido dominante no meu campo de estudos: olhando para estru-turas formais sejam estruturas organizacionais, sejam estruturas normativas.Como cheguei na linguagem. Ao longo da minha vida profissional, eu tinha me

    vinculado a uma abordagem de planejamento que considera a linguagem como ocentro de qualquer processo de construo das prticas sociais. Partindo da fuiexplorar autores e referncias. A primeira e mais bvia deciso foi estudar os atosde fala, ir a Austin (1962) e a Searle (1969). Muito chato! A abordagem estrutura-lista da mente, da linguagem e da realidade social (especialmente em Searle, 1998);

    a suposio de que vivemos em um mundo que, dentro de limites estabelecidospor nosso estgio evolutivo, pode ser inteligvel para ns; a concepo racionalis-ta e comportamentalista da relao entre fala e ao; a condenao da crena deque o modo como nos relacionamos com a realidade depende de nossa percep-o. NO! Continuando a busca encontrei um autor muito citado quando se falade construo de significados: Jerome Bruner.

    Take Eu tambm cheguei a ele. Achei muito til a distino entre os modosde funcionamento cognitivo, especialmente como justificativa para minhas esco-

    lhas metodolgicas na defesa da dissertao. Gosto da distino entre os tipos l-gico-cientfico (ou paradigmtico) e narrativo. Bruner (1997, p. 14) diz que o pri-meiro busca gerar conhecimento com base na verificao da veracidade ou falsea-

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    bilidade de hipteses, adotando uma descrio e explicao formal e objetivadado contexto que a gera. O modo lgico cientfico trata de

    causas genricas, de seu estabelecimento e faz uso de procedimentos para assegurar

    a referncia comprovvel e testar a veracidade emprica. Sua linguagem reguladapor necessidades de consistncia e de no-contradio. Seu domnio definido noapenas por elementos observveis, aos quais suas afirmaes bsicas se referem, mastambm pelo conjunto de mundos possveis que podem ser gerados logicamente etestados contra os elementos observveis ou seja, conduzido por hipteses funda-mentadas.

    No nosso meio acadmico, essa ainda a abordagem dominante. Durante meucurso de mestrado, esse modo de conhecimento esteve constantemente presen-te. Por isso supunha que o que se esperava de mim era a sua reproduo. Para

    justificar que no o fizesse, foi muito til citar esse autor. Afinal, o recurso a umautor estabelecido sempre uma forma de proteo, de construo de legitimida-de para ns, principiantes. Assim, usei o modo narrativo de conhecimento emcontraposio ao esperado modo paradigmtico de elucidar o que se espera ser aexplicao correta de um fenmeno, sem que fiquem margens para dvidas quandoao seu resultado. O modo narrativo, por sua vez, consiste em contar boas histri-as, dramas envolventes, relatos crveis. Ele trata de intenes e aes humanas,das vicissitudes das intenes humanas. No est preocupado com a criao deleis gerais universais ou grandes sistemas explicativos com relao ao mundo quenos envolve. No busca provar ou desaprovar uma teoria. Essa abordagem con-centra-se em compreender o particular, em buscar os significados que as pessoasconstroem, baseando-se em suas histrias, sejam elas orais, sejam elas escritas. Omodo narrativo trabalha sob a gide da reflexo, na qual h a procura de relatosou perspectivas que possamos imaginar ou sentir como certas. O conhecimentoque ele cria envolve a compreenso dos acontecimentos humanos e das possibi-lidades de alternativas contidas na ao (BRUNER, 1997, p. 55).

    Ceci Veja s, se para ti a chegada a Bruner (1997) significou um porto seguro,para mim foi mais um ponto de passagem. Um dos motivos para essa diferenapossivelmente se deve aos nossos objetos de estudo. Enquanto tu estavas envol-

    vido na compreenso do significado do plano de negcios para novos empresri-os, obrigados a elabor-los como condio para fazer parte de incubadoras deempresas; eu estava preocupada com a produo social de uma poltica pblicaao longo de certo perodo de tempo. Tu irias trabalhar diretamente com os perso-nagens dessa empreitada, poderias colher suas histrias, tornar-se seu dissemi-nador, dialogar com elas. Eu precisava considerar processos de redefinio deregras do jogo social, tratar com atores no sentido organizacional, considerar pro-

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    jetos em disputa, relaes de poder, interesses nas disputas. Enfim, no ponto emque eu estava te contando, eu ainda no tinha encontrado o modo de tratar desseprocesso conquanto processo. S sabia que teria de ser pela linguagem. Na verda-de, o de que eu gostei mais em Bruner (1990) foi, em outro livro, sua abordagem

    da narrativa. Naquele momento comeou a ficar claro que a forma de relatar meusachados de pesquisa s poderia ser a de uma narrativa. Outro achado nesse livrofoi que ele me levou a outros autores, especialmente a Ricoeur, e Ricoeur melevou a Gadamer, e a, sim, encontrei meu porto seguro, ainda que sempre provi-srio para quem, como eu, certamente, tem pitadas de sangue cigano nas veias.

    Take Calma l! Vamos ficar em Bruner mais um pouco. Eu tambm usei refe-rncias sobre narrativas. Mas no foi a dele. Fiquei curioso! O que ele diz sobre asnarrativas?

    Ceci bem legal! Veja s, Bruner (1990, p. 43) est interessado em comoorganizamos a experincia e na narrativa como forma particular de discurso. Paraele talvez uma das caractersticas mais marcantes da narrativa seja sua seqenci-alidade. Uma narrativa composta de uma seqncia de eventos, estados men-tais, acontecimentos envolvendo seres humanos como personagens. No entanto,esses constituintes no tm vida ou significado por si mesmos. O que lhes confe-re significado sua localizao em uma configurao maior que a prpria seqn-cia: a trama.

    Take A esse respeito eu gosto da definio que Gabriel (2000) faz de histriascomo tipos especiais de narrativas:

    Histrias so narrativas com uma trama e personagens, que geram emoo no narra-dor e para a audincia por meio de uma elaborao potica de material simblico.Este material pode ser produto de fantasia ou experincia, incluindo experincias denarrativas anteriores. A trama de uma histria implica em conflitos, situaes dedificuldades, coincidncias e crises que demandam escolhas, decises, aes e inte-rao cujos resultados de fato esto geralmente em desacordo com as intenes epropsitos dos personagens. (p. 239)

    Ou seja, se as aes sempre atingissem os resultados esperados no haveriaespao para histrias, porque no haveria o extraordinrio.

    Ceci Isto muito bom! S que eu queria voltar para a minha historinhaMeu porto seguro, como j parece claro, foi a hermenutica. O compreender her-menutico envolve o reconhecimento de, pelo menos, trs condies (FERNN-DEZ-LAGO, 1997; GADAMER, 1997). a) Historicidade: a compreenso se realizadesde um presente e, em virtude de uma atualidade que pergunta, recupera opassado; a compreenso no se limita a reproduzir o passado, em vez disso, atu-aliza e cria suas possibilidades a partir de uma distncia temporal; a posio cen-

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    tral do intrprete no cruzamento entre um texto distante e a conscincia de nos-so pertencimento a esse texto constitui a conscincia da situao hermenutica eda histria realizada e continuada do texto, ou seja, a conscincia da histriaefeitual pertence ao ser do intrprete; b) Mediao da linguagem: a compreenso

    ocorre de modo lingstico, no sentido de que compreender no diferente defalar sobre; colocar-se de acordo sobre algo abrir-se para a coisa sobre a qual sefala. A linguagem, alm e antes de ser o meio de expressar o compreendido, compreenso e explicao; c) A interpretao um dilogo: a relao entre intr-prete e texto termina, como a conversao, em um acordo. Tambm como naconversao, o tema que motiva o encontro. O sentido do texto no um abso-luto que se auto-revela a quem, com rigor metdico, a ele se dirige. claro que ointrprete interroga desde sua circunstncia e conscincia histrica; e o texto,

    por sua vez, s compreendido em um sentido quando atinge o horizonte dapergunta que, como tal, contm, necessariamente, outras respostas. Valendo-sedessa descrio dialgica da interpretao, pode-se concluir que o resultado seruma fuso do mundo histrico do texto com a situao histrica do intrprete ede suas perguntas. Dessa fuso de horizontes resulta o significado produzidocomo conseqncia das perguntas originadas em cada nova situao. A fuso dehorizontes sempre mvel, dialgica e experimental, porque no apenas o intr-prete vive em contnua atualizao de sua histria efeitual, como tambm o texto

    no fixo e imutvel, j que sua efetividade histrica o torna tambm constante-mente varivel.

    Take Se eu entendi, tu utilizas o referencial da narrativa, de contar histrias,como forma de representao, e a hermenutica, como caminho para compreen-der (MISOCZKY, 2002). Esse no foi o meu processo. Eu usei as histrias paracompreender e as contei, narrei-as para produzir o sentido da compreenso. Ouseja, na minha pesquisa, as histrias, sob a forma de narrativas, foram o meio e ofim do processo (IMASATO, 2005). Ser que poderamos sistematizar um pouco

    mais essas diferenas entre nossas abordagens e destacar o que elas tm em comum?Ceci Claro que sim. Mas, para chegarmos a esse ponto, eu preciso dizer um

    pouco mais sobre a hermenutica, tanto como caminho para a compreenso comopara a narrativa. Depois tu precisas contar sobre teu processo de pesquisa. A,sim, podemos tentar uma sntese. Pode ser?

    Take Pode sim! At porque eu estou mesmo curioso para saber onde entraRicouer nessa histria...

    Ceci A hermenutica adquire novas conotaes com base na teoria do texto

    de Ricoeur (1989). Entre suas contribuies, encontra-se a superao da dicoto-mia entre explicar e compreender, vistos como dois passos do processo complexoda interpretao e cujo encontro se realiza no plano epistemolgico e no ontol-

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    gico. Ou seja, explicar se refere clarificao dos cdigos subjacentes da lingua-gem corporificada em um texto; compreender compreender-se em face do tex-to e receber dele as condies de um si diferente. Para Ricoeur (1989), a tarefada hermenutica procurar, no prprio texto, por um lado, a dinmica interna

    [...], por outro lado, o poder da obra de se projetar para fora de si mesma e engen-drar um mundo que seria, verdadeiramente, a coisa do texto (p. 42-43). Almdisso, a interpretao do texto deve comear reconhecendo a distncia histri-ca em que este se oferece e, ao perder-se o sentido original, preciso recontextua-liz-lo a partir da perspectiva do intrprete atual (FERNNDEZ-LAGO, 1997, p. 80).

    Take Quais so as contribuies de Ricoeur que consideras mais relevantespara a tua prtica de pesquisa?

    Ceci Eu destaco, sempre considerando, como o fizestes na tua pergunta, que

    nossa leitura continuamente situada e que os meus destaques so apenas meus.Ou seja, aqui no vai nenhuma recomendao para que qualquer outro, inclusivetu, considere-os como os mais relevantes. Meus destaques: o texto adquire auto-nomia tripla com relao inteno do autor, com relao ao entorno em que seproduziu, com relao a seu destinatrio original no momento em que passa datransitoriedade e do contexto da linguagem falada para sua fixao no texto escri-to, ou seja, sua leitura futura ser sempre uma recontextualizao; sendo dotadode estrutura e formas diferenciadas, o texto pode ser explicado e compreendido

    em si mesmo como uma personalidade dialogante com o leitor; na interpretaono se busca algum pretendido sentido oculto, em vez disso, o texto oferece umasrie de possibilidades (o mundo do texto), que se concretizam de modo diferen-te para cada leitor (RICOUER, 1989). Tendo essas referncias, coloco-me frente aotema que estudo como um ser-a-dizer, procurando compreender a configuraodo meu campo de insero profissional a partir do presente e de uma atualizaodo passado. Essa compreenso , como no poderia deixar de ser, mediada pelalinguagem, tanto dos textos utilizados como fonte de informao como de narra-

    tivas que reconstroem o passado. Reconheo, plenamente, que essa reconstruo obra da imaginao. No que o passado seja irreal: mas o real passado , nosentido prprio da palavra, inverificvel. O que se faz, para reconstru-lo, combi-nar a coerncia narrativa e a conformidade aos documentos (RICOEUR, 1989, p. 30).

    Take Estamos de volta no tema da narrativa. Tu dissestes que a hermenuti-ca tambm influencia o modo como constas tuas histrias. Como isso?

    Ceci Vamos aos esclarecimentos, novamente valendo-nos das contribuiesde Ricoeur (1989). Esse autor incorpora a influncia de Heidegger, que distingue

    o tempo fsico do tempo existencial. Heidegger (1998) sugere que os seres huma-nos experienciam o tempo como uma fuso do passado, do presente e do futuro.Ns experienciamos a ns mesmos no tempo presente do mundo, mas com a

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    memria do passado, e a ansiedade sobre o futuro. Assim, contextualizamos opresente em termos do passado e futuro, o passado em termos do presente efuturo, e o futuro em termos do passado e presente. desse modo que organiza-mos nossas narrativas de eventos passados trazendo o passado para o tempo

    presente consciente. Em Heidegger (1998), sempre que produzimos narrativassobre o passado, apreendemo-nas em termos que podem ter implicaes para opresente e para o futuro. Por isso, as narrativas que abordam eventos passadosso tambm (e sempre) narrativas sobre o presente e o futuro (OCHS, 1998). Deacordo com Ricoeur (1989), o foco na ao implica ligaes com o tempo e a mu-dana, tudo o que se desenvolve no tempo pode ser narrado e, desse modo, podeser destacado, articulado e esclarecido. No entanto, para que um texto se consti-tua em narrativa, preciso, como ensinava Aristteles e como j foi dito quando

    mencionava Bruner (1997), introduzir a intriga, entendida como o conjunto decombinaes pelos quais acontecimentos so transformados em histria, como aunidade inteligvel que conjuga circunstncias, cenas e atores, finalidades, mei-os, iniciativas e conseqncias; permitindo, enfim, tomar em conjunto elemen-tos de ao que podem parecer heterogneos e discordantes. Ao criar uma intriga,uma trama, cria-se tambm uma estrutura para os eventos em um esquema deproduo de sentidos. Ou seja, a trama que distingue uma lista de eventos deuma histria, de uma narrativa. A intriga, a trama, pode ser vista, ento, como

    uma teoria de eventos, provendo uma explicao para esses a partir de um pontode vista particular (OCHS, 1998).

    Take Entendido! Agora a vez de contar minha histria. Ao faz-lo deixareiclaro algumas diferenas com relao tua abordagem. Mas antes quero repetiruma frase que disse h algum tempo: se as aes humanas sempre atingissem osresultados esperados, no haveria espao para histrias, porque no haveria oextraordinrio. Na minha abordagem de pesquisa, eu considerei as histrias comonarrativas que as pessoas contam para lidar com as experincias vivenciadas,

    que, em muitos momentos, portam o imprevisvel, o indesejado, o contraditrio,o inusitado. Por descrever e retratar respostas humanas s mais diversas situa-es, as histrias podem nos levar diretamente a eventos e a experincias e so,portanto, informaes que contribuem para compreender a analisar as organiza-es (GABRIEL, 2000). Aqui a contribuio de Weick (1995) muito relevante. Eutrato as histrias que as pessoas contam sobre as relaes sociais nas organiza-es como narrativas que buscam construir sentido para as aes, tanto passadascomo futuras, procurando plausibilidade para as experincias. Essa plausibilida-

    de se refere a uma tentativa de transformar o inesperado em esperado, a busca dacriao de uma trama, de uma seqncia socialmente aceitvel das experincias

    vivenciadas na direo da produo de sentido das aes.

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    Ceci Estamos de volta ao tema da trama como organizadora de narrativas.Diga-me qual o papel da trama no processo de compreenso.

    Take J compartilhamos a afirmao de que uma histria precisa de persona-gens, cenrios, fatos e aes. Juntos eles criam o contexto em que as histrias

    ocorrem. Existe, ainda, uma inseparabilidade entre personagem, ambiente e aono pensamento narrativo, retomando Bruner (1997). O que ocorre que devehaver uma apresentao de cada um desses elementos de uma forma sistemati-zada a trama, como j sabemos. ela que transforma uma crnica ou uma listade eventos em um todo esquematizado pela focalizao e pelo reconhecimentodas contribuies que certos eventos fazem para o desenvolvimento do todo (PO-LKINGHORNE, 1988). difcil imaginar personagens, ambiente e aes separada-mente, uma vez que eles so intrinsecamente ligados. Mas tambm impossvel

    apresent-los todos ao mesmo tempo. na forma como se faz a apresentaodesses elementos e dos eventos que se encontram um dos componentes da inter-pretao de uma narrativa (CZARNIAWSKA, 1999). A narrativa funciona comouma forma de associao, colocando diferentes coisas juntas. A trama a maneiracomo se decide ordenar a narrativa. Isso quer dizer que, durante o processo decontar uma histria, algumas informaes so perdidas, algumas interaes soesquecidas ou ignoradas. Esses so elementos que, ao ser retirados, reduzem acomplexidade da narrativa, mas que buscam, a partir do silenciar, dar nfase a

    outras partes da histria. Alis, alguns autores, tais como Rhodes (2000 e 2001),Czarniawska (1999) e Boje, Luhman e Baack (1999), consideram que esses silnci-os so muito importantes para a criao de narrativas, j que to importante quantoentender a trama considerar o que esquecido, deixado de lado.

    Ceci Ser que eu posso entender que as histrias criadas com base na experi-ncia tambm so peas de fico?

    Take Gabriel (2000) um dos autores que ressalta que as histrias so cria-es, que no duplicam a realidade. Weick (1995) diz que a experincia recriada

    dentro de uma histria, mas que essa experincia filtrada. Ou seja, no revive-mos os eventos, tentamos recri-los para comunicar e transmitir nossas experi-ncias e sentimentos para outras pessoas, assim como para ns mesmos, emesforos de elaborao no sentido freudiano. Alm disso, o sentido criado emuma histria no uma construo puramente individual. O processo social in-fluencia o resultado da interpretao, fazendo com que ela seja considerada acei-tvel ou crvel (WEICK, 1995). Tambm pode ocorrer que o que muda, algumas

    vezes, no so tanto os fatos, mas o seu ordenamento, a forma como so apresen-

    tados ou retirados para tornar a narrativa aceitvel. Respondendo tua pergunta:sim, se tomarmos como referncia a suposta possibilidade de que nossa menteespelhe a realidade, ento se pode dizer que as histrias que recriam a experin-

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    cia so peas de fico. No entanto, se recusamos essa pressuposio, seguindoRorty (1994), ento essa questo no faz qualquer sentido.

    Ceci Essa foi uma tima resposta. Como sabes, eu fico sempre dizendo quetodo conhecimento socialmente elaborado mediante prticas coletivas prprias

    de cada comunidade social, como ensina Rorty (1994) e que, alm disso, a comu-nicao, a argumentao e o acordo interpessoal so determinantes do que seaceita ou rechaa como conhecimento. Ou seja, que precisamos compreender osreferentes como construes sociais e culturalmente localizadas, e no como evi-dncias que impem categorias naturais (WITTGENSTEIN, 1996). Pois , resvalarpara a relao entre verdade e fico faz parte dessa construo coletiva e dosesforos que sempre precisamos fazer para no reproduzir o modelo empiricistaque ainda nos oprime.

    Take Ento o interesse das histrias no reside na veracidade dos fatos. Osfatos so o terreno emprico de narrativas plausveis (RHODES, 2001, p. 27), afonte de histrias crveis, mas no h nenhuma diferena estrutural entre narra-tivas de fico e narrativas factuais (CZARNIAWSKA, 1999). A atrao pelas hist-rias reside nos significados encontrados nas narrativas. Se as pessoas acreditamna histria, quer os eventos tenham ocorrido, quer no, irrelevante. A relaoentre fatos e histrias malevel histrias interpretam eventos, injetando ne-les significados por meio de distores, omisses, embelezamentos, entre outros

    dispositivos, sem os quais, contudo, obliterariam os fatos (GABRIEL, 2000). Sen-do assim, pode-se dizer que as histrias, nas organizaes, so um meio pelo qualas pessoas produzem sentido e significados (WEICK, 1995). Voltando tua per-gunta sobre como trabalhar as histrias como modo de compreender, o que possodizer que o trabalho de pesquisa interpretar e inspecionar essas construes,nos termos de Czarniawska (1999), com o objetivo de refletir a respeito das aesem organizaes.

    Ceci Agora de propsito para te levar a responder a uma pergunta que deve

    estar na mente de algum leitor mais vinculado tradio na pesquisa. Como podessaber que a tua interpretao, a tua anlise de narrativas e histrias a melhor?

    Take Essa eu sei que foi de propsito. Alis, depois eu quero que tu comple-tes a minha resposta, com uma pitada de Gadamer aquela frase que ests sem-pre citando.

    Ceci Pode deixar. Mas, primeiro, vamos tua resposta.Take Existem muitas formas de interpretar dada narrativa. melhor citar

    um exemplo, para que fique mais claro. Rhodes (2000) conta como uma mesma

    histria pode ser analisada de formas diferentes. Pela adoo de trs referenciaistericos o feminista, a teoria crtica e o desconstrucionismo inspirado em Der-rida , ele mostra como cada um deles focaliza e interpreta a narrativa apresenta-

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    da. Cada um deles propicia uma interpretao, uma avaliao dos eventos, umaanlise diferente e, por conseguinte, leva a concluses distintas. Mas nenhumadelas pode ser considerada como a melhor ou a forma correta de anlise. Como mesmo que Gadamer diz?

    Ceci Compreender no compreender melhor, mas compreender diferente(GADAMER, 1997). No uma bela frase? Acho que estamos chegando no pontode colocar em dilogo nossos pontos de aproximao e nossas diferenas. Mas,antes, tu poderias falar um pouco sobre a tua pesquisa?

    Take Lembrando, meu objetivo era compreender o significado da elaboraodos planos de negcios no processo de constituio de novos empreendimentos.No meu estudo: empresas do setor de informtica, graduadas havia pelo menosdois anos de incubadoras e incluindo casos de fracasso, em que o negcio j esta-

    va encerrado. Primeiro vou dizer o que pode parecer bvio. Utilizar histrias comoforma para compreender as experincias vivenciadas pelos entrevistados e comomodo de apresentar e analisar as informaes foi uma experincia muito rica. Poraproximar o pesquisador dos entrevistados, por meio das suas histrias, conside-rando-as como desempenhos orais em que as pessoas buscam referenciar, recon-tar ou desafiar o passado, as histrias se apresentaram como poderosa forma deconhecer e refletir sobre vivncias. Ricas em detalhes, as histrias narradas possi-

    bilitaram o resgate das opinies, sentimentos e intenes por trs das aes rea-

    lizadas pelos entrevistados. As histrias ofereceram uma ferramenta para conhe-cer a maneira como os entrevistados produzem sentido e significados para o seumundo, como diz Weick (1995). No entanto, preciso falar de uma das limitaesdo meu trabalho: quem deu voz para a realizao da narrativa final. Em outraspalavras, como afirmam Boje, Luhman e Baack (1999), importante prestar aten-o em quem, nas questes coletivas, tem o direito de contar as histrias. No meutrabalho, somente os donos de empreendimentos foram consultados; e destesapenas um quando havia mais de um scio. Portanto, a verso de cada processo

    ficou a cargo da histria contada por apenas um dos seus personagens. Ou seja,no pude confrontar diferentes narrativas e representaes. Alm disso, a minhaprpria narrativa a que rene os eventos em uma trama que eu constru. Spara lembrar, como diz Rhodes (2001), o ato de escrever um ato de poder sobreos demais (p. 3). Para ser autntico, preciso dizer que exerci o poder de escre-

    ver sobre o que ocorreu com essas pessoas.(Avaliador Nesta parte do texto, o uso da palavra desempenho, hoje ligada

    performance, poderia ser melhorada na seleo lexical do texto).

    Ceci e Take Entre os vrios significados para o termo desempenho, encontra-se o de desempenho dramtico e cultural na interao entre os membros daorganizao no processo de construir o sentido da identidade organizacional.

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    Narrativas e histrias nos estudos organizacionais: um dilogo sobre referncias e prticas

    nesse sentido que ele usado. A esse respeito o texto de Corvellec (1997) sobrenarrativas de desempenho organizacional, bem como o de Misoczky e Vieira (2001)sobre os possveis significados de desempenho, pode ser esclarecedor.

    Avaliador Outro ponto que desperta dvidas quando Take declara que no

    pde confrontar diferentes narrativas. No pde, por qu? Qual impedimento?Nessa hora ficamos com pena de Take, o personagem foi impedido de fazer con-frontaes. No pde ou no quis? Isso foi uma escolha? O que leva ao silogismo:Take era mestrando de Ceci, Ceci sua orientadora, portanto, ela foi a vil que oimpediu de fazer o confronto!

    Take No o fiz por uma escolha da forma de conduo da pesquisa. Ao iniciaro trabalho, planejei entrevistar apenas donos das empresas. Percebi que o con-fronto das narrativas seria muito mais interessante. J estava, porm, prximo

    finalizao do tempo disponvel para a concluso do curso de mestrado. Por queno fiz isso? Se tivesse feito desta ou daquela maneira, no teria sido mais inte-ressante? Foi muito mais uma autocrtica do meu trabalho, e no um caso deuma bruxa m ou de um impedimento hierrquico. Foi, enfim, decorrncia dacontingncia de pesquisa e do disciplinamento de prazos a que todos estamossubmetidos.

    Voltemos ao texto)Ceci Essa afirmao sobre o poder de escrever sobre o que ocorreu com os

    outros muito sria, e poucas vezes assumida. Apesar de Foucault andar sempresendo citado, costumamos escamotear a relao entre poder e conhecimento,entre representao e poder sobre os outros. Com essa acho que merecemos umapausa. Que te parece? Tempo para espichar o corpo, um caf, necessidades fisio-lgicas em geral. Quando voltarmos, proponho que faamos uma tentativa deformalizar algumas snteses. Para no chatear nossos eventuais leitores, e paracaber no espao limite de pginas, podemos fazer ensaios nos bastidores e sapresentar os resultados. Pode ser?

    LINGUAGEM, NARRATIVASEORGANIZAES

    A organizao como fluxo

    A explicitao mais fundamental, na nossa viso, a da concepo de organi-zao que adotamos. Para a concepo ainda dominante no nosso campo de estu-

    dos, a organizao uma entidade material que se encontra localizada em algu-ma parte do mundo real. Como alerta Cooper (1989), a organizao nessa aborda-gem produto de um modelo terico e, portanto, estamos tratando no da orga-

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    nizao, mas dela como mera representao de um modelo. Nesse modelo a cate-goria estrutura, como algo esttico, central, e o foco analtico se dirige para osdeterminantes externos dessa estrutura, para as relaes entre organizao eambiente.

    Cooper (1986) trata a organizao como dependente da desorganizao, comoinscrita a partir da desordem, como um processo de introduzir ordem em fluxosde eventos. As fronteiras no so separaes, indicam diferenciaes, mas tam-

    bm conexes, incluindo uma idia de totalidade. Trata-se, segundo Cooper (1989),de tentativas, mediante o processo de organizar, de marcar diferenas entre aorganizao e o que externo a ela o que desorganizado. O processo de cons-tituio de fronteiras acaba por indicar a dependncia da organizao da desorga-nizao, j que ela malevel e permevel a organizao pode ser invadida ou

    dissolvida na desorganizao. Ou seja, organizar produzir ordem a partir dadesordem, mas a organizao permanece dependente da desorganizao e emconstante relao com ela.

    Como compreender o processo de organizar considerado nessa perspectiva?Uma opo que adotamos tratar a organizao como uma construo discursiva,e o texto como um processo em que os significados so emergentes, renegocia-dos, dispersados. Aqui, a noo de estrutura pensada como algo ilusrio, querepresenta apenas uma prtica ideolgica que pretende ocupar o lugar do fluxo

    de relaes textuais de mudana e similitude.

    A estrutura uma estratgia de fechamento, uma prtica voltada para impor umaordem e uma fixidez no fluxo e no movimento natural. Estrutura o congelamentodo significado, uma limitao imposta ao jogo de significaes no texto da organiza-o, uma neutralizao do significado pela forma. Organizao estrutura, mas somen-te quando a estrutura reconhecida como um efeito da linguagem. O foco analticono se volta para a estrutura esttica da organizao (e seus vrios e supostos deter-minantes externos), mas para o movimento e a produtividade do texto. Isto significatomar organizao/texto no como um produto mas como uma produtividade o

    local de trabalhos constantes de significao em uma arena politizada de contesta-es em torno de processos de significao (WESTWOOD; LINSTEAD, 2001, p. 5).

    Em sntese, a localizao da linguagem no apenas central para os estudosorganizacionais, mas est indivisivelmente conectada com a prpria concepode organizao e, claro, no prprio processo de teorizar sobre organizaes. Nestaconcepo a preocupao com a natureza mutuamente constituinte da relaoentre linguagem e organizao (WESTWOOD; LINSTEAD, 2001, p. 3).

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    Narrativas e histrias nos estudos organizacionais: um dilogo sobre referncias e prticas

    Histrias e organizaes: diferentes narratologias

    Boje, Alvarez e Schooling (2001) constroem uma narrativa sobre as diferentesnarratologias. Ou seja, ao classificar as diferentes abordagens sobre narrativas,

    produzem uma histria crvel, ainda que ficcional como no poderia deixar deser. Nossa opo sintetiz-la e, posteriormente, dialogar com ela.

    A trama que organiza essa narrativa a identificao das diferenas ontolgi-cas, epistemolgicas e metodolgicas entre as narratologias. O Quadro 1 mostracomo isso fica.

    (Avaliador Por que, nesse quadro, apenas a narratologia realista tem autorescitados? E as outras? Se a figura foi usada para tentar mostrar ao leitor a possibili-dade de explorar as narratologias, um guia, ela poderia explorar exemplifican-

    do com autores e trabalhos.Ceci e Take O propsito do quadro no o de se constituir em um guia. At

    porque ele apresentado como uma histria, como uma narratologia. Os exem-plos de narratologia realista so uma tentativa, ao que parece malsucedida, deironizar a pretenso prescritiva de fices como as produzidas por autores delivros de auto-ajuda em Administrao).

    Ceci E a? Tu te identificastes com alguma narratologia nessa narrativa classi-ficatria?

    Take Sim, de modo praticamente direto me vi na caixinha do construcionis-mo social. Mas no consegui te ver em nenhuma caixinha.

    Ceci Pois ... Eu confesso que tenho enormes afinidades com as narrativasps-estruturalistas e marxistas diretamente marxistas, fora desse guarda-chuvahomogeneizador da teoria crtica. Sem dvida essas perspectivas fazem parte daminha situao e, portanto, esto presentes sempre nas minhas relaes comtextos em processos de compreenso e de representao. Por que ser que elesno incluem a hermenutica como uma narratologia?

    Take Ser que se pode interpretar esse silncio como um reconhecimento deque a hermenutica est presente em todas as formas de narratologia? Afinal, oque hermenutica? Palmer (1969) diz que sempre que qualquer regra e sistemade explicar, compreender e decifrar textos surge, h hermenutica (p. 458). Ain-da, segundo a hermenutica, a linguagem o meio de toda experincia humana.Para Gadamer (1997), a linguagem que permite aos seres humanos lidar com ossentidos. A linguagem , portanto, o modo fundamental de operao de nosso es-tar-no-mundo e de todas as formas de constituio do mundo. S somos capazes

    de compreender o mundo pelo uso de palavras, alm de sermos pr-constitudospela linguagem.

    Ceci Pode ser. Ainda que eu concorde contigo, nessa viso de que a herme-

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    Quadro 1. Metafsicas de narratologias selecionadas*

    Narratologia

    Histrias vivas

    Realista(como

    em Peters e

    Waterman,

    1982; em Ham-

    mer e Champy,

    1993; e nos ca-

    sos Harvard)

    Formalista

    Pragmatista

    Construcionis-

    mo social

    Ps-estrutura-

    lista

    Teoria crtica

    Ps-moder-

    nista

    Ontologia

    As histrias vivem e possuem

    tempo, espao e mente.

    A realidade real espelha-

    da de modo mais ou menos

    imperfeito na narrativa ou

    caso. A narrativa um arte-

    fato cultural e um objeto. Su-

    pe fatos sociais.

    O real no conhecvel, masalgumas formas so pragm-

    ticas ou processos de fidelida-

    de e probabilidade, ou cenas,

    tramas, atos, agncias, pro-

    psitos.

    Afirmao da realidade de

    termos ou leis gerais. O signi-

    ficado orientado na direo

    do futuro.

    As realidades so construes

    sociais e individuais.

    No existe o externo ao in-

    terno do texto na produo

    de significados.

    Materialismo histrico molda-do classes, etnias, gneros e

    valores socioeconmicos.

    Hiper-realidade virtual e cul-

    tural; crticas cticas do capi-

    talismo tardio para afirmao

    do mundo espiritual.

    Epistemologia

    O conhecimento a histria vivi-

    da no tempo e espao, e tem uma

    vida prpria (mente). A histria

    no pode ser separada do con-

    texto sem produzir desequilbrio

    e outras conseqncias.

    Dualista: o real real, a narrati-

    va conhecimento interpretati-

    vo subjetivo; a histria um ob-

    jeto para conhecer outros obje-

    tos. Gerencialista e estratgica.

    A narrativa um sinal do siste-ma, separado do conhecimento

    do significado. A narrativa um

    dispositivo retrico. Epistemolo-

    gia contextualista de eventos his-

    tricos se revelando no presente.

    As idias so essncias, no me-

    ras abstraes as coisas so o

    que so. As palavras servem para

    mostrar a natureza das coisas.

    Qualquer tipo de fato obvia-mente real.

    A narrativa uma histria subje-

    tiva reificada como objetiva. As

    narrativas so atos de produo

    de sentido.

    As narrativas so intertextos para

    conhecer outras narrativas; as

    narrativas so ideolgicas e pos-

    suem conseqncias polticas.

    Grandes narrativas dominam oconhecimento local. Mas pode

    haver resistncia local s grandes

    narrativas do conhecimento.

    Conhecimento e poder so frag-

    mentados narrativamente; co-

    nhecimento afirmativo em rela-

    o com o cosmo vivo.

    Ontologia

    Restaurar a relao entre

    a narrativa dominante e

    as histrias preferidas dos

    autores.

    Manipulao experimen-

    tal; entrevistas com nar-

    rativas como medidas;

    narra com escalas de gra-

    dao; narrativas de bio-

    grafias nicas.

    Coleta e contrasta formasde narrativa e a coern-

    cia de elementos narrati-

    vos.

    A histria definida pe-

    los atores. A aprendiza-

    gem se realiza a partir do

    passado tendo em vista a

    ao futura.

    Explora diferenas relati-

    vas na narrativa da cons-

    truo social.

    Leituras desconstrutivas

    de narrativas.

    Leituras sobre narrativashegemnicas; leituras

    ideolgicas das narrati-

    vas.

    Polifonia e justaposio

    de leituras e escritos de

    um coro de narrativas.

    *Elaborado com base em Boje, Alvarez e Schooling (2001, p. 138-139).

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    Narrativas e histrias nos estudos organizacionais: um dilogo sobre referncias e prticas

    * A esse respeito basta transitar por Tamara: Journal of Critical Post Modern Organization Science; (http://www.zianet.com/boje/tamara).

    nutica uma perspectiva que abre enormes possibilidades para compreender ans mesmos em nossa relao com o mundo, sempre mediante a linguagem, noposso deixar de considerar que h pelo menos duas narratologias em bvia con-tradio com a atitude hermenutica a realista e a pragmatista. A realista mime-

    tiza o positivismo e a retrica do cientificismo cartesiano de operacionalizao ecausalidades, de modo que os eventos so arranjados em cronologias para espe-lhar a realidade.

    As histrias realistas copiam o naturalismo ao oferecer narrativas ricas em detalhes,fatos cientficos e figuras, referncias e cronologias, para autentificar seu desempe-nho como no-morto e no-ficcional. O foco na interpretao da histria como umartefato organizacional, como um objeto-texto em laboratrio, sejam biografias ou en-trevistas. (BOJE; ALVAREZ; SCHOOLING, 2001, p. 135)

    Take Tu tens razo quanto aos realistas. Fica claro que a verdade um desejoe uma pretenso, o que obviamente contradiz o crculo hermenutico. Ou seja, aidia de que qualquer evento no independente nem do contexto nem do intr-prete, sendo at parcialmente constitudo por eles (GADAMER, 1997). Mas, e comrelao narratologia pragmatista, por que ela se encontra em contradio com ahermenutica?

    Ceci Os pragmatistas analisam a narrativa no contexto para afirmar princpi-os para a comunicao de significados, eles buscam discrepncias entre o que

    dito e o que significado, e examinam como as pessoas produzem o que signi-ficado. Portanto, supem a essncia das idias, o que novamente incompatvelcom o crculo hermenutico.

    Take Sendo assim, a minha suposio sobre o silncio com relao herme-nutica no se sustenta. Teramos que explorar outras possibilidades. Podera-mos deixar isso para outra oportunidade? Queria explorar, ainda que brevemen-te, como as narratologias se expressam no campo dos estudos organizacionais.Na minha viso possvel separar dois grandes grupos: uma abordagem da orga-nizao como um sistema de contar histrias (desenvolvida por David Boje eseus diversos colaboradores1e de difcil traduo, por isso prefiro manter a ex-presso em ingls storytelling organizations); e a narrativa de organizaes(CZARNIAWSKA, 1997 e 1999, uma autora de referncia obrigatria). Aquelesque escrevem sobre storytelling organizationsteorizam sobre as pessoas comoprodutoras coletivos de histrias e, ento, reconstroem suas existncias passa-das, presentes e futuras (BOJE, 1999). J os narradores de organizaes costumamescolher o drama como metfora, e as pessoas como atores com papis em ter-mos de agncia de propsitos (CZARNIAWSKA, 1997).

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    Ceci Essa uma boa narrativa do campo. Falta acrescentar a extenso da teo-ria da organizao como contadora de histrias ainda que compreenda a impos-sibilidade de traduo fiel para storytelling organizationsempre me sinto descon-fortvel em escrever no Brasil utilizando expresses que no esto em portugus.

    (Avaliador Seria interessante pensar em um termo em portugus para storyte-lling organizations. O uso de Paulo Freire ao final do texto leva-nos at mesmo acriar uma traduo para o termo. Os autores poderiam sugerir isso.

    Ceci e Take Bom puxo de orelhas. Vamos l. Alis, foi preguia ou condicio-namento, mesmo. Antes, neste artigo, definimos a organizao como uma cons-truo discursiva, e o texto como um processo em que os significados so emer-gentes, renegociados, dispersados. Portanto, a traduo j esboada no trechoanterior pode ser assumida como organizao contadora de histrias. Claro,

    para que isso fao sentido, preciso abandonar a suposio da organizao reifi-cada to presente nos estudos organizacionais.

    Avaliador Outra questo. O texto acaba evidenciando o poder da hermenu-tica ante o construcionismo social, ou melhor, evidenciando o poder de Ceci, daex-orientadora, professora com mais experincia sobre um professor iniciante.Se formos ler mais profundamente, Ceci a herona/vil desta narrativa, e Take,mero coadjuvante. No teramos dois personagens com pesos iguais? A herme-nutica ganha o debate, sua narrativa tem comeo, meio e fim, e a do construcio-

    nismo somente comeo, perde-se no desenvolver do texto. O personagem Cecidomina a narrativa e, portanto, seu ponto de vista torna-se o principal, mas entopor que o texto? Ele no foi pensado e criado para fornecer o debate entre duasprticas de pesquisa que se utilizam de referenciais diferentes?

    Ceci e Take Sejamos construcionistas. A construo do texto foi se cons-truindo ao longo da sua construo (risos). Sendo um pouco mais srios: o tex-to se construiu sem um esquema racional prvio de distribuio de espaos e ar-gumentos. Sendo um debate, tinha/tem um final aberto, dependendo da autono-

    mia que o texto ganha de seus autores ao longo de qualquer narrativa. Ser que apredominncia da hermenutica no se deve sua prpria densidade conquantotradio filosfica perante uma formulao mais focada na objetivao da realidade?

    Ceci Sem fugir da provocao do nosso bem-humorado avaliador, penso quepodemos deixar outras perguntas no ar. Ser possvel e, mesmo, honestamente,fazer de conta que nossa bagagem e experincia so as mesmas e pretender umasimetria de comunicao? Ser que a ascendncia intelectual que faz parte da re-lao entre professores e alunos, entre geraes, entre pais e filhos, expresso

    de vilania? Ser que o debate precisa sempre terminar em acordo equilibrado dasdiferentes posies?)

    Ceci Mas, voltando. Essa extenso aplica a teoria da organizao como conta-

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    Narrativas e histrias nos estudos organizacionais: um dilogo sobre referncias e prticas

    dora de histrias para a interao entre mltiplas organizaes. Boje, Luhman eBaack (1999) estudaram o encontro entre quatro organizaes como co-negocia-o, co-construo e co-modelagem a partir do contar de cada uma de suas his-trias. Contadores e leitores de histrias, mltiplos e simultneos, selecionaram,

    transformaram e reformaram histrias das suas organizaes. Boje (1998) j haviarealizado uma srie de estudos sobre a rede de contadores de histria da qual fa-ziam parte a Nike, organizaes da mdia, organizaes acadmicas, organizaesde ativistas que defendiam boicotes contra os produtos da Nike, organizaes detrabalhadores de vrios pases, e consumidores. Ou seja, estamos falando de umcampo de estudos com potencialidades interessantes e aberto a muitas exploraes.

    Take Eu concordo com isso; no entanto, fica o desconforto de que em todaessa nossa histria, os nicos brasileiros somos tu e eu. Todas as referncias que

    utilizamos so de autores no brasileiros, nem sequer latino-americanos.

    NS, EXMIOSCONTADORESDEHISTRIAS,AINDA, EMSILNCIO

    Para encerrar este texto, algumas consideraes sobre a contradio entre nos-sa tradio cultural de contadores de histrias e a forma apenas marginal comoque isso se expressa no nosso campo dos estudos organizacionais. Alis, antes de

    prosseguir, preciso dizer o estranhamento que sentimos quando, por exemplo,encontramos referncias ao Teatro do Oprimido, de Augusto Boal, e Pedagogiado Oprimido, de Paulo Freire, em artigos desses estrangeiros que citamos porexemplo, em Boje e Rosile (2002). O estranhamento no se deve a que essesautores sejam referidos, mas ao modo olmpico como ns os ignoramos!

    Uma possibilidade, para encerrar este artigo, seria mencionar nossos maisqueridos contadores de histrias e buscar neles inspirao para contarmos nos-sas prprias histrias sobre o fluxo do organizar. No entanto, preciso dizer que

    essa lista seria to exaustiva. Vamos, em vez disso, terminar com um lembrete,contar e ouvir histrias o que nos constitui conquanto seres humanos, con-quanto naes e culturas, conquanto atores em um mundo de conflitos. Assumiras histrias e as narrativas em suas dimenses ontolgicas, epistemolgicas emetodolgicas pode ser um caminho para que nos encontremos conosco mes-mos, conquanto contadores e ouvintes de histrias sobre o fluxo de organizar nocontexto em que vivemos, na sociedade que contribumos para constituir cotidi-anamente. Portanto.

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    ABSTRACT

    This article results of a dialogue between two practices of research,both using narratives and stories, even if departing from differentapproaches. One of them uses hermeneutics, the other social con-

    structionism. The article is organized, in most of its text, as a dia-logue; in some few parts there are presentations of provisory synthe-sis. As part of the approach, language is also an issue of attention.The organization, as part of our conception, is treated as a discursiveconstruction; and the text as a process from which meanings emerge,are negotiated or dispersed. The objective is to systematize differentresearch experiences, both using an approach still not very dissemi-nated in the Brazilian scene of organization studies; it is also ourobjective to reflect upon their potentialities. Some considerationsmade by the evaluator of this article were also treated as a dialogue,including the presence of one more voice and are included as partof the text.

    Key words: Story telling organization; Narratives; Social construction.

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  • 7/25/2019 Narrativas e Histrias Nos Estudos Organizacionais - Msoczky

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